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MESTRADO EM DIREITO
São Paulo
2018
Bruna Borghetti Camara Ferreira Rosa
São Paulo
2018
Banca Examinadora
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Ao meu amado filho, Antônio Borghetti Camara Ferreira Rosa;
Ao meu marido, Pérsio Thomaz Ferreira Rosa, amigo, companheiro e
eterno amor;
Aos meus estimados pais, Maria Lenora Borghetti e Sidney Augusto
Camara Júnior;
Aos meus irmãos, Raul e Beatriz;
À minha querida avó, Bruna Faille Camara, in memoriam;
Aos meus sogros, Marina e Nilson Ferreira Rosa.
AGRADECIMENTOS
À minha família, meu marido Pérsio Thomaz Ferreira Rosa, meu filho Antônio, meus pais,
meus irmãos Beatriz e Raul Borghetti Camara, e aos meus sogros. Ao amigo e líder Floriano
Pesaro. A eles a minha gratidão.
À minha prima Renata Camara de Camargo, pela amizade, e às minhas amigas Cristina
Almeida e Marília Ramos Farrajota, pela disponibilidade.
Às amigas da PUC Fernanda Fritoli e Wassila Abud, a elas o meu agradecimento especial
pela leitura e comentários sobre a minha dissertação.
Aos amigos que fiz ao longo do mestrado, que agradeço nas pessoas do Felipe Montenegro e
do Pericles Ferreira de Almeida.
Ao Fernando Canhadas, por ter me incentivado a mudar de tema após eu ter sido convidada
para dar duas palestras na Assembleia Legislativa de Natal, uma sobre Processo legislativo e o
exemplo prático da Câmara Municipal de São Paulo e a outra sobre Legística, qualidade das
leis.
Ao meu orientador, professor Dr. Clovis Beznos, pela amizade, atenção e conselhos de
sempre. Ainda, pela oportunidade de ser sua assistente na graduação da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Aproveito para agradecer ao aluno Bruno Hellmeister
pelo suporte na pesquisa.
Aos professores da minha banca de qualificação, Dr. José Roberto Pimenta Oliveira e Dr.
Ricardo Marcondes Martins, pelas valiosas críticas e comentários. Em especial ao primeiro,
por todas as observações, sugestões e disposição.
Aos professores com quem tive o privilégio de conviver e aprender durante as disciplinas que
realizei no mestrado, André Ramos Tavares, Dinorah Musetti Grotti, Jacintho Arruda Câmara,
Marcio Cammarosano, Paulo de Barros Carvalho, Pedro Estevam Serrano, Silvio Luis
Ferreira da Rocha.
Better be imprudent moveables than prudent fixtures.
KEATS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11
1 PRERROGATIVA DO PARLAMENTAR AO DEVIDO PROCESSO LEGISLATIVO ... 16
1.1 Considerações gerais .......................................................................................................... 16
1.2 Funções públicas: deveres e garantias ao exercício dos mandatos ..................................... 22
1.3 Garantia do parlamentar ao devido processo legislativo .................................................... 32
2 ESTRUTURAS DO PROCESSO LEGISLATIVO .............................................................. 39
2.1 O processo legislativo na Constituição Federal .................................................................. 39
2.2 Do conceito de processo legislativo ................................................................................... 45
2.3 Do conteúdo do processo legislativo .................................................................................. 46
2.4 Dos princípios do processo legislativo ............................................................................... 52
2.4.1 Dos princípios da legalidade e do devido processo legal ................................................ 56
2.4.2 Dos princípios da publicidade e da transparência pública ........................................... 59
2.4.3 Princípio da segurança jurídica.................................................................................... 61
2.4.4 Dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade ............................................. 62
2.4.5 Do princípio da impessoalidade .................................................................................. 63
3 DAS FASES DO PROCESSO LEGISLATIVO ................................................................... 65
3.1 Introdução ao tema ............................................................................................................. 65
3.2 Da iniciativa legislativa ...................................................................................................... 67
3.2.1 Iniciativa do Poder Legislativo .................................................................................... 69
3.2.2 Iniciativa do Poder Executivo...................................................................................... 69
3.2.3 Iniciativa do Poder Judiciário ...................................................................................... 70
3.2.4 Iniciativa do Procurador Geral .................................................................................... 70
3.2.5 Iniciativa popular ......................................................................................................... 70
3.3 Da fase de elaboração: Lei Complementar 95/1998 ........................................................... 73
3.4 A função legislativa nos Regimentos Internos ................................................................... 76
3.5 O caminho das leis .............................................................................................................. 78
3.6 Comissões permanentes...................................................................................................... 86
3.7 Sessão Conjunta do Congresso Nacional ........................................................................... 87
4 DOS VÍCIOS DO PROCESSO LEGISLATIVO .................................................................. 89
4.1 Considerações iniciais ........................................................................................................ 89
4.1.1 Vício de iniciativa........................................................................................................ 90
4.1.2 Ausência de justificação .............................................................................................. 91
4.1.3 Ausência de publicidade .............................................................................................. 92
4.1.4 Ausência de pedido de informação .............................................................................. 92
4.1.5 Ausência de retorno quando há modificação do texto no processo legislativo ........... 93
4.1.6 Ausência de audiência pública .................................................................................... 93
4.1.7 Vício de procedimento por falta de debate do legislativo ........................................... 94
4.1.8 Abuso de poder ............................................................................................................ 95
5 O CONTROLE DOS ATOS INTERNA CORPORIS ............................................................ 96
5.1 Exposição inicial ................................................................................................................ 96
5.2 Conceito de ato interna corporis no processo legislativo .................................................. 96
5.2.1 Atos interna corporis que independem de deliberação das Comissões ou em Plenário
.............................................................................................................................................. 99
5.2.2 Atos interna corporis que podem ou não depender de deliberação das Comissões ou
do Plenário ............................................................................................................................ 99
5.3 Controle Interno dos atos interna corporis e as fases que envolvem esse controle ......... 101
5.3.1 O controle do parlamentar por meio da questão de ordem ........................................ 101
5.3.2 O controle do parlamentar via reclamação ................................................................ 103
5.3.3 O controle da população via reclamação ou representação ....................................... 103
5.3.4 O controle interno realizado por Comissão Parlamentar ........................................... 106
5.3.5 Das deliberações dos Presidentes das Casas Legislativas sobre os atos internas
corporis no processo legislativo ......................................................................................... 106
5.3.6 Exemplos práticos de controle interno ...................................................................... 107
5.3.6.1 O controle interno dos atos interna corporis no processo legislativo das décadas
de 1950 e 1960, na Câmara dos Deputados .................................................................... 107
5.3.6.2 O controle interno dos atos interna corporis à luz da Constituição de 1988. .... 112
5.4 Controle externo dos atos interna corporis ...................................................................... 118
5.4.1 Exemplos práticos de controle externo ...................................................................... 125
5.4.1.1 O controle dos atos interna corporis no processo legislativo da década de 1960
........................................................................................................................................ 125
5.4.1.2 O controle via Mandado de Segurança dos atos interna corporis anteriores à
Constituição de 1988 ...................................................................................................... 126
5.4.1.3 O controle dos atos interna corporis no processo legislativo à luz da Constituição
Federal de 1988 .............................................................................................................. 128
CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 135
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 139
RESUMO
Este trabalho destina-se à análise do controle dos atos interna corporis no processo
legislativo, compreendendo a autonomia e a prerrogativa do parlamentar ao devido processo
legislativo e as formas passíveis de realização desse controle interno, no âmbito do
parlamento, e externo, na esfera do Poder Judiciário.
This paper aims to analyze the review of interna corporis acts in the legislative
process including the parliamentary sovereignty and the parliament right to the legislative due
process and the possible processes to enforce such right internally, in the parliament, and
externally, in the Judicial Power.
The research investigates the structure of the process of law; its concept; its substance;
its phases; its irregularities and the safeguards created to ensure the smooth flow of the
legislative process in the internal rules of the Legislative Houses, Chamber of Deputies e
Senado Federal and in the National Congress internal rules common ascertaining that in the
performance of the interna corporis acts there are intervention in the institutional relations
between Legislative, Executive and Judiciary; and it concludes that: (i) the internal rules give
autonomy to the parliamentarian’s participation in the legislative process; (ii) frequently the
parliamentarian’s autonomy is mitigated by its own pairs due to the Executive’s direct
influence; (iii) the review of the interna corporis acts in the legislative process is limited,
because in an ultimate analysis the Legislative Chamber President’s decision is kept; (iv) the
external review can be done by Writ of Mandamus initiated by the parliamentarian or by
Direct Action of Unconstitutionality; (v) there is an evolution in the Supremo Tribunal
Federal’s analysis of the interna corporis acts in the legislative process.
INTRODUÇÃO
A pesquisa trata sobre tema, ainda hoje, pouco investigado pela doutrina: o controle
dos atos interna corporis no processo legislativo.
Tamanha é a importância da lei1 no regime democrático, que ela é criada por uma
composição de forças das mais diversas ideologias e áreas representativas da sociedade,2
tendo todo um procedimento específico para a sua elaboração e para a tramitação do processo
legislativo.3 O projeto passa por uma análise e pelo exame de constitucionalidade e
legalidade, por exame orçamentário, financeiro e de mérito, por debates e discussões internas
1
Leciona Canotilho: “A Constituição é a lei de um Estado que aparece na forma de um documento escrito. Esta
objectivação escrita representa, sem dúvida, a tendência para a racionalização do poder e constitui uma notável
expressão dos esforços revolucionários da burguesia ascendente nos sécs. XVIII e XIX no sentido de estabelecer
limites jurídicos ao poder do Estado” (CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. Coimbra:
Livraria Almedina, 1977. p. 55).
2
Segundo o autor, “o relevo conferido às forças políticas, à realidade constitucional, aos factores dinamicamente
operantes na sociedade, apontava inequivocamente para a necessidade de o político encontrar um papel
adequado na teoria da constituição. Em uma primeira abordagem levar-nos-á mesmo a concluir que entre os dois
conceitos há, afinal, uma intrínseca conexão: a constituição é tendencialmente a expressão do político. Por este
caminho enveredam os defensores da chamada constituição real (Lassalle) ou material (Mortati). Numa
conferência acerca da Constituição (Über Verfassungswesen, 1862). Lassalle salientou que a constituição real de
um país não era a constituição escrita, mera folha de papel, mas as relações reais de poder efectivamente
existentes nesse mesmo país. Considerando as forças políticas e o fim político como elementos fundamentais da
constituição, Mortari julga também o conjunto das forças, das relações, das situações, que operam e se efectuam
num campo mais amplo que transcende o sistema de normas e institutos pelas mesmas regulados, dá vida a
chamada constituição material, distinta da chamada constituição formal, circunscrita a um texto escrito onde se
recolhem as normas fundamentais de um Estado” (CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional.
Coimbra: Livraria Almedina, 1977. p. 53-54).
3
Na precisa lição de Celso Antônio Bandeira de Mello, “deveras, as leis provêm de um órgão colegial – o
Parlamento – no qual se congregam várias tendências ideológicas, múltiplas facções políticas, diversos
segmentos representativos do espectro de interesses que concorrem na vida social, de tal sorte que o Congresso
se constitui em verdadeiro cadinho onde se mesclam distintas correntes. Daí que o resultado de sua produção
jurídica, as leis – que irão configurar os direitos e obrigações dos cidadãos –, necessariamente terminam por ser,
quando menos em larga medida, fruto de um comportamento entre as variadas tendências. Até para a articulação
de uma maioria são necessárias transigências e composições, de modo que a matéria legislada resulta como o
produto de uma interação, ao invés da mera imposição rígida das conveniências de uma única linha de
pensamento. Com isto, as leis ganham, ainda que em medidas variáveis, um grau de proximidade em relação à
média do pensamento social predominante muito maior do que ocorreria caso fossem a simples expressão
unitária de uma vontade individual, embora representativa, também ela, de uma das facções sociais”
(BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 379).
12
Nesse sentido, a título de exemplo, o (MS) 36063,4 em que os impetrantes alegam que
a alteração realizada por meio de emenda do texto do projeto de lei no Senado Federal
caracterizou-se como emenda de mérito, pois alterou a matéria, e não como emenda de
redação, como alegado pelo Presidente do Senado para que o projeto seguisse sem retornar à
Câmara dos Deputados.
4
Liminar em Mandado de Segurança (MS) 30063 suspende envio à sanção presidencial de projeto de lei que
regulamenta duplicata eletrônica. “A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), deferiu
liminar no Mandato de Segurança (MS) 36063 para tornar sem efeito o ato do presidente do Senado Federal de
encaminhamento do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 73/2018 para sanção do presidente da República. De
acordo com a decisão, o PLC, que regulamenta a emissão de duplicata eletrônica, deve permanecer no Senado
Federal até o julgamento de mérito do processo ou eventual alteração da decisão. O mandado de segurança foi
impetrado pelos deputados federais Dagoberto Nogueira (PDT-MS), Rogério Peninha Mendonça (MDB-SC),
Alex Caziani (PRB-PR) e Ricardo Tripoli (PSDB-SP). Eles alegam que o projeto de lei sofreu emenda de mérito
ao ser submetido a votação no Plenário do Senado Federal e, em vez de retornar à Câmara dos Deputados, como
estabelece a Constituição Federal (artigo 65, parágrafo único), foi enviado à sanção do presidente da República.
Os parlamentares afirmam que foram desrespeitados em seu direito líquido e certo de avaliar alteração de mérito
ao texto original. Segundo os deputados, o PLC teria sofrido emenda em dois artigos, de forma a restringir ao
nome do solicitante o acesso às informações sobre inadimplência constantes do banco de dados compartilhados
pelos tabeliães de protestos. Eles afirmam que a alteração é de mérito, pois, no texto aprovado pela Câmara, o
acesso a essas informações era aberto a qualquer pessoa. O presidente do Senado Federal, por sua vez, entendeu
que a alteração era de redação, não havendo obstáculo para o envio à sanção presidencial. Decisão: Em análise
preliminar do caso, a ministra verificou que as alterações implementadas pelo Senado no texto oriundo da
Câmara dos Deputados parece exigir o enquadramento na disciplina do parágrafo único do artigo 65 da
Constituição Federal. ‘Os argumentos lançados pelos impetrantes demonstram, nesse juízo inicial, transgressão
às normas constitucionais que disciplinam o processo legislativo, suprimindo, com isso, o debate e a reflexão dos
deputados federais sobre a alteração realizada pela Casa Revisora quanto à restrição no acesso das informações
constantes do banco de dados previsto no projeto de lei mencionado’, afirmou. A ministra Cármen Lúcia
observou também que, mesmo se considerando que a sanção do PLC 73/2018 não legitimaria eventual
inconstitucionalidade ocorrida em sua tramitação legislativa, que poderia ser questionada posteriormente em
ação própria perante o Poder Judiciário, a modificação da situação jurídica acarretaria perda da legitimidade dos
parlamentares impetrantes, demonstrando o perigo de dano que justifica a concessão da liminar. Ainda segundo a
relatora, o tempo transcorrido até a prolação de decisão em eventual ação sustentando inconstitucionalidade
formal da lei geraria insegurança jurídica sobre os atos realizados com fundamento nos pontos questionados.
Segundo a ministra, em nome do princípio da segurança jurídica, deve se garantir a prestação jurisdicional mais
rápida, conforme determina a Constituição Federal (artigo 5º, inciso LXXVIII)” (Disponível em
<www.aasp.org.br>. Acesso em: 14 nov. 2018).
14
Segundo a relatora, com base no princípio da segurança jurídica, deve-se garantir a prestação
jurisdicional mais rápida, como estabelece a Constituição Federal (art. 5º, inciso LXXVIII).5
5
Disponível em: <www.aasp.org.br>. Acesso em: 14 nov. 2018.
15
Por fim, no quinto e último capítulo abordam-se o conceito de atos interna corporis no
processo legislativo e os mecanismos internos e externos para o controle pelo parlamentar
como sua garantia ao devido processo legislativo. Assim, são colocados exemplos práticos
que demonstram os desafios democráticos que envolvem o processo de criação das leis, bem
como a obrigatoriedade de respeitar os princípios envolvidos nesse processo.
16
6
46 (quarenta e seis) dos 54 (cinquenta e quatro) eleitos senadores são novos no cargo.
7
Disponível em: <htttp: //g1.globo.com/politica/eleições/2018/eleição-em-numeros/noticia/2018/10/08numeros-
que-explicam-a-aeleicao-de-2018.ghtml>. Acesso em: 15 nov. 2018.
8
Segundo a ONG Transparência Internacional, o Brasil quanto à percepção da corrupção, caiu 17 posições e
amargou a sua pior colocação desde 2013, passando a ocupar a 96ª colocação. Somente Libéria e Bahrein
mostraram uma queda maior que a brasileira. As notas dadas aos países vão de 0 a 100. Quanto maior a nota,
mais transparente é o país. Em 2014, o Brasil tinha nota 43. Em 2015, porém, a nota do Brasil foi de 38 pontos e
participaram 168 países, em 2016 a nota foi 40, e em 2017 a nota passou para 37 participaram 180 países. A
Nova Zelândia, considerada o país mais transparente segundo a classificação, tem nota 89; seguida pela
Dinamarca com nota 88. A Somália mantém a sua posição de pior do ranking, tem nota 9. Os países com melhor
desempenho compartilham características-chave: alto nível de liberdade de imprensa; acesso a informação sobre
orçamento público – para que a população saiba de onde vem e como é gasto o dinheiro; altos níveis de
integridade entre as pessoas no poder; e sistemas judiciários que não diferenciam ricos e pobres, e que são
realmente independentes das outras esferas do governo. 81% dos brasileiros acreditam que partidos políticos são
corruptos. O Congresso Nacional aparece em seguida entre as instituições mais desacreditadas pela população,
com 72%. O Poder Judiciário aparece na lista com 50% de desconfiança, seguido pelo funcionalismo público,
com 46%; imprensa, 38%; ONGs e setor privado, 35%; igreja, 31%; e militares, 30%. O Estudo realizado pela
organização Transparência Internacional Barômetro Global da Corrupção foi realizado em 2018 (Disponível em:
<https: //www.ipc.transparenciainternacional.org.br/>. Acesso em: 22 nov. 2018).
9
PEDREIRA, Beatriz. Sonhos da juventude Brasileira: A Política além do voto. Cadernos Adenauer XVI
(2015). p. 102.
17
muro de Berlim, marcando o fim da Guerra Fria e da polarização ideológica que o dividia
politicamente.10
Antes dos protestos de 2013, o jovem brasileiro não se mobilizava massivamente por
uma causa pública desde 1992, por ocasião do impeachment do presidente Fernando Collor de
Mello. Naquela ocasião, o movimento “caras-pintadas” marcou o protagonismo político da
juventude de então. A repercussão foi tamanha que os protestos pelo “Impeachment Já”
levaram Collor a renunciar ao cargo antes de aprovado o processo pelo Congresso Nacional.
No entanto, com o processo de cassação já aberto, o ex-presidente teve os seus direitos
políticos suspensos.11
Desde então, até o início da mobilização de 2013, era frequente a ideia de que havia
ocorrido uma despolitização entre os jovens no Brasil, mas a militância estava sendo
manifestada de outro modo, na busca de um espaço de transformação social, como, por
exemplo, nas ONGs. Para os jovens, os protestos iniciados em junho de 2013 foram
emblemáticos e representaram um encontro físico com a democracia que, claro, não passou
despercebido: 92% dos jovens entrevistados pelo estudo “Sonho Brasileiro da Política”12
souberam das manifestações e 18% participaram delas.13
Diante dessa “crise moral”, em que a população tem uma imagem de que os servidores
públicos são “corruptos” e “desmotivados” e os serviços públicos são “distantes”,
10
Para Beatriz Pedreira, “esses três fatos históricos: redemocratização, pensamento não-dualista e a hiperconexão
são determinantes para o desenvolvimento de um novo comportamento político entre os jovens brasileiros”
(PEDREIRA, Beatriz. Sonhos da juventude Brasileira: A Política além do voto. Cadernos Adenauer XVI, 2015.
p. 102).
11
Ibidem, p. 103.
12
O Estudo Sonho Brasileiro foi a campo em 2014 com a pergunta: “O que as ações e pensamentos políticos dos
jovens nos dizem a respeito de um novo comportamento político da juventude brasileira?” Por meio de métodos
de pesquisa qualitativa e quantitativa, o estudo ouviu 1.428 jovens, entre 18 e 32 anos, em todos os estados
brasileiros.
13
PEDREIRA, Beatriz, ob. cit., p. 104.
18
Para Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel
Dinamarco, o Direito exerce uma função de ordem social, isto é, busca coordenar os
interesses que surgem na vida em sociedade, de forma a organizar a cooperação entre os
cidadãos e conciliar os conflitos existentes na comunidade.15
14
Segundo a ONG Transparência Internacional (Disponível em:
<https://www.ipc.transparenciainternacional.org.br/>. Acesso em 22 nov. 2018).
15
CINTRA, A. C. R.; GRINOVER, A. P.; DINAMARCO, C. R. Teoria Geral do Processo. 21. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005. p. 21.
16
Ibidem.
17
BARRETO, Derly e Silva Filho. Relação entre os Poderes Legislativo e Executivo à Luz dos Regimentos
Parlamentares. Doutorado em Direito. São Paulo: 2013. p. 41-42.
19
18
Explana Valdemir Pires: “a palavra administração já implica controle: não se administra sem controlar. Em
uma acepção esquemática da administração como técnica (ou ciência, dependendo do ponto de vista), ela
envolve planejamento, organização, direção e controle” (GUEDES, Alvaro Martim; FONSECA, Francisco
(orgs.). Controle Social: Cenários, Avanços e Dilemas no Brasil. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2008. p. 17).
19
Para Montesquieu, “como, em um Estado livre, todo homem que supostamente tem uma alma livre deve ser
governado por si mesmo, seria necessário que o povo em conjunto tivesse o poder legislativo. Mas, como isto é
impossível nos grandes Estados e sujeito a muitos inconvenientes nos pequenos, é preciso que o povo faça
através de seus representantes tudo o que não pode fazer por si mesmo.
Conhecemos muito melhor as necessidades de nossa cidade do que as das outras cidades, e julgamos melhor a
capacidade de nossos vizinhos do que a de nossos outros compatriotas. Logo, em geral não se devem tirar os
membros do corpo legislativo do corpo da nação, mas convém que, em cada lugar principal, os habitantes
escolham um representante para si. A grande vantagem dos representantes é que eles são capazes de discutir os
assuntos. O povo não é nem um pouco capaz disto, o que constitui um dos grandes inconvenientes da
democracia” (MONTESQUIEU. O Espírito das Leis. Título Original: L’esprit des lois. São Paulo: Martins
Fontes, 1993. p. 170-171).
20
Para o Senado, cada estado e o Distrito Federal elegem três senadores, com mandato de oito anos, renovados
de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços. A composição do Senado é de 81 parlamentares
(Disponível em: <https: //www.congressonacional.leg.br/institucional/atribuicoes>. Acesso em: 07 nov. 2018).
20
poder bicameral. A Câmara é formada por representantes do povo, eleitos pelo sistema
proporcional em cada estado e território e no Distrito Federal (art. 45).
Essas competências privativas das Casas Legislativas podem ser agrupadas em três
tipos de atribuições: (i) as relativas às funções do Poder Legislativo federal; (ii) as pertinentes
às Casas do Congresso (Câmara e Senado) quando agem separadamente; e (iii) as que se
21
São 513 deputados federais, com mandato de quatro anos. O número de deputados é proporcional à população
do estado ou do Distrito Federal, com o limite mínimo de oito e máximo de setenta deputados para cada um
deles (Disponível em: <https: //www.congressonacional.leg.br/institucional/atribuicoes>. Acesso em: 07 nov.
2018).
22
Disponível em: <https: //www.congressonacional.leg.br/institucional/atribuicoes>. Acesso em: 07 nov. 2018.
23
Ao tratar das funções do Poder Legislativo, Michel Temer entende como típicas do parlamento as funções de
legislar e fiscalizar, a última decorre do princípio da representação popular, e como funções atípicas as de
administrar e julgar (TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: Malheiros
Editores: 1996. p. 131). Leciona Agustin: “O conceito de função administrativa é o mais indefinido de todos,
pois esta não tem, diferentemente das demais funções, um conteúdo único. De fato, a função administrativa do
ponto de vista do seu conteúdo, pode consistir tanto na expedição de normas jurídicas gerais, como na decisão de
controvérsias entre partes, como, e esta é a mais frequente, na atuação material nos casos concretos que se lhe
apresentam”. E mais à frente: “e este desempenho da função administrativa por parte dos outros poderes de
Estado se efetua sob o mesmo regime jurídico da função administrativa [...]” (GODILLO, Augustin. Princípios
Gerais de Direito Público. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1977. p. 122).
24
Disponível em: <https: //www.congressonacional.leg.br/institucional/atribuicoes>. Acesso em: 07 nov. 2018.
25
Nesse sentido, leciona Ricardo Marcondes Martins: “É gênero abrangente de todos os veículos introdutores
pertinentes à função administrativa. Abrange veículos introdutores privativos do Legislativo, como a lei
ordinária, a resolução e o decreto legislativo; veículos comuns aos três poderes, como o regimento, o ato
impositivo de sanção disciplinar, o ato de invalidação; e veículos privativos do Poder Executivo, como o decreto.
Logo, não são acolhidas as tentativas doutrinárias de restrição do conceito” (MARTINS, Ricardo Marcondes.
Efeitos dos Atos Administração. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 109).
21
Por sua vez, a função fiscalizadora determinada pela Constituição prevê que cabe ao
Congresso Nacional a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta (art. 70). No exercício
dessa função, as Casas são auxiliadas pelo Tribunal de Contas da União (art. 71).27
Daí que o Poder Legislativo tem como função principal não apenas legislar, mas
também fiscalizar o Poder Executivo, o que se verifica em diversos dispositivos
constitucionais e regimentais, tais como o Tribunal de Contas – como órgão que auxilia na
função de fiscalização –, a submissão das contas do Presidente da República para a sua
aprovação, as informações solicitadas sobre políticas públicas, programas, ações para controle
e para subsídio de elaboração legislativa, o controle via Comissão Parlamentar de Inquérito,
audiências públicas, peças orçamentárias.
26
Disponível em: <https: //www.congressonacional.leg.br/institucional/atribuicoes>. Acesso em: 07 nov. 2018.
27
Disponível em: <https: //www.congressonacional.leg.br/institucional/atribuicoes>. Acesso em: 07 nov. 2018.
28
Nesse sentido, exemplifica-se com os art. 32, II e III, da Lei Orgânica do Município de São Paulo – LOM/SP.
22
29
Para uma visão geral sobre competência remanescente, exclusiva e complementar, vejam-se: MENDES,
Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; GONET BRANCO, Paulo Gustavo. Curso de Direito
Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 817-822; MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional.
24. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 409.
30
Nesse sentido, exemplifica-se com os arts. 13, 14, 30, 32, 70 da Lei Orgânica do Município de São Paulo.
31
Para Oswaldo Aranha, a Constituição é formada por uma união de normas jurídicas (princípios e regras) que
estabelecem, de modo primordial, a organização do Estado nos seus elementos essenciais e, assim, o regime
político, o sistema de governo e a forma de Estado, além dos limites decorrentes das respectivas ações, por meio
dos direitos reconhecidos e assegurados aos indivíduos considerados individualmente, ou em grupos que formam
a comunidade (BANDEIRA DE MELLO, Oswaldo Aranha Bandeira. Princípios Gerais de Direito
Administrativo. v. 1. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979. p. 1 e 2).
32
Segundo Canotilho, além de delimitar a organização do Estado, a harmonia e independência entre os poderes e
as respectivas atribuições de seus órgãos fundamentais, o Direito Constitucional determina a ação do Estado e
estabelece sacrifícios em benefício dos direitos fundamentais, assim como prescreve o seu programa ideológico
em favor do interesse coletivo. Princípios instituídos como princípios estruturantes, constitutivos e indicativos
dão a ideia central da ordem constitucional. Em suma são os princípios que estruturam todo o ordenamento
jurídico e adquirem peso e transparência ao serem estabelecidos como princípios gerais, especiais ou regras, que
formam a unidade material (unidade da constituição) (CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito
Constitucional e Teoria da Constituição. 3. ed. Almedina, 1998. p. 1099 e 1100).
33
Isto é o que compõe o chamado “freios e contrapesos”, por atribuir ainda que restritamente funções que em
tese corresponderiam aos outros poderes, para que haja um equilíbrio maior entre os “poderes”, ou seja, órgãos
do Poder ou a “divisão de funções do Poder”. Já que o Poder é indivisível (BANDEIRA DE MELLO, Celso
Antônio, Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 31).
34
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 3. ed. Almedina, 1998.
p. 247.
23
Justamente para assegurar o exercício das funções sem qualquer interferência externa
é que são garantidas imunidades aos Poderes. Ao chefe do Poder Executivo é resguardado ser
processado apenas se houver admissão pela Câmara dos Deputados. No caso de infrações
penais comuns, o julgamento será realizado pelo Supremo Tribunal Federal e, se relativas a
crime de responsabilidade, a decisão cabe ao Congresso Nacional (art. 86, CF)
35
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 27.
36
Ibidem, p. 133.
37
ATALIBA, Geraldo. República e Constituição. 2. ed. 3. tir. Atualizada por Rosolea Miranda Folgosi. São
Paulo: Malheiros, 2004. p. 104-105.
38
Assim prevê o art. 85 da Constituição Federal.
39
Há a garantia até mesmo durante o Estado de Sítio, como prevê o § 8º do art. 53 da CF.
40
Estabelece o art. 53: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos”.
24
Compete a cada uma das Casas do Congresso regular sobre as suas incompatibilidades
com o decoro parlamentar em consonância com o dispositivo constitucional. A Câmara dos
Deputados e o Senado, por meio dos seus respectivos Códigos de Ética e Decoro Parlamentar,
estabelecem os princípios éticos e as regras básicas de decoro que devem orientar a conduta
dos que sejam titulares ou que estejam no exercício de mandato de parlamentar.
41
A Constituição Federal prevê no art. 53 e parágrafos 1 ao 7º.
42
Nesse sentido, o Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados prevê: “Art. 2º As
imunidades, prerrogativas e liberdades asseguradas pela Constituição Federal, pelas leis e pelo Regimento
Interno da Câmara dos Deputados aos Deputados são institutos destinados à garantia do exercício do mandato
popular e à defesa do Poder Legislativo”.
43
Nesse sentido, o art. 2º do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.
44
Assim, o disposto nos arts. 54, 55 e 56.
25
45
É o que disciplina o Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados: “Art. 3º São deveres
fundamentais do Deputado: I – promover a defesa do interesse público e da soberania nacional; I – respeitar e
cumprir a Constituição Federal, as leis e as normas internas da Casa e do Congresso Nacional; III – zelar pelo
prestígio, aprimoramento e valorização das instituições democráticas e representativas e pelas prerrogativas do
Poder Legislativo; IV – exercer o mandato com dignidade e respeito à coisa pública e à vontade popular, agindo
com boa-fé, zelo e probidade; V – apresentar-se à Câmara dos Deputados durante as sessões legislativas
ordinárias e extraordinárias e participar das sessões do Plenário e das reuniões de Comissão de que seja membro,
além das sessões conjuntas do Congresso Nacional; VI – examinar todas as proposições submetidas a sua
apreciação e voto sob a ótica do interesse público; VII – tratar com respeito e independência os colegas, as
autoridades, os servidores da Casa e os cidadãos com os quais mantenha contato no exercício da atividade
parlamentar, não prescindindo de igual tratamento; VIII – prestar contas do mandato à sociedade,
disponibilizando as informações necessárias ao seu acompanhamento e fiscalização; IX – respeitar as decisões
legítimas dos órgãos da Casa”. De forma semelhante a previsão do art. 2º do Código de Ética e Decoro
Parlamentar do Senado.
46
O Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado estabelece como deveres dos parlamentares: “Art. 2º São
deveres fundamentais do Senador: I – promover a defesa dos interesses populares e nacionais; II – zelar pelo
aprimoramento da ordem constitucional e legal do País, particularmente das instituições democráticas e
representativas, e pelas prerrogativas do Poder Legislativo; III – exercer o mandato com dignidade e respeito à
coisa pública e à vontade popular; IV – apresentar-se ao Senado durante as sessões legislativas ordinárias e
extraordinária e participar das sessões do plenário e das reuniões de Comissão de que seja membro, além das
sessões conjuntas do Congresso Nacional”.
47
Assim prevê o art. 9º, § 3º: “Os prazos do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar contar-se-ão em dias úteis,
inclusive em se tratando de recurso ou pedido de vista, ficando suspensos no recesso, salvo na hipótese de
inclusão de matéria de sua competência na pauta de convocação extraordinária, nos termos do § 2º”.
26
48
O Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados estabelece no art. 6º: “Compete ao
Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados: I – zelar pela observância dos preceitos
deste Código, atuando no sentido da preservação da dignidade do mandato parlamentar na Câmara dos
Deputados; II – processar os acusados nos casos e termos previstos no art. 13; III – instaurar o processo
disciplinar e proceder a todos os atos necessários à sua instrução, nos casos e termos do art. 14; IV – responder
às consultas formuladas pela Mesa, Comissões, Partidos Políticos ou Deputados sobre matérias relacionadas ao
processo políticodisciplinar”.
49
Preveem o art. 10 do Código de Ética da Câmara e o art. 7º do Código de Ética e Decoro Parlamentar do
Senado as penalidades a serem impostas caso haja desrespeito às suas normas. No mesmo sentido, o Código de
Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados estabelece que: “Compete ao Conselho de Ética e Decoro
Parlamentar da Câmara dos Deputados: I – zelar pela observância dos preceitos deste Código, atuando no sentido
da preservação da dignidade do mandato parlamentar na Câmara dos Deputados; II – processar os acusados nos
casos e termos previstos no art. 13; III – instaurar o processo disciplinar e proceder a todos os atos necessários à
sua instrução, nos casos e termos do art. 14; IV – responder às consultas formuladas pela Mesa, Comissões,
Partidos Políticos ou Deputados sobre matérias relacionadas ao processo políticodisciplinar” (art. 6º).
50
Art. 5º do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados. Quanto às hipóteses de perda do
mandato, estabelece o art. 3º do Código de Ética do Senado, em consonância com os arts. 54 e 55 da CF, as
hipóteses de perda do cargo para os parlamentares que infringirem qualquer das proibições constitucionais
referentes às contrações e ao exercício de funções, com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa
pública, sociedade de economia mista ou concessionária de serviço público; a prática de qualquer dos atos
contrários à ética e ao decoro parlamentar capitulados nos arts. 4º e 5º; e a infração do disposto nos incisos III,
IV, V e VI do art. 55 da Constituição, respectivamente: que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à
terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada; que
27
Por sua vez, o Código de Ética do Senado prevê as possibilidades de perda temporária
do exercício do mandato, que é uma forma de suspensão do exercício do mandato. Destarte,
essa pena é aplicada ao senador reincidente que deixar de observar os deveres inerentes ao
mandato e os preceitos regimentais, bem como perturbar a ordem das sessões ou das
reuniões.51
perder ou tiver suspensos os direitos políticos; quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta
Constituição; que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
51
Ainda, se praticar transgressão grave ou reiterada aos preceitos do Regimento Interno ou do Código de Ética,
tais como: revelar conteúdo de debates, deliberações, informações e documentos oficiais que o Senado ou
Comissão tenham resolvido que devam ser reservados; faltar a 10 sessões ordinárias consecutivas ou a 45
intercaladas, dentro da sessão legislativa ordinária ou extraordinária, sem justificar pode, vir a perder o cargo
temporariamente. Destarte, registra-se o inconformismo quanto a esta branda penalidade, que pode vir a ser
aplicada no âmbito do controle interno do parlamento ao Deputado que desrespeitar essas normas, entre elas,
usar verbas de gabinete infringindo os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência aplicáveis à Administração Pública. Vide arts. 9º e 10 do Código de Ética e Decoro Parlamentar do
Senado Federal.
52
Advirta-se que a suspensão do exercício do mandato por mais de 120 dias gera, após a publicação da
resolução, a imediata convocação do suplente do parlamentar suspenso, para assumir o mandato em seu lugar.
Assim o art. 14 do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.
53
A aplicação da pena de suspensão das prerrogativas é limitada a seis meses, como estabelecem os arts. 5º, VI a
VIII, e 13 do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.
54
É o que estabelecem o art. 14 do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, com a
redação dada pela Resolução 47/2013, e o arts. 17-A a O do Código de Ética e Decoro do Senado Federal.
28
Por sua vez, o Código de Ética do Senado é silente quanto ao prazo máximo de
deliberação, sendo expresso pela aplicação subsidiária ao processo disciplinar parlamentar do
55
O recurso tem efeito suspensivo, e tanto o representado quanto a Comissão terão o prazo de 5 dias úteis, o
primeiro para recurso e a Comissão para a manifestação.
56
O art. 7º do Código de Ética da Câmara dos Deputados trata da composição do Conselho.
57
Assim, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar decidirá ou se manifestará, conforme o caso, pela aplicação
da penalidade requerida na representação tida como procedente e pela aplicação de cominação mais grave ou,
ainda, de cominação menos grave, de acordo com os fatos efetivamente apurados no processo disciplinar. Nesse
sentido, o art. 9º do Código de Ética e Decoro Parlamentar.
58
Daí que, quando a representação ou o requerimento de representação contra Deputado for considerado leviano
ou ofensivo à sua imagem, bem como à imagem da Câmara dos Deputados, os autos do processo respectivo
serão encaminhados à Procuradoria Parlamentar para as providências reparadoras de sua alçada, nos termos do
art. 21 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.
A rigor, o art. 16 do Código de Ética determina que “os processos instaurados pelo Conselho de Ética e Decoro
Parlamentar da Câmara dos Deputados não poderão exceder o prazo de 60 dias úteis para deliberação pelo
Conselho ou pelo Plenário da Câmara dos Deputados, conforme o caso, na hipótese das penalidades previstas
nos incisos II e III do art. 10”. Vejam-se ainda o art. 15 do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos
Deputados e o art. 17 do Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal.
29
Embora o Código de Ética da Câmara dos Deputados seja omisso quanto à aplicação
subsidiária da Lei Federal 9.748/1999, é evidente que ela se aplica ao processo disciplinar no
âmbito da Câmara. Destarte, retira-se essa afirmação dos próprios Diplomas Parlamentares,
que são expressos em dispor que, na omissão de um dos Regimentos sobre certa matéria,
aplica-se por analogia o Estatuto da outra Casa Legislativa. Daí que se conclui pela aplicação
subsidiária da Lei 9.784/99 ao processo disciplinar parlamentar.
buscar a verdade substancial; (ix) princípio da celeridade processual – o processo deve ter
uma duração razoável e célere, de acordo com o art. 5º, LXXVIII, da CF; (x) princípio da
oficialidade – compete à Administração o esforço na direção e desenvolvimento da sucessão
de atos que o envolvem até a elaboração do último ato; (xi) princípio da gratuidade objetiva –
não causar ônus financeiros ao administrado – para o autor há aplicação desse princípio
quando há procedimentos restritivos ou ablativos de direito, não sendo cabível para alcançar
ações ampliativas de direito; (xii) princípio do informalismo – incumbe à Administração ser
flexível quanto à forma das petições.59
59
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33 ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 517-521.
60
ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiro,, 2013. p 280-286.
61
Nesse sentido, transcreve-se o teor do dispositivo relacionado: “Art. 20. Nas esferas administrativa,
controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão. Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da
medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face
das possíveis alternativas”.
31
Também o Judiciário e o Ministério Público contam com uma proteção especial para o
exercício de sua atividade funcional. Nesse sentido, respectivamente, os artigos 95, 127 e 128,
§ 5º, da Constituição, assegurando a independência e a autonomia administrativa e funcional
dos órgãos.
Essas prerrogativas, em última análise, são para a proteção do povo, com força de
serem os atos e decisões imparciais, independentes, impessoais e sem abuso de poder.65 Nesse
62
BEZNOS, Clovis. O Uso de Conceitos Jurídicos Indeterminados. Disponível em: <http: //www.conjur.com.br
>. Acesso em: 18 dez. 2018.
63
Ibidem.
64
Ibidem.
65
ATALIBA, Geraldo. República e Constituição. 2. ed. 3. tir. Atual. por Rosolea Miranda Folgosi. São Paulo:
Malheiros, 2004. p. 105.
32
sentido, o fim perquirido pela Constituição, ao dispor sobre as funções estatais,66 Poder
Legislativo, Poder Executivo, Poder Judiciário e Ministério Público67 e as suas garantias, tem
como objetivo defender a democracia, os direitos fundamentais e a separação de poderes,
ratificando, assim, tratamento diferenciado aos seus integrantes, em respeito ao princípio da
igualdade.68
66
Ricardo Marcondes Martins aponta seis características comuns entre as funções estatais: (i) perquirir o
interesse público (bem comum) e em nenhuma hipótese ir contra os interesses dos particulares enquanto
membros da sociedade; (ii) na determinação de um dever que é inerente ao conceito de função; (iii) no respeito
aos princípios constitucionais; (iv) na promulgação de normas jurídicas; (v) na publicação de atos jurídicos; (vi)
na sua atividade o elemento da vontade não tem relevância, ou, em algumas hipóteses, secundário (MARTINS,
Ricardo Marcondes. Efeitos dos vícios do Ato Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 43-46).
67
Nesse sentido, os arts. 96 e 105 da CF.
68
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 409.
69
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva 2012. p. 144.
33
70
A título de exemplo o apoio pela disputa de cargo na Mesa da Casa Legislativa.
71
O líder, ao encaminhar a votação, o faz solicitando aos demais liderados que votem a favor ou contra a matéria
objeto de deliberação na pauta da Comissão. No que se refere ao requerimento de verificação de presença, este é
realizado para a verificação do quórum necessário para a aprovação da matéria ou para a derrubada da reunião.
72
Nesse sentido o art. 10 do RICD, que dispõe sobre as atribuições e prerrogativas dos líderes. E os arts. 78 e 81
do RISF; o primeiro estabelece a designação dos membros das Comissões por indicação dos líderes e o segundo
trata da competência de o líder solicitar, a qualquer momento, por documento escrito a substituição do
parlamentar na Comissão.
73
A promulgação das emendas à Constituição é realizada em conjunto com a Mesa do Senado Federal.
34
Por sua vez, ao Presidente do Senado Federal cabe, além das atribuições previstas na
Constituição75 e no Regimento: (i) velar pelo respeito às prerrogativas e imunidades dos
parlamentares; (ii) convocar e presidir as sessões do Senado e do Congresso Nacional,
fazendo observar a Constituição, as leis e o Regimento; (iii) distribuir as matérias às
comissões; (iv) impugnar as proposições que lhe pareçam contrárias à Constituição, às leis ou
ao Regimento; (v) designar substitutos de membros das comissões e nomear relator em
plenário; (vi) desempatar as votações, quando ostensivas; (vii) assinar os autógrafos dos
projetos e emendas a serem remetidos à Câmara dos Deputados e dos projetos destinados à
sanção e promulgar as resoluções do Senado e os decretos legislativos; (vii) resolver, ouvido o
Plenário, qualquer caso não previsto no Regimento.
São princípios que regem o processo legislativo: (i) a participação plena e igualitária
nas atividades legislativas; (ii) a alteração do regimento somente por norma legislativa
competente e respeitados os procedimentos regimentais; (iii) a norma regimental prevalece
sobre acordo de lideranças ou decisão do Plenário, salvo quando tomada por unanimidade
mediante voto nominal, resguardado o quórum mínimo de três quintos dos votos dos
membros da Casa; (iv) a nulidade de qualquer decisão que contrarie norma regimental; (v) a
prevalência de norma especial sobre a geral; (vi) a decisão dos casos omissos de acordo com a
analogia e os princípios gerais de Direito; (vii) a preservação dos direitos das minorias; (viii) a
74
Entre as competências as estabelecidas na Constituição (art. 80, CF) e no art. 17 do Regimento Interno.
75
Arts. 57, § 6º, I e II, 66, § 7º, e 80 da Constituição e 48 do RISF.
35
definição normativa, a ser observada pela Mesa em questão de ordem decidida pela
Presidência; (ix) a decisão colegiada, observância do quórum regimental estabelecido; (x) a
pauta realizada com antecedência para possibilitar o devido conhecimento; (xi) a publicidade
das decisões tomadas; (xii) a ampla negociação política apenas por meio de procedimentos
regimentais previstos no Diploma Parlamentar.76
Veja-se que a exceção estabelecida no item iii (inciso III do art. 412, RISF) é uma
forma de, em se tendo a maioria, decidir de modo diverso do disposto em norma regimental.
Isto é, facilitam-se eventuais “acordos” realizados com o Governo ou entre os parlamentares,
para agilizar determinada matéria pautada ou para se deliberar de forma diversa da prevista na
norma interna. Daí que se entende que esse inciso afronta o Regimento Interno, pois há
procedimento específico para a sua alteração,77 a própria Constituição e os princípios da
legalidade, da segurança jurídica, e da publicidade.
76
Vide art. 412 do Regimento Interno do Senado Federal.
77
Quanto ao procedimento específico para a alteração ou reforma dos Regimentos Internos, vejam-se os artigos
216, do RICD e art. 401 do RISF: “Art. 216. O Regimento Interno poderá ser modificado ou reformado por meio
de projeto de resolução de iniciativa de Deputado, da Mesa, de Comissão Permanente ou de Comissão Especial
para esse fim criada, em virtude de deliberação da Câmara, da qual deverá fazer parte um membro da Mesa. § 1º
O projeto, após publicado e distribuído em avulsos, permanecerá na Ordem do Dia durante o prazo de cinco
sessões para o recebimento de emendas. § 2º Decorrido o prazo previsto no parágrafo anterior, o projeto será
enviado: I - à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, em qualquer caso; II - à Comissão Especial que
o houver elaborado, para exame das emendas recebidas; III - à Mesa, para apreciar as emendas e o projeto. § 3º
Os pareceres das Comissões serão emitidos no prazo de cinco sessões, quando o projeto for de simples
modificação, e de vinte sessões, quando se tratar de reforma. § 4º Depois de publicados os pareceres e
distribuídos em avulsos, o projeto será incluído na Ordem do Dia, em primeiro turno, que não poderá ser
encerrado, mesmo por falta de oradores, antes de transcorridas duas sessões. § 5º O segundo turno não poderá ser
também encerrado antes de transcorridas duas sessões. § 6º A redação do vencido e a redação final do projeto
competem à Comissão Especial que o houver elaborado, ou à Mesa, quando de iniciativa desta, de Deputados ou
Comissão Permanente. § 7º A apreciação do projeto de alteração ou reforma do Regimento obedecerá às normas
vigentes para os demais projetos de resolução. § 8º A Mesa fará a consolidação e publicação de todas as
alterações introduzidas no Regimento antes de findo cada biênio.
“Art. 401. O Regimento Interno poderá ser modificado ou reformado por projeto de resolução de iniciativa de
qualquer Senador, da Comissão Diretora ou de comissão temporária para esse fim criada, em virtude de
deliberação do Senado, e da qual deverá fazer parte um membro da Comissão Diretora. § 1º Em qualquer caso, o
projeto, após publicado em avulso eletrônico, ficará sobre a mesa durante cinco dias úteis a fim de receber
emendas. § 2º Decorrido o prazo previsto no § 1º, o projeto será enviado: I - à Comissão de Constituição, Justiça
e Cidadania, em qualquer caso; II - à comissão que o houver elaborado, para exame das emendas, se as houver
recebido; III - à Comissão Diretora, se de autoria individual de Senador. § 3º Os pareceres das comissões serão
36
emitidos no prazo de dez dias úteis, quando o projeto for de simples modificação, e no de vinte dias úteis,
quando se tratar de reforma. § 4º Aplicam-se à tramitação do projeto de alteração ou reforma do Regimento as
normas estabelecidas para os demais projetos de resolução. § 5º A redação final do projeto de reforma do
Regimento Interno compete à comissão que o houver elaborado e o de autoria individual de Senador, à Comissão
Diretora.” Também o art. 91, V, a, do RISF.
78
Assim, os arts. 21-A a 21-D.
37
Trata-se de princípios que devem ser respeitados para a garantia do devido processo
legislativo, resguardando-se o direito à participação plena e igualitária dos senadores em todas
as atividades legislativas.
o mínimo de 3/5 dos membros da Casa. Assim, se a decisão for contrária à norma regimental,
haverá a sua nulidade.79
79
Art. 412 do Regimento Interno do Senado Federal, Resolução 93/1970.
80
Incisos V e VI do art. 412 do Regimento Interno do Senado Federal, Resolução 93/1970.
81
Inciso XIII do art. 412 e art. 413 do Regimento Interno do Senado Federal, Resolução 93/1970.
39
Além das regras estabelecidas para a elaboração das propostas e vedações que são
objeto do processo legislativo, há dispositivos constitucionais que preveem o trâmite do
processo legislativo no Congresso Nacional, tais como o quórum para as deliberações de cada
Casa e de suas Comissões (art. 47); as competências das Comissões (art. 58); o quórum para
deliberação de propostas legislativas (arts. 60, I a III, 69); para a instituição de regime de
urgência (art. 64, § 1º); prazo para análise na Câmara das emendas feitas pelo Senado (art. 64,
§ 3º); o início do processo de discussão e de votação (art. 64); a suspensão de prazos (art. 64,
§ 4º); o dever de a proposta ser revista pela outra Casa (art. 65); o arquivamento do processo
em caso de rejeição da matéria (art. 65); o retorno para a casa iniciadora quando o projeto for
82
Adota-se que ambas as expressões privativas e exclusivas indicam a mesma ideia. Sobre competência
exclusiva e privativa, confira-se: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; GONET
BRANCO, Paulo Gustavo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 817-822;
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 409.
40
objeto de emenda (parágrafo único do art. 65); a previsão sobre sanção e o veto (art. 66) e o
trâmite do veto no Congresso (art. 66, § 4º); as hipóteses de manutenção ou derrubada do veto
(art. 66, § 5º), bem como que os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes
orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais devem ser apreciados pelas Casas
do Congresso em sessão conjunta (art. 166), e ainda que a Casas não poderão entrar em
recesso até a deliberação da Lei de Diretrizes Orçamentária (art. 57; § 2º).
Para cada medida provisória (MPV) é formada uma comissão mista, pela qual é
iniciada a sua tramitação. Depois de receber parecer da comissão, a MPV é, então, apreciada,
em sessão separada, pelos plenários das Casas do Congresso Nacional (art. 62, § 9º, da
Constituição Federal). Também é vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida
provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de
prazo (art. 62, § 10).
83
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 133.
84
“(i) A medida por tratar-se de um modo excepcional de regulação de certas matérias, de forma que as leis são o
percurso normal de regramento; (ii) as medidas provisórias são findáveis, com uma duração máxima de 120 dias.
Já as leis, como regra, perduram por tempo indeterminado, e se por prazo determinado, este é estabelecido no
texto legal; (iii) as medidas provisórias são precárias, sendo revogadas a qualquer tempo pelo Congresso,
diferente das leis que a persistência depende do órgão que a aprovou; (iv) a medida provisória não transformada
em lei, perde a sua eficácia desde o princípio, a lei de modo diverso não retroage os seus efeitos ao ser revogada;
(v) a medida provisória depende de relevância e urgência, já a lei não tem com requisito a relevância para que
seja elaborada” (ibidem, p. 133).
42
vigência e só podem ser editadas em situações urgentes, sob pena de perda do interesse
público e compatibilidade com o seu caráter precário e transitório.85
Destarte, somente em casos graves, em que seja indiscutível a existência do que seja
interesse público relevante, justifica-se a adoção da medida. E, mais, isso apenas não basta, é
necessário ainda que a demora possa colocar a sociedade diante de sérios riscos ou danos.86
Daí que, ainda que a palavra tenha um conceito jurídico indeterminado, qualquer cidadão
perceberá que é urgente aquilo que deve ser solucionado de imediato, que não pode esperar a
ação do tempo, pois a demora traria um prejuízo irreparável.87
85
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 133.
86
Ibidem, p. 134.
87
Ibidem, loc. cit.
88
Para o autor, “devemos reconhecer que, infelizmente, após a promulgação da Carta Magna de 1988, tanto os
Presidentes da República como o Congresso Nacional não revelaram nenhuma cautela no emprego de ‘medidas
provisórias’, das quais têm usado e abusado, com conseqüências mais nocivas do que as produzidas pelos
decretos-leis no período do regime tecnocrático-militar sob o império da Constituição de 1969” (REALE,
Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 110).
89
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 110.
43
Por ser uma medida de urgência, o prazo para a conversão em lei é de 60 dias após a
publicação da proposta para o trâmite legislativo nas duas Casas do Congresso Nacional, após
45 dias, o processo entra em regime de urgência (art. 62, § 6º), ficando sobrestadas as demais
matérias até que ocorra a sua votação. O prazo de 60 dias após a publicação da medida
provisória pode ainda ser prorrogado uma única vez e por igual período. Essa situação é
permitida na hipótese de não ter sido possível deliberá-la nas duas casas legislativas (art. 62,
§§ 3º e 7º). As votações da medida se iniciam na Câmara dos Deputados (art. 62, § 8º).
Suspende-se o prazo de 60 dias durante o recesso parlamentar.
Por sua vez, as leis delegadas são aquelas em relação às quais, por meio de Resolução
do Poder Legislativo, delega-se a competência da matéria ao Presidente da República (art.
68). Destarte, veda-se a delegação dos atos de competência exclusiva do Congresso Nacional,
da Câmara dos Deputados, do Senado Federal a matérias reservadas à lei complementar, entre
outras (art. 68, § 1º a § 3º).
Explica Manoel Gonçalves Ferreira Filho que não são todas as proposições previstas
no art. 59 do texto constitucional que compreendem o processo legislativo, pois a
Constituição prevê em outros dispositivos a competência para a elaboração de normas
90
Disponível em: <https: //www.congressonacional.leg.br/institucional/atribuicoes>. Acesso em: 07 nov. 2018.
44
Cabe ressaltar certas características com relação aos Regimentos Internos das Casas
Legislativas. A primeira é que eles são aprovados por meio de Resoluções, tendo para a sua
aprovação e modificação procedimento específico próprio.
91
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40. ed. Saõ Paulo: Saraiva, 2011. p.
196-199.
92
Explica o autor: “De fato, compreende-se aí a elaboração de emendas constitucionais que saõ leis
materialmente, mas que formalmente destas devem ser distinguidas, por serem manifestaçaõ de um poder
distinto, que é o de revisaõ . Arrola-se, aí, também, a elaboração de resoluções que, se por sua tramitaçao
̃ se
assemelham a leis a ponto de se poder dizer que são leis, formalmente falando, não têm a matéria de lei, por naõ
editarem regras de direito gerais e impessoais. E o que se disse das resoluções aplica-se, mutatis mutandis, aos
decretos legislativos. Na verdade, todas as exegeses propostas para a expressão ‘processo legislativo’, no art. 59
da Constituição, não são plenamente satisfatórias. Faltou ao constituinte, segundo tudo indica, uma visão clara da
sistemática dos atos normativos. Forçoso é reconhecer, porém, que essa sistematização não é simples. Toda
tentativa nesse sentido tem de partir da distinção entre atos normativos gerais e individuais. Se ‘norma é o
sentido de um ato através do qual uma conduta é prescrita, permitida ou, especialmente, facultada, no sentido de
adjudicada à competência’, como ensina Kelsen, nao ̃ é incorreto distinguir entre as normas gerais que
prescrevem conduta a pessoas in-discriminadas que possam estar numa mesma situaçao ̃ , e normas” (FERREIRA
FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40. ed. Sao ̃ Paulo: Saraiva, 2011. p. 313).
45
Sobre o tema, José Afonso da Silva leciona que “o processo legislativo é conjunto de
atos (iniciativa, emenda, votação, sanção) realizados pelos órgãos legislativos e órgãos
cooperadores para o fim de promulgar leis”.93 No mesmo sentido, manifesta-se Maria Helena
Diniz: “o processo legislativo refere-se ao conjunto de fases estabelecidas
constitucionalmente para a tramitação do projeto de lei até ele se transformar em lei
93
SILVA, José Afonso. Processo Constitucional de Formação das Leis. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 42.
46
94
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p.
294.
95
BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 315.
96
CARRAZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p.
337-338.
97
Ibidem, p. 196.
98
TRINDADE, João. Processo Legislativo Constitucional. Bahia: JusPodivm, 2017. p. 26.
99
JAMPAULO JÚNIOR, João. O processo Legislativo Sanção e Vício de Iniciativa. São Paulo: Malheiros,
2008. p. 141.
47
seus bens (art. 5º, LIV). Entende-se que o alcance do princípio não se restringe ao processo
judicial, mas estende-se aos processos em geral.
100
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 119.
101
Ibidem, p. 29-46.
102
ÁVILA, Humberto. O que é “devido processo legal”? São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 51-56.
48
Floriano de Azevedo Marques, Fernando Dias Menezes e Irene Nohara consignam que
a lei, sob o ponto de vista democrático e da representatividade, é aquela proveniente do Poder
Legislativo, que tem como função primordial a produção de leis, de acordo com o devido
processo legislativo, que garante um foro para discussões, reflexões e debates com ampla
publicidade.103
Para José Roberto Pimenta Oliveira, o princípio do devido processo legal alcança no
sistema jurídico brasileiro “o caráter de norma-matriz de proteção adjetiva e substantiva de
interesses individuais e metaindividuais de ilegítimas, injustificadas e arbitrárias
interferências estatais, tenham estas caráter legislativo ou administrativo”.104
103
Para os autores, “Esta conclusaõ é confirmada, inclusive, pela exceçaõ , pois, ao Poder Executivo compete
executar a lei de ofício, salvo situações constitucionalmente previstas em sentido contrário, que, em nosso
sistema jurídico, são as medidas provisórias, equiparadas à lei (‘força de lei’). Assim, a lei exigida pelo
constituinte de 1988, no art. 5°, inciso II, da Constituição Federal para o cumprimento do princípio da legalidade,
não é qualquer ato normativo exarado pelo Poder Público” (MARQUES NETO, Floriano de Azevedo;
MENEZES DE ALMEIDA, Fernando Dias; NOHARA, Irene Patrícia et al. Direito e Administraç ão Pública.
São Paulo: Atlas, 2013. p. 216).
104
OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. Os Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade no Direito
Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 219.
105
Ibidem, loc. cit.
106
Ao lado dessas considerações acerca da importância da lei no contexto do sistema normativo mais
diretamente, não se pode perder de vista que a legalidade formal – isto é, a legislação elaborada pelo Poder
Legislativo – funciona como uma garantia central no âmbito do Estado de Direito, vinculando-se a três fins
valiosos do ponto de vista constitucional. Ana Paula Barcellos consigna três finalidades da legalidade formal: “O
primeiro, mais evidente, é veicular a participação democrática dos titulares do poder político, ainda que por meio
de representantes. Como se sabe, não existem respostas consensuais para a maior parte das questões em uma
sociedade plural. Os problemas são complexos, as pessoas têm visões diferentes e é no debate público que as
soluções serão negociadas e definidas. A legalidade é o veículo desse processo, já que o parlamento, em primeiro
lugar, reúne diferentes visões e perspectivas existentes na sociedade (sobretudo considerando o sistema eleitoral
proporcional). Além disso, o processo legislativo ordinário é organizado justamente para permitir a participação
e o debate. Como se sabe, e se verá adiante, a regra geral é que as proposições legislativas percorram várias
comissões ao longo de seu percurso dentro das Casas Legislativas, onde podem ser alvo de discussão e
modificação. Além da composição das próprias Comissões que precisa garantir a representatividade dos
diferentes partidos, nas mesmas proporções que existem na Casa Legislativa como um todo, é nas Comissões
que serão realizadas audiências com autoridades e com os setores da sociedade, que informações serão coletadas
49
e que as discussões terão melhores condições de se desenvolver. Em segundo lugar, a legalidade formal cria
condições básicas para o tratamento isonômico dos indivíduos. A generalidade e a abstração próprias da lei
substituíram, com ampla vantagem, a vontade individual e muitas vezes arbitrária do soberano, em proveito da
igualdade. Embora a lei nem sempre seja instrumento da razão e da justiça, não há dúvida de que a legalidade é
uma garantia inicial da igualdade, ainda que nem sempre suficiente. É certo que ela pode consagrar tratamentos
discriminatórios e poderá ser questionada por isso. Porém, sua generalidade e abstração asseguram, ao menos,
que a mesma regra será aplicada a todos seus destinatários. Se cada juiz ou cada administrador puderem criar a
regra que acharem melhor para cada pessoa ou situação, a isonomia sofrerá inevitavelmente. O terceiro fim
realizado pela legalidade formal envolve a criação e a preservação de um ambiente de segurança jurídica. A
segurança é um princípio que admite vários desdobramentos, mas duas ideias são essenciais à sua realização:
estabilidade para o passado e previsibilidade para o futuro. Em nome da estabilidade, protegem-se os atos
pretéritos e seus efeitos, abrigando-os em categorias como ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada.
A previsibilidade visa permitir o planejamento da própria conduta e o resguardo das expectativas legítimas,
imunizando os indivíduos contra a atuação administrativa abusiva, surpreendente ou incoerente” (BARCELLOS,
Ana Paula de. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 296).
107
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. O Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3. ed. 25. tir. São
Paulo: Malheiros, 2017. p. 9-10.
50
Tais formalidades servem para garantir que a produção de uma norma observará os
princípios constitucionais e a proibição de retrocesso no que se refere aos direitos e garantias
fundamentais. Há o dever de se respeitar o devido processo legislativo, ainda que viesse a ser
estabelecida uma nova Constituinte.
Diante disso, concorda-se com o fato de que, após a humanidade ter vivenciado o
nazismo, há uma moral universal considerada e aceita e que deve ser respeitada. 109 Nesse
sentido, aborda-se a proibição do retrocesso.
Isso posto, ao tratar do Direito e da Moral, Marcio Sotelo Felippe traz o pensamento
de Teodor Adorno, que traduz a motivação da proibição do retrocesso:
108
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. O Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3. ed. 25. tir. São
Paulo: Malheiros, 2017. p. 9-10.
109
Esta ideia é defendida por diversos juristas. A propósito, sobre a existência de uma moral universalmente
aceita, Ricardo Marcondes Martins trata do conteúdo da injustiça intolerável, vide PIRES, Luis Manoel Fonseca;
MARTINS, Ricardo Marcondes. Um diálogo sobre a Justiça: A Justiça Arquetípica e a Justiça Deôntica. Belo
Horizonte: Forum, 2012. p. 179-180
51
Finalmente, o centro de toda educação política deveria ser que Auschwitz não se
repita. Isto só será possível na medida em que ela se ocupe das mais importantes das
questões sem receio de contrariar quaisquer potências. Para isso teria de se
transformar em sociologia, informando acerca do jogo de forças localizado por trás
da superfície das formas políticas. Seria preciso tratar criticamente um conceito tão
respeitável como o da razão de Estado, para citar apenas um modelo: na medida em
que colocamos o direito do Estado acima do de seus integrantes, o terror já passa a
estar potencialmente presente.110
Por fim, para garantir que a norma idealizada seja concretizada sem desvios de
finalidade, e para a garantia dos princípios constitucionais albergados no texto constituinte,
concebe-se a ideia do devido processo legislativo.
110
Teodor Adorno. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Disponível em:
<http://adorno.planetaclix.pt/tadorno10.htm> (FELLIPE, Marcio Sotelo. Direito e Moral. 2014. p. 28).
111
CAMMAROSANO, Márcio. O princípio constitucional da moralidade e o exercício da função
administrativa. Belo Horizonte: Fórum, 2006. p. 74.
112
Ibidem, loc. cit.
113
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Estado de Direito e Segurança Pública. p. 42. In: VALIM, Rafael;
PIMENTA OLIVEIRA, José Roberto; DAL POZZO, Augusto (coords.). Tratado sobre o Princípio da
Segurança Jurídica. Belo Horizonte: Forum, 2013.
52
Em suma, o termo “princípio” possui três fases no direito: “de origem”, na primeira
fase; “elemento estruturante”, na segunda fase; e mandados de otimização no âmbito das
circunstâncias fáticas e jurídicas, na terceira fase.116
Segundo o autor, o princípio obriga que o valor nele materializado seja realizado da
melhor forma possível e essa melhor forma, bem como os princípios incidentes, depende do
caso concreto. Deve-se, portanto, realizar uma ponderação entre os princípios, apurando-se
em que medida o valor positivado pelo ordenamento jurídico poderá ser implementado.117
114
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 54.
115
MARTINS, Ricardo Marcondes. Teoria dos Princípios Formais. Disponível em: <http:
//www.direitodoestado.com.br/colunistas/ricardo-marcondes-martins/teoria-dos-principios-formais>. Acesso em:
09 dez. 2018.
116
Ibidem.
117
Efeitos dos vícios do Ato Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 30.
53
Deveras, como alerta Fernando Dias Menezes, a adoção de uma teoria dos princípios
da forma como proposta por Ronald Dworkin, promove o risco de “um excesso de ativismo
judicial”, pois dá margem para uma aplicação subjetiva pelos Tribunais, que passam a agir
politicamente na concretização dos princípios constitucionais. Além do mais, possibilita ao
órgão jurisdicional escolher, de acordo com o caso concreto, qual princípio deve-se aplicar,
afastando-se os demais, e até mesmo as regras são afastadas sem terem sido revogadas.118
118
MENEZES DE ALMEIDA, Fernando Dias. Princípios da Administração Pública e Segurança Jurídica. In:
VALIM, Rafael; PIMENTA OLIVEIRA, José Roberto; DAL POZZO, Augusto (coords.). Tratado sobre o
Princípio da Segurança Jurídica. Belo Horizonte: Forum, 2013. p. 49.
119
Ibidem, p. 49-50.
120
Nesse sentido, o art. 37, caput, e incisos da CF.
54
própria121 e não permissão para aumentar despesas por meio de emendas parlamentares que
visem a modificar a proposta de projeto de lei.122
Embora a Lei 9.784/99 preveja expressamente aplicação das normas aos poderes
Legislativo e Judiciário no exercício de função administrativa, vê-se que a aplicação e o
respeito aos princípios pelo poder Legislativo são equivalentes aos incidentes no processo
legislativo, como se no presente trabalho.
121
Desse modo, preveem o art. 51, III, e IV; art. 52, XII e XIII; art. 61, § 1º; art. 62; art. 84, VI e XV.
122
Assim, o art. 63: “Não será admitido aumento da despesa prevista: I – nos projetos de iniciativa exclusiva do
Presidente da República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º; II – nos projetos sobre organização dos
serviços administrativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Federais e do Ministério
Público”.
123
Nas palavras do autor: “Esses princípios, contudo, pertencem ao aspecto dinâmico do processo em causa.
Informam a parte do processo que denominamos procedimento legislativo no qual se desenvolvem as fases da
elaboração da lei” (SILVA, José Afonso. Processo Constitucional de Formação das Leis. 2. ed. São Paulo:
Malheiros, 2007. p. 50).
124
Ibidem, loc. cit.
55
sanção, veto e promulgação.125 Para o autor, aplica-se ainda aos princípios que envolvem o
processo legislativo o da supremacia da Constituição, pois é ele que dá base de validade para
todas as proposições legislativas.126
Para José Geraldo Coimbra, os princípios incidentes no processo legislativo são sete:
(i) do devido processo legal; (ii) do contraditório; (iii) da publicidade; (iv) da oralidade; (v) da
separação da discussão e votação; (vi) da unidade da legislatura; e (vii) do exame prévio dos
projetos por comissões parlamentares.128
125
Para o autor, são princípios específicos, “aqueles derivados diretamente da Constituição da República, e que
Essas são as regras contidas no art. 59 usque 69 da CF, de caráter principiológico, obrigatórias, para a elaboração
das leis, tanto para os Estados Membros como para os Municípios” (JAMPAULO JÚNIOR, João. O processo
Legislativo Sanção e Vício de Iniciativa. São Paulo: Malheiros: 2008. p. 65).
126
Para o autor, são princípios específicos “aqueles derivados diretamente da Constituição da República, e que
Essas são as regras contidas no art. 59 usque 69 da CF, de caráter principiológico, obrigatórias, para a elaboração
das leis, tanto para os Estados Membros como para os Municípios” (JAMPAULO JÚNIOR, João. O processo
Legislativo Sanção e Vício de Iniciativa. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 139).
127
TRINDADE, João. Processo Legislativo Constitucional. Bahia: JusPodivm, 2017. p. 28-37.
128
COIMBRA, Joel Geraldo. O contraditório no processo legislativo. 2006. Dissertação (Mestrado em Direito).
Pontifícia Universidade Católica de Saõ Paulo, São Paulo sob a orientação do Professor Doutor Márcio Pugliesi,,
2006. p. 108.
129
Sobre um justo processo legal, vide ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Manual de Direito Administrativo. São
Paulo: Malheiros, 2013. p. 280; PIRES, Luis Manoel Fonseca; MARTINS, Ricardo Marcondes. Um diálogo
sobre a Justiça: a Justiça Arquetípica e a Justiça Deôntica. Belo Horizonte: Forum, 2012. p. 85-86.
56
legislativas com a preservação dos direitos das minorias, do contraditório, verificável nas
questões de ordem, reclamações e da ampla defesa recursos sobre a decisão exarada em sede
questão de ordem – este inclui os princípios: da audiência do interessado; da revisibilidade;
(iii) da acessibilidade aos elementos do expediente acesso aos autos, direito de vistas do
processo; (iv) da ampla instrução probatória – relacionado à solicitação de informações, mas
ainda efetuar diligências in loco; (v) da motivação – dever de expor os fundamentos de fato e
de direito que levaram à prática daquele ato; (vi) da representação e assessoramento – direito
de o parlamentar ser assessorado em todas as fases do processo; (vii) da lealdade e boa-fé –
dever de agir de modo adequado durante o andamento do processo, trata-se de um princípio
que decorre da moralidade administrativa; (viii) da celeridade processual – o processo deve
ter uma duração razoável, como se vê dos prazos regimentais estabelecidos para designar
relator, elaborar relatório, pedido de vistas, tempo em cada Comissão, entre outros; (ix) do
informalismo – cabe ao Legislativo ser flexível quanto à forma das petições que venha a
receber via participação popular; (x) da transparência pública – acesso à pauta de decisões
feita com antecedência tal que possibilite a todos os parlamentares e à população o seu devido
conhecimento; (xi) da publicidade – publicação das pautas, atos, tomadas de decisões; (xii) da
segurança jurídica, com a garantia da discussão de todos os itens relacionados ao processo.130
130
Sobre os princípios incidentes no processo administrativo e procedimentos em geral, veja-se: BANDEIRA DE
MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 517-521.
131
ATALIBA, Geraldo. República e Constituição. 2. ed. 3. tir. Atualizada por Rosolea Miranda Folgosi. São
Paulo: Malheiros, 2004. p. 119.
57
Para Lúcia Valle Figueiredo, o princípio da legalidade é bem mais amplo do que a
mera sujeição do administrador à lei, pois abriga, necessariamente, também a submissão ao
Direito, ao ordenamento jurídico, às normas e princípios constitucionais.135 Quanto princípio
132
GODILLO, Augustin. Princípios Gerais de Direito Público. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1977. p. 68.
133
Ibidem, p. 68-69.
134
JAMPAULO JÚNIOR, João. O processo Legislativo. Sanção e Vício de Iniciativa. São Paulo: Malheiros,
2008. p. 32.
135
FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo brasileiro. 7. ed. São Paulo: Malheiros. p. 428-
430.
58
do devido processo legal, ele passou a ter um conteúdo também material. Destarte, somente
aplica-se a lei compatível com a Constituição e os seus valores fundamentais.136
Segundo o autor, sob o aspecto processual, o devido processo legal impõe o dever de
se respeitar um procedimento administrativo estruturado de modo a permitir a adequada e
satisfatória participação, impugnação e defesa, até a abertura de via recursal, sendo
136
FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo brasileiro. 7. ed. São Paulo: Malheiros. p. 428-
430.
137
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 119.
138
OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. Os Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade no Direito
Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 217.
59
139
OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. Os Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade no Direito
Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 218.
140
Ibidem, loc. cit.
141
Ibidem, p. 217-219.
142
ATALIBA, Geraldo. República e Constituição. 2. ed. 3. tir. Atual. por Rosolea Miranda Folgosi. São Paulo:
Malheiros, 2004. p. 119-122.
60
A informação é um dever do Poder Público, que, além de dar a publicidade aos seus
atos, deve dar o conhecimento e a comunicação de suas ações de forma clara e legível, de
modo que qualquer cidadão os compreenda e tenha acesso a eles.
É exatamente esta a ideia prevista respectivamente nos art. 5º, XXXIII, e 37, § 3º, II,
da CF: “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade
e do Estado”. E: “A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração
pública direta e indireta, regulando especialmente: II – o acesso dos usuários a registros
administrativos e as informações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e
XXXIII”. Ainda, a Declaração de Direitos Humanos estabelece o direito de receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
143
Essa lei também prevê que os órgãos e entidades devem se antecipar aos pedidos e publicar seus dados e
informações na internet, exigindo que essa publicação seja realizada em formatos abertos, estruturados, legíveis
por máquina e não-proprietários, conforme os incisos II e III do § 3º do art. 8º.
144
CANHADAS, Fernando Augusto Martins. O Direito de Acesso à Informação Pública. O princípio da
Transparência Administrativa. Curitiba: Appris, 2018. p. 233-246.
61
Dos 193 estados-membros da Organização das Nações Unidas, o Brasil aparece na 44ª
colocação entre os países com maior abertura de informação por meios eletrônicos, como
consta do último relatório publicado pela ONU sobre a posição do governo eletrônico no
mundo. Essa colocação no ranking demonstra que o Brasil subiu sete posições. Vê-se um
avanço, embora ainda haja um longo caminho a se percorrer, pois, quanto maior é a
informação, maiores são os acessos, a participação, a fiscalização, o controle e a
concretização dos princípios democráticos.145
145
Segundo informações do Ministério de Planejamento, Desenvolvimento e Gestão: “O principal componente a
contribuir para o salto brasileiro no índice geral foi a oferta de serviços públicos digitais: o Brasil passou de 0,73
em 2016 para 0,92 em 2018. Para chegar a esse número, 206 pesquisadores voluntários de 89 países acessaram e
analisaram, entre agosto e novembro de 2017, os portais nacionais de serviços públicos digitais e de participação
social de cada governo, bem como os portais dos ministérios associados a cada serviço, quando aplicável,
levando em conta aspectos como a facilidade para encontrar informações e serviços. No relatório, disponível em
inglês na página da Organização, foram ressaltadas as iniciativas de participação social por meios digitais na
construção de políticas públicas, citando a edição do Decreto nº 8.243, de 23 de maio de 2014, que instituiu
a Política Nacional de Participação Social, a criação da [participa.br] Plataforma de Participação Social.
Realizada a cada dois anos, a pesquisa mede a efetividade das ações de transformação digital do governo na
prestação de serviços públicos nos países membros e tenta identificar padrões de desenvolvimento e desempenho
dessas iniciativas” (Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/noticias/onu-divulga-ranking-de-governo-
digital>; <https://publicadministration.un.org/egovkb/en-us/Reports/UN-E-Government-Survey-2018>).
146
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 127-128.
62
Ademais, as garantias constitucionais asseguradas no art. 5º, XXXVI, pelo qual “a lei
não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”, e outros tantos
institutos previstos, tais como a irretroatividade da lei, a prescrição, a decadência, a preclusão,
o usucapião, a proibição de se aprovar na mesma sessão legislativa emenda ou Medida
provisória que tenham sido rejeitadas, ou seja, pelo período de quatro anos.
147
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 127-128.
148
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Estado de Direito e Segurança Pública. In: VALIM, Rafael;
PIMENTA OLIVEIRA, José Roberto; DAL POZZO, Augusto (coords.). Tratado sobre o Princípio da
Segurança Jurídica. Belo Horizonte: Forum, 2013. p. 42.
149
OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. Os Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade no Direito
Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 206-207.
63
melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de
nova interpretação”. Trata-se de mais uma medida que demonstra a necessidade de aplicação
da proporcionalidade no momento da interpretação da norma, pois esta deve ser realizada na
exata medida para atender ao interesse público.
150
Como bem observa o autor: “A fundamentação constitucional da razoabilidade transmite ao princípio a força
normativa da Constituição, que a acolhe como vetor essencial para o processo de concretização institucional do
arquétipo de Administração Pública desenhado no Texto Magno. Cabe aos operadores jurídicos formar e
conformar sua conduta em consonância com a ‘vontade da Constituição’, que explicitamente se voltou para a
realização daquele valor instrumental no seio da vida administrativa, na medida em que estabeleceu uma série de
princípios constitucionais, dos quais é consequência necessária a exigência do atuar razoável nas relações
jurídico-administrativa. Estabelecida sua presença no Estatuto Fundamental, cumpre extrair da razoabilidade a
máxima efetividade na sua função de delineamento e de limitação da práxis administrativa” (OLIVEIRA, José
Roberto Pimenta. Os Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade no Direito Administrativo Brasileiro.
São Paulo: Malheiros, 2006. p. 206-209).
151
Nas palavras de José Roberto Pimenta Oliveira, “na condição de princípio fundamental, dispõe a Constituição
Federal que a República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito (art. 1º). Eis o
primeiro vetor constitucional a assinalar a inequívoca consagração do dever de razoabilidade e proporcionalidade
nos provimentos jurídico-administrativos. Não haveria como conceber em termos jurídicos tais princípios dentro
de moldura normativa diversa daquela inerente ao Estado de Direito, no qual as noções foram restritamente
empregadas quando imperante sua feição liberal, mas expressivamente desenvolvidas e utilizadas na medida em
que se afirmaram suas facetas social e democrática. A exigência do atuar razoável e proporcional é conatural ao
arquétipo jurídico do Estado de Direito” (OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. Os Princípios da Razoabilidade e
da Proporcionalidade no Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 209).
152
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 127-128
64
Daí que faz-se necessário, para uma análise adequada do princípio impessoalidade,
diferenciá-lo nas ações estatais, quando há o dever de agir da Administração Pública, que
implica o respeito ao direito à igualdade, e quando se impõe o dever de abstenção, que
significa o dever de neutralidade.154
153
BEZNOS, Clovis. Aspectos sobre a responsabilidade civil do servidor. In: CELY, Martha Lúcia Bautista;
SILVEIRA, Raquel Dias da. Direito Disciplinário Internacional. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 459.
154
ÁVILA, Ana Paula Oliveira. O princípio da Impessoalidade na Administração Pública: Para Uma
Administração Imparcial. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 45-46.
155
Ibidem, loc. cit.
65
Quanto às fases do processo legislativo, registra o autor que a elaboração denota uma
fase introdutória, que é a iniciativa, alertando que esta não é precisamente uma fase do
processo, mas um ato que se dispõe a criar um direito novo; a constitutiva, que é a principal,
abrange a fase de deliberação, de modo que é possível a modificação do texto e a introdução
de regras jurídicas novas pelos parlamentares e ainda a sanção pelo Poder Executivo; e a fase
complementar, na qual ocorrem a promulgação e a publicação.158
156
FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Do Processo Legislativo. São Paulo: Saraiva 2002. p. 131.
157
Ibidem, loc. cit.
158
Leciona Manoel Gonçalves: “Existe ato complexo sempre que duas ou mais vontades homogêneas tendentes a
um mesmo fim se fundem numa só vontade declarada, idônea a produzir determinados efeitos jurídicos que não
poderiam de modo algum produzir-se, se faltasse tal concurso de vontades (Roberto Lucifredi). No Direito
brasileiro, à semelhança do alienígena em geral, a deliberação apresenta a estrutura de ato complexo. De fato, a
aprovaçaõ do Legislativo é o fruto da integração da aprovação de cada uma das Casas do Congresso de per si”
(ibidem, p. 319-322).
66
Segundo Luis Alberto David Araújo e Vidal Nunes Serrano, embora o processo
legislativo varie de acordo com a espécie normativa, as fases que são comuns à maioria das
propostas são as do processo legislativo da lei ordinária. Para eles, são seis as fases que
envolvem o processo legislativo: a primeira é a iniciativa; a segunda, a discussão; a terceira, a
deliberação, na qual o projeto é submetido a votação; a quarta é a fase do veto ou sanção; a
quinta, a da promulgação; e, por último, a da publicação. No mesmo sentido, Ana Paula
Barcellos subdivide o processo legislativo em seis fases: iniciativa, discussão, votação,
sanção/veto,160 promulgação e publicação.161
Exatamente por não serem essas seis fases comuns a todas as propostas legislativas é
que se prefere a divisão em três fases: introdutória; constitutiva e complementar, pois há
proposições que compreendem o processo legislativo e: (i) necessitam da concordância do
Poder Executivo para sancionar, vetar ou deixar transcorrer o prazo para a promulgação das
matérias; (ii) independem de sanção ou veto do Poder Executivo. Nesse sentido, é preferível a
divisão em três fases.
159
MARQUES NETO, Floriano de Azevedo; MENEZES DE ALMEIDA, Fernando Dias; NOHARA, Irene
Patrícia et al. Direito e Administraç ão Pública. São Paulo: Atlas, 2013. p. 9.
160
Consigna Ana Paula Barcellos: “os países presidencialistas, como regra geral, o Executivo participa do
processo legislativo por meio da sanção ou veto. A sanção é o ato pelo qual o que antes era projeto transforma-se
em norma positiva. Não anuindo, o Executivo pode vetar o PL, hipótese em que ele somente virá a converter-se
em lei se o veto for derrubado por maioria absoluta da manifestação conjunta, no âmbito federal, de Deputados e
Senadores. Nos termos da Constituição, a sanção pode ser expressa ou tácita, por decurso de tempo: neste último
caso, será considerado sancionado o projeto aprovado pelo Legislativo e enviado ao Chefe do Executivo depois
de 15 dias sem sua manifestação (art. 66, § 3º). Após sancionada a nova lei, cabe ao Chefe do Executivo
promulgá-la e remetê-la para publicação. A promulgação é o ato formal que declara a regularidade e conclusão
do processo legislativo. A publicação, como se sabe, marca o momento a partir do qual a ficção do conhecimento
geral da lei tem início e, portanto, a partir do qual ela poderá começar a produzir efeitos” (BARCELLOS, Ana
Paula de. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 326).
161
BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 315.
67
equivalente, pois só após o cumprimento do requisito formal exigido para dar andamento ao
processo legislativo é que é possível tramitar na Casa Legislativa.
Leciona José Afonso da Silva que “a iniciativa legislativa funciona como instrumento
da realização do programa político governamental”. Vê-se o exercício da iniciativa quando: o
Executivo utiliza-se da sua competência para colocar em prática o seu plano de governo; na
oposição do parlamentar ao modificar o projeto, e ao registrar o seu voto contrário; também
na minoria parlamentar, ao mostrar a sua divergência ideológica. 163 Seguindo a mesma linha,
João Jampaulo Júnior164 e Ana Paula Barcellos165 também afirmam ser a iniciativa a ação
inicial que dá origem ao processo legislativo. É o ato que inaugura, impulsiona e deflagra a
elaboração da lei, por meio da apresentação de uma propositura ao Legislativo, para que se
inicie o andamento da matéria até a sua deliberação em Plenário.
162
Nesta expressão estão incluídas as leis (complementares; ordinárias), as medidas provisórias, quando alteradas
pelo Legislativo. As matérias de competência do Legislativo, emendas à Constituição; decretos legislativos e
resoluções. Ainda não se sujeitam a sanção ou veto as medidas provisórias aprovadas pelo Legislativo sem
alterações no texto, passando a ser convertido em lei e as leis delegadas.
163
SILVA, José Afonso. Processo Constitucional de Formação das Leis. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p.
134-135.
164
Para o autor é possível identificar na Constituição três tipos de iniciativa legislativa: (i) a concorrente ou geral
(art. 61, caput, CF); (ii) a privativa, exclusiva ou reservada (art. 61, § 1°, II); e (iii) a popular (arts. 14, III; e 61, §
2°, CF) (JAMPAULO JÚNIOR, João. O processo Legislativo Sanção e Vício de Iniciativa. São Paulo:
Malheiros, 2008. p. 91-93).
165
De acordo com a autora, a iniciativa privativa é estabelecida excepcionalmente pela Constituição, pois há uma
restrição nessas matérias de competência exclusiva para a atuação do Poder Legislativo, restringindo assim a sua
liberdade em iniciar o processo legislativo (BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de direito constitucional. Rio de
Janeiro: Forense, 2018. p. 316-318).
68
166
SILVA, José Afonso. Processo Constitucional de Formação das Leis. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p.
135-136.
167
Complementa o autor: “É , em nosso Direito, um ato simples, em regra geral. Como exceção, tem a estrutura
de ato coletivo quando serve para apresentar projeto que reitera disposições constantes de outro que, na mesma
sessão legislativa, ou foi rejeitado em deliberação, ou foi vetado (obviamente tendo sido mantido o veto). Nessa
hipótese, exige o art. 67 da Constituição que a proposta seja subscrita pela maioria absoluta dos membros de
qualquer das Câmaras. Dessa forma, a iniciativa resulta aí da soma, sem fusão, de vontades de conteúdo e
finalidade iguais, que continuam autônomas, pertencentes a titulares de iniciativa individual” (FERREIRA
FILHO, Manoel Gonçalves. Do Processo Legislativo. São Paulo: Saraiva 2002. p. 206). Também FERREIRA
FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 319.
168
TRINDADE, João. Processo Legislativo Constitucional. Bahia: JusPodivm, 2017. p. 50.
169
GUIMARÃES, Roberta Gebrin. O poder legislativo e a criação da lei: uma análise do processo legislativo
brasileiro sob a perspectiva do princípio da tripartição do poder. 2008. 193 f. Dissertação (Mestrado em Direito).
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. p.92
170
Vejam-se: FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Do Processo Legislativo. São Paulo: Saraiva 2002. p.
207. SILVA, José Afonso. Processo Constitucional de Formação das Leis. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p.
207.
69
Assim, cabe privativamente à Câmara dos Deputados (art. 51, III e IV, CF) e ao
Senado (art. 52, XII e XIII, CF) a elaboração de seus respectivos Regimentos Internos; bem
como cabe a cada uma das Casas Legislativas dispor sobre a sua organização, funcionamento,
polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços e
a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros
estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias.171
171
Sobre a iniciativa Legislativa, veja-se: SILVA, José Afonso. Processo Constitucional de Formação das Leis.
2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 144-152.
70
federais, na forma da lei; (iv) edição de medidas provisórias com força de lei, nos termos do
art. 62 (art. 84, VI e XXV).
172
SILVA, José Afonso. Processo Constitucional de Formação das Leis. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p.
13.
71
173
A Constituição do Estado de São Paulo prevê que, mediante proposta de 1% dos eleitores do Estado, a ela
poderá ser emendada por iniciativa popular (art. 22, IV, CE). O número de subscritores diminui para o exercício
da soberania popular no Estado. Assim, determina a Constituição que a iniciativa popular para projetos de lei
complementar ou ordinária estadual deve ser subscrita por no mínimo 5/10 dos eleitores do Estado, distribuídos
em, pelo menos 5 dentre os 15 maiores municípios com não menos que 2/10 de eleitores em cada um deles (art.
24, § 3º, itens 1 e 4).
A Constituição do Estado do Rio Grande do Norte não é passível de emenda via iniciativa popular, sendo
possível apenas a iniciativa popular para a elaboração de projetos de lei.
Nesse sentido, a Lei estadual 10.040/2006 estabelece a iniciativa popular no Estado do Rio Grande do Norte,
mediante a subscrição no projeto de no mínimo 3% dos eleitores que votaram na última eleição, distribuídos em,
no mínimo, 3/5 dos Municípios, com não menos de 1% de eleitores em cada um deles.
A Constituição do Rio de Janeiro também não prevê a possibilidade de a sociedade emendar a Constituição (art.
111). Assim, há a possibilidade de emenda por iniciativa do Governador do Estado; de 1/3 da Assembleia
Legislativa; e de mais da metade das Câmaras Municipais do Estado, com a manifestação em cada uma delas da
maioria relativa dos seus membros.
A Constituição Estadual do Rio Grande do Sul disciplina a iniciativa popular, prevendo quórum idêntico para
elaboração de emendas à Constituição e de projetos de lei de iniciativa popular, exigindo-se, assim, para a
iniciativa de propostas legislativas, que sejam subscritas por, no mínimo, 1% dos eleitores que tenham votado
nas últimas eleições gerais do Estado, distribuídos, no mínimo em 1/10 dos Municípios e com não menos de
0,5% dos eleitores em cada um deles (art. 68, § 1º).
No que se refere à iniciativa popular de leis, é necessária a apresentação de projeto subscrito por, no mínimo,
2/10 do eleitorado do Estado, distribuídos em pelo menos 10% dos Municípios, com não menos de 0,10% de
eleitores em cada um deles.
Possibilita ainda a participação popular na lei orçamentária, via apresentação de emendas à legislação
orçamentária, exigindo-se quórum de apenas 500 eleitores, ou duas entidades representativas da sociedade. Neste
caso, prevê-se a viabilidade de apresentação de emendas populares aos projetos de lei do plano plurianual, de
diretrizes orçamentárias e do orçamento anual (art. 152 § 6º). Trata-se de um dispositivo viável e que demonstra
interesse na participação da população na elaboração do orçamento e das prioridades que devem ser colocadas
em pauta no Estado.
De modo similar à maioria das Constituições dos Estados, a da Bahia prevê quórum de 0,5% do eleitorado para a
iniciativa popular em projetos de lei (art. 82) e um quórum mais elevado para emendar a Constituição. Para o
projeto de emenda, é necessária a subscrição de, pelo menos, 1% do eleitorado do Estado (art. 74).
No que se refere à iniciativa popular, a Constituição do Estado do Mato Grosso a permite apenas para a
elaboração legislativa de projetos de lei, podendo ser exercida pela apresentação à Assembleia Legislativa de
projeto de lei subscrito, no mínimo, 1% dos eleitores inscritos no Estado, distribuído, pelo menos, por cinco
Municípios (art. 8º).
A Constituição do Estado do Pará prevê quórum de 0,5% do eleitorado, distribuído em pelo menos cinco
municípios para a iniciativa popular em projetos de lei e distribuídos em pelo menos 10 Municípios para a
iniciativa de emendas à Constituição. Em todos os casos, deve haver pelo menos 0,3% de eleitores em cada
Município (art. 8º).
72
A soberania popular é exercida também pelo referendo (art. 14, II), que, assim como a
iniciativa popular, é um instrumento de participação popular no processo legislativo, mas, ao
contrário daquela que inicia o processo de formação das normas, este o encerra. Por meio dele
se confirma ou se recusa o ato praticado pelo legislador.176
Também é prevista a hipótese de iniciativa popular para convocação de referendo ou plebiscito, com um quórum
de 0,5% do eleitorado estadual. Por fim, determina-se que a lei municipal também permita a iniciativa popular,
com quórum de 5% dos eleitores.
174
SILVA, José Afonso. O sistema representativo, democracia semidireta e democracia participativa. Instituto
de Investigaciones Jurídicas. Universidad Nacional Autônoma de México, 2002. p. 13-14.
175
BARRETO, Derly e Silva Filho. Controle dos Atos Parlamentares pelo Poder Judiciário. São Paulo:
Malheiros, 2003. p. 79-80.
176
Assim, preleciona sobre o significado e a origem de tal instituto jurídico. Em geral, o termo referendo se
refere a um ato de ratificação de outro ato. Nesse sentido, é ato de controle que uma autoridade ou um Poder
exerce sobre outro. Foi com essa significação que ele surgiu no processo político. Segundo José Afonso da Silva,
existem várias formas de referendo popular: (i) referendo legislativo, constituinte (projeto de lei) ou
constitucional (consulta sobre projeto de Constituição ou reforma constitucional); (ii) referendo facultativo (a
validade do ato é independente) ou obrigatório (a validade do ato depende do referendo) – há exemplos nas
Constituições Francesas e Suíças; (iii) referendo deliberativo (regra) ou consultivo (similar ao plebiscito, a
exemplo na Constituição Espanhola); (iv) referendo abrogativo (oposição da lei em vigor, são chamadas para
votar pela revogação – o instituto pode ser visto na Constituição Italiana), e veto popular (consulta sobre o
projeto de lei ainda não sancionado); (v) referendo de iniciativa (de autoridade ou de instituição) oficial; e (vi)
referendo de iniciativa popular (decisão sobre políticas já tomadas) (SILVA, José Afonso. O sistema
representativo, democracia semidireta e democracia participativa. Instituto de Investigaciones Jurídicas.
Universidad Nacional Autônoma de México, 2002. p. 14-18).
73
Por seu turno, o plebiscito se assemelha ao referendo pelo fato de ambos serem uma
forma de consulta popular, mas diferem-se quanto ao momento de colher a opinião pública e à
matéria objeto de questionamento, pois no plebiscito recolhe-se a opinião pública sobre uma
questão territorial ou político-institucional antes de ela ser objeto de formulação legislativa
(art. 18, §§ 3º e 4º), enquanto o referendo, por meio da vontade pública, ratifica ou rejeita um
ato já praticado pelo legislador.177
Cabe ressaltar que o artigo primeiro do texto deve conter o objeto da lei, que, como
regra, terá objeto único, excepcionando-se as codificações. Trata-se de um dever estabelecido
pela lei que ela tenha objeto único, devendo ainda a matéria tratada no projeto estar vinculada
por afinidade, pertinência ou conexão (art. 7º). Destarte, nesta parte relaciona-se o órgão
177
SILVA, José Afonso. O sistema representativo, democracia semidireta e democracia participativa. Instituto
de Investigaciones Jurídicas. Universidad Nacional Autônoma de México, 2002. p. 18.
178
Esta primeira parte compreende a epígrafe, a ementa, o preâmbulo, o enunciado do objeto e a indicação do
âmbito de aplicação das disposições normativas. Entende-se não ser necessário especificar o âmbito de
aplicação, pois este já está demonstrado pela competência – uma lei estadual é válida no Estado que a criou, por
óbvio não se aplica em outros Estados que não o de origem. O mesmo vale para a lei municipal, que é válida no
âmbito do Município que a aprovou e publicou.
179
Sobre a regulamentação, veja-se o meu: Leis Municipais: Ausência e Complexidade de Regulamentação.
2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-graduação lato sensu em Gestão Pública, Nível de Especialização) –
Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2012.
74
competente para fiscalizar a lei, para executar a matéria e para estabelecer a penalidade pela
infração da norma ou pela execução da conduta especificada no dispositivo.
Destaca-se o previsto no art. 8º como uma garantia à segurança jurídica, pois se impõe
o dever de indicar expressamente a vigência da lei e de se estabelecer prazo razoável para que
a ela se dê amplo conhecimento e a reserva de cláusula180 para as leis de pequena
repercussão.181 Daí que a inobservância desse dispositivo pode ser causa de vício no processo
legislativo passível de questionamento no Judiciário por ofensa ao princípio da segurança
jurídica após a aprovação do projeto legislativo, antes mesmo de o projeto ser sancionado pelo
chefe do Poder Executivo. Veja-se o tópico relativo ao vício de procedimento por falta de
debate legislativo.
180
Trata-se a reserva de cláusula da inclusão do dispositivo: “Esta lei entra em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário”.
181
Em atendimento à forma adequada o texto legislativo deve respeitar para atender a técnica legislativa além do
respeito da razoabilidade para a entrada em vigor da lei, também o dispostos nos respectivos parágrafos: “§ 1º A
contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão
da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral.
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor após
decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial”.
182
Os requisitos estão previsto no art. 10, entre eles o dever de enumeração correta dos artigos, a ordem a ser
seguida quando necessário for o desdobramento da matéria em incisos, alíneas e itens, a divisão e o agrupamento
do objeto em subseções, seção, capítulos, títulos, livros, partes, disposições preliminares, gerais, finais ou
transitórias. Também o disposto no art. 11, pois faz-se necessária a elaboração de forma clara, precisa, com
respeito à ordem cronológica. Para a obtenção da clareza, usa-se preferencialmente a linguagem comum, curta,
direta, buscando a uniformidade de tempo verbal e pontuação. A precisão se identifica pela clareza de conteúdo e
alcance do que o legislador pretende dar à norma, devendo utilizar-se das mesmas palavras, de siglas
consagradas e de expressões sem duplo sentido, evitando-se o uso de palavras locais ou regionais, escrevendo-se
os números por extenso, indicando-se os artigos no texto legal e promovendo-se a ordem cronológica e as
discriminações dos dispositivos de acordo com os princípios estabelecidos no art. 8°, restringindo-se ao artigo
um único assunto ou princípio.
183
A forma adequada para a alteração está prevista no art. 12, sendo necessário observar: (i) se a modificação no
texto for considerável faz-se necessária a reprodução do conteúdo em um novo texto legal; (ii) revogação parcial
75
Destarte, é vedado o uso de número de dispositivo184 que tenha sido revogado, vetado,
declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal ou de execução suspensa pelo
Senado Federal em face de decisão do Supremo Tribunal Federal, sendo obrigatória a
indicação na lei das expressões “revogado”, “vetado”, “declarado inconstitucional, em
controle concentrado, pelo Supremo Tribunal Federal”, ou “execução suspensa pelo Senado
Federal”, na forma do art. 52, X, da CF.
A lei também disciplina a consolidação das leis e de outros atos normativos, dispondo
sobre a observância de inúmeros requisitos. O projeto de consolidação seguirá o trâmite
legislativo simplificado de cada uma das Casas, para a celeridade dos trabalhos.185 Compete à
Mesa do Congresso Nacional promover a atualização da Consolidação das Leis Federais
Brasileiras e incorporá-las às coletâneas que a integram as emendas constitucionais, leis,
decretos legislativos e resoluções promulgadas durante a legislatura imediatamente anterior,
ordenados e indexados sistematicamente. A Consolidação deve ser realizada pela mesa na
primeira sessão legislativa de cada legislatura, nos termos do art. 15.
da lei; (iii) substituição no próprio texto do dispositivo alterado, ou acréscimo de novos dispositivos, com a
vedação da renumeração de artigos, devendo-se incluir letras ao número do artigo ou unidade anterior. Também
é admissível a reordenação interna das unidades em que se desdobra o artigo, identificando-se o que esta sendo
modificado quando há alteração, supressão ou acréscimo da redação, com as letras “NR” maiúsculas, entre
parênteses, uma única vez ao final.
184
Estabelece o parágrafo único do art. 12: “O termo ‘dispositivo’ mencionado nesta Lei refere-se a artigos,
parágrafos, incisos, alíneas ou itens”.
185
Artigos 13 e 14.
186
Usa-se o termo legística para expressar a qualidade das leis. Sobre o tema veja-se o artigo de Patrícia Rosset,
disponível em: <https://www.al.sp.gov.br/StaticFile/ilp/legistica.pdf>, acesso em: 18 dez. 2019.
76
Essas alterações realizadas são aplicadas pela Secretaria de Receita e Rendas do Município
como se estivessem consolidadas, destarte, em ofensa à legalidade e à segurança jurídica. 187
Por fim, ressalta-se o previsto no art. 18: “Eventual inexatidão formal de norma
elaborada mediante processo legislativo regular não constitui escusa válida para o seu
descumprimento”.
A Câmara dos Deputados exerce a sua função legislativa por via de projeto de lei
ordinária ou complementar, reservado a regular as matérias de competência do Poder
Legislativo, e depende de sanção do Presidente da República; de decreto legislativo destinado
a regular as matérias de competência exclusiva do Poder Legislativo; ou de resolução,
designada a regular, com eficácia de lei ordinária, matérias da competência privativa da
Câmara dos Deputados, de caráter político, processual, legislativo ou administrativo, ou
quando deva a Câmara pronunciar-se em casos concretos como: perda de mandato de
Deputado; criação de Comissão Parlamentar de Inquérito; conclusões de Comissão
Parlamentar de Inquérito; conclusões de Comissão Permanente sobre proposta de fiscalização
e controle; conclusões sobre as petições, representações ou reclamações da sociedade civil;
matéria de natureza regimental; assuntos de sua economia interna e dos serviços
administrativos; e por fim a proposta de emenda à Constituição, estas independem de sanção
do Poder Executivo.188
187
Traz-se este exemplo, pois vivenciado na prática enquanto Secretária de Assuntos Jurídicos do Município de
Carapicuíba, entre os anos de 2017 e 2018.
188
Vejam-se os arts. 108 e 109 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.
189
Assim, determina o art. 131 do RICD: “Cada proposição, salvo emenda, recurso ou parecer, terá curso
próprio.”
77
190
No que se refere às deliberações relativas às proposições e à forma adequada para a tramitação,
respectivamente, os art. 132, 137 e 138 do RICD: “Art. 132. Apresentada e lida perante o Plenário, a proposição
será objeto de decisão: I – do Presidente, nos casos do art. 114; II – da Mesa, nas hipóteses do art. 115; III – das
Comissões, em se tratando de projeto de lei que dispensar a competência do Plenário, nos termos do art. 24, II;
IV – do Plenário, nos demais casos. § 1º Antes da deliberação do Plenário, haverá manifestação das Comissões
competentes para estudo da matéria, exceto quando se tratar de requerimento. § 2º Não se dispensará a
competência do Plenário para discutir e votar, globalmente ou em parte, projeto de lei apreciado
conclusivamente pelas Comissões se, no prazo de cinco sessões da publicação do respectivo anúncio no Diário
da Câmara dos Deputados e no avulso da Ordem do Dia, houver recurso nesse sentido, de um décimo dos
membros da Casa, apresentado em sessão e provido por decisão do Plenário da Câmara”.
“Art. 137. Toda proposição recebida pela Mesa será numerada, datada, despachada às Comissões competentes e
publicada no Diário da Câmara dos Deputados e em avulsos, para serem distribuídos aos Deputados, às
Lideranças e Comissões.§ 1º Além do que estabelece o art. 125, a Presidência devolverá ao Autor qualquer
proposição que: I – não estiver devidamente formalizada e em termos; II – versar sobre matéria: a) alheia à
competência da Câmara; b) evidentemente inconstitucional; c) anti-regimental. § 2º Na hipótese do parágrafo
anterior, poderá o Autor da proposição recorrer ao Plenário, no prazo de cinco sessões da publicação do
despacho, ouvindo-se a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, em igual prazo. Caso seja provido o
recurso, a proposição voltará à Presidência para o devido trâmite.”
“Art. 138. As proposições serão numeradas de acordo com as seguintes normas: I – terão numeração por
legislatura, em séries específicas: a) as propostas de emenda à Constituição; b) os projetos de lei ordinária; c) os
projetos de lei complementar; d) os projetos de decreto legislativo, com indicação da Casa de origem; e) os
projetos de resolução; f) os requerimentos; g) as indicações; h) as propostas de fiscalização e controle; II – as
emendas serão numeradas, em cada turno, pela ordem de entrada e organizadas pela ordem dos artigos do
projeto, guardada a sequência determinada pela sua natureza, a saber, supressivas, aglutinativas, substitutivas,
modificativas e aditivas; III – as subemendas de Comissão figurarão ao fim da série das emendas de sua
iniciativa, subordinadas ao titulo ‘Subemendas’, com a indicação das emendas a que correspondam; quando à
mesma emenda forem apresentadas várias subemendas, terão esta numeração ordinal em relação à emenda
respectiva; IV – as emendas do Senado a projeto da Câmara serão anexadas ao projeto primitivo e tramitarão
com o número deste. § 1º Os projetos de lei ordinária tramitarão com a simples denominação de ‘projeto de lei’.
§ 2º Nas publicações referentes a projeto em revisão, será mencionado, entre parênteses, o número da Casa de
origem, em seguida ao que lhe couber na Câmara. § 3º Ao número correspondente a cada emenda de Comissão
acrescentar-se-ão as iniciais desta. § 4º A emenda que substituir integralmente o projeto terá, em seguida ao
número, entre parênteses, a indicação ‘Substitutivo’.”
191
Prevê o art. 114: “Serão verbais ou escritos, e imediatamente despachados pelo Presidente, os requerimentos
que solicitem: I – a palavra, ou a desistência desta; II – permissão para falar sentado, ou da bancada; III – leitura
de qualquer matéria sujeita ao conhecimento do Plenário; IV – observância de disposição regimental; V –
retirada, pelo Autor, de requerimento; VI – discussão de uma proposição por partes; VII – retirada, pelo Autor,
de proposição com parecer contrário, sem parecer, ou apenas com parecer de admissibilidade; VIII – verificação
de votação; IX – informações sobre a ordem dos trabalhos, a agenda mensal ou a Ordem do Dia; X –
prorrogação de prazo para o orador na tribuna; XI – dispensa do avulso para a imediata votação da redação final
já publicada; XII – requisição de documentos; XIII – preenchimento de lugar em Comissão; XIV – inclusão em
Ordem do Dia de proposição com parecer, em condições regimentais de nela figurar; XV – reabertura de
78
Destarte, por ser a maioria das fases comum às proposituras, analisa-se no presente
trabalho o processo legislativo da lei ordinária, destacando-se, na pesquisa de cada uma das
espécies, as variações possíveis.
discussão de projeto encerrada em sessão legislativa anterior; XVI – esclarecimento sobre ato da administração
ou economia interna da Câmara; XVII – licença a Deputado, nos termos do § 3º do art. 235. Parágrafo único. Em
caso de indeferimento e a pedido do Autor, o Plenário será consultado, sem discussão nem encaminhamento de
votação, que será feita pelo processo simbólico”.
192
Nesse diapasão, o art. 109, § 1º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados: “A iniciativa de projetos de
lei na Câmara será, nos termos do art. 61 da Constituição Federal e deste Regimento: I – de Deputados,
individual ou coletivamente; II – de Comissão ou da Mesa; III – do Senado Federal; IV – do Presidente da
República; V – do Supremo Tribunal Federal; VI – dos Tribunais Superiores; VII – do Procurador-Geral da
República; VIII – dos cidadãos. § 2º Os Projetos de decreto legislativo e de resolução podem ser apresentados
por qualquer Deputado ou Comissão, quando não sejam de iniciativa privativa da Mesa ou de outro colegiado
específico”.
193
O grande expediente é o tempo destinado aos vereadores para debate de situações gerais em Plenário.
194
Tais como substitutivos; emendas; requerimentos; recursos; apoiamento a iniciativa.
195
Vide arts. 137 e 138 do RICD.
79
Feita a análise pela Comissão, se esta for inadmitida, o autor poderá requerer a
apreciação preliminar do Plenário, desde que tenha o apoiamento de um terço dos deputados.
Agora, se admitida a proposta, o Presidente designará Comissão Especial197 para o exame de
mérito da proposição para proferir parecer. Este publicado e a matéria sendo incluída no
Plenário, a proposta é deliberada em dois turnos de discussão e votação, tendo entre uma
votação e outra que respeitar o prazo de cinco sessões para entrar novamente na pauta em
segunda votação, sendo aprovada se obtiver, em ambos os turnos, três quintos dos votos dos
membros da Câmara dos Deputados em votação nominal.
Como dito, com exceção das matérias relacionadas que terão Comissão especial
designada, a proposição será distribuída às Comissões de mérito de acordo com a matéria e
diretamente à primeira Comissão que deva proferir parecer de mérito, passando
necessariamente todos os projetos pela Comissão de Constituição e Justiça, para o exame da
196
Nesse sentido, o art. 34 do RICD.
197
Vide Constituição Federal e art. 201 do RICD.
198
Sobre a proposta recebida pelo Senado, o art. 203 prevê: “A proposta de emenda à Constituição recebida do
Senado Federal, bem como as emendas do Senado à proposta de emenda à Constituição oriunda da Câmara, terá
a mesma tramitação estabelecida no artigo precedente. Parágrafo único. Quando ultimada na Câmara a
aprovação da proposta, será o fato comunicado ao Presidente do Senado e convocada sessão para promulgação
da emenda. No que concerne a promulgação da Emenda aplica-se o art. 1º, III, do Regimento Comum do
Congresso Nacional”.
80
199
Vide: <http: //www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes>.
200
Como se vê: “Art. 139. A distribuição de matéria às Comissões será feita por despacho do Presidente, dentro
em duas sessões depois de recebida na Mesa, observadas as seguintes normas: I – antes da distribuição, o
Presidente mandará verificar se existe proposição em trâmite que trate de matéria análoga ou conexa; em caso
afirmativo, fará a distribuição por dependência, determinando a sua apensação, após ser numerada, aplicando-se
à hipótese o que prescreve o parágrafo único do art. 142; II – excetuadas as hipóteses contidas no art. 34, a
proposição será distribuída: a) às Comissões a cuja competência estiver relacionado o mérito da proposição; b)
quando envolver aspectos financeiro ou orçamentário públicos, à Comissão de Finanças e Tributação, para o
exame da compatibilidade ou adequação orçamentária; c) obrigatoriamente à Comissão de Constituição e Justiça
e de Cidadania, para o exame dos aspectos de constitucionalidade, legalidade, juridicidade, regimentalidade e de
técnica legislativa, e, juntamente com as Comissões técnicas, para pronunciar-se sobre o seu mérito, quando for
o caso; d) diretamente à primeira Comissão que deva proferir parecer de mérito sobre a matéria nos casos do § 2º
do art. 129, sem prejuízo do que prescrevem as alíneas anteriores; III – a remessa de proposição às Comissões
será feita por intermédio da Secretaria-Geral da Mesa, devendo chegar ao seu destino até a sessão seguinte, ou
imediatamente, em caso de urgência, iniciando-se pela Comissão que, em primeiro lugar, deva proferir parecer
sobre o mérito; IV – a remessa de processo distribuído a mais de uma Comissão será feita diretamente de uma a
81
Haverá apreciação preliminar em Plenário quando for provido recurso contra parecer
terminativo de Comissão. A apreciação preliminar tratará apenas sobre a constitucionalidade e
juridicidade ou adequação financeira e orçamentária. Pode haver emenda saneadora do vício.
Se rejeitada a emenda, a proposta original pode ser aprovada ou arquivada.202
outra, na ordem em que tiverem de manifestar-se, com os necessários registros de acompanhamento, salvo
matéria em regime de urgência, que será apreciada conjuntamente pelas Comissões e encaminhada à Mesa; V –
nenhuma proposição será distribuída a mais do que três Comissões de mérito, aplicando-se, quando for o caso, o
art. 34, II; VI – a proposição em regime de urgência, distribuída a mais de uma Comissão, deverá ser discutida e
votada ao mesmo tempo, em cada uma delas, desde que publicada com as respectivas emendas, ou em reunião
conjunta, aplicando-se à hipótese o que prevê o art. 49”.
“Art.142, parágrafo único. A tramitação conjunta só será deferida se solicitada antes de a matéria entrar na
Ordem do Dia ou, na hipótese do art. 24, II, antes do pronunciamento da única ou da primeira Comissão
incumbida de examinar o mérito da proposição.”
201
Nesse sentido, o art. 132, § 2º, do RICD.
202
Assim, os arts. 144 e 145 do RICD.
203
É o que estabelece o art. 24, II, f, do RICD.
204
Trata-se do disposto no art. 135 do RICD, uma garantia do parlamentar em ter a sua matéria deliberada.
205
Art. 148 do RICD.
206
“Art. 149. Cada turno é constituído de discussão e votação, salvo: I – no caso dos requerimentos mencionados
no art. 117, em que não há discussão; II – se encerrada a discussão em segundo turno, sem emendas, quando a
matéria será dada como definitivamente aprovada, sem votação, salvo se algum Líder requerer seja submetida a
82
contadas da: (i) apresentação dos pareceres das Comissões e de início da discussão; (ii)
aprovação de projeto sem emendas e o início da discussão no segundo turno.207
votos; III – se encerrada a discussão da redação final, sem emendas ou retificações, quando será considerada
definitivamente aprovada, sem votação.”
207
Prevê o art. 150, parágrafo único, do RICD: “A dispensa de interstício para inclusão em Ordem do Dia de
matéria constante da agenda mensal a que se refere o art. 17, I, s, poderá ser concedida pelo Plenário, a
requerimento de um décimo da composição da Câmara ou mediante acordo de Lideranças, desde que procedida a
distribuição dos avulsos com antecedência mínima de quatro horas.”
208
O Regimento Interno da Câmara dos Deputados conceitua a urgência: “Art. 152. Urgência é a dispensa de
exigências, interstícios ou formalidades regimentais, salvo as referidas no § 1º deste artigo, para que determinada
proposição, nas condições previstas no inciso I do artigo antecedente, seja de logo considerada, até sua decisão
final. § 1º Não se dispensam os seguintes requisitos: I – publicação e distribuição, em avulsos ou por cópia, da
proposição principal e, se houver, das acessórias; II – pareceres das Comissões ou de Relator designado; III –
quórum para deliberação. § 2º As proposições urgentes em virtude da natureza da matéria ou de requerimento
aprovado pelo Plenário, na forma do artigo subsequente, terão o mesmo tratamento e trâmite regimental. Há
ainda ordem de preferência entre os projetos urgentes, nos termos do art. 159”.
209
Sobre o assunto respectivamente: “Art. 153. A urgência poderá ser requerida quando: I – tratar-se de matéria
que envolva a defesa da sociedade democrática e das liberdades fundamentais; II – tratar-se de providência para
atender a calamidade pública; III – visar à prorrogação de prazos legais a se findarem, ou à adoção ou alteração
de lei para aplicar-se em época certa e próxima; IV – pretender-se a apreciação da matéria na mesma sessão”.
“Art. 154. O requerimento de urgência somente poderá ser submetido à deliberação do Plenário se for
apresentado por: I – dois terços dos membros da Mesa, quando se tratar de matéria da competência desta; II – um
terço dos membros da Câmara, ou Líderes que representem esse número; III – dois terços dos membros de
Comissão competente para opinar sobre o mérito da proposição. § 1º O requerimento de urgência não tem
discussão, mas a sua votação pode ser encaminhada pelo Autor e por um Líder, Relator ou Deputado que lhe seja
contrário, um e outro com o prazo improrrogável de cinco minutos. Nos casos dos incisos I e III, o orador
favorável será o membro da Mesa ou de Comissão designado pelo respectivo presidente.
§ 2º Estando em tramitação duas matérias em regime de urgência, em razão de requerimento aprovado pelo
Plenário, não se votará outro.”
210
O art. 151 traz as exceções ao trâmite ordinário: “Quanto à natureza de sua tramitação podem ser: I – urgentes
as proposições: a) sobre declaração de guerra, celebração de paz, ou remessa de forças brasileiras para o exterior;
b) sobre suspensão das imunidades de Deputados, na vigência do estado de sitio ou de sua prorrogação; c) sobre
requisição de civis e militares em tempo de guerra, ou quaisquer providências que interessem à defesa e à
segurança do País; d) sobre decretação de impostos, na iminência ou em caso de guerra externa; e) sobre
medidas financeiras ou legais, em caso de guerra; f) sobre transferência temporária da sede do Governo Federal;
g) sobre permissão para que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente; h) sobre intervenção federal, ou modificação das condições de intervenção em vigor; i) sobre
autorização ao Presidente ou ao Vice-Presidente da República para se ausentarem do Pais; j) oriundas de
mensagens do Poder Executivo que versem sobre acordos, tratados, convenções, pactos, convênios, protocolos e
demais instrumentos de política internacional, a partir de sua aprovação pelo órgão técnico específico, através de
projeto de decreto legislativo, ou que sejam por outra forma apreciadas conclusivamente; l) de iniciativa do
Presidente da República, com solicitação de urgência; m) constituídas pelas emendas do Senado Federal a
projetos referidos na alínea anterior; n) referidas no art. 15, XII; o) reconhecidas, por deliberação do Plenário, de
caráter urgente, nas hipóteses do art. 153; II – de tramitação com prioridade: a) os projetos de iniciativa do Poder
83
Encerrada a fase de discussão e após parecer das Comissões sobre a emenda, o projeto
está apto para ser votado em Plenário, o que pode ocorrer imediatamente após a discussão.
Iniciada a votação e terminada a apuração, proclama-se o seu resultado, especificando-se os
votos favoráveis, contrários, brancos e nulos. O art. 183 do RICD prevê: “Salvo disposição
constitucional em contrário, as deliberações da Câmara serão tomadas por maioria de votos,
presente a maioria absoluta de seus membros”.
214
Assim o art. 191: “Além das regras contidas nos arts. 159 e 163, serão obedecidas ainda na votação as
seguintes normas de precedência ou preferência e prejudicialidade: I – a proposta de emenda à Constituição tem
preferência na votação em relação às proposições em tramitação ordinária; II – o substitutivo de Comissão tem
preferência na votação sobre o projeto; III – votar-se-á em primeiro lugar o substitutivo de Comissão; havendo
mais de um, a preferência será regulada pela ordem inversa de sua apresentação; IV – aprovado o substitutivo,
ficam prejudicados o projeto e as emendas a este oferecidas, ressalvadas as emendas ao substitutivo e todos os
destaques; V – na hipótese de rejeição do substitutivo, ou na votação de projeto sem substitutivo, a proposição
inicial será votada por último, depois das emendas que lhe tenham sido apresentadas; VI – a rejeição do projeto
prejudica as emendas a ele oferecidas; VII – a rejeição de qualquer artigo do projeto, votado artigo por artigo,
prejudica os demais artigos que forem uma consequência daquele; VIII – dentre as emendas de cada grupo,
oferecidas respectivamente ao substitutivo ou à proposição original, e as emendas destacadas, serão votadas, pela
ordem, as supressivas, as aglutinativas, as substitutivas, as modificativas e, finalmente, as aditivas; IX – as
emendas com subemendas serão votadas uma a uma, salvo deliberação do Plenário, mediante proposta de
qualquer Deputado ou Comissão; aprovado o grupo, serão consideradas aprovadas as emendas com as
modificações constantes das respectivas subemendas; X – as subemendas substitutivas têm preferência na
votação sobre as respectivas emendas; XI – a emenda com subemenda, quando votada separadamente, sê-lo-á
antes e com ressalva desta, exceto nos seguintes casos, em que a subemenda terá precedência: a) se for
supressiva; b) se for substitutiva de artigo da emenda, e a votação desta se fizer artigo por artigo; XII – serão
votadas, destacadamente, as emendas com parecer no sentido de constituírem projeto em separado; XIII –
quando, ao mesmo dispositivo, forem apresentadas várias emendas da mesma natureza, terão preferência as de
Comissão sobre as demais; havendo emendas de mais de uma Comissão, a precedência será regulada pela ordem
inversa de sua apresentação; XIV – o dispositivo destacado de projeto para votação em separado precederá, na
votação, às emendas, independerá de parecer e somente integrará o texto se aprovado; XV – se a votação do
85
projeto se fizer separadamente em relação a cada artigo, o texto deste será votado antes das emendas aditivas a
ele correspondentes.”
215
Vide art. 194, RICD.
216
É o que estabelece o art. 134 do Regimento Comum.
217
Vejam-se os arts. 134, 135 e 136 do Regimento Comum do Congresso Nacional.
218
Vejam-se os arts. 134, 135 e 136 do Regimento Comum do Congresso Nacional.
86
Após a aprovação pelas Casas Legislativas, o projeto segue para sanção ou veto do
chefe do Poder Executivo, que pode vetá-lo parcialmente ou na íntegra. Se sancionado, o
projeto, transforma-se em lei; se vetado, o projeto retorna para a Casa Legislativa para análise
em sessão conjunta do Congresso Nacional. Esses vetos podem ser mantidos ou derrubados.
Quando há veto, a última fase do processo legislativo passa a ser a sua manutenção ou a sua
derrubada.
As Comissões Permanentes são órgãos técnicos criados pelos Regimentos Internos das
Casas Legislativas, constituídas por parlamentares, com funções legislativas, administrativas e
fiscalizadoras, nos termos da Constituição Federal e dos seus Regimentos Internos. Compete a
219
Nesse sentido, o art. 58 do Regimento Interno Comum: “Art. 58 O Congresso Nacional e suas Casas terão
comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo
regimento ou no ato de que resultar sua criação.
§ 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é assegurada, tanto quanto possível, a representação
proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa.
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:
I – discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do Plenário, salvo se
houver recurso de um décimo dos membros da Casa;
II – realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil;
III – convocar Ministros de Estado para prestar informações sobre assuntos inerentes a suas atribuições;
IV – receber petições, reclamações, representações ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das
autoridades ou entidades públicas;
V – solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão;
VI – apreciar programas de obras, planos nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento e sobre eles emitir
parecer.
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades
judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus
membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
§ 4º Durante o recesso, haverá uma Comissão representativa do Congresso Nacional, eleita por suas Casas na
última sessão ordinária do período legislativo, com atribuições definidas no regimento comum, cuja composição
reproduzirá, quanto possível, a proporcionalidade da representação partidária.”
87
220
Para mais informações, vide: <http: //www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes>; <http: //www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/opapel-das-comissoes>.
221
Cabe à Secretaria Legislativa do Congresso Nacional receber as medidas provisórias, projetos de lei
orçamentários e vetos.
88
Por fim, ressalta-se que o Regimento Comum estabelece no art. 151 a denominada
subsidiariedade regimental, determinando que nos casos omissos aplique-se primeiro o
disposto no Regimento Interno do Senado Federal e, permanecendo a omissão, o Regimento
Interno da Câmara dos Deputados.
89
A promulgação não sana eventuais vícios que tenham ocorrido no processo legislativo,
pois, se existentes em qualquer fase do procedimento, geram a inconstitucionalidade da lei
aprovada.223
222
Assim, João Jampaulo consigna: “A desobediência das regras sobre o procedimento legislativo estipulado na
Lei Fundamental é causa de inconstitucionalidade, assim como as violações regimentais caracterizam vícios
interna corporis” (JAMPAULO JÚNIOR, João. O processo Legislativo. Sanção e Vício de Iniciativa. São Paulo:
Malheiros, 2008. p. 65).
223
BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 326.
90
Daí que no processo legislativo os vícios são passíveis de ser controlados e anulados
tanto internamente pelo Legislativo, como externamente pelo Judiciário, podendo demandar
diversas ações individuais para a discussão da constitucionalidade da matéria, o que pode
gerar uma insegurança jurídica. Importante atentar que o vício de inconstitucionalidade
formal se configura sempre que uma lei ou ato normativo estiver em desacordo com o
previsto no texto constitucional, no que se refere às regras que disciplinam o devido processo
legislativo.
224
Como bem pontua Manoel Gonçalves, “problema que mais de uma vez já foi suscitado perante os tribunais é
o do alcance da sançaõ em relação a projetos viciados por usurpação de iniciativa reservada.
O caso da usurpação da iniciativa reservada aos tribunais não oferece dificuldade. Não tendo estes o poder se
recusar sanção aos projetos aprovados pelo Legislativo, de modo algum se pode sustentar que a sanção, pelo
Executivo, de projeto que lhes invada a esfera reservada à iniciativa, possa suprir esse defeito, convalidando o
projeto. O problema tem outra gravidade, porém, em relação aos projetos que traduzam usurpação da iniciativa
presidencial reservada, mas que, aprovados, venham a ser expressa ou tacitamente sancionados pelo Presidente.
Essa matéria é muito controvertida. Prova disso é o fato de que o Supremo Tribunal Federal primeiro veio a
entender que a sanção convalidava o defeito de iniciativa, como consta da Súmula n. 5. É a posição de
Themístocles Cavalcanti, Seabra Fagundes, Pontes de Miranda e José Afonso da Silva.
Mais tarde, a partir da Representação n. 890-GB (RTJ, 69: 626), o Supremo Tribunal Federal adotou a tese
oposta, ou seja, a da não convalidação. É a posição de Francisco Campos, Caio Tácito etc. Esta última parece ser
a correta, pois, sendo nulo o ato inconstitucional, não pode ele ser convalidado. De fato, a nulidade exclui,
segundo a teoria geral do Direito, a convalidação (FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito
constitucional. 40. ed. Saõ Paulo: Saraiva, 2015. p. 326-327).
225
BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018.
91
ao princípio da separação entre os poderes, não sendo passível de convalidação por meio de
sanção do chefe do Poder Executivo, sendo, portanto, o ato nulo, não há convalidação.
Isso significa que há uma garantia de os cidadãos terem acesso à informação com a
justificação adequada dos motivos de fato e de direito que levaram a prática do ato legislativo.
Deveras, há o dever de fundamentar o ato praticado pela Administração Pública, ademais dar
publicidade e transparência a ele.
226
Leciona Celso Antônio Bandeira de Mello sobre o dever de motivar e as consequências de sua violação:
“Parece-nos que a exigência de motivação dos atos administrativos, contemporânea a prática do ato, ou pelo
menos anterior a ela, há de ser tida com o uma regra geral, pois os agentes administrativos não são ‘donos’ da
coisa pública, mas simples gestores de interesses de toda a coletividade, esta, sim, senhora de tais interesses,
visto que, nos termos da Constituição, ‘todo o poder emana do povo [...]’ (art. 1°, parágrafo único). Logo, parece
óbvio que, praticado o ato em um Estado em que tal preceito é assumido e que, ademais, qualifica-se como
‘Estado Democrático de Direito’ (art. 1°, caput), proclamando, ainda, ter como um de seus fundamentos a
‘cidadania’ (inciso II), os cidadãos e em particular o interessado no ato têm o direito de saber por que foi
praticado, isto é, que fundamentos o justificam. Há de se entender que as razões expostas, em princípio, exigem
mais do que a simples enunciação ulterior das razões que o estribaram, vez que para a ciência a posteriori
bastaria o supedâneo fornecido pelos incisos XXXIII e XXXIV, ‘b’ do art. 5°, segundo os quais e
respectivamente, é garantido aos administrados o direito de receber dos órgãos públicos ‘informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral’, e obter ‘certidões em repartições públicas, para a defesa
de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal’” (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio.
Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 406).
227
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros,
2016. p. 406.
92
diretamente na vida das pessoas, já que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”. Tamanha interferência na liberdade e propriedade dos
cidadãos demanda evidentemente uma justificação dos motivos que levaram a prática daquele
ato.
É o que diz a Lei Federal 12.527/2011, que regula o acesso à informação. Conhecida
como Lei de Acesso à Informação, o mandamento determina em seu art. 11 que “o órgão ou
entidade pública deverá autorizar ou conceder o acesso imediato à informação disponível”.
Se não for possível liberar de imediato a informação, que esta ocorra no prazo máximo
de 20 dias, como determina o § 1º: “I – comunicar a data, local e modo para se realizar a
consulta, efetuar a reprodução ou obter a certidão; II – indicar as razões de fato ou de direito
da recusa, total ou parcial, do acesso pretendido; ou III – comunicar que não possui a
informação, indicar, se for do seu conhecimento, o órgão ou a entidade que a detém, ou,
ainda, remeter o requerimento a esse órgão ou entidade, cientificando o interessado da
remessa de seu pedido de informação”. Havendo justificativa expressa do órgãos que
necessita prestar a informação, é possível a prorrogação do prazo por mais 10 dias (§ 2º).
93
Nesse sentido, até o recebimento das informações solicitadas pela Casa legislativa, os
prazos para a deliberação nas Comissões ou em Plenário devem ser suspensos, para que a
votação pelos parlamentares atenda ao princípio da segurança jurídica, sob pena de vício no
processo legislativo, o que torna o trâmite do projeto passível de ser suspenso via mandado de
segurança, e em sendo o projeto aprovado, anulada a votação com retorno do processo a fase
em que se encontrava antes do vício.
Verifica-se esse vício quando a Casa revisora faz uma modificação no texto da Casa
Iniciadora, mas na ânsia de aprovar a matéria não a devolve para apreciação da Casa de
origem, com a justificativa de que a emenda realizada não alterou o conteúdo do texto, mas
apenas a redação.
Esse vício pode ocorrer da ausência de audiência pública quando há a previsão legal
para a sua realização.228
228
A título exemplificativo veja-se o art. 41 da Lei Orgânica do Município de São Paulo.
94
Daí que cabe ressaltar a recente introdução na Lei de Introdução as Normas do Direito
Brasileiro, Decreto-lei 4.657/1942, pela Lei 13.655/2018, em especial no seu art. 30, cujo teor
transcreve-se para relacioná-lo com a possibilidade do vício de procedimento por falta de
debate do legislativo: “Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a
segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
administrativas e respostas a consultas”.
Tal fato seria passível de ser questionado via mandado de segurança por ofensa ao
princípio da segurança jurídica, tendo como momento adequado a impetração do remédio
constitucional após a aprovação pelo Legislativo da matéria em Plenário, mas antes da sanção
pelo Executivo.
229
BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 296.
95
230
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo. 16. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2014. p. 222.
96
Este capítulo busca demonstrar, a partir de exemplos práticos, o controle dos atos
interna corporis realizado âmbito interno pelo Poder Legislativo, e externo pelo Judiciário,
em especial o do Supremo Tribunal Federal.
Os atos interna corporis no processo legislativo são os atos regulados por meio de
Resolução promulgada pelo Legislativo no exercício de sua autonomia constitucional,
231
BARRETO, Derly e Silva Filho. Controle dos Atos Parlamentares pelo Poder Judiciário. São Paulo:
Malheiros, 2003. p. 58.
97
232
Derly Barreto conceitua atos parlamentares como aqueles exarados pelo parlamentar no exercício de sua
competência constitucional para dispor sobre o seu regramento interno, com fundamento na autonomia
institucional de que detém o Poder Legislativo para estabelecer e aplicar as suas próprias normas sem a
interferência de outro Poder (BARRETO, Derly e Silva Filho. Controle dos Atos Parlamentares pelo Poder
Judiciário. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 99).
233
Preâmbulo da Resolução 17, de 1989, que aprova o Regimento Interno da Câmara dos Deputados.
234
Gerais, pois, estes exemplos, tratam de atos que disciplinam o funcionamento das Casas Legislativas e o
processo legislativo, e não somente os atos internos que envolvem o processo legislativo em si.
235
Prevê o art. 15 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados: “À Mesa compete, dentre outras atribuições
estabelecidas em lei, neste Regimento ou por resolução da Câmara, ou delas implicitamente resultantes: I –
dirigir todos os serviços da Casa durante as sessões legislativas e nos seus interregnos e tomar as providências
necessárias à regularidade dos trabalhos legislativos, ressalvada a competência da Comissão Representativa do
Congresso Nacional; II – constituir, excluído o seu Presidente, alternadamente com a Mesa do Senado, a Mesa
do Congresso Nacional, nos termos do § 5º do art. 57 da Constituição Federal; III – promulgar, juntamente com
a Mesa do Senado Federal, emendas à Constituição; IV – propor ação de inconstitucionalidade, por iniciativa
própria ou a requerimento de Deputado ou Comissão; V – dar parecer sobre a elaboração do Regimento Interno
da Câmara e suas modificações; VI – conferir aos seus membros atribuições ou encargos referentes aos serviços
legislativos e administrativos da Casa; VII – fixar diretrizes para a divulgação das atividades da Câmara; VIII –
adotar medidas adequadas para promover e valorizar o Poder Legislativo e resguardar o seu conceito perante a
Nação; IX – adotar as providências cabíveis, por solicitação do interessado, para a defesa judicial e extrajudicial
de Deputado contra a ameaça ou a prática de ato atentatório do livre exercício e das prerrogativas constitucionais
do mandato parlamentar; X – fixar, no início da primeira e da terceira sessões legislativas da legislatura, ouvido
o Colégio de Líderes, o número de Deputados por Partido ou Bloco Parlamentar em cada Comissão Permanente;
XI – elaborar, ouvido o Colégio de Líderes e os Presidentes de Comissões Permanentes, projeto de Regulamento
Interno das Comissões, que, aprovado pelo Plenário, será parte integrante deste Regimento; XII – promover ou
adotar, em virtude de decisão judicial, as providências necessárias, de sua alçada ou que se insiram na
competência legislativa da Câmara dos Deputados, relativas aos arts. 102, I, q, e 103, § 2º, da Constituição
98
providências necessárias que garantam a regularidade das ações dos parlamentares, análise de
pedidos de informação de Ministros do Estado; (ii) pelas respectivas presidências, como ao
conceder a palavra ao parlamentar, instituição da ordem-do-dia, convocação de sessões
legislativas; (iii) no Plenário, como a deliberação sobre requerimento para a realização de
sessão extraordinária, decisão acerca de votação por escrutínio secreto, aprovação de
regulamentos relativos a serviços administrativos; (iv) nas Comissões, citam-se as votações de
projetos que se sujeitam a aprovação do Plenário, determinação de realização de diligências,
perícias, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, operacional e patrimonial
nas unidades administrativas do Poder Legislativo, solicitação de audiências para análise de
matéria sujeitas a sua apreciação; (v) aos Presidentes, solicitação de vistas, convocação de
reuniões, nomeação de relatores.236
Diante de os exemplos acima serem de atos interna corporis que regulam tanto o
funcionamento da Casa Legislativa quanto o processo legislativo, cabe a identificação isolada
dos atos internos que disciplinam as fases de elaboração do processo legislativo. Para tanto
subdividem-se os atos em dois: (i) atos interna corporis que independem de deliberação das
Comissões e do Plenário; (ii) atos interna corporis que podem ou não depender de
deliberação das Comissões ou do Plenário.
Federal; XIII – apreciar e encaminhar pedidos escritos de informação a Ministros de Estado, nos termos do art.
50, § 2º, da Constituição Federal; XIV – declarar a perda do mandato de Deputado, nos casos previstos nos
incisos III, IV e V do art. 55 da Constituição Federal, observado o disposto no § 3º do mesmo artigo; XV –
aplicar a penalidade de censura escrita a Deputado; XVI – decidir conclusivamente, em grau de recurso, as
matérias referentes ao ordenamento jurídico de pessoal e aos serviços administrativos da Câmara; XVII – propor,
privativamente, à Câmara projeto de resolução dispondo sobre sua organização, funcionamento, polícia, regime
jurídico do pessoal, criação, transformação ou extinção de cargos, empregos e funções e fixação da respectiva
remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; XVIII – prover os
cargos, empregos e funções dos serviços administrativos da Câmara, bem como conceder licença, aposentadoria
e vantagens devidas aos servidores, ou colocá-los em disponibilidade; XIX – requisitar servidores da
administração pública direta, indireta ou fundacional para quaisquer de seus serviços; XX – aprovar a proposta
orçamentária da Câmara e encaminhá-la ao Poder Executivo; XXI – encaminhar ao Poder Executivo as
solicitações de créditos adicionais necessários ao funcionamento da Câmara e dos seus serviços; XXII –
estabelecer os limites de competência para as autorizações de despesa; XXIII – autorizar a assinatura de
convênios e de contratos de prestação de serviços; XXIV – aprovar o orçamento analítico da Câmara; XXV –
autorizar licitações, homologar seus resultados e aprovar o calendário de compras; XXVI – exercer fiscalização
financeira sobre as entidades subvencionadas, total ou parcialmente, pela Câmara, nos limites das verbas que
lhes forem destinadas; XXVII – encaminhar ao Tribunal de Contas da União a prestação de contas da Câmara
em cada exercício financeiro; XXVIII – requisitar reforço policial, nos termos do parágrafo único do art. 270;
XXIX – apresentar à Câmara, na sessão de encerramento do ano legislativo, resenha dos trabalhos realizados,
precedida de sucinto relatório sobre o seu desempenho. Parágrafo único. Em caso de matéria inadiável, poderá o
Presidente, ou quem o estiver substituindo, decidir, ad referendum da Mesa, sobre assunto de competência
desta”.
236
BARRETO, Derly e Silva Filho. Controle dos Atos Parlamentares pelo Poder Judiciário. São Paulo:
Malheiros, 2003. p. 100.
99
5.2.1 Atos interna corporis que independem de deliberação das Comissões ou em Plenário
Consequentemente, se houver abuso de direito sobre esses atos, deve haver o controle
interno para a invalidade do ato e externo por existência de uma ilegalidade, e desrespeito à
prerrogativa do parlamentar ao devido processo legislativo.
5.2.2 Atos interna corporis que podem ou não depender de deliberação das Comissões ou do
Plenário
237
Esses prazos podem ser diferenciados também a depender do regime da matéria, se em regime de urgência,
prioridade ou dentro do procedimento comum, ordinário.
238
O prazo pode ser reaberto por requerimento aprovado pelo Plenário. Se a matéria estiver com a discussão
encerrada em Plenário, requer-se a reabertura da discussão para a realização do protocolo da matéria.
100
requerimento; (vi) discussão de uma proposição por partes; (vii) retirada, pelo autor, de
proposição com parecer contrário, sem parecer, ou apenas com parecer de admissibilidade;
(viii) verificação de votação; (ix) informações sobre a ordem dos trabalhos, a agenda mensal
ou a Ordem do Dia; (x) prorrogação de prazo para o orador na tribuna; (xi) dispensa do avulso
para a imediata votação da redação final já publicada; (xii) requisição de documentos; (xiii)
preenchimento de lugar em Comissão; (xiv) inclusão em Ordem do Dia de proposição com
parecer, em condições regimentais de nela figurar; (xv) reabertura de discussão de projeto
encerrada em sessão legislativa anterior; (xvi) esclarecimento sobre ato da administração ou
economia interna da Câmara; (xii) licença a Deputado. Nesses casos, se houver indeferimento
o autor poderá solicitar que o Plenário seja consultado, sem discussão nem encaminhamento
de votação, que será feita pelo processo simbólico de votação.239
No que concerne aos requerimentos despachados pelo Presidente, são eles: (i)
informação a Ministro de Estado; (ii) inserção, nos Anais da Câmara, de informações,
documentos ou discurso de representante de outro Poder, quando não lidos integralmente no
momento da remissão ao texto. Caso haja o indeferimento pelo Presidente, cabe recurso ao
Plenário.
Por sua vez, os relativos às matérias previstas no art. 117 necessitam da aprovação do
Plenário para a sua realização, incluem-se entre eles os requerimentos que não são tratados
pelo Regimento Interno e os que solicitam: (i) representação da Câmara por Comissão
Externa; (ii) convocação de Ministro de Estado perante o Plenário; (iii) sessão extraordinária;
(iv) sessão secreta; (v) cancelamento de sessão em dia certo; (vi) retirada de projeto da ordem
do dia da sessão; (vii) prorrogação de prazo para a apresentação de parecer por qualquer
Comissão; (viii) audiência de Comissão, quando formulados por Deputado; (ix) destaque para
votação em separado, emenda, substitutivo; (x) adiamento de discussão ou de votação; (xi)
encerramento de discussão; (xii) votação por determinado processo; (xiii) votação de
proposição, artigo por artigo, ou de emendas, uma a uma; (xiv) dispensa de publicação para
votação de redação final; (xv) urgência; (xvi) preferência; (xvii) prioridade; (xviii) voto de
pesar; voto de júbilo ou louvor.
239
Vide art. 114 do RICD.
101
5.3 Controle Interno dos atos interna corporis e as fases que envolvem esse controle
Cabe examinar, neste tópico, quais são os mecanismos existentes previstos nos
Regimentos Internos das Casas Legislativas para o controle interno dos atos emanados pelos
parlamentares no processo legislativo, quem são os legitimados para propô-los e como é feito
esse controle.
O controle interno pode ocorrer via questão de ordem sempre que o parlamentar se
sentir lesado em sua prerrogativa no exercício de função pública. Considera-se questão de
ordem toda dúvida sobre a interpretação de Regimento, na sua prática exclusiva ou
relacionada com a Constituição Federal (art. 95, RICD).
240
Aprovadas em regular trâmite legislativo, inclui-se as Resoluções que disciplinam normas internas, além dos
Regimentos Internos.
241
Dessa forma, preveem respectivamente os arts. 14, 403 e 404.
102
242
Nesse sentido, prevê respectivamente os parágrafos 8° a 10, do art. 95: “§ 8° O Deputado, em qualquer caso,
poderá recorrer da decisão da Presidência para o Plenário, sem efeito suspensivo, ouvindo-se a Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania, que terá o prazo máximo de três sessões para se pronunciar. Publicado o
parecer da Comissão, o recurso será submetido na sessão seguinte ao Plenário. § 9° Na hipótese do parágrafo
anterior, o Deputado, com o apoiamento de um terço dos presentes, poderá requerer que o Plenário decida, de
imediato, sobre o efeito suspensivo ao recurso. § 10. As decisões sobre questão de ordem serão registradas e
indexadas em livro especial, a que se dará anualmente ampla divulgação; a Mesa elaborará projeto de resolução
propondo, se for o caso, as alterações regimentais delas decorrentes, para apreciação em tempo hábil, antes de
findo o biênio.”
103
O controle interno passível de ser exercido pela população via Reclamação dirigida à
Ouvidoria Parlamentar é uma forma de controle social246 das ações do parlamentar no
243
Denomina-se aparte quando há consentimento do parlamentar orador a outro par, para a utilização da palavra
durante o seu tempo regimental. Estabelece o art. 176 do RICD: “Art. 176. Aparte é a interrupção, breve e
oportuna, do orador para indagação, ou esclarecimento, relativos à matéria em debate. § 1° O Deputado só
poderá apartear o orador se lhe solicitar e obtiver permissão, devendo permanecer de pé ao fazê-lo. § 2° Não será
admitido aparte: I – à palavra do Presidente; II – paralelo a discurso; III – a parecer oral; IV – por ocasião do
encaminhamento de votação; V – quando o orador declarar, de modo geral, que não o permite; VI – quando o
orador estiver suscitando questão de ordem, ou falando para reclamação; VII – nas comunicações a que se
referem o inciso I e § 1° do art. 66”.
244
Assim, § 2° do art. 185 do RICD.
245
Vide art. 14 do RISF e art. 74 do RICD.
246
Para Francisco Fonseca e Gustavo Beuttenmuller, em obra conjunta sobre o tema Democracia, Informação e
Controle Social: Reflexões conceituais e o Papel dos Observatórios Locais, a reflexão sobre a Administração
Pública – em particular o controle social sobre ela – insere-se claramente no debate acerca da democracia, dado
104
Destarte, a lei requer a participação social no processo legislativo, ainda que essa
participação se manifeste pela representatividade. Além do mais, “a lei, como vontade do
órgão Legislativo, é sempre fruto de um colegiado, circunstância que exclui a prepotência do
chefe isolado”.247
que o Estado de Direito Democrático só existe concretamente se tiver mecanismos e estruturas de regulação dos
conflitos, de administração da vida cotidiana (em diversas dimensões) e de implementação de políticas públicas.
Assim, o truísmo de que não há Estado sem Administração Pública e, mais ainda, de que a democracia moderna
tem como característica a possibilidade de ser controlada socialmente é pressuposto nesse texto, que procura
analisar alguns aspectos cruciais que dão densidade à democracia: o papel da informação com vistas ao controle
social. E mais à frente prelecionam os autores: por controle social entende-se a existência de mecanismos
formais (consultivos e/ou deliberativos) existentes na esfera pública, cujos objetivos são, para além do momento
eleitoral: fiscalizar ações governamentais nas mais diversas áreas e de formas distintas; interceder abertamente
quanto à formulação e implementação de políticas públicas; e canalizar opiniões e interesses dos grupos
politicamente organizados em determinado tema com o objetivo de ouvi-los quanto à execução de políticas
(GUEDES, Alvaro Martim; FONSECA, Francisco (orgs.). Controle Social: Cenários, Avanços e Dilemas no
Brasil. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2008. p. 75-76).
247
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 18. ed. Sao ̃ Paulo: Saraiva, 1997. p. 186
105
legislativo com a prática de atos eivados de vícios ter que responder a processo administrativo
de sindicância. Ademais, possibilita-se a realização do controle desses atos se constatado
abuso pelo Ministério Público.
248
Nesse sentido, o art. 21-A do RICD: “Art. 21-A. Compete à Ouvidoria Parlamentar: I – receber, examinar e
encaminhar aos órgãos competentes as reclamações ou representações de pessoas físicas ou jurídicas sobre: a)
violação ou qualquer forma de discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; b) ilegalidades
ou abuso de poder; c) mau funcionamento dos serviços legislativos e administrativos da Casa; d) assuntos
recebidos pelo sistema 0800 de atendimento à população; II – propor medidas para sanar as violações, as
ilegalidades e os abusos constatados; III – propor medidas necessárias à regularidade dos trabalhos legislativos e
administrativos, bem como ao aperfeiçoamento da organização da Câmara dos Deputados; IV – propor, quando
cabível, a abertura de sindicância ou inquérito destinado a apurar irregularidades de que tenha conhecimento; V
– encaminhar ao Tribunal de Contas da União, à Polícia Federal, ao Ministério Público, ou a outro órgão
competente as denúncias recebidas que necessitem maiores esclarecimentos; VI – responder aos cidadãos e às
entidades quanto às providências tomadas pela Câmara sobre os procedimentos legislativos e administrativos de
seu interesse; VII – realizar audiências públicas com segmentos da sociedade civil”.
249
Vide art. 41 do RICD.
250
Nesse diapasão, o art. 253 do RICD.
251
Conforme dispõe o art. 268 do RICD.
106
Por fim, trata-se de uma ferramenta eficaz para controle dos atos interna corporis no
processo legislativo e uma garantia fundamental de participação social no processo legislativo
e no parlamento como um todo, tendo como fim um controle social efetivo e salvaguardar os
princípios democráticos, embora pouco ou quase não utilizada pela população.
No que refere às Comissões Permanentes, o art. 41, XVII, do RICD disciplina que
cabe ao Presidente de Comissão, além das atribuições regimentais e da própria Comissão a
que faz parte, deliberar sobre as questões de ordem e reclamações que forem questionadas
durante o trabalho legislativo.
5.3.5 Das deliberações dos Presidentes das Casas Legislativas sobre os atos internas corporis
no processo legislativo
252
Conforme dispõe o art. 140 do RICD.
253
Assim, o art. 52, do RICD.
107
Inicia-se com as questões de ordem dos anos de 1950, pois é a partir desta data que se
tem o acesso nos portais do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal. Destarte, sobre algumas questões realizam-se comentários e sobre outras
reproduzem-se as ementas a título exemplificativo, dos questionamentos que se realizam em
sede de controle interno, para um panorama geral sobre o tema objeto deste trabalho.
Destarte, propõem-se comentários sobre algumas das decisões exaradas quanto à lisura
do processo legislativo e almeja-se estabelecer a diferença entre a interpretação conforme o
Regimento, da decisão discricionária em desacordo com as normas regimentais e/ou
constitucionais. Ademais, este tópico objetiva trazer uma ideia geral do controle interno
realizado pelos parlamentares e órgãos internos em âmbito de Poder Legislativo.
5.3.6.1 O controle interno dos atos interna corporis no processo legislativo das décadas de
1950 e 1960, na Câmara dos Deputados
254
Vide arts. 16 e 17 do RICD.
108
Das notas taquigráficas da sessão consta-se o inteiro teor da discussão realizada acerca
da matéria. Primeiro, a Mesa entendeu que o requerimento de urgência para deliberação de
projetos não interfere na discussão de aspectos constitucionais das normas em elaboração e de
matérias pendentes de decisão pelo Congresso Nacional, que é o caso da deliberação sobre
veto presidencial. Segundo, a matéria exige pronunciamento imediato da Comissão de
Constituição e Justiça. Destarte, a Presidência quanto ao mérito decidiu pela manutenção da
votação do requerimento de regime de urgência solicitada pelo líder da Maioria e em fase de
verificação da votação. 256
255
41ª Legislatura, sessão legislativa realizada em 14/04/1959. Publicação: DCN 15/04/1959. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface=:4::::>. Acesso em 20 nov. 2018.
256
41ª Legislatura, sessão legislativa realizada em 14/04/1959. Publicação: DCN 15/04/1959. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface=:4:::: >. Acesso em 20 nov. 2018.
109
questionando o fato de a Comissão de Constituição e Justiça não ter sido ainda instalada.
Nesse sentido, transcreve-se parte da indagação suscitada pelo parlamentar e a resposta do
Presidente da Casa, respectivamente: 257
A Comissão de Justiça ainda não tem vida regimental. Como se pode, pois, mandar
para uma comissão que não existe um projeto em regime de urgência, a fim de que
ela sobre a proposição delibere? Creio, Sr. Presidente, que uma comissão tem, na
forma do Regimento, de receber um projeto por 24 horas para mandá-lo a plenário.
Mas como pode ela fazê-lo se não tem sequer uma hora de nascida, ou se ainda não
nasceu? Como vamos mandar um projeto em regime de urgência a uma comissão ad
ovo? Como vamos mandar um projeto em regime de urgência a uma comissão que
não se instalou, que não tem existência legal? Vamos mandar, Sr. Presidente, a uma
ficção que se ocupa, delibere e se pronuncie de forma taxativa, imperativo, decisiva,
definitiva sobre a constitucionalidade de uma proposição?! Assim, acompanhando a
deliberação de V. Exª. e, como sempre, acatando-a, creio que, agora, há uma nova
questão de ordem: não pode o plenário mandar a uma comissão inexistente, com
caráter de urgência, um projeto sobre o qual não pode deliberar pelo simples fato de
não estar em estado de deliberar porque não existe. 258
257
41ª Legislatura, sessão legislativa realizada em 14/04/1959. Publicação: DCN 15/04/1959. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface=:4:::: >. Acesso em 20 nov. 2018.
258
41ª Legislatura, sessão legislativa realizada em 14/04/1959. Publicação: DCN 15/04/1959. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface=:4:::: >. Acesso em 20 nov. 2018.
259
Ressalta-se que não há publicação de qualquer manifestação da Comissão de Constituição e Justiça sobre esta
questão de ordem. Vide: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface=:4::::>. Acesso em: 20
nov. 2018.
110
se-á por aceita a emenda que for aprovada em duas discussões pela maioria absoluta da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em duas sessões legislativas ordinárias e
consecutivas. § 3º Se a emenda obtiver numa das Câmaras, em duas discussões, o voto de dois
terços dos seus membros, será logo submetida à outra; e, sendo nesta aprovada pelo mesmo
trâmite e por igual maioria, dar-se-á por aceita”. Nesse sentido, transcrevem-se a ementas das
questões de ordem suscitadas sobre a matéria, as razões do recurso e as respectivas decisões
do Presidente da Câmara dos Deputados:
Ementa recurso: Recorre da decisão sobre questão de ordem suscitada pelo orador
acerca da tramitação da Proposta de Emenda Constitucional 22, de 1955. Razões do
recurso: A Constituição Federal estabelece dois trâmites para a votação da Emenda
Constitucional: O primeiro trâmite está previsto no §2º do artigo 217, que estabelece
a aceitação da Emenda quando aprovada em duas discussões por maioria absoluta,
em cada uma das Casas do Congresso, em duas sessões legislativas ordinárias e
consecutivas; O segundo trâmite está previsto no §3º do artigo 217, que estabelece a
aceitação da Emenda quando aprovada numa das Câmaras, em duas discussões, pelo
voto de dois terços dos seus membros, e, desde logo submetida à outra, com o
mesmo trâmite e por igual maioria. No primeiro, a Emenda é votada em duas
sessões ordinárias e consecutivas. Inaplicável à espécie porque a Emenda foi votada
no Senado no penúltimo dia da sessão legislativa, não havendo tempo para a sua
111
Decisão: “Esclarece que não há efeito suspensivo de recurso contra decisão sobre
questão de ordem relativa a tramitação de proposição, fato este que colocaria a
elaboração legislativa, em dado momento, ao arbítrio de uma provocação de recurso,
a propósito de indagação do Deputado Segismundo Andrade sobre se seria
sobrestada a tramitação da Proposta de Emenda Constitucional 22, de 1955, objeto
de recurso regimental.” 261
260
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface=:2::::>.
261
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface=:2::::>.
112
5.3.6.2 O controle interno dos atos interna corporis à luz da Constituição de 1988.
262
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface=:2::::>.
263
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface=:2::::>.
264
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface>.
113
votação impugnada, houve ofensa ao arts. 48, XXIII, e 51 do Regimento Interno do Senado
Federal – RISF, haja vista que o Senador Eduardo Siqueira Campos, 2° Vice-Presidente da
Casa, que presidiu o encerramento do processo da questionada votação, dela participou e teve
o seu voto computado no resultado da votação.
Também o disposto nos artigos 52 e 53, embora nem sequer mencionados no parecer
emanado pela Comissão de Constituição e Justiça: “art. 52. Ao Primeiro Vice-Presidente
compete: I – substituir o Presidente nas suas faltas ou impedimentos; II – exercer as
atribuições estabelecidas no art. 66, § 7º, da Constituição, quando não as tenha exercido o
Presidente”. E: “art. 53. Ao Segundo Vice-Presidente compete substituir o Primeiro Vice-
Presidente nas suas faltas ou impedimentos”.
265
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface>.
114
inobservância dos referidos dispositivos regimentais, pois prevê o Regimento que o Senador
que preside ou dirige em qualquer fase os trabalhos legislativos da Mesa encontra-se
impedido de votar, sendo esta uma das garantias para assegurar a imparcialidade e o devido
processo legislativo.
Juridicamente, porém, seu pleito não parece ser aquele que melhor se coaduna com a
finalidade pública do processo legislativo. É verdade que o Regimento Interno do
Senado Federal, salvo no caso de empate, veda expressamente ao Presidente o
exercício do voto nas votações ostensivas. Silencia, contudo, em relação a uma das
situações muito comuns verificadas nas sessões do Plenário: a habitual substituição
na Presidência dos trabalhos sempre que o Senador que goza de precedência deixa o
Plenário ou nele ingressa com o intuito de participar da sessão. A qual Presidente
estaria a referir-se o Regimento? Àquele que anunciou a matéria pondo-a em
discussão, e que teria, por certo, grande influência no desenvolvimento do processo?
Àquele que deu por iniciativa a votação? Ou àquele que presidiu o encerramento da
votação, proclamando o resultado? Trata-se, sem dúvida, de uma importante questão
que esta Comissão deverá, em ocasião mais oportuna, resolver com precisão.
Levantada essa dúvida, não poderíamos neste Relatório, sob pena de manifestarmos
um juízo temerário, asseverar que nulo foi o voto dado pelo Senador Eduardo
Siqueira Campos, no exercício de seu direito inconteste, enquanto não participava da
Mesa. Raciocínio Inverso nos indica que foi absolutamente correta a atitude do
Senador Romeu Tuma de abster-se de votar enquanto presidia a sessão. Vê-se,
portanto, que não se pode afirmar com segurança, que a participação do Senador
Eduardo Siqueira Campos na votação deu-se de forma irregular [...]266
Entende-se que o Regimento Interno é claro ao dispor que o Presidente a que se refere
é o Presidente da Mesa da Sessão Legislativa, assim não estando presente o Presidente da
Casa Legislativa, responde como Presidente da sessão quem o substituir, prevendo os
Regimentos expressamente nesse sentido.
Por sua vez, verificam-se das questões de ordem n° 06/2004, e n° 270/2017, abaixo
transcritas, interpretações realizadas pelos Presidentes das Casas Legislativas conforme os
Regimentos Internos, pois, quanto à primeira, o Regimento é claro em ressalvar as hipóteses
permitidas para o destaque os projetos da Câmara dos Deputados, não sendo assim permitido
o destaque pelo Senado Federal. No que se refere à segunda questão de ordem, não se vê
qualquer objeção, pois as vagas nas Comissões são dos partidos e a distribuição é realizada de
266
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface>.
115
modo proporcional, sendo assim viável a instalação da Comissão Especial até mesmo antes da
composição das Comissões Permanentes.
Questão de Ordem n° 270/ 2017 Câmara dos Deputados Defende, com fundamento
no art. 34, § 1º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, que não se instale
Comissão Especial antes da definição das composições das Comissões Permanentes,
uma vez que cinquenta por cento dos membros das Comissões Especiais devem ser
oriundos das Comissões Permanentes que deveriam ser chamadas a opinar sobre a
matéria.
Decisão: “[...] resta claro que a intenção do legislador é que o Relator possa oferecer
individualmente emendas à PEC. Caso assim não fosse, teria expressamente feito
constar no dispositivo em questão [art. 202, § 4º, do RICD] a necessidade do
apoiamento, como o fez no § 3º”, invoca, nesse sentido, as decisões proferidas nas
Questões de Ordem n. 5513/1995 e 460/2001. 269
Questão de Ordem 318/2017 Câmara dos Deputados Informa que funcionou como
Relatora do Projeto de Lei n. 6.820/2010 (vacinação contra o vírus HPV) na
Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, quando se manifestou pela aprovação
do projeto principal e pela aprovação parcial dos projetos apensados. Afirma que a
267
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface>.
268
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface>.
269
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface>.
116
Mesa a teria orientado a apresentar um substitutivo, mas entende que isso não seria
necessário e que seu parecer é regimental.
270
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface>.
117
Decisão: “Não recebe a questão de ordem por entender que apenas está dando
cumprimento a uma decisão do Poder Judiciário.” 271
271
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface>.
272
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/buscaQordem/?wicket:interface>.
118
Questão de Ordem 422/2018 Câmara dos Deputados Solicita que o art. 11 do PLV
nº 13/2018, oferecido à MPV n. 820/2018, seja considerado como não escrito por
afronta ao art. 62 da Constituição Federal, bem como aos artigos 55, 119, § 2º, e 125
do Regimento Interno da Câmara dos Deputados - RICD.
No que se refere ao controle externo dos atos interna corporis, há ainda um grande
caminho a ser percorrido quanto aos limites que devem ser respeitados pelo Judiciário no seu
exercício, pois, ao mesmo tempo, que deve respeitar à independência e harmonia entre os
poderes, também não deve ser omisso.273
273
Sobre o tema veja-se: TRINDADE, João. Processo Legislativo Constitucional. Bahia: JusPodivm, 2017. p.
318.
119
Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior consignam que há duas
formas de controle, o preventivo e o repressivo, sendo eles exercidos por autoridades distintas
e em momentos diversos. O controle preventivo é feito administrativamente pelos
parlamentares, Comissões Legislativas (em especial a Comissão de Constituição e Justiça) e
pelo Presidente da República, ao vetar o projeto se verificada inconstitucionalidade. Em
contrapartida, o controle repressivo é exercido, em regra, quando a lei já está em vigor e pelas
autoridades judiciais. Processa-se por duas vias, são elas a difusa e a concentrada.274
274
ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 21. ed. São
Paulo: Verbatim, 2017. p. 62-64.
275
Ibidem, p. 64.
276
PADILHA, Rodrigo. Direito Constitucional. São Paulo: Método, 2018. p. 155.
120
Deveras, não há razão para a confusão entre o controle preventivo da matéria objeto
do projeto, com o desrespeito ao devido processo legislativo e aos atos internos que envolvem
esse processo. A questão que se coloca neste capítulo é exatamente esta última, se os atos
internos praticados em dissonância com os regimentos internos das Casas Legislativas são
passíveis de controle pelo poder Judiciário.
Importa ressaltar que no controle dos atos interna corporis não se está discutindo a
constitucionalidade ou legalidade da matéria que é objeto do projeto de lei, mas sim se houve
abuso no devido processo legislativo, se houve desrespeito aos atos internos, se há
inconstitucionalidade formal no processo. Assim, não há razão para que haja confusão com
relação ao cabimento de Mandado de Segurança em controle de atos internos no processo
legislativo.
Sobre a validade da norma jurídica, leciona Miguel Reale que ela deve reunir três
requisitos: (i) ser proferida por órgão competente; (ii) ter o órgão competência em razão da
matéria; (iii) e ter legitimidade o procedimento. Este último significa dizer ter sido o projeto
277
O autor reproduz a ementa do acórdão: “Ementa: Mandado de Segurança impetrado contra ato do Presidente
da Câmara dos Deputados, relativo à tramitação de emenda constitucional. Alegação de violação de diversas
normas do Regimento Interno e do art. 60, § 5°, da Constituição Federal.
Preliminar: impetração não conhecida quanto aos fundamentos regimentais, por se tratar de matéria interna
corporis que só pode encontrar solução no âmbito do poder legislativo, não sujeita a apreciação do poder
judiciário; conhecimento quanto ao fundamento constitucional.
Mérito: reapresentação, na mesma sessão legislativa, de proposta de emenda constitucional do Poder Executivo,
que modifica o sistema de previdência social, estabelece normas de transição e dá outras providências (pec 33-a,
de 1995)” (OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni de. Devido Processo Legislativo. Uma Justificativa
Democrática do Controle Jurisdicional de Constitucionalidade das Leis e do Processo Legislativo. 3. ed. Belo
Horizonte: Forum, 2016. p. 30-31).
278
OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni de. Devido Processo Legislativo. Uma Justificativa Democrática do
Controle Jurisdicional de Constitucionalidade das Leis e do Processo Legislativo. 3. ed. Belo Horizonte: Forum,
2016. p. 30.
279
Expõe Gilmar Mendes: “Tal como explicitado em acórdão de 1991, a ação direta de inconstitucionalidade
somente pode ter “como objeto juridicamente idôneo leis e atos normativos, federais e estaduais, já
promulgados, editados e publicados”. Essa orientação exclui a possibilidade de se propor ação direta de
inconstitucionalidade de caráter preventivo. Entretanto, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade
3.367, em 13 de abril de 2005, o Tribunal, por unanimidade, afastou o vício processual suscitado pela
Advocacia-Geral da União – que demandava a extinção do processo pelo fato de a norma impugnada (EC n.
45/2004) ter sido publicada após a propositura” (MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição Constitucional. 6. ed.
São Paulo: Saraiva, 2014. p. 279).
121
Floriano de Azevedo Marques, Fernando Dias Menezes e Irene Nohara sustentam que
o controle externo, segundo a Constituição, é o realizado por outro Poder, diferente daquele
que realiza o ato, integra ainda além do controle parlamentar direto e do efetuado pelo
Tribunal de Contas, o controle efetuado pelo Judiciário. Os autores identificam também como
controle externo o exercido pela população democraticamente via ação popular; consultas
públicas; audiências públicas; plebiscito, e referendo.282
De fato, entende-se ser possível o controle via mandado de segurança para resguardar
o devido processo legislativo, porém discorda-se quanto ao parlamentar ser o único
legitimado deste direito líquido e certo, pois o que está em discussão são os princípios
democráticos do Estado de Direito, é o poder de representatividade, é a garantia da legalidade
e da segurança jurídica. Destarte, o controle pode ser realizado pela população em três
momentos distintos: (i) via representação no Poder Legislativo; (ii) via representação no
Ministério Público em qualquer momento que se verifique vício no trâmite do processo
legislativo; e (iii) via mandado de segurança coletivo quando o projeto já foi aprovado pelo
Legislativo e está no prazo de veto pelo Executivo.
280
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 110.
281
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 110.
282
MARQUES NETO, Floriano de Azevedo; MENEZES DE ALMEIDA, Fernando Dias; NOHARA, Irene
̃ Paulo: Atlas, 2013. p. 1008.
Patrícia. Direito e Administraç ão Pública. Sao
283
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. São Paulo: Método, 2017. p. 69.
122
Como bem observa Derly Barreto, há três correntes doutrinárias sobre o controle dos
atos parlamentares. A primeira exclui esses atos da análise judicial, pois a Constituição adota
o princípio da separação dos poderes, conferindo ao Legislativo as atribuições políticas,
privativas e reservadas. O parlamentar tem autonomia e independência para criar e executar as
normas que regulam as suas atividades, sem qualquer interferência ou fiscalização, ainda mais
do Judiciário sem legitimidade popular para tanto.285
Por fim, observa o autor, a partir de casos práticos gerais sobre os atos interna
corporis do Poder Legislativo julgados antes e depois da Constituição de 1988, que os
precedentes se mantêm na atual jurisprudência do Supremo.287
Daí que essa discussão envolve um desafio, que é a oposição entre o político e o
jurídico e, mais, de os tribunais estarem impedidos de assumir uma atividade política
284
OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni de. Devido Processo Legislativo. Uma Justificativa Democrática do
Controle Jurisdicional de Constitucionalidade das Leis e do Processo Legislativo. 3. ed. Belo Horizonte: Forum,
2016. p. 32.
285
BARRETO, Derly e Silva Filho. Controle dos Atos Parlamentares pelo Poder Judiciário. São Paulo:
Malheiros, 2003. p. 101-102.
286
Ibidem, p. 102.
287
Ibidem, p. 103.
123
propriamente dita, que cabe exclusivamente aos órgãos políticos. Há limites para o excesso de
subjetivismo e eles são materiais, têm-se uma Constituição rígida, com limites claros
estabelecidos, se não houver limites o direito vira o que a autoridade diz que ele é. O Governo
de Juízes dando a palavra final. Ademais, gera insegurança jurídica e também arbitrariedade.
Ademais, por hipótese, uma lei aprovada com vício no processo legislativo
questionada em sede de Mandado de Segurança, porém sem o controle efetivado pelo
Judiciário, também não questionado em ação direta de inconstitucionalidade,288 poderia vir a
demandar inúmeras ações individuais, levando a uma insegurança jurídica.
288
A propositura da ação direta de inconstitucionalidade em face de lei ou ato normativo federal se restringe aos
legitimados, são eles: (i) Presidente da República; (ii) Mesa do Senado Federal; (iii) Mesa da Câmara dos
Deputados; (iv) Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; (v) o Governador
de Estado ou do Distrito Federal; (vi) o Procurador-Geral da República; (vii) o Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil; (viii) partido político com representação no Congresso Nacional; (ix) confederação
sindical ou entidade de classe de âmbito nacional (art. 103).
124
não possui legitimidade para impugná-la individualmente por meio de Ação Direta de
Inconstitucionalidade. Consequentemente, o parlamentar que quisesse obter o controle teria
duas alternativas: (i) buscar o apoio do partido; (ii) representar ao Procurador-Geral da
República.
Nesse sentido, para o controle dos atos interna corporis quando há desrespeito ao
devido processo legislativo, vício no procedimento formal estabelecido para o bom
andamento da matéria, não se aplica, evidentemente, a Súmula 266 do Supremo Tribunal
Federal, que afirma: “Não cabe mandado de segurança contra lei em tese”.
Analisa-se neste tópico o controle dos atos interna corporis no processo legislativo
anteriores e posteriores à Constituição Federal de 1988.
5.4.1.1 O controle dos atos interna corporis no processo legislativo da década de 1960
A Suprema Corte passou a ter uma posição de não interferência nos atos
exclusivamente interna corporis do Poder Legislativo, sob o argumento de que a interpretação
do Regimento Interno é competência do Poder Legislativo. Daí que as decisões exaradas nos
Recursos Extraordinários dos idos de 1960 mostram-se imunes ao controle do judiciário, pois
as divergências surgidas nos Regimentos Internos das Casas Legislativas devem permanecer
em discussão no próprio poder.
Destarte, esses atos tidos como interna corporis para o Supremo Tribunal Federal são
imunes à apreciação do Poder Judiciário, exceto se houver ofensa à Constituição. Via de regra
como ponderado acima, esse posicionamento persiste quanto aos atos gerais interna corporis
do Poder Legislativo, pois, com relação aos atos interna corporis no processo legislativo,
passa-se a caminhar para um avanço no posicionamento do Suprema Corte, para quiçá uma
segunda fase de entendimento.
126
Ação Popular. Natureza. Patrimônio público deve ser entendido em sentido amplo.
precedentes para incluir 'dinheiros públicos'. Questão 'Interna corporis'. Definição,
limites. Quando se torna judicial controvérsia. Câmara de Vereadores. Sessões.
Desdobramento para aumentar o subsidio. Ofensa aos artigos 47, da Constituição de
1946 e 35, da atual e aos princípios de Direito Parlamentar. Procedência da ação e
não provimento do Recurso.290
5.4.1.2 O controle via Mandado de Segurança dos atos interna corporis anteriores à
Constituição de 1988
Ementa do acórdão:
289
RE 60422/SP. Relator Ministro Themistocles Cavalcanti. Julgado em 29/05/1968.
290
RE 57684/SP. Relator Ministro Hermes Lima. Julgado em 27/05/1966.
291
RE 56281/SP. Relator Ministro Eloy da Rocha. Julgado em 05/05/1969.
127
Nesse sentido, o ministro registra não ser cabível o mandado de segurança para barrar
o andamento de projeto de leis com alegação de ofensa a princípios constitucional, pois para o
relator a ofensa à Constituição só ocorre após a entrada em vigor da lei no ordenamento
jurídico ou quando promulgada a Emenda, e não antes, quando ainda não foram aprovadas.
Na fase anterior à entrada em vigor da lei, o Poder Legislativo está exercitando o seu poder
referente a sua legitimidade em dar andamento ao processo de criação da lei, pois somente
existirá a legislação após a sua entrada em vigor.
Por sua vez, diversificadas são as hipóteses como esta, em que a proibição se dá no
próprio processo legislativo, com a vedação de sua apresentação como ocorre nas hipóteses,
pois, de afrontarem a Constituição sendo taxativamente vedadas tais condutas. Destarte,
compete ao Poder Judiciário, nos ordenamentos jurídicos em que o controle da
constitucionalidade lhe é concedido, vetar que se ofenda à Constituição Federal, cabendo ao
Judiciário a guarda e o controle do texto constitucional, não assistindo razão, pois, para
argumentar, a esse respeito, ofensa a independência e harmonia entre os Poderes.
292
Nesse sentido, consigna o Ministro Moreira Alves: “[...] Não admito mandado de segurança para impedir
tramitação de projeto de lei ou proposta de emenda constitucional com base na alegação de que seu conteúdo
entra em choque com algum princípio constitucional. E não admito porque, nesse caso, a violação à Constituição
só ocorrerá depois de o projeto se transformar em lei ou de a proposta de emenda vir a ser aprovada. Antes disso,
nem o Presidente da Casa do congresso, ou deste, nem a Mesa, nem o Poder Legislativo estão praticando
qualquer inconstitucionalidade, mas estão, sim, exercitando seus poderes constitucionais referentes ao
processamento da lei em geral. A inconstitucionalidade, nesse caso, não será quanto ao processo da lei ou da
emenda, mas, ao contrário, será da própria lei ou da própria emenda, razão por que só poderá ser atacada depois
da existência de uma ou de outra. Diversa, porém, são as hipóteses como a presente, em que a vedação
constitucional se dirige ao próprio processamento da lei ou da emenda, vedando a sua apresentação (como é o
caso previsto no parágrafo único do artigo 57) ou a sua deliberação (como na espécie). Aqui, a
inconstitucionalidade diz respeito ao próprio andamento do processo legislativo, e isso porque a Constituição não
quer – em face da gravidade dessas deliberações, se consumadas – que sequer se chegue à deliberação,
proibindo-a taxativamente. A inconstitucionalidade, neste caso, já existe antes de o projeto ou de a proposta se
transformarem em lei ou em emenda constitucional, porque o próprio processamento já desrespeita,
frontalmente, a Constituição. E cabe ao Poder Judiciário – nos sistemas em que o controle da constitucionalidade
lhe é outorgado – impedir que se desrespeite a Constituição. Na guarda da observância desta, está ele acima dos
demais Poderes, não havendo, pois, que falar-se, a esse respeito, em independência de Poderes” (MS 20.257/DF.
Relator Ministro Moreira Alves. Julgado em 17/09/1980).
128
5.4.1.3 O controle dos atos interna corporis no processo legislativo à luz da Constituição
Federal de 1988
Destarte, vê-se uma evolução no que se refere ao controle dos atos interna corporis no
processo legislativo, e de suas decisões, em sede de Mandado de Segurança, principalmente
no que se refere ao princípio da segurança jurídica, e a garantia de uma prestação jurisdicional
mais rápida, pois, se há vício, uma decisão futura numa possível ação que sustente a
inconstitucionalidade formal da lei gera uma insegurança jurídica sobre os atos proferidos
com base nos questionamentos suscitados.
Sustentação oral. Princípio da ampla defesa. Art. 5°, LV, da Constituição Federal.
Art. 131, par-2., do R.I.S.T.F. Suspensão de Segurança. Agravo regimental: matéria
deste. Tramitação de Emenda Constitucional. Questão “interna corporis” do Poder
Legislativo. Princípio da independência e harmonia dos Poderes. 1. A sustentação
oral e ato facultativo no processo, não absolutamente necessário a defesa. O art. 131,
par-2., do R.I.S.T.F. não permite sustentação oral em agravo regimental e não foi
293
MS 2.047/DF. Relator Ministro Francisco Rezek. Julgado em 19/12/1984.
294
MS 20811/DF. Relator: Min. Octavio Gallotti. Julgamento em 15/09/1988 Órgão Julgador: Tribunal Pleno.
Publicação DJ 14-10-1988 PP-26382 EMENT VOL-01519-01 PP-00185.
129
295
SS 327 AgR/DF. Relator Ministro Sydney Sanches. Julgado em 01/07/1991.
296
MS 22503/DF. Relator Ministro Marco Aurélio. Julgado em 08/05/1996.
130
297
ADC 3/UF. Relator Ministro Nelson Jobim. Julgado em 02/12/1999.
298
ADIN 2.666. Relatora Ministra Ellen Gracie. Julgado em 03/10/2002.
131
299
MS 24.667. Relator Ministro Carlos Velloso. Julgado em 23/04/2004.
300
ADI 3146/DF. Relator: Min. JOAQUIM BARBOSA; Julgamento: 11/05/2006. Órgão Julgador: Tribunal
Pleno. Publicação DJ 19-12-2006 PP-00035 EMENT VOL-02261-04 PP-00692.
132
Destarte, a Suprema Corte entende que a imunidade parlamentar possui dois vieses:
material (plena liberdade de opinião) e formal (improcessabilidade). Além disso, o devido
processo legal também é reconhecido como essencial à imunidade parlamentar formal.
É certo, ademais, como ensina o eminente Ministro Celso de Mello, que o instituto
da imunidade parlamentar atua, no contexto normativo delineado por nossa
Constituição, como condição e garantia de independência do Poder Legislativo, seu
real destinatário, em face dos outros poderes do Estado. Estende-se ao congressista,
embora não constitua uma prerrogativa de ordem subjetiva deste. Trata-se de
prerrogativa de caráter institucional, inerente ao Poder Legislativo, que só e
conferida ao parlamentar ‘ratione muneris’, em função do cargo e do mandato que
exerce. E por essa razão que não se reconhece ao congressista, em tema de
301
MS 32033. Relator Ministro Gilmar Mendes. Julgado em 20/06/2013.
302
MS 34099. AgR/DF Relator Ministro Luiz Fux. Julgado em 15/06/2018.
303
MS 25144 AgR/DF. Relator Ministro Gilmar Mendes. Julgado em 07/02/2018.
133
304
SL 1179/DF. Relator Ministro Dias Toffoli. Julgado em 09/10/2018.
305
MS 24667 AgR/DF. Relator Ministro Carlos Velloso. Julgado em 04/12/2003.
134
CONCLUSÃO
Conclui-se do exposto:
1) As garantias constitucionais para o exercício da função pública são para a
preservação da atividade pública sem que haja qualquer desvio ou ameaça a quem a executa.
Não se trata de privilégios, mas de direitos previstos para o cumprimento do dever de alcançar
o interesse público.
2) Embora a Constituição não preveja expressamente, dentre as prerrogativas da
função legislativa, a garantia do parlamentar ao devido processo legislativo, do texto
constitucional se extrai em diversos dispositivos e princípios constitucionais e das normas
internas do parlamento.
3) Verifica-se a garantia do parlamentar ao devido processo legislativo no princípio
democrático e da representatividade, nas prerrogativas do parlamentar e nas possibilidades da
perda do mandato dos Deputados e Senadores se o procedimento for declarado incompatível
com o decoro parlamentar. Procedimento este a ser apurado em processo administrativo.
Decorrentes da Constituição e dos Regimentos Internos, Códigos de Ética das Casas
Legislativas, e resoluções internas, estão as garantias e os deveres que decorrem do exercício
do mandato parlamentar. A integridade dessas normas é uma prerrogativa da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, que, por meio de suas Presidências, Mesas, Comissões,
Conselhos Instituídos e, em última análise o Plenário, resguardam os atos na forma
regimental, assegurando o contraditório e a ampla defesa. Evidentemente havendo qualquer
lesão ou ameaça a direito, há a garantia do princípio do juiz natural e do acesso ao judiciário.
4) Nesse sentido, os Regimentos Internos da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, bem como os Códigos de Ética e Decoro Parlamentar das Casas Legislativas,
regulam os atos incompatíveis com o decoro parlamentar e os meios de investigação e
averiguação de fatos e provas para a verificação da conduta, os recursos, e os meios inerentes
para a defesa do parlamentar, bem como verificada a conduta a forma de aplicação das
sanções e as penalidades cabíveis.
5) A Constituição estabelece que o processo legislativo compreende a elaboração de:
(i) emendas à Constituição; (ii) projetos de lei complementar; (iii) projetos de lei ordinária;
(iv) leis delegadas; (v) medidas provisórias; (vi) projetos de decreto legislativo; e (vii)
projetos de resolução. Entende-se que todas as propostas previstas no art. 59 integram o
processo legislativo.
136
306
Nesta expressão estão incluídas as leis (complementares; ordinárias), as Medidas Provisórias quando alteradas
pelo Legislativo. As matérias de competência do Legislativo, Emendas à Constituição; Decretos Legislativos e
Resoluções. Ainda não se sujeitam a sanção ou veto as medidas provisórias aprovadas pelo Legislativo sem
alterações no texto, passando a ser convertido em lei e as leis delegadas.
138
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