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COMPETÊNCIA CRIMINAL

Prof. André Márcio Costa Nogueira


Procurador Federal – AGU
Mestre em Direito e Instituições do Sistema de
Justiça
Jurisdição

1. Conceito
2. Princípios da Jurisdição
a) Princípio do juiz natural.
- art. 5º, LIII, CF/88 – ninguém pode ser processado
e julgado, senão pelo juiz competente, de acordo
com normas preestabelecidas.
- art. 5º, XXXVII, CF/88 – proibição de juízos e
tribunais de exceção.
Jurisdição

b) Princípio da investidura
c) Princípio da indeclinabilidade
- art. 5º, XXXV, CF/88
d) Princípio da indelegabilidade
- Cartas precatória e de ordem não ferem esse
princípio.
e) Princípio da improrrogabilidade
- Salvo hipóteses legais de prorrogação de
competência em casos de conexão.
Jurisdição

f) Princípio da inevitabilidade (ou irrecusabilidade)


- Salvo nos casos de:
- Suspeição – art. 254, CPP
- Impedimento – art. 252 e 253, CPP
- Incompetência – arts. 108 e 109, e 113 a 117,
todos do CPP.
OBS: as exceções de suspeição e impedimento
estão reguladas nos arts. 96 a 107, CPP.
Jurisdição

g) Princípio da inércia (ou da iniciativa da parte) –


ne procedat judex ex officio.
- Pode o juiz, de ofício, na busca da verdade real:
• Produção de prova imprescindível – art. 156, II e
404, CPP.
• Ordenar, mesmo antes do início da ação penal,
produção de prova antecipada urgentes e
relevantes, observada a necessidade, adequação
e proporcionalidade – art. 156, I, CPP.
Unidade da Jurisdição e
classificações doutrinárias

A jurisdição é UNA. Comporta para fins didáticos a


seguinte divisão:
MATÉRIA OBJETO GRADUAÇÃO FUNÇÃO
Civil Contenciosa Inferior Comum

Penal Voluntária Superior Especial

Trabalhista - - -

Eleitoral, - - -
Militar
Competência Criminal

1. Conceito.
2. Critérios para fixação: art. 69, CPP.
a) lugar da infração
b) domicílio ou residência do réu
c) natureza da infração
d) distribuição
e) conexão ou continência
f) prevenção
g) prerrogativa de função
Denominações doutrinárias

• Competência pelo lugar da infração –


chamada de ratione loci ou territorial
• Competência pela natureza da infração –
chamada de ratione materiae ou matéria
• Foro por prerrogativa de função – ratione
personae ou competência em razão da
pessoa.
Competência Absoluta e Relativa

Competência Absoluta Competência Relativa

Em razão da matéria ou Territorial


Em razão da pessoa
Considera-se prorrogada, se
não for alegada no prazo da
resposta escrita
Não se prorroga e pode ser
reconhecida a qualquer
tempo
Fases para determinação da
Competência
1ª Fase 2ª Fase 3ª Fase
Determinação do Determinação da Determinação da
Foro competente Justiça competente Vara competente

Critério do local da Critério da natureza Prevenção


infração da infração

Critério do Distribuição
domicílio do réu
Exemplo didático: Tício subtraiu dinheiro de caixa
eletrônico localizado dentro da agência da Caixa
Econômica Federal da Cohab em São Luís – MA. Foi
preso em flagrante.

1ª Fase 2ª Fase 3ª Fase


São Luís Justiça Federal Não aplica.
comum. Art. 109, Nenhuma atuou
IV, CF/88 antes da ação penal

Não aplica. Local Seção Judiciária do Flagrante foi


da infração Maranhão. 2 Varas distribuído para a 2ª
conhecido criminais Vara criminal.
CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃO DA
COMPETÊNCIA
COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA
INFRAÇÃO
• Mais importante regra. Art. 70, caput, 1ª parte, CPP.
• Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo
lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de
execução.
• O foro competente será firmado pelo local da consumação
do crime (teoria do resultado)
• Art. 6º, CP. Lugar do crime. (teoria da ubiquidade). Cuidado
para não confundir as teorias !
• Art. 14, I e II, CP: considera-se consumado o crime quando,
no caso concreto, se reúnem todos os elementos de sua
descrição penal.
• Considera-se tentado, quando, iniciada a execução, não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente
COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA
INFRAÇÃO

• Crime materiais. Local onde produziu o resultado


naturalístico.
• Crimes qualificados pelo resultado. Local da produção do
resultado qualificador.
• Crimes formais. Necessário saber o momento consumativo
do crime, para saber o local onde se consumou o crime.
• Crimes de mera conduta. Local da conduta.
• Crimes permanentes e continuados. Local onde ocorre a
consumação. Caso ocorra em dois ou mais locais, fixa-se a
competência pela prevenção (art. 71, CPP).
• Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente,
praticada em território de duas ou mais jurisdições, a
competência firmar-se-á pela prevenção.
COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA
INFRAÇÃO
• Crimes PLURILOCAIS. São crimes em que a ação e o
resultado ocorrem em lugares distintos, ambos dentro do
território nacional.
• Neste caso, a jurisprudência dominante entende, em
verdadeira hermenêutica contra legem, que prevalece o
local em que a conduta foi praticada, adotando o chamado
Princípio do esboço do resultado (Fernando de Almeida
Pedroso).
• Justifica-se pelos seguintes fundamentos: (i) busca da
verdade e otimização da prova e (ii) questão de política
criminal – caráter intimidatório geral. Vale tanto para
homicídio doloso, quanto para o culposo
• STF: RHC 116.200/RJ.
• STJ: HC 196.458/SP. ( Caso Mércia Nakashima )
COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA
INFRAÇÃO

• Crimes de ESPAÇO MÁXIMO. São aqueles em que a ação ou


omissão ocorrem no território nacional, e o resultado no
estrangeiro, ou vice-versa.
• Atentar para a regra do art. 6º, CP (Teoria da Ubiquidade). A
solução exige leitura do art. 70, §§1º e 2º, CPP.
• § 1º Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se
consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em
que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
• § 2º Quando o último ato de execução for praticado fora do
território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime,
embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu
resultado.
COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA
INFRAÇÃO

• Crimes cometidos no estrangeiro. São delitos praticados


integralmente fora do território brasileiro.
• Regra geral. Art. 5º, CP (Territorialidade).
• Exceção. Art. 7º, CP (Extraterritorialidade)
• CPP. Art. 88. No processo por crimes praticados fora do
território brasileiro, será competente o juízo da Capital do
Estado onde houver por último residido o acusado. Se este
nunca tiver residido no Brasil, será competente o juízo da
Capital da República.
• A competência será, de regra, da Justiça Comum Estadual
• Se for crime da alçada militar federal (ex: crime praticado
por militar do Exército na força de paz no Haiti), aplica-se o
art. 91, CPPM, sendo de competência da Justiça Militar da
União em Brasília – DF (11ª Circunscrição Judiciária Militar).
COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA
INFRAÇÃO

• Crimes cometidos a bordo de embarcações e


aeronaves.
• Analisar o art. 5º, §§1º e 2º, CP. Conceito de Território
Ficto, por extensão ou assimilação.
• Competência, de regra, da Justiça Federal (art. 109,
IX, CF/88)
• Conceito de embarcação: prevalece o entendimento
de que abrange somente as embarcações aptas à
navegação em alto-mar.
• Conceito de aeronave (art. 106, caput, da Lei
7.565/1986). É todo aparelho manobrável em vôo, que
possa sustentar-se e circular no espaço aéreo,
mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar
pessoas ou coisas.
COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA
INFRAÇÃO

• Crimes cometidos a bordo de embarcações e


aeronaves.
• Solução encontra-se nos arts. 89 a 91, CPP:
Art. 89. Os crimes cometidos em qualquer
embarcação nas águas territoriais da República, ou
nos rios e lagos fronteiriços, bem como a bordo de
embarcações nacionais, em alto-mar, serão
processados e julgados pela justiça do primeiro
porto brasileiro em que tocar a embarcação, após o
crime, ou, quando se afastar do País, pela do último
em que houver tocado.
COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA
INFRAÇÃO

• Art. 90. Os crimes praticados a bordo de aeronave


nacional, dentro do espaço aéreo correspondente
ao território brasileiro, ou ao alto-mar, ou a bordo
de aeronave estrangeira, dentro do espaço aéreo
correspondente ao território nacional, serão
processados e julgados pela justiça da comarca
em cujo território se verificar o pouso após o
crime, ou pela da comarca de onde houver partido
a aeronave.
• Art. 91. Quando incerta e não se determinar de
acordo com as normas estabelecidas nos arts. 89
e 90, a competência se firmará pela prevenção.
COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA
INFRAÇÃO

• Infrações cometidas na divisa de duas ou


mais comarcas.
• CPP. Art. 70. § 3º Quando incerto o limite
territorial entre duas ou mais jurisdições,
ou quando incerta a jurisdição por ter sido
a infração consumada ou tentada nas
divisas de duas ou mais jurisdições, a
competência firmar-se-á pela prevenção.
CRITÉRIO ALTERNATIVO OU
FACULTATIVO:
FORO DO DOMICÍLIO DO RÉU

a) Domicílio do réu como critério alternativo


– hipótese em que é desconhecido o local do
fato – art. 72, CPP
b) Domicílio do réu como critério facultativo
– hipóteses de ação penal privada, em que o
Querelante pode optar pelo foro do domicílio
do réu independentemente do lugar da
infração – art. 73, CPP.
COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE

Regras específicas da competência ratione personae:


• Predomina sobre a competência ratione loci (lugar da infração)
Ex: ocupante do cargo com prerrogativa de função junto ao
TJCE que comete crime em cidade de Pernambuco será
processado perante o TJCE.
• No julgamento da QO na APn 937 (03/05/2018), o STF decidiu
que em relação a Parlamentares Federais a prerrogativa
alcança unicamente os crimes praticados no exercício do
cargo que conferiu a prerrogativa e desde que tenha relação
com as respectivas funções.
• Cessado o mandato, o parlamentar perde o foro por
prerrogativa de função. Caso o processo esteja em curso no
Tribunal, deverá ser remetido à instância inferior, conforme
esteja ou não concluída a instrução do processo no STF.
COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE

Regras específicas da competência ratione personae:


• Após o final da instrução processual, com a publicação do
despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a
competência para processar e julgar ações penais não será mais
afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou
deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. STF.
Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
03/05/2018.
• Mandatos Cruzados. Se um Senador, que responde ação penal no
STF, foi eleito Deputado Federal, sem solução de continuidade, o
STF permanece sendo competente para a causa (mantem-se a
competência do STF nos casos de mandatos cruzados de
parlamentar federal). STF. Plenário. Inq. 4342 QO/PR, Rel. Min.
Edson Fachin, julgado em 1º/4/2022 (Info 1049).
COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE

• O STF ampliou esse entendimento. Vide Inq 4703 QO/DF,


Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/06/2018 no qual afirmou que
vale também para Ministros de Estado.
• O STJ também decidiu que a restrição do foro deve alcançar
Governadores e Conselheiros dos TCE’s. STJ. Corte
Especial. APn 857/DF, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julg. em 20/06/2018. e APn 866/DF, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julg. em 20/06/2018.
• STJ não é competente para julgar crime praticado por
Governador no exercício do mandato se o agente deixou o
cargo e atualmente voltou a ser Governador por força de uma
nova eleição. STJ. Corte Especial. QO na APn 874-DF, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2019 (Info 649)
COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE

• Na hipótese de Desembargadores não foi aplicada a mesma tese.


STJ. Corte Especial. QO na APN 878/DF. reconheceu sua
competência para julgar Desembargadores acusados da prática de
crimes com ou sem relação ao cargo, não identificando simetria
com o precedente do STF.
• Firmou-se a compreensão de que se Desembargadores fossem
julgados por Juízo de 1º grau vinculado ao Tribunal ao qual ambos
pertencem, criar-se-ia, em alguma medida, um embaraço ao Juiz
de carreira responsável pelo julgamento do feito.
• Em resumo, o STJ apontou discrímen relativamente aos
magistrados para manter interpretação ampla quanto ao foro por
prerrogativa de função, aplicável para crimes com ou sem relação
com o cargo, com fundamento na necessidade de o julgador
desempenhar suas atividades judicantes de forma imparcial.
COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE

• Prerrogativa de função e exceção da verdade (art. 85,


do CPP): A exceção da verdade proposta em processo
criminal em que o Querelante detém prerrogativa de função
deve ser julgada pelo Tribunal a que ele estiver vinculado.
Ex: em processo de Calúnia realizada contra Juiz de
Direito. Ajuizada exceção da verdade, esta será julgada
pelo TJ, onde juízes possuem prerrogativa de função.
Exceção da verdade = julgado procedente = querelante
praticou o crime que lhe foi imputado (fato não é falso).
Exceção da verdade = julgada improcedente =
querelante não praticou o crime que lhe foi imputado (fato é
falso).
COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE

• Competência do Tribunal do Júri Popular. Art. 5º, inciso


XXXVIII, da CF/88; artigos 69, III, e 74, ambos do CPP.
Compete ao júri processar e julgar os crimes dolosos contra a
vida.
• Conceito: Segundo R. Brasileiro (cit. Prof. Alfredo Cunha
Campos), “o júri é um órgão especial do Poder Judiciário de 1ª
instância, pertencente à Justiça Comum (Estadual ou Federal),
colegiado e heterogêneo (formado pelo juiz presidente e por
25 jurados), que tem competência mínima para julgar os
crimes dolosos contra a vida, temporário (porque constituído
para sessões periódicas, sendo depois dissolvido), dotado de
soberania quanto às suas decisões, tomadas de maneira
sigilosa e inspiradas pela íntima convicção, sem
fundamentação, de seus integrantes leigos”.
• Rol de crimes dolosos contra a vida: arts. 121 a 126, CP.
COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE

Considerações:
• Não há Tribunal do Júri na Justiça Eleitoral e nem na Justiça Militar;
• Dos 25 jurados, apenas 7 irão compor o conselho de sentença;
• O MP não faz parte do Tribunal do Júri (questão já cobrada em
prova oral);
• Perceba que o colegiado heterogêneo é um clássico exemplo de
competência funcional por objeto do juízo. Ou seja, determinadas
matérias serão de competência do juiz presidente e outras dos
jurados;
• A competência é mínima, pois poderá ser ampliada, inclusive por
lei ordinária. Por exemplo, em tese, seria possível ampliar a
competência do Júri para crimes de corrupção. Na prática é o que
acontece nos casos de conexão e continência.
COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE

• Competência da Justiça Militar: julgamento de crimes


tipificados no Código Penal Militar ou na legislação penal
comum, desde que a conduta possua enquadramento na
disciplina dos arts. 9º e 10, do CPM.
• Justiça Militar Federal – art. 124, caput, da CRFB: Processo e
julgamento de crimes militares praticados por integrantes das
Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica ou por civil).
• Justiça Militar Estadual – art. 125, §4º, da CRFB: Processo e
julgamento de crimes militares praticados por Militar Estadual
(Polícia Militar ou Bombeiros), não alcançando os cometidos por
civil. Ressalva-se a prática de crimes dolosos contra a vida de
civil, cuja competência é do Tribunal do Júri.
• Competência da Justiça do Trabalho: Questões atinentes às
relações de trabalho, não possuindo competência penal (art.
114, da CRFB).
COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE

Competência da Justiça Federal: Hipóteses previstas nos


incisos do art. 109, da CRFB.
• Crimes políticos – art. 109, IV (1ª parte): condutas previstas
no art. 2º, da Lei nº 7.170/1983.
• Crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou
interesses da União, entidade autárquica ou empresas
públicas federais - art. 109, IV, (2ª parte): não conduzem à
competência federal crimes contra sociedades de economia
mista. Também é excluído o processo das contravenções
(Súmula nº 38, do STJ), crimes eleitorais e militares.
• Crimes previstos em Tratado ou Convenção internacional,
quando iniciada a execução no país, o resultado ocorra ou deva
ocorrer no estrangeiro, e vice-versa – art. 109, V: É necessária a
previsão do crime em Tratado ou Convenção e também a
internacionalidade da conduta praticada.
COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE

• Causas relativas a Direitos Humanos a que se refere o §5º - art. 109, IV


– A: A atração da competência federal exige a ocorrência de grave
violação de Direitos Humanos, o que se verifica a partir de
circunstâncias do fato e de suas peculiaridades. Nesta hipótese,
faculta-se ao PGR suscitar perante o STJ o Incidente de
Deslocamento de Competência – IDC, visando atrair à Justiça Federal
questões que, ordinariamente, estariam afetas à Justiça Estadual (art.
105, §5º da CRFB).
• Crimes contra a Organização do Trabalho – art. 109, VI, 1ª parte: a
competência federal exige que se trate de crime que afete direitos dos
trabalhadores considerados coletivamente, não bastando a simples
lesão a direito individual.
COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE

• Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – SFN – art. 109, VI, 2ª


parte: casos determinados em lei, é necessário que haja previsão legal
da competência federal nestes casos, por exemplo, vide a Lei nº
7.492/1986.
• Crimes contra a Ordem Econômica e Financeira – art. 109, VI, in
fine: exige-se, também, expressa previsão legal da competência federal.
• Habeas corpus em matéria criminal de sua competência – art. 109,
VII, 1ª parte: trata-se de regra simétrica à do art. 650, §1º, do CPP,
estabelecendo a competência de órgãos judiciários federais para
julgamento dos habeas corpus deduzidos em matéria que lhes esteja
afeta.
COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE

∙ Habeas corpus na hipótese em que o constrangimento provier de


autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição
– art. 109, VII, 2ª parte: é o caso, por exemplo, de constrangimento provocado
por Tribunal Regional Eleitoral – TRE, sendo competente para julgamento do
habeas corpus o Tribunal Superior Eleitoral – TSE.
∙ Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar – art. 109, IX:
a) Basta que o crime seja cometido a bordo, não importando se em navegação ou
atracado, ou se em vôo ou em terra a aeronave. Também não importa onde
ocorreu o resultado, vale dizer, se a bordo ou em terra.
b) É irrelevante se são nacionais ou estrangeiros os sujeitos ativo e passivo do
crime.
COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE

c) Navio: predomina a orientação de que o art. 109, IX, da CRFB, para fins
de fixação da competência federal, refere-se a embarcações de porte
considerável, não abrangendo as de pequeno ou médio porte.
d) Aeronaves: na atualidade, também aqui se tem compreendido que a
competência federal exige que se trata de aeronave de porte considerável.
• Crime de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro – art. 109,
X, 1ª parte. Trata-se unicamente dos crimes de ingresso e permanência de
estrangeiro com utilização de nome falso ou atribuição de falsa identidade e
de reingresso de estrangeiro expulso (arts. 309 e 338, CP).
• Disputa sobre direitos indígenas – art. 109, XI: Não basta que o
indígena figure como autor ou vítima do crime, sendo necessário que se
trate de crime relacionado à disputa sobre direitos indígenas. Ex: homicídio
de indígenas em razão de disputa pela posse de terras por eles
tradicionalmente ocupadas.
COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE

• Competência da Justiça comum Estadual: é


residual, abrangendo todas as infrações penais que
não estejam afetas às Justiças Especiais Militar,
Eleitoral e à Justiça comum Federal.
CONEXÃO (Art. 76, CPP)

• Conceito: para Nucci, no processo penal, no entanto,


ganha contornos especiais, querendo significar o
liame existente entre infrações, cometidas em
situações de tempo e lugar que as tornem
indissociáveis, bem como a união entre delitos, uns
cometidos para, de alguma forma, propiciar,
fundamentar ou assegurar outros, além de poder ser
o cometimento de atos criminosos de vários agentes
reciprocamente.
• Pressupõe duas ou mais infrações penais.
CONEXÃO (Art. 76, CPP)

Obs: De acordo com Nucci a conexão e a continência


são institutos que visam, como regra, à alteração da
competência e não à sua fixação inicial. Abstraídas
ambas, o feito poderia ser julgado por determinado
juiz, escolhido pelas regras expostas nos incisos
anteriores. Entretanto, quando houver alguma razão
particular, de forma a facilitar a colheita da prova e
fomentar a economia processual, bem como para
evitar decisões contraditórias, permite a lei que a
competência seja modificada.
ESPÉCIES DE CONEXÃO

1. Conexão intersubjetiva (art. 76, inciso I do CPP):


a) Por simultaneidade ou ocasional (1ª parte): duas ou mais infrações
praticadas ao mesmo tempo por várias pessoas reunidas (sem vínculo
prévio).
Ex: pessoas que passam por uma rodovia, sem qualquer vínculo, furtam a
carga de caminhão acidentado.
b) Por concurso (2ª parte): duas ou mais infrações praticadas por várias
pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar.
Ex: associação criminosa p/ furtar veículos, alguns praticados em São Luís,
outros em Ribamar, outros em Raposa e, depois, reunindo-se para a divisão
dos lucros.
c) Por reciprocidade (3ª parte): duas ou mais infrações, praticadas por
várias pessoas, umas contra as outras.
Ex: duas pessoas desferem tiros, uma contra a outra.
CONEXÃO OBJETIVA (Art. 76, II do CPP) e
INSTRUMENTAL (Art. 76, III, do CPP)

2. Conexão objetiva (art. 76, inciso II, do CPP):


a) Teleológica (1º verbo): infração praticada para facilitar o
cometimento de outro crime.
Ex: lesões corporais contra pai de uma criança visando
sequestra-la.
b) Consequencial (verbos remanescentes): infração
praticada para ocultar, conseguir a impunidade ou
vantagem de outro crime já cometido.
Ex: ocultação de cadáver para encobrir homicídio.
3. Instrumental ou Probatória (art. 76, III, CPP): ocorre
quanto a prova de uma infração interfere na prova de outra.
Ex: a prova do furto interfere na prova da receptação.
CONTINÊNCIA (Art. 77, CPP)

• Conceito: Para Nucci a continência provém de


continente, aquilo que contém ou tem capacidade
para conter algo. No contexto processual penal,
significa a hipótese de um fato criminoso conter
outros, tornando todos uma unidade indivisível.
Assim, pode ocorrer continência no concurso de
pessoas, quando vários agentes são acusados da
prática de uma mesma infração penal e também
quando houver concurso formal (art. 70, CP), com
seus desdobramentos previstos nas hipóteses de
aberratio (arts. 73 e 74, CP).
• Pressupõe uma única infração penal.
ESPÉCIES DE CONTINÊNCIA

1. Concursal ou cumulação subjetiva (art. 77, I, CPP):


Infração praticada em concurso de agentes.
Ex: furto praticado por várias pessoas ajustadas.
2. Por cumulação objetiva (art. 77, II. CPP): infrações
cometidas em concurso formal.
Ex1: motorista de ônibus que imprudentemente, colide o veículo
causando a morte de vários passageiros – art. 70, CP;
Ex2: desejando matar Pedro (em aberratio ictus complexa), o
agente desfere um tiro que, além de Pedro, também atinge João
(art. 73, §2º, 2ª parte, CP) e
Ex3: aberratio delicti (ex: agente visando causar dano, atira
pedra contra uma vidraça, atingindo, também, pessoa que
passava pelo local – art. 74, 2ª parte, CP).
REGRAS APLICÁVEIS NAS
HIPÓTESES DE CONEXÃO E
CONTINÊNCIA
• Competência do júri e de outro órgão de jurisdição comum (art.
78, I, CPP): Prevalece a competência do júri.
Ex: Estupro seguido de homicídio (crime doloso contra a vida). Ambos
serão julgados pelo júri.
• Concurso de jurisdições da mesma categoria (art. 78, II, CPP):
a) 1º critério: lugar da infração mais grave.
Ex: furto qualificado em Rosário e receptação em São Luís.
Competente o juízo de Rosário.
b) 2º critério: lugar em que praticado o maior número de infrações.
Ex: cinco furtos simples em Rosário e uma receptação em São Luís.
Competente o juízo de Rosário.
c) Prevenção. Se não for possível aplicar os dois critérios anteriores.
Ex: crime A e B, com penas iguais, ocorridos em locais distintos. Sendo
que um deles tomou conhecimento.
REGRAS APLICÁVEIS NAS
HIPÓTESES DE CONEXÃO E
CONTINÊNCIA
• Concurso de jurisdições de categorias distintas (art. 78, III,
CPP):
a) Se nenhuma ou apenas uma das competências forem fixadas
por norma constitucional: há predomínio da jurisdição mais
graduada.
Ex: Juiz estadual (foro por prerrogativa de função no Tribunal de
Justiça – art. 96, III, CRFB) e cidadão comum (sem foro por
prerrogativa de função) cometem lesão corporal grave. Ambos
serão julgados pelo Tribunal de Justiça (Súmula nº 704, STF).
b) Se ambas as competências forem fixadas por norma
constitucional:
Ex: Juiz estadual (foro por prerrogativa de função no Tribunal de
Justiça – art. 96, III, CRFB) e cidadão comum (sem prerrogativa
de função) cometem homicídio (foro constitucional junto ao
Tribunal do Júri). O juiz será julgado pelo TJ e o cidadão comum
pelo Júri.
REGRAS APLICÁVEIS NAS
HIPÓTESES DE CONEXÃO E
CONTINÊNCIA
• Concurso entre a jurisdição comum (federal e estadual) e a
especial (art. 78, IV, CPP):
a) Conexão entre crime comum e crime militar: crime comum será
julgado pela justiça comum e o crime militar será julgado pela justiça
militar (art. 79, I, CPP);
b) Conexão entre crime comum e crime eleitoral: ambos serão
julgados pela Justiça Eleitoral (art. 78, IV, CPP).
• Hipóteses de separação obrigatória dos processos (art. 79, CPP):
a) Concurso entre jurisdição comum e jurisdição militar (art. 79, I,
CPP): crime comum será julgado pela justiça comum e o crime militar
será julgado pela justiça militar;
b) Concurso entre jurisdição comum e Justiça da Infância e da
Juventude (art. 79, II, CPP): O Agente imputável (maior) será julgado
pela Justiça comum e o menor de 18 anos pelo Juizado da Infância e
da Juventude.
PROCESSOS DE VERIFICAÇÃO DA
COMPETÊNCIA

• Insanidade mental de corréu apurada em incidente:


havendo corréus e sobrevindo, depois do fato
criminoso, a incapacidade total ou parcial de um deles
– o que implica suspensão do processo criminal em relação
ao incapaz (art. 152, CPP) – opera-se a cisão do processo,
que prossegue apenas em relação ao acusado capaz. –
hipótese de separação obrigatória de processos penais,
prevista no art. 79, §1º, CPP.
• Incompatibilidade entre as recusas de jurados,
havendo 2 ou mais réus com defensores distintos: se,
em razão das recusas, não for possível obter o número de
7 jurados para formar o Conselho de Sentença, haverá a
separação de julgamentos (art. 469, §1º, CPP),
submetendo-se ao júri, na data aprazada, apenas 1 dos
réus, segundo os critérios legais (art. 469, §2º, CPP).
PROCESSOS DE VERIFICAÇÃO DA
COMPETÊNCIA

• Separação facultativa dos processos – art. 80, CPP:


a) Infrações praticadas em circunstâncias de tempo e de lugar diferentes;
b) Hipótese de excessivo número de acusados, a fim de não prolongar a
a prisão provisória de qualquer deles ou por outro motivo relevante.
• Perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdicionis) – art. 81, CPP:
a) Regra (art. 81, caput, CPP): Reunidos os processos em face de
conexão ou continência e definida a competência de determinado juízo,
ainda que, no processo pelo crime que atraiu a competência,
operando-se a absolvição do réu ou a desclassificação do crime, o
juízo prossegue competente. (ex: vide Art. 492, §§1º e 2º, do CPP – 2ª
fase)
b) Exceção (art. 81, p. único, CPP): tratando-se de conexão entre crime
doloso contra a vida e outro crime, sem essa natureza, impronunciado
ou absolvido o réu (1ª fase do procedimento do júri – vide C/C §3º, do
art. 74, CPP), pelo primeiro deles, ou desclassificado o crime doloso
contra a vida para outro crime, afasta-se a jurisdição da Vara do júri,
sendo o processo enviado ao juízo competente.

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