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FACULDADE DELMIRO GOUVEIA-FDG

NÚCLEO DE PESQUISA E EXTENSÃO-NUPE


CURSO DE DIREITO

THACIANE YASMIN SENA DA SILVA

A POSSIBILIDADE JURÍDICA DE EXCLUSÃO DO SOBRENOME PATERNO EM


RAZÃO DO ABANDONO AFETIVO E AS CONSEQUÊNCIAS SUCESSÓRIAS

MACEIÓ
2023
THACIANE YASMIN SENA DA SILVA

A POSSIBILIDADE JURÍDICA DE EXCLUSÃO DO SOBRENOME PATERNO EM


RAZÃO DO ABANDONO AFETIVO E AS CONSEQUÊNCIAS SUCESSÓRIAS

Monografia de conclusão de curso, apresentada à banca


examinadora do Curso de Graduação em Direito, da
Faculdade Delmiro Gouveia, como exigência parcial para
a obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador (a): Regina Maria F. Da Silva Lima.

Assinatura da Orientadora

MACEIÓ
2023
THACIANE YASMIN SENA DA SILVA

Monografia de conclusão de curso, apresentada à banca


examinadora do Curso de Graduação em Direito, da
Faculdade Delmiro Gouveia, como exigência parcial para
a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Aprovado em: / /

BANCA EXAMINADORA

Professor (a) examinador (a)

Professor (a) examinador (a)

MACEIÓ
2023
AGRADECIMENTOS

A Deus por me proporcionar perseverança durante toda a minha vida. Aos meus pais
Ivete Maria Sena da Silva e Cicero José Francisco da Silva, pelo apoio e incentivo que serviram
de alicerce para as minhas realizações. Como também, aos meus irmãos pela amizade e atenção
dedicadas quando sempre precisei.
Ao meu digníssimo esposo Antony Wylker dos Santos Rodrigues, pelo seu amor
incondicional e por compreender as várias horas em que estive ausente por causa da minha vida
acadêmica.
A minha orientadora Regina Maria Ferreira da Silva Lima, que apesar da intensa rotina
de sua vida acadêmica aceitou me orientar nesta monografia.
A todos os meus amigos do curso de graduação que compartilharam dos inúmeros
desafios que enfrentamos, sempre com o espírito colaborativo.
Além disso, quero agradecer à Faculdade Delmiro Gouveia – FDG e o seu corpo docente
que demonstrou estar comprometido com a qualidade e excelência do ensino.
RESUMO

O objetivo deste estudo é verificar se há a possibilidade de excluir o sobrenome materno ou


paterno em decorrência do abandono afetivo considerando que o ordenamento jurídico
Brasileiro não regulamenta de forma expressa no que diz respeito a essa hipótese de alteração
e, posteriormente, analisar se há efeitos sucessórios com a exclusão do sobrenome. Em um
primeiro momento, há uma contextualização do direito fundamental ao nome, assim como o
conceito do nome civil e sua natureza jurídica de direito à personalidade, analisando seus
elementos para, após, verificar a tutela do nome frente à legislação Brasileira. Em seguida, é
versado sobre a caracterização do abandono afetivo, enfatizando a contextualização do direito
de família e passando por uma análise dos princípios pertinentes a temática, para melhor
compreensão do abandono afetivo e seus requisitos para aplicação no caso concreto a fim de
entender suas consequências aos filhos desamparados e a admissibilidade de
responsabilização dos pais ausentes conforme decisões, jurisprudência e entendimentos
doutrinários. Em segundo momento, é abordado acerca do princípio da imutabilidade do
nome, ressaltando sua relativização, trazendo hipóteses de alteração do nome diante da
legislação, em especial, a hipótese de exclusão em razão do abandono afetivo em
conformidade com a jurisprudência e a doutrina. Por fim, será abordado acerca das
consequências de exclusão do sobrenome, analisando o abandono afetivo como umas das
causas de exclusão da sucessão, bem como entender a situação do direito à herança frente a
ausência do sobrenome dos genitores.
Palavras-chave: Abandono afetivo; sobrenome; herança.
ABSTRACT

The objective of this study is to verify if there is the possibility of excluding the maternal or
paternal surname due to the affective abandonment considering that the Brazilian legal system
does not expressly regulate with regard to this hypothesis of alteration and, subsequently, to
analyze if there are succession effects with the exclusion of the surname. At first, there is a
contextualization of the fundamental right to the name, as well as the concept of the civil name
and its legal nature of the right to personality, analyzing its elements to later verify the
protection of the name against the Brazilian legislation. Next, it is versed on the characterization
of affective abandonment, emphasizing the contextualization of family law and going through
an analysis of the principles pertinent to the theme, for a better understanding of affective
abandonment and its requirements for application in the concrete case in order to understand its
consequences to helpless children and the admissibility of accountability of the ...

Keywords: Affective abandonment; surname; inheritance.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 05
CAPÍTULO I- DO DIREITO FUNDAMENTAL AO NOME E A CONFIGURAÇÃO
DO ABANDONO AFETIVO ................................................................................................ 07
1.1 O direito fundamental ao nome .......................................................................................... 07
1.1.1 Conceito e natureza jurídica do nome ............................................................................. 07
1.1.2 Dos elementos do nome.................................................................................................. 09
1.1.3 A tutela do nome no ordenamento jurídico brasileiro ..................................................... 10
1.2 Da configuração do abandono afetivo ............................................................................... 12
1.2.1 Noções gerais sobre família............................................................................................ 12
1.2.2 Dos princípios norteadores pertinentes a temática .......................................................... 14
1.2.3 Conceito e pressupostos para a configuração do abandono afetivo ................................ 16
1.2.4 Abandono afetivo e respectivas consequências .............................................................. 18
1.2.5 A possibilidade de responsabilização dos genitores pelo abandono afetivo ................... 19
1.2.6 Decisões e entendimentos jurisprudenciais acerca do tema ............................................ 20

CAPÍTULO II- DA POSSIBILIDADE DE EXCLUSÃO DO SOBRENOME DOS


GENITORES EM RAZÃO DO ABANDONO AFETIVO ................................................ 23
2.1 Da imutabilidade do nome................................................................................................. 24
2.2 As possibilidades de alteração do nome e sobrenome conforme a legislação brasileira ... 26
2.3 A exclusão do sobrenome dos genitores diante da configuração do abandono afetivo...... 31

CAPÍTULO III- AS CONSEQUÊNCIAS SUCESSÓRIAS EM RAZÃO DA


EXCLUSÃO DO SOBRENOME DE UM DOS GENITORES POR ABANDONO
AFETIVO ............................................................................................................................... 37
3.1 Do direito à sucessão .......................................................................................................... 38
3.2 Da sucessão legítima e testamentária ................................................................................. 39
3.3 Das hipóteses de exclusão da sucessão...............................................................................42
3.3.1 Da indignidade................................................................................................................ 43
3.3.2 Da deserdação ................................................................................................................. 45
3.4 O abandono afetivo como uma das causas de exclusão da sucessão..................................47
3.5 O direito a herança diante da exclusão do sobrenome dos genitores frente ao abandono . 49

CONCLUSÃO........................................................................................................................ 53

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................56
5

INTRODUÇÃO

Diante das transformações paulatinas da sociedade, verifica-se a notória evolução das


relações interpessoais e a indispensabilidade de um Direito humanizado e repersonalizado,
com fundamento no macroprincípio constitucional da dignidade da pessoa humana, base do
Estado Democrático de Direito brasileiro, resultando em mudanças frente à promoção do
pleno desenvolvimento da pessoa. Nesse sentido, enquadra-se a tutela dos direitos
fundamentais, especialmente, dos direitos relativos à personalidade do indivíduo,
exemplificando: o direito ao nome.

Assim, perante a premissa de que todo indivíduo tem direito a titularidade de um nome
a fim de identificar, perante a si e a coletividade, e que este nome deve representar orgulho e
apreço por quem o carrega, indaga-se se a constatação do abandono afetivo por um dos
genitores configura hipótese que motiva e legitima a exclusão do patronímico do filho
abandonado, considerando o caráter imutável e definitivo do nome.

Por outra perspectiva, é indispensável verificar se diante da constatação da


possibilidade de exclusão do sobrenome paterno ou materno, acarretará consequências no
âmbito sucessório. Logo, questiona-se o direito à herança frente a ausência do patronímico no
registro civil do indivíduo abandonado.

Dessa forma, o presente estudo tem como propósito analisar se a constatação do


abandono afetivo por um dos genitores é fundamento suficiente a fim de permitir a exclusão
do sobrenome materno ou paterno do registro civil da prole abandonada, bem como os efeitos
sucessórios em razão da exclusão.

Portanto, o estudo está dividido em três partes: em um primeiro momento, será


abordado a respeito do nome como direito fundamental, discorrendo acerca do seu conceito,
finalidade e natureza jurídica de direito a personalidade, destacando cada elemento que
compõe o nome para que, assim, seja possível verificar como o ordenamento jurídico
brasileiro protege esse direito personalíssimo.

Posteriormente, é versado acerca das transformações e evoluções do direito de família


com a finalidade de apresentar um conceito atual do instituto família, baseada no princípio da
afetividade, solidariedade e no convívio familiar. Logo, o rompimento dos laços afetivos e
dos deveres inerentes ao cuidado e proteção, material ou moral, enseja na caracterização do
abandono afetivo, reconhecido pelo Superior Tribunal de Justiça como um fenômeno
6

motivacional para a responsabilização civil dos genitores em razão das consequências


dolorosas e sofridas diante do desamparo.

Em um segundo momento, é evidenciado o caráter imutável do nome em razão da


segurança jurídica frente à sociedade e ao Estado. Contudo, há uma relativização desse
princípio, de modo a explicitar as hipóteses de alteração do nome conforme o ordenamento
jurídico brasileiro, em especial, a Lei de Registros Públicos. Ocorre que, algumas hipóteses de
alteração do nome não estão expressamente em lei, mas tuteladas pelo princípio da dignidade
da pessoa humana, correlacionando a possibilidade de exclusão do sobrenome paterno ou
materno por abandono afetivo.

Para o fundamento do abandono afetivo como justificativa de exclusão do sobrenome


de um dos genitores, serão analisadas jurisprudências e o posicionamento da doutrina
majoritária acerca da temática.

Por fim, o terceiro capítulo trata das consequências sucessórias em decorrência da


exclusão do patronímico por abandono afetivo. Dentro desta temática, o estudo aborda o
direito à sucessão e suas modalidades, enfatizando as causas de exclusão sucessória, como o
instituto da indignidade e deserdação, a fim de elucidar a impossibilidade do abandono afetivo
como motivo de exclusão da sucessão, para que, em seguida, seja esclarecido se a direito a
herança culminará comprometido.
7

CAPÍTULO I
DO DIREITO FUNDAMENTAL AO NOME E A CONFIGURAÇÃO DO ABANDONO
AFETIVO

1.1 O direito fundamental ao nome

Cabe, neste momento, compreender o direito ao nome como um dos direitos a


personalidade frente aos direitos fundamentais de primeira dimensão e o princípio da
dignidade da pessoa humana, norteador de qualquer direito constitucional.

O direito a receber um nome em si, consiste em um direito fundamental, inato à


condição humana que se efetiva a partir do entendimento de tão somente possuir a condição
humana, independentemente de qualquer outra circunstância, devendo ser reconhecido em
meio social e garantido pelo Estado.1

O princípio da dignidade da pessoa humana enquadra-se como um direito fundamental


reconhecido por normas constitucionais garantidoras de bens jurídicos pessoais. Representa
um dos sustentáculos do constitucionalismo moderno e é base para qualquer legislação
nacional ou supranacional referente aos direitos do homem. 2 Nesse sentido, a dignidade da
pessoa humana é um direito subjetivo que permite exigir prestações positivas a fim de garantir
o mínimo de recursos para uma existência condigna.3

No que concerne ao direito ao nome, seu reconhecimento como direito fundamental


em meio ao rol de direitos advindos do princípio da dignidade da pessoa humana retrata nos
direitos à personalidade, considerando o nome um direito inerente ao indivíduo dotado de
personalidade jurídica.

Para uma melhor análise do estudo a ser desenvolvido, é imprescindível destacar os


aspectos iniciais, assim como enfatizar o conceito e função do nome, compreender sua
natureza jurídica, bem como sua tutela frente ao ordenamento jurídico Brasileiro.

1.1.1 Conceito e natureza jurídica do nome

O nome está atrelado ao direito à personalidade, ou seja, é uma condição ou qualidade


essencial à dignidade e tutela da pessoa humana inerente ao indivíduo que caracteriza como
sujeito de direitos e deveres que se origina desde o nascimento, assegurado pela Constituição
1
BORGES, Janice Silveira. Direito fundamental ao nome. Revista Brasileira de Direitos e Garantias
Fundamentais, v. 4, n. 1. 2018, p. 23-34.
2
Idem, 2018, p. 23-34.
3
Idem. 2018, p. 23-34.
8

Federal Brasileira, assim como o Código Civil de 2002. São direitos que visam tutelar a
concretização efetiva da pessoa a fim de possibilitar o exercício dos demais direitos
estabelecidos pelo ordenamento jurídico pátrio.4

O nome civil é um atributo utilizado como elemento de individualização em razão da


necessidade de identificar e diferenciar os indivíduos no meio social, integra a sua
personalidade e indica sua procedência familiar 5, ou seja, a identificação da ascendência e
origem.
O nome de que temos falado é normalmente chamado de ‗civil‘. ‗Nome
civil‘ quer dizer o nome que respeita, individualizando-o, a todo o sujeito do
ordenamento jurídico, seja pessoa física ou jurídica: nome que designa e
distingue todo o sujeito na sociedade civil‘.6

Dentre as várias teorias referentes à natureza jurídica do direito ao nome destacam-se a


teoria da propriedade, a negativista, a do Estado ou polícia civil e a do direito da
personalidade.
A teoria da propriedade é a mais antiga, a qual revela o direito ao nome como direito a
propriedade em que o proprietário pode gozar do nome de forma absoluta, porém, a principal
crítica a essa teoria é que não há possibilidade de comparação entre o direito à propriedade e o
direito ao nome, visto que este inexiste valor econômico.
A segunda teoria, negativista, aduz que não há direito ao nome visto que está
relacionado a pessoa, portanto não apresenta aspectos jurídicos, existe apenas a possibilidade
de proteger interesses relacionados ao nome, como a identidade da pessoa. Contudo, essa
teoria foi superada com o advento do Código Civil de 2002.
A terceira teoria é a do Estado ou Polícia civil a qual o nome é uma obrigação imposta
pelo Estado a fim de identificar os sujeitos. No entanto, a crítica a esta teoria aduz que o nome
já existia antes mesmo da formação do Estado.
Por fim, a teoria adotada pela legislação brasileira é o nome como forma de
exteriorização da personalidade jurídica que recai sob o princípio da pessoa humana,
particularizando o indivíduo, a fim de ser reconhecido perante a sociedade sua procedência
familiar. É um sinal distintivo revelador da personalidade.

4
OLIVEIRA, José Sebastião de; PEREIRA, Márcio Antônio Luciano Pires. Dos direitos da personalidade e da
diversidade no contexto da vida social moderna como instrumentos de efetivação da justiça social. 1ed.
Florianópolis: Fundação Boiteux, 2014, p. 388.
5
ARAÚJO, Stéphanie Almeida. Aspectos e natureza jurídica do nome civil. Conteúdo Júridico. Brasília-DF.
jul. 2017. Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/50481/aspectos-e-naturezajuridica-
do-nome-civil. Acesso em: 16.mar.2022.
6
AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao nome da pessoa física. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 6.
9

A teoria mais aceita e que melhor define a natureza jurídica do nome é a que
o considera um ―direito da personalidade‖, ao lado de outros, como o direito
à vida, à honra, à liberdade etc. [...] O nome representa, sem dúvida, um
direito inerente à pessoa humana e constitui, portanto, um direito da
personalidade. 7

Logo, ao passo em que o nome é um direto a personalidade, goza das características


inerentes à personalidade, além do mais, possui atributos próprios como a obrigatoriedade ao
nome que nasce diante da Lei nº 6.216/75, Lei de Registros Públicos, a fim de assegurar a
obrigação da pessoa natural ter um nome registrado.
Além disso, o titular do nome não pode emprestar a outrem, sendo de exclusividade do
indivíduo, oponível erga omnes, gerando a incessibilidade ao nome. Ressalta-se, ainda, que o
nome não pode ser expropriado pelo Estado, ou seja, retirado do titular, e apenas em hipóteses
previstas em lei o nome pode ser alterado, apesar do caráter de imutabilidade.

1.1.2 Dos elementos do nome

O nome civil compreende o prenome e o sobrenome, este também denominado de


patronímico, nome de família ou cognome, que deve ser declarado de maneira completa no
ato do registro civil8. Esses elementos fundamentais que compõem o nome têm a finalidade de
identificar o indivíduo no meio social, assim como sua origem e ascendência. O Diploma
Civil Brasileiro, em seu artigo 16, enfatiza que toda pessoa tem direito ao nome, assim como
compreende-se o prenome e o sobrenome 9.

O prenome constitui como um componente que identifica a pessoa, sem qualquer


preocupação com a origem familiar, é o atributo inicial na formação do nome, próprio da
pessoa. Por outro lado, o sobrenome é o nome de família que identifica os membros e
integrantes de certa família, enquanto é o prenome quem, dentro da família, distingue seus
componentes, fazendo-o também em relação a coletividade10.

Segundo Diniz:

Em regra, dois são os elementos constitutivos do nome: prenome, nome


próprio da pessoa, e o patronímico, nome de família ou sobrenome, comum a
todos os que pertencem a uma família [...] às vezes, tem-se o agnome, sinal

7
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 152.
8
ZIEM, Stella Daiane Dildey. A possibilidade da exclusão do sobrenome paterno diante do abandono
afetivo. 2014. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Faculdade de Direito, Universidade do Sul de
Santa Catarina, 2014, p.21.
9
AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao nome da pessoa física. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 06.
10
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 23 mar. 2022.
10

distintivo que se acrescenta ao nome completo [...] para diferenciar parentes


que tenham o mesmo nome. 11
É imperioso destacar que o prenome é simplesmente o primeiro nome do sujeito a fim
de identificá-lo, de maneira simples ou composta. É simples o nome que é formado apenas
por uma palavra, como por exemplo, João, Maria, José. Em contrapartida, o nome composto e
formado por duas palavras, por exemplo, João Paulo, José Antônio. Não há óbice quanto a
escolha do nome simples ou composto, sendo de livre preferência daquele de quem registra o
menor, vedado apenas aqueles que suscetíveis de expor ao ridículo a pessoa. 12

O sobrenome, comum a todos os que pertencem uma família, vem logo em seguida do
prenome. Contudo, diferente do prenome, o sobrenome não pode ser de livre escolha, é
imprescindível seguir a transmissão hereditária, ou seja, o indivíduo transmite o nome da
família de geração em geração.

A designação do nome civil da pessoa natural é de livre escolha do


declarante, ressalvando o registro obrigatório do patronímico, inexistindo
exclusividade para sua concessão. Mesmo os que não têm conhecidos os pais
[...] têm direito ao nome [...].13
Em regra, o cognome é incluído no registro civil com o nascimento, no entanto, pode
ser adquirido ou substituído com a formalização do casamento. É possível que com o
matrimônio os cônjuges adquiram o sobrenome da família do outro, uma forma de concretizar
a participação na família do (a) companheiro (a).

Ressalta-se que o patronímico compõe-se do sobrenome do pai e da mãe que será


transmitido aos futuros integrantes da família. 14 Segundo Dias, sobrenome é o elemento do
nome que identifica a estirpe familiar e patronímico é o nome do pai15

1.1.3 A tutela do nome no ordenamento jurídico brasileiro

Conforme mencionado anteriormente, o nome civil tem natureza jurídica de direito a


personalidade, englobando-se como um direito fundamental reconhecido pela Constituição
Federal de 1988 a fim de tutelar a identificação e individualização do ser humano.

11
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
12
ZIEM, Stella Daiane Dildey. A possibilidade da exclusão do sobrenome paterno diante do abandono
afetivo. 2014. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Faculdade de Direito, Universidade do Sul de
Santa Catarina, 2014, p.22.
13
Idem, 2014, p. 23
14
BIJEGA, Barbara Caroline. O abandono afetivo como possibilidade de supressão do sobrenome no
registro civil. 2021. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Faculdade de Direito, Centro Universitário
de Curitiba, 2021, p. 71.
15
Idem, 2014, p. 23.
11

Nesse viés, o Código Civil de 2002, em seu Capítulo II, trata dos direitos à
personalidade, dentre eles, a proteção ao nome, garantindo que toda pessoa tem direito ao
nome, nele compreendido o prenome e o sobrenome.

Além disso, com a tutela ao nome, há a previsão expressa a fim de proteger de


eventuais consequências difamatórias. Dispõe o artigo 17 do Código Civil que ―o nome da
pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a
exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória‖ (BRASIL,
2002). Dessa forma, deve o causador do dano, ao utilizar o nome de terceiro de forma a
causar desprezo público, repará-lo em decorrência da prática de ato ilícito, refletindo sobre o
aspecto particular do indivíduo.16

Destaca-se, ainda, a proteção ao nome frente a divulgação comercial ausente de


autorização. O artigo 18 do mesmo Diploma Civil menciona que ―sem autorização, não se
pode usar o nome alheio em propaganda comercial‖ (BRASIL, 2002). A fim de inibir que
terceiros utilizem o direito ao nome, exclusivo do titular dos direitos à personalidade, para
fins econômicos. Contudo, nada impede, com autorização do titular, fazer o gozo para gerar
lucro.

É possível afirmar que o pseudônimo, adotada para atividades lícitas, também recebe a
mesma proteção a que se dá ao nome, consoante o artigo 19 do Código Civil. O nome falso,
denominado de pseudônimo, caracterizado como diverso ao nome, perpassa da livre escolha
do portador a fim de ocultar sua identidade. Tal prática é normalmente utilizada em meio a
vida profissional, e assim como o nome civil, recebe proteção, desde que utilizada para
atividades lícitas.17

Cumpre mencionar que a Constituição Federal atribuiu competência a União para


legislar sobre Registros Públicos, advindo a Lei n. 6.15 de 1973, Lei de Registros Públicos,
trazendo efeitos jurídicos constitutivos, comprobatórios e publicitários aos registros
públicos18. A partir do nascimento dessa lei foi possível cumprir a obrigatoriedade do registro
civil ao nome que possui natureza constitutiva que prescinde de registro para que tenha
eficácia erga omnes, ou seja, dar publicidade e que seja de conhecimento de todos.

16
LOTUFO, Renan. Código civil comentado. São Paulo: Saraiva Educação, 2003, p. 471.
17
Idem, 2003, p. 472.
18
GRAMINHO, Vivian Maria Caxambu. Direito ao nome e as exceções ao princípio da imutabilidade. Revista
Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 4984, 22 fev. 2017. Disponível
em: https://jus.com.br/artigos/55836. Acesso em: 11 jan. 2022, p. 02.
12

Outro aspecto peculiar da Lei de Registros Públicos é o tratamento do princípio da


imutabilidade do nome, ou seja, a proibição do titular de alterar o próprio nome que foi
registrado. Contudo, essa proibição é relativa, a própria lei traz hipóteses em que o nome
poderá ser alterado, tais hipóteses serão tratadas posteriormente neste estudo.

1.2 Da configuração do abandono afetivo

Para melhor compreensão do que é o abandono afetivo e suas implicações no meio


jurídico, é imprescindível entender, neste momento, o conceito de família, sua abrangência e
sua proteção legal frente ao ordenamento jurídico brasileiro, para assim, posteriormente,
abordar acerca do conceito e configuração abandono afetivo, assim como a principiologia
aplicada ao tema e ao direito de família e verificar a probabilidade de responsabilização civil
dos genitores considerando o dano causado aos filhos rejeitados afetivamente, as
consequências geradas e como os tribunais vêm aplicando essa temática em suas decisões.

1.2.1. Noções gerais sobre família

A família é a primeira e mais antiga instituição social a qual o homem faz parte. Sua
constituição ocorre de forma espontânea, um fato natural, de livre iniciativa dos indivíduos,
porém seus efeitos jurídicos são previstos pelo ordenamento pátrio.

Não há uma conceituação específica do que seja família diante da sua evolução
histórica e frente aos diplomas legais brasileiros. Contudo, é considerada pela doutrina como
um grupo de pessoas ligadas pelos vínculos sanguíneos e afetivos19.

Podemos dizer que família é uma instituição social, composta por mais de
uma pessoa física, que se irmanam no propósito de desenvolver, entre si, a
solidariedade nos planos assistencial e da convivência ou simplesmente
descendem uma da outra ou de um tronco comum. 20
Segundo Venosa, o conceito, compreensão e extensão de família são os que mais
alteram no curso do tempo. Na antiguidade, a sociedade era eminentemente rural e patriarcal.
O homem era considerado o chefe e representante da sociedade conjugal, enquanto a mulher
dedicava-se exclusivamente aos afazeres domésticos, inexistindo a paridade de direitos em
relação ao homem21. Os filhos eram submissos à autoridade paterna, como futuros
continuadores da família. O Estado pouco interferia, mantendo aos ideais da igreja católica na
regulamentação da família e do casamento em razão da forte influência religiosa e moral da

19
PEREIRA, Poliana Alves. Responsabilidade civil por abandono afetivo. 2018. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação), Faculdade de Direito, Centro Universitário Toledo, 2018. p. 14.
20
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil: Direito de Família, 7 ed. São Paulo: Grupo GEN, 2015, p. 420.
21
VENOSA, Sílvio de S. Direito Civil: Família e Sucessões. São Paulo: Grupo GEN, 2020, p. 490.
13

época. Por um longo período manteve-se a indissolubilidade do casamento, assim como a


incapacidade relativa da mulher e a distinção legal dos filhos legítimos e ilegítimos.

O Código Civil de 1916 foi fruto desse período patriarcal, fundado na família
hierarquizada e matrimonial, no critério da legitimidade da família e dos filhos, na
desigualdade entre cônjuges e filhos, no exercício dos poderes marital e paterna22.

A partir da metade do século XX, paulatinamente, o legislador foi vencendo barreiras.


Com o advento da Constituição Federal de 1988 tem-se a abolição das desigualdades, que não
mais distingue a origem da filiação, equiparando os direitos dos filhos, nem mais considera a
preponderância do varão na sociedade conjugal.23

Foi promulgada a Lei no 4.121, de 27-8-62, Estatuto da Mulher Casada, que cessou a
incapacidade relativa da mulher casada, nascendo a igualdade entre os cônjuges. Foi editada a
Emenda Constitucional nº 9, de 28.6.1977, revogadora do princípio da indissolubilidade do
vínculo matrimonial. Coma a Emenda Constitucional no 66/2010 culminou possível a
extinção do sistema de separação judicial prévia, existindo somente o divórcio.

A Constituição Federal de 1988 consagra à proteção a família no artigo 226 o qual


24
dispõe que ―a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado‖, abrangendo
tanto a família fundada no casamento como, também, a união de fato, a família natural e a
adotiva. Nesse sentido, ensina Paulo Lôbo que:

A família não se funda necessariamente no casamento, o que significa que


casamento e família são para a Constituição realidades distintas. A
Constituição apreende a família por seu aspecto social (família sociológica).
E do ponto de vista sociológico inexiste um conceito unitário de família. 25

Em síntese, a Constituição de 1988, em normas concisas e revolucionarias, nas


Palavras do Jurista Paulo Lôbo26:

Proclamou-se em definitivo o fim da discriminação das entidades familiares


não matrimoniais, que passaram a receber tutela idêntica às constituídas pelo
casamento (caput do art. 226), a igualdade de direitos e deveres entre homem
e mulher na sociedade conjugal (§ 5º do art. 226) e na união estável (§ 3º do

22
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 23 mar. 2022.
23
BRASIL, Constituição Federal da República Federativa do Brasil (1998). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 01 mar. 2022.
24
Idem, 1998.
25
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. São Paulo: Editora Saraiva, 2021, p 550.
26
Idem, 2021.
14

art. 226), a igualdade entre filhos de qualquer origem, seja biológica ou não
biológica, matrimonial ou não (§ 6º do art. 227). 27
Cumpre mencionar que com o advento da Constituição e superada algumas ideias do
Código Civil de 1916, tramitou no Congresso Nacional, por um longo período, o Código Civil
de 2002. Contudo, a nova legislação deu tratamento desordenado ao direito de família,
existindo um paradoxo em seu texto diante da difícil conciliação entre duas referências
opostas. O paradigma do Projeto de 1969-1975 era a versão melhorada do que prevaleceu no
Código Civil de 1916, por outro lado, a Constituição de 1988 que aboliu uma serie de
desigualdades. Dessa forma, logo após sua entrada em vigor, vários projetos de lei
procuraram corrigi-lo, modificando, acrescentando ou suprimindo matérias, total ou
parcialmente.

Ressalta-se, ainda, que além das transformações legislativas, houve o protagonismo


dos tribunais brasileiros no reconhecimento jurídico das relações de família na sociedade
contemporânea, um espelho disso foi a decisão do STF na ADI n. 4.277, de 2011, que
qualificou a união homoafetiva como entidade familiar, merecedora de idêntica proteção do
Estado conferida à união estável28

1.2.2 Dos princípios norteadores pertinentes à temática

Os princípios são o ponto de partida para a análise do estudo, funcionando como base
para qualquer operação jurídica. O Código Civil de 2002 procurou adaptar-se a evolução
social e os bons costumes, alcançando as mudanças legislativas existentes nas últimas décadas
com a ampla e atualizada regulamentação do direito de família à luz das normas e princípios.

Assim, elucida Gonçalves:

As alterações introduzidas visam preservar a coesão familiar e os valores


culturais, conferindo-se à família moderna um tratamento mais consentâneo
à realidade social, atendendo-se às necessidades da prole e de afeição entre
os cônjuges ou companheiros e aos elevados interesses da sociedade.29
Primordialmente, é indubitável que as transformações do instituto família tem como
estopim o advento da Constituição Federal de 1988 que possibilitou ampla proteção as
famílias por intermédio do macroprincípio da dignidade da pessoa humana. 30 Segundo Lôbo, a
dignidade da pessoa humana é o núcleo existencial essencialmente comum a todas as pessoas

27
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. São Paulo: Editora Saraiva, 2021, p.550.
28
Idem, 2021, p.550.
29
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Editora Saraiva, 2021, p. 159.
30
PEREIRA, Débora de Souza et al. A supressão de sobrenome legitimada pela constatação de abandono
afetivo pelo genitor. Florianópolis, 2013, p. 38.
15

humanas, como membros iguais do gênero humano, inexiste valor econômico, é inestimável e
indisponível, impossibilitado de ser objeto de troca31.

No âmbito familiar, no modelo patriarcal, a cidadania plena era exercida


exclusivamente pelo chefe, dotado de direitos que eram negados aos demais membros, não
havia paridade na dignidade humana entre eles, sendo tolerável a subjugação e os abusos com
os mais fracos.32 Atualmente, há a garantia à dignidade da pessoa humana nas relações
familiares diante do tratamento igualitário entre os membros que a compõe, destacando a
submissão da mulher nas sociedades patriarcais, incompatível com o princípio, assim como
quaisquer desigualdades pessoais, sociais, econômicas em razão do sexo ou gênero.

Outro princípio marcante no que pertine à família é a solidariedade, reconhecida como


objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, prevista no artigo 3°, inciso I da
CF/88 a fim de construir uma sociedade livre, justa e solidária. Assim, consequentemente, há
uma repercussão na comunidade familiar considerando que a solidariedade deve existir nos
relacionamentos pessoais que nasce diante dos vínculos afetivos e no meio jurídico, significa
obrigação entre as partes.

A solidariedade, no plano ético e moral, com projeção no âmbito jurídico, na fala de


Paulo Lôbo entende-se que:

Significa um vínculo de sentimento racionalmente guiado, limitado e


autodeterminado que compele à oferta de ajuda, apoiando-se em uma
mínima similitude de certos interesses e objetivos, de forma a manter a
diferença entre os parceiros na solidariedade.33
Nesse mesmo sentido, Tartuce conceitua a solidariedade como responder pelo outro,
ou seja, preocupar-se com a outra pessoa, tendo caráter afetivo, social, moral, patrimonial,
espiritual e sexual34. No núcleo familiar, deve-se compreender a solidariedade recíproca dos
cônjuges e companheiros quanto a assistência material e moral. Em relação aos filhos,
corresponde a exigência da pessoa em cuidar da prole até atingir a idade adulta, bem como
amparar os pais em sua velhice. Não sobeja mencionar o afeto como direito fundamental,
mesmo que não esteja expresso no texto maior, é correto afirmar que dele decorre a
valorização constante a dignidade da pessoa humana e da solidariedade, imprescindível nas
relações familiares.

31
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias: vol. 5. São Paulo: Editora Saraiva, 2021, p. s/p.
32
Idem, 2021, s/p.
33
Idem, 2021, s/p.
34
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito de família. 12 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2017, p. 171.
16

Nas palavras de Paulo Lôbo:

A afetividade, como princípio jurídico, não se confunde com o afeto, como


fato psicológico ou anímico, porquanto pode ser presumida quando este
faltar na realidade das relações; assim, a afetividade é dever imposto aos pais
em relação aos filhos e destes em relação àqueles, ainda que haja desamor ou
desafeição entre eles. 35
Desse modo, a afetividade somente não incidirá com o falecimento dos sujeitos ou se
houver a perda da autoridade parental. Entre os cônjuges há a incidência desse princípio
enquanto houver afetividade real, pois é característica da convivência conjugal.

Deve-se destacar, ainda, como um dos princípios norteadores do direito de família, a


convivência familiar. A partir desse princípio assegura-se que todos os membros detenham o
direito de gozar de um lar, conviver com os integrantes mesmo que não coabitem, ou seja, os
filhos têm direito a convivência com os pais ainda que estes sejam divorciados.

Evidencia-se, como princípio, a paternidade responsável e o planejamento familiar,


que partem do pressuposto que os membros, genitores, devem atender a qualquer necessidade
dos filhos menores, suprindo qualquer carênci física, econômica, afetiva ou mental. Desse
modo, é imprescindível a participação dos pais a fim de atingir as necessidades, afetivas e
materiais, de forma que nem mesmo com a ausência do vínculo dos pais em decorrência da
dissolução conjugal venha cessar os deveres paternos e maternos. 36

Um elo com o supramencionado princípio é o princípio da importância dos pais na


criação dos filhos que corroboram com a proteção dos genitores frente a sua prole, destacando
o compromisso dos genitores no dever de cuidado com seus filhos desde os primeiros sinais
de vida.

1.2.3 Conceito e pressupostos para a configuração do abandono afetivo

Efetuada as breves considerações iniciais do conceito de família e uma análise dos


princípios que tutelam esse núcleo, resta agora entender o fenômeno do abandono afetivo,
também denominada de teoria do desamor.

Como mencionado anteriormente, a família é considerada um grupo de pessoas ligadas


pelos vínculos sanguíneos e afetivos tuteladas pelo ordenamento jurídico com o advento da
Constituição Federal de 1988 o qual preceitua em seu artigo 277 que:

35
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. São Paulo: Editora Saraiva, 2021, s/p.
36
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 93.
17

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.37
Por intermédio desse texto constitucional, nota-se o fundamento do abandono afetivo,
respaldado no dever de cuidado que assegura a Magna Carta, não apenas dos membros que
compõe a família, mas, assim como da sociedade e do Estado.

A família, concentrada no afeto como elemento essencial, exige dos pais o dever de
assistir seus filhos sem negligenciar quaisquer necessidades, seja afetiva ou material.

Desse modo, preceitua Gonçalves:

A cada um dos pais e a ambos simultaneamente incumbe zelar pelos filhos,


provendo à sua subsistência, material, guardando-os ao tê-los em sua
companhia e educando-os moral, intelectual e fisicamente, de acordo com
suas condições sociais e econômicas38.
Juntamente com a afetividade, tem-se a paternidade responsável que nada mais é do
que a função as quais os pais devem desenvolver durante a criação dos seus filhos,
corresponde ao sustento da prole, incumbindo aos genitores dar perfeitas condições aos
infantes.

Assim, o abandona afetivo configura-se como uma ruptura no dever de cuidado, um


inadimplemento dos deveres jurídicos de paternidade, cessando o elo de afetividade e da
solidariedade, bem como rompendo com o princípio da dignidade da pessoa humana que recai
em severas sequelas psicológicas comprometedoras no desenvolvimento saudável da prole.

Aduz a autora Mazzorana que:

O abandono afetivo se configura [...] pela omissão dos pais, ou de um deles,


no que se refere ao dever de educação em sua acepção mais ampla,
permeada de afeto, atenção e desvelo. Nesse sentido, pais e mães estariam
submetidos às obrigações geradas pelos laços afetivos, pois a esses últimos
supõem-se obrigações mútuas, direitos e deveres, ou seja, afeto e
responsabilidade caminham juntos.39

37
BRASIL, Constituição Federal da República Federativa do Brasil (1998). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 01 mar. 2022.
38
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 160.
39
MAZZORANA, Danielle Gonçalves Rech. Afeto, convivência e constituição da pessoa: etnografia das
relações familiares a partir de indenizações morais por 81 abandono afetivo no estado de Santa Catarina. 2012.
Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2012.
18

Afirma Dias que cessado o afeto, está ruída a base de sustentação da família, e a
dissolução do vínculo é o único modo de garantir a dignidade da pessoa .40 Percebe-se que o
afeto é um direito fundamental inerente a personalidade, indispensável para o
desenvolvimento com dignidade, equilibrado e sadio do indivíduo que parte dos genitores,
com base no princípio da paternidade responsável atrelado a solidariedade e afetividade,
garantir todos os cuidados e educar sua prole, possibilitando o convívio e o acompanhamento
do desenvolvimento com afeto e assistência moral e material.

Dessa forma, o abandono afetivo caracteriza-se como uma renegação dos pais
responsáveis se opondo aos princípios e deveres inerentes a família, constitucionalmente
previstos.

1.2.4 Abandono afetivo e respectivas consequências

Como já mencionado anteriormente, é cristalina a relevância da família no


crescimento da prole. Os pais são incumbidos a uma construção de uma vida adulta
estabilizada. Aquele que tem a presença dos genitores a fim de suprir todas a necessidades
relaciona-se de forma harmoniosa em qualquer núcleo da vida. Diferente do que ocorre com
aqueles indivíduos rejeitados por um dos genitores ou até mesmo pelos dois, que não
convivem de maneira harmoniosa nos ambientes os quais são inseridos.41
Assim, é notável que as crianças desamparadas pelos pais durante a sua formação
ocasionam danos irreparáveis na maioria das vezes, afetando o comportamento e sua
identidade. Essa ausência poderá manifestar-se explicitamente podendo ter influências nos
estudos, o receio de relacionarem com outras pessoas, ou até mesmo se tornarem pessoas
inibidas, oprimidas e revoltadas.42

Sobre o assunto, corrobora Nader:

A vida na idade adulta e a formação deste ser, resultam de experiências


vividas ao longo da vida, mormente no ambiente familiar, especialmente na
infância e adolescência [...]. Se a criança cresce em um ambiente sadio,
benquista por seus pais, cercada de atenção, desenvolve naturalmente a
autoestima, componente psicológico fundamental ao bom desempenho

40
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2015, p.212.
41
CALDERÓN, Ricardo. Princípio da Afetividade No Direito de Família. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2017, p. 168.
42
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
288
19

escolar, ao futuro sucesso profissional e ao bom relacionamento com as


pessoas.43
Em muitos casos, as consequentes do abandono afetivo dos pais com os filhos podem
levar, quando na adolescência ou na fase adulta, ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas,
drogas e apresentar comportamentos agressivos, em uma tentativa de reparar o vazio deixado
pela negligência dos pais, seja afetivo ou material.

1.2.5 A possibilidade de responsabilização dos genitores pelo abandono afetivo


Cumpre ressaltar que é dever dos pais dar assistência e proteção aos filhos à luz dos
princípios constitucionais do Direito de Família. Assim como no âmbito da responsabilidade
civil do Código Civil de 2002, o descumprimento obrigacional pela desobediência de uma
norma gera um ato ilícito, ou seja, um ato praticado em desacordo com a ordem jurídica,
violando direitos e causando prejuízos a outem, devendo de ser reparado.
Conforme o artigo 186 do CC/2002: ―Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito‖.44

Percebe-se que, na fala de Tartuce, o ato ilícito constitui uma soma entre lesão de
direitos e dano causado. Já a consequência do ato ilícito é a obrigação de reparar45. Ocorre
que para existir o dever de indenizar, é imprescindível a concretização dos elementos da
responsabilidade civil. O primeiro pressuposto é a conduta humana, caracterizada por uma
ação (conduta positiva) ou omissão (conduta negativa). A ação é a regra, enquanto a omissão
necessita da existência do dever jurídico de praticar determinado ato.

Um outro elemento denomina-se de nexo causal, ou nexo de causalidade, definido


como uma relação de causa e feito entre a conduta humana e o resultado. Segundo Caio Mário
da Silva Pereira, para que se concretize a responsabilidade é indispensável que se estabeleça
uma interligação entre a ofensa à norma e o prejuízo sofrido, de tal modo que se possa afirmar
ter havido o dano porque o agente procedeu contra o direito.46

O último elemento é o dano, ou seja, o resultado do ato ilícito praticado, a lesão ao


bem jurídico tutelado. Compreende-se, também, que o dano a outem não é necessariamente

43
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil. vol. 7: Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p.
2006.
44
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 23 mar. 2022.
45
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito de família. 12 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2017, p. 169.
46
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil de acordo com a Constituição de 1988. 5. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1994, p.75.
20

material, cabendo a reparação por danos exclusivamente morais ou imateriais. Conceitua-se


dano moral como uma lesão aos direitos à personalidade.

Desse modo, acrescenta Tartuce:

Alerta-se que para a sua reparação não se requer a determinação de


um preço para a dor ou o sofrimento, mas sim um meio para atenuar,
em parte, as consequências do prejuízo imaterial. 47
Não há que se falar em acréscimo patrimonial diante do dano moral, mas sim uma
compensação pelos males suportados.

Gonçalves conceitua dano moral:

O dano moral não afetaria o patrimônio do ofendido. Para Pontes de


Miranda, ―dano patrimonial é o dano que atinge o patrimônio do ofendido;
dano não patrimonial é o que, só atingindo o devedor como ser humano, não
lhe atinge o patrimônio.48
Pois bem, no núcleo familiar, é admissível a responsabilização civil diante do
abandono afetivo em razão da presença de todos os pressupostos supracitados. Nesse
contexto, a conduta dos pais é omissiva diante do dever jurídico de cuidado não exercido,
interligado ao resultado danoso na vida da prole pela ausência dos genitores ou de apenas um
deles.

Enfatiza Tartuce49 que a violação do dever de cuidar pode gerar um ato ilícito, nos
termos do art.186 do CC, se provado o dano a integridade psíquica. Portando, diante da
ligação entre o direito de família e a responsabilidade civil, é admissível a análise de decisões
pertinentes ao tema estudado que será demonstrado no próximo tópico.

1.2.6 Decisões e entendimentos jurisprudenciais acerca do tema


As teses contrárias à possibilidade de indenização por responsabilidade civil em razão
do abandono afetivo dos genitores baseiam-se na premissa de que não é possível mensurar os
danos causados pela omissão dos pais de forma monetária, ou seja, transformar as sequelas
em dinheiro, 50impossibilitado de compensar um vazio irreparável.

Acrescentam, ainda, que não consta na legislação brasileira leis que obriguem os
genitores a amar seus filhos, resultando em uma indenização desproporcional e dispensável,
muito além do direito.

47
Idem, 2017, p. 170.
48
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2021, p.
153.
49
Idem, 2017, p. 171
50
Idem, 2017, p. 172.
21

Os autores Gagliano e Pamplona Filho demonstram tal entendimento:

Aqueles que se contrapões a tese sustentam, em síntese, que sua adoção


importaria em uma indevida monetarização do afeto, com o desvirtuamento
de sua essência, bem como a impossibilidade de se aferir quantidade e
qualidade do amor dedicado por alguém a outrem, que deve ser sempre algo
natural e espontâneo e não uma obrigação jurídica, sob controle estatal. 51
Diante disso, com base nessa tese, vejamos um julgado:

RESPONSABILIDADE CIVIL. ABANDONO MORAL. REPARAÇÃO.


DANOS MORAIS. IMPOSSIBILIDADE. 1. A indenização por dano moral
pressupõe a prática de ato ilícito, não rendendo ensejo à aplicabilidade da
norma do art. 159 do Código Civil de 1916 o abandono afetivo, incapaz de
reparação pecuniária. 2. Recurso especial conhecido e provido. 52
Em síntese, entendeu-se nesse primeiro julgado que não se pode mencionar obrigação
de indenizar considerando que o pai ou a mãe não tem o dever de relacionar-se com o filho,
inexistindo ato ilícito.

Com a evolução do assunto, o Superior Tribunal de Justiça, em 2012, em decisão,


admitiu a reparação civil pelo abandono afetivo. A Ementa foi assim publicada:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO.


COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à
responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar no
Direito de Família. 2.O cuidado como valor jurídico objetivo está
incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão, mas
com locuções e termos que manifestam suas diversas desinências, como se
observa do art.227 da CF/1988. 3. Comprovar que a imposição legal de
cuidar da prole foi descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de
ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge
um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação,
educação e companhia - de cuidado - importa em vulneração da imposição
legal, exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear compensação por danos
morais por abandono psicológico.4. Apesar das inúmeras hipóteses que
minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores em relação
à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além
do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à
afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção
social. 5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes
ou, ainda, fatores atenuantes - por demandarem revolvimento de matéria
fática - não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso
especial. 6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos
morais é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia

51
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, vol. 3:
responsabilidade civil. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p.740.
52
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n°757.411-MG. Recorrente: Alexandre Batista
Fortes. Recorrido: Vicente de Paulo Ferro de Oliveira. Relator: Ministro Fernando Gonçalves. Brasília, 29 de
novembro de 2005. Diário de Justiça, 23/03/2006.
22

estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 7.


Recurso especial parcialmente provido. 53

Essa decisão destacou que o direito a indenização emerge diante da omissão da


ausência de cuidados e o descumprimento de uma obrigação estabelecida por lei. Trata-se,
ainda, de um afrontamento a dignidade da pessoa humana. Em sua relatoria, a Ministra Nancy
admitiu aplicar o conceito de dano moral nas relações familiares, pois o dano moral estaria
presente diante de uma obrigação inescapável dos pais em dar auxílio psicológico aos filhos54.
Foi aplicada a ideia do cuidado como valor jurídico, em sua decisão, destacou que
―amar é faculdade, cuidar é dever‖, deduzindo a presença do ato ilícito e a culpa do pai pelo
abandono. Essa indenização muito representa para aqueles rejeitados diante da omissão dos
genitores, o dinheiro não preenche o vazio, mas dá uma sensação de que a conduta lesiva não
ficou impune.55
Desse modo, entende-se que para os outros filhos abandonados, surge a esperança de
que ao acionar o Poder Judiciário terão seus direitos reconhecidos, mediante uma decisão
judicial, contudo, restará a certeza de que o afeto dos pais não irão receber e nunca receberão.
O capítulo seguinte versa exatamente sobre a exclusão do nome dos genitores com
fundamento no abandono afetivo. Trata-se de uma abordagem de ampla relevância para a
pesquisa ora realizada.

53
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 1159242-SP. Recorrente: Antonio Carlos Jamas
Dos Santos. Recorrido: Antonio Carlos Delgado Lopes. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. São Paulo, 24 de
abril de 2012. Diário de Justiça 10/05/2012.
54
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 1159242-SP. Recorrente: Antonio Carlos Jamas
Dos Santos. Recorrido: Antonio Carlos Delgado Lopes. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. São Paulo, 24 de
abril de 2012. Diário de Justiça 10/05/2012.
55
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito de família. 12 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2017, p. 173.
23

CAPÍTULO II
DA POSSIBILIDADE DE EXCLUSÃO DO SOBRENOME DOS GENITORES EM
RAZÃO DO ABANDONO AFETIVO

Insta salientar que o direito ao nome enquadra-se como um direito fundamental regido
com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana de natureza jurídica de direito a
personalidade, ou seja, é uma característica essencial e intrínseca ao indivíduo titular de
direitos e deveres, tutelado perante o ordenamento jurídico brasileiro.

Não sobeja mencionar, como já ressaltado, que o nome é um atributo de


individualização a fim de identificar e diferenciar os indivíduos em meio social, assim como
indica sua procedência familiar no sentido de identificar sua ascendência e origem.

O nome civil compreende o prenome e o sobrenome, este também conceituado de


patronímico ou nome de família o qual merece destaque em razão da análise da possibilidade
de alteração, pois entende-se que o sobrenome é aquele comum a todos os que pertencem a
uma família, segue uma transmissão hereditária, passando de geração em geração.

A família, segmento social a qual o homem faz parte desde sua origem, é
constituída por laços sanguíneos e afetivos, conforme entendimento doutrinário. Contudo, o
afeto em muitos casos é rompido, e, consequentemente, há também, uma ruptura no dever de
cuidado dos pais em relação aos filhos, gerando sequelas irreversíveis para aqueles que
cresceram com a omissão dos genitores.

Com o avanço dos Tribunais brasileiros frente suas decisões, culminou possível a
responsabilização dos pais em razão do abandono afetivo que se caracteriza pela omissão dos
genitores, ou de um deles, no que se refere ao dever de educação em sua acepção mais ampla,
56
permeada de afeto, atenção e desvelo . No entanto, além da indenização cabível existe um
outro conflito. Indaga-se a coerência de carregar o sobrenome daquele genitor em que se
omitiu do seu dever de cuidar, e além da responsabilização se há a possibilidade de excluir o
sobrenome materno/paterno em razão do abandono sofrido.

Nesse sentido, será abordado no presente capítulo as possibilidades de alteração do


nome frente a legislação brasileira, em especial, a Lei de Registros Públicos e como essa

56
MAZZORANA, Danielle Gonçalves Rech. Afeto, convivência e constituição da pessoa: etnografia das
relações familiares a partir de indenizações morais por 81 abandono afetivo no estado de Santa Catarina. 2012.
Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2012.
24

alteração é possível diante do princípio da imutabilidade do nome. Culminará verificado,


também, a possibilidade de exclusão do sobrenome paterno em razão do abandono afetivo e
como os tribunais vêm aplicando decisões com base nessa temática.

2.1 Da imutabilidade do nome

É imperioso ressaltar, inicialmente, o princípio da imutabilidade do nome como regra


geral, previsto na Lei de Registros Públicos, assegurando a definitividade do nome,
compreendendo nele o prenome e o sobrenome. Nesse sentido, enfatiza Silva:

É um símbolo da personalidade do indivíduo, que o particulariza no contexto


da vida social e produz reflexos na ordem jurídica, além disso, possui caráter
de exclusividade, o que gera a seu titular o uso e o gozo em todos os
momentos da vida, tanto no âmbito público, quanto no privado e, ainda, o
individualiza após a morte57
Assim, nota-se que o nome é imprescindível para a identificação de cada indivíduo em
meio social, e eventual alteração poderia gerar confusão frente ao Estado e a sociedade. Nessa
perspectiva, elucida Gavião:

A imutabilidade do nome civil é um princípio de ordem pública, em razão de


que sua definitividade é de interesse de toda a sociedade, constituindo
garantia segura e eficaz das relações de direitos e obrigações correlatas.
Procura-se evitar que a pessoa natural a todo instante mude de nome, seja
por mero capricho, ou até mesmo má-fé, visando ocultar sua identidade, o
que poderá se traduzir em prejuízo a terceiros. 58
Ocorre que a Lei de Registros Públicos (Lei n°6.015/1973) sofreu alterações
introduzidas pela Lei n°9.708/98 que admitiu a possibilidade de mudança no nome. A nova
redação, em seu art. 58, caput, dispõe que ―o prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a
sua substituição por apelidos públicos notórios‖.59

Logo, com a vigência dessa lei, a regra da imutabilidade culminou relativizada diante
das possíveis alterações no prenome, em que pese este seja definitivo. Acerca do assunto,
explica José Roberto Neves Amorim que embora se preveja a imutabilidade do nome, este é

57
SILVA, Daniela de Assis. Possibilidades de alteração do nome no registro civil e o devido procedimento
legal. 2020. Trabalho de conclusão de curso (Graduação). Faculdade de Direito e Relações Internacionais,
Pontifica Universidade Católica de Goiás, 2020. p.09.
58
GAVIÃO, Fausto Carpegeani de Moura. Do Princípio da Imutabilidade do Nome. Jus Brasil. maio. 2019,
p.24.
59
BRASIL. Lei nº. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Lei dos Registros Públicos. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6015compilada.htm. Acesso em: 11 abr. 2022.
25

relativo, pois devem ser consideradas as exceções legais, reiterando-se o caráter absoluto
desse princípio. 60

Para uma melhor compreensão, dispõe Farias e Rosenvald:

A principal característica do nome, entretanto, é a imutabilidade relativa,


compreendendo-se que, por estar intimamente ligado à identidade da pessoa,
permitindo sua identificação no meio social, o nome civil somente pode ser
alterado em circunstâncias excepcionais, com justa motivação e desde que
não imponha prejuízo para terceiros.61
Entende-se, assim, que o princípio da inalterabilidade ou definitividade do nome não é
absoluto, tendo em visto que certas alterações excepcionais são permitidas e indispensáveis de
justificativa. Aduz Euclides de Oliveira que não obstante ter o nome caráter definitivo, como
identificador da pessoa no meio familiar e social, admite-se a sua mudança, em alguns casos
até por inteiro (como na adoção), em outros parcialmente, por retificação, substituição ou
acréscimo de elementos.62

No entanto, em que pese exista a previsão legal de imutabilidade do nome, seja


prenome ou sobrenome, como mecanismo que possibilite a proteção da identidade pessoal,
familiar e social, frente a lei, tais alterações estão respaldadas pelo princípio da dignidade da
pessoa humana.

Cumpre mencionar, ainda, que além do progresso legislativo de alterar a lei a fim de
prever hipóteses de mudanças do nome, a jurisprudência e a doutrina revelou-se relutantes
frente as alterações do nome, destacando a substituição e a supressão do sobrenome com
fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana.

Os doutrinadores demonstram diversos estudos sobre a progressão e evolução do tema


e a jurisprudência vêm revelando-se positiva nas inúmeras motivações, dentre elas pode-se
mencionar as situações de erros gráficos, adoção, transexualidade e transgeneridade, prenome
ao ridículo, maioridade e apelido público notório.

Conforme preconiza Schreiber:

A concepção rígida do nome, como sinal distintivo imodificável, foi sendo


gradativamente temperada pela legislação brasileira. Permite-se, hoje, a
alteração em um conjunto variado de hipóteses, que abrange a retificação da
grafia do nome em virtude do erro no registro, a tradução do nome

60
AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao nome da pessoa física. São Paulo: Saraiva, 2003.p.200.
61
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito civil: teoria geral. 9. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011, p. 254.
62
OLIVEIRA, Euclides de. Direito ao nome. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, n. 11, São
Paulo: Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, janeiro, 2003, p.201.
26

estrangeiro em casos de naturalização, a alteração do prenome suscetível de


expor o seu titular ao ridículo, a alteração ou substituição do prenome com a
inclusão de 63apelido público notório, a alteração do nome em virtude de
adoção, a alteração do nome no primeiro ano após a maioridade civil desde
que não prejudique os nomes de família, e assim por diante
Diante da possibilidade de alteração do nome, torna-se indispensável a análise
minuciosa de cada hipótese prevista no ordenamento jurídico. Assim, frisa-se, também, a
importância de verificar se a possibilidade de alteração está na lei ou não, e, em caso negativo,
encontrar-se-á legitimada pelo princípio da dignidade da pessoa humana. Culminará possível
observar a motivação necessária para alteração e verificar quando essa motivação é
dispensável. Por fim, analisar se é cabível a mudança não só do prenome, mas como também
do sobrenome, bem como a substituição, supressão e exclusão.

2.2 As possibilidades de alteração do nome e sobrenome conforme a legislação brasileira

Não obsta, nesse momento, ressaltar o nome civil como um dos direitos essenciais da
personalidade jurídica, a manifestação mais expressiva da personalidade. Um elemento
atribuído ao indivíduo como forma de individualização da pessoa humana e identificar sua
origem, de interesse da coletividade e do Estado. Apesar do nome, em regra, ser imutável em
razão da segurança jurídica em meio a sociedade, há uma relativização, emergindo hipóteses
legais e excepcionais de alteração, tanto do prenome como do sobrenome.

Nesse viés, alega Guilherme de Poali Schmidt que:

o nome é o principal modo de identificação de cada indivíduo, e eventual


mudança poderia ocasionar confusão diante do Estado e da sociedade.
Contudo, pode o indivíduo solicitar a mudança do seu nome, caso apresente
motivo plausível para tal, em respeito ao princípio da dignidade humana64
Nesse sentido, será analisado cada uma das possibilidades de modificação do nome
civil, nos termos da legislação, doutrina e jurisprudência brasileira.

A primeira hipótese trata-se da exposição ao ridículo a qual o nome civil, devidamente


registrado, expõe o indivíduo a situações vexatórias, violando o princípio da dignidade da
pessoa humana como cláusula gral de tutela ao nome, e, consequente violação ao direto à
personalidade. Conceitua Vieira como aquele digno de riso, de zombaria, vexatório,
merecedor de escárnio, que se presta ao cômico, que desperta sarcasmo.65

63
SCHREIBER, Anderson. Direitos da Personalidade. São Paulo: Atlas, 2013, p.186.
64
SCHMIDT, Guilherme de Paoli. As possibilidades de alteração do nome civil das pessoas naturais.
Lajeado, Rio Grande do Sul, 2017, p.122.
65
VIEIRA, Tereza Rodrigues. Nome e sexo: mudanças no registro civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p.80.
27

Inexiste um consenso do potencial vexatório de um nome, revelando-se como uma


questão eminentemente subjetiva, o conceito de ridículo não é absoluto, varia-se conforme
cada ponto de vista. Com isso, menciona Guilherme de Paoli Schmidt e Chemin que é
relevante ser observado que pode a percepção de cada um ser diferente quanto ao nome ser
ridículo ou não. Se para alguns pode um nome ser considerado vexatório, para outros pode o
mesmo nome soar normal.66

Diante dessa situação, dispõe o parágrafo único do art.55 da Lei de Registros Públicos
que os nomes suscetíveis de constrangimento aos seus titulares não deverão ser registrados
por aqueles que detém tal competência. Contudo, caso haja o registro do prenome ao ridículo,
pode ocorrer sua alteração posteriormente. Explica Gavião:

a alteração poderá ser requerida a qualquer momento, pois trata-se de uma


situação que claramente afronta a Dignidade da Pessoa Humana, já que traz
um constrangimento desnecessário a pessoa, essa possibilidade não é
positivada na Lei de Registros Públicos, mas já é pacificada a sua
possibilidade nos dias de hoje.67
Tal medida visa coibir o registro de nomes que provoquem risco ou brincadeiras que
afetem o íntimo, ou seja, que o indivíduo não seja sujeito à gozação.

A autora Diniz68, para uma melhor demonstração do que seja um nome ridículo ou
vexatório, expõe uma extensa lista de nomes que colocam seu portador ao constrangimento,
destacam-se nomes como Último Vaqueiro, Sebastião Salgado Doce, Rolando Pela Escada
Abaixo, Janeiro Fevereiro de Oliveira Março, Restos Mortais de Catarina, dentre outros.
Acrescenta a autora que há nomes que não causam constrangimento, mas sim são
considerados imoral, como Hitler ou Lúcifer.

A segunda hipótese para alteração do nome é a correção de erros de grafia que


encontra fundamento legal no artigo 110 da Lei de Registros Públicos a fim de retificar o
nome por meio da autoridade registral, sem a interferência judicial para autorizar,
comprovado o erro. Não há que se falar em mudança, mas apenas uma correção no vocábulo,
uma adequação do prenome.

66
SCHMIDT, Guilherme de Paoli. As possibilidades de alteração do nome civil das pessoas naturais. 207.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação), Faculdade de Direito, Lajeado, Rio Grande do Sul .2017. p.122.,
p.123.
67
GAVIÃO, Fausto Carpegeani de Moura. Do Princípio da Imutabilidade do Nome. Jus Brasil. maio. 2019,
p.25.
68
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: teoria geral do Direito Civil. 26. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. s/p.
28

Uma outra alternativa de alteração do prenome, conforme a legislação, é ao atingir a


maioridade. O portador do nome poderá modificá-lo durante o primeiro ano ao atingir a
maioridade, desde que não prejudique os apelidos de família 69, nos termos do artigo 56 da Lei
de Registros Públicos. Nesse viés, elucida Fábio Ulhoa Coelho que o prenome pode ser
alterado, livremente, por qualquer outro do agrado do interessado, mas o sobrenome deve ser
preservado. Admite-se, porém, o acréscimo de expressões componentes do sobrenome de
antecedentes remotos, como avós, bisavós etc. 70

O período para que o interessado requeira a alteração do nome é o decurso do décimo


nono ano de vida, ou seja, entre o primeiro dia que completar dezoito anos de idade até o
último dia desta mesma idade. Após o decurso desse prazo, a modificação somente será
permitida diante de um justo motivo e mediante autorização judicial.

Assevera Brandelli que:

Deve-se atentar com cuidado quanto a essa possibilidade de alteração do


nome, pois não se trata de direito potestativo absoluto, visto que não se pode
mudar o prenome nem tirar o sobrenome já existente, observando se não
vem a prejudicar terceiros nem ocultar ou dificultar a identificação do
indivíduo, tendo este cometido algum ilícito ou algo parecido.71
Desse modo, o interessado deverá estar ciente sobre as dificuldades que sobrevirá em
razão da alteração, como por exemplo, a retirada de novos documentos, registros escolares,
documentos de identidade e publicações em seu nome.

Quanto aos apelidos públicos notórios, mais uma hipótese de alteração do prenome,
versa a respeito de uma modificação que tenha como finalidade identificar o indivíduo da
forma como ele é publicamente conhecido. Dispõe o artigo 58, caput, da Lei de Registros
Públicos, em consonância com a Lei 9.708/98, que o prenome pode ser substituído por
apelido público notório72. É comum encontrar pessoais que utilizam do apelido público no
meio artístico, pessoas públicas, como nos casos da apresentadora Xuxa (Maria da Graça
Meneghel), do falecido cantor Cazuza (Agenor de Miranda Araújo Neto) e do ex-presidente
Lula (Luiz Inácio da Silva).73

69
BRASIL. Lei nº. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Lei dos Registros Públicos. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6015compilada.htm. Acesso em: 13 abr. 2022.
70
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p.200.
71
BRANDELLI, Leonardo. Nome civil da pessoa natural. São Paulo: Saraiva, 2012, p. s/p.
72
BRASIL. Lei nº. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Lei dos Registros Públicos. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6015compilada.htm. Acesso em: 13 abr. 2022.
73
SCHMIDT, Guilherme de Paoli. As possibilidades de alteração do nome civil das pessoas naturais. 207.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação), Faculdade de Direito, Lajeado, Rio Grande do Sul .2017. p.122.
29

Para que ocorra a substituição do prenome pelo apelido público notório é necessária a
existência do apelido e que o titular atenda por este quando chamado, acrescido do
reconhecimento no meio social em que o interessado conviva, gerando, assim, a publicidade.

Mais uma hipótese de alteração é a proteção às testemunhas e às vítimas com o


fundamento de tutelar aqueles de ameaça ou coação em decorrência da colaboração para
apuração de um crime ou investigação, tal medida foi criada por meio da Lei 9.807/99 em
conjunto ao programa de proteção a vítimas e testemunhas.

Há, também, a alteração do nome estrangeiro nos casos em que um nome brasileiro
corresponda ao nome estrangeiro sendo permitida a alteração por meio de requerimento
declarando o desejo de traduzir ou adaptar o nome a língua portuguesa, nos termos do artigo
115 da Lei 6.815/80.

Não sobeja mencionar um dos progressos da alteração do nome na doutrina e


jurisprudência brasileira como é o caso da modificação do nome em decorrência da alteração
do sexo, como nos casos dos transsexuais. A lei de Registros Públicos tem como referência o
sexo biológico a fim de definir o prenome a ser declarado na certidão de nascimento.

Trata-se do indivíduo que se reconhece com o sexo oposto daquele imposto


biologicamente com o nascimento, e com a finalidade de adequar a verdadeira identidade
pessoal, os tribunais regulamentaram a alteração do prenome frente a mudança de sexo.

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 4275/DF, reconheceu aos transsexuais o


direito à modificação do nome e o sexo no registro de nascimento, dispensando a autorização
judicial, visando o direito à igualdade e assegurando o respeito à liberdade pessoal e
autonomia do indivíduo, zelando o macroprincípio da dignidade da pessoa humana. Vejamos:

Esta decisão - que torna efetivo o princípio da igualdade, que assegura


respeito à liberdade pessoal e autonomia individual, que confere primazia à
dignidade da pessoa humana e que, rompendo paradigmas históricos e
culturais, remove obstáculos que inviabilizam a busca da felicidade por parte
de transgêneros vítimas de inaceitável tratamento discriminatório – não é
nem pode ser qualificada como decisão proferida contra alguém, da mesma
forma que não pode ser considerada um julgamento a favor de apenas
alguns, mas, sim, de toda a coletividade social. [...] O exercício desse direito
básico, que pode importar em modificação da aparência ou em alteração das
funções corporais do transgênero, também legitima a possibilidade de
retificação dos assentamentos registrais, com a consequente mudança do
prenome e da imagem registrados em sua documentação pessoal, sempre que
tais elementos de identificação não coincidirem com a identidade de gênero,
tal como autopercebida pelo próprio indivíduo. (BRASIL, SUPREMO
30

TRIBUNAL FEDERAL, Voto do Ministro Celso de Mello na ADI


4275/DF)74
Cumpre mencionar que os tribunais pacificaram o entendimento de que a mudança do
nome no registro de nascimento no que concerne os transsexuais é possível
independentemente de cirurgia.

Analisadas algumas hipóteses de alteração do prenome, passaremos a verificar a


possibilidade de modificação/exclusão/supressão do sobrenome, ou seja, o nome de família
que segue posterior ao prenome cuja finalidade é identificar a procedência familiar, a origem
do indivíduo, seguindo uma transmissão hereditária, passando de geração em geração.

O ordenamento jurídico brasileiro prever possibilidades de alteração do sobrenome,


apelido de família, como nos casos do casamento, união estável, divórcio, adoção
reconhecimento de filhos e até mesmo nos casos de abandono afetivo.

O casamento é umas das formas mais conhecidas de aquisição do sobrenome, pois é


facultado aos nubentes acrescentar o sobrenome do outro. O Código Civil de 2002 dispõe em
seu artigo 1.565 que ―qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome
do outro‖75. Desse modo, tanta o marido quanto a esposa tem a faculdade de optar por aderir
ou não o sobrenome do cônjuge. Não há muitas formalidades para essa aquisição, basta a
vontade das partes em requerer e passar a constar na certidão de casamento, sem qualquer
autorização dos familiares. Em caso de divórcio, pode o cônjuge optar em permanecer com o
nome de casado.

A adoção também enquadra-se nas hipóteses de alteração do sobrenome, pois permite


que o adotado seja registrado com os patronímicos dos adotantes, ou seja, a criança receberá o
sobrenome daqueles que a adotaram, nos termos do 41, caput, e 47, §5º, da Lei 8.069/90,
Estatuto da Criança e do Adolescente. In verbis:

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será
inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá
certidão. § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem
como o nome de seus ascendentes. [...] § 5 o A sentença conferirá ao
adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá
determinar a modificação do prenome. (BRASIL, 1990)76

74
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n°4.275. Relator: Ministro Marco
Aurélio. Distrito Federal, 01 de março de 2018. Diário de Justiça 18/03/2018.
75
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 23 mar. 2022.
76
BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 13 abr.2022.
31

Além do sobrenome, também é possível a alteração do prenome do adotado diante da


requisição do adotante, junto a oitiva da criança frente ao juiz e Ministério Público.

Um outro avanço doutrinário, podemos mencionar a inclusão do sobrenome do


padrasto ou madrasta com base no fundamento do princípio da afetividade do direito de
família daquele que verdadeiramente zelou pelo cuidado e dever do menor, sendo considerado
pai, diante da relação da finidade entre enteado e padrasto/madrasta. A lei de Registros
Públicos no artigo 57, §8° autoriza requerimento para alteração do patronímico, com a
inclusão do nome de família do padrasto ou madrasta, com autorização e motivo justo.

Uma última hipótese, e a mais relevante para o presente estudo, é a possibilidade de


exclusão do sobrenome paterno/materno diante do abandono afetivo que receberá um tópico
exclusivo para tratar da temática.

2.3 A exclusão do sobrenome dos genitores diante da configuração do abandono afetivo

Com os novos horizontes do direito de família, é preciso destacar mais uma hipótese
de alteração do sobrenome. Ressalta-se a família pela construção e manutenção dos laços de
afetividade, levando, desta forma, à sobreposição do afeto frente aos vínculos biológicos 77.
Tem-se o afeto como elemento essencial do núcleo familiar e das relações interpessoais
demonstrando uma humanização e repersonalização do direito a fim de valorizar o ser
humano, com base no princípio da dignidade humana.

Nesse sentido, é possível perceber que os conceitos de paternidade e abandono afetivo


são antônimos e há convergências78. Frisa-se que o abandono afetivo como uma ruptura no
dever de cuidado, um inadimplemento dos deveres jurídicos de paternidade, cessando o elo de
afetividade e da solidariedade, bem como rompendo com o princípio da dignidade da pessoa
humana. É dever dos pais zelar pela proteção física, intelectual e moral dos seus filhos e a
omissão deles pode acarretar danos irreversíveis e uma violação à sua dignidade.

Diante disso, assevera Bijega:

Com a evolução do direito de família, os laços afetivos foram ganhando um


maior destaque nas relações, e sendo nos dias de hoje a afetividade um
princípio base do direito de família, com isso temos que os pais possuem não
somente o dever de assistência econômica para com os filhos, como também

77
BIJEGA, Barbara Caroline. O abandono afetivo como possibilidade de supressão do sobrenome no
registro civil. 2021. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Faculdade de Direito, Centro Universitário
de Curitiba, 2021, p.61.
78
Idem, 2020, p.61.
32

de assistência moral, de convivência com os filhos, o poder familiar


portanto, que deve ser exercido igualmente entre eles
Aplicada a ideia do cuidado como valor jurídico por meio dos tribunais deduzindo a
presença do ato ilícito e a culpa do pai pelo abandono, surge a esperança de que ao acionar o
Poder Judiciário terão seus direitos reconhecidos, mediante uma decisão judicial ao
reconhecer a indenização diante do abandono afetivo.

Aduz o doutrinador Álvaro Villaça que:

O descaso entre pais e filhos é algo que merece punição, é abandono moral
grave, que precisa merecer severa atuação do Poder judiciário, para que se
preserve não o amor ou a obrigação de amar, o que seria impossível, mas a
responsabilidade ante o descumprimento do dever de cuidar, que causa o
trauma da rejeição e da indiferença.79
A medida de responsabilização civil imposta tem a finalidade de que os genitores
cumpram com seus deveres legais de amparar e assistir seus filhos. A omissão no dever de
cuidar gera um descumprimento nas obrigações intrínsecas ao poder familiar sendo possível
uma sanção pecuniária. Assim, ressalta Maria Helena Diniz que a conduta de um genitor
ausente, que não cumpre as responsabilidades intrínsecas ao poder familiar, enquadra-se
perfeitamente entre os atos ilícitos, tendo ele descumprido seus deveres parentais perante o
filho, inerentes ao poder familiar.80

Legitimado pelo princípio da dignidade da pessoa humana e pela proteção dos direitos
à personalidade, o abandono afetivo destacou-se como um motivo justo para que o filho
requeira a exclusão do sobrenome do pai ou da mãe que omitiu-se dos deveres de cuidar e
afetivos ao longo da vida.

Observa-se o que Venosa defende:

[...] o sobrenome ou patronímico deve ser preservado em princípio. No caso


concreto será examinada a oportunidade e conveniência de sua alteração ou
substituição. Sua modificação só deve ocorrer sob a forma de exceção,
plenamente justificada. Veja, por exemplo, a situação de um filho que não
quer carregar vitaliciamente o sobrenome do pai porque este abandonou o lar
e o descendente sempre foi criado por um padrasto que lhe dá afeto ou a
situação na qual o sobrenome é de um pai facínora conhecido.81
A jurisprudência tem entendido por reconhecer a possibilidade de alteração do nome
de família considerando que o patronímico, identificador da origem familiar, não seria viável

79
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Jornal do advogado. São Paulo: OAB°289, 2004
80
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil, 26.ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p.33.
81
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: parte geral.13. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.207
33

ao indivíduo abandonado por um dos genitores permanecer com o sobrenome deste,


carregando um constrangimento ao recordar a dor sofrida.

Nesse viés, decidiu o tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

REGISTROS PÚBLICOS. ALTERAÇÃO DO NOME. SITUAÇÃO


EXCEPCIONAL. ABANDONO PATERNO. De todo manifesto o
sofrimento do filho em carregar em seu nome, de forma indelével, a
identificação daquele que durante a vida lhe impingiu tanto sofrimento e
desilusão. Tal circunstância denota situação excepcional e motivada a
ensejar a alteração do nome, nos termos do art. 57 da Lei 6.015-73. Apelo
provido, por maioria. (Apelação Cível nº 70020347563, Sétima Câmara
Cível, Relator: Maria Berenice Dias, j. 08/08/2007).82
O julgado supracitado versa a respeito da exclusão do apelido de família em razão do
pai que abandonou a requerente quando restava com apenas dois anos de idade. A menor foi
criada exclusivamente pela genitora que a assistiu moralmente e materialmente, sendo
registrada pelo nome paterno, obteve a autorização para excluir o sobrenome do pai, existindo
apenas o sobrenome materno, a quem verdadeiramente manteve os laços afetivos.

Uma outra decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul foi:

REGISTRO CIVIL. SUPRESSÃO DO PATRONÍMICO PATERNO.


SITUAÇÃO EXCEPCIONAL AMPARADA NO ART. 58 DA LEI DOS
REGISTROS PÚBLICOS. Uma vez que o patronímico paterno representa
constrangimento para a apelante, pela rememoração da rejeição e do
abandono afetivo e, considerando que a exclusão não interfere na sua
identificação no meio social, onde é conhecida pelo sobrenome materno, na
linha adotada pela jurisprudência do STJ, é de ser reconhecida, na hipótese
dos autos, a situação excepcional prevista no art. 58 da LRP, que autoriza a
alteração do sobrenome. DERAM PROVIMENTO. UNÂNIME (grifou-se)
(Apelação Cível 70011921293 de Cachoeira do Sul, Rel. Des. Luiz Felipe
Brasil Santos, Sétima Câmara Cível, Julgado em 05.10.2005, p. 1)83
No que concerne a essa decisão, a filha abandonada logo após a dissolução do
matrimônio dos seus pais, pretendeu a exclusão do sobrenome do genitor devido a
inexistência de qualquer vínculo familiar. Por ser reconhecida exclusivamente pelo
sobrenome materno, optou por mantê-lo e excluir o sobrenome do pai que a constrangia ao
relembrar de toda dor e sofrimento causado pela rejeição.

Nesse mesmo sentido, decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina:

82
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível nº 70020347563. Apelante:. Apelado:.
Relator: Maria Berenice Dias, Bento Gonçalves, Diário de Justiça 08/08/2007.
83
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação Cível n° 70011921293. Apelante:
Marcio Soares. Apelado: Justiça. Relator: Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos. Rio Grande do Sul, 08 de
outubro de 2005. Diário de Justiça 08/05/2005.
34

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALTERAÇÃO DE REGISTRO CIVIL.


SUPRESSÃO DO SOBRENOME DO GENITOR E INCLUSÃO DO 77
SOBRENOME DO PADRASTO. ADMISSIBILIDADE EM CASOS
EXCEPCIONAIS. ABANDONO MATERIAL E MORAL.
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO AFASTADA [...]
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. É cediço que a mudança de
sobrenome somente pode ser admitida em casos excepcionais, tendo em
vista o princípio da continuidade (ou estabilidade) do nome da família, além
do que o patronímico representa o principal elemento de identificação da
pessoa no seio da comunidade em que vive e, de uma forma geral, perante
toda a sociedade. Conquanto não haja previsão legal para a mudança do
sobrenome em casos de abandono moral e material dos filhos, tem-se
admitido essa hipótese desde que adequadamente fundamentado o pedido e
devidamente comprovada essa situação, o que dá ensejo à providência
judicial excepcional [...] (grifou-se) (Apelação Cível 2009.051501-0 de
Trombudo Central, Rel. Des. Joel Dias Figueira Júnior, Primeira Câmara de
Direito Civil, Julgado em 03.05.2011, p. 1).84
A supramencionada decisão enfatizou a relativização da mudança de nome em meio a
casos excepcionais e dentre estes casos nota-se o abandono afetivo vivenciado pela filha
abandonada pelo genitor logo após o nascimento, desenvolvendo, ao longo da vida denota dor
e insatisfação ao lembrar a rejeição do genitor. A supressão do sobrenome paterno seria uma
alternativa de amenizar essa aflição.

Percebe-se que a doutrina e a jurisprudência manifesta-se favorável frente à


possibilidade de exclusão ou supressão do nome dos genitores, ou apenas de um deles, na
hipótese justificável do abandono afetivo

Diante das circunstâncias e de um caso específico que manifestou o Superior Tribunal


de Justiça a respeito do tema passou a decidir:

CIVIL. REGISTRO PÚBLICO. NOME CIVIL. PRENOME.


RETIFICAÇÃO. POSSIBILIDADE. MOTIVAÇÃO SUFICIENTE.
PERMISSÃO LEGAL. LEI 76 6.015/73, ART. 57. HERMENÊUTICA.
EVOLUÇÃO DA DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA. RECURSO
PROVIDO. I – O nome pode ser modificado desde que motivadamente
justificado. No caso, além do abandono pelo pai, o autor sempre foi
conhecido por outro patronímico. II – A jurisprudência, como registrou
Benedito Silvério Ribeiro, ao buscar a correta inteligência da lei, afinada
com a ―lógica razoável‖, tem sido sensível ao entendimento de que o que se
pretende com o nome civil é a real individualização da pessoa perante a
família e a sociedade (grifou-se) (Recurso Especial 66.643/SP, Rel. Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, Julgado em 21.10.1997, p.
1).85

84
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Apelação Cível n° 2009.051501-0. Apelante:.
Apelado:. Relator: Des. Joel Dias Figueira Júnior, 03 de maio de 2011. Diário de Justiça 03/05/2011.
85
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 66.643/SP. Recorrente: Paulo Ernesto Vampre
Batelli. Recorrido: Ministério Público de São Paulo. Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 21 de outubro de
1997. Diário de Justiça 21/10/1997.
35

O caso que motivou a decisão trata-se de um filho que aos sete meses de vida foi
abandonado por seu genitor que assim como o filho, também abandonou a esposa. O
requerente fundamentou seu pleito de exclusão do sobrenome paterno no fato de sentir-se
exposto ao ridículo frequentemente ao carregar o patronímico daquele que o abandonou.

O Ministro Salvio de Figueiredo Teixeira, em sua relatoria, ensinou que:

Assim, se o nome é o traço característico da família, razão assiste ao


recorrente em pleitear a retirada do patronímico. Seu pai, como afirmado e
reconhecido na sentença, nunca foi presente, nunca deu assistência moral ou
econômica a ele e à sua mãe. Diz que, com isso, se sente exposto ao ridículo.
E realmente o deve ser [...] Como se colhe em Sá Pereira, em lição sempre
atual, ―soberana não é a lei, mas a vida‖. Daí a necessidade de o aplicador da
lei ser sensível à realidade que o cerca e as angústias do seu semelhante
(grifou-se) (Recurso Especial 66.643/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo
Teixeira, Quarta Turma, Julgado em 21.10.1997, p. 4-5).86
Nesse mesmo sentido o Superior Tribunal de Justiça decidiu:

DIREITO CIVIL. ALTERAÇÃO DO ASSENTAMENTO DE


NASCIMENTO NO REGISTRO CIVIL. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA
DO PEDIDO AFASTADA. PRODUÇÃO DE PROVA. DEFERIMENTO.
Em que pese a divergência doutrinária e jurisprudencial, o princípio da
imutabilidade do nome de família não é absoluto, admitindo-se,
excepcionalmente, desde que presentes a justa motivação e a prévia
intervenção do Ministério Público, a alteração do patronímico, mediante
sentença judicial. Recurso provido (Recurso Especial 401.138/MG, Rel.
Min. Castro Filho, Terceira Turma, Julgado em 26.06.2003, p. 1).87
O presente caso, levado ao Superior Tribunal de Justiça, abarca a filha que aos nove
anos de idade vivenciou o divórcio dos genitores, incumbindo a mãe, desde a separação, a
guarda e a assistência moral e material à filha. Os argumentos da filha foram baseados na dor
e sofrimento desde a separação dos pais e com a omissão do genitor, o sobrenome do pai que
carregava causava dor e constrangimento, além de recordações ruins que prefere esquecer.

Dessa forma, é evidente e comprovada a possibilidade de exclusão do sobrenome de


um dos genitores frente ao abandono afetivo. Assim, justifica Ziem que o que pretende com a
exclusão do sobrenome paterno, não é descaracterizar o grupo familiar, e sim, fazer com que

86
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 66.643/SP. Recorrente: Paulo Ernesto Vampre
Batelli. Recorrido: Ministério Público de São Paulo. Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 21 de outubro de
1997. Diário de Justiça 21/10/1997.
87
BRASIL.Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n°401.138-MG. Recorrente: Relator Ministro Castro
Filho. Minas Gerais, 26 de junho de 2003. Diário de Justiça 12/08/2003.
36

o nome da pessoa seja a sua realidade familiar. Afinal, os laços afetivos que unem o genitor a
sua prole, simplesmente, nunca existiram.88

O nome como direito fundamental legitimado pelo princípio da dignidade da pessoa


humana e com natureza jurídica de direito à personalidade deve revelar-se como um sinal de
orgulho e apreço para quem carrega, não devendo existir um desconforto e memórias
dolorosas, pelo contrário, deve existir uma sensação plena de sua existência.

88
ZIEM, Stella Daiane Dildey. A possibilidade da exclusão do sobrenome paterno diante do abandono
afetivo. 2014. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Faculdade de Direito, Universidade do Sul de
Santa Catarina, 2014, p.60.
37

CAPÍTULO III
AS CONSEQUÊNCIAS SUCESSÓRIAS EM RAZÃO DA EXCLUSÃO DO
SOBRENOME DE UM DOS GENITORES POR ABANDONO AFETIVO

Após averiguado o conceito do nome civil, como instrumento de individualização da


pessoa humana, de natureza jurídica de direito a personalidade amparado pela Constituição
Federal e pelo macroprincípio da dignidade da pessoa humana, com finalidade de distinguir
os integrantes de um meio social, sua ascendência e origem familiar, culminou possível
analisar que apesar do caráter imutável do nome civil, este, em hipóteses previstas legalmente,
pode ser relativizado.

Em meio as hipóteses de alteração do nome e sobrenome, destacou-se, de suma


importância para o presente estudo, o abandono afetivo como causa de exclusão do nome de
família. A doutrina e a jurisprudência manifestou-se favorável frente a possibilidade de
exclusão ou supressão do nome dos genitores, ou apenas de um deles, na hipótese justificável
do abandono afetivo

O abandono afetivo, caracterizado pela ruptura no dever de cuidado, um


inadimplemento dos deveres jurídicos de paternidade, rompendo com o princípio da
dignidade da pessoa humana, destacou-se pela doutrina e tribunais que diante dessa situação
possibilitou a responsabilização dos pais, ou de apenas um deles, em razão do
descumprimento da obrigação de assistir e amparar sua prole.

Além da responsabilização civil, uma outra questão surgiu nos tribunais foi a
possibilidade de exclusão ou supressão do sobrenome paterno/materno em razão do abandono
afetivo com fundamento no constrangimento sofrido pelo filho, pela rememoração da rejeição
e denota dor causada pelo abandono. O nome como direito fundamental legitimado pelo
princípio da dignidade da pessoa humana deve revelar-se como um sinal de orgulho e apreço
para quem carrega, não devendo existir um desconforto e memórias dolorosas.

Dessa forma, cabe neste momento, entender as consequências sucessórias diante da


exclusão do patronímico e responder ao questionamento: o filho que optou por excluir o
sobrenome do pai ou da mãe tem o direito de receber a herança?

Neste capítulo, será abordado acerca do direito à sucessão, as formas de sucessão, bem
como as hipóteses de exclusão da sucessão a fim de verificar se a exclusão do patronímico
também enseja na exclusão do direito de herança.
38

3.1 Do direito à sucessão

O fim da pessoa natural dar-se-á com o evento morte o que acarreta com a extinção da
personalidade jurídica do indivíduo e consequente cessão de determinadas relações jurídicas
frente a sociedade e ao Estado89. No entanto, a morte está interligada com o surgimento de um
novo ciclo jurídico presente no Direito das Sucessões que, em sentido objetivo, é o conjunto
de normas reguladoras da transmissão dos bens e obrigações de um indivíduo em
consequência de sua morte90

Vejamos o ensinamento do doutrinador Flávio Tartuce:

o Direito das Sucessões como o ramo do Direito Civil que tem como
conteúdo as transmissões de direitos e deveres de uma pessoa a outra, diante
do falecimento da primeira, seja por disposição de última vontade, seja por
determinação da lei, que acaba por presumir a vontade do falecido91
Em sentido amplo, a palavra ―sucessão‖ significa transmissão, que pode decorrer de
um ato inter vivos ou mortis causa, ou seja, a sucessão opera tanto em pessoas vivas como
também em razão da morte. Quando este fenômeno ocorre entre pessoas vivas denomina-se
de inter vivos, como ocorre em uma transferência de bens. No direito hereditário, a sucessão
ocorre por causa mortis que decorre da morte.

No ordenamento jurídico brasileiro, com a morte extingue-se um conjunto de direitos


e bens anteriormente pertencentes ao falecido que, após o óbito adquire novos titulares por
intermédio da transmissão dos sucessores. Não há que se falar em extinção de direitos, mas
sim uma substituição de titularidade devido ao evento morte. 92

A herança, também denominada de espólio, consiste, segundo Sousa, na


universalidade de direitos e obrigações e o patrimônio deixada pelo de cujus, que, em virtude
do princípio da saisine, é transferido de imediato por força de lei aos herdeiros a partir da
abertura da sucessão que ocorre com a morte.93

Há duas modalidades de transferência da herança por mortis causa conforme a


legislação brasileira: a sucessão legítima e a testamentária. Ambas serão discorridas em um
tópico exclusivo a fim de enfatizar e para melhor compreensão do presente estudo.
89
SOUSA, Fernanda Zica de. A exclusão da sucessão pelo abandono afetivo direto a partir da colisão de
princípios constitucionais. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)— Faculdade de Direito,
Universidade de Brasília, 2020, p.37.
90
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Sucessões. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021.
91
Idem, 2021, p.16.
92
Idem, 2020, p.37.
93
Idem, 2020, p.37.
39

3.2 Da sucessão legítima e testamentária

A sucessão legítima decorre por força de lei, ou seja, a indicação de herdeiros se opera
conforme o critério de justiça definido pelo legislador, a lei encarrega-se de dar um destino ao
patrimônio do falecido. O legislador determinou o rol de sucessores de uma pessoa baseado
em seus vínculos mais estreitos de solidariedade, que se encontram em sua comunidade
familiar, estabelecendo a devolução da herança para aqueles mais próximos à pessoa
falecida.94

Vejamos a explicação de Tepedino:

A sucessão legítima fundamenta-se nos laços de família, razão pela qual a lei
estabelece a ordem de vocação hereditária à luz da parentela e dos vínculos
conjugais ou de união estável da pessoa falecida. O Estado recolherá o
monte hereditário quando não há qualquer dos indicados na ordem de
vocação hereditária ou disposições testamentárias válidas e eficazes.95
Ocorre a sucessão legítima frente a existência de herdeiros necessários e diante da
ausência de testamento, ou seja, invocada sempre que falta a sucessão testamentária,
enfatizando seu caráter supletivo.

Vejamos a explicação de Silva:

A sucessão legítima decorre da imposição da lei, uma vez que o legislador


presumiu a vontade do de cujus e estabeleceu no art. 1.829 a ordem de
vocação hereditária que deve ser observada. Assim, existem quatro classes
de sucessores: a primeira classe é composta pelos descendentes e o cônjuge;
a segunda, pelos ascendentes e o cônjuge; a terceira, pelo cônjuge,
isoladamente; e a quarta, pelos colaterais, até o quarto grau96
A vocação hereditária distingue os herdeiros em ordem, classes e graus, presumindo a
vontade de suceder do hereditando pela ordem natural de afeições familiares, sendo que, desta
forma, o chamamento dos herdeiros legítimos respeita uma hierarquia em que os sucessíveis
da classe mais próxima preferem os das classes seguintes.97

O artigo 1.829 do Código Civil disciplina a seguinte ordem:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

94
TEPEDINO, Gustavo. Fundamentos do Direito Civil - Direito das Sucessões. Rio de Janeiro: Grupo GEN,
2020.
95
Idem, 2020, p.63.
96
SILVA, Milena Matos da. Exclusão da sucessão: importância da inclusão do abandono afetivo inverso entre
as hipóteses de exclusão da sucessão. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)- Faculdade de Direito,
Universidade Federal de Pernambuco, 2018, p.11.
97
SOUSA, Fernanda Zica de. A exclusão da sucessão pelo abandono afetivo direto a partir da colisão de
princípios constitucionais. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)— Faculdade de Direito,
Universidade de Brasília, 2020, p.38.
40

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se


casado este com o falecido no regime de comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime
da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.98
Esta ordem de vocação hereditária fundamenta-se na vontade presumida do falecido
pois entende-se que os descendentes devem ser o primeiro grupo chamado a herdar em razão
do senso comum da sociedade que o amor do falecido era, certamente, mais forte em relação a
eles, fruto de seu afeto pelo outro genitor. Apenas na ausência de descendentes é que serão
convocados os descendentes, uma vez que somente na falta de energias novas e vigorosas,
continuadoras por excelência da vida que acabara de ser ceifada, é que se deveriam buscar
gerações anteriores à do morto.99

Em meio aos herdeiros legítimos há uma tutela especial do direito à herança aos
herdeiros necessários, a estes são garantidos por lei uma quota equivalente à metade do total
do monte, denominada legítima. Os herdeiros necessários não podem ser excluídos da
sucessão, ressalvadas hipóteses apresentadas posteriormente neste estudo. São herdeiros
necessários: os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Na ausência de herdeiros
necessários o de cujus pode dispor livremente da totalidade do seu patrimônio através de
testamento.

Uma outra modalidade de transferência de patrimônio por mortis causa conforme a


legislação brasileira é a sucessão testamentária a qual é facultado ao sucedido a transmissão
do montante hereditário para terceiros por ele indicados por meio do testamento. É o ato de
disposição de última vontade do falecido que se expressa através das disposições
testamentárias. Conforme Tapedino, o testamento, portanto, é um negócio jurídico que regula
a sucessão de uma pessoa para o momento posterior à sua morte.100

Leciona Speridião que:

sucessão testamentária decorre de um ato de última vontade do indivíduo,


por meio do qual regula a destinação de seus bens para depois de sua morte.
O instrumento da declaração de vontade em questão é denominado

98
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 05 abr. 2022.
99
GONÇALVES, Carlos R. Esquematizado - Direito civil 3 - Responsabilidade Civil - Direito de Família -
Direito das Sucessões. São Paulo: Editora Saraiva, 2020.
100
Idem, 2020, p.123.
41

testamento, ou, ainda cédula testamentária. É um ato unilateral, gratuito,


solene e revogável, destinado a produzir efeitos após a morte do testador.101
O ato de testar possui natureza personalíssima, ou seja, somente o testador pode dispor
da sua vontade. Contudo, o testamento pode ser modificado a qualquer momento em razão da
sua vontade ser ambulante. Sua liberdade para testar e modificar o conteúdo desse negócio
jurídico é matéria de ordem pública, sendo os limites da autonomia de sua vontade
estabelecidos por lei cogente que não pode ser afastada em qualquer hipótese.102

Ressalta-se que o testamento é um negócio jurídico que possui efeito mortis causa
tendo em vista que está destinado a produzir efeitos somente após a morte do testador. É o
direito que revela com maior amplitude a autonomia da vontade privada. O testador regula,
em ato unilateral, a distribuição dos seus bens, conforme sua própria vontade.103

Para que o testamento seja valido é necessário que o testador goze de capacidade
testamentária para dispor de seus bens, possuindo discernimento e estando em pleno gozo de
suas faculdades mentais, pois, do contrário, estaria impedido de realizá-lo. Contudo, em que
pese a capacidade civil para testar seja um dos requisitos para o testamento,
excepcionalmente, a legislação permite que os maiores de dezesseis anos possam fazê-lo.

A capacidade de testar é averiguada no momento da realização do negócio jurídico.


Logo, havendo incapacidade superveniente à realização do testamento, tal documento não
será considerado inválido, da mesma forma que a capacidade superveniente não valida
testamento realizado à época por incapaz.104

Os princípios da autonomia da vontade e da liberdade de testar permitem que o


testador, autor da herança, possa dispor da sua herança para qualquer pessoa física ou jurídica
indicadas por ele. No entanto, essa liberdade para testar é parcial tendo em vista que a lei veda
a disposição da legítima, ou seja, a metade do patrimônio fica resguardada por lei aos
herdeiros necessários restando a outra metade disponível para fins testamentais.

101
SPERIDIÃO, Lucimara Barreto; DE AGUIAR, Cláudia Fernanda. Sucessão testamentária: o abandono
afetivo como causa de deserdação. n. 4, 2013, p.41.Diponivel em: <
https://revistas.fibbauru.br/jurisfib/article/view/160/146>. Acesso em: 19 de mai. de 2022, p.41.
102
LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e sucessões. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
103
DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.330.
104
SOUSA, Fernanda Zica de. A exclusão da sucessão pelo abandono afetivo direto a partir da colisão de
princípios constitucionais. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)— Faculdade de Direito,
Universidade de Brasília, 2020, p.43.
42

Cumpre mencionar que o testamente também pode dispor de conteúdo


extrapatrimonial como o reconhecimento voluntário de filho, nomeação de tutor para a prole e
questões relacionadas à exclusão de herdeiro frente à indignidade ou deserdação.

3.3 Das hipóteses de exclusão da sucessão

A sucessão norteia-se pelas bases familiares esculpidas através do convívio e do


respeito entre os membros. A herança representa um sentimento de solidariedade e confiança,
pois aquele que construiu todo seu patrimônio garante aos seus sucessores a dignidade de
apropriar-se daquilo que lapidou.

Logo, deste modo, a sucessão hereditária não é apenas um método de garantia de


segurança jurídica e econômica do patrimônio deixado pelo falecido, mas representa a suposta
conjuntura de convivência familiar e a sua perpetuação.105

Ocorre que a ideia de família formada por laços de afeto e solidariedade,


eventualmente, evade-se da base primordial desse instituto. Essa instabilidade moral nas
relações familiares reflete no âmbito sucessório. Portanto, o legislador em razão desses
eventuais abalos morais e jurídicos que afetam a honra e dignidade do falecido, previu
hipóteses de exclusão daqueles que afligir moralmente e juridicamente a estrutura da base
familiar.

Nesse viés, expõe Paulo Nader:

Seria profundamente injusto se o autor de agressões físicas ou morais contra


o auctor hereditatis, ou a membros próximos de sua família, pudesse se
aproveitar de sua herança, seja na condição de herdeiro legítimo ou
testamentário. A sucessão se fundamenta, entre outras razões, na presunção
de solidariedade e de estima entre sucessor e sucedido. Ora, se a conduta do
herdeiro for daquele jaez, já não poderá prevalecer a presunção, não se
justificando, à luz da moral, dos bons costumes e dos princípios de justiça,
que o ofensor se beneficie com a morte de sua vítima, herdando parte ou a
totalidade de seu patrimônio.106
Desse modo, a quebra da afetividade diante de atos inequívocos de desapreço e
menosprezo contra o autor da herança pode ensejar na exclusão da sucessão. O herdeiro
legítimo a suceder será excluído do processo de sucessão por indignidade ou por deserdação.

Segundo Paulo Nader, indignidade e deserdação possuem denominador comum e


importantes pontos distintivos. Ambas induzem à perda do direito de herdar e, na versão de

105
Idem, 2020, p.45.
106
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil: Direito das Sucessões. 7.ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2016.
43

alguns autores, decorrem de ingratidão107. Tais institutos não se confundem, apesar do mesmo
fundamento de existência baseado na vontade do de cujus na distribuição da herança,
perfazem sentidos destintos em cada caso.

Portanto, os institutos da indignidade e da deserdação serão explanados e analisados


em subtópicos especiais para atingir a finalidade deste estudo.

3.3.1 Da indignidade
A vocação hereditária oriunda do parentesco ou da vontade pressupõe uma relação
revestida de afeto e solidariedade entre o autor da herança e o sucessor. Contudo, o sucessor
chamado por meio de vocação hereditária pode vir a praticar atos indignos rompendo com o
sentimento de confiança e solidariedade.

Isto posto, há a indignidade diante da quebra da afetividade por meio de atos


inequívocos de desapresso contra o autor da herança, é a situação jurídica em que se encontra
o sucessível, condenado à perda do direito de suceder, pela prática de danos graves contra o
autor da herança ou a membros de sua família 108, ou seja, uma privação do direito imposto por
lei a quem cometeu certos atos ofensivos a pessoa ou interesse do hereditando.

Silvio de Salvo Venosa aduz que:

É moral e lógico que quem pratica atos de desdouro contra quem lhe vai
transmitir uma herança torna-se indigno de recebê-la. Daí porque a lei traz
descritos os casos de indignidade, isto é, fatos típicos que, se praticados,
excluem o herdeiro da herança. A lei, ao permitir o afastamento do indigno,
faz um juízo de reprovação, em função da gravidade dos atos praticados.109
As causas da indignidade, conforme a doutrina predominante, são taxativas, não
cabem interpretações extensivas a fim de incluir outras hipóteses para fundamentar a
exclusão. Sua caracterização depende do enquadramento da conduta imputada em uma das
causas estipuladas na lei civil, trata-se de numerus clausus. Concernente a pena, o legislador é
extremamente preciso e só permite a exclusão por indignidade nos casos estritos que
relaciona.110

O Código Civil elenca as causas da indignidade em seu artigo 1.814. Vejamos:

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

107
Idem, 2016, p.91.
108
Idem, 2016, p.93.
109
VENOSA, Sílvio de S. Direito Civil: Direito das Sucessões, 18.ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2018.
110
Idem, 2016, p.93.
44

I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso,


ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou
incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor
da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade111
A primeira causa de exclusão da sucessão por indignidade é o homicídio doloso ou sua
tentativa, visando a tutela do bem jurídico mais relevante: a vida humana. A lei não faz
menção acerca da motivação do crime, pouco importa se o motivo do crime foi precipuamente
o de adquirir a herança, apenas aponta a constatação de crime doloso ou tentativa,
acrescentando ainda o homicídio ou sua tentativa dolosa contra o cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente, o que corrobora o sentido ético e moral do dispositivo.

Trata o inciso em epígrafe da mais grave de todas as causas, pois é manifesta


a ingratidão do herdeiro que priva o hereditando, ou tenta privá-lo, de seu
maior bem, que é a vida, praticando contra ele homicídio doloso ou tentado.
Daí o provérbio alemão: mão ensanguentada não apanha herança112
Ressalta-se que o crime na modalidade culposa, praticado com imprudência, imperícia
ou negligência, não enquadra-se na indignidade, pois é imprescindível que a conduta seja
intencional, motivada ou não pelo propósito de obter a herança.

A segunda causa de indignidade refere-se aos arts. 339 (denunciação caluniosa), 138
(calúnia), 139 (difamação) e 140 (injúria) do Código Penal. Consiste na prática de crime
contra a honra do auctor hereditatis, ou de seu cônjuge ou companheiro.

Configura-se denunciação caluniosa quando o agente dá causa a instauração de


investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa,
inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de
que o sabe inocente.

A denunciação deve ser objetiva e subjetivamente falsa, isto é, deve estar em


contradição com a verdade dos fatos, e o denunciante deve estar plenamente ciente de tal
contradição.113

Na injúria, o agente verbaliza expressões ofensivas contra a honra subjetiva, atentando


contra a dignidade da vítima. No que concerne a difamação, o bem tutelado é a honra
objetiva, é imputado a vítima certos atos que atentem contra sua reputação.
111
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 05 abr. 2022.
112
GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. São Paulo: Editora Saraiva, 2021.
113
Idem, 2021, p.44.
45

A última causa de indignidade tem como escopo a punição do herdeiro ou legatário


que viciar a vontade do testador, pois a lei preserva a liberdade de testar, devendo respeitar a
disposição de última vontade do de cujus. Essa inibição da vontade testamentária é genérica,
sendo de diversas maneiras os meios fraudulentos.

3.3.2 Da deserdação
A deserdação caracteriza-se como um instituto da sucessão testamentária constituído
por um ato jurídico privativo do autor da herança que possibilita a exclusão do herdeiro
necessário de sua legítima em razão da prática de certos atos ilícitos descritos em lei em
desfavor do autor da herança ou de algum membro da sua família.

Trata-se de uma penalização civil sucessória semelhante a indignidade, ambas


possuem o mesmo fundamento, qual seja, a vontade do de cujus, com a diferença que, para a
indignidade, o fundamento é vontade presumida, enquanto a deserdação só pode fundar-se na
vontade expressa do testador.114

Todos os motivos que ensejam a indignidade configuram causas que servem de


fundamento para a exclusão do herdeiro por deserdação, ou seja, a deserdação é, na verdade,
uma soma das hipóteses de exclusão por indignidade com as suas próprias, previstas nos
artigos 1.962 e 1.963 do Código Civil.

Vejamos os que dispõe o Diploma Civil brasileiro no artigo 1.962:

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a


deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade115
Percebe-se que as hipóteses abarcadas no artigo supramencionado versam a respeito
da deserdação de descendentes por seus ascendentes. Os casos de deserdação de ascendentes
pelos descendentes estão previstos no artigo 1963 do Código Civil, que dispõe:

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a


deserdação dos ascendentes pelos descendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou
com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;116

114
Idem, 2021, p.46.
115
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 05 abr. 2022.
116
Idem, 2002.
46

IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave


enfermidade
Das causas elencadas em ambos os dispositivos, o inciso primeiro dispõe acerca da
ofensa física que compreende a hostilidade física contra o testador, qualquer forma de
agressão que comprometa a sua integridade física, independentemente da gravidade com que
ela se deu.

Explica Gonçalves:

A ofensa física ou sevícia demonstra falta de afetividade, de carinho e de


respeito, legitimando por isso a deserdação. Não se exige a reiteração. Basta
uma única ofensa física que um filho cometa contra seu pai, ou uma filha
contra sua mãe, por exemplo, para que a hipótese de deserdação seja
cogitada.117
É imperioso mencionar que não há de se falar em ameaças ou intimidações de cunho
psicológico, é essencial a concretização da violência à integridade corporal do testador de
forma dolosa, ou seja, deve haver intenção de lesionar a vítima.

A segunda causa da deserdação, comum em ambos os dispositivos, refere-se a injúria


grave que consiste em uma ofensa moral à honra, dignidade e reputação do testador. Entende-
se como uma conduta moralmente e socialmente reprováveis e incompatíveis com os laços
afetivos e de solidariedade que constituem uma relação familiar

Nesse sentido, leciona Paulo Nader:

Conduta desta natureza é incompatível com os elos de solidariedade e


fraternidade comuns na relação entre parentes em linha reta. Se o
descendente age desta forma contra aquele a quem deve respeito, provoca
não apenas o rompimento na esfera da afetividade, mas igualmente anula os
fundamentos do direito à sucessão.118
Diferente do inciso primeiro, a injuria exige atos que violem a dignidade e a lealdade
familiar. Um exemplo disso é a ameaça de morte. Não basta uma breve ação qualquer contra
o testado, é imprescindível que se revista de gravidade.

A terceira hipótese de deserdação trata-se de relações ilícitas que entende-se como


contrair relações carnais com padrasto ou madrasta, ou com enteado ou enteada cujo

117
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2011, p.429.
118
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil: Direito das Sucessões. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
47

fundamento baseia-se em impor castigo aquele que criou um ambiente de desrespeito e falta
de pudor ao núcleo familiar.119

Os incisos IV de ambos os dispositivos que elencam as causas da deserdação visam


punir os descendentes ou ascendentes que abandonarem o seu progenitor ou filho quando
estes se encontram maculados por grave enfermidade ou alienação mental 120. Esta previsão
possibilitou afastar descendentes ou ascendentes que desonre moralmente os princípios
familiares de cuidado e proteção, em especial, aqueles que encontram-se mentalmente
debilitados necessitando de assistência.

Paulo Nader manifesta-se no sentido de que:

O descaso com o ascendente, em situação tão crítica, revela inexistência de


afeição, respeito e solidariedade. Seria contraditória se a Lei Civil não
autorizasse a deserdação. A norma se ajusta tanto ao sistema quanto aos
121
princípios de justiça substancial.
Desse modo, o desamparo diante dessas circunstâncias, reputa-se na ausência de
afetividade e solidariedade familiar, pois se esperar dos familiares um tratamento recíproco e
afetuoso, principalmente daqueles que comportam o convício afetivo inequívoco no núcleo
familiar.

3.4 O abandono afetivo como uma das causas de exclusão da sucessão

A partir de uma interpretação sistêmica, verifica-se a possibilidade de identificar o


abandono afetivo como uma causa de exclusão da sucessão por meio da deserdação prevista
no inciso IV do artigo 1.963 do Código Civil.

O desamparo presente na redação do dispositivo em questão, possui o mesmo


denominador comum do abandono afetivo, caracterizado pelo descaso e pelo desamparo
moral e material por parte do ascendente frente ao seu descendente, faltando, assim, com seu
dever parental.122 O que torna a hipótese desse desamparo ainda mais grave é a presença de
descendente em estado de debilidade mental ou acometido por enfermidade. Tal situação
revela a ausência de afeição, respeito e solidariedade, requisitos essenciais que compõe a
entidade familiar.

119
SPERIDIÃO, Lucimara Barreto; DE AGUIAR, Cláudia Fernanda. Sucessão testamentária: o abandono
afetivo como causa de deserdação. n. 4, 2013, p.41.Diponivel em: <
https://revistas.fibbauru.br/jurisfib/article/view/160/146>. Acesso em: 19 de mai. de 2022, p.55.
120
SOUSA, Fernanda Zica de. A exclusão da sucessão pelo abandono afetivo direto a partir da colisão de
princípios constitucionais. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)— Faculdade de Direito,
Universidade de Brasília, 2020, p.55.
121
Idem, 2016, p.452.
122
Idem, 2020, p.67.
48

Nesse sentido, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald ressaltam que:

A quarta e última hipótese específica de deserdação é o desamparo do


herdeiro necessário, que sofre alienação, deficiência mental ou grave
enfermidade. A ruptura da solidariedade familiar, exigida como núcleo
fundante das relações entre parentes, é a motivação dessa específica causa
deserdativa. Pune-se quem deu as costas, foi indiferente às necessidades
materiais de seu parente, demonstrando insensibilidade. […]123
É certo que o desamparo punível não é somente de índole material, mas
também de ordem imaterial, alcançando o herdeiro necessário que abandona
o parente enfermo em estabelecimentos sem qualquer visita ou preocupação
pessoal, sequer em datas comemorativas como aniversários, Natal etc. Trata-
se da violação do cuidado necessário que deve existir entre os membros de
uma família.
No entanto, em que pese seja reconhecido que o abandono afetivo é um pressuposto
passível de condenação pelo dispositivo, a maior parte da doutrina brasileira defende a
taxatividade do rol presente no artigo 1.963 do Diploma Civil, não cabendo interpretação
analógica ou extensiva em razão do caráter punitivo e restritivo de direitos.

Ressalta-se que o abandono afetivo mencionado no artigo supracitado deve ser


observado apenas em relação ao descendente ou ascendente desamparado em estado de
debilidade mental ou enfermidade.

O legislador não permitiu arbítrio ao testador quanto as hipóteses em que o herdeiro


revela-se ingrato, pois isso daria marguem para que o testador incluísse causas sem maior
gravidade ou penas supostos agravos a fim de afastar a sucessão de descendentes menos
querido.

Assim, as causas de deserdação são numerus clausus não havendo a possibilidade de


interpretação extensiva por se tratar de uma penalização civil de caráter excepcional. A
jurisprudência brasileira segue esse entendimento conforme o julgado a seguir:

EMENTA: Apelação cível. Ação de deserção. A deserção consiste na


privação da legítima por vontade do autor da herança, mediante disposição
testamentária, por algumas das causas taxativamente relacionadas nos artigos
1962 e 1963 do Código Civil. O artigo 1963 do Código Civil estabelece
como uma das causas que autorizam a deserção dos ascendentes pelos
descendentes o ―desamparo do filho ou neto com a deficiência mental ou
grave enfermidade‖ (IV). A deserdação tem caráter excepcional e apenas
prevalece quando devidamente comprovada a hipótese legal que a
ensejou, conforme rol taxativo previsto em lei (artigos 1962 e 1963 do
CC), o qual não admite interpretação extensiva. A autora não logrou
trazer aos autos elementos suficientes para demostrar que a falecida tenha
123
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Sucessões. 3. ed. Salvador:
JusPodivm, 2017.
49

sido acometida de doença grave e que os herdeiros deserdados tenham


efetivamente a deixado em situação de abandono e desamparo. Ainda que
pudesse existir falta de afetividade entre a falecida, filhos e netos, e isto de
fato lhe tenha causado sofrimento e tristeza, não é uma das hipóteses
previstas para a causa de deserdação, e não se permite interpretação
extensiva. Apelo desprovido.124 (grifo nosso)
A taxatividade evita a inclusão de situações esdrúxulas, devendo ser suscitada apenas
em casos excepcionais em observância as hipóteses elencadas nos artigos 1.962 e 1.963 do
Código Civil.

Ocorre que com as transformações e evoluções no núcleo familiar atravessaram o


novo conceito de família. Assim, o sentimento passou a ter ampla relevância, não
considerando, apenas, os meros laços de sangue para a concretização de uma entidade
familiar. A afetividade como princípio, formada pela solidariedade e dignidade da pessoa
humana, pode ser mencionada como força normativa, impondo dever e obrigação aos
membros da família, independentemente dos sentimentos que nutram a si.125

Com isso, percebe-se a importância de enquadrar esse princípio nas demais áreas do
direito, como é o caso do direito das sucessões. No entanto, a evolução do direito não caminha
na mesma proporção da sociedade visto que a atual legislação é taxativa ao estabelecer as
causas de exclusão da herança do herdeiro, vedando a aplicação da ausência da afetividade
como hipótese de excludente de herança.

3.5 O direito a herança diante da exclusão do sobrenome de um dos genitores frente ao


abandono

Feita todas as breves considerações acerca da temática, resta a análise dos efeitos
sucessórios a partir da exclusão do sobrenome de um dos genitores.

Inicialmente, verificou-se o conceito do nome civil assim como sua finalidade e, após,
entender o abandono afetivo, sua possibilidade de responsabilização e consequências para que
assim, culminasse possível perceber a possibilidade de exclusão do sobrenome em razão do
abandono afetivo.

124
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação Cível 0000954- 91.2010.8.26.0100-SP. Apelante:.
Apelado:. Relator: Des. Silvério da Silva, 30 de maio de 2019. Diário de Justiça 30/05/2019.
125
SPERIDIÃO, Lucimara Barreto; DE AGUIAR, Cláudia Fernanda. Sucessão testamentária: o abandono
afetivo como causa de deserdação. n. 4, 2013, p.41.Diponivel em: <
https://revistas.fibbauru.br/jurisfib/article/view/160/146>. Acesso em: 19 de mai. de 2022, p.63.
50

Contudo, este estudo comprometeu-se, também, em saber se com a exclusão do


sobrenome de um dos genitores, o filho abandonado teria direito a herança por não mais
possuir o sobrenome do seu genitor.

Reiterando alguns conceitos, o nome civil está atrelado ao direito a personalidade, ou


seja, é uma condição ou qualidade essencial à dignidade e tutela da pessoa humana. É um
elemento de individualização em razão da necessidade de identificar e diferenciar os
indivíduos no meio social, integra a sua personalidade e indica sua procedência familiar 126, ou
seja, a identificação da ascendência e origem.
O nome compreende o prenome e o sobrenome que, em regra, são imutáveis a fim de
assegurar sua definitividade. Eventuais alterações poderiam gerar confusão frente ao Estado e
a sociedade127. Contudo, há uma relativização no princípio da imutabilidade do nome,
emergindo hipóteses legais e excepcionais de alteração.

Dentre as hipóteses legais de alteração, destaca-se o abandono afetivo, fundamentada


no princípio da dignidade da pessoa humana e na afetividade familiar a fim de possibilitar
alteração do nome de família tendo em vista que o patronímico, identificador da origem
familiar, não seria viável ao indivíduo abandonado por um dos genitores permanecer com o
sobrenome deste, carregando um constrangimento ao recordar a dor sofrida.

Nesse viés, lecionam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosevald que:

relembrando que a compreensão do nome civil como aspecto integrante da


personalidade humana, projetando sua dignidade no seio social e familiar, é
preciso repisar a admissibilidade de modificação do nome em situações não
previstas, expressamente, em lei. Assim, reclama-se uma interpretação não
exaustiva das hipóteses modificativas do nome, permitindo a sua alteração
justificadamente para salvaguardar a dignidade da pessoa humana, de acordo
com o caso concreto, por deliberação do juiz [...] Frise-se, nessa linha de
ideias, que razões de ordem psicológica (íntima) e de ordem social devem
confluir para averiguar, na situação concreta, se a alteração é necessária para
assegurar a dignidade humana128

126
ARAÚJO, Stéphanie Almeida. Aspectos e natureza jurídica do nome civil. Conteúdo Júridico. Brasília-DF.
jul. 2017. Disponível em: <https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/50481/aspectos-e-naturezajuridica-
do-nome-civil>. Acesso em: 16.mar.2022.
127
GAVIÃO, Fausto Carpegeani de Moura. Do Princípio da Imutabilidade do Nome. Jus Brasil. maio.
2019.p.25.
128
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito civil: teoria geral. 9. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011.
51

É importante destacar que a exclusão do sobrenome materno ou paterno trata-se de


129
uma questão meramente registral do nome do indivíduo, mantendo o estado de filiação
paterno/materno que subsiste diante da constatação do nome dos genitores na certidão do
termo do nascimento firmado no registro civil, conforme dispõe o artigo 1603 do Código
Civil. 130

Para melhor compreensão acerca do estado de filiação, Emmanuel Levenhagen


Pelegrini e Renan Levenhagen Pelegrini explicam que:

A filiação e a paternidade/maternidade são estados jurídicos. Os filhos são


titulares do estado de filiação, do mesmo modo que os pais e as mães são
titulares dos estados de paternidade e maternidade em relação a seus filhos.
Em razão desta reciprocidade entre os estados de filiação e
paternidade/maternidade, pode-se falar em um estado jurídico único, a
englobar ambos: estado de filiação paternidade/maternidade. A constituição
de um estado de filiação acarreta, inexoravelmente, a constituição de um
estado de paternidade/maternidade131

Mesmo com a exclusão do sobrenome de um dos genitores, é possível verificar que


não há uma ruptura no estado de filiação que revela-se presente no registro civil do indivíduo,
porque o status jurídico de pai decorre do reconhecimento dessa condição no respectivo termo
de nascimento levado a registro132. Assim, presente o estado de filiação materno/paterno o
filho permanece com todos os deveres e direitos inerentes a família, inclusive o direito à
herança do pai ou da mãe.

Expõe o Juiz Dr. Wlademir Paes de Lira que:

a exclusão do sobrenome de um dos genitores em razão do abandono


afetivo não acarreta consequências sucessórias, tendo em vista que a
exclusão do sobrenome trata-se de uma questão meramente registral no
nome do indivíduo, não repercute no âmbito sucessório, exceto se, tal
hipótese fosse prevista em lei como uma das causas de exclusão da sucessão,

129
LIRA, Wlademir Paes de. Direito de herança: a exclusão do sobrenome do (a) genitor (a) tem efeitos
sucessórios? Maceió. 02 de set. 2020. Instagram. Constitucional sem medo. Disponível em:
<https://www.instagram.com/tv/CEp1ARHJDO2/?igshid=YmMyMTA2M2Y=>. Acesso em: 17 de mai. 2022.
130
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 05 abr. 2022.
131
PELEGRINE; Emmanuel Levenhagen; PELEGRINE; Renan Levenhagen. Consequências da destituição do
poder familiar sobre a obrigação alimentar e o direito sucessório. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação), Faculdade de Direito, Universidade do Sul de Santa Catarina, 2017, p. 47.
132
MADALENO, Rolf. Filiação sucessória. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões. Porto
Alegre: Magister/IBDFAM, n. 01, p. 25-41, 2008.
52

o que de fato não ocorre, pois os artigos que tratam da deserdação e da


indignidade possuem um rol taxativo.133
Ressalta-se, como já abordado anteriormente, que os institutos da deserdação e
indignidade capazes de excluir um herdeiro da sua quota parte da herança são hipóteses
taxativas, a lei não admite uma interpretação sistêmica e analógica a fim de ampliar esse rol,
pois trata-se de uma punição civil.

O abandono afetivo previsto nos incisos IV dos artigos 1962 e 1.963, que remetem a
indignidade e deserdação, decorrem do desamparo material e moral daqueles que se
encontram em grave enfermidade ou alienação mental. Não há a simples hipótese de
abandono afetivo ou a exclusão do sobrenome do genitor.

Acerca disso, dispõe Cardozo:

Malgrado o Direito de Família ter estabelecido o afeto como a sua


característica principal, equiparando a união estável ao casamento e
reconhecendo a união homoafetiva, esse princípio não vem sendo aplicado
no âmbito do Direito Sucessório. Como mencionado no capítulo anterior, as
causas de deserdação são taxativas e os únicos dispositivos legais (art. 1.962,
IV c/c art. 1.963, IV ambos do CC/02) que tratam do abandono afetivo como
causa de deserdação se restringem a apenas um único momento da vida do
autor da herança, qual seja, o desamparo nos casos de doença mental ou
grave enfermidade134
O abandono afetivo como causa de exclusão da sucessão restringe-se apenas diante da
constatação que o autor da herança sofre de doença mental ou grave enfermidade. Não há que
se falar em exclusão do sobrenome por abandono como causa da perda do direito de herdar. A
legislação foi taxativa nas hipóteses, sem a possibilidade de uma interpretação capaz de
estender esse rol.

Desse modo, verifica-se que mesmo com a exclusão do sobrenome paterno no registro
civil do filho abandonado, há a manutenção do estado de filiação tendo em vista que a
exclusão delimita-se a uma situação meramente registral que não incidirá em consequências
no âmbito sucessório em razão da permanência dos deveres e direitos recíprocos da filiação.
Além disso, a exclusão do sobrenome de um dos genitores não está presente nas hipóteses de
exclusão da sucessão, mantendo os efeitos sucessórios e garantindo o direito a herdar.

133
LIRA, Wlademir Paes de. Direito de herança: a exclusão do sobrenome do (a) genitor (a) tem efeitos
sucessórios? Maceió. 02 de set. 2020. Instagram. Constitucional sem medo. Disponível em:
<https://www.instagram.com/tv/CEp1ARHJDO2/?igshid=YmMyMTA2M2Y=>. Acesso em: 17 de mai. 2022.
134
CARDOZO, Alice Teodosio dos Santos. O abandono afetivo como causa de exclusão do herdeiro
necessário na sucessão. 2018. Disponível em:
<https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/6748/2/ATSCardozo.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2020.
53

CONCLUSÃO

O princípio da dignidade da pessoa humana, sustentáculo do Estado Democrático de


Direito, culminou exaltado no ordenamento jurídico brasileiro como o um macroprincípio
constitucional do qual derivam todos os direitos e garantias fundamentais inato à condição
humana que se efetiva a partir da plena existência humana.
Assim, por intermédio da humanização e repersonalização do Direito, verificou-se
uma ampla preocupação com a pessoa, entendendo-se, desde então, que a pessoa deve
revelar-se como o núcleo do ordenamento jurídico.
Nesse viés, nota-se o reconhecimento do direito ao nome como um direito
fundamental em meio ao rol de direitos advindos do princípio da dignidade da pessoa humana
que reflete nos direitos a personalidade, considerando o nome um direito inerente ao
indivíduo dotado de personalidade jurídica. Logo, a dignidade humana é a razão de ser dos
direitos a personalidade.

Desse modo, o direito ao nome não significa apenas um mero instrumento de


individualização do sujeito em meio a sociedade, mas sim um direito intrínseco a condição
humana, indispensável para a manifestação da personalidade.

É cristalina a necessidade de tutela do direito ao nome frente ao ordenamento jurídico,


em razão da sua natureza jurídica de direito a personalidade, englobando-se como um direito
fundamental reconhecido pela Constituição Federal de 1988 a fim de tutelar a identificação e
individualização do ser humano.

Alcançou-se, também, acerca dos elementos que compõe o nome civil: o prenome e o
sobrenome. O prenome caracteriza-se pelo primeiro nome, aquele que identifica a pessoa em
meio a sociedade e perante a si. No que concerne ao sobrenome, denominado também de
patronímico ou nome de família, este é o identificador da origem do indivíduo, sua
procedência familiar. Ressalta-se que ambos os elementos são tutelados pela legislação
brasileira.

Logo, a fim de evitar que a pessoa natural constantemente altere seu nome, seja por
mero capricho ou até mesmo por má-fé, foi estabelecida a definitividade ou imutabilidade do
nome que, em regra, não seria passível de alteração a fim de manter a segurança jurídica
perante o Estado, pois eventuais mudanças ensejariam em uma confusão social e estatal.
Ocorre que, percebeu-se uma relativização no princípio da imutabilidade do nome, emergindo
hipóteses legais de alteração, com base na Lei de Registros Públicos.
54

Contudo, algumas hipóteses de alteração do nome não estão expressamente em lei,


mas tuteladas pelo princípio da dignidade da pessoa humana, como é o caso do abandono
afetivo.

Nessa seara, com a constatação das transformações sociais que refletiram no instituto
família, verificou-se um novo conceito. Nota-se a família como a consagração dos laços
afetivos e biológicos, mantidos por intermédio do convívio e da solidariedade recíproca. A
ruptura do dever de cuidado e proteção, ou seja, a negligência dos pais frente a assistência
material e moral, acarreta uma violação aos princípios basilares do Direito de Família, como o
princípio da afetividade e da convivência familiar, caracterizando o abandono afetivo.

Logo, além da responsabilização civil, de caráter monetário com o intuito de não


permanecer impune os maus pais em razão das consequências advindas da ausência materna
ou paterna na assistência material moral da prole, surgiu em meio aos tribunais brasileiros
mais uma alternativa de sanar a dor e sofrimento causada pelo abandono: a possibilidade
jurídica de exclusão do sobrenome paterno ou materno decorrente do abandono afetivo.

Perlustrando os julgados apresentados no presente estudo, verificou-se que resta


possível a pretensão de excluir do registro civil o nome de um dos genitores, com fundamento
no princípio da dignidade da pessoa humana e na premissa de que o nome deve revelar-se
como um sinal de orgulho e apreço para quem carrega, não devendo existir um desconforto e
memórias dolorosas.

Desse modo, com a exclusão do sobrenome de um dos genitores foi possível perceber
que trata-se de uma questão meramente registral, mantendo o estado de filiação
materno/paterno, diante da constatação do reconhecimento filial no registro civil. Logo, não
remete em efeitos sucessórios no sentido de que com a exclusão do sobrenome afetara o
direito a herança. Além do mais, a exclusão do sobrenome não enquadra-se nas hipóteses de
exclusão da sucessão, a lei e taxativa quanto a punição civil, não cabendo interpretação
sistêmica.

Ante o exposto, constatou-se a possibilidade de alteração do sobrenome em razão da


relativização do princípio da imutabilidade do nome. Ocorre que a causa de exclusão do
patronímico devido a comprovação do abandono afetivo não se encontra elencada nas
hipóteses de alteração presentes na legislação. Essa alteração somente culminou possível com
fundamento no princípio da dignidade humana. Ademais, tal alteração não incide em
consequências sucessórias, permanecendo o direito à herança.
55

REFERÊNCIAS

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