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aulas teóricas Administrativo

Direito Administrativo I (Universidade de Lisboa)

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DIREITO ADMINISTRATIVO II – TEÓRICAS


22/02/2022
1. Procedimento administrativo:
1.2 aspetos gerais do procedimento, que dizem respeito a toda a atividade
administrativa.
1.3 procedimentos administrativos especiais.
2. Garantias dos particulares

O que é o procedimento administrativo?:


O procedimento é um caminho para, uma via para – no agir administrativo há sempre dois
ângulos de analisar o problema: um deles é o ponto de chegada que pode ser um regulamento,
um ato administrativo, um contrato, é a manifestação de uma vontade da administração, um
querer. O outro caminho é o que leva ao ponto de chegada – o procedimento administrativo.
Juridicamente, o procedimento administrativo é o conjunto de atos, diligencias, formalidades
sucessivas que terminam com uma manifestação de vontade da administração.
O agir da administração pode ter duas perspetivas: processualista, adjetiva que é o caminho e
substancial ou material que é o ponto de chegada.

A decisão final tem de ser válida e justa, mas se o caminho que o levar para obter a decisão
final for contrário ao direito, a decisão é inválida: teoria do envenenamento das arvores (se
enveneno as arvores, os frutos estão envenenados), p.e.: um aluno foi expulso porque na
realidade tinha insultado um professor, a decisão é justa, houve um aspeto no procedimento
que é inválido: não foi dado ao aluno o dever de falar em sua defesa – ausência da chance de
defesa do aluno determinou a invalidade da decisão final, que até era justa e verdadeira
(esqueceu-se de um aspeto nuclear pelo caminho: à um vicio).

As pessoas coletivas que integram a administração têm órgãos que expressam a sua vontade.
Há direitos fundamentais de natureza procedimental e de natureza substantiva – PO: há 3
tipos de direitos fundamentais que cada um de nós tem: procedimentais, material e
contenciosa (contra a administração).

Há procedimentos declarativos de primeiro grau, isto é, a primeira decisão, p.e. o


procedimento de feitura e correção de um exame escrito é um procedimento que termina com
a entrega do exame objeto de avaliação. No entanto, pode surgir um pedido de revisão de
nota: procedimento declarativo de segundo grau.
Há procedimentos de natureza constitutiva que inovam na norma jurídica (exemplo acima) e
de natureza declarativa (pedimos certidão de cadeiras feitas, é declarativo pois vem atestado
que fizemos a cadeira A com x classificação em y ano – não acrescenta nada, limitam-se a
declarar um facto que já aconteceu).

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Há procedimentos materializados e eletrónicos ou mistos. A avaliação é um exemplo de


misto, os exames foram presenciais, mas as provas orais foram online.
Há procedimentos simples e complexos. Complexos são os que somam vários procedimentos,
p.e. licenciatura em direito tem vários procedimentos, tantos quantas as unidades curriculares.
Nem sempre os procedimentos administrativos são lineares.

Diferença do processo contencioso VS procedimento administrativo: o primeiro é uma


sucessão de atos e formalidades onde o palco são os tribunais e não as administrações – há
um processo de atos + é o conjunto de documentos materiais/digitais respeitando-se um
determinado assunto, p.e. faz parte do processo administrativo de cada um de nós o conjunto
de cadeiras realizadas por cada um de nós. Artigo 1.º/2 CPA.

Função do procedimento:
Há duas grandes funções:
• Função jurídico-política: limita a discricionariedade, limita a margem de autonomia
do decisor, eu para decidir tenho de percorrer um caminho que passa a ser balizado
por regras jurídicas que são os procedimentos.
• Função legitimadora: os limites provêm da lei, eu estou limitado a fazer aquilo que a
lei exige que eu faça para chegar à decisão final. Os particulares têm previsibilidade
da minha conduta pois a lei diz o que eu tenho de fazer, se não o fizer estarei a violar
a legalidade e será inválido.
• Função de natureza jurídico-dogmática: local de exercício de direitos fundamentais. A
administração tem de respeitar os direitos fundamentais dos interessados. São
fundamentais pela carta da EU – direito da união europeia.

O procedimento é o local para se realizarem todas as ponderações.


Momento em que se determina a matéria de facto, quais são os elementos de realidade que
alicerçam a decisão. Elementos de facto são relevantes para a decisão.
Nota 1: há procedimentos administrativos que visam a defesa do interesse publico, p.e.
procedimentos de natureza tributária, há procedimentos que visam natureza privada, p.e.
licença de habitação, ou de procedimentos mistos, p.e. concurso para professor da
universidade.
Nota 2: há dois tipos de atuação administrativa que escapam ao procedimento – atuação
administrativa em estado de necessidade administrativa (3.º/2 CPA), importância da decisão
em relação às regras procedimentais.
Por vezes a administração tem uma atuação informal que não é contra a lei, mas não vai de
acordo com a lei: é válida nos espaços vazios da lei.

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Aspetos dogmáticos
Qual é o fundamento constitucional:
• Importância do direito da união europeia (carta dos direitos fundamentais) e da
convenção europeia dos direitos do homem – os nossos direitos fundamentais são
complementados pelo direito da união europeia e convenção europeia dos direitos do
homem.
• 267.º/2 CRP a constituição impõe a existência de uma lei do procedimento
administrativo, fundamentalmente porque a existência de procedimento garante
racionalização decisória e porque há uma garantia do procedimento equitativo
(principio da justiça).
• A matéria é reserva de lei (165.º CRP), não é possível revogar em termos simples o
código do procedimento administrativo deixando de ter em regulamentação o
procedimento administrativo pois será um retrocesso. A revogação pura e simples
seria inconstitucional.

Fontes das normas procedimentais:


• Constituição;
• Leis especiais/avulsas;
• Normas internas (usos, costumes);
• Normas de natureza regulamentar (20.º/3, 22.º e 23.º CPA);
• Por via contratual (57.º e 78.º/1 CPA).
• Ato administrativo (78.º/3 CPA).

À contrario 56.º CPA: nem todas as normas do procedimento (do CPA) têm natureza
injuntiva, ou seja, há normas do CPA que têm natureza dispositiva.
Há normas extrajurídicas que têm funções administrativas, p.e. normas técnicas – calculo da
média da licenciatura.
Princípios de interpretação das normas procedimentais:
• Principio da proibição do formalismo excessivo, as formalidades não existem por
elas próprias, estão sempre ao serviço de um fim, propósito (8.º e 108.º/2 CPA).
• Principio pro-acione, a favor da ação, a favor da prevalência da decisão de mérito,
decisão sobre o conteúdo. Na duvida deve optar-se pela fundação que viabilize uma
solução sobre a questão (108.º e 109.º CPA).
• Principio da economia processual, não deve ser exigido nem pedido atos/diligencias
ou formalidades inúteis (60.º/2 CPA).
• Principio da segurança e da tutela da confiança, a interpretação das normas deve ser
feita a favor da segurança e confiança.
• Principio do procedimento justo/equitativo ou do devido procedimento legal (41.º/1
da carta dos direitos fundamentais do direito da união europeia).

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Natureza das normas procedimentais:


Injuntivas
• Nem todas têm igual força jurídica, nem todas as normas imperativas têm o mesmo
grau de imperatividade.
Dispositivas.

Problema: 163.º/5 CPA diz que há casos em que os atos são anuláveis, mas afinal não
produzem efeito anulatório – são inválidos, mas devem ser tratados como se fossem válidos.
A invalidade é transformada em mera irregularidade. Nestes casos, a imperatividade é
mínima.
O grau de imperatividade é variável consoante o desvalor jurídico.

Destinatários das normas procedimentais (CPA):


Administração, tribunais e cada um de nós como cidadãos. Há normas que são
verdadeiramente normas de difícil interpretação – 168.º/7 CPA (ler e ver se é clara e fácil de
interpretar).

24/02/2022
Importância da decisão concreta como parâmetro normativo de conduta:
Importância do precedente administrativo e a sua força vinculante à luz do principio da
igualdade e imparcialidade: se eu decidir um primeiro caso numa determinada maneira, isto
é, no espaço de discricionariedade na margem de autonomia decisória, optei pela decisão X
isso significa que amanhã um novo pedido em igualdade de circunstancias deve ser dividida
em termos idênticos.
Importância da autovinculação do seu autor que assume que decide o caso concreto,
exercendo a sua discricionariedade num determinado sentido – alicerça-se no principio da
igualdade e imparcialidade.
Se isto fosse sempre sem exceção, o precedente tornar-se-ia numa forma de petrificar a ação
administrativa e sabemos que por outro lado está o principio da melhor prossecução do
interesse publico. Significa que o precedente pode ter evolução e modificar-se – não há
norma especifica que trate desta matéria, mas a propósito do dever de fundamentação, artigo
152.º/1, d) CPA – devem ser fundamentadas as decisões que decidam de modo diferente da
prática habitualmente seguida na resolução de casos semelhantes, ou na aplicação dos
mesmos princípios.
• Dever fundamental as razoes pelas quais me afasto da pratica normalmente seguida.
• Através da fundamentação eu posso descortinar se há razoes de interesse publico ou
se há razoes de interesse publico ou se noutro caso eu estou a violar a tutela do
interesse publico.

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Nota 3: É mais difícil a administração afastar o precedente do que revogar um regulamento


• Um regulamento pode ser afastado pela regulação de um novo regulamento com
sentido contrário. O precedente é mais difícil porque tenho de fundamentar.
Nota 4: os atos anuláveis, se não são destruídos dentro de determinado prazo consolidam-se
na ordem jurídica. o precedente invalido significa que há uma lei que diz que a solução é x e
há um precedente que diz que a solução é y – a invalidade do precedente esta na circunstancia
da solução y adotada contrário a solução x – o precedente é inválido (anulável): problema
jurídico que se coloca: se este precedente se consolidou na ordem jurídica, não pode ser
anulado, temos agora duas pautas de conduta – a x da lei que não foi revogada pelo
precedente e a y para o caso concreto que apesar de ser ilegal se consolidou na ordem
jurídica.
→ Poderei eu que estou numa situação idêntica ao destinatário do precedente y invocar a
seu favor um direito à igualdade na ilegalidade? A administração perante um pedido de
solução idêntica em nome da igualdade, pode dizer que não tem direito porque vou aplicar a
solução x da lei? – conflito entre dois princípios constitucionais: principio da legalidade e da
igualdade.
Haverá direito à igualdade na legalidade? Maioria da doutrina diz que não. PO diz que
não é correto, à luz da CRP não podemos dizer que o principio da igualdade é inferior ao
principio da legalidade, ambos são princípios constitucionais. O principio da igualdade pode
alicerçar um direito fundamental.

Âmbito de aplicação do CPA


Aplicação subjetiva, quem está vinculado a aplicar este – artigo 2.º CPA. 3 ideias:
• Todas as entidades publicas da administração estão vinculadas a aplicar o CPA.
• Estão vinculadas a aplica o CPA as autoridades que não fazem parte da administração,
mas que praticam atos que desenvolvem uma atividade regulada pelo DA (p.e. AR
quando contrata funcionários para a biblioteca da AR).
• Entidades privadas quando exercem poderes públicos.

O CPA é aplicável a todas as matérias? Artigo 2.º CPA:


→ Nem todo o CPA é aplicado do mesmo modo a toda a atividade administrativa. Então
como se sabe? Os princípios gerais da atividade administrativa e as normas do código que
concretizam a constituição são aplicáveis a toda a atividade administrativa, mesmo a
atividade técnica ou de gestão privada, mesmo quando a administração aplica o direito
privado, deve respeitar os princípios gerais.
Exceção: artigos 20.º a 52.º CPA: só se aplicam aos órgãos da administração publica.

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Aplicação subsidiária:
→ artigo 2.º/5 quando nas leis especiais que tem procedimentos especiais não há normas a
regular certa matéria, a solução deve encontrar-se no CPA – este é legislação subsidiária de
todos os procedimentos administrativos especiais seja civil quer seja militar.
→ E se a matéria não está regulada no CPA? Principio da aplicação subsidiaria do
regulamento da AR. Funcionamento da órgãos colegiais, quando não há soluções nas leis
administrativas aplica-se subsidiariamente o regime da AR.

Aplicação no tempo do CPA, levanta problemas pois há uma norma, artigo 8.º/1 do DL que
aprova o CPA fixa regras de aplicação temporal, mas não regras transitórias.
Aplicam-se aos procedimentos administrativos iniciados após a sua entrada em vigor, mas há
situações de exceção continuada, atos praticados antes de 2015 que prolongam a sua vida até
hoje – aplicam-se as regras de aplicação do tempo no CC.
Será que um ato praticado em 2003 que é nulo pode ser convertido pelo CPA de 2015?
Aparentemente sim porque a conversão é um procedimento a ocorrer depois de 2015, mas
esta produz efeitos retroativos – recuam a 2003, mas neste ano não era possível a conversão.
Nota 5: não há no código normas sobre a regulação de situações administrativas
transnacionais, de aplicação territorial no CPA, há apenas afloramento no artigo 116.º/4

Princípios do procedimento administrativo:


Princípios que regulam o procedimento e princípios que regulam a atividade, isto é,
princípios que regulam o caminho e princípios que regulam o ponto de chegada – materiais
(respetivamente).

Princípios que regulam o procedimento:


• Princípios regra que são aplicáveis a todo o procedimento
→ Principio do justo procedimento/procedimento equitativo: principio de base
anglo-saxónica, artigo 6.º da convenção europeia dos direitos do homem,
pensado para os processos jurídicos mas que a jurisprudência foi alargando
aos procedimentos administrativos. Artigo 41.º da carta dos direitos
fundamentais da UE diz-nos que o principio do procedimento equitativo se
subjetivou, isto é, tornou-se num direito fundamental – alargamento a toda a
população administrativa. Tem fundamento no principio da justiça (266.º/2
CRP). A violação deste principio gera invalidade da decisão final e
responsabilidade civil para a administração. A CRP desde 1976 que tem
diversos aprofundamentos deste principio, não há formulação unitária, mas
vários exemplos do justo procedimento:

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 Ninguém pode ser objeto de um ato desfavorável, seja sancionatório


seja a imposição de deveres, sem que lhe seja dado anteriormente o
direito a se defender.
 Acesso dos interessados aos documentos, à instrução, às provas, é
fundamental. Não posso participar num procedimento se não tenho
conhecimento, por exemplo, daquilo que sou acusado.
 Acesso a poder acompanhar-me de um advogado.
 A decisão final tem de ser uma que garanta o respeito pela igualdade e
imparcialidade: regras de impedimento são fundamentais para garantir
procedimento equitativo.
 Exige fundamentação das decisões pois esta é uma das melhores vias
para impedir o arbítrio.
 Exige prazo razoável de decisão, se não houver, a decisão pode ser
certa, mas uma decisão certa tardia pode ser injusta – pressupõe
razoabilidade.
 Publicidade das decisões, elemento fundamental de um procedimento
equitativo, pois a decisão por vezes, se é certo que tem determinado
destinatário, pode suceder que essa tenha impacto em relação a outros
(no presente ou futuro).
 Impõe acesso à justiça administrativa, se eu sei que fui lesado, objeto
de conduta inválida, o procedimento só é equitativo se eu puder levar
aquela decisão a tribunal para este decidir quem tem razão.
o Nem sempre a violação de algum destes exemplos gere a
nulidade – solução do artigo 161.º/2, d) CPA.

→ Principio da adequação procedimental: 56.º CPA – adaptabilidade e


flexibilidade das normas do procedimento + atuação exige participação,
eficiência, economicidade, celeridade + o erro no procedimento gera
invalidade da decisão.

→ Principio do inquisitório: a administração publica pode tomar a iniciativa de


desencadear o procedimento, de recolher provas, de averiguar, inquirir ao
contrários dos tribunais (principio do dispositivo). Nem sempre é fácil saber
até onde é que vai o inquisitório e onde para o dispositivo. Regra: principio do
inquisitório domina a atuação administrativa – artigo 58.º CPA + 13.º/3 CPA.

• Principio exceção, sai “fora do catálogo” – principio do estado de necessidade


administrativa que torna justificável aquilo que normalmente seria inválido.
(CONTINUAÇÃO)

03/03/2022
Principio do inquisitório

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A factualidade é essencial para a aplicação do direito, mas esta tem de ser apurada. Como?
Através da atividade instrutória o principio do inquisitivo tem como propósito apurar os
factos/realidade.
Papel da administração: não está exclusivamente dependente da informação que lhe chega,
podendo desencadear mecanismos para apurar a factualidade.
Um vicio na instrução/apuramento dos factos contamina a decisão final – erro nos
pressupostos de facto: falsa representação da realidade – importância da prova, procedimento
administrativo em matéria de prova. Demonstração da realidade factual.
Artigo 115.º - são admitidos todos os meios de prova. Se um meio de prova é ilícito, a
decisão é inválida.
A administração pode ela solicitar aos interessados a prova – 117º e os administrados têm
muitas vezes um ónus (116º).
Livre convicção do decisor: liberdade provatória, liberdade de apreciar a prova. Ponderação
dos respetivos factos.
Há uma verdade procedimental e uma verdade real, que nem sempre são coincidentes:
posso não conseguir provar determinado facto que ocorreu, extrai-se um determinado sentido
no procedimento que não corresponde à real – o trânsito em julgado pode tornar verdade uma
mentira.

Estado preventivo: procura antecipar riscos, toma medidas preventivas (p.e. risco de
pandemia e a utilização de máscara). Pode ter problemas em sede de prova, p.e. pode circular
a ideia de que o consumo de determinado alimento pode ter efeitos prejudiciais à saúde, a
administração não deve esperar que comecem a morrer pessoas para agir, terá de agir
antecipadamente suspendendo a comercialização do alimento, mesmo que por vezes nem
existem provas, terá de ser o produtor dos alimentos a provar que afinal o alimento não
produz aqueles efeitos – não fundada em provas, ou fundada em provas insuficientes.
Duvida cientifica ou divergência técnico-científica: p.e. vacinação nas crianças contra covid,
há médicos que dizem que sim e outros dizem que não, não há certezas, mas divergências.
Problema: como é que devem agir? Há estudos suficientes que justifiquem a vacinação? Até
que ponto esta se deve tornar obrigatória?
Nota 6: se as medidas adotadas causam dano a alguém e este é injustificado coloca-se um
problema de responsabilidade civil – a RC do estado é normalmente a responsabilidade civil
de todos nós.

Principio da colaboração
Colaboração entre os particulares e a administração – artigo 11.º
Colaboração dos particulares perante a administração:
• dever de legalidade (devo colaborar solicitando dentro da legalidade);

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• dever de veracidade (na busca da verdade);


• dever de eficiência (não devo requerer, solicitar
Colaboração entre órgãos da administração (66.º): justifica que a PJ solicite informações de
agentes da autoridade tributária. Pode ser interna ou atravessada por fronteiras.

Principio pela preferência pela utilização de meios eletrónicos


Artigo 61.º/1 e é reforçado da sequencia da pandemia.

Principio da participação dos interessados


Consagrado no 267.º/5 da CRP – imperativo constitucional. Expressão do modelo de
administração democrática e a expressão de cada um de nós ser tratado como cidadão
administrativo. Pode ser individual ou coletiva. A participação é um mecanismo de
colaboração. 11.º CPA.
Pode ser um ónus do interessado em sede de prova – 116.º, 117.º e 119.º CPA.
Pode ter como expressão um direito obrigatório – tenho de ser ouvido previamente se contra
mim há uma proposta de decisão que pode ser prejudicial – 100.º, 121.º e 125.º

Principio da boa administração


Tem dimensão procedimental, boa administração no caminho e na decisão final – boa
administração procedimental e substantiva.
Boa administração em sede procedimental: a carta dos direitos fundamentais da EU (41.º),
eleva o principio do direito fundamental à boa administração.
Boa administração exige:
• Não democrática
• Eficiência – ótima utilização de bens, maximização de resultados.
• Economicidade – obter o máximo com o mínimo de custos.
• Celeridade: rapidez na decisão.
• Proximidade dos serviços às populações.
A boa administração justifica a adequação procedimental, exige ponderação dos interesses
(todos, vertente positiva do principio da imparcialidade), exige ponderação de interesses em
relação à invalidade (163.º/5 CPA), exige a realização de conferencias procedimentais (77.º a
81.º CPA).
Há procedimentos que envolvem a intervenção de diversas autoridades.

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Principio da decisão
13.º/1 CPA – toda a pretensão tem de ter sempre uma decisão, devido à ideia de respeito
pelos cidadãos.
268.º/6 CRP + 52.º CRP: há fundamento constitucional para este principio.
Se todos os pedidos têm sempre de ter uma decisão, não há direito a uma decisão favorável, o
direito à decisão não significa decisão favorável. Quando é que o direito à decisão significa
decisão favorável? Quando estamos perante um direito subjetivo.

Como pode terminar o direito a uma decisão? Decisão favorável quando tenho direito
subjetivo, quando não tenho, pode haver uma situação de indeferimento, de rejeição liminar
(108.º/3 e 109.º/1 CPA), a decisão da administração pode solicitar aperfeiçoamento (108.º/1
CPA).
Se quem tem competência é A, mas eu peço a B, a decisão pode ser informar que o pedido foi
enviado ao órgão competente – 108.º/1 e 109.º/2.
Pode acontecer que a administração não tenha o dever de decidir – casos do artigo 13.º/2
CPA.

Principio do caso decidido/julgado administrativo


Será que as decisões administrativas que põem termo ao procedimento são modificadas?
Obtida uma decisão seja positiva ou negativa, rejeição liminar, essa decisão é imodificável?
Está em causa dois princípios: segurança e prossecução do interesse público – o que deve
prevalecer? Complexa por duas razões:
1. O caso decidido administrativo pode ter a ver com o caminho (procedimento) pu com
o conteúdo da decisão final – caso julgado formal ou procedimental e material ou
substantivo.
2. Qual o critério para encontrar uma solução? Os direitos que a administração atribui
aos particulares são livremente revogáveis ou não? PO: situações quando a situação
de facto é variável (não há caso julgado) e as situações em que os factos são
invariáveis (há caso julgado).
‫ ٭‬Ex.: está em causa a autorização para a comercialização de medicamentos –
atribui direito, mas pode acontecer que amanhã se verifique que os efeitos
secundários são superiores aos efeitos diretos – a base factual é variável: a
autorização administração não pode continuar.

Principio da administração aberta


Transparência administrativa – 17.º/1 CPA
Principio da natureza gratuita do procedimento – artigo 15.º/1 CPA

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Obrigatoriedade do uso da língua portuguesa – 54.º CPA


Principio da cooperação leal com a união europeia – 19.º CPA

08/03/2022
Até agora falámos de princípios regras.

Principio exceção do procedimento: só ocorre em determinadas circunstâncias:


estado de necessidade:
Justifica o afastar das regras, dos princípios que normalmente seriam aplicados. Tanto
justifica o afastar dos princípios que pautam o caminho – o procedimento – como
justifica/habilita a preterição de normas referentes ao conteúdo da decisão. É um principio
geral de todo o direito
Pressupostos (3.º/2 CPA) – têm de se verificar todos:
• Existência de circunstancias de facto extraordinárias: factos anormais, circunstancias
factuais extraordinárias (p.e. pandemia, terramoto, tsunami, guerra). Podem ser
alheias à vontade humana ou geradas pela vontade humana (p.e. tentativa de golpe de
estado).
• Ameaça ou efetivo perigo ou de dano a bens essenciais: ligação aos factos
extraordinários que comportam perigo ou ameaça a bens essenciais.
• Indispensabilidade: urgência da intervenção administrativa. Não são aviáveis, são
ações administrativas inadiáveis.
• (esta urgência leva a uma) Intervenção administrativa com preterição (afastar) das
regras procedimentais.

Juízo de ponderação: tenho de ponderar se os bens que tenho de salvar são ou não primordiais
relativamente ao cumprimento das normas jurídicas
Prognose: projetado para o futuro: se cumprir as regras normais, vai ou não ocorrer um dano?
(p.e. se as pessoas não fizerem quarentena estando infetadas, é provável existir uma
propagação da pandemia).
Juízo de adequação: proporcionalidade em termos de atuação entre as medidas e os fins –
respeito pelo principio da proporcionalidade.

Estado de necessidade:
• procedimental – quanto ao caminho para a decisão.
• Administrativo – quanto ao conteúdo da decisão.
Torna válido o que normalmente seria inválido e torna licito o que normalmente seria ilícito.

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O estado de necessidade administrativo pode ser acompanhado de estado de necessidade


constitucional. Resta saber se em EN administrativa o governo pode invadir a área de reserva
legislativa do parlamento – não, artigo 19.º veda que isso ocorra mesmo em estado de
emergência e estado de necessidade constitucional.

O estado de necessidade pode permitir atuações que normalmente estariam feridas de vícios
de forma - preterição de formalidades. Pode permitir que um órgão incompetente possa a
título extraordinário praticar atos fora da sua competência - o estado de necessidade
administrativa pode justificar situações de. Justifica a prática de atos que em circunstâncias
normais seriam anuláveis. E poderá justificar a pratica de atos que em circunstâncias normais
seriam nulos.

Limites, até onde se pode ir:


• Procedimento equitativo
• Princípios gerais da atividade administrativa: não pode justificar a violação do
principio da igualdade, imparcialidade, boa-fé, prossecução do interesse publico.
• As normas que concretizam estes princípios e que resultam dessas normas do CPA.

Principio da proporcionalidade ilumina até onde a administração pode ir + a atuação em EN


está sujeita a controlo pelos tribunais.

Natureza, o que é o estado de necessidade administrativo?


Principio geral de direito cuja origem está no direito romano – a necessidade é o bem
supremo da republica (Cícero).
Será que em estado de necessidade há violação/exceção ao principio da legalidade? Não, não
é exceção ao principio da legalidade, mas uma legalidade excecional para circunstancias de
factos extraordinários.
Todo o direito tem sempre duas faces: há uma parte que regula as situações jurídicas em
tempos de normalidade e um outro lado que é a legalidade.

princípios materiais da atividade administrativa


Principio da legalidade: fundamento, limite, fim do agir da administração. Toda a atuação
está sujeita a este principio. Três ideias:
• Legalidade significa precedência de lei: a administração só pode agir quando há e até
onde existe lei – se a lei não permite/na ausência de lei, a administração não pode
agir. Lei = fonte de direito.
• Reserva de lei: há matérias que só a lei pode disciplinar sob pena de usurpação de
poderes, a administração não se pode substituir ao legislador.

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• Agir sem/contra a lei: atuação administrativa inválida. Reflexos:


→ Quando age em sentido contrário à lei a sua atuação é inválida: inexistente,
nula ou anulável - em certos casos meramente irregular.
→ Gera efeitos sobre aquele que agiu que podem ir de acordo com a
responsabilidade civil, criminal, disciplinar, financeira.

Principio da prossecução do interesse publico: fundamento do agir da administração.


• A administração deve, em cada caso, prosseguir o interesse publico concreto que
justificou a sua atuação nos termos da lei – cada agir da administração tem um fim
fixado pela lei, se prossegue um fim diferente, mesmo que seja de interesse publico,
haverá um vicio de desvio de poder e o ato é inválido.
• A administração ao agir não pode prosseguir fins de natureza privada (dolosamente),
se o fizer, haverá desvio de poder agravado com crime de corrupção.

Principio do respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos:


• Se alguém tem direito subjetivo tem o poder de exigir decisão favorável pelo que a
administração tem um poder vinculado de conceder uma decisão favorável.
• Se tem mero interesse legitimo não tem poder de exigir decisão favorável, mas tem
poder de exigir que a administração respeite a legalidade ao apreciar
discricionariamente o pedido.

Principio da igualdade:
• igualdade não é apenas formal de todos perante a lei, mas é ainda a igualdade em
termos materiais ou substantivos.
• Igualdade VS legalidade: haverá direito à igualdade na legalidade? A CRP estabelece
em pé de igualdade estes princípios.

Principio da proporcionalidade: proibição do excesso.


• Só é possível tomar medidas lesivas na justa medida em que as mesmas se justificam.
• Principio da adequação: os meios têm de ser idóneos relativamente aos fins (têm de
ser os meios aptos a prosseguir o fim que em causa se refere).
• Ideia da razoabilidade: ideia do balanço custos-vantagens.
• Ideia da proporcionalidade: máximo de vantagens com os mínimos custos e de
sacrifício.

Principio da imparcialidade:
• Vertente negativa: distância entre quem decide e os interesses da decisão ou
destinatários da decisão.

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• Vertente positiva: todos os interesses relevantes devem ser ponderados e tomados em


conta na decisão administrativa. Um défice de ponderação leva a invalidade da
decisão.

Principio da boa-fé: diversas manifestações.


• Em sentido próprio como conduta ética, subjetiva ou objetiva da atuação da
administração ou ligada à tutela da confiança.
• Proibição do abuso do direito e fraude à lei.

Principio da justiça: fundamento para regras inerentes ao procedimento equitativo, mas


também na decisão final – tem de ser uma decisão justa (p.e. instituição de ensino superior,
há uns anos, havia situação de fome nos alunos pois não tinham meios de subsistência, e essa
instituição contratou uma banda para dar um concerto).

Principio da responsabilidade civil:


• O que está em causa? Um principio geral do direito segundo o qual quem causa um
dano deve reparar o dano causado. Na impossibilidade da reconstituição, deverá fazê-
lo através de uma indemnização (compensação).
• Responsabilidade dos poderes públicos é de todos nós: o estado só pode satisfazer os
seus compromissos financeiros através de impostos ou empréstimos (que nós
pagamos). A responsabilidade civil das entidades publicas coloca a questão de saber
se a responsabilidade é publica ou do titular do órgão – se não há dano não há
responsabilidade.
• Ideia da responsabilidade do estado tem origem no século XIII no reinado de D.
Afonso II.
• Equaciona um equilíbrio entre a igualdade de todos perante a lei e a existência de
sacrifícios especiais a alguém: responsabilidade civil contratual – vinculo jurídico
bilateral – e responsabilidade civil extracontratual – pode ter três fontes: facto ilícito,
facto licito ou pelo risco.

princípios gerais sem expressa consagração constitucional


Principio da proibição do arbítrio: aliado com o principio da igualdade. Há violação do
principio do arbítrio sem haver violação do principio de igualdade (p.e. prof resolve chumbar
toda a gente de óculos). Há violação quando estamos perante violações grosseiras ou
extensivas da juridicidade – ideia de justiça, direito. Pode ser fruto do legislador, ou de uma
própria atuação da administração. Há arbitrariedade quando considerações alheias à letra ou
ao fim da lei justificam a atuação administrativa. Pode existir violação do arbítrio quando as
decisões são sem coerência, absurdas.

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10/03/2022
Princípio da concorrência: origem na economia e está ligado à ideia de liberdade de
exercício de uma atividade e não discriminação. Não se identifica com o principio da
igualdade. Ampla relevância no âmbito do direito da união europeia.
Nota 7: algumas das regras de direito administrativo são comuns a todos os estados-membros
(ex.: contratação publica) – favorecimento da concorrência.,
Qual é a razão de ser? Sempre que há intervenção administrativa, sempre que age para
atribuir vantagens e essas são relativas a um recurso escasso (que não permite satisfação dos
interesses e necessidades) coloca-se um problema de concorrência – administração deve
realizar um procedimento concursal; entre todos os interessados, quem merece ter acesso a
esse bem escasso? Ex.: candidaturas ao ensino superior – nem todos os interessados podem
entrar no curso que pretende: abre-se um procedimento concursal – para que todos, em
igualdade de circunstancias, se possam apresentar para processo de seleção. Regras a que está
sujeito:
• Procedimento concursal é aberto e em condições de igualdade de condições face a
todos os concorrentes.
• Igualdade de oportunidades: não significa igualdade de mérito, mas igualdade de
oportunidades pois que devem ser concedidas as mesmas chances.
Base: valor da igualdade, justiça e imparcialidade. Se algum deles são melindrado há
violação do principio de concorrência.
Regras estruturantes:
• Publicidade e transparência das condutas: todos têm de saber o mesmo pelo que a
informação que a administração der, deve ser transmitida.
• Proibição de obstáculos à livre concorrência.
• Proibição de favorecimento indevido.
• Avaliação com base em concorrência pelo mérito.

Principio da ponderação: metodologia de decisão e para o conteúdo dessa decisão (para o


resultado final). Há que articular/conjugar princípios, regras, bens, interesses, valores
conflituantes – esta conflitualidade é, hoje, muito evidente por:
• Constituição é compromissória.
• Pluralidade de fontes internas de direito administrativo.
• Contributo do direito internacional e da união europeia.

Pode dar origem a três vicissitudes:


• Recusa de ponderação: não faz ponderação violando a vertente positiva do principio
da parcialidade. Não ponho na balança interesses relevantes para a decisão.
• Omissão da ponderação: pondero, mas não tomo em consideração todos os que devia.

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• Erro na ponderação: tomei em ponderação A quando devia ter tomado o interesse B,


dei mais relevância ao A quando devia ter dado mais relevância ao B.

Causa invalidade da atuação administrativa.

Principio da atendibilidade: tomar em consideração a situação factual. O que está em causa:


cada um de nós, para aplicar o direito, temos de ter a certeza sobre os factos – estes são
relevantes. A administração deve atender à situação factual, não podendo decidir ser ter
apurado os factos (apura através do principio do inquisitório, da recolha dos meios de prova).
• Factualidade resulta da prova efetuada.
• As circunstancias que estão na base da decisão, legitimam ou não essa decisão.
• Importância da evolução da factualidade – alteração das circunstancias factuais que
pode levar à cessação ou modificação dos efeitos do ato jurídico.
• É a factualidade que permite saber se há ou não arbítrio (ex.: exigir para a contratação
de alguém ter 1.70m para lecionar direito).
• A falsa representação dos factos leva ao erro – o precedente depende dos factos.
• Pode ter representação ao nível da proporcionalidade.

Principio da sustentabilidade: 1.º-A/1 código dos contratos públicos. A administração, hoje,


quando decide, tem de ter em consideração a projeção previsível do impacto que a sua
decisão vai ter no futuro – há juízo de prognose.

Principio da precaução: sociedade de risco. A administração deve agir preventivamente: se


há risco de propagação da pandemia, então deve manter-se a mascara nos espaços fechados.
Antecipação dos riscos. Importância da segurança que proíbe a omissão. Criação de uma
administração de natureza cautelar. Ex.: quando os professores dizem aos alunos para
começar já a estudarem porque a matéria vai avançar rapidamente.
A prova, muitas vezes, é meramente indiciária. Pode levantar questões de responsabilidade
civil pois o estado pode ser acusado de negligencias pelas empresas afetadas, pela sociedade
civil – responsabilidade institucional ou pessoal (de quem devia e não fez ou fez e não devia).

Principio material da boa administração: boa administração no caminho e ponto de


chegada (melhor solução)

Principio da moralidade administrativa: procura dar dimensão ética ao exercício das


funções publicas. Proibição de condutas ofensivas aos bons costumes e a vinculação a valores
de honestidade.
Ex.: fraude à lei, excesso de mordomias dos titulares nos poderes, traição administrativa
(colocação de radares para captar o excesso de velocidade sem aviso prévio), realização de
despesas inúteis ou voluptuárias.

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Principio material do estado de necessidade administrativa: necessidade administrativa


para justificar o conteúdo da decisão legal. Questão de saber se é admissível a prática de atos
anuláveis ou de atos nulos em determinadas circunstancias.

Formas de atuação da administração


A atividade administrativa é voluntária, mas nem todos os efeitos jurídicos que envolvem a
administração assentam em condutas voluntárias, p.e. decurso do tempo – pode extinguir ou
criar situações jurídicas que são independentes da vontade da administração – factos
objetivos.
A conduta administrativa tanto pode ser vista por ação como por omissão.
A vontade da administração está sempre dependente da sua exteriorização: só sabemos a
vontade quando há exteriorização dessa vontade: de uma vontade expressa pode extrair-se
vontades implícitas (atos expressos e atos implícitos).
As decisões administrativas podem ter como destinatário uma ou várias pessoas determinadas
ou determináveis – atos não normativos. Se o destinatário é uma pluralidade indeterminável
de pessoas, então estamos perante um ato normativo. Pode acontecer que o ato tenha natureza
mista – ex.: resolução do BP que foi aplicada ao BES que determinou a dissolução do BES e
criação de um novo banco – destinatário determinado (BES), mas produz efeitos a uma
pluralidade indeterminada de pessoas (todos os que foram lesados).
Nem sempre a vontade administrativa é suficiente para produzir efeitos jurídicos, isto é, há
casos em que a vontade da administração depende da conjugação de uma outra vontade, p.e.
quando se celebra um contrato: conjugação da vontade da administração e do co-contratante.
Há casos em que a eficácia da vontade da administração depende da aceitação do particular.
Nem toda a atuação administrativa é uma atuação jurídica: pode acontecer que a atuação
administrativa seja de natureza técnica ou material (dar uma aula, numa universidade
publica).

Formas de atividade administrativa


Atos jurídicos: regidos pelo direito publico e atos regidos pelo direito privado.
Atos não jurídicos
há situações de inercia/omissão administrativa:
há condutas administrativas de facto: podem ter relevância, mas também há condutas
administrativas juridicamente irrelevantes ou indiferentes (p.e. palavras de circunstancia num
ato oficial)

10/03/2022
Atividade jurídica e não jurídica da administração:

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• Atividade jurídica pública.


• Atividade jurídico-privada: regulada pelo Direito Privado.

Atividade jurídico-publica da administração


Quais as formas de agir da administração regidas pelo direito publico?
Aquelas que reúnem dois requisitos:
• Produção de atos jurídicos: manifestações de vontade, ciência. Podem ser:
→ Simples/não negociais – há vontade de conduta, de agir, mas os efeitos estão
pré-determinados por lei.
→ atos intencionais e negócios jurídicos – há vontade de estipular os efeitos.
Quando um ato é vinculado quanto aos efeitos assume natureza não negocial. Pelo contrário,
os atos em que a administração pode escolher se quer o efeito X ou Y são atos intencionais ou
vontade de conduta ou atos de natureza negocial.
→ Externos: quando ultrapassa a fronteira da administração, p.e. o que relaciona
a administração com um particular.
→ Internos: esgotam os seus efeitos dentro das fronteiras da administração no
interior da administração. Podem ser intrasubjetivos – no interior da mesma
pessoa coletiva VS intersubjetivos – entre entidades publicas (ex.: tutela,
superintendência entre X e Y).

• Regulados pelo direito público. Formas de expressão:


→ Regulamento
→ Ato administrativo
→ Meras declarações negociais
→ Contratos administrativos
→ Convénios administrativos
→ Atos processuais da administração

→ Podem existir formas cruzadas. Pode haver cruzamento entre regulamento e


contrato pois podem existir regulamentos emanados ao abrigo de contratos
administrativos: regulamentos contratuais. Podem existir formas cruzadas
entre atos e contratos: atos administrativos de base contratual. Podem existir
cruzamentos entre atos e regulamentos.

Formas de atividade jurídico-pública da administração:


Regulamento:
Ato normativo emanado pelos órgãos da administração no exercício da função administrativa.
• Ato normativo: característica a generalidade e abstração – numero indeterminável de
destinatários e não esgota a aplicação numa única situação.

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• Órgãos da administração: não só as estruturas integradas em PC de direito público,


mas também em PC de direito privado se exercerem funções de natureza publica.
• Funções administrativas: governo é órgão da administração, mas também emana
normas que não são regulamentos. (ex.: quando emana decreto-lei é ato normativo,
não é emanado no exercício da função legislativa).

Tipos de regulamentos:
• Internos: esgotam os efeitos entro dos critérios da administração
• Externos: ultrapassam as fronteiras da administração.
• De execução: complementa/pormenoriza/implementa uma (1) lei.
• Independentes: não têm propósito de executar uma lei. Qual é o propósito? Pode
disciplinar uma pluralidade de leis ou diretamente fundado/alicerçado na constituição
– artigo 199.º/g): particularidades:
→ Devem revestir a forma de decreto regulamentar: forma mais solene de
regulamento pois está sujeita a promulgação pelo PR. Ocupam o topo da
hierarquia de regulamentos.
→ Esses diplomas estão sujeitos a promulgação mas não podem ser objeto de
fiscalização preventiva da constitucionalidade pois esta só existe sobre
diplomas de natureza legislativa ou propostas de referendo.
→ Não podem ser objeto de apreciação parlamentar – nas áreas fora da reserva de
lei e nas áreas fora da reserva de lei que não tenham sido objeto até agora de
disciplina legislativa: o governo tem poder discricionário – pode escolher se
entre aprovar um decreto-lei ou um decreto-regulamentar, sabendo se escolher
a segunda via não há fiscalização nem apreciação parlamentar o que é
benéfico se o governo é minoritário ou se é um governo de coligação.

• Operatividade imediata: produz efeitos diretamente, sem dependência de qualquer ato


administrativo. Podem ser questionados no tribunal administrativo imediatamente.
• Operatividade mediata: carece de um ato administrativo que faça a ponte entre a
abstração e generalidade da norma e o caso concreto. Questiona-se o ato.

Regime aplicado aos regulamentos: 135.º CPA – só se aplica aos regulamentos com eficácia
externa. Qual é o regime a que estão sujeitos os regulamentos internos?
1. O código de 1991 aplicava-se quer a regulamentos externos quer a internos, já o de 2015
diz que o código só vai tratar do regime dos regulamentos externos –
desprocedimentalização: retirar do procedimento. Problema de inconstitucionalidade:
267.º impõe a existência de um procedimento, pelo que não pode haver retrocesso.
2. Problema de lacuna cuja integração pode ter duas vias: há lacuna, deve ser integrada
analogicamente pelo regime dos regulamentos externos OU (PO não adota esta via) se a
desprocedimentalização é inconstitucional, então não ocorreu revogação pelo que se
continua a aplicar o regime do código de 1991.

Ato administrativo:

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Conceito de ato administrativo vem da França.


A doutrina portuguesa divide-se entre a escola de Coimbra (Rogério Soares) e a escola de
Lisboa (Marcelo Caetano): para Coimbra só é ato administrativo aquilo que é imperativo
externo; para Lisboa o conceito é mais amplo pelo que pode ser ato administrativo sem ser de
natureza injuntiva e sem ter eficácia externa.
1. É um ato jurídico unilateral que conta apenas com a intervenção da administração.
2. É proveniente de estruturas que exercem poderes administrativos: da administração ou
equiparadas à administração desde que exerçam poderes administrativos (ex.:
contratar pessoal auxiliar para um tribunal é praticar atos administrativos, mas o
tribunal não é órgão da administração).
3. Procura definir o direito aplicável a uma situação individual e concreta – define em
termos diretos ou indiretos. Diferencia-se do regulamento pois não tem conteúdo
normativo – o destinatário é determinado ou determinável, tem que ver com uma
situação especifica.
4. Visa produzir efeitos sem necessidade do consentimento, da concordância do
destinatário: natureza unilateral – não depende de aceitação do recetor.

Figuras controvertidas que não se sabe se são ou não atos administrativos:


• Natureza hibrida das resoluções aplicadas aos bancos – é ato administrativo
parcialmente, e regulamento parcialmente – cruzada.
• Atos coletivos: têm como destinatário órgão ou estrutura colegial – ato administrativo
pois é aplicado a uma pluralidade determinada de destinatários.
• Atos plurais – produzem efeitos iguais a uma pluralidade de pessoas determináveis –
molho de tantos atos individuais consoante os destinatários.
• Atos gerais – face a uma situação concreta de aplicação imediata a um conjunto
inorgânico de pessoas determinadas de execução imediata (ex.: ordem para dispersar
numa manifestação).
• Sinais de transito – tem conteúdo de natureza jurídica. É um ato administrativo ou um
regulamento? Enquanto sinal de transito é um ato de conteúdo normativo pois aplica-
se a uma pluralidade indeterminada de pessoas numa situação de abstração. Se se
determinar que a velocidade é 30, 40 ou 50 é ato administrativo.

Formas de ato administrativos:


• Natureza decisória: comportam decisão de direito.
• Natureza instrumental: auxiliam/preparam/implementam os atos decisórios. São
acessórios antes, durante ou depois dos atos decisórios.
• Constitutivos: trazem inovação na ordem jurídica. Introduz alterações na ordem
jurídica.
• Declarativos: limitam-se a verificar uma realidade pré-existente (ex.: certificado de
cadeiras feitas).
Os atos declarativos podem ter efeitos constitutivos? Um ato declarativo só pode ter efeitos
constitutivos se existir erro: lapso de escrita, p.e. (retificações dos erros de escrita).

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• Com autotutela executiva: essencial. Pode ser aplicado pela administração sem
recurso aos tribunais.
• Sem autotutela executiva: em caso de resistência, de não acatamento voluntário, só
pode ser imposto pela força mediante intervenção judicial – reforça os poderes de
autoridade na administração.

17/03/2022
Mera declaração negocial:
Forma de agir jurídico-publica da administração.
O que é que diferencia dos atos administrativos? Estamos perante atuações concretas da
administração, as meras declarações aproximam-se dos atos – MAS os atos têm autotutela
declarativa, definem o direito no caso concreto independentemente da colaboração dos
destinatários. Nas meras declarações negociais há apenas uma proposta de definição do
direito:
• Destinatário tem de concordar.
• Se não concordar terá de recorrer aos tribunais.
As meras declarações não têm o peso da autoridade que os atos administrativos têm. A
administração comporta-se com o particular em pé de igualdade como se fosse um mero
particular.
307.º/1 CCP (código dos contratos públicos): matéria de validação de contratos.
Se a administração teimar em tentar transformar as meras declarações negociais em atos
administrativos (impuser pela força), essa conduta padece de um vicio: usurpação de poderes
– nula.
Comportamentos factuais concludente – aceito ao tirar o bilhete um contrato para estacionar
o carro naquele parque. Declarações negociais tácitas. Permite apurar que nestes casos o
regime está no CC.

Contrato administrativo:
Realidade anterior ao século XIX. Desenvolveu-se ao longo das décadas e passou a ser uma
forma de agir normal da administração. Promove o mercado comum e a concorrência (UE).
Agir bilateral que pressupõe dois sujeitos, mas nem todos os contratos da administração são
administrativos. O que envolve um contrato administrativo?
• Vinculo jurídico plurilateral.
• Uma das partes tem de ser uma entidade publica (só não podem ser os dois privados).
• Substancialmente, em termos materiais, tem de ser regulado pelo direito
publico/administrativo (diferenciação dos contratos do direito privado da
administração – regido pelo direito privado).

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• Contratos administrativos de atribuição quando a prestação principal pertence a uma


entidade publica.
• Contratos administrativos de colaboração: a prestação principal pertence a um
particular (p.e: contratos de empreitada de obras publicas).
• Contratos administrativos de cooperação: há a intervenção de uma entidade publica e
uma privada.
• Contratos administrativos de natureza organizativa: constituição de uma sociedade
comercial por duas/ou várias entidades publicas.
• Contratos de natureza contenciosa: regime jurídico – objeto diz respeito a:
→ prestações submetidas à concorrência o regime procedimental e substantivo
está no CCP (1.º/6 e 16.º/1) – salvo disposição previa em sentido contrario.
→ Não está submetida à concorrência, o regime procedimental está regulado no
CPA (201.º/3), e o regime substantivo no CCP (remissão do 202.º/2 CPA).

Convénios interorgânicos:
“contratos internos” (PO: erro porque o contrato pressupõe dois sujeitos e aqui há apenas dois
sujeitos).
É um vinculo jurídico entre dois ou mais órgãos da mesma entidade publica. Organização e
funcionamento da entidade publica. Regime: não há regime especial sobre a matéria, CPA
regula três hipóteses:
• Acordos endoprocedimentais: 57.º
• Auxilio administrativo: 66.º
• Conferencias procedimentais: 77.º e seguintes.

Atos processuais da administração:


Deslocam a atuação da administração para os tribunais: atos que a administração pratica junto
dos tribunais. Podem ter a ver com a defesa da administração quando esta é posta em causa
por um particular ou MP, esta tem o poder de se defender.
Atos administrativos sem autotutela executiva: ao ir ao tribunal a administração tem de
apresentar uma petição ao tribunal – ato processual da administração, estes tanto podem ser
feitos diretamente pela administração como pelo mandatário que age em nome da própria
administração.
Estes atos podem exigir a intervenção decisória de um juiz ou atos que produzem efeitos sem
necessidade de intervenção do juiz (ex.: desistência).
Fontes do regime: leis processuais – código do processo civil, lei do contencioso
administrativo e lei da arbitragem voluntária.
Todos estes atos têm sempre a montante um titulo habilitante.

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Formas de atividade jurídico-privada da administração – pressupostos:


• Atuação que produz atos jurídicos.
• Substancialmente regulados pelo direito privado

No silêncio da lei, a administração poderá agir sob forma jurídico-privada? Principio da


legalidade, precedência de lei – a administração só pode fazer aquilo que a lei permite, no
silencio da lei, a regra do agir da administração é aplicar o direito administrativo.
• Conclusão: a administração não pode recorrer a formas jurídico-privadas, mas
jurídico-publicas. Só pode utilizar as formas jurídico-privadas se existir lei habilitante.
• A gestão privada tem sempre de respeitar princípios de direito publico (2.º/3 CPA).

Formas:
• Atos jurídicos simples: há vontade de ação e declaração, mas não há relevância da
vontade na estipulação de efeitos (295.º CC + 2.º/3 CPA).
• Negócios jurídicos unilaterais: ex.: estado é herdeiro de alguém que faleça e não deixe
herdeiros – ato pelo qual o estado aceita a herança. Regime: CC + 2.º/3 CPA.
• Negócios jurídicos plurilaterais: contratos de direito privado celebrados pela
administração.

Diferença entre contratos de direito privado celebrados pela administração e os contratos


administrativos? Nos contratos de direito privado da administração o regime substantivo
(material) desse contrato está no direito privado e dos contratos administrativos está no
direito publico (direito administrativo). não há diferença quanto aos sujeitos, não há diferença
quanto ao regime procedimental – o regime para a definição das regras para a celebração
desse contrato é ainda regido pelo direito administrativo (202.º/2 CPA).

Formas de atividade administrativa não jurídica:


Atuação que não envolve a prática de atos jurídicos, mas tem sempre de se
fundamentar/basear numa norma jurídica – não se traduz na prática de atos jurídicos, mas
fundamenta-se numa.
Pode produzir efeitos jurídicos. Como? A pratica de um ato médico num hospital publico não
é ato jurídico mas forma de atuação administrativa não jurídica mas pode produzir efeitos
jurídicos (ex.: responsabilidade civil).

Tipos de atuação:
• Operações materiais.
• Atuação informal.
• Atuação politica.

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Operações materiais
Visa transformar a realidade factual, incidir sobre factos. Não estamos perante declarações ou
discursos, é uma atuação física sobre a realidade (ex.: vacinação). Todavia, há uma atuação
que se alicerça em normas jurídicas e pode produzir efeitos jurídicos, física que tem sempre
na sua base um titulo jurídico. Pode existir casos em que seja uma atuação sem titulo jurídico
(ex.: administração destrói um edifício ilegal).
Com relevância constitucional OU sem relevância constitucional.
Tituladas OU sem titulo (vias de facto – age factualmente sem titulo jurídico).

22/03/2022
CONTINUAÇÃO
Problemas quanto à definição do regime jurídico:
• Ausência de uma lei geral que enquadre as operações materiais. A única referencia
consta do 2.º/3 do CPA.

Garantias contenciosas: perante uma atuação material da administração, o que pode o


particular fazer? Que mecanismos tem para se defender junto de um tribunal?
• Se há titulo jurídico que fundamenta a atuação material, o particular deve atacar esse
titulo jurídico. Deverá desencadear meios em relação ao titulo jurídico (ex.: ordem
para demolição de uma construção, o particular deve atacar a validade do ato que lhe
manda demolir ou poderá pedir ao tribunal que suspenda a execução, a autotutela
executiva – por via judicial).
• Situações de via de facto: a administração desencadeia uma operação material, a
demolição é feita sem titulo jurídico ou para alem do titulo jurídico. O particular deve
agir contra a atuação material da administração: atuação material sem titulo jurídico
habilitante.

Responsabilidade civil se estivermos perante uma violação.

Atuação informal
Entendimento de que estamos numa atuação flexível, consensual, negociada, vem violar alei,
mas para além da lei. há uma exclusão de propósitos imperativos/autoritários, quer da
ausência de atos jurídicos formais.
Atuação marginal ou lateral às normas procedimentais. Há um propósito de adaptar o direito
à realidade.
Ex.: aula em que o prof diz não vem a matéria X ou Y.

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Pode traduzir-se em várias manifestações:


• Conselho
• Recomendação: especial
• Advertência
• Informação

Poderá ser, ainda, a tolerância relativamente a certas situações de facto (ex.: tolerância para
que se fume dentro da sala de aula).
Ou poderá ser através de negociações ou concertação procedimental (ex.: os delegados do
respetivo ano negoceiam a ordem das disciplinas para a frequência).

Traços do regime:
• Debilitação/enfraquecimento da juridicidade – soft law, sujeito ao artigo 2.º/3 do
CPA. Poderá haver responsabilidade pela tutela da confiança? Por exemplo, o prof diz
na sala de aula que para o exame não vem a matéria X e Y, e depois, no exame, sai
exclusivamente essas matérias. Gera, ou não, responsabilidade civil por frustração da
confiança? Os tribunais podem vincular estas situações? – problema sobre a natureza
desta atividade e o grau de atuação.

Atuação politica
A administração não é alheia à função politica. Ex.: presidente de camara ganha sem maioria
no executivo, ele pode chegar a um acordo com vereadores da oposição para permitir
estabilidade no município; a aprovação do programa do diretor da faculdade pelo conselho de
escola, esse programa é ato politico no exercício da atuação administrativa.
Há atuações politicas que têm o seu espaço de atuação no âmbito da administração.

Inercia/omissão administrativa
Situações de inatividade, a administração não age.
Remonta à Magna Carta em 1215.
Quando alguém formulava uma pretensão junto da administração, esta das duas uma: ou
concedia o que era pedido ou não concedia o que o particular pretendia. Perante o silencio, o
particular não tinham nem decisão favorável nem desfavorável.

Presunção de indeferimento se, decorrido determinado prazo, a administração não
respondesse: se eu pedisse algo válido ao órgão competente e este durante um prazo nada
dissesse, no final desse prazo, pressuponha-se que o órgão indeferia → indeferimento tácito:
o particular pode ir a tribunal a partir daí.

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O silêncio é a violação de um procedimento equitativo pois a administração deve responder


aquilo que é pedido num prazo razoável. Tipos de inercia:
• Inercia jurídica ou declarativa: administração omite uma declaração/ato.
• Inercia material: a administração omite uma conduta física. (ex.: a administração não
paga no dia em que devia pagar o subsidio). Pode ter várias causas:
→ Autotutela administrativa (ex.: tens 15 dias para demolir, se não fizeres, arraso
com a respetiva construção, passam 15 dias e nada acontece).
→ Execução de uma sentença judicial: tribunal impõe à administração uma
conduta e esta nada faz. Execução ilícita.
→ Inatividade prestacional: não pagamento da reforma/subsidio.
• Inercia declarativa: que tem por base uma pretensão ou pedido.
• Inercia declarativa sem base pretensiva.
• Inercia regulamentar
• Inercia de convénios ou contratos
• Inercia de atos administrativos

Regime comum:
• Incumprimento de um dever legal de decisão
• Nem sempre há uma garantia contenciosa porque a intervenção dos tribunais realiza
aqui um difícil equilíbrio entre a separação de poderes que não permite aos tribunais
substituírem-se à administração e por outro lado o principio da juridicidade que diz
que a administração está subordinada ao direito (esta é a inercia).
• Se da conduta omissiva resultarem prejuízos, gera responsabilidade civil da
administração.
• Tutela da confiança na inercia da administração: se a administração depois age, essa
sua ação é ilegal porque viola a tutela da confiança ou a atuação é legal, mas gere
dever de indemnizar porque frusta a confiança (ex.: administração deveria ter adotado
determinada conduta contra uma ação ilegal de um particular, mas em 10 anos nada
fez. Após esses 10 anos, a administração continua a ter capacidade para agir ou será
ilegal? Ou o ato é válido mas gera responsabilidade civil?).
Se da conduta omissiva resultarem prejuízos gera responsabilidade civil da
administração.
Tutela da confiança - inércia da administração perante comportamentos omissivos
(figuras: tolerância administrativa, surgimento de situações jurídicas decorrentes da
inércia).

Modalidades da inercia
Omissão regulamentar
Pode traduzir duas coisas:
• Pela ausência de regulamentos: o GOV deve elaborar o regulamento em 6 meses,
passam 2 anos e não há regulamento.

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• Quanto às formalidades procedimentais na emanação do regulamento: foi emanado,


mas a administração esquece-se de ouvir os interessados.

O particular, ou solicita a administração que cumpra o que por omissão não cumpriu,
ou o particular vai ao tribunal para que este condene a administração.
Omissões contratuais e de convénio interorgânicos
A omissão poderá ser no momento da formação ou no momento da sua execução. Em
qualquer dos casos o regime encontra-se no direito administrativo ou na sua falta (p.e. CC).

Omissão relativa a atuações individuais/concretas


Categoria residual. Todas aquelas que não são regulamentais nem bilaterais (?) – estão
reguladas no direito administrativo, privado ou processual.
Inercia de base pretensiva (pedido) e a inercia de base não pretensiva.
• Inercia de base pretensiva:
→ (129.º regra geral) – o silêncio da administração vale como indeferimento: ato
tácito negativo.
→ Há casos excecionais em que o silencio vale como deferimento tácito: ato
tácito positivo – (130.º).
→ Comunicação prévia (134.º).
→ Silêncio declarativo privado (218.º CC)

Requisitos:
→ É preciso que seja formulada uma pretensão à administração.
→ Pedido tem de ser dirigido ao órgão competente.
→ O órgão competente tem o dever legal de decidir.
→ Que não decidam, que decorra um prazo.
→ Que a lei atribua a esse silencio um determinado significado.

• Inercia sem base pretensiva (ex.: atos tributários).


• Inercia processual: sem base pretensiva. Ex.: alguém moveu uma ação contra a AP, e
a administração nada diz depois de ter sido citada pelo tribunal.

Regime comum ao procedimento administrativo


Aplicável por igual a todas estas entidades. Envolve um conjunto de elementos estruturais e
consequentemente de vícios/situações patológicas.
Elementos estruturais:
• Competência: que separa o hemisfério publico do hemisfério privado. a administração
não deve ultrapassar esta fronteira, se o fizer pratica atos que violam áreas de direitos

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e liberdades fundamentais. Se essa violação for do núcleo do direito fundamental,


gera a nulidade da conduta administrativa.
→ Dentro do hemisfério publico, temos a diferença entre a função administrativa
e as restantes funções. Se a administração agir fora da função administrativa o
ato está ferido de usurpação de poderes e é juridicamente nulo.
→ Dentro da função administrativa temos uma pluralidade de pessoas coletivas.
A atuação da administração deve fazer-se no interior de cada PC. Se uma PC
age sobre a esfera de ação das atribuições de outra PC, há uma situação de
incompetência absoluta. Vicio: nulidade.
→ Dentro de cada PC há uma expressão de vontade através de órgãos. Quando
dentro de uma PC o órgão A invade a competência do órgão B há um caso de
incompetência relativa e o ato é meramente anulável.
 Competência absoluta entre entidades publicas distintas: pode ser
interna ou externa. É interna se é entre PC nacionais.
Erro na competência: falsa representação da realidade
Ilicitude dolosa do agente administrativo: sei que não tenho competência e mesmo assim
vou agir.
Podem existir graus diferentes de incompetência relativa. Desde logo a propósito da
competência delegada: dentro dos poderes delegados ou fora destes.
• Vontade
• Causa
• Objeto
• Forma.

24/02/2022
Competência
sendo exercida no presente, não pode ser sujeita uma projeção.
• Incompetência em razão do tempo: tem 30 dias mas decide em 40 dias.
→ 168.º/2 CPA – os atos que investem alguém numa posição jurídica favorável
se forem inválidos só podem ser revogados no prazo de 1 ano a contar da
respetiva emissão – se são revogados de pois desse ano há no seu autor uma
incompetência em razão do tempo.

40.º CPA fixa uma regra de autocontrolo da competência: quem pratica um ato tem sempre o
poder/dever de controlar se é competente para a pratica desse ato. O órgão que não tem
poderes para praticar determinado ato (incompetência relativa), tem sempre poder, todavia,
para anular um ato firme de incompetência que praticou ou para declarar a nulidade
(incompetência absoluta, usurpação de poderes) – reposição da legalidade.
51.º e 52.º CPA: definem regras sobre conflitos de competência.

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Principio da flexibilidade das regras de competência:


• Principio da subsidiariedade diz-nos que em regra as decisões devem ser tomadas
pelas estruturas mais próximas de âmbito menor, todavia, caso estas não possam/não
queiram/não façam com tanta eficiência, a competência pode ser devolvida às
estruturas de âmbito superior.
• Supletividade do direito do estado: 228.º/2 CRP. Sempre que uma entidade publica
menor não exerce o seu poder normativo, o estado pode determinar um regime
jurídico que é aplicável na falta/incompletude do direito próprio das entidades
infraestaduais, mas estas podem, todavia, sempre que entenderem disciplinar a
matéria afastando a norma supletiva.
• Principio da prevalência do direito do estado: é titular de interesses gerais da
coletividade – a disciplina jurídica do estado se impõe às escolhas normativas das
entidades infraestaduais.
Na supletividade, o direito do estado pode sempre ser afastado por norma posterior
proveniente de uma entidade infraestadual.

Flexibilidade das normas de competência entre os órgãos – manifesta-se: delegação de


poderes (lei orgânica do governo, 44.º e seguintes CPA), substituição (43.º CPA e 199.º/g)
CRP), competência sobre questões prejudiciais (38.º CPA), conferencias procedimentais (77.º
e 81.º CPA) e questões em matéria de declaração de nulidade e exercício do poder de direção
no âmbito da relação hierárquica.
Regra: no direito português é excecional que exista um único órgão competente sobre a
mesma matéria, a regra é que vários órgãos podem ser competentes para definir certa matéria.

Duas modalidades:
Concorrência simultânea no exercício de poderes (delegação de poderes).
Concorrência sucessiva no exercício de poderes (substituição, quando o órgão substituto age
é quando o que ele está a substituir não pode, não quer ou não faz).

Em matéria de exercício de competências, nos casos de delegação, se o delegante se antecipa,


o delegado já não pode agir – intervenção do delegado depois do delegante ter decidido a
matéria: incompetência em razão do tempo.

Intervenção em função do titular do órgão


Necessário um titulo de investidura no cargo – alguém para exercer a competência tem de ter
um titulo jurídico para o efeito – antes da investidura há uma incompetência em razão do
tempo.
Sem titulo de investidura, poderá haver uma situação dolosa e consciente.

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Alguém que pratica atos em estado de necessidade e continua a agir da mesma forma –
ausência de titulo.
É importante que o titular (já tem titulo) esteja no exercício efetivo de funções pois podem
ocorrer varias vicissitudes (p.e. impedimento, suspenso).
Poderá suceder que existe uma capacidade de decisão reduzida – governo de gestão, este não
pode praticar todos os atos, só aqueles que à luz do principio de proporcionalidade sejam
tidos como necessários – se age fora da área da necessidade há incompetência.

Vontade
Importância da intenção da conduta – quando é objeto de exteriorização. A intenção é
essencial para determinar a vontade. É relevante o procedimento de formação e o
procedimento de declaração de vontade. O procedimento administrativo é o momento onde
está em causa a preparação/formação/expressão da vontade da administração.
• Importância da liberdade e esclarecimento do titular: vontade livre e esclarecida.
• Importância da licitude dos motivos: abre o problema da intenção subjacente à
declaração da vontade.
• Convergência entre a vontade real e a vontade declarada: exceção – dever de
obediência do subalterno ao superior.
→ A vontade dos órgãos é muito mais relevante em zonas de discricionariedade
do que em zonas de vinculação pois nas segundas, a vontade da administração
é a vontade do legislador/da lei – vontade dirigida pela lei. A coação física ou
violência inquinam a validade do ato?
→ PO: mesmo nestas situações o ato seria nulo porque a coação é um vicio
autónomo (a lei determina o quê, mas não quando) – 161.º/2, f) – o ato é nulo.

Relevância especial do tema da formação de vontade dos órgãos colegiais (21.º a 35.º CPA) –
permite a expressão da vontade da administração por meios eletrónicos.

Problemas da vontade:
• Nem todas as vontades têm igual valor: a vontade dos órgãos da administração não
obedece a um principio de paridade (ex.: subalterno vs superior hierárquico)
• Papel da vontade psicológica do titular do órgão:
→ Falta em absoluto da vontade gere um problema de inexistência jurídica – a
vontade do órgão colegial exige duas maiorias, uma para funcionar (quórum) e
outra para deliberar.
• Perfeição na formação: ideia da vontade livre e esclarecida (importância do tema do
erro na formação da vontade).
• Perfeição na exteriorização da vontade: convergência entre vontade real e declarada.

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• Vontade está ligada à motivação, porque a motivação na formação da vontade tem de


ser conforme ao direito e o motivo principalmente determinante dessa motivação tem
de estar adequado ao fim do ato em causa sob pena de desvio de poderes.
• Consciência da vontade – a consciência no âmbito da declaração da vontade: falta
desta leva a invalidade da decisão.

Vícios da vontade
• Formação da vontade
→ Coação moral
→ Erro simples (de direito, de facto)
→ Erro por dolo

• Exteriorização da vontade (divergências intencionais ou divergências não


intencionais)

Erro
De facto ou de direito; simples ou qualificado por dolo.
O erro pode incidir sobre a competência (pensava que já tinha delegação de poderes), sobre o
destinatário (pensava que a decisão era aplicada a A, mas afinal é só ao B), quanto ao objeto
(qualidade, características), quanto aos pressupostos, circunstancias base que sustentam a
decisão, pode ser erro sobre a base do negócio, ou pressupostos do direito da decisão. O erro
pode ser sobre a causa, o fim, a forma, as formalidades do ato.
Regime: CPA é omisso; código dos contratos públicos remete para o CC. PO diz que há
aplicação do CC em termos subsidiários.
Vícios da vontade devem ser tratados autonomamente, ou não são mais que uma situação de
violação de lei?

Nota 8: a divergência entre a vontade real e declarada: principio geral – prevalência da


vontade declarada (tutela da confiança). Exceção: se o destinatário conhecida a divergência,
não há que tutelar qualquer confiança.
A divergência pode ser intencional (unilateral ou bilateral) ou não intencional.

29/03/2022
Causa
Compreender uma relação entre a conduta administrativa e duas realidades que lhe são
anteriores:

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• há uma realidade objetiva – circunstancias factuais (pressupostos de facto) e jurídicas


(pressupostos de direito).
• Realidade subjetiva – razoes que determinam, justificam a conduta da administração.
Qual é a vontade psicológica dos titulares dos órgãos? Motivações do agir
administração.
Relação de conformidade entre o agir da administração e os pressupostos objetivos tal como a
relação aos pressupostos subjetivos. Exige:
• A ideia da adequação: o agir tem de ser adequado aos pressupostos e motivações.
• Um juízo de existência, validade, idoneidade dos pressupostos.

Vicissitudes no âmbito da causa:


• Divergência entre os pressupostos fixados na lei e os pressupostos reais face uma
concreta atuação da administração.
• Divergência entre os motivos exteriorizados e a intenção real – a intenção pode não
ter a ver com os motivos – caindo numa situação de dolo/maliciosa.

Fundamento disto: principio de coerência racional do agir da administração.

Pressupostos objetivos
Será que eles existem? Será que são válidos? Têm a confirmação que o decisor acha que têm?
Se não têm, há uma situação de erro. Será que são idóneos e adequados para a conduta da
administração?
Pressupostos objetivos de direito
Podem ser precisos (ex.: para preencher determinado lugar a pessoa tem de ser maior e ter
licenciatura em direito) ou fixados com imprecisão (ex.: ser uma pessoa com
reconhecimento/reconhecido mérito).
Podem ser fixados em normas que são regras ou normas que são princípios – natureza mais
ou menos vaga.

Pressupostos objetivos de facto


Podem ser identificados pela lei ou remetidos para o espaço criativo da administração. Uma
disfunção entre estes e uma conduta da administração gera invalidade.
Os factos têm de ser exatos, têm de existir e de ser adequados. Os factos no agir da
administração têm uma expressão idêntica à base do negócio (pressupostos de facto que
estiveram subjacentes à celebração de um negócio).

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Motivos/pressupostos subjetivos
Intenção decisória, vontade psicológica do titular do órgão. Tem relevância significativa na
distinção do dolo/da culpa.
A motivação subjetiva pode assentar em três hipóteses:
• Critérios de motivação são conformes à lei: não há nenhum problema.
• Os critérios de atuação são alheios ao fim que a lei define para o exercício da
competência concreta (ex.: polícia multa alguém devido ao seu clube e não porque
infringiu o código).
• Há uma pluralidade de critérios teleológicos na decisão e por isso mesmo na decisão
(vou multar porque é de um clube diferente e porque está mal estacionado)
→ Concorrência entre motivo que é valido e motivação que é inválida.

Motivo principalmente dominante: se for aquele que é contrário ao fim, representa desvio de
poder.

Motivações não geram desvio de poder:


• Motivo em causa não é o principalmente determinante.
• Quando o órgão é incompetente.

Diferentes graus de culpa (invalidade do agir da administração) – exemplos:


1. Órgão colegial aprova proposta de deliberação quando os seus titulares pensam que
são competentes, mas na realidade não são competentes → erro sobre a competência
(incompetência menos).
2. Órgão colegial que é composto por juristas, aprova uma deliberação sabendo que não
era o órgão competente sobre a matéria → incompetência dolosa (incompetência
intermédia).
3. Órgão colegial é composto por juristas, aprova uma proposta relativa a uma matéria
fora da sua competência mas, apesar disso têm o propósito de sancionar
disciplinarmente por razoes de vingança pessoal quem é o seu adversário politico →
ilicitude dolosa da causa (há mais do que incompetência dolosa – saberem que não o
podem fazer) – gera responsabilidade criminal.
→ Domus maus: dom mau – consubstancia crime de abuso de poder.

Desvio de poder: está em causa um motivo principalmente determinante (não coincide com o
fim da lei). este pode ter duas causas: dentro do interesse publico ou para a prossecução de
um interesse privado.

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Objeto
Toda a atividade administrativa tem de ter um objeto que pode ser jurídico (efeitos jurídicos a
que se destina a atuação) ou que pode ter a ver com a realidade sobre a qual incidem esses
efeitos: objeto mediato e objeto imediato.
Pode assumir uma:
• Natureza constitutiva: quando se introduzem alterações/inovações no mundo do
direito.
• Natureza declarativa: quando nada de novo se introduz na ordem jurídica.

Nas áreas de discricionariedade, o objeto da atuação pode levar à existência de elementos


acessórios: clausulas acessórias (termo, condição) – 149.º CPA:
• O conteúdo da clausula tem de ser conforme ao direito.
• A clausula tem de ser adequada ao fim da situação que está em causa – relação de
proporcionalidade.
• A clausula tem de ter um conteúdo que se ligue com o objeto principal do ato e não
pode ser excessiva. Tem de ser adequada e necessária.

Por vezes, as clausulas acessórias não são acessórias. As clausulas podem ser determinantes
para a decisão administrativa, de tal como que se não existisse a clausula não existiria a
decisão. Nestes casos, a invalidade da clausula pode determinar a caducidade ou revogação
da própria decisão. A clausula é essencial e não acessória: se resultar que a clausula é
indispensável para a decisão administrativa.

Requisitos de validade:
• Possibilidade do objeto: O objeto tem de ter possibilidade de facto (ex.: nomear
alguém que morreu – os atos seriam nulos) e jurídica (ex.: revogação de um ato nulo –
a atuação administrativa é nula por falta de objeto). Pode ser total ou parcial; objetiva
ou subjetiva; originária ou superveniente.
• Determinabilidade do objeto: a atuação tem de ser inteligível e compreensível, se não
o for é nulo (ex.: uma conduta que é ao mesmo tempo permitida e proibida) – artigo
161.º/2, c) CPA.
• Legalidade do objeto: a atuação tem de ser conforme ao direito, às normas injuntivas
do direito. As normas supletivas podem ser afastadas pela própria administração. Em
regra a ilegalidade do objeto gera a ilegalidade.
Casos em que a ilegalidade gera a nulidade: 161.º/2
→ Se o objeto do ato ofender o conteúdo essencial de um direito fundamental –
(alínea d) – não é todo e qualquer direito fundamental, é a violação do
conteúdo essencial. Se não for o conteúdo essencial haverá anulabilidade.
→ Objeto do ato incidir ou envolver a prática de um crime (alínea c).
→ Conteúdo do ato ofender casos julgado – violação da separação de poderes
(alínea i).

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→ Se o ato certificar factos falsos ou inexistentes (aliena j). A certificação de um


facto falso, não pode tornar um facto falso em verdadeiro.
→ Se o ato criar obrigaçoes pecuniárias não previstas na lei (alínea k).

Efeitos que os atos produzem:


• Efeitos de natureza permissiva.
• Efeitos de natureza imperativa.
• Efeitos propulsores: estimulam a adoção de comportamentos.
• Efeitos de natureza declarativa: certificam algo que existe na ordem jurídica.
• Efeitos de ação continuada.
• Efeitos de ação instantânea.
• Efeitos de natureza interna.
• Efeitos de natureza externa.

Requisitos da eficácia – o que gera a eficácia da atuação administrativa?


• Publicidade: por exemplo, a publicação em jornal oficial.
• Notificação dos destinatário: sendo atos que impõem situações jurídicas passivas aos
destinatários, estes têm de ser objeto de notificação ainda que a lei imponha a
publicação.
→ Síntese: os atos que determinam situações jurídicas passivas têm de ser objeto
de notificação – dar conhecimento ao destinatário.

Notificação ≠ ato notificado


Posso receber uma notificação, mas se essa vem por carta que tem uma folha em branco,
recebi notificação mas não produz efeitos pois não tenho conhecimento do ato notificado –
recebi notificação sem objeto.

A publicidade pode envolver a disponibilidade do exponente para consulta publica: eu tenho


de ter conhecimento dos documentos: do acervo que está na base das decisões da
administração.
Os atos constitutivos de direito (investem os particulares numa posição jurídica favorável)
produzem os seus efeitos por qualquer lei que o particular deles tenha conhecimento. O que
não acontece se não existir publicidade? Gera ineficácia jurídica que determina a não
oponibilidade aos interessados dos respetivos atos – se eu não sou notificado de que tenho de
pagar o imposto, não posso ser obrigado a pagar juros de mora.

Outros requisitos de eficácia – a eficácia pode depender de:


• Intervenção a posteriori: um ato que careça de aprovação, é essa que vai dar eficácia.

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• Aceitação do particular: alguém é nomeado ministro, se não aceito ser ministro, não
posso ser nomeado.
• Condição suspensiva de termo inicial.

Dimensão temporal da eficácia: em principio a eficácia dos atos é apenas para o presente e
futuro. Só a titulo excecional há eficácia retroativa – só quando a lei o permite.
O conteúdo da atuação administrativa está sujeito a regras de modificação e cessação de
efeitos.

31/03/2022
Modificação do objeto
A regra é que há a possibilidade de mudar sempre o conteúdo do agir da atuação
administrativa – mutabilidade intencional.
Essa modificação pode ter três ordens de razões:
• Por razões de legalidade
• Por razoes atinentes ao mérito da solução – solução que deixa de ser oportuna ou
politicamente correta.
• Erros materiais/de calculo: ex.: somatória em vez de ser X ser Y.

Origens da modificação, por que vias formais pode ocorrer:


• Por vontade da administração: que por um juízo do exterior entende alterar.
• De uma intervenção de um legislador.
• Decisão judicial: os tribunais entendem que a solução é ilegal.
O objeto da atuação administrativa está sempre sujeito a uma clausula implícita de alteração
das circunstancias – se estas de facto ou de direito em que determinada decisão foi tomada se
modifica, essa decisão em si, deve ser objeto de alteração.
As modificações que envolvam um agravar da posição jurídica do particular sem que isso
resulte de regras de distribuição do risco, sem que resulta de uma clausula de transferência de
responsabilidade, significa que a administração tem o dever de repor o equilíbrio financeiro
sempre que a sua atuação gerar um prejuízo para o particular.

Cessação dos efeitos do objeto


Podem cessar com base em quatro vias:
• Por vontade da própria administração: quando revoga, quando procede à anulação.
• Por decisão do tribunal/judicial: quando o tribunal declara que o ato é anulável e por
isso o anula.

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• Por intervenção do legislador: este pode modificar a lei vigente e criar uma
ilegalidade superveniente.
• Por via informal: dentro da legalidade não oficial – pode surgir um costume que
ponha em causa uma atuação da administração.

Pode ser:
• Total ou parcial.
• Ter natureza normal (caducou) ou por uma alteração anormal (alteração de
circunstancias).
• Pode concretizar uma nova solução ditada por um novo interesse publico (cessação
com efeito reconstrutivo) ou substitutiva.

Formalidades e forma do agir da administração


Formalidades
Se excetuarmos a atuação informal, toda a atividade administrativa está sempre sujeita a um
conjunto de atos que regulam o agir da administração. O procedimento administrativo é, nem
mais nem menos, do que a disciplina jurídica da conduta administrativa.
Podemos ter formalidades anteriores à decisão, contemporâneas/simultâneas à decisão e
formalidades posteriores à decisão.
• Anteriores: preparam a decisão
• Simultâneas: justificam a decisão.
• Posteriores: complementam a decisão.

Regra geral: proibição do formalismo excessivo – desburocratizar envolve a ideia de primado


da materialidade que apela para a proibição. A administração deve dar mais atenção ao
conteúdo do que à forma – justifica que as formalidades sejam criadas e exigidas com base na
ideia de necessidade – 163.º/5 – desvalorização do efeito anulatório em atos que em principio
seriam anulados.
O incumprimento das formalidades pode ser suprível ou insuprível: se é repetível ou não
corrigindo-se a formalidade que foi proferida.

Não se justificam por si, têm sempre uma razão de ser:


• Razões de legitimação.
• Razões que tenham a ver com a identificação de factos.
• Exigência de transparência administrativa.
O respeito pelo formalismo pode ser a expressão da ideia do processo equitativo.

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É possível a preterição das formalidades fundamentalmente em três estados:


• Em estado de necessidade administrativa.
• Se são materialmente irrealizadas.
• Obstrução factual à sua realização (ex.: a lei impõe que exista parecer emitido pelo
órgão X e o que acontece é que o órgão X nunca emite esse parecer) [92.º/5 e 6].

Função de dialogo/dialógica que a participação dos interessados tem dois propósitos:


• Participação constitutiva da decisão (ex.: administração quer celebrar um contrato –
não há contrato apenas com uma das partes – paridade de vontades).
• Participação através do dialogo em que a administração projeta uma decisão, mas
antes de decidir ouve os particulares em duas situações:
→ Num cenário de audiência prévia dos interessados (121.º a 124.º).
→ Num cenário de consulta publica (são muitos interessados: 124.º/1, d)).

Conteúdo essencial: determina-se por via interpretativa.


Quando estamos perante decisões administrativas sobre natureza sancionatória; medidas
apelativas contra propriedade privada; atos que lesam a liberdade – audiência prévia é um
direito fundamental que se não existir dá-se a violação de um conteúdo essencial: o ato da
administração será nulo.
Fora destes casos a recusa da audiência prévia, não lesa, pelo que a sua falta gera a mera
anulabilidade do ato.
Há situações em que se justifica pela sua maneira de ser sobre pena de comprometer a
atuação administração que não exige a audiência prévia.

Nota importante: fundamentação


Fundamentalmente significa que a atuação administrativa, para ser totalmente transparente
tem de ser justificada. O que é a justificação? A administração deve indicar as razões de facto
e as razões de direito que a levam a decidir num determinado sentido. Através da
fundamentação podemos ver a coerência ou não do percurso decisório do agir da
administração. Permite abrir janela para o modo como a administração decide, pelo que
permite o controlo dos tribunais.

Requisitos quanto ao conteúdo da fundamentação (153.º):


• Clareza.
• Obedece a regras de lógica, racionalidade – tenho de explicar o porquê daquela razão.
• Necessária e adequada – o conteúdo tem de revelar as razoes efetivas/reais que
motivaram aquela decisão.

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A fundamentação pode ser um elemento integrante do procedimento equitativo. A


fundamentação de atos lesivos dos particulares (sanções, lesam propriedade privada ou
liberdade) é como um elemento essencial e a sua preterição gera uma violação do direito
fundamental pelo que o ato é nulo. Em todas as outras situações, a falta de fundamentação
gera um vicio de forma, mas não o núcleo essencial, pelo que o ato será meramente anulável.
A insuficiência equivale a falta de fundamento, falta é sinónimo de insuficiência.

Publicidade é uma formalidade que dá conhecimento: transparência. Só a titulo excecional é


que podem existir decisões a titulo secreto e confidencial.
O ato que confere publicidade é diferente do ato publicitado: uma coisa é comunicar outra é o
conteúdo da comunicação. Há obrigatoriedade em serem notificas (168.º/3).

Forma
Em direito administrativo a forma é o modo de apresentação ou de comunicação da vontade
da administração. A expressão da vontade administrativa pode ter forma escrita ou sem
suporte de papel. A forma pode ser verbal (indicação), luminosas ou usando símbolos sem
texto. Podem ser formas acústicas e é, ainda, possível através de comportamentos factuais.
Ideias em matéria de regime da forma: em regra a forma é escrita (materializada ou em
termos eletrónicos). Principio do paralelismo das formas: se um ato foi praticado com a
forma X, só pode ser revogado pela forma X, desde que essa forma seja legal.

Um desrespeito gera vicio de forma:


• carência absoluta de forma legal – nulidade (161.º/2, j).
• restantes situações, o vicio de forma gera mera anulabilidade (163.º/1).
• em regra: anulabilidade.

A falta de elementos essenciais de natureza formal pode gerar a nulidade ou inexistência


jurídica.

05/04/2022
A invalidade é a resposta da ordem jurídica à imperatividade nas normas jurídicas. Quando a
violação tem como desvalor a irregularidade, esta não é tão grave como quando se sanciona
com a nulidade ou existência. A invalidade é a outra face da vinculação.
• Invalidade rígida.
• Invalidade flexível: própria das situações de soft law, direito leve, flexível no seu grau
de vinculação.

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Dois fenómenos em torno de: nem sempre a desconformidade com a juridicidade (legalidade)
gera invalidade:
• Podem existir clausulas que permitem que a administração atue contra legem (em
sentido contrário à lei), mas essa atuação não é invalida (ex.: casos de mera
irregularidade administrativa, 163.º/5 – atuação contrária à lei, mas esta afasta o efeito
anulatório).
• Normas jurídicas que podem expressamente permitir um agir contra legem (ex.:
estado de necessidade administrativo).
→ Situações de desconformidade de juridicidade, mas não determinam
invalidade.

A juridicidade pode ter alguma elasticidade em função do tempo. Significa que o decurso do
tempo pode, por razoes de segurança jurídica, boa-fé, tutela da confiança, consolidar na
ordem jurídica atos que originariamente eram inválidos (anulabilidade) ou pode atribuir
efeitos jurídicos a situações nulas – o decurso do tempo tem efeitos sobre a juridicidade e por
isso mesmo, as situações jurídicas podem nascer invalidas, mas o decurso pode trazer essas
situações para dentro do reconhecimento de efeitos jurídicos.
Artigo 282.º/4 CRP: uma norma pode ser inconstitucional, mas o tribunal constitucional pode
reconhecer efeitos jurídicos a essa norma – se até as situações mais graves de violação de
juridicidade se permite que possam reproduzir-se na ordem jurídica, por maioria de razão, as
situações que não são de violação da constituição mas de direito ordinário também podem.

Força jurídica da juridicidade ligada aos desvalores jurídicos: se nada se disser em sentido
contrario serão anuláveis. Os atos nulos são a exceção. Ultra-excecional: situações de
inexistência jurídica.
Os desvalores significam graus diferentes de vinculação: é muito mais vinculativa uma norma
que se eu desvincular tem como desvalor nulidade do que anulabilidade.
1. Podem existir condutas intencionalmente inválidas (ex.: vou praticar o ato que sei que é
inválido, mas não me motivo por cumprir a legalidade por isso pratico-o conscientemente
– dolo) ou de erro de direito ou de facto (ex.: pensava que tinha capacidade, mas não tinha
– vicio na formação da vontade).
2. Pode ser substantiva se diz respeito a normas de direito material ou subjetiva se diz
respeito a normas puras de natureza procedimental.
3. Pode ser total ou parcial.
4. Pode ser originária ou inicial se à data em que foi pratica do ato este era valido ou não- se
há invalidade superveniente ou não.
5. Pode ser invalidade própria indireta do agir da administração publica ou invalidade porque
a lei que foi aplicada é inconstitucional, quando a administração publica aplica esta lei, a
invalidade da administração é consequente ou derivada.
6. Pode ser uma invalidade que produz efeitos no presente ou uma invalidade reportada ao
passado, em relação a um ato que já não produz efeitos.

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Nota 9: será admissível que o desvalor regra seja a anulabilidade? Não será que há valores de
incidência constitucional cuja violação não pode ter como resposta a anulabilidade, mas deve
ter a nulidade? E se a administração viola normas do direito da união europeia?

Irregularidade
Inverte o principio da invalidade porque no fundo se relativiza a força da juridicidade. Nos
casos de irregularidade o direito que é violado é soft law, porque o desrespeito não gera
invalidade, mas irregularidade.
Há uma conduta contraria à lei, mas o ato não pode ser anulado, deve continuar na ordem
jurídica. Porquê? Principio da proporcionalidade – 163.º/5 CPA.
Há elementos essenciais no agir da administração cuja violação gera invalidade, mas também
há elementos não essenciais cuja violação gera apenas irregularidade.
Temos uma norma que impõe um conduta (X) e temos outra que diz que se violarmos a
norma X nem por isso há invalidade, é apenas irregular (Y) – a irregularidade vem retirar
natureza imperativa ao comando da norma X, esta torna-se, em vez de imperativa, uma
norma meramente dispositiva.

→ Artigo 163.º/5, a) CPA: não produz efeito anulatório ainda que viole a lei, o ato que tenha
um conteúdo vinculado. Ainda que seja invalido (ex.: B praticou quando a lei diz que devia
ter sido A), o ato não é anulável, é meramente irregular. Proibição de excesso de validade.

Anulabilidade, nulidade e inexistência


Relação entre a anulabilidade e nulidade
Regra geral: os atos são anuláveis – atos administrativos (163.º/1), contratos (283.º/2, 285.º e
284.º/3 CCP).
Sendo a regra geral a anulabilidade, só podemos saber qual é a regra geral no caso concreto
se verificarmos que não preenche as exceções. Temos de ver se aquele caso é ou não um caso
de nulidade previstos quanto aos atos administrativos no 161.º/2 CPA, para os contratos
283.º/3, 285.º/1 e 284.º/2 e 3 CCP, para os regulamentos a regra geral é anulabilidade (144.º)
e os atos de direito privado, a regra é nulidade (280.º e 294.º CC).

o regime jurídico da anulabilidade


Quanto à anulabilidade, os atos anuláveis produzem efeitos como se fossem válidos. Os atos
anuláveis gozam da presunção de legalidade, até prova em contrário devem ser tratados como
atos válidos. Podem ser anulados por via judicial (anulação judicial) ou podem ser anulados
por via administrativa (anulação administrativa.)
Em regra a anulação é retroativa, mas pode haver regulação diferente.

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Os atos anuláveis consolidam-se na ordem jurídica pelo decurso do tempo. Se não forem
anulados pelo decurso do tempo, a regra é no prazo de 1 ano (5 anos em alguns casos), os
atos anuláveis consolidam-se na ordem. Um ato anulável consolidado na ordem jurídica pode
dizer-se que fica sanada a invalidade? PO: não. Um ato anulável consolidado não está
sanável, torna-se apenas intocável pelo poder judicial, não passou a ser um ato válido, passou
apenas a não poder ser destruído pelo tribunal.
Se um ato inválido, consolidado na ordem jurídica pode fazer nascer direitos a terceiros?
Problema do direito à igualdade na ilegalidade.
A administração pode impor pela força um ato anulável e eu tenho dever de obediência. Pois
até prova em contrário feita em tribunal, aquele ato é válido. Como posso acatar? Uma via:
pedido, providencia cautelar, chamado pedido da suspensão da eficácia/suspensão do ato.
Pedido feito no tribunal para que este ordene que a administração não exerça o mesmo. O
privilegio da execução prévia, tanto existe nos atos válidos, como em atos inválidos se forem
anuláveis.

o regime jurídico da nulidade


Os atos nulos não produzem efeitos jurídicos, não gozam da presunção da legalidade e por
isso não são obrigatórios. Não é possível o privilegio de execução prévia nem autotutela
executiva face a atos nulos. Se nos quiserem impor um direito nulo, possuímos o direito de
resistência.
Ainda que um ato nulo possa ter a aparência de ato válido, este não o é.
Os atos nulos podem produzir efeitos de facto, e efeitos jurídicos reflexos ou atípicos (ex.: se
eu pratico um ato nulo que gera prejuízos, o destinatário tem todo o direito a ir a tribunal e
pedir indemnização pelos efeitos – os atos nulos podem não produzir os seus efeitos jurídicos
mas podem produzir efeitos reflexos).
Esta pode ser invocada, conhecida, declarada a todo o tempo – 161.º CPA.
A declaração de nulidade é reservada aos tribunais administrativos e a certos órgãos da
administração – artigo 162.º CPA.
A nulidade, quando declarada, não introduz nenhuma alteração na ordem jurídica, o ato é
meramente declarativo uma vez que nunca produz efeitos.

→ Artigo 162.º/3 CPA: vem permitir a destruição dos efeitos da nulidade. Efeitos meramente
de facto de atos nulos podem ser reconhecidos/tidos em efeitos jurídicos – reconhecimento de
efeitos jurídicos/convertidos em efeitos jurídicos em nome de três princípios: decurso do
tempo (usucapião dos efeitos), principio da boa-fé e tutela da confiança.

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inexistência jurídica
Entendia-se, no século XIX, que não existia nulidade sem lei, pelo que os casos eram
agrupados. Criou-se a inexistência.
• Absoluta irreconhecibilidade do ato: o ato não é em classe alguma reconhecível (ex.:
um professor está com alunos na mesa do bar e faz perguntas de direito administrativo
e diz, estás aprovado ou não estás – inexistência pois não se reconhece pela aparência
que houve qualquer tipo de exame).
• Situações fora da fronteira do direito/gravosas: a nulidade não pode ser a resposta.
• Podem haver situações de inexistência quando está em causa a aplicação de uma lei
que é inexistente (ex.: lei que não foi referendada/promulgada pelo PR, a falta de
promulgação gera inexistência jurídica).

PO: nestes casos de inexistência derivada ou sucessiva aplicam-se as regras de nulidade –


artigo 162.º/3 CPA. A administração não é responsável.

07/04/2022
Conclusão da parte geral do procedimento administrativo.

O outro lado da ilegalidade


Os efeitos da invalidade podem reabilitar-se? Há casos em que a nulidade pode ser
aproveitada reconhecendo-se efeitos jurídicos (162.º/3 – decurso do tempo, boa-fé,
proporcionalidade).
Os atos inválidos podem produzir efeitos e os seus efeitos, ainda que inválidos na sua origem,
podem tornar-se juridicamente intocáveis. Porquê?
• Segurança e proteção da confiança.
• Principio de aproveitamento de atos inválidos.

Ideia de economia de meios: se podemos aproveitar um ato inválido para se produzir


determinado efeito, poupa que se tenha de repetir um ato. Fontes:
• Reabilitação por intervenção do legislador: pode ser feito quando o legislador utiliza
uma lei retroativa (ex.: há a lei X de 2010 e ao abrigo desta foram praticados os atos
X1, X2 e X3 o primeiro em 2015, 2016 e 2018 – estes atos são desconformes com a
lei de 2010 pelo que são inválidos. Como é que é possível que uma outra lei venha
reabilitar os efeitos destes atos? Imagine-se a lei Y publicada em 2022 que diz que
produz efeitos a partir de 2015, ao produzir efeitos retroativos, dá cobertura aos atos
praticados em 2015, 2016 e 2018).
Limites:
→ Deve respeitar direitos fundamentais porque as leis em matérias de direitos
fundamentais não podem ser retroativas (18.º/3 CRP).

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→ A lei nova nunca pode impedir o acesso aos tribunais de quem se sentiu lesado
com a prática destes atos – a retroatividade não pode impedir o direito a uma
indemnização nem a responsabilidade civil do estado – não pode apagar lesões
que tenham sido produzidos pelos atos ilegais praticados pelo 2015 a 2018.
→ Saber se a lei nova sofre ou não de invalidade – se esta tem apenas como
fundamento reabilitar efeitos na sua retroatividade, pode discutir-se se haverá
aqui situação de desvio de poder legislativo pois o motivo principalmente
determinante do ato administrativo não é para sanar ilegalidades
administrativas: a lei nova sofre de desvio de poder se esta não produzir
efeitos para o futuro.

• Por intervenção administrativa: a administração vem sanar a posteriori aquilo que fez
anteriormente. Esta reabilitação pode ter diversas configurações:
→ Ratificação administrativa: de cunho ratificador, 164.º CPA (ex.:
incompetência relativa, estamos dentro da mesma PC, órgão A invade
competência do órgão B, o segundo pode ratificar o ato – o órgão competente
sana a invalidade do outro órgão OU vícios de forma: faltava a
fundamentação). corrige o vicio de competência ou vicio de forma de que
padecia.
→ Reforma: 164.º CPA – a administração expurga/retira o anterior ato uma parte
que é inválida (ex.: a invalidade está na clausula acessória, esta é retirada).
→ Conversão: 164.º CPA – através desta, aproveita-se de um ato anterior a parte
que não está viciada para dar origem a um novo ato.
 Na reforma elimina-se a parte invalida mas o ato permanece o mesmo;
na conversão há dois atos: o ato que tem o vicio e deste so se aproveita
a parte válida para com essa dar origem a um novo ato (ex.: nomeação
definitiva, mas a lei só permitia uma nomeação provisória: aproveita-se
a nomeação mas é apenas provisória).
→ Anulação administrativa: 165.º e seguintes – a administração repõe a validade
cessando os efeitos do anterior ato invalido. A anulação é sempre retroativa.

• Por intervenção judicial: 292.º e 293.º CC – os tribunais podem converter ou reduzir;


modelar efeitos da invalidade numa aplicação do principio do 282.º/4 CRP → 283.º/4
e 285.º/4 CCP; 162.º/3 e 163.º/5 CPA.

• Pelo decurso do tempo: a supressão da falta de certos elementos (92.º/5 e 6) permite


na anulabilidade que o ato se consolide na ordem jurídica; nos casos de nulidade
permite que sejam reconhecidos efeitos jurídicos a atos nulos tal como na inexistência
derivada ou consequente. Este não torna valido o que era inválido, apenas impede os
tribunais de destruir esses atos com fundamento na invalidade.

Na retificação está em causa a correção do enunciado linguístico, está em causa uma


correspondência entre a vontade real e a vontade declarada (174.º/1 CPA).
Saber se todos os erros de escrita podem ser objeto de retificação se esta se traduz
numa lesão do destinatário.

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No tema da retificação podem ser erros de escrita ou erros essenciais.


Podem existir retificações de segundo grau quando a própria retificação tenha gralhas –
problema da retificação da retificação.

Parte especial do procedimento


• Regulamentos
• Atos
• Contratos

regulamentos
Normas emanadas pelos órgãos da administração no exercício da função administrativa.
titularidade: quem tem competência regulamentar? Dois grandes detalhes:
• Atribuída pela constituição diretamente: a quem é que a constituição atribui
competência?
→ Governo: competência regulamentar para execução das leis, subordinada,
complementar mas também atribui competência regulamentar independente, que
permite ao governo elaborar decretos regulamentares ou resoluções do conselho
de ministros de natureza normativa.
→ Regiões autónomas em dois cenários: têm competência regulamentar em relação
aos decretos legislativos regionais e em relação às leis da republica, salvo se as
leis reservarem para o governo esse poder. Governo regional: competência
regulamentar em sede da organização em fundamento (231.º/6).
→ Autarquias locais: 241.º CRP – têm competência regulamentar em matérias de
interesse local, das populações das localidades e há competência regulamentar
dos órgãos do município, das freguesias (assembleia, junta) e haverá das regiões
administrativas (se forem criadas).
→ Universidades publicas: 76.º/2 CRP, os estatutos das universidades ou das suas
unidades orgânicas, regulamentos de avaliação – competência regulamentar
atribuída às universidades.
→ Associações publicas: 267.º/4 CRP – têm poder regulamentar diretamente
fundado na constituição. Ex.: códigos deontológicos, ordem dos advogados,
ordem dos médicos.
O poder legislativo está impedido de invadir esta esfera de decisão das associações publicas,
se o fizer há, pelo menos, usurpação de poderes pois está a invadir reserva de decisão do
poder administrativo.

Nota 10: não é possível delegar poder de regulamentar conferido na constituição se a


constituição não permitir essa delegação: todo o poder regulamentar que a constituição define
e que atribui a A a B ou a C, não pode ser atribuído a D, E ou F por delegação de poder, a não

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ser que a própria constituição o permite – principio da imodificabilidade da competência


constitucional.

• Atribuída pela lei: estruturas com competência regulamentar conferidas por lei – todas
as restantes:
→ Todas as PC publicas têm competência regulamentar, não há entidades
públicas sem poderes regulamentares. Como sabemos que têm? Todas aquelas
fora das ditas acima, têm poder regulamentar com fundamento na lei.
→ Levanta uma duvida: podem as entidades reguladoras, autoridades
administrativas independentes, exercer poder regulamentar diretamente
fundado na constituição? Não, o poder das autoridades reguladores não pode
excluir a intervenção regulamentar do governo, pois é este nos termos do 199.º
CRP que a constituição confere o poder para a boa execução regulamentar das
leis.

Titularidade
Nota 11: É possível a existência de poder regulamentar com base no principio geral ou com
base costumeira (ex.: hierarquia administrativa – superior hierárquico pode emanar instruções
sobre toda a matéria do subalterno – o poder de direção é inerente ao vinculo hierárquico)
Nota 12: Todos os órgão colegiais têm, mesmo que a lei não o diga, o poder da auto-
organização interna através da feitura do respetivo fundamento
Nota 13: 142.º/1 CPA: regra – quem tem poder para emanar um regulamento, tem poder para
o interpretar, suspender, modificar ou revogar.

12/04/2022
21/04/2022
A atuação da administração vulgar é através de atos administrativos que têm uma primeira
grande dicotomia – atos constitutivos ≠ atos declarativos:
• Atos constitutivos: há a introdução de uma inovação, alteração, cria-se qualquer coisa,
o direito passa a ter algo mais do que tinha.
• Atos declarativos: não inovam na ordem jurídica ou pelo menos não trazem nenhuma
alteração à situação jurídica concreta.

Atos constitutivos
Atos que incidem sobre situações da vida concreta, social, traduzem-se na primeira
regulação, solução jurídica de uma determinada situação: atos primários (ex.: classificação
de um teste escrito, exame de primeira época).

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Incidem sobre anteriores atos, têm como objeto outros atos jurídicos, são regulações
derivadas de atos anteriores: atos secundários (ex.: revisão da classificação, exame de
melhoria de nota/recurso).

1. Atos primários têm três possíveis objetos:


• Impõem uma determinada conduta – atos impositivos/injuntiva.
→ Atos ablativos (amputam situações jurídicas subjetivas – impõem o sacrifício
patrimonial).
→ Atos obrigacionais: que criam obrigações (p.e.: tributária, natureza fiscal,
pagamento de uma taxa).
→ Atos de natureza sancionatória: correspondem à aplicação de uma sanção
(multa – sancionatório e obrigacional).

• Atos que se limitam a permitir uma conduta mas não é imperativa, autorizam que se
adote uma determinada conduta – atos permissivos.
→ Autorização VS licença – como se diferencia? Ambos permitem uma conduta,
mas na autorização permite-se uma conduta que normalmente é licita, na
licença, pelo contrário, permite-se uma conduta que normalmente será ilícita
(ex.: licença de porte de armas).
→ Concessão: a administração confere a um sujeito novas posições jurídicas
ativas.
→ Admissão: alguém ingressa numa determinada categoria, ficando sujeita a um
regime administrativo especifico.
→ Delegação de poderes: ato pelo qual o delegante permite que o delegado
exerça poderes. 44.º a 50.º CPA.
→ Dispensa: permissão para alguém não cumprir um dever.
→ Renúncia: é o ato pelo qual alguém afasta uma posição jurídica favorável. A
renuncia à competência gera nulidade e responsabilidade.

• Atos que têm como função ser motor para desencadear determinadas condutas – atos
compulsórios.
→ Pedido: formulado por uma entidade a outra.
→ Proposta: desencadear de um determinado procedimento (ex.: alteração de
uma determinada construção).
→ Diretiva: ato que visa definir fins para a atuação de estruturas administrativas
(ex.: diretiva usada pelas entidades de superintendência relativamente aos
entes que estão sob a sua superintendência).
→ Recomendação VS advertência – como se diferencia? Na recomendação não
está em si a ideia de um efeito negativo, por ex.: o governo recomenda que
não se fume, se for formulada como fumar mata, há aqui mais do que uma
recomendação. “Se não estudarem vão reprovar” – advertência, é mais do que
uma recomendação, mas “devem começar a estudar” já é recomendação.

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Nota 14: principio mais importante do procedimento administrativo: principio do


procedimento equitativo – não há procedimento equitativo se em atos de natureza
sancionatória não se der (p.e.: o direito ao contraditório).
Tem sido defendido que o governo pode, em áreas de reserva da AR emitir recomendações
sem lei de autorização e em matéria de reserva absoluta, mas não pode emitir normas de
conteúdo normativo – PO tem dúvidas: a constituição quando atribui competência sobre
determinada matéria ao parlamento, fá-lo sem especificar se são normas de natureza injuntiva
ou explicativa – natureza dos atos.

2. Atos secundários
• Atos que acrescentam alguma coisa, completam atos anteriores, que lhes atribuem
qualquer coisa que não tinham antes – atos de natureza integrativa.
→ Aprovação: confere-se eficácia a um ato, permite o inicio da produção de
efeitos de um anterior ato, confere a possibilidade de conferir efeitos.
 Autorização permite uma conduta enquanto que a aprovação incide
sobre ato anterior e confere eficácia.
→ Homologação: ato homologado – praticado por um subalterno; ato de
homologação – o superior hierárquico faz seu o conteúdo e efeitos do ato que
é objeto desse homologação. Na homologação chama a si a “paternidade” do
ato que foi apresentado. Se há vícios no ato homologado eles passam
totalmente para o ato da homologação.
→ Confirmação: ato pelo qual um órgão que não foi o seu autor expressa a
concordância com o ato praticado por um outro órgão (ex.: revisão de prova
escrita que foi corrigida por assistente, e o regente diz que mantém a
classificação, a manutenção desta é uma confirmação do ato praticado por
quem viu a prova em primeira instancia)
→ Ratificação: órgão que é excecionalmente competente (ex.: age em estado de
necessidade).

• Atos que em sentido contrário diminuem ou levam à cessação de efeitos da norma


anterior – atos desintegrativos.
→ Revogação + anulação administrativa: fazer cessar os efeitos de um anterior
ato administrativo.
→ Na revogação há cessação de um ato por razões de mérito ou falta deste.
→ Na anulação, a cessação dos efeitos tem como causa a invalidade do ato. Só os
atos anuláveis podem ser objeto de anulação. Um ato nulo não produz efeitos
pelo que não pode ser objeto de anulação.

• Atos que modificam, introduzem alterações em anteriores atos – atos modificativos:


→ Sem caracter saneador: atos que modificam sem terem propósito de sanar ou
corrigir.
 Em sentido estrito: introduz uma modificação num anto anterior, sem
que envolva paralisia de efeitos ou correção de erros.
 Suspensão: paralisia temporária dos efeitos anteriores.

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 Retificação: correção de lapsos ou erros materiais.

→ Com caracter saneador: têm como propósito induzir alterações para


afastar/remover a invalidade anterior
 Ratificação-sanação: ocorre em atos de incompetência relativa,
significa que o autor competente sana.
 Reforma: amputa-se/corta-se a parte que está viciada do ato,
mantendo-se o mesmo ato em vigor.
 Conversão: aproveitar a parte válida para que essa dê origem a um
novo ato.

Ainda atos constitutivos, temos os atos consensuais: ato unilateral da administração que
assenta num prévio acordo (ex.: marcação das datas das frequências é um ato praticado pela
diretora que assenta no consenso entre os delegados de turma quanto à ordem):
• Natureza procedimental.
• Natureza substantiva.

Problema: em caso de incumprimento de uma das partes, a outra pode invocar a exceção do
não cumprimento para não obedecer?

Atos declarativos
têm três modalidades:
• Atos de verificação: traduzem-se na certificação, apreensão de factos, comprovação
de factos da declaração de conhecimento ou de ciência.
→ Atos de comprovação
→ Atos de certificação
→ Atos de aclaração
→ Atos de verificação constitutiva

• Atos de valoração

26/04/2022
Atos desintegrativos
Determinam a cessação de efeitos do ato anterior.
• Revogação: os efeitos cessam com base numa fundamentação que tem a ver com o
mérito, oportunidade de ato. Num novo juízo por parte da administração, esta entende
que o ato deixou de ser a melhor solução e por isso é revogado.
• Anulação administrativa: razoes de legalidade. A administração repondera, reaprecia
e chega a uma conclusão: o que antes decidi é contrário à lei e procura restabelecer a

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legalidade do ato através da figura da anulação administrativa. Cessação de efeitos de


um ato anterior com fundamento na sua invalidade.

revogação
Por razões de mérito, conveniência e oportunidade (165.º/1 CPA). É possível dois tipos de
revogação:
• Revogação com efeitos meramente destrutivos/revogação simples: é revogado o ato X
(ex.: alguém tem uma pensão que pode terminar – deixa de .
• Revogação substitutiva: substitui, tem em si um novo conteúdo, nova disciplina para
aquela matéria – o conteúdo do ato anterior é substituído por uma nova disciplina
jurídica de matéria (ex.: reforma do senhor A passa de 100€ para 120€: tem novo
conteúdo).

Há sempre dois atos:


• Ato de revogação/ato revogatório.
• Ato que foi objeto da revogação/revogado.

Diferencia-se da anulação de acordo com o fundamento, e também se diferencia da


suspensão. A segunda é a paralisia temporária dos efeitos, a revogação é a suspensão
definitiva. Há casos de falsa suspensão, exemplo.: se a uma pessoa idosa se suspende a
reforma por um prazo de 10 anos equivale a uma revogação; um aluno comete uma infração
disciplinar e a sanção equivale a uma suspensão de frequentar as aulas durante 4 anos,
equivale a uma expulsão – há que ver se o conteúdo da suspensão não tem efeito análogo a
uma revogação.

Existem, ainda, outras formas de revogação diferenciando-a em termos de espécies:


• Iniciativa oficiosa: própria administração que toma a iniciativa da revogação.
→ Retratação: o próprio autor do ato volta atras na decisão.
→ Outro órgão revoga, ex.: superior hierárquico.

• Requerimento do interessado: iniciativa desencadeada em requerimento do


interessado. O destinatário não se conforma com a solução e o particular requer a
revogação.
→ Reclamação: requer a revogação ao autor do ato (191.º e 192.º CPA).
→ Recurso administrativo/gracioso: pedida a um órgão diferente do autor do ato
(193.º a 199.º CPA) – órgão: superior hierárquico (recurso hierárquico) ou
delegante (relativamente a atos praticados pelo delegado). É dentro da
administração.

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Quanto aos efeitos, a revogação poderá ser:


• Revogação ab-rogatória: com eficácia ex-nunc.
• Revogação com eficácia retroativa: com eficácia ex-tunc.

Ato praticado em 10/01/2022 e este é revogado hoje, dia 26/04/2022, esta revogação pode ter
duas dimensões temporais diferentes:
1. Na primeira hipótese (ex-nunc), a revogação só produz efeitos a partir do dia de hoje, para
o futuro. Todos os efeitos que este ato praticou, mantêm-se na ordem jurídica – regra geral
(171.º/1 CPA – proteção da confiança).
2. Na segunda hipótese (ex-tunc), todos os efeitos que o ato de 10/01 produziu, desaparecem
juridicamente da ordem jurídica.
• Poderá dar-se uma revogação de um ato já revogado: se a primeira revogação
apenas produzir efeitos para o futuro, mas depois verifica-se que é melhor revogar
todos os efeitos que ele produziu no passado.

Nota 15.: ato de 26/04 revogou o ato de 10/01, juridicamente isto não é correto. O que o ato
de 26/04 fez foi revogar os efeitos que o ato de 10/01 produziu – o ato em si é uma realidade
histórica que não se pode apagar, pois existiu historicamente. Em termos jurídicos
eliminamos os efeitos decorrentes do ato.
Nota 16.: ato de 26/04 será revogado dia 27/04 – revogação do ato revogatório. Problema
jurídico: saber se há ou não efeito repristinatório? Quando este ato for revogado, o outro
(10/01) renasce por efeito do ato de dia 27/04? A lei não impede, nem impõe este efeito
(tutela da confiança).

Quem pode revogar? Este tema suscita cinco estruturas decisórias:


• Autor do ato (169.º/2 CPA): só mantém o poder de revogar se não perder a
competência (ex.: delegado, 169.º/4 CPA). Tem competência ao abrigo da
competência dispositiva – quem tem poder parta configurar, tem poder para
desconfigurar essa norma.
• Superior hierárquico: o fundamento é o poder de supervisão. Ainda que a lei nada
diga, este é sempre competente para revogar, e pode fazê-lo através de:
→ Porque chamou a si a decisão daquele caso;
→ Porque alguém interpôs recurso hierárquico da decisão do subalterno para o
superior hierárquico.
A lei exclui a possibilidade do superior hierárquico revogar atos praticados ao abrigo
de competência exclusiva do subalterno – a competência exclusiva exclui o poder de
revogação do superior hierárquico (se o fizer, haverá incompetência relativa porque é
dentro da mesma entidade publica) – não pode revogar, mas pode dar ordem no
sentido em que quer ver o ato revogado pelo seu autor subalterno. Este terá de
cumprir ou haverá responsabilidade disciplinar.

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• Delegante: pelos atos praticados pelo delegado. Pode a qualquer instante revogar um
ato – quem pode o mais, pode o menos. (subdelegante: pode revogar os atos
delegados pelos subdelegados).
• Órgão com poder de superintendência (169.º/5): reflete a orientação tradicional. O
órgão tutelar tem poder revogatório se a lei o conceder.
→ PO: não é preciso a lei conceder este poder revogatório à entidade de
superintendência e entidade tutelar. O artigo 51.º CRP permite o direito de
petição dos particulares em relação ao órgão da administração, uma das
formas de petição é o pedido de revogação. Este direito goza de aplicabilidade
direta: na ausência de lei ou na presença de lei, a administração está obrigada a
respeitar o direito de petição. Quando for formulado um pedido de revogação,
a entidade que recebe tem a faculdade de revogar o ato objeto dessa petição.

• Órgão competente que foi preterido (169.º/6): exemplo.: a CML praticou um ato que é
da competência da assembleia municipal de lisboa, padece de um vicio de
incompetência relativa (dois órgãos da mesma pessoa coletiva) – quem pode revogar?
Pode revogar o ato o órgão competente que foi preterido, neste caso a AML pois o
órgão competente não pode perder a competência só porque terceiro invadiu a sua
esfera. Competência dispositiva: a competência não pode estar nas mãos de um órgão
incompetente.

Nota 17.: 44.º/5 CPA – os atos praticados pelo delegado valem como se tivessem sido
praticados pelo delegante ou subdelegante. Quando este revoga os atos do delegado,
consequentemente está a revogar o seu ato.

Regime a que a revogação obedece – ideias nucleares:


• Existem atos de revogação impossível (166.º/1 CPA): nulos, atos que já foram
anulados pelo tribunal, atos que anteriormente foram revogados com eficácia
retroativa – se nunca produziram efeitos ou se estes desapareceram da ordem jurídica
não há nada para revogar. Revogação sem objeto e os atos cujo objeto é impossível
são atos nulos.
• Os atos válidos só são livremente revogáveis com fundamento em razões de mérito
(167.º à contrario sensu). Exceções (quando um ato válido não pode ser revogado):
→ Se resultarem de uma vinculação legal (167.º/1).
→ Atos que criam obrigaçoes legais ou direitos irrenunciáveis à administração
(167.º/1).
→ Atos constitutivos de direitos: em principio não podem ser revogados. Têm um
regime especial de revogação:
 São aqueles que obedecem ao conceito do 167.º/3 CPA – o que atribui
uma posição jurídica favorável; amplia uma posição jurídica favorável;
o que destrói uma posição jurídica desfavorável.
 Se eles são válidos, em principio é proibida a revogação – exceção:
167.º/2 CPA.

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 Dois tipos de atos que não são constitutivos de direitos neste regime:
atos precários (167.º/2, a), 167.º/3 CPA) aqueles que aparentemente
atribuem um direito mas têm clausula acessória que fragiliza o direito
(ex.: esta licença pode ser revogada a qualquer instante), estes seguem
o regime dos atos não constitutivos. Os atos verificativos, por sua vez,
não atribuem nada, pelo que não são constitutivos de direito, mas
seguem esse regime.

28/04/2022
A revogação em principio é permitida mas há atos em que a lei excluí a admissibilidade da
revogação:
• Ou porque é impossível, não é possível a revogação nos casos previstos no 166.º/1.
• Casos em que a revogação, sendo juridicamente possível é legalmente impedida:
situações do 167.º/1.

Atos constitutivos de direito: englobam três diferentes situações (167.º/3):


• Atos que criam posições jurídicas favoráveis.
• Ampliam posições jurídicas favoráveis já existentes.
• Libertam posições jurídicas passivas.

Regra: proibição da revogação – exceção: 167.º/2 CPA.


Superveniência de conhecimentos técnico científicos: admissível – 167.º/4 e 5 CPA.

Forma do ato de revogação


170.º/1 – principio do paralelismo da forma: a revogação deve ter a forma do ato revogado,
deve ter a solenidade e importância que foi dado ao ato revogado. Só assim não sucede se a
lei não estabelecer forma para o ato revogado ou se este tiver excesso de forma (170.º/2).

Formalidades do ato de revogação


Paralelismo das formalidades: o ato de revogação deve respeitar as formalidades que a lei
fixou para a feitura do ato revogado – 170.º/3, exceções no mesmo artigo.

A revogação em principio só produz efeitos para o futuro (171.º/1), mas há casos em que a
revogação pode ter efeitos retroativos (171.º/1) – se a retroatividade for mais favorável ou se
os interessados todos concordar.

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anulação administrativa
175.º/2 CPA: ato pelo qual a administração com fundamento em invalidade determina a
cessação dos efeitos de um ato anterior.
A administração age com fundamento no principio da juridicidade/legalidade – a anulação
visa repor a legalidade que tinha sido violada com o ato que vai ser objeto de anulação.

Nota 18.: a anulação administrativa pressupõe que o ato anulado seja invalido, mas essa só se
pode reconduzir à figura da anulabilidade: os atos anuláveis produzem efeitos, mas os atos
nulos ou inexistentes não produzem efeitos pelo que não são passiveis de anulação
administrativa – nestes atos haverá declaração de nulidade ou inexistência. A anulação é um
ato constitutivo, uma alteração na ordem jurídica: a cessação de efeitos do ato em causa – os
atos anuláveis produzem efeitos até serem destruídos. A declaração de nulidade ou
inexistência não introduz nenhuma inovação, é meramente declarativo, apenas afirma que é
nulo ou inexistente.

Nota 19.: perante um ato que é anulável, o que é que a administração deve fazer? Haverá um
poder vinculado de anular? Será que a administração tem o poder discricionário, se quiser
não anula? Tem consciência que agiu em desconformidade com a lei, mas nada faz? –
vinculação da administração à legalidade e juridicidade, não só determina que deve cumprir a
lei, mas que em caso de violação da lei ele deve repor a legalidade do ato.
• PO: anulação não é vinculada por uma razão: perante um ato anulável a administração
pode escolher dois caminhos:
→ Anular o ato: destruir os efeitos do ato, determinar a cessação da vigência dos
efeitos do ato.
→ Sanar a invalidade:
 Ratificação saneadora.
 Reforma.
 Conversão do ato administrativo.

Se não agir, é violação por omissão da legalidade: efeitos lesivos do ato praticado são
imputados a quem tinha poder de repor a legalidade e não o fez.

Artigo 163.º/5 CPA: é aquele que transforma a anulabilidade em mera irregularidade, pelo
que não se produz o efeito anulatório.

? Se eu pedir que a administração anule um ato que por força deste artigo é um ato que seria
anulável, mas que a lei diz que não produz efeito anulatório, o que é que a administração
deve fazer a esse pedido? Deve anular ou não deve anular?

R: administração está vinculada a indeferir o pedido de anulação – há uma mera


irregularidade.

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? Eu, administração, procedo à anulação, esta é válida ou invalida?


R: 163.º/5 exclui o efeito anulatório: não posso anular.
Um ato que é anulável, mas que não pode ser anulado, pode ser revogado?

Destinatário do 163.º/5: tribunais e administração.


Anulabilidade que é reconduzida a uma irregularidade nos termos do 163.º/5, este ato X se
for anulado pelo ato Y, inválido, passa a ser o ato Y pois viola o 163.º/5, sofre de violação de
norma e é ele por sua vez anulável.

Anulação administrativa: feita pela administração ≠ anulação judicial: feita pelos tribunais.

Espécies de anulação administrativa:


• Oficiosa: própria administração toma iniciativa de anular (169.º/1)
• Resultado de requerimento do particular dirigido ao próprio autor do ato (reclamação)
ou outro órgão diferente do autor (recurso).

Efeitos: em regra, a anulação produz efeitos retroativos (163.º/2 e 171.º/3) – se a anulação se


fundamenta em razões de ilegalidade, repor a legalidade é destruir todos os efeitos ilegais.

Anulação administrativa atípica:


• Há casos em que a anulação só produz efeitos para futuro – ex nunc (168.º/4, b) e
171.º/3, segunda parte).
• Anulação que modele os efeitos e neste caso o ato anulável pode produzir efeitos
(163.º/5).
• Casos em que a anulação envolve dever de indemnizar: situações do 168.º/6.

Fundamento: reposição da legalidade.


A anulação é um sucedâneo da intervenção judicial, é uma chance que a lei dá à
administração para repor a legalidade antes da administração ser questionada em tribunal.

Competência anulatória:
Regra geral: segue o mesmo regime da competência para revogar. Há, todavia,
especificidades:
1. O órgão incompetente a praticar o ato tem competência para o anular: principio do
autocontrolo da validade (169.º/3).

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Ex.: CML pratica ato da AML: quem pode anular? Pode anular a AML porque é o órgão
competente, mas também, ao abrigo do principio do autocontrolo da legalidade, o órgão
incompetente tem competência para anular o ato que praticou ferido de incompetência, pelo
que a CML também poderia anular, mesmo não sendo competente para praticar o ato.

2. O superior hierárquico pode anular todos os atos praticados pelo subalterno mesmo os da
competência exclusiva
Não tem competência exclusiva fora da legalidade: se pratica um ato ilegal, o superior tem
dever de repor a legalidade (169.º/3).

Regime a que está sujeita a anulação:


• Existem atos de anulação administrativa impossível: os mesmo que não podem ser
revogados – nulos, que já foram revogados (166.º/1).
• Invalidade do ato só fundamenta a sua anulação durante certo prazo o que significa
que a anulação está sujeita a prazos (168.º/1) – uma anulação fora do prazo é uma
anulação inválida. Prazos:
→ A anulação só pode decorrer dentro dos 5 anos subsequentes à pratica do ato
inválido.
→ Se o órgão competente tinha conhecimento da invalidade tem 6 meses para o
poder anular – se não o fizer, a partir do momento em que eu tenha
conhecimento ainda que estejam a decorrer os 5 anos, já não posso anular.
→ Os prazos podem ser encurtados se o ato invalido for objeto de impugnação
contenciosa, se o ato é impugnado pelo tribunal – a anulação só pode ocorrer
até ao final da decisão do tribunal (168.º/4).
→ Quando há impugnação judicial, o ato só pode ser objeto de anulação oficiosa,
já não é possível a anulação a pedido dos interessados (168.º/5).

• Regime especial para a anulação dos atos constitutivos de direitos: só podem ser
anulados dentro dos seguintes prazos:
→ Em regra prazo de 1 ano a contar da sua emissão (168.º/2), salvo se tiverem
sido impugnados contenciosamente – só podem ser anulados até ao
encerramento da discussão (168.º/4).
→ Casos excecionais que a lei consagra 5 anos: 168.º/4.
→ Pode não haver prazo se a anulação estiver em causa direito da união europeia
nos termos do 168.º/7 – PO: inconstitucional pois viola o caso julgado.
→ Os destinatários que estejam de boa-fé podem ter direito de indemnização pela
respetiva anulação (168.º/6).

• Se uma invalidade se consolidar na ordem jurídica (pelo decurso do tempo), a partir


desse momento o ato apesar de já não poder ser anulado, está sujeito às regras da
revogação – não pode ser anulado, mas pode ser revogado – atos que são válidos de
origem podem ser revogados, aqueles que nasceram inválidos, não poderiam ter
garantia na ordem jurídica mais firme que os anteriores.
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• (código de 2015) duvidas de constitucionalidade aplicado aos atos administrativos:


→ PO: lesa a intangibilidade do caso julgado, 168.º/6 e lesa o principio da
segurança jurídica – porque antes os atos constitutivos de direitos poderiam
ser anulados no prazo máximo de 1 ano, hoje admite-se que sejam 5 anos.

03/05/2022
Anulação administrativa
forma e formalidades
Aplicam-se todas as considerações anteriormente formuladas para a revogação (170.º CPA).

efeitos da anulação para a administração


• Termos temporais: a anulação é retroativa: retroage à data da prática do ato anulado
(171.º/3). Exceções: 178.º/4, b), 171.º/3 e 4. Anulação visa repor a legalidade –
elimina-se os efeitos inválidos do ato em causa.
• Termos materiais: a administração deve reconstituir a situação atual hipotética – esta
deve praticar todos os atos e tomar todas as providencias para repor a situação que
existiria se o ato anulado não tivesse sido praticado (ex.: alguém que foi
indevidamente despedido da função publica, o ato pelo qual a administração
determinou a cessação de funções do trabalhador determina que a administração deve
readmitir o funcionário e pagar-lhe todos os salários e prestações a que tinha direito)
(172.º/1).
→ Através da reconstituição, a administração pode e deve em cettos casos
praticar atos retroativos. Pode aplicar atos administrativos sem dependência de
prazo (172.º/2).
→ Impossibilidade de reconstituição da situação atual e hipotética: um aluno de
medicina foi expulso quando estava no primeiro ano e os tribunais
administrativos só lhe dão razão 5/6 anos depois; Clube desportivo foi
afastado da primeira liga e 3 anos depois é readmitido, é anulado o ato pelo
qual ele é despromovido de divisão. Como é que se vai reconstituir a situação?
Há dano financeiro a indemnizar. Como será readmitido esse clube?
 Casos em que não é possível na totalidade ou em parte a
reconstituição: responsabilidade civil da administração –
indemnização.

efeitos da anulação para os particulares (172.º/3)


Desde que estejam de boa-fé podem estar com uma especial proteção.
Ex.: professor catedrático em 2010 (A) + candidato B + candidato C: os segundos decidem
impugnar em tribunal o facto do A ter ganho o concurso para professor catedrático e o
tribunal dá razão ao B em 2020. A anulação do ato de 2010: A deve devolver todo o dinheiro
que recebeu durante o período dos 10 ano? Os alunos que ele aprovou/reprovou vêm

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anulados as suas situações jurídicas como alunos? – atos consequentes do facto de ter sido
nomeado para exercer essas funções.
Principio da boa-fé e segurança jurídica colocam travões à retroatividade
A anulação do ato não possa ser executada pois o A já está a exercer funções há 10 anos. O B
passa a ter direito a uma nova vaga para os exercício dessas funções?
O A está de boa-fé, aproveita o principio da segurança jurídica.

Um ato anulável que não foi anulado e por isso se consolidou na ordem jurídica não está
impedido de poder ser revogado.

Procedimento
Três tipos de procedimento
• Declarativo: aquele em que a administração define direito no caso concreto:
→ Através do ato primário – procedimento decisório típico/de 1.º grau.
→ Na sequencia de um recurso gracioso: pedido de particular para reapreciação
da decisão.
→ Procedimento administrativo de execução de um ato.

procedimento declarativo típico


1.ª fase: iniciativa
Pode ter dois tipos de iniciativa:
• Iniciativa da administração: oficiosa – 53.º CPA. Dever de comunicação aos
particulares (110.º). Exceções: se a lei dispensar ou notificação prejudicial.
• Iniciativa do interessado: cidadãos desencadeiam o procedimento – 53.º CPA.
→ Requerimento inicial (102.º): formulado por escrito, identificação do
destinatário, identificação do requerente, identificação dos factos,
identificação do fundamento jurídico e deve formular um pedido claro, legal e
precisos – deve conter a data e assinatura do requerente, se não souber ou não
puder assinar deve ter a intervenção de terceiro ou gestão de negócios.
→ Apreciação da administração:
 se particular não cumpriu com os requisitos de forma, a administração
deve indeferir liminarmente (108.º/3).
 Casos em que a administração convida o particular a suprir as
deficiências (108.º) – administração pode, ela, oficiosamente fazê-lo
(108.º/2).
→ Entrega do requerimento: apresentação é feita nos termos do 202.º a 204.º
CPA, pode ser feito em suporte de papel, enviado por correio normal ou
entrega em mão – particular deve pedir recibo – 106.º: meio de prova,

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contagem de prazos para a resposta da administração, para os passos do


procedimento, para se o particular quiser requerer uma resposta.
Pressupostos procedimentais – condições para a administração do que se pede no
requerimento (a contrario, 109.º):
• Formular o pedido ao órgão competente.
• Legitimidade para pedir aquilo em concreto (do requerer).
• O pedido deve ser tempestivo.
• Não pode ter ocorrido caducidade do direito.
Falta destes pressupostos: indeferimento liminar.

Medidas provisorias adotadas pela administração que procuram salvaguardar a decisão futura
(89.º CPA, cessão: 89.º/2 e 90 CPA). Exemplo.: recolha de testemunho de alguém que está na
iminência de morrer.

2.ª fase: instrução (115.º/1):


Conjunto de atos que têm como objetivo apurar os elementos de facto, técnicos de ciência
que são indispensáveis para uma correta decisão. Base factual que permite uma decisão
administrativa (principio do inquisitório). Quem define os termos: 55.º e há diligencias típicas
da instrução – a administração:
• Pode fazer averiguações gerais (115.º): prazo dentro do qual as pessoas que querem
apresentar queixas devem reagir.
• Pode solicitar informações dentro da própria administração (66.º) ou aos próprios
administrados (67.º).
→ Termos em que devem ser apresentadas: 118.º CPA.
→ Recusa legitima em prestar informações: 117.º/2 CPA: quando envolve
violação de sigilo, se implicar o esclarecimento de factos cuja revelação esteja
proibida, se resultar revelação de factos puníveis provocados pelo próprio ou
por próximos (familiares) (direito ao silêncio).
→ Falta de prestação de informações: 119.º CPA – ónus.

• Pode solicitar a apresentação de documentos.


• A administração pode determinar a realização de inspeções (117.º).
• Pode solicitar a sua colaboração.
• Realizar peritagens (ex.: verificar se o certificado de licenciatura é verdadeira ou
falsa).
• Pareceres: 91.º e 92.º CPA

Medidas instrutórias típicas dos particulares: 116.º/1, também eles podem requerer ou
apresentar elementos de prova (apresentar documentos, pareceres, pedir a realização de

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diligências) ou podem pedir a prova dos factos alegados (ex.: foi apanhado a andar a alta
velocidade e o particular pede à administração provar de tal), prova antecipada (120.º).

3.ª fase: preparação da decisão final:


Decisão preparatória, a administração tem o projeto de decisão – diz o sentido decisório e
apresenta os argumentos.
A administração deve:
• Audiência previa dos interessados (121.º a 124.º CPA): pode ser escrita, oral. Há
casos de dispensa de audiência nos termos do 124.º/1 CPA – urgente, se é de acordo
com o que o particular pede ou se este já se pronunciou sobre a matéria. Para alguém
ser ouvido não basta conhecer o conteúdo da possível decisão futura, tem de conhecer
os fundamentos da decisão para que possa contestar sobre os dois.
E se não houver audiência prévia?
→ Em principio determina vicio de forma e o ato é anulável (falta de uma
formalidade).
→ Casos em que a preterição de audiência previa se consubstancia na violação do
núcleo essencial de um direito fundamental: decisões sancionatórias, lesivas
da propriedade, lesivas de liberdade – procedimento não foi equitativo, nulo
por violação de lei, viola o conteúdo essencial de um direito essencial.
→ Diligências complementares (125.º).

Momentos na fundamentação:
• Fundamentar caso não acolha o resultado da audiência prévia.
• Fundamentar a decisão final.
• Fundamentar o projeto de decisão que vai ser objeto de audiência prévia.

05/05/2022
4.ª fase: extinção do procedimento:
• Através de decisões expressas: 93.º e 94.º CPA – expressão de um dever de decisão
(13.º CPA). Por via de regra a decisão tem forma escrita (150.º CPA). 151.º CPA
menções obrigatórias que a decisão expressa deve conter:
fundamentação da decisão (152.º a 154.º CPA):
→ Não basta toda e qualquer fundamentação, é necessário que seja suficiente,
clara e congruente.
→ 153.º/2 tem de ser suficiente. Equivale à falta de fundamentação o não respeito
por qualquer um destes requisitos, se a fundamentação existir mas não for
coerente/clara/suficiente, equivale à falta de fundamentação.
→ Vicio/desvalor jurídico: matérias de natureza sancionatória, lesivas da
liberdade, propriedade – a falta/insuficiência: violação do núcleo essencial que
gera nulidade; nas outras situações em que não poe em causa conteúdo

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essencial, a falta ou insuficiência equivale a vicio de forma que determina


mera anulabilidade.
• Decisão tácita: silêncio com determinado significado de deferimento ou
indeferimento.
• Acordo substitutivo do procedimento: é possível chegar a um acordo que por via
contratual ponha termo ao procedimento (107º e 74º).
• Desistência ou renuncia: o particular pode desistir ou renunciar ao direito em causa
nos termos do artigo 131.º CPA.
• Deserção: o particular deixou de ter interesse (131.º CPA) – causa autónoma de
extinção do procedimento.
• Impossibilidade ou inutilidade superveniente (95.º): tornou-se impossível satisfazer o
procedimento ou tornou-se uma situação de inutilidade.

Casos de falta de amanto de taxas ou despesas – art.133.º CC – se não for paga uma taxa.
• Se nunca fui notificado, não pode ser exigido o cumprimento dessa obrigação.
• Extingue-se por causa imputável

procedimento que está na base dos recursos graciosos (administrativos)


Há uma decisão da administração, mas não concordamos – vamos impugnar esta decisão
junto da administração.
Regime regra segundo o CPA: recurso hierárquico – 184.º a 199.º CPA
• Necessário requerimento inicial (184.º/3 CPA):
→ Identificação do recorrente – quem formula o requerimento.
→ Identificação do ato objeto de recurso ou omissão do mesmo (ex.: não decidiu
mas deveria ter decidido, 184.º/1 CPA).
→ Fundamentos/razões que posso invocar quando estou a recorrer (185.º/3 CPA).
 Argumento de legalidade – ex.: o ato praticado viola a lei.
 Argumento de mérito – o ato é inconveniente.
• Pedido: revogação, anulação, modificação, substituição do ato, reforma do ato.
Quando não há ato: pede-se à administração decida, o que até então não fez.
• Destinatário do requerimento: órgão da administração (194.º/1) superior hierárquico.
• Deve ser apresentado nos termos do 194.º/1 e 2 CPA.

Efeitos na interposição do recurso:


• Cria o dever legal de decidir, a administração não pode contemplar de braços
cruzados, tem o dever de proferir uma decisão.
• Quando interponho um recurso administrativo, suspende-se ou não automaticamente
dos efeitos do ato que é objeto de recurso? 189.º CPA:
→ Se o ato pelo qual eu recorro dentro da administração é um ato relativamente
ao qual não posso ir a tribunal, não pode ser objeto de impugnação judicial há

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efeito suspensivo na interposição: o recurso administrativo é necessário para


ter acesso à via judicial.
→ Se o ato é passível de impugnação judicial, o recurso administrativo é
facultativo – a impugnação não tem efeito suspensivo.

Em suma: quando é que há efeito suspensivo? Quando o recurso administrativo é necessário.


Quando é facultativo não há efeito suspensivo.

Pressupostos do procedimento de recurso (196.º à contrario sensu):


• Competência do órgão da administração.
• Recorribilidade do ato.
• Legitimidade de quem recorre.
• Tempestividade do recurso ser entregue no prazo.

A falta de qualquer um dos pressupostos determina a rejeição liminar do recurso.


O momento da rejeição pode ser imediato ou pode deixar-se para a decisão final quando a
matéria é de competência.

Notificação dos contra interessados (195.º/1 CPA)


O que são os contra interessados? São aqueles que têm um interesse oposto a quem recorre.
Interesse principal de quem recorre – ver o ato anulado ou revogado, mas podem haver
pessoas que têm interesse em que o ato se mantenha na ordem jurídica (p.e.: A ficou colocado
em 1.º lugar e era concurso em que só havia uma vaga, B ficou em 2.º lugar, se B impugnar
junto do superior hierárquico de quem decidiu, o A é o contra interessado pois quer que a
decisão se mantenha na ordem jurídica).
Estes podem não ser apenas um, mas uma pluralidade.

Intervenção do autor do ato recorrido


Caso acima: B impugnou a decisão que deu o 1.º lugar a A junto do superior hierárquico – A
impugna ato do diretor ao ministro – o ministro tem de ouvir o A e o autor do ato (diretor
geral) e este segundo pronuncia-se sobre o ato que praticou e sobre os argumentos que B
utiliza para contestar a validade do ato (195.º/2 CPA).

É com base neste conjunto de elementos que o superior hierárquico vai decidir:
• Tem os argumentos utilizados por B para contestar a decisão.
• Tem a posição do contra interessado – motivos para manter na ordem jurídica.
• Tem os argumentos do autor da decisão.

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Decisão: 197.º e poderá ser:


• De rejeição liminar: recurso foi interposto fora de prazo
• De improcedência do recurso: o órgão decisório confirma o ato recorrido – tu que
recorreste não tens razão por este e este motivo. O superior hierárquico está a
confirmar a decisão praticada pelo subalterno.
→ O autor da decisão em sede de recurso pode reformar a priori? Pode haver um
agravamento da decisão? Ex.: aluno recorre uma classificação de 10 e na
sequência do recurso verifica-se que merece 7.

CPA diz-nos em sentido contrário o artigo 195.º/4, em sentido positivo o artigo 197.º/1.
• Decisão de procedência do recurso: administração dá razão ao particular, o órgão
superior hierárquico revoga ou anula a decisão total ou parcialmente. Esta revogação
ou anulação tem limites consoante o subalterno tenha ou não competência exclusiva
(197.º/1 e 4 CPA). Prazo para decisão: 198.º CPA – 30 dias ou 90 dias.

Em principio, da decisão de recurso não cabe reclamação (191.º/2 CPA), salvo se:
• Houve omissão de pronuncia, se o superior hierárquico (B dia que o ato é ilegal pelo
argumento 1 e 2, o SH apenas analisou o argumento 1, o B pode reclamar).
• Se há contradição entre duas decisões de casos semelhantes (para A decide de uma
forma, para B decide de outra).

procedimento de execução dos atos


Permite, depois de definir o direito (autotutela declarativa) passar para efetividade prática do
que se decidiu (passa se do mundo do direito para o mundo dos factos).
• Regra no direito português: privilegio de execução previa ou autotutela executiva.
AP define o direito no caso concreto e perante a falta de cumprimento voluntario, a AP pode
pela força obrigar os destinatários a acatar, independentemente de intervenção judicial.
Regulada nos 175.º a 183.º CPA – obrigaçoes pecuniárias (179.º), entrega de coisa certa
(180.º), prestação de factos (181.º).
Principio geral – 176.º CPA: a administração só pode impor coativamente a satisfação das
obrigações nos casos e termos expressamente previstos na lei. ou seja, não há hoje um
principio geral de privilegio de execução prévia. Nos casos em que não esteja expressamente
previsto na lei, a administração só tem uma solução: ir a tribunal.
• Exceções: situações de urgência e necessidade: administração goza de privilégios de
execução previa.

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Momentos:
1.º momento: necessário que exista um ato a executar (177.º), este define o conteúdo e termos
da execução.
2.º momento: necessário a decisão de proceder à execução
3.º momento: administração deve notificar o particular para ele voluntariamente proceder à
execução voluntária (177.º/3 e 4 CPA).
4.º momento: se o particular for notificado e acatar, tudo termina. Se este não cumpre, não
acata voluntariamente, a administração pode executar previamente (179.º/1 CPA). Hoje, 176.º
CPA, a administração deve recorrer aos tribunais (183.º CPA). Acontece que este titulo
judicial, que seria obtido junto dos tribunais depende (8.º/2 DL que aprova o CPA) de 60 dias
para o legislador elaborar esta lei – não há regime que permita dizer que a execução depende
de titulo judicial porque o artigo acima não teve até hoje qualquer execução.
Artigo 6.º DL 4/2015 – enquanto não for publicada esta lei, mantem-se em vigor o regime do
artigo 149.º/2 do CPA de 1991: regra quanto ao privilegio da execução prévia da
administração.

10/05/2022
Estado de necessidade administrativa: não envolve intervenção de órgão de soberania,
permite fazer aquilo que em circunstâncias normais não seria permitido.

Contratos
Procedimento contratual:
Procedimento dos contratos administrativos e o procedimento respeitante aos contratos de
direito privado da administração.
Distinção entre contratos administrativos e contratos de direito privado da AP:
Regime substantivo aplicado – os primeiros são aqueles que em termos materiais e
substantivos são regidos pelo direito administrativo e os seguidos são regidos pelo direito
privado.
Contratos de direito administrativo e de direito privado estão ambos regulados no código dos
contratos públicos e no CPA: ambos, quanto à sua formação, regem-se por regras
procedimentais do direito administrativo.
Lei n.º 30/2021, 21 maio objeto de retificação pelo 25/2021 de 21/07

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Procedimento dos contratos administrativos


Formação do contrato administrativo:
1. Principio da pluralidade de regulações/parametrização reguladora multinível: há varias
fontes reguladoras dos contratos, artigo 1.º-A CCP
• Regulação interna: admitida a existência de acordos quadro – natureza normativa
porque regulam o processo de formação de outros contratos (251.º a 259.º).
• Regulação internacional.
• Regulação europeia.

Peças do procedimento:
• Espécies: anuncio – ato através do qual se comunica que vai ser lançado um
procedimento contratual, programa do procedimento (41.º) e caderno de encargos –
peça que contém as clausulas que irão depois ser incluídas no contrato (42.º/1),
comunicação aos particulares.
A administração procura qual é o agente que reúne melhores condições para celebrar
um contrato com a administração.
• Convidar agentes económicos para a apresentação de propostas: podem ser vistas
como ato unilateral pois expressa a vontade da administração em desencadear o
procedimento ou pode entender-se como uma proposta contratual preliminar sobre as
regras do procedimento pois cada um dos interessados, quando apresenta uma
proposta, não só apresenta como ao fazê-lo manifesta a vontade que concorda com as
regras implicitamente.
Problema jurídico: principio da estabilidade das peças processuais – a administração não
pode a meio do jogo alterar as regras. Este principio conhece limites: artigo 50.º, podem
existir erros ou omissões que justifiquem a AP corrija ou altere as peças- sempre respeitando
a concorrência e transparência dessas correções.
Problema jurídico: como resolver as antinomias entre estas peças? Uma pode dizer que a
solução é X e a outra dizer que para aquela matéria a solução é Y – problema de critérios de
resolução de antinomias.

2. Principio da não plenitude da subordinação dos contratos públicos ao regime do CCP: nem
todos os contratos públicos estão sujeitos a um procedimento regulado pelo CCP.

3. Principio da pluralidade de procedimentos de escolha do cocontratante: através do qual há


vários procedimentos para escolha do cocontratante: como é que a administração vai
escolher com quem vai celebrar o contrato (16.º/1). Sete procedimentos diferentes para a
escolha do cocontratante:
• Ajuste direto: 112.º/2 – convida diretamente uma entidade à sua escolha a apresentar
proposta.
• Consulta prévia.
• Concurso público.

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• Concurso limitado por prévia qualificação.


• Procedimento de negociação.
• Diálogo concorrencial.
• Parceria para a inovação.
Como é que a administração escolhe entre estes sete procedimentos? A grande controvérsia
está entre o ajuste direto em que a administração contrata com particular e o concurso
publico. O ultimo favorece que apareçam mais concorrentes, favorece a concorrência, a
melhor opção para o interesse publico.
O ajuste direto pode ser justificado pela urgência, mas também pode estar em causa uma
prestação que só pode ser satisfeita por alguém – infungível.
Critérios para a escolha do procedimento (e não do cocontratante):
• Adequação do procedimento: tipo de contrato, em função da entidade adjudicante,
critério do valor do contrato, critério assente nas matérias.
• Boa administração entre a celeridade (eficácia) e a transparência (concorrência).
• Preferência pelo concurso publico com regras que permita uma flexibilidade do
procedimento.

4. Principio da complexidade intraprocedimental da adjudicação.


Quem é a pessoa com a qual eu, administração, vou contratar:
• Pluralidade de procedimentos contratuais.
• Do lado da administração intervêm a entidade adjudicante, várias entidades
adjudicantes agrupadas, o decisor, o júri do procedimento e o contratante publico
(quem celebra e assina o contrato).
• Do lado dos particulares: candidatos (apresenta uma proposta), ≠ concorrente (cuja
proposta foi aceite) e seus agrupamentos.
• Entidades consultadas preliminarmente, destinatários de convite a apresentar
propostas ou participar no concurso.
→ Limites: 55.º e 55.º-A
• Adjudicatário: já foi escolhido para celebrar o contrato, foi o vencedor do concurso.
Cocontratante: venceu o concurso e celebra o contrato.
Contratação por via eletrónica: entidades gestoras de contratação publica.
Procedimento eletrónio tem regras especiais.

Fases do procedimento:
• Fase anterior à abertura do procedimento: administração recolhe informações que
permite elaborar o caderno de encargos e programa do procedimento.
• Decisão de contratar: ato pelo qual ela manifesta a vontade de contratar e ato de
permissão da despesa publica + escolha do procedimento + peças do procedimento: o
caderno de encargos e programa é diferente do ajuste direto para o concurso publico.

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• Anuncio do procedimento: publicação (requisito de eficácia através do qual se dá a


conhecer uma vontade e intenção) e envio.
• Duvidas: erros, esclarecimentos, omissões e a administração pode fazer retificações.
• Intervenção dos candidatos: administração decide se estão qualificados – passam de
candidatos a concorrentes ou exclusão – abandonam o procedimento.
• Se são concorrentes entregam propostas que têm de ser analisadas e avaliadas, a
avaliação é feita numa dupla ótica: em termos absolutos e em termos relativos. A
segunda permite compreender porque é que a proposta do A é melhor do que a do B.
• Analise e avaliação das propostas.
• Objeto de avaliação preliminar: relatório que aponta vantagens de cada uma das
propostas, erros, ilegalidades, omissões das propostas e procede com base de uma
grelha, de um juízo comparativo que permite alicerçar uma hierarquia entre as
propostas – este relatório é submetido a audiência prévia dos concorrentes, que têm x
dias para se pronunciarem e, depois, ou aceita ou fundamenta o indeferimento das
observações dos concorrentes. Se há alteração das posições, pode haver um outro
relatório preliminar que leva a nova audiência prévia e continuação.
• Dá-se a elaboração do relatório final: decisor, com base no relatório procede à
adjudicação (é adjudicado o contrato ao concorrente A, que fica em 1.º lugar).
• Celebração do contrato: pode estar dependente de requisitos de eficácia – artigo 127.º
e 287.º
• Intervenção do tribunal de contas: requisito de eficácia nos termos da LOPTC.

17/05/2022
Principio do sancionamento da violação da legalidade + tutela e garantias que os
administrados têm.
5. Sancionamento da violação da juridicidade:
A invalidade dos atos procedimentais que ocorram ao longo de todo o procedimento da
criação do contrato vai se repercutir na decisão de adjudicação.
• Ato de adjudicação: ato final que consagra em si todas as situações patológicas que
ocorreram em momento anterior – comunicabilidade entre o que se passa ajusante.
As invalidades podem dar origem a responsabilidade contraordenacional ou responsabilidade
criminal (ex.: aquando da apresentação da proposta, o interessado tem de apresentar certidão
que não tem dividas à segurança social, que a empresa nunca foi condenada pela pratica de
atos contrários há economia: se apresenta certidão falsa, há crime – acarreta responsabilidade
criminal, para além de toda a invalidade).

6. Tutela garantistica dos interessados:


Visível em diversas manifestações
• Audiência prévia: ninguém pode ser não admitido a um concurso se não for ouvido
previamente, principio do participação.

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→ Interessado pode impugnar a decisão desfavorável (267.º a 274.º CCP)


→ Pode ir a tribunal
→ Pode pedir a suspensão dos atos.
Imaginemos que tudo corre bem e que o contrato foi celebrado e foi vigorado. Termina o
processo de formação e começa a etapa da execução do contrato.

Execução do contrato:
1. Principio do cumprimento das vinculações contratuais ilegais:
Ambas as partes devem acatar/cumprir quer as vinculações que emergem do próprio contrato
(lei entre as partes) como devem respeitar e cumprir as determinações da lei.
Principio da boa-fé (286.º CCP): bilateralizado – ambos devem agir de boa-fé: dever de
executar. Deveres de vigilância.
Se existir incumprimento, esse é objeto de sancionamento (464.º-A CCP).

Gestor do contrato: acompanha a execução do contrato (290.º-A CCP). Esta sujeita a


auditoria, à medida que o contrato vai ser executado, normalmente a administração tem de
pagar uma contrapartida

2. Estabilidade contratual:
Não podem existir durante a vida do contrato alterações do regime, o contrato deve manter-se
o mesmo. Não é possível alterar os termos.
As modificações são sempre modificadas e só nos casos previstos na lei:
• quanto ao objeto (311.º a 315.º) – alterações de circunstancias e razoes de interesse
publico. A regra é a estabilidade a exceção é modificação.
• A titulo de poder exorbitante, a lei admite que a entidade publica altere (302.º, c)
CCP).
• A modificação pode ser unilateral ou bilateral.

3. Principio do equilíbrio financeiro:


282.º CC: o contrato assenta numa equação financeira, que está na base da proposta do
concorrente e do ato de adjudicação. O equilíbrio deve se manter ao longo do contrato sem
prejuízo do risco estar a cargo do cocontratante particular: se o cocontratante se enganou nos
cálculos o problema será dele, o risco corre por conta dele; se faz despesas a mais, o
problema é dele porque verá diminuídos os lucros.
Problema de reequilíbrio financeiro: em caso de modificações objetivas por razoes de
interesse publico. Por exemplo.: empresa que iluminava as cidades através de petróleo,

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depois é descoberto o gás, eletricidade, esta vem substituir. A empresa privada que tinha a
seu cargo a iluminação a petróleo, adaptou-se à eletricidade, sem custos – razões de interesse
publico – entidade publica reequilibrou o contrato.
Ou razoes de alteração das circunstâncias: na sequencia da pandemia, as autoestradas tiveram
quebras das receitas porque a pandemia determinou confinamento, as pessoas não podiam
circular de concelho em concelho. Entidade tem direito ao risco financeiro pois houve
alteração do quadro circunstancial.
• Repor a situação inicial do contrato quando exista uma causa justificada.

Limites do reequilíbrio (282.º CCP):


• Não pode ser usado para obtenção de enriquecimento sem causa.
• Não se pode servir do equilíbrio financeiro para obter lucros que estão fora da
equação inicial do contrato.
• Não pode ser usado para colmatar perdas já existentes nesse equilíbrio imputáveis ao
particular ou cocontratante particular que não soube gerir.
Nas parcerias público-privadas, quando há desequilíbrio (mais lucros do que os esperados) há
principio de partilha dos benefícios com o contraente (341.º CCP).

4. Principio que prevê a extinção de intervenção por parte do contraente publico:


O contraente publico não está em pé de igualdade com o particular. Este tem mais poderes. O
contrato administrativo é desequilibrado.
Mesmo nos contratos de direito privado há situações de desequilíbrio.
Poderes de intervenção exorbitante (302.º):
• Poder de direção da execução das prestações.
• Poder de fiscalizar a execução do contrato: inspecionar, verificar se está a cumprir.
• Poder de modificar unilateralmente o contrato.
• Poder de aplicar sanções: multas (pecuniárias) até à resolução do contrato por
incumprimento, impossibilidade antecipada. Ou a entidade publica pode determinar a
cessão da posição contratual.
• Poder de resolução unilateral.
• Poder de ordenar a cessão da posição contratual quando o particular não tem
condições para continuar a exercer aquele atividade – terá de ser substituído naquele
contrato por uma outra entidade privada.

Resolução unilateral a titulo sancionatório VS por razoes de interesse publico:


Centra-se em:

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• fundamento: uma é de sancionatório, resposta por incumprimento por parte do


singular e o segundo – melhor prossecução do interesse publico sem que o particular
tenha qualquer responsabilidade.
• regime: na resolução por razoes de interesse publico há dever de indemnização; na
sancionatória, é a administração que desencadeia responsabilidade civil pelo
incumprimento – cessa o contrato e o particular terá de indemnizar por ter incumprido
os termos das obrigações.

Resolução: contrato termina.


Cessão: continua, mas com outro contraente.

5. Principio de relativização de uso de poderes de ius imperi


Manifestação de suavização do regime.
Pode ocorrer que existam atuações contratuais publicas que não são de autoridade – podem
ser de meras declarações negociais: interpretação, validade, execução do contrato: as decisões
da administração são decisões cuja aplicação depende de:
Concordância do particular OU intervenção judicial
Não há autotutela declarativa, a administração não pode impor por força.
Há casos em que a lei diz que… (309.º CCP).

6. Responsabilidade civil do cocontratante


Quem provoca um dano, se não é possível a reconstituição: responsabilidade.

7. Salvaguarda da posição do cocontratante:


Ausência de autotutela declarativa…. (2.7)

Extinção do contrato administrativo – seis procedimentos:


1. Por acordo das partes: revogação.
2. Caducidade: quando se cumprem as prestações (deixa de ter objeto), termo final,
condição resolutiva. Impossibilidade superveniente absoluta: caso de força maior.
3. Resolução por iniciativa do contraente publico: a titulo sancionatório, razões de
interesse publico. Resolução por alteração anormal e imprevisível das circunstâncias
(só é possível a resolução se não for possível o menos = modificação do contrato).
Principio da necessidade/proporcionalidade.
4. Por iniciativa do cocontratante.
5. Por anulação através do tribunal: Estado (judicial) ou arbitral (arbitral).

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6. Por intervenção do legislador: através de um facto de autoridade determina a extinção


do contrato – dever de indemnizar os prejuízos (despesas) mas também os lucros
cessantes.
Regime especial em matéria de extinção.

O contrato pode ser inválido: fontes de invalidade:


• Pode ter como fundamento a lei que alicerçou a formação do contrato: invalidade
consequente ou derivada, não decorre de atuação administrativa. Está fora do
procedimento.
• Invalidade decorrente de vícios durante o procedimento, vícios no interior do
procedimento.
• Por vícios próprios (p.e.: lei determina que contrato é celebrado pelo ministro, mas no
dia em que o contrato foi para ser celebrado é o diretor geral que aparece sem
delegação de poderes e mesmo assim assina: incompetência).
Desvalor dos atos a montante comunica-se ao contrato.
Se a invalidade é do próprio contrato: anulabilidade, apesar de existires situações de nulidade
nos termos:
• Pode resultar do DA.
• Pode resultar do CC com aplicação supletiva.

Relativização da projeção adjuvante e todas as invalidades podem ser objeto de redução e


conversão – há casos em que o efeito anulatório pode ser afastado tornando-se mera
irregularidade.

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