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INSTITUIÇÕES DO

PROCESSO
ADMINISTRATIVO E
CONSTITUCIONAL

Magnum Eltz
Considerações acerca
da Lei do Processo
Administrativo Federal
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar os princípios norteadores do processo administrativo.


 Reconhecer os conceitos, as finalidades e o procedimento do Processo
Administrativo Disciplinar (PAD).
 Aplicar as hipóteses de precisão aplicáveis ao PAD.

Introdução
O processo administrativo federal é o instrumento que a União utiliza para
se manifestar de forma positiva em relação aos seus cidadãos ou de forma
disciplinar em relação aos seus órgãos, servidores ou mesmo administrados.
Ele ocorre por meio, por exemplo, dos processos disciplinar, ambiental,
tributário, etc. Suas diretrizes principais são dadas pelos princípios gerais
do processo administrativo e pelas disposições da Lei nº 9.874, de 23 de
novembro de 1999.
Neste capítulo, você vai estudar as principais características, fases
procedimentais e aplicações do processo administrativo disciplinar. Além
disso, vai ver a prescrição cabível nesse procedimento.

O processo administrativo e seus princípios gerais


De acordo com Di Pietro (2017, p. 694), o processo é uma marcha para frente,
um avanço, um progresso, um desenvolvimento ou um “[...] fenômeno em de-
senvolvimento”, uma forma ou um instrumento, ou seja, um modo de proceder.
O processo administrativo, por sua vez, é o meio pelo qual a administração
atua em seus diversos ramos, tal como o Direito Tributário, o Direito Ambiental,
2 Considerações acerca da Lei do Processo Administrativo Federal

as licitações e outras atividades desenvolvidas de forma direta ou indireta


pelo Estado. Segundo Di Pietro (2017, p. 695), o processo administrativo pode
ser instaurado por provocação do interessado ou por iniciativa da própria
administração, estabelecendo uma relação bilateral. De um lado, figura o
administrado, do outro, a administração. Esta, quando decide, não age como
terceiro estranho à controvérsia, mas como parte que atua no próprio interesse
e nos limites que lhe são impostos pela lei.
Segundo Meirelles et al. (2016, p. 818), a administração pública, para registro
de seus atos, controle de conduta de seus agentes e solução de controvérsias
dos administrados, utiliza diversos procedimentos que recebem a denominação
comum de processo administrativo. De modo que o processo configura-se
como conjunto de atos coordenados para a obtenção de decisão sobre uma
controvérsia. Já o procedimento é um modo de realização do processo, ou
seja, o rito processual propriamente dito. O processo, portanto, é realizado em
diferentes procedimentos direcionados à decisão do julgador (administrativo).
O processo administrativo de um modo geral é regrado pela Lei nº 9.784/1999
na esfera federal e nas três esferas de poder (Executivo, Legislativo e Judiciário),
dentro de suas atribuições administrativas. Segundo Meirelles et al. (2016, p. 819),
esse processo rege-se pelos pressupostos de fato, de decisão e de observân-
cia das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados.
Também se baseia em formas simples e suficientes para propiciar adequado
grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados. Além
disso, persegue a garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de
alegações finais, à produção de provas e à interposição de recursos, bem
como proíbe despesas processuais e impulsão de ofício e veda o prejuízo
aos interessados.
Segundo Meirelles et al. (2016, p. 821), o processo administrativo é gênero
que se reparte em várias espécies. Entre elas, as mais frequentes são o processo
disciplinar, o processo tributário ou fiscal e o processo ambiental. Embora
esses processos apresentem características especiais, eles encontram-se sob o
conceito geral de “processo administrativo”, de modo que a Lei do Processo
Administrativo define os princípios e regras superiores que devem nortear
toda e qualquer conduta jurisdicional da administração para a segurança de
seus julgamentos e a garantia dos direitos dos administrados.
Segundo Di Pietro (2017, p. 700), há alguns princípios comuns a todos
os processos administrativos e judiciais que constituem objeto de estudo da
teoria geral do processo. Entre eles, você pode considerar a publicidade, a
ampla defesa, o contraditório, o impulso oficial, a obediência à forma e aos
procedimentos estabelecidos em lei. Há também outros princípios que são
Considerações acerca da Lei do Processo Administrativo Federal 3

próprios do direito administrativo (e gerais em relação às suas espécies), como


a oficialidade, a gratuidade e a atipicidade.
O primeiro princípio do Direito Administrativo a ser observado, segundo
Meirelles et al. (2016, p. 823), é o da legalidade, em sua modalidade objetiva.
Para os autores, o processo administrativo deve ser instaurado com base legal,
ou norma jurídica objetiva, visando a manter o império da legalidade e da
justiça no funcionamento da administração. Todo o processo administrativo
deve ser embasado em norma legal específica para apresentar-se com legalidade
objetiva, sob pena de invalidade.
O princípio da publicidade está previsto no art. 37 da Constituição (BRA-
SIL, 1988), na qualidade de princípio geral, de modo que os processos desen-
volvidos pela administração devem estar abertos ao acesso dos interessados
ou partes. Meirelles et al. (2016) ressaltam, no entanto, que esse direito é mais
amplo no processo administrativo do que no processo judicial. Assim, qualquer
pessoa é titular desse direito, desde que tenha algum interesse atingido por ato
constante do processo ou que atue na defesa do interesse coletivo ou geral, no
exercício do direito do acesso à informação assegurado pelo art. 5º, XXXIIII,
da CF (BRASIL, 1988).
Sobre o princípio da oficialidade, Di Pietro (2017, p. 701) ressalta que
também é mais amplo no processo administrativo. Isso porque no âmbito
administrativo ele assegura a possibilidade de instauração do processo por
iniciativa da própria administração, independentemente de provocação do
administrado. Além disso, possibilita a impulsão de ofício do processo, ado-
tando todas as medidas necessárias à sua instrução. Essa executoriedade
existe mesmo que não haja previsão legal em virtude da tutela do interesse
público. Ainda segundo Meirelles et al. (2016, p. 824), o princípio da verdade
material é um desdobramento desse raciocínio. Nesse sentido, a administração,
utilizando suas prerrogativas, deve buscar a realidade dos fatos em contraste
com a admissão da verdade formal (versão das partes que chega ao processo)
no processo judicial. Isso desde que os dados apurados pela administração
sejam formalizados.
O princípio da obediência à forma e aos procedimentos é definido por Di
Pietro (2017, p. 702) por sua rigidez no processo administrativo. Mesmo sendo
conhecido como “princípio do informalismo” na esfera administrativa, esse
princípio não se caracteriza por ausência de forma. Ele se tipifica pela redução
do escrito e da documentação em todas as fases de seu desenvolvimento,
sendo a informalidade pertinente à ausência de regras procedimentais rígidas.
O princípio da gratuidade é definido por Di Pietro (2017, p. 703–704)
pela lógica de que, sendo a administração pública uma das partes do processo
4 Considerações acerca da Lei do Processo Administrativo Federal

administrativo, não se justifica a onerosidade que existe no processo judicial


comum. Essa noção está prevista no art. 2º, parágrafo único, XI, da Lei nº
9.784/1999 (BRASIL, 1999), que proíbe a cobrança de despesas processuais,
ressalvadas as previstas em lei. Dessa forma, a menos que haja leis específicas
exigindo cobranças de determinados atos, a regra é a gratuidade dos atos
processuais. Isso inclusive em relação aos recursos na esfera administrativa,
por força da Súmula nº 373 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) (BRASIL,
2017a) e da Súmula Vinculante nº 21 do Supremo Tribunal Federal (STF)
(BRASIL, 2009).
O princípio da ampla defesa e do contraditório é outro princípio geral
dos processos, expresso no art. 5º, LV, da CF (BRASIL, 1988). Especifica-
mente aos servidores estáveis, o mesmo direito encontra-se assegurado no
art. 41, § 1º (BRASIL, 1988), específico ao processo administrativo e judicial
disciplinar em relação à perda do cargo.
A Lei nº 9.784/1999 (BRASIL, 1999) reitera esses princípios em seu art. 2º.
Meirelles et al. (2016, p. 42), por sua vez, os relaciona à garantia de defesa como
decorrência do devido processo legal previsto no art. 52, LIV, da CF (BRASIL,
1988). Esse artigo garante às partes, na prática, o acesso aos diversos atos
processuais de impugnação, a discussão das alegações das partes adversas e
a impugnação de decisões do órgão julgador.
O princípio da atipicidade, por sua vez, é a antítese do princípio público
penal de tipicidade. Assim, no direito administrativo há a exigência de an-
tijuridicidade nos processos disciplinares como decorrência do princípio
geral da legalidade. Isso significa que o ilícito administrativo tem previsão
legal, no entanto nem sempre de forma tipificada (com conduta e penalidade
especificadas de forma estrita), havendo infrações de ordem geral aplicáveis
ao administrado, servidor ou instituição (DI PIETRO, 2017, p. 706).
O princípio da pluralidade de instâncias decorre do poder de autotutela
de que dispõe a administração pública (DI PIETRO, 2017, p. 707), que lhe per-
mite rever seus próprios atos, quando ilegais, inconvenientes ou inoportunos,
poder este reconhecido pelo STF nas Súmulas nº 346 (BRASIL, 1963) e nº 473
(BRASIL, 1969). Nesse sentido, se deve levar em conta que o superior hie-
rárquico pode rever sempre os atos de seus subordinados com poder inerente
à hierarquia e independentemente de previsão legal. Haverá tantas instâncias
administrativas quantas forem as autoridades com atribuições superpostas
na estrutura hierárquica.
O princípio da economia processual é caracterizado por Di Pietro (2017,
p. 708) como uma adequação dos atos processuais à finalidade pretendida.
Dessa forma, devem ser evitados formalismos excessivos, não essenciais à
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legalidade do procedimento e que só onerem inutilmente a administração


pública, emperrando a máquina administrativa. Desse princípio decorre o
princípio do aproveitamento dos atos processuais, que admite o saneamento
do processo quando se tratar de nulidade sanável cuja inobservância não
prejudique a administração ou o administrado.
Finalmente, o princípio da participação popular é inerente à ideia de
Estado Democrático de Direito, referido no preâmbulo da Constituição Federal
(BRASIL, 1988), havendo correspondência em vários setores da administração
pública, em especial na parte referente à ordem social. Segundo Di Pietro (2017,
p. 709), enquadram-se nesse princípio: a participação dos trabalhadores e fun-
cionários nos colegiados dos órgãos públicos de seu interesse; a participação
do produtor e do trabalhador rural no planejamento e na execução da política
agrícola; a participação da sociedade e dos poderes públicos nas iniciativas
referentes à seguridade social; o caráter democrático e descentralizado da
gestão administrativa na seguridade social; a saúde e a assistência social;
a gestão democrática do ensino público; e a colaboração da comunidade na
proteção do patrimônio cultural e ambiental. Como você deve imaginar, há
diferentes formas e graduações de manifestação desse princípio nas diferentes
espécies de processos administrativos.

Um exemplo claro do princípio da participação popular encontra-se na consulta


realizada à população nas chamadas audiências públicas promovidas nos processos
de licenciamento ambiental.

Conceitos, finalidades e procedimento do


processo administrativo disciplinar
O processo administrativo disciplinar está previsto na Lei nº 8.112, de 11 de
dezembro de 1990, que dispõe sobre o regime legal dos servidores públicos.
Esse processo é o instrumento legal adequado que a administração pública
possui para averiguar irregularidades, ineficiências e inadequações em relação
aos seus servidores.
Segundo Di Pietro (2017, p. 711-712), os meios de apuração de ilícitos
administrativos são o processo administrativo disciplinar e os meios sumários,
6 Considerações acerca da Lei do Processo Administrativo Federal

que compreendem a sindicância e a verdade sabida. O processo administrativo


disciplinar é obrigatório para a aplicação de penas que impliquem perda de
cargo para funcionário estável, conforme o art. 41 da Constituição Federal
(BRASIL, 1988). Ele também é exigido para a aplicação das penas de suspensão
por mais de 30 dias, demissão, cassação de aposentadoria e disponibilidade, bem
como destituição de cargo em comissão, segundo o art. 146 da Lei nº 8.112/1990
(BRASIL, 1990). O art. 100 do Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967
(BRASIL, 1967), também vincula o procedimento à demissão ou dispensa de
servidor efetivo por comportamento desidioso ou ineficiente no desempenho
dos encargos e deveres que lhe competem.
Segundo Meirelles et al. (2016, p. 830), o PAD também pode ser chamado de
inquérito administrativo. Em resumo, é o meio de apuração e punição a faltas
graves dos servidores públicos e demais pessoas sujeitas ao regime funcional
de determinados estabelecimentos da administração. Segundo Di Pietro (2017,
p. 696-697), os procedimentos administrativos em geral compreendem três
fases: a instauração, a instrução e a decisão, conforme a Lei nº 9.784/1999
(BRASIL, 1999), que dispõe sobre o processo administrativo no âmbito da
administração pública federal.
De forma geral, a instauração dos processos administrativos pode se dar
de ofício (em atendimento ao princípio da oficialidade) ou a pedido do in-
teressado (BRASIL, 1999, art. 5). Além disso, é vedada a recusa imotivada
de documentos, sendo possível a elaboração de modelos ou formulários pela
administração para servir como peças procedimentais.
Já a instrução contém os princípios da oficialidade e da verdade formal,
sem prejuízo dos direitos dos interessados de proporem atuações probatórias
(BRASIL, 1999, art. 29). São vedadas as provas obtidas por meios ilícitos
(BRASIL, 1999, art. 30) e é atribuído ao interessado o ônus das provas que
lhe interessem, sendo facultado a ele juntar documentos e pareceres e requerer
diligências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria objeto
do processo (BRASIL, 1999, art. 38).
Também é vedada a produção de provas desnecessárias e protelatórias
(BRASIL, 1999, art. 38, § 2º), sendo estabelecido o prazo de 15 dias para
a elaboração de parecer e sendo prevista medida acautelatória sem prévia
manifestação do interessado em caso de risco iminente (BRASIL, 1999, art.
45). Finalmente, a decisão deve ser realizada em até 30 dias, salvo prorrogação
por igual período, expressamente motivada (BRASIL, 1999, art. 48-49).
A Lei nº 8.112/1990, como você viu, dispõe especificamente sobre o pro-
cedimento administrativo disciplinar. Ela afirma, em seu art. 143 (BRASIL,
1990), que a autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público
Considerações acerca da Lei do Processo Administrativo Federal 7

deve promover sua apuração imediata por meio de sindicância ou processo


administrativo disciplinar, sendo assegurada a ampla defesa ao acusado.
O § 3º (BRASIL, 1990, art. 143) faculta que a apuração referida seja reali-
zada por órgão diverso dentro de competência específica para essa finalidade,
delegado em caráter permanente ou temporário pelo presidente da República,
pelo presidente das casas do Legislativo ou tribunais federais e pelo procurador-
-geral da República, no âmbito do respectivo poder.
O art. 144 (BRASIL, 1990) estabelece que as denúncias sobre irregu-
laridades serão objetos de apuração desde que contenham o endereço do
denunciante e sejam formuladas por escrito, além de conter autenticação
confirmada. Quando o fato não configurar evidente infração disciplinar ou
ilícito penal, a denúncia será arquivada (parágrafo único). Assim, o processo
de sindicância poderá resultar em: arquivamento, aplicação de penalidade de
advertência ou suspensão de até 30 dias, ou instauração do processo disciplinar
propriamente dito.

Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar imposição de penalidade ou


suspensão de mais de 30 dias, demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade,
ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de processo
disciplinar (BRASIL, 1990, art. 146).

O processo disciplinar será conduzido por comissão composta por três


servidores estáveis, designados pela autoridade competente. Essa autoridade
deverá indicar, entre os servidores, o presidente da comissão. Ele deverá ser
ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escola-
ridade igual ou superior ao do indiciado (BRASIL, 1990, art. 149).
O processo disciplinar segue a mesma lógica dos processos administra-
tivos em geral, conforme o art. 151 (BRASIL, 1990), sendo a primeira fase
a de instauração, a segunda de instrução e a terceira de julgamento. O prazo
para conclusão do processo disciplinar é especial para os procedimentos em
geral, não devendo exceder 60 dias contados da data de publicação do ato que
constituiu a comissão, admitida a sua prorrogação pelo mesmo prazo se as
circunstâncias o exigirem.
A comissão poderá se dedicar em tempo integral aos seus trabalhos,
dispensados seus membros do ponto até o relatório final (BRASIL, 1990,
8 Considerações acerca da Lei do Processo Administrativo Federal

art. 152, § 1º). Suas reuniões deverão ser registradas em atas, detalhando
as deliberações tomadas (BRASIL, 1990, art. 152, § 2º).

O processo administrativo disciplinar é direcionado apenas a faltas graves cometidas


pelo servidor público. As demais atitudes inconvenientes realizadas pelos servidores
são objeto de procedimentos mais amenos, como a penalidade de advertência e
outros meios previstos em lei que resguardem proporcionalidade com o bem jurídico
tutelado (eficiência administrativa, adequação entre os recursos humanos e cargos
disponíveis, etc.).

Hipóteses de prescrição aplicáveis ao processo


administrativo e ao PAD
O aspecto temporal, na lição de Miranda (2012, p. 79), não é fato jurídico per
si. O tempo entra, como fato, no suporte fático de fatos jurídicos. Com ele,
podem nascer ou acabar direitos, pretensões, ações ou exceções. Além disso,
podem ocorrer modificações de ordem jurídica que atingem direitos, pretensões,
ações, exceções, deveres, obrigações e situações passivas em ações e exceções.
O termo diz respeito ao tempo em que se inicia ou se acaba o tempo medido.
Já o prazo é o lapso entre dois termos, inicial e final.
Nader (2001, p. 307) conceitua a prescrição como: “[...] a perda do direito
de ação pelo decurso do tempo”. Em conformidade com o ensinamento de
Miranda (2012), Nader (2001, p. 307) expõe que, com a prescrição, “[...] o
direito não desaparece, mas fica sem meios de obter a proteção judicial, em
decorrência da inércia do seu titular, que não movimentou o seu interesse em
tempo hábil”. Porém, o autor ressalva que a doutrina moderna, conforme o
entendimento de Silva, “[...] concebe o direito de ação como direito autônomo,
independentemente da existência de um direito subjetivo” (NADER, 2001,
p. 307). A prescrição é instituída, conforme diz Paupério (apud NADER,
2001, p. 307), “[...] como meio de paz social, para não eternizar as querelas”.
É assim que Meirelles et al. (2016, p. 877-878) também definem a prescrição
ao dizer que ela é configurada pela perda de ação pelo transcurso do prazo
para seu ajuizamento ou pelo abandono da causa durante o processo. Dessa
forma, a prescrição não se confunde com a decadência ou a caducidade, que
é o perecimento do direito pelo não exercício dele no prazo fixado em lei.
Considerações acerca da Lei do Processo Administrativo Federal 9

As prescrições em geral, a favor ou contra a Fazenda Pública, regem-se


pelos princípios do Código Civil, salvo as peculiaridades estabelecidas em
leis especiais. A ação de ressarcimento dos danos causados ao erário por
atos ilícitos, por exemplo, é imprescritível, conforme o art. 37, § 5º, da CF
(BRASIL, 1988). Já a prescrição das ações pessoais contra a Fazenda Pública
e suas autarquias é de cinco anos, conforme estabelece o Decreto Ditatorial
nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932, complementado pelo Decreto-Lei nº 4.597,
de 19 de agosto de 1942 (BRASIL, 1942). Este último consagra a prescrição
quinquenal a favor de todas as fazendas, autarquias, fundações públicas e
empresas estatais. Essa prescrição pode ser interrompida somente uma vez
e recomeça a correr, pela metade do prazo, a partir da data do ato que a
interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. Além disso,
“[...] consumar-se-á a prescrição no curso da lide sempre que a partir do
último ato ou termo da mesma, inclusive da sentença nela proferida, embora
passada em julgado, decorrer o prazo de dois anos e meio” (BRASIL, 1942).
No entanto, o STF entende que “[...] a prescrição em favor da Fazenda
Pública começa a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo,
mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a in-
terrompa durante a primeira metade do prazo” (BRASIL, 2017b). Os meios de
suspensão e interrupção da prescrição mais comuns apontados pelo autor são
a reclamação administrativa e o pedido de reconsideração, além de recursos
hierárquicos específicos.
Especificamente em relação ao processo disciplinar administrativo, Car-
valho (2014 relata que a Lei nº 8.112/1990 disciplina, no art. 142, a prescrição
punitiva da administração. Essa lei estabelece que a ação disciplinar se ex-
tinguirá em cinco anos quanto às infrações puníveis com demissão, cassação
de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de cargos em comissão; em
dois anos quanto à suspensão; e em 180 dias quanto à advertência. Segundo
a autora (CARVALHO, 2014), o início da contagem do prazo prescricional se
dá na data em que o fato se tornou conhecido, como rege o § 1º do art. 142
(BRASIL, 1990).
Além disso, o § 4º (BRASIL, 1990, art. 142) estabelece que, em caso de
interrupção, a contagem começa a partir do dia em que cessou a respectiva
interrupção. Dessa forma, depois de transcorridos os prazos descritos espe-
cificamente para o processo administrativo disciplinar na Lei nº 8.112/1990
(BRASIL, 1990), há perda do direito de ação contra o fato que deu origem ao
processo disciplinar, ainda que não haja prescrito, por exemplo, a pretensão
ressarcitória da administração pública contra esse processo, se for o caso.
10 Considerações acerca da Lei do Processo Administrativo Federal

Os processos administrativos estadual e municipal possuem previsões próprias, de-


pendendo do ente federativo envolvido.

1. O processo administrativo, 3. O princípio da legalidade objetiva


segundo a concepção de pressupõe que o processo
processo apresentada por Di administrativo obedeça a:
Pietro (2017), é um meio para: a) normas objetivas.
a) estabelecer um diálogo b) normas subjetivas.
com a administração. c) regras internacionais.
b) buscar uma decisão d) regras de cunho axiológico.
administrativa. e) princípios gerais de direito.
c) questionar a legalidade da 4. Segundo Di Pietro (2017), os
administração pública. meios de apuração de ilícitos
d) opinar sobre o modo de administrativos são o processo
operação da administração. administrativo disciplinar e os
e) receber benefícios da meios sumários, que compreendem
administração. o/a ________________ e a verdade
2. Segundo Meirelles et al. (2016), a sabida. Assinale a alternativa que
administração pública, para registro completa corretamente a lacuna.
de seus atos, controle de conduta a) inquérito criminal
de seus agentes e solução de b) processo de improbidade
controvérsias dos administrados, c) processo penal
utiliza diversos ______________, d) sindicância
que recebem a denominação e) investigação civil
comum de processo administrativo. 5. O prazo de prescrição
Assinale a alternativa que completa aplicável em caso de sanção
corretamente a lacuna. administrativa de suspensão é:
a) negócios jurídicos a) imprescritível.
b) contratos b) de cinco anos.
c) atos normativos c) de dois anos.
d) procedimentos d) de 180 dias.
e) fortuitos e) de três anos.
Considerações acerca da Lei do Processo Administrativo Federal 11

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 30 mar. 2018.
BRASIL. Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sôbre a organização da
Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá
outras providências. Brasília, DF, 1967. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/Del0200.htm>. Acesso em: 30 mar. 2018.
BRASIL. Decreto-lei nº 4.597, de 19 de agosto de 1942. Dispõe sobre a prescrição das ações
contra a Fazenda Pública e dá outras providências. Brasília, DF, 1942. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del4597.htm>. Acesso
em: 30 mar. 2018.
BRASIL. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos
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Brasília, DF, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8112cons.
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BRASIL. Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Regula o processo administrativo no
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www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9784.htm>. Acesso em: 30 mar. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 373/STJ. Brasília, DF: STJ, 2017a. Dispo-
nível em: <https://www.legjur.com/sumula/busca?tri=stj&num=373>. Acesso em:
30 mar. 2018.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula 346. Brasília, DF: STF, 1963. Disponí-
vel em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula 383. Brasília, DF: STF, 2017b. Dispo-
nível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.
asp?sumula=2533>. Acesso em: 30 mar. 2018.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula 473. Brasília, DF: STF, 1969. Disponível
em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=473.
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CARVALHO, R. S. P. Do prazo prescricional no processo administrativo disciplinar à luz
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12 Considerações acerca da Lei do Processo Administrativo Federal

DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 30. ed. São Paulo: Forense, 2017.


MEIRELLES, H. L. et al. Direito administrativo brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, 2016.
MIRANDA, P. Tratado de direito privado: parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2012. tomo 1.
NADER, P. Introdução ao estudo do direito: de acordo com a constituição de 1988.
21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

Leitura recomendada
SANTANA, G. Direito administrativo. 4. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2015. (Série
Objetiva).
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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