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Recife, 2022
Introdução
Sobre o assunto relata Vicente Greco Filho, a competência é “o poder de fazer atuar a
jurisdição que tem um órgão jurisdicional diante de um caso concreto. Decorre esse poder
de uma delimitação prévia, constitucional e legal, estabelecida segundo critérios de
especialização da justiça, distribuição”.
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Existem ainda alguns regramentos específicos, como nos crimes de competência dos
Juizados Especiais e nos atos infracionais, em que nesses casos se aplica a teoria da
atividade. Já em relação aos crimes falimentares, se considera lugar do crime o local em
que foi decretada a falência.
Nos termos do art. 83 do CPP. Assim, em se tratando de crime permanente (ou crime
continuado), praticado no território de duas ou mais jurisdições, a competência será de
qualquer delas, e será definida pela prevenção, nos termos do art. 71 do CPP.
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artigo passou a estabelecer um critério, até então inexistente, de competência em razão
do foro do domicílio ou residência da vítima.
Se dois ou mais Juízes, na mesma comarca, forem competentes para julgar a demanda, a
competência será fixada pelo critério da distribuição, ou seja, a competência será fixada
naquele órgão jurisdicional ao qual fora distribuída a ação penal. Nos termos do art. 75
do CPP. Entretanto, tanto o critério da prevenção quanto o critério da distribuição não
passam de critérios de consolidação da competência territorial, pois a competência
daquele Juiz já existia antes da prevenção ou distribuição, tendo apenas se consolidado
quando da ocorrência de um destes fenômenos.
Existem casos em que a competência territorial poderá ser fixada levando-se em conta o
domicílio do réu, que será quando:
1- Não sendo conhecido o lugar da infração: será regulada pelo lugar do domicílio ou
residência do réu.
2- Se o réu tiver mais de uma residência: a competência será por meio de prevenção.
3- Se o réu não tiver residência ou for ignorado seu paradeiro: será competente o juiz que
primeiro tomar conhecimento do fato.
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Casuística
Quanto às espécies de infração penal há de se ficar atento à espécie de crime para fins de
fixação da competência territorial, dentre esses casos podemos citar:
1- Crimes de mera conduta: em relação a esses delitos, o tipo penal não prevê qualquer
resultado naturalístico. O tipo penal consiste, basicamente, na narrativa de algum
comportamento que se queira proibir ou impor, não fazendo menção à produção de
qualquer resultado material. Como exemplos, podemos citar os crimes de violação de
domicílio (CP, art. 150) e ato obsceno (CP, art. 233). Tais crimes consumam-se com a
simples prática da conduta, sendo o local da conduta, portanto, o foro competente para
processar e julgar o delito.
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ao foro do local onde efetivamente ocorrer o desvio de verba pública, e não ao do lugar
para o qual os valores foram destinados, o processamento e julgamento da ação penal.
4- Crimes qualificados pelo resultado: ocorrem quando o agente atua com dolo na conduta
e dolo quanto ao resultado qualificador, ou dolo na conduta e culpa no que diz respeito
ao resultado qualificador (crime preterdoloso), a exemplo do que ocorre com o crime de
lesão corporal qualificada pelo resultado aborto (CP, art. 129, § 2º, V). Em relação a tais
delitos, firma-se a competência pelo local da produção do resultado qualificador.
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em que o uso é considerado mero exaurimento para o autor do falsum, fixando-se a
competência, então, pelo lugar onde a falsificação se consumou, independentemente do
local do uso. Todavia, caso não seja conhecido o lugar da falsificação, fixa-se a
competência pelo local de uso do documento falso. Quanto ao juízo federal competente
para processar e julgar o delito de uso de passaporte falso, dispõe a súmula nº 200 do STJ
que “o juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de
passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou”. Destarte, mesmo que a falsidade
do passaporte seja constatada por agentes da imigração em um outro país, com posterior
deportação do agente para o Brasil, a competência do juízo federal será determinada não
pelo local em que o agente desembarcar, mas sim em virtude do local em que o passaporte
tiver sido apresentado para embarque. Afinal, no embarque, é imperativa a apresentação
do passaporte, consumando-se nesse ato o delito de uso de documento falso, ainda que a
verificação da falsidade somente ocorra no estrangeiro e haja posterior deportação e
reingresso do nacional. Não se pode confundir o delito de uso de passaporte falso com o
delito de falsificação de documento público, previsto no art. 297 do Código Penal. Nesse
caso, a competência será fixada em razão do local onde se efetuou a falsificação. Ainda
em relação ao crime de uso de passaporte falso, caso o agente seja preso em território
nacional ao fazer uso de passaporte estrangeiro falso, tendo em conta que o delito é
praticado em detrimento do serviço prestado na fronteira, em que a União, por meio da
Polícia Federal, fiscaliza o controle de ingresso e saída de estrangeiros do país, há de se
concluir pela competência da Justiça Federal do local em que o documento foi utilizado.
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partir do foro em que fica a responsável pelo respectivo processo de produção e
embalagem.
10- Fraude no pagamento por meio de cheque: a consumação do crime previsto no art.
171, § 2º, VI, do CP, ocorre no local da recusa do pagamento, aquela onde está a agência
bancária que não quis pagar o cheque. É nesse sentido o teor das súmulas 521 do STF e
244 do STJ.
11- Estelionato por meio de cheque falso: em relação a este delito, cujo juízo de tipicidade
se dá por intermédio do art. 171, caput, do CP, o foro competente será determinado a
partir do local da obtenção da vantagem ilícita. É nesse sentido o teor da súmula nº 48 do
STJ.
12- Apropriação indébita: consuma-se o delito previsto no art. 168 do CP no local em que
se dá a inversão da posse, independentemente do local onde o bem for encontrado.
Quando não for possível estabelecer com precisão o local da inversão da posse, o foro
competente será o do local onde o elemento subjetivo da apropriação indébita (animus
rem sibi habendi) puder ser avaliado por elementos objetivos, tais como o lugar da
prestação de contas, ou qualquer outro ato a partir do qual o agente externe sua vontade
de não restituir o bem que estava em sua posse ou detenção, transformando-as em
propriedade.
13- Pedofilia por meio da internet: consuma-se o delito de pedofilia por meio da internet
(Lei nº 8.069/90, art. 241-A, com redação dada pela Lei nº 11.829/08) no momento da
publicação das imagens, ou seja, aquele em que ocorre o lançamento na internet das
fotografias de pornografia infantil, pouco importando, para fins de fixação da
competência, o local em que se encontra sediado o provedor de acesso ao ambiente
virtual.