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TRF1

RETA FINAL
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CORPO DOCENTE

Gustavo Fernandes Sales. Juiz do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Professor
de Direito Constitucional da Escola da Magistratura do Distrito Federal (Pós-Graduação
e preparatório para concursos). Aprovado nos concursos do Tribunal Regional Federal da 4ª
Região (Juiz Federal), do Ministério Público do Estado de Goiás (Promotor de Justiça).

Felipe de Farias Ramos. Juiz Federal substituto no TRF-3 (aprovado no XIX Concurso). Mestre
em Teoria, Filosofia e História do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Aprovado em concursos para Técnico Judiciário (TRT-12 e TJSC) e Analista Judiciário (TJSC e
MPF).

Caio Souto Araújo. Juiz Federal Substituto em Serra/ES (aprovado no XV concurso do TRF-2).
Foi Técnico Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo e Analista Judiciário da
Justiça Federal em São Paulo e no Espírito Santo. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de
Vitória (FDV), pós-graduado em Direito Administrativo pela Universidade Gama Filho (UGF) e
Mestre em Direito Processual (UFES).

Rafael Vasconcelos Porto. Juiz Federal Titular em Minas Gerais. Ex-Defensor Público Federal.
Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Direito Previdenciário
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Doutorando em Ciências Jurídico-Políticas
pela Universidade de Lisboa. Professor de Direito Previdenciário na Universidade Presbiteriana
Mackenzie (pós-graduação lato sensu) e na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(graduação).

Bruno Stamm. JJuiz Federal Substituto em São Paulo/SP (aprovado no XVIII Concurso para o
TRF-3). Mestrando em Direito Constitucional e Processo Tributário pela PUC/SP.

Fernando Caldas Bivar Neto. Juiz Federal substituto no TRF-3 (aprovado no XVI Concurso do
TRF-2). Mestre em Direito pela PUC/SP. Foi Técnico Judiciário no TJPE (2013-2014), Delegado
de Polícia Federal (2014-2016), Advogado da União (2017) e Juiz Federal no TRF2 (2017-2019).

Mayra Thaís Andrade. Doutora e Mestre em Direito Público, Direitos Humanos, Processo de
Integração e Constitucionalização do Direito Internacional pela Pontifícia Universidade Católica

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de Minas Gerais (PUC Minas). Especialista em Estudos Diplomáticos pelo Centro de Direito
Internacional. Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG. Coordenadora de
grupos de pesquisa no Portal Direito Internacional Sem Fronteiras (DISF) e no Grupo de Estudos
do Sistema Interamericano de Direitos Humanos (GESIDH). Advogada. Professora Universitária
no IBMEC-BH, na Pós-graduação da PUC MINAS e no CEI Acadêmico.

Caio Paiva. Professor. Ex-Defensor Público Federal em Campinas/SP (aprovado no IV Concurso


para a DPU). Professor de Processo Penal e Direitos Humanos. Coord. do Curso CEI e do Tudo
de Penal. Especialista em Ciências Criminais e autor de vários livros

Daniel Chiaretti. Juiz Federal Substituto em Corumbá/MS (aprovado no XVII Concurso do


TRF-4). Bacharel em Direito e Filosofia pela USP. Mestre e Doutorando em Filosofia pela USP.
Tutor e Formador pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam).
Ex-Defensor Público Federal. Coautor das obras “Comentários ao Estatuto dos Refugiados” (Ed.
CEI – 2019) e “Roteiros de Prova Oral: magistratura federal” (Ed. Juspodivm).

Ricardo Duarte Ferreira Figueira. Juiz Federal Substituto (aprovado no XIX Concurso do TRF-
3). Bacharel em Direito pela FGV Rio de Janeiro. Pós-Graduado em Direito Público e Privado pela
Escola da Magistratura do Rio de Janeiro. Foi Promotor de Justiça no MPRJ e Técnico Judiciário
do TRF-2, e também aprovado em concurso para Oficial de Justiça do TRF-2.

Thiago Pedro Pagliuca dos Santos. Doutor e Mestre em Direito Penal pela USP. Bacharel em
Direito pela PUC/SP. Professor do Curso Popular de Formação de Defensoras e Defensores
Públicos e da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Juiz de Direito (TJ/SP). Ex-
Defensor Público (DPE/RS e DPE/SP). Ex-Conselheiro Penitenciário do Estado de São Paulo.

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SUMÁRIO

CORPO DOCENTE................................................................................................................................... 2
CRONOGRAMA...................................................................................................................................... 5
APRESENTAÇÃO..................................................................................................................................... 6
QUESTÕES OBJETIVAS SEM GABARITO COMENTADO.......................................................................... 7
DIREITO CONSTITUCIONAL.............................................................................................................. 7
DIREITO PREVIDENCIÁRIO............................................................................................................... 8
DIREITO PENAL............................................................................................................................... 10
PROCESSO PENAL........................................................................................................................... 13
DIREITO DO CONSUMIDOR/ECONÔMICO..................................................................................... 15
DIREITO CIVIL................................................................................................................................. 17
PROCESSO CIVIL............................................................................................................................. 19
DIREITO EMPRESARIAL.................................................................................................................. 22
DIREITO TRIBUTÁRIO..................................................................................................................... 23
DIREITO ADMINISTRATIVO............................................................................................................ 24
DIREITO AMBIENTAL...................................................................................................................... 26
DIREITO INTERNACIONAL.............................................................................................................. 27
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA........................................................................................................... 28
GABARITO............................................................................................................................................ 30
QUESTÕES OBJETIVAS COM GABARITO COMENTADO....................................................................... 31
DIREITO CONSTITUCIONAL............................................................................................................ 31
DIREITO PREVIDENCIÁRIO............................................................................................................. 39
DIREITO PENAL............................................................................................................................... 43
PROCESSO PENAL........................................................................................................................... 49
DIREITO DO CONSUMIDOR/ECONÔMICO..................................................................................... 55
DIREITO CIVIL................................................................................................................................. 59
PROCESSO CIVIL............................................................................................................................. 68
DIREITO EMPRESARIAL.................................................................................................................. 79
DIREITO TRIBUTÁRIO..................................................................................................................... 82
DIREITO ADMINISTRATIVO............................................................................................................ 89
DIREITO AMBIENTAL...................................................................................................................... 95
DIREITO INTERNACIONAL.............................................................................................................. 97
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA......................................................................................................... 100

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CRONOGRAMA

Rodada Publicação

1ª Rodada 04/04/2023

2ª Rodada 18/04/2023

3ª Rodada 02/05/2023

4ª Rodada 16/05/2023

5ª Rodada 30/05/2023

6ª Rodada 13/06/2023

7ª Rodada 27/06/2023

8ª Rodada 11/07/2023

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APRESENTAÇÃO
Prezadas e prezados alunos,

Bem-vindos e bem-vindas a mais uma reta final do Curso CEI!

O objetivo deste curso é promover uma revisão dos principais temas para o concurso de Juiz Federal Substituto
para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região. No decorrer de 8 (oito) rodadas, vamos explorar desde temas
fundamentais de cada disciplina até assuntos mais complexos, passando por revisão de jurisprudência e
assuntos com maior incidência em provas objetivas. Além disso, todo material será feito levando em conta o
perfil da Fundação Getúlio Vargas, que elaborará a primeira fase.
Além das rodadas, o curso terá aulas em vídeo sobre cada uma das disciplinas. Nessas aulas, nossos professores
e professoras farão uma revisão dos assuntos mais importantes para essa fase do concurso.
Por fim, como bônus os alunos e alunas terão acesso a revisões de jurisprudência de 2022 nas principais
disciplinas.

Bom curso!
Coordenação

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QUESTÕES OBJETIVAS SEM GABARITO COMENTADO


🏳 DIREITO CONSTITUCIONAL

QUESTÃO 01. Sobre o constitucionalismo brasileiro, assinale a alternativa INCORRETA:


A) O texto da Constituição de 1824 tinha caráter semiflexível.
B) A Constituição Federal de 1891 consagrou a laicidade do Estado.
C) A Constituição Federal de 1934 trouxe, pela primeira vez a nível constitucional, a previsão do
mandado de segurança e da ação popular.
D) Os decretos-lei, novidade da Constituição de 1937, não encontraram previsão no texto constitucional
de 1946.
E) A Constituição de 1967 ampliou os legitimados para deflagrar a ação direta de inconstitucionalidade,
o que foi ainda mais alargado pela Constituição Federal de 1988.

QUESTÃO 02. Julgue os itens:


I – Não cabe mandado de segurança contra lei ou ato normativo em tese, mas cabe o writ contra leis de
efeitos concretos.
II – O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar, originariamente, mandado de
segurança contra ato de órgão colegiado presidido por Ministro de Estado.
III – Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente, nos crimes comuns
e nos de responsabilidade, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, os desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e
do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho,
os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União
que oficiem perante tribunais.
A) Estão corretos todos os itens.
B) Estão corretos somente os itens I e III.
C) Estão corretos somente os itens I e II.
D) Estão corretos somente os itens II e III.
E) Está correto somente o item I.

QUESTÃO 03. Não pode(m) ser objeto da arguição de descumprimento de preceito fundamental:
A) Controvérsias sobre a constitucionalidade do direito municipal em face da Constituição da
República de 1988.
B) Leis anteriores à Constituição Federal vigente.
C) Proposta de emenda à Constituição Federal.
D) Ato normativo já revogado.

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E) Atos cujos efeitos estão exauridos.

QUESTÃO 04. Sobre a defesa do Estado e das instituições democráticas, assinale a alternativa INCORRETA:
A) O sistema constitucional de crises ou direito de síncope é conceituado como um conjunto ordenado
de normas constitucionais que visam a estabilização e a defesa da Constituição contra processos
violentos de mudança ou perturbação da ordem constitucional. Nesse estado de exceção, a legalidade
ordinária é substituída por uma legalidade extraordinária.
B) O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos
e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade
institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.
C) Para a decretação do estado de defesa e do estado de sítio, a oitiva dos Conselhos da República e
de Defesa Nacional é obrigatória, mas sua manifestação é apenas consultiva, sem caráter vinculativo.
D) O estado de defesa permite sejam postas em vigor diversas medidas coercitivas, a exemplo da restrição
aos direitos de reunião, ainda que exercida no seio das associações, ao sigilo de correspondência e ao
sigilo de comunicação telegráfica e telefônica, bem como autoriza a prisão por crime contra o Estado,
determinada pelo executor da medida, sendo que a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá
ser superior a dez dias, em qualquer hipótese.
E) A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários, designará Comissão composta de
cinco de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de
defesa e ao estado de sítio.

🏳 DIREITO PREVIDENCIÁRIO

QUESTÃO 05. Segundo a legislação de regência e o entendimento do STJ acerca dos honorários
sucumbenciais nas ações previdenciárias, analise as assertivas a seguir:
I) Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre as prestações vencidas após
a sentença.
II) Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre as prestações vencidas após
a sentença, somente no período anterior ao advento do CPC de 2015.
III) Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, incidem sobre as prestações vencidas após a
sentença, mesmo antes do advento do CPC de 2015.
IV) Nos Juizados Especiais Federais, os honorários advocatícios incidem apenas a partir do segundo grau,
sendo devidos pelo recorrente derrotado.
V) Nos Juizados Especiais Federais, o recorrido derrotado em segunda instância não arca com honorários
de sucumbência.
Estão corretas as assertivas:

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A) I, IV e V.
B) I e IV.
C) II e IV.
D) III, IV e V.
E) IV e V.

QUESTÃO 06. No ano de 2010, Lucas Moura ingressou com reclamatória trabalhista contra a empresa
“Tottenham Ltda” pleiteando diferenças remuneratórias relativas aos últimos três anos de trabalho. A
ação, após longa fase recursal, foi finalmente julgada procedente e transitou em julgado em 21/09/2022.
Em seguida, Lucas Moura ingressou com pedido de revisão da renda mensal inicial de sua aposentadoria,
concedida em 09/05/2010, tendo em vista que os reflexos das diferenças remuneratórias reconhecidas pela
Justiça Trabalhista servem para majorar salários-de-contribuição que estão contidos dentro do período
básico de cálculo daquele benefício. Nessa circunstância e segundo o entendimento do STJ, analise as
assertivas a seguir:
I) O INSS deveria indeferir o pedido de revisão, tendo em vista o prazo de 10 anos de decadência para a
revisão do ato de concessão de benefício.
II) A sentença trabalhista não serve necessariamente como início de prova material para fins de cômputo
de tempo de serviço na esfera previdenciária, sendo importante observar aspectos tais como o modo como
transcorreu a lide trabalhista.
III) O prazo de decadência para a revisão pleiteada corre desde o trânsito em julgado da reclamatória
trabalhista, razão pela qual ainda não se esgotou.
IV) Caso Lucas tenha contribuições anteriores à competência “julho de 1994”, elas poderiam ser utilizadas
no cálculo de seu benefício, caso isto lhe fosse favorável
V) Caso a sentença trabalhista fosse homologatória de acordo entre as partes, ela teria, em qualquer caso,
força de início de prova material.
Estão corretas as assertivas:
A) I e V.
B) II, III e IV.
C) I, II e IV.
D) I, III e IV.
E) II e III.

QUESTÃO 07. Acerca das entidades de previdência privada, analise as assertivas a seguir:
I) A entidade fechada pode ser constituída sob a forma de fundação, sem fins lucrativos.
II) A entidade fechada constituída por instituidor oferta exclusivamente planos de benefícios na
modalidade contribuição definida.

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III) A entidade fechada tem como objeto a administração e execução de planos de benefícios de natureza
previdenciária, podendo também atuar no ramo de seguro de vida e acidentes pessoais.
IV) A entidade aberta pode ser constituída unicamente sob a forma de sociedade limitada.
V) A entidade aberta tem por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário
concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único.
Estão corretas as assertivas:
A) III e V
B) III e IV
C) I, II e V
D) I e V
E) II e III

🏳 DIREITO PENAL

QUESTÃO 08. Acerca dos princípios básicos do Direito Penal, com base na legislação e na jurisprudência
atualizada do Superior Tribunal de Justiça, todas as afirmativas estão corretas, à exceção de uma. Assinale-a.
A) Não se aplica o princípio da insignificância aos casos de transmissão clandestina de sinal de internet
via radiofrequência, sendo de todo irrelevante o fato de se tratar de serviço de valor adicionado.
B) Por força do princípio da legalidade, o conceito de crimes contra a humanidade estabelecido no
Estatuto de Roma é irrelevante para fins de tipicidade no Direito pátrio, sendo imprescindível a
existência de lei formal que o preveja.
C) O princípio da insignificância deve ser aplicado aos delitos de descaminho e de contrabando
quando o valor for inferior ao estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, com as atualizações feitas
pelas Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda.
D) Em sua redação dada pela Lei 9.677/1998, o preceito secundário do art. 273, § 1º-B, inciso I, foi
reconhecido como ofensivo ao princípio da proporcionalidade, motivo pelo qual para esta situação
específica, fica repristinado o preceito secundário do art. 273, na redação originária.
E) Admite-se a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais.

QUESTÃO 09. Nelson, artesão especializado em reconstrução de armas de fogo históricas, vende uma
espingarda funcional a Heleno, colecionador de artigos bélicos arcaicos, que aufere lucros da exploração dos
serviços de um stand de tiro estabelecido no subúrbio de determinado Município, destinado a atiradores
esportivos. Num dia muito chuvoso, esta vem a ser utilizada por Damásio, franco-atirador aposentado do
Exército brasileiro, o qual, efetuando disparos, se assusta com um trovão que ribomba sobre um prédio
nas proximidades, e acaba por acertar um poste de iluminação na rua lindeira ao estabelecimento de
Heleno, e disso resulta a queda de fiação de transmissão de energia sobre a avenida molhada. Rogério,
cardiopata usuário de marca-passo, de forma desavisada pisa na água eletrocutada e sofre um acidente

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fatal em razão da descarga elétrica. Laudo pericial de necropsia atesta que a condição de Rogério foi
determinante para o seu óbito, eis que o choque elétrico resultou na desativação de seu marca-passo e, em
razão disso, houve parada cardíaca.
Considerando o caso hipotético acima, tendo por base as teorias desenvolvidas pela dogmática penalista a
respeito da relação de causalidade, da conduta penalmente relevante e da imputação do resultado, assinale
a afirmativa correta com base na legislação em vigor.
A) Nos termos do disposto no artigo 13, caput, do CP, que adota como regra a teoria da equivalência
dos antecedentes causais (conditio sine qua non), Damásio, Heleno e Nelson todos produziram,
indistintamente, causas para a morte de Rogério, de modo que, em se abstraindo o elemento subjetivo,
todos deveriam, em tese, responder pelo crime decorrente, sendo de todo irrelevante o fato de ele ser
cardiopata e usuário de marca-passo.
B) Pela teoria da causalidade adequada, adotada como exceção pela lei penal brasileira nos casos
de concausas (art. 13, § 1º, CP), abstraindo-se o elemento subjetivo, nenhum dos indivíduos citados
deveria responder, eis que nenhum deles produziu causa efetiva e adequada para o resultado final.
C) O resultado morte decorre de concausas: a causa principal é a eletrocução decorrente da derrubada
do poste de energia em razão do disparo de Damásio, mas a cardiopatia e o uso de marca-passo
constituem concausas preexistentes relativamente independentes. Pelo prisma da causalidade
adequada, abstraindo-se o elemento subjetivo, somente Damásio poderia responder (art. 13, § 1º,
CP), não sendo sendo possível excluir o nexo causal.
D) Na perspectiva do finalismo, deve-se aferir a causalidade psíquica além da causalidade objetiva, de
modo que a indagação sobre se o agente agiu com dolo ou culpa é da maior relevância. É dispensável,
porém, que conheça a concausa preexistente, de modo que Damásio, por ter obrado com culpa ao
realizar o disparo, pode responder pelo delito.
E) Na perspectiva da imputação objetiva, é possível identificar nas condutas de Heleno e de Damásio
a criação de um risco proibido, de modo que produziram causas para o resultado, que efetivamente se
realizou no risco e que encontra no alcance do tipo penal do homicídio (culposo).

QUESTÃO 10. Considerando as disposições do Código Penal sobre a ilicitude e sobre a culpabilidade e as
respectivas causas excludentes, segundo a doutrina e a jurisprudência dominantes, analise as afirmativas
a seguir e assinale (V) para a verdadeira e (F) para a falsa.
( ) Não se exige conduta diversa do sócio administrador que deixa de recolher, pela sociedade empresária
indicada por lei como substituta tributária, no prazo legal, valor de tributo, comprovando que a empresa
vivia situação de crise financeira.
( ) O agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante
a prática de crimes pode estar em legítima defesa, mas, caso ele próprio esteja refém dos agressores, sua
conduta não pode ser justificada pelo fato de que tem o dever legal de enfrentar o perigo.

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( ) Na situação em que uma pessoa, usando moderadamente dos meios necessários, repele agressão atual
promovida por terceiro que acredita estar repelindo agressão iminente, somente o primeiro estará agindo
em legítima defesa.
( ) O consentimento do ofendido, enquanto causa justificante supralegal, deve ser prévio ou simultâneo à
lesão ao bem jurídico, e só pode recair sobre bens disponíveis.
( ) O indígena não integrado certamente não possui a potencial consciência da ilicitude a respeito das
normas penais exaradas pelo Estado brasileiro, de modo que sua conduta criminosa será sempre exculpável.
As afirmativas são, na ordem apresentada, respectivamente:
A) V - F - V - V - F
B) V - F - V - V - V
C) F - V - F - V - F
D) V - F - F - F - V
E) F - V - F - F - F

QUESTÃO 11. Anastácio, dirigente máximo de uma autarquia federal, visando a prestigiar seu cunhado
Belisário, que, durante a pandemia do Covid-19, iniciou empresa voltada à produção e comércio de
artigos de higiene pessoal como sabonetes bactericidas e álcool em gel, determina a abertura de licitação
para contratação de sua sociedade empresária. Seus fiéis secretários, Constantino e Diocleciano, ambos
integrantes da comissão de licitações, providenciam a expedição de convites aos possíveis concorrentes
com datas e informações de depósito equivocadas e, bem assim, prometem que irão desconsiderar todas
as habilitações que vierem a ser realizadas por motivos caprichosos a fim de garantir que o objeto da
licitação será adjudicado à empresa de Belisário. No curso do certame, Justiniano, assessor jurídico junto
à diretoria, após receber promessa de dinheiro em espécie por Belisário, alerta Anastácio que o plano
engendrado tem riscos desnecessários e, em contrapartida, apresenta-lhe parecer jurídico atestando a
possibilidade de dispensa de licitação em razão da situação de calamidade pública decorrente da pandemia.
Anastácio então profere decisão pela contratação direta dos serviços e produtos lastreando-se no parecer
jurídico de Justiniano. Com vistas a efetuar o pagamento do contrato, ordena a realização da despesa
entre os dois últimos meses do ano corrente e os dois primeiros do ano vindouro.
Diante desse cenário é correto afirmar que:
A) Anastácio cometeu os crimes de frustração do caráter competitivo de licitação (art. 337-F do CP) e
pelo crime de patrocínio de contratação indevida (art. 337-G do CP), mas não o crime de contratação
direta ilegal (art. 337-E) pelo fato de que atuou com base em parecer jurídico de Justiniano.
B) Belisário incidiu unicamente no crime de corrupção ativa (art. 333 do CP) em relação a Justiniano,
uma vez que, por não ser funcionário público, não pode responder pelos crimes relacionados à
licitação.
C) Justiniano somente deve responder pelo crime de corrupção passiva (art. 317 do CP), uma vez

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que a dispensa da licitação era admissível nos termos do art. 75, inciso VIII, da Lei nº 14.133/2021,
que prevê sua possibilidade nos casos de emergência ou calamidade pública quando caracterizada
urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a continuidade
dos serviços públicos.
D) Constantino e Diocleciano devem responder somente pelo crime de frustração do caráter
competitivo de licitação (art. 337-F do CP), que se consumou independentemente da efetiva obtenção,
por Belisário, da vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação.
E) Anastácio cometeu somente o crime de contratação direta ilegal (art. 337-E do CP) em concurso
de agentes com Belisário e Justiniano. O crime de frustração do caráter competitivo de licitação (art.
337-F do CP) resta absorvido pelo primeiro delito em razão do princípio da consunção, eis que esta
esta conduta acabou servindo como meio para o fim efetivamente almejado por aquela, qual seja, a
adjudicação do objeto da licitação.

🏳 PROCESSO PENAL

QUESTÃO 12. Acerca dos princípios gerais e das garantias constitucionais que regem o processo penal
brasileiro, com base nas disposições constitucionais e legais, e na doutrina e jurisprudência dos Tribunais
Superiores, assinale a alternativa correta:
A) Por força da garantia constitucional da presunção de inocência (ou da não culpabilidade), na sua
acepção enquanto regra probatória, é impossível a execução provisória da pena antes do trânsito em
julgado da sentença penal condenatória, mesmo em caso de condenação pelo tribunal do júri com
reprimenda igual ou superior a 15 anos de reclusão.
B) Quando não for devidamente justificada a necessidade do uso de algemas pelo segregado ocasiona a
nulidade da audiência de custódia e da prisão em flagrante, devendo aquele ser colocado em liberdade
ainda que haja fundamento para a decretação da prisão preventiva.
C) Por força do princípio do contraditório (art. 5º, inciso LV, da CF/1988), nenhum acusado, exceto se
ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.
D) Por força da garantia constitucional da presunção de inocência (ou da não culpabilidade), na
sua acepção enquanto regra probatória, o ônus da prova recai exclusivamente sobre a acusação, em
qualquer etapa da ação penal.
E) Por força do princípio da ampla defesa, que tem como um de seus corolários o da defesa técnica,
caracterizada como indisponível, necessária e irrenunciável, a defesa do acusado deve ser efetiva, o
que significa que, embora não deva o defensor invariavelmente pedir sua absolvição, deve sempre
apresentar uma resposta substancial à acusação desde a primeira oportunidade em que se manifesta
no feito.

QUESTÃO 13. O Juízo competente de uma das varas de certa Subseção Judiciária Federal recebeu a

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denúncia oferecida em face de Fernando, Julio, Aury, Gustavo e Renato, todos acusados dos mesmos
delitos em concurso de agentes. Os três primeiros foram regularmente citados, mas somente Fernando
constituiu advogado, que ofereceu resposta à acusação tempestivamente. A Defensoria Pública da União
atuou em favor de Julio e Aury, oferecendo a defesa adequada. No curso da instrução processual, Julio não
foi mais encontrado nos endereços indicados e não respondeu mais aos contatos telefônicos, inclusive via
aplicativos de mensagens instantâneas, e foi determinado o prosseguimento do feito à sua revelia. Com
a prolação da sentença condenatória, foi expedido mandado de intimação a ser cumprido por Oficial
de Justiça somente para Fernando e Aury e foi determinada a intimação do advogado do primeiro, para
serem comunicados a respeito da decisão.
Já em relação a Gustavo e Renato, o Ministério Público Federal havia requerido, de forma genérica,
na cota da denúncia, a citação por edital de todo e qualquer denunciado que não fosse localizado. O
juiz determinou a expedição do edital de citação, com observância de todas as formalidades, após uma
tentativa de citação por oficial de justiça nas respectivas e possíveis residências apontadas em relação aos
acusados. A pedido do MPF, determinou o desmembramento do feito em relação a estes dois réus, a fim
de não prejudicar o andamento da instrução processual em relação aos demais, e, nos autos apartados,
determinou a aplicação do regramento do art. 366 do CPP. Após a prolação da sentença condenatória
em desfavor de Fernando, Julio e Aury, enquanto pendentes o julgamento de seus recursos, Gustavo
compareceu espontaneamente ao feito, juntando procuração constituindo advogado, e pleiteando a
nulidade da citação e dos atos processuais posteriores.
Considerando o caso hipotético acima, com base no Código Penal e na jurisprudência atualizada do
Superior Tribunal de Justiça, assinale a afirmativa correta.
A) Julio, por ter sido citado pessoalmente, ao não comunicar novo endereço ao juízo para ser intimado,
teve acertadamente decretada a sua revelia, de modo que o processo seguirá sem sua presença e,
inclusive, torna dispensável a sua intimação a respeito da sentença.
B) Em havendo advogado constituído, como no caso de Fernando, é dispensável a intimação pessoal
do próprio réu a respeito da sentença, bastando a intimação do patrono pelos meios idôneos, como
por publicação oficial.
C) Em caso de os réus residirem fora do território da jurisdição do juiz processante, deverão ser citados
por carta precatória. E aí, caso se verifique que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de
outro juiz que não o deprecado, este último devolverá os autos ao juízo deprecante para que possa
deliberar e, então, fazer a remessa ao juízo correspondente.
D) A intimação de Aury, caso não fosse mais localizado após a prolação da sentença condenatória,
deve ser obrigatoriamente feita edital, uma vez que a intimação do Defensor Público Federal é inócua.
E) A arguição de nulidade suscitada por Gustavo em relação à citação por edital merece acolhimento,
e só aproveita a ele e a Renato, ainda que seja requerida a extensão de seus efeitos por Fernando e Aury
em seus respectivos recursos.

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RODADA 01

QUESTÃO 14. Considerando as disposições legais sobre a forma, o lugar e o tempo dos atos processuais,
analise as proposições abaixo:
I - As audiências, sessões e os atos processuais se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, mas poderão
realizar-se na residência do juiz e, no caso do interrogatório do réu preso, será realizado, em sala própria,
no estabelecimento em que estiver recolhido.
II - Suspende-se o curso do prazo processual e fica vedada a realização de audiências e de sessões de
julgamento nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive, salvo, dentre outras
hipóteses, em quaisquer casos que envolvam réus presos.
III - Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias
úteis.
IV - Tendo em vista a publicidade dos atos processuais, só se admite a determinação de segredo de justiça
em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a respeito do ofendido para
evitar sua exposição aos meios de comunicação.
Está correto o que se afirma em
A) assertiva I, somente.
B) assertiva II, somente.
C) assertivas I e II, somente.
D) assertivas II e III, somente.
E) assertivas III e IV, somente.

QUESTÃO 15. Com base no regramento a respeito dos Juizados Especiais Criminais e do procedimento
sumaríssimo estabelecidos nas Leis nºs 9.099/1995 e 10.259/2001, bem como na doutrina e jurisprudência
dominantes, assinale a alternativa incorreta.
A) É inadmissível a citação por edital no procedimento sumaríssimo.
B) Compete ao Tribunal Regional Federal o julgamento dos pedidos de habeas corpus impetrados em
face da Turma Recursal dos Juizados Especiais Criminais.
C) Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos da Lei nº 10.259/2001,
as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos,
cumulada ou não com multa.
D) A suspensão condicional do processo será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou por contravenção ou descumprir qualquer outra condição imposta.
E) É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial
da pretensão punitiva estatal, devendo os autos serem encaminhados ao MP para que se manifeste
sobre a suspensão condicional ou sobre transação penal.

🏳 DIREITO DO CONSUMIDOR/ECONÔMICO

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RODADA 01

QUESTÃO 16. Morador do interior, Marinho acompanha seu filho, Josué, até a capital, onde seu
descendente embarca em voo para o exterior. O percurso a ser feito, sempre via aérea, é: (i) os dois partem
do interior até a capital; (ii) na capital, Josué toma assento em voo internacional; (iii) Marinho toma voo
para regresso à cidade de origem. Considerada a narrativa, assinale a alternativa CORRETA, considerado
o Código de Direito do Consumidor – CDC e jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça a respeito.
A) Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais e materiais
por ele experimentados serão regulados pelo CDC, de modo que a pretensão de indenização pelo
abalo material há de obedecer ao prazo quinquenal, por fato do serviço;
B) Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais e materiais por
ele experimentados serão regulados pelas Convenções internacionais que regem a temática (especial a
Convenção de Montreal e de Varsória), de modo que a pretensão de indenização pelo abalo moral há
de obedecer ao prazo de dois anos, conforme o pacto internacional;
C) Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais ele
experimentados são regulados pelo CDC (com aplicação, v.g., do princípio da reparação integral), ao
passo que os danos materiais serão presididos pelos tratados internacionais que cuidam da temática
(mediante o manejo, por exemplo, da tarifação indenizatória prevista pelos referidos pactos);
D) Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais ele
experimentados são regulados pelos tratados internacionais que cuidam da temática, ao passo que os
danos materiais serão apreciados consoante o CDC;
E) Todas as alternativas anteriores estão equivocadas.

QUESTÃO 17. Alcântara está diante de situação bastante peculiar, considerada sua vasta carreira de
administrador de pessoa jurídica empresária. É que a sociedade por ele administrada é objeto de duas
investigações, uma (i) no âmbito da Lei Anticorrupção (Lei n.º 12.846/2013) pela prática de atos contra
a administração pública, outra (ii) no âmbito da Lei n.º12.529/2011, em razão de atos lesivos à ordem
econômica.
Considerada a literalidade das referidas leis, assinale a alternativa CORRETA.
A) Acaso seja de interesse da sociedade tomar assento em acordo de leniência em ambas as
investigações, Alcântara deve ter presente que, nos dois casos, figura como requisito do referido
acordo a circunstância de que a pessoa jurídica empresária interessada no pacto seja a primeira a
qualificar-se a respeito da infração noticiada ou sob investigação;
B) Para o fim de traçar sua estratégia defensiva em ambos os processados, Alcântara há de observar este
regime jurídico: ao passo que, em ambas as apurações, é objetiva a responsabilidade da pessoa jurídica
empresária, em se cuidando da responsabilidade do administrador, será ela subjetiva não apenas no
âmbito da lei anticorrupção, mas também no que concerne à penalidade de multa endereçada ao
administrador direta ou indiretamente responsável pela infração à ordem econômica;

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RODADA 01

C) Por expressa autorização legal, Alcântara poderá tomar assento em acordo de leniência em ambos
os processados;
D) Todas as alternativas anteriores estão corretas;
E) Apenas as alternativas ‘a’ e ‘b’ estão corretas.

🏳 DIREITO CIVIL

QUESTÃO 18. Ana Maria firmou procuração em causa própria conferindo poderes a Raimundo para
dispor sobre imóvel da propriedade dela, em nome dela mesma, no interesse do outorgado, de maneira
irrevogável e sem a necessidade de prestar contas. Caio concertou com João Pedro contrato de depósito, por
meio do qual este último obrigou-se a guardar sacos de trigo de propriedade daquele até data estipulada
no pacto. Cláudio reconheceu a paternidade de Vinícius, filho de Amélia.
Atuando em estado de necessidade, Clara, dirigindo seu veículo dentro das normas de regência, deve de
desviar de caminhão desgovernado, manobra que originou danos a Adalberto, que, inocente em toda a
situação, teve sua moto avariada na ocorrência.
Considerada a atuação dos três agentes, assinale a alternativa CORRETA.
A) Ana Maria firmou negócio jurídico unilateral, ao passo que Caio e João Pedro tomaram assento
em contrato unilateral;
B) Ilícito, o ato de Clara gera o dever de indenizar Adalberto;
C) Como Ana Maria, Cláudio firmou ato jurídico em senso estrito;
D) Todas estas pessoas participaram de uma espécie contratual (seja ela unilateral ou bilateral, pouco
importa): Ana Maria, Caio e João Pedro;
E) Todas as alternativas anteriores estão incorretas.

QUESTÃO 19. Silvino adquiriu um automóvel de Napoleão pelo preço de R$ 300.000,00 (trezentos
mil reais). Três meses depois, todavia, o adquirente viu-se privado do bem móvel por força de ordem
administrativa da autoridade de trânsito, que recolheu o veículo, porque, há um ano, havia o registro no
assentamento do carro de que ele fora roubado do real proprietário, que não era Napoleão.
Perante tal situação, assinale a alternativa CORRETA considerada não apenas a dicção do Código Civil –
CC, como ainda a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - STJ.
A) Para o STJ, ausente no caso decisão jurisdicional em desfavor de Silvino, não pode ele voltar-se
contra Napoleão exigindo reparação com base no instituto da evicção;
B) Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir a responsabilidade pela evicção. Não
lhes é possível, contudo, excluí-la às inteiras;
C) Silvino pode exigir de Napoleão o valor da compra, sendo irrelevante, no ponto, precisar o valor da
res no momento da apreensão;
D) Acaso o pacto formalizado entre Silvino e Napoleão contivesse cláusula que, em sua literalidade,

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RODADA 01

afastasse a garantia contra evicção, seria caso de emprestar interpretação literal ao comando pactuado:
Silvino não teria direito à indenização com base na evicção, sendo irrelevante investigar se, informado
do riscos inerentes ao instituto, assumiu-os ou não;
E) Todas as alternativas anteriores estão incorretas.

QUESTÃO 20. Sem fundamento jurídico, Peixoto ocupa dois terrenos públicos vizinhos entre si: (a) o
lote1, onde disputa a posse da coisa com outro particular, Macedo, inerte que se encontra a administração
pública a respeito; e (b) o lote2, cuja proprietária, autarquia federal, está atuando junto ao Poder Judiciário
para reaver a posse da res.
Ante tal situação, assinale a alternativa CORRETA considerada a literalidade do Código Civil – CC,
bem assim a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ a respeito do tema:
A) Em demanda possessória em que Peixoto e Macedo debatam-se pela recuperação da imóvel, o ente
público que, sendo proprietário da coisa, pretender tomar assento no feito deverá apresentar razões
que se voltem à matéria possessória, sem que lhe seja possível defender sua posição perante o lote com
base no direito de propriedade;
B) Quanto ao lote1, nenhum dos privados há de ser garantido na posse do imóvel: tratando-se de bem
público, não é possível que agentes privados apoderem-se da coisa, existindo por parte deles apenas
detenção desprotegida de tutela possessória;
C) Em relação ao lote2, Peixoto não tem direito ao pagamento de indenização por acessões ou
benfeitorias, nem pode pleitear o reconhecimento do direito de retenção, mas a análise sobre o
cabimento de medida liminar em demanda possessória (em favor da autarquia proprietária do bem)
exige destrinçar o aspecto temporal da posse exercida por Peixoto: se nova ou velha;
D) Em relação ao lote1, morrendo Peixoto, seus herdeiros não são investidos automaticamente posse
do imóvel. Assim, o exercício fático da posse por parte deles é requisito essencial para que tenham
direito à proteção possessória contra eventuais atos de turbação ou esbulho praticados por Macedo;
E) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

QUESTÃO 21. Felício e Sebastião uniram-se em sociedade, e, assim, passaram a ser sócios fundadores
de pessoa jurídica empresária atuante no ramo da panificação. Num primeiro momento, aproveitando o
aquecimento da economia, ampliaram a atividade da pessoa jurídica para o seguimento hortifrutigranjeiro.
Posteriormente, porém, enfrentaram problemas financeiros em razão do desconhecimento sobre este
último mercado, circunstância que motivou inúmeras transferências de ativos de alta significação
econômica sem efetivas contraprestações entre sócios e pessoa jurídica. Ainda assim, não lhes foi
possível sanear a situação contábil da sociedade, quadro que gerou dívidas inadimplidas tanto perante
consumidores quanto diante fornecedores de matéria prima.
Em relação à desconsideração da personalidade jurídica --- medida cabível aos credores para recuperar

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RODADA 01

os valores não pagos pela sociedade devedora---, assinale a alternativa CORRETA, consoante o texto legal
(Código Civil – CC, e Código de Defesa do Consumidor - CDC) e a jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça - STJ:
A) Por conta do desvio de finalidade, seria cabível a desconsideração da personalidade jurídica fundada
no CC (teoria maior) já no momento de expansão da finalidade original da atividade econômica
específica da sociedade;
B) Ainda que inexistisse no caso confusão patrimonial entre os sócios e a sociedade, caberia a
desconsideração da personalidade jurídica fundada no CDC, se ela, de alguma forma, representasse
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Nesse caso (teoria menor regida
pelo CDC), não há, em regra, a possibilidade de atingir-se os bens do administrador não-sócio, pelo
simples inadimplemento da pessoa jurídica (ausência de bens);
C) O caso narrado diz com confusão patrimonial que legitima a desconsideração da personalidade
jurídica embasada no CC (teoria maior) perante os fornecedores de matéria prima. Dita construção
teórica permite seja alcançado o patrimônio de pessoas que não estejam no quadro societário da
pessoa jurídica empresária;
D) Para a teoria maior, ao contrário do que se dá na dissolução irregular, a insolvência da sociedade
empresária não representam o desvio de finalidade justificador da desconsideração;
E) Apenas as alternativas ‘b’ e ‘c’ estão corretas;

🏳 PROCESSO CIVIL

QUESTÃO 22. Considere a seguinte situação hipotética.


No ano de 2001, o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) ajuizou ação de
desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, de imóvel rural situado em Tabatinga/
AM, em face de José Tício. Em 2003, foi proferida sentença pelo Juízo Federal da Tabatinga, que fixou o
valor da indenização devida ao expropriado. A sentença transitou em julgado no mesmo ano.
Próximo ao pagamento, em 2004, o INCRA informou a existência de vários débitos tributários de José
Tício perante a Receita Federal do Brasil. Em 2005, veio aos autos ordem de penhora de valores devidos ao
expropriado. Tal constrição partiu do Juízo de Direito da 1ª Vara de Família da comarca de Tabatinga, em
execução de sentença proferida em ação de alimentos, ajuizada pelo filho do expropriado, João Semprônio.
Em 2006, o autor da ação de alimentos peticionou nos autos da desapropriação, requerendo a sub-
rogação nos direitos de seu genitor, José Tício. Em 2007, foi realizada nova penhora no rosto dos autos da
desapropriação, desta vez determinada pela Vara Federal de Execução Fiscal, em razão de débito tributário
de José Tício com a União.
Tendo em vista fortes indícios de que a ação de alimentos proposta por João Semprônio fora fruto de
conluio entre as partes com o propósito de frustrar o adimplemento do débito tributário, a União propôs
ação rescisória no ano de 2009, buscando desconstituir a sentença proferida pelo Juízo Estadual de Família,

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RODADA 01

perante o TRF da 1ª Região. Alega ter tomado ciência da simulação no ano de 2008, diante de informações
obtidas por cruzamento de dados da Receita Federal do Brasil.
Diante disso, assinale a alternativa correta.
A) O TRF da 1ª Região é incompetente para processar e julgar a ação rescisória, pois a sentença
rescindenda foi proferida pela Justiça Comum Estadual, devendo declinar da competência e remeter
os autos ao Tribunal de Justiça do Amazonas.
B) O TRF da 1ª Região é competente para processar e julgar a ação rescisória, mas ela foi proposta
após o prazo decadencial previsto em lei, que é de 2 (dois) anos, contado do trânsito em julgado.
C) O TRF da 1ª Região é competente para processar e julgar a ação rescisória, que foi proposta dentro
do prazo decadencial previsto em lei, que é de 2 (dois) anos, contado a partir do momento em que o
terceiro interessado (União) teve ciência da simulação ou da colusão.
D) O TRF da 1ª Região é competente para processar e julgar a ação rescisória, mas ela foi proposta
fora do prazo decadencial previsto em lei, que é de 2 (dois) anos, contado a partir do momento em que
o terceiro interessado (União) teve ciência da simulação ou da colusão, porém, com limite máximo de
5 (cinco) anos a partir do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.
E) A União não tem legitimidade para ajuizar ação rescisória na hipótese, cabendo somente ao INCRA
essa iniciativa.

QUESTÃO 23. Considere a seguinte situação hipotética.


Caio Mévio ajuizou, contra cinco bancos diferentes, dentre eles, a Caixa Econômica Federal, ação de
repactuação de dívidas em razão de alegado superendividamento. O Juízo Federal da Seção Judiciária do
Distrito Federal ao qual inicialmente distribuída a ação declinou da competência, sustentando, em suma,
que, embora a CEF tenha natureza jurídica de empresa pública federal, a causa teria natureza falimentar,
por versar sobre clara situação de insolvência civil, o que excluiria a competência da Justiça Federal.
Remetidos os autos à Justiça do Distrito Federal e Territórios, o juízo distrital afirmou que a parte autora
não postulava a declaração de insolvência civil, mas a repactuação de algumas dívidas. Não haveria, na
causa de pedir, a alegação de insolvabilidade econômica, mas sim situação de superendividamento. Assim,
entendeu pela incompetência da Justiça Distrital e suscitou conflito negativo de competência perante o
Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Assinale a opção correta.
A) Considerando que compete exclusivamente à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse
jurídico de entidade federal, o Juízo Distrital não poderia ter suscitado conflito de competência.
B) A competência para julgar o conflito de competência, na hipótese, é do TRF da 1ª Região, devendo
ser fixada a competência da Justiça Federal, pois não se trata de falência nem de insolvência civil, e há
interesse jurídico de empresa pública federal.
C) A competência para julgar o conflito de competência, na hipótese, é do STJ, devendo ser fixada a

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RODADA 01

competência da Justiça Federal, pois não se trata de falência nem de insolvência civil, e há interesse
jurídico de empresa pública federal.
D) A competência para julgar o conflito de competência, na hipótese, é do STJ, devendo ser fixada a
competência da Justiça Distrital, em interpretação teleológica do art. 109, I, da Constituição Federal,
pois se trata de um concurso de credores, situação que guarda similitude com a insolvência civil.
E) Cabe à Justiça Federal processar e julgar apenas os pedidos formulados em face da Caixa Econômica
Federal, de modo que o Juízo Federal deveria ter proferido sentença terminativa (sem resolução do
mérito) em relação aos demais bancos.

QUESTÃO 24. Augusto Mévio ajuizou ação contra o INSS pleiteando a conversão do benefício
previdenciário de auxílio-acidente em aposentadoria por incapacidade permanente. Mesmo sem pedido de
tutela provisória de urgência, o juízo federal competente concedeu a medida, de ofício, em caráter liminar,
determinando a imediata implantação do benefício de aposentadoria por incapacidade permanente, com
a cessação do auxílio-acidente.
Após o regular desenvolvimento do processo, o juízo federal julgou o pedido improcedente, revogando
a tutela de urgência. Transitada em julgado a sentença, o INSS cessou o benefício de aposentadoria por
incapacidade permanente, restabeleceu o auxílio-acidente e passou a descontar 30% (trinta por cento) da
renda mensal desse benefício a título de ressarcimento dos valores recebidos pelo autor a título de tutela
provisória de urgência.
Diante dessa situação hipotética, analise as assertivas abaixo e, em seguida, assinale a alternativa correta.
I – É indevido o desconto promovido pelo INSS, pois a reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela
final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos,
ressalvada a hipótese em que o segurado, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé objetiva.
II – É lícito o desconto promovido pelo INSS, pois a reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela
final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos,
o que pode ser feito por meio de desconto em valor que não exceda 30% (trinta por cento) da importância
de eventual benefício que ainda lhe estiver sendo pago.
III – É lícito o desconto promovido pelo INSS, pois a reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela
final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos,
exceto na hipótese de tutela de urgência concedida em primeiro e segundo graus e revogada somente na
instância especial.
IV – É indevido o desconto promovido pelo INSS, pois a reforma da decisão que antecipa os efeitos da
tutela final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais
recebidos, exceto na hipótese de tutela de urgência concedida de ofício e não recorrida.
A) Todas as assertivas estão corretas.
B) Somente as assertivas I, II, e III estão corretas.

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RODADA 01

C) Somente as assertivas I e III estão corretas.


D) Somente as assertivas III e IV estão incorretas.
E) Todas as assertivas estão incorretas.

QUESTÃO 25. Considere a situação hipotética abaixo e, em seguida, assinale a alternativa correta.
Tício ajuizou ação de usucapião contra Mévio, tendo por objeto a propriedade de determinado imóvel.
O pedido foi julgado procedente por sentença levada a registro no respectivo cartório de registro de
imóveis. Na sequência, o usucapiente Tício alienou esse imóvel a Semprônio, mediante escritura pública
devidamente registrada. No ano seguinte, Mévio veio a óbito e seu espólio ajuizou ação rescisória contra
Tício alegando a nulidade da sentença proferida na ação de usucapião, a qual foi julgada procedente pelo
tribunal competente, para desconstituir a sentença e cancelar o registro respectivo no cartório de registro de
imóveis. Mais adiante, Semprônio ajuizou ação declaratória de inexistência de relação jurídica processual
(querela nullitatis insanabilis), sob o fundamento de que deveria ter participado da ação rescisória na
condição de proprietário registrário do bem, pleiteando, por conseguinte, o restabelecimento da sentença
proferida na ação de usucapião.
A) Os efeitos da decisão proferida na ação rescisória se estendem a Semprônio, por se tratar de
adquirente de coisa litigiosa, razão pela qual deve ser rejeitada a ação de querela nullitatis.
B) Na ação rescisória, somente devem ser citados como litisconsortes necessários aqueles que
figuraram como partes na ação originária, cuja sentença se pretende desconstituir, razão pela qual
o pedido de Semprônio na ação declaratória de inexistência jurídica (querela nullitatis insanabilis)
deve ser julgado improcedente.
C) Embora Semprônio devesse ter sido citado na ação rescisória, o vício alegado somente poderia
ser veiculado em nova ação rescisória, observado o prazo decadencial, não se tratando de vício de
inexistência de relação jurídica processual, razão pela qual a ação de querela nullitatis é inadmissível
na hipótese.
D) Semprônio deveria ter integrado o polo passivo da ação rescisória na condição de litisconsorte
passivo necessário-unitário, de modo que o pedido formulado na ação declaratória de inexistência
jurídica (querela nullitatis insanabilis) deve ser julgado procedente.
E) Embora seja procedente o pedido de Semprônio, não pode haver o restabelecimento da sentença da
ação de usucapião, devendo ser ajuizada nova ação de usucapião, desta vez contra o espólio de Mévio.

🏳 DIREITO EMPRESARIAL

QUESTÃO 26. Quanto à propriedade industrial, assinale a alternativa INCORRETA perante as leis de
regência e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ:
A) A Lei de Propriedade Industrial mesma --- Lei n.º 9.279/1996 --- cria uma exceção à regra da extinção
da patente por falta de pagamento, concedendo ao depositante do pedido de patente e ao titular de

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RODADA 01

uma patente que estejam inadimplentes uma nova oportunidade para manter seu direito, mediante o
pagamento de uma retribuição especial. No ponto, tal legislação estabelece que o INPI deve notificar
o titular da patente ou o depositante inadimplente antes de arquivar ou de extinguir definitivamente
o pedido ou a patente. Presente tal quadro legal, o STJ está em que a própria notificação configura o
termo inicial para o pagamento da retribuição especial, sendo, portanto, necessária para o exercício
do direito de restauração. Para a Corte, ainda, é ilegal atuação administrativa do Instituto Nacional da
Propriedade Industrial - INPI que restrinja o cabimento da restauração para hipóteses não definidas
pela lei;
B) As questões que digam respeito ao trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência
desleal, e outras demandas afins, por não envolver registro no INPI e cuidando de ação judicial entre
particulares, é inequivocamente de competência da Justiça Estadual. No entanto, compete à Justiça
Federal, em ação de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI, impor ao titular a
abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela provisória;
C) Consoante o STJ, a colidência entre nomes empresariais e marcas não deve ser solucionada
somente sob a ótica do princípio da anterioridade do registro, devendo ser levados em consideração
os princípios da territorialidade, no que concerne ao âmbito geográfico de proteção, bem como da
especificidade, quanto ao tipo de produto e serviço, como corolário da necessidade de se evitar erro,
dúvida ou confusão entre os usuários;
D) Todos eles são conceitos legais: (i) marca coletiva --- aquela usada para identificar produtos ou
serviços provindos de membros de uma determinada entidade ---; (ii) marca de alto renome --- a que é
assegurada proteção especial, em todos os ramos de atividade ---; (iii) marca notoriamente conhecida
--- que goza de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada
no Brasil;
E) A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a de modelo de utilidade pelo prazo
15 (quinze) anos contados da data de depósito. Outrossim, postas de lados as exceções legais, o prazo
de vigência não será inferior a 10 (dez) anos para a patente de invenção e a 7 (sete) anos para a patente
de modelo de utilidade, a contar da data de concessão.

🏳 DIREITO TRIBUTÁRIO

QUESTÃO 27. Considerando o que determina o princípio da legalidade tributária, assinale a assertiva
que correta:
A) Considera-se imprescindível lei em sentido estrito para que se reputa válida a alteração da data de
pagamento de um tributo.
B) A competência prevista na Constituição Federal para que o Poder Executivo altere a alíquota de
determinados tributos é privativa, sendo inadmissível sua delegação.
C) Reputa-se possível a atualização da base de cálculo de tributos sem que seja necessária edição de

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RODADA 01

lei para tanto.


D) Caso seja fixada a alíquota da CIDE-Combustível em patamar de 3%, poderá o Poder Executivo,
mediante Decreto, reduzi-la. Contudo, caso haja a necessidade de restabelecê-la ao patamar inicial,
deverá ser respeitado do princípio da legalidade, porquanto toda majoração depende de lei.
E) É possível que o Imposto sobre Grandes Fortunas venha a ser instituído por meio de medida
provisória.

QUESTÃO 28. Considerando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, assinale a assertiva correta:
A) Pode o magistrado permitir que despesas que comprovadamente superem os limites previstos para
a dedução de gastos com educação sejam abatidas da base de cálculo do Imposto de Renda.
B) O princípio constitucional da isonomia tributária impede que o legislador exclua do âmbito do
SIMPLES sociedades constituídas por profissionais liberais.
C) A revogação de benefício fiscal exige respeito ao respeito ao princípio da anterioridade.
D) Tendo em vista o princípio da legalidade, considera-se inconstitucional a criação de obrigações
acessórias por meio de atos infralegais.
E) No âmbito da contribuição ao SAT (seguro de acidente do trabalho), a delegação ao Poder Executivo
para que especifique quais as atividades que se enquadram em risco leve, médio ou grave, viola o
princípio da legalidade tributária.

QUESTÃO 29. Avalie as assertivas e assinale a que representa a resposta correta:


A) Para que se possa afirmar ter havido violação ao princípio do não confisco, reputa-se necessário
analisar a carga tributária em sua totalidade.
B) Tendo em vista a finalidade punitiva das multas decorrentes do descumprimento de obrigações
tributárias, nada impede que determina lei fixe penalidade em montante de 150% do valor do tributo,
conforme reiteradas vezes tem decido o Supremo Tribunal Federal.
C) Como às taxas não se aplica o princípio da capacidade contributiva, não há como aplicar, por sua
vez, o princípio da vedação de utilização de tributo com efeito confiscatório.
D) Tratando-se de tributação extrafiscal, a finalidade perseguida pode justificar a majoração da carga
tributária a patamares exorbitantes, sem que seja passível de controle por meio do princípio do não
confisco. A título de exemplo, seria possível que a tributação sobre o cigarro chegasse a patamares que
inviabilizassem a sua comercialização.
E) A doutrina considera possível a supressão do princípio da vedação de tributo com efeito confiscatório
em eventual reforma tributária.

🏳 DIREITO ADMINISTRATIVO

QUESTÃO 30. A respeito da Administração Pública e da reforma do aparelho do Estado brasileiro, julgue

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RODADA 01

os itens abaixo:
I – A Administração Pública Patrimonialista é atualmente adotada pelo Estado brasileiro, tendo por
princípios orientadores do seu desenvolvimento a profissionalização, a ideia de carreira, a hierarquia
funcional, a impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional-legal.
II – A Administração Pública Burocrática surgiu na segunda metade do século XIX, como forma de
combater a corrupção e o nepotismo, exigindo controles rígidos dos processos, como por exemplo na
admissão de pessoal, nas compras e no atendimento a demandas.
III – A Administração Pública Gerencial emerge como resposta à expansão das funções econômicas e
sociais do Estado, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial, passando a
orientar o Estado predominantemente pelos valores da eficiência e qualidade na prestação de serviços
públicos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações.
A) Estão corretos os itens I, II e III.
B) Estão corretos os itens I e II, somente.
C) Estão corretos os itens II e III, somente.
D) Está correto o item II, somente.
E) Estão incorretos todos os itens.

QUESTÃO 31. A Lei n. 8.429/92 sofreu modificações importantes no ano de 2021. Nesse contexto, quanto
ao procedimento nas ações de improbidade administrativa, assinale a alternativa INCORRETA:
A) A petição inicial será instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes
da veracidade dos fatos e do dolo imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de
apresentação de qualquer dessas provas.
B) Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação caberá agravo
de instrumento.
C) Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a citação dos
requeridos para participarem da audiência de conciliação e mediação, marco a partir do qual será
computado o prazo comum de 30 (trinta) dias para contestação.
D) Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação de improbidade administrativa que condenar
o requerido por tipo diverso daquele definido na petição inicial.
E) Não se aplica na ação de improbidade administrativa a presunção de veracidade dos fatos alegados
pelo autor em caso de revelia.

QUESTÃO 32. A sociedade empresária XX objetivava instalar um mercado na principal praça pública do
Município. Para tanto, tomou conhecimento da autorização legislativa, submeteu-se a processo licitatório
e, após ter se sagrado vencedora, celebrou contrato com o ente federativo, por prazo determinado, para
utilização especial de bem público, tendo realizado investimento financeiro importante para tanto. A

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RODADA 01

situação retratada corresponde à figura do(a):


A) Concessão de uso.
B) Permissão de uso.
C) Autorização de uso.
D) Cessão de uso.
E) Concessão de direito real de uso.

QUESTÃO 33. A concessionária de serviços público Alfa pretende realizar a transferência de parte do
objeto da concessão para a empresa Beta. Nesse caso, a subconcessão exigirá:
A) Previsão contratual, autorização do poder concedente, licitação na modalidade concorrência e
acarreta para o subconcessionário a sub-rogação em todos os direitos e obrigações do subconcedente.
B) Previsão contratual e autorização do poder concedente, dispensada nova licitação, e acarreta para
o subconcessionário a sub-rogação em todos os direitos e obrigações do subconcedente.
C) Previsão contratual e licitação na modalidade concorrência, dispensada a autorização do poder
concedente por já haver previsão contratual, e acarreta para o subconcessionário a sub-rogação em
todos os direitos e obrigações do subconcedente.
D) Previsão contratual, autorização do poder concedente, licitação na modalidade concorrência ou
diálogo competitivo e não acarreta para o subconcessionário a sub-rogação nos direitos e obrigações
do subconcedente.
E) Autorização do poder concedente, licitação e acarreta para o subconcessionário a sub-rogação em
todos os direitos e obrigações do subconcedente.

🏳 DIREITO AMBIENTAL

QUESTÃO 34. Julgue os itens a seguir de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça:
I – O meio ambiente equilibrado é direito das presentes e futuras gerações, razão pela qual, dado o seu
caráter fundamental, não incide prescrição intercorrente no processo administrativo instaurado contra o
poluidor para imposição de sanções.
II – O princípio da proibição do retrocesso em matéria ambiental restringe o poder de conformação
legislativa, obstando a edição de atos legislativos que impliquem redução da proteção conferida a espaços
territorialmente protegidos.
III – Embora a legislação confira poder normativo ampliado ao CONAMA em matéria de qualidade do
ar, suas resoluções devem ser adotadas em consonância com as orientações da Organização Mundial da
Saúde quanto à matéria, as quais não podem ser ignoradas pelas autoridades nacionais.
IV – É constitucional norma estadual que impõe à concessionária de geração de energia elétrica a promoção
de investimentos, com recursos identificados como parcela da receita que aufere, voltados à proteção e à

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RODADA 01

preservação de mananciais hídricos afetados por sua atividade, por representar mecanismo de tutela do
meio ambiente.
A) Apenas I, III e IV estão corretos
B) Apenas II e IV estão corretos
C) Apenas II está correto
D) Apenas III está correto
E) Todos estão incorretos

QUESTÃO 35. O Município Alfa editou lei autorizando o loteamento de áreas às margens de reservatório
artificial de água, possibilitando que particulares edificassem condomínios de lazer na região, inclusive
com a construção de deques sobre o reservatório, de modo a incrementar o turismo local e aumentar as
receitas municipais para reduzir a dependência do Fundo de Participação dos Municípios. Com base na lei
municipal, Ômega Empreendimentos Ltda. procedeu à construção de loteamento, removendo vegetação
nativa e construindo casas a serem vendidas aos interessados, sendo uma delas adquirida por Pedro.
Com base nesse cenário, assinale a assertiva CORRETA:
A) Como o Município Alfa possui competência legislativa para matérias de interesse local, eventual
contrariedade entre a legislação municipal e a legislação federal relativa às áreas de proteção
permanente no entorno de reservatórios de água resolve-se pelo critério de preponderância de
interesses, prevalecendo o interesse no desenvolvimento da municipalidade.
B) A remoção da vegetação nativa da área de preservação permanente pela Ômega Empreendimentos
Ltda. prescinde de autorização específica de órgão ambiental, porquanto a autorização legal de
edificação do loteamento é o suficiente para permitir tal prática.
C) Caso o Ministério Público ajuíze ação de reparação de danos ambientais em desfavor de Pedro,
este não poderá efetuar o chamamento do Município Alfa e da Ômega Empreendimentos Ltda. ao
processo.
D) Em caso de procedência de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público para a reparação de
danos ambientais, o pedido de cumprimento de sentença pode ser direcionado a quaisquer dos réus
indistintamente, considerando o caráter solidário da responsabilidade ambiental.
E) Todas as alternativas estão incorretas.

🏳 DIREITO INTERNACIONAL

QUESTÃO 36. Na composição do Sistema Interamericano de Direito Humanos, a Corte Interamericana


de Direitos Humanos (Corte IDH) é composta por sete juízes, eleitos pelos Estados membros da OEA. Tal
tribunal exerce função consultiva e função contenciosa. Sobre a atuação da Corte Interamericana, onde o
Brasil possui várias denúncias e condenações, assinale a alternativa incorreta:
A) No âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, a Comissão Interamericana de

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RODADA 01

Direitos Humanos (CIDH) estabelece como regra geral o requisito de admissibilidade de uma
denúncia o esgotamento dos recursos da jurisdição interna do Estado denunciado. Há exceção quando
não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal para proteção do
direito ou direitos que se alega tenha sido violado.
B) A sentença proferida pela Corte IDH que determinar indenização compensatória poderá ser
executada no país respectivo pelo processo interno para a execução de sentenças contra o Estado.
C) De acordo com o direito internacional, uma pessoa que tenha sofrido atentado aos seus direitos
fundamentais somente pode ser considerada vítima da criminalidade se o autor da violação tiver sido
preso, processado, declarado culpado ou, pelo menos, identificado.
D) Consideram-se vítimas de abuso de poder as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham
sofrido prejuízos, nomeadamente atentado à integridade física ou mental, sofrimento de ordem
moral, perda material ou grave atentado aos seus direitos fundamentais, como consequência de atos
ou de omissões que, embora não constituam ainda violação da legislação penal nacional, representam
violações das normas internacionalmente reconhecidas em matéria de direitos humanos.
E) O que leva à responsabilização internacional do Estado no Sistema Interamericano é qualquer ação
ou omissão imputável ao Estado que descumpra as normas interamericanas de direitos humanos e
gere um resultado lesivo para pessoas sob sua jurisdição.

QUESTÃO 37. Jean e Marcelle são franceses, sócios de uma empresa constituída em Malta. Jean, por
sua vez, é proprietário de uma outra empresa, constituída no Brasil. A empresa maltesa e a brasileira
firmam um contrato entre si, assinado em Lisboa para a execução de uma obra no Marrocos. Supondo
que a competência para a apreciação de eventual questão decorrente do contrato seja do Poder Judiciário
brasileiro, e não havendo cláusula de eleição da lei aplicável, o juiz aplicará corretamente, segundo as
regras da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB), a lei:
A) francesa.
B) brasileira.
C) maltesa.
D) portuguesa.
E) marroquina.

🏳 FORMAÇÃO HUMANÍSTICA

QUESTÃO 38. Leia o excerto abaixo:


“E a mesma igualdade se observará entre as pessoas e entre as coisas envolvidas; pois a mesma relação que
existe entre as segundas (as coisas envolvidas) também existe entre as primeiras. Se não são iguais, não
receberão coisas iguais; mas isso é origem de disputas e queixas: ou quando iguais têm e recebem partes
desiguais, ou quando desiguais recebem partes iguais. Isso, aliás, é evidente pelo fato de que as repartições

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RODADA 01

devem ser feitas ‘de acordo com o mérito’.”


(ARISTÓTELES. Ética Nicomaqueia. Livro V.3)
A concepção de justiça constante no trecho é:
A) Justiça como equidade
B) Justiça distributiva
C) Justiça comutativa
D) Justiça universal
E) Justiça corretiva

QUESTÃO 39. Leia o trecho abaixo:


“(...) ao contrário do que muitos atores sociais afirmam, a exclusão pode ocorrer mesmo na ausência objetiva
da intenção de discriminar um indivíduo e também em situações nas quais não há a utilização de formas de
diferenciação legalmente vedadas. Normas jurídicas, políticas públicas ou decisões institucionais podem
obedecer ao princípio da generalidade das leis, não sendo então dirigidas a nenhum grupo específico (...)”
(MOREIRA, Adilson. Tratado de Direito Antidiscriminatório. São Paulo: Contracorrente, 2020. p. 519).
O excerto se refere à seguinte forma de discriminação:
A) Discriminação indireta
B) Discriminação estrutural
C) Discriminação institucional
D) Discriminação direta
E) Discriminação interseccional

QUESTÃO 40. O positivismo jurídico consiste em uma doutrina que estipula que o direito tem uma
natureza convencional. Neste sentido, o direito é composto por normas positivas, as quais dependem
apenas de fatos sociais. Considerando o exposto, é INCORRETO afirmar que:
A) Jean Bodin e Thomas Hobbes podem ser considerados autores que anteciparam algumas
características do positivismo jurídico.
B) De acordo com a tese social, o que pode ser considerado direito na sociedade é uma questão social
ou convencional.
C) A tese da separação postula que há, necessariamente, uma ausência de identificação entre o direito
e a moral.
D) O positivismo metodológico aborda o direito como um fato, rejeitando-se critérios de justiça.
E) À luz do positivismo de autores como Kelsen e Hart o juiz não é apenas a “boca da lei”.

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RODADA 01

GABARITO
Q. 1 - GABARITO: E 33 Q. 24 - GABARITO: D 76

Q. 2 - GABARITO: C 34 Q. 25 - GABARITO: D 79

Q. 3 - GABARITO: C 36 Q. 26 - GABARITO: E 82

Q. 4 - GABARITO: D 38 Q. 27 - GABARITO: C 84

Q. 5 - GABARITO: A 40 Q. 28 - GABARITO: C 86

Q. 6 - GABARITO: B 42 Q. 29 - GABARITO: A 88

Q. 7 - GABARITO: C 43 Q. 30 - GABARITO: C 90

Q. 8 - GABARITO: C 44 Q. 31 - GABARITO: C 92

Q. 9 - GABARITO: C 46 Q. 32 - GABARITO: A 93

Q. 10 - GABARITO: A 47 Q. 33 - GABARITO: A 95

Q. 11 - GABARITO: D 49 Q. 34 - GABARITO: D 96

Q. 12 - GABARITO: A 51 Q. 35 - GABARITO: E 97

Q. 13 - GABARITO: E 52 Q. 36 - GABARITO: C 99

Q. 14 - GABARITO: A 54 Q. 37 - GABARITO: D 100

Q. 15 - GABARITO: D 55 Q. 38 - GABARITO: B 102

Q. 16 - GABARITO: C 57 Q. 39 - GABARITO: A 105

Q. 17 - GABARITO: E 59 Q. 40 - GABARITO: C 107

Q. 18 - GABARITO: A 62

Q. 19 - GABARITO: E 63

Q. 20 - GABARITO: E 65

Q. 21 - GABARITO: E 68

Q. 22 - GABARITO: C 71

Q. 23 - GABARITO: D 73

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RODADA 01

QUESTÕES OBJETIVAS COM GABARITO COMENTADO

PROFESSOR GUSTAVO FERNANDES


E-mail: profcei.gustavofernandes@gmail.com

🏳 DIREITO CONSTITUCIONAL

QUESTÃO 01. Sobre o constitucionalismo brasileiro, assinale a alternativa INCORRETA:


A) O texto da Constituição de 1824 tinha caráter semiflexível.
B) A Constituição Federal de 1891 consagrou a laicidade do Estado.
C) A Constituição Federal de 1934 trouxe, pela primeira vez a nível constitucional, a previsão do mandado
de segurança e da ação popular.
D) Os decretos-lei, novidade da Constituição de 1937, não encontraram previsão no texto constitucional
de 1946.
E) A Constituição de 1967 ampliou os legitimados para deflagrar a ação direta de inconstitucionalidade,
o que foi ainda mais alargado pela Constituição Federal de 1988.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. Apesar de tolerar a escravidão, adotar um poder moderador e estabelecer um sistema eleitoral
censitário amplamente excludente, a ideologia adotada pela Carta de 1824 era liberal, inspirada pelas
Revoluções do século XVIII, e se pautava sobretudo na Constituição francesa de 1814.
O texto era extenso e tinha caráter semirrígido (ou semiflexível), por força do seu art. 178, que só reputava
substancialmente constitucional o que dizia respeito “aos limites, e attribuições respectivas dos Poderes Politicos,
e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos”. Todo o resto, que não era materialmente constitucional,
poderia “ser alterado sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinarias”. O procedimento para a
alteração das normas especiais era complexo e exigia o apoio de pelo menos um terço da Câmara dos Deputados,
além de ter sido vedada qualquer reforma durante os quatro primeiros anos (art. 174). Não havia, contudo,
limite material ao poder de reforma (cláusulas pétreas).
O território nacional era dividido em províncias (art. 2º), e em cada uma havia um Presidente, nomeado pelo
Imperador, destituível a qualquer tempo, quando assim fosse conveniente “ao bom serviço do Estado” (art.
165).
A forma de governo era a monarquia hereditária (art. 3º) e o monarca não estava “sujeito a responsabilidade
alguma”, por ser pessoa “inviolável” e “sagrada” (art. 99). A religião oficial era a Católica Apostólica Romana
(Estado confessional), embora se permitisse o culto doméstico de outras religiões (art. 5º).
O exercício do Poder Moderador pelo Imperador se dava mediante as seguintes competências (art. 101): I.

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RODADA 01

Nomeando os Senadores; II. Convocando a Assembleia Geral extraordinariamente nos intervalos das Sessões,
“quando assim o pede o bem do Império”; III. Sancionando os Decretos, e Resoluções da Assembleia Geral,
para que tenham força de Lei; IV. Aprovando, e suspendendo interinamente as Resoluções dos Conselhos
Provinciais; V. Prorrogando, ou adiando a Assembleia Geral, e dissolvendo a Câmara dos Deputados, “nos
casos, em que o exigir a salvação do Estado”, convocando imediatamente outra, que a substitua; VI. Nomeando,
e demitindo livremente os Ministros de Estado; VII. Suspendendo os Magistrados nos casos do Art. 154; VIII.
Perdoando, e moderando as penas impostas e os Réus condenados por Sentença; IX. Concedendo Anistia em
caso urgente, “e que assim aconselhem a humanidade, e bem do Estado”.
B) CORRETA. Na confecção da Constituição de 1891, a influência europeia acabou sendo sufocada pelos
ventos e influxos constitucionais norte-americanos. A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil
alinhou-se a uma repartição clássica de poderes, com Legislativo bicameral, Executivo chefiado pelo Presidente
da República e Judiciário dotado de prerrogativas como vitaliciedade, irredutibilidade de vencimentos e
competência para declarar a inconstitucionalidade de leis e atos normativos (controle difuso), apesar da
inexistência de um dispositivo claro conferindo aos juízes tal poder.
O Poder Moderador consagrado na Constituição Imperial foi suprimido.
A laicidade do Estado foi evidenciada em alguns dispositivos da Constituição Federal de 1891, que
permitiam a todos os indivíduos e confissões religiosas o exercício público e livre do seu culto (art. 72, § 3º),
a prática dos respectivos ritos em relação aos seus crentes em cemitérios, desde que não ofendessem a moral
pública e as leis (art. 72, § 5º), e mediante vedação a que a igreja gozasse de subvenção oficial ou tivesse relações
de dependência ou aliança com o Governo da União ou dos Estados (art. 72, § 7º).
C) CORRETA. A Em razão de forte influência da Constituição alemã de Weimar, de 1919, e contando com
menor inspiração na Constituição mexicana de 1917, o texto da Carta de 1934 estabeleceu uma democracia
social, atendendo a uma das principais preocupações de Vargas, que era a promoção dos direitos sociais.
Assim, incorporou uma série de temas como a ordem econômica, a família, a cultura, a educação e as relações
de trabalho. A Constituição tratou de regras trabalhistas, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os
interesses econômicos do País (art. 121) e fez menção ao sistema tripartite de financiamento da Previdência
Social ao prever a “instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do
empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte”
(art. 121, § 1º, “h”). Fala-se, então, em função social da propriedade (art. 113, n. 17).
No âmbito das garantias individuais, foram previstos o mandado de segurança (art. 113, n. 33) e a ação
popular (art. 113, n. 38).
D) CORRETA. A Constituição de 1946 restaurou as conquistas obtidas com a Constituição de 1934, como a
vedação à pena de morte e a previsão do mandado de segurança e da ação popular; restituiu o equilíbrio entre os
Poderes; reestruturou o Senado; atribuiu ao Judiciário a palavra final sobre questões de inconstitucionalidade
das leis; restaurou a eletividade dos Prefeitos, antes suprimida pela Carta de 1937.
O sufrágio era universal e direto, e o voto era secreto (art. 134). Vedou-se a organização, o registro ou o

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RODADA 01

funcionamento de qualquer Partido Político ou associação, cujo programa ou ação contrariasse o regime
democrático, baseado na pluralidade dos Partidos e na garantia dos direitos fundamentais do homem (art.
141, § 13).
Os decretos-lei, novidade da Constituição de 1937 (art. 12), não encontraram previsão no texto de 1946, e
só voltariam com as Constituições de 1967 (art. 49, V) e 1969 (art. 46, V).
E) INCORRETA. Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a nova Constituição, batizada de Cidadã. Inspirada,
em diversos aspectos, na Constituição portuguesa da 1976 e na Constituição espanhola de 1978, a Lei Maior
brasileira buscou enfatizar os direitos fundamentais, mencionando-os logo no “rosto” (início) do texto e
atribuindo-lhes aplicação imediata, e buscou ser detalhista (analítica) e dirigente, contando com disposições
referentes à ordem econômica e social e inúmeras normas programáticas.
Como inovações, trouxe novos remédios constitucionais como o habeas data e o mandado de injunção, além
de ter ampliado os bens jurídicos salvaguardados pela ação popular. Tutelou o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, o direito do consumidor e cuidou de elenco generoso de direitos sociais,
sobretudo os trabalhistas. A extinção do Tribunal Federal de Recursos e a criação do Superior Tribunal de
Justiça modificou a estrutura do Judiciário, o que foi ainda mais alargado com a “Reforma do Judiciário”
promovida pela Emenda Constitucional n. 45/2004, com a criação do instituto da súmula vinculante e dos
efeitos vinculantes das decisões em determinadas ações especiais, bem como a criação do Conselho Nacional
de Justiça. Ações novas no âmbito do controle de constitucionalidade (ADO, ADPF, ADC) e a ampliação dos
legitimados para deflagrar tais instrumentos jurisdicionais alçaram o Supremo Tribunal Federal a um
protagonismo nunca antes visto. Antes de 1988, apenas o Procurador-Geral da República podia provocar
o STF em sede de controle concentrado.
Os Municípios foram elevados a entes componentes da Federação, com autonomia política, administrativa e
jurídica (arts. 1º e 18) (federalismo tridimensional). Apesar de manter um modelo centrípeto (centralizador) de
federalismo, buscou promover maior grau de descentralização administrativa e financeira. Buscou-se fortalecer
o combate à corrupção no setor público por meio da ação de improbidade administrativa (art. 37, § 4º).
No âmbito da ordem econômica, adotou princípios como a livre-iniciativa e a livre concorrência, mas não
deixou de se preocupar com a justiça social e a valorização do trabalho.

💡 GABARITO: E

QUESTÃO 02. Julgue os itens:


I – Não cabe mandado de segurança contra lei ou ato normativo em tese, mas cabe o writ contra leis de
efeitos concretos.
II – O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar, originariamente, mandado de
segurança contra ato de órgão colegiado presidido por Ministro de Estado.
III – Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente, nos crimes comuns
e nos de responsabilidade, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, os desembargadores dos

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RODADA 01

Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e
do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho,
os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União
que oficiem perante tribunais.
A) Estão corretos todos os itens.
B) Estão corretos somente os itens I e III.
C) Estão corretos somente os itens I e II.
D) Estão corretos somente os itens II e III.
E) Está correto somente o item I.

💡 GABARITO COMENTADO

I) CORRETA: Não cabe mandado de segurança contra lei ou ato normativo em tese (Súmula 266-STF; STF,
RMS 32.482/DF, j. 21.8.18 – Informativo 912), haja vista que incapazes de provocar lesão a direito líquido e
certo; somente a concretização de ato administrativo com base na lei poderá viabilizar a impetração.
Nada obstante, o STF reconhece que a interpretação literal do verbete poderá ensejar a convalidação de
ilegalidades. No MS 25.763, DJ de 3.8.15, a Corte entendeu que era preciso adotar um distinguishing para
afirmar que as leis que afetam posições jurídicas de forma imediata poderão ser impugnadas em mandado
de segurança. Assim é que leis ou decretos de efeitos concretos e mesmo ato normativo abstrato que, só por
sua vigência, possa comprometer a fruição de direitos individuais podem ser impugnados por mandado de
segurança, a exemplo de leis que proíbem o exercício de uma profissão no futuro (MENDES; BRANCO, 2019,
p. 474-5).
II) CORRETA: Ao STJ compete julgar, originariamente, os mandados de segurança contra ato de Ministro de
Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal (CF, art. 105, I, b).
Contudo, “o Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar, originariamente, mandado
de segurança contra ato de órgão colegiado presidido por Ministro de Estado” (Súmula 177-STJ), a exemplo de
um Conselho Administrativo. Nesse caso, caberá ao Juiz Federal analisar o writ (STF, RMS 21.560, j. 24.11.92).
III) INCORRETA: Nos termos do art. 105 da CF, compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e
julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes
e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais,
dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos
Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais.
O STJ não julga Governador por crime de responsabilidade, cabendo tal competência a um Tribunal
Misto nos termos da Lei 1.079/1950.

💡 GABARITO: C

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RODADA 01

QUESTÃO 03. Não pode(m) ser objeto da arguição de descumprimento de preceito fundamental:
A) Controvérsias sobre a constitucionalidade do direito municipal em face da Constituição da República
de 1988.
B) Leis anteriores à Constituição Federal vigente.
C) Proposta de emenda à Constituição Federal.
D) Ato normativo já revogado.
E) Atos cujos efeitos estão exauridos.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. A arguição de descumprimento poderá ser utilizada para solver controvérsias sobre
a constitucionalidade do direito federal, do direito estadual e, também, do direito municipal em face da
Constituição da República de 1988. É o que se extrai da própria redação do art. 1º da Lei n. 9.882/99.
B) INCORRETA. Segundo entendimento pacificado do STF, “em se tratando de leis anteriores à Constituição
Federal vigente, não há de se cogitar (...) de inconstitucionalidade, mas, sim (e se for o caso), de revogação,
matéria estranha à representação de inconstitucionalidade” (Representações 1.012 e 1.016, j. em 20 e 27 de
setembro de 1979), posição que ainda hoje se sustenta (ADI 4.222-AgR/DF, j. 1.8.14).
Por isso, não se admite ADI em face de normas editadas antes de 5 de outubro de 1988, mas apenas a análise
de tais leis pela via de controle incidental (em face da Constituição sob cujo império a lei foi editada – juízo
de constitucionalidade) ou pela via do direito intertemporal (quando em face da Constituição superveniente
vigente – juízo de recepção).
A ADPF veio para suprir mais essa lacuna. Desde a edição da Lei n. 9.882/99, pode o STF, em sede de controle
abstrato (e nesse caso unicamente via ADPF), analisar a compatibilidade entre a lei pré-constitucional e a
Constituição Cidadã, mediante decisão com eficácia geral e efeito vinculante.
Na ADPF 33/PR, j. 7.12.05, o STF assentou que “eventual cogitação sobre a inconstitucionalidade da
norma impugnada em face da Constituição anterior, sob cujo império ela foi editada, não constitui óbice
ao conhecimento da arguição de descumprimento de preceito fundamental, uma vez que nessa ação o
que se persegue é a verificação da compatibilidade, ou não, da norma pré-constitucional com a ordem
constitucional superveniente”.
C) CORRETA. Sabemos que o STF admite a impetração de mandado de segurança pelos parlamentares –
titulares do direito público subjetivo à observância das cláusulas que compõem o devido processo legislativo
e a participar de um procedimento hígido e conforme à Constituição – com o fim de impugnar leis e atos
normativos em formação, no que tange a vícios formais e propostas de emenda à Constituição tendentes a abolir
cláusulas pétreas (STF, MS 20.257, j. 8.10.80; MS 32.033, j. 20.6.13).
Algo parecido constava do projeto do qual resultou a Lei n. 9.882/99, conforme disposições in verbis:
Art. 5º, § 4o  Se necessário para evitar lesão à ordem constitucional ou dano irreparável ao processo de
produção da norma jurídica, o Supremo Tribunal Federal poderá, na forma do caput, ordenar a suspensão

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RODADA 01

do ato impugnado ou do processo legislativo a que se refira, ou ainda da promulgação ou publicação do ato
legislativo dele decorrente."
(...)
Art. 9o Julgando procedente a arguição, o Tribunal cassará o ato ou decisão exorbitante e, conforme o caso,
anulará os atos processuais legislativos subsequentes, suspenderá os efeitos do ato ou da norma jurídica
decorrente do processo legislativo impugnado, ou determinará medida adequada à preservação do preceito
fundamental decorrente da Constituição.”
Esses dispositivos foram vetados pelo Presidente da República, sob o argumento de que haveria
“intervenção excessiva da jurisdição constitucional no processo legislativo”.
Apesar disso, parcela da doutrina defende o cabimento da ADPF para efetivação da fiscalização prévia de ato do
Poder Público, uma vez que a arguição também visa a evitar lesão a preceito fundamental (CUNHA JÚNIOR,
2017, p. 403). É o que defende, em obra doutrinária, o min. GILMAR MENDES (MENDES; BRANCO, 2019,
p. 1460).
Contudo, na ADPF 43-AgR, j. 20.11.03, o Supremo Tribunal assentou não ser cabível arguição de
descumprimento de preceito fundamental contra proposta de emenda à constituição.
D) INCORRETA. Do mesmo modo que se permite a ADPF para questionar leis e atos normativos pré-
constitucionais, também é cabível a arguição contra ato normativo já revogado, “tendo em vista o interesse
jurídico da solução quanto à legitimidade de sua aplicação no passado” (MENDES; BRANCO, 2019, pp. 1456-
7).
E) INCORRETA. A hipótese, que já era tranquila em sede doutrinária, foi reafirmada pelo STF na ADPF 77/
DF, j. 16.5.19, quando se decidiu pelo cabimento de ADPF para declarar a constitucionalidade de dispositivo
de lei cuja eficácia já foi exaurida, em razão do perfil subsidiário da ação, única capaz de permitir a análise de
maneira eficaz.
Ao afirmar a constitucionalidade do art. 38 da Lei n. 8.880/1994, o Plenário do STF, por maioria, conheceu
da ADPF e afirmou que “o requisito da subsidiariedade está presente, visto que se questiona preceito
de natureza eminentemente transitória, com efeitos exauridos no momento do ajuizamento da ação. É
incabível outro instrumento de controle concentrado capaz de solver a controvérsia de forma ampla, geral
e imediata” (Informativo 940-STF).

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 04. Sobre a defesa do Estado e das instituições democráticas, assinale a alternativa INCORRETA:
A) O sistema constitucional de crises ou direito de síncope é conceituado como um conjunto ordenado de
normas constitucionais que visam a estabilização e a defesa da Constituição contra processos violentos
de mudança ou perturbação da ordem constitucional. Nesse estado de exceção, a legalidade ordinária é
substituída por uma legalidade extraordinária.
B) O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,

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RODADA 01

decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados,
a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas
por calamidades de grandes proporções na natureza.
C) Para a decretação do estado de defesa e do estado de sítio, a oitiva dos Conselhos da República e de
Defesa Nacional é obrigatória, mas sua manifestação é apenas consultiva, sem caráter vinculativo.
D) O estado de defesa permite sejam postas em vigor diversas medidas coercitivas, a exemplo da restrição
aos direitos de reunião, ainda que exercida no seio das associações, ao sigilo de correspondência e ao
sigilo de comunicação telegráfica e telefônica, bem como autoriza a prisão por crime contra o Estado,
determinada pelo executor da medida, sendo que a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser
superior a dez dias, em qualquer hipótese.
E) A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários, designará Comissão composta de cinco
de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa e ao
estado de sítio.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA: JOSÉ AFONSO DA SILVA (2017, p. 775) ensina que a disputa entre grupos de poder,
quando desborda dos parâmetros constitucionais, gera uma situação de crise constitucional, a qual, se não
convenientemente administrada e debelada, pode provocar o rompimento do equilíbrio constitucional, pondo
em risco as instituições democráticas.
Em uma situação dessas, manifesta-se a função do chamado sistema constitucional de crises, um conjunto
ordenado de normas constitucionais (um sistema jurídico) “que visam a estabilização e a defesa da
Constituição contra processos violentos de mudança ou perturbação da ordem constitucional” (SILVA,
2017, p. 775), além da defesa do Estado quando a situação deriva de guerra externa. Nesse estado de exceção,
a legalidade normal é substituída por uma legalidade extraordinária.
Há quem utilize outras expressões para se referir a esse fenômeno, como “estado (ou direito) de necessidade
constitucional”, “direito de síncope” ou “Constituição de emergência” (ROTHENBURG, 2018, p. 1677).
Assim é que, por meio do estado de defesa e estado de sítio, o sistema constitucional de crises busca garantir o
equilíbrio e a estabilidade da ordem constitucional em situações de gravidade extrema.
B) CORRETA: Nos termos do art. 136 da CF, o Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República
e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em
locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade
institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.
Daí são extraídos os pressupostos da medida:
1. Pressupostos materiais: (a) a existência de grave e iminente instabilidade institucional que ameace a ordem
pública ou a paz social; ou (b) a existência de calamidade de grandes proporções na natureza que ameace a
ordem pública ou a paz social.

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RODADA 01

2. Pressupostos formais: (a) prévia manifestação do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional;
(b) decreto do Presidente da República que institua o estado de defesa, com respeito aos requisitos do § 1º do
art. 136 da CF. Posteriormente, haverá a submissão do decreto ao crivo do Congresso Nacional (CF, art. 136,
§ 4º).
Com efeito, o § 1º prescreve que o decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas
a vigorarem, dentre as ali indicadas.
C) CORRETA: Pelo art. 91, § 1º, da CF, compete ao Conselho de Defesa Nacional: (...) II - opinar sobre
a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal. E, pelo art. 90, compete ao
Conselho da República pronunciar-se sobre: I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio.
A doutrina afirma que a oitiva prévia dos Conselhos é obrigatória, sob pena de inconstitucionalidade da
medida, mas que sua manifestação é apenas consultiva, sem caráter vinculativo (SILVA, 2017, p. 778-9).
No MS 35.537- MC/DF, j. 19.2.18, que impugnou o ato de decretação da intervenção federal no Estado do Rio
de Janeiro, o min. Celso de Mello anotou que “a Constituição é clara ao tornar indispensável essa manifestação,
que se mostra impregnada de conteúdo meramente opinativo, muito embora o texto constitucional não
imponha que tal pronunciamento se faça, necessariamente, em momento que anteceda a formal decretação da
intervenção federal.” Pela semelhança, esse entendimento se deve aplicar ao estado de defesa e estado de sítio.
D) INCORRETA: O estado de defesa permite sejam postas em vigor as seguintes medidas coercitivas (CF,
art. 136, § 1º): I - restrições aos direitos de: a) reunião, ainda que exercida no seio das associações; b) sigilo de
correspondência; c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; II - ocupação e uso temporário de bens e
serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.
Ainda, nos termos do § 3º, na vigência do estado de defesa: I - a prisão por crime contra o Estado, determinada
pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se
não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial; II - a comunicação
será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua
autuação; III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando
autorizada pelo Poder Judiciário; IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
O erro da questão está em distorcer o disposto no inc. III, que é o que exige maior atenção em provas objetivas.
E) CORRETA: É exatamente o que dispõe o art. Art. 140 da CF/88: “A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos
os líderes partidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros para acompanhar e
fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de sítio.”

💡 GABARITO: D

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RODADA 01

PROFESSOR RAFAEL PORTO


E-mail: profcei.rafaelporto@gmail.com

🏳 DIREITO PREVIDENCIÁRIO

QUESTÃO 05. Segundo a legislação de regência e o entendimento do STJ acerca dos honorários
sucumbenciais nas ações previdenciárias, analise as assertivas a seguir:
I) Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre as prestações vencidas após
a sentença.
II) Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre as prestações vencidas após
a sentença, somente no período anterior ao advento do CPC de 2015.
III) Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, incidem sobre as prestações vencidas após a
sentença, mesmo antes do advento do CPC de 2015.
IV) Nos Juizados Especiais Federais, os honorários advocatícios incidem apenas a partir do segundo grau,
sendo devidos pelo recorrente derrotado.
V) Nos Juizados Especiais Federais, o recorrido derrotado em segunda instância não arca com honorários
de sucumbência.
Estão corretas as assertivas:
A) I, IV e V.
B) I e IV.
C) II e IV.
D) III, IV e V.
E) IV e V.

💡 GABARITO COMENTADO

I) CORRETA: O conteúdo da Súmula 111 do Superior Tribunal de Justiça, que trata de honorários advocatícios
em ações previdenciárias, continua aplicável mesmo após a vigência do Código de Processo Civil de 2015. Foi
o que decidiu a 1ª Seção do STJ em julgamento de recursos repetitivos, tema n. 1105. A Súmula n. 111 diz: “Os
honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre as prestações vencidas após a sentença”.
Discutia-se se o entendimento deveria ser ou não mantido após o advento do CPC de 2015 e houve até mesmo
questionamento sobre sua manutenção como um todo, mas acabou prevalecendo que ele se mantém mesmo
sob a égide do NCPC.
II) INCORRETA: Vide justificativa acima.
III) INCORRETA: Vide justificativa acima.

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IV) CORRETA: Nos termos do art. 55 da Lei n. 9.099/95, “A sentença de primeiro grau não condenará o
vencido em custas e honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de má-fé. Em segundo grau, o
recorrente, vencido, pagará as custas e honorários de advogado, que serão fixados entre dez por cento e vinte
por cento do valor de condenação ou, não havendo condenação, do valor corrigido da causa”. Portanto, são
devidos apenas pelo recorrente derrotado em segunda instância.
V) CORRETA: Vide justificativa acima.

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 06. No ano de 2010, Lucas Moura ingressou com reclamatória trabalhista contra a empresa
“Tottenham Ltda” pleiteando diferenças remuneratórias relativas aos últimos três anos de trabalho. A
ação, após longa fase recursal, foi finalmente julgada procedente e transitou em julgado em 21/09/2022.
Em seguida, Lucas Moura ingressou com pedido de revisão da renda mensal inicial de sua aposentadoria,
concedida em 09/05/2010, tendo em vista que os reflexos das diferenças remuneratórias reconhecidas pela
Justiça Trabalhista servem para majorar salários-de-contribuição que estão contidos dentro do período
básico de cálculo daquele benefício. Nessa circunstância e segundo o entendimento do STJ, analise as
assertivas a seguir:
I) O INSS deveria indeferir o pedido de revisão, tendo em vista o prazo de 10 anos de decadência para a
revisão do ato de concessão de benefício.
II) A sentença trabalhista não serve necessariamente como início de prova material para fins de cômputo
de tempo de serviço na esfera previdenciária, sendo importante observar aspectos tais como o modo como
transcorreu a lide trabalhista.
III) O prazo de decadência para a revisão pleiteada corre desde o trânsito em julgado da reclamatória
trabalhista, razão pela qual ainda não se esgotou.
IV) Caso Lucas tenha contribuições anteriores à competência “julho de 1994”, elas poderiam ser utilizadas
no cálculo de seu benefício, caso isto lhe fosse favorável
V) Caso a sentença trabalhista fosse homologatória de acordo entre as partes, ela teria, em qualquer caso,
força de início de prova material.
Estão corretas as assertivas:
A) I e V.
B) II, III e IV.
C) I, II e IV.
D) I, III e IV.
E) II e III.

💡 GABARITO COMENTADO

I) INCORRETA: A questão trabalha, em primeiro lugar, com decisão recente do STJ no tema n. 1117. Entendeu

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RODADA 01

o STJ que o marco inicial da fluência do prazo decadencial, previsto no caput do art. 103 da Lei n. 8.213/1991,
quando houver pedido de revisão da renda mensal inicial (RMI) para incluir verbas remuneratórias recebidas
em ação trabalhista nos salários de contribuição que integraram o período básico de cálculo (PBC) do benefício,
deve ser o trânsito em julgado da sentença na respectiva reclamatória.
II) CORRETA: O STJ decidiu recentemente, no PUIL n. 293, que “A jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça, no âmbito da Primeira e da Segunda Turmas, é firme no sentido de que ‘a sentença trabalhista
somente será admitida como início de prova material caso ela tenha sido fundada em outros elementos de
prova que evidenciem o labor exercido na função e no período alegado pelo Segurado. (...) Nos termos do art.
55, § 3º, da Lei 8.213/1991, a comprovação do tempo de serviço, para os efeitos dessa lei, inclusive mediante
justificação administrativa ou judicial, só produzirá efeito quando baseada em indício de prova material, não
sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso
fortuito” (STJ, AgInt no AREsp 1.078.726/P Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, DJe de 01/10/2020). Em igual sentido: “A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que
a sentença trabalhista pode ser considerada como início de prova material, desde que prolatada com base em
elementos probatórios capazes de demonstrar o exercício da atividade laborativa, durante o período que se
pretende ter reconhecido na ação previdenciária. Na espécie, ao que se tem dos autos, a sentença trabalhista está
fundada apenas nos depoimentos das partes, motivo pelo qual não se revela possível a sua consideração como
início de prova material para fins de reconhecimento da qualidade de segurado do instituidor do benefício e,
por conseguinte, como direito da parte autora à pensão por morte” (STJ, AgInt no AREsp 1.405.520/SP, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 12/11/2019). (...) O entendimento firmado no STJ
está fundamentado na circunstância de que, não havendo instrução probatória, com início de prova material,
tampouco exame de mérito da demanda trabalhista – a demonstrar, efetivamente, o exercício da atividade
laboral, apontando o trabalho desempenhado, no período correspondente –, não haverá início válido de prova
material, apto à comprovação de tempo de serviço, na forma do art. 55, § 3º, da Lei 8.213/91. (...) Tese jurídica
firmada: “A sentença trabalhista homologatória de acordo somente será considerada início válido de prova
material, para os fins do art. 55, § 3º, da Lei 8.213/91, quando fundada em elementos probatórios contemporâneos
dos fatos alegados, aptos a evidenciar o exercício da atividade laboral, o trabalho desempenhado e o respectivo
período que se pretende ter reconhecido, em ação previdenciária.”.
III) CORRETA: Vide justificativa dada à assertiva “A”.
IV) CORRETA: Período básico de cálculo é o interregno temporal dentro do qual vc vai apurar os salários-
de-contribuição. Segundo a lei, ele corresponde a todo o período posterior à competência “julho de 1994”
(ou, caso a primeira filiação seja posterior, desde a primeira filiação) e até a data de entrada do requerimento
(DER). Cabe registrar, no entanto, que o STJ acolheu a tese denominada “revisão da vida toda”, que, em síntese,
permite que o segurado busque, caso lhe seja mais vantajoso, contribuições vertidas no período anterior
a julho de 1994 para o cálculo do valor de seu benefício (tema repetitivo n. 999). A matéria foi discutida
posteriormente pelo STF no Recurso Extraordinário (RE) 1276977, com repercussão geral (Tema 1.102).

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RODADA 01

Prevaleceu o entendimento de que, quando houver prejuízo para o segurado, é possível afastar a regra de
transição introduzida pela lei, que exclui as contribuições anteriores a julho de 1994. A tese de repercussão
geral fixada foi a seguinte: “O segurado que implementou as condições para o benefício previdenciário após
a vigência da Lei 9.876, de 26/11/1999, e antes da vigência das novas regras constitucionais, introduzidas pela
EC em 103/2019, que tornou a regra transitória definitiva, tem o direito de optar pela regra definitiva, acaso
esta lhe seja mais favorável”.
V) INCORRETA: Vide justificativa dada à assertiva “B”.

💡 GABARITO: B

QUESTÃO 07. Acerca das entidades de previdência privada, analise as assertivas a seguir:
I) A entidade fechada pode ser constituída sob a forma de fundação, sem fins lucrativos.
II) A entidade fechada constituída por instituidor oferta exclusivamente planos de benefícios na
modalidade contribuição definida.
III) A entidade fechada tem como objeto a administração e execução de planos de benefícios de natureza
previdenciária, podendo também atuar no ramo de seguro de vida e acidentes pessoais.
IV) A entidade aberta pode ser constituída unicamente sob a forma de sociedade limitada.
V) A entidade aberta tem por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário
concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único.
Estão corretas as assertivas:
A) III e V
B) III e IV
C) I, II e V
D) I e V
E) II e III

💡 GABARITO COMENTADO

I) CORRETA: Nos termos do §1º do art. 31 da LC n. 109/2001, “As entidades fechadas organizar-se-ão sob
a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos”. Desde o advento do CC de 2002, porém, não há
mais possibilidade de se constituir sociedade civil sem fins lucrativos.
II) CORRETA: Nos termos do §2º do art. 31 da LC n. 109/2001, “As entidades fechadas constituídas
por instituidores referidos no inciso II do caput deste artigo deverão, cumulativamente: (...) II - ofertar
exclusivamente planos de benefícios na modalidade contribuição definida, na forma do parágrafo único do
art. 7o desta Lei Complementar”.
III) INCORRETA: Segundo o art. 32 da LC n. 109/2001, “As entidades fechadas têm como objeto a
administração e execução de planos de benefícios de natureza previdenciária” (caput) e “É vedada às entidades
fechadas a prestação de quaisquer serviços que não estejam no âmbito de seu objeto, observado o disposto no

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RODADA 01

art. 76” (par. único).


IV) INCORRETA: Nos termos do art. 36 da LC n. 109/2001, “As entidades abertas são constituídas unicamente
sob a forma de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter
previdenciário concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas
físicas”.
V) CORRETA: Nos termos do art. 36 da LC n. 109/2001, “As entidades abertas são constituídas unicamente
sob a forma de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter
previdenciário concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas
físicas”.

💡 GABARITO: C

PROFESSOR RICARDO FIGUEIRA


E-mail: profcei.ricardofigueira@gmail.com

🏳 DIREITO PENAL

QUESTÃO 08. Acerca dos princípios básicos do Direito Penal, com base na legislação e na jurisprudência
atualizada do Superior Tribunal de Justiça, todas as afirmativas estão corretas, à exceção de uma. Assinale-a.
A) Não se aplica o princípio da insignificância aos casos de transmissão clandestina de sinal de internet
via radiofrequência, sendo de todo irrelevante o fato de se tratar de serviço de valor adicionado.
B) Por força do princípio da legalidade, o conceito de crimes contra a humanidade estabelecido no Estatuto
de Roma é irrelevante para fins de tipicidade no Direito pátrio, sendo imprescindível a existência de lei
formal que o preveja.
C) O princípio da insignificância deve ser aplicado aos delitos de descaminho e de contrabando quando o
valor for inferior ao estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, com as atualizações feitas pelas Portarias
75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda.
D) Em sua redação dada pela Lei 9.677/1998, o preceito secundário do art. 273, § 1º-B, inciso I, foi
reconhecido como ofensivo ao princípio da proporcionalidade, motivo pelo qual para esta situação
específica, fica repristinado o preceito secundário do art. 273, na redação originária.
E) Admite-se a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. Deve-se tomar muito cuidado, pois, embora o STJ tenha o entendimento consolidado no
sentido de que, em relação ao crime do art. 183 da Lei nº 9.472/1997, não se aplica o princípio da insignificância,

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RODADA 01

tendo editado a Súmula 606 para expressar essa orientação, a questão ainda é polêmica no STF, havendo
entendimentos nos dois sentidos em cada uma das turmas criminais da Suprema Corte. É precso atentar para
a maneira como a assertiva se apresenta.
B) CORRETA. A questão foi tratada em julgado paradigmático do STJ que estabeleceu, dentre várias teses,
a seguinte ponderação: “(...) Assim, a aplicação da Convenção não poderia tipificar crimes nem alcançar fatos
anteriores à Constituição de 1988, que legitimou sua aplicação, sob pena de revelar verdadeira afronta à própria
soberania estatal e à supremacia da Constituição da República, subvertendo por completo o ordenamento jurídico
pátrio e com malferimento de inúmeros outros direitos fundamentais, a pretexto de protegê-los.” (REsp 1798903,
2019). A matéria não é nova, porém, eis que reforça entendimento que já havia sido firmado pelo STF muito
antes a respeito da inaplicabilidade da Convenção de Palermo para definir o crime de organização criminosa
sem que houvesse lei dispondo nesse sentido.
C) INCORRETA. A assertiva estaria correta se tratasse exclusivamente do crime de descaminho (art 334
do CP), que é um crime tributário, e, de fato, o texto da assertiva foi adaptado de um julgado do STJ. Já o
contrabando não é crime tributário, de modo que não se lhe aplica o raciocínio da aplicabilidade do princípio
da insignificância. Observe, porém, que há alguns julgados isolados admitindo a aplicação da insignificância
ao contrabando, mas nunca com fundamento na regra dos R$ 20.000,00 (vinte mil) reais.
D) CORRETA. É o entendimento que foi definido pelo STF no RE 979.962/RS, j. 24/03/21, a respeito do crime
de importação irregular de medicamentos ou produtos terapêuticos. Deve-se ter muito cuidado com o fato de
que o RE tratou somente da situação do § 1º-B, inciso I, do art. 273, silenciando quanto às demais hipóteses
típicas.
E) CORRETA. A análise feita pelos Tribunais Superiores é eminentemente casuística, mas, de forma geral,
existe uma admissibilidade a favor do princípio da insignificância nos casos de ínfima ofensividade ao bem
jurídico tutelado (AgRg no AREsp 1574359, 2020).

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 09. Nelson, artesão especializado em reconstrução de armas de fogo históricas, vende uma
espingarda funcional a Heleno, colecionador de artigos bélicos arcaicos, que aufere lucros da exploração dos
serviços de um stand de tiro estabelecido no subúrbio de determinado Município, destinado a atiradores
esportivos. Num dia muito chuvoso, esta vem a ser utilizada por Damásio, franco-atirador aposentado do
Exército brasileiro, o qual, efetuando disparos, se assusta com um trovão que ribomba sobre um prédio
nas proximidades, e acaba por acertar um poste de iluminação na rua lindeira ao estabelecimento de
Heleno, e disso resulta a queda de fiação de transmissão de energia sobre a avenida molhada. Rogério,
cardiopata usuário de marca-passo, de forma desavisada pisa na água eletrocutada e sofre um acidente
fatal em razão da descarga elétrica. Laudo pericial de necropsia atesta que a condição de Rogério foi
determinante para o seu óbito, eis que o choque elétrico resultou na desativação de seu marca-passo e, em
razão disso, houve parada cardíaca.

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RODADA 01

Considerando o caso hipotético acima, tendo por base as teorias desenvolvidas pela dogmática penalista a
respeito da relação de causalidade, da conduta penalmente relevante e da imputação do resultado, assinale
a afirmativa correta com base na legislação em vigor.
A) Nos termos do disposto no artigo 13, caput, do CP, que adota como regra a teoria da equivalência dos
antecedentes causais (conditio sine qua non), Damásio, Heleno e Nelson todos produziram, indistintamente,
causas para a morte de Rogério, de modo que, em se abstraindo o elemento subjetivo, todos deveriam, em
tese, responder pelo crime decorrente, sendo de todo irrelevante o fato de ele ser cardiopata e usuário de
marca-passo.
B) Pela teoria da causalidade adequada, adotada como exceção pela lei penal brasileira nos casos de
concausas (art. 13, § 1º, CP), abstraindo-se o elemento subjetivo, nenhum dos indivíduos citados deveria
responder, eis que nenhum deles produziu causa efetiva e adequada para o resultado final.
C) O resultado morte decorre de concausas: a causa principal é a eletrocução decorrente da derrubada do
poste de energia em razão do disparo de Damásio, mas a cardiopatia e o uso de marca-passo constituem
concausas preexistentes relativamente independentes. Pelo prisma da causalidade adequada, abstraindo-
se o elemento subjetivo, somente Damásio poderia responder (art. 13, § 1º, CP), não sendo sendo possível
excluir o nexo causal.
D) Na perspectiva do finalismo, deve-se aferir a causalidade psíquica além da causalidade objetiva, de
modo que a indagação sobre se o agente agiu com dolo ou culpa é da maior relevância. É dispensável,
porém, que conheça a concausa preexistente, de modo que Damásio, por ter obrado com culpa ao realizar
o disparo, pode responder pelo delito.
E) Na perspectiva da imputação objetiva, é possível identificar nas condutas de Heleno e de Damásio
a criação de um risco proibido, de modo que produziram causas para o resultado, que efetivamente se
realizou no risco e que encontra no alcance do tipo penal do homicídio (culposo).

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. A doutrina é uníssona em apontar que a legislação brasileira adota a teoria da conditio
sine qua non mas com os temperamentos trazidos pela doutrina de Thyrén, que fala das causas efetivas para o
resultado, a fim de definir um elemento objetivo de causalidade, mas, como a assertiva demonstra, não impede
o regresso ao infinito.
B) INCORRETA. As condutas de Nelson, Heleno e Damásio são causas para fins de imputação da conduta,
havendo distinção somente no elemento subjetivo de cada qual deles. Mas é considerado causa tudo aquilo
que, se eliminado hipoteticamente, faria desaparecer o resultado, o que não ocorre no presente caso.
C) CORRETA. O art. 13, § 1º, do CP, trata da exclusão do nexo causal pela concausa superveniente
relavativamente independente, silenciando quanto as demais (preexistete e concomitante), sob forte crítica da
doutrina. O ponto essencial é a fórmula “quando por si só produziu o resultado”, sendo certo que, neste caso, a
conduta de Damásio e dos demais deram causa ao resultado morte, ainda que indiretamente.

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RODADA 01

D) INCORRETA. A primeira parte da assertiva está correta. O equívoco está em mencionar que o agente não
precisa conhecer eventual concausa, pois ela está inserida no escopo do seu elemento subjetivo, integrando o
dolo ou a culpa.
E) INCORRETA. Em síntese, nenhuma das condutas realmente incrementa um risco proibido, já que estão
todos no regular exercício de atividades, sem excessos ou desvios de conduta, e nem há elementos que permitam
concluir que o disparo que atingiu o poste de energia decorreu de um caso fortuito.

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 10. Considerando as disposições do Código Penal sobre a ilicitude e sobre a culpabilidade e as
respectivas causas excludentes, segundo a doutrina e a jurisprudência dominantes, analise as afirmativas
a seguir e assinale (V) para a verdadeira e (F) para a falsa.
( ) Não se exige conduta diversa do sócio administrador que deixa de recolher, pela sociedade empresária
indicada por lei como substituta tributária, no prazo legal, valor de tributo, comprovando que a empresa
vivia situação de crise financeira.
( ) O agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante
a prática de crimes pode estar em legítima defesa, mas, caso ele próprio esteja refém dos agressores, sua
conduta não pode ser justificada pelo fato de que tem o dever legal de enfrentar o perigo.
( ) Na situação em que uma pessoa, usando moderadamente dos meios necessários, repele agressão atual
promovida por terceiro que acredita estar repelindo agressão iminente, somente o primeiro estará agindo
em legítima defesa.
( ) O consentimento do ofendido, enquanto causa justificante supralegal, deve ser prévio ou simultâneo à
lesão ao bem jurídico, e só pode recair sobre bens disponíveis.
( ) O indígena não integrado certamente não possui a potencial consciência da ilicitude a respeito das
normas penais exaradas pelo Estado brasileiro, de modo que sua conduta criminosa será sempre exculpável.
As afirmativas são, na ordem apresentada, respectivamente:
A) V - F - V - V - F
B) V - F - V - V - V
C) F - V - F - V - F
D) V - F - F - F - V
E) F - V - F - F - F

💡 GABARITO COMENTADO

A) VERDADEIRA. A tese defensiva da inexigibilidade de conduta diversa foi apreciada por diversas vezes
pelo STJ em casos envolvendo crimes contra a ordem tributária - mais especificamente o art. 2º, inc. II, da Lei
nº 8.137/1990, tendo admitido a aplicação da exculpante nos casos em que fique comprovada nos autos a crise
financeira da empresa (AgRg no AREsp 1813382, 2021). Registre-se que, por força do óbice da Súmula 7 do

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RODADA 01

STJ, a matéria acaba por ser resolvida pelas instâncias ordinárias, mas, em todo caso, a Corte da Cidadania
chancelou o entendimento. No julgado aqui mencionado, a sociedade empresária estava em recuperação
judicial, tendo o Tribunal de origem reconhecido que a conduta não era culpável pois a sócia gerente deixou
de pagar tributos para pagar outras despesas prioritárias, como o salário dos empregados.
B) FALSA. A questão funde propositalmente os termos dos artigos 25, parágrafo único, e 24, § 1º, do CP, os
quais tratam, respectivamente, da legítima defesa em situação de refém e do estado de necessidade de quem
tinha o dever legal de enfrentar o perigo. O que se deve considerar é: (i) o só fato de o agente ter o dever legal
de enfrentar o perigo não significa que não possa ser amparado por estado de necessidade, já que a lei não
exige das pessoas o suicídio heróico, devendo a situação ser analisada nos contornos do caso concreto; (ii) tal
raciocínio não se aplica à legítima defesa, em que é irrelevante a questão do dever de enfrentar o perigo para
incidência ou afastamento da justificante.
C) VERDADEIRA. A assertiva descreve corretamente o fenômeno da legítima defesa real em face da legítima
defesa putativa. Tendo em vista que a legítima defesa putativa - em que o agente acredita, por erro, estar agindo
em legítima defesa, mas não está, não excluí a antijuridicidade da conduta, a agressão por ele perpetrada nestas
circunstâncias caracteriza uma agressão injusta e, via de consequência, autoriza o manejo da legítima defesa
real por parte de quem a sofre.
D) VERDADEIRA. O consentimento do ofendido é tido pela doutrina majoritária como uma causa supralegal
de exclusão da ilicitude, e vem condicionado, para assim ser admitido, à vários requisitos, dentre os quais,
por exemplo, o da disponibilidade do bem jurídico lesado - eis que não se pode consentir com a lesão a bem
indisponível - e o momento em que é manifestado o consentimento, que não pode ser posterior à lesão. Neste
último caso, se assim ocorrer, a conduta continua sendo injusta, de modo que só terá serventia, se houver, no
plano da aplicação da pena.
E) FALSA. A questão do indígena (i.e. “silvícola”) não integrado sempre foi objeto de discussão na doutrina, de
particular relevância para a Justiça Federal. Atualmente é pacífico o entendimento doutrinário, em superação à
perspectiva integracionista vigente antes da Constituição de 1988, de que o fato de o indígena não ser integrado,
por si só, não tolhe a sua imputabilidade penal, devendo a conduta ser analisada à luz da potencial consciência
da ilicitude. Ocorre que, da mesma forma, a assertiva não pode ser tida como correta por impor, em termos
absolutos, uma conclusão que não é necessária: o só fato de o indígena não ser integrado não fulmina, por si
só, a potencial consciência da ilicitude, até porque esta deve ser analisada pela lógica da valoração paralela na
esfera do profano. Ex: o indígena não integrado pode reconhecer como socialmente repugnante o homicídio,
ainda que desconheça as regras do Código Penal.

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 11. Anastácio, dirigente máximo de uma autarquia federal, visando a prestigiar seu cunhado
Belisário, que, durante a pandemia do Covid-19, iniciou empresa voltada à produção e comércio de
artigos de higiene pessoal como sabonetes bactericidas e álcool em gel, determina a abertura de licitação

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para contratação de sua sociedade empresária. Seus fiéis secretários, Constantino e Diocleciano, ambos
integrantes da comissão de licitações, providenciam a expedição de convites aos possíveis concorrentes
com datas e informações de depósito equivocadas e, bem assim, prometem que irão desconsiderar todas
as habilitações que vierem a ser realizadas por motivos caprichosos a fim de garantir que o objeto da
licitação será adjudicado à empresa de Belisário. No curso do certame, Justiniano, assessor jurídico junto
à diretoria, após receber promessa de dinheiro em espécie por Belisário, alerta Anastácio que o plano
engendrado tem riscos desnecessários e, em contrapartida, apresenta-lhe parecer jurídico atestando a
possibilidade de dispensa de licitação em razão da situação de calamidade pública decorrente da pandemia.
Anastácio então profere decisão pela contratação direta dos serviços e produtos lastreando-se no parecer
jurídico de Justiniano. Com vistas a efetuar o pagamento do contrato, ordena a realização da despesa
entre os dois últimos meses do ano corrente e os dois primeiros do ano vindouro.
Diante desse cenário é correto afirmar que:
A) Anastácio cometeu os crimes de frustração do caráter competitivo de licitação (art. 337-F do CP) e pelo
crime de patrocínio de contratação indevida (art. 337-G do CP), mas não o crime de contratação direta
ilegal (art. 337-E) pelo fato de que atuou com base em parecer jurídico de Justiniano.
B) Belisário incidiu unicamente no crime de corrupção ativa (art. 333 do CP) em relação a Justiniano,
uma vez que, por não ser funcionário público, não pode responder pelos crimes relacionados à licitação.
C) Justiniano somente deve responder pelo crime de corrupção passiva (art. 317 do CP), uma vez que
a dispensa da licitação era admissível nos termos do art. 75, inciso VIII, da Lei nº 14.133/2021, que
prevê sua possibilidade nos casos de emergência ou calamidade pública quando caracterizada urgência
de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a continuidade dos serviços
públicos.
D) Constantino e Diocleciano devem responder somente pelo crime de frustração do caráter competitivo
de licitação (art. 337-F do CP), que se consumou independentemente da efetiva obtenção, por Belisário,
da vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação.
E) Anastácio cometeu somente o crime de contratação direta ilegal (art. 337-E do CP) em concurso de
agentes com Belisário e Justiniano. O crime de frustração do caráter competitivo de licitação (art. 337-F
do CP) resta absorvido pelo primeiro delito em razão do princípio da consunção, eis que esta esta conduta
acabou servindo como meio para o fim efetivamente almejado por aquela, qual seja, a adjudicação do
objeto da licitação.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. A acusação estaria correta quanto ao crime do art. 337-F do CP, mas não quanto à do
crime do art. 337-G, uma vez que ele tem como elementar do tipo penal a invalidação de licitação ou contrato
administrativo decretada pelo Poder Judiciário. De outra banda, seria equivocada a ausência de acusação pelo
crime do art. 337-E do CP em razão da existência de parecer jurídico favorável, eis que evidente a situação de

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RODADA 01

conluio entre o parecerista e o gestor público.


B) INCORRETA. A doutrina afirma que, diversamente do que acontecia na redação dos tipos penais da Lei
nº 8.666/1993 (arts. 89 e seguintes), os crimes dos arts. 337-E e seguintes do CP não são, em regra, próprios e
nem de mão própria, não sendo elementar deles a condição de funcionário ou gestor público. Sendo crimes
comuns, é possível a coautoria entre particular e o funcionário público que o pratica.
C) INCORRETA. O crime do art. 337-E do CP constitui uma norma penal em branco, cujo complemento
normativo se dá pelas normas que definem as hipóteses de dispensa e inexigibilidade de licitação. No caso,
valem tanto as regras da Lei nº 8.666/1993 quanto da Lei nº 14.133/2021. O art. 75, VIII, desta trata dos casos
de emergência ou de calamidade pública “(...) quando caracterizada urgência de atendimento de situação que
possa ocasionar prejuízo ou comprometer a continuidade dos serviços públicos ou a segurança de pessoas, obras,
serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente para aquisição dos bens necessários
ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser
concluídas no prazo máximo de 1 (um) ano, contado da data de ocorrência da emergência ou da calamidade,
vedadas a prorrogação dos respectivos contratos e a recontratação de empresa já contratada com base no disposto
neste inciso”.
D) CORRETA. O crime do art. 337-F do CP se consuma com a frustração ou defraudação da licitação que
afete o caráter competitivo do processo, sendo a obtenção de qualquer vantagem posterior um post factum de
mero exaurimento.
E) INCORRETA. Nesse caso, não há que se cogitar de consunção entre os delitos, mas sim de concurso
material delitivo, uma vez que, com condutas distintas, o gestor público e seus comparsas realmente frustraram/
fraudaram licitaçao e admitiram contratação direta fora das hipóteses previstas em lei.

💡 GABARITO: D

PROFESSOR RICARDO FIGUEIRA


E-mail: profcei.ricardofigueira@gmail.com

🏳 PROCESSO PENAL

QUESTÃO 12. Acerca dos princípios gerais e das garantias constitucionais que regem o processo penal
brasileiro, com base nas disposições constitucionais e legais, e na doutrina e jurisprudência dos Tribunais
Superiores, assinale a alternativa correta:
A) Por força da garantia constitucional da presunção de inocência (ou da não culpabilidade), na sua acepção
enquanto regra probatória, é impossível a execução provisória da pena antes do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória, mesmo em caso de condenação pelo tribunal do júri com reprimenda igual

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ou superior a 15 anos de reclusão.


B) Quando não for devidamente justificada a necessidade do uso de algemas pelo segregado ocasiona a
nulidade da audiência de custódia e da prisão em flagrante, devendo aquele ser colocado em liberdade
ainda que haja fundamento para a decretação da prisão preventiva.
C) Por força do princípio do contraditório (art. 5º, inciso LV, da CF/1988), nenhum acusado, exceto se
ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.
D) Por força da garantia constitucional da presunção de inocência (ou da não culpabilidade), na sua
acepção enquanto regra probatória, o ônus da prova recai exclusivamente sobre a acusação, em qualquer
etapa da ação penal.
E) Por força do princípio da ampla defesa, que tem como um de seus corolários o da defesa técnica,
caracterizada como indisponível, necessária e irrenunciável, a defesa do acusado deve ser efetiva, o que
significa que, embora não deva o defensor invariavelmente pedir sua absolvição, deve sempre apresentar
uma resposta substancial à acusação desde a primeira oportunidade em que se manifesta no feito.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. A questão tem por lastro o entendimento firmado pelo STF no julgamento das ADC’s 43, 44 e
54, em que reafirmou a constitucionalidade do art. 283 do CPP, rechaçando o entendimento então estabelecido
em 2016 no sentido de admitir a execução provisória da pena após o julgamento da apelação criminal. Ocorre
que a Lei nº 13.964/2019 criou uma hipótese de execução provisória ex lege nas condenações do tribunal do
júri cuja PPL seja igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão (art. 492, inciso I, alínea “e”, CPP). Esse
dispositivo veio a ser objeto de nova impugnação perante o STF, até o presente momento sem julgamento,
mas, em julgados recentes, tanto o STF quanto o STJ prestigiaram o entendimento firmado nas ADC’s. Nesse
sentido: “pendente de julgamento no STF o Tema n. 1.068, em que se discute a constitucionalidade do art. 492,
I, do CPP, deve ser reafirmado o entendimento do STJ de impossibilidade de execução provisória da pena mesmo
em caso de condenação pelo tribunal do júri com reprimenda igual ou superior a 15 anos de reclusão” (AgRg no
HC 714884, 2022).
B) INCORRETA. A assertiva se baseia no julgamento do RHC 91748 (2018) pelo STJ, no qual estabeleceu,
dentre outras teses, que: “Nos termos do que dispõe o Enunciado 11 da Súmula Vinculante do Supremo Tribunal
Federal – STF, o uso de algemas constitui medida que somente deve ser empregada em casos excepcionais, que
devem ser justificados (...) Ademais, é certo que, com a decretação da preventiva, fica superada a alegação da
existência de irregularidades no flagrante, tendo em vista a superveniência de novo título apto a justificar a
segregação.” Em outra oportunidade, o STF já havia afirmado que a nulidade em razão do uso de algemas na
audiência de custódia é meramente relativa e depende da demonstração do prejuízo.
C) INCORRETA. O art. 261 do CP, reconhecido pela doutrina como importante positivação da garantia do
contraditório na sua acepção do direito à participação efetiva no processo penal, estabelece que nem mesmo
os réus ausentes ou foragidos poderão ser processados ou julgados sem defensor (e.g. c.f. art. 366 do CPP).

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D) INCORRETA. Embora haja dissonância de parcela da doutrina, o entendimento dominante é no sentido


de admitir que o ônus probatório não é absoluta e exclusivamente da acusação no processo penal, até por força
do art. 156 do CPP: os fatos devem ser comprovados por quem os alega. Na lição de Rogério Sanches Cunha
(https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/09/02/certo-ou-errado-segundo-se-extrai-cpp-no-
processo-criminal-o-onus-da-prova-e-sempre-da-acusacao/): “Assim, cumpre à acusação a prova da tipicidade
e de sua autoria, ou seja, dos fatos constitutivos. Ao réu, cabe a prova dos fatos extintivos (prescrição, decadência,
por exemplo), dos fatos impeditivos (causas de exclusão de culpabilidade, v.g.) e dos fatos modificativos (por
exemplo, as causas excludentes da ilicitude).” Some-se a isso o fato de que, na decisão de recebimento da
denúncia e de pronúncia, no processo do júri, os Tribunais Superiores consagram o princípio do in dubio pro
societate.
E) INCORRETA. O equívoco da assertiva está na menção à defesa sustancial, pois é possível a defesa genérica
no momento da resposta à acusação, sem que se considere, só por isso, o réu indefeso. Observe-se que os arts.
396 e 396-A do CPP usam o verbo “poderá” e não “deverá” a respeito das teses a serem arguidas pelo réu e, com
efeito, manejo das teses somente ao final da instrução processual consiste em estratégia defensiva legítima.

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 13. O Juízo competente de uma das varas de certa Subseção Judiciária Federal recebeu a
denúncia oferecida em face de Fernando, Julio, Aury, Gustavo e Renato, todos acusados dos mesmos
delitos em concurso de agentes. Os três primeiros foram regularmente citados, mas somente Fernando
constituiu advogado, que ofereceu resposta à acusação tempestivamente. A Defensoria Pública da União
atuou em favor de Julio e Aury, oferecendo a defesa adequada. No curso da instrução processual, Julio não
foi mais encontrado nos endereços indicados e não respondeu mais aos contatos telefônicos, inclusive via
aplicativos de mensagens instantâneas, e foi determinado o prosseguimento do feito à sua revelia. Com
a prolação da sentença condenatória, foi expedido mandado de intimação a ser cumprido por Oficial
de Justiça somente para Fernando e Aury e foi determinada a intimação do advogado do primeiro, para
serem comunicados a respeito da decisão.
Já em relação a Gustavo e Renato, o Ministério Público Federal havia requerido, de forma genérica,
na cota da denúncia, a citação por edital de todo e qualquer denunciado que não fosse localizado. O
juiz determinou a expedição do edital de citação, com observância de todas as formalidades, após uma
tentativa de citação por oficial de justiça nas respectivas e possíveis residências apontadas em relação aos
acusados. A pedido do MPF, determinou o desmembramento do feito em relação a estes dois réus, a fim
de não prejudicar o andamento da instrução processual em relação aos demais, e, nos autos apartados,
determinou a aplicação do regramento do art. 366 do CPP. Após a prolação da sentença condenatória
em desfavor de Fernando, Julio e Aury, enquanto pendentes o julgamento de seus recursos, Gustavo
compareceu espontaneamente ao feito, juntando procuração constituindo advogado, e pleiteando a
nulidade da citação e dos atos processuais posteriores.

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RODADA 01

Considerando o caso hipotético acima, com base no Código Penal e na jurisprudência atualizada do
Superior Tribunal de Justiça, assinale a afirmativa correta.
A) Julio, por ter sido citado pessoalmente, ao não comunicar novo endereço ao juízo para ser intimado,
teve acertadamente decretada a sua revelia, de modo que o processo seguirá sem sua presença e, inclusive,
torna dispensável a sua intimação a respeito da sentença.
B) Em havendo advogado constituído, como no caso de Fernando, é dispensável a intimação pessoal do
próprio réu a respeito da sentença, bastando a intimação do patrono pelos meios idôneos, como por
publicação oficial.
C) Em caso de os réus residirem fora do território da jurisdição do juiz processante, deverão ser citados
por carta precatória. E aí, caso se verifique que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro
juiz que não o deprecado, este último devolverá os autos ao juízo deprecante para que possa deliberar e,
então, fazer a remessa ao juízo correspondente.
D) A intimação de Aury, caso não fosse mais localizado após a prolação da sentença condenatória, deve
ser obrigatoriamente feita edital, uma vez que a intimação do Defensor Público Federal é inócua.
E) A arguição de nulidade suscitada por Gustavo em relação à citação por edital merece acolhimento, e
só aproveita a ele e a Renato, ainda que seja requerida a extensão de seus efeitos por Fernando e Aury em
seus respectivos recursos.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. O art. 367 do CPP estabelece, de forma bastante limitada se comparada ao processo civil,
os efeitos da revelia em desfavor do réu que deixa de comparecer aos atos processuais ou não comunica novo
endereço ao juízo - aqui abrangida a alteração dos meios de contato -, mas isso não dispensa, em absoluto, a
sua intimação, seja pessoal ou, nos casos em que autorizada, por edital.
B) INCORRETA. Mesmo com advogado constituído, é sempre imprescindível a intimação do acusado, até
porque ele goza de capacidade postulatória autônoma para intepor recurso contra a sentença.
C) INCORRETA. O art. 355, § 1º, do CPP, determina que, uma vez expedida a precatória, caso haja possibilidade,
o juízo deprecado deve remetê-la diretamente ao terceiro juízo que tenha jurisdição sobre o local em que o
acusado for encontrado, atestando o caráter itinerante da carta. Trata-se de medida de economia processual.
D) INCORRETA. Em que pese a redação do art. 392, VI, do CPP, permitir a intimação do condenado por
edital nos casos em que não tenha constituído defensor (e não for encontrado), deve primeiro se proceder à
tentativa de intimação pessoal, uma vez que o próprio dispositivo exige a certificação da situação pelo OJ.
E) CORRETA. A citação por edital, no entendimento pacífico dos Tribunais Superiores, depende do
esgotamento das diligências processuais cabíveis para localização do réu, não podendo ser determinada de
forma açodada. Assim, no caso concreto, tendo em vista que não houve o esgotamento desses meios, a solução
se dá no sentido do acolhimento da nulidade absoluta do feito em relação aos réus a quem a nulidade aproveita.

💡 GABARITO: E

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RODADA 01

QUESTÃO 14. Considerando as disposições legais sobre a forma, o lugar e o tempo dos atos processuais,
analise as proposições abaixo:
I - As audiências, sessões e os atos processuais se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, mas poderão
realizar-se na residência do juiz e, no caso do interrogatório do réu preso, será realizado, em sala própria,
no estabelecimento em que estiver recolhido.
II - Suspende-se o curso do prazo processual e fica vedada a realização de audiências e de sessões de
julgamento nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive, salvo, dentre outras
hipóteses, em quaisquer casos que envolvam réus presos.
III - Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias
úteis.
IV - Tendo em vista a publicidade dos atos processuais, só se admite a determinação de segredo de justiça
em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a respeito do ofendido para
evitar sua exposição aos meios de comunicação.
Está correto o que se afirma em
A) assertiva I, somente.
B) assertiva II, somente.
C) assertivas I e II, somente.
D) assertivas II e III, somente.
E) assertivas III e IV, somente.

💡 GABARITO COMENTADO

I - CORRETA. A assertiva funde o teor do disposto nos arts. 792, caput e § 2º, e 185, § 1º, do CPP. Atente-se,
porém, para o fato de que a realização dos atos processuais na residência do juiz só poderá ocorrer “em caso
de necessidade”, e não com base em mera conveniência. De outra banda, embora a regra seja a realização do
interrogatório do preso no próprio estabelecimento, a praxe forense mostra que isso é de raríssima ocorrência,
sendo que, na maior parte dos casos, ou são apresentados na sede do juízo ou por videoconferência.
II - INCORRETA. Cuidado com a regra do art. 798-A do CPP, recentemente incluída pela Lei nº 14.365/2022,
que buscou compatibilizar a rotina forense em âmbito criminal com as disposições do CPC, inclusive com
a suspensão dos prazos e audiências durante o período de “recesso” dos causídicos. Observe que o inciso I
condiciona a situação de réus presos aos processos vinculados a essas prisões, de modo que o só fato de o
réu estar preso, por si só, não autoriza a designação da audiência, se estiver preso “por outro processo” por
exemplo.
III - INCORRETA. A regra do art. 219 do CPC, que estabelece a contagem dos prazos processuais somente em
dias úteis, não se aplica ao processo penal, conforme entendimento pacífico do STJ, que reafirma a aplicabilidade
da regra do art. 798 do CPP - todos os prazos serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por
férias, domingo ou dia feriado (AgRg nos EDcl no AREsp 1664027, 2021).

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RODADA 01

IV - INCORRETA. Embora o art. 201, § 6º, do CPP, seja o único que dispõe expressamente sobre o segredo
de justiça na lei adjetiva penal, é aplicável subsidiariamente a regra geral do art. 189 do CPC, uma vez que não
há conflito de normas, sendo certo que o rol apresentado na lei processual civil é meramente exemplificativo.

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 15. Com base no regramento a respeito dos Juizados Especiais Criminais e do procedimento
sumaríssimo estabelecidos nas Leis nºs 9.099/1995 e 10.259/2001, bem como na doutrina e jurisprudência
dominantes, assinale a alternativa incorreta.
A) É inadmissível a citação por edital no procedimento sumaríssimo.
B) Compete ao Tribunal Regional Federal o julgamento dos pedidos de habeas corpus impetrados em face
da Turma Recursal dos Juizados Especiais Criminais.
C) Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos da Lei nº 10.259/2001, as
contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada
ou não com multa.
D) A suspensão condicional do processo será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou por contravenção ou descumprir qualquer outra condição imposta.
E) É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da
pretensão punitiva estatal, devendo os autos serem encaminhados ao MP para que se manifeste sobre a
suspensão condicional ou sobre transação penal.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. O art. 66, caput e parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995 estabelece, de forma inequívoca, que a
citação do acusado deve se dar sempre de forma pessoal, pois, caso não seja encontrado para ser citado, o juiz
encaminhará as peças ao juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.
B) CORRETA. A matéria foi objeto de decisão pelo STJ, que referendou a sistemática constitucional de
competências, uma vez que a Turma Recursal é composta por juízes de primeiro grau.
C) CORRETA. Entre 2001 e 2006 houve certa polêmica a respeito do conceito de infração de menor potencial
ofensivo, causada pelo próprio legislador, uma vez que o art. 2º, parágrafo único, da Lei dos Juizados Especiais
Federais, dispunha de forma diferente do que a Lei nº 9.099/1995. Autorizada parcela da doutrina concluiu que
o conceito de IMPO dado pela lei dos juizados federais deveria ser o adotado, inclusive, no âmbito estadual,
e que era cabível a a adoção do procedimento sumaríssimo a qualquer infração penal de menor potencial
ofensivo, independentemente de haver ou não procedimento especial previsto àquele crime.
D) INCORRETA. A assertiva se baseia nas redações dos arts. 89, §§ 3º e 4º, da Lei nº 9.099/1995, os quais tratam,
respectivamente das hipóteses obrigatórias e facultativas de revogação do benefício, e que são inconfundíveis
justamente pelas circunstâncias.
E) CORRETA. A assertiva se baseia na Súmula 337 do STJ, cujo entendimento veio a ser reiterado em julgado

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publicado na Edição nº 93 da Jurisprudência em Teses do STJ (Tese nº 11).

💡 GABARITO: D

PROFESSOR FELIPE DE FARIAS RAMOS


E-mail: profcei.felipedefariasramos@gmail.com

🏳 DIREITO DO CONSUMIDOR/ECONÔMICO

QUESTÃO 16. Morador do interior, Marinho acompanha seu filho, Josué, até a capital, onde seu
descendente embarca em voo para o exterior. O percurso a ser feito, sempre via aérea, é: (i) os dois partem
do interior até a capital; (ii) na capital, Josué toma assento em voo internacional; (iii) Marinho toma voo
para regresso à cidade de origem. Considerada a narrativa, assinale a alternativa CORRETA, considerado
o Código de Direito do Consumidor – CDC e jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça a respeito.
A) Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais e materiais por ele
experimentados serão regulados pelo CDC, de modo que a pretensão de indenização pelo abalo material
há de obedecer ao prazo quinquenal, por fato do serviço;
B) Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais e materiais por
ele experimentados serão regulados pelas Convenções internacionais que regem a temática (especial a
Convenção de Montreal e de Varsória), de modo que a pretensão de indenização pelo abalo moral há de
obedecer ao prazo de dois anos, conforme o pacto internacional;
C) Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais ele experimentados
são regulados pelo CDC (com aplicação, v.g., do princípio da reparação integral), ao passo que os danos
materiais serão presididos pelos tratados internacionais que cuidam da temática (mediante o manejo, por
exemplo, da tarifação indenizatória prevista pelos referidos pactos);
D) Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais ele experimentados
são regulados pelos tratados internacionais que cuidam da temática, ao passo que os danos materiais
serão apreciados consoante o CDC;
E) Todas as alternativas anteriores estão equivocadas.

💡 GABARITO COMENTADO

O aluno precisa conhecer a distinção que existe sobre a matéria na jurisprudência do STJ: os tratados
internacionais (em pormenor, as Convenções de Varsóvia e Montreal) regem a relação entre consumidor e
companhia aérea somente em relação aos DANOS MATERIAIS, com especial para dois aspectos jurídicos
existentes no ponto: (i) prazo prescricional de dois anos consoante referidos tratados (e não de cinco, como

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RODADA 01

previsto pelo CDC para as hipóteses de fato do serviço); (ii) limitação da indenização pelos danos materiais
decorrentes do extravio conforme tarifação constante dos instrumentos internacionais (em oposição ao
princípio da reparação integral prevista na ordem jurídica nacional).
Em se tratando de DANOS MORAIS, tem aplicação o CDC, com todas as consequências advindas dessa
regulamentação.
Realmente, “Conforme o atual entendimento do eg. Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 636.331, Rel.
Min. Gilmar Mendes, paradigma do tema nº 210 da repercussão geral, este Supremo Tribunal Federal decidiu
sobre a prevalência das convenções internacionais sobre o Código de Defesa do Consumidor apenas com relação
às pretensões de indenização por danos materiais, fixando o entendimento de que, em tal hipótese, aplica-se o
prazo de dois anos previsto no art. 35 da Convenção de Montreal, incorporada ao direito interno pelo Decreto nº
5.910/2006” (STJ. AgInt no REsp 1944528/SP. QUARTA TURMA. Rel. Min. RAUL ARAÚJO, j. em 12/12/2022).
Da TERCEIRA TURMA, observe-se: “No precedente firmado em repercussão geral (RE 646.331/RJ - Tema
n.º 210 do STF), o STF afastou expressamente a aplicação da Convenção de Montreal ao dano moral, uma
vez que não estaria regulado pelo acordo aludido, atraindo a aplicação da lei geral, no caso, o CDC. No caso, a
pretensão deduzida na origem diz respeito à compensação por dano moral por atraso em voo. Desse modo, ausente
regulação da matéria em acordo internacional, aplica-se o lustro prescricional previsto no art. 27 do CDC” (STJ.
AgInt no AgInt nos EDcl no AREsp 2141886/GO. TERCEIRA TURMA. Rel. Min. MOURA RIBEIRO, j. em
14/11/2022).
Em relação à tarifação da indenização por danos materiais experimentados pelo consumidor (consoante preveem
os supramencionados tratados internacionais), sem alcançar os pleitos de indenização extrapatrimonial,
confira-se: “As indenizações por danos morais decorrentes de extravio de bagagem e de atraso de voo não estão
submetidas à tarifação prevista na Convenção de Montreal, devendo-se observar, nesses casos, a efetiva reparação
do consumidor preceituada pelo CDC” (STJ. AgInt no AREsp 1666262/SP. QUARTA TURMA. Rel. Min. RAUL
ARAÚJO, j. em 28/11/2022).
Assentadas tais premissas, passo à análise das assertivas.
A) INCORRETA. Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais e
materiais por ele experimentados serão regulados pelo CDC, de modo que a pretensão de indenização pelo
abalo material há de obedecer ao prazo quinquenal, por fato do serviço;
B) INCORRETA. Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais e
materiais por ele experimentados serão regulados pelo CDC, de modo que a pretensão de indenização pelo
abalo material há de obedecer ao prazo quinquenal, por fato do serviço;
C) CORRETA. Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais ele
experimentados são regulados pelo CDC (com aplicação, v.g., do princípio da reparação integral), ao passo
que os danos materiais serão presididos pelos tratados internacionais que cuidam da temática (mediante o
manejo, por exemplo, da tarifação indenizatória prevista por referidos pactos);
D) INCORRETA. Acaso a bagagem de Josué seja extraviada pela companhia de avião, os danos morais ele

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RODADA 01

experimentados são regulados pelos tratados internacionais que cuidam da temática, ao passo que os danos
materiais serão apreciados consoante o CDC;
E) INCORRETA. Como se vê, a assertiva ‘c’ está correta.

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 17. Alcântara está diante de situação bastante peculiar, considerada sua vasta carreira de
administrador de pessoa jurídica empresária. É que a sociedade por ele administrada é objeto de duas
investigações, uma (i) no âmbito da Lei Anticorrupção (Lei n.º 12.846/2013) pela prática de atos contra
a administração pública, outra (ii) no âmbito da Lei n.º12.529/2011, em razão de atos lesivos à ordem
econômica.
Considerada a literalidade das referidas leis, assinale a alternativa CORRETA.
A) Acaso seja de interesse da sociedade tomar assento em acordo de leniência em ambas as investigações,
Alcântara deve ter presente que, nos dois casos, figura como requisito do referido acordo a circunstância
de que a pessoa jurídica empresária interessada no pacto seja a primeira a qualificar-se a respeito da
infração noticiada ou sob investigação;
B) Para o fim de traçar sua estratégia defensiva em ambos os processados, Alcântara há de observar este
regime jurídico: ao passo que, em ambas as apurações, é objetiva a responsabilidade da pessoa jurídica
empresária, em se cuidando da responsabilidade do administrador, será ela subjetiva não apenas no âmbito
da lei anticorrupção, mas também no que concerne à penalidade de multa endereçada ao administrador
direta ou indiretamente responsável pela infração à ordem econômica;
C) Por expressa autorização legal, Alcântara poderá tomar assento em acordo de leniência em ambos os
processados;
D) Todas as alternativas anteriores estão corretas;
E) Apenas as alternativas ‘a’ e ‘b’ estão corretas.

💡 GABARITO COMENTADO

A questão exige do candidato conhecimento sistemático das leis mencionadas, particularidade que torna bem
mais complexa sua apreciação. Veja-se.
A) CORRETA. Efetivamente a referida exigência consta em ambos os diplomas legais (grifo nosso):
Lei Antitruste:
Art. 86. O CADE, por intermédio da Superintendência-Geral, poderá celebrar acordo
de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública ou a redução de
1 (um) a 2/3 (dois terços) da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas
físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem
efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração
resulte:

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RODADA 01

[...]
§ 1º O acordo de que trata o caput deste artigo somente poderá ser celebrado se preenchidos,
cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - a empresa seja a primeira a se qualificar com respeito à infração noticiada ou sob
investigação;
Lei Anticorrupção:
Art. 16. A autoridade máxima de cada órgão ou entidade pública poderá celebrar acordo de
leniência com as pessoas jurídicas responsáveis pela prática dos atos previstos nesta Lei que
colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo, sendo que dessa
colaboração resulte:
[...]
§ 1º O acordo de que trata o caput somente poderá ser celebrado se preenchidos, cumulativamente,
os seguintes requisitos:
I - a pessoa jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu interesse em cooperar para a
apuração do ato ilícito.
B) CORRETA. Novamente inexiste impressão na alínea, sendo caso mesmo de atentar ao regime de
responsabilidade de ambas as leis, o qual varia a depender do imputado: se pessoa jurídica ou física.
Em se cuidando de pessoa jurídica, tem aplicação a responsabilidade objetiva (independente de culpa):
Lei anticorrupção:
Art. 1º, caput - Esta Lei dispõe sobre a responsabilização objetiva administrativa e civil de
pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira.
[...].
Art. 2º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas objetivamente, nos âmbitos
administrativo e civil, pelos atos lesivos previstos nesta Lei praticados em seu interesse ou
benefício, exclusivo ou não.
Lei antitruste:
Art. 36. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos
sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes
efeitos, ainda que não sejam alcançados [...]
Contudo, é diverso o regime jurídico de responsabilização das pessoas físicas --- gestores e administradores
--- em ambas as leis, pois, nas duas, exige-se a presença do elemento subjetivo:
Lei anticorrupção:
Art. 3º,§ 2º - Os dirigentes ou administradores somente serão responsabilizados por atos ilícitos
na medida da sua culpabilidade.
Lei antitruste:
Art. 37. A prática de infração da ordem econômica sujeita os responsáveis às seguintes penas:

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RODADA 01

[...]
III - no caso de administrador, direta ou indiretamente responsável pela infração cometida,
quando comprovada a sua culpa ou dolo, multa de 1% (um por cento) a 20% (vinte por
cento) daquela aplicada à empresa [...]
C) INCORRETA. De fato, ao menos na literalidade do art. 16 da Lei Anticorrupção, não se percebe autorização
legal para que pessoas físicas tomem assento no acordo de leniência aí tratado. O quadro normativo é, porém,
outro em se cuidando da Lei Antritruste, em que existe expresso preceito legal autorizador da participação
de pessoas físicas no dito pacto (art. 86, § 2º): “Com relação às pessoas físicas, elas poderão celebrar acordos de
leniência desde que cumpridos os requisitos [...]”;
D) INCORRETO. Nem todas as alternativas anteriores estão corretas, pois a alínea “c”, como visto, contém
imprecisão.;
E) CORRETO. De fato, como se pode perceber, apenas as alternativas ‘a’ e ‘b’ estão corretas.

💡 GABARITO: E

PROFESSOR FELIPE DE FARIAS RAMOS


E-mail: profcei.felipedefariasramos@gmail.com

🏳 DIREITO CIVIL

QUESTÃO 18. Ana Maria firmou procuração em causa própria conferindo poderes a Raimundo para
dispor sobre imóvel da propriedade dela, em nome dela mesma, no interesse do outorgado, de maneira
irrevogável e sem a necessidade de prestar contas. Caio concertou com João Pedro contrato de depósito, por
meio do qual este último obrigou-se a guardar sacos de trigo de propriedade daquele até data estipulada
no pacto. Cláudio reconheceu a paternidade de Vinícius, filho de Amélia.
Atuando em estado de necessidade, Clara, dirigindo seu veículo dentro das normas de regência, deve de
desviar de caminhão desgovernado, manobra que originou danos a Adalberto, que, inocente em toda a
situação, teve sua moto avariada na ocorrência.
Considerada a atuação dos três agentes, assinale a alternativa CORRETA.
A) Ana Maria firmou negócio jurídico unilateral, ao passo que Caio e João Pedro tomaram assento em
contrato unilateral;
B) Ilícito, o ato de Clara gera o dever de indenizar Adalberto;
C) Como Ana Maria, Cláudio firmou ato jurídico em senso estrito;
D) Todas estas pessoas participaram de uma espécie contratual (seja ela unilateral ou bilateral, pouco
importa): Ana Maria, Caio e João Pedro;
E) Todas as alternativas anteriores estão incorretas.

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💡 GABARITO COMENTADO

A questão explora questão teórica com evidentes repercussões doutrinárias, tratando da classificação dos atos
jurídicos: (a) distinção entre ato jurídico em sentido estrito e negócio jurídico; (b) distinção entre negócio
jurídico unilateral e negócio jurídico bilateral (contrato); (c) dentro dos contratos, a distinção entre aqueles
unilaterais e outros bilaterais.
De resto, o enunciado ainda faz menção ao ato praticado em estado de necessidade - ato lícito mas gerador
do dever de indenizar, observado o exercício de do direito de regresso perante o real causador dos danos
vivenciados pela vítima inocente.
Veja-se em pormenor.
No ato jurídico em sentido estrito, o que existe é manifestação volitiva incapaz de determinar suas consequências
jurídicas (as quais decorrem de lei), de modo que, praticado o ato, suas implicações jurídicas derivam não da
vontade do agente, mas da lei mesma. Quanto ao conceito de ato jurídico em sentido estrito, cita-se, por todas
as vozes doutrinárias, esta passagem (STOLZE, P.; PAMPLONA FILHO, R. Manual de direito civil – Vol.
Único – 4. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020, p. 230 – Versão Virtual):
Já o ato jurídico em sentido estrito constitui simples manifestação de vontade, sem conteúdo
negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos. Neste tipo de ato, não há
necessidade de uma declaração de vontade manifestada com o propósito de atingir, dentro
do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos pelo agente, mas sim um
simples comportamento humano deflagrador de efeitos previamente estabelecidos por lei.
O exemplo mencionado na assertiva foi retirado da obra de outro doutrinador: “Podem ser citados como exemplos
de atos jurídicos stricto sensu a ocupação de um imóvel, o pagamento de uma obrigação e o reconhecimento de
um filho” (TARTUCE, F. Manual de Direito Civil – Vol.Único. – 11. ed. – Rio de Janeiro: Forense-METODO,
2021, p. 379– versão virtual, grifo nosso).
Os negócios jurídicos, a seu turno, são manifestações de vontade que enfeixam fulgor jurídico de determinar
suas consequências jurídicas. Quando é de um só dos contratantes que parte a vontade que determina os
efeitos jurídicos pretendidos, o que existe é um negócio jurídico unilateral. Quando as consequências jurídicas
do querer são estabelecidas pelas duas ou mais pessoas que tomam assento na contratação, o que passa a existir
é um negócio jurídico bilateral (também conhecido como contrato).
A procuração em causa própria é espécie de negócio jurídico unilateral – aquele em que a manifestação
volitiva que faz determinar as suas consequências jurídicas emana de apenas uma pessoa. Nesses negócios, “a
declaração de vontade emana de apenas uma pessoa, com um único objetivo. Exemplos: testamento, renúncia a
um crédito e promessa de recompensa” (TARTUCE, F. Manual de Direito Civil – Vol.Único. – 11. ed. – Rio de
Janeiro: Forense-METODO, 2021, p. 381– versão virtual).
Não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça – STJ: “A procuração em causa própria é negócio
jurídico unilateral, segundo o qual o outorgante confere ao outorgado poder, formativo e dispositivo, de dispor
sobre determinado bem (real ou pessoal), em nome do outorgante, no interesse do outorgado, de maneira

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RODADA 01

irrevogável e sem a necessidade de prestar contas” (STJ. REsp 1962366/DF. TERCEIRA TURMA. Rel. Min.
NANCY ANDRIGHI, j. em 14/2/2023).
Da QUARTA TURMA, observe-se: “A procuração em causa própria (in rem suam) é negócio jurídico unilateral
que confere um poder de representação ao outorgado, que o exerce em seu próprio interesse, por sua própria conta,
mas em nome do outorgante. Tal poder atuará como fator de eficácia de eventual negócio jurídico de disposição
que vier a ser celebrado. Contudo, até que isso ocorra, o outorgante permanece sendo titular do direito (real ou
pessoal) objeto da procuração, já o outorgado apenas titular do poder de dispor desse direito, sem constituir o
instrumento, por si só, título translativo de propriedade.” (STJ. REsp 1345170/RS. QUARTA TURMA. Rel. Min.
LUIS FELIPE SALOMÃO, j. em 4/5/2021).
Em complemento, registro que o testamento é outro exemplo doutrinariamente marcante de negócio jurídico
unilateral “O testamento é um negócio jurídico, unilateral, personalíssimo, solene, revogável, que possibilita à
pessoa dispor de seus bens para depois de sua morte. justamente por essas características, tanto se faz necessário
observar o preenchimento de todos os seus requisitos legais para conceder-lhe validade” (STJ. REsp 176473/SP.
QUARTA TURMA. Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, j. em 21/8/2008).
Explicitado o negócio jurídico unilateral, com a diferenciação entre tal figura e o contrato, passo a destrinçar
este último em pormenor.
No horizonte contratual, a distinção entre unilateral ou bilateral exige perquirir a qual dos polos contratuais
endereçam-se deveres/obrigações contratuais: “na medida em que o contrato implique direitos e obrigações para
ambos os contratantes ou apenas para um deles, será bilateral (ex.: compra e venda) ou unilateral (ex.: depósito)”
(STOLZE, P.; PAMPLONA FILHO, R. Novo Curso de Direito Civil - Contratos (Tomo IV). 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019, p. 173 – Versão Virtual, p. 173).
Sem delongas, não há ignorar que o depósito, salvo especificidade pactuada ausente no enunciado, representa
clássico exemplo de contrato unilateral: “O depósito é um contrato, em regra, unilateral e gratuito (art. 628 do
CC)” (TARTUCE, F. Manual de Direito Civil – Vol.Único. – 11. ed. – Rio de Janeiro: Forense-METODO, 2021,
p. 1313 – versão virtual).
Por derradeiro, analisando o ato jurídico sob o ângulo de sua licitude ou não, deve o aluno saber que os atos
tomados em estado de necessidade, posto que gerem dever indenizatório, têm contornos lícitos.
Quer isso dizer: o estado de necessidade é um ato lícito (art. 188, II, do CC) gerador, porém, do dever de
indenizar (art. 929 do CC) a inocente vítima, assegurado o direito de regresso ao causador imediato dos danos,
para que atue em face do gerador mediato dos prejuízos (art. 930 do CC).
Veja-se (STJ. AgInt no REsp 1819747/PR. QUARTA TURMA Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, j. em
6/10/2020):
“Em situações que envolvem acidente de trânsito, o fato de terceiro só configura causa de
exoneração de responsabilidade se equiparado, para todos os efeitos, ao caso fortuito ou
força maior, de modo a eliminar por completo a relação de causalidade entre a conduta do
agente e o dano [...] Diversamente, se houver atitude volitiva daquele que se depara com

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a situação de perigo, incumbe-lhe, na condição de causador direto do dano, responder


perante o dono do veículo abalroado, recompondo os prejuízos decorrentes de sua conduta
voluntária, ainda que isenta de culpa” (REsp 1713105/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2018, DJe 06/12/2018).
5. “A constatação do estado de necessidade, por si só, não exime o ocasionador direto do
dano de responder pela reparação a que faz jus a vítima, ficando com ação regressiva contra o
terceiro que deu origem à manobra determinante do evento lesivo” (AgRg no AREsp 55.751/
RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
11/06/2013, DJe 14/06/2013).
6. A hipótese de estado de necessidade em que o perigo que se pretende remover é criado
por terceiro se diferencia do fato exclusivo de terceiro, excludente de nexo causal, porquanto
nela subsiste, ainda que de maneira mitigada, conduta volitiva daquele que se depara com a
situação de perigo.
7. Caso concreto em que, partindo-se do arcabouço fático-probatório delineado pela Corte
de origem, verifica-se que a hipótese dos autos configura estado de necessidade em que o
perigo iminente, que se pretende remover, foi criado por terceiro, devendo, portanto, incidir
o disposto nos arts. 929 e 930 do Código Civil.
Firmadas essas premissas, passo à análise das alíneas
A) CORRETO. Como visto, Ana Maria, ao assinar procuração in rem suam, firmou negócio jurídico unilateral,
ao passo que Caio e João Pedro, formalizando avença de depósito, tomaram assento em contrato unilateral;
B) INCORRETO. O ato de Clara (praticado em estado de necessidade) é licito, embora seja gerador do dever
de indenizar Adalberto;
C) INCORRETO. Como percebido, Ana Maria praticou negócio jurídico unilateral; apenas Cláudio firmou
ato jurídico em senso estrito;
D) INCORRETO. Apenas Caio e João Pedro participaram de contrato. Ana Maria formalizou, em verdade,
negócio jurídico unilateral;
E) INCORRETO. Como se nota, a assertiva ‘a’ está correta.

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 19. Silvino adquiriu um automóvel de Napoleão pelo preço de R$ 300.000,00 (trezentos
mil reais). Três meses depois, todavia, o adquirente viu-se privado do bem móvel por força de ordem
administrativa da autoridade de trânsito, que recolheu o veículo, porque, há um ano, havia o registro no
assentamento do carro de que ele fora roubado do real proprietário, que não era Napoleão.
Perante tal situação, assinale a alternativa CORRETA considerada não apenas a dicção do Código Civil –
CC, como ainda a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - STJ.
A) Para o STJ, ausente no caso decisão jurisdicional em desfavor de Silvino, não pode ele voltar-se contra

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RODADA 01

Napoleão exigindo reparação com base no instituto da evicção;


B) Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir a responsabilidade pela evicção. Não lhes é
possível, contudo, excluí-la às inteiras;
C) Silvino pode exigir de Napoleão o valor da compra, sendo irrelevante, no ponto, precisar o valor da res
no momento da apreensão;
D) Acaso o pacto formalizado entre Silvino e Napoleão contivesse cláusula que, em sua literalidade,
afastasse a garantia contra evicção, seria caso de emprestar interpretação literal ao comando pactuado:
Silvino não teria direito à indenização com base na evicção, sendo irrelevante investigar se, informado do
riscos inerentes ao instituto, assumiu-os ou não;
E) Todas as alternativas anteriores estão incorretas.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETO. A alínea está em desacordo com o entendimento do STJ, consoante o qual a evicção pode
sim ser causada por ordem administrativa.
De fato, “a jurisprudência do STJ é firme no sentido de ser prescindível a sentença judicial para a configuração
da evicção, a qual pode ocorrer, também, por ato de autoridade administrativa” (STJ. EDcl no AgInt no REsp
1426250/MT. QUARTA TURMA. Rel. Min. MARCO BUZZI, j. em 22/6/2020).
De resto, não se trata de novidade jurisprudencial: “Caracterização da ocorrência de evicção por se tratar de
apreensão operada por autoridade administrativa com poderes para a prática do ato administrativo” (STJ. REsp
1342145/SP. TERCEIRA TURMA. Rel. Min. PAULO DE TARSO SANSEVERINO, j. em 4/12/2014).
B) INCORRETO. Sem delongas (art. 448 do CC, grifo nosso): Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar,
diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.
C) INCORRETO. O enunciado ignora o art. 450 (caput e p. único) do CC:
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do
preço ou das quantias que pagou [...]
P. único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que
se evenceu, [...]
D) INCORRETO. Não é solução do caso prevista pelo art. 449 do CC: Não obstante a cláusula que exclui a
garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não
soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
E) CORRETO. Realmente, como se pode conferir, todas as alternativas anteriores estão incorretas.

💡 GABARITO: E

QUESTÃO 20. Sem fundamento jurídico, Peixoto ocupa dois terrenos públicos vizinhos entre si: (a) o
lote1, onde disputa a posse da coisa com outro particular, Macedo, inerte que se encontra a administração
pública a respeito; e (b) o lote2, cuja proprietária, autarquia federal, está atuando junto ao Poder Judiciário

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RODADA 01

para reaver a posse da res.


Ante tal situação, assinale a alternativa CORRETA considerada a literalidade do Código Civil – CC, bem
assim a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ a respeito do tema:
A) Em demanda possessória em que Peixoto e Macedo debatam-se pela recuperação da imóvel, o ente
público que, sendo proprietário da coisa, pretender tomar assento no feito deverá apresentar razões que
se voltem à matéria possessória, sem que lhe seja possível defender sua posição perante o lote com base no
direito de propriedade;
B) Quanto ao lote1, nenhum dos privados há de ser garantido na posse do imóvel: tratando-se de bem
público, não é possível que agentes privados apoderem-se da coisa, existindo por parte deles apenas
detenção desprotegida de tutela possessória;
C) Em relação ao lote2, Peixoto não tem direito ao pagamento de indenização por acessões ou benfeitorias,
nem pode pleitear o reconhecimento do direito de retenção, mas a análise sobre o cabimento de medida
liminar em demanda possessória (em favor da autarquia proprietária do bem) exige destrinçar o aspecto
temporal da posse exercida por Peixoto: se nova ou velha;
D) Em relação ao lote1, morrendo Peixoto, seus herdeiros não são investidos automaticamente posse do
imóvel. Assim, o exercício fático da posse por parte deles é requisito essencial para que tenham direito à
proteção possessória contra eventuais atos de turbação ou esbulho praticados por Macedo;
E) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. O enunciado contradiz o Enunciado n.º 637 da Súmula do STJ (grifo nosso): “O ente público
detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação possessória entre particulares, podendo
deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o domínio”;
B) INCORRETA. De fato, “Segundo jurisprudência desta Corte, embora não se possa falar em posse, mas mera
detenção quanto ao bem público, no caso em que a disputa ocorre entre particulares, é possível garantir uma
proteção possessória àquele que demonstra estar autorizado a ocupar o bem” (STJ. AgInt no REsp 1652869/DF.
PRIMEIRA TURMA. Rel. Min. GURGEL DE FARIA, j. em 19/9/2022).
Quer isso dizer: “Ainda que o bem seja público, é possível o manejo de interditos possessórios entre particulares”
(STJ. AgInt no REsp 1577415/DF. TERCEIRA TURMA. Rel. Min. MOURA RIBEIRO, j. em 17/2/2020).
Por fim, “De acordo com a jurisprudência desta Corte Superior, - em que pese não seja cabível o pagamento de
indenização por acessões ou benfeitorias, nem o reconhecimento do direito de retenção, pela ocupação de área
pública -; na hipótese como a dos autos, na qual haja conflito entre particulares a respeito de bem público, pode-
se falar em posse” (STJ. AgInt no REsp 1584835/DF. QUARTA TURMA Rel. Min. MARCO BUZZI, j. em
19/11/2019);
C) INCORRETA. A primeira parte da assertiva está correta. Com efeito, “é a jurisprudência desta Corte Superior,
que expressamente consignou não ser cabível o pagamento de indenização por acessões ou benfeitorias, nem

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RODADA 01

o reconhecimento do direito de retenção, na hipótese em que o particular ocupa irregularmente área pública,
pois admitir que o particular retenha imóvel público seria reconhecer, por via transversa, a posse privada
do bem coletivo, o que não se harmoniza com os princípios da indisponibilidade do patrimônio público e
da supremacia do interesse público” (STJ. AgInt no REsp 1951542/PB. SEGUNDA TURMA. Rel. Min.
FRANCISCO FALCÃO, j. em 21/3/2022).
Ainda: “O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento de que a ocupação de bem público não gera direitos
possessórios, e sim mera detenção de natureza precária e afasta o pagamento de indenização pelas benfeitorias,
bem como o reconhecimento do direito de retenção” (STJ. AREsp 1725385/SP. SEGUNDA TURMA. Rel. Min.
HERMAN BENJAMIN, j. em 9/2/2021);
O equívoco encontra-se no segundo excerto do enunciado, pois a liminar possessória em favor do ente
pertencente à administração pública proprietário do terreno tem cabimento independentemente do caráter
novo ou velho da “posse” do ocupante (o qual, sem ser possuidor, é, em verdade, mero detentor da coisa).
Deveras, “Tratando-se de ocupação ou uso de bem público, para fins de deferimento de liminar de reintegração de
posse mostra-se completamente irrelevante diferenciação entre posse nova e posse velha, pois o que se tem é mera
detenção” (STJ. REsp 1640701/MG. SEGUNDA TURMA. Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, j. em 2/2/2017).
A rigor, não se trata de novidade jurisprudencial: “Descabe análise a respeito do tempo de “posse” do detentor,
pois, havendo mera detenção, não há cogitar de “posse velha” (artigo 924 do Código de Processo Civil) a inviabilizar
a reintegração liminar em bem imóvel pertencente a órgão público” (STJ. REsp 888417/GO. QUARTA TURMA.
Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, j. em 7/6/2011);
D) INCORRETO. De fato, o enunciado ignora a força jurídica do princípio da saisine, o qual rege a sucessão
também em matéria possessória: “Em virtude do princípio da saisine, os herdeiros são investidos na posse e
administração dos bens do autor da herança. Assim, o exercício fático da posse não é requisito essencial para que
o herdeiro tenha direito à proteção possessória contra eventuais atos de turbação ou esbulho, tendo em vista que
sua transmissão se dá ope legis” (STJ. REsp 1547788/RS. TERCEIRA TURMA. Rel. Min. MOURA RIBEIRO,
j. em 16/5/2017);
E) CORRETO. Como se vê, todas as alternativas anteriores estão incorretas efetivamente.

💡 GABARITO: E

QUESTÃO 21. Felício e Sebastião uniram-se em sociedade, e, assim, passaram a ser sócios fundadores
de pessoa jurídica empresária atuante no ramo da panificação. Num primeiro momento, aproveitando o
aquecimento da economia, ampliaram a atividade da pessoa jurídica para o seguimento hortifrutigranjeiro.
Posteriormente, porém, enfrentaram problemas financeiros em razão do desconhecimento sobre este
último mercado, circunstância que motivou inúmeras transferências de ativos de alta significação
econômica sem efetivas contraprestações entre sócios e pessoa jurídica. Ainda assim, não lhes foi
possível sanear a situação contábil da sociedade, quadro que gerou dívidas inadimplidas tanto perante
consumidores quanto diante fornecedores de matéria prima.

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RODADA 01

Em relação à desconsideração da personalidade jurídica --- medida cabível aos credores para recuperar
os valores não pagos pela sociedade devedora---, assinale a alternativa CORRETA, consoante o texto legal
(Código Civil – CC, e Código de Defesa do Consumidor - CDC) e a jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça - STJ:
A) Por conta do desvio de finalidade, seria cabível a desconsideração da personalidade jurídica fundada
no CC (teoria maior) já no momento de expansão da finalidade original da atividade econômica específica
da sociedade;
B) Ainda que inexistisse no caso confusão patrimonial entre os sócios e a sociedade, caberia a
desconsideração da personalidade jurídica fundada no CDC, se ela, de alguma forma, representasse
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Nesse caso (teoria menor regida pelo
CDC), não há, em regra, a possibilidade de atingir-se os bens do administrador não-sócio, pelo simples
inadimplemento da pessoa jurídica (ausência de bens);
C) O caso narrado diz com confusão patrimonial que legitima a desconsideração da personalidade
jurídica embasada no CC (teoria maior) perante os fornecedores de matéria prima. Dita construção
teórica permite seja alcançado o patrimônio de pessoas que não estejam no quadro societário da pessoa
jurídica empresária;
D) Para a teoria maior, ao contrário do que se dá na dissolução irregular, a insolvência da sociedade
empresária não representam o desvio de finalidade justificador da desconsideração;
E) Apenas as alternativas ‘b’ e ‘c’ estão corretas;

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETO. A assertiva ignora o teor do art. 50, § 5º, do CC: “Não constitui desvio de finalidade a mera
expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica”;
B) CORRETO: Sendo pouco conhecida tal restrição jurisprudencial à teoria menor da desconsideração
(incidente ao menos à guisa de regra geral, mormente quando não há prova de atos ilícitos por parte desses
agentes que não integram o quadro societário), é preciso tê-la presente na preparação para o concurso da
magistratura federal: “Para fins de aplicação da Teoria Menor da desconsideração da personalidade jurídica
(art. 28, § 5º, do CDC), basta que o consumidor demonstre o estado de insolvência do fornecedor ou o fato de a
personalidade jurídica representar um obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados. A despeito de não exigir
prova de abuso ou fraude para fins de aplicação da Teoria Menor da desconsideração da personalidade jurídica,
tampouco de confusão patrimonial, o § 5º do art. 28 do CDC não dá margem para admitir a responsabilização
pessoal de quem não integra o quadro societário da empresa, ainda que nela atue como gestor” (STJ. REsp 1862557/
DF. TERCEIRA TURMA. Rel. Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, j. em 15/6/2021, grifo nosso).
Da QUARTA TURMA, note-se: “ O parágrafo 5º do artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor, lastreado
na teoria menor, é autônomo em relação ao caput e incide em hipóteses mais amplas/flexíveis, [...] Com efeito,
dada especificidade do parágrafo em questão, e as consequências decorrentes de sua aplicação - extensão da

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RODADA 01

responsabilidade obrigacional -, afigura-se inviável a adoção de um interpretação extensiva, com a atribuição


da abrangência apenas prevista no artigo 50 do Código Civil, mormente no que concerne à responsabilização
de administrador não sócio” (STJ. REsp 1860333/DF. QUARTA TURMA. Rel. Min. MARCO BUZZI, j. em
11/10/2022).
Não se trata, de resto, de inovação jurisprudencial por parte da Corte. Perceba-se: STJ. REsp 1658648/SP.
TERCEIRA TURMA. Rel. Min. MOURA RIBEIRO, j. em 7/11/2017;
C) CORRETO. Excerto expresso da alínea --- Posteriormente, porém, enfrentaram problemas financeiros em
razão do desconhecimento sobre este último mercado, circunstância que motivou inúmeras transferências de
ativos de alta significação econômica sem efetivas contraprestações entre sócios e pessoa jurídica --- subsome-se
ao conceito legal de confusão patrimonial do art. 50, § 2º, II, do CC: “Entende-se por confusão patrimonial
a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: [...] II - transferência de ativos ou de
passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante.
Por isso, correto o enunciado no que dá, na espécie, por caracterizada a confusão patrimonial.
Quanto ao mais, igualmente exato o enunciado em relação ao alcance da desconsideração regida pela
teoria maior, que chega ao patrimônio de pessoas que não têm assento no quadro societário, em especial
administradores.
Deveras, “O art. 50 do CC, que adota a teoria maior e permite a responsabilização do administrador não-sócio,
não pode ser analisado em conjunto com o parágrafo 5º do art. 28 do CDC, que adota a teoria menor, pois
este exclui a necessidade de preenchimento dos requisitos previstos no caput do art. 28 do CDC permitindo a
desconsideração da personalidade jurídica [...] (STJ. REsp 1860333/DF. QUARTA TURMA. Rel. Min. MARCO
BUZZI, j. em 11/10/2022).
Da TERCEIRA TURMA, perceba-se (STJ. REsp 1658648/SP. TERCEIRA TURMA. Rel. Min. MOURA
RIBEIRO, j. em 7/11/2017):
Esta Corte já consolidou o entendimento de que nas relações jurídicas de natureza civil-
empresarial, adota-se a teoria maior, segundo a qual a desconsideração da personalidade
jurídica é medida excepcional que permite sejam atingidos os bens das pessoas naturais
(sócios ou administradores), de modo a responsabilizá-las pelos prejuízos que, em fraude ou
abuso, causaram a terceiros, nos termos do art. 50 do CC.
4. É possível atribuir responsabilidade ao administrador não-sócio, por expressa previsão
legal. Contudo, tal responsabilização decorre de atos praticados pelo administrador em
relação as obrigações contraídas com excesso de poder ou desvio do objeto social.
5. A responsabilidade dos administradores, nestas hipóteses, é subjetiva, e depende da prática
do ato abusivo ou fraudulento [...]
D) INCORRETO. Ambos os eventos --- dissolução irregular ou insolvência da pessoa jurídica empresária
--- não rendem ensejo à desconsideração da personalidade jurídica em consonância com a teoria maior: “De
acordo com a jurisprudência desta Corte, “para aplicação da teoria maior da desconsideração da personalidade

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RODADA 01

jurídica (art. 50 do CC/2002), exige-se a comprovação de abuso, caracterizado pelo desvio de finalidade (ato
intencional dos sócios com intuito de fraudar terceiros) ou confusão patrimonial, requisitos que não se presumem
mesmo em casos de dissolução irregular ou de insolvência da sociedade empresária” (STJ. AgInt no AREsp
2120681/MS. QUARTA TURMA. Rel. Min. MARCO BUZZI, j. em 26/9/2022, grifo nosso);
E) CORRETO. Como se nota, efetivamente, apenas as assertivas ‘b’ e ‘c’ estão corretas.

💡 GABARITO: E

PROFESSOR CAIO ARAÚJO


E-mail: profcei.caioaraujo@gmail.com

🏳 PROCESSO CIVIL

QUESTÃO 22. Considere a seguinte situação hipotética.


No ano de 2001, o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) ajuizou ação de
desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, de imóvel rural situado em Tabatinga/
AM, em face de José Tício. Em 2003, foi proferida sentença pelo Juízo Federal da Tabatinga, que fixou o
valor da indenização devida ao expropriado. A sentença transitou em julgado no mesmo ano.
Próximo ao pagamento, em 2004, o INCRA informou a existência de vários débitos tributários de José
Tício perante a Receita Federal do Brasil. Em 2005, veio aos autos ordem de penhora de valores devidos ao
expropriado. Tal constrição partiu do Juízo de Direito da 1ª Vara de Família da comarca de Tabatinga, em
execução de sentença proferida em ação de alimentos, ajuizada pelo filho do expropriado, João Semprônio.
Em 2006, o autor da ação de alimentos peticionou nos autos da desapropriação, requerendo a sub-
rogação nos direitos de seu genitor, José Tício. Em 2007, foi realizada nova penhora no rosto dos autos da
desapropriação, desta vez determinada pela Vara Federal de Execução Fiscal, em razão de débito tributário
de José Tício com a União.
Tendo em vista fortes indícios de que a ação de alimentos proposta por João Semprônio fora fruto de
conluio entre as partes com o propósito de frustrar o adimplemento do débito tributário, a União propôs
ação rescisória no ano de 2009, buscando desconstituir a sentença proferida pelo Juízo Estadual de Família,
perante o TRF da 1ª Região. Alega ter tomado ciência da simulação no ano de 2008, diante de informações
obtidas por cruzamento de dados da Receita Federal do Brasil.
Diante disso, assinale a alternativa correta.
A) O TRF da 1ª Região é incompetente para processar e julgar a ação rescisória, pois a sentença rescindenda
foi proferida pela Justiça Comum Estadual, devendo declinar da competência e remeter os autos ao
Tribunal de Justiça do Amazonas.
B) O TRF da 1ª Região é competente para processar e julgar a ação rescisória, mas ela foi proposta após o

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prazo decadencial previsto em lei, que é de 2 (dois) anos, contado do trânsito em julgado.
C) O TRF da 1ª Região é competente para processar e julgar a ação rescisória, que foi proposta dentro do
prazo decadencial previsto em lei, que é de 2 (dois) anos, contado a partir do momento em que o terceiro
interessado (União) teve ciência da simulação ou da colusão.
D) O TRF da 1ª Região é competente para processar e julgar a ação rescisória, mas ela foi proposta fora do
prazo decadencial previsto em lei, que é de 2 (dois) anos, contado a partir do momento em que o terceiro
interessado (União) teve ciência da simulação ou da colusão, porém, com limite máximo de 5 (cinco) anos
a partir do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.
E) A União não tem legitimidade para ajuizar ação rescisória na hipótese, cabendo somente ao INCRA
essa iniciativa.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. A questão reproduz, com adaptações, o leading case do Tema 775 da Repercussão Geral,
cujo julgamento resultou na fixação da seguinte tese: “Compete ao Tribunal Regional Federal processar ação
rescisória proposta pela União com o objetivo de desconstituir sentença transitada em julgado proferida por
juiz estadual, quando afeta interesses de órgão federal”.
Note-se que o caso envolve uma colisão entre duas competências absolutas: a da Justiça Federal para processar
e julgar ação que envolve interesse da União (art. 109, I, da CF) e a da Justiça Estadual (TJ) para processar e
julgar ação rescisória de sentenças proferidas pelos respectivos juízes de primeiro grau. A primeira se firma
em razão da pessoa e tem amparo diretamente na Constituição. A segunda é uma competência de natureza
funcional.
Analisando a questão, o STF entendeu que deve prevalecer a competência da Justiça Federal, que tem assento
constitucional e se fundamenta no princípio federativo. Além disso, deve ser feito uma leitura conjunta do art.
109, I, com o art. 108, I, b, da CF, fixando-se a competência originária do respectivo TRF.
A matéria é complexa e polêmica, tendo o acórdão sido proferido por maioria no STF, mas configura precedente
qualificado (art. 927 do CPC).
Em suma, conforme o voto condutor do acórdão, o art. 108, I, b, e II, deve ser lido em conjunto com o art. 109,
I, da CRFB/88, por imposição do princípio federativo, que impede a submissão da União à Justiça Estadual,
ressalvadas as exceções expressas na própria Constituição (notadamente, ações de falência e de acidentes de
trabalho, para as quais a competência será sempre da Justiça Estadual, ainda quando figure no processo ente
ou entidade federal).
B) INCORRETA. Na hipótese, o prazo decadencial bienal é contado do momento em que o terceiro prejudicado
tem ciência da simulação ou da colusão (arts. 966, III, e 975, §3º, do CPC).
C) CORRETA. Conforme comentários acima.
D) INCORRETA. Não há o limite máximo de 5 (cinco) anos na hipótese. Esse limite incide no caso de
descoberta de prova nova (arts. 966, VII, e 975, §2º, do CPC). Confira-se a sistematização dos termos iniciais

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e limites do prazo para ajuizamento de ação rescisória segundo as regras do CPC:


Hipótese Prazo para Termo inicial Prazo máximo
(fato jurídico que ajuizamento da do prazo para contado do trânsito
compõe a causa ação rescisória ajuizamento da ação em julgado da
de pedir da ação rescisória última decisão
rescisória) proferida no
processo
Regra geral 2 (dois) anos Trânsito em julgado Não se aplica
(art. 975, caput, do da última decisão (o termo inicial
CPC) proferida no processo é o trânsito em
julgado da última
decisão proferida no
processo)
Descoberta de prova 2 (dois) anos A data da descoberta 5 (cinco) anos
nova (arts. 966, VII e da prova nova
975, §2º, do CPC)
Simulação ou colusão 2 (dois) anos O momento da Não há
das partes ciência da simulação
(arts. 966, III, parte ou da colusão (para o
final, e 975, §3º, do terceiro prejudicado
CPC) e para o MP, que
não interveio no
processo)
Coisa julgada 2 (dois) anos Trânsito em julgado Não há
inconstitucional da decisão proferida
(arts. 525, §15, e 535, pelo STF
§8º, do CPC)
Note-se que a hipótese de coisa julgada inconstitucional citada na tabela acima é aquela em que a decisão
do STF é posterior ao trânsito em julgado da decisão rescindenda (aquela que se pretende rescindir).
Isso porque, se a decisão do STF for anterior, não será caso de ação rescisória, mas de inexigibilidade da
obrigação reconhecida no título executivo judicial, hipótese passível de arguição na própria impugnação ao
cumprimento de sentença. Em ambos os casos, haverá coisa julgada inconstitucional, mas o ordenamento
jurídico somente lhe atribui o efeito da inexigibilidade da obrigação caso a decisão do STF seja anterior ao
trânsito em julgado da decisão exequenda.
Vale lembrar que a inexistência de um prazo máximo para a ação rescisória baseada na coisa julgada
inconstitucional, mencionada na tabela acima, é muito criticada por parte da doutrina, em razão da insegurança
jurídica causada pela possibilidade de rescisão da coisa julgada muitos anos após a sua formação.

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RODADA 01

Por fim, ainda com relação à coisa julgada inconstitucional, observar a tese dos Temas 881 e 885 da Repercussão
Geral nas relações tributárias de trato sucessivo:
1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade, anteriores à
instituição do regime de repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa
julgada que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de trato
sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral
interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões transitadas em
julgado nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e a
noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo.
E) INCORRETA. A legitimidade ativa na ação rescisória não é exclusiva das partes do processo originário,
alcançando também terceiros interessados (no caso, a União), o Ministério Público, os sucessores das partes
originárias, e aquele que não foi ouvido em processo no qual era obrigatória sua intervenção (art. 967 do CPC).

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 23. Considere a seguinte situação hipotética.


Caio Mévio ajuizou, contra cinco bancos diferentes, dentre eles, a Caixa Econômica Federal, ação de
repactuação de dívidas em razão de alegado superendividamento. O Juízo Federal da Seção Judiciária do
Distrito Federal ao qual inicialmente distribuída a ação declinou da competência, sustentando, em suma,
que, embora a CEF tenha natureza jurídica de empresa pública federal, a causa teria natureza falimentar,
por versar sobre clara situação de insolvência civil, o que excluiria a competência da Justiça Federal.
Remetidos os autos à Justiça do Distrito Federal e Territórios, o juízo distrital afirmou que a parte autora
não postulava a declaração de insolvência civil, mas a repactuação de algumas dívidas. Não haveria, na
causa de pedir, a alegação de insolvabilidade econômica, mas sim situação de superendividamento. Assim,
entendeu pela incompetência da Justiça Distrital e suscitou conflito negativo de competência perante o
Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Assinale a opção correta.
A) Considerando que compete exclusivamente à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse
jurídico de entidade federal, o Juízo Distrital não poderia ter suscitado conflito de competência.
B) A competência para julgar o conflito de competência, na hipótese, é do TRF da 1ª Região, devendo
ser fixada a competência da Justiça Federal, pois não se trata de falência nem de insolvência civil, e há
interesse jurídico de empresa pública federal.
C) A competência para julgar o conflito de competência, na hipótese, é do STJ, devendo ser fixada
a competência da Justiça Federal, pois não se trata de falência nem de insolvência civil, e há interesse
jurídico de empresa pública federal.
D) A competência para julgar o conflito de competência, na hipótese, é do STJ, devendo ser fixada a
competência da Justiça Distrital, em interpretação teleológica do art. 109, I, da Constituição Federal, pois

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RODADA 01

se trata de um concurso de credores, situação que guarda similitude com a insolvência civil.
E) Cabe à Justiça Federal processar e julgar apenas os pedidos formulados em face da Caixa Econômica
Federal, de modo que o Juízo Federal deveria ter proferido sentença terminativa (sem resolução do mérito)
em relação aos demais bancos.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. A primeira parte da assertiva está correta, de acordo com a Súmula 150 do STJ: Compete
à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da
União, suas autarquias ou empresas públicas.
Na mesma linha, as Súmulas 224 e 254 do STJ: 224: Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o
Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito. 254:
A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no Juízo
Estadual.
Contudo, na hipótese de que trata a questão, não havia discussão sobre a existência de interesse jurídico da
CEF, mas apenas sobre a competência da Justiça Federal em razão da matéria. Note-se que o inciso I do art.
109 veicula uma regra sobre competência em razão da pessoa, mas também prevê quatro exceções que se
estabelecem em razão da matéria: falência, acidentes de trabalho e as ações sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça
do Trabalho.
Portanto, agiu corretamente o juízo distrital ao suscitar conflito de competência para que essa questão fosse
dirimida.
B) INCORRETA. A competência para julgar o conflito de competência, na hipótese, era do STJ, por se tratar
de conflito entre juízes vinculados a tribunais diversos (art. 105, I, d, da CF). Não era hipótese de competência
delegada, logo, não se aplica a Súmula 3 do STJ: Compete  ao Tribunal Regional Federal dirimir conflito
de competência verificado, na respectiva região, entre juiz federal e juiz estadual investido de Jurisdição
Federal.
Além disso, a competência para processar e julgar a ação originária era mesmo da Justiça Distrital, e não da
Justiça Federal, conforme comentários abaixo.
C) INCORRETA. Quanto à competência do STJ para julgar o conflito de competência, vide comentários
acima.
Quanto à competência para processar e julgar a ação originária, vale salientar que a questão foi elaborada com
base no acórdão proferido pelo STJ no CC 193.066-DF, Relator Ministro Marco Buzzi, Segunda Seção, por
unanimidade, julgado em 22/3/2023.
Esse julgado foi noticiado no Informativo 768 do STJ, com o seguinte destaque: Cabe à Justiça comum estadual
e/ou distrital processar e julgar as demandas oriundas de ações de repactuação de dívidas decorrentes de
superendividamento, ainda que exista interesse de ente federal.
Em suma, entendeu-se que cabe à Justiça Comum Estadual e/ou Distrital analisar as demandas cujos fundamentos

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RODADA 01

fáticos e jurídicos possuem similitude com a insolvência civil – como é a hipótese do superendividamento -,
ainda que exista interesse de ente federal, porquanto a exegese do art. 109, I, da Constituição Federal deve ser
teleológica de forma a alcançar, na exceção da competência da Justiça Federal, as hipóteses em que existe o
concurso de credores.
Vale lembrar, de forma semelhante, a tese firmada pelo STF no Tema 859 da Repercussão Geral (também citada
no acórdão do STJ): A insolvência civil está entre as exceções da parte final do artigo 109, I, da Constituição
da República, para fins de definição da competência da Justiça Federal. RE 678162, Relator(a): MARCO
AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 29/03/2021.
Confira-se, ainda, o seguinte trecho do acórdão do STF: A falência, no contexto do rol de exceções à competência
da Justiça Federal de primeira instância, significa tanto a insolvência da pessoa jurídica, quanto a insolvência da
pessoa física, considerando que ambas envolvem, em suas respectivas essências, concurso de credores.
Por fim, vale lembrar que o art. 45, I, do CPC/2015 prevê expressamente a hipótese de insolvência civil dentre
as exceções à competência da Justiça Federal, embora ela não conste no art. 109, I, da CF.
D) CORRETA. Vide comentários acima.
E) INCORRETA. Conforme sinalizado nos comentários acima, a hipótese é de exclusão da competência da
Justiça Federal em razão da matéria, por se compreender dentre de uma das exceções previstas na parte final
do inciso I do art. 109 da CF (falência). Portanto, mesmo a presença de entidade federal não tem o condão de
atrair a competência da Justiça Federal, no caso.
Ademais, no acórdão do STJ mencionado acima (Informativo 768), a 2ª Seção rejeitou expressamente
a possibilidade de desmembramento do feito, uma vez que, nos termos da legislação de regência do
superendividamento (art. 104-A do CDC), todos os credores devem participar do procedimento, inclusive
para conferir oportunidade ao consumidor de apresentar plano de pagamentos. Também se considerou o risco
de decisões conflitantes e a periclitante situação de saúde do autor da ação, no caso concreto, ponderando-se
princípios como a celeridade processual, a efetividade das decisões judiciais e a dignidade da pessoa humana.

💡 GABARITO: D

QUESTÃO 24. Augusto Mévio ajuizou ação contra o INSS pleiteando a conversão do benefício
previdenciário de auxílio-acidente em aposentadoria por incapacidade permanente. Mesmo sem pedido de
tutela provisória de urgência, o juízo federal competente concedeu a medida, de ofício, em caráter liminar,
determinando a imediata implantação do benefício de aposentadoria por incapacidade permanente, com
a cessação do auxílio-acidente.
Após o regular desenvolvimento do processo, o juízo federal julgou o pedido improcedente, revogando
a tutela de urgência. Transitada em julgado a sentença, o INSS cessou o benefício de aposentadoria por
incapacidade permanente, restabeleceu o auxílio-acidente e passou a descontar 30% (trinta por cento) da
renda mensal desse benefício a título de ressarcimento dos valores recebidos pelo autor a título de tutela
provisória de urgência.

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RODADA 01

Diante dessa situação hipotética, analise as assertivas abaixo e, em seguida, assinale a alternativa correta.
I – É indevido o desconto promovido pelo INSS, pois a reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela
final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos,
ressalvada a hipótese em que o segurado, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé objetiva.
II – É lícito o desconto promovido pelo INSS, pois a reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela
final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos,
o que pode ser feito por meio de desconto em valor que não exceda 30% (trinta por cento) da importância
de eventual benefício que ainda lhe estiver sendo pago.
III – É lícito o desconto promovido pelo INSS, pois a reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela
final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos,
exceto na hipótese de tutela de urgência concedida em primeiro e segundo graus e revogada somente na
instância especial.
IV – É indevido o desconto promovido pelo INSS, pois a reforma da decisão que antecipa os efeitos da
tutela final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais
recebidos, exceto na hipótese de tutela de urgência concedida de ofício e não recorrida.
A) Todas as assertivas estão corretas.
B) Somente as assertivas I, II, e III estão corretas.
C) Somente as assertivas I e III estão corretas.
D) Somente as assertivas III e IV estão incorretas.
E) Todas as assertivas estão incorretas.

💡 GABARITO COMENTADO

I) INCORRETA: A assertiva confunde as teses firmadas pelo STJ nos Temas Repetitivos 692 e 979.
O Tema 692 diz respeito à devolução dos valores recebidos pelo litigante beneficiário do Regime Geral de
Previdência Social em virtude de decisão judicial precária, que venha a ser posteriormente revogada. Portanto,
trata de valores pagos judicialmente.
A tese originalmente firmada restou recentemente reafirmada por ocasião do julgamento de questão de ordem
(proposta de revisão do entendimento) com ajuste redacional à nova redação do art. 115 do art. 115, II, da Lei
n. 8.213/91, ficando redigida nos seguintes termos:
A reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela final obriga o autor da ação a devolver os
valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos, o que pode ser feito por meio de
desconto em valor que não exceda 30% (trinta por cento) da importância de eventual benefício que
ainda lhe estiver sendo pago.
Já o Tema 979 versa sobre a devolução de quantias recebidas de boa-fé, a título de benefício previdenciário,
por força de interpretação errônea, má aplicação da lei ou erro da Administração da Previdência Social. Cuida,
portanto, de verbas recebidas administrativamente. Eis o teor da tese firmada pelo STJ:

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RODADA 01

Com relação aos pagamentos indevidos aos segurados decorrentes de erro administrativo (material
ou operacional), não embasado em interpretação errônea ou equivocada da lei pela Administração,
são repetíveis, sendo legítimo o desconto no percentual de até 30% (trinta por cento) de valor do
benefício pago ao segurado/beneficiário, ressalvada a hipótese em que o segurado, diante do caso
concreto, comprova sua boa-fé objetiva, sobretudo com demonstração de que não lhe era possível
constatar o pagamento indevido.
Observem que a questão da boa-fé somente se torna relevante no caso de verbas pagas em decorrência de erro
administrativo (material ou operacional). No caso da tutela de urgência revogada, essa análise não ocorre,
em razão da precariedade da verba, não havendo expectativa legítima de definitividade no seu recebimento.
Ademais, a própria lei processual prevê a responsabilidade do exequente de ressarcir eventuais prejuízos
sofridos pelo executado em razão da efetivação da tutela provisória (arts. 302 e 520 do CPC).
Importante assinalar, contudo, a ressalva feita no acórdão do Tema 692 quanto à hipótese de revogação de tutela
de urgência em razão de mudança superveniente da jurisprudência predominante. Nesse caso, o STJ assentou
que a superação do precedente deverá ser acompanhada da indispensável modulação dos efeitos, a juízo do
Tribunal que a promove, nos termos do art. 927, §3º, do CPC. Assim, consta do acórdão que “uma eventual
guinada jurisprudencial não resultará, em princípio, na devolução de valores recebidos por longo prazo devido
à cassação de tutela de urgência concedida com base em jurisprudência dominante à época em que deferida,
bastando que o tribunal, ao realizar a superação, determine a modulação dos efeitos”.
Por fim, notem que, embora o STF já tenha afastado o dever de ressarcimento de verbas alimentares pagas em
razão de tutela de urgência em ações de sua competência originária, a própria Suprema Corte tem assentado a
natureza infraconstitucional da matéria, conforme acórdão proferido no Tema 799 da Repercussão Geral, no
qual se assentou que: “A questão acerca da devolução de valores recebidos em virtude de concessão de antecipação
de tutela posteriormente revogada tem natureza infraconstitucional e a ela atribuem-se os efeitos da ausência de
repercussão geral”. Assim, até o momento, o precedente vinculante sobre o mérito da matéria é o do STJ.
II) CORRETA: A assertiva reproduz a tese firmada pelo STJ no Tema 692 dos Recursos Repetitivos, acima
referida e explicada.
III) INCORRETA: A hipótese tratada como uma exceção na assertiva III foi contemplada no julgamento
da Questão de Ordem no Tema 692 do STJ, não havendo qualquer distinção na tese firmada. Observe-se
que a proposta de revisão abrangeu uma multiplicidade de situações, tendo sido reafirmada a tese original,
apenas com ajuste redacional, conforme dito acima. A respeito dessas variações que foram consideradas
no julgamento, vale transcrever o seguinte trecho do voto condutor do acórdão na Questão de Ordem (que
resultou na reafirmação da tese original):
Ao propor a questão de ordem, esta Relatoria citou as seguintes particularidades processuais que
supostamente seriam aptas a ensejar uma consideração específica quanto à possibilidade de revisão
do entendimento firmado no Tema 692/STJ: a) tutela de urgência concedida de ofício e não recorrida;
b) tutela de urgência concedida a pedido e não recorrida; c) tutela de urgência concedida na sentença

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RODADA 01

e não recorrida, seja por agravo de instrumento, na sistemática processual anterior do CPC/1973,
seja por pedido de suspensão, conforme o CPC/2015; d) tutela de urgência concedida initio litis e
não recorrida; e) tutela de urgência concedida initio litis, cujo recurso não foi provido pela segunda
instância; f) tutela de urgência concedida em agravo de instrumento pela segunda instância; g) tutela
de urgência concedida em primeiro e segundo graus, cuja revogação se dá em razão de mudança
superveniente da jurisprudência então existente.
Quanto a elas, note-se que se trata basicamente do momento em que foi concedida e/ou revogada a
tutela de urgência, se logo no início do feito, se na sentença, se na segunda instância, ou se apenas
no STF ou no STJ. A ideia subjacente é que, em algumas hipóteses, a tutela de urgência já estaria, de
certa forma, incorporada ao patrimônio jurídico da parte autora, e sua revogação poderia resultar
em injustiça no caso concreto.
Tais situações, entretanto, são tratadas pela lei da mesma forma, não merecendo distinção do ponto
de vista normativo. Ou seja, em qualquer desses casos, a tutela de urgência não deixa de ser precária e
passível de modificação ou revogação a qualquer tempo, o que implicará o retorno ao estado anterior
à sua concessão.
IV) INCORRETA: A hipótese tratada como uma exceção na assertiva IV foi contemplada no julgamento da
Questão de Ordem no Tema 692 do STJ, não havendo qualquer distinção na tese firmada, conforme exposto
nos comentários à assertiva III acima.

💡 GABARITO: D

QUESTÃO 25. Considere a situação hipotética abaixo e, em seguida, assinale a alternativa correta.
Tício ajuizou ação de usucapião contra Mévio, tendo por objeto a propriedade de determinado imóvel.
O pedido foi julgado procedente por sentença levada a registro no respectivo cartório de registro de
imóveis. Na sequência, o usucapiente Tício alienou esse imóvel a Semprônio, mediante escritura pública
devidamente registrada. No ano seguinte, Mévio veio a óbito e seu espólio ajuizou ação rescisória contra
Tício alegando a nulidade da sentença proferida na ação de usucapião, a qual foi julgada procedente pelo
tribunal competente, para desconstituir a sentença e cancelar o registro respectivo no cartório de registro de
imóveis. Mais adiante, Semprônio ajuizou ação declaratória de inexistência de relação jurídica processual
(querela nullitatis insanabilis), sob o fundamento de que deveria ter participado da ação rescisória na
condição de proprietário registrário do bem, pleiteando, por conseguinte, o restabelecimento da sentença
proferida na ação de usucapião.
A) Os efeitos da decisão proferida na ação rescisória se estendem a Semprônio, por se tratar de adquirente
de coisa litigiosa, razão pela qual deve ser rejeitada a ação de querela nullitatis.
B) Na ação rescisória, somente devem ser citados como litisconsortes necessários aqueles que figuraram
como partes na ação originária, cuja sentença se pretende desconstituir, razão pela qual o pedido de
Semprônio na ação declaratória de inexistência jurídica (querela nullitatis insanabilis) deve ser julgado

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RODADA 01

improcedente.
C) Embora Semprônio devesse ter sido citado na ação rescisória, o vício alegado somente poderia ser
veiculado em nova ação rescisória, observado o prazo decadencial, não se tratando de vício de inexistência
de relação jurídica processual, razão pela qual a ação de querela nullitatis é inadmissível na hipótese.
D) Semprônio deveria ter integrado o polo passivo da ação rescisória na condição de litisconsorte passivo
necessário-unitário, de modo que o pedido formulado na ação declaratória de inexistência jurídica
(querela nullitatis insanabilis) deve ser julgado procedente.
E) Embora seja procedente o pedido de Semprônio, não pode haver o restabelecimento da sentença da
ação de usucapião, devendo ser ajuizada nova ação de usucapião, desta vez contra o espólio de Mévio.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. O caso fictício narrado se baseou em acórdão noticiado no Informativo Edição Especial nº
9 do STJ, publicado em 24/01/2023 (REsp n. 1.938.743/SP, relator Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma,
julgado em 6/12/2022).
Confira-se o destaque respectivo: “O adquirente de bem usucapido, na condição de sucessor do usucapiente,
deve integrar o polo passivo da ação rescisória intentada contra a sentença de usucapião, sob pena de
nulidade do feito por falta de citação do litisconsorte passivo necessário”.
Embora o caso tenha sido simplificado para efeito da elaboração da questão, seus contornos fático-jurídicos
essenciais são os mesmos daquele julgado pelo STJ.
No caso concreto, a Terceira Turma deu provimento ao recurso especial, por unanimidade, para “julgar
procedente o pedido formulado na ação anulatória (querela nullitatis inasanabilis) de modo a anular todo o
processo da ação rescisória, restabelecendo, por conseguinte, a sentença proferida na ação de usucapião”.
Quanto ao afirmado na alternativa A, destaca-se que Semprônio não adquiriu coisa litigiosa, pois a aquisição
do imóvel ocorreu após o trânsito em julgado da sentença ação de usucapião. Assim, não se aplica a ele
o disposto no art. 109, §3º, do CPC. No ponto, é lapidar o seguinte trecho do voto do Ministro Relator:
“a alienação de uma coisa ou direito por ato entre vivos vincula enquanto durar o processo, fazendo permanecer
litigiosa a coisa ou direito nele debatido, mas não além disso. Por conseguinte, em nova demanda, faz-se de rigor
a citação de eventuais sucessores da parte”.
No caso fictício, Semprônio era sucessor a título singular de Tício por ato entre vivos. Porém, a alienação
ocorreu após ultimado o processo da ação de usucapião, de modo que o imóvel não era mais litigioso à época,
logo, Semprônio deveria ter sido citado na ação rescisória, pois seria diretamente atingido por ela, enquanto
proprietário do bem.
Note-se que a coisa se torna litigiosa a partir da citação válida (art. 240 do CPC) e assim permanece até o
trânsito em julgado da sentença, aplicando-se o art. 109 do CPC nesse intervalo, no que concerne à sucessão
por ato entre vivos a título particular.
B) INCORRETA. Devem ser citados como réus na ação rescisória não apenas aqueles que foram partes na

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RODADA 01

ação originária, mas também todos os diretamente interessados, inclusive aqueles que tenham sucedido as
partes originárias no direito ou no bem em questão após o trânsito em julgado da decisão rescindenda. Como
serão afetados em sua esfera de direitos pela decisão a ser proferida, devem figurar como litisconsortes passivos
necessários. O próprio art. 967, I, do CPC indica essa compreensão ao mencionar o sucessor a título universal
ou singular, embora se refira à legitimidade ativa. No ponto, vale transcrever o seguinte trecho do voto do
Ministro Relator: “Irrelevante o fato de JOSÉ e HELENA não terem integrado o processo originário de usucapião,
pois, como leciona PONTES DE MIRANDA, Além das partes, são legitimados os seus sucessores, quer universais,
quer singulares, quer por ato entre vivos ou a causa de morte (Tratado da Ação Rescisória. Atual. p/ Nelson Nery
Jr. E Georges Abboud. São Paulo: RT, 2016, p. 252). Como esclarece FLÁVIO LUIZ YARSHELL, (...) Tendo em
vista a regra do art. 109, § 1º, do CPC, poder-se-ia cogitar de que a legitimidade passiva permaneceria centrada
no alienante ou cedente. Isso, contudo, não parece correto, uma vez que com o trânsito em julgado não há mais
sentido em se aplicar o aludido dispositivo, de tal sorte que a sucessão no plano material há que repercutir no plano
´processual, legitimando passivamente o sucessor” (Comentários ao Código de Processo Civil. Coord. p/ Cassio
Scarpinella Bueno. Vol. 4. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 184). Realmente, a alienação de uma coisa ou direito por
ato entre vivos vincula enquanto durar o processo, fazendo permanecer litigiosa a coisa ou direito nele debatido,
mas não além disso. Por conseguinte, em nova demanda, faz-se de rigor a citação de eventuais sucessores da
parte. (...) Essa colenda Turma, no julgamento do REsp n. 1.651.057/CE, já proclamou em acórdão sob a minha
relatoria, que todos aqueles atingidos diretamente pelo resultado da ação rescisória ostentam legitimidade passiva
para a demanda, e não apenas aqueles que figuraram como parte na ação cuja sentença se busca desconstituir”.
C) INCORRETA. O vício de inexistência de citação do litisconsorte necessário unitário é um vício
transrescisório, podendo ser alegado após o prazo decadencial de 2 (dois) anos da ação rescisória. Ademais,
por se tratar de ação declaratória, não se sujeita a prazo decadencial nem prescricional. Neste particular, afirmou
o Min. Relator: “De fato, a ausência de citação do litisconsorte necessário é vício que equivale à falta de citação,
Como leciona TERESA ARRUDA ALVIM: (...) se a lei aponta aqueles que devem integrar o processo em certos
casos é porque a legitimidade processual, naquela hipótese, só se considera como requisito preenchido se estiverem
todos presentes (ou rectius, se estiverem todos sido provocados para estarem presentes). Não estando todos ali, é
como se não estivesse presente a própria parte: o litisconsórcio é necessário. (Nulidades do Processo e da Sentença.
9ª ed. São Paulo: RT, 2018, p. 419) (...) Enfim, bem analisado o caso, conclui-se pela insubsistência do v. acórdão
recorrido, uma vez que quando, como no caso, se trata de litisconsórcio necessário unitário, a relação jurídica
é uma só e o prejuízo é in re ipsa e, consequentemente, como diz TERESA ALVIM: As sentenças juridicamente
inexistentes devem ser varridas do mundo jurídico por meio de ação declaratória, que é imprescritível (Ob. cit.,
p. 421). A jurisprudência desta Corte Superior também orienta que os vícios transrescisórios, os quais ensejam a
propositura da querela nullitatis, podem ser alegados a qualquer tempo”.
D) CORRETA. Conforme comentários acima.
E) INCORRETA. As sentenças declaratórias, como regra geral, produzem efeitos retroativos (ex tunc),
acarretando o desfazimento, desde a origem, dos atos que com ela sejam incompatíveis. Assim ocorre com

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RODADA 01

a querela nullitatis, ressalvada a possibilidade de o juiz, diante do caso concreto e mediante fundamentação
específica, preservar a eficácia de um ou mais atos, total ou parcialmente, pois os planos da existência, da
validade e da eficácia são independentes entre si. No caso em análise, nada no enunciado da questão indicava a
necessidade de tal modulação, devendo ser reconhecida a eficácia retroativa da sentença. Ademais, embora se
trate de vício de inexistência jurídica, é preciso haver um pronunciamento judicial reconhecendo esse vício e
atribuindo-lhe os efeitos pertinentes, ou seja, anulando expressamente os atos viciados e, no caso em questão,
restaurando a sentença originária (da ação de usucapião). Assim, confira-se a dicção da parte final do voto do
Min. Relator: “Nessas condições, pelo meu voto, DOU PROVIMENTO ao recurso especial para julgar procedente
o pedido formulado na ação anulatória (querela nullitatis insanabilis) de modo a anular todo o processo da ação
rescisória, restabelecendo, por conseguinte, a sentença proferida na ação de usucapião”.

💡 GABARITO: D

PROFESSOR FELIPE DE FARIAS RAMOS


E-mail: profcei.felipedefariasramos@gmail.com

🏳 DIREITO EMPRESARIAL

QUESTÃO 26. Quanto à propriedade industrial, assinale a alternativa INCORRETA perante as leis de
regência e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ:
A) A Lei de Propriedade Industrial mesma --- Lei n.º 9.279/1996 --- cria uma exceção à regra da extinção
da patente por falta de pagamento, concedendo ao depositante do pedido de patente e ao titular de
uma patente que estejam inadimplentes uma nova oportunidade para manter seu direito, mediante o
pagamento de uma retribuição especial. No ponto, tal legislação estabelece que o INPI deve notificar
o titular da patente ou o depositante inadimplente antes de arquivar ou de extinguir definitivamente o
pedido ou a patente. Presente tal quadro legal, o STJ está em que a própria notificação configura o termo
inicial para o pagamento da retribuição especial, sendo, portanto, necessária para o exercício do direito
de restauração. Para a Corte, ainda, é ilegal atuação administrativa do Instituto Nacional da Propriedade
Industrial - INPI que restrinja o cabimento da restauração para hipóteses não definidas pela lei;
B) As questões que digam respeito ao trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência desleal,
e outras demandas afins, por não envolver registro no INPI e cuidando de ação judicial entre particulares,
é inequivocamente de competência da Justiça Estadual. No entanto, compete à Justiça Federal, em ação de
nulidade de registro de marca, com a participação do INPI, impor ao titular a abstenção do uso, inclusive
no tocante à tutela provisória;
C) Consoante o STJ, a colidência entre nomes empresariais e marcas não deve ser solucionada somente sob
a ótica do princípio da anterioridade do registro, devendo ser levados em consideração os princípios da

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RODADA 01

territorialidade, no que concerne ao âmbito geográfico de proteção, bem como da especificidade, quanto
ao tipo de produto e serviço, como corolário da necessidade de se evitar erro, dúvida ou confusão entre
os usuários;
D) Todos eles são conceitos legais: (i) marca coletiva --- aquela usada para identificar produtos ou serviços
provindos de membros de uma determinada entidade ---; (ii) marca de alto renome --- a que é assegurada
proteção especial, em todos os ramos de atividade ---; (iii) marca notoriamente conhecida --- que goza de
proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil;
E) A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a de modelo de utilidade pelo prazo
15 (quinze) anos contados da data de depósito. Outrossim, postas de lados as exceções legais, o prazo de
vigência não será inferior a 10 (dez) anos para a patente de invenção e a 7 (sete) anos para a patente de
modelo de utilidade, a contar da data de concessão.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. O enunciado revela com exatidão o cenário jurídico normativo-jurisprudencial sobre o instituto
da restauração em matéria de patente (Art. 87 - O pedido de patente e a patente poderão ser restaurados, se o
depositante ou o titular assim o requerer, dentro de 3 (três) meses, contados da notificação do arquivamento do
pedido ou da extinção da patente, mediante pagamento de retribuição específica).
Da QUARTA TURMA, observe-se (STJ. AgInt no REsp 1702029/RJ. QUARTA TURMA. Rel. Min. ANTONIO
CARLOS FERREIRA, j. em 26/9/2022):
1. O Superior Tribunal de Justiça decidiu que “o art. 13 da Resolução n. 113/2013 do INPI vai
além dos limites estabelecidos no art. 87 da LPI, pois restringe o cabimento da restauração
para hipóteses não definidas pela lei”, bem como “O INPI, ao afastar o direito de restauração
de patente em hipóteses não previstas na lei, restringiu ilegalmente o direito de restauração”
REsp 1837439/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 1/9/2020, DJe 4/9/2020). Diante das peculiaridades do caso, o Tribunal de origem
julgou em consonância com a jurisprudência desta Corte acerca da aplicação do art. 87 da
LPI, concluindo que o INPI extrapolou seu poder normativo de regulamentar, ocasionando
restrição excessiva de garantias previstas em lei.
2. Conforme o entendimento deste Tribunal, “a Lei de Propriedade Industrial (Lei n.
9.279/96) estatui, em seu art. 87, que, notificado do arquivamento do pedido ou da extinção
da patente pela falta de pagamento de retribuição anual, o titular pode requerer, no prazo
de três meses da notificação, a restauração, mediante pagamento de retribuição específica”
(REsp n. 1.669.131/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 27/6/2017, DJe1/8/2017).
Da TERCEIRA TURMA, cumpre citar este aresto (STJ. REsp 1837439/RJ. TERCEIRA
TURMA. Rel. Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, 1º/9/2020):

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RODADA 01

2. Cinge-se a controvérsia a discutir se um ato infralegal - o artigo 13 da Resolução nº


113/2013 do INPI - pode afastar a aplicação do instituto da restauração, previsto no artigo
87 da Lei nº 9.279/1996, para as hipóteses de inadimplemento superior em mais de uma
retribuição anual.
3. O artigo 87 da Lei nº 9.279/1996 cria uma exceção à regra da extinção da patente por falta
de pagamento, concedendo ao depositante do pedido de patente e ao titular de uma patente
que estejam inadimplentes uma nova oportunidade para manter seu direito, mediante o
pagamento de uma retribuição especial.
4. O art. 87 da LPI estabelece que o INPI deve notificar o titular da patente ou o depositante
inadimplente antes de arquivar ou de extinguir definitivamente o pedido ou a patente.
5. A notificação configura o termo inicial para o pagamento da retribuição especial, sendo,
portanto, necessária para o exercício do direito de restauração. Precedentes.
6. O art. 13 da Resolução nº 113/2013 do INPI vai além da norma estabelecida no art. 87 da
LPI, pois restringe o cabimento da restauração para hipóteses não definidas pela lei.
7. O INPI, ao afastar o direito de restauração de patente em hipóteses não previstas na lei,
restringiu ilegalmente o direito de restauração.
8. Recurso especial não provido.
Por isso, está correto o enunciado.
B) CORRETA. Sem delongas, o enunciado reproduz o Verbete do Tema Repetitivo n.º 950 do STJ – “As
questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência desleal, e outras demandas afins, por
não envolver registro no INPI e cuidando de ação judicial entre particulares, é inequivocamente de competência
da justiça estadual, já que não afeta interesse institucional da autarquia federal. No entanto, compete à Justiça
Federal, em ação de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI, impor ao titular a abstenção do
uso, inclusive no tocante à tutela provisória”.
C) CORRETA. Realmente, “Esta Corte tem entendimento de que eventual colidência entre nomes empresariais
e marcas não deve ser solucionada somente sob a ótica do princípio da anterioridade do registro, devendo ser
levados em consideração os princípios da territorialidade, no que concerne ao âmbito geográfico de proteção,
bem como da especificidade, quanto ao tipo de produto e serviço, como corolário da necessidade de se evitar erro,
dúvida ou confusão entre os usuários” (STJ. AgInt no REsp 1265680/RJ. QUARTA TURMA. Rel. Min. RAUL
ARAÚJO, j. em 11/5/2021).
Da TERCEIRA TURMA, note-se: “Para aferição de colidência entre denominação empresarial e marca,
além de se verificar o preenchimento do critério da anterioridade, deve se levar em consideração os princípios
da territorialidade e da especificidade” (STJ. REsp 1944265/RS. TERCEIRA TURMA. Rel. Min. NANCY
ANDRIGHI, j. em 3/5/2022);
D) CORRETA. O enunciado nada mais faz senão reproduzir o texto legal. Observem-se os respectivos rigores
legislativos:

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RODADA 01

Art. 123. Para os efeitos desta Lei, considera-se:


[...]
III - marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de
membros de uma determinada entidade.
[...]
Art. 125. À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção
especial, em todos os ramos de atividade.
Art. 126. A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos termos do art.
6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial, goza
de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada no
Brasil.
E) INCORRETA. A sublinhar ao aluno a necessidade constante de atualização do material de estudo, a
assertiva reproduz o p. único do art. 40 da Lei de Propriedade industrial, o qual foi não apenas declarado
inconstitucional pelo STF (STF. ADI 5529/DF. TRIBUNAL PLENO. Rel. Min. DIAS TOFFOLI, j. em 12/5/2021
- com modulação dos efeitos decisórios), como ainda revogado pela Lei n.º 14.195/2021.

💡 GABARITO: E

PROFESSOR BRUNO STAMM


E-mail: profcei.brunostamm@gmail.com

🏳 DIREITO TRIBUTÁRIO

QUESTÃO 27. Considerando o que determina o princípio da legalidade tributária, assinale a assertiva
que correta:
A) Considera-se imprescindível lei em sentido estrito para que se reputa válida a alteração da data de
pagamento de um tributo.
B) A competência prevista na Constituição Federal para que o Poder Executivo altere a alíquota de
determinados tributos é privativa, sendo inadmissível sua delegação.
C) Reputa-se possível a atualização da base de cálculo de tributos sem que seja necessária edição de lei
para tanto.
D) Caso seja fixada a alíquota da CIDE-Combustível em patamar de 3%, poderá o Poder Executivo,
mediante Decreto, reduzi-la. Contudo, caso haja a necessidade de restabelecê-la ao patamar inicial, deverá
ser respeitado do princípio da legalidade, porquanto toda majoração depende de lei.
E) É possível que o Imposto sobre Grandes Fortunas venha a ser instituído por meio de medida provisória.

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RODADA 01

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA: Há entendimentos doutrinários que encampam a afirmação trazida na assertiva. A título


de exemplo, pode-se citar o Professor Roque Antonio Carrazza. Todavia, o entendimento que predomina na
jurisprudência é em sentido contrário. Com efeito, parte-se do raciocínio que o princípio da legalidade é uma
limitação constitucional ao poder de tributar. Logo, deve ser regulamentado por meio de lei complementar,
conforme determina o artigo 146, II, da Constituição Federal. E, cumprimento esse papel, há o disposto no
artigo 97, do Código Tributário Nacional que explicita as matérias que são submetidas à reserva de lei. Dentre
elas não há a indicação do prazo para o pagamento do tributo.
B) INCORRETA: A Constituição permite que o Poder Executivo altere as alíquotas do IPI, IOF, II e IE, em seu
artigo 153, §1º. Contudo, não há indicação específica de qual será o ato normativo que deverá ser utilizado pelo
Poder Executivo para tanto. Assim, tem-se entendido que essa competência não é privativa do chefe do Poder
Executivo, sendo possível que haja sua delegação. Tal situação ocorre na prática no que tange ao Imposto de
Importação que tem suas alíquotas fixadas pela CAMEX. O Supremo Tribunal Federal inclusive já ratificou
essa possibilidade quando do julgamento do RE 570.680/RS, de relatoria do Ministro Ricardo Lewandoski, em
acórdão que restou assim ementado:
EMENTA: TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO. ALTERAÇÃO DE ALÍQUOTA.
ART. 153, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO
PRESIDENTRE DA REPÚBLICA NÃO CONFIGURADA. ATRIBUIÇÃO DEFERIDA À
CAMEX. CONSTITUCIONALIDADE. FACULDADE DISCRICIONÁRIA CUJOS LIMITES
ENCONTRAM-SE ESTABELECIDOS EM LEI. RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO.
I - É compatível com a Carta Magna a norma infraconstitucional que atribui a órgão integrante
do Poder Executivo da União a faculdade de estabelecer as alíquotas do Imposto de Exportação.
II - Competência que não é privativa do Presidente da República. III - Inocorrência de ofensa
aos arts. 84, caput, IV e parágrafo único, e 153, § 1º, da Constituição Federal ou ao princípio
de reserva legal. Precedentes. IV - Faculdade discricionária atribuída à Câmara de Comércio
Exterior - CAMEX, que se circunscreve ao disposto no Decreto-Lei 1.578/1977 e às demais
normas regulamentares. V - Recurso extraordinário conhecido e desprovido.
(RE 570680, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 28/10/2009,
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-228 DIVULG 03-12-2009 PUBLIC 04-12-2009 EMENT
VOL-02385-05 PP-01024 RTJ VOL-00213-01 PP-00693 RSJADV mar., 2010, p. 41-51 RT v. 99, n.
894, 2010, p. 105-124 LEXSTF v. 32, n. 373, 2010, p. 215-245)
C) CORRETA: O artigo 97, §2º, do Código Tributário Nacional estabelece que “ não constitui majoração de
tributo, para os fins do disposto no inciso II, deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base
de cálculo”. É em razão desse dispositivo que foi editada a Súmula 160, do Superior Tribunal de Justiça, que
dispõe: “É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de
correção monetária.” Perceba que a súmula não veda a atualização por meio de ato infralegal, apenas estabelece

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um limite para tanto que é o percentual estipulado pelo índice oficial de correção monetária.
D) INCORRETA: O problema da assertiva está quando estabelece que não haveria possibilidade de
restabelecimento da alíquota inicial. Observe que o artigo 177, §4º, I, b, permite tal situação ao aduzir que
a alíquota da CIDE-combustível poderá ser “reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe
aplicando o disposto no art. 150, III, b.” O que não pode acontecer é aumentar em patamar não previsto
anteriormente. Por exemplo, não poderia um Decreto fixa-la, no caso trazido na assertiva, em 4%.
E) INCORRETA: Apesar de ser possível a instituição e majoração de tributo por medida provisória, conforme
já reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal, o artigo 62, §1º, III, da Constituição Federal veda que medidas
provisórias tratem de matéria reservada à lei complementar. Como o Imposto sobre Grandes Fortunas só pode
ser criado por meio de lei complementar, nos termos do artigo 153, VII, da Constituição Federal, a assertiva
está incorreta.

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 28. Considerando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, assinale a assertiva correta:
A) Pode o magistrado permitir que despesas que comprovadamente superem os limites previstos para a
dedução de gastos com educação sejam abatidas da base de cálculo do Imposto de Renda.
B) O princípio constitucional da isonomia tributária impede que o legislador exclua do âmbito do
SIMPLES sociedades constituídas por profissionais liberais.
C) A revogação de benefício fiscal exige respeito ao respeito ao princípio da anterioridade.
D) Tendo em vista o princípio da legalidade, considera-se inconstitucional a criação de obrigações
acessórias por meio de atos infralegais.
E) No âmbito da contribuição ao SAT (seguro de acidente do trabalho), a delegação ao Poder Executivo
para que especifique quais as atividades que se enquadram em risco leve, médio ou grave, viola o princípio
da legalidade tributária.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA: O Supremo Tribunal Federal tem entendimento no sentido de que regras de dedutibilidade
configuram benefícios fiscais e, portanto, apenas podem ser concedidos com base em lei, nos termos do que
dispõe o artigo 150, §6º, da Constituição Federal. Observe-se, nesse sentido, o seguinte precedente:
AGRAVO INTERNO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA.
LIMITAÇÃO COM GASTOS EM EDUCAÇÃO. CONSTITUCIONALIDADE. 1. Não cabe ao
Poder Judiciário ampliar os limites estabelecidos em lei para a dedução, da base de cálculo do
Imposto de Renda da Pessoa Física, de gastos com educação. Ao Judiciário não é permitido
estabelecer isenções tributárias, redução de impostos ou deduções não previstas em lei, ante a
impossibilidade de atuar como legislador positivo. (...)
(RE 984419 AgR, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 07/05/2018,

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RODADA 01

PROCESSO ELETRÔNICO DJe-096 DIVULG 16-05-2018 PUBLIC 17-05-2018)


B) INCORRETA: É importante frisar que, atualmente, não há mais óbice para que profissionais liberais
adiram ao SIMPLES nacional, em razão do advento da Lei Complementar 147/2014. Todavia, anteriormente
a Lei Complementar 123 vedava o ingresso de sociedades constituídas por profissionais liberais no regime do
SIMPLES. Assim, houve questionamento perante o Supremo Tribunal Federal acerca de sua constitucionalidade,
tendo sido decidido que:
ACÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. SISTEMA INTEGRADO DE PAGAMENTO
DE IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES DAS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO
PORTE. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS PROFISSÕES LIBERAIS. PERTINÊNCIA
TEMÁTICA. LEGITIMIDADE ATIVA. PESSOAS JURÍDICAS IMPEDIDAS DE OPTAR PELO
REGIME. CONSTITUCIONALIDADE. 1. Há pertinência temática entre os objetivos institucionais
da requerente e o inciso XIII do artigo 9º da Lei 9317/96, uma vez que o pedido visa a defesa
dos interesses de profissionais liberais, nada obstante a referência a pessoas jurídicas prestadoras
de serviços. 2. Legitimidade ativa da Confederação. O Decreto de 27/05/54 reconhece-a como
entidade sindical de grau superior, coordenadora dos interesses das profissões liberais em todo o
território nacional. Precedente. 3. Por disposição constitucional (CF, artigo 179), as microempresas
e as empresas de pequeno porte devem ser beneficiadas, nos termos da lei , pela “simplificação de
suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou
redução destas” (CF, artigo 179). 4. Não há ofensa ao princípio da isonomia tributária se a lei,
por motivos extrafiscais, imprime tratamento desigual a microempresas e empresas de pequeno
porte de capacidade contributiva distinta, afastando do regime do SIMPLES aquelas cujos sócios
têm condição de disputar o mercado de trabalho sem assistência do Estado. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada improcedente.
(ADI 1643, Relator(a): MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 05/12/2002, DJ 14-03-
2003 PP-00028 EMENT VOL-02102-01 PP-00032)
C) CORRETA: A assertiva reflete a jurisprudência atual do Supremo Tribunal Federal conforme se observa
do acórdão a seguir:
“Ementa: DIREITO TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COM AGRAVO. ICMS. REVOGAÇÃO DE BENEFÍCIO FISCAL. MAJORAÇÃO INDIRETA
DE TRIBUTO. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE(...) 2. O ato normativo questionado pelo
contribuinte extinguiu benefício fiscal que possibilitava a geração de créditos de ICMS ainda que
a circulação de mercadorias fosse isenta. No entanto, os seus efeitos começaram a ser produzidos
quando da publicação. A anterioridade tributária visa a assegurar a previsibilidade da carga
tributária, protegendo a segurança jurídica, a não surpresa e a confiança legítima. Por isso,
também deve ser aplicada à revogação ou alteração de benefício fiscal, conforme já reconhecido
por esta Corte. (...)

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RODADA 01

(ARE 1382457 AgR, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Relator(a) p/ Acórdão: ROBERTO


BARROSO, Primeira Turma, julgado em 16/08/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-171
DIVULG 26-08-2022 PUBLIC 29-08-2022))
D) INCORRETA: Apesar de parcela da doutrina adotar o entendimento exarado na assertiva, a jurisprudência
como um todo o rechaça. Entendem que a obrigação acessória pode decorrer da legislação tributária, expressão
mais ampla e que abrange outros atos normativos diversos da lei em sentido estrito. Inclusive, recentemente, o
Supremo Tribunal Federal assim decidiu:
Ementa: Direito constitucional e tributário. Ação cível originária. Obrigação tributária acessória.
Imunidade recíproca. (...). 2. A obrigação acessória decorre da legislação tributária (art. 113, § 2º,
do Código Tributário Nacional). Esse termo não engloba apenas as leis, mas também “os tratados
e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo
ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes” (art. 96 do Código Tributário
Nacional). (...). 4. O art. 9º, § 1º, do Código Tributário Nacional institui reserva legal para a
definição das hipóteses de responsabilidade tributária e dos atos que os entes públicos deverão
praticar na qualidade de responsáveis tributários. O dispositivo não afasta a possibilidade de
obrigações acessórias serem impostas por atos normativos infralegais. (...)
(ACO 1098, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 11/05/2020, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-135 DIVULG 29-05-2020 PUBLIC 01-06-2020)
E) INCORRETA: Há tempo o Supremo Tribunal Federal pacificou essa questão, conforme se observa do
seguinte julgado:
“CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO: SEGURO DE ACIDENTE DO
TRABALHO - SAT. (...)
III. - As Leis 7.787/89, art. 3º, II, e 8.212/91, art. 22, II, definem, satisfatoriamente, todos os
elementos capazes de fazer nascer a obrigação tributária válida. O fato de a lei deixar para o
regulamento a complementação dos conceitos de “atividade preponderante” e “grau de risco
leve, médio e grave”, não implica ofensa ao princípio da legalidade genérica, C.F., art. 5º, II,
e da legalidade tributária, C.F., art. 150, I. IV. - Se o regulamento vai além do conteúdo da lei, a
questão não é de inconstitucionalidade, mas de ilegalidade, matéria que não integra o contencioso
constitucional. V. - Recurso extraordinário não conhecido.
(RE 343446, Relator(a): CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 20/03/2003, DJ 04-04-
2003 PP-00061 EMENT VOL-02105-07 PP-01388)

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 29. Avalie as assertivas e assinale a que representa a resposta correta:


A) Para que se possa afirmar ter havido violação ao princípio do não confisco, reputa-se necessário analisar
a carga tributária em sua totalidade.

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RODADA 01

B) Tendo em vista a finalidade punitiva das multas decorrentes do descumprimento de obrigações


tributárias, nada impede que determina lei fixe penalidade em montante de 150% do valor do tributo,
conforme reiteradas vezes tem decido o Supremo Tribunal Federal.
C) Como às taxas não se aplica o princípio da capacidade contributiva, não há como aplicar, por sua vez,
o princípio da vedação de utilização de tributo com efeito confiscatório.
D) Tratando-se de tributação extrafiscal, a finalidade perseguida pode justificar a majoração da carga
tributária a patamares exorbitantes, sem que seja passível de controle por meio do princípio do não
confisco. A título de exemplo, seria possível que a tributação sobre o cigarro chegasse a patamares que
inviabilizassem a sua comercialização.
E) A doutrina considera possível a supressão do princípio da vedação de tributo com efeito confiscatório
em eventual reforma tributária.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) CORRETA: O Supremo Tribunal Federal em julgamento considerado paradigmático acerca do tema já


se posicionou nesse sentido. Quando da análise da ADC 8-MC/DF de relatoria do Ministro Celso de Mello,
estabeleceu que os efeitos confiscatórios deveriam ser aferidos em função da totalidade da carga tributária.
Assim, ainda que a alíquota isoladamente considerada seja de diminuta expressão, pode ser que aquele tributo
venha a ser considerado como uma violação ao princípio do não confisco, caso a carga tributária se torne
insuportável.
B) INCORRETA: A assertiva está incorreta. No caso do enunciado, a multa descrita é da categoria das multas
punitivas, porquanto visa a punir o Contribuinte que deixou de cumprir normas previstas na legislação
tributária. Ocorre que o Supremo Tribunal Federal tem se manifestado no sentido de que o valor da obrigação
principal deve ser visto como limite para a fixação do valor da multa, sob pena de ofensa ao princípio do não
confisco, o qual se entende aplicável às multas, conforme se observa do seguinte julgado:
“AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. LANÇAMENTO POR
HOMOLOGAÇÃO. NECESSIDADE DE NOTIFICAÇÃO. CARÁTER CONFISCATÓRIO DA
MULTA FISCAL. (...). O valor da obrigação principal deve funcionar como limitador da norma
sancionatória, de modo que a abusividade se revela nas multas arbitradas acima do montante
de 100%. Agravo regimental a que se nega provimento.”
(AI 838302 AgR, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 25/02/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-063 DIVULG 28-03-2014 PUBLIC 31-03-2014)
C) INCORRETA: Em que pese a assertiva iniciar corretamente para parte da doutrina, o final reputa-se
equivocado. De fato, há doutrinadores que entendem não ser aplicável às taxas o princípio da capacidade
contributiva. Como exemplo, pode-se citar a atual Ministra do Superior Tribunal de Justiça Regina Helena
Costa que, em seu livro acerca do Princípio da Capacidade Contributiva, assim se manifesta:
“As taxas têm caráter remuneratório da atuação do Poder Público, devendo, por isso, manter

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RODADA 01

razoável equivalência com a despesa por ele efetuada.


Sustentar a necessidade de observância do princípio da capacidade contributiva nas taxas é não
atentar para a natureza dessas imposições tributárias. Significando uma contraprestação pela
atuação do Poder Público, diretamente referida ao contribuinte, não se pode erigir nas taxas,
como critério informador desses tributos, uma circunstância absolutamente alheia a essa atuação
estatual. Vale dizer, se, com a taxa pretende-se remunerar a atuação estatal, essa remuneração deve
reportar-se ao custo desta, e não à capacidade contributiva do sujeito passivo, irrelevante para a
hipótese de incidência ou para a graduação da taxa.
Tanto é assim que o sujeito passivo da taxa, seja rico ou pobre, pagará o tributo na mesma proporção,
consoante o serviço público oferecido ou fruído ou, ainda, a atividade de polícia desencadeada.”
(COSTA, Regina Helena. O Princípio da Capacidade Contributiva. 4ª ed. rev. atual. e ampl. São
Paulo: Malheiros, 2012. p. 61)
Observa-se, portanto, que o início do enunciado é albergado por parcela da doutrina. Todavia, quando afirma
não ser aplicável a vedação do tributo com efeito confiscatório, torna-se equivocada a assertiva. Isso porque, nas
taxas, vige a ideia de retributividade, de modo que a natureza confiscatória é analisada mediante a correlação
entre o custo do serviço e o montante efetivamente cobrado.
D) INCORRETA: Há, de fato, entendimentos no sentido de que quando a tributação ostenta natureza extrafiscal,
seu controle se torna mais difícil do que aquele pautado em finalidades unicamente arrecadatórias. Todavia,
ainda assim, deve ser respeitado o princípio da proporcionalidade, o qual será considerado como vetor para a
análise da existência de efeito confiscatório ou não. Em outros termos, havendo tributação desproporcional,
haverá sim espaço para que se aplique o princípio da vedação de utilização de tributo com efeito confiscatório.
Além disso, a assertiva estabelece que seria possível que a tributação fosse de tal monta que inviabilizasse o
comércio de cigarros. Em situação como essa, a tributação acabaria adquirindo ares sancionatórios, o que não
é possível.
E) INCORRETA: A doutrina aponta como fundamento do princípio da vedação à instituição de tributo
com efeito confiscatório o direito fundamental de propriedade. Como exemplo, pode-se citar Hugo de Brito
Machado que afirma que a norma prevista no artigo 150, IV, apenas explicita uma proteção que decorre do
regime instituído pela Constituição Federal de 1988. Assim, considera-se verdadeira garantia individual, razão
pela qual não pode ser suprimido por emenda constitucional.

💡 GABARITO: A

PROFESSOR GUSTAVO FERNANDES


E-mail: profcei.gustavofernandes@gmail.com

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RODADA 01

🏳 DIREITO ADMINISTRATIVO

QUESTÃO 30. A respeito da Administração Pública e da reforma do aparelho do Estado brasileiro, julgue
os itens abaixo:
I – A Administração Pública Patrimonialista é atualmente adotada pelo Estado brasileiro, tendo por
princípios orientadores do seu desenvolvimento a profissionalização, a ideia de carreira, a hierarquia
funcional, a impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional-legal.
II – A Administração Pública Burocrática surgiu na segunda metade do século XIX, como forma de
combater a corrupção e o nepotismo, exigindo controles rígidos dos processos, como por exemplo na
admissão de pessoal, nas compras e no atendimento a demandas.
III – A Administração Pública Gerencial emerge como resposta à expansão das funções econômicas e
sociais do Estado, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial, passando a
orientar o Estado predominantemente pelos valores da eficiência e qualidade na prestação de serviços
públicos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações.
A) Estão corretos os itens I, II e III.
B) Estão corretos os itens I e II, somente.
C) Estão corretos os itens II e III, somente.
D) Está correto o item II, somente.
E) Estão incorretos todos os itens.

💡 GABARITO COMENTADO

I) INCORRETA. Nos anos 1980, adotou-se um modelo de desenvolvimento econômico em que o Estado
brasileiro buscava se desviar de suas funções básicas para ampliar sua presença no setor produtivo, o que deu
azo à gradual deterioração dos serviços públicos e ao agravamento da crise fiscal e da inflação.
Diante disso, em meados dos anos 90, o Governo propôs ideias e medidas que objetivavam reformar o Estado
para consolidar a estabilização e assegurar o crescimento sustentado da economia. Essas propostas foram
reunidas no “Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado”, aprovado pela Câmara da Reforma do
Estado em setembro de 1995, que definiu objetivos e estabeleceu diretrizes para a reforma da administração
pública brasileira.
Ao destacar a necessidade de redefinição do papel do Estado, o texto, partindo de uma perspectiva histórica,
apresenta os três modelos básicos de administração pública – cujos princípios e características não devem
ser confundidos com os da administração das empresas privadas –, sendo eles: a administração pública
patrimonialista, a burocrática e a gerencial. Embora estas três formas se sucedam no tempo, nenhuma delas
foi inteiramente abandonada.
(i) Administração Pública Patrimonialista. “No patrimonialismo, o aparelho do Estado funciona como uma
extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, possuem status de nobreza real. Os cargos são

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RODADA 01

considerados prebendas. A res publica não é diferenciada das res principis. Em consequência, a corrupção e
o nepotismo são inerentes a esse tipo de administração. No momento em que o capitalismo e a democracia
se tornam dominantes, o mercado e a sociedade civil passam a se distinguir do Estado. Neste novo momento
histórico, a administração patrimonialista torna-se uma excrescência inaceitável.”
A questão erra ao identificar a Administração Pública Patrimonialista com características que são da
Administração Pública Burocrática.
II) CORRETA. (ii) Administração Pública Burocrática. “Surge na segunda metade do século XIX, na época
do Estado liberal, como forma de combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista. Constituem
princípios orientadores do seu desenvolvimento a profissionalização, a ideia de carreira, a hierarquia
funcional, a impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional-legal. Os controles administrativos
visando evitar a corrupção e o nepotismo são sempre a priori. Parte-se de uma desconfiança prévia nos
administradores públicos e nos cidadãos que a eles dirigem demandas. Por isso são sempre necessários
controles rígidos dos processos, como por exemplo na admissão de pessoal, nas compras e no atendimento a
demandas. Por outro lado, o controle - a garantia do poder do Estado - transforma-se na própria razão de ser
do funcionário. Em consequência, o Estado volta-se para si mesmo, perdendo a noção de sua missão básica,
que é servir à sociedade. A qualidade fundamental da administração pública burocrática é a efetividade no
controle dos abusos; seu defeito, a ineficiência, a autorreferência, a incapacidade de voltar-se para o serviço aos
cidadãos vistos como clientes. Este defeito, entretanto, não se revelou determinante na época do surgimento da
administração pública burocrática porque os serviços do Estado eram muito reduzidos. O Estado limitava-se
a manter a ordem e administrar a justiça, a garantir os contratos e a propriedade.”
III) CORRETA. (iii) Administração Pública Gerencial. “Emerge na segunda metade do século XX, como
resposta, de um lado, à expansão das funções econômicas e sociais do Estado, e, de outro, ao desenvolvimento
tecnológico e à globalização da economia mundial, uma vez que ambos deixaram à mostra os problemas
associados à adoção do modelo anterior. A eficiência da administração pública - a necessidade de reduzir custos
e aumentar a qualidade dos serviços, tendo o cidadão como beneficiário - torna-se então essencial. A reforma
do aparelho do Estado passa a ser orientada predominantemente pelos valores da eficiência e qualidade na
prestação de serviços públicos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações.” Ainda
segundo o texto, “na administração pública gerencial a estratégia volta-se (1) para a definição precisa dos
objetivos que o administrador público deverá atingir em sua unidade, (2) para a garantia de autonomia do
administrador na gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à disposição
para que possa atingir os objetivos contratados, e (3) para o controle ou cobrança a posteriori dos resultados”.
Adicionalmente, “a administração pública deve ser permeável à maior participação dos agentes privados e/ou
das organizações da sociedade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins)”,
contrapondo-se à ideologia do formalismo e do rigor técnico da burocracia tradicional.

💡 GABARITO: C

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RODADA 01

QUESTÃO 31. A Lei n. 8.429/92 sofreu modificações importantes no ano de 2021. Nesse contexto, quanto
ao procedimento nas ações de improbidade administrativa, assinale a alternativa INCORRETA:
A) A petição inicial será instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes da
veracidade dos fatos e do dolo imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação
de qualquer dessas provas.
B) Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação caberá agravo de
instrumento.
C) Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a citação dos requeridos
para participarem da audiência de conciliação e mediação, marco a partir do qual será computado o prazo
comum de 30 (trinta) dias para contestação.
D) Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação de improbidade administrativa que condenar o
requerido por tipo diverso daquele definido na petição inicial.
E) Não se aplica na ação de improbidade administrativa a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo
autor em caso de revelia.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) CORRETA. De acordo com o art. 17, § 6º, a petição inicial observará o seguinte: I - deverá individualizar
a conduta do réu e apontar os elementos probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóteses
dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossibilidade devidamente fundamentada; II - será
instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e
do dolo imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas
provas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 do Código de
Processo Civil.
B) CORRETA. Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação
caberá agravo de instrumento (art. 17, § 9º-A). Aliás, a Lei n. 14.230/21 promove na LIA algumas repetições
desnecessárias, a exemplo do disposto no § 21 do mesmo art. 17, pelo qual “das decisões interlocutórias caberá
agravo de instrumento, inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas pelo réu em sua
contestação”.
C) INCORRETA. Nos termos do art. 17, a ação de improbidade seguirá o procedimento comum previsto no
Código de Processo Civil, salvo o disposto nesta Lei.
Diferentemente do procedimento comum do CPC, não há audiência de conciliação e mediação, o prazo de
defesa é diferenciado e os requisitos da petição inicial são ligeiramente diferentes.
A propósito, se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a citação dos
requeridos para que a contestem no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do art.
231 do CPC (art. 17, § 7º).
D) CORRETA. Pelo § 10-F do art. 17 da LIA, será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação de

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RODADA 01

improbidade administrativa que: I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na petição
inicial; II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele tempestivamente especificadas.
E) CORRETA. Prevendo diferenças importantes em relação ao procedimento comum, o § 19 do art. 17 da LIA
dispõe que não se aplicam na ação de improbidade administrativa: I - a presunção de veracidade dos fatos
alegados pelo autor em caso de revelia; II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e 2º do
art. 373 do Código de Processo Civil; III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade administrativa
pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional do Ministério Público dirimir conflitos de atribuições
entre membros de Ministérios Públicos distintos; IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou
de extinção sem resolução de mérito.

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 32. A sociedade empresária XX objetivava instalar um mercado na principal praça pública do
Município. Para tanto, tomou conhecimento da autorização legislativa, submeteu-se a processo licitatório
e, após ter se sagrado vencedora, celebrou contrato com o ente federativo, por prazo determinado, para
utilização especial de bem público, tendo realizado investimento financeiro importante para tanto. A
situação retratada corresponde à figura do(a):
A) Concessão de uso.
B) Permissão de uso.
C) Autorização de uso.
D) Cessão de uso.
E) Concessão de direito real de uso.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. A concessão de uso é o contrato administrativo pelo qual a Administração faculta ao particular
o uso privativo de bem público, para que o exerça conforme a sua destinação, com prevalência do interesse
público sobre o privado (MEIRELLES, 2016, p. 646).
Distingue-se dos demais institutos assemelhados pelo seu caráter contratual e estável.
É utilizada para atividades de utilidade pública de maior vulto e, por isso, quase sempre beneficia o
particular com a fixação de prazo, assegurando-lhe um mínimo de estabilidade no exercício da atividade.
Exemplos são o a concessão de uso para instalação de mercados e cemitérios ou a concessão de bens destinados
à ocupação por concessionários de serviços públicos.
A concessão pode ser remunerada ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado, devendo sempre ser
antecedida de autorização legal e, quase sempre, de licitação, ressalvando-se as dispensas legais (MEIRELLES,
2016, p. 646).
É exatamente o caso retratado na questão.
B) INCORRETA. A permissão de uso é o ato administrativo unilateral, precário e discricionário, pelo qual a

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RODADA 01

Administração consente que o particular faça uso privativo de um bem público, com vistas ao interesse público.
Pode ser revogada a qualquer tempo, sem dar direito a indenização, salvo se concedida com fixação de prazo
(permissão qualificada ou condicionada).
Pode ser gratuita ou onerosa e, segundo a opinião de alguns, não exige prévia licitação (ao contrário da permissão
para prestação de serviço público).
A permissão é concedida por ato unilateral, enquanto a concessão configura contrato precedido de
autorização legislativa e licitação. Nada obstante, DI PIETRO (2019, pp. 876-7) leciona que às vezes a
permissão de uso assume forma contratual, tornando-se obrigatória a licitação, nos termos do art. 2º da antiga
Lei n. 8.666/93, com exceção da hipótese estipulada no art. 17, I, “f ”, da mesma lei (é a hipótese reproduzida
no art. 76, I, f “”, da Lei n. 14.133/21).
Ainda que, para alguns, não exija, em regra, licitação prévia, havendo mais de um interessado na permissão, a
Administração deve adotar algum procedimento objetivo para escolha dos beneficiários. CARVALHO FILHO
(2019, p. 1264) defende a exigência de licitação sempre que for possível e houver mais de um interessado na
utilização do bem.
C) INCORRETA. A autorização de uso é o ato administrativo unilateral, precário e discricionário, pelo qual
a Administração consente que o particular faça uso privativo de um bem público, com vistas ao interesse
privado do beneficiado. Por ser concedido a título precário, pode ser revogado a qualquer tempo, sem ensejar
indenização ao particular (DI PIETRO, 2019, p. 873).
A autorização de uso de bem público pode ser gratuita ou onerosa e não exige prévia licitação ou autorização
legislativa.
D) INCORRETA. Pela cessão de uso, o Poder Público consente o uso gratuito de bem público por órgãos
públicos, sejam eles da mesma pessoa ou de pessoa diversa, para que realizem atividade que traduza interesse
para a coletividade (CARVALHO FILHO, 2019, p. 1274). É ato de colaboração entre repartições públicas.
Ainda que alguns doutrinadores admitam excepcionalmente a cessão para pessoas privadas, desde que
desempenhem atividade não lucrativa e de interesse público, a regra é que a cessão se dê entre órgãos públicos,
como a cessão de uma sala de prédio público do Tribunal de Justiça para a Procuradoria do Estado.
E) INCORRETA. A concessão de direito real de uso é o contrato administrativo pelo qual o Poder Público
outorga ao particular o direito real resolúvel de uso de terrenos públicos ou particulares ou sobre o espaço aéreo
que o recobre, para os fins legais, de cunho social.
O instituto é disciplinado pelo Decreto-lei n. 271/1967, arts. 7º e 8º.

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 33. A concessionária de serviços público Alfa pretende realizar a transferência de parte do
objeto da concessão para a empresa Beta. Nesse caso, a subconcessão exigirá:
A) Previsão contratual, autorização do poder concedente, licitação na modalidade concorrência e acarreta
para o subconcessionário a sub-rogação em todos os direitos e obrigações do subconcedente.

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RODADA 01

B) Previsão contratual e autorização do poder concedente, dispensada nova licitação, e acarreta para o
subconcessionário a sub-rogação em todos os direitos e obrigações do subconcedente.
C) Previsão contratual e licitação na modalidade concorrência, dispensada a autorização do poder
concedente por já haver previsão contratual, e acarreta para o subconcessionário a sub-rogação em todos
os direitos e obrigações do subconcedente.
D) Previsão contratual, autorização do poder concedente, licitação na modalidade concorrência ou
diálogo competitivo e não acarreta para o subconcessionário a sub-rogação nos direitos e obrigações do
subconcedente.
E) Autorização do poder concedente, licitação e acarreta para o subconcessionário a sub-rogação em
todos os direitos e obrigações do subconcedente.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. A subconcessão ocorre por meio da delegação de uma parte do próprio objeto da concessão
para outra empresa. Um exemplo citado pela doutrina é o da subconcessão de duas das dez linhas de ônibus
de uma concessionária.
O contrato de subconcessão exige previsão contratual, autorização do poder concedente (Lei n. 8.987/95, art.
26), licitação na modalidade concorrência (art. 26, § 1º) e acarreta para o subconcessionário a sub-rogação
em todos os direitos e obrigações do subconcedente (art. 26, § 2º). A subconcessionária, inclusive, responde
objetivamente pelos danos causados (CF, art. 37, § 6º).
Em relação à necessidade de licitação, apesar da previsão legal expressa, há quem advogue contra sua realização,
sob o argumento da necessidade de se conceder às empresas concessionárias maior discricionariedade e
liberdade na execução de suas atividades, o que proporcionaria maior eficiência e possibilidade de competir
no mercado.
É curioso que, para o caso da transferência da concessão (que é total, e não parcial), não há imposição legal de
licitação. Aliás, recentemente, o tema encontrou definição com a decisão do STF na ADI 2.946/DF, j. 8.3.2022,
quando se fixou a tese de que “é constitucional a transferência da concessão e do controle societário das
concessionárias de serviços públicos, mediante anuência do poder concedente (Lei 8.987/1995, art. 27)”.
Segundo a Corte, nessas hipóteses, a base objetiva do contrato continua intacta. Permanecem o mesmo objeto
contratual, as mesmas obrigações contratuais e a mesma equação econômico-financeira. O que ocorre é
apenas a sua modificação subjetiva, seja pela substituição do contratado, seja em razão da sua reorganização
empresarial, o que dispensa a exigência de nova licitação. Ademais, as normas constitucionais que estipulam a
obrigatoriedade de licitação na outorga inicial da prestação de serviços públicos a particulares não definem os
exatos contornos do dever de licitar, cabendo ao legislador ordinário ampla liberdade quanto à sua conformação
à vista da dinamicidade e da variedade das situações fáticas a serem abrangidas pela respectiva normatização.
Não obstante, salvo manifestação expressa do STF em relação à subconcessão, em provas objetivas
recomenda-se assinalar o que dispõe a lei (isto é, exigência de licitação na modalidade concorrência).

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RODADA 01

B, C, D e E) INCORRETAS. Conforme comentários à alternativa correta.

💡 GABARITO: A

PROFESSOR FERNANDO BIVAR


E-mail: profcei.fernandobivar@gmail.com

🏳 DIREITO AMBIENTAL

QUESTÃO 34. Julgue os itens a seguir de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça:
I – O meio ambiente equilibrado é direito das presentes e futuras gerações, razão pela qual, dado o seu
caráter fundamental, não incide prescrição intercorrente no processo administrativo instaurado contra o
poluidor para imposição de sanções.
II – O princípio da proibição do retrocesso em matéria ambiental restringe o poder de conformação
legislativa, obstando a edição de atos legislativos que impliquem redução da proteção conferida a espaços
territorialmente protegidos.
III – Embora a legislação confira poder normativo ampliado ao CONAMA em matéria de qualidade do
ar, suas resoluções devem ser adotadas em consonância com as orientações da Organização Mundial da
Saúde quanto à matéria, as quais não podem ser ignoradas pelas autoridades nacionais.
IV – É constitucional norma estadual que impõe à concessionária de geração de energia elétrica a promoção
de investimentos, com recursos identificados como parcela da receita que aufere, voltados à proteção e à
preservação de mananciais hídricos afetados por sua atividade, por representar mecanismo de tutela do
meio ambiente.
A) Apenas I, III e IV estão corretos
B) Apenas II e IV estão corretos
C) Apenas II está correto
D) Apenas III está correto
E) Todos estão incorretos

💡 GABARITO COMENTADO

Item I – INCORRETO. De acordo com a Tese n. 999 da repercussão geral, “É imprescritível a pretensão de
reparação civil de dano ambiental”. No entanto, o item trata de imposição de sanções por violações a normas
ambientais, sendo possível a incidência de prescrição intercorrente durante o processo administrativo de
apuração de sanções, com base no art. 1º, § 2º, da Lei n. 9.873/1999, tal como assentado pelo Superior Tribunal

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RODADA 01

de Justiça no Tema n. 328 dos recursos especiais repetitivos.


Item II – INCORRETO. O princípio da proibição do retrocesso não impede a redução de áreas especialmente
protegidas por atos do poder legislativo, pois o art. 225, § 1º, inciso III, da Constituição de 1988, confere
ao Poder Legislativo autonomia suficiente para reduzir tais áreas, tal como decidido pelo Supremo Tribunal
Federal no julgamento conjunto das ADIs nº 4.937/DF, nº 4.902/DF e nº 4.903/DF e da ADC nº 42/DF, todas
de relatoria do Min. Luiz Fux. O mencionado princípio apenas impede que as alterações ou supressões de
áreas protegidas que atinjam o núcleo essencial do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, como assentado na ADI n. 4.717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia.
Item III – CORRETO. No julgamento da ADI n. 6.148/DF, Rel. Min. André Mendonça, o Supremo Tribunal
Federal concluiu que, embora as diretrizes da Organização Mundial da Saúde a respeito da qualidade do ar
não sejam vinculantes, sendo possível aos Estados, de acordo com peculiaridades locais, adaptar os critérios
globalmente recomendados, as resoluções do CONAMA não podem ignorar essas orientações na fixação de
critérios para o âmbito nacional.
Item IV – INCORRETO. De acordo com a tese fixada pelo STF para o Tema n. 774 da repercussão geral “A
norma estadual que impõe à concessionária de geração de energia elétrica a promoção de investimentos, com
recursos identificados como parcela da receita que aufere, voltados à proteção e à preservação de mananciais
hídricos, é inconstitucional por configurar intervenção indevida do Estado no contrato de concessão da
exploração do aproveitamento energético dos cursos de água, atividade de competência da União, conforme
art. 21, XII, b, da Constituição Federal”.

💡 GABARITO: D

QUESTÃO 35. O Município Alfa editou lei autorizando o loteamento de áreas às margens de reservatório
artificial de água, possibilitando que particulares edificassem condomínios de lazer na região, inclusive
com a construção de deques sobre o reservatório, de modo a incrementar o turismo local e aumentar as
receitas municipais para reduzir a dependência do Fundo de Participação dos Municípios. Com base na lei
municipal, Ômega Empreendimentos Ltda. procedeu à construção de loteamento, removendo vegetação
nativa e construindo casas a serem vendidas aos interessados, sendo uma delas adquirida por Pedro.
Com base nesse cenário, assinale a assertiva CORRETA:
A) Como o Município Alfa possui competência legislativa para matérias de interesse local, eventual
contrariedade entre a legislação municipal e a legislação federal relativa às áreas de proteção permanente
no entorno de reservatórios de água resolve-se pelo critério de preponderância de interesses, prevalecendo
o interesse no desenvolvimento da municipalidade.
B) A remoção da vegetação nativa da área de preservação permanente pela Ômega Empreendimentos
Ltda. prescinde de autorização específica de órgão ambiental, porquanto a autorização legal de edificação
do loteamento é o suficiente para permitir tal prática.
C) Caso o Ministério Público ajuíze ação de reparação de danos ambientais em desfavor de Pedro, este

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RODADA 01

não poderá efetuar o chamamento do Município Alfa e da Ômega Empreendimentos Ltda. ao processo.
D) Em caso de procedência de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público para a reparação de
danos ambientais, o pedido de cumprimento de sentença pode ser direcionado a quaisquer dos réus
indistintamente, considerando o caráter solidário da responsabilidade ambiental.
E) Todas as alternativas estão incorretas.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE nº 586.224/SP, Rel. Min. Luiz Fux,
submetido à sistemática da repercussão geral (Tema nº 145), firmou a tese de que “O município é competente
para legislar sobre o meio ambiente com a União e Estado, no limite do seu interesse local e desde que tal regramento
seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, inciso VI, c/c 30, incisos I e
II, da Constituição Federal)”. Desse modo, a contrariedade da lei municipal à lei federal implica a invalidade
daquela, prevalecendo a lei federal mais restritiva.
B) INCORRETA. De acordo com o art. 8º da Lei n. 12.651/11 (Código Florestal), “A intervenção ou a supressão
de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública,
de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei”. Por sua vez, o § 3º do mesmo art. 8º
dispensa autorização do órgão ambiental nos casos de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil
destinadas à prevenção de acidentes, o que não é o caso. Presume-se, portanto, a necessidade de autorização.
C) INCORRETA. A responsabilidade por dano ambiental é de natureza solidária, de modo que eventual
multiplicidade de poluidores enseja litisconsórcio passivo facultativo, podendo o Ministério Público acionar
quaisquer dos poluidores, isolada ou cumulativamente. No entanto, em caso de responsabilidade solidária, o
art. 130, III, do CPC/2015, autoriza o chamamento dos demais devedores solidários ao processo.
D) INCORRETA. Embora a responsabilidade por danos ambientais seja solidária, no caso do Município,
a execução é de caráter subsidiário, razão pela qual somente pode ser acionado após esgotar as tentativas
de cumprimento de sentença em face dos demais, nos termos da Súmula n. 652 do STJ, segundo a qual “A
responsabilidade civil da administração pública por danos ao meio ambiente, decorrente de sua omissão no
dever de fiscalização, é de caráter solidário, mas de execução subsidiária”.
E) CORRETA. Como todas as alternativas anteriores estão incorretas, resta assinalar a alternativa E.

💡 GABARITO: E

PROFESSORA MAYRA ANDRADE


E-mail: profcei.mayra.andrade@gmail.com

🏳 DIREITO INTERNACIONAL

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RODADA 01

QUESTÃO 36. Na composição do Sistema Interamericano de Direito Humanos, a Corte Interamericana


de Direitos Humanos (Corte IDH) é composta por sete juízes, eleitos pelos Estados membros da OEA. Tal
tribunal exerce função consultiva e função contenciosa. Sobre a atuação da Corte Interamericana, onde o
Brasil possui várias denúncias e condenações, assinale a alternativa incorreta:
A) No âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH) estabelece como regra geral o requisito de admissibilidade de uma denúncia o
esgotamento dos recursos da jurisdição interna do Estado denunciado. Há exceção quando não existir, na
legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal para proteção do direito ou direitos
que se alega tenha sido violado.
B) A sentença proferida pela Corte IDH que determinar indenização compensatória poderá ser executada
no país respectivo pelo processo interno para a execução de sentenças contra o Estado.
C) De acordo com o direito internacional, uma pessoa que tenha sofrido atentado aos seus direitos
fundamentais somente pode ser considerada vítima da criminalidade se o autor da violação tiver sido
preso, processado, declarado culpado ou, pelo menos, identificado.
D) Consideram-se vítimas de abuso de poder as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido
prejuízos, nomeadamente atentado à integridade física ou mental, sofrimento de ordem moral, perda
material ou grave atentado aos seus direitos fundamentais, como consequência de atos ou de omissões
que, embora não constituam ainda violação da legislação penal nacional, representam violações das
normas internacionalmente reconhecidas em matéria de direitos humanos.
E) O que leva à responsabilização internacional do Estado no Sistema Interamericano é qualquer ação ou
omissão imputável ao Estado que descumpra as normas interamericanas de direitos humanos e gere um
resultado lesivo para pessoas sob sua jurisdição.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. O artigo 46, parágrafo 1 (a) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH) prevê
que para uma petição ou comunicação apresentada à Comissão seja considerada admissível em conformidade
com os artigos 44 ou 45 da mesma, é necessário “que haja sido interpostos e esgotados os recursos de jurisdição
interna, de acordo com os princípios de direito internacional geralmente conhecidos.”  A própria CADH
excepciona essa regra em seu art. 46(2), nos casos em que: “a) não existir, na legislação interna do Estado de
que se tratar, o devido processo legal para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados;
b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição
interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e, c) houver demora injustificada na decisão sobre os
mencionados recursos”.
B) CORRETA. O art. 68.2 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos atribui eficácia executiva à
parte pecuniária das sentenças da Corte. O cumprimento das sentenças pela Corte deve ser espontâneo,
imediato e integralmente cumprido pela República Federativa do Brasil, por força do art. 68 da Convenção

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RODADA 01

Americana. Se assim não ocorrer, além de nova responsabilização internacional, o inadimplemento poderá
ensejar o ajuizamento de ação judicial executiva, com o objetivo precípuo de garantir o cumprimento total da
decisão da Corte. O art. 68.2 da Convenção atribui eficácia executiva à parte pecuniária das sentenças da Corte.
De fato, dispõe o referido dispositivo normativo que “[...] a parte da sentença que determinar indenização
compensatória poderá ser executada no país respectivo pelo processo interno vigente para a execução de
sentenças contra o Estado”.
C) INCORRETA. Não apenas se o autor da violação tiver sido preso, processado, declarado culpado ou,
pelo menos, identificado. Mas sim as pessoas que consideram que seus Direitos Humanos foram violados
podem apresentar uma petição ante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Iniciado o processo, a
Comissão verifica os fatos e, quando necessário, realiza recomendações ao Estado responsável pela violação, de
maneira que situações semelhantes não voltem a acontecer e os fatos ocorridos sejam investigados e reparados.
D) CORRETA. A Corte IDH se utiliza de instrumentos normativos de direito internacional de proteção
aos direitos humanos globais ou regionais e, de acordo com a Declaração dos Princípios Básicos de Justiça
Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
na sua resolução 40-34, de 29 de novembro de 1985, consideram-se vítimas de abuso de poder as pessoas
que, individual ou coletivamente, tenham sofrido prejuízos, nomeadamente atentado à integridade física ou
mental, sofrimento de ordem moral, perda material ou grave atentado aos seus direitos fundamentais.
E) CORRETA. A reparação é a consequência inerente à determinação da responsabilidade internacional do
Estado. A obrigação de reparar danos decorrentes da quebra de compromissos internacionais é um princípio
do direito internacional.

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 37. Jean e Marcelle são franceses, sócios de uma empresa constituída em Malta. Jean, por
sua vez, é proprietário de uma outra empresa, constituída no Brasil. A empresa maltesa e a brasileira
firmam um contrato entre si, assinado em Lisboa para a execução de uma obra no Marrocos. Supondo
que a competência para a apreciação de eventual questão decorrente do contrato seja do Poder Judiciário
brasileiro, e não havendo cláusula de eleição da lei aplicável, o juiz aplicará corretamente, segundo as
regras da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB), a lei:
A) francesa.
B) brasileira.
C) maltesa.
D) portuguesa.
E) marroquina.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. A nacionalidade não é o elemento de conexão e nem o objeto de conexão a ser considerado

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RODADA 01

neste caso em análise.


B) INCORRETA. Ser proprietário de uma das empresas partes no referido contrato, cuja sede de uma das
empresas é no Brasil não atrai a competência para aplicação da legislação brasileira, pois o que define é o local
onde a obrigação foi feita.
C) INCORRETA. A sede em Malta não atrai a competência para resolução de controvérsia contratual, pois o
que define é o local onde a obrigação foi realizada.
D) CORRETA. Segundo o que dispõe o art. 9º da LINDB, rege-se as obrigações pela lei do país em se
constituíram. Logo, tendo sido constituído o contrato em Portugal, aplica-se a lei portuguesa para solucionar
quaisquer desavenças deste contrato.
E) INCORRETA. Conforme o enunciado, não há cláusula de eleição de foro, assim, o direito dos contratos é o
objeto de conexão, cujo elemento de conexão é a lei do local da elaboração do contrato, qual seja, a portuguesa.

💡 GABARITO: D

PROFESSOR DANIEL CHIARETTI


E-mail: profcei.danielchiaretti@gmail.com

🏳 FORMAÇÃO HUMANÍSTICA

QUESTÃO 38. Leia o excerto abaixo:


“E a mesma igualdade se observará entre as pessoas e entre as coisas envolvidas; pois a mesma relação que
existe entre as segundas (as coisas envolvidas) também existe entre as primeiras. Se não são iguais, não
receberão coisas iguais; mas isso é origem de disputas e queixas: ou quando iguais têm e recebem partes
desiguais, ou quando desiguais recebem partes iguais. Isso, aliás, é evidente pelo fato de que as repartições
devem ser feitas ‘de acordo com o mérito’.”
(ARISTÓTELES. Ética Nicomaqueia. Livro V.3)
A concepção de justiça constante no trecho é:
A) Justiça como equidade
B) Justiça distributiva
C) Justiça comutativa
D) Justiça universal
E) Justiça corretiva

💡 GABARITO COMENTADO

A justiça é, para Aristóteles, a principal de todas as virtudes. Mas há, no autor, dois sentidos de justiça, um

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RODADA 01

geral e um particular. Podemos sistematizar o tema da seguinte maneira:


a) Justiça universal, geral ou legal: conformidade da conduta de um indivíduo com a lei. O injusto é o ilegal1.
A justiça universal é estabelecia por leis corretas de uma cidade2 que almeja o bem comum. A lei busca, na
maioria das vezes, orientar o que se deve fazer a partir do que se considera justo. Seguir a lei, nessa ótica, é
ser justo pois nos dá a medida do que deve ser feito com relação ao outro na esfera pública.3 Desse modo, a
lei é uma condição necessária à realização da Justiça, nascendo o direito a serviço das virtudes.4 Essa justiça
universal é a soma de todas as virtudes: piedade, coragem, prudência, temperança, modéstia etc. É a virtude
perfeita, universal.
b) Justiça particular: trata-se de uma virtude particular (diferente de virtudes como temperança, coragem etc.)
e fundamentada na noção de igualdade. Aqui a justiça é compreendida como um comportamento individual
relativo à distribuição de bens e deveres no interior da pólis. Segundo Aristóteles, algumas formas de injustiça
não decorrem dos vícios, violando as virtudes acima mencionadas, mas sim da desigualdade entre sujeitos
definidos (particulares). Exemplo: se evito o serviço militar por covardia, incido em uma injustiça do primeiro
tipo; se o faço para obter uma vantagem com relação àqueles que estão no serviço militar, é um tipo de injustiça
mais próximo à desigualdade: a pessoa quer um ganho injusto às custas de outro. Aqui o injusto é o desigual. A
justiça é, neste contexto, a justa distribuição de bens (“dar a cada um o que é seu”), muito associada, portanto,
à atividade do juiz. A justiça particular divide-se em dois tipos:
a. Corretiva ou comutativa: busca a correção em transações voluntárias ou involuntárias. É a justiça das
relações privadas segunda Aristóteles. Adota-se aqui um critério proporcional-aritmético, sem qualquer
ligação com mérito. Exemplo: se alguém causou um dano de 10 dracmas a outrem, deverá ressarci-lo neste
valor. O mesmo raciocínio se aplicaria para um contrato voluntário. O juiz, como intermediário das partes,
restabelece a igualdade.
b. Distributiva: envolve tratamento proporcional ao merecimento. Liga-se à distribuição de bens, honras,
cargos etc. de acordo com a virtude política. Exige um tratamento proporcional. A justiça aqui reside no meio-
termo: não se deve tomar nem menos, nem mais do que é devido. Importa o mérito na distribuição, o qual no
contexto aristotélico estava muito relacionado ao próprio regime de governo. Possui assim um caráter mais
político.
Estes conceitos possuem uma clara reverberação na contemporaneidade. A justiça corretiva, por exemplo,
norteia a teoria da responsabilidade civil, segundo a qual a indenização mede-se pela extensão do dano (art.
944 do Código Civil). A ideia subjacente é a recomposição do patrimônio do lesado. Interessante trazer ainda o
exemplo da lesão, na qual é possível a não decretação da anulação do negócio se for oferecida complementação
que recomponha o prejuízo (art. 557, § 2º, do Código Civil).
1 “O que a lei prescreve é de realizar obras do corajoso, por exemplo: não abandonar o seu posto, não fugir nem jogar fora as armas; as do
temperante, por exemplo, não cometer adultério, nem estupro, e assim por diante para as obras das outras virtudes e dos outros vícios: ela comanda
aqueles e interdita estas.” (EN, Livro V, 1129b).
2 Vale lembrar que a Grécia antiga era organizada em cidades-estados. Assim, quando um filósofo grego fala em “cidade”, temos que pensar
em Estado para termos uma referência mais próxima de nossa organização política contemporânea.
3 LOPES, Curso de Filosofia do Direito, p. 304.
4 CULLETON, Alfredo; BRAGATO, Fernanda Frizzo, A Justiça e o Direito, São Paulo: Martins Fontes, 2015, p. 28–29.

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RODADA 01

Já a justiça distributiva é uma questão mais política e ligada ao direito público, eis que o conceito de mérito
varia conforme o regime. Dentro da interpretação estrita de Aristóteles, ligada ao merecimento, podemos
pensar nos modos de atribuição de salários, em regra ligados à complexidade das tarefas, ou aprovação em
concurso público, também, em tese, decorrente do mérito pessoal do candidato.
É preciso tomar cuidado, portanto, ao estabelecer uma ligação direta entre a justiça distributiva aristotélica
e aquela desenvolvida por autores mais contemporâneos, como John Rawls, que não possuem ligação com
o mérito, mas sim com a correção de certas injustiças.
A) INCORRETA. Vide comentários acima. A justiça como equidade é um conceito contemporâneo
desenvolvido por John Rawls e que será abordado nas aulas em vídeo.
B) CORRETA. Vide comentários acima.
C) INCORRETA. Vide comentários acima.
D) INCORRETA. Vide comentários acima.
E) INCORRETA. Vide comentários acima.

💡 GABARITO: B

QUESTÃO 39. Leia o trecho abaixo:


“(...) ao contrário do que muitos atores sociais afirmam, a exclusão pode ocorrer mesmo na ausência objetiva
da intenção de discriminar um indivíduo e também em situações nas quais não há a utilização de formas de
diferenciação legalmente vedadas. Normas jurídicas, políticas públicas ou decisões institucionais podem
obedecer ao princípio da generalidade das leis, não sendo então dirigidas a nenhum grupo específico (...)”
(MOREIRA, Adilson. Tratado de Direito Antidiscriminatório. São Paulo: Contracorrente, 2020. p. 519).
O excerto se refere à seguinte forma de discriminação:
A) Discriminação indireta
B) Discriminação estrutural
C) Discriminação institucional
D) Discriminação direta
E) Discriminação interseccional

💡 GABARITO COMENTADO.

A temática do Direito da Antidiscriminação tem sido cada vez mais abordada em concursos públicos. No
âmbito da magistratura o tema está previsto na Resolução nº 75/2009 como parte do conteúdo programático
de Formação Humanística. Nesta rodada vamos abordar alguns aspectos fundamentais do Direito da
Antidiscriminação, além de uma introdução aos principais tipos de discriminação. Como a abordagem será
feita do ponto de vista da Formação Humanística, especialmente com o auxílio de instrumentos da Filosofia e
da Sociologia, não vamos abordar com profundidade dos instrumentos legais que fundamentam o Direito da
Antidiscriminação, perspectiva mais relacionada a disciplinas dogmáticas, em especial o Direito Internacional

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RODADA 01

dos Direitos Humanos.


Segundo Adilson Moreira em uma das obras mais completas sobre o tema, o Direito Antidiscriminatório pode
ser definido da seguinte maneira:
Podemos definir o Direito Antidiscriminatório a partir de diferentes parâmetros. Ele pode
ser visto, quanto à sua natureza específica, como um campo jurídico composto por uma série
de normas que pretendem reduzir ou eliminar disparidades significativas entre grupos,
um dos objetivos centrais dos textos constitucionais das sociedades democráticas. Essa
meta pode ser alcançada por meio da criação de um sistema protetivo composto por normas
legais e iniciativas governamentais destinadas a impedir a discriminação negativa, forma
de tratamento desvantajoso intencional e arbitrário, e também por iniciativas públicas ou
privadas destinadas a promover a discriminação positiva, ações voltadas para a integração
social de minorias. (...) Esse campo pretende então estabelecer uma relação igualitária
entre segmentos sociais, um objetivo do constitucionalismo contemporâneo que só
pode ser atingido a partir de mecanismos legais e políticos que procuram combater
a discriminação. Assim, as normas que formam esse campo jurídico operam a partir
da análise conjunta das relações estruturais entre dois elementos centrais: a igualdade e
a discriminação. Ele constitui um estudo das normas que direta ou indiretamente são
relevantes para a construção de um sistema protetivo, o que tem relevância em sociedades
que, mesmo sendo reguladas por regimes democráticos, ainda estão estruturadas a partir de
relações hierárquicas de poder entre seus diferentes segmentos. A igualdade preconizada
na legislação desses países só pode ser alcançada com a identificação e a eliminação dos
mecanismos que impedem o reconhecimento da igual humanidade das pessoas5
Do ponto de vista classificatório, pode-se situar o Direito da Antidiscriminação como um subsistema do
Direito Constitucional. Todavia, é importante registrar que, de uma perspectiva teórica, trata-se de um campo
de investigação interdisciplinar, devendo se articular com outros saberes para uma compreensão ampla das
razões da exclusão social.
Nesta questão vamos revisar as modalidades de discriminação, tema que também será abordado na aula em
vídeo.
A primeira distinção relevante neste tópico, típica da primeira geração de teorias da discriminação, pode
ser formulada entre as modalidades de discriminação direta e indireta. No primeiro caso, há discriminação
quando o ato arbitrário é intencional e consciente. É composta pelos seguintes elementos: arbitrariedade,
intencionalidade, tratamento desvantajoso (discriminação negativa) e a utilização de um critério proibido
por lei. Já no segundo caso, há discriminação surge nas “realidades permanentes que se reproduzem e se
reforçam ao longo do tempo por meio da manutenção de medidas aparentemente neutras mas efetivamente

5 MOREIRA, A. J. Tratado de direito antidiscriminatório. São Paulo, SP, Brasil: Contracorrente, 2020. p. 50.

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discriminatórias”.6 A discriminação indireta surge, consequentemente, quando uma certa norma ou prática
social tem um impacto desproporcionalmente negativo sobre dado grupo vulnerável, ainda que não haja
propriamente um elemento intencional de discriminação.7
É possível aprofundar ainda mais a análise da discriminação para além da discriminação indireta, a qual
representou um avanço teórico importante. Esta sofisticação teórica pode ser feita a partir do reconhecimento
que “não podemos identificar adequadamente práticas discriminatórias sem o conhecimento da pluralidade
de identidades presentes em um grupo social”.8
A principal abordagem nessa chave é a da discriminação interseccional. A chave para esta concepção é a
interseccionalidade, que consiste na “análise da raça, sexo, classe, origem nacional e orientação sexual e de
como se dá a combinação desses elementos nos mais diversos contextos.”9 O sujeito, nesta perspectiva, não
pode ser pensado apenas a partir de um ponto de vista social (mulher, negro, homossexual etc.), mas sim a
partir das diversas posições sociais ocupadas, reconhecendo-se que os diversos marcadores de vulnerabilidade
podem operar, e frequentemente operam, em conjunto, originando novas formas de discriminação, não sendo
um mero caso de soma aritmética de discriminações. Esses sujeitos operam em uma intersecção de marcadores
de opressão.
Desse modo, por exemplo, não basta o entendimento da opressão racial, que muitas vezes abstrai da questão
de gênero, ou da perspectiva feminista, muitas vezes se formata a partir das experiências das mulheres brancas.
Neste sentido, “[a]s opressões sofridas pelas mulheres negras são resultantes da intersecção de opressões de
gênero e de raça e colocam a maioria das mulheres negras à margem do poder e da representação, invisibilizando-
as em diferentes contextos.”10
Ainda rompendo com o modelo liberal de discriminação, temos perspectivas que consideram sua dimensão
coletiva. A discriminação institucional opera a partir da assimetria de poder entre grupos sociais, relações essas
que se replicam em instituições sociais. Neste contexto, certos estereótipos negativos que circulam no plano
cultural são utilizados como critério de tratamento de grupos ou indivíduos, promovendo a subordinação e o
controle social, ainda que esse não seja o objetivo primário dessa instituição. E a expressão dessa discriminação
ocorre no plano institucional “porque membros dos grupos dominantes controlam os mecanismos de acesso
às várias instituições sociais e elas passam a operar segundo normas e práticas que, embora formuladas em
termos gerais, expressam os interesses desses grupos sociais”.11 Um exemplo é o modelo de prisão brasileiro,
que atinge desproporcionalmente homens negros por estar fundado em certos estereótipos, ainda que isso se
instrumentalize na forma de regras supostamente neutras. Voltaremos a esse ponto no estudo sobre o racismo.
Já a discriminação estrutural pode ser definida como “consequência da existência de sistemas discriminatórios

6 RIOS, Direito da antidiscriminação, p. 21.


7 MOREIRA, Tratado de direito antidiscriminatório, p. 401.
8 Ibid., p. 410.
9 DELGADO, Richard; STEFANCIC, Jean, Teoria Crítica da Raça: uma introdução, São Paulo: Contracorrente, 2021, p. 77.
10 MOREIRA, Tratado de direito antidiscriminatório, p. 410.
11 Ibid., p. 458.

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RODADA 01

que promovem a exclusão de grupos minoritários nas diversas dimensões da vida, sistemas que operam por meio
da ação coordenada das mais diversas instituições, sejam elas públicas ou privadas.”12 Nesta chave conceitual,
reconhece-se que o funcionamento normal da sociedade é discriminatório e opera para a exclusão de grupos
minoritários e a promoção da dominação. Este modelo permite, portanto, reconhecer o caráter sistêmico da
discriminação a partir de normas jurídicas, normas políticas, ordem econômica e plano cultural.13 Este tema
também será abordado novamente quanto tratarmos do racismo.
Assim, a partir das considerações tecidas, podemos inferir que o trecho se refere à discriminação indireta.
A) CORRETA. Vide comentários acima.
B) INCORRETA. Vide comentários acima.
C) INCORRETA. Vide comentários acima.
D) INCORRETA. Vide comentários acima.
E) INCORRETA. Vide comentários acima.

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 40. O positivismo jurídico consiste em uma doutrina que estipula que o direito tem uma
natureza convencional. Neste sentido, o direito é composto por normas positivas, as quais dependem
apenas de fatos sociais. Considerando o exposto, é INCORRETO afirmar que:
A) Jean Bodin e Thomas Hobbes podem ser considerados autores que anteciparam algumas características
do positivismo jurídico.
B) De acordo com a tese social, o que pode ser considerado direito na sociedade é uma questão social ou
convencional.
C) A tese da separação postula que há, necessariamente, uma ausência de identificação entre o direito e a
moral.
D) O positivismo metodológico aborda o direito como um fato, rejeitando-se critérios de justiça.
E) À luz do positivismo de autores como Kelsen e Hart o juiz não é apenas a “boca da lei”.

💡 GABARITO COMENTADO

De modo geral, o positivismo jurídico possui duas características compartilhadas por seus autores. A primeira
é popularmente conhecida “tese social”, segundo a qual o que pode ser considerado direito na sociedade é
uma questão social ou convencional.14 Isso significa que o direito é composto exclusivamente por normas
colocadas em vigor por seres humanos convivendo socialmente.
Com a adoção dessa tese social o positivismo jurídico se contrapõe ao modelo dualista proposto pelo direito

12 Ibid., p. 466.
13 Ibid., p. 466–467; ALMEIDA, Silvio, Racismo estrutural, São Paulo: Pólen, 2019, p. 33.
14 Dimoulis aponta que esse posicionamento é conhecido como tese do fato social, tese social, tese da fonte, tese das fontes sociais do
direito ou tese convencionalista. Apesar dessas distinções não serem apenas terminológicas, todas estão relacionadas à rejeição de elementos
metafísicos.

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RODADA 01

natural, já que a validade da norma jurídica depende exclusivamente de fatos sociais e não de uma ordem
superior distinta do legislador humano.15 O direito possui, portanto, fontes formais dotadas de autoridade
social. É assim uma teoria monista sobre o direito.
A segunda é a “tese da separação”, que estipula a inexistência de uma identificação necessária entre o direito
e a moral16. Este último aspecto é de especial importância: para o positivismo jurídico, o que importa é a
análise da validade do direito, e não de sua justiça ou moralidade. Trata-se de uma opção metodológica para
abordar o fenômeno jurídico, o que não implica concordância com o ordenamento ou mesmo cega obediência
a ele. Os critérios para determinação da validade, contudo, vão variar conforme o autor, em especial no que
tange à validade do ordenamento jurídico. Neste curso vamos nos concentrar nos critérios adotados por Kelsen
(norma fundamental) e Hart (regra de reconhecimento).
Por outro lado, o positivismo jurídico defende uma independência entre o direito e a moral, contrapondo-se
às teses moralistas, as quais aderem à tese da conexão que postulam uma ligação estrita entre direito e justiça
para a identificação do direito válido. O positivismo contemporâneo, ao focar na categoria da validade, “busca
determinar, com precisão, os limites do direito em relação à moral e à política.”17
Neste paradigma, cabe ao estudioso descrever o direito sem envolvimento ou posicionamento pessoal, sem
justificá-lo ou corrigi-lo conforme suas preferências. Trata-se de um pertencimento de natureza formal, em
regra relacionado a uma relação com outras normas no ordenamento. E é importante ressaltar que “formal”
aqui deve ser entendido em um sentido específico: não envolve uma discussão material ou de justiça.
A) CORRETA. Do ponto de vista dos antecedentes históricos, podemos mencionar Jean Bodin, teórico da
soberania, para quem as leis dependeriam apenas da vontade do soberano. Thomas Hobbes, a seu turno,
também vinculava a ideia de justo ao direito posto pelo soberano.
B) CORRETA. Vide comentários acima. Essa posição é desenvolvida principalmente por H.L.A. Hart, autor
que será aprofundado no decorrer no curso.
C) INCORRETA. Atenção para esse ponto! A “tese da separação” estipula a inexistência de uma identificação
necessária entre o direito e a moral18. Este último aspecto é de especial importância: para o positivismo jurídico,
o que importa é a análise da validade do direito, e não de sua justiça ou moralidade. Trata-se de uma opção
metodológica para abordar o fenômeno jurídico, o que não implica concordância com o ordenamento ou
mesmo cega obediência a ele. Os critérios para determinação da validade, contudo, vão variar conforme o
autor, em especial no que tange à validade do ordenamento jurídico. Todavia, isso não impede que exista essa
identificação! No caso de uma lei que proíba o homicídio, por exemplo, há uma identificação entre o direito e
a moral. Todavia, a validade não decorre do preceito moral, mas sim dos critérios formais de validade.
D) CORRETA. Norberto Bobbio possui uma interessante sistematização de aspectos do positivismo jurídico.
15 Legislador aqui não pode ser interpretado em sentido estrito. O positivismo admite que, por exemplo, organismos infralegais criem
direito, bem como os juízes.
16 LEITER, Brian; COLEMAN, Jules L., Legal Positivism, in: PATTERSON, Dennis M. (Org.), A companion to philosophy of law and
legal theory, Malden: Wiley-Blackwell, 1999, p. 223–240.
17 BARZOTTO, O positivismo jurídico contemporâneo, p. 20.
18 LEITER, Brian; COLEMAN, Jules L., Legal Positivism, in: PATTERSON, Dennis M. (Org.), A companion to philosophy of law and
legal theory, Malden: Wiley-Blackwell, 1999, p. 223–240.

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RODADA 01

O primeiro é o positivismo metodológico, ou seja, como um modo de aproximar-se do estudo do direito.


Este aspecto leva em consideração uma distinção do direito como um fato (ou um ser) e o direito como um
valor (ou um dever-ser). Ao jurista positivista cabe apenas a adoção de uma atitude neutra, objetiva, adotando
critérios observáveis para definir se a norma é ou não válida, como o fato dela ter sido aprovada por um órgão
específico. Rejeita-se aqui uma finalidade do direito (bem comum, justiça etc.), que seriam estranhos à teoria
jurídica, para focar-se no direito positivo como ele é.19
Já o positivismo jurídico como teoria é uma teoria que considera como direito aquilo que é derivado do
Estado, de uma regra positivada de acordo com certos critérios formais.20 O positivismo ideológico, a seu
turno, consiste em uma ideologia que apregoa a obediência ao direito positivo. Há assim um dever moral de
obediência ao direito, estando o agente no campo de postulados éticos, e não apenas de fatos como ocorre
quando lida com a validade.21 No entanto, que está em discussão no positivismo jurídico não é essa vinculação
ideológica a uma certa ordem jurídica, fato que não tem nenhuma relevância do ponto de vista de uma teoria
do direito.
E) CORRETA. Este é um ponto importante e que gera muitos equívocos. No contexto do positivismo clássico
do séc. XIX é possível conceber o juiz como a “boca da lei”. Todavia, na contemporaneidade, isso não mais
se verifica. Como Bobbio afirma, este paradigma foi criticado corretamente por correntes sociológicas, tendo
sido amplamente constatado que o juiz cria direito apesar da supremacia da lei ou dos precedentes. Com isso,
houve um afastamento progressivo de uma teoria mecanicistas da interpretação, sendo Kelsen um exemplo
disso.22 A questão de o juiz estar vinculado à aplicação da lei também está fora do campo do positivismo
metodológico, sendo um assunto típico da Ética normativa.23 O positivismo jurídico não impede, ademais, que
seja feita uma avaliação crítica do direito. Isso, contudo, está fora do escopo metodológico positivista. A análise
como o direito “deveria ser” é uma tarefa de outras disciplinas com caráter valorativo.

💡 GABARITO: C

19 BOBBIO, Norberto, Jusnaturalismo e positivismo jurídico, São Paulo: Ed. UNESP, 2015, p. 132–134.
20 Ibid., p. 132–137.
21 Ibid., p. 137–141.
22 Ibid., p. 148.
23 LAMEGO, Jose, Elementos de metodologia jurídica, Coimbra: Almedina, 2016, p. 288. A Ética normativa é um tipo de saber que pro-
cura orientar a ação dos seres humanos de acordo com certos critérios do que é bom ou justo.

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