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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE
SAO PAULO - FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS
QUIMICOS PARA FINS INDUSTRIAIS,
PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE
CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO

Ementa:DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE
LUCRO LÍQUIDO (CSLL). OBRIGAÇÃO DE TRATO SUCESSIVO. HIPÓTESES DE
CESSAÇÃO DOS EFEITOS DA COISA JULGADA DIANTE DE DECISÃO
SUPERVENIENTE DO STF.
1. Recurso extraordinário com repercussão geral
reconhecida, a fim de decidir se e como as decisões desta Corte em sede de
controle concentrado fazem cessar os efeitos futuros da coisa julgada em
matéria tributária, nas relações de trato sucessivo, quando a decisão

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estiver baseada na constitucionalidade ou inconstitucionalidade do


tributo.
2. Em 1992, o contribuinte obteve decisão judicial com
trânsito em julgado que o exonerava do pagamento da CSLL. O acórdão
do Tribunal Regional Federal da 5ª Região considerou que a lei
instituidora da contribuição (Lei nº 7.869/1988) possuía vício de
inconstitucionalidade formal, por se tratar de lei ordinária em matéria
que exigiria lei complementar.
3. A questão debatida no presente recurso diz respeito à
subsistência ou não da coisa julgada que se formou, diante de
pronunciamentos supervenientes deste Supremo Tribunal Federal em
sentido diverso.
4. O tema da cessação da eficácia da coisa julgada, embora
complexo, já se encontra razoavelmente bem equacionado na doutrina, na
legislação e na jurisprudência desta Corte. Nas obrigações de trato
sucessivo, a força vinculante da decisão, mesmo que transitada em
julgado, somente permanece enquanto se mantiverem inalterados os seus
pressupostos fáticos e jurídicos (RE 596.663, Red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, j. em 24.09.2014).
5. As decisões em controle incidental de constitucionalidade,
anteriormente à instituição do regime de repercussão geral, não tinham
natureza objetiva nem eficácia vinculante. Consequentemente, não
possuíam o condão de desconstituir automaticamente a coisa julgada que
houvesse se formado, mesmo que em relação jurídica tributária de trato
sucessivo.
6. Em 2007, este Supremo Tribunal Federal, em ação direta de
inconstitucionalidade julgada improcedente, declarou a
constitucionalidade da referida Lei nº 7.869/1988 (ADI 15, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julgamento em 14.06.2007). A partir daí, houve
modificação substantiva na situação jurídica subjacente à decisão
transitada em julgado, em favor do contribuinte. Tratando-se de relação
de trato sucessivo, sujeita-se, prospectivamente, à incidência da nova
norma jurídica, produto da decisão desta Corte.

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7. Na parte subjetiva desta decisão referente ao caso concreto,


verifica-se que a Fazenda Nacional pretendeu cobrar a CSLL relativa a
fatos geradores posteriores à decisão deste Tribunal na ADI 15. Como
consequência, dá-se provimento ao recurso extraordinário interposto
pela Fazenda Nacional.
8. Já a tese objetiva que se extrai do presente julgado, para
fins de repercussão geral, pode ser assim enunciada: “1. As decisões do STF
em controle incidental de constitucionalidade, anteriores à instituição do regime
de repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada que se
tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo. 2. Já
as decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral
interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões transitadas em
julgado nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade
anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, por seu Tribunal Pleno, sob a presidência da
Ministra Rosa Weber, por unanimidade de votos, em apreciando o tema
881 da repercussão geral, dar provimento ao recurso extraordinário da
União. Por maioria de votos, não modular os efeitos da decisão, vencidos
os Ministros Edson Fachin (Relator), Luiz Fux, Ricardo Lewandowski,
Dias Toffoli e, em parte, o Ministro Nunes Marques, que propunham
modulação. Por fim, por maioria de votos, entenderam-se aplicáveis as
limitações constitucionais temporais ao poder de tributar, vencidos os
Ministros Gilmar Mendes, André Mendonça, Alexandre de Moraes e Dias
Toffoli. Na sequência, por unanimidade de votos, foi fixada a seguinte
tese: "1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade,
anteriores à instituição do regime de repercussão geral, não impactam
automaticamente a coisa julgada que se tenha formado, mesmo nas
relações jurídicas tributárias de trato sucessivo. 2. Já as decisões
proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral interrompem

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automaticamente os efeitos temporais das decisões transitadas em


julgado nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade, a
anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal,
conforme a natureza do tributo". Tudo nos termos do voto do Ministro
Roberto Barroso, Redator para o acórdão. Presidência da Ministra Rosa
Weber.
Brasília, 8 de fevereiro de 2023.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO – REDATOR P/ O ACÓRDÃO

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EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297


PROCED. : CEARÁ
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL (00000/DF)
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA (41728/SP)
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO (18287/BA, 01449/A/DF,
161891/RJ, 113570/SP)
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO (234916/SP)
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SAO PAULO -
FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA (90389/SP) E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS (188415/SP)
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL -
CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR (0016275/DF)
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS QUIMICOS PARA
FINS INDUSTRIAIS, PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL (6558/DF)
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO (20720/DF, 291776/SP)
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO (15317/DF)

Decisão: Após o voto do Ministro Edson Fachin (Relator), que


conhecia do recurso extraordinário a que se dava provimento para
reformar o acórdão recorrido, com a denegação da ordem
mandamental, condenava a parte recorrida ao pagamento das despesas
processuais da parte recorrente, conforme os arts. 82, § 2º, e 84
do CPC, ficando a parte vencida exonerada do pagamento de
honorários advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF, modulava
os efeitos temporais da decisão para que tenha eficácia pró-futuro
a partir da publicação da ata de julgamento deste acórdão,
considerando o período de anterioridade nonagesimal, nos casos de
restabelecimento de incidência de contribuições sociais, e de
anterioridade anual e nonagesimal, para o restabelecimento da
incidência das demais espécies tributárias, ressalvadas as
exceções previstas na Constituição, e, ao final, propunha a
fixação da seguinte tese de repercussão geral (tema 881): “A
eficácia temporal de coisa julgada material derivada de relação
tributária de trato continuado possui condição resolutiva que se
implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento
realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a
noventena ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie

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tributária em questão”, no que foi acompanhado pela Ministra Rosa


Weber; do voto do Ministro Roberto Barroso, que acompanhava o
Relator, mas propunha a fixação de tese diversa, no seguinte
sentido: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em
sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos
temporais das sentenças transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”; do voto do Ministro Dias Toffoli, que acompanhava o
Relator quanto ao provimento do recurso e à proposta de modulação
de efeitos da decisão, mas fazia ressalvas quanto à tese de
repercussão geral proposta pelo Relator, acompanhando, nesse
ponto, o Ministro Roberto Barroso; e do voto do Ministro Gilmar
Mendes, que dava provimento ao recurso extraordinário para
assentar que, em se tratando de relação jurídica de trato
sucessivo, a superveniência de interpretação do Plenário do STF,
em sede de controle concentrado ou difuso de constitucionalidade,
divergente com a exegese transitada em julgado em demanda
individual ou coletiva, faz cessar a ultratividade da eficácia
preclusiva da coisa julgada formal e material em relação aos
efeitos futuros de atos pretéritos, além dos atos futuros,
restabelecendo, no caso concreto, a sentença, e, ainda, sugeria as
seguintes teses de repercussão geral: “1) em se tratando de
efeitos pretéritos ou pendentes de atos passados, quando se tratar
de relação jurídica de trato sucessivo, é cabível ação rescisória
ou alegação de inexigibilidade do título executivo judicial quando
este contrariar a exegese conferida pelo Plenário da Suprema
Corte, tal como assentado na ADI 2.418, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 17.11.2016; no RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 9.9.2015 (tema 733 da RG); e no RE 611.503, Redator p/
acórdão Min. Edson Fachin, Pleno, DJe 10.3.2019 (tema 360 da RG),
além do disposto nos §§ 7º e 8º do art. 535 do CPC; e 2) quanto
aos efeitos futuros de atos passados, bem ainda de atos futuros,
ambos submetidos à relação jurídica de trato continuado, cessa a
ultratividade de título judicial fundado em ‘aplicação ou
interpretação tida como incompatível com a Constituição’, na
situação em que o pronunciamento jurisdicional for contrário ao
decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, seja no
controle difuso, seja no controle concentrado de
constitucionalidade, independentemente de ação rescisória ou
qualquer outra demanda, diante da cláusula rebus sic stantibus, na
linha do que assentado no RE 596.663, Redator p/ acórdão Min.
Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 26.11.2014 (tema 494 da RG)”,
pediu vista dos autos o Ministro Alexandre de Moraes. Falaram:
pela recorrente, o Dr. Claudio Xavier Seefelder Filho, Procurador

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da Fazenda Nacional; pela recorrida, a Dra. Glaucia Maria Lauletta


Frascino; pelo amicus curiae Sindicato das Indústrias de Produtos
Químicos para Fins Industriais, Petroquímicas e de Resinas
Sintéticas de Camaçari, Candeias e Dias D’ávila – SINPEQ, a Dra.
Fernanda Donnabella Camano de Souza; pelo amicus curiae Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, o Dr. Luiz
Gustavo A. S. Bichara; e, pelo amicus curiae Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, a Dra. Misabel de Abreu
Machado Derzi. Plenário, Sessão Virtual de 6.5.2022 a 13.5.2022.

Composição: Ministros Luiz Fux (Presidente), Gilmar Mendes,


Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Rosa Weber,
Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Nunes Marques
e André Mendonça.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE
SAO PAULO - FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS
QUIMICOS PARA FINS INDUSTRIAIS,
PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE
CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): Trata-se de recurso


extraordinário, sob a sistemática da repercussão geral, interposto em face
de acórdão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, cuja ementa
transcreve-se a seguir:
“PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO
SOCIAL SOBRE O LUCRO. LEI 7689/88. MANDADO DE
SEGURANÇA. OFENSA À COISA JULGADA. APELAÇÃO
PROVIDA.

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RE 949297 / CE

1. A sentença prolatada nos autos do mandado de


segurança 127/89/CE declarou a inconstitucionalidade da lei
7689/88 tendo sido mantida por esta Corte com o trânsito em
julgado.
2. ‘(...) A sentença rescindenda, que reconheceu ser
integralmente inconstitucional a lei 7689/88, instituidora da
contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas para
financiamento da seguridade social, porque prolatada antes da
publicação da decisão do STF declarando a
inconstitucionalidade apenas do artigo 8º da mencionada lei
(RE 138284-CE, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU 28/08/92, P.
13456), não deve sofrer os efeitos provenientes dessa declaração
- 'Se as questões de fato e de direito reguladas pela norma
julgada inconstitucional se encontram definitivamente
encerradas porque sobre elas incidem caso julgado judicial,
porque se perdeu um direito por prescrição ou caducidade,
porque o ato se tornou inimpugnável, porque a relação se
extinguiu com o cumprimento da obrigação, então a dedução
de inconstitucionalidade, com a consequente nulidade ipso jure,
não perturba, através da sua eficácia retroativa esta vasta gama
de situações ou relações consolidadas' (J. J. GOMES
CANOTILHO).- Inegável a aplicação do entendimento firmado
por nossos Tribunais Superiores, segundo o qual 'A mudança
de entendimento dos Tribunais Superiores não autoriza o
pedido de rescisão de julgado, com base na violação literal de
dispositivo de lei (artigo 475, inciso V do Código de Processo
Civil).' (RESP 227.458-CE, REL. Min. Hamilton Carvalhido, J.
06/04/2000, DJU 05/06/2000). – Improvimento dos embargos
infringentes mantendo-se incólume o Acórdão que reconheceu
a improcedência do pedido de rescisão (EIAR – Embargos
Infringentes na Ação Rescisória – 311, DJU 22.08.2002, Rel Des
Fed Ubaldo Cavalcanti)’.
3. Apelação provida.”

Nas razões recursais, sustenta-se que a coisa julgada formada em


mandado de segurança em matéria tributária não alcança os exercícios

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RE 949297 / CE

seguintes ao da impetração, nos termos da Súmula 239 do STF.


Ademais, alega-se que a coisa julgada em seara tributária pode ser
relativizada, em decorrência da superveniência de novos parâmetros
normativos ou de decisão do Supremo Tribunal Federal que considere
constitucional o diploma normativo tido por inconstitucional pela decisão
passada em julgado.
A Vice-Presidência do Tribunal Regional Federal da 5ª Região
admitiu o recurso extraordinário, por considerar preenchidos todos os
requisitos de admissibilidade.
Impende registrar que o Superior Tribunal de Justiça negou
seguimento ao recurso especial aviado, com base no regime dos recursos
repetitivos do CPC/73, especificamente o REsp 1.118.893, de relatoria do
Ministro do STJ Arnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, DJe 6.04.2011.
Os autos vieram-me conclusos, por livre distribuição, em 25.02.2016.
Em 25.03.2016, o Tribunal Pleno desta Corte reconheceu a existência
de repercussão geral da questão constitucional suscitada, nos seguintes
termos:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO


GERAL. PRELIMINAR. RECONHECIMENTO. DIREITO
TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO
LÍQUIDO - CSLL. LEI 7.689/88. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.
COISA JULGADA. LIMITES. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
JURÍDICA. INCONSTITUCIONALIDADE INCIDENTAL.
DECLARAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE EM
CONTROLE ABSTRATO E CONCENTRADO. ADI 15.
SÚMULA 239 DO STF. 1. A matéria constitucional controvertida
consiste em delimitar o limite da coisa julgada em âmbito
tributário, na hipótese de o contribuinte ter em seu favor
decisão judicial transitada em julgado que declare a inexistência
de relação jurídico-tributária, ao fundamento de
inconstitucionalidade incidental de tributo, por sua vez
declarado constitucional, em momento posterior, na via do
controle concentrado e abstrato de constitucionalidade exercido
pelo STF. 2. Preliminar de repercussão geral em recurso

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extraordinário reconhecida.”

O Procurador-Geral da República manifestou-se pelo provimento do


recurso extraordinário, com a seguinte síntese:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO


GERAL RECONHECIDA. TEMA 881. COISA JULGADA,
CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS. RELAÇÃO
CONTINUADA. EFICÁCIA. PERDA. DECISÃO NO ÂMBITO
DO CONTROLE CONCENTRADO. PREVALÊNCIA.
Tese de Repercussão Geral – Tema 881: A coisa julgada em
matéria tributária, quando derivada de relação jurídica de trato
continuado, perde sua eficácia no momento da publicação do
acórdão exarado no âmbito do controle concentrado de
constitucionalidade contrário ao sentido da sentença individual
(art. 28 da Lei 9.868/99).
1 – O sistema constitucional brasileiro, fundado na divisão
de poderes-funções estatais ensejou condições para que os atos
derivados da atuação do Estado sejam protegidos de modo a
garantir a sua própria eficácia e a proteger os respectivos
beneficiários. Submetendo-se a essa lógica, a Constituição
Federal, tendo por foco a prevalência dos pronunciamentos do
Estado, em suas várias esferas de atuação, previu a coisa
julgada, que, além de direito individual, é categoria processual
serviente à ordenação das decisões judiciais já emitidas e que dá
lugar somente à autoridade desconstitutiva da ação rescisória.
2 – Em face também das próprias disposições
constitucionais, não se encontra dificuldade em perceber que a
gênese do ato estatal, por si só, não lhe permite a sobrevivência
em todas as situações, estando ele, a depender de sua categoria,
inserido em um regime jurídico que regula sua vida, eficácia,
consequências perante terceiros interessados e o seu fim, quer
por conveniência e oportunidade, quer por anulação, quer pela
superação do entendimento que lhe impelia vigor.
3 – A natureza continuada da relação tributária em tela é
influenciada pela sucessão de circunstâncias de fato e de

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direito, aptas a superarem a eficácia de eventual res iudicata


estabelecida em ação individual.
4 – Por sua relevância constitucional e pelos graves efeitos
gerados na ordem jurídica, as decisões vinculantes tomadas na
seara das ações de controle concentrado reformulam o veredito
de sentença transitada em julgado em relação aos seus efeitos
futuros quando, analisada a mesma causa petendi, suas
conclusões forem contrárias.
5 – Parecer pelo provimento do recurso extraordinário e
pela adoção de efeitos prospectivos, assegurando, no presente
caso, período hábil a garantir o seu conhecimento pelos
contribuintes e a permitir a recepção da carga tributária
resultante da cobrança da contribuição social sobre o lucro
líquido.”

Foi admitida, na qualidade de amicus curiae, a Federação das


Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
Em 22.09.2016, indiquei a inclusão do presente recurso
extraordinário na pauta do Tribunal Pleno.
Ademais, na data de 30.08.2016, proferi despacho determinando a
suspensão do processamento dos feitos com idêntica questão jurídica
controvertida, por força do art. 1.035, §5º, do CPC/15.
Em 25.04.2022, foi incluído na pauta e iniciado o julgamento virtual
em 06.05.2022.
Nesse contexto, o Min. Dias Toffoli acompanhou meu voto com
ressalvas, aderindo ao provimento ao Recurso Extraordinário, mas em
relação à tese de repercussão geral, acompanhou o Min. Roberto Barroso
no julgamento do RE 955.227 (Tema de Repercussão Geral n. 885).
Já a Min. Rosa Weber e o Min. Barroso acompanharam integralmente
meu voto.
Houve, entretanto, pedido de vista do Min. Alexandre de Moraes.
Iniciado novamente julgamento virtual, no dia 30.09.2022, o ilustre
Min. Alexandre de Moraes passou a acompanhar integralmente meu voto
para dar provimento ao recurso extraordinário, e reformar o acórdão
recorrido, de forma a denegar a segurança, aderindo à tese e à modulação

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Relatório

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RE 949297 / CE

propostas.
Após o voto-vista do Ministro Alexandre de Moraes, pediu vista dos
autos o Ministro Gilmar Mendes.
Iniciada novamente no dia 18.11.2022, o Min. Gilmar, que até então
divergia, passou a me acompanhar acerca do provimento do recurso,
divergindo apenas na aplicação dos princípios das anterioridades (anual
e/ou nonagesimal), e, quanto à tese de repercussão geral proposta pelo
Relator, entendia que as teses de julgamento dos temas n. 881 e n. 885
deveriam ser uniformes, para garantir segurança jurídica e evitar
interpretações divergentes quanto ao tema de fundo. Aderiu, portanto, a
tese proposta pelo Min. Barroso no julgamento do RE 955.227 (Tema de
Repercussão Geral n. 885).
Por fim, nessa mesma sessão, em consideração aos memoriais
recebidos que veiculavam pretensão de modulação da eficácia temporal
da decisão fiz o pedido de destaque de ambos os temas (n. 881 e 885) para
melhor análise e julgamento perante este Plenário do Eg. STF.
É o relatório.

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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10/10/2022 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

VOTO

1. O presente voto, ao dispor aos eminentes pares e às partes a


respectiva íntegra, expressa fundamentação nos termos dos arts.5º,
XXXVI, da Constituição, e se contém em aproximadamente 31 páginas. A
síntese e conclusão podem ser apresentadas, sem prejuízo da explicitação
no voto contida, à luz do procedimento que se fundamenta nos termos do
insculpido no inciso XXXVI do art. 5º da Constituição Federal de 1988, em
cuja abrangência se insere a coisa julgada e proteção da confiança,
mediante sucinta formulação que tem em conta as seguintes premissas e
arremate:

1.1 Premissas
Primeira: o objeto de discussão da tese a ser firmada está centrado
no limite temporal da coisa julgada em âmbito tributário. A hipótese
específica possui três características importantes para fixação da tese:
(i)a primeira, de existir decisão judicial transitada em julgado que declare
a inexistência de relação jurídico tributária, ao fundamento de
inconstitucionalidade incidental de tributo;(ii)a segunda, quando o
mesmo dispositivo – antes declarado incidentalmente inconstitucional –
é, na via abstrata e concentrada, declarado como constitucional pelo STF,
em momento posterior à formação da coisa julgada individual; e,(iii)a
terceira, que a relação jurídica tributária é de trato continuado.
Segunda: no caso paradigma, o contribuinte possuía decisão
favorável transitada em julgado no processo 127/1989, que havia ocorrido
em 14.08.1992. Essa coisa julgada está amparada no fundamento da
inconstitucionalidade incidental da Lei nº 7.689/88. Ocorre que sobreveio
o julgamento da ADI nº 15, em 31/08/2007 (data publicação DJE) na qual o
Pleno desta Corte, sob Relatoria do Min. Sepúlveda Pertence, decidiu que
era constitucional a referida lei e que a exação poderia ser cobrada.

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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RE 949297 / CE

Assim, a questão posta é até quando esteve vigente os efeitos da coisa


julgada formada no processo individual, considerando que o direito
mudou por meio da superveniência do controle concentrado de
constitucionalidade daquele ato normativo (Lei nº 7.689/88). Em outras
palavras: a discussão gravita em torno da oponibilidade da dimensão
subjetiva de coisa julgada formada em demanda individual em face de
processo objetivo com eficácia erga omnes e efeitos vinculantes, quando
os conteúdos dos atos decisórios são opostos em relação à
constitucionalidade de tributo, fixando a existência ou não de relação
jurídico-tributária de trato continuado entre Contribuinte e Estado.
Terceira: há uma questão preliminar, que é a da dimensão
constitucional da coisa julgada e da segurança jurídica como corolário do
Estado Democrático de Direito. Isso quer dizer que, ao interpretarmos
constitucionalmente o instituto da coisa julgada, lhe damos contornos
mais claros para sua aplicação, o que, por consequência, outorga maior
cognoscibilidade e calculabilidade do direito para os cidadãos. E, por essa
mesma razão, é necessário desde logo sinalizar para a necessidade de
modulação de efeito para este caso. Considerando razões de segurança
jurídica, com destaque ao seu consectário da proteção da confiança dos
contribuintes acobertados pela coisa julgada, o presente entendimento
tem eficácia pró-futuro a partir da publicação da ata de julgamento desta
decisão. Além da modulação, há de se respeitar outra importante norma
constitucional, oslimites ao poder de tributar. Isso porque, a decisão em
controle concentrado ou em repercussão geral, que seja contrária à coisa
julgada do contribuinte, em relações jurídicas tributárias de trato
sucessivo, termina por corresponder à norma jurídica nova ao
contribuinte. Tal situação equivale à instituição de novo tributo, que, por
razões de segurança jurídica na tributação, deve observar a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena, e, no caso das
contribuições para a seguridade social, a anterioridade nonagesimal
Quarta: quanto aos fundamentos de mérito, o principal está ligado
à delimitação do regime da coisa julgada. É importante frisar que não
estamos diante de hipótese de “relativização” da coisa julgada, seja na

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acepção de superabilidade do aspecto objetivo do instituto, seja na


afirmação de inexistência de normas jurídicas absolutas. Pelo contrário, o
que se decide é se é limitável a eficácia temporal da coisa julgada em
matéria tributária, quando derivada de relação jurídica de trato
continuado, a partir do advento de decisão exarada no âmbito de controle
abstrato de constitucionalidade contrário ao sentido da sentença
individual. Nesse panorama, afirma-se que o comando sentencial rege-se
pela cláusula rebus sic stantibus, de modo a permanecer hígido
enquanto se mantiverem íntegras as situações de fato e de direito
existentes quando da prolação da sentença.
1.2 Base constitucional: arts. 3º, IV, 5º, caput, II e XXXVI, 37 e 150,
VI, c.
1.3 Base doutrinária: sobre o tema, há diversos autores citados,
mencionam-se aqui especialmente: Teresa Arruda Alvim, Fábio Monerat,
Humberto Ávila, Paulo Mendes, Luiz Guilherme Marinoni, Hugo de
Brito Machado, Teori Zavascki
1.4 Base em precedentes: os principais precedentes em que o voto
se apoia são:
· RE-RG 730.462, de relatoria do Ministro Teori Zavascki, Tribunal
Pleno, j. 28.05.2015, DJe 9.09.2015;
· Tema 733;
· RE-AgR 646.313, de relatoria do Ministro Celso de Mello, Segunda
Turma, DJe 10.12.2014;
· RE-AgR 592.912, de relatoria do Ministro Celso de Mello, Segunda
Turma, DJe 22.11.2012;
· Tema 339 da sistemática da repercussão geral, cujo recurso-
paradigma é RE-RG 363.889, de relatoria do Ministro Dias Toffoli,
Tribunal Pleno, DJe 16.12.2011;
· Enunciado da Súmula 239 do STF;
· AI-EI 11.227, de relatoria do Ministro Castro Nunes, Tribunal Pleno,
DJ 10.02.1945; e RE 59.423, de relatoria do Ministro Eloy Rocha, DJe
1º.04.1970;
· RE 99.435, de relatoria do Ministro Rafael

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Mayer, Primeira, Turma, DJ 19.08.1983;


· Rcl 4.374, de relatoria do Ministro Gilmar
Mendes, Tribunal Pleno, DJe 4.09.2013;
· MS-AgR 32.435, de relatoria do Ministro Celso
de Mello e com acórdão redigido pelo Ministro Teori Zavascki, Segunda
Turma, DJe 15.10.2015.

1.5 Conclusão
Do caso concreto: conheço do presente recurso extraordinário a que
se dá provimento para reformar o acórdão recorrido, com a denegação da
ordem mandamental.
Da tese de repercussão geral: propõe-se a fixação da seguinte Tese
jurídica ao Tema 881 da sistemática da repercussão geral:
“A eficácia temporal de coisa julgada material derivada de relação
tributária de trato continuado possui condição resolutiva que se
implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento realizado em
sede de controle abstrato e concentrado de constitucionalidade pelo
Supremo Tribunal Federal, quando os comandos decisionais sejam
opostos, observadas as regras constitucionais da irretroatividade, a
anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal, de
acordo com a espécie tributária em questão. Considerando razões de
segurança jurídica, com destaque ao seu consectário da proteção da
confiança dos contribuintes acobertados pela coisa julgada, o presente
entendimento tem eficácia pró-futuro a partir da publicação da ata de
julgamento desta decisão.”

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): É objeto do


presente recurso, a fixação de tese objetiva apta a gerar orientação
jurisprudencial a todo o sistema judicial, assim como harmonizar o
presente julgamento com os demais temas da sistemática da repercussão
geral com conteúdos correlatos.
Controverte-se sobre o limite temporal da coisa julgada em âmbito

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tributário, na hipótese de o contribuinte ter em seu favor decisão judicial


transitada em julgado que declare a inexistência de relação jurídico-
tributária, ao fundamento de inconstitucionalidade incidental de tributo,
por sua vez declarado constitucional, em momento posterior, na via do
controle concentrado e abstrato de constitucionalidade exercido pelo STF.
Nesse sentido, há um formal conflito temporal no plano da eficácia
entre a dimensão subjetiva da coisa julgada em favor de contribuinte e o
efeito vinculante de processo de índole objetiva, tendo em conta que os
pronunciamentos judiciais sobre a constitucionalidade de tributo são
opostos.
Em suma, trata-se dos efeitos das decisões declaratórias de
constitucionalidade proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, em sede
de controle concentrado e abstrato de constitucionalidade, sobre a eficácia
temporal de coisa julgada formada em demanda na qual se afirmou a
inexistência de relação tributária de trato continuado, ao fundamento de
inconstitucionalidade de tributo.
Posto esse quadro, o presente Tema de repercussão geral não guarda
identidade com o precedente firmado no RE-RG 730.462, de relatoria do
Ministro Teori Zavascki, Tribunal Pleno, j. 28.05.2015, DJe 9.09.2015, cuja
ementa reproduz-se a seguir:

“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL.


DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE
PRECEITO NORMATIVO PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. EFICÁCIA NORMATIVA E EFICÁCIA EXECUTIVA
DA DECISÃO: DISTINÇÕES. INEXISTÊNCIA DE EFEITOS
AUTOMÁTICOS SOBRE AS SENTENÇAS JUDICIAIS
ANTERIORMENTE PROFERIDAS EM SENTIDO
CONTRÁRIO. INDISPENSABILIDADE DE INTERPOSIÇÃO
DE RECURSO OU PROPOSITURA DE AÇÃO RESCISÓRIA
PARA SUA REFORMA OU DESFAZIMENTO. 1. A sentença do
Supremo Tribunal Federal que afirma a constitucionalidade ou
a inconstitucionalidade de preceito normativo gera, no plano do
ordenamento jurídico, a consequência (= eficácia normativa) de
manter ou excluir a referida norma do sistema de direito. 2.

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Dessa sentença decorre também o efeito vinculante, consistente


em atribuir ao julgado uma qualificada força impositiva e
obrigatória em relação a supervenientes atos administrativos ou
judiciais (= eficácia executiva ou instrumental), que, para
viabilizar-se, tem como instrumento próprio, embora não único,
o da reclamação prevista no art. 102, I, ‘l’, da Carta
Constitucional. 3. A eficácia executiva, por decorrer da sentença
(e não da vigência da norma examinada), tem como termo
inicial a data da publicação do acórdão do Supremo no Diário
Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999). É, consequentemente, eficácia
que atinge atos administrativos e decisões judiciais
supervenientes a essa publicação, não os pretéritos, ainda que
formados com suporte em norma posteriormente declarada
inconstitucional. 4. Afirma-se, portanto, como tese de
repercussão geral que a decisão do Supremo Tribunal Federal
declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de
preceito normativo não produz a automática reforma ou
rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado
entendimento diferente; para que tal ocorra, será indispensável
a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a
propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485,
V, do CPC, observado o respectivo prazo decadencial (CPC, art.
495). Ressalva-se desse entendimento, quanto à
indispensabilidade da ação rescisória, a questão relacionada à
execução de efeitos futuros da sentença proferida em caso
concreto sobre relações jurídicas de trato continuado. 5. No
caso, mais de dois anos se passaram entre o trânsito em julgado
da sentença no caso concreto reconhecendo, incidentalmente, a
constitucionalidade do artigo 9º da Medida Provisória 2.164-41
(que acrescentou o artigo 29-C na Lei 8.036/90) e a
superveniente decisão do STF que, em controle concentrado,
declarou a inconstitucionalidade daquele preceito normativo, a
significar, portanto, que aquela sentença é insuscetível de
rescisão. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.”
(grifos nossos)

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O discrímen dos casos está nos efeitos futuros de sentença proferida


quanto às relações jurídicas de trato continuado em que o vício de
inconstitucionalidade foi aferido de forma incidental. Logo, aqui não se
cuida de reforma ou desfazimento das dimensões objetiva ou subjetiva de
sentença judicial transitada em julgada.
No entanto, muito embora o discrímen dos casos tem-se que a
jurisprudência deste Eg.STF aplicava nacionalmente o entendimento
fixado no Tema 733, inclusive, em lides de natureza tributária, no sentido
de ser indispensável a propositura de ação rescisória para desfazimento da coisa
julgada.
A formação da maioria no julgamento de mérito que ensejou a
distribuição de memoriais por entidades representativas de contribuintes
pela modulação da eficácia temporal da decisão; justificando-se o
destaque dos temas 881 e 885.
Também entendo que o presente apelo extremo não se identifica in
totum com o Tema 885 da repercussão geral no qual se discute os “efeitos
das decisões do Supremo Tribunal Federal em controle difuso de
constitucionalidade sobre a coisa julgada formada nas relações tributários de
trato continuado”, cujo recurso-paradigma é o RE-RG 955.227, de relatoria
do Ministro Luís Roberto Barroso, Tribunal Pleno, DJe 27.04.2016, assim
ementada quando da afetação em repercussão geral:

“DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITO


TRIBUTÁRIO. SENTENÇA QUE DECLARA EXISTÊNCIA OU
INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA.
EFICÁCIA DAS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL EM CONTROLE DIFUSO. COISA JULGADA.
EFEITOS FUTUROS. RELAÇÕES DE TRATO CONTINUADO.
PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. Constitui questão
constitucional saber se e como as decisões do Supremo Tribunal
Federal em sede de controle difuso fazem cessar os efeitos
futuros da coisa julgada em matéria tributária, quando a
sentença tiver se baseado na constitucionalidade ou
inconstitucionalidade do tributo. 2. Repercussão geral

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reconhecida.”

Embora sejam complementares, em termos de eficácia normativa, as


decisões levadas a efeito no bojo do Plenário deste Tribunal e de definição
do conteúdo e efetividade dos precedentes no âmbito de jurisdição
constitucional, a regência processual do controle abstrato de
constitucionalidade guarda especificidades, que podem influenciar o
deslinde das demandas, sob as luzes do entendimento majoritário deste
colegiado.
Mesmo assim, as razões de segurança jurídica suscitadas pelas
entidades representativas dos contribuintes com a pretensão de eficácia
pró-futuro da decisão se projetam em ambas as situações na medida em
que em confirmado entendimento pela prescindibilidade do ajuizamento
de ação rescisória para cobrança de tributo antes julgado inconstitucional,
seja em controle concentrado, seja em controle difuso, o que recomenda a
modulação dos efeitos temporais da decisão de mérito.
A eficácia do julgado proferido em controle difuso e/ou concentrado
não pode ter o condão de retroagir automaticamente para alcançar coisas
julgadas formadas anteriormente ao novo entendimento que este Eg.STF
se avizinha a formar, sob o risco de romper com a segurança jurídica;
valor constitucional caro às relações tributárias suficiente para justificar a
modulação dos efeitos da decisão.
Historicamente adoto posição de autocontenção no emprego da
técnica de modulação dos efeitos temporais da decisão. Nada obstante,
diante da posição do particular perante o poder de tributar do estado a
lógica diversa encontra respaldo, inclusive, em doutrina especializada
que diante de ambientes decisionais rígidos (ARRUDA ALVIM, Teresa.
Modulação na alteração da jurisprudência firme ou de precedentes vinculantes.
São Paulo, Thomson Reuters Brasil, 2020, p.213) elenca entre os critérios
ensejadores da modulação o seguinte:

(...) O terceiro e último dos critérios que nos parece relevante para
indicar ser conveniente que se modulem os efeitos da nova orientação no
tempo diz respeito aos casos em que o Estado está envolvido, direta ou

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indiretamente, e a nova posição adotada prejudique o particular. É o que


ocorre, por exemplo, quando a orientação nova do tribunal aumenta a
alíquota de um tributo, passa a entender ser constitucional um tributo
que antes era tido como inconstitucional. (ARRUDA ALVIM, Teresa,
MONERAT, Fábio. Modulação: momento adequado, competência,
critérios à luz da jurisprudência dos tribunais. In: SUPREMA – Revista de
Estudos Constitucionais, Brasília, v. 1, n. 1, p. 181-213, jan./jun. 2021,
p.188)

A questão central aqui é a tutela da confiança depositada pelo


contribuinte antes acobertado pela coisa julgada que até então apenas
poderia ser modificada com o julgamento de procedência de uma ação
rescisória.
Consectário imediato da segurança jurídica na ordem tributária é a
proteção da confiança depositada pelo contribuinte respaldado pelo
instituto da coisa julgada. Ainda que se trate apenas de mera cessação
automática da eficácia temporal da coisa julgada, como sustentado pela
Fazenda Nacional, haverá uma alteração do entendimento deste Eg. STF;
o que recomenda eficácia pró-futuro da decisão sob o risco de grave
vulneração à confiança depositada pelos contribuintes na própria
interpretação e aplicação de regras processuais pelos Tribunais
Superiores.
A propósito da aplicação da técnica da modulação em matéria
processual tem-se que “a predeterminação das regras processuais é valor
de relevância absoluta.” (ARRUDA ALVIM, Teresa, MONERAT, Fábio.
Modulação: momento adequado, competência, critérios à luz da
jurisprudência dos tribunais. In: SUPREMA – Revista de Estudos
Constitucionais, Brasília, v. 1, n. 1, p. 181-213, jan./jun. 2021, p.204).
Posto anteriormente ao presente julgamento como necessário o
ajuizamento e procedência de ação rescisória para o início da cobrança de
exação tributária antes considerada inconstitucional, novo entendimento
implica em alteração da interpretação e aplicação de regra processual, o
que recomenda eficácia pró-futuro com a observância da coisa julgada

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formada antes deste julgamento.


Considerando as razões de segurança jurídica veiculadas nos
memoriais tenho por razoável fixar entendimento no sentido de que o
presente julgamento tem efeito apenas a partir da publicação da ata de
julgamento do acórdão respeitando-se, assim, as sentenças e acórdãos
acobertados pelo instituto da coisa julgada; isso sem prejuízo do
necessário ajuizamento da ação rescisória naquelas situações que
admissíveis (Tema 136).
Feitas essas ponderações iniciais, declaro meu voto no sentido de
prover o presente recurso extraordinário para fins de reformar o
acórdão recorrido e de restaurar a denegação da ordem deste writ
proposta pela sentença do juízo da 4ª Vara da Seção Judiciária do
Estado do Ceará.
Isto porque firmo convicção no sentido de que o juízo definitivo
de constitucionalidade em escopo de ADI, ADO e ADC formado pelo
Tribunal Pleno do STF possui aptidão para alterar o estado de direito
de relação tributária de trato continuado, por força do art. 28 da Lei
9.868/1999, rompendo o silogismo original da sentença judicial
transitada em julgada, à luz da cláusula rebus sic stantibus, de modo a
fazer cessar os efeitos prospectivos da primeira decisão, a partir da
publicação da ata de julgamento da ação de índole abstrata.
Considerando que presentes razões de segurança jurídica do
contribuinte e de interesse social, nos termos do art.927, CPC15,
entendo que seja o caso de empreender modulação dos efeitos
temporais da decisão para que tenha eficácia pró-futuro a partir da
publicação da ata de julgamento deste acórdão.
Apontada a direção de minha proposição, adota-se a seguinte ordem
metodológica para justificar as razões jurídicas que me levaram ao
convencimento supracitado. De início, faz-se necessário compreender a
coisa julgada como instituição jurídica em perspectiva constitucional.
Com espeque nesse arquétipo conceitual, pretende-se dar estabilidade ao
conflito temporal entre a dimensão subjetiva da coisa julgada em favor do
contribuinte e o efeito vinculante de processo de índole objetiva favorável

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à Fazenda Pública. Assim, o expediente argumentativo ficará cingido à


viabilidade constitucional da limitação da eficácia temporal da coisa
julgada em matéria tributária. Ao fim, será realizado o exame da situação
concreta posta em juízo.

A DIMENSÃO CONSTITUCIONAL DA SEGURANÇA JURÍDICA E DA


COISA JULGADA

A despeito da segurança jurídica constar de forma explícita e


implícita no preâmbulo e no Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, transcrevem-se os dispositivos constitucionais encartados na
parte dogmática do Texto Constitucional relevantes à compreensão das
categorias jurídicas:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
(…)
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,
precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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RE 949297 / CE

§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo


Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito
vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal.
(…)
Art. 103-A (omissis)
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação
e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja
controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a
administração pública que acarrete grave insegurança jurídica
e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.”

Nesse sentido, em que pese haver divergência doutrinária acerca da


distinção entre certeza do direito e segurança jurídica, é cediço na
doutrina constitucional e tributária a organização do Sistema Tributário
Nacional a partir da principiologia da segurança.
A esse respeito, veja-se excerto da ementa do RE-AgR 646.313, de
relatoria do Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, DJe 10.12.2014:

“O postulado da segurança jurídica, enquanto expressão


do Estado Democrático de Direito, mostra-se impregnado de
elevado conteúdo ético, social e jurídico, projetando-se sobre as
relações jurídicas, mesmo as de direito público (RTJ 191/922),
em ordem a viabilizar a incidência desse mesmo princípio sobre
comportamentos de qualquer dos Poderes ou órgãos do Estado,
para que se preservem, desse modo, sem prejuízo ou surpresa
para o administrado, situações já consolidadas no passado. - A
essencialidade do postulado da segurança jurídica e a
necessidade de se respeitarem situações consolidadas no tempo,
especialmente quando amparadas pela boa-fé do cidadão,
representam fatores a que o Poder Judiciário não pode ficar
alheio.”

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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RE 949297 / CE

Por conseguinte, entende-se ser a coisa julgada, com previsão no art.


5º, XXXVI, da Constituição da República, um corolário da segurança
jurídica, por sua vez princípio objetivo do Estado Democrático de Direito.
Recorre-se, a propósito, ao escólio doutrinário do professor
Humberto Ávila acerca da segurança jurídico-tributária:

“Desse modo, o conceito de segurança jurídico-tributária


pode ser definido como uma norma-princípio que exige dos
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário a adoção de
comportamentos que contribuam mais para a existência, em
benefício dos contribuintes e na sua perspectiva, de um elevado
estado de confiabilidade e de calculabilidade jurídica, com base
na sua elevada cognoscibilidade, por meio da controlabilidade
jurídico-racional das estruturas argumentativas reconstrutivas
de normas gerais e individuais, como instrumento garantidor
do respeito à sua capacidade de, sem engano, frustração,
surpresa ou arbitrariedade, plasmar digna e responsavelmente
o seu presente e fazer um planejamento estratégico
juridicamente informado do seu futuro.” (ÁVILA, Humberto.
Segurança Jurídica: entre permanência, mudança e realização no
direito tributário. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 283)

Na condição de efeito jurídico específico da segurança jurídica, a


coisa julgada recebeu também tratamento legislativo no âmbito cível. Em
primeiro, o Decreto-Lei 4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro) apresenta a seguinte definição legal ao instituto em seu
art. 6º, §3º, in verbis: “Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial
de que já não caiba recurso.”
Para além dessa dimensão formal, sob a influência do processualista
italiano Enrico Tullio Liebman, o Código de Processo Civil de 1973 trouxe
as seguintes disposições a respeito da coisa julgada:

“Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia,


que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a
recurso ordinário ou extraordinário.

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RE 949297 / CE

Art. 468. A sentença, que julgar total ou parcialmente a


lide, tem força de lei nos limites da lide e das questões
decididas.
Art. 469. Não fazem coisa julgada:
I - os motivos, ainda que importantes para determinar o
alcance da parte dispositiva da sentença;
II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da
sentença;
III - a apreciação da questão prejudicial, decidida
incidentemente no processo.
Art. 470. Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão
prejudicial, se a parte o requerer (arts. 5º e 325), o juiz for
competente em razão da matéria e constituir pressuposto
necessário para o julgamento da lide.
Art. 471. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já
decididas, relativas à mesma lide, salvo:
I - se, tratando-se de relação jurídica continuativa,
sobreveio modificação no estado de fato ou de direito; caso em
que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na
sentença;
II - nos demais casos prescritos em lei.”

A despeito de não haver mudança normativa com aptidão para


alterar o presente julgamento, o Código de Processo Civil de 2015
preconiza o que se segue no que toca à coisa julgada material:

“Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a


autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de
mérito não mais sujeita a recurso.
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o
mérito tem força de lei nos limites da questão principal
expressamente decidida.
§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão
prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se:
I - dessa resolução depender o julgamento do mérito;

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RE 949297 / CE

II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e


efetivo, não se aplicando no caso de revelia;
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da
pessoa para resolvê-la como questão principal.
§ 2o A hipótese do § 1o não se aplica se no processo
houver restrições probatórias ou limitações à cognição que
impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial.
Art. 504. Não fazem coisa julgada:
I - os motivos, ainda que importantes para determinar o
alcance da parte dispositiva da sentença;
II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da
sentença.
Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já
decididas relativas à mesma lide, salvo:
I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado,
sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em
que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na
sentença;
II - nos demais casos prescritos em lei.”

No pensamento de Paulo Mendes de Oliveira, a coisa julgada visa a


proporcionar coerência ao sistema jurídico, viabilizar o discurso jurídico,
conferir cognoscibilidade ao direito, possibilitar a calculabilidade das
relações jurídicas e transmitir confiança aos cidadãos. Em relação ao
altiplano constitucional, o referido processualista assim define o núcleo
de proteção da norma extraída do art. 5º, XXXVI, da Constituição da
República:

“De fato, quando se lê na Constituição Federal que ‘a lei


não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada’, é preciso ter presente que o Constituinte
pretendeu com essa fórmula conferir especial proteção a
situações que se consolidam no tempo e, portanto, geram uma
justa expectativa dos sujeitos a seu respeito. Trata-se, pois, de
regra que tem como propósito assegurar a estabilidade dessas

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RE 949297 / CE

posições, garantindo que a esfera jurídica daqueles detentores


de tal status não poderá ser vilipendiada.” (OLIVEIRA, Paulo
Mendes de. Coisa Julgada e Precedente: limites temporais e as
relações jurídicas de trato continuado. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015, p. 39)

Em síntese, ante a observância de decisão judicial de mérito


transitada em julgado, após cognição exauriente, a coisa julgada exsurge
como situação jurídica que qualifica o ato decisório com o fito de
estabilizá-lo socialmente em termos objetivos, subjetivos e temporais.

LIMITES DA EFICÁCIA TEMPORAL DA COISA JULGADA

Ao fixar-se no aspecto temporal do ordenamento jurídico, percebe-se


que a segurança jurídica em dimensão objetiva visa tutelar as posições e
interesses juridicamente relevantes no passado, presente e futuro, tendo
em vista a função estabilizadora de expectativas sociais do sistema
jurídico. Em relação ao passado, haurem-se do Texto Constitucional
normas com conteúdos protetivos a situações reguladas pelo Direito,
como é o caso da coisa julgada. Acerca do presente, estabelecem-se
garantias institucionais e procedimentais que regem a inovação na ordem
jurídica. Por fim, o futuro é resguardado pelo grau de vinculatividade e
cognoscibilidade das relações jurídicas titularizadas pelos sujeitos de
direito.
Na corrente controvérsia, o resguardo do passado comunica-se com
a previsibilidade do futuro, porquanto se perquire a aptidão jurídica de
sentença judicial para regular fatos jurídicos supervenientes.
Assim, não se discute a retroatividade jurisprudencial na espécie, de
modo que a abarcar situações jurídicas prévias e consolidadas.
Igualmente, não se coloca a questão da aplicação da teoria da nulidade ou
da anulabilidade dos atos inconstitucionais e respectiva eficácia da
decisão judicial em sede de controle abstrato de constitucionalidade.
A respeito dessas questões, há jurisprudência consolidada do STF no
sentido de que o comando sentencial transitado em julgado é

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RE 949297 / CE

desconstituído mediante ajuizamento de ação autônoma. No caso, há de


separar-se as eficácias normativa e executiva das sentenças
constitucionais, como se depreende das razões de decidir do Tema 733 da
sistemática da repercussão geral, no qual se assentou a seguinte tese
jurídica:

“A decisão do Supremo Tribunal Federal declarando a


constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo não produz a automática reforma ou rescisão das
decisões anteriores que tenham adotado entendimento
diferente. Para que tal ocorra, será indispensável a interposição
de recurso próprio ou, se for o caso, a propositura de ação
rescisória própria, nos termos do art. 485 do CPC, observado o
respectivo prazo decadencial (art. 495).”

Nesse mesmo sentido, confira-se o RE-AgR 592.912, de relatoria do


Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, DJe 22.11.2012, assim
ementado:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO - COISA JULGADA EM


SENTIDO MATERIAL - INDISCUTIBILIDADE,
IMUTABILIDADE E COERCIBILIDADE: ATRIBUTOS
ESPECIAIS QUE QUALIFICAM OS EFEITOS RESULTANTES
DO COMANDO SENTENCIAL - PROTEÇÃO
CONSTITUCIONAL QUE AMPARA E PRESERVA A
AUTORIDADE DA COISA JULGADA - EXIGÊNCIA DE
CERTEZA E DE SEGURANÇA JURÍDICAS - VALORES
FUNDAMENTAIS INERENTES AO ESTADO DEMOCRÁTICO
DE DIREITO - EFICÁCIA PRECLUSIVA DA “RES JUDICATA”
- ‘TANTUM JUDICATUM QUANTUM DISPUTATUM VEL
DISPUTARI DEBEBAT’ - CONSEQUENTE IMPOSSIBILIDADE
DE REDISCUSSÃO DE CONTROVÉRSIA JÁ APRECIADA EM
DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO, AINDA QUE
PROFERIDA EM CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA
PREDOMINANTE NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - A

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RE 949297 / CE

QUESTÃO DO ALCANCE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART.


741 DO CPC - MAGISTÉRIO DA DOUTRINA - RECURSO DE
AGRAVO IMPROVIDO. - A sentença de mérito transitada em
julgado só pode ser desconstituída mediante ajuizamento de
específica ação autônoma de impugnação (ação rescisória) que
haja sido proposta na fluência do prazo decadencial previsto
em lei, pois, com o exaurimento de referido lapso temporal,
estar-se-á diante da coisa soberanamente julgada, insuscetível
de ulterior modificação, ainda que o ato sentencial encontre
fundamento em legislação que, em momento posterior, tenha
sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal,
quer em sede de controle abstrato, quer no âmbito de
fiscalização incidental de constitucionalidade. - A
superveniência de decisão do Supremo Tribunal Federal,
declaratória de inconstitucionalidade de diploma normativo
utilizado como fundamento do título judicial questionado,
ainda que impregnada de eficácia ‘ex tunc’ - como sucede,
ordinariamente, com os julgamentos proferidos em sede de
fiscalização concentrada (RTJ 87/758 - RTJ 164/506-509 - RTJ
201/765) -, não se revela apta, só por si, a desconstituir a
autoridade da coisa julgada, que traduz, em nosso sistema
jurídico, limite insuperável à força retroativa resultante dos
pronunciamentos que emanam, ‘in abstracto’, da Suprema
Corte. Doutrina. Precedentes. - O significado do instituto da
coisa julgada material como expressão da própria supremacia
do ordenamento constitucional e como elemento inerente à
existência do Estado Democrático de Direito.”

Igualmente, não é a hipótese de “relativização” da coisa julgada, seja


na acepção de superabilidade do aspecto objetivo do instituto, seja na
afirmação de inexistência de normas jurídicas absolutas. Por evidente,
não está em questão a mesma plêiade fático-normativa que levou o
Plenário do STF a possibilitar a superação da coisa julgada em nova ação
de investigação de paternidade em face de viabilidade de realização de
exame de DNA no âmbito do Tema 339 da sistemática da repercussão
geral, cujo recurso-paradigma é RE-RG 363.889, de relatoria do Ministro

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RE 949297 / CE

Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe 16.12.2011, assim ementado:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO


PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. REPERCUSSÃO
GERAL RECONHECIDA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE
PATERNIDADE DECLARADA EXTINTA, COM
FUNDAMENTO EM COISA JULGADA, EM RAZÃO DA
EXISTÊNCIA DE ANTERIOR DEMANDA EM QUE NÃO FOI
POSSÍVEL A REALIZAÇÃO DE EXAME DE DNA, POR SER O
AUTOR BENEFICÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA E POR NÃO
TER O ESTADO PROVIDENCIADO A SUA REALIZAÇÃO.
REPROPOSITURA DA AÇÃO. POSSIBILIDADE, EM
RESPEITO À PREVALÊNCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL
À BUSCA DA IDENTIDADE GENÉTICA DO SER, COMO
EMANAÇÃO DE SEU DIREITO DE PERSONALIDADE. 1. É
dotada de repercussão geral a matéria atinente à possibilidade
da repropositura de ação de investigação de paternidade,
quando anterior demanda idêntica, entre as mesmas partes, foi
julgada improcedente, por falta de provas, em razão da parte
interessada não dispor de condições econômicas para realizar o
exame de DNA e o Estado não ter custeado a produção dessa
prova. 2. Deve ser relativizada a coisa julgada estabelecida em
ações de investigação de paternidade em que não foi possível
determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as
partes, em decorrência da não realização do exame de DNA,
meio de prova que pode fornecer segurança quase absoluta
quanto à existência de tal vínculo. 3. Não devem ser impostos
óbices de natureza processual ao exercício do direito
fundamental à busca da identidade genética, como natural
emanação do direito de personalidade de um ser, de forma a
tornar-se igualmente efetivo o direito à igualdade entre os
filhos, inclusive de qualificações, bem assim o princípio da
paternidade responsável. 4. Hipótese em que não há disputa de
paternidade de cunho biológico, em confronto com outra, de
cunho afetivo. Busca-se o reconhecimento de paternidade com
relação a pessoa identificada. 5. Recursos extraordinários

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RE 949297 / CE

conhecidos e providos.”

Repise-se que a discussão gravita em torno da oponibilidade da


dimensão subjetiva de coisa julgada formada em demanda individual
em face de processo objetivo com eficácia erga omnes e efeitos
vinculantes, quando os conteúdos dos atos decisórios são opostos em
relação à constitucionalidade de tributo, fixando a existência ou não de
relação jurídico-tributária de trato continuado entre Contribuinte e
Estado.
Ademais, a despeito de ter sido invocada como fundamento
determinantes pelos atos decisórios prévios na presente cadeia
processual, tenho por inaplicável o Enunciado da Súmula 239 do STF, in
verbis: “Decisão que declara indevida a cobrança do impôsto em determinado
exercício não faz coisa julgada em relação aos posteriores.”
Verifica-se, a propósito, que esse comando sumular foi aprovado em
sessão plenária, no dia 13.12.1963, com base nos precedentes firmados nos
AI-EI 11.227, de relatoria do Ministro Castro Nunes, Tribunal Pleno, DJ
10.02.1945; e RE 59.423, de relatoria do Ministro Eloy Rocha, DJe
1º.04.1970.
Portanto, a inaplicabilidade ao caso decorre de cotejo analítico entre
o presente feito e os precedentes que propiciaram a formação de
jurisprudência dominante, porquanto nestes se discute a exigência de
tributo atinente a determinado exercício financeiro, ao passo que a
questão subjacente ao presente caso diz respeito à exigibilidade do tributo
em si, ao fundamento de sua inconstitucionalidade.
Quando se discute a própria intributabilidade, como nos casos de
isenção ou imunidade, a jurisprudência do STF é firme no sentido de
afastamento da aplicação da norma contida na Súmula 239 desta Corte.
Cita-se o RE 99.435, de relatoria do Ministro Rafael Mayer, Primeira
Turma, DJ 19.08.1983, assim ementado:

“ICM. COISA JULGADA. DECLARAÇÃO DE


INTRIBUTABILIDADE. SÚMULA 239. -A DECLARAÇÃO DE
INTRIBUTABILIDADE, NO PERTINENTE A RELAÇÕES

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RE 949297 / CE

JURIDICAS ORIGINADAS DE FATOS GERADORES QUE SE


SUCEDEM NO TEMPO, NÃO PODE TER O CARÁTER DE
IMUTABILIDADE E DE NORMATIVIDADE A ABRANGER
EVENTOS FUTUROS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
CONHECIDO E PROVIDO.”

Reproduz-se, ainda, excerto do voto do Ministro Rafael Mayer, no


âmbito do RE 109.073, de relatoria de Sua Excelência, Primeira Turma, DJ
13.06.1986, p. 478:

“Certeiro foi o acórdão recorrido ao demonstrar a


dissimilitude do referido acórdão com a espécie sub judice, à luz
do verbete, pois o paradigma que ora se oferece já era então
colacionado. Com efeito, no julgado do Supremo Tribunal
Federal, considerou-se oponível a coisa julgada, e portanto
inaplicável a Súmula 239, na hipótese em que o reconhecimento
da inexistência do débito tributário fosse decorrência de uma
situação de inexistência da fonte legal da relação jurídico-
tributária em razão de declarada a inconstitucionalidade da lei,
o que somente cederia ao advento de nova norma jurídica,
instituidora de nova relação.
Não há portanto conflito de teses jurídicas senão
dissimilitude de pressupostos que não formam o dissídio.”

Também aporta mesmo entendimento a abalizada doutrina do


professor Luiz Guilherme Marinoni, nos seguintes termos:

“Verifica-se, assim, a partir do precedente que culminou


na Súmula, que esta somente se aplica a hipóteses em que se
discute tributo de um determinado exercício. Neste caso, a
decisão, ao declarar indevida a cobrança do tributo, não faz
coisa julgada em relação aos exercícios posteriores.
Porém, nas ações em que se pede a declaração de
inexistência de débito tributário ou a expedição de ordem à
Fazenda (ação mandamental, baseada no art. 461, CPC) ou à
autoridade fazendária (mandado de segurança) para se abster

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de cobrar tributo, alegando-se inconstitucionalidade,


ilegalidade ou existência de imunidade ou de isenção, a coisa
julgada não fica restrita a determinado período ou exercício,
projetando-se, com força perene, para o futuro.” (MARINONI,
Luiz Guilherme. Coisa Julgada Inconstitucional. 3 ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2010, pp. 149-150)

Superada essa questão, torna-se imperativo perquirir se é limitável a


eficácia temporal da coisa julgada em matéria tributária, quando derivada
de relação jurídica de trato continuado, a partir do advento de decisão
exarada no âmbito de controle abstrato de constitucionalidade contrário
ao sentido da sentença individual.
De início, convém diferenciar as relações jurídicas no tempo em duas
espécies, as instantâneas e as de trato continuado (permanente e
sucessiva), em função da relevância dessa natureza jurídica para a
regência da eficácia prospectiva da coisa julgada.
Nesse ponto, reproduz-se trecho de obra doutrinária do e. Ministro
Teori Zavascki:

“Considerada a sua relação com as circunstâncias


temporais do fato gerador, podem-se classificar as relações
jurídicas em três espécies: as instantâneas, as permanentes e as
sucessivas. Instantânea é a relação jurídica decorrente de fato
gerador que se esgota imediatamente, num momento
determinado, sem continuidade no tempo, ou que, embora
resulte de fato temporalmente desdobrado, só atrai a incidência
da norma quando estiver inteiramente formado. É instantânea,
assim, a relação obrigacional de ressarcir os danos materiais
causados no veículo alheio por motorista imprudente que
ultrapassou o sinal vermelho. Ou, no campo tributário, a
relação obrigacional de pagar o imposto de transmissão em face
da venda de determinado imóvel. Define-se como permanente
(ou duradoura) a relação jurídica que nasce de um suporte de
incidência consistente em fato ou situação que se prolonga no
tempo. A obrigação previdenciária que dá ensejo ao benefício

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de auxílio-doença tem como suporte fático a incapacidade


temporária do segurado para exercer as suas atividades
laborativas normais, estado de fato que, prolongado no tempo,
acarreta uma espécie de incidência contínua e ininterrupta da
norma, gerando a obrigação, também continuada, de pagar a
prestação. Dessa mesma natureza é a obrigação de pagar
alimentos, que tem suporte fático desdobrado no tempo,
consistente na insuficiência econômica e financeira do
alimentando e na capacidade econômica e financeira do
alimentante (art. 1.694, §1º, do CC). Finalmente, há uma terceira
espécie de relação jurídica, a sucessiva, nascida de fatos
geradores instantâneos que, todavia, se repetem no tempo de
maneira uniforme e continuada. Os exemplos mais comuns
vêm do campo tributário: a obrigação do comerciante de pagar
imposto sobre a circulação de mercadorias, ou do empresário
de recolher a contribuição para a seguridade social sobre a folha
de salário ou sobre o faturamento.
Na verdade, as relações sucessivas compõem-se de uma
série de relações instantâneas homogêneas, que, pela sua
reiteração e homogeneidade, podem receber tratamento
jurídico conjunto ou tutela jurisdicional coletiva. No geral dos
casos, as relações sucessivas pressupõem e dependem de uma
situação jurídica mais ampla, ou de determinado status jurídico
dos seus figurantes, nos quais se inserem, compondo-lhes a
configuração.” (ZAVASCKI, Teori Albino. Da Eficácia das
Sentenças na Jurisdição Constitucional. 3 ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014, pp. 99-100)

Por outro lado, importa esclarecer que a doutrina processualista


tradicionalmente entende que a condição resolutiva da eficácia temporal
da sentença consiste na alteração dos estados de fato ou de direito. Aliás,
nas relações de trato continuado, esse critério foi positivado nos arts. 471,
I, do CPC/73, e 505, I, do CPC/15.
Nesse panorama, afirma-se que o comando sentencial rege-se pela
cláusula rebus sic stantibus, de modo a permanecer hígido enquanto se
mantiverem íntegras as situações de fato e de direito existentes quando

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RE 949297 / CE

da prolação da sentença. Assim, alterada a norma jurídica individual ou o


suporte fático de incidência normativa, a sentença deixa de ter força de lei
entre as partes processuais, dado que aquela opera nos limites da questão
principal expressamente decidida, a teor dos arts. 468 do CPC/73 e 503 do
CPC/15.
Por sua representatividade, transcreve-se a argumentação do i.
Ministro Gilmar Mendes no bojo da Rcl 4.374, de relatoria de Sua
Excelência, Tribunal Pleno, DJe 4.09.2013:

“Em síntese, declarada a constitucionalidade de uma lei,


ter-se-á de concluir pela inadmissibilidade de que o Tribunal se
ocupe uma vez mais da aferição de sua legitimidade, salvo no
caso de significativa mudança das circunstâncias fáticas ou de
relevante alteração das concepções jurídicas dominantes
[BVerfGE 33/199 e 39/169; Brun-Otto Bryde,
Verfassungsengsentwicklung, Stabilität und Dynamik im
Verfassungsrechf der Bundesrepublik Deutschland, cit., p. 409;
Hans Brox, Zur Zulässigkeit der erneuten Überprüfung einer
Norm durch das Bundesverfassungsgericht, in Festschrift für
Willi Geiger, cit., p. 809 (818); Stern, Bonner Kommentar, 2. tir.,
art. 100, n. 139; Christoph Gusy, Parlamentarischer Gesetzgeber
und Bundesverfassungsgericht, cit., p. 228].
Como ensinado por Liebman, com arrimo em Savigny
(Enrico Tullio Liebman, Eficácia e autoridade da sentença e
outros escritos sobre a coisa julgada, Rio de Janeiro: Forense,
1984, p. 25-26), as sentenças contêm implicitamente a cláusula
rebus sic stantibus, de modo que as alterações posteriores que
alterem a realidade normativa, bem como eventual
modificação da orientação jurídica sobre a matéria, podem
tornar inconstitucional norma anteriormente considerada
legítima (inconstitucionalidade superveniente) [Cf., também,
entre outros, Adolf Schönke, Derecho procesal civil, tradução
da 5. ed. alemã. Barcelona, 1950, p. 273 e s].
Daí parecer plenamente legítimo que se suscite perante o
STF a inconstitucionalidade de norma já declarada
constitucional. Há muito a jurisprudência constitucional

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RE 949297 / CE

reconhece expressamente a possibilidade de alteração da coisa


julgada provocada por mudança nas circunstâncias fáticas (cf., a
propósito, RE 105.012, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de
1º.7.1988).
Assim, tem-se admitido a possibilidade de que o Tribunal,
em virtude de evolução hermenêutica, modifique
jurisprudência consolidada, podendo censurar preceitos
normativos antes considerados hígidos em face da
Constituição.” (grifos nossos)

Ante a natureza continuada da relação jurídico-tributária e a


condição implícita traduzível na cláusula rebus sic stantibus, entendo
que juízo de constitucionalidade de lei instituidora de tributo em sede
de controle abstrato e concentrado de constitucionalidade possui o
condão de modificar o estado de direito, consistindo em ius
superveniens, à luz do efeito vinculante e da eficácia erga omnes
produzidos pelas decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF,
nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade (art. 102, §2º, da Constituição da República), assim
como pela função constitutiva do Direito dos precedentes judiciais.
Nesse sentido, confira-se o MS-AgR 32.435, de relatoria do Ministro
Celso de Mello e com acórdão redigido pelo Ministro Teori Zavascki,
Segunda Turma, DJe 15.10.2015, cuja ementa translada-se a seguir:

“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. TRIBUNAL


DE CONTAS DA UNIÃO. APOSENTADORIA. EXAME.
DECADÊNCIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. DIREITO À
DIFERENÇA DE PERCENTUAL REMUNERATÓRIO DE
28,86%, INCLUSIVE PARA O FUTURO, RECONHECIDO POR
SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. PERDA DA
EFICÁCIA VINCULANTE DA DECISÃO JUDICIAL, EM
RAZÃO DA SUPERVENIENTE ALTERAÇÃO DOS
PRESSUPOSTOS FÁTICOS E JURÍDICOS QUE LHE DERAM
SUPORTE. SUBMISSÃO À CLÁUSULA REBUS SIC
STANTIBUS. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À GARANTIA DA

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COISA JULGADA. 1. Conforme entendimento da Corte, o


procedimento administrativo complexo de verificação das
condições de validade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma e pensão não se sujeita à regra prevista
no art. 54 da Lei 9.784/99. 2. A força vinculativa das sentenças
sobre relações jurídicas de trato continuado atua rebus sic
stantibus: sua eficácia permanece enquanto se mantiverem
inalterados os pressupostos fáticos e jurídicos adotados para o
juízo de certeza estabelecido pelo provimento sentencial. A
superveniente alteração de qualquer desses pressupostos
determina a imediata cessação da eficácia executiva do
julgado, independentemente de ação rescisória ou, salvo em
estritas hipóteses previstas em lei, de ação revisional. 3. No
caso, após o trânsito em julgado da sentença que reconheceu o
direito à diferença de 28,86% nos vencimentos do servidor,
sobreveio, além da sua aposentadoria, substancial alteração no
estado de direito, consistente na edição da MP 1.704/1998, que
estendeu o aumento inicialmente concedido aos servidores
militares aos servidores civis, e de leis posteriores
reestruturadoras da Carreira de Magistério Superior (Lei
10.405/2002, que alterou a tabela de vencimentos dos
professores de 3º grau, a Lei 11.344/2006, que reestruturou a
carreira dos professores de 3º grau, e a Lei 11.784/2008, que
instituiu a Gratificação Temporária para o Magistério - GTMS e
a Gratificação Específica do Magistério Superior – GEMAS,
dentre outras). Por força dessa superveniente mudança do
quadro fático e normativo que dera suporte à condenação,
deixou de subsistir a eficácia da sentença condenatória. 4.
Agravo regimental provido.” (grifos nossos)

Recorre-se, ainda, ao escólio doutrinário do professor Hugo de Brito


Machado:

“Apreciando uma questão de constitucionalidade, o


Supremo Tribunal Federal pode decidir que é constitucional
uma lei havida como inconstitucional em sentença que

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transitou em julgado (…) A manifestação do Supremo Tribunal


Federal que decide definitivamente uma questão constitucional,
em sentido oposto ao entendimento albergado na decisão que
se fizera coisa julgada, configura direito novo.” (MACHADO,
Hugo de Brito. Coisa Julgada e Controle de Constitucionalidade
e de Legalidade em Matéria Tributária. In: MACHADO, Hugo
de Brito (coord.). Coisa Julgada e Controle de Constitucionalidade e
de Legalidade em Matéria Tributária. São Paulo: Dialética, 2006, p.
166)

No mesmo sentido é o pensamento vertido em seara acadêmica pelo


e. Ministro Teori Zavascki, in verbis:

“No que se refere, todavia, às sentenças anteriores que


tenham apreciado relações jurídicas duradouras ou sucessivas
no tempo, a superveniência de decisão contrária, em ação de
controle concentrado, produz, em relação ao futuro,
consequências significativas, semelhantes às acima referidas,
decorrentes da suspensão da execução da norma pelo Senado
Federal. É que, a partir da data da publicação da decisão do
Supremo, cuja eficácia erga omnes lhe outorga incontestável
valor normativo se opera uma relevante modificação do estado
de direito: a da declaração, com efeito vinculante e erga omnes,
da constitucionalidade ou da inconstitucionalidade do preceito
normativo. Essa modificação, embora não seja apta a
desconstituir automaticamente os efeitos passados e já
consumados da sentença que julgou o caso concreto, terá,
certamente, influência em relação aos seus efeitos futuros.
Relativamente a estes prevalecerá, em substituição ao comando
da sentença anterior, o efeito vinculante da decisão proferida na
ação de controle concentrado.
A essa conclusão se chega não somente pela consideração
da superior autoridade das decisões do Supremo em matéria
constitucional, mas também pela natural aptidão que a elas
assim se propiciará, de conferir a todos um tratamento
igualitário em face da Constituição. Ofenderia o mais elementar

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senso de justiça invocar a força da coisa julgada do caso


concreto para, por exemplo, impor a determinada pessoa uma
carga tributária que o Supremo Tribunal Federal declarou
inexistente ou nula ou inexigível para todas as demais; ou, por
exemplo, para assegurar a um cidadão o privilégio de receber
determinado benefício remuneratório ou gozar de favor fiscal,
que é negado, com força vinculante, a todos os demais cidadãos
nas mesmas condições. Daí sustentar-se que, no conflito entre a
sentença do caso concreto e a proferida em ação de controle
concentrado, a supremacia da segunda tem, a legitimá-la, não
apenas a superior hierarquia da autoridade que a proferiu, mas
também a sua aptidão para afirmar o princípio da igualdade de
todos os cidadãos em face dos direitos e dos deveres impostos
pelo ordenamento jurídico. Assim, portanto, a partir da data em
que é publicado o acórdão do Supremo na ação de controle
concentrado – esta é a data em que se estabelece o referido
conflito -, o seu comando vinculante sobrepuja e substitui, para
todos os efeitos, qualquer outra determinação judicial anterior
em sentido contrário.
O novo estado do direito, decorrente da decisão de mérito
nas ações de controle concentrado de constitucionalidade, terá,
como os produzidos por qualquer das outras formas (edição de
nova norma, ou revogação ou suspensão pelo Senado), eficácia
imediata e automática, podendo ser invocado, se não for
atendido espontaneamente, como fundamento para demandas
ou como objeção de defesa, inclusive na via dos embargos à
execução (CPC, art. 741, VI).” (ZAVASCKI, Teori Albino. Da
Eficácia das Sentenças na Jurisdição Constitucional. 3 ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2014, pp. 116-118)

Igualmente, impende tecer considerações de duas ordens


relacionadas à sucessividade da relação tributária. Por um lado, não há
efeitos jurídicos emanados da decisão de constitucionalidade
direcionados ao passado, por não se tratar de retroatividade
jurisprudencial, como já exposto.
Nessa linha de raciocínio, veja-se a articulação do professor Luiz

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Guilherme Marinoni:

“Note-se que a decisão de constitucionalidade não está


operando para o passado ou retroagindo, mas sim regulando a
relação ou a vida que continua. É evidente que, em razão da
declaração de constitucionalidade, não se pode rescindir a
sentença que declarou a inconstitucionalidade de um tributo.
Muito menos se pode pretender cobrar os valores que o
contribuinte deixou de pagar com base na sentença que
declarou a inconstitucionalidade de tributo. Isto seria dar efeito
retroativo à declaração de constitucionalidade, em flagrante
violação aos princípios da segurança e da proteção à confiança.
Contudo, ao se dar eficácia à declaração de
constitucionalidade sobre as relações jurídicas continuativas,
mantendo-se intacta a situação que se formou e se consolidou
durante o tempo que mediou entre a decisão judicial que
produziu efeitos e a declaração de constitucionalidade, restará
preservado o princípio da proteção à confiança.” (MARINONI,
Luiz Guilherme. Coisa Julgada Inconstitucional. 3 ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2010, pp. 157-159)

Noutra banda, revela-se escorreito o raciocínio desenvolvido no


parecer ministerial acerca da prescindibilidade de condução de juízo
rescisório, porquanto a alteração do status quo possui efeitos imediatos e
automáticos.
Translada-se a literalidade de excerto da manifestação do Parquet:

“Outro ponto a ser considerado é a prescindibilidade de


condução de ação revisional, uma vez reconhecido o vínculo de
trato sucessivo. Isso porque a circunstância que leva à revisão
judicial do julgado é, precisamente, o fato de haver uma decisão
judicial em vigor transitada em julgado que impõe determinado
dever jurídico. O caso dos autos diverge dessa regra, uma vez
que a decisão sobre a qual recaiu a coisa julgada afastou a
incidência tributária, imunizando o contribuinte da respectiva
exação. Não houve dever jurídico imposto por sentença, logo

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desnecessária a revisitação do tema pela mesma via.


Ademais, no campo tributário, por sua taxatividade
normativa, todo o conteúdo impositivo, incluindo o
procedimento de cobrança, é definido em lei e executado pela
autoridade administrativa. Em outras palavras, a lei tributária
já designa os elementos fundamentais para o reconhecimento
do débito tributário, sendo suficiente a deflagração de
procedimento administrativo de lançamento fiscal para a
verificação da ocorrência do fato gerador, a determinação da
matéria tributável, o cálculo do montante do tributo devido, a
identificação do sujeito passivo e a eventual penalidade cabível,
tudo na forma e sob o impulso do art. 142 do Código Tributário
Nacional.
Portanto, uma vez interrompido o vigor da sentença
imunizante, a própria atividade administrativa, por força
exclusiva da lei, poderá iniciar o procedimento de lançamento
tributário para inscrever os débitos relativamente aos fatos
geradores ocorridos em data posterior ao pronunciamento de
tribunal em controle concentrado.”

Em síntese, revela-se inoponível a dimensão subjetiva de coisa


julgada formada em demanda individual em face de processo objetivo
com eficácia erga omnes e efeitos vinculantes, quando os conteúdos dos
atos decisórios são opostos em relação à constitucionalidade de tributo,
fixando a existência ou não de relação jurídico-tributária de trato
continuado entre Contribuinte e Estado.
Por fim, ante do exame do caso em concreto, impende registrar que a
decisão em controle concentrado ou em repercussão geral, que seja
contrária à coisa julgada do contribuinte, em relações jurídicas tributárias
de trato sucessivo, termina por corresponder a ônus tributário ao
contribuinte. Tal situação equivale à instituição de novo tributo, que, por
razões de segurança jurídica na tributação, deve observar a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena, e, no caso das
contribuições para a seguridade social, a anterioridade nonagesimal.
Nesse cenário, tem-se que a publicação da ata de julgamento em

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controle concentrado ou em repercussão geral equivale ao primeiro dia


de vigência da nova norma, que deverá produzir efeitos somente após os
referidos períodos consectários das regras da anterioridade de acordo
com a espécie tributária em questão.
Do exposto, perfilo entendimento no sentido de que, a despeito do
tema 885 tratar da superveniência de entendimento diverso em sede de
controle difuso, os efeitos da decisão proferida em repercussão geral
equivalem àquela proferida em sede de controle abstrato: eficácia erga
omnes e vinculante.
Em assim sendo encontram-se presentes as mesmas razões de
segurança jurídica a recomendar a modulação dos efeitos temporais da
decisão, também, no julgamento do tema 885 diante do abstratização do
controle difuso de constitucionalidade, em especial na sistemática de
repercussão geral.
Julgada a questão, passo ao exame do caso concreto.

EXAME DO CASO CONCRETO

Acerca do feito cujos atos decisórios foram acobertados pelo manto


da coisa julgada, convém transcrever excerto da petição inicial do
mandado de segurança impetrado pela parte Recorrida:

“2 – A impetrante, antigamente denominada TÊXTIL


BEZERRA DE MENEZES (CGC/MF nº 07.671.092/0001-80) em
litisconsórcio ativo com a TBM S.A. - INDRÚSTRIA TÊXTIL
(CGC/MF nº 07.603.376/0001-30) e OUTRAS EMPRESAS,
impetrou mandado de segurança contra ato do Sr. Delegado da
Receita Federal em Fortaleza, para sustar a sua pretensão de
cobrar a contribuição social denominada Contribuição Social
sobre o Lucro, prevista na Lei nº 7.689, de 15-12-88 (doc. 2º 06).
E o impetrou face a inconstitucionalidade desse diploma
legal, sob a seguinte fundamentação:
a) a inexistência de lei complementar para criar-se a

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contribuição social sobre o lucro, por se tratar de competência


residual da União;
b) princípio da irretroatividade da lei.
3 – Tal medida de segurança foi distribuída ao nobre Juízo
da 5ª Vara da Justiça Federal em Fortaleza, sob o nº 127/89, que ,
por despacho, concedeu-lhe a liminar solicitada na peça inicial
e, posteriormente, concedeu a segurança em definitivo (doc. Nº
07 – SENTENÇA).
4 – Dessa decisão concessiva, o ilustre magistrado dela
recorreu de ofício e, a Fazenda Nacional através de recurso
voluntário de apelação.
Porém, em segundo grau, o Egrégio
Tribunal da 5ª Região, por uma de suas Turmas, negou
provimento aos recursos interpostos, confirmando assim a
sentença de primeiro grau (doc. Nº 08 – ACÓRDÃO).
5 – Não se conformando, a União Federal interpôs recurso
extraordinário para a Suprema Corte, porém ao mesmo lhe foi
negado seguimento por seu ilustre Relator (doc. Nº 09 –
DESPACHO DO MINISTRO RELATOR DR. MOREIRA
ALVES).
Por decorrência, a sentença concessiva da segurança,
confirmada em segundo grau, transitou em julgado, criando
uma norma jurídica individual, intangível e imodificável, entre
a impetrante e a União Federal (doc. Nº 10 – CERTIDÃO DO
TRÂNSITO EM JULGADO OCORRIDO EM 14/08/92).
6 – Acontece, porém, que a impetrante está sob o regime
de fiscalização da Receita Federal, sob a ordem – é lógico – da
digna autoridade impetrada, que, no caso, pretende reabrir a
apreciação da matéria de direito face decisão posterior da
Suprema Corte declarando a constitucionalidade da Lei nº
7.689/88, cuja pretensão importará, é óbvio, na exigência
indevida dessa exação tributária, com a lavratura de auto de
infração e aplicação de sanção.” (eDOC 1, pp. 4-6)

Ocorre que, em momento posterior ao trânsito em julgado da


sentença favorável ao Contribuinte que ocorreu em 14.08.1992, o Tribunal

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Pleno do STF assentou, em julgamento findo no dia 14.06.2007, a


procedência parcial da ADI 15, de relatoria do Ministro Sepúlveda
Pertence, DJe 31.08.2007, cuja ementa reproduz-se:

“I. ADIn: legitimidade ativa: "entidade de classe de âmbito


nacional" (art. 103, IX, CF): compreensão da ‘associação de
associações’ de classe. Ao julgar, a ADIn 3153-AgR, 12.08.04,
Pertence, Inf STF 356, o plenário do Supremo Tribunal
abandonou o entendimento que excluía as entidades de classe
de segundo grau - as chamadas "associações de associações" -
do rol dos legitimados à ação direta. II. ADIn: pertinência
temática. Presença da relação de pertinência temática, pois o
pagamento da contribuição criada pela norma impugnada
incide sobre as empresas cujos interesses, a teor do seu ato
constitutivo, a requerente se destina a defender. III. ADIn: não
conhecimento quanto ao parâmetro do art. 150, § 1º, da
Constituição, ante a alteração superveniente do dispositivo
ditada pela EC 42/03. IV. ADIn: L. 7.689/88, que instituiu
contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas,
resultante da transformação em lei da Medida Provisória 22, de
1988. 1. Não conhecimento, quanto ao art. 8º, dada a invalidade
do dispositivo, declarado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal, em processo de controle difuso (RE 146.733), e cujos
efeitos foram suspensos pelo Senado Federal, por meio da
Resolução 11/1995. 2. Procedência da arguição de
inconstitucionalidade do artigo 9º, por incompatibilidade com
os artigos 195 da Constituição e 56, do ADCT/88, que, não
obstante já declarada pelo Supremo Tribunal Federal no
julgamento do RE 150.764, 16.12.92, M. Aurélio (DJ 2.4.93), teve
o processo de suspensão do dispositivo arquivado, no Senado
Federal, que, assim, se negou a emprestar efeitos erga omnes à
decisão proferida na via difusa do controle de normas. 3.
Improcedência das alegações de inconstitucionalidade formal e
material do restante da mesma lei, que foram rebatidas, à
exaustão, pelo Supremo Tribunal, nos julgamentos dos RREE
146.733 e 150.764, ambos recebidos pela alínea b do permissivo

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constitucional, que devolve ao STF o conhecimento de toda a


questão da constitucionalidade da lei.”

Assim, as teses jurídicas de inconstitucionalidade do tributo


acolhidas na sentença favorável à parte Recorrida, em decorrência da
inexistência de lei complementar para criação da CSLL e por ofensa ao
princípio da irretroatividade tributária, foram expressamente rejeitadas
em abstrato por este Egrégio Colegiado.
Logo, parece-nos irretocável a linha de raciocínio desenvolvida pelo
i. Procurador-Geral da República, nos seguintes termos:

“Desse modo, percebe-se que a causa de pedir próxima da


ação direta e da causa transitada em julgado é a validade e a
aplicabilidade da Lei 7.689/88, diferenciando apenas na
amplitude dos feitos decorrentes da sentença final e
evidenciando que a Corte Suprema já conheceu e julgou, no
âmbito do controle concentrado, controvérsia de mesmo
fundamento jurídico e a potencialidade, no plano dos fatos, de
fazer sobrepor o resultado de ação de efeitos gerais mesmo
contra res iudicata já formada em ação judicial com efeitos
meramente inter partes, seguindo o sentido já consolidado na
jurisprudência do STF, em casos de natureza tributária”.

Conclui-se, portanto, que a coisa julgada material formada no


processo 127/1989, aviado na Seção Judiciária do Estado do Ceará, teve
sua eficácia temporal limitada ao advento da publicação da ata de
julgamento da ADI indigitada, nos termos do art. 28 da Lei 9.868/1999.
Isto porque a pronúncia do juízo definitivo de constitucionalidade possui
aptidão para modificar o estado de direito de ato decisório, que verse
sobre relação jurídica de trato continuado.
Ademais, por força dos princípios da legalidade e da isonomia, a
partir da referida publicação a Administração Tributária tem sua
atividade plenamente vinculada ao lançamento tributário das exações
tributárias referentes à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido na
espécie, independentemente de propositura e procedência de ação

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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RE 949297 / CE

revisional.
Por conseguinte, não possui guarida constitucional o entendimento
esposado pelo Tribunal de origem no acórdão recorrido, de modo que a
irresignação da parte Recorrente merece prosperar.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, conheço do presente recurso extraordinário a que se


dá provimento para reformar o acórdão recorrido, com a denegação da
ordem mandamental.
Condeno a parte Recorrida ao pagamento das despesas processuais
da parte Recorrente, nos termos dos arts. 82, §2º, e 84 do CPC.
Fica a parte vencida exonerada do pagamento de honorários
advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF.
Caso a presente proposta reste majoritária no âmbito do colegiado,
propõe-se a fixação da seguinte Tese jurídica ao Tema 881 da sistemática
da repercussão geral: “A eficácia temporal de coisa julgada material
derivada de relação tributária de trato continuado possui condição
resolutiva que se implementa com a publicação de ata de ulterior
julgamento realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena
ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie tributária em
questão. Considerando razões de segurança jurídica, com destaque ao
seu consectário da proteção da confiança dos contribuintes acobertados
pela coisa julgada, o presente entendimento tem eficácia pró-futuro a
partir da publicação da ata de julgamento desta decisão.”
É como voto.

ADITAMENTO AO VOTO

Acresço ao meu voto informação que não constava do relatório, ao

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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RE 949297 / CE

mesmo tempo em que retifico informação verbal ( a latere do voto escrito)


que fiz na sessão de 02.02.2023, enaltecendo o esclarecimento de fato feito
pela i. Advogada que oportunamente interveio da tribuna virtual:
A data da impetração do segundo Mandado de Segurança
preventivo é mesmo anterior a 2007, isto é, 23.04.2001.
Nada obstante tal informação não altere o quadro jurídico, nem o
meu voto, cumpre-me esclarecer o ponto.
Ademais, como declinei oralmente na sessão, ambos os Mandados
de Segurança ajuizados são preventivos, o que traduz por si só, até por
razões lógicas, ser a impetração anterior ao julgamento da ADI 15 de
2007.

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Voto Vogal

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10/10/2022 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE
SAO PAULO - FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS
QUIMICOS PARA FINS INDUSTRIAIS,
PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE
CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO

VOTO–VOGAL

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (VOTO-VOGAL):

a) Aditamento ao voto

É importante registrar que, na época do início do julgamento virtual,


inaugurei a divergência ao voto do relator. Naquela oportunidade, havia
pedido vênia ao relator, Min. Edson Fachin – e aqueles que o seguiram –

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Voto Vogal

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RE 949297 / CE

para manter a integridade da interpretação constitucional conferida pelo


STF na ADI 2.418, Rel. Min. Teori Zavascki, Pleno, DJe 17.11.2016; no RE
730.462, Rel. Min. Teori Zavascki, Pleno, DJe 9.9.2015 (tema 733 da RG); e
no RE 611.503, Redator p/acordão Min. Edson Fachin, Pleno, DJe
10.3.2019 (tema 360 da RG), ao se igualarem as consequências, em
processos transitados em julgado, do exercício do controle difuso e
concentrado pelo Supremo Tribunal Federal, tal como assentado no art.
535, § 5º, do CPC.
Ocorre que, a despeito desse posicionamento pessoal e divergindo
apenas em relação à aplicação dos princípios das anterioridades (anual
e/ou nonagesimal), tenho que, após a evolução do julgamento,
guardadas minhas reservas, é caso de acompanhar o relator, no intuito
de conferir segurança jurídica e sinalização de aplicação da tese, ao
orientar as demais instâncias.

b) Voto originalmente divulgado, no início da sessão assíncrona,


com adaptações

Trata-se de recurso extraordinário interposto pela União em face de


acórdão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, a seguir ementado:

“PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO


SOCIAL SOBRE O LUCRO. LEI 7.689/88. MANDADO DE
SEGURANÇA. OFENSA À COISA JULGADA. APELAÇÃO
PROVIDA. 1. A sentença prolatada nos autos do mandado de
segurança 127/89/CE declarou a inconstitucionalidade da lei
7.689/88 tendo sido mantida por esta Corte com o trânsito em
julgado PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO
SOCIAL SOBRE O LUCRO. LEI 7689/88. MANDADO DE
SEGURANÇA. OFENSA À COISA JULGADA.
APELAÇÃO PROVIDA. 1. A sentença prolatada nos autos
do mandado de segurança 127/89/CE declarou a
inconstitucionalidade da lei 7689/88 tendo sido mantida por
esta Corte com o trânsito em julgado. 2. ‘(...)A sentença
rescindenda, que reconheceu ser integralmente

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inconstitucional a lei 7689/88, instituidora da contribuição


social sobre o lucro das pessoas jurídicas para financiamento da
seguridade social, porque prolatada antes da publicação da
decisão do STF declarando a inconstitucionalidade apenas
do artigo 8º da mencionada lei (RE 138284-CE, REL. MIN.
CARLOS VELLOSO, DJU 28/08/92, P. 13456), não deve
sofrer os efeitos provenientes dessa declaração- ‘Se as questões de
fato e de direito reguladas pela norma julgada inconstitucional se
encontram definitivamente encerradas porque sobre elas incidem
caso julgado judicial, porque se perdeu um direito por prescrição
ou caducidade, porque o ato se tornou inimpugnável, porque a
relação se extinguiu com o cumprimento da obrigação, então a
dedução de inconstitucionalidade, com a consequente nulidade ipso
jure, não perturba, através da sua eficácia retroativa esta vasta gama
de situações ou relações consolidadas’ (J. J. GOMES
CANOTILHO).- Inegável a aplicação do entendimento
firmado por nossos Tribunais Superiores, segundo o qual ‘A
mudança de entendimento dos Tribunais Superiores não
autoriza o pedido de rescisão de julgado, com base na violação
literal de dispositivo de lei (ARTIGO 475, INCISO V DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL).’ (RESP 227.458-CE, REL.
MIN. HAMILTON CARVALHIDO, J. 06/04/2000, DJU
05/06/2000). – Improvimento dos embargos infringentes
mantendo-se incólume o Acórdão que reconheceu a
improcedência do pedido de rescisão (EIAR - Embargos
Infringentes na Ação Rescisoria – 311, DJU 22.08.2002, Rel
Des Fed Ubaldo Cavalcanti)’. 3. Apelação provida”. (eDOC 2,
p. 205/209)

No processo de origem, a empresa TBM Têxtil Bezerra de Menezes


S.A. impetrou mandado de segurança contra ato atribuído ao Delegado
da Secretaria da Receita Federal de Fortaleza-CE, no intuito de continuar
a se valer de título executivo judicial (autos originários 127/1989 e
Apelação em Mandado de Segurança 1248, autuado no TRF da 5ª Região),
que lhe assegurou o não pagamento de Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL), diante da inconstitucionalidade da Lei 7.689/1989, com

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RE 949297 / CE

trânsito em julgado firmado em 14.8.1992.


No primeiro mandado de segurança, transitado em julgado, narra
que obteve pronunciamento jurisdicional favorável à
inconstitucionalidade, incidenter tantum, da Lei 7.689/1989, ao argumento
da necessidade de ser observado o postulado da anterioridade
nonagesimal, além da submissão do tema à matéria reservada à lei
complementar e da inobservância de ter sido instituída contribuição sob a
mesma base de cálculo de imposto discriminado na Constituição Federal
(eDOC 1, p. 106/110).
O TRF da 5ª Região manteve a sentença, invocando seu precedente
na Arguição de Inconstitucionalidade no AMS 976, Rel. Juiz Hugo
Machado, Pleno, j. 2.5.1990, a qual limitou-se a entender que a matéria
detinha reserva legal qualificada, razão pela qual não poderia ser tratada
por medida provisória (eDOC 1, p. 113/115). No processo de origem, o
Min. Moreira Alves não conheceu do RE, por ausência de juntada do
precedente citado no acórdão recorrido. (eDOC 1, p. 118)
A sentença do segundo mandado de segurança foi desfavorável à
impetrante, diante do fato de que o magistrado entendeu que “A coisa
julgada em matéria tributária não constitui impedimento para a cobrança
posterior, em razão de alteração legislativa considerada constitucional pelo STF”.
(eDOC 2, p. 153/162).
Conforme visto, ao recurso da empresa foi dado provimento pelo
TRF da 5ª Região para assegurar a eficácia da coisa julgada do primeiro
mandado de segurança, diante do seguinte fundamento:

“A sentença que entendeu pela inconstitucionalidade já


mencionada destaca em fls 98 que ‘os argumentos desses
doutrinadores não vejo como ignorá-los. O princípio da
irretroatividade resultou lesionado pois se a regra
instituidora da contribuição somente ganharia eficácia em 90
dias (artigo 195 §6º da CF ) não poderia mesmo ser ela aplicada
a fatos geradores pretéritos ocorridos entre 1º de janeiro e
31 de dezembro de 1988 ’. Assim fazendo menção a tais
fatos declarou a inconstitucionalidade da lei 7689/88. O E.

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RE 949297 / CE

TRF 5ª região manteve a sentença negando provimento à


apelação.
Na realidade, mesmo tendo o C.STF declarado que a
lei em comento seria constitucional com a exceção do artigo 8º,
a decisão que beneficiou a apelante transitou em julgado e não
deve ser modificada”. (eDOC 2, p. 205/209)

A União recorreu duplamente, com interposição de recursos especial


(eDOC 2. p. 212/224) e extraordinário (eDOC 2, p. 225/241).
No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, negou-se seguimento ao
recurso especial, em decisão monocrática assim resumida:

“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E


TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO
LÍQUIDO - CSLL. COISA JULGADA QUE RECONHECEU A
INCONSTITUCIONALIDADE DA HIPÓTESE DE
INCIDÊNCIA. EFICÁCIA EM RELAÇÃO A FATOS
GERADORES FUTUROS. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA
239 DO STF. ORIENTAÇÃO FIRMADA SOB O RITO DO ART.
543-C DO CPC: RESP. 1.118.893/MG, REL. MIN. ARNALDO
ESTEVES LIMA, DJE 6.4.2011. RECURSO ESPECIAL DA
FAZENDA NACIONAL A QUE SE NEGA SEGUIMENTO”.
(eDOC 3, p. 51/54).

No recurso extraordinário, interposto com fundamento no art. 102,


III, “a”, da Constituição Federal, a União invoca malferimento aos arts. 3º,
IV; 5º, caput, II e XXXVI; 37; e 150, VI, “c”, do Texto Constitucional, ao
defender que a coisa julgada em matéria tributária, em sede de mandado
de segurança, não alcança os exercícios seguintes ao da impetração, de
acordo com a súmula 239 do STF.
Sustenta que a coisa julgada em relações de trato sucessivo (como a
tributária) pode ser relativizada, pelo fato de que “o parâmetro normativo
de exigência do tributo em questão foi modificado após a impetração” (Lei
Complementar 70/1991 e Leis 7.856/1989, 8.034/1990 e 8.212/1991), ou,
ainda, em decorrência de posição do STF que considere constitucional o

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diploma normativo tido por inconstitucional no processo transitado em


julgado.
Invoca a necessidade de observância dos princípios da segurança
jurídica e da isonomia, na medida em que esta Corte reconheceu a Lei
7689/1988 como constitucional, à exceção do art. 8º, em vários REs, tais
como RE 146.733, Rel. Min. Moreira Alves, Pleno, DJ 6.11.1992; RE
203.972, Rel. Min. Carlos Velloso, Pleno, DJ 11.12.1998; além do RE
224.665, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 17.4.1998,
entre outros.
O tema 881 teve a repercussão geral reconhecida em acórdão a
seguir ementado:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO


GERAL. PRELIMINAR. RECONHECIMENTO. DIREITO
TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO
LÍQUIDO - CSLL. LEI 7.689/88. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.
COISA JULGADA. LIMITES. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
JURÍDICA. INCONSTITUCIONALIDADE INCIDENTAL.
DECLARAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE EM
CONTROLE ABSTRATO E CONCENTRADO. ADI 15.
SÚMULA 239 DO STF. 1. A matéria constitucional controvertida
consiste em delimitar o limite da coisa julgada em âmbito
tributário, na hipótese de o contribuinte ter em seu favor
decisão judicial transitada em julgado que declare a inexistência
de relação jurídico-tributária, ao fundamento de
inconstitucionalidade incidental de tributo, por sua vez
declarado constitucional, em momento posterior, na via do
controle concentrado e abstrato de constitucionalidade exercido
pelo STF. 2. Preliminar de repercussão geral em recurso
extraordinário reconhecida”. (RE 949.297 RG, Rel. Min. Edson
Fachin, Pleno, DJe 13.5.2016, eDOC 5)

A Procuradoria-Geral da República posicionou-se pelo provimento


do recurso extraordinário, na seguinte ementa de parecer:

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“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO


GERAL RECONHECIDA. TEMA 881. COISA JULGADA,
CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS. RELAÇÃO
CONTINUADA EFICÁCIA. PERDA. DECISÃO NO ÂMBITO
DO CONTROLE CONCENTRADO. PREVALÊNCIA. Tese de
Repercussão Geral – Tema 881: ‘A coisa julgada em matéria
tributária, quando derivada de relação jurídica de trato continuado,
perde sua eficácia no momento da publicação do acórdão exarado no
âmbito do controle concentrado de constitucionalidade contrário ao
sentido da sentença individual’ (art. 28 da Lei 9.868/99). 1 – O
sistema constitucional brasileiro, fundado na divisão de
poderes-funções estatais ensejou condições para que os atos
derivados da atuação do Estado sejam protegidos de modo a
garantir a sua própria eficácia e a proteger os respectivos
beneficiários. Submetendo-se a essa lógica, a Constituição
Federal, tendo por foco a prevalência dos pronunciamentos do
Estado, em suas várias esferas de atuação, previu a coisa
julgada, que, além de direito individual, é categoria processual
serviente à ordenação das decisões judiciais já emitidas e que dá
lugar somente à autoridade desconstitutiva da ação rescisória. 2
– Em face também das próprias disposições constitucionais, não
se encontra dificuldade em perceber que a gênese do ato estatal,
por si só, não lhe permite a sobrevivência em todas as situações,
estando ele, a depender de sua categoria inserido em um
regime jurídico que regula sua vida, eficácia, consequências
perante terceiros interessados e o seu fim, quer por
conveniência e oportunidade, quer por anulação, quer pela
superação do entendimento que lhe impelia vigor. 3 – A
natureza continuada da relação tributária em tela é influenciada
pela sucessão de circunstâncias de fato e de direito, aptas a
superarem a eficácia de eventual res iudicata estabelecida em
ação individual. 4 – Por sua relevância constitucional e pelos
graves efeitos gerados na ordem jurídica, as decisões
vinculantes tomadas na seara das ações de controle concentrado
reformulam o veredito de sentença transitada em julgado em
relação aos seus efeitos futuros quando, analisada a mesma

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causa petendi, suas conclusões forem contrárias. 5 – Parecer pelo


provimento do recurso extraordinário e pela adoção de efeitos
prospectivos, assegurando, no presente caso, período hábil a
garantir o seu conhecimento pelos contribuintes e a permitir a
recepção da carga tributária resultante da cobrança da
contribuição social sobre o lucro líquido”. (eDOC 15)

Em 29.8.2016, o relator determinou a suspensão nacional da


tramitação de feitos que tratam de idêntica matéria (eDOC 17).
A FIESP requereu a sua admissão na condição de amicus curiae
(eDOC 22), o que restou deferido pelo relator (eDOC 28).
Posteriormente, a FIESP requereu a juntada de memoriais (eDOC 86)
e parecer de jurisconsulto (eDOCs 88 e 89).
Em seguida, o CFOAB e o SINPEQ (“Sindicato das Indústrias de
Produtos Químicos Para Fins Industriais, Petroquímicas e de Resinas Sintéticas
de Camaçari, Candeias e Dias D’ávila”) também requereram suas admissões
como amici curiae (eDOCs 91 e 108), o que igualmente foi aceito pelo
relator (eDOCs 95 e 116). O SINPEQ procedeu à juntada de parecer de
jurisconsulto (eDOCs 129 e 130).
Houve diversos pedidos de ingresso no presente recurso
extraordinário, na condição de amici curiae, do Município de Capivari de
Baixo-SC (eDOC 132), do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB –
eDOC 142) e, em petição conjunta, dos Estados do Acre, Alagoas, Amapá,
Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí,
Rio de Janiero, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa
Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal (eDOC 169),
todos ainda não apreciados pelo relator.
O CFOAB apresentou manifestação no sentido do desprovimento do
recurso extraordinário e, caso o entendimento seja diverso, pela
modulação dos efeitos de eventual acolhimento da tese da União, a partir
do trânsito em julgado deste RE, além de indicar a seguinte fixação de
tese:

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“A coisa julgada em matéria tributária, diante de


julgamento, em controle concentrado pelo Supremo Tribunal
Federal, que declara a constitucionalidade de tributo
anteriormente considerado inconstitucional, na via do controle
incidental, por decisão transitada em julgado, perde sua eficácia
prospectiva apenas e tão somente quando do trânsito em
julgado da competente Ação Revisional, prevista no art. 505, I,
do Código de Processo Civil”. (eDOC 135)

A matéria comporta duas situações em debate: 1) limite da coisa


julgada em âmbito tributário em situação de declaração de
inconstitucionalidade incidenter tantum de legislação que ampara a exação
frente à interpretação da Corte Suprema em sentido contrário à coisa
julgada individual; e eficácia da súmula 239 do STF, a qual dispõe que
“Decisão que declara indevida a cobrança do imposto em determinado exercício
não faz coisa julgada em relação aos posteriores”, considerando tratar-se de
relação de trato sucessivo, que se renova a cada ocorrência de novo fato
gerador quando houver alteração das normas jurídicas discutidas.
As questões pendentes de definição podem ser assim resumidas:

“Delimitar o limite da coisa julgada em âmbito tributário,


na hipótese de o contribuinte ter em seu favor decisão judicial
transitada em julgado que declare a inexistência de relação
jurídico-tributária, ao fundamento de inconstitucionalidade
incidental de tributo, por sua vez declarado constitucional, em
momento posterior, na via do controle concentrado e abstrato
de constitucionalidade exercido pelo STF”.

1) Efeitos pretéritos/pendentes de atos passados em se tratando de


decisão transitada em julgado de forma contrária à interpretação
constitucional conferida pela Suprema Corte

Em regra, no nível infraconstitucional, o ordenamento jurídico, seja


no regime do CPC/1973 ou no CPC/2015, possui dois remédios cabíveis
para solução dessa incongruência: i) impugnação em sede de

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cumprimento de sentença com base na inexigibilidade do título judicial


transitado em julgado (§ 5º do art. 535 do CPC/15 e art. 475-L, § 1º, além
do art. 741, parágrafo único, do CPC/73); e ii) ação rescisória (§ 8º do art.
535 do CPC e art. 485, V, do CPC/73).
É importante lembrar que o art. 535, § 5º, do CPC/15 (e também o §
1º do art. 475-L, bem ainda o art. 741, parágrafo único, do CPC/73) teve
sua constitucionalidade reconhecida na ADI 2.418, Rel. Min. Teori
Zavascki, Pleno, DJe 17.11.2016, tal como se observa da ementa:

“CONSTITUCIONAL. LEGITIMIDADE DAS NORMAS


ESTABELECENDO PRAZO DE TRINTA DIAS PARA
EMBARGOS À EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA
(ART. 1º-B DA LEI 9.494/97) E PRAZO PRESCRICIONAL DE
CINCO ANOS PARA AÇÕES DE INDENIZAÇÃO CONTRA
PESSOAS DE DIREITO PÚBLICO E PRESTADORAS DE
SERVIÇOS PÚBLICOS (ART. 1º-C DA LEI 9.494/97).
LEGITIMIDADE DA NORMA PROCESSUAL QUE INSTITUI
HIPÓTESE DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO EXECUTIVO
JUDICIAL EIVADO DE INCONSTITUCIONALIDADE
QUALIFICADA (ART. 741, PARÁGRAFO ÚNICO E ART. 475-
L, § 1º DO CPC/73; ART. 525, § 1º, III E §§ 12 E 14 E ART. 535,
III, § 5º DO CPC/15). 1. É constitucional a norma decorrente do
art. 1º-B da Lei 9.494/97, que fixa em trinta dias o prazo para a
propositura de embargos à execução de título judicial contra a
Fazenda Pública. 2. É constitucional a norma decorrente do art.
1º-C da Lei 9.494/97, que fixa em cinco anos o prazo
prescricional para as ações de indenização por danos causados
por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas
jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos,
reproduzindo a regra já estabelecida, para a União, os Estados e
os Municípios, no art. 1º do Decreto 20.910/32. 3. São
constitucionais as disposições normativas do parágrafo único
do art. 741 do CPC, do § 1º do art. 475-L, ambos do CPC/73,
bem como os correspondentes dispositivos do CPC/15, o art.
525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art. 535, § 5º. São dispositivos que,
buscando harmonizar a garantia da coisa julgada com o

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RE 949297 / CE

primado da Constituição, vieram agregar ao sistema


processual brasileiro um mecanismo com eficácia rescisória
de sentenças revestidas de vício de inconstitucionalidade
qualificado, assim caracterizado nas hipóteses em que (a) a
sentença exequenda esteja fundada em norma
reconhecidamente inconstitucional – seja por aplicar norma
inconstitucional, seja por aplicar norma em situação ou com
um sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença exequenda
tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente
constitucional; e (c) desde que, em qualquer dos casos, o
reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do STF
realizado em data anterior ao trânsito em julgado da sentença
exequenda. 4. Ação julgada improcedente”. (ADI 2.418, Rel.
Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 17.11.2016, grifo nosso)

Na sequência, esse posicionamento foi reafirmado no RE 611.503,


Redator p/ acórdão Min. Edson Fachin, DJe 10.3.2019, fixando a tese do
tema 360 da sistemática da repercussão geral com as mesmas diretrizes
da ADI 2.418, a saber:

“São constitucionais as disposições normativas do


parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1º do art. 475-L, ambos
do CPC/73, bem como os correspondentes dispositivos do
CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art. 535, § 5º. São
dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da coisa
julgada com o primado da Constituição, vieram agregar ao
sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia
rescisória de sentenças revestidas de vício de
inconstitucionalidade qualificado, assim caracterizado nas
hipóteses em que (a) a sentença exequenda esteja fundada em
norma reconhecidamente inconstitucional, seja por aplicar
norma inconstitucional, seja por aplicar norma em situação ou
com um sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença exequenda
tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente
constitucional; e (c) desde que, em qualquer dos casos, o

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RE 949297 / CE

reconhecimento dessa constitucionalidade ou a


inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do STF
realizado em data anterior ao trânsito em julgado da sentença
exequenda".

Em regra, se a decisão judicial em contrariedade ao posicionamento


da Suprema Corte transitou em julgado depois dessa manifestação do
STF, cabe simples petição de inexigibilidade do título judicial na fase de
cumprimento de sentença, ainda que a matéria esteja acobertada pelo
manto da coisa julgada, para que prevaleça a orientação do Tribunal
responsável pela interpretação final das normas constitucionais.
Isso se justifica na medida em que, na hipótese de o título judicial
transitado em julgado conflitar com aplicação ou interpretação
constitucional definida pela Suprema Corte, o princípio constitucional da
coisa julgada deve ter seu âmbito de incidência atenuado para ceder à
força normativa da Constituição, mormente quando foi estabelecido antes
do trânsito em julgado da decisão que se busca declarar inexigível.
De outro lado, caso o posicionamento do Supremo Tribunal Federal,
ao interpretar lei ou ato normativo que tenha baseado sentença ou
acórdão transitado em julgado em contrariedade àquele entendimento,
sobrevenha em momento posterior à formação da coisa julgada, a
ferramenta disposta na legislação processual é a ação rescisória (§8º do
art. 535 do CPC).
Tal mecanismo visa a rescindir o julgado transitado em julgado em
contrariedade com o entendimento do STF, incidindo retroativamente
sobre fatos pretéritos e seus efeitos, eis que o juízo rescisório equivale ao
rejulgamento da demanda originária, com eficácia retroativa.
Entretanto, considero ser prudente asseverar que a utilização dessa
via rescisória, nessas situações, tem sido refreada, sem maiores reflexões,
pelo Supremo Tribunal Federal, que passou a não conhecer dessa espécie
de ação para desconstituir pronunciamento jurisdicional baseado em
interpretação de ato normativo em contrariedade ao seu atual
posicionamento, aplicando equivocadamente a súmula 343 STF em
matéria constitucional, a saber:

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“Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição


de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto
legal de interpretação controvertida nos tribunais”.

Reforço que esta Corte não pode fazer letra morta ao § 8º do art. 535
do CPC/15 sem declará-lo inconstitucional e tampouco à tese 733, fixada
em sede de repercussão geral no RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki,
Tribunal Pleno, DJe 9.9.2015:

“A decisão do Supremo Tribunal Federal declarando a


constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo não produz a automática reforma ou rescisão das
decisões anteriores que tenham adotado entendimento
diferente. Para que tal ocorra, será indispensável a
interposição de recurso próprio ou, se for o caso, a propositura
de ação rescisória própria, nos termos do art. 485 do CPC,
observado o respectivo prazo decadencial (art. 495)“ (grifo
nosso)

Essa é a ratio essendi do seguinte aresto paradigmático, cuja ementa


transcrevo:

“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL.


DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE
PRECEITO NORMATIVO PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. EFICÁCIA NORMATIVA E EFICÁCIA EXECUTIVA
DA DECISÃO: DISTINÇÕES. INEXISTÊNCIA DE EFEITOS
AUTOMÁTICOS SOBRE AS SENTENÇAS JUDICIAIS
ANTERIORMENTE PROFERIDAS EM SENTIDO
CONTRÁRIO. INDISPENSABILIDADE DE INTERPOSIÇÃO
DE RECURSO OU PROPOSITURA DE AÇÃO RESCISÓRIA
PARA SUA REFORMA OU DESFAZIMENTO. 1. A sentença
do Supremo Tribunal Federal que afirma a constitucionalidade
ou a inconstitucionalidade de preceito normativo gera, no plano

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RE 949297 / CE

do ordenamento jurídico, a consequência (= eficácia normativa)


de manter ou excluir a referida norma do sistema de direito. 2.
Dessa sentença decorre também o efeito vinculante, consistente
em atribuir ao julgado uma qualificada força impositiva e
obrigatória em relação a supervenientes atos administrativos ou
judiciais (= eficácia executiva ou instrumental), que, para
viabilizar-se, tem como instrumento próprio, embora não único,
o da reclamação prevista no art. 102, I, l, da Carta
Constitucional. 3. A eficácia executiva, por decorrer da sentença
(e não da vigência da norma examinada), tem como termo
inicial a data da publicação do acórdão do Supremo no Diário
Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999). É, consequentemente, eficácia
que atinge atos administrativos e decisões judiciais
supervenientes a essa publicação, não os pretéritos, ainda que
formados com suporte em norma posteriormente declarada
inconstitucional. 4. Afirma-se, portanto, como tese de
repercussão geral que a decisão do Supremo Tribunal Federal
declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade
de preceito normativo não produz a automática reforma ou
rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado
entendimento diferente; para que tal ocorra, será
indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o
caso, a propositura da ação rescisória própria, nos termos do
art. 485, V, do CPC, observado o respectivo prazo decadencial
(CPC, art. 495). Ressalva-se desse entendimento, quanto à
indispensabilidade da ação rescisória, a questão relacionada à
execução de efeitos futuros da sentença proferida em caso
concreto sobre relações jurídicas de trato continuado . 5. No
caso, mais de dois anos se passaram entre o trânsito em julgado
da sentença no caso concreto reconhecendo, incidentalmente, a
constitucionalidade do artigo 9º da Medida Provisória 2.164-41
(que acrescentou o artigo 29-C na Lei 8.036/90) e a
superveniente decisão do STF que, em controle concentrado,
declarou a inconstitucionalidade daquele preceito normativo, a
significar, portanto, que aquela sentença é insuscetível de
rescisão. 6. recurso extraordinário a que se nega provimento”.

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RE 949297 / CE

(RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe


9.9.2015, grifo nosso)

Redobradas as vênias, a ação rescisória é (e sempre foi) o caminho


adequado para desfazer-se título judicial transitado em julgado firmado
em momento anterior e contrariamente à “decisão do Supremo Tribunal
Federal, declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo”, desde que observado o prazo decadencial.
Ou seja, a ação rescisória é o caminho adequado para desfazer-se
título judicial transitado em julgado em contrariedade à “decisão do
Supremo Tribunal Federal declarando a constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade de preceito normativo”, desde que observado o prazo
decadencial bienal.
Entendo que o meu posicionamento anterior resta incólume, tal
como atesta a ementa do seguinte precedente de minha relatoria:

“Embargos de Declaração em Recurso Extraordinário. 2.


Julgamento remetido ao Plenário pela Segunda Turma.
Conhecimento. 3. É possível ao Plenário apreciar embargos de
declaração opostos contra acórdão prolatado por órgão
fracionário, quando o processo foi remetido pela Turma
originalmente competente. Maioria. 4. Ação Rescisória. Matéria
constitucional. Inaplicabilidade da Súmula 343/STF. 5. A
manutenção de decisões das instâncias ordinárias divergentes
da interpretação adotada pelo STF revela-se afrontosa à força
normativa da Constituição e ao princípio da máxima
efetividade da norma constitucional. 6. Cabe ação rescisória
por ofensa à literal disposição constitucional, ainda que a
decisão rescindenda tenha se baseado em interpretação
controvertida ou seja anterior à orientação fixada pelo
Supremo Tribunal Federal. 7. Embargos de Declaração
rejeitados, mantida a conclusão da Segunda Turma para que o
Tribunal a quo aprecie a ação rescisória”. (RE 328.812 ED, de
minha relatoria, Tribunal Pleno, DJe 2.5.2008, grifo nosso)

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Com todas as vênias a quem entende diversamente, o princípio


constitucional da coisa julgada deve ter seu âmbito de incidência
atenuado para ceder à força normativa da Constituição, quando o título
judicial transitado em julgado conflitar com aplicação ou interpretação
constitucional definida pela Suprema Corte.
Resta demonstrado que o sistema processual (CPC/73 e CPC/15)
previu, em relação aos efeitos dos atos passados, duas formas de
solucionar a problemática de decisões judiciais transitadas em julgado em
contrariedade ao posicionamento do STF: 1) se a decisão do STF for
anterior ao trânsito em julgado, cabe simples alegação de inexigibilidade
do título judicial, em sede de cumprimento de sentença (reconhecido
como constitucional por esta Corte na ADI 2418, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 17.11.2016); e 2) se a decisão do STF for posterior ao trânsito
em julgado, caberia ação rescisória (RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki,
Tribunal Pleno, DJe 9.9.2015, tema 733 da RG).
Já destaquei, em outras oportunidades (v.g. voto-vogal no RE
590.880), que, no caso de inexigibilidade do título fundado em
posicionamento contrário à interpretação ou a sentido conferido pelo
Guardião da Constituição, apenas haverá a desconsideração da coisa
julgada material inconstitucional, mantendo incólume a sentença “in
totum”, porém desprovida de efetividade naquilo que não contrariar o
entendimento desta Corte.
Ou seja, a sentença permanecerá íntegra, contudo exequível apenas
nas demais partes que não são atingidas pelo confronto do decisum com a
aplicação ou interpretação tida por incompatível com a CF/1988.
Se a decisão transitada em julgado descumpriu claramente o
precedente que deveria ser observado para a hermenêutica da questão
constitucional, o juiz ou o Tribunal inobservou o pronunciamento da
Suprema Corte, cabendo alegação de inexigibilidade do título executivo
judicial.
Por outro lado, nos casos em que, à época da decisão transitada em
julgado, inexistia pronunciamento do Plenário desta Corte, é de se
permitir que o título em desconformidade seja rescindindo, visando a

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trazer segurança jurídica e harmonia à interpretação constitucional,


impondo-se a salvaguarda da ordem jurídica e a proteção à força
normativa da Lei Maior, cuja interpretação constitucional destoava
daquela conferida pelo STF.
Sendo assim, em relação aos processos transitados em julgado, antes
da decisão desta Corte nos processos paradigmas, devemos assentar o
cabimento de ação rescisória, sob pena de inexistir saída no ordenamento
jurídico para a perpetuação da ofensa à força normativa da Constituição,
bem ainda sustar a sangria dos cofres públicos, o que é inadmissível
frente à crescente preocupação fiscal e orçamentária.

2) Relação jurídica de trato sucessivo: decisão transitada em julgado de


forma contrária à interpretação constitucional conferida pela Suprema
Corte

Ab initio, esclareça-se do que se tratam as relações jurídicas de trato


sucessivo, em obra doutrinária do escólio do saudoso Min. Teori
Zavascki:

“Ocorre que o fenômeno da incidência nem sempre é


instantâneo (ele pode ter por base um fato jurídico ou uma
situação de direito com caráter permanente), e nem sempre se
esgotam imediatamente os efeitos da norma jurídica concreta
dele eventualmente nascida. Não raro, eles têm aptidão para se
projetar no futuro, para além, inclusive, do momento da
sentença que os apreciou, e, por isso mesmo, podem sofrer
mutações ou extinguir-se com o passar do tempo. Daí o
surgimento do tema, de que ora nos ocupamos, da eficácia
temporal da sentença, cujo cerne está em investigar, em face da
natureza dinâmica dos fatos e do direito, os limites futuros da
força vinculante (coisa julgada) da declaração de certeza
emergente dos julgados.
Considerada a sua relação com as circunstâncias
temporais do fato gerador, podem-se classificar as relações
jurídicas em três espécies: as instantâneas, as permanentes e as

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sucessivas. Instantânea é a relação jurídica decorrente de fato


gerador que se esgota imediatamente, num momento
determinado, sem continuidade no tempo, ou que, embora
resulte de fato temporalmente desdobrado, só atrairá a
incidência da norma quando estiver inteiramente formado. É
instantânea, assim, no campo tributário, a relação obrigacional
de pagar o imposto de transmissão em face da venda de
determinado imóvel. Define-se como permanente (ou
duradoura) a relação jurídica que nasce de um suporte de
incidência consistente em fato ou situação que se prolonga no
tempo. A obrigação previdenciária que dá ensejo ao benefício
de auxílio-doença tem como suporte fático a incapacidade
temporária do segurado para exercer as suas atividades
laborativas normais, estado de fato que, prolongado no tempo,
acarreta uma espécie de incidência contínua e ininterrupta da
norma, gerando a obrigação, também continuada, de pagar a
prestação. Dessa mesma natureza é a obrigação de pagar
alimentos, que tem suporte fático desdobrado no tempo,
consistente na insuficiência econômica e financeira do
alimentando e na capacidade econômica e financeira do
alimentante (Código Civil, art. 400). Finalmente, há uma
terceira espécie de relação jurídica, a sucessiva, nascida de fatos
geradores instantâneos que, todavia, se repetem no tempo de
maneira uniforme e continuada. Os exemplos mais comuns
vêm do campo tributário: a obrigação do comerciante de pagar
imposto sobre a circulação de mercadorias, ou do empresário
de recolher a contribuição para a seguridade social sobre a folha
de salário ou o sobre o seu faturamento.
Na verdade, as relações sucessivas compõem-se de uma
série de relações instantâneas homogêneas, que, pela sua
reiteração e homogeneidade, podem receber tratamento
jurídico conjunto ou tutela jurisdicional coletiva. No geral dos
casos, as relações sucessivas pressupõem e dependem de uma
situação jurídica mais ampla, ou de determinado status jurídico
dos seus figurantes, nos quais se inserem, compondo-lhes a
configuração. Por exemplo: a relação obrigacional de que nasce

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o direito de receber o pagamento de vencimentos mensais tem


como fato gerador imediato a prestação do serviço pelo
servidor: sem a ocorrência desse, não existirá aquele. Assim
considerada, é relação jurídica sucessiva, já que seu suporte de
incidência é repetitivo no tempo. Mas o citado fato gerador se
forma num contexto jurídico mais complexo: o do regime
estatutário, de caráter permanente (e não sucessivo), que
vincula os figurantes da relação jurídica. Disso resulta que a
relação obrigacional nasce da incidência da norma sobre um
suporte fático complexo, composto de um (a) fato instantâneo e
inserido numa (b) situação permanente. No exemplo dado, o
sujeito ativo, para fazer jus ao pagamento da prestação mensal,
além de exercer efetivamente suas funções naquele período
(fato gerador instantâneo e imediato), tem de ostentar também
o status de servidor público legitimamente investido no cargo
(fato gerador permanente e mediato).
Há certas relações jurídicas cujos efeitos são desdobrados
no tempo, mas que não se confundem com as relações jurídicas
permanentes nem com as sucessivas. A relação decorrente de
um contrato de mútuo a prazo é, por natureza, instantânea, já
que o fato gerador (o contrato) foi instantâneo, embora sua
execução - o pagamento das prestações - seja diferida no tempo,
segundo a vontade das partes. Da mesma forma, a relação
previdenciária de aposentadoria por tempo de serviço tem
diferida no tempo, por imposição da lei, a prestação de pagar
proventos, mas o fato gerador, consistente em determinado
número de anos de trabalho ou de contribuição, já se encontra
inteiramente consumado. Por isso mesmo, nesses casos, tendo
ocorrido o fenômeno da incidência sobre suporte fático
completo e acabado, a subsistência dos efeitos (a obrigação do
mutuário e da instituição previdenciária) independe da
continuidade do fato gerador (ao contrário do que ocorre nas
relações permanentes) ou da repetição do fato gerador (ao
contrário do que se passa com as relações sucessivas).
Ora, a sentença, ao examinar os fenômenos de incidência
e pronunciar juízos de certeza sobre as consequências

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jurídicas daí decorrentes, certificando, oficialmente, a


existência, ou a inexistência, ou o modo de ser da relação
jurídica, o faz levando em consideração as circunstâncias de
fato e de direito (norma abstrata e suporte fático) que então
foram apresentados pelas partes. Considerando a natureza
permanente ou sucessiva de certas relações jurídicas, põem-se
duas espécies de questões: primeira, a dos limites objetivos da
coisa julgada, que consiste em saber se a eficácia vinculante do
pronunciamento judicial abarca também (a) o desdobramento
futuro da relação jurídica permanente e (b) as reiterações
futuras das relações sucessivas. A resposta positiva à primeira
questão suscita a segunda: a dos limites temporais da coisa
julgada, que consiste em saber se o comando sentencial, emitido
em certo momento, permanecerá inalterado indefinidamente,
mesmo quando houver alteração no estado de fato ou de
direito. Ambas as questões, no fundo, guardam íntima relação
de dependência, conforme se verá”. (ZAVASCKI, Teori Albino.
Coisa julgada em matéria constitucional: eficácia das sentenças nas
relações jurídicas de trato continuado. In: Doutrina do Superior
Tribunal de Justiça: edição comemorativa 15 anos. Org.
Gabinete do Ministro-Diretor da Revista. Brasília: STJ, 2005, p.
109/132. Disponível em:
https://www.stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/Dout1
5anos/article/view/3666/3755. Acesso em: 15.11.2022)

Assentado do que se trata de relação jurídica continuada, ou seja,


aquela que se renova periodicamente, o que deve prevalecer no caso de
conflito entre o comando transitado em julgado e a interpretação
constitucional conferida posteriormente pelo STF? Em outras palavras,
sempre prevalecerá a garantia da coisa julgada ou a partir de qual
momento deve sobressair a posição da Suprema Corte?
A resposta vai estar interligada se estamos tratando dos efeitos
pretéritos, pendentes ou futuros de atos passados, bem ainda os atos
futuros de relação jurídica permeada por trato sucessivo.
Caso se esteja diante de efeitos pretéritos ou pendentes de fatos/atos

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anteriores, aplica-se o posicionamento acima (com as críticas quanto ao


posicionamento do STF de refrear a utilização da ação rescisória com
fundamento na súmula 343 da própria Corte).
Por outro lado, na situação de se cuidar dos efeitos futuros de
atos/fatos anteriores – ou mesmo de atos posteriores –, a resposta será
outra, haja vista ser necessário igualar as situações jurídicas após o
julgamento da Corte Suprema, sob pena de odiosa violação ao princípio
da isonomia.
A norma constitucional protetiva invocada é a do inciso XXXVI do
art. 5º da CF, a qual sabidamente se trata de direito fundamental.
É consabido que tal postulado protetivo não é absoluto, podendo ter
sua incidência diminuída quando presente outro princípio constitucional,
de igual ou maior envergadura.
Igualmente tive a oportunidade de registrar, em sede doutrinária,
que tal princípio “não se mostra apto a proteger posições jurídicas contra
eventuais mudanças dos institutos jurídicos ou dos próprios estatutos jurídicos
previamente fixados” (MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo
Gonet. Curso de direito constitucional. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p.
376).
Com todas as vênias, penso que ocorre a cessação da ultratividade
da eficácia executiva quando houver decisão do Plenário desta Corte, que
tenha interpretação de norma jurídica em sentido contrário ao título
transitado em julgado.
Também o será quando a decisão transitada em julgado tiver se
fundado em aplicação ou interpretação tida por incompatível com a Carta
Magna, firmada evidentemente em processo objetivo ou subjetivo.
A aplicação ou interpretação constitucional proferida pelo Supremo
Tribunal Federal deixa claro que aquela é a orientação para os tribunais
inferiores.
Assim, para ser inexigível, basta que o título judicial transitado em
julgado tenha se fundado em sentido ou em interpretação constitucional
em confronto com qualquer tipo de posicionamento do Plenário da Corte,
seja pela constitucionalidade ou inconstitucionalidade, em obediência à

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RE 949297 / CE

força normativa da Constituição.


Nesse sentido:

“Recurso Extraordinário. Agravo Regimental. 2.


Tributário. Contribuição Social. Lei nº 7.689/88.
Inconstitucionalidade do art. 8º da Lei nº 7.689/88. Precedentes:
Plenário, RREE 146.733-SP, rel. Min. Moreira Alves, D.J. de
06.11.92 e 138.284-CE, rel. Min. Carlos Velloso, D.J. de 28.08.92.
3. A interpretação do texto constitucional pelo STF deve ser
acompanhada pelos demais Tribunais. 4. A não-observância
da decisão desta Corte debilita a força normativa da
Constituição. 5. Agravo regimental a que se nega provimento”.
(RE 203.498 AgR, de minha relatoria, Segunda Turma, DJ
22.8.2003, grifo nosso)

“Recurso Extraordinário. Agravo Regimental. 2. Ação


Rescisória. Matéria constitucional. Inaplicabilidade da Súmula
343. 3. A manutenção de decisões das instâncias ordinárias
divergentes da interpretação constitucional revela-se
afrontosa à força normativa da Constituição e ao princípio da
máxima efetividade da norma constitucional. 4. Ação
Rescisória fundamentada no art. 5º, XXXVI, da Constituição
Federal. A indicação expressa do dispositivo constitucional é de
todo dispensável, diante da clara invocação do princípio
constitucional do direito adquirido. 5. Agravo regimental
provido. Recurso extraordinário conhecido e provido para que
o Tribunal a quo aprecie a ação rescisória”. (RE 328.812 AgR, de
minha relatoria, Segunda Turma, DJ 11.4.2003, grifo nosso)

É o caso de se admitir ilegítima a execução de decisão “que se baseia


em uma norma declarada inconstitucional (sem a pronúncia de nulidade)
ou nula, ou que se assenta em uma interpretação que o
Bundesverfassungsgericht considerou incompatível com a Lei
Fundamental”, tal como previsto no § 79 da Lei Orgânica da Corte
Constitucional alemã, a qual preceitua:

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RE 949297 / CE

Ҥ 79 da Lei do Bundesverfassungsgericht:
‘(1) É legítimo o pedido de revisão criminal nos
termos do Código de Processo Penal contra a sentença
condenatória penal que se baseia em uma norma
declarada inconstitucional (sem a pronúncia de nulidade)
ou nula, ou que se assenta em uma interpretação que o
Bundesverfassungsgericht considerou incompatível com a
Lei Fundamental.
(2) No mais, ressalvado o disposto no §92 (2), da Lei
do Bundesverfassungsgericht ou uma disciplina legal
específica, subsistem íntegras as decisões proferidas com
base em uma lei declarada nula, nos termos do § 78. É
ilegítima a execução de semelhante decisão. Se a
execução forçada tiver de ser realizada nos termos das
disposições do Código de Processo Civil, aplica-se o
disposto no § 767 do Código de Processo Civil. Excluem
pretensões fundadas em enriquecimento sem causa”.
(grifo nosso)

A ordem jurídica brasileira não dispõe de preceitos semelhantes aos


constantes no § 79 da Lei da Corte Constitucional, a qual prescreve a
intangibilidade dos atos não mais suscetíveis de impugnação. Não se
pode supor, todavia, que a declaração de inconstitucionalidade afeta
todos os atos praticados com fundamento na lei inconstitucional.
Embora a ordem jurídica brasileira não contenha regra expressa
sobre o assunto e se aceite, genericamente, a ideia de que o ato fundado
em lei inconstitucional está eivado, igualmente, de iliceidade (Cf., a
propósito, RMS 17.976, Rel. Min. Amaral Santos, RTJ, 55/744), concede-se
proteção aos efeitos pretéritos ou pendentes de atos concretos anteriores,
procedendo-se à diferenciação entre o efeito da decisão no plano
normativo e no plano do ato singular mediante a utilização das fórmulas
de preclusão. (IPSEN, Jörn. Rechtsfolgen der Verfassungswidrigkeit von Norm
und Einzelakt. Baden-Baden, 1980, p. 174 e ss.)
Os efeitos jurídicos pretéritos ou pendentes de atos praticados com
base na lei inconstitucional, que não mais se afigurem suscetíveis de

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revisão (ultrapassado o biênio da ação rescisória), não são afetados pela


declaração de inconstitucionalidade. (RE 86.506, Rel. Min. Rodrigues
Alckmin, DJ de 1º -7-1977).
Em outros termos, somente serão afetados pela declaração de
inconstitucionalidade com eficácia geral os atos ainda suscetíveis de
revisão ou impugnação (atos futuros ou efeitos futuros de atos
anteriores).
Com todas as vênias a quem entende diversamente, o princípio
constitucional da coisa julgada, ainda que em sede tributária, deve ter seu
âmbito de incidência atenuado para ceder à força normativa da
Constituição, quando o título judicial transitado em julgado conflitar com
aplicação ou interpretação constitucional definida pela Suprema Corte.
Em se tratando de posicionamento da Corte Suprema posterior ao
decisum transitado em julgado em desconformidade com aquele, também
é de se permitir que os atos posteriores ou os efeitos futuros dos atos
anteriores do título em desconformidade possam ser obstados, visando
trazer segurança jurídica e harmonia à interpretação constitucional.
Evidentemente, para possuir tamanha eficácia expansiva, é
necessário que o pronunciamento desta Corte ocorra em sua composição
plenária, a qual representa o pensamento da totalidade de seus membros
e irradia idêntica solução para os processos afetos às Turmas e para as
decisões monocráticas, tal como deve ocorrer com os Tribunais de origem.
Sobre o tema, no julgamento do Tema 733 da sistemática da
repercussão geral, em precedente da lavra do saudoso Min. Teori
Zavascki, realizou-se a devida distinção entre as eficácias normativa e
executiva das decisões de declaração de inconstitucionalidade pela
própria Corte Constitucional.
Consignou-se naquela oportunidade que, quando o STF realizar
interpretação constitucional (seja pela constitucionalidade, seja pela
inconstitucionalidade) sobre determinada norma jurídica, operam-se
duas consequências: uma no plano normativo, com a retirada ou reforço
da eficácia e validade jurídica, com eficácia, em regra, ex tunc; outra, no
plano executivo ou instrumental, com eficácia ex nunc, envolvendo as

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decisões administrativas e judiciais subsequentes, nas quais a norma em


questão venha a ser aplicada de forma contrária ao posicionamento do
STF (efeito vinculante). Eis a ementa do julgado paradigmático:

“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL.


DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE
PRECEITO NORMATIVO PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. EFICÁCIA NORMATIVA E EFICÁCIA EXECUTIVA
DA DECISÃO: DISTINÇÕES. INEXISTÊNCIA DE EFEITOS
AUTOMÁTICOS SOBRE AS SENTENÇAS JUDICIAIS
ANTERIORMENTE PROFERIDAS EM SENTIDO
CONTRÁRIO. INDISPENSABILIDADE DE INTERPOSIÇÃO
DE RECURSO OU PROPOSITURA DE AÇÃO RESCISÓRIA
PARA SUA REFORMA OU DESFAZIMENTO. 1. A sentença do
Supremo Tribunal Federal que afirma a constitucionalidade ou
a inconstitucionalidade de preceito normativo gera, no plano do
ordenamento jurídico, a consequência (= eficácia normativa) de
manter ou excluir a referida norma do sistema de direito. 2.
Dessa sentença decorre também o efeito vinculante, consistente
em atribuir ao julgado uma qualificada força impositiva e
obrigatória em relação a supervenientes atos administrativos ou
judiciais (= eficácia executiva ou instrumental), que, para
viabilizar-se, tem como instrumento próprio, embora não único,
o da reclamação prevista no art. 102, I, ‘l’, da Carta
Constitucional. 3. A eficácia executiva, por decorrer da sentença
(e não da vigência da norma examinada), tem como termo
inicial a data da publicação do acórdão do Supremo no Diário
Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999). É, consequentemente, eficácia
que atinge atos administrativos e decisões judiciais
supervenientes a essa publicação, não os pretéritos, ainda que
formados com suporte em norma posteriormente declarada
inconstitucional. 4. Afirma-se, portanto, como tese de
repercussão geral que a decisão do Supremo Tribunal Federal
declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de
preceito normativo não produz a automática reforma ou
rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado

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entendimento diferente; para que tal ocorra, será indispensável


a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a
propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485,
V, do CPC, observado o respectivo prazo decadencial (CPC, art.
495). Ressalva-se desse entendimento, quanto à
indispensabilidade da ação rescisória, a questão relacionada à
execução de efeitos futuros da sentença proferida em caso
concreto sobre relações jurídicas de trato continuado. 5. No
caso, mais de dois anos se passaram entre o trânsito em julgado
da sentença no caso concreto reconhecendo, incidentalmente, a
constitucionalidade do artigo 9º da Medida Provisória 2.164-41
(que acrescentou o artigo 29-C na Lei 8.036/90) e a
superveniente decisão do STF que, em controle concentrado,
declarou a inconstitucionalidade daquele preceito normativo, a
significar, portanto, que aquela sentença é insuscetível de
rescisão. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento”.
(RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe
9.9.2015, grifo nosso)

A tese fixada na oportunidade assinala que:

“A decisão do Supremo Tribunal Federal declarando a


constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo não produz a automática reforma ou rescisão das
sentenças anteriores que tenham adotado entendimento
diferente; para que tal ocorra, será indispensável a interposição
do recurso próprio ou, se for o caso, a propositura da ação
rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC, observado
o respectivo prazo decadencial (CPC, art. 495)”.

Ou seja, em regra, a decisão do STF, interpretando determinada


norma, não produz automática reforma ou rescisão dos pronunciamentos
jurisdicionais anteriores que conflitem com aquela interpretação. Para que
a compatibilização ocorra deverá ser manejada a impugnação pela via
apropriada: recurso, se o feito estiver tramitando ou ajuizada ação
rescisória (ou mesmo inexigibilidade de título executivo judicial

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inconstitucional, a depender do momento em que adveio a posição do


STF).
Todavia, “a questão relacionada à execução de efeitos futuros da sentença
proferida em caso concreto sobre relações jurídicas de trato continuado” está na
ressalva da ementa do julgado e também do voto do saudoso relator, de
sorte que a única interpretação possível dessa sinalização é de que se tem
como dispensável o ajuizamento de ação rescisória, operando-se, no
plano executivo ou instrumental, a suspensão da exigibilidade dos efeitos
futuros de atos pretéritos, envolvendo as decisões judiciais transitadas em
julgado, nas quais a norma em questão tenha sido aplicada de forma
contrária ao posicionamento do Supremo Tribunal Federal.
Amiúde, haverá casos em que os pressupostos fáticos ou jurídicos
foram alterados após a coisa julgada e, de fato, verifica-se uma total
assincronia entre o momento da decisão e aqueloutro em que se verifica a
declaração de (in)constitucionalidade pelo STF, situando-se a relação
jurídica de trato sucessivo vinculada à cláusula rebus sic stantibus, sem que
ocorra a vulneração à coisa julgada.
É de se compreender como decorrência do julgamento do tema 494
da sistemática da repercussão geral, que eventual modificação do
panorama fático ou jurídico “determina a imediata cessação da eficácia
executiva do julgado, independentemente de ação rescisória ou, salvo em estritas
hipóteses previstas em lei, de ação revisional”. A conferir:

“CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA


AFIRMANDO DIREITO À DIFERENÇA DE PERCENTUAL
REMUNERATÓRIO, INCLUSIVE PARA O FUTURO.
RELAÇÃO JURÍDICA DE TRATO CONTINUADO.
EFICÁCIA TEMPORAL. CLÁUSULA REBUS SIC
STANTIBUS. SUPERVENIENTE INCORPORAÇÃO
DEFINITIVA NOS VENCIMENTOS POR FORÇA DE DISSÍDIO
COLETIVO. EXAURIMENTO DA EFICÁCIA DA SENTENÇA.
1. A força vinculativa das sentenças sobre relações jurídicas
de trato continuado atua rebus sic stantibus: sua eficácia
permanece enquanto se mantiverem inalterados os

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pressupostos fáticos e jurídicos adotados para o juízo de


certeza estabelecido pelo provimento sentencial. A
superveniente alteração de qualquer desses pressupostos (a)
determina a imediata cessação da eficácia executiva do
julgado, independentemente de ação rescisória ou, salvo em
estritas hipóteses previstas em lei, de ação revisional, razão
pela qual (b) a matéria pode ser alegada como matéria de
defesa em impugnação ou em embargos do executado. 2.
Afirma-se, nessa linha de entendimento, que a sentença que
reconhece ao trabalhador ou servidor o direito a determinado
percentual de acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a
partir da superveniente incorporação definitiva do referido
percentual nos seus ganhos. 3. Recurso extraordinário
improvido”. (RE 596.663, redator p/ acórdão Min. Teori
Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 26.11.2014, grifo nosso)

Em se tratando de posicionamento da Corte Suprema posterior ao


decisum transitado em julgado em desconformidade com aquele, é de se
interpretar tal circunstância como alteração dos pressupostos jurídicos,
hábil a ensejar que os efeitos futuros de atos acobertados pelo título
executivo judicial que, a partir daquele marco, estejam em
desconformidade, possam ser obstados, no intuito de trazer segurança
jurídica e harmonia à interpretação constitucional.
Esmiuçando esse raciocínio: a superveniência da interpretação
conferida da Corte Suprema, por representar modificação do cenário
jurídico, ocasiona a imediata cessação da eficácia executiva sobre as
parcelas futuras porventura devidas advindas de título executivo judicial,
envolvendo relação jurídica de trato sucessivo, sendo desnecessário
ajuizamento de ação rescisória ou alegação de inexigibilidade de título
executivo judicial para fins de cessação do comando transitado em
julgado, a partir daquele marco fixado pelo STF.
Sendo assim, exemplificativamente, eventual critério de correção
monetária que diga respeito à relação jurídica de trato continuado deve
seguir a lei vigente na época em que devida cada parcela, aliada à
interpretação daquela norma pela Corte Constitucional, razão pela qual

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aplica-se a Taxa Referencial (TR) como critério de correção monetária das


dívidas inscritas em precatórios até o marco fixado pelo STF na Questão
de Ordem nas ADIs 4.357 e 4.425 (25.3.2015 e, após, o IPCA-E), ainda que
exista pronunciamento jurisdicional fixando expressamente aquele índice
legal, por se tratar de efeitos futuros de atos/fatos jurídicos anteriores que
se refiram à relação jurídica de trato sucessivo.
Nesse sentido:

“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. TRIBUNAL


DE CONTAS DA UNIÃO. APOSENTADORIA. EXAME.
DECADÊNCIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. DIREITO À
DIFERENÇA DE PERCENTUAL REMUNERATÓRIO DE
28,86%, INCLUSIVE PARA O FUTURO, RECONHECIDO POR
SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. PERDA DA
EFICÁCIA VINCULANTE DA DECISÃO JUDICIAL, EM
RAZÃO DA SUPERVENIENTE ALTERAÇÃO DOS
PRESSUPOSTOS FÁTICOS E JURÍDICOS QUE LHE DERAM
SUPORTE. SUBMISSÃO À CLÁUSULA REBUS SIC
STANTIBUS. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À GARANTIA DA
COISA JULGADA. (...) . 2. A força vinculativa das sentenças
sobre relações jurídicas de trato continuado atua rebus sic
stantibus: sua eficácia permanece enquanto se mantiverem
inalterados os pressupostos fáticos e jurídicos adotados para o
juízo de certeza estabelecido pelo provimento sentencial. A
superveniente alteração de qualquer desses pressupostos
determina a imediata cessação da eficácia executiva do julgado,
independentemente de ação rescisória ou, salvo em estritas
hipóteses previstas em lei, de ação revisional. (...) Por força
dessa superveniente mudança do quadro fático e normativo
que dera suporte à condenação, deixou de subsistir a eficácia da
sentença condenatória. 4. Agravo regimental provido”. (MS
32.435 AgR, Redator p/ acórdão Min. Teori Zavascki, Segunda
Turma, DJe 15.10.2015)

Na modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade

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nas citadas ADIs, o STF decidiu:

“2) Conferir eficácia prospectiva à declaração de


inconstitucionalidade dos seguintes aspectos da ADI, fixando
como marco inicial a data de conclusão do julgamento da
presente questão de ordem (25.03.2015) e mantendo-se válidos
os precatórios expedidos ou pagos até esta data, a saber: 2.1.)
fica mantida a aplicação do índice oficial de remuneração básica
da caderneta de poupança (TR), nos termos da Emenda
Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a qual (i) os
créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de
Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (ii) os
precatórios tributários deverão observar os mesmos critérios
pelos quais a Fazenda Pública corrige seus créditos tributários;
e 2.2.) ficam resguardados os precatórios expedidos, no âmbito
da administração pública federal, com base nos arts. 27 das Leis
nº 12.919/13 e Lei nº 13.080/15, que fixam o IPCA-E como
índice de correção monetária”. (ADI 4425 QO, Rel. Min. Luiz
Fux, Pleno, DJe 4.8.2015)

Esse mesmo raciocínio também deve se aplicar aos fatos jurígeno-


tributários futuros nos casos em que a declaração, pelo STF, de
(in)compatibilidade de determinada norma que rege a relação exacional
esteja em confronto com a coisa julgada, não sendo admissível, a partir
dessa decisão da Corte Constitucional, que contribuintes, os quais estejam
diante da mesma situação fática, ostentem consequências jurídicas
diversas apenas pela data em que a sua decisão transitou em julgado.
Nessa situação, aplica-se a ratio essendi da posição do STF sedimentada na
Súmula 239, in litteris:

“Decisão que declara indevida a cobrança do imposto em


determinado exercício não faz coisa julgada em relação aos
posteriores”.

Se a norma tributária for entendida como incompatível com a ordem

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constitucional pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, deverá


igualmente ser assim considerada, pro futuro, para aqueles que não
ingressaram no Poder Judiciário, assim para aqueles que ingressaram e
não haviam obtido êxito em suas demandas, com eventual trânsito em
julgado.
Da mesma forma, se a Corte Suprema compreender determinada
norma exacional constitucional, tal posição jurídica valerá para os fatos
geradores posteriores a esse entendimento, assim como efeitos futuros de
fatos geradores anteriores, independentemente de o contribuinte ter
acionado ou não o Poder Judiciário e, mais ainda, não obstante tenha
obtido uma decisão transitada em julgado, afastando a aplicabilidade
daquela norma tributária. Deverá aquela aplicar-se a todos
indistintamente, independentemente de ação rescisória ou outra ação
revisional.
Naquela mesma obra doutrinária, vaticinava o Min. Teori Zavascki:

“Estabelecido que a sentença, nos casos assinalados,


irradia eficácia vinculante também para o futuro, surge a
questão de saber qual é o termo ad quem de tal eficácia. A
solução é esta e vem de longe: a sentença tem eficácia enquanto
se mantiverem inalterados o direito e o suporte fático sobre os
quais estabeleceu o juízo de certeza. Se ela afirmou que uma
relação jurídica existe ou que tem certo conteúdo, é porque
supôs a existência de determinado comando normativo (norma
jurídica) e de determinada situação de fato (suporte fático de
incidência); se afirmou que determinada relação jurídica não
existe, supôs a inexistência, ou do comando normativo, ou da
situação de fato afirmada pelo litigante interessado. A mudança
de qualquer desses elementos compromete o silogismo original
da sentença, porque estará alterado o silogismo do fenômeno
de incidência por ela apreciado: a relação jurídica que antes
existia deixou de existir, e vice-versa. Daí afirmar-se que a força
da coisa julgada tem uma condição implícita, a da cláusula
rebus sic stantibus, a significar que ela atua enquanto se
mantiverem Íntegras as situações de fato e de direito existentes

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quando da prolação da sentença.


Alterada a situação de fato (muda o suporte fático,
mantendo-se o estado da norma) ou de direito (muda o estado
da norma, mantendo-se o estado de fato), ou dos dois, a
sentença deixa de ter a força de lei entre as partes, que até então
mantinha.
A alteração do status quo tem, em regra, efeitos imediatos e
automáticos.
Assim, se a sentença declarou que determinado servidor
público não tinha direito a adicional de insalubridade, a
superveniência de lei prevendo a vantagem importará o
imediato direito a usufruí-la, cessando a partir daí a eficácia
vinculativa do julgado, independentemente de novo
pronunciamento judicial ou de qualquer outra formalidade.
Igualmente, se a sentença declara que os serviços prestados por
determinada empresa estão sujeitos à contribuição para a
seguridade social, a norma superveniente que revogue a
anterior ou que crie isenção fiscal cortará a sua força
vinculativa, dispensando o contribuinte, desde logo, do
pagamento do tributo. O mesmo pode ocorrer em favor do
Fisco, em casos em que, reconhecida, por sentença, a
intributabilidade, sobrevier lei criando o tributo: sua cobrança
pode dar-se imediatamente, independentemente de revisão do
julgado anterior.
(…)
Convém repetir e frisar, todavia, que a ação de revisão é
indispensável apenas quando a relação jurídica material de
trato continuado comportar, por disposição normativa, o direito
potestativo antes referido. É o caso da ação de revisão de
alimentos, destinada a ajustá-los à nova situação econômica do
devedor ou às supervenientes necessidades do credor, e da ação
de revisão de sentença que tenha fixado valores locatícios, para
ajustá-los a novas condições de mercado (Lei n. 8.245, de 1991,
artigos 19 e 68). Afora casos dessa natureza, a modificação do
estado de fato ou de direito produz imediata e
automaticamente a alteração da relação jurídica, mesmo

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quando esta tiver sido certificada por sentença, conforme


anteriormente assinalado”. (ZAVASCKI, Teori Albino. Coisa
julgada em matéria constitucional: eficácia das sentenças nas relações
jurídicas de trato continuado. In: Doutrina do Superior Tribunal
de Justiça: edição comemorativa 15 anos. Org. Gabinete do
Ministro-Diretor da Revista. Brasília: STJ, 2005, p. 109/132.
Disponível em:
https://www.stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/Dout1
5anos/article/view/3666/3755. Acesso em: 15.11.2022, grifo
nosso)

Vejamos um exemplo esclarecedor: tributação de Cofins das


sociedades simples de prestação de serviços, entre elas os escritórios de
advocacia.
Depois do advento do art. 56 da Lei 9.430/1996, houve uma
discussão jurídica sobre a possibilidade de revogação da isenção de
Cofins conferida pelo art. 6º, II, da Lei Complementar 70/1991.
De forma resumida, o STJ, até os idos de 2003, havia consolidado o
entendimento, na seara infraconstitucional, de que lei ordinária não
poderia revogar isenção prevista em lei complementar, aprovando a
súmula 276 daquela Corte:

Súmula 276: “As sociedades civis de prestação de serviços


profissionais são isentas da Cofins, irrelevante o regime
tributário adotado”. (Primeira Seção do STJ, DJ 2.6.2003)

Em 2006, o STF alterou aquela posição do STJ, manifestando-se pela


possibilidade de alteração de isenção prevista em lei complementar por
lei ordinária, ao argumento de inexistência de hierarquia entre os
diplomas normativos. Ex vi:

“Contribuição social (CF, art. 195, I): legitimidade da


revogação pela L. 9.430/96 da isenção concedida às sociedades
civis de profissão regulamentada pela Lei Complementar
70/91, dado que essa lei, formalmente complementar, é, com

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RE 949297 / CE

relação aos dispositivos concernentes à contribuição social por


ela instituída, materialmente ordinária; ausência de violação ao
princípio da hierarquia das leis, cujo respeito exige seja
observado o âmbito material reservado às espécies normativas
previstas na Constituição Federal. Precedente: ADC 1, Moreira
Alves , RTJ 156/721”. (RE 451.988, Primeira Turma, Rel.
Sepúlveda Pertence, DJ 17.3.2006, grifo nosso)

Subsequentemente, em 2008, o Plenário chancelou esse raciocínio,


sob a sistemática da repercussão geral:

“Contribuição social sobre o faturamento - COFINS (CF,


art. 195, I). 2. Revogação pelo art. 56 da Lei 9.430/96 da isenção
concedida às sociedades civis de profissão regulamentada
pelo art. 6º, II, da Lei Complementar 70/91. Legitimidade. 3.
Inexistência de relação hierárquica entre lei ordinária e lei
complementar. Questão exclusivamente constitucional,
relacionada à distribuição material entre as espécies legais.
Precedentes. 4. A LC 70/91 é apenas formalmente
complementar, mas materialmente ordinária, com relação aos
dispositivos concernentes à contribuição social por ela
instituída. ADC 1, Rel. Moreira Alves, RTJ 156/721. 5. Recurso
extraordinário conhecido mas negado provimento”. (RE
377.457, de minha relatoria, Pleno, DJe 19.12.2008, grifo nosso)

Após o julgamento pelo STF, a Primeira Seção do STJ, na sessão de


12.11.2008, ao julgar a AR 3.761-PR, deliberou pelo cancelamento da
súmula 276, adequando-se ao entendimento da Suprema Corte.
Vários casos transitaram em julgado entre a decisão do STJ e do STF.
Nessa situação, devemos considerar que os casos transitados em julgado,
que ultrapassaram o biênio previsto no art. 495 do CPC/73 (em vigor à
época), devem ser mantidos hígidos quanto aos efeitos futuros de atos
anteriores ou de atos posteriores, com base na coisa julgada?
Penso que não, diante da alteração do substrato jurídico que
embasava o comando transitado em julgado.

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RE 949297 / CE

Ademais, houve a ausência de modulação dos efeitos por esta Corte,


como se percebe do seguinte julgado:

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ALEGAÇÃO DE


OMISSÃO/CONTRADIÇÃO NO ACÓRDÃO RECORRIDO.
PRETENSA INAPLICABILIDADE, AO CASO, DO ART. 27 DA
LEI 9.868/99. AUSÊNCIA, PORÉM, DE QUALQUER ERROR IN
PROCEDENDO. REJEIÇÃO DOS EMBARGOS. 1. Ao decidir
aplicar a norma do art. 27 da Lei 9.868/99, com o consequente
desacolhimento da proposta de modulação de efeitos suscitada
no julgamento, o acórdão recorrido enfrentou a questão de
direito, não havendo, portanto, qualquer omissão ou
contradição. 2. Ausentes as hipóteses de cabimento invocadas
nos embargos de declaração, devem estes ser rejeitados”. (RE
377.457 ED, Redator p/ acórdão Min. Teori Zavascki, Tribunal
Pleno, DJe 20.6.2017)

Seguindo esse raciocínio exemplificativo, a partir daquela decisão


Plenária do STF, julgada em setembro de 2008, ocorreu a cessação da
ultratividade executiva das decisões judiciais transitadas em julgado que
tenham se amparado em interpretação de norma jurídica de forma
contrária ao posicionamento da Suprema Corte, independentemente de
ação rescisória ou de qualquer outro meio processual, por se tratar de
relação jurídica continuada, diante da cláusula rebus sic stantibus.
Frise-se que a necessidade de ajuizamento de outra demanda não
teria qualquer utilidade, tendo em vista não haver o que se debater: deve-
se aplicar o entendimento do STF, seja em controle difuso ou concentrado,
independentemente de ter sido, naquele caso, firmado com ou sem
repercussão geral.
Sendo assim, para os atos futuros ou efeitos futuros de atos passados
que sejam de relação jurídica de trato continuado, aplica-se
imediatamente a posição do Supremo Tribunal Federal, sendo
despicienda nova ação judicial com conteúdo revisional.

3) Matéria de fundo e caso concreto

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RE 949297 / CE

O primeiro mandado de segurança transitou em julgado em


14.8.1992 (eDOC 1, p. 120), concedendo-se a ordem para afastar a
cobrança da CSLL, diante do reconhecimento de inconstitucionalidade,
incidenter tantum, da Lei 7.689/1989, ao argumento da necessidade de ser
observado o postulado da anterioridade nonagesimal, além da submissão
do tema à matéria reservada à lei complementar e da inobservância de ter
sido instituída contribuição sob a mesma base de cálculo de imposto
discriminado na Constituição Federal.
Ocorre que o Supremo Tribunal Federal posicionou-se pela
constitucionalidade de praticamente a totalidade da Lei 7.689/1988 (à
exceção dos arts. 8º e 9º), nos seguintes julgados:

“CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO DAS


PESSOAS JURIDICAS. LEI 7.689/88. - NÃO É
INCONSTITUCIONAL A INSTITUIÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO
SOCIAL SOBRE O LUCRO DAS PESSOAS JURIDICAS, CUJA
NATUREZA É TRIBUTARIA. CONSTITUCIONALIDADE
DOS ARTIGOS 1º, 2º E 3º DA LEI 7689/88. REFUTAÇÃO DOS
DIFERENTES ARGUMENTOS COM QUE SE PRETENDE
SUSTENTAR A INCONSTITUCIONALIDADE DESSES
DISPOSITIVOS LEGAIS. - AO DETERMINAR, PORÉM, O
ARTIGO 8º DA LEI 7689/88 QUE A CONTRIBUIÇÃO EM
CAUSA JÁ SERIA DEVIDA A PARTIR DO LUCRO APURADO
NO PERIODO-BASE A SER ENCERRADO EM 31 DE
DEZEMBRO DE 1988, VIOLOU ELE O PRINCÍPIO DA
IRRETROATIVIDADE CONTIDO NO ARTIGO 150, III, ‘A’, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, QUE PROIBE QUE A LEI QUE
INSTITUI TRIBUTO TENHA, COMO FATO GERADOR
DESTE, FATO OCORRIDO ANTES DO INÍCIO DA VIGÊNCIA
DELA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO COM
BASE NA LETRA ‘B’ DO INCISO III DO ARTIGO 102 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, MAS A QUE SE NEGA
PROVIMENTO PORQUE O MANDADO DE SEGURANÇA
FOI CONCEDIDO PARA IMPEDIR A COBRANÇA DAS

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RE 949297 / CE

PARCELAS DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL CUJO FATO


GERADOR SERIA O LUCRO APURADO NO PERIODO-BASE
QUE SE ENCERROU EM 31 DE DEZEMBRO DE 1988.
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO
ARTIGO 8º DA LEI 7.689/88”. (RE 146.733, Rel. Min. Moreira
Alves, Tribunal Pleno, j. 29.6.1992, DJ 6.11.1992, grifo nosso)

“CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - PARÂMETROS - NORMAS


DE REGÊNCIA - FINSOCIAL - BALIZAMENTO TEMPORAL.
A teor do disposto no artigo 195 da Constituição Federal,
incumbe à sociedade, como um todo, financiar, de forma direta
e indireta, nos termos da lei, a seguridade social, atribuindo-se
aos empregadores a participação mediante bases de incidência
próprias - folha de salários, o faturamento e o lucro. Em norma
de natureza constitucional transitória, emprestou-se ao
FINSOCIAL característica de contribuição, jungindo-se a
imperatividade das regras insertas no Decreto-Lei nº 1940/82,
com as alterações ocorridas até a promulgação da Carta de
1988, ao espaço de tempo relativo a edição da lei prevista no
referido artigo. Conflita com as disposições constitucionais -
artigos 195 do corpo permanente da Carta e 56 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias - preceito de lei que, a
título de viabilizar o texto constitucional, toma de empréstimo,
por simples remissão, a disciplina do FINSOCIAL.
Incompatibilidade manifesta do art. 9º da Lei nº 7689/88 com o
Diploma Fundamental, no que discrepa do contexto
constitucional”. (RE 150.764, Redator p/ acórdão Min. Marco
Aurélio, Tribunal Pleno, j. 16.12.1992, DJ 2.4.1993, grifo nosso)

A publicação no Diário de Justiça do resultado do julgamento do RE


146.733 sucedeu em 1º.7.1992, oportunidade esta que deveria ser o marco
jurígeno seguro para conferir a cessação da eficácia da coisa julgada –
para os fatos geradores posteriores –, firmada no primeiro mandado de
segurança impetrado pela ora recorrida, em se tratando de relação
jurídica de trato sucessivo.
Na primeira versão do meu voto, divulgado no início do julgamento

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RE 949297 / CE

assíncrono, havia expressamente tratado sobre o debate em torno do art.


52, X, da Constituição Federal no controle difuso de constitucionalidade.
Todavia, em razão desse tema não influenciar o debate sobre a higidez da
interpretação constitucional conferida por esta Corte em, no mínimo, três
precedentes qualificados, estou divulgando nova versão do voto, sem
referência a esse tema.
Não por outra razão, o § 5º do art. 535 do CPC/15 estipula que:

“§ 5º. Para efeito do disposto no inciso III do caput deste


artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida
em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo
considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal,
ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato
normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como
incompatível com a Constituição Federal, em controle de
constitucionalidade concentrado ou difuso”. (grifo nosso)

Tal norma foi declarada constitucional, assim como o § 1º do art. 475-


L do CPC/73, na ADI 2.418, tendo o Min. Teori Zavascki bem pontuado,
em trecho de seu voto:

“Também não se fazia alusão nem distinção, à época,


entre precedente em controle incidental ou concentrado.
Como agora explicita o novo Código, essa distinção é
irrelevante. Em qualquer dos casos, e independentemente da
existência ou não de resolução do Senado suspendendo a
execução da norma declarada inconstitucional, tem igual
autoridade a manifestação do Supremo em seu juízo de
constitucionalidade, sendo de anotar que, de qualquer sorte,
não seria cabível resolução do Senado na declaração de
inconstitucionalidade parcial sem redução de texto e na que
decorre da interpretação conforme a Constituição. A distinção
restritiva, entre precedentes em controle incidental e em
controle concentrado, não é compatível com a evidente
intenção do legislador, já referida, de valorizar a autoridade

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RE 949297 / CE

dos precedentes emanados do órgão judiciário guardião da


Constituição, que não pode ser hierarquizada simplesmente
em função do procedimento em que a decisão foi tomada. Sob
esse enfoque, há idêntica força de autoridade nas decisões do
STF tanto em ação direta quanto nas proferidas em via
recursal, estas também com natural vocação expansiva,
conforme reconheceu o STF no julgamento da Reclamação
4.335, Min. Gilmar Mendes, Dje 22.10.14, a evidenciar que está
ganhando autoridade a recomendação da doutrina clássica de
que a eficácia erga omnes das decisões que reconhecem a
inconstitucionalidade, ainda que incidentalmente, deveria ser
considerada efeito natural da sentença (Bittencourt , Lúcio, op.
cit., p. 143; Castro Nunes , José. Teoria e prática do Poder
Judiciário . Rio de Janeiro: Forense, 1943. p. 592). É exatamente
isso que ocorre, aliás, nas hipóteses previstas no parágrafo
único do art. 949 do CPC/15, reproduzindo o parágrafo único
do art. 481 do CPC/73, que submete os demais Tribunais à
eficácia vinculante das decisões do plenário do STF em controle
de constitucionalidade, indiferentemente de terem sido
tomadas em controle concentrado ou difuso”. (voto do relator
na ADI 2.418, Rel. Min. Teori Zavascki, Pleno, DJe 17.11.2016,
grifo nosso)

Relembre-se que esse mesmo posicionamento foi reafirmado em tese


de julgamento submetido à sistemática da repercussão geral, no RE
611.503, Redator p/acordão Min. Edson Fachin, Pleno, DJe 10.3.2019 (tema
360 da RG):

“São constitucionais as disposições normativas do


parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1º do art. 475-L, ambos
do CPC/73, bem como os correspondentes dispositivos do
CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art. 535, § 5º. São
dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da coisa
julgada com o primado da Constituição, vieram agregar ao
sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia
rescisória de sentenças revestidas de vício de

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RE 949297 / CE

inconstitucionalidade qualificado, assim caracterizado nas


hipóteses em que (a) a sentença exequenda esteja fundada em
norma reconhecidamente inconstitucional, seja por aplicar
norma inconstitucional, seja por aplicar norma em situação ou
com um sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença exequenda
tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente
constitucional; e (c) desde que, em qualquer dos casos, o
reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do STF
realizado em data anterior ao trânsito em julgado da sentença
exequenda”. (grifo nosso)

Ora, se esta Corte entendeu que é inexigível o título judicial


transitado em julgado firmado em contrariedade ao que decidido pelo
próprio STF, em sede de controle difuso ou concentrado de
constitucionalidade, abarcando os efeitos passados e pendentes de atos
pretéritos – consequência mais grave do que a cessação dos efeitos
futuros –, não há discrímen para deixar de aplicar a mesma baliza
interpretativa envolvendo os efeitos futuros de atos passados ou atos
futuros – que ostenta consequência menos gravosa do que julgar
procedente a ação rescisória ou declarar o título inexigível!
Pois bem.
A despeito dessa minha posição pessoal, anoto que, após alterações
do voto do relator, acompanharei a sua conclusão, apesar dessa
manifestação.
Rememore-se também o que restou decidido no item 9 da ementa da
APDF 101, Rel. Min. Cármen Lúcia, Pleno, DJe 4.6.2012:

“9. Decisões judiciais com trânsito em julgado, cujo


conteúdo já tenha sido executado e exaurido o seu objeto não
são desfeitas: efeitos acabados. Efeitos cessados de decisões
judiciais pretéritas, com indeterminação temporal quanto à
autorização concedida para importação de pneus: proibição a
partir deste julgamento por submissão ao que decidido nesta
arguição”. (ADPF 101, Rel. Min. Cármen Lúcia, Pleno, DJe

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RE 949297 / CE

4.6.2012)

Ou seja, o STF conferiu a sustação dos efeitos futuros de atos


judiciais anteriores, com trânsito em julgado, “com indeterminação temporal
quanto à autorização concedida para importação de pneus”, com vigência “a
partir deste julgamento por submissão ao que decidido nesta arguição”.
Sendo assim, em sede de controle concentrado, em 2007, o STF, por
unanimidade, voltou a declarar a constitucionalidade da Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), tal como prevista na Lei 7.689/1988
(exceto os arts. 8º e 9º), no bojo da ADI 15, de relatoria do Ministro
Sepúlveda Pertence, DJe 31.8.2007, a qual restou com a seguinte ementa:

“I. ADIn: legitimidade ativa: ‘entidade de classe de âmbito


nacional’ (art. 103, IX, CF): compreensão da ‘associação de
associações’ de classe. Ao julgar, a ADIn 3153-AgR, 12.08.04,
Pertence, Inf. STF 356, o plenário do Supremo Tribunal
abandonou o entendimento que excluía as entidades de classe
de segundo grau - as chamadas ‘associações de associações’ - do
rol dos legitimados à ação direta. II. ADIn: pertinência temática.
Presença da relação de pertinência temática, pois o pagamento
da contribuição criada pela norma impugnada incide sobre as
empresas cujos interesses, a teor do seu ato constitutivo, a
requerente se destina a defender. III. ADIn: não conhecimento
quanto ao parâmetro do art. 150, § 1º, da Constituição, ante a
alteração superveniente do dispositivo ditada pela EC 42/03. IV.
ADIn: L. 7.689/88, que instituiu contribuição social sobre o lucro
das pessoas jurídicas, resultante da transformação em lei da
Medida Provisória 22, de 1988. 1. Não conhecimento, quanto
ao art. 8º, dada a invalidade do dispositivo, declarado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal, em processo de
controle difuso (RE 146.733), e cujos efeitos foram suspensos
pelo Senado Federal, por meio da Resolução 11/1995. 2.
Procedência da arguição de inconstitucionalidade do artigo 9º,
por incompatibilidade com os artigos 195 da Constituição e
56, do ADCT/88, que, não obstante já declarada pelo Supremo

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RE 949297 / CE

Tribunal Federal no julgamento do RE 150.764, 16.12.92, M.


Aurélio (DJ 2.4.93), teve o processo de suspensão do dispositivo
arquivado, no Senado Federal, que, assim, se negou a emprestar
efeitos erga omnes à decisão proferida na via difusa do controle
de normas. 3. Improcedência das alegações de
inconstitucionalidade formal e material do restante da mesma
lei, que foram rebatidas, à exaustão, pelo Supremo Tribunal,
nos julgamentos dos RREE 146.733 e 150.764, ambos recebidos
pela alínea ‘b’ do permissivo constitucional, que devolve ao
STF o conhecimento de toda a questão da constitucionalidade
da lei”. (ADI 15, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Pleno, DJe
31.8.2007, grifo nosso)

Tal julgamento em sede de controle concentrado de


constitucionalidade teve como pano de fundo a reiteração da
inconstitucionalidade do art. 9º, haja vista que, apesar de a decisão
firmada no RE 150.764, Redator p/ acórdão Min. Marco Aurélio (DJ
2.4.1993), o processo de suspensão do dispositivo foi arquivado, “no
Senado Federal, que, assim, se negou a emprestar efeitos erga omnes à decisão
proferida na via difusa do controle de normas”.
Em sendo assim, acompanho o relator para denegar a ordem
mandamental.

4) Da divergência quanto à aplicação dos princípios da anterioridade

O relator da presente ação posicionou-se no sentido de que a tese


por ele defendida seja aplicada considerando o período de anterioridade
nonagesimal e anual, conforme exigido pela espécie tributária em
discussão. Defende a existência de razões de segurança jurídica do
contribuinte.
Data maxima venia ao entendimento do relator, divirjo quanto à
necessidade de aplicação dos princípios da anterioridade anual e/ou
nonagesimal a partir de uma decisão desta Suprema Corte, a qual declara

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RE 949297 / CE

a constitucionalidade de um ato normativo.


Não custa lembrar que, conforme previsão constitucional e, em
consonância com os contornos interpretativos conferidos por esta
Suprema Corte, os princípios da anterioridade são aplicados quando há
instituição ou aumento, ainda que indireto, de tributos. Confira-se:

“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
(...)
III - cobrar tributos:
(...)
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Vide
Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja
sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado
o disposto na alínea b”. (grifo nosso)

O caso em testilha, contudo, trata de situação em que o Supremo


Tribunal Federal declara a constitucionalidade de uma norma tributária, a
qual já percorreu todo o percurso constitucional necessário para ser
aplicada, ou seja, já observou, entre outros, os princípios da
anterioridade. Ora, estaríamos, então, aplicando os referidos princípios
duas vezes.
E o pior, em uma situação fora da previsão constitucional, pois não
cabe a esta Suprema Corte instituir ou aumentar tributo, nem mesmo
indiretamente, na linha do art. 97, incisos I e II, do CTN:

“Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:


I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;
II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o
disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65”;

Peço vênia, portanto, para divergir pontualmente do relator, por

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entender desnecessária a aplicação dos princípios da anterioridades no


caso em questão.

5) Voto

Ante o exposto, a despeito do meu posicionamento pessoal quanto à


cessação da ultratividade da coisa julgada formada em contrariedade ao
pronunciamento do STF (no caso de controle difuso de
inconstitucionalidade, independentemente de possuir repercussão geral),
tenho que, após a evolução do julgamento, é caso de acompanhar o
relator, divergindo apenas em relação à aplicação dos princípios das
anterioridades (anual e/ou nonagesimal).

É como voto.

44

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10/10/2022 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES: No presente leading


case, Senhor Presidente, cuida-se de examinar o seguinte tema recursal
submetido a julgamento nesta CORTE sob a égide da sistemática da
Repercussão Geral:

“Tema 881 - Limites da coisa julgada em matéria tributária,


notadamente diante de julgamento, em controle concentrado pelo
Supremo Tribunal Federal, que declara a constitucionalidade de
tributo anteriormente considerado inconstitucional, na via do controle
incidental, por decisão transitada em julgado.”

Na origem, TBM - Textil Bezerra de Menezes S/A, em 2001, impetrou


Mandado de Segurança preventivo contra ato do Delegado da Receita
Federal em Fortaleza, objetivando assegurar-lhe o direito de continuar a
não recolher a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL prevista
na Lei 7.689/1988, com esteio nas seguintes alegações (Vol. 1):

(I) em anterior writ, impetrado pela antiga pessoa jurídica


da ora recorrida TBM S.A. Indústria Têxtil, em litisconsórcio
ativo com outros empreendimentos, houve a declaração,
incidenter tantum, da inconstitucionalidade formal, material e
temporal da Lei 7.689/1988;

(II) com trânsito em julgado do referido mandamental, na


data de 14/8/1992, concedeu-se, definitivamente, a ordem,
tornando-se inexigíveis “não só as contribuições exigidas no
exercício de 1.989, relativas ao ano-base de 1988, mas também
nos exercícios subsequentes”, formando, na ocasião, a coisa
julgada material entre as partes (contribuinte e União), “só
passível de ser reformada por meio de ação rescisória, o que, no
caso, não ocorreu”, ou por ação revisional, quando do “advento

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de lei nova, que [também] não ocorreu”;

(III) no plano subjacente a estes autos, a autoridade


impetrada “está tentando lançar o pretendido crédito”, para
“exigir da impetrante o recolhimento da aludida contribuição”,
sem que haja ação revisional para discutir a relação jurídica
continuativa ou lei nova alterando seu status jurídico, pois a
“Lei Complementar nº 70/91, em seu artigo 11, só alterou [a Lei
7.689/1988] no que tange à sua alíquota, mas manteve todas as
demais normas”.

Em primeira instância, denegou-se a segurança, à conclusão de que


“A coisa julgada em matéria tributária não constitui impedimento para a
cobrança posterior, em razão de alteração legislativa considerada constitucional
pelo STF” (fl. 161, Vol. 2).

Interposta apelação pela impetrante, o Tribunal Regional Federal da


5ª Região deu-lhe provimento, argumentando que:

“A sentença que entendeu pela inconstitucionalidade já


mencionada destaca em fls. 98 que ‘os argumentos desses
doutrinadores não vejo como ignorá-los: O princípio da
irretroatividade resultou lesionado pois se a regra instituidora
da contribuição somente ganharia eficácia em 90 dias (artigo
195 §6º da CF ) não poderia mesmo ser ela aplicada a fatos
geradores pretéritos ocorridos entre 1° de janeiro e 31 de
dezembro de 1988’.
Assim fazendo menção a tais fatos declarou a
inconstitucionalidade da lei 7689/88. O E. TRF 5ª região
manteve a sentença negando provimento à apelação.
Na realidade, mesmo tendo o C.STF declarado que a lei
em comento seria constitucional com a exceção do artigo 8º, a
decisão que beneficiou a apelante transitou em julgado e não
deve ser modificada.
Não se diga, tal qual, o parecer da Procuradoria da
Fazenda Nacional adotado na sentença, que haveria uma

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RE 949297 / CE

relação jurídica continuativa com base no inciso I do artigo 471


do CPC. Na realidade enquanto os fatos forem tributados com
base na lei 7689/88 a requerente estará esguardada com a
decisão que transitou em julgado e que lhe foi favorável. O
advento de outra legislação poderá mudar a questão” (fl.
206,Vol. 2).

O aresto recebeu a seguinte ementa (fl. 209, Vol. 2):

PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO


SOCIAL SOBRE O LUCRO. LEI 7689/88. MANDADO DE
SEGURANÇA. OFENSA À COISA JULGADA. APELAÇÃO
PROVIDA.
1. A sentença prolatada nos autos do mandado de
segurança 127/89/CE declarou a inconstitucionalidade da lei
7689/88 tendo sido mantida por esta Corte com o trânsito em
julgado.
2. "(...) A sentença rescindenda, que reconheceu ser
integralmente inconstitucional a lei 7689/88, instituidora da
contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas para
financiamento da seguridade social, porque prolatada antes da
publicação da decisão do STF declarando a
inconstitucionalidade apenas do artigo 8º da mencionada lei
(RE 138284-CE, REL. MIN. CARLOS VELLOSO, DJU 28/08/92,
P. 13456), não deve sofrer os efeitos provenientes dessa
declaração- "Se as questões de fato e de direito reguladas pela
norma julgada inconstitucional se encontram definitivamente
encerradas porque sobre elas incidem caso julgado judicial,
porque se perdeu um direito por prescrição ou caducidade,
porque o ato se tornou inimpugnável, porque a relação se
extinguiu com o cumprimento da obrigação, então a dedução
de inconstitucionalidade, com a consequente nulidade ipso jure,
não perturba, através da sua eficácia retroativa esta vasta gama
de situações ou relações consolidadas" (J. J. GOMES
CANOTILHO).- Inegável a aplicação do entendimento firmado
por nossos Tribunais Superiores, segundo o qual "A mudança

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de entendimento dos Tribunais Superiores não autoriza o


pedido de rescisão de julgado, com base na violação literal de
dispositivo de lei (ARTIGO 475, INCISO V DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL)." (RESP 227.458-CE, REL. MIN.
HAMILTON CARVALHIDO, J. 06/04/2000, DJU 05/06/2000). -
Improvimento dos embargos infringentes mantendo-se
incólume o Acórdão que reconheceu a improcedência do
pedido de rescisão( EIAR - Embargos Infringentes na Ação
Rescisória - 311, DJU 22.08.2002, Rel Des Fed Ubaldo
Cavalcanti)".
3. Apelação provida. (PROCESSO: 200181000081139, AMS
- Apelação em Mandado de Segurança - 90497,
DESEMBARGADOR FEDERAL FREDERICO PINTO DE
AZEVEDO (CONVOCADO), Terceira Turma, JULGAMENTO:
03/09/2009, PUBLICAÇÃO: DJE - Data::18/09/2009 - Página::458)

Em sequência, a União apresentou o presente Recurso


Extraordinário, aduzindo violação aos arts. 3º, IV, 5º, caput, II e XXXVI, 37
e 150, “c”, da CARTA MAGNA, com base nos seguintes argumentos (fls.
225-245, Vol. 2):
(I) “a coisa julgada em matéria tributária não alcança os
exercícios seguintes ao da impetração”, podendo o instituto ser
relativizado em razão:

(a) “da superveniência de novos parâmetros


normativos para a exigência do tributo”; no caso, as leis
8.034/1990 e 8.212/1991 modificaram a forma de apuração
do resultado e a alíquota da Lei 7.689/1988, fazendo
“cessar a eficácia vinculante daquele julgado”;

(b) do princípio da isonomia, “pela superveniência


de decisão do Supremo Tribunal Federal que considere
constitucional o diploma normativo tido por
inconstitucional pela decisão passada em julgado”; na
espécie, a Lei 7.689/1988 teve sua constitucionalidade
reconhecida pelo STF no RE 146733 (Rel. Min. MOREIRA

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ALVES, DJ de 6/11/1992), AI 174536 (Rel. Min. SYDNEY


SANCHES, DJ de 8/10/1999, RE 197617 (Rel. Min. MARCO
AURÉLIO, DJ de 29/9/2000) e RE 203973 (Rel. Min.
CARLOS VELLOSO, DJ de 11/12/1998).

(II) Somente o art. 8º da Lei 7.689/1988 foi considerado


inconstitucional pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no
ponto em que “determinava sua incidência sobre o lucro
apurado em 31.12.1988 (RE 224.665/RN, 1ª Turma, Min.
Sepúlveda Pertence, DJ de 17/4/1998; AgRg no RE 203.498/DF, 2ª
Turma, Min. Gilmar Mendes, DJ de 22.8.2003)”; e

(III) “o v. acórdão recorrido, além de elevar ao status de coisa


julgada a declaração incidental de inconstitucionalidade da Lei no.
7.689/88, contida, repita-se, na fundamentação da sentença, estendeu
os efeitos da parte dispositiva do julgado a fatos futuros, inexistentes à
época da impetração, o que, ao seu sentir, ‘estaria autorizado por se
tratar de relação jurídica de trato sucessivo’, de maneira que
plenamente caracterizada a violação ao art. 5°, XXXVI da
Constituição, ‘tendo em vista que, mesmo quanto às relações jurídicas
sucessivas, tais dispositivos, ao contrário do consignado no v. acórdão,
aplicam-se em sua inteireza, de maneira que a sentença só têm força
vinculante sobre as relações já efetivamente concretizadas, não
atingindo as que poderão decorrer de fatos futuros, ainda que
semelhantes’. Acresce que esse entendimento é contrário “a
Súmula 239, segundo a qual "decisão que declara indevida a
cobrança de imposto em determinado exercício não faz coisa
julgada com relação aos posteriores" (fls. 236-238, Vol. 2).

Em contrarrazões (fls. 3-20, Vol. 3), a recorrida sustenta, em


preliminar, que o RE não pode ser conhecido pelo permissivo da alínea
“a” do inciso III do art. 102 da CF, pois (a) não teria havido violação a
dispositivo constitucional e (b) eventual afronta seria meramente reflexa.
Aduz que as razões recursais estão dissociadas da matéria decidida no
acórdão recorrido; aponta, ainda, a incidência das Súmulas 279, 282, 356,
e 636, todas do STF.

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Argumenta que a decisão transitada em julgado declarou a


inconstitucionalidade da Lei 7.689/88 em sua integralidade, sendo que
qualquer alteração que se lhe possa fazer, no caso, é também
inconstitucional. Assim, formou-se “ uma norma jurídica individual entre a
União Federal e a Recorrida, só passível de ser reformada por meio de ação
rescisória o que, no caso, não ocorreu”(fl. 18, Vol. 3).

Admitido o Recurso Extraordinário pelo Tribunal a quo, o


PLENÁRIO desta CORTE manifestou-se pela repercussão geral da
matéria, nos termos da seguinte ementa:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO


GERAL. PRELIMINAR. RECONHECIMENTO. DIREITO
TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO
LÍQUIDO - CSLL. LEI 7.689/88. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.
COISA JULGADA. LIMITES. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
JURÍDICA. INCONSTITUCIONALIDADE INCIDENTAL.
DECLARAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE EM
CONTROLE ABSTRATO E CONCENTRADO. ADI 15.
SÚMULA 239 DO STF. 1. A matéria constitucional
controvertida consiste em delimitar o limite da coisa julgada em
âmbito tributário, na hipótese de o contribuinte ter em seu favor
decisão judicial transitada em julgado que declare a inexistência
de relação jurídico-tributária, ao fundamento de
inconstitucionalidade incidental de tributo, por sua vez
declarado constitucional, em momento posterior, na via do
controle concentrado e abstrato de constitucionalidade exercido
pelo STF. 2. Preliminar de repercussão geral em recurso
extraordinário reconhecida (RE 949297-RG, Rel. Min. EDSON
FACHIN, DJe de 13/5/2016).”

O Relator determinou a suspensão de todos os processos pendentes,


que versam sobre a questão idêntica à presente (Doc. 17).

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A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o


Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), e o
Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos Para Fins Industriais,
Petroquímicas e de Resinas Sintéticas de Camaçari, Candeias e Dias
D’ávila (SINPEQ) foram admitidos no processo na condição de amici
curiae (Docs. 28, 95, e 116).

O Município de Capivari de Baixo – SC requereu seu ingresso no


processo na qualidade de amicus curiae (Doc. 132).

O pedido ainda não foi analisada pelo Relator.

A Procuradoria-Geral da República, em seu parecer, manifestou-se


pelo provimento do Recurso Extraordinário, nos termos da ementa que
exibe o seguinte cabeçalho (Doc. 15):
“A coisa julgada em matéria tributária, quando derivada
de relação jurídica de trato continuado, perde sua eficácia no
momento da publicação do acórdão exarado no âmbito do
controle concentrado de constitucionalidade contrário ao
sentido da sentença individual (art. 28 da Lei 9.868/99)”.

É o que havia a relatar. Passo ao voto.

Estão preenchidos os requisitos legais e constitucionais para a


admissibilidade do recurso. Adentro o mérito.

A controvérsia cinge-se a definir os limites temporais da coisa


julgada que reconhece a inexistência de relação jurídico-tributária em
razão da inconstitucionalidade do tributo, tendo em vista posterior
julgamento, em controle concentrado pelo SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, que declara a constitucionalidade da lei instituidora da
exação.

Como relatado, a ora recorrida impetrou Mandado de Segurança

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alegando que é detentora de sentença concessiva da ordem, confirmada


em segunda instância, a qual declarou incidenter tantum a
inconstitucionalidade da Lei 7.689/1988, e cujo o trânsito em julgado
ocorreu em 14/8/1992. Assim, postulou o direito de não mais se sujeitar à
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, uma vez que, além de
ser beneficiária de sentença transitada em julgado, o prazo para a
propositura da ação rescisória já se esvaiu.

A mencionada sentença transitada em julgado em 1992, da qual se


valeu a empresa impetrante para ajuizar o writ, considerou
inconstitucional aquele diploma legal por ofensa ao princípio da
irretroatividade, assentando que a tributação não poderia recair sobre
fatos geradores pretéritos, ocorridos entre 1° de janeiro e 31 de dezembro
de 1988, haja vista que a regra instituidora da contribuição somente
ganharia eficácia em 90 dias (artigo 195, §6º da CF) (Vol. 1, fl. 110).
O Mandado de Segurança foi denegado, em primeira instância, ao
argumento de que “A coisa julgada em matéria tributária não constitui
impedimento para a cobrança posterior, em razão de alteração legislativa
considerada constitucional pelo STF” (fl. 161, Vol. 2).

Interposta apelação, o acórdão recorrido deu-lhe provimento, por


entender que sentença proferida no primeiro mandado de segurança,
ajuizado em 1989, e com trânsito em julgado em 14/8/1992, e que
assegurou à empresa recorrida o direito de não recolher a exação ao
fundamento de inconstitucionalidade da Lei 7.689/1988, que institui a
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL, produz efeitos sobre
os exercícios seguintes.

A União não ajuizou ação rescisória.

I - A CONSOLIDAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO STF


ACERCA DA CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 7.689/1988

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Inicialmente, em 1992, mesmo ano em que transitada em julgado a


sentença de que se valeu a ora recorrida para impetrar o mandado de
segurança, o PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no RE
138.284 (Rel. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 1º/7/1992,
DJ de 28/8/1992), afirmou a constitucionalidade da Lei 7.869/1988, pois a
contribuição social por ela instituída - CSLL - tem fundamento de
validade no art. 195, I, da CF, e, por isso, prescinde de lei complementar
para a sua criação.

Apenas o art. 8º da aludida norma foi declarado inconstitucional,


por ofender o princípio da irretroatividade qualificada (C.F., arts. 150, III,
"a"; e 195, § 6º). O acórdão ficou assim ementado:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÕES


SOCIAIS. CONTRIBUIÇÕES INCIDENTES SOBRE O LUCRO
DAS PESSOAS JURIDICAS. Lei n. 7.689, de 15.12.88. I. -
Contribuições parafiscais: contribuições sociais, contribuições
de intervenção e contribuições corporativas. C.F., art. 149.
Contribuições sociais de seguridade social. C.F., arts. 149 e 195.
As diversas espécies de contribuições sociais. II. - A
contribuição da Lei 7.689, de 15.12.88, e uma contribuição
social instituída com base no art. 195, I, da Constituição. As
contribuições do art. 195, I, II, III, da Constituição, não
exigem, para a sua instituição, lei complementar. Apenas a
contribuição do parag. 4. do mesmo art. 195 e que exige, para a
sua instituição, lei complementar, dado que essa instituição
devera observar a técnica da competência residual da União
(C.F., art. 195, parag. 4.; C.F., art. 154, I). Posto estarem sujeitas a
lei complementar do art. 146, III, da Constituição, porque não
são impostos, não há necessidade de que a lei complementar
defina o seu fato gerador, base de calculo e contribuintes (C.F.,
art. 146, III, "a"). III. - Adicional ao imposto de renda:
classificação desarrazoada. IV. - Irrelevância do fato de a receita
integrar o orçamento fiscal da União. O que importa e que ela
se destina ao financiamento da seguridade social (Lei 7.689/88,

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art. 1.). V. - Inconstitucionalidade do art. 8., da Lei 7.689/88, por


ofender o princípio da irretroatividade (C.F., art, 150, III, "a")
qualificado pela inexigibilidade da contribuição dentro no
prazo de noventa dias da publicação da lei (C.F., art. 195,
parag. 6). Vigência e eficacia da lei: distinção. VI. - Recurso
Extraordinário conhecido, mas improvido, declarada a
inconstitucionalidade apenas do artigo 8. da Lei 7.689, de
1988. (grifos nossos)

No mesmo sentido, o RE 147.313, Rel. NÉRI DA SILVEIRA, Segunda


Turma, julgado em 31/10/1994, DJ de 4/8/1995:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 2. CONTRIBUIÇÕES


SOCIAIS. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO DAS
PESSOAS JURIDICAS. LEI N. 7.689, DE 15.12.1988. 3.
ACÓRDÃO QUE CONCEDEU A SEGURANÇA, EM FACE AO
RECONHECIMENTO DA INCONSTITUCIONALIDADE DOS
ARTS. 1., 2., 3. E 8., DA LEI N. 7.689/1988. 4. VALIDADE DOS
ARTS. 1., 2., E 3., DA LEI N. 7.689/1988, DECLARANDO-SE A
INCONSTITUCIONALIDADE, TÃO-SÓ, DO ART. 8. DO
REFERIDO DIPLOMA LEGAL. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
IRRETROATIVIDADE (C.F., ART. 150, III, "A").
PRECEDENTES DO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, NOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS N.S
146.284 - SPE 138.284 - CE. R. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO PARA DEFERIR,
EM PARTE, O MANDADO DE SEGURANÇA, TÃO-SÓ, NO
QUE CONCERNE A NÃO-EXIGÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO
SOCIAL NO EXERCÍCIO DE 1988, DIANTE DA
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 8. DA LEI N.
7.689/1988 (grifos nossos)

Alguns anos depois, em 2007, o TRIBUNAL PLENO, na ADI 15, (Rel.


SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 14/6/2007, DJe de
31/8/2007), confirmou a constitucionalidade da Lei 7.689/1988, à exceção
do art. 8º, que já fora considerado inválido, e declarou a

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inconstitucionalidade do artigo 9º, por incompatibilidade com os artigos


195 da Constituição, e 56 do ADCT/88.

O acórdão foi sintetizado nos termos da ementa a seguir transcrita:

EMENTA: I. ADIn: legitimidade ativa: "entidade de classe


de âmbito nacional" (art. 103, IX, CF): compreensão da
"associação de associações" de classe. Ao julgar, a ADIn 3153-
AgR, 12.08.04, Pertence, Inf STF 356, o plenário do Supremo
Tribunal abandonou o entendimento que excluía as entidades
de classe de segundo grau - as chamadas "associações de
associações" - do rol dos legitimados à ação direta. II. ADIn:
pertinência temática. Presença da relação de pertinência
temática, pois o pagamento da contribuição criada pela norma
impugnada incide sobre as empresas cujos interesses, a teor do
seu ato constitutivo, a requerente se destina a defender. III.
ADIn: não conhecimento quanto ao parâmetro do art. 150, § 1º,
da Constituição, ante a alteração superveniente do dispositivo
ditada pela EC 42/03. IV. ADIn: L. 7.689/88, que instituiu
contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas,
resultante da transformação em lei da Medida Provisória 22,
de 1988. 1. Não conhecimento, quanto ao art. 8º, dada a
invalidade do dispositivo, declarado inconstitucional pelo
Supremo Tribunal, em processo de controle difuso (RE
146.733), e cujos efeitos foram suspensos pelo Senado Federal,
por meio da Resolução 11/1995. 2. Procedência da arguição de
inconstitucionalidade do artigo 9º, por incompatibilidade com
os artigos 195 da Constituição e 56, do ADCT/88, que, não
obstante já declarada pelo Supremo Tribunal Federal no
julgamento do RE 150.764, 16.12.92, M. Aurélio (DJ 2.4.93),
teve o processo de suspensão do dispositivo arquivado, no
Senado Federal, que, assim, se negou a emprestar efeitos erga
omnes à decisão proferida na via difusa do controle de
normas. 3. Improcedência das alegações de
inconstitucionalidade formal e material do restante da mesma
lei, que foram rebatidas, à exaustão, pelo Supremo Tribunal,

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RE 949297 / CE

nos julgamentos dos RREE 146.733 e 150.764, ambos recebidos


pela alínea b do permissivo constitucional, que devolve ao
STF o conhecimento de toda a questão da constitucionalidade
da lei. (grifos nossos)

Esse último precedente, prolatado em controle concentrado e


abstrato, é o que vai nortear o presente julgamento.

Antes de avançarmos, necessário se faz tecer algumas considerações


acerca da Súmula 239 desta CORTE.

II - A SÚMULA 239 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

A União articula em seu extraordinário a incidência da Súmula 239


do STF, segundo a qual a Decisão que declara indevida a cobrança do imposto
em determinado exercício não faz coisa julgada em relação aos posteriores.
Conquanto não assista razão à União nesse ponto, no mais, o apelo
extremo merece provimento.

O precedente que embasou a edição da Súmula 239 foi o seguinte:

Executivo fiscal - Imposto de renda sobre juros de apólices


- Coisa Julgada em matéria fiscal. É admissível em executivo
fiscal a defesa fundada em "coisa julgada" para ser apreciada
pela sentença final.
- Não alcança os efeitos da coisa julgada, em matéria fiscal,
o pronunciamento judicial sobre nulidade do lançamento do
imposto ou da sua prescrição referente a um determinado
exercício, que não obsta o procedimento fiscal nos exercícios
subseqüentes (AI 11.227 embargos, Relator(a): CASTRO
NUNES, julgado em 05/06/1944)

A propósito, a jurisprudência desta CORTE firmou orientação no


sentido de que o Verbete em comento somente é aplicável se a decisão
transitada em julgado houver decidido acerca de lançamento tributário

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RE 949297 / CE

relativo a exercício financeiro específico, e não sobre a existência da


relação jurídico tributária continuativa.

Nesse sentido:

Acolho os embargos de declaração tão somente para sanar


omissão no tocante a incidência da Súmula 239 da Corte na
hipótese dos autos. (...). De qualquer forma, observo que a
orientação da jurisprudência da Corte, há muito, é no sentido
de que a referida súmula só é aplicável nas hipóteses de
processo judicial em que tenha sido proferida a decisão
transitada em julgado de exercícios financeiros específicos, e
não nas hipóteses em que tenha sido proferida decisão que trate
da própria existência da relação jurídica tributária
continuativas, como assentou o acordão recorrido (AI 791.071
AgR-ED, REL. MIN. DIAS TOFFOLI, 1ª T, j. 18-2-2014, DJE de
18/3/2014).

Note-se, por oportuno, que o pedido inicial acolhido no


acórdão recorrido não é de anulação de lançamento de exercício
financeiro específico, caso em que poderia incidir a Súmula
239/STF, mas, sim, de declaração de inconstitucionalidade do
IPTU progressivo incidente sobre determinados imóveis
'enquanto o fundamento para a respectiva cobrança for a
legislação atual'. Declarada a inconstitucionalidade da norma
tributária, seu efeito perdura enquanto não ocorrerem
alterações nas circunstâncias fáticas ou jurídicas existentes
quando prolatada a decisão (ARE 704.846 ED, REL. MIN. DIAS
TOFFOLI, 1ª T, j. 28-5-2013, DJE de 8/8/2013)

No caso sob exame, o Tribunal de origem afirmou a inexistência de


relação jurídico-tributária que submetesse o contribuinte a recolher a
CSLL, ao fundamento de que a sentença transitada em julgada em 1992 e
que declarou, de forma incidental, a inconstitucionalidade da Lei
7.689/1988, estendia seus efeitos para os futuros exercícios fiscais.

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Posteriormente, em 2007, a SUPREMA CORTE, declarou, em


controle abstrato, a constitucionalidade da norma.

Portanto, a solução desta controvérsia não passa pelo Enunciado 239.

Cumpre, doravante, discorrer sobre os efeitos da declaração de


constitucionalidade ou de inconstitucionalidade de determinada norma
pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Vejamos.

III – OS EFEITOS DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL EM CONTROLE CONCENTRADO DE
CONSTITUCIONALIDADE

Como já afirmei, em sede doutrinária, os efeitos da declaração de


inconstitucionalidade no controle abstrato brasileiro são, em regra: erga
omnes (gerais), ex tunc (retroativos), vinculantes e repristinatórios.

Declarada a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo federal ou


estadual, a decisão terá efeito retroativo (ex tunc) e para todos (erga
omnes), desfazendo, desde sua origem, o ato declarado inconstitucional,
juntamente com todas as consequências dele derivadas (RTJ 82/791; RTJ
87/758; RTJ 89/367), uma vez que os atos inconstitucionais são nulos e,
portanto, destituídos de qualquer carga de eficácia jurídica, alcançando a
declaração de inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo, inclusive
os atos pretéritos com base nela praticados (efeitos ex tunc) (STF – Pleno –
Reclamação 2576/SC – Rel. Min. ELLEN GRACIE, decisão: 23/6/2004. No
mesmo sentido: STF – Pleno – Rcl-AgR 3473/DF – Rel. Min. CARLOS
VELLOSO, Diário da Justiça, Seção I, 9 dez. 2005, p. 5 – Ementário v. 2217-
3, p. 296).

Importante ressaltar que a declaração de inconstitucionalidade do


ato impugnado e, consequentemente, a retroatividade de sua nulidade
alcança, inclusive, sentenças judiciais transitadas em julgado, uma vez

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que, conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal, "a rescindibilidade


do acórdão conflitante" decorre "do princípio da máxima efetividade
das normas constitucionais e da consequente prevalência da orientação
fixada pelo STF". Com esse fundamento, a CORTE SUPREMA afastou o
argumento "de que a decisão proferida na ADI não poderia retrotrair para
alcançar decisão coberta pelo manto da coisa julgada, tendo em conta a
jurisprudência da CORTE quanto à eficácia ex tunc, como regra, da
decisão proferida em controle concentrado, a legitimar a ação rescisória
de sentença que, mesmo anterior, lhe seja contrária" (STF – Pleno – Rcl.
2600 AgR/SE – Rel. Min. CEZAR PELUSO, decisão: 14/9/2006). Há,
porém, necessidade de ajuizamento de ação rescisória, pois o exercício do
controle concentrado de constitucionalidade, conforme apontado pelo
STF, "não produz a automática reforma ou rescisão das decisões
anteriores que tenham adotado entendimento diferente. Para que haja
essa reforma ou rescisão, será indispensável a interposição do recurso
próprio ou, se for o caso, a propositura da ação rescisória (STF –
Repercussão Geral – RE 730462/SP – Rel. Min. TEORI ZAVASCKI –
decisão: 28/5/2015 (RE 730462-RG, Tema 733 da repercussão geral).

Assim, a declaração de inconstitucionalidade:

"decreta a total nulidade dos atos emanados do Poder


Público, desampara as situações constituídas sob sua égide e
inibe — ante a sua inaptidão para produzir efeitos jurídicos
válidos — a possibilidade de invocação de qualquer direito”,
(RTJ 146/461)

A Lei 9.868/1999 também previu, expressamente, que a declaração


de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a
interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de
inconstitucionalidade sem redução de texto, têm efeitos vinculantes em
relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública
federal, estadual e municipal.

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Dessa forma, seguindo a orientação da EC 03, de 17 de março de


1993, que instituiu efeitos vinculantes à ação declaratória de
constitucionalidade, a nova lei previu o obrigatório respeito das
decisões do STF, em sede de ação direta de inconstitucionalidade.

Essa previsão foi constitucionalizada com a edição da EC 45/20, que,


alterando a redação do § 2° do art. 102, da Constituição Federal,
estabeleceu eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, para as decisões
definitivas de mérito, proferidas pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,
nas ações diretas de inconstitucionalidade.

Assim, uma vez prolatada a decisão pelo STF, haverá uma


vinculação obrigatória em relação a todos os órgãos do Poder Executivo e
do Poder Judiciário, que deverão pautar o exercício de suas funções na
interpretação constitucional dada pela CORTE SUPREMA, afastando-se,
inclusive, a possibilidade de controle difuso por parte dos demais órgãos
do Poder Judiciário. Os efeitos vinculantes se referem, inclusive, à ratio
decidendi, para se evitar qualquer tentativa de desrespeito da decisão
em sede de jurisdição constitucional.

Nesse exato sentido, confira-se excerto do voto do Relator, Min.


CELSO DE MELLO , na Rcl 2986 MC / SE, Julgado em 11/03/2005, DJ de
18/03/2005:

EMENTA: FISCALIZAÇÃO ABSTRATA DE


CONSTITUCIONALIDADE. RECONHECIMENTO, PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DA VALIDADE
CONSTITUCIONAL DA LEGISLAÇÃO DO ESTADO DO
PIAUÍ QUE DEFINIU, PARA OS FINS DO ART. 100, § 3º, DA
CONSTITUIÇÃO, O SIGNIFICADO DE OBRIGAÇÃO DE
PEQUENO VALOR. DECISÃO JUDICIAL, DE QUE ORA SE
RECLAMA, QUE ENTENDEU INCONSTITUCIONAL

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RE 949297 / CE

LEGISLAÇÃO, DE IDÊNTICO CONTEÚDO, EDITADA PELO


ESTADO DE SERGIPE. ALEGADO DESRESPEITO AO
JULGAMENTO, PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DA
ADI 2.868 (PIAUÍ). EXAME DA QUESTÃO RELATIVA AO
EFEITO TRANSCENDENTE DOS MOTIVOS
DETERMINANTES QUE DÃO SUPORTE AO JULGAMENTO,
"IN ABSTRACTO", DE CONSTITUCIONALIDADE OU DE
INCONSTITUCIONALIDADE. DOUTRINA. PRECEDENTES.
ADMISSIBILIDADE DA RECLAMAÇÃO. MEDIDA
CAUTELAR DEFERIDA.
DECISÃO: Sustenta-se, nesta sede processual - presentes
os motivos determinantes que substanciaram a decisão que esta
Corte proferiu na ADI 2.868/PI - que o ato, de que ora se
reclama, teria desrespeitado a autoridade desse julgamento
plenário, que restou consubstanciado em acórdão assim
ementado:

"AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


LEI 5.250/2002 DO ESTADO DO PIAUÍ. PRECATÓRIOS.
OBRIGAÇÕES DE PEQUENO VALOR. CF, ART. 100, § 3º,
ADCT, ART. 87. Possibilidade de fixação, pelos estados-
membros, de valor referencial inferior ao do art. 87 do
ADCT, com a redação dada pela Emenda Constitucional
37/2002. Ação direta julgada improcedente." (ADI 2.868/PI,
Rel. p/ o acórdão Min. JOAQUIM BARBOSA - grifei) O
litígio jurídico-constitucional suscitado em sede de
controle abstrato (ADI 2.868/PI), examinado na
perspectiva do pleito ora formulado pelo Estado de
Sergipe, parece introduzir a possibilidade de discussão, no
âmbito deste processo reclamatório, do denominado efeito
transcendente dos motivos determinantes da decisão
declaratória de constitucionalidade proferida no
julgamento plenário da já referida ADI 2.868/PI, Rel. p/ o
acórdão Min. JOAQUIM BARBOSA.
Cabe registrar, neste ponto, por relevante, que o Plenário
do Supremo Tribunal Federal, no exame final da Rcl 1.987/DF,

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RE 949297 / CE

Rel. Min. MAURÍCIO CORREA, expressamente admitiu a


possibilidade de reconhecer-se, em nosso sistema jurídico, a
existência do fenômeno da "transcendência dos motivos que
embasaram a decisão" proferida por esta Corte, em processo de
fiscalização normativa abstrata, em ordem a proclamar que o
efeito vinculante refere-se, também, à própria "ratio decidendi",
projetando-se, em conseqüência, para além da parte dispositiva
do julgamento, "in abstracto", de constitucionalidade ou de
inconstitucionalidade.
Essa visão do fenômeno da transcendência parece refletir
a preocupação que a doutrina vem externando a propósito
dessa específica questão, consistente no reconhecimento de que
a eficácia vinculante não só concerne à parte dispositiva, mas
refere-se, também, aos próprios fundamentos determinantes do
julgado que o Supremo Tribunal Federal venha a proferir em
sede de controle abstrato, especialmente quando consubstanciar
declaração de inconstitucionalidade, como resulta claro do
magistério de IVES GANDRA DA SILVA MARTINS/GILMAR
FERREIRA MENDES ("O Controle Concentrado de
Constitucionalidade", p. 338/345, itens ns. 7.3.6.1 a 7.3.6.3, 2001,
Saraiva) e de ALEXANDRE DE MORAES ("Constituição do
Brasil Interpretada e Legislação Constitucional", p. 2.405/2.406,
item n. 27.5, 2ª ed., 2003, Atlas).
Na realidade, essa preocupação, realçada pelo magistério
doutrinário, tem em perspectiva um dado de insuperável relevo
político-jurídico, consistente na necessidade de preservar-se,
em sua integralidade, a força normativa da Constituição, que
resulta da indiscutível supremacia, formal e material, de que
se revestem as normas constitucionais, cuja integridade,
eficácia e aplicabilidade, por isso mesmo, hão de ser
valorizadas, em face de sua precedência, autoridade e grau
hierárquico, como enfatiza o magistério doutrinário
(ALEXANDRE DE MORAES, "Constituição do Brasil
Interpretada e Legislação Constitucional", p. 109, item n. 2.8, 2ª
ed., 2003, Atlas; OSWALDO LUIZ PALU, "Controle de
Constitucionalidade", p. 50/57, 1999, RT; RITINHA ALZIRA

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RE 949297 / CE

STEVENSON, TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR. e MARIA


HELENA DINIZ, "Constituição de 1988: Legitimidade, Vigência
e Eficácia e Supremacia", p. 98/104, 1989, Atlas; ANDRÉ
RAMOS TAVARES, "Tribunal e Jurisdição Constitucional", p.
8/11, item n. 2, 1998, Celso Bastos Editor; CLÈMERSON
MERLIN CLÈVE, "A Fiscalização Abstrata de
Constitucionalidade no Direito Brasileiro", p. 215/218, item n. 3,
1995, RT, v.g.).
Cabe destacar, neste ponto, tendo presente o contexto em
questão, que assume papel de fundamental importância a
interpretação constitucional derivada das decisões proferidas
pelo Supremo Tribunal Federal, cuja função institucional, de
"guarda da Constituição" (CF, art. 102, "caput"), confere-lhe o
monopólio da última palavra em tema de exegese das normas
positivadas no texto da Lei Fundamental, como tem sido
assinalado, com particular ênfase, pela jurisprudência desta
Corte Suprema: "(...) A interpretação do texto constitucional
pelo STF deve ser acompanhada pelos demais Tribunais. (...)
A não-observância da decisão desta Corte debilita a força
normativa da Constituição. (...)." (RE 203.498-AgR/DF, Rel.
Min. GILMAR MENDES – grifei)”

O obiter dictum, por sua vez, "não integra o dispositivo da decisão,


nem se sujeita ao efeito vinculante" (STF – Pleno – Rcl 2475/MG – Agravo
Regimental – Rel. p/ o acórdão Min. MARCO AURÉLIO, decisão:
2/8/2007).

Conforme decidido pelo STF, também o efeito vinculante consiste


em "atribuir ao julgado uma qualificada força impositiva e obrigatória em
relação a supervenientes atos administrativos ou judiciais (= eficácia
executiva ou instrumental)" (STF – Pleno – RE 730.462/SP – Repercussão
Geral – Rel. Min. TEORI ZAVASCKI).

Entendemos que os efeitos vinculantes somente se aplicam ao


legislador em duas hipóteses: (a) não poderá editar norma derrogatória

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RE 949297 / CE

da decisão do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL; (b) estará impedido de


editar normas que convalidem os atos nulos praticados com base na lei
declarada inconstitucional. Em ambas as hipóteses estará flagrante a
intenção do legislador em limitar total ou parcialmente a decisão da
Corte.

Não será possível, porém, a vinculação do Legislador em relação ao


mérito da matéria decidida pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, uma
vez que poderá editar novas normas com objeto oposto ao decidido pela
Corte Suprema, em virtude de sua absoluta liberdade de criação
legislativa, garantindo-se, dessa forma, a possibilidade de evolução.
Dessa forma, caso o Congresso Nacional edite nova lei disciplinando
matéria de maneira conflituosa com entendimento anterior do STF, em
sede de controle concentrado — seja por repetir lei anterior, seja por
redigir entendimento muito semelhante — caberá ao SUPREMO, caso
provocado novamente, reanalisar a matéria, no sentido de sua
constitucionalidade.

Os efeitos vinculantes não devem ser aplicados ao legislador no


tocante à possibilidade de edição de novas normas com preceitos
semelhantes ou idênticos aos declarados inconstitucionais, uma vez que,
nessas hipóteses, haverá a possibilidade de nova análise da
constitucionalidade da matéria pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,
possibilitando uma evolução ou adequação às novas condições jurídicas,
sociais e políticas. A ausência de efeitos vinculantes ao Legislador
possibilita o dinamismo interpretativo e a constante adaptação e mutação
constitucional, não sendo possível, portanto, limitar o processo legislativo
em virtude dos efeitos vinculantes derivados do controle concentrado de
constitucionalidade, de maneira a impedir a tramitação e votação de
projeto de lei contrário ao entendimento do STF em determinada matéria
(STF, Rcl 14156 MC/AP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe de 5/4/2013).
Não foi outro, o entendimento do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,
pelo qual os efeitos vinculantes não se aplicam ao Poder Legislativo, pois

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isso "afetaria, a relação de equilíbrio entre o tribunal constitucional e o


legislador, reduzindo o último a papel subordinado perante o poder
incontrolável do primeiro, acarretando prejuízo do espaço democrático
representativo da legitimidade política do órgão legislativo, bem como
criando mais um fator de resistência a produzir o inaceitável fenômeno
da chamada fossilização da Constituição" (STF – Pleno – Rcl 2617
AgR/MG – Rel. Min. CEZAR PELUSO; STF; STF – Rcl 5442/PE –Medida
cautelar – Rel. Min. CELSO DE MELLO, decisão: 31/8/2007; RTJ 157/773;
RTJ 193/858; RTJ 150/726-727;RTJ 187/150).

O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL fixou novo entendimento em


relação à sua vinculação em sede de jurisdição constitucional. A
vinculação do próprio Pretório Excelso aos seus julgados, em sede de
controle concentrado, era o entendimento pacificado pelo TRIBUNAL,
por entender que, na análise concentrada da constitucionalidade das leis
e atos normativos, não estaria o STF vinculado à causa de pedir, tendo
pois cognição plena da matéria, e, portanto, podendo examinar e esgotar
todos os seus aspectos constitucionais (STF – 1ª T. – Agravo de
Instrumento 174.811-7/RS – Rel. Min. MOREIRA ALVES, Diário da
Justiça, Seção I, 2 maio 1996, p. 13.770).
Esse posicionamento foi alterado pela nova composição plenária do
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, que

"embora salientando a necessidade de motivação idônea,


crítica e consciente para justificar eventual reapreciação de uma
questão já tratada pela Corte, concluiu no sentido de admitir o
julgamento das ações diretas, por considerar que o efeito
vinculaste previsto no § 2º do art. 102 da CF não condiciona o
próprio STF, limitando-se aos demais órgãos do Poder
Judiciário e ao Poder Executivo, e que, no caso, ficou
demonstrada a distinção entre os dispositivos impugnados".
(STF – Pleno – Adin 2.675/PE – Rel. Min. CARLOS VELLSO,
decisão: 26/11/2003 e STF – Pleno – Adin 2.777/SP – Rel. Min.
CESAR PELUSO, decisão: 27-11-2003)

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RE 949297 / CE

A vinculação obrigatória ocorrerá nas quatro seguintes situações:

a) procedência da ação: a norma foi declarada


inconstitucional;
b) improcedência da ação: a norma foi declarada
constitucional, permanecendo no ordenamento jurídico;
c) interpretação conforme a Constituição;
d) declaração parcial de inconstitucionalidade sem
redução do texto;
e) interpretação constitucional e o ativismo judicial
(Neoconstitucionalismo e Positivismo)

Essa vinculação obrigatória decorre da própria racionalidade do


sistema concentrado de constitucionalidade, onde compete ao SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, por força da escolha política realizada pelo
legislador constituinte originário, a guarda da Constituição Federal.

Assim, urna vez que interprete a norma constitucional


abstratamente, em sede de ação direta de inconstitucionalidade, a CORTE
SUPREMA define seu significado e alcance, que deverá ser respeitado por
todos os demais órgãos estatais, sob pena de desrespeito à sua função
constitucional (O STF declarou a constitucionalidade do art. 28 da Lei nº
9.868, que prevê os efeitos vinculantes das ações diretas de
inconstitucionalidade (Reclamação – AgR – questão de ordem – 1.880/SP
– Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, decisão: 6/11/2002).

Importante, nesse sentido, lembrar a lição de Thomas Cooley, ao


defender a força obrigatória dos precedentes da Corte Suprema norte-
americana em sede de jurisdição constitucional, quando afirma que "os
diversos departamentos governamentais são iguais em dignidade e
autoridade, que é coordenada, não podendo nenhum deles submeter à
outra a sua jurisdição, nem privar de qualquer porção de seu poder
constitucional. Mas o poder judiciário é a autoridade suprema na
interpretação da Constituição e na interpretação das leis, e as suas

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RE 949297 / CE

interpretações devem ser aceitas e observadas pelos outros


departamentos. Suas sentenças tornam-se leis do país nos pontos
decididos por eles, e a desobediência ou desatenção que sofram, tanto
de um simples particular como de um funcionário público, produzirá
nova controvérsia que em última instância virá a ser decidida da mesma
maneira pelo poder judiciário" (COOLEY, Thomas. Princípios gerais de
direito constitucional dos Estados Unidos da América do Norte. 2. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1982, p. 165 e 166).

Na ADI 3.345/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, o Plenário do STF


reafirmou seu mister constitucional (art. 102, caput, CF) ao assentar que ao
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, como guardião da Constituição, foi-
lhe conferido “a singular prerrogativa de dispor do monopólio da última
palavra em tema de exegese das normas inscritas no texto da Lei Fundamental.”
Seguindo essa vertente, no julgamento da ADI 3659, de minha
relatoria, Dje de 8/5/2019, o Tribunal Pleno placitou o entendimento no
sentido de que a competência outorgada pelo art. 102, I, a, da
Constituição, ao SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL de exercer, com
soberana autoridade, o controle concentrado de constitucionalidade das
normas não pode ficar subordinada ou limitada por decisão de qualquer
outro tribunal.

Não obstante, nesse precedente a questão posta em análise era saber


se a decisão de mérito proferida pelo Tribunal de Justiça e transitada em
julgado vincula o STF, a ponto de comprometer o objeto da ação direta
perante ele proposta, os fundamentos ali aduzidos guarda estreita
aderência com a controvérsia ora sob exame.

Na ocasião, em meu voto, consignei que a questão que se põe é a de


saber se a decisão de mérito proferida pelo Tribunal de Justiça e
transitada em julgado vincula o Supremo Tribunal Federal, a ponto de
comprometer o objeto da ação direta perante ele proposta. A resposta
afirmativa - sugerida no parecer da Procuradoria Geral da República e

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que, indiretamente, também decorreria da orientação defendida no obter


dictum antes referido (do Ministro MOREIRA ALVES, na Rcl 383), não
pode ser aprovada, com a devida vênia, tout court. Cabem importantes
distinções. Realmente, havendo ações simultâneas com o mesmo pedido
de inconstitucionalidade de norma estadual, uma perante Tribunal de
Justiça, outra perante o STF, podem-se imaginar as seguintes situações:

Primeira: o TJ julga a causa e, com base em norma


constitucional tipicamente estadual , declara a sua procedência
(reconhece a inconstitucionalidade);

Segunda: o TJ julga a causa e, com base em norma


constitucional tipicamente estadual , declara a sua
improcedência (reconhece a constitucionalidade);

Terceira: o TJ julga a causa e, com base em norma


constitucional estadual reproduzida da Constituição Federal ,
declara a sua procedência (reconhece a inconstitucionalidade);

Quarta: o TJ julga a causa e, com base em norma


constitucional estadual reproduzida da Constituição Federal ,
declara a sua improcedência (reconhece a constitucionalidade).

No primeiro caso se mostra evidente o prejuízo da ação em curso


perante o STF. É que, se a norma estadual é declarada inconstitucional
por incompatibilidade com dispositivo constitucional tipicamente
estadual (sem similar na Constituição Federal), ela seria retirada do
ordenamento jurídico, situação que não se alteraria, de modo algum,
mesmo que o STF viesse a declarar a sua constitucionalidade perante a
Constituição Federal.

O mesmo, todavia, não ocorreria no segundo caso. Se o Tribunal de


Justiça afirma a constitucionalidade da norma estadual em face de
dispositivo constitucional tipicamente estadual, nada impede que essa
mesma norma venha a ser declarada inconstitucional pelo STF, por

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incompatibilidade com a Constituição Federal. É evidente, portanto, que


a ação perante o Supremo não fica prejudicada com a decisão do tribunal
local, assim como não fica inibida, se for o caso, a propositura de ação
nova, na Corte Suprema, com esse mesmo objetivo.

Essa mesma solução deve governar o desfecho nas duas últimas


situações acima aventadas (terceira e quarta), embora por fundamento
diferente. É que a Constituição atribui ao STF a função institucional de
guardião de suas normas (art. 102), atribuindo-lhe, entre outras, a
competência para julgar, mediante ação direta, a constitucionalidade de
preceitos estaduais contestados em face de norma constitucional federal
(art. 102, I, a ). Ora, se um Tribunal de Justiça, apreciando ação de sua
competência, faz juízo de mérito sobre a legitimidade de norma estadual
adotando como parâmetro norma da Constituição Federal simplesmente
reproduzida na Constituição do Estado, a eficácia dessa decisão não pode
alcançar a Suprema Corte, a ponto de impedir ou inibir o exaurimento de
sua função de guardião da Constituição Federal.

Certamente é preciso estabelecer forma de harmonização na atuação


dos dois diferentes tribunais em domínio jurídico comum a ambos, mas
isso não pode se dar mediante pura e simples eliminação da competência
da Supremo. Não há como aceitar, sem grave ofensa à Constituição e
injustificável inversão da ordem hierárquica do sistema judiciário nela
estabelecido, que o exercício do controle concentrado de
constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal e a autoridade
das decisões por ele proferidas nesse domínio, possam ficar subordinados
ou limitados por decisão de qualquer outro tribunal.
Assim, a solução que se mostra adequada para superar o impasse
envolve o plano da eficácia da decisão da Corte Estadual. Não se contesta,
aqui, a existência, a validade e mesmo a eficácia erga omnes de decisão de
mérito em ação de controle concentrado proferida pelas Cortes Estaduais.
Todavia, quando essa decisão fizer juízo sobre a constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade de norma estadual em face de preceito da

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Constituição do Estado que constitua reprodução (obrigatória ou não) de


preceito da Constituição Federal, há de se entender que, em nome da
posição de supremacia da Suprema Corte, a eficácia da decisão estadual
ficará necessariamente revestida de uma condição resolutória implícita,
representada por eventual decisão em sentido contrário do Supremo
Tribunal Federal.

Assim considerando, há de se concluir que a decisão de mérito


proferida por Tribunal de Justiça, em ação em que se questiona a
legitimidade de preceito normativo estadual em face de norma da
Constituição de Estado, que reproduza norma da Constituição Federal,
não prejudica o julgamento de ação com o mesmo objeto, ajuizada
perante o Supremo Tribunal Federal, nem inibe, se for o caso, o
ajuizamento posterior de ação semelhante perante a Suprema Corte. Em
qualquer dessas situações, hão de ser preservadas integralmente as
elevadas funções institucionais do Supremo Tribunal Federal, nelas
incluída a competência outorgada pelo art. 102, I, a , da Constituição, de
exercer, com soberana autoridade, o controle concentrado de
constitucionalidade das normas.

Em artigo doutrinário, CLAUDIO XAVIER SEEFELDER FILHO e


GUILHERME PEREIRA PINHEIRO prelecionam que, “Uma vez concluído
o processo de edição de uma lei pelo Poder Legislativo, inicia-se um longo período
de legítima movimentação interpretativa da norma, na qual as partes, advogados,
fiscais da lei e magistrados em diversas instâncias a interpretam e a aplicam das
mais variadas formas. E em se tratando de questão que envolva o cotejo da
Constituição Federal, essa movimentação interpretativa cessará com a apreciação
do tema pela autoridade com missão constitucional de dar a palavra final sobre
matéria constitucional. Uma vez realizadas a interpretação e a questão
constitucional pelo guardião da Constituição, o ciclo de interpretação da norma
está encerrado e cabe a todos o respeito à força normativa da Constituição, tal
qual interpretado pelo STF” (Igualdade na Jurisdição Constitucional
Tributária, p. 3).

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Assim, temos que os efeitos da declaração de inconstitucionalidade


no controle abstrato brasileiro são erga omnes, ex tunc, e vinculantes.

Passemos, então, a analisar os efeitos dessas decisões sobre as


relações tributárias de trato sucessivo.

IV - OS EFEITOS DA DECISÃO DO STF EM CONTROLE


CONCENTRADO DE INCONSTITUCIONALIDADE SOBRE
RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIO CONTINUADA

- Os Temas 360 e 733 da repercussão geral:

Na manifestação a respeito da repercussão geral da presente matéria


recursal, o ilustre Relator, Ministro EDSON FACHIN, pontuou a distinção
deste caso entre e o assentado no Tema 733 da sistemática da repercussão
geral (RE 730.462, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, DJe de 9/9/2015).

Registrou que a situação debatida nesta lide é diametralmente


oposta ao Tema supracitado, eis que, neste último, o cerne do debate
residia na declaração de inconstitucionalidade de norma pelo STF após o
trânsito em julgado de sentença que decidira de forma contrária a esse
entendimento. Agora, tem-se para exame situação em que a decisão
superveniente da SUPREMA CORTE foi no sentido da
constitucionalidade.

Todavia, o Relator consignou existir uma lógica vinculação entre as


razões de decidir do referido paradigma e o presente.

Efetivamente, é isso que se verifica. A ação direta de


inconstitucionalidade, a partir da edição da Lei 9.868/1999, tem natureza
dúplice, pois sua decisão de mérito acarreta os mesmos efeitos, seja pela
procedência (inconstitucionalidade), seja pela improcedência
(constitucionalidade), desde que proclamada pela maioria absoluta dos

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ministros do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

Assim, permito-me rememorar as razões de decidir aduzidas pelo


Ministro TEORI ZAVASCKI, Relator do Tema 733 (RE 730.462-RG, DJe de
9/9/2015) e Tema 360 (RE 611.503-RG, Dje de 19/3/2019). Neste último,
debateu-se matéria análoga à decidida naquele, desta feita, à luz das
novas disposições trazidas pelo CPC/2015.

No naquele primeiro leading case, esta CORTE fixou a seguinte tese


de repercussão geral:

Tema 733 - A decisão do Supremo Tribunal Federal


declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de
preceito normativo não produz a automática reforma ou
rescisão das decisões anteriores que tenham adotado
entendimento diferente. Para que tal ocorra, será indispensável
a interposição de recurso próprio ou, se for o caso, a
propositura de ação rescisória própria, nos termos do art. 485
do CPC, observado o respectivo prazo decadencial (art. 495).

O acórdão do precedente foi assim ementado:

Ementa: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL.


DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE
PRECEITO NORMATIVO PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. EFICÁCIA NORMATIVA E EFICÁCIA EXECUTIVA
DA DECISÃO: DISTINÇÕES. INEXISTÊNCIA DE EFEITOS
AUTOMÁTICOS SOBRE AS SENTENÇAS JUDICIAIS
ANTERIORMENTE PROFERIDAS EM SENTIDO
CONTRÁRIO. INDISPENSABILIDADE DE INTERPOSIÇÃO
DE RECURSO OU PROPOSITURA DE AÇÃO RESCISÓRIA
PARA SUA REFORMA OU DESFAZIMENTO. 1. A sentença do
Supremo Tribunal Federal que afirma a constitucionalidade ou
a inconstitucionalidade de preceito normativo gera, no plano do
ordenamento jurídico, a consequência (= eficácia normativa) de

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manter ou excluir a referida norma do sistema de direito. 2.


Dessa sentença decorre também o efeito vinculante, consistente
em atribuir ao julgado uma qualificada força impositiva e
obrigatória em relação a supervenientes atos administrativos ou
judiciais (= eficácia executiva ou instrumental), que, para
viabilizar-se, tem como instrumento próprio, embora não único,
o da reclamação prevista no art. 102, I, l, da Carta
Constitucional. 3. A eficácia executiva, por decorrer da sentença
(e não da vigência da norma examinada), tem como termo
inicial a data da publicação do acórdão do Supremo no Diário
Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999). É, consequentemente, eficácia
que atinge atos administrativos e decisões judiciais
supervenientes a essa publicação, não os pretéritos, ainda que
formados com suporte em norma posteriormente declarada
inconstitucional. 4. Afirma-se, portanto, como tese de
repercussão geral que a decisão do Supremo Tribunal Federal
declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de
preceito normativo não produz a automática reforma ou
rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado
entendimento diferente; para que tal ocorra, será indispensável
a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a
propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485,
V, do CPC, observado o respectivo prazo decadencial (CPC, art.
495). Ressalva-se desse entendimento, quanto à
indispensabilidade da ação rescisória, a questão relacionada à
execução de efeitos futuros da sentença proferida em caso
concreto sobre relações jurídicas de trato continuado. 5. No
caso, mais de dois anos se passaram entre o trânsito em julgado
da sentença no caso concreto reconhecendo, incidentalmente, a
constitucionalidade do artigo 9º da Medida Provisória 2.164-41
(que acrescentou o artigo 29-C na Lei 8.036/90) e a
superveniente decisão do STF que, em controle concentrado,
declarou a inconstitucionalidade daquele preceito normativo, a
significar, portanto, que aquela sentença é insuscetível de
rescisão. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
(RE 730.462, Relator(a): TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, DJe

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de 9/9/2015)

No seu voto, o Relator consignou:

“4. É importante distinguir essas duas espécies de eficácia


(a normativa e a executiva), pelas consequências que operam
em face das situações concretas. A eficácia normativa (=
declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade)
se opera ex tunc, porque o juízo de validade ou nulidade, por
sua natureza, dirige-se ao próprio nascimento da norma
questionada. Todavia, quando se trata da eficácia executiva, não
é correto afirmar que ele tem eficácia desde a origem da norma.
É que o efeito vinculante, que lhe dá suporte, não decorre da
validade ou invalidade da norma examinada, mas, sim, da
sentença que a examina. Derivando, a eficácia executiva, da
sentença (e não da vigência da norma examinada), seu termo
inicial é a data da publicação do acórdão do Supremo no Diário
Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999). É, consequentemente, eficácia
que atinge atos administrativos e decisões judiciais
supervenientes a essa publicação, não atos pretéritos. Os atos
anteriores, mesmo quando formados com base em norma
inconstitucional, somente poderão ser desfeitos ou rescindidos,
se for o caso, em processo próprio. Justamente por não estarem
submetidos ao efeito vinculante da sentença, não podem ser
atacados por simples via de reclamação. É firme nesse sentido a
jurisprudência do Tribunal: Inexiste ofensa à autoridade de
pronunciamento do Supremo Tribunal Federal se o ato de que
se reclama é anterior à decisão emanada da Corte Suprema. A
ausência de qualquer parâmetro decisório, previamente fixado
pelo Supremo Tribunal Federal, torna inviável a instauração de
processo de reclamação, notadamente porque inexiste o
requisito necessário do interesse de agir (Rcl 1723 AgR-QO,
Min. Celso de Mello, Pleno, DJ de 6.4.2001). No mesmo sentido:
Rcl 5388 AgR, Min. Roberto Barroso, 1ª Turma, DJe de 23.10.14;
Rcl. 12741 AgR, 2ª Turma, Min. Ricardo Lewandowski, DJe de
18.9.201; Rcl 4962, Min. Cármen Lúcia, 2ª Turma, DJe

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25.6.2014)”.

Esse entendimento foi reafirmado no julgamento da ADI 2.418 (Rel.


Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, DJe de 17/11/2016), julgada já na
vigência do CPC/2015:

Ementa: CONSTITUCIONAL. LEGITIMIDADE DAS


NORMAS ESTABELECENDO PRAZO DE TRINTA DIAS
PARA EMBARGOS À EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA
PÚBLICA (ART. 1º-B DA LEI 9.494/97) E PRAZO
PRESCRICIONAL DE CINCO ANOS PARA AÇÕES DE
INDENIZAÇÃO CONTRA PESSOAS DE DIREITO PÚBLICO E
PRESTADORAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS (ART. 1º-C DA LEI
9.494/97). LEGITIMIDADE DA NORMA PROCESSUAL QUE
INSTITUI HIPÓTESE DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO
EXECUTIVO JUDICIAL EIVADO DE
INCONSTITUCIONALIDADE QUALIFICADA (ART. 741,
PARÁGRAFO ÚNICO E ART. 475-L, § 1º DO CPC/73; ART. 525,
§ 1º, III E §§ 12 E 14 E ART. 535, III, § 5º DO CPC/15). 1. É
constitucional a norma decorrente do art. 1º-B da Lei 9.494/97,
que fixa em trinta dias o prazo para a propositura de embargos
à execução de título judicial contra a Fazenda Pública. 2. É
constitucional a norma decorrente do art. 1º-C da Lei 9.494/97,
que fixa em cinco anos o prazo prescricional para as ações de
indenização por danos causados por agentes de pessoas
jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito
privado prestadoras de serviços públicos, reproduzindo a regra
já estabelecida, para a União, os Estados e os Municípios, no art.
1º do Decreto 20.910/32. 3 . São constitucionais as disposições
normativas do parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1º do
art. 475-L, ambos do CPC/73, bem como os correspondentes
dispositivos do CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art.
535, § 5º. São dispositivos que, buscando harmonizar a
garantia da coisa julgada com o primado da Constituição,
vieram agregar ao sistema processual brasileiro um
mecanismo com eficácia rescisória de sentenças revestidas de

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vício de inconstitucionalidade qualificado, assim


caracterizado nas hipóteses em que (a) a sentença exequenda
esteja fundada em norma reconhecidamente inconstitucional
seja por aplicar norma inconstitucional, seja por aplicar
norma em situação ou com um sentido inconstitucionais; ou
(b) a sentença exequenda tenha deixado de aplicar norma
reconhecidamente constitucional; e (c) desde que, em
qualquer dos casos, o reconhecimento dessa
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade tenha
decorrido de julgamento do STF realizado em data anterior ao
trânsito em julgado da sentença exequenda. 4. Ação julgada
improcedente (grifos nossos)

Posteriormente, no Tema 360 da repercussão geral (Dje de 2/4/2019),


adotou-se a mesma tese fixada na parte final da ementa acima transcrita:

“São constitucionais as disposições normativas do


parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1º do art. 475-L, ambos
do CPC/73, bem como os correspondentes dispositivos do
CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art. 535, § 5º. São
dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da coisa
julgada com o primado da Constituição, vieram agregar ao
sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia
rescisória de sentenças revestidas de vício de
inconstitucionalidade qualificado, assim caracterizado nas
hipóteses em que (a) a sentença exequenda esteja fundada em
norma reconhecidamente inconstitucional, seja por aplicar
norma inconstitucional, seja por aplicar norma em situação ou
com um sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença exequenda
tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente
constitucional; e (c) desde que, em qualquer dos casos, o
reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do STF
realizado em data anterior ao trânsito em julgado da sentença
exequenda.”

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De curial importância registrar que esses precedentes não


alcançaram a controvérsia em que debatidas relações jurídicas de trato
continuado.

Porém, o que se extrai dos julgados paradigmas acima é que a


jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL firmou-se no
sentido de que a decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade de uma norma com efeito ex tunc tem aptidão para
desconstituir sentença transitada em julgado que decidiu em sentido
contrário ao entendimento firmado, desde esta tenha sido prolatada em
data anterior à publicação do acórdão desta CORTE.

Do contrário, ou seja, se o reconhecimento da constitucionalidade ou


da inconstitucionalidade pela SUPREMA CORTE tiver ocorrido após o
trânsito em julgado da sentença, a rescisão da sentença divergente
depende da propositura da ação rescisória, observado o respectivo prazo
decadencial.

Assim, prestigia-se a coisa julgada, mas não se admite que, já


havendo posicionamento desta CORTE quanto à constitucionalidade ou
inconstitucionalidade de uma norma, haja desrespeito à autoridade
dessas decisões.

Ainda, como bem ressaltou o Ilustre Relator, em seu voto, aqui não
se trata de “relativização” da coisa julgada, muito menos estão envolvidas
as mesmas questões fáticas e jurídicas que embasaram esta CORTE, no
julgamento do Tema 392 da repercussão geral, RE 363889, Rel. Min. DIAS
TOFFOLI, Dje de 16/12/2011, a possibilitar a superação da coisa julgada
em nova ação de paternidade em face de viabilidade de realização de
exame de DNA.

Efetivamente, o que se debate são os limites da coisa julgada diante


de julgamento, em controle concentrado pelo SUPREMO TRIBUNAL

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FEDERAL, que declara a constitucionalidade de tributo anteriormente


considerado inconstitucional, por decisão transitada em julgado, em
demanda individual em que se buscou a declaração de inexistência de
relação jurídica-tributária de trato continuado.

Importante mencionar, por relevante, que no Tema 136 da


repercussão geral (RE 590.809, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJE de
24/11/2014), a SUPREMA CORTE, fixou tese com o seguinte teor: Não cabe
ação rescisória quando o julgado estiver em harmonia com o entendimento
firmado pelo Plenário do Supremo à época da formalização do acórdão
rescindendo, ainda que ocorra posterior superação do precedente.

Ainda, devo registrar o conteúdo da Súmula 343 do STF que


prescreve: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando
a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação
controvertida nos tribunais.

Cabe, porém, acrescentar o esclarecimento que foi feito pelo Min.


DIAS TOFFOLI, no AR 2.572 AgR (Rel. Min. GILMAR MENDES, Redator
p/ o acórdão Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe de 21/3/2017,
acerca dos enunciados acima transcritos:

“Acompanho o relator quanto ao tema de fundo, porém


peço vênia para manter o meu entendimento (...). Entendo que
é cabível ação rescisória fundada em violação a literal
dispositivo de lei (art. 485, V, do antigo CPC), quando a decisão
rescindenda tiver se baseado em interpretação constitucional
frontalmente contrária à própria Constituição Federal ou em
interpretação tida como incompatível pelo Supremo Tribunal
Federal, ainda que seja pela posterior declaração de
inconstitucionalidade superveniente da legislação que amparou
o título executivo transitado em julgado, não se aplicando a
ratio essendi da Súmula 343 do STF. (...) É sabido que o
Plenário desta Corte, recentemente, passou a entender

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RE 949297 / CE

aplicável a súmula 343 do STF, inadmitindo ação rescisória


fundada em ofensa à literal dispositivo de lei (art. 485, V, do
CPC), aos casos de interpretação de norma constitucional
controvertida à época da decisão rescindenda,
consubstanciada no RE 590.809 [Tema 136], Pleno, Rel. Min.
Marco Aurélio, DJe 24.11.2014 (discussão envolvendo
creditamento de IPI). Ocorre que tal julgado teve como pano
de fundo a existência de divergência de entendimento interna
no próprio STF, de modo a manter o aresto transitado em
julgado quando a jurisprudência do Pretório Excelso era
vacilante. Por outro lado, não há como aplicar a súmula 343 do
STF (...) aos casos em que o posicionamento do Supremo
Tribunal Federal sempre decidiu no mesmo sentido (...)”
(grifo nosso)

Pois bem, considerando tudo o que se expôs até aqui, passo à análise
da controvérsia sob exame.

V - COISA JULGADA NA RELAÇÃO TRIBUTÁRIA DE TRATO


CONTINUADO

A peculiaridade, na espécie, reside no fato de que aqui se cuida de


relação tributária de trato continuado, ou seja, do tipo que se sucede no
tempo, e se renova a cada exercício, dando ensejo a consecutivas
incidências da norma tributária.

Porém, não se trata de relação jurídica continuativa em sentido


estrito, pois, a cada período de apuração, nasce um novo fato gerador que
irá se extinguir com o pagamento, ou com as demais hipóteses previstas
no artigo 156 do Código Tributário Nacional. Assim, permanecendo o
arcabouço jurídico subjacente ao tributo inalterado, as relações tributárias
supervenientes permanecem recebendo o mesmo tratamento.

No entanto, "a declaração de intributabilidade, no


pertinente a relações jurídicas originadas de fatos geradores que se

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RE 949297 / CE

sucedem no tempo, não pode ter o caráter de imutabilidade e de


normatividade a abranger eventos futuros" (RE 99.435-1, Relator Ministro
RAFAEL MAYER, 1ª Turma, in "R.T.J." 106/1.189)

A respeito do julgado acima, o Parquet, em seu parecer,


aduz que (fl. 10, Vol. 2):

Esse entendimento foi ratificado pelo Plenário, no


julgamento da Ação Rescisória n° 1.239-9-MG, cujo Relator, o
Ministro CARLOS MADEIRA, acolheu o Parecer do então
Procurador-Geral da República, o hoje Ministro SEPÚLVEDA
PERTENCE, pela improcedência da ação. No referido julgado, o
Emérito Ministro MOREIRA ALVES esclareceu que "não cabe
ação declaratória para efeito de que a declaração transite em
julgado para os fatos geradores futuros, pois a ação dessa
natureza se destina à declaração da existência, ou não da
relação jurídica que se pretende já existente. A declaração da
impossibilidade do surgimento de relação jurídica no futuro
porque não é esta admitida pela Lei, ou pela Constituição, se
possível de ser obtida pela ação declaratória, transformaria tal
ação em representação de interpretação ou de
inconstitucionalidade em abstrato, o que não é admissível em
nosso ordenamento jurídico."

No REsp 822.683, Primeira Turma, Dje de 26/10/2006, o então


Relator, Min. TEORI ZAVASCKI, anotou que “Conforme assinalou Liebman,
discorrendo sobre as restrições a serem impostas à coisa julgada, a razão principal
que sufraga a orientação restritiva é que a coisa julgada é, afinal, uma limitação à
procura da decisão justa da controvérsia, e deve, por isso, se bem que socialmente
necessária, ficar contida em sua esfera legítima e não expandir-se fora dela’
[LIEBMAN, Enrico Tullio. Limites objetivos da coisa julgada, op. cit., p.
573]”.

Esta CORTE, em diversas oportunidades, compreendeu que a


superveniência de precedente com eficácia vinculativa e expansiva ultra

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RE 949297 / CE

partes do STF impacta a ordem jurídica, alterando a situação de direito até


então vigente, quebrando o silogismo original da decisão, acionando a
cláusula rebus sic stantibus, fazendo cessar de forma os efeitos
prospectivos da coisa julgada tributária em sentido contrário, após o
trânsito em julgado no precedente definitivo do SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL.Vejam-se, por exemplo, RE 197.917/SP (“Caso Mira Estrela");
HC 82.959/SP; Ação Cautelar 2.177/PE; RE 574.706-Ed; ADI 3.345; ADI
4.071-AgR; Rcl 4335; ADI 2.418; e ADIs 3.406 e 3.470.

No mesmo sentido, os seguintes precedentes:

Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE SEGURANÇA.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. APOSENTADORIA.
EXAME. DIREITO À DIFERENÇA DE PERCENTUAL
REMUNERATÓRIO DE 28,86%, INCLUSIVE PARA O
FUTURO, RECONHECIDO POR SENTENÇA TRANSITADA
EM JULGADO. PERDA DA EFICÁCIA VINCULANTE DA
DECISÃO JUDICIAL, EM RAZÃO DA SUPERVENIENTE
ALTERAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS FÁTICOS E
JURÍDICOS QUE LHE DERAM SUPORTE. SUBMISSÃO À
CLÁUSULA REBUS SIC STANDIBUS. INEXISTÊNCIA DE
OFENSA À COISA JULGADA. ORIENTAÇÃO FIRMADA
POR ESTA SEGUNDA TURMA NO JULGAMENTO DO MS
32.435-AGR (ACÓRDÃO DE MINHA RELATORIA, DJE DE
15/10/2015). AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO(MS 32536 AgR, Relator(a): TEORI ZAVASCKI,
Segunda Turma, julgado em 24/05/2016, DJe de 7/6/2016)

Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. APOSENTADORIA.
EXAME. DECADÊNCIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. DIREITO À
DIFERENÇA DE PERCENTUAL REMUNERATÓRIO DE
28,86%, INCLUSIVE PARA O FUTURO, RECONHECIDO POR
SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. PERDA DA

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RE 949297 / CE

EFICÁCIA VINCULANTE DA DECISÃO JUDICIAL, EM


RAZÃO DA SUPERVENIENTE ALTERAÇÃO DOS
PRESSUPOSTOS FÁTICOS E JURÍDICOS QUE LHE DERAM
SUPORTE. SUBMISSÃO À CLÁUSULA REBUS SIC
STANTIBUS. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À GARANTIA DA
COISA JULGADA. 1. Conforme entendimento da Corte, o
procedimento administrativo complexo de verificação das
condições de validade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma e pensão não se sujeita à regra prevista
no art. 54 da Lei 9.784/99. 2. A força vinculativa das sentenças
sobre relações jurídicas de trato continuado atua rebus sic
stantibus: sua eficácia permanece enquanto se mantiverem
inalterados os pressupostos fáticos e jurídicos adotados para o
juízo de certeza estabelecido pelo provimento sentencial. A
superveniente alteração de qualquer desses pressupostos
determina a imediata cessação da eficácia executiva do
julgado, independentemente de ação rescisória ou, salvo em
estritas hipóteses previstas em lei, de ação revisional. 3. No
caso, após o trânsito em julgado da sentença que reconheceu o
direito à diferença de 28,86% nos vencimentos do servidor,
sobreveio, além da sua aposentadoria, substancial alteração no
estado de direito, consistente na edição da MP 1.704/1998, que
estendeu o aumento inicialmente concedido aos servidores
militares aos servidores civis, e de leis posteriores
reestruturadoras da Carreira de Magistério Superior (Lei
10.405/2002, que alterou a tabela de vencimentos dos
professores de 3º grau, a Lei 11.344/2006, que reestruturou a
carreira dos professores de 3º grau, e a Lei 11.784/2008, que
instituiu a Gratificação Temporária para o Magistério - GTMS e
a Gratificação Específica do Magistério Superior – GEMAS,
dentre outras). Por força dessa superveniente mudança do
quadro fático e normativo que dera suporte à condenação,
deixou de subsistir a eficácia da sentença condenatória. 4.
Agravo regimental provido (MS 32435 AgR, Relator(a): CELSO
DE MELLO, Relator(a) p/ Acórdão: TEORI ZAVASCKI,
Segunda Turma, DJe de 15/10/2015)

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RE 949297 / CE

Inclusive, a própria legislação processual, já no artigo 471, I, do CPC


de 1973, preceituava:

Art. 471. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já


decididas, relativas à mesma lide, salvo:

I - se, tratando-se de relação jurídica continuativa,


sobreveio modificação no estado de fato ou de direito; caso em
que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na
sentença;

Disposição que foi mantida no CPC de 2015, in verbis:

Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já


decididas relativas à mesma lide, salvo:

I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado,


sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em
que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na
sentença;

E, como ensinado por ENRICO TULLIO LIEBMAN, citado pelo Min.


GILMAR MENDES, na Reclamação 4.374, de sua relatoria, “as sentenças
contêm implicitamente a cláusula rebus sic stantibus, de modo que as
alterações posteriores que alterem a realidade normativa, bem como
eventual modificação da orientação jurídica sobre a matéria, podem
tornar inconstitucional norma anteriormente considerada legítima
(inconstitucionalidade superveniente) (Eficácia e autoridade da sentença e
outros escritos sobre a coisa julgada, Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 25-26).

Disso depreende-se que a eficácia vinculante da sentença para o


futuro é mantida enquanto os suportes fáticos e de direito se mantêm
inalterados.

Não se pode, a priori, assumir que as situações fáticas e jurídicas que

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amparam, ou não, a tributação permanecerão sempre as mesmas


daquelas verificadas quando do julgamento da lide que declara, ou não, a
existência da relação jurídica tributária.

O caso sob exame é ilustrativo de que o cenário jurídico pode ser


alterado. Na hipótese, a alteração decorreu da interpretação da lei em face
da Constituição operada pela CORTE que tem essa atribuição em última
instância. Mas, a modificação do quadro jurídico também pode provir da
atuação do Poder Legislativo, que edita nova legislação, ou altera suas
regras.

Nesse passo, não é razoável admitir que o contribuinte, uma vez


exonerado da tributação em face da legislação de um determinado
momento, crie legítima expectativa de não mais contribuir
indefinidamente. Essa posição seria, no mínimo, contrária ao princípio da
isonomia tributária, o qual exige, atendidos os demais preceitos
constitucionais, que todos devem contribuir para prover o Erário de
recursos públicos para viabilizar financeiramente o desenvolvimento do
Estado e a promoção do bem-estar geral.

“Ofenderia o mais elementar senso de justiça invocar a força da coisa


julgada do caso concreto para, por exemplo, impor a determinada pessoa
uma carga tributária que o Supremo Tribunal Federal declarou
inexistente ou nula ou inexigível para todas as demais; ou, por exemplo,
para assegurar a um cidadão o privilégio de receber determinado
benefício remuneratório ou gozar de favor fiscal, que é negado, com força
vinculante, a todos os demais cidadãos nas mesmas condições”
(ZAVASCKI, TEORI ALBINO, Eficácia das sentenças na jurisdição
constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 98-101).

Nessa mesma obra, o autor ensina que:

“(...) Ora, a sentença, ao examinar os fenômenos de


incidência e pronunciar juízos de certeza sobre as

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conseqüências jurídicas daí decorrentes, certificando,


oficialmente, a existência, ou a inexistência, ou o modo de ser
da relação jurídica, o faz levando em consideração as
circunstâncias de fato e de direito (norma abstrata e suporte
fático) que então foram apresentadas pelas partes.
Considerando a natureza permanente ou sucessiva de certas
relações jurídicas, põem-se duas espécies de questões: primeira,
a dos limites objetivos da coisa julgada, que consiste em saber
se a eficácia vinculante do pronunciamento judicial abarca
também (a) o desdobramento futuro da relação jurídica
permanente, (b) as reiterações futuras das relações sucessivas e
(c) os efeitos futuros das relações instantâneas. A resposta
positiva à primeira questão suscita a segunda: a dos limites
temporais da coisa julgada, que consiste em saber se o comando
sentencial, emitido em certo momento, permanecerá inalterado
indefinidamente, mesmo quando houver alteração no estado de
fato ou de direito. Ambas as questões, no fundo, guardam
íntima relação de dependência, conforme se verá.
No que se refere aos limites objetivos da coisa julgada, a
regra geral é a de que, por qualificar norma concreta, fazendo
juízo sobre fatos já ocorridos, a sentença opera sobre o passado,
e não sobre o futuro. (...)
(...)
Estabelecido que a sentença, nos casos assinalados, irradia
a eficácia vinculante também para o futuro, surge a questão de
se saber qual é o termo ad quem de tal eficácia. A solução é esta
e vem de longe: a sentença tem eficácia enquanto se
mantiverem inalterados o direito e o suporte fático sobre os
quais estabeleceu juízo de certeza. Se ela afirmou que uma
relação jurídica existe ou que tem certo conteúdo, é porque
supõe a existência de determinado comando normativo (norma
jurídica) e de determinada situação de fato (suporte fático de
incidência); se afirmou que determinada relação jurídica não
existe, supôs a inexistência, ou do comando normativo, ou da
situação de fato afirmada pelo litigante interessado. A mudança
de qualquer desses elementos compromete o silogismo original

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da sentença, porque estará alterado o silogismo do fenômeno


de incidência por ela apreciado: a relação jurídica que antes
existia deixou de existir, e vice-versa. Daí afirmar-se que a força
da coisa julgada tem uma condição implícita, a da cláusula
rebus sic stantibus, a significar que ela atua enquanto se
mantiverem íntegras as situações de fato e de direito existentes
quando da prolação da sentença . Alterada a situação de fato
(muda o suporte fático, mantendo-se o estado da norma) ou de
direito (muda o estado da norma, mantendo-se o estado de
fato), ou dos dois, a sentença deixa de ter a força de lei entre as
partes, que até então mantinha.
A alteração do status quo tem, em regra, efeitos imediatos
e automáticos. Assim, se a sentença declarou que determinado
servidor público não tinha direito a adicional de insalubridade,
a superveniência de lei prevendo a vantagem importará o
imediato direito a usufruí-la, cessando a partir daí a eficácia
vinculativa do julgado, independentemente de novo
pronunciamento judicial ou de qualquer outra formalidade.
Igualmente, se a sentença declara que os serviços prestados por
determinada empresa estão sujeitos a contribuição para a
seguridade social, a norma superveniente que revogue a
anterior ou que crie isenção fiscal cortará a força vinculativa,
dispensando o contribuinte, desde logo, do pagamento cio
tributo. O mesmo pode ocorrer em favor do Fisco, em casos em
que, reconhecida, por sentença, a intributabilidade, sobrevier lei
criando tributo: sua cobrança pode dar-se imediatamente,
independentemente de revisão do julgado anterior” (op. cit, p.
88-89).

Esse entendimento é sufragado por LUIZ GUILHERME MARINONI


que, não obstante contrário à ideia de relativização da coisa julgada em
face de pronunciamentos do Supremo Tribunal Federal, ainda que por
meio de ação rescisória, esclarece que, quando envolvidos os efeitos
prospectivos de decisões transitadas em julgado “a declaração de
inconstitucionalidade pode ser vista como circunstância superveniente,
tal como uma nova norma”. Esclarece que:

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“Não se trata de fazer a declaração de


inconstitucionalidade retroagir sobre a coisa julgada, mas de
obter um efeito jurídico posterior à formação da coisa julgada
fundada na declaração de inconstitucionalidade. A coisa
julgada anteriormente formada, espelhando a realidade fática e
jurídica legitimamente interpretada pelo juiz ou tribunal,
permanece válida e intacta. A coisa julgada é limitada em
virtude de circunstância posterior, expressa na declaração de
inconstitucionalidade (MARINONI, Luiz Guilherme. Coisa
julgada inconstitucional: a retroatividade da decisão de
(in)constitucionalidade do STF sobre a coisa julgada; a questão
da relativização da coisa julgada. 2. ed. Ver. E atual. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2010) (grifo nosso)

“Não podemos pactuar com a vigência eterna dos efeitos da coisa


julgada contrária à Constituição, para o futuro, em matéria tributária, a
qual viola o princípio da igualdade e isonomia tributária, uma vez que
resulta na existência de privilégios jurídicos permanentes que implicam o
ônus, apenas por parte dos cidadãos, com o pagamento de tributos que
beneficiam toda a sociedade. O tratamento desigual, além de não guardar
qualquer correspondência com uma situação de desigualdade material,
subvertendo o princípio da capacidade contributiva, da livre-iniciativa,
livre-concorrência, da isonomia tributária e da neutralidade tributária,
além de estimular as demandas judiciais que buscam a obtenção de
bilhete premiado eterno para não mais pagar tributo.
Os princípios da igualdade e da isonomia tributária, na hipótese de
trânsito em julgado contrário a precedente do Supremo Tribunal Federal,
de ações judiciais voltadas a disciplinar relações jurídicas futuras, o único
meio que o Estado dispõe a cumprir os mandamentos constitucionais
referentes à igualdade e isonomia é conferir, a partir da decisão da Corte,
idênticos direitos e deveres a todos cidadãos. A Constituição tem como
missão uma sociedade igualitária, justa e fraterna, sendo dever do Estado
tratar todos como iguais, merecedores de idêntica consideração e
respeito, a permanência para o futuro dos efeitos de coisas julgadas

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RE 949297 / CE

inconstitucionais não pode ser um critério objetivo de discriminação, em


qualquer concepção razoável de igualdade que se possa imaginar”
(CLAUDIO XAVIER SEEFELDER FILHO e GUILHERME PEREIRA
PINHEIRO, op. cit., p.13).

Em 21/8/2020, no julgamento do RE 590.880, Tema 106, acórdão


ainda não publicado, esta CORTE decidiu nesse mesmo sentido.
Nesse leading case, debateu-se duas questões: (I) a definição da
competência para, após a instituição do regime jurídico único dos
servidores públicos federais (Lei nº 8.112/90), julgar os efeitos de decisão
anteriormente proferida pela Justiça do Trabalho; e (II) a aplicação, ou
não, do art. 884, § 5º, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, nos
casos de decisão transitada em julgado proferida pela Justiça do Trabalho
que, com base no princípio da isonomia, deferiu a servidores da Justiça
Eleitoral a extensão do reajuste de 84,32%, relativo ao IPC do mês de
março de 1990 (Plano Collor) concedido pela Justiça Federal, por meio de
decisão também transitada em julgado, a outros servidores.

O inciso II acima é o ponto que nos interessa para o caso sob exame.

Pois bem. A controvérsia cuidava de execução de sentença que


condenara a União a pagar a diferença de correção decorrente da edição
do Plano Collor (84,32%), a partir de abril de 1990, aos servidores
públicos do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Ceará. Esse reajuste
foi considerado inconstitucional pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
no julgamento do MS 21.216 (Rel. Min. OCTAVIO GALLOTTI, Pleno, DJ
de 28/6/1991).

O acórdão recorrido, proferido pelo Tribunal Superior do Trabalho


entendeu não ser aplicável o § 5º do art. 884 da CLT, com o seguinte teor:
Considera-se inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo
declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal ou em aplicação ou
interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição Federal."

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O TST, na ocasião, entendeu não ser aplicável o § 5º do art. 884 da


CLT nos seguintes termos: “a decisão já transitada em julgado teve como
fundamento a isonomia, e a norma em relação a qual o Supremo Tribunal Federal
declarou inconstitucional não é objeto de discussão neste feito”.

Em seu voto, a Min. ELLEN GRACIE, consignou que, ainda que por
fundamento transverso, o TST estava aplicando interpretação tida por
inconstitucional pelo STF:

“No caso sob exame, tem-se, claramente, norma que


possibilita a rediscussão de questão que, encerrada em sentença
judicial transitada em julgado, já se encontra submetida aos
efeitos da coisa julgada. Portanto, faz-se necessário averiguar,
para fins de reconhecimento da sua compatibilização com a
ordem constitucional vigente, se a restrição nela contida está ou
não autorizada pelo art. 5º, XXXVI, da Carta Magna.
(...)
Constato que a criação de determinadas hipóteses em que
o indivíduo não possa invocar a existência de coisa julgada tem
por fundamento o respeito a outros dispositivos igualmente
constitucionais. A nociva manutenção de decisões divergentes
do entendimento firmado por esta Corte também provoca
grave insegurança jurídica, o que viola o art. 5º, XXXVI, da
Constituição Federal. Além disso, a continuidade no
pagamento de parcelas que foram depois consideradas
inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal acaba
violando o princípio da isonomia e a própria competência
constitucional desta Corte.
(...)
Finalmente, no presente caso, ainda estaríamos
possibilitando que uma decisão judicial que reconheceu o
direito ao reajuste de março de 1990, de 84,32%, tenha aplicação
sobre todos os reajustes posteriores, indefinidamente, o que é
inadmissível (grifos nossos).

Assim, além de dar provimento ao recurso extraordinário da União

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RE 949297 / CE

para declarar a incompetência da Justiça do Trabalho em relação ao


período posterior à instituição do regime Jurídico Único (Lei 8.112/1990),
reconheceu, em relação ao período anterior, a insubsistência do título
executivo judicial, tal como previsto no art. 884, § 5º, da CLT.
Acompanharam esse entendimento, os Ministros RICARDO
LEWANDOSWKI, EDSON FACHIN, CÁRMEN LÚCIA, GILMAR
MENDES e LUIZ FUX. Não votei, nem o Ministro ROBERTO BARROSO,
pois sucedíamos as cadeiras, respectivamente, dos Ministros AYRES
BRITTO e CEZAR PELUSO. Também não votaram a Ministra ROSA
WEBER, sucessora da Ministra ELLEN GRACIE, e impedido Ministro
DIAS TOFFOLI.

Ao final do julgamento, o PLENO do Tribunal deliberou fixar a tese


de repercussão geral em assentada posterior.

Temos outros precedentes no mesmo sentido:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. EMBARGOS DECLARATÓRIOS EM
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. FINSOCIAL. MAJORAÇÕES
DE ALÍQUOTA. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E
SOCIEDADES SEGURADORAS. ACÓRDÃO EMBARGADO
QUE, AO NÃO CONHECER DO APELO EXTREMO DAS
EMPRESAS LITISCONSORTES, IMPÔS A TODAS,
INDISCRIMINADAMENTE, AS MAJORAÇÕES SOMENTE
APLICÁVEIS, SEGUNDO A JURISPPRUDÊNCIA PACÍFICA
DO STF, ÀS EMPRESAS EXCLUSIVAMENTE PRESTADORAS
DE SERVIÇOS. 1. O caráter de instituição financeira ou de
sociedade seguradora das empresas embargantes é
incontestável e deriva da sua própria qualificação. Não há,
portanto, que se examinar qualquer documento ou fato, a fim
de determinar sua natureza. Impertinência da aplicação da
Súmula STF 279. 2. O Plenário desta Corte, por ocasião do
julgamento do RE 150.764, DJ de 02/04/1993, fixou o
entendimento no sentido de que, em relação às empresas

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 140 de 468

RE 949297 / CE

comerciais, financeiras e seguradoras, o FINSOCIAL deve ser


cobrado nos moldes do Decreto-Lei 1.940/82 e de suas
alterações anteriores à Constituição de 1988, até a edição da LC
70/91 - em função da inconstitucionalidade do art. 9º da Lei
7.689/88 e das posteriores majorações de alíquota. 3. O
Supremo Tribunal Federal deve evitar a adoção de soluções
divergentes, principalmente em relação a matérias
exaustivamente discutidas por seu Plenário. A manutenção de
decisões contraditórias compromete a segurança jurídica,
porque provoca nos jurisdicionados inaceitável dúvida
quanto à adequada interpretação da matéria submetida a esta
Suprema Corte. Precedentes: AR 1.713, rel. Min. Ellen Gracie,
Plenário, DJ 19.12.2003, e RE 222.874, rel. Min. Ellen Gracie, 1ª
Turma, DJ 30.04.2004. 4. Embargos de declaração recebidos com
efeitos modificativos para conhecer, tão-somente quanto às ora
embargantes, do recurso extraordinário e, nessa parte, dar-lhe
provimento.(RE 198604 EDv-ED, Relator(a): CEZAR PELUSO,
Relator(a) p/ Acórdão: ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado
em 26/03/2009, DJe de 22/5/2009) (grifos nossos).

EMENTA: Embargos de Declaração em Recurso


Extraordinário. 2. Julgamento remetido ao Plenário pela
Segunda Turma. Conhecimento. 3. É possível ao Plenário
apreciar embargos de declaração opostos contra acórdão
prolatado por órgão fracionário, quando o processo foi
remetido pela Turma originalmente competente. Maioria. 4.
Ação Rescisória. Matéria constitucional. Inaplicabilidade da
Súmula 343/STF. 5. A manutenção de decisões das instâncias
ordinárias divergentes da interpretação adotada pelo STF
revela-se afrontosa à força normativa da Constituição e ao
princípio da máxima efetividade da norma constitucional. 6.
Cabe ação rescisória por ofensa à literal disposição
constitucional, ainda que a decisão rescindenda tenha se
baseado em interpretação controvertida ou seja anterior à
orientação fixada pelo Supremo Tribunal Federal. 7. Embargos
de Declaração rejeitados, mantida a conclusão da Segunda

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RE 949297 / CE

Turma para que o Tribunal a quo aprecie a ação rescisória.(RE


328812 ED, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 06/03/2008, DJe de 2/5/2008)

No ARE 1204148 AgR, de minha relatoria, DJe de 25/10/2019, o


Tribunal de origem declarara a inconstitucionalidade de determinada
vantagem estendida a servidores públicos, mas modulara os efeitos da
decisão para preservar as situações consolidadas em que o direito já
estava incorporado ao patrimônio do servidor ou aquelas em que já havia
trânsito em julgado da decisão.

Reformei, em parte, o acórdão recorrido para preservar unicamente


as situações em que o direito aos adicionais já foi reconhecido por
sentença transitada em julgado.
Embargada essa decisão, registrei que a decisão de
inconstitucionalidade proferida nos autos não poderia ser usada, seja em
ações rescisórias, seja em embargos à execução/cumprimento de sentença,
como fundamento para a desconstituição de sentenças judiciais
transitadas em julgado até a data da publicação do acórdão proferido na
Medida Cautelar proposta na Ação Direta de Inconstitucionalidade, nas
quais se tenha reconhecido o direito às parcelas remuneratórias enfocadas
no julgado.

Assim decidi, pois admitir o uso do precedente formado naqueles


autos para suprimir direitos referendados por coisa julgada equivaleria a
tornar inócua a modulação de efeitos afirmada na decisão embargada.

Interposto agravo interno, a Primeira Turma manteve a decisão


monocrática em acórdão assim ementado:

Ementa: AGRAVO INTERNO. REPRESENTAÇÃO DE


INCONSTITUCIONALIDADE PROPOSTA PERANTE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PROCEDÊNCIA. MODULAÇÃO DE
EFEITOS. 1. Ao julgar representação de inconstitucionalidade, o

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RE 949297 / CE

Tribunal de Justiça acolheu o pedido, mas procedeu à


modulação de efeitos, de modo a ressalvar situações em que o
direito já esteja incorporado ao patrimônio do servidor público
por ato de iniciativa da própria Administração Pública e por
decisão judicial com força de coisa julgada. 2. No exame do
presente Recurso Extraordinário com Agravo, promoveu-se a
redução do alcance da modulação, preservando-se o direito
subjetivo unicamente de quem tem, a seu favor, sentença
judicial transitada em julgado até a data da publicação do
acórdão proferido na Medida Cautelar proposta nesta Ação
Direta de Inconstitucionalidade. 3. Isso equivale a dizer que o
julgamento de procedência da representação de
inconstitucionalidade não afeta quem já tem, em seu benefício,
decisão judicial passada em julgado. 4. Por decorrência lógica, a
inconstitucionalidade reconhecida nesta ação direta não pode
ser utilizada como fundamento em ações rescisórias, embargos
à execução ou impugnações a cumprimento de sentença, com o
propósito de desconstituir sentenças judiciais transitadas em
julgado até o marco temporal fixado, sob pena de tornar letra
morta a modulação concedida. 5. Agravo Interno que se nega
provimento.

No caso, a decisão foi proferida em representação de


inconstitucionalidade julgada pelo Tribunal local. Nada obstante, penso
que o entendimento por mim adotado também é aplicável neste caso.

Ou seja, nas relações de trato sucessivo, como venha a ser, em regra,


a relação tributária, a menos que haja modulação de efeitos na decisão
do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL que declara a constitucionalidade
ou inconstitucionalidade da norma em controle concentrado, não
subsistem os efeitos futuros da sentença transitada em julgado contrária à
orientação do STF.
A propósito, PAULO MENDES DE OLIVEIRA preconiza que é
prescindível o ajuizamento da ação revisional para que cessem os efeitos
da decisão judicial contrária à Constituição, porque:

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“muito embora se trate de uma decisão judicial voltada


para o futuro, as sucessivas relações jurídicas, que nascem com
o fato gerador e se extinguem com o pagamento, não são uma
típica relação jurídica continuativa, a qual consiste, em última
análise, em uma relação jurídica única, que se prolonga no
tempo e gera obrigações e direitos relativos a pagamentos
periódicos, como é o caso, por exemplo, da prestação de
alimentos ou do contrato de aluguel. A possibilidade de se
disciplinar relações jurídicas tributárias futuras se deu em
decorrência da constatação de que a efetividade dos
pronunciamentos judiciais e o caráter iterativo e previsível das
obrigações decorrentes da incidência da norma que instituiu a
exação autorizariam tratamento assemelhado. Assim, não se
justifica a propositura de ação revisional, em face de
“modificação no estado de fato ou de direito”, visando nova
disciplina de vínculos obrigacionais que, sequer, eram atuais e
existentes, no momento da sentença” (DE OLIVEIRA, Paulo
Mendes, Coisa Julgada e Precedente, Limites temporais e as
relações jurídicas de trato continuado. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015).

E, como bem acentuado pelo Ilustre Relator, o Ministério Público,


em seu parecer, tece percucientes considerações acerca da
prescindibilidade do ajuizamento de ação rescisória na espécie haja vista
que a alteração do status quo possui efeitos imediatos e automáticos, pois
“a circunstância que leva à revisão judicial do julgado é, precisamente, o fato de
haver uma decisão judicial em vigor transitada em julgado que impõe
determinado dever jurídico. O caso dos autos diverge dessa regra, uma vez que a
decisão sobre a qual recaiu a coisa julgada afastou a incidência tributária,
imunizando o contribuinte da respectiva exação. Não houve dever jurídico
imposto por sentença, logo desnecessária a revisitação do tema pela mesma via.
Donde se extrai que “uma vez interrompido o vigor da sentença
imunizante, a própria atividade administrativa, por força exclusiva da lei, poderá
iniciar o procedimento de lançamento tributário para inscrever os débitos

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relativamente aos fatos geradores ocorridos em data posterior ao pronunciamento


de tribunal em controle concentrado.”

Ou seja, nas relações de trato sucessivo, como venha a ser, em regra,


a relação tributária, a menos que haja modulação de efeitos na decisão do
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL que declara a constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da norma em controle concentrado, não subsistem
os efeitos futuros da sentença transitada em julgado contrária à
orientação do STF.

Da mesma forma, com a EC 45/2004 e pelas reformas empreendidas


no Código de Processo Civil de 1973 pela Lei 11.418/2016, bem como
pelas novas disposições inseridas no CPC/2015, observou-se o fenômeno
da objetivação do controle difuso.

Assim, a decisão desta CORTE que declara inconstitucionalidade de


norma, em sede de recurso extraordinário com repercussão geral, possui
os mesmos efeitos vinculantes e eficácia erga omnes atribuídos às ações de
controle abstrato.

A Constituição Federal e a legislação processual estabelecem que,


para o reconhecimento da repercussão geral, a controvérsia, além de ser
dotada de relevância econômico, político, social ou jurídico, deve
ultrapassar os interesses subjetivos da causa. Em especial, o art. 988, § 5º,
II, do CPC/2015 admite reclamação para a garantia da observância de
acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida,
quando não esgotadas as instâncias ordinárias.

Assim, vê-se que, de fato, houve a objetivação do controle difuso


quando proferido em sede de repercussão geral.
De outro lado, o princípio da segurança jurídica não é absoluto, é
deve ser compatibilizado com outros preceitos constitucionais, em
especial, ao princípio da isonomia tributária, o qual exige que todos, nos

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termos da Constituição, devem contribuir para prover o Erário de


recursos públicos para viabilizar financeiramente o desenvolvimento do
Estado e a promoção do bem-estar geral.

VI- O CASO CONCRETO

O contribuinte tinha ao seu favor sentença que reconhecera a


inconstitucionalidade da Lei 7.689/1988, por ofensa ao princípio da
irretroatividade e, com isso, conferiu-lhe o direito de não recolher a
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL, exigidas no exercício de
1989, relativas ao ano-base de 1988. Esse julgado transitou em julgado em
1992.

Em 2007, na ADI 15, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ de


31/8/2007, o Plenário do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, por
unanimidade, declarou a constitucionalidade da Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido – CSLL, prevista na Lei 7.689/1988, ratificando
apenas a inconstitucionalidade do art. 8º do mesmo diploma legal
firmada no RE 146.733 (Rel. Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, DJ
de 6/11/1992); e RE 138.284 (Rel. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, DJ
de 28/8/1992).

Esses últimos precedentes entenderam que o art. 8 º da Lei 7.689/88,


ao dispor “que a contribuição em causa já seria devida a partir do lucro
apurado no período-base a ser encerrado em 31 de dezembro de 1988,
violou ele o princípio da irretroatividade contido no artigo 150, III, "a", da
Constituição Federal, que proíbe que a lei que institui tributo tenha, como
fato gerador deste, fato ocorrido antes do início da vigência dela”, e
também ofendeu “o princípio da irretroatividade (C.F., art. 150, III, "a")
qualificado pela inexigibilidade da contribuição dentro no prazo de
noventa dias da publicação da lei (C.F., art. 195, parag. 6)”.

Porém, a constitucionalidade da Contribuição Social sobre o Lucro

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RE 949297 / CE

Líquido – CSLL, instituída pela Lei 7.689/1988, e que foi assentada pela
ADI 15, a qual tem eficácia erga omnes e efeitos vinculantes, tem aptidão
para cessar os efeitos de eventual sentença transitada em julgado que
tenha adotado entendimento contrário ao do SUPREMO TRIBUNAL,
com aqui se demonstrou.

O Tribunal de origem considerou que a declaração de inexistência da


relação tributária quanto ao exercício de 1989, relativas ao ano-base de
1988, declarada em sentença transitada em julgado no ano de 1992 não
pode ser modificada. Assim, consignou que os efeitos da sentença devem
se estender para todos os exercícios subsequentes, ou seja, enquanto os
fatos forem tributados com base na Lei 7.689/1988.

Todavia, nos termos da fundamentação aqui desenvolvida, é


legítima a cobrança de CSLL relativa aos exercícios posteriores à
publicação da ata de julgamento da ADI 15 (art. 28 da Lei 9.868/1999),
conforme bem acentuado pelo Ilustre Relator, Min. EDSON FACHIN,
em seu voto.

Entendimento contrário, além de ser ofensivo ao princípio da


isonomia tributária, importaria desconsiderar a autoridade da decisão
proferida na aludida ADI 15, bem como a competência constitucional
desta CORTE de guarda da Constituição Federal.

Assim, consoante, asseverado pelo Ilustre Relator, entendo que a


publicação da ata de julgamento em controle concentrado ou em
repercussão geral deve ser o marco para a aplicação do entendimento
fixado pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL naquelas ações, observadas
as garantias constitucionais tributárias relativas às anterioridades anual e
mitigada.

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RE 949297 / CE

Do mesmo modo, considero que razões de segurança jurídica do


contribuinte e do interesse social autorizam a modulação dos efeitos da
decisão neste precedente vinculante para que tenha eficácia a partir da
publicação da ata do julgamento, consoante proposto pelo Eminente
Relator.

Com essas considerações, acompanho o Eminente Ministro Relator,


para DAR PROVIMENTO ao RECURSO EXTRAORDINÁRIO, e reformar
o acórdão recorrido, de forma a denegar a segurança nos termos da
fundamentação aqui desenvolvida. Adiro à TESE proposta pelo Ilustre
Relator.
(Publicado sem revisão. Art. 95, RISTF)

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10/10/2022 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

VOTO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:


Trata-se, na origem, de mandado de segurança preventivo
impetrado por TBM Têxtil Bezerra de Menezes S/A (nova denominação
de Têxtil Bezerra de Menezes S/A) contra ato do Delegado da Receita
Federal em Fortaleza.
Preliminarmente, a impetrante disse que, em dezembro de 1998,
recebeu a maior parte do patrimônio da TBM S.A. Indústria Têxtil (que
foi cindida parcialmente), passando, em tal ocasião, a adotar aquela nova
denominação.
Em seguida, alegou que, em consórcio ativo com a TBM S.A.
Indústria Têxtil e outras, havia impetrado mandado de segurança (MS nº
127/89, 5ª Vara da Justiça Federal em Fortaleza) para sustar a pretensão
do Delegado da Receita Federal em Fortaleza de cobrar a CSLL nos
termos da Lei nº 7.689/88, argumentando haver inconstitucionalidade
nesse diploma (inexistência de lei complementar para a criação do tributo
e ofensa à irretroatividade).
Aduziu que a sentença concessiva daquela segurança, na qual se
reconheceu a inconstitucionalidade da citada lei, foi confirmada em
segundo grau (AMS nº 1.248/CE, TRF-5). O recurso extraordinário
manejado pela União contra tal acórdão teve seguimento negado, por
despacho do Ministro Moreira Alves (RE nº 135.326/PE). Afirmou a
impetrante, assim, ter o caso transitado em julgado em 14/8/92, “criando
norma jurídica individual, intangível e imodificável, entre a impetrante e
a União Federal”.
Contudo, asseverou que a autoridade ora impetrada “pretende
reabrir a apreciação da matéria de direito face decisão posterior da
Suprema Corte declarando a constitucionalidade da Lei nº 7.689/88”.
Requereu que seja determinado à autoridade impetrada que ela se
abstenha da prática de qualquer ato constritivo ao direito da impetrante,

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Antecipação ao Voto

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RE 949297 / CE

objeto desta ação mandamental.


A sentença foi pela denegação de segurança. Apelou a impetrante.
O Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, deu
provimento à apelação.
De acordo com o Desembargador Relator, a decisão que beneficia a
impetrante transitou em julgado, não devendo ser modificada. Ademais,
“enquanto os fatos forem tributados com base na lei 7689/88 a requerente
estará resguardada com a decisão que transitou em julgado e que lhe foi
favorável. O advento de outra legislação poderá mudar a questão”.
O julgado foi assim ementado:

“PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO


SOCIAL SOBRE O LUCRO. LEI 7689/88. MANDADO DE
SEGURANÇA. OFENSA À COISA JULGADA. APELAÇÃO
PROVIDA.
1. A sentença prolatada nos autos do mandado de
segurança 127/89/CE declarou a inconstitucionalidade da lei
7689/88 tendo sido mantida por esta Corte com o trânsito em
julgado.
2. ‘(...)A sentença rescindenda, que reconheceu ser
integralmente inconstitucional a lei 7689/88, instituidora da
contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas para
financiamento da seguridade social, porque prolatada antes da
publicação da decisão do STF declarando a
inconstitucionalidade apenas do artigo 8º da mencionada lei
(RE 138284-CE, REL. MIN. CARLOS VELLOSO, DJU 28/8/92,
P. 13456), não deve sofrer os efeitos provenientes dessa
declaração- ‘Se as questões de fato e de direito reguladas pela
norma julgada inconstitucional se encontram definitivamente
encerradas porque sobre elas incidem caso julgado judicial,
porque se perdeu um direito por prescrição ou caducidade,
porque o ato se tornou inimpugnável, porque a relação se
extinguiu com o cumprimento da obrigação, então a dedução
de inconstitucionalidade, com a consequente nulidade ipso
jure, não perturba, através da sua eficácia retroativa esta vasta

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gama de situações ou relações consolidadas’ (J. J. GOMES


CANOTILHO).- Inegável a aplicação do entendimento firmado
por nossos Tribunais Superiores, segundo o qual ‘A mudança de
entendimento dos Tribunais Superiores não autoriza o pedido
de rescisão de julgado, com base na violação literal de
dispositivo de lei (ARTIGO 475, INCISO V DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL).’ (RESP 227.458-CE, REL. MIN.
HAMILTON CARVALHIDO, J. 06/04/2000, DJU 05/06/2000). -
Improvimento dos embargos infringentes mantendo-se
incólume o Acórdão que reconheceu a improcedência do
pedido de rescisão( EIAR - Embargos Infringentes na Ação
Rescisoria - 311, DJU 22.08.2002, Rel. Des. Fed. Ubaldo
Cavalcanti)’.
3. Apelação provida”.

A Fazenda Nacional interpôs recurso extraordinário com base na


letra a do permissivo constitucional.
Nas razões do apelo extremo, alegou que: a) o Tribunal de Origem
concluiu que a existência de decisão concessiva de mandado de
segurança impetrado em 1989 produziria efeitos nos exercícios
financeiros posteriores; b) contudo, a coisa julgada em matéria tributária
não alcançaria esses outros exercícios e pode ser relativizada por força de
novos parâmetros normativos para a exigência do tributo ou por força da
isonomia, em razão de superveniente decisão do STF considerando
constitucional o diploma tido por inconstitucional; c) coisa julgada é
apenas mais um valor protegido constitucionalmente, não podendo
prevalecer irrestritamente sobre outros de mesmo grau; d) o Superior
Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº 622.405/SP, admitiu a
relativização da coisa julgada, tendo a Ministra Denise Arruda
consignado que essa relativização não se submete a procedimento
específico, “donde se extrai que não está jungida ao prazo da ação
rescisória”; e) o STF também já relativizou a coisa julgada “quando
verificada a afronta a outros valores constitucionais, os quais, no caso,
deveriam prevalecer”, como, por exemplo, no RE nº 105.0128/RN; f) a
Súmula nº 239/STF preconiza que “decisão que declara indevida a

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cobrança de imposto em determinado exercício não faz coisa julgada com


relação aos posteriores”; g) “ força vinculativa da coisa julgada atua rebus
sic stantibus, isto é, enquanto se mantiverem íntegras as situações de fato
e de direito existentes quando da prolação da sentença”; h) embora a Lei
nº 7.689/88 tenha sido declarada inconstitucional na decisão do mandado
de segurança, após isso adveio a Lei nº 7.856/89, majorando a alíquota da
contribuição, e, depois, as Leis nºs 8.034/90 e 8.212/91, modificando a
forma de apuração do resultado do período base e a alíquota da
contribuição; i) caso prevaleça o acórdão ora atacado, haverá violação dos
princípios da instrumentalidade, da proporcionalidade, da isonomia, da
legalidade, da supremacia do interesse público sobre o particular e da
justiça, propiciando enriquecimento sem causa ao contribuinte e desvio
de numerário público.
O presente caso é paradigma do Tema nº 881, o qual está assim
intitulado:

“Limites da coisa julgada em matéria tributária,


notadamente diante de julgamento, em controle concentrado
pelo Supremo Tribunal Federal, que declara a
constitucionalidade de tributo anteriormente considerado
inconstitucional, na via do controle incidental, por decisão
transitada em julgado” (Tema nº 881).

O parecer da Procuradoria-Geral da República foi pelo provimento


do recurso extraordinário. Opinou-se, ademais, pela modulação dos
efeitos da decisão.
Em despacho datado de 29/8/16, o Relator determinou a suspensão
do processamento dos feitos pendentes que versem sobre a presente
questão e tramitem no território nacional (art. 1.035, § 5º, do CPC).
Destaque-se que está em julgamento conjunto com o presente feito o
RE nº 955.227/BA, Tema nº 885, Relator o Ministro Roberto Barroso.1

1 O Tema nº 885 está assim intitulado: “Efeitos das decisões do Supremo Tribunal
Federal em controle difuso de constitucionalidade sobre a coisa julgada formada nas relações
tributárias de trato continuado” (Tema nº 885).

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RE 949297 / CE

Inicialmente, o presente caso foi pautado para julgamento em


ambiente virtual. Consoante a página de acompanhamento processual
(vide sessão de 18/11/22 a 25/11/22), o Relator, Ministro Edson Fachin, em
tal ambiente, após reajuste de voto, votou pelo provimento do RE nº
949.297/CE e propôs a seguinte tese para o Tema nº 881:

“A eficácia temporal de coisa julgada material derivada de


relação tributária de trato continuado possui condição
resolutiva que se implementa com a publicação de ata de
ulterior julgamento realizado em sede de controle abstrato e
concentrado de constitucionalidade pelo Supremo Tribunal
Federal, quando os comandos decisionais sejam opostos,
observadas as regras constitucionais da irretroatividade, a
anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade
nonagesimal, de acordo com a espécie tributária em questão”.

Acompanharam Sua Excelência os Ministros Rosa Weber, Alexandre


de Moraes e Cármen Lúcia. O Ministro Roberto Barroso acompanhou o
Relator, dando provimento ao recurso extraordinário da União para
reconhecer a constitucionalidade da interrupção dos efeitos futuros da
coisa julgada em relações jurídicas tributárias de trato sucessivo quando
esta Corte se manifestar em sentido contrário em controle concentrado,
mas propôs fixação de tese diversa (mesma tese que sugeriu no Tema nº
881). Quanto a mim, acompanhei o Relator, com ressalvas, dando
provimento ao recurso extraordinário, mas, em relação à tese de
repercussão geral, acompanhei o Ministro Roberto Barroso. O Ministro
Gilmar Mendes, por seu turno, em voto reajustado, acompanhou, com
ressalvas, o Relator, divergindo dele apenas em relação à aplicação dos
princípios das anterioridades (anual e/ou nonagesimal), entendendo,
quanto à tese de repercussão geral proposta pelo Relator, que as teses de
julgamento dos Temas nºs 881 e 885 deveriam ser uniformes, para
garantir segurança jurídica e evitar interpretações divergentes quanto ao
tema de fundo. Em suma, propôs, com as ressalvas e divergência
pontuadas no RE nº 955.227, que seja aprovada a tese do Ministro

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RE 949297 / CE

Roberto Barroso.
Em 22/11/22, o Ministro Edson Fachin pediu destaque do processo.
É o relatório.

DA SÚMULA Nº 239 DA CORTE


Estabelece a Súmula nº 239/STF que a “Decisão que declara indevida
a cobrança do impôsto em determinado exercício não faz coisa julgada
em relação aos posteriores”.
Em julgados anteriores (sobre os quais discorrerei melhor mais à
frente), tive oportunidade de registrar não ser esse enunciado aplicável no
caso em que a decisão transitada em julgado trate da própria existência
da relação jurídica tributária continuativa, como quando nela se
reconhece a inconstitucionalidade formal da lei que institui um tributo.
Também já consignei que decisões transitadas em julgado daquele tipo
(isto é, nas quais se tratou da própria relação jurídica tributária de trato
continuado) deixam de produzir efeitos se ocorre alteração nas
circunstâncias fáticas ou jurídicas existentes quando elas foram
prolatadas.
Trata-se, aqui, da cláusula rebus sic stantibus. De Plácido e Silva
assim explica essa expressão, tendo presente um contrato: “o contrato se
cumpre se as coisas (rebus) se conservarem, desta maneira (sic), no
estado preexistente (stantibus), quando de sua estipulação, isto é, desde
que não tenham sofrido modificações essenciais” (Vocabulário jurídico.
30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 1159).
A respeito da súmula em tela, vale relembrar, em primeiro lugar, o
julgamento do ARE nº 704.846/PR-ED, de minha relatoria.
Ao examinar o apelo extremo, mantive, em decisão monocrática,
acórdão no qual a Instância a Quo havia reconhecido a
inconstitucionalidade de lei municipal que estabeleceu, antes da EC nº
29/00, a cobrança do IPTU por meio de alíquotas progressivas fora das
hipóteses permitidas pelo texto originário da Constituição, bem como
consignado que a declaração da ilegalidade da exigência desse tributo
deveria se estender aos anos subsequentes.

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Foram opostos embargos de declaração contra aquela decisão,


ventilando-se justamente a Súmula nº 239/STF. Na apreciação desses
declaratórios, os quais foram recebidos como agravo regimental, assim
me manifestei:

“Note-se, por oportuno, que o pedido inicial acolhido no


acórdão recorrido não é de anulação de lançamento de exercício
financeiro específico, caso em que poderia incidir a Súmula
239/STF, mas, sim, de declaração de inconstitucionalidade do
IPTU progressivo incidente sobre determinados imóveis
‘enquanto o fundamento para a respectiva cobrança for a
legislação atual’.
Declarada a inconstitucionalidade da norma tributária,
seu efeito perdura enquanto não ocorrerem alterações nas
circunstâncias fáticas ou jurídicas existentes quando
prolatada a decisão. A primeira hipótese de alterações nas
circunstâncias fáticas ou jurídicas pode decorrer de alteração
legislativa que modifique, de modo substancial, a situação
jurídica do objeto do pedido ou a causa de pedir.
A esse respeito, vide trecho da ementa de julgado do
Superior Tribunal de Justiça no Resp. nº 703.526/MG, Primeira
Turma, Relator o Ministro Francisco Falcão, nos seguintes
termos:

‘Isso porque o juízo de certeza desenvolvido pela


sentença sobre determinada relação jurídica concreta
decorreu, na verdade, de juízo de certeza sobre a situação
jurídica mais ampla, de caráter duradouro, componente,
ainda que mediata, do fenômeno de incidência. Essas
sentenças conservarão sua eficácia vinculante enquanto
se mantiverem inalterados o direito e o suporte fático
sobre os quais estabeleceu o juízo de certeza’ (grifo
nosso)”.

Ainda a respeito da Súmula nº 239/STF, vale mencionar o julgamento


dos embargos de declaração no AI nº 791.071/MG-AgR-ED, no qual,

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reiterando a compreensão acima, asseverei que ela só se aplica nas


hipóteses de processo judicial em que tenha sido proferida a decisão
transitada em julgado de exercícios financeiros específicos.
Na mesma direção: AI nº 817.329, Rel. Min. Joaquim Barbosa; ARE
nº 861.473/BA, Rel. Min. Roberto Barroso; RE nº 93.048, Primeira Turma,
Rel. Min. Rafael Mayer, DJ de 14/8/81; RE nº 109.073/SP.

DA SÚMULA Nº 343 DA CORTE


Estabelece a Súmula nº 343/STF que “[n]ão cabe ação rescisória por
ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver
baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais”.
Já me manifestei sobre a aplicação desse enunciado no julgamento
do ARE nº 1351812/SP-AgR. Na ocasião, registrei que, conforme a Corte
vem consignando, a aplicação dessa súmula deve, em regra, ser afastada
“no caso de decisões das instâncias ordinárias divergentes da
interpretação adotada por ele, STF” (RE nº 529.675/AgR-segundo,
Primeira Turma, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 27/9/18). Ou seja, em
regra, não se aplica o enunciado em questão se se tratar de ação rescisória
advinda de instância ordinária versando sobre matéria constitucional.
No que diz respeito a uma particular possibilidade de aplicação da
referida súmula em sede de ações rescisórias oriundas das instâncias
ordinárias, vale conferir a tese fixada para o Tema nº 136:

“não cabe ação rescisória quando o julgado estiver em


harmonia com o entendimento firmado pelo Plenário do
Supremo à época da formalização do acórdão rescindendo,
ainda que ocorra posterior superação do precedente”.

Atente-se que a específica hipótese mencionada nessa tese é de


alteração de jurisprudência (divergência jurisprudencial) pela própria
Suprema Corte, e não de divergência jurisprudencial existente no âmbito
dos tribunais infraconstitucionais sobre matéria constitucional.
A respeito do assunto, vale conferir trecho do voto do Ministro Teori
Zavascki no julgamento da AR nº 2.370/CE-AgR:

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“É importante, para esse e outros casos de ação rescisória


em matéria constitucional, esclarecer o alcance da decisão do
Plenário no julgamento do RE 590.809/RS, Rel. Min. MARCO
AURÉLIO, DJe de 24/11/2014 (...)
Bem se percebe, portanto, que o Tribunal, nesse
julgamento (RE 590.809/RS, Rel. Min. MARCO AURÉLIO,
DJe de 24/11/2014), não operou substancial modificação da sua
tradicional e cristalizada jurisprudência no sentido de que a
Súmula 343 não se aplica em ação rescisória fundada em
ofensa à Constituição. (...) Em outras palavras: o que o Tribunal
afirmou, naquela oportunidade, foi que a superveniente
modificação da jurisprudência do STF não autoriza, sob esse
fundamento, o ajuizamento de ação rescisória para desfazer
acórdão que aplicara jurisprudência firme até então vigente no
próprio STF.
Nem poderia ser diferente. Ressalvada a situação de que
trata aquele precedente (de divergência jurisprudencial no
próprio STF, decorrente de superveniente mudança de
interpretação da Constituição), não se pode negar à Corte
Suprema, mesmo em ação rescisória, a possibilidade de dirimir
conflito sobre matéria constitucional objeto de divergência no
âmbito de outros tribunais. Negar essa possibilidade
significaria inibir o Supremo Tribunal Federal de exercer a sua
mais proeminante função institucional, que é a de guarda da
Constituição” (AR nº 2.370/CE-AgR, Tribunal Pleno, Rel. Min.
Teori Zavascki, DJe de 12/11/15 – grifo nosso).

Ou seja, tratando a decisão rescindenda de instância ordinária de


matéria constitucional, cabe, em regra, ação rescisória. De outro giro, não
cabe a ação rescisória se presente a hipótese mencionada na tese do Tema
nº 136, isso é, se a decisão rescindenda estiver em consonância com a
orientação do Supremo Tribunal Federal vigente à época, ainda que o
próprio Tribunal constitucional a tenha, posteriormente, superado.
Anote-se, ademais, que a Corte também já concluiu, com base na
Súmula nº 343/STF, não ser cabível ação rescisória contra decisão do

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Tribunal Pleno ajuizada sob o fundamento de que a orientação decorrente


dessa decisão foi superada em outro caso pelo próprio Plenário. Nesse
sentido: AR nº 2.297/PR, Relator o Ministro Edson Fachin, DJe de 21/5/21.

DO ART. 525 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL


O CPC atual (na parte relativa ao cumprimento definitivo da
sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia
certa) estabelece, em seu art. 525, § 12, ser inexigível a obrigação
reconhecida em título executivo judicial fundado em aplicação ou
interpretação de lei tido pelo STF como incompatível com a CF, em sede
de controle concentrado ou difuso. Para esse efeito, a decisão do STF tem
de ser anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda. Se a decisão
da Suprema Corte for posterior, cabe ação rescisória (sendo seu prazo
contado do trânsito em julgado da decisão do STF).
Cumpre destacar que esse dispositivo, ao fazer alusão à decisão do
STF em sede de controle difuso de constitucionalidade, não distingue se
ela foi proferida em sede de repercussão geral ou se em sede de
apreciação de caso não submetido a tal regime. Também não menciona a
necessidade de, ocorrendo declaração de inconstitucionalidade de lei pelo
STF em sede de controle difuso, haver resolução senatorial (art. 52, X, da
CF/88) para que ocorra a inexigibilidade da obrigação.
Afora isso, é preciso ressaltar o fato de que o dispositivo em comento
ainda não faz distinção entre tipos de obrigações de pagar quantia certa.
Ou seja, o art. 525, § 12, se aplica ainda que a obrigação constante da
decisão exequenda inconstitucional seja de trato continuado.
Transcrevo o teor do citado dispositivo:

“Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o


pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias
para que o executado, independentemente de penhora ou nova
intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
§ 1º Na impugnação, o executado poderá alegar:
(…)
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da

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obrigação;
(…)
§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste
artigo, considera-se também inexigível a obrigação
reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato
normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou
do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como
incompatível com a Constituição Federal, em controle de
constitucionalidade concentrado ou difuso.
§ 13. No caso do § 12, os efeitos da decisão do Supremo
Tribunal Federal poderão ser modulados no tempo, em atenção
à segurança jurídica.
§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no §
12 deve ser anterior ao trânsito em julgado da decisão
exequenda.
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o
trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação
rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da
decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal”.

Anote-se que a Corte, no julgamento da ADI nº 2.418/DF, reconheceu


a constitucionalidade dos §§ 13 e 14 do art. 525 em comento, tendo o
Ministro Teori Zavascki realçado que o mecanismo trazido pelos §§ 12 e
14 possui verdadeira eficácia rescisória.
Vale chamar a atenção para alguns pontos relacionados com o art.
525 do CPC/15, a fim de marcar algumas diferenças quanto à presente
discussão.
No que diz respeito à presente discussão, cabe destacar que está em
debate saber a partir de qual marco a decisão judicial inconstitucional
deixa de ter eficácia apenas para o futuro. Isso é, não se discute, aqui, a
eficácia dessa decisão em relação ao período anterior a tal marco.
De mais a mais, insta registrar que o art. 525, § 12 e 15, do CPC/15
não resolve todas as situações.
Vide, por exemplo, que a presente discussão ainda tem grande

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relevância em relação aos casos em que não foi ajuizada a ação rescisória
no prazo a que se refere o § 15.

DA ALTERAÇÃO DA CIRCUNSTÂNCIA JURÍDICA EM RAZÃO DO


ADVENTO DE DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Como se viu, não se aplica a Sumula nº 239/STF à sentença
transitada em julgado que tenha versado sobre a própria existência de
relação jurídica tributária continuativa. Contudo, havendo alteração no
suporte fático ou no suporte jurídico que embasaram a decisão, deixa essa
última de produzir efeitos.
Cumpre, assim, perquirir se a decisão proferida pelo Supremo
Tribunal Federal, em sede de controle de constitucionalidade difuso ou
concentrado, com conclusão contrária à constante de sentença transitada
em julgado como aquela, é apta a provocar alteração de ao menos um dos
mencionados suportes, fazendo com que tal sentença deixe de ter efeitos
para o futuro.
O Ministro Teori Zavascki, em sua obra “Eficácia das sentenças na
jurisdição constitucional”, construiu algumas orientações a respeito do
tema. Desde já, adianto que Sua Excelência vislumbrou quatro hipóteses
nas quais medidas tomadas em sede de controle de constitucionalidade
acarretam modificação do estado de direito: 1) suspensão, por resolução
do Senado Federal, de norma declarada inconstitucional, pelo STF, em
sede de controle difuso de constitucionalidade; 2) decisões do STF em
sede de controle concentrado; 3) decisões do STF em sede de repercussão
geral; 4) edição de súmula vinculante pelo STF.
Na essência, a modificação do estado de direito ocorre porque há,
nessas medidas, a introdução de efeito vinculante e/ou da eficácia erga
omnes. Segue, abaixo, uma síntese dos principais argumentos por ele
utilizados.
No livro, Zavascki ensina que a relação jurídica sucessiva nasce “de
fatos geradores instantâneos que, todavia, se repetem no tempo de
maneira uniforme e continuada”. Esses fatos geradores estão “inseridos e
referenciados a uma determinada situação jurídica permanente”. Ele cita

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como exemplo a obrigação de se pagar o ICMS e as contribuições sobre a


folha de salários e sobre o faturamento.
Sua excelência consigna que, em regra, as sentenças relativas às
relações jurídicas sucessivas só têm força vinculante sobre as relações já
concretizadas, não alcançado fatos futuros. “Isso se deve à própria
natureza da função jurisdicional, que, conforme se viu, tem por matéria
de trato os fenômenos de incidência das normas em suportes fáticos
presentes ou passados”. Exemplo disso seria a Súmula nº 239, no campo
do direito tributário.
Não obstante, ainda fazendo alusão às relações jurídicas sucessivas,
Zavaski diz que, “pode ocorrer que controvérsia decidida pela sentença
tenha por origem não o fato gerador instantâneo, mas a situação jurídica de
caráter permanente na qual ele se encontra inserido”. Em casos assim, a
sentença produz efeitos para o futuro. No campo tributário, isso também
seria possível se a sentença lança “juízo de certeza sobre determinada
situação jurídica, concreta e presente, mas de caráter duradouro, como a
que diz respeito à natureza das atividades ou ao status fiscal do
contribuinte”.
De posse dessa compreensão, Zavaski passa a questionar qual seria
o termo ad quem da eficácia da sentença para o futuro. Nesse ponto, diz:
“a sentença tem eficácia enquanto se mantiverem inalterados o direito e o
suporte fático sobre os quais estabeleceu o juízo de certeza”, apoiando-se
na cláusula rebus sic stantibus.
Mais à frente, informa que a modificação da situação de fato ou de
direito produz, em regra, efeitos imediatos e automáticos. Só não haverá
a cessação automática dos efeitos da sentença na hipótese de haver norma
assegurando ao “beneficiado pela mudança no status quo o direito
potestativo de provocar, mediante ação própria, a revisão da sentença
anterior, cuja força vinculativa permanecerá íntegra enquanto não houver
aquela provocação”. Exemplo disso seria a ação de revisão de alimentos.
Em seguida, Zavascki passa a tratar das modificações no estado de
direito por força de decisão do STF, isso é, passa a versar sobre aquelas
quatro hipóteses. O que se pode observar é que, na essência, essas

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modificações decorrem da introdução do efeito vinculante e da eficácia


erga omnes, os quais produzem resultados práticos sobremaneira
importantes.
Por ser esclarecedora, transcrevo a seguinte passagem da obra de
Teori Zavascki, na qual são bem sintetizadas as razões pelas quais ele
considera a existência de alteração do estado de direito quando adotada
alguma daquelas quatro medidas:

“Relativamente à eficácia temporal e à revisão das


sentenças sobre relações jurídicas de trato continuado em
matéria constitucional pode-se afirmar, em síntese:
a) no processo cognitivo, as sentenças formulam juízos de
certeza sobre a existência ou a inexistência, ou sobre o modo de
ser das relações jurídicas, e estas nascem de um fenômeno de
incidência de normas abstratas sobre determinada situação de
fato;
b) considerando que as normas jurídicas são passíveis de
modificação ou de revogação e que os fatos, por natureza, são
dinâmicos e mutáveis, todas as sentenças contêm,
implicitamente, a cláusula rebus sic stantibus: elas mantêm seu
efeito vinculante enquanto se mantiverem inalterados o direito
e o suporte fático com base nos quais estabeleceram o juízo de
certeza;
c) as relações jurídicas podem ser instantâneas (= as que
decorrem de fato gerador que se esgota imediatamente, num
momento determinado, já plenamente consumado no momento
da incidência da norma), permanentes ou duradouras (= as que
nascem de um suporte fático ou de uma situação de incidência
que se prolonga no tempo) ou sucessivas (= as nascidas de
situação fática complexa, para cuja composição concorrem fatos
geradores instantâneos autônomos, mas inseridos e
referenciados a uma determinada situação jurídica
permanente);
d) a sentença sobre relação jurídica permanente deixa de
ter força vinculante de lei para as partes quando ocorre
superveniente alteração da situação de fato ou da situação do

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direito;
e) tratando-se de relação jurídica sucessiva, a sentença que
lança juízo de certeza sobre a situação de caráter permanente do
suporte de incidência tem eficácia prospectiva para as futuras
relações semelhantes, observada a cláusula rebus sic stantibus;
f) nas relações jurídicas permanentes ou sucessivas
certificadas por sentença, a superveniente alteração da situação
de fato ou da situação de direito que serviram de pressupostos
para o julgamento opera efeitos imediatos e automáticos: a
sentença, em regra, deixa de ter força vinculante de lei entre as
partes;
g) a exceção, quanto à imediatidade e ao automatismo
dessa desvinculação, ocorre quando a lei confere ao interessado
o direito potestativo de promover, mediante ação própria, a
modificação ou a extinção da relação jurídica afetada com a
mudança do status quo; nesse caso, a força vinculante da
sentença anterior só se extingue ou se modifica por outra
sentença, proferida em ação de revisão;
h) em matéria constitucional, nosso sistema contempla
formas especiais de ‘modificação do estado de direito’: (a) a
Resolução do Senado Federal que suspende a execução de
preceito normativo declarado inconstitucional pelo STF, em
controle difuso de constitucionalidade; (b) a sentença
definitiva, proferida pelo STF, em ações de controle
concentrado de constitucionalidade, inclusive ADPF,
declarando a legitimidade ou a ilegitimidade de certo preceito
normativo em face da Constituição, ou sua compatibilidade
ou não com normas constitucionais supervenientes; (c) a
aprovação, pelo STF, de súmula vinculante; e (d) as decisões
do STF tomadas em seus julgamentos pelo regime de
repercussão geral;
i) qualquer dessas decisões, porque revestidas de
eficácia erga omnes e efeitos vinculantes, acarretam
modificação do status quo ante: embora não produzam,
automaticamente, a anulação ou a modificação dos efeitos
passados produzidos por sentenças em sentido contrário,

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prevalecem, a partir de então, para todos os efeitos e


independentemente de qualquer formalidade ou sentença de
rescisão ou de revisão, sobre as relações jurídicas futuras e os
desdobramentos futuros das relações jurídicas de trato
continuado no tempo (relações jurídicas permanentes e
sucessivas); e
j) a prevalência, nesses casos, do efeito vinculante erga
omnes em relação à sentença proferida no caso concreto
decorre não apenas da superior autoridade do pronunciamento
do STF que lhe dá suporte, mas também da afirmação, que ele
enseja, do princípio da igualdade em face da Constituição,
dispensando a todos um tratamento isonômico quanto aos
direitos assegurados e aos deveres impostos pelo ordenamento
jurídico”.

Algumas das compreensões acima já foram aplicadas pelo Supremo


Tribunal Federal. A respeito da cláusula rebus sic stantibus em sede de
decisão transitada em julgado, tendo-se presente obrigação de trato
continuado, vide a decisão proferida no julgamento do Tema nº 494, em
que o Relator, Ministro Teori Zavascki, fez diversas alusões a sua obra
doutrinária acima referida:

“CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA


AFIRMANDO DIREITO À DIFERENÇA DE PERCENTUAL
REMUNERATÓRIO, INCLUSIVE PARA O FUTURO.
RELAÇÃO JURÍDICA DE TRATO CONTINUADO. EFICÁCIA
TEMPORAL. CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS.
SUPERVENIENTE INCORPORAÇÃO DEFINITIVA NOS
VENCIMENTOS POR FORÇA DE DISSÍDIO COLETIVO.
EXAURIMENTO DA EFICÁCIA DA SENTENÇA. 1. A força
vinculativa das sentenças sobre relações jurídicas de trato
continuado atua rebus sic stantibus: sua eficácia permanece
enquanto se mantiverem inalterados os pressupostos fáticos e
jurídicos adotados para o juízo de certeza estabelecido pelo
provimento sentencial. A superveniente alteração de qualquer
desses pressupostos (a) determina a imediata cessação da

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eficácia executiva do julgado, independentemente de ação


rescisória ou, salvo em estritas hipóteses previstas em lei, de
ação revisional, razão pela qual (b) a matéria pode ser alegada
como matéria de defesa em impugnação ou em embargos do
executado. 2. Afirma-se, nessa linha de entendimento, que a
sentença que reconhece ao trabalhador ou servidor o direito a
determinado percentual de acréscimo remuneratório deixa de
ter eficácia a partir da superveniente incorporação definitiva do
referido percentual nos seus ganhos. 3. Recurso extraordinário
improvido” (RE nº 596.663/RJ, Tema nº 494, Tribunal Pleno,
Redator do acórdão o Ministro Teori Zavacki, DJe de 26/11/14).

Outro caso que merece ser citado é o julgamento do Tema nº 733.


Depreende-se do voto do Relator, Ministro Teori Zavascki, que, em casos
como o presente, o que se discute é o plano da eficácia da decisão
judicial, e não o plano de sua validade ou sua imutabilidade. Nesse
contexto, estando presente uma daquelas quatro hipóteses nas quais se
altera o estado de direito, não é necessário ação rescisória para que a
decisão inconstitucional perca efeitos para o futuro. Nessa direção:

“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL.


DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE
PRECEITO NORMATIVO PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. EFICÁCIA NORMATIVA E EFICÁCIA EXECUTIVA
DA DECISÃO: DISTINÇÕES. INEXISTÊNCIA DE EFEITOS
AUTOMÁTICOS SOBRE AS SENTENÇAS JUDICIAIS
ANTERIORMENTE PROFERIDAS EM SENTIDO
CONTRÁRIO. INDISPENSABILIDADE DE INTERPOSIÇÃO
DE RECURSO OU PROPOSITURA DE AÇÃO RESCISÓRIA
PARA SUA REFORMA OU DESFAZIMENTO. 1. A sentença do
Supremo Tribunal Federal que afirma a constitucionalidade ou
a inconstitucionalidade de preceito normativo gera, no plano do
ordenamento jurídico, a consequência (= eficácia normativa) de
manter ou excluir a referida norma do sistema de direito. 2.
Dessa sentença decorre também o efeito vinculante, consistente
em atribuir ao julgado uma qualificada força impositiva e

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obrigatória em relação a supervenientes atos administrativos ou


judiciais (= eficácia executiva ou instrumental), que, para
viabilizar-se, tem como instrumento próprio, embora não único,
o da reclamação prevista no art. 102, I, ‘l’, da Carta
Constitucional. 3. A eficácia executiva, por decorrer da sentença
(e não da vigência da norma examinada), tem como termo
inicial a data da publicação do acórdão do Supremo no Diário
Oficial (art. 28 da Lei [nº] 9.868/99). É, consequentemente,
eficácia que atinge atos administrativos e decisões judiciais
supervenientes a essa publicação, não os pretéritos, ainda que
formados com suporte em norma posteriormente declarada
inconstitucional. 4. Afirma-se, portanto, como tese de
repercussão geral que a decisão do Supremo Tribunal Federal
declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade
de preceito normativo não produz a automática reforma ou
rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado
entendimento diferente; para que tal ocorra, será
indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o
caso, a propositura da ação rescisória própria, nos termos do
art. 485, V, do CPC, observado o respectivo prazo decadencial
(CPC, art. 495). Ressalva-se desse entendimento, quanto à
indispensabilidade da ação rescisória, a questão relacionada à
execução de efeitos futuros da sentença proferida em caso
concreto sobre relações jurídicas de trato continuado. 5. No
caso, mais de dois anos se passaram entre o trânsito em julgado
da sentença no caso concreto reconhecendo, incidentalmente, a
constitucionalidade do artigo 9º da Medida Provisória 2.164-41
(que acrescentou o artigo 29-C na Lei [nº] 8.036/90) e a
superveniente decisão do STF que, em controle concentrado,
declarou a inconstitucionalidade daquele preceito normativo, a
significar, portanto, que aquela sentença é insuscetível de
rescisão. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento”
(RE nº 730.462/SP, Tema nº 733, Tribunal Pleno, Rel. Min. Teori
Zavascki, DJe de 9/9/15).

Visto isso, cabe fazer algumas ponderações acerca da decisão do

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constitucionalidade sem a edição da resolução senatorial de que trata o
art. 52, X, da Constituição Federal.

DA RESOLUÇÃO DO SENADO FEDERAL


Não desconheço a existência de corrente assentando que o
surgimento de alguns institutos (como o da repercussão geral e o da
súmula vinculante) provocou a retirada de grande parte do efeito prático
do art. 52, X, do texto constitucional e que houve mutação constitucional
quanto ao papel da resolução senatorial a que se refere esse dispositivo.
Nessa direção, vide o voto proferido pelo Ministro Gilmar Mendes na
Rcl nº 4.335/SC, para quem a resolução do Senado Federal teria o condão
apenas de conferir publicidade à decisão da Corte:

“A amplitude conferida ao controle abstrato de normas e a


possibilidade de que se suspenda, liminarmente, a eficácia de
leis ou atos normativos, com eficácia geral, contribuíram,
certamente, para que se quebrantasse a crença na própria
justificativa desse instituto, que se inspirava diretamente numa
concepção de separação de Poderes - hoje inevitavelmente
ultrapassada. Se o Supremo Tribunal pode, em ação direta de
inconstitucionalidade, suspender, liminarmente, a eficácia de
uma lei, até mesmo de uma Emenda Constitucional, por que
haveria a declaração de inconstitucionalidade, proferida no
controle incidental, valer tão somente para as partes?
A única resposta plausível nos leva a crer que o instituto
da suspensão pelo Senado assenta-se hoje em razão de índole
exclusivamente histórica.
(...)
A exigência de que a eficácia geral da declaração de
inconstitucionalidade proferida pelo Supremo Tribunal Federal
fique a depender de uma decisão do Senado Federal,
introduzida entre nós com a Constituição de 1934 e preservada
na Constituição de 1988, perdeu grande parte do seu
significado com a introdução do controle abstrato de normas.”

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Vale recordar, contudo, como acentuou o Ministro Roberto Barroso,


que tal compreensão não foi adotada pelo tribunal. Aliás, como apontou o
Ministro Gilmar Mendes em doutrina, “a divisão quanto aos
fundamentos desse aresto, e a própria alteração na composição da Corte,
após alguns votos já terem sido prolatados, estão a indicar que outros
julgados ainda poderão lançar mais luz sobre a controvérsia” (MENDES,
Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito
constitucional. 12. Ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 1241).
A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, no Parecer PGFN/CRJ
nº 492/11, consignou que as decisões do Plenário do Supremo Tribunal
Federal em sede de controle difuso de constitucionalidade, tomadas antes
da regulamentação do instituto da repercussão geral e confirmadas em
julgados posteriores, têm caráter objetivo e definitivo, possuindo força
para alterar o sistema jurídico, mesmo não existindo a edição de
resolução do Senado Federal. Transcrevo trecho da ementa desse parecer,
que também está embasado na cláusula rebus sic stantibus:

“1. A alteração das circunstâncias fáticas ou jurídicas


existentes ao tempo da prolação de decisão judicial voltada à
disciplina de uma dada relação jurídica tributária de trato
sucessivo faz surgir uma relação jurídica tributária nova, que,
por isso, não é alcançada pelos limites objetivos que balizam a
eficácia vinculante da referida decisão judicial. Daí por que se
diz que, alteradas as circunstâncias fáticas ou jurídicas
existentes à época da prolação da decisão, esta naturalmente
deixa de produzir efeitos vinculantes, dali para frente, dada a
sua natural inaptidão de alcançar a nova relação jurídica
tributária.
2. Possuem força para, com o seu advento, impactar ou
alterar o sistema jurídico vigente, por serem dotados dos
atributos da definitividade e objetividade, os seguintes
precedentes do STF: (i) todos os formados em controle
concentrado de constitucionalidade, independentemente da
época em que prolatadas; (ii) quando posteriores a 3 de maio de

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2007, aqueles formados em sede de controle difuso de


constitucionalidade, seguidos, ou não, de Resolução Senatorial,
desde que, nesse último caso, tenham resultado de julgamento
realizado nos moldes do art. 543-B do CPC; (iii) quando
anteriores a 3 de maio de 2007, aqueles formados em sede de
controle difuso de constitucionalidade, seguidos, ou não, de
Resolução Senatorial, desde que, nesse último caso, tenham
sido oriundos do Plenário do STF e confirmados em julgados
posteriores da Suprema Corte.
3. Os procedentes objetivos e definitivos do STF
constituem circunstância jurídica nova, apta a fazer cessar,
prospectivamente, eficácia vinculante das anteriores decisões
tributárias transitadas em julgado que lhes forem contrárias”.

Ante a decisão da Corte na Rcl nº 4.335/AC, adoto o posicionamento


doutrinário de Teori Zavascki, para quem a decisão em que o Supremo
Tribunal Federal declara, em sede de controle difuso de
constitucionalidade não submetido à sistemática da repercussão geral, a
inconstitucionalidade de lei só adquire eficácia erga omnes (não
havendo, obviamente, súmula vinculante com mesmo teor) com a
resolução do Senado Federal. Ficam, assim, preservados os poucos efeitos
práticos que ainda subsistem na aplicação do art. 52, X, da Constituição
Federal.

DAS DECISÕES DO STF A RESPEITO DA CSLL


O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE nº 146.733/SP,
Tribunal Pleno, sessão de 29/6/92, DJ de 6/11/92; do RE nº 138.284/CE,
Tribunal Pleno, sessão de 1º/7/92, DJ de 28/8/92; e do RE nº 147.313/SP,
Segunda Turma, sessão de 31/10/94, DJ de 4/8/95, assentou não ser
necessária a edição de lei complementar para se instituir a CSLL.
Nenhum desses precedentes foi submetido à sistemática da repercussão
geral.
Na sessão de 14/6/07, o STF assentou, em sede de julgamento de ação
direta, a constitucionalidade da cobrança da CSLL em alusão nos termos
da Lei nº 7.689/89 (ADI nº 15/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Sepúlveda

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Pertence, DJe de 31/8/07).


O julgado foi assim ementado:

“I. ADIn: legitimidade ativa: ‘entidade de classe de âmbito


nacional’ (art. 103, IX, CF): compreensão da ‘associação de
associações’ de classe. Ao julgar, a ADIn 3153-AgR, 12.08.04,
Pertence, Inf STF 356, o lenário do Supremo Tribunal
abandonou o entendimento que excluía as entidades de classe
de segundo grau - as chamadas ‘associações de associações’ - do
rol dos legitimados à ação direta. II. ADIn: pertinência temática.
Presença da relação de pertinência temática, pois o pagamento
da contribuição criada pela norma impugnada incide sobre as
empresas cujos interesses, a teor do seu ato constitutivo, a
requerente se destina a defender. III. ADIn: não conhecimento
quanto ao parâmetro do art. 150, § 1º, da Constituição, ante a
alteração superveniente do dispositivo ditada pela EC 42/03. IV.
ADIn: L. 7.689/88, que instituiu contribuição social sobre o lucro
das pessoas jurídicas, resultante da transformação em lei da
Medida Provisória 22, de 1988. 1. Não conhecimento, quanto ao
art. 8º, dada a invalidade do dispositivo, declarado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal, em processo de
controle difuso (RE 146.733), e cujos efeitos foram suspensos
pelo Senado Federal, por meio da Resolução 11/1995. 2.
Procedência da arguição de inconstitucionalidade do artigo 9º,
por incompatibilidade com os artigos 195 da Constituição e 56,
do ADCT/88, que, não obstante já declarada pelo Supremo
Tribunal Federal no julgamento do RE 150.764, 16.12.92, M.
Aurélio (DJ 2.4.93), teve o processo de suspensão do dispositivo
arquivado, no Senado Federal, que, assim, se negou a emprestar
efeitos erga omnes à decisão proferida na via difusa do controle
de normas. 3. Improcedência das alegações de
inconstitucionalidade formal e material do restante da mesma
lei, que foram rebatidas, à exaustão, pelo Supremo Tribunal,
nos julgamentos dos RREE 146.733 e 150.764, ambos recebidos
pela alínea b do permissivo constitucional, que devolve ao
STF o conhecimento de toda a questão da constitucionalidade

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da lei” (ADI nº 15/DF, Tribunal Pleno, Relator o Ministro


Sepúlveda Pertence, sessão de 14/6/07, DJ de 31/8/07).

Adotando-se o posicionamento doutrinário do Ministro Teori


Zavascki, as decisões transitadas em julgado nas quais tenha havido o
reconhecimento da inconstitucionalidade da cobrança CSLL nos termos
da Lei nº 7.689/88, em razão da alegada violação à reserva de lei
complementar, deixam, em tese, de ter eficácia para o futuro a partir da
data da publicação da ata do julgamento do mérito da ADI nº 15/DF.

DA PONTUAL DIVERGÊNCIA QUANTO AO POSICIONAMENTO DOS


RELATORES NA APLICAÇÃO DA ANTERIORIDADE GERAL E/OU DA
ANTERIORIDADE NONAGESIMAL

Verifica-se que os Relatores dos casos paradigmas dos Temas nºs 881
e 885 defendem o entendimento de que as decisões proferidas em ação
direta ou em sede de repercussão geral interrompem automaticamente os
efeitos temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas
relações.
À luz das anotações que fiz acima, acompanho Suas Excelências em
relação a essa compreensão.
Contudo, constata-se que os Relatores avançam na matéria e
defendem que essa interrupção automática dos efeitos temporais deve
observar, afora a irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou
a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo. Quando os
casos estavam em julgamento no âmbito virtual, aderi a essa ideia.
Melhor refletindo sobre esse ponto e pedindo vênia aos ilustres
Relatores, entendo ser o caso de acompanhar o voto proferido pelo
Ministro Gilmar Mendes. Como disse Sua Excelência, as anterioridades
tributárias são aplicadas se há instituição ou aumento, ainda que indireto,
de tributos. E, na hipótese em questão, o Tribunal “declara a
constitucionalidade de uma norma tributária, a qual já percorreu todo o
percurso constitucional necessário para ser aplicada, ou seja, já
observou, entre outros, os princípios da anterioridade”. Caso prevaleça

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aquela compreensão sustentada pelos Relatores, haverá, como bem


registrou o Ministro Gilmar Mendes, dupla aplicação de tais
anterioridades.
Acrescento, ainda, que vejo com ressalvas a ideia de se adotar, a
priori, uma cláusula geral de anterioridade (geral e/ou nonagesimal) para
aplicação em todos os casos de declaração de constitucionalidade de um
tributo em sede de repercussão geral ou de controle concentrado,
criando-se, por assim dizer, uma espécie de modulação de efeitos (ex
nunc), para os julgamentos futuros. A apreciação, creio eu, deve se dar a
partir das particularidades de cada julgamento em que houver a
declaração de constitucionalidade de tributo em sede de ação direta ou de
repercussão geral, podendo o Tribunal, se for o caso, modular os efeitos
da decisão em relação aos casos transitados em julgado em sentido
contrário, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de interesse
social.

DA ANÁLISE DO CASO CONCRETO


Na origem, trata-se de mandado de segurança preventivo no qual a
recorrida requer que a autoridade coatora se abstenha de praticar
qualquer ato constritivo ao direito ao direito da impetrante, como por
exemplo a lavratura de auto de infração e intimações relativas à CSLL
prevista na Lei nº 7.689/88.
Na essência, o pedido está fundamentado no fato de que existe
decisão a ela favorável reconhecendo a inconstitucionalidade da cobrança
da CSLL transitada em julgado em 14/8/92.
A sentença foi pela denegação da segurança. O Tribunal Regional
Federal da 5ª Região deu provimento à apelação. Interpôs a União o
presente recurso extraordinário.
Aplicando a orientação acima, verifica-se que aquela decisão
transitada em julgado deixou de produzir efeitos para o futuro com a ADI
nº 15/DF.
É o caso de se dar provimento ao recurso extraordinário.

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DISPOSITIVO
Ante o exposto, peço vênia ao ilustre Relator, Ministro Edson
Fachin, para acompanhar a divergência apresentada pelo Ministro
Gilmar Mendes quanto (i) à tese de repercussão geral, a fim de propor
que seja aprovada a tese sugerida pelo Ministro Roberto Barroso no RE
nº 955.227/BA, com a pontual divergência quanto ao item 2, por entender
desnecessária a aplicação dos princípios da anterioridade anual e da
noventena; (ii) à não modulação dos efeitos da decisão. Em relação ao
caso concreto, acompanho o Relator, dando provimento ao recurso
extraordinário.
É como voto.

REAJUSTE DE VOTO (SESSÃO DE 8/2/23)


Ambos os recursos extraordinários envolvem discussão acerca da
eficácia temporal da coisa julgada nas relações tributárias de natureza
continuada, notadamente diante de julgamento, em controle
concentrado pelo STF ou em sede de repercussão geral, que declara a
constitucionalidade de tributo anteriormente considerado
inconstitucional, na via do controle incidental, por decisão transitada em
julgado.
Na sessão presencial de 2/2/23, após os votos dos Relatores Ministros
Roberto Barroso e Edson Fachin no sentido de que as decisões proferidas
em ação direta ou em sede de repercussão geral interrompem
automaticamente os efeitos temporais das decisões transitadas em
julgado nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade, a
anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal,
conforme a natureza do tributo, instaurou-se divergências no tocante à
modulação dos efeitos da decisão e à aplicação dos princípios das
anterioridades (anual e nonagesimal). O julgamento foi suspenso,
conforme a ata de julgamento.
Na ocasião, acompanhei ambos os Ministros no que se refere à
resolução dos casos em concreto e o Ministro Roberto Barroso quanto à
tese de julgamento, exceto no que se refere à aplicação de uma cláusula

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geral de anterioridade (anual e nonagesimal) a ser adotada em todos os


casos em que o STF venha a declarar a constitucionalidade de tributos,
em controle concentrado e em sede de repercussão geral. Votei,
ademais, pela não modulação dos efeitos da decisão.
Após refletir sobre todos os cenários possíveis diante da
complexidade da matéria e dos efeitos sistêmicos que a tese de
julgamento a ser adotada no presente julgamento produzirá nas relações
jurídicas tributárias consolidadas até aqui em razão da garantia da coisa
julgada material, passo a fazer breves considerações.
De início trato da adoção de uma cláusula geral de anterioridade
geral e/ou nonagesimal conforme a natureza do tributo (exclusivamente
para os casos de declaração de constitucionalidade).
Além de aderir ao posicionamento do Ministro Gilmar Mendes de
que, na hipótese em que o Tribunal declara a constitucionalidade de uma
norma tributária, a qual já terá percorrido todo o percurso constitucional
necessário para ser aplicada, já se terá observado, entre outros, os
princípios da anterioridade, vejo com ressalvas a ideia de se adotar, a
priori, uma cláusula geral de anterioridade para aplicação em todos os
casos de declaração de constitucionalidade de um tributo, criando-se, na
realidade, mais uma modulação de efeitos prospectivos a ser aplicada
nessas hipóteses.
No caso de um tributo que deva observar as duas anterioridades
(geral e nonagesimal), por exemplo, poderíamos ter uma decisão do
Supremo proferida em janeiro de determinado ano com efeitos
prospectivos para janeiro do próximo ano.
Creio não ser adequado equiparar – sem um debate e um juízo
prévio das razões de segurança jurídica na sua dimensão da proteção da
confiança e de interesse público que justifique a utilização de limitações
ao poder de tributar, a ser aferido à luz das particularidades de cada
julgamento – uma decisão judicial a uma lei em sentido estrito. A
apreciação, creio eu, deve se dar a partir das particularidades de cada
julgamento em que houver a declaração de constitucionalidade de tributo
em sede de ação direta ou de repercussão geral, podendo o Tribunal, se

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RE 949297 / CE

for o caso, modular os efeitos da decisão em relação aos casos transitados


em julgado em sentido contrário, tendo em vista, repito, razões de
segurança jurídica na sua dimensão da proteção da confiança ou de
interesse social.
No que se refere à utilização como marco temporal para a cobrança
da CSLL da data da publicação da ata de julgamento da ADI nº 15/DF, ou
seja, 21 de junho de 2007, após ponderar as razões trazidas pelos
representantes dos contribuintes em audiências realizadas nesta semana,
cheguei à conclusão - tendo em vista as mesmas razões de segurança
jurídica na dimensão da proteção da confiança do jurisdicionado na
estabilidade dos casos já julgados até a presente data - que é o caso de
acompanhar o Ministro Edson Fachin na tese da cessação automática da
eficácia das decisões transitadas em julgado contrárias a decisão desta
Suprema Corte que declara a constitucionalidade de determinado tributo
a partir da publicação das atas de julgamento dos presentes Temas nºs 881
e 885.
Nesse ponto, chamo a atenção para o fato de que, quanto ao
entendimento acerca da perda automática de eficácia da coisa julgada em
comento em razão de decisão do STF em sede de ação direta ou de
julgamento de caso submetido à sistemática de repercussão geral –
embora contasse com uma leve sinalização na adoção da mesma
compreensão que a ora firmada, como, por exemplo, no RE nº 596.663/RJ,
Tema nº 494, Tribunal Pleno, Redator do acórdão o Ministro Teori
Zavascki –, a rigor, esta é a primeira vez que estamos a decidir sobre essa
questão, a qual tem a mais alta relevância do ponto de vista econômico e
social, envolvendo a eficácia dos precedentes vinculantes e dotados de
efeitos erga omnes da mais alta Corte de Justiça do País.
No reajuste de voto, também estou levando em consideração que o
Superior Tribunal de Justiça já tinha decidido a mesma controvérsia na
sistemática dos recursos repetitivos. Trata-se do Tema repetitivo nº 340,
julgado em 23 de março de 2011, ou seja, há mais de dez anos.
Eis a tese firmada para o Tema repetitivo nº 340:

“Não é possível a cobrança da Contribuição Social sobre o

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RE 949297 / CE

Lucro (CSLL) do contribuinte que tem a seu favor decisão


judicial transitada em julgado declarando a
inconstitucionalidade formal e material da exação conforme
concebida pela Lei nº 7.689/88, assim como a inexistência de
relação jurídica material a seu recolhimento. O fato de o
Supremo Tribunal Federal posteriormente manifestar-se em
sentido oposto à decisão judicial transitada em julgado em
nada pode alterar a relação jurídica estabilizada pela coisa
julgada, sob pena de negar validade ao próprio controle
difuso de constitucionalidade”.

Acrescento que a tese de modulação com efeitos retroativos a partir


da data da publicação da ata de julgamento de caso concreto – pelo
menos para os casos julgados até a presente data – impacta outros casos
julgados pelo STF, como, por exemplo, a questão dirimida no Tema nº
906, RE nº 946.648, julgado em sessão virtual de 14/8/20 a 21/8/20, com ata
de julgamento publicada em 8/9/20, em que o Tribunal fixou a seguinte
tese: "É constitucional a incidência do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) no desembaraço aduaneiro de bem industrializado
e na saída do estabelecimento importador para comercialização no
mercado interno”.
Quanto à discussão sobre essa dupla incidência do IPI, 2 verifica-se
que, num primeiro momento, o Tribunal entendia ter ela natureza
infraconstitucional3. Nessa época, a matéria ainda era muito controvertida
dentro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em 2014, a Primeira Seção
da Corte Superior, no EREsp 1.411.749/PR, assentou a impossibilidade

2 FARIA, Luiz Alberto Gurgel; SANTOS, Lucilene Rodrigues; RIBEIRO, Marcela.


Segurança jurídica, coisa julgada e os precedentes vinculantes em matéria tributária. No
prelo.
3 RE nº 951.725/RS-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Edson Fachin, DJe de
13/6/16; ARE nº 883.073/DF-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Roberto Barroso, DJe
de 15/2/16; ARE nº 882.027/DF-AgR, Segunda Turma, de minha relatoria, DJe de 15/12/15;
ARE nº 892.125/DF, Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 5/6/15; ARE nº 924.205/DF, Relator o
Ministro Roberto Barroso, DJe de 5/11/15; ARE nº 918.159/DF, Relator o Ministro Edson
Fachin, DJe de 4/11/15; RE nº 346.323/PR, de minha relatoria, DJe de 1/3/10.

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dessa dupla incidência, admitindo a cobrança do imposto apenas no


desembaraço aduaneiro, entendimento que, ao cabo, teve breve
existência. Com efeito, em 2015, no Tema repetitivo nº 912 (EREsp nº
1.403.532/SC), o próprio STJ passou a entender pela possibilidade daquela
dupla incidência do IPI.
Apenas em 2016 (muito tempo depois, portanto, de ter assentado a
natureza infraconstitucional da matéria), o Supremo Tribunal, revendo
seu posicionamento, reconheceu, no citado Tema nº 906, a existência de
repercussão geral e de matéria constitucional em tal discussão. Ao julgar
o mérito desse tema, assentou a constitucionalidade da dupla incidência
do imposto, convergindo com a tese daquele tema repetitivo da Corte
Superior.
Vejam, Senhores Ministros, a necessidade de, à luz de cada caso
concreto, adotar-se uma posição de equilíbrio, ainda mais considerando
que a base da proteção da confiança na estabilidade das relações jurídico-
tributárias entre o estado fiscal e os cidadãos contribuintes deve ser
observada nas duas dimensões da segurança jurídica (coletiva e
individual). Nos casos narrados, de um lado, a insegurança jurídica
gerada nas decisões anteriores do STF e do STJ, que oscilaram entre dois
extremos. De outro, a superveniência dos precedentes com efeitos erga
omnes e vinculante, pacificando a questão em caráter definitivo.
Diante de todo o exposto, reajusto meu voto para acompanhar o
Ministro Edson Fachin, modulando os efeitos das decisões relativas aos
Temas nºs 881 e 885 a partir da data da publicação da ata de julgamento
de mérito (já que não adoto a tese da aplicação das anterioridades),
ressaltando e deixando claro que minha adesão à modulação proposta é
paraque todos os contribuintes que possuam decisões transitadas em
julgado contrárias ao entendimento do STF passem a recolher os
respectivos tributos a partir da data da publicação das Atas de
julgamento do Temas nºs 881 e 885. Mantenho, no mais, a posição já
externada anteriormente.
É como voto.

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297


PROCED. : CEARÁ
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL (00000/DF)
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA (41728/SP)
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO (01449/A/DF,
161891/RJ, 113570/SP)
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO (234916/SP)
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SAO PAULO -
FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA (90389/SP) E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS (188415/SP)
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL -
CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR (0016275/DF)
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS QUIMICOS PARA
FINS INDUSTRIAIS, PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL (6558/DF)
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO (20720/DF, 291776/SP)
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO (15317/DF)

Decisão: Após o voto do Ministro Edson Fachin (Relator), que


conhecia do recurso extraordinário a que se dava provimento para
reformar o acórdão recorrido, com a denegação da ordem
mandamental, condenava a parte recorrida ao pagamento das despesas
processuais da parte recorrente, conforme os arts. 82, § 2º, e 84
do CPC, ficando a parte vencida exonerada do pagamento de
honorários advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF, modulava
os efeitos temporais da decisão para que tenha eficácia pró-futuro
a partir da publicação da ata de julgamento deste acórdão,
considerando o período de anterioridade nonagesimal, nos casos de
restabelecimento de incidência de contribuições sociais, e de
anterioridade anual e nonagesimal, para o restabelecimento da
incidência das demais espécies tributárias, ressalvadas as
exceções previstas na Constituição, e, ao final, propunha a
fixação da seguinte tese de repercussão geral (tema 881): “A
eficácia temporal de coisa julgada material derivada de relação
tributária de trato continuado possui condição resolutiva que se
implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento
realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a
noventena ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 178 de 468

tributária em questão”, no que foi acompanhado pela Ministra Rosa


Weber; do voto do Ministro Roberto Barroso, que acompanhava o
Relator, mas propunha a fixação de tese diversa, no seguinte
sentido: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em
sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos
temporais das sentenças transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”; do voto do Ministro Dias Toffoli, que acompanhava o
Relator quanto ao provimento do recurso e à proposta de modulação
de efeitos da decisão, mas fazia ressalvas quanto à tese de
repercussão geral proposta pelo Relator, acompanhando, nesse
ponto, o Ministro Roberto Barroso; e do voto do Ministro Gilmar
Mendes, que dava provimento ao recurso extraordinário para
assentar que, em se tratando de relação jurídica de trato
sucessivo, a superveniência de interpretação do Plenário do STF,
em sede de controle concentrado ou difuso de constitucionalidade,
divergente com a exegese transitada em julgado em demanda
individual ou coletiva, faz cessar a ultratividade da eficácia
preclusiva da coisa julgada formal e material em relação aos
efeitos futuros de atos pretéritos, além dos atos futuros,
restabelecendo, no caso concreto, a sentença, e, ainda, sugeria as
seguintes teses de repercussão geral: “1) em se tratando de
efeitos pretéritos ou pendentes de atos passados, quando se tratar
de relação jurídica de trato sucessivo, é cabível ação rescisória
ou alegação de inexigibilidade do título executivo judicial quando
este contrariar a exegese conferida pelo Plenário da Suprema
Corte, tal como assentado na ADI 2.418, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 17.11.2016; no RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 9.9.2015 (tema 733 da RG); e no RE 611.503, Redator p/
acórdão Min. Edson Fachin, Pleno, DJe 10.3.2019 (tema 360 da RG),
além do disposto nos §§ 7º e 8º do art. 535 do CPC; e 2) quanto
aos efeitos futuros de atos passados, bem ainda de atos futuros,
ambos submetidos à relação jurídica de trato continuado, cessa a
ultratividade de título judicial fundado em ‘aplicação ou
interpretação tida como incompatível com a Constituição’, na
situação em que o pronunciamento jurisdicional for contrário ao
decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, seja no
controle difuso, seja no controle concentrado de
constitucionalidade, independentemente de ação rescisória ou
qualquer outra demanda, diante da cláusula rebus sic stantibus, na
linha do que assentado no RE 596.663, Redator p/ acórdão Min.
Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 26.11.2014 (tema 494 da RG)”,
pediu vista dos autos o Ministro Alexandre de Moraes. Falaram:
pela recorrente, o Dr. Claudio Xavier Seefelder Filho, Procurador

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 179 de 468

da Fazenda Nacional; pela recorrida, a Dra. Glaucia Maria Lauletta


Frascino; pelo amicus curiae Sindicato das Indústrias de Produtos
Químicos para Fins Industriais, Petroquímicas e de Resinas
Sintéticas de Camaçari, Candeias e Dias D’ávila – SINPEQ, a Dra.
Fernanda Donnabella Camano de Souza; pelo amicus curiae Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, o Dr. Luiz
Gustavo A. S. Bichara; e, pelo amicus curiae Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, a Dra. Misabel de Abreu
Machado Derzi. Plenário, Sessão Virtual de 6.5.2022 a 13.5.2022.

Decisão: Após o voto-vista do Ministro Alexandre de Moraes,


que acompanhava o voto do Relator para dar provimento ao recurso
extraordinário, e reformar o acórdão recorrido, de forma a denegar
a segurança, aderindo à tese e à modulação propostas, pediu vista
dos autos o Ministro Gilmar Mendes. Plenário, Sessão Virtual de
30.9.2022 a 7.10.2022.

Composição: Ministros Rosa Weber (Presidente), Gilmar Mendes,


Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Roberto
Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Nunes Marques e André
Mendonça.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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Voto Vogal

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28/11/2022 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE
SAO PAULO - FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS
QUIMICOS PARA FINS INDUSTRIAIS,
PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE
CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO

VOTO-VOGAL:

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO:

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. CONTRIBUIÇÃO
SOCIAL SOBRE LUCRO LÍQUIDO (CSLL). OBRIGAÇÃO DE TRATO
SUCESSIVO. HIPÓTESES DE CESSAÇÃO DOS EFEITOS DA COISA
JULGADA DIANTE DE DECISÃO SUPERVENIENTE DO STF.
1. Recurso extraordinário com repercussão geral

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Supremo Tribunal Federal
Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 181 de 468

RE 949297 / CE

reconhecida, a fim de decidir se e como as decisões desta Corte


em sede de controle concentrado fazem cessar os efeitos futuros
da coisa julgada em matéria tributária, nas relações de trato
sucessivo, quando a decisão estiver baseada na
constitucionalidade ou inconstitucionalidade do tributo.
2. Em 1992, o contribuinte obteve decisão judicial
com trânsito em julgado que o exonerava do pagamento da
CSLL. O acórdão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região
considerou que a lei instituidora da contribuição (Lei nº
7.869/1988) possuía vício de inconstitucionalidade formal, por
se tratar de lei ordinária em matéria que exigiria lei
complementar.
3. A questão debatida no presente recurso diz
respeito à subsistência ou não da coisa julgada que se formou,
diante de pronunciamentos supervenientes deste Supremo
Tribunal Federal em sentido diverso.
4. O tema da cessação da eficácia da coisa julgada,
embora complexo, já se encontra razoavelmente bem
equacionado na doutrina, na legislação e na jurisprudência
desta Corte. Nas obrigações de trato sucessivo, a força
vinculante da decisão, mesmo que transitada em julgado,
somente permanece enquanto se mantiverem inalterados os
seus pressupostos fáticos e jurídicos (RE 596.663, Red. p/ o
acórdão Min. Teori Zavascki, j. em 24.09.2014).
5. As decisões em controle incidental de
constitucionalidade, anteriormente à instituição do regime de
repercussão geral, não tinham natureza objetiva nem eficácia
vinculante. Consequentemente, não possuíam o condão de
desconstituir automaticamente a coisa julgada que houvesse se
formado, mesmo que em relação jurídica tributária de trato
sucessivo.
6. Em 2007, este Supremo Tribunal Federal, em ação
direta de inconstitucionalidade julgada improcedente, declarou
a constitucionalidade da referida Lei nº 7.869/1988 (ADI 15, Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 14.06.2007). A partir
daí, houve modificação substantiva na situação jurídica

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Supremo Tribunal Federal
Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 182 de 468

RE 949297 / CE

subjacente à decisão transitada em julgado, em favor do


contribuinte. Tratando-se de relação de trato sucessivo, sujeita-
se, prospectivamente, à incidência da nova norma jurídica,
produto da decisão desta Corte.
7. Na parte subjetiva desta decisão referente ao caso
concreto, verifica-se que a Fazenda Nacional pretendeu cobrar a
CSLL relativa a fatos geradores posteriores à decisão deste
Tribunal na ADI 15. Como consequência, dá-se provimento ao
recurso extraordinário interposto pela Fazenda Nacional.
8. Já a tese objetiva que se extrai do presente julgado,
para fins de repercussão geral, pode ser assim enunciada: “1.
As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade,
anteriores à instituição do regime de repercussão geral, não impactam
automaticamente a coisa julgada que se tenha formado, mesmo nas
relações jurídicas tributárias de trato sucessivo. 2. Já as decisões
proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral
interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões
transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a
anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo.”.

I. RELATÓRIO

1. Trata-se de recurso extraordinário interposto com


fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal, contra acórdão da
3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, que deu provimento
à apelação da contribuinte e reformou a sentença, a fim de consignar o
seu direito ao não recolhimento da CSLL, sob o fundamento de que
haveria decisão judicial transitada em julgada assegurando tal
possibilidade. Confira-se a ementa do referido acórdão:

“PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO


SOCIAL SOBRE O LUCRO. LEI 7689/88. MANDADO DE
SEGURANÇA. OFENSA À COISA JULGADA. APELAÇÃO
PROVIDA.

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 183 de 468

RE 949297 / CE

1. A sentença prolatada nos autos do mandado de


segurança 127/89/CE declarou a inconstitucionalidade da lei
7689/88 tendo sido mantido por esta Corte o trânsito em
julgado.
2. ‘(...) a sentença rescindenda, que reconheceu ser
integralmente inconstitucional a lei 7689/88, instituidora da
contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas para
financiamento da seguridade social, porque prolatada antes da
publicação da decisão do STF declarando a
inconstitucionalidade apenas do artigo 8º da mencionada lei
(RE 138284-CE, REL. MIN. CARLOS VELLOSO, DJU 28/08/92,
P.13456), não deve sofrer os efeitos provenientes dessa
declaração- “Se as questões de fato e de direito reguladas pela
norma julgada inconstitucional se encontram definitivamente
encerradas porque sobre elas incidem caso julgado judicial,
porque se perdeu um direito por prescrição ou caducidade,
porque o ato se tornou impugnável, porque a relação se
extinguiu com o cumprimento da obrigação, então a dedução
de inconstitucionalidade, com a consequente nulidade ipso jure,
não perturba, através da sua eficácia retroativa esta vasta gama
de situações ou relações consolidadas” (J. J. GOMES
CANOTILHO).- Inegável a aplicação do entendimento firmado
por nossos Tribunais Superiores, segundo o qual “A mudança
de entendimento dos Tribunais Superiores não autoriza o
pedido de rescisão de julgado, com base na violação literal de
dispositivo de lei (ARTIGO 45, INCISO V DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL).” (RESP 227.458-CE, REL. MIN.
HAMILTON CARVALHIDO, J. 06/04/2000, DJU 05/06/2000). –
Improvimento dos embargos infringentes mantendo-se
incólume o acórdão que reconheceu a improcedência do pedido
de rescisão (EIAR – Embargos Infringentes na Ação Rescisória –
311, DJU 22.08.2002, Rel. Des Fed Ubaldo Cavalcanti)’.
3. Apelação provida”.

2. A parte recorrente alega violação aos arts. 3º, IV; 5º, caput e
incisos II e XXXVI; 37; 150, VI, c, todos da CF/1988. Sustenta que: (i) o

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 184 de 468

RE 949297 / CE

acórdão recorrido “aplicou, de forma equivocada, o instituto da coisa


julgada, no caso concreto, violando, assim, o art. 5º, XXXVI, da
Constituição Federal”; (ii) “a questão a ser enfrentada passa a se
relacionar ao tema da eficácia temporal da sentença proferida no
mandado de segurança que, reconhecendo incidentalmente a
inconstitucionalidade da cobrança da contribuição social instituída pela
Lei 7.689/88, desobrigou a contribuinte de recolher a referida
contribuição”; (iii) a manutenção da decisão importa violação ao
princípio da igualdade, na medida em que este Supremo Tribunal Federal
declarou a inconstitucionalidade tão somente do art. 8º da Lei nº
7.689/1988, de modo que, permitir que a contribuinte não recolha a
exação, consistirá em enriquecimento sem causa; (iv) deve haver a
relativização dos efeitos da coisa julgada no caso concreto.

3. Em contrarrazões, a recorrida defendeu que: (i)


preliminarmente, o recurso extraordinário não preenche todos os
requisitos de admissibilidade, tendo em vista a impossibilidade de
violação a determinados dispositivos constitucionais suscitados; (ii) caso
seja verificada alguma ofensa ao texto constitucional, esta é meramente
reflexa; (iii) a análise dos argumentos da recorrente demandaria o
reexame de provas, incidindo no óbice da Súmula 279/STF; (iv) não houve
o prequestionamento das matérias constitucionais suscitadas. (v) No
mérito, a recorrida alegou que possui a seu favor decisão judicial
transitada em julgado assegurando o seu direito de não recolher a exação,
pelo que está albergada pelo instituto da coisa julgada.

4. Em 24.03.2016, o ilustre relator do feito, Min. Edson


Fachin, manifestou-se pela repercussão geral do tema, tendo sido
acompanhado pelos demais integrantes desta Corte. Verifique-se a
ementa da decisão:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO


GERAL. PRELIMINAR. RECONHECIMENTO. DIREITO
TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO

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RE 949297 / CE

LÍQUIDO - CSLL. LEI 7.689/88. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.


COISA JULGADA. LIMITES. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
JURÍDICA. INCONSTITUCIONALIDADE INCIDENTAL.
DECLARAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE EM
CONTROLE ABSTRATO E CONCENTRADO. ADI 15.
SÚMULA 239 DO STF.
1. A matéria constitucional controvertida consiste em
delimitar o limite da coisa julgada em âmbito tributário, na
hipótese de o contribuinte ter em seu favor decisão judicial
transitada em julgado que declare a inexistência de relação
jurídico-tributária, ao fundamento de inconstitucionalidade
incidental de tributo, por sua vez declarado constitucional, em
momento posterior, na via do controle concentrado e abstrato
de constitucionalidade exercido pelo STF.
2. Preliminar de repercussão geral em recurso
extraordinário reconhecida”.

5. A Procuradoria-Geral da República, em parecer,


manifestou-se pelo provimento do recurso extraordinário e pela adoção
de efeitos prospectivos, assegurado “período hábil a garantir o seu
conhecimento pelos contribuintes e a permitir a recepção da carga
tributária resultante da cobrança da contribuição social sobre o lucro
líquido”, sob o fundamento de que a natureza continuada da relação
tributária é influenciada pela sucessão de circunstâncias de fato e de
direito, que superam a eficácia de eventual coisa julgada em demanda
individual.

6. Em 19.9.2016, o relator do feito indeferiu pedido da parte


recorrida de suspensão de todos os processos sobre a presente
controvérsia que tramitavam no Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais – CARF.

7. O ilustre relator admitiu o ingresso no feito da Federação


das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB e do Sindicato das Indústrias

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RE 949297 / CE

de Produtos Químicos Para Fins Industriais, Petroquímicas e de Resinas


Sintéticas de Camaçari, Candeias e Dias D’Ávila (SINPEQ), na qualidade
de amici curiae.

8. Neste Plenário virtual, o Min. Edson Fachin se manifestou


pelo provimento do recurso extraordinário, na medida em que a Fazenda
Nacional pretende cobrar a CSLL relativa a fatos geradores posteriores à
decisão deste Tribunal na ADI 15. Sugere ainda a fixação da seguinte tese:
“A eficácia temporal de coisa julgada material derivada de relação tributária de
trato continuado possui condição resolutiva que se implementa com a publicação
de ata de ulterior julgamento realizado em sede de controle abstrato e
concentrado de constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos; observadas as regras constitucionais da
irretroatividade, da anterioridade anual e da noventena ou da anterioridade
nonagesimal, de acordo com a espécie tributária em questão”. Veja-se a ementa
da decisão:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO


GERAL. DIREITO TRIBUTÁRIO. DIREITO PROCESSUAL
CIVIL. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO
– CSLL – LEI 7.689/1988. COISA JULGADA. EFICÁCIA
TEMPORAL. LIMITES. RELAÇÃO TRIBUTÁRIA. TRATO
CONTINUADO. ADI 15.
1. Ante a observância de decisão judicial de mérito
transitada em julgado, após cognição exauriente, a coisa julgada
exsurge como situação jurídica que qualifica o ato decisório
com o fito de estabilizá-lo socialmente em termos objetivos,
subjetivos e temporais. Doutrina.
2. É inaplicável a Súmula 239 do STF à espécie, pois os
precedentes que propiciaram a jurisprudência dominante
referiam-se à exigência de tributo atinente a determinado
exercício financeiro, ao passo que a questão subjacente ao
presente caso diz respeito à exigibilidade do tributo em si, ao
fundamento de sua inconstitucionalidade. Precedente: RE
109.073, de relatoria do Ministro Rafael Mayer, Primeira Turma,

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RE 949297 / CE

DJ 13.06.1986.
3. O comando sentencial rege-se pela cláusula rebus sic
stantibus, de modo a permanecer hígido enquanto se
mantiverem íntegras as situações de fato e de direito existentes
à época da prolação da sentença. Assim, alterada a norma
jurídica individual ou o suporte fático de incidência normativa,
a sentença deixa de ter força de lei entre as partes processuais.
Arts. 468 do CPC/73 e 503 do CPC/15.
4. O juízo definitivo de constitucionalidade em escopo de
ADI, ADO e ADC formado pelo Tribunal Pleno do STF possui
aptidão para alterar o estado de direito de relação tributária de
trato continuado, por força do art. 28 da Lei 9.868/1999,
rompendo o silogismo original da sentença judicial transitada
em julgado, de modo a fazer cessar os efeitos prospectivos da
primeira decisão, a partir da publicação da ata de julgamento
da ação de índole abstrata.
5. Não é suscetível de ser içada a dimensão subjetiva de
coisa julgada formada em demanda individual em face de
processo objetivo com eficácia erga omnes e efeitos vinculantes,
quando os conteúdos dos atos decisórios são opostos em
relação à constitucionalidade de tributo, definindo a existência
ou não de relação jurídico-tributária de trato continuado entre
Contribuinte e Estado.
6. Fixação de tese jurídica ao Tema 881 da sistemática da
repercussão geral: ‘A eficácia temporal de coisa julgada material
derivada de relação tributária de trato continuado possui condição
resolutiva que se implementa com a publicação de ata de ulterior
julgamento realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos; observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, da anterioridade anual e da
noventena ou da anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie
tributária em questão’.
7. Recurso extraordinário conhecido a que se dá
provimento para reformar o acórdão recorrido, com a
denegação da ordem mandamental”.

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9. É o relatório. Passo a votar.

II. MÉRITO

10. Após o relatório, passarei à análise dos argumentos


levantados, dividindo o presente voto em três partes. Na primeira parte,
analiso brevemente a distinção entre o presente paradigma e os
precedentes desta Corte que abordam matéria similar, a fim de delimitar
o escopo da controvérsia. Na segunda, abordo a gradativa objetivação do
controle difuso de constitucionalidade, com o intuito de justificar que
ambos os recursos extraordinários sob análise, este e aquele da minha
relatoria, o RE 955.227, devem ter tese firmada no mesmo sentido. Na
terceira, examino a segurança jurídica, como valor protegido pela coisa
julgada, em contraponto à igualdade e à livre concorrência, para então
concluir sobre a melhor solução para a controvérsia e para o caso
concreto.

11. Antecipo, desde já, que irei acompanhar a solução


alcançada pelo ilustre relator do feito, Min. Edson Fachin.

II.1. Delimitação do escopo da controvérsia: um distinguishing em


relação aos precedentes desta Corte

12. A presente repercussão geral foi reconhecida para que


sejam definidos se e como as decisões em controle concentrado desta Corte
fazem cessar os efeitos futuros da coisa julgada em matéria tributária,
quando a decisão, com efeitos declaratórios, tiver como base a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade de um tributo.

13. Assim, a controvérsia a ser sanada neste julgamento não se


assemelha àquela dos autos do RE 730.462, julgado com repercussão
geral, sob a relatoria do Min. Teori Zavascki, no qual se discutiu a eficácia

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temporal de decisão transitada em julgado fundada em norma


supervenientemente declarada inconstitucional por este Supremo
Tribunal Federal, em sede de controle concentrado de
constitucionalidade. Nesse julgamento, esta Corte decidiu sobre a
possibilidade de desconstituição pretérita da coisa julgada pelas decisões
de inconstitucionalidade ou constitucionalidade, desde que seja ajuizada
a ação rescisória, nos termos do Código de Processo Civil. Na
oportunidade, o Plenário desta Corte fixou a seguinte tese:

“A decisão do Supremo Tribunal Federal declarando a


constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo não produz a automática reforma ou rescisão das
decisões anteriores que tenham adotado entendimento
diferente. Para que tal ocorra, será indispensável a interposição
de recurso próprio ou, se for o caso, a propositura de ação
rescisória própria, nos termos do art. 485 do CPC, observado o
respectivo prazo decadencial (CPC, art. 495)”1.

1 CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. DECLARAÇÃO DE


INCONSTITUCIONALIDADE DE PRECEITO NORMATIVO PELO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. EFICÁCIA NORMATIVA E EFICÁCIA EXECUTIVA DA
DECISÃO: DISTINÇÕES. INEXISTÊNCIA DE EFEITOS AUTOMÁTICOS SOBRE
AS SENTENÇAS JUDICIAIS ANTERIORMENTE PROFERIDAS EM SENTIDO
CONTRÁRIO. INDISPENSABILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO OU
PROPOSITURA DE AÇÃO RESCISÓRIA PARA SUA REFORMA OU
DESFAZIMENTO. 1. A sentença do Supremo Tribunal Federal que afirma a
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito normativo gera, no plano do
ordenamento jurídico, a consequência (= eficácia normativa) de manter ou excluir a
referida norma do sistema de direito. 2. Dessa sentença decorre também o efeito
vinculante, consistente em atribuir ao julgado uma qualificada força impositiva e
obrigatória em relação a supervenientes atos administrativos ou judiciais (= eficácia
executiva ou instrumental), que, para viabilizar-se, tem como instrumento próprio,
embora não único, o da reclamação prevista no art. 102, I, “l”, da Carta Constitucional.
3. A eficácia executiva, por decorrer da sentença (e não da vigência da norma
examinada), tem como termo inicial a data da publicação do acórdão do Supremo no
Diário Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999). É, consequentemente, eficácia que atinge
atos administrativos e decisões judiciais supervenientes a essa publicação, não os
pretéritos, ainda que formados com suporte em norma posteriormente declarada
inconstitucional. 4. Afirma-se, portanto, como tese de repercussão geral que a decisão

10

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14. Além disso, o Plenário excetuou expressamente da


aplicação dessa tese, quanto à indispensabilidade da ação rescisória, a
questão relacionada à execução de efeitos futuros da decisão proferida em
caso concreto sobre relações jurídicas de trato continuado. Dessa forma,
naquele julgamento, esta Corte não analisou o objeto do presente recurso.

15. Tampouco se confunde com o RE 955.227 RG, da minha


relatoria, que trata de tema análogo, porém, limitado a discutir os efeitos
das decisões deste Supremo Tribunal Federal, em sede de controle difuso
(e não concentrado) de constitucionalidade, sobre a eficácia futura da
coisa julgada nas relações de trato continuado. No referido caso, caberá
ao Plenário definir o impacto das decisões em controle difuso, inclusive
aquelas proferidas sob a dinâmica da repercussão geral, nos termos do
art. 102, § 3º, da CF/1988, sobre os efeitos futuros da coisa julgada em
matéria tributária.

16. Não se confunde também com a questão do ARE 748.371


RG, da relatoria do Min. Gilmar Mendes, no qual esta Corte assentou que
não há repercussão geral na discussão acerca dos limites da coisa

do Supremo Tribunal Federal declarando a constitucionalidade ou a


inconstitucionalidade de preceito normativo não produz a automática reforma ou
rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado entendimento diferente; para que
tal ocorra, será indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a
propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC, observado o
respectivo prazo decadencial (CPC, art. 495). Ressalva-se desse entendimento, quanto à
indispensabilidade da ação rescisória, a questão relacionada à execução de efeitos
futuros da sentença proferida em caso concreto sobre relações jurídicas de trato
continuado. 5. No caso, mais de dois anos se passaram entre o trânsito em julgado da
sentença no caso concreto reconhecendo, incidentalmente, a constitucionalidade do
artigo 9º da Medida Provisória 2.164-41 (que acrescentou o artigo 29-C na Lei
8.036/90) e a superveniente decisão do STF que, em controle concentrado, declarou a
inconstitucionalidade daquele preceito normativo, a significar, portanto, que aquela
sentença é insuscetível de rescisão. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
(RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki, julgamento em 28.05.2015)

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RE 949297 / CE

julgada2, de modo que não cabe a este Tribunal analisar o conteúdo das
decisões transitadas em julgado, a fim de definir o seu alcance.

17. Por fim, não se trata do tema da ADI 2.418 3, relatada pelo
Min. Teori Zavascki, em que esta Corte entendeu ser constitucional o art.
475-L, § 1º, do CPC/19734, e os arts. 525, § 125; e 535, § 5º6, do CPC/2015. O
primeiro dispunha que se considera inexigível o título judicial fundado
em lei ou ato normativo declarado inconstitucional pelo Supremo

2 EMENTA: CONSTITUCIONAL. LEGITIMIDADE DAS


NORMAS ESTABELECENDO PRAZO DE TRINTA DIAS PARA
EMBARGOS À EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA (ART. 1º-
B DA LEI 9.494/97) E PRAZO PRESCRICIONAL DE CINCO ANOS PARA
AÇÕES DE INDENIZAÇÃO CONTRA PESSOAS DE DIREITO PÚBLICO
E PRESTADORAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS (ART. 1º-C DA LEI
9.494/97). LEGITIMIDADE DA NORMA PROCESSUAL QUE INSTITUI
HIPÓTESE DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL
EIVADO DE INCONSTITUCIONALIDADE QUALIFICADA (ART. 741,
PARÁGRAFO ÚNICO E ART. 475-L, § 1º DO CPC/73; ART. 525, § 1º, III E
§§ 12 E 14 E ART. 535, III, § 5º DO CPC/15). 1. É constitucional a norma
decorrente do art. 1º-B da Lei 9.494/97, que fixa em trinta dias o prazo
para a propositura de embargos à execução de título judicial contra a
Fazenda Pública. 2. É constitucional a norma decorrente do art. 1º-C da
Lei 9.494/97, que fixa em cinco anos o prazo prescricional para as ações de
indenização por danos causados por agentes de pessoas jurídicas de
direito público e de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de
serviços públicos, reproduzindo a regra já estabelecida, para a União, os
Estados e os Municípios, no art. 1º do Decreto 20.910/32. 3. São
constitucionais as disposições normativas do parágrafo único do art. 741
do CPC, do § 1º do art. 475-L, ambos do CPC/73, bem como os
correspondentes dispositivos do CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o
art. 535, § 5º. São dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da
coisa julgada com o primado da Constituição, vieram agregar ao sistema
processual brasileiro um mecanismo com eficácia rescisória de sentenças

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Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação de lei ou ato


normativo tida pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a
Constituição Federal; os demais possuem redação similar para hipóteses
de execução.

18. Portanto, a fim de que não restem dúvidas, este recurso


extraordinário traz para a apreciação deste Plenário se deve ou não haver
uma limitação temporal dos efeitos futuros da coisa julgada, quando esta

revestidas de vício de inconstitucionalidade qualificado, assim


caracterizado nas hipóteses em que (a) a sentença exequenda esteja
fundada em norma reconhecidamente inconstitucional – seja por aplicar
norma inconstitucional, seja por aplicar norma em situação ou com um
sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença exequenda tenha deixado de
aplicar norma reconhecidamente constitucional; e (c) desde que, em
qualquer dos casos, o reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do STF realizado
em data anterior ao trânsito em julgado da sentença exequenda. 4. Ação
julgada improcedente. (ADI 2.418, Rel. Min. Teori Zavascki, julgamento
em 04.05.2016)
3 EMENTA: CONSTITUCIONAL. LEGITIMIDADE DAS
NORMAS ESTABELECENDO PRAZO DE TRINTA DIAS PARA
EMBARGOS À EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA (ART. 1º-
B DA LEI 9.494/97) E PRAZO PRESCRICIONAL DE CINCO ANOS PARA
AÇÕES DE INDENIZAÇÃO CONTRA PESSOAS DE DIREITO PÚBLICO
E PRESTADORAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS (ART. 1º-C DA LEI
9.494/97). LEGITIMIDADE DA NORMA PROCESSUAL QUE INSTITUI
HIPÓTESE DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL
EIVADO DE INCONSTITUCIONALIDADE QUALIFICADA (ART. 741,
PARÁGRAFO ÚNICO E ART. 475-L, § 1º DO CPC/73; ART. 525, § 1º, III E
§§ 12 E 14 E ART. 535, III, § 5º DO CPC/15). 1. É constitucional a norma
decorrente do art. 1º-B da Lei 9.494/97, que fixa em trinta dias o prazo
para a propositura de embargos à execução de título judicial contra a
Fazenda Pública. 2. É constitucional a norma decorrente do art. 1º-C da

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RE 949297 / CE

Corte vier a se manifestar em sentido contrário, em controle concentrado


de constitucionalidade. Em relação ao caso concreto, por sua vez, caberá
determinar se a coisa julgada que declarou a inconstitucionalidade da Lei
nº 7.869/1988 impede ou não a futura cobrança do tributo, tendo em vista
posterior manifestação deste Tribunal, em sede de controle concentrado,
no sentido da constitucionalidade da norma, circunstância que pode
denotar uma virada no suporte jurídico que fundamentara a decisão
proferida pela origem.

Lei 9.494/97, que fixa em cinco anos o prazo prescricional para as ações de
indenização por danos causados por agentes de pessoas jurídicas de
direito público e de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de
serviços públicos, reproduzindo a regra já estabelecida, para a União, os
Estados e os Municípios, no art. 1º do Decreto 20.910/32. 3. São
constitucionais as disposições normativas do parágrafo único do art. 741
do CPC, do § 1º do art. 475-L, ambos do CPC/73, bem como os
correspondentes dispositivos do CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o
art. 535, § 5º. São dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da
coisa julgada com o primado da Constituição, vieram agregar ao sistema
processual brasileiro um mecanismo com eficácia rescisória de sentenças
revestidas de vício de inconstitucionalidade qualificado, assim
caracterizado nas hipóteses em que (a) a sentença exequenda esteja
fundada em norma reconhecidamente inconstitucional – seja por aplicar
norma inconstitucional, seja por aplicar norma em situação ou com um
sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença exequenda tenha deixado de
aplicar norma reconhecidamente constitucional; e (c) desde que, em
qualquer dos casos, o reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do STF realizado
em data anterior ao trânsito em julgado da sentença exequenda. 4. Ação
julgada improcedente. (ADI 2.418, Rel. Min. Teori Zavascki, julgamento
em 04.05.2016)
4 Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre:
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
[...]

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II.2. Abstrativização do controle difuso de constitucionalidade

19. O controle de constitucionalidade das normas pode ser


feito de duas formas distintas, quais sejam: de modo difuso e incidental; e
concentrado e abstrato. No sistema jurídico brasileiro, as duas
modalidades convivem, razão pela qual se afirma que o Brasil adotou um
sistema misto de controle de constitucionalidade.

§ 1 o Para efeito do disposto no inciso II do caput deste


artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou
ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal
Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato
normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com
a Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005) (Vigência)
5 Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o
pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o
executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente,
nos próprios autos, sua impugnação.
[...]
§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste
artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título
executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo
Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em
controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
6 Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu
representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para,
querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a
execução, podendo arguir:
[...]
§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste
artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título

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20. O controle difuso e incidental, de inspiração norte-


americana, foi incorporado a partir da Constituição de 1891. Tal
modalidade é caracterizada por conferir a qualquer juiz, no exercício da
função jurisdicional e diante da análise de determinado caso concreto, a
prerrogativa de declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato
normativo, decisão que, em princípio, produzirá efeitos inter partes. No
controle concentrado e abstrato, por sua vez, há um exame da
constitucionalidade de determinada norma em tese, provocado pelos
legitimados para tanto, por intermédio dos meios próprios previstos na
Constituição.

21. As decisões exaradas em sede de controle concentrado


produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal (art. 102, § 2°, da
CF/1988)7. Apesar de o controle difuso não possuir igual previsão, destaco
que com o art. 52, X, da CF/1988 e, após, com a sistemática da repercussão
geral, é possível que sejam atribuídos efeitos vinculantes erga omnes às
decisões incidentais.

22. Já me manifestei sobre o tema na minha obra sobre o

executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado


inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo
Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em
controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
7 § 2° As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo
Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e
nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra
todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal.

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controle de constitucionalidade, no sentido de que “uma decisão do Pleno


do Supremo Tribunal Federal, seja em controle incidental ou em ação
direta, deve ter o mesmo alcance e produzir os mesmos efeitos” 8.

23. A questão também foi abordada pelo Plenário desta Corte,


quando do julgamento da Reclamação nº 4.3359, da relatoria do Min.
Gilmar Mendes, iniciado em 2007 e finalizado em 2014, em que se
deparou com a questão da mutação do art. 52, X, da CF/1988, proposta
pelo relator e acompanhada pelo Min. Eros Grau. Esse entendimento,
porém, à época, não foi acatado pela maioria por concluir que esbarraria
na literalidade do dispositivo. Sobre o assunto, afirmei o seguinte:

“Ao longo dos debates, reconheceu-se, contudo, que as


decisões proferidas em sede de controle incidental de
constitucionalidade, ainda que não produzam efeitos idênticos
àquelas decididas em sede concentrada, produzem efeitos
expansivos ultra partes mais brandos para além dos casos que
foram julgadas. [...] Tais votos ressaltam, ainda, o processo de
‘objetivação’ por que está passando o controle incidental de
constitucionalidade, expresso a título exemplificativo, pela
modulação dos efeitos temporais produzida nesta sede, com o
propósito de regular a aplicação da tese firmada pelo STF a
casos semelhantes, bem como pela própria sistemática da
repercussão geral”10.

24. Importante rememorar que a Reclamação nº 4.335


apontou como ato reclamado uma decisão de juiz de primeiro grau do
Tribunal de Justiça do Acre, que indeferiu pedido de progressão de

8 Minha autoria, O controle de constitucionalidade no direito brasileiro,


2016, p. 168.
9 Rcl 4.335, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
20.03.2014.
10 Minha autoria, O controle de constitucionalidade no
direito brasileiro, 2016, p. 168.

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regime de diversos indivíduos que cumpriam pena privativa de liberdade


por terem praticado crimes hediondos. A reclamante, Defensoria Pública
da União, defendeu que essa decisão contrariava o acórdão do Plenário
desta Corte no HC 82.95911, que declarou incidentalmente a
inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/1990 (vedação da
progressão de regime em casos de crimes hediondos).

25. No ato reclamado, o juiz da Vara de Execuções Penais do


TJAC alegou que a inexistência de resolução do Senado, para a suspensão
da lei declarada inconstitucional nos termos do art. 52, X, da CF/1988,
configurava óbice à atribuição de efeitos vinculantes erga omnes ao que
havia sido decidido no paradigma. Na ocasião do julgamento da referida
reclamação, o Min. Gilmar Mendes sustentou a mutação constitucional do
art. 52, X, a fim de que fossem atribuídos os mesmos efeitos das ações de
controle de constitucionalidade abstrato às ações de controle difuso. Na
visão de Sua Exa., a resolução do Senado a que se refere o dispositivo
constitucional passaria a ter apenas o condão de conferir publicidade aos
julgamentos desta Corte, não configurando requisito para a atribuição de
efeitos vinculantes erga omnes a decisões em controle difuso. Como já
afirmei, contudo, essa corrente restou vencida, tendo o relator adequado
o seu voto pela procedência da reclamação, diante da superveniência da
Súmula Vinculante nº 26, conforme proposto pelo Min. Teori Zavascki.

26. Assim, considerando que a Reclamação nº 4.335 teve o seu


julgamento iniciado em 01.02.2007, poucos dias antes do fim da vacatio da
regulamentação da repercussão geral pela Lei nº 11.418/2006, entendo ser
o caso de revisitarmos o tema referente à mutação constitucional do art.
52, X, da CF/1988, à luz dos impactos da repercussão geral para o controle
de constitucionalidade brasileiro.

27. Como ressaltei, com a sistemática da repercussão geral,

11 HC 82.959, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em


23.02.2006.

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instituída pela EC nº 45/2004, e a sucessiva adoção de teses de


julgamento, o processo de objetivação do controle difuso se tornou ainda
mais claro12. O Código de Processo Civil de 1973, alterado pela Lei nº
11.418/2006, ao regulamentar o instituto, definiu como requisito para o
reconhecimento da repercussão geral “a existência, ou não, de questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que
ultrapassem os interesses subjetivos da causa”13 e do mesmo modo dispõe

12 Art. 102, § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá


demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos
termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo
recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros. (Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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o CPC/2015, em seu artigo 1.035, § 1º14.

28. Nessa linha, ressalto que o art. 927, III, do novo código
processual, afirma que “os juízes e tribunais observarão os acórdãos em
incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial
repetitivos”, deixando expresso que o Poder Judiciário está também
vinculado às decisões desta Corte proferidas em recurso extraordinário

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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com repercussão geral. O art. 988, § 5º, II, ainda afirma ser cabível
reclamação para garantia de observância de acórdão de recurso
extraordinário com repercussão geral, quando já esgotadas as instâncias
ordinárias15.

29. Lembro que a aproximação de ambos os controles de


constitucionalidade é natural e inevitável, ao ponto de ser por meio de
uma repercussão geral que esta Corte definirá, no presente julgamento, os

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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efeitos da decisão proferida em controle de constitucionalidade abstrato


em sentido oposto ao declarado em decisões transitadas em julgado
referentes a relações jurídicas de trato sucessivo.

30. Nesse contexto, é inconteste que as decisões proferidas em


recursos extraordinários com repercussão geral e as proferidas em
controle concentrado gradativamente têm adquirido os mesmos efeitos,
seja pela atuação do próprio Poder Judiciário ou do Poder Legislativo.

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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Trata-se do fenômeno da objetivação do controle difuso. Sobre o tema,


esclarece a Professora Ana Paula de Barcellos:

“Na realidade, e como já referido, há em curso no país um


processo de aproximação dos mecanismos de controle difuso e
incidental relativamente àqueles típicos do controle
concentrado e abstrato, e essa aproximação se dá,
principalmente, por meio do que se denomina ‘objetivação’ do
controle difuso e incidental, isto é, a atribuição de efeitos gerais
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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e em alguns casos vinculantes às decisões proferidas em sede


de controle difuso e incidental”16.

31. Assim, aproveito para afirmar ser necessário que esta


Corte reconheça que a declaração de inconstitucionalidade, em sede de
recurso extraordinário com repercussão geral, possui os mesmos efeitos
vinculantes e eficácia erga omnes atribuídos às ações de controle abstrato.
Nesses casos, a resolução do Senado, a que faz menção o art. 52, X, da

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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CF/1988, possuirá a finalidade de publicizar as decisões de


inconstitucionalidade, não configurando requisito para a atribuição de
efeitos vinculantes erga omnes.

32. Aponto ainda que a superação da necessidade de


resolução do Senado para a atribuição de efeitos vinculantes e eficácia
erga omnes às decisões em controle de constitucionalidade não é novidade
no âmbito desta Corte. Sob a égide da Constituição de 1967 alterada pela

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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RE 949297 / CE

EC nº 1/1969, vigia o art. 42, VII, cuja redação era idêntica à do atual art.
52, X, da Constituição de 198817. No entanto, no Processo Administrativo
nº 4.477/1972, em deliberação chancelada pelo despacho de 18.04.1977,
esta Corte definiu que as decisões, em sede de controle abstrato de
constitucionalidade, não seriam mais encaminhadas ao Senado Federal,
mas apenas às autoridades prolatoras da legislação, para fins de
comunicação. Esta Corte atribuiu, portanto, efeitos vinculantes erga omnes
às suas próprias decisões em controle abstrato, o que foi positivado com a

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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RE 949297 / CE

introdução do art. 175 no Regimento Interno, em 1980 18, e,


posteriormente, com o art. 102, § 2º, na Constituição de 198819.

33. Desse modo, entendo ser imprescindível que se reconheça


a mutação do art. 52, X, da CF/1988, para as decisões proferidas em
recurso extraordinário com repercussão geral. Apesar de a matéria de
fundo, no presente caso, tratar da constitucionalidade de lei, e não de sua
inconstitucionalidade, a nova interpretação do referido dispositivo

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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RE 949297 / CE

constitucional é relevantíssima, sobretudo em matéria tributária. Isso


porque, atualmente, a Administração Pública não se vincula
automaticamente às decisões proferidas em repercussão geral e, em
sendo ela quem constitui os créditos tributários, é bastante comum que
autuações sejam feitas mesmo após esta Corte ter se manifestado pela
inconstitucionalidade do tributo em sede de repercussão geral. Além
disso, caso o Tribunal não entenda dessa forma, a própria decisão
proferida neste recurso vinculará o Judiciário.

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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34. Trata-se, portanto, de passo rumo à consolidação do


processo de abstratização do controle difuso, resultando em uma maior
integridade à teoria de precedentes, bem como no aprimoramento do
controle de constitucionalidade brasileiro.

II.3. Cessação da eficácia da coisa julgada em relações jurídicas de


trato continuado

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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35. Diz o art. 5°, caput e inciso XXXVI, da CF/1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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jurídico perfeito e a coisa julgada. (Grifos acrescidos)

36. Confere-se à segurança jurídica estatura constitucional,


como garantia individual, ao se assegurar que a lei não prejudicará,
dentre outros, a coisa julgada, cujo conceito está definido pelos arts. 6°, §
3°, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 20, e 502 do
CPC/201521.

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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37. De igual modo, a Constituição veda a instituição de


tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação
equivalente (art. 150, II22), materialização do princípio da igualdade em
matéria tributária, e qualifica a livre concorrência, como princípio da
ordem econômica (art. 170, IV23).

38. Assim, a segurança jurídica, a igualdade e a livre iniciativa


possuem estatura constitucional. Vale dizer, entre estas não há hierarquia,

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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de modo que não é possível estabelecer, em abstrato, qual deve


prevalecer. Em caso de conflito entre normas dessa natureza, impõe-se a
ponderação, que, como se sabe, é uma técnica de decisão que se
desenvolve em três etapas: (i) na primeira, verificam-se as normas que
postulam incidência no caso; (ii) na segunda, selecionam-se os fatos
relevantes; (iii) e, por fim, testam-se as soluções possíveis para verificar,
em concreto, qual delas melhor realiza a vontade constitucional.
Idealmente, a ponderação deve procurar fazer concessões recíprocas,

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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preservando o máximo possível dos direitos em disputa. No limite,


porém, fazem-se escolhas e promovem-se restrições. Todo esse processo
intelectual tem como fio condutor a proporcionalidade.

39. No tocante à coisa julgada, a própria legislação


infraconstitucional a flexibiliza em determinadas situações. Em relação
especificamente ao presente caso, por exemplo, o art. 505, I, do novo
Código de Processo Civil, afirma que “nenhum juiz decidirá novamente

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo se, tratando-se de


relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de
fato ou de direito, hipótese em que será possível pedir a revisão do
definido em sentença”.

40. Em outras palavras, o legislador infraconstitucional


definiu que a alteração no estado de fato ou de direito implica revisão das
decisões transitadas em julgado. Sobre o tema, manifestou-se o saudoso

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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Min. Teori Zavascki em prestigiada obra:

“[...] a sentença tem eficácia enquanto se mantiverem


inalterados o direito e o suporte fático sobre os quais
estabeleceu o juízo de certeza. [...] A mudança de qualquer
desses elementos compromete o silogismo original da sentença,
porque estará alterado o silogismo do fenômeno de incidência
por ela apreciado: a relação jurídica que antes existia deixou de
existir e vice-versa. Daí afirmar-se que a força do comando

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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RE 949297 / CE

sentencial tem uma condição implícita, a da cláusula rebus sic


stantibus, a significar que ela atua enquanto se mantiverem
íntegras as situações de fato e de direito existentes quando da
prolação da sentença. Alterada a situação de fato (muda o
suporte fático, mantendo-se o estado da norma) ou de direito
(muda o estado da norma, mantendo-se o estado de fato), ou os
dois, a sentença deixa de ter a força de lei entre as partes, que
até então mantinha”24.

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 217 de 468

RE 949297 / CE

41. No mesmo sentido, esta Corte já se pronunciou em recurso


extraordinário com repercussão geral, o RE 596.663, redator p/ o acórdão
Min. Teori Zavascki, sobre a eficácia de decisão transitada em julgado,
que reconheceu ao trabalhador percentual de acréscimo remuneratório,
quando dissídio coletivo posterior passou a determinar a incorporação
definitiva do percentual aos vencimentos, alterando, portanto, a situação
fática e jurídica. Transcrevo a ementa para melhor compreensão do
decidido pela Corte:

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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RE 949297 / CE

“CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA


AFIRMANDO DIREITO À DIFERENÇA DE PERCENTUAL
REMUNERATÓRIO, INCLUSIVE PARA O FUTURO.
RELAÇÃO JURÍDICA DE TRATO CONTINUADO. EFICÁCIA
TEMPORAL. CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS.
SUPERVENIENTE INCORPORAÇÃO DEFINITIVA NOS
VENCIMENTOS POR FORÇA DE DISSÍDIO COLETIVO.
EXAURIMENTO DA EFICÁCIA DA SENTENÇA.

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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RE 949297 / CE

1. A força vinculativa das sentenças sobre relações


jurídicas de trato continuado atua rebus sic stantibus: sua eficácia
permanece enquanto se mantiverem inalterados os
pressupostos fáticos e jurídicos adotados para o juízo de certeza
estabelecido pelo provimento sentencial. A superveniente
alteração de qualquer desses pressupostos (a) determina a
imediata cessação da eficácia executiva do julgado,
independentemente de ação rescisória ou, salvo em estritas
hipóteses previstas em lei, de ação revisional, razão pela qual

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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RE 949297 / CE

(b) a matéria pode ser alegada como matéria de defesa em


impugnação ou em embargos do executado.
2. Afirma-se, nessa linha de entendimento, que a sentença
que reconhece ao trabalhador ou servidor o direito a
determinado percentual de acréscimo remuneratório deixa de
ter eficácia a partir da superveniente incorporação definitiva do
referido percentual nos seus ganhos.
3. Recurso extraordinário improvido”25.

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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RE 949297 / CE

42. Nessa linha, tem-se que o novo Código de Processo Civil,


do mesmo modo, reconhece a necessidade de adequação fática e jurídica,
inclusive com efeitos retroativos, quando houver entendimento deste
Supremo Tribunal Federal em controle de constitucionalidade
concentrado e difuso. Os arts. 525, § 12 26; e 535, § 5°27, do CPC/2015,
preveem a inexigibilidade de obrigação reconhecida em título executivo
judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional ou
fundado em aplicação ou interpretação de lei ou ato normativo

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

42

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RE 949297 / CE

incompatível com a Constituição.

43. Assim sendo, a segurança jurídica, resguardada pela coisa


julgada, não é valor absoluto, sendo passível de flexibilização em favor de
princípio que, na hipótese, cumpra mais fielmente a vontade
constitucional. No presente caso, como já abordado, refere-se à igualdade
e à livre concorrência.

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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RE 949297 / CE

44. Nessa linha, passo a analisar as particularidades do caso


sob exame.

45. Observo que, em julho/1992, o Plenário desta Corte, ao


apreciar o RE 138.284, da relatoria do Min. Carlos Velloso, reconheceu a
constitucionalidade da CSLL, ao entender pela desnecessidade de lei
complementar para a instituição do tributo. Confira-se:

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda

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RE 949297 / CE

“CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÕES


SOCIAIS. CONTRIBUIÇÕES INCIDENTES SOBRE O LUCRO
DAS PESSOAS JURIDICAS. Lei n. 7.689, de 15.12.88.
[...]
II. - A contribuição da Lei 7.689, de 15.12.88, e uma
contribuição social instituída com base no art. 195, I, da
Constituição. As contribuições do art. 195, I, II, III, da
Constituição, não exigem, para a sua instituição, lei
complementar. Apenas a contribuição do parag. 4. do mesmo

Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)


(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Incluída pela Emenda
Constituciona
13 Art. 543-A. O Supremo Tribunal Federal, em decisão
irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão
constitucional nele versada não oferecer repercussão geral, nos termos
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006)
§ 1º Para efeito da repercussão geral, será considerada a
existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico,
político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da
causa. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006)
14 Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão
irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário quando a questão
constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos deste
artigo.
§ 1º Para efeito de repercussão geral, será considerada a
existência ou não de questões relevantes do ponto de vista econômico,
político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do
processo.
15 Art. 988 [...]
§ 5º É inadmissível a reclamação: (Redação dada pela Lei

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RE 949297 / CE

art. 195 e que exige, para a sua instituição, lei complementar,


dado que essa instituição deverá observar a técnica da
competência residual da União (C.F., art. 195, parag. 4; C.F., art.
154, I). Posto estarem sujeitas a lei complementar do art. 146, III,
da Constituição, porque não são impostos, não há necessidade
de que a lei complementar defina o seu fato gerador, base de
cálculo e contribuintes (C.F., art. 146, III, ‘a’).
[...]
VI. - Recurso Extraordinário conhecido, mas improvido,

nº 13.256, de 2016) (Vigência)


[...]
II – proposta para garantir a observância de acórdão de
recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão
proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial
repetitivos, quando não esgotadas as instâncias ordinárias. (Incluído pela
Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
16 Ana Paula de Barcellos, Curso de Direito Constitucional,
2019, p. 622.
17 Art. 42. Compete privativamente ao Senado Federal:
[...]
VII - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei ou
decreto, declarados inconstitucionais por decisão definitiva do Supremo
Tribunal Federal;
18 Art. 175. Julgada procedente a representação e declarada a
inconstitucionalidade total ou parcial de Constituição Estadual, de lei ou
decreto federal ou estadual, de resolução de órgão judiciário ou
legislativo, bem como de qualquer outro ato normativo federal ou
estadual ou de autoridade da administração direta ou indireta, far-se-á
comunicação à autoridade ou órgão responsável pela expedição do ato
normativo impugnado.
Parágrafo único. Se a declaração de inconstitucionalidade
de lei ou ato estadual se fundar nos incisos VI e VII do art. 10 da
Constituição, a comunicação será feita, logo após a decisão, à autoridade
interessada, bem como, depois do trânsito em julgado, ao Presidente da

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RE 949297 / CE

declarada a inconstitucionalidade apenas do artigo 8. da Lei


7.689, de 1988”28.

46. Ressalto que, em vários julgados em controle difuso, todos


anteriores à sistemática da repercussão geral, esta Corte se manifestou
pela constitucionalidade da Lei nº 7.689/1988, porém sem efeito
vinculante e erga omnes, uma vez que o art. 52, X, da CF/1988, determina a
atuação do Senado na suspensão da eficácia da lei apenas em caso de

República, para os efeitos do § 2º do art. 11 da Constituição.


19 Art. 102...
[...]
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo
Supremo Tribunal Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade
de lei ou ato normativo federal, produzirão eficácia contra todos e efeito
vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao
Poder Executivo. (Incluído em § 1º pela Emenda Constitucional nº 3, de
17/03/93)
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo
Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e
nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra
todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45,
de 2004) (Vide ADIN 3392)
20 Art. 6°, § 3º. Chama-se coisa julgada ou caso julgado a
decisão judicial de que já não caiba recurso.
21 Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna
imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
22 Art. 150, II - instituir tratamento desigual entre
contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida
qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles
exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos,
títulos ou direitos;

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 227 de 468

RE 949297 / CE

declaração de inconstitucionalidade. A decisão definitiva quanto à


constitucionalidade da lei, ocorreu no julgamento da ADI 15, sob a
relatoria do Min. Sepúlveda Pertence, finalizado em 14.06.2007, cuja
ementa passo a transcrever:

“EMENTA: [...] IV. ADIn: L. 7.689/88, que instituiu


contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas,
resultante da transformação em lei da Medida Provisória 22, de
1988.

23 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios:
[...]
IV - livre concorrência;
24 Teori Albino Zavascki, Eficácia das sentenças na jurisdição
constitucional, 2017, p. 105.
25 RE 596.663, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgamento em 24.09.2014.
26 Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523sem o
pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o
executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente,
nos próprios autos, sua impugnação.
[...]
§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo,
considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial
fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo
Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle
de constitucionalidade concentrado ou difuso.
27 Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu
representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para,
querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a
execução, podendo arguir:
[...]

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RE 949297 / CE

1. Não conhecimento, quanto ao art. 8º, dada a invalidade


do dispositivo, declarado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal, em processo de controle difuso (RE 146.733), e cujos
efeitos foram suspensos pelo Senado Federal, por meio da
Resolução 11/1995.
2. Procedência da arguição de inconstitucionalidade do
artigo 9º, por incompatibilidade com os artigos 195 da
Constituição e 56, do ADCT/88, que, não obstante já declarada
pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 150.764,
16.12.92, M. Aurélio (DJ 2.4.93), teve o processo de suspensão
do dispositivo arquivado, no Senado Federal, que, assim, se
negou a emprestar efeitos erga omnes à decisão proferida na
via difusa do controle de normas.
3. Improcedência das alegações de inconstitucionalidade
formal e material do restante da mesma lei, que foram
rebatidas, à exaustão, pelo Supremo Tribunal, nos
julgamentos dos RREE 146.733 e 150.764, ambos recebidos
pela alínea b do permissivo constitucional, que devolve ao
STF o conhecimento de toda a questão da constitucionalidade
da lei” (grifos acrescidos).

47. Assim, após 2007, a manutenção das decisões transitadas


em julgado que declaram a inconstitucionalidade da incidência da CSLL –
em relação a fatos geradores posteriores a esse ano – revela discrepância
passível de violar a igualdade tributária, diante do tratamento desigual,
bem como da livre concorrência. Isso porque o contribuinte dispensado

§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste


artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título
executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo
Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em
controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
28 RE 138.284, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em
01.07.1992.

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RE 949297 / CE

do pagamento de tributo por decisão transitada em julgado ostenta


vantagem competitiva em relação aos demais, uma vez que não destina
parcela dos seus recursos a essa finalidade – situação diferente da dos
seus concorrentes que são obrigados a pagar –, de modo a baratear os
custos da sua estrutura e produção.

48. Em resumo: (i) há pessoas jurídicas que não pagam CSLL


com respaldo em decisões transitadas em julgado; (ii) a maioria das
pessoas jurídicas permanece com a obrigação de pagar o referido tributo,
já que não possui decisões transitadas em julgado favoráveis; (iii) esta
Corte se manifestou ao longo da década de 90 e dos anos 2000 diversas
vezes, em controle difuso, anteriormente à repercussão geral, pela
constitucionalidade da instituição da CSLL; (iv) apenas em 2007, na ADI
15, o Plenário proferiu acórdão vinculante e erga omnes, declarando a
constitucionalidade da Lei nº 7.689/1988.

49. Partindo das premissas de que esta Corte dá a última


palavra no que se refere à constitucionalidade de leis e atos normativos, e
que os pontos (i) e (ii) descritos acima geram situações anti-isonômicas,
com repercussão direta na livre concorrência, chego à conclusão de ser
necessária a interrupção dos efeitos da coisa julgada nas relações jurídicas
tributárias de trato sucessivo, independente do tributo que se esteja
discutindo, quando esta Corte se manifestar em sentido oposto, em
controle concentrado ou em controle difuso, desde que de acordo com a
sistemática da repercussão geral. Explico.

50. As decisões declaratórias transitadas em julgado fazem


norma com efeitos futuros para aquelas relações jurídicas que tutelam.
Essas normas vigem para o futuro por tempo indeterminado à condição
de que o contexto fático e jurídico permaneça exatamente o mesmo, assim
como ocorre com as leis produzidas pelo Legislativo. A coisa julgada não
pode servir como salvo conduto inalterável a fim de ser oponível
eternamente pelo jurisdicionado somente porque lhe é favorável.

50

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RE 949297 / CE

Alterado o contexto fático e jurídico, com o pronunciamento desta Corte


em repercussão geral ou em controle concentrado, os efeitos das decisões
transitadas em julgado em relações de trato sucessivo devem se adaptar.
Aplica-se, aqui, a lógica da cláusula rebus sic stantibus.

51. Não se trata de um caso isolado. São diversas e de


diferentes áreas as pessoas jurídicas que possuem decisão transitada em
julgado pela inconstitucionalidade da CSLL com base na Lei nº
7.689/1988. Segundo números da Procuradoria da Fazenda Nacional, em
2016, o valor somado das autuações chegava a R$ 1,2 bilhão.29

52. Reitero que, no julgamento da ADI 15, em 2007, esta Corte


produziu norma nova e em sentido contrário ao pleito dos contribuintes,
vinculando todos à constitucionalidade da instituição da CSLL pela Lei nº
7.689/1988, de modo a prevalecer sobre a coisa julgada individual.
Ressalto, mais uma vez, que não houve manifestação em repercussão
geral sobre o tema.

53. Destaco apenas que a decisão deste Supremo Tribunal


Federal, em controle concentrado ou em repercussão geral, que seja
contrária à coisa julgada favorável ao contribuinte, em relações jurídicas
tributárias de trato sucessivo, produz para ele norma jurídica nova. Essa
situação se assemelha à criação de novo tributo, que, como se sabe, a
depender do tributo, deve observar a irretroatividade, a anterioridade
anual e a noventena30, e, no caso das contribuições para a seguridade

29 Informações retiradas de:


http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/abril/pgfn-defende-cobranca-de-
csll-em-controversia-judicial.
30 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
[...]
III - cobrar tributos:

51

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social, a anterioridade nonagesimal31. Por conseguinte, tem-se que a


publicação da ata de julgamento em controle concentrado ou controle
difuso em repercussão geral equivale ao primeiro dia de vigência da nova
norma que somente produzirá efeitos após os referidos períodos de
“vacatio legis”, garantias fundamentais dos contribuintes que asseguram
certo grau de segurança jurídica. Por óbvio, a aplicação da anterioridade
aqui aventada só deverá beneficiar aqueles contribuintes que possuíam
decisões judiciais transitadas em julgado em seu favor.

[...]
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da
vigência da lei que os houver instituído ou aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Vide Emenda
Constitucional nº 3, de 1993)
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja
sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto
na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
31 Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante
recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (Vide
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela
equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
[...]
c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de
1998)
[...]
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só
poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação
da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o
disposto no art. 150, III, "b".

52

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 232 de 468

RE 949297 / CE

54. Após a referida vacatio, as hipóteses de incidência descritas


na lei automaticamente voltarão a produzir efeitos para aqueles
contribuintes, que, consequentemente, voltarão a praticar os fatos
geradores da obrigação tributária, sendo desnecessário o ajuizamento de
qualquer ação por parte da Fazenda Pública. Quanto a esse ponto, cito
novamente as lições do Min. Teori Zavascki:

“A alteração do status quo tem, em regra, efeitos imediatos


e automáticos. Assim, se a sentença declarou que determinado
servidor público não tinha direito a adicional de insalubridade,
a superveniência de lei prevendo a vantagem importará o
imediato direito a usufruí-la, cessando a partir daí a eficácia
vinculativa do julgado, independentemente de novo
pronunciamento judicial ou de qualquer outra formalidade.
Igualmente, se a sentença declara que os serviços prestados por
determinada empresa estão sujeitos a contribuição para a
seguridade social, a norma superveniente que revogue a
anterior ou que crie a isenção fiscal cortará a sua força
vinculativa, dispensando o contribuinte desde logo do
pagamento do tributo. O mesmo pode ocorrer em favor do
Fisco, em casos em que, reconhecida por sentença, a
intributabilidade, sobrevier lei criando o tributo: sua cobrança
pode dar-se imediatamente, independentemente de revisão do
julgado anterior”32.

55. Enfatizo que as razões de decidir do presente voto se


aplicam, também, logicamente, às relações jurídicas tributárias de trato
sucessivo em que houver coisa julgada favorável às Fazendas Públicas,
reconhecendo a constitucionalidade de determinada exação ou
declarando a existência de uma situação fática que lhe é favorável, e,
posteriormente, esta Corte se manifestar em sentido contrário pela
inconstitucionalidade, em controle concentrado ou em repercussão geral,
32 Teori Albino Zavascki, Eficácia das sentenças na jurisdição
constitucional, 2017, p. 106.

53

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 233 de 468

RE 949297 / CE

a favor dos contribuintes. A partir da eficácia dessa última decisão, os


fatos por eles praticados não mais serão geradores da obrigação
tributária, com efeitos imediatos.

56. Desse modo, por dever de coerência desta Corte, entendo


que a mesma tese deve prevalecer para este caso e para o da minha
relatoria, o RE 955.227, sob pena de se produzirem graves distorções
jurídicas – principalmente no que se refere aos avanços quanto à teoria do
controle de constitucionalidade e à teoria dos precedentes no Brasil – bem
como fáticas – correndo o risco de criar situações ainda mais anti-
isonômicas, a depender do instrumento utilizado pela Corte para se
manifestar sobre a constitucionalidade de uma norma.

II.3.1. A resolução do caso concreto

57. No tocante à resolução do caso concreto, acompanho o


relator do feito, para dar provimento ao recurso extraordinário da União,
já que este Supremo Tribunal Federal, em ação direta de
inconstitucionalidade julgada improcedente, declarou a
constitucionalidade da referida Lei nº 7.869/1988 (ADI 15, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julgamento em 14.06.2007). A partir daí, houve uma
modificação substantiva na situação jurídica subjacente à decisão
transitada em julgado em favor do contribuinte. Tratando-se de uma
relação de trato sucessivo, sujeita-se, prospectivamente, à incidência da
nova norma jurídica, produto da decisão desta Corte.

III. CONCLUSÃO

58. Diante do exposto, dou provimento ao recurso


extraordinário da União, para reconhecer a constitucionalidade da
interrupção dos efeitos futuros da coisa julgada em relações jurídicas
tributárias de trato sucessivo, quando esta Corte se manifestar em sentido
contrário em controle concentrado.

54

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Voto Vogal

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RE 949297 / CE

59. Proponho a fixação da seguinte tese de julgamento: “1. As


decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade, anteriores à
instituição do regime de repercussão geral, não impactam automaticamente a
coisa julgada que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em sede de
repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões
transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade, a
anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a
natureza do tributo.”.

60. É como voto.

55

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297


PROCED. : CEARÁ
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL (00000/DF)
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA (41728/SP)
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO (18287/BA, 01449/A/DF,
161891/RJ, 113570/SP)
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO (234916/SP)
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SAO PAULO -
FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA (90389/SP) E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS (188415/SP)
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL -
CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR (0016275/DF)
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS QUIMICOS PARA
FINS INDUSTRIAIS, PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL (6558/DF)
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO (20720/DF, 291776/SP)
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO (15317/DF)

Decisão: Após o voto do Ministro Edson Fachin (Relator), que


conhecia do recurso extraordinário a que se dava provimento para
reformar o acórdão recorrido, com a denegação da ordem
mandamental, condenava a parte recorrida ao pagamento das despesas
processuais da parte recorrente, conforme os arts. 82, § 2º, e 84
do CPC, ficando a parte vencida exonerada do pagamento de
honorários advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF, modulava
os efeitos temporais da decisão para que tenha eficácia pró-futuro
a partir da publicação da ata de julgamento deste acórdão,
considerando o período de anterioridade nonagesimal, nos casos de
restabelecimento de incidência de contribuições sociais, e de
anterioridade anual e nonagesimal, para o restabelecimento da
incidência das demais espécies tributárias, ressalvadas as
exceções previstas na Constituição, e, ao final, propunha a
fixação da seguinte tese de repercussão geral (tema 881): “A
eficácia temporal de coisa julgada material derivada de relação
tributária de trato continuado possui condição resolutiva que se
implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento
realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a
noventena ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie

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tributária em questão”, no que foi acompanhado pela Ministra Rosa


Weber; do voto do Ministro Roberto Barroso, que acompanhava o
Relator, mas propunha a fixação de tese diversa, no seguinte
sentido: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em
sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos
temporais das sentenças transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”; do voto do Ministro Dias Toffoli, que acompanhava o
Relator quanto ao provimento do recurso e à proposta de modulação
de efeitos da decisão, mas fazia ressalvas quanto à tese de
repercussão geral proposta pelo Relator, acompanhando, nesse
ponto, o Ministro Roberto Barroso; e do voto do Ministro Gilmar
Mendes, que dava provimento ao recurso extraordinário para
assentar que, em se tratando de relação jurídica de trato
sucessivo, a superveniência de interpretação do Plenário do STF,
em sede de controle concentrado ou difuso de constitucionalidade,
divergente com a exegese transitada em julgado em demanda
individual ou coletiva, faz cessar a ultratividade da eficácia
preclusiva da coisa julgada formal e material em relação aos
efeitos futuros de atos pretéritos, além dos atos futuros,
restabelecendo, no caso concreto, a sentença, e, ainda, sugeria as
seguintes teses de repercussão geral: “1) em se tratando de
efeitos pretéritos ou pendentes de atos passados, quando se tratar
de relação jurídica de trato sucessivo, é cabível ação rescisória
ou alegação de inexigibilidade do título executivo judicial quando
este contrariar a exegese conferida pelo Plenário da Suprema
Corte, tal como assentado na ADI 2.418, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 17.11.2016; no RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 9.9.2015 (tema 733 da RG); e no RE 611.503, Redator p/
acórdão Min. Edson Fachin, Pleno, DJe 10.3.2019 (tema 360 da RG),
além do disposto nos §§ 7º e 8º do art. 535 do CPC; e 2) quanto
aos efeitos futuros de atos passados, bem ainda de atos futuros,
ambos submetidos à relação jurídica de trato continuado, cessa a
ultratividade de título judicial fundado em ‘aplicação ou
interpretação tida como incompatível com a Constituição’, na
situação em que o pronunciamento jurisdicional for contrário ao
decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, seja no
controle difuso, seja no controle concentrado de
constitucionalidade, independentemente de ação rescisória ou
qualquer outra demanda, diante da cláusula rebus sic stantibus, na
linha do que assentado no RE 596.663, Redator p/ acórdão Min.
Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 26.11.2014 (tema 494 da RG)”,
pediu vista dos autos o Ministro Alexandre de Moraes. Falaram:
pela recorrente, o Dr. Claudio Xavier Seefelder Filho, Procurador

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da Fazenda Nacional; pela recorrida, a Dra. Glaucia Maria Lauletta


Frascino; pelo amicus curiae Sindicato das Indústrias de Produtos
Químicos para Fins Industriais, Petroquímicas e de Resinas
Sintéticas de Camaçari, Candeias e Dias D’ávila – SINPEQ, a Dra.
Fernanda Donnabella Camano de Souza; pelo amicus curiae Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, o Dr. Luiz
Gustavo A. S. Bichara; e, pelo amicus curiae Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, a Dra. Misabel de Abreu
Machado Derzi. Plenário, Sessão Virtual de 6.5.2022 a 13.5.2022.

Decisão: Após o voto-vista do Ministro Alexandre de Moraes,


que acompanhava o voto do Relator para dar provimento ao recurso
extraordinário, e reformar o acórdão recorrido, de forma a denegar
a segurança, aderindo à tese e à modulação propostas, pediu vista
dos autos o Ministro Gilmar Mendes. Plenário, Sessão Virtual de
30.9.2022 a 7.10.2022.

Decisão: Após o voto reajustado do Ministro Edson Fachin


(Relator), no sentido de conhecer do recurso extraordinário,
provendo-o para reformar o acórdão recorrido, com a denegação da
ordem mandamental, condenando a parte recorrida ao pagamento das
despesas processuais da parte recorrente, conforme os arts. 82, §
2º, e 84 do CPC, ficando a parte vencida exonerada do pagamento de
honorários advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF, e
propondo a fixação da seguinte tese de repercussão geral (tema
881): “A eficácia temporal de coisa julgada material derivada de
relação tributária de trato continuado possui condição resolutiva
que se implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento
realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a
noventena ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie
tributária em questão”, no que foi acompanhado pelos Ministros
Rosa Weber (Presidente), Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia; do
voto do Ministro Roberto Barroso, que acompanhava o Relator, dando
provimento ao recurso extraordinário da União, para reconhecer a
constitucionalidade da interrupção dos efeitos futuros da coisa
julgada em relações jurídicas tributárias de trato sucessivo,
quando esta Corte se manifestar em sentido contrário em controle
concentrado, mas propunha fixação de tese diversa, no seguinte
sentido: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em
sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 238 de 468

temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas


relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”; do voto do Ministro Dias Toffoli, que acompanhava, com
ressalvas, o Ministro Relator, dando provimento ao recurso
extraordinário, mas, em relação à tese de repercussão geral,
acompanhava o Ministro Roberto Barroso; e do voto reajustado do
Ministro Gilmar Mendes, que acompanhava, com ressalvas, o Relator,
dele divergindo apenas em relação à aplicação dos princípios das
anterioridades (anual e/ou nonagesimal), e, quanto à tese de
repercussão geral proposta pelo Relator, entendia que as teses de
julgamento dos temas n. 881 e n. 885 deveriam ser uniformes, para
garantir segurança jurídica e evitar interpretações divergentes
quanto ao tema de fundo. Assim, propunha, com as ressalvas e
divergência pontuadas no RE 955.227, que seja aprovada a tese do
Ministro Roberto Barroso constante desse recurso extraordinário.
No entanto, ressalvava seu entendimento pessoal para acompanhar o
item 1, qual seja, “1. As decisões do STF em controle incidental
de constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo.”, e divergir pontualmente do item 2 (“2. Já as
decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral
interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões
transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a
anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo.”), por
entender desnecessária a aplicação dos princípios da anterioridade
anual e da noventena, o processo foi destacado pelo Ministro
Relator. Plenário, Sessão Virtual de 18.11.2022 a 25.11.2022.

Composição: Ministros Rosa Weber (Presidente), Gilmar Mendes,


Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Roberto
Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Nunes Marques e André
Mendonça.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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Observação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 239 de 468

01/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE
SAO PAULO - FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS
QUIMICOS PARA FINS INDUSTRIAIS,
PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE
CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO

OBSERVAÇÃO
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR)
- Presidente, como havia transmitido a Vossa Excelência, eu ouvi com
máxima atenção todas as sustentações e recebi, agora à tarde, ainda sem
tempo de ter lido, o voto do eminente Ministro Edson Fachin no processo
que será julgado conjuntamente com este.
De modo, Presidente, que eu gostaria, para formar a minha opinião,
levando em conta os argumentos que ouvi da tribuna, seja para acolhê-
los, seja para enfrentá-los, e sobretudo o ponto específico da modulação

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Supremo Tribunal Federal
Observação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 240 de 468

RE 949297 / CE

que vem deduzido no voto do Ministro Edson Fachin, pediria a Vossa


Excelência para eu retomar o meu voto amanhã no início da tarde quando
voltarmos à sessão. Portanto, se parecer bem a Vossa Excelência e aos
demais, eu gostaria de organizar as minhas ideias à luz do que eu ouvi e
ler, com a cautela necessária, o voto do Ministro Fachin e trazer o meu
voto amanhã que, prometo, não será longo.

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http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 30E0-C574-263A-7FC0 e senha 18F3-1CDD-2204-721B
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 01/02/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 241 de 468

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297


PROCED. : CEARÁ
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. ROBERTO BARROSO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL (00000/DF)
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA (41728/SP)
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO (18287/BA, 01449/A/DF,
161891/RJ, 113570/SP)
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO (234916/SP)
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SAO PAULO -
FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA (90389/SP) E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS (188415/SP)
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL -
CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR (0016275/DF)
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS QUIMICOS PARA
FINS INDUSTRIAIS, PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL (6558/DF)
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO (20720/DF, 291776/SP)
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO (15317/DF)

Decisão: Após o voto do Ministro Edson Fachin (Relator), que


conhecia do recurso extraordinário a que se dava provimento para
reformar o acórdão recorrido, com a denegação da ordem
mandamental, condenava a parte recorrida ao pagamento das despesas
processuais da parte recorrente, conforme os arts. 82, § 2º, e 84
do CPC, ficando a parte vencida exonerada do pagamento de
honorários advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF, modulava
os efeitos temporais da decisão para que tenha eficácia pró-futuro
a partir da publicação da ata de julgamento deste acórdão,
considerando o período de anterioridade nonagesimal, nos casos de
restabelecimento de incidência de contribuições sociais, e de
anterioridade anual e nonagesimal, para o restabelecimento da
incidência das demais espécies tributárias, ressalvadas as
exceções previstas na Constituição, e, ao final, propunha a
fixação da seguinte tese de repercussão geral (tema 881): “A
eficácia temporal de coisa julgada material derivada de relação
tributária de trato continuado possui condição resolutiva que se
implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento
realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código C836-9536-AB18-966B e senha C252-6D9A-2741-6F73
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 01/02/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 242 de 468

noventena ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie


tributária em questão”, no que foi acompanhado pela Ministra Rosa
Weber; do voto do Ministro Roberto Barroso, que acompanhava o
Relator, mas propunha a fixação de tese diversa, no seguinte
sentido: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em
sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos
temporais das sentenças transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”; do voto do Ministro Dias Toffoli, que acompanhava o
Relator quanto ao provimento do recurso e à proposta de modulação
de efeitos da decisão, mas fazia ressalvas quanto à tese de
repercussão geral proposta pelo Relator, acompanhando, nesse
ponto, o Ministro Roberto Barroso; e do voto do Ministro Gilmar
Mendes, que dava provimento ao recurso extraordinário para
assentar que, em se tratando de relação jurídica de trato
sucessivo, a superveniência de interpretação do Plenário do STF,
em sede de controle concentrado ou difuso de constitucionalidade,
divergente com a exegese transitada em julgado em demanda
individual ou coletiva, faz cessar a ultratividade da eficácia
preclusiva da coisa julgada formal e material em relação aos
efeitos futuros de atos pretéritos, além dos atos futuros,
restabelecendo, no caso concreto, a sentença, e, ainda, sugeria as
seguintes teses de repercussão geral: “1) em se tratando de
efeitos pretéritos ou pendentes de atos passados, quando se tratar
de relação jurídica de trato sucessivo, é cabível ação rescisória
ou alegação de inexigibilidade do título executivo judicial quando
este contrariar a exegese conferida pelo Plenário da Suprema
Corte, tal como assentado na ADI 2.418, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 17.11.2016; no RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 9.9.2015 (tema 733 da RG); e no RE 611.503, Redator p/
acórdão Min. Edson Fachin, Pleno, DJe 10.3.2019 (tema 360 da RG),
além do disposto nos §§ 7º e 8º do art. 535 do CPC; e 2) quanto
aos efeitos futuros de atos passados, bem ainda de atos futuros,
ambos submetidos à relação jurídica de trato continuado, cessa a
ultratividade de título judicial fundado em ‘aplicação ou
interpretação tida como incompatível com a Constituição’, na
situação em que o pronunciamento jurisdicional for contrário ao
decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, seja no
controle difuso, seja no controle concentrado de
constitucionalidade, independentemente de ação rescisória ou
qualquer outra demanda, diante da cláusula rebus sic stantibus, na
linha do que assentado no RE 596.663, Redator p/ acórdão Min.
Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 26.11.2014 (tema 494 da RG)”,
pediu vista dos autos o Ministro Alexandre de Moraes. Falaram:

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Extrato de Ata - 01/02/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 243 de 468

pela recorrente, o Dr. Claudio Xavier Seefelder Filho, Procurador


da Fazenda Nacional; pela recorrida, a Dra. Glaucia Maria Lauletta
Frascino; pelo amicus curiae Sindicato das Indústrias de Produtos
Químicos para Fins Industriais, Petroquímicas e de Resinas
Sintéticas de Camaçari, Candeias e Dias D’ávila – SINPEQ, a Dra.
Fernanda Donnabella Camano de Souza; pelo amicus curiae Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, o Dr. Luiz
Gustavo A. S. Bichara; e, pelo amicus curiae Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, a Dra. Misabel de Abreu
Machado Derzi. Plenário, Sessão Virtual de 6.5.2022 a 13.5.2022.

Decisão: Após o voto-vista do Ministro Alexandre de Moraes,


que acompanhava o voto do Relator para dar provimento ao recurso
extraordinário, e reformar o acórdão recorrido, de forma a denegar
a segurança, aderindo à tese e à modulação propostas, pediu vista
dos autos o Ministro Gilmar Mendes. Plenário, Sessão Virtual de
30.9.2022 a 7.10.2022.

Decisão: Após o voto reajustado do Ministro Edson Fachin


(Relator), no sentido de conhecer do recurso extraordinário,
provendo-o para reformar o acórdão recorrido, com a denegação da
ordem mandamental, condenando a parte recorrida ao pagamento das
despesas processuais da parte recorrente, conforme os arts. 82, §
2º, e 84 do CPC, ficando a parte vencida exonerada do pagamento de
honorários advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF, e
propondo a fixação da seguinte tese de repercussão geral (tema
881): “A eficácia temporal de coisa julgada material derivada de
relação tributária de trato continuado possui condição resolutiva
que se implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento
realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a
noventena ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie
tributária em questão”, no que foi acompanhado pelos Ministros
Rosa Weber (Presidente), Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia; do
voto do Ministro Roberto Barroso, que acompanhava o Relator, dando
provimento ao recurso extraordinário da União, para reconhecer a
constitucionalidade da interrupção dos efeitos futuros da coisa
julgada em relações jurídicas tributárias de trato sucessivo,
quando esta Corte se manifestar em sentido contrário em controle
concentrado, mas propunha fixação de tese diversa, no seguinte
sentido: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 244 de 468

sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos


temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”; do voto do Ministro Dias Toffoli, que acompanhava, com
ressalvas, o Ministro Relator, dando provimento ao recurso
extraordinário, mas, em relação à tese de repercussão geral,
acompanhava o Ministro Roberto Barroso; e do voto reajustado do
Ministro Gilmar Mendes, que acompanhava, com ressalvas, o Relator,
dele divergindo apenas em relação à aplicação dos princípios das
anterioridades (anual e/ou nonagesimal), e, quanto à tese de
repercussão geral proposta pelo Relator, entendia que as teses de
julgamento dos temas n. 881 e n. 885 deveriam ser uniformes, para
garantir segurança jurídica e evitar interpretações divergentes
quanto ao tema de fundo. Assim, propunha, com as ressalvas e
divergência pontuadas no RE 955.227, que seja aprovada a tese do
Ministro Roberto Barroso constante desse recurso extraordinário.
No entanto, ressalvava seu entendimento pessoal para acompanhar o
item 1, qual seja, “1. As decisões do STF em controle incidental
de constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo.”, e divergir pontualmente do item 2 (“2. Já as
decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral
interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões
transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a
anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo.”), por
entender desnecessária a aplicação dos princípios da anterioridade
anual e da noventena, o processo foi destacado pelo Ministro
Relator. Plenário, Sessão Virtual de 18.11.2022 a 25.11.2022.

Decisão: Após a leitura do relatório e a realização das


sustentações orais, o julgamento foi suspenso. Falaram: pela
recorrente, o Dr. Claudio Xavier Seefelder Filho, Procurador da
Fazenda Nacional; pela recorrida, a Dra. Glaucia Maria Lauletta
Frascino; pelo amicus curiae Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo – FIESP, a Dra. Mizabel de Abreu Machado Derzi; pelo
amicus curiae Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil –
CFOAB, o Dr. Luiz Gustavo Antônio Silva Bichara; e, pelo amicus
curiae Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para fins
Industriais, Petroquímicas e de Resinas Sintéticas de Camaçari,
Candeias e Dias D´ávila – SINPEQ, a Dra. Fernanda Donnabella
Camano de Souza. Ausente, justificadamente, o Ministro Ricardo
Lewandowski. Presidência da Ministra Rosa Weber. Plenário,
1º.2.2023.

Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. Presentes à sessão

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Extrato de Ata - 01/02/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 245 de 468

os Senhores Ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Dias Toffoli,


Luiz Fux, Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes,
Nunes Marques e André Mendonça.

Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Ricardo


Lewandowski.

Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Augusto Brandão de


Aras.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 246 de 468

02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ANTECIPAÇÃO AO VOTO
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR) – Muito
obrigado, Presidente, pela concessão da palavra!
Quero cumprimentar Vossa Excelência, que hoje, em lugar da
eminente Ministra Rosa Weber, ocupa a Presidência deste Supremo
Tribunal Federal, sendo, ao mesmo tempo, Relator do Tema 885 e desse
recurso extraordinário que Vossa Excelência vem de apresentar o voto.
Cumprimento Vossa Excelência, cumprimento a eminente Ministra
Cármen Lúcia, os eminentes Pares, a Senhora Subprocuradora-Geral da
República, Doutora Lindôra, as advogadas e advogados que
compareceram à tribuna fazendo sustentações orais escorreitas e que aqui
se encontram presentes.
Senhor Presidente, eminentes Pares, gostaria inicialmente, embora,
quiçá, desnecessário, de justificar o pedido de destaque, eis que, a rigor,
quanto ao mérito, já havia, no Plenário Virtual, uma maioria formada -
embora não se possa dizer que o tema esteja desatado até o final desse
Plenário, digamos, assíncrono.
Nós intentamos - e Vossa Excelência, Ministro Barroso, bem
acompanhou - encontrar uma zona de intersecção comum para o desate
do tema no que diz respeito à questão específica da eficácia pro futuro, da
modulação, da distinção ou não com irretroatividade. As próprias
funcionalidades do Plenário Virtual dificultam o diálogo, que agora aqui
está sendo travado.
O pedido de destaque que fiz foi direto e especificamente para que
debatêssemos presencialmente o tema da modulação. No curso do
trânsito, do lapso temporal do Plenário Virtual, chegaram em nossos
gabinetes memoriais das partes interessadas suscitando essa matéria, ou
seja, partindo do pressuposto de que o desate já se dava em um
determinado caminho, mas conclamando a Corte para que se
manifestasse sobre a questão específica da modulação.
Essa foi a razão pela qual, nada obstante uma tentativa inicial de

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 247 de 468

RE 949297 / CE

encontrar uma formulação que pudesse responder a esse tema, formulei o


pedido de destaque. Nada obstante a questão que me parece mais nuclear
neste momento seja o da modulação, também vou-me permitir fazer uma
breve síntese, não à guisa de relatório, mas apenas à guisa de
contextualização, do caso concreto que está no Recurso Extraordinário
949.297, base do tema do qual sou Relator, o 881, sendo que o anterior é o
885, da relatoria de Vossa Excelência. Há nuances um pouco distintas em
relação a um ou outro caso. Nesta hipótese - e isso se deu em face da
pretensão da Receita Federal em Fortaleza -, havia, nesta circunstância,
um mandado de segurança inicialmente interposto por pessoa jurídica
que objetivava o não recolhimento desse tributo. Esse mandado de
segurança tramitou em primeiro grau, em segundo grau e chegou ao
Supremo Tribunal Federal. Aliás, aqui, recebeu o desate do eminente
Ministro Moreira Alves, que ocupou exatamente a cadeira, que, depois
ocupada pelo Ministro Joaquim Barbosa, tenho a honra de hoje ocupar. O
Ministro Moreira Alves negou seguimento ao recurso extraordinário
naquele primeiro mandado de segurança, portanto aquela decisão
transitou em julgado. Isso se deu em 1992. Ocorre que, em 2007, em
controle concentrado de constitucionalidade - e Vossa Excelência já expôs
isso com nitidez e dimensão pedagógicas de clareza a mais não poder,
para utilizar a expressão aqui cunhada pelo eminente Ministro Marco
Aurélio -, em 2007, o Supremo, convocado a deliberar sobre a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade desse tributo, assentou a
constitucionalidade. O que fez a pessoa jurídica? Impetrou novo
mandado de segurança, de caráter preventivo, para sustar a pretensão de
cobrar a contribuição - contribuição social sobre o lucro líquido - e obteve
proteção judicial em primeiro grau, que foi confirmada em segundo grau.
É esse o desate que, neste momento, passados esses anos, vem ao
Supremo Tribunal Federal.
Por isso, no relatório que fiz ontem, fiz referência ao fato de, pouco
mais de um ano após ter entrado neste Tribunal, ter recebido por livre
distribuição. Entendi que o tema tinha repercussão geral e o Tribunal
acompanhou. Isso foi em fevereiro de 2016, e, em março de 2016, já

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 248 de 468

RE 949297 / CE

indiquei o feito para o desate ao Pleno. Por circunstâncias diversas


atinentes ao volume dos afazeres e ao modus operandi do Tribunal,
somente agora, em 2023, estamos finalmente desatando essa matéria.
Por isso, aqui estamos diante da circunstância de que, em 1992, para
ser preciso, 14 de agosto de 1992, há certidão do trânsito em julgado
daquele mandado de segurança. Após esta decisão, há a interposição de
um novo mandado de segurança, esse para evitar ou sustar a cobrança do
tributo em face do julgamento que aqui se levou a efeito em 2007. Daqui
para frente, começa uma visão um pouco distinta, que peço toda a vênia a
Vossa Excelência para apresentar, nesta matéria.
No julgamento de 2007, a rigor, observa-se que, nem antes do
trânsito em julgado de 1992, nem depois de 2007, houve interposição de
ação rescisória. O Fisco perfilhou a compreensão, que Vossa Excelência
vem de expor, de rescindibilidade ipso facto, com o julgamento da
constitucionalidade do tributo em sede de controle concentrado.
Portanto, se contarmos o lapso temporal bienal da interposição da
rescisória de 1992, a rescisória não foi interposta. Se contarmos com a
doutrina, que assenta que o lapso temporal bienal da rescisória vai do
julgamento em sede de controle concentrado de 2007, também não houve
interposição de ação rescisória.
Isso significa, portanto, que estamos a discutir, em meu modo de ver,
em sede de modulação, a questão que concerne não só a esse tributo, o
que confere repercussão geral a uma questão constitucional
relevantíssima, mas sim à repercussão do limite temporal de coisa julgada
em âmbito tributário, como digo no voto - um voto alongado, com mais
de três dezenas de páginas (não vou cansá-los, vou ficar apenas na
questão da modulação).
Permito-me repisar que, aqui, temos hipótese de um contribuinte
que tem, a seu favor, decisão transitada em julgado que declarou a
inexistência da relação jurídico-tributária, ao fundamento da
inconstitucionalidade incidental de tributo - que vem a ser declarado
constitucional, em momento posterior, como fez o Supremo na via de
controle concentrado e abstrato de constitucionalidade.

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 249 de 468

RE 949297 / CE

É desse conflito que se trata. Aqui, se Vossa Excelência me permitir


abrir uma pequena nota de rodapé mental...
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO
(PRESIDENTE) - Posso fazer um breve parêntese antes? Eu havia
assentado, na linha obter dictum do Ministro Teori, que, no caso das
relações de trato sucessivo, não era necessária ação rescisória.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR) - Sim,
percebi.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO
(PRESIDENTE) - Esse foi o meu entendimento, que acho que é o
entendimento correto. É uma situação que se renova a cada ano, e,
portanto, não estaria sujeita à decadência que recairia sobre a ação de
1992. A coisa julgada se formou em 1992, mas a decisão do Plenário só foi
em 2007. Se contarmos o prazo de decadência da decisão originária que
fez coisa julgada, praticamente em nenhuma situação se vai conseguir
mudar a coisa julgada.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR)- Daí a tese
de que o lapso temporal bienal da rescisória conta-se do julgamento do
controle concentrado de 2007. Por isso, fiz a observação: também aí não
houve interposição de rescisória.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO
(PRESIDENTE) -Entendo. Mas, nas relações de trato continuado, se
perpetuarmos o benefício de um contribuinte contra a jurisprudência do
Supremo, vamos perpetuar a desigualdade e a competição desigual.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Mas esse é
precisamente o debate que estamos travando. O tema aqui está em saber
qual é o valor jurídico da coisa julgada.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO
(PRESIDENTE) - E da igualdade e da livre concorrência.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Perfeitamente. Mas,
são significantes constitucionais que, a rigor, não podem ser
hierarquizados em homenagem tão somente ao elemento
consequencialista. Pode haver o reverso dessa medalha, podem existir

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 250 de 468

RE 949297 / CE

inconstitucionalidades tributárias de ocasião ao reverso; editar-se lei


sabidamente inconstitucional, e, na consequência que Vossa Excelência
mencionou - dizendo corretamente -, o contribuinte vir a juízo para
reaver aquilo que pagou e foi posteriormente declarado inconstitucional.
Essa é uma moeda de dupla face, como não poderia deixar de ser.
Como já se percebeu, estou adotando um conjunto de premissas que
leva em conta não só a necessidade de modulação, mas também o
cabimento.
Nada obstante - e já adiantando -, o desate que Vossa Excelência dá
ao caso concreto de Vossa Excelência, eu o estou a acompanhar. A
diferença está em que a tese que eu adoto tem maior extensão.
No caso de Vossa Excelência, o lançamento tributário se deu antes de
2007. Faz todo sentido que Vossa Excelência negue provimento ao recurso
da União, dizendo: aqui não; esse lapso temporal era coberto por coisa
julgada antes do julgamento da constitucionalidade em sede de controle
concentrado, que só se deu posteriormente, em 2007.
Entretanto, quero apenas me referir, muito brevemente, a
pouquíssimas premissas a partir das quais estou assentando a tese, em
face da qual entendo que há necessidade de modular-se.
Não gostaria de lembrar, porque há certas frases famosas que,
muitas vezes, servem a situações muito distintas, mas aqui, neste
Plenário, o eminente Ministro Gilmar Mendes lembrou várias vezes uma
frase, ora atribuída ao ex-Ministro Pedro Malan, ora atribuída a Gustavo
Loyola...
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
O autor da frase é um jornalista americano.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Ou a um jornalista
americano. De qualquer sorte, o que se diz é que, se o futuro no Brasil é
incerto, até o passado se tornou duvidoso.
De modo que o que precisamos, aqui, em meu modo de ver, é trazer
à colação o valor da segurança jurídica. O valor da segurança jurídica
abraça, em um liame de técnica hermenêutica, em meu modo de ver, a
figura da coisa julgada.

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 251 de 468

RE 949297 / CE

Por isso, a primeira premissa da qual parto é esta: estamos - e esse


foi o objeto do pedido de destaque - a debater o limite temporal da coisa
julgada em âmbito tributário.
Para isso, entendo que há três horizontes importantes para que
fixemos, em um ou outro sentido, uma determinada tese: 1º) a existência
de decisão transitada em julgado que declare a inexistência de relação
jurídico-tributária ao fundamento de inconstitucionalidade incidental do
tributo; 2º) o mesmo dispositivo, antes declarado incidentalmente
inconstitucional, na via abstrata e concentrada, vir a ser declarado como
constitucional pelo Supremo em momento posterior à formação de coisa
julgada individual; 3º) estarmos diante de uma relação jurídico-tributária
de trato continuado - aqui estou de acordo com Vossa Excelência, no que
não me parece haver dúvida.
Aquela nota de rodapé mental que eu ia abrir, antes do judicioso
aparte de Vossa Excelência, dizia também - e nisso também estamos de
acordo - que, embora o vocábulo não seja dos mais refinados do ponto de
vista linguístico, mas a "abstrativização" do julgamento que se dá em
recurso extraordinário, permite aproximá-lo para esse efeito do controle
concentrado. Também, nesta matéria, estamos de acordo.
Esses três horizontes estão na primeira premissa do que adoto para a
minha compreensão.
A segunda premissa, neste caso - o caso que estou a relatar, que é o
caso paradigma do Tema 881 - o contribuinte possuía decisão favorável
transitada em julgado, ou seja, houve trânsito em julgado em 14 de agosto
de 1992. Essa coisa julgada está amparada no fundamento da
inconstitucionalidade incidental da Lei 7.689/1988.
Ocorre que, como já dito e repito, sobreveio o julgamento da Ação
Direta de Inconstitucionalidade 15, em 31 de agosto de 2007. Essa é a data
da publicação do resultado do julgamento, na qual - nesta ação - ou no
qual - neste julgamento - este Plenário, sob a relatoria do eminente
Ministro Sepúlveda Pertence, decidiu que era constitucional aquela lei no
ponto da cobrança tributária e que, portanto, a exação poderia ser
cobrada.

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 252 de 468

RE 949297 / CE

Assim, a questão posta é até quando estiveram vigentes os efeitos da


coisa julgada, formada no processo individual, considerando-se que o
direito mudou por meio da superveniência do controle concentrado em
constitucionalidade daquele ato normativo. Em outras palavras, a
discussão gravita em torno da oponibilidade da dimensão subjetiva de
coisa julgada, formada em demanda individual, em face de processo
objetivo, com eficácia erga omnes e efeitos vinculantes – quando os
conteúdos dos atos decisórios são opostos em relação à
constitucionalidade de tributo, fixando a existência ou não de relação
jurídico-tributária de trato continuado entre o contribuinte e o Estado.
A terceira e penúltima premissa que adoto é que há uma questão
preliminar - preliminar não em termos processuais, mas em termos de
preambularidade para a compreensão da matéria de fundo da modulação
– que é a dimensão constitucional da coisa julgada e da segurança
jurídica como corolário do Estado Democrático de Direito. Isso quer dizer
que, ao interpretarmos constitucionalmente o instituto da coisa julgada,
esse Tribunal dá contornos mais claros para sua aplicação que, por
consequência, outorga maior cognoscibilidade e calculabilidade do
direito para os cidadãos.
Por essa mesma razão, é necessário, é imprescindível, sinalizar para
a necessidade, para o cabimento de modulação de efeito neste caso.
Considerando razões de segurança jurídica, com destaque ao seu
consectário, da proteção da confiança dos contribuintes acobertados pela
coisa julgada, o presente entendimento, em meu modo de ver, deve ter
eficácia apenas pro futuro, a partir da publicação da ata de julgamento
desta decisão.
Além da modulação, há de se respeitar outra importante norma
constitucional, qual seja, a que trata dos limites do poder de tributar. A
decisão em controle concentrado ou em repercussão geral contrária à
coisa julgada do contribuinte em relações jurídicas tributárias de trato
sucessivo termina por corresponder - aí sim, com essa perspectiva,
embora distinta, mas que utiliza o mesmo termo de Vossa Excelência –
termina por corresponder a norma jurídica que inova em relação ao

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RE 949297 / CE

contribuinte.
Essa situação, por razões de segurança jurídica na tributação, deve
observar a irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena e, no caso
de contribuições para a seguridade social, também a anterioridade
nonagesimal - que aqui se impõe.
Por último, a quarta premissa que adoto para propor a modulação
quanto aos fundamentos de mérito, a matéria principal está ligada à
delimitação do regime de coisa julgada. Parece-me importante frisar que
não estamos diante de hipótese de relativização da coisa julgada, seja na
acepção de superabilidade do aspecto objetivo do instituto, seja na
afirmação de inexistência de normas jurídicas absolutas. Pelo contrário, o
que se decide é se é limitável a eficácia temporal da coisa julgada em
matéria tributária quando derivada de relação jurídica de trato
continuado, a partir do advento de decisão exarada no âmbito de controle
abstrato de constitucionalidade contrária ao sentido da sentença
individual.
Nessa medida, Senhor Presidente e eminente Ministro-Relator do
recurso extraordinário que pari passu se coloca neste julgamento, estou
indicando no voto diversos dispositivos da Constituição que se elevam à
base dessa proposta de modulação, nomeadamente os artigos 3º, incisos
IV, V, caput; incisos II e XXXVI, art. 37 e 150, inciso VI, alínea c.
Em matéria doutrinária, estou citando diversos autores que
permitem elucidar essa matéria, dentre eles autores de nomeada como a
ilustre Professora Teresa Arruda Alvim; Fábio Monnerat; Humberto
Ávila; Paulo Mendes; o ilustre Professor Luiz Guilherme Marinoni, da
centenária Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná;
Hugo de Brito Machado. Também me vali da leitura imprescindível,
nessa matéria, da obra do saudoso Ministro Teori Zavascki.
Há diversos julgamentos que cotejo neste voto, dentre eles o já citado
Recurso Extraordinário 730.462, julgado em 9/9/2015, da relatoria do
saudoso Ministro Teori; o debate que gerou o Tema 733; o julgamento do
Recurso Extraordinário 646.313, da relatoria do Ministro Celso de Mello;
também do eminente Ministro Celso de Mello, sempre Decano, o Recurso

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 254 de 468

RE 949297 / CE

Extraordinário 592.912. Examino, no voto, também o Tema 339 da


sistemática da repercussão geral, cujo recurso paradigma é o
Extraordinário 363.889, da relatoria do eminente Ministro Dias Toffoli;
também faço exame do enunciado da Súmula 3.239 desse Tribunal e
alguns acórdãos de julgamento menos modernos, digamos assim, e que
aqui faço menção.
Diante de todas essas circunstâncias, Senhor Presidente, Senhora,
Ministra e eminentes Pares, deixo de adentrar ao tema atinente ao
julgamento de mérito, eis que me parece esse caminho já estar bastante
palmilhado e sedimentado no próprio Plenário Virtual, mas, em
homenagem ao tema da modulação, trato desse tema. Entendo que, aqui,
há uma nuança neste recurso extraordinário que não se identifica in totum
com o tema da relatoria do eminente Ministro Luís Roberto Barroso,
Tema 885. Ali, se discutem os efeitos das decisões deste Tribunal em
controle difuso de constitucionalidade sobre a formação ou sobre coisa
jurídica formada nas relações tributárias de trato continuado, Recurso
955.227, que Vossa Excelência vem de narrar.
Apenas faço referência a essa pequena nuança distintiva. Digo que,
embora sejam complementares em termos de eficácia normativa, as
decisões levadas a efeito, no bojo do Plenário deste Tribunal, de definição
de conteúdo, a efetividade dos precedentes no âmbito da jurisdição
constitucional e regência processual do controle abstrato de
constitucionalidade guardam especificidades que podem influenciar o
deslinde das demandas sob as luzes do entendimento majoritário do
colegiado. Embora aqui, no plano das consequências, não haja, como
disse na conclusão, a distinção que estou a defender, não adoto uma
simetria prima facie entre esses universos. Já no plano do que entendo ser
a matéria central da deliberação, estou caminhando no sentido de adotar
a modulação em face da tutela da confiança depositada pelo contribuinte
antes acobertado pela coisa julgada, que, ao menos até então, poderia ser
modificada apenas com o julgamento de procedência de uma ação
rescisória.
É certo que, anteriormente ao presente julgamento, o debate sobre

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RE 949297 / CE

esta matéria aqui veio à tona no enunciado do Tema 136 e ali também
foram consideradas as razões de segurança jurídica que estão espelhadas
em memoriais que nós aqui recebemos. Por isso, levam-me a fixar
entendimento no sentido de que o presente julgamento tem efeito apenas
a partir da publicação da ata deste julgamento, respeitando-se assim as
sentenças e acórdãos acobertados pelo instituto da coisa julgada.
Por isso, declaro meu voto, neste caso, no sentido de prover o
presente recurso extraordinário para fins de reformar o acórdão recorrido
e restaurar a denegação da ordem desse writ, proposta pela sentença do
juízo da Quarta Vara da Seção Judiciária do Estado do Ceará.
Nada obstante e considerando presentes razões de segurança
jurídica do contribuinte de interesse social, nos termos do art. 927 do
Código Processo Civil de 2015, entendo seja o caso de empreender
modulação dos efeitos temporais da decisão para que tenha eficácia pro
futuro, portanto apenas a partir da publicação da ata de julgamento deste
feito.
Assim, Senhor Presidente e eminentes Pares, não me vou reportar ao
debate que, no voto que trago, evidencia um conjunto de contribuições
doutrinárias e jurisprudenciais sobre a dimensão constitucional da
segurança jurídica, sobre os limites da eficácia temporal da coisa julgada e
as garantias institucionais e procedimentais, bem como a relevante
questão sobre irretroatividade jurisprudencial. Por brevidade, deixo de
fazer direta e objetiva referência a doutrina, autores e obras a que me
referi, que constam desse voto.
Neste caso concreto, entendo que, nesta perspectiva, nada obstante a
procedência que se impõe pela compreensão majoritária da matéria desse
recurso extraordinário, cabe a modulação. Conhecendo do recurso, ao
qual proponho o provimento, proponho também a fixação da tese para o
Tema 881 nos seguintes termos:
A eficácia temporal de coisa julgada material, derivada de relação
tributária de trato continuado, possui condição resolutiva que se
implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento realizado em
sede de controle abstrato e concentrado de constitucionalidade pelo

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Antecipação ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 256 de 468

RE 949297 / CE

Supremo Tribunal Federal, quando os comandos decisionais sejam


opostos, observadas as regras constitucionais da irretroatividade, a
anterioridade anual e a noventena, bem assim ou a anterioridade
nonagesimal, de acordo com a espécie tributária em questão.
Considerando razões de segurança jurídica, com destaque ao seu
consectário da proteção da confiança aos contribuintes acobertados pela
coisa julgada, o presente entendimento tem eficácia pro futuro, a partir da
publicação da ata de julgamento desta decisão.
É como voto, Senhor Presidente.

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Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 257 de 468

02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ESCLARECIMENTO
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO
(PRESIDENTE) - Ministro Fachin, o fato subjacente - eu me perdi na
cronologia, porque eu estou sem o relatório de Vossa Excelência, estou só
com o voto -, a cronologia, as datas são exatamente quais, da formação da
coisa julgada em relação à mudança?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - A coisa julgada no
mandado de segurança originariamente interposto se deu em 14 de
agosto de 1992. Portanto, alguns anos antes do julgamento da ADI 15, que
se deu em 2007. Tendo em vista esse julgamento, a parte interpôs
mandado de segurança preventivo, obteve a ordem judicial, confirmada
em segundo grau. Contra essa decisão a União, neste caso, interpõe o
recurso extraordinário que estamos julgando hoje.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO
(PRESIDENTE) - E Vossa Excelência está dando provimento ao recurso
extraordinário?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Estou dando
provimento ao recurso extraordinário, porque, na matéria de fundo,
assentou-se aqui a inconstitucionalidade do tributo. A questão está na
produção dos efeitos desta decisão que eu estou entendendo...
Considerando que estamos a julgar hoje o extraordinário deduzido em
face de uma decisão de segundo grau que confirma a decisão de primeiro
grau que resguardou a situação do contribuinte, nós estamos diante de
um contribuinte que, durante esse lapso temporal, esteve coberto por
decisão judicial.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO
(PRESIDENTE) - Eu entendi. O crédito tributário que a Fazenda está
cobrando...
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - O segundo é
preventivo, é mandado de segurança preventivo. Portanto, tem essa
peculiaridade. Não há exatamente uma execução fiscal aqui nesta

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Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 258 de 468

RE 949297 / CE

hipótese.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO
(PRESIDENTE) - Então, a hipótese é diferente. Entendi.
Eu vou participar dos debates, mas estou, por ora, acompanhando
também a posição de Vossa Excelência, salvo quanto à modulação. Vou
deixar para debatermos a tese depois, porque, na tese, pensamos de
maneira diferente também.

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Debate

Inteiro Teor do Acórdão - Página 259 de 468

02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

DEBATE

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Boa tarde,


Presidente. Cumprimento Vossa Excelência.
Só para ficar um pouco mais claro, porque foi e voltou, Vossa
Excelência poderia dizer qual é exatamente a diferença de
posicionamento? É só na modulação, nos dois casos?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - A diferença, Ministro
Alexandre, é a prática que isso vai traduzir...
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Não, não, sim,
sim, mas...
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - ... para a cobrança dos
tributos.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Está certo,
mas é só na modulação?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Só na modulação. Por
isso que eu disse que só destaquei para debater a modulação.
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
São duas diferenças, eu acho. A modulação, claramente, e, no meu caso,
eu nego provimento ao recurso da União porque a autuação foi referente
a períodos anteriores a 2007. Portanto, naquela ocasião, o contribuinte
estava protegido pela coisa julgada, que eu entendo que só se desfez em
2007. No caso do Ministro Fachin, era...
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Essa circunstância
inexiste.
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
Essa circunstância não existe?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Essa é a nuance
distintiva do caso.
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
Porque ele obteve o preventivo ad futurum? Foi isso?

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 260 de 468

RE 949297 / CE

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Foi preventivo para


sustar o lançamento do tributo.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Então, Vossa
Excelência entende que, a partir da decisão na ADI, em 2007, é possível a
cobrança do tributo?
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
Exato.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - O eminente
Ministro Fachin entende que seria só a partir de agora, desta decisão?
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
Isso.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Exatamente. Porque a
partir de 2007, o contribuinte afora um mandado de segurança, consegue
em primeiro e segundo graus e veio o extraordinário, que nós só estamos
julgando hoje.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Exatamente. É
essa diferença só?
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Não, há um pequeno detalhe
também, que é o seguinte: o Ministro Fachin deixou claro que não houve
a propositura da ação rescisória no prazo em que a Fazenda poderia...
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Tudo bem,
isso tudo é fundamentação.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Declarada a
inconstitucionalidade, ela teria o prazo bienal para propor a ação
rescisória.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Mas, no final
das contas, para o contribuinte, é essa a única diferença?
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
É uma situação fático-jurídica diversa. O meu foi uma autuação por
período determinado e a do Ministro Fachin foi por prazo indefinido.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Geral, geral.
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
Quanto à modulação, eu entendo que é devido desde 2007.

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Debate

Inteiro Teor do Acórdão - Página 261 de 468

RE 949297 / CE

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - A diferença


são quinze, dezesseis anos de tributo.
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
Não, cinco anos por prescrição quinquenal.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - É saber, para o
passado, até onde irá a cobrança da Fazenda Pública Federal.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Exato.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Ministro Alexandre, se Vossa
Excelência me permite, aqui foi afirmado, em várias ocasiões, que isso
vale pró e contra a Fazenda, pró e contra o contribuinte, só que essa tese
da repercussão geral se submete a uma novidade de saber o efeito
expansivo dos precedentes, se eles se conciliam com a segurança jurídica,
é uma tese aplicável a todas as decisões em relação a todos os tributos que
o Supremo já julgou. É preciso que nós tenhamos essa percepção de que a
tese central, o Ministro Fachin destacou, é aplicável a todos os tributos. É
uma rescisória, digamos assim, espontânea que pode ser aplicada em
favor do contribuinte ou em favor da Fazenda.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Rapidissimamente,
apenas para retomar, Presidente, cumprimentando Vossa Excelência,
especialmente por esta primeira Presidência a que me submeto, na
Turma, Vossa Excelência já era Presidente, mas me sinto muito honrada.
Cumprimentando todos os Senhores Ministros, Senhora Vice-
Procuradora-Geral, senhores advogados, servidores, rapidamente apenas
para enfatizar, parece-me, Ministro Alexandre, que nós temos o seguinte
quadro, e vou pedir ao Ministro Barroso, Relator de um caso, e ao
Ministro Fachin, de outro, que aqui se tem o quadro bem descrito pelos
dois Relatores assim: num caso, em 92, obteve-se uma decisão, prevaleceu
até 2007 sem questionamentos, estou dizendo; em 2007, o Plenário vem e
afirma que é constitucional essa decisão, esse lapso. Entre 2007 e até
quando vai aquilo que se tinha obtido, mas, no caso e no quadro fático
traçado pelo Ministro Barroso, no caso submetido à sua relatoria, afirma
Sua Excelência que está negando provimento, porque, claro, o período
cobrado era de 2001 a 2003.

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 262 de 468

RE 949297 / CE

Então, nenhuma dúvida, fica só a questão da tese a partir de quando,


porque poderia ter sido no primeiro período, retroagindo à decisão do
Supremo Tribunal Federal, declaração com efeitos ex tunc, ou 2007 até
hoje, ou daqui para frente. Então, haveria três quadros.
No caso relatado pelo Ministro Fachin, parece-me que o caso é: em
92, obteve-se uma coisa julgada, porém, em 2007, já não achando ou não
confiando que isso poderia deixar de ser suscitado ou discutido, a própria
empresa impetra um mandado de segurança preventivo para, daqui para
frente, também, mesmo o Supremo tendo julgado, nem se cogitar disso
quanto a ela, o que significa, como bem diz agora, quer dizer, aqui
estaríamos abrindo algo a partir de 2007, porque esse recurso
extraordinário relatado pelo Ministro Fachin diz respeito a esse mandado
de segurança preventivo. Então, é de 2007 para frente, é um quadro
diferente, mas são consequências diferentes. Foi isso o que eu entendi.
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
E eu não tinha entendido assim. Ministro Fachin, o mandado de
segurança que exonerou o contribuinte, no seu caso, do não pagamento, é
posterior à decisão do Plenário do Supremo em ação direta?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Há o mandado de
segurança inicialmente interposto que transitou em julgado em 1992,
portanto, anteriormente.
Vem a decisão do Supremo em 2007, e a empresa, tendo em vista
essa deliberação do Supremo, vai em juízo dizendo que tem coisa julgada
que lhe protege formada anteriormente ao julgamento do Supremo
Tribunal Federal. E o juiz de primeiro grau diz: “Pois bem, prevalece a
coisa julgada”. O Tribunal de Segundo Grau mantém; há um recurso
especial que foi ao STJ. Parece-me que esse recurso especial teve negativa
de seguimento. Mas, de qualquer modo, veio aqui o extraordinário que
nós estamos julgando hoje.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - É esse que nós
estamos julgando.
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) -
Eu já entendi, o quadro fático do Ministro Fachin é substancialmente

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 263 de 468

RE 949297 / CE

diferente do meu.
(Publicado sem revisão. Art. 95, RISTF)

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

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02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

VOTO
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Boa tarde a todos; boa
tarde, Presidente! Gostaria de cumprimentá-los e também vou ser
bastante sucinto, embora o tema permitisse uma série de considerações.
Vossa Excelência fez, sem dúvida nenhuma, um bom apanhado
desse debate e certamente uma boa síntese desse nosso modelo misto,
difuso e concentrado e que gera essas perplexidades que vêm sendo
pouco a pouco pacificadas e amainadas.
No levantamento que Vossa Excelência fez, acho que só houve uma
omissão daquele caso do amianto, que suscita uma situação específica.
Numa ADI, nós nos vimos obrigados a declarar incidentalmente a
inconstitucionalidade de uma lei federal, o caso do Ministro Dias Toffoli,
portanto, mesclamos os dois modelos, mas de fato, a partir da Emenda nº
45, isso se pacifica.
O que interessa aqui, trago algumas considerações, mas vou à
conclusão do meu voto, é quanto à modulação. Como agora mostrou o
aparte do Ministro Alexandre, ela tem enormes consequências. Como
Vossa Excelência também já demonstrou no seu voto, a rigor, é uma
questão já clássica da discussão sobre a coisa julgada em matéria
tributária, é um caso de escola. Se alguém obtivesse por acaso, e não é
difícil no nosso sistema, uma isenção de imposto de renda, e nós
trabalhássemos com o conceito de trânsito em julgado, ele poderia ficar
pela vida afora com a isenção do imposto de renda, independentemente
das mudanças que viessem a ocorrer. Então, é preciso que a gente discuta
isso nessa perspectiva, inclusive no que diz respeito às consequências da
nossa decisão.
Eu também, em outra oportunidade, gostaria de fazer considerações
sobre a disciplina do Código de Processo Civil a propósito dessa temática
da rescisória a partir da declaração de inconstitucionalidade do Supremo
Tribunal Federal, porque, de fato, ela abre ensanchas para uma revisão de
coisa julgada já depois de muitos anos, pode ser que, daí a 20 anos, venha

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 265 de 468

RE 949297 / CE

uma declaração de inconstitucionalidade do Supremo, o que não faz


nenhum sentido. Eu já até antecipo que tenho posição hoje muito clara no
sentido de declarar a inconstitucionalidade desse dispositivo do CPC,
mas isso fica para outro momento.
O que eu gostaria de anotar simplesmente é que o Ministro Fachin se
posicionou no sentido da modulação dos efeitos da presente decisão a fim
de que a tese por ele defendida seja aplicada a partir da publicação da ata
de julgamento do acórdão do presente feito, considerando o período de
anterioridade nonagesimal e anual conforme exigido pela espécie
tributária em discussão. Defende a existência de razões de segurança
jurídica do contribuinte. Já externei a minha posição contrária à aplicação
do princípio da anterioridade nonagesimal e anual em voto
anteriormente divulgado no ambiente virtual.
No tocante à modulação de efeitos da presente decisão, igualmente
não vislumbro razões de segurança jurídica para tanto. Conforme
amplamente exposto tanto no meu voto originário quanto na presente
incidência de voto, a posição do Supremo é consistente no sentido da
inelegibilidade do título judicial transitado em julgado, firmado em
contrariedade ao que decidido pelo próprio Supremo tanto em sede de
controle difuso ou concentrado - e cito vários precedentes.
Ademais, sob a perspectiva de isonomia concorrencial, igualmente
não vejo razões de segurança jurídica a justificar a modulação de efeitos
da presente decisão. E ficou muito claro, neste caso, que isso levaria até a
uma distorção, perpetuando uma decisão contrária à decisão do Supremo
após a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal. Estaríamos a
causar grande injustiça no tocante à competitividade entre as empresas.
Aí, é claro, basta ver a disfuncionalidade do nosso sistema de controle de
constitucionalidade. Por isso que veio a cláusula da inexigibilidade,
porque nós podemos ter o trânsito em julgado no sistema difuso sem
inclusive ter acesso ao recurso extraordinário e, depois, não termos
remédio contra essa decisão, porque também passado o prazo da
rescisória.
Por isso, eu então estou chegando à conclusão, Presidente, de que,

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 266 de 468

RE 949297 / CE

sob a perspectiva de isonomia concorrencial, não vejo razões de


segurança jurídica a justificar a modulação de efeitos da presente decisão.
Portanto, eu me manifesto, de forma muito clara, que não é o caso de
modulação de efeitos, tanto no caso do Ministro Fachin como naquele
relatado por Vossa Excelência.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO
(PRESIDENTE) - Muito obrigado, Ministro Gilmar.
Pelo que entendi, Vossa Excelência acompanha o dispositivo em
ambos os casos, porém diverge da modulação de efeitos temporais.
A tese, nós, possivelmente, vamos discutir - não tenho certeza se hoje
ainda - e Vossa Excelência poderá, então, participar. Teremos prazer em
ouvi-lo.
Muito obrigado, Ministro Gilmar.

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Supremo Tribunal Federal
Antecipação ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 267 de 468

02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ANTECIPAÇÃO AO VOTO

O SENHOR MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA - Senhor


Presidente, minha saudação! Também meu reconhecimento da
importância de Vossa Excelência já ir assumindo ainda, aqui e agora,
eventualmente, a Presidência, mas, também, nesse trabalho conjunto que
tem desenvolvido com a Ministra Rosa Weber, a quem, permitam-me -
porque é a primeira vez que me pronuncio, neste Plenário, neste ano -
registrar meu reconhecimento pelo trabalho da Ministra Rosa Weber e de
toda equipe da Presidência do Supremo Tribunal Federal, além dos
servidores, funcionários, terceirizados que trabalharam incansavelmente
para que este Plenário estivesse restaurado plenamente, em função dos
terríveis atos ocorridos no dia 8 de janeiro do corrente ano. Meus
cumprimentos a Vossa Excelência.
E aí aderindo também ao Ministro Edson Fachin pelos brilhantes
votos proferidos nesta assentada, verdadeira aula de jurisdição
constitucional por parte de ambos, ainda que com visões, em alguma
medida, distintas, mas trazidas com bastante profundidade e uma
didática singular por parte de ambos nesse sentido.
Também minha saudação os demais Ministros aqui presentes, à
nossa Vice-Procuradora-Geral da República, aos nobres advogados, que
aqui também acompanham o julgamento, em relação aos quais,
permitam-me dizer, da satisfação de ouvi-los, ontem, nas suas respectivas
sustentações orais, todas elas com muita qualidade e com bastante
profundidade. Também aos servidores e todos aqueles que nos
acompanham, a todos, minhas saudações!
Senhor Presidente, eu vou iniciar pelo específico e, no específico dos
casos concretos, acompanho ambos os Relatores: Ministro Edson Fachin,
no sentido de conhecer e dar provimento ao recurso extraordinário, por
conseguinte, denegar a ordem de mandado de segurança impetrada pela
empresa; no caso de Vossa Excelência, Ministro Roberto Barroso, de

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forma distinta, em função do caso concreto, negar provimento ao recurso


extraordinário da União, concedendo, por conseguinte, a ordem
mandamental que foi impetrada pela empresa autora.
Dito isso, eu vou centrar, também, de forma muito breve, em dois
aspectos. Trago voto escrito, em relação a ambos os casos, que será
juntado devidamente. Esses dois aspectos, um diz respeito à questão da
rescisória, e o segundo, diz respeito à questão da modulação. Ambos se
inter-relacionam, mas eu gostaria apenas de registrar, até em função dos
debates já havidos entre os dois Relatores, da necessidade ou não da
rescisória.
Eu me filio ao entendimento do Ministro Luís Roberto Barroso, com
a devida vênia do Ministro Edson Fachin, por entender que, neste caso
específico, ademais das hipóteses trazidas pelo Código de Processo Civil,
conforme a situação, não há necessidade de rescisória, se a decisão do
Supremo é anterior. Neste caso, então, teríamos que partir até da
necessidade de uma impugnação específica na própria execução. Então,
conforme a anterioridade da decisão, nós teríamos a simples necessidade
de impugnação, ou a necessidade de rescisória.
O Código de Processo Civil não trouxe uma norma específica para
situações de trato sucessivo. Neste caso específico, decorre - penso eu - de
simples interpretação jurídica do que decorre da sistemática que foi
trazida expressamente pelo Código de Processo Civil.
Penso, ainda que não concebendo dessa forma inicialmente, que se
parte do pressuposto de que, não havendo alteração normativa ou fática
posterior, prevalece a coisa julgada na relação de trato sucessivo.
Por decorrência lógica contrária, havendo alteração substancial,
tanto no aspecto normativo ou fático, muda-se a hipótese de incidência
da norma, e, por conseguinte, o fato gerador correspondente se adequará
à nova hipótese de incidência estabelecida.
Pois não, Ministro Fux?

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Vossa Excelência me permite


só uma observação? É para talvez explicitar, muito embora não se possa

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pesquisar a mens legislatoris. Eu posso trazer aqui a contribuição do que


foi a ratio essendi desse dispositivo.
Quando o dispositivo diz que se a decisão referida, que é a decisão
de inconstitucionalidade, for proferida após o trânsito em julgado da
decisão exequenda, caberá ação rescisória.
O que a comissão entendeu foi que essa decisão de declaração de
inconstitucionalidade deveria vir no prazo bienal, porque senão teríamos
uma ação rescisória atemporal.
Veja que a interpretação é equivocada, tanto que o Ministro Gilmar
já anunciou que não concorda com esse dispositivo, porque ele daria
chance à Fazenda, a qualquer momento que for declarada a
inconstitucionalidade, daqui a 20 anos, de promover a rescisória.
Entretanto, não é isso que diz a lei. A lei diz que, se a decisão de
inconstitucionalidade surgir nesse prazo bienal da rescisória, aí
efetivamente poder-se-ia propor uma ação rescisória fundada nessa
declaração de inconstitucionalidade. Porque a lei não previa uma ação
rescisória atemporal. Não é isso. Não teria nem lógica.

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE)- Permita-me uma observação, eu reli aqui o § 8º a que se
refere o Ministro Fux. O Código, eu penso como o Ministro André acabou
de observar, nessa parte, não cuida das relações de trato continuado.
Aqui, o que penso que esse dispositivo quer significar é: se há uma
decisão transitada em julgado sem trato de continuidade, e a Fazenda
queira desfazer, aí precisa de ação rescisória.

O SENHOR MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA - Conforme Sua


Excelência exemplificou na questão da doação, por exemplo.

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE) - Por exemplo.

O SENHOR MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA - Ou a compra e

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venda de um imóvel.

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE) - Mas a relação do trato continuado é tratada em outro
dispositivo que diz: quando houver mudança no quadro fático ou
jurídico, você pode postular a mudança da sentença.

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Ministro André, só para


enriquecer, porque o debate está rico nesse sentido, existe uma premissa
que é inafastável: toda decisão de relação jurídica tributária é proferida
com a cláusula rebus sic stantibus. Por quê? Porque a nossa súmula já
afirma que a coisa julgada não impede a cobrança no exercício posterior.
No caso objetivo, conforme citou o Ministro Barroso, nós temos, por
exemplo, limites constitucionais do poder de tributar. Aí não dá para
mexer, não se pode aplicar a súmula.
O que a súmula diz é o seguinte: toda relação jurídica tributária,
quando decidida, é com cláusula rebus sic stantibus. Por quê? Porque, no
exercício seguinte, ou respeitando a anualidade, ou o período
nonagesimal, o Estado é livre para criar um tributo que não existia.

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE) - Mas não toda. Há relações de natureza tributária que se
exaurem no momento do pagamento.

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Não, eu sei, mas em regra, em


regra.

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE) - Como a compra e venda, por exemplo.

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Mas, veja bem, pode surgir


uma nova lei, dizendo que, na compra e venda, vai ter um outro tributo.

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O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE) - Mas não pode retroagir.

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Não pode retroagir,


exatamente.

O SENHOR MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA - Então, acho que


nesse ponto, se pode haver uma convergência, ao menos, não só entre
mim e o Ministro Barroso, mas também com Vossa Excelência, Ministro
Fux, ao instituir e reconhecer a validade da cláusula rebus sic stantibus,
Vossa Excelência também reconhece o efeito limitador ou o efeito objetivo
de extensão temporal da coisa julgada a uma mudança ou não da situação
fático-jurídica.

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Essa questão é que eu acho


que é uma questão nova, é uma questão que não foi submetida ao
contraditório, não foi submetida ao devido processo legal. Daí eu entendo
a preocupação com a segurança jurídica manifestada pelo Ministro Edson
Fachin. Eu concordo com todos os resultados. A única questão que me
parece mais sensível é essa eficácia expansiva do precedente, porque
precedente, hoje em dia - para alguns, não -, é fonte formal do Direito. Se
a lei não pode retroagir, o precedente também não pode. Então, a minha
questão é meramente sob esse ângulo.

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE) - Ministro Fux, acho que nós temos uma divergência
fática: é que eu considero - e penso que o Ministro André, também - que o
precedente é o de 2007, que disse que o tributo era devido.

O SENHOR MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA - Que é o segundo


ponto, talvez, Ministro Fux. Veja só, eu não posso conceber que os
dispositivos do Código de Processo Civil fragilizem a coisa julgada por
dois motivos. Primeiro, porque a coisa julgada é um instituto consagrado

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como cláusula pétrea. E, por decorrência lógica, não só uma emenda à


Constituição, como, de modo ainda mais robusto, uma lei ordinária,
como é o Código de Processo Civil, poderiam retirar a força
estabilizadora e seguradora da coisa julgada.
Então, toda a interpretação que eu, pessoalmente, tenho que fazer
dos dispositivos dos parágrafos do art. 525 do Código de Processo Civil
são não no sentido de uma norma que enfraquece ou retira força da coisa
julgada, mas como norma que interpreta os limites da própria coisa
julgada, ou traz um grau de determinação a um conceito indeterminado
que é a coisa julgada. É desse nível de compreensão que parte a minha
linha de raciocínio.
Mesmo quando, por exemplo, admito a ação rescisória, ou quando
sequer julgo necessária a ação rescisória, eu não estou retirando a força da
coisa julgada; eu estou interpretando o conceito do que é o instituto da
própria coisa julgada. Aí eu me filio, nessa linha de raciocínio, ao voto do
Ministro Luís Roberto Barroso, entendendo, penso, diferentemente do
Ministro Edson Fachin, que nós estaríamos ou, de alguma forma,
enfraquecendo o instituto da coisa julgada ou, de uma outra forma, não
garantindo a plenitude da segurança jurídica.
Dentro dessa compreensão, portanto, eu pontuo o segundo aspecto
que eu gostaria apenas de ressaltar nessa palavra específica, oral, em
relação ao meu voto, que é a partir de quando há um termo de validade
plena, eficácia plena, efeitos erga omnes, em relação à constitucionalidade
da contribuição.
Nós temos uma tese defendida pelo Ministro Luís Roberto Barroso
de que é a partir do julgamento definitivo da ADI 15. Em contrapartida,
se eu bem entendi a do Ministro Luiz Edson Fachin, a partir do
julgamento que estamos realizando nesta data.
Nesse ponto também me filio ao Ministro Luís Roberto Barroso, ou
seja, o termo de validade reconhecida com força vinculante, efeitos erga
omnes, é a data do julgamento da ADI 15, salvo engano, ano de 2007.
Dentro dessa compreensão, eu queria abordar um outro aspecto
relacionado à própria modulação dos efeitos. Peço ao eminente

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Presidente e Relator, em função de uma adesão em grande medida à tese


por ele trazida, que, ao adotarmos o marco como sendo 2007, o
julgamento definitivo da ADI 15, em alguma medida, se não tipicamente,
estamos também fazendo uma modulação. Por quê? Porque essa ADI,
salvo engano, é de 89. E houve o pedido de liminar na ADI, negado à
unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal em fevereiro de 89.
Em 2007, na mesma linha da negativa da liminar, o Supremo
Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade da lei que instituiu a
contribuição. Ao assim fazê-lo, em nenhum momento, desde o advento
da ADI, houve um pronunciamento do Supremo Tribunal Federal que
atribuísse algum resquício de inconstitucionalidade à lei que instituiu a
ADI. E uma ação declaratória, por essência, em caráter ordinário, tem as
decisões correspondentes com efeito retroativo. Ou seja, em tese, o
Supremo Tribunal Federal, desde 89, reconhece a constitucionalidade da
lei que instituiu a contribuição.
Ao aderirmos à tese do Ministro Luís Roberto Barroso de inserir o
marco em 2007, estaremos, aí sim, por relevantes interesses sociais e
segurança jurídica, estabelecendo um marco de eficácia plena a partir de
2007 e não reconhecendo a validade desde 89. Por que eu digo isso?
Porque isso está no meu fundamento e no de Sua Excelência. A minha
dúvida, que compartilho com os Colegas é: estaria isso claro, no
dispositivo, de que é 2007? Por quê? Porque a tese trazida não especifica
esse termo. Então, quiçá no âmbito da sequência do julgamento, valha a
pena trazermos uma especificidade em relação ao termo correspondente a
essa modulação de efeitos. E repito, como defendi, seria 2007.
Concluindo meu julgamento...

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE) - Ministro André, não tenho nenhuma dificuldade de
especificar, mas, na proposta, está dito: já as decisões proferidas em ação
direta, ou em sede de repercussão geral, interrompem, automaticamente,
os efeitos temporais das decisões transitadas em julgado nas relações de
trato continuado. No caso específico, 2007.

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O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Vossa Excelência deixou claro.

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Permite-


me, Ministro André?

O SENHOR MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA - Pois não.

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Vossa


Excelência colocou a questão da negativa da liminar em 89? A negativa de
liminar, em 89, pelo nosso sistema, não tinha efeitos vinculantes ainda.

O SENHOR MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA - Não, não tinha.


Mas a declaração de 2007 tinha efeito retroativo.

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Na


verdade, não importaria em relação a isso.

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE) - O que me chama atenção é que, no caso do Ministro
Fachin, quando o contribuinte entra, depois da decisão do Supremo, com
o pedido de mandado de segurança preventivo é porque ele achava que
era devido, ou que poderia ser cobrado. Ele não foi pego de surpresa.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - No mínimo, ele tinha


dúvida; não tinha, portanto, segurança. Se ele tivesse segurança, não
entraria em juízo. Claro! É isso que Vossa Excelência está dizendo: na
dúvida, estou insegura quanto a isso, entro em juízo. Por isso, naquela
hora, perguntei para esclarecer.

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - E outra


coisa, naquele momento, quantos outros contribuintes podem ter entrado
também e não conseguido uma liminar de um mandado de segurança?

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O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Não. Esse argumento, às


vezes, prova demais, porque eventualmente essa questão... Vamos editar
a lei, depois veremos no que dá. Isso gera movimento de
constitucionalidade útil. Até lá, vamos cobrando.

O SENHOR MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA - Em uma tese


geral, para qualquer tributo, concordo. Na tese específica, em relação à
contribuição, em que houve a discussão...

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Sim. Aqui,


se judicializa, porque, mesmo o Supremo Tribunal Federal já tendo
definido em 2007, se nós incentivarmos a judicialização mesmo depois
que haja uma decisão em controle concentrado com efeitos erga omnes,
efeitos vinculantes, nós permitirmos que pode rediscutir isso, obviamente
sempre leva um tempo para chegar ao Supremo Tribunal Federal,
principalmente em matéria tributária cada ano vale muito. Parece-me que
a decisão a ser tomada é muito importante exatamente para evitar essa
constante judicialização da questão tributária.
Apenas se me permite, Ministro Barroso, e concluindo, em nenhum
momento, o Supremo Tribunal Federal se manifestou pela
inconstitucionalidade. Em 2007, expressamente e de modo definitivo, pela
constitucionalidade. Essa decisão tem efeitos retroativos, porque é uma
ação declaratória, ou seja, não houve modulação, ao que eu saiba, de
efeitos.
Então, desde a discussão, desde a inicial, o entendimento do
Supremo, em função dos efeitos retroativos ou ex tunc, é no sentido da
constitucionalidade. O que, a princípio, poderia levar a uma incidência
tributária desde 89, o que nenhum de nós, até o momento, defende.
O que quero dizer é que, em alguma medida, se para todos está claro
e definido e já incorporo o julgado, que é de 2007, não há discussão para
mim. Se, em alguma medida, vale especificar que nós estamos atribuindo,
caso prevaleça a tese do Ministro Luís Roberto Barroso, que, neste caso,

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em relação não aos específicos dos dois litigantes, mas especificamente


em relação à contribuição que nós estamos julgando, sobre o lucro
líquido, o marco estabelecido é 2007. Repito: essa é uma decisão que está
clara, ou não está clara, ou caso prevaleça, eu trago apenas a título de
reflexão.
E por fim, e aqui penso que é o único ponto de divergência que
tenho com o Ministro Luís Roberto Barroso, e aqui em adesão à tese já
trazida pelo Ministro Gilmar Mendes, eu entendo que não é o caso de
aplicação da anterioridade anual e da noventena por estes institutos já
terem incidido quando do advento da legislação correspondente.
É como voto, Senhor Presidente.

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE) - Muito obrigado, Ministro André. A nossa única
divergência é que eu considero que a decisão de 2007, em relação ao
contribuinte que tinha uma coisa julgada que lhe favorecia, foi uma
mudança de status quo e, que, portanto, equipara-se à edição de uma nova
lei. E como se fosse uma nova lei, ele teria a noventena, eu penso que
neste caso..., mas nós estamos falando de tantos anos que a noventena, na
prática, provavelmente, não fará diferença.

Agradeço a Vossa Excelência.


(Publicado sem revisão. Art. 95, RISTF)

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Voto - MIN. NUNES MARQUES

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02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

VOTO

O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: Senhor Presidente,


em relação ao voto, já adianto que concordo com as conclusões em termos
de provimento e desprovimento dos recursos. Vou me ater tão somente à
questão da modulação.
Fiz algumas anotações esparsas. Apenas um elemento, que talvez
não tenha sido cogitado e que para mim foi bastante relevante, pode fazer
diferença entre a modulação proposta por Vossa Excelência e a sugerida
pelo ministro Edson Fachin, a quem, de antemão, parabenizo pelos votos
lançados. Desde a minha integração a esta Corte, talvez essa matéria seja
uma das que têm maior variedade de hipóteses; além das diversas teses
que podem permear o caso, existem especificidades do caso concreto, que
também se distingue dos demais casos, na formação de um precedente
vinculante.
Senhor Presidente, ao que percebi, e já foi dito várias vezes, trata-se
de ação antiga, que teve posicionamento contrário do Supremo Tribunal
Federal em 2007.
Desde então, a Receita Federal, por meio de regulamentos internos,
já poderia ter promovido o lançamento e a execução das dívidas a partir
da declaração de constitucionalidade de uma norma. E assim fez, a partir
de 2007, com vários contribuintes.
A questão que se coloca talvez seja mais de cunho processual que de
índole material. Olhando do dia de hoje para a data do fenômeno, talvez
não consigamos construir a trajetória desse caminho, então temos de
voltar um pouco no tempo.
A questão diz respeito às cláusulas pétreas alusivas ao ato jurídico
perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada. Qual era o tratamento
dado à última coisa julgada no decorrer desses acontecimentos? Qual a
visão da comunidade jurídica, da advocacia e da Fazenda Nacional até
então? Durante esse período – 2007, 2011, 2012 até 2015 –, a

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Voto - MIN. NUNES MARQUES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 278 de 468

RE 949297 / CE

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, e é recorrente, exigia o


manejo do recurso próprio ou da ação rescisória para desfazer a coisa
julgada.
Talvez hoje seja um dia simbólico, porque doravante essas distorções
não vão mais acontecer; porém, até então elas aconteciam. Uma ou outra
empresa tinha um título judicial transitado em julgado, e a jurisprudência
do Supremo o protegia como cláusula pétrea da Constituição, dizendo:
“Olha, em que pese à declaração de inconstitucionalidade da norma ou
de constitucionalidade da norma pelo Supremo Tribunal Federal, essa
coisa julgada só pode ser desfeita através de uma ação rescisória”.
São inúmeros os precedentes nesse sentido. Estou, aqui, vendo
vários julgados, do ministro Celso de Mello, do ministro Sepúlveda
Pertence, que encaminham essa mensagem ao Judiciário nacional. Todos
eles eram mais ou menos assim ementados: “coisa julgada em sentido
material, indiscutibilidade, imutabilidade, coercibilidade; atributos
especiais que qualificam os efeitos resultantes do comando sentencial;
proteção constitucional que ampara e preserva a autoridade da coisa
julgada; exigência de certeza e de segurança jurídica, valores
fundamentais inerentes ao Estado democrático de direito; eficácia
preclusiva da res judicata; a sentença de mérito transitada em julgado só
pode ser desconstituída mediante ajuizamento específico de ação
autônoma de impugnação, ação rescisória que haja sido proposta na
fluência do prazo decadencial”.
Em relação à superveniência de decisão do Supremo, qual era a
posição do Tribunal revelada nesses acórdãos? “A superveniência de
decisão do Supremo Tribunal Federal declaratória de
inconstitucionalidade de diploma normativo utilizado como fundamento
de título judicial questionado, ainda que impregnada da eficácia ex tunc,
como sucede ordinariamente com os julgamentos proferidos […], não se
revela apta, por si só, a desconstituir a autoridade da coisa julgada, que
traduz, no nosso sistema jurídico, limite insuperável à força retroativa
resultante dos pronunciamentos que emanam em abstrato da Suprema
Corte.”

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Voto - MIN. NUNES MARQUES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 279 de 468

RE 949297 / CE

Então, o que tínhamos naquele momento? Em 2007, veio a ADI 15 a


confrontar essas decisões judiciais transitadas em julgado, permitindo a
cobrança da exação.
Naquele momento, entrementes, a jurisprudência do Supremo ao
mesmo tempo dizia que essa superveniência de decisão do Tribunal, por
si só, não desfazia a coisa julgada; era necessário manejar ação rescisória.
Por isso a impetração do mandado de segurança. O fundamento é
exatamente este: a rescisória não tem o condão de desfazer o período
anterior à ADI, e sim o posterior, porque pode ser uma declaração de
inexistência de relação jurídica, uma ação de obrigação de não fazer
voltada ao não recolhimento do tributo.
Essa jurisprudência foi, aliás, fixada após o julgamento do Tema n.
494/RG, em 2014. Em 2015, o ministro Teori Zavascki confirmou a ótica
segundo a qual há necessidade do manejo da ação rescisória para
desfazer os efeitos de uma decisão transitada em julgado.
Qual foi a diferença da jurisprudência de 2015 – Tema n. 733,
apreciado pelo Tribunal em 2015? No Tema n. 494, houve o distinguishing
para as relações jurídicas de trato continuado. Ali se sinalizou que, para
as relações jurídicas de trato continuado, não haveria a necessidade de
ação rescisória, porque o título perderia seus efeitos com a publicação do
decidido na ADI.
Agora vejamos isso dentro de uma reta temporal. A primeira vez que
o Supremo Tribunal Federal, mesmo não tratando de matéria tributária, e
sim apreciando matéria inerente a servidor público, fixa a tese de que nas
relações jurídicas de trato continuado não é necessário o manejo de ação
rescisória foi em 2014. Diferentemente de tudo o que se colocou, até então
a jurisprudência protegia a coisa julgada; construiu uma blindagem à
coisa julgada, que só poderia ser desfeita por meio de ação rescisória.
Somente em 2014 veio essa sinalização.
Daí se extraem duas conclusões, como foi demonstrado da tribuna:
uma, de que valeria para todas as hipóteses; outra, de que se tratava
apenas de matéria de servidor público, não havendo sido ventilada, de
forma alguma, a relação tributária.

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Voto - MIN. NUNES MARQUES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 280 de 468

RE 949297 / CE

Diante do que expus, já não fica muito fácil fixar a modulação em


2007. É fácil olhar hoje ou 2014 e fixar o marco de 2007, mas, até aquela
data de 2014, toda a jurisprudência do Supremo protegia a coisa julgada e
exigia o manejo de ação rescisória, por isso houve a impetração do
mandado de segurança.
A questão agora é interpretar. No Tema n. 494, julgado em 2014, o
Tribunal fixou tese no sentido de ser automático o desfazimento dos
efeitos de sentença transitada em julgado a partir de declaração de
inconstitucionalidade, ou, eventualmente, constitucionalidade, pelo
Supremo. Ancoro-me na tese de que, como em muitos outros casos, a
falta de especificidade nessas decisões também promove insegurança
jurídica. Entendo, respeitando as posições em contrário, e sem, ainda,
fixar tese – porque esse elemento do mandado de segurança, neste caso, é
realmente uma situação que o difere dos demais –, que esta é a primeira
vez que o STF enfrenta a matéria na relação tributária e pode
eventualmente, se essa for a compreensão da maioria, firmar tema
atinente à desnecessidade de manejar ação rescisória para desconstituir os
efeitos da coisa julgada.
Com essas considerações, acompanho o ministro Edson Fachin
apenas na questão da modulação, pedindo a mais respeitosa vênia a Sua
Excelência o ministro Roberto Barroso.
Faria, ainda, uma última colocação, já como reflexão para a virtual
fixação da tese.
Essas modulações em matéria tributária devem atentar a uma
particularidade muito bem colocada no início do voto do ministro
Roberto Barroso: quando as decisões transitadas em julgado são ou não
são favoráveis ao contribuinte.
Se fixarmos uma tese, geral, no sentido de que a modulação em
efeito tributáriao nas relações tributárias, passa a viger a partir da
publicação da ata da sessão, podemos fazer um paradigma rápido com
aquele precedente do PIS e Cofins da base do ICMS, no qual existiam
muitas decisões transitadas em julgado em desfavor dos contribuintes –
na mesma proporção que aqui os contribuintes podem ser beneficiados,

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Voto - MIN. NUNES MARQUES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 281 de 468

RE 949297 / CE

naquela ação os contribuintes podem ser prejudicados, porque a


modulação impediria que eles ficassem liberados de recolher esse tributo
em período anterior ao julgamento...
Mas aguardo o desfecho do julgamento para também me pronunciar
em relação à fixação do tema.
É como voto, Senhor Presidente.

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


(PRESIDENTE) - Muito obrigado, Ministro Kassio Nunes Marques.
Pelo que entendi, acompanha ambos os Relatores, no que diz
respeito aos dispositivos, e acompanha a posição do Ministro Luiz Edson
Fachin quanto à modulação dos efeitos temporais para que se computem
a partir da publicação da ata desta decisão de agora, certo?

O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: Com essa


consideração, resguardando-me da fixação do tema, seria para as
hipóteses em que as decisões transitadas em julgado sejam favoráveis aos
contribuintes. De forma contrária, atingiríamos, com esse resultado, acaso
majoritário, outras ações e traríamos prejuízo enorme às decisões já
fixadas pelo próprio Supremo.

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02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ANTECIPAÇÃO AO VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Presidente,


cumprimento novamente Vossa Excelência.
Havia, lá atrás, pedido vista. Devolvido já o voto-vista, vou fazer
rápidas considerações e uma alteração final no voto que proferi, após os
debates que aqui fizemos.
Primeiro, Presidente, realmente é importante deixarmos bem fixada
essa questão do valor da segurança jurídica, mas do valor da segurança
jurídica perante também a eficiência e a eficácia da jurisdição
constitucional, seja em âmbito tributário, que estamos aqui discutindo,
seja em outros ramos.
Sempre tivemos - isso foi salientado, inclusive, hoje, pelo Ministro
Gilmar Mendes - um sistema de jurisdição constitucional meio capenga, o
único sistema de jurisdição constitucional sem efeitos vinculantes, por
exemplo, mesmo a ação direta de inconstitucionalidade. Fomos, a partir
de 1988, adquirindo isso.
Esse problema que hoje discutimos provavelmente não surgirá mais
para frente, exatamente porque, agora, a repercussão geral tem efeitos
vinculantes, assim como todo o controle concentrado. Essa objetivação do
controle difuso e controle concentrado foi criada pela Emenda nº 45, com
a repercussão geral, tornando um único caso, a tese fixada, com efeitos
vinculantes.
Dessa forma, parece-me que a coisa julgada - principalmente no
tema debatido aqui -, no caso de tributário, nas obrigações de trato
continuado, devem seguir o que, lá atrás, mesmo antes dessa alteração e
aperfeiçoamento do nosso controle de constitucionalidade, dizia Pontes
de Miranda. "No que diz respeito ao tempo, a coisa julgada está limitada
aos fatos existentes por ocasião do encerramento dos debates" -, é a
cláusula rebus sic stantibus. Se, até 2007, não havia pronunciamento com
efeitos erga omnes vinculante do Supremo Tribunal Federal, realmente fica

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RE 949297 / CE

difícil retroagir a coisa julgada a pré 2007.


Em que pese - o Ministro André bem lembrou -, em momento
algum, o Supremo Tribunal Federal, nessa ação direta, ter afastado a
constitucionalidade da lei, porque havia negado a medida liminar. Eu
diria que é forçar um pouco a barra, nesse caso, porque não havia um
pronunciamento específico do Supremo Tribunal Federal.
A partir de 2007, com todas as vênias aos posicionamentos em
contrário, permitir que outras decisões, outros processos, possam
simplesmente postergar um posicionamento já definido pelo Supremo
Tribunal Federal, a meu ver, seria o enfraquecimento da nossa jurisdição
constitucional. Estamos, ainda hoje, em um procedimento de
fortalecimento, basta ver o número de reclamações que recebemos de
desrespeito às decisões do Supremo Tribunal Federal. A reclamação, esse
instrumento, essa ação, como queiram, as reclamações, hoje, alcançam o
segundo lugar no tópico do Supremo Tribunal Federal, só perdendo para
os habeas corpus.
No relatório, que ontem a eminente Ministra Rosa Weber nos
distribuiu, verificamos que, percentualmente, no ano passado, tivemos
um aumento maior de reclamações do que de habeas corpus,
demonstrando que ainda não há, infelizmente, em que pese isso venha
melhorando, uma conscientização dos demais órgãos judiciários de
respeito aos efeitos vinculantes.
A partir de 2007, havia um posicionamento do Supremo: essa lei é
constitucional, esse tributo deve ser cobrado. Mesmo que tenha
ingressado com um mandado de segurança, tinha que correr o risco - a
Ministra Cármen Lúcia bem lembrou -, sabia que havia um
posicionamento do Supremo. Tanto não tinha certeza disso que ingressou
com o mandado de segurança. Poderia ganhar, poderia perder, mas, uma
vez definido em 2007, a meu ver, a retroatividade, o termo inicial para
cobrança do tributo é 2007, como bem ressaltou o eminente Ministro Luís
Roberto Barroso, como disse, pedindo todas as vênias ao eminente
Ministro Fachin e a quem o seguiu.
Minha alteração, depois de ouvir aqui os debates e ler os

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 284 de 468

RE 949297 / CE

posicionamentos do Ministro Gilmar e do Ministro André, exatamente


em relação aos princípios da anterioridade anual e da noventena. Não os
aplico em relação a 2007, mesmo que, na prática, neste caso concreto,
possa não ter efeitos, mas para frente terá.
Por que isso? Dois motivos me levaram a alterar meu
posicionamento proferido no voto escrito.
Primeiro, porque já houve aplicação para todos os contribuintes
quando foi editada a lei. Segundo, porque, em nenhum momento, o
Supremo Tribunal Federal havia afastado, de forma concentrada, com
efeitos vinculantes, a constitucionalidade da lei. A lei existia, cumpriu seu
período de anterioridade, e continuou valendo - o contribuinte, neste
caso, conseguiu afastamento. Entretanto, não me parece que deva, a partir
da manutenção da lei - pois o que houve foi a manutenção da lei no
ordenamento jurídico -, ter que haver um novo período de anterioridade,
seja anterioridade anual ou a noventena, conforme Vossa Excelência
colocou.
Entendo os argumentos de Vossa Excelência sobre a questão de
previsibilidade, de segurança jurídica, que Vossa Excelência entende que
seria como se uma nova lei tivesse sido criada, um novo tributo teria sido
criado. Contudo, aqui, aplico também, como em outros casos - em vários
ficando vencido nesse aspecto -, a mesma questão em relação à isenção de
tributos, quando se retira a isenção.
A isenção foi uma discricionariedade ao contribuinte. Retirada a
isenção, também entendo que não há necessidade do cumprimento da
anterioridade. Reafirmada a constitucionalidade com efeitos vinculantes,
parece-me também que não deva existir a aplicação desses princípios da
anterioridade geral, anual ou nonagesimal.
Por isso, Presidente, acompanho, no dispositivo, Vossa Excelência,
simplesmente com essa ressalva, aderindo ao que foi colocado pelo
Ministro Gilmar e pelo Ministro André.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO
(PRESIDENTE) - Quanto ao dispositivo, propriamente, não fará
diferença, porque houve negativa de provimento de recurso da União.

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RE 949297 / CE

Porém, para fins da tese, é importante o acréscimo ou não dessa nota.


O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES – Exato.
(Publicado sem revisão. Art. 95, RISTF)

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02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ANTECIPAÇÃO AO VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhor Presidente, egrégia


Corte, ilustre Representante do Ministério Público, Senhores Advogados
presentes.
Esse debate, Senhor Presidente, foi tão rico que eu tenho aqui uma
miríade de papéis em que anotei um argumento, anotei outro... Queria,
em primeiro lugar, cumprimentar os advogados que subiram à tribuna,
que foram de um brilhantismo ímpar numa matéria tão complexa, cada
um defendendo com muito vigor intelectual o seu posicionamento.
Também queria cumprimentar Vossa Excelência pela Presidência tão
generosa que está exercendo, prenunciando que, respeitada também essa
mesma lhaneza da Ministra Rosa Weber, Vossa Excelência já se anuncia
como um Presidente que será muito estimado por todos nós. Em tom de
blague, eu diria que Vossa Excelência deveria avisar a Ministra Rosa que
teve afeição pela cadeira.
O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO (PRESIDENTE) - Já
avisei.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhor Presidente, de tantas
anotações aqui que já foram feitas, eu até falo isso sem nenhuma
vinculação do nosso liame de tantos anos....
A Ministra Rosa ouviu a minha fala.

O SENHOR MINISTRO ROBERTO BARROSO - E aqui não há risco


de golpe.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Uma
boa tarde a todos. Pois não, Ministro Fux, continue.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Presidente, então queria
saudar Vossa Excelência, já fiz aqui todos os elogios merecidos por Vossa
Excelência como Presidente, pela maneira como conduz os trabalhos em
relação aos Colegas, assim como ao Ministro Luís Roberto Barroso e aos

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RE 949297 / CE

advogados, que se saíram muito bem.


Eu acho que não há a menor discussão sobre a maneira como aqui os
fatos foram explicitados. O Ministro Barroso colocou as datas de uma
maneira que até uma criança entende o que se está julgando. Assim
também o Ministro Edson Fachin.
Eu queria fazer apenas algumas colocações para, vamos dizer assim,
me introjetar no tema central que, como o Ministro Alexandre destacou, é
a modulação. Nós estamos discutindo exatamente isso. E por quê?
Porque, num primeiro momento, a nossa própria súmula estabelece que a
decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a inconstitucionalidade de
um tributo não se projeta para o exercício seguinte. Também aqui não foi
mencionado, mas há decisões do Supremo Tribunal Federal que, julgada
improcedente a ação de inconstitucionalidade, isto não significa que se
julgou procedente a constitucionalidade da lei, porque pode haver novos
argumentos que venham a suprir eventuais falhas de argumentação no
caso antecedente. Há vários casos em que eu aqui mesmo fui desafiado,
como quando afirmei - se não me engano foi até no caso do
financiamento de campanha -, negado o pedido da ação de declaração de
inconstitucionalidade, isso necessariamente não impede a propositura de
uma outra ação que venha a comprovar a sua constitucionalidade por
outros fundamentos. Até comentei isso ontem com a Ministra Cármen
Lúcia.
Pois bem. No meu modo de ver, todas as demandas tributárias,
salvante fatos objetivos, como, por exemplo, afirmar à luz da Constituição
Federal, poder geral de limitação tributária do poder público, de que
empresa jornalística tem que pagar tributo quando há imunidade,
salvante esses casos bem característicos e objetivos, toda decisão
tributária se submete à cláusula rebus sic stantibus, porque isso é da
essência do Direito Tributário. Se não fosse da essência, não haveria o
princípio da anterioridade, não haveria o princípio da anterioridade
nonagesimal. Isso significa que as decisões tributárias são exaradas com a
cláusula rebus sic stantibus.
A verdade é que nós estamos julgando um recurso extraordinário

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RE 949297 / CE

agora, sob a vigência de uma nova ordem constitucional e que estabelece


qual é o efeito da declaração de inconstitucionalidade nos casos já
julgados. E aí, no meu modo de ver, foi o objetivo do Código de Processo
Civil. Por quê? Havia dúvidas? Havia. Havia o que se denomina hoje de
sombra de juridicidade. Eu tenho um acórdão do STJ, em que a matéria
era infraconstitucional, e ele assentou que a decisão do Supremo não
poderia influir na decisão do caso concreto. Então é isso que estamos
decidindo também: se a decisão do Supremo automaticamente incide
sobre o fato concreto. E o que diz a lei, tanto no art. 535, §§ 6º, 7º e 8º,
como no artigo referente à execução contra a Fazenda Pública? Porque
essa decisão valerá para o contribuinte e para a Fazenda Pública. Diz o
seguinte:
"§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste
artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida
em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo
considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal,
ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato
normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como
incompatível com a Constituição Federal, em controle de
constitucionalidade concentrado ou difuso."

Então, o código disse: não, essas declarações têm influência nas


ações. Aí, para fazer uma distinção entre as ações pendentes e ações
transitadas, o que diz o código?

"§ 6º No caso do § 5º, os efeitos da decisão do Supremo


Tribunal Federal poderão ser modulados no tempo, de modo a
oferecer a segurança jurídica.
§ 7º A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no §
5º deve ter sido proferida antes do trânsito em julgado da
decisão exequenda.
§ 8º Se a decisão referida no § 5º" - isso aqui é aplicação
da regra in claris cessat interpretatio - "for proferida após o
trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação
rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 289 de 468

RE 949297 / CE

decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal."

Isso significa dizer que, se nesse prazo da ação rescisória, vier uma
declaração de inconstitucionalidade, a Fazenda ou o interessado podem
formular o pedido de ação rescisória baseado nesse fato superveniente,
mas no prazo bienal. Não significa dizer que, se depois de vinte anos, o
Supremo Tribunal vier a declarar a inconstitucionalidade da lei, a parte
tem mais dois anos para propor ação rescisória.
Na verdade, esse dispositivo é analisado assim: se no prazo bienal
for declarada a inconstitucionalidade, é possível ao interessado promover
a ação rescisória com base nessa declaração de inconstitucionalidade. Mas
essa decisão do Supremo tem de advir nesse prazo bienal para ter esse
efeito expansivo. E isso não só apenas o código diz isso, na letra morta e
fria. Nós temos, no Direito alemão, o Professor Rosenberg; o Professor
Schwab; o Professor Gottwald; o Professor Canotilho, e temos uma
doutrina nacional de elevada expressão, que afirma que a interpretação
deve ser no sentido do respeito à coisa julgada. Agora, o respeito à coisa
julgada significa dizer que, para desconstituir a coisa julgada, é preciso de
uma ação rescisória. E esse é exatamente o meu entendimento.
Entretanto, aqui, há uma matéria diversa. Quando Sua Excelência
Luís Roberto Barroso expunha, usou a expressão "não existe precedente
específico sobre esse tema". Não existe precedente específico sobre a
expansão da declaração de inconstitucionalidade nas decisões transitadas
em julgado e nem poderia haver, porque isso só surgiu com o Código de
2015, que entrou em vigor em 2016.
Então, essa é a primeira vez que nós vamos decidir o efeito
expansivo da declaração de inconstitucionalidade sobre uma ação cuja
decisão já transitou em julgado. Se essa declaração vier com ação
pendente, não há dúvida, o código diz: pode aplicar. Mas, tratando-se de
uma decisão transitada em julgado, esta é a primeira vez que nós vamos
decidir se a declaração de inconstitucionalidade tem esse efeito
expansivo, na medida em que o novo código estabelece que os
precedentes são vinculantes, têm força de lei. Bom, se eles têm força de lei
e se eles são iguais à lei, eles não podem retroagir, porque a lei não

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retroage! Isso é um consectário do princípio da segurança jurídica.


E a Constituição, dizia o Professor Eros Grau, enuncia e analisa em
tiras. A Constituição tem o seu princípio da unidade, seus valores são
conciliáveis. E a segurança jurídica hoje é valor importantíssimo na
medida em que é através da previsibilidade que se afere o risco Brasil.
O Professor Simeon Djankov, ao analisar o direito sob o ângulo da
sua aplicação econômica, afirma que o sistema jurídico que não contém
regras de previsibilidade é um sistema jurídico alijado do ranking Doing
Business, porque as pessoas não sabem o que vão fazer.
Por isso é que ontem - manifesto até um agradecimento - o advogado
utilizou a expressão de que se o contribuinte não sabe o que fazer, isso se
equipara a figura - que não é minha - que Jeremy Bentham, citando
Caenagem, afirmava: isso é a mesma coisa que tratar o jurisdicionado
como um cão, que só sabe o que é proibido quando um taco de beisebol
lhe toca o focinho. E a expressão não é minha! A expressão que o
advogado utilizou é uma expressão que está na própria exposição de
motivos de Código de Processo Civil.
Então, na realidade, eu verifico que todas as decisões em matéria
tributária, tendo em vista a possibilidade de uma lei posterior, são
proferidas com a cláusulas rebus sic stantibus. Entretanto, quando há, aí
pode surgir uma lei nova ou pode surgir um precedente, mas que não
pode retroagir para desconstituir a coisa julgada, porque para isso se
exige uma ação rescisória.
Então, como dizia eu, se essa é a primeira vez que nós estamos
enfrentando esse tema, é fundamental que nós tenhamos que modular,
porque, na verdade, como expõe hoje a Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro, essa decisão pode criar um efeito sistêmico
extremamente gravoso se, eventualmente, a tese contrária, que nós
devemos respeitar pelo princípio da colegialidade, não for minimalista.
Porque se não for minimalista, nós vamos reabrir vários casos de tributos
considerados constitucionais ou inconstitucionais e que ora vão favorecer
o Fisco, ora vão favorecer o contribuinte.
De sorte que esse argumento, no meu modo de ver, a isonomia tem

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RE 949297 / CE

que ser conciliável com a segurança jurídica porque, na verdade, a


Constituição não traz valores antinômicos, os valores devem ser
conciliados pelo princípio da unidade da Constituição. E, no caso, é
explícito por toda a doutrina nacional e estrangeira que, para
desconstituir o julgado, é necessário que haja a propositura da ação
rescisória.
Então, filiando-me a essa corrente, trazendo argumentos do
pragmatismo judicial, da análise econômica do Direito e pela forma como
os recursos aqui foram expostos, porque o Ministro foi extremamente
didático nas datas, eu o acompanho no resultado, em que Sua Excelência
negou provimento ao recurso, e acompanho o Ministro Edson Fachin no
posicionamento referente à modulação, porque entendo que nós estamos
julgando, pela vez primeira, o efeito expansivo do precedente judicial
numa coisa julgada, que pode ser tributária ou não, e que exige que
tenhamos e concedamos segurança jurídica de como nós vamos enfrentar,
de agora em diante, uma eventual declaração de constitucionalidade ou
de inconstitucionalidade de lei em relação a várias decisões que já foram
proferidas pelo Supremo, ora em favor do fisco, ora em favor do
contribuinte.
Então, com esses fundamentos bem diminutos, Senhora Presidente,
com que os Relatores foram suficientemente esclarecedores quanto à
matéria fática e à matéria de direito, eu peço vênia para acompanhar, na
questão da modulação, o voto do Ministro Edson Fachin, porque há essa
pequena divergência. Com relação ao voto do Ministro Barroso, eu
entendo que, muito embora não vá produzir nenhum efeito prático, mas,
a partir do momento que se entende hígida uma contribuição social por
decisão judicial, por modificação jurisprudencial, e se o precedente é
equivalente a uma lei em sentido formal, tem de ser obedecida a
anterioridade nonagesimal e, quiçá, a anterioridade referente à
anualidade da criação dos tributos.
Então, sinteticamente - eu vou fazer a juntada de voto -, mas é como
eu me manifesto. Eu acompanho ambos os Relatores nas respectivas
conclusões.

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Antecipação ao Voto

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RE 949297 / CE

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) -


Acompanha os Relatores nas respectivas conclusões, mas, quanto à
modulação dos efeitos, acompanha o voto do Ministro Edson Fachin?
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Sim.

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Esclarecimento

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02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ESCLARECIMENTO
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Presidente,
permite-me?
Na verdade, eu neguei provimento ao recurso extraordinário por
entender que o contribuinte tinha razão no caso específico e, depois,
posso dar mais detalhes. Até agora, todos concordaram com isso. O
Ministro Fachin deu provimento ao recurso e, até agora, todos
concordaram com isso.
Há duas divergências na mesa. Quanto à modulação, eu votei no
sentido de que o tributo é devido a partir de 2007, e o Ministro Fachin
entende que é devido a partir da publicação da ata do presente
julgamento. Essa é a primeira divergência.
A segunda divergência é que eu considero que, embora devido a
partir de 2007, mas como tese, e como a superação da coisa julgada
importa na imposição de um tributo que antes o contribuinte não pagava,
eu mando aplicar a anterioridade nonagesimal. Os Ministros André e
Alexandre divergiram nesse ponto. Parece que o Ministro Gilmar, no voto
escrito, tinha divergido. No oral, não manifestou, mas, no escrito, havia
manifestado.
Portanto, as duas divergências são quanto à modulação e quanto à
aplicação dessa limitação temporal ao poder de tributar, mas, nos
dispositivos, até agora, há uma unanimidade.
O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: Ministro Roberto
Barroso, salvo engano, o ministro Gilmar Mendes não modula, votou pela
não modulação.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Não, não.
Não tenho dúvida de que ele votou pela não modulação. Ele não
mencionou, mas consta do voto escrito, que ele não aplica essa
anterioridade.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Ele não
observa a anterioridade nonagesimal.

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Esclarecimento

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RE 949297 / CE

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - No início da votação, o


Ministro Gilmar deixou a entender que não aplica nenhuma
anterioridade.
O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: Nenhuma
modulação.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Então,
esses são os pontos de divergência, e as teses nós não votamos ainda.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - E o
eminente Ministro Fux está, como todos, acompanhando os eminentes
Relatores na conclusão e está, na modulação, acompanhando o Ministro
Fachin no sentido de que se adote, como termo a quo, a data da
publicação da ata de julgamento.
Eu agradeço muito, Ministro Luís Roberto Barroso, a Presidência dos
trabalhos por Vossa Excelência. Como Vossa Excelência adiantou, eu
estava representando o Supremo Tribunal Federal - como todos os
Presidentes que me antecederam sempre o fizeram -, na sessão de
abertura do Ano Legislativo no Congresso Nacional, em que, até por
expresso comando constitucional, nós levamos – e é interessante, a
Constituição se refere apenas ao Conselho Nacional de Justiça – o
relatório de todas as atividades do Poder Judiciário referentes, no caso, ao
ano de 2022. Mas, em função desse convívio harmonioso entre os Poderes
e desse diálogo institucional, o Supremo também apresenta o relatório
das suas atividades, consubstanciado no nosso relatório anual que eu
apresentei a Vossas Excelências ontem e que hoje entreguei ao Congresso
Nacional. Eu já chegara há um tempo e estava assistindo na sala de
lanches. Vossa Excelência estava gostando tanto da Presidência, e a
Presidência estava sendo tão brilhantemente exercida, que eu até retardei
um pouquinho a minha entrada no Plenário. Agradeço muito a Vossa
Excelência.

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02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ANTECIPAÇÃO AO VOTO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:


Boa tarde, Senhora Presidente, Ministra Rosa Weber, Ministra
Cármen Lúcia, Senhores Ministros, especialmente o Ministro Barroso,
pela primeira vez presidindo o Supremo Tribunal Federal, Ministro Luiz
Edson Fachin, Relatores dos casos ora em julgamento, Vice-Procuradora-
Geral da República, Dra. Lindôra, senhoras e senhores servidores, todos
que nos acompanham.
Senhora Presidente, inicialmente, eu gostaria aqui de fazer um
registro da atuação de Vossa Excelência desde o trágico dia 8 de janeiro.
Fui testemunha ocular da atuação de Vossa Excelência já naquela noite,
quando para Brasília me dirigi, chegando aqui por volta de sete horas, e
Vossa Excelência,com o Ministro Luís Roberto Barroso, que aqui já se
encontrava, acompanhava todos os trabalhos relativos à verificação dos
danos ocorridos e de tudo o que se deu.
Também tive a oportunidade de acompanhá-la nas reuniões no
Palácio do Planalto, seja, inicialmente, no dia 9, pela manhã, com os
Chefes de Poderes, seja à tarde, com todos os governadores. Acompanhei,
inclusive, a atuação de Vossa Excelência para que os governadores todos
se fizessem presentes, com o apoio de alguns Colegas.
E depois, aquilo que Vossa Excelência disse no próprio dia 8 à noite
se cumpriu. É muito satisfatório e, com muita alegria, nós estamos neste
plenário fisicamente graças ao denodo e à atuação de Vossa Excelência,
com sua equipe, evidentemente, cumprimentando os servidores também,
mas com a direção firme, com a direção realmente vigorosa de Vossa
Excelência.
Por fim, gostaria de relatar que Vossa Excelência proferiu ontem um
dos maiores discursos que já ouvi ou li na história deste Supremo
Tribunal Federal. Então, fica aqui esse registro para a história dessa
atuação de Vossa Excelência e desse discurso, que é realmente uma

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Antecipação ao Voto

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RE 949297 / CE

manifestação histórica, Senhora Presidente.


Senhoras e Senhores Ministros, eu costumo ser bastante objetivo. Eu
acompanho, com as devidas vênias dos Ministros Edson Fachin, Nunes
Marques e Luiz Fux, a posição do Ministro Luís Roberto Barroso, com as
ressalvas já apontadas quanto à questão da anterioridade e da noventena,
na forma como votaram, em voto antecipado, o Ministro Gilmar Mendes
e, depois, o Ministro André Mendonça e o Ministro Alexandre de
Moraes.
Então, eu me alinho a essa corrente no que diz respeito à ressalva.
Não há anterioridade, não se aplica a anterioridade, nem a noventena. Eu
farei juntada de voto por escrito, um voto de 26 páginas, que não tenho
razão de ler, depois de todos os debates realizados.
É como voto, Senhora Presidente.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) -
Obrigada pelas suas palavras, como sempre generosas, Ministro Dias
Toffoli! Eu já tive oportunidade de agradecer a Vossa Excelência e o faço
agora em público pelo generoso apoio que me deu, Ministro Dias Toffoli.,
por ocasião do oito de janeiro. Estávamos, o Ministro Luís Roberto
Barroso e eu, em Brasília, quando da invasão do STF, e o Ministro Dias
Toffoli chegou logo depois, e aos poucos os demais Colegas também
foram chegando e formamos a nossa corrente, a nossa unidade,
realmente muito importante para o bom desenvolvimento dos trabalhos.
Com relação ao discurso, Ministro Toffoli, eu falei com a minha
alma. Talvez por isso tenha sido tão rigorosa, porque quem viu, como nós
vimos, este Plenário destroçado, não tinha como reagir diferente. Aqui, na
noite de oito de janeiro, havia uma verdadeira montanha de cadeiras.
Todas elas foram atiradas aqui no meio, os nossos livros arrancados da
bancada, as nossas Constituições rasgadas, os nossos Códigos
destroçados... realmente só poderia sair um grito da alma na hora que
vimos este Plenário reconstituído, tão lindo, tão esplendoroso, graças ao
denodo – repito –, à dedicação dos nossos servidores, dos nossos
colaboradores e de todos que aqui, junto conosco, trabalharam dando o
melhor de si para que ele estivesse hoje como está. E o maior símbolo

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RE 949297 / CE

talvez tenha sido aquele abraço conjunto que todos, ontem, demos em
nosso prédio. Eu fiquei muito emocionada, muito feliz, isso é importante
que seja dito e reafirmado sempre.
Ministro Toffoli, voltando ao nosso processo, Vossa Excelência
acompanha os respectivos relatores na conclusão, mas, quanto à
anterioridade nonagesimal e à anuidade, que Vossa Excelência não
reconhece, acompanha o Ministro Luís Roberto Barroso?
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Quanto ao tempo de 2007, mas sem a anterioridade e a noventena.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Desde
2007.

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02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ANTECIPAÇÃO AO VOTO
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Pois, não Senhora
Presidente.

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Colho


o voto da eminente Ministra Cármen Lúcia, que foi outra brava lutadora
para essa reconstituição.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Dizem que eu sou


brava num outro sentido. Brava foi Vossa Excelência, no sentido de ter
bravura.

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Na


verdade, Ministra Cármen Lúcia, lá no Rio Grande do Sul, nós
costumamos dizer braba. E eu não diria jamais que Vossa Excelência é
braba, Vossa Excelência foi brava.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Mas muita gente diz


que eu sou brava, acho até que não, mas deve ser que seja.
Ministra, eu também não posso deixar de iniciar, como alguns já
iniciaram, mesmo antes da chegada de Vossa Excelência, sobre o papel
desempenhado por Vossa Excelência, que nos honra a todos como
brasileiros, como cidadãos brasileiros, como juízes, de ter, à frente do
Poder Judiciário, como no sábado disse a Vossa Excelência, que tinha feito
a gravação no sentido exatamente de que era a cidadã certa, na hora certa,
no lugar certo, e isso nos dá não apenas segurança, mas talvez passe um
pouco para a sociedade brasileira o que é hoje tão carente, que é de
confiança nas pessoas, nas instituições e, sem esta base de confiança, é
evidente que a democracia sempre vai ficar à cata de em quem confiar. E
Vossa Excelência, nesse sentido, representa, no restauro do que foi aqui

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RE 949297 / CE

destruído, para usar a expressão de Vossa Excelência, destroçado de


maneira aterrorizante, para quem viu, mas deve ser um terror mesmo na
alma de quem fez, porque quem destrói por destruir o que não é de nós
de jeito nenhum, não é dos onze, é de todo o povo brasileiro, há de ter
realmente algum lastro de muitas sombras na própria alma.
Então, eu tenho o gosto e o enorme orgulho de dizer que a presença
de Vossa Excelência é que forma esse liame tão necessário. Como todos
nós aqui, acho que fomos testemunhas de que o servidor desta Casa é
uma honra também feita ao povo brasileiro e à sociedade brasileira, que
nunca vê como é que nós chegamos aos nossos julgamentos, sem a face
mostrada, à nossa época, por causa da TV Justiça, mas destes servidores.
Na Justiça Eleitoral, a gente costuma dizer que Deus protege os
loucos, os bêbados e os servidores da Justiça Eleitoral, que viram
madrugadas e madrugadas, especialmente nos dias de eleição, e
conseguem, depois, festejar, depois do seu voto e voto de todos, a Justiça
Eleitoral. Eu acho que também há uma proteção especial, deve haver um
anjo da guarda especial para os servidores do Supremo, que contribuem,
como fizeram aqui, sem parar para que, 23 dias depois, o Plenário
estivesse, para quem viu ontem, sem ao menos ter o sentimento do que
viu nos dias 8, 9 e 10.
Eu queria, portanto, fazer homenagem a esses servidores, não posso
nomear todos, mas na pessoa do Diretor-Geral, Doutor Miguel, e do
Secretário-Geral, Doutor Estêvão, que atuaram sem parar, e foram várias
madrugadas de telefonemas que Vossa Excelência continuava aqui, com
esses servidores, com a Doutora Paula, sem parar, não apenas sem
reclamação, mas querendo ficar mais tempo.
Então, acho que todos nós somos gratos, como cidadãos e como os
juízes brasileiros, e, nesta Casa, principalmente, por tudo que Vossa
Excelência tem levado adiante.

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - E


abrindo mão, se me permite, Ministra Cármen – peço escusas por
interrompê-la, mas é por uma causa nobre –, das férias respectivas,

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 300 de 468

RE 949297 / CE

porque, justamente no período em que eu não ficaria de plantão, eles


poderiam tirar férias, mas todos abriram mão, ou interromperam, o
repouso.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - E alguns, que eu sei,


que tinham começado na sexta-feira e que voltaram ao Tribunal
exatamente pelo sentimento de compromisso e de ligação com Tribunal.

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) -


Comprometimento com a instituição.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Quantos aos casos,


Senhora Presidente, nós temos o que já foi, várias vezes, aqui narrado, um
caso relatado pelo Ministro Barroso, em que a empresa obtém uma
decisão, com trânsito em 92, sobrevém a decisão do Supremo, em 2007, e,
a partir daí, quais os efeitos que teriam, que é o que se indaga, aqui,
basicamente, para os fins de uma cobrança que tinha sido ajuizada contra
essa empresa pela União, mas relativa a créditos de 2001 e 2003.

Neste sentido, portanto, a segurança jurídica baseada


exclusivamente aqui na coisa julgada, que não tinha sido, de alguma
forma, contaminada, comprometida, ou sequer questionada, leva à
decisão que eu estou acompanhando, na parte dispositiva, de negar
provimento ao recurso da União.

No caso do Ministro Edson Fachin, se o quadro ficou claro, em 92 se


obtém a decisão, em 2007 sobrevém a decisão do Supremo em ação direta
de inconstitucionalidade considerando constitucional, essa empresa
impetra mandado de segurança preventivo para que, mesmo na
sequência, ela não precisasse de pagar, e é o recurso extraordinário
relativo a esse mandado de segurança, na origem, que estamos a julgar.
Entretanto, já havia declaração de inconstitucionalidade, razão pela qual
Vossa Excelência, Ministro Barroso, está dando provimento e eu estou o

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 301 de 468

RE 949297 / CE

acompanhando integralmente.

No que se refere ao ponto mais sensível, que é exatamente o da


modulação de efeitos, Senhora Presidente, tal como foi posto basicamente
no processo de relatoria do Ministro Roberto Barroso, estou
acompanhando Sua Excelência por considerar que o princípio da
segurança jurídica, que é um dos esteios do Estado de Direito
efetivamente a de ser cumprido, e a coisa julgada é um dos institutos que
assegura exatamente isso.

Só que a coisa julgada, num caso como este, que é uma obrigação
tributária de trato sucessivo, desde que houve a ruptura da confiança que
se podia instalar, ou do princípio da segurança jurídica que se afirma, ou
que se argumenta, com base numa decisão anterior, na continuidade,
portanto, ou na sucessividade do tratamento dado à matéria, haverá de
passar então. E aqui, eu também acompanho, no que se refere à
anterioridade nonagesimal exatamente pela mudança havida na decisão
ou na matéria, a partir da decisão deste Plenário, do julgamento deste
Plenário, tenho para mim que, a partir de então, 2007, era o caso
exatamente de se passar a aplicar essa nova orientação.

Portanto, resguarda-se, na minha compreensão, até aí o que tinha


sido obtido pela força da coisa julgada, em qualquer caso, claro, nos
termos que eu interpreto as normas constitucionais incidentes na matéria.

No que se refere à modulação, com as vênias da divergência, estou,


então, acompanhando exatamente a proposição do Ministro Roberto
Barroso.
(Publicado sem revisão. Art. 95, RISTF)

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Observação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 302 de 468

02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

OBSERVAÇÃO
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - A Senhora
Secretária me passa que a Doutora Fernanda Donnabella, que sustentou
ontem pelo amicus curiae Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos,
gostaria de apresentar uma questão de fato, é isso?
A Doutora Fernanda ontem estava aqui conosco presencialmente,
hoje está pelo vídeo. Pois não, Doutora Fernanda, se é questão de fato está
com a palavra.
A SENHORA FERNANDA DONNABELLA (ADVOGADA) - Boa
tarde! Único esclarecimento de fato é que o mandado de segurança, o
segundo impetrado no caso ATBM, foi impetrado em 2001, e não em 2007,
após a decisão em ADI.
É o único esclarecimento de fato. Muito obrigada!
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Presidente.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Obrigada,
Doutora Fernanda! Ouço o Ministro Luís Roberto.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - É só
porque considero bastante importante esse fato.
Havia compreendido que a impetração no mandado de segurança
teria sido após a consolidação do entendimento do Supremo na ação
direta de 2007, foi até o esclarecimento que se prestou.
Acho que há uma dúvida de fato. Não sei quanto muda as teses
jurídicas, mas havia uma diferença importante: impetrar o mandado de
segurança preventivo depois da consolidação da jurisprudência é um
pouco diferente de impetrar o mandado de segurança antes.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Antes.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Se ele tinha uma
decisão, e o Supremo não tinha a decisão, continuava prevalecendo a ...
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - É.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - É isso, mas
é que faz o caso do Ministro Fachin...

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Observação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 303 de 468

RE 949297 / CE

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Se havia uma


decisão, afasta-se o mandado de segurança.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Afasta de todo jeito.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Faz o caso
do Ministro Fachin ficar mais próximo do meu do que eu havia
interpretado no debate.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Sim.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Exato.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Depois, seria abrir
uma possibilidade de questionamento, a partir de 2007. Se é a partir de
2001, fica mais próximo do de Vossa Excelência.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - É isso. Ok.
Obrigado, Presidente!
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Agradeço
à Doutora Fernanda.
(Publicado sem revisão. Art. 95, RISTF)

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Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 304 de 468

02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ESCLARECIMENTO

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) -


Ministro Fachin, Vossa Excelência, na verdade, não modulava em um
primeiro momento e, depois, passou a modular?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Não, se me permite,
Presidente.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Não?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Minha manifestação
inicial, no Plenário Virtual, indicava a modulação. Como disse, ao começo
do julgamento de hoje, a razão do destaque foi que nós, a rigor, mesmo
em um Plenário assíncrono, pelas ponderações que advieram da posição
do Ministro Gilmar Mendes, procuramos achar um denominador
comum. A posição suscitada pelo Ministro Luís Roberto Barroso, em um
primeiro momento, parecia-me que indicava esse denominador comum.
Todavia, recebendo memoriais das partes, vi que, pelo menos
depreendi, precisávamos pronunciar-nos sobre modulação ou não.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Ah,
então, foi isso.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Foi esse o exame que fiz
entre o pedido de destaque e a data de julgamento.
Nesta data de julgamento, proferi voto no sentido de modular a
partir desta data.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Da
publicação da ata de julgamento?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Da ata de julgamento, o
que já se verificou ser uma posição já vencida, independentemente de
qualquer informação de fato que se possa refinar melhor.
O que está agora, a rigor, em debate, é a posição suscitada pelo
Ministro Luís Roberto Barroso e uma posição diferenciada, suscitada pelo
Ministro Gilmar Mendes.

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 305 de 468

RE 949297 / CE

Creio que essas são as duas questões que, neste momento, estão
postas a debate, porque a modulação, até esse momento, Vossa Excelência
ainda não votou; Ministro Ricardo Lewandowski ainda não votou. De
qualquer sorte, mesmo em uma soma bem mais hipoteticamente
benevolente, não teríamos quórum para a modulação.
Acharia que haveria quórum hipotético para a modulação? Até
agora, na modulação que propus, acompanharam-me o Ministro Nunes
Marques e o Ministro Fux tão somente.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Isso, há três
votos pela modulação e seis pela não modulação. Eu estava tentando
computar a questão da anterioridade.
O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: Seis pela modulação
a 2007.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - A
Ministra Cármen votou pela modulação a 2007.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Mas o voto
médio fica 2007, senão vai voltar a 1989.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Esse é o ponto a que eu
estaria chegando.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - É o
momento a partir do qual os efeitos da coisa julgada cessaram.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Chegar à modulação agora
tem que passar por 2007.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Entendi.
Minha posição é que os efeitos da coisa julgada perduram até a decisão
do Supremo em 2007. A única contabilização que eu ainda estava fazendo
é quanto à aplicação da anterioridade nonagesimal ou não. Mas aí acho
que o voto pela modulação adere à anterioridade.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Não, aí eles teriam
que se pronunciar.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - É ou então
que se manifestem, está certo.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 306 de 468

RE 949297 / CE

Quanto à data, os votos dos Ministros Luiz Edson Fachin, Nunes


Marques e Luiz Fux contêm a data de 2007.
O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: Contêm.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Eles vão além.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Então, na data de 2007, eles vão além.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Seria o voto médio.
O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: O acórdão de 2007
não declarou a inconstitucionalidade; foi a constitucionalidade. É maioria
absoluta.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Entendo
que, para modular, bastaria maioria absoluta.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Vai dar oito, que uma modulação já tem. A modulação feita pelo
Ministro Fachin, acompanhado pelo Ministro Nunes Marques e pelo
Ministro Luiz Fux, contém uma data de 2007.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Mas há essa questão residual,
quer dizer, se é de 2007, a partir de 2007 a exigibilidade da obrigação
respeitará a anterioridade nonagesimal ou não?
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Esse é outro
ponto.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - É o segundo ponto.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Embora,
em razão da prescrição quinquenal, isso fará pouco diferença.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Mas não importa, é a tese.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Para efeito
de tese, faz.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Não tenho de cabeça aqui os votos em relação ao segundo ponto.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Votaram
contra, expressamente, Presidente, à anterioridade: Ministro André
Mendonça, Ministro Alexandre de Moraes, Ministro Dias Toffoli e,
embora eu não tenha ouvido, mas me reportaram, o Ministro Gilmar

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Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 307 de 468

RE 949297 / CE

Mendes. Então, quatro votos já manifestados contra. Penso que os que


votaram pela modulação e que, portanto, não se manifestaram quanto a
esse ponto, talvez devam manifestar-se expressamente.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Acompanho Vossa
Excelência.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Eu também. Aliás, disse isso
antes.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Nesta hipótese, e
vencido no mais, entre o menos menos, fico com a posição intermediária:
menos que a minha, mais que o menos, que é a Vossa.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Não sei se
Vossa Excelência vai votar.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Não,
Ministro Luís Roberto. Essa matéria é tão relevante que, na verdade –
agora ficou para mim muito claro –, penso seja importante estarmos com
nossa composição completa. Vossa Excelência me antecipou que havia
consenso quanto ao encerramento às 17h45, por isso não houve o
intervalo. Agora são 17h34, então, na verdade, acho mais adequado e
cauteloso suspender o julgamento, até para verificar exatamente esses
detalhes.
Antecipo minha posição: também estou acompanhando nas
conclusões Vossa Excelência e o Ministro Fachin, mas, com esses debates
todos, e também fiquei ontem muito impressionada com as sustentações
orais, mais um tempo se faz adequado... Infelizmente hoje, em função dos
meus outros compromissos institucionais, não pude refletir mais
detidamente, mas o farei até a próxima sessão. Aí, colheremos o voto do
Ministro Ricardo Lewandowski. Teremos uma decisão do Plenário
completo e todos poderão amadurecer a tese. Temos também a questão
da maioria simples ou maioria absoluta, já atingidos seis votos.
Agradeço a presença de todos. Faço um elogio público às
sustentações dos advogados e advogadas de ontem, tão importantes e
expressivas, que estão, sem a menor dúvida, talvez muito mais do que
em outras vezes, pela intensidade da matéria, a nos fazer refletir.

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Esclarecimento

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RE 949297 / CE

Desejo a todos um excelente final de dia!


(Publicado sem revisão. Art. 95, RISTF)

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

VOTO

DIREITO TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO


SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO -
CSLL. DECISÃO JUDICIAL TRANSITADA
EM JULGADO QUE DECLARA A
INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICO-
TRIBUTÁRIA. CONSTITUCIONALIDADE
SUPERVENIENTE. DECLARAÇÃO DE
CONSTITUCIONALIDADE DA NORMA
PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
EM CONTROLE CONCENTRADO E
ABSTRATO OU EM CONTROLE DIFUSO
SOB A SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO
GERAL. EFEITOS DA COISA JULGADA
EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA. LIMITES.
RELAÇÃO JURÍDICA DE TRATO
SUCESSIVO. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO
AOS PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA
JURÍDICA, DA PROPORCIONALIDADE E
DA SUPREMACIA DO INTERESSE
PÚBLICO SOBRE O PARTICULAR. LEI
7.698/88. ADI 15. SÚMULA 239/STF. CF/88,
ARTS. 3º, IV; 5º, CAPUT, II e XXXVI; 37; E
150, VI, C. MODULAÇÃO DE EFEITOS.
I - Fundamentos da coisa julgada:
estabilidade e segurança sociais
1. A coisa julgada material é a autoridade
que torna imutável e indiscutível a decisão
de mérito não mais sujeita a recurso (art.

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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RE 949297 / CE

502 do Código de Processo Civil 2015).


2. A Constituição Federal menciona
expressamente a proteção à coisa julgada
em seu art. 5º XXXVI ao dispor que “a lei
não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada.”
3. A relação entre a autoridade da coisa
julgada e a segurança jurídica é
coexistencial, sendo certo que o fundamento
da res judicata é eminentemente jus-político,
uma vez que o instituto visa à preservação
da estabilidade e segurança sociais. Vale
dizer: a “exigência social da segurança no gozo
dos bens da vida” (CHIOVENDA in
“Instituições de Direito Processual Civil”,
1942, vol I, p. 512-513).
4. “O interesse na preservação da res iudicata
ultrapassa, contudo o círculo das pessoas
diretamente envolvidas. A estabilidade das
decisões é condição essencial para que possam os
jurisdicionados confiar na seriedade e na
eficiência do funcionamento da máquina
judicial.” (MOREIRA, José Carlos Barbosa,
in “Temas de Direito Processual Civil”,
Saraiva: São Paulo, 2007. páginas 245/246).
5. Os limites do efeito prospectivo da coisa
julgada em matéria tributária impõem
saber: qual o impacto da decisão transitada
em julgado nas relações jurídicas ainda não
nascidas no momento da formação da
decisão definitiva.
6. A súmula 239 do Supremo Tribunal
Federal estabeleceu um efeito restritivo da

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RE 949297 / CE

decisão judicial que trata da relação jurídico


obrigacional no Direito Tributário. (Súmula
239: “Decisão que declara indevida a cobrança
do imposto em determinado exercício não faz
coisa julgada em relação aos posteriores.”)
II - Os efeitos prospectivos da coisa
julgada - cláusula rebus sic stantibus – a
inegociável impossibilidade de se alcançar
o passado sem ação rescisória
7. O art. 505, I do Código de Processo Civil
de 2015 (“Art. 505. Nenhum juiz decidirá
novamente as questões já decididas relativas à
mesma lide, salvo:I - se, tratando-se de relação
jurídica de trato continuado, sobreveio
modificação no estado de fato ou de direito, caso
em que poderá a parte pedir a revisão do que foi
estatuído na sentença;”) aprimora a legislação
anterior ao mencionar as “relações de trato
continuado” de maneira específica,
diferenciando estas das situações ordinárias
em que se forma a coisa julgada.
8. O juiz nestas hipóteses profere decisão
“para o futuro” e, por isso, com a cláusula
de que o seu conteúdo é imodificável se
inalterável o ambiente jurídico em que a
decisão foi prolatada, isto é, rebus sic
stantibus. “(...) a sentença tem eficácia enquanto
se mantiverem inalterados o direito e o suporte
fático sobre os quais estabeleceu o juízo de
certeza.” (ZAVASCKI, Teori in “Eficácia das
sentenças na jurisdição constitucional”,
livro eletrônico).
9. O Supremo Tribunal Federal já adotou,

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em repercussão geral, a tese da coisa


julgada rebus sic stantibus superveniente em
caso em que a modificação do contexto
fático tornou superada a decisão transitada
em julgado, com efeitos prospectivos.
Precedente: Tema 494 de Repercussão
Geral. Tese: “A sentença que reconhece ao
trabalhador ou servidor o direito a determinado
percentual de acréscimo remuneratório deixa de
ter eficácia a partir da superveniente
incorporação definitiva do referido percentual
nos seus ganhos.” RE 596663, Rel. Min. Marco
Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Teori
Zavascki, Tribunal Pleno, julgado em
24/09/2014.
10. In casu, o contribuinte ostenta decisão
judicial transitada em julgado que lhe
reconheceu a inexigibilidade do pagamento
da Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL) com base nas disposições
da Lei nº 7.689/88.
11. Deveras, os fundamentos utilizados na
decisão acobertada pelo manto da coisa
julgada foram expressamente rechaçados
pelo Supremo Tribunal Federal,
inicialmente em recurso julgado
individualmente, ainda em sistemática
anterior à repercussão geral – RE 138.284,
Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno,
julgado em 01/07/1992, DJ 28-08-1992, e,
posteriormente, em sede de controle
concentrado – ADI 15, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, Tribunal Pleno, julgado em

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RE 949297 / CE

14/06/2007, DJ 31-08-2007.
12. As decisões tomadas pela Suprema
Corte podem ser classificadas como
alteração no suporte fático ou jurídico capaz
de abalar os eventos sobre o qual foi
construída a imutabilidade da coisa julgada
formada em outro momento. Dispara-se a
cláusula rebus sic stantibus, apta a modificar
as relações jurídicas futuras, quais sejam
aquelas nascidas a partir da mudança no
novo contexto fático-jurídico.
13. A relação jurídico-tributária relativa à
exigência da CSLL classifica-se como uma
relação jurídica sucessiva. É dizer: a
exigência tributária decorre de situação
fática complexa, para cuja composição
concorrem fatos geradores instantâneos
autônomos, mas inseridos e referenciados a
uma determinada situação jurídica
permanente. (ZAVASCKI, Teori, in ob. Cit.).
14. A coisa julgada que envolve controvérsia
jurídica concernente a relação jurídica de
trato continuado, classificada como relação
jurídica sucessiva, permite a verificação das
circunstâncias de fato e de direito que
venham a abalar a continuidade da relação
materializada em decisão transitada em
julgado.
15. A circunstância é diversa daquelas em
que se tem situações jurídicas definitivas
eleitas como hipótese de incidência
tributária, v. g., no caso do Imposto Predial
e Territorial Urbano (IPTU), do Imposto

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sobre Transmissão de Bens por Causa


Mortis ou Doação (ITCMD) ou mesmo do
Imposto sobre a Transmissão Onerosa de
Bens Imóveis (ITBI). Nestes casos, a
condição eleita pelo legislador tributário é
una e realiza-se em determinado momento.
Eventual coisa julgada formada em face do
negócio jurídico que serve de substrato a
estes tributos esgota seus efeitos naquele
exato momento da incidência, sem qualquer
possibilidade de aferição de eventos que se
sucedem no tempo.
III - O Código de Processo Civil de 2015, o
efeito expansivo do precedente e sua
irretroatividade
16. O Código de Processo Civil de 2015
alberga todo o sistema de precedentes
qualificados posto no Texto Constitucional
pela Emenda Constitucional nº 45/2004 e
deflagrado pelas modificações no CPC/73.
17. A nova lei processual alçou o Supremo
Tribunal Federal à condição de uma
verdadeira Corte de Precedentes, de
maneira expressa, e não mais de mero
uniformizador de jurisprudência.
(MARINONI, Luiz Guilherme e
MITIDIERO, Daniel in “Recurso
Extraordinário e Recurso Especial – do jus
litigatoris ao jus constitutionis”, 2ª. Edição,
Revista dos Tribunais, p. 86).
18. O instituto da Repercussão Geral,
enfatize-se, não significa apenas um
mecanismo de triagem de processos, mas,

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RE 949297 / CE

sim, uma convergência do sistema judicial


brasileiro à common law. É nesse sentido que
se afirma que os precedentes do Supremo
Tribunal Federal formados antes do advento
do regime de Repercussão Geral
consubstanciam apenas res inter alios,
compondo o compêndio de jurisprudência
da Corte, por isso que não há gradiente
normativo suficiente nestes julgados para
atingir os efeitos da coisa julgada, salvo nas
hipóteses em que se afiguram presentes os
requisitos para a ação rescisória ou mesmo
nas situações de inexequibilidade do título
executivo judicial, tal como previsto nos
arts. 525 §§ 12 a 15 e 535, §§ 5º a 8º do
CPC/15.
19. A força expansiva dos precedentes,
formados pelo Supremo Tribunal Federal
em regime de repercussão geral, atinge
aqueles casos julgados sob essa sistemática,
bem como aqueles formados em controle
concentrado e abalam os efeitos futuros da
norma individual e concreta anteriormente
incorporada ao sistema jurídico por meio de
um provimento jurisdicional transitado em
julgado.
20. A segurança e confiança no sistema
jurídico resultam atendidas, visto que a
cessação da eficácia do provimento
jurisdicional acobertado pelo manto da
coisa julgada somente se opera para o
futuro.
21. O precedente vinculante atinge somente

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RE 949297 / CE

o efeito prospectivo da decisão judicial,


máxime porque, tratando-se de relações
sucessivas, o novo entendimento alcança
apenas os fatos surgidos sob a égide do
novo contexto fático/jurídico, de maneira
alguma aqueloutros, já pretéritos,
submetidos ao manto da coisa julgada
formada originalmente. A questão é de
eficácia.
22. O fenômeno não significa “relativizar a
coisa julgada inconstitucional”, o que levaria à
nulidade da decisão inicialmente proferida,
bem como de seus efeitos.
23. Modificação na coisa julgada com
efeitos para o passado somente pode se
operar a partir de novo provimento
jurisdicional exarado nas situações dos
arts. 966, 525 e 535 do CPC/15, ou seja,
hipóteses excepcionalíssimas.
24. A interpretação no sentido de que os
efeitos já ocorridos da coisa julgada
somente podem ser desconstituídos nas
hipóteses descritas pelo CPC é a que mais
claramente deflui da conjugação entre a
proteção constitucional da coisa julgada e
as disposições da legislação processual.
25. O Código de Processo Civil em vigor, na
esteira de reforma aposta ao CPC/73 pela
Lei nº 11.232/2005, para além dos casos
previstos para o cabimento da ação
rescisória (art. 966), estabeleceu ser
inexigível a obrigação reconhecida em
decisão judicial cujo fundamento tenha sido

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lei ou ato normativo declarado


inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal, seja em controle concentrado ou
difuso (artigos 525, §12, e 535, §5º).
26. O Novo CPC, visando sanar lacuna
identificada no velho código, esclareceu
expressamente que a decisão do STF teria,
como regra, de ser anterior ao trânsito em
julgado da decisão exequenda (artigos 525,
§14 e 535, §7º). Por fim, abriu também a
possibilidade de desconstituição da coisa
julgada incidente sobre sentença cujo
fundamento tenha sido declarado
inconstitucional em momento posterior ao
trânsito em julgado, ao prever o cabimento
de ação rescisória com esta finalidade
(artigos 525, §15 e 535, §8º).
27. A cessação de efeitos da coisa julgada
que se discute in casu, sob um outro
enfoque, somente pode operar para fatos
que ocorram posteriormente à modificação
no contexto fático-jurídico, modificação esta
caracterizada exclusivamente por decisão
do Supremo Tribunal Federal formada em
sede de controle concentrado ou em
precedente qualificado pela sistemática da
repercussão geral.
28. Dessa forma, possuem força para, com o
seu advento, impactar ou alterar o sistema
jurídico vigente, automaticamente, por
serem dotados dos atributos da
definitividade e objetividade, os seguintes
precedentes do STF: (i) todos os formados

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em controle concentrado de
constitucionalidade, independentemente da
época em que prolatados; (ii) quando
posteriores a 3 de maio de 2007, aqueles
formados em sede de controle difuso de
constitucionalidade, desde que tenham
resultado de julgamento realizado nos
moldes da sistemática da Repercussão Geral
(art. 543-B do CPC/73 e art. 1.036 do
CPC/15).
IV - A necessidade de modulação de
efeitos do presente entendimento –
entendimento inédito da Suprema Corte a
respeito dos efeitos expansivos do
precedente formado em regime de
repercussão geral – segurança jurídica –
“sombra de juridicidade” em favor das
teses advogadas pelo contribuinte
29. A atribuição de efeitos prospectivos à
decisão ora prolatada merece ser
prestigiada. É imperativa a denominada
superação prospectiva (prospective
overrulling) via modulação, em respeito à
segurança jurídica, cláusula pétrea da
Constituição Federal (art.5º, caput, CF/88).
30. O art. 927, §3º do CPC/15 permite
avaliar o ambiente jurídico em que as
discussões sobre o tema da cessação de
efeitos da coisa julgada em matéria
tributária se desenvolveram. Principalmente
com a sucessão de julgamentos a respeito
da Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL).

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31. As disposições da Lei 7.689/88, sobre


CSLL, foram julgadas inconstitucionais em
processos individuais ajuizados por
diversos contribuintes. Sucederam-se,
então, as Leis nº 7.856/89 e 8.034/90, a LC
70/91 e as Leis 8.383/91 e 8.541/92 que, nas
palavras do Superior Tribunal de Justiça,
apenas modificaram a alíquota e a base de
cálculo da contribuição instituída pela Lei
7.689/88, ou dispuseram sobre a forma de
pagamento, alterações que não criaram
nova relação jurídico-tributária (REsp
731.250/PE, Rel. Min. Eliana Calmon,
Segunda Turma, DJ 30/4/07).
32. O Superior Tribunal de Justiça, antes de
o Supremo Tribunal Federal firmar a
posição tomada nesta assentada, e mesmo
antes de afetar a discussão à sistemática da
repercussão geral, sinalizou, em sede de
recurso repetitivo, que os efeitos da coisa
julgada estariam protegidos da novel
legislação e mesmo da superveniência da
decisão do Supremo Tribunal Federal. É
certo que o Tribunal àquele momento não
promoveu a análise da matéria nos termos
ora elaborados, porquanto não examinou a
cessação de efeitos futuros da coisa julgada.
Inobstante, fez menção a reconhecer a
legitimidade do direito do contribuinte.
33. Deveras, ainda que pudesse haver
precedentes isolados do próprio Superior
Tribunal de Justiça em sentido diverso, ou
mesmo que o entendimento fazendário

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caminhasse em linha com o que ora se


adota, é certo que os cidadãos alimentavam
a expectativa de ter seu direito albergado
pelo Poder Judiciário. O tema era envolto
por uma “sombra de juridicidade” em prol
dos contribuintes, no que não se pode
recriminar a confiança eventualmente
depositada no sucesso da tese pelo
particular.
34. O fato de haver um leading case em
regime de repetitivo julgado pelo Superior
Tribunal de Justiça compõe um cenário em
que se poderia reconhecer que as novas leis
que reinstituíram a CSLL não teriam o
condão de promover qualquer abalo na
relação jurídico tributária. Inegavelmente,
tinha-se um indicador de confiança das
empresas na manutenção dos efeitos de
decisões judiciais transitadas em julgado,
tanto mais que a lei nova e, a posteriori, os
precedentes, não podem retroagir para
atingir a coisa julgada.
35. É fato inequívoco e notório que o
contribuinte-empresa tinha um indicador
de confiança na manutenção dos efeitos de
decisões judiciais transitadas em julgado.
36. O Supremo Tribunal Federal ao
entender, a partir deste momento, que os
efeitos futuros da coisa julgada em matéria
tributária podem ser capturados por
decisão judicial da Suprema Corte que
declare sentido inverso do inicialmente
constituído pelo provimento obtido

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individualmente pelo contribuinte,


estabelece, DE MANEIRA INÉDITA na
Corte Constitucional, os limites expansivos
dos precedentes formados sob os auspícios
do regime de repercussão geral, bem como
da eficácia de seus julgamentos formados
em controle concentrado.
37. Anteriormente a este julgado, havia um
cenário de incerteza para diversos players do
mercado, que somente foi dissipado com o
julgamento da questão nesta assentada, em
sede de repercussão geral.
38. Em sendo a coisa julgada um direito
fundamental do cidadão sob a ordem
constitucional vigente, eventuais restrições
a sua eficácia só podem ser admitidas se
objetivarem a promoção de outros direitos
fundamentais cujo âmbito de proteção se
sobreponha em um dado caso concreto e se
puderem ser justificadas à luz do postulado
da proporcionalidade.
39. Exempli gratia, a própria existência da
ação rescisória no sistema constitui uma
restrição ou uma mitigação à coisa julgada,
a qual, entretanto, se revela proporcional e,
portanto, constitucional, visto que instituída
para a correção de vícios gravíssimos,
elencados nos incisos do art. 966 do CPC, e
sujeita a prazo decadencial diminuto, de
apenas dois anos, contados, como regra, da
decisão de mérito.
40. A constitucionalidade da previsão legal
das ações rescisórias em geral se deve ao

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fato de a lei estabelecer prazo relativamente


reduzido para seu manejo (prazo bienal), o
qual, considerada a gravidade dos vícios
que pretende corrigir em um juízo de
ponderação de valores contrapostos, não
tem o condão de abalar sobremodo o
compromisso de estabilidade e segurança
encampados pela res judicata.
41. Mercê da relação intrínseca entre o fator
tempo e a segurança jurídica não há como
se admitir a possibilidade de rescisão de
decisões transitadas em julgado após o
transcurso de lapso temporal relevante ou
indefinido, sob pena de se restringir
excessivamente a garantia fundamental da
coisa julgada, a ponto de vulnerar o seu
núcleo essencial.
42. A justificativa para a modulação de
efeitos do precedente ora em julgamento
deve seguir a mesma lógica. É que os casos
em discussão remontam a controvérsias
inauguradas pelos contribuintes na década
de 1990, encerradas com o trânsito em
julgado das ações individuais no ano de
1.992 .
43. O Supremo Tribunal Federal somente
exarou a decisão em controle concentrado
de maneira totalmente desfavorável às
empresas no ano de 2007, quase 20 anos
após a edição da lei original.
44. Imperioso somar-se ainda o transcurso
de 16 anos entre a decisão da Corte
Suprema em controle concentrado e o

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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estabelecimento do alcance da decisão sobre


a coisa julgada formada em favor do
cidadão.
45. A segurança jurídica do jurisdicionado
resta abalada máxime porque por todo este
tempo a sociedade contribuinte depositou
sua confiança no teor de uma decisão
passada em julgado
46. É forçoso reconhecer que a discussão
desborda para as consequências econômicas
da decisão a ser tomada quanto ao termo
inicial para a produção de efeitos do
entendimento ora formado.
47. A Análise Econômica do Direito trata a
jurisprudência como um estoque de capital,
o qual pode incrementar a eficiência das
futuras decisões do Poder Judiciário.
48. É papel dos juízes impedir que esse
capital se deteriore adaptando-o às
evoluções sociais ao longo do tempo, mas
também formulando precedentes bem
fundamentados e os respeitando em
julgamentos subsequentes.
49. O Supremo Tribunal Federal tem o
poder-dever institucional de guardião da
segurança jurídica, precipuamente nos
temas de tributação, no que esta segurança
está materializada no binômio risco/país,
revelado pelo preço que o investidor paga
em um Estado que promete mas não
cumpre o postulado da previsibilidade e da
confiança nas instituições.
50. Um dos pilares para o desenvolvimento

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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nacional, a partir das instituições, reside no


poder que uma sociedade constrói baseado
na sua capacidade de cogência (enforcement)
para fazer valer os direitos em geral,
especialmente os contratuais. Essa
capacidade social somente pode ser obtida a
partir da constrição do comportamento
humano formada com base na confiança nas
instituições, que devem primar pela
preservação de seus procedimentos,
tornando o jogo sempre previsível.
(NORTH, Douglas. Institutions, Institutional
Change and Economic Performance.
Cambridge University Press. 1990)
51. A economia de mercado reclama dos
países em desenvolvimento atenção não
apenas para as virtudes do comportamento
prudente, mas também para o papel de
valores complementares, como formar e
manter a confiança. (SEN, Amartya.
“Desenvolvimento como Liberdade”.
Companhia de Bolso, página 339.)
52. À luz deste viés político-econômico é
que a segurança jurídica foi assegurada no
Texto Constitucional e consagrada pelo
Código de Processo Civil de 2015.
53. Instituições confiáveis e estáveis
contribuem para o desenvolvimento
nacional bem como das empresas e da
sociedade em geral, porquanto as
corporações devem sua existência às
oportunidades providas pela moldura
institucional (NORTH, Douglas. Ob Cit.).

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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54. O Direito Tributário moderno prestigia o


primado da não surpresa ao contribuinte,
princípio extraível da própria segurança
jurídica exaustivamente tratada alhures.
55. Consectariamente, o Sistema Tributário
consagrado na Constituição estabelece a
regra da anterioridade como forma de
resguardar a situação do cidadão
contribuinte, obstando a cobrança de novas
exigências no mesmo exercício em que
aquela venha a ser instituída e/ou decorrido
o prazo nonagesimal para sua
implementação, conforme a natureza da
exação.
56. No caso sub examine, o precedente deve
ser aplicado prospectivamente, porquanto
equivalente à instituição de um novo tributo
57. A jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal reconhece que situações análogas à
instituição de novo tributo reclamam
obediência ao princípio em referência, v. g.,
no caso da extinção de determinado
benefício fiscal cuja aplicação da regra foi
reconhecida em sede de repercussão geral
no tema 1108. (“Aplicabilidade do princípio da
anterioridade geral (anual ou de exercício) em
face das reduções de benefícios fiscais previstos
no Regime Especial de Reintegração de Valores
Tributários para as Empresas Exportadoras
(Reintegra)”. (ARE 1285177 RG, Rel. Min.
Presidente, Tribunal Pleno, julgado em
05/11/2020, DJe 11/11/2020).
58. Ex positis, dou provimento ao recurso da

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Fazenda Nacional nos autos do RE 949.297,


Rel. Min. Édson Fachin, para permitir a
cobrança do crédito tributário em discussão
a partir da publicação do presente acórdão e
nego provimento ao recurso fazendário nos
autos do RE 955.227, Rel. Min. Roberto
Barroso.
59. Teses de Repercussão Geral a serem
adotas com efeito prospectivo:

Tema 881 – Cessam-se os efeitos da coisa


julgada em matéria tributária a partir da
declaração de (in)constitucionalidade de
tributo, pela via do controle concentrado
por parte do STF, anteriormente
considerado (in)constitucional, na via do
controle incidental, por decisão transitada
em julgado, aplicando-se as regras da
anterioridade para a retomada da cobrança,
a partir da publicação do presente acórdão,
em respeito às decisões transitadas em
julgado pró contribuinte.
Tema 885 - As decisões do Supremo
Tribunal Federal em controle difuso de
constitucionalidade tomadas
posteriormente a 03 de maio de 2007 (data
da implementação do regime de
Repercussão Geral) promovem a cessão dos
efeitos da coisa julgada formada nas
relações tributárias de trato continuado cujo
entendimento seja divergente do adotado
pela Suprema Corte, aplicando-se as regras
da anterioridade para a retomada da

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cobrança, a partir da publicação do presente


acórdão, em respeito às decisões transitadas
em julgado pró contribuinte .

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX:


I - Fundamentos da coisa julgada: estabilidade e segurança sociais
Coisa julgada material é a autoridade que torna imutável e
indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso (art. 502 do
Código de Processo Civil 2015).
A Constituição Federal menciona expressamente a proteção à coisa
julgada em seu art. 5º XXXVI ao dizer que “a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.”
O fundamento substancial da coisa julgada é eminentemente
político, máxime sua vocação à preservação da estabilidade e segurança
sociais. Chiovenda assenta a explicação para a coisa julgada na “exigência
social da segurança no gozo dos bens da vida” (in Instituições de Direito
Processual Civil, 1942, vol I, p. 512-513).
José Carlos Barbosa Moreira1, com a didática que lhe é própria, bem
resume o interesse social na garantia da coisa julgada:

O interesse na preservação da res iudicata ultrapassa, contudo


o círculo das pessoas diretamente envolvidas. A estabilidade das
decisões é condição essencial para que possam os jurisdicionados
confiar na seriedade e e na eficiência do funcionamento da máquina
judicial. Todos precisam saber que, se um dia houverem de recorrer a
ela seu pronunciamento terá algo mais que o fugidio perfil das
nuvens. Sem essa confiança, crescer´fatalmente nos que se julguem
lesados a tentação de reagir por seus próprios meios, à margem dos
canais oficiais. Escusado sublinhar o dano que isso causa à
tranquilidade social.

In casu é importante assentar que a discussão cinge-se a perscrutar os

1 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de Direito Processual Civil. Nova Série. Saraiva:
São Paulo, 2007. Páginas 245/246.

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limites do efeito prospectivo da coisa julgada em matéria tributária. É


dizer, discute-se se os efeitos intrínsecos à res iudicata alcançam relações
jurídicas ainda não nascidas no momento da formação do trânsito em
julgado.
A já antiga súmula 239 estabeleceu um primeiro norte ao efeito
restritivo da decisão judicial que trata da relação jurídico obrigacional no
Direito Tributário. Verbis: “Decisão que declara indevida a cobrança do imposto
em determinado exercício não faz coisa julgada em relação aos posteriores.”

II - Os efeitos prospectivos da coisa julgada - cláusula rebus sic


stantibus – a inegociável impossibilidade de se alcançar o passado sem
ação rescisória
O saudoso Ministro Teori Zavascki (Eficácia das sentenças na
jurisdição constitucional) menciona a aplicação de uma cláusula rebus sic
stantibus, tacitamente estabelecida na coisa julgada, que se refere a uma
situação jurídica presente, mas de caráter concreto e duradouro, como as
de natureza tributária. Nas palavras do Ministro Teori: “(...) a sentença tem
eficácia enquanto se mantiverem inalterados o direito e o suporte fático sobre os
quais estabeleceu o juízo de certeza.”
Entendimento nesse sentido já foi adotado por este Supremo
Tribunal Federal em caso em que a modificação do contexto fático tornou
superada a decisão transitada em julgado. Cuida-se do tema 494 de
repercussão geral em que a Corte decidiu que a sentença que reconhece ao
trabalhador ou servidor o direito a determinado percentual de acréscimo
remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação
definitiva do referido percentual nos seus ganhos. (RE 596663, Rel. Min. Marco
Auélio, Relator p/ Acórdão: Teori Zavascki, Tribunal Pleno, julgado em
24/09/2014, DJe 26/11/2014)
Nas situações em julgamento, o contribuinte ostenta decisão judicial
transitada em julgado que lhe reconheceu a inexigibilidade do pagamento
da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) com base nas
disposições da Lei nº 7.689/88.
Ocorre que os fundamentos utilizados na decisão acobertada pelo

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manto da coisa julgada foram expressamente rechaçados pelo Supremo


Tribunal Federal, inicialmente em recurso julgado individualmente, ainda
em sistemática anterior à repercussão geral – RE 138.284, Rel. Min. Carlos
Velloso, Tribunal Pleno, julgado em 01/07/1992, DJ 28-08-1992 -, e,
posteriormente, em sede de controle concentrado – ADI 15, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 14/06/2007, DJ 31-08-
2007.
O ponto em debate é saber se as decisões tomadas pela Suprema
Corte podem ser classificadas como alteração no suporte fático ou
jurídico capaz de abalar os efeitos da coisa julgada formada em outro
momento, no que seria disparada a cláusula rebus sic stantibus.
Preliminarmente, cabe exame da relação jurídica objeto da
controvérsia, de maneira a bem delimitar as questões atinentes ao tema.
Mais uma vez fazendo referência à doutrina do Ministro Teori, pode-
se dizer que a relação jurídico-tributária concernente à exigência da CSLL
se insere no que o ilustre autor enumerou como “relações jurídicas
sucessivas”. Em suas palavras:

(...) as relações jurídicas podem ser instantâneas (= as que


decorrem de fato gerador que se esgota imediatamente, num momento
determinado, já plenamente consumado no momento da incidência da
norma), permanentes ou duradouras (= as que nascem de um suporte
fático ou de uma situação de incidência que se prolonga no tempo) ou
sucessivas (= as nascidas de situação fática complexa, para cuja
composição concorrem fatos geradores instantâneos autônomos, mas
inseridos e referenciados a uma determinada situação jurídica
permanente);

A coisa julgada que envolve controvérsia jurídica desta natureza


permite a verificação das circunstâncias de fato e de direito que venham a
abalar a continuidade da relação materializada na decisão transitada em
julgado.
É necessário elucidar que a caracterização como situação jurídica de
trato sucessivo é peculiar à CSLL e a todos os tributos que encerram, em

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sua hipótese de incidência, situações de fato que se repetem no decurso


do tempo. Situação diversa opera quando tratamos de situações jurídicas
definitivas, que foram eleitas como hipótese de incidência tributária, v. g.,
no caso do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), do Imposto sobre
Transmissão de Bens por Causa Mortis ou Doação (ITCMD) ou mesmo do
Imposto sobre a Transmissão Onerosa de Bens Imóveis (ITBI). Nestes
casos, a situação eleita pelo legislador tributário é una e realiza-se em
determinado momento. Eventual coisa julgada formada em face do
negócio jurídico que serve de substrato a estes tributos esgota seus efeitos
naquele exato momento da incidência, sem qualquer possibilidade de
aferição de eventos que se sucedem no tempo.
Outrossim, a forma pela qual a Suprema Corte decide a questão
precisa ser bem discriminada, visto que a maneira pela qual a questão foi
decidida pode ensejar soluções diferentes para a controvérsia. A
expressão é mera decorrência da autoridade atribuída ao Supremo
Tribunal Federal de proclamar, a partir de seus julgados, a força
normativa da Constituição.
A jurisdição constitucional atribui à Suprema Corte o poder dever de
perscrutar, valorar e pontificar o real significado das expressões
constitucionais, de modo a garantir-lhes a máxima efetividade possível.
Em diversas oportunidades esta atribuição foi bem exposta pelos
Ministros que integram o Tribunal. Lapidares as palavras do Min. Celso
de Mello nos autos do AI 733387, Rel. Min. Celso De Mello, Segunda
Turma, julgado em 16/12/2008, DJe 01/02/2013:

É preciso ter em perspectiva que o exercício da jurisdição


constitucional, por esta Suprema Corte, tem por objetivo preservar
a supremacia da Constituição, o que põe em evidência a dimensão
essencialmente política em que se projeta a atividade institucional do
Supremo Tribunal Federal – compreendida a expressão “dimensão
política” em seu sentido helênico (como apropriadamente a ela se
referiu a eminente Ministra CÁRMEN LÚCIA em outra
oportunidade) -, pois, no processo de indagação constitucional, reside
a magna prerrogativa outorgada a esta Corte de decidir, em última

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análise, sobre a própria substância do poder.


Daí a precisa observação de FRANCISCO CAMPOS
(“Direito Constitucional”, vol. II/403, 1956, Freitas Bastos), cujo
magistério enfatiza, corretamente, que, no poder de interpretar,
inclui-se a prerrogativa de formular e de revelar o próprio sentido do
texto constitucional. É que - segundo a lição desse eminente publicista
- “O poder de interpretar a Constituição envolve, em muitos
casos, o poder de formulá-la. A Constituição está em
elaboração permanente nos Tribunais incumbidos de aplicá-la
(...). Nos Tribunais incumbidos da guarda da Constituição, funciona,
igualmente, o poder constituinte” (grifei).
Em uma palavra: não se pode ignorar, muito menos
desconsiderar, o papel eminente que a ordem jurídica atribuiu ao
Supremo Tribunal Federal em tema de interpretação da Constituição
da República.
É preciso, pois, reafirmar a soberania da Constituição,
proclamando-lhe a superioridade sobre todos os atos do Poder
Público e sobre todas as instituições do Estado, o que permite
reconhecer, no contexto do Estado Democrático de Direito, a plena
legitimidade da atuação do Poder Judiciário na restauração da ordem
jurídica lesada e, em particular, a intervenção do Supremo Tribunal
Federal, que detém, em tema de interpretação constitucional, e por
força de expressa delegação que lhe foi atribuída pela própria
Assembléia Nacional Constituinte, o monopólio da última
palavra, de que já falava RUI BARBOSA, em discurso parlamentar
que proferiu, como Senador da República, em 29 de dezembro de
1914, em resposta ao Senador gaúcho Pinheiro Machado, quando
RUI definiu, com precisão, o poder de nossa Suprema Corte em
matéria constitucional, dizendo:

“(...) Em tôdas as organizações políticas ou judiciais


há sempre uma autoridade extrema para errar em último
lugar. O Supremo Tribunal Federal, Senhores, não sendo
infalível, pode errar, mas a alguém deve ficar o direito de
errar por último, de decidir por último, de dizer alguma
cousa que deva ser considerada como êrro ou como

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verdade.” (grifei)”. (grifos e sublinhados do original)

Forçoso reconhecer que esse poder normativo não se limita aos


julgamentos realizados em sede de controle concentrado pela Corte
Suprema. Há, hodiernamente, uma jurisprudência já formada segundo a
qual a força normativa dos precedentes do Supremo Tribunal Federal
também deve ser extraída dos julgamentos realizados pela via do controle
difuso. Esta foi a leitura realizada pela Corte quando da materialização
das mudanças promovidas no sistema dos recursos extraordinários, a
partir da Emenda Constitucional nº 45 e da Lei nº 11.418/06, que instituiu
o regime de repercussão geral no CPC de 1.973.
O precedente formado no AI 760358 QO, Rel. Min. Gilmar Mendes,
Tribunal Pleno, julgado em 19/11/2009, DJe de12/02/2010 representa
importante leading case na questão:

EMENTA: Questão de Ordem. Repercussão Geral.


Inadmissibilidade de agravo de instrumento ou reclamação da decisão
que aplica entendimento desta Corte aos processos múltiplos.
Competência do Tribunal de origem. Conversão do agravo de
instrumento em agravo regimental.
1. Não é cabível agravo de instrumento da decisão do tribunal de
origem que, em cumprimento do disposto no § 3º do art. 543-B, do
CPC, aplica decisão de mérito do STF em questão de repercussão
geral.
2. Ao decretar o prejuízo de recurso ou exercer o juízo de
retratação no processo em que interposto o recurso extraordinário, o
tribunal de origem não está exercendo competência do STF, mas
atribuição própria, de forma que a remessa dos autos individualmente
ao STF apenas se justificará, nos termos da lei, na hipótese em que
houver expressa negativa de retratação.
3. A maior ou menor aplicabilidade aos processos múltiplos do
quanto assentado pela Suprema Corte ao julgar o mérito das matérias
com repercussão geral dependerá da abrangência da questão
constitucional decidida.
4. Agravo de instrumento que se converte em agravo

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regimental, a ser decidido pelo tribunal de origem.

III - O Código de Processo Civil de 2015, o efeito expansivo do


precedente e sua irretroatividade
O Código de Processo Civil de 2015 alberga todo o sistema de
precedentes qualificados posto no Texto Constitucional pela Emenda
Constitucional nº 45/2004 e iniciado pelas modificações no CPC/73. A
nova lei processual alçou o Supremo Tribunal Federal à condição de uma
verdadeira Corte de Precedentes, de maneira expressa, e não mais de
mero uniformizador de jurisprudência.
Utilizando as expressões jus litigatoris e jus constitutionis para
diferenciar a mera função de uniformizador da jurisprudência no
primeiro caso e formador de precedentes no segundo, Luiz Guilherme
Marinoni e Daniel Mitidiero ( in “Recurso Extraordinário e Recurso
Especial – do jus litigatoris ao jus constitutionis”, 2ª. Edição, Revista dos
Tribunais, p. 86) manifestam a atual posição ocupada pela jurisprudência
dos Tribunais Superiores no ordenamento nacional:

“(...) Se interpretar significa conhecer significados possíveis de


determinado texto, valorá-los argumentativamente e decidir por um
dos significados concorrentes à luz de um dado caso concreto,
reconstruindo-se a partir daí o significado do texto normativo, então
também é certo que se deve compreender de uma nova maneira a
função e a eficácia dos julgados do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça nessa nova perspectiva, essas Cortes
Supremas constituem cortes de interpretação e de precedentes, sendo
os recursos correspondentes erigidos ao jus constitutionis.”

De se ver que o dito regime de precedentes vinculantes não significa


apenas um mecanismo de triagem de processos, mas, sim, uma
convergência do sistema judicial brasileiro à common law.
Neste contexto, os precedentes do Supremo Tribunal Federal
formados antes do advento do regime de Repercussão Geral
consubstanciam apenas res inter alios, compondo o compêndio de

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jurisprudência da Corte. Não há gradiente normativo suficiente nestes


julgados para atingir os efeitos da coisa julgada, salvo nas hipóteses em
que se afiguram presentes os requisitos para a ação rescisória ou mesmo
nas situações de inexequibilidade do título executivo judicial, tal como
previsto nos arts. 525 §§ 12 a 15 e 535, §§5º a 8º do CPC/15.
A partir destas premissas, é insofismável a conclusão de que os
precedentes formados pelo Supremo Tribunal Federal em controle
concentrado e em regime de repercussão geral abalam os efeitos futuros
da norma individual e concreta anteriormente incorporada ao sistema
jurídico por meio de um provimento jurisdicional transitado em julgado.
Nas basilares lições de Kelsen (in Teoria Pura do Direito, trad. João
Batista Machado, 8ª. Ed. WMF Martins Fontes, 2019. P. 390-391), a
sentença judicial atribuída a determinado cidadão é uma das normas
individuais que podem ser produzidas dentro da moldura da norma
geral. Entretanto, havendo decisão posterior da Suprema Corte em
sentido diverso, conclui-se que aquela decisão, mesmo que inserida
validamente na moldura das normas gerais, não alcançará a situação de
fato havida dali em diante.
Paulo Mendes de Oliveira (in Coisa Julgada e Precedente, 1ª. Edição,
2015, Revista dos Tribunais), em obra dedicada ao estudo dos precedentes
e sua relação com a coisa julgada, expõe excelente leitura desta relação
entre o papel do Poder Judiciário na decisão dos casos concretos e dos
Tribunais Superiores, em específico, na formação de precedentes:

“Trasladando tais noções para a atividade das cortes superiores,


pode-se afirmar que, a partir dos fundamentos da decisão que
estabelece a norma jurídica concreta, extrai-se o precedente judicial, de
conteúdo geral, porém, já mais denso do que a legislação aplicada, que
deverá ser utilizado para a decisão de ‘casos iguais’ no futuro.
(...)
Salta aos olhos a importância do Poder Judiciário no processo de
formação do Direito vigente. Antes da edição do precedente judicial,
está-se diante de uma moldura legislativa que dá ensejo a diversas
interpretações. Após o precedente, deu-se um passo avante no processo

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 335 de 468

RE 949297 / CE

de concretização do Direito e se ofereceu aos cidadãos o conteúdo mais


preciso das normas jurídicas em vigor.”

A segurança e confiança no sistema jurídico resultam atendidas, na


medida em que a cessação da eficácia do provimento jurisdicional
acobertado pelo manto da coisa julgada somente se opera para o futuro.
Em artigo doutrinário específico sobre o tema, Hugo de Brito
Machado Segundo e Raquel Cavalcanti Ramos Machado (in Coisa julgada,
constitucionalidade em matéria tributária ) citados por Paulo Mendes de
Oliviera (in ob. cit.) resumem exatamente a ponderação a ser feita,
pontificando a solução:

“Mas também não é por causa disso que se deve admitir que um
contribuinte, porque conseguiu obter trânsito em julgado de decisão
favorável, se exima, para o resto de sua existência, de um tributo que
todos os demais pagam. Se não é possível considerar a decisão
transitada em julgado como “flagrantemente contrária à lei”, para
possibilitar sua rescisão, nos termos do art. 485, V, do CPC, também
não é possível estender seus efeitos, indefinidamente, para o futuro,
contrariando a orientação jurisprudencial posteriormente acolhida
pela Suprema Corte sobre o tema.
O correto, ponderado e proporcional, no caso, parece ser o
respeito à coisa julgada, e a todos os efeitos por ela já
produzidos no passado, garantindo-se, assim, a segurança.
Mas, em relação aos seus efeitos sobre os eventos futuros,
posteriores à nova orientação do STF, deve-se admitir, em tese,
a possibilidade de que sejam revistos para que também não
reste demasiadamente desprestigiada a isonomia.” (destacamos)

Dessa forma, possuem força para, com o seu advento, impactar ou


alterar o sistema jurídico vigente, automaticamente, por serem dotados
dos atributos da definitividade e objetividade, os seguintes precedentes
do STF: (i) todos os formados em controle concentrado de
constitucionalidade, independentemente da época em que prolatados; (ii)
quando posteriores a 3 de maio de 2007, aqueles formados em sede de

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 336 de 468

RE 949297 / CE

controle difuso de constitucionalidade, desde que tenham resultado de


julgamento realizado nos moldes da sistemática da Repercussão Geral
(art. 543-B do CPC/73 e art. 1.036 do CPC/15).
Não podem constar desse rol os precedentes firmados em ações
individuais, ainda que julgadas pelo Plenário do Supremo Tribunal
Federal, formados antes do advento do regime de repercussão geral.
No caso sub examinen, há duas situações em pauta nos RREE 955.227
(Tema 885) e 949.297 (Tema 881).
No RE 949.297, Rel. Min. Édson Fachin discute-se o abalo à coisa
julgada preconizado pelo julgamento da ADI nº 15 pelo Supremo
Tribunal Federal. A decisão formada pelo Plenário da Corte contrariou a
decisão transitada em julgado a favor do contribuinte, que reconhecia a
inexigibilidade da CSLL.
Já para o RE 955.227, Rel. Min. Roberto Barroso, a questão é um
pouco mais sensível. É que a cobrança por parte da Administração
Tributária operou-se a partir do julgamento do RE 138.284, Rel. Min.
Carlos Velloso, Tribunal Pleno, julgado em 01/07/1992, por parte do
Plenário da Corte Constitucional que reconheceu a legitimidade da
exigência, em oposição à decisão titularizada pelo contribuinte
Para a primeira hipótese é possível ao Fisco exigir o tributo
anteriormente indevido a partir da decisão tomada em sede de controle
concentrado. A providência é automática, em vista dos efeitos que o
julgamento da ADI opera no mundo jurídico.
Para o segundo caso, a formação do precedente em sede de Recurso
Extraordinário sem o efeito vinculante a que alude o art. 927 do CPC, não
permite a mesma conclusão. O aresto firmado nos moldes anteriores às
modificações constitucionais da EC 45 não permite dizer que há abalo na
relação jurídico obrigacional de todos os contribuintes do território
nacional, mormente daqueles titulares de decisão judicial transitada em
julgado que lhes dispensa a exigência.
Essas conclusões encontram-se respaldadas pela melhor doutrina
que trata da questão. Novamente podemos citar as sempre precisas
palavras do Min. Teori, segundo o qual:

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(...) em matéria constitucional, nosso sistema contempla formas


especiais de “modificação do estado de direito”: (a) a Resolução do
Senado Federal que suspende a execução de preceito normativo
declarado inconstitucional pelo STF, em controle difuso de
constitucionalidade; (b) a sentença definitiva, proferida pelo STF, em
ações de controle concentrado de constitucionalidade, inclusive ADPF,
declarando a legitimidade ou a ilegitimidade de certo preceito
normativo em face da Constituição, ou sua compatibilidade ou não
com normas constitucionais supervenientes; (c) a aprovação, pelo STF,
de súmula vinculante; e (d) as decisões do STF tomadas em seus
julgamentos pelo regime de repercussão geral;
i) qualquer dessas decisões, porque revestidas de eficácia erga
omnes e efeitos vinculantes, acarretam modificação do status quo ante:
embora não produzam, automaticamente, a anulação ou a modificação
dos efeitos passados produzidos por sentenças em sentido contrário,
prevalecem, a partir de então, para todos os efeitos e
independentemente de qualquer formalidade ou sentença de rescisão
ou de revisão, sobre as relações jurídicas futuras e os desdobramentos
futuros das relações jurídicas de trato continuado no tempo (relações
jurídicas permanentes e sucessivas);

Repise-se que, de maneira alguma, a aplicação da cláusula rebus sic


stantibus nos moldes aqui estabelecidos tem o condão de atingir fatos
passados, havidos anteriormente à modificação no contexto fático e
jurídico causada pelo acórdão do Supremo Tribunal Federal. Até porque
o nosso sistema de jurisdição constitucional adota a ideia de nulidade da
norma alijada do ordenamento por não se conformar com a Constituição.
Não seria possível, destarte, imaginar um efeito repristinatório
promovido por novos julgamentos, ainda que formados pela Corte
Constitucional.
A fortiori, a característica da coisa julgada formada quanto às relações
de trato continuado encerra debate diverso daquele encetado nas
situações em que a coisa julgada sofre abalo em seu self enforce power a
partir de preceitos maiores, de estatura constitucional.

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 338 de 468

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Na hipótese em julgamento, a discussão é de enquadramento da


coisa julgada dentro da moldura fática para a qual fora forjada. É dizer
que a res judicata nas relações de trato continuado permanece incólume,
somente deixando de produzir efeitos em vista da ausência de sua
subsunção ao contexto fático.
A consequência do que se passa em situações quejandas resume-se
unicamente a atingir o efeito prospectivo da decisão judicial. Exatamente
porque, tratando-se de relações sucessivas, o novo entendimento alcança
apenas os fatos surgidos sob sua égide, não mais aqueloutros, já
pretéritos, submetidos ao manto da coisa julgada formada originalmente.
A questão é de eficácia.
Por isso que não se trata de relativizar a coisa julgada
inconstitucional, o que levaria à nulidade da decisão inicialmente
proferida, bem como de seus efeitos. Indelével que modificação na coisa
julgada com efeitos para o passado somente poderia se operar a partir de
novo provimento jurisdicional exarado, como dito, em sede de ação
rescisória.
Esta interpretação é a que mais claramente deflui de uma leitura das
disposições do Código de Processo Civil. In verbis:

Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o


pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o
executado, independentemente de penhora ou nova intimação,
apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
§ 1º Na impugnação, o executado poderá alegar: (...)
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
(...)
§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo,
considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título
executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo
Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
§ 13. No caso do § 12, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal

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Federal poderão ser modulados no tempo, em atenção à segurança


jurídica.
§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12
deve ser anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda.
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito
em julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo
será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo
Tribunal Federal”.

Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu


representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para,
querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar
a execução, podendo arguir:
(...)
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
(...)
§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo,
considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título
executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo
Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal , em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.

§ 6º No caso do § 5º, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal


Federal poderão ser modulados no tempo, de modo a favorecer a
segurança jurídica.
§ 7º A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 5º
deve ter sido proferida antes do trânsito em julgado da decisão
exequenda.
§ 8º Se a decisão referida no § 5º for proferida após o trânsito em
julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será
contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo
Tribunal Federal.

Nesta situação, diferente daquela em que se trata dos efeitos futuros

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 340 de 468

RE 949297 / CE

da coisa julgada, os dispositivos transcritos veiculam a disciplina legal


relativa à chamada “coisa julgada inconstitucional”. Em que pese a
expressão seja largamente utilizada pela doutrina, afigura-se mais
correto, conforme o magistério de Barbosa Moreira, o uso do termo
“título executivo inconstitucional”. Isto porque incompatível com a
constituição, a rigor, pode ser a sentença lato sensu e não a autoridade
que a torna imutável e indiscutível pelo exaurimento dos recursos
(MOREIRA, José Carlos Barbosa, Considerações sobre a Chamada
“Relativização” da Coisa Julgada Material, Revista Dialética de Direito
Processual, nº 22, janeiro - 2005, p. 91). É a esta autoridade que se dá o
nome de coisa julgada material, conforme expressa dicção do art. 502 do
CPC.
O Código de Processo Civil em vigor, na esteira de reforma aposta
ao CPC/73 pela Lei nº 11.232/2005, estabeleceu ser inexigível a obrigação
reconhecida em decisão judicial cujo fundamento tenha sido lei ou ato
normativo declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal,
seja em controle concentrado ou difuso (artigos 525, §12, e 535, §5º).
Visando sanar lacuna identificada no velho código, o Novo CPC
esclareceu expressamente que a decisão do STF teria, como regra, de ser
anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda (artigos 525, §14 e
535, §7º). Por fim, abriu também a possibilidade de desconstituição da
coisa julgada incidente sobre sentença cujo fundamento tenha sido
declarado inconstitucional em momento posterior ao trânsito em julgado,
ao prever o cabimento de ação rescisória com esta finalidade (artigos 525,
§15 e 535, §8º).
Para os casos em julgamento, a solução a ser dada se mostra diversa
entre eles, considerando que as duas situações fáticas são distintas: uma,
em que se pleiteia a modificação na coisa julgada, independentemente da
rescisória, em vista da decisão tomada em ADI pela Suprema Corte,
hipótese em que procede a possibilidade de cobrança pelo Fisco; e a
outra, em que a medida foi exercida pela Administração Tributária com
supedâneo em precedente do Plenário do STF, formado anteriormente ao
regime de repercussão geral, no que a exigência deve ser afastada.

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IV - A necessidade de modulação de efeitos do presente


entendimento – entendimento inédito da Suprema Corte a respeito dos
efeitos expansivos do precedente formado em regime de repercussão
geral – segurança jurídica – “sombra de juridicidade” em favor das
teses advogadas pelo contribuinte

No que se refere à modulação de efeitos do entendimento formado


neste julgamento, creio que a posição de atribuir efeitos prospectivos à
decisão merece ser prestigiada. É imperativa a denominada superação
prospectiva (prospective overrulling) via modulação, em respeito à
segurança jurídica, cláusula pétrea da Constituição (art.5º, caput, CF/88).
Em recente artigo publicado no periódico jurídico digital CONJUR
tive a oportunidade de tecer breves palavras a respeito da tributação e da
segurança jurídica (https://www.conjur.com.br/2022-dez-27/luiz-fux-
tributacao-seguranca-juridica ).
No texto, mencionei precedente desta Corte em que o Plenário
salvaguardou o cidadão contribuinte de recolher o ICMS sobre o valor da
assinatura básica mensal dos serviços de telefonia devido antes do
julgamento da causa pela Suprema Corte (RE 590.809, Rel. Min. Marco
Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 22/10/2014, DJe 24/11/2014).
Prevaleceram os primados da segurança jurídica e do interesse social,
expressamente consagrados no art. 927, § 3º do Código de Processo Civil,
in verbis:

Art. 927. ....


§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do
Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela
oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos
efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.

In casu, há de imperar a mesma lógica. O exame da questão a partir


do art. 927, § 3º do CPC permite avaliar o ambiente jurídico em que as
discussões sobre o tema da cessação de efeitos da coisa julgada em

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matéria tributária se desenvolveram. Principalmente com a sucessão de


julgamentos a respeito da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL).
Como já asseverado, as disposições da Lei 7.689/88 foram julgadas
inconstitucionais em processos individuais ajuizados por diversos
contribuintes. Sucederam-se, então, as Leis nº 7.856/89 e 8.034/90, a LC
70/91 e as Leis 8.383/91 e 8.541/92 que, nas palavras do Superior Tribunal
de Justiça, apenas modificaram a alíquota e a base de cálculo da
contribuição instituída pela Lei 7.689/88, ou dispuseram sobre a forma de
pagamento, alterações que não criaram nova relação jurídico-tributária
(REsp 731.250/PE, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 30/4/07).
Antes que o Supremo Tribunal Federal firmasse a posição tomada
nesta assentada, ou mesmo que afetasse a discussão à sistemática da
repercussão geral, o Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso
repetitivo, sinalizou que os efeitos da coisa julgada estariam protegidos
da novel legislação e mesmo da superveniência da decisão do Supremo
Tribunal Federal. É certo que o Tribunal àquele momento não promoveu a
análise da matéria nos termos ora elaborados, porquanto não examinou a
cessação de efeitos futuros da coisas julgada. Inobstante, fez menção a
reconhecer a legitimidade do direito do contribuinte. Eis a ementa do
acórdão:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL.


RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. RITO DO ART. 543-C DO CPC.
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO - CSLL. COISA
JULGADA. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
DA LEI 7.689/88 E DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
JURÍDICO-TRIBUTÁRIA. SÚMULA 239/STF. ALCANCE.
OFENSA AOS ARTS. 467 E 471, CAPUT, DO CPC
CARACTERIZADA. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL
CONFIGURADA. PRECEDENTES DA PRIMEIRA SEÇÃO DO
STJ. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO.
1. Discute-se a possibilidade de cobrança da Contribuição Social

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 343 de 468

RE 949297 / CE

sobre o Lucro - CSLL do contribuinte que tem a seu favor decisão


judicial transitada em julgado declarando a inconstitucionalidade
formal e material da exação conforme concebida pela Lei 7.689/88,
assim como a inexistência de relação jurídica material a seu
recolhimento.
2. O Supremo Tribunal Federal, reafirmando entendimento já
adotado em processo de controle difuso, e encerrando uma discussão
conduzida ao Poder Judiciário há longa data, manifestou-se, ao julgar
ação direta de inconstitucionalidade, pela adequação da Lei 7.689/88,
que instituiu a CSLL, ao texto constitucional, à exceção do disposto no
art 8º, por ofensa ao princípio da irretroatividade das leis, e no art. 9º,
em razão da incompatibilidade com os arts. 195 da Constituição
Federal e 56 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias -
ADCT (ADI 15/DF, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal
Pleno, DJ 31/8/07).
3. O fato de o Supremo Tribunal Federal posteriormente
manifestar-se em sentido oposto à decisão judicial transitada em
julgado em nada pode alterar a relação jurídica estabilizada pela coisa
julgada, sob pena de negar validade ao próprio controle difuso de
constitucionalidade.
4. Declarada a inexistência de relação jurídico-tributária entre o
contribuinte e o fisco, mediante declaração de inconstitucionalidade da
Lei 7.689/88, que instituiu a CSLL, afasta-se a possibilidade de sua
cobrança com base nesse diploma legal, ainda não revogado ou
modificado em sua essência.
5. "Afirmada a inconstitucionalidade material da cobrança da
CSLL, não tem aplicação o enunciado nº 239 da Súmula do Supremo
Tribunal Federal, segundo o qual a "Decisão que declara indevida a
cobrança do imposto em determinado exercício não faz coisa julgada
em relação aos posteriores" (AgRg no AgRg nos EREsp 885.763/GO,
Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, Primeira Seção, DJ
24/2/10).
6. Segundo um dos precedentes que deram origem à Súmula
239/STF, em matéria tributária, a parte não pode invocar a existência
de coisa julgada no tocante a exercícios posteriores quando, por
exemplo, a tutela jurisdicional obtida houver impedido a cobrança de

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 344 de 468

RE 949297 / CE

tributo em relação a determinado período, já transcorrido, ou houver


anulado débito fiscal. Se for declarada a inconstitucionalidade da lei
instituidora do tributo, não há falar na restrição em tela (Embargos no
Agravo de Petição 11.227, Rel. Min. CASTRO NUNES, Tribunal
Pleno, DJ 10/2/45).
7. "As Leis 7.856/89 e 8.034/90, a LC 70/91 e as Leis 8.383/91 e
8.541/92 apenas modificaram a alíquota e a base de cálculo da
contribuição instituída pela Lei 7.689/88, ou dispuseram sobre a
forma de pagamento, alterações que não criaram nova relação jurídico-
tributária. Por isso, está impedido o Fisco de cobrar a exação
relativamente aos exercícios de 1991 e 1992 em respeito à coisa
julgada material" (REsp 731.250/PE, Rel. Min. ELIANA CALMON,
Segunda Turma, DJ 30/4/07).
8. Recurso especial conhecido e provido. Acórdão sujeito ao
regime do art. 543-C do Código de Processo Civil e da Resolução
8/STJ.
(REsp n. 1.118.893/MG, relator Ministro Arnaldo Esteves
Lima, Primeira Seção, julgado em 23/3/2011, DJe de 6/4/2011.)

Ainda que pudesse haver precedentes isolados do próprio Superior


Tribunal de Justiça em sentido diverso, ou mesmo que o entendimento
fazendário caminhasse em linha com o que ora se adota, é certo que os
cidadãos alimentavam a expectativa de ter seu direito albergado em
algum momento pelo Poder Judiciário. O tema era envolto por uma
“sombra de juridicidade” em prol dos contribuintes.
Tem-se, desse modo, que o fato de haver um leading case em regime
de repetitivo julgado pelo Superior Tribunal de Justiça compunha um
cenário em que se poderia reconhecer que as novas leis que reinstituíram
a CSLL não teriam o condão de promover qualquer abalo na relação
jurídico tributária. Tanto mais que a lei nova e, a posteriori, os precedentes
não podem retroagir para atingir a coisa julgada. É fato inequívoco e
notório que o contribuinte-empresa tinha um indicador de confiança na
manutenção dos efeitos de decisões judiciais transitadas em julgado.
Inobstante, tal como se afere de toda a bem sedimentada análise
jurídica da questão estabelecida neste julgamento, entende o Supremo

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 345 de 468

RE 949297 / CE

Tribunal Federal, a partir deste momento, que os efeitos futuros da coisa


julgada em matéria tributária podem ser captados por decisão judicial da
Suprema Corte que declare sentido inverso do inicialmente constituído
pelo provimento obtido individualmente pelo contribuinte.
É dizer que o Supremo Tribunal Federal estabeleceu tanto os limites
expansivos dos precedentes formados sob os auspícios do regime de
repercussão geral, bem como da eficácia de seus julgamentos formados
em controle concentrado.
Até este momento havia um cenário de incerteza para diversos
players do mercado, que somente foi dissipado com o julgamento da
questão nesta assentada, em sede de repercussão geral.
Ademais, em sendo a coisa julgada um direito fundamental do
cidadão sob a ordem constitucional vigente, eventuais restrições a sua
eficácia só podem ser admitidas se objetivarem a promoção de outros
direitos fundamentais cujo âmbito de proteção se sobreponha em um
dado caso concreto e se puderem ser justificadas à luz do postulado da
proporcionalidade.
Exempli gratia, a própria existência da ação rescisória no sistema
constitui uma restrição ou uma mitigação à coisa julgada, a qual,
entretanto, se revela proporcional e, portanto, constitucional, visto que
que instituída para a correção de vícios gravíssimos, elencados nos
incisos do art. 966 do CPC, e sujeita a prazo decadencial diminuto, de
apenas dois anos, contados, como regra, a partir do trânsito em julgado
da última decisão de mérito. A constitucionalidade da previsão legal das
ações rescisórias em geral se deve ao fato de a lei estabelecer prazo
relativamente reduzido para seu manejo (prazo bienal), o qual,
considerada a gravidade dos vícios que pretende corrigir em um juízo de
ponderação de valores contrapostos, não tem o condão de abalar
sobremodo o compromisso de estabilidade e segurança encampados pela
res judicata. Nesse contexto, não há como se admitir a possibilidade de
rescisão de decisões transitadas em julgado após o transcurso de lapso
temporal relevante ou indefinido, sob pena de se restringir
excessivamente a garantia fundamental da coisa julgada, a ponto de

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 346 de 468

RE 949297 / CE

vulnerar o seu núcleo essencial.


Nessa mesma linha de pensamento é que deve ser avaliada a
modulação de efeitos do precedente ora em julgamento. Os casos em
discussão remontam à discussões inauguradas pelos contribuintes na
década de 1990, encerradas com o trânsito em julgado das ações
individuais pelo . O Supremo Tribunal Federal somente exarou a decisão
em controle concentrado de maneira totalmente desfavorável às empresas
no ano de 2007, quase 20 anos após a edição da lei original. De lá até hoje,
somam-se quase 16 anos em que a força normativa do julgamento em
controle concentrado em face de uma decisão transitada em julgado foi
examinada por esta Corte.
É forçoso reconhecer que nesta conjuntura, a discussão desborda
para a aferição das consequências econômicas da decisão a ser tomada
quanto ao termo inicial para a produção de efeitos do entendimento ora
formado.
Pedindo vênias pela autocitação, creio que a relação entre a Análise
Econômica do Direito e o sistema de precedentes do CPC 2015 restou
bem resumida no meu recente Curso de Direito Processual Civil, 5ª.
Edição, página 919:

Em resumo, na linha de Richard Posner e William Landes, a


jurisprudência é tratada pela Análise Econômica do Direito como um
estoque de capital, o qual pode incrementar a eficiência das futuras
decisões do Poder Judiciário. É papel dos juízes impedir que esse
capital se deteriore adaptando-o às evoluções sociais ao longo do
tempo, mas também formulando precedentes bem fundamentados e os
respeitando em julgamentos subsequentes.

A partir dessa premissa, é necessário que o Supremo Tribunal


Federal exerça seu papel institucional de guardião da segurança jurídica.
No caso específico da tributação, esta segurança está materializada em
um ambiente de negócios saudável, sem surpresas para os seus
integrantes.
O professor da Universidade de Washington e prêmio Nobel de

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 347 de 468

RE 949297 / CE

Economia póstumo, Douglas North, dedicou grande parte de suas


pesquisas a investigar a evolução das instituições de maneira a contribuir
com o desenvolvimento econômico dos países de maneira geral.
Em seus escritos, ele não tem dúvidas em afirmar que um dos pilares
para o desenvolvimento nacional, a partir das instituições, reside no
poder que uma sociedade constrói baseado na sua capacidade de
cogência (enforcement) para fazer valer os direitos em geral, especialmente
os contratuais. Nas palavras do autor, essa capacidade somente pode ser
obtida a partir da constrição do comportamento humano formada com
base na confiança nas instituições. Estas devem primar pela preservação
de seus procedimentos, tornando o jogo sempre previsível. Veja-se:

“O que torna necessário restringir a interação humana com as


instituições? A questão pode ser resumida de forma mais sucinta em
um contexto teórico de jogo. Indivíduos que maximizam a riqueza
geralmente acham que vale a pena cooperar com outros
jogadores quando a jogada é repetida, quando eles possuem
informações completas sobre o desempenho passado do outro
jogador e quando há pequeno número de jogadores. Mas vire o
jogo de cabeça para baixo. A cooperação é difícil de sustentar quando o
jogo não é repetido (ou há um final de jogo), quando falta informação
sobre os outros jogadores, e quando há um grande número de
jogadores.” (destacamos) (NORTH, Douglas. Institutions,
Institutional Change and Economic Performance. Cambridge
University Press. 1990 – tradução livre)

Evoluindo neste mesmo quadrante, o economista e professor de


Harvard, Amartya Sen, também reconhece o papel que a confiança
construída pelas instituições de um país desempenham em uma
economia de mercado:

“O êxito do capitalismo na transformação do nível geral de


prosperidade econômica no mundo tem se baseado em princípios e
códigos de comportamento que tornaram econômicas e eficazes as
transações de mercado. Para fazer uso das oportunidades

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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RE 949297 / CE

oferecidas pelo mecanismo de mercado e aproveitar melhor a


troca e o comércio, os países em desenvolvimento precisam
atentar não apenas para as virtudes do comportamento
prudente, mas também para o papel de valores
complementares, como formar e manter a confiança, (...)”
(destacamos) (SEN, Amartya. “Desenvolvimento como
Liberdade”. Companhia de Bolso, página 339.)

Exatamente neste viés político-econômico que a segurança jurídica


foi assegurada no Texto Constitucional e consagrada pelo Código de
Processo Civil de 2015. Instituições confiáveis e estáveis contribuem para
o desenvolvimento econômico das empresas e da sociedade em geral. É
dizer que as corporações devem sua existência às oportunidades providas
pela moldura institucional (NORTH, Douglas. Ob Cit.).
Dessarte, no caso em exame impõe-se a modulação de efeitos da
decisão formada neste julgamento para que o entendimento aqui posto
somente possa ser aplicável a partir da publicação da ata do julgamento.
Finalmente, ainda em compasso com os aspectos da segurança
jurídica delineados, um último aspecto a ser abordado diz respeito ao
momento exato em que o tributo pode ser exigido com base na retomada
da cobrança a partir do reconhecimento da exigibilidade da exigência.
Cuidando-se de matéria tributária, é de se prestigiar o primado da
não surpresa ao contribuinte, princípio extraível da própria segurança
jurídica exaustivamente tratada alhures. Nesses termos, o Sistema
Tributário consagrado na Constituição estabelece a regra da anterioridade
como forma de resguardar a situação do cidadão contribuinte, obstando a
cobrança de novas exigências no mesmo exercício em que aquela venha a
ser instituída e decorrido o prazo de 90 dias após sua implementação.
A regra há de ser aplicada às situações em exame, na medida em que
equivalentes à instituição de novo tributo. A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal reconhece que situações análogas à instituição de novo
tributo reclamam obediência ao princípio em referência, v. g., no caso da
extinção de determinado benefício fiscal cuja aplicação da regra foi
reconhecida em sede de repercussão geral no tema 1108. In verbis:

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“Aplicabilidade do princípio da anterioridade geral (anual ou de exercício) em


face das reduções de benefícios fiscais previstos no Regime Especial de
Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra)”.
(ARE 1285177 RG, Rel. Min. Presidente, Tribunal Pleno, julgado em
05/11/2020, DJe 11/11/2020).
Ex positis, PROVEJO o Recurso da Fazenda Nacional nos autos do
RE 949.297, Rel. Min. Édson Fachin, para permitir a cobrança do crédito
tributário em discussão a partir da publicação do presente acórdão e
DESPROVEJO o recurso nos autos do RE 955.227, Rel. Min. Roberto
Barroso, afastando a exigência fiscal, definidas as teses de repercussão
geral, com eficácia prospectiva.
As teses de repercussão geral devem ter efeitos prospectivos a partir
da publicação da ata deste julgamento.

Teses de Repercussão Geral:

Tema 881 – Cessam-se os efeitos da coisa julgada em matéria


tributária a partir da declaração de (in)constitucionalidade de tributo,
pela via do controle concentrado por parte do STF, anteriormente
considerado (in)constitucional, na via do controle incidental, por decisão
transitada em julgado, aplicando-se as regras da anterioridade para a
retomada da cobrança, a partir da publicação do presente acórdão, em
respeito às decisões transitadas em julgado pró contribuinte.
Tema 885 - As decisões do Supremo Tribunal Federal em controle
difuso de constitucionalidade tomadas posteriormente a 03 de maio de
2007 (data da implementação do regime de Repercussão Geral)
promovem a cessão dos efeitos da coisa julgada formada nas relações
tributárias de trato continuado cujo entendimento seja divergente do
adotado pela Suprema Corte, aplicando-se as regras da anterioridade
para a retomada da cobrança, a partir da publicação do presente acórdão.

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 350 de 468

02/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE
SAO PAULO - FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS
QUIMICOS PARA FINS INDUSTRIAIS,
PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE
CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO

VOTO-VOGAL

O SENHOR MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA:

1. Trata-se de recurso extraordinário, submetido ao rito da


repercussão geral, Tema nº 881, interposto pela União (Fazenda Nacional)
em face de acórdão da 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª
Região, cuja ementa transcrevo:

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 351 de 468

RE 949297 / CE

“PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO


SOCIAL SOBRE O LUCRO. LEI 7.689/88. MANDADO DE
SEGURANÇA. OFENSA À COISA JULGADA. APELAÇÃO
PROVIDA. 1. A sentença prolatada nos autos do mandado de
segurança 127/89/CE declarou a inconstitucionalidade da lei
7.689/88 tendo sido mantida por esta Corte com o trânsito em
julgado […] 3. Apelação provida.”

2. No paradigma, a controvérsia constitucional refere-se aos limites


temporais da coisa julgada em matéria tributária, especificamente no
que se refere à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, instituído pela
Lei nº 7.689, de 1988. De acordo com a descrição do tema da repercussão
geral, cuida-se de recurso extraordinário em que se discute, à luz dos arts.
3º, IV, 5º, caput, II e XXXVI, 37 e 150, VI, “c”, da Constituição da
República, o limite da coisa julgada em âmbito tributário, na hipótese de
o contribuinte ter em seu favor decisão transitada em julgado que declare
a inexistência de relação jurídico-tributária, ao fundamento de
inconstitucionalidade incidental de tributo, por sua vez declarado
constitucional, em momento posterior, na via do controle concentrado e
abstrato de constitucionalidade exercido pelo Supremo Tribunal Federal.

3. No mais, acompanho o bem lançado relatório da lavra do


eminente Relator, Ministro Edson Fachin.

Passo a decidir.

4. A despeito do reinício deste julgamento perpetrado por pedido de


destaque formulado pelo próprio Ministro Relator, entendo que os
debates promovidos na seara do Plenário Virtual, ainda que porventura
reajustados em sede presencial, devem ser levados em consideração, até
por razões de economia processual. Nesse sentido, parto do raciocínio
exposto pelo eminente Ministro Edson Fachin, segundo o qual se delibera
neste momento processual sobre um conflito ao longo do tempo entre a
eficácia da coisa julgada em matéria tributária e os efeitos dos

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 352 de 468

RE 949297 / CE

pronunciamentos do Pleno do Supremo Tribunal Federal no sistema


jurídico. Dito de outra forma, indaga-se acerca dos impactos do efeito
vinculante e da eficácia erga omnes provenientes das manifestações em
ações objetivas nas sentenças, com trânsito em julgado, referentes a
relações jurídico-tributárias de trato continuado.

5. Com efeito, por já ter sido objeto de alongadas e escorreitas


manifestações nas sessões virtuais, considero ser desnecessário tecer
maiores comentários sobre as distinções entre a presente hipótese e
outros temas da repercussão geral, sobretudo os seguintes:

Tema RG nº 360 - Desconstituição de título executivo


judicial mediante aplicação do parágrafo único do art. 741 do
Código de Processo Civil - ARE 1.288.550, Rel. Min. Teori
Zavascki, Red. p/ Ac. Min. Edson Fachin, Tribunal Pleno, j.
20.08.2018.
Tese de julgamento: “São constitucionais as disposições
normativas do parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1º do
art. 475-L, ambos do CPC/73, bem como os correspondentes
dispositivos do CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art.
535, § 5º. São dispositivos que, buscando harmonizar a garantia
da coisa julgada com o primado da Constituição, vieram
agregar ao sistema processual brasileiro um mecanismo com
eficácia rescisória de sentenças revestidas de vício de
inconstitucionalidade qualificado, assim caracterizado nas
hipóteses em que (a) a sentença exequenda esteja fundada em
norma reconhecidamente inconstitucional – seja por aplicar
norma inconstitucional, seja por aplicar norma em situação ou
com um sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença exequenda
tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente
constitucional; e (c) desde que, em qualquer dos casos, o
reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do STF
realizado em data anterior ao trânsito em julgado da sentença
exequenda.”

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 353 de 468

RE 949297 / CE

Tema RG nº 494 - Limites objetivos da coisa julgada em


sede de execução - RE 596.663, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. p/
Ac. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, j. 24/09/2014, p.
26/11/2014.
Tese de julgamento: “A sentença que reconhece ao
trabalhador ou servidor o direito a determinado percentual de
acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a partir da
superveniente incorporação definitiva do referido percentual
nos seus ganhos.”

Tema RG nº 660 - Extensão do entendimento ao princípio


do devido processo legal e aos limites da coisa julgada - ARE-
RG 748.371, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, j.
06/06/2013, p. 1º/08/2013.
Tese de julgamento: A questão da ofensa aos princípios
do contraditório, da ampla defesa, do devido processo legal e
dos limites à coisa julgada, tem natureza infraconstitucional, e a
ela se atribuem os efeitos da ausência de repercussão geral, nos
termos do precedente fixado no RE n. 584.608, rel. a Ministra
Ellen Gracie, DJe 13/03/2009.

Tema RG nº 733 - Eficácia temporal de sentença


transitada em julgado fundada em norma
supervenientemente declarada inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal em sede de controle concentrado - RE
730.462, Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, j.
28/05/2015, p. 09/09/2015)
Tese de julgamento: “A decisão do Supremo Tribunal
Federal declarando a constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade de preceito normativo não produz a
automática reforma ou rescisão das decisões anteriores que
tenham adotado entendimento diferente. Para que tal ocorra,
será indispensável a interposição de recurso próprio ou, se for o
caso, a propositura de ação rescisória própria, nos termos do
art. 485 do CPC, observado o respectivo prazo decadencial

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 354 de 468

RE 949297 / CE

(CPC, art. 495).”

6. No mesmo sentido, embora não se confunda com esta


controvérsia jurídica, revela-se importante conhecer o que decidido na
ADI nº 2.418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, j. 04/05/2016, p.
17/11/2016, assim ementado:

“Ementa: CONSTITUCIONAL. LEGITIMIDADE DAS


NORMAS ESTABELECENDO PRAZO DE TRINTA DIAS
PARA EMBARGOS À EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA
PÚBLICA (ART. 1º-B DA LEI 9.494/97) E PRAZO
PRESCRICIONAL DE CINCO ANOS PARA AÇÕES DE
INDENIZAÇÃO CONTRA PESSOAS DE DIREITO PÚBLICO E
PRESTADORAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS (ART. 1º-C DA LEI
9.494/97). LEGITIMIDADE DA NORMA PROCESSUAL QUE
INSTITUI HIPÓTESE DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO
EXECUTIVO JUDICIAL EIVADO DE
INCONSTITUCIONALIDADE QUALIFICADA (ART. 741,
PARÁGRAFO ÚNICO E ART. 475-L, § 1º DO CPC/73; ART. 525,
§ 1º, III E §§ 12 E 14 E ART. 535, III, § 5º DO CPC/15). 1. É
constitucional a norma decorrente do art. 1º-B da Lei 9.494/97,
que fixa em trinta dias o prazo para a propositura de embargos
à execução de título judicial contra a Fazenda Pública. 2. É
constitucional a norma decorrente do art. 1º-C da Lei 9.494/97,
que fixa em cinco anos o prazo prescricional para as ações de
indenização por danos causados por agentes de pessoas
jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito
privado prestadoras de serviços públicos, reproduzindo a regra
já estabelecida, para a União, os Estados e os Municípios, no art.
1º do Decreto 20.910/32. 3. São constitucionais as disposições
normativas do parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1º do
art. 475-L, ambos do CPC/73, bem como os correspondentes
dispositivos do CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art.
535, § 5º. São dispositivos que, buscando harmonizar a
garantia da coisa julgada com o primado da Constituição,
vieram agregar ao sistema processual brasileiro um

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RE 949297 / CE

mecanismo com eficácia rescisória de sentenças revestidas de


vício de inconstitucionalidade qualificado, assim
caracterizado nas hipóteses em que (a) a sentença exequenda
esteja fundada em norma reconhecidamente inconstitucional
– seja por aplicar norma inconstitucional, seja por aplicar
norma em situação ou com um sentido inconstitucionais; ou
(b) a sentença exequenda tenha deixado de aplicar norma
reconhecidamente constitucional; e (c) desde que, em
qualquer dos casos, o reconhecimento dessa
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade tenha
decorrido de julgamento do STF realizado em data anterior ao
trânsito em julgado da sentença exequenda. 4. Ação julgada
improcedente” (grifos nossos)

7. De todo modo, compartilho da compreensão já externada por


outros Ministros no sentido de que referidos precedentes têm direto
impacto no deslinde da presente questão, à luz da indispensável
coerência da jurisprudência desta Corte. Conforme previamente
anotado, na própria ementa do Tema nº 733 do ementário da repercussão
geral, onde se firmou entendimento segundo o qual a decisão desta
Suprema Corte não produz efeitos automáticos para fins de reforma ou
rescisão das decisões anteriores que tenham adotado linha diferente, o
Plenário ressalvou sua aplicação “quanto à indispensabilidade da ação
rescisória, a questão relacionada à execução de efeitos futuros da sentença
proferida em caso concreto sobre relações jurídicas de trato continuado”.

8. No tocante ao Tema RG nº 885, cujo paradigma é o RE nº 955.227-


RG/BA, Rel. Min. Roberto Barroso, em que se controverte sobre os efeitos
das decisões do Supremo Tribunal Federal em controle difuso de
constitucionalidade sobre a coisa julgada formada nas relações tributárias
de trato continuado, extraio, da leitura do acórdão voltado ao
reconhecimento da repercussão geral da questão constitucional deste
tema, a seguinte argumentação:

“15. Tampouco se confunde com o objeto do RE 949.297,

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RE 949297 / CE

de Tampouco se confunde com o objeto do RE 949.297, de


relatoria do Min. Edson Fachin, recentemente submetido ao
Plenário Virtual, que trata de tema semelhante, porém, está
limitado a discutir os efeitos das decisões do Supremo colhidas
em sede de controle concentrado de constitucionalidade sobre a
eficácia futura da coisa julgada nas relações de trato
continuado. Aqui, o que se propõe é que o Plenário defina a
relação das decisões em controle difuso, inclusive aquelas
proferidas sob a dinâmica da repercussão geral, nos termos do
art. 102, § 3º, da CF, com os efeitos futuros da coisa julgada em
matéria tributária. Penso que o presente caso e o RE 949.297 são
complementares e devem ser julgados pelo Plenário da Corte
em regime de repercussão geral, de modo a definir de forma
completa esse tema. relatoria do Min. Edson Fachin,
recentemente submetido ao Plenário Virtual, que trata de tema
semelhante, porém, está limitado a discutir os efeitos das
decisões do Supremo colhidas em sede de controle concentrado
de constitucionalidade sobre a eficácia futura da coisa julgada
nas relações de trato continuado. Aqui, o que se propõe é que o
Plenário defina a relação das decisões em controle difuso,
inclusive aquelas proferidas sob a dinâmica da repercussão
geral, nos termos do art. 102, § 3º, da CF, com os efeitos futuros
da coisa julgada em matéria tributária. Penso que o presente
caso e o RE 949.297 são complementares e devem ser julgados
pelo Plenário da Corte em regime de repercussão geral, de
modo a definir de forma completa esse tema.”

9. Nessa linha, a meu sentir, a diferença entre os Temas RG nº 881 e


nº 885 reside no pronunciamento do Plenário ser feito em controle
abstrato de constitucionalidade ou em controle concreto. A despeito
disso, ambos perquirem sobre os efeitos das decisões do Supremo
Tribunal Federal sobre a eficácia futura da coisa julgada nas relações
tributárias de trato continuado. A bem da verdade, a partir dos votos
disponibilizados no Plenário Virtual, depreendo que houve, em certo
sentido, uma amálgama das questões jurídicas, ocasionada pelo afã de
promover soluções uniformes e coerentes nos dois casos.

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RE 949297 / CE

10. Noutro giro, também na esteira das deliberações assíncronas já


feitas no Plenário Virtual, furto-me a formular raciocínio mais
verticalizado no que tange à inaplicabilidade dos enunciados nº 239 e
nº 343 da Súmula do STF ao presente caso, ou mesmo do art. 525 do
CPC.

11. Igualmente, sob uma perspectiva judicial minimalista, até pelo


fato de a presente controvérsia demonstrar-se complexa por natureza,
reservo-me o direito de não me manifestar e, por consequência, não
aderir a alguns fundamentos constantes nos votos de eminentes pares.
Tenho em mente precipuamente discussões sobre (i) o atual estágio de
duvidoso fenômeno de abstrativização do controle difuso de
constitucionalidade, inclusive a equiparação do alcance e dos efeitos
das decisões do Pleno, seja no controle abstrato, seja no controle difuso;
(ii) a contemporânea função da resolução senatorial prevista no art. 52,
X, da Constituição da República; e (iii) a atribuição de efeitos
vinculantes às razões de decidir assumidas pelos julgamentos
plenários. Para os fins do meu voto, com as mais respeitosas vênias aos
entendimentos contrários, mencionadas posições demonstram-se
absolutamente supérfluas ao deslinde da controvérsia constitucional
posta em juízo.

12. Sendo assim, dedicarei o restante deste voto para tratar do


aparente conflito entre o princípio da segurança jurídica e os princípios
da igualdade tributária e da livre concorrência, com o fito de concluir se o
fenômeno da coisa julgada obsta a eficácia executiva das sentenças
constitucionais do Pretório Excelso dotadas de eficácia contra todos e
efeitos vinculantes. Em seguida a partir da conclusão da seção anterior,
formularei compreensão sobre a dispensabilidade ou não do manejo da
ação rescisória, caso se queira aplicar a um jurisdicionado munido de
sentença transitada em julgado entendimento diametralmente oposto a
ela desenvolvido em ação de controle abstrato de constitucionalidade. Por

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fim, concluirei com a resolução do caso concreto, à luz da tese de


julgamento fixada, e a enunciação do dispositivo de meu voto neste caso.

I. Aparente conflito entre as normas constitucionais da segurança


jurídica, igualdade tributária e livre concorrência

13. De início, convém ter em mente os paradigmas constitucionais a


serem examinados, especialmente os arts. 5º, caput e XXXVI, 146-A, 150, I
a III, e 170, IV, todos da Constituição da República, os quais reproduzo:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada;
Art. 146-A. Lei complementar poderá estabelecer critérios
especiais de tributação, com o objetivo de prevenir
desequilíbrios da concorrência, sem prejuízo da competência
de a União, por lei, estabelecer normas de igual objetivo.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que
se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles
exercida, independentemente da denominação jurídica dos
rendimentos, títulos ou direitos;
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início
da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja

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sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado


o disposto na alínea b;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
IV - livre concorrência;”

14. No voto do e. Relator, Ministro Edson Fachin, após instigante


explanação sobre o ponto, Sua Excelência propõe um confronto entre a
dimensão temporal da coisa julgada e os efeitos vinculantes das sentenças
proferidas no âmbito do controle abstrato de constitucionalidade. Por sua
vez, o e. Ministro Luís Roberto Barroso desenvolve o mesmo dilema
jurídico na forma de uma ponderação entre três princípios
constitucionais, a segurança jurídica materializada na coisa julgada de um
lado e, de outro, a isonomia tributária e a livre concorrência. Em sentido
correlato, o e. Decano, Ministro Gilmar Mendes visualiza um conflito
entre o princípio constitucional da coisa julgada e a própria força
normativa da Constituição. Nessas três formulações retira-se a conclusão
de que a coisa julgada deve ceder (ser flexibilizada, atenuada ou
ponderada) em face da eficácia erga omnes e dos efeitos vinculantes
emanados de uma decisão do Plenário deste Supremo Tribunal Federal
em ação direta ou em sede de repercussão geral.

15. Sem pretender realizar qualquer esforço mais vertiginoso na


seara da dogmática dos direitos fundamentais, encaro a questão debatida
de forma mais singela, isto é, enxergo, de um lado, uma situação não
alcançada pelo princípio constitucional da coisa julgada e, de outro,
violação direta à isonomia tributária e à neutralidade fiscal.

16. Conforme posto pelo e. Ministro Edson Fachin, “ante a


observância de decisão judicial de mérito transitada em julgado, após cognição
exauriente, a coisa julgada exsurge como situação jurídica que qualifica o ato
decisório com o fito de estabilizá-lo socialmente em termos objetivos, subjetivos e

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temporais”. Em relação à estabilização temporal da coisa julgada,


depreendo da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que essa deve
ser esperada de forma distinta pelos jurisdicionados, a depender da
relação jurídica enunciada pela sentença transitada em julgado. No
multicitado escólio do saudoso Ministro Teori Zavascki, adotado o
critério das circunstâncias temporais de seus fatos geradores, as relações
podem ser divididas em instantâneas, permanentes e sucessivas.

17. No caso dos autos, é de conhecimento geral que o fato gerador da


CSLL é a apuração de lucro líquido, a partir do lucro contábil, com as
adições e exclusões fixadas na legislação tributária. A periodicidade da
ocorrência da hipótese de incidência deriva do regime de apuração do
tributo, parelha à opção realizada para o Imposto de Renda Pessoa
Jurídica. Assim, cuida-se de uma relação sucessiva, tendo em vista que
os fatos geradores instantâneos repetem-se ao longo do tempo de forma
uniforme e continuada. Nessa linha, à luz do caráter homogêneo dessas
relações e da sentença basear-se na declaração de inconstitucionalidade
do próprio tributo, não há que se falar em incidência do enunciado nº 239
da Súmula do STF na espécie. Desse modo, o comando sentencial
alcança os fatos geradores instantâneos que ocorreriam posteriormente
ao seu trânsito em julgado, desde que mantidos os estados de direito e
de fato assumidos pelo juízo.

18. Porém, com respeitosas vênias à compreensão externada no


acórdão recorrido, também é impensável que a sentença individual
permaneça estável em termos temporais até que a própria legislação
instituidora do tributo (in casu, a Lei nº 7.689, de 1988) venha a ser
revogada ou inteiramente sucedida. Literalmente, constou o que segue
na decisão do Tribunal a quo:

“Na realidade, mesmo tendo o C.STF declarado que a lei


em comento seria constitucional com a exceção do artigo 8º, a
decisão que beneficiou a apelante transitou em julgado e não
deve ser modificada. Não se diga, tal qual, o parecer da

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Procuradoria da Fazenda Nacional citado na r. sentença, que


haveria uma relação jurídica continuativa com base no inciso I
do artigo 471 do CPC. Na realidade enquanto os fatos forem
tributados com base na lei 7689/88 a requerente estará
resguardada com a decisão que transitou em julgado e que lhe
foi favorável. O advento de outra legislação poderá mudar a
questão.”
(e-doc. 2, p. 206, grifos nossos)

19. Em consonância ao pensamento explanado pelo e. Ministro


Alexandre de Moraes em sessão do Plenário Virtual, “não é razoável
admitir que o contribuinte, uma vez exonerado da tributação em face da
legislação de um determinado momento, crie legítima expectativa de não mais
contribuir indefinidamente”. Nesse sentido, tratando-se de relação jurídico-
tributária sucessiva e alterados os suportes fáticos e de direito
verificados pela sentença, a meu sentir, o princípio constitucional da
coisa julgada simplesmente não abarca os efeitos futuros da sentença
transitada em julgado, uma vez que rompido o silogismo originário
desta vertido na cláusula rebus sic strantibus. Dito de forma direta, não
existe para o jurisdicionado ou o Poder Público legítima expectativa de
manutenção da estabilidade temporal do comando sentencial em questão.
Isso porque as sentenças que tratam de relações jurídicas sucessivas
perdem sua força vinculante inter partes relativamente aos fatos futuros
no momento em que ocorre modificação do estado de fato ou de direito.
Logo, sequer trata-se de caso de incidência da garantia fundamental da
coisa julgada, de modo que não enxergo efetivo conflito entre essa e a
força normativa da Constituição, igualdade tributária, livre
concorrência ou os efeitos vinculantes das ações objetivas.

20. Posto esse raciocínio, na dicção do e. Ministro Luís Roberto


Barroso, resta saber se e como as decisões proferidas pelo Tribunal
Pleno desta Corte no âmbito de controle controle abstrato e concentrado
de constitucionalidade - dado que tratamos aqui do Tema RG nº 881 -
têm o condão de alterar o estado de direito de uma sentença individual,

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caso os conteúdos dessas sejam diametralmente opostos. Quanto a isso,


meu raciocínio coincide com os posicionamentos já apresentados no
Plenário Virtual. Na esteira das lições doutrinárias do eminete Ministro
Teori Zavascki, lembradas pelo eminente Ministro Dias Toffoli, são quatro
as hipóteses nas quais decisões desta Corte tomadas na seara do controle
de constitucionalidade acarretam modificação do estado de direito: (i)
suspensão, por resolução do Senado Federal, de norma declarada
inconstitucional, pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de controle
difuso de constitucionalidade; (ii) decisões da Corte em sede de controle
concentrado; (iii) decisões da Corte em sede de repercussão geral; e (iv)
edição de enunciado da Súmula Vinculante do STF. Em suma, é
justamente a introdução de decisão definitiva de mérito, dotada de
efeito vinculante e de eficácia erga omnes, que acarreta a alteração do
estado de direito. Com efeito, sob minha perspectiva, é viável concluir
pela correção do argumento doutrinário de Teori Zavascki, nos seguintes
termos:

“i) qualquer dessas decisões, porque revestidas de eficácia


erga omnes e efeitos vinculantes, acarretam modificação do
status quo ante: embora não produzam, automaticamente, a
anulação ou a modificação dos efeitos passados produzidos por
sentenças em sentido contrário, prevalecem, a partir de então,
para todos os efeitos e independentemente de qualquer
formalidade ou sentença de rescisão das relações jurídicas de
trato continuado no tempo (relações jurídicas permanentes e
sucessivas); e
j) a prevalência, nesses casos, do efeito vinculante erga
omnes em relação à sentença proferida no caso concreto decorre
não apenas da superior autoridade do pronunciamento do STF
que lhe dá suporte, mas também da afirmação, que ele enseja,
do princípio da igualdade em face da Constituição,
dispensando a todos um tratamento isonômico quanto aos
direitos assegurados e aos deveres impostos pelo ordenamento
jurídico” (ZAVASCKI, Teori. Eficácia das sentenças na jurisdição
constitucional. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.

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122).

21. Sufragando referido entendimento, somente me cabe fazer breves


esclarecimentos sobre entendimento pessoal a respeito da configuração
jurídica dos efeitos vinculantes e da eficácia erga omnes derivados de
decisões deste STF, com enfoque nas decisões tomadas em controle
concentrado e em sede de repercussão geral. Isso porque, como dito
anteriormente, reputo supérfluo no método e errôneo na substância
retirar esses dois atributos em relação ao controle difuso e incidental de
constitucionalidade de suposta mutação constitucional do art. 52, X, da
Constituição da República, ou da equiparação do alcance e dos efeitos
das decisões nessa seara àquelas tomadas em fiscalização abstrata.

22. Na lógica do eminente Ministro Teori Zavascki ora encampada,


as decisões tomadas pelo Pleno em sede de repercussão geral possuem a
aptidão para acionar a cláusula rebus sic stantibus das sentenças anteriores
em sentido contrário, porque, ao lado das três outras hipóteses elencadas,
também são dotadas de eficácia expansiva erga omnes e vinculante. Veja-
se:

“Pois bem, conforme já asseverado em capítulo anterior, o


direito brasileiro, na linha de movimento evolutivo semelhante
ao verificado em outros países, experimentou nos últimos anos
uma persistente e profunda mudança de rumos, no plano
constitucional e infraconstitucional, visando a conferir aos
julgamentos do STF, inclusive em controle incidental de
constitucionalidade, um caráter nitidamente objetivo, voltado a
tutelar, prioritariamente, a ordem jurídica constitucional,
independentemente dos interesses particulares
circunstancialmente envolvidos no processo. É inquestionável,
assim, considerado o cenário normativo resultante dessas
mudanças, que as manifestações do plenário do Supremo se
revestem, em muitos casos, de eficácia especial e qualificada,
cujos tentáculos ultrapassam a limitada esfera dos interesses
individuais dos figurantes da relação processual, para atingir

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âmbito subjetivo universal (erga omnes) e, desse modo, assumir


força subordinante e vinculativa em relação aos demais casos
semelhantes.
(...)
Fenômeno semelhante ocorre em relação a norma
declarada inconstitucional em julgamento do Supremo pelo
regime da repercussão geral. Segundo decorre do §3º do art. 102
da Constituição e da sua regulamentação pelos arts. 543-A e
543-B do CPC, são considerados relevantes, as questões
constitucionais que, além do requisito de ordem material ( de
serem ‘relevantes do ponto de vista econômico, político, social e
jurídico’), atendam também a um requisito de natureza
subjetiva, a saber: ‘que ultrapassem o interesse subjetivo da
causa’ (art. 543-A, §1º, do CPC). Esse segundo requisito
evidencia o caráter objetivo de que se reveste o julgamento, o
que determina, conforme deixou inequivocamente acentuado o
STF, o efeito expansivo e vinculante das decisões dele
decorrentes para os demais recursos, já interpostos ou que
vierem a sê-lo. Conforme resumiu, a propósito, o Min. Celso de
Mello, ‘o instituto da representação geral representa, nesse novo
contexto, um importante instrumento de objetivação dos
julgamentos que o Supremo profere em sede recursal
extraordinária’.” (ZAVASCKI, Teori. Eficácia das sentenças na
jurisdição constitucional. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2014, p. 119-120).

23. Sendo assim, dado que o Poder Constituinte Originário não


trouxe a previsão de efeito vinculante ou de eficácia erga omnes ao
controle abstrato, a partir da Emenda Constitucional nº 3, de 1993, as
decisões definitivas de mérito em ADC passaram a ostentar essa
qualificação, isto é, “produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo”. Em
seguida, esta Corte reputou constitucional referida reforma constitucional
no bojo da Questão de Ordem na ADC nº 1/DF, Rel. Min. Moreira Alves,
Tribunal Pleno, j. 27/10/1993, p. 16/06/1995. Na ocasião, o Ministro Relator

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bem delineou a conveniência do surgimento da ADC ante insuficiências


apresentadas pela ADI, nos seguintes termos:

“Para enfrentar esse problema, a ação direta de


inconstitucionalidade não é instrumento suficiente em virtude
de duas circunstâncias: a de que - como ficou assentado no
julgamento da representação de inconstitucionalidade n. 1.349
(RTJ 129/41 e seqs.) - não é ela cabível quando o autor a propõe
sustentando a constitucionalidade do ato normativo, e
pretendendo, portanto, obter a declaração de sua
constitucionalidade pela via indireta da decisão de
improcedência dessa ação; e a de que a eficácia da decisão
dessa ação, quer de procedência, quer de improcedência,
apenas se estende a todos (eficácia erga omnes) no sentido de
que, em face de todos, sua eficácia se exaure na declaração de
que o ato normativo é inconstitucional (e, portanto, nulo
desde a origem) ou constitucional (e, consequentemente,
válido), o que implica a possibilidade de o Poder Judiciário,
por suas instâncias inferiores, poderem continuar a julgar em
contrário, hipótese em que, às partes prejudicadas nos casos
concretos, só restará, em recurso extraordinário, ver
respeitada, pelo Supremo Tribunal Federal, sua decisão na
ação direta de inconstitucionalidade sobre o ato normativo
que dela foi objeto; e mais: essa eficácia erga omnes da ação
direta de inconstitucionalidade não impede que o Poder ou
órgão de que emanou o ato normativo julgado inconstitucional
volte a reincidir na inconstitucionalidade editando novo ato
com o mesmo conteúdo do anterior, hipótese em que será
necessária a propositura de nova ação direta de
inconstitucionalidade, pois a declaração anterior não alcança
esse segundo ato.
O mesmo não ocorre com a ação declaratória de
constitucionalidade como foi instituído pela Emenda
Constitucional n. 3, de 1993. Com efeito, sendo uma ação que
visa diretamente à obtenção da declaração de que o ato
normativo seu objeto é constitucional, é ela cabível exatamente

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para esse fim, embora se julgada improcedente, essa decisão de


improcedência implique a declaração de inconstitucionalidade
do ato normativo em causa. Por outro lado, estabelecendo a
emenda Constitucional n. 3, de 1993, que ‘as decisões
definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei
ou ato normativo federal, produzirão eficácia contra todos e
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder
Judiciário e ao Poder Executivo’, essas decisões, sejam de
procedência (constitucionalidade) ou de improcedência
(inconstitucionalidade), não apenas terão eficácia erga omnes,
mas também força vinculante relativamente aos demais
órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo. É um plus
com relação à ação direta de inconstitucionalidade, graças ao
qual se dá ao novo instrumento de controle de
constitucionalidade a eficácia necessária para enfrentar o
problema - como salientado anteriormente - que deu margem
à sua criação. De feito, se a eficácia erga omnes que também
possuem suas decisões de mérito lhe dá a mesma eficácia que
têm as decisões de mérito das ações diretas de
inconstitucionalidade (e -note-se - é em virtude dessa eficácia
erga omnes que esta Corte, por ser alcançada igualmente por
ela, não pode voltar atrás na declaração que nela fez
anteriormente), do efeito vinculante que lhe é próprio resulta:
se os demais órgãos do Poder Judiciário, nos casos concretos
sob seu julgamento, não respeitarem a decisão prolatada nessa
ação, a parte prejudicada poderá valer-se do instituto da
reclamação para o Supremo Tribunal Federal, a fim de que este
garanta a autoridade dessa decisão; e essa decisão (e isso se
restringe ao dispositivo dela, não abrangendo - como sucede na
Alemanha - os seus fundamentos determinantes, até porque a
emenda Constitucional n. 3 só atribui efeito vinculante à
própria decisão definitiva de mérito), essa decisão, repito,
alcança os atos normativos de igual conteúdo daquele que deu
origem a ela mas que não foi seu objeto, para o fim de,
independentemente de nova ação, serem tidos como

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constitucionais ou inconstitucionais, adstrita essa eficácia aos


atos normativos emanados dos demais órgãos do Poder
Judiciário e do Poder Executivo, uma vez que ela não alcança os
atos editados pelo Poder Legislativo.” (grifos nossos)

24. Com a Reforma do Poder Judiciário - a Emenda Constitucional nº


45, de 2004, os efeitos atribuídos à ADC foram estendidos para a ADI, por
força da nova redação do art. 102, § 2º, da Constituição da República.

25. Ainda por obra dessa reforma, a ordem constitucional passou a


prever em seu art. 103-B a figura da Súmula Vinculante, a qual “terá efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal”. Desse
mesmo artigo percebe-se que um dos objetivos desse instituto consiste em
enfrentar “relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica”, assim
como sua edição pressupõe “reiteradas decisões sobre matéria constitucional”.
Então, a despeito de ser possível a edição de enunciado sumular
vinculante a partir de julgados realizados em ações objetivas, v.g. o
enunciado nº 28 da Súmula Vinculante em matéria tributária, a vocação
dessa inovação constitucional parece voltar-se às demandas repetitivas
que surgem mais frequentemente no controle difuso. Por conseguinte,
impende notar que o efeito vinculante e a eficácia erga omnes não se
limitam ao controle abstrato e concentrado de constitucionalidade.

26. Ademais, sob as luzes do vigente ordenamento jurídico, o


efeito vinculante e a eficácia erga omnes não decorrem apenas de
mandamento constitucional, isto é, não há uma “reserva de
Constituição” na matéria. Afinal, no tocante à arguição de
descumprimento de preceito fundamental, embora o art. 102, § 1º, do
texto constitucional, tenha apenas previsto a existência do instituto e
fixado o Pretório Excelso como órgão competente para seu julgamento,
esse dispositivo incumbiu à lei regulamentar a classe processual. Por sua
vez, positivou-se no art. 10, § 3º, da Lei nº 9.882, de 1999, que “a decisão
terá eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do

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Poder Público”. Por evidente, não se desconhece a existência da ADI nº


2.231/DF, com relatoria originária do Ministro Néri da Silveira e
atualmente conduzida pelo Ministro Roberto Barroso, que se volta contra
supracitada norma da Lei da ADPF. Contudo, a partir do momento que
este Tribunal reconheceu a possibilidade do manejo de reclamações
adotando-se como paradigma as decisões em ADPF, tornou-se iterativo
no repertório jurisprudencial do órgão a afirmação de que essas são
dotadas de caráter vinculante e eficácia contra todos. Cito excerto da Rcl
nº 6.465/SP, Rel. Min. Eros Grau, j. 26/08/2008, p. 1º/09/2008:

“10. O Ministro CELSO DE MELLO, ao examinar caso


muito semelhante ao de que se trata nestes autos, diz:
‘[a]credito que o Plenário agiu com a devida parcimônia ao
fazê-lo porque a liminar inicial paralisaria a jurisdição em
centenas de milhares de ações que tramitam envolvendo os
procedimentos previstos na Lei de Imprensa, criando uma
suspensão em todas as ações que envolvem a proteção do bem
jurídico - honra pessoal - afetada por eventuais delitos de
calúnia, injúria e difamação. A Argüição de Descumprimento de
Preceito Fundamental, regulamentada pela Lei n. 9.882/99,
permite que o Pretório Excelso se manifeste em caráter
definitivo, na via concentrada. A referida decisão será dotada de
eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos
demais órgãos do Poder Público, em todas as esferas e níveis,
sendo, demais disso, irrecorrível e irrescindível, nos termos do
art. 10, § 3º, e do art. 12, ambos da Lei n. 9.882/99. A decisão na
argüição de descumprimento de preceito fundamental poderá
ter, segundo a nova previsão legal, efeitos 'erga omnes', efeito
vinculante, efeito 'ex tunc' ou 'ex nunc', e efeito repristinatório.
Justamente em virtude desse caráter repristinatório, em caso de
acolhimento da ação, com a invalidação da Lei de Imprensa,
importará na aplicação da legislação anterior que havia sido
revogada pela norma impugnada, notadamente porque o bem
jurídico - honra objetiva - é protegido pela Constituição Federal
existindo norma geral, no caso, o Código Penal, para a sua
proteção’ [RCL n. 6.064/MC, DJ de 29.5.08].

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RE 949297 / CE

(...)
12. As decisões, desta Corte, que resultam dos julgamentos
das argüições de descumprimento de preceitos fundamentais
são dotadas de efeitos erga omnes e caráter vinculante. Assim,
dispensam a comunicação aos demais órgãos do Poder
Judiciário, bastando a simples publicação do resultado do
julgamento na Imprensa Oficial.”

27. Enfim, com relação às decisões plenárias realizadas sob o rito da


repercussão geral, apesar de exigir maior esforço interpretativo, decorreu
do Código de Processo Civil de 1973, a partir da Lei nº 11.418, de 2006, e
atualmente resulta do CPC de 2015 a imputação do caráter vinculante e
da eficácia contra todos às decisões tomadas pelo Tribunal Pleno desta
Corte em sede de repercussão geral. Por isso, esses pronunciamentos
também possuem aptidão para alterar o estado de direito nos
pronunciamentos judiciais referentes a relações de trato continuado.
Diante dessas razões, a meu juízo, revela-se incontestável a lógica do
eminente Ministro Teori Zavascki ora encampada, segundo a qual as
decisões tomadas pelo Pleno em sede de repercussão geral possuem a
aptidão para acionar a cláusula rebus sic stantibus das sentenças anteriores
em sentido contrário, porque, ao lado das três outras hipóteses elencadas,
também são dotadas de eficácia expansiva erga omnes e vinculante. Veja-
se:

“Pois bem, conforme já asseverado em capítulo anterior, o


direito brasileiro, na linha de movimento evolutivo semelhante
ao verificado em outros países, experimentou nos últimos anos
uma persistente e profunda mudança de rumos, no plano
constitucional e infraconstitucional, visando a conferir aos
julgamentos do STF, inclusive em controle incidental de
constitucionalidade, um caráter nitidamente objetivo, voltado a
tutelar, prioritariamente, a ordem jurídica constitucional,
independentemente dos interesses particulares
circunstancialmente envolvidos no processo. É inquestionável,
assim, considerado o cenário normativo resultante dessas

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mudanças, que as manifestações do plenário do Supremo se


revestem, em muitos casos, de eficácia especial e qualificada,
cujos tentáculos ultrapassam a limitada esfera dos interesses
individuais dos figurantes da relação processual, para atingir
âmbito subjetivo universal (erga omnes) e, desse modo, assumir
força subordinante e vinculativa em relação aos demais casos
semelhantes.
(...)
Fenômeno semelhante ocorre em relação a norma
declarada inconstitucional em julgamento do Supremo pelo
regime da repercussão geral. Segundo decorre do §3º do art. 102
da Constituição e da sua regulamentação pelos arts. 543-A e
543-B do CPC, são considerados relevantes, as questões
constitucionais que, além do requisito de ordem material ( de
serem ‘relevantes do ponto de vista econômico, político, social e
jurídico’), atendam também a um requisito de natureza
subjetiva, a saber: ‘que ultrapassem o interesse subjetivo da
causa’ (art. 543-A, §1º, do CPC). Esse segundo requisito
evidencia o caráter objetivo de que se reveste o julgamento, o
que determina, conforme deixou inequivocamente acentuado o
STF, o efeito expansivo e vinculante das decisões dele
decorrentes para os demais recursos, já interpostos ou que
vierem a sê-lo. Conforme resumiu, a propósito, o Min. Celso de
Mello, ‘o instituto da representação geral representa, nesse novo
contexto, um importante instrumento de objetivação dos
julgamentos que o Supremo profere em sede recursal
extraordinária’.” (ZAVASCKI, Teori. Eficácia das sentenças na
jurisdição constitucional. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2014, p. 119-120).

28. Além desse aporte doutrinário, convém registrar que toda a


jurisprudência do Pretório Excelso caminhou no exato sentido de dotar
de efeitos vinculantes e eficácia erga omnes os pronunciamentos
levados a cabo sob o rito da repercussão geral. Sem pretensão de esgotar
a temática, registro que esta Corte iterativamente interpretou o art. 543-B,
§ 3º, do CPC de 1973, como a referência normativa para estabelecer a

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observância obrigatória dos precedentes criados em repercussão geral


pelos demais juízes e tribunais do sistema de Justiça. Ilustrativamente, na
Questão de Ordem no RE nº 582.650/BA, Rel. Min. Gilmar Mendes
(Presidente), j. 11/06/2008, p. 24/10/2008, firmou-se entendimento no
sentido de que “aplica-se, plenamente, o regime da repercussão geral às
questões constitucionais já decididas pelo Supremo Tribunal Federal, cujos
julgados sucessivos ensejaram a formação de súmula ou de jurisprudência
dominante,” sendo que nesses casos existe a “necessidade de pronunciamento
expresso do Plenário desta Corte sobre a incidência dos efeitos da repercussão
geral reconhecida para que, nas instâncias de origem, possam ser aplicadas as
regras do novo regime, em especial, para fins de retratação ou declaração de
prejudicialidade dos recursos sobre o mesmo tema (CPC, art. 543-B, § 3º)”.

29. Na mesma toada, no âmbito da AC nº 2.177-MC-QO/PE, Rel.


Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, j. 12/11/2008, p. 20/02/2009, ao decidir
sobre a competência do Supremo Tribunal Federal para apreciar ação
cautelar voltada a conferir efeito suspensivo a recurso extraordinário
sobrestado na origem, a Corte aproximou os tratamentos processuais dos
recursos com acórdãos publicados antes de 03/05/2007 à repercussão
geral.

30. No AI nº 760.358-QO/SE, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente),


Tribunal Pleno, j. 19/11/2009, p. 19/02/2010, consta no voto do Relator que
“toda a reforma processual foi concebida de forma a permitir que a Suprema
Corte se debruce uma única vez sobre cada questão constitucional”.

31. Por fim, ao julgar pela inadmissibilidade de reclamações perante


o STF para corrigir a aplicação da repercussão geral pelos juízos de
origem, encontra-se explicitamente na ementa da Rcl nº 10.793/SP, Rel.
Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, j. 13/04/2011, p. 06/06/2011, que “as
decisões proferidas pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal quando do
julgamento de recursos extraordinários com repercussão geral vinculam os
demais órgãos do Poder Judiciário na solução, por estes, de outros feitos

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sobre idêntica controvérsia”.

32. Feito esse retrospecto, mostra-se indene de qualquer dúvida que


a partir da instituição da repercussão geral, na qualidade de novo
pressuposto recursal e de mecanismo de filtragem, ocorreu uma
relevante modificação da ordem processual quanto aos efeitos do juízo
de constitucionalidade proferido em sede de controle concreto. Disso
concluo que uma decisão de mérito tomada pelo plenário do Supremo
Tribunal Federal é suficiente para alterar o estado de direito.

33. Não modifica essa inferência o fato de a aplicação ampliativa da


orientação adotada em julgamento de recurso extraordinário sob o rito da
repercussão geral cingir-se às demais instâncias do Poder Judiciário, ou
seja, não alcança a Administração Pública nas três esferas federativas,
como se passa na Súmula Vinculante. Nessa linha, embora haja algum
grau de sobreposição das funcionalidades desses institutos, extraio do
pensamento doutrinário de Roger Stiefelmann Leal que o sentido prático,
ainda que limitado, da Súmula Vinculante deriva exatamente do alcance
mais restrito dos efeitos decorrentes do julgamento proferido em sede de
repercussão geral. Confira-se:

“Por outro lado, o alcance mais restrito dos efeitos


decorrentes do julgamento proferido em sede de repercussão
geral autoriza entrever algum sentido prático às súmulas
vinculantes, ainda que limitado. Sua funcionalidade básica
estaria - havendo mais de um julgado no mesmo sentido -
restrita (a) a estender a aplicação da orientação decidida em
controle concreto exercido em ações ou recursos diversos do
recurso extraordinário - caso não prevaleça a reinterpretação
proposta ao art. 52, X, da Constituição-, bem como (b) a
vincular órgãos e autoridades judiciais e administrativos não
mencionados no art. 543-B, § 3º, do CPC, no caso de algum dos
precedentes que fundamentam o verbete sumular ter sido
proferido em sede de repercussão geral.
A proposta de revisão jurisprudencial - caso prevaleça - e

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o regime normativo da repercussão geral, ao promoverem a


valorização das decisões de mérito proferidas em sede de
controle concreto pelo STF mediante atribuição de efeito
vinculante, acabam, em boa medida, por tornar inoperante o
instituto da súmula vinculante. Na prática, sua real finalidade,
a exemplo do que já ocorre com a Súmula Vinculante nº 2, será
colocar em destaque o entendimento da Corte sobre
determinada matéria, retomando o caráter persuasivo das
tradicionais Súmulas da Jurisprudência Predominante do STF”
(LEAL, Roger Stiefelmann. A incorporação das súmulas
vinculantes à jurisdição constitucional brasileira: alcance e
efetividade em face do regime legal da repercussão geral e da
proposta de revisão jurisprudencial sobre a interpretação do
art. 52, X, da Constituição. Revista de Direito Administrativo, Rio
de Janeiro, v. 261, p. 179-201, set./dez. 2012, p. 194-195, grifos
nossos)

34. Sendo assim, renovadas as vênias de estilo aos entendimentos


diversos, reitero não sufragar neste voto fundamentos pertinentes à
eventual mutação constitucional do art. 52, X, da Constituição, ou à
equiparação do alcance e dos efeitos das decisões plenárias em sede de
controle difuso àquelas derivadas do controle abstrato, por serem em
meu entendimento desnecessários ao deslinde da controvérsia. Além de
reputar plausível a argumentação posta no Plenário Virtual pelo e.
Ministro Dias Toffoli quanto à preservação de alguns efeitos práticos do
uso da resolução senatorial, parece-me temerário assumir essa
interpretação evolutiva sem levar em conta, com o devido vagar, os
impactos dela em relação à funcionalidade prática da Súmula Vinculante,
sob pena de tornar praticamente inócua a inovação do art. 103-B da
Constituição vis-à-vis as súmulas persuasivas desta Corte, existentes
desde a década de 1960 e atualmente previstas no art. 926, §§1º e 2º, do
CPC. A esse propósito, não custa rememorar que o próprio Regimento
Interno da Corte, em seu art. 354-E, preconiza a subsequência entre o
julgamento sob o rito da repercussão geral e a edição de Súmula
Vinculante, o que, evidentemente, pressupõe a não sobreposição integral

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das funcionalidades desses institutos, in verbis: “a proposta de edição,


revisão ou cancelamento de Súmula Vinculante poderá versar sobre questão com
repercussão geral reconhecida, caso em que poderá ser apresentada por qualquer
Ministro logo após o julgamento de mérito do processo, para deliberação
imediata do Tribunal Pleno na mesma sessão” (grifos nossos).

35. Noutro giro, em relação aos efeitos contra todos das decisões
tomadas em sede de repercussão geral, a meu sentir, revela-se importante
previamente definir as sobreposições e contraposições da regra do stare
decisis típica do modelo estadunidense de jurisdição e da eficácia erga
omnes própria do modelo europeu-kelseniano de Justiça Constitucional.
Ilustrativamente e por brevidade, suscito aqui novamente compreensão
doutrinária de Roger Stiefelmann que conclui pela inocorrência de
movimento significativo de aproximação entre os institutos, nos seguintes
termos:

“Outro aspecto que, segundo parte da doutrina, revelaria


aproximação entre os sistemas clássicos de justiça
constitucional é a diminuição da distância que separava a regra
do stare decisis, aplicada no modelo estadunidense, e a eficácia
erga omnes, decorrente das decisões proferidas no modelo
europeu-kelseniano (...) De outra parte, o stare decisis constitui
instrumento de coerência interna do Poder Judiciário. Não
impede, propriamente, que outros poderes e autoridades -
notadamente o Presidente, os legisladores, os tribunais
estaduais e a população em geral - desenvolvam interpretações
da Constituição que não se coadunem necessariamente com a
interpretação judicialmente aplicada, nos termos em que
articulada pela Suprema Corte. Já a eficácia erga omnes tem
natureza impositiva externa. Obriga, inclusive e
principalmente, as demais esferas políticas e administrativas,
bem assim a própria sociedade.
No caso do stare decisis, cumpre acrescentar, são toleradas
práticas que admitem a insubordinada superação dos
precedentes pelas instâncias inferiores do Poder Judiciário.

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 375 de 468

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Embora se fale em vinculação dos precedentes (binding


precedents), cabe aos juízes inferiores, mediante técnicas
decisórias específicas - tais como a superação antecipada
(antecipatory overruling) ou a superação implícita - divergirem
dos precedentes da Suprema Corte e pronunciarem-se de
maneira diversa. Em face de um precedente aplicável, pode o
juiz competente, frente a determinadas circunstâncias, revogá-
lo e criar uma nova regra para resolver o caso que, a priori,
estava por ele disciplinado. Segundo Mattei, o stare decisis norte-
americano admite uma verdadeira revolução copernicana em
que uma corte de ínfimo grau de hierarquia abertamente
desatende um precedente da Suprema Corte.
Já a eficácia erga omnes decorrente das decisões das Cortes
Constitucionais de matriz européia assume contornos de maior
rigidez. Inadmite, nesse caso, tamanha flexibilidade aos órgãos
judiciais para sustentar solução em sentido contrário à adotada
pela justiça constitucional. A eficácia erga omnes confere às
sentenças constitucionais caráter efetivamente impositivo, de
observância obrigatória às demais autoridades públicas -
inclusive as judiciais - e à sociedade.
As especificidades ora ressaltadas evidenciam marcadas
diferenças que separam a eficácia erga omnes e o stare decisis.
Não sugerem - é possível concluir - movimento significativo
de aproximação entre os institutos” (LEAL, Roger Stiefelmann.
A convergência dos sistemas de controle de
constitucionalidade: aspectos processuais e institucionais.
Revista de Direito Constitucional e Internacional, v. 57, p. 62, out.
2006, grifos nossos).

36. Desde que escrito citado texto, certamente, o cenário tornou-se


mais complexo com o advento do sistema de precedentes obrigatórios
erigido no CPC de 2015. Nesse sentido, a discussão sobre a eficácia erga
omnes atribuída às decisões em sede de repercussão geral vis-à-vis os
pronunciamentos em controle abstrato merece melhor e detido exame,
em detrimento de promover-se acrítica equiparação. É certo que a
despeito de não ser mais possível afirmar simploriamente que o alcance

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da decisão no controle difuso limita apenas os litigantes, enquanto o


comando sentencial no controle abstrato atinge a todos, ainda me parece
intricada e aberta a indagação referente aos limites subjetivos da coisa
julgada no controle difuso de constitucionalidade levado a efeito sob o
rito da repercussão geral. Isso porque o grau de observância do decisum
pelos Poderes Judiciário, Executivo e Legislativo tende a diferir quando
feita comparação entre o controle abstrato e o difuso.

37. Por tudo isso, demonstra-se para mim suficiente afirmar que as
decisões do Tribunal Pleno desta Corte, tanto no controle abstrato
quanto no controle difuso submetido ao rito da repercussão geral, têm o
condão de alterar o estado de direito pressuposto na sentença transitada
em julgado referente a uma relação jurídico-tributária de trato
continuado. Isso porque ambas possuem efeitos vinculante, ainda que
em distintos graus, e eficácia ultra partes. Assim, com o aparecimento
desse pronunciamento definitivo de mérito da Suprema Corte, cessam,
de pleno direito, os efeitos futuros da supracitada sentença, quando os
conteúdos desta e daquele sejam opostos. Ademais, desse raciocínio
não se retira qualquer violação à garantia fundamental da coisa julgada.

38. Por outro lado, na linha do que já defendido pelos eminentes


Ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, inclusive com
dados empíricos pertinentes à CSLL, entendo ser clara a infringência dos
princípios da igualdade tributária e da livre concorrência na hipótese
em que dois contribuintes que se encontrem em situação equivalente
no que toca à exigibilidade de determinado tributo recebam
tratamentos discrepantes da Administração Tributária e do Estado-juiz.
Afinal, não se mostra critério idôneo de discriminação fiscal o simples
fato de um deles possuir sentença passada em julgado que tenha
declarado incidentalmente a inexigibilidade da relação jurídico-
tributária sucessiva, ao fundamento da inconstitucionalidade do
tributo, quando os efeitos futuros daquela tenham cessado por força do
advento de decisão definitiva de mérito do Plenário do Supremo

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Tribunal Federal em sede de repercussão geral ou de controle abstrato


em sentido diametralmente oposto.

39. Sob a perspectiva da isonomia tributária, referida situação vai de


encontro à razão de decidir externada por esta Suprema Corte no Tema nº
225 do rol da Repercussão Geral, cujo paradigma é o RE nº 601.314-
RG/SP, Rel. Min. Edson Fachin, Tribunal Pleno, j. 24/02/2016, p.
16/09/2016, segundo a qual “a igualdade é satisfeita no plano do autogoverno
coletivo por meio do pagamento de tributos, na medida da capacidade
contributiva do contribuinte, por sua vez vinculado a um Estado soberano
comprometido com a satisfação das necessidades coletivas de seu Povo”. Do lado
da livre concorrência, em minha visão, demonstra-se irrespondível a
argumentação do e. Ministro Luís Roberto Barroso no ponto, sendo
despiciendo qualquer comentário adicional, de modo que reproduzo
aquela:

“37. Assim, após 2007, a manutenção das decisões


transitadas em julgado que declaram a inconstitucionalidade da
incidência da CSLL – em relação a fatos geradores posteriores a
esse ano – revela discrepância passível de violar a igualdade
tributária, diante do tratamento desigual, bem como da livre
concorrência. Isso porque o contribuinte dispensado do
pagamento de tributo por decisão transitada em julgado ostenta
vantagem competitiva em relação aos demais, uma vez que não
destina parcela dos seus recursos a essa finalidade – situação
diferente da dos seus concorrentes que são obrigados a pagar –,
de modo a baratear os custos da sua estrutura e produção.
38. Em resumo: (i) há pessoas jurídicas que não pagam
CSLL com respaldo em decisões transitadas em julgado; (ii) a
maioria das pessoas jurídicas permanece com a obrigação de
pagar o referido tributo, já que não possui decisões transitadas
em julgado favoráveis; (iii) esta Corte se manifestou ao longo da
década de 90 e dos anos 2000 diversas vezes, em controle
difuso, anteriormente à repercussão geral, pela
constitucionalidade da instituição da CSLL; (iv) apenas em

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2007, na ADI 15, o Plenário proferiu acórdão vinculante e erga


omnes, declarando a constitucionalidade da Lei nº 7.689/1988.
39. Partindo das premissas de que esta Corte dá a última
palavra no que se refere à constitucionalidade de leis e atos
normativos, e que os pontos (i) e (ii) descritos acima geram
situações anti-isonômicas, com repercussão direta na livre
concorrência, chego à conclusão de ser necessária a interrupção
dos efeitos da coisa julgada nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo, independente do tributo que se esteja
discutindo, quando esta Corte se manifestar em sentido oposto,
em controle concentrado ou em controle difuso, desde que de
acordo com a sistemática da repercussão geral.”

40. Em complemento, anoto que o próprio cotejo entre a situação do


acórdão recorrido e o RE nº 138.284/CE, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal
Pleno, j. 1º/07/1992, p. 28/08/1992, é ilustrativo das distinções arbitrárias
realizadas pelo Poder Judiciário em relação ao CSLL. Veja-se, a esse
propósito, que ambos os recursos derivaram de acórdãos praticamente
idênticos do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, afinal a Corte
regional compreendia que a CSLL era inconstitucional. Assim,
objetivamente, as questões versadas no leading case sob a relatoria do
Ministro Carlos Velloso e o RE nº 135.326/PE, Rel. Min. Moreira Alves, j.
17/06/1992, p. 04/08/1992, o qual favoreceu a parte ora recorrida, em nada
se distinguem, exceto pelos resultados diametralmente opostos e por não
ter a Fazenda Nacional no último juntado o acórdão recorrido à petição
recursal. Com base nisso, contribuintes em situações idênticas receberam
tratamentos discordantes por mais de três décadas.

41. Conjugando-se, portanto, a não incidência da garantia


fundamental da coisa julgada em relação aos efeitos futuros de sentença
declaratória de relação jurídico-tributária de trato continuado de um lado
e, de outro, a nítida ofensa aos princípios da igualdade e da livre
concorrência, firmo convicção no sentido da correção da parte inicial da
tese de julgamento proposta pelo e. Ministro Relator. Sendo assim,

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subscrevo a assertiva proposta pelo Ministro Edson Fachin, isto é, “a


eficácia temporal de coisa julgada material derivada de relação tributária de trato
continuado possui condição resolutiva que se implementa com a publicação de ata
de ulterior julgamento realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os comandos
decisionais sejam opostos”.

II. Dispensabilidade de ação rescisória para exigirem-se do


jurisdicionado ou do Poder Público as obrigações da relação jurídica
sucessiva após o advento da decisão de mérito do Plenário do STF em
sede de repercussão geral ou de controle abstrato

42. Na esteira do que argumentado por todos os votos proferidos no


Plenário Virtual e do escólio doutrinário do saudoso Ministro Teori
Zavascki, assim como embasado em leitura a contrario sensu do que
assentado previamente no Tema nº 733 do ementário da repercussão
geral, concluo que a execução de efeitos futuros da sentença transitada
em julgado proferida em caso concreto sobre relações jurídicas de trato
continuado, com juízo de constitucionalidade divergente ao feito
posteriormente pelo Tribunal Pleno desta Corte em sede de repercussão
geral ou de controle abstrato, dispensa o manejo de ação rescisória.

43. Isso porque, como já visto, o alcance da garantia fundamental da


coisa julgada não se estende aos fatos geradores futuros à decisão
paradigmática, porquanto a força vinculante inter partes da coisa julgada
deixa de existir com a modificação do estado de direito e, por
consequência, o acionamento da cláusula implícita do rebus sic stantibus.
Dito de outra forma, dado que se encontram salvaguardados os fatos
pretéritos, pois do contrário estaríamos diante de uma retroatividade da
decisão judicial, não há o que ser rescindido na espécie.

44. Igualmente, importa ressaltar que é improcedente o argumento


de que a tese ora acolhida representa infringência à divisão funcional

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dos poderes republicanos. Isso porque, na tese de julgamento aqui


acolhida, em momento algum se defende a realização de juízo
rescisório pela Administração Tributária de decisão acobertada pela
coisa julgada do Poder Judiciário, conforme equivocadamente
entendeu o acórdão recorrido. Na verdade, o erro deste raciocínio
consiste em confundir e sobrepor dois momentos jurídicos que
logicamente são distintos. Explico.

45. De plano, é a decisão do Plenário do Pretório Excelso dotada de


efeito vinculante e eficácia erga omnes que provoca a cessação dos
efeitos futuros da coisa julgada formada em caso concreto. Com efeito, a
partir desse expediente, passa a inexistir óbice jurídico à incidência da
hipótese de incidência do tributo regularmente prevista na legislação
tributária, haja vista que antes o surgimento da relação jurídico-tributária
sucessiva era periodicamente impedido de acontecer, por força de
pronunciamento judicial. Portanto, cessada a força vinculante inter partes
dessa sentença, o agente do Fisco vê-se compelido, por mandamento legal
e sob pena de responsabilidade funcional (art. 142 do Código Tributário
Nacional), a realizar o lançamento dos fatos geradores ocorridos
posteriormente à decisão plenária do Supremo. Em suma, não é a atuação
da Administração Tributária que infirma a eficácia da coisa julgada de
uma sentença proferida no caso concreto, mas sim a prestação da
jurisdição constitucional pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal e
respectiva eficácia executiva, consoante terminologia de Teori Zavascki.

46. Sendo assim, à luz desses fundamentos, não me restam dúvidas


sobre a dispensabilidade da ação rescisória para fazer cessar a eficácia
temporal da coisa julgada no caso dos autos.

III. Modulação temporal da eficácia da tese de julgamento fixada


neste tema da repercussão geral e da alteração do estado de direito
promovida pela decisão plenária da Suprema Corte dotada de efeitos
vinculantes

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47. A presente seção trata de dois temas que se correlacionam, mas


não deixam de apresentarem suas particularidades. Da leitura que fiz do
voto disponibilizado pelo e. Ministro Edson Fachin no Plenário Virtual,
compreendi uma divisão metodológica perfectibilizada por Sua
Excelência quanto à aplicabilidade no tempo do entendimento a ser
firmado neste julgamento nas dimensões do direito tributário material e
processual. Passo a me manifestar acerca dessas duas perspectivas.

48. Quanto ao escopo substantivo, observo a defesa da incidência dos


marcos temporais previstos no art. 150, III, da Constituição da República,
mormente os que derivam dos princípios constitucionais tributários da
irretroatividade e da anterioridade, seja anual, seja nonagesimal, a
depender do tributo discutido. A proposta baseia-se em construção
originariamente doutrinária do e. Ministro Luís Roberto Barroso,
segundo o qual a decisão judicial tem o condão de atrair mencionadas
limitações constitucionais ao poder de tributar por representar norma
jurídica nova ao contribuinte, aumentando-lhe a carga tributária
individualmente percebida.

49. Posto esse panorama e por apreço à brevidade, declaro minha


divergência à aplicabilidade das balizas temporais do inc. III do art. 150
da Constituição da República nesta peculiar hipótese por ter me
convencido, em parte, da argumentação exposta pelo e. Ministro Gilmar
Mendes, decano desta Suprema Corte, neste tópico, em voto-vista:

“Data maxima venia ao entendimento do relator, divirjo


quanto à necessidade de aplicação dos princípios da
anterioridade anual e/ou nonagesimal a partir de uma decisão
desta Suprema Corte, a qual declara a constitucionalidade de
um ato normativo.
Não custa lembrar que, conforme previsão constitucional
e, em consonância com os contornos interpretativos conferidos
por esta Suprema Corte, os princípios da anterioridade são

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aplicados quando há instituição ou aumento, ainda que


indireto, de tributos.
(...)
O caso em testilha, contudo, trata de situação em que o
Supremo Tribunal Federal declara a constitucionalidade de uma
norma tributária, a qual já percorreu todo o percurso
constitucional necessário para ser aplicada, ou seja, já observou,
entre outros, os princípios da anterioridade. Ora, estaríamos,
então, aplicando os referidos princípios duas vezes.
E o pior, em uma situação fora da previsão constitucional,
pois não cabe a esta Suprema Corte instituir ou aumentar
tributo, nem mesmo indiretamente, na linha do art. 97, incisos I
e II, do CTN (...) peço vênia, portanto, para divergir
pontualmente do relator, por entender desnecessária a
aplicação dos princípios da anterioridade no caso em questão”
(grifos nossos)

50. Nesse sentido, concordo com entendimento no sentido de que


os marcos da anterioridade nonagesimal, por se tratar de CSLL, já
foram observados a partir de 1988 e posteriormente todas as vezes que
houve alteração do aspecto quantitativo desse tributo. Então, de fato, a
prevalecer a proposição do Relator, estaríamos a aplicar essa limitação
constitucional ao poder de tributar duas vezes. Ao fim, mencionado
expediente terminaria por agravar a situação de desigualdade fiscal e
desequilíbrio concorrencial repudiada em seção acima, de maneira que
peço licença para divergir nesse ponto do Ministro Relator.

51. De todo modo, não me filio neste momento à compreensão de


que diante do princípio da legalidade decisão desta Suprema Corte não
tem o condão de instituir ou majorar tributo, ainda que indiretamente. É
certo que as limitações ao poder de tributar previstas no art. 150 da
Constituição são informadas por matizes de garantismo fiscal em favor
do contribuinte, bem como a vedação dirige-se aos entes federados
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Logo, o comando
proibitivo não se limita ao Legislador. Também é consabido que se tornou

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trivial na hermenêutica jurídica contemporânea a afirmação de que a


prestação da jurisdicional, principalmente a realizada pelo Supremo
Tribunal Federal, possui, em alguma medida, um componente criativo ao
Direito, inovando-o. Do contrário, seria equivocado o raciocínio há pouco
desenvolvido, com amparo nos argumentos de pares deste Colegiado, no
sentido de que a manutenção da eficácia temporal da coisa julgada no
caso dos autos viola diretamente a isonomia tributária, positivada no art.
150, II, da Constituição, pois estamos a falar de decisão judicial, e não de
lei. Na mesma toada, o art. 5º, XXXVI, do texto constitucional, proíbe que
“lei” prejudique a coisa julgada. A despeito da literalidade, aqui se
assumiu que também aos pronunciamentos judiciais também é vedado
retroagir para apanhar os efeitos pretéritos de sentença transitada em
julgado, sem amparo em ação revisional.

52. Em síntese, comprometendo-me a refletir em futuras


oportunidades sobre a correspondência entre decisões em sede de
repercussão geral ou controle abstrato e norma tributária nova, entendo
temerário enunciar abstratamente, inclusive na tese de julgamento, a
indispensabilidade da observância das balizas temporais da
anterioridade de exercício e nonagesimal em situações, em alguma
medida, abrangidas pela descrição do presente tema da repercussão
geral.

53. Ademais, não custa perceber que as decisões tomadas em ações


objetivas e sob o rito da repercussão geral são passíveis de modulação
de efeitos no tempo. Porém, há certa margem de conformação por parte
deste Tribunal para avaliar a melhor solução temporal, caso a caso, nada
impedindo, portanto, que se protraia os efeitos vinculantes do
pronunciamento decisória desta Corte por noventa dias ou para o
exercício financeiro seguinte, se for do entendimento da maioria simples
ou qualificado do colegiado plenário.

54. Noutro giro, no tocante à dimensão processual da regência ao longo do

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tempo desta decisão, o e. Ministro Edson Fachin advogou em prol da


indispensabilidade de atribuir-se eficácia pro futuro à tese fixada no
corrente tema da repercussão geral. Isso porque, no entender do Relator,
se esta Suprema Corte assentar no caso dos autos que é prescindível o
ajuizamento de ação rescisória para a cobrança de tributo antes julgado
inconstitucional, terminará por haver uma alteração da jurisprudência do
Tribunal. Afirmou, a esse respeito, que anteriormente a posição da
Suprema Corte era no sentido de que se fazia necessário o manejo da ação
rescisória para o início da cobrança de exação tributária antes considerada
inconstitucional. Com efeito, uma vez modificada a interpretação e a
aplicação de regra processual, é de todo recomendável a atribuição de
eficácia prospectiva à tese de julgamento a ser aqui firmada,
resguardando-se, portanto, as coisas julgadas formadas previamente a
este julgamento.

55. Uma vez mais, com as mais respeitosas vênias ao Relator, não
comungo da proposição pela imperatividade da modulação na presente
hipótese. Ainda que bastante sensibilizado pela eventual discordância do
entendimento a ser firmado pelo Pretório Excelso em relação ao que
assentado pela 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça ou pelo Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais, as mesmas razões apresentadas pelo
e. Ministro Dias Toffoli para não aplicar o enunciado nº 343 da Súmula do
STF na espécie terminam por impedir que se considere compulsória a
modulação de efeitos, nos termos do art. 927, § 3º, do CPC. Isso porque
não vislumbro alteração de jurisprudência dominante do Supremo
Tribunal Federal na espécie.

56. Na verdade, a meu sentir, afirmar a ocorrência de modificação


do entendimento jurisprudencial contradiz, em certo sentido, todo o
esforço argumentativo feito em nos votos proferidos nas sessões
virtuais para diferenciar o caso dos autos de temas correlatos da
repercussão geral, conforme já tratado ao início desta manifestação. A
propósito, a explícita ressalva da execução de efeitos futuros da sentença

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proferida em caso concreto sobre relações jurídicas de trato continuado à


tese de julgamento firmada no Tema RG nº 733 impede eventual confusão
do jurisdicionado no que diz respeito à existência de jurisprudência
dominante quanto à dispensabilidade ou não do ajuizamento de ação
rescisória na espécie.

57. Igualmente, em controvérsias assemelhadas, sobretudo em


matérias administrativas e previdenciárias, este Supremo Tribunal
Federal deu soluções no mesmo sentido do que agora se propõe, isto é,
pela inexistência de ofensa à garantia da coisa julgada na hipótese de
cessação da força vinculativa das sentenças sobre relações jurídicas de
trato continuado. Confiram-se as ementas dos seguintes julgados
proferidos nos últimos anos a respeito de temas diversos, verbi gratia o
direito ao pagamento de URP na aposentadoria, a incorporação de
parcela de quintos, a exigibilidade de preço público relativo ao uso de
faixa de domínio em rodovia, o direito ao cálculo do adicional por tempo
de serviço com base na remuneração:

“Ementa: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL.


DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI OU
ATO NORMATIVO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
EFEITOS SOBRE SOBRE SENTENÇAS PROFERIDAS ANTES
DO PRONUNCIAMENTO. GARANTIA DA COISA JULGADA.
RELAÇÃO JURÍDICA DE TRATO SUCESSIVO. CESSAÇÃO
DA EFICÁCIA EXECUTIVA DA SENTENÇA TRANSITADA
EM JULGADO, RELATIVAMENTE AOS EFEITOS FUTUROS.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. As relações jurídicas de trato continuado proporcionam
elemento normativo adicional à tensão entre o primado da
Constituição e a garantia individual da coisa julgada, uma vez
que nelas a solução inconstitucional da lide se protrai no tempo
indefinidamente, com severas repercussões não apenas na
higidez do ordenamento jurídico, mas também em outros
direitos fundamentais, como o da isonomia. Há casos em que os
pressupostos fáticos ou jurídicos são alterados após a coisa

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julgada e verifica-se total assincronia entre o momento da


decisão e aquele em que se verifica a declaração de
(in)constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal,
situando-se a relação jurídica de trato sucessivo vinculada à
cláusula rebus sic stantibus, sem que ocorra a vulneração à
coisa julgada. 2. Quando em jogo relações de trato continuado,
a eficácia executiva da decisão do Supremo Tribunal Federal
incide automaticamente sobre os efeitos futuros de
pronunciamentos jurisdicionais anteriores, ainda que
transitados em julgado, independentemente do prévio
ajuizamento de ação rescisória. 3. Essa conclusão é plenamente
adequada à situação dos autos, em que se discute a
exigibilidade de preço público relativo ao uso de faixa de
domínio em rodovia. A natureza continuada da relação é
evidente, de modo que, diante da superveniente decisão do
Supremo que declarou a inconstitucionalidade da pretensão da
concessionária, mostra-se imperiosa a imediata paralisação da
eficácia da sentença transitada em julgado, no que concerne aos
efeitos futuros do pronunciamento. Por conseguinte, as tarifas
vencidas após a publicação da ata de julgamento da ADI 3763 –
13/04/2021 – são inexigíveis, por força da decisão proferida pelo
Plenário do Supremo Tribunal Federal. 4. Agravo regimental
provido para dar parcial provimento ao recurso
extraordinário.”
(ARE nº 1.243.237-AgR/SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA,
Rel. do Acórdão Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, j.
27/04/2022, p. 03/08/2022)

“Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


AGRAVOS REGIMENTAIS EM MANDADO DE
SEGURANÇA. TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.
APOSENTADORIA. EXAME. DECADÊNCIA. NÃO
CONFIGURAÇÃO. DIREITO AO PAGAMENTO DA
UNIDADE DE REFERÊNCIA E PADRÃO – URP DE 26,05%,
INCLUSIVE PARA O FUTURO, RECONHECIDO POR
SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. PERDA DA

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EFICÁCIA VINCULANTE DA DECISÃO JUDICIAL, EM


RAZÃO DA SUPERVENIENTE ALTERAÇÃO DOS
PRESSUPOSTOS FÁTICOS E JURÍDICOS QUE LHE DERAM
SUPORTE. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À GARANTIA DA
COISA JULGADA, DA SEGURANÇA JURÍDICA, DA BOA-FÉ
E DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. DEVOLUÇÃO DAS
VERBAS PERCEBIDAS. IMPOSSIBILIDADE. 1. Nos termos da
jurisprudência do STF, o ato de concessão de aposentadoria é
complexo, aperfeiçoando-se somente após a sua apreciação pelo
Tribunal de Contas da União, sendo, desta forma, inaplicável o
art. 54, da Lei nº 9.784/1999, para os casos em que o TCU
examina a legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma e pensão. 2. Inexiste afronta ao
princípio da separação de poderes quando o TCU não
desconstitui decisão advinda do Poder Judiciário, mas apenas
emite interpretação quanto à modificação das condições fáticas
que justificaram a prolação da sentença, exercendo o seu poder-
dever de fiscalizar a legalidade das concessões. 3. A eficácia
temporal da sentença, cuidando-se de relação jurídica de trato
continuado, circunscreve-se aos pressupostos fáticos e jurídicos
que lhe serviram de fundamento, não se verificando ofensa ao
princípio da coisa julgada quando o TCU verifica mudanças no
conjunto fático que deu suporte à decisão. 4. Não se constata
ofensa aos princípios da segurança jurídica e da boa-fé quando
a alteração do contexto fático implica alteração dos
fundamentos pelos quais o próprio direito se constituiu. 5. Esta
Corte decidiu, quando do julgamento do MS 25.430, que as
verbas recebidas a título de URP, que havia sido incorporado à
remuneração dos servidores e teve sua ilegalidade declarada
pelo Tribunal de Contas da União, até o momento do
julgamento, não terão que ser devolvidas, em função dos
princípios da boa-fé e da segurança jurídica, tendo em conta
expressiva mudança de jurisprudência relativamente à eventual
ofensa à coisa julgada de parcela vencimental incorporada à
remuneração por força de decisão judicial. 6. Agravos
regimentais a que se nega provimento.”

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(MS nº 27.965-AgR/DF, Rel. Min. EDSON FACHIN,


Primeira Turma, j. 15/03/2016, p. 11/04/2016)

“Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


AGRAVO INTERNO NO MANDADO DE SEGURANÇA.
ACÓRDÃO DO TCU. APOSENTADORIA. REGISTRO.
NEGATIVA. INCORPORAÇÃO DE PARCELA DE QUINTOS
COM BASE EM FUNÇÕES EXERCIDAS APÓS O ADVENTO
DA LEI 9.624/1998. DECISÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS EM
CONSONÂNCIA COM A ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL
FIXADA POR ESTA SUPREMA CORTE. PRECEDENTES.
PERDA DA EFICÁCIA VINCULANTE DA DECISÃO
TRANSITADA EM JULGADO. SUPERVENIENTE
ALTERAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS FÁTICOS E JURÍDICOS
QUE LHE DERAM SUPORTE. AUSÊNCIA DE OFENSA À
COISA JULGADA. PRECEDENTES. RECURSO DE AGRAVO A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O ato impugnado nada mais
fez senão observar o entendimento manifestado no julgamento
dos embargos de declaração opostos no RE 638.115 (Rel. Min.
GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 30/6/2017 -
Tema 395 da RG), em que esta CORTE fixou os limites do Tema
395 da RG, fazendo constar que em qualquer hipótese, deve ser
cessado o pagamento dos quintos pelo exercício de função
comissionada no período entre 8.4.1998 até 4.9.2001, seja
decorrente de decisão administrativa ou judicial transitada em
julgado. 2. No julgamento do Tema 733 da RG, esta CORTE
ressalvou, quanto à indispensabilidade da ação rescisória, a
questão relacionada à execução de efeitos futuros da sentença
proferida em caso concreto sobre relações jurídicas de trato
continuado. 3. Inexistente o direito líquido e certo alegado pela
impetrante e consequentemente, não havendo qualquer
comprovação de ilegalidade flagrante, é, portanto, inviável o
mandado de segurança, como ressaltado pelo Ministro CELSO
DE MELLO, a noção de direito líquido e certo, para efeito de
impetração de mandado de segurança, ajusta-se, em seu
específico sentido jurídico, ao conceito de situação que deriva

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de fato incontestável, vale dizer, de fato passível de


comprovação documental imediata e inequívoca (MS 21.865/RJ,
Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno, DJ de 1º/12/2006). 4.
Recurso de agravo a que se nega provimento.”
(MS nº 36.585-AgR/ES, Rel. Min. ALEXANDRE DE
MORAES, Primeira Turma, j. 20/09/2019, p. 14/10/2019)

“Ementa: Direito constitucional e administrativo.


Reclamação. Lei complementar estadual que estabelecia
equiparação remuneratória entre cargos de carreiras distintas.
Não recepção pela EC 19/1998. ADPF 97. 1. Reclamação contra
decisão que determinou o cumprimento de ordem
mandamental proferida em 1994. Tal ordem, já transitada em
julgado, estabelecera equiparação remuneratória entre os cargos
de Delegado de Polícia e Procurador de Estado. 2. No
julgamento da ADPF 97, o Supremo Tribunal Federal afirmou a
não recepção do art. 65 da Lei Complementar nº 22/1994, do
Estado do Pará, no ponto em que vinculou os vencimentos do
Delegados de Polícia aos dos Procuradores do Estado. 3. Coisa
julgada em relações jurídicas de trato continuado. Cláusula
rebus sic stantibus. Salvo expressa modulação de efeitos em
controle concentrado de constitucionalidade, a coisa julgada
sobre relações jurídicas de trato continuado tem a eficácia no
tempo limitada por superveniente alteração do estado de fato
ou de direito em que embasada. Precedentes. 4. No caso
vertente, a eficácia temporal da coisa julgada cessou com a
entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 19/1998, que,
alterando o regime jurídico-administrativo dos servidores
públicos, extinguiu, em caráter nacional, a possibilidade de
equiparação ou vinculação de quaisquer espécies
remuneratórias de pessoal do serviço público (arts. 37, XIII, 39,
§ 1º, 135 e 241 da CF). A decisão na ADPF 97 teve natureza
meramente declaratória da revogação da norma legal, e não
constitutiva. 5. Procedência do pedido.”
(Rcl nº 33.765/PA, Rel. Min. ROSA WEBER, Red. do
Acórdão Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, j.

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 390 de 468

RE 949297 / CE

09/08/2022, p. 04/11/2022)

“Ementa: I - CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


SERVIDOR PÚBLICO. APOSENTADORIA DECLARADA
ILEGAL PELO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.
CÁLCULO DO ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO COM
BASE NA REMUNERAÇÃO. DIREITO RECONHECIDO POR
DECISÃO JUDICIAL COM TRÂNSITO EM JULGADO.
SUPERVENIÊNCIA DE NOVO REGIME JURÍDICO. PERDA
DA EFICÁCIA VINCULANTE DA DECISÃO JUDICIAL, EM
RAZÃO DA ALTERAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS FÁTICOS E
JURÍDICOS QUE LHE DERAM SUPORTE. SUBMISSÃO À
CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS. INEXISTÊNCIA DE
OFENSA À GARANTIA DA COISA JULGADA. NÃO
COMPROVAÇÃO DE VIOLAÇÃO À IRREDUTIBILIDADE
DOS VENCIMENTOS. AGRAVO REGIMENTAL DA
IMPETRANTE NÃO PROVIDO. 1. Ao pronunciar juízos de
certeza sobre a existência, a inexistência ou o modo de ser das
relações jurídicas, a sentença leva em consideração as
circunstâncias de fato e de direito que se apresentam no
momento da sua prolação. Tratando-se de relação jurídica de
trato continuado, a eficácia temporal da sentença permanece
enquanto se mantiverem inalterados esses pressupostos fáticos
e jurídicos que lhe serviram de suporte (cláusula rebus sic
stantibus). Assim, não atenta contra a coisa julgada a
superveniente alteração do estado de direito, em que a nova
norma jurídica tem eficácia ex nunc, sem efeitos retroativos. 2.
No caso, com o advento da Lei 8.112/1990, houve perda da
eficácia vinculativa da sentença proferida nos autos da Ação
Ordinária 9248005, não mais subsistindo o direito da
impetrante ao cálculo do adicional por tempo de serviço com
base em sua remuneração, não se caracterizando qualquer
inconstitucionalidade no Acórdão TCU 3.370/2006-2ª Câmara,
especialmente no que diz respeito à garantia da coisa julgada. 3.
Não há elementos probatórios suficientes que demonstrem ter
havido, com a nova forma de cálculo do adicional por tempo de

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serviço, desrespeito ao princípio constitucional da


irredutibilidade dos vencimentos. 4. Agravo regimental da
impetrante a que se nega provimento. II – CONSTITUCIONAL
E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO.
APOSENTADORIA DECLARADA ILEGAL PELO TRIBUNAL
DE CONTAS DA UNIÃO. NEGATIVA DE REGISTRO. BOA-FÉ
DO SERVIDOR. DEVOLUÇÃO DOS VALORES
INDEVIDAMENTE RECEBIDOS. TERMO INICIAL. DATA DA
CIÊNCIA DA DECISÃO DO ÓRGÃO DE CONTAS. AGRAVO
REGIMENTAL DA UNIÃO PROVIDO. 1. Havendo boa-fé do
servidor público que recebe valores indevidos a título de
aposentadoria, o termo inicial para devolução dos valores deve
corresponder à data em que teve conhecimento do ato que
considerou ilegal a concessão de sua aposentadoria. 2. Agravo
regimental da União provido.”
(MS nº 26.980-AgR/DF, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI,
Segunda Turma, j. 22/04/2014, p. 08/05/2014)

58. Sendo assim, também na atribuição de eficácia prospectiva à


tese de julgamento a ser firmada em sede de repercussão geral, rogo
respeitosamente vênia para divergir do Ministro Relator.

IV. Resolução do caso concreto

59. Ao aplicar a posição jurídica deste voto-vogal ao caso concreto,


sem maiores dúvidas, entendo por acompanhar o Ministro Relator na
resolução do libelo, isto é, no sentido de reformar o entendimento
externado no acórdão recorrido.

60. Na origem, cuida-se de mandado de segurança preventivo


impetrado pela parte ora recorrida contra ato agente da Receita Federal
em Fortaleza/CE com o fito de não se ver submetido a autos de infração
pela autoridade coatora relacionados à exigibilidade de CSLL. Segundo o
impetrante, a sentença transitada em julgado originada do MS 127, de
1989, garante-lhe o direito de não contribuir com referido tributo,

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 392 de 468

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enquanto este for baseado na Lei nº 7.689, de 1988, sob pena de infringir a
direito fundamental da coisa julgada.

61. Em síntese, mostra-se escorreita a conclusão do Relator no


sentido de que “a coisa julgada material formada no processo 127/1989, aviado
na Seção Judiciária do Estado do Ceará, teve sua eficácia temporal limitada ao
advento da publicação da ata de julgamento da ADI indigitada [nº 15], nos
termos do art. 28 da Lei 9.868/1999”. Assim, considerando que se trata de
mandamus de natureza preventiva e que o contribuinte teve e tem em seu
favor tutela provisória durante praticamente todo o lapso de tramitação
deste feito, deve-se adotar como marco temporal justamente a publicação
da ata de julgamento da ADI nº 15/DF, nos termos da jurisprudência
consolidada deste Supremo Tribunal Federal do art. 28 da Lei nº 9.868, de
1999.

V. Dispositivo

62. Pelo exposto, acompanho o Relator no sentido de conhecer e, no


mérito, dar provimento ao recurso extraordinário, para denegar a ordem
mandamental, nos termos da sentença proferida nos autos pela 4ª Vara
Federal da Seção Judiciária do Estado do Ceará.

63. Na tese de julgamento, acompanho, em parte, a formulação


proposta pelo e. Ministro Luís Roberto Barroso no Plenário Virtual,
divergindo quanto à anterioridade, em moldes semelhantes ao que
apresentados pelo Ministro Gilmar Mendes no mesmo ambiente
decisório.

64. Portanto, subscrevo in totum o item 1 e apenas a primeira parte


do item 2, nos seguintes termos:

“1. As decisões do STF em controle incidental de


constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa

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julgada que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas


tributárias de trato sucessivo.
2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em sede de
repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos
temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitada a irretroatividade.

65. Do mesmo modo, deixo de anuir à proposta de modulação de


efeitos elaborada pelo eminente Ministro Relator no sentido de atribuir
eficácia prospectiva ou pro futuro à presente decisão.

É como voto.

Ministro ANDRÉ MENDONÇA

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297


PROCED. : CEARÁ
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. ROBERTO BARROSO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL (00000/DF)
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA (41728/SP)
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO (18287/BA, 01449/A/DF,
161891/RJ, 113570/SP)
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO (234916/SP)
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SAO PAULO -
FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA (90389/SP) E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS (188415/SP)
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL -
CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR (0016275/DF)
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS QUIMICOS PARA
FINS INDUSTRIAIS, PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL (6558/DF)
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO (20720/DF, 291776/SP)
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO (15317/DF)

Decisão: Após o voto do Ministro Edson Fachin (Relator), que


conhecia do recurso extraordinário a que se dava provimento para
reformar o acórdão recorrido, com a denegação da ordem
mandamental, condenava a parte recorrida ao pagamento das despesas
processuais da parte recorrente, conforme os arts. 82, § 2º, e 84
do CPC, ficando a parte vencida exonerada do pagamento de
honorários advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF, modulava
os efeitos temporais da decisão para que tenha eficácia pró-futuro
a partir da publicação da ata de julgamento deste acórdão,
considerando o período de anterioridade nonagesimal, nos casos de
restabelecimento de incidência de contribuições sociais, e de
anterioridade anual e nonagesimal, para o restabelecimento da
incidência das demais espécies tributárias, ressalvadas as
exceções previstas na Constituição, e, ao final, propunha a
fixação da seguinte tese de repercussão geral (tema 881): “A
eficácia temporal de coisa julgada material derivada de relação
tributária de trato continuado possui condição resolutiva que se
implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento
realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a

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noventena ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie


tributária em questão”, no que foi acompanhado pela Ministra Rosa
Weber; do voto do Ministro Roberto Barroso, que acompanhava o
Relator, mas propunha a fixação de tese diversa, no seguinte
sentido: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em
sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos
temporais das sentenças transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”; do voto do Ministro Dias Toffoli, que acompanhava o
Relator quanto ao provimento do recurso e à proposta de modulação
de efeitos da decisão, mas fazia ressalvas quanto à tese de
repercussão geral proposta pelo Relator, acompanhando, nesse
ponto, o Ministro Roberto Barroso; e do voto do Ministro Gilmar
Mendes, que dava provimento ao recurso extraordinário para
assentar que, em se tratando de relação jurídica de trato
sucessivo, a superveniência de interpretação do Plenário do STF,
em sede de controle concentrado ou difuso de constitucionalidade,
divergente com a exegese transitada em julgado em demanda
individual ou coletiva, faz cessar a ultratividade da eficácia
preclusiva da coisa julgada formal e material em relação aos
efeitos futuros de atos pretéritos, além dos atos futuros,
restabelecendo, no caso concreto, a sentença, e, ainda, sugeria as
seguintes teses de repercussão geral: “1) em se tratando de
efeitos pretéritos ou pendentes de atos passados, quando se tratar
de relação jurídica de trato sucessivo, é cabível ação rescisória
ou alegação de inexigibilidade do título executivo judicial quando
este contrariar a exegese conferida pelo Plenário da Suprema
Corte, tal como assentado na ADI 2.418, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 17.11.2016; no RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 9.9.2015 (tema 733 da RG); e no RE 611.503, Redator p/
acórdão Min. Edson Fachin, Pleno, DJe 10.3.2019 (tema 360 da RG),
além do disposto nos §§ 7º e 8º do art. 535 do CPC; e 2) quanto
aos efeitos futuros de atos passados, bem ainda de atos futuros,
ambos submetidos à relação jurídica de trato continuado, cessa a
ultratividade de título judicial fundado em ‘aplicação ou
interpretação tida como incompatível com a Constituição’, na
situação em que o pronunciamento jurisdicional for contrário ao
decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, seja no
controle difuso, seja no controle concentrado de
constitucionalidade, independentemente de ação rescisória ou
qualquer outra demanda, diante da cláusula rebus sic stantibus, na
linha do que assentado no RE 596.663, Redator p/ acórdão Min.
Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 26.11.2014 (tema 494 da RG)”,
pediu vista dos autos o Ministro Alexandre de Moraes. Falaram:

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pela recorrente, o Dr. Claudio Xavier Seefelder Filho, Procurador


da Fazenda Nacional; pela recorrida, a Dra. Glaucia Maria Lauletta
Frascino; pelo amicus curiae Sindicato das Indústrias de Produtos
Químicos para Fins Industriais, Petroquímicas e de Resinas
Sintéticas de Camaçari, Candeias e Dias D’ávila – SINPEQ, a Dra.
Fernanda Donnabella Camano de Souza; pelo amicus curiae Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, o Dr. Luiz
Gustavo A. S. Bichara; e, pelo amicus curiae Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, a Dra. Misabel de Abreu
Machado Derzi. Plenário, Sessão Virtual de 6.5.2022 a 13.5.2022.

Decisão: Após o voto-vista do Ministro Alexandre de Moraes,


que acompanhava o voto do Relator para dar provimento ao recurso
extraordinário, e reformar o acórdão recorrido, de forma a denegar
a segurança, aderindo à tese e à modulação propostas, pediu vista
dos autos o Ministro Gilmar Mendes. Plenário, Sessão Virtual de
30.9.2022 a 7.10.2022.

Decisão: Após o voto reajustado do Ministro Edson Fachin


(Relator), no sentido de conhecer do recurso extraordinário,
provendo-o para reformar o acórdão recorrido, com a denegação da
ordem mandamental, condenando a parte recorrida ao pagamento das
despesas processuais da parte recorrente, conforme os arts. 82, §
2º, e 84 do CPC, ficando a parte vencida exonerada do pagamento de
honorários advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF, e
propondo a fixação da seguinte tese de repercussão geral (tema
881): “A eficácia temporal de coisa julgada material derivada de
relação tributária de trato continuado possui condição resolutiva
que se implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento
realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a
noventena ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie
tributária em questão”, no que foi acompanhado pelos Ministros
Rosa Weber (Presidente), Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia; do
voto do Ministro Roberto Barroso, que acompanhava o Relator, dando
provimento ao recurso extraordinário da União, para reconhecer a
constitucionalidade da interrupção dos efeitos futuros da coisa
julgada em relações jurídicas tributárias de trato sucessivo,
quando esta Corte se manifestar em sentido contrário em controle
concentrado, mas propunha fixação de tese diversa, no seguinte
sentido: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em
sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 397 de 468

temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas


relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”; do voto do Ministro Dias Toffoli, que acompanhava, com
ressalvas, o Ministro Relator, dando provimento ao recurso
extraordinário, mas, em relação à tese de repercussão geral,
acompanhava o Ministro Roberto Barroso; e do voto reajustado do
Ministro Gilmar Mendes, que acompanhava, com ressalvas, o Relator,
dele divergindo apenas em relação à aplicação dos princípios das
anterioridades (anual e/ou nonagesimal), e, quanto à tese de
repercussão geral proposta pelo Relator, entendia que as teses de
julgamento dos temas n. 881 e n. 885 deveriam ser uniformes, para
garantir segurança jurídica e evitar interpretações divergentes
quanto ao tema de fundo. Assim, propunha, com as ressalvas e
divergência pontuadas no RE 955.227, que seja aprovada a tese do
Ministro Roberto Barroso constante desse recurso extraordinário.
No entanto, ressalvava seu entendimento pessoal para acompanhar o
item 1, qual seja, “1. As decisões do STF em controle incidental
de constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo.”, e divergir pontualmente do item 2 (“2. Já as
decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral
interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões
transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a
anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo.”), por
entender desnecessária a aplicação dos princípios da anterioridade
anual e da noventena, o processo foi destacado pelo Ministro
Relator. Plenário, Sessão Virtual de 18.11.2022 a 25.11.2022.

Decisão: Após a leitura do relatório e a realização das


sustentações orais, o julgamento foi suspenso. Falaram: pela
recorrente, o Dr. Claudio Xavier Seefelder Filho, Procurador da
Fazenda Nacional; pela recorrida, a Dra. Glaucia Maria Lauletta
Frascino; pelo amicus curiae Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo – FIESP, a Dra. Mizabel de Abreu Machado Derzi; pelo
amicus curiae Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil –
CFOAB, o Dr. Luiz Gustavo Antônio Silva Bichara; e, pelo amicus
curiae Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para fins
Industriais, Petroquímicas e de Resinas Sintéticas de Camaçari,
Candeias e Dias D´ávila – SINPEQ, a Dra. Fernanda Donnabella
Camano de Souza. Ausente, justificadamente, o Ministro Ricardo
Lewandowski. Presidência da Ministra Rosa Weber. Plenário,
1º.2.2023.

Decisão: Após o voto do Ministro Edson Fachin (Relator), que


conhecia do recurso extraordinário e dava-lhe provimento, no que
foi acompanhado pelos Ministros Roberto Barroso, Gilmar Mendes,

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 398 de 468

André Mendonça, Nunes Marques, Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Dias


Toffoli e Cármen Lúcia, com divergências no tocante à modulação
dos efeitos da decisão e à aplicação dos princípios das
anterioridades (anual e nonagesimal), o julgamento foi suspenso.
Ausente, justificadamente, o Ministro Ricardo Lewandowski.
Presidência da Ministra Rosa Weber. Plenário, 2.2.2023.

Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. Presentes à sessão


os Senhores Ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Dias Toffoli,
Luiz Fux, Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes,
Nunes Marques e André Mendonça.

Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Ricardo


Lewandowski.

Vice-Procuradora-Geral da República, Dra. Lindôra Maria


Araújo.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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Esclarecimento

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08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ESCLARECIMENTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhora Presidente, egrégia


Corte, ilustre Representante do Ministério Público, saúdo a todos também
na pessoa do nosso Decano, que acaba de chegar.
Senhora Presidente, naquela oportunidade, em julgamento muito
célere, não pude chamar a atenção para algo que me preocupa
muitíssimo. A questão não é financeira. Alegar que essa decisão é pró e
contra o contribuinte e que isso dá no mesmo, não dá no mesmo.
Sabemos que, quando é contra a Fazenda, a Fazenda deve sofrer uma
ação de repetição de indébito e o quantum debeatur fica relegado para um
pagamento de precatório, que não se sabe quando advirá.
A questão aqui é o posicionamento do Supremo Tribunal Federal em
relação a uma das garantias constitucionais, a uma cláusula pétrea: da
defesa da coisa julgada.
Na psicanálise diz-se que, quando uma mãe fala para o filho alguma
coisa, aquilo fica dentro da cabeça. Também, às vezes, alguns autores
falam coisas que ficam na nossa mente. O Professor Barbosa Moreira
afirmava que, nos umbrais da catedral do Direito, no altar-mor, fica a
coisa julgada.
O que ocorreu aqui? Pela vez primeira, estamos dando uma
interpretação de que, declarada a inconstitucionalidade, ela tem efeito
retro-operante para rescindir coisas julgadas.
Essa tese é aplicável a todos os tributos, a todas as ações. Mas o mais
importante é que essa tese está sendo discutida pela primeira vez, aqui,
no Supremo Tribunal Federal, nos autos deste recurso. Por isso
acompanhei Sua Excelência, o Ministro Edson Fachin. Fiz algumas
anotações.
Em primeiro lugar, não tive a oportunidade e peço vênia ao
Colegiado para fazer isso, porque, depois desse julgado, a Instituição
sofreu severas críticas. Não me impressiono com crítica de caráter

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Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 400 de 468

RE 949297 / CE

financeiro. Impressiona-me que o Supremo Tribunal Federal, guardião da


Constituição, tenha relegado, a um segundo plano, a coisa julgada - e isso
tem sido respeitado aqui até com uma certa sacralidade, diante de vários
acórdãos do Ministro Celso de Mello.
Por outro lado, também aqui se esclareceu que o STJ tinha recurso
repetitivo sobre o tema e havia divergência jurisprudencial. Isso já era o
bastante para que uns cumprissem e outros não cumprissem. Temos
vários casos - é da vida fenomênica, de pessoas que pagaram e, depois, o
tributo veio a ser declarado inconstitucional, e pessoas que não
acreditaram na constitucionalidade de um determinado tributo e não
pagaram. Isso é da vida fenomênica do Direito. A Justiça existe porque
não há cumprimento espontâneo do Direito, daí a necessidade de
intervenção judicial.
Anotei, Senhora Presidente, se Vossa Excelência me permite e o
Colegiado também, que, de fato, em 2007, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal declarou a constitucionalidade da CSLL, no bojo da ADI
15. Na verdade, ele julgou improcedente uma ação declaratória de
inconstitucionalidade. Se aquela lei tiver outros defeitos, nada impede
que se volte com uma outra declaração. O Supremo não declarou
constitucional; o Supremo negou provimento a uma demanda que visava
à declaração de inconstitucionalidade. Já ouvi aqui que isso não é de
dupla face. O fato de declarar improcedente essa ação de
inconstitucionalidade não significa necessariamente que declarou a
constitucionalidade.
De toda maneira, naquela ADI 15, nada foi dito quanto à
manutenção da coisa julgada, formada em favor de determinados
contribuintes - somente agora, dezesseis anos depois. Acho belíssimas as
teses tributárias, belíssimas as homenagens que se fazem, mas temos de
ter em mente as consequências jurídicas da nossa decisão, os riscos
sistêmicos, o abalo que se cria em relação ao risco Brasil. Prenunciar que,
no Brasil, a coisa julgada pode ser desfeita a qualquer tempo conjura o
Brasil de um país considerado de uma justiça eficiente a fazer parte do
ranking Doing Business, do Banco Mundial.

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RE 949297 / CE

Naquela ocasião, nada disso foi decidido, que o precedente teria


efeito retro-operante. Só dezesseis anos depois é que o Supremo Tribunal
Federal decide isso e retira a higidez da coisa julgada.
Por outro lado, essa guinada jurisprudencial, neste momento, quanto
às relações jurídicas tributárias, torna imprescindível, no meu modo de
ver, conforme o voto de Sua Excelência o Ministro Edson Fachin, a
modulação, porque estamos alterando algo que nunca foi decidido.
Nunca decidimos que poderia haver o efeito retro-operante da declaração
de inconstitucionalidade, inclusive sem necessidade de demanda judicial
para esse fim.
Isso só veio a ser suscitado em 2015/2016, quando o Código
mencionou, no dispositivo, que a declaração de inconstitucionalidade
permitiria a propositura de ação rescisória.
Contudo, qual era a exegese - estou falando porque estou falando em
defesa daquilo que se debateu na Comissão -? A ideia era que, se no
período bienal adviesse uma declaração de inconstitucionalidade, seria
legítimo propor ação rescisória, mas não que, surgindo uma declaração
de inconstitucionalidade dezesseis anos depois, poder-se-ia romper com a
coisa julgada.
Por outro lado, além das advertências da Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro, que determina que tenhamos cuidado com
os riscos - e esse risco da coisa julgada é importante -, relembro que a lei
que regula o controle concentrado de constitucionalidade foi modificada
para estabelecer que as medidas de tutela antecipada tivessem efeitos ex
nunc.
Por que ela foi modificada? Foi modificada por uma questão de
segurança jurídica. Se a tutela antecipada tem efeitos ex nunc, por que a
sentença vai ter efeito retro-operante?
Queria dizer que rendo homenagens às teses acadêmicas, às
sustentações orais, aos livros lançados, mas minha preocupação maior
está com a reputação da Corte como guardiã dos direitos fundamentais e
das cláusulas pétreas, dentre as quais a coisa julgada. Foi a primeira vez
que se debateu este tema, daí, no meu modo de ver, com a devida vênia, o

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RE 949297 / CE

acerto do voto do Ministro Edson Fachin.


Entretanto, colhi aqui, rapidamente, uma boa doutrina, onde, nos
casos de inexigibilidade da obrigação por força do surgimento da
declaração de inconstitucionalidade, a regra foi inicialmente introduzida
no CPC de 1973, por meio de medida provisória imposta no parágrafo
único do art. 741, que teve por objetivo permitir que a União rediscutisse
condições anteriormente sofridas.
O preceito merece séria atenção - isso é a voz da doutrina
processualista - à vista do risco que pode trazer para a coisa julgada,
elemento indissociável do Estado contemporâneo, que se pode trazer
para a coisa julgada, que é o elemento do Estado Democrático de Direito.
Lembre-se, nesse trecho, Rosenberg-Schwab-Gottwald, do Direito alemão
- e nós somos de origem romano-germânica -, em obra denominada
"Zivilproßrecht", página 915, que afirmam expressamente:

"A coisa julgada material é uma consequência necessária


do direito à proteção legal pelos tribunais. Sua ancoragem
constitucional é encontrada no princípio do Estado de Direito."

Por outro lado, sofremos a influência da Constituição portuguesa


nesse particular, só que a Constituição portuguesa previu a possibilidade
de o Tribunal, em matéria penal, dar o efeito retro-operante, mas assim o
fazendo expressamente.
Em nome da proteção da coisa julgada, valor caríssimo para a
Suprema Corte, acompanhei integralmente o voto do Ministro Edson
Fachin. Como o Ministro Ricardo Lewandowski não participou, Vossa
Excelência também me permite fazer essa introdução, exatamente porque
nunca tínhamos debatido a possibilidade de dar efeito retro-operante a
um precedente que trata de matéria que nunca foi debatida, destruindo a
coisa julgada.
Repito: isso se aplica genericamente a todos os tributos, a todas as
decisões que o Supremo Tribunal Federal pronunciou. Suponhamos que
adviesse uma lei sobre responsabilidade civil e, posteriormente, se
discutisse isso, ainda que para o futuro, viria a pretensão de

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Supremo Tribunal Federal
Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 403 de 468

RE 949297 / CE

desconstituição da coisa julgada tributária.


Na verdade, esse é um pseudoproblema, porque a nossa Corte já tem
uma súmula dizendo que a coisa julgada não impede que, no exercício
seguinte, respeitada a nulidade e a anterioridade nonagesimal, surja uma
lei criando outro tributo.
A ratio essendi da nossa súmula é esta: não faz coisa julgada porque,
respeitada a nulidade, uma outra lei pode criar, mas é dali para frente. O
Direito brasileiro é tão preocupado com os efeitos retro-operantes que a
lei não pode retroagir para atingir direitos adquiridos, ato jurídico
perfeito e coisa julgada. Se o precedente tem força de lei, ele também não
pode retroagir para atingir direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa
julgada.
Eu queria, sem prejuízo de louvar os livros e teses acadêmicas,
demonstrar a minha maior preocupação não só com, digamos assim, a
atuação científico-acadêmica, mas também com o Supremo Tribunal
Federal e o valor da coisa julgada consagrado constitucionalmente.
Não tive a oportunidade e a estou aproveitando agora porque sei
que ainda faltam os votos de alguns Colegas, que poderão,
eventualmente, sopesar. Se assim não o fizerem, fica a minha visão sobre
o tema.

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Confirmação de Voto

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08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

CONFIRMAÇÃO DE VOTO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Presidente,


ouvi com atenção e interesse a exposição do Ministro Luiz Fux. Na
verdade, é uma visão do problema, que Sua Excelência expôs com a
competência e o brilho de sempre, tal como os ilustres advogados da
tribuna também o fizeram.
Apenas gostaria de registrar que, na minha visão, não estamos
lidando sequer com o problema de relativização da coisa julgada.
Estamos apenas demarcando temporalmente os efeitos da coisa julgada
em relações de trato continuado. Já tínhamos precedentes do Supremo -
não específicos em matéria tributária, devo reconhecer - que, no entanto,
deixavam claro que a coisa julgada, em relações de trato continuado,
cessava no momento em que se alterassem as condições de fato ou de
direito.
Portanto, sequer entendo que estamos lidando com modulação,
porque a modulação, na verdade - e o Ministro Gilmar participou da
elaboração da lei -, significa você determinar que os efeitos de uma
decisão se produzirão em momento diverso daquele que naturalmente
deveria produzir. A posição que sustentei, e teve a adesão da maioria, é a
de que esses efeitos naturalmente deveriam produzir-se a partir de 2007.
Logo, não há aqui, a meu ver, sequer modulação e, menos ainda,
relativização da coisa julgada.
A posição que defendi, acompanhada pelos eminentes Colegas que
assim também entenderam, é que, a partir de 2007, quando o Supremo
Tribunal Federal, em decisão colegiada do Plenário em ação direta,
estabeleceu que era constitucional a cobrança daquele tributo, cessaram-
se os efeitos da coisa julgada que até então vigorava, e, pelo princípio da
isonomia, aquela cobrança se aplicaria indistintamente a todos os
contribuintes.
De modo que, entendendo e respeitando as razões do Ministro Fux,

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Confirmação de Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 405 de 468

RE 949297 / CE

compreendo que não há aqui nenhum grau de relativização da coisa


julgada, apenas uma aplicação do entendimento, que me parece ser
consensual no Tribunal, de que, a partir do momento em que o Supremo
declara constitucional uma cobrança, ela deve ser feita em relação a todas
as pessoas e a todos os contribuintes.
Muito obrigado, Presidente!

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Confirmação de Voto

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08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

CONFIRMAÇÃO DE VOTO
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Presidente,
cumprimento Vossa Excelência, a eminente Ministra Cármen Lúcia e os
eminentes Pares.
São duas breves observações que faço, levando em conta,
especialmente, ser Relator do segundo Recurso Extraordinário, o 949.297.
A primeira é para enaltecer a ilustre Advogada que, na tribuna
virtual, no julgamento da semana anterior, fez uma observação correta,
retificando uma informação de fato, o que enaltece a importância da
advocacia, atenta e participante, no julgamento.
Eu houvera dito, e reitero, que ambos os mandados de segurança aos
quais me referi são preventivos. Mas rerratifico que ambos foram
interpostos antes de 2007. Portanto, antes de 2007, há, no primeiro
mandado de segurança, coisa julgada. Antes do julgamento pelo
Supremo da ADI 15, de 2007, precisamente em 23/04/2001, foi interposto o
segundo mandado de segurança, que obteve proteção até este momento,
porque é o recurso extraordinário desse mandado de segurança que aqui
estamos a julgar. Logo, a informação temporal adequada, e por isso
enalteço a intervenção da ilustre Advogada, é precisamente esta: ambos
os mandados de segurança são preventivos, inclusive no sentido de terem
sido prévios ao julgamento em 2007.
E a segunda e última - também serei breve, Senhora Presidente -,
com todas as vênias da compreensão em sentido diverso, é para
subscrever por inteiro todas as palavras que o eminente Ministro Luiz
Fux acaba de dizer, que de algum modo, em alguma medida, vão ao
encontro do que Sua Excelência o Ministro Roberto Barroso acabou de
mencionar. Sua Excelência está se referindo à cessação da eficácia da coisa
julgada. Se nós não modularmos, estaremos criando uma rescisória
universal infinita retroativamente e gerando uma imensa insegurança
jurídica.
Por isso, peço licença para manter o voto, a que o Ministro Luiz Fux

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Confirmação de Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 407 de 468

RE 949297 / CE

vem de acrescer judiciosas razões.


Muito obrigado, Presidente.

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Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 408 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Boa tarde,


Senhora Presidente! Em sua pessoa, cumprimento a todos os demais
presentes.
Inicialmente, gostaria de tomar a liberdade - ao contrário do que
faço, sou muito parcimonioso em minhas manifestações extra-autos - de
manifestar minha profunda solidariedade aos povos da Turquia e da
Síria, que foram profundamente afetados em suas vidas cotidianas pelo
terremoto desses últimos dias. Onze mil vidas se perderam e muitas
outras, possivelmente, se perderão, o que é um número absolutamente
impressionante.
Venho aqui, Senhora Presidente, impactado pelas cenas que vi agora,
na televisão, de uma criança recém-nascida sendo tirada dos escombros
ainda com cordão umbilical, tendo perdido seus pais; outra cena
extremamente comovente de uma menina protegendo o irmãozinho com
seus braços, depois de ficar soterrada dezessete horas sob os escombros;
também de um pai segurando a mãozinha da filha morta, aguardando
socorro; enfim, cenas comoventes e impactantes. Não poderia ficar silente
e gostaria de manifestar comovida solidariedade a esses povos tão
antigos e tão atingidos pelas mais distintas e diversas calamidades,
inclusive guerras regionais.
É a minha primeira manifestação, Senhora Presidente, antes de
iniciar meu brevíssimo voto.
Estudei a matéria, embora não tenha podido estar aqui na última
assentada, porque estive em um evento acadêmico no exterior.
Senhora Presidente, farei brevíssima considerações, de forma
rapidíssima. Começo dizendo que a decisão do Supremo Tribunal Federal
que, possivelmente, poderá flexibilizar a coisa julgada - esta é a expressão
que me parece mais adequada, embora estejamos, como disse o Ministro
Barroso, cuidando de prestação de trato sucessivo -, e nesse sentido, no

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Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 409 de 468

RE 949297 / CE

sentido da flexibilização, poderá impactar diretamente, em diversos


graus, inúmeras atividades, empreendimentos econômicos, acarretando
consequências para a sociedade como um todo, que será direta ou
indiretamente afetada por essa nossa decisão.
Vejo agora, na mesma linha que vou expressar, que o Supremo
Tribunal Federal nunca verticalizou a discussão sobre a imutabilidade da
coisa julgada tributária, mesmo nas relações de trato sucessivo, no caso de
mudança posterior na compreensão da Corte em relação a entendimento
sedimentado acerca da coisa julgada.
Mesmo no julgamento da ADI 15, que proclamou a
constitucionalidade do tributo sobre o qual já havia entendimento
consolidado pela inconstitucionalidade, essa explicitação não ocorreu. Em
nenhum momento se colocou o afastamento da coisa julgada como parte
dos efeitos da decisão tomada em ação de controle abstrato de
constitucionalidade.
Penso, Senhora Presidente, que não é possível agora exigir
abruptamente esse entendimento por parte dos contribuintes. Só agora,
em 2023, é que se quer discutir o alcance da coisa julgada nas decisões
proferidas em sede de ação direta de controle de constitucionalidade e em
repercussão geral. Salvo engano, estou aqui há quinze anos, é a primeira
vez que isso ocorre.
Parte dos votos proferidos, como vimos, quer implantar esse novo
entendimento que, a meu ver, com a devida vênia, flexibiliza, sim, a coisa
julgada ou pelo menos inova quanto aos efeitos da coisa julgada no que
tange às prestações de trato sucessivo, inclusive para alcançar a decisão
proferida na ADI 15, publicada em 31 de agosto de 2007, como se a
inovação houvesse ocorrido naquele julgamento, e não agora, conforme
efetivamente ocorre. A decisão da ADI 15, porém, a toda evidência, pelo
menos na minha compreensão, ficou no passado, não sendo possível
ignorar esse dado da realidade.
O entendimento dos contribuintes sobre os efeitos limitados da ADI
15, ou seja, preservando a coisa julgada, encontra amparo em inúmeras
decisões do Superior Tribunal de Justiça, como agora evidenciou o

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 410 de 468

RE 949297 / CE

Ministro Luiz Fux, sobretudo no REsp 1.118.893, com efeitos repetitivos,


de relatoria do Ministro Arnaldo Esteves Lima, cujo acórdão foi proferido
no dia 23 de março de 2011. O não recolhimento dos tributos por parte
dos contribuintes tinha fundamento constitucional. Baseava-se no
controle difuso, na coisa julgada e no entendimento pacífico de que a res
judicata era soberana e imutável.
Não é possível, penso eu, agora, Senhora Presidente, exigir-se que o
contribuinte proceda a recolhimentos retroativos, sob pena, a meu juízo,
de clara ofensa aos princípios da segurança jurídica e da proteção da
legítima confiança. Portanto, acompanhando in totum o voto do eminente
Ministro Fachin:
“Eu concluo no sentido de que a publicação da ata de julgamento em
controle concentrado ou em repercussão geral equivale ao primeiro dia
de vigência da nova norma, que deverá produzir efeitos somente após os
referidos períodos consectários das regras da anterioridade de acordo
com a espécie tributária em questão.”

Estou citando a conclusão do eminente Ministro Edson Fachin, ou


seja, nego provimento ao RE 955.227/BA e dou provimento ao RE
949.297/CE, concluindo pela eficácia prospectiva dos efeitos desta decisão
a partir da publicação da ata de julgamento, enfim, em que ocorreram.
É o meu voto, Senhora Presidente.

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 411 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE
SAO PAULO - FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS
QUIMICOS PARA FINS INDUSTRIAIS,
PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE
CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO

OBSERVAÇÃO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:


Senhora Presidente, cumprimento Vossa Excelência, a eminente
Ministra Cármen Lúcia, os eminentes Colegas, o Senhor Procurador-
Geral da República, as Senhoras e os Senhores Advogados, o Senhor
Advogado-Geral da União, Jorge Messias, as Senhoras e os Senhores
Servidores, a Imprensa e todos que nos acompanham.
Senhora Presidente, acabei até me atrasando porque, realmente, eu

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Supremo Tribunal Federal
Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 412 de 468

RE 949297 / CE

estava estudando o tema e, de meu gabinete, acompanhei as


manifestações iniciais do Ministro Luiz Fux ao apregoar-se a retomada e
a continuidade deste julgamento, e também a manifestação do Ministro
Luís Roberto Barroso, Relator, junto com o Ministro Edson Fachin, que é
Relator de outro processo. Agora, após o voto de meu professor, o
Ministro Ricardo Lewandowski, eu gostaria de retificar meu voto e dele
fazer a leitura.

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Aditamento ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 413 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ADITAMENTO AO VOTO
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Presidente, realmente,
devo dizer que tenho alguma perplexidade, porque, de fato, a meu ver, a
não ser que eu esteja estudando em outro planeta - nenhuma novidade no
que nós estamos discutindo, a rigor, a partir do caso, que já foi citado, do
Ministro Teori Zavascki, quando disse que ressalva-se desse
entendimento, quanto à indispensabilidade da ação rescisória, a questão
relacionada à execução de efeitos futuros da sentença proferida em caso
concreto sobre relações jurídicas de trato continuado.
Aqui é o velho problema, inclusive, estudamos em matéria
tributária: a cobrança de um tributo no tempo. Não faz sentido sequer
cogitar de uma lei, como fez o Ministro Fux, porque se retirada a decisão
do ordenamento jurídico, como fez o Supremo Tribunal Federal, a partir
de 2007, tollitur quaestio, a questão está totalmente resolvida.
Eu chamo a atenção, inclusive, para um precedente da relatoria da
Ministra Cármen Lúcia, na ADPF 101:
"Efeitos cessados de decisões judiciais pretéritas, com
indeterminação temporal quanto à autorização concedida para
importação de pneus: proibição a partir deste julgamento por submissão
ao que decidido nesta arguição."

E temos, então, inúmeros precedentes que, como disse o Ministro


Barroso, na assentada anterior, não diferem da matéria tributária, ou de
outras matérias de trato continuado.
Eu só gostaria de lembrar, também, que este Tribunal já declarou
constitucional o art. 741, parágrafo único, do CPC de 73, e o §5º do art.
535 do CPC de 2015, que foram julgados constitucionais na ADI 2.418.
Isso não abrangeria a relação tributária?
Eu acho até interessante quando vejo o debate em nome da
segurança jurídica. Nada produz mais segurança jurídica do que uma
ADI já devidamente decidida. E tentar fazer protrair no tempo os efeitos

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Supremo Tribunal Federal
Aditamento ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 414 de 468

RE 949297 / CE

desse trânsito em julgado em confronto à decisão na ADI parece bastante


singular. Mas o curioso é que nem novidade há nessa matéria.
O problema de ser velho, Presidente, é que a gente vai guardando
algumas coisas nos alfarrábios da memória.
Veja, Ministra Cármen Lúcia, da lavra do ex-Secretário da Receita
Federal, Everardo Maciel, certamente é essa a elaboração, mas é do meu
tempo de Casa Civil. A Lei nº 9.430, de 96, determinou que o Poder
Executivo ficava autorizado a disciplinar as hipóteses em que a
administração tributária federal, relativamente aos créditos tributários
baseados em dispositivo declarado inconstitucional pelo Supremo -
portanto, pró-contribuinte - possa: I - abster-se de constituí-los; II -
retificar o seu valor ou declará-los extintos, de ofício, quando houverem
sido instituído anteriormente, ainda que inscritos em dívida ativa; III -
formular desistência das ações de execução fiscal já ajuizadas, bem como
deixar de interpor recurso de decisões judiciais.
Vejam, muito antes de adotarmos o efeito vinculante, muito antes,
muito antes, 96, Presidente. Quando discutimos , Ministro Barroso, a lei,
estávamos em 98/99, a Lei nº 9.868, com debate sobre a modulação de
efeitos, efeito vinculante e tudo mais. Isso está na lei, isso é direito
positivo, desde 96. Vejam a clareza do dispositivo e vejam a noção que já
dominava, em 96, Presidente. O Fisco dizendo que não deveria cobrar,
porque a lei fora declarada inconstitucional.
Portanto, aqui, não há qualquer assimetria no que diz respeito ao
trato da matéria pró contribuinte ou pró Fisco. O que existe, de fato, é a
assunção do efeito vinculante da decisão, que é algo que decorre do
modelo que nós adotamos e que, portanto, não se pode projetar no
tempo.
Entretanto, um outro dado interessante, Presidente, falamos muito -
e com muita razão - em prol do Estado social, mas esquecemos, isso foi
objeto do debate na assentada passada, de que este modelo, para ser
viável, precisa de um Estado fiscal sólido.
Por isso que o Professor Casalta Nabais, um clássico de Coimbra,
escreveu o texto O dever fundamental de pagar impostos. E o Ministro

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Aditamento ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 415 de 468

RE 949297 / CE

Barroso apontou, com muita razão, na assentada anterior, que, além


disso, isso cria uma assimetria, uma desigualdade brutal.
Vejam, em um dos casos, nós temos uma grande empresa nacional
que passará a gozar de um privilégio contínuo em nome da coisa julgada.
Claro, Ministro Toffoli, o modelo difuso nosso, às vezes - eu já usei essa
expressão, portanto, não estou sendo radical -, ele é confuso.
Eu trouxe aqui, e posso falar com a experiência de Advogado-Geral
da União, que vinha constantemente a essa tribuna, eu trouxe aqui a
maior causa, Presidente, da minha vida, à época, que era a dos planos
econômicos do FGTS. E, a rigor, o STJ julgava todos os casos, dando
direito aos reclamantes. Todos os casos. Às vezes, buscávamos uma
fundamentação, tinha até receita de bolo. Tudo era possível. E não
conseguíamos discutir direito adquirido, ou ato jurídico perfeito e coisa
julgada, que era a nossa temática. Até que localizamos quatro processos.
Esse é o miserê dessa discussão sobre STJ e Supremo. Localizamos
quatro processos no gabinete do Ministro Moreira Alves que tratavam do
direito adquirido como direito constitucional. Quem era o Relator desses
processos lá em baixo no TRF? Ministro Teori Zavascki, que conhecia da
matéria, tinha sido procurador do Banco Central e estruturava isso em
termos constitucionais.
Aqui no Supremo, o Ministro Celso chegou a decidir, despachar,
dizendo que, como o direito adquirido estava repetido também na Lei de
Introdução ao Código Civil, era matéria infra.
Veja que, na nossa defesa, muitas vezes, nós lançamos isso. Quantos
de nós já não fizemos: "Ah, não! Isso é infra"? Porque temos a
jurisprudência defensiva. Mas isso, neste caso, não se aplica, porquanto
claramente há uma ADI em que se disse que o tributo é constitucional.
Não pode haver essa projeção no tempo. A coisa julgada está sendo
respeitada. Eu me lembrei, na assentada passada, de que isso é um caso
de escola que nós julgávamos, discutíamos em matéria tributária, porque
se, de fato, e com as vicissitudes que sabemos que perpassam o recurso
extraordinário, se, de fato, alguém chegar a lograr o trânsito em julgado,
ele pode conseguir, a rigor, se não houver uma compreensão da coisa

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RE 949297 / CE

julgada em matéria tributária, ele vai obter uma imunidade


constitucional. E isso é um absurdo dos absurdos.
Deste modo, Presidente, é preciso refletir. Os precedentes são vários
em matéria de trato continuado, e aqui nós estamos diante de um caso de
trato continuado. É só isso. A coisa tributária não diverge de outras
relações, em que nós já dissemos que cessa a ultratividade em nome dos
efeitos vinculantes. Estou absolutamente tranquilo em relação a isso.
Entretanto, o que é mais notável é que a legislação, antes de todo
esse debate, já admitia, inclusive pró contribuinte, naqueles casos em que
tivesse havido a declaração de inconstitucionalidade. Temos até, em um
outro caso, uma decisão em relação à Lei nº 9.779/99, que faz o contrário,
em nome até da segurança jurídica:
Fica concedido ao contribuinte ou responsável exonerado do
pagamento de tributo ou contribuição, por decisão judicial proferida em
qualquer grau de jurisdição, com fundamento em inconstitucionalidade
de lei que houver sido declarada constitucional - aqui é situação diversa -
pelo Supremo em ação direta de constitucionalidade ou de
inconstitucionalidade, o prazo até o último dia útil do mês de janeiro de
99 para o pagamento isento de multa e juros de mora - portanto, é uma
concepção de algo que nunca foi questionado - de exação alcançada pela
decisão declaratória cujo fato gerador tenha ocorrido posteriormente à
data de publicação do pertinente acórdão do Supremo Tribunal Federal -
fazendo um diálogo, portanto, com o trânsito em julgado.

De modo, Presidente, que eu gostaria só de fazer esse registro para


dizer que, de qualquer forma, não há nenhuma novidade nesta decisão.
Por outro lado, obviamente que o próprio sistema - e isso é objeto de
muitas discussões - já oferece segurança jurídica ao contribuinte com as
fórmulas de preclusão. Eu só posso cobrar aqueles tributos suscetíveis
ainda de cobrança ou o período suscetível de cobrança - cinco anos.
Eu me lembro, ainda ontem debatendo esse tema - desculpe-me
estar fazendo esse tipo de consideração -, mas eu me lembro de uma
velha norma que tratava, Doutor Aras, do ITR e que dava para a União, o

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Aditamento ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 417 de 468

RE 949297 / CE

Incra, a possibilidade de ficar, de reter 20% do tributo cobrado, que era


um tributo municipal. Isso sob a Constituição de 67/69. O Supremo
declarou essa norma inconstitucional, mas não houve esse caos total
porque a repetição de indébito se dá nos cinco anos, não mais do que isso.
O modelo de fórmulas de preclusão é claro em relação a isso. Isso já
dispensa a modulação de efeito.
Portanto, se estamos falando de tratamento sistêmico de forma
holística, é preciso levar isso em conta. Nada justifica tratar a matéria
tributária diferentemente das outras de trato continuado.
Muito obrigado.

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08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

DEBATE

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Senhora Presidente,


apenas por amor ao debate, até pelo número de votos, creio que há um
número semelhante, senão idêntico, de votos num e noutro sentido.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Cinco a
cinco.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Assim, eu me permitiria
fazer mais uma observação adicional, se Vossa Excelência e o Colegiado
me permitirem - e ela é bastante singela -, no sentido de reconhecer que,
no recurso ordinário do qual sou Relator, e creio que sobre isso até agora
não há divergência, nós estamos dando provimento ao recurso
extraordinário da União para reformar in totum o acórdão do Tribunal
Regional Federal, que neste caso é o da 5ª Região.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - No caso de
Vossa Excelência. No meu caso, negando provimento.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - No caso que estou
relatando. No seu caso, negando provimento. Portanto, é neste acórdão,
neste julgamento, na verdade, que estou propondo a modulação. Eu
estou propondo a modulação, mas é preciso que fique bem nítido que a
modulação não assegura imunidade tributária alguma. O que nós
estamos, a rigor, a fazer é reconhecer que um contribuinte que teve coisa
julgada em seu favor pelo não recolhimento de tributo, depois em outro
mandado de segurança aforado previamente à ADI de 2007, em segundo
grau, obteve efeito ativo suspensivo confirmado pela decisão do TRF. E é
contra essa decisão que a União manejou o recurso extraordinário que
nós estamos julgando hoje. Portanto, a diferença aqui entre modular e não
modular não é sobre o futuro; é sobre o respeito à coisa julgada do
passado.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Vossa Excelência me permite um aparte? A reflexão que fiz que me

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 419 de 468

RE 949297 / CE

levou a acompanhar Vossa Excelência foi no entendimento de ser essa a


primeira vez que estamos a enfrentar esse tema de maneira geral e com
efeito vinculante.
As manifestações do Ministro Teori Zavascki, com a devida vênia, se
deram em obiter dictum. Uma vez formulada a decisão aqui, a partir de
agora, sim, ninguém estará dando nenhum tipo de possibilidade a que o
particular deixe de respeitar as decisões dessa Suprema Corte. Não é esse
o voto de Vossa Excelência?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - É exatamente esse.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Ou seja, a partir daqui e de agora, uma vez decidido, Ministro
Gilmar Mendes, pelo Supremo Tribunal Federal, não haverá mais essa
possibilidade de se alegar a insegurança jurídica nas instâncias inferiores.
Mas até o julgamento desses temas... E não é à toa que estamos a julgar
dois temas pela primeira vez. Se fossem temas já com teses formuladas
anteriormente, nós não precisaríamos estar aqui a julgar, estaríamos
decidindo isso monocraticamente e, em agravo regimental, nas Turmas,
aplicando a jurisprudência do Plenário.
Então, pelo ineditismo da questão e pela insegurança das decisões
conflitantes das várias instâncias sistêmicas do Poder Judiciário, nós
estamos a dizer: a partir de agora, não. A partir de agora, prevalecerá
exatamente a posição que eu acompanhara anteriormente, a do Ministro
Luís Roberto Barroso e a do Ministro Gilmar Mendes. Ninguém mais
poderá dizer que, uma vez declarado constitucional um tributo,
continuará a deixar de recolher, porque tem uma decisão transitada em
julgado em trato sucessivo. Nunca mais vai acontecer isso. E, se acontecer,
vamos aplicar isso monocraticamente - na jurisprudência, em decisão
monocrática. Pronto e acabou. É disso que se trata.
Nós estamos, ineditamente, a julgar esse tema. Então, do ponto de
vista sistêmico da segurança jurídica - e essa é a posição que me levou a
retificar minha posição - acompanho, em razão do ineditismo de
repercussão geral em dois temas, no sentido de que, daqui para a frente, o
contribuinte que tenha uma decisão de trato sucessivo transitada em

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 420 de 468

RE 949297 / CE

julgado em seu favor, mas com uma decisão posterior vinculante do


Supremo Tribunal Federal, em um caso alhures, com eficácia erga omnes,
ou com efeito vinculante, dizendo que aquele tributo é constitucional,
saberá, no dia seguinte, que terá de recolher.
Agradeço o aparte, Ministro Luiz Edson Fachin.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Sou eu quem agradece a
Vossa Excelência.
Foi exatamente para isso que, no Tema 881, do qual sou Relator, este
Tribunal reconheceu que havia repercussão geral, e é o que estamos a
julgar nessa data.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Ministro
Fachin, nunca vi um destaque tão oportuno como o de Vossa Excelência.
Já estamos na terceira sessão deste Plenário a debater especificamente
esse aspecto, porque, com relação à solução dada aos recursos
extraordinários, há absoluta unanimidade. Ao recurso extraordinário sob
a relatoria do Ministro Luís Roberto, todos nós, inclusive eu – já adiantei
na assentada anterior –, negamos provimento; e, ao recurso
extraordinário sob a relatoria de Vossa Excelência, todos nós, inclusive eu
– também já adiantei –, damos provimento. São recursos extraordinários
da União, em sede de mandado de segurança, interpostos contra decisões
de tribunais regionais federais – o de Vossa Excelência, o da 5ª Região, e
do Ministro Roberto Barroso, o da 1ª Região – mandados de segurança
esses impetrados, ambos, anteriormente a 2007.

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Voto Vogal

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08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE
SAO PAULO - FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS
QUIMICOS PARA FINS INDUSTRIAIS,
PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE
CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
RELAÇÕES
JURÍDICAS DE TRATO SUCESSIVO. TERMO AD
QUEM. CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS.
DECISÕES PROFERIDAS PELO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, EM SEDE DE CONTROLE
DE CONSTITUCIONALIDADE, COMO
CIRCUNSTÂNCIA INOVADORA NO
ORDENAMENTO JURÍDICO. EFEITOS NA COISA
JULGADA ANTERIOR EM RELAÇÕES JURÍDICAS

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 422 de 468

RE 949297 / CE

DE TRATO SUCESSIVO. CESSAÇÃO DA EFICÁCIA


VINCULATIVA PARA O FUTURO.
AUTOMATICIDADE. PRECEDENTES.
1. Trata-se de recurso extraordinário
interposto pela União Federal, com
fundamento no art. 102, III, a, da
Constituição Federal, em face de acórdão
proferido em sede de apelação, pelo
Tribunal Regional Federal da 5ª Região que
deu provimento ao recurso manejado pela
parte ora recorrida.
2. Os fundamentos do acórdão recorrido do
Tribunal Regional Federal da 5ª Região
evidenciam a compreensão de que, a
despeito desta Suprema Corte haver
reconhecido a constitucionalidade da Lei
7.689/1988, se impunha a prevalência da
coisa julgada formada em favor do
contribuinte, mesmo em se tratando de
relação jurídica de trato continuado. Na
presente sede recursal, a União Federal, ora
recorrente, aponta transgressão aos arts. 3º,
IV, 5º, caput, II, XXXVI, 37, 150, VI, c, todos
da Constituição da República.
3. Nos casos de relações jurídicas sucessivas
decorrentes de suporte fático complexo, a
sentença produz efeito vinculativo para o
futuro. No entanto, referido ato decisório
determinativo está submetido à cláusula
rebus sic stantibus, a significar que a
superveniente alteração das circunstâncias
de fato e/ou de direito fazem cessar a
eficácia para o futuro do decisum transitado

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 423 de 468

RE 949297 / CE

em julgado.
4. Na linha da jurisprudência desta Casa, as
decisões proferidas pelo STF, em sede de
controle de constitucionalidade, podem
impactar diretamente na coisa julgada
formada em sentido contrário, seja
possibilitando o ajuizamento de ação
rescisória, seja viabilizando o emprego da
técnica processual prevista no art. 525, §§ 12
e 14 e no art. 535, §§ 5º e 7º, todos do
CPC/2015, conforme cada caso.
5. No tocante às relações jurídicas de trato
continuado, o pronunciamento desta
Suprema Corte, em análise de
constitucionalidade concreta ou abstrata,
em sentido contrário à coisa julgada
formada em momento anterior gera efeitos
significativos: não desconstitui, é certo,
diretamente os efeitos passados e já
consumados da sentença anterior, mas
impede automaticamente a concretização
dos efeitos futuros.
6. A alteração no estado de direito
consubstanciada em pronunciamento, em
sede de controle de constitucionalidade,
deste Supremo Tribunal Federal produz
efeitos automáticos sobre a coisa julgada
anterior em sentido contrário no tocante às
reiterações futuras. Não há falar em
violação da coisa julgada, pois inalterado o
título judicial anterior que, no entanto,
perde eficácia vinculativa em relação aos
eventos futuros em razão da mudança das

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 424 de 468

RE 949297 / CE

circunstâncias fáticas e/ou jurídicas que o


embasaram. Despicienda, em decorrência,
decisão judicial in concreto quanto à perda de
eficácia do ato sentencial, ressalvada
previsão legal específica.
7. Por outro lado, os pronunciamentos deste
Supremo Tribunal Federal, em sede de
controle de constitucionalidade, ao
traduzirem alteração no estado de direito,
no tocante à sentença proferida em relação
jurídica de trato continuado contrastante ao
que decidido pela Suprema Corte,
equiparáveis, no âmbito tributário, à
instituição de um novo tributo. Justifica-se,
portanto, a incidência, conforme a natureza
da espécie tributária, dos princípios
constitucionais da anterioridade anual e da
anterioridade nonagesimal.
8. Entendo não estarem preenchidos os
requisitos a que se refere o art. 927 do
Código de Processo Civil, motivo pelo qual
voto pela rejeição da proposta de
modulação apresentada, pois (i) não há falar
em alteração de jurisprudência deste
Supremo Tribunal Federal; (ii)
pronunciamento desta Casa contrastante
com decisão judicial transitada em julgada
rompe com a legítima expectativa, pois
consubstancia, como dito acima, alteração
do estado de direito, a evidenciar o
contribuinte deve se planejar com base na
nova circunstância fático-normativa, sendo
certo, nesse contexto, que a aplicação do art.

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 425 de 468

RE 949297 / CE

150, III, b e c, da Constituição da República,


mostra-se suficiente para proteger a
segurança jurídica do sujeito passivo da
relação jurídico-tributária; (iii) tal como
apresentada, a modulação de efeitos traria,
a meu sentir, maior insegurança jurídica aos
envolvidos, especialmente àqueles que,
após a decisão deste Supremo Tribunal
Federal em sentido contrário à coisa julgada
que lhes havia sido favorável, recolheram
devidamente o tributo em questão,
havendo, na hipótese, também evidente
violação do princípio da isonomia.
9. Conclusão:
(a) dou provimento ao recurso
extraordinário manejado pela União Federal
no RE 949.297/CE, acompanhando o
Ministro Edson Fachin;
(b) nego provimento ao recurso
extraordinário manejado pela União Federal
no RE 955.227/BA, acompanhando o
Ministro Luís Roberto Barroso;
(c) rejeito a modulação dos efeitos tal como
proposta pelo Ministro Edson Fachin;
(d) em relação à tese de julgamento,
entendo necessária a unificação das
propostas, de modo a garantir segurança
jurídica aos atores do sistema jurídico e,
assim, acompanho a tese formulada pelo
Ministro Luís Roberto Barroso.

VOTO-VOGAL

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 426 de 468

RE 949297 / CE

A Senhora Ministra Rosa Weber (Presidente): 1. Trata-se de recurso


extraordinário interposto pela União Federal, com fundamento no art.
102, III, a, da Constituição Federal, em face de acórdão proferido em sede
de apelação, pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região que deu
provimento ao recurso manejado pela parte ora recorrida.
2. Na origem, a parte ora recorrida, TBM – TEXTIL BEZERRA DE
MENEZES S.A., impetrou mandado de segurança contra o Delegado da
Receita Federal em Fortaleza/CE à alegação, em síntese, de que, em razão
da decisão judicial transitada em julgado, em seu favor, que declarara a
inconstitucionalidade da Lei 7.689/1988, seria ilegítima a cobrança da
Contribuição Social sobre o Lucro instituído por este diploma legal.
O Juízo de primeiro grau julgou improcedente o pedido, mas o
Tribunal Regional Federal da 5ª Região deu provimento à apelação da
impetrante, ora recorrida, consoante a ementa do acórdão impugnado
neste recurso extraordinário:

“PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO


SOCIAL SOBRE O LUCRO. LEI 7689/88. MANDADO DE
SEGURANÇA. OFENSA À COISA JULGADA. APELAÇÃO
PROVIDA. 1. A sentença prolatada nos autos do mandado de
segurança 127/89/CE declarou a inconstitucionalidade da lei
7689/88 tendo sido mantida por esta Corte com o trânsito em
julgado.
2. ‘(...) A sentença rescindenda, que reconheceu ser
integralmente inconstitucional a lei 7689/88, instituidora da
contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas para
financiamento da seguridade social, porque prolatada antes da
publicação da decisão do STF declarando a
inconstitucionalidade apenas do artigo 8º da mencionada lei
(RE 138284-CE, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU 28/08/92, P.
13456), não deve sofrer os efeitos provenientes dessa declaração
- 'Se as questões de fato e de direito reguladas pela norma
julgada inconstitucional se encontram definitivamente
encerradas porque sobre elas incidem caso julgado judicial,
porque se perdeu um direito por prescrição ou caducidade,

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 427 de 468

RE 949297 / CE

porque o ato se tornou inimpugnável, porque a relação se


extinguiu com o cumprimento da obrigação, então a dedução
de inconstitucionalidade, com a consequente nulidade ipso jure,
não perturba, através da sua eficácia retroativa esta vasta gama
de situações ou relações consolidadas' (J. J. GOMES
CANOTILHO).- Inegável a aplicação do entendimento firmado
por nossos Tribunais Superiores, segundo o qual 'A mudança
de entendimento dos Tribunais Superiores não autoriza o
pedido de rescisão de julgado, com base na violação literal de
dispositivo de lei (artigo 475, inciso V do Código de Processo
Civil).' (RESP 227.458-CE, REL. Min. Hamilton Carvalhido, J.
06/04/2000, DJU 05/06/2000). – Improvimento dos embargos
infringentes mantendo-se incólume o Acórdão que reconheceu
a improcedência do pedido de rescisão (EIAR – Embargos
Infringentes na Ação Rescisória – 311, DJU 22.08.2002, Rel Des
Fed Ubaldo Cavalcanti)’.
3. Apelação provida.”

3. Os fundamentos do acórdão recorrido evidenciam que o Tribunal


Regional Federal da 5ª Região entendeu, mesmo diante do
reconhecimento, por decisão desta Suprema Corte, da
constitucionalidade da Lei 7.689/1988, pela prevalência da coisa julgada
formada em favor do contribuinte, irrelevante tratar-se, na hipótese, de
relação jurídica de trato continuado.
4. Na presente sede recursal, a União Federal, ora recorrente, aponta
transgressão aos arts. 3º, IV, 5º, caput, II, XXXVI, 37, 150, VI, c, todos da
Constituição da República.
5. O Plenário desta Suprema Corte deliberou pela existência de
matéria constitucional e pela repercussão geral do tema.
6. O então Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot Monteiro
de Barros, opinou pelo conhecimento e provimento do presente em
recurso extraordinário, em parecer assim ementado:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO


GERAL RECONHECIDA. TEMA 881. COISA JULGADA,

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 428 de 468

RE 949297 / CE

CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS. RELAÇÃO


CONTINUADA. EFICÁCIA. PERDA. DECISÃO NO ÂMBITO
DO CONTROLE CONCENTRADO. PREVALÊNCIA. Tese de
Repercussão Geral – Tema 881: A coisa julgada em matéria
tributária, quando derivada de relação jurídica de trato
continuado, perde sua eficácia no momento da publicação do
acórdão exarado no âmbito do controle concentrado de
constitucionalidade contrário ao sentido da sentença individual
(art. 28 da Lei 9.868/99).
1 – O sistema constitucional brasileiro, fundado na divisão
de poderes-funções estatais ensejou condições para que os atos
derivados da atuação do Estado sejam protegidos de modo a
garantir a sua própria eficácia e a proteger os respectivos
beneficiários. Submetendo-se a essa lógica, a Constituição
Federal, tendo por foco a prevalência dos pronunciamentos do
Estado, em suas várias esferas de atuação, previu a coisa
julgada, que, além de direito individual, é categoria processual
serviente à ordenação das decisões judiciais já emitidas e que dá
lugar somente à autoridade desconstitutiva da ação rescisória.
2 – Em face também das próprias disposições
constitucionais, não se encontra dificuldade em perceber que a
gênese do ato estatal, por si só, não lhe permite a sobrevivência
em todas as situações, estando ele, a depender de sua categoria,
inserido em um regime jurídico que regula sua vida, eficácia,
consequências perante terceiros interessados e o seu fim, quer
por conveniência e oportunidade, quer por anulação, quer pela
superação do entendimento que lhe impelia vigor.
3 – A natureza continuada da relação tributária em tela é
influenciada pela sucessão de circunstâncias de fato e de
direito, aptas a superarem a eficácia de eventual res iudicata
estabelecida em ação individual.
4 – Por sua relevância constitucional e pelos graves efeitos
gerados na ordem jurídica, as decisões vinculantes tomadas na
seara das ações de controle concentrado reformulam o veredito
de sentença transitada em julgado em relação aos seus efeitos
futuros quando, analisada a mesma causa petendi, suas

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 429 de 468

RE 949297 / CE

conclusões forem contrárias.


5 – Parecer pelo provimento do recurso extraordinário e
pela adoção de efeitos prospectivos, assegurando, no presente
caso, período hábil a garantir o seu conhecimento pelos
contribuintes e a permitir a recepção da carga tributária
resultante da cobrança da contribuição social sobre o lucro
líquido.”

É o breve relatório.

I. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DESDOBRAMENTOS FUTUROS DAS


SENTENÇAS PROFERIDAS EM RELAÇÕES JURÍDICAS DE TRATO CONTINUADO.
RELAÇÕES SUCESSIVAS

7. Consabido que as decisões judiciais, em regra, projetam seus


efeitos a eventos passados. Dentre as exceções, lembro os casos de efeitos
futuros de relações jurídicas instantâneas, os desdobramentos de relações
permanentes e as repetições futuras de relações sucessivas, quando as
sentenças também projetam seus efeitos a eventos futuros – que se
renovam periodicamente –, desde que inalterado o estado de fato e de
direito subjacente à situação jurídica originalmente analisada.
Assim, via de regra, as sentenças judicias definem efeitos de fatos já
consumados. Nessa linha, Francesco Carnelutti acentua que [a]o princípio
da irretroatividade da lei corresponde o da retroatividade da sentença,
destacando, contudo, que como a irretroatividade para lei, também a
retroatividade para a sentença, é um princípio que sofre exceções
(CARNELUTTI, Francesco. Lezioni del diritto processuale civile vol 4.
Padova: Editora Cedam, 1986).
Há, em nosso sistema processual, basicamente três exceções à regra
exposta: (i) efeitos futuros decorrentes de fatos passados nas relações
jurídicas instantâneas; (ii) desdobramentos de relações permanentes e (iii)
as repetições futuras de relações sucessivas.
O caso em exame diz, inequivocamente, com relação jurídica de trato
sucessivo, e por isso a ela limito a análise.

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 430 de 468

RE 949297 / CE

Forte na valiosa lição doutrinária do saudoso e querido Ministro


Teori Zavascki, relembro que a relação jurídica sucessiva é aquela nascida
de fatos geradores instantâneos que, todavia, se repetem no tempo de maneira
uniforme e continuada, compondo-se, tais relações, de uma série de relações
instantâneas homogêneas, que, pela sua reiteração e homogeneidade, podem
receber tratamento jurídico conjunto ou tutela jurisdicional coletiva. No geral
dos casos, as relações sucessivas pressupõem e dependem de uma situação
jurídica mais ampla, ou de determinado status jurídico dos seus figurantes, nos
quais se inserem, compondo-lhes a configuração (ZAVASCKI, Teori Albino,
Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional. 4. ed., São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2017, p. 99-100).
Com efeito, a relação jurídica sucessiva oriunda de suporte fático
complexo – casos nos quais o juízo de certeza veiculado pela sentença
funda-se na circunstância jurídica de caráter permanente e não na
situação jurídica instantânea –, por seu caráter duradouro, está apta a
perdurar no tempo, podendo persistir quando, no futuro, houver a repetição de
outros fatos geradores instantâneos, semelhantes ao examinado na sentença.
Nesses casos, admite-se a eficácia vinculante da sentença também em
relação aos eventos recorrentes. Isso porque o juízo de certeza desenvolvido
pela sentença sobre determinada relação jurídica concreta decorreu, na verdade,
de juízo de certeza sobre a situação jurídica mais ampla, de caráter duradouro,
componente, ainda que mediata, do fenômeno de incidência (ZAVASCKI, Teori
Albino, Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional. 4. ed., São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 103), tal como ocorre na espécie
8. Assim estabelecida a possibilidade, nos casos de relações jurídicas
sucessivas decorrentes de suporte fático complexo, de a sentença propalar
efeito vinculativo para o futuro, insta perquirir o termo final de tal
eficácia.

II. RELAÇÕES JURÍDICAS SUCESSIVAS E TERMO FINAL DO EFEITO


VINCULATIVO DA SENTENÇA

9. Quanto ao termo ad quem da eficácia vinculativa da sentença que

10

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projeta efeitos para o futuro, o art. 505, I, do CPC/2015, equivalente ao art.


471, I, do CPC/73, traz solução antiga, mas necessária e precisa: referido
ato decisório está submetido à cláusula rebus sic stantibus. Inalterados os
pressupostos fáticos e jurídicos que embasaram a decisão, hígida sua
eficácia.
A resposta legislativa, positivada no art. 505, I, do Código de
Processo Civil, guarda relação lógica com o próprio pressuposto da
sentença. O ato decisório terminativo é fundado em juízo de certeza
quantos aos fatos e quanto à aplicabilidade da norma ao caso concreto. A
alteração, cuidando-se de relações jurídicas de trato sucessivo, em
qualquer desses elementos afeta o silogismo original da sentença.
Não há falar em referida hipótese em violação da coisa julgada, pois
inalterado o título judicial anterior que, no entanto, perde eficácia
vinculativa em relação aos eventos futuros em razão da mudança das
circunstâncias fáticas e/ou jurídicas que o embasaram. Isso porque, tal
como ressaltado por Luiz Guilherme Marinoni, a coisa julgada protege a
declaração judicial apenas enquanto as circunstâncias (fáticas e jurídicas) da
causa permanecem as mesmas, inseridas que estão na causa de pedir da ação
(MARINONI, Luiz Guilherme. Processo constitucional e democracia. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 1.163).
Vale dizer, modificações de fato e/ou de direito acarretam nova
intelecção da relação jurídica de direito material e, portanto, levam à
cessação da eficácia vinculativa decorrente da coisa julgada, sem,
contudo, desconstituí-la ou retroagir para atingir os efeitos materiais já
concretizados. Significa, desse modo, que a coisa julgada, em relações
jurídicas de trato continuado, é delimitada temporalmente em razão de
circunstância ulterior.
Portanto, negar que a coisa julgada perde seus efeitos em
decorrência das alterações fáticas e/ou jurídicas sobre as relações jurídicas
de trato continuado equivaleria a negar a existência dessa espécie de
relação jurídica. É que a percepção de que uma nova lei pode fazer cessar um
benefício até então outorgado pela coisa julgada é um reflexo da estrutura
marcadamente temporal do próprio direito (MARINONI, Luiz Guilherme.

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Processo constitucional e democracia. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,


2021, p. 1.164-5).
10. Nesse sentido, esta Suprema Corte, ao exame do RE 596.663/RJ,
submetido à sistemática da repercussão geral (Tema 494), de redatoria do
saudoso Ministro Teori Zavascki, firmou entendimento segundo o qual
[a] força vinculativa das sentenças sobre relações jurídicas de trato continuado
atua rebus sic stantibus: sua eficácia permanece enquanto se mantiverem
inalterados os pressupostos fáticos e jurídicos adotados para o juízo de certeza
estabelecido pelo provimento sentencial. A superveniente alteração de qualquer
desses pressupostos (a) determina a imediata cessação da eficácia executiva do
julgado, independentemente de ação rescisória ou, salvo em estritas hipóteses
previstas em lei, de ação revisional, razão pela qual (b) a matéria pode ser alegada
como matéria de defesa em impugnação ou em embargos do executado.
Transcrevo a ementa de referido leading case:

“CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA


AFIRMANDO DIREITO À DIFERENÇA DE PERCENTUAL
REMUNERATÓRIO, INCLUSIVE PARA O FUTURO.
RELAÇÃO JURÍDICA DE TRATO CONTINUADO.
EFICÁCIA TEMPORAL. CLÁUSULA REBUS SIC
STANTIBUS. SUPERVENIENTE INCORPORAÇÃO
DEFINITIVA NOS VENCIMENTOS POR FORÇA DE DISSÍDIO
COLETIVO. EXAURIMENTO DA EFICÁCIA DA
SENTENÇA.
1. A força vinculativa das sentenças sobre relações
jurídicas de trato continuado atua rebus sic stantibus: sua
eficácia permanece enquanto se mantiverem inalterados os
pressupostos fáticos e jurídicos adotados para o juízo de
certeza estabelecido pelo provimento sentencial. A
superveniente alteração de qualquer desses pressupostos (a)
determina a imediata cessação da eficácia executiva do
julgado, independentemente de ação rescisória ou, salvo em
estritas hipóteses previstas em lei, de ação revisional, razão pela
qual (b) a matéria pode ser alegada como matéria de defesa em
impugnação ou em embargos do executado.

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2. Afirma-se, nessa linha de entendimento, que a sentença


que reconhece ao trabalhador ou servidor o direito a
determinado percentual de acréscimo remuneratório deixa de
ter eficácia a partir da superveniente incorporação definitiva do
referido percentual nos seus ganhos.
3. Recurso extraordinário improvido.”
(RE 596.663/RJ, Red. p/ acórdão Min. Teori Zavascki,
Tribunal Pleno, j. 24.9.2014, DJe 26.11.2014)

11. Vê-se, portanto, que, cuidando-se de relações jurídicas de trato


continuado – tal como relações sucessivas, hipótese dos autos – a sentença
determinativa está submetida à cláusula rebus sic stantibus, a significar,
reitero, que a superveniente alteração das circunstâncias de fato e/ou de
direito fazem cessar imediatamente a eficácia vinculativa para o futuro
do decisum transitado em julgado.

III. AS DECISÕES PROFERIDAS, EM SEDE DE CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE, PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, COMO
CIRCUNSTÂNCIA INOVADORA NO ORDENAMENTO JURÍDICO

12. Há muito se discutia, em âmbito doutrinário (ROCHA, Cármen


Lúcia Antunes. O princípio da coisa julgada e o vício de inconstitucionalidade.
Fórum Administrativo – Direito Público – FA, Belo Horizonte, ano 9, n.
100, jun 2009, v.g.) se as decisões proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, em sede de controle de constitucionalidade, constituiriam, ou
não, alteração no estado de direito, se tais atos decisórios acarretariam
automática reforma ou rescisão de sentenças anteriores em sentido
contrário, enfim, quais os efeitos decorrentes de decisões proferidas por
esta Suprema Corte que afirmam a constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade de determinado preceito normativo em relação à
coisa julgada formada em momento antecedente.
Inovações legislativas, introduzidas no Código de Processo Civil de
1973, ajudaram a aclarar e a definir o alcance e os efeitos das decisões
proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em relação à coisa julgada

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formada em momento anterior ao pronunciamento desta Corte.


13. Rememoro que, em abril do ano 2000, o Presidente da República
editou a Medida Provisória 1997-37/2000 que, dentre outras providências,
acrescentou o parágrafo único ao art. 741 do CPC/73, de modo a assentar
a inexigibilidade de título judicial fundado em lei, ato normativo ou em sua
interpretação ou aplicação declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal. Posteriormente, a redação foi ligeiramente alterada pela MP 2.180-
35/2001, sendo certo que vigorou até a Lei 11.232/2005 que incorporou,
definitivamente, tal hipótese de inexequibilidade do título ao Código de
Processo Civil de 1973 (art. 741, parágrafo único e art. 475-L, § 1º,
CPC/73).
Houve, é verdade, ampla controvérsia jurisprudencial (RE 592.912-
AgR/RS, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe 22.11.2012, v.g.) e
doutrinária (GRECO, Leonardo. Eficácia da declaração erga omnes de
constitucionalidade ou inconstitucionalidade em relação à coisa julgada anterior.
Revista jurídica da Procuradoria-Geral do Distrito Federal, v. 37, p. 99-
114, 2003, v.g.) a respeito da constitucionalidade do art. 741, parágrafo
único, e do art. 475-L, § 1º, ambos do CPC/73. No entanto, o Plenário
deste Supremo Tribunal Federal – superando a preliminar de perda
superveniente de objeto, em decorrência da vigência do Código de
Processo Civil 2015 –, após profícua e exaustiva deliberação sobre a
matéria, a partir do voto magistral do Ministro Teori Zavascki, encerrou o
debate e declarou constitucionalidade dos artigos legais em referência:

“CONSTITUCIONAL. LEGITIMIDADE DAS NORMAS


ESTABELECENDO PRAZO DE TRINTA DIAS PARA
EMBARGOS À EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA
(ART. 1º-B DA LEI 9.494/97) E PRAZO PRESCRICIONAL DE
CINCO ANOS PARA AÇÕES DE INDENIZAÇÃO CONTRA
PESSOAS DE DIREITO PÚBLICO E PRESTADORAS DE
SERVIÇOS PÚBLICOS (ART. 1º-C DA LEI 9.494/97).
LEGITIMIDADE DA NORMA PROCESSUAL QUE
INSTITUI HIPÓTESE DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO
EXECUTIVO JUDICIAL EIVADO DE

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INCONSTITUCIONALIDADE QUALIFICADA (ART. 741,


PARÁGRAFO ÚNICO E ART. 475-L, § 1º DO CPC/73; ART.
525, § 1º, III E §§ 12 E 14 E ART. 535, III, § 5º DO CPC/15).
1. É constitucional a norma decorrente do art. 1º-B da Lei
9.494/97, que fixa em trinta dias o prazo para a propositura de
embargos à execução de título judicial contra a Fazenda
Pública.
2. É constitucional a norma decorrente do art. 1º-C da Lei
9.494/97, que fixa em cinco anos o prazo prescricional para as
ações de indenização por danos causados por agentes de
pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de
direito privado prestadoras de serviços públicos, reproduzindo
a regra já estabelecida, para a União, os Estados e os
Municípios, no art. 1º do Decreto 20.910/32.
3. São constitucionais as disposições normativas do
parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1º do art. 475-L,
ambos do CPC/73, bem como os correspondentes dispositivos
do CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art. 535, § 5º. São
dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da coisa
julgada com o primado da Constituição, vieram agregar ao
sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia
rescisória de sentenças revestidas de vício de
inconstitucionalidade qualificado, assim caracterizado nas
hipóteses em que (a) a sentença exequenda esteja fundada em
norma reconhecidamente inconstitucional – seja por aplicar
norma inconstitucional, seja por aplicar norma em situação ou
com um sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença exequenda
tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente
constitucional; e (c) desde que, em qualquer dos casos, o
reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do STF
realizado em data anterior ao trânsito em julgado da sentença
exequenda.
4. Ação julgada improcedente.”
(ADI 2.418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, j.
04.5.2016, DJe 17.11.2016)

15

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14. Seguindo essa mesma linha, o Plenário desta Suprema Corte ao


exame do RE 611.503/SP, submetido à sistemática da repercussão geral
(Tema 360), de redatoria do Ministro Edson Fachin – mais uma vez a
partir do voto proferido pelo Ministro Teori Zavascki –, reafirmou a
constitucionalidade do art. 741, parágrafo único, e do art. 475-L, § 1º,
ambos do CPC/73 e assentou a necessidade de que o julgamento do STF,
que declara a norma constitucional ou inconstitucional, tenha sido realizado em
data anterior ao trânsito em julgado da sentença exequenda. Trago à colação a
ementa do paradigma:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. COISA JULGADA


INCONSTITUCIONAL. ARTIGO 741, PARÁGRAFO ÚNICO, E
ARTIGO 475-L, PARÁGRAFO PRIMEIRO, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 1973. ARTIGO 525, PARÁGRAFO
PRIMEIRO, INCISO III, PARÁGRAFOS 12 E 14, E ARTIGO 535,
PARÁGRAFO 5º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
1. São constitucionais as disposições normativas do
parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1º do art. 475-L, ambos
do CPC/73, bem como os correspondentes dispositivos do
CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art. 535, § 5º.
2. Os dispositivos questionados buscam harmonizar a
garantia da coisa julgada com o primado da Constituição,
agregando ao sistema processual brasileiro, um mecanismo
com eficácia rescisória de sentenças revestidas de vício de
inconstitucionalidade qualificado.
3. São consideradas decisões com vícios de
inconstitucionalidade qualificados: (a) a sentença exequenda
fundada em norma reconhecidamente inconstitucional, seja por
aplicar norma inconstitucional, seja por aplicar norma em
situação ou com sentido inconstitucionais; (b) a sentença
exequenda que tenha deixado de aplicar norma
reconhecidamente constitucional.
4. Para o reconhecimento do vício de
inconstitucionalidade qualificado exige-se que o julgamento

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do STF, que declara a norma constitucional ou


inconstitucional, tenha sido realizado em data anterior ao
trânsito em julgado da sentença exequenda.
5. Recurso extraordinário a que se nega provimento.”
(RE 611.503/SP, Red. p/ acórdão Min. Edson Fachin,
Tribunal Pleno, j. 20.8.2018, DJe 19.3.2019)

15. Havia, também, de outro lado, sob a égide do CPC/73, debate


quanto ao cabimento da ação rescisória, com fundamento na violação
literal de dispositivo normativo (art. 485, V, CPC/73), contra sentença
qualificada pelo vício da inconstitucionalidade. No entanto, este Tribunal
consolidou firme jurisprudência quanto à sua admissibilidade (AR
1.713/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, j. 05.11.2003, DJ 19.12.2003,
v.g.). Cabe registrar, aqui, que o Código de Processo Civil de 2015,
afastando conflito interpretativo, prevê, expressamente, o cabimento da
rescisória na hipótese acima referida.
O Plenário desta Corte Suprema, ao exame do RE 730.462/SP,
submetido à sistemática da repercussão geral (Tema 733), de relatoria do
Ministro Teori Zavascki, veio a decidir controvérsia a respeito da
automaticidade, ou não, dos efeitos de posterior declaração, por este STF,
de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade de normas sobre a
sentença anterior transitada em julgado em sentido contrário. Fixada na
oportunidade a seguinte tese: a decisão do Supremo Tribunal Federal
declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo não produz a automática reforma ou rescisão das sentenças anteriores
que tenham adotado entendimento diferente; para que tal ocorra, será
indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a propositura da
ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC, observado o respectivo
prazo decadencial (CPC, art. 495). Ressalva-se desse entendimento, quanto à
indispensabilidade da ação rescisória, a questão relacionada à execução de efeitos
futuros da sentença proferida em caso concreto sobre relações jurídicas de trato
continuado. Eis a ementa do paradigma que bem sintetiza as razões de
decidir adotadas pelo Tribunal:

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“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL.


DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE
PRECEITO NORMATIVO PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. EFICÁCIA NORMATIVA E EFICÁCIA EXECUTIVA
DA DECISÃO: DISTINÇÕES. INEXISTÊNCIA DE EFEITOS
AUTOMÁTICOS SOBRE AS SENTENÇAS JUDICIAIS
ANTERIORMENTE PROFERIDAS EM SENTIDO
CONTRÁRIO. INDISPENSABILIDADE DE INTERPOSIÇÃO
DE RECURSO OU PROPOSITURA DE AÇÃO RESCISÓRIA
PARA SUA REFORMA OU DESFAZIMENTO.
1. A sentença do Supremo Tribunal Federal que afirma a
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo gera, no plano do ordenamento jurídico, a
consequência (= eficácia normativa) de manter ou excluir a
referida norma do sistema de direito.
2. Dessa sentença decorre também o efeito vinculante,
consistente em atribuir ao julgado uma qualificada força
impositiva e obrigatória em relação a supervenientes atos
administrativos ou judiciais (= eficácia executiva ou
instrumental), que, para viabilizar-se, tem como instrumento
próprio, embora não único, o da reclamação prevista no art.
102, I, “l”, da Carta Constitucional.
3. A eficácia executiva, por decorrer da sentença (e não da
vigência da norma examinada), tem como termo inicial a data
da publicação do acórdão do Supremo no Diário Oficial (art. 28
da Lei 9.868/1999). É, consequentemente, eficácia que atinge
atos administrativos e decisões judiciais supervenientes a essa
publicação, não os pretéritos, ainda que formados com suporte
em norma posteriormente declarada inconstitucional.
4. Afirma-se, portanto, como tese de repercussão geral que
a decisão do Supremo Tribunal Federal declarando a
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo não produz a automática reforma ou rescisão das
sentenças anteriores que tenham adotado entendimento
diferente; para que tal ocorra, será indispensável a
interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a propositura

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da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC,


observado o respectivo prazo decadencial (CPC, art. 495).
Ressalva-se desse entendimento, quanto à indispensabilidade
da ação rescisória, a questão relacionada à execução de efeitos
futuros da sentença proferida em caso concreto sobre relações
jurídicas de trato continuado.
5. No caso, mais de dois anos se passaram entre o trânsito
em julgado da sentença no caso concreto reconhecendo,
incidentalmente, a constitucionalidade do artigo 9º da Medida
Provisória 2.164-41 (que acrescentou o artigo 29-C na Lei
8.036/90) e a superveniente decisão do STF que, em controle
concentrado, declarou a inconstitucionalidade daquele preceito
normativo, a significar, portanto, que aquela sentença é
insuscetível de rescisão.
6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.”
(RE 730.462/SP, Rel. Min. Teori Zavaski, Tribunal Pleno, j.
28.5.2015, DJe 09.9.2015)

16. Destaco, como explicitado na própria ementa do paradigma (RE


730.462/SP), que, naquela oportunidade, não estava em discussão relação
jurídica de trato continuado, motivo pelo qual foi ressalvado o
entendimento acima firmado no tocante à tal espécie de relação.
Ressalto, ainda, que todos os precedentes elencados no presente
tópico não versam, sob qualquer ângulo de análise, sobre a questão –
admitida, em casos absolutamente excepcionais, por esta Suprema Corte
(RE 363.889/DF (Tema 392), Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, j.
02.6.2011, DJe 16.12.2011) – da relativização da coisa julgada.
17. Em suma: assentado por este Supremo Tribunal Federal (i) a
constitucionalidade do art. 741, parágrafo único, do CPC, do art. 475-L, §
1º, ambos do CPC/73, bem como dos respectivos dispositivos
equivalentes do CPC/15 (art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art. 535, § 5º) e (ii)
o cabimento da ação rescisória fundada no art. 485, V, CPC/73, na
hipótese de posterior decisão desta Casa, em controle de
constitucionalidade, em sentido contrário à coisa julgada formada, bem
assim a sua indispensabilidade, para reforma ou rescisão de sentença

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anterior contrastante, observado o prazo decadencial próprio.


Constatado, portanto, que as decisões proferidas pelo STF, em sede
de controle de constitucionalidade, podem impactar diretamente na
coisa julgada formada em sentido contrário, seja possibilitando o
ajuizamento de ação rescisória, seja viabilizando o emprego da técnica
processual prevista no art. 525, §§ 12 e 14 e no art. 535, §§ 5º e 7º, todos do
CPC/2015, conforme o caso.

IV. OS EFEITOS DAS DECISÕES PROFERIDAS, EM SEDE DE CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE, PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, NA COISA
JULGADA ANTERIOR FORMADA SOBRE RELAÇÕES JURÍDICAS CONTINUADAS

18. Feitos os registros acima, cabe analisar os efeitos das decisões


desta Corte Suprema, em controle de constitucionalidade, sobre a coisa
julgada formada em relações jurídicas de trato continuado.
No que diz respeito às relações jurídicas continuadas o
pronunciamento deste Supremo Tribunal Federal, em análise de
constitucionalidade concreta ou abstrata, em sentido contrário à coisa
julgada formada em momento anterior gera efeitos significativos: não
desconstitui, é certo, diretamente os efeitos passados e já consumados da
sentença anterior, mas impede automaticamente a concretização dos
efeitos futuros.
Significa dizer que, emanada decisão do STF, aquela sentença
proferida em relação jurídica de trato continuado contrastante ao que
decidido pela Suprema Corte, mesmo que transitada em julgado em
momento muito anterior, perderá sua capacidade de produzir efeitos
vinculativos para os eventos futuros.
Convém destacar, nesse contexto e uma vez mais, que as sentenças
proferidas em relações de trato continuado estão sujeitas à cláusula rebus
sic stantibus. Por esse motivo a declaração de constitucionalidade ou
inconstitucionalidade por esta Suprema Corte – circunstância que
acarreta substancial mudança no estado de direito – altera, por si só, o
silogismo original do ato decisório em sentido diverso e automaticamente

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o faz perder eficácia para os eventos futuros.


Nessa linha, Luiz Guilherme Marinoni (MARINONI, Luiz
Guilherme. Processo constitucional e democracia. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2021, p. 1.172) esclarece que:

“O princípio da proteção à confiança explica a eficácia da


declaração de (in)constitucionalidade sobre as relações
continuativas. Sem negar a coisa julgada e os efeitos que
legitimamente dela decorreram, a decisão de
(in)constitucionalidade faz cessar a eficácia da coisa julgada,
permitindo que a relação jurídica se desenvolva de acordo
com o direito. Vale dizer que a decisão dotada de eficácia
vinculante incide imediatamente sobre as relações em trânsito,
permitindo-lhes a regulação constitucional própria ao
momento em que se desenvolvem.
Embora atribuir efeito a um juízo que aplicou uma lei
posteriormente declarada inconstitucional não signifique o
mesmo que atribuir efeito a uma lei inconstitucional, não há
racionalidade em admitir que uma decisão continue a
produzir efeitos, regulando uma relação que se desenvolve no
tempo, depois de a lei que a sustentou ter sido declarada
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.”

Entendo, desse modo, por uma questão de lógica, tal como já


explicitado, que a superveniente decisão do STF em contraste com a coisa
julgada proferida em relação jurídica continuada tem como efeito
consequencial automático a cessação dos efeitos futuros da sentença
transitada em julgado. Não se pode admitir que os efeitos vindouros da
sentença continuem a subsistir depois de pronunciamento desta Corte em
sentido contrário, até mesmo para garantir tratamento isonômico a todos
em face da Constituição da República.
Publicada, portanto, a ata de julgamento, momento a partir do qual a
decisão desta Suprema Corte passa a produzir seus efeitos regulares (ADI
711-QO/AM, Rel. Min. Néri da Silveira, j. 05.8.1992, DJ 11.6.1993), cessam,
ipso facto, os efeitos para eventos futuros decorrentes de sentenças

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RE 949297 / CE

proferidas em hipóteses que versem a respeito de relações jurídicas de


trato continuado.
19. É preciso realçar, nesse contexto, que, na minha visão, a
declaração, por este Tribunal, da constitucionalidade ou
inconstitucionalidade de determinado preceito normativo conduz, sem a
necessidade de ajuizamento de um novo processo ou de
pronunciamento judicial posterior a respeito da matéria in concreto, à
cessação, reitero, automática da eficácia da coisa julgada no tocante aos
eventos futuros.
Em outras palavras: a alteração no estado de direito consubstanciada
no pronunciamento, em sede de controle de constitucionalidade, deste
Supremo Tribunal Federal produz efeitos automáticos sobre a coisa
julgada anterior em sentido contrário no tocante às reiterações futuras.
Despicienda, assim, decisão judicial in concreto asseverando a perda de
eficácia do ato sentencial, ressalvada previsão legal específica.
É verdade que, em algumas hipóteses, a modificação do estado de
fato ou de direito, para produzir efeitos, depende, necessariamente, da
iniciativa do interessado no novo pronunciamento judicial. Diz-se que
assiste ao beneficiado pela mudança no status quo o direito potestativo de
provocar, mediante ação própria, a revisão da sentença anterior, cuja força
vinculativa permanecerá íntegra enquanto não houver aquela provocação
(ZAVASCKI, Teori Albino, Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional.
4. ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 106-7). Tenho
para mim, no entanto, que tais casos são absolutamente excepcionais, a
merecerem interpretação estrita.
Assim, somente quando prevista em lei a possibilidade de exercício
do direito potestativo em referência, ou seja, apenas quando norma legal
dispuser, expressamente, quanto à admissibilidade de ajuizamento da
ação revisional, esta será indispensável. Nas demais hipóteses, reafirmo, a
coisa julgada perderá eficácia automaticamente frente à decisão desta
Corte em controle de constitucionalidade.
Vale trazer, quanto ao ponto, fragmento do parecer do Ministério
Público Federal:

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“Outro ponto a ser considerado é a prescindibilidade de


condução de ação revisional, uma vez reconhecido o vínculo de
trato sucessivo. Isso porque a circunstância que leva à revisão
judicial do julgado é, precisamente, o fato de haver uma decisão
judicial em vigor transitada em julgado que impõe determinado
dever jurídico. O caso dos autos diverge dessa regra, uma vez
que a decisão sobre a qual recaiu a coisa julgada afastou a
incidência tributária, imunizando o contribuinte da respectiva
exação. Não houve dever jurídico imposto por sentença, logo
desnecessária a revisitação do tema pela mesma via.
Ademais, no campo tributário, por sua taxatividade
normativa, todo o conteúdo impositivo, incluindo o
procedimento de cobrança, é definido em lei e executado pela
autoridade administrativa. Em outras palavras, a lei tributária
já designa os elementos fundamentais para o reconhecimento
do débito tributário, sendo suficiente a deflagração de
procedimento administrativo de lançamento fiscal para a
verificação da ocorrência do fato gerador, a determinação da
matéria tributável, o cálculo do montante do tributo devido, a
identificação do sujeito passivo e a eventual penalidade cabível,
tudo na forma e sob o impulso do art. 142 do Código Tributário
Nacional.
Portanto, uma vez interrompido o vigor da sentença
imunizante, a própria atividade administrativa, por força
exclusiva da lei, poderá iniciar o procedimento de lançamento
tributário para inscrever os débitos relativamente aos fatos
geradores ocorridos em data posterior ao pronunciamento de
tribunal em controle concentrado.”

A exegese acima defendida, ainda, pode ser extraída de dois outros


fundamentos autônomos.
Impende assinalar que a alteração do substrato fático e/ou jurídico
dá origem a uma nova causa de pedir. Isso significa a possibilidade de
ajuizamento de nova ação, absolutamente distinta da anterior.
Indispensável, no entanto, aferir a presença da legitimidade e do interesse

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in concreto, aquilo que Cassio Scarpinella Bueno chama de mínimo


indispensável ao exercício do direito de ação (BUENO, Cassio Scarpinella.
Curso sistematizado de direito processual civil vol. 1. 9. ed., São Paulo: Saraiva,
2018, p. 286).
Com efeito, o exame do interesse de agir revela se tratar de um
requisito processual a ser analisado em três vértices (necessidade,
utilidade e adequação). Interessa, para fundamentar este tópico, o
interesse-necessidade que se vincula também ao próprio âmbito
conceitual de lide.
Nessa linha intelectiva, o interesse de agir sob o ângulo da
necessidade fundamenta-se na premissa de que a jurisdição tem de ser encarada
como última forma de solução de conflitos (DIDIER JR., Fredie. Curso de
Direito Processual Civil – vol. 1: Introdução ao Direito Processual Civil,
Parte Geral e Processo de Conhecimento. 23. ed., Salvador: Juspodivm,
2021. p. 476). Vale dizer, é a existência do conflito de interesses que leva o
interessado a dirigir-se ao juiz e a pedir-lhe uma solução; e é precisamente a
contraposição dos interesses em conflito que exige a substituição dos sujeitos em
conflito pelo Estado (CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada
Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 31. ed.,
São Paulo: Malheiros Editores, 2015, p. 168).
Dito de outro modo: inexiste interesse de agir quando a pretensão
ainda não houver sido resistida, por não haver necessidade de
acionamento do Poder Judiciário. Essa ótica do tema foi endossada pelo
Plenário desta Corte ao exame do RE 631.240/ MG (Tema 350), Rel. Min.
Roberto Barroso, j. 03.9.2014, DJe 10.11.2014.
Com efeito, retomando a questão central deste tópico, mostra-se
desnecessário que o beneficiado pelo entendimento veiculado pelo STF,
em sede de controle de constitucionalidade, ajuíze ação própria para
fazer cessar a autoridade da coisa julgada anterior em sentido contrário
proferida em relação jurídica de trato continuado, ausente, pela simples
superveniência do decisum desta Casa, pretensão resistida pelo
prejudicado.
Na realidade, em tal circunstância, paralisado o cumprimento das

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obrigações decorrentes da coisa julgada ante superveniente


pronunciamento deste Tribunal em controle de constitucionalidade, cabe
ao interessado prejudicado – beneficiário da sentença concreta transitada
em julgado – ajuizar ação própria, tendo em vista que, nessa hipótese,
haverá a necessidade (interesse de agir) de pronunciamento do Poder
Judiciário para sanar eventual dúvida existente, haja vista resistência ao
cumprimento de decisão anterior.
Há, por fim, uma questão prática relevante para amparar o
entendimento acima exposto.
Exigir, sem qualquer previsão legal específica, o ajuizamento de
nova ação (ação revisional) para reconhecimento da cessação de eficácia
da coisa julgada acarreta elevação (i) no número de processos
distribuídos e (ii) na taxa de congestionamento dos Juízos, sem
justificativa e fundamentação razoável e adequada.
A corroborar tal entendimento, rememoro dois precedentes, julgados
sob a sistemática da repercussão geral, do Plenário desta Suprema Corte
cuja ratio decidendi, comum em ambos os casos, entendo inteiramente
aplicável à questão analisada.
Ao exame do RE 561.836/RN (Tribunal Pleno, j. 26.9.2013, DJe
10.02.2014), submetido à sistemática da repercussão geral (Tema 5), de
relatoria do Ministro Luiz Fux, o Pleno fixou tese no sentido de que,
inobstante reconhecida pelo Poder Judiciário, por meio de sentença
transitada em julgado, diferença remuneratória devida a servidor
público, o termo ad quem dessa obrigação deve ocorrer no momento em que a
carreira do servidor passa por uma restruturação remuneratória, porquanto não
há direito à percepção ad aeternum de parcela de remuneração por servidor
público.
Na mesma linha, ao exame do já mencionado RE 596.663/RJ
(Tribunal Pleno, j. 24.9.2014, DJe 26.11.2014), submetido à sistemática da
repercussão geral (Tema 494), de redatoria do saudoso Ministro Teori
Zavascki, agora em controvérsia envolvendo trabalhadores regidos pela
CLT, o Plenário firmou entendimento segundo o qual [a] força vinculativa
das sentenças sobre relações jurídicas de trato continuado atua rebus sic

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stantibus: sua eficácia permanece enquanto se mantiverem inalterados os


pressupostos fáticos e jurídicos adotados para o juízo de certeza estabelecido pelo
provimento sentencial. A superveniente alteração de qualquer desses
pressupostos (a) determina a imediata cessação da eficácia executiva do julgado,
independentemente de ação rescisória ou, salvo em estritas hipóteses previstas em
lei, de ação revisional, razão pela qual (b) a matéria pode ser alegada como
matéria de defesa em impugnação ou em embargos do executado.
A ratio decidendi de ambos os casos é de fácil identificação: a alteração
das circunstâncias fáticas e/ou jurídicas levam automaticamente, em
relações jurídicas de trato continuado, à perda de eficácia da coisa
julgada.
Entendo que a ratio decidendi subjacente ao RE 561.836/RN e ao RE
596.663/RJ tem aplicação às hipóteses nas quais o Supremo Tribunal
Federal, em controle de constitucionalidade, se pronuncia em sentido
contrário à coisa julgada formada em momento anterior, a significar que,
em tais casos, os efeitos futuros decorrentes de sentença transitada em
julgado perdem seu caráter vinculativo e executivo sem a necessidade
ajuizamento de ação rescisória ou ação revisional, salvo previsão legal
expressa.
20. Assim, concluindo o presente tópico, os fundamentos acima
expostos e a análise da jurisprudência consolidada desta Corte
Constitucional permitem algumas constatações inequívocas quanto às
decisões proferidas, em sede de controle de constitucionalidade
(incidental ou concentrado), pelo Supremo Tribunal Federal:

(a) constituem alteração no estado de direito, a legitimar o


ajuizamento de ação rescisória ou utilização como meio de
defesa na fase executória do processo;
(b) não produzem, em relação ao passado, efeitos
automáticos, sendo, pois, imprescindível a utilização dos meios
processuais adequados (ação rescisória, por exemplo);
(c) fazem cessar, ipso facto, os efeitos futuros decorrentes
de sentenças proferidas em hipóteses que versem a respeito de
relações jurídicas de trato continuado.

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V. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DAS ANTERIORIDADES

21. Como já assentado pela jurisprudência desta Casa, o princípio da


anterioridade tributária traduz expressiva garantia titularizada pelos
contribuintes em face do Estado, haja vista consubstanciar uma
importante e poderosa limitação ao poder de tributar. É por essa razão
que o Plenário desta Corte, ao exame da ADI 939/DF, Rel. Min. Sydney
Sanches, Tribunal Pleno, DJ 18.3.1994, assentou que referido princípio
constitucional (CF, art. 150, III, b) revela-se como verdadeira cláusula
pétrea, por se constituir em garantia individual associada à segurança
jurídica.
O princípio da anterioridade, nesse contexto, tem como intuito
possibilitar o planejamento anual das atividades econômicas, sem o
inconveniente da insegurança, pela incerteza quanto ao ônus tributário a ser
considerado (MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 37. ed.
São Paulo: Malheiros, 2016, p. 217), suprimindo, desse modo, a surpresa
na seara tributária. É por essa razão que a Carta Política, a teor do art. 150,
III, b, veda a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro em que
publicada a lei, pois o contribuinte, para realizar o devido planejamento
econômico-financeiro, deve ter prévia ciência a respeito do ônus a que
será submetido.
Assim, tendo em vista a importância do princípio da anterioridade
anual, esvaziada a partir de práticas institucionais, o constituinte
derivado, em reforço à segurança jurídica, promulgou a Emenda
Constitucional 42/2003, criando uma nova hipótese de vedação a
cobrança de tributos por meio da anterioridade nonagesimal. Segundo o
art. 150, III, c, da Constituição Federal não serão cobrados tributos antes
de decorridos noventa dias da publicação da respectiva lei, desde que
observada, ainda, a anterioridade anual prevista na alínea b do inciso III
do art. 150 da Carta Política.
Com efeito, a doutrina tributarista tem acentuado a íntima relação de
conexidade existente entre a anterioridade anual e a anterioridade
nonagesimal, de modo que a observância conjunta de ambos os

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princípios revela-se como regra, pois as duas modalidades de anterioridade –


a genérica e a especial – entrecruzam-se, ampliando a proteção conferida aos
contribuintes (COSTA, Regina Helena. Curso de direito tributário. 12. ed. São
Paulo: SaraivaJur, 2022, p. 102). Assim, a anterioridade nonagesimal
consubstancia regra de observância conjugada com a anterioridade anual,
de modo que o tributo somente poderá ser cobrado a partir do primeiro dia
útil do exercício seguinte àquele em que a lei que o instituiu ou aumentou foi
editada, a exigência só poderá ser feita, de qualquer modo, noventa dias após a
publicação da lei, tudo a fortalecer a segurança jurídica dos cidadãos (ÁVILA,
Humberto. Sistema constitucional tributário. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012,
p. 217).
Desse modo, para não incidência cumulativa da anterioridade anual
e da anterioridade nonagesimal imprescindível a existência de disposição
constitucional expressa nesse sentido. Destaco, ainda – estabelecido que,
em regra, ambas as anterioridades devem incidir –, que o tributo somente
poderá ser cobrado no exercício posterior à lei que o criou ou majorou e
após o transcurso de noventa dias de sua publicação, sendo que os prazos
transcorrem simultaneamente, e não sucessivamente (ADI 5.282/PR, Rel. Min.
André Mendonça, Tribunal Pleno, DJe 07.11.2022, v.g.).
Nessa senda, impõe-se destacar que, a teor do art. 150, III, b e c, da
Constituição da República, o princípio da anterioridade – além de, nos
termos da disciplina constitucional, comportar inúmeras mitigações, a
exemplo dos empréstimos compulsórios (CF, art. 148, I, c/c art. 150, § 1º) –
se aplica às hipóteses de instituição ou majoração de tributos.
22. Assim, conforme acentuado acima, os pronunciamentos deste
Supremo Tribunal Federal, em sede de controle de constitucionalidade,
ao traduzirem alteração no estado de direito, no tocante à sentença
proferida em relação jurídica de trato continuado contrastante ao que
decidido pela Suprema Corte, equiparáveis, no âmbito tributário, à
instituição de um novo tributo. Justifica-se, portanto, a incidência,
conforme a natureza da espécie tributária, dos princípios constitucionais
da anterioridade anual e da anterioridade nonagesimal.

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VI. MODULAÇÃO

23. O Ministro Edson Fachin, Relator do RE 949.297/CE, propõe em


seu voto a modulação dos efeitos deste julgamento, no sentido de
[c]onsiderando razões de segurança jurídica, com destaque ao seu consectário da
proteção da confiança dos contribuintes acobertados pela coisa julgada, o presente
entendimento tem eficácia pró-futuro a partir da publicação da ata de julgamento
desta decisão.
Afirma, para tanto, que a (i) tutela da confiança depositada pelo
contribuinte antes acobertado pela coisa julgada e (ii) a alteração de
entendimento deste Eg. STF seriam fatores aptos a ensejar a modulação de efeitos.
24. Com a devida vênia do eminente Ministro Edson Fachin, divirjo
das conclusões alcançadas por Sua Excelência.
25. De fato – e não há qualquer dúvida razoável quanto a esse ponto
–, a segurança jurídica revela-se como um pilar estruturante do Estado
de Direito, notadamente na seara tributária em que adquire a feição da
proteção da confiança, a possibilitar, ao contribuinte, seu devido e
imprescindível planejamento tributário.
Ocorre, contudo, que, na hipótese de contribuinte com sentença
judicial favorável a si e transitada em julgado, a superveniência de
decisão, no âmbito do controle de constitucionalidade, desta Suprema
Corte em sentido contrário e a aplicação dos princípios da anterioridade
anual e nonagesimal são fatores que afastam, por si só, a alegação de
fragmentação da confiança depositada na coisa julgada anteriormente
formada.
Pronunciamento desta Casa contrastante com decisão judicial
transitada em julgada rompe com a legítima expectativa, pois
consubstancia, como dito acima, alteração do estado de direito, a
evidenciar o contribuinte deve se planejar com base na nova circunstância
fático-normativa, sendo certo, nesse contexto, que a aplicação do art. 150,
III, b e c, da Constituição da República, mostra-se suficiente para proteger
a segurança jurídica do sujeito passivo da relação jurídico-tributária.
26. De outro lado, entendo que há um equívoco quanto à premissa

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RE 949297 / CE

adotada. Este Supremo Tribunal Federal ao exame do RE 730.462/SP, Rel.


Min. Teori Zavaski, Tribunal Pleno, j. 28.5.2015, DJe 09.9.2015,
diversamente do afirmado pelo Relator, não assentou tese no sentido de
que seria indispensável a ação rescisória para fazer cessar os efeitos
futuros de comandos sentenciais. Na realidade, em referido caso,
julgado sob a sistemática da repercussão geral, acentuada a necessidade
de ajuizamento da ação rescisória para desconstituir os efeitos pretéritos e
ordinários das sentenças.
Além disso, explicitamente consignado na ementa de referido
julgado, sua inaplicabilidade às relações jurídicas de tratado continuado,
notadamente quanto à execução de seus efeitos futuros. Não há falar,
assim, em alteração de entendimento firmado por esta Casa.
27. O fato de o Superior Tribunal de Justiça ter julgado, sob o rito dos
repetitivos (REsp 1.118.893/MG, Tema 340, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima,
Primeira Seção, DJe 06.4.2011), questão idêntica e ter adotado solução
diametralmente oposta não altera a conclusão quanto à desnecessidade
de modulação dos efeitos.
Isso porque a modulação dos efeitos de pronunciamentos
jurisdicionais deste Supremo Tribunal Federal não compete a nenhuma
outra Corte, mas, única e exclusivamente, a esta própria Casa. Vale dizer,
se o STF não modulou os efeitos de sua decisão, nenhum outro Tribunal
poderá fazê-lo.
A decisão do Superior Tribunal de Justiça, no recurso especial acima
mencionado, limitou a eficácia de decisões exaradas por esta Suprema
Corte, o que, ao fim e ao cabo, levou à modulação dos efeitos de atos
decisórios desta Casa, em evidente e inadmissível usurpação de
competência.
28. Por fim, tal como apresentada, a modulação de efeitos traria, a
meu sentir, maior insegurança jurídica aos envolvidos, especialmente
àqueles que, após a decisão deste Supremo Tribunal Federal em sentido
contrário à coisa julgada que lhes havia sido favorável, recolheram
devidamente o tributo em questão, havendo, na hipótese, também
evidente violação do princípio da isonomia.

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RE 949297 / CE

Desse modo, pedindo vênia ao Ministro Edson Fachin, entendo não


estarem preenchidos os requisitos a que se refere o art. 927 do Código de
Processo Civil, motivo pelo qual voto pela rejeição da proposta de
modulação apresentada.

VII. CONCLUSÃO

29. Ressalto, antes de concluir este voto, que, a despeito dos


relevantes argumentos sustentados pelo Ministro Luís Roberto Barroso
no sentido da abstrativização do controle difuso de constitucionalidade, ou seja,
acerca do sentido e do alcance do hermenêutico do art. 52, X, da
Constituição da República, entendo desnecessário, tal como ressaltado
pelo Ministro Gilmar Mendes em seu voto, para deslinde da presente
controvérsia, adentrar em considerações desse jaez, ante sua absoluta
desinfluência para o debate em tela.
Assim, reservo-me ao direito de não me pronunciar, tampouco
aderir a referido fundamento exposto pelo Ministro Luís Roberto Barroso,
Relator do RE 955.227/BA.
30. Ante o exposto, pedindo vênia aos entendimentos em sentido
contrário, voto no sentido de:

(a) dar provimento ao recurso extraordinário manejado


pela União Federal no RE 949.297/CE, acompanhando o
Ministro Edson Fachin;
(b) negar provimento ao recurso extraordinário manejado
pela União Federal no RE 955.227/BA, acompanhando o
Ministro Luís Roberto Barroso;
(c) rejeitar a modulação dos efeitos tal como proposto pelo
Ministro Edson Fachin;
(d) em relação à tese de julgamento, entendo necessária a
unificação das propostas, de modo a garantir segurança jurídica
aos atores do sistema jurídico e, assim, acompanho a tese
formulada pelo Ministro Luís Roberto Barroso.

É como voto.

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Observação

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08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE
SAO PAULO - FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS
QUIMICOS PARA FINS INDUSTRIAIS,
PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE
CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO

OBSERVAÇÃO
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Eu não
tenho todas as manifestações quanto à anterioridade anual e
nonagesimal.

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Supremo Tribunal Federal
Aditamento ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 453 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ADITAMENTO AO VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora


Presidente, agora, nesta assentada, o eminente Ministro Dias Toffoli, a
meu ver, explicitou, com muita clareza e objetividade, as questões que
estão em jogo.
Eu acompanho integralmente essa explicitação do Ministro Dias
Toffoli.

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Supremo Tribunal Federal
Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 454 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ESCLARECIMENTO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Ministro


Lewandowski, é porque, na posição que prevaleceu, os seis Ministros que
votaram favoravelmente à cessação dos efeitos de 2007, com importância
para fixação da tese ad futurum, eu propus que se respeitasse a
anterioridade anual ou nonagesimal, conforme o tributo.
O Ministro Gilmar divergiu, o Ministro André Mendonça e o
Ministro Alexandre divergiram.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Eu também.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – Também
o Ministro Dias Toffoli.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Mas eu
penso, Presidente, que a posição dos que queriam que valesse, a partir de
agora, coincidiria mais com aplicação da anterioridade.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Aqui, nós estamos falando de tese geral.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Então, acho
que Vossa Excelência, talvez, pudesse votar separadamente essa questão
da anterioridade ou não.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Eu colho
os votos. Mas só para relembrar, na linha do que Vossa Excelência acabou
de dizer, Ministro Luís Roberto, não observam os princípios da
anterioridade e a noventena: Ministro André Mendonça, Ministro
Alexandre de Moraes, Ministro Dias Toffoli, Ministro Gilmar Mendes. É o
que tenho: esses quatro aqui. Não observam.

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Supremo Tribunal Federal
Retificação de Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 455 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI -


Presidente, eu, equivocadamente, entendi - agora, o eminente Ministro
Dias Toffoli me esclarece - que a posição de Sua Excelência era similar
àquela do eminente Ministro Roberto Barroso.
Então, retificando o meu voto, eu agora acompanho o Ministro
Barroso, tal como ele explicitou o seu posicionamento.

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Supremo Tribunal Federal
Aditamento ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 456 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ADITAMENTO AO VOTO

O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: Senhora Presidente,


Ministra Cármen Lúcia, Senhores Ministros, Senhor Procurador-Geral da
República, Senhores advogados, boa tarde a todos! É a primeira vez que
falo, por isso os cumprimentos.
Como bem disse o eminente ministro Luís Roberto Barroso, a tese
que propus se aproxima mais da proposta de Sua Excelência, razão pela
qual eu o acompanho.

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Supremo Tribunal Federal
Aditamento ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 457 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ADITAMENTO AO VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhora Presidente, assiste


razão ao Ministro Luís Roberto Barroso no sentido de que, para se chegar
a nossa modulação, teria que passar pela dele.
De sorte que eu, particularmente - não sei a posição do Ministro
Edson Fachin -, uma vez vencido, estou aderindo à proposta do Ministro
Luís Roberto Barroso.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Com
relação só a anterioridade?
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - É, porque fica coerente com
quem queria garantir a segurança.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Já está
computado assim.

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Supremo Tribunal Federal
Aditamento ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 458 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ADITAMENTO AO VOTO
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Senhora Presidente,
apenas para reiterar, eu já houvera feito uma manifestação incidental, na
sessão passada, reconhecendo que, se a posição que eu defendera restasse
vencida, eu acompanharia integralmente a posição do Ministro Luís
Roberto Barroso, que, aqui, reitero.
Nada obstante, permita-me adiantar, tenha havido unanimidade na
conclusão do voto que eu relatei quanto à procedência, há uma diferença
substancial na decisão tomada e creio que a relatoria se desloca ao
Ministro Barroso.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Só um
minutinho, Presidente, perdoe-me.
Não temos outra divergência que não a da modulação, temos?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Não temos outra
divergência que não o fundamento central do voto. Eu suscito a vigência
do entendimento a partir de aqui, e seis votos, capitaneados por Vossa
Excelência, suscitam a vigência a partir de 2007. Esse divisor de águas,
não só pelos anos passados, traduz uma diferença substancial.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Mas posso
aproveitar a parte mais substantiva do seu voto, tirando a da modulação.

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Supremo Tribunal Federal
Proposta

Inteiro Teor do Acórdão - Página 459 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

PROPOSTA

(TESE)

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – E com


relação à tese, Ministro Luís Roberto?
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Pois não,
Presidente.
A tese é simples e expressa a posição da maioria. Aliás, acho que
expressa, talvez, a posição unânime, salvo quanto ao detalhe da
anterioridade. Tese 1:
As decisões do Supremo Tribunal Federal em controle incidental de
constitucionalidade anteriores à instituição de regime de repercussão
geral não impactam automaticamente a coisa julgada que se tenha
formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo.
Tese dois ou proposição dois:
As decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão
geral interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões
transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou anterioridade
nonagesimal, conforme a natureza do tributo.
Essa fica sendo a tese.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – Há
alguma divergência quanto à tese, ressalvada a questão da anterioridade,
que eu vou registrar como foi decidido?
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
As divergências já estão nos votos.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) - Isso.
Então, registramos a aprovação da tese, vencidos em parte, com relação
exclusivamente à anterioridade nonagesimal e anual, os eminentes
Ministros...

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Supremo Tribunal Federal
Proposta

Inteiro Teor do Acórdão - Página 460 de 468

RE 949297 / CE

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Mas não na tese.


A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – Não na
tese. A tese foi aprovada. A tese foi aprovada unanimemente, porque
nossa aprovação é no sentido de que ela está absolutamente conforme ao
decidido pelo Plenário, pela maioria do Plenário. Mas faço o registro na
parte dispositiva.

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Supremo Tribunal Federal
Observação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 461 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

OBSERVAÇÃO
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Presidente,
permite-me a gentileza?
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – Pois não.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Gostaria de
registrar a extraordinária contribuição dos advogados públicos, dos
advogados privados e dos pareceristas, que ajudaram a iluminar uma
discussão extremamente complexa. Penso que chegamos a um bom
termo.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – Sem
dúvida. Eu reitero, endosso esses elogios todos. Foi um tema muito bem
debatido e com posições todas extremamente defensáveis. Gostei muito
deste julgamento construído como foi.

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Supremo Tribunal Federal
Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 462 de 468

08/02/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297 CEARÁ

ESCLARECIMENTO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:


Senhora Presidente, agora só para deixar claro, uma vez fixada a
tese, que essa questão da anterioridade seja pela anualidade, seja pela tese
nonagesimal, o Supremo, ao declarar a inconstitucionalidade no controle
concentrado de um tributo em janeiro, as empresas poderão ainda deixar
de recolher até janeiro do ano seguinte.
Só para ficar claro, porque é uma tese geral.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Se for um
tributo ao qual se aplique a anterioridade anual, sim.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Só para deixar claro. Já está proclamado o resultado.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Se for a
noventena...
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Eu não quero reabrir a discussão, mas só para esclarecer: nós não
estamos decidindo só este caso concreto.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – Não.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - É isso.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Nós estamos decidindo a tese.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Para quem tiver um
trânsito em julgado a seu favor.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
Para quem tiver um trânsito em julgado a seu favor.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – É,
exatamente. Eu fundamentei meu voto justamente a entender que é um...
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - A anterioridade é só
para aquele que tiver um caso com trânsito em julgado.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) –

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Supremo Tribunal Federal
Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 463 de 468

RE 949297 / CE

Seguramente.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:
É que tem que ficar claro isso: só para quem tiver o trânsito em
julgado a seu favor. Senão aquele que não tem o trânsito em julgado a seu
favor vai fazer o uso desta tese para deixar de recolher por um ano o
tributo.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – Ministro
Luís Roberto Barroso, Vossa Excelência, então, fica como redator para o
acórdão, inclusive do recurso extraordinário do Ministro Luiz Edson
Fachin, e aí Vossa Excelência que, seguramente, destacará esse aspecto
trazido pelo Ministro Dias Toffoli, em que Sua Excelência pede que se
repise que se trata apenas do contribuinte que tiver a seu favor uma coisa
julgada.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Certo.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – Está bem?
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Sem
dúvida.
A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (PRESIDENTE) – Agradeço
a Vossa Excelência, agradeço a todos.

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Extrato de Ata - 08/02/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 464 de 468

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 949.297


PROCED. : CEARÁ
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. ROBERTO BARROSO
RECTE.(S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL (00000/DF)
RECDO.(A/S) : TBM - TEXTIL BEZERRA DE MENEZES S/A
ADV.(A/S) : THAÍS HELENA DE QUEIROZ NOVITA (41728/SP)
ADV.(A/S) : GLAUCIA MARIA LAULETTA FRASCINO (18287/BA, 01449/A/DF,
161891/RJ, 113570/SP)
ADV.(A/S) : PAULO CAMARGO TEDESCO (234916/SP)
AM. CURIAE. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SAO PAULO -
FIESP
ADV.(A/S) : HELCIO HONDA (90389/SP) E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE RAMOS (188415/SP)
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL -
CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR (0016275/DF)
AM. CURIAE. : SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS QUIMICOS PARA
FINS INDUSTRIAIS, PETROQUIMICAS E DE RESINAS SINTETICAS DE CAMAC
ADV.(A/S) : LUIZ ANTÔNIO BETTIOL (6558/DF)
ADV.(A/S) : FLAVIO EDUARDO SILVA DE CARVALHO (20720/DF, 291776/SP)
ADV.(A/S) : EWERTON AZEVEDO MINEIRO (15317/DF)

Decisão: Após o voto do Ministro Edson Fachin (Relator), que


conhecia do recurso extraordinário a que se dava provimento para
reformar o acórdão recorrido, com a denegação da ordem
mandamental, condenava a parte recorrida ao pagamento das despesas
processuais da parte recorrente, conforme os arts. 82, § 2º, e 84
do CPC, ficando a parte vencida exonerada do pagamento de
honorários advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF, modulava
os efeitos temporais da decisão para que tenha eficácia pró-futuro
a partir da publicação da ata de julgamento deste acórdão,
considerando o período de anterioridade nonagesimal, nos casos de
restabelecimento de incidência de contribuições sociais, e de
anterioridade anual e nonagesimal, para o restabelecimento da
incidência das demais espécies tributárias, ressalvadas as
exceções previstas na Constituição, e, ao final, propunha a
fixação da seguinte tese de repercussão geral (tema 881): “A
eficácia temporal de coisa julgada material derivada de relação
tributária de trato continuado possui condição resolutiva que se
implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento
realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a

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Extrato de Ata - 08/02/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 465 de 468

noventena ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie


tributária em questão”, no que foi acompanhado pela Ministra Rosa
Weber; do voto do Ministro Roberto Barroso, que acompanhava o
Relator, mas propunha a fixação de tese diversa, no seguinte
sentido: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em
sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos
temporais das sentenças transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”; do voto do Ministro Dias Toffoli, que acompanhava o
Relator quanto ao provimento do recurso e à proposta de modulação
de efeitos da decisão, mas fazia ressalvas quanto à tese de
repercussão geral proposta pelo Relator, acompanhando, nesse
ponto, o Ministro Roberto Barroso; e do voto do Ministro Gilmar
Mendes, que dava provimento ao recurso extraordinário para
assentar que, em se tratando de relação jurídica de trato
sucessivo, a superveniência de interpretação do Plenário do STF,
em sede de controle concentrado ou difuso de constitucionalidade,
divergente com a exegese transitada em julgado em demanda
individual ou coletiva, faz cessar a ultratividade da eficácia
preclusiva da coisa julgada formal e material em relação aos
efeitos futuros de atos pretéritos, além dos atos futuros,
restabelecendo, no caso concreto, a sentença, e, ainda, sugeria as
seguintes teses de repercussão geral: “1) em se tratando de
efeitos pretéritos ou pendentes de atos passados, quando se tratar
de relação jurídica de trato sucessivo, é cabível ação rescisória
ou alegação de inexigibilidade do título executivo judicial quando
este contrariar a exegese conferida pelo Plenário da Suprema
Corte, tal como assentado na ADI 2.418, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 17.11.2016; no RE 730.462, Rel. Min. Teori Zavascki,
Pleno, DJe 9.9.2015 (tema 733 da RG); e no RE 611.503, Redator p/
acórdão Min. Edson Fachin, Pleno, DJe 10.3.2019 (tema 360 da RG),
além do disposto nos §§ 7º e 8º do art. 535 do CPC; e 2) quanto
aos efeitos futuros de atos passados, bem ainda de atos futuros,
ambos submetidos à relação jurídica de trato continuado, cessa a
ultratividade de título judicial fundado em ‘aplicação ou
interpretação tida como incompatível com a Constituição’, na
situação em que o pronunciamento jurisdicional for contrário ao
decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, seja no
controle difuso, seja no controle concentrado de
constitucionalidade, independentemente de ação rescisória ou
qualquer outra demanda, diante da cláusula rebus sic stantibus, na
linha do que assentado no RE 596.663, Redator p/ acórdão Min.
Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 26.11.2014 (tema 494 da RG)”,
pediu vista dos autos o Ministro Alexandre de Moraes. Falaram:

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 466 de 468

pela recorrente, o Dr. Claudio Xavier Seefelder Filho, Procurador


da Fazenda Nacional; pela recorrida, a Dra. Glaucia Maria Lauletta
Frascino; pelo amicus curiae Sindicato das Indústrias de Produtos
Químicos para Fins Industriais, Petroquímicas e de Resinas
Sintéticas de Camaçari, Candeias e Dias D’ávila – SINPEQ, a Dra.
Fernanda Donnabella Camano de Souza; pelo amicus curiae Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, o Dr. Luiz
Gustavo A. S. Bichara; e, pelo amicus curiae Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, a Dra. Misabel de Abreu
Machado Derzi. Plenário, Sessão Virtual de 6.5.2022 a 13.5.2022.

Decisão: Após o voto-vista do Ministro Alexandre de Moraes,


que acompanhava o voto do Relator para dar provimento ao recurso
extraordinário, e reformar o acórdão recorrido, de forma a denegar
a segurança, aderindo à tese e à modulação propostas, pediu vista
dos autos o Ministro Gilmar Mendes. Plenário, Sessão Virtual de
30.9.2022 a 7.10.2022.

Decisão: Após o voto reajustado do Ministro Edson Fachin


(Relator), no sentido de conhecer do recurso extraordinário,
provendo-o para reformar o acórdão recorrido, com a denegação da
ordem mandamental, condenando a parte recorrida ao pagamento das
despesas processuais da parte recorrente, conforme os arts. 82, §
2º, e 84 do CPC, ficando a parte vencida exonerada do pagamento de
honorários advocatícios, nos termos da Súmula 512 do STF, e
propondo a fixação da seguinte tese de repercussão geral (tema
881): “A eficácia temporal de coisa julgada material derivada de
relação tributária de trato continuado possui condição resolutiva
que se implementa com a publicação de ata de ulterior julgamento
realizado em sede de controle abstrato e concentrado de
constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, quando os
comandos decisionais sejam opostos, observadas as regras
constitucionais da irretroatividade, a anterioridade anual e a
noventena ou a anterioridade nonagesimal, de acordo com a espécie
tributária em questão”, no que foi acompanhado pelos Ministros
Rosa Weber (Presidente), Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia; do
voto do Ministro Roberto Barroso, que acompanhava o Relator, dando
provimento ao recurso extraordinário da União, para reconhecer a
constitucionalidade da interrupção dos efeitos futuros da coisa
julgada em relações jurídicas tributárias de trato sucessivo,
quando esta Corte se manifestar em sentido contrário em controle
concentrado, mas propunha fixação de tese diversa, no seguinte
sentido: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em

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Extrato de Ata - 08/02/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 467 de 468

sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos


temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”; do voto do Ministro Dias Toffoli, que acompanhava, com
ressalvas, o Ministro Relator, dando provimento ao recurso
extraordinário, mas, em relação à tese de repercussão geral,
acompanhava o Ministro Roberto Barroso; e do voto reajustado do
Ministro Gilmar Mendes, que acompanhava, com ressalvas, o Relator,
dele divergindo apenas em relação à aplicação dos princípios das
anterioridades (anual e/ou nonagesimal), e, quanto à tese de
repercussão geral proposta pelo Relator, entendia que as teses de
julgamento dos temas n. 881 e n. 885 deveriam ser uniformes, para
garantir segurança jurídica e evitar interpretações divergentes
quanto ao tema de fundo. Assim, propunha, com as ressalvas e
divergência pontuadas no RE 955.227, que seja aprovada a tese do
Ministro Roberto Barroso constante desse recurso extraordinário.
No entanto, ressalvava seu entendimento pessoal para acompanhar o
item 1, qual seja, “1. As decisões do STF em controle incidental
de constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo.”, e divergir pontualmente do item 2 (“2. Já as
decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral
interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões
transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a
anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo.”), por
entender desnecessária a aplicação dos princípios da anterioridade
anual e da noventena, o processo foi destacado pelo Ministro
Relator. Plenário, Sessão Virtual de 18.11.2022 a 25.11.2022.

Decisão: Após a leitura do relatório e a realização das


sustentações orais, o julgamento foi suspenso. Falaram: pela
recorrente, o Dr. Claudio Xavier Seefelder Filho, Procurador da
Fazenda Nacional; pela recorrida, a Dra. Glaucia Maria Lauletta
Frascino; pelo amicus curiae Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo – FIESP, a Dra. Mizabel de Abreu Machado Derzi; pelo
amicus curiae Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil –
CFOAB, o Dr. Luiz Gustavo Antônio Silva Bichara; e, pelo amicus
curiae Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para fins
Industriais, Petroquímicas e de Resinas Sintéticas de Camaçari,
Candeias e Dias D´ávila – SINPEQ, a Dra. Fernanda Donnabella
Camano de Souza. Ausente, justificadamente, o Ministro Ricardo
Lewandowski. Presidência da Ministra Rosa Weber. Plenário,
1º.2.2023.

Decisão: Após o voto do Ministro Edson Fachin (Relator), que


conhecia do recurso extraordinário e dava-lhe provimento, no que

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Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 08/02/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 468 de 468

foi acompanhado pelos Ministros Roberto Barroso, Gilmar Mendes,


André Mendonça, Nunes Marques, Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Dias
Toffoli e Cármen Lúcia, com divergências no tocante à modulação
dos efeitos da decisão e à aplicação dos princípios das
anterioridades (anual e nonagesimal), o julgamento foi suspenso.
Ausente, justificadamente, o Ministro Ricardo Lewandowski.
Presidência da Ministra Rosa Weber. Plenário, 2.2.2023.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, apreciando o tema 881 da


repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário da
União. Por maioria, não modulou os efeitos da decisão, vencidos os
Ministros Edson Fachin (Relator), Luiz Fux, Ricardo Lewandowski,
Dias Toffoli e, em parte, o Ministro Nunes Marques, que propunham
modulação. Por fim, por maioria, entenderam-se aplicáveis as
limitações constitucionais temporais ao poder de tributar,
vencidos os Ministros Gilmar Mendes, André Mendonça, Alexandre de
Moraes e Dias Toffoli. Na sequência, por unanimidade, foi fixada a
seguinte tese: “1. As decisões do STF em controle incidental de
constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada
que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de
trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em
sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos
temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas
relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e
a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do
tributo”. Tudo nos termos do voto do Ministro Roberto Barroso,
Redator para o acórdão. Presidência da Ministra Rosa Weber.
Plenário, 8.2.2023.

Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. Presentes à sessão


os Senhores Ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen
Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Roberto Barroso, Edson Fachin,
Alexandre de Moraes, Nunes Marques e André Mendonça.

Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Augusto Brandão de


Aras.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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