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2. O disposto no n.º 3 do art.º 176.º do CPTA não significa a vinculação do Tribunal a seguir o caminho
indicado pelas partes, nem, tão pouco, que só possa decidir dentro dos limites que elas balizaram, nada
impedindo o Tribunal de condenar a Administração em coisa diversa do que seja pedido, desde que se
entenda que a execução da sentença, incluindo a renovação do acto anulado, ainda é possível e que
constitui a forma legalmente adequada de execução do julgado. Isto porque o que está em causa é o
cumprimento do decidido e a forma como tal deve ser feito. E, sendo assim, havendo desacordo entre
as partes ou havendo erro ou inércia, cabe ao Tribunal indicar tal forma adequada de execução do
julgado. Afinal, o pedido é a execução do julgado anulatório.
I.RELATÓRIO
(ii) seja fixado um prazo razoável para praticar o acto administrativo devido, em
substituição total do acto praticado que foi anulado pelo acórdão proferido nos
autos principais;
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Do erro de julgamento
6. Com interesse para a causa deve referir-se os artigos 11º, 17º do DL 309/93 de
2/9, que aqui se dão por inteiramente reproduzido para os devidos efeitos.
9. Após anulação do acto pelo douto Tribunal a quo, há que fazer então o itinerário
cognitivo da reconstituição da situação actual hipotética que existiria se não
houvesse acto ilegal.
12. Pelo que, o itinerário cognitivo do novo acto há-de basear-se nos pressupostos
à data da prolação do acto anulado.
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da área em causa.
19. Pelo que, o erro nos pressupostos no caso concreto apenas implica que a
Administração tenha de emitir o título de uso privativo ao particular conforme a
qualificação da instalação do Autor, uma vez que a posição jurídica do particular
não está em causa por ser constitutivo de direitos.
23. Diga-se ainda que o artigo 96º do POOC refere na sua epígrafe licenciamentos
de apoios de praia e equipamentos.
25. Mais eloquentemente o nº 3 diz que Com excepção da licença a que se referem
os n.os 1 e 2, o licenciamento de todas as instalações destinadas a apoios de praia
ou a equipamentos …
26. O que quer dizer que é o próprio legislador que não faz a distinção sobre o
título de uso privativo para apoio de praia e para equipamento.
28. O legislador estava a pensar em instalações com uso privativo com carácter
temporário, desmontável, amovível, como sempre considerou a Administração
durante anos a posição jurídica-subjectiva do particular.
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29. Veja-se matéria provada alínea i) e j) e ainda processo instrutor, que seguem de
perto a lei e a doutrina, Marcelo Caetano, in Manual de Direito Administrativo,
vol. II, pág. 939 e seg. que considerava precárias as licenças de ocupação do
domínio publico com esplanadas e cafés.
30. O Autor não concorda com a interpretação que lhe é feita pelo douto Tribunal a
quo quando diz que não só no próprio âmbito da acção administrativa nunca seria
proferida decisão condenatória à emissão da licença de uso privativo, como, por
maioria de razão, essa decisão não poderá ser proferida na instância executiva.
31. Isto porque, em primeiro lugar, e como se sabe, resulta do artigo 47º nº 3 que a
cumulação de pedidos é facultativa.
32. A lei não obriga à cumulação dos pedidos de anulação de actos com os de
condenação à prática de actos devido ou ao restabelecimento da situação
hipotética, podendo o particular precludir as pretensões no processo de execução
de sentença.
33. O Tribunal a quo pode e deve condenar a Administração a emitir o título de uso
privativo.
34. O que está em causa não é a designação do título de uso privativo, mas a
posição jurídica subjectiva do particular face ao inscrito no POOC.
35. Posição essa que o Tribunal a quo reconhece ao anular o acto de caducidade
da licença.
36. O Tribunal ao anular o acto pelo vício de erro nos pressupostos, reflexamente
está a declarar que o acto praticado pela Administração foi ilegal porque a
instalação não poderia ser considerada um apoio de praia mas um equipamento.
39. Porque como bem doutrina o acórdão do STA no seu acórdão 046544C de 11-
05-2005 in www.dgsi.pt A directriz orientadora da execução de julgados
anulatórios é a de que deve ser reconstituída a situação actual hipotética que
existiria se, em vez do acto ilegal anulado, tivesse sido praticado um acto legal,
devendo a Administração praticar os actos jurídicos e operações materiais
necessários à reintegração efectiva da ordem jurídica violada.
40. E acrescenta: Para concretizar tal objectivo pode não ser bastante o decidido
na decisão exequenda, pois o objectivo do processo de execução de julgados não é
apenas concretizar o que foi decidido na sentença, abrangendo essencialmente dar
cumprimento às normas substantivas cujos efeitos a decisão exequenda
desencadeou. ( ( ) Neste sentido, pode ver-se VIEIRA DE ANDRADE, A Justiça
Administrativa, 4.ª edição, páginas 343-344. ) Por isso, o processo de execução de
julgados anulatórios de actos administrativos inclui momentos declarativos em que
deve ser decidido tudo o que for necessário para concretizar a reconstituição da
situação que existiria se não tivesse sido praticado o acto anulado e, em vez dele,
tivesse sido praticado um acto que estivesse em sintonia com o regime substantivo
aplicável. Nessa concretização, porém, haverá que ter em conta não só o
expressamente decidido na decisão exequenda, como a respectiva fundamentação,
pois a natureza executiva do processo impõe que a concretização dos efeitos da
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42. Deste modo, o que a Administração teria de fazer para cumprir em toda a sua
extensão a decisão declarativa do Tribunal a quo, era praticar um ou vários actos
administrativos ou operações matérias necessárias que reintegrassem na ordem
jurídica o direito do particular.
43. E tal acto passaria pela emissão de um título de uso privativo face ao direito à
posição subjectiva do particular reconhecido reflexamente na sentença. E não fez.
45. E não se venha dizer que no processo executivo o Tribunal a quo não poderia
condenar a Administração a praticar os actos que fossem ao encontro da posição
jurídica do particular porque o alcance da decisão declarativa só atingia a
anulação por erro nos pressupostos do acto de caducidade da licença, o que é
totalmente inaceitável face a tutela judicial efectiva que protege o particular.
47. Isto é, o sentenciado pelo acórdão declarativo traz consigo uma associação
incindível na anulação do acto com a prática de um acto novo dentro da posição
jurídica.
50. Outra interpretação que não esta viola manifestamente, o princípio da tutela
judicial efectiva previsto constitucionalmente, artigo 20º, 268 nº 4 CRP e que desde
já se suscita a inconstitucionalidade na interpretação.
51. Em primeiro lugar porque como já se disse, o artigo 47º nº 3 do CPTA permite
ao demandante obter no processo de execução de sentença anulatória o
restabelecimento da situação que existia se não tivesse sido praticado o acto
anulado maxime, a imposição à Administração a prática de um novo acto que
substitua o anterior.
55. Pois que, ainda que se considere uma visão formal a anulação do acto de
caducidade de licença pelo Tribunal a quo, a consequência reflexa dessa anulação
é o reconhecimento que o particular tem o direito à reconstituição da situação
anterior, obrigando a que o novo acto observe os pressupostos de facto e de direito
existentes à data do anterior.
59. Desde o ano de 1992 foi concedida ao particular um título de uso privativo
para apoio de praia. Com esse título criou o requerente uma microempresa, que
varia entre os 3 e os 5 funcionários conforme a época do ano e dependendo
economicamente o requerente e os seus empregados dos rendimentos do próprio
estabelecimento.
61. Pelas razões já conhecidas e juntos aos autos, a Administração decide declarar
a caducidade da licença concedida.
63. Agora, é este próprio Tribunal que lhe nega os efeitos materiais e substanciais
da sua própria decisão violando manifestamente o princípio da tutela judicial
efectiva.
65. Se o douto Tribunal a quo, entendia que havia formalmente, o que se admite
por mero dever de patrocínio, um erro na realização do pedido da acção executiva,
o principio da tutela judicial efectiva num dos seus desdobramentos postula o
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direito a uma decisão final sobre o fundo da causa e não sobre meras questões
processuais.
66. Há-de perguntar-se então porque não avançou o douto Tribunal a quo com um
despacho de aperfeiçoamento?
69. Nos termos do artigo 88º estaríamos no âmbito de uma excepção dilatória
inominada, uma vez que tal excepção consente a renovação da instância, veja-se
Mário Aroso de Almeida e Carlos Alberto Fernandes Cadilha CPTA Comentado
pág. 451.
70. E sendo o Tribunal a quo é o mesmo Tribunal que declarou o direito à posição
subjectiva do a particular conhecendo manifestamente todo o processo declarativo,
pelo que, a não prolação de despacho de aperfeiçoamento viola gritantemente a
tutela judicial efectiva do particular em obter justiça material para o seu caso
concreto.
OBJECTO DO RECURSO
Assim, no caso sub judice e summo rigore, este tribunal ad quem deve apreciar
(numa perspectiva lógico-objectivante, atenta ao sentido social da normação das
situações de vida (2), utilizando a argumentação jurídica como a lógica jurídica a
se (3)) as seguintes questões invocadas contra a decisão recorrida:
i) Não interessa saber se o exequente era titular de uma licença administrativa (com
base nos arts. 17º ss DL 468/71; no DL 46/94 e nos arts. 11º 17º DL 309/93), mas
sim que ele tinha e tem um concreto direito subjectivo a explorar o seu
estabelecimento na praia (aliás, reconhecido pelos arts. 4º e 96º do POOC aqui
aplicável (Cidadela-Forte de São Julião da Barra, Resolução do Conselho de
Ministros nº 123/98 de 19/10/1998)?
ii) O erro detectado pelo julgado anulatório implica que a Adm. tenha de emitir um
título de uso privativo do DPM coincidente com o estabelecimento do exequente?
iii) Como o art. 17º-3 DL 309/93 não faz distinções, também o tribunal não pode
fazer?
iv) É incorrecto afirmar que, não só no próprio âmbito da acção administrativa
nunca seria proferida decisão condenatória à emissão da licença de uso privativo,
como, por maioria de razão, essa decisão não poderá ser proferida na instância
executiva?
v) Quando o particular pede a condenação da Administração na substituição do acto
ilegal praticado no dia 06/06/2003, sem reincidir nas ilegalidades anteriormente
cometidas, entregando ao exequente a licença nº 267/DPM de uso privativo de uma
parcela de domínio público marítimo, referente aos anos de 2004, 2005, 2006, 2007
e 2008, respectivamente, e restantes pedidos não faz mais do que pedir a
substituição de um acto anulado pelo tribunal a quo por outro que declare a posição
jurídica do particular? Caso contrário, haverá violação dos arts. 20º e 268º-4 CRP?
vi) Não sendo de cumprir a sentença anulatória como o concretamente peticionado,
definir, ainda assim, esse modo de a cumprir ou não?
II. FUNDAMENTAÇÃO
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L) Por ofício de 11/09/2001, sob o nº 11063, o Autor foi informado de que, após
análise do novo projecto de arquitectura apresentado, se considera que o projecto
não apresenta plantas cotadas e alçados, não consta um termo de responsabilidade
assinado pelo autor do projecto, a instalação sanitária destinada para deficientes
apresenta uma área reduzida, não funcional para o pretendido, não sendo, contudo a
mesma exigida, só existe uma instalação sanitária destinada ao público, sendo
exigido duas instalações separadas por sexo, a área destinada ao posto de socorros é
insuficiente, o posto de socorros e a casa de banho para deficientes não se
encontram inseridos nos 80 m2 de área coberta autorizada e a área de circulação
vem assinalada na planta, bem como a arca de gelados e máquina de tabaco, o que
não pode acontecer por não estar licenciada, pelo que, em consequência foi o
projecto indeferido e convidado o requerente a apresentar outro, que corrija os
pontos referidos, nos termos do doc. fls. 38 e 39 que se considera totalmente
reproduzido e parecer do projecto, de fls. 40 e 41;
M) Por ofício de 18/01/2002, sob o nº 549, o Autor foi alertado para a necessidade
de entregar os elementos solicitados para a aprovação do projecto de arquitectura,
nos termos do doc. fls. 42;
N) Por ofício de 09/04/2002, sob o nº 4445, o Autor foi alertado para proceder à
entrega dos elementos solicitados para aprovação do projecto de arquitectura, sob
pena de caducidade
caduc da licença de utilização, nos exactos termos constantes do doc.
fls. 45, cujo teor se dá por reproduzido;
O) Por ofício de 06/05/2002, sob o nº 5960, foi o Autor alertado para proceder à
entrega dos elementos solicitados para aprovação do projecto de arquitectura e
posterior realização de obras necessárias à sua implementação, bem como das datas
limite, devendo o projecto ser aprovado até 31/05/2002, sob pena de caducidade
caduc da
licença de utilização, bem como dos demais prazos para a realização de obras, nos
exactos termos do doc. de fls. 44 e fls. 380 do processo administrativo, que se
considera totalmente reproduzido;
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T) Por ofício de 27/02/2003, o Autor foi informado da data a hora da vistoria final
conjunta a realizar no estabelecimento, bem como da presença dos representantes
das entidades que participarão da vistoria, nos termos do doc. de fls. 56;
X) Nos termos do ofício cuja referência 1169/DSLI, foi o Autor convocado para
uma reunião a realizar em 16/09/2003, para clarificar de uma forma definitiva a
situação do estabelecimento – doc. fls. 57;
AA) A presente acção administrativa acção foi deduzida em 04/03/2004 – doc. fls.
2 dos autos;
DD) O Autor dispõe de areal e praia aquando das marés mortas ou vazias, com
areal húmido – prova testemunhal e pericial.” – cfr. proc. nº 273/04.0BESNT;
- Desde logo, em face dos factos apurados o que resulta é que ao ora Autor foi
atribuída em 1992 uma licença de utilização do domínio público marítimo, situado
no passeio marítimo do Estoril, para manutenção durante todo o ano de um snack-
bar, denominado ……… Bar, situando-se o mesmo na Praia das ……….
- O ora Autor apenas dispõe de areal e de praia aquando das marés mortas ou
vazias e mesmo assim, com areal húmido, ocorrendo condições para que a linha de
água nas maioria das vezes venha a coincidir com o bordo do passeio marítimo.
- Resulta pois, da factual idade provada e não provada, que o ora Autor explora um
equipamento durante todo o ano e que atentas as características da praia onde se
localiza o seu estabelecimento, a sua actividade principal consiste a da exploração
do estabelecimento, por a área de praia não permitir ao Autor retirar o devido
aproveitamento do licenciamento de uso privativo do domínio público.
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- O Autor era titular de uma licença de uso privativo do domínio público marítimo
(cfr. alíneas A), B), D), E), H), I), J), U) e W) dos Factos Assentes), realidade que
se mostra reafirmada em juízo na contestação da Entidade Demandada, que
chamou a atenção para o facto de o ora Autor ser titular de uma licença e não de
uma concessão. E o que resulta de toda a exposição do Direito aplicável é que se
mostra errada a qualificação do estabelecimento do Autor, em vários domínios.
- Com efeito, alega o Autor que porque não tem praia nem areal, estando este
submerso, não tem de dar assistência e salvamento a banhistas, nem tem de ter
posto de socorros e porque não tem praia, não tem de limpar a praia, de entre o
mais por si alegado, daí concluir ser o seu estabelecimento ao invés de um apoio
de praia simples, um apoio de praia mínimo. Compreendendo-se o alegado em
juízo, cuja factualidade apurada lhe dá razão por ficar demonstrado em juízo que o
Autor apenas dispõe de areal e de praia aquando das marés mortas ou vazias e
mesmo assim, apenas com areal húmido, por inexistir areal onde possam ser
colocadas toalhas e ser explorada a colocação de chapéus-de-sol, donde o Autor
não poder retirar aproveitamento do licenciamento, nos termos constantes em DD)
e nos pontos 1 e 2 da factualidade apurada e não apurada, o certo é que ao
contrário do que pretende, também na tipologia de apoio de praia mínimo é
exigível o cumprimento das obrigações que ora contesta, desde logo a assistência e
salvamento a banhistas (alínea a) do n 2 do art° 69° do POOC), o posto de
socorros (nos termos da sua alínea c e a limpeza de praia (alínea f) do citado n° e
do art° 69°), de entre as demais instalações e serviços previstos. Pelo que,
verdadeiramente o que está em causa com o alegado em juízo pelo Autor, ao
contestar ter que satisfazer todas essas funções e serviços e ao ficar demonstrado
que não dispõe de areal para o poder explorar, consiste num erro em que incorre a
Administração em qualificar o seu estabelecimento como de apoio de praia,
quando em face das circunstâncias do caso concreto, deve antes ser qualificado
como equipamento. Conforme inequivocamente demonstrado em juízo a actividade
predominante do Autor, para não dizer exclusiva, consiste a da exploração do seu
estabelecimento comercial, de snack-bar e, assim sendo, não há que falar em apoio
de praia.
Da decisão a quo
- No âmbito do processo principal, não foi emitida decisão que concluísse por a
emissão da licença de uso privativo do domínio público, nos anos em causa,
constituírem actos administrativos devidos, não só porque não foi peticionado em
juízo, como ainda que o tivesse sido, nos termos da decisão judicial proferida assim
não seria de entender;
Vejamos.
-de reconstituir a situação que existiria se o acto anulado não tivesse sido praticado
(“execução do efeito repristinatório da anulação”) (4), bem como
-de dar cumprimento aos deveres que não tenha cumprido com fundamento no acto
entretanto anulado, por referência à situação jurídica e de facto existente no
momento em que deveria ter actuado – art. 173º-1 CPTA.
Enfim, a regra parece-nos ser a de que, não sendo feita a chamada “renovação do
acto anulado”, prevalece o efeito repristinatório da anulação, como decorre da letra
do art. 173º-1 cit. e da lógica. (5) Como se diz no Ac. do STA de 3-12-2008, P. nº
047824A: “I - A anulação ou declaração de nulidade de um acto administrativo
restabelece, em princípio, a titularidade dos poderes e deveres da Administração
que lhe cabiam à data da prática daquele acto. II - Nos termos previstos no art.
173º/1 do CPTA, a lei deixa em aberto a possibilidade de reintegração da ordem
jurídica violada mediante o reexercício do poder de autoridade e de eventual
substituição do acto inválido sem reincidir nas ilegalidades anteriormente
cometidas, dispensando a Administração de cumprir qualquer outro dever de
execução”.
Isto decorre ainda, a nosso ver, do nº 1 do art. 179º CPTA, que tem implícito que a
pretensão do exequente é, simplesmente, a execução ou o cumprimento do julgado,
o que aliás decorre do facto de este processo ser, afinal, um processo
eminentemente declarativo, que culmina com uma pronúncia declarativa
condenatória, pronúncia esta que consta de um título executivo (assim MÁRIO
AROSO…, Comentário ao CPTA, 2010, p. 1128-1129 e 1137-1138).
Do caso concreto
É evidente que a Administração não executou aqui o julgado anulatório, pois nada
fez após o trânsito em julgado.
A executada ficou, pois, constituída no dever previsto no art. 173º-1 CPTA, o que
aqui implicou
Ø o dever de permitir a ocupação e utilização da parcela de Domínio Público
Marítimo em causa, o que não vem posto em causa,
Ø e o dever de decidir o procedimento imposto pelo art. 96º do POOC aqui
aplicável (Cidadela-Forte de São Julião da Barra, Resolução do Conselho de
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Ao nada fazer no prazo imposto por lei, a Adm. desrespeitou o caso julgado e
sujeitou-se ao processo executivo.
Ora, o acórdão aqui recorrido entendeu que, sim, havia incumprimento do julgado,
mas que, como o pedido concreto formulado na “petição executiva” (em bom rigor,
não é uma petição executiva (9)) seria inidóneo ou infundado face à sentença a
executar/cumprir, este processo executivo deveria improceder.
Não tem razão o tribunal a quo, como resulta do que acima expusemos sobre o
dever de executar as sentenças anulatórias – v. o cit. Ac. do STA-P de 18-9-2008, P.
nº 024690-A: cabe ao Tribunal indicar a forma adequada de execução do julgado,
mesmo que o exequente indique outra.
Vejamos.
3.1
Em bom rigor, aqui neste tipo de processo, este ponto é um argumento e não uma
questão. Serve, no entanto, para facilitar a compreensão do problema.
O que interessa aqui é apurar como cumprir o julgado anulatório, embora seja certo
que naquele não se falou em concessão, mas sim em licença (de acordo com o cit.
art. 18º do DL 468/71). O direito (subjectivo) do exequente em questão assenta
nesse art. 18º e na transcrita regulamentação do DL 309/93 e do POOC cit., v.g. os
cits. arts. 4º e 96º.
3.2
O erro detectado pelo julgado anulatório implica que a Adm. tenha de emitir
um título de uso privativo do DPM coincidente com o estabelecimento do
exequente?
Não foi emitida decisão que concluísse que a emissão da licença de uso privativo
do domínio público, nos anos em causa, constituísse a decisão certa a emitir (acto
administrativo devido). Como entendeu o tribunal a quo.
Melhor: o erro detectado pelo julgado anulatório só implicará que a Adm. tenha de
emitir o título de uso privativo do DPM coincidente com o estabelecimento do
exequente (na sequência do que acontecia antes do POOC), respeitadas que
estejam ante a Adm. todas as condições ou requisitos estabelecidos pela legislação e
regulamentação relacionadas com o POOC cit.
3.3
Como o cit. art. 17º-3 DL 309/93 (As licenças e concessões existentes caducam
com a entrada em vigor do respectivo POOC, quando este não preveja a
possibilidade de ocupação da área em causa.) não faz distinções, também o
tribunal não pode fazer?
O recorrente tem razão, mas é irrelevante, porque o que interessa aqui é apurar
como cumprir o julgado anulatório.
3.4
O recorrente não tem razão em abstracto, nem em concreto, pois que o pedido
formulado na outra acção foi meramente anulatório; mas isso é ainda assim
irrelevante, porque o que interessa aqui é apurar como cumprir o concreto julgado
anulatório.
3.5
Não se pode, por isso, falar em desrespeito pelo direito à tutela jurisdicional
efectiva (arts. 20º e 268º-4 CRP).
4.
III- DECISÃO
Lisboa, 16-2-2012
(António C. da Cunha)
actual hipotética. Isto é, tem que reconstituir, na medida do possível, a situação que no momento actual
existiria se o acto ilegal não tivesse sido praticado;
- Se o vício que determinou a anulação do acto foi um vício de legalidade interna – concretamente de
violação de lei por erro sobre os pressupostos – a execução do acórdão tem eficácia retroactiva. O que
significa que os efeitos destrutivos e constitutivos da sentença se projectam ao momento da prática do
acto anulado, obrigando a que o novo acto observe os pressupostos de facto e de direito existentes à
data do anterior.
(5) MÁRIO AROSO…, Comentário…, 2010, p. 1117-1118.
(6) I- Por força da sentença anulatória, a Administração fica constituída no dever de substituir o acto
ilegal por um acto legal, reconstituindo a situação que existiria se aquele acto não tivesse sido
praticado.
II- E, porque assim é, a lei determina que o Exequente, na petição, "deve especificar os actos e
operações em que considera que a execução deve consistir, podendo, para o efeito, pedir a condenação
da Administração ao pagamento de quantias pecuniárias" - n.º 3 do art.º 176.º do CPTA.
III- Todavia, dai não resulta a vinculação do Tribunal a seguir o caminho indicado pelo Exequente nem
que só possa decidir dentro dos limites que este balizou.
IV- E, porque assim, nada impede que o Tribunal condene a Administração a renovar o acto anulado -
se entender que a renovação do acto ainda é possível e que tal constitui a forma legalmente adequada
de execução do julgado - mesmo que o Exequente haja entendido que essa renovação é inútil ou
impossível e que, por isso, a execução do julgado deve passar pela atribuição de uma quantia
indemnizatória.
V- Ao fazê-lo não está a condenar em objecto diverso do pedido porque este era o da execução do
julgado anulatório e tal foi deferido, ainda que de forma diferente da que vinha requerida.
VI- Se a execução do julgado passar pela prática de um novo acto nos termos acima referidos (em I) e
se esse acto tiver sido praticado no decurso da execução, julga-se extinta a instância.
(7) A directriz orientadora da execução de julgados anulatórios é a de que deve ser reconstituída a
situação actual hipotética que existiria se, em vez do acto ilegal anulado, tivesse sido praticado um acto
legal, devendo a Administração praticar os actos jurídicos e operações materiais necessários à
reintegração efectiva da ordem jurídica violada. Para concretizar tal objectivo pode não ser bastante o
decidido na decisão exequenda, pois o objectivo do processo de execução de julgados é dar
cumprimento às normas substantivas cujos efeitos aquela decisão desencadeou, para o que esta forma
de processo inclui momentos declarativos. Nessa concretização, porém, haverá que ter em conta não só
o expressamente decidido na decisão exequenda, como a respectiva fundamentação, pois a natureza
executiva do processo impõe que a concretização dos efeitos da decisão anulatória esteja em sintonia
com as posições aí assumidas e não em contradição com elas.
(8) Artigo 96.o Licenciamento de apoios de praia e equipamentos
1 — A renovação das licenças a que se refere o n.o 4 do artigo 17.o do Decreto-Lei n.o 309/93, de 2 de
Setembro, com a redacção que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.o 218/94, de 20 de Agosto, a ocorrer
pelo prazo máximo de dois anos, implica a prévia apresentação pelos interessados de peças escritas e
desenhadas que esclareçam pormenorizadamente a situação actual da ocupação.
2 — A licença a emitir nos termos do número anterior, pelo prazo máximo de dois anos, indicará quais
as obras que o seu titular fica obrigado a realizar para cumprimento do disposto no POOC, bem como o
prazo para a realização das mesmas.
3 — Com excepção da licença a que se referem os n.os 1 e 2, o licenciamento de todas as instalações
destinadas a apoios de praia ou a equipamentos implica a prévia aprovação dos respectivos projectos,
que deverão cumprir o disposto nos artigos seguintes.
4 — A Direcção Regional do Ambiente — Lisboa e Vale do Tejo pode exigir que os concessionários
apresentem um projecto de espaços exteriores, associados a áreas concessionadas, onde sejam
definidas a disposição do mobiliário e equipamento exterior fixo e as áreas destinadas à colocação de
mobiliário e equipamento amovível.
(9) MÁRIO AROSO..., Comentário ao CPTA, 2010, p. 1128.
(10)
Artigo 17º
(Permissão de usos privativos)
Com o consentimento das entidades competentes, podem parcelas determinadas dos terrenos
públicos referidos neste diploma ser destinadas a usos privativos.
Artigo 18º
(Licenças e concessões)
1. O direito de uso privativo de qualquer parcela dominial só pode ser atribuído mediante licença
ou concessão.
2. Serão objecto de contrato administrativo de concessão os usos privativos que exijam a
realização de investimentos em instalações fixas e indesmontáveis e sejam considerados de
utilidade pública; serão objecto de licença, outorgada a título precário, todos os restantes usos
www.dgsi.pt/jtca.nsf/170589492546a7fb802575c3004c6d7d/e7007957617b3d9e802579ac00385417?OpenDocument 20/22
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privativos.
3. Não se consideram precárias as licenças conferidas para a construção ou para obras em
terrenos ou prédios particulares situados na área de jurisdição das autoridades marítimas,
hidráulicas ou portuárias.
(11)
1 - É de utilidade pública o uso privativo destinado à instalação de serviços de apoio à fruição pública das praias que exija a
realização de investimentos em instalações fixas ou indesmontáveis.
2 - A atribuição, ao abrigo do POOC, do uso privativo referido no número anterior compete à DRARN respectiva, mediante outorga
de concessão, precedida de concurso público.
3 - As concessões são atribuídas pelo prazo máximo de nove anos.
4 - Os restantes direitos de uso privativo são atribuídos mediante licença ou concessão pela DRARN respectiva, nos termos da
legislação em vigor.
5 - Nas áreas das praias vocacionadas para utilização balnear e sujeitas a jurisdição das autoridades marítimas, compete aos capitães
dos portos, precedendo parecer favorável da DRARN respectiva, emitir licenças para ocupação ou para utilizações que não exijam
instalações fixas e indesmontáveis, tais como:
a) Fundear bóias e estabelecer pranchas, flutuadoras ou outras instalações de carácter temporário para desportos náuticos e
diversões aquáticas;
b) Armar com carácter temporário e amovível barracas para banhos, toldos e chapéus-de-sol para abrigos de banhistas e barracas
para abrigo de embarcações, seus utensílios e aparelhos de pesca.
6 - O documento que titule a licença ou a concessão deve especificar, de forma pormenorizada, o fim em vista, o prazo, a
identificação e a demarcação da área objecto da concessão ou da licença e os limites de exercício do respectivo direito, bem como
outros condicionamentos que se entenda dever impor.
7 - Os títulos referidos no número anterior devem conter em anexo o projecto aprovado, devendo qualquer alteração ser precedida
da aprovação de projecto de alteração apresentado pelo interessado.
8 - Pelo uso privativo de terrenos dominiais é devida uma taxa anual, nos termos da legislação em vigor.
10 - Como contrapartida da concessão é devido um preço a fixar pelo INAG, ponderada a média dos montantes dos preços fixados
em concursos abertos no último ano para idênticos efeitos
Artigo 17.º Medidas transitórias
1 - Até à aprovação dos POOC não serão atribuídos usos privativos que impliquem novas construções e instalações fixas e
indesmontáveis na área por eles abrangida.
2 - As licenças existentes são susceptíveis de renovação até à data em que o POOC se encontre eficaz, caducando, em qualquer
caso, aquando da entrada em vigor do regulamento do respectivo POOC.
3 - As licenças e concessões existentes caducam com a entrada em vigor do respectivo POOC, quando este não preveja a
possibilidade de ocupação da área em causa.
4 - Quando um POOC preveja a ocupação de uma área que coincida, no todo ou em parte, com o objecto de uma licença ou
concessão, mas seja necessário proceder a acertos na área ocupada e ou alterações arquitectónicas, as licenças e concessões em
causa são renovadas, sendo dado ao respectivo titular o prazo máximo de dois anos para cumprir as disposições do plano.
5 - Sempre que a ocupação prevista no POOC coincida com o objecto de duas ou mais licenças ou concessões, será aberto concurso
entre os anteriores ocupantes, por forma a determinar aquele que poderá prevalecer-se do disposto no número anterior.
6 - Se a adaptação às disposições do plano ocorrer no prazo de um ano, é atribuído ao titular da licença ou concessão uma nova
concessão pelo prazo de nove anos, sem realização prévia de concurso público.
7 - Findo o prazo de nove anos aludido no número anterior, o contrato de concessão caduca e é aberto concurso público para a
outorga de nova concessão.
8 - Se o cumprimento das disposições do POOC ocorrer no prazo consagrado no n.º 4, é atribuído ao titular da concessão a
manutenção da mesma pelo prazo máximo de cinco anos, sem realização prévia de concurso público.
9 - Findo o prazo previsto no número anterior, o contrato de concessão caduca e é aberto concurso público par a outorga de nova
concessão.
10 - Decorrido o prazo de dois anos sem que o titular da licença ou concessão se adapte às disposições do plano, as mesmas
caducam.
(12) f) Apoio de praia completo (AC) — núcleo básico de funções e serviços infra-estruturado que
integra, para além dos serviços exigidos ao apoio de praia mínimo, instalações sanitárias, balneários e
vestiários com acesso independente e exterior; poderá ainda assegurar funções e serviços comerciais
semelhantes aos previstos para o apoio de praia mínimo;
g) Apoio de praia mínimo (AM) — núcleo básico de funções e serviços, não infra-estruturado no que
respeita às redes de águas e esgotos, que integra comunicações de emergência, informação, vigilância e
assistência a banhistas, recolha de lixo e pequeno armazém para o material de praia; poderá
eventualmente assegurar outras funções e serviços, nomeadamente comerciais (tais como de comércio
de gelados, de refrigerantes e de alimentos pré-confeccionados);
h) Apoio de praia simples (AS) — núcleo básico de funções e serviços infra-estruturado que integra,
além dos serviços exigidos ao apoio mínimo, instalações sanitárias com acesso independente e exterior;
poderá de igual forma assegurar funções e serviços comerciais semelhantes aos previstos para o apoio
de praia mínimo;
z) Equipamentos de praia (E) — núcleo de funções e serviços situados na área envolvente da praia e
destinados a similares de hotelaria, que proporcionam um serviço de restaurante ou snack-bar.
Consideram-se ainda equipamentos os bares e as esplanadas de funcionamento anual que não se
relacionem directamente com o apoio ao uso da praia;
aa) Equipamentos com funções de apoio de praia (E/A) — núcleo de funções e serviços idêntico ao
previsto na alínea anterior, mas integrando funções e serviços de apoio de praia.
(13) Artigo 96.o Licenciamento de apoios de praia e equipamentos
1 — A renovação das licenças a que se refere o n.o 4 do artigo 17.o do Decreto-Lei n.o 309/93, de 2 de
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Setembro, com a redacção que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.o 218/94, de 20 de Agosto, a ocorrer
pelo prazo máximo de dois anos, implica a prévia apresentação pelos interessados de peças escritas e
desenhadas que esclareçam pormenorizadamente a situação actual da ocupação.
2 — A licença a emitir nos termos do número anterior, pelo prazo máximo de dois anos, indicará quais
as obras que o seu titular fica obrigado a realizar para cumprimento do disposto no POOC, bem como o
prazo para a realização das mesmas.
3 — Com excepção da licença a que se referem os n.os 1 e 2, o licenciamento de todas as instalações
destinadas a apoios de praia ou a equipamentos implica a prévia aprovação dos respectivos projectos,
que deverão cumprir o disposto nos artigos seguintes.
4 — A Direcção Regional do Ambiente — Lisboa e Vale do Tejo pode exigir que os concessionários
apresentem um projecto de espaços exteriores, associados a áreas concessionadas, onde sejam
definidas a disposição do mobiliário e equipamento exterior fixo e as áreas destinadas à colocação de
mobiliário e equipamento amovível.
(14) «Não deve considerar-se apoio de praia mas sim equipamento, nos termos do art. 59°, n°s 1 a 3,
daquele DL n° 46/94, uma instalação onde funciona, durante todo o ano, um bar - esplanada, sendo
esta a actividade económica principal e dominante da exploração.»(
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