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Administrativo e Judicial
Introdução
O presente texto tem por objetivo dissertar de forma sucinta sobre
assuntos específicos do Processo Administrativo Fiscal, através de uma visão geral
do Processo, sem se prender a um ente federativo específico e aos seus ritos
próprios. Pretende-se dessa maneira compensar a falta presencial anotada na
primeira aula do Módulo Fiscalização – Processo Administrativo e Judicial -
integrante do MBA em Gestão Tributária da Faculdade Esuda.
Os objetivos pautados pelo professor titular da cadeira, Professor
João Bosco de Vasconcelos Leite Filho, são os seguintes:
- elaboração de texto sobre a necessidade de esgotamento das vias
administrativas;
-a concomitância de processos administrativo e judicial;
-a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal
de Justiça atual.
O Processo Administrativo
O processo administrativo é uma sucessão contínua de vários atos
administrativos, os quais buscam por objetivo final uma conclusão definitiva sobre
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Características Formais
As características formais principais do processo Administrativo
1 Curso de direito administrativo / Celso Antônio Bandeira de Mello. 30 edição. – São Paulo:
Malheiros Editores, 2013.
2 Curso de direito tributário: completo / Leandro Paulsen. 4. ed. rev. atual. e ampl. – Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2012.
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Características materiais
1-Prazos definidos;
2-Definição restrita dos servidores responsáveis pela validade dos
atos;
3-Alto grau de detalhamento de cada ato;
4-Possibilidade de recursos externos ao fim do processo
administrativo por parte do contribuinte, através de via judicial.
Faz-se mister salientar que tais características são enunciadas na
teoria e que para as fazer valer, o reclamante precisa obter o suporte de um
profissional que conheça muito bem não só a legislação pertinente ao caso, mas
também os meandros administrativos e recursais de cada órgão. A questão dos
prazos definidos é algo absolutamente assustador: apesar de vários atos terem seus
interstícios temporais muito bem determinados pela legislação, no Brasil os prazos
reais parecem valer apenas para o reclamante cumprir e nunca para o Estado.
Apesar de a "Razoável Duração do Processo (art. 5º, LXXVIII da
CF/88) ser garantia constitucional e que outros regulamentos limitem - por exemplo -
o julgamento de questões na Secretaria da Receita Federal a 365 dias, o que se vê
na realidade são processos administrativos que se estendem por anos a fio:
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http://www.conjur.com.br/2016-jul-16/processo-administrativo-fiscal-brasileiro-exige-mudancas;
acesso em 04/02/2017.
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Isso é uma piada., claro. No caso dos Auditores Fiscais que já são
servidores do Executivo, ainda terão a sua escolha feita pelo prefeito, ou seja: não
basta ser subordinado, tem que ser preferido pelo Prefeito.
Em sequência, os representantes da sociedade TAMBÉM SÃO ESCOLHIDOS PELO
PREFEITO. E a lei vem falar em não haver subordinação hierárquica, com
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deverá enfrentar 5 desafiantes ao mesmo tempo? Não seria interessante – tal como
nos velhos filmes de kung-fu – que cada um dos 5 desafiantes viesse te enfrentar
individualmente, enquanto os outros 4 esperariam a vez deles? Pois bem, ao entrar
com um recurso bem embasado a entidade pode terminar a contenda administrativa
vitoriosa em 3 das 5 disputas. Acontece que o Fisco NÃO pode acionar a justiça nos
pontos decididos a favor da entidade (é natural que “alguém” jurídico não recorra de
algo que ele mesmo considerou líquido e certo, porém a natureza humana de “já que
está recorrendo desses dois pontos, vamos rever tudo!” sempre nos assombra, por
isso é importante citar tal fato) e a entidade pode entrar judicialmente com uma ação,
disputando apenas os dois pontos que sobraram. Ora, a briga não ficou mais fácil ou
teria sido melhor enfrentar os cinco oponentes diretamente no judiciário?
Além disso, ao falar de estratégia é preciso pensar também na
questão da provocação ao fisco. Ao se falar de processo administrativo fiscal,
automaticamente pensamos no fisco autuando e a empresa impugnando. Mas é
possível também consultar o fisco – iniciando um processo – para saber se
determinados procedimentos seriam viáveis e autorizados.
É sabido que ao chamar para si a atenção do fisco, a entidade tem
suas contas verificadas. Tal fato não é uma retaliação do Estado por ter sido
provocado e sim uma atitude normal de quem tem um assunto trazido à baila para
discussão com um cara bem maior e mais forte que você: "vamos levantar todos os
dados possíveis para análise, nanico".
É normal. É esperado. É humano.
Assim, alternativamente, se determinado procedimento de elisão for
realizado de forma padronizada, mantendo-se planilhas, backups, jurisprudências
em toda a contabilização, sem nenhuma intenção de elusão ou evasão, a empresa
pode trabalhar continuamente sem dizer “venha, fisco, olhe o que eu estou
fazendo!”. Ao ser eventualmente fiscalizada, a entidade deverá apresentar seus
documentos e suas justificativas ao fiscalizador. Caso não haja o aceite dos
procedimentos da entidade, aí sim se parte para a o processo administrativo e
depois para o judicial, respectivamente. Ou seria melhor – na primeira dúvida –
entrar com um processo judicial extinguindo a possibilidade de via administrativa,
chamando o fisco para si e correndo o risco de custear tudo o que foi falado nos
parágrafos anteriores? Acho que não.
Ante o exposto, acreditamos que se devam esgotar todas as vias
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administrativas antes de se optar pela esfera judicial, nos casos onde se debata
valor a ser pago pelo contribuinte4, autuação de procedimento praticado ou método
de elisão praticado. Nos casos onde se discuta a devolução de numerário pelo
Estado deve-se imediatamente judicializar a questão a fim de diminuir os longos
prazos a que será - sem dúvida - submetido o requerente.
4 Entenda-se aqui contribuinte na acepção mais comum do termo, agregando tanto o contribuinte
quanto o responsável tributário.
5 Assunto: Processo Administrativo Fiscal Ementa: concomitância entre processo administrativo
fiscal e processo judicial com o mesmo objeto. Prevalência do processo judicial. Renúncia às
instâncias administrativas. Desistência do recurso acaso interposto. A propositura pelo
contribuinte de ação judicial de qualquer espécie contra a Fazenda Pública com o mesmo objeto
do processo administrativo fiscal implica renúncia às instâncias administrativas, ou desistência de
eventual recurso de qualquer espécie interposto. Quando contenha objeto mais abrangente do
que o judicial, o processo administrativo fiscal deve ter seguimento em relação à parte que não
esteja sendo discutida judicialmente. A decisão judicial transitada em julgado, ainda que posterior
ao término do contencioso administrativo, prevalece sobre a decisão administrativa, mesmo
quando aquela tenha sido desfavorável ao contribuinte e esta lhe tenha sido favorável. A renúncia
tácita às instâncias administrativas não impede que a Fazenda Pública dê prosseguimento normal
a seus procedimentos, devendo proferir decisão formal, declaratória da definitividade da exigência
discutida ou da decisão recorrida. É irrelevante que o processo judicial tenha sido extinto sem
resolução de mérito, na forma do art. 267 do CPC, pois a renúncia às instâncias administrativas,
em decorrência da opção pela via judicial, é insuscetível de retratação. A definitividade da
renúncia às instâncias administrativas independe de o recurso administrativo ter sido interposto
antes ou após o ajuizamento da ação. Dispositivos Legais: Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966
(CTN), art. 145, c/c art. 149, art. 151, incisos II, IV e V; Decreto-lei nº 147, de 3 de fevereiro de
1967, art. 20, § 3º; Decreto nº70.235, de 6 de março de 1972, arts. 16, 28 e 62; Lei nº 5.869, de
11 de janeiro de 1973 (CPC), arts. 219, 267, 268, 269 e 301, § 2º; Decreto-lei nº 1.737, de 20 de
dezembro de 1979, art. 1º; Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, art. 38; Constituição Federal,
art. 5º, inciso XXXV; Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, art. 53; Lei nº 12.016, de 7 de agosto
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pelo contribuinte de ação judicial de qualquer espécie contra a Fazenda Pública com
o mesmo objeto do processo administrativo fiscal implica renúncia às instâncias
administrativas, ou desistência de eventual recurso de qualquer espécie interposto”.
Dessa maneira percebe-se que a discussão do mesmo tema em ambas as esferas
de julgamento é inviável.
de 2009, art. 22; Portaria CARF nº 52, de 21 de dezembro de 2010; Portaria MF nº 341, de 12 de
julho de 2011, art. 2
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Wellington Prates
MBA em Gestão Tributária
Turma 05