Você está na página 1de 8

Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 8

16/06/2020 PRIMEIRA TURMA

RECURSO ORD. EM MANDADO DE SEGURANÇA 30.857 DISTRITO


FEDERAL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


RECTE.(S) : INSTITUTO NOSSA SENHORA DO CARMO
ADV.(A/S) : SERGIO ROBERTO MONELLO
RECDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

IMUNIDADE – ENTIDADE BENEFICENTE. É incompatível com a


Constituição Federal exigência de aplicação anual de, no mínimo, vinte
por cento da receita bruta proveniente da venda de serviços, nos termos
dos artigos 2º, inciso IV, do Decreto nº 752/1993 e 3º, inciso VI, do Decreto
2.536/1998, na renovação de Certificado de Entidade Beneficente de
Assistência Social – Cebas. Precedentes: ações diretas de
inconstitucionalidade nº 2.028, 2.036, 2.228 e 2.621, Pleno, relatora
ministra Rosa Weber, julgadas em 2 de março de 2017.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da


Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal em prover o recurso
ordinário em mandado de segurança, para reconhecer o direito da
impetrante ao certificado de entidade de assistência social – CEBAS, nos
termos do voto do relator e por unanimidade, em sessão virtual, realizada
de 5 a 15 de junho de 2020, presidida pela Ministra Rosa Weber, na
conformidade da ata do julgamento e das respectivas notas taquigráficas.

Brasília, 16 de junho de 2020.

MINISTRO MARCO AURÉLIO – RELATOR

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 06F8-B6F8-DA07-A80A e senha 4283-855A-87DC-1DA6
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 8

16/06/2020 PRIMEIRA TURMA

RECURSO ORD. EM MANDADO DE SEGURANÇA 30.857 DISTRITO


FEDERAL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


RECTE.(S) : INSTITUTO NOSSA SENHORA DO CARMO
ADV.(A/S) : SERGIO ROBERTO MONELLO
RECDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Adoto,


como relatório, as informações prestadas pelo assessor William Akerman
Gomes:

O recorrente insurge-se contra acórdão mediante o qual o


Superior Tribunal de Justiça indeferiu ordem em mandado de
segurança voltado à renovação de certificado de entidade
beneficente de assistência social.

Aponta violados os artigos 5º, inciso XXXVI, 195, § 7º, da


Constituição Federal e 55, § 1º, da Lei 8.212/1991. Sustenta ser
entidade beneficente de assistência social. Diz inobservados o
contraditório e a ampla defesa no processo administrativo.
Aduz contrariada a irretroatividade, no que, segundo articula,
levados em conta, quanto aos exercícios 1997, 1998 e 1999,
dispositivos do Decreto nº 3.504, de 2000, e entendimento
veiculado em parecer formalizado em 2001. Aludindo ao artigo
25 do Decreto-Lei nº 9.2958/1946 e às Resoluções CFC nº
560/1983 e 867/1999, afirma a impossibilidade, ante a
necessidade de inscrição no Conselho Regional de
Contabilidade e na Comissão de Valores Mobiliários, de
Auditor Fiscal manifestar-se sobre demonstrações contábeis.
Frisa não caber à Receita Federal do Brasil aferir o caráter
assistencial da atividade. Questiona a competência do Ministro

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código D22A-3D41-2AC0-DC68 e senha 182F-C35A-7BA4-DC18
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 8

RMS 30857 / DF

de Estado da Previdência Social, diretamente interessado na


arrecadação de contribuições à seguridade social, para cassar o
Cebas, sublinhando serem a concessão e a renovação
atribuições do Conselho Nacional de Assistência Social –
CNAS, na forma do artigo 18 da Lei nº 8.742/1993. Salienta
ressalvados, a teor do Decreto-Lei nº 1.572/1977 e da Lei nº
8.212/1991, os direitos adquiridos à imunidade previstos na Lei
nº 3.577/1959. Reportando-se às regras constantes dos artigos
146, inciso II, e 195, § 7º, da Constituição Federal, pondera caber
a lei complementar a fixação dos critérios de fruição da
imunidade tributária em jogo. Assevera que as gratuidades
escolares concedidas a filhos de professores e empregados,
glosadas no procedimento administrativo, devem ser
consideradas para fins de obtenção do Certificado de Entidade
Beneficente de Assistência Social – Cebas. Ressalta haver
atendido os requisitos, tendo jus ao certificado. Postula a
suspensão do processo até o exame do recurso extraordinário nº
566.622 – Tema nº 32 da repercussão geral. Pretende a reforma
do pronunciamento, com o deferimento da ordem para anular a
decisão impugnada ou, sucessivamente, restaurar o direito à
imunidade e ao Cebas, reconhecendo estar obrigado ao
cumprimento apenas das exigências versadas no artigo 14 do
Código Tributário Nacional.

A União, em contrarrazões, aponta o acerto do ato


atacado. Diz não comprovada a contrariedade ao devido
processo legal, afirmando desnecessária a intimação, antes de a
autoridade pronunciar-se, quanto ao parecer formalizado.
Evocando o artigo 203 da Constituição Federal, assinala a
impossibilidade de tomar como gratuidade as bolsas deferidas
a professores e empregados, presente discriminação vedada,
segundo articula, considerado o Decreto nº 752/1993. Realça a
atribuição do Auditor Fiscal de examinar a contabilidade de
sociedades contribuintes, nos termos do artigo 6º da Lei nº
10.593/2002. Enfatiza não haver necessidade de inscrição do
agente público no Conselho Regional de Contabilidade. Destaca

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código D22A-3D41-2AC0-DC68 e senha 182F-C35A-7BA4-DC18
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 8

RMS 30857 / DF

ausente direito adquirido ao Cebas. Menciona precedentes do


Supremo a corroborarem o entendimento adotado pelo
Superior Tribunal de Justiça. Pleiteia seja o recurso desprovido.

A Procuradoria-Geral da República opina pelo


desprovimento do recurso, apontando a necessidade de dilação
probatória visando aferição do atendimento dos requisitos
legais atinentes à concessão da imunidade.

É o relatório.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código D22A-3D41-2AC0-DC68 e senha 182F-C35A-7BA4-DC18
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 8

16/06/2020 PRIMEIRA TURMA

RECURSO ORD. EM MANDADO DE SEGURANÇA 30.857 DISTRITO


FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Atendeu-


se aos pressupostos de recorribilidade. A peça, subscrita por advogado
regularmente constituído, foi protocolada no prazo legal.
Não se verifica irregularidade no procedimento administrativo.
Houve observância do devido processo legal, considerados a ampla
defesa e o contraditório. O recorrente foi notificado para manifestar-se
quanto ao recurso interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social.
O ingresso na carreira de Auditor Fiscal se dá mediante concurso
público, sem exigência de inscrição em conselho profissional ou na
Comissão de Valores Mobiliários como requisito ao desempenho das
atribuições do cargo.
A decisão proferida pelo Ministro de Estado da Previdência Social,
datada de 16 de março de 2005, ocorreu quando vigorava atribuição para
apreciar recurso administrativo contra atos do Conselho Nacional de
Assistência Social, considerado o artigo 18, parágrafo único, da Lei nº
8.742/1993, com a redação dada pela de nº 10.684/2003:

“Art. 18. Compete ao Conselho Nacional de Assistência


Social: Parágrafo único. Das decisões finais do Conselho
Nacional de Assistência Social, vinculado ao Ministério da
Assistência e Promoção Social, relativas à concessão ou
renovação do Certificado de Entidade Beneficente de
Assistência Social, caberá recurso ao Ministro de Estado da
Previdência Social, no prazo de trinta dias, contados da data da
publicação do ato no Diário Oficial da União, por parte da
entidade interessada, do Instituto Nacional do Seguro Social -
INSS ou da Secretaria da Receita Federal do Ministério da
Fazenda.”

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 57C5-3566-91E5-C57A e senha 6452-9066-5B02-B8DE
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 8

RMS 30857 / DF

Atuou em grau recursal, revisando o ato do Conselho Nacional de


Assistência Social relativo à tomada de certa entidade como beneficente.
Inexiste direito adquirido à imunidade tributária. A Constituição
Federal, ao versar o benefício, presente a redação do artigo 195, § 7º,
condicionou-o ao atendimento de requisitos previstos em lei
complementar. Entender pelo direito adquirido, nos termos pretendidos,
vai de encontro à sistemática constitucional, criando-se algo próximo à
imunidade absoluta, não condizente com o figurino estampado na Lei
Maior. Precedentes: recurso ordinário em mandado de segurança nº
27.745/DF, Primeira Turma, relatora ministra Cármen Lúcia, acórdão
publicado no Diário da Justiça de 8 de junho de 2012; e recurso ordinário
em mandado de segurança nº 26.932/DF, Segunda Turma, relator ministro
Joaquim Barbosa, acórdão veiculado no Diário da Justiça de 5 fevereiro de
2010.
Assiste razão ao recorrente quanto aos pressupostos legais a serem
observados visando o reconhecimento da imunidade. Eis a síntese do
pronunciamento impugnado mediante mandado de segurança:

DIREITO PREV1DENCIÁRIO E ASSISTENCIAL.


RENOVAÇÃO DE CERTIFICADO DE ENTIDADE
BENEFICENTE DE ASSISTÊNCIA SOCIAL-CEBAS.
1. Não faz jus ao CEBAS a entidade que não atende ao
requisito previsto no art. 2º, inciso IV, do Decreto nº 752/1993, e
art. 3º, inciso VI, do Decreto nº 2.536/1998, consistente na
aplicação de vinte por cento de sua receita bruta em gratuidade.
2. Os valores relativos a bolsas de estudo concedidas a
empregados da entidade por força de acordo ou convenção
coletiva de trabalho não podem ser computados para os fins do
cálculo da gratuidade, haja vista não configurarem prestação de
assistência social.
3. A prática de utilização das contas de compensação não
se presta à comprovação do que efetivamente foi gasto, pois os
valores declarados como sendo aplicados em gratuidade devem
espelhar fielmente os custos incorridos na prestação dos
serviços educacionais e assistenciais a pessoas carentes.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 57C5-3566-91E5-C57A e senha 6452-9066-5B02-B8DE
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 8

RMS 30857 / DF

4. Parecer pelo conhecimento e provimento do recurso


interposto pelo INSS.
5. Reforma da Resolução CNAS n° 46/2004, para que seja
cancelado o CEBAS relativo ao triénio de 2001-2003.

Ao negar a certidão, com a consequente vedação à fruição da


imunidade versada no artigo 195, § 7º, da Constituição Federal, a
autoridade valeu-se de requisito imposto mediante os Decretos nº
752/1993 e 2.536/1998, em contrariedade à jurisprudência do Supremo.
O Plenário, no exame dos embargos de declaração no recurso
extraordinário nº 566.622 – Tema nº 32 da repercussão geral –, redatora do
acórdão ministra Rosa Weber, assentou óptica, em relação à qual guardo
reservas, no sentido da constitucionalidade da exigência da Certificação
de Entidades Beneficentes de Assistência Social – Cebas, considerada a
previsão do artigo 55, inciso II, da Lei nº 8.212/1991.
Ao apreciar as ações diretas de nº 2.028, 2.036, 2.228 e 2.621, relatora
ministra Rosa Weber, proclamou incompatíveis, com a Carta da
República, os artigos 1º, inciso IV, 2º, inciso IV e parágrafos 1º e 3º, 7º, § 4º,
do Decreto nº 752/1993, 2º, inciso IV, 3º, inciso VI e parágrafos 1º e 4º, e 4º,
parágrafo único, do Decreto nº 2.536/1998, afastando a exigência de
aplicação anual, em gratuidade, de, no mínimo, vinte por cento da receita
bruta proveniente da venda de serviços.
Provejo o recurso ordinário para reconhecer o direito da impetrante
ao Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social – Cebas, com
validade para o triênio 2001/2003.
É como voto.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 57C5-3566-91E5-C57A e senha 6452-9066-5B02-B8DE
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 16/06/2020

Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 8

PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

RECURSO ORD. EM MANDADO DE SEGURANÇA 30.857


PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
RECTE.(S) : INSTITUTO NOSSA SENHORA DO CARMO
ADV.(A/S) : SERGIO ROBERTO MONELLO (46515/SP)
RECDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

Decisão: A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso


ordinário em mandado de segurança, para reconhecer o direito da
impetrante ao certificado de entidade de assistência social —
CEBAS, nos termos do voto do Relator. Primeira Turma, Sessão
Virtual de 5.6.2020 a 15.6.2020.

Composição: Ministros Rosa Weber (Presidente), Marco Aurélio,


Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

Disponibilizou processo para esta Sessão o Ministro Edson


Fachin, não tendo participado do julgamento desse feito o Ministro
Alexandre de Moraes por sucedê-lo na Primeira Turma.

Luiz Gustavo Silva Almeida


Secretário da Primeira Turma

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código A553-F66C-5C4A-814F e senha 79A2-27D2-A87B-A6EB

Você também pode gostar