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1 – Distinga competência material de competência funcional.

Competência material tem o


mesmo significado que competência em razão da matéria?
R: Segundo Fernando Capez (2023, p. 103): “a competência material é ditada por
três aspectos: (i) ratione materiae (CPP, art. 69, III)[...]; (ii) ratione personae
(CPP, art. 69, VII) [...] e (iii) ratione loci (CPP, art. 69, I e II) [...]. Nesse critério de
classificação, competência material é um termo mais amplo do que competência
ratione materiae.”. O autor define também a competência funcional, ditada por outros
três aspectos: “ (i) fase do processo{...]; (ii) objeto do juízo[...] e grau de jurisdição”.
Entendemos então que enquanto a competência material define a área de
atuação do tribunal, a competência funcional determina as atividades
específicas que ele pode realizar durante o processo judicial.
O autor também nos dá a entender que sim, competência material tem o
mesmo significado que competência em razão da matéria (ratione materiae
(CPP, art. 69, III). Pela natureza dos delitos, os juízes só podem conhecer de
determinadas causas, sendo esta forma de jurisdição determinada por lei,
diversa daquela prevista na Constituição Federal (CF, art. 5º, XXXVIII), ele
determina quais tipos de casos um determinado tribunal pode ouvir, levando
em consideração sua especialização e experiência na área específica do
direito relevante para o caso.

2- Quais são as Justiças Especiais? Todas têm competência penal?


R:São elas: a Justiça Eleitoral, a Justiça Militar Federal e Justiça Militar Estadual, a
Justiça do Trabalho e como exceção a Jurisdição Política (art. 52, I e II, CF, crimes
praticados por certas autoridades). Não, a Justiça do Trabalho e a Justiça Militar
Estadual, em geral, não possuem competência penal, há uma competência
penal específica para cada uma delas. A Justiça Eleitoral é responsável por
questões relacionadas às eleições, não trata diretamente de crimes penais. Na
Justiça Militar Federal há uma competência penal específica para crimes
militares. Elas têm competências específicas ligadas a seus domínios, mas
não se concentram majoritariamente em casos penais.

3- Quais as repercussões que a Lei no 13.491/2017 trouxe para a competência penal da


Justiça Militar?
R: Até o advento dessa lei, antes de alterar o art. 9 do CPM, entendia-se que os crimes
previstos em leis especiais não eram da competência da Justiça Militar, sendo
julgados pela justiça comum, tal lei afetou substancialmente a competência da
Justiça Militar da União e também estadual, atingindo também os crimes previstos na
legislação penal extravagante (JR., Aury L., 2023, p.126).

4- A Justiça Militar Estadual pode julgar um civil pela prática de crime?


R: Não. De acordo com Aury L. Jr. (2023, p.128): “a Constituição adotou um critério
objetivo-subjetivo. Ou seja, deve ser crime militar praticado por militar do Estado
(policiais militares bombeiros ou policiais rodoviários estaduais), descartando
completamente a possi­bilidade de um civil ser julgado na Justiça Militar Estadual.”
5- Liste e explique as seis principais consequências do julgamento da AP 937 pelo Supremo
Tribunal Federal para a competência por prerrogativa de função?
R: “No julgamento da questão de ordem na AP 937, por maioria de votos, o Plenário
do Supremo Tribunal Federal decidiu que após o encerramento da instrução criminal,
não cabe mais alteração do juízo competente, bem como que o foro por prerrogativa
de função conferido aos deputados federais e senadores se aplica apenas a crimes
cometidos no exercício do cargo e em razão das funções a ele relacionadas.”
(CAPEZ, 2023, p. 39). Suas consequências são: (i) restrição da competência: A
sentença impõe limitações significativas à jurisdição por meio do privilégio funcional,
também conhecido como foro privilegiado. Agora, apenas os crimes cometidos
durante o mandato e os a eles relacionados serão julgados em instância superior; (ii)
Redução do número de autoridades com foro privilegiado: A decisão resultou na
redução do número de autoridades com direito a jurisdição privilegiada. Esse
privilégio é concedido apenas às autoridades que ocupam cargos constitucionais
específicos, excluindo-se aquelas com cargos inferiores ou com menos funções
correlatas; (iii) Descentralização dos processos: Devido à jurisdição limitada, muitos
casos que antes eram julgados por um tribunal superior serão transferidos para
tribunais de primeira instância, estaduais ou federais, permitindo uma distribuição
mais equilibrada dos casos e reduzindo a carga de trabalho dos tribunais superiores;
(iv) Agilidade no trâmite processual: Espera-se que o fluxo processual seja mais
rápido, pois o processo é descentralizado. Os tribunais de primeira instância tendem
a ter estruturas mais flexíveis e cargas de trabalho menores, o que pode levar a
julgamentos judiciais mais eficientes e rápidos; (v) Fortalecimento da Justiça de
base: À medida que os casos são reatribuídos, os tribunais de primeira instância, os
tribunais estaduais e os tribunais federais ganham maior relevância nas decisões das
autoridades. Isso poderia fortalecer o desempenho desses tribunais,
concentrando-se nos magistrados e na estrutura judicial básica; (vi) Igualdade
perante a lei: a AP 937 visa causar maior paridade ante a norma e evitar privilégios e
discriminações indevidas por parte do poder público. Ao limitar tribunais
privilegiados, as autoridades serão julgadas sob as mesmas regras e nos mesmos
tribunais que os cidadãos comuns, fortalecendo assim os princípios de igualdade e
equidade no sistema judicial.

6- Qual a repercussão na competência por prerrogativa de função do princípio da simetria


em relação ao deputado estadual?
R: Segundo o professor Aury Lopes Jr (2023, p. 136): “Algumas pessoas, por
exercerem determinadas funções, têm a prerrogativa de serem julgadas
originariamente por determinados órgãos.”. Segundo ele, se um deputado estadual é
julgado originariamente pelo TJ, a decisão não permite reexame da prova do
processo, mas permite recurso especial e extraordinário para discutir possível
violação de norma federal ou constitucional e no caso de quem sofre um
julgamento originado pelo STF, não existe duplo grau de jurisdição. Para Fernando
Capez (2023, p.39): “encerrada a função parlamentar, cessa automaticamente o
foro especial por prerrogativa de função”

7- Havendo a prática da contravenção contra bens, serviços ou interesse da União ela será
julgada pela Justiça Federal?
R: Não, de acordo com a súmula 38 do STJ: “Compete à justiça estadual comum, na
vigência da constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que
praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades.”

8- Qual a distinção, em termos de competência territorial, entre os crimes à distância


(espaço máximo) e os crimes plurilocais?
R: De acordo com Fernando Capez (2023, p. 104): “No caso de um crime ser
praticado em território nacional e o resultado ser produzido no estrangeiro
(crimes a distância ou de espaço máximo), aplica-se a teoria da ubiquidade,
prevista no art. 6º do Código Penal; o foro competente será tanto o do lugar da
ação ou omissão quanto o do local em que se produziu ou deveria se produzir
o resultado. Assim, o foro competente será o do lugar em que foi praticado o
último ato de execução no Brasil (art. 70, § 1º), ou o local estrangeiro onde se
produziu o resultado. Por exemplo: o agente escreve uma carta injuriosa em
São Paulo e a remete para a vítima, que lê a correspondência ofensiva à sua
honra em Buenos Aires. O foro competente será tanto São Paulo quanto
Buenos Aires.”, e em relação ao crime plurilocal, o que ocorre em um mesmo
país mais em locais diferentes, o autor nos diz que: “aplica-se a teoria do
resultado, prevista no art. 70 do Código de Processo Penal: a competência
será determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. Por
exemplo: o agente esfaqueia a vítima em Marília e esta vem a morrer em São
Paulo. O foro competente é São Paulo.”

9- Qual é a posição da doutrina com relação continuidade da aplicação das Súmulas 521 do
STF, Súmula 244 do STJ e 48 do STJ, após a entrada em vigor da Lei no 14.155/2021?
R: A lei 14.155/2021 incluiu o § 4º no art. 171, CP (crime de estelionato). A súmula 521
nos diz que: “O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos,
é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado”. Súmula 244: “Compete
ao foro do local da RECUSA processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque
sem provisão de FUNDOS.”. Segundo Aury Lopes Jr. (2023, p.144) “com a inserção do
§ 4º, a competência está expressamente definida na lei, será a do local do domicílio
da vítima, ainda que a recusa do pagamento tenha se dado em outro lugar.”. Súmula
48 : “COMPETE AO JUÍZO DO LOCAL DA OBTENÇÃO DA VANTAGEM ILÍCITA
PROCESSAR E JULGAR CRIME DE ESTELIONATO COMETIDO mediante falsificação
de cheques”, a regra a ser aplicada é o caput do art. 70 do CP.

10- Distinga conexão de continência, explicando cada uma de suas espécies.


R: “São verdadeiras causas modificadoras da competência e que têm por fundamento
a necessidade de reunir os diversos delitos conexos ou os diferentes agentes num
mesmo processo, para julgamento simultâneo.” (JR., Aury L., 2023, p. 145). A
conexão ocorre quando duas ou mais infrações estão ligadas entre si por algum tipo
de vínculo ou relação, os casos de conexão estão previstos no art. 76 do CPP. Suas
espécies são: (i) intersubjetiva ocasional ou por simultaneidade: duas ou mais
infrações praticadas ao mesmo tempo, por diferentes pessoas reunidas (art. 76, I,
parte 2), exemplo: torcedores que depredam estádio; (ii) intersubjetiva concursal:
várias infrações praticadas por várias pessoas em concurso, ainda que diversas de
tempo e lugar (art. 76, I, parte 2), exemplo: quadrilha de sequestradores; (iii)
Intersubjetiva por reciprocidade: praticada por várias pessoas, umas contra as outras
(art.76, I, parte 3); (vi) objetiva ou teológica: infração praticada por uma ou várias
pessoas, uma praticada para facilitar a execução de outra, garantir
impunidade/vantagem ou oculta, ex: homicídio seguido de ocultação de cadáver; (v)
vínculo probatório ou instrumental: A prova de um crime afeta a prova do outro ou
Quando a existência de um crime é condicionada à existência prévia de outro crime,
exemplo: receptação ou ocultação de bens. A continência ocorre quando uma causa
está contida na outra, está prevista no art. 77, CPP. Suas espécies são: (i) cumulação
subjetiva: quando duas ou mais pessoas são acusadas pela mesma infração,
permitindo o julgamento simultâneo. Não há uma pluralidade de crimes, mas sim de
pessoas envolvidas; (ii) cumulação objetiva: múltiplas condutas são consideradas
como um único delito, por meio de uma ficção legal. Isso ocorre quando o agente, por
meio de uma única ação ou omissão, comete dois ou mais crimes; exemplo: erro de
execução (aberratio ictus, art. 73, CP), resultado diverso do pretendido (art. 74, CP) e
concurso formal (art. 70, CP).

REFERNCIAS

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. São Paulo: Editora Saraiva, 2023.
E-book. ISBN 9786553626072. Disponível em:
https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786553626072/. Acesso em: 30 mai.
2023.
FAGA, Tânia Regina T. Vade Mecum de Jurisprudência - STF e STJ Julgados
Relevantes Comentados. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2014. E-book. ISBN
978-85-309-5724-7. Disponível em:
https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5724-7/. Acesso em: 10
jun. 2023.
JR., Aury L. Direito processual penal. São Paulo: Editora Saraiva, 2023. E-book. ISBN
9786553626355. Disponível em:
https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786553626355/. Acesso em: 10 jun.
2023.

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