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A VEZ DO MESTRE – FACULDADE INTEGRADA

PÓS - GRADUAÇÃO
DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL

BIRAMY MARQUES DE MATOS VILELA

O IDOSO E A PREFERÊNCIA NA PAUTA DE JULGAMENTO DO


TRIBUNAL DO JURI BRASILEIRO

BRASÍLIA, DF
2014

BIRAMY MARQUES DE MATOS VILELA


O IDOSO E A PREFERÊNCIA NA PAUTA DE JULGAMENTO DO
TRIBUNAL DO JURI BRASILEIRO

Trabalho de conclusão de curso apresentado


como exigência parcial para a obtenção do
Grau de Pós Graduado em Direito Penal e
Processo Penal a Faculdade Integrada A
Vez do Mestre
ORIENTADORA: Profª. Fabiana Oliveira
Beda Macêdo

BRASÍLIA, DF
2014
BIRAMY MARQUES DE MATOS VILELA

O IDOSO E A PREFERÊNCIA NA PAUTA DE JULGAMENTO DO


TRIBUNAL DO JURI BRASILEIRO

Monografia apresentada à Faculdade Integrada A


Vez do Mestre, como parte dos requisitos para
obtenção do título de Pós Graduado em Direito
Penal e Processo Penal.

Aprovado em: ___/___/2014

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________
ORIENTADORA: Profª. Fabiana Oliveira Beda Macêdo

_________________________________________________________
Prof. Examinador

_________________________________________________________
Prof. Examinador
AGRADEÇO
Mais uma vez, porque nunca é demais, agradeço a Deus. Ser supremo, e por ser
assim, encheu-me de discernimentos, paciência, amor, compreensão, perseverança
e muita alegria ao concluir esse trabalho monográfico.

A minha tutora, que tem mostrado total atenção aos seus orientandos, professora
Fabiana Oliveira Beda Macêdo.

Ao meu marido, Daniel Vilela, que também me desafiou a dar continuidade a minha
maratona acadêmica, vez que, graduei-me em Ciências Contábeis no 1º semestre
de 2006, quando Março de 2007 já estava iniciando mais uma graduação em Direito.
Em fase final, já ofertava me a oportunidade de uma pós graduação em Direito
Penal e Processual, disciplina que enfrentei muitas dificuldades no curso regular de
Direito. Obrigada, meu querido, por encorajar-me, sempre, a continuar. Faço das
palavras dele, as minhas: ”você consegue, basta fazer o que é certo”. Obrigada,
marido, amo você.

Aos meus filhos, Lucas e Aylana Mayara, que sempre acreditaram em meu
potencial, além das cobranças, as satisfações quando vos apresentava menção
satisfatória. Apesar de registrar que, o importante nem sempre é a menção, mas
sim, a informação armazenada que fará parte do aprendizado por longo período no
tempo.

Aos meus pais, meus irmãos, sobrinhos, sobrinhas, cunhados, cunhadas, amigos e
amigas que sempre compreenderam as minhas ausências em reuniões ou
confraternizações, porque sabiam que havia um motivo justo.

A TODOS, MUITO OBRIGADA!


RESUMO

O presente trabalho tem por finalidade analisar a possibilidade de inserir,


prioritariamente, o idoso criminoso na pauta de julgamento do Tribunal do Júri, que
está definida no art. 429 do Código de Processo Penal brasileiro: “Salvo motivo
relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão preferência: I - os
acusados presos; II - dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há
mais tempo na prisão; III - em igualdade de condições, os precedentemente
pronunciados”. No entanto, nota-se que o acusado idoso em momento algum é
citado neste artigo. Considerando esta ausência, tem-se a provável aplicação do art.
1.211-A do Processo Civil brasileiro, o qual confere prioridade de tramitação
processual em todas as instâncias para pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos. Também nesse sentido, o Estatuto do Idoso confirma essa
realidade no seu art. 71: “É assegurada prioridade na tramitação dos processos e
procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como
parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em
qualquer instância.” Observa-se que o legislador tratou de normatizar a condição de
idoso quando vítima, dando lhe prioridades e preferencias, tornando a conclusão de
seu pleito mais rápida. No entanto, nada se falou sobre a condição do idoso quando
demandado em processo criminal de competência do Tribunal do Júri. Considerando
o silêncio do legislador neste quesito, este trabalho utilizará os diversos conteúdos
existentes no Sistema Jurídico brasileiro para definir a condição do idoso enquanto
réu em processo criminal.

Palavras chave: Processo Penal; Tribunal do Júri; Estatuto do Idoso; Réu


Idoso; Pauta de Julgamento.
ABSTRAT

The presente work has for finality analise the possibility of put, primarily, the Elder
criminal in guideline of the jury court’s judgement, which is defined in the article no.
429 of the brazilian penal code: “unless by relevant motive that authorize alteration in
judgements order, will have preference: I – the arrested accused; II – between the
arrested accused, the ones who are most time in jail; III – in equal conditions, the
precedents announceds”. However, is noticed that Elder criminal in any moment is
not cited on this article. Considerating this absence, it has the probable application of
the article no. 1.211-A of the brazilian process code, which gives priority of
processing in all the instances for people who are sixty or more years. Also, in this
meaning, the Elder code confirmes this reality in its article no. 71: “ it is priority in
processing of codes and procedure and in execution of judicial acts and diligences in
which figure as part or intervenient people with age equal or superior to sixty years,
in any instance.” It observes that the legislature trated to standartize the condition of
Elder when the victim, given it priority or preference, making the conclusion of its
election faster. However, nothing is told about the Elder condition when asked in
criminal process jury court’s competence. Considering the silence of the legislature in
this question, this work will use the diverse contends existing in brazilian juridic
system for definition the Elder condition while the accused in criminal process.

Key-words: criminal process; jury court; Elder law; Elder accused; guideline of
judgement.
7

Sumário
RESUMO.................................................................................................................................................5
ABSTRAT.................................................................................................................................................6
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................7
1. DO TRIBUNAL DO JÚRI..................................................................................................................10
1.1. O Tribunal do Júri no Brasil...................................................................................................10
1.2 Os Princípios Constitucionais que Regem o Tribunal do Júri Brasileiro......................................14
1.2.1 A Plenitude de Defesa: ART. 5º, XXXVIII, Alínea “A”............................................................15
1.2.2. O Sigilo das Votações: ART. 5º, XXXVIII, Alínea “B”.............................................................16
1.2.4 A Competência para o Julgamento dos Crimes Dolosos Contra a Vida: ART. 5º, XXXVIII,
Alínea “D”.....................................................................................................................................18
1.3. A Reforma do Código de Processo Penal e Inovações nos Procedimentos do Tribunal do Júri 19
2. O CONCEITO DE PESSOA IDOSA....................................................................................................25
2.1. O Idoso e sua Proteção: Uma Questão de Vulnerabilidade.......................................................26
2.2. Direitos Tutelados aos Idosos pela Legislação Brasileira...........................................................30
2.3. Direitos Tutelados aos Idosos Demandados pela Justiça Criminal Brasileira.............................34
2.4. A Preferência do Idoso em Tramitações Processuais................................................................38
3. DA ORGANIZAÇÃO DA PAUTA DE JULGAMENTO..............................................................................39
3.1. A Organização da Pauta do Tribunal do Júri Brasileiro e a Prerrogativa do Acusado Idoso na
ordem de preferência.......................................................................................................................40
3.2. A Ordem de Preferência na Organização da Pauta do Tribunal do Júri Brasileiro, Elencada no
art. 429 do Código de Processo Penal Contempla Prioridade ao Acusado Idoso?............................42
CONCLUSÃO.........................................................................................................................................47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................48

INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetiva explanar as reformas introduzidas nos


procedimentos relativos aos processos da competência do nosso Tribunal do Júri e
8

suas consequências processuais em relação ao acusado idoso quando submetido


ao julgamento no Tribunal do Júri, por crimes cometidos contra a vida.

O idoso e a preferência na pauta de julgamento do Tribunal do Júri são


tópicos de suma importância para a compreensão dos operadores do direito, ainda
que abordados em separado no ordenamento jurídico brasileiro. A nossa Magna
Carta reservou alguns artigos para tutelar os direitos do idoso, importando
responsabilidades à família, a sociedade e ao próprio Estado o dever de amparar as
pessoas idosas. Com mesma importância, reserva um inciso, dentre os direitos e
garantias fundamentais, consagrando o Tribunal do Júri uma instituição com
características democráticas, assegurando princípios constitucionais aptos a
preservar direitos aos participantes de sessões plenárias e delegar competência ao
próprio Tribunal do Júri.

Com efeitos, o Código de Processo Penal, a legislação trabalhista, bem como


o Código Civil adotam artigos específicos que ao idoso na condição de réu ou vítima,
trabalhador e ou nubente. De cunho garantidor, o Estatuto do Idoso, regula direitos
assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Preceitos, preliminarmente, estabelecidos.

O primeiro capítulo inicia-se com o surgimento do Tribunal do Júri no Brasil, a


receptividade da instituição em Constituições anteriores, bem como, conceitos
adotados por doutrinadores. Relata, também, a importância da participação do Juiz
Presidente, do Conselho de Sentença, do Ministério Público como acusador e da
defesa técnica do acusado em face das sessões de julgamentos no Tribunal do Júri.
Além dos crimes de competência do Tribunal do júri, são demonstrados os princípios
constitucionais que regem a instituição. Demonstra as pessoas que são isentas de
julgamento pelo Tribunal do Júri, por prerrogativa de função.

Finalizando com a explanação acerca das inovações nos procedimentos do


Tribunal do Júri, o advento da Lei n. 11.689/2008 introduzida no Código de Processo
Penal a partir do artigo 406 ao artigo 497 do referido diploma legal.

O segundo capítulo cuidou de apresentar o idoso frente à sociedade, à família


e ao Poder Público. Aponta os fatores biológicos que causam a vulnerabilidade do
idoso e a maneira que deve ser acolhido pela família, sociedade e Poder Público
9

respectivamente. Descreve a proteção das pessoas idosas estabelecida pela


Constituição Federal de 1988, pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de
1948 e pelo Estatuto do Idoso de 2003. Faz um apanhado geral na legislação
brasileira o que alude a proteção ao idoso na seara trabalhista, civil e criminal.

O terceiro e último capítulo apresenta a organização da pauta do Tribunal do


Júri brasileiro de acordo com a reforma do Código de Processo Penal em que há um
rol de preferencias a serem obedecidas, no entanto, estuda-se a possibilidade de
priorizar o idoso criminoso nessa pauta, adequando a condição de idoso e aplicando
o artigo 71 da Lei 10.741/2003 - Estatuto do Idoso conjuntamente com as inovações
do Código de Processo Civil, art. 1.211- A. Com isso, dando-lhe a preferência nos
julgamentos de competência do Tribunal do Júri.

O objetivo desse trabalho é demonstrar a possibilidade de utilizar, como


parâmetro, o artigo 71 do Estatuto do Idoso – Lei 10.741/2003 para dar prioridade,
ao idoso criminoso, na organização da pauta de julgamentos do Tribunal do Júri. O
objetivo geral é apresentar como sugestão aos operadores do direito a possibilidade
de inserir, prioritariamente, o idoso acusado, na ordem de julgamentos preferenciais
previstos no art. 429 e incisos do Código de Processo Penal.

A escolha do tema deve-se a expectativa de confirmar as garantias de


prioridade em tramitação de processo e se essa prioridade é estendida aos
processos de competência do Tribunal do Júri brasileiro quando o idoso, na
condição de acusado, é levado a julgamento no referido Tribunal.

A pesquisa é do tipo bibliográfico, fundamentando o estudo por


posicionamentos doutrinários, bem como legislação codificada e leis esparsas.
Também de caráter exploratório, pela inexistência de doutrinas, focadas em
específico no tema abordado: O idoso e a preferência na pauta de julgamento do
Tribunal do Júri. Por fim, utilizados os modos de acesso manual e eletrônico.

A pesquisa bibliográfica permite um grau de amplitude maior, economia de


tempo e possibilidade de confrontar com outras fontes, a fim de reduzir possibilidade
de erros.1

1
DENKER, Ada de Freitas Maneti. Métodos e Pesquisas. São Paulo: futura, 1998. p.125.
10

O método dedutivo, partindo de teorias e leis gerais, é possível chegar à


determinação ou previsão de fenômenos, partindo de princípios reconhecidos como
verdadeiro e indiscutível.2

Esse trabalho advém de uma construção de argumentos pesquisados em


doutrinas, jurisprudências, leis codificadas e esparsas, bem como manual de
procedimentos do Tribunal do Júri da circunscrição de Samambaia, no Distrito
Federal e Manual Procedimento da 2ª fase do Tribunal do Júri do Rio Grande do
Norte.

1. DO TRIBUNAL DO JÚRI

O Tribunal do Júri, no Brasil, instituído pela lei de imprensa no ano de 1822,


tinha por finalidade exclusiva julgar os crimes de imprensa. Período em que não se
permitia o anonimato tampouco os abusos cometidos pela imprensa. Formado por
juízes de fato, entre cidadãos honestos, inteligentes e patriotas daquela sociedade.
2
LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia científica. São Paulo: 3ª ed. Atlas. 1991.
11

Ainda que tenha passado por inovações desde a sua origem, o Tribunal do
Júri permanecera reconhecido pelas constituições vindouras. Com a Magna carta de
1988 fora assegurados princípios constitucionais basilares ao Tribunal do Júri.

Nesse sentido, a reforma ocorrida no Código de Processo Penal em relação


aos procedimentos da instituição do Júri, permite que as demandas judiciais
aconteçam de forma mais célere e econômica aos cofres públicos, além de sintetizar
os procedimentos bifásicos das sessões de julgamento pelo Tribunal do Júri.

1.1. O Tribunal do Júri no Brasil

Advém informar que o júri foi instituído no Brasil, durante o império, pela Lei
de imprensa de 18 de junho de 1822. Adstrito a julgar, tão somente, os crimes de
imprensa, com aplicação de penas corporais e pecuniárias. Passou a viger antes da
independência do Brasil e de sua primeira Constituição, época em que estava sob o
domínio português e forte influência inglesa. A lei de imprensa instituída por decreto
tinha por finalidade impedir o anonimato. Implicavam, também, os abusos contra o
Estado. Nesse decreto, preceituava a forma de julgamento dos abusos cometidos
pela imprensa.

Nesse sentido assinala Antônio Alberto Machado:

No direito brasileiro, o júri surgiu em 1822 com uma lei de 18 de junho e a


sua competência se restringia exclusivamente ao julgamento dos crimes de
imprensa. Logo em seguida a Constituição do Império de 1824, no seu
artigo 151, estabelecia que “o poder judicial é independente e será
composto de juízes e jurados, os quais terão lugar assim no civil como no
crime, nos casos e pelo modo que os Códigos determinarem”. E no art. 152
determinava a Constituição imperial que “os jurados pronunciam sobre o
fato e os juízes aplicam a lei”.3

Os artigos 151 e 153 da constituição de 1824 determinavam a independência


e autonomia do Poder Judiciário ao atribuir competência ao Conselho de Jurados,
formado por cidadãos que pronunciavam os fatos, e, em seguida o juiz aplicava as
leis.

3
MACHADO, Antônio Alberto. Curso de Processo Penal. São Paulo: Ed. Atlas. 2013.
12

As Constituições que se seguiam mantinham o instituto Tribunal do Júri,


porém, a Constituição Federal de 1988 conserva o texto da Constituição de 1934
reconhecendo a instituição do júri com a organização que lhe der a lei. Vai além, ao
restaurar o que fora suprimido ou alterado nas constituições que se estabeleceram
no interstício. Por ser, a instituição do júri considerado garantia individual do
cidadão, o artigo 60 § 4º, inciso IV da Constituição de 1988 consagra-o cláusula
pétrea, não podendo ser objeto de emenda tendente a abolir.

Na definição de Heráclito Antônio Mossin: “Júri, assim, é a designação dada à


instituição jurídica formada pelos homens de bem, a que se atribui o dever de julgar
acerca dos fatos, levados ou trazidos a seu conhecimento”. 4

A palavra júri vem do latim jurare, que significa “fazer juramento”, referindo-se
precisamente ao juramento prestado pelas pessoas que irão compor o Conselho de
Sentença. Este, formado por sete jurados que deliberarão sobre a condenação ou a
absolvição do acusado, por meio de votação em sala secreta e de forma individual.

No Brasil, o Tribunal do Júri é um tribunal especial que tem competência para


julgar os crimes dolosos contra a vida. É composto de um juiz-presidente e de vinte
e cinco jurados, dentre os quais sete são sorteados para compor o Conselho de
Sentença em cada sessão de julgamento. 5

A participação do juiz-presidente fica basicamente adstrita à manutenção da


ordem nos trabalhos e à lavratura da sentença, fixando a pena em caso de
condenação. Enquanto que o Conselho de Sentença, de modo geral, decide sobre
questões de fatos, de modo que importam às questões de direito. Contudo o
Ministério Público faz as acusações e imputações penais.

Leopoldo Mameluque define com propriedade a função do juiz, promotor de


justiça, advogados de defesa e Conselho de sentença:

O juiz do Tribunal do Júri, diferentemente dos juízes singulares, empreende


diariamente tarefas mais árduas.6 O promotor do Tribunal do Júri é
profissional que tem em suas mãos inteireza da acusação e, para isto,
deverá ter atributos específicos para a função, além dos que normalmente
são exigidos para a atuação criminal. 7 No Tribunal do Júri, a complexidade
do julgamento em plenário, exige maior responsabilidade do advogado,
pessoa na qual o réu deposita todas as suas esperanças e expectativas de
4
MOSSIN, Heráclito Antônio. Júri: crimes e processo. São Paulo: Atlas, 1999, p. 211.
5
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2011, p.154.
6
MAMELUQUE, Leopoldo. Manual do Novo Júri. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008 p.39.
7
ibid. p.54.
13

absolvição ou de recebimento de uma pena branda. 8 Sobre a tendência dos


jurados de condenar ou absolver os réus com fundamento nas suas
concepções pessoais, são costumeiras no âmbito do Tribunal do Júri as
argumentações de que juradas mulheres não devam participar do
julgamento contra vítima mulher, pois, neste caso, seriam mais
tendenciosas a condenar, solidarizando-se com a vítima por estarem em
situação similar. Argumenta-se, ainda, que jurados homens compreendem
os problemas da vida noturna, melhor que as mulheres, seriam mais
solidários e, portanto, com mais ímpeto à absolvição do réu que tenha
praticado o crime em virtude da vida boêmia.9

O Código de Processo Penal vigente, de forma detalhada, explica o


desenvolvimento dos trabalhos em plenário e a função do juiz togado, promotoria,
advogado de defesa e Conselho de Sentença. Após o julgamento da causa, ocorre a
lavratura da ata que finaliza com a assinatura do juiz presidente e demais partes.

A Constituição Federal vigente assegura a competência ao Tribunal do Júri:


julgar crimes dolosos contra a vida; o Código Penal tipifica os crimes que devem ser
julgados pelo Tribunal do Júri, e o artigo 69 incisos I ao VII do Código de Processo
Penal relaciona a competência jurisdicional.

Preleciona Leopoldo Mameluque:

A competência jurisdicional é determinada nos termos do artigo 69 do


Código de Processo Penal, pelo lugar da infração, pelo domicílio ou
residência, pela distribuição, pela conexão ou continência, pela prevenção e
pela prerrogativa de função.10

Considerando o referido artigo penal todos os fatores (lugar, domicílio,


distribuição, conexão ou continência, prevenção, prerrogativa de função e natureza
da infração) serão acatados para a aplicação da competência jurisdicional penal.

Para a natureza da infração, em regra, só o Tribunal do Júri possui


competência para julgar ações que decorram de crimes contra a vida.

É competência privativa do Tribunal do Júri, para julgar os crimes de


homicídio simples; homicídio qualificado; induzimento, instigação ou auxilio ao
suicídio; infanticídio; aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento;
aborto provocado por terceiro. (natureza de infração). Todos esses crimes estão
previstos nos artigos 121 §§ 1º e 2º, 122, 123, 124, 125 e 126 do Código Penal

8
ibid. p.56.
9
ibid. p.50.
10
ibid. p.36.
14

Brasileiro. São crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados e os crimes


conexos aos dolosos contra a vida.11

A competência por conexão ou continência resulta da ocorrência de duas ou


mais infrações praticadas ao mesmo tempo por várias pessoas (concurso de
pessoas) ou por várias pessoas, umas contra as outras, mesmo que diverso o tempo
e o lugar. A competência por continência será quando duas ou mais pessoas forem
acusadas pela mesma infração.12

Ainda que sejam crimes dolosos contra a vida, a competência do Tribunal do


Júri não é absoluta. Há exceção ao Tribunal do Júri quando cometidos por pessoas
públicas assinaladas nos art. 86 e 87 do Código de Processo Penal. Definida como
competência por prerrogativa de função.

Para os militares a competência é do Tribunal Militar, se o crime for praticado


contra a vida do militar, se praticado contra a vida do civil, por força da nova redação
do art. 9º. Parágrafo único do Código de Processo Militar, os autos serão
encaminhados à justiça comum.13

Ressalta-se, portanto, que crimes praticados por militar contra a vida de


militar, competência do Tribunal Militar, crime praticado por militar contra a vida de
civil, será o militar julgado pelo Tribunal do Júri.

Para os Governadores ou interventores nos Estados, Territórios e Prefeitos do


Distrito Federal e seus respectivos secretários, chefes de polícia, juízes de instância
inferior e órgãos do Ministério Público, a competência caberá aos Tribunais de
apelação (STJ e STF); para o prefeito de Estado a competência caberá ao Tribunal
de Justiça.14
11
Art. 121. Matar alguém [...] Art.122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxilio [...]
Art.123.Matar sob a influência do estado puerperal[..] Art.124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que
outrem lho provoque [...] Art.125. Provocar aborto sem o consentimento da gestante [...] Art.126. Provocar
aborto com o consentimento da gestante [...] VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com
a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Penal. 13ª ed. Atualizada –
São Paulo: Saraiva, 2012.
12
Art. 76. A competência será determinada pela conexão [...] Art. 77. A competência será determinada pela
continência [...] VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo:
Saraiva, 2012.
13
Art. 9º. [...] § único: Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometido contra civil
serão da competência da justiça comum[...]BRASIL. Código Penal Militar.13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
14
Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça, dos Tribunais Regionais Federais [...] Art. 87. Competirá, originalmente, aos Tribunais de apelação o
julgamento de governadores ou interventores de Estado [...] Art.29[...], X: julgamento do Prefeito [...] VADE
MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia
15

Se a prerrogativa está ligada à função, a Magna Carta cuidou de estabelecer


o foro privilegiado aos agentes públicos, enquanto ocupantes de determinadas
funções públicas, a serem julgados por Tribunais e não por juízes singulares.

1.2 Os Princípios Constitucionais que Regem o Tribunal do


Júri Brasileiro

Os princípios constitucionais que instituem o Tribunal do Júri são


disciplinadores na formação dos elementos que participam dessa instituição.

Na conceituação de princípios, para Guilherme Nucci: “a causa primária ou o


elemento predominante na constituição de um todo orgânico.” 15

Na compreensão do ilustre mestre Guilherme Nucci, princípio compreende o


ato de começar, abrangendo a razão em virtude da qual a coisa se inicia, ou seja, a
base, a razão maior para, enfim, se concretizar.

As garantias constitucionais conferidas ao Tribunal do Júri têm por finalidade


assegurar os direitos e garantias fundamentais aos cidadãos e a coletividade.

Tal como cita André Estefam: “Os princípios constitucionais devem atuar
como balizas para a correta interpretação e o justo emprego das normas penais, não
se podendo cogitar de uma aplicação meramente rebotizada dos tipos
incriminadores.”16

A Constituição Federal vigente reforça e mantem o reconhecimento da


instituição do Júri, com a organização que lhe der a lei assegurando: a plenitude de
defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência para o
julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Esses princípios têm o condão de
garantir aos acusados o justo emprego das normas penais.

Céspedes e Juliana Nicoletti. Constituição Federal de 1988. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012.
15
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2011, p.23.
16
ESTEFAM, Andre. Direito Penal 1. Parte Geral. 4 ed. São Paulo. Editora Saraiva, 2008, p.14.
16

1.2.1 A Plenitude de Defesa: ART. 5º, XXXVIII, Alínea “A”

A plenitude de defesa compreende o conjunto de provas, tanto documentais


como testemunhais, assim como a defesa técnica desenvolvida por advogado.

Entendimentos sobre a plenitude de defesa e a ampla


defesa, por Edilson Bonfim:

garante a Constituição Federal ao réu submetido ao julgamento do Júri, a


plenitude de defesa, e não somente a ampla defesa, reconhecida aos
acusados em geral, pois a plenitude de defesa seria algo bem mais intenso,
complexo do que a defesa ampla em si mesma, nos remeteria a forma além
mesmo das usuais em processos comuns.17

A plenitude de defesa é uma garantia constitucional disponível aos acusados


levados ao Tribunal do Júri, podendo utilizar todos os meios de defesa para
convencer aos jurados, enquanto que a ampla defesa permite ao acusado conhecer
da acusação a si imputada e construir um conjunto probatório em sua defesa. 18

A plenitude de defesa compreende a autodefesa exercida pelo réu, como a


defesa técnica exercida por meio de advogado, em que, uma ou outra utiliza,
ilimitadamente, de recursos admitidos em direito, os quais contemplam argumentos
sociais, culturais ou filosóficos e que não contrariem as leis. Posterior a isso, o
Estado tem a obrigação de aplicar a pena ao indivíduo, limitando assim a sua
liberdade por determinado período de tempo.

1.2.2. O Sigilo das Votações: ART. 5º, XXXVIII, Alínea “B”

O sigilo das votações assegura a imparcialidade dos jurados, tanto pela


incomunicabilidade entre eles quanto pela íntima convicção do voto proferido em
sala secreta, ou seja, aos jurados além de não emitirem opiniões sobre a ação penal
tampouco ocorre fundamentação jurídica nos votos proferidos. Por conseguinte,
versa sobre a própria segurança dos jurados frente ao acusado em julgamento.

17
BONFIM, Edilson Mougenet. Curso de Processo Penal. Editora Saraiva, 2008, p.492.
18
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p.29.
17

Para Guilherme Nucci, o sigilo das votações está adstrito à segurança dos
próprios jurados.

Em primeiro lugar, deve-se salientar ser do mais alto interesse público que
os jurados sejam livres e isentos para proferir seu veredicto. Não se pode
imaginar um julgamento tranquilo, longe de qualquer pressão, feito à vista
do público, no plenário do júri.19

O sigilo das votações tem sua característica preservada, quando os jurados


se retiram do plenário, sem se comunicarem, se encaminham à sala secreta,
recebem a cédula de votação e de maneira secreta marcam o SIM ou o NÃO em
resposta ao quesito, em seguida depositam na urna. O sigilo das votações é
também uma maneira de resguardar cada jurado de influências externas tanto pelos
familiares da vítima como do acusado.

1.2.3 A Soberania do Veredicto: ART. 5º, XXXVIII, Alínea “C”

A soberania do veredicto compreende a autoridade suprema para decidir. É o


julgamento que não pode ser modificado pelo juiz de direito ou tribunal que venha
apreciar um recurso de apelação. No Tribunal do Júri essa soberania é dada à
decisão do Conselho de Sentença, que é formado por pessoas retiradas do meio em
que ocorreu o fato criminoso. Por isso, têm esses juízes leigos, noção se o crime
aconteceu e às vezes quem é o autor do delito.

Colabora, Guilherme Nucci:

o grande desvio, comum nos dias atuais, é especialmente em revisão


criminal, ingressar-se no mérito, desprezar-se a decisão soberana do povo,
absolvendo-se o réu até pelo fato de que “inexiste”, em nosso sentir, uma
única justificativa plausível para que a vontade soberana não deva
prevalecer até porque dessa maneira a democracia estaria condenada ao
fracasso.20

Ao posicionamento de Guilherme Nucci, pode-se compreender que o


legislador originário, ao definir esse princípio, buscou conservar a decisão do
19
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.29.
20
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.31.
18

Conselho de Sentença, até porque, os juízes que formam o Conselho de Sentença,


são pessoas do povo, as quais conhecem ou tomaram conhecimento dos fatos
criminosos. Resulta, ainda, de pessoas escolhidas em meio à sociedade, da mesma
localidade que reside o acusado.

Avança o entendimento, Jose Frederico Marques:

se a soberania do Júri, no entender da communis opinio doctorum, significa


a impossibilidade de outro órgão judiciário substituir ao Júri na decisão de
uma causa por ele proferida, soberania dos veredictos traduz, mutatis
mutandis, a impossibilidade de uma decisão calcada em veredicto dos
jurados ser substituída por uma sentença sem esta base. 21

A soberania do veredicto compreende a impossibilidade de, o juiz togado,


reformar o mérito da decisão proferida pelo Conselho de Sentença.

A sentença final pode sofrer apelação no prazo de 05 (cinco), desde que for a
decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. 22 Ainda assim, não
será reformada pelo juiz de direito. Ocorrerá na verdade, a realização de um novo
júri na composição do Conselho de Sentença com pessoas diferentes daquelas que
atuaram no júri que originou a anulação.

Para Nestor Távora, esse princípio constitucional não é absoluto, pois, em


prol da inocência, admite-se ao Tribunal de Justiça absolver de pronto o réu
condenado injustamente pelo júri em sentença transitada em julgado, no âmbito da
ação de revisão criminal.23

1.2.4 A Competência para o Julgamento dos Crimes Dolosos


Contra a Vida: ART. 5º, XXXVIII, Alínea “D”

21
MARQUES, Jose Frederico. A instituição do Júri. Campinas.Bookseller, 1997, p.80.
22
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:[...] III- das decisões do Tribunal do Júri, quando [...]d)
for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. VADE MECUM – obra coletiva de autoria
da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código
Processo Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012. P.637.
23
TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Processo Penal. 9ª. Ed. Bahia: Juspodivm, 2014,
p.976.
19

Ao passo que a Magna Carta reserva a competência para julgar os crimes


dolosos contra a vida, o Código de Processo Penal art. 74 § 1º estabelece, pela
natureza da infração, a competência ao Tribunal do Júri para julgamento de crimes,
consumados e tentados.24

Para Antonio Alberto Machado, a competência do Júri para julgar crimes


dolosos contra a vida é irredutível:

Assim, assegurada essa competência mínima, ou irredutível, seria


perfeitamente possível a sua ampliação por meio de lei infraconstitucional,
atribuindo-se ao júri o julgamento de outros delitos. [...] Ao definir a
competência do Júri, a Constituição não utiliza linguagem nem vocábulos
que pudessem levar à suposição de que se trata de uma competência
unicamente para os crimes dolosos contra a vida; com isso, a Lei Maior
determina que tais crimes somente serão julgados pelo Tribunal do Júri,
mas não impede que o Tribunal do Júri julgue somente esses crimes. 25

Além dos crimes listados para serem julgados pelo Tribunal do Júri, a Magna
Carta, especificou as pessoas, enquanto, ocupantes de cargos públicos que não
seriam levadas a julgamento pelo Tribunal do Júri. É a exceção do Tribunal do Júri.

Em se tratando prerrogativa de função, ou foro privilegiado, o Supremo


Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e
os Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, julgará as pessoas que
devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. 26 Por
conseguinte, a competência por conexão ou continência, como regra, no concurso
entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a
competência do júri.27

24
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a
competência privativa do Tribunal do Júri. § 1º. Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos
nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126, e 127[...] VADE MECUM – obra coletiva de
autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código
Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012.
25
MACHADO, Antônio Alberto. Curso de Processo Penal. São Paulo. Ed. Atlas. 2013.p.292.
26
Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça, dos Tribunais Regionais Federais [...] Art. 87. Competirá, originalmente, aos Tribunais de apelação o
julgamento de governadores ou interventores de Estado [...] VADE MECUM – obra coletiva de autoria da
Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo
Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012.
27
Art. 78. Na determinação de competência por conexão ou continência [...] I- no concurso entre a competência
do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri. VADE MECUM – obra
coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana
Nicoletti. Código Processo Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012.
20

A prerrogativa de função está adstrita não a pessoa que ocupa o cargo, mas
ao cargo. Por isso, esses artigos devem guardar sintonia com os preceitos
constitucionais relativos à competência dos órgãos do Poder Judiciário para
processar e julgar autoridades públicas.

1.3. A Reforma do Código de Processo Penal e Inovações nos


Procedimentos do Tribunal do Júri

A reforma do Código de Processo Penal ocorreu com advento das Leis


11.689/2008 no que tange aos procedimentos dos processos de competência do
Tribunal do Júri; Lei 11.690/2008 refere-se às provas penais, e, Lei 11.719/2008
concernente ao rito processual. No entanto, será tratado com primazia sobre os
procedimentos relativos aos processos da competência do Tribunal do Júri.

A Lei 11.689/2008, promulgada e publicada, passou a estabelecer novas


regras para os procedimentos realizados pelo Tribunal do Júri.

Entendimento do professor Antonio Alberto Machado:

O procedimento do Tribunal do Júri tem duas fases absolutamente distintas:


a fase do chamado judicium accusationis ou juízo da acusação, ou ainda
sumário de culpa como se dizia antigamente; e a fase judicium causae, ou
juízo da causa. A primeira se presta apenas a verificar a plausibilidade da
acusação, referindo-se tão somente aos elementos de prova quanto à
ocorrência real do crime e aos indícios da autoria. A segunda se refere ao
julgamento propriamente dito da causa, ou seja, ao exame e julgamento
definitivo do mérito da pretensão punitiva.28

Na primeira fase, juízo da acusação - judicium accusationis, havendo provas


suficientes da materialidade do crime e indícios suficientes de autoria ou
participação, o juiz singular, fundamentadamente, pronunciará o acusado. Na
segunda fase, juízo da causa – judicium causae, inicia-se pela instrução em plenário
e finaliza-se com a votação do Conselho de Sentença em seguida o juiz presidente
proferirá a sentença e lavrará a ata para que se lance o nome do réu ao rol de
condenados pela Justiça brasileira.

28
MACHADO, Antonio Alberto. Curso de Processo Penal. 5ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.297.
21

Nas lições de Nestor Távora, o doutrinador reafirma: a primeira fase chama-


se juízo de admissibilidade, sumário da culpa, juízo de acusação ou judicium
accusationis; a segunda fase denomina-se judicium causae ou juízo de mérito.29

Colabora Leopoldo Mameluque:

No que diz respeito às modificações na legislação do Tribunal do Júri, a Lei


que entrou em vigor estabeleceu critérios de organização quanto à sua
função, convocação e sorteio dos jurados, visando à formação do Conselho
de Sentença, além de dispor sobre a acusação e defesa, a instrução e a
preparação do processo para julgamento em plenário. 30

Do artigo 406 ao artigo 497 do Código de Processo Penal sofreram


modificações pela Lei 11.689/2008. Além da celeridade ao procedimento dos
processos de competência do Tribunal do Júri, observa-se a simplificação do
procedimento. São as principais alterações:

No primeiro momento da acusação, o juiz singular, ao receber a denuncia ou


queixa, ordenará citação do acusado para responder a acusação, por escrito, no
prazo de 10 (dez) dias, se este não for localizado pelo oficial de justiça, poderá ser
citado por edital. Suscitada qualquer preliminar, o juiz concede o prazo de 5(cinco)
dias para ouvir o Ministério Público.31

Na audiência de instrução preliminar toma-se a declaração do ofendido; a


inquirição das testemunhas de acusação em seguida de defesa; esclarecimento de
peritos, se necessário; acareações e reconhecimento de pessoas ou coisas;
interroga-se o acusado, por conseguinte abre o prazo de 20 (vinte) minutos para
alegações finais da acusação e 20 (vinte) minutos para a defesa. Finda com a
sentença do juiz singular que pode ser oral ou escrita. 32

29
TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Processo Penal. 9ª. Ed. Bahia: Juspodivm,
2014, p.978.
30
MAMELUQUE, Leopoldo. Manual do Novo Júri. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008 p.25.
31
Art. 406. O juiz ao receber a denuncia ou queixa, ordenará citação do acusado para responder a acusação,
por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a
colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Penal. 13ª ed.
Atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012.p.621.
32
Art. 411. Na audiência de instrução, proceder-se-á a tomada de declarações do ofendido, [...] §1º Os
esclarecimentos dos peritos [...]; §2º As provas serão produzidas em uma só audiência [...]; §3º Encerrada a
instrução probatória, [...]; §4º As alegações serão orais,[...]; §5º Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo
previsto para a acusação será [...]; §6º Ao assistente do Ministério Público, após manifestação, serão concedidos
10 (dez) minutos,[...]; §7º Nenhum ato será adiado, salvo [...]; §8º A testemunha que comparecer será
inquirida[...]; §9º Encerrados os debates o juiz proferirá a sua decisão, ou o fará em 10 (dez) dias,[...] VADE
MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia
Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012.p. 622.
22

Antes da reforma, o réu ou seu defensor deveria apresentar alegações finais


em 3 (três) dias, assim como o Ministério Público. As testemunhas de acusação
ouvidas no prazo de 20 (vinte) dias, se o réu preso e 40 (quarenta) dias, se solto.

Antes da reforma o artigo 411 do CPP previa a absolvição sumária, nas


hipóteses de excludente de ilicitude ou culpabilidade. Com a reforma, o art.415 e
incisos, define as hipóteses para absolvição sumária. 33

Antes da reforma do CPP o artigo 400 citava que os documentos podiam ser
oferecidos em qualquer fase do processo. Com a reforma, o art. 411 § 2º reza: as
provas serão produzidas em uma só audiência, podendo o juiz indeferir as
consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

Antes da reforma do CPP o artigo 411 citava na absolvição sumária, o juiz


podia recorrer, de ofício, da sua decisão. O recurso de efeito suspensivo e sempre
apresentado no tribunal de apelação. Com a reforma, o art. 416 prevê que contra a
sentença de impronuncia ou de absolvição sumária, caberá apelação.

Antes da reforma do CPP o artigo 484 previa os quesitos formulados com


observância em regras, onde dava a possibilidade de o juiz desdobrar os quesitos
quantos fossem necessários para facilitar a compreensão dos jurados. Com a
reforma, o art. 483 do CPP prevê os quesitos com uma linguagem mais simples e a
inclusão de novo quesito: o jurado absolve o acusado? Essa nova formulação se dá,
caso ocorra resposta afirmativa por mais de 3(três) jurados aos quesitos relativos
aos incisos I – a materialidade do fato; e II- a autoria e participação.

Antes da reforma do CPP o artigo 429 do CPP previa a reunião do júri,


formada por jurados sorteados, incluindo as diligências necessárias para as
intimações de jurados, réus e testemunhas. Com a reforma, o artigo fora totalmente
alterado. Estabelecendo, portanto, na organização da pauta a preferência no
julgamento entre os acusados de mesmo processo levados a plenário.

Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos


julgamentos, terão preferência:
I - os acusados presos;

33
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo [...] I- provada a inexistência do fato; II- provado
não ser ele o autor ou participe do fato; III- o fato não constitui infração penal; IV- demonstrada causa de isenção
de pena ou de exclusão de crime. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a
colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Penal. 13ª ed.
Atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012.p. 622.
23

II - dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há


mais tempo na prisão;
III - em igualdade de condições, os precedentemente
pronunciados.34

Com essa implantação, o legislador buscou priorizar o julgamento para


acusado preso, acusado preso há mais tempo, por conseguinte, os já pronunciados.

Outra inovação, inserida pela Lei 11.689/2008 é a utilização de algemas.


Ainda que o art. 474 parágrafo 3º do CPP vedar o uso das algemas durante o
período que permanecer em júri, a vedação não é absoluta. Fica, portanto,
condicionada a necessidade de garantia da ordem dos trabalhos, a segurança das
testemunhas e até mesmo a garantia da integridade dos presentes. Nessa essência,
preceitua a súmula vinculante nº 11:

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio


de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do
preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena
de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e
de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.35

Por outro lado, considera-se o disposto do art. 284 do CPP, ao determinar a


não permissão do emprego de força, em caso de prisão, salvo a indispensável no
caso de resistência ou tentativa de fuga do preso. Este dispositivo faz referencia,
também, à Súmula vinculante nº 11.

Nesse entendimento, faz-se necessária a utilização das algemas. Contudo, a


decisão deve partir do juiz que consultará a escolta par evitar problemas.

Antes da reforma do CPP o artigo 607 previa o protesto por novo júri, recurso
exclusivo da defesa, quando a sentença condenatória de reclusão por tempo igual
ou superior a vinte anos. Com a reforma, o artigo foi revogado pela Lei 11.689/2008.

Mesmo com a revogação do artigo citado, estabelece-se a possibilidade de


um novo júri quando a decisão do Conselho de Sentença resta manifestamente

34
Art. 429-Caput, incisos I,II,III. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a
colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Penal. 13ª ed.
Atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012.p. 624.
35
Súmula Vinculante nº 11. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração
de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Súmulas STF. 13ª ed. Atualizada – São Paulo:
Saraiva, 2012.p. 1.811.
24

contrária às provas dos autos. No entanto, é um recurso exclusivo da defesa, que


deverá alegar o prejuízo ao réu, e, será apreciado por Cortes Superiores.

Ainda que soberano o veredicto dado pelo Conselho de Sentença, das


decisões do Tribunal do Júri cabem reforma, assim preceitua o art. 593 do Código
de Processo Penal:

Art. 593 - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:


[...]
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à
decisão dos jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da
medida de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos
autos.36

Ressalta-se, que antes do transito em julgado, cabe recurso de qualquer


decisão judicial, contudo, o inciso III do referido artigo trata tão somente das
decisões do Tribunal do júri e quais as situações possíveis para apelar.

O parágrafo 3º do mesmo dispositivo legal, em complemento, prescreve:

“§ 3º. Se a apelação se fundar no nº III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem


se convencer de que a decisão dos Jurados é manifestamente contrária à
prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento;
não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação”

Das decisões proferidas, tanto por juiz singular como pelo Conselho de
Sentença do Tribunal do Júri e ou o seu Presidente, caberá apelação, no prazo de
05 (cinco) dias.

De maneira que, o recurso interposto é analisado pelo Tribunal ad quem,


onde os julgadores verificarão se a decisão do Conselho de Sentença fora, de fato,
contrária às provas apresentadas nos autos, com isso, darão provimento ao recurso
no sentido de submeter o réu a novo julgamento pelo Tribunal do Júri.

36
Art. 593 caput, inciso III, d) VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração
de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Penal. 13ª ed. Atualizada – São
Paulo: Saraiva, 2012.p. 637.
25

Convoca-se novo júri, obedecendo aos procedimentos do Tribunal do Júri.


Vale ressaltar que o Conselho de Sentença deve ser formado por juízes que não
participaram do primeiro julgamento estes, também, analisarão as provas
apresentadas e segue o julgamento. No entanto, não se admitira não se admitirá
uma segunda apelação, se for o mesmo motivo da primeira.

Entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal, Relator Ministro


Sidney Sanches, no HC 77.686 RJ:

DIREITO CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. JÚRI.


APELAÇÃO COM BASE NO ART. 593, III, “D”, DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. PROVIMENTO. DESCABIMENTO DE NOVA
APELAÇÃO, “PELO MESMO MOTIVO”, OU SEJA, PELO MESMO
FUNDAMENTO, AINDA QUE INTERPOSTA PELA OUTRA PARTE
(PARÁGRAFO 3º DO MESMO ARTIGO). INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO
AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA ISONOMIA. 1) Uma vez anulado o
primeiro julgamento, perante o Tribunal do Júri, em face de apelação
interposta com base no art. 593, III, “d”, do Código de Processo Penal, outro
recurso, com o mesmo fundamento, é descabido ainda que apresentado
pela outra parte (parágrafo 3º do mesmo dispositivo). 2) Desse modo, fica
respeitado o princípio da soberania do júri, tão constitucional quanto o da
isonomia 3) Apelação não conhecida. 4) “H.C.” indeferido. 5) Precedentes
do STF. Confira-se:37

Precedente do STF confirma a aplicação do parágrafo 3º do art. 593 do CPP


e afirma o princípio da soberania e da isonomia do Conselho de Sentença.

Importa afirmar que, a reforma do Código de Processo Penal relativa à parte


que cumpre os procedimentos de competência do Tribunal do Júri relaciona, de
maneira organizada, os procedimentos da segunda fase a serem aplicados em
plenário. Desde a sentença dada pelo Conselho de Sentença, finalizada pelo Juiz
Presidente da sessão.

2. O CONCEITO DE PESSOA IDOSA

37
ACORDÃO. HCRJ nº 77.686-4. STF. Relator Sydney Sanches. Julgado em 20.10.1988 pela Primeira Turma.
Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=77489.Acessado em 07 de
setembro de 2014.
26

Pessoas dotadas de saúde física e mental na sua plenitude detêm os


seguintes determinantes: cognição que é a capacidade mental de compreender
situações simples ou complicadas, do dia a dia, ligadas ao conhecimento;
comunicação que é, também, a capacidade de se relacionar com o meio em que
vive; humor que é a motivação para manifestar sentimentos diversos e mobilidade
que é a capacidade individual de se locomover. Contudo, surgindo o envelhecimento
a capacidade de interação e adaptação diminui, gradativamente, de modo que se
torne dependente de outras pessoas. Atualmente definido como cuidadores.

Pessoas idosas são aquelas com idade igual ou superior a 60 (sessenta)


anos. Assim define o Estatuto do Idoso, promulgado pela Lei 10741/03.

Para demonstrar a importância do convívio do idoso em meio à sociedade é


necessário conceitua-lo de acordo com o dicionário da língua portuguesa.

Idoso é uma pessoa considerada de terceira idade, ou seja, quem tem muitos
anos de vida.38 No entanto, para definir um indivíduo como ser idoso há necessidade
de verificar fatores biológicos ligados ao seu estilo de vida. Continuar a trabalhar,
praticar esportes, manter vida social, adotar uma dieta saudável são atividades que
despertam o sentido cognitivo do idoso, além de configurar novas possibilidades de
envelhecimento saudável.

Colabora, Fernanda Paula Diniz: Para Noberto Bobbio, existem três tipos de
velhice: a cronológica (irrelevante às características do indivíduo); a burocrática
(correspondente aos beneficiários da aposentadoria, passe livre, preferencial etc.) e
a subjetiva (depende do sentir de cada indivíduo idoso). 39

2.1. O Idoso e sua Proteção: Uma Questão de Vulnerabilidade

A vulnerabilidade do idoso está ligada, precipuamente, a fatores biológicos. O


próprio envelhecimento hospeda doenças degenerativas, tais como, dificuldade de
38
SACCONI, Luiz Antonio. Minidicionário da Língua Portuguesa. 1ª. Ed. São Paulo, 2007, p.315.
39
DINIZ, Fernanda Paula. Direito dos Idosos na Perspectiva Civil- Constitucional. BH: Arraes Editores, 2011,
5p.
27

memória, diminuição na percepção auditiva, perda de força muscular e do equilíbrio,


risco de catarata, risco de insuficiência cardíaca, queda da vitalidade, hipertensão
arterial, dentre outras. Contudo, é importante que o idoso mantenha uma vida social
ativa e participe intensivamente, no convívio familiar.

Colabora o escritor Archimedes Jose Melo Marques:

Os considerados vulneráveis são aquelas pessoas que por condições


diversas têm as diferenças estabelecidas entre eles e a sociedade que os
envolve e que em consequência os transformam em desiguais. A
desigualdade, entre outras determinantes, torna a pessoa em incapaz ou
pelo menos, dificulta enormemente a sua faculdade de livremente expressar
a sua vontade própria.40

A proteção do idoso é obrigatória por disposições legais e cabe à família, ao


Poder Público e a própria sociedade proteger os idosos. Ao Poder Público,
assegurar-lhes os direitos e garantias fundamentais já definidas por legislação
codificada, bem como específica – Estatuto do Idoso- Lei 10.741de 2003.

O novo envelhecer na visão da pesquisadora Silene Sumire:

Pessoas mais eficazes e satisfeitas tendem a buscar mais controle, mais


satisfação e mais envolvimento, parecendo assim, diferentes do estereotipo
de velhice doentia, apagada e infeliz. A criação de um novo estilo de vida
exerce um efeito positivo sobre as pessoas quem envelhecem, as quais
passam a aspirar a um novo roteiro para as suas vidas. Afeta as instituições
sociais e seus produtos, que tende a gerar mais tecnologia favorável à
promoção da qualidade de vida na velhice.41

Entretanto, o Brasil adota o critério cronológico para definir a pessoa idosa.


Com efeito, o amparo constitucional correlacionado ao Estatuto do Idoso, possibilita
a execução de políticas públicas associada à terceira idade, mediante tutela
individual e coletiva.

Teoricamente, quando se define idoso na seara jurídica, permite considerar o


mais básico de todos os direitos, o direito à vida, direito fundamental do homem.
Assim é também o princípio da dignidade da pessoa humana, fundamento
constitucional inerente a todo e qualquer ser humano. A recíproca é verdadeira
40
MARQUES, Archimedes Jose Melo. A Polícia em Proteção ao Idoso. Disponível em
http://www.infoescola.com/sociedade/a-policia-em-protecao-ao-cidadao-idoso/ Acessado em 07 de setembro de
2014.
41
OKUMA, Silene Sumire. O idoso e a atividade física: Fundamentos e Pesquisas. 4ª. Ed. São Paulo: Papirus
Editora, 1998, p.11.
28

quando se afirma: para considerar a dignidade da pessoa humana, deve anteceder a


existência humana, o direito à vida.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos criada em 1948 em um período


pós-guerra, com a finalidade de reagir contra atos de violação de direitos humanos.

Composta de 30 artigos é considerada o documento mais importante para a


humanidade. Ainda que não faça referências explícitas à proteção das pessoas
idosas, defende a igualdade e a dignidade da pessoa humana sem distinção de
raça, cor, religião, sexo, nacionalidade, idade. Em seu artigo 25 posiciona sobre
direitos garantidos a toda pessoa, inclusive cuidados médicos e serviços sociais na
velhice:

Artigo XXV
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a
sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à
segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou
outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. 42

Ainda que a Declaração dos Direitos Humanos não faça referencia a pessoa
idosa, os seus dispositivos são alcançados por todas as classes sociais de qualquer
faixa etária.

A Declaração Universal é um documento de repercussão internacional que


deve vista como um ideal comum entre todos os povos e suas nações, no entanto,
as determinações nela presentes, devem ser asseguradas pelo Estado.

Em semelhança textual a dignidade da pessoa humana, consignada em


nossa Magna Carta, como princípio fundamental e não como direito fundamental, no
entanto, é motivada pelos dispositivos da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, quando demonstrada no caput do art. 5º.

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:43

42
Art. XXV. Declaração Universal Dos Direitos Humanos. Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III)
da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.
43
Art. 5º Caput. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Constituição Federal de 1988. 13ª ed. Atualizada – São
Paulo: Saraiva, 2012.p. 7.
29

A invocação para a igualdade tornam equilibrados os direitos fundamentais


positivados de todos os cidadãos residentes no país.

Outro posicionamento sobre a dignidade da pessoa humana, em específico, a


pessoa idosa é destacado pelo art. 230 caput da Magna Carta, ao determinar:

" A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas


idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e
bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida." 44

O idoso, a priori, é responsabilidade da família. No entanto, essa não tendo


meios financeiros para mantê-lo, o Estado entra com a parcela de atendimento,
suprimento, fiscalização em conjunto com a sociedade. Assegura a Constituição
Federal de 1988.

Maria Garcia, em sua obra, contribui com o conceito de dignidade da pessoa


humana defendido por Ingo Wolfgang:

Assim sendo, temos por dignidade da pessoa humana a qualidade


intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando
nesse sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que
assegurem a pessoa contra todo e qualquer ato de cunho degradante e
desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas
para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação
ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em
comunhão com os demais seres humanos.45

Conservando a essência do conceito acima, em busca de uma vida digna


para a população idosa, o art. 3º da Lei nº 10.741/03 - Estatuto do Idoso preceitua:

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público,


assegurar ao idoso, com absoluta prioridade a efetivação do direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.46

44
Art. 230 caput. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Constituição Federal de 1988. 13ª ed. Atualizada – São
Paulo: Saraiva, 2012.p. 73.
45
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição
Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed., 2001 apud GARCIA, Maria. Biodireito
Constitucional. Questões atuais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p.313.
46
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
30

Contempla o art. 10 § 3º do Estatuto do idoso, que também guarda a essência


do conceito explorado por Maria Garcia:

É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a


liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de
direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e
nas leis.
§ 3º - É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo
de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor.47

Afirmativo que tanto o Estado como a sociedade e a família têm parcelas de


responsabilidades para com os seus idosos. Em geral, a sociedade idosa.

Constata, pois, na Constituição Federal de 1988 o princípio da dignidade da


pessoa humana como fundamento básico da República Federativa do Brasil, e, nos
incisos do art. 5º como direitos e garantias fundamentais do homem condicionados à
dignidade da pessoa humana.

Para que o idoso tenha uma vida digna, além do direito à liberdade, ao
respeito e à dignidade, à educação, ao lazer, cultura e esporte, também devem ser
assegurados o direito a alimentação, à saúde, à habitação, à previdência social, à
assistência social, ao transporte público. Para que ocorra, basta fazer cumprir as
determinações dispostas no Estatuto do Idoso e leis codificadas que regulam e
asseguram a proteção aos idosos, bem como as políticas sociais voltadas para o
atendimento dessas pessoas de força fragilizada e discernimento limitado.

2.2. Direitos Tutelados aos Idosos pela Legislação Brasileira

Ainda que o Princípio da isonomia, consagrado no art. 5º caput da


Constituição Federal de 1988 que todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade o legislador, mais adiante, tratou de dispensar proteção diferenciada aos

47
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
31

idosos quando determina a prestação da assistência social a quem necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, objetivando a proteção à
velhice, garantindo, ainda, um salário mínimo ao idoso que comprovar não possuir
meios de prover a própria manutenção ou tê-la provida pelos familiares. 48

Prevê, todavia, que a família, base da sociedade tem especial proteção do


Estado.49 Adianta que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as
pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, bem com,
defendendo sua dignidade e bem estar 50
, além do que, assim como os pais têm o
dever de assistir, criar e educar os filhos menores, os filhos maiores tem o dever de
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. 51

Por disposições constitucionais, a família tem a proteção do Estado, ao passo


que o idoso tem proteção da família, logo filhos menores devem ser amparados
pelos pais e filhos maiores amparar os pais na velhice.

Regra que o legislador civil utilizou para estabelecer a obrigação de alimentar,


por qualquer ente familiar. Desta forma dispõe o artigo 1.698 do Código Civil:

Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em


condições de suportar totalmente o encargo serão chamados a concorrer os
de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos,
todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada
ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide. 52

Do artigo 1.698 do Código Civil, o Estatuto do Idoso aproveitou a obrigação


de alimentar, reafirmando em seu art. 12. e dos art. 229 e 230 da Constituição
Federal, o Estatuto do Idoso aproveitou para a obrigação de amparo pelo Estado,
família e sociedade reafirmando em seu art. 14.

48
Art. 203 caput. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Constituição Federal de 1988. 13ª ed. Atualizada – São
Paulo: Saraiva, 2012.p. 67.
49
Art. 226 caput. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Constituição Federal de 1988. 13ª ed. Atualizada – São
Paulo: Saraiva, 2012.p. 72.
50
Art. 230 caput. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Constituição Federal de 1988. 13ª ed. Atualizada – São
Paulo: Saraiva, 2012.p. 73.
51
Art. 229 caput. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Constituição Federal de 1988. 13ª ed. Atualizada – São
Paulo: Saraiva, 2012.p. 73.
52
Art. 1698 caput. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Civil. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva,
2012.p. 259.
32

Art. 12 do Estatuto do Idoso: “A obrigação de alimentar é solidária, podendo o


idoso optar entre os prestadores”.53

Induz que, qualquer pessoa da família tem a obrigação de alimentar o idoso,


cabendo ao mesmo, optar pelo alimentante. Ademais, a obrigação solidária garante
ao idoso a alimentação, independentemente, de qual familiar vá prover-lhe o
alimento.

Art. 14 do Estatuto do Idoso: “Se o idoso ou seus familiares não possuírem


condições econômicas de prover o seu sustento, impõe-se ao Poder Público esse
provimento, no âmbito da assistência social.” 54

Por força do dispositivo constitucional constante no art. 203 da Constituição


Federal, a assistência social será prestada pelo Poder Público.

Pelas disposições do art. 74 do Estatuto do Idoso, em descumprimento com


as determinações legais acima, terá legitimidade qualquer pessoa ou o Ministério
Público para ingressar com ações judiciais pertinentes. 55

Em se tratando de direito patrimonial, em observância ao art. 1.641 do Código


Civil,56 o legislador civil, demonstra buscar proteção ao idoso prestes a se casar, à
medida que determina obrigatoriedade da separação de bens na celebração do
casamento de pessoas maiores de 70 (setenta) anos.

De pronto, o artigo citado remete-se à súmula 377 do Supremo Tribunal


Federal que estabelece: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os
adquiridos na constância do casamento”.57

Compreende que, na vigência do casamento, ambos os cônjuges reúnem


esforços comuns para adquirir bens. Posto isto, é justo que haja meação, em caso
de extinção do casamento.

53
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
54
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
55
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
56
Art. 1641 caput, II. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Civil. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva,
2012.p. 256.
57
Súmula 377 do Supremo Tribunal Federal.
33

A legislação trabalhista demonstra o amparo ao trabalhador idoso dispondo


no art. 134 §2º Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ao definir que aos maiores
de 50 (cinquenta) anos as férias serão concedidas de uma só vez. 58

Ainda na seara trabalhista, visando proteger as pessoas idosas que buscam


acesso ao mercado de trabalho o art. 100, II do Estatuto do Idoso dispõe: “constitui
crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1(um) ano e multa; negar a alguém,
por motivo de idade, emprego ou trabalho.” 59

O legislador penal, preservando a condição física de pessoas idosas ofertou-


lhes a prerrogativa de requerer dispensa do serviço obrigatório de jurado no Tribunal
do Júri. Visto que, conforme o caput do art. 436 do Código de Processo Penal, o
serviço do júri é obrigatório, e, o cidadão maior de 70 (setenta) anos, exercendo a
função de jurado nos processos de competência do Tribunal do Júri tem a
prerrogativa de requerer sua dispensa. Essa alternativa é uma maneira de poupar o
idoso de uma jornada cansativa que pode ser computada desde a saída de sua
residência até ao Tribunal, incluindo a duração do julgamento e o retorno ao lar,
isentou-o desse serviço obrigatório. Em dispositivo específico, listou as pessoas
dispensadas a exercer a função de jurado.60

Cumpre ressaltar que o Estatuto do Idoso, além dos direitos estabelecidos


para os idosos, por força do artigo 52 caput, prevê a fiscalização direta realizada
pelo Ministério Público aos serviços de atendimentos por órgãos governamentais e
não governamentais oferecidos para os idosos. Por previsão do artigo 45 caput,
atribui ao Parquet a prerrogativa de aplicar ex- ofício e administrativamente, medidas
de proteção aos idosos. 61

A Lei nº 8.842/94 dispõe sobre a política nacional do idoso, e tem por objetivo
assegurar os direitos sociais do idoso. A referida lei cria o Conselho Nacional do
Idoso com o compromisso de mapear e planejar as políticas públicas voltadas para o
envelhecimento ativo. Está diretamente ligada à Secretaria de Direitos Humanos.
58
Art. 134 caput §2º. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. CLT. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012.p. 857.
59
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
60
Art. 437 caput, IX. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo:
Saraiva, 2012.p. 625
61
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
34

Para o Desembargador, Dr. Carlos Henrique Abrão,

... a mencionada legislação, revestida de 22 artigos, ao tempo de sua


elaboração, preocupou-se em definir políticas públicas associadas à terceira
idade, mediante tutelas individuais e coletivas [...] Emblematicamente, o
Estatuto do Idoso correlacionou medidas a serem implantadas em diversas
áreas, tomando como norte a relevância do pretérito e uma inclusão de
prerrogativas, as quais estão ligadas à própria essência da sociedade e dos
ditames governamentais.62

Além das leis codificadas, a proteção jurídica dos idosos está consagrada por
leis esparsas, como exemplo, o Estatuto do Idoso, qual reforça a garantia dos
direitos sociais consagrados, anteriormente, na Constituição Federal de 1988.

2.3. Direitos Tutelados aos Idosos Demandados pela Justiça


Criminal Brasileira

Aos idosos considerados réus em um processo penal, devem ser observados


os critérios especiais previstos no Código Penal e Processo Penal em seu favor.

Nesse sentido, o devido processo legal, é extraído das disposições


abstratamente prescritas no Estatuto do Idoso que atribui ao Ministério Público:
órgão legitimado para fiscalizar os procedimentos impostos a aplicação da pena de
reprimenda ao condenado idoso.

Colabora com o agente infrator, o legislador originário ao preconizar no art. 65


do Código Penal a idade do maior de 70 (setenta) anos na data da sentença ser
uma circunstância que atenua a pena do condenado. 63

Com relação à incidência da atenuante etária obrigatória, decidiu o Superior


Tribunal de Justiça em sede do RHC 13053 RJ 2002/0075824-5, julgamento
06/03/2003, T5 - QUINTA TURMA - Data de Publicação: DJ 28/04/2003.
62
ABRÃO. Carlos Henrique. Da Tramitação Processual Prioritária. Lei nº 12.008/09. São Paulo: Atlas,
2012.p.16.
63
Art.65 caput, I. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva,
2012.p. 516.
35

CRIMINAL. RHC. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.


DOSIMETRIA. OMISSÃO NA APLICAÇÃO DE ATENUANTE
OBRIGATÓRIA. RÉU MAIOR DE SETENTA ANOS NA DATA DA
SENTENÇA. ANULAÇÃO DO DECRETO CONDENATÓRIO, QUANTO À
DOSIMETRIA, MANTIDA A CONDENAÇÃO. RECURSO PROVIDO.
[...]
Evidenciado que o paciente possuía mais de 70 anos na data da
prolação do decreto condenatório, tem-se como deficiente e omissa a
dosimetria da reprimenda que deixa de aplicar a atenuante obrigatória.
[...] tão-somente quanto à dosimetria da reprimenda, a fim de que outra
seja proferida com a incidência da atenuante obrigatória na fixação da
pena, mantida a condenação do paciente. Recurso provido, nos termos do
voto do Relator.64

Quanto ao dispositivo penal aplicado, em razão da idade do réu, a lei penal,


visa proteger as pessoas consideradas idosas.

Há ainda o instituto da prescrição, tendo como resultado a extinção de


punibilidade do agente. Esta é a definição disposta no art. 107 caput inciso IV do
Código Penal. Por esse motivo, confirma o art. 115 caput do mesmo diploma: para o
maior de 70 (setenta) anos reduz em 50% (cinquenta por cento) o prazo da
prescrição a partir da data da sentença. 65

Por entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo, a apelação


167346120078260590 SP 0016734-61.2007.8.26.0590 – Órgão julgador: 8ª câmara
de Direito Criminal, publicado em 20.09.2012, restou extinta a punibilidade do agente
por aplicação do Art. 115 do CPP,

APELAÇÃO PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO


PRESCRIÇÃO OCORRÊNCIA.
Condenação à pena de dois anos de reclusão Réu idoso à época da
prolação da sentença Artigo 109, inciso V, combinado com o artigo
115, ambos do Código Penal Prescrição que se dá em dois anos Lapso
ultrapassado entre a data da publicação da Sentença e a publicação do v.
Acórdão Prescrição reconhecida Exame do mérito recursal prejudicado
DECLARA-SE EXTINTA A PUNIBILIDADE DO RÉU ANTONIO ESPINOSA
HERNANDEZ, PREJUDICADO O EXAME DE MÉRITO DO APELO.66

64
STJ - RHC: 13053 RJ 2002/0075824-5, Relator: Ministro GILSON DIPP, Data de Julgamento: 06/03/2003,
T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ 28/04/2003 p. 210 RSTJ vol. 172 p. 50. Disponível em
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7465481/recurso-ordinario-em-habeas-corpus-rhc-13053-rj-
2002-0075824-5. Acesso em 07 de setembro de 2014.
65
Art.115 caput, VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva,
2012.p. 521.
66
TJ-SP - APL: 167346120078260590 SP 0016734-61.2007.8.26.0590, Relator: Amado de Faria, Data de
Julgamento: 13/09/2012, 8ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 20/09/2012 Disponível em
http://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22406522/apelacao-apl-167346120078260590-sp-0016734-
6120078260590-tjsp. Acesso em 07 de setembro de 2014.
36

Nas definições do art. 77 caput § 2º do Código Penal, sendo o agente, maior


de 70 (setenta) anos condenado a cumprir pena privativa de liberdade, não superior
a 04 (quatro) anos, poderá ser suspensa por 04 (quatro) a 06 (seis) anos. 67 É a
chamada suspensão condicional da pena, ou ainda, sursis etário.

Cabimento de SURSIS a réus idosos: Recurso Extraordinário (Apelação


Criminal) nº 2003.71.00.077682-2/RS apreciado pelo Tribunal Regional Federal,
publicado em 18.08.2010;

PENAL. PROCESSO PENAL E CONSTITUCIONAL. CRIME CONTRA O


SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. GESTÃO FRAUDULENTA,
APROPRIAÇÃO INDÉBITA FINANCEIRA E ADIANTAMENTO VEDADO
(ARTS. 4º, CAPUT, 5º E 17, TODOS DA LEI Nº 7.492/86). INÉPCIA DA
DENÚNCIA E CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO VERIFICADOS.
CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 4º DA LEI Nº 7.492/86 E DA
RESOLUÇÃO 314/2003 DO CNJ. MATERIALIDADE E AUTORIA
COMPROVADAS. REDUÇÃO DA PENA. PRESCRIÇÃO PARCIAL.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVAS DE DIREITO. "SURSIS" ETÁRIO.
[...]
8. Diante da prescrição dos crimes de apropriação indébita financeira e
empréstimo ou adiantamento vedado, mantida, entretanto, a condenação
pela prática do crime de gestão fraudulenta, têm alguns dos recorrentes o
direito à substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de
direitos. Os demais, face à idade avançada, têm direito ao "sursis"
etário (art. 77, § 2º, do CP), consubstanciado na suspensão condicional
da pena. 9. Em caso de não observância dos parâmetros norteadores da
substituição, fixo o regime aberto para o início do cumprimento da pena. 68

Consta no art. 82 caput § 1º da Lei 7210/84 de Execução Penal que os


estabelecimentos penais recolherão, separadamente, os condenados maiores de
60(sessenta) anos, em estabelecimento próprio e adequado a sua condição pessoal.
Essa determinação tem reflexo do inciso LXVII art. 5º. da Constituição Federal no
tocante a individualização da pena. 69

67
Art. 77 caput, § 2º. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva,
2012.p. 517.
68
TRF-4 - ACR: 77682 RS 2003.71.00.077682-2, Relator: TADAAQUI HIROSE, Data de Julgamento:
23/02/2010, SÉTIMA TURMA, Data de Publicação: D.E. 03/03/2010. Disponível em http://trf-
4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/17167857/apelacao-criminal-acr-77682-rs-20037100077682-2-trf4/
inteiro-teor-17167858. Acesso 07 de setembro de 2014.
69
Art. 5º. Todos são iguais [...] XLVII- a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a
natureza do delito, a idade e o sexo do apenado. Constituição Federal. 1988.
37

Como também, na mesma lei, no art. 117 caput, inciso I que somente se
admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular
quando se tratar de condenado maior de 70 (setenta) anos. 70

Com relação à prisão preventiva poderá o juiz substituí-la, pela prisão


domiciliar quando o agente for maior de 80 (oitenta) anos de idade. 71

Entendimento adotado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, no Processo


nº: 10056130061957001 - Órgão julgador: Câmaras Criminais/ 6ª Vara Criminal,

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - TENTATIVA DE HOMICIDIO -


FLAGRANTE - SUBSTITUIÇÃO DA SEGREGAÇÃO PELA PRISÃO
DOMICILIAR - POSSIBILIDADE - RÉU IDOSO, HIPERTENSO E
PRIMÁRIO - RECURSO DESPROVIDO.
- Embora o recorrido não possua 80 anos de idade, sendo idoso e
hipertenso, é possível a substituição do encarceramento por prisão
domiciliar, mormente se imposta há mais de cinco meses e o beneficiado
não deixou de cumpri-la.
[...]
E, de fato, conquanto não tenha restado evidenciado que o recorrido esteja
extremamente debilitado em razão de enfermidade grave, entendo que o
quadro de hipertensão, considerando se tratar de pessoa idosa, pode
sim ser agravado com o encarceramento.
[...]
Efetivamente, tenho que a prisão domiciliar, neste caso, é medida
idônea e suficiente para acautelar o meio social, mormente porque não
há notícias de descumprimento.72

Na Legislação Penal, o legislador tratou de maneira diferenciada, buscando


proteger as pessoas com idade acima de 60 (sessenta) anos, de sorte que as
definições jurídicas se estendem tanto, para o idoso na condição de vítima, quanto
para o idoso na condição de réu.

70
Art. 117 caput, I . BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. DOU,
Brasília, DF, 13 julho 1984.
71
Art.318, I VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto
Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo: Saraiva,
2012.p. 613.
72
TJ-MG, RECURSO EM SENTIDO ESTRITO nº: 10056130061957001, Relator: Furtado de Mendonça,
Data de Julgamento: 03/12/2013, Câmaras Criminais / 6ª CÂMARA CRIMINAL. Disponível em: http://tj-
mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/118701480/rec-em-sentido-estrito-10056130061957001-mg. Acesso em
07 de setembro de 2014.
38

2.4. A Preferência do Idoso em Tramitações Processuais

Com base no princípio da celeridade processual, inserido na Constituição


Federal brasileira por meio da Emenda Constitucional nº 45 beneficia, inclusive, a
pessoa na condição de idosa, ter uma resposta rápida do Estado - Juiz, tanto na
duração como na tramitação de processos judiciais e administrativos. 73 Assim, é
instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às
pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Acentua Pérola Melissa V. Braga, em relação ao Estatuto do Idoso:

Esta lei é de uma importância fundamental, ainda mais se levarmos em


conta que nosso País não possui um Poder Judiciário que se notabiliza pela
sua rapidez. São muitos os casos de pessoas que, propõem ações e não
chegam a vê-las concluídas, em especial os que ingressam no judiciário
enquanto já vivem suas velhices.74

Nesse sentido, a Lei 12.008/2009 de prioridade na tramitação de processos


judiciais e administrativos insere: Art.1.211- A do Código de Processo Civil: “ Os
procedimentos judiciais em que figure como parte ou interessado pessoa com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos, ou portadora de doença grave, terão
prioridade de tramitação em todas as instâncias.” 75

As determinações do art. 1.211- C do Código de Processo Civil vão mais além


na prioridade, ao determinar que esta não cessará com a morte do idoso,
estendendo-se em favor do cônjuge supérstite e ou companheiro de união estável. 76

O art. 71 da Lei nº 10.741/2003 - Estatuto do Idoso, reafirma a prioridade do


idoso na tramitação de processos judiciais, não fugindo a essência do art. 1.211- A
do Código de Processo Civil: “É assegurada prioridade na tramitação dos processos
e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como

73
Art.5º. [...] LXXVIII- a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Constituição Federal de 1988.
74
BRAGA, Pérola Melissa V. Direitos do idoso de acordo com o Estatuto do Idoso. Quartier Latin do Brasil
Editora. São Paulo, 2005, p.175.
75
Art. 1.211-A. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Civil. 13ª ed. Atualizada – São Paulo:
Saraiva, 2012.p. 447
76
Art. 1.211-C. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Civil. 13ª ed. Atualizada – São Paulo:
Saraiva, 2012.p. 447
39

parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em


qualquer instância”.77

O art. 94 da Lei nº 10.741/2003 - Estatuto do Idoso, ao fazer referencia aos


crimes previstos pelo Estatuto, cujas penas não ultrapasse a 04(quatro) anos, aplicar
os procedimentos previstos na Lei 9.099/95 de procedimento sumaríssimo, entende
que o legislador busca celeridade na tramitação processual, por ser a vítima, pessoa
idosa. Determina, ainda, o legislador, aplicar subsidiariamente no que couber, as
disposições do Código Penal e Processo Penal. Para melhor compreensão, os
crimes em espécie estão previstos no art. 95 ao art. 108 do Estatuto do Idoso.

Nesse entendimento, colabora Antonio Alberto Machado.

... a referida norma determina apenas a adoção do procedimento


sumaríssimo, visando tornar mais célere o processo que tem como vítima a
pessoa idosa, considerando-se a situação especialíssima, e não faz
referencia aos demais institutos despenalizadores da Lei 9.099/95, numa
demonstração de que o intuito do legislador era apenas agilizar o processo
e não despenalizar condutas com a ampliação do conceito de infração de
menor potencial ofensivo.78

É importante observar que a preocupação do legislador é garantir a


celeridade processual para atender aos anseios da pessoa idosa em litígios judiciais.

3. DA ORGANIZAÇÃO DA PAUTA DE JULGAMENTO

A organização da pauta de julgamento é considerada um dos procedimentos


para a 2ª fase, ou seja, a fase de mérito, em plenário no Tribunal do Júri.

O preparo da sessão de julgamento ocorre após o trânsito em julgado da


decisão de pronúncia. Dá-se início a fase de preparação do plenário para a
realização da segunda fase do rito do júri. O judicium causae.

Nessa compreensão o ilustre professor, Antonio Alberto Machado, aponta:


77
Art. 71. BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
78
MACHADO, Antonio Alberto. Curso de Processo Penal. 5ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.344.
40

Uma vez preclusa para a acusação e defesa a decisão de pronúncia, o juiz-


presidente determinará a intimação das partes para, em cinco dias,
apresentar o rol das testemunhas que irão depor em plenário, juntar
documentos e formular requerimento de diligências que julgarem
indispensáveis ao desate do processo.79

Tem a liberdade contemplada pelo diploma penal, para apresentar


testemunhas, bem como, juntar documentos probatórios e requerer diligências, tanto
o Ministério Público como a defesa do acusado.

Nesse interstício poderá, também, reclamar o desaforamento para outra


comarca da mesma região. Nas situações que se seguem: comprovado excesso de
trabalhos e o julgamento não puder ocorrer no prazo de 6 (seis) meses da decisão
de pronuncia, e, a pedido do Ministério Público ou da defesa. Na segunda situação,
será acatado o pedido se demonstrar interesse de ordem pública, ou dúvida na
imparcialidade do Conselho de Sentença, bem como a segurança pessoal do
acusado.80

É de real importância o instituto do desaforamento, vez que funciona como


mecanismo de controle temporal no Processo Penal para os agentes que se
mantêm sob a custódia prisional do Estado. É, portanto, um meio de garantir ao
acusado, um julgamento em tempo razoável, consequentemente, mais célere.

3.1. A Organização da Pauta do Tribunal do Júri Brasileiro e


a Prerrogativa do Acusado Idoso na ordem de preferência

Cabe destacar que a organização da pauta estará liberada a partir do momento


que finaliza os preparativos do processo para julgamento em plenário. No entanto,
interessa abordar esses preparativos da forma estabelecida pelo Código de
Processo Penal, sendo possível aplicar concomitantemente, as disposições
regimentais de cada Tribunal.

79
MACHADO, Antônio Alberto. Curso de Processo Penal. São Paulo: Ed. Atlas. 2013.p.308.
80
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a
segurança do acusado, o Tribunal, a requerimento[...] poderá determinar o desaforamento do julgamento[...].
Código de Processo Penal atualizado pela Lei n. 11.689.2008.
41

A organização da pauta do Tribunal do Júri está disposta no artigo 429 do


Código de Processo Penal, e com a nova redação dispôs preferências no
julgamento do dia. Contudo, será afixada na porta do edifício do Tribunal do Júri a
lista de processos a serem julgados. Obedecida à ordem estabelecida por
dispositivo legal.

A Lei 11.689/2008, ao dar nova redação ao dispositivo, estabelece prioridade na


marcação de julgamento para os acusados presos, na ordem que se segue;

Art. 429: Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos
julgamentos, terão preferência:
I - os acusados presos;
II - dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na
prisão;
III - em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados.
Ainda que a lei inovadora não cite o acusado idoso, o Estatuto do idoso, por não
ter estabelecido distinção entre idoso réu ou autor, garante ao idoso que figure como
parte em processos, execuções ou diligências judiciais, a prioridade na tramitação
de processos, seja em qualquer instância, assim dispõe o art. 71:

“É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e


na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou
interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em
qualquer instância.”

Nesse entendimento, a Lei 12.008 sancionada em 29 de julho de 2009, altera


o Código de Processo Civil. Para garantir os dispositivos estabelecidos pelo Estatuto
do Idoso, reafirma que a tramitação processual prioritária em procedimentos judiciais
e administrativos às pessoas idosas e ou portadoras de doenças graves. Ressalta-
se, que a obtenção do benefício prioritário faz-se por requerimento à autoridade
administrativa competente. Inclui, também, a prioridade de tramitação processual à
Lei nº 9.784 de janeiro de 1999 que regula o processo administrativo no âmbito da
Administração Pública Federal.

Do Código de Processo Civil:

Art. 1.211- A. Os procedimentos judiciais em que figure como parte ou


interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, ou
portadora de doença grave, terão prioridade de tramitação em todas as
instâncias.
Art. 1.211 – B. A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando
prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade judiciária
42

competente para decidir o feito, que determinará ao cartório do juízo as


providências a serem cumpridas.
§ 1º. Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que
evidencie o regime de tramitação prioritária.
.

Da Lei nº 9.784 de janeiro de 1999:

Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão ou instância,


os procedimentos administrativos em que figure como parte ou interessado:
I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos
II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental;

Em linhas gerais, na observação cotidiana dos tribunais e na busca de efeitos


práticos, há de se verificar se a tramitação processual para as pessoas idosas
ocorre de fato ou é apenas a positivação no ordenamento jurídico, sem efeito legal.

3.2. A Ordem de Preferência na Organização da Pauta do


Tribunal do Júri Brasileiro, Elencada no art. 429 do Código de
Processo Penal Contempla Prioridade ao Acusado Idoso?

Em se tratando da organização da pauta nos processos de competência do


Tribunal do Júri, a corregedoria do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
demonstra os procedimentos internos no Manual de Procedimento da 2ª Fase do
Tribunal do Júri:

[...]
2.1. Observações quanto à ROTINA 01:
Obs1: Ocorrendo uma das hipóteses previstas na alínea “f”, deve
haver a certificação nos autos e imediata conclusão do feito ao Juiz para o
fim de decidir sobre a declinação da sua competência.
2.2. Procedimentos preliminares aos termos do art. 422 do CPP
Preclusa a decisão de pronúncia, inicia-se a fase de preparação do
processo para o julgamento em plenário, com a providência primeira
determinada no art. 422 do CPP, o qual indica a necessidade de intimação
43

das partes para, em 05 (cinco) dias, apresentarem seus respectivos róis de


testemunhas, requerimentos de diligências e pedido de juntada de
documentos.
Antes, porém, para otimizar essa fase processual, ajudando,
inclusive, na organização da pauta de julgamentos, impõe-se seguir a
ROTINA 02, com a anotação de alguns dados importantes do processo.
ROTINA 02: Procedimentos prévios à preparação do processo para
o Júri popular
a) A capitulação do delito constante da pronúncia;
b) a pena mínima e máxima cominada ao delito pelo qual o acusado
foi pronunciado;
c) data do fato;
d) a idade do acusado na data do fato;
e) a idade do acusado na possível data da sentença (se maior
de 70 anos ou não);
f) data do recebimento da denúncia;
g) citação do acusado;
h) data da decisão de pronúncia;
i) data da confirmação da decisão de pronúncia pelas superiores
instâncias, em caso de recurso;
j) verificar se as intimações da decisão de pronúncia ao Ministério
Público, querelante, assistente de acusação, acusado e defensor foram
regulares;
k) verificar se o advogado que está na defesa do acusado é
constituído ou não;
l) verificar se o acusado foi intimado da pronúncia por edital ou
pessoalmente;
m) verificar se existe assistente de acusação habilitado nos autos;
n) verificar se o acusado está preso ou solto e, em estando preso,
se está na Comarca ou fora dela.81
[...]

Importa salientar que, nesse manual apresentado, leva-se em consideração a


idade do acusado na data do fato, além da idade na possível data da sentença se
maior de 70 anos ou não. Essa preocupação está relacionada à aplicação do Sursis
etário, não descartando os pressupostos estabelecidos pelo art. 77 § 2º do Código
Penal que compreende a aplicação do instituto SURSIS; 82

81
MANUAL PROCEDIMENTO DA 2ª FASE DO TRIBUNAL DO JÚRI. Disponível em:
http://corregedoria.tjrn.jus.br/files/manual-criminal-parte2-juri.pdf. Acesso em 07 de setembro de 2014.
82
Art. 77 caput, § 2º. VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. Código Processo Penal. 13ª ed. Atualizada – São Paulo:
Saraiva, 2012.p.517.
44

Cabe, contudo, a consideração do art. 71 da Lei 10.741/2003 – Estatuto do


Idoso, que assim dispõe:

É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na


execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou
interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em
qualquer instância.83

Para assegurar esse direito alcançado pelos idosos, cabe ao Ministério


Público, fiscal da lei, intervir para evitar prejuízo ou prescrição ao direito do idoso.
Assim preceitua o art. 75 do Estatuto do Idoso:

Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará


obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de
que cuida esta Lei, hipóteses em que terá vista dos autos depois das partes,
podendo juntar documentos, requerer diligências e produção de outras
provas, usando os recursos cabíveis.84

Nesse entendimento, conclui o art. 77 da Lei 10.741/2003 - Estatuto do Idoso:


“A falta de intervenção do Ministério Público acarretara a nulidade do feito, que será
declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.” 85

Demonstra, pois, a atuação efetiva, do Ministério Público, nos processos que


figurem como parte as pessoas idosas.

Em se tratando de competência de foro, o idoso tem preferência, conforme


determinação do art. 80 do Estatuto do Idoso: “As ações previstas neste Capítulo
serão propostas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo terá competência absoluta
para processar a causa, ressalvadas, as competências da Justiça Federal e a
competência originária dos Tribunais Superiores.” 86

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, em causas judiciais que


são partes no processo, pessoas idosas aplica o § 1º do art. 1.211- B inserido no

83
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
84
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
85
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
86
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. DOU, Brasília, DF, 03 out. 2003.
45

Código de Processo Civil pela Lei 12.008/2009 - de prioridade na tramitação de


processos judiciais e administrativos:

Art. 1.211 – B. A pessoa interessada na obtenção do benefício juntando


provas de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade judiciária
competente para decidir o feito, que determinará ao cartório do juízo as
providências a serem cumpridas.
§ 1º. Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que
evidencie o regime de tramitação prioritária.

Demonstra, pois, essa aplicação por meio do Provimento Geral da


Corregedoria aplicado aos Juízes e Ofícios Judiciais - nº 4 de 27 de Maio de 2013
que disciplinam a concessão e sinalização de prioridade na tramitação dos feitos:

Altera o Provimento 7/2010 e o artigo 114 do Provimento Geral da


Corregedoria aplicado aos Juízes e Ofícios Judiciais, que disciplinam
a concessão e sinalização de prioridade na tramitação dos feitos.
Art. 114. (...)
I - (...)
c) TARJA VERDE, quando deferida tramitação prioritária à parte com
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos e aos portadores de doença
grave ou de necessidades especiais; e
Art. 2º. Incluir a alínea f no inciso II, do art. 114 do Provimento Geral da
Corregedoria aplicado aos Juízes e Ofícios Judiciais, com a seguinte
redação:
“Art. 114. (...)
II - (...)
f) TARJA VERDE, quando deferida a tramitação prioritária nos feitos que
tenham por objeto a apuração de crimes sexuais praticados contra crianças
e adolescentes ou quando deferida tramitação prioritária à parte com
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos e aos portadores de doença
grave ou de necessidades especiais.87

Dada à importância do Estatuto do Idoso, para assegurar os direitos das


pessoas idosas, o ordenamento jurídico, gradativamente, vem realizando mudanças
melhoradas. A prioridade da tramitação processual estabelecida pela Lei 12.008/09,
acrescentados os artigos 1.211-A; 1.211-B e 1.211-C no Código de Processo Civil,
além de acrescentar o art. 69-A à Lei 9.784, de 29 de janeiro de 1999, que regula o

87
PROVIMENTO GERAL DA CORREGEDORIA APLICADO AOS JUÍZES E OFÍCIOS JUDICIAIS -
nº 4 de 27 de Maio de 2013 http://www.tjdft.jus.br/publicacoes/publicacoes-oficiais/provimentos/2013/
provimento-4-de-27-05-2013. Acesso em 07 de setembro de 2014.
46

processo administrativo no âmbito da administração pública federal, a fim de


estender a prioridade na tramitação de procedimentos judiciais e administrativos às
pessoas que especifica.

Nesse diapasão, conclui-se que as inovações acrescentadas no ordenamento


jurídico brasileiro tem o condão de beneficiar a tramitação de processos judiciais e
administrativos a parte que seja pessoas com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos. Contudo, levando em consideração as disposições inseridas pelo
parágrafo 1º do art. 1.211- B do Código de Processo Civil, os acusados idosos têm
preferencia na organização da pauta de julgamento no Tribunal do Júri.

Nessa definição, esclarece o dispositivo citado:

§ 1.º Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que


evidencie o regime de tramitação prioritária.

Assinala, portanto, que a tramitação processual prioritária procedida da Lei


12.008/09 veio reforçar harmonicamente a regra do Estatuto do Idoso para que, as
pessoas envolvidas no cenário prioritário, alcancem um atendimento digno, coerente
e célere.
47

CONCLUSÃO

O Tribunal do Júri brasileiro, criado no ano de 1.822 por decreto imperial, já


detinha traços da composição atual. Era formado por 24 (vinte e quatro) homens
bons, honrados, patriotas e inteligentes, que julgavam tão somente crime de
imprensa, com aplicação de penas corporais e pecuniárias.

No Brasil, o Tribunal do Júri é um tribunal especial que tem competência para


julgar os crimes dolosos contra a vida. É composto de um juiz-presidente e de vinte
e cinco jurados, dentre os quais sete são sorteados para compor o Conselho de
Sentença em cada sessão de julgamento. Ao longo dos anos, as Constituições
mantiveram a instituição do Júri, ainda que sua estrutura tenha sofrido algumas
alterações, confirma-se a real importância do Tribunal do Júri na manutenção do
Estado Democrático de Direito.

Com relação aos idosos, os nossos legisladores vêm trabalhando


arduamente para fazer valer os direitos individuais e coletivos dessa classe, de certa
forma, vulnerável por questão da própria idade avançada.

Nessa linha, o Código Civil brasileiro e Processo Civil; a legislação trabalhista;


o Código Penal e Processo Penal guardaram a mesma relação em priorizar a
pessoa idosa, tanto no atendimento prioritário como nas atividades laborativas. Por
fim, veio corroborar com as demais leis esparsas.
48

Evidencia- se, pois, que a prioridade de tramitação processual imposta por lei
específica, é uma conquista relevante para a classe idosa, que muitas vezes vêm os
seus direitos exaurirem por questão de morosidade judicial.

Por fim, a Lei nº 10.741/2003 - Estatuto do Idoso – é de relevante caráter


protetivo aos direitos fundamentais dos idosos, e, consequentemente atua como
inibidor legal aos maus tratos que essa classe vinha sofrendo frequentemente por
familiares e outros. Tem também, o condão de afirmar o princípio da isonomia entre
a classe de pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos,
independentemente da situação econômica, grau de escolaridade, cor, religião,
sexo. Tanto o idoso na condição de réu, como na condição de vítima têm os seus
direitos igualitariamente afirmados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed., 2001
49

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http://corregedoria.tjrn.jus.br/files/manual-criminal-parte2-juri.pdf. Acesso em 23 de
maio de 2013.
Provimento Geral da Corregedoria Aplicado aos Juízes e Ofícios Judiciais- nº 4
de 27 de Maio de 2013.
http://www.tjdft.jus.br/publicacoes/publicacoes-oficiais/provimentos/2013/provimento-
4-de-27-05-2013. Acesso em 07 de setembro de 2014.
VADE MECUM – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de
Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. 13ª ed. Atualizada – São
Paulo: Saraiva, 2012.

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