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AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 2ª VARA DO

TRABALHO DE TAGUATINGÁ/DF.

PROCESSO Nº 0000202-75.2011.5.10.0102

MH2 COMERCIAL E EMPREENDIMENTOS LTDA, devidamente


qualificado nos autos da reclamação trabalhista em epígrafe, movida por ANTONIO
GONÇALVES, inconformada com a decisão de fls., vem tempestiva e respeitosamente
à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 897 da CLT interpor

AGRAVO DE PETIÇÃO

em face da decisão que determinou a inclusão da Agravante no processo


de execução, a fim de que a matéria seja novamente apreciada para fins de juízo de
retratação por parte de Vossa Excelência.

Assim não entendendo, requer, após cumpridas todas as formalidades


legais e captadas as manifestações dos demais interessados, sejam os autos remetidos ao
Tribunal Regional para os fins almejados.

Anexas as razões do recurso.

Termos em que pede e espera deferimento.

São Paulo, 04 de dezembro de 2022.

AMANDA SOUZA ROCHA

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OAB/SP 452.569

RAZÕES DO AGRAVO DE PETIÇÃO

Origem: 2ª Vara do Trabalho de Taguatingá/DF.


Processo nº: 0000202-75.2011.5.10.0102
Agravante: MH2 COMERCIAL E EMPREENDIMENTOS LTDA
Agravado: ANTONIO GONÇALVES

EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL DA 10ª REGIÃO

COLENDA TURMA

I - BREVE SÍNTESE DA DEMANDA E RAZÕES RECURSAIS

Trata a presente demanda sobre execução definitiva proposta pelo juiz “a


quo” em face da empresa MH2 COMERCIAL E EMPREENDIMENTOS LTDA, ora
Agravante, e os ex-sócio Guilherme Hannud Filho.

O juízo requereu a inclusão no polo passivo da Agravante e outras


empresas, fundamentando seu pedido sobre a existência de grupo empresarial
econômico em decorrência de uma análise falha de em um extrato simples do CNIS.

Ato contínuo, esse douto Juízo instaurou o incidente de desconsideração


da personalidade jurídica, na modalidade inversa, e determinou a inclusão da ora
Agravante e de outras empresas no polo passivo da presente execução, bem como
medida cautelar, ex officio, o bloqueio via Sisbajud em face das empresas, tudo
conforme decisão de id 5412add, onde sequer houve a citação das empresas para ciência
da execução trabalhista.

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Entretanto, restou demonstrado na impugnação de desconsideração de
personalidade jurídica apresentada pela Agravante, são diversos os motivos pelos quais
a decisão de id 5412add deveria ser reformada, sendo imperioso o desbloqueio imediato
da conta bancária desta Agravante, como medida de justiça.

Ocorre que em decisão proferida em sob Id nº 0c27d58 foi determinado


que a medida cautelar contra esta Agravante deveria ser mantida por falta de elementos
que comprovassem efetiva separação entre as atividades empresariais, o que merece
reparo, pois restou comprovado que o Sr. Guilherme Hannud Filho que nitidamente não
possui ligação com esta Agravante há aproximadamente 27 anos:

II - DELIMITAÇÃO DA MATÉRIA

 Ausência do preenchimento dos requisitos do artigo 2º, §2º da CLT;


 Ausência do preenchimento dos requisitos do artigo 50 do Código Civil;
 Interpretação divergente da decisão do TST que entende que não é possível
reconhecer a formação de grupo econômico com base tão-somente na existência
de relação de coordenação ou de sócios em comum entre as empresas;
 A impossibilidade de inclusão de empresas na fase de execução – divergência
com o entendimento do STF no tema da repercussão geral nº 1232.

III - DELIMITAÇÃO DOS VALORES: Valor R$ 54.958,51.

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Razão pela qual o valor de R$ 54.958,51 deve ser imediatamente
suspenso pelos motivos abaixo dispostos.

IV - DO CABIMENTO DO PRESENTE AGRAVO DE PETIÇÃO

Mesmo tratando-se de decisão interlocutória, insta consignar que tal


decisão põe fim ao debate sobre a inclusão desta Agravante no polo passivo, muito
embora a relação com o ex-sócio Guilherme Hannud Fihlo tenha se encerrado há 27
anos, portanto, referida decisão tem caráter terminativo.

Nestes casos, a doutrina e a jurisprudência confirmam o entendimento de


ser cabível o Agravo de Petição em face do gravame à parte evidenciada nesta decisão.
Neste sentido:

"Desse modo, pensamos ser cabível o agravo de petição em face


das seguintes decisões do Juiz do Trabalho nas execuções:
a) decisão que aprecia os embargos à execução;
b) decisões terminativas na execução que não são impugnáveis
pelos embargos à execução, como a decisão que acolhe a
exceção de pré-executividade;
c) decisões interlocutórias que não encerram o processo
executivo, mas trazem gravame à parte, não impugnáveis
pelos embargos à execução. " (SCHIAVI, Mauro. Manual de
Direito Processual do Trabalho. 13ª ed. Ed. LTR, 2018. p. 1067)

Nesse sentido, a jurisprudência confirma este entendimento, uma vez que


referida decisão põe fim à discussão sobre indicar tema arguido, inviabilizando conduzir
à sua discussão somente em sede de recurso ordinário:

DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS MISTAS. Dispõe o art. 897,


alínea "a", da CLT, que o agravo de petição é cabível em face de

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decisões do Juiz nas execuções. O art. 893, § 1º, da CLT, que
prescreve: "Os incidentes do processo são resolvidos pelo
próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do
merecimento das decisões interlocutórias somente em recursos
da decisão definitiva". Portanto, as únicas decisões passíveis de
impugnações, mediante agravo de petição, são as decisões
terminativas e interlocutórias mistas, sendo aquelas que têm
força definitiva, que põem termo ao processo. E, a hipótese dos
autos, a decisão a quo que indeferiu a utilização do sistema
SIMBA tem natureza jurídica de decisão interlocutória
mista, porquanto põe termo à discussão relativa ao
prosseguimento da execução. Assim, cabível Agravo de
Petição. Dou Provimento ao Agravo de Instrumento.
EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS. MEIO PARA ENCONTRAR
BENS DOS EXECUTADOS. PRINCÍPIOS DO LIVRE
ACESSO AO JUDICIÁRIO E DA EFETIVIDADE DA
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.O princípio do livre acesso ao
Judiciário, previsto no artigo 5º, XXXV da CF/88, não se limita
ao direito de ajuizar ação, mas de obter um provimento
jurisdicional efetivo, o que compreende a tutela em tempo
adequado, bem como a satisfação do bem da vida almejado.
Assim, não basta a concessão de provimento cognitivo à parte,
pois de nada adiante a prolação de sentença de mérito, sem a sua
efetivação, o que, em suma, torna absolutamente inócua a ação
do Judiciário. (TRT-2, 0021900-53.2009.5.02.0063, Rel. IVANI
CONTINI BRAMANTE - 4ª Turma - DOE 12/02/2019)
#0
AGRAVO INSTRUMENTO EM AGRAVO PETIÇÃO.
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. CARÁTER TERMINATIVO.
CABIMENTO. O art. 897, -a-, da CLT dispõe que é cabível
agravo de petição das decisões dos juízes proferidas nas
execuções. Contudo, tal dispositivo deve ser compreendido

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dentro do sistema processual trabalhista, sem perder o seu
colorido próprio, de modo que se impõe afastar, de plano, do
objeto dos apelos na fase de satisfação as decisões meramente
interlocutórias, ante o princípio da irrecorribilidade imediata das
decisões interlocutórias, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT.
Ocorre que há decisão formalmente interlocutória (visto que não
é o provimento final e tem como objeto apenas uma parte da
lide), mas que aprecia o mérito ou a admissibilidade da ação,
tendo natureza idêntica às hipóteses dos arts. 485 e 487 do CPC,
tais como aquelas que tratam do julgamento antecipado parcial
do mérito (art. 356, CPC) ou que entendem que uma parcela do
objeto litigioso não pode ser conhecida (art. 354, par. único,
CPC). Com efeito, como forma de conferir eficácia às
garantias fundamentais do devido processo legal, do
contraditório e da ampla defesa, cumpre entender que as
decisões formalmente interlocutórias proferidas em
execução que tenham caráter terminativo ou extintivo, ainda
que parcial, possam, sim, ser objeto do agravo de petição,
uma vez que não é cabível outro meio de impugnação (como
os embargos à execução ou a impugnação do exequente). 1.
RELATÓRIO (TRT-1, 00000045220175010078, Relator
Desembargador/Juiz do Trabalho: Marcos Pinto da Cruz,
Segunda Turma, Publicação: DOERJ 16-02-2018)

Portanto, considerando tratar-se de decisão terminativa sobre o tema,


bem como pelo gravame atribuído à parte, cabível o presente recurso.

V - DA EQUIVOCADA INCLUSÃO DA EMPRESA EM FASE DE EXECUÇÃO

A Agravante MH2 Participações Ltda foi incluída no polo passivo da


presente demanda, na fase de execução, de forma equivocada porque entendeu o douto
Juízo que haveria grupo econômico entre ela e as demais empresas inclusas no polo

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passiva da demanda também de forma equivocada, sem que fosse concedida qualquer
oportunidade de defesa.

Mencionada decisão ocorreu mediante uma leitura precipitada do CNIS


do ex-sócio Guilherme Hannud Filho que nitidamente não possui ligação com esta
Executada há aproximadamente 27 anos!!!!

A presente demanda foi proposta em 2011, ou seja, 16 anos após a


retirada do Guilherme Hannud Filho da sociedade da Agravante, portanto, a sua
inclusão no polo passivo beiro ao absurdo!!!

Diante o exposto, resta claro que é incabível, portanto, o


redirecionamento da execução para esta Agravante, uma vez que comprovado, através
das provas documentais anexas aos autos, o equívoco da conclusão de que Guilherme
Hannud Filho ainda figura no quadro societário da empresa peticionante e a ilegalidade
do direcionamento da execução em face desta Agravante.

Ademais, o simples fato de sequer pertencer à administração da empresa


ao tempo do contrato, ora impugnado, fundamenta a exclusão do polo passivo da
demanda:

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DESCONSIDERAÇÃO PERSONALIDADE JURÍDICA DA
RÉ. SOCIEDADE ANÔNIMA. ADMINISTRADORES
SUBSTITUÍDOS ANTES CONTRATAÇÃO DOS AUTORES.
IMPOSSIBILIDADE RESPONSABILIZAÇÃO. Ao tempo da
contratação e dispensa dos autores, quando teria se formado a
dívida da ré perante eles, não mais faziam parte da
administração os Srs. ***, motivo pelo qual não há como se
manter a execução em face deles, pois não foram responsáveis
pelos prejuízos verificados nos autos, tampouco pelo
encerramento da empresa, o que só veio a acontecer anos
depois. (TRT-1, 00042001019965010302, Relator
Desembargador/Juiz do Trabalho: Volia Bomfim Cassar, Nona
Turma, Publicação: DOERJ 07-02-2018)

Razão pela qual é de se negar o pedido por manifestamente ilegal.

Por fim, é importante destacar que esta Agravante não possui qualquer
relação com as demais empresas inclusas no polo passivo desta demanda, pois as
empresas em questão são distintas, com sócios distintos, de forma que a Agravante não
pode ser responsabilizada por deduções e achismos, sem o mínimo de embasamento
lógico e legal.

Frisa-se que segundo o TST, para que fique caracterizado o grupo


econômico, é necessário que haja controle e fiscalização por parte de uma empresa
líder. Isto é, a existência de comando hierárquico de uma empresa sobre as demais, o
que sequer restou caracterizado OU demonstrado pelo juízo e agravado, haja vista que
sequer mencionam qual empresa é a líder do suposto grupo econômico criado pela
dedução deles pela leitura de um simples extrato de CNIS:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA - INTERPOSTO EM FACE DE ACÓRDÃO
PUBLICADO APÓS A VIGÊNCIA LEI Nº 13.467/2017-

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GRUPO ECONÔMICO - FASE DE EXECUÇÃO -
CERCEAMENTO DE DEFESA - TRANSCENDÊNCIA
POLÍTICA RECONHECIDA. O processamento do recurso de
revista na vigência da Lei nº 13.467/2017 exige que a causa
apresente transcendência com relação aos aspectos de natureza
econômica, política, social ou jurídica (artigo 896-A da CLT).
Na hipótese vertente, a Corte Regional ser indispensável que a
empresa pertencente ao grupo econômico tenha participado da
fase de conhecimento e conste do título executivo judicial
como devedora, para que possa ser executada. A causa oferece
transcendência política, na medida em que, ao decidir dessa
forma e. Tribunal Regional acabou por contrariar a
jurisprudência consolidada desta Corte Superior, que dispõem
no sentindo de ser dispensável a participação do devedor
solidário integrante do grupo econômico na fase de
conhecimento da demanda. Assim, possivelmente, o TRT ,
violou artigo 5º, LIV, da Constituição Federal. Agravo de
instrumento conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA
INTERPOSTO EM FACE DE ACÓRDÃO PUBLICADO
APÓS A VIGÊNCIA LEI Nº 13.467/2017. GRUPO
ECONÔMICO - FASE DE EXECUÇÃO - CERCEAMENTO
DE DEFESA - TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA
RECONHECIDA (violação aos artigos 1º, III, e 5º, XV, LIV e
LV, da Constituição Federal). O processamento do recurso de
revista na vigência da Lei nº 13.467/2017 exige que a causa
apresente transcendência com relação aos aspectos de natureza
econômica, política, social ou jurídica (artigo 896-A da CLT).
Na hipótese vertente, a Corte Regional ser indispensável que a
empresa pertencente ao grupo econômico tenha participado da
fase de conhecimento e conste do título executivo judicial
como devedora, para que possa ser executada. A causa oferece
transcendência política, na medida em que, com cancelamento

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da súmula 205 do TST, consolidou-se o entendimento nesta
Corte de ser dispensável a participação do devedor solidário
integrante do grupo econômico na fase de conhecimento da
demanda. Assim, o TRT , violou artigo 5º, LIV, da
Constituição Federal. Recurso de Revista conhecido e provido.
(TST - RR: 10007101220165020341, Relator: Renato De
Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 09/06/2021, 7ª Turma,
Data de Publicação: 18/06/2021)

Sequer houve o cuidado de se analisar os contratos sociais das empresas


para se tentar a chegar em uma conclusão lógica, restando configurada o abuso de poder
do juízo e falta de diligência do Agravado.

Ademais, a Lei 13.467/17 que introduziu a Reforma Trabalhista, trouxe


expressamente à CLT que:

Art. 2º. (...) §3º Não caracteriza grupo econômico a mera


identidade de sócios, sendo necessárias, para a configuração
do grupo, a demonstração do interesse integrado, a efetiva
comunhão de interesses e a atuação conjunta das empresas
dele integrantes.

Na prática, a configuração do grupo econômico só fica caracterizada


quando atendidos aos três requisitos referidos, concomitantemente.

Portanto, a mera existência de parentesco por si só não é suficiente a


configurar grupo econômico, uma vez que não restou demonstrada a unidade de
controle e administração das empresas, conforme precedentes sobre o tema:

GRUPO ECONÔMICO. REQUISITOS. A configuração de


grupo econômico ocorre quando evidenciada a direção,
controle ou administração comuns. Relação de parentesco

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entre os sócios das empresas, por si só, não caracteriza
grupo econômico. (TRT-2, 1001799-03.2016.5.02.0719, Rel.
SORAYA GALASSI LAMBERT - 6ª Turma - DOE
11/04/2018)

GRUPO ECONÔMICO. RESPONSABILIDADE


SOLIDÁRIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. Não demonstrada a
efetiva unidade de controle e administração das empresas
reputadas, na sentença, pertencentes ao mesmo grupo
econômico, deve ser afastada a responsabilidade solidária
das recorrentes, na origem determinada, uma vez que não
caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios,
sendo necessárias a demonstração do interesse integrado, a
efetiva comunhão de interesses e a atuação conjunta das
empresas dele integrantes. (TRT12 - RO - 0001439-
30.2016.5.12.0033, Rel. LIGIA MARIA TEIXEIRA
GOUVEA, 6ª Câmara, Data de Assinatura: 21/03/2018)

Assim, não observado tal regramento legal, não há qualquer vínculo entre
as todas as empresas, que possa motiva a responsabilização desta Agravante.

Assim, totalmente excluída a possibilidade de configuração de GRUPO


ECONÔMICO entre as reclamadas, devendo esta Agravante ser excluída do polo
passivo da demanda.

VI - SOBRE A IMPOSSIBILIDADE DE INCLUSÃO DE EMPRESAS NA FASE


DE EXECUÇÃO

Entende-se que uma empresa para ser executada, deve fazer parte do
processo, desde o início, ou seja, desde a fase de cognição, não se configurando possível
executar uma das empresas do grupo econômico que não esteve presente no polo
passivo da ação, apenas sendo citada, a partir da fase da execução, quando há coisa

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julgada.

O Supremo Tribunal Federal alterou o entendimento do Tribunal


Superior do Trabalho, que admitia a inclusão de empresa do mesmo grupo econômico
da devedora principal (empregador) no polo passivo da execução trabalhista, ainda que
esta empresa do grupo econômico não tivesse sido arrolada como devedora desde a fase
de conhecimento.

Assim sendo, o relator Gilmar Mendes entendeu que a decisão de incluir


a empresa do grupo como devedora na fase de execução, sem que esta tivesse
participado da fase de conhecimento, desrespeita norma do CPC, ao passo que a
discussão da inconstitucionalidade de tal norma somente poderia ser discutida se
respeitada a reserva de plenário (voto da maioria absoluta dos seus membros ou dos
membros de seu órgão especial).

O relator entendeu que houve erro de procedimento, ao passo que deverá


ser discutida a inconstitucionalidade deste impedimento contido no CPC, antes de
incluir a empresa do grupo na fase executória.

Na prática, significa dizer que as empresas do grupo econômico que não


forem incluídas na fase de conhecimento, com pedido de declaração de solidariedade
por proveito de mão de obra, não poderão ser incluídas na fase de execução.

Sobre o tema, é importante destacar o tema da repercussão geral nº 1232:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPRESENTATIVO


DA CONTROVÉRSIA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL
E TRABALHISTA. EXECUÇÃO.INCLUSÃO DE
EMPRESA
INTEGRANTE DO MESMO GRUPO ECONÔMICO NO
POLO PASSIVO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA.
EMPRESA QUE NÃO PARTICIPOU DA FASE DE

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CONHECIMENTO. PROCEDIMENTO PREVISTO NO
ARTIGO 513, § 5º, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. ALEGADA OFENSA À SÚMULA
VINCULANTE
10 E AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. MULTIPLICIDADE DE
RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS. PAPEL
UNIFORMIZADOR
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RELEVÂNCIA
DA QUESTÃO CONSTITUCIONAL.
MANIFESTAÇÃO PELA EXISTÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL. (RE 1387795 RG, Relator(a):
MINISTRO PRESIDENTE, Tribunal Pleno, julgado em
08/09/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-182
DIVULG 12-09-2022 PUBLIC 13-09-2022)

Portanto, por violar o princípio do contraditório e da ampla defesa e do


devido processo legal (II, XXXV, LIV e LV do art. 5º da CF/88)7, impossibilitando,
dessa forma, a defesa do executado no processo, resta claro a impossibilidade de
inclusão de empresa do grupo econômico na fase de execução, a qual, contudo, não
passou pela fase de conhecimento.

Por fim, diante de todo o exposto, pode-se dizer que o NCPC constitui
respaldo legal para ser aplicado, subsidiariamente e solidariamente nos Processos
Trabalhistas, ratificando, assim, a impossibilidade da inclusão de empresa de grupo
econômico na fase de execução sem ter passado pela fase de conhecimento,
assegurando a inviolabilidade dos princípios do contraditório, da ampla defesa e do
devido processo legal.

Diante o exposto, caso Vossa Excelência não entenda pela exclusão


imediata desta Agravante, o que não se acredita, requer o sobrestamento do feito, como
medida de justiça.

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VII - DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Manifestamente descabido o pedido da desconsideração da personalidade


jurídica pelo juízo, quando AUSENTES OS REQUISITOS LEGAIS para o seu
deferimento, senão, vejamos.

O Art. 50 do Código Civil, dispõe claramente a necessária observância


dos requisitos previstos para a sua concessão:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de
administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados
direta ou indiretamente pelo abuso.
§ 1º - Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade
é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar
credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
§ 2º - Entende-se por confusão patrimonial a ausência de
separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do
sócio ou do administrador ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas
contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente
insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º - O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também
se aplica à extensão das obrigações de sócios ou de
administradores à pessoa jurídica.

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§ 4º - A mera existência de grupo econômico sem a presença
dos requisitos de que trata o caput deste artigo não autoriza a
desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
§ 5º - Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a
alteração da finalidade original da atividade econômica
específica da pessoa jurídica.

Ocorre que o agravado e o próprio juízo não trouxe nenhuma evidência


sobre qualquer um dos requisitos acima mencionados, não podendo se presumir o dolo
ou desvio de finalidade, uma vez que se baseou tão somente em um extrato de CNIS:

A lei prevê expressamente a existência do DOLO na conduta da


empresa para lesar credores, o que não ficou evidenciado em qualquer elemento trazido

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pelo requerente.

A desconsideração da personalidade jurídica trata-se de exceção à regra,


admitida somente em casos extremos, conforme assevera a doutrina:

"Tratando-se de regra de exceção, de restrição ao princípio da


autonomia patrimonial da pessoa jurídica, a interpretação que
melhor se coaduna com o art. 50 do Código Civil é a que relega
sua aplicação a casos extremos, em que a pessoa jurídica
tenha sido instrumento para fins fraudulentos, configurado
mediante o desvio da finalidade institucional ou a confusão
patrimonial" (STJ EREsp 1.306.553/SC)."(MARINONI, Luiz
Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel.
Novo Código de Processo Civil comentado. 3ª ed. Revista dos
Tribunais, 2017. Vers. ebook. Art. 133)

Afinal, não ocorrendo os referidos requisitos não há que se falar na


desconsideração da personalidade jurídica sob pena de grave afronta à legalidade,
conforme precedentes sobre o tema:

EMBARGOS À EXECUÇÃO - Desconsideração da


personalidade jurídica - Não demonstrado abuso da devedora
a justificar a inclusão das sócias no polo passivo da execução
- O fato das embargantes serem sócias da executada não as
torna por si só, devedoras do título - De igual sorte, a não
localização de bens na única tentativa realizada via sistemas
Infojud e Renajud não indica o abuso de personalidade,
caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial,
como exige o artigo 50 do Código Civil - Precedentes da Corte -
De rigor, o acolhimento dos embargos para excluir as sócias do
polo passivo da execução - (...) (TJSP; Apelação Cível 1046031-
62.2017.8.26.0100; Relator (a): Mendes Pereira; Órgão

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Julgador: 15ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível -
41ª Vara Cível; Data do Julgamento: 12/03/2019; Data de
Registro: 12/03/2019)

AGRAVO DE PETIÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA


PERSONALIDADE JURÍDICA. Não há falar em
desconsideração da personalidade jurídica no caso, tendo em
vista que não restou demonstrado o abuso da personalidade
jurídica da executada, tampouco o seu desvio de finalidade
ou a confusão patrimonial. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0011087-
63.2017.5.03.0093 (AP); Disponibilização: 09/03/2018; Órgão
Julgador: Quinta Turma; Relator: Convocado Danilo Siqueira de
C.Faria)

O juízo fundamentou sua decisão sob a alegação de que a Agravante não


trouxe elementos comprobatórios de que houve a efetiva separação entre as atividades
empresariais:

Mencionada decisão beira ao absurdo, haja vista que os ramos de


atividades da verdadeira Reclamada, qual seja: GHF Comercial International Trading
LTDA sequer são semelhantes com o ramo de atividades da Agravante que é
administração patrimonial:

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Ressalta-se que o ônus da prova é do Agravado nos termos do artigo 373
do CPC, pois a Agravante apresentou a prova que possui e que comprova a inexistência
de vínculo com o ex-sócio Guilherme Hannud Filho, qual seja: o contrato social
averbado pela Junta Comercial do Estado de São Paulo.

O que o juízo de primeiro grau pretende é eximir o Agravado de sua


responsabilidade de produzir provas e exigir desta Agravante a produção de provas
diabólicas, prova impossível, ou devil’s proof que consiste na prova cuja produção exige
esforço muito acima do ordinário, uma vez que são os fatos negativos, ou seja, a prova
da inexistência de um determinado fato.

Portanto, tendo em vista a enorme dificuldade na prova da inexistência


de fato, é possível considera-la como diabólica ou impossível, de modo que a

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distribuição do seu ônus pode, isto é, deve ser alterada para a parte que melhor puder
produzi-la.

O juízo assim decidiu porque restou evidente de que não há indícios de


direção e/ou administração das empresas pelos mesmos sócios e gerentes,
principalmente na época do contrato de trabalho do Agravado, e o controle de uma pela
outra; a origem comum do capital e do patrimônio das empresas; a comunhão ou a
conexão de negócios; a utilização da mão de obra em comum ou outras situações que
indiquem o aproveitamento direto ou indireto por uma empresa da mão de obra
contratada pela outra.

Não basta que empresas distintas tenham sócios em comum para


configurar o grupo econômico, mas sim que o grupo econômico, mas sim que o grupo
efetivamente exista, ou seja, que as empresas comunguem de objetivos comuns havendo
alguma forma de identidade entre elas e não apenas a semelhança entre seus sócios.

Portanto, o pedido deve ser sumariamente indeferido.

VI - DA DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A desconsideração inversa da personalidade jurídica exige igualmente os


requisitos dispostos no Art. 50 do Código Civil para sua concessão, ou seja, deve ficar
demonstrado pelo requerente o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo
desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial.

No entanto, nenhum desses elementos ficou evidenciado, sendo indevido


o deferimento da desconsideração inversa da personalidade jurídica, conforme
entendimento jurisprudencial, inclusive do TRT da 10ª Região:

EXECUÇÃO TRABALHISTA. INCIDENTE DE


DESCONSIDERAÇÃO DE PERSONALIDADE JURÍDICA
INVERSA. GRUPO ECONÔMICO. AUSÊNCIA DE PROVA.

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O incidente de desconsideração da personalidade jurídica foi
utilizado para incluir pessoa jurídica no polo passivo da
execução, em face do reconhecimento de grupo econômico. A
análise da existência de grupo econômico deve ser feita não só
com base na prova documental (atos constitutivos), como
também com base na forma de atuação empresarial. Não
emergindo dos autos a atividade imbricada das reclamadas ou
predominância de uma sobre a outra, não há como incluí-la no
polo passivo da execução. Nesse contexto, a agravante é
excluída do polo passivo da execução, determinada a
devolução dos valores eventualmente constritos e correção da
autuação. Agravo de petição conhecido e provido.
(TRT-10 - AP: 00282009120065100102 DF, Data de
Julgamento: 10/11/2021, Data de Publicação: 14/11/2021)

AGRAVO DE PETIÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA


DA PERSONALIDADE JURÍDICA. AUSÊNCIA DOS
REQUISITOS CONSTANTES DO ART. 50 DO CC.
DESCABIMENTO. A desconsideração inversa da
personalidade jurídica consiste no afastamento da autonomia
patrimonial da sociedade, para, ao revés do que ocorre na
desconsideração da personalidade propriamente dita, atacar o
patrimônio da pessoa jurídica, por obrigações do sócio, quando
este se vale da pessoa jurídica para assegurar a inadimplência
de seus débitos, conforme disposto no art. 50 do Código Civil.
Todavia, não sendo demonstrado que houve abuso da
personalidade jurídica, nos moldes traçados pela lei civil,
inviável o reconhecimento da responsabilização da empresa,
não sendo aplicável à hipótese, exceto no caso de sociedade
individual, o art. 28 do CDC, sob pena de imputar-se prejuízos
a terceiros que não tiveram participação na dívida ou na
impossibilidade de sua satisfação.

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(TRT-23 - AP: 00847005920025230005 MT, Relator:
TARCISIO REGIS VALENTE, Gab. Des. Tarcísio Valente,
Data de Publicação: 07/07/2021)

AGRAVO DE PETIÇÃO. REDIRECIONAMENTO DA


EXECUÇÃO. FORMAÇÃO DE GRUPO ECONÔMICO
FAMILIAR. NÃO CONFIGURAÇÃO. Situação em que os
elementos trazidos aos autos não permitem afirmar a
existência de grupo econômico familiar.O fato de terem os
sócios o mesmo sobrenome apenas indica que pode haver
parentesco entre os dirigentes das empresas cujo objeto social
é similar. No entanto, isso é insuficiente para configurar a
existência de de grupo econômico familiar. Agravo de petição
interposto pelas exequentes a que se nega provimento. (TRT -
4 - AP: 00003599520115040302, Data de Julgamento:
15/04/2020, Seção Especializada em Execução).

Portanto, o pedido deve ser sumariamente indeferido.

VII - MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA

Tratando-se de matéria de ordem pública, devem ser analisadas de ofício


pelo Juiz, não ficando sujeita à preclusão, por expressa redação do Art. 337 do CPC:

Art. 337 (...) § 5º Excetuadas a convenção de arbitragem e a


incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias
enumeradas neste artigo.

Desta forma, tratando-se de matéria prevista no Art. 337, inc. XI, deve
ser admitida análise neste grau de jurisdição, conforme leciona a doutrina:

"Ordem pública. As matérias enumeradas no CPC 337 devem

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ser analisadas ex officio pelo juiz, não estão sujeitas à
preclusão e podem ser examinadas a qualquer tempo e grau
ordinário de jurisdição (CPC 485 § 3.º). (...) As únicas matérias
do rol do CPC 337 que não podem ser conhecidas de ofício pelo
juiz são a incompetência relativa e a existência de convenção de
arbitragem." (NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de
Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 17ª ed. Editora
RT, 2018. Versão ebook, Art.337)

Nesse sentido:

Matéria de ordem pública - Preclusão e coisa julgada - Não


reconhecimento - A decisão judicial que aprecia matéria de
ordem pública não preclui, tampouco faz coisa julgada -
Dever de apreciação - Expressão de poder de jurisdição e do
império do Estado - Questão de ordem pública - Possibilidade
de conhecimento independentemente de alegação e,
portanto, de impugnação em qualquer fase processual
(CPC/73, arts. 267, § 3º, e 301, § 4º, atual artigos 485 § 3º e 337
§5º do CPC) (...) (TJSP; Agravo de Instrumento 2148692-
77.2018.8.26.0000; Relator (a): Henrique Rodriguero Clavisio;
Órgão Julgador: 18ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Araraquara - 5ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 21/09/2018)

Portanto, requer seja analisada a presente arguição de nulidade absoluta


no processo, pelos fundamentos que passa a dispor.

VIII - DOS REQUERIMENTOS

Diante do exposto, requer:

1) A notificação do Agravado, para se manifestar, querendo;

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2) O conhecimento e o provimento do presente Agravo de Petição, posto que
preenchidos os pressupostos de admissibilidade, para fins de reformar a decisão que
manteve a penhora nas contas bancárias da Agravante, uma vez comprovado que não
há qualquer indício de grupo econômico, não há indícios de fraude e muito menos
ligação com o ex-sócio Guilherme Hannud Filho há aproximadamente 27 anos.

Por fim, informa que por ter as suas contas bancárias bloqueadas pelo
juízo de primeiro grau, bem como teve os valores transferidos para conta judicial, deixa
de anexar os comprovantes de pagamentos de custas e depósitos judiciais.

Nestes termos, pede deferimento.

São Paulo, 04 de dezembro de 2022.

AMANDA SOUZA ROCHA


OAB/SP 452.569

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