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Introdução
Sejam todos muito bem-vindos e bem-vindas ao Curso de Procedimentos
Administrativos e Extrajudiciais!
Não cuida o curso de analisar o fluxo do processo dentro do Sistema Único, mas
de dar conhecimento ao procedimento em si, quais suas finalidades, qual o seu
andamento, qual seu objeto, seu prazo e o resultado esperado com o processamento do
feito.
O escopo é permitir que servidores, mesmo que não tenham formação jurídica,
possam compreender suas atribuições no contexto em que são realizadas, ou seja, ter a
compreensão de porque aqueles atos e providências estão sendo tomadas e quais são o
direcionamento e as próximas etapas daquele procedimento em curso.
Isso permite que o servidor não tome decisões apenas por uma compreensão
mecânica de qual é o processamento do feito, dentro do Sistema Único, mas que possa
entender que aquelas ações vão gerar consequências positivas para a sociedade. O risco
de erros diminui significativamente com a efetiva compreensão das razões das
providências adotadas dentro do procedimento, tornando mais eficiente e efetivo o
trabalho realizado.
É esse o objeto do nosso estudo. Vamos conversar sobre qual é a finalidade que
cada um desses procedimentos persegue e qual o resultado final que se espera.
2 PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito administrativo. 14.ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 506.
3 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 9.ed. rev. e atual. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 2005. p. 189
4 CALAMANDREI, Piero (tradução de Luiz Abezia e Sandra Drina Fernandes Barbery). Processo e
justiça. In: Direito processual civil. Vol. III. São Paulo: Bookseller, 1999
MÓDULO I
Esse procedimento deve ser instaurado toda vez que houver necessidade de
acompanhamento de alguma função desenvolvida pela área administrativa do Ministério
Público Federal, como, por exemplo, o acompanhamento de ofícios que estão no
processo de certificação de ofícios ou a tramitação de um processo licitatório.
5 BRASIL.Portaria PGR/MPF nº 350 de 28 de abril de 2017. Brasília, DF: Ministério Público Federal.
[2017]. Disponível em: http://bibliotecadigital.mpf.mp.br/bdmpf/handle/11549/104394. Acesso em 18 aug.
2022.
Os procedimentos de gestão administrativa são instrumentos de gestão, para
organizar a atividade desenvolvida dentro da atividade-meio.
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim
de exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
O Ministério Público tem por dever constitucional “zelar pelo efetivo respeito dos
Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta
Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia” (art. 129, II, da
Constituição Federal).
Os direitos individuais indisponíveis são os direitos dos quais a pessoa não pode
abrir mão, como o direito à vida, à liberdade, à saúde e à dignidade.
E serão objeto de proteção pelo Ministério Público, quando seus titulares são
pessoas indeterminadas; ou o objeto do direito (bem jurídico) é indivisível” 9.
O direito será indivisível quando uma única ofensa atinge todas as pessoas que
teriam aquele direito; e o contrário, a satisfação do direito beneficia a todos os titulares ao
mesmo tempo, independentemente se conhecidos ou não.
Por exemplo:
9 DINAMARCO, Pedro da Silva. Ação civil pública. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 26
No procedimento administrativo não vai acontecer a investigação sobre quem é
responsável pelo dano, nem de que forma será feita a reparação. Contudo, para que se
possa acompanhar as diversas ações que estão sendo tomadas para a solução do
problema causado, é este procedimento extrajudicial que deve ser usado.
Por fim, para qualquer demanda que exija o acompanhamento extrajudicial dos
membros do Ministério Público Federal e que não exija investigação, mas mero
acompanhamento, deve ser utilizado o procedimento administrativo.
O processo deve ser finalizado em até 12 meses, mas pode ser prorrogado por
tantas vezes quanto necessário à continuidade do acompanhamento. E, caso alguma
demanda passe a exigir alguma investigação, o procedimento administrativo, ou parte
dele, deve ser convertido no procedimento adequado.
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim
de exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
Outro exemplo foi a comunicação, por uma cidadã, de uma obra que poderia ter
impacto ambiental:
Figura 3 – Comunicação
Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de
exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
A narrativa é de uma cidadã com informações muito simples sobre o que vem
ocorrendo. Todavia, com a notícia de que havia uma obra muito próxima ao rio Paraíba do
Sul, com o desvio da água da chuva, o procurador da República decidiu reunir mais
informações para tomar uma decisão sobre qual seria a melhor abordagem.
Veja que a notícia apresentada pela cidadã traz poucos elementos, nada além de
algumas fotos. Além da apuração, que se iniciou no Ministério Público estadual,
precisariam ser analisadas as repercussões federais.
10 BRASIL. Resolução CNMP nº 23, de 23 de setembro de 2007. Brasília, DF: Conselho Nacional do
Ministério Pùblico. [2007]. Disponível em:
https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-0232.pdf. Acesso em 18 aug. 2022
Concluído o PP, há duas opções: ou o(a) membro(a) do Ministério Público Federal
ajuíza, de pronto, a ação civil pública pertinente, quando satisfeito com as provas colhidas
ou o procedimento preparatório é convertido em inquérito civil, para as investigações mais
robustas.
1.4 Inquérito Civil
Assim como no inquérito penal, o inquérito civil será instaurado para investigar a
existência, ou não, de um fato que possa demandar a atuação do Ministério Público. Ou
seja, o procedimento vai juntar provas, documentos, testemunhos e tudo o mais que for
necessário para verificar se algum direito ou interesse – de responsabilidade do Ministério
Público Federal– está sendo violado.
Mas ele não é um fim em si mesmo. Tudo o que é produzido no inquérito civil,
caso se entenda violado algum direito ou interesse público, justificará uma atuação do MP
para sanar a irregularidade. Ou seja, os documentos e provas que vão compondo o
inquérito civil vão ser utilizados para que o Ministério Público Federal tenha condições de
tomar decisões sobre como deve agir para garantir os direitos da sociedade que foram
violados.
O inquérito civil vai reunir, portanto, todas as provas de que o Ministério Público
Federal precisa ou para tomar uma providência administrativa, como é o compromisso de
ajustamento de conduta, ou, ainda, ajuizar uma ação específica, na qual se requererá ao
Poder Judiciário alguma medida que obrigue a parte a fazer alguma coisa para reparar o
direito ou interesse violado.
11 BRASIL. Resolução nº 231 de 8 de junho de 2021. Brasília, DF: Conselho Nacional do Ministério
Público. [2021] Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/2021/Resoluo-n-231-
2021.pdf. Acesso em 18 aug. 2022
já possui todas informações e provas de que necessita para o ajuizamento de ações
judiciais ou demais medidas de sua própria atribuição, pode, desde logo, realizá-las.
Não será preciso instaurar um inquérito civil, juntar todas as provas que já estão
produzidas, para só depois ajuizar a ação. Isso seria contraproducente e apenas uma
burocracia sem sentido. Se o(a) procurador(a) da República entender que os documentos
e as provas já são suficientes, basta tomar as providências que ele entender que
resolverão o problema.
Figura 04 – Portaria
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim
de exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
Quem pode pedir a instauração do inquérito civil?
Todavia, não basta a comunicação pelas pessoas listadas acima para que o
Inquérito Civil seja instaurado. A instauração não é automática.
1.4.2 Arquivamento
Caso se entenda que os dados contidos na representação não apontam para uma
violação de direitos ou interesses tutelados pelo Ministério Público Federal, ou não seja
possível concluir a respeito de quem praticou o ato ilícito, ou o(a) procurador(a) da
República entenda que não há motivos para dar continuidade à investigação, o inquérito
civil será arquivado logo de pronto, nos termos do que prevê o art. 10 da Resolução do
Conselho Nacional do Ministério Público, nº 231/2021 12.
O recurso vai ser protocolado no órgão que indeferiu o pedido, para dar a
oportunidade de reconsideração da decisão. Pode ser que os fundamentos apresentados
no recurso levem o(a) procurador(a) da República a olhar para a situação de outra forma
e, por isso, decida retomar a investigação no inquérito civil.
12 Idem
Contudo, se não reconsiderar sua decisão, deverá encaminhar o recurso, no
prazo de 3 dias, para a Câmara de Coordenação e Revisão ou para o Conselho Superior
do Ministério Público Federal.
Observe que, quando o inquérito civil foi instaurado para apurar uma questão que
é de atribuição do(a) Procurador(a)-Geral da República, não há órgão que lhe seja
superior, então não cabe um recurso propriamente dito.
Por outro lado, se o(a) representante nada falar, depois de intimado da decisão de
arquivamento, o inquérito civil deve ser arquivado definitivamente na própria origem. E se
encerra o procedimento de forma definitiva.
1.4.3 Instrução
14 Idem
ou sofre risco de lesão, podendo o fato narrado ensejar futura propositura de ação civil
pública, será dado início ao processamento do inquérito civil.
Segundo Hélio Márcio Campo, o vocábulo prova “deriva do verbo latino probare
(demonstrar, reconhecer) e vem da palavra ‘proba’, cujos significados são diversos:
argumento, razão, confirmação”. Assim, a prova consiste num conjunto de atos praticados
pelo Ministério Público, com solicitações de dados e informações a diversos órgãos e
pessoas, cujo intento é proporcionar a certeza de que os fatos em apuração, de fato,
ocorreram e quem foram seus autores 17.
A resposta é todas. Tudo o que for possível trazer ao procedimento, para dar
clareza ao que está sendo apurado, deve ser trazido. A ideia, aqui, é ter o máximo de
certeza de como tudo transcorreu, daí, não há nenhuma limitação para quais provas
podem ser juntadas.
Vale dizer, por outro lado, que não basta que essas provas existam, elas devem
ser juntadas no inquérito civil, em ordem cronológica. Para os documentos não há como
ter muitas dúvidas, basta fazer a juntada, mas os demais atos, se não puderem ser
juntados, devem ser reduzidos a termo ou mediante auto circunstanciado.
Reduzir a termo significa que o(a) servidor(a), com a fé pública que tem, irá
transcrever para o papel as declarações, os depoimentos e tudo mais que as pessoas
ouvidas estão informando. Essas declarações devem ser assinadas por todos os
presentes, o(a) procurador(a) da República, o(a) servidor(a) responsável, a pessoa ouvida
e eventuais testemunhas do que está sendo dito. Caso a pessoa ouvida se recuse a
assinar, o documento vai ser assinado por duas testemunhas que ouviram o que foi dito.
Veja que o auto circunstanciado, então, é uma certidão contando tudo o que
aconteceu em uma diligência realizada. Por exemplo, numa investigação de um dano
ambiental, se o(a) procurador(a) decidir ir até o local para verificar, essa visita deve estar
detalhadamente descrita no inquérito civil. Tudo o que foi feito, todas as pessoas que
foram ouvidas, a descrição do local, todas as impressões que se teve com a visita e tudo
mais que foi constatado devem estar incluídos no procedimento. O nome dessa descrição
é auto circunstanciado.
Quem está sendo investigado no inquérito civil tem direito a saber o que está
sendo apurado. Daí, tudo o que é feito nos autos do inquérito civil é público e pode ser
acessado tanto pelo(a) investigado(a), como por qualquer outra pessoa.
Isso obriga que tudo o que for feito no procedimento esteja acessível a quem
quiser consultar: ao(à) representante, ao(à) investigado(a), aos órgãos de controle, às
organizações civis, à imprensa. Isso se dá por meio das publicações oficiais, como é caso
18 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em 18 aug. 2022.
do Diário Oficial, por respostas diretas a questionamentos formulados, bem como pelo
Portal da Transparência.
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de exemplificar
o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de
exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de exemplificar
o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos..
Veja que qualquer pessoa pode visualizar como o Ministério Público Federal está
atuando nas investigações de “indícios fortes de que um direito coletivo, um direito social
ou individual indisponível (relativo a meio ambiente, saúde, patrimônio público, por
exemplo) foi lesado ou sofre risco de lesão, podendo o fato narrado ensejar futura
propositura de ação civil pública”19.
20 BRASIL. Resolução nº 23, de 17 de setembro de 2007. Brasília, DF: Conselho Nacional do Ministério
Público. Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucao-
Conjunta/Resoluao_23.odt#:~:text=%C2%A74%C2%BA%20A%20restri%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0,a
%20causa%20que%20a%20motivou, . Acesso em 18 aug. 2022
Para aquele que está sendo investigado no inquérito civil, há que se fazer
algumas observações.
Primeiramente, o(a) investigado(a) não é processado, pois ainda não está sendo
acusado de nada. O caso ainda está na fase de apuração para conferir se o fato danoso
ocorreu e, ainda, se é o(a) investigado(a) quem deve ser responsabilizado(a).
1.4.4 Do prazo
21 BRASIL. Resolução nº 23, de 17 de setembro de 2007. Brasília, DF: Conselho Nacional do Ministério
Público. [2007]. Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-
0232.pdf, Acesso em 18 aug. 2022
dando-se ciência ao Conselho Superior do Ministério Público, à Câmara de Coordenação
e Revisão ou à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão.
22 BRASIL. Portaria 291, de 27 de novembro de 2017. Brasília, DF: Corregedoria Nacional do CNMP.
Disponível em:
https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Corregedoria/Portarias_2017/Portaria_CN_n_291_-
_parmetros.pdf. Acesso em 18 aug. 2022
A Resolução nº 164, de 28 de março de 2017, do Conselho Nacional do Ministério
Público, conceitua recomendação como "instrumento de atuação extrajudicial do
Ministério Público por intermédio do qual este expõe, em ato formal, razões fáticas e
jurídicas sobre determinada questão, com o objetivo de persuadir o destinatário a praticar
ou deixar de praticar determinados atos em benefício da melhoria dos serviços públicos e
de relevância pública ou do respeito aos interesses, direitos e bens defendidos pela
instituição, atuando, assim, como instrumento de prevenção de responsabilidades ou
correção de condutas."23 Essa é uma iniciativa que permite uma atuação mais resolutiva
do Ministério Público Federal, pondo fim ao conflito mais rapidamente que por meio da
tramitação judicial da questão.
Mesmo que não haja reconhecimento da prática do ato danoso, aquele(a) que
está sendo investigado(a) no inquérito civil pode, desde logo, adotar as medidas
recomendadas pelo Ministério Público e sanar a questão investigada. Isso vai levar ao
arquivamento do IC e à solução da controvérsia que justificou sua autuação.
23 BRASIL. Resolução 164, de 28 de março de 2017. Brasília, DF: Conselho Nacional do Ministério Público.
Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Corregedoria/Portarias_2017/Portaria_CN_n_291_-
_parmetros.pdf. Acesso em 18 aug. 2022
Figura 08 – Recomendação
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de
exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos..
24 idem
Segue outro exemplo de recomendação:
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de
exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos..
25 BRASIL. Lei nº 7347, de 24 de julho de 1985. Brasília, DF: Presidência da República [1985]. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm. Acesso em 18 aug. 2022.
Figura 10 – Termo de compromisso de termo de ajustamento de condutas
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de
exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de
exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos..
A anotação que precisa ser feita é que esse compromisso é um título executivo
extrajudicial. O que quer dizer isso? É um documento que, por si só, já autoriza a
execução da sanção ali estabelecida. Não será necessário, como acontece com os
demais contratos, que o Poder Judiciário, antes de aplicar as punições, reconheça a
validade do documento e discuta quem tem a responsabilidade de pagar.
A questão vai passar a ser discutida, portanto, no Poder Judiciário, onde o(a)
investigado(a) – agora réu – vai poder se defender e, ao final, haverá uma sentença
condenando-o(a), ou não, à reparação do dano que justificou a ação.
27 BRASIL. Resolução nº 174, de 04 de julho de 2017. Brasília, DF: Conselho Nacional do Ministério
Público. [2017]. Disponível em https://www.cnmp.mp.br/portal/atos-e-normas/norma/5192. Acesso em 18
aug. 2022
As informações prestadas podem levar o Ministério Público Federal a uma
atuação efetiva, como, por exemplo, para denunciar a prática de um crime ou evitar um
desmatamento de uma área florestal ou, ainda, combater o trabalho escravo ou tráfico de
pessoas.
E a forma como se deve fazer para processar a notícia de fato está na Resolução
do Conselho Nacional do Ministério Público, nº 174/2017 28.
Qualquer pessoa, física ou jurídica, associação civil, instituição pública poderá vir
até o Ministério Público para narrar uma situação que, no seu entender, necessitaria da
atuação do órgão.
28 Idem
Figura 12 – Sala de Atendimento ao Cidadão
C) Se for uma pessoa jurídica, ela vai precisar fazer a notícia do fato,
obrigatoriamente, por meio do protocolo eletrônico
(https://apps.mpf.mp.br/ouvidoria/app/protocolo/) (:
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de
exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos..
A notícia de fato também pode vir de um órgão de governo e narrar uma prática
irregular, não necessariamente um crime, mas que vai demandar uma atuação efetiva do
Ministério Público Federal.
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de
exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos..
Uma notícia de fato também pode vir de um(a) cidadão(ã), como no exemplo a
seguir, em que foram narrados fatos supostamente criminosos, por meio da Sala de
Atendimento ao Cidadão:
Figura 16– Manifestação Sala de Atendimento ao Cidadão
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de
exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
O(a) procurador(a) que recebeu a notícia de fato pode entender que a atribuição
para apreciar aquele pedido é de outro órgão do Ministério Público Federal ou do
Ministério Público estadual, daí basta fazer o declínio de sua atribuição e a remessa para
o órgão que ele entende ter a atribuição para tomar alguma atitude em relação aos fatos
noticiados.
a) quando não houver nenhuma dúvida de que a atribuição para apreciar a notícia
de fato for daquele que a recebeu em primeiro lugar; ou
Isso ocorre quando o fato é inverossímil, como por exemplo, o(a) cidadão(ã) pedir
providências porque foi abduzido por extraterrestres; ou quando o que está sendo
informado não se refere a nenhuma das atribuições do Ministério Público, como uma briga
de vizinhos ou a guarda compartilhada de animais de estimação.
A) quando o fato narrado não configurar lesão ou ameaça de lesão aos interesses
ou direitos tutelados pelo Ministério Público; ou
Analisando tudo o que foi produzido nos autos, ou seja, todas as provas e
documentos que foram juntadas no processo, o procurador vai decidir quais serão os
próximos passos.
A notícia de fato vai ser arquivada, sem que seja tomada nenhuma providência,
quando:
Assim, se a questão for mesmo insignificante, não representar uma conduta que
represente uma afronta, de fato, à sociedade, não justifica a atuação do Ministério Público
29 BRASIL. Resolução nº 174 de 4 de julho de 2017. Brasília, DF: Conselho Nacional do Ministério Público.
[2017]. Disponível em https://www.cnmp.mp.br/portal/atos-e-normas/norma/5192. Acesso em 18 aug. 2022
Federal. Essas hipóteses vão se consolidando ao longo do tempo e se transformam em
orientações e enunciados das Câmaras de Coordenação e Revisão. Daí, com base
nessas orientações e enunciados, fica o procurador autorizado a arquivar a notícia de
fato.
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim
de exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
A notícia de fato também poderá ser arquivada quando seu objeto puder ser
solucionado em atuação mais ampla e mais resolutiva, mediante ações, projetos e
programas alinhados ao Planejamento Estratégico de cada ramo, com vistas à
concretização da unidade institucional.
Essa é a melhor maneira de solucionar a demanda que foi apresentada ao
Ministério Público Federal.
Isso pode ser muito simples, como mandar um ofício para que um órgão público
pare de realizar determinada ação, de maneira que ele decida, por causa disso, modificar
seu fluxo de trabalho.
Ou pode ser mais complexo, como propor ao Poder Executivo toda uma política
pública ou um projeto de lei.
Esse recurso precisa ser interposto em até 10 dias, na secretaria da unidade onde
foi apresentada a notícia de fato, ou pelo peticionamento eletrônico
(www.peticionamento.Ministério Público Federal.mp.br ).
O(a) procurador(a) da República que havia arquivado a notícia de fato vai ler o
recurso e, caso se convença que o(a) cidadão(ã) tem razão, poderá proceder o
desarquivamento da notícia de fato e continuar a investigação. Contudo, se decidir manter
sua posição, o recurso deve ser encaminhado para a Câmara de Coordenação e Revisão
respectiva, que realizará o julgamento do recurso.
A notificação fica dispensada quando a notícia de fato vier de um órgão de
governo, que deveria mandar a informação ao MP. Por exemplo, a Receita Federal,
sempre que houver uma situação de sonegação fiscal, deve encaminhar a informação
para o Ministério Público Federal para que dê andamento à ação penal pelo crime de
sonegação.
Essa é uma notícia de um fato – sonegação fiscal – que vai justificar a ação do
Ministério Público Federal. Mas, como foi enviada notícia de fato, porque a lei determina
que a Receita Federal o faça, não há necessidade de notificá-la no caso de arquivamento.
Tanto a polícia quanto o Ministério Público têm legitimidade própria para dar início
à apuração da prática de crimes. O procedimento investigatório criminal é o instrumento
disponibilizado ao(à) procurador(a) da República para as investigações criminais, este de
sua própria iniciativa, cuja legitimidade está reafirmada na jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal:
30 BRASIL. Resolução nº 181, de 07 de agosto de 2017. Brasília, DF: Conselho Nacional do Ministério
Público. [2017]. Disponível em https://www.cnmp.mp.br/portal/atos-e-normas-busca/norma/5277.
Acesso em 18 aug. 2022
A decisão por uma ou outra medida vai depender da estratégia de atuação do(a)
procurador(a), consistindo o procedimento investigatório criminal numa investigação
própria do Ministério Público.
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a
fim de exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
Figura 19 - Portaria
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a
fim de exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos.
Veja que, nos dois casos, o Ministério Público Federal possuía indícios da prática
criminosa, mas precisava de mais elementos para a propositura da ação penal. Daí a
necessidade de instauração do procedimento, de modo a formar sua convicção e
apresentar ao Poder Judiciário provas robustas para justificar a condenação.
O que é importante frisar é que se a investigação tiver origem de ofício, isso não
vincula o(a) procurador(a) que tomou conhecimento dos fatos em primeiro lugar e decidiu
investigá-los.
Fonte: Print screen de documento cadastrado no Sistema Único. Adaptado pela autora a fim de
exemplificar o assunto estudado e preservar dados que possam ser sigilosos..
Contudo, pode ser que, durante a investigação, novos fatos sejam descobertos e
também precisem ser apurados. Nesse caso, há duas opções possíveis: ou a portaria de
instauração será aditada, para acrescentar os novos fatos; ou serão extraídas cópias das
informações e instaurado novo procedimento investigatório criminal.
Não se exige, por outro lado, que os grupos de trabalho sejam formados
exclusivamente por membros(as) do Ministério Público Federal. Ainda é possível constituir
um grupo entre membros(as) do Ministério Público Federal e de outros ramos do MPU
(Ministério Público Militar e Ministério Público do Trabalho), assim como membros(as) do
Ministério Público dos Estados e do Distrito Federal.
2.2 Instrução
As requisições têm prazo de cumprimento de 10 dias, mas esse prazo pode ser
prorrogado, se houver uma justificativa (art. 7°, § 5°, Lei Complementar 75/93 34). E, se o
pedido não for atendido, o servidor público está praticando o crime de desobediência (art.
330 do Código Penal), que impõe pena de detenção, de quinze dias a seis meses, mais
multa, para quem “desobedecer a ordem legal de funcionário público”.
33 BRASIL. Resolução nº 181, dede 07 de agosto de 2017. Brasília, DF: Conselho Nacional do Ministério
Público. [2017]. Disponível em https://www.cnmp.mp.br/portal/atos-e-normas-busca/norma/5277. Acesso
em 18 aug. 2022
34 BRASIL, Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993. Dispõe sobre a organização, as atribuições e
o estatuto do Ministério Público da União . Brasília, DF: Congresso Nacional, [1993]. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp75.htm. Acesso em 22 aug. 2022
esclarecimentos. Também essa requisição precisará ser atendida, nos mesmos moldes
que a requisição de documentos.
Para que não haja dúvidas acerca dos motivos da convocação, “a notificação
deverá mencionar o fato investigado, salvo na hipótese de decretação de sigilo” (art. 8°, §
5°, Resolução Conselho Nacional do Ministério Público 181/17 35). E, sempre, o notificado
poderá comparecer ao Ministério Público Federal acompanhado de seu(sua)
advogado(a), mesmo que seja ouvido apenas na condição de testemunha ou informante.
Uma observação sobre esse ponto é importante. É possível que existam algumas
provas em fase de produção, ou seja, que ainda não estão nos autos, uma vez que
precisam de sigilo para que possam surtir efeito, como, por exemplo, a preparação de
uma inspeção (quando o membro vai até o local do fato para sua própria análise da
situação). Nesse caso, se o(a) investigado(a), ou seu(sua) defensor(a), tiver ciência da
prova antes de sua realização ou conclusão, poderá haver prejuízo para a sua coleta: o(a)
agente, certamente, esconderia informações ou modificaria o local para evitar a produção
da prova. Nesse caso é possível postergar o acesso do(a) investigado(a) e do(a)
defensor(a) à prova, para depois de sua realização.
35 BRASIL. Resolução nº 181, de 07 de agosto de 2017. Brasília, DF: Conselho Nacional do Ministério
Público. [2017]. Disponível em https://www.cnmp.mp.br/portal/atos-e-normas-busca/norma/5277. Acesso
em 18 aug. 2022
serem realizadas pelo(a) Procurador(a)-Geral da República. E, nesse caso, não será o
presidente do PIC quem vai designar a hora da oitiva, pois a própria autoridade poderá
dizer o dia e o horário em que poderá ser ouvida.
Ao final da oitiva, a pessoa ouvida deve ser informada que deve comunicar ao
Ministério Público eventual mudança de endereço, telefone ou e-mail.
Vale destacar que, se o(a) membro(a) do Ministério Público fizer uso indevido das
informações e documentos que requisitar, inclusive nas hipóteses legais de sigilo e de
documentos assim classificados, responderá civil e criminalmente por seus atos.
36 Idem
Juntadas todas as provas, o(a) procurador(a) da República vai chegar a uma
conclusão: a) ou ele tem certeza de que existe um crime e sabe quem é seu autor e,
portanto, vai apresentar a denúncia ao Poder Judiciário; b) ou, ao contrário, ele verifica
que não há crime e deve arquivar o procedimento investigatório criminal.
Essa é uma ação que é paralela ao processo criminal, no Poder Judiciário. Trata
de investigar as questões exclusivamente patrimoniais, ou seja, o proveito que alguém
teve com o ilícito.
Mais do que isso, deve o(a) procurador(a) da República cuidar para resguardar a
segurança da vítima, promovendo ações concretas para que não sofra danos no curso da
investigação e até mesmo depois de proposta a ação, ou seja, depois que a investigação
passar para a titularidade do Poder Judiciário. Para isso pode, e deve, contar com o apoio
policial.
37 BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Brasília, DF:
Presidência da República, [1941]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del3689compilado.htm. Acesso em 18 aug. 2022
Para que o investigado tenha direito ao acordo de não-persecução penal, precisa
atender aos seguintes requisitos (Orientação Conjunta 2a, 4a e 5 a Câmaras de
Coordenação e Revisão 03/20184 38):
d) não ser cabível a transação penal dos Juizados Especiais Criminais (art.
76 da Lei 9099/1996);
38 BRASIL. Orientação Conjunta 2a, 4a e 5 a Câmaras de Coordenação e Revisão nº 03, de 2018. Brasília,
DF: Ministério Púbico Federal. Disponível em https://www.mpf.mp.br/atuacao-
tematica/ccr2/orientacoes/documentos/orientacao-conjunta-no-3-2018-assinada-pgr-006676712018.pdf.
Acesso em 22 aug. 2022
verificar a voluntariedade em que está firmando o acordo. O cumprimento das condições
será acompanhado pelo Ministério Público e a vítima informada de sua assinatura.
2.3 Do arquivamento