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Superior Tribunal de Justiça

AÇÃO RESCISÓRIA Nº 6.015 - SC (2017/0074449-7)

RELATOR : MINISTRO GURGEL DE FARIA


REVISOR : MINISTRO FRANCISCO FALCÃO
AUTOR : FAZENDA NACIONAL
RÉU : SINDICATO DAS EMPRESAS DE COMÉRCIO EXTERIOR DO
ESTADO DE SANTA CATARINA
ADVOGADOS : HAMILTON DIAS DE SOUZA - SP020309
LUCIANO OLIVEIRA - SC021045
JÔNATAS GOETTEN DE SOUZA - SC024480
JEANCARLO ARTMANN E OUTRO(S) - SC022046
INTERES. : ASSOCIACAO BRASILEIRA DA IND DE MAQUINAS E
EQUIPAMENTOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : ANA MARIA LOPES SHIBATA - SP080501
CARLOS ANTÔNIO PENA - SP105802
GONTRAN ANTÃO DA SILVEIRA NETO - SP136157A
JULIANA CALLADO GONÇALES - SP311022
FÁBIO VIEIRA FRANÇA - SP294142
INTERES. : FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SAO PAULO -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : HÉLCIO HONDA - SP090389
JORGE ROBERTO KHAUAJA - RJ059403
CAIO CÉSAR BRAGA RUOTOLO - SP140212
ALEXANDRE RAMOS - SP188415
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA.
DECISÃO IMPUGNADA PROFERIDA EM AÇÃO COLETIVA.
PRINCÍPIOS DA ISONOMIA TRIBUTÁRIA E DA LIVRE
CONCORRÊNCIA. OFENSA. SÚMULA 343 DO STF.
INAPLICABILIDADE. EXCEPCIONALIDADE. IMPOSTO SOBRE
PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS - IPI. PRODUTOS
IMPORTADOS. SAÍDA DO ESTABELECIMENTO
IMPORTADOR. INCIDÊNCIA. TEMA DEBATIDO EM RECURSO
ESPECIAL REPETITIVO E EM REPERCUSSÃO GERAL. COISA
JULGADA CONTRÁRIA À TESE VINCULANTE.
EFICÁCIA. PUBLICAÇÃO DA ATA DE JULGAMENTO DO
PRECEDENTE DO STF. INTERRUPÇÃO.
1. A ação rescisória impugna decisão transitada em julgado, proferida
em ação coletiva, em que se considerou que seria ilegal a dupla
incidência do IPI (no desembaraço aduaneiro e na saída da mercadoria
importada do estabelecimento importador) e que tal tributo só incidiria na
primeira hipótese, conclusão que se mostrou contrária à tese jurídica
firmada em julgamento submetido ao rito dos recursos especiais (Tema
912 do STJ – "Os produtos importados estão sujeitos a uma nova
incidência do IPI quando de sua saída do estabelecimento importador na
operação de revenda, mesmo que não tenham sofrido industrialização no
Brasil").
2. "Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei,
quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de
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interpretação controvertida nos tribunais." (Súmula 343 do STF).
3. No julgamento da AR 4.443/RS, em 08/05/2019, este Colegiado
realizou amplo debate acerca da abrangência da aplicação da Súmula
343 do STF, concluindo por sua incidência nos casos em que a
controvérsia jurídica é definida em julgamento submetido ao rito dos
recursos repetitivos, não obstante a Excelsa Corte, à época, ainda estar
discutindo se o referido verbete sumular seria adequado na hipótese de
existência de precedentes vinculantes, como aqueles firmados sob a
sistemática da repercussão geral.
4. Hipótese em que há fator particularmente importante a ser
considerado: a ação originária tinha natureza coletiva, proposta por
sindicato, como substituto processual, o que imprime ao caso uma
singularidade especial, qual seja, a de que os efeitos da sentença
normativa são erga omnes e ultra partes.
5. Permitir que os importadores de apenas um único ente federativo
tenham o direito ad eternum de recolher a tributação do IPI em valor
muito inferior ao cobrado de todos os outros importadores do país
acarreta a violação dos princípios da livre concorrência e da isonomia, o
que justifica, em caráter excepcional, o afastamento da Súmula 343 do
STF.
6. A questão jurídica tratada na decisão rescindenda foi definida por esta
Corte Superior, no julgamento do ERESP 1403532/SC (DJe de
18/12/2015), sob o rito dos recursos repetitivos – Tema 912 –, sendo
que, posteriormente, o Supremo Tribunal Federal examinou a mesma
temática, em repercussão geral, e fixou tese jurídica na mesma linha
adotada pelo STJ: "É constitucional a incidência do Imposto sobre
Produtos Industrializados - IPI no desembaraço aduaneiro de bem
industrializado e na saída do estabelecimento importador para
comercialização no mercado interno" (RE n. 946.648/SC, Tribunal Pleno,
rel. Min. Marco Aurélio, rel. p/ acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 24/08/2020).
7. A matéria relativa aos efeitos temporais dos precedentes obrigatórios
em relação às decisões judiciais contrárias ao entendimento firmado e
transitadas em julgado antes da fixação da tese vinculante ganhou novos
contornos com o julgamento dos Temas 881 (RE 949297 RG/CE, relator
Ministro Edson Fachin) e 885 (RE 955227 RG/BA, relator Ministro Luís
Roberto Barroso) do STF, que cuidam dos limites da coisa julgada em
matéria tributária nas relações de trato sucessivo, diante de acórdãos em
sedes de controle concentrado e de controle difuso de
constitucionalidade, respectivamente.
8. A tese jurídica prevalecente na Corte Excelsa, mormente no Tema
885, é a de que os julgados proferidos sob o rito da repercussão geral,
em razão de sua força vinculante, têm o condão de alterar o quadro
jurídico estabelecido anteriormente, situação que autoriza a flexibilização
da coisa julgada de acordo com a cláusula rebus sic stantibus, aplicável
às relações de trato sucessivo, sendo certo que, nesse contexto, a
modificação do status quo tem efeitos imediatos e automáticos, tornando
despicienda a propositura de ação rescisória ou de ação revisional (art.
505, I, do CPC/2015).
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9. Hipótese em que deve ser reconhecida a procedência parcial da ação
rescisória, não sob o enfoque da validade do título judicial rescindendo,
como pleiteado pela Fazenda Nacional, mas sim em razão de
superveniente norma jurídica – precedente vinculante –, que interrompe
a eficácia da coisa julgada, conforme o recentíssimo entendimento
adotado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento dos Temas 881 e
885.
10. Pedido rescisório julgado parcialmente procedente para interromper
os efeitos da coisa julgada a partir da data de publicação da ata de
julgamento do RE 946.648/SC, submetido ao rito da repercussão geral,
ocorrida em 09/09/2020.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo
o julgamento, preliminarmente, por maioria, vencidos os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques,
Assusete Magalhães e Regina Helena Costa, conhecer da ação rescisória e, quanto ao mérito,
por unanimidade, julgar parcialmente procedente os pedidos para rescindir o acórdão objeto da
presente ação e, em novo julgamento, negar provimento ao Recurso especial n. 1.427.246/SC,
nos termos do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Herman Benjamin
(voto-vista), Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Assusete Magalhães e Regina
Helena Costa votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 08 de fevereiro de 2023

MINISTRO GURGEL DE FARIA

Relator

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