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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO

BEATRIZ MACHADO BEZERRA

A DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO DE COMBATE À CORRUPÇÃO


POLÍTICA

FORTALEZA
2015
BEATRIZ MACHADO BEZERRA

A DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO DE COMBATE À CORRUPÇÃO


POLÍTICA

Monografia apresentada à Coordenação do


Curso de Graduação em Direito da
Universidade Federal do Ceará, como requisito
parcial à obtenção do grau de bacharel em
Direito. Áreas de concentração: Direito Penal e
Direito Processual Penal

Orientador: Professor Mestre William Paiva


Marques Júnior

FORTALEZA
2015
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca da Faculdade de Direito

B574d Bezerra, Beatriz Machado.


A delação premiada como mecanismo de combate à corrupção política / Beatriz Machado
Bezerra. – 2015.
91 f.: 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de


Direito, Fortaleza, 2015.
Orientação: Prof. Me. William Paiva Marques Júnior.

1. Delação premiada (Processo penal). 2. Corrupção na política. I. Título.

CDD 343.9
BEATRIZ MACHADO BEZERRA

A DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO DE COMBATE À CORRUPÇÃO


POLÍTICA

Monografia apresentada à Coordenação do


Curso de Graduação em Direito da
Universidade Federal do Ceará, como requisito
parcial à obtenção do grau de bacharel em
Direito. Áreas de concentração: Direito Penal e
Direito Processual Penal

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Prof. Me. William Paiva Marques Júnior (Orientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________
Profª. Ma. Fernanda Cláudia Araújo da Silva
Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________
Profª. Ma. Camilla Araújo Colares de Freitas
Universidade Federal do Ceará (UFC)
Aos meus pais, Gilca e Rivardo, pela
compreensão e amor diários.
À minha irmã, pelo exemplo de dedicação e
pelo apoio incondicional.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, à Deus, que me guiou e iluminou nessa longa


caminhada, pois sem ele nada seria possível.
Ao professor e orientador William Paiva Marques Júnior pela paciência,
disponibilidade e apoio despendidos na pesquisa; aos demais mestres da casa, pelos
conhecimentos transmitidos; e à Diretoria do curso de graduação da Universidade Federal do
Ceará, pelo apoio institucional oferecido.
Às professoras Fernanda Cláudia Araújo da Silva e Camilla Araújo Colares de
Freitas pelo tempo dedicado à esta monografia e por aceitarem, sem hesitar, o convite para
compor a minha banca.
À toda a minha família, em especial aos meus pais, Gilca Maria Machado Bezerra
e Rivardo César Chagas Bezerra, por além de me proporcionar o dom da vida, me mostrar que
os caminhos obscuros devem ser trilhados com coragem e honestidade; e à minha irmã,
Fernanda Machado Bezerra, por me inspirar, incentivar e apoiar em todos os momentos. À
eles dedico todas as minhas vitórias e conquistas.
Aos amigos de colégio, que se fazem presentes até hoje, por toda a paciência e por
todos os conselhos nesse momento tortuoso.
Finalmente, aos inseparáveis amigos de faculdade, Alysson Bezerra Miranda, Inês
Mota Randal Pompeu, Jordana Costa Marinho, Florence Helita Barroso Silva e Renan Melo
Aragão Timbó Martins Mendes Furtado, por se fazerem presentes em minha vida desde o
início do curso para, juntos, trilharmos um dos caminhos mais importantes de nossas vidas.
“Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a
maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o qual a
esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a Ação
Penal 470 e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela
esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo.
Mas o crime não vencerá a Justiça. Criminosos não passarão sobre as
novas esperanças do povo brasileiro, porque a decepção não pode
estancar a vontade de acertar no espaço público.”

Carmen Lúcia, Ministra do Supremo Tribunal Federal.


RESUMO

O fenômeno da corrupção está enraizado na sociedade brasileira, ocorrendo durante toda a


história, mas vem recebendo especial atenção, inclusive de organizações internacionais, nos
últimos anos. Diante dos grandiosos esquemas de desvio de recursos públicos, como o
“Mensalão” e o “Lava Jato”, os países estão convergindo esforços e adotando diversas
medidas para combater de maneira eficaz esta prática que tanto prejudica o Estado
Democrático de Direito, a exemplo do instituto processual penal conhecido como delação
premiada. Como meio de obtenção de prova que é, possibilita o acesso às informações
privilegiadas oferecidas pelos próprios criminosos, auxiliando as investigações e
proporcionando o desmantelamento das organizações criminosas. Sendo assim, o presente
trabalho tem como objetivo analisar a importância da delação premiada para efeitos de
combate à corrupção política, examinando seus aspectos processuais e os diversos casos de
corrupção no Brasil, principalmente aqueles em que o referido instituto foi utilizado.

Palavras-chave: Delação premiada. Corrupção. Mensalão. Lava Jato.


ABSTRACT

The corruption phenomenon is rooted in the Brazilian society, occurring during its entire
history, but it has been receiving special attention, including international organizations, in the
last years. In face of grand public resources deviation schemes, like the "Mensalão" and
"Lava Jato", countries are converging efforts and adopting several measures to combat
effectively this practice that undermines the democratic state of law, for example to
procedural institute known as plea bargaining, a criminal awarded tipoff. As a way of
gathering evidence that it is, it enables access to privileged information offered by the
criminals themselves, helping investigations and providing the dismantling of criminal
organizations. Therefore, the present work aims to analyze the importance of Plea Bargaining
to fight political corruption, examining your procedural aspects and the several corruption
cases in Brazil, especially those that the institute was used.

Keywords: Plea bargaining. Corruption. Mensalão. Lava Jato


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12
2 DELAÇÃO PREMIADA: DELIMITAÇÃO CONCEITUAL, NATUREZA
JURÍDICA E ASPECTOS PROCESSUAIS .................................................... 14
2.1 Delimitação conceitual e natureza jurídica …................................................. 15
2.2 Aspectos processuais …..................................................................................... 17
2.2.1 Lei nº 8.072/90 – Lei dos Crimes Hediondos …................................................ 18
2.2.2 Lei nº 9.034/95 – Lei de Combate ao Crime Organizado …............................. 19
2.2.3 Lei nº 9.080/95 .................................................................................................... 20
2.2.4 Lei nº 9.613/98 – Lei de Lavagem de Dinheiro …............................................. 20
2.2.5 Lei nº 9.807/99 – Lei de Proteção a Vítimas e a Testemunhas .......................... 22
2.2.6 Lei nº 11.343/06 – Lei de Drogas ….................................................................... 23
2.2.7 Lei nº 12.850/13 – Organização Criminosa ….................................................... 25
2.2.7.1 Características Gerais da Colaboração Premiada .............................................. 26
2.2.7.2 Procedimento ….................................................................................................... 30
3 A QUESTÃO DO COMBATE À CORRUPÇÃO POLÍTICA NO BRASIL 34
3.1 Delimitação conceitual de corrupção ................................................................ 35
3.2 História da corrupção no Brasil ….................................................................... 36
3.2.1 A corrupção durante o período colonial e o monárquico ….............................. 37
3.2.2 República Velha ................................................................................................... 38
3.2.3 Ditadura Militar …............................................................................................... 39
3.2.4 Nova República …................................................................................................ 41
3.3 Os mecanismos de combate à corrupção no Brasil …..................................... 44
3.3.1 Legislação Anticorrupção …............................................................................... 46
3.3.2 Criação e fortalecimento de órgãos investigativos e fiscalizadores …............... 48
3.3.2.1 Controladoria Geral da União …......................................................................... 49
3.3.2.2 Tribunal de Contas da União …........................................................................... 50
3.3.2.3 Departamento da Polícia Federal ….................................................................... 51
3.3.2.4 Conselho de Controle das Atividades Financeiras ….......................................... 52
3.3.2.5 Ministério Público …............................................................................................ 53
3.3.3 Convenções Internacionais …............................................................................. 55
4 A DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO DE COMBATE À
59
CORRUPÇÃO POLÍTICA …...........................................................................
4.1 A importância da delação premiada …............................................................. 59
4.2 Casos de aplicação do instituto …...................................................................... 64
4.2.1 Mensalão ….......................................................................................................... 65
4.2.1.1 A origem e o funcionamento do Mensalão ........................................................... 65
4.2.1.2 A delação premiada no Mensalão ........................................................................ 68
4.2.2 Petrolão (Lava Jato) ............................................................................................ 70
4.2.2.1 A origem e o funcionamento da Lava Jato ........................................................... 71
4.2.2.2 A delação premiada na Lava Jato ........................................................................ 73
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 80
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 85
12

1. INTRODUÇÃO

A corrupção política, principalmente no Brasil, não é uma prática atual, vem


ocorrendo durante toda a história da humanidade, sendo intensificada e tomando proporções
inexplicáveis.
No decorrer dos últimos anos foram descobertos grandes esquemas de corrupção
no País envolvendo os diversos setores da Administração Pública, bem como os Três Poderes
(Legislativo, Executivo e Judiciário), do servidor ao Magistrado, do Vereador ao Presidente
da República.
Verdadeiros escândalos que movem bilhões de reais do dinheiro público e
privado, que tornaram o cenário político brasileiro caótico e vergonhoso, como o caso
“Mensalão”, o “Petrolão”, atualmente investigado pela “Operação Lava Jato” e considerado
um dos maiores casos de corrupção da história, dentre diversos outros.
O que parece ser uma inovação diante desse cenário não são os casos de
corrupção em si, mas a efetiva punição de corruptos e corruptores que se utilizam do poder
inerente às suas posições para obter vantagens pessoais e cometer os chamados “crimes de
colarinho branco”.
Para que haja o desmantelamento desses esquemas de corrupção, com a
consequente punição dos envolvidos, os órgãos federais, como a Controladoria Geral da
União, o Ministério Público e o Departamento da Polícia Federal, estão estreitando laços e se
valendo do instituto da delação premiada, que vem se mostrando um importante instituto
processual penal para a busca da verdade real dos fatos e para o combate dessa forma de
criminalidade organizada no Brasil.
A delação premiada consiste, basicamente, no oferecimento de vantagens
(redução de pena, substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direito,
não oferecimento de denúncia ou, até mesmo, o perdão judicial), em troca da confissão de
participação no crime e de informações comprovadas e eficazes (identificação dos comparsas,
esclarecimentos sobre o fato delituoso, dentre outras) que permitam a resolução da questão.
Apesar de sofrer severas críticas, o referido instituto vem contribuindo de forma
inquestionável para o desmantelamento das organizações criminosas, tornando as
investigações mais ágeis e eficazes e possibilitando acesso à informações que talvez jamais
fossem descobertas pelo Poder Público.
Os grandes criminosos estão lidando, pela primeira vez, com a possibilidade da
real punição. O sistema judiciário vem saindo da inércia, mudanças legislativas estão sendo
13

propostas para sanar sua ineficácia e a consequente impunidade que alastra o país, os
criminosos estão quebrando a lei do silêncio que reinava entre os membros das organizações,
e o país passa a ser palco de uma verdadeira luta contra à corrupção.
O presente estudo buscará examinar de que maneira o instituto pode influenciar
no real combate à corrupção através de uma análise descritiva, que será desenvolvida através
de pesquisa bibliográfica, principalmente por meio de livros, revistas, publicações
especializadas, artigos científicos e dados oficiais publicados na internet, abordando
diferentes pontos de vista sobre variados aspectos relacionados ao tema.
Essa análise se mostra importante porque o instituto está sendo largamente
utilizado pelos órgãos públicos, levantando diversas dúvidas e controvérsias a respeito de sua
constitucionalidade e dos custos e benefícios trazidos ao réu e à sociedade.
Assim, no primeiro capítulo, serão analisados os diversos aspectos desse instituto
processual, delimitando seu conceito e sua natureza jurídica, buscando demonstrar diversos
posicionamentos doutrinários acerca de sua validade e necessidade, bem como prosseguindo
com uma análise dos vários dispositivos normativos que o preveem, dando enfoque à Lei nº
12.850/2013, a qual dispõe mais detalhadamente a respeito do instituto e de seus aspectos
processuais.
Nessa conjuntura, abordar-se-á, no segundo capítulo, a problemática da corrupção
política no Brasil, que ocorre desde os primórdios, dando-se exemplos de casos reais,
utilizando-se de dados oficiais publicados na internet, revistas, publicações especializadas,
pareceres jurídicos, dentre outras fontes, e demonstrando sua intensificação, bem como o
consequente aperfeiçoamento dos procedimentos de combate à esta prática, com a criação de
leis, órgãos, institutos processuais e convenções internacionais como medidas anticorrupção.
Por fim, no terceiro capítulo, será destacado de que forma a delação premiada vem
influenciando no combate a um dos maiores males da sociedade, em como os próprios
criminosos podem cooperar com o Estado para garantir a ordem pública e a aplicação da lei
penal, voltando-se para uma análise dos principais esquemas de corrupção que foram
desmantelados por meio de sua aplicação.
Para atingir os objetivos destacados, será realizada uma pesquisa exploratória
bibliográfica, legislativa e jurisprudencial, de modo a definir o posicionamento do Supremo
Tribunal Federal acerca da temática aqui proposta, vez que há bastantes decisões recentes
versando sobre delações premiadas em casos de corrupção política.
14

2 DELAÇÃO PREMIADA: DELIMITAÇÃO CONCEITUAL, NATUREZA JURÍDICA


E ASPECTOS PROCESSUAIS

A delação premiada vem se mostrando um importante instituto processual penal


para a busca da verdade real dos fatos e para o combate das diversas formas da criminalidade
organizada no Brasil, dentre elas: a corrupção política. Os grandes criminosos estão lidando,
pela primeira vez, com a possibilidade da real punição. O sistema judiciário, com sua inércia e
consequente ineficácia, e o administrativo, eivado de corruptores e corruptos, ajudavam na
prática do crime, mas o que fazia com que a prática criminosa se mantivesse era o silêncio,
que vem por terra com a aplicação da delação.
Há quem considere a utilização de tal instituto uma atividade antiética, que causa
repulsa moral por incentivar a traição entre os “companheiros de crime”. No entanto, o que se
visa, principalmente, é a manutenção da ordem e da segurança públicas em meio à crescente e
descontrolada criminalidade do país. Além disso, quando em conflito o valor moral “ética” e a
criminalidade, acredita-se que a “ausência de ética” seja algo de menor potencial ofensivo que
a prática de um delito que comporte a aplicação da delação premiada. Dessa forma, mesmo
que moralmente criticável, a delação traz indiscutíveis benefícios à aplicação da justiça
(MENDRONI, 2010, p. 138).
No mesmo sentido Oliveira (2014, p. 839):

... nada disso vai de encontro a qualquer conceito de ética. A menos, é claro, que se
passe à ideia de que a ética há de ser determinada pelo grau de lealdade entre
partícipes de determinado empreendimento. Mas, aí, afastado de qualquer
vinculação à moralidade, referido conceito não servirá para mais nada.

Ademais, Brito, Fabretti e Lima (2014, p. 204), sustentam que a delação pode
ocorrer pelos mais diversos motivos, inclusive de alto valor moral, como o arrependimento do
réu, o interesse em reparar os malefícios causados ou o reconhecimento da necessidade de
obediência às leis.
Há críticas severas, também, quanto à possibilidade de lesão ao princípio da
proporcionalidade da aplicação da pena, pois acusados que cometeram os mesmos crimes, nas
mesmas condições teriam penas diferentes. Porém, segundo Nucci (2008, p. 434), não há
violação de tal princípio posto que a proporcionalidade tem como base a culpabilidade do
acusado e este, ao delatar seus companheiros e confessar o crime, revela um grau de
culpabilidade menor que a dos demais, recebendo, portanto, menor pena.
15

2.1 Delimitação conceitual e natureza jurídica

O termo “delação” vem do latim delatione e significa "denunciar, revelar (crime


ou delito); acusar como autor de crime ou delito; deixar perceber; denunciar como culpado;
denunciar-se como culpado; acusar-se." (FERREIRA, 2005, p. 290). Segundo Nucci (2015,
A), ocorre a delação quando o corréu, ao ser interrogado, além de admitir a prática do fato
delituoso do qual está sendo acusado, atribui a outra pessoa algum tipo de conduta criminosa,
referente à mesma imputação.
Já a expressão “premiada” diz respeito a “existência de uma recompensa, de uma
remuneração, uma vez que não se pode, por ser forma abjeta, falar-se em distinção ou
galardão.” (ARANHA, 2008, p. 139).
Portanto, delação premiada consiste, basicamente, na oferta de benefícios (que
podem variar de redução da pena à extinção da punibilidade, a depender do caso) ao acusado
para que sejam prestadas informações capazes de desmantelar toda a organização criminosa,
com esclarecimentos do fato delituoso e de possíveis participantes, facilitando, assim, a
investigação criminal e contribuindo para a eficácia e aplicação da lei penal.
Ou, nas palavras de Nucci (2008, p. 433):

... delação premiada, isto é, a denúncia que tem como objeto narrar às autoridades o
cometimento do delito e, quando existente, os coautores e partícipes, com ou sem
resultado concreto, conforme o caso, recebendo, em troca, do Estado, um benefício
qualquer, consistente em diminuição de pena ou, até mesmo, em perdão judicial.

Já o conceito da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), aplicado no


julgamento do HC 90.962 (São Paulo, Relator: Ministro Haroldo Rodrigues – Desembargador
Convocado do TJ/CE, Data de Julgamento: 19/05/2011), é: “O instituto da delação premiada
consiste em ato do acusado que, admitindo a participação no delito, fornece às autoridades
informações eficazes, capazes de contribuir para a resolução do crime.”
Cabe ressaltar que a delação premiada é considerada, por alguns, uma espécie da
colaboração, que é tida como gênero. No entanto, as expressões são utilizadas, na maioria das
vezes, como sinônimos.
Muito se discute a respeito de sua natureza jurídica. Não pode ser considerada
confissão (stricto sensu) uma vez que, segundo Bonfim (2015, p. 463), esta consiste em um
“reconhecimento, pelo indiciado ou acusado, da imputação que lhe é feita”, ou seja, é uma
16

declaração do acusado incriminando a si mesmo, somente, e não a outrem, diferentemente da


delação.
Também não se trata de testemunho, pois testemunha é pessoa alheia aos fatos e
aos sujeitos processuais que presta depoimento sobre os fatos dos quais tomou conhecimento,
comprometendo-se a falar apenas a verdade e a ser imparcial, sob pena de responder por falso
testemunho, o que não ocorre com o delator, o qual é parte, ou seja, diretamente interessado
na solução da demanda, e, mesmo que esteja sob o compromisso legal de dizer apenas a
verdade (exigência estabelecida pela nova Lei de Organizações Criminosas), não poderá ser
processado por falso testemunho, respondendo, no entanto, por eventual denunciação
caluniosa (DEMERCIAN, MALULY, 2014).
Dessa forma, doutrinadores, como Aranha (2008, p. 132), consideram a delação
premiada como meio de prova, o que ocorrerá somente quando, além de atribuir a um terceiro
a participação como seu comparsa, o acusado e réu também confessar, pois, se o mesmo
escusar-se da autoria, não haverá valor probatório algum. Trata-se, contudo, de uma prova
sem previsão legal e anômala, pois viola o princípio do contraditório (um dos pilares da
persecução penal) ao ocorrer no interrogatório ou na oitiva policial, fases em que não há
influência das partes.
Já Mendroni (2015, p. 131) acredita que sua natureza jurídica decorre do Princípio
do Consenso (variante do Princípio da Legalidade) o qual permite que as partes entrem em um
consenso sobre o destino do acusado, que concordará, por qualquer motivo, com a imputação.
Segundo ele, a delação não se configura como um acordo de vontade entre as partes, pois
envolve a decisão de uma terceira pessoa que não participa do “acordo”, o Juiz, que decidirá
sobre a concessão ou não dos benefícios em troca das informações.
Cabendo, no que diz respeito ao Princípio do Consenso mencionado, a crítica feita
por Lênio Streck em seu artigo “Senso Incomum: O pan-principiologismo e o sorriso do
lagarto”, onde afirma que os juristas e doutrinadores estão sendo responsáveis pela criação de
vários princípios desprovidos de normatividade, que são propagados e utilizados para
fomentar o Direito quando, na verdade, são inexistentes.
Sendo assim, não se pode negar a natureza da delação como meio de prova,
principalmente porque há a confissão do delator, mas, segundo Enrico Altavilla (apud
ARANHA, 2008, p. 133), esta somente terá força incriminatória quando estiver totalmente de
acordo com o núcleo central acusatório, bem como precisa estar inserida em uma narração
completa e pormenorizada a ponto de demonstrar a veracidade do que se fala.
17

Já outros doutrinadores, como Mittermayer (apud ARANHA, 2008, p.134),


acreditam que a delação só poderá ter valor probatório se houver outras provas, outros
elementos de convicção que apoiem o que fora dito; ela, por si só, não pode servir de base
para uma sentença condenatória. Coadunando com este entendimento, Aranha (2008, p. 135),
ao afirmar que “a chamada do corréu, como elemento único de prova acusatória, jamais
poderia servir de base a uma condenação, simplesmente porque violaria o princípio
constitucional do contraditório.”
Cabe mencionar, portanto, que o Supremo Tribunal Federal não tem admitido a
condenação baseada exclusivamente nas informações prestadas pelo colaborador. Nesse
sentido:

“Tráfico de entorpecentes: condenação fundada unicamente em chamada de corréu,


o que a jurisprudência do STF não admite: precedentes. Ademais, ao fato de o
paciente ser a pessoa indicada pelos corréus – conforme acertado nas instâncias de
mérito –, per se, não permite extrair tenha ele praticado conduta descrita na
denúncia. Manifesto constrangimento ilegal: concessão de habeas corpus de ofício”
(STF, 1ª T., RHC 84.845/RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 12-4-2005, DJ, 6 maio
2005, p. 26). No mesmo sentido: STF, 1ª T., HC 94.034/SP, rel. Min. Cármen Lúcia,
j. 10-6-2008.

Como se vê, há grande divergência doutrinária e jurisprudencial a respeito do


valor da delação como força condenatória. Mas, por haver grande possibilidade do acusado,
que se vê sem saída e desesperado pelos benefícios processuais oferecidos ou simplesmente
para dificultar a investigação criminal, denunciar caluniosamente pessoas que não se
envolveram com a atividade criminosa investigada, tem-se que o mais sensato e garantidor da
segurança jurídica seria admitir a delação como prova incriminatória quando houver outros
elementos que baseiem o convencimento do julgador, sendo tida, portanto, como meio de
obtenção de prova.

2.2 Aspectos processuais

Apesar de estar em grande evidência atualmente, o instituto da delação premiada


não é recente e está previsto em diversas leis, criando um emaranhado de normas que regulam
o instituto e que, mesmo assim, ainda deixam lacunas e diversas dúvidas. Até recentemente o
instituto não era muito utilizado por ausência de uma legislação que regulasse o procedimento
de aplicação da delação.
18

2.2.1 Lei nº 8.072/90 – Lei dos Crimes Hediondos

A primeira delas foi a Lei de Crimes Hediondos – Lei nº 8.072/90 que trouxe duas
hipóteses de delação. Em meio à intensa onda de sequestros vivenciados pela sociedade à
época, tal lei trouxe a primeira hipótese em seu artigo 7º que deu nova redação ao §4º do
artigo 159 do Código Penal, o qual traz a possibilidade de redução de pena de um a dois
terços para o coautor que denunciar o crime de extorsão mediante sequestro cometido em
quadrilha ou bando, facilitando a libertação do sequestrado. Verifica-se, portanto, que o
objetivo principal não é a obtenção de provas contra os criminosos, mas, sim, salvar a vítima
sequestrada.
Em 1996, a Lei nº 9.269 alterou esse parágrafo novamente, sendo a redação atual:
“Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando
a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços”. Tal alteração tornou
o dispositivo mais abrangente, pois “na antiga redação era utilizada a palavra “coautor” e
exigia que o crime fosse cometido por ‘quadrilha ou bando’; agora é suficiente que o crime de
‘extorsão mediante sequestro’ seja praticado em concurso de pessoas, beneficiando o coautor
e partícipe.” (MONTEIRO, 2010, p.220). Alguns doutrinadores, como Bitencourt (2013, p.
349), acreditam que a delação premiada começou a se proliferar após essa modificação de
1996.
A segunda hipótese encontra-se no parágrafo único de seu artigo 8º, o qual dispõe
que haverá a redução de um a dois terços de pena para o participante e o associado de bando
ou quadrilha que denunciá-la, possibilitando seu desmantelamento.
Vê-se, novamente, a exigência de que o crime seja praticado por “quadrilha ou
bando”. Embora a expressão tenha sido alterada para “associação criminosa” pela Lei nº
12.850/13, o que se pretendeu foi aplicá-lo aos casos do artigo 288 do Código Penal, e
continua a ser aplicado desta forma (MENDRONI, 2015, p. 170).
A utilização da expressão “participante e associado”, nos leva à uma distinção de
agentes. Para Monteiro (2010, p. 222), o associado seria aquele que, além do crime de
quadrilha, comete outro crime, respondendo e sendo beneficiado pela redução de pena em
ambos os crimes. Já o participante seria o terceiro que, de alguma forma, concorreu para a
prática do crime cometido pela quadrilha, respondendo e sendo beneficiado pela redução
apenas neste.
Percebe-se que nas duas hipóteses de delação trazidas na referida lei exige-se a
eventual eficácia da informação prestada, pois a primeira tem como requisito para aplicação
19

do instituto a facilitação na soltura do sequestrado, com a redução de pena variando de acordo


com a facilidade encontrada pela autoridade, e a segunda tem como requisito a possibilidade
de desmantelamento do bando ou quadrilha.
Segundo Mendroni (2015, p. 170), o legislador não se refere ao desmantelamento
do bando em si, mas à conduta criminosa ora investigada, em todos os seus aspectos, pois não
é possível assegurar o verdadeiro fim da prática de um bando, já que podem, a qualquer
momento, voltar a se reunir.

2.2.2 Lei nº 9.034/95 – Lei de Combate ao Crime Organizado

Atualmente revogada pela Lei nº 12.850/13, a Lei nº 9.034/95 trazia a delação


premiada como colaboração espontânea e a previa em seu artigo 6º: “Nos crimes praticados
por organização criminosa, a pena será reduzida de um a dois terços, quando a colaboração
espontânea do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e sua autoria”.
Vê-se que tal dispositivo estabelecia 3 requisitos para a efetiva concessão do
benefício. Exigia-se que a delação se referisse apenas aos crimes praticados por “organização
criminosa”, não abrangendo aqueles praticados por “associação criminosa” ou por “quadrilha
ou bando”. Os grupos referenciados se distinguiam, essencialmente, pela quantidade de
participantes e pelos crimes que se destinavam a praticar. Quadrilha ou bando era prevista no
artigo 288 do Código Penal, atualmente modificado, e composta por mais de 3 pessoas com o
fim de praticar uma série indeterminada de crimes; associação criminosa, por sua vez, prevista
em legislações extravagantes, se configurava com a união de 2 ou mais pessoas para a prática
de certos crimes, como o tráfico de drogas; já a organização criminosa não se encontrava
definida na referida lei, sendo conceituada apenas posteriormente no art. 2º da Convenção de
Palermo como um grupo organizado de 3 ou mais pessoas com o propósito de cometer uma
ou mais infrações graves objetivando a obtenção de benefício econômico ou outro benefício
material e na nova Lei de Organização Criminosa – Lei nº 12.850/13.
Nota-se, também, a necessidade de que as informações prestadas pelo delator não
se restringissem ao esclarecimento de infrações penais cometidas pela organização criminosa,
devia-se, também, possibilitar o descobrimento dos efetivos autores dos delitos investigados.
Além disso, a colaboração deveria ser espontânea, ou seja, manifestação de
vontade do próprio delator, sendo sua a ideia inicial, sem interferência de terceiros, o que
difere da voluntariedade, que consiste na ausência de coação, apenas (TÁVORA, ALENCAR,
2012, p. 435); e eficaz, trazendo fatos e autores ainda desconhecidos pelas autoridades.
20

2.2.3 Lei nº 9.080/95

A lei nº 9.080/95 foi editada, exclusivamente, para acrescentar o §2º no artigo 25


da Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro – Lei nº 7.492/86 e o parágrafo único ao artigo
16 da Lei de Crime contra a Ordem Tributária, Econômica e Relações de Consumo – Lei nº
8.137/90.
Ambos os parágrafos têm a mesma redação e dispõem que: “Nos crimes previstos
nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que através da
confissão espontânea revelar à autoridade policial toda a trama delituosa terá sua pena
reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços).”
Nota-se a exigência de que os crimes previstos pelas leis sejam cometidos em
quadrilha ou coautoria para que seja aplicada a delação. A utilização da expressão “ou” nos
leva a crer que há a previsão de duas situações distintas, com “coautoria” se referindo a
crimes simples, ou seja, não cometidos por quadrilha ou bando (MENDRONI, 2015, p. 170).
Além disso, Bitencourt (2013, p. 351) afirma que o dispositivo analisado não
exige, para a concessão do prêmio, a eficácia da contribuição, ou seja, não se requer resultado
nenhum (como a recuperação de bens, por exemplo), não se exigiu explicitamente que sejam
apontados os demais coautores ou partícipes, basta que toda a trama delituosa seja revelada
pelo delator com o elemento da espontaneidade.
Atualmente, há uma particularidade quanto aos crimes contra a ordem econômica.
Com a edição da Lei nº 12.529/11, em seu artigo 87, parágrafo único, a delação premiada,
aqui chamada de acordo de leniência, poderá resultar em um benefício maior que a redução de
pena, qual seja a extinção automática da punibilidade, desde que cumprido o acordo, o qual
consiste em uma colaboração efetiva, com as investigações e com o processo administrativo,
de pessoas físicas ou jurídicas autoras do crime contra a ordem econômica que resulte no
reconhecimento dos outros infratores e a obtenção de informações que comprovem o crime
investigado (art. 86 da Lei nº 12.529/11).

2.2.4 Lei nº 9.613/98 – Lei de Lavagem de Dinheiro

Aqui denominada de “colaboração espontânea”, atentando-se novamente para o


elemento da espontaneidade, e não voluntariedade, a delação veio prevista em seu artigo 1º,
§5º da seguinte forma:
21

Art. 1º, §5º: A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em
regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva
de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as
autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações
penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do
crime.

Como se nota, a lei em referência traz pontos ainda não discutidos nas previsões
anteriores, tratando de aspectos processuais, como o regime de cumprimento de pena, e
trazendo novos benefícios, bem como novos beneficiários da delação. Estabelece que, caso o
juiz não conceda o perdão judicial ou substitua a pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direitos, novas opções de prêmio extremamente brandas e atrativas ao delator, a
pena será reduzida de um a dois terços, devendo ser cumprida em regime aberto ou
semiaberto.
Traz, ainda, mais resultados possíveis dos esclarecimentos prestados, quais sejam:
a revelação do crime, a identificação dos autores, coautores ou partícipes ou a localização dos
bens, direitos ou valores objetos da lavagem, havendo qualquer um dos resultados já se fala
em eficácia da contribuição, aplicando-se, portanto, algum dos benefícios na medida do
merecimento do delator. No entanto, como afirma Mendroni (2015, p. 145), haverá grande
dificuldade em dissociar os efeitos “autoria” da “localização de bens, direitos, ou valores
objetos do crime”, haja vista os bens estarem sempre ligados à pessoas físicas e/ou jurídicas e
sua indicação levar, quase que inevitavelmente, ao seu proprietário.
Ademais, não se exige que o crime tenha sido praticado em coautoria, quadrilha
ou organização criminosa, podendo o autor único ser beneficiário da delação. (TÁVORA,
ALENCAR, 2012, p. 437).
Atualmente, após a edição da Lei nº 12.683/12, o referido parágrafo encontra-se
com a seguinte redação:

Art. 1º, §5º: A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em
regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-
la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe
colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que
conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e
partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

Na nova redação são utilizadas expressões, como “a pena poderá ser” ou “a


qualquer tempo”, que nos inferem a uma maior discricionariedade do juiz, que poderá
modular sua decisão e o momento em que se pronunciará a respeito do benefício concedido.
22

2.2.5 Lei nº 9.807/99 – Lei de Proteção a Vítimas e a Testemunhas

A Lei nº 9.807/99 estabelece o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a


Testemunhas ameaçadas e trata da proteção de acusados ou condenados que tenham,
voluntária e efetivamente, colaborado com a investigação criminal e com o processo criminal,
dedicando seu Capítulo II inteiramente à estes últimos.
Ainda que já tivesse previsão da delação premiada em diversas normas, a referida
lei trouxe verdadeiras inovações no que diz respeito à aplicação do instituto. Como se vê, a
Lei de Proteção às Vítimas e às Testemunhas não é casuística como as anteriores, ou seja, não
se refere, especificamente, à nenhum crime, não restringe as hipóteses de cabimento, podendo
ser aplicada a qualquer infração praticada. Além disso, trata da proteção ao réu colaborador.
Dessa forma, dispõe sobre a colaboração em duas modalidades, com exigências e
prêmios diferentes, nos seus artigos 13 e 14:

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão
judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário,
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo
criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:

I - a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa;

II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;

III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do


beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato
criminoso.

Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação


policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do
crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do
produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.

De início, nota-se que não mais se exige o elemento da espontaneidade, devendo


haver apenas a voluntariedade para a aplicação do instituto. Há também a exigência de que o
crime seja praticado em concurso de agentes, associação ou organização criminosa, pois se
refere, em seu parágrafo 1º, a “demais coautores ou partícipes”, o que nos faz entender que a
palavra “acusado” utilizada no caput não deve ser interpretada como autor único
(MENDRONI, 2015, p. 137).
Ademais, percebe-se que na hipótese do artigo 13, há a possibilidade de concessão
do perdão judicial, que poderá ser de ofício ou a requerimento das partes, desde que o delator
23

seja primário e que sua colaboração dê ensejo a um dos resultados previstos (identificação dos
demais coautores ou partícipes; localização da vítima com integridade física preservada; ou
recuperação total ou parcial do produto do crime), não sendo necessária a ocorrência de mais
de um deles para a aplicação do instituto (TÁVORA, ALENCAR, 2012, p. 436).
No mesmo sentido Oliveira (2014, p. 444), “não será necessária a concorrência
simultânea de todos os objetivos declinados, até porque, em determinados crimes, isso nem
sequer será possível.”
Além dessas condições, exige-se também, no parágrafo único, que sejam
consideradas a personalidade do possível beneficiário do perdão judicial, bem como a
natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do delito.
Já no artigo 14 está previsto o prêmio mais comum e menos favorável ao acusado,
qual seja o da redução de pena de um a dois terços. Exige-se, novamente, apenas o elemento
da voluntariedade, mas não se requer a primariedade nem a ocorrência de um dos resultados
anteriormente citados, bastando que haja a colaboração.
Dessa forma, o delator que não preencher os requisitos exigidos pelo artigo 13,
bem dizer primariedade, boa personalidade e certos aspectos do crime que serão analisados ou
a obtenção do resultado, poderá se encaixar na norma ora analisada, considerada norma
residual (CAPEZ, 2014, p. 151).

2.2.6 Lei nº 11.343/06 – Lei de Drogas

Importante salientar que a Lei nº 11.343/2006 revogou a Lei nº 10.409/02 que


tratava da delação premiada em seu artigo 32, §§ 2º e 3º, e previa, além da possibilidade de
diminuição de pena e de perdão judicial, o sobrestamento do feito, benefícios estes (perdão
judicial e sobrestamento do feito) que não foram trazidos na nova Lei.
No caso da Lei nº 11.343/06, a colaboração premiada encontra-se prevista em seu
artigo 41:

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação


policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do
crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação,
terá pena reduzida de um terço a dois terços.

Percebe-se que o prêmio consiste apenas na redução de um a dois terços da pena e


que se exige a voluntariedade do indiciado ou acusado, ou seja, pressupõe-se “a existência de
24

inquérito instaurado com o respectivo indiciamento, ou processo criminal já deflagrado”


(TÁVORA, ALENCAR, 2012, p. 437).
Além disso, para aplicação do benefício, requer-se a identificação dos demais
coautores ou partícipes do delito e a recuperação total ou parcial do produto do crime. Há dois
impasses nesse trecho do artigo.
Primeiramente, há divergência doutrinária quanto à necessidade de
cumulatividade dos resultados. Autores como Távora e Alencar (2012, p. 437) e Rangel e
Bacila (2015, p. 138), acreditam que a obtenção dos resultados tem que se dar de forma
cumulativa, não havendo possibilidade de concessão de redução da pena se ocorrer apenas um
dos dois, sendo satisfatório, no entanto, apenas a identificação, não sendo necessária a
captura, dos demais envolvidos, bem como apreensão total ou parcial da substância
entorpecente. (TÁVORA, 2012, p. 437).
Já autores como Greco Filho e Rassi (2009, p. 160), Oliveira (2014, p. 821) e
Mendonça e Carvalho (2012, p. 191) apresentam a teoria da não cumulatividade. Acreditam
que a utilização da conjunção aditiva “e” deve ser entendida como “ou”, não obstando que o
juiz do caso conceda o benefício de redução de pena se tiver obtido apenas um dos resultados,
pois, assim como pode não haver produto do crime ou sua recuperação seja suficiente por si
só, as limitações do acusado deverão sempre ser observadas. Ou seja, pode haver casos em
que o produto já foi recuperado ou o delator não sabe onde o mesmo se encontra; ou, ainda,
saberá como recuperar o produto, mas não saberá identificar os demais autores.
Como expõe Mendonça e Carvalho (2012, p. 191): “Tal situação demonstra que o
magistrado deverá ter como parâmetro sempre estas duas circunstâncias na aplicação do
benefício, mas sem perder de vista as possibilidades do colaborador.” Dessa forma, só não
será aplicado o instituto se o suposto beneficiário tiver ambas as informações e deixar de
fornecer uma delas.
O mais vantajoso para o indiciado ou acusado seria interpretar desta maneira,
baseando-se na não cumulatividade. No entanto, a utilização da conjunção aditiva “e” torna
clara a vontade do legislador de limitar a concessão de tal benefício àqueles que contribuírem
para a obtenção dos dois resultados.
Em segundo lugar, há dúvidas a respeito de qual seria o produto do crime a ser
recuperado, pois a revogada Lei nº 10.409/02 trazia a necessidade de “apreensão do produto,
da substância ou da droga ilícita”, tornando a expressão “produto do crime” bastante vaga.
Como afirmam Mendonça e Carvalho (2012, p. 190), “produto do crime é o bem
obtido com a prática delitiva”. No entanto, o resultado da prática dos delitos dispostos nesta
25

Lei poderá variar, visto que apenas em algumas das condutas previstas, como preparar,
produzir e fabricar, a própria droga será o resultado da atividade criminosa. Na maioria das
vezes, a substância droga é apenas o objeto material do crime, que Jesus (2012, p. 221)
conceitua como “a pessoa ou coisa sobre que recai a conduta do sujeito ativo”. Na conduta
“vender”, por exemplo, o produto do crime será o valor obtido com a venda e a droga será
objeto material.
Dessa forma, não obstante a utilização da expressão “produto do crime” pelo
legislador, deve-se entender que o benefício da diminuição de pena deverá ser aplicado tanto
quando o colaborador ajudar na localização da droga quanto do dinheiro advindo da
comercialização da substância (este, geralmente, o real produto do crime de tráfico)
(MENDONÇA, CARVALHO, 2012, p. 191).

2.2.7 Lei nº 12.850/13 – Organização Criminosa

Após a análise das diversas legislações que tratam do instituto da colaboração


premiada, nota-se a fragilidade das mesmas, principalmente no que se refere aos aspectos
procedimentais e aos requisitos para sua aplicação. Eivadas de contradições, são vítimas de
severas críticas e ocasionam insegurança quanto à adequabilidade e à proporcionalidade entre
o prêmio e a colaboração, pois as lacunas tornam o instituto mais vulnerável à utilização
errônea com sua possível banalização.
Há muito se necessitava de uma legislação uniforme, que tratasse da colaboração
premiada como um todo, não apenas em seu aspecto material (ou seja, concedendo
benefícios), e que pudesse garantir sua aplicação justa e segura, haja vista ser um instituto
demasiado benéfico ao criminoso (que, vale salientar, praticou delitos de grande porte), além
de representar poderosa arma estatal contra as organizações criminosas.
Diante desse cenário, editou-se a Lei ora analisada, que revogou inteiramente a
antiga Lei de Combate ao Crime Organizado (Lei nº 9.034/95), e que dispõe sobre
legitimidade para propor a colaboração, sobre a atuação e garantias das partes envolvidas,
determina os requisitos para sua concessão, dá direitos ao colaborador e, principalmente,
estabelece o procedimento a ser seguido. Torna-se evidente que o legislador procurou
equilibrar os interesses do investigado/imputado/condenado e os da sociedade na ação penal,
ou seja, buscou o equilíbrio entre a eficiência da persecução penal com a necessidade de
punição do criminoso (“jus puniendi” estatal) e os direitos e garantias do mesmo, plasmados
no “status libertatis”.
26

Dessa forma, diante da omissão do legislador sobre diversos aspectos do instituto


da colaboração premiada nos dispositivos normativos anteriores, aplicam-se à todos eles,
analogicamente, o procedimento previsto nesta Lei. Além disso, a colaboração premiada está
prevista nesse dispositivo legal como forma de combate às organizações criminosas (e suas
formas equiparadas) e será prestada no âmbito de infrações cometidas pelas mesmas,
conceituadas em seu artigo 1º, §§1º e 2º:

Art. 1º § 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais


pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

§ 2o Esta Lei se aplica também:

I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando,


iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente;

II - às organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as normas de


direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao
terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas,
ocorram ou possam ocorrer em território nacional.

Observa-se, portanto, que no eventual conflito entre o “jus puniendi” e o “status


libertatis”, prevalece o primeiro a fim de garantir a eficácia da delação, visto que de nada
adiantaria a aplicação desse instituto, apurando-se importantes informações sobre o crime, se
não fosse para punir os infratores.

2.2.7.1 Características Gerais da Colaboração Premiada

O instituto da colaboração premiada está previsto do artigo 4º ao artigo 7º da Lei


nº 12.850/13. Em seu artigo 3º já se dispõe que a utilização do instituto, como meio de
obtenção de prova que é, será permitida em qualquer fase da persecução penal, podendo haver
colaboração antes do recebimento da denúncia, fase pré-processual de investigação (artigo 4º,
§2º); na fase judicial (artigo 4º, caput); ou ainda na fase pós-processual, já na execução penal,
(conforme artigo 4º, §5º).
O artigo 4º estabelece os requisitos para sua concessão, os possíveis prêmios
obtidos, bem como alguns aspectos procedimentais para a aplicação do instituto:

Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir
em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de
27

direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação


e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos
seguintes resultados:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das


infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização


criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização


criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais


praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

§1º Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do


colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato
criminoso e a eficácia da colaboração.

Nota-se, de pronto, que os prêmios oferecidos ao colaborador são bastante


abrangentes, podendo ser concedido pelo juiz (1) a redução da pena em até dois terços, (2) a
substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos ou (3) o perdão
judicial.
Além dos prêmios relativos à pena previstos no caput, o §4º, incisos I e II, traz um
benefício aplicável à colaboração ocorrida na fase pré-processual, qual seja o não
oferecimento de denúncia pelo Ministério Público se o colaborador não for o líder da
organização criminosa e se for o primeiro a prestar efetiva colaboração, cumulativamente.
Benefício este que rompe com o princípio da obrigatoriedade da ação penal.
Já o §5º prevê as benesses de redução da pena até a metade ou progressão de
regime, ainda que ausentes os requisitos objetivos, aplicáveis à colaboração ocorrida na fase
pós-processual.
No entanto, para que haja a concessão de benefícios, exige-se que estejam
presentes os elementos da voluntariedade, ou seja, apesar da manifestação do colaborador ter
que estar livre de qualquer tipo de coação, ela não precisa ser espontânea, ideia do próprio
delator, podendo partir de aconselhamento do advogado ou proposta do Ministério Público; e
da eficácia, como deve ser entendido o termo “efetiva” utilizado pelo legislador, visto que,
segundo Aurélio Ferreira (2005, p. 334), “efetivo é aquilo que produz um efeito real, positivo,
permanente, fixo; eficiência: ação ou virtude de produzir um efeito; eficaz: que produz o
efeito desejado.” Sendo assim, deve ser produzido algum dos resultados previstos na Lei (do
28

inciso I ao V, não sendo necessário o alcance de mais de um deles, como claramente dispõe o
texto) para que seja aplicado o instituto.
Além desses dois requisitos, percebe-se que, no parágrafo primeiro deste artigo 4º,
o legislador afirma que as circunstâncias objetivas e subjetivas do fato criminoso (como
personalidade do colaborador, natureza, gravidade e repercussão social do crime) devem ser
consideradas para efeitos de aplicação ou não do instituto e consequente concessão de
benefícios.
Atenta-se, portanto, para o fato de que a realização do acordo de colaboração não
se trata de direito subjetivo do investigado/imputado/condenado. O Ministério Público e o
Delegado de Polícia devem verificar a real necessidade da colaboração para a investigação e
para a persecução penal no caso concreto, não deixando de levar em consideração a
reprovabilidade da conduta criminosa, sua repercussão social e gravidade. Sendo assim,
sempre ficará a critério do Poder Judiciário a aplicação ou não do instituto.
No entanto, como afirma Oliveira (2014, p. 837), a partir do momento que a
contribuição for eficaz e produzir os resultados exigidos pelo legislador, poderá gerar as
consequências legais previstas no artigo 4º, caput, quais sejam, os benefícios, que, aí sim,
serão direitos subjetivos do colaborador.
Conclui-se, portanto, que a aplicação do instituto da colaboração premiada e o
benefício a ser concedido sempre dependerão da necessidade e eficácia das informações
prestadas, pois há de ser respeitado o Princípio da Proporcionalidade. Em vista disso, o
legislador editou o §2º do artigo 4º, possibilitando que, após a análise da relevância da
colaboração, vendo que foi maior que verificada no início, o Ministério Público e o delegado
de polícia poderão requerer melhor benefício (perdão judicial), ainda que não previsto na
proposta inicial:

Art. 4º (...) §2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério


Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial,
com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz
pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha
sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-
Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).

Este dispositivo trouxe verdadeira inovação no que diz respeito ao momento de


aplicação da colaboração premiada, trazendo a possibilidade do delegado de polícia se valer
do instituto e requerer a concessão de perdão judicial perante o juiz, o que se tornou objeto de
diversas críticas.
29

Alguns doutrinadores, como Bitencourt (2014, p. 122), entendem que tal


disposição traz uma inconstitucionalidade flagrante, pois a colaboração premiada é
considerada um meio de prova processual, o que converteria o delegado de polícia em sujeito
processual. E explica:

A questão toda é que a iniciativa a respeito do emprego deste instrumento probatório


e mesmo o sopesamento das consequências que ele gera para fins de aplicação do
direito penal devem estar disponíveis tão somente para o titular da ação penal que,
por disposição constitucional, é exclusivamente o Ministério Público, afinal, em
certa medida, trata-se de dispor da persecução penal. O juízo de valoração sobre a
conveniência e oportunidade de dispor da prova pertence ao Ministério Público e é
ele, exclusivamente, junto com o defensor e o investigado, quem deve deliberar
sobre os termos da colaboração premiada. (BITENCOURT, 2014, p. 123)

Já na visão de Mendroni (2015, p. 154), tal previsão é de grande utilidade, pois,


para que haja o real equilíbrio entre o prêmio concedido e a vantagem obtida com a
colaboração, é necessária a análise das informações prestadas, bem como a observação dos
possíveis resultados advindos delas, que poderão surgir pouco mais à frente do momento do
“acordo” que contém o possível benefício a ser concedido. Assim, para que se tenha tempo
hábil para a análise da colaboração e para a correta aplicação do instituto, a atuação do
delegado de polícia torna-se de grande importância. Esclarece:

Então, como as investigações – sempre em matéria de criminalidade organizada –


costumam ser complexas e demoradas, mais coerente e viável será que o acusado,
por conta própria ou mediante assistência do seu Defensor, ainda que para o ato,
manifeste expressamente, no interrogatório na Polícia, o seu interesse em servir a
administração da justiça em plano de colaboração premiada, gerando uma
representação nesse sentido pelo Delegado de Polícia ou a qualquer tempo, mesmo
em inquérito policial, ao Ministério Público. (MENDRONI, 2015, p. 155)

Para melhor viabilizar a aplicação do instituto na fase pré-processual, o §3º traz a


possibilidade de suspensão do prazo para oferecimento da denúncia, unicamente contra o
colaborador, com suspensão também do prazo prescricional, por até 6 meses, prorrogáveis por
mais 6, havendo um prazo maior para produção probatória e para que sejam avaliadas e
cumpridas as medidas do acordo de colaboração. In verbis:

§ 3o O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador,


poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que
sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo
prescricional.

Conclui-se, então, que é de melhor aproveitamento a colaboração premiada ser


aplicada na fase pré-processual, inclusive por ser o delegado de polícia o primeiro
30

representante do Estado a ter contato com a infração penal e com o criminoso, tendo mais
proximidade e podendo agir prontamente para evitar novos crimes e desarticular a
organização criminosa.

2.2.7.2 Procedimento

A partir do §6º está previsto o procedimento de forma detalhada. Este parágrafo


trata da fase de negociação e acordo, onde o delegado de polícia, o investigado e o defensor,
com manifestação do Ministério Público, ou o Ministério Público, o investigado/acusado e
seu defensor negociarão para a formalização do acordo de colaboração. Não haverá a
participação do juiz, pois o legislador buscou garantir sua imparcialidade, mas sempre
ocorrerá com manifestação do Ministério Público e com a participação do defensor, sendo
considerado nulo qualquer ato sem a participação deste, diante do que preleciona o §15: “em
todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá
estar assistido por defensor.”
Esta fase se encerrará com um acordo de colaboração que será reduzido a termo e
deverá conter, conforme artigo 6º, o relato da colaboração e seus possíveis resultados; as
condições da proposta feita pelo delegado de polícia ou pelo Ministério Público; a declaração
de aceitação do colaborador e de seu defensor; as assinaturas das partes envolvidas
(representante do Ministério Público ou delegado de polícia, colaborador e defensor); e as
medidas de proteção a serem aplicadas ao colaborador e à sua família, se necessárias.
Consiste, portanto, apenas em uma proposta, que poderá conter o possível benefício a ser
concedido, mas que não vinculará o juiz sentenciante (GRECO FILHO, 2013, p. 41).
No §7º já se dispõe a respeito da fase de homologação, in verbis:

§7º Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo, acompanhado das


declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para
homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade,
podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu
defensor.

O termo de acordo será remetido ao juiz para homologação com obediência ao


disposto no artigo 7º, ou seja, o pedido de homologação será distribuído sigilosamente e
conterá apenas informações que não possibilitem a identificação de seu objeto e do
colaborador, sigilo este que só cessará após o recebimento da denúncia, conforme §3º do
referido artigo. Antes disso, apenas o juiz, o Ministério Público e o delegado de polícia terão
31

acesso aos autos, sendo permitido ao defensor, após autorização judicial, acesso aos
elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa (art. 7º, §2º).
Após distribuído o pedido de homologação, as informações pormenorizadas serão
enviadas ao juiz do caso que disporá de um prazo de 48 horas para decidir a respeito da
homologação ou não do acordo (artigo 7º, §1º). Para tanto, serão analisados apenas os
aspectos formais do acordo, como a regularidade, a legalidade e a voluntariedade, podendo o
juiz, sigilosamente, ouvir o colaborador acompanhado de seu defensor.
Conforme §8º do artigo 4º, as decisões possíveis são a homologação, a recusa
desta, ou a adequação da proposta ao caso concreto. Decidindo pela homologação, será
proferida uma decisão interlocutória, que não produz efeito de coisa julgada nem garante a
concessão de benefício, tendo por finalidade apenas qualificar o investigado como
colaborador, ensejando as medidas relativas a essa situação, como as do artigo 5º, que dispõe
sobre os direitos do colaborador (por exemplo: usufruir de medidas de proteção dispostas na
Lei de Proteção à Vítimas e Testemunhas, ter sua identidade preservada, cumprir pena em
local diverso dos demais corréus ou condenados, dentre outras) (GRECO FILHO, 2013, p.
41).
Se decidir por não homologar, deverá remetê-lo ao Procurador-Geral de Justiça,
por previsão do §2º do artigo 4º. Já a adequação do acordo deve se dar apenas no que diz
respeito aos pressupostos e requisitos legais, diante do possível comprometimento da
imparcialidade do juiz ao imiscuir-se em questão de mérito, podendo apenas, por exemplo,
excluir alguma cláusula inconstitucional (como a que abdica da impetração de habeas corpus)
(Silva, 2015, p. 67).
Caso o acordo seja homologado, o colaborador poderá ser ouvido pelo Ministério
Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações, desde que acompanhado
de seu defensor, conforme artigo 4º, §9º. Ou seja, é a partir da homologação que o
colaborador começará a contribuir, efetivamente, com a persecução penal, procurando
concretizar alguns dos resultados previstos na lei.
Contudo, ao prestar seus depoimentos, deverá, na presença de seu defensor,
renunciar ao direito ao silêncio e submeter-se ao compromisso legal de dizer a verdade,
estando sujeito às penas do crime de falso testemunho, de denunciação caluniosa ou do crime
previsto no artigo 19 dessa lei, dependendo do conteúdo de suas declarações (GRECO
FILHO, 2013, p. 43).
Além disso, o fato de a homologação da proposta não produzir coisa julgada resta
clara quando da leitura do §10 do artigo 4º, o qual traz a possibilidade de retratação das
32

partes, caso em que as provas autoincriminatórias produzidas com a colaboração não poderão
ser utilizadas contra o colaborador, exclusivamente, podendo ser utilizadas contra terceiros.
Assim, se o Ministério Público ou o investigado não se satisfizerem com os
termos do acordo, após os atos de colaboração (que serão gravados ou salvos por outras
técnicas modernas para assegurar fidelidade das informações, §13), poderão desfazê-lo.
Importante ressaltar que “retratação não se confunde com revogação, que poderá ocorrer
quando houver quebra de uma das cláusulas do acordo, como a falta da prometida efetividade
na apuração dos fatos ou a delação parcial em juízo.” (SILVA, 2015, p. 68)
Finalmente, chega-se à fase da sentença, onde o mérito e a eficácia do acordo
serão examinados pelo juiz do caso, conforme §11 do artigo 4º. O magistrado deverá analisar
o comportamento do colaborador após o acordo e sua homologação, se realmente contribuiu
para a obtenção dos resultados desejados, pois apenas se a colaboração for exitosa e
possibilitar a coleta de provas idôneas é que se produzirá efeitos jurídicos em favor do delator.
Assim, “caso a colaboração seja efetiva e produza os resultados almejados, há que se
reconhecer o direito subjetivo do colaborador à aplicação das sanções premiais estabelecidas
no acordo, inclusive de natureza patrimonial.”, conforme afirma o Ministro Dias Toffoli em
seu voto no julgamento do HC 127483 / PR no dia 26.08.2015 (p. 59). E prossegue:

Assim, caso se configure, pelo integral cumprimento de sua obrigação, o direito


subjetivo do colaborador à sanção premial, tem ele o direito de exigi-la
judicialmente, inclusive recorrendo da sentença que deixar de reconhecê-la ou vier a
aplicá-la em desconformidade com o acordo judicialmente homologado, sob pena de
ofensa aos princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança.

Essa é a posição majoritária dos Tribunais Superiores. Dessa forma, o juiz só


poderá deixar de aplicar o benefício proposto, e com a fundamentação devida, se os termos do
acordo não forem cumpridos.
Por fim, o §16 dispõe que “nenhuma sentença condenatória será proferida com
fundamento apenas nas declarações de agente colaborador.” Sendo assim, o sujeito deverá
provar a veracidade das informações prestadas para que estas sejam úteis à persecução penal,
pois, conforme afirma o Ministro Dias Toffoli (HC 127483 / PR, data do julgamento:
26.08.2015), mesmo que corroboradas por depoimentos de outros colaboradores, mas sem
provas que as sustentem, não serão idôneas para formar elemento de prova.
Na verdade, esse dispositivo veio apenas reconhecer o que, de início era bastante
divergente, mas já havia se tornado pacífico na jurisprudência, se devendo ao reconhecimento
de que motivos espúrios (inclusive a obtenção de benefícios a qualquer custo) poderiam levar
33

algum corréu a acusar outro e, também, porque não havia o dever de dizer a verdade antes da
Lei nº 12.850/13.
Além de estar expressamente disposto no artigo 3º da Lei nº 12.850/13, o Ministro
Dias Toffoli, no já mencionado voto, afirma que a delação não é meio de prova, mas fonte de
obtenção de prova, pois enquanto os meios de prova se prestam diretamente ao
convencimento do julgador, os meios de obtenção de provas servem apenas indiretamente,
sendo instrumentos para a colheita de provas, estas sim, aptas a convencer o julgador.
Sendo assim, o acordo de colaboração é meio de obtenção de prova e os
depoimentos propriamente ditos do colaborador são meios de prova, que se mostrarão hábeis
à formação do convencimento judicial apenas se corroborados por outros meios idôneos de
prova (HC 127483 / PR, Relator: Ministro Dias Toffoli, Data do julgamento: 26.08.2015).
34

3 A QUESTÃO DO COMBATE À CORRUPÇÃO POLÍTICA NO BRASIL

Conforme dispõe o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (2010,
p. 2): “A corrupção é um fenômeno social, político e econômico complexo que repercute em
toda a sociedade”, está presente em todos os Países, durante toda a história da humanidade.
No que diz respeito ao Brasil, a corrupção está enraizada na sociedade, ocorrendo
desde a colonização portuguesa, e deve ser analisada de acordo com as normas vigentes e os
padrões sociais a serem seguidos.
Segundo Keith Rosenn (1998, p. 26), o sistema colonial português baseava-se
essencialmente no patronato, o qual consiste em um soberano determinar todas as decisões
políticas e administrativas, pessoalmente ou por meio de assistentes, aos quais eram
concedidos direitos especiais ou privilégios para obedecerem as ordens reais.
Sendo assim, os administradores estavam ligados ao soberano por razões de
gratidão, de lealdade pessoal ou de lucros, e não pela consciência de dever oficial, tornando
suas ações duvidosas quanto à honestidade e ao atendimento do interesse público (ROSENN,
1998, p. 27).
À essa época, não se fazia distinção entre o patrimônio público e o privado. Como
afirma Emerson Garcia (2014, p. 48): tinha-se “...a concepção de que a coisa pública é coisa
de ninguém e que sua única utilidade é satisfazer aos interesses da classe que ascendeu ao
poder”. Os cidadãos não podiam exigir a prestação de serviços públicos, por exemplo,
buscavam apenas “favores” do governo, que seriam concedidos em troca de benefícios.
A consciência de que o “Administrador do Estado” não é dono do patrimônio que
administra, cabendo-lhe apenas praticar atos de gestão que beneficiam o povo, foi sendo
desenvolvida com o passar das décadas e com a mudança das formas de governo (da
Monarquia à República), consequentemente mais democráticas (EMERSON GARCIA, 2014,
p. 47).
Sendo assim, a corrupção punível variará com o passar dos anos, pois práticas
antigamente consideradas legais, ou melhor, toleradas ou tidas como inevitáveis, hoje, apesar
de corriqueiras, não são mais aceitas pelo ordenamento jurídico e pela sociedade. O que não
quer dizer, obviamente, que as práticas corruptas deixaram de ocorrer.
35

3.1 Delimitação conceitual de corrupção

Definir corrupção torna-se difícil diante do alcance do referido termo. As


condutas corruptas envolvem agentes públicos e privados, dos mais diversos setores e cargos,
bem como pessoas jurídicas; abrangem uma variedade de ações e figuras penais (crime
organizado, lavagem de dinheiro, peculato, concussão, dentre outras) com consequências
diversas, como o desvio do dinheiro público, a redução de investimentos e o enfraquecimento
do Estado de Direito (com a diminuição da oferta e da qualidade de bens e serviços públicos
essenciais, facilitação da atuação do crime organizado), comprometendo toda a sociedade.
Dessa forma, estabelecer um conceito que englobe todas as possibilidades que esse termo
dispõe é deveras complicado.
A palavra corrupção veio do latim corruptione e dá a ideia de corromper, podendo
significar decomposição, putrefação, desmoralização, suborno. O dicionário Houaiss a define
como “ato ou efeito de subornar uma ou mais pessoas em causa própria ou alheia, geralmente
com oferecimento de dinheiro”. Já Emerson Garcia (2014, p. 51) afirma:

Especificamente em relação à esfera estatal, a corrupção indica o uso ou a omissão,


pelo agente público, do poder que a lei lhe outorgou em busca da obtenção de uma
vantagem indevida para si ou para terceiros, relegando a plano secundário os
legítimos fins contemplados na norma. Desvio de poder e enriquecimento ilícito são
elementos característicos da corrupção.

No entanto, Petrelluzzi (2014, p. 20), considerando a afirmação acima exposta,


esclarece que a corrupção não possui apenas caráter econômico, pois, assim como o desvio de
poder para obtenção de vantagem econômica é uma prática corrupta, a exploração do
prestígio que a função pública oferece, o jogo de interesses com fim de obter vantagens
políticas também o é.
Sendo assim, define corrupção como sendo “...a conduta de pessoa natural ou
jurídica, em conexão a qualquer ente público, destinada a obter, para si ou para outrem,
vantagem ilícita de qualquer natureza”, seja econômica ou política, tendo como elementos
constitutivos dessa prática o desvio de poder inerente ao ente público e a obtenção de
vantagem ilícita (PETRELLUZI, 2014, p. 21).
As controvérsias são tantas que a Organização das Nações Unidas se absteve de
definir o termo na Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, restringindo-se à expor
as condutas consideradas corruptas no decorrer do capítulo 3 - Penalização e aplicação da lei,
36

o qual delimita em seus artigos práticas como suborno de funcionários públicos nacionais,
tráfico de influências, enriquecimento ilícito, dentre outras.
A Convenção Interamericana contra a Corrupção também resta silente quanto à
conceituação do vocábulo em referência, limitando-se à enumerar e definir atos de corrupção
aos quais a Convenção seria aplicável.
Como se vê, não há como delimitar um conceito de corrupção, nem ao menos
elencar um rol que englobe todas as práticas corruptas, pois, além do termo abranger uma
infinidade de possibilidades, os atos de corrupção estão se renovando e se tornando cada vez
mais complexos.
O Ministério Público Federal, em seu Portal de Combate à Corrupção (2015,
online), apresenta os seguintes tipos de corrupção: inserção de dados falsos em sistemas de
informações; crimes de responsabilidade de prefeitos e vereadores; improbidade
administrativa; prevaricação; violação do sigilo funcional; corrupção ativa; corrupção passiva;
facilitação de contrabando ou descaminho; emprego irregular de verbas ou rendas públicas;
peculato; modificação ou alteração não autorizada de sistema de informação; corrupção ativa
em transação comercial internacional; tráfico de influência; advocacia administrativa; crimes
da lei de licitações; corrupção eleitoral; concussão; e condescendência criminosa. Estão
presentes, geralmente, vários desses tipos penais em cada esquema de corrupção descoberto
no Brasil.

3.2 História da corrupção no Brasil

As práticas corruptas existem desde a colonização, iniciando-se com a criação do


governo brasileiro (governo em seu sentido lato, vez que se tinha uma monarquia), e
estendendo-se de maneira endêmica por toda a história de nosso país.
Os exemplos se iniciam na fase colonial, quando quem detinha o poder fazia
praticamente o que bem entendia com o patrimônio público, o povo não era considerado
titular dos bens públicos e nada se fazia em prol do mesmo. Com isso, as práticas corruptas
eram conhecidas e estavam presentes no dia a dia da sociedade, mas eram toleradas ou tidas
como inevitáveis. Mas, com o passar das décadas, a corrupção continuou a permear a história
do país.
37

3.2.1 A corrupção durante o período colonial e o monárquico

Em meados do século XVI, quando o Brasil era dividido em capitanias


hereditárias e, posteriormente, teve seu Governo Geral, a corrupção já se mostrava latente na
sociedade. A corte portuguesa nomeava e oferecia incentivos à pessoas de sua confiança para
ocuparem e desenvolverem o território brasileiro, as quais acabavam por desviar recursos a
seu favor, como o primeiro governador-geral Tomé de Souza.
Ou o caso dos funcionários públicos responsáveis por fiscalizar o contrabando e
outras práticas contra a coroa portuguesa e acabavam sendo os sujeitos ativos dessas
transgressões. Os desvios eram tantos que o primeiro “discurso anticorrupção” ocorreu nessa
época, proferido pelo Padre Antônio Vieira, o qual criticava autoridades que desviavam
verbas e aceitavam propinas.
As práticas de D. João VI também são bons exemplos de corrupção, pois, para
obter apoio político e financeiro da elite brasileira, distribuiu honrarias e títulos de nobreza de
acordo com o apoio recebido de cada um, externando o jogo de interesses, ou seja, a política
do clientelismo e do patriarcalismo. Assim, como o monarca, seus tesoureiros eram
conhecidamente desonestos, acumulando riquezas em seu patrimônio pessoal justamente
durante a ocupação do cargo.
Com a proclamação da Independência (1822), os atos de corrupção se
mantiveram, mas passaram a se dar de maneiras diferentes. Outros tipos de corrupção foram
surgindo, como a de concessão de obras públicas, que consistia na obtenção privilegiada de
contratos de execução de obras públicas. À exemplo do empresário Visconde de Mauá, para
quem foi concedida a exploração de cabo submarino e findou por transferi-la para uma
empresa, da qual se tornou diretor posteriormente.
Tem-se como exemplo, também, a Marquesa de Santos, Domitila de Castro,
considerada o ícone da corrupção e da devassidão naquele período. Amante de Dom Pedro I,
gozava de diversos privilégios e influência política. Seus familiares receberam empregos,
títulos e benesses do imperador. Segundo o diplomata americano Condy Raguet, “nenhum
despacho imperial se obtinha sem o patrocínio de Domitila”, que se aproveitava da paixão do
imperador para enriquecer (GOMES, 2010, p. 270).
38

3.2.2 República Velha

Com a instauração da República (1889), governo teoricamente mais democrático,


surgiu a corrupção eleitoral, que se dava à época do coronelismo, por exemplo, com o voto de
cabresto, quando os donos de latifúndio, ou coronéis (como eram chamados), controlavam o
voto de seus empregados, fazendo ameaças e impondo sua escolha de candidato aos mesmos.
Além disso, ocorria também a compra de votos, ou seja, votava-se no candidato
escolhido pelo comprador em troca de um pagamento em pecúnia ou bens materiais. Ambas
as práticas, embora menos explícitas, ainda são comuns na contemporaneidade,
principalmente no que diz respeito às cidades do interior do país.
Em 1929, a corrupção eleitoral ainda se mostrava presente e talvez até mais
perigosa. Durante a eleição para Presidente da República, em que disputavam Júlio Prestes e
Getúlio Vargas, o primeiro, representante das oligarquias cafeicultoras e leiteiras, venceu com
uma diferença exorbitante de votos, motivo pelo qual foi acusado de fraude eleitoral.
Assim, com a ajuda dos grupos insatisfeitos com o domínio das oligarquias e com
a crise da Bolsa de Nova York, que levou os fazendeiros à falência, quem tomou posse foi
Getúlio Vargas, de maneira nada democrática, instituindo a Era Vargas.
Outro caso bastante conhecido é o da “caixinha do Adhemar”, que se tornou
público nos anos 1950. Adhemar de Barros, interventor paulista nomeado por Vargas em
1938, ficou conhecido por suas grandes obras, como construção de rodovias e hospitais, e
pelo acúmulo descomunal de riquezas durante a ocupação do cargo.
Em 1941, após denúncias de peculato e enriquecimento ilícito, Vargas afastou
Adhemar do cargo, mas nada impediu que fosse eleito governador em 1947, ocupando o
cargo até 1951.
Seu lema, até hoje utilizado pela população conformada com a corrupção, era
“Rouba, mas faz!”, e seus esquemas envolviam fornecedores, empresários e empreiteiros que
se valiam da troca de favores para obter algum benefício político.
Entre seus esquemas estava o “caso dos Chevrolets”, ocorrido em 1949 e consistia
no uso do dinheiro público para a compra de veículos que depois de pagos seriam transferidos
à outras empresas, aos parentes, amigos e firmas de propriedade de Adhemar.
O Ministério Público ofereceu denúncia contra o ex-governador, o qual foi
absolvido apenas em última instância, e, ainda assim, foi eleito prefeito de São Paulo em 1957
e, posteriormente, a governador novamente.
39

3.2.3 Ditadura Militar

O Golpe Militar de 64 se deu com um dos pretextos de erradicar a corrupção, com


promessas de ampla investigação e divulgação dos casos e criando órgãos como a Comissão
Geral de Investigações para tanto. Mas, com ele, o Estado cresceu e surgiram novas práticas
corruptas.
Acredita-se que os casos de corrupção ocorridos na referida época não foram
amplamente divulgados diante da censura e da falta de acesso às informações, contudo, alguns
casos se tornaram bastante conhecidos, como o Projeto Jaíba e o Rede Globo/Time Life.
O primeiro consistia em uma obra de irrigação de grande porte no Estado de
Minas Gerais, para a qual convergiram iniciativas dos três entes da federação (união, estado e
município), e que acabou em poder da iniciativa privada.
Pelo que se sabe, este deveria ser o maior projeto público de irrigação da América
Latina, beneficiando diversas famílias, bem como a economia do país, e o que se obteve dos
gastos exorbitantes foram resultados ínfimos. Conforme o Museu da Corrupção (online,
2015), quando apenas um quarto da obra havia sido realizado, mais de 80% dos recursos já
havia sido gastos, demonstrando o descontrole na gerência das finanças estatais.
O segundo ocorreu da seguinte maneira: à época da fundação da Rede Globo, a
participação de empresas estrangeiras em empresas brasileiras de comunicação era
constitucionalmente proibida. No entanto, a referida emissora celebrou acordo com uma
empresa norte americana chamada Time-Life, a qual oferecia um alto investimento em troca
de uma porcentagem nos lucros auferidos com o funcionamento da TV Globo.
Alegava-se, em defesa do acordo, que a Time-Life não interferia na administração
da Rede Globo, mas sabia-se que, na prática, os funcionários norte-americanos influenciavam
diretamente em seu funcionamento e os militares faziam a famosa “vista grossa”, pois eram
largamente apoiados pela emissora.
A despeito das ilegalidades, da instauração de Comissões Parlamentares de
Inquérito e dos pareceres desfavoráveis à situação da Globo, esta conseguiu ser inaugurada e
mantida “na ilegalidade” até o ano de 1967, quando obteve parecer do consultor-geral da
República pela legalidade do acordo.
Em 1969, o contrato com a Time Life (pode-se dizer, já dispensável neste
momento) foi extinto por força de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que deu fim ao
jogo de interesses.
40

Com o Congresso Nacional paralisado, após a cassação de diversos mandatos e da


dissolução dos partidos políticos, havendo apenas uma “oposição controlada”, a corrupção foi
tomando proporções maiores e recaindo sobre as grandiosas obras realizadas nesse período,
conhecidas por sua dimensão e detalhes e, consequentemente, por seus altos custos.
A construção da Transamazônica é uma delas. Projetada na década de 1970,
durante o governo do Presidente Médici, para atravessar o Brasil de leste a oeste, é
considerada a terceira rodovia mais longa do país.
Com o objetivo de ocupação da Amazônia e livramento dos nordestinos da seca,
de acordo com a frase do Presidente “Levar homens sem terra para terras sem homem”, foi
planejada apenas para atender os interesses do militar, como uma forma de autopromoção,
sem ser feita sequer uma análise da real necessidade, do impacto e da viabilidade da obra.
Para arcar com os custos da construção, os orçamentos da Sudam e da Sudene
foram cortados pelo Ministro Delfim Neto e, mesmo com o gasto de bilhões de reais, o
projeto não ficou como esperado, a estrada não é toda asfaltada, não trouxe os benefícios
“prometidos” e segue inacabada, apesar de inaugurada.
Em razão da censura e da falta de acesso à informação à época, não se sabe ao
certo os valores gastos e o destino dos investimentos, deixando dúvidas acerca do
superfaturamento da obra e do desvio dos recursos públicos.
Ainda nos anos 1970, o caso Lutfalla também se tornou bastante conhecido, sendo
um dos primeiros envolvendo Paulo Maluf, além do Ministro Reis Velloso. Tratava da
concessão irregular de empréstimos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento - BNDE ao
grupo Lutfalla, empresa têxtil da esposa do ex governador que encontrava-se em processo de
falência.
Na década de 1980, outro caso envolvendo empréstimos ao governo é descoberto,
o Coroa- Brastel. Os Ministros Delfim Neto e Ernani Galvêas foram acusados de desviar
recursos de um empréstimo feito pela Caixa Econômica Federal ao empresário Paim Cunha,
dono da Coroa- Brastel, no ano de 1981. O dinheiro seria utilizado, supostamente, para
reforçar e expandir os negócios, mas, segundo a denúncia, acabou sendo utilizado pelos
ministros para pagar dívidas junto ao Banco do Brasil e ao Banespa.
O grupo, para pagar o empréstimo junto à Caixa Econômica, vez que os Ministros
não quitaram a dívida, emitiu letras de câmbio (mesmo sem ter condições de pagá-las), as
quais foram adquiridas por diversos investidores. Acredita-se que o Banco Central tinha
conhecimento da situação, podendo estar envolvido no esquema, pois só interviu em 1983.
41

Desde então, diversas ações de indenização propostas pelos investidores contra o Banco
Central tramitam na justiça.
Em relação ao caso Coroa-Brastel, o Supremo Tribunal Federal, recentemente,
prolatou decisão favorável à uma corretora, no julgamento do Recurso Extraordinário
666589/DF, dia 25.03.2014, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, por acreditar que o
Banco Central foi omisso quanto à fiscalização.
A ditadura militar se estendeu até 1985, quando, com o Movimento das Diretas
Já, deu lugar à democracia novamente. A Nova República iniciou-se, mas a corrupção
continuou a permear a história da política brasileira.

3.2.4 Nova República

As eleições para Presidente de 1989 já se iniciam com um escândalo de corrupção


que ficou conhecido como “PC Farias”. Paulo César Farias era o tesoureiro do candidato à
Presidência Fernando Collor, sendo quem tomava as decisões no governo deste e quem teria
montado um esquema para arrecadação de recursos objetivando o financiamento da
campanha.
O Presidente, que prometia o fim da corrupção e a punição dos corruptos,
arrecadou recursos de empresas privadas em troca de “favores”, como pagamento de dívidas e
concessão de empréstimos, desviou dinheiro público, superfaturou compras, enfim, praticou
diversos atos de corrupção que culminaram no seu Impeachment em 1992.
Desde então, diversos escândalos que envolvem milhões, bilhões de reais dos
cofres públicos continuam sendo descobertos, dentre eles o caso que ficou conhecido como
Anões do Orçamento.
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi instaurada em 1993 para investigar o
referido caso. Vários parlamentares se encontravam sob a acusação de fraudes na Comissão
de Orçamento do Congresso Nacional e acabaram com seus mandatos cassados ou
renunciados.
O esquema tinha como articulador o deputado João Alves que desviava recursos
através da aprovação de emendas no Orçamento Geral da União que dispunham sobre a
inclusão de obras no orçamento, liberação de verbas ou aprovação de subvenções sociais para
entidades filantrópicas ligadas aos parlamentares. O pagamento de propinas era realizado
pelos prefeitos ou por empreiteiras.
42

Em 1995 ocorria o Escândalo da Pasta Rosa. A chamada “pasta rosa” consistia em


um aglomerado de documentos que comprovavam a contribuição de milhões de dólares do
Banco Econômico e da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para a campanha de cerca
de 50 candidatos às eleições desse ano, revelando um sistema de financiamento eleitoral ilegal
baseado no Caixa 2, ou seja, na prática de não declarar à Justiça Eleitoral parte das doações
recebidas para campanhas eleitorais.
Dentre os políticos envolvidos se encontravam Antônio Carlos Magalhães, eleito,
na ocasião, à governador da Bahia, bem como outros candidatos ao cargo, à exemplo de
Joaquim Francisco em Pernambuco e José Agripino Maia no Rio Grande do Norte; o senador
José Sarney; e os deputados federais Renan Calheiros, Ricardo Fiúza e Benito Gama.
O caso Banestado também merece destaque. Ocorrido em 1996, é considerado um
dos maiores esquemas de evasão de divisas e uma das investigações mais conturbadas nas
Comissões Parlamentares de Inquérito, envolvendo bilhões de reais enviados ilegalmente à
contas bancárias no exterior, chamadas de CC5, por meio do Banco Banestado no Estado do
Paraná.
Segundo investigações, um grupo de doleiros (dentre eles Alberto Youssef)
atuantes no Paraná, utilizando-se de laranjas, eram os responsáveis pelas movimentações
bancárias do Banco Banestado em Nova York para outros bancos dos Estados Unidos e, daí,
para paraísos fiscais. O referido esquema tinha como objetivo a sonegação de impostos, além
da lavagem de dinheiro, proveniente do tráfico de drogas, inclusive.
Contava com a participação de funcionários públicos, grandes empresários e
diversos políticos, como Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, Celso Pitta, ex-
prefeito de São Paulo, e Samuel Klein, dono da rede de comércio Casas Bahia. Culminou em
97 condenações, com a maioria gerando apenas penas restritivas de direitos, e muitos dos
denunciados se beneficiaram da extinção da punibilidade em decorrência da prescrição da
pretensão punitiva estatal e saíram impunes.
Em 1998, mais um escândalo estourava na Prefeitura de São Paulo, durante o
governo de Celso Pitta, e contava com a participação de vários vereadores, como José Izar,
que fora condenado à prisão anos depois pelo envolvimento no caso.
Conhecido como Máfia dos Fiscais, consistia em ameaças, por parte dos fiscais da
prefeitura, aos comerciantes e ambulantes da cidade de São Paulo, exigindo propinas para que
os mesmos não tivessem os estabelecimentos fechados ou mercadorias apreendidas por
supostas irregularidades. Depois de quase dez anos, mais uma denúncia a respeito das mesmas
práticas, também em São Paulo, dando origem à Operação Rapa.
43

Nos anos 2000, mais e mais escândalos vêm à tona. Em 2005, aconteceu a CPI
dos Correios, dando ensejo a um escândalo ainda maior, chamado pela mídia de Mensalão.
Neste ano, o diretor do Departamento de Contratação e Administração de Material da
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Maurício Marinho, foi filmado ao receber
propina e explicar um complexo esquema para fraudar licitações, que teria como chefe o
então deputado federal pelo Rio de Janeiro e presidente do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB), Roberto Jefferson.
Após a publicação do vídeo, o ex-deputado se viu isolado, sem apoio, e
resolveu denunciar um sistema de compra de votos de parlamentares, deflagrado no
primeiro mandato do governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT - Partido dos
Trabalhadores), o Mensalão.
O referido esquema tratava do pagamento mensal de cerca de 30 mil reais por
integrantes do governo federal a parlamentares em troca de votos favoráveis aos
Projetos de Lei apresentados ao Congresso Nacional. Roberto afirmou ainda que José
Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, liderava o esquema e quem distribuía os
recursos era Delúbio Soares, tesoureiro do PT.
A CPI culminou na cassação do mandato de alguns envolvidos, como José
Dirceu, Roberto Jefferson e Pedro Corrêa, bem como na condenação à prisão pelo
Supremo Tribunal Federal, a citar-se o empresário Marcos Valério, Delúbio Soares, João
Paulo Cunha, além dos outros três já mencionados.
Em 2006, mais um esquema de corrupção foi deflagrado pela Polícia Federal,
a Máfia dos Sanguessugas (ou da Ambulância). As investigações revelaram que o
esquema existia desde o ano de 2001 e consistia em licitações fraudulentas na área da
saúde para a compra de ambulâncias superfaturadas.
De acordo com a PF, os assessores de parlamentares recebiam propinas para a
liberação de emendas ao Orçamento da União para que os recursos fossem destinadas aos
municípios. Assim, valendo-se de empresas ligadas à Planam (que pagava as propinas), os
integrantes do esquema manipulavam as licitações e fraudavam a concorrência, forjando a
compra de ambulâncias com um valor cerca de 120% maior que o de mercado (MUSEU DA
CORRUPÇÃO, 2015, online).
Na operação foram presos assessores de deputados, deputados como Ronivon
Santiago e Carlos Rodrigues, funcionários da Planam (empresa acusada de montar o
esquema), servidores públicos e a ex-assessora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino.
44

Por fim, o Caso Petrolão, que recebeu esse nome por envolver a maior estatal do
País, a Petrobrás. Descoberto em 2009, ainda está sendo investigado por meio da Operação
Lava Jato que, segundo o Ministério Público, é a maior investigação de corrupção e lavagem
de dinheiro que o Brasil já teve. Além da expressão política e econômica dos envolvidos,
estima-se que os valores desviados atingem bilhões de reais.
O esquema foi descoberto através da investigação de crimes de lavagem de
dinheiro no Paraná, que envolviam o ex-deputado federal José Janene e os doleiros Alberto
Youssef e Carlos Habib Chater. Com isso, o Ministério Público Federal colheu provas do
grandioso esquema que envolve a Petrobrás.
Como explica o Ministério Público, em seu Portal de Combate à Corrupção (2015,
online):

Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em
cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O
valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários
superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do
esquema, incluindo doleiros investigados na primeira etapa.

São identificados, assim, quatro agentes necessários ao esquema: as empreiteiras,


que se organizavam para forjar uma livre concorrência, definindo valores e quem “ganharia”
o contrato; os funcionários da Petrobrás, que garantiam que apenas aquelas empresas seriam
convidadas à licitação; os doleiros, que intermediavam o pagamento de propinas disfarçando-
as de “dinheiro limpo”; e os agentes políticos, responsáveis pela indicação dos cargos de
diretoria da estatal.
Como se vê, há uma infinidade de casos envolvendo políticos (vereadores,
senadores, deputados, Presidente da República), pequenos e grandes empresários,
funcionários públicos dos mais diversos cargos, enfim, dos poderosos aos que pouco possuem
poder.
A quantidade de esquemas de corrupção que vem ao conhecimento do povo só
aumenta. Não se sabe se as práticas corruptas se intensificaram com o passar dos anos ou se
as investigações, as leis de transparência e a mídia estão contribuindo para escancarar os
esquemas; o que se sabe é que algo tem de ser feito para combater esse crime.
45

3.3 Os mecanismos de combate à corrupção no Brasil

A corrupção sempre existiu e é tida como um dos maiores problemas encarados


pelo Brasil. Está presente nos diversos setores da Administração Pública, tanto que o ex-
diretor da Petrobrás, em meio às investigações de um grande esquema de fraudes em
licitações (o Petrolão), chegou a afirmar que "Isso que está no noticiário, que acontecia na
Petrobrás, acontecia no Brasil inteiro, nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, aeroportos, nas
hidrelétricas, isso acontece no Brasil inteiro, é só pesquisar".
Afirmou, ainda, que “ninguém chega à diretoria da Petrobrás ou de outras
empresas sem indicação política”. Ou seja, para as pessoas físicas ou jurídicas conseguirem
algo junto ao poder público, tem de haver influência, jogo de interesses e, consequentemente,
pagamento de propinas.
Segundo Emerson Garcia (2014, p. 53):

A corrupção está associada à fragilidade dos padrões éticos de determinada socieda-


de, os quais se refletem sobre a ética do agente público. Por ser ele, normalmente,
um mero exemplar do meio em que vive e se desenvolve, um contexto social em que
a obtenção de vantagens indevidas é vista como prática comum dentre os cidadãos,
em geral, certamente fará com que idêntica concepção seja mantida pelo agente nas
relações que venha a estabelecer com o Poder Público.

Sendo assim, o referido autor (p. 49) afirma que o combate à corrupção pode se
dar de duas formas, a repressiva e a preventiva:

A prevenção pressupõe a solidificação dos padrões éticos, exigindo a


implementação de uma política educacional apta a atenuar as mazelas atuais e a
depurar as gerações vindouras, sendo igualmente importante o fortalecimento das
instituições com a instalação e funcionamento de Tribunais de Ética, que atuariam
como órgãos de controle interno e elementos de assepsia do sistema.
A repressão, por sua vez, materializar-se-á com a aplicação do vasto arcabouço nor-
mativo já existente, sendo o lenitivo adequado para se curar a ferida aberta com a
inescondível sensação de impunidade que há muito assola o povo brasileiro e que,
pouco a pouco, se busca dissipar.

Ou seja, para combater a corrupção, o país deverá associar ao acervo normativo


que criminaliza e visa punir as práticas corruptas, aos órgãos investigativos e à cultura de
transparência, uma política pública de conscientização, de educação ética e de incentivo à
participação da população na gestão governamental, além de um sistema punitivo eficaz.
46

Como se sabe, os prejuízos desta prática ao país são imensos e refletidos em


diversos setores, comprometendo os serviços públicos, o crescimento econômico, atentando
contra a democracia e a legitimidade das instituições.
Conforme dispõe Damásio de Jesus (2003, p. 14): “A corrupção prejudica o
progresso das nações e, a par da impunidade que a acompanha, debilita as instituições e a
moral pública, gerando alto custo, responsável pelo empobrecimento do povo.”
Com o passar dos anos, os grandes esquemas de corrupção foram sendo
descobertos, amplamente divulgados e se tornando cada vez mais complexos, pondo em
evidência a necessidade de criação e aperfeiçoamento de medidas de combate à corrupção,
com o fim de fazer com que esse crime não compense.

3.3.1 Legislação Anticorrupção

Assim como a corrupção sempre esteve presente na história do país, as normas


jurídicas que visam combater essa prática também, cada uma adequada a época em que foi
produzida. Todas as Constituições trataram da corrupção, o Código Penal de 1830 já
criminalizava práticas como prevaricação, suborno e concussão, mas eram legislações brandas
e pouco eficazes.
Com o tempo, foram surgindo verdadeiras inovações legislativas para assegurar o
enfrentamento à corrupção, instituindo medidas e criminalizando as práticas corruptas,
trazendo punições administrativas, civis e penais.
O primeiro grande avanço ocorreu com a Lei de Ação Popular (Lei nº 4.717/65),
estabelecendo que “qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a
declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público”.
A Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.492/92) também representa um
dos grandes avanços ao dispor “sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de
enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração
pública”; de qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que cause lesão ao erário (artigo
10); ou de qualquer ação ou omissão que viole os princípios da administração pública
previstos no artigo 37 da Constituição Federal (artigo 11).
As ações de improbidade administrativa geram como sanção, conforme artigo 12
da referida lei, a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, pagamento
de multa civil, ressarcimento integral do dano, perda da função pública, suspensão dos
47

direitos políticos e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios fiscais,
direta ou indiretamente.
É importante ressaltar que as punições previstas nessa Lei são de natureza cível,
não prejudicando as sanções de natureza penal, ao responder por crimes contra a
administração pública, e administrativa, em um processo interno do órgão ao qual pertence.
A Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93), ao regulamentar a forma de contratação de
obras, serviços e transações comerciais no âmbito do Poder Público, visa limitar a
discricionariedade dos agente públicos nesses casos, obstando possíveis preferências e
prejuízos ao erário através do superfaturamento.
Por envolver grandes valores, muitos esquemas de corrupção se iniciam através
das licitações, o que torna esta lei essencial, pois descreve minuciosamente o procedimento a
ser seguido, bem como criminaliza e estabelece punições a certas práticas, como dispensa de
licitação fora das hipóteses previstas na lei, ou fraudar, mediante combinação ou ajustes, o
caráter competitivo dos procedimentos licitatórios, dentre outras.
A corrupção está intimamente ligada, também, ao crime de lavagem de dinheiro
que consiste em “ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou
indiretamente, de infração penal”, conforme artigo 1º da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº
9.613/98, alterada pela Lei nº 12.683/12).
A lei em referência institui o Conselho de Controle de Atividades Financeiras -
COAF, competente por identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas e aplicar
penas administrativas (artigo 14), e que, ao agir juntamente com outras instituições, ajuda no
combate à corrupção; além de prever punições rigorosas para os crimes de lavagem de
dinheiro e o instituto da delação premiada, que contribui diretamente na investigação desses
crimes.
A Lei Complementar de Transparência (Lei nº 131/09) e a Lei de Acesso à
Informação (Lei nº 12.527/11) são consideradas marcos legais no combate à corrupção, pois
asseguram o acesso às informações referentes ao poder público, principalmente, no que diz
respeito às atividades financeiras dos entes da federação, permitindo um maior controle social
dos agentes públicos.
Estas leis definem procedimentos para os pedidos de acesso à informação e
determinam que as informações de interesse coletivo sejam divulgadas, principalmente
através da Internet, “disponibilizando, em tempo real, informações pormenorizadas sobre a
48

execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos


Municípios.”
A Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº 135/10) é outra considerada como
um avanço no combate à corrupção. Criada por meio de iniciativa popular, contou com 1,3
milhão de assinaturas dos cidadãos e tinha como objetivo proteger a probidade administrativa,
certificando-se da idoneidade e da moralidade dos candidatos.
Para tanto, torna inelegível aquele que fora condenado por corrupção eleitoral, que
tiver o mandato cassado ou renunciar para evitar a cassação, os excluídos do exercício da
profissão em decorrência de infração ético-profissional, dentre muitas outras hipóteses que
visam proteger o cidadão de uma armadilha criada por ele mesmo, pois, por diversas vezes,
candidatos conhecidamente corruptos são eleitos, sendo colocados, pelo próprio povo, em
posições favorecidas para desviar verbas públicas.
Já a Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/2013) traz inovação no que diz respeito à
responsabilização objetiva de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração
pública, nacional ou estrangeira, com punições administrativas e civis. Assim, as empresas
corruptoras também serão penalizadas, podendo pagar multa de até 20% de seu faturamento
bruto ou de três vezes o valor da vantagem auferida.
Referida lei inclui os dirigentes ou administradores na responsabilização, na
medida de suas culpabilidades, além de tratar do acordo de leniência, espécie de delação
premiada das pessoas jurídicas.
Para a aplicação desse instituto, o artigo 16 da lei estabelece que a pessoa jurídica
tem que preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: ser a primeira dentre as
infratoras a manifestar seu interesse em cooperar para a apuração do ato ilícito, cessar
completamente seu envolvimento na infração investigada a partir da data de propositura do
acordo, admitir sua participação no ilícito e cooperar plena e permanentemente com as
investigações e o processo administrativo
Além disso, é necessário que a colaboração resulte na identificação dos demais
envolvidos na infração, se houver, na obtenção célere de informações e documentos que
comprovem o ilícito sob apuração.
Se preenchidos os requisitos, o acordo será celebrado e poderá resultar na isenção
da obrigatoriedade de publicação da decisão condenatória e de proibição de receber
incentivos, subsídios, ou empréstimos de órgãos públicos ou controlados pelo poder público,
bem como na redução de até 2/3 (dois terços) da multa aplicável. Excluindo-se essas, todas as
outras sanções poderão ser aplicadas.
49

Assim como a Lei Anticorrupção que trata do acordo de leniência, a Lei de


Organização Criminosa (Lei nº 12.850/13) contribui para o combate à corrupção ao
regulamentar o instituto da delação premiada, importante técnica de investigação que permite
desarticular as organizações criminosas e, consequentemente, os esquemas de corrupção
política.

3.3.2 Criação e fortalecimento de órgãos investigativos e fiscalizadores

A criação de órgãos, o fortalecimento e a integração institucional tem um


importante papel na batalha contra a corrupção. Nesse contexto, destaca-se a importância de
órgãos como a Controladoria-Geral da União (CGU), o Departamento da Polícia Federal, o
Ministério Público, o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Conselho de Controle das
Atividades Financeiras (COAF), dentre outros, que atuam em parceria para o controle dos
recursos públicos e o combate à corrupção.

3.3.2.1 Controladoria Geral da União

Um dos maiores agentes no enfrentamento desta prática é a Controladoria Geral


da União. Criada em 2003, através da Lei nº 10.683, incorporou a antiga Corregedoria Geral
da União, criada em 2001, que tinha como objetivo a proteção do patrimônio público, bem
como o combate à fraude e à corrupção no âmbito do Poder Executivo Federal.
Dividida em quatro setores, Secretaria de Transparência e Prevenção da
Corrupção (STPC), Secretaria Federal de Controle Interno (SFC), Corregedoria-Geral da
União (CRG) e Ouvidoria-Geral da União (OGU), é um órgão de controle interno responsável
por assistir diretamente o Presidente da República e à quem compete a promoção da
transparência, do acesso à informação, do controle social, da conduta ética e da integridade
nas instituições públicas e privadas. É responsável, também, por incentivar a cooperação entre
os órgãos atuantes na prevenção da corrupção.
Munida destas competências, a CGU adota diversas medidas que auxiliam o
combate à corrupção, como a criação da Biblioteca Virtual sobre a Corrupção. Lançada em
parceria com o Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crime (UNODC), “tem como
objetivo, além de promover a pesquisa e a divulgação de informações sobre corrupção e
assuntos afins, estimular o controle social e o exercício da cidadania por meio da difusão do
conhecimento”, de acordo com o próprio site.
50

Foi instituída também uma política de fiscalização por sorteios públicos, ou seja,
os municípios ou estados a serem fiscalizados quanto à utilização dos recursos públicos serão
definidos por meio de sorteio. Então, auditores são enviados para examinar contas e
documentos, além das obras e serviços propriamente ditos, realizando contato com a
população, e acabando por influenciar a participação dos mesmos no controle dos recursos.
Com o fim de evitar as práticas corruptas por meio de qualquer agente da
administração pública, vem ocorrendo desde o ano de 2003 e até 2014, segundo a página
oficial da CGU (2015, online), e já fiscalizou a aplicação de 29,2 bilhões de reais do dinheiro
público em estados e municípios. Os relatórios da fiscalização são enviados aos órgãos de
defesa do Estado para que tomem as devidas providências.
Além desses, diversos outros programas são lançados pela CGU com o fim de
melhor fiscalizar e incentivar a participação da população no controle dos recursos públicos,
como o Programa Olho Vivo para conscientização política e incentivo à participação do
cidadão; o Portal da Transparência, pelo qual o cidadão pode acompanhar a aplicação dos
recursos públicos federais, contendo dados sobre os gastos realizados por todos os entes da
federação; o Portal da ouvidoria pelo qual pode fazer denúncias, bem como reclamações e
sugestões, facilitando e aproximando a população dos órgãos; dentre outros.

3.3.2.2 Tribunal de Contas da União

Enquanto a Controladoria Geral da União atua no controle interno das finanças do


Governo Federal, o Tribunal de Contas da União (TCU) age no controle externo, juntamente
com o Congresso Nacional.
Instalado em 1893, tinha competência para examinar, revisar e julgar todas as
operações relacionadas com a receita e a despesa da União. Sofreu várias modificações por
meio das Constituições promulgadas, tanto ampliando como restringindo seus poderes, até
que, com a Constituição Federal de 1988, teve a sua jurisdição e competência definitivamente
ampliadas e previstas nos artigos 71 à 74.
Dentre suas competências, previstas no artigo 71 da Constituição, estão: apreciar
as contas anuais do Presidente da República; julgar as contas dos responsáveis por recursos
públicos; realizar inspeções e auditorias por iniciativa própria ou por solicitação do Congresso
Nacional; fiscalizar a aplicação de recursos da União repassados aos outros entes da
federação; aplicar sanções em caso de ilegalidades de despesas e irregularidades de contas,
51

determinando suas correções; dentre muitas outras conferidas pela Lei de Responsabilidade
Fiscal, pela Lei de Licitações e Contratos e, anualmente, pela Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Ademais, o Tribunal de Contas da União exerce funções de ouvidoria, como
instrumento de fortalecimento da cidadania, recebendo denúncias a respeito das
irregularidades ou ilegalidades. É adepto, também, da cultura da Transparência, publicando o
cadastro de responsáveis por contas julgadas irregulares, os relatórios das fiscalizações, etc.
Torna-se evidente, portanto, a necessidade da atuação do órgão em referência no
combate ao crime de corrupção, pois, por ser um órgão externo de controle das contas é,
supostamente, mais autônomo, mais imparcial, independente do Poder Executivo, tornando o
controle mais eficaz e que, além de fiscalizar, promove ações de responsabilização daqueles
que causaram prejuízo ao erário.

3.3.2.3 Departamento da Polícia Federal

O Departamento da Polícia Federal (DPF), criado em 1944 por meio do Decreto


Lei nº 6.378, é subordinado ao Ministério da Justiça e organizado e mantido pela União.
Exerce a função de polícia judiciária da União, essencial ao enfrentamento da corrupção, pois,
conforme site institucional (2015, online):

O órgão tem como atribuição apurar infrações penais contra a ordem política e social
ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas. Também atua nas infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme.

Sendo órgão essencialmente investigativo, é responsável pelo descobrimento das


minúcias dos diversos esquemas de corrupção no país e por seus consequentes
desmantelamentos.
Após análise de dados publicados pelo próprio Departamento, percebe-se seu
fortalecimento, com ampla atuação e maior poder investigativo, no decorrer dos anos. No ano
de 2003, foram realizadas apenas 18 operações no geral, passando à 236 operações em 2009,
inclusive com a prisão de 216 servidores públicos, e à 284, em 2011, com a prisão de 145
servidores.
Em parceria com a Controladoria Geral da União e com o Ministério Público, já
realizou mais de 18 operações de combate à corrupção só até o mês de setembro de 2015,
mesmo número de operações realizadas em um período de 4 anos, de 2003 à 2006,
52

identificando um prejuízo ao erário de 37 milhões de reais. Nos anos de 2010, 2011 e 2012 a
quantidade foi maior, contando com 24 à 25 operações por ano (dados retirados da página da
Controladoria Geral da União).
Mas, segundo o Presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia
Federal, Marcos Leôncio Ribeiro (2015), apesar dos inegáveis avanços, como a Lei nº
12.830/2013 que amplia autonomia investigativa do Delegado de Polícia, ainda é necessário
instituir um modelo administrativo que garanta maior autonomia à Polícia Federal no combate
à corrupção, livre de interferências políticas de qualquer tipo.
Sendo assim, a Associação apresenta uma série de propostas para melhorar a
atuação da instituição, como:

... a criação de delegacias especializadas em todas as Superintendências Regionais,


com a garantia de recursos humanos e financeiros para atuação em sintonia com uma
Coordenação -Geral de Combate à Corrupção e conforme um Plano Nacional de
Enfrentamento à Corrupção, com previsão de recursos orçamentários anuais, via
ação específica na própria Polícia Federal protegida, dentro do possível, de
contingenciamentos. (RIBEIRO, 2015)

Propõe, ainda, a autonomia administrativa e financeira garantida por meio de


Emenda à Constituição, bem como a previsão da possibilidade de instauração, de ofício, pelo
Delegado, de inquéritos policiais sobre crimes eleitorais, e a criação de um Conselho Nacional
de Polícia Judiciária, composta por autoridades e representantes da população, para atuar em
casos de corrupção dentro da própria instituição, dentre outras sugestões, que serão
divulgadas por meio da campanha “Mais Autonomia” (RIBEIRO, 2015).

3.3.2.4 Conselho de Controle das Atividades Financeiras

O Conselho de Controle das Atividades Financeiras (COAF), órgão vinculado ao


Ministério da Fazenda, foi criado por meio da Lei nº 9.613/98 e tem como atribuições,
basicamente, a prevenção e o combate aos crimes de lavagem de dinheiro e financiamento do
terrorismo, fiscalizando setores da economia como o sistema financeiro, o mercado
imobiliário e as juntas comerciais.
Tem suas competências definidas pelos artigos 14 e 15 da referida lei, quais
sejam: disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as
ocorrências suspeitas de atividades ilícitas; coordenar e propor mecanismos de cooperação e
de troca de informações que viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à ocultação ou
53

dissimulação de bens, direitos e valores; comunicar às autoridades competentes para a


instauração dos procedimentos cabíveis, quando concluir pela existência de crimes previstos
nesta Lei, de fundados indícios de sua prática, ou de qualquer outro ilícito; e regular os setores
econômicos para os quais não haja órgão regulador ou fiscalizador próprio.
Conforme página institucional (2015, online), no ano de 2012, mais de 2 mil
Relatórios de Inteligência Financeira (RIF’s), envolvendo três milhões e meio de reais, foram
enviados aos órgãos competentes após análise das movimentações financeiras realizadas pelos
municípios e servidores públicos, o que representa um avanço na participação deste órgão no
combate à corrupção. Comparado ao ano de 2011, houve um aumento de 37%.
No ano de 2015, já foram recebidas 197.499 comunicações, por parte de setores
econômicos obrigados, sobre operações financeiras atípicas. Inclusive, no que diz respeito à
Operação Lava Jato, ainda em andamento, o órgão já enviou 267 relatórios de operações que
somam mais de 50 bilhões de reais, conforme afirma o Presidente do Conselho de Controle de
Atividades Financeiras, Antônio Gustavo Rodrigues (CASADO, 2015).

3.3.2.5 Ministério Público

O Ministério Público é uma instituição independente, organizada pela Lei


Complementar nº 75/93, a quem cabe a defesa da ordem jurídica, do estado democrático de
direito e dos direitos sociais e individuais indisponíveis, garantindo que os direitos
constitucionalmente assegurados sejam respeitados.
É responsável, também, pela fiscalização da aplicação das leis, a defesa do
patrimônio público e a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder.
Organizado em câmaras de Coordenação e Revisão, tem a 5ª Câmara dedicada
exclusivamente à repressão da corrupção.
Ademais, “...desde julho de 2014, mais de dez Núcleos e Ofícios de Combate à
Corrupção foram criados em todo o Brasil, como uma estratégia para tornar mais rápida e
eficiente a atuação do Ministério Público Federal em processos relativos à corrupção”,
conforme Portal de Combate à Corrupção da própria instituição (2015, online).
Com função essencialmente jurisdicional, é munida de legitimidade para propor
ações criminais e ações por ato de improbidade administrativa contra aqueles que desviam e
aplicam indevidamente recursos públicos federais.
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Sendo assim, possui papel indiscutivelmente necessário na luta contra a


corrupção, visto que será o órgão responsável pela acusação dos culpados em busca de
efetivas punições.
Em 14 de maio de 2015, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso
Extraordinário 593727/MG de relatoria do Ministro Cézar Peluso, reconheceu o poder de
investigação do Ministério Público, conforme trecho da decisão:

Em seguida, o Tribunal afirmou a tese de que o Ministério Público dispõe de


competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável,
investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que
assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado,
observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de
jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em
nosso País, os Advogados (Lei nº 8.906/94, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III,
XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado
democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos,
necessariamente documentados (Súmula Vinculante nº 14), praticados pelos
membros dessa Instituição.
(STF, RE 593727/MG, Relator: Ministro Cézar Peluso, Relator para acórdão:
Ministro Gilmar Mendes, Julgamento: 14/05/2015, Publicação: DJe 08/09/2015)

De acordo com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o Ministério


Público busca, com isso, o trabalho conjunto com a Polícia, e não estabelecer uma cisão entre
as duas instituições. Cada um contribuirá com a investigação naquilo que lhe é próprio,
tornando-a mais ágil e eficiente. Junto à Polícia Federal, já foram realizadas grandiosas
operações, como a Lava Jato, o Mensalão, a Sanguessuga, dentre muitas outras.
Conforme dados publicados pelo próprio Ministério Público, desde 2013 já foram
propostas quase 5.500 ações de improbidade administrativa contra agentes públicos (gestores,
ex-gestores e servidores) e particulares que se beneficiaram das irregularidades, concorrendo
para o prejuízo ao erário. Referidas irregularidades (procedimentos licitatórios fraudulentos,
desvio de verbas públicas, inconsistências na prestação de contas ou mesmo a sua omissão)
podem dar ensejo, inclusive, à propositura de ações penais contra os agentes.
Percebe-se que há muitos órgãos e ações voltadas ao combate das práticas
corruptas, no entanto, estas continuam a permear as relações públicas, causando enormes
prejuízos aos cofres públicos e, consequentemente, ao povo.
Diante disso, o Procurador da República Deltan Dallagnol, um dos integrantes da
Operação Lava Jato, afirmou não acreditar no combate à corrupção no Brasil. Segundo ele,
com o sistema de dosimetria da pena e a demora nos julgamentos que levam à prescrição e
contribuem para a impunidade, esta prática passa a valer à pena no país.
55

Visando aprimorar os procedimentos de prevenção e combate à corrupção e à


impunidade (considerada principal responsável pela ocorrência desmedida de crimes), o
Ministério Público lançou projeto de lei de “10 medidas contra a corrupção”.
As propostas objetivam, basicamente, conforme o Portal de Combate à Corrupção
da instituição (2015, online), evitar a ocorrência de corrupção através da prestação de contas,
treinamentos e testes morais de servidores, ações de conscientização e proteção à quem
denuncia a corrupção; criminalizar o enriquecimento ilícito; aumentar penas da corrupção e
tornar hedionda aquela de altos valores; agilizar o processo penal e o processo civil de crimes
e atos de improbidade; reformar os sistemas de prescrição e nulidades; criminalizar caixa dois
e lavagem eleitorais; permitir punição objetiva de partidos políticos por corrupção em
condutas futuras; viabilizar a prisão preventiva para evitar que o dinheiro desviado
desapareça; agilizar o rastreamento do dinheiro desviado; e, por fim, fechar brechas da lei por
onde o dinheiro desviado escapa (por meio da ação de extinção de domínio e do confisco
alargado).
Além disso, foi lançada a campanha internacional “#CORRUPÇÃONÃO”,
objetivando a conscientização ética e política da sociedade, principalmente no que diz respeito
ao papel do Ministério Público no enfrentamento da corrupção, e a ampliação do debate sobre
o combate deste crime, tomando como base o fato de que a corrupção está presente no dia a
dia de todos e que precisa ser combatida daí.
É veiculada através de páginas na internet e tem como público-alvo os jovens,
visto que, segundo o Procurador-geral Rodrigo Janot, pesquisas recentes da Transparência
Internacional dispõem que estes são os mais incomodados com a corrupção e estão mais
dispostos a encarar as mudanças culturais necessárias ao enfrentamento desta.
Como se vê, é de suma importância a cooperação e integração dos órgãos do
poder público para um ágil e efetivo combate, tanto preventivo como repressivo, da
corrupção, formando um verdadeiro sistema em que cada órgão contribui e complementa a
função do outro.

3.3.3 Convenções Internacionais

A corrupção não é um problema enfrentado apenas pelo Brasil, mas por todos os
países do mundo. Além disso, os casos de corrupção tomam proporções extraterritoriais, ao
prejudicar as relações exteriores ou ao envolver outros países no esquema, como quando os
56

corruptos se valem de países conhecidos como “paraísos fiscais” para cometer o crime de
lavagem de dinheiro, por exemplo.
Preocupados com os prejuízos trazidos pela corrupção e convencidos de que esta
deixou de ser um problema local para converter-se em um fenômeno transnacional, que afeta
todas as sociedades, os países se mobilizaram para o combate à corrupção, criando
instrumentos internacionais com o fim de promover a cooperação internacional e tomar as
devidas providências contra essa prática (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2010,
p. 1).
As convenções internacionais ratificadas pelo Brasil sobre o combate à corrupção
são: a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em
Transações Comerciais Internacionais, a Convenção Interamericana contra a Corrupção e a
Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção.
A primeira, estabelecida no âmbito da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico – OCDE, foi firmada pelo Brasil em 1997, ratificada em 2000,
e promulgada pelo Decreto Presidencial nº 3.678/2000.
Tem como finalidade reprimir, efetiva e coordenadamente, o suborno de
funcionários públicos estrangeiros nas transações comerciais internacionais, adotando
medidas como a responsabilização de pessoas jurídicas que corrompam agentes públicos
estrangeiros e a manutenção de registros contábeis que dificultem a lavagem de dinheiro e o
pagamento de propinas, e obrigando cada país a adaptar a legislação para criminalizar o ato de
corrupção de funcionários públicos, inclusive estrangeiros.
Para suprir essas exigências, foram editadas as Leis nº 10.467/02 e 12.846/13. A
primeira acrescentou ao Código Penal um capítulo referente aos crimes praticados por
particular contra a administração pública estrangeira. A segunda prevê a responsabilização de
pessoas jurídicas que praticarem atos de corrupção contra a administração pública estrangeira.
A Convenção Interamericana contra a Corrupção foi firmada em 1996 no âmbito
da Organização dos Estados Americanos, aprovada e promulgada (Decreto Presidencial nº
4.410) pelo Brasil no ano de 2002.
Tem como propósitos, definidos em seu artigo II, “promover e fortalecer o
desenvolvimento, por cada um dos Estados Partes, dos mecanismos necessários para prevenir,
detectar, punir e erradicar a corrupção”, bem como “promover, facilitar e regular a
cooperação entre os Estados Partes a fim de assegurar a eficácia das medidas e ações
adotadas.”
57

Para tanto, define alguns atos de corrupção para efeitos da Convenção em seu
artigo VI e determina que os Estados Partes adotem medidas legislativas para criminalizar
referidos atos, quais sejam:

l. Esta Convenção é aplicável aos seguintes atos de corrupção:


a. a solicitação ou a aceitação, direta ou indiretamente, por um funcionário público
ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário ou de
outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens para si mesmo ou
para outra pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer ato no
exercício de suas funções públicas;
b. a oferta ou outorga, direta ou indiretamente, a um funcionário público ou pessoa
que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário ou de outros
benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens a esse funcionário
público ou outra pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer
ato no exercício de suas funções públicas;
c. a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que exerci funções
públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício de sua; funções, a fim de obter
ilicitamente benefícios para si mesmo ou pari um terceiro;
d. o aproveitamento doloso ou a ocultação de bens provenientes de qualquer dos atos
a que se refere este artigo; e
e. a participação, como autor, coautor, instigador, cúmplice, acobertado! ou
mediante qualquer outro modo na perpetração, na tentativa de perpetração ou na
associação ou confabulação para perpetrar qualquer dos atos a que se refere este
artigo.

Prevê em seu artigo III que os Estados devem considerar a adoção de medidas
preventivas, em seus próprios sistemas institucionais, como: o estabelecimento de normas de
conduta para o exercício correto e honrado das funções públicas; a criação de mecanismos
para tornar efetivo o cumprimento destas normas; a instituição de sistemas para arrecadação e
controle da renda do Estado que impeçam a prática da corrupção; e o estímulo à participação
da sociedade civil e de organizações não governamentais na prevenção à corrupção.
A Convenção prevê ampla cooperação entre os países, determinando a facilitação
de diligências, ligadas à investigação e à obtenção de provas, solicitadas por autoridades do
país estrangeiro, bem como possibilitando extradições de criminosos corruptos.
Em razão da referida Convenção, o Brasil já evoluiu bastante no combate à
corrupção, através da edição de leis, como a Lei de Conflito de Interesses (Lei nº 12.813/13),
que “estabelece formas do agente público se prevenir da ocorrência do conflito de interesses,
prevendo, por outro lado, punição severa àquele que se encontrar em alguma dessas
situações”, e da criação de órgãos como a Secretaria de Prevenção da Corrupção e
Informações Estratégicas – SPCI no âmbito da Controladoria Geral da União.
58

Por fim, a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, assinada em 2003 e
promulgada no Brasil por meio do Decreto nº 5.687 de 2006. Contando com a participação de
mais de cem países, é considerada a mais importante no combate à corrupção global.
Segundo o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes - UNODC
(2010, p. 2), “a Convenção da ONU contra a Corrupção traz uma abordagem integrada e
balanceada entre prevenção, criminalização, cooperação internacional e recuperação de
ativos.”
Prevê, portanto, para a prevenção da corrupção: a criação de órgãos anticorrupção
e maior transparência no financiamento de campanhas eleitorais e partidos políticos, a
promoção da integridade nos setores públicos e privados, e o incentivo à participação de
organizações não-governamentais e da sociedade civil.
Além disso, determina a criminalização de vários atos relacionados à corrupção,
como tráfico de influência e obstrução da justiça; a cooperação entre os países a fim de
facilitar a investigação e a adoção de procedimentos judiciais, com o compartilhamento de
provas e extradição de pessoas condenadas; e, por fim, a recuperação de ativos, em que os
recursos públicos desviados para o exterior deverão retornar ao país prejudicado, os bens aos
seus legítimos proprietários e as vítimas receberão indenização (NAÇÕES UNIDAS, 2010, p.
2).
O Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes auxilia os países-
membros a aplicarem as disposições da Convenção através de projetos de assistência técnica,
direcionados tanto ao setor público quanto ao setor privado.
Sendo assim, desde de 2005 mantém uma parceria com a Controladoria Geral da
União para fortalecer as instituições anticorrupção, com a aperfeiçoamento da legislação
nacional e das técnicas de auditoria, e com a mobilização social.
59

4 A DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO DE COMBATE À CORRUPÇÃO


POLÍTICA

A despeito da existência de incontáveis “armas” de combate à corrupção política,


como órgãos, legislações e convenções internacionais anticorrupção, novos mecanismos estão
sempre surgindo para acompanhar o aprimoramento das práticas criminosas.
Previsto no ordenamento jurídico brasileiro desde o ano de 1990, o instituto da
delação premiada foi posto em evidência recentemente, diante de grandiosos escândalos de
corrupção, como o “Mensalão” e o “Petrolão”, e vem sendo alvo de severas críticas e
questionamentos quanto à sua real influência no enfrentamento à corrupção política.
As principais críticas ao referido instituto, como instrumento de investigação
legítimo e eficaz no combate ao crime organizado, giram em torno da ausência de fundamento
ético, por incentivar a traição entre os membros da organização criminosa; do rompimento
com princípios e garantias constitucionais, como o da proporcionalidade da pena, quando
autores do mesmo crime recebem penas diferentes; da possível utilização desmedida do
instituto, bem como da possibilidade da prisão cautelar servir de coação para que os acusados
passem à delatar, o que tornaria a delação inválida.
Apesar dos diversos ataques, é inegável que o a delação premiada traz verdadeiras
vantagens à sociedade, sendo medida indispensável no combate às organizações criminosas,
as quais, em razão da lei do silêncio que reina entre seus membros, hierarquicamente
organizados, dificilmente são desmanteladas.
Com a aplicação da delação premiada, o silêncio vem por terra e passa a atingir os
verdadeiros chefes do crime organizado, que não se viam ameaçados pela pretensão punitiva
estatal, uma vez que apenas os membros de baixo “cargo” eram descobertos e punidos e, por
serem facilmente substituídos, não prejudicavam o funcionamento da associação criminosa,
que continuava em ação.

4.1 A importância da delação premiada

A delação premiada, desde seu surgimento, já se mostrava necessária e eficaz


como forma de auxiliar o Estado no enfrentamento à crimes dificilmente combatidos por ele,
como na conhecida “Operação Mãos Limpas”, ocorrida na Itália, quando grandes
organizações criminosas foram desbaratadas através de delações de alguns de seus
60

participantes. A grandiosa e conhecida Máfia Italiana estava lidando com a possibilidade da


real punição (ARANHA, 2008, p. 136).
Diante do sucesso do referido caso e da crescente criminalidade organizada, que
se torna cada vez mais complexa, o instituto se espalhou pelos diversos países do mundo,
sendo incorporado pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Previsto de forma modesta e esparsa, necessitava de um lei que dispusesse a
respeito de suas características e procedimento para que fosse aplicado da melhor maneira.
Sendo assim, passou a ser mais utilizado a partir da Lei nº 12.850 de 2013, embora já o fosse
antes, tomando maiores proporções na Operação Lava Jato, ainda em andamento, que
investiga o esquema de corrupção envolvendo a maior estatal do país, a Petrobrás.
Desde então, está sendo alvo de críticas de advogados e doutrinadores que
discordam dessa “parceria” entre os criminosos e o Estado, além de acreditarem que o
instituto desrespeita diversos preceitos e direitos constitucionais garantidos ao acusado no
processo penal.
Em entrevista dada à Revista eletrônica Carta Capital, Augusto de Arruda
Botelho, presidente do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) e advogado criminal,
afirma que a aplicação da delação premiada põe em risco os direitos do acusado dentro do
processo penal, pois “A delação não é voluntária, é uma coação. O réu não tem outra opção
senão contar. Tem-se a prisão, a coação e depois um ‘prêmio’”.
Assim, segundo ele, a delação seria a única possibilidade de defesa do acusado,
que, combinada com a desistência de todos os recursos através do acordo de colaboração (o
que vem ocorrendo na Operação Lava Jato), consistiria em uma grave violação aos direitos de
defesa.
Segundo o Procurador Deltan Dallagnol, em entrevista dada ao Jornal O Globo
(2015, online), a renúncia ao direito de recorrer é decorrência lógica da concessão do
benefício de redução de pena. Com a redução da pena, aumentam-se as chances de prescrição
do crime, que ocasionaria o cancelamento do processo penal e, consequentemente, a
impunidade do delator/acusado.
De acordo com Oliveira (2014, p. 837), uma das críticas mais pertinentes à
colaboração premiada consiste na possibilidade da falsidade das informações prestadas pelo
colaborador. Ao se ver diante da oportunidade de receber benefícios e melhorar sua situação
perante à Justiça, o delator passa a dar depoimentos inverídicos, conduzindo as investigações
para fatos e pessoas menos importantes, ou mesmo inocentes, prejudicando a persecução
61

penal e o direito de defesa dos delatados. Embora ressalte, também, a constitucionalidade e a


validade da delação premiada.
No entanto, o delator estará sob o compromisso de dizer apenas a verdade,
podendo responder por denunciação caluniosa caso se valha de depoimentos falsos como
medida protelatória da investigação.
Há quem afirme, ainda, que o Ministério Público estaria buscando, ao propor o
acordo de colaboração, “mascarar” provas obtidas de maneira ilícita, ou seja, os possíveis
delatores dariam informações já obtidas pelo órgão, mas que não podiam ser utilizadas, uma
vez que obtidas ilegalmente.
Advogados acreditam, também, que o uso do instituto configuraria uma
incoerência por parte do Poder Público, pois alguém que “sabe mais”, ou seja, que realmente
esteja envolvido no crime, poderá ser beneficiado com o acordo de colaboração, e quem
menos saiba, quem participou de maneira supérflua, ou até é inocente, não dará depoimentos
efetivamente contributivos, não sendo premiado, ou terá que “provar sua inocência”.
O instituto é aplicado, principalmente, aos acusados de crimes de “colarinho
branco”, ou seja, crimes cometidos por pessoas de elevada respeitabilidade e posição sócio-
econômica, no exercício de suas ocupações, consistindo, geralmente, em crimes contra a
ordem econômica e financeira. Para tanto, são utilizados métodos sofisticados e complexos
que dificultam a percepção e a investigação do crime, tornando necessário o uso da delação
(MUSEU DA CORRUPÇÃO, 2015, online).
A corrupção, como se sabe, engloba referidas práticas e, ainda mais, envolve
pessoas altamente influentes que dificilmente seriam descobertas como participantes dos
esquemas. Ao chegar em membros de menor escalão, que expõem, por qualquer motivo que
seja, todos os participantes, a hierarquia, os crimes praticados, o caminho percorrido pelo
dinheiro desviado, dentre outros fatos, a investigação se torna mais ágil e eficiente,
possibilitando a condenação e punição dos verdadeiros articuladores dos crimes.
Sendo assim, a delação premiada é um importante instrumento de combate a um
dos principais problemas do Brasil, a corrupção. Conforme dispõe Nucci (2015, B):

… parece-nos que a delação premiada é um mal necessário, pois o bem maior a ser
tutelado é o Estado Democrático de Direito. Não é preciso ressaltar que o crime
organizado tem ampla penetração nas entranhas estatais e possui condições de
desestabilizar qualquer democracia, sem que se possa combatê-lo, com eficiência,
desprezando-se a colaboração dos conhecedores do esquema, dispondo-se a
denunciar coautores e partícipes.
62

E prossegue:

A rejeição à ideia da colaboração premiada constituiria um autêntico prêmio ao


crime organizado e aos delinquentes em geral, que, sem a menor ética, ofendem
bens jurídicos preciosos, mas o Estado não lhes poderia semear a cizânia ou a
desunião, pois não seria moralmente aceitável. Se os criminosos atuam com regras
próprias, pouco ligando para a ética, parece-nos viável provocar-lhes a cisão,
fomentando a delação premiada (NUCCI, 2015, B).

No entanto, apesar de necessária, a delação premiada e os depoimentos obtidos


com ela “... devem ser vistos com muitas reservas, já que se tratam de pessoas acusadas por
crimes graves e que buscam benefícios de redução de pena decorrente da colaboração”,
conforme afirma o Juiz Federal Sérgio Moro em decisão proferida no dia 10 de novembro de
2015 nos autos do Pedido de Busca e Apreensão Criminal nº 5073475-13.2014.404.7000/PR.
E afirma, em defesa do instituto:

É instrumento de investigação e de prova válido e eficaz, especialmente para crimes


complexos, como crimes de colarinho branco ou praticados por grupos criminosos,
devendo apenas serem observadas regras para a sua utilização, como a exigência de
prova de corroboração. Sem o recurso à colaboração premiada, vários crimes
complexos permaneceriam sem elucidação e prova possível.

Inclusive, colaciona comentários de um Juiz dos Estados Unidos, onde a delação


surgiu (plea bargaining) e é bastante utilizada, mas com base em um sistema diferente do
Brasil, pois lá, com a declaração de culpa do réu (guilty), fica automaticamente derrubada a
presunção de inocência:

A respeito de todas as críticas contra o instituto da delação premiada, toma-se a


liberdade de transcrever os seguintes comentários do Juiz da Corte Federal de
Apelações do Nono Circuito dos Estados Unidos, Stephen S. Trott:
'Apesar disso e a despeito de todos os problemas que acompanham a utilização de
criminosos como testemunhas, o fato que importa é que policiais e promotores não
podem agir sem eles, periodicamente. Usualmente, eles dizem a pura verdade e
ocasionalmente eles devem ser usados na Corte. Se fosse adotada uma política de
nunca lidar com criminosos como testemunhas de acusação, muitos processos
importantes - especialmente na área de crime organizado ou de conspiração - nunca
poderiam ser levados às Cortes. (...) Como estabelecido pela Suprema Corte: 'A
sociedade não pode dar-se ao luxo de jogar fora a prova produzida pelos decaídos,
ciumentos e dissidentes daqueles que vivem da violação da lei' (On Lee v. United
States, 343 U.S. 747, 756 1952).
Nosso sistema de justiça requer que uma pessoa que vai testemunhar na Corte tenha
conhecimento do caso. É um fato singelo que, freqüentemente, as únicas pessoas
que se qualificam como testemunhas para crimes sérios são os próprios criminosos.
Células de terroristas e de clãs são difíceis de penetrar. Líderes da Máfia usam
subordinados para fazer seu trabalho sujo. (...) Para dar um fim nisso, para pegar os
chefes e arruinar suas organizações, é necessário fazer com que os subordinados
virem-se contra os do topo. Sem isso, o grande peixe permanece livre e só o que
você consegue são bagrinhos. Há bagrinhos criminosos com certeza, mas uma de
63

suas funções é assistir os grandes tubarões para evitar processos. Delatores,


informantes, conspiradores e cúmplices são, então, armas indispensáveis na batalha
do promotor em proteger a comunidade contra criminosos. Para cada fracasso como
aqueles acima mencionados, há marcas de trunfos sensacionais em casos nos quais a
pior escória foi chamada a depor pela Acusação.
(TROTT, Stephen S. O uso de um criminoso como testemunha: um problema
especial. Revista dos Tribunais. São Paulo, ano 96, vo. 866, dezembro de 2007, p.
413-414.)

O que se teme, no entanto, é um problema a longo prazo. A partir do momento


que a delação premiada passa a ser aplicada desmedidamente, à todos que resolvam entregar
os parceiros de crime para obtenção de privilégios (que pode ser, inclusive, o perdão judicial),
ela estaria contribuindo para a impunidade de criminosos que cometeram delitos graves.
À exemplo do doleiro Alberto Youssef, que celebrou acordo de colaboração no
Caso Banestado e continuou a delinquir, sendo novamente beneficiado com a aplicação do
instituto na Operação Lava Jato. Neste momento, foi questionada a validade do segundo
acordo de colaboração, visto que descumpriu o anterior e não teria credibilidade para celebrar
o acordo novamente.
Para o ex-Ministro Gilson Dipp (2015, online), em consulta feita pelo advogado
do empresário Erton Medeiros, delatado por Youssef na Operação Lava Jato, um dos
requisitos para a celebração do acordo de colaboração é a análise da personalidade do delator.
Assim, com a quebra de acordo anterior, Youssef não passaria a confiança necessária para
celebração de novo acordo, que seria inválido.
Após descumprir o acordo, que incluía o não cometimento de crimes, o processo
do caso Banestado foi reaberto e Youssef acabou sendo condenado à 4 anos de prisão. No
entanto, segundo seu advogado, em reportagem publicada pelo Jornal Eletrônico O Globo
(NUNES, 2015), o novo acordo feito na Operação Lava Jato poderá incluir o não
cumprimento da referida pena imputada.
O pensamento de que “cometerei o crime, se for descoberto, basta delatar que
serei premiado com punição mais branda” é perigoso, por isso, os acordos de colaboração
devem envolver benefícios que garantam, de certa forma, uma punição severa ao delator
também, para que não acabe por contribuir com a impunidade.
Sendo assim, o Procurador Paulo Roberto Galvão de Carvalho, em entrevista dada
à DW Brasil (WELLE, 2015), afirma:

... a delação premiada acarreta um custo para a sociedade porque uma pessoa deixa
de ser punida ou recebe uma punição menor. Por isso, ela tem que gerar um
benefício para a sociedade que seja muito maior do que esse custo. Então exigimos,
em primeiro lugar, que a pessoa venha e confesse todos seus crimes. Em segundo,
que ela pague um montante grande a título de ressarcimento dos prejuízos que
64

causou e, o mais importante, que ela seja útil para as investigações, quer dizer, que
sua delação amplie as investigações por meio de novas provas sobre pessoas e
esquemas. Isso porque a ideia por trás disso é que deixamos de pegar um peixe
menor para poder pegar ou um peixe maior ou vários outros peixes.

Ou seja, apesar da delação premiada ensejar na não punição ou na punição mais


branda do delator, tem o poder, também, de minimizar a impunidade, vez que atinge
criminosos que se valeriam da "lei do silêncio" reinante nas organizações criminosas e do
poder que detêm para escapar da aplicação da lei penal.
No mais, a delação premiada não deve ser banalizada ou questionada quanto à sua
eficiência. Se aplicada cautelosamente, com observância aos requisitos previstos em lei, e
com provas de corroboração, será um instrumento forte e eficaz no combate à crimes graves.

4.2 Casos de aplicação do instituto

Nos últimos anos, grandiosos esquemas de corrupção se tornaram públicos,


culminando em verdadeiros escândalos que, ao envolver os diversos setores do Poder Público
e os políticos em sua grande maioria, deixaram o cenário político brasileiro caótico, confuso e
vergonhoso, à exemplo do Mensalão e do Petrolão, atualmente investigado pela Operação
Lava Jato.
Foi através da delação que esses casos foram descobertos. Por meio das
informações obtidas dos colaboradores, as minúcias dos esquemas foram desvendadas. A
identificação dos participantes, as quantias desviadas, a forma como se dava o esquema,
enfim, esclarecimentos preciosos que antes (sem o uso do referido instituto) seriam
alcançados mais dificilmente, ou nem seriam, foram obtidos, causando a impressão, talvez, de
que a corrupção está se intensificando e de que esses fossem os maiores esquemas de
corrupção da história.
O que, de fato, causaram foi revolta na população ao tomar conhecimento desses
esquemas grandiosos, pela complexidade e pela quantia de dinheiro público envolvido, que
passaram a cobrar posições do Poder Público quanto à isso.
Como se sabe, a corrupção não é novidade no país. O que nos salta aos olhos e
representa uma inovação no cenário político brasileiro, no entanto, é a punição dos envolvidos
nesse crime, que dificilmente eram atingidos pela pretensão punitiva estatal.
Com o auxílio dos delatores nas investigações (seja por configurar a melhor
alternativa de defesa ou por arrependimento e vontade de contribuir), estas se tornaram mais
65

ágeis e eficazes, e culminaram no desbaratamento do Mensalão, no qual a delação ainda foi


aplicada mais informalmente, e do Petrolão, quando o instituto foi (e está sendo) largamente
utilizado e posto em evidência. Ambos representam, segundo o Ministério Público, marcos
históricos na luta contra a impunidade.

4.2.1 “Mensalão”

O “Mensalão”, como ficou conhecido o escândalo de corrupção que ocorreu entre


2005 e 2006 no primeiro mandato do governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT - Partido
dos Trabalhadores), consistia na compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional,
com pagamento mensal (daí o nome mensalão), em troca de apoio político nas matérias tidas
como especialmente relevantes pelos líderes criminosos.
Já havia rumores desta “venda” de votos por parte de deputados, mas nada fora
comprovado até o esquema ser escancarado pelo então deputado federal pelo Rio de Janeiro e
presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson, em entrevista dada ao
jornal Folha de São Paulo, no início de junho de 2005.

4.2.1.1 A origem e o funcionamento do Mensalão

Em maio de 2005 iniciou-se o escândalo, ao ser divulgada pela Revista Veja uma
filmagem do diretor do Departamento de Contratação e Administração de Material da
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Maurício Marinho, cobrando 3 mil reais de
propina de empresários interessados em participar de licitação dos Correios para oferecer
material de informática para a estatal.
Maurício explicava detalhadamente um esquema de fraude em licitações que tinha
como objetivo abastecer o caixa de partidos políticos e que teria como chefe o já citado
deputado federal Roberto Jefferson.
Marco Antônio Villa (2012, p. 10) explica melhor o que fora descoberto pela
revista:

A denúncia da revista se assemelharia a outros tantos casos de corrupção, não fosse


o fato de que, durante a conversa filmada pelos empresários, o funcionário tivesse
citado o deputado Roberto Jefferson, do PTB-RJ, como fiador do esquema: ‘Ele me
dá cobertura, fala comigo, não manda recado [...] eu não faço nada sem o consultar.
Tem vez que ele vem do Rio de Janeiro só para acertar um negócio. Ele é doidão’.
As declarações de Marinho detalhando como funcionava a arrecadação de recursos
66

ilícitos na estatal descortinavam não apenas o funcionamento de um vasto esquema


de corrupção, que envolvia vários setores da estatal, como também trazia para o
primeiro plano pessoas muito próximas ao presidente Lula e ao PT, como Roberto
Jefferson, cujo partido fazia parte da base aliada do governo no Congresso Nacional.

Após a publicação do vídeo, acirraram-se os ânimos no Congresso Nacional a


respeito da instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) para
investigar os fatos. Conforme artigo 58, §3º da Constituição Federal, a CPI só será
instaurada pelas Casas, conjunta ou separadamente, mediante requerimento de 1/3 de
seus membros, no entanto, a base aliada do governo era maioria no Congresso e se
mantinha contra. Nesse sentido, Marco Antônio Villa (2012, p. 11):

A oposição estava fazendo o seu papel – o PT, em governos anteriores, a todo


momento, pedia a abertura de CPMI ou recorria à Justiça. Do lado do governo,
obviamente, todas as declarações apontavam no sentido contrário, tentando
desqualificar a necessidade de uma CPMI. O deputado João Paulo Cunha (PT-SP),
ex-presidente da Câmara, gestão 2003-2004, chegou a questionar a veracidade da
própria história relatada pela revista Veja (...) o ministro da Casa Civil José Dirceu
disse que não via necessidade de prestar solidariedade ao deputado Roberto
Jefferson, como pediam alguns líderes do PTB, nem concordava com a criação de
uma CPMI para investigar as denúncias publicadas na véspera. ‘Não concordo com
a CPMI porque todas essas providências já foram tomadas’, disse o ministro na
ocasião, ao se referir às medidas tomadas pelo governo, como o afastamento de
Maurício Marinho de suas funções e a abertura de inquérito por parte da Polícia
Federal – estratégia do governo para se adiantar à movimentação da oposição e
mostrar que a CPMI era desnecessária.

A imprensa “interferiu” mais uma vez ao publicar reportagem com a seguinte


manchete: “Operação contra CPI envolve R$ 400 milhões em emendas”. Ou seja,
segundo o jornal Folha de São Paulo, o governo estaria pagando essa quantia através de
emendas ao orçamento para que o Congresso não instaurasse a CPI (MUSEU DA
CORRUPÇÃO, 2015, online).
Diante disso, a base aliada ao governo se viu na obrigação de juntar-se à
oposição. Roberto Jefferson, sentindo-se sem apoio e pressionado, pois o foco das
acusações, além dele próprio, eram dirigentes dos Correios indicados pelo seu partido,
resolveu denunciar, através de uma entrevista dada à Folha de São Paulo, em 6 de junho,
um sistema ainda maior, o de compra de votos em busca de apoio parlamentar.
Segundo ele, o esquema tratava do pagamento mensal de cerca de 30 mil
reais por integrantes do governo federal a parlamentares em troca de votos favoráveis
aos Projetos de Lei apresentados ao Congresso Nacional. Roberto afirmou ainda que
José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, liderava o esquema e quem distribuía
os recursos era Delúbio Soares, tesoureiro do PT.
67

Após o surgimento de novas denúncias e de outros envolvidos no esquema, o


Congresso Nacional resolveu instalar, no dia 9 de junho de 2005, a Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito dos Correios, conhecida como CPI da Compra de Votos, para investigar o
pagamento de propinas aos deputados e que culminou na cassação do mandato de alguns
envolvidos, como José Dirceu, Roberto Jefferson e Pedro Corrêa. Aqueles que julgaram
que poderiam ser cassados optaram pela renúncia, como Valdemar Costa Neto, José Borba e
Paulo Rocha.
Segundo o Ministério Público (2015, online), o esquema do mensalão era
uma organização criminosa dividida em três núcleos: o político-partidário, publicitário e
financeiro.
O primeiro núcleo, político partidário, era composto pelo alto escalão do
Partido dos Trabalhadores: José Dirceu, ministro de um dos mais importantes ministérios do
governo: a Casa Civil, sendo considerado também como o mentor da quadrilha; Delúbio
Soares, Secretário-Geral do Partido dos Trabalhadores; Sílvio Pereira; e o então presidente do
Partido dos Trabalhadores, deputado José Genoíno.
Tinha como função a compra de votos e ingresso de parlamentares do Poder
Executivo e Legislativo em empresas públicas, bem como pagamentos ilegais aos líderes dos
outros partidos, que não o PT, para aprovações de iniciativas e projetos de lei do governo que
liderava o momento político.
O segundo núcleo era controlado pelo empresário Marcos Valério, responsável
pela fonte de recursos financeiros, advindos de meios ilegais e que eram distribuídos aos
partidos e aos políticos.
Este segundo núcleo não era composto apenas por Marcos Valério, mas por sócios
e funcionários de suas empresas de publicidade, que desviavam recursos públicos através de
contratos superfaturados ou até mesmo fictícios.
O angariamento de recursos se dava, também, através de empréstimos
considerados falsos junto aos Bancos BMG e Rural (que figuravam no terceiro núcleo) em
troca de benefícios advindos do governo federal, a aplicação de recursos de fundos de pensão
nos bancos Rural e BMG (VILLA, 2012, p. 15).
O núcleo financeiro contava com pessoas de alto escalão em diversos bancos,
como é o caso de presidente, vice-presidente e diretores do Banco Rural que concediam para
o empresário Marcos Valério para futuro enriquecimento pessoal de membros das Casas do
Senado e Câmara dos Deputados, bem como para custeio das despesas do PT.
68

Em março de 2006, foram apresentadas pelo procurador-geral da República,


Antônio Fernando de Souza, ao Supremo Tribunal Federal 40 denúncias contra os
envolvidos no esquema, dentre eles os diretores do banco BMG, os ex-dirigentes do
partido José Genoíno e Delúbio Soares; Marcos Valério e sua mulher, Renilda Maria
Santiago; além dos ex-sócios de Valério Ramon Hollerbach e Cristiano de Mello Paz e o
advogado do publicitário, Rogério Lanza Tolentino.
Acusados de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão ilegal de
divisas, corrupção ativa e passiva e peculato, a denúncia foi recebido em 2007 pelo
Supremo Tribunal Federal, que deu início a Ação Penal nº 470.
Em 2012, começa o julgamento e 25 pessoas são condenadas à perda de
cargo, função pública ou mandato eletivo, à cassação de aposentadoria, à multas, bem
como à prisão.
Dentre os condenados estão José Dirceu, Genoíno e Delúbio por corrupção
ativa; no núcleo do Banco Rural, Kátia Rabello, José Roberto Salgado e Vinícius
Samarane por gestão fraudulenta; Valdemar Costa Neto, José Borba, Bispo Rodrigues,
Romeu Queiroz, Pedro Corrêa e Roberto Jefferson por corrupção. Este último, por ter
contribuído com as investigações, teve a pena reduzida e fixada em 7 anos e 14 dias em
regime semiaberto (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2015, online).

4.2.1.2 A delação premiada no mensalão

Em razão da ausência de uma legislação que dispusesse a respeito do


instituto de forma mais completa, a delação premiada foi pouco utilizada nas
investigações do caso em questão.
A descoberta do esquema se deu por uma vingança política do deputado
federal Roberto Jefferson, que ficou conhecido como “delator do mensalão”. Apesar de
ter feito as denúncias informalmente através da imprensa, ao serem deflagradas as
investigações, Roberto reiterou e judicializou todas as denúncias, se dispôs a colaborar
com a justiça, prestando esclarecimentos, fornecendo informações de que tinha
conhecimento e, principalmente, provando o que fora dito.
Conforme trecho do acórdão de julgamento da Ação Penal 470, do voto do
Ministro Luiz Fux (p. 4115):

O réu Roberto Jefferson, desde a divulgação do chamado “escândalo dos Correios”


na imprensa, sempre demonstrou inabalável disposição de relatar todos os delitos
69

subjacentes ao pagamento de propina feito a funcionário da EBCT, conforme


flagrado em gravação de vídeo. Não fosse a indispensável colaboração do
denunciado Roberto Jefferson para a persecução penal, de forma absolutamente
voluntária, os demais crimes e seus coautores jamais seriam descobertos pelas
autoridades de controle. As informações declinadas pelo aludido acusado foram
essenciais para a própria existência do presente julgamento, e, por isso, é de rigor
agraciá- lo com o benefício legal da redução de pena, conforme disposto no art. 14
da Lei nº 9.807/99.
(STF, AP 470/MG, Relator: Ministro Joaquim Barbosa, Julgamento: 17/12/12,
Publicação DJe: 22/04/13)

Apesar de não querer formalizar um acordo de colaboração com o Ministério


Público, por não querer ser visto como delator, Roberto, em seus depoimentos, identificou
outros participantes e esclareceu a forma como se dava o esquema, contribuindo de forma
eficaz para as investigações. Assim, o Supremo Tribunal Federal entendeu estarem presentes
os requisitos para aplicação da delação premiada, reconhecendo sua delação a fim de que lhe
seja atribuído um dos prêmios previstos, qual seja, o da redução de pena, sendo condenado à 7
anos e 14 dias de prisão em regime semiaberto.
Além do ex-deputado federal, outros dois acusados foram beneficiados com o
instituto em ação criminal aberta como desdobramento do mensalão, Lúcio Bolonha Funaro e
José Carlos Batista. Segundo a denúncia feita pelo Ministério Público, Lúcio e José,
juntamente com Valdemar Costa Neto e Antônio Lamas, teriam criado um sistema de
ocultação, dissimulação e movimentação de recursos oriundos de crimes contra a
administração pública.
Os valores advindos de pagamentos realizados por líderes do PT à Costa Neto em
troca de apoio político eram repassados por meio de uma conta bancária aberta em nome da
empresa de fachada Guaranhuns Empreendimentos, que tinha como donos os dois delatores.
Além disso, havia também, segundo a denúncia, transferências bancárias em nome de
empresas de Marcos Valério.
Diante disso, Lúcio Bolonha celebrou acordo de colaboração com o Ministério
Público, confessando a prática dos crimes de lavagem de dinheiro contra a administração
pública e contra o sistema financeiro nacional e fornecendo informações e documentos de
transações financeiras da sua empresa que, inclusive, comprovavam a prática de outros delitos
e confirmavam a participação de Costa Neto acusado e condenado na Ação Penal 470. José
Carlos também colaborou. Em razão disso, o juiz concedeu o perdão judicial para ambos, que
foram excluídos da referida ação penal.
O acusado e condenado à 40 anos de prisão, Marcos Valério, também propôs
acordo de colaboração premiada à Procuradoria, se dispondo a esclarecer a participação do
70

ex-Presidente Lula e do ex-ministro Antônio Palocci, bem como delatar mais remessas de
dinheiro para o exterior.
No entanto, segundo seu advogado em entrevista dada ao jornal eletrônico O
Estadão (GALHARDO, 2015), “A Procuradoria-Geral não aceitou a delação. Se aceitasse,
haveria muito mais informação e isso poderia com certeza dar outro rumo ao caso, implicando
inclusive pessoas que hoje estão envolvidas no que está acontecendo aí”.
O Procurador-geral à época, Antônio Fernando de Souza confirma que Valério
propôs a delação, mas explica que não havia nada que comprovasse o que queria denunciar,
não podendo ser aceita delação sem provas de corroboração.
Apesar de não ter sido muito utilizada, a delação ajudou na elucidação do caso
Mensalão, que se tornou um marco na história do país ao evidenciar a participação de pessoas
do alto escalão da política brasileira que foram verdadeiramente julgadas e punidas. Talvez, se
a delação tivesse sido mais utilizada, teria sido possibilitada a recuperação do produto do
crime e até a identificação e a comprovação da participação de mais pessoas, mas não foi o
caso.
Apesar das discrepâncias nas condenações de políticos, que já estão fora da
prisão, e de empresários e operadores, que ainda cumprem pena, o Mensalão fez com que
esses criminosos perdessem a certeza da impunidade e, além de tudo, proporcionou novas
concepções ao instituto da delação premiada, que não era bem vista, inclusive, pelos próprios
acusados, e que passou a ser mais utilizada posteriormente.

4.2.2 Petrolão (Lava Jato)

Atualmente investigado pela Operação Lava Jato, considerada a maior


investigação de corrupção que já aconteceu no Brasil, o esquema de evasão de divisas,
lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros capitaneados por conhecidos doleiros
envolve a maior estatal do país, cifras de bilhões de reais, bem como participantes de alta
expressão econômica e política.
Segundo o Ministério Público (2015, online), “O nome do caso decorre do uso de
uma rede de postos de combustíveis e de lava a jato de veículos para movimentar recursos
ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente investigadas”. A
investigação já avançou para outras organizações criminosas, revelando a participação de
empresas de outros ramos, mas o nome inicial se consagrou.
71

4.2.2.1 A origem e o funcionamento da Lava Jato

A Operação Lava-Jato foi iniciada em 2009 pela Polícia Federal ao investigar, em


Londrina, no Paraná, organizações criminosas lideradas por doleiros e responsáveis pela
movimentação financeira e lavagem de recursos de pessoas físicas e jurídicas envolvidas com
vários crimes, como o ex-deputado federal José Janene.
As organizações criminosas atuavam em vários estados brasileiros, à exemplo do
Paraná, Brasília, Rio Grande do Sul e São Paulo, e uma delas, para movimentar o dinheiro, se
utilizava de um posto de gasolina que tinha como proprietário um doleiro ligado à Alberto
Youssef, envolvido em outros esquemas de lavagem de dinheiro, como o caso Banestado, e
um dos primeiros delatores da operação, juntamente com Paulo Roberto Costa, que levantou
suspeitas por ganhar um luxuoso carro de Youssef.
Com base nessas investigações, foram tomadas as primeiras medidas ostensivas
da operação, quando foram apreendidos carros luxuosos, jóias, documentos, equipamentos
eletrônicos e vários doleiros foram presos, bem como o ex-diretor Paulo Roberto. Diante
disso, o Ministério Público conseguiu colher provas do grandioso esquema de corrupção na
Petrobrás e passou a aprofundar as investigações.
Segundo o Ministério Público (2015, online), o esquema, que dura pelo menos
dez anos, funcionava da seguinte maneira: grandes empreiteiras, organizadas em cartel,
pagavam propinas (que variavam de 1 a 5% do valor total de contratos bilionários
superfaturados) para altos executivos da Petrobrás e outros agentes públicos, que recebiam
referido pagamento por meio de operadores financeiros, dentre eles os doleiros inicialmente
investigados.
Sendo assim, foram identificadas quatro figuras necessárias ao funcionamento do
sistema de corrupção na estatal: as empreiteiras, os funcionários da estatal, os operadores
financeiros e os agentes políticos.
Como se sabe, para celebrar contratos junto ao Poder Público, deve ser obedecido
um processo de licitação, no qual as empresas concorrem entre si e o órgão estatal contrata
aquela que oferece o menor preço para o produto ou serviço requisitado.
No caso em questão, as empreiteiras se organizavam em cartel, como se fosse um
clube, para forjar uma livre concorrência nas licitações feitas pela estatal. Os preços
oferecidos à Petrobras eram previamente calculados e ajustados em reuniões secretas, nas
quais decidiam, inclusive, “de quem era a vez”, ou seja, qual empreiteira celebraria aquele
72

contrato superfaturado. O sistema era muito bem organizado a fim de distribuir as obras da
maneira mais justa entre as empresas.
Dentre as empresas investigadas estão as construtoras Odebrecht, Galvão
Engenharia, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, UTC, a refinaria Abreu e Lima, dentre muitas
outras.
Para garantir que apenas aquelas empreiteiras membros do cartel fossem
convidadas para as licitações, elas precisavam do apoio dos funcionários da estatal “...que não
só se omitiam em relação ao cartel, do qual tinham conhecimento, mas o favoreciam,
restringindo convidados e incluindo a ganhadora dentre as participantes, em um jogo de cartas
marcadas.” (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2015, online). Referido apoio era obtido através do
pagamento de propinas, obviamente, que envolviam valores altíssimos.
É nessa parte que entram os operadores financeiros. Estes, responsáveis por
intermediar o pagamento do suborno e por entregá-lo já disfarçado de recurso lícito, recebiam
o dinheiro das empreiteiras por movimentação no exterior ou através de contratos simulados
com empresas de fachada para, posteriormente, entregá-lo ao beneficiário por transferência no
exterior ou mediante pagamento em bens.
Por fim, os agentes políticos, responsáveis por indicar ocupantes dos altos cargos
das diretorias envolvidas no esquema, que aprovavam os contratos com as empreiteiras. O
envolvimento político se mostrou mais evidente, para o Ministério Público (2015, online), nas
diretorias de Abastecimento, ocupada, de 2004 à 2012, por Paulo Roberto Costa, indicado
pelo Partido Progressista (PP) com posterior apoio do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB); de Serviços, ocupada por Renato Duque entre 2003 e 2012, de indicação
do Partido dos Trabalhadores (PT); e Internacional, ocupada por Nestor Cerveró entre 2003 e
2008, de indicação do PMDB.
E expõe:

Para o PGR, esses grupos políticos agiam em associação criminosa, de forma


estável, com comunhão de esforços e unidade de desígnios para praticar diversos
crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Fernando Baiano e
João Vacari Neto atuavam no esquema criminoso como operadores financeiros, em
nome de integrantes do PMDB e do PT.

Segundo investigações, Alberto Youssef era incumbido de repassar os recursos


desviados à Paulo Roberto Costa, aos políticos do PP e PMDB (responsáveis por sua
indicação) e, uma parte, aos políticos do PT, por terem indicado Renato Duque para Diretoria
de Serviços, que determinava qual a empreiteira seria contratada; João Vacari repassava à
73

Renato Duque e aos políticos do PT; e Fernando Baiano à Nestor Cerveró e aos políticos do
PMDB.
Em março de 2015, o Procurador-Geral da República apresentou ao Supremo
Tribunal Federal 28 requerimentos para a abertura de inquéritos criminais objetivando
investigar fatos atribuídos a pessoas citadas em delações premiadas, titulares de foro
privilegiado e relacionadas aos partidos políticos responsáveis por indicar e manter os
diretores da Petrobras (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2015, online).
A primeira instância ficou responsável por investigar e julgar os agentes políticos
por improbidade, na área cível, e aqueles sem prerrogativa de foro na área criminal. Segundo
site do Ministério Público (2015, online), até novembro de 2015, foram 116 mandados de
prisão cumpridos, 85 pedidos de cooperação internacional, 35 acordos de colaboração
premiada, 4 acordos de leniência, 173 pessoas acusadas criminalmente e 37 por improbidade
administrativa, culminando em 75 condenações, dentre os condenados Paulo Roberto Costa,
Nestor Cerveró, Alberto Youssef, Júlio Camargo e Fernando Baiano.

4.2.2.2 A delação premiada na Lava Jato

A delação premiada nunca esteve tão evidente como na Operação Lava Jato.
Quanto mais participantes são descobertos, mais acordos de colaboração são firmados em
busca de punições mais brandas. Diante disso, a Polícia Federal e o Ministério Público estão
conseguindo descobrir e desmantelar todo o sistema de corrupção na estatal.
Se não fosse a utilização do instituto da delação premiada, as investigações jamais
teriam alcançado tamanha proporção e aprofundamento e possibilitado a punição de
executivos da Petrobrás, de grandes empreiteiras e operadores que praticaram crimes como
formação de cartel, de organização criminosa, de corrupção e de lavagem de dinheiro.
Conforme Portal de Combate à corrupção do Ministério Público (2015, online):

Se não fossem os acordos de colaboração pactuados entre procuradores da República


e os investigados, o caso Lava Jato não teria alcançado evidências de corrupção para
além daquela envolvendo Paulo Roberto Costa. Existia prova de propinas inferiores
a R$ 100 milhões. Hoje são investigados dezenas de agentes públicos, além de
grandes empresas, havendo evidências de crimes de corrupção envolvendo valores
muito superiores a R$ 1 bilhão. Apenas em decorrência de acordos de colaboração,
já se alcançou a recuperação de cerca de meio bilhão de reais.

O ex-diretor Paulo Roberto Costa, após sua prisão no início das investigações que,
como se sabe, envolviam apenas o ex-deputado José Janene e doleiros pelo crime de lavagem
74

de dinheiro, resolveu auxiliar a apuração dos fatos, com o objetivo de receber alguns
benefícios, assinando acordo de colaboração com o Ministério Público em agosto de 2014.
Conforme Ministério Público (2015, online):

No acordo, negociado com procuradores da República da força tarefa, Costa se


compromete a devolver a propina que recebeu (incluindo os milhões bloqueados no
exterior), a contar todos os crimes cometidos, bem como a indicar quem foram os
outros criminosos. Caso ficasse provado que, em algum momento, ele mentiu ou
ocultou fatos, todos os benefícios seriam perdidos.

Sendo assim, Costa passou a delatar minuciosamente a existência de um esquema


de propinas, em prática desde 2004, elaborado por empreiteiras, políticos de três partidos (PT,
PP e PMDB) e diretorias da Petrobrás que movimentava aproximadamente 10 bilhões de
reais.
Em seus depoimentos, revelou o nome de cerca de 35 políticos que participavam
do esquema, entre senadores, deputados federais, governadores e até um ministro e admitiu
que as empreiteiras contratadas pela estatal tinham, obrigatoriamente, que contribuir para um
caixa 2 cujo destino final eram partidos e políticos de diferentes partidos da base aliada do
governo. (RANGEL, 2014, online)
Disse, ainda, que recebeu 1 milhão e meio de propina para “não atrapalhar” a
compra da refinaria de Pasadena. Em troca das informações, comprometeu-se a devolver 25,8
milhões de dólares que mantinha na Suíça e nas Ilhas Cayman e pagar multa de 5 milhões de
reais, sendo liberado para cumprir prisão domiciliar (GLOBO, 2015, online).
Após a colaboração do ex-diretor, foi a vez de Alberto Youssef se voluntariar para
delatar seus companheiros de crime. O doleiro já se valeu do instituto em 2003, quando
delatou 63 doleiros no esquema de evasão de divisas, o Banestado, que envolvia a remessa
ilegal de cerca de 24 bilhões de dólares.
Celebrando o acordo de colaboração, o primeiro escrito e dividido em cláusulas,
conseguiu a redução de pena e voltou a atuar como operador de câmbio. No caso Banestado
foram feitos 17 acordos, que resultaram na transferência de aproximadamente 30 milhões de
reais, como indenização, para os cofres públicos.
Mesmo após a quebra do acordo, por voltar a delinquir, Youssef celebrou novo
acordo de colaboração na operação Lava Jato por apresentar informações relevantes à
elucidação do esquema e que representavam grandes benefícios para a sociedade.
Seus depoimentos, assim como os depoimentos do ex-diretor Paulo Roberto,
foram essenciais para alavancar as investigações, pois assumiu a participação no esquema,
75

delatou grandes empresas e políticos, entregando provas sobre os envolvidos nos desvios,
explicou o funcionamento do sistema de pagamento de propinas, afirmando que o tesourerio
do PT, João Vaccari Neto, e o lobista Fernando Baiano, eram os responsáveis pela cobrança
da propina, e ainda afirmou que arrecadou cerca de 180 milhões de reais em propina
(D'AGOSTINO, 2015, online).
O acordo prevê a devolução de bens (imóveis, veículos e participações em
empresas) por Youssef ao Poder Público e exige o não cometimento de qualquer crime por
um prazo de 10 anos, caso contrário, responderá por todos os processos e cumprirá as penas
que lhe forem imputadas. Caso pratique algum delito após esse prazo, responderá pelos
crimes que ainda não tenham prescrito.
Esses primeiros acordos de colaboração ocasionaram uma verdadeira reação em
cadeia. Diversos nomes citados nas delações se dispuseram a colaborar com o Ministério
Público, resultando em mais acordos de colaboração ou de leniência, mais provas e na
identificação de mais envolvidos.
Os executivos da empresa Toyo Setal, Júlio Camargo e Augusto Mendonça,
foram uns dos colaboradores. O primeiro revelou, segundo reportagem do G1
(D'AGOSTINO, 2015, online):

… as empresas que tinham contratos com a Petrobrás faziam parte de um "clube" de


empreiteiras, combinando preços para superfaturar obras e serviços. Disse que essa
era a "regra do jogo" e que as propinas chegaram a R$ 154 milhões, representando
3% dos contratos, beneficiando operadores do PT e PMDB. Eram eles: o ex-diretor
de Serviços da Petrobras Renato Duque, indicado pelo PT para o cargo de alto
escalão, e o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, apontado
como operador da cota do PMDB no esquema de corrupção que tinha tentáculos na
petroleira. Também afirmou ter repassado R$ 4 milhões ao ex-ministro José Dirceu
e US$ 5 milhões ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Afirmou ainda ter pago 2 milhões ao presidente da empresa Camargo Corrêa,


Eduardo Leite. Já Augusto Mendonça, de acordo com a mesma reportagem:

Relatou aos procuradores da República que, no período de 2008 e 2011, pagou entre
R$ 50 milhões e R$ 60 milhões em propina ao ex-diretor de Serviços da Petrobrás
Renato Duque, que também foi preso pela PF. Os valores teriam sido pagos em
espécie no Brasil e por meio de contas bancárias na Suíça e no Uruguai. O delator
disse ao Ministério Público que Renato Duque exigia que o suborno do "clube" fosse
pago a ele. Segundo ele, as empresas escolhiam as obras mais adequadas e as demais
não atrapalhavam, numa espécie de "campeonato", indícios da existência de um
cartel.

Segundo o Procurador Deltan Dallagnol, as colaborações de Augusto Mendonça,


de Júlio Camargo e da empresa Setal possibilitaram ao Ministério Público o oferecimento de
76

várias denúncias. E afirma: “Sem essas colaborações, não conseguiríamos ter alcançado um
conjunto de outras empresas que praticaram crimes de elevada gravidade.”
Após Paulo Roberto e Alberto Youssef afirmarem, sem provas, que o ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha conhecimento do sistema de pagamento de
propinas que envolvia a estatal, foi Fernando Baiano que o citou novamente em suas delações.
O lobista afirma ser o responsável pelo repasse de milhões de reais ao amigo, José Carlos
Bumlai, e à uma nora do ex-presidente, que, inclusive, prestou depoimentos a respeito das
acusações à pedido da Polícia Federal.
Ademais, Fernando sustentou que a indicação e manutenção de Nestor Cerveró na
Diretoria Internacional da Petrobrás era de responsabilidade do ex-ministro José Dirceu e do
senador Delcídio Amaral (PT), que foi preso no exercício de seu mandato (algo jamais
ocorrido) por tentar obstruir as investigações, ao oferecer 50 mil reais mensais à familiares de
Nestor, além de um plano de fuga da prisão, para que este não celebrasse acordou ou não
citasse seu nome e de André Esteves, dono do banco BTG, em suas delações. O filho de
Cerveró filmou a negociação e entregou às autoridades competentes.
Nestor Cerveró acabou por celebrar acordo de colaboração com os procuradores
da Operação Lava Jato, narrando, em seus depoimentos, os crimes cometidos por Delcídio, na
aquisição de navios sondas e da refinaria de Pasadena pela Petrobrás, e por André Esteves,
com o pagamento de vantagens ao senador Fernando Collor (PTB) em contratos de
embandeiramento de 120 postos de combustíveis em São Paulo que pertenciam ao Banco
BTG Pactual e ao grupo empresarial Santiago (VEJA, 2015, online).
O presidente do Grupo Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, também
resolveu colaborar, apontando os desvios dos quais participou e revelando o nome de dois
senadores, dentre outros políticos, para quem pagou propinas. Além de informações
relacionadas à Petrobrás, falará sobre irregularidades em obras do setor elétrico, como a
construção da Usina de Belo Monte, no Pará, e na construção de estádios para a Copa do
Mundo de 2014 (BRANDT, 2015).
Será realizado um acordo de colaboração e um de leniência, em nome da empresa,
que pagará uma multa de 1 bilhão de reais, até agora, a maior aplicada a uma empreiteira
investigada pela Operação Lava Jato.
Além dos já citados, muitos outros acordos foram e serão celebrados, mas não se
sabe ao certo a quantidade e a identidade dos delatores, nem mesmo o conteúdo das delações,
visto que os acordos devem ser sigilosos até o oferecimento das denúncias, justamente para
não atrapalhar o andamento das investigações, como aconteceu no caso de Delcídio, apesar de
77

algumas informações sigilosas estarem vazando, colocando em risco os delatores e a própria


operação.
Como se vê, foi através da colaboração premiada que os mínimos detalhes do
esquema foram descobertos, proporcionando a condenação de operadores financeiros, de
grandes empresários, bem como de políticos de variados partidos, e a recuperação de mais de
750 milhões de reais aos cofres públicos, até julho de 2015 (DALLAGNOL, online).
Sendo assim, o instituto da delação premiada deve continuar sendo utilizado como
medida de combate ao crime organizado, em especial, à corrupção, pois influencia de maneira
evidente o curso das investigações e, consequentemente, o curso do nosso país.
Segundo o Procurador Deltan Dallagnol:

... os acordos não são um ponto de chegada da apuração, pois jamais servem
sozinhos para acusar alguém. Entretanto, são um excelente ponto de partida, em
especial em investigações difíceis como aquelas sobre corrupção, pois eles apontam
o caminho por meio do qual provas independentes poderão ser encontradas. São
essas provas que serão usadas, a depender de sua força, para uma acusação ou
condenação criminal.

Ressalta-se que para a celebração de um acordo, vários pontos dos depoimentos


são levados em consideração, como informações novas sobre crimes e seus autores, provas
disponibilizadas, importância dos fatos e das provas prometidas, recuperação dos recursos
provenientes dos crimes, enfim, há uma análise do que ocorreria sem as delações e dos
benefícios decorrentes delas. Assim, o acordo será feito apenas quando se chegar à conclusão
de que os benefícios superarão significativamente os custos para a sociedade (MINISTÉRIO
PÚBLICO, 2015, online).
A operação vem tomando proporções tão grandes que já se divide em 21 fases,
conta com 35 acordos de colaboração premiada, 4 acordos de leniência e não tem previsão de
quando se encerrará, pois a cada delação são descobertos novos crimes e novos participantes.
Acredita-se que as condenações na Ação Penal 470 foram essenciais para o
volume de delações que estão sendo feitas na Lava Jato, pois puniram, pela primeira vez, os
criminosos de colarinho branco.
Os investigados são levados a delatar seus companheiros de crime pelo medo de
uma punição severa, se acharem que a impunidade prevalecerá, não terão motivos para
confessar e imputar crimes aos outros, pois sequer seriam submetidos à uma ação penal
eficaz.
Além disso, o medo de ser delatado, e consequentemente punido, faz com que os
criminosos ofereçam mais informações e garantam seu benefício logo. Quando um delata, é
78

aconselhável que os outros também o façam, pois, se mantiverem o silêncio, receberão penas
mais severas, às vezes por crimes mais graves, que o delator.
É certo que a delação premiada tem seus malefícios e seus possíveis vícios, mas,
como afirmou Nucci (2015, B), “é um mal necessário”. Os acordos de colaboração podem
gerar inconstitucionalidades, de um ponto de vista mais restrito, mas o instituto, em si, é
plenamente constitucional e previsto no ordenamento jurídico há anos.
O fato dos acordos conterem cláusulas que proíbam a interposição de recursos
contra as sentenças, que violaria o direito de ação, e a impetração de habeas corpus ou que
obrigam a renúncia ao direito ao silêncio, direitos constitucionalmente garantidos, levam a
crer que seriam inconstitucionais.
No entanto, para a colaboração, é óbvia a renúncia ao direito ao silêncio, pois não
se teria interesse em celebrar um acordo para obter informações com alguém que “não fala”.
Além disso, o acordo é uma negociação, em que as partes devem dispor de alguns direitos e se
onerar com alguns deveres, para garantir o interesse de ambos.
Sendo assim, a acusação dispõe de seu poder punitivo, ao garantir benefícios ao
criminoso, e o acusado, que poderia se valer da interposição de recurso como medida
protelatória que leva à prescrição e à impunidade, deve renunciar alguns direitos para garantir
que aquele acordo seja cumprido.
O que tem que ser visado é o melhor interesse da sociedade. A legislação e o
sistema judiciário brasileiro possibilitam a utilização, por parte da defesa, de diversas
artimanhas que garantam a impunidade do acusado.
Dessa forma, tem que haver uma contemporização das normas e dos institutos
para que os órgãos acusatórios, que estão em posição de vulnerabilidade diante do acordo de
colaboração, dando benefícios e credibilidade a um criminoso, possam realizar o acordo de
forma a não deixar brechas das quais o delator possa se valer, e, assim, extrair da delação
mais benefícios que custos à sociedade.
A utilização do instituto pode demonstrar, também, a incapacidade ou a desídia
dos órgãos investigativos brasileiros, que não se comprometem verdadeiramente com as
investigações e acabam por se utilizar da delação premiada para que “os delatores façam seu
trabalho.”
No entanto, é inegável que os crimes de corrupção são praticados
meticulosamente, de forma a dificultar sua descoberta, e, se não for através da colaboração de
um corrupto ou corruptor envolvido no esquema, certas provas e informações jamais seriam
descobertas.
79

Mesmo que a utilização do instituto constate a incapacidade dos órgãos


investigativos, a delação é um instrumento previsto em lei justamente para auxiliar, não
devendo ser recusado, visto que verdadeiramente eficaz.
Ademais, os depoimentos dos delatores possuem reduzida credibilidade, pois,
podem, de fato, fornecer informações falsas ou apenas aquelas que lhes convêm. Não se crê
que alguém que já está em uma posição desfavorável seja capaz de mentir e responder por
mais um crime, denunciação caluniosa, mas, se o fizer, ninguém será condenado baseado
apenas em suas delações, pois suas declarações deverão ser corroboradas por provas,
oferecidas pelo delator ou obtidas nas investigações.
Não obstante o fato de a delação contribuir bastante no combate à corrupção
política, não se crê que o instituto, por si só, seja capaz de eliminá-la. Deve haver, além de
uma mudança no costume e na educação dos brasileiros, acostumados com o “jeitinho”
brasileiro de se resolver tudo, uma reforma estrutural na Administração Pública, pois a
burocracia leva à corrupção, e no sistema judiciário, bem como na legislação, para eliminar as
brechas que favorecem a impunidade. Portanto, as propostas do Ministério Público,
intituladas de “10 medidas”, são bastante pertinentes e necessárias.
No mais, é indiscutivelmente marcante o momento pelo qual o país está passando,
revelando a delação premiada como mecanismo verdadeiramente ativo no combate à
corrupção.
80

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A delação premiada é um instituto processual penal que vem se mostrando


bastante importante para a busca da verdade real dos fatos e para o combate das diversas
formas de criminalidade organizada no brasil, como a corrupção política.
Consiste, basicamente, na oferta de benefícios ao acusado para que admita a
participação no delito e preste informações capazes de solucionar o crime e de desmantelar
toda a organização criminosa, apontando possíveis participantes e possibilitando a
recuperação do produto do crime.
Os criminosos de colarinho branco, que antes não eram atingidos pela pretensão
punitiva estatal, estão lidando, pela primeira vez, com a possibilidade da real punição quando
seus companheiros de crime resolvem abdicar do silêncio.
Apesar de estar em evidência atualmente, o instituto da delação premiada não é
recente no ordenamento jurídico brasileiro e está previsto em diversas leis: Lei de Crimes
Hediondos (Lei nº 8.072/90), Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro (Lei nº 7.492/86),
Lei de Crime contra a Ordem Tributária, Econômica e Relações de Consumo (Lei nº
8.137/90), Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/98), Lei de Proteção a Vítimas e
Testemunhas (Lei nº 9.807/99), Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06) e, por fim, a Lei de
Organizações Criminosas (Lei nº 12.850/13), editada para suprir as lacunas existentes.
A Lei nº 12.850/13, trata da colaboração premiada como um todo, não apenas em
seus aspectos materiais, prevendo detalhadamente o procedimento de aplicação do instituto e
buscando equilibrar a eficiência da persecução penal, com a necessidade de punição do
criminoso (“jus puniendi” estatal), e os direitos e garantias do mesmo.
Da análise da referida lei, conclui-se que o instituto poderá ser utilizado em
qualquer fase da persecução penal, ou seja, antes do recebimento da denúncia (fase pré-
processual de investigação), pois prevê como prêmio o não oferecimento da denúncia pelo
Ministério Público; na fase judicial, quando os benefícios serão a redução da pena em até dois
terços, a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos ou o perdão
judicial; ou ainda na fase pós-processual (execução penal), quando poderá conceder a redução
da pena até a metade ou progressão de regime, ainda que ausentes os requisitos objetivos.
Para que haja a concessão de benefícios, exige-se que estejam presentes os
elementos da voluntariedade, ou seja, livre de coação e manifestação de vontade do próprio
delator, e da eficácia, produzindo algum dos resultados previstos na Lei. Além disso, serão
81

levadas em consideração as circunstâncias objetivas e subjetivas do fato criminoso, como


personalidade do colaborador, natureza, gravidade e repercussão social do crime.
Atenta-se, portanto, para o fato de que a realização do acordo de colaboração não
se trata de direito subjetivo do investigado, pois a aplicação do instituto da colaboração
premiada e o benefício a ser concedido sempre dependerão da necessidade e da eficácia das
informações prestadas. Mas, no momento em que estas forem constatadas, os benefícios
deverão ser concedidos.
Poderão se valer do instituto tanto o Ministério Público, como o delegado de
polícia, que realizarão as negociações com o acusado sem a participação do juiz, como forma
de garantir sua imparcialidade. O juiz será responsável apenas por homologar ou não o termo
de acordo, o qual será sigiloso até o oferecimento da denúncia. A partir da homologação, o
colaborador será ouvido pelo responsável pelas investigações e, só após, o juiz analisará o
mérito e a eficácia da colaboração.
O fenômeno da corrupção é algo bastante difícil de ser definido, que dirá
impossível, diante de seu alcance, pois envolve agentes públicos e privados e variadas ações e
figuras penais com consequências diversas.
De forma bastante genérica, poderia se definir corrupção como a conduta de
pessoa física ou jurídica que se utiliza de sua posição e poder para obter vantagens para si ou
para outrem.
Esta prática compromete toda a sociedade e enfraquece o Estado Democrático de
Direito, mas está enraizada na sociedade brasileira, tendo-se exemplos de esquemas de
corrupção desde a colonização portuguesa, passando por todas as fases de governo brasileiro
(Monarquia, República Velha, Ditadura Militar) e se fazendo presente até os dias atuais,
quando se tornaram mais evidentes com a ampla divulgação dos casos, como o do
“Mensalão” e da “Lava Jato”.
Diante do aprimoramento das práticas corruptas, cada vez mais complexas, se
tornou necessária a criação e o aperfeiçoamento de várias medidas de combate à corrupção,
como legislações anticorrupção, órgãos investigativos e fiscalizadores e até convenções
internacionais.
A legislação passou a dispor a respeito da punição e da criminalização de certas
práticas, estabelecendo penas mais severas, além de prever institutos e medidas que facilitam
o controle social dos atos do Poder Público. Dentre os avanços legislativos podem ser citados:
a Lei de Ação Popular; Lei de Improbidade Administrativa, Lei de Licitações, Lei de
82

Lavagem de Dinheiro, Lei da Transparência e de acesso à informação, Lei da Ficha Limpa,


Lei Anticorrupção, bem como a Lei de Organização Criminosa.
Além das leis, a criação de órgãos, o fortalecimento e a integração institucional
são de fundamental importância na batalha contra a corrupção. Cabendo destacar, portanto, a
Controladoria Geral da União, o Tribunal de Contas da União, o Departamento de Polícia, o
Conselho de Controle das Atividades Financeiras e o Ministério Público, que formam um
verdadeiro sistema em que cada órgão contribui e colabora com a função do outro.
A corrupção é um dos maiores problemas enfrentados pelo Brasil, mas que
também assola todos os países do mundo e toma proporções extraterritoriais, ao prejudicar as
relações exteriores e ao envolver outros países no esquema, como os conhecidos paraísos
fiscais.
Sendo assim, os países se mobilizaram para combater a corrupção, agora um
problema transnacional, celebrando convenções internacionais, como a Convenção sobre o
Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais
Internacionais, a Convenção Interamericana contra a Corrupção e a Convenção das Nações
Unidas contra a Corrupção, com o fim de promover a cooperação internacional e possibilitar a
adoção de medidas mais eficazes contra essa prática.
A despeito da existência de incontáveis armas de combate à corrupção política,
como legislações, órgãos e convenções internacionais, alguns mecanismos estão sendo
utilizados para acompanhar o aprimoramento das práticas criminosas, como a delação
premiada.
Desde o surgimento do referido instituto, este já se mostrava um instrumento
eficaz no enfrentamento à crimes de difícil descoberta e investigação, como na “Operação
Mãos Limpas”, ocorrida na Itália, que conseguiu derrubar vários políticos e empresários
influentes.
Posto em evidência recentemente, com o “Mensalão” e, principalmente, com o
“Petrolão”, o instituto vem sofrendo severas críticas, no que diz respeito à ética, por incentivar
a traição entre os “companheiros de crime”, ao respeito ao princípio da proporcionalidade da
aplicação da pena, pois seriam cominadas penas diferentes, e à possibilidade de falsas
delações advindas de alguém que se vê desesperado pela obtenção de benefícios, mas estas
são rebatidas por argumentos lógicos.
Primeiramente, quando em conflito a ética e a criminalidade, acredita-se que a
“ausência de ética” ao delatar seja algo de menor potencial ofensivo que a prática de um
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delito que comporte a aplicação da delação premiada e que, por si só, já é amoral e antiético.
Poderia se dizer que incentivar a ética nas relações criminosas é até contraditório.
Segundo, a proporcionalidade da pena é baseada na culpabilidade de cada
acusado. Ao delatar seus companheiros e confessar o crime, demonstra sua intenção de se
“redimir”, revelando um grau de culpabilidade menor que a dos demais e recebendo menor
pena, o que será, portanto, proporcional.
Terceiro, a delação não é prova em si, mas um meio de obtenção de prova. Sendo
assim, não será proferida sentença condenatória com base apenas nos depoimentos do delator,
que deverão ser corroborados por outras provas, protegendo, de certa forma, os inocentes das
possíveis inverdades.
É certo que a delação premiada tem seus malefícios e seus possíveis vícios, mas é
um mal necessário diante da crescente e descontrolada criminalidade organizada no Brasil.
Os crimes de corrupção geralmente não deixam rastros, são praticados
minuciosamente para que nunca sejam revelados. Se não houvesse a quebra do silêncio entre
o corruptor e o corrupto, os esquemas não seriam integralmente descobertos e os únicos
criminosos punidos seriam aqueles de menor escalão, que em nada desfalcam o
funcionamento da organização criminosa.
Para que a associação seja verdadeiramente desmantelada, os chefes e
articuladores do crime tem que ser descobertos e punidos, o que será viabilizado através da
delação premiada.
Como se observa nos casos do “Mensalão”, que foi revelado por motivos de
vingança, mas que não deixou de ser um ganho para a sociedade, visto que, se não fosse a
denúncia de um dos participantes, talvez o esquema jamais fosse descoberto; e da “Lava
Jato”, em que a delação está sendo largamente aplicada, possibilitando a elucidação do crime,
a prisão de políticos, grandes empresários e operadores financeiros e, melhor, a recuperação
do produto do crime, a delação é um importante e necessário instrumento de auxílio ao Estado
no enfretamento à práticas que dificilmente seriam combatidas por ele.
De um ponto de vista mais restrito, algumas cláusulas presentes nos acordos de
colaboração podem ser consideradas inconstitucionais, como as que proíbem a interposição de
recursos contra as sentenças e a impetração de habeas corpus, que violaria o direito de ação,
ou as que obrigam a renúncia ao direito ao silêncio, direitos constitucionalmente garantidos.
No entanto, o acordo de colaboração é uma negociação em que ambas as partes
devem dispor de alguns direitos e se comprometer com alguns deveres para que este acordo
atinja seu fim, sendo óbvia e necessária a renúncia ao direito ao silêncio, pois não se teria
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interesse em negociar informações com alguém que “não fala”; e necessária a renúncia aos
recursos, como uma forma de evitar que a defesa se valha de medidas protelatórias que levem
à prescrição e à impunidade do delator.
O Estado está em situação de vulnerabilidade ao creditar confiança e contar com a
colaboração de um criminoso que, obviamente, optaria pela impunidade, devendo restringir o
acordo de forma a não deixar brechas que poderiam ser utilizadas pela defesa para atingir este
fim.
Dessa forma, o Ministério Público se vê diante da necessidade de relativizar e
contemporizar as leis para que o acordo seja eficaz e traga mais benefícios que custos à
sociedade, não recaindo em inconstitucionalidade por isso.
Além disso, o instituto pode demonstrar a incapacidade ou a desídia dos órgãos
investigativos que utilizam a delação, como se fosse uma forma dos criminosos “fazerem seu
trabalho”.
Pode até ser, de fato, mas é inegável que os crimes de corrupção são de difícil
investigação e que as colaborações são de grande valia, possibilitando o acesso a provas e
informações que talvez jamais fossem alcançadas. Portanto, se previsto em lei justamente par
auxiliar esses órgãos, nada mais justo que ser utilizado, ainda mais quando eficaz.
Não obstante a existência de leis, de órgãos fiscalizadores, de convenções
internacionais e o fato da delação contribuir bastante no combate à corrupção política, essa
prática continua bastante presente no país.
Além da criação das referidas medidas, para que haja o real combate à corrupção,
tem que ocorrer uma mudança no costume e na educação dos brasileiros, que tanto reclamam
da corrupção dos políticos, mas são acostumados com o “jeitinho” brasileiro e praticam a
corrupção no dia a dia.
Deve haver, também, uma reforma estrutural na Administração Pública, no
sistema judiciário, bem como na legislação, para eliminar as brechas que favorecem a
corrupção e a impunidade.
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