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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 20

27/03/2023 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.208 MATO GROSSO

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : UNIÃO NACIONAL DAS INSTITUIÇÕES DE
AUTOGESTÃO EM SAÚDE - UNIDAS
ADV.(A/S) : JOSE LUIZ TORO DA SILVA
ADV.(A/S) : VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO MATO
GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO MATO GROSSO
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO
GROSSO

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL QUE DISPÕE SOBRE AS OBRIGAÇÕES
DOS PLANOS DE SAÚDE EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.
1. Ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei estadual
n° 11.816, de 27 de junho de 2022, do Estado do Mato Grosso, que busca
definir os tratamentos e intervenções terapêuticas a serem ofertados
obrigatoriamente às pessoas com deficiência.
2. Ao interferir diretamente na relação jurídica entre as
operadoras de planos de saúde e os usuários, a lei local viola a divisão
constitucional de competências federativas, por adentrar em matéria de
direito civil (CF/1988, art. 22, I) e de política de seguros (CF/1988, art. 22,
VII). O conteúdo em questão deve ser normatizado privativamente pela
União, considerado o caráter nacional da atividade regulada.
Precedentes.
3. Ação direta conhecida e pedido julgado procedente. Tese
de julgamento: É inconstitucional, por violação à competência da União para
legislar sobre direito civil e seguros (CF/1988, art. 22, I e VII), lei estadual que
estabelece obrigações contratuais para operadoras de planos de saúde.
ACÓRDÃO

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Ementa e Acórdão

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ADI 7208 / MT

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual, por unanimidade de votos,
em conhecer da ação direta, julgar procedente o pedido, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei Estadual nº 11.816/2022, do Estado do Mato
Grosso, e fixou a seguinte tese de julgamento: “É inconstitucional, por
violação à competência da União para legislar sobre direito civil e seguros
(CF/1988, art. 22, I e VII), lei estadual que estabelece obrigações
contratuais para operadoras de planos de saúde”, nos termos do voto do
Relator. O Ministro Edson Fachin acompanhou o Relator com ressalvas.
Brasília, 17 a 24 de março de 2023.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO - Relator

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Relatório

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27/03/2023 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.208 MATO GROSSO

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : UNIÃO NACIONAL DAS INSTITUIÇÕES DE
AUTOGESTÃO EM SAÚDE - UNIDAS
ADV.(A/S) : JOSE LUIZ TORO DA SILVA
ADV.(A/S) : VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO MATO
GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO MATO GROSSO
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO
GROSSO

RELATÓRIO:

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

1. Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com


pedido de medida cautelar, ajuizada pela União Nacional das Instituições
de Autogestão em Saúde (UNIDAS), contra a Lei nº 11.816/2022, do
Estado do Mato Grosso. O ato normativo impugnado estabelece
obrigações aos planos de saúde em geral, relativamente ao tratamento de
pessoas com deficiência. Transcrevo o teor do diploma legal em questão:

Art. 1º As empresas de seguro-saúde, empresas de


medicina de grupo, cooperativas de trabalho médico ou outras
que atuam sob a forma de prestação direta ou intermediação
dos serviços médico-hospitalares e operam no Estado de Mato
Grosso estão obrigadas a garantir o atendimento integral e
fornecer o tratamento adequado às pessoas com deficiência, nos
termos da Lei Federal nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, e
da Lei Federal nº 13.146, de 6 de julho de 2015, não podendo
impor restrições de qualquer natureza.

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Relatório

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ADI 7208 / MT

§ 1º Compreende-se por atendimento integral e


tratamento adequado como aqueles que cumprem total e
integralmente a prescrição médica que definiu a melhor
intervenção terapêutica ou tratamento ao paciente pelo
profissional de saúde que o acompanha.
§ 2º As determinações desta Lei não incluem a busca ou
fornecimento de medicamentos de quaisquer naturezas.

Art. 2º As prestadoras de serviço de saúde descritas no


caput do art. 1° devem oferecer cobertura necessária para
multiprofissional, respeitando os termos do médico assistente
que acompanha a pessoa com deficiência, sob pena de serem
compelidas a custear ou reembolsar integralmente as despesas
com profissionais não credenciados.
Parágrafo único A observância à prescrição médica
indicada ao paciente, respeitando o atendimento
multiprofissional ao deficiente, abrange a presença de
profissionais capacitados e especializados nas áreas prescritas,
bem como a quantidade e a duração das sessões e a aplicação
da técnica indicada pelo médico assistente que acompanha o
paciente com deficiência.

Art. 3º A fiscalização, apuração de denúncias e autuação


por descumprimento desta Lei é de responsabilidade dos
órgãos de proteção ao consumidor, sem prejuízo da atuação do
Ministério Público.

Art. 4º O não cumprimento dos preceitos desta Lei


sujeitará às operadoras de plano ou seguro de saúde infratoras,
sem descartar a responsabilidade solidária das clínicas de
tratamento, à multa de 1.000 (mil) Unidades Padrão Fiscal de
Mato Grosso - UPF/MT para cada caso apurado, aplicando-se o
dobro em caso de reincidência.
Parágrafo único Os valores decorrentes da cobrança das
multas serão integralmente revertidos para capacitação,
treinamento e melhoria das condições de trabalho dos

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ADI 7208 / MT

profissionais que atuam junto às pessoas com deficiência nas


clínicas e centros de atendimento do Estado de Mato Grosso.

Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação

2. Para a requerente, as normas teriam extrapolado a


competência legislativa estadual, invadindo o campo do direito civil,
comercial e da política de seguros, que apenas poderiam ser objeto de lei
federal (CF/1988, art. 22, I e VII). Aponta, ainda, violação ao direito
adquirido e ao ato jurídico perfeito (CF/1988, art. 5º, XXXVI), uma vez que
a lei nova atinge contratos já em curso. Pede a concessão de medida
cautelar para suspender a eficácia do ato impugnado e, no mérito, a
declaração de sua inconstitucionalidade.

3. Considerando o pedido cautelar, adotei o rito previsto no


art. 10 da Lei nº 9.868/1999. Determinei a notificação da Assembleia
Legislativa e do Governador do Estado do Mato Grosso, para que
prestassem informações no prazo de cinco dias. Após, fossem remetidos
os autos ao Advogado-Geral da União e, enfim, ao Procurador-Geral da
República para manifestação, no prazo de 3 (três) dias.

4. A Assembleia Legislativa do Estado do Mato Grosso


compareceu aos autos para alegar que a lei em questão busca assegurar
que os planos e seguros privados de saúde garantam o mesmo
atendimento e tratamento às pessoas com deficiência. Argumenta, ainda,
que a norma impugnada guarda total compatibilidade com o Estatuto da
Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015). Aduz que o objetivo da lei
estadual é a defesa da saúde, de modo que seu conteúdo não adentra o
âmbito civil e comercial do direito, mas decorre do exercício da
competência legislativa concorrente.

5. O Governador do Estado do Mato Grosso se manifesta,


inicialmente, pelo não conhecimento da ação. Alega que a UNIDAS não
comprovou ter caráter nacional e que representa apenas fração da

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ADI 7208 / MT

categoria econômica atingida pela norma. No mérito, o interessado pede


o julgamento de improcedência do pedido, ao argumento de que a norma
em questão está ligada à defesa da saúde e das pessoas com deficiência,
motivo por que se insere no plano da atribuição legislativa estadual.

6. Ouvidos os interessados, os autos foram remetidos à


Advocacia-Geral da União, que se manifesta pelo deferimento da medida
cautelar. Nesse sentido, aponta que está bem caracterizada a usurpação
da competência federal, bem como o descompasso da lei impugnada com
a Lei federal nº 9.656/1998, que trata da saúde suplementar e da
competência da Agência reguladora (ANS). Ressalta, ainda, que há risco
na demora diante do efeito multiplicador e do desequilíbrio dos contratos
de seguro.

7. O Procurador-Geral da República apresenta parecer no


sentido do deferimento do pedido cautelar e, no mérito, defende a
procedência da pretensão. Afirma que a lei impugnada ultrapassa o
campo de atuação próprio do Estado na proteção de pessoas com
deficiência e invade a esfera de competência legislativa privativa da
União.

8. É o relatório.

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.208 MATO GROSSO

VOTO:

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

I. PRELIMINAR

1. Registro, inicialmente, que a presente ação está apta para


ser julgada no mérito, na medida em que o contraditório formal está
aperfeiçoado e foram colhidas manifestações das partes envolvidas, do
Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República. Assim,
por imperativo de celeridade processual, o Plenário desta Corte tem
defendido, reiteradamente, ser tão oportuno quanto adequado emitir
pronunciamento jurisdicional definitivo. Destaco, dentre diversos
precedentes, os seguintes: ADI 5.566, Rel. Min. Alexandre de Moraes; ADI
5.253, Rel. Min. Dias Toffoli.

2. Analiso, inicialmente, a preliminar de ilegitimidade ativa


suscitada pelo Governador do Estado do Mato Grosso, que afirma que a
autora da ação direta não comprovou ter caráter nacional, nem
demonstrou a homogeneidade de sua representação.

3. Acerca da representatividade nacional, o art. 56 do


Estatuto da UNIDAS (doc. 3, fls. 19-20) registra que a entidade possui
assembleias estaduais e distrital em todas as vinte e sete unidades
federativas. Desse modo, cumpre-se a exigência de representação em ao
menos nove Estados. Sobre a suposta ausência de homogeneidade,
entendo que também não assiste razão ao interessado. Ainda que haja
categorias distintas de filiados, há entre eles um elemento comum, já que
todos se dedicam à manutenção de planos de assistência suplementar à
saúde (art. 4º do Estatuto). Ademais, não há conflituosidade interna na
pretensão deduzida em juízo, que tem o potencial de beneficiar todos os

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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associados.

4. Ressalto que, em precedente recente, esta Corte


reconheceu a legitimidade da autora para a propositura de ações diretas,
a seguir:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. CONVERSÃO DO
JULGAMENTO DA MEDIDA CAUTELAR EM DEFINITIVO
DE MÉRITO. LEI N. 11.782/2020 DA PARAÍBA. DISCIPLINA
SOBRE OBRIGAÇÃO DE EMPRESAS PRIVADAS QUE
ATUAM SOB A FORMA DE PRESTAÇÃO DIRETA OU
INTERMEDIAÇÃO DE SERVIÇOS MÉDICO-HOSPITALARES
GARANTIREM O ATENDIMENTO INTEGRAL E
ADEQUADO ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.
COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR
PRIVATIVAMENTE SOBRE DIREITO CIVIL E POLÍTICA DE
SEGUROS. PRECEDENTES. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDENTE. 1.
Instruído o processo nos termos do art. 10 da Lei n. 9.868/1999,
é de cumprir-se o princípio constitucional da duração razoável
do processo, com o conhecimento e julgamento definitivo de
mérito da presente ação direta por este Supremo Tribunal,
ausente a necessidade de novas informações. Precedentes. 2. A
União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde -
Unidas é legitimada ativa para ajuizar a presente ação,
atendendo os requisitos da pertinência temática entre as
normas impugnadas e o disposto no seu Estatuto Social e sua
natureza de entidade de alcance nacional com homogeneidade
na categoria dos seus integrantes. Precedentes. 3. É
inconstitucional a Lei n. 11.782/2020, da Paraíba, pela qual se
estabelecem obrigações referentes a serviço de assistência
médico-hospitalar que interferem nas relações contratuais
estabelecidas entre as operadoras de planos de saúde e seus
usuários: matéria de direito civil e concernente à política de
seguros, de competência legislativa privativa da União (incs. I e

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VII do art. 22 da Constituição da República). Precedentes. 4.


Ação direta de inconstitucionalidade na qual convertido o
julgamento da medida cautelar em definitivo de mérito e
julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade
formal da Lei n. 11.782/2020 da Paraíba.
(ADI 7029, Relª. Minª. Cármen Lúcia)

5. Assim sendo, rejeito a preliminar e conheço da ação direta.

II. MÉRITO

6. A questão a ser apreciada neste feito não é desconhecida


desta Corte. O Plenário do Supremo Tribunal Federal já teve a
oportunidade de reconhecer a inconstitucionalidade de leis estaduais que
disciplinavam o núcleo essencial das atribuições e serviços prestados por
operadoras de planos de saúde, em razão da existência de vício formal de
competência.

7. Apesar da boa intenção do legislador estadual em


promover maior resguardo ao direito das pessoas com deficiência,
entendo que a pretensão deve ser acolhida, tendo em vista a usurpação
da competência federal para legislar sobre direito civil e sobre política de
seguros. Por mais que se tenha assegurado algum campo para o
desenvolvimento legislativo dos Estados-membros, à luz da competência
legislativa concorrente em matéria de direito do consumidor, não é
autorizado que a lei estadual interfira no contrato em si, tendo em vista a
competência legislativa privativa definida no art. 22, I, da Constituição.

8. Porém, como afirmei no julgamento da ADI 4.701 (sob


minha relatoria), a meu ver, a questão contratual talvez nem seja a mais
relevante. Como indicam os precedentes, é da União a competência para
regular o mercado de planos de saúde, o que inclui não apenas a
normatização da matéria (CF/88, art. 22, VII), mas também toda a
fiscalização do setor (CF/88, art. 21, VIII). O enquadramento da matéria

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nesses dispositivos decorre evidente afinidade dos planos de saúde a


outras figuras textualmente incluídas nos enunciados em tela (por
exemplo, a previdência privada). Todas elas têm em comum um elemento
de risco financeiro evidente, certo caráter aleatório, que justifica a
regulação estatal do mercado. Ademais, os planos de saúde
compartilham com os seguros e a previdência privada um forte
componente atuarial. Tudo isso aponta decisivamente para uma
compreensão mais ampla dos arts. 21, VIII, e 22, VII, da Constituição, a
fim de considerar incluída nos dispositivos a referência aos planos de
saúde.

9. Por mais descentralizadas que sejam, as federações têm em


comum o caráter nacional do mercado, não havendo barreiras domésticas
à circulação de bens e serviços. Por isso mesmo, a regulação econômica
em sentido estrito é confiada ao ente central: sendo a única entidade
federativa com abrangência territorial para alcançar todo o mercado
nacional; ele é o único que pode planejar, absorver e distribuir todos os
efeitos da regulação. Essa circunstância foi levada em consideração pelo
Plenário do STF no julgamento da ADI 4.701, já referida, nos termos da
seguinte ementa:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


ESTADUAL QUE FIXA PRAZOS MÁXIMOS, SEGUNDO A
FAIXA ETÁRIA DOS USUÁRIOS, PARA A AUTORIZAÇÃO
DE EXAMES PELAS OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE.
1. Encontra-se caracterizado o direito de propositura. Os
associados da requerente estão unidos pela comunhão de
interesses em relação a um objeto específico (prestação do
serviço de assistência suplementar à saúde na modalidade
autogestão). Esse elemento caracteriza a unidade de propósito
na representação associativa, afastando a excessiva
generalidade que, segundo esta Corte, impediria o
conhecimento da ação.
2. Por mais ampla que seja, a competência legislativa
concorrente em matéria de defesa do consumidor (CF/88, art.

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24, V e VIII) não autoriza os Estados-membros a editarem


normas acerca de relações contratuais, uma vez que essa
atribuição está inserida na competência da União Federal para
legislar sobre direito civil (CF/88, art. 22, I).
3. Os arts. 22, VII e 21, VIII, da Constituição Federal
atribuem à União competência para legislar sobre seguros e
fiscalizar as operações relacionadas a essa matéria. Tais
previsões alcançam os planos de saúde, tendo em vista a sua
íntima afinidade com a lógica dos contratos de seguro,
notadamente por conta do componente atuarial.
4. Procedência do pedido.
(ADI 4701, sob minha relatoria)

10. Em precedentes mais recentes, o Supremo Tribunal Federal


confirmou essa orientação, reconhecendo a existência de vício formal em
leis estaduais que avancem sobre o conteúdo de contratos firmados entre
operadoras de planos de saúde e usuários. A esse respeito, cito as
seguintes ementas:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


CONVERSÃO DO JULGAMENTO DA MEDIDA CAUTELAR
EM DEFINITIVO DE MÉRITO. LEI N. 9.438, DE 21.10.2021, DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO. INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL: COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR
PRIVATIVAMENTE SOBRE DIREITO CIVIL E POLÍTICA DE
SEGUROS. PRECEDENTES. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDENTE.
1. Instruído o processo nos termos do art. 10 da Lei n.
9.868/1999, é de cumprir-se o princípio constitucional da
razoável duração do processo, com o conhecimento e
julgamento definitivo de mérito da presente ação direta por este
Supremo Tribunal, ausente a necessidade de novas
informações. Precedentes.
2. A União Nacional das Instituições de Autogestão em
Saúde - Unidas é legitimada ativa para ajuizar a presente ação,
atendendo os requisitos da pertinência temática entre as

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normas impugnadas e o disposto no seu estatuto social e sua


natureza de entidade de alcance nacional com homogeneidade
na categoria dos seus integrantes. Precedentes.
3. É formalmente inconstitucional a Lei n. 9.438, de
21.10.2021, do Estado do Rio de Janeiro, pela qual se
estabelecem obrigações referentes a serviço de assistência
médico-hospitalar que interferem nas relações contratuais
estabelecidas entre as operadoras de planos de saúde e seus
usuários: matéria de direito civil e concernente à política de
seguros, de competência legislativa privativa da União (incs. I e
VII do art. 22 da Constituição da República). Precedentes.
4. Conversão do exame da medida cautelar em julgamento
de mérito. Ação julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade formal da Lei n. 9.438, de 21.10.2021, do
Estado do Rio de Janeiro.
(ADI 7172, Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia)

CONSTITUCIONAL. FEDERALISMO E RESPEITO ÀS


REGRAS DE DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA.
PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 1º DA LEI 9.394/2010, DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. IMPOSIÇÃO DE PRAZO
PARA AUTORIZAÇÃO DE COBERTURA DE
PROCEDIMENTOS OU JUSTIFICATIVA PARA A NEGATIVA
POR PARTE DE OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE.
INCONSTITUCIONALIDADE JÁ DECLARADA PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM RELAÇÃO AO CAPUT
DO MESMO ARTIGO. USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA
LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO EM MATÉRIA DE
DIREITO CIVIL, CONTRATUAL E POLÍTICA DE SEGUROS
(ART. 22, I E VII, DA CF). PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
1. As regras de distribuição de competências legislativas
são alicerces do federalismo e consagram a fórmula de divisão
de centros de poder em um Estado de Direito. Princípio da
predominância do interesse.
2. A Constituição Federal de 1988, presumindo de forma
absoluta para algumas matérias a presença do princípio da

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predominância do interesse, estabeleceu, a priori, diversas


competências para cada um dos entes federativos, União,
Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, e, a partir
dessas opções, pode ora acentuar maior centralização de poder,
principalmente na própria União (CF, art. 22), ora permitir uma
maior descentralização nos Estados-membros e nos Municípios
(CF, arts. 24 e 30, inciso I).
3. O custeio de exames e procedimentos cirúrgicos
realizados pelos conveniados das empresas de plano de saúde
se insere no núcleo essencial das atribuições e serviços
prestados pelas operadoras previamente estabelecidos em
contrato. Relação contratual que se rege a partir de normas de
competência da União Federal. Precedentes.
4. O parágrafo único do art. 1º da Lei 9.394/2010, do
Estado do Espírito Santo, ao estabelecer o prazo máximo de 24
(vinte e quatro) horas para que as empresas autorizem ou não
as solicitações de exames e procedimentos cirúrgicos em seus
conveniados que tenham mais de 60 (sessenta) anos, padece de
vício de inconstitucionalidade formal, por usurpação da
competência privativa da União para legislar sobre Direito Civil
e política de seguros (art. 22, I e VII, da CF).
5. Ação Direta julgada procedente.
(ADI 6452, Red. p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes)

DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL QUE AMPLIA
AS FORMAS DE PAGAMENTO DOS PLANOS PRIVADOS DE
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E ODONTOLÓGICA.
COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO.
1. Ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei nº
9.444/2021, do Estado do Rio de Janeiro, que amplia as formas
de pagamento dos planos privados de assistência à saúde e
odontológica, sob pena de multa.
2. O Supremo Tribunal Federal possui entendimento de
que lei estadual ou municipal que altera as obrigações
contratuais entre planos de saúde e seus usuários configura

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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ADI 7208 / MT

usurpação da competência privativa da União para legislar


sobre direito civil, comercial e política de seguros (art. 22, I e
VII, CF). Precedentes.
3. Pedido julgado procedente para declarar a
inconstitucionalidade da Lei nº 9.444/2021, do Estado do Rio de
Janeiro, por violação ao art. 22, I e VII, da CF. Fixação da
seguinte tese de julgamento: ‘É inconstitucional lei estadual que
amplia as formas de pagamento dos planos privados de
assistência à saúde, individuais ou coletivos, por violação à
competência privativa da União para legislar sobre a matéria’.
(ADI 7.023, sob minha relatoria)

11. A lei impugnada na presente ação direta interfere


diretamente na regulação dos planos de saúde, já que busca definir os
tratamentos e intervenções terapêuticas que as prestadoras estão
obrigadas a custear, a cobertura a ser ofertada aos consumidores, a
quantidade e duração das sessões de tratamento, entre outros elementos.
Trata-se de matéria que já se encontra definida em atos normativos
federais, seja na Lei nº 9.656/1998 ou nas resoluções da ANS que regulam
o Rol de Procedimento e Eventos em Saúde. A existência de vasta
normatização federal na matéria evidencia o descompasso entre o
diploma estadual ora impugnado e a distribuição constitucional de
competências. Nesse contexto, forçosa a invalidação da norma
impugnada.

III. CONCLUSÃO

12. Diante do exposto, conheço da ação direta e julgo


procedente o pedido, para declarar a inconstitucionalidade da Lei
Estadual nº 11.816/2022, do Estado do Mato Grosso. Proponho a fixação
da seguinte tese de julgamento: É inconstitucional, por violação à
competência da União para legislar sobre direito civil e seguros (CF/1988, art.
22, I e VII), lei estadual que estabelece obrigações contratuais para operadoras de
planos de saúde.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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ADI 7208 / MT

13. É como voto.

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Voto Vogal

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27/03/2023 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.208 MATO GROSSO

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : UNIÃO NACIONAL DAS INSTITUIÇÕES DE
AUTOGESTÃO EM SAÚDE - UNIDAS
ADV.(A/S) : JOSE LUIZ TORO DA SILVA
ADV.(A/S) : VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO MATO
GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO MATO GROSSO
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO
GROSSO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN:


Adoto o acutíssimo relatório apresentado pelo e. Ministro Roberto
Barroso, Relator da ação direta em julgamento.
Permito-me rememorar que se trata de ação direta de
inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, ajuizada pela
União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (UNIDAS) em
face da Lei nº 11.816/2022, do estado de Mato Grosso, que “determina a
obrigação de as empresas privadas que atuam sob a forma de prestação direta ou
intermediação de serviços médico-hospitalares, no âmbito do Estado de Mato
Grosso, a garantir e assegurar o atendimento integral e adequado às pessoas com
deficiência’.
Sublinho que restei vencido, na honrosa companhia da e. Ministra
Rosa Weber e do e. Ministro Marco Aurélio no julgamento da ADI
6.441/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, apreciada pelo Plenário desta Corte em
17.05.2021.
Naquela assentada, o Plenário julgou procedente o pedido
deduzido, para declarar a inconstitucionalidade de dispositivos de Lei do
Estado do Rio de Janeiro que tratava de matéria análoga à das normas ora
impugnadas, como se pode haurir da ementa respectiva:

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Voto Vogal

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ADI 7208 / MT

“MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. CONVERSÃO EM
JULGAMENTO DEFINITIVO. LEI N. 8.811/2020 DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO. DISCIPLINA SOBRE PROIBIÇÃO DE
SUSPENSÃO OU CANCELAMENTO DE PLANOS DE SAÚDE
POR FALTA DE PAGAMENTO DURANTE A SITUAÇÃO DE
EMERGÊNCIA DA PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. COMPETÊNCIA DA
UNIÃO PARA LEGISLAR PRIVATIVAMENTE SOBRE
DIREITO CIVIL E POLÍTICA DE SEGUROS. AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA
PROCEDENTE .” (ADI 6.441/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia,
Tribunal Pleno, j. 17.5.2021, DJe 06.7.2021)

Após o julgamento da ADI 6.441/RJ, de relatoria da Ministra Cármen


Lúcia, o Plenário desta Suprema Corte confirmou, uma vez mais, o
entendimento de que os Estados-membros não podem dispor sobre
normas atinentes a contratos de prestação de serviços de saúde por ser de
competência privativa da União legislar sobre direito civil e políticas
securitárias, conforme se pode depreender das ementas que aqui
reproduzo:

“Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 11.746, de 30


de junho de 2020, do Estado da Paraíba. Proibição de
operadoras de planos de saúde no Estado da Paraíba recusarem
a prestação de serviços a pessoas suspeitas ou contaminadas
pelo COVID-19 em razão de prazo de carência contratual. 3.
Usurpação de competência privativa da União para legislar
sobre direito civil, comercial e sobre política de seguros. 4.
Interferência nas relações contratuais firmadas entre operadoras
de plano de saúde e usuários . 5. Período de carência.
Suspensão. COVID-19. Disciplina dada pela Lei Federal 9.656 /
1998. 6. Inconstitucionalidade formal . Precedentes. ADI 6441,
Rel. Min. Cármen Lúcia, julgada na Sessão virtual de 07/05 a
14/05 de 2021. 7. Ação direta de inconstitucionalidade julgada

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Voto Vogal

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ADI 7208 / MT

procedente.” (ADI 6.493/PB, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal


Pleno, j. 14.6.2021, DJe 28.6.2021).

“CONSTITUCIONAL. FEDERALISMO E RESPEITO ÀS


REGRAS DE DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA. ART. 1º,
INCISO §1º, DA LEI 9.394/2010, DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. IMPOSIÇÃO DE PRAZO PARA AUTORIZAÇÃO DE
COBERTURA DE PROCEDIMENTOS OU JUSTIFICATIVA
PARA A NEGATIVA POR PARTE DE OPERADORAS DE
PLANOS DE SAÚDE. INCONSTITUCIONALIDADE JÁ
DECLARADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM
RELAÇÃO AO CAPUT DO MESMO ARTIGO. USURPAÇÃO
DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO
EM MATÉRIA DE DIREITO CIVIL, CONTRATUAL E
POLÍTICA DE SEGUROS (ART. 22, I E VII, DA CF).
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. As regras de distribuição de
competências legislativas são alicerces do federalismo e
consagram a fórmula de divisão de centros de poder em um
Estado de Direito. Princípio da predominância do interesse. 2. A
Constituição Federal de 1988, presumindo de forma absoluta
para algumas matérias a presença do princípio da
predominância do interesse, estabeleceu, a priori, diversas
competências para cada um dos entes federativos, União,
Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, e, a partir
dessas opções, pode ora acentuar maior centralização de poder,
principalmente na própria União (CF, art. 22), ora permitir uma
maior descentralização nos Estados-membros e nos Municípios
(CF, arts. 24 e 30, inciso I). 3. O custeio de exames e
procedimentos cirúrgicos realizados pelos conveniados das
empresas de plano de saúde se insere no Plenário Virtual -
minuta de voto - 03/12/2021 00:00 6 núcleo essencial das
atribuições e serviços prestados pelas operadoras previamente
estabelecidos em contrato. Relação contratual que se rege a
partir de normas de competência da União Federal. Precedentes
. 4. O caput do art. 1º da Lei 9.394/2010, do Estado do Espírito
Santo, ao estabelecer o prazo máximo de 24 (vinte e quatro)

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ADI 7208 / MT

horas para que as empresas autorizem ou não as solicitações de


exames e procedimentos cirúrgicos em seus conveniados que
tenham mais de 60 (sessenta) anos, padece de vício de
inconstitucionalidade formal, por usurpação da competência
privativa da União para legislar sobre Direito Civil e política de
seguros (art. 22, I e VII, da CF) . 5. Ação Direta julgada
procedente.” (ADI 6.452/ES, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
Tribunal Pleno, j. 14.6.2021, DJe 28.6.2021).

Ainda, houve o julgamento, em sessão virtual levada a efeito entre


22.10.2021 e 03.11.2021, das ADI’s 6.491/PB e 6.538/PB, ambas de relatoria
do Ministro Dias Toffoli, quando o Plenário desta Suprema Corte
declarou, em contexto análogo, a inconstitucionalidade de leis do Estado
da Paraíba que representavam interferência na essência dos contratos de
planos de saúde previamente pactuados entre as partes a regulados pelas
normas federais aplicáveis à matéria.
Diante do exposto, acompanho o e. Ministro Relator e, em
homenagem ao princípio da colegialidade e da uniformidade das
decisões judiciais, acato a compreensão majoritária deste Supremo
Tribunal Federal para reconhecer a inconstitucionalidade formal da Lei nº
11.816/2022, do estado de Mato Grosso, com a ressalva de meu
entendimento pessoal em sentido contrário.
É como voto.

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Extrato de Ata - 27/03/2023

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.208


PROCED. : MATO GROSSO
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
REQTE.(S) : UNIÃO NACIONAL DAS INSTITUIÇÕES DE AUTOGESTÃO EM SAÚDE
- UNIDAS
ADV.(A/S) : JOSE LUIZ TORO DA SILVA (110493/RJ, 76996/SP)
ADV.(A/S) : VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA (A1656/AM,
141933/RJ, 181164/SP)
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO MATO GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO
MATO GROSSO
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO GROSSO

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta,


julgou procedente o pedido, para declarar a inconstitucionalidade
da Lei Estadual nº 11.816/2022, do Estado do Mato Grosso, e fixou
a seguinte tese de julgamento: “É inconstitucional, por violação à
competência da União para legislar sobre direito civil e seguros
(CF/1988, art. 22, I e VII), lei estadual que estabelece
obrigações contratuais para operadoras de planos de saúde”, nos
termos do voto do Relator. O Ministro Edson Fachin acompanhou o
Relator com ressalvas. Plenário, Sessão Virtual de 17.3.2023 a
24.3.2023.

Composição: Ministros Rosa Weber (Presidente), Gilmar Mendes,


Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Roberto
Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Nunes Marques e André
Mendonça.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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