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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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29/06/2020 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 698.531 ESPÍRITO SANTO

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


RECTE.(S) : FIBRIA CELULOSE S/A
ADV.(A/S) : LUIZ GUSTAVO ANTÔNIO SILVA BICHARA E
OUTRO(A/S)
RECDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

PIS – REGIME NÃO CUMULATIVO – OPERAÇÃO COM PESSOA


JURÍDICA DOMICILIADA NO EXTERIOR – CREDITAMENTO –
LIMITAÇÃO – LEI Nº 10.637/2003. Revela-se constitucional o artigo 3º §
3º, incisos I e II, da Lei nº 10.637/2003, no que veda o creditamento da
contribuição para o Programa de Integração Social, no regime não
cumulativo, em relação a operações com pessoas jurídicas domiciliadas
no exterior.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal em desprover o recurso extraordinário e fixar a
seguinte tese: “Revela-se constitucional o artigo 3º, § 3º, incisos I e II, da
Lei nº 10.637/2003, no que veda o creditamento da contribuição para o
Programa de Integração Social, no regime não cumulativo, em relação às
operações com pessoas jurídicas domiciliadas no exterior”, nos termos do
voto do relator e por unanimidade, em sessão virtual, realizada de 19 a 26
de junho de 2020, presidida pelo Ministro Dias Toffoli, na conformidade
da ata do julgamento e das respectivas notas taquigráficas.

Brasília, 29 de junho de 2020.

MINISTRO MARCO AURÉLIO – RELATOR

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Ementa e Acórdão

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RE 698531 / ES

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Relatório

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29/06/2020 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 698.531 ESPÍRITO SANTO

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


RECTE.(S) : FIBRIA CELULOSE S/A
ADV.(A/S) : LUIZ GUSTAVO ANTÔNIO SILVA BICHARA E
OUTRO(A/S)
RECDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Adoto, como relatório,


as informações prestadas pelo assessor Dr. Antônio Claret de Souza
Júnior:

Fibria Celulose S.A., sucessora por incorporação de


Aracruz Celulose S.A., interpôs recurso extraordinário contra
acórdão mediante o qual o Tribunal Regional Federal da 2ª
Região desproveu apelação em mandado de segurança,
assentando constitucional o artigo 3º, § 3º, incisos I e II, da Lei
nº 10.637/2002, que limita o crédito da contribuição para o
Programa de Integração Social — PIS, na modalidade não
cumulativa, às operações a envolverem pessoa jurídica
domiciliada no País. A decisão ficou assim sintetizada:

TRIBUTÁRIO. PIS. ART. 3º, §3º, I e II DA LEI Nº


10.637/02. BASE DE CÁLCULO. DESPESAS
DECORRENTES DE EMPRÉSTIMOS E AQUISIÇÃO DE
EQUIPAMENTOS DE PESSOAS JURÍDICAS NO
EXTERIOR.
1. O fato gerador da contribuição para o PIS é o
faturamento da pessoa jurídica, assim entendido o total
das receitas auferidas pela pessoa jurídica,
independentemente de sua denominação ou classificação
contábil (Lei nº 10.637, de 2002, art 1 º, §§ 1 º e 2º e Lei nº

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Relatório

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RE 698531 / ES

10.833, de 2003, art. 1º, §§ 1º e 2º). Compreende, portanto,


todas as receitas por ela auferidas, de maneira que a lei em
comento foi editada no sentido de evitar a
cumulatividade, ou "efeito cascata", decorrente da
incidência da contribuição.
2. Ao editar a Lei nº 10.637/02, o legislador optou por
restringir os descontos a que se faz referência com
operações realizadas por pessoas jurídicas domiciliadas no
país. Tal medida, ressalta-se, não traz qualquer mácula aos
princípios constitucionais regentes da matéria.
3. Nos autos não se vislumbra qualquer equivalência
entre as operações realizadas com pessoas jurídicas
nacionais e estrangeiras, conforme já ficou consignado, de
forma que pudesse cogitar ofensa à isonomia tributária.
Atribuir à impetrante o direito de descontar as operações
em questão realizadas com pessoas jurídicas estrangeiras,
sobre as quais não incidiu a contribuição para o PIS, ter-
se-ia uma situação desigual e de grande favorecimento em
relação às empresas que contratam financiamento com
empresas nacionais, sobre as quais incide a exação, o que
certamente violaria o princípio da livre concorrência,
disposto no art. 170, IV, CR.
4. O motivo do impedimento do creditamento
pleiteado é evidente, isonômico e atende aos princípios
constitucionais, tais como a livre concorrência e equidade
do custeio da seguridade social, pois, como acima
sedimentado, as pessoas jurídicas domiciliadas no exterior
não são contribuintes do PIS. Com isso, no valor
despendido com compra de equipamentos adquiridos no
exterior ou pagamento de serviços de dívida contratada
de bancos estrangeiros não haverá qualquer repasse de
PIS, de maneira que o adquirente de bens e empréstimos
não estará suportando qualquer encargo a título da
contribuição em foco, ou seja, seus fornecedores não são
sujeitos passivos do PIS.
5. Quanto à aplicação do art. 24 do Modelo da

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RE 698531 / ES

Organização e Desenvolvimento Econômico - OCDE,


ressalta-se que o Brasil não é signatário do referido tratado
e, mesmo que o fosse, a Lei nº 10.637/02 é lei tributária
específica e editada após a aludida convenção, que é
norma internacional genérica.
6. Recurso de apelação improvido.

Foram interpostos recursos especial e extraordinário. O


Superior Tribunal de Justiça negou seguimento ao primeiro.

No extraordinário, a recorrente argumenta que o artigo 3º,


§ 3º, incisos I e II, da Lei nº 10.637/2002, ao vedar o crédito nas
operações com empresas domiciliadas no exterior, violou os
artigos 150, inciso II, 152 e 170, inciso IV, da Constituição
Federal.

Diz irrelevante o fato de pessoas com domicílio no exterior


não se sujeitarem ao PIS. Segundo alega, inexiste identidade
entre o regime da não cumulatividade da contribuição e o dos
tributos incidentes sobre o consumo, como o Imposto sobre
Produtos Industrializados – IPI e o Imposto sobre a Circulação
de Mercadorias e Serviços — ICMS. Destaca que, sendo
atrelada à receita, a não cumulatividade estaria vinculada
apenas ao sujeito em si, e não ao ciclo econômico. Assevera
haver a Lei nº 10.637/2002 criado distinção não razoável em
virtude da procedência do bem. Conforme narra, o Supremo,
em situação análoga, no exame da ação direta de
inconstitucionalidade nº 1.655, relator o ministro Maurício
Corrêa, declarou inconstitucional lei estadual na qual fixadas
alíquotas diferenciadas do Imposto sobre Veículos Automotores
– IPVA devido por proprietários de automóveis importados.
Argui ofensa ao princípio da livre concorrência, ante a
impossibilidade de descontar créditos relativamente a
operações mercantis e financeiras com instituições sediadas no
exterior.

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Em contrarrazões, a União aponta inadmissível o


extraordinário por ausência de prequestionamento. Sublinha
não ser a pessoa domiciliada no exterior contribuinte do PIS,
fato a justificar o tratamento diferenciado, o qual, segundo
entende, não afronta o princípio da isonomia, mas concretiza o
da não cumulatividade.

O recurso foi admitido na origem. O Supremo assentou a


repercussão geral da matéria constitucional.

A Procuradoria-Geral da República opina pelo


desprovimento do extraordinário, em parecer assim sintetizado:

TRIBUTÁRIO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 707. CONTRIBUIÇÃO
AO PIS. CRÉDITOS. RESTRIÇÃO A NEGÓCIOS
JURÍDICOS COM PESSOAS JURÍDICAS DOMICILIADAS
NO BRASIL. ISONOMIA E LIVRE CONCORRÊNCIA.
OBSERVÂNCIA. CUSTEIO EQUÂNIME DA
SEGURIDADE SOCIAL. LIMITES DO SISTEMA
IMPOSITIVO NACIONAL. INEXISTÊNCIA DE
COBRANÇA EM OPERAÇÕES ANTERIORES.
DISCRÍMEN LEGÍTIMO. RECURSO. DESPROVIMENTO.
1. É constitucional a restrição do direito a créditos da
contribuição ao PIS apenas aos bens, serviços, custos e
despesas relacionados a negócios jurídicos contratados
com pessoas jurídicas domiciliadas no Brasil, pois adota
fator de discrímen legítimo, consideradas a exigência
constitucional de custeio equânime da seguridade social, a
impossibilidade de cobrança da exação das pessoas
jurídicas domiciliadas no exterior e as consequências
deletérias à competitividade das sociedades aqui
domiciliadas caso não houvesse a diferenciação.
2. Parecer pelo desprovimento do recurso
extraordinário.

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O processo é eletrônico e encontra-se concluso.

É o relatório.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 698.531 ESPÍRITO SANTO

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Atendeu-


se aos pressupostos de recorribilidade. A peça, subscrita por advogado
regularmente credenciado, foi protocolada no prazo legal. Ao contrário
do alegado pela União, o Tribunal de origem enfrentou expressamente o
tema constitucional. Os artigos 150, inciso II, e 170, inciso IV, foram
mencionados e transcritos na decisão, e o conteúdo do 152, embora não
citado explicitamente, foi considerado pelo Colegiado para afastar a
apontada ofensa ao princípio da isonomia. Tem-se como prequestionada
a matéria.
Quanto ao mérito, cumpre saber se é constitucional o artigo 3º, § 3º,
incisos I e II, da Lei nº 10.637/2002, a vedar, nas operações com pessoas
jurídicas domiciliadas no exterior, o creditamento da Contribuição para o
Programa de Integração Social – PIS. Eis os dispositivos:

Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa


jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a:
[…]
§ 3º O direito ao crédito aplica-se, exclusivamente, em
relação:
I - aos bens e serviços adquiridos de pessoa jurídica
domiciliada no País;
II - aos custos e despesas incorridos, pagos ou creditados a
pessoa jurídica domiciliada no País;
[…]

Aludindo a parecer do professor Marco Aurélio Greco, a recorrente


diz inadequado aplicar ao PIS – cujo fato gerador é o fenômeno receita,
individual por natureza – os parâmetros da não cumulatividade do
Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI e do Imposto sobre a
Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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RE 698531 / ES

Não prospera o argumento. Tecnicamente, receita consiste na


diminuição do passivo ou no aumento do ativo, a resultar na ampliação
do patrimônio líquido. Como o auferimento de receita, em regra 1, deriva
de operação econômica, surge pertinente, sem limitações, o princípio
constitucional da não cumulatividade, compensando-se na saída o
montante devido e recolhido na entrada.
Peculiaridades legislativas sugerem que a não cumulatividade do
PIS afasta-se do regime do IPI e do ICMS. O § 1º do artigo 3º da Lei nº
10.637/2002, por exemplo, prevê ser o crédito definido mediante a
aplicação da alíquota da sistemática não cumulativa sobre o valor da
entrada. Ou seja, se certo varejista adquirir mercadoria para revenda,
poderá creditar-se em relação a 1,65% do valor do bem, ainda que o
alienante esteja enquadrado no regime cumulativo e sujeito a alíquota
menor, de 0,65%.
Daí supor a existência de sistemática singular de não
cumulatividade é grave equívoco, equivalente a interpretar a Constituição
pela lei. O artigo 195, § 12, naquela contido, no que franqueia ao
legislador instituir regime não cumulativo para as contribuições sociais
incidentes sobre a receita bruta, autoriza-o tão somente a eleger os setores
de atividade econômica sujeitos à modalidade. Longe de estabelecer
regime especial de não cumulatividade, o legislador, ao permitir
creditamento a maior, criou verdadeira espécie de crédito presumido,
possivelmente inspirado em razões de neutralidade fiscal ou de
praticidade tributária.
O Constituinte refere-se à não cumulatividade em quatro passagens,
a saber: artigos 153, § 3º, inciso II – relativo ao IPI –, 154, inciso I – alusivo
aos impostos residuais de competência da União –, 155, § 2º, inciso I –
relacionado com o ICMS – e 195, § 12 – concernente às contribuições
sociais. De nenhuma delas extrai-se fundamento semântico a justificar
diferença entre os regramentos. Ao contrário, interpretação sistemática
1 Há situações de auferimento de receita, independentemente de operação econômica.
O nascimento de rebanho, por exemplo, consubstancia receita: o ativo aumenta, sem
contrapartida no passivo, acrescendo-se o patrimônio líquido. É o que em Contabilidade
convencionou-se chamar superveniência ativa.

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revela a existência de autêntico microssistema constitucional de não


cumulatividade. No silêncio do texto, as regras como que dialogam entre
si, integrando-se reciprocamente. Daí a aplicabilidade à não
cumulatividade das contribuições sociais do disposto no artigo 155, § 2º,
inciso II, da Constituição, segundo o qual “a isenção ou não-incidência,
salvo determinação em contrário da legislação, não implicará crédito para
compensação com o montante devido nas operações ou prestações
seguintes”.
Nesse sentido, o Pleno, nos recursos extraordinários nº 353.657 e
566.819, ambos de minha relatoria, com acórdãos publicados no Diário da
Justiça de 7 de março de 2008 e 10 de fevereiro de 2011, assentou a
ausência de direito a creditamento de IPI quando a operação antecedente
for não tributada, isenta ou sujeita à alíquota zero:

IPI - INSUMO - ALÍQUOTA ZERO - AUSÊNCIA DE


DIREITO AO CREDITAMENTO. Conforme disposto no inciso
II do § 3º do artigo 153 da Constituição Federal, observa-se o
princípio da não-cumulatividade compensando-se o que for
devido em cada operação com o montante cobrado nas
anteriores, ante o que não se pode cogitar de direito a crédito
quando o insumo entra na indústria considerada a alíquota
zero. IPI - INSUMO - ALÍQUOTA ZERO - CREDITAMENTO -
INEXISTÊNCIA DO DIREITO - EFICÁCIA. Descabe, em face
do texto constitucional regedor do Imposto sobre Produtos
Industrializados e do sistema jurisdicional brasileiro, a
modulação de efeitos do pronunciamento do Supremo, com
isso sendo emprestada à Carta da República a maior eficácia
possível, consagrando-se o princípio da segurança jurídica.

IPI – CRÉDITO. A regra constitucional direciona ao


crédito do valor cobrado na operação anterior. IPI – CRÉDITO –
INSUMO ISENTO. Em decorrência do sistema tributário
constitucional, o instituto da isenção não gera, por si só, direito
a crédito. IPI – CRÉDITO – DIFERENÇA – INSUMO –
ALÍQUOTA. A prática de alíquota menor – para alguns,

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passível de ser rotulada como isenção parcial – não gera o


direito a diferença de crédito, considerada a do produto final.

Sob a óptica da não cumulatividade é que deve ser aferida eventual


violação do princípio da isonomia tributária. Consoante leciona o
Professor Celso Antônio Bandeira de Mello (Conteúdo Jurídico do Princípio
da Igualdade. São Paulo, Malheiros: 1999, p. 41-42), para ser compatível
com a isonomia, um fator de discriminação deve preencher quatro
requisitos:

a) que a desequiparação não atinja, de modo atual e


absoluto, um só indivíduo;
b) que as situações ou pessoas desequiparadas pela regra
de direito sejam efetivamente distintas entre si, vale dizer,
possuam características, traços, nelas residentes, diferençados;
c) que exista, em abstrato, uma correlação lógica entre os
fatores diferenciais existentes e a distinção de regime jurídico
em função deles, estabelecida pela norma jurídica;
d) que, in concreto, o vínculo de correlação suprarreferido
seja pertinente em função dos interesses constitucionalmente
protegidos, isto é, resulte em diferenciação de tratamento
jurídico fundada em razão valiosa – ao lume do texto
constitucional – para o bem público.

As exigências foram observadas. A vedação atinge, igualmente, a


todos os importadores de bens e serviços do exterior. A condição dos
importadores é efetivamente distinta da situação dos adquirentes de bens
e tomadores de serviço no País. O critério tem relação com a circunstância
diferenciadora: proíbe-se o creditamento por quem não arcou com o
encargo. A discriminação atende à ordem constitucional tributária,
especialmente ao princípio da não cumulatividade.
Não merece acolhida a alegação de ofensa ao artigo 152 da
Constituição Federal, revelador do princípio da não discriminação
tributária em virtude da procedência ou destino, segundo o qual é
“vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer

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diferença tributária entre bens e serviços de qualquer natureza, em razão


de sua procedência ou destino”. O dispositivo visa resguardar o pacto
federativo, aplicando-se exclusivamente aos Estados, Distrito Federal e
Municípios, e não à União, que pode conceder incentivos fiscais
destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico
entre as diferentes regiões do País, nos termos do artigo 151, inciso I, da
Lei Maior.
Ainda que devesse a União observar a norma, a distinção criada pelo
artigo 3º, § 3º, incisos I e II, da Lei nº 10.637/2002 decorre não da
procedência dos bens e serviços, mas do princípio da não
cumulatividade, circunstância a torná-la compatível com o texto
constitucional.
Inexiste a apontada afronta ao princípio da livre concorrência. É
prática comum, em comércio internacional, a equalização da carga
tributária mediante a compensação da desoneração das exportações pela
oneração das importações. Diversamente do que afirma a recorrente,
permitir a dedução de crédito fictício implicaria a quebra desse frágil
equilíbrio, em possível prejuízo da economia nacional 2.
Conheço do recurso extraordinário e o desprovejo. Fixo como tese:
“Revela-se constitucional o artigo 3º, § 3º, incisos I e II, da Lei nº
10.637/2003, no que veda o creditamento da contribuição para o Programa
de Integração Social, no regime não cumulativo, em relação às operações
com pessoas jurídicas domiciliadas no exterior”.

2 O processo cuida de período anterior à Lei nº 10.865/2004, que instituiu o chamado


PIS-Importação, devido pelo importador de bens ou serviços do exterior, e autorizou
expressamente o creditamento em relação às importações sujeitas ao pagamento da
contribuição.

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Voto Vogal

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VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES: Sr. Presidente, em


julgamento o Tema 707 da repercussão geral: Validade da restrição do direito
a créditos da contribuição ao PIS apenas quanto aos bens, serviços, custos e
despesas relacionados a negócios jurídicos contratados com pessoas jurídicas
domiciliadas no Brasil.

A controvérsia gira em torno do artigo 3º, §3º, incisos I e II, da Lei


10.637/2002, que prevê a possibilidade de o contribuinte deduzir, da base
de cálculo do PIS, as despesas relacionadas à aquisição de máquinas,
equipamentos e financiamentos, desde que contratados com pessoas
jurídicas domiciliadas no país.

In casu, a empresa Aracruz Celulose S.A (FIBRIA Celulose S.A)


contratou financiamentos e adquiriu máquinas e equipamentos de
empresas estrangeiras, para serem utilizados no processo de
industrialização da celulose.

Diante da impossibilidade de dedução da despesa da base de cálculo


do PIS, a autora impetrou Mandado de Segurança em face do Delegado
da Receita Federal em Vitória – ES, com o escopo de estender a aplicação
da norma às contratações efetuadas com pessoas jurídicas domiciliadas
no exterior, ao fundamento de que a restrição viola os artigos 150, II; 152 e
170, IV, todos da Constituição Federal.

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Voto Vogal

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Eis o teor da lei:

“Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa


jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a:
[…]
§ 3º O direito ao crédito aplica-se, exclusivamente, em
relação:
I - aos bens e serviços adquiridos de pessoa jurídica
domiciliada no País;
II - aos custos e despesas incorridos, pagos ou creditados a
pessoa jurídica domiciliada no País”.

Denegada a segurança, a recorrente interpôs Apelação, à qual o


Tribunal Regional Federal da 2ª Região, confirmando a sentença de
primeiro grau, negou provimento aos fundamentos de que (Vol. 4, fls.
115-121):

(a) a restrição às operações realizadas com pessoas


jurídicas domiciliadas no país atende ao princípio da não-
cumulatividade, na medida em que empresas domiciliadas no
exterior “não têm quaisquer débitos de PIS passíveis de fazer
parte do mecanismo de desconto na forma aludida”.
(b) não há violação ao princípio da isonomia, haja vista
que o artigo 150, I, da CF/88 proíbe o tratamento tributário
desigual apenas para contribuintes que se encontram em
situação equivalente. Diversamente, a concessão do direito ao
creditamento em caso de operações realizadas com empresas
estrangeiras (que não são contribuintes do PIS, repita-se)
violaria a livre concorrência (art. 170, IV, da CF/88);
(c) o Modelo da Organização e Desenvolvimento
Econômico – OCDE não se aplicaria ao caso mesmo que o Brasil
fosse signatário deste tratado, visto que (I) esta CORTE tem
julgados que determinam a prevalência da lei interna e
específica editada após a norma internacional e (II) o tratado
refere-se à dupla tributação do imposto de renda, sem qualquer

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RE 698531 / ES

relação com o PIS.

Opostos Embargos de Declaração, foram rejeitados (Vol. 5, fls. 47-


58).

Irresignada, a FIBRIA CELULOSE S/A interpôs o presente Recurso


Extraordinário, com fundamento no artigo 102, III, “a”, da Constituição
Federal.
Sustenta, em síntese, que a Lei 10.637/2002, em seu artigo 3º, incisos I
e II, viola os artigos 150, II; 152 e 170, IV, todos da CF, na medida em que:

(a) traz tratamento mais favorável a determinados


contribuintes, unicamente em razão do domicílio da pessoa
jurídica de quem contratou;
(b) a sistemática da não-cumulatividade do tributo não
exige que a “pessoa jurídica cuja despesa de contratação gerou
o crédito de PIS tenha sido tributada anteriormente por tal
contribuição”;
(c) “os valores a serem deduzidos só passaram a ser
atrelados à necessidade de incidência anterior do PIS com o
advento da Lei nº 10.865, de 30 de abril de 2004, que [alterou] a
redação da própria Lei nº 10.637/2002”, de forma que, antes de
2004, não era exigível que a empresa contratada fosse sujeito
passivo do PIS;
(d) o artigo 152 da Constituição Federal veda a
diferenciação tributária entre bens e serviços em razão de sua
procedência.

Em 21/03/2014, o Plenário Virtual reconheceu a repercussão geral da


discussão constitucional travada nestes autos, conforme a seguinte
ementa:
“REPERCUSSÃO GERAL – PIS – EMPRÉSTIMO E
AQUISIÇÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS JUNTO A
PESSOA JURÍDICA ESTRANGEIRA – DESPESAS –
EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO – ARTIGO 3º, INCISOS I

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RE 698531 / ES

E II, DA LEI Nº 10.637/2002 – VEDAÇÃO – ISONOMIA


TRIBUTÁRIA E PROIBIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO EM
RAZÃO DA PROCEDÊNCIA DE BENS E SERVIÇOS. Possui
repercussão geral a controvérsia acerca da eventual ofensa aos
artigos 150, inciso II, e 152 da Constituição de 1988 por
disciplina legal restritiva de créditos da contribuição ao PIS, na
sistemática não cumulativa, consideradas operações de
empréstimo e aquisição de máquinas e equipamentos com
pessoas jurídicas estrangeiras”.

A Procuradoria-Geral da República manifestou-se pelo


desprovimento do recurso (Vol. 15).

É o relatório.

Trata-se de Recurso Extraordinário no qual a recorrente postula a


reforma do acórdão recorrido, que considerou constitucional os incisos I e
II do §3º do artigo 3º da Lei nº 10367/2003, que estabelecem a restrição do
creditamento do PIS, no regime não-cumulativo, aos casos de aquisições
de equipamentos e financiamentos contratados de pessoas jurídicas com
domicílio no Brasil.

Conforme bem pontuado pelo Parquet, controvérsias relacionadas


aos critérios de aplicação do princípio da não-cumulatividade são objeto
de processo distinto (RE 841979), cuja repercussão geral também foi
reconhecida por esta CORTE (Tema 756).

Assim, a discussão travada nestes autos restringe-se à eventual


isonomia tributária entre empresas que realizam operações com pessoas
jurídicas domiciliadas no Brasil e aquelas que realizam operações com
pessoas jurídicas estrangeiras.

Esclarecidos esses pontos, temos que o Programa de Integração


Social – PIS – surgiu no regime constitucional anterior por intermédio da

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Lei Complementar 7/1970, buscando promover a integração do


empregado na vida e no desenvolvimento das empresas. Quando da
promulgação da lei, a alíquota foi estipulada em 0,15%, com previsão de
aumentos anuais sucessivos até o limite de 0,75% em 1976.

O artigo 239 da Constituição Federal de 1988 expressamente


recepcionou a Lei Complementar nº 7/1970, dispondo que a arrecadação
do PIS seria vinculada, nos termos da lei, ao financiamento do programa
de seguro-desemprego, bem como do abono anual pago aos
trabalhadores com renda mensal de até 2 salários mínimos.

Em 1998, a Lei 9715 reduziu a alíquota do tributo para 0,65% sobre o


faturamento e unificou grande parte do regime jurídico aplicável aos
programas PIS-PASEP.

Apenas com a edição da Lei 10637/02 (resultado da conversão da


Medida Provisória 66), o regime do PIS passou a ser não-cumulativo,
para evitar o chamado “efeito cascata”. Diante dessa alteração, a novel
legislação majorou a alíquota do tributo de 0,65% para 1,65%, haja vista a
possibilidade de creditamento dos valores recolhidos anteriormente.

Em 19 de dezembro de 2003, foi publicada a Emenda Constitucional


42 que, introduzindo o §12 ao artigo 195 da CF/88, conferiu status
constitucional ao regime não-cumulativo do PIS, para determinados
setores ou atividades.

Em linhas gerais, a principal diferença entre os regimes da


cumulatividade e não-cumulatividade cinge-se ao fato de que, naquele, as
despesas pagas nas operações anteriores não podem ser abatidas nas
operações posteriores. Na sistemática da não-cumulatividade, as
despesas (previstas em lei) pagas nos processos anteriores podem ser
abatidas dos posteriores.

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Segundo esse mecanismo, temos que, embora as alíquotas da não-


cumulatividade sejam maiores, ao final, feitos os creditamentos, o
contribuinte tem um custo menor.

Dessa forma, requer a recorrente que, embora a aquisição de


equipamentos, materiais e financiamentos tenha sido contratada com
empresa estrangeira - não sujeita, portanto, ao regime tributário nacional
- , seja-lhe concedida a benesse do creditamento.

Sr. Presidente, parece-me que a postulação não merece prosperar.

A possibilidade de creditamento do valor relativo a despesas, bens e


custos das operações tem por objetivo a redução do impacto tributário
nas empresas que participam da sistemática tributação no Brasil.

Assim, conforme já relatado, com o escopo de evitar o “efeito


cascata”, a Lei 10.637/02 trouxe a possibilidade de creditamento sobre a
base de cálculo do PIS.

Não se insere nos objetivos da norma a possibilidade de creditar um


valor que se requer foi recolhido aos cofres públicos nacionais.

A isonomia tributária pauta-se, portanto, na lógica de que é vedado


o tratamento diferenciado entre contribuintes que se encontrem em
situação equivalente.

Todavia, de acordo com a narrativa do caso concreto, nota-se que


não estão em situação equivalente contribuintes que realizam operações
com empresas estrangeiras e aqueles que contratam empresas nacionais,
haja vista que, conforme relatado, apenas estas últimas são contribuintes
do PIS.

Quanto ao tema, cito trecho da ementa do RE 640905 / SP, de

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relatoria do Min. LUIZ FUX, julgado sob o rito da repercussão geral


(Tema 573), que reputou não violado o princípio da isonomia na hipótese
de restrição de ingresso no parcelamento de dívida relativa à COFINS,
instituída pela Portaria 655/93, dos contribuintes que questionaram o
tributo em juízo com depósito judicial dos débitos tributários:

“Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


REPERCUSSÃO GERAL. CONTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO.
COFINS. ART. 4º DA PORTARIA Nº 655/1993 DO MINISTÉRIO
DA FAZENDA. PARCELAMENTO DE DÉBITOS. ADESÃO
POR CONTRIBUINTE COM DEPÓSITO JUDICIAL.
RESTRIÇÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO DE ARBITRARIEDADE
LEGISLATIVA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA E AO
LIVRE ACESSO À JUSTIÇA. INOCORRÊNCIA. DEPÓSITO
JUDICIAL DO VALOR DEVIDO PARA SUSPENDER A
EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO.
PRERROGATIVA DO CONTRIBUINTE QUE SE
CONDICIONA AO TRÂNSITO EM JULGADO DA AÇÃO.
RECURSO PROVIDO.
1. O princípio da isonomia, refletido no sistema
constitucional tributário (art. 5º c/c art. 150, II, CRFB/88) não se
resume ao tratamento igualitário em toda e qualquer situação
jurídica, mas, também, na implementação de medidas com o
escopo de minorar os fatores discriminatórios existentes,
impondo, por vezes, tratamento desigual em circunstâncias
específicas e que militam em prol da igualdade.
2. A isonomia sob o ângulo da desigualação reclama
correlação lógica entre o fator de discrímen e a desequiparação
procedida que justifique os interesses protegidos na
Constituição (adequada correlação valorativa).
3. A norma revela-se antijurídica, ante as discriminações
injustificadas no seu conteúdo intrínseco, encerrando distinções
não balizadas por critérios objetivos e racionais adequados
(fundamento lógico) ao fim visado pela diferenciação.
4. O princípio da inafastabilidade de jurisdição, insculpido
no art. 5º, XXXV, CRFB/88, segundo o qual “a lei não excluirá da

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apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito“ tem o


intento de coibir iniciativas dos legisladores que possam impor
obstáculos desarrazoados ao acesso à justiça, ao permitir o
acesso plural e universal ao Poder Judiciário [...]”.

Ora, a contratação de empresas estrangeiras é uma opção do


contribuinte, o qual tem ciência de que, nessa hipótese, não terá direito ao
creditamento. Não há qualquer discrímen ilegal na opção legislativa –
pelo contrário, a norma garantiu o tratamento isonômico dos sujeitos em
iguais condições.

Haveria, isto sim, privilégio caso se permitisse o crédito de despesas


oriundas de negócios efetivados com pessoas jurídicas domiciliadas no
exterior, quando, em verdade, apenas os contribuintes que realizam
operações com empresas domiciliadas no país recolheram o tributo
anteriormente.

Afasta-se também a alegação de violação ao artigo 152 da


Constituição Federal. Não se está, aqui, fazendo discriminação com
relação à origem e à procedência de bens e serviços.

O critério diferenciador da presente hipótese situa-se na


impossibilidade de se creditar, no Brasil, despesa paga no exterior. Foge
completamente à lógica da tributação conferir o benefício de
creditamento na base de cálculo do PIS de despesas operadas com
instituições que sequer são contribuintes do tributo.

Por fim, conforme bem pontuado pelo Delegado da Receita Federal


nas informações prestadas, outro impedimento à procedência do pleito
autoral reside na problemática de que para se

“ […] detectar a título de qual débito do país estrangeiro


estaríamos creditando o PIS da impetrante no Brasil.
Manifestamente, não tem qualquer senso a pretensão aqui

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deduzida; e a legislação apenas disse o óbvio quando impediu o


crédito nos casos do art. 3º, §3º, I, II e III. Porém, agora se vê que
a lei embora óbvia, muitas vezes tem de explicitá-lo, para não
dar chance aos “mal-entendidos”.
O motivo desse impedimento é bastante claro, uniforme e
isonômico: as pessoas jurídicas domiciliadas no exterior não são
contribuintes do PIS. Dessa forma, no valor despendido com a
compra de máquinas e equipamentos adquiridos no exterior ou
no pagamento de serviços de dívida contratada de bancos
domiciliados fora do Brasil não será repassada qualquer parcela
de PIS. O adquirente de bens e empréstimos no exterior não
estará suportando qualquer encargo a título da contribuição
focada”. (Vol. 4, fls. 16-17)

Diante do exposto, acompanho o ilustre Ministro Relator e nego


provimento ao Recurso Extraordinário.

Sugestão de tese: Não viola a Constituição Federal o artigo 3º, §3º, incisos
I e II, da Lei nº 10.637/2003, no que restringe a possibilidade de créditos da
contribuição ao Programa de Integração Social - PIS, no regime não-cumulativo,
apenas aos bens, serviços, custos e despesas relacionadas a operações realizadas
com pessoas jurídicas domiciliadas no país.

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Extrato de Ata - 29/06/2020

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 698.531


PROCED. : ESPÍRITO SANTO
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
RECTE.(S) : FIBRIA CELULOSE S/A
ADV.(A/S) : LUIZ GUSTAVO ANTÔNIO SILVA BICHARA (112310/RJ) E
OUTRO(A/S)
RECDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL (00000/DF)

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, apreciando o tema 707 da


repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário, nos
termos do voto do Relator. Foi fixada a seguinte tese: “Revela-se
constitucional o artigo 3º, § 3º, incisos I e II, da Lei nº
10.637/2003, no que veda o creditamento da contribuição para o
Programa de Integração Social, no regime não cumulativo, em
relação às operações com pessoas jurídicas domiciliadas no
exterior”. Falaram: pela recorrente, o Dr. Francisco Carlos Rosas
Giardina; e, pela recorrida, o Dr. Paulo Mendes, Procurador da
Fazenda Nacional. Plenário, Sessão Virtual de 19.6.2020 a
26.6.2020.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Celso de


Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen
Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e
Alexandre de Moraes.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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