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DPESP

RETA FINAL
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CORPO DOCENTE

Alexandre Cabral. Defensor Público Federal. Especialista em Segurança Pública. Especialista em


Direito Público. Mestre em Administração Pública. Ex-Secretário Geral Executivo da DPU.

Caio Paiva. Professor. Ex-Defensor Público Federal em Campinas/SP (aprovado no IV Concurso


para a DPU). Professor de Processo Penal e Direitos Humanos. Coord. do Curso CEI e do Tudo
de Penal. Especialista em Ciências Criminais e autor de vários livros.

Daniel Chiaretti. Juiz Federal Substituto em Corumbá/MS (aprovado no XVII Concurso do


TRF-4). Bacharel em Direito e Filosofia pela USP. Mestre e Doutorando em Filosofia pela USP.
Tutor e Formador pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam).
Ex-Defensor Público Federal. Coautor das obras “Comentários ao Estatuto dos Refugiados” (Ed.
CEI – 2019) e “Roteiros de Prova Oral: magistratura federal” (Ed. Juspodivm).

Franklyn Roger. Professor de Direito Processual Penal e Princípios Institucionais da Defensoria


Pública. Defensor Público do Estado do RJ, mestre e doutor em Direito Processual pela UERJ e
coautor do livro Princípios Institucionais da Defensoria Pública. Ex-examinador da DPE/PR.

Giancarlo Vay. Defensor Público do Estado de São Paulo. Especialista em Direito da Criança
e do Adolescente, em Criminologia e em Direitos Humanos. Mestrando pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Professor e autor de artigos científicos.

Gustavo Goldzveig. Defensor Público do Estado de São Paulo. Especialista em Direito Público.

Júlio Azevedo. Defensor Público do Estado de SP. Mestre em Direito Processual Civil (USP).

Luciana Mota. Defensora Pública do Estado do RJ. Mestre em Direito pela UERJ.

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Luis Zouein. Defensor Público do Estado do RJ.

Tathiane Campos Soares. Defensora Pública do Estado do Rio de Janeiro. Mestrado em Direito
Empresarial.

Thiago Pedro Pagliuca dos Santos. Doutor e Mestre em Direito Penal pela USP. Bacharel em
Direito pela PUC/SP. Professor do Curso Popular de Formação de Defensoras e Defensores
Públicos e da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Juiz de Direito (TJ/SP). Ex-
Defensor Público (DPE/RS e DPE/SP). Ex-Conselheiro Penitenciário do Estado de São Paulo.

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SUMÁRIO

CORPO DOCENTE................................................................................................................................... 2
CRONOGRAMA...................................................................................................................................... 5
APRESENTAÇÃO..................................................................................................................................... 6
QUESTÕES OBJETIVAS SEM GABARITO COMENTADO.......................................................................... 7
DIREITOS HUMANOS........................................................................................................................ 7
DIREITO CONSTITUCIONAL.............................................................................................................. 8
DIREITO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO.................................................................................... 10
DIREITO PENAL............................................................................................................................... 12
DIREITO PROCESSUAL PENAL........................................................................................................ 13
DIREITO CIVIL................................................................................................................................. 14
DIREITO EMPRESARIAL E CONSUMIDOR....................................................................................... 16
DIREITO PROCESSUAL CIVIL........................................................................................................... 17
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS................................................................................................... 19
PRINCÍPIOS E ATRIBUIÇÕES INSTITUCIONAIS............................................................................... 20
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE................................................................................... 21
CRIMINOLOGIA.............................................................................................................................. 23
FILOSOFIA DO DIREITO E SOCIOLOGIA JURÍDICA......................................................................... 24
GABARITO............................................................................................................................................ 25
QUESTÕES OBJETIVAS COM GABARITO COMENTADO....................................................................... 26
DIREITOS HUMANOS...................................................................................................................... 26
DIREITO CONSTITUCIONAL............................................................................................................ 29
DIREITO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO.................................................................................... 37
DIREITO PENAL............................................................................................................................... 44
DIREITO PROCESSUAL PENAL........................................................................................................ 50
DIREITO CIVIL................................................................................................................................. 56
DIREITO EMPRESARIAL E CONSUMIDOR....................................................................................... 62
DIREITO PROCESSUAL CIVIL........................................................................................................... 65
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS................................................................................................... 80
PRINCÍPIOS E ATRIBUIÇÕES INSTITUCIONAIS............................................................................... 89
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE................................................................................... 92
CRIMINOLOGIA.............................................................................................................................. 99
FILOSOFIA DO DIREITO E SOCIOLOGIA JURÍDICA....................................................................... 101

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CRONOGRAMA

Rodada Publicação

1ª Rodada 26/01/2023

2ª Rodada 02/02/2023

3ª Rodada 09/02/2023

4ª Rodada 16/02/2023

5ª Rodada 23/02/2023

6ª Rodada 01/03/2023

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APRESENTAÇÃO
Prezadas alunas e alunos,
Sejam bem-vindos ao Curso CEI – DPESP – Reta final!
Nós do corpo docente agradecemos a confiança no projeto de preparação para o concurso de ingresso na
carreira da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.
O objetivo deste curso é prepará-los para a prova preliminar de caráter objetivo que será realizada no ano de
2023. É muito importante que todos leiam o regulamento do concurso e seu conteúdo programático.
Estaremos todos preparando as questões para treino a partir do perfil da instituição, das normas mais recentes
em vigor e da doutrina institucional mais moderna, aliando a uma atualização jurisprudencial.
As seis rodadas do curso serão dedicadas à preparação para a prova objetiva e cada rodada contará com 38
questões compreendendo todas as disciplinas indicadas no regulamento.
Cada rodada contará com a bateria de questões e o gabarito comentado de cada uma das assertivas.
Além das rodadas de questões, recomendamos também que assistam a todas as vídeoaulas com revisão dos
principais temas do regulamento do concurso.
Como forma de aprimorar os estudos, sugerimos que sigam os professores do curso em suas redes sociais, bem
como o perfil institucional da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.
Sucesso nos estudos.
A Coordenação.

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QUESTÕES OBJETIVAS SEM GABARITO COMENTADO


🏳 DIREITOS HUMANOS
QUESTÃO 01. Marque a alternativa INCORRETA sobre os tratados de direitos humanos do sistema
interamericano:
A) Há um tratado no sistema interamericano sobre direitos humanos das pessoas idosas. O Brasil
ainda não ratificou esse tratado.
B) O Protocolo de San Salvador estabelece o direito humano à alimentação adequada.
C) A CADH não exige o consentimento da vítima ou dos seus familiares para que um terceiro denuncie
uma violação de direitos humanos perante a Comissão Interamericana.
D) Os juízes da Corte Interamericana e os membros da Comissão Interamericana recebem honorários
pelas suas atuações, não se tratando, portanto, de cargos sem qualquer remuneração.
E) O Brasil internalizou a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência com o status equivalente ao de emenda
constitucional.
QUESTÃO 02. A respeito do regime jurídico e das funções da Comissão e da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, marque a alternativa CORRETA:
A) A competência da Comissão Interamericana para receber e tramitar petições interestatais não é
automática com a ratificação da CADH, dependendo de reconhecimento específico pelos Estados.
B) Para solicitar uma medida cautelar à Comissão Interamericana, exige-se primeiro o esgotamento
dos recursos da jurisdição interna.
C) Processado o caso e tendo concluído que o Estado demandado violou direitos humanos e não
cumpriu com suas recomendações no prazo fixado, a Comissão Interamericana fica obrigada a
submeter o caso à jurisdição contenciosa da Corte Interamericana.
D) A Comissão Interamericana não precisa de autorização do Estado brasileiro para realizar visitas
ou investigações in loco.
E) Não há, no âmbito da Comissão Interamericana, uma Relatoria específica para pessoas LGBTQI.
QUESTÃO 03. No que diz respeito ao sistema africano de proteção dos direitos humanos, é CORRETO
afirmar que:
A) Dependendo de aceitação específica neste sentido, é possível que indivíduos e ONGs acessem
diretamente a Corte Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.
B) A organização internacional intergovernamental sobre a qual está estruturado o sistema africano
é a Organização da Unidade Africana.
C) A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, assim como a CADH, protege essencialmente
direitos civis e políticos.
D) A Corte Africana dos Direitos Humanos e dos Povos possui apenas uma função contenciosa, não

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tendo, diferentemente da Corte IDH, uma função consultiva.


E) O sistema africano, após uma reforma, deixou de contar com a Comissão Africana, havendo apenas
uma grande Corte Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, que permite o acesso direto.

🏳 DIREITO CONSTITUCIONAL
QUESTÃO 04 – Câmara municipal do Município X aprovou, no contexto da pandemia da COVID-19,
o projeto de lei 100/2021, a fim de fazer de transformar em essenciais a prática de atividade e exercícios
físicos como essenciais para a sua população em estabelecimentos prestadores de serviços destinados a
essa finalidade, bem como em espaços públicos em tempos de crise ocasionados por moléstias infecciosas
ou catástrofes naturais. O prefeito vetou a lei por entender haver inconstitucionalidades na lei. O veto foi
derrubado pela respectiva casa legislativa. A lei foi 100/2021 foi aprovada, tendo o prefeito ingressado
com representação de inconstitucionalidade formal por vício de iniciativa e violação do pacto federativo,
na forma da Constituição da República e da Constituição do Estado de São Paulo. De acordo com o
entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assinale a alternativa correta:
A) Não há inconstitucionalidade formal por violação do pacto federativo, na medida em que é
competência suplementar dos Municípios legislar sobre matérias de competência concorrente da
União e dos Estados, como a promoção e assistência à saúde. Além disso, não houve vício de iniciativa,
posto que a lei municipal não trata de ato de gestão administrativa ou matéria de iniciativa exclusiva
do chefe do poder executivo.
B) Não há inconstitucionalidade formal por violação do pacto federativo, na medida em que é
competência suplementar dos Municípios legislar sobre matérias de competência concorrente da
União e dos Estados, como a promoção e assistência à saúde. Porém, na medida em que a autorização
de funcionamento de serviços particulares e privados implicam aumento de gastos públicos e gestão
administrativa, há vício de iniciativa, caracterizando inconstitucionalidade formal.
C) Há inconstitucionalidade formal por violação do pacto federativo, na medida em que, embora haja
competência suplementar do Município para legislar sobre saúde, na hipótese da pandemia, a Lei
federal nº 13.979/2020 definiu regramento geral de enfrentamento da emergência de saúde pública
e no âmbito estadual houve a edição Decreto nº 64.994/2020 que dispôs sobre o Plano São Paulo, de
modo que não houve lacuna legislação a ensejar a suplementação pelo Município, na forma do artigo
30, I e II, da CF. Porém, não há inconstitucionalidade formal por vício de iniciativa, posto que a lei
municipal não trata de ato de gestão administrativa ou matéria de iniciativa exclusiva do chefe do
poder executivo.
D) Há inconstitucionalidade formal por violação do pacto federativo, na medida em que, embora haja
competência suplementar do Município para legislar sobre saúde, na hipótese da pandemia, a Lei
federal nº 13.979/2020 definiu regramento geral de enfrentamento da emergência de saúde pública
e no âmbito estadual houve a edição Decreto nº 64.994/2020 que dispôs sobre o Plano São Paulo, de

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modo que não houve lacuna legislação a ensejar a suplementação pelo Município, na forma do artigo
30, I e II, da CF. E, ainda, na medida em que a lei autoriza funcionamento de serviços particulares
e privado, que implicam aumento de gastos públicos e gestão administrativa, há vício de iniciativa,
caracterizando inconstitucionalidade formal também por esta razão.
E) Há inconstitucionalidade formal por violação do pacto federativo, na medida em que, apesar de
envolver o tema saúde, a Constituição da República estabeleceu expressamente que é competência
exclusiva da União legislar sobre temas que envolvem emergências internacionais de saúde ou
catástrofes públicas. E, ainda, na medida em que a lei autoriza funcionamento de serviços particulares
e privado, que implicam aumento de gastos públicos e gestão administrativa, há vício de iniciativa,
caracterizando inconstitucionalidade formal também por esta razão.
QUESTÃO 05. Sobre direitos políticos e direitos de cidadania assinale alternativa incorreta:
A) Os mandatos políticos coletivos correspondem à possibilidade de um indivíduo compartilhar as
decisões do mandato com outras pessoas, no entanto, o exercício do mandato é individual, havendo
obrigação, conforme resolução do TSE, que conste o nome do titular do cargo na candidatura, sendo
vedado o registro de nome de urna contendo apenas a designação do respectivo grupo ou coletivo
social.
B) A federação partidária corresponde à possibilidade de dois ou mais partidos políticos poderão
reunir-se em federação, o único fim de buscar sucesso dos candidatos membros da federação no pleito
eleitoral. Logo, o seu tempo de duração é limitado ao pleito eleitoral.
C) Foi definido constitucionalmente que, para fins de distribuição entre os partidos políticos dos
recursos do fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), os votos
dados a candidatas mulheres ou a candidatos negros para a Câmara dos Deputados nas eleições
realizadas de 2022 a 2030 serão contados em dobro.
D) Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os Vereadores que se
desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência
do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei. Nestes casos, não será computada
a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros fundos
públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão.
E) Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco por cento) dos recursos do fundo
partidário na criação e na manutenção de programas de promoção e difusão da participação política
das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários.
QUESTÃO 06. Sobre a formação, elementos e interpretação da constituição assinale a alternativa correta:
A) o substancialismo, como teoria da interpretação constitucional decorrente do constitucionalismo
americano, surge em contraposição a uma outra teoria, o chamado procedimentalismo, de modo
que além de procedimentos para o exercício de direitos, a constituição também estabelece valores e
princípios os quais notadamente devem ser parte do processo hermenêutico constitucional.

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B) O método de interpretação tópico-problemático é aquele pelo qual se verifica que a norma não
corresponde ao respectivo texto. A literalidade do texto deve ser analisada à luz da concretização da
norma, conforme a realidade social. A norma jurídica é resultado da interação entre o texto e os dados
da realidade.
C) O princípio da máxima efetividade corresponde a um princípio interpretativo constitucional,
segundo o qual o intérprete deve agir de forma responsável, de modo a manter a integridade social e
política. Assim, não pode o intérprete agir de forma leviana, adotando uma interpretação que coloque
em risco a estabilidade das instituições e da sociedade em geral.
D) A concepção política de constituição, baseada na teoria de Ferdinand Lassalle, estabelece que
uma Constituição se fundamenta não em normas jurídicas, mas na vontade política concreta que a
antecede.
E) O princípio de efeito integrador da constituição impõe o ao intérprete que haja harmonização das
tensões e contradições existentes entre as normas constitucionais, de modo que uma norma não deve
ser analisada isoladamente.

🏳 DIREITO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO


QUESTÃO 07. Com especial atenção aos reflexos sociais na aplicação do Direito Administrativo, assinale
a única opção correta.
A) Enquanto a locação social decorre de programa com lastro na legislação federal que visa fornecer
valor pecuniário a fim de viabilizar o aluguel emergencial de um imóvel para quem se viu desalojado
em situação de emergência/calamidade, o aluguel social, presente em normas estaduais e municipais,
representa a busca por se aproveitar imóveis já existentes adequando-os ao perfil da população
vulnerável, muitas vezes com reforma ou subsídio parcial ou total para locação e finalidade de uso a
médio ou longo prazo.
B) A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi internalizada no Brasil
com status de norma constitucional. Um dos reflexos de sua adoção, a Lei 12.764/12 e seu regulamento
já previam que, caso fosse comprovada a necessidade de apoio às atividades de comunicação, interação
social, locomoção, alimentação e cuidados pessoais, a instituição de ensino em que a pessoa com
transtorno do espectro autista estivesse matriculada disponibilizaria acompanhante especializado no
contexto escolar.
C) Consoante a Lei 10.639 de 2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Lei
no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, tornou-se obrigatório nos estabelecimentos oficiais de ensino
fundamental e médio, o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
D) O Tombamento é forma de intervenção na propriedade destinada à proteção do patrimônio
histórico e artístico nacional, também chamado de patrimônio cultural brasileiro, recaindo sobre
bens materiais, móveis ou imóveis, fruto de processo administrativo que se destina a constituí-lo,

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mesmo quando se tratar de documentos e sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos
quilombos.
E) O Estado de São Paulo possui diferentes leis que punem, administrativamente, atos de discriminação
aos portadores do vírus HIV ou às pessoas com AIDS, atos de discriminação em razão de orientação
sexual ou atos de discriminação racial. Em todas elas a sanção administrativa mais gravosa possível é
a cassação da licença estadual de funcionamento.
QUESTÃO 08. Sobre o tema das Licitações, assinale a única alternativa correta no que tange ao Leilão,
segundo o regime da Lei 14.133/2021.
A) Trata-se de modalidade de licitação prevista na Lei 14.133/2021 para alienação de bens imóveis
ou de bens móveis inservíveis ou legalmente apreendidos a quem oferecer o maior lance, com fase de
habilitação.
B) Caso cometa o leilão a leiloeiro oficial a Administração pode selecioná-lo via credenciamento ou
pregão, adotando o critério de julgamento de maior desconto para as comissões a serem cobradas,
utilizados como parâmetro máximo os percentuais definidos na lei que regula a referida profissão e
observados os valores dos bens a serem leiloados.
C) O leilão exigirá registro cadastral prévio, não terá fase de habilitação e deverá ser homologado
assim que concluída a fase de lances, antes da fase recursal e tão logo efetivado o pagamento pelo
licitante vencedor, na forma definida no edital.
D) A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público
devidamente justificado, será precedida de avaliação e operacionalizada via leilão, inclusive, no caso
de bem imóvel, na hipótese de alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de
uso, locação e permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente
usados em programas de habitação ou de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos
por órgão ou entidade da Administração Pública;
E) A alienação de bens imóveis da Administração Pública cuja aquisição tenha sido derivada de
procedimentos judiciais ou de dação em pagamento dispensará autorização legislativa e exigirá
apenas avaliação prévia e licitação na modalidade concorrência.
QUESTÃO 09. Com atenção à Constituição e à legislação aplicável e de acordo com a interpretação
conferida pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, assinale a
única opção correta.
A) Igreja instalada em terreno no qual também mantém um cemitério destinado ao sepultamento de
fiéis terá, apenas naquele segundo espaço, que arcar com pagamento do IPTU.
B) Diz a Súmula Vinculante nº 52 do STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao
IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição
Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram
constituídas.

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Considerando que a o entendimento vem sendo estendido pelo STF em diferentes situações também
para os templos de qualquer culto, quando contribuintes de direito do IPTU (proprietários) do imóvel,
ainda que alugado a terceiros, mas desde que os rendimentos revertam para a finalidade da entidade,
a única hipótese que se vislumbra de pagamento do imposto em tela por uma igreja é na condição de
contribuinte de fato, que, ao alugar o imóvel para nele exercer sua atividade, aceite, contratualmente,
ser responsável pelo pagamento da exação, hipótese em que deverá arcar com o imposto.
C) Diz a CF/88, art. 151, III, que é vedado à União: instituir isenções de tributos da competência
dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Nesse sentido, o STF inadmite que tratado
internacional possa determinar isenção referente a tributo municipal.
D) Diz o Art. 195, § 7º, da CF/88: São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades
beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei. Entende o STJ que
o Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social – CEBAS, que é emitido após análise
administrativa desses requisitos legais, tem natureza declaratória, e não constitutiva, ou seja, com
efeitos ex tunc ao momento em que demonstrado o cumprimento dos requisitos para fruição da
imunidade.
E) A aquisição de veículos automotores sem cobrança de IPI ou de ICMS em favor de pessoas com
deficiência se dá em virtude de imunidades tributárias, previstas, respectiva e necessariamente, em
leis complementares federal e estaduais.

🏳 DIREITO PENAL
QUESTÃO 10. Considerando a manifestação da ideologia na história e na formação do Direito Penal, é
CORRETO afirmar que:
A) A exposição histórica da legislação criminal, do período medieval até o presente, passando pela
legislação nacional, com a abordagem, ainda, da sucessão de escolas filosóficas que influenciaram a
formação desse campo do conhecimento, representa uma forma exitosa e suficiente de historicizar o
Direito Penal.
B) As teorias unificadas da pena superaram as críticas que anteriormente eram direcionadas às teorias
legitimadoras ou positivas.
C) O racismo não é parte da estrutura do funcionamento do sistema penal brasileiro, mas sim um
elemento acidental presente em alguns processos de criminalização secundária.
D) A abolição do sistema penal não imprescinde ou está necessariamente relacionada à superação do
capitalismo.
E) O causalismo, o neokantismo, o ontologismo e o funcionalismo formaram verdadeiras escolas
no Direito Penal, com diferenças substanciais entre elas no que concerne à estrutura do delito, mas
reproduzindo os mesmos fundamentos do Direito Penal.
QUESTÃO 11. “(...) Sua essência é a engrenagem, não o freio, ainda que, dentro de uma máquina que está

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em funcionamento, a legalidade possa impedir que ela perca a direção e avance o sinal vermelho. (...)”
(Patrick Cacicedo, em Ideologia e Direito Penal). O autor se refere em tom de crítica:
A) Ao abolicionismo penal.
B) À criminologia crítica.
C) Ao garantismo penal.
D) Ao neopunitivismo.
E) Ao funcionalismo teleológico.
QUESTÃO 12. A respeito da relação do Direito Penal com o Direito Internacional dos Direitos Humanos,
é CORRETO afirmar que:
A) Tratados de direitos humanos não podem veicular obrigação para os Estados criminalizarem uma
conduta no Direito Penal interno.
B) Há um consenso no âmbito da história social mundial e também no cenário da doutrina penal e
criminológica de que leis de anistia, quando se referem a crimes graves cometidos durante períodos
de exceção – como uma ditadura militar –, não podem ter qualquer valor jurídico.
C) Tratados internacionais podem tipificar crimes e serem invocados diante da omissão do Direito
Penal interno.
D) Conforme o entendimento do STF e do STJ, crimes contra a humanidade prescrevem.
E) O terrorismo é um dos crimes de competência do Tribunal Penal Internacional.

🏳 DIREITO PROCESSUAL PENAL


QUESTÃO 13. Marque a alternativa CORRETA a respeito da investigação preliminar:
A) Conforme o entendimento da doutrina crítica contemporânea, a investigação preliminar deveria
ser extinta, atribuindo ao titular da ação penal a função de, a partir de indícios mínimos, apresentar
a peça acusatória e, somente em juízo, se discutir o caso penal.
B) A Corte Interamericana de Direitos Humanos não possui uma jurisprudência mais clara e ampla
sobre a atuação do juiz das garantias e sobre a inconvencionalidade do exercício sucessivo de funções
pelo mesmo juiz na persecução penal.
C) A garantia da duração razoável do processo não se aplica à fase da investigação preliminar.
D) Arquivado o inquérito policial pelo juiz, a partir de requerimento do Ministério Público, assentando
que o fato investigado é atípico, pode ocorrer o desarquivamento se, tempos depois, desde que dentro
do prazo prescricional, for descoberta nova prova.
E) A investigação criminal pela defesa, também chamada de investigação defensiva, não encontra
respaldo no sistema interamericano de proteção dos direitos humanos.
QUESTÃO 14. Considerando a disciplina do Código de Processo Penal sobre a produção de provas no
processo penal e considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é CORRETO afirmar que:
A) Designada audiência de instrução e julgamento para inquirição das testemunhas e interrogatório

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do réu, constatada a ausência injustificada do Ministério Público, o correto a se fazer, para evitar
atraso na tramitação do processo, é o juiz prosseguir com a realização do ato, formulando as perguntas
acusatórias.
B) A cadeia de custódia da prova busca assegurar a concretização do princípio da mesmidade.
C) Tendo a Polícia Militar do Estado de São Paulo identificado que um homem procurado, com
mandado de prisão preventiva em aberto, estava residindo num prédio abandonado de uma escola
pública, como uma pessoa em situação de rua, a PM pode ingressar no prédio a qualquer horário para
proceder com o cumprimento do mandado.
D) A teoria da perda de uma chance probatória consiste na atuação ineficaz da defesa técnica que
simplesmente deixa de adotar um comportamento ativo na produção de provas.
E) A obrigação de informar à pessoa presa sobre seu direito ao silêncio vale apenas no momento do
interrogatório formal, na polícia ou em juízo.
QUESTÃO 15. Considerando o disposto no Código de Processo Penal sobre busca pessoal e busca
domiciliar, e ainda, levando em conta a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é CORRETO afirmar
que:
A) Fora das hipóteses de flagrante, um mandado de busca domiciliar somente pode ser expedido a
pedido da autoridade policial ou do Ministério Público, não se admitindo, conforme alteração ao
Código de Processo Penal implementada pela Lei Anticrime, a expedição de mandado de busca e
apreensão domiciliar de ofício.
B) Como qualquer pessoa pode proceder com a prisão em flagrante, qualquer pessoa também pode
– aqui incluso os guardas municipais – proceder com a busca pessoal no caso de fundada suspeita da
posse, por exemplo, de uma arma de fogo ou de drogas.
C) A percepção de nervosismo do averiguado por parte da polícia é suficiente para caracterizar a
fundada suspeita para fins de busca pessoal.
D) No cumprimento de um mandado de captura de acusado do crime de falsa identidade, se a polícia,
devidamente autorizada pela esposa do acusado, durante a realização da busca domiciliar, encontra
droga e uma munição de arma de fogo dentro de uma caixa de sapato, trata-se de encontro fortuito de
provas, sem qualquer mácula para a sua admissão no processo.
E) A constatação de situação de flagrância posterior ao ingresso no domicílio sem mandado supre a
ausência das fundadas razões para proceder com a diligência.

🏳 DIREITO CIVIL
QUESTÃO 16. No que tange às regras inerentes à sucessões e entendimentos estabelecidos pelos Tribunais
Superiores, analise as afirmativas a seguir:
I - O herdeiro que seja autor, coautor ou partícipe de ato infracional análogo ao homicídio doloso praticado
contra os ascendentes fica excluído da sucessão.

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II – Não tem direito ao recebimento de aluguéis a parte que, sem vínculo de parentalidade com a cônjuge
supérstite, possuía imóvel em copropriedade com o de cujus, em razão do direito real de habitação.
III - O prazo prescricional para propor ação de petição de herança conta-se da abertura da sucessão, como
regra, salvo nas hipóteses em que o interessado for absolutamente incapaz.
IV – São consideradas inoficiosas e, portanto, inválidas, as doações feitas pelo doador que ultrapassem
metade de seu patrimônio, independentemente de possuir herdeiros necessários.
Estão corretas as afirmativas:
A) I e IV
B) I e III
C) III e IV
D) I e II
E) II e III
QUESTÃO 17. Assinale a alternativa incorreta referente às regras aplicáveis aos contratos de seguro de
pessoas e de coisas:
A) Segundo entendimento do STJ, o seguro de vida não pode ser instituído por pessoa casada em
benefício de parceiro em relação concubinária.
B) Segundo entendimento do STJ, nos seguros de pessoas, é válida a exclusão de cobertura na hipótese
de sinistros ou acidentes decorrentes de atos praticados pelo segurado em estado de insanidade
mental, de alcoolismo ou sob efeito de substâncias tóxicas.
C) Segundo entendimento do STJ, no seguro de veículo, o estado de embriaguez do condutor do
veículo, por si só, não é circunstância apta a excluir a cobertura do seguro contratado.
D) O suicídio não é coberto se ocorre nos dois primeiros anos de vigência do contrato, sendo
desnecessário saber se houve premeditação.
E)Ressalvada a hipótese de efetivo agravamento do risco, a seguradora não se exime do dever de
indenizar em razão da transferência do veículo sem a sua prévia comunicação.
QUESTÃO 18. Sobre a usucapião de bens imóveis, assinale a alternativa correta:
A) Se Antônio reside em uma casa situada em área urbana de Campinas, de 300m², desde 20 de agosto
de 2017, sem oposição e de forma ininterrupta, já adquiriu a propriedade do imóvel por usucapião
especial urbana, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
B) Preenchidos os requisitos legais, o reconhecimento do direito à usucapião extraordinária não
pode ser obstado por legislação infraconstitucional que estabeleça área mínima a ser observada no
parcelamento de solo urbano.
C) A modalidade de usucapião familiar pressupõe a propriedade comum do casal e compreende
apenas as famílias em que haja filhos menores sob a guarda do possuidor.
D) A lavratura de boletim de ocorrência, por iniciativa de quem se declara proprietário de imóvel
litigioso, interrompe a prescrição aquisitiva, segundo entendimento do STJ.

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RODADA 02

E) Segundo entendimento do STJ, o prazo de posse para fins de usucapião não pode ser completado
no curso do processo.
QUESTÃO 19. Analise as afirmativas a seguir, relacionadas a instrumentos de regularização fundiária
previstos na Lei 13465/17:
I - Aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com características
e finalidade urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso
especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja proprietário ou
concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural.
II - A legitimação fundiária constitui forma originária de aquisição do direito real de propriedade
conferido por ato do poder público, exclusivamente no âmbito da Reurb, àquele que detiver em área
pública ou possuir em área privada, como sua, unidade imobiliária com destinação urbana, integrante de
núcleo urbano informal consolidado existente em 22 de dezembro de 2016.
III - Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida
pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são
suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de
outro imóvel urbano ou rural.
IV - Nos imóveis públicos situados em área com características e finalidades urbanas, com mais de
duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupados até 22 de dezembro de 2016, por população de baixa
renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, cuja área total dividida pelo
número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor, a concessão
de uso especial para fins de moradia será conferida de forma coletiva, desde que os possuidores não sejam
proprietários ou concessionários, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural.
Estão corretas apenas as afirmativas:
A) I, II e III
B) I, III e IV
C) I, II, III e IV
D) II, III e IV
E) I e IV

🏳 DIREITO EMPRESARIAL E CONSUMIDOR


QUESTÃO 20. Em relação ao empresário individual assinale a alternativa INCORRETA:
A) A responsabilidade do empresário individual é direta e ilimitada.
B) Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços.
C) Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária

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RODADA 02

ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão


constituir elemento de empresa.
D) Só pode ser empresário individual àquele que estiver em pleno gozo da capacidade civil e não for
legalmente impedido.
E) Uma vez caracterizado o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial é aplicável a teoria da
desconsideração da personalidade jurídica ao empresário individual.
QUESTÃO 21. Célio realizou contratação de plano de saúde há um mês. Conforme previsão contratual,
o plano de saúde exige carência de 180 dias para internações. Contudo, Célio sofreu um enfarto após 40
dias da contratação do respectivo plano de saúde, ocasião na qual dirigiu-se a emergência de um hospital
particular conveniado ao plano, sendo NEGADO o atendimento, sob argumento que o plano não cobriria
o atendimento em razão do período de carência.
Com base no caso ora narrado, o entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça estabelece
que:
A) A conduta do plano é ilícita, uma vez que em situações de urgência ou emergência, a carência
máxima deve ser de 24 horas, a contar da contratação.
B) A conduta do plano é ilícita, uma vez que em situações de urgência ou emergência, a carência
máxima deve ser de 48 horas, a contar da contratação.
C) A conduta do plano é ilícita, uma vez que em situações de urgência ou emergência, a carência
máxima deve ser de 72 horas, a contar da contratação.
D) A conduta do plano é lícita, uma vez que a discussão acerca da cobertura pode ser feita a posteriori
com eventual reparação de danos.
E) A conduta do plano é lícita, uma vez que a previsão contratual estipula expressamente o período de
carência de 180 (cento e oitenta) dias, respeitando assim o princípio da autonomia privada.
QUESTÃO 22. No que diz respeito aos planos de saúde e a carência assinale a alternativa INCORRETA:
A) Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os administrados
por entidades de autogestão.
B) Nos contratos de plano de saúde individual é proibida a recontagem dos prazos de carência.
C) O prazo máximo de carência para cobertura de cirurgias e exames será de 180 (cento e oitenta)
dias, salvo no caso de doença preexistente.
D) No caso de plano de saúde com o seguimento de obstetrícia, o prazo máximo de carência para a
cobertura de parto será de 180 (cento e oitenta) dias.
E) É vedada a exclusão de cobertura às doenças e lesões preexistentes à data de contratação após o
transcurso de 24 (vinte quatro) meses da contratação.

🏳 DIREITO PROCESSUAL CIVIL


QUESTÃO 23. A respeito dos princípios processuais civis assinale a alternativa INCORRETA:

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RODADA 02

A) É admitida a reconvenção da reconvenção no processo civil brasileiro, em homenagem aos


princípios da eficiência e economia processuais, salvo no caso de ação monitória dada situação de
vedação específica.
B) Antes de proferir decisão de improcedência liminar do pedido, se mostra oportuno que o magistrado
conceda ao autor a oportunidade para exercício do contraditório.
C) Em perfeita sintonia com a Constituição de 1988, o art. 373, § 1º, do Código de Processo Civil
reproduz, na relação processual, a transição da isonomia formal para a isonomia material, mutação
profunda do paradigma dos direitos retóricos para o paradigma dos direitos operativos, pilar do
Estado Social de Direito.
D) O princípio do devido processo legal é um princípio constitucional implícito, diferentemente do
princípio do duplo grau de jurisdição que é expresso na Constituição Federal.
E) Se o autor não apelar da decisão que indeferiu liminarmente sua inicial, não haverá trânsito em
julgado, já que as hipóteses de indeferimento da inicial não alcançam o mérito da demanda.
QUESTÃO 24. A respeito dos institutos fundamentais do Direito Processual civil, assinale a alternativa
correta.
A) Teorias Unitaristas são aquelas que distinguem o direito de ação do direito material, sendo o
processo um todo unitário.
B) A corrente dualista do direito de ação se subdivide apenas em duas subespécies teoria abstrata e
teoria concreta, sendo aquela a que desatrela o direito de ação do direito material da parte e esta a que
impõe uma relação necessária de dependência entre eles.
C) Em toda defesa é obrigatória a impugnação específica pelo réu na contestação diante do princípio
da impugnação especificada dos fatos, previsto expressamente no CPC/2015. A única exceção é a
atuação do defensor público.
D) A revelia na fase de conhecimento não dispensa a intimação pessoal do réu para cumprimento de
sentença.
E) Não há possibilidade da instauração de conflito de competência em razão de conflito entre a
jurisdição estatal e o árbitro nomeado para realizar o procedimento de arbitragem entre as partes,
devendo o juízo estatal avocar os autos no exercício de sua jurisdição que é prevalente.
QUESTÃO 25. A respeito da mediação e conciliação analise as assertivas abaixo.
I) Pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre direitos indisponíveis
que admitam transação. No último caso, é obrigatória que haja apenas homologação judicial.
II) A mediação será orientada pelos princípios da imparcialidade do mediador, isonomia entre as partes,
oralidade, formalidade, autonomia da vontade das partes, busca do consenso, confidencialidade e boa-fé.
III) Na mediação judicial as partes poderão estar acompanhadas de advogados ou defensores públicos,
sendo que os mediadores estão sujeitos a prévia aceitação das partes.
IV) Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será confidencial em relação a

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RODADA 02

terceiros, não podendo ser revelada em processo arbitral ou judicial, sem exceção.
A) Todas as alternativas estão corretas.
B) Todas as alternativas estão incorretas.
C) Apenas I e II estão corretas.
D) Apenas I está correta.
E) Apenas I e III estão corretas.

🏳 DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS


QUESTÃO 26. A respeito da legitimidade da Defensoria Pública para a tutela de interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos, analise as assertivas abaixo e assinale a alternativa correta:
I) A Defensoria Pública não tem legitimidade para propor ação civil pública na defesa do interesse de
consumidores, incumbência precípua do Ministério Público.
II) Segundo o STJ, a legitimidade da Defensoria Pública para a defesa dos interesses coletivos não é
irrestrita.
III) A lei de ação civil pública (Lei 7.347/85), desde sua redação originária, expressamente atribui
legitimidade à Defensoria Pública na defesa de direitos metaindividuais.
IV) É vedado a Defensoria Pública celebrar termo de ajustamento de conduta (TAC) por ausência de
previsão legal.
A) Todas estão incorretas.
B) Todas estão corretas.
C) I, II e III estão corretas.
D) Apenas I e III estão corretas.
E) I, III e IV estão incorretas.
QUESTÃO 27. Sobre a legislação que regula o mandado de segurança coletivo, assinale a alternativa
incorreta.
A) As entidades de classe têm legitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo, mesmo que
a pretensão veiculada interesse apenas a parte da categoria representada.
B) Em caso de urgência, é permitido, observados os requisitos legais, impetrar mandado de segurança
por telegrama, radiograma, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade comprovada.
C) No bojo da ADIN 4296, que julgou a inconstitucionalidade de uma série de dispositivos da Lei
do Mandado de Segurança, o Supremo Tribunal Federal entendeu que está em desacordo com a
Constituição a exigência de caução, depósito ou fiança para a concessão de liminar em MS (artigo 7º,
inciso III).
D) O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado para garantia de direitos coletivos e
individuais homogêneos que sejam líquidos e certos, mas não para direitos difusos.
E) A Defensoria Pública tem legitimidade na Lei do Mandado de Injunção para propor tal ação de

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RODADA 02

forma coletiva, mas não tem legitimidade, na Lei de Mandado de Segurança, para o mandado de
segurança coletivo.
QUESTÃO 28. Sobre as recentes modificações na Lei de Improbidade Administrativa dadas pela Lei nº
14.230, de 2021, assinale a alternativa correta.
A) Por se tratar de um ilício civil, não se aplicam ao sistema de improbidade os princípios do direito
administrativo sancionador.
B) Segundo decidiu o STF, é constitucional a legitimidade exclusiva do Ministério Público para
propositura de ação de improbidade administrativa em razão de suas funções institucionais.
C) Uma das espécies de ato de improbidade administrativa é a que causa prejuízo ao erário, consistindo
na ação ou omissão, dolosa ou culposa, que causa dano ao patrimônio das entidades públicas.
D) Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente de divergência interpretativa da lei,
baseada em jurisprudência pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente prevalecente nas
decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais do Poder Judiciário.
E) Segundo a lei, a ação de improbidade administrativa não é ação civil pública.

🏳 PRINCÍPIOS E ATRIBUIÇÕES INSTITUCIONAIS


QUESTÃO 29. De acordo com os termos da LCE n. 988/2006 e com as prerrogativas dos membros da
Defensoria Pública na lei nacional, marque a assertiva incorreta:
A) A prerrogativa de prazo em dobro dos membros da Defensoria Pública também se aplica aos
procedimentos internos em tramitação na instituição;
B) Quando atua em causas de interesse da instituição, no exercício das funções institucionais, o
membro da Defensoria Pública do Estado de São Paulo deve adiantar o pagamento de emolumento,
taxas ou custas;
C) Nos casos em que membros da Defensoria Pública sejam investigados pela prática de contravenção
penal, deve o Defensor Público Geral ser comunicado da instauração do procedimento, designando
membro para acompanhar a apuração;
D) A prerrogativa de requisição, declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, está
prevista no rol da lei nacional e também da lei estadual paulista; em ambos os casos, não se estende
aos particulares;
E) Nas comarcas onde não houver órgão da Defensoria Pública, as entidades que atuam de acordo
com o convênio poderão utilizar-se da prerrogativa de prazo em dobro.
QUESTÃO 30. Julgue os itens a seguir:
I – De acordo com a melhor interpretação da LC n. 80/94, a nomeação e posse de membro da Defensoria
Pública é encargo do chefe do Poder Executivo;
II – A lotação de órgãos da Defensoria Pública deve priorizar as áreas com maiores índices de exclusão
social e analfabetismo;

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RODADA 02

III – O princípio do defensor natural assegura que o membro da instituição não possa ser afastado de suas
funções em procedimento disciplinar;
IV – Às Defensorias Públicas Estaduais é facultado atuar perante o STJ e STF, não sendo exclusividade da
Defensoria Pública da União.
A) I, II e III são verdadeiros apenas;
B) II e IV são verdadeiros apenas;
C) II e III são verdadeiros apenas;
D) II é verdadeiro apenas;
E) IV é verdadeiro apenas.
QUESTÃO 31. Leia o trecho abaixo e marque a assertiva correta:
“O professor, logo após pontuar que a Defensoria deve servir como um dos principais eixos de atuação dos
governos e da sociedade para a garantia do acesso à Justiça, alertou os operadores do Direito presentes
para que coloquem em suas causas a atuação da Ordem dos Advogados do Brasil. ‘Neste momento, a OAB
está construindo uma luta contra a Defensoria Pública em São Paulo. Por quê? Ora, porque a Defensoria
Pública vai retirar o seu negócio. A Defensoria não tem condições de ter uma alternativa a esse modelo
hoje pois não está sequer financiada. A OAB está internamente contraditória, pois há muitos advogados
neutros acerca dessa questão. Os custos com a Ordem são superiores para a sociedade do que os custos com
os defensores. Ora, pois vamos analisar. Quanto é que custa ao Estado, quem cuida dos casos e quem fica
mais bem servido’. Especialista em sociologia jurídica, Boaventura disse que auxiliou a luta pela criação
da Defensoria em Portugal, mas os resultados não foram os esperados. ‘Fomos derrotados. Por quem? Pela
Ordem dos Advogados. A Ordem fez tal lobby, com tanta publicidade nos jornais, que o parlamento vetou a
hipótese de termos defensores públicos’.”
(https://apadep.org.br/2009/01/28/apadep-fsm-boaventura-santos-elogia-defensoria-publica-e-faz-um-
alerta-sobre-atuacao-da-oab/)
A) O Supremo Tribunal Federal já decidiu que assim como as Procuradorias Estaduais, a Defensoria
Pública não dispõe de autonomia administrativa para organizar o seu funcionamento;
B) Para o Supremo Tribunal Federal é constitucional a lei estadual de iniciativa do Poder Executivo
que reserve percentual fixo do fundo institucional para custeio de convênios firmados pela instituição;
C) A celebração de convênio pela Defensoria Pública não é obrigatória, sequer podendo se cogitar a
exclusividade da participação da OAB em seus termos;
D) Para o Supremo Tribunal Federal, caso a Defensoria Pública não esteja instalada em todas as
unidades jurisdicionais até o prazo da EC n. 80/2014, a OAB poderá celebrar convênio por tempo
indeterminado para atuação da advocacia dativa;
E) Os honorários de sucumbência recebidos pela Defensoria Pública devem ser repartidos entre seus
membros e advogados conveniados.

🏳 DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

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RODADA 02

QUESTÃO 32. Sobre os direitos dos/as adolescentes transsexuais, assinale a alternativa INCORRETA.
A) O Provimento n.º 73/2018 do CNJ e a ADI n.º 4.275 tornaram possível que adolescentes possam
requerer ao Registro Civil de Pessoas Naturais a alteração e a averbação do prenome e do gênero,
adequando-os à identidade autopercebida.
B) O Comitê Internacional dos Direitos da Criança possui documento oficial em que reconhece a
existência de crianças lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais.
C) Conforme o Conselho Nacional de Justiça, o reconhecimento de adolescente como pessoa transsexual
em meio a um processo penal juvenil deve se dar, quando for o caso, mediante autodeclaração a ser
colhida pelo/a magistrado/a em audiência.
D) Em caso de apreensão em flagrante de adolescente autodeclarado/a transsexual, o local de privação
de liberdade será definido pelo/a magistrado/a em decisão fundamentada após questionamento
ao/à adolescente sobre sua preferência, podendo-se, inclusive, haver alteração do local ao longo
da permanência na unidade de internação, seja provisória ou como cumprimento de medida
socioeducativa.
E) Realizada a autodeclaração do adolescente de se tratar de pessoa transsexual, poderá o/a
magistrado/a, mediante solicitação do/a adolescente, determinar a retificação e emissão de seus
documentos, mesmo em processo iniciado para outros fins.
QUESTÃO 33. Sobre o funcionamento dos Conselhos Tutelares, assinala a alternativa correta.
A) Em cada Município deve haver um, e apenas um, Conselho Tutelar, cada qual composto de 5 (cinco)
membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida recondução
por novos processos de escolha.
B) Não cabe ao Legislador municipal estabelecer regime disciplinar aplicável aos membros do Conselho
Tutelar, os quais estão sujeitos ao disposto na legislação local aplicável aos demais servidores públicos.
C) Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, são requisitos mínimos a reconhecida idoneidade
moral, ter idade superior a vinte e um anos e residir no município, sendo possível que legislação
municipal acresça novos requisitos como comprovação de conclusão do ensino fundamental e prova
de conhecimento sobre o direito da criança e do adolescente, de caráter eliminatório.
D) Os dias e horários de funcionamento do Conselho Tutelar são definidos por meio do colegiado do
Conselho Tutelar, ao que se deverá respeitar a escolha da maioria de seus membros.
E) As decisões do Conselho Tutelar, as quais serão tomadas pelo seu colegiado, conforme dispuser o
Regimento Interno, deverão ser motivadas e comunicadas formalmente aos interessados, mediante
documento escrito, no prazo máximo de quinze dias, sem prejuízo de seu registro em arquivo próprio,
na sede do Conselho.
QUESTÃO 34. No caso de uma mãe comparecer ao atendimento da Defensoria Pública relatando que
deseja a internação compulsória de seu filho, 15 anos, em virtude de ele estar fazendo uso problemático
de cocaína e, em decorrência disso, se colocando em risco ao dormir fora de casa durante longos períodos,

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RODADA 02

bem como furtando objetos de casa para manter seu consumo, qual orientação seria a correta a lhe
fornecer, na ocasião?
A) Considerando a prerrogativa institucional conferida aos membros da Defensoria Pública, será
possível realizar um ofício à Secretaria de Saúde Estadual requisitando a desejada internação
compulsória.
B) Considerando que a internação compulsória é aquela que é determinada pela Justiça, caberá a
propositura de ação de obrigação de fazer contra o Estado para que interne compulsoriamente o filho
da usuária do serviço público.
C) Considerando que o que a usuária do serviço público deseja não é a internação compulsória, mas
sim a internação involuntária, seria possível readequar seu pedido e, nessa condição, realizar ofício à
Secretaria de Saúde Estadual requisitando a internação do adolescente.
D) Considerando que a internação psiquiátrica não se presta a realizar controle social, sendo
precipuamente uma intervenção de saúde, se faz imprescindível, antes de mais nada, oficiar à Secretaria
de Saúde para que realize – mesmo contra a vontade do adolescente – laudo médico circunstanciado
que indique, se o caso, os motivos que justificam uma internação.
E) Considerando que a internação psiquiátrica não se presta a realizar controle social, sendo
precipuamente uma intervenção de saúde, se faz imprescindível, antes de mais nada, oficiar à Secretaria
de Saúde para que realize – respeitando a vontade do adolescente – laudo médico circunstanciado que
indique, se o caso, os motivos que justificam uma internação.

🏳 CRIMINOLOGIA
QUESTÃO 35. Assinale a alternativa INCORRETA:
A) A obra Malleus Maleficarum pode ser tida como a primeira obra de Criminologia de que se tem
conhecimento em virtude de trazer discurso criminógeno voltado a um público específico (feiticeiras),
indicando-as como responsáveis por males experimentados pela sociedade, como reconhecê-las e
como proceder quando da sua inquirição e punição.
B) Pode ser considerado exemplo de luta do movimento minimalista deslegitimador a criminalização
da discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, nos termos da lei 7.716/89 (Lei de
racismo).
C) A chamada “esquerda punitiva” é um campo do pensamento que legitima a pena de prisão ao
creditar a ela a tarefa de resolução de conflitos sociais.
D) Entende-se por “mergulho no papel desviado” (role engulfment) a assunção de certo papel
estigmatizado fomentado pelos gestores da moral.
E) A Política Criminal Atuarial prescinde da noção de culpabilidade e se pauta por uma análise de
risco, como nas agências de seguro, avaliando a probabilidade de determinado sujeito cometer uma
ação antissocial.

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RODADA 02

QUESTÃO 36. A partir da leitura da obra “Necropolítica”, de Achille Mbembe, julgue a assertiva
INCORRETA:
A) O racismo é uma forma de exercício do biopoder.
B) No contexto do estado de exceção os indivíduos são reduzidos aos seus corpos biológicos.
C) Na plantation o sujeito não tem um estatuto político.
D) O apartheid é um regime que inova radicalmente a forma de exercício de terror.
E) As colônias não eram organizadas de acordo com um modelo estatal.

🏳 FILOSOFIA DO DIREITO E SOCIOLOGIA JURÍDICA


QUESTÃO 37. Sobre a Teoria dos Sistemas Sociais de Niklas Luhmann, aponte a alternativa correta:
A) A sociedade é um sistema omniabarcador.
B) Na teoria dos sistemas as trocas entre sistema e ambiente são diretas.
C) Com a modernidade há uma desdiferenciação dos sistemas sociais.
D) Na relação com ambiente ocorre uma amplificação da complexidade pelo sistema.
E) A teoria dos sistemas não é funcionalista.
QUESTÃO 38. Acerca da Teoria do Estado de Hans Kelsen, aponte a alternativa correta:
A) Estado e Direito são encarados como fenômenos distintos.
B) A partir de uma abordagem sociológica o Estado é compreendido como uma ordem coercitiva.
C) A eficácia do Direito Positivo possui uma implicação direta para o reconhecimento do poder
político estatal.
D) O Estado é a ordem jurídica criada pela ordem jurídica internacional.
E) A comunidade jurídica é distinta da ordem jurídica.

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RODADA 02

GABARITO
Q. 1 - GABARITO: E 27 Q. 24 - GABARITO: D. 77

Q. 2 - GABARITO: A 28 Q. 25 - GABARITO: B 80

Q. 3 - GABARITO: A 29 Q. 26 - GABARITO: E. 84

Q. 4 - GABARITO: C 33 Q. 27 - GABARITO: C. 86

Q. 5 - GABARITO: B 35 Q. 28 - GABARITO: E. 89

Q. 6 - GABARITO: A 37 Q. 29 - GABARITO: B 90

Q. 7 - GABARITO: B. 39 Q. 30 - GABARITO: E 91

Q. 8 - GABARITO: B. 40 Q. 31 - GABARITO: C 92

Q. 9 - GABARITO: D. 44 Q. 32 - GABARITO: A 94

Q. 10 - GABARITO: E 46 Q. 33 - GABARITO: C 96

Q. 11 - GABARITO: C 48 Q. 34 - GABARITO: E 99

Q. 12 - GABARITO: D 50 Q. 35 - GABARITO: B 101

Q. 13 - GABARITO: B 52 Q. 36 - GABARITO: D 103

Q. 14 - GABARITO: B 53 Q. 37 - GABARITO: A 105

Q. 15 - GABARITO: E 56 Q. 38 - GABARITO: C 107

Q. 16 - GABARITO: B 57

Q. 17 - GABARITO: B 58

Q. 18 - GABARITO: B 60

Q. 19 - GABARITO: C 62

Q. 20 - GABARITO: E 63

Q. 21 - GABARITO: A 64

Q. 22 - GABARITO: D 65

Q. 23 - GABARITO: D. 72

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RODADA 02

QUESTÕES OBJETIVAS COM GABARITO COMENTADO

PROFESSOR CAIO PAIVA


E-mail: profcei.caiopaiva@gmail.com

🏳 DIREITOS HUMANOS
Lembrando da divisão dos assuntos do edital no decorrer das rodadas:
Rodada 1: Direito Internacional dos Direitos Humanos (fontes, classificação, princípios, características e ge-
rações de direitos humanos. Interpretação dos tratados. Limitações contextuais, reservas e denúncias. Enfren-
tamento de situações de emergência à luz dos direitos humanos. Sistema global.
Rodada 2: Sistema interamericano. Sistema africano.
Rodada 3: Direito Internacional Humanitário. Tribunal Penal Internacional. Direito Internacional dos Refu-
giados. Enfrentamento da tortura. Proteção de defensore(a)s de direitos humanos. Empresas e direitos huma-
nos.
Rodada 4: Direitos humanos e grupos vulnerabilizados.
Rodada 5: Direitos humanos e defesa dos direitos socioambientais. Racismo ambiental. Incorporação de tra-
tados de direitos humanos. Controle de convencionalidade. PNDH. Comissão Nacional da Verdade.
Rodada 6: Fundamentos filosóficos. Direitos humanos no contexto do colonialismo. Direitos humanos e re-
sistências amefricanas e ameríndias. Direitos humanos no contexto pandêmico. O humano e o inumano no
marco dos direitos humanos. Epistemicídios na teoria dos direitos humanos. Direitos humanos e subalterni-
dades. Teorias críticas.
QUESTÃO 01. Marque a alternativa INCORRETA sobre os tratados de direitos humanos do sistema inte-
ramericano:
A) Há um tratado no sistema interamericano sobre direitos humanos das pessoas idosas. O Brasil ainda
não ratificou esse tratado.
B) O Protocolo de San Salvador estabelece o direito humano à alimentação adequada.
C) A CADH não exige o consentimento da vítima ou dos seus familiares para que um terceiro denuncie
uma violação de direitos humanos perante a Comissão Interamericana.
D) Os juízes da Corte Interamericana e os membros da Comissão Interamericana recebem honorários
pelas suas atuações, não se tratando, portanto, de cargos sem qualquer remuneração.
E) O Brasil internalizou a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência com o status equivalente ao de emenda
constitucional.

💡 GABARITO COMENTADO

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RODADA 02

A) CORRETO. Há no sistema interamericano – e não há no sistema global – um tratado de direitos humanos


sobre pessoas idosas. Trata-se da Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das
Pessoas Idosas, adotada em 2015. O Brasil assinou esse tratado em 2015, mas, como corretamente consta na
assertiva, ainda não procedeu com a ratificação.
B) CORRETO. A assertiva está em conformidade com o art. 12 do Protocolo de San Salvador, que, de fato,
protege o direito à alimentação/nutrição adequada.
C) CORRETO. A assertiva está em conformidade com o art. 44 da CADH, que, diferentemente de outros
sistemas de proteção internacional de direitos humanos, reconhece uma ampla legitimidade ativa para
denunciar violações: “Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental legalmente
reconhecida em um ou mais Estados-Membros da Organização, pode apresentar à Comissão petições que
contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado-Parte”. Percebam, portanto, que
qualquer pessoa pode apresentar a petição de denúncia, não sendo exigido consentimento prévio ou explícito
da vítima.
D) CORRETO. A assertiva está em conformidade com o art. 72 da CADH. A função de juiz da Corte e de
membro da CIDH é remunerada por honorários e despesas de viagens.
E) INCORRETO. Atenção! O Brasil internalizou com o status de emenda constitucional a Convenção da
ONU sobre os Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência, e não a Convenção Interamericana sobre a
matéria, que, tendo sido aprovada pela maioria simples no Congresso Nacional, possui, segundo o STF, o
status de norma supralegal.

💡 GABARITO: E

QUESTÃO 02. A respeito do regime jurídico e das funções da Comissão e da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, marque a alternativa CORRETA:
A) A competência da Comissão Interamericana para receber e tramitar petições interestatais não é
automática com a ratificação da CADH, dependendo de reconhecimento específico pelos Estados.
B) Para solicitar uma medida cautelar à Comissão Interamericana, exige-se primeiro o esgotamento dos
recursos da jurisdição interna.
C) Processado o caso e tendo concluído que o Estado demandado violou direitos humanos e não cumpriu
com suas recomendações no prazo fixado, a Comissão Interamericana fica obrigada a submeter o caso à
jurisdição contenciosa da Corte Interamericana.
D) A Comissão Interamericana não precisa de autorização do Estado brasileiro para realizar visitas ou
investigações in loco.
E) Não há, no âmbito da Comissão Interamericana, uma Relatoria específica para pessoas LGBTQI.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETO. A competência da CIDH para receber e tramitar petições individuais é automática. O

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RODADA 02

Estado que ratifica a CADH, já se submete a essa monitoração automaticamente. Tratando-se, no entanto, do
procedimento de petições interestatais, em que um Estado processa outro Estado, esta atribuição da CIDH não
é automática com a ratificação da Convenção, dependendo de uma manifestação de vontade adicional. Neste
sentido, dispõe o art. 45.1 da CADH: “Todo Estado-Parte pode, no momento do depósito do seu instrumento
de ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece
a competência da Comissão para receber e examinar as comunicações em que um Estado-Parte alegue haver
outro Estado-Parte incorrido em violações dos direitos humanos estabelecidos nesta Convenção”. O Brasil
ainda não aceitou essa competência da CIDH (alguns países já aceitaram). Atenção! Ao contrário do que
muitos podem supor, um Estado não pode processar outro Estado diretamente na Corte Interamericana,
devendo encaminhar a petição de denúncia para a Comissão.
B) INCORRETO. Para denunciar uma violação de direitos humanos à CIDH, exige-se, como regra, o prévio
esgotamento dos recursos da jurisdição interna. Trata-se de uma regra que conta com algumas exceções
previstas na CADH, a exemplo da demora excessiva na tramitação dos recursos internos. No caso, porém, de
pedido apenas de uma medida cautelar de urgência, o Regulamento da CIDH não exige o esgotamento dos
recursos internos, mas apenas que a situação de risco tenha sido denunciada às autoridades competentes.
C) INCORRETO. Processado o caso, ao final do procedimento, concluindo que o Estado violou direitos
humanos, a CIDH adota um primeiro relatório de mérito, chamado de preliminar. Nele a CIDH estabelece
algumas recomendações para o Estado e fixa um prazo para cumprimento. Se o Estado não cumprir, tratando-
se de um Estado que tenha aceitado a competência contenciosa da Corte IDH, a CIDH possui duas opções:
remeter o caso à Corte ou, mediante decisão da maioria absoluta dos seus membros, continuar para a adoção
de um relatório de mérito definitivo, em que insistirá no cumprimento das recomendações não cumpridas.
A Corte IDH entende que o relatório de mérito definitivo vincula os Estados (Caso Loayza Tamayo vs. Peru).
D) INCORRETO. A CADH não exige aceitação ou autorização do Estado para que a CIDH proceda com visita
ou investigação in loco. No entanto, alguns países – a exemplo do Brasil –, quando da ratificação da CADH,
declararam que somente aceitaram a entrada da CIDH no território nacional mediante prévia autorização.
Essa prática dos Estados, de emitir uma declaração interpretativa sobre o assunto, acabou sendo incorporada
no regime jurídico da CIDH (Estatuto e Regulamento).
E) INCORRETO. A CIDH possui algumas relatorias temáticas e geográficas para otimizar e especializar o
seu trabalho. As relatorias geográficas – por país – somente podem ser ocupadas por membros da Comissão,
enquanto as relatorias temáticas podem ser distribuídas - mediante seleção pública – para pessoas de fora da
Comissão, quando são chamadas de relatorias especiais. Desde 2014, a CIDH conta com uma Relatoria sobre
os Direitos das Pessoas LGBTI.

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 03. No que diz respeito ao sistema africano de proteção dos direitos humanos, é CORRETO
afirmar que:

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RODADA 02

A) Dependendo de aceitação específica neste sentido, é possível que indivíduos e ONGs acessem
diretamente a Corte Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.
B) A organização internacional intergovernamental sobre a qual está estruturado o sistema africano é a
Organização da Unidade Africana.
C) A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, assim como a CADH, protege essencialmente
direitos civis e políticos.
D) A Corte Africana dos Direitos Humanos e dos Povos possui apenas uma função contenciosa, não tendo,
diferentemente da Corte IDH, uma função consultiva.
E) O sistema africano, após uma reforma, deixou de contar com a Comissão Africana, havendo apenas
uma grande Corte Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, que permite o acesso direto.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETO. De acordo com a normativa do sistema africano, podem submeter casos à Corte a Comissão
Africana, os Estados e as Organizações Africanas Intergovernamentais. Atentem-se, porém, para o seguinte:
com a aceitação adicional dos Estados – e alguns já aceitaram –, a legitimidade para submeter casos à Corte
Africana se amplia para também abranger também indivíduos e ONGs.
B) INCORRETO. O sistema africano se desenvolve a partir da União Africana, uma organização internacional
intergovernamental criada em 2011 para substituir a antiga Organização da Unidade Africana, criada em 1963.
C) INCORRETO. A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, diferentemente da CADH e também
da Convenção Europeia, segue o ideal da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) de reconhecer
expressamente a indivisibilidade e a interdependência entre os direitos de liberdade e os direitos de igualdade,
positivando, no mesmo documento, ambas as categorias ou gerações de direitos humanos, sem distinguir o
método de implementação (imediato ou progressivo).
D) INCORRETO. A Corte Africana, assim como a Corte IDH e o Tribunal Europeu de Direitos Humanos,
possui tanto uma competência contenciosa como uma competência consultiva.
E) INCORRETO. O sistema africano, assim como o sistema interamericano, conta com uma Comissão e uma
Corte. O sistema regional que foi reformado e extinguiu a Comissão para contar apenas com um Tribunal
ampliado é o sistema europeu.

💡 GABARITO: A

PROFESSOR GUSTAVO GOLDZVEIG


E-mail: profcei.gustavogoldzveig@gmail.com

🏳 DIREITO CONSTITUCIONAL

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RODADA 02

Nesta segunda rodada, abordaremos os seguintes tópicos do edital:


3. Formação da Constituição e Poder Constituinte
4. Interpretação Constitucional.
5. Controle de constitucionalidade. Supremacia da Constituição Federal. Teoria da inconstitucionalidade.
10. Direitos políticos e direitos de cidadania.
27. Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo em matéria constitucional relativa ao pre-
sente edital.
QUESTÃO 04 – Câmara municipal do Município X aprovou, no contexto da pandemia da COVID-19,
o projeto de lei 100/2021, a fim de fazer de transformar em essenciais a prática de atividade e exercícios
físicos como essenciais para a sua população em estabelecimentos prestadores de serviços destinados a
essa finalidade, bem como em espaços públicos em tempos de crise ocasionados por moléstias infecciosas
ou catástrofes naturais. O prefeito vetou a lei por entender haver inconstitucionalidades na lei. O veto foi
derrubado pela respectiva casa legislativa. A lei foi 100/2021 foi aprovada, tendo o prefeito ingressado
com representação de inconstitucionalidade formal por vício de iniciativa e violação do pacto federativo,
na forma da Constituição da República e da Constituição do Estado de São Paulo. De acordo com o enten-
dimento do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assinale a alternativa correta:
A) Não há inconstitucionalidade formal por violação do pacto federativo, na medida em que é competência
suplementar dos Municípios legislar sobre matérias de competência concorrente da União e dos Estados,
como a promoção e assistência à saúde. Além disso, não houve vício de iniciativa, posto que a lei municipal
não trata de ato de gestão administrativa ou matéria de iniciativa exclusiva do chefe do poder executivo.
B) Não há inconstitucionalidade formal por violação do pacto federativo, na medida em que é competência
suplementar dos Municípios legislar sobre matérias de competência concorrente da União e dos Estados,
como a promoção e assistência à saúde. Porém, na medida em que a autorização de funcionamento de
serviços particulares e privados implicam aumento de gastos públicos e gestão administrativa, há vício de
iniciativa, caracterizando inconstitucionalidade formal.
C) Há inconstitucionalidade formal por violação do pacto federativo, na medida em que, embora haja
competência suplementar do Município para legislar sobre saúde, na hipótese da pandemia, a Lei federal
nº 13.979/2020 definiu regramento geral de enfrentamento da emergência de saúde pública e no âmbito
estadual houve a edição Decreto nº 64.994/2020 que dispôs sobre o Plano São Paulo, de modo que não
houve lacuna legislação a ensejar a suplementação pelo Município, na forma do artigo 30, I e II, da CF.
Porém, não há inconstitucionalidade formal por vício de iniciativa, posto que a lei municipal não trata de
ato de gestão administrativa ou matéria de iniciativa exclusiva do chefe do poder executivo.
D) Há inconstitucionalidade formal por violação do pacto federativo, na medida em que, embora haja
competência suplementar do Município para legislar sobre saúde, na hipótese da pandemia, a Lei federal
nº 13.979/2020 definiu regramento geral de enfrentamento da emergência de saúde pública e no âmbito
estadual houve a edição Decreto nº 64.994/2020 que dispôs sobre o Plano São Paulo, de modo que não houve

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RODADA 02

lacuna legislação a ensejar a suplementação pelo Município, na forma do artigo 30, I e II, da CF. E, ainda,
na medida em que a lei autoriza funcionamento de serviços particulares e privado, que implicam aumento
de gastos públicos e gestão administrativa, há vício de iniciativa, caracterizando inconstitucionalidade
formal também por esta razão.
E) Há inconstitucionalidade formal por violação do pacto federativo, na medida em que, apesar de
envolver o tema saúde, a Constituição da República estabeleceu expressamente que é competência
exclusiva da União legislar sobre temas que envolvem emergências internacionais de saúde ou catástrofes
públicas. E, ainda, na medida em que a lei autoriza funcionamento de serviços particulares e privado,
que implicam aumento de gastos públicos e gestão administrativa, há vício de iniciativa, caracterizando
inconstitucionalidade formal também por esta razão.

💡 GABARITO COMENTADO

A questão envolveu o tema pacto federativo e iniciativa legislativa no âmbito municipal, assim como
entendimento jurisprudencial atual do Tribunal de Justiça de São Paulo sobre leis editadas no contexto da
pandemia da COVID-19 e, por fim, a Constituição do Estado de São Paulo. Ressalto que há previsão no edital
nos itens 26 e 27.
Como é cediço, no contexto da pandemia da COVID-19, a União editou a lei federal 13.979/2020 que dispõe
sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente
do coronavírus. A lei sofreu alterações pelas leis 14006/2020, 14019/2020, 14035/2020, bem como diversos
decretos regulamentadores.
Diante das divergências relacionadas à aplicação da referida lei, especialmente, sobre eventual invasão do
espaço normativo dos entes federativos, conforme o pacto estabelecido nos artigos 20 a 30 da Constituição
da República, o Supremo Tribunal Federal foi instado a se manifestar em diversas ações de controle de
constitucionalidade, de modo que fixou entendimento de que, no que concerne às questões de saúde, os
governos federal, estadual, distrital e municipal atuam de forma cooperada (comum) para o enfrentamento da
pandemia, visando a proteção e defesa da saúde, não podendo, contudo, uma esfera de governo impedir que a
outra adotasse medidas de proteção e defesa da saúde no combate ao COVID-19, por interpretação ao artigo
23, II, artigo 24, XII e 30, I e II, todos da Constituição da República (vide ADPF 672).
Em relação especificamente à definição dos serviços essenciais, o STF julgou a Medida Cautelar na ADI 6341,
tendo dado interpretação conforme à constituição ao artigo 3º, §9º da Lei 13979/20201, no sentido de que,
preservada a atribuição de cada esfera de governo o Presidente da República poderá dispor, mediante decreto,
sobre os serviços públicos e atividades essenciais.
Neste contexto, o Governo do Estado de São Paulo, mediante decreto, definiu, considerando a situação
epidemiológica regional, as atividades essenciais e eventuais flexibilização de funcionamento, no Plano São

1 Artigo 3º, §9º “A adoção das medidas previstas neste artigo deverá resguardar o abastecimento de produtos e o exercício
e o funcionamento de serviços públicos e de atividades essenciais, assim definidos em decreto da respectiva autoridade federativa.
(Incluído pela Lei nº 14.035, de 2020)

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RODADA 02

Paulo – Decreto 64.994, de 28 de maio de 2020 e suas alterações.


Ainda assim, diversos municípios, considerando os anseios da políticos locais, passaram a editar leis definindo
eventuais atividades que seriam consideradas essenciais, em contrariedade ao que foi estabelecido no Decreto
64.9994 e suas alterações.
Diante disso, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, ao enfrentar a questão em representações de
inconstitucionalidade, fixou entendimento de que, pese a o federalismo de cooperação na questão e, mais
especificamente, a competência concorrente entre União e Estados, bem como a competência legislativa
municipal suplementar, não havia qualquer lacuna legislativa a ensejar tais legislações, na medida em que
a matéria foi tratada em âmbito geral pela União, assim como definida concreta e complementarmente pelo
Estado de São Paulo, no decreto acima identificado.
Neste contexto, leis municipais que trataram do tema foram consideradas inconstitucionais pelo órgão
especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, por violação do pacto federativo (competência legislativa), o
que é reconhecido pela doutrina majoritária como inconstitucionalidade formal ou inconstitucionalidade
formal orgânica, conforme trecho da decisão proferida na representação de inconstitucionalidade 2016743-
85.2022.8.26.0000, “in verbis”:
“...verifica-se que compete ao Município a suplementação da legislação federal e
estadual no que couber, observados os limites estabelecidos na Constituição, estando
em consonâncias com as normas gerais da União e as normas estaduais que regem
a matéria. Cabe aos Municípios, portanto, a suplementação do regramento federal e
estadual de acordo com suas especificidades locais. Em que pese a manifestação da
Municipalidade no sentido de que teria observado sua competência constitucional para
estabelecer regramento ao combate à pandemia COVID-19 atentando-se às exigências
e especificidades locais, nota-se que as leis ora questionadas, violam o pacto federativo
a medida em que disciplinaram matéria já tratada pelo regramento federal e estadual
de forma diversa, com a intenção de abrandar as medidas restritivas impostas. In casu,
não se vislumbra no regramento federal e estadual lacuna a ensejar o exercício da
competência suplementar do município nos moldes exercidos, posto que configurou
clara flexibilização de atividades e serviços não essenciais durante a pandemia do
coronavírus. Não se ignora o entendimento do E. Supremo Tribunal Federal no
sentido de ser inconstitucional a imposição ou adesão obrigatória de Municípios à
programa estadual de combate à COVID-194. Contudo, não cabe ao Município, sob
a alegação de exercício de sua competência suplementar, afastar medidas restritivas
estabelecidas pelo regramento estadual, estabelecendo de forma diversa quais seriam
as atividades essenciais, capacidade de estabelecimentos ou horários de atendimento
diversos daqueles dispostos pela autoridade estadual.”
Porém, o Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu não ter havido violação de iniciativa em projetos de lei da

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RODADA 02

referida natureza, na medida em que a Constituição do Estado de São Paulo define as matérias de competência
exclusiva do chefe do poder executivo (artigo 24, §2º e artigo 144), sendo que a lei não tratava de nenhum dos
referidos temais, assim como pelo fato de não ter ocorrido qualquer forma de invasão de competência de um
Poder sobre o outro.
Neste contexto, houve vício de inconstitucionalidade formal, por ofensa ao pacto federativo, porque não
havia espaço para o Município exercer competência suplementar, diante da regulamentação exaustiva por
parte da União (normas gerais) e Estado de São Paulo (normas específicas) e, por outro lado, não houve vício
de iniciativa no projeto de lei, por não ser tema atinente à competência privativa do chefe do poder executivo.
A) INCORRETA: vide comentários
B) INCORRETA: vide comentários.
C) CORRETA: vide comentários.
D) INCORRETA: vide comentários.
E) INCORRETA: vide comentários

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 05. Sobre direitos políticos e direitos de cidadania assinale alternativa incorreta:
A) Os mandatos políticos coletivos correspondem à possibilidade de um indivíduo compartilhar as
decisões do mandato com outras pessoas, no entanto, o exercício do mandato é individual, havendo
obrigação, conforme resolução do TSE, que conste o nome do titular do cargo na candidatura, sendo
vedado o registro de nome de urna contendo apenas a designação do respectivo grupo ou coletivo social.
B) A federação partidária corresponde à possibilidade de dois ou mais partidos políticos poderão reunir-
se em federação, o único fim de buscar sucesso dos candidatos membros da federação no pleito eleitoral.
Logo, o seu tempo de duração é limitado ao pleito eleitoral.
C) Foi definido constitucionalmente que, para fins de distribuição entre os partidos políticos dos recursos
do fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), os votos dados a
candidatas mulheres ou a candidatos negros para a Câmara dos Deputados nas eleições realizadas de 2022
a 2030 serão contados em dobro.
D) Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os Vereadores que se
desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência
do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei. Nestes casos, não será computada
a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros fundos
públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão.
E) Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco por cento) dos recursos do fundo partidário
na criação e na manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres,
de acordo com os interesses intrapartidários.

💡 GABARITO COMENTADO

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RODADA 02

A) CORRETA. A existência de mandados coletivos não possuí ainda definição legal. Trata-se de uma inovação
recente do sistema político eleitoral brasileiro, em que uma pessoa se candidata para um cargo legislativo,
mas compartilha as eventuais decisões do seu mandato com outras pessoas. Este ajuste pode até ser feito
por contrato entre os membros do mandato. No entanto, perante a justiça eleitoral se trata de apenas uma
candidatura, de modo que apenas uma pessoa será eleita (titular da chapa) e tomará as decisões, assim como
será remunerada e receberá as verbas de gabinete. O Tribunal Superior Eleitoral, por sua vez, apenas definiu,
por meio de resolução (Resolução 23.675/2021), que: o “Art. 2º O art. 25 da Resolução-TSE nº 23.609 , de 18 de
dezembro de 2019, para a vigorar acrescido dos seguintes §§ 2º a 4º, renumerando-se o atual parágrafo único
como § 1º:”Art. 25. § 1º ....§ 2º No caso de candidaturas promovidas coletivamente, a candidata ou o candidato
poderá, na composição de seu nome para a urna, apor ao nome pelo qual se identifica individualmente a
designação do grupo ou coletivo social que apoia sua candidatura, respeitado o limite máximo de caracteres.§
3º É vedado o registro de nome de urna contendo apenas a designação do respectivo grupo ou coletivo social.§
4º Não constitui dúvida quanto à identidade da candidata ou do candidato a menção feita, em seu nome para
urna, a projeto coletivo de que faça parte.”.
B) INCORRETA: a assertiva mesclou o conceito de coligação com o nome de federação. As federações
partidárias é uma inovação implementada pela Lei 14.228/2021, que alterou a Lei dos Partidos Políticos
(Lei n. 9.096/95) e a Lei das Eleições (Lei n. 9.504/97), que passou a ser aplicada para as eleições de 2022. A
federação é definida por Clever Vasconcelos e Marco Antônio da Silva, na obra Direito Eleitoral, do seguinte
modo: “As federações partidárias são formadas pela união de dois ou mais partidos políticos com afinidade
programática com o objetivo de atuar como uma única legenda pelo período mínimo de quatro anos. A
federação tem abrangência nacional e funciona como um teste para uma eventual fusão ou incorporação
envolvendo as legendas que fizerem parte da federação.”. Ressalta-se que há uma ADI em tramitação no STF
proposta contra a referida lei, em especial, o artigo 11-A (ADI 7021). A assertiva está incorreta, na medida
em que, as federações não se limitam ao pleito eleitoral, mas constituem uma própria unificação dos partidos
que a compõem, inclusive, permitindo que alguns dos partidos não sejam atingidos pela chamada cláusula de
barreira. As coligações partidárias, por sua vez, estão previstas no artigo 6º da Lei 9504/1997 e tem o objetivo
de fortalecer uma chapa ou candidatura no pleito eleitoral, sendo assim definida por Clever Vasconcelos e
Marco Antonio da Silva: “É a junção temporária de dois ou mais partidos políticos, visando ao objetivo de
alcançar êxito na disputa eleitoral. Trata­-se de faculdade atribuída aos partidos, devendo, ao menos em tese,
ser feita entre partidos que tenham afinidade ideológica e na mesma circunscrição. É necessário, igualmente,
a observância dos estatutos partidários.”
C) CORRETA. O texto da assertiva reproduz na integralidade o conteúdo do artigo 2º da Emenda Constitucional
111/2021, “in verbis”: “Para fins de distribuição entre os partidos políticos dos recursos do fundo partidário
e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), os votos dados a candidatas mulheres ou a
candidatos negros para a Câmara dos Deputados nas eleições realizadas de 2022 a 2030 serão contados em
dobro.”. Trata-se de evidente medida afirmativa em favor de fortalecer o pluralismo político de mulheres e

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RODADA 02

negros, cuja representatividade em cargos políticos é aquém se considerada a quantidade de mulheres e negros
na sociedade brasileira.
D) CORRETA. A assertiva reproduz na integralidade o artigo 17, §6º, acrescido pela EC 111/2021, “in verbis”:
“os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os Vereadores que se desligarem
do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou de
outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, a migração de partido
para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros fundos públicos e de acesso gratuito ao
rádio e à televisão.”
E) CORRETA. A assertiva reproduz na integralidade o artigo 17, §7º, acrescido pela EC 117/2021, “in verbis”:
Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco por cento) dos recursos do fundo partidário na
criação e na manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, de acordo
com os interesses intrapartidários.”. Conforme se nota, ao final de 2021, diversas medidas foram adotadas
para ampliar a participação de mulheres na política, na medida em que há baixíssima representatividade
desta camada da sociedade em cargos eletivos, inclusive, diante da obrigação de preenchimento de 30% de
candidaturas das cotas de gênero, incluídas pela Lei 12.034/2009, que alterou a lei das eleições (artigo 10, §3º
da Lei 9504/1997).

💡 GABARITO: B

QUESTÃO 06. Sobre a formação, elementos e interpretação da constituição assinale a alternativa correta:
A) o substancialismo, como teoria da interpretação constitucional decorrente do constitucionalismo
americano, surge em contraposição a uma outra teoria, o chamado procedimentalismo, de modo que
além de procedimentos para o exercício de direitos, a constituição também estabelece valores e princípios
os quais notadamente devem ser parte do processo hermenêutico constitucional.
B) O método de interpretação tópico-problemático é aquele pelo qual se verifica que a norma não
corresponde ao respectivo texto. A literalidade do texto deve ser analisada à luz da concretização da
norma, conforme a realidade social. A norma jurídica é resultado da interação entre o texto e os dados da
realidade.
C) O princípio da máxima efetividade corresponde a um princípio interpretativo constitucional, segundo
o qual o intérprete deve agir de forma responsável, de modo a manter a integridade social e política.
Assim, não pode o intérprete agir de forma leviana, adotando uma interpretação que coloque em risco a
estabilidade das instituições e da sociedade em geral.
D) A concepção política de constituição, baseada na teoria de Ferdinand Lassalle, estabelece que uma
Constituição se fundamenta não em normas jurídicas, mas na vontade política concreta que a antecede.
E) O princípio de efeito integrador da constituição impõe o ao intérprete que haja harmonização das
tensões e contradições existentes entre as normas constitucionais, de modo que uma norma não deve ser
analisada isoladamente.

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RODADA 02

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. Um dos grandes objetos de estudo da doutrina constitucionalista é a chamada interpretação


constitucional, na medida em que, em síntese, entende-se que pela grande abstração das normas constitucionais,
os métodos tradicionais de interpretação seriam insuficientes para se chegar ao produto da norma constitucional.
Deste modo, a doutrina apresenta uma série de teorias, critérios, métodos e princípios para se chegar a melhor
forma de buscar o sentido das normas constitucionais. Dentre as teorias de interpretação constitucional, a
doutrina nacional costuma estudar com maior profundidade as teorias e métodos desenvolvidos pelos
constitucionalistas alemães. Contudo, não menos importante e cada vez mais objeto de aprofundamento
doutrinário, as teorias do constitucionalismo americano têm sido aplicadas, inclusive, pelo Supremo Tribunal
Federal. Nesse sentido, destacam-se algumas teorias de extrema relevância: o interpretativismo, o não
interpretativismo, o procedimentalismo, o substancialismo, o minimanilsimo, dentre outras. O substancialismo
surge como contraposição ao procedimentalismo, de modo que a constituição norte-americana traz valores
e princípios historicamente definidos, de modo que não seria possível valer-se apenas de uma interpretação
puramente procedimental do texto constitucional. A definição da ação estatal também deve se pautar pela defesa
destes valores e princípios, não sendo suficiente a mera garantia da participação democrática do cidadão. Já o
procedimentalismo sustenta que cabe ao intérprete sempre assegurar a participação democrática do cidadão
na definição dos direitos, ou seja, evitar bloqueios democráticos. Logo, para o procedimentalismo, não cabe
ao judiciário alterar as decisões democráticas e interpretá-las para justificar eventual garantia constitucional,
porém o judiciário deve sim garantir o direito à participação dos cidadãos na tomada das decisões, que são
aqueles que fazem parte da construção do processo democrático.
B) INCORRETA. A assertiva, na realidade, traz a definição simplificada do chamado método normativo-
estruturante, que se fundamenta na chamada teoria estruturante do direito, desenvolvida por Frederich Müller.
A Teoria Estruturante do Direito é extensamente utilizada para definição dos direitos fundamentais, inclusive,
seus respectivos âmbitos de proteção e restrições admissíveis. O método tópico-problemático, por sua vez,
é aquele segundo o qual o intérprete parte de um problema concreto para a norma. Com base neste critério
verifica-se a praticidade da interpretação. Nesse sentido, a Constituição passa a ser um conjunto aberto de regras
e princípios. Sobre o tema, destacam-se as palavras de Marcelo Novelino: “O método tópico-problemático tem
como ponto de partida a compreensão prévia do problema e da constituição e como ponto de apoio o consenso
ou o senso comum, os quais são revelados, e.g, pela doutrina dominante ou pela jurisprudência pacífica...o
compromisso central do intérprete consiste em encontrar a melhor solução para o ‘problema’ apresentado”.
(Curso de Direito Constitucional, 10ª Edição, pg. 165).
C) INCORRETA. A definição trazida na assertiva não corresponde ao princípio da máxima efetividade, mas
sim a um outro princípio interpretativo constitucional, que é o de efeito integrador, ou seja, na interpretação
da constituição o intérprete deve se atentar para a solução constitucional atenta à integração política e social
do país. O princípio da máxima efetividade, por seu turno, é aquele segundo o qual toda norma constitucional,
especialmente as chamadas programáticas, possuí alguma aplicabilidade. Referido princípio estabelece ao

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RODADA 02

intérprete que sempre se busque a interpretação mais eficiente buscando a sua concretização social.
D) INCORRETA. A concepção política de constituição é desenvolvida por Carl Schmidt, para quem, nas
palavras de Marcelo Novelino, “o fundamento da constituição não está contido em outras normas jurídicas ou
em si mesma, mas na vontade política concreta que a antecede. Por ser um conjunto de normas supremas, a
constituição não poderia apoiar-se em outra norma jurídica, mas apenas em uma decisão política oriunda de
um ser político (vontade política) capaz de impor uma existência política de acordo com determinadas normas”
(Curso de Direito Constitucional, 15ª Edição, pg. 101). Logo, para a concepção política, a Constituição retira
seu fundamento de uma vontade política. Ferdinand Lassalle, por sua vez, desenvolve a chamada concepção
sociológica de Constituição. Sobre a ideia de Constituição a partir de uma concepção sociológica, destacam-
se as lições desenvolvidas por Marcelo Novelino: “A constituição escrita só será boa e duradoura quando
‘corresponder à constituição real e tiver suas raízes nos fatores do poder que regem o país’. Caso não haja
correspondência, inevitavelmente, a constituição jurídica (“folha de papel”) irá sucumbir diante dos fatores
reais do poder. Em outras palavras, prevalece a vontade daqueles que titularizam o Poder.” (Curso de Direito
Constitucional, 10ª Edição, pg. 101).
E) INCORRETA. O conceito apontado na assertiva não corresponde ao princípio de efeito integrador, mas
sim ao princípio de intepretação constitucional da unidade. Embora os princípios sejam alinhados, os seus
objetivos são diversos. Quanto ao princípio de efeito integrador, me remeto ao comentário da alternativa C.
Já o princípio da unidade é aquele pelo qual o intérprete deve buscar a harmoniza constitucional, ou seja,
uma normal constitucional não deve ser analisada isoladamente, mas sempre dentro do contexto das normas
integrantes do sistema a qual ela está inserida.

💡 GABARITO: A

PROFESSOR ALEXANDRE CABRAL


E-mail: profcei.alexandrecabral@gmail.com

🏳 DIREITO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO


QUESTÃO 07. Com especial atenção aos reflexos sociais na aplicação do Direito Administrativo, assinale
a única opção correta.
A) Enquanto a locação social decorre de programa com lastro na legislação federal que visa fornecer
valor pecuniário a fim de viabilizar o aluguel emergencial de um imóvel para quem se viu desalojado
em situação de emergência/calamidade, o aluguel social, presente em normas estaduais e municipais,
representa a busca por se aproveitar imóveis já existentes adequando-os ao perfil da população vulnerável,
muitas vezes com reforma ou subsídio parcial ou total para locação e finalidade de uso a médio ou longo
prazo.

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RODADA 02

B) A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi internalizada no Brasil
com status de norma constitucional. Um dos reflexos de sua adoção, a Lei 12.764/12 e seu regulamento já
previam que, caso fosse comprovada a necessidade de apoio às atividades de comunicação, interação social,
locomoção, alimentação e cuidados pessoais, a instituição de ensino em que a pessoa com transtorno do
espectro autista estivesse matriculada disponibilizaria acompanhante especializado no contexto escolar.
C) Consoante a Lei 10.639 de 2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Lei
no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, tornou-se obrigatório nos estabelecimentos oficiais de ensino
fundamental e médio, o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
D) O Tombamento é forma de intervenção na propriedade destinada à proteção do patrimônio histórico
e artístico nacional, também chamado de patrimônio cultural brasileiro, recaindo sobre bens materiais,
móveis ou imóveis, fruto de processo administrativo que se destina a constituí-lo, mesmo quando se tratar
de documentos e sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
E) O Estado de São Paulo possui diferentes leis que punem, administrativamente, atos de discriminação
aos portadores do vírus HIV ou às pessoas com AIDS, atos de discriminação em razão de orientação
sexual ou atos de discriminação racial. Em todas elas a sanção administrativa mais gravosa possível é a
cassação da licença estadual de funcionamento.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) INCORRETA. A assertiva inverteu as noções básicas dos programas mencionados no seu edital. O
aluguel social é um programa para fornecimento de valores (atualmente em torno de R$ 500,00) em estados
que aderem ao sistema, São Paulo um deles, destinado a garantir aluguel temporário a famílias vulneráveis
atingidas por calamidades e emergências – base na Lei 8742/93 e Decreto federal 6307/2007 - caracterizado
pela eventualidade.
Já a locação social, iniciada no município/capital de São Paulo em 2003 e reproduzido em tantos outros, é uma
política de aproveitamento de imóveis (com reforma, renovação e redestinação deles) e que fornece moradias
visando suprir o déficit habitacional. Também destinado à população hipossuficiente, ao contrário do anterior
tem a perspectiva de longo prazo e de tratar da questão habitacional e urbana propriamente dita.
Como exemplo, o plano municipal de habitação de São Paulo, vigente até 2024, prevê, para efetivar a locação
social em Zonas Especiais de Interesse Social, a aplicação de alguns instrumentos do Estatuto das Cidades (
Lei 10.257/2001) voltados para o cumprimento da função social da propriedade, tais como IPTU progressivo,
usucapião especial de imóvel urbano, parcelamento, edificação ou utilização compulsório do solo urbano não-
edificado, direito de superfície, direito de preempção e transferência do direito de construir.
Por fim o auxílio-aluguel, também chamado de auxílio-moradia, é programa também definido em legislações
locais (municipais) visando facilitar a moradia da população vulnerável com oferta de valores para
complementar os gastos com aluguel. Aqui, por um lado, não costuma haver preocupação com o imóvel, por
outro, a fundamentação não precisa ser emergencial.

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RODADA 02

Em São Paulo capital, vitimas de violência doméstica, dada lei específica, têm direito ao benefício nesses termos
(lei municipal 17.320/20, regulamentada pelo Decreto 60.111/2021 – recomendo leitura!).
B) CORRETA. Além do afirmado na assertiva, integralmente certa, recordemos que em 2015 foi editado
o Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei 13.146/2015, que também prevê o atendimento educacional
especializado para os alunos PCDs em geral.
C) INCORRETA Apesar da menor incidência em provas elaboradas com foco na atuação profissional e por
membros da carreira, como no nosso certame da DPE/SP de 2023, ainda acontecem, mesmo em tais provas
para Defensoria e em especial na fase objetiva, “peguinhas” de questões com sutil mudança de texto legislativo.
Aqui a Lei 10.639/03 determinou o ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras nas escolas oficiais E
PARTICULARES, ausência que vicia a assertiva.
D) INCORRETA. O texto da assertiva é quase totalmente correto, peca, no final, pois os documentos e
sítios que guardem reminiscências dos antigos quilombos foram objeto de tombamento legal-compulsório
pela Constituição da República de 1988, no seu art. 216, §5º: Ficam tombados todos os documentos e os sítios
detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. Nessa hipótese, portanto, é desnecessário o
processo administrativo para constituir o tombamento – que já existe por determinação da CF/88.
E) INCORRETA. As Leis Estaduais nº 14.187/2010 (discriminação racial) nº 11.199/2002 (discriminação por
portar HIV ou ter AIDS) e nº 10.948/2001 (discriminação por orientação sexual), todas exigidas no edital deste
certame, preveem processos administrativos iniciados por denúncias de vítimas, cidadãos ou agentes e órgãos
públicos, tudo destinado a coibir tais condutas com base em sanções eminentemente de multa ou advertência.
Ocorre que na Lei 11.199/02 a sanção prevista é apenas de multa, enquanto nas duas outras há graduação de
advertência, multas menores, até suspensão da licença de funcionamento e, por fim, sua cassação como sanção
derradeira – o que torna a assertiva incorreta.
Como há outras pequenas diferenças no processo administrativo de apuração em cada uma dessas normas,
recomenda-se leitura.

💡 GABARITO: B.

QUESTÃO 08. Sobre o tema das Licitações, assinale a única alternativa correta no que tange ao Leilão,
segundo o regime da Lei 14.133/2021.
A) Trata-se de modalidade de licitação prevista na Lei 14.133/2021 para alienação de bens imóveis ou de
bens móveis inservíveis ou legalmente apreendidos a quem oferecer o maior lance, com fase de habilitação.
B) Caso cometa o leilão a leiloeiro oficial a Administração pode selecioná-lo via credenciamento ou pregão,
adotando o critério de julgamento de maior desconto para as comissões a serem cobradas, utilizados
como parâmetro máximo os percentuais definidos na lei que regula a referida profissão e observados os
valores dos bens a serem leiloados.
C) O leilão exigirá registro cadastral prévio, não terá fase de habilitação e deverá ser homologado assim
que concluída a fase de lances, antes da fase recursal e tão logo efetivado o pagamento pelo licitante

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RODADA 02

vencedor, na forma definida no edital.


D) A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público
devidamente justificado, será precedida de avaliação e operacionalizada via leilão, inclusive, no caso de
bem imóvel, na hipótese de alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso,
locação e permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente usados
em programas de habitação ou de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgão ou
entidade da Administração Pública;
E) A alienação de bens imóveis da Administração Pública cuja aquisição tenha sido derivada de
procedimentos judiciais ou de dação em pagamento dispensará autorização legislativa e exigirá apenas
avaliação prévia e licitação na modalidade concorrência.

💡 GABARITO COMENTADO

Licitações e contratos públicos são sempre tema de provas objetivas na nossa matéria, inclusive, sim, para a
Defensoria. Não se olvide que, como instituição autônoma e gerida pelos próprios membros da carreira, o
conhecimento sobre tais normas reflete parte da atuação profissional dos defensores que muitos candidatos e
candidatas esquecem na preparação: a gestão do órgão em si (a chamada atividade-meio). Portanto, não há se
falar em “falta de pertinência” na cobrança de tais pontos.
A) INCORRETA. Sim, é previsto como modalidade na novel legislação para tal fim, mas não tem fase de
habilitação – Lei 14.133/21, art. 31, §4º (vide mais em “c”, abaixo)
B) CORRETA. O leilão poderá ser cometido a leiloeiro oficial ou a servidor designado pela autoridade
competente da Administração com regulamento que deverá dispor sobre seus procedimentos operacionais.
Optando por leiloeiro oficial, a seleção dele pode se dar pelo credenciamento ou por pregão – com critério de
julgamento no maior desconto – art. 31 e seu §1º da Lei em tela.
C) INCORRETA. É preciso atenção ao simples, mas facilmente confundível, regime do Leilão - Lei 14.133/21,
art. 31, §4º: O leilão NÃO exigirá registro cadastral prévio, não terá fase de habilitação e deverá ser homologado
assim que concluída a fase de lances, SUPERADA a fase recursal e efetivado o pagamento pelo licitante vencedor,
na forma definida no edital.
D) INCORRETA. Trata-se o procedimento de alienação de bens públicos de regime detalhado, que pouco
mudou desde a lei 8.666/93 (embora lá a regra geral fosse a concorrência e o leilão, exceção), e já nela era muito
cobrado em provas objetivas, restando previsto, agora, nos arts. 76 e 77 da Lei 14.133/21. Cuidado! A hipótese
trazida na assertiva é justamente uma das exceções que dispensa a existência de licitação na modalidade leilão
– veja o art. 76, I, “f ”.
E) INCORRETA. A Concorrência, no regime anterior (Lei 8.666/93), poderia ser utilizada, assim como
o Leilão. No regime da Lei 14.133/21, não, não há hipótese de emprego de concorrência na venda de bens
imóveis, viciando a assertiva.

💡 GABARITO: B.

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RODADA 02

QUESTÃO 09. Com atenção à Constituição e à legislação aplicável e de acordo com a interpretação confe-
rida pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, assinale a única
opção correta.
A) Igreja instalada em terreno no qual também mantém um cemitério destinado ao sepultamento de fiéis
terá, apenas naquele segundo espaço, que arcar com pagamento do IPTU.
B) Diz a Súmula Vinculante nº 52 do STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o
imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição Federal, desde
que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.
Considerando que a o entendimento vem sendo estendido pelo STF em diferentes situações também para
os templos de qualquer culto, quando contribuintes de direito do IPTU (proprietários) do imóvel, ainda
que alugado a terceiros, mas desde que os rendimentos revertam para a finalidade da entidade, a única
hipótese que se vislumbra de pagamento do imposto em tela por uma igreja é na condição de contribuinte
de fato, que, ao alugar o imóvel para nele exercer sua atividade, aceite, contratualmente, ser responsável
pelo pagamento da exação, hipótese em que deverá arcar com o imposto.
C) Diz a CF/88, art. 151, III, que é vedado à União: instituir isenções de tributos da competência dos Estados,
do Distrito Federal ou dos Municípios. Nesse sentido, o STF inadmite que tratado internacional possa
determinar isenção referente a tributo municipal.
D) Diz o Art. 195, § 7º, da CF/88: São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes
de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei. Entende o STJ que o Certificado de
Entidade Beneficente de Assistência Social – CEBAS, que é emitido após análise administrativa desses
requisitos legais, tem natureza declaratória, e não constitutiva, ou seja, com efeitos ex tunc ao momento
em que demonstrado o cumprimento dos requisitos para fruição da imunidade.
E) A aquisição de veículos automotores sem cobrança de IPI ou de ICMS em favor de pessoas com
deficiência se dá em virtude de imunidades tributárias, previstas, respectiva e necessariamente, em leis
complementares federal e estaduais.

💡 GABARITO COMENTADO

Segundo o STF, as imunidades tributárias são direito subjetivo do cidadão e cláusulas pétreas
constitucionais!2. Elas podem ser: objetivas: 150, VI, “d”; subjetivas 150, VI “a”, “e”, “c” ou mistas:
153, §4º, II.
A Doutrina de Regina Costa Helena aponta, com precisão, que a imunidade é:
[...]a exoneração, fixada constitucionalmente, traduzida em norma expressa impeditiva da atribuição de
competência tributária ou extraível, necessariamente, de um ou mais princípios constitucionais, que confere
direito público subjetivo a certas pessoas, nos termos por ela delimitados, de não se sujeitarem à tributação.
Há diversas imunidades no texto constitucional, como a que imuniza receita de exportação (art.

2 ADI 939-7/DF Rel. Min. Sydney Sanches, j.15.12.1993, DJ 18.03.1994.

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RODADA 02

149, §2º); o ITBI em incorporação de imóvel no capital de Pessoa Jurídica (art. 156, §2º, I); o ITR
e a pequena gleba rural (art. 153, §4º, II) contribuição previdenciária do aposentado pelo RPGS
(art. 195, II), entre outras.
Se a vedação ao poder de tributar consta do texto da CF/88 é uma imunidade, ainda que o nome
seja dado como isenção, e.g., art. 184, §5º - imóveis destinados à reforma agrária e impostos de
transferência dos quais isento, temos, na verdade, imunidade!
A Isenção não se confunde com imunidade, pois é uma dispensa legal de pagamento (que deve
ser manejada por lei específica).
A “Não incidência” também não se confunde com imunidade, pois aqui está a se falar em
ausência de previsão legal para que se atribua ao fato a natureza de fato gerador. Pode ocorrer em
dois casos: não incidência fática, qual seja, o fato em si não se amolda à hipótese de incidência,
e.g. não incide IPTU sobre um automóvel porque ele não é um imóvel; ou a não incidência
jurídica, quando, apesar de haver competência tributária prevista constitucionalmente, o ente
não a exerceu, não criou o tributo. Temos como exemplo o Imposto sobre Grandes Fortunas –
IGF (CR/88, art. 153, VII – dependendo de edição de Lei Complementar) jamais materializado
pela União, razão pela qual ter uma grande fortuna no Brasil é hipótese de não incidência de
tal tributo.
A “Alíquota zero”: também não é imunidade, trata-se de supressão do elemento quantitativo
através da multiplicação por zero – mero recurso de política fiscal, em geral temporário.
A) INCORRETA. O STF, não de hoje, tem seguido linha ampliativa na leitura das imunidades tributárias
constitucionais, no caso das igrejas e templos, prestigiando sempre a finalidade do eventual rendimento
que obtenham para decidir se há ou não imunidade – como veremos nessa questão. Em caso similar (igreja
anglicana) a Corte decidiu que, se usa extensão de seu espaço para atividades voltadas à crença, como um
cemitério, a Igreja mantém a imunidade tributária ao IPTU – RE 578.562, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em
21-5-2008, Plenário, DJE de 12-9-2008.
Outro precedente frequentemente citado:
Instituição religiosa. IPTU sobre imóveis de sua propriedade que se encontram alugados. A
imunidade prevista no art. 150, VI, "b", CF, deve abranger não somente os prédios destinados ao
culto, mas, também, o patrimônio, a renda e os serviços “relacionados com as finalidades essenciais
das entidades nelas mencionadas”. O § 4º do dispositivo constitucional serve de vetor interpretativo das
alíneas “b” e “c” do inciso VI do art. 150 da Constituição Federal. Equiparação entre as hipóteses das
alíneas referidas. Recurso extraordinário provido.
- STF, Tribunal Pleno, RE 325.822/SP, Rel. Min. Ilmar Galvão, rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes,
j. 18.12.2002, DJ 15.05.2004.
B) INCORRETA. O tema foi superado pela EC 116 de 2022 que acrescentou ao art. 156 da CF/88 o §1-A,
determinando: “O imposto previsto no inciso I do caput deste artigo não incide sobre templos de qualquer culto,

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RODADA 02

ainda que as entidades abrangidas pela imunidade de que trata a alínea “b” do inciso VI do caput do art. 150
desta Constituição sejam apenas locatárias do bem imóvel.
Ora, o STF já dissera que as imunidades atingem apenas os fatos geradores que a pessoa imune pratique na
condição de contribuinte de direito, não se estendendo às situações em que o ente imune não figure na condição
de verdadeiro contribuinte, mas sim de contribuinte de fato, quando então, em tese, teria que pagar o tributo.
Obs.: Contribuinte de fato é aquele que não praticou o fato gerador, mas que sofre o repasse do encargo
financeiro da tributação. Esse repasse pode estar previsto em lei, chamado tributo indireto (artigo 166 do
CTN) ou pode decorrer de previsão contratual/ convenção particular – comum em contratos de aluguel (onde
o responsável é o proprietário, que costuma no pacto passar o dever de pagamento ao locatário).
Quando proprietária a entidade religiosa era imune (art. 150, VI, “b” CF/88), como locatária, deveria, se
previsto em contrato, pagar o IPTU.
Por ausência de relação do locatário de imóvel com o fisco, o próprio STJ possui Súmula 614, dizendo que o
locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas referentes
ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses tributos.
A EC em estudo, porém, inovou, concedendo uma imunidade ao contribuinte de fato.
C) INCORRETA. As chamadas isenções heterônomas são realmente vedadas por dispositivo constitucional
(art. 151, III).
Há, todavia, duas exceções.
A primeira é justamente a negada pela assertiva, permite-se que a União, como pessoa política internacional
celebrante de tratados (no papel de República Federativa do Brasil), estabeleça, em tal seara, isenção heterônoma
- STF RE 543943 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, 2ª turma, julgado em 30/11/2010.
Além disso, a própria CF/88, no caso específico da isenção de ISS sobre importações, permite uma hipótese
de isenção heterônoma, desde que via Lei Complementar Federal – art. 156, §3º, II. A previsão conta da LC
116/2003, art. 2º, I.
D) CORRETA. Recentemente foi editada nova Lei Complementar, a LC 118/2021, que trata da certificação
CEBAS, necessária para as entidades que desejam garantir sua imunidade versus contribuições sociais nos
termos do art. 195, §7º, CF/88.
Desde antes da nova legislação contudo, e aqui sem mudança, o STJ entende no sentido de sua Súmula 612, que
a certificação tem natureza declaratória, portanto com efeitos retroativos, ou ex tunc, à data não da emissão do
certificado, mas da efetiva implementação dos requisitos para fazer jus à imunidade, verbis:
STJ/S.612. O certificado de entidade beneficente de assistência social (CEBAS), no prazo de sua validade,
possui natureza declaratória para fins tributários, retroagindo seus efeitos à data em que demonstrado o
cumprimento dos requisitos estabelecidos por lei complementar para a fruição da imunidade.
E) INCORRETA. Como vimos, as imunidades encontram previsão no texto constitucional. As dispensas de
pagamento de impostos em veículos para aquisição por PCDs se dão via isenções, previstas em leis específicas
(não necessariamente complementares, no caso federal, por exemplo, onde a norma de isenção, atualmente, é

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RODADA 02

a Lei 14.287/21).
No caso do ICMS, a previsão constitucional do art. 155, §2º, XII, “g” exige a definição via Lei Complementar
(é a LC 24/75), que remete as hipóteses de isenção de ICMS a convênio entre os Estados e o DF (via CONFAZ
- Convênio ICMS 38/2012, frequentemente atualizado).

💡 GABARITO: D.

PROFESSOR CAIO PAIVA


E-mail: profcei.caiopaiva@gmail.com

🏳 DIREITO PENAL
Lembrando da divisão dos assuntos do edital no decorrer das rodadas:
Rodada 1: Direito penal e poder punitivo. Teoria da lei penal. Princípios do Direito Penal. Lei penal no tempo.
Garantismo penal.
Rodada 2: Direito penal e ditadura. Direito penal e Estado Democrático de Direito. Constituição e Direito
Penal. Direito Penal e Direitos Humanos. Tipicidade.
Rodada 3: Antijuridicidade. Culpabilidade. Iter criminis. Erro no Direito Penal.
Rodada 4: Aplicação da pena. Economia política da pena. Medidas de segurança.
Rodada 5: Efeitos da condenação. Extinção da punibilidade. Crimes contra a pessoa e contra o patrimônio.
Crimes contra a dignidade sexual. Lei de Drogas.
Rodada 6: Execução penal. Criminologia.
QUESTÃO 10. Considerando a manifestação da ideologia na história e na formação do Direito Penal, é
CORRETO afirmar que:
A) A exposição histórica da legislação criminal, do período medieval até o presente, passando pela legislação
nacional, com a abordagem, ainda, da sucessão de escolas filosóficas que influenciaram a formação desse
campo do conhecimento, representa uma forma exitosa e suficiente de historicizar o Direito Penal.
B) As teorias unificadas da pena superaram as críticas que anteriormente eram direcionadas às teorias
legitimadoras ou positivas.
C) O racismo não é parte da estrutura do funcionamento do sistema penal brasileiro, mas sim um elemento
acidental presente em alguns processos de criminalização secundária.
D) A abolição do sistema penal não imprescinde ou está necessariamente relacionada à superação do
capitalismo.
E) O causalismo, o neokantismo, o ontologismo e o funcionalismo formaram verdadeiras escolas no Direito
Penal, com diferenças substanciais entre elas no que concerne à estrutura do delito, mas reproduzindo os
mesmos fundamentos do Direito Penal.

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RODADA 02

💡 GABARITO COMENTADO

Vamos trabalhar nesta questão alguns trechos importantes da tese de doutorado do examinador Patrick Caci-
cedo, defendida em 2019, já publicada como livro, mas também acessível abertamente pelo banco de teses da
USP: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2136/tde-14082020-114748/publico/7939389_Tese_Origi-
nal.pdf
A) ERRADO. De acordo com o examinador, “(...) os juristas costumam se referir à história do direito penal
ora como apresentação da história da legislação criminal desde o período medieval até o presente, passando
pela legislação nacional, ora combinando tal perspectiva com a história do pensamento penal, ou seja, como
uma sucessão de escolas filosóficas que influenciaram a formação desse campo do conhecimento. A exposição
histórica em tais moldes não significa, em verdade, uma historicização do direito penal, pois embora traga
dados objetivos que se sucederam no tempo, não os inserem no contexto dos fatos históricos concretos”.
B) ERRADO. Conforme anota o examinador, “A junção das teorias em um conjunto unificado em nada supre
seus problemas inerentes. Em verdade, a partir de uma abstração teórica, pensam ser possível eliminar ele-
mentos negativos estruturais das teorias que a compõem a partir da unificação de suas pretensas qualidades
em um plano teórico ideal. (...) A solução permanece, portanto, no plano do idealismo”.
C) ERRADO. De acordo com o examinador, “O racismo é parte da estrutura do funcionamento do sistema
penal brasileiro, é um de seus componentes orgânicos, ou seja, o padrão de funcionamento das instituições
que gerem o sistema penal redunda em manifestações que privilegiam grupos raciais. O racismo, portanto, é
um elemento determinante na forma ‘normal’ de funcionamento do sistema penal, que acaba sendo também
reproduzido e fomentado por esse funcionamento ordinário das instâncias do sistema de justiça criminal. Não
se trata de uma patologia social ou de desarranjo institucional, mas do racismo em sua concepção estrutural,
constituído historicamente a partir das relações materiais da vida em sociedade”.
D) ERRADO. O examinador Patrick Cacicedo associa-se à escola abolicionista que vincula o abolicionismo à
superação do capitalismo. Vejamos:
“(...) a abordagem do capitalismo não pode se pautar por raciocínios de tipo idealista
– como os que fundamentam o próprio direito penal moderno –, muito menos por
utopismos. É justamente a partir do conhecimento científico proporcionado pelo ma-
terialismo histórico que a questão deve ser elaborada. A teoria social construída por
Marx e Engels é, com efeito, uma negação frontal de toda forma de utopismo, uma vez
que pautada em seu extremo oposto, no mais profundo conhecimento da realidade
que se quer transformar. É com base no conhecimento científico que Marx e Engels
constroem o arcabouço teórico da práxis revolucionária, que é trabalhada como pos-
sibilidade concreta, e não apenas ideal ou utópica.
(...) o debate sobre a superação do direito penal não pode ficar restrito a utopias ou a
desejos sinceros de sua abolição diante da observação de suas mazelas. A orientação
da práxis social de enfrentamento ao direito penal e suas consequências deve estar

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RODADA 02

fundada na crítica que conecta o controle social punitivo com as circunstâncias his-
tórico-materiais que lhe dão fundamento, ou seja, que relacione o direito penal com a
necessidade de acumulação capitalista.
(...) O direito penal não é um sistema isolado no conjunto da sociedade, ele possui de-
terminações subjacentes que lhe dão suporte e realiza funções que igualmente susten-
tam outras relações. O direito penal é um produto necessário do capitalismo, a quem
igualmente serve de sustentação como mecanismo de controle social que reproduz as
condições de desigualdade e exploração. O direito penal é, portanto, uma necessidade
do capitalismo e, enquanto tal, sua superação depende da eliminação de suas condi-
ções de existência, ou seja, do próprio capitalismo”.
E) CORRETO. A assertiva está em conformidade com o pensamento do examinador:
“Desde a consolidação do direito penal moderno, a exposição doutrinária não foi co-
nectada com as transformações históricas na sociedade. Os fundamentos do direito
penal moderno não passaram por um cotejo histórico, como se constituísse uma parte
do conhecimento humano imune às alterações na estrutura material da sociedade.
Desde o século XVIII, sem profundas alterações estruturais, os fundamentos do di-
reito penal são reproduzidos de maneira contínua e substancialmente semelhante, em
uma redoma imune à história. É como se a sociedade não tivesse se alterado. Ou, em
caso de alteração, como se o direito penal não se transformasse com ela.
A doutrina alemã constitui o principal arcabouço teórico do sistema jurídico roma-
no-germânico, detendo a hegemonia teórica no direito penal moderno. Em seu per-
curso histórico, os principais tratadistas recolheram influências no campo filosófico
que conferiram a particularidade de cada uma das obras. Com efeito, o causalismo, o
neokantismo, o ontologismo e o funcionalismo, formaram verdadeiras escolas no di-
reito penal alemão, com diferenças substanciais entre elas no que concerne à estrutura
do delito.
Conquanto tenham recebido o influxo de diversas escolas filosóficas, a incorporação
desse conhecimento restringiu-se aos fundamentos do delito em particular, e não aos
fundamentos do direito penal propriamente dito. Se ao longo de mais de dois séculos
são nítidas as transformações da concepção de delito, o mesmo não pode ser dito so-
bre os fundamentos de existência do direito penal moderno”.

💡 GABARITO: E

QUESTÃO 11. “(...) Sua essência é a engrenagem, não o freio, ainda que, dentro de uma máquina que está
em funcionamento, a legalidade possa impedir que ela perca a direção e avance o sinal vermelho. (...)”
(Patrick Cacicedo, em Ideologia e Direito Penal). O autor se refere em tom de crítica:

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RODADA 02

A) Ao abolicionismo penal.
B) À criminologia crítica.
C) Ao garantismo penal.
D) Ao neopunitivismo.
E) Ao funcionalismo teleológico.

💡 GABARITO COMENTADO

Mais uma questão elaborada e trabalhada a partir da tese de doutorado do examinador Patrick Cacicedo, que,
como um abolicionista, embora reconheça a importância do garantismo penal como um sistema limitador do
poder punitivo numa sociedade capitalista, denuncia sua insuficiência e suas inconsistências, em especial pela
naturalização da existência do sistema penal para proteger as pessoas.
Vejamos alguns fragmentos do tópico 5.1.2 – As garantias em face do Estado:
“Ao lado da prevenção do delito, o direito penal tem como outro fundamento legiti-
mador a garantia do cidadão em face do Estado, conforme exposto acima. Contudo,
a função de proteção contra o Estado, por ser fundada na legalidade, se manifesta,
inexoravelmente, de modo contraditório, já que o mesmo movimento que limita a
atuação do poder punitivo estatal é aquele que o legitima.
(...) Forjado nos ideais do liberalismo iluminista, o direito penal não só é referido
como um bem para o cidadão, como é justo na medida em que considera a atuação do
direito penal de maneira isonômica.
Segundo o senso comum teórico reproduzido pelo pensamento liberal, o direito pe-
nal é a forma de intervenção mais drástica sobre a liberdade individual, motivo pelo
qual o poder punitivo estatal deve ser limitado, sob pena de vivermos em um regime
de barbárie. (...) O fato de as pessoas que efetivamente são penalizadas pertencerem a
um grupo social específico não causa maiores questionamentos, tratando-se de uma
discussão verdadeiramente ausente entre os penalistas tradicionais.
(...) O discurso que fundamenta o direito penal moderno na ideia de garantia em face
do Estado é parcial e naturaliza o seu papel de conservação das estruturas de domina-
ção na sociedade moderna. Com efeito, o direito penal em sua manifestação concreta
não só atua de forma arbitrária, na medida em que incide sobre parcela específica da
sociedade, como reproduz relações de classe e raciais.
(...) Mais do que uma barreira, por excelência a legalidade é o mecanismo que permite
a atuação estatal punitiva, pois não existe outra forma de atuação na estrutura de um
Estado de Direito que não seja justamente pela legalidade. Sua essência é a engrena-
gem, não o freio, ainda que, dentro de uma máquina que está em funcionamento, a
legalidade possa impedir que ela perca a direção e avance o sinal vermelho. (...)

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Os limites do garantismo ficam evidenciados com a demonstração do caráter estru-


tural do funcionamento do sistema penal, que lhe emprega, a partir de uma análise
crítica, o caráter essencialmente injusto e ilegítimo. Mesmo que em um plano ideal se
observem todas as garantias do direito penal em um Estado Democrático de Direito,
sua manifestação se dará de maneira arbitrária, não porque as regras são violadas, mas
porque dentro das regras de jogo o direito penal se manifesta de forma seletiva, não
cumpre suas funções declaradas e tem como resultado a reprodução das condições
sociais vigentes.
(...) Por isso são corretas as críticas ao garantismo contemporâneo – cuja principal
figura é Luigi Ferrajoli –, na medida em que se mostram insuficientes, e não propria-
mente erradas, as críticas ao excesso do direito penal, e não a ele em si”.

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 12. A respeito da relação do Direito Penal com o Direito Internacional dos Direitos Humanos,
é CORRETO afirmar que:
A) Tratados de direitos humanos não podem veicular obrigação para os Estados criminalizarem uma
conduta no Direito Penal interno.
B) Há um consenso no âmbito da história social mundial e também no cenário da doutrina penal e
criminológica de que leis de anistia, quando se referem a crimes graves cometidos durante períodos de
exceção – como uma ditadura militar –, não podem ter qualquer valor jurídico.
C) Tratados internacionais podem tipificar crimes e serem invocados diante da omissão do Direito Penal
interno.
D) Conforme o entendimento do STF e do STJ, crimes contra a humanidade prescrevem.
E) O terrorismo é um dos crimes de competência do Tribunal Penal Internacional.

💡 GABARITO COMENTADO

A) ERRADO. Tratados de direitos humanos podem, sim, veicular obrigação para os Estados criminalizarem
uma conduta no Direito Penal interno. Isso se chama mandado – internacional – de criminalização. Há diver-
sos exemplos em tratados de direitos humanos de mandados internacionais para criminalizar condutas como
o racismo, a violência contra mulher, a pornografia infantil, a tortura, o desaparecimento forçado etc.
B) ERRADO. Não existe esse consenso em torno das leis de anistia que perdoam autores de crime graves
contra os direitos humanos, nem na história social mundial nem tampouco na doutrina penal e criminológica.
Há diversos autores comprometidos com o regime democrático que concordaram com a lei de anistia
brasileira, como Nilo Batista por exemplo. Sobre o assunto, o STJ também já anotou o seguinte: “Na verdade,
as experiências de reconciliação nacional, em vários países do mundo, foram diversas, respeitando-se sempre a
cultura e a soberania de cada país. Emblemática é, por exemplo, a experiência de justiça restaurativa na África

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do Sul sob a direção do estadista Nelson Mandela e coordenação do arcebispo Desmond Tutu. O processo
transicional, do regime racista do apartheid para a democracia multirracial, ocorreu de forma negociada e
pacífica. A criação de uma Comissão de Verdade e Reconciliação promoveu o encontro de vítimas, familiares,
defensores e representantes das comunidades locais para discutirem sobre as violações dos direitos humanos
praticadas durante o sistema segregacionista. Nesses encontros, os violadores reconheciam os seus erros,
pediam perdão às famílias ou aos seus familiares e se responsabilizavam pelas consequências materiais dos
seus atos lesivos. Essas foram as condições necessárias para a decretação de anistia aos ofensores naquele país”
(REsp 1.798.903, 3ª Seção, j. 25.09.2019).
C) ERRADO. Conforme o entendimento dos Tribunais Superiores, tratados internacionais não podem tipifi-
car crimes e serem invocados diante da omissão do Direito Penal interno. O STF já decidiu que “Em matéria
penal, prevalece o dogma da reserva constitucional de lei em sentido formal, pois a Constituição da República
somente admite a lei interna como única fonte formal e direta de regras de direito penal, a significar, portan-
to, que as cláusulas de tipificação e de cominação penais, para efeito de repressão estatal, subsumem-se ao
âmbito das normas domésticas de direito penal incriminador, regendo-se, em consequência, pelo postulado
da reserva de Parlamento. As convenções internacionais, como a Convenção de Palermo, não se qualificam,
constitucionalmente, como fonte formal direta legitimadora da regulação normativa concernente à tipifica-
ção de crimes e à cominação de sanções penais” (AgR no RHC 121.835, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª Turma,
j. 13.10.2015). Esse também é o entendimento do STJ: “(...) não se mostra possível internalizar a tipificação
do crime contra a humanidade trazida pelo Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado
por meio do Decreto nº 4.388, porquanto não há lei em sentido formal tipificando referida conduta” (REsp
1.798.903, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 3ª Seção, j. 25.09.2019).
D) CORRETO. A assertiva está em conformidade com o entendimento do STF e do STJ. Vejamos:
STF: “(...) A circunstância de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados
ao extraditando como de lesa-humanidade não afasta a sua prescrição, porquanto (a) o
Brasil não subscreveu a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra
e dos Crimes contra a Humanidade, nem aderiu a ela; e (b) apenas lei interna pode
dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibilidade da pretensão estatal de punir”
(Ext 1.362, Rel. Min. Edson Fachin, Rel. p/ acórdão Min. Teori Zavascki, Plenário, j.
09.11.2016).
STJ: “Não se coaduna, igualmente, com a ordem constitucional vigente, admitir a pa-
ralisação da eficácia da norma que disciplina a prescrição, com o objetivo de tornar
imprescritíveis crimes contra a humanidade, por se tratar de norma de direito penal
que demanda, da mesma forma, a existência de lei em sentido formal. (...) Nesse con-
texto, em observância aos princípios constitucionais penais, não é possível tipificar
uma conduta praticada no Brasil como crime contra humanidade, sem prévia lei que
o defina, nem é possível retirar a eficácia das normas que disciplinam a prescrição, sob

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pena de se violar os princípios da legalidade e da irretroatividade, tão caros ao direito


penal” (REsp 1.798.903, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 3ª Seção, j. 25.09.2019).
E) ERRADO. De acordo com o art. 5º do Estatuto de Roma, são crimes de competência do TPI 1) o genocídio,
2) os crimes contra a humanidade, 3) os crimes de guerra e 4) o crime de agressão. O terrorismo não é um
crime da competência do TPI.

💡 GABARITO: D

PROFESSOR CAIO PAIVA


E-mail: profcei.caiopaiva@gmail.com

🏳 DIREITO PROCESSUAL PENAL


Lembrando da divisão dos assuntos do edital no decorrer das rodadas:
Rodada 1: Impactos da pandemia da Covid-19 no processo penal. Princípios processuais penais. Direitos e
garantias do processo penal na Constituição Federal e nos tratados de direitos humanos.
Rodada 2: Investigação preliminar. Juiz de garantias. Provas.
Rodada 3: Prisão e liberdade. Ação penal.
Rodada 4: ANPP. A defesa no processo penal. Sentença.
Rodada 5: Procedimentos. Nulidades. Execução penal.
Rodada 6: Processo penal sob as perspectivas de gênero, raça e classe. Processo penal feminista. Processo pe-
nal, violência policial e racismo estrutural. Racismo algorítimico. Processo penal e novas tecnologias.
QUESTÃO 13. Marque a alternativa CORRETA a respeito da investigação preliminar:
A) Conforme o entendimento da doutrina crítica contemporânea, a investigação preliminar deveria ser
extinta, atribuindo ao titular da ação penal a função de, a partir de indícios mínimos, apresentar a peça
acusatória e, somente em juízo, se discutir o caso penal.
B) A Corte Interamericana de Direitos Humanos não possui uma jurisprudência mais clara e ampla
sobre a atuação do juiz das garantias e sobre a inconvencionalidade do exercício sucessivo de funções pelo
mesmo juiz na persecução penal.
C) A garantia da duração razoável do processo não se aplica à fase da investigação preliminar.
D) Arquivado o inquérito policial pelo juiz, a partir de requerimento do Ministério Público, assentando
que o fato investigado é atípico, pode ocorrer o desarquivamento se, tempos depois, desde que dentro do
prazo prescricional, for descoberta nova prova.
E) A investigação criminal pela defesa, também chamada de investigação defensiva, não encontra respaldo
no sistema interamericano de proteção dos direitos humanos.

💡 GABARITO COMENTADO

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A) ERRADO. Não se propõe – nem mesmo a doutrina mais crítica – a extinção da investigação preliminar,
mas sim a sua filtragem constitucional e convencional. A investigação preliminar apresenta tanto uma finali-
dade preservadora, no sentido de evitar a instauração de um processo penal temerário, quanto uma finalidade
preparatória, porque reúne os elementos de informação capazes de subsidiar o trabalho do titular da ação
penal. Importante lembrar que a ausência de justa causa é um dos fundamentos para a rejeição da peça acu-
satória, nos termos do art. 395, III, do CPP. Aury Lopes Jr. traz uma reflexão neste sentido sobre porque pre-
cisamos de uma investigação preliminar, apontando que a investigação preliminar: 1) busca o fato oculto do
crime; 2) tem uma finalidade simbólica de dar visibilidade à ação do Estado; e 3) serve como filtro processual
para evitar acusações infundadas, seja porque despidas de lastro probatório suficiente, seja porque a conduta
não é aparentemente criminosa.
B) CORRETO. A figura do juiz das garantias, introduzido no CPP pela Lei Anticrime – em dispositivo ainda
suspenso por decisão do Ministro Luiz Fux, do STF –, decorre da ideia de que, tendo o juiz atuado na fase de
investigação preliminar, ele perde a imparcialidade objetiva para depois julgar o mérito do caso penal. Embora
o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) tenha uma jurisprudência extensa sobre o assunto – forma-
da pelo menos desde a década de 80 do século passado –, realmente, conforme consta na assertiva, o assunto
ainda não foi objeto de um desenvolvimento jurisprudencial mais amplo e expresso pela Corte Interamericana
de Direitos Humanos.
C) ERRADO. A investigação preliminar – conduzida pela autoridade policial ou pelo Ministério Público – é
um procedimento temporário. Assim, a garantia da duração razoável do processo (CF, art. 5º, LXXVIII) deve
ser assegurada também na investigação preliminar, e isso não apenas quando o investigado estiver preso, mas
também quando estiver em liberdade. A Lei de Abuso de Autoridade tipifica a conduta do agente público que
estende injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo do investigado ou fiscalizado. Para o
STF, “Embora o prazo legal para a conclusão do inquérito seja impróprio, é irrazoável e inadmissível investiga-
ção, despida de qualquer complexidade, perdurar por mais de uma década” (STF, HC 166.633, j. 18.12.2020).
D) ERRADO. A formação de coisa julgada com o arquivamento da investigação preliminar é um assunto
muito debatido na doutrina. No âmbito da jurisprudência, porém, encontramos alguns consensos. Prevalece
o entendimento de que faz coisa julgada material o arquivamento do inquérito policial, impedindo, assim,
sua reabertura inclusive diante de novas provas, nos casos de atipicidade e extinção da punibilidade. Não há
consenso sobre os casos de exclusão da antijuricidade e da culpabilidade. Sobre o arquivamento no caso de
atipicidade, o STF já decidiu que “A decisão que determina o arquivamento do IP, quando fundado o pedido
do MP em que o fato nele apurado não constitui crime, mais que preclusão produz coisa julgada material, que,
ainda quando emanada a decisão de juiz absolutamente incompetente, impede a instauração de processo que
tenha por objeto o mesmo episódio” (HC 83.346).
E) ERRADO. Conforme adverte Geraldo Prado, “Defender-se fazendo uso exclusivo do material probatório
selecionado pelo acusador é o sonho de todo inquisidor”. No âmbito do sistema interamericano, há, sim, um
respaldo para a chamada investigação criminal defensiva ou pela defesa. Basta lembrarmos novamente do Caso

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RODADA 02

Ruano Torres vs. El Salvador. O professor Gustavo Badaró também afirma que “(...) não se pode esquecer que
o art. 8.2.c, da CADH, assegura a ‘concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para preparação
de sua defesa’, o que inclui, sem dúvida, o direito de investigar fontes de prova. A mera previsão do art. 14 do
CPP, de que o indiciado pode ‘requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade’,
é claramente insuficiente”. Por fim, devemos ter em mente que investigação direta pela defesa não é sinônimo
da mera participação da defesa na investigação conduzida pela autoridade policial ou pelo Ministério Público.
A investigação defensiva pressupõe a possibilidade de a defesa de fato adotar expedientes probatórios, como a
realização de perícias, a oitiva de testemunhas etc.

💡 GABARITO: B

QUESTÃO 14. Considerando a disciplina do Código de Processo Penal sobre a produção de provas no
processo penal e considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é CORRETO afirmar que:
A) Designada audiência de instrução e julgamento para inquirição das testemunhas e interrogatório do
réu, constatada a ausência injustificada do Ministério Público, o correto a se fazer, para evitar atraso na
tramitação do processo, é o juiz prosseguir com a realização do ato, formulando as perguntas acusatórias.
B) A cadeia de custódia da prova busca assegurar a concretização do princípio da mesmidade.
C) Tendo a Polícia Militar do Estado de São Paulo identificado que um homem procurado, com mandado
de prisão preventiva em aberto, estava residindo num prédio abandonado de uma escola pública, como
uma pessoa em situação de rua, a PM pode ingressar no prédio a qualquer horário para proceder com o
cumprimento do mandado.
D) A teoria da perda de uma chance probatória consiste na atuação ineficaz da defesa técnica que
simplesmente deixa de adotar um comportamento ativo na produção de provas.
E) A obrigação de informar à pessoa presa sobre seu direito ao silêncio vale apenas no momento do
interrogatório formal, na polícia ou em juízo.

💡 GABARITO COMENTADO

A) ERRADO. Atentem-se para o trecho da assertiva que coloca “o correto a se fazer”. Embora exista contro-
vérsia doutrinária e também jurisprudencial, devemos defender que o correto a se fazer é o juiz adiar o ato ou,
se mantido o ato, não substituir o Ministério Público na formulação de perguntas acusatórias. Há uma decisão
recente do STJ neste sentido: “O fato de o Ministério Público não ter comparecido à audiência de instrução
não dá, à autoridade judicial, a liberdade de assumir a função precípua do Ministério Público. Em face da
repreensível ausência do MP, que, sem qualquer justificativa, acarretou a contaminação do bom andamento
do processo, o órgão julgador deveria prosseguir a audiência sem as perguntas acusatórias ou, então, suspen-
der a audiência e marcar uma nova data” (STJ, REsp 1.846.407, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª Turma, j.
13.12.2022).
B) CORRETO. A cadeia de custódia da prova é um procedimento que busca assegurar que o objeto ou subs-

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RODADA 02

tância mostrado como prova no contexto de um caso penal é o mesmo apreendido durante a investigação
preliminar. Daí, portanto, a menção ao chamado princípio da mesmidade. Há uma decisão importantíssima
do STJ sobre o assunto. Remeto-lhes para o meu resumo sobre ela, publicado no buscador do Tudo de Penal:
https://tudodepenal.com/julgados/cadeia-de-custodia-da-prova-e-principio-da-mesmidade/
C) ERRADO. Atenção para essa decisão recente do STJ, que é “a cara” da prova da Defensoria de SP: “Um pré-
dio abandonado de uma escola municipal caracteriza o conceito de domicílio para fins constitucionais quando
ocupado por pessoa em situação de rua. Com efeito, o Decreto nº 7.053/2009, que instituiu a Política Nacional
para População em Situação de Rua, reforça a condição de moradia aos habitantes de logradouros públicos e
áreas degradadas” (AgRg no HC 712.529, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª Turma, j. 25.10.2022).
D) ERRADO. A assertiva traz uma explicação intuitiva sobre teoria da perda de uma chance probatória, mas
que não encontra correspondência com o conceito desenvolvido – principalmente – na doutrina de Alexandre
Morais da Rosa e Fernanda Mambrini Rudolfo. Há uma decisão do STJ – já cobrada em provas de Defensoria
– que aplica a teoria da perda de uma chance probatória em um caso muito interessante. Para não deixar esse
material muito extenso, vou colocar aqui o link de um resumo que fiz para o buscador do Tudo de Penal e peço
que leiam com atenção: https://tudodepenal.com/julgados/teoria-da-perda-de-uma-chance-probatoria/
E) ERRADO. A assertiva diverge do entendimento do STF. Vejamos o entendimento adotado na 2ª Turma em
2021:
“Não se admite condenação baseada exclusivamente em declarações informais presta-
das a policiais no momento da prisão em flagrante. A Constituição Federal impõe ao
Estado a obrigação de informar ao preso seu direito ao silêncio não apenas no interro-
gatório formal, mas logo no momento da abordagem, quando recebe voz de prisão por
policial, em situação de flagrante delito. Ademais, na linha de precedentes da Corte, a
falta da advertência ao direito ao silêncio, no momento em que o dever de informação
se impõe, torna ilícita a prova. Isso porque o privilégio contra a autoincriminação,
erigido em garantia fundamental pela Constituição, importou compelir o inquiridor,
na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o interrogado acerca da possibilidade de
permanecer calado. Dessa forma, qualquer suposta confissão firmada, no momento da
abordagem, sem observação ao direito ao silêncio, é inteiramente imprestável para fins
de condenação e, ainda, invalida demais provas obtidas através de tal interrogatório.
No caso, a leitura dos depoimentos dos policiais responsáveis pela prisão da paciente
demonstra que não foi observado o citado comando constitucional” (AgR no RHC
170.843, j. 04.05.2021).

💡 GABARITO: B

QUESTÃO 15. Considerando o disposto no Código de Processo Penal sobre busca pessoal e busca domi-
ciliar, e ainda, levando em conta a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é CORRETO afirmar que:

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A) Fora das hipóteses de flagrante, um mandado de busca domiciliar somente pode ser expedido a
pedido da autoridade policial ou do Ministério Público, não se admitindo, conforme alteração ao Código
de Processo Penal implementada pela Lei Anticrime, a expedição de mandado de busca e apreensão
domiciliar de ofício.
B) Como qualquer pessoa pode proceder com a prisão em flagrante, qualquer pessoa também pode – aqui
incluso os guardas municipais – proceder com a busca pessoal no caso de fundada suspeita da posse, por
exemplo, de uma arma de fogo ou de drogas.
C) A percepção de nervosismo do averiguado por parte da polícia é suficiente para caracterizar a fundada
suspeita para fins de busca pessoal.
D) No cumprimento de um mandado de captura de acusado do crime de falsa identidade, se a polícia,
devidamente autorizada pela esposa do acusado, durante a realização da busca domiciliar, encontra droga
e uma munição de arma de fogo dentro de uma caixa de sapato, trata-se de encontro fortuito de provas,
sem qualquer mácula para a sua admissão no processo.
E) A constatação de situação de flagrância posterior ao ingresso no domicílio sem mandado supre a
ausência das fundadas razões para proceder com a diligência.

💡 GABARITO COMENTADO

A) ERRADO. A Lei Anticrime não alterou essa parte do CPP. O art. 242 ainda dispõe que “A busca [domiciliar
ou pessoal, fora das hipóteses de flagrante] poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de qualquer
das partes”.
B) ERRADO. A assertiva diverge do entendimento do STJ, que tem censurado a atuação de guardas munici-
pais em atividades de policiamento ostensivo, fora, portanto, das suas atribuições legais e constitucionais. Há
uma decisão do STJ que explica muito bem esse entendimento, inclusive afastando o argumento de que “se
qualquer cidadão pode proceder com a prisão em flagrante, naturalmente guardas municipais podem realizar
buscas pessoais diante de fundada suspeita da prática de crimes”. A ementa é um pouco extensa e por isso não
a colarei aqui. Remeto-lhes para um resumo no buscador do Tudo de Penal, preparado por mim: https://tudo-
depenal.com/julgados/realizacao-de-busca-pessoal-por-guarda-municipal/
C) ERRADO. De acordo com o art. 244 do CPP, “A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão
ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis
que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar”. Discute-
-se o que configura a chamada “fundada suspeita”. O STJ tem adotado um entendimento bastante restritivo no
assunto. Em algumas decisões, como no REsp 1.961.459, em 05.04.2022, o STJ afirmou que “A percepção de
nervosismo do averiguado por parte de agentes públicos é dotada de excesso de subjetivismo e, por isso, não
é suficiente para caracterizar a fundada suspeita para fins de busca pessoal, medida invasiva que exige mais do
que mera desconfiança fundada em elementos intuitivos. À falta de dados concretos indicativos de fundada
suspeita, deve ser considerada nula a busca pessoal amparada na impressão de nervosismo do acusado por

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parte dos agentes públicos”. No HC 737.889, julgado em 13.09.2022, o STJ adotou o mesmo entendimento em
relação a “atitude suspeita” para amparar a busca pessoal. Em outro caso, da Defensoria de SP, o STJ anulou
uma condenação por tráfico de drogas porque a substância foi encontrada em busca pessoal realizada a partir
da cor da pele (negra). Um resumo da decisão: https://tudodepenal.com/julgados/busca-pessoal-fundada-na-
-cor-da-pele-2/
D) ERRADO. O mandado – de captura, de busca pessoal ou domiciliar – deve ser razoavelmente bem espe-
cificado. Não se admite o desvirtuamento do cumprimento do mandado. Assim, por exemplo, se foi expedido
um mandado de captura no contexto de cumprimento de mandado de prisão preventiva, tendo a polícia in-
gressado no domicílio para encontrar a pessoa, não pode realizar uma devassa do ambiente. Da mesma forma,
se o mandado de busca e apreensão foi expedido para apreensão de um computador, a polícia, tendo ingres-
sado no domicílio, não pode realizar uma devassa à procura de outros objetos ilícitos (como armas) ou subs-
tâncias proibidas (como drogas). Essa prática configura o que se convencionou chamar de fishing expedition
ou pescaria probatória. A pescaria probatória – ilegal e proibida – não se confunde com o encontro fortuito de
provas. Assim, por exemplo, se, no cumprimento daquele mandado de busca para apreender um computador,
a polícia encontre junto dele, sob a mesa, uma arma de fogo, poderá apreender o objeto e essa prova será legal.
Recomendo a leitura desta decisão do STJ de 22.03.2022, com meu resumo no buscador do Tudo de Penal,
que explica bem o assunto da assertiva: https://tudodepenal.com/julgados/ingresso-de-policiais-em-residen-
cia-sem-mandado-desvio-de-finalidade-e-fishing-expedition/
E) CORRETO. A assertiva diverge do entendimento dos Tribunais Superiores, que exigem o assentamento da
fundada suspeita ou fundadas razões a priori e não a posteriori. Vejamos uma importante decisão do Plenário
do STF:
“A Constituição dispensa o mandado judicial para ingresso forçado em residência em
caso de flagrante delito. No crime permanente, a situação de flagrância se protrai no
tempo. A cláusula que limita o ingresso ao período do dia é aplicável apenas aos casos
em que a busca é determinada por ordem judicial. Nos demais casos – flagrante delito,
desastre ou para prestar socorro – a Constituição não faz exigência quanto ao período
do dia. Muito embora o flagrante delito legitime o ingresso forçado em casa sem deter-
minação judicial, a medida deve ser controlada judicialmente. A inexistência de contro-
le judicial, ainda que posterior à execução da medida, esvaziaria o núcleo fundamental
da garantia contra a inviolabilidade da casa (art. 5º, XI, da CF) e deixaria de proteger
contra ingerências arbitrárias do domicílio. O controle judicial a posteriori decorre
tanto da interpretação da Constituição, quanto da aplicação da proteção consagrada
em tratados internacionais sobre direitos humanos incorporados ao ordenamento
jurídico. A entrada forçada em domicílio, sem uma justificativa prévia conforme o
direito, é arbitrária. Não será a constatação de situação de flagrância, posterior ao
ingresso, que justificará a medida. Os agentes estatais devem demonstrar que havia

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RODADA 02

elementos mínimos a caracterizar fundadas razões (justa causa) para a medida. Fixada
a interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é líci-
ta, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente
justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante
delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autorida-
de e de nulidade dos atos praticados” (RE 603.616, Rel. Min. Gilmar Mendes, Plenário,
j. 05.11.2015).

💡 GABARITO: E

PROFESSORA LUCIANA MOTA


E-mail: profcei.lucianaduarte@gmail.com

🏳 DIREITO CIVIL
QUESTÃO 16. No que tange às regras inerentes à sucessões e entendimentos estabelecidos pelos Tribunais
Superiores, analise as afirmativas a seguir:
I - O herdeiro que seja autor, coautor ou partícipe de ato infracional análogo ao homicídio doloso prati-
cado contra os ascendentes fica excluído da sucessão.
II – Não tem direito ao recebimento de aluguéis a parte que, sem vínculo de parentalidade com a cônjuge
supérstite, possuía imóvel em copropriedade com o de cujus, em razão do direito real de habitação.
III - O prazo prescricional para propor ação de petição de herança conta-se da abertura da sucessão, como
regra, salvo nas hipóteses em que o interessado for absolutamente incapaz.
IV – São consideradas inoficiosas e, portanto, inválidas, as doações feitas pelo doador que ultrapassem
metade de seu patrimônio, independentemente de possuir herdeiros necessários.
Estão corretas as afirmativas:
A) I e IV
B) I e III
C) III e IV
D) I e II
E) II e III

💡 GABARITO COMENTADO.

A) INCORRETA. A afirmativa IV está errada. De acordo com o art. 549 do Código Civil, é nula a doação quanto
à parte que exceder o limite de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. Essa
liberalidade, que prejudica a legítima ou reserva, quota dos herdeiros necessários, é denominada desde tempos

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remotos de doação inoficiosa. Doação inoficiosa é a que invade a legítima dos herdeiros necessários. Logo, só
se fala em doação inoficiosa quando o doador possui herdeiros necessários.
B) CORRETA. A afirmativa I está correta e de acordo com o decidido pela Terceira Turma do STJ no
REsp 1.943.848-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022 (Informativo 725). A hipótese de
indignidade prevista no artigo 1814, I do Código Civil pode ser interpretada de forma a abranger também
os atos infracionais praticados que sejam análogos a homicídio doloso ou tentativa. A afirmativa III também
está correta. Conforme decisão publicada no Informativo 757 do STJ, a Segunda Seção, por maioria, decidiu,
em 26/10/2022, que o prazo prescricional para a ação de petição de herança é contado a partir da abertura da
sucessão.
C) INCORRETA. Ver comentários à letras A e B.
D) INCORRETA. A afirmativa II está incorreta. No REsp 1.830.080-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
da Terceira Turma, julgado em 26/04/2022, o STJ decidiu que tem direito ao recebimento de aluguéis a parte
que, sem vínculo de parentalidade com a cônjuge supérstite, possuía imóvel em copropriedade com o de
cujus. No processo em questão, discutiu-se a oponibilidade do direito real de habitação da cônjuge supérstite à
coproprietária do imóvel em que ela residia com o falecido. Ocorre que, já em 26/08/2020, a Segunda Seção do
STJ havia decidido que “a copropriedade anterior à abertura da sucessão impede o reconhecimento do direito
real de habitação, visto que de titularidade comum a terceiros estranhos à relação sucessória que ampararia
o pretendido direito” (EREsp 1520294/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 26/08/2020, DJe 02/09/2020).
E) INCORRETA. Ver comentários às letras B e D.

💡 GABARITO: B

QUESTÃO 17. Assinale a alternativa incorreta referente às regras aplicáveis aos contratos de seguro de
pessoas e de coisas:
A) Segundo entendimento do STJ, o seguro de vida não pode ser instituído por pessoa casada em
benefício de parceiro em relação concubinária.
B) Segundo entendimento do STJ, nos seguros de pessoas, é válida a exclusão de cobertura na hipótese
de sinistros ou acidentes decorrentes de atos praticados pelo segurado em estado de insanidade mental,
de alcoolismo ou sob efeito de substâncias tóxicas.
C) Segundo entendimento do STJ, no seguro de veículo, o estado de embriaguez do condutor do veículo,
por si só, não é circunstância apta a excluir a cobertura do seguro contratado.
D) O suicídio não é coberto se ocorre nos dois primeiros anos de vigência do contrato, sendo desnecessário
saber se houve premeditação.
E) Ressalvada a hipótese de efetivo agravamento do risco, a seguradora não se exime do dever de
indenizar em razão da transferência do veículo sem a sua prévia comunicação.

💡 GABARITO COMENTADO.

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A) INCORRETA. A afirmativa está correta e reflete decisão recente publicada no Informativo 731 do STJ
(REsp 1.391.954 - RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, por maioria, julgado em 22/03/2022).
Segundo entendeu o STJ, a combinação dos artigos 550 c/c 793 do Código Civil indica a impossibilidade
de a concubina ser beneficiária de seguro de vida instituído por homem casado e não separado de fato ou
judicialmente. Esse entendimento se harmoniza com o recente julgamento pelo STF do RE 1.045.273/SE, com
repercussão geral reconhecida, no qual foi estabelecida a seguinte tese: “A preexistência de casamento ou de
união estável de um dos conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1723, § 1º, do Código Civil, impede o
reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive para fins previdenciários, em virtude
da consagração do dever de fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico-constitucional brasileiro”.
B) CORRETA. A afirmativa está incorreta e em desacordo com decisão do STJ publicada no Informativo 751
(REsp 1.999.624-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, Segunda Seção, por maioria,
julgado em 28/09/2022). Nos seguros de pessoas, é vedada a exclusão de cobertura na hipótese de sinistros ou
acidentes decorrentes de atos praticados pelo segurado em estado de insanidade mental, de alcoolismo ou sob
efeito de substâncias tóxicas.
C) INCORRETA. A afirmativa está correta. Nos termos da jurisprudência do STJ, no contrato de seguro de
automóvel, “[...] o estado de embriaguez do condutor de veículo, caso seja determinante para a ocorrência do
sinistro, é circunstância apta a excluir a cobertura do seguro contratado, por constituir causa de agravamento
do risco” (AgInt no AREsp 1.629.694/PB, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA,
julgado em 21/09/2020, DJe de 24/09/2020). Logo, a embriaguez, por si só, não é apta a excluir a cobertura,
sendo necessário que se prove que foi causa determinante para o sinistro.
D) INCORRETA. A afirmativa está correta. A Segunda Seção do STJ consolidou seu entendimento para
preconizar que “o legislador estabeleceu critério objetivo para regular a matéria, tornando irrelevante a
discussão a respeito da premeditação da morte” e que a seguradora não está obrigada a indenizar apenas
o suicídio ocorrido dentro dos dois primeiros anos do contrato” (AgRg nos EDcl nos EREsp 1.076.942/PR,
Segunda Seção, Rel. p/ acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA). Trata-se de critério temporal,
objetivo.
E) INCORRETA. A afirmativa está correta. A seguradora não se exime do dever de indenizar no caso de
transferência do veículo sem a sua prévia comunicação, salvo hipótese de efetivo agravamento do risco. Nesse
sentido, Súmula 465 do STJ. Entende o STJ que o segurado só perde o direito à indenização se der causa ao
agravamento do risco mediante conduta intencional.

💡 GABARITO: B

QUESTÃO 18. Sobre a usucapião de bens imóveis, assinale a alternativa correta:


A) Se Antônio reside em uma casa situada em área urbana de Campinas, de 300m², desde 20 de agosto de
2017, sem oposição e de forma ininterrupta, já adquiriu a propriedade do imóvel por usucapião especial
urbana, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

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B) Preenchidos os requisitos legais, o reconhecimento do direito à usucapião extraordinária não pode ser
obstado por legislação infraconstitucional que estabeleça área mínima a ser observada no parcelamento
de solo urbano.
C) A modalidade de usucapião familiar pressupõe a propriedade comum do casal e compreende apenas as
famílias em que haja filhos menores sob a guarda do possuidor.
D) A lavratura de boletim de ocorrência, por iniciativa de quem se declara proprietário de imóvel litigioso,
interrompe a prescrição aquisitiva, segundo entendimento do STJ.
E) Segundo entendimento do STJ, o prazo de posse para fins de usucapião não pode ser completado no
curso do processo.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. A usucapião especial urbana está disciplinada no artigo 1240 do Código Civil e exige que a
área máxima do imóvel seja de 250m², senão vejamos: “Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana
de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a
para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel
urbano ou rural”.
B) CORRETA. Tal entendimento já foi estabelecido pelo STJ em diversos precedentes, tendo sido objeto do
Tema Repetitivo 985, com fixação da seguinte tese: “O reconhecimento da usucapião extraordinária, mediante
o preenchimento dos requisitos específicos, não pode ser obstado em razão de a área usucapienda ser inferior
ao módulo estabelecido em lei municipal”. Ver REsp n. 1.667.842/SC, relator Ministro Luis Felipe Salomão,
Segunda Seção, julgado em 3/12/2020, DJe de 5/4/2021.
C) INCORRETA. A denominada usucapião familiar está prevista no artigo 1240-A do Código Civil, que
assim dispõe: “Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse
direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja
propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia
ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano
ou rural”. Não há qualquer requisito no sentido de que o possuidor detenha guarda de filhos menores.
D) INCORRETA. Sobre o entendimento do STJ, ver o seguinte julgado:
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. IMÓVEL RURAL. USUCAPIÃO
ORDINÁRIA. JUSTO TÍTULO. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. REGISTRO. DESNECESSIDADE.
PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. INTERRUPÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. BOLETIM DE OCORRÊNCIA. AÇÃO
DE IMISSÃO NA POSSE. TERCEIRO. CITAÇÃO. FRUSTRADA. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO
MÉRITO.1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de
1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. A falta de registro de compromisso de compra e venda não é suficiente para descaracterizar o justo título
como requisito necessário ao reconhecimento da usucapião ordinária. 3. A interrupção do prazo da prescrição

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aquisitiva somente é possível na hipótese em que o proprietário do imóvel usucapiendo consegue reaver a
posse para si. Precedentes. 4. A mera lavratura de boletim de ocorrência, por iniciativa de quem se declara
proprietário de imóvel litigioso, não é capaz de, por si só, interromper a prescrição aquisitiva. 5. Recurso
especial provido. (REsp n. 1.584.447/MS, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado
em 9/3/2021, DJe de 12/3/2021.)
E) INCORRETA. O prazo para usucapião pode ser completado no curso do processo, segundo entendimento
do STJ. Sobre a questão, ver o seguinte julgado:
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA.
PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. PRAZO. IMPLEMENTAÇÃO. CURSO DA DEMANDA. POSSIBILIDADE.
FATO SUPERVENIENTE. ART. 462 DO CPC/1973. CONTESTAÇÃO. INTERRUPÇÃO DA POSSE.
INEXISTÊNCIA. ASSISTENTE SIMPLES. ART. 50 DO CPC/1973. (...) 2. Cinge-se a controvérsia a definir se
é possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel na hipótese em que o requisito temporal (prazo para
usucapir) previsto em lei é implementado no curso da demanda. 3. A decisão deve refletir o estado de fato e de
direito no momento de julgar a demanda, desde que guarde pertinência com a causa de pedir e com o pedido.
Precedentes.
4. O prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo, em conformidade com o disposto
no art. 462 do CPC/1973 (correspondente ao art. 493 do CPC/2015). 5. A contestação não tem a capacidade
de exprimir a resistência do demandado à posse exercida pelo autor, mas apenas a sua discordância com a
aquisição do imóvel pela usucapião. 6. A interrupção do prazo da prescrição aquisitiva somente poderia ocorrer
na hipótese em que o proprietário do imóvel usucapiendo conseguisse reaver a posse para si. Precedentes. 7. Na
hipótese, havendo o transcurso do lapso vintenário na data da prolação da sentença e sendo reconhecido pelo
tribunal de origem que estão presentes todos os demais requisitos da usucapião, deve ser julgado procedente o
pedido autoral. 8. O assistente simples recebe o processo no estado em que se encontra, não podendo requerer
a produção de provas e a reabertura da fase instrutória nesta via recursal (art. 50 do CPC/1973). Precedente.
9. Recurso especial provido. (REsp n. 1.361.226/MG, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira
Turma, julgado em 5/6/2018, DJe de 9/8/2018.)

💡 GABARITO: B

QUESTÃO 19. Analise as afirmativas a seguir, relacionadas a instrumentos de regularização fundiária


previstos na Lei 13465/17:
I - Aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com características
e finalidade urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso
especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja proprietário ou
concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural.
II - A legitimação fundiária constitui forma originária de aquisição do direito real de propriedade

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conferido por ato do poder público, exclusivamente no âmbito da Reurb, àquele que detiver em área
pública ou possuir em área privada, como sua, unidade imobiliária com destinação urbana, integrante de
núcleo urbano informal consolidado existente em 22 de dezembro de 2016.
III - Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida
pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são
suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de
outro imóvel urbano ou rural.
IV - Nos imóveis públicos situados em área com características e finalidades urbanas, com mais de
duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupados até 22 de dezembro de 2016, por população de baixa
renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, cuja área total dividida pelo
número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor, a concessão
de uso especial para fins de moradia será conferida de forma coletiva, desde que os possuidores não sejam
proprietários ou concessionários, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural.
Estão corretas apenas as afirmativas:
A) I, II e III
B) I, III e IV
C) I, II, III e IV
D) II, III e IV
E) I e IV

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. A alternativa IV está correta. Disciplina o artigo 2º da MP 2220/01 que “nos imóveis de
que trata o art. 1o, com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupados até 22 de dezembro de 2016,
por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, cuja área
total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor,
a concessão de uso especial para fins de moradia será conferida de forma coletiva, desde que os possuidores não
sejam proprietários ou concessionários, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural”.
B) INCORRETA. A afirmativa II também está correta. Disciplina o artigo 23 da Lei 13465/17 que “a legitimação
fundiária constitui forma originária de aquisição do direito real de propriedade conferido por ato do poder público,
exclusivamente no âmbito da Reurb, àquele que detiver em área pública ou possuir em área privada, como sua,
unidade imobiliária com destinação urbana, integrante de núcleo urbano informal consolidado existente em 22
de dezembro de 2016”.
C) CORRETA. Todas as afirmativas estão corretas. No que tange à afirmativa III, o artigo 10 da Lei 10257/01
(Estatuto da Cidade) disciplina que “os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco
anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros
quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não

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sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural”. A afirmativa I se refere à concessão de uso especial para
fins de moradia, disciplinada no artigo 1º da MP 2220/01, que assim preceitua: “aquele que, até 22 de dezembro
de 2016, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros
quadrados de imóvel público situado em área com características e finalidade urbanas, e que o utilize para sua
moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem
objeto da posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano
ou rural”.
D) INCORRETA. Ver comentários à letra C.
E) INCORRETA. Ver comentários às letras B e C.

💡 GABARITO: C

PROFESSORA TATHIANE CAMPOS


E-mail: profcei.tathianecampos@gmail.com

🏳 DIREITO EMPRESARIAL E CONSUMIDOR


QUESTÃO 20. Em relação ao empresário individual assinale a alternativa INCORRETA:
A) A responsabilidade do empresário individual é direta e ilimitada.
B) Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a pro-
dução ou a circulação de bens ou de serviços.
C) Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou ar-
tística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa.
D) Só pode ser empresário individual àquele que estiver em pleno gozo da capacidade civil e não for le-
galmente impedido.
E) Uma vez caracterizado o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial é aplicável a teoria da descon-
sideração da personalidade jurídica ao empresário individual.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA: O empresário individual é a pessoa física que exerce individualmente e em nome próprio
a atividade econômica organizada (empresa). Dessa forma, ele não se beneficia do princípio da autonomia
patrimonial, tendo em vista que não constitui uma pessoa jurídica autônoma para o exercício da atividade
empresária. Assim, o empresário individual rege-se pelo princípio da unidade patrimonial, segundo o qual
não há separação entre o patrimônio pessoal do empresário e o patrimônio destinado à atividade econômica.
Portanto, a responsabilidade do empresário individual é DIRETA e ILIMITADA. Vale destacar, contudo, que a

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jurisprudência admite o benefício de ordem em relação aos bens afetados ao exercício da atividade empresária,
no caso de eventual execução de credor social em face do empresário individual.
B) CORRETA: Trata-se do conceito de empresário estampado no art. 966, caput, do CC.
C) CORRETA: É justamente a exceção contida no parágrafo único do art. 966 do CC. Assim, via de regra, os
profissionais intelectuais NÃO podem ser considerados “empresários”, salvo se o exercício da sua atividade
intelectual constituir um mero elemento de empresa.
D) CORRETA: Nos termos do art. 972 do CC “podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em
pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos”. Portanto, apenas os absolutamente capazes
civilmente e que não tiverem impedimentos legais é que poderão exercer atividade empresária na qualida-
de de “empresário individual”. Assim, uma pessoa absolutamente incapaz jamais poderá iniciar o exercício
de atividade empresária na qualidade de empresário individual, podendo APENAS continuar uma atividade
empresária, por força de incapacidade civil superveniente ou sucessão, nos termos do art. 973 do CC. Repare
que a exigência para ser sócio em uma sociedade empresária é diferente, sendo plenamente possível que um
absolutamente incapaz ou relativamente incapaz inicie atividade econômica, na qualidade de sócio, desde que
respeitadas as condições impostas no art. 973, §3º, do CC. Muita atenção para não cair nessa pegadinha de
prova objetiva.
E) INCORRETA: Inicialmente, cumpre esclarecer que o empresário individual não é considerado pessoa ju-
rídica e sim pessoa natural que exerce atividade empresarial. Nesse sentido, a teoria da desconsideração da
personalidade jurídica não se aplica ao empresário individual porque ele não possuirá uma personalidade
jurídica autônoma a ser desconsiderada. Além disso, no caso não haverá sequer “necessidade” em se aplicar
o instituto da desconsideração da personalidade jurídica, pois o empresário individual já responde de forma
direta e ilimitada pelas dívidas sociais por ele contraídas.

💡 GABARITO: E

QUESTÃO 21. Célio realizou contratação de plano de saúde há um mês. Conforme previsão contratual,
o plano de saúde exige carência de 180 dias para internações. Contudo, Célio sofreu um enfarto após 40
dias da contratação do respectivo plano de saúde, ocasião na qual dirigiu-se a emergência de um hospital
particular conveniado ao plano, sendo NEGADO o atendimento, sob argumento que o plano não cobriria
o atendimento em razão do período de carência.
Com base no caso ora narrado, o entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça estabelece
que:
A) A conduta do plano é ilícita, uma vez que em situações de urgência ou emergência, a carência máxima
deve ser de 24 horas, a contar da contratação.
B) A conduta do plano é ilícita, uma vez que em situações de urgência ou emergência, a carência máxima
deve ser de 48 horas, a contar da contratação.
C) A conduta do plano é ilícita, uma vez que em situações de urgência ou emergência, a carência máxima

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deve ser de 72 horas, a contar da contratação.


D) A conduta do plano é lícita, uma vez que a discussão acerca da cobertura pode ser feita a posteriori com
eventual reparação de danos.
E) A conduta do plano é lícita, uma vez que a previsão contratual estipula expressamente o período de
carência de 180 (cento e oitenta) dias, respeitando assim o princípio da autonomia privada.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) CORRETA. Inicialmente, vale destacar que os contratos de plano de saúde, em regra, são regidos pelo
Código de Defesa do Consumidor, salvo os planos de saúde de autogestão, nos termos do art. 2º e 3º do CDC
e do enunciado sumular n. 608 do Superior Tribunal de Justiça. A respeito do assunto, o enunciado sumular
n.597 do Superior Tribunal de Justiça, preconiza que a cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência
para utilização dos serviços de assistência médica nas situações de emergência ou de urgência é considerada
abusiva se ultrapassado o prazo máximo de 24 horas contado da data da contratação.
B) INCORRETA. O prazo de carência máximo para os casos de emergência e urgência é de 24 horas (e não de
48 horas), conforme explicado nos comentários da assertiva acima.
C) INCORRETA. O prazo de carência máximo para os casos de emergência e urgência é de 24 horas (e não de
72 horas), conforme explicado nos comentários da assertiva acima.
D) INCORRETA. A conduta do plano de saúde não é lícita, pelo contrário está eivada de abusividade,
conforme se depreende do enunciado sumular 597 do Superior Tribunal de Justiça c/c art. 12, V, alínea “c”, da
Lei n. 9.656/98 (Lei dos Planos de Saúde). Assim, não há que se aduzir de eventual reparação de danos, mas
sim da obrigação de fazer de prestar o serviço, eis que já transcorrido o prazo máximo de carência de 24 horas.
E) INCORRETA. A conduta do plano de saúde não é lícita, pelo contrário está eivada de abusividade, conforme
se depreende do enunciado sumular 597 do Superior Tribunal de Justiça c/c art. 12, V, alínea “c”, da Lei n.
9.656/98 (Lei dos Planos de Saúde). Assim, tal previsão legal mitiga o princípio autonomia privada, não sendo
tal princípio oponível ao caso em tela.

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 22. No que diz respeito aos planos de saúde e a carência assinale a alternativa INCORRETA:
A) Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os administrados
por entidades de autogestão.
B) Nos contratos de plano de saúde individual é proibida a recontagem dos prazos de carência.
C) O prazo máximo de carência para cobertura de cirurgias e exames será de 180 (cento e oitenta) dias,
salvo no caso de doença preexistente.
D) No caso de plano de saúde com o seguimento de obstetrícia, o prazo máximo de carência para a
cobertura de parto será de 180 (cento e oitenta) dias.
E) É vedada a exclusão de cobertura às doenças e lesões preexistentes à data de contratação após o

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transcurso de 24 (vinte quatro) meses da contratação.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) CORRETA. A referida assertiva reproduz a literalidade do enunciado sumular n. 608 do Superior Tribunal
de Justiça.
B) CORRETA. Trata-se de expressa vedação contida no art. 13, parágrafo único, inciso I, da Lei n. 9.565/98.
C) CORRETA. Trata-se da previsão legal contida no art. 12, V, alínea “b” da Lei n. 9.656/98, o qual estipula o
prazo máximo de carência de 180 (cento e oitenta) dias para a realização de cirurgias e exames, salvo no caso
de doença preexistente (quando o prazo máximo de carência será de vinte e quatro meses), nos termos do art.
11 da referida lei.
D) INCORRETA. A assertiva D está incorreta, isso porque o prazo máximo de carência para partos, nos
planos com seguimento de obstetrícia, é de 300 (trezentos) dias, conforme estipula no art. 12, V, alínea “a”, da
Lei n. 9.656/98.
E) CORRETA. De acordo com o art. 11 da Lei n. 9.656/98 o prazo máximo de carência para doenças e lesões
preexistentes será de 24 (vinte e quatro) meses, a contar da contratação do plano.

💡 GABARITO: D

PROFESSOR JULIO AZEVEDO


E-mail: profcei.juliocamargo@gmail.com

🏳 DIREITO PROCESSUAL CIVIL

QUESTÃO 23. A respeito dos princípios processuais civis assinale a alternativa INCORRETA:
A) É admitida a reconvenção da reconvenção no processo civil brasileiro, em homenagem aos princípios
da eficiência e economia processuais, salvo no caso de ação monitória dada situação de vedação específica.
B) Antes de proferir decisão de improcedência liminar do pedido, se mostra oportuno que o magistrado
conceda ao autor a oportunidade para exercício do contraditório.
C) Em perfeita sintonia com a Constituição de 1988, o art. 373, § 1º, do Código de Processo Civil reproduz,
na relação processual, a transição da isonomia formal para a isonomia material, mutação profunda do
paradigma dos direitos retóricos para o paradigma dos direitos operativos, pilar do Estado Social de
Direito.
D) O princípio do devido processo legal é um princípio constitucional implícito, diferentemente do
princípio do duplo grau de jurisdição que é expresso na Constituição Federal.
E) Se o autor não apelar da decisão que indeferiu liminarmente sua inicial, não haverá trânsito em julgado,
já que as hipóteses de indeferimento da inicial não alcançam o mérito da demanda.

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💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. À luz do que ordinariamente ocorre no processo, tem-se como regra que o pedido é formulado
pelo autor na petição inicial, limitando-se o réu à oferta de defesa (contestação). Daí porque concluir-se “que na
inicial o autor pede, ao passo que na contestação o réu impede (ou, ao menos, tenta impedir)”. Há, entretanto,
situações admitidas pelo ordenamento processual em que a resposta do réu implica verdadeiro contra-ataque
dirigido ao autor, hipótese na qual o réu deduz pretensão contra o requerente, ampliando os horizontes da
cognição judicial. A instrumentalização desta demanda no procedimento comum recebe o nome de recon-
venção, instituto que homenageia a economia processual, evitando a distribuição de demandas conexas a
juízos diversos, a repetição desnecessária de prova, além de eventuais decisões conflitantes. Na linha do que
expõe o artigo 343 do CPC/2015, “na contestação é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão
própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa”. De antemão, já é possível perceber a
grande inovação trazida pelo CPC/2015: ao contrário da regulação contida no CPC/1973, agora a reconven-
ção é apresentada no bojo da contestação, ao lado dos fundamentos defensivos. Portanto, não vige mais a
necessidade de apresentação da reconvenção em petição autônoma, fato que também sepulta as inúmeras
discussões envolvendo o prazo para reconvir, que agora segue a regra geral de 15 (quinze) dias prevista para
a manifestação defensiva. Outra inovação de destaque relaciona-se à possibilidade de ampliação subjetiva da
demanda por parte da reconvenção, admitindo-se sua propositura tanto por litisconsorte em conjunto com o
réu (art. 343, § 4º), quanto em detrimento de terceiro, que passará a formar litisconsórcio em relação ao autor
(art. 343, § 3º). Não se admite, entretanto, à luz do princípio da identidade bilateral das partes, que a recon-
venção “não tenha no polo ativo o réu nem no polo passivo o autor”. Quanto à forma, considerando se tratar
de verdadeira demanda, a reconvenção acompanha os requisitos exigidos para a petição inicial (art. 319). Há,
todavia, dois pressupostos específicos: a conexidade com a demanda principal ou com o fundamento da
defesa. Basta a incidência de uma das formas de conexão para viabilizar a reconvenção. A primeira situação
dialoga com o pedido ou com a causa de pedir deduzida, não se exigindo identidade total de demandas, mas
a mera identidade parcial. É o caso, por exemplo, do réu em demanda familiar que reconvém em demanda de
fixação de guarda, postulando o direito à convivência familiar em relação aos filhos. Essa conexidade é anali-
sada in status assertionis, isto é, à luz das afirmações feitas pelo reconvinte, sendo que eventual comprovação
do alegado será avaliado somente quando do julgamento do mérito da reconvenção. Por sua vez, a segunda
situação decorre da coincidência entre o fundamento da defesa indireta ofertada pelo réu e o fundamento
da reconvenção. É o que ocorre quando o autor afirma a existência de um crédito em face do réu, vindo este
a reconvir afirmando compensação da obrigação. Importante perceber que a reconvenção não se equipara à
mera negativa do pedido formulado pela parte autora. Faltaria aqui o necessário interesse para reconvir, dado
que o próprio julgamento improcedente do pedido é suficiente para prestar a tutela jurisdicional ao réu. O
mesmo ocorre em relação às demandas dúplices (ex: guarda de filhos, investigação de paternidade), em que o
julgamento improcedente do pedido do autor implica, por via reflexa, a entrega do mesmo bem da vida o qual
poderia ser objeto de reconvenção do réu. Embora tênue a distinção, a reconvenção difere-se ainda do pedi-

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do contraposto, previsto em nosso ordenamento jurídico nos âmbitos do procedimento especial possessório
(art. 556, CPC/2015) e do procedimento dos Juizados Especiais (art. 31, Lei nº 9.099/1995). A nota diferencial
aqui reside na amplitude da cognição, sendo a reconvenção capaz de abranger pedidos mais amplos à luz da
conexidade com a demanda principal, o que não ocorre com as hipóteses legais de pedido contraposto, que
se restringem aos fatos da causa (Juizados Especiais) ou ao pedido indenizatório (demandas possessórias).
Importante considerar as situações que não admitem reconvenção. Assim, o instituto não possui incidência na
fase de liquidação de sentença, na fase de cumprimento de sentença, bem como no processo executivo autô-
nomo (leia-se: decorrente de título executivo extrajudicial). Tampouco em relação às defesas apresentadas no
curso dos expedientes executivos (embargos e impugnação). Da mesma forma, não é o instituto admitido nos
processos que veiculam tutela provisória de caráter antecedente, assim como nos procedimentos de jurisdição
voluntária ou na esfera dos juizados especiais cíveis. Por outro lado, aceita-se a reconvenção na ação rescisória,
desde que a demanda considere como pedido de rescisão a mesma sentença ou acórdão debatido na demanda
originária, vinculando-se, ademais, às hipóteses de rescisão indicadas no artigo 966.
Admissível, igualmente, seu cabimento nos procedimentos monitórios, entendimento este que, aliás, ga-
nhou regulamentação expressa no artigo 702, § 6º, do CPC/2015, na linha do que já previa o entendimento
sumular nº 292 do STJ. Quanto ao cabimento das chamadas reconvenções sucessivas, a redação do artigo
702, § 6º, última parte, veda a veiculação de “reconvenção da reconvenção” nos procedimentos monitórios
(matéria tratada na assertiva). Apesar desta disposição aparentemente restritiva, não constitui acerto afirmar
a impossibilidade de reconvenções sucessivas em outras situações. Nada impede, portanto, que o reconvindo,
diante da apresentação de nova pretensão do reconvinte, oferte sucessiva reconvenção contra o réu, desde que
conexa a esta e não se trate de procedimento monitório. Vejamos a jurisprudência relacionada:
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA E ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. PRETENSÃO DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO DEDUZIDA PELO RÉU EM
RECONVENÇÃO. PRETENSÃO DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO DEDUZIDA PELO AUTOR EM
RECONVENÇÃO SUCESSIVA. RECONVENÇÃO À RECONVENÇÃO PROPOSTA NA VIGÊNCIA
DO CPC/73, LEGISLAÇÃO APLICÁVEL QUANTO AO CABIMENTO. ADMISSIBILIDADE DA
RECONVENTIO RECONVENTIONIS. DOUTRINA MAJORITÁRIA. AUSÊNCIA DE PROIBIÇÃO,
CONDICIONADO O AJUIZAMENTO AO SURGIMENTO DA QUESTÃO QUE A JUSTIFICA NA
CONTESTAÇÃO OU NA PRIMEIRA RECONVENÇÃO. INDEFERIMENTO LIMINAR DA RECONVENÇÃO
SUCESSIVA NA VIGÊNCIA DO CPC/15. NOVA LEGISLAÇÃO PROCESSUAL QUE SOLUCIONOU OS
IMPEDIMENTOS APONTADOS AO CABIMENTO. INTIMAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE RESPOSTA
E NÃO DE CONTESTAÇÃO. ART. 343, §1º. VEDAÇÃO EXPRESSA DA RECONVENÇÃO SUCESSIVA
APENAS NA HIPÓTESE DE AÇÃO MONITÓRIA. ART. 702, §6º. ADMISSIBILIDADE CONDICIONADA
AO SURGIMENTO DA QUESTÃO QUE JUSTIFICA A RECONVENÇÃO SUCESSIVA APENAS NA
CONTESTAÇÃO OU NA PRIMEIRA RECONVENÇÃO. SOLUÇÃO INTEGRAL DO LITÍGIO NO MESMO
PROCESSO. OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA EFICIÊNCIA E DA ECONOMIA PROCESSUAL,

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SEM AFRONTA À RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO. TEMA REPETITIVO 622. DESNECESSIDADE


DE RECONVENÇÃO NA HIPÓTESE DE PRETENSÃO DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO. IRRELEVÂNCIA.
TESE VINCULANTE QUE APENAS AUTORIZA A ARGUIÇÃO DA MATÉRIA EM CONTESTAÇÃO, SEM
EXCLUIR A POSSIBILIDADE DE RECONVENÇÃO PARA ESSA FINALIDADE. 1- O propósito recursal
é definir se, no sistema processual brasileiro, é admissível a reconvenção sucessiva, também denominada de
reconvenção à reconvenção. 2- Dado que propositura da reconvenção à reconvenção ocorreu na vigência
do CPC/73 e que a questão controvertida versa justamente sobre o seu cabimento, é correto afirmar que a
admissibilidade da reconvenção sucessiva deve ser examinada, inicialmente, à luz da legislação revogada. 3-
Ainda na vigência do CPC/73, a doutrina se posicionou, majoritariamente, pela admissibilidade da reconvenção
à reconvenção, por se tratar de medida não vedada pelo sistema processual, mas desde que a questão que justifica
a propositura da reconvenção sucessiva tenha como origem a contestação ou a primeira reconvenção. 4- Esse
entendimento não se modifica se porventura se adotar, como marco temporal, a data da publicação da decisão
que rejeitou liminarmente a reconvenção sucessiva, ocorrida na vigência do CPC/15, pois a nova legislação
processual solucionou alguns dos impedimentos apontados ao cabimento da reconvenção sucessiva, como, por
exemplo, a previsão de que o autor-reconvindo será intimado para apresentar resposta e não mais contestação
(art. 343, §1º) e a vedação expressa de reconvenção à reconvenção apenas na hipótese da ação monitória (art. 702,
§6º). 5- Assim, também na vigência do CPC/15, é igualmente correto concluir que a reconvenção à reconvenção
não é vedada pelo sistema processual, condicionando-se o seu exercício, todavia, ao fato de que a questão que
justifica a propositura da reconvenção sucessiva tenha surgido na contestação ou na primeira reconvenção, o
que viabiliza que as partes solucionem integralmente o litígio que as envolve no mesmo processo e melhor
atende aos princípios da eficiência e da economia processual, sem comprometimento da razoável duração do
processo. 6- Na hipótese, o autor ajuizou ação de cobrança e de arbitramento de honorários advocatícios em
face do recorrido, pleiteando o pagamento de honorários contratuais e sucumbenciais; em reconvenção, o réu
formulou pretensão de repetição do indébito, porque teria pago ao autor, a título de honorários, valor maior do
que o devido, surgindo, apenas a partir desse exato momento, a pretensão de repetição do indébito deduzida pelo
autor na reconvenção sucessiva, a fim de que seja o réu condenado a pagar ao autor o equivalente do que dele
exige, pretensão que não seria suscetível de cumulação com os pedidos formulados na petição inicial. 7- O fato
de a 2ª Seção desta Corte, por ocasião do julgamento do REsp 1.111.270/PR, submetido ao rito dos repetitivos
(tema 622), ter fixado a tese de que “a aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança judicial de
dívida já adimplida (cominação encartada no artigo 1.531 do Código Civil de 1916, reproduzida no artigo 940
do Código Civil de 2002) pode ser postulada pelo réu na própria defesa, independendo da propositura de ação
autônoma ou do manejo de reconvenção, sendo imprescindível a demonstração de má-fé do credor” não impede
a propositura da reconvenção sucessiva, pois, no referido precedente vinculante, houve apenas a autorização
para que o debate acerca da repetição do indébito acontecesse a partir da arguição da matéria em contestação,
sem, contudo, eliminar a possibilidade de manejo da reconvenção para essa finalidade. 8- Recurso especial
conhecido e provido, para determinar seja dado regular prosseguimento à reconvenção sucessiva ajuizada pelo

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recorrente. (REsp 1690216/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Rel. p/ Acórdão Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/09/2020, DJe 28/09/2020).
B) CORRETA. Ao contrário das hipóteses em que presente um juízo negativo de admissibilidade da demanda,
a improcedência liminar do pedido implica um julgamento prematuro do próprio mérito da demanda. Assim,
se no indeferimento da petição inicial o juiz está dizendo “autor, a demanda não pode ser analisada por falta de
preenchimento dos requisitos indispensáveis”, na improcedência liminar o recado é “autor, o pedido deduzido
não pode ser acolhido”. Em relação à sistemática processual anterior, importante recordar que o artigo 285-
A do CPC/1973, introduzido pela Lei nº 11.277/2006, já admitia o julgamento de improcedência liminar do
pedido, também denominado julgamento antecipadíssimo da lide. A distinção ficava por conta dos requisitos:
matéria controvertida versando sobre questão unicamente de direito e prolação de sentença de improcedência
anterior em casos idênticos. Registre-se a nítida intenção do legislador de 1973 de conter os complexos
efeitos da denominada litigância repetitiva, especialmente a partir do famoso caso das tarifas telefônicas. Na
sistemática do CPC/2015, porém, observa-se uma migração da reprodução de sentenças do juízo de primeiro
grau para a reprodução de precedentes vinculantes proferidos pelos Tribunais, de modo que apenas nas
situações expressas no artigo 332 será possível ao juiz julgar liminarmente improcedente o pedido do autor. A
lei estabelece como pressuposto geral do julgamento de improcedência liminar do pedido a evidência de causa
que dispense a fase instrutória. Entenda-se: causa que contenha prova pré-constituída (ex: prova documental)
ou cuide de matéria que independa de prova (ex: fatos notórios).
Quanto aos requisitos, exige-se que o pedido deduzido contrarie: i) enunciado de súmula do STF ou STJ;
ii) acórdão proferido pelo STF ou STJ em julgamento de recursos repetitivos; iii) entendimento firmado em
incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) ou incidente de assunção de competência (IAC);
iv) enunciado de súmula de Tribunal de Justiça sobre direito local. O parágrafo 1º, a seu turno, acresce a
estas hipóteses de julgamento liminar de improcedência a viabilidade do reconhecimento da prescrição ou
decadência. Em nosso entendimento, nenhuma das hipóteses de improcedência liminar do pedido pode
ser adotada à revelia de manifestação prévia da parte autora, o que importaria vilipêndio ao contraditório,
na dimensão da participação-influência e na vedação à decisão surpresa (arts. 9º e 10). No entanto, a lei
processual expressamente excepciona a necessidade de intimação no caso do reconhecimento da prescrição e
decadência enquanto fundamento da improcedência liminar do pedido (art. 487, par. ún.). O recurso cabível
da sentença que julga liminarmente improcedente o pedido do autor é a apelação, consoante expressamente
disposto no artigo 332, parágrafo 3º. A apelação aqui será dotada de efeito regressivo, cuja exceção ao artigo
494 permite um juízo de retratação por parte do magistrado de primeiro grau, no prazo processual de 5
(cinco) dias. A respeito da necessidade de intimação em casos de improcedência liminar do pedido, ensina
Bueno: “é plausível entender que o magistrado, antes de proferir a sentença, oportunize ao autor o contraditório,
à guisa de se manifestar sobre a ocorrência de uma ou mais das hipóteses do artigo 332 do CPC. Isso deriva,
sem esforço, dos artigos 6° e 10 do CPC. Ao gerar essa possibilidade, o autor poderá realizar distinção do caso
para afastar eventual indexador jurisprudencial que selaria a sorte de sua pretensão, nos moldes do artigo 927;

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ou ainda, sublinhará algum aspecto fático apto a afastar a consumação do prazo prescricional ou decadencial.
Porém, como toda nulidade processual pressupõe prejuízo, é correto afastar o contraditório prévio apenas quando
o fundamento a ser adotado pela sentença já tiver sido suficientemente enfrentado (embora em sentido oposto)
na petição inicial.” (BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: volume único. 4ª ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 356/357).
C) CORRETA. Nos termos do art. 373 do Código Processual de 2015, compete ao autor comprovar os fatos
constitutivos de seu direito e ao réu os fatos modificativos, extintivos ou impeditivos do direito do autor. Tal
constitui o modelo estático de distribuição do onus probandi. A grande novidade da Codificação de 2015,
porém, fica por conta da previsão inserida no § 1º do art. 373, o qual permite ao juiz “atribuir o ônus da prova
de modo diverso” ao estabelecido no caput. Trata-se da positivação da teoria da distribuição dinâmica da carga
probatória. Consoante estabelece o dispositivo legal, nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades
da causa, pode o juiz distribuir dinamicamente o ônus probatório, mediante decisão fundamentada, quando:
i) verificar a impossibilidade ou a excessiva dificuldade de cumprimento do encargo probatório por uma das
partes; ii) constatar maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário por algum dos sujeitos processuais.
A partir da de tal previsão, a inversão judicial, que ocorre por meio de prolação de uma decisão judicial que
será fruto de análise do preenchimento dos requisitos legais passou a ser a regra geral, de forma que, em toda
relação jurídica de direito material levada a juízo, é possível a inversão decorrente da aplicação de referida
técnica processual, agora consagrada legislativamente. Destarte, com a previsão expressa na Codificação de
2015, a dinamização do ônus probatório pode favorecer outras formas de vulnerabilidade (socioeconômica e
sociocultural) para além da noção estritamente consumerista (inc. VIII do art. 6º do CDC), desde que presente
a impossibilidade ou a excessiva dificuldade do desenvolvimento do encargo probatório. Exempli gratia, nas
demandas familiares envolvendo o reconhecimento ou a dissolução da união estável, é praticamente impossível
exigir da mulher agredida e expulsa de casa que consiga comprovar o elemento temporal da união estável
sem acesso a documentos, registros fotográficos e outras provas que permaneçam em poder do companheiro
agressor. Em sequência, atinente ao ponto cobrado pela questão, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que
a inversão do ônus probatório leva consigo o custeio da carga invertida, não como dever, mas como simples
faculdade, sujeita às consequências processuais advindas da não produção da prova. Em outras palavras, a
inversão do ônus probatório não equivale a compelir a parte gravada a pagar ou a antecipar pagamento pelo
que remanescer de ônus do beneficiário. A título de ilustração, podemos citar a perícia requerida pelo autor – a
inversão não implica a transferência das custas periciais ao réu, uma vez que tal prova continua com o autor e
somente a ele incumbe, ou, se a ele comumente cabia e foi deslocada ao réu, este terá a opção de, por sua conta
e risco, não a cumprir (afinal, se não antecipar os honorários periciais referentes a seu encargo probatório,
presumir-se-ão verdadeiras as alegações da outra parte). Nesse sentido:
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. RECONVENÇÃO. POSSIBILIDADE DE LITISCONSÓRCIO.
FUNDAMENTO NÃO ATACADO. SÚMULA 283/STF. CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA. DANO
AMBIENTAL. ART. 373, § 1º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.

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POSSIBILIDADE. PROVA PERICIAL. RESPONSABILIDADE PELAS CUSTAS. 1. Cuida-se, na origem, de


Ação de Reintegração de Posse movida pela recorrente contra os recorridos. Processada a demanda, houve
ajuizamento de Reconvenção, cujo objeto é a reparação por danos materiais e morais decorrentes da ocupação
da área em disputa, tendo havido decisão judicial de inversão do ônus da prova e determinação de que os
honorários periciais recaiam sobre a empresa, ora recorrente. 2. Acerca da inversão do ônus da prova, nenhum
reparo merece o acórdão recorrido. Em perfeita sintonia com a Constituição de 1988, o art. 373, § 1º, do
Código de Processo Civil reproduz, na relação processual, a transição da isonomia formal para a isonomia
material, mutação profunda do paradigma dos direitos retóricos para o paradigma dos direitos operativos,
pilar do Estado Social de Direito. Não se trata, contudo, de prerrogativa judicial irrestrita, pois depende
ora de previsão legal (direta ou indireta, p. ex., como consectário do princípio da precaução), ora, na sua
falta, de peculiaridades da causa, associadas quer à impossibilidade ou a excessivo custo ou complexidade
de cumprimento do encargo probante, quer à maior capacidade de obtenção da prova pela parte contrária.
Naquela hipótese, em reação à natureza espinhosa da produção probatória, a inversão foca em dificuldade do
beneficiário da inversão; nesta, prestigia a maior facilidade, para tanto, do detentor da prova do fato contrário.
Qualquer elemento probatório, pontualmente - ou todos eles conjuntamente -, pode ser objeto da decretação de
inversão, desde que haja adequada fundamentação judicial. 3. A alteração ope legis ou ope judicis da sistemática
probatória ordinária leva consigo o custeio da carga invertida, não como dever, mas como simples faculdade.
Logo, não equivale a compelir a parte gravada a pagar ou a antecipar pagamento pelo que remanescer de ônus
do beneficiário. Modificada a atribuição, desaparece a necessidade de a parte favorecida provar aquilo que, daí
em diante, integrar o âmbito da inversão. Ilógico e supérfluo, portanto, requisitar produza o réu prova de seu
exclusivo interesse disponível, já que a omissão em nada prejudicará o favorecido ou o andamento processual.
Ou seja, a inversão não implica transferência ao réu de custas de perícia requerida pelo autor da demanda,
pois de duas, uma: ou tal prova continua com o autor e somente a ele incumbe, ou a ele comumente cabia e
foi deslocada para o réu, titular da opção de, por sua conta e risco, cumpri-la ou não. Claro, se o sujeito titular
do ônus invertido preferir não antecipar honorários periciais referentes a seu encargo probatório, presumir-
se-ão verdadeiras as alegações da outra parte. 5. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte,
não provido. (REsp 1807831/RO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
07/11/2019, DJe 14/09/2020).
D) INCORRETA. Na verdade, a alternativa está invertida. O devido processo legal é princípio explícito no
artigo 5º, LIV, da CF/88. Por outro lado, o duplo grau de jurisdição deriva do sistema e da hierarquia judiciária
expressa na constituição que implicitamente o prevê, bem como está consignado expressamente em tratados
internacionais ratificados pelo Brasil, como o Pacto de São José da Costa Rica.
E) CORRETA. Na circunstância em que o autor não apele da sentença que indeferiu liminarmente sua
inicial, o réu será intimado “do trânsito em julgado da sentença” (artigo 331, § 3º do CPC). Todavia, não
há trânsito em julgado, uma vez que as hipóteses que conduzem o magistrado ao indeferimento da inicial
com fundamento no artigo 330 não produzem sentenças de mérito. Tanto é assim que o § 1º do artigo 486

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evidencia que a repropositura da demanda nestes casos é admissível, conquanto corrigido o vício que conduziu
ao indeferimento. A despeito da terminologia empregada, a intimação de que houve processo em face do réu é
essencial e verdadeiramente impositiva diante dos princípios do contraditório e da ampla defesa.

💡 GABARITO: D.

QUESTÃO 24. A respeito dos institutos fundamentais do Direito Processual civil, assinale a alternativa
correta.
A) Teorias Unitaristas são aquelas que distinguem o direito de ação do direito material, sendo o processo
um todo unitário.
B) A corrente dualista do direito de ação se subdivide apenas em duas subespécies teoria abstrata e teoria
concreta, sendo aquela a que desatrela o direito de ação do direito material da parte e esta a que impõe
uma relação necessária de dependência entre eles.
C) Em toda defesa é obrigatória a impugnação específica pelo réu na contestação diante do princípio da
impugnação especificada dos fatos, previsto expressamente no CPC/2015. A única exceção é a atuação do
defensor público.
D) A revelia na fase de conhecimento não dispensa a intimação pessoal do réu para cumprimento de
sentença.
E) Não há possibilidade da instauração de conflito de competência em razão de conflito entre a jurisdição
estatal e o árbitro nomeado para realizar o procedimento de arbitragem entre as partes, devendo o juízo
estatal avocar os autos no exercício de sua jurisdição que é prevalente.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) INCORRETA. A doutrina processual produzida no final do século XIX e meados do século XX desenvolveu
várias teorias com a finalidade de explicar o direito de ação. Ao estudarmos as referidas teorias, devemos ter
em mente que o valor delas é mais histórico do que propriamente prático e concreto em relação ao Direito
Processual Civil moderno, dado que (i) as teorias não são excludentes, isto é, elas analisam o fenômeno
multifacetado que é o direito de ação sob perspectivas diferentes, dando maior ou menor peso ao direito
material, maior ou menor importância ao papel do autor, maior ou menor importância ao papel do juiz.
Portanto, as teorias se somam e não há uma certa ou errada; (ii) elas foram concebidas em um momento em
que o Direito não era aplicado e interpretado à luz da Constituição. Ocorre que sempre devemos extrair o que
é o direito de ação por meio da Constituição. Podemos dividir, portanto, as teorias sobre o direito de ação em
duas grandes categorias: 1. Teorias Unitaristas: são aquelas que não distinguem o direito de ação do direito
material violado – o primeiro seria mero “desdobramento” do segundo. As teorias unitaristas, de valor
reduzido atualmente, possuem um grave problema: elas não separam o plano material do processual (ambos
com princípios e conceitos diferentes). Frise-se que o Direito Processual é um ramo do Direito Público, uma
vez que é uma função do Estado de distribuição de justiça. Ademais, afirmar que quem foi para o Poder

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Judiciário (ou seja, o autor) possui o direito material faz ignorar a hipótese de que o réu pode sair vencedor.
A petição inicial é uma afirmação unilateral, e, em razão disso, é preciso se oportunizar a manifestação do réu
para auxiliar na convicção judicial. Por exemplo: há um contrato de locação e o inquilino não pagou o aluguel.
Com isso, nasce ao locador um direito de crédito (pela teoria unitarista, o direito de crédito seria o direito
de ação). O direito de ação é o “direito material em estado de guerra”. 2. Teorias Dualistas: são aquelas que
distinguem o direito de ação do direito material violado. Dentro das teorias dualistas, o fenômeno do direito
de ação é analisado sob perspectivas diferentes. Possuem três subtipos: concreta, abstrata e eclética:
o Concreta: direito de ação é igual ao direito à proteção do direito material lesado. Preocupa-se com o
resultado final do processo.
o Abstrata: direito de ação é igual ao direito de iniciar o processo. Vincula-se ao acesso ao Poder
Judiciário.
o Eclética: direito de ação é igual ao direito a obter uma sentença de mérito (de procedência ou
improcedência). Constitui um equilíbrio entre a teoria concreta e abstrata, dado que, para esta teoria,
não basta apenas passar pelas portas do Judiciário (teoria abstrata), bem como seria insuficiente
explicar o direito de ação apenas quando o autor vence o processo (teoria concreta). Quando não há
sentença de mérito pelo não preenchimento dos requisitos, há uma carência de ação.
Como conclusão, tem-se a necessidade de buscar na Constituição Federal brasileira a definição dos contornos
do direito de ação. A matriz normativa se encontra no art. 5°, inciso XXXV (“a lei não excluirá do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”). Assim, com base na Constituição Federal e sua matriz normativa, a
primeira dimensão/acepção do direito de ação encontra-se no direito de acessar o Poder Judiciário. Há uma
proibição ao legislador em vedar o acesso ao Poder Judiciário. O foco está no “meio”, isto é, na entrada ao Poder
Judiciário, sem preocupação com o fim do processo. Há uma identificação clara com a teoria abstrata, a qual,
em uma visão crítica, é incompleta/excessivamente simples para analisar o fenômeno do direito de ação em sua
completude, já que faz o direito de ação se esgotar na petição inicial. O direito de ação é multifacetado e integra
a réplica, as provas e os recursos, não apenas a petição inicial. De outra banda, a primeira acepção é vantajosa
ao excluir a tipicidade do direito de ação, não havendo um rol finito de meios processuais para a defesa direitos
– o direito de ação é atípico e tutela todo e qualquer direito textualmente previsto em lei ou não. A segunda
dimensão/acepção traz o direito de ação enquanto o direito de obter uma decisão. Com isso, o direito de
ação se desdobra no direito ao processo (meio) e ao direito à decisão (fim/resultado). O professor Cândido
Dinamarco afirma que o direito de ação é uma “escalada de intensidade instrumental”, pois em um primeiro
momento é o direito de acessar o Judiciário e, posteriormente, de discutir ao longo do processo para se obter
um fim. Há, portanto, diversos atos dentro do direito de ação: a petição inicial, a réplica, reconvenção, provas
e recursos. Frise-se que a ação é um direito, e um dos poderes que esse direito garante é o direito de apresentar
a petição inicial (documento), que, por sua vez, espelha a demanda inicial (ato). Em conclusão: ação (direito)
≠ demanda (ato) ≠ petição inicial (documento). A terceira dimensão/acepção entende que o direito de ação
é o direito de obter uma solução justa por meio do devido processo legal. Há um foco na qualidade do meio e

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do fim, não se contentando apenas com o direito de acesso ao Judiciário e à decisão final. Ou seja, tem-se uma
qualificação do meio e do fim – o meio deve respeitar as garantias constitucionais, enquanto a solução deve
existir e ser justa, tempestiva e adequada, englobando o direito à satisfação do direito (execução). Daí porque
equivocada a assertiva, uma vez que confunde a primeira com a terceira acepção do direito de ação.
B) INCORRETA. Como visto acima, as teorias dualistas são aquelas que distinguem o direito de ação do
direito material violado. Equivocada a assertiva.
C) INCORRETA. De acordo com o art. 341 do CPC, serão presumidos verdadeiros os fatos que não sejam
impugnados especificamente pelo réu em sua contestação. A impugnação específica é um ônus do réu de rebater
prontamente todos os fatos narrados pelo autor com os quais não concorda, tornando-os controvertidos e em
consequência fazendo com que componham o objeto da prova. O momento de tal impugnação, em regra,
é a contestação, operando-se preclusão consumativa se apresentada essa espécie de defesa o réu deixar de
impugnar algum (ou alguns) do fato alegado pelo autor. Destaca-se que o ônus da impugnação específica
não se aplica ao advogado dativo, curador especial e ao defensor público, que podem elaborar a contestação
com fundamento em negativa geral, instituto que permite ao réu uma impugnação genérica de todos os fatos
narrados pelo autor, sendo tal forma de reação o suficiente para tornar todos esses fatos controvertidos. Isto
é o que preceitua o parágrafo único do art. 341, do CPC. Nota-se que, mesmo que o réu não possa se vale
da negativa geral, os incisos do art. 341 prevê as exceções ao princípio da impugnação específica dos fatos,
impedindo que um fato alegado pelo autor que não tenha sido impugnado especificamente seja presumido
verdadeiro. Tanto a impugnação específica dos fatos quanto a concentração das matérias defensivas na
contestação consubstanciam espécies de ônus processuais que se aplicam à parte que detenha a seu favor o
direito de resposta. Enquanto ônus, a impugnação constitui faculdade (e não dever), de modo que o seu não
exercício acarretará alguma desvantagem no curso do processo (como, verbi gratia, a aplicação dos efeitos
da revelia). Nesta senda, o art. 336 do CPC deixa claro que toda matéria de defesa deve ser deduzida em
sede contestatória, concretizando aqui o princípio da eventualidade. Não havendo a impugnação de ponto
específico da petição inicial, presume-se verdadeira a alegação autoral. É justamente o artigo supracitado, em
conjunto com o art. 342 do mesmo diploma, os quais consagram o princípio em questão para o réu, ao exigir
a exposição de todas as matérias de defesa na forma cumulada e alternativa na contestação.
D) CORRETA. Tema de vital importância para compreensão da dinâmica do processo é a revelia, a qual
pode ser conceituada como “um estado de fato gerado pela ausência jurídica de contestação”. É o que se extraí
do art. 344, do CPC. É possível perceber, nesta senda, que a revelia consubstancia “um estado de fato e não a
consequência de um fato omissivo”, o que significa dizer que sua caracterização independe da voluntariedade
do réu, bastando a mera ausência de contestação no processo. Não se pode confundir, nesta perspectiva, os
planos de eficácia e existência do ato jurídico. Ora, perfeitamente possível que a revelia materialize-se no
processo (ausência de contestação), mas não gere quaisquer de seus efeitos (ex: réu revel preso). Isso não
significa, entretanto, que não houve revelia, considerando a completude da adequação normativa típica ao fato
processual. Este é, inclusive, o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça:

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PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POPULAR. INTEMPESTIVIDADE. CONTESTAÇÃO.


DESENTRANHAMENTO. POSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA DE
OMISSÃO. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. I - Não há que se falar em omissão no julgado objurgado,
quando o Tribunal a quo deixou de se manifestar acerca da ocorrência de revelia aos réus, eis que o Juízo
de primeira instância restringiu-se ao reconhecimento da intempestividade das contestações, com o seu
conseqüente desentranhamento, sem que houvesse versado acerca do referido instituto. II - Com isso, não houve
o prequestionamento dos temas insertos nos arts. 195, 319, 320, 324 do CPC, porquanto a Corte de origem
não enfrentou a contenda com base nas matérias inseridas nos referidos dispositivos legais. III - Inobstante tal
etendimento, não há contradição entre a afirmação de falta de omissão no julgado hostilizado e de inocorrência
de prequestionamento dos temas suscitados pelos recorrentes, nas razões do recurso especial, eis que, como
já explicitado, foi julgada de forma satisfatória a controvérsia, dentro dos limites em que foi apresentada, ou
seja, acerca do desentranhamento das aludidas peças em razão de sua intempestividade, sem que se pudesse
decidir pela efetivação ou não da revelia. III - Em que pese à caracterização, ou não, de revelia na presente lide,
inexiste óbice para que se deixe de conhecer da contestação e se determine o seu desentranhamento, tendo em
vista a sua intempestividade, porquanto não cabe à Fazenda Pública a apresentação de sua defesa a qualquer
tempo. IV - Ademais, o desentranhamento da peça contestatória não faz com que os réus não possam mais
interferir no feito, produzindo provas, nem que os fatos alegados pelo autor sejam considerados verdadeiros. V
- Recurso especial improvido. (STJ, REsp nº 510.229/RJ, 1ª Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ 16.11.2004).
Doravante, segundo o CPC/2015, são três efeitos jurídicos da revelia, a saber:
i) Presunção de veracidade dos fatos narrados pelo autor: disciplinado pelo art. 344, CPC: “se o réu não
contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor”,
a ausência jurídica de resistência do réu diante da pretensão do autor faz com que o juiz repute verdadeiros os
fatos alegados pelos autos, sendo comum entender que nesse caso a lei permite ao juiz presumir a veracidade
dos fatos diante da inércia do réu. O entendimento de que exista uma confissão ficta na revelia é duramente
criticado pela melhor doutrina, que afirma corretamente que a omissão do réu não pode ser entendida como
a concordância tácita a respeito dos fatos alegados pelo autor. Salienta-se que reputam verdadeiros somente
os fatos alegados pelo autor, de forma que a matéria jurídica estará fora do alcance desse feito. Aplicando-se o
princípio do iura novit curia (o juiz sabe o direito), é inadmissível a vinculação do magistrado à fundamentação
jurídica do autor somente porque o réu não contesta a demanda, tornando-se revel.
ii) Corrida do prazo processual independentemente da intimação do réu: bastando a mera publicação no
diário oficial, ideia, esta, presente no art. 346, 2015: “os prazos contra o revel que não tenha patrono nos
autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial”. Observa-se que, havendo procurador
constituído, as intimações serão dirigidas normalmente a ele. É preciso destacar o Enunciado 167 do FUNAJE
- Não se aplica aos Juizados Especiais a necessidade de publicação no Diário Eletrônico quando o réu for revel
- art. 346 do CPC (XL Encontro - Brasília-DF). Lembre-se que determinadas hipóteses de intimação pessoal
do réu exigirão a intimação pessoal do réu revel, como, por exemplo, a intimação para prestar depoimento

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pessoal, para cumprimento de sentença, etc. Vejamos a jurisprudência sobre o assunto:


RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. REVELIA NA
FASE COGNITIVA. AUSÊNCIA DE ADVOGADO CONSTITUÍDO. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO
DOS DEVEDORES POR CARTA PARA O CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. REGRA ESPECÍFICA DO
CPC DE 2015. REGISTROS DOUTRINÁRIOS. 1. Controvérsia em torno da necessidade de intimação pessoal
dos devedores no momento do cumprimento de sentença prolatada em processo em que os réus, citados
pessoalmente, permaneceram revéis. 2. Em regra, intimação para cumprimento da sentença, consoante o
CPC/2015, realiza-se na pessoa do advogado do devedor (art. 513, § 2.º, inciso I, do CPC/2015) 3. Em se
tratando de parte sem procurador constituído, aí incluindo-se o revel que tenha sido pessoalmente intimado,
quedando-se inerte, o inciso II do §2º do art. 513 do CPC fora claro ao reconhecer que a intimação do devedor
para cumprir a sentença ocorrerá “por carta com aviso de recebimento”. 4. Pouco espaço deixou a nova
lei processual para outra interpretação, pois ressalvara, apenas, a hipótese em que o revel fora citado
fictamente, exigindo, ainda assim, em relação a este nova intimação para o cumprimento da sentença, em
que pese na via do edital. 5. Correto, assim, o acórdão recorrido em afastar nesta hipótese a incidência do
quanto prescreve o art. 346 do CPC. 6. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (REsp 1760914/SP, Rel. Ministro
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/06/2020, DJe 08/06/2020).
iii) Possibilidade de julgamento antecipado do mérito, seja ele integral (art. 355, inc. II) ou parcial (art.
356, inc. II). Merece elogios o avanço do legislador no que tange este entendimento. O dispositivo vai longe
ao prever que o julgamento antecipado também não será admitido se o réu, fazendo-se representar nos autos
a tempo, requerer a produção de provas.
E) INCORRETA. A arbitragem é reconhecida por lei e pelo Superior Tribunal de Justiça como uma manifestação
privada da jurisdição, autorizando inclusive o cabimento de conflito de competência. Nesse sentido:
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO ARBITRAL. NATUREZA JURISDICIONAL.
RECONHECIMENTO. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. ALCANCE INTERPRETATIVO. REGRA
DA “COMPETÊNCIA-COMPETÊNCIA”. APLICAÇÃO. 1. O Superior Tribunal de Justiça tem firmado o
entendimento de que “a atividade desenvolvida no âmbito da arbitragem tem natureza jurisdicional, sendo
possível a existência de conflito de competência entre juízo estatal e câmara arbitral” (CC 111.230/DF, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/05/2013, DJe 03/04/2014). 2. As questões
atinentes à existência, validade e eficácia da cláusula compromissória devem ser apreciadas pelo juízo arbitral,
conforme dispõem os arts. 8º, parágrafo único, e 20 da Lei n. 9.307/1996, em virtude da regra “competência-
competência”, que confere ao árbitro o poder de decidir sobre a própria competência. Precedentes. 3. Hipótese
em que a decisão agravada reconheceu a competência do tribunal arbitral para definir o alcance interpretativo
de cláusula compromissória, no tocante à possibilidade de instauração do procedimento de arbitragem para
“dirimir questões financeiras do contrato” firmado entre a suscitante, ora agravada, e sociedade de economia
mista estadual. 4. Agravo interno desprovido. (STJ. 1ª Seção. AgInt no CC 156.133-BA, Rel. Min. Gurgel de
Faria, julgado em 22/08/2018).

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💡 GABARITO: D.

QUESTÃO 25. A respeito da mediação e conciliação analise as assertivas abaixo.


I) Pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre direitos indisponí-
veis que admitam transação. No último caso, é obrigatória que haja apenas homologação judicial.
II) A mediação será orientada pelos princípios da imparcialidade do mediador, isonomia entre as partes,
oralidade, formalidade, autonomia da vontade das partes, busca do consenso, confidencialidade e boa-fé.
III) Na mediação judicial as partes poderão estar acompanhadas de advogados ou defensores públicos,
sendo que os mediadores estão sujeitos a prévia aceitação das partes.
IV) Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será confidencial em relação a
terceiros, não podendo ser revelada em processo arbitral ou judicial, sem exceção.
A) Todas as alternativas estão corretas.
B) Todas as alternativas estão incorretas.
C) Apenas I e II estão corretas.
D) Apenas I está correta.
E) Apenas I e III estão corretas.

💡 GABARITO COMENTADO.

Métodos consensuais e o CPC/2015: aderindo à denominada “cultura da paz” em detrimento da “cultura da


sentença”, os métodos extrajudiciais foram homenageados como norma fundamental no artigo 3º, parágrafo
2º, do CPC/2015, prevendo-se que “o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos confli-
tos”. Assim, o Código traça uma política pública direcionada à consensualidade, diretriz que obriga o Estado
brasileiro a priorizar as práticas compositivas (art. 3º, § 2º), incluindo, neste aspecto, a realização de progra-
mas e ações tendentes a estimular os métodos consensuais, quer diretamente por meio de seus órgãos, quer
indiretamente por meio de entes privados ou não governamentais. Mas não foi somente ao Poder Judiciário
que a lei processual destinou deveres no sentido da resolução extrajudicial de conflitos. Dispôs o artigo 3º,
parágrafo 3º: “a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimu-
lados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo
judicial”. Admite-se, portanto, que a política pública de resolução extrajudicial de conflitos atinge a todos os
atores do Sistema de Justiça, consubstanciando, ao mesmo tempo, um comando de política pública judiciária
(nos termos do art. 3º, § 2º) e um comando de política institucional dirigido à Defensoria Pública e a todos os
integrantes do Sistema de Justiça. No mesmo sentido, as Leis nº 13.129/2015 e 13.140/2015, que tratam, res-
pectivamente, da ampliação e reforma da Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996) e da Lei Geral sobre Mediação
e Meios Alternativos de Solução de Controvérsias. Para além das normas fundamentais já abordadas, as quais
estão previstas no artigo 3º, parágrafos 1º a 3º, o CPC/2015 previu ao longo de seu texto diversos instrumentos
voltados à implementação de uma política de pacificação, sendo possível destacar a inclusão de conciliadores

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e mediadores como auxiliares da justiça, a positivação dos princípios informadores das práticas conciliatórias
(art. 166, caput), o incentivo à resolução extrajudicial de conflitos envolvendo a Administração Pública (art.
174), a necessidade de indicação expressa do autor, como requisito da petição inicial, acerca do interesse na
composição consensual (art. 319, inc. VII), além da inclusão de etapa consensual prévia no procedimento
especial de família (art. 695).
Métodos adequados de solução de conflitos: quando surge um conflito, as pessoas envolvidas poderão resol-
vê-lo pelos seguintes meios:
1) Jurisdição estatal: resolução do conflito mediante o exercício do direito de ação que será julgada pelo Poder
Judiciário em função do princípio da inafastabilidade de controle jurisdicional;
2) Arbitragem (“jurisdição privada”): é uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes
aceitam que a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Há intensa dis-
cussão na doutrina se a arbitragem pode ser considerada como jurisdição ou se seria apenas um equivalente
jurisdicional. STJ afirmou se tratar de atividade jurisdicional, pondo fim a controvérsia.
3) Autotutela: é a solução imposta, por meio da força (física, moral, econômica, política etc.), por um dos
litigantes contra o outro. Na linguagem popular, significa “fazer justiça com as próprias mãos”. Em regra, a
autotutela é proibida, podendo até mesmo ser considerada crime, a depender da situação. No entanto, existem
algumas exceções em que a autotutela é permitida. Exs: desforço incontinenti do possuidor turbado ou esbu-
lhado (art. 1.210, § 1º do CC), legítima defesa, direito de retenção etc.
4) Conciliação: ocorre quando um terceiro (conciliador) atua como intermediário entre as partes, facilitando
ativamente o diálogo a fim de que os litigantes cheguem a um acordo (autocomposição). A conciliação é regu-
lada pelos arts. 165 a 175 do CPC 2015.
5) Mediação: também ocorre quando um terceiro (mediador) se coloca entre os litigantes e tenta conduzi-los
a um acordo (autocomposição). Qual a diferença entre a conciliação e a mediação? São institutos semelhantes.
A diferença está apenas na técnica que é empregada. O CPC 2015, em seu art. 165, §§ 2º e 3º assim dispõe:
CONCILIADOR:
• Tem uma participação mais ativa no processo de negociação.
• Atua preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes.
• Pode sugerir soluções para o litígio.
MEDIADOR:
• Auxilia as partes a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo resta-
belecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.
• Atua preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes
• Não propõe soluções para os litigantes.
Conceito legal de mediação
A Lei n.° 13.140/2015 forneceu um conceito para mediação: Art. 1º (...) Parágrafo único. Considera-se mediação
a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as

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auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia.


Objeto da mediação: pode ser objeto de mediação os conflitos que versem sobre: direitos disponíveis; direitos
indisponíveis que admitam transação.
Vale ressaltar, no entanto, que o consenso das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas transigíveis, deve
ser homologado em juízo, exigida a oitiva do Ministério Público (§ 2º do art. 3º da Lei).
Mediação pela internet
A mediação poderá ser feita pela internet ou por outro meio de comunicação que permita a transação à dis-
tância, desde que as partes estejam de acordo (art. 46 da LGM). É facultado à parte domiciliada no exterior
submeter-se à mediação segundo as regras estabelecidas na Lei n 13.140/2015.
Ainda, a respeito dos métodos de resolução de conflitos, estes podem ainda ser classificados em autocompo-
sitivos e heterocompositivos. No primeiro caso, as próprias partes buscam uma solução consensual para a
disputa, com ou sem o auxílio de um terceiro facilitador, o qual, porém, intervém para fomentar o consenso.
É o caso da conciliação e mediação. Já na segunda hipótese, um terceiro é chamado a intervir e colocar fim ao
litígio. Os métodos heterocompositivos podem ainda ser judiciais, quando o terceiro chamado a decidir inte-
gra os quadros da magistratura, ou extrajudiciais, quando se tratam de pessoas ou instituições privadas (caso
da arbitragem). Feitos estes esclarecimentos, passemos a análise das assertivas.
I) INCORRETA. A dicção legal é clara ao prever a mediação como método adequado para resolução de con-
flitos envolvendo direitos indisponíveis que admitam transação, exigindo, para além da homologação judicial,
a intimação do Ministério Público, conforme prevê a Lei 13.140/15. Nesse sentido:
Art. 3º Pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre direitos indisponíveis
que admitam transação.
§ 1º A mediação pode versar sobre todo o conflito ou parte dele.
§ 2º O consenso das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas transigíveis, deve ser homologado em juízo,
exigida a oitiva do Ministério Público.
II) INCORRETA. Destaca-se a previsão no artigo 166 dos princípios gerais dos métodos consensuais. São
eles: independência, imparcialidade, autonomia da vontade, confidencialidade, oralidade, informalidade
e decisão informada. Além das normas citadas, a Lei Geral de Mediação ainda abriga a isonomia, a boa-fé
e a busca do consenso como princípios complementares da metodologia consensual. Na conciliação e me-
diação, portanto, não é a formalidade que impera, mas sim o princípio da informalidade, o qual está ligado
à possibilidade de flexibilização das regras ordenadoras do procedimento consensual, as quais se instituem e
desenvolvem de acordo com a vontade das partes, sem apego à forma.
III) INCORRETA. A mediação judicial é feita por auxiliar da justiça previamente cadastrado e não escolhido
pelas partes, com isso, as partes não precisam aceitá-lo previamente, segundo a lei de mediação e conciliação.
Do mesmo modo, o teor da lei é claro na obrigatoriedade de advogado ou defensor público na mediação judi-
cial, salvo nos casos da Lei dos Juizados Especiais incidir. Nessa senda:
Art. 25. Na mediação judicial, os mediadores não estarão sujeitos à prévia aceitação das partes, observado o

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disposto no art. 5º desta Lei.


Art. 26. As partes deverão ser assistidas por advogados ou defensores públicos, ressalvadas as hipóteses previstas
nas Leis n º 9.099, de 26 de setembro de 1995 , e 10.259, de 12 de julho de 2001 .
IV) INCORRETA. Existem exceções à confidencialidade em casos extremos. Em regra, toda e qualquer in-
formação relativa ao procedimento de mediação é confidencial em relação a terceiros, não podendo ser
revelada em processo arbitral ou judicial. A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas
no curso do procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa
deliberação das partes (§ 1º do art. 166 do CPC 2015). O mediador deverá alertar as partes acerca das regras de
confidencialidade aplicáveis ao procedimento. Exceções: as informações relacionadas com a mediação pode-
rão ser reveladas se: 1) as partes expressamente concordarem; 2) a lei exigir sua divulgação; 3) a sua divul-
gação for necessária para cumprimento de acordo obtido pela mediação; 4) for uma informação relacio-
nada com a ocorrência de um crime de ação pública. O dever de confidencialidade aplica-se ao mediador, às
partes, a seus prepostos, advogados, assessores técnicos e a outras pessoas de sua confiança que tenham, direta
ou indiretamente, participado do procedimento de mediação. Em suma, aplica-se a todos os que participaram,
de algum modo, da mediação. A Lei determina que é confidencial a informação prestada por uma parte em
sessão privada, não podendo o mediador revelá-la à outra parte, exceto se expressamente autorizado (art. 31).

💡 GABARITO: B

PROFESSOR JULIO AZEVEDO


E-mail: profcei.juliocamargo@gmail.com

🏳 DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

QUESTÃO 26. A respeito da legitimidade da Defensoria Pública para a tutela de interesses difusos, cole-
tivos e individuais homogêneos, analise as assertivas abaixo e assinale a alternativa correta:
I) A Defensoria Pública não tem legitimidade para propor ação civil pública na defesa do interesse de
consumidores, incumbência precípua do Ministério Público.
II) Segundo o STJ, a legitimidade da Defensoria Pública para a defesa dos interesses coletivos não é
irrestrita.
III) A lei de ação civil pública (Lei 7.347/85), desde sua redação originária, expressamente atribui
legitimidade à Defensoria Pública na defesa de direitos metaindividuais.
IV) É vedado a Defensoria Pública celebrar termo de ajustamento de conduta (TAC) por ausência de
previsão legal.
A) Todas estão incorretas.
B) Todas estão corretas.

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C) I, II e III estão corretas.


D) Apenas I e III estão corretas.
E) I, III e IV estão incorretas.

💡 GABARITO COMENTADO.

I) INCORRETA. Considerando que no processo coletivo vigoram os princípios do máximo benefício, da


máxima efetividade e da máxima amplitude, se existirem vulneráveis beneficiados pelo resultado da deman-
da deve-se admitir a legitimidade da Defensoria Pública. É o caso, por exemplo, de consumidores de energia
elétrica, que tanto podem abranger pessoas com alto poder aquisitivo como pessoas hipossuficientes, vejamos:
LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO COLETIVA. A Turma, ao prosseguir o julgamento, enten-
deu que a Defensoria Pública tem legitimidade para ajuizar ação civil coletiva em benefício dos consumidores de
energia elétrica, conforme dispõe o art. 5º, II, da Lei nº 7.347/1985, com redação dada pela Lei nº 11.448/2007.
(...) REsp 912.849-RS, Rel. Min. José Delgado, julgado em 26/2/2008 (Info 346).
II) CORRETA. A legitimidade de nenhum dos legitimados do art. 5º é irrestrita. O STJ já decidiu, por exemplo,
que “o Ministério Público não tem legitimidade ativa para propor ação civil pública na qual busca a suposta
defesa de um pequeno grupo de pessoas - no caso, dos associados de um clube, numa óptica predominantemente
individual.” (REsp 1109335/SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2011). Com isso, a doutrina
majoritária tem defendido que a Defensoria só tem adequada representação se estiver defendendo interesses
relacionados a seus objetivos institucionais, os quais se encontram previstos no art. 134 da CF. Segundo a
posição do STJ, a Defensoria Pública só tem legitimidade ativa para ações coletivas se elas estiverem
relacionadas com as funções institucionais conferidas pela CF/88. A própria Lei Orgânica da Defensoria
Pública (Lei Complementar n.° 80/94) nos faz concluir dessa forma: Art. 4º São funções institucionais da
Defensoria Pública, dentre outras: (...) VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de
propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da
demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes;VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses
individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e dos direitos do consumidor, na forma do inciso
LXXIV do art. 5º da Constituição Federal; X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos
necessitados, abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo
admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela; XI – exercer a defesa
dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades
especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que mereçam
proteção especial do Estado. No julgamento da ADI 3943, acima explicada, diversos Ministros manifestaram
esse mesmo entendimento: “Não se está a afirmar a desnecessidade de a Defensoria Pública observar o preceito
do art. 5º, LXXIV, da CF, reiterado no art. 134 — antes e depois da EC 80/2014. No exercício de sua atribuição
constitucional, é necessário averiguar a compatibilidade dos interesses e direitos que a instituição protege com os
possíveis beneficiários de quaisquer das ações ajuizadas, mesmo em ação civil pública.”

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III) INCORRETA. A inclusão da Defensoria Pública no rol de legitimados para ajuizamento de ações civis
públicas foi determinada pela Lei nº 11.448/2007. Contudo, antes mesmo da Lei nº 11.448/2007, a legitimidade
da Defensoria Pública já era discutida pelos Tribunais. Baseando-se na exclusividade do rol de legitimados
expressos no artigo 5º da Lei de Ação Civil Pública, as arguições de ilegitimidade de parte costumavam ser
acolhidas em prejuízo das coletividades representadas pela Defensoria Pública, em sua maioria, na seara do
direito do consumidor e do direito social à educação. O próprio Supremo Tribunal Federal, quando chamado a
decidir sobre a constitucionalidade de dispositivos da Constituição do Estado do Rio de Janeiro que atribuíam
legitimidade à Defensoria Pública (ADI nº 558-8), restringiu a legitimidade da instituição à “representação
processual de associações e entidades desprovidas de recursos financeiros”, negando-lhe a possibilidade de
promover ações coletivas próprias, na forma de substituição processual. No âmbito do Superior Tribunal de
Justiça, somente a partir de 2006 é que o entendimento restritivo começa a ser superado, florescendo na Corte
um movimento favorável à legitimidade processual coletiva da Defensoria Pública, fundamentada na relevância
social e jurídica da atuação frente às expectativas sociais e as finalidades perseguidas pela tutela molecular de
conflitos. Este posicionamento, embrionário à época, consolida-se em 2007 a partir da promulgação da Lei nº
11.448, que incluiu a Defensoria Pública enquanto ente legitimado expresso na Lei de Ação Civil Pública. A partir
daí inaugura-se a segunda fase jurisprudencial relacionada à legitimidade processual coletiva da Defensoria
Pública perante o Tribunal da Cidadania. A questão volta, posteriormente, à tona com o julgamento do RESP
nº 1.192.577-RS, em que o Ministro Relator Luis Felipe Salomão, em controle ope judice de representatividade
adequada, restringiu a amplitude de legitimação da Defensoria Pública, passando a exigir, para a defesa de
direitos coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos, a comprovação prévia de hipossuficiência
financeira de todos os substituídos determinados. No caso, a Instituição Cidadã pleiteava a declaração de
abusividade de aumentos de plano de saúde em favor de idosos. A matéria foi levada ao conhecimento da
Corte Especial, mediante embargos de divergência opostos pela Defensoria Pública do Estado do Rio Grande
do Sul, a qual, sob a Relatoria da Ministra Laurita Vaz, pacificou a controvérsia no âmbito do STJ, reformando
o acórdão combatido para afastar o entendimento restritivo antes considerado. Nas palavras da Relatora:
“(...) a atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no campo da Ação Civil Pública, em sentido amplo,
de modo a incluir, ao lado dos estritamente carentes de recursos financeiros - os miseráveis e pobres -, os
hipervulneráveis (isto é, os socialmente estigmatizados ou excluídos, as crianças, os idosos, as gerações futuras),
enfim todos aqueles que, como indivíduo ou classe, por conta de sua real debilidade perante abusos ou arbítrio
dos detentores de poder econômico ou político, ‘necessitem’ da mão benevolente e solidarista do Estado para
sua proteção, mesmo que contra o próprio Estado. Vê-se, então, que a partir da ideia tradicional da instituição
forma-se, no Welfare State, um novo e mais abrangente círculo de sujeitos salvaguardados processualmente, isto é,
adota-se uma compreensão de minus habentes impregnada de significado social, organizacional e de dignificação
da pessoa humana”.
Na ocasião, o próprio Ministro Luis Felipe Salomão, relator do aresto combatido, modificou seu entendimento
em voto-vista para assumir interpretação ampliativa em relação à expressão “necessitado”, de modo a incluir,

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além do “necessitado econômico”, também o “necessitado organizacional” e o “indivíduo ou grupo em


situação especial de vulnerabilidade existencial”, na linha da doutrina perfilhada por Ada Pellegrini Grinover.
No âmbito do Supremo Tribunal Federal, a matéria foi analisada no julgamento da ADI nº 3.943, ocorrido em
maio de 2015, em que o Pleno afastou, por unanimidade de julgamento, a arguição de inconstitucionalidade
do artigo 5º, inciso II, da Lei de Ação Civil Pública, levada a efeito pela Associação Nacional dos Membros
do Ministério Público (CONAMP). Na ocasião, ratificou-se a ampla legitimidade processual coletiva da
Defensoria Pública para a defesa coletiva de direitos. Com efeito, assentou-se no julgamento a importância
da atuação coletiva da Defensoria Pública à luz do acesso substancial à justiça, da densificação dos princípios
constitucionais e da implementação do Estado Social e Democrático de Direito, rebatendo-se a absurda tese
de exclusividade do manejo de ações coletivas pelo Ministério Público. Posteriormente, o entendimento
supracitado foi reafirmado no julgamento do Recurso Extraordinário nº 733.433-MG, de Relatoria do
Ministro Dias Toffoli, com repercussão geral reconhecida (Tema nº 607), aplicando-se para todos os demais
casos similares. Nesta terceira fase jurisprudencial, portanto, os entendimentos dos Tribunais Superiores
pacificaram definitivamente a controvérsia, convergindo para afirmar um precedente judicial que referenda
a ampla legitimidade processual coletiva da Defensoria Pública, à evidência da tutela molecular de direitos.
IV) INCORRETA. O termo de ajustamento de conduta, também denominado de compromisso de ajustamento
de conduta, consubstancia relevante instrumento de resolução extrajudicial de conflitos que, mediante
solução bilateral negociada, visa assegurar efetividade a direitos individuais e coletivos, possuindo eficácia
de título executivo extrajudicial. Trata-se de prerrogativa dos órgãos públicos legitimados à propositura
de demandas coletivas, não se estendendo, portanto, aos entes legitimados privados (ex: associações). Em
termos funcionais, o compromisso de ajustamento de conduta visa adequar a conduta do compromitente
às exigências legais, tendo por objeto interesses sociais indisponíveis, pertencentes a toda ou a uma parcela
da coletividade. Não há consenso sobre a natureza jurídica do compromisso de ajustamento de conduta. Há
quem defenda tratar-se de transação, à luz do disposto nos artigos 840 a 850 do Código Civil, bem como de
ato unilateral de reconhecimento da ilicitude. Prevalece, entretanto, tratar-se de negócio jurídico bilateral,
pressupondo a vontade de ambas as partes, o qual, porém, encontra-se limitado quanto ao objeto em razão
da indisponibilidade dos direitos debatidos. Para esta corrente, a qual este autor adere, haveria composição
apenas sobre as condições de cumprimento da obrigação (modo, tempo e lugar) e não sobre o objeto do
compromisso em si. Estruturalmente, o termo de ajustamento de conduta obedece aos requisitos exigidos a
um negócio jurídico bilateral, exigindo partes, motivo, objeto lícito e forma. Na prática, costuma-se utilizar
cláusulas para previsão das obrigações, recomendando-se, inclusive, a abertura de tópico específico para
a sanção. Tecnicamente, o termo é apenas o instrumento em que formalizado o ajuste (acordo) a respeito
da adequação da conduta. Nesta senda, o termo de ajustamento de conduta representa um compromisso
preliminar público, envolvendo de um lado o compromissário (órgão que toma o compromisso) e de outro
o compromitente (quem assume o compromisso). O instituto da multa cominatória, prevista expressamente
no artigo 5º, parágrafo 6º, da Lei de Ação Civil Pública, é de vital importância à efetividade do termo de

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ajustamento de conduta, combatendo o descumprimento das obrigações assumidas. Sua utilização não se
restringe, porém, às cominações de ordem pecuniária, podendo se manifestar de outras formas (ex: cessação
de alvará, previsão de nulidade dos atos administrativos etc.). Ainda, as multas podem servir tanto para coibir
a prática de atos (multa sancionatória), como para impedir a repetição de condutas ilícitas no tempo (multa
cominatória), estas últimas geralmente associadas às obrigações específicas (fazer, não fazer, dar, entregar
etc.). Importante, por fim, indicar sua destinação em caso de recolhimento (ex: Fundo Municipal; Fundo de
Direitos Difusos e Coletivos etc.) No plano da eficácia, o termo de ajustamento de conduta dá origem a um
título executivo extrajudicial, o que, para o universo jurídico, implica induvidosa existência de obrigação,
independentemente de prévia certificação judicial. Neste sentido, caso haja o descumprimento, evita-se o
processo de conhecimento, passando-se diretamente à fase executiva. A legitimidade da Defensoria Pública
para celebrar compromissos de ajustamento de conduta decorre tanto do artigo 5º, §6º, da LACP (“Têm
legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: II - a Defensoria Pública; (...) § 6° Os órgãos públicos
legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais,
mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial”), quanto do artigo 4º, § 4º, da LC nº
80/1994 (“O instrumento de transação, mediação ou conciliação referendado pelo Defensor Público valerá como
título executivo extrajudicial, inclusive quando celebrado com a pessoa jurídica de direito público”).

💡 GABARITO: E.

QUESTÃO 27. Sobre a legislação que regula o mandado de segurança coletivo, assinale a alternativa in-
correta.
A) As entidades de classe têm legitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo, mesmo que a
pretensão veiculada interesse apenas a parte da categoria representada.
B) Em caso de urgência, é permitido, observados os requisitos legais, impetrar mandado de segurança por
telegrama, radiograma, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade comprovada.
C) No bojo da ADIN 4296, que julgou a inconstitucionalidade de uma série de dispositivos da Lei do
Mandado de Segurança, o Supremo Tribunal Federal entendeu que está em desacordo com a Constituição
a exigência de caução, depósito ou fiança para a concessão de liminar em MS (artigo 7º, inciso III).
D) O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado para garantia de direitos coletivos e individuais
homogêneos que sejam líquidos e certos, mas não para direitos difusos.
E) A Defensoria Pública tem legitimidade na Lei do Mandado de Injunção para propor tal ação de forma
coletiva, mas não tem legitimidade, na Lei de Mandado de Segurança, para o mandado de segurança
coletivo.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. A entidade de classe possui legitimidade para impetrar o mandado de segurança coletivo,
a despeito de a pretensão veiculada dizer respeito a apenas uma parte da categoria representada. Nesse

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sentido, é o que o art. 21, caput, da Lei 12.016/2009 assim dispõe: “Art. 21. O mandado de segurança coletivo
pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses
legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe
ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos
líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos
e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial”. Além da suscitada
previsão, o STF editou o seguinte entendimento sumular (Súmula 630): “A entidade de classe tem legitimação
para o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva
categoria”. Portanto, denota-se que a pretensão não necessariamente deve integrar a totalidade dos membros
da categoria representada.
B) CORRETA. É exatamente o teor da Lei 12.016/09, vejamos: (...) Art. 4o Em caso de urgência, é permitido,
observados os requisitos legais, impetrar mandado de segurança por telegrama, radiograma, fax ou outro meio
eletrônico de autenticidade comprovada.
C) INCORRETA. O julgamento quanto à exigência de caução para a concessão de liminar em MS individual
ou coletivo foi em sentido contrário. A Corte entendeu que está de acordo com a Constituição a exigência de
caução, depósito ou fiança para a concessão de liminar em MS (artigo 7º, inciso III). Para o ministro Alexandre
de Moraes, a contracautela é mera faculdade do magistrado que viabiliza o exercício da jurisdição imediata,
não havendo limitação ou restrição ao poder geral de cautela para a garantia do direito líquido e certo.
D) CORRETA. A Lei do Mandado de Segurança exclui expressamente os direitos difusos do seu objeto de
tutela, disposição que sofreu – e ainda sofre – muitas críticas doutrinárias. Assim: “Art. 21. O mandado de
segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa
de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical,
entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em
defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus
estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial. Parágrafo
único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser: I - coletivos, assim entendidos,
para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica; II - individuais homogêneos, assim
entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da
totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante”. Em que pese a assertiva esteja correta em
termos legislativos, entende-se que referido entendimento é criticável, sobretudo considerando o princípio da
atipicidade da tutela coletiva que rege os instrumentos processuais coletivos.
E) CORRETA. A alternativa buscava a interpretação literal da lei, de modo que apenas na Lei do Mandado de
Injunção (Lei 13.300/16) há legitimidade expressa da Defensoria Pública. Assim:
Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:
I - pelo Ministério Público, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem jurídica,

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do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis;


II - por partido político com representação no Congresso Nacional, para assegurar o exercício de direitos, liberdades
e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a finalidade partidária;
III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há
pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade
ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades,
dispensada, para tanto, autorização especial;
IV - pela Defensoria Pública, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a promoção dos
direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, na forma do inciso LXXIV
do art. 5º da Constituição Federal.
Parágrafo único. Os direitos, as liberdades e as prerrogativas protegidos por mandado de injunção coletivo são os
pertencentes, indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou
categoria.
Por outro lado, a Lei do Mandado de Segurança (lei 12.016/09) nada dispõe a respeito da legitimidade da
Defensoria Pública, disposição também criticada pela doutrina institucional. Assim:
Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no
Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária,
ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento
há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros
ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto,
autorização especial...”
Essa limitação da legitimidade para propor mandado de segurança coletivo sofre muitas críticas doutrinárias.
Isso porque se a Defensoria tem legitimidade para tutela coletiva de interesses ligados a suas atribuições
institucionais, não lhe conferir tal instrumento seria limitação do exercício de sua função prevista
constitucionalmente, o que caminharia para a inviabilidade do acesso à justiça. Nesse sentido, a doutrina
defende a legitimidade da Defensoria Pública para o mandado de segurança coletivo independente de previsão
expressa. Importante, todavia, em sede de provas objetivas, que se conheçam as distinções legislativas entre o
mandado de injunção e o mandado de segurança coletivos.

💡 GABARITO: C.

QUESTÃO 28. Sobre as recentes modificações na Lei de Improbidade Administrativa dadas pela Lei nº
14.230, de 2021, assinale a alternativa correta.
A) Por se tratar de um ilício civil, não se aplicam ao sistema de improbidade os princípios do direito
administrativo sancionador.
B) Segundo decidiu o STF, é constitucional a legitimidade exclusiva do Ministério Público para propositura
de ação de improbidade administrativa em razão de suas funções institucionais.

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C) Uma das espécies de ato de improbidade administrativa é a que causa prejuízo ao erário, consistindo na
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que causa dano ao patrimônio das entidades públicas.
D) Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente de divergência interpretativa da lei, baseada
em jurisprudência pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente prevalecente nas decisões dos
órgãos de controle ou dos tribunais do Poder Judiciário.
E) Segundo a lei, a ação de improbidade administrativa não é ação civil pública.

💡 GABARITO COMENTADO

A) INCORRETA. A própria lei prevê no artigo 1º, §4º, a aplicação dos princípios constitucionais do Direito
Administrativo Sancionador. Assim:
“Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade administrativa tutelará a probidade na
organização do Estado e no exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade do patrimônio
público e social, nos termos desta Lei.
§ 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta
Lei, ressalvados tipos previstos em leis especiais.
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11
desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente.
§ 3º O mero exercício da função ou desempenho de competências públicas, sem comprovação de ato doloso com
fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa.
§ 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta Lei os princípios constitucionais do direito
administrativo sancionador”.
B) INCORRETA. No âmbito da ADI 7042, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional a legitimidade
exclusiva do Ministério Público para exercício da ação de improbidade administrativa, afastando o dispositivo
legal trazido pela legislação reformista. O STF, por maioria, julgou parcialmente procedentes os pedidos
formulados na ação direta proposta pela Associação Nacional dos Procuradores dos Estados (ANAPE) para:
(a) declarar a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, do caput e dos §§ 6º-A e 10-C do art. 17,
assim como do caput e dos §§ 5º e 7º do art. 17-B, da Lei 8.429/1992, na redação dada pela Lei 14.230/2021, de
modo a restabelecer a existência de legitimidade ativa concorrente e disjuntiva entre o Ministério Público
e as pessoas jurídicas interessadas para a propositura da ação por ato de improbidade administrativa
e para a celebração de acordos de não persecução civil; (b) declarar a inconstitucionalidade parcial, com
redução de texto, do § 20 do art. 17 da Lei 8.429/1992, incluído pela Lei 14.230/2021, no sentido de que não
existe “obrigatoriedade de defesa judicial”; havendo, porém, a possibilidade dos órgãos da Advocacia Pública
autorizarem a realização dessa representação judicial, por parte da assessoria jurídica que emitiu o parecer
atestando a legalidade prévia.
C) INCORRETA. Com a nova redação trazida em 2021, não há mais espécie culposa de improbidade
administrativa. O dolo é exigido em todas as espécies. Referida alteração na redação originária da Lei 8.429/92,

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repercutiu nos Tribunais, pois gerou pedidos de extinção de ações de improbidade em curso por atipicidade da
conduta de agentes públicos processados ou até mesmo julgados antes da superveniência dessa modificação.
Nesse sentido, sobre a retroatividade da nova redação dada à Lei de Improbidade Administrativa, decidiu o
STF que o novo texto da Lei de Improbidade Administrativa (LIA - Lei 8.429/1992), com as alterações
inseridas pela Lei 14.230/2021, não pode ser aplicado a casos não intencionais (culposos) nos quais houve
condenações definitivas e processos em fase de execução das penas. O Tribunal também entendeu que o novo
regime prescricional previsto na lei não é retroativo e que os prazos passam a contar a partir de 26/10/2021,
data de publicação da norma. Prevaleceu o entendimento do relator, ministro Alexandre de Moraes, de que a
LIA está no âmbito do direito administrativo sancionador, e não do direito penal. Portanto, a nova norma,
mesmo sendo mais benéfica para o réu, não retroage nesses casos. Os ministros entenderam que a nova lei
somente se aplica a atos culposos praticados na vigência da norma anterior se a ação ainda não tiver decisão
definitiva. Segundo a decisão, tomada no julgamento do Recurso ​Extraordinário com Agravo (ARE) 843989,
como o texto anterior que não considerava a vontade do agente para os atos de improbidade foi expressamente
revogado, não é possível a continuidade da ação em andamento por esses atos. A maioria destacou, porém, que
o juiz deve analisar caso a caso se houve dolo (intenção) do agente antes de encerrar o processo.
D) INCORRETA. Eis o teor da Lei 14.230/21, artigo 1º, § 8º: “Não configura improbidade a ação ou omissão
decorrente de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ainda que não pacificada, mesmo
que não venha a ser posteriormente prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais do Poder
Judiciário.” Tal dispositivo visou trazer segurança jurídica ao administrador público quando da tomada de suas
decisões embasada em jurisprudência – não necessitando que essa jurisprudência seja pacífica ou prevalente
no futuro.
E) CORRETA. Apesar das críticas doutrinárias, essa é a disposição expressa da lei a partir de sua modificação em
2021. Assim: Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva, de caráter sancionatório, destinada
à aplicação de sanções de caráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado seu ajuizamento
para o controle de legalidade de políticas públicas e para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Conclui-se que a Lei nº 14.230/2021
acabou com a aproximação entre a ação de improbidade administrativa e a ação coletiva, pois agora ela é
expressamente um processo de cunho repressivo, integrante do direito administrativo sancionador. Nessa
toada, o direito administrativo sancionador surge para conter a hipertrofia do Direito Penal (a ideia é
reprimir condutas lesivas, mas que não necessariamente dialoguem com a necessidade de sanção penal).
Acompanha a ideia de direito penal mínimo, direito penal como ultima ratio. Para não restar dúvidas, o
legislador ainda impõe a aplicação do rito comum ordinário do CPC/15 na ação de improbidade (artigo XX
da LIA) e se não configurado o ato ímprobo possibilita converter tal ação em uma ação civil pública, o que
demonstra a distinção feita pela lei, vejamos: “Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta Lei
será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março
de 2015 (Código de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. (...) § 16. A qualquer momento, se o magistrado

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identificar a existência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a serem sanadas sem que estejam
presentes todos os requisitos para a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da demanda,
poderá, em decisão motivada, converter a ação de improbidade administrativa em ação civil pública, regulada
pela Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985”. Contudo, destaca-se que a ação de improbidade também não é uma
espécie pura de ação repressiva do direito administrativo. Isso porque as sanções administrativas são aplicadas
em regra pelo administrador, após um processo administrativo disciplinar (PAD); já no caso da AIA, ela vai
ser aplicada por juízes. O que fez a reforma? Restringiu a LIA a este aspecto punitivo-repressivo-sancionatório,
afastando-a por completo das ações coletivas e da tutela dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.
No entanto, o interesse tutelado por ela continua sendo difuso, o que gera uma situação complexa e que deverá
ser enfrentada pelos tribunais e doutrinadores no futuro.

💡 GABARITO: E.

PROFESSOR FRANKLYN ROGER


E-mail: profcei.franklynroger@gmail.com

🏳 PRINCÍPIOS E ATRIBUIÇÕES INSTITUCIONAIS


QUESTÃO 29. De acordo com os termos da LCE n. 988/2006 e com as prerrogativas dos membros da De-
fensoria Pública na lei nacional, marque a assertiva incorreta:
A) A prerrogativa de prazo em dobro dos membros da Defensoria Pública também se aplica aos
procedimentos internos em tramitação na instituição;
B) Quando atua em causas de interesse da instituição, no exercício das funções institucionais, o membro
da Defensoria Pública do Estado de São Paulo deve adiantar o pagamento de emolumento, taxas ou custas;
C) Nos casos em que membros da Defensoria Pública sejam investigados pela prática de contravenção
penal, deve o Defensor Público Geral ser comunicado da instauração do procedimento, designando
membro para acompanhar a apuração;
D) A prerrogativa de requisição, declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, está prevista no
rol da lei nacional e também da lei estadual paulista; em ambos os casos, não se estende aos particulares;
E) Nas comarcas onde não houver órgão da Defensoria Pública, as entidades que atuam de acordo com o
convênio poderão utilizar-se da prerrogativa de prazo em dobro.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) CORRETA: Inexiste qualquer óbice a utilização da prerrogativa em procedimentos internos da instituição,


nas hipóteses em que o membro estiver em desempenho das funções, visto que o art. 128, XI assegura a
contagem em dobro em procedimentos administrativos.

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B) INCORRETA: De acordo com o art. 162, IX da LCE n. 988/2006, é prerrogativa dos membros da
DPESP agir, em juízo ou fora dele, com isenção de emolumentos, taxas e custas do foro judicial e extrajudicial,
no exercício de suas funções. Assim, quando atua em representação dos interesses da instituição, não há dever
para antecipação de despesas processuais.
C) CORRETA: Apesar de lei estadual não tratar deste tema, deve ser aplicada a disciplina do art. 128, parágrafo
único da LC n. 80/94 (Quando, no curso de investigação policial, houver indício de prática de infração penal por
membro da Defensoria Pública do Estado, a autoridade policial, civil ou militar, comunicará imediatamente o
fato ao Defensor Publico-Geral, que designará membro da Defensoria Pública para acompanhar a apuração).
Observem que o dispositivo fala em infração penal, conceito que abarca não apenas os crimes, mas também
as contravenções.
D) CORRETA: A requisição foi declarada constitucional pelo STF no julgamento da ADI 6852. Tanto na lei
nacional (art. 128, X) quanto na lei paulista (art. 162, IV) sua incidência está restrita a autoridades públicas e
seus agentes, não se aplicando aos particulares.
E) CORRETA: Pela literalidade do art. 186, §3º do CPC, os escritórios de prática jurídica das faculdades de
Direito reconhecidas na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de
convênios firmados com a Defensoria Pública fazem jus ao prazo em dobro no processo civil.

💡 GABARITO: B

QUESTÃO 30. Julgue os itens a seguir:


I – De acordo com a melhor interpretação da LC n. 80/94, a nomeação e posse de membro da Defensoria
Pública é encargo do chefe do Poder Executivo;
II – A lotação de órgãos da Defensoria Pública deve priorizar as áreas com maiores índices de exclusão
social e analfabetismo;
III – O princípio do defensor natural assegura que o membro da instituição não possa ser afastado de suas
funções em procedimento disciplinar;
IV – Às Defensorias Públicas Estaduais é facultado atuar perante o STJ e STF, não sendo exclusividade da
Defensoria Pública da União.
A) I, II e III são verdadeiros apenas;
B) II e IV são verdadeiros apenas;
C) II e III são verdadeiros apenas;
D) II é verdadeiro apenas;
E) IV é verdadeiro apenas.

💡 GABARITO COMENTADO.

I – INCORRETA: Apesar de o art. 113 da LC n. 80/94 determinar que o ato de nomeação de candidato aprovado
para o cargo de Defensor Público seja nomeado pelo Defensor Público Geral, é necessário considerar que o

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referido dispositivo foi tacitamente revogado pelo art. 97-A da LC n. 80/94, já que em virtude da autonomia
administrativa, é a própria Defensoria Pública quem deve praticar os atos de nomeação e posse de seus
membros.
II – INCORRETA: De acordo com o art. 98 do ADCT e art. 107 da LC n. 80/94 a Defensoria Pública deve
priorizar em suas lotações as áreas com maiores índices de adensamento populacional e exclusão social. As
referidas normas indicam apenas estes dois marcadores, não sendo considerado o analfabetismo como um
critério legal.
III – INCORRETA: A previsão do defensor natural, expressamente descrita no art. 4º-A, IV da LC n. 80/94
assegura que o órgão de atuação tenha um defensor público previamente investido de atribuição, evitando-se
designações casuísticas. A instauração de procedimento disciplinar contra membro da DP pode acarretar o
regular afastamento das funções.
IV – CORRETA: STJ e STF tem consolidado o entendimento em sua jurisprudência quanto a permissibilidade
de atuação nas Defensorias Públicas Estaduais e do DF em processos originários das respectivas federações,
desde que haja órgão instalado na capital federal ou cadastro no sistema de intimações eletrônicas e previsão
na lei estadual desta atribuição. Não há exclusividade de atuação da DPU, atuando ela nos processos oriundos
das justiças estaduais apenas quando não preenchidos os citados requisitos.

💡 GABARITO: E

QUESTÃO 31. Leia o trecho abaixo e marque a assertiva correta:


“O professor, logo após pontuar que a Defensoria deve servir como um dos principais eixos de atuação dos
governos e da sociedade para a garantia do acesso à Justiça, alertou os operadores do Direito presentes
para que coloquem em suas causas a atuação da Ordem dos Advogados do Brasil. ‘Neste momento, a OAB
está construindo uma luta contra a Defensoria Pública em São Paulo. Por quê? Ora, porque a Defensoria
Pública vai retirar o seu negócio. A Defensoria não tem condições de ter uma alternativa a esse modelo hoje
pois não está sequer financiada. A OAB está internamente contraditória, pois há muitos advogados neutros
acerca dessa questão. Os custos com a Ordem são superiores para a sociedade do que os custos com os defen-
sores. Ora, pois vamos analisar. Quanto é que custa ao Estado, quem cuida dos casos e quem fica mais bem
servido’. Especialista em sociologia jurídica, Boaventura disse que auxiliou a luta pela criação da Defenso-
ria em Portugal, mas os resultados não foram os esperados. ‘Fomos derrotados. Por quem? Pela Ordem dos
Advogados. A Ordem fez tal lobby, com tanta publicidade nos jornais, que o parlamento vetou a hipótese de
termos defensores públicos’.”
(https://apadep.org.br/2009/01/28/apadep-fsm-boaventura-santos-elogia-defensoria-publica-e-faz-um-
-alerta-sobre-atuacao-da-oab/)
A) O Supremo Tribunal Federal já decidiu que assim como as Procuradorias Estaduais, a Defensoria
Pública não dispõe de autonomia administrativa para organizar o seu funcionamento;
B) Para o Supremo Tribunal Federal é constitucional a lei estadual de iniciativa do Poder Executivo que

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reserve percentual fixo do fundo institucional para custeio de convênios firmados pela instituição;
C) A celebração de convênio pela Defensoria Pública não é obrigatória, sequer podendo se cogitar a
exclusividade da participação da OAB em seus termos;
D) Para o Supremo Tribunal Federal, caso a Defensoria Pública não esteja instalada em todas as unidades
jurisdicionais até o prazo da EC n. 80/2014, a OAB poderá celebrar convênio por tempo indeterminado
para atuação da advocacia dativa;
E) Os honorários de sucumbência recebidos pela Defensoria Pública devem ser repartidos entre seus
membros e advogados conveniados.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) INCORRETA: No julgamento da ADI 5029 o STF entendeu que as Procuradorias não devem gozar de
autonomia administrativa prevista em norma estadual, diante da sua posição de órgão do Poder Executivo.
Ocorre que tal entendimento não alcança a Defensoria Pública, visto que a autonomia da instituição decorre
do texto constitucional.
B) INCORRETA: Apesar de não concluído o julgamento da ADI 5644 o STF já possui maioria de votos no
sentido de declarar inconstitucional a norma estadual que vinculou receitas do Fundo de Assistência Judiciária,
por violar a autonomia da Defensoria Pública.
C) CORRETA: No julgamento da ADI 4163 o STF entendeu que a celebração do convênio da DPESP
com a OAB não pressupõe obrigatoriedade e exclusividade com a autarquia especial, diante da autonomia
administrativa da instituição.
D) INCORRETA: Inexiste precedente do STF que autorize a celebração de convênio da OAB com a DPESP
por tempo indeterminado. O prazo de implantação do art. 98 do ADCT, introduzido pela EC n. 80/2014, se
encerrou no ano de 2022 e caso não haja um quadro de expansão institucional, torna-se possível o ajuizamento
de ADI por omissão, tal como ressalvado no julgamento da ADO n. 2.
E) INCORRETA: De acordo com o art. 4º, XXI da LC n. 80/94 a verba honorária arrecadada pela Defensoria
Pública só pode ser utilizada para aparelhamento da instituição e capacitação dos membros, não sendo possível
a sua partilha. No plano da DPESP, o fundo de Assistência Judiciária – FAJ é responsável pelo custeio do
convênio.

💡 GABARITO: C

PROFESSOR GIANCARLO VAY


E-mail: profcei.giancarlovay@gmail.com

🏳 DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

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QUESTÃO 32. Sobre os direitos dos/as adolescentes transsexuais, assinale a alternativa INCORRETA.
A) O Provimento n.º 73/2018 do CNJ e a ADI n.º 4.275 tornaram possível que adolescentes possam requerer
ao Registro Civil de Pessoas Naturais a alteração e a averbação do prenome e do gênero, adequando-os à
identidade autopercebida.
B) O Comitê Internacional dos Direitos da Criança possui documento oficial em que reconhece a existência
de crianças lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais.
C) Conforme o Conselho Nacional de Justiça, o reconhecimento de adolescente como pessoa transsexual
em meio a um processo penal juvenil deve se dar, quando for o caso, mediante autodeclaração a ser colhida
pelo/a magistrado/a em audiência.
D) Em caso de apreensão em flagrante de adolescente autodeclarado/a transsexual, o local de privação
de liberdade será definido pelo/a magistrado/a em decisão fundamentada após questionamento ao/à
adolescente sobre sua preferência, podendo-se, inclusive, haver alteração do local ao longo da permanência
na unidade de internação, seja provisória ou como cumprimento de medida socioeducativa.
E) Realizada a autodeclaração do adolescente de se tratar de pessoa transsexual, poderá o/a magistrado/a,
mediante solicitação do/a adolescente, determinar a retificação e emissão de seus documentos, mesmo em
processo iniciado para outros fins.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) INCORRETA. O Provimento n.º 73/2018 do CNJ e a ADI n.º 4.275 tornaram possível que adultos
habilitados à prática dos atos da vida civil possam requerer ao RCPN a alteração e a averbação do prenome e
do gênero, adequando-os à identidade autopercebida. Para os adolescentes é necessária a judicialização, mas
igualmente deve ser reconhecido o direito, considerando sua autonomia progressiva, o autorreconhecimento
do gênero diverso do sexo biológico e o sofrimento experimentado.
B) CORRETA. Esse reconhecimento consta de seu Comentário Geral n. 25, parágrafo 11, onde se lê que “O
Comitê convoca os Estados Partes a tomarem medidas proativas para prevenir a discriminação com base em
gênero, deficiência, situação socioeconômica, origem étnica ou nacional, idioma ou por qualquer outro motivo,
e discriminação contra crianças de minorias e indígenas, requerentes de asilo, crianças refugiadas e migrantes,
crianças lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais, crianças vítimas e sobreviventes de tráfico
ou exploração sexual, crianças em cuidados alternativos, crianças privadas de liberdade e crianças em outras
situações de vulnerabilidade. Serão necessárias medidas específicas para eliminar a exclusão digital relacionada ao
gênero para meninas e para assegurar que seja dada atenção especial ao acesso, alfabetização digital, privacidade
e segurança online”.
C) CORRETA. Considerando o disposto no art. 15 da Resolução CNJ n. 345/2020, de que “Esta Resolução
também será aplicada aos adolescentes apreendidos, processados por cometimento de ato infracional ou em
cumprimento de medida socioeducativa que se autodeterminem como parte da população LGBTI, no que couber
e enquanto não for elaborado ato normativo próprio, considerando-se a condição de pessoa em desenvolvimento,

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o princípio da prioridade absoluta e as devidas adaptações, conforme previsão do Estatuto da Criança e do


Adolescente”, temos que a assertiva encontra correspondência com o disposto no art. 4º da mencionada
Resolução.
D) CORRETA. Considerando o disposto no art. 15 da Resolução CNJ n. 345/2020, de que “Esta Resolução
também será aplicada aos adolescentes apreendidos, processados por cometimento de ato infracional ou em
cumprimento de medida socioeducativa que se autodeterminem como parte da população LGBTI, no que couber
e enquanto não for elaborado ato normativo próprio, considerando-se a condição de pessoa em desenvolvimento,
o princípio da prioridade absoluta e as devidas adaptações, conforme previsão do Estatuto da Criança e do
Adolescente”, temos que a assertiva encontra correspondência com o disposto no art. 7º, caput, e §1º.
E) CORRETA. Considerando o disposto no art. 15 da Resolução CNJ n. 345/2020, de que “Esta Resolução
também será aplicada aos adolescentes apreendidos, processados por cometimento de ato infracional ou em
cumprimento de medida socioeducativa que se autodeterminem como parte da população LGBTI, no que couber
e enquanto não for elaborado ato normativo próprio, considerando-se a condição de pessoa em desenvolvimento,
o princípio da prioridade absoluta e as devidas adaptações, conforme previsão do Estatuto da Criança e do
Adolescente”, temos que a assertiva encontra correspondência com o disposto no art. 7º, §2º.30% de cota

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 33. Sobre o funcionamento dos Conselhos Tutelares, assinala a alternativa correta.
A) Em cada Município deve haver um, e apenas um, Conselho Tutelar, cada qual composto de 5 (cinco)
membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida recondução por
novos processos de escolha.
B) Não cabe ao Legislador municipal estabelecer regime disciplinar aplicável aos membros do Conselho
Tutelar, os quais estão sujeitos ao disposto na legislação local aplicável aos demais servidores públicos.
C) Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, são requisitos mínimos a reconhecida idoneidade
moral, ter idade superior a vinte e um anos e residir no município, sendo possível que legislação municipal
acresça novos requisitos como comprovação de conclusão do ensino fundamental e prova de conhecimento
sobre o direito da criança e do adolescente, de caráter eliminatório.
D) Os dias e horários de funcionamento do Conselho Tutelar são definidos por meio do colegiado do
Conselho Tutelar, ao que se deverá respeitar a escolha da maioria de seus membros.
E) As decisões do Conselho Tutelar, as quais serão tomadas pelo seu colegiado, conforme dispuser o
Regimento Interno, deverão ser motivadas e comunicadas formalmente aos interessados, mediante
documento escrito, no prazo máximo de quinze dias, sem prejuízo de seu registro em arquivo próprio, na
sede do Conselho.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) INCORRETA. O art. 132 do ECA traz que “Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito

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RODADA 02

Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local,
composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida
recondução por novos processos de escolha”. Para além, a Resolução CONANDA n. 139/2010, alterada pela n.
170/2014, dispõe em seu art. 3º, § 1º, que “Para assegurar a equidade de acesso, caberá aos Municípios e ao
Distrito Federal criar e manter CTs, observada, preferencialmente, a proporção mínima de um CT para cada
cem mil habitantes”.
B) INCORRETA. O art. 47 da Resolução CONANDA n. 139/2010, alterada pela n. 170/2014, dispõe em seu
art. 47 que “Cabe à legislação local estabelecer o regime disciplinar aplicável aos membros do Conselho Tutelar.
§1º Aplica-se aos membros do Conselho Tutelar, no que couber, o regime disciplinar correlato ao funcionalismo
público municipal ou do Distrito Federal. §2º As situações de afastamento ou cassação de mandato de Conselheiro
Tutelar deverão ser precedidas de sindicância e processo administrativo, assegurando-se a imparcialidade dos
responsáveis pela apuração, e o direito ao contraditório e à ampla defesa. §3º Na omissão da legislação específica
relativa ao Conselho Tutelar, a apuração das infrações éticas e disciplinares de seus integrantes utilizará como
parâmetro o disposto na legislação local aplicável aos demais servidores públicos. §4º O processo administrativo
para apuração das infrações éticas e disciplinares cometidas por membros do Conselho Tutelar deverá ser realizado
por membros do serviço público municipal ou do Distrito Federal”. Por fim, apenas a título de complementar
a matéria, consta do art. 48 da mencionada Resolução que “Havendo indícios da prática de crime por parte
do Conselheiro Tutelar, o Conselho Municipal ou do Distrito Federal da Criança e do Adolescente ou o órgão
responsável pela apuração da infração administrativa, comunicará o fato ao Ministério Público para adoção das
medidas legais”.
C) CORRETA. Sobre os requisitos mínimos, há previsão do ECA em seu art. 133. Sobre a possibilidade de
novos requisitos por lei local, assim dispõe o art. 11 da Resolução CONANDA n. 139/2010, alterada pela n.
170/2014, e a Jurisprudência do STJ, como se verifica do REsp 402.155.
D) INCORRETA. Conforme art. 134 do ECA, compete à lei municipal dispor sobre o local, dia e horário de
funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos membros.
E) INCORRETA. O prazo não é de 15 dias, mas sim de 48h. Assim dispõe o art. 21 da Resolução CONANDA
n. 139/2010, alterada pela n. 170/2014: “As decisões do Conselho Tutelar serão tomadas pelo seu colegiado,
conforme dispuser o Regimento Interno. §1° As medidas de caráter emergencial, tomadas durante os plantões,
serão comunicadas ao colegiado no primeiro dia útil subsequente, para ratificação ou retificação. §2° As decisões
serão motivadas e comunicadas formalmente aos interessados, mediante documento escrito, no prazo máximo
de quarenta e oito horas, sem prejuízo de seu registro em arquivo próprio, na sede do Conselho. § 3° Se não
localizado, o interessado será intimado através de publicação do extrato da decisão na sede do Conselho Tutelar,
admitindo-se outras formas de publicação, de acordo com o disposto na legislação local. § 4º É garantido ao
Ministério Público e à autoridade judiciária o acesso irrestrito aos registros do Conselho Tutelar, resguardado o
sigilo perante terceiros. § 5º Os demais interessados ou procuradores legalmente constituídos terão acesso às atas
das sessões deliberativas e registros do Conselho Tutelar que lhes digam respeito, ressalvadas as informações que

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RODADA 02

coloquem em risco a imagem ou a integridade física ou psíquica da criança ou adolescente, bem como a segurança
de terceiros. § 6º Para os efeitos deste artigo, são considerados interessados os pais ou responsável legal da criança
ou adolescente atendido, bem como os destinatários das medidas aplicadas e das requisições de serviço efetuadas”.

💡 GABARITO: C

QUESTÃO 34. No caso de uma mãe comparecer ao atendimento da Defensoria Pública relatando que de-
seja a internação compulsória de seu filho, 15 anos, em virtude de ele estar fazendo uso problemático de
cocaína e, em decorrência disso, se colocando em risco ao dormir fora de casa durante longos períodos,
bem como furtando objetos de casa para manter seu consumo, qual orientação seria a correta a lhe forne-
cer, na ocasião?
A) Considerando a prerrogativa institucional conferida aos membros da Defensoria Pública, será possível
realizar um ofício à Secretaria de Saúde Estadual requisitando a desejada internação compulsória.
B) Considerando que a internação compulsória é aquela que é determinada pela Justiça, caberá a
propositura de ação de obrigação de fazer contra o Estado para que interne compulsoriamente o filho da
usuária do serviço público.
C) Considerando que o que a usuária do serviço público deseja não é a internação compulsória, mas sim a
internação involuntária, seria possível readequar seu pedido e, nessa condição, realizar ofício à Secretaria
de Saúde Estadual requisitando a internação do adolescente.
D) Considerando que a internação psiquiátrica não se presta a realizar controle social, sendo precipuamente
uma intervenção de saúde, se faz imprescindível, antes de mais nada, oficiar à Secretaria de Saúde para
que realize – mesmo contra a vontade do adolescente – laudo médico circunstanciado que indique, se o
caso, os motivos que justificam uma internação.
E) Considerando que a internação psiquiátrica não se presta a realizar controle social, sendo precipuamente
uma intervenção de saúde, se faz imprescindível, antes de mais nada, oficiar à Secretaria de Saúde para
que realize – respeitando a vontade do adolescente – laudo médico circunstanciado que indique, se o caso,
os motivos que justificam uma internação.

💡 GABARITO COMENTADO.

A) INCORRETA. A internação compulsória é incabível no caso, eis que, conforme art. 9º da Lei 10.216/01
(lei da reforma psiquiátrica ou lei antimanicomial), a internação compulsória é aquela que é determinada,
de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança
do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários. Nesse sentido,
malgrado a divulgação equivocada em sentido contrário realizada por programas policiais sensacionalistas e
por uma mídia desinformada, não se presta a internação compulsória a ser meio de desintoxicação forçada de
usuários de entorpecentes, ou de contensão de indesejados em razão da realização de atos antissociais causados
pelo uso de drogas. Situações como essas são justamente aquelas que o movimento antimanicomial buscou

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suprimir quando da elaboração da lei 10.216/01, evitando-se que pessoas sejam segregadas da sociedade em
instituições totais sob o mote de se estar ofertando saúde quando, de fato, não se possibilita ao interessado optar
ou não por receber o tratamento. Paulo Queiroz3, em estudo da lei 10.216/01, compreende que a exigência
de determinação judicial para a internação compulsória implica em necessariamente compreender que se
está a tratar das medidas de segurança, “a exigir uma releitura de todo o Código Penal e Lei de Execução
Penal”, tendo ocorrido, nesse tocante, derrogação da LEP e do Código Penal. Autores como Paulo Jacobina4 e
Haroldo Caetano da Silva5 acompanham o referido entendimento. No mesmo sentido, a Defensoria Pública
do Estado de São Paulo tem por consolidado (Tese Institucional n.º 10/08) posicionamento de que “a internação
compulsória nada mais é (e somente isso) que uma medida de segurança”. Dessa forma, por se tratar a medida
de segurança de internação da única hipótese prevista em lei para a internação psiquiátrica, via judicial, de
alguém, tem-se que essa é a única hipótese possível de internação compulsória, na forma do art. 6º, p. ún, III,
da lei 10.216/01.
B) INCORRETA. Ver comentários à alternativa “A”.
C) INCORRETA. Ao que tudo indica, o adolescente não deseja se submeter a tratamento de desintoxicação
por meio de internação psiquiátrica. Pelo que a lei 10.216/01 nos apresenta, a internação involuntária é aquela
que se realiza na ausência de consentimento do paciente e não na existência de vontade manifestamente
contrária a ela. Art. 6º, II, da lei 10.216/01: “internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do
usuário e a pedido de terceiro”, sendo princípio do SUS, conforme art. 7º, III, da lei 8.080/90: “III - preservação
da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral”. No caso de internação involuntária, deve
o interessado levar a pessoa sob seus cuidados e que não pode manifestar sua vontade (em surto, desmaiado
ou em crise de convulsão, por exemplo) à rede pública de saúde do Município, ou chamar o equipamento
municipal onde a pessoa se encontra (SAMU), para que um médico psiquiatra possa fazer a avaliação e dar
continuidade ao procedimento da forma anteriormente apontada, colhendo-se a manifestação de vontade da
pessoa tão logo isso seja possível, tendo em vista a diretriz de se considerar os pacientes, inclusive a pessoa com
deficiência e/ou sofrimento mental, assim como os adolescentes em tal situação, sujeitos de direito, dotados
de uma dignidade intrínseca, e não apenas objetos de intervenção. Nunca se poderia cogitar da internação
forçada sob pretexto de internação involuntária, tendo em vista que a dispensa de manifestação de vontade em
tal hipótese ocorre em virtude de hipóteses, como as já mencionadas, em que o paciente não tem condições de
se manifestar e não em situações em que ele, conscientemente, se manifesta de forma contrária à intervenção
médica. O direito à saúde é um direito e, portanto, pode ser exercido ou não pelo cidadão, nunca forçado tal
qual uma medida de segurança. O fato de se tratar de adolescente com 15 anos e, por isso, absolutamente
incapaz para os atos da vida civil na forma do Código Civil em nada interfere nessa compreensão, uma vez
que, nos amparando na doutrina de Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves, deve ser observada a sua autonomia

3 http://www.pauloqueiroz.net/reforma-psiquiatrica-e-medidas-de-seguranca/
4 Direito Penal da Loucura: Medidas de Segurança e Reforma Psiquiátrica. Boletim dos Procuradores da República, n° 70,
ano VI, Maio/2006.
5 Haroldo Caetano. Execução Penal. Porto Alegre: Magister editora, 2006, p.295.

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progressiva, restringindo-se a limitação da capacidade de exercício dos direitos do Código Civil apenas à
matéria concernente àquele código: patrimônio e negócios jurídicos. O pleno exercício do direito à liberdade
e à saúde não depende do consentimento de outras pessoas se assim a criança ou o adolescente se encontrar
capaz para compreender e se manifestar. Por fim, o art. 128 da LC 80/94 não confere ao Defensor Público a
prerrogativa de requisitar serviços públicos, mas apenas perícias e vistorias.
D) INCORRETA. Ver comentários à alternativa “C”.
E) CORRETA. Trata-se de providência preliminar a permitir que se comece a discutir a viabilidade de
qualquer atuação judicial para fins de atendimento do direito à saúde do adolescente sendo que, se submetendo
à análise médica, poderá ser verificada a possibilidade de referenciamento do adolescente, antes, no CAPS
(preferencialmente o infantil: CAPS-i). Tão somente no caso de constatação da necessidade de internação – o
que costuma ocorrer em caso de surtos – poderá se verificar sobre a manifestação de vontade do adolescente
(ou no caso de surto ou desmaio da impossibilidade de manifestação dessa vontade) e pleitear, na sequência,
um leito à Secretaria de Saúde. É na hipótese do Poder Público se negar a ofertar o direito à saúde (art. 6º c/c
196 ss. CF), consubstanciado no fornecimento de vaga para tratamento, na forma constatada pelo médico
psiquiatra (cf. art. 4º, caput c/c 6º, caput), que nasce o interesse de agir por parte do cidadão em exigir,
judicialmente, o fornecimento da vaga em estabelecimento hospitalar que lhe garanta a efetivação do direito à
saúde, pelo tempo que se fizer necessário – conforme (e tão apenas assim) a avaliação médica – até ser possível
o prosseguimento em meio ambulatorial. Dessa forma, o que seria possível via judicial é a ação de obrigação de
fazer (tal qual nos casos de creche/escola e de fornecimento de tratamento de saúde) contra o ente municipal/
estadual para o fornecimento de vaga em leito que lhe garanta o tratamento prescrito. Importante destacar,
no trato das pessoas usuárias de entorpecentes, a própria ONU, que por anos comprou o discurso de “Guerra
às Drogas”, aprovou, por meio de seu Conselho Executivo, de forma unânime, declaração sobre política de
drogas sugerindo a implementação de medidas alternativas e descriminalizadoras do porte de drogas para uso
pessoal:
• To promote alternatives to conviction and punishment in appropriate cases, including the decriminalization of
drug possession for personal use, and to promote the principle of proportionality, to address prison overcrowding
and overincarceration by people accused of drug crimes, to support implementation of effective criminal justice
responses that ensure legal guarantees and due process safeguards pertaining to criminal justice proceedings and
ensure timely access to legal aid and the right to a fair trial, and to support practical measures to prohibit arbitrary
arrest and detention and torture;
• To call for changes in laws, policies and practices that threaten the health and human rights of people;
• To promote measures aimed at reducing stigma and eliminating discrimination and achieving universal coverage
of evidence-based prevention, treatment and rehabilitation;
• To cooperate to ensure human rights-based drug control and address impunity for serious human rights violations
in the context of drug control efforts;6

6 https://www.unsceb.org/CEBPublicFiles/CEB-2018-2-SoD.pdf

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💡 GABARITO: E

PROFESSOR GIANCARLO VAY


E-mail: profcei.giancarlovay@gmail.com

🏳 CRIMINOLOGIA
QUESTÃO 35. Assinale a alternativa INCORRETA:
A) A obra Malleus Maleficarum pode ser tida como a primeira obra de Criminologia de que se tem
conhecimento em virtude de trazer discurso criminógeno voltado a um público específico (feiticeiras),
indicando-as como responsáveis por males experimentados pela sociedade, como reconhecê-las e como
proceder quando da sua inquirição e punição.
B) Pode ser considerado exemplo de luta do movimento minimalista deslegitimador a criminalização da
discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, nos termos da lei 7.716/89 (Lei de racismo).
C) A chamada “esquerda punitiva” é um campo do pensamento que legitima a pena de prisão ao creditar
a ela a tarefa de resolução de conflitos sociais.
D) Entende-se por “mergulho no papel desviado” (role engulfment) a assunção de certo papel estigmatizado
fomentado pelos gestores da moral.
E) A Política Criminal Atuarial prescinde da noção de culpabilidade e se pauta por uma análise de risco,
como nas agências de seguro, avaliando a probabilidade de determinado sujeito cometer uma ação
antissocial.

💡 GABARITO COMENTADO

A) CORRETA. Tal obra (também conhecida por Martelo das Feiticeiras) foi elaborada pelos padres dominicanos
James Sprenger e Heinrich Kramer, autorizados por bula papal, onde se estabeleceu relação entre feitiçaria e
a mulher por conta de trechos do Antigo Testamento, textos da antiguidade Clássica e de autores medievais.
Esse manual criava um “bode expiatório” para as mazelas sociais que se experimentavam à época: fome,
pragas, intempéries, morte e toda a sorte de eventos danosos, servindo como forma de legitimar, em discurso,
a submissão das mulheres aos homens da família (pai e marido) e da sociedade em geral (Igreja e política).
Segundo nos traz Soraia da Rosa Mendes, no Malleus Maleficarum consta que as mulheres seriam mais fracas
em mente e corpo, por isso a falta de fé no Deus católico e a entrega a atos de bruxaria. A própria palavra
“feminina” seria um indicativo disso (fé + minus). Daí que os homens, principalmente aqueles que seriam
imunes aos poderes das feiticeiras (juízes, religiosos e os “abençoados pelos Anjos do Senhor”), teriam o dever
de encontrar, julgar e punir as bruxas que atentariam contra a ordem estabelecida. Conforme a autora prossegue,
a conjunção de discursos religiosos, jurídicos e médicos foi responsável pela categorização (estigmatização)
das mulheres de forma a caracterizá-la como hereges, culpadas e/ou doentes, a, de qualquer forma, necessitar

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RODADA 02

de intervenção (masculina) que a reduzisse à vontade do homem. Nesse diapasão se construíram discursos
sobre a histeria feminina, sobre a malícia da sedução, sobre as características consideradas “não normais” de
feminilidade etc., a serem encaminhadas a instituições totais como asilos e conventos, quando não levadas à
morte: “os conventos não foram somente instituições destinadas a expiação dos pecados. Mais do que isso,
eram verdadeiros espaços de reclusão seja para o cumprimento de penas por crimes cometidos por mulheres
contra a honra de suas famílias, seja pelo ‘risco’ de que estas viessem a cometer crimes como o adultério, o
infanticídio ou o homicídio de seus consortes”.
B) INCORRETA. Ainda que o minimalismo deslegitimador (Zaffaroni e Baratta) assuma a impossibilidade
de se abolir o sistema penal de pronto, o incremento de criminalizações, principalmente por meio da Suprema
Corte, em violação ao princípio da taxatividade penal, não se coaduna com o intuito de limitar o poder punitivo
dos minimalistas.
C) CORRETA. A “esquerda punitiva”, ou “neorrealismo de esquerda”, surge como resposta ao “neorrealismo de
direita”, sendo um movimento político criminal de utilização e clamor por mais Direito Penal (criminalizações
e punições) em “defesa” de pautas tidas como tradicionalmente de esquerda. Sob esse enfoque, largamente
utilizado no início pelos pensadores da Criminologia Crítica, se pretende inverter, via Direito Penal, a
“balança da desigualdade”, buscando-se a responsabilização nos crimes de colarinho-branco, nos crimes de
discriminação (principalmente contra negros, mulheres e LGBTTQI*) e de ódio (movimentos neonazistas e
milícias), nas lesões ao meio ambiente e aumentando-se as penas dos mais favorecidos (“co-culpabilidade às
avessas”). Sugestão de leitura: 1) BATISTA, Nilo. “Só Carolina não viu”: violência doméstica e políticas criminais
no Brasil. In MELLO, Adriana Ramos (org.). Comentários à Lei de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, disponível em: www.crprj.org.br/site/wp-content/uploads/2016/05/
jornal17-nilobatista.pdf; 2) JARDIM, Afrânio Silva. Esquerda punitiva? Esclarecimento sobre o nosso
pensamento atual em relação à aplicação do ‘sistema penal’. Florianópolis: Empório do Direito, 2018. Artigo
disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/esquerda-punitiva-esclarecimento-sobre-o-nosso-
pensamento-atual-em-relacao-a-aplicacao-do-sistema-penal; 3) KARAM, Maria Lúcia. A esquerda punitiva.
In Discursos Sediciosos – Crime, Direito e Sociedade n.1. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1º semestre 1996,
disponível em: https://we.riseup.net/assets/369699/74572563-Maria-Lucia-Karam-A-esquerda-punitiva.pdf;
4) KARAM, Maria Lúcia. Ainda sobre a “esquerda punitiva” – Por Maria Lúcia Karam. Artigo disponível em:
https://sxpolitics.org/ptbr/ainda-sobre-a-esquerda-punitiva-por-maria-lucia-karam/6348; 5) VAY, Giancarlo
Silkunas. Neorrealismo de esquerda e seu potencial de transformação da realidade social: uma analise a partir
de Friedrich Engels e Karl Kautsky. In Emporio do Direito. Disponível em: https://emporiododireito.com.
br/leitura/neorrealismo-de-esquerda-e-seu-potencial-de-transformacao-da-realidade-social-uma-analise-a-
partir-de-friedrich-engels-e-karl-kautsky
D) CORRETA. Conforme Sergio Salomão Shecaira nos traz em sua obra “Criminologia”, “Uma das maiores
consequências do processo de desviação é o agente ser capturado pelo papel desviante. (...) No que concerne ao
mergulho no papel desviado, podem-se destacar dois principais pontos de referência: como os outros definem o

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RODADA 02

ator e como o ator se define. De maneira bastante cruel, pode ser dito que, à medida que o mergulho no papel
desviado cresce, há uma tendência para que o autor do delito defina-se como os outros o definem. A personalidade
do agente se referenciará no papel desviado ainda que ele se defina como não desviado. (...) Surgirá uma espécie de
subcultura delinquente facilitadora da imersão do agente em um processo em espiral que traga o desviante cada
vez mais para a reincidência”.
E) CORRETA. A Política Criminal Atuarial se pauta por uma análise atuarial, ou de risco, como nas agências
de seguro, avaliando a probabilidade de determinado sujeito cometer uma ação antissocial como sua idade,
cor, classe social, antecedentes, escolaridade, uso de entorpecentes etc., não se pautando pela culpabilidade,
mas apenas pela periculosidade. Pretende excluir da sociedade os perigosos e criar mecanismos de controle
aos não perigosos (ou não aparentemente perigosos) como a suspensão condicional do processo ou os acordos
de não persecução penal. Não apresenta proposta inclusiva ou redutora de violência na sociedade, mas como
excludente dos revoltosos e protetora dos conformistas com o estado das coisas. Além disso, não enfrenta
o fato de que muitos desvios se dão justamente pelas condições de desigualdade que o Estado cria ou ao
menos permite, sendo muito cômodo apenas eliminar quem se opõe a sua vontade sendo que nada se faz para
melhorar a condição de vida do povo em geral. Autores: Robert Figlio, Thorsten Sellin e David Farrington.
Nome importante da crítica: Maurício Dieter. Alexandre Morais da Rosa, Jacinto Nelson de Miranda Coutinho
e Aury Lopes Jr. também são exemplos de juristas que vêm criticando a “lógica econômica” do “processo
eficiente”. Em obra conjunta de Alexandre e Julio Cesar Marcellino Junior, compara-se Eichmann7 ao “modelo
de servidor público que se aspira para os magistrados brasileiros, a partir da lógica de prevalência da economia
sobre o direito.” Em outro momento, Alexandre chega a dizer que “A razão eficiente que busca a condenação fast-
food implicou nos últimos anos na ‘McDonaldização’ do Direito Processual Penal: sentenças que são prolatadas
no estilo ‘peça pelo número’. A estandardização da acusação, da instrução e da decisão. Tudo em nome de uma
‘McPena-Feliz’”.

💡 GABARITO: B

PROFESSOR DANIEL CHIARETTI


E-mail: profcei.danielchiaretti@gmail.com

🏳 FILOSOFIA DO DIREITO E SOCIOLOGIA JURÍDICA


QUESTÃO 36. A partir da leitura da obra “Necropolítica”, de Achille Mbembe, julgue a assertiva INCOR-
RETA:
A) O racismo é uma forma de exercício do biopoder.
B) No contexto do estado de exceção os indivíduos são reduzidos aos seus corpos biológicos.
7 Oficial nazista que apenas cumpria ordens superiores, de forma burocrática e irrefletida, bem retratado na obra “Eichmann
em Jerusalém” de Hannah Arendt.

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RODADA 02

C) Na plantation o sujeito não tem um estatuto político.


D) O apartheid é um regime que inova radicalmente a forma de exercício de terror.
E) As colônias não eram organizadas de acordo com um modelo estatal.

💡 GABARITO COMENTADO

Nesta rodada quero explorar alguns pressupostos teóricos importantes para uma adequada compreensão da
obra Necropolítica, a qual será analisada com mais profundidade na aula em vídeo e nas demais rodadas.
A) CORRETA. De modo sumário, podemos definir biopolítica como uma racionalidade política que tem
a administração da vida e das populações como objeto. É a política que toma como seu objeto a própria
vida. O biopoder, a seu turno, é o modo como a biopolítica é utilizada na sociedade. Segundo Foucault, o
biopoder consiste no “conjunto dos mecanismos pelos quais aquilo que, na espécie humana, constitui suas
características biológicas fundamentais vai poder entrar numa política, numa estratégia geral de poder”.8 Este
biopoder opera na sociedade através de uma rede dispersa, que o autor denomina de dispositivo, que consiste
em todo mecanismo institucional, físico ou administrativo, bem como estruturas de saber, que exercem poder
sobre o corpo social. Justamente por envolver um exercício de poder que envolve aspectos biológicos de
populações, podemos situar o racismo como uma forma de exercício de biopoder. Como afirma Mbembe,
“racismo é acima de tudo uma tecnologia destinada a permitir o exercício do biopoder, ‘este velho direito
soberano de matar’”.9
B) CORRETA. O conceito de Estado de Exceção é desenvolvido por Giorgio Agamben a partir da obra
de Carl Schmitt e do próprio Michel Foucault. Carl Schmitt, no contexto de seu decisionismo, afirma que
“soberano é quem decide sobre o Estado de exceção”. Ou seja, é o soberano que toma a decisão última, que é
o estado de exceção caracterizado pela soberania ilimitada e a supressão da ordem existente. Agamben então
explora em sua obra Estado de Exceção como este conceito foi ampliado e largamente utilizado, como no
caso de prisioneiros em locais como Guantanamo ou Abu Ghraib, onde as garantias legais são suspensas.
Isso significa que essas pessoas são banidas da vida política e perdem qualquer status legal. Isso leva a uma
distinção entre o ser humano como um ser político, inserido em uma comunidade política com certo status, e
a “vida nua”, reduzida apenas ao biológico. Para Agamben, na contemporaneidade a exceção tornou-se a regra,
com o Estado tendo ação sobre esta vida nua sem qualquer intermediário: a autoridade aqui é exercida não
em face do cidadão de um Estado, mas sim um indivíduo natural, o que possibilita ao Estado gerir inclusive o
direito de viver ou morrer (concepção que está de acordo com a biopolítica de Michel Foucault).
C) CORRETA. A análise que Mbembe faz da plantation, ou seja, do regime de escravidão e trabalho rural
típico dos EUA, é muito importante para o desenvolvimento de seu conceito de Necropolítica. Diz o autor
que “no contexto da plantation, a humanidade do escravo aparece como uma sombra personificada. De fato, a
condição de escravo resulta de uma tripla perda: perda de um ‘lar’, perda de direitos sobre seu corpo e perda de

8 FOUCAULT, Michel, Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977-1978), São Paulo:
Martins Fontes, 2008, p. 3.
9 MBEMBE, Achille, Necropolítica, São Paulo: N-1, 2018, p. 18.

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RODADA 02

estatuto político. Essa tripla perda equivale a uma dominação absoluta, uma alienação de nascença e uma morte
social (que é expulsão fora da humanidade). Enquanto estrutura político-jurídica, a plantation é sem dúvida
um espaço em que o escravo pertence ao senhor. Não é uma comunidade porque, por definição, a comunidade
implica o exercício do poder de fala e de pensamento.”10 Esta divisão ecoa o trabalho de Hannah Arendt, que
ao analisar a situação de apátridas e refugiados no pós-Guerra na obra As Origens do Totalitarismo, salienta que
essas pessoas, sem qualquer tipo de status jurídico, são reduzidas a meros seres biológicos, sujeitos a toda sorte
de arbitrariedade por parte do Estado. E sequer os direitos humanos são úteis nesse caso, segundo a autora,
pois sem um Estado que reconheça esses direitos não há a possibilidade de vindicar direitos. Daí porque a
autora fala no “direito a ter direitos” nesta chave de acesso à cidadania. E os direitos aqui são pensados inclusive
na face política: sem esse status, o indivíduo é incapaz de ter uma voz que possa ser ouvida politicamente pela
sociedade, como ocorre no caso dos escravizados nas plantations.
D) INCORRETA. Mbembe, apoiado em outros teóricos, aponta que o regime do apartheid possui raízes
anterior no sistema colonial, no qual a burocracia utilizada a serviço da submissão racial de povos vencidos foi
utilizada pela primeira vez. Arendt, por exemplo, faz uma ligação importante entre o imperialismo colonial e
o próprio nazismo. O que houve a partir da 2ª Guerra Mundial, neste sentido, foi a utilização contra europeus
de métodos já utilizados nas colônias.
E) CORRETA. De acordo com o autor, as colônias funcionavam como “fronteiras”, locais habitados por
“selvagens” não humanizados e, consequentemente, não sujeitos ao direito. Não há uma discussão sobre firmar
tratados de guerra ou paz, típicos da política, pois esses povos estariam fora desta chave, sendo impossível
sujeitar a guerra colonial a normas legais e constitucionais. Como lembra Mbembe, “aos olhos do conquistador,
‘vida selvagem’ é apenas outra forma de ‘vida animal’”, de modo que “os selvagens são, por assim dizer, ‘seres
humanos naturais’, que carecem do caráter específico humano”. Então, destas assertivas, precisamos manter
uma ideia central de que o soberano não reconhece ou suspende o status de pessoa política de certos indivíduos,
reduzindo-os a corpos meramente biológicos que não contam com nenhum tipo de reconhecimento como
seres humanos passíveis de uma comunicação política recíproca e comunicativa.

💡 GABARITO: D

QUESTÃO 37. Sobre a Teoria dos Sistemas Sociais de Niklas Luhmann, aponte a alternativa correta:
A) A sociedade é um sistema omniabarcador.
B) Na teoria dos sistemas as trocas entre sistema e ambiente são diretas.
C) Com a modernidade há uma desdiferenciação dos sistemas sociais.
D) Na relação com ambiente ocorre uma amplificação da complexidade pelo sistema.
E) A teoria dos sistemas não é funcionalista.

💡 GABARITO COMENTADO.

10 Ibid., p. 27.

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A) CORRETA. O trabalho de Luhmann parte da diferenciação funcional dos sistemas na modernidade para
desenvolver uma teoria geral da sociedade como um sistema comunicativo constituído de subsistemas com
especialização de funções e autopoiéticos.11 Assim, o direito é um desses subsistemas sociais juntamente
com, por exemplo, a política e a economia. Ou seja, a sociedade é um sistema de comunicação que abarca
todos os sistemas sociais (omniabarcador).
B) INCORRETA. O sistema, em Luhmann, é pensado a partir de sua distinção com o “outro lado”, que
é o ambiente. O sistema não existe sem o ambiente. O autor busca inspiração na biologia: para lidar com
causalidade complexa, os organismos se fecharam em seus ambientes. Ao invés de relações simples e diretas
com o ambiente, organismos desenvolveram um âmbito limitado de respostas e uma base interna para
seleção. Esta base interna para seleção lhes dá autonomia, o que, em troca, permite-lhes desenvolver respostas
internas mais complexas ao ambiente (um exemplo é a própria consciência humana). Os sistemas não podem
desenvolver complexidade sem autonomia, a qual surge quando a base de seleção é interna a esse sistema.
Assim, as trocas não são diretas, ao contrário do que aponta assertiva.
C) INCORRETA. Com a complexificação da sociedade, sua secularização e o questionamento das verdades
universais, movimento típico da modernidade, Luhmann identifica um processo de fratura e diferenciação de
certas soluções sociais. Há uma diferenciação funcional diante do aumento das possibilidades comunicativas.
Subsistemas sociais passam a se especializar na solução de problemas que surgem nessa sociedade mais
complexa, de modo que direito, economia, arte, religião etc. passam a adquirir um caráter de autonomia. Não
há, ademais, uma hierarquia ou estratificação entre esses subsistemas. Este é um tópico importante, pois a teoria
dos sistemas corresponde a uma das tentativas de lidar com a complexificação da vida social na modernidade.
D) INCORRETA. Assim como ocorre no sistema de comunicação geral, cada subsistema social possui
uma complexidade menor que a do ambiente, extremamente caótico, e a comunicação interna dentro de
cada um leva em conta apenas certos elementos desse ambiente. Há, portanto, um processo de redução
da complexidade do ambiente em relação a cada subsistema. No direito, por exemplo, os fenômenos do
ambiente são classificados apenas como lícitos ou ilícitos. Neste sentido, cada sistema diferenciado possui
códigos de comunicação diversos, funções próprias, reproduz um tipo distinto de operação comunicativa,
programas e meios diversos, centros formais e gestores distintos. Caso não consiga manter esta identidade,
deixa de existir como subsistema e passa a integrar o ambiente.
E) INCORRETA. No que tange aos códigos de comunicação em cada sistema, estes se organizam de modo
binário: economia (ter/não ter), política (poder/não poder), direito (direito/não direito12) etc. A perspectiva
aqui é funcionalista, já que não há uma preocupação com a substância desses subsistemas, mas apenas a
função de cada um. Ademais, cada sistema desempenha uma função específica para a sociedade como um
todo: a comunicação jurídica, por exemplo, promove a generalização congruente de expectativas normativas, a

11 Conforme Gunther Teubner, um sistema autopoiético e um sistema que produz e reproduz seus próprios elementos
através da interação de seus elementos.
12 Tradução da expressão Recht/Unrecht. Há quem prefira o binômio lícito/ilícito, como Marcelo Neves, ou legal/ilegal,
juríco/não jurídico e justo/injusto.

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comunicação política toma decisões que vinculam a coletividade, a comunicação econômica trata do problema
da escassez etc. Assim, a função e o código fecham o sistema. Nenhum outro sistema pode exercer a função de
outro, sob pena de uma desdiferenciação funcional. É o que ocorre, por exemplo, quando uma ditadura impõe
o código político ao direito ou quando o mercado impõe suas regras econômicas a outros subsistemas.

💡 GABARITO: A

QUESTÃO 38. Acerca da Teoria do Estado de Hans Kelsen, aponte a alternativa correta:
A) Estado e Direito são encarados como fenômenos distintos.
B) A partir de uma abordagem sociológica o Estado é compreendido como uma ordem coercitiva.
C) A eficácia do Direito Positivo possui uma implicação direta para o reconhecimento do poder político
estatal.
D) O Estado é a ordem jurídica criada pela ordem jurídica internacional.
E) A comunidade jurídica é distinta da ordem jurídica.

💡 GABARITO COMENTADO.

O que é o Estado? Esta é a indagação que abre este tópico. Kelsen admite que é um termo que possui muitos
sentidos. Por isso, ele já adianta que vai se restringir a uma concepção puramente jurídica de Estado. O ponto
central desta concepção é que há uma unidade necessária entre Estado e Direito.13
Além disso, para compreensão deste tema é importante ter em mente o modelo de Direito kelseniano, em
especial sua concepção de validade e como ela se relaciona com a eficácia.
Vamos começar a análise da teoria do Estado de Kelsen usando as palavras do próprio autor. Assim como
faz na abertura da Teoria Pura do Direito, o início dos capítulos dedicados ao Estado elucida muito sobre o
objeto de Kelsen e seu método. Peço desculpas pelo tamanho da transcrição, mas a leitura direta do autor é
importante neste ponto:
A situação revela-se mais simples quando o Estado é discutido a partir de um ponto de
vista puramente jurídico. O Estado, então, é tomado em consideração apenas como um
fenômeno jurídico, como uma pessoa jurídica, ou seja, como uma corporação. Sua natureza,
desse modo, está determinada, em princípio, pela nossa definição anterior de corporação.
A única questão que resta é a de que modo o Estado difere de outras corporações. A
diferença deve ser encontrada na ordem normativa que constitui a corporação do Estado. O
Estado é a comunidade criada por uma ordem jurídica nacional (em contraposição a uma
internacional). O Estado como pessoa jurídica é uma personificação dessa comunidade ou
a ordem jurídica nacional que constitui essa comunidade. De um ponto de vista jurídico, o
problema do Estado, portanto, surge como o problema da ordem jurídica nacional.
O Direito positivo surge empiricamente na forma de ordens jurídicas nacionais relacionadas

13 Se tiver que decorar alguma coisa dessa rodada, que seja isso.

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entre si por uma ordem jurídica internacional. Não existe nenhum Direito absoluto; existem
apenas vários sistemas de normas jurídicas — o Direito inglês, o francês, o americano,
o mexicano, e assim por diante — cujas esferas de validade são limitadas de modos
característicos; e, junto a isso, um complexo de normas às quais nos referimos como Direito
internacional. Para definir o Direito, não é suficiente explicar a diferença entre as chamadas
normas jurídicas e as outras normas que regulam a conduta humana. Devemos também
apontar qual é a natureza específica desses sistemas de normas que são as manifestações
empíricas do Direito positivo, como eles estão delimitados e como se interrelacionam. Esse
é o problema que o Estado como fenômeno jurídico apresenta e que a teoria do Estado, na
condição de ramo da teoria do Direito, tem como tarefa resolver.14
Deste trecho já conseguimos extrair algumas relações que Kelsen estabelece entre o Estado, compreendido
como uma pessoa jurídica nacional, e as ordens normativas, bem como a relação dessas ordens nacionais com
o Direito Internacional.
Este ponto é importante porque se relaciona com a repulsa que Kelsen faz do que ele chama de dualismo: o
Estado seria uma coisa e o Direito outra. Segundo essa visão, “o Estado como realidade social está incluído
na categoria de sociedade; ele é uma comunidade. O Direito está incluído na categoria de normas; ele é um
sistema de normas, uma ordem normativa.”15 Kelsen vê aí um equívoco: não é possível separar o Estado como
comunidade jurídica de sua ordem jurídica. Por essa razão, “a comunidade jurídica a que chamamos de
‘Estado’ é a ‘sua’ ordem jurídica”.
Neste contexto, Kelsen vai negar um conceito sociológico de Estado. Mesmo quando os sociólogos afirmam
que o Estado é uma sociedade politicamente organizada, o que está em discussão é esse caráter normativo do
Estado:
Mas em que reside o caráter político dessa ordem? No fato de ser uma ordem coercitiva. O
Estado é uma organização política por ser uma ordem que regula o uso da força, porque ela
monopoliza o uso da força. Porém, como já vimos, esse é um dos caracteres essenciais do
Direito. O Estado é uma sociedade politicamente organizada porque é uma comunidade
constituída por uma ordem coercitiva, e essa ordem coercitiva é o Direito.16
E prossegue o autor:
O poder social é sempre um poder que, de um modo ou de outro, é organizado. O poder do
Estado é o poder organizado pelo Direito positivo – é o poder do Direito, ou seja, a eficácia
do Direito positivo.
Quando se fala de poder do estado, em geral se pensa em prisões e cadeiras elétricas,
metralhadoras e caminhões. Quando se fala de poder do Estado, em geral se pensa em
prisões e cadeiras elétricas, metralhadoras e canhões. Não se deve esquecer, entretanto, que

14 KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2005, pp. 261-262.
15 KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado, p. 263.
16 KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado, p. 273.

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tudo isso são coisas mortas, que se tornam instrumentos de poder apenas quando usados por
seres humanos, e que os seres humanos são movidos a usa-los com dado propósito apenas
por meio de comando que eles consideram como normas. O fenômeno do poder político
manifesta-se no fato de as normas que regulam o uso desses instrumentos se tornarem
eficazes. O “poder” não é prisões e cadeiras elétricas, metralhadoras e canhões; o “poder”
não é algum tipo de substância ou entidade por trás da ordem social. O poder político é a
eficácia da ordem coercitiva reconhecida como Direito.17
Vejamos então as assertivas:
A) INCORRETA. Há em Kelsen uma identidade entre Direito e Estado.
B) INCORRETA. O autor recusa uma abordagem sociológica, como visto acima.
C) CORRETA. Como visto acima, “[o] poder político é a eficácia da ordem coercitiva reconhecida como
Direito.”
D) INCORRETA. O Estado é um produto da ordem jurídica nacional.
E) INCORRETA. Como visto acima, não é possível separar o Estado como comunidade jurídica de sua ordem
jurídica.

💡 GABARITO: C

17 KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado, pp. 274-275.

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