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DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE – 2022-2

1. CONCEITO DE PUNIBILIDADE
Quando alguém, dotado de culpabilidade, pratica fato típico e antijurídico,
o jus puniendi do Estado, até então abstrato, torna-se CONCRETO, ou seja,
aparece para o Estado o direito de julgar e de impor a sanção penal. A esta
possibilidade chama-se PUNIBILIDADE.
A PUNIBILIDADE NÃO FAZ PARTE DA ESTRUTURA DO CRIME (QUE
É FATO TÍPICO E ANTIJURÍDICO) E NEM DA CULPABILIDADE (QUE É
PRESSUPOSTO DA PENA – CONCEITO BIPARTIDO DO CRIME). A
PUNIBILIDADE É A POSSIBILIDADE DE O ESTADO APURAR A
EXISTÊNCIA DO CRIME E DA CULPABILIDADE E, SE FOR O CASO, IMPOR
A SANÇÃO PENAL.
Assim, a prática de um fato típico e ilícito, sendo culpável o sujeito,
faz surgir a PUNIBILIDADE, QUE É A POSSIBILIDADE JURÍDICA DE O
ESTADO APLICAR A SANÇÃO PENAL, OU SEJA, A PUNIBILIDADE
CONSISTE EM UMA CONSEQUENCIA DA INFRAÇÃO PENAL. NÃO É SEU
ELEMENTO, RAZÃO PELA QUAL O CRIME E A CONTRAVENÇÃO PENAL
PERMANECEM ÍNTEGROS COM SUPERVENIÊNCIA DE CAUSA EXTINTIVA
DA PUNIBILIDADE. DESAPARECE DO MUNDO JURÍDICO SOMENTE O
PODER PUNITIVO ESTATAL: O ESTADO NÃO PODE MAIS PUNIR, NADA
OBSTANTE A EXISTÊNCIA CONCRETA E INAPAGÁVEL DE UM ILÍCITO
PENAL. EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS, ENTRETANTO, A EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE ELIMINA A PRÓPRIA INFRAÇÃO PENAL. ESSE FENÔMENO
SOMENTE É POSSÍVEL COM A ABOLITIO CRIMINIS E COM A ANISTIA,
POIS OS SEUS EFEITOS POSSUEM FORÇA PARA RESCINDIR INCLUSIVE
EVENTUAL SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA.

2. CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE


Razões de Política Criminal fazem com que, por vezes, a lei condicione o
surgimento da punibilidade ao concurso de requisitos ou circunstâncias de
caráter objetivo, independentes da conduta do agente e exteriores ao dolo, ou
seja, via de regra, a prática de um crime faz surgir a punibilidade, porém,
existem situações em que a punibilidade dependerá de algumas causas
externas ao crime e ao dolo do agente. São as chamadas CONDIÇÕES
OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE e encontram-se dispersas na legislação.
Exemplos: para que ocorra a punição por crime falimentar, exige-se a prolação
da sentença declaratória de falência. Da mesma forma, para que o crime
praticado por brasileiro no estrangeiro possa ser punido, há a necessidade de
que o fato também seja punível no país em que foi praticado (CP, art. 7º, §
2º, b ).
NÃO SE DEVE CONFUNDIR CONDIÇÃO OBJETIVA DE
PUNIBILIDADE COM CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. A CONDIÇÃO DE

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PROCEDIBILIDADE DIZ RESPEITO À AÇÃO PENAL E É AFETA AO DIREITO
PROCESSUAL; sem esta não se pode ajuizar a ação penal. Exemplo:
representação do ofendido quando necessária.

3.ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS
Ainda que exista fato típico e antijurídico e agente culpável, é possível
ser obstada a imposição da pena abstratamente cominada, por razões de
política criminal, mediante a verificação de determinadas circunstâncias
pessoais. Chamam-se tais circunstâncias de ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS e
encontram-se expressamente previstas na legislação penal. Devem estar
presentes no momento do delito e são inerentes ao agente, não se comunicando
a eventuais coautores e partícipes.

AS ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS POSSUEM A MESMA NATUREZA


JURÍDICA DAS CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE, ou seja, há
crime e culpabilidade, mas não há punibilidade em razão de condições pessoais
do autor do delito, tais como ser filho da vítima do delito de furto por si
praticado; por ter auxiliado o próprio pai, autor de delito, a fugir da ação da
polícia etc. Por isso, está vedada a propositura da ação penal ou mesmo a
instauração de inquérito policial acerca desses fatos, salvo se houver a
participação de terceira pessoa no delito ou se forem necessárias outras
investigações para a apuração da natureza jurídica do crime praticado.

IMUNIDADES PENAIS ABSOLUTAS – prevê o art. 181 do CP que é


isento de pena quem comete crime contra o patrimônio, sem emprego de
violência ou grave ameaça, em prejuízo do cônjuge, na constância da sociedade
conjugal, de ascendente ou de descendente. Haverá também imunidade penal
absoluta no crime de favorecimento pessoal (art. 348, § 2º do CP) se quem
presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso.

EXCEÇÕES ÀS IMUNIDADES PENAIS – de acordo com o art. 183, não


se aplicam as imunidades absolutas (art. 181 do CP) ou relativas (art. 182 do
CP): I – Se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja
emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II – ao estranho que participa
do crime; e III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
superior a 60 anos (inciso incluído pela Lei n.10.741/2003 – Estatuto do
Idoso).
IMUNIDADES PENAIS ABSOLUTAS – prevê o art. 181 do CP que é isento de
pena quem comete crime contra o patrimônio, sem emprego de violência ou
grave ameaça, em prejuízo do cônjuge, na constância da sociedade conjugal,
de ascendente ou de descendente. Haverá também imunidade penal absoluta no
crime de favorecimento pessoal (art. 348, § 2º do CP) se quem presta o
auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso.

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EFEITOS DAS CAUSAS EXTINTIVAS
As causas extintivas da punibilidade poderão ter efeitos amplos ou
restritos, conforme o momento em que se verifiquem. CASO OCORRAM
ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA PENAL
CONDENATÓRIA, IMPEDIRÃO QUAISQUER EFEITOS DECORRENTES DE
UMA CONDENAÇÃO CRIMINAL, POIS FAZEM EXTINGUIR A PRETENSÃO
PUNITIVA ESTATAL.
POR OUTRO LADO, SE OCORREREM DEPOIS DO TRÂNSITO EM
JULGADO, DE REGRA, SOMENTE TÊM O CONDÃO DE APAGAR O EFEITO
PRINCIPAL DA CONDENAÇÃO, QUE É A IMPOSIÇÃO DA PENA (OU
MEDIDA DE SEGURANÇA). As exceções são a ANISTIA E A ABOLITIO
CRIMINIS (quando um fato deixa de ser considerado criminoso por lei ou
norma de complementação posterior), as quais, mesmo sendo posteriores ao
trânsito em julgado da sentença condenatória, atingem todos os efeitos penais
da sentença condenatória, principais e secundários, permanecendo intocáveis,
somente os efeitos civis.

6. COMUNICABILIDADE DAS CAUSAS EXTINTIVAS DA


PUNIBILIDADE: SÃO CAUSAS QUE SE COMUNICAM AOS COAUTORES E
PARTÍCIPES, VALE DIZER, OCORRENDO COM RELAÇÃO A UM DELES,
ESTENDE-SE A TODOS: a) o perdão para quem o aceitar; b) a abolitio
criminis; c) a decadência; d) a perempção; e) a renúncia ao direito de queixa;
f) a retratação no crime de falso testemunho – art. 342, § 2º, CP.
SÃO CAUSAS QUE NÃO SE COMUNICAM, ABRANGENDO APENAS O
COAUTOR OU PARTÍCIPE ESPECÍFICO, QUE PREENCHA O PERFIL
DESTACADO EM LEI: a) a morte do agente; b) o perdão judicial; c) a graça,
o indulto e a anistia (que pode incluir ou excluir coautores, conforme o caso);
d) retratação do querelado na calúnia ou difamação (art. 143, CP); e) a
prescrição (conforme o caso. Ex: se um agente é menor de 21 anos e o outro
não é, a prescrição com relação ao primeiro computa-se pela metade).

7.CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE PREVISTAS NO ART. 107 DO


CP
​MORTE DO AGENTE
A extinção da punibilidade no caso de MORTE DO AGENTE decorre de
dois PRINCÍPIOS BÁSICOS: MORS OMNIA SOLVIT (a morte tudo apaga) e
o de que NENHUMA PENA PASSARÁ DA PESSOA DO DELINQUENTE (art.
5º, XLV, CF, 1ª. parte). Dessa forma, o óbito do sujeito ativo da infração
penal apaga todos os efeitos penais possíveis da prática de um delito. Nem
poderia ser diferente, pois a CF foi clara ao determinar que a pena não
poderá passar da pessoa do condenado (salvo a obrigação de reparar o dano e
a decretação do perdimento de bens – art. 5º, LXV). O critério legal

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proposto pela Medicina é a chamada MORTE CEREBRAL, nos termos da Lei n.
9.434/97, que regula a retirada e transplante de órgãos. A morte somente
pode ser provada mediante certidão de óbito, uma vez que o art. 155 do CPP
exige as mesmas formalidades da lei civil para as provas relacionadas ao
estado das pessoas (nascimento, morte, casamento, parentesco etc.).
Caso se apure, após o trânsito em julgado da decisão que extinguiu a
punibilidade, que a certidão de óbito era falsa, entende a maioria da doutrina
não ser possível a reabertura do processo, sob pena de se permitir uma
revisão de coisa julgada penal pro societate, o que é vedado pelo nosso
ordenamento jurídico. Restaria, apenas, processar os autores da falsidade. O
STF, contudo, já permitiu a continuidade do processo, a despeito do trânsito
em julgado, entendendo que não se pode emprestar efeitos, a decisão que se
funda em fato juridicamente inexistente (RTJ (Revista Trimestral de
Jurisprudência, 93/986). É a solução mais acertada, sob pena de beneficiar
um criminoso falsário com a própria torpeza.

ANISTIA, GRAÇA E INDULTO - “clemência soberana”. O Estado por


questões de política criminal, abdica do seu jus puniendi em nome da
pacificação social. RENÚNCIA DO ESTADO AO DIREITO DE PUNIR.
Diferenças: A ANISTIA REFERE-SE A FATOS E NÃO A PESSOAS E
LIGA-SE, EM REGRA, AOS CRIMES POLÍTICOS. DEPENDE DE LEI DE
COMPETÊNCIA DO CONGRESSO NACIONAL (CF, arts. 21, XVII, e 48,
VII), possui efeito ex tunc, ou seja, apaga o crime e todos os efeitos da
sentença, embora não atinja os efeitos civis;
A GRAÇA E O INDULTO, POR SUA VEZ, REFEREM-SE A PESSOAS, E TÊM
COMO INSTRUMENTO NORMATIVO O DECRETO PRESIDENCIAL (CF, art.
84, XII), que pode ser delegado a Ministros de Estado, ao Procurador-Geral
da República ou ao Advogado-Geral da União (art. 84, parágrafo único da CF).
ANISTIA: TRATA-SE DE LEI PENAL DE EFEITO BENÉFICO (E PORTANTO,
RETROATIVO, À LUZ DA CF, ART. 5º, XL). É A DECLARAÇÃO PELO PODER
PÚBLICO DE QUE DETERMINADOS FATOS SE TORNAM IMPUNÍVEIS POR
MOTIVO DE UTILIDADE SOCIAL. A ANISTIA VOLTA-SE A FATOS E
NÃO A PESSOAS.
A ANISTIA, SE FOR CONDICIONADA, PODE SER RECUSADA; DO
CONTRÁRIO, NÃO CABE RECUSA. DE UM MODO OU DE OUTRO, UMA VEZ
CONCEDIDA, NÃO PODE MAIS SER REVOGADA.
COMPETÊNCIA: A ANISTIA É EXCLUSIVA DA UNIÃO (CF, art. 21,
XVII) E PRIVATIVA DO CONGRESSO NACIONAL (CF, ART. 48, VIII), COM
A SANÇÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, SÓ PODENDO SER
CONCEDIDA POR MEIO DE LEI FEDERAL.
REVOGAÇÃO: uma vez concedida, não pode a anistia ser revogada,
porque a lei posterior revogadora prejudicaria os anistiados, em clara violação

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ao princípio constitucional de que a lei não pode retroagir para prejudicar o
acusado (CF, art. 5º, XL).
EFEITOS: a anistia retira todos os efeitos penais, principais e
secundários, MAS NÃO OS EFEITOS EXTRAPENAIS. Desse modo, a
sentença condenatória definitiva, mesmo em face da anistia, pode ser
executada no juízo cível, pois, constitui título executivo judicial. Quanto a
outros efeitos extrapenais já decidiu o STF: “A ANISTIA, QUE É EFEITO
JURÍDICO RESULTANTE DO ATO LEGISLATIVO DE ANISTIAR, TEM A
FORÇA DE EXTINGUIR A PUNIBILIDADE, SE ANTES DA SENTENÇA DE
CONDENAÇÃO, OU A PUNIÇÃO, SE DEPOIS DA CONDENAÇÃO.
PORTANTO, É EFEITO JURÍDICO, DE FUNÇÃO EXTINTIVA NO PLANO
PURAMENTE PENAL. A PERDA DE BENS, INSTRUMENTOS OU DO
PRODUTO DO CRIME É EFEITO JURÍDICO QUE SE PASSA NO CAMPO DA
EFICÁCIA JURÍDICA CIVIL; NÃO PENAL, PROPRIAMENTE DITO. NÃO É
ALCANÇADA PELO ATO DE ANISTIA SEM QUE NA LEI SEJA EXPRESSA
AS RESTITUIÇÃO DESSES BENS”. RT- Revista dos Tribunais – 560/390.
Ressalte-se que a anistia possui efeito ex tunc, ou seja, apaga o crime e
todos os efeitos da sentença, embora não atinja os efeitos civis, quando
concedida posteriormente ao trânsito em julgado da sentença condenatória.
Serve, também, para extinguir a medida de segurança, nos termos do art.
96, parágrafo único do CP. Deve ser declarada a extinção da punibilidade,
quando concedida a anistia, pelo juiz da execução penal. Tratada no art. 107
do CP como excludente da punibilidade, na verdade, a sua natureza jurídica é
de excludente da tipicidade, pois, apagado o fato, a consequência lógica é o
afastamento da tipicidade, que é adequação do fato ao tipo penal.
CRIMES INSUSCETÍVEIS DE ANISTIA: de acordo com o art. 5º, XLIII,
da CF e da Lei 8072/90, são insuscetíveis de anistia os crimes hediondos, a
prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo consumados ou tentados.
GRAÇA OU INDULTO INDIVIDUAL
É A CLEMÊNCIA DESTINADA A UMA PESSOA DETERMINADA, NÃO
DIZENDO RESPEITO A FATOS CRIMINOSOS. A LEP passou a chamar a
graça, corretamente de INDULTO INDIVIDUAL (arts. 188 a 193), embora a
CF tenha entrado em contradição a esse respeito. O art. 5º, XLIII, utiliza o
termo graça e o art. 84, XII, refere-se tão somente a indulto. Portanto,
diante desse flagrante indefinição, o melhor a fazer é aceitar as duas
denominações: GRAÇA OU INDULTO INDIVIDUAL. Capez usa a expressão
“GRAÇA OU INDULTO INDIVIDUAL EM SENTIDO ESTRITO”.
Dessa forma, a graça é um benefício individual, com destinatário certo e
depende da provocação do interessado.
TRATANDO-SE DE UM PERDÃO CONCEDIDO PELO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA, DENTRO DA SUA AVALIAÇÃO DISCRICIONÁRIA, NÃO

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SUJEITA A QUALQUER RECURSO, A GRAÇA DEVE SER USADA COM
PARCIMÔNIA.
FORMAS:
a) GRAÇA TOTAL
b) GRAÇA PARCIAL (COMUTAÇÃO)
A GRAÇA PODE SER TOTAL OU PARCIAL, CONFORME ALCANCE
TODAS AS SANÇÕES IMPOSTAS AO CONDENADO (TOTAL) OU APENAS
ALGUNS ASPECTOS DA CONDENAÇÃO, QUER REDUZINDO, QUER
SUBSTITUINDO A SANÇÃO ORIGINALMENTE APLICADA (PARCIAL).
NESTE ÚLTIMO CASO, NÃO EXTINGUE A PUNIBILIDADE, CHAMANDO-SE
COMUTAÇÃO (TRANSFORMAR EM OUTRA PENA DE MENOR GRAVIDADE).
PROCEDIMENTO DA GRAÇA OU INDULTO INDIVIDUAL
a) O requerimento pode ser feito pelo próprio condenado; por iniciativa
do Ministério Público; pelo Conselho Penitenciário; ou pela autoridade
administrativa, responsável pelo estabelecimento onde a pena é
cumprida;
b) Os autos vão com vista ao Conselho Penitenciário para parecer (a
menos que este tenha sido o autor do requerimento);
c) Em seguida, o Ministério Público dará seu parecer;
d) Os autos são encaminhados ao Ministério da Justiça e, de lá,
submetidos a despacho do Presidente da República ou das
autoridades a quem delegou competência (CF, art. 84, parágrafo
único);
e) Concedido o indulto individual, o juiz o cumprirá, extinguindo a pena
(indulto pleno), reduzindo-a ou comutando-a (indulto parcial).
Assim como o INDULTO COLETIVO, A GRAÇA OU INDULTO
INDIVIDUAL PRESSUPÕE SENTENÇA CONDENATÓRIA COM TRÂNSITO EM
JULGADO, servindo para apagar somente os efeitos executórios da
condenação, mas não os secundários (reincidência, nome no rol dos culpados,
obrigação de indenizar a vítima etc.). Ex: o indultado que venha a cometer
novo delito será considerado reincidente, pois o benefício não lhe restitui a
condição de primário. A sentença definitiva condenatória pode ser executada
no juízo cível. A graça ou indulto individual torna possível, uma vez concedida,
extinguir a medida de segurança.
A propósito, a Súmula 6 do Conselho Penitenciário estabelece:
“A graça, plena ou parcial, é medida de caráter excepcional, destinada
a premiar atos meritórios extraordinários praticados pelo sentenciado
no cumprimento de sua reprimenda ou ainda atender condições pessoais
de natureza especial, bem como a corrigir equívocos na aplicação da
pena ou eventuais erros judiciários. Assim, inexistindo na condenação
imposta ao reeducando qualquer erro a ser reparado ou excesso na
dosimetria da pena e não revelando a conduta do mesmo nada de

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excepcional a ser premiado, é inviável a concessão do benefício da
graça”.
Preceitua o art. 192 da LEP que, “CONCEDIDO O INDULTO E
ANEXADA AOS AUTOS CÓPIA DO DECRETO, O JUIZ DECLARARÁ
EXTINTA A PENA OU AJUSTARÁ A EXECUÇÃO AOS TERMOS DO
DECRETO, NO CASO DE COMUTAÇÃO”, dando a entender que o magistrado
poderá, conforme o seu critério, decretar extinta a punibilidade. O fato é
que, havendo qualquer tipo de condição no decreto presidencial, cabe a análise
ao Judiciário, a fim de verificar se o beneficiário faz jus ao indulto (individual
ou coletivo). Somente quando o decreto for dirigido a uma pessoa (graça), sem
estabelecer qualquer condição, o juiz é obrigado a acatar, liberando o
condenado. Se, porventura, o Presidente da República, pretendendo conceder
graça, fizer menção a decreto anterior de indulto coletivo, transfere ao
magistrado a possibilidade de, valendo-se do art. 192 da LEP, efetivar ou não
o benefício.
INDULTO COLETIVO
É CONCEDIDO ESPONTANEAMENTE POR DECRETO PRESIDENCIAL.
É A CLEMÊNCIA DESTINADA A UM GRUPO DE SENTENCIADOS,
TENDO EM VISTA A DURAÇÃO DAS PENAS APLICADAS, PODENDO
EXIGIR REQUISITOS SUBJETIVOS (TAIS COMO PRIMARIEDADE,
COMPORTAMENTO CARCERÁRIO, ANTECEDENTES) E OBJETIVOS (POR
EXEMPLO, O CUMPRIMENTO DE CERTO MONTANTE DA PENA, A
EXCLUSÃO DE CERTOS TIPOS DE CRIMES). Dessa forma, o indulto é um
benefício coletivo, sem destinatário certo e não depende da provocação do
interessado.
O Decreto n. 1.860, de 11 de abril de 1996, não beneficiou os
condenados pelos crimes previstos no art. 157, § 2º, II e III, do CP,
tentados ou consumados.
Concedido o indulto por meio de decreto, deverá ser anexada aos autos
cópia do decreto, quanto então o juiz declarará extinta a pena ou ajustará a
pena aos termos do decreto no caso de comutação (LEP, art. 192). O juiz
poderá atuar de ofício, a requerimento do interessado, do Ministério Público,
ou por iniciativa do Conselho Penitenciário ou de autoridade administrativa
(LEP, art. 193). O indulto pode ser total, quando extingue todas as
condenações do beneficiário, ou parcial, quando apenas diminui ou substitui a
pena por outra mais branda. Neste último caso, não se extingue a
punibilidade, chamando-se COMUTAÇÃO.
SÓ É POSSÍVEL A CONCESSÃO DO INDULTO SE JÁ HOUVE TRÂNSITO
EM JULGADO PARA A ACUSAÇÃO.
Se o condenado estiver no gozo de sursis pode também ser beneficiado com
o indulto. Somente pode haver recusa por parte do beneficiário caso o indulto
seja condicionado. Uma vez concedido, serve para extinguir os efeitos
principais da sentença condenatória, mas não os secundários, salvo se o

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Decreto assim o autorizar. Chama-se INDULTO INCIDENTE o referente a
uma só das penas sofridas pelo condenado, em vias de cumprimento.
Ressalta Guilherme Nucci, que o decreto de indulto do Presidente da
República não produz efeito por si mesmo, devendo ser analisado pelo juiz da
execução penal, que tem competência para decretar extinta a punibilidade do
condenado, se for o caso. Aliás, os decretos presidenciais contêm condições
objetivas e subjetivas, que necessitam de avaliação judicial, ouvindo-se o
Ministério Público.
CRIMES INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA OU INDULTO: de acordo com o
art. 5º, XLIII, da CF e da Lei 8072/90, são insuscetíveis de anistia os
crimes hediondos, a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins e o terrorismo consumados ou tentados.
CABE ANISTIA, GRAÇA OU INDULTO EM AÇÃO PENAL PRIVADA? Sim,
porque o Estado só delegou ao particular a iniciativa da ação, permanecendo
com o direito de punir, do qual pode renunciar por qualquer dessas três
formas.
QUAL O INSTRUMENTO NORMATIVO DA ANISTIA? A LEI.
QUAL O INSTRUMENTO NORMATIVO DO INDULTO E DA GRAÇA? O
DECRETO PRESIDENCIAL.
​ABOLITIO CRIMINIS – art. 5º, XL, CF – TAMBÉM CHAMADA NOVATIO
LEGIS – art. 2º, caput, do CP.
TRATA-SE DE LEI NOVA DEIXANDO DE CONSIDERAR
DETERMINADA CONDUTA COMO CRIME. NESSE CASO, OCORRE O
FENÔMENO DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL BENÉFICA. ASSIM
ACONTECENDO, NENHUM EFEITO PENAL SUBSISTE, MAS APENAS AS
CONSEQUÊNCIAS CIVIS, CONFORME A SITUAÇÃO. O ART. 107 A
INSERE NO CONTEXTO DAS EXCLUDENTES DE PUNIBILIDADE, MAS, NA
REALIDADE, SUA NATUREZA JURÍDICA É DE EXCLUDENTE DE
TIPICIDADE, POIS, DESAPARECENDO DO MUNDO JURÍDICO O TIPO
PENAL, O FATO NÃO PODE MAIS SER CONSIDERADO TÍPICO.
RESSALTE-SE ASSIM, QUE A ABOLITIO CRIMINIS NÃO EXCLUI A
OBRIGAÇÃO DE REPARAÇÃO DO DANO.
A ABOLITIO CRIMINIS PODE SER DECLARADA EM PRIMEIRA OU
SEGUNDA INSTÂNCIA E NÃO DEPENDE DA PROVOCAÇÃO DO
INTERESSADO OU DE SEU REPRESENTANTE LEGAL, DEVENDO SER
DECLARADA PELO JUIZ, EX OFFICIO, CONFORME A REGRA DO ART. 61,
CAPUT, DO CPP.
A CONSEQUÊNCIA JURÍDICA DA ABOLITIO CRIMINIS,
RESSALTE-SE, É IDÊNTICA À DA ANISTIA, EMBORA NÃO SE
CONFUNDAM OS INSTITUTOS. NA ABOLITIO CRIMINIS, EXTINGUE-SE
O PRÓPRIO TIPO PENAL, NA ANISTIA APAGA-SE O FATO,
SUBSISTINDO A NORMA INCRIMINADORA.

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PRESCRIÇÃO - prescrição penal é a perda da pretensão punitiva ou
executória do estado pelo decurso do tempo sem o seu exercício.
​DECADÊNCIA
TRATA-SE DA PERDA DO DIREITO DE INGRESSAR COM AÇÃO
PRIVADA OU COM AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À
REPRESENTAÇÃO POR NÃO TER SIDO EXERCIDO NO PRAZO LEGAL. Atinge
o direito de punir do Estado indiretamente, uma vez que, não mais existindo
possibilidade de se instaurar o devido processo legal, não se pode impor
condenação.
A regra geral, estabelecida no art. 103 do CP é a seguinte:
“SALVO DISPOSIÇÃO EXPRESSA EM CONTRÁRIO, O OFENDIDO
DECAI DO DIREITO DE QUEIXA OU DE REPRESENTAÇÃO SE NÃO O
EXERCE DENTRO DO PRAZO DE 6 (SEIS) MESES, CONTADO DO DIA
EM QUE VEIO A SABER QUEM É O AUTOR DO CRIME, OU, NO
CASO DO § 3º DO ART. 100 DESTE CÓDIGO, DO DIA EM QUE SE
ESGOTA O PRAZO PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA”.
As exceções apontadas pela lei são as seguintes: a) 30 dias da
homologação do laudo pericial nos crimes contra a propriedade imaterial. Ainda
no tocante à propriedade imaterial, além dos 30 dias, após a homologação,
vigem ainda os 6 meses a contar da data do fato.
O PRAZO FLUI DA DATA EM QUE O OFENDIDO OU SEU
REPRESENTANTE LEGAL SOUBEREM DA AUTORIA DO CRIME, SENDO
FATAL E IMPRORROGÁVEL. CONTA-SE COMO PRAZO PENAL (ART. 10,
CP). QUANDO A VÍTIMA É MENOR DE 18 ANOS, O PRAZO PARA
REPRESENTAR OU INGRESSAR COM QUEIXA-CRIME CORRE SOMENTE
PARA O REPRESENTANTE. APÓS OS 18 ANOS, NATURALMENTE,
SOMENTE A VÍTIMA PODE VALER-SE DA INICIATIVA DA AÇÃO PENAL.
O prazo é interrompido com a apresentação da queixa em juízo, quando
cuidar da ação penal privada, mesmo sem o recebimento formal pelo
magistrado, ou da representação à autoridade policial ou ao membro do
Ministério Público, quando se tratar de ação penal condicionada. A lei diz que
“decai do direito” se não o “exercer” em seis meses. A propositura da ação
significa o exercício do direito. Ressalte-se, que o prazo decadencial é
peremptório, ou seja, fatal e improrrogável, não se interrompendo ou
suspendendo por qualquer razão. A única circunstância capaz de evitar a
decadência é o próprio exercício do direito, em suma, o efetivo oferecimento
da queixa ou da representação.
PEREMPÇÃO: TRATA-SE DE UMA SANÇÃO PROCESSUAL PELA INÉRCIA DO
PARTICULAR NA CONDUÇÃO DA AÇÃO PENAL PRIVADA, IMPEDINDO-O
DE PROSSEGUIR NA DEMANDA.
PEREMPÇÃO origina-se de perimir, que significar matar, destruir. É
instituto aplicável apenas à ação penal privada exclusiva, e não na ação penal
privada subsidiária da pública. Dessa forma, a perempção só existe na ação

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penal privada (exclusiva e personalíssima); na subsidiária, o MP retoma a
titularidade da ação quando o querelante se mantém inerte.
HÁ QUATRO HIPÓTESES DE PEREMPÇÃO (art. 60 do CPP):
1ª) INICIADA A AÇÃO, O QUERELANTE DEIXA DE PROMOVER O
ANDAMENTO DO PROCESSO DURANTE 30 DIAS SEGUIDOS. Ex; deixa de
pagar despesas do processo; retira os autos por mais de 30 dias sem
devolver; não oferece alegações finais. Para considerar perempta a ação nesse
caso, deve o juiz verificar, com cautela, o seguinte: a) se o querelante foi
intimado, pessoalmente, a dar prosseguimento; b) se o motivo da paralisação
não constituiu força maior; c) se a desídia foi do querelante e não de
serventuário da justiça ou do próprio querelado;
2ª) FALECENDO O QUERELANTE, OU FICANDO INCAPAZ, NÃO
COMPARECEM EM JUÍZO, PARA PROSSEGUIR NO PROCESSO, DENTRO DE
60 DIAS, SEUS SUCESSORES, NESSA ORDEM: CÔNJUGE, ASCENDENTE,
DESCENDENTE OU IRMÃO (art. 36, CPP);
3ª) O QUERELANTE DEIXA DE COMPARECER SEM MOTIVO
JUSTIFICADO, A QUALQUER ATO DO PROCESSO A QUE DEVA ESTAR
PRESENTE OU NÃO FORMULA PEDIDO DE CONDENAÇÃO NAS ALEGAÇÕES
FINAIS;
4º) O QUERELANTE, PESSOA JURÍDICA QUE SE EXTINGUE, NÃO
DEIXA SUCESSOR.
Ocorre ainda a PEREMPÇÃO em ação penal privada, no caso de morte
do querelante, quando for personalíssima, como, por exemplo, no induzimento a
erro essencial (art. 236, CP).
​RENÚNCIA E PERDÃO ACEITO
RENÚNCIA É A DESISTÊNCIA DA PROPOSITURA DA AÇÃO PENAL
PRIVADA. PARA A MAIORIA DA DOUTRINA A RENÚNCIA É APLICÁVEL À
AÇÃO PENAL SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA, EMBORA ISSO NÃO IMPEÇA O
MINISTÉRIO PÚBLICO DE DENUNCIAR. PERDÃO É A DESISTÊNCIA DO
PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL PRIVADA PROPRIAMENTE DITA. O
PERDÃO É ATO BILATERAL, POIS DEPENDE DE ACEITAÇÃO PARA
PRODUZIR EFEITOS. A RENÚNCIA OCORRE ANTES DO AJUIZAMENTO DA
AÇÃO PENAL PRIVADA E O PERDÃO, DEPOIS. É ato unilateral,
aperfeiçoando-se com a manifestação de vontade do ofendido (ou seu
representante legal quando menor), independentemente da concordância do
autor do crime.
TANTO A RENÚNCIA QUANTO O PERDÃO PODEM SER EXPRESSOS
OU TÁCITOS. Expressos, quando ocorrem através de declaração escrita e
assinada pelo ofendido ou por seu procurador, com poderes especiais (não
obrigatoriamente advogado). Tácitos, quando o querelante praticar atos
incompatíveis com o desejo de processar o ofensor (art. 104, parágrafo único,
1ª. parte, e art. 106, § 1º, CP). Ex: reatamento de amizade, não se
incluindo nisso as relações de civilidade ou profissionais.

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É PRECISO SALIENTAR A INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO PENAL:
HAVENDO RENÚNCIA NO TOCANTE A UM, ATINGE TODOS OS
QUERELADOS (ART. 49 DO CPP), EXCETO QUANDO NÃO CONHECIDA A
IDENTIDADE DE UM DELES. O MESMO OCORRE QUANTO AO PERDÃO,
COM A RESSALVA DE QUE, NESTA HIPÓTESE, CONCEDIDO O PERDÃO A
UM DOS QUERELADOS, PARA QUE BENEFICIE OS DEMAIS TORNA-SE
INDISPENSÁVEL A ACEITAÇÃO DOS DEMAIS.
A RENÚNCIA SEMPRE FOI INSTITUTO EXCLUSIVO DA AÇÃO PENAL
PRIVADA. A LEI N. 9.099/95, ENTRETANTO, CRIOU UMA HIPÓTESE DE
APLICAÇÃO DESTA ÀS INFRAÇÕES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO
APURÁVEIS MEDIANTE AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA À
REPRESENTAÇÃO. COM EFEITO, O ART. 74, PARÁGRAFO ÚNICO, DA
MENCIONADA LEI ESTABELECEU QUE, NOS CRIMES DE AÇÃO PRIVADA E
PÚBLICA CONDICIONADA, A COMPOSIÇÃO EM RELAÇÃO AOS DANOS
CIVIS, HOMOLOGADA PELO JUIZ NA AUDIÊNCIA PRELIMINAR, IMPLICA
RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA OU DE REPRESENTAÇÃO.
Essa regra da Lei n. 9099/95 trouxe também a possibilidade de a
renúncia, excepcionalmente, não se estender a todos os autores do crime.
Suponha-se que duas pessoas em concurso cometam um crime contra alguém e
que apenas um dos autores do delito se componha com a vítima em relação
apenas à parte dos prejuízos provocados (metade, por exemplo). Parece-nos
inegável que, nesse caso, somente aquele que se compôs com a vítima é que
faz jus ao reconhecimento da renúncia. Havendo duas vítimas, a renúncia por
parte de uma não atinge o direito de a outra oferecer queixa.

​ ETRATAÇÃO: É O ATO PELO QUAL O AGENTE RECONHECE O ERRO QUE


R
COMETEU E O DENUNCIA À AUTORIDADE, RETIRANDO O QUE
ANTERIORMENTE HAVIA DITO. Pode ocorrer: 1º) nos crimes de calúnia e
difamação (art. 143; 2º) nos crimes de falso testemunho e falsa perícia (art.
342, § 2º, CP). Nessas duas situações, a manifestação em sentido oposto é
mais vantajosa para a vítima ou para o Estado. Nos delitos contra a honra,
especialmente os que se voltam contra a reputação (calúnia e difamação), se o
agente narrar a verdade, dizendo que havia mentido, lucra mais o ofendido;
eventual condenação é de menor importância. Quanto ao falso testemunho e
falsa perícia, havendo a narrativa da verdade, sai ganhando a administração
da Justiça, bem jurídico tutelado. Via de regra, a retratação do autor do
delito não o exime de pena. Porém, em algumas situações expressamente
previstas em lei, a retratação poderá impedir a aplicação da pena, extinguindo
a punibilidade do agente.
A RETRATAÇÃO É O ATO JURÍDICO PRATICADO PELO AGENTE QUE
RECONHECE O ERRO, RETIRA O QUE DISSE A ARREPENDE-SE DO SEU
ATO. ELA DEVE SER CABAL E NÃO PODE IMPOR CONDIÇÕES.

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CABERÁ SOMENTE QUANDO EXPRESSAMENTE PREVISTA, NOS
CRIMES DE CALÚNIA E DIFAMAÇÃO EM QUE A AÇÃO PENAL É PRIVADA
(ART. 143, CP); E CRIMES DE FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA
(ART. 342, DO CP). OCORRENDO A RETRATAÇÃO NESSES CASOS, O
AGENTE TERÁ A PUNIBILIDADE EXTINTA. Em se tratando de crimes de
calúnia e difamação de ação penal privada, a retratação deve ser oferecida
pelo querelado antes da prolação da sentença final e independe de aceitação
do ofendido (art. 143 do CP). Não há previsão legal para a retratação no
crime de injúria, que lesa a honra subjetiva da vítima. Na injúria, que atinge
profundamente o âmago do ofendido, uma retratação somente iria feri-lo
ainda mais e se tornaria despiciendo, motivo pelo qual o legislador não a previu
nesse delito.
No crime de falso testemunho ou falsa perícia (art. 342 do CP), a
retratação precisa ser integral e voluntária. Exige-se que seja feita no
processo onde o falso testemunho ou a falsa perícia foram cometidos e antes
de proferida a sentença. Se extrajudicial, deve ser ratificada nos autos.

​ PERDÃO JUDICIAL: TRATA-SE DE CAUSA EXTINTIVA DA


PUNIBILIDADE ATRAVÉS DA QUAL O ESTADO, MEDIANTE A PRESENÇA
DE CERTOS REQUISITOS, RENUNCIA AO DIREITO DE PUNIR,
GERALMENTE FUNDADO NA DESNECESSIDADE DA PENA. SÓ É
ADMISSÍVEL NOS CASOS EXPRESSOS. Exemplos: art. 121, § 5º (homicídio
culposo); art. 129, § 8º (lesão corporal culposa), 140, § 1º, I e II (injúria),
outras fraudes (art. 176, parágrafo único), receptação culposa (art. 180, §
5º); parto suposto, supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil
de recém-nascido (art. 242, parágrafo único), subtração de incapazes (art.
249, § 2º); apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, § 3º); sonegação
de contribuição previdenciária (art. 337-A, § 2º). Na legislação penal
especial, temos: a LCP (art. 22, parágrafo único, a e b); LCP (arts. 8º e 39,
§ 2º); Código Eleitoral (art. 326, § 1º); Lei dos Crimes Ambientais (art. 29,
§ 2º), etc. COMO É CAUSA PESSOAL DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
NÃO SE COMUNICA A EVENTUAIS PARTICIPANTES DO DELITO.
O PERDÃO JUDICIAL É DIREITO SUBJETIVO DO RÉU, NÃO
FICANDO AO ARBÍTRIO DO JUIZ A SUA APLICAÇÃO. PORTANTO,
PRESENTES SEUS REQUISITOS LEGAIS, A SUA APLICAÇÃO É
OBRIGATÓRIA. Possui natureza jurídica de sentença condenatória em que são
extintos os efeitos principais da condenação (aplicação de multa, pena
restritiva de direitos ou privativa de liberdade ou medida de segurança),
subsistindo os efeitos secundários, dentre os quais, o pagamento de custas e o
lançamento do nome no rol dos culpados (posição de Damásio de Jesus e
Mirabete, entre outros). Porém, há entendimentos de que a sentença que
concede o perdão judicial possui natureza declaratória da extinção da
punibilidade, não subsistindo qualquer efeito da condenação. Outros,

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entendem, que se trata de sentença absolutória (posição de Guilherme Nucci)
e outros que é sentença condenatória, mas que não incide qualquer efeito da
condenação.
SÚMULA 18 DO STJ: “A SENTENÇA CONCESSIVA DO PERDÃO
JUDICIAL É DECLARATÓRIA DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, NÃO
SUBSISTINDO QUALQUER EFEITO CONDENATÓRIO”.

DISTINÇÃO DO PERDÃO DO OFENDIDO COM O PERDÃO JUDICIAL


– distingue-se do perdão do ofendido, uma vez que, neste, é o ofendido quem
perdoa o ofensor, desistindo da ação penal exclusivamente privada. No perdão
judicial, é o juiz quem deixa de aplicar a pena, independente da natureza da
ação, nos casos permitidos por lei. O perdão do ofendido depende da
aceitação do querelado para surtir efeitos, enquanto o perdão judicial
independe da vontade do réu.

REFERÊNCIAS

BÁSICAS
1- CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 1. São Paulo. Saraiva, 26ª edição,
2022.
2- JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, Parte Geral. Vol. 1 – atualizador: André
Estefam. São Paulo: Saraiva Jur, 37ª Edição, 2020.
3- MASSON, Cleber. Direito Penal; parte geral; esquematizado. Vol. 1, São Paulo,
Método, 16ª edição, 2022.
4- MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. 1. Atlas, 35ª edição,
2021.
5- NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. Forense, 18ª. Edição, Rio
de Janeiro, Gen/Forense. 2022.

COMPLEMENTARES Os presídios locais destinados às pessoas que ainda

6- ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. São Paulo, Saraiva Jur,
15ª edição, 2021.

7- BARROS, Francisco Dirceu. Tratado Doutrinário de Direito Penal – Vol. 1: Parte


Geral, 2ª. edição, Editora JH Mizuno, 2021.

8- CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Vol. I -Parte Geral. Salvador.
Bahia, Editora Podivm, 11a. edição, 2022.

9- CUNHA, Rogério Sanches. Código Penal para concursos. Salvador. Bahia, Editora
JusPodivm, 15ª edição, 2022.

10- ESTEFAM, André. Direito penal; parte geral. São Paulo, Saraiva Jur, 11ª edição,
2022.

11- GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro. Editora Atlas, 15ª.
edição, 2021.

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12- MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. São Paulo, Editora Método, 10ª.
edição, 2022.

13- NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro.


Gen/Forense, 22ª edição, 2022.

14- PRADO, LUIZ REGIS. Curso de Direito Penal Brasileiro – 19ª. Edição – São Paulo
– Editora Forense, Rio de Janeiro, 2021.

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