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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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21/12/2020 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.312 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) :A CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS
TRABALHADORES EM ESTABELECIMENTOS DE
ENSINO (CONTEE)
ADV.(A/S) : JOSE GERALDO DE SANTANA OLIVEIRA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
AM. CURIAE. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL

Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA


DE INCONSTITUCIONALIDADE. COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA EDITAR
NORMAS GERAIS SOBRE EDUCAÇÃO E ENSINO. LEI ESTADUAL CONFLITANTE.
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
1. Ação direta de inconstitucionalidade que tem por objeto lei
estadual que estabelece idade de corte para ingresso no ensino
fundamental em dissonância com a legislação federal. Competência
privativa da União para dispor sobre diretrizes e bases da educação (CF,
art. 22, XXIV). Precedentes: ADC 17, red. p/ acórdão Min. Luís Roberto
Barroso, j. 01.08.2018; ADI 2501, rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 04.09.2008, e
ADI 2667 MC, rel. Min. Celso de Mello, j. 19.06.2002.
2. A questão já foi enfrentada pelo Supremo Tribunal Federal, em
sede de controle concentrado da constitucionalidade, e firmou a seguinte
tese: “É constitucional a exigência de 6 (seis) anos de idade para o ingresso no
ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do momento
em que o aluno deverá preencher o critério etário" (ADC 17, red. p/ acórdão

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ADI 6312 / RS

Min. Luís Roberto Barroso, j. 01.08.2018. No mesmo sentido, ADPF 292,


Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, j. 01.08.2018, p. 27.07.2020). Há, ainda,
jurisprudência consolidada no Tribunal acerca da inconstitucionalidade
de normas estaduais e distritais que disponham de forma conflitante em
matéria atinente a “diretrizes e bases” da educação. Nesse sentido: ADI
2501, rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 04.09.2008, e ADI 2667 MC, rel. Min.
Celso de Mello, j. 19.06.2002.
3. Pedido julgado procedente, com a fixação da seguinte tese: “É
inconstitucional lei estadual que fixa critério etário para o ingresso no Ensino
Fundamental diferente do estabelecido pelo legislador federal e regulamentado
pelo Ministério da Educação”.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual,por maioria de votos, em
julgar procedente o pedido formulado na ação direta para declarar
inconstitucional o art. 2º, incs. II e III, da Lei nº 15.433/2019, do Estado do
Rio Grande do Sul, prejudicado o agravo interno interposto pelo
Governador do mesmo estado contra a decisão que deferiu a medida
cautelar. Foi fixada a seguinte tese de julgamento: "É inconstitucional lei
estadual que fixa critério etário para o ingresso no Ensino Fundamental
diferente do estabelecido pelo legislador federal e regulamentado pelo
Ministério da Educação", nos termos do voto do Relator, vencido o
Ministro Marco Aurélio. A Ministra Rosa Weber acompanhou o Relator
com ressalvas.
Brasília, 11a 18 de dezembro de 2020.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO - Relator

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.312 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) :A CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS
TRABALHADORES EM ESTABELECIMENTOS DE
ENSINO (CONTEE)
ADV.(A/S) : JOSE GERALDO DE SANTANA OLIVEIRA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
AM. CURIAE. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (Relator):

1. Trata- se de ação direta de inconstitucionalidade, com


pedido de liminar, proposta pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino – CONTEE, que tem por
objeto o art. 2º, II e III, da Lei nº 15.433/2019, do Estado do Rio Grande do
Sul, que regulamenta as condições para ingresso no ensino fundamental.
Confira-se o teor do dispositivo impugnado:

Art. 2º O ingresso no primeiro ano do ensino fundamental


respeitará a individualidade e a capacidade de cada um e dar-
se-á para crianças com:
I - idade de 6 (seis) anos completos até o dia 31 de março
do ano em que ocorrer a matrícula;

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II - idade de 6 (seis) anos completos entre 1º de abril e 31


de maio do ano em que ocorrer a matrícula, egressas da
educação infantil, salvo se alternativamente houver:
a) manifestação expressa dos pais ou responsáveis no
sentido de que entendem que a criança ainda não tem a
maturidade física, psicológica, intelectual e social necessárias ao
primeiro ano, devendo permanecer na educação infantil;
b) manifestação justificada de profissional técnico no
sentido de que entende que a criança ainda não tem a
maturidade física, psicológica, intelectual e social necessárias ao
primeiro ano, devendo permanecer na educação infantil;
III - idade de 6 (seis) anos completos entre 1º de junho e
31 de dezembro do ano em que ocorrer a matrícula, egressas
da educação infantil, desde que haja cumulativamente:
a) manifestação expressa dos pais ou responsáveis no
sentido de que entendem que a criança tem a maturidade física,
psicológica, intelectual e social necessárias ao primeiro ano;
b) manifestação justificada por equipe multidisciplinar no
sentido de que entende que a criança tem a maturidade física,
psicológica, intelectual e social necessárias ao primeiro ano.

2. A requerente argumenta que a norma é formalmente


inconstitucional, por desrespeitar a competência da União para
estabelecer o corte etário, para fins de matrícula no ensino fundamental,
nos termos do art. 22, XXIV, da CF. Conflita, ainda, com a regulamentação
federal sobre a matéria, que previu que, para o ingresso no ensino
fundamental, a criança deverá ter completado 6 anos até 31 de março do
ano em que ocorrer a matrícula (art. 3º da Resolução CNE/CBE 6/2010). A
requerente observa, por fim, que o Supremo Tribunal Federal já
explicitou, em sede de controle concentrado da constitucionalidade, caber
ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno
deverá preencher o critério etário de 6 (seis) anos para ingresso no ensino
fundamental (ADC 17, rel. Min. Luís Roberto Barroso, j. 01.08.2018).

3. Determinei a oitiva dos órgãos e autoridades dos quais

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emanou a norma impugnada, bem como do Advogado-Geral da União e


do Procurador Geral da República, nos termos do art. 10, caput e §1º, da
Lei 9.868/1999.

4. A Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul


e o Governador do mesmo Estado manifestaram-se pelo indeferimento da
medida cautelar pleiteada, alegando que a norma: (i) decorre do exercício
regular de competência legislativa concorrente estadual (art. 24, IX, CF);
(ii) concretiza princípio constitucional estabelecido no art. 208, V, CF; e
(iii) disciplina exceção ao corte etário que foi expressamente reconhecida
no julgamento da ADC 17 por esse Supremo Tribunal Federal.

5. A Procuradoria-Geral da República e a Advocacia-Geral da


União manifestaram-se pelo deferimento da medida cautelar, sob o
fundamento de que o corte etário é matéria que demanda tratamento
uniforme em todo o país e que cabe ao Ministério da Educação a fixação
do momento em que o aluno deverá preencher tal critério, conforme a já
mencionada decisão proferida pelo STF nos autos da ADC 17 do STF.

6. Em 30 de junho de 2020, deferi a medida liminar para


determinar a suspensão do art. 2º, II e III, da Lei 15.433/2019, do Estado
do Rio Grande do Sul.

7. O Governador do Estado do Rio Grande do Sul interpôs


agravo interno para pleitear a cassação da decisão que deferiu a liminar
(Doc. 45). Alegou a inexistência de situação de urgência que justificasse o
deferimento da medida cautelar monocraticamente pelo Ministro Relator,
especialmente se se considerar que “o calendário de matrículas para o
próximo ano letivo não está em vias de ser iniciado”. Também frisou, quanto
ao art. 2º, III, da Lei estadual n. 15.433/2019, “a própria Lei impugnada
postergou a sua vigência para 1º de janeiro de 2021”.

8. No mérito, o agravante sustentou a constitucionalidade do

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dispositivo ora impugnado, destacando que a controvérsia destes autos é


distinta daquela objeto da ADC 17. Afirmou que, no caso, “a Lei estadual
regulamenta a situação que foi reconhecida em precedente desse STF (ADPF
292) quanto ao corte etário para realização de matrícula no ensino fundamental,
em julgamento que ocorreu de forma simultânea com a ADC 17”. De modo que
“a lei atacada não estabelece regra, mas regulamenta exceções a ela”, o que é
permitido, nos termos da ADPF 292, que “definiu, de forma expressa, que o
corte etário – cuja constitucionalidade não se está discutindo – poderá vir a ser
afastado a partir de critérios técnicos trazidos pela equipe pedagógica diretamente
responsável pelo aluno”. Por fim, destacou que a Lei estadual 15.433/2019
“pretende concretizar o disposto no artigo 208, inciso V, que determina que o
dever do Estado com a educação será efetivado por meio de acesso aos níveis mais
elevados de ensino segundo a capacidade de cada um”.

9. Deferi o ingresso do Ministério Público do Estado do Rio


Grande do Sul no feito na qualidade de amicus curiae. Ele se manifesta
pela procedência da ação direta, afim de que seja declarada a
inconstitucionalidade do art. 2º, II e III, da Lei 15.433/2019, do Estado do
Rio Grande do Sul.

10. É o relatório.

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.312 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

1. O pedido deve ser julgado procedente, confirmando-se a


medida cautelar anteriormente deferida. Registro inicialmente que o feito
se encontra pronto para o julgamento do pedido principal, tendo em vista
que já foram prestadas as informações pela Assembleia Legislativa do
Estado do Rio Grande do Sul e pelo Governador do mesmo Estado. Além
disso, intimadas nos termos do art. 10 da Lei nº 9.868/99, a Advocacia-
Geral da União e a Procuradoria-Geral da República se manifestaram em
relação ao mérito da presente demanda.

2. Ainda em sede preliminar, reconheço a legitimidade ativa


da requerente nos termos dos arts. 2º, inciso IX, da Lei nº 9.868/1999, e
103, inciso IX, CF. A CONTEE é confederação de abrangência nacional
que congrega federações relativas a entidades sindicais representativas
dos trabalhadores em estabelecimentos de ensino. A sua atuação possui
pertinência temática com a matéria discutida na presente ação, pois há
interesse dos trabalhadores em estabelecimentos de ensino no debate a
respeito da regulação da idade de corte para ingresso no ensino
fundamental. Não bastasse isso, a requerente possui, entre as suas
finalidades institucionais, a garantia da observância dos direitos
fundamentais, individuais e sociais, assegurados na CF/88 e a luta pelo
direito ao acesso e à permanência de todos no sistema de ensino (art. 3º,
VII e VIII, de seu Estatuto Social – Doc. 7). Registro, por fim, que o STF já
reconheceu a legitimidade ativa da CONTEE por ocasião do julgamento
da ADI 5337, de minha relatoria, j. 24.08.2020, p. 17.09.2020.

3. Passo à análise do mérito. A questão ora analisada já foi


enfrentada pelo Supremo Tribunal Federal em sede de controle

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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ADI 6312 / RS

concentrado da constitucionalidade, na ADC 17 e na ADPF 292. No


julgamento da ADC 17, o Plenário firmou a seguinte tese: “É
constitucional a exigência de 6 (seis) anos de idade para o ingresso no
ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do
momento em que o aluno deverá preencher o critério etário". A ação teve
por objeto a declaração de constitucionalidade de dispositivos da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional que dispõem que o ensino
fundamental obrigatório se inicia aos 06 (seis) anos de idade.

4. A ADC 17 foi ajuizada com o intuito de pacificar a


controvérsia judicial que existia até então sobre a validade dessas normas.
A discussão era justamente a respeito da sua compatibilidade com o art.
208, V, CF, que assegura o “acesso aos níveis mais elevados do ensino (…)
segundo a capacidade de cada um”. As demandas judiciais que tornaram
o tema controvertido tinham o objetivo de garantir que alunos de idade
inferior a seis anos acessassem o ensino fundamental, desde que
comprovada a sua capacidade, declarando-se de forma incidental a
inconstitucionalidade dos dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional.

5. No julgamento, em que me tornei redator para o acórdão,


registrei que “o presente caso reclama a intervenção firme do Supremo
Tribunal Federal no sentido de afastar a incerteza jurídica e estabelecer
uma orientação homogênea, como, aliás, é próprio dos julgamentos em
sede de ação declaratória de constitucionalidade”. Afirmei a intenção de
fixar uma orientação clara para os tribunais do país. A decisão proferida
naquela ação possui dois conteúdos jurídicos relevantes. Primeiro, afirma
a constitucionalidade da fixação da idade de 6 (seis) anos como marco
para o ingresso no ensino fundamental. Segundo, afirma que cabe ao
Ministério da Educação definir o momento em que o aluno deve
preencher o critério etário. Confira-se a ementa do precedente:

“Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DECLARATÓRIA


DE CONSTITUCIONALIDADE. FIXAÇÃO DA IDADE MÍNIMA DE 06

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(SEIS) ANOS PARA O INGRESSO NO ENSINO FUNDAMENTAL.


1. Ação declaratória de constitucionalidade que tem
por objeto os artigos 24, II, 31, I e 32, caput, da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, que dispõem que o ensino
fundamental obrigatório se inicia aos 06 (seis) anos de idade.
2. É constitucional a norma que fixa a idade de 6
(seis) anos como marco para o ingresso no ensino fundamental,
tendo em vista que o legislador constituinte utilizou critério
etário plenamente compatível com essa previsão no art. 208, IV,
da Constituição, de acordo com o qual a educação infantil deve
ser oferecida ‘às crianças até 5 (cinco) anos de idade’.
3. O critério etário está sujeito a mais de uma
interpretação possível com relação ao momento exato em que o
aluno deva ter 6 (seis) anos completos. Cabe ao Ministério da
Educação a definição do momento em que o aluno deverá
preenchê-lo, pois se trata de órgão dotado de capacidade
institucional adequada para a regulamentação da matéria.
4. Procedência parcial do pedido com a fixação da
seguinte tese: ‘É constitucional a exigência de que o aluno possua 06
(seis) anos de idade para o ingresso no ensino fundamental, cabendo
ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno
deverá preencher o critério etário’.” (ADC 17, Rel. Min. Edson
Fachin, Red. p/ acórdão Min. Luís Roberto Barroso, j. 01.08.2018,
p. 29.07.2020)

6. Na ADPF 292, o STF declarou a constitucionalidade da


fixação, pelo Ministério da Educação, da data de 31 de março do ano em
que ocorrer a matrícula como o momento em que o aluno deve
comprovar que possui 6 (seis) anos completos. A arguição foi ajuizada
com o objetivo de declarar a inconstitucionalidade de dispositivos das
Resoluções CNE/CEB nº 1/2010 e 6/2010, que estabelecem um critério
único e objetivo para o ingresso às séries iniciais da Educação Infantil e
do Ensino Fundamental da criança que tenha, respectivamente, quatro e
seis anos de idade, completos até o dia 31 de março do ano em que
ocorrer a matrícula. Confira-se a ementa do precedente:

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Ementa: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE


PRECEITO FUNDAMENTAL. ARTS. 2º E 3º DA RESOLUÇÃO
1, DE 14 DE JANEIRO DE 2010, E ARTS. 2º A 4º DA
RESOLUÇÃO 6, DE 20 DE OUTUBRO DE 2010, DA CÂMARA
DE EDUCAÇÃO BÁSICA (CEB) DO CONSELHO NACIONAL
DA EDUCAÇÃO (CNE). ALEGAÇÃO DE OFENSA REFLEXA
À CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NÃO
CONFIGURAÇÃO. MÉRITO. CORTE ETÁRIO PARA
MATRÍCULA NO ENSINO INFANTIL E NO ENSINO
FUNDAMENTAL. CONSTITUCIONALIDADE. AFRONTA AO
PRINCÍPIO DA ISONOMIA. NÃO OCORRÊNCIA.
VIOLAÇÃO AO PRECEITO DA ACESSIBILIDADE À
EDUCAÇÃO INFANTIL. NÃO OCORRÊNCIA.
DISCRICIONARIEDADE DO ADMINISTRADOR PÚBLICO.
CRITÉRIO DEFINIDO COM AMPLA PARTICIPAÇÃO
TÉCNICA E SOCIAL. GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO
PÚBLICO. PEDIDO IMPROCEDENTE.
1. As Resoluções CNE/CEB nº 1/2010 e 6/2010, ao
estabelecerem um critério único e objetivo para o ingresso às
séries iniciais da Educação Infantil e do Ensino Fundamental da
criança que tenha, respectivamente, quatro e seis anos de idade,
completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a
matrícula, não violam os princípios da isonomia, da
proporcionalidade e do acesso à educação.
2. A efetividade das normas consagradoras do direito à
educação encontrou suporte nas alterações promovidas pelo
constituinte derivado, por meio das Emendas Constitucionais
nº 53/2006 e 59/2009, que ampliaram a educação obrigatória a
partir dos quatro anos de idade e substituíram o critério da
etapa de ensino pelo critério da idade do aluno.
3. A democratização do acesso à leitura, à escrita e ao
conhecimento, na primeira infância, acarreta diversos benefícios
individuais e sociais, como melhores resultados no
desempenho acadêmico, produtividade econômica, cidadania
responsável e combate à miséria intelectual intergeracional.

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4. A faixa etária não é estabelecida entre as etapas do


sistema de ensino porque o que importa é que à criança entre
quatro e dezessete anos seja assegurado o acesso à educação, de
acordo com sua capacidade, o que não gera
inconstitucionalidade na regulamentação da transição entre as
etapas de ensino (art. 208, I e IV, da CRFB).
5. Cabe ao poder público desenhar as políticas
educacionais conforme sua expertise, estabelecidas as balizas
pretendidas pelo constituinte.
5.1 A uniformização da política instituída visa a permitir
um percurso escolar contínuo entre os diversos sistemas de
ensino e, consoante refletem diversos estudos pedagógicos
específicos, permite à criança vivenciar cada etapa de acordo
com sua faixa etária.
5.2 Os critérios universalizáveis para o ingresso no ensino
fundamental, de cunho impessoal e genérico, são imperiosos
em sede de política pública.
5.3 É que a tomada de decisão baseada em regras
considera a possibilidade de erros de subinclusão e
sobreinclusão e prestigia a teoria da segunda melhor opção
(second best), que preserva as virtudes de certeza, segurança,
previsibilidade, eficiência, separação de poderes e prevenção de
erros de decisão.
6. O corte etário, mercê de não ser a única solução
constitucionalmente possível, insere-se no espaço de
conformação do administrador, sobretudo em razão da
expertise do Conselho Nacional de Educação e de as resoluções
terem sido expedidas com ampla participação técnica e social,
em respeito à gestão democrática do ensino público (art. 206,
VI, da CRFB).
7. As regras objetivas encerram notável segurança jurídica,
por isso que a expressão “completos” é inerente a qualquer
referência etária, sem que o esforço exegético de se
complementar o que já está semanticamente definido possa
desvirtuar a objetivação decorrente do emprego de número.
8. O acesso aos níveis mais elevados do ensino, segundo a

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capacidade de cada um, pode justificar o afastamento da regra


em casos bastante excepcionais, a critério exclusivo da equipe
pedagógica diretamente responsável pelo aluno, o que se
mostra consentâneo com a “valorização dos profissionais da
educação escolar” (art. 208, V, da CRFB e art. 206, V, da CRFB) e
o apreço à pluralidade de níveis cognitivo-comportamentais em
sala de aula.
9. In casu, não se faz necessário verificar a compatibilidade
das resoluções expedidas pela Câmara de Educação Básica
(CEB) do Conselho Nacional da Educação (CNE) com nenhuma
outra norma infraconstitucional, senão diretamente com os
parâmetros constitucionais de controle, sendo certo que os
dispositivos legais a que fazem remissão apenas atribuem ao
Poder Executivo poderes normativos para disciplinar o tema.
10. Pedido improcedente.
(ADPF 292, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, j.
01.08.2018, p. 27.07.2020)

7. A Lei nº 15.433/2019, do Estado do Rio Grande do Sul,


impugnada na presente ação direta de inconstitucionalidade, foi editada
após a apreciação de tais casos pelo Plenário do STF. O julgamento das
duas ações foi concluído em 01.08.2018 e a lei estadual foi publicada em
27.12.2019. É à luz desse cenário que se deve analisar a presente ação
direta de inconstitucionalidade.

8. Deve-se reconhecer o vício de inconstitucionalidade


formal, tendo em vista a violação da competência privativa da União para
legislar a respeito de diretrizes e bases da educação nacional, nos termos
do art. 22, XXIV, CF. A definição do momento de ingresso no Ensino
Fundamental pelas crianças de 6 (seis) anos de idade é uma questão que
precisa receber tratamento uniforme em todo o país. Admitir que os
Estados disponham de maneira diferente pode colocar em risco a
estrutura da política nacional de educação.

9. Como registrei no voto que proferi na ADC 17, permitir a

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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ADI 6312 / RS

alteração dessa regra pode impactar a Base Nacional Comum Curricular


– BNCC, que foi aprovada em dezembro de 2017 após anos de debate, e
representa uma conquista relevante da educação brasileira. A BNCC
estabelece os currículos dos sistemas e redes de ensino das Unidades
Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas
públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino
Médio, em todo o Brasil. Se o critério for movido da data 31 de março
para a data 31 de dezembro, a consequência é que a maioria das crianças
do primeiro ano do Ensino Fundamental terá cinco e não seis anos. Isso
pode exigir a mudança do conteúdo programado para a etapa inicial do
ensino, impactando a BNCC.

10. Aqui, volto a ressaltar que uma das principais razões de


decidir da ADC 17 e da ADPF 292 foi a adoção de uma postura de
deferência judicial com relação ao que foi decidido pelo Poder Executivo.
Trata-se do reconhecimento de que o Ministério da Educação possui
capacidade institucional mais adequada para produzir a melhor decisão a
respeito da matéria. Não se trata de questão meramente semântica ou
normativa, a respeito da correta interpretação da lei. A data de corte para
ingresso no Ensino Fundamental requer conhecimentos técnicos
específicos a respeito de pedagogia e psicologia infantil. Com efeito, foi
justamente por conta de sua capacidade institucional e especialização na
matéria que o art. 9º, §1º, da LDB, atribuiu ao Conselho Nacional de
Educação a competência normativa para disciplinar questões do gênero.

11. Por isso, não impressiona o argumento de que a norma


estadual tem o propósito de disciplinar exceção ao corte etário previsto na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Na prática, a norma
estadual estabelece como regra a matrícula dos egressos da educação
infantil fora da idade de corte estabelecida pelo Ministério da Educação,
observados os seguintes requisitos: (i) 6 anos completos entre 1º de abril e
31 de maio, salvo manifestação dos pais ou de técnico, no sentido da
imaturidade da criança; e (ii) 6 anos completos entre 1º de junho e 31 de

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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ADI 6312 / RS

dezembro do ano, desde que haja cumulativamente manifestação


favorável dos pais e de equipe multidisciplinar. Ao assim determinar, a lei
impugnada interfere em todas as relações de ensino envolvendo o
ingresso de crianças no ensino fundamental no Estado do Rio Grande do
Sul, que passa a ser feito em contrariedade ao que prevê a regulação
federal sobre o tema.

12. O potencial de desorganizar a política educacional


definida pelo Ministério da Educação na BNCC é clara. Mais que isso,
revela a clara intenção de alterar um critério que foi definido em âmbito
nacional pela União, no exercício regular de suas competências
constitucionais, e que já teve a sua validade reconhecida pelo STF. Nesse
sentido, vale registrar que há jurisprudência consolidada no Tribunal
acerca da inconstitucionalidade de normas estaduais e distritais que
disponham de forma conflitante em matéria atinente às diretrizes e bases
da educação. Nesse sentido: ADI 2501, rel. Min. Joaquim Barbosa, j.
04.09.2008, e ADI 2667 MC, rel. Min. Celso de Mello, j. 19.06.2002.

13. Diante do exposto, julgo procedente o pedido para


declarar inconstitucional o art. 2º, incs. II e III, da Lei nº 15.433/2019, do
Estado do Rio Grande do Sul, prejudicado o agravo interno interposto
pelo Governador do mesmo estado contra a decisão que deferiu a medida
cautelar. Fixação da seguinte tese de julgamento: “É inconstitucional lei
estadual que fixa critério etário para o ingresso no Ensino Fundamental diferente
do estabelecido pelo legislador federal e regulamentado pelo Ministério da
Educação”.

14. É como voto.

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.312 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) :A CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS
TRABALHADORES EM ESTABELECIMENTOS DE
ENSINO (CONTEE)
ADV.(A/S) : JOSE GERALDO DE SANTANA OLIVEIRA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
AM. CURIAE. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – A Confederação


Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino – Contee
ajuizou ação direta buscando ver declarada a incompatibilidade, com a
Constituição Federal, dos incisos II e III do artigo 2º da Lei nº 15.433, de
2019, do Estado do Rio Grande do Sul, a versar idade mínima para
ingresso no primeiro ano do ensino fundamental. Eis o teor:

Art. 2º O ingresso no primeiro ano do ensino fundamental


respeitará a individualidade e a capacidade de cada um e dar-
se-á para crianças com:
[...]
II – idade de 6 (seis) anos completos entre 1º de abril e 31
de maio do ano em que ocorrer a matrícula, egressas da
educação infantil, salvo se alternativamente houver:
a) manifestação expressa dos pais ou responsáveis no
sentido de que entendem que a criança ainda não tem a
maturidade física, psicológica, intelectual e social necessárias ao

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Voto Vogal

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ADI 6312 / RS

primeiro ano, devendo permanecer na educação infantil;


b) manifestação justificada de profissional técnico no
sentido de que entende que a criança ainda não tem a
maturidade física, psicológica, intelectual e social necessárias ao
primeiro ano, devendo permanecer na educação infantil;
III – idade de 6 (seis) anos completos entre 1º de junho e 31
de dezembro do ano em que ocorrer a matrícula, egressas da
educação infantil , desde que haja cumulativamente:
a) manifestação expressa dos pais ou responsáveis no
sentido de que entendem que a criança tem a maturidade física,
psicológica, intelectual e social necessárias ao primeiro ano;
b) manifestação justificada por equipe multidisciplinar no
sentido de que entende que a criança tem a maturidade física,
psicológica, intelectual e social necessárias ao primeiro ano.

A requerente é parte legítima para impugnar os preceitos, uma vez


impactados os interesses dos congregados – artigo 3º do Estatuto.
O sistema de distribuição de competências materiais e legislativas,
privativas, concorrentes e comuns, entre os três entes da Federação, tal
como estabelecido na Carta da República e observado o princípio da
predominância do interesse, é marcado pela complexidade, não sendo
incomum chamar-se o Tribunal a solucionar problemas de coordenação e
sobreposição de atos normativos, especialmente federais e estaduais.
O que nos vem da Constituição? A atribuição da União para legislar
sobre diretrizes e bases da educação nacional – artigo 22, inciso XXIV.
Editou-se a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, por meio da qual
estabelecidas normas gerais a emitirem comando linear, passível de
aplicabilidade federativamente uniforme.
Nada impede que disciplina local venha a repercutir na
regulamentação do ensino, preservado o núcleo de princípios encerrados
no diploma federal vigente.
Na forma do artigo 24, inciso IX, da Lei Maior, cabe
concorrentemente à União, aos Estados e ao Distrito Federal dispor sobre
educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa,
desenvolvimento e inovação.

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ADI 6312 / RS

Indaga-se: ao disciplinar o corte etário disposto na Lei de Diretrizes e


Bases da Educação Nacional, a Assembleia estadual usurpou atribuição
reservada à União, inaugurando norma paralela e explicitamente
contraposta à geral?
A resposta é desenganadamente negativa. Atuou, de modo
proporcional, dentro da margem de ação descrita na Constituição Federal
para legislar sobre o sistema de ensino, sob o ângulo do interesse
regional, buscando efetivar liberdades fundamentais.
O artigo 32 da Lei nº 9.394/1996 prevê o ingresso no ensino
fundamental aos 6 anos de idade:

Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração


de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do
cidadão, mediante:
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
cálculo;
II – a compreensão do ambiente natural e social, do
sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que
se fundamenta a sociedade;
III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
formação de atitudes e valores;
IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
assenta a vida social.
[...]

Há de presumir-se o que normalmente ocorre, o razoável, e não o


extravagante. O inciso I do artigo 2º do diploma impugnado estabelece a
idade mínima de 6 anos completos até 31 de março do ano em que
ocorrer a matrícula. Os incisos atacados limitam-se a disciplinar exceções.
A forma federativa de Estado possui como pedra angular a
autonomia daqueles que a compõem, a qual consiste na atribuição de

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ADI 6312 / RS

elaborar regras próprias dentro de parâmetros delimitados em diploma


superior, a Carta da República. Na dicção de José Afonso da Silva, cuida-
se de conceito relacional, porque se prende ao confronto com outros
órgãos de poder: autonomia é o poder de gerir os próprios assuntos
dentro de um círculo prefixado (Comentário contextual à Constituição. 6. ed.
São Paulo: Malheiros, 2009. p. 569).
Deve-se homenagear, tanto quanto possível, a autonomia dos entes
federados. A regência do tema, tal como ocorrida, serve ao que se contém
na Lei Maior. Preservadas as características inerentes à Federação em que
se mostra a feição descentralizadora, não há como concluir pelo vício dos
preceitos.
Divirjo do Relator, para julgar improcedente o pedido.

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21/12/2020 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.312 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) :A CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS
TRABALHADORES EM ESTABELECIMENTOS DE
ENSINO (CONTEE)
ADV.(A/S) : JOSE GERALDO DE SANTANA OLIVEIRA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
AM. CURIAE. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL

A Senhora Ministra Rosa Weber: A presente ação direta tem por


objeto os incisos II e III do art. 2º da Lei estadual 15.433/2019, editada
pelo Estado do Rio Grande do Sul, que “Dispõe sobre a idade de ingresso
no sistema de ensino, no tempo certo, segundo a capacidade de cada um”.
Como já apontado no relatório, os preceitos normativos
impugnados, segundo alega a Assembleia Legislativa gaúcha, teriam
objetivado proceder à adequação da idade de ingresso das crianças no
ensino fundamental às condições individuais e capacidades pessoais de
cada uma delas. Para isso, foram fixados 03 (três) parâmetros distintos,
apoiados em critérios cronológicos, físicos e psicológicos, a serem
observados, no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, por ocasião da
matrícula das crianças no primeiro ano do ensino fundamental:

(a) As crianças com 06 (seis) anos completos até o dia 31


de março do ano em que deva ocorrer a matrícula, serão

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ADI 6312 / RS

necessariamente matriculadas naquele ano, exatamente como


já disciplinado pelo sistema vigente em âmbito nacional
(Resolução CNE/CEB nº 1/2010 e Resolução CNE/CEB nº
6/2010);
(b) As crianças com 06 (seis) anos completos entre 1º de
abril e 31 (trinta e um) de maio do ano em que deva ocorrer a
matrícula, também deverão ser matriculadas naquele ano,
salvo se estiverem presentes situações excepcionais que
justifiquem o afastamento da regra geral que impõe a
obrigatoriedade da matrícula (manifestação dos pais ou
responsáveis e laudo pericial multidisciplinar que atestem o
fato de a criança ainda não possuir condições físicas,
psicológicas e sociais compatíveis com o ingresso imediato no
ensino fundamental);
(c) As crianças com 06 (seis) anos completos entre 1º de
junho e 31 (trinta e um) de dezembro do ano em que deva
ocorrer a matrícula, podem ser matriculadas, desde que estejam
presentes, cumulativamente, os requisitos exigidos pela
legislação estadual gaúcha (manifestação dos pais ou
responsáveis e laudo pericial multidisciplinar atestando que a
criança possui todas as condições físicas, psicológicas e sociais
necessárias ao ingresso imediato no ensino fundamental);

Em suas informações oficiais, a Assembleia Legislativa do Estado do


Rio Grande do Sul esclarece que o sistema de ingresso de crianças no
primeiro ano do ensino fundamental, naquela unidade da Federação,
foi concebido tendo-se em perspectiva o propósito de suplementar as
normas vigentes no plano normativo nacional (Resolução CNE/CEB nº
1/2010 e Resolução CNE/CEB nº 6/2010), através da harmonização
entre o critério objetivo e uniforme estabelecido no âmbito do Ministério
da Educação (atingir 06 anos completos até o dia 31 de março do ano em
que ocorrerá a matrícula) e a necessidade de atender ao direito subjetivo
das crianças de ter acesso à educação conforme as capacidades
individuais e condições peculiares de cada uma delas (CF, art. 208, V).

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ADI 6312 / RS

Para essa finalidade, a Assembleia legislativa gaúcha – apoiando-se


em pareceres técnicos produzidos pelos órgãos estaduais competentes e
promovendo consulta às entidades da sociedade civil representantes dos
pais e responsáveis pela educação das crianças – optou por
operacionalizar o procedimento de ingresso no ensino fundamental,
adotando 03 (três) parâmetros, estabelecidos com base na ideia de um
controle progressivo a ser exercido, concomitantemente, pelos pais e
responsáveis em conjunto com a equipe multidisciplinar competente.
Os critérios adotados pela legislação estadual foram os seguintes:

(a) presunção absoluta de maturidade da criança que


completa 06 (seis) anos de idade até o dia 31 (trinta e um) de
março do ano da matrícula (mantendo-se, desse forma,
o parâmetro vigente em âmbito nacional);
(b) presunção relativa de maturidade daqueles que
completarem 06 (seis) anos entre 1º de abril e 31 (trinta e um)
de maio do ano em que deva ocorrer a matrícula, que poderá
ser afastada mediante manifestação conjunta dos pais e
responsáveis e da equipe multidisciplinar competente;
(c) presunção relativa de imaturidade daqueles que
completarem 06 (seis) anos entre 1º de junho e 31 (trinta e um)
de dezembro do ano em que deva ocorrer a matrícula, que
poderá ser afastada mediante manifestação conjunta dos pais e
responsáveis e da equipe multidisciplinar competente;

Observo tratar-se de sistema que estimula a cooperação entre pais e


responsáveis pela criança e os profissionais da educação na tomada de
decisões referentes ao melhor interesse do menor, possuindo, ainda,
a virtude de harmonizar a implementação dos critérios objetivos e
uniformes editados pelo Ministério da Educação com a garantia
fundamental que assegura a todas as crianças o acesso à educação, em
conformidade com suas capacidades individuais e condições peculiares
(CF, art. 208, V).

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Na realidade, tal como já acentuei nesta Suprema Corte no


julgamento conjunto da ADC 17/DF e da ADPF 292/DF, em sessão
plenária ocorrida em 01/08/2018, entendo, com a devida vênia aos que
compreendem de forma diversa, que a estipulação de recortes etários
entre as crianças, afastando o acesso imediato à escola àquelas que
completarem 06 (seis) anos de idade somente após a data limite para
matrícula no primeiro ano do ensino fundamental (dia 31 de março),
caracteriza uma indevida restrição ao exercício do direito constitucional
por elas titularizado de obter acesso à educação (CF, art. 208, § 1º), em
igualdade de condições com as demais (CF, art. 206, I), e configura
injusto obstáculo ao ingresso no ensino fundamental, “segundo a
capacidade de cada um” (CF, art. 208, V), mostrando-se incompatível com a
diretriz constitucional que preconiza a proteção integral e a primazia dos
interesses das crianças (CF, art. 227, caput).
Tenderia, desse modo, na linha desse entendimento, a reconhecer a
compatibilidade dos incisos II e III do art. 2º da Lei estadual 15.433/2019
com o modelo inclusivo e solidário instituído pela Constituição Federal.
Naquele julgamento, contudo, fiquei vencida na honrosa
companhia dos Ministros Edson Fachin (Relator), Alexandre de Moraes,
Dias Toffoli e Celso de Mello, havendo prevalecido o entendimento de
que – embora seja possível a coexistência de diversas perspectivas em
torno do estágio em que a criança acha-se mais preparada, física e
emocionalmente, para ingressar no ensino fundamental – cabe ao
Ministério da Educação a definição exata daquele momento, por
qualificar-se como o órgão institucional dotado da capacidade
institucional adequada à regulamentação dessa matéria.
Ao julgar parcialmente procedentes os pedidos formulados naquelas
ações constitucionais, o Supremo Tribunal Federal fixou a seguinte tese:
“É constitucional a exigência de que o aluno possua 06 (seis) anos de idade para
o ingresso no ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a
definição do momento em que o aluno deverá preencher o critério etário”.

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Voto Vogal

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ADI 6312 / RS

Por tais razões, com ressalva do meu entendimento em sentido


contrário, mas atendendo à necessidade de observar a diretriz firmada
pelo Plenário desta Suprema Corte (ADC 17/DF e ADI 292/DF),
mantendo sua jurisprudência íntegra, estável e coerente, julgo
procedente a presente ação direta, acompanhando, integralmente, o voto
proferido pelo eminente Relator.
É o meu voto.

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Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 21/12/2020

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.312


PROCED. : RIO GRANDE DO SUL
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
REQTE.(S) : A CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM
ESTABELECIMENTOS DE ENSINO (CONTEE)
ADV.(A/S) : JOSE GERALDO DE SANTANA OLIVEIRA (14090/GO)
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
AM. CURIAE. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou procedente o pedido


formulado na ação direta para declarar inconstitucional o art. 2º,
incs. II e III, da Lei nº 15.433/2019, do Estado do Rio Grande do
Sul, prejudicado o agravo interno interposto pelo Governador do
mesmo estado contra a decisão que deferiu a medida cautelar. Foi
fixada a seguinte tese de julgamento: "É inconstitucional lei
estadual que fixa critério etário para o ingresso no Ensino
Fundamental diferente do estabelecido pelo legislador federal e
regulamentado pelo Ministério da Educação", nos termos do voto do
Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio. A Ministra Rosa Weber
acompanhou o Relator com ressalvas. Falou, pelo amicus curiae, o
Dr. Fabiano Dallazen, Procurador-Geral de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul. Plenário, Sessão Virtual de 11.12.2020 a
18.12.2020.

Composição: Ministros Luiz Fux (Presidente), Marco Aurélio,


Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli,
Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes e
Nunes Marques.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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