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UNIVERSIDADE PAULISTA-UNIP

JAMILLE ANTUNES DE CAMPOS OLIVEIRA

EXECUÇÃO DE PENA NA ÍNTEGRA DAS PENITENCIÁRIAS DE SÃO PAULO: a


(in)aplicabilidade da lei de execução penal

SOROCABA-SP
2022
JAMILLE ANTUNES DE CAMPOS OLIVEIRA

EXECUÇÃO DE PENA NA ÍNTEGRA DAS PENITENCIÁRIAS DE SÃO PAULO: a


(in)aplicabilidade da lei de execução penal

Trabalho de conclusão de curso apresentado


como requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel em Direito apresentado à
Universidade Paulista- UNIP.

Orientador: Prof. Murilo Barros.

SOROCABA-SP
2022
JAMILLE ANTUNES DE CAMPOS OLIVEIRA

EXECUÇÃO DE PENA NA ÍNTEGRA DAS PENITENCIÁRIAS DE SÃO PAULO: a


(in)aplicabilidade da lei de execução penal

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Direito
apresentado à Universidade Paulista-
UNIP.

Aprovado em:.

BANCA EXAMINADORA
_______________________
(Nome do orientador, sua titulação e Instituição a que pertence).
_______________________
(nome, titulação e instituição a que pertence).
_______________________
(nome, titulação e instituição a que pertence).
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a meus amados pais


Ana e Eli, que tanto me motivaram e
apoiaram nessa jornada.
AGRADECIMENTOS

A Deus pelo fôlego de vida, por nunca ter me abandonado durante os anos
mais árduos e cheios de aprendizados da minha vida, por tantos milagres e
realizações, pela força e perseverança.

À minha supermãe e melhor amiga por sempre me apoiar em todos os


momentos, todas decisões, por sempre estar ao meu lado nesta caminhada.

Ao meu maravilhoso pai, pelo apoio, por todo suor que deu para patrocinar
meus sonhos, por acreditar que eu sou capaz.

A toda minha família.

A minha chefe, amiga, e incentivadora, Carlusia Sousa Brito.

Ao queridíssimo professor, Ricardo Sanctis, minha sincera gratidão, pela


grande atenção dispensada no pouco tempo que lhe coube, principalmente, pelas
suas correções.

Ao orientador, Professor Murilo Barros, pela disponibilidade e por me dedicar


seu tempo.

Aos colegas pela amizade e incentivo.

A todos que, de certa maneira, contribuíram para a conclusão desta etapa.


EPÍGRAFE

"É ótimo celebrar o sucesso, mas mais


importante ainda é assimilar as lições
trazidas pelos erros que cometemos". - Bill
Gates
RESUMO

A presente monografia tem por objetivo apresentar pontos importantes a


serem abordados quando se trata da aplicação da execução penal na integra das
unidades prisionais do estado de São Paulo, como: progressão de regime
(semiaberto e aberto) e livramento condicional. Os capítulos trazem um conceito e
origem em uma ordem lógica do desdobramento do sistema progressista adotado
por nosso ordenamento jurídico brasileiro. Primeiramente, é apresentada a lei de
execução penal e suas características e a posteriori, como se dá a execução da
pena nessas unidades prisionais. O início da execução da pena ocorre após
sentença penal condenatória (mesmo que o processo de conhecimento não tenha
transitado em julgado), sendo discorrido sobre o quanto a aplicabilidade da
execução penal pode ser omissa em determinados casos, além de expor as
mazelas do Estado, esse, que frequentemente é inerte ao dar suporte suficiente e
necessário aos condenados para que se alcance o verdadeiro objetivo da
execução penal: a ressocialização gradual e harmônica do indivíduo para que
possa ser reinserido na sociedade.

Palavras-chave: Execução Penal. Progressão de Regime. Livramento


Condicional. Exame Criminológico. Direitos Fundamentais.
ABSTRACT

This monograph aims to present important points to be addressed when it


comes to the application of penal execution in the entirety of the prison units of the
state of São Paulo, such as: progression of regime (semi-open and open) and
conditional release. The chapters bring a concept and origin in a logical order of the
unfolding of the progressive system adopted by our Brazilian legal system. First, the
law of penal execution is presented and its characteristics and posteriori, how the
execution of the sentence in these prisons takes place. The beginning of the
execution of the sentence occurs after a condemnatory criminal sentence (even if
the acknowledgment process has not become final), being discussed how the
applicability of the criminal execution can be silent in certain cases, in addition to
exposing the ills of the State, this one, which is often inert in providing sufficient and
necessary support to the condemned in order to reach the true objective of criminal
execution: the gradual and harmonious resocialization of the individual so that he
can be reinserted into society.

Key-words: Penal Execution. Regime Progression. Conditional Release.


Criminological Examination. Fundamental Rights.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

STF: Supremo Tribunal Federal.

STJ: Superior Tribunal de Justiça.

LEP: Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984.

CP: Código Penal.

CPP: Código de Processo Penal.

CF/88: Constituição Federal de 1988.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 12

2. ANÁLISE DA EXECUÇÃO PENAL E AS SUAS CARACTERÍSTICAS ....... 12


2.1. Histórico evolutivo da execução penal ..........................................................
12
2.1.1. Características da execução Penal ..................................................... 14
2.2. Princípios que regem a execução penal ........................................................ 15
3. PROGRESSÃO DE REGIME ........................................................................ 19
3.1. – Evolução dos sistemas penitenciários ........................................................ 19
3.2. – Sistema progressivo ....................................................................................
21
3.2.1. – Requisitos obrigatórios para a progressão de regime ......................
23
3.2.2. – Requisitos para a progressão nos crimes hediondos .......................
24
4. LIVRAMENTO CONDICIONAL ..................................................................... 25
4.1. Distinção do livramento condicional e a progressão de regime .....................
26
4.2. Pressupostos Objetivos e Subjetivos ............................................................. 27
4.3. Os Crimes Hediondos e o rigor da lei na concessão de benefícios prisionais:
requisitos objetivo e subjetivos ............................................................................... 29
5. EXAMES CRIMINOLÓGICOS ....................................................................... 30
5.1. Origem e conceito ......................................................................................... 30
5.2. Importância do Exame Criminológico versus a realidade carcerária ............. 31
6. SISTEMA PENITENCIÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO ........................
34
6.1. – A (in)aplicabilidade da Lei de Execução Penal ........................................... 34
6.2. – A realidade do sistema progressivo nessas Unidades Prisionais ...............
35
6.3. – Da afronta aos princípios e direitos fundamentais/a execução penal em
confronto com a dignidade
humana.............................................................................. 38

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................


41

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 42
12

1. INTRODUÇÃO

A execução penal foi surgindo sutilmente desde 1933, entretanto,


somente veio a ser aprovada em 1983, tendo entrado em vigor em 1985. Esta, tem
por escopo a ressocialização do preso com a sua gradual e harmônica reinserção a
sociedade, dentre outros objetivos, como assegurar o direito do jus puniendi do
Estado.

Após uma sentença penal condenatória, é expedido uma Guia de


Recolhimento, onde se inicia o processo de execução, ou seja, a execução de
pena do condenado.

Em nosso ornamento jurídico brasileiro foi adotado o sistema


progressivo de pena, uma forma de tornar a pena mais humanitária, o sistema
progressivo consiste em um indivíduo que está em determinado regime mais
gravoso, progredir para um regime mais brando desde que o condenado preencha
os requisitos previstos em lei.

A progressão de regime funciona da seguinte forma: o sentenciado que


cumpre pena em regime fechado poderá progredir para o regime semiaberto e
somente após ter alcançado esse, poderá progredir ao regime aberto, sendo
vedado a progressão por salto, ou seja, ir do regime fechado diretamente para o
aberto.

Apesar de ser vedado a progressão de regime fechado diretamente ao


aberto, há um benefício expresso em lei chamado Livramento Condicional, onde
neste, sim, o condenado poderá estar em regime fechado e obter seu benefício do
livramento condicional, estando em liberdade, certamente, que sempre devendo
preencher os requisitos impostos pela lei e ainda cumprir com as regras para se
manter em tal benefício.

Discorrendo sobre tudo sucintamente, a execução penal no


ordenamento jurídico brasileiro pode parecer incrível e definitivamente humanitária,
porém, nem tudo é aplicado como está disposto na lei, o presente trabalho tem por
objetivo pontuar as lacunas e muitas falhas que há na aplicabilidade da execução
penal.

2. ANÁLISE DA EXECUÇÃO PENAL E AS SUAS CARACTERÍSTICAS

2.1. Histórico evolutivo da execução penal e suas características

Desde o ano de 1933, após algumas tentativas e projetos infrutíferos sobre a


execução das penas, somente no ano de 1983 a Lei de execução penal nº 7.210
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veio de fato a ser aprovada sem qualquer antagonismo, o projeto desta referida lei
foi enviado pelo Presidente da República, na época João Batista de Oliveira
Figueiredo, ao Congresso Nacional, vindo a ser promulgada em 11 de julho de
1984, tendo entrado em vigor em 13 de janeiro de 1985.

Após o fim do processo de conhecimento, tem-se a fase processual de


execução, momento em que o sujeito ativo (Estado) exerce sua pretensão punitiva.

O artigo 1º da Lei de número 7.210/1984, discorre sobre o objetivo da


execução penal, sendo esse, a efetivação da sentença ou decisão criminal e
propiciar a reinserção do indivíduo condenado ou internado ao convívio social de
forma harmônica.
No entendimento de Paulo Lúcio Nogueira (1996, p. 03):

A execução é a mais importante fase do direito punitivo, pois, de nada


adianta a condenação sem que haja a respectiva execução da pena
imposta. Daí o objetivo da execução penal, que é justamente tornar
exequível ou efetiva a sentença criminal que impôs ao condenado
determinada sanção pelo crime praticado.

A execução penal se inicia em diferentes momentos tratando-se dos diversos


tipos de penas, vejamos:

I. Em Pena privativa de liberdade, como: reclusão, detenção e prisão simples


(para as contravenções penais), o processo de execução de pena inicia-se
com a guia de recolhimento, assim, dispõe no artigo 105 da LEP: “Art.
105. Transitando em julgado a sentença que aplicar pena privativa de
liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso, o Juiz ordenará a expedição de
guia de recolhimento para a execução.”

II. Em pena restritiva de direitos, como: prestação pecuniária, perda de bens e


valores, limitação de fim de semana, prestação de serviços à comunidade, e
interdição de direitos, conforme o artigo 147 da LEP, a execução penal
iniciará após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória,
“transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o
Juiz da execução, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,
promoverá a execução.”

III. Em medida de segurança, qual seja, uma sanção de caráter preventivo


destinada aos inimputáveis ou semi-imputáveis, como: internação em hospital
de custódia e tratamento psiquiátrico e tratamento ambulatorial. conforme o
disposto no artigo 171 da LEP, “transitada em julgado a sentença que aplicar
medida de segurança, será ordenada a expedição de guia para a execução”.
Igualmente ao caso das penas restritivas de direitos, neste caso há a
14

requisição do trânsito em julgado para então iniciar o processo de execução


penal.

IV. Em pena de multa, segundo o artigo 49 do Código Penal Brasileiro, consiste


no pagamento ao fundo penitenciário de determinado valor fixado em
sentença e calculado em dias-multa.

Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da


quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de
10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Desta forma, plausível a compreensão de que o pressuposto fundamental da


execução penal é a existência de uma sentença condenatória ou absolutória
imprópria (absolvição com imposição de medida de segurança) transitadas em
julgado. Não obstante, também estão sujeitas a execução as decisões
homologatórias de transação penal exaradas no âmbito dos Juizados Especiais
Criminais. (AVENA, 2018. 1.1.4.)

2.1.1. Características da execução Penal

Primordialmente, destaca-se a execução penal em pena de multa, neste caso


em específico, diferente dentre os demais, é que levando em conta que essa pena
é cobrada como um débito ativo da Fazenda Pública, pois, uma vez que a sentença
condenatória transita em julgado, essa vem a tornar-se título executivo judicial.
(NUCCI, 2018. p.17.)
Já nos casos de pena privativa de liberdade, permite-se que a execução da
pena se inicie antes mesmo do trânsito em julgado de sentença penal condenatória
ou absolutória imprópria, vejamos o que dispõe a Súmula 716 do STF: “Admite-se
a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de
regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença
condenatória”.

O assunto da citada Súmula vinha sendo consolidado por jurisprudências


aperfeiçoadas em diversos tribunais vernáculas, tendo origem ao início dos anos
1990. (NUCCI, 2018. p.21.)
Por conta da lentidão da justiça desde os primórdios, tendo como exemplo a
morosidade para o trânsito em julgado de uma sentença condenatória, tal
morosidade, muitas vezes se dá por conta dos inúmeros recursos existentes no
ordenamento jurídico brasileiro, em um exemplo ilustrativo, imagina-se um
indivíduo, indiciado por determinado crime tipificado no artigo 155 do CP, tem sua
prisão preventiva decretada, enquanto isso, o indivíduo é condenado e apresenta
recurso de apelação, neste lapso, até o recurso ser julgado, computado o período
de prisão cautelar para a aplicação da detração penal (art. 42 do CP), tendo em
vista que nosso sistema penal brasileiro é progressista, o agente possivelmente já
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teria cumprido mais da metade de sua pena em regime fechado, quando, só então,
a decisão condenatória transitaria em julgado.

Nota-se que no caso acima sistematizado, esse indivíduo já teria cumprido


mais da metade de sua pena, quando, sendo seu crime comum, ainda tratando da
lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984.(LEP), em sua redação do ano de 2003,
anterior a lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019 (Pacote anticrime), em seu
artigo 112, determinava o lapso de 1/6 para a progressão ao regime mais brando,
neste caso o regime semiaberto, nesta situação o indivíduo iria para a Colônia
Agrícola, quando já teria cumprido mais de ½ de sua pena, diferentemente
ocorreria, se advindo a sentença penal condenatória, o agente não recorresse
dessa sentença, o trânsito em julgado ocorreria muito antes e este iria para a
Colônia Agrícola com um lapso de cumprimento de pena muito menor.

Destarte, em uma perspectiva geral sobre a evolução da execução penal,


temos uma notória ascensão, em face a execução provisória, tendo em vista que
mesmo o indivíduo exercendo seu direito de recorrer de uma decisão condenatória,
ao decorrer dos anos, com a edição do Provimento 653/99, conforme determinado
no mesmo, os juízes passaram a expedir guia de recolhimento provisória, cuja é
encaminhada ao juízo de execução (ainda que a decisão condenatória não tenha
transitado em julgado) para conceder ao preso provisório a progressão a um
regime de pena mais brando, claro, se preenchidos os requisitos legais. Apesar de
a execução penal em si, em sua maioria, ter se mostrado benéfica, pode se dizer
que há também em outros aspectos um depauperamento, como por exemplo a
falta de compromisso de caminhar junto a Constituição torna a execução penal em
diversos casos, não somente extremamente falha como muitas vezes injusta.

2.2. Princípios que regem a execução penal

Princípios são um conjunto de normas e de determinados critérios que visam


nortear e assegurar as garantias fundamentais de todo cidadão em face a
pretensão punitiva estatal em fase de execução penal.

Desta forma, tendo em vista as indispensáveis garantias constitucionais no


processo de execução penal, urge evidenciar, alguns, de muitos princípios que
regem a constituição neste aspecto:

I. Princípio da legalidade

Este nobre princípio está expresso nos artigos 3º e 4º da LEP e no artigo 5º,
inciso II da CF/88:
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Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em


todo o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na
conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal.
Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos
não atingidos pela sentença ou pela lei.
Art. 5º (...)
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei;

Como pode ser observado, a referida Lei 7.210/84 dispõe que a jurisdição
será exercida em conformidade com a própria Lei 7.210/84, bem como com o
Código de Processo Penal. Logo, as imposições, garantias e limitações de direitos
e deveres na execução de pena será de acordo com o que a lei dispuser. “Se
ninguém pode ser privado da sua liberdade sem o devido processo legal, não se
pode negar o acesso do preso à liberdade quando a lei autorizar. Caso permaneça
preso por mais tempo do que for permitido, a prisão se tornará ilegal.” (CAPEZ,
2011, p. 19).
O princípio da legalidade, princípio constitucional, guia a execução penal em
todos seus deslindes.
II. Princípio da Intranscendência

Pode se entender que a pena destinada a um indivíduo infrator, cabe tão


somente a ele, sendo assim, sua execução não poderá transcender a sua pessoa.

O princípio da intranscendência da pena, é um princípio constitucional, disposto


no artigo 5º, inciso XLV da Constituição Federal de 1988.

Art. 5º (...)
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de
reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;

Entende-se que " a pena é uma medida de caráter estritamente pessoal, em


virtude de consistir numa ingerência ressocializadora sobre o apenado"
(ZAFFARONI E PIERANGELI, 2006, p.193.)

Concluindo o entendimento sobre o princípio da intranscendência, Dotti (2001,


p.65), que diz que: "a sanção penal não pode ser aplicada ou executada contra
quem não seja o autor ou partícipe do fato punível".

III. Princípio da individualização da pena

O princípio da individualização da pena encontra-se disposto no artigo 5º, inciso


XLVI da CF/88, onde discorre que:

Art. 5º (...)
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XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras,


as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

Logo, os legisladores na execução penal têm o dever garantir as que as


necessidades de cada indivíduo sentenciado sejam sopesadas conforme suas
necessidades e particularidades, enxergando-os sempre como sujeitos de direitos.

Ainda, o referido artigo 5º em seu inciso XLVIII assegura que: “a pena será
cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a
idade e o sexo do apenado.", ou seja, durante a execução penal, é garantido ao
apenado que o estabelecimento destinado ao cumprimento de sua pena será de
acordo com a idade, o sexo e a natureza do delito.

IV. Princípio da Proporcionalidade

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1789, estabelece em seu


artigo 15 que a lei somente deverá cominar penas estritamente necessárias e
proporcionais ao delito.

O Doutrinador Luigi Ferraioli, preceitua que o princípio da proporcionalidade,


cujo deve ser sempre utilizado em benefício do réu, pois aspecto importante antes
de estabelecer sua execução penal é observar e considerar a personalidade ou o
responsável pela punição. Sendo o magistrado sempre imparcial, com o sentimento
entre defesa e acusação indiferentes (2010, p. 320).
A pena deve ser proporcional ao crime praticado, logo, o apenado responderá,
exclusivamente, pelo direito penal do fato, pela ação ilícita praticada.

Para finalizar, leciona Willis Santiago Guerra Filho:

Considerando que tanto o princípio da proporcionalidade como o princípio da


isonomia são necessários ao aperfeiçoamento daquele sistema de proteção
organizado pelos autores de nossa lei fundamental em segurança da pessoa
humana, da vida humana e da liberdade humana, como refere Rui Barbosa às
garantias constitucionais em sentido estrito (...) as quais, para nós, não são
essencialmente diversas dos direitos fundamentais propriamente ditos, que sem
esse sistema de tutela, essa dimensão processual, não se aperfeiçoam enquanto
direitos.
V. Princípio da Humanização da Pena
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O princípio da humanidade, pode ser considerado um dos mais importantes


princípios quando se trata em execução de penal, sendo de origem constitucional,
veda a designação de pena com caráter perpétuo, pena de morte (salvo em caso de
guerra declarada) pena cruel ou de trabalhos forçado, tudo conforme dispõe o artigo
5º, inciso XLVII da CF/88.

Art. 5º (...)
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;

O principal fundamento ao tratar-se do referido princípio é o reconhecimento


do apenado como ser humano e respeitá-lo com amparo no princípio fundamental
da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III da CF/88), sendo, inclusive,
primordial a vedação a penalizações que violem o direito à vida e a integridade
física, e moral dos condenados. (artigo 5º, inciso XLIX da CF/88).

Apesar, de todas essas garantias fundamentais e princípios constitucionais


que asseguram a dignidade humana dos presos, no Brasil lamentavelmente não é
atendido esse princípio ao “pé da letra” como deveria, podendo ser citado como
exemplo a superlotação em grande parte dos presídios, conforme dados da
Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) do Estado de São Paulo, do dia
29/06/2022, insta citar alguns estabelecimentos penitenciários dentre inúmeros que
ultrapassam demasiadamente a sua capacidade de população carcerária,: a
Penitenciária de Lucélia, Região Oeste de São Paulo, possui capacidade para 1440
presos, mas sua população carcerária está em 2367, sendo 927 presos a mais,
igualmente o Centro de Progressão Penitenciária de Mongaguá, Região do Vale do
Paraíba e Litoral, possui capacidade para 1640 presos, mas sua população
carcerária está em 2542, totalizando 902 presos a mais, além das situações
precárias de condições de sobrevivência que os condenados desses
estabelecimentos vivenciam.

Desta forma, cristalina a impossibilidade de se se garantir o respeito à


integridade física e moral dos indivíduos que cumprem pena nesses
estabelecimentos prisionais.

No entanto, por meio do princípio da humanização da pena é possível refletir


sobre o direito penal com um olhar mais humanizado, para então poder tentar
compreender a principal função da pena, qual seja a ressocialização do indivíduo
para reintegra-lo a sociedade de forma gradual, pois o Poder Judiciário já basta para
penalizar o agente infrator, cabendo a ele dosar a quantidade de pena seguindo o
ordenamento legal, para que assim, este apenado possa cumprir sua pena, dar
início a sua execução penal, de forma digna e humanizada.
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3. PROGRESSÃO DE REGIME

3.1. Evolução dos sistemas penitenciários

Pode se dizer que na Idade média se deu origem ao conceito de prisão, de


início havia o escopo de punir monges e clérigos que descumpriam seus deveres,
desta forma, eram coagidos a recolher-se em celas com o fim de praticarem
meditação e a busca de arrepender-se por seus feitos, entendendo, que assim,
ficariam mais próximos de Deus.

Ao decorrer dos séculos, a prisão serviu de contenção nas civilizações mais


antigas com o fim de ser um lugar de custódia e tortura.

Pode se dizer que os sistemas penitenciários tiveram início nos Estados


Unidos e tiveram, além de uma inspiração mais ou menos religiosa, importante
antecedente histórico em Amsterdã e nos Bridwells ingleses, além de outras
experiências similares realizadas na Alemanha e na Suíça. (BITENCOURT, 2014, p.
145)

Já no Brasil, o início das prisões com suas celas individuais e, inclusive, com
oficinas laborais, foi a partir do século XIX.

Ao decorrer dos até o ano de 1890 ainda havia pena de morte, prisões
perpétuas, a abolição dessas penas ocorreu pela primeira vez com a Proclamação
da República, com o Código Criminal de 1890, qual determinou que não mais
haveria penas perpétuas ou coletivas, limitando-se às penas restritivas de liberdade
individual, com penalidade máxima de 30 (trinta) anos.

Insta mencionar que a pena de morte foi abolida e permitida por diversas
vezes no ordenamento jurídico brasileiro, sendo abolida pela primeira vez com a
Proclamação da República em 1890, porém, retornou no ano de 1937 com o
Governo de Getúlio Vargas, sendo novamente proibida no ano de 1946, retornou
com a Lei de Segurança Nacional de 1969 e foi abolida outra vez nas Leis de
Segurança Nacional de 1978 e 1983 e (GOMES, 2015).

Ao longo da evolução no regime de cumprimento de penas, podemos


observar que elas foram, pouco a pouco, tornando-se, cada vez mais,
humanizadas, urge asseverar que com o advento da Constituição Federal de 1988,
essa trouxe em seu artigo 5º, inciso XLVII que não haverá pena de morte (salvo em
caso de guerra declarada), caráter perpétuo e cruéis, sendo estas garantias
fundamentais, sendo, inclusive, cláusula pétrea.
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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84,
XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
c) de banimento;
d) cruéis;

Os sistemas penitenciários tiveram uma significativa evolução, passando por


fases bem acentuadas, desde o desenvolvimento dos sistemas penitenciários nos
Estados Unidos tiveram três tipos de sistemas: o pensilvânico, auburniano e
progressivo.

O sistema Pensilvânico ou da Filadélfia, ou ainda, sistema celular, teve início


no ano de 1790, tinha por finalidade aplicar a prisão em cela solitária, ou seja, o
condenado ficava isolado em sua cela, sem poder receber visitas, trabalhar e até
mesmo sem o direito de sair de sua cela, salvo para os passeios no pátio, que
eram exceções raríssimas; pela lei do silêncio, meditação e oração. No entanto, o
isolamento em celas individuais, somente, se aplicava aos presos mais perigosos.
Os outros eram mantidos em cela comuns, sendo permitido trabalhar em conjunto
durante o dia. (BITTENCOUT, 2014, p. 145-147)

Contrariamente do sistema pensilvânico o sistema Auburniano era um pouco


menos rigoroso, foi inserido no ano de 1818 com a construção de uma prisão em
Nova York, cidade de Auburn, neste regime, distinto do pensilvânico, os detentos
eram divididos em 03 (três) grupos: a) os prisioneiros mais antigos e persistente
delinquentes, aos quais era aplicado o isolamento contínuo; b) os menos
incorrigíveis, onde era-lhes permitindo trabalhar e isolamento ocorria em apenas 03
(três) dias da semana e; c) os presos que aparentavam ter maiores chances de
serem corrigidos, onde era imposto apenas o isolamento noturno, sendo permitido o
trabalho em conjunto durante o dia.1 Desta forma, a prisão de Auburn teve como
marca exclusiva o silent system (sistema silencioso), que consistia na permissão do
trabalho aos presos, sob absoluto silêncio, não sendo permitido conversa entre os
presos e confinamento solitário durante o repouso noturno.

Sistema Progressivo, esse sistema surgiu com a falha dos dois sistemas
anteriores, sistema celular e sistema auburniano, em ambos a aplicação de
castigos cruéis e excessivos era fortemente criticado, logo ao passo que a pena
privativa de liberdade foi se estabelecendo como a espinha dorsal do sistema
penal, as falhas desses dois sistemas os tornaram impraticáveis. Por conseguinte,
em busca de uma nova filosofia penal onde o cumprimento da pena fosse de forma
menos ignominiosa para o condenado.
21

Desta forma, nasce o sistema progressivo, esse, por sua vez, mudou a
forma do cumprimento de pena, permitindo a distribuição do lapso da condenação
em períodos, levando em conta o comportamento e desempenho do condenado,
cujo alcançava benesses conforme progredia. Este sistema tem como
característica principal a necessidade da reabilitação do preso, sua ressocialização
para que esse possa ser reinserido na sociedade antes mesmo do fim de sua pena.

Este sistema surgiu na Inglaterra, vindo a ser implantado posteriormente na


Irlanda no final do século XIX.

O Brasil adotou o sistema progressivo em 1940 com o Código Penal


Brasileiro, com algumas alterações. Segundo dispõe Júlio Fabbrini Mirabete: O
sistema progressivo, adotado pelo Código Penal Brasileiro de 1940, prevaleceu-se
de um período inicial de isolamento absoluto por um prazo não superior a três
meses na pena de reclusão, acompanhado de trabalho durante o dia e da
possibilidade de transferência para colônia penal ou estabelecimento similar e,
afinal, o livramento condicional. Com a Lei nº 6.416, 1977, o isolamento inicial na
pena de reclusão passou a ser facultativo, introduzindo-se também o sistema de
execução em três regimes (fechado, semi-aberto [sic] e aberto) e a possibilidade do
início do cumprimento nos regimes menos severos conforme a quantidade da pena
aplicada e as condições de menor periculosidade do condenado. Já a Lei nº 7.209,
excluindo o período inicial de isolamento, manteve as três espécies de regime e
determinou que as penas devem ser executadas na forma progressiva, segundo o
mérito do condenado, sem eliminar, porém, a possiblidade de ser iniciado seu
cumprimento nos regimes menos severos. Assim, não se afastando inteiramente
do sistema progressivo, concede a lei vigente modificações que se adaptam às
concepções modernas. Impõe a classificação dos condenados, faz cumprir as
penas privativas de liberdade em estabelecimentos penais diversificados
(penitenciária, colônia agrícola e casa de albergado), conforme o regime (fechado,
semi-aberto [sic] ou aberto), e tem em vista a progressão o mérito do condenado,
ou seja, sua adaptação ao regime, quer no início, quer no decorrer da execução.
(MIRABETE, 2004, p.387.)

No entanto, apesar da imensa evolução do sistema penitenciário como pode


ser observado, de o sistema progressivo ter sido muito mais humanitário e adequo
de certo modo a dignidade da pessoa humana, o mesmo sistema tem suas falhas,
quais trataremos mais adiante.

3.2. Sistema progressivo

Primeiramente, faz necessário um adendo, diferenciando a pena de reclusão


e a pena de detenção, a pena de reclusão pode se dar tanto em regime, fechado
semiaberto e aberto, já a detenção somente poderá se dar rem regime semiaberto
e aberto.
22

Em realidade, no conjunto, permanecem profundas diferenças entre


reclusão e detenção. A começar pelo fato que somente os chamados crimes
mais graves são puníveis com pena de reclusão, reservando-se a detenção
para os delitos de menor gravidade. (BITENCOURT, 1999, p. 469)

Quando um indivíduo é preso preventivamente/cautelarmente, tem status de


preso provisório, esse fica em Cetro de Detenção Provisória, após sentença penal
condenatória, o seu status muda para preso definitivo sendo expedido Guia de
Recolhimento onde irá correr a execução de pena do sentenciado. Em sentença, o
regime inicial de pena pode ser determinado tanto em regime fechado, semiaberto
bem como aberto.

No regime fechado o condenado irá cumprir sua pena em estabelecimento


prisional que pode ser de segurança máxima ou média, conhecido como
Penitenciárias, este regime é destinado aos condenados a pena superior a 08 (oito)
anos.

No regime fechado a pena é cumprida em penitenciária (art. 87 da LEP) e o


condenado fica sujeito ao trabalho no período diurno e a isolamento durante
o repouso noturno em cela individual com dormitório, aparelho sanitário e
lavatório (art. 88 da LEP) (MIRABETE, 2006, p. 256)

No regime semiaberto o sentenciado cumprirá a execução de sua pena em


Colônia Agrícola, industrial ou estabelecimento análogo.

Vale se dizer que na prática o estabelecimento destinado ao cumprimento de


pena em regime semiaberto são os Centros de Progressão Penitenciária, por sua
vez, pode ser aplicado tal regime para condenados não reincidentes, cuja pena
seja superior a 04 (quatro) anos e não exceda a 08 (oito) anos.

Insta mencionar, que tem também o Centro de Ressocialização de Presos,


comumente localizadas em cidades médias do interior, cuja finalidade é abrigar
sentenciados primários e de baixa periculosidade, ademais, esses Centros de
Ressocialização acolhem tanto condenados em regime semiaberto bem como em
regime fechado.

Já no regime aberto a execução da pena se dá em casa de albergado ou


estabelecimento apropriado, mas, que o mais comum na prática é a própria
residência do sentenciado, este regime, em geral, destinado aos condenados não
reincidentes, cuja pena seja igual ou inferior a 04 (quatro) anos. Neste caso o juiz
da execução determinará regras a serem cumpridas pelo sentenciado em regime
aberto, como por exemplo: deverá trabalhar, frequentar cursos ou exercer outras
atividades autorizadas, recolhimento domiciliar, entre outras.
23

No ordenamento jurídico brasileiro é vedado a progressão de regime por


salto (per saltum), ou seja, se um indivíduo, cuja sentença penal condenatória foi
em regime inicial fechado não poderá progredir diretamente ao regime aberto,
devendo passar primeiramente do fechado para o semiaberto e do semiaberto para
o aberto. Do mesmo modo é vedado a regressão por salto.

Súmula nº 491:
É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional.

Por fim a finalidade da progressão de regime é a reinserção do sentenciado


a sociedade de forma gradual e harmônica, claro, desde que este alcance os
requisitos objetivos e subjetivos determinados pela LEP e apresente condições de
se adaptar ao regime mais brando.

3.2.1. Requisitos obrigatórios para a progressão de regime

Para que se defira um benefício de progressão a um regime mais brando,


faz necessário o executando atender aos requisitos materiais: objetivos e
subjetivos do art. 112 da LEP, in verbis:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma


progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da
pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário,
comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que
vedam a progressão. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003).

Com o advento da Lei 13.964/2019, mais conhecida como Pacote Anticrime,


houve mudanças quanto ao requisito objetivo a ser cumprido pelo sentenciado, isto
é, houve mudanças no lapso temporal de pena a ser atingido por este, vejamos:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma


progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime
tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça;
II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça;
III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o
crime tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;
IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela
prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário;
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado
morte, se for primário, vedado o livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização
criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na
prática de crime hediondo ou equiparado;
24

VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em


crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento
condicional.

Logo, classificados em materiais (cumprimento de um sexto da pena e


mérito do condenado) que subdividem em objetivo e subjetivo e formais (exame
criminológico, ainda que indispensável para se alcançar o requisito subjetivo deve
ser observado as porcentagens de acordo com cada peculiaridade de cada
caso/indivíduo.

Quanto ao quesito do requisito subjetivo, faz necessário o bom


comportamento carcerário do sentenciado, comprovado pelo diretor do
estabelecimento penitenciário.

O bom comportamento carcerário é adquirido com a ausência de faltas


disciplinares de natureza grave (art. 50 incisos I ao VIII, art. 51, incisos I ao III, art.
52, todos da LEP), quando o sentenciado pratica uma falta disciplinar, de acordo
com a redação incluída na LEP pelo Pacote Anticrime, artigo 112, §7º "O bom
comportamento é readquirido após 1 (um) ano da ocorrência do fato, ou antes,
após o cumprimento do requisito temporal exigível para a obtenção do direito.”

Em casos excepcionais é requisitado a realização de exame criminológico,


no entanto, este deve ser fundamentada na periculosidade do caso concreto, não
sendo este um requisito obrigatório.

“Súmula 439 - Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades


do caso, desde que em decisão motivada. (Súmula 439, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe 13/05/2010. – g.n.).

Logo, como um exemplo prático, tem se um indivíduo condenado reincidente


em crime sem violência ou grave ameaça, deverá cumprir 20% (vinte por
cento) da pena, 1/5 (um quinto), e ostentar bom comportamento carcerário
comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional, para então progredir para
regime mais brando.

3.2.2. Requisitos para a progressão nos crimes hediondos

Tendo abordado de forma geral o conceito de progressão de regime,


não obstante, de forma clara, cabe diferenciar os requisitos para a progressão de
regime quando se trata de crimes hediondos e equiparados a hediondos.

Vejamos, antes Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime), ao passo que para


crimes comuns o lapso de cumprimento de pena tinha que ser de 1/6 (requisito
objetivo) (art. 112 da LEP), nos delitos hediondos e equiparados o lapso temporal
25

para progressão de regime seria de 2/5 para sentenciados primários, e 3/5 aos
condenados reincidentes, conforme discorre a Lei da 8.072/90.

Junto ao supramencionado, soma o requisito objetivo o requisito


subjetivo (bom comportamento carcerário, comprovado pelo).

Após o advento do Pacote Anticrime, o artigo 112 da LEP passou a


tratar do requisito objetivo da seguinte maneira:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma


progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
(....)
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela
prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário;
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado
morte, se for primário, vedado o livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização
criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na
prática de crime hediondo ou equiparado;
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em
crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento
condicional.

Como pode ser observado, antes da referida lei, bastava o crime ser
hediondo ou equiparado a hediondo e sentenciado primário que o lapso temporal
para progressão era fixado em 2/5, enquanto para os sentenciados reincidentes em
crime hediondo ou equiparado a hediondo p lapso temporal para progressão era
fixado em 3/5, obviamente, somando os requisitos objetivos e subjetivos. Contudo,
após a Lei 13.964/19 o simples fato de ser ou não reincidente não basta para a
fixação do lapso temporal de cumprimento da pena, sendo, portanto, estipulado
mediante as peculiaridades do crime, como por exemplo: “se o apenado for
condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário” deverá
cumprir no mínimo 40% da pena, já se for “condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento
condicional” deverá ter cumprido pelo menos 50% da pena.

Por fim, urge asseverar, que além desses dois requisitos aludido, é permitido
ao juiz, mediante a particularidade de cada caso, em decisão devidamente
fundamentada, solicitar a realização de exame criminológico, cujo escopo é prestar
uma pesquisa mais aprofundada, com perguntas sobre: antecedentes pessoais,
sociais, psíquicos, familiar, a fim de adquirir informações que revelem a
personalidade do condenado e se este está absorvendo da terapêutica penal.

A realização do exame criminológico tem a finalidade exatamente de


fornecer elementos, dados, condições, subsídios, sobre a personalidade do
26

condenado, examinando-o sob os aspectos mental, biológicos e social para


a individualização da pena através dessa classificação dos apenados.
(BITERCOURT, 2015, p. 633).

4. LIVRAMENTO CONDICIONAL

O Livramento Condicional não tem sua origem muito definida, haja vista a
divergência entre alguns historiadores, alguns dizem que surgiu na França entre
1832 e 1847 e outros, que surgiu em Nova York em 1817.

No Brasil, este foi incorporado ao Código Penal de 1980 em seus artigos 50


a 52, sendo que, foi regulamentado somente após um longo tempo pelo
D.16.665/1924 e D.4577/1922.

Mesmo após a reforma do Código Penal de 1940 em 1984, foi mantido o


Livramento Condicional incorporado nos artigos 83 a 90, sendo previsto também no
Código de Processo Penal nos artigos 710 a 733, bem como nos artigos 131 a 146
da Lei 7.210/1984.

O Livramento Condicional é uma benesse, um instituto humanizador da


pena, cuja finalidade é a liberdade antecipada do indivíduo condenado como uma
forma de “compensar” esse, por ter seguido as regras impostas pela unidade
prisional, ter cumprido os requisitos de sua reprimenda de forma plena e ter tido um
bom comportamento carcerário.

Segundo disserta Noronha, o Livramento Condicional “é a concessão, pelo poder


jurisdicional, da liberdade antecipada ao condenado, mediante a existência de
pressupostos, e condicionada a determinadas exigências durante o restante da
pena, que deveria cumprir preso.(NORONHA, 1997. p. 289)
4.1. Distinção do livramento condicional e a progressão de regime

Pode se dizer que o livramento condicional pode ser facilmente confundido


com progressão de regime, no entanto, ambos são distintos.

Enquanto a progressão de regime faz parte de um sistema progressivo


adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro, cuja, somente, é possível a
progressão gradual e harmônica, qual se faz necessário passar por um regime
intermediário para então progredir a um regime mais brando, sendo, inclusive,
vedada a progressão por salto, ou seja, um indivíduo que cumpre sua reprimenda
em regime fechado não pode progredir diretamente ao regime aberto.

Não obstante, no Livramento Condicional como primeira diferença tem se


que o preso para ser beneficiado com este, pode estar tanto em regime mais
gravoso (fechado, bem como mais brando, semiaberto ou aberto, claro, desde que
27

preenchido todos os requisitos necessários estipulados por lei, cujos são mais
“rigorosos” do que para uma progressão de regime, onde exige somente o requisito
objetivo (lapso temporal para benefício) e subjetivo (bom comportamento carcerário
atestado pelo diretor da unidade prisional)

“livramento condicional consiste na liberação do condenado após o


cumprimento de parte da sanção penal aplicada em estabelecimento penal,
desde que cumpridamente observados os pressupostos que regem a sua
concessão e sob certas condições estipuladas.” (PRADO, Luiz Regis, 2001,
p. 491.)

4.2. Pressupostos Objetivos e Subjetivos

Para ser concedido a benesse do livramento condicional, faz necessário o


sentenciado preencher todos os pressupostos (objetivos e subjetivos)
simultaneamente, estes requisitos estão dispostos no artigo 83 do código Penal,
vejamos,

Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a


pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente
em crime doloso e tiver bons antecedentes; (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime
doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - comprovado: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
a) bom comportamento durante a execução da pena; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano
causado pela infração; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por
crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente
específico em crimes dessa natureza. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
(Vigência)
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará
também subordinada à constatação de condições pessoais que façam
presumir que o liberado não voltará a delinquir. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

Como pode ser observado, o caput do artigo 83 dispõe que o livramento


condicional somente pode ser concedido aos indivíduos com pena privativa de
liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos. Urge asseverar que os indivíduos
condenados por mais de um crime deve ter suas penas somadas, assim, se um
sentenciado que possui a pena de um crime inferior a 2 (dois) anos, mas, se
28

somada a pena do outro crime, esta, se iguala ou supera 2 (dois) anos, terá direito
ao livramento condicional nos mesmos moldes, insta refrisar que a lei dispõe que a
reincidência para ser considerada em metade da pena deve ser referente a crime
doloso, isto é, se um dos crimes ou todos forem do tipo culposo, o sentenciado terá
direito a benesse com o cumprimento de 1/3 da pena.

Sucintamente, sobre reincidência, o indivíduo será considerado reincidente


quando após o trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória (quando
não couber mais recursos e a decisão transitar em julgado), este cometer novo
crime. De outra forma, o indivíduo que não possui sentença penal condenatória
transitada em julgado é considerado primário, mesmo que possua diversas
condenações, mas que nenhuma tenha transitado em julgado. Para mais, os
efeitos da reincidência perduram por pelo prazo de 5 (cinco) anos após o
cumprimento ou extinção da pena, sendo assim, se o indivíduo cometer novo crime
após 6 anos, este será tecnicamente primário tendo apenas maus antecedentes.

Os incisos I e II do artigo 83, trazem os pressupostos de ordem objetiva,


expondo que se o indivíduo não for reincidente em crime doloso deve ter cumprido
mais de 1/3 de sua pena, já se o sentenciado for reincidente em crime doloso
deverá ter cumprido mais da metade de sua pena.

Como pressupostos subjetivos, o inciso III elenca suas alíneas “a”, “b”, “c” e
“d” o que deve ser comprovado:

“a” - bom comportamento durante a execução da pena, (comumente se dá


pela ausência de faltas disciplinares);

“b” - não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;

“c” - bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído, este requisito;

“d” aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;

Quanto aos requisitos da aliena “c” e “d” é precioso dizer que são requisitos
muito difíceis de serem preenchidos pelos sentenciados, pois, sabido é a
descomunal ausência de trabalho ofertado a sentenciados nas unidades prisionais,
pelo menos, no Estado de São Paulo, pode se dizer que a maior parte das
penitenciárias não contam com vagas de trabalho para todos os condenados,
acabando por muitas vezes sendo um requisito a não ser preenchido pelo
sentenciado, não por desmérito desse, mas sim, por mazelas do Estado, no
entanto, se não for concedida a oportunidade do condenado trabalhar na unidade
prisional, a concessão do livramento condicional não poderá ficar impedida, uma
vez que como já supracitado o sentenciado não deve ser prejudicado pela omissão
do Estado qual tinha o dever de lhe fornecer vaga para trabalho.
29

Observe-se dois exemplos reais:

O inciso IV, trata sobre a reparação do dano, se houve.

4.3. Os Crimes Hediondos e o rigor da lei na concessão de benefícios prisionais:


requisitos objetivo e subjetivos.

Tratando de crimes hediondos ou equiparado a hediondo dispostos na Lei nº


8.072/1990, o rigor para a concessão do livramento condicional é ainda maior,
analisemos:

O inciso V do artigo 83 do Código Penal, traz a necessidade do cumprimento


de mais de 2/3 (dois terços) da pena, fração única independentemente de o
indivíduo ser primário ou reincidente, nos casos de condenação por crime hediondo
ou equiparado a hediondo e, ainda, se o apenado não for reincidente específico em
crimes dessa natureza.

Já o parágrafo único do artigo 83, CP aborda um pressuposto específico:


“para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a
concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais
que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir”, ou seja, será solicitado a
realização de exame criminológico, e por meio de uma perícia médico-psiquiátrica será
verificado se o sentenciado tem disposição ao retorno à delinquência.
30

O entendimento de muitos é de que os crimes hediondo ou equiparado a


hediondo são cometidos por agentes portadores de elevado grau de atrocidade e
periculosidade, logo, o porquê de merecerem maior grau de reprovação.

Cabe mencionar, que não sempre, mas comumente, os crimes hediondos ou


equiparado a hediondos são aqueles praticados com grande violência e desmando
de crueldade, como exemplo os crimes equiparados a hediondo como: tortura,
terrorismo, e até mesmo o tráfico de drogas, que traz danosas e irreversíveis
consequências à sociedade.

Neste norte:

“A tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e o terrorismo somente não são


considerados hediondos – embora sejam igualmente graves e repugnantes
– porque o constituinte, ao elaborar o art. 5º, XLIII, CF, optou por mencioná-
los expressamente como delitos insuscetíveis de fiança, graça e anistia,
abrindo ao legislador ordinário a possibilidade de fixar uma lista de crimes
hediondos, que teriam o mesmo tratamento. Assim, essas três modalidades
de infrações penais são, na essência, tão ou mais hediondas que os crimes
descritos no rol do art. 1º da Lei 8072/905.” (NUCCI,2008, p. 600.)

Por fim, cabe mencionar que com o avento da Lei nº 13.964/2019 (Pacote
Anticrime), o artigo 112, inciso VI, alínea “a” e inciso VIII, trouxe na última parte as
hipóteses em que é vedado o livramento condicional.

Artigo 112 da LEP:


(...)
VI- (...)
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com
resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
(...)
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em
crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento
condicional. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

5. EXAMES CRIMINOLÓGICOS

5.1. Origem e conceito

Pode se dizer que o exame criminológico surgiu em torno dos anos de 1890,
quando o médico de origem italiana, Cesare Lombroso fazia investigações
biológicas sobre o crime e o criminoso. Durante o Congresso Internacional
Penitenciário de St. Petesburgo no ano de 1980, este afirmou pela primeira vez a
precisão do exame criminológico.
31

Nos próximos anos, a ideia seguia em ascensão e outros congressos de


criminologia tratavam sobre o estudo da personalidade dos delinquentes.

Em 1938, um marco importante, no Congresso de Criminologia ocorrido em


Roma, tratava sobre o estudo da personalidade do delinquente e recomendava que
isso fosse implementado nas 3 fases do judiciário, instrução, julgamento e
execução.

Neste norte, Álvaro Mayrink da Costa dissertou que:

Em Roma, no ano de 1938, o I Congresso Internacional de Criminologia


recomendava que o estudo da personalidade do delinquente seja formal e
substancialmente inserido nas três fases do ciclo do judiciário: instrução,
julgamento e execução.” Todavia estas reuniões se multiplicaram após a II
Grande Guerra Mundial, e o II Congresso de Criminologia realizado em
Paris, em 1950, defendeu, dentro das seções de biologia e de juventude
delinquente, a necessidade do exame biotipológico, além de ter insistido na
a introdução da psiquiatria nos estabelecimentos penitenciários. (COSTA,
1997, p. 88)

Em 1950, os juízes passaram a usar os resultados dos exames


criminológicos como parâmetros para sentenças, tudo através de uma resolução
adotada à época.

No XII Congresso que a antiga Comissão Penal e Penitenciária organizou,


em 1950, em Haia, foi adotada a seguinte resolução: “Na organização
moderna da justiça penal, é altamente desejável, para servir de base à
fixação da pena e aos processos de tratamento penitenciário e de liberação,
dispor de um relatório, previamente à prolação da sentença, o que se referia
não somente às circunstâncias do crime, mas também aos fatores relativos
à sua constituição, à personalidade, ao caráter e aos antecedentes sociais e
culturais do delinquente”. (COSTA, 1997, p. 88)

E os estudos acerca de tal tema nunca pararam, estado sempre em


ascensão.
Em um contexto geral, o exame criminológico é um aglomerado de exames
periciais e pesquisas de natureza biopsicossocial do delinquente, realizados por
uma equipe multidisciplinar contando com psicólogos, assistentes sociais e
médicos psiquiatras, cuja função é auferir a personalidade criminosa, além da
probabilidade daquele indivíduo voltar a delinquir se reinserido na sociedade, se o
avaliado absorveu da “terapêutica penal”.

Conforme J.W. Seixas Santos entende-se, por exame criminológico, o


conjunto de exames e pesquisas científicas de natureza biopsicossocial do
homem que delinquiu e para se obter o diagnóstico da personalidade
criminosa e se fazer o prognóstico; tal exame revelará, sem disfarces, a
verdadeira dimensão da personalidade do criminoso, descobrindo sua
intimidade psíquica. (NEWTON, 2002, p. 245)

5.2. Importância do Exame Criminológico versus a realidade carcerária.


32

De fato, o exame criminológico possui extrema importância na execução


penal, uma vez que uma das finalidades do mesmo é a analise individual de cada
condenado para ver se este possui as condições necessárias para progredir de
regime ou ser beneficiado com o livramento condicional, com o foco de evitar que
se reinsira na sociedade um indivíduo que não está ressocializado, que não
absorveu da terapêutica penal e não está pronto para desfrutar de sua liberdade
novamente, já que do ponto de vista teórico e prático, muitas vezes, somente o
prontuário com o bom comportamento apenas pela ausência de faltas disciplinares,
não demonstra a aptidão do sentenciado a exercer as atividades básicas sociais
de forma licita, desfrutando de liberdade com dignidade.

Sabido é que o exame criminológico é facultativo, podendo ser determinado


por fundadas razões, quando se faz necessário devido a peculiaridades do caso.

“Súmula 439 - admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do


caso, desde que em decisão motivada. (súmula 439, terceira seção, julgado
em 28/04/2010, dje 13/05/2010. – g.n.)”

Ao assim interpretar o artigo 112 da LEP, o STJ, embora tenha permitido a


realização do exame criminológico, somente a autorizou diante da ocorrência de
“peculiaridades do caso”, cujo conteúdo encontram-se diretamente nos acórdãos
referidos por aquela Corte de Justiça como “precedentes originários” da súmula.

[...] de acordo com as alterações trazidas pela Lei 10.792/03, o exame


criminológico deixa de ser requisito obrigatório para a progressão de
regime, podendo, todavia, ser determinado de maneira fundamentada
pelo juiz da execução de acordo com as peculiaridades do caso.
Assim, mesmo que não tenho sido realizado em primeira instância, o
exame criminológico pode ser determinado pelo tribunal a quo, desde
que este se funde em elementos concretos (relativos sempre a fatos
ocorridos no curso da execução penal) a apontar para a sua
necessidade.” (Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 15/05/2008, DJe 02/06/2008 - g.n.)

Observa-se que as razões para a fundamentação não devem se dar em


razão da gravidade do crime cometido, e sim ante as peculiaridades ocorridas no
lapso do cumprimento da reprimenda.

Neste norte, foi o que entendeu o “Tribunal da Cidadania” no bojo do HC


105337-RS, igualmente invocado como precedente originário à Súmula no 439.
Confira-se:

“O que se veda é a realização do exame sem fundamentação, assim


como casos em que o tribunal a quo impõe a realização do exame
fazendo apenas referência à gravidade do crime cometido pelo
sentenciado, sem apontar elementos concretos dos autos que possam
rechaçar a decisão do magistrado. isto porque a execução projeta-se
para o futuro, ou seja, à capacidade que o sentenciado demonstra para
33

voltar a viver em sociedade, não sendo a gravidade do crime um


elemento a obstar a progressão, se já alcançados os requisitos objetivo
e subjetivo para tanto." (hc 105337 rs, rel. ministra jane silva
(desembargadora convocada do tj/mg), sexta turma, julgado em
26/08/2008, dje 08/09/2008 – g.n.).”

Ainda Lei 10.792/2003, que alterou a redação do parágrafo único do art.


112 da LEP, estabelecendo a prescindibilidade do exame criminológico para
concessão pedido de progressão de regime ou de Livramento Condicional.

Artigo 112, Parágrafo único: “A decisão será motivada e precedida de


parecer da Comissão Técnica de Classificação e do exame
criminológico, quando necessário.”

No entanto, toda teoria segue distinta da prática, a verdade é que por


diversas vezes juízes determinam a realização de exame criminológico sem
realmente haver fundada razão, sem o caso concreto realmente ter uma
peculiaridade.

Ainda, deve se mencionar o absurdo da realidade carcerária brasileira, em


específico no Estado de São Paulo, o que conta com um grande desfalque em
médicos psiquiatras, psicólogos, profissionais da área que poderiam realizar afundo
um CTC e poder alcançar as finalidades do exame criminológico, ademais, mesmo
que tivesse profissionais, seria impossível fazer um exame profundo e
individualizado para a quantidade massiva de sentenciados que há.

Quanto ao mencionado ‘grau de periculosidade do indivíduo, esse é


analisado com base em perguntas como: se arrepende do delito praticado, do
reconhecimento ao crime praticado, junto a outros questionamentos deduz-se a
presunção da capacidade do condenado de readaptar-se ou não ou não ao
convívio social.

Fora da teoria nunca se sabe o que esperar realmente da conclusão de um


exame criminológico, uma vez que por diversas vezes indivíduos com as mesmas
características, com respostas similares as perguntas realizadas, que possuem
vínculo familiar preservado; assumem o delito a ele imputados; realiza planos para
o futuro e conta com o apoio familiar em sua reinserção social, ainda sim possuem
resultado de exame criminológicos distintos, um tem parecer desfavorável
enquanto o outro favorável, questionando se as razões para tal conclusão: muitas
vezes infundadas.

A verdade é que não se pode ansiar, através da realização de exame


criminológico, buscar presciência quanto a possível prática de delitos futuros, uma
vez que além da impossibilidade da elaboração de plano individualizado de
execução da pena, os crimes se divergem grandemente, tornando praticamente
impossível delinear um padrão de personalidade que se possa concluir o desejado.
34

Sabido é que nenhum ser tem o poder de prever o futuro, dificilmente um


indivíduo será analisado somente por algumas horas e então concluído já terá o
prognóstico real do mesmo, ainda mais quando se trata de seres humano, um ser
totalmente instável, inclusive, os com propensão a delinquir.

Como já alertava GEMELLI:

"Como fixar os critérios para prever as ações humanas, que


precisamente enquanto tais são o que há de mais absolutamente
imprevisível?”

O que se pode esperar da pena privativa de liberdade é que se não


reeduque, que tampouco deseduque e seja fator de supressão da personalidade do
sentenciado; que não pretendendo fazê-lo melhor, tampouco o faça pior; que não
podendo ressocializá-lo, que ao menos não o dessocialize. Para tanto, a pena deve
ser cumprida da forma mais digna possível.

É possível reconhecer a extrema importância do exame criminológico, no


entanto, isso fica somente para a teoria, já que na realidade, nada funciona como o
esperado, a falta de profissionais para realização do exame criminológico, a
superlotação das unidades prisionais, sem mencionar a impossibilidade de garantir
uma futura delinquência e um aproveitamento da terapêutica penal do sentenciado
com apenas algumas horas de conversa, a verdade é que o máximo que se pode
extrair na maioria dos casos como decorrência positiva da pena privativa de
liberdade penal brasileira são praticamente nulas, podendo esperar tão somente
que aquele indivíduo que por meros erros da vida acabe por realmente um
delinquente com grandes chances de reincidência.

Para que a ideia do exame criminológico realmente funcionasse, a realidade


carcerária, cuja é de tamanha precariedade, necessitaria mudar, começando com a
verdadeira reeducação dos que ali adentram, com mais possibilidades de
trabalhos, estudos, e com planejamentos que façam o delinquente realmente se
regenerar e tomar ciência de seus atos, tendo ciência do peso e das
consequências que esses geram, e não simplesmente superlotar sistemas
penitenciários, fazer uma análise superficial a certos sentenciados e acreditarem
que tão somente isso é algo que irá garantir e demonstrar que aquele individuo
está devidamente ressocializado apto para ser reinserido a sociedade.

6. SISTEMA PENITENCIÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO

6.1. A (in)aplicabilidade da Lei de Execução Penal

Versando sobre execução de pena nas centenas de unidades prisionais


instaladas no Estado de São Paulo, tratando-se de direitos dos sentenciados, da
35

efetiva aplicabilidade da lei de execução penal é extremamente falho, divergente,


havendo diversos casos com lacunas e arbitrariedade.

Verdade seja dita, a pena aplicada ao condenado na teoria tem por escopo
propiciar condições para a reinserção social do preso, por meio da ressocialização:
dos trabalhos, dos estudos, no entanto, a realidade é precária e sem esperança de
uma verdadeira ressocialização.

Leciona Mirabette:

Contém, o artigo 1 º da Lei de Execução Penal duas ordens de finalidade. A


primeira delas é a correta efetivação dos mandamentos existentes na
sentença ou outra decisão criminal, destinados a reprimir e prevenir delitos.
Ao determinar que a execução penal "tem por objetivo efetivar as
disposições da sentença ou decisão criminal", o disposto registra
formalmente o objetivo da realização penal concreta do título executivo
constituídas por tais decisões. A segunda é de "proporcionar condições para
a harmônica integração social do condenado e do internado"
instrumentalizada por meio da oferta de meios pelos quais os apenados e
os submetidos às medidas de segurança possam participar
construtivamente da comunhão social. (MIRABETE, 1996, p. 134)

Na teoria a reintegração do preso, cuja garantia está na LEP, se dá com


base na oferenda de conjunturas que observem a dignidade humana (princípio
constitucional), a fim de reinserir o sentenciado em sociedade de forma harmônica
e gradual, como exemplo de reinserção gradual temos: a progressão de regime, as
saídas temporárias, e até mesmo o livramento condicional.

Na realidade, a aplicação da LEP é inconstante, sendo que, na maior parte


dos casos, apesar de o indivíduo sentenciado preencher os requisitos impostos na
lei, para que então, este seja beneficiado com a progressão de regime ou
livramento condicional, não basta, o sistema é falho, pois, ora, se a Lei tem eficácia
erga omnes, deveria ser aplicada a todos de igual maneira, o que não ocorre na
prática, além da própria lei determinar requisitos específicos para cada tipo de
crime, os sancionadores acabam muitas vezes por condenar um indivíduo duas
vezes, quando dosa a pena do mesmo, e depois, novamente, quando um benefício
lhe é negado, pela suposta gravidade do crime como motivo (em um delito de
roubo por exemplo); pela prática de uma falta disciplinar já reabilitada, as vezes, o
indivíduo tem uma única falta disciplinar em anos, e mesmo assim, um benefício
lhe é negado por tal motivo, quando a LEP somente impõe como requisito, tão
somente, o não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses.

Disso, pode se concluir que, o sistema de execução penal brasileiro, neste


caso, do Estado de São Paulo, a aplicação da LEP, está muito ábdito de ter sua
real finalidade aplicada e alcançada pelo menos 80% da população carcerária que
faz jus a progressão de regime ou ao livramento condicional.
36

6.2. A realidade do sistema progressivo nessas Unidade Prisionais

Como já mencionado anteriormente, as progressões de regime no Estado de


São Paulo, bem como em muitos outros estados brasileiros, mas que não é o foco
deste presente trabalho, oscilam muito, vejamos,

Se a Lei impõe requisitos para progressão de regime, como exemplo: um


crime de tráfico, para a progressão de regime, tratando-se de um indivíduo
reincidente em crime equiparado a hediondo (tráfico), dependendo do
estabelecimento prisional onde o sentenciado esteja cumprindo sua reprimenda
será mais dificultoso a sua progressão.

Como exemplo do supramencionado, observemos dois, de muitos, casos


reais de progressão de regime, com a identidade dos indivíduos preservadas,
observemos:

O primeiro caso é de um indivíduo condenado por extorsão mediante


sequestro, como vítimas 3 indivíduos, sendo um adulto e duas crianças menores
de 5 anos de idade, o indivíduo infrator foi condenado por uma pena de 26 anos.

O segundo caso é de um indivíduo condenado por dois delitos de tráfico de


drogas e um porte de arma, sendo condenado a uma penal total de 17 anos.

No primeiro caso, o indivíduo solicitou a progressão de regime, por ter


cumprido á época 2/5 de sua reprimenda, alcançando assim o requisito objetivo, e
possuía bom comportamento carcerário, não tendo praticado faltas disciplinares
nos 11 anos de pena em que cumpriu, alcançando o requisito subjetivo. Neste caso
foi solicitado pelo magistrado a realização de exame criminológico mais exame
psicológico. O exame criminológico veio favorável a progressão de regime pois foi
entendido que o indivíduo tinha consciência das normas e deveres a serem
cumpridos no regime mais brando, e que este estava motivado a cumprir as
determinações, sendo oportuno a concessão da progressão. No entanto, o exame
psicológico neste caso não pode ser realizado, pois a unidade prisional não
contava com profissional qualificado para realizar tal exame, por fim, mesmo sendo
um crime gravíssimo, que envolvia ameaça a vida literal de pessoas por pura
ganância, sendo duas destas no início de sua vida, sem nem poder assimilar a
maldade desse mundo, com apenas o cumprimento de 2/5 de sua reprimenda, este
fora beneficiado com a progressão de regime.

No outro caso, um caso mais peculiar, pois o indivíduo que cumpria pena
pelos crimes de tráfico e porte de armas, solicitou a progressão de regime, pois já
havia cumprido mais da 2/3 de sua reprimenda, cerca de 85%, alcançando o
requisito objetivo, com bom comportamento carcerário, com uma única falta
disciplinar que fora cometida quando estava a menos de 1 ano em cárcere privado,
37

portanto, durante 14 anos de sua reprimenda não praticou nenhuma falta


disciplinar, alcançando o requisito subjetivo, até mesmo porque a LEP requer o não
cometimento de faltas disciplinares nos últimos 12 meses e não que o indivíduo
nunca pratique falta disciplinares, de qualquer forma, o indivíduo havia alcançado
os requisitos, ainda, como já se sabe, requisito não obrigatório, mas facultado ao
magistrado requisitá-lo ante a peculiaridade do caso, o exame criminológico fora
solicitado a este individuo, no entanto, o exame criminológico veio negativo,
curioso, que em dois pedidos de progressão de regime realizado para este mesmo
indivíduo, com uma diferença de 8 anos entre eles, os dois criminológicos foram
negativos pelos mesmos motivos: o indivíduo ter praticado uma falta disciplinar
durante a sua reprimenda (o que não é justificativa pois a própria lei estabelece
que, estando o sentenciado reabilitado de sua falta disciplinar poderá pleitear a
progressão de regime); o indivíduo ser reincidente (o que também não deveria ser
uma justificativa acatada, já que a LEP estabelece lapsos para cumprimento de
pena para os condenados reincidentes possam pleitear a progressão de regime); e
o principal, que havia indícios que o indivíduo seria integrante de facção criminosa,
no entanto, essa justificativa jamais poderia ser acatada, uma vez que, o indivíduo
não havia sido condenado por integrar organização criminosa, e mesmo que
houvesse indícios, não havia um processo legal, não havia o contraditório e a
ampla defesa, garantia constitucional, para que então isso pudesse ser
considerado e utilizado a desfavor do indivíduo, e ai vem a pergunta: mas por que
então havia indícios de participar de organização criminosa? Simples, pelo simples
falto deste indivíduo estar cumprindo sua reprimenda em uma unidade prisional
destinada a estes tipos de indivíduos, mas que no caso deste, nada comprovava,
uma vez que não fora condenado por tal acusação e tão pouco teve o livre arbítrio
de escolher onde cumpriria sua reprimenda. Por fim, a progressão de regime foi
negada a este indivíduo.

A questão a ser abordada aqui, não é qual crime foi o mais grave, pois grave
todos são, mas o que questiona, é a hipocrisia de um indivíduo com praticamente
sua reprimenda cumprida, mais de 85%, que possui todos os requisitos obrigatórios
em lei, preenchidos, ter seu direito negado, por razões infundadas, cheias de
fundamentações baseadas em conjecturas e pontuações sem real impacto, e de
um outro indivíduo, que cometeu ameaçou a vida de não só uma pessoa, mas de
três, sendo duas delas apenas crianças, inocentes, sem ideia alguma da tamanha
crueldade, um indivíduo que demonstrou tamanha frieza, falta de empatia, com
atitude monstruosa, progrediu de regime sem ser examinado por um médico
psiquiatra, um agente altamente competente, estudado para determinado fim,
tendo sido apenas avaliado superficialmente por um médico (clinico geral), pois a
unidade em que estava não contava com médico psiquiatra em seu quadro
funcional.

Desta forma, de maneira sucinta, pode se enxergar melhor a imensa falha


que há por parte do estado ao aplicar a lei de execução penal, ora, ambos
38

indivíduos preenchiam os requisitos para a concessão da benesse, e mesmo com


mazelas do Estado um teve seu direito alcançado enquanto o outro também por
mazelas do Estado, não teve seu direito alcançado.

Se a Lei de execução penal é válida para todos, se os requisitos estão ali


para serem preenchidos, por que mesmo quando são preenchidos em
determinados casos, sentenciados veem seus direitos sendo negados
injustamente?

A precariedade e a falta de recursos para uma eficiente aplicação da


execução penal vão muito além da progressão de regime, a eficácia do sistema
prisional é desastrosa, sendo aplicada corretamente em alguns casos, bem como
erroneamente em outros.

6.3. Da afronta aos princípios e direitos fundamentais/a execução penal em


confronto com a dignidade humana

A execução penal no ordenamento jurídico brasileiro como já citado por


diversas vezes tem por fim não só a execução da pena, onde o Estado se utiliza do
jus puniendi, bem como possui a finalidade, que deveria ser o mais essencial, a
ressocialização dos indivíduos condenados, para só então ser cumprida a finalidade
da pena positivamente, de forma que o indivíduo condenado possa assimilar seus
erros e retornar a sociedade com a plena ciência de seus atos e deveres, evitando,
assim, a reincidência.

No entanto nada se vale tudo isso, se nosso sistema é falho, se não forem
respeitados os princípios fundamentais, e o mais importante, o da dignidade
humana. Nos regimes fechados tem-se visto cada vez mais menos
comprometimento com a Constituição Federal e os preceitos básicos do processo
penal executório para impulsionar a ressocialização (ZISMAN, 2016)

Quanto aos direitos e a dignidade da pessoa humana pode se dizer que são
universais, amplo e indivisíveis, respaldam e assegurar o direito à vida, a dignidade,
a liberdade, a igualdade de todas as pessoas, independente de cor, raça, sexo,
religião etc.

A dignidade da pessoa humana está expressa no artigo 1º, inciso III, da


CF/88, bem como na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

Sabido é que a jurisdição se faz presente, tendo os presos seus direitos


expressos como normas constitucionais, no entanto, pouco disso se é aplicado,
como exemplo, observe-se:

(CF/88)
39

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante;
(...)
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
(LEP)
Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado,
objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em
sociedade.
Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.
Art. 11. A assistência será:
I - material;
II - à saúde;
III -jurídica;
IV - educacional;
V - social;
VI - religiosa.
Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e
moral dos condenados e dos presos provisórios.
Art. 41 - Constituem direitos do preso:
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - Previdência Social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso
e a recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e
desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias
determinados;
XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização
da pena;
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da
leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os
bons costumes.
Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal
do internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares
ou dependentes, a fim de orientar e acompanhar o tratamento.

A realidade dos presos em cumprimento de pena passa muito além do que a


lei estabelece como seus direitos, não precisa de muito para confirmar a grande
infringência aos direitos humanos, a dignidade humana desses indivíduos
encarcerados, tudo por omissão do estado.
40

Dentro diversas violações dos direitos garantidos a esses sentenciados,


pode se citar como exemplo: a superlotação das celas, onde suporta 10 pessoas
tem mais de 20; misturando indivíduos de alta periculosidade com indivíduos que
cumprem pena por crimes mais brando, levando-os a uma possível piora em seu
quadro criminal; ao preso é garantido o direito de cumprir sua reprimenda perto de
sua família, o que na prática não ocorre, haja vista a maior parte destes estarem a
mais de 300km de suas famílias, cujas por muitas vezes se quer possuem recursos
econômicos para visitar o familiar condenado; a alimentação lastimável, levando
muitos presos a ter problemas de saúde como subnutrição, úlceras entre outros
problemas de saúde; a higiene é precária, levando os indivíduos ali presentes a
desenvolver inúmeros problemas de saúde e aos que já possuíam, somente
agravando-os mais, seja pela precariedade das condições de convivência, seja
pela falta de remédios, seja pela falta de médicos especialistas e até mesmo pela
falta de atendimento especializado fora da unidade prisional; tem ainda a falta de
vagas para trabalho, para estudo, questiona-se: como se espera que um indivíduo
seja reinserido a sociedade de forma que venha a cumprir a lei como o esperado
se nem o próprio Estado consegue aplicar e seguir as leis como deveria.

Tudo aqui supracitado fere imensamente a constituição federal, não importa


se o indivíduo que lá está infringiu a lei ou não, este não está lá para ser
novamente punido e sim para uma tentativa de ressocialização, reeducação, fazer
com que este assimile a terapêutica penal e possa ser reinserido a sociedade com
pouquíssimas chances de reincidência, este não deve ter seus direitos suprimidos,
cujos a própria a Constituição Federal, norma suprema, lhe assegura, as condições
da execução penal era para ser humanitárias, ao invés, tudo que se vê é de
tamanho repudio, não só pelas más condições de vivencia, mas pelo próprio
Estado que é deveras omisso, enquanto a realidade carcerária não mudar,
enquanto houver imensas infrações a garantias constitucionais, sempre lotando
mais e mais as prisões, sem dar aos indivíduos que lá se encontram um verdadeiro
sentido do que deve ser o cumprimento de uma pena, a reincidência será cada vez
mais presente.
41

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ex positis, a presente monografia, teve por escopo fazer uma perquirição


entre o sistema prisional do estado de São Paulo e a aplicabilidade da Lei de
Execução Penal, especialmente no que concerne à realidade do sistema
vivenciada pelos reclusos nestas unidades prisionais.

Após um estudo mais criterioso da legislação e dos entendimentos


doutrinários, sobejou confirmada a convicção de que se necessita
pressurosamente de implementação de políticas públicas adequadas à
ressocialização destes reclusos, haja vista a atual situação, débil, do sistema
penitenciário brasileiro, para que então, possa ser alcançado o verdadeiro objetivo
da execução penal e a ressocialização possa ocorrer não somente na teoria, mas
na prática.

Como pode ser verificado, a Lei de Execução Penal se seguida como deveria,
traria inúmeros benefícios a sociedade, possibilitaria a reinserção de indivíduos
reabilitados e prontos para uma vida digna e não como hoje é presenciado, o
aumento significativo de reincidência.

Todos os problemas relacionados a criminalidade na sociedade não será


resolvido com a imposição de mais leis, privar mais indivíduos de sua liberdade,
uma grande probabilidade de melhoria está no cumprimento adequado da própria
lei, essa mesma lei que impõe que o preso tem direito a trabalhar, a estudar, a
condições dignas de vivência, inclusive, durante o cumprimento de sua reprimenda,
mas, na aplicabilidade não há o cumprimento desses direitos nem em 80%, como
restou demonstrado, muitas unidades não possuem vagas para trabalhar, ou
condições de um reeducando estudar, alguns indivíduos são transferidos para
penitenciárias a mais de 300 km de sua família, que muitas vezes não possui
condições econômicas de visita-lo, além de muitos outros problemas explanados
42

no presente trabalho, tudo isso acaba por deixar o preso vulnerável e sem uma
percepção de um recomeço.

Destarte, apesar de todos os problemas ocorrentes dentro dessas unidades, a


principal mudança deve começar do lado de fora, por indivíduos com o real poder
de fazer a mudança, de fazer valer a incrível legislação que o Brasil possui, não
obstruindo direitos, visto que da mesma forma como é fielmente aplicada para
condenar, deriva igualmente ser seguida as garantias fundamentais dos direitos
humanos.

Por fim, cabe expor que, em 2015, o STF, em julgamento da ADPF 347,
considerou o “Estado de Coisas Inconstitucionais”, considerando a situação prisional
do país como “violação massiva dos direitos fundamentais” sobre a população
carcerária brasileira por omissão do poder público.

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43

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BITENCOURT, Cezar Roberto, Manual de Direito Penal Parte Geral. 5ª ed. São
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BITENCOURT, Cezar. Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral I: 21ª. Ed.
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MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal, Comentário à Lei 7.210/84. Editora


São Paulo. Atlas, 1996.

ZISMAN, Célia Rosenthal. A Dignidade da Pessoa Humana como Princípio


Universal. Revista de Direito Constitucional e Internacional, Revista dos Tribunais,
2016-2017.

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