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UNIÃO EUROPEIA
SOFIA ALVES CUNHA
FDUL
2020/2021
Direito da União Europeia | Regente Eduardo Ferreira
Apesar de não existirem certezas quanto ao primeiro momento em que se utilizou o termo
Europa, é certo que terá sido bastante anterior à ideia de uma integração europeia.
Surge no século VIII a ideia política de Europa, com o avanço do Mouros, estando esta
associada à Cristandade Ocidental. Posteriormente, Carlos Magno reforça o sistema
político europeu, designando-se o pai da europa e procurando desenvolver múltiplos
centros políticos e administrativos, a par de práticas económicas e cristãs comuns. No
fundo, são estes os três elementos constitutivos da identidade europeia – sistema político,
economia e cultura comuns.
Desde então que a Europa se tende a sentir o centro do mundo, na medida em que possuía
uma elite que partilhava uma tradição cultural comum, justificando-se o colonialismo
precisamente por essa superioridade cultural europeia. Isto tem como consequência uma
certa ignorância para com os não europeus, o que se verifica atualmente no modo
diferente como são tratados os Estados não membros da União Europeia.
Desde o século XVIII que a Europa se afirma como um local onde coexistem múltiplas
comunidade políticas que partilham um determinado modo de vida, baseado no
progresso, na civilização, na aprendizagem e na cultura. A identidade europeia
completa-se no Século XX.
Apesar da ideia de identidade europeia ser anterior às comunidades europeias, estas vêm
contribuir para a construção e desenvolvimento desta identidade. A identidade europeia
deve-se à identificação de uma comunhão de interesses, princípios e valores que deve ser
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Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 63 a 68
aproveitada e desenvolvida pela União. A identidade europeia foi criada com base em
fatores de aproximação dos povos europeus, o que pressupõe uma identificação dos
cidadãos com um certo modelo económico, social e político, levando à criação de laços
de solidariedade entre eles.
A existência de uma moeda única, o euro, que pode ser usada em qualquer Estado dentro
da zona Euro, é outro elemento importante na definição da identidade europeia. Algumas
das manifestações do respeito da identidade europeia são os artigos 1º e 2º do TUE e o
artigo 20º do TFUE.
Por vezes, esta identidade europeia aproxima-se dos valores dos EUA, no que toca à
economia de mercado ou à democracia constitucional, mas também se afasta, no que toca
à matéria de Estado Social e da proibição da pena de morte.
Estes três projetos visavam a concertação dos soberanos que, naquela época, travavam
lutas sangrentas. Por e por outras razões, nenhum destes projetos vingou.
No início do século XIX verifica-se uma emergência dos nacionalismos, o que dificulta
a criação de uma União Europeia.
Contudo, o tempo não propício à implantação destas ideias devido ao auge em que se
encontrava o Estado- Nação.
A primeira Guerra Mundial vem estimular quem já defendia a união das comunidades
como a forma de evitar situações semelhantes e para responder à concorrência económica
dos EUA, Japão e Argentina.
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Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 69 a 71
Logo após a primeira Guerra Mundial, Luigi Eunaudi, propôs a congregação do Estados
da Europa, contudo esta união não foi possível devido à afirmação dos nacionalismos que
encontramos com a assinatura do Tratado de Versalhes.
Em 1926, pois iniciativa oficial do político Édouard Herriot, o parlamento francês acolheu
a ideia da unificação da Europa. Em 1927, o Ministros francês Loucher propôs a criação
de carteis europeus do carvão, do aço e dos cereais.
A ideia foi acolhida pelo meio intelectual, mas o meio político mostrava-se bastante
cético, apesar de ter sido um tema abordado em sede da SDN poucos países receberam a
ideia de forma positiva. Foi apenas após um memorando enviado por Briand em 1930
que, sem contar com o Reino Unido, os países apesar de desconfiantes procurava aceitar
a ideia, colocando algumas questões sobre a compatibilidade da união com a soberania
nacional, contudo o ambiente não era propício à aceitação da proposta.
Era complexa a ideia de uma associação federal conjugada com soberania total dos
Estados, havia forte resistência do Reino Unido, a crise económica mundial forçava os
Estados a adotar medidas económicas protecionistas, no fundo os Estados não estavam
prontos a assinar algo tão radical. Com a morte de Briand em 1932 a ideia foi abandonada.
O fim da II Guerra mundial e o desejo de paz na Europa foram os dois principais fatores
para o ressurgimento da ideia de unidade europeia, contudo foi igualmente importante o
colapso das economias, a pendência da ameaça Rússia, a existência de problemas comuns
e a consciência dos políticos da necessidade de entreajuda para a reconstrução da Europa.
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Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 72 a 77
Foi em 1948 realizado em Haia um congresso para se discutir a unidade da Europa, teve
mais de 775 delegados de mais de 24 Estados europeus. Foram apresentadas duas teses:
• Tese Federalista que pugnava pela instituição imediata de uma federação
política
• Tese Unionista que agrupava os que defendiam os contactos
intergovernamentais
A moção final do congresso foi aprovada por unanimidade, contudo a tese federalista não
conseguiu instituir a eleição por sufrágio direto e universal de uma assembleia
constituinte, contudo foi aprovado um Comitê para a Europa Unida e uma Assembleia
Europeia constituída por parlamentos nacionais que visava:
• Contribuir para criar e exprimir a opinião pública europeia
• Recomendar as medidas imediatas adequadas ao estabelecimento
progressivo, tanto no plano político como no plano económico, da unidade
necessária na Europa
• Examinar os problemas jurídicos e constitucionais colocados pela criação
de uma união ou de uma federação, assim como as suas consequências
económicas e sociais
• Elaborar os projetos de instrumentos jurídicos necessários para o eeito
• Propor a criação de um Tribunal encarregado de assegurar o respeito de
uma carta europeia dos direitos humanos
o Plano Marshall4
Com a ameaça da Guerra Fria e com a ruína económica da Europa após a II Guerra
Mundial os EUA sugeriram um plano económico à Europa. O plano de recuperação
económica para a Europa foi aprovado em congresso norte-americano em 1948, sendo
aceite pelos estados europeus, à exceção da Rússia e respetivos aliados. Espanha não foi
convidada a participar, e Portugal inicialmente recusou a ajuda, contudo veio depois
beneficiar desta.
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Eduardo Paz Ferreira, Integração Europeia e Direito Económico Europeu, AAFDL, 2018, Página 19 - 22
Rapidamente foram atingidos estes objetivos, pelo que em 1960 a OECE foi extinguida
e substituída pela OCDE, que contem fins mais amplos, atingindo o Canadá e os EUA.
Em 1949 foi proposta a criação de uma União Europeia de Pagamentos que foi aprovada
pelos ingleses e colocada em prática em 1950.
Contudo, foi a ameaça da ex-URSS que levou cinco Estados europeus a unirem-se para
concretizarem os seus propósitos de defesa comum – Bélgica, Holanda, Luxemburgo,
França e Inglaterra.
Assim, a 17 de março de 1948 foi assinado o Tratado de Bruxelas, que instituiu a União
Ocidental, criando-se um compromisso de assistência mútua em caso de agressões
armadas na Europa. O Tratado previa um sistema de consultas mútuas no domínio da
cooperação económica, social e cultural e organizava um sistema de resolução pacífica
dos conflitos entre os Estados-membros. Em 1954, esta organização tornou-se a União da
Europa Ocidental.
A Alemanha só vai passar a fazer parte do sistema de defesa europeia com a revisão do
Tratado de Bruxelas, que ocorreu por força dos Acordos de Paris, de 23 de outubro de
1954, os quais criaram a União da Europa Ocidental. Os seus signatários foram a França,
o Reino Unido, a Bélgica, a Holanda, o Luxemburgo, a Alemanha e a Itália, a que se
juntaram mais tarde Espanha, Portugal e Grécia.
A UEO foi formalmente extinta a 30 de junho de 2011, tendo sido progressivamente
integrada na União Europeia desde 1998.
o Afirmação da via intergovernamental no plano político
O principal objetivo deste Conselho era a proteção dos direitos humanos, por isso, foi
criada a a 4 de novembro de 1950 a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, a qual
se enquadrou no movimento de dotar a Europa de uma carta comum de direitos e
liberdades, que repercuta os valores políticos e culturais das democracias ocidentais.
À Convenção juntam-se 16 Protocolos, dos quais alguns acrescentam novos direitos e
outros introduzem modificações na competência, na estrutura e no funcionamento dos
seus órgãos de controlo.
Esta causa foi entusiasticamente abraçada pela Europa porque as atrocidades cometidas
durante a II Guerra Mundial mostraram a necessidade de uma maior proteção dos direitos
humanos e porque era preciso afirmar um quadro ideológico comum relação aos países
de leste, em resposta à ameaça soviética.
Em suma, ao contrário do que tinha sido proposto pelo Congresso de Haia, a componente
política passa a ser tratada numa perspetiva intergovernamental.
O TRATADO CECA
o A Declaração Schuman6
A Declaração Schuman foi um grande impulso para a integração europeia, tendo ficado
para a história como o verdadeiro momento de criação das Comunidades Europeias, visto
que levou à criação da primeira Comunidade Europeia – a Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço (CECA).
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Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 77 a 84
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Eduardo Paz Ferreira, Integração Europeia e Direito Económico Europeu, AAFDL, 2018, Página 22 a 27
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Eduardo Paz Ferreira, Integração Europeia e Direito Económico Europeu, AAFDL, 2018, Página 35 a 37
Era formado por representantes dos Estados, partilhando com a Alta Autoridade a tomada
das decisões mais importantes, pois era necessário o seu parecer conforme. Tinha por
missão harmonizar a missão da Alta Autoridade e dos governos responsáveis pela política
económica geral dos seus países.
Tribunal – TCECA: 31º e ss.
Assegurava o controlo do Direito, dispondo de competência para assegurar o respeito do
Direito na interpretação e aplicação do Tratado e dos regulamentos de execução. A sua
jurisdição era obrigatória.
TCECA: 65º, 66º, 80º o Tratado CECA estabelecia uma relação direta entre a Alta
Autoridade e as empresas, sem necessidade de mediação por parte dos Estados.
Mais tarde no mesmo ano, o Conselho CECA reuniu em Messina com o objetivo de tratar
da substituição de Jean Monnet.
Em maio de 1955, um memorando do Benelux é enviado aos participantes da conferência
de Messina, apresentando dois caminhos possíveis para a integração europeia:
• Caminho global, defendido por Beyen
• Caminho setorial, defendido por Spaak
Os seis Estados membros fundadores acabaram por aprovar uma resolução favorável ao
desenvolvimento de novas instituições comuns, à integração progressiva das economias
nacionais, à criação de um mercado comum e à harmonização da política social. Assim,
criou-se um comité especial, presidido por Paul-Henri Spaak, com o objetivo de preparar
estes projetos.
Na sequência dos trabalhos deste comité, foi apresentado o Relatório Spaak, que concluía
pela necessidade de criação de duas novas comunidades dotadas de quatro instituições,
com o objetivo de criarem um mercado comum geral e de instituírem uma entidade dotado
de autoridade própria. O Relatório foi aprovado pelos Ministros dos Negócios
Estrangeiros dos Seis e, assim, surgiu a proposta de criação da CEE e da CEEA.
O Tratado da CEE estabelecia objetivos que afetavam o núcleo da soberania dos Estados-
membros, eram eles:
• A paz e a união cada vez mais estreita entre os povos europeus.
• O estabelecimento de bases comuns do desenvolvimento económico.
• O progresso económico e social.
• A melhoria constante das condições de vida e de emprego dos povos da Europa.
• A construção de um mercado comum geral.
Conselho
Era o órgão, por excelência, representativo dos Estados. Detinha o poder normativo na
aplicação do Tratado, o poder de adotar decisões de natureza constitucional, o poder de
decisão ao nível do alargamento da competência dos órgãos comunitários, o poder de
decisão em matéria orçamental, o poder de assegurar a coordenação das políticas
económicas dos Estados-membros. A regra da votação era a da maioria, o que relvava o
desejo de evitar o domínio do processo de decisão comunitário por parte de cada um dos
Estados-membros isoladamente.
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Eduardo Paz Ferreira, Integração Europeia e Direito Económico Europeu, AAFDL, 2018, Página 37 a 43
Comissão
Era o órgão independente dos Estados-membros, defendia os interesses da Comunidade,
não devendo receber instruções dos governos. Era a guardiã dos Tratados, detendo
poderes de se informar junto dos Estados e das empresas, de aplicar sanções às empresas,
de desencadear o processo por incumprimento contra os Estados-membros, de controlar
a aplicação das cláusulas de salvaguarda, de negociação dos tratados internacionais de
que a Comunidade fosse parte, de gestão dos serviços da Comunidade e dos fundos
comunitários.
Assembleia Parlamentar
Era o órgão representativo dos povos europeus. Os seus poderes legislativos eram, no
início, essencialmente consultivos. A possibilidade de eleição do Parlamento por sufrágio
direto e universal estava prevista no Tratado, desde a sua entrada em vigor.
Tribunal de Justiça
Era o órgão jurisdicional, independente dos Estados, pois o Tratado previa um sistema
comunitário de garantia do cumprimento das normas.
O Tratado da CEE é um tratado-quadro, por isso, o pleno cumprimento dos objetivos nele
previstos impunha a adoção de medidas, atos e normas por parte dos órgãos da CEE.
Assim, as fontes de Direito Derivado previstas no TCEE: 189º eram os regulamentos, as
diretivas, as decisões, os pareceres e as recomendações.
Inicialmente, o orçamento comunitário viveu das contribuições dos Estados, mas a versão
originária do Tratado já previa a possibilidade de este orçamento dispor de receitas
próprias. A construção das finanças comunitárias como finanças autónomas data do início
da década de 70.
O Tratado da CEE tinha uma vigência limitada, o que não impediu a modificação da sua
denominação para Tratado da Comunidade Europeia nem a sua substituição pelo Tratado
de Funcionamento da União Europeia.
O ano de 1965 foi marcado por uma das maiores crises das Comunidades Europeias. Em
maço de 1965, a Comissão de Hallstein formulou três propostas, com vista à passagem à
terceira etapa do mercado comum, as quais deveriam ser negociadas em conjunto.
A primeira visava aumentar os poderes da Assembleia, a segunda defendia um sistema
de recursos próprios, de modo a tornar as Comunidades financeiramente independentes
das contribuições nacionais e a terceira incluía uma série de regulamentos financeiros
relativos à política agrícola comum.
A França recusou a primeira proposta, inviabilizando as restantes, já que a Comissão
insistiu na negociação em conjunto.
Após o fracasso das negociações, a França iniciou a sua política da cadeira vazia, ou seja,
recusou-se a participar nas reuniões do Conselho. Esta crise só foi ultrapassada com os
acordos de Luxemburgo, de 30 de janeiro de 1966.
o Tratado de Fusão
As Comunidades atravessavam uma crise no final da década de 60, que só foi ultrapassada
com a Cimeira de Haia de 1 e 2 de dezembro de 1969.
Em 1969, o General De Gaulle demitiu-se, tendo sido substituído por Pompidou, que
sustentava uma política de maior abertura em relação à Europa. Assim, a Cimeira foi
convocada por iniciativa da França, para examinar os problemas da Comunidade: o
aprofundamento da união económica e monetária, o alargamento ao Reino Unido e o
acabamento da política agrícola comum.
Nesta Cimeira, afirmou-se a necessidade de concretização da União Económica e
Monetária e de criação de recursos próprios, que ficou pendente desde a crise da cadeira
vazia.
O Alargamento ao Reino Unido, á Irlanda e à Dinamarca
Além disso, o Conselho adotou a Decisão de 21 de abril de 1970 relativa aos recursos
próprios, com fundamento no antigo TCEE: 201º, o qual previa, desde o início, a
possibilidade de criação de recursos próprios das Comunidades.
No entanto, os Seis decidiram realizar a união económica e monetária em três etapas, até
1980. Todavia, a crise mundial que se vivia não era propícia à criação da UEM.
Apesar do fracasso, o Presidente da Comissão propôs, a 27 de outubro de 1977, a criação
de um Sistema Monetário Europeu, o qual foi aprovado no Conselho Europeu de
Bruxelas, de 5 e 6 de dezembro de 1977.
Não obstante os avanços efetuados, a verdade é que, devido aos acordos de Luxemburgo,
a Comissão tinha muita dificuldade em fazer passar as suas propostas no Conselho, o que
implicava o incumprimento dos prazos previstos no Tratado quanto a determinados
objetivos. Por isso, os relatórios apresentados na década de 70 referiam-se
frequentemente à necessidade de reforma das instituições comunitárias.
A versão originária dos Tratados sofreu algumas modificações ao longo dos tempos,
sendo que a sua primeira revisão de fundo ocorreu com o AUE, assinado em fevereiro de
1986 e entrando em vigor a 1 de julho de 1987.
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Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 91 a 98
Com base nos relatórios destes comités, o Conselho Europeu de Milão, de junho de 1985,
resolveu convocar uma CIG com o objetivo de rever os tratados, não obstante a
contestação de Margaret Tatcher, PM do Reino Unido.
o Sistema institucional
Consagrou-se formalmente o Conselho Europeu, cuja composição aparecia, pela primeira
vez, definida num texto de Direito Originário, ainda que não se fizesse qualquer
referência à sua competência.
Reforçaram-se os poderes do Parlamento Europeu ao nível do procedimento de decisão,
o qual se estendeu igualmente do domínio dos acordos de adesão e dos acordos de
associação.
Reconheceu-se a competência de execução da Comissão, dado que o Conselho nos atos
que adotava deveria atribuir à Comissão competência de execução das normas que
estabelecia. Foi reposta a regra de votação por maioria no seio do Conselho.
Introduziu-se a base jurídica necessária para a criação do Tribunal de Primeira Instância
(mais tarde, denominado Tribunal Geral, pelo Tratado de Lisboa).
• Mercado interno
Estabeleceu-se como objetivo comunitário a construção do mercado interno, que
constituía um grande impulso à União Económica Monetária. O mercado interno era
definido como «um espaço sem fronteiras, no qual a livre circulação das mercadorias,
das pessoas, dos serviços e dos capitais é assegurada, de acordo com as disposições do
presente Tratado».
Os Acordos de Schengen
Visto que não se atingia um consenso em relação à abolição gradual dos controlos de
fronteiras internas, cinco Estados-membros da Comunidade – Bélgica, Luxemburgo,
Holanda, França e Alemanha – assinaram, em 1985, o acordo Schengen, ao qual aderiram
outros Estados da Comunidade – Itália, Portugal, Espanha, Grécia, Áustria, Dinamarca,
Finlândia e Suécia. Este acordo tinha um carácter predominantemente programático, no
qual se indicavam quais os setores em que era necessário harmonizar as respetivas
políticas e encetar formas de cooperação entre os respetivos responsáveis. A 19 de junho
de 1990, os Estados-membros da Comunidade, à exceção do Reino Unido, assinaram a
convenção de aplicação do acordo Schengen, a qual definia as medidas de harmonização
necessárias para abolir definitivamente os controlos das fronteiras internas da
Comunidade.
O Ato Único Europeu, embora tenha introduzido inovações muito tímidas, gerou uma
dinâmica de desenvolvimento na integração europeia, que acabou por impulsionar o
avanço para etapas de integração económicas mais evoluídas, como é o caso da União
Económica Monetária.
Com efeito, o grande mercado interno impõe a criação de novas políticas e meios
financeiros necessários para a sua realização, pelo que se começou a formar um certo
consenso de que esses objetivos não seriam alcançáveis com os quadros institucionais
existentes, por isso, a revisão dos Tratados afigurava-se imperiosa.
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Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 99 a 114
O impulso decisivo para a revisão dos Tratados verificou-se nas vésperas do I Conselho
Europeu extraordinário de Dublin, de 28 de abril de 1990, através de uma carta conjunta
do Chanceler Kohl e do Presidente Mitterand enviada ao PM irlandês, na qual defendiam
uma alteração mais profunda dos Tratados.
Segundo eles, os trabalhos da União Política deviam concentrar-se no reforço da
legitimidade democrática, na maior eficácia dos órgãos comunitários, na unidade e na
coerência das ações a empreender e na definição e implementação de uma política externa
e de segurança comuns.
Com base nestas premissas, foi convocado o II Conselho Europeu de Dublin, de 25 e 26
de junho de 1990, onde se decidiu convocar uma segunda conferência intergovernamental
sobre União Política.
• PESC
• CJAI
O impulso político dado pelo TUE permitiu aprofundar o envolvimento dos cidadãos
europeus. Com efeito, o TUE considerava como objetivo da União o reforço da proteção
dos direitos e interesses dos nacionais dos Estados-membros, através da instauração de
uma cidadania da União. Contudo, o desenvolvimento deste objetivo não constava do
TUE, mas sim do Tratado CE.
Tornava-se cada vez mais nítido o carácter incompleto das soluções encontradas no
domínio da proteção dos direitos fundamentais, designadamente, pelo Tribunal de Justiça.
Além disso, a passagem de uma Comunidade meramente económica para uma União
política tinha como consequência uma maior limitação dos poderes da autoridade pública
em relação dos cidadãos como forma de garantir os ideais da democracia e da
Comunidade de direito.
Ora, de acordo com a tradição política humanista ocidental, o respeito dos direitos do ser
humano enquanto tal constitui um dos elementos essenciais da identidade europeia, o que
já tinha sido afirmado politicamente pelas Comunidades Europeias em diversos
momentos.
Assim, o TUE consagrou expressamente que a União respeita os direitos fundamentais,
tal como são garantidos pela CEDH, e tal como resultam das tradições constitucionais
comuns aos Estados-membros enquanto princípios gerais de direito.
O TUE entrou em domínios que constituem o cerne da soberania dos Estados, como é o
caso da cidadania, da política monetária e da política de vistos. Além disso, o TUE
preparou o terreno para futuras transferências de soberania que viriam a ocorrer em
Amsterdão, em matéria de imigração, asilo e controlo das fronteiras externas. Para
compensar a perda de soberania dos Estados, o TUE impôs o respeito das identidades
nacionais e da cultura dos Estados, assim como introduziu o princípio da subsidiariedade.
Deste modo, procurou-se um equilíbrio entre o poder político individual de cada Estado
e o poder político comum da União.
O princípio da subsidiariedade
Este foi um doa temas centrais dos debates da conferência intergovernamental sobre a
União Política. Defrontaram-se duas tendências:
• Defensores de uma maior integração procuraram aproximar este princípio ao
princípio federal paralelo.
• Opositores do aprofundamento da integração viram neste princípio uma hipótese
de descentralização.
O TUE procurou minimizar esse défice democrático por duas vias: reforçando os poderes
do Parlamento Europeu (PE) e aumentando do número de casos de votação, por maioria
qualificada, no Conselho:
• Quanto ao seu processo eleitoral uniforme, o PE passou a ter de dar um parecer
favorável.
• Quanto ao poder legislativo, o Tratado de Maastricht introduziu o procedimento
de codecisão Conselho/PE e aumentou o número de casos em que se exigia o
parecer favorável do PE. Este procedimento influenciou a regra de votação no
seio do Conselho, visto que este passou a decidir, por maioria qualificada, num
maior número de casos.
• Quanto ao controlo do poder político, o PE alargou a sua competência, através do
poder que lhe foi conferido para constituir comissões de inquérito e da exigência
de apresentação de relatórios por parte dos outros órgãos comunitários.
• O PE aumentou a sua participação na designação de membros de outros órgãos,
designadamente, passou a ser necessário um voto de aprovação por parte do PE
na designação do Presidente e dos outros membros da Comissão e só,
posteriormente, se daria a nomeação, de comum acordo, pelos governos dos
Estados-membros.
A flexibilidade e a diferenciação
Isto não são novidades introduzidas em Maastricht, desde os finais dos anos 60 que se
defendia que, na impossibilidade de conseguir o consenso de todos, em determinadas
áreas, seria preferível que apenas alguns Estados avançassem para formas de cooperação
mais estreita, enquanto os outros, que não queriam ou não podiam participar, se
manteriam à margem.
O Tratado de Maastricht introduziu a possibilidade de não participação de alguns Estados,
os chamados opt outs, em áreas de vital importância para as Comunidades e para a UE:
o Política social
o Pilares intergovernamentais
O TRATADO DE AMSTERDÃO13
A revisão dos tratados das Comunidades Europeias operada pelo Tratado de Maastricht
foi encarada como uma fase transitória no processo de integração europeia, pelo que,
desde logo, se fixou um prazo para futuras alterações. Além disso, ficou também decidido
que se deveria convocar, em 1996, outra conferência intergovernamental.
A revisão do Tratado obedeceu ao processo fixado no atual TUE: 48º, tendo os órgãos
da União apresentado os seus pareceres favoráveis.
A conferência foi convocada oficialmente pela Presidência, a 29 de março de 1996, com
o objetivo de se concentrar nos seguintes temas:
• Uma União mais próxima do cidadão.
• Maior democracia e eficácia das instituições da União.
• Reforço da capacidade de ação externa da União.
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Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 114 a 132
Um dos objetivos dos Tratados era conferir ao cidadão uma maior participação no
processo de integração europeia, bem como o de «humanizar» a União. Por isso, o
Tratado de Amsterdão procedeu a alterações significativas nos domínios que mais
repercussões poderiam ter nesses aspetos, como é o caso de:
Porém, o Tratado de Amsterdão não se debruçou sobre dois aspetos cruciais: a adesão da
União Europeia à CEDH e a inclusão de um catálogo de direitos fundamentais no Tratado.
Cidadania da União
• Consagração expressa do carácter complementar da cidadania da União em
relação à cidadania nacional e constitucionalizou o direito do cidadão da União se
dirigir aos órgãos comunitários na sua língua e de obter uma resposta nessa mesma
língua.
• Direito subjetivo de acesso aos documentos do PE, do Conselho e da Comissão
passou a estar expresso no TCE, adquirindo também dignidade constitucional.
• O Protocolo relativo ao direito de asilo de nacionais dos Estados-membros da UE
estabelecia que cada Estado-membro seria considerado pelos restantes como um
país de origem seguro para todos os efeitos jurídicos e práticas em matéria de asilo
e que a cidadania e a discriminação entre os nacionais dos Estados-membros se
encontravam excluídas da cláusula de cooperação reforçada.
• O reforço dos poderes do PE contribuiu para aumentar a participação dos cidadãos
na vida da União e para uma maior legitimidade democrática da União.
• As alterações no âmbito das políticas de emprego, social, de ambiente, de saúde
pública e de proteção dos consumidores foram impulsionadas pelo papel central
que se pretendia atribuir ao cidadão na União.
• A complexidade formal e material dos Tratados, que afastava os cidadãos, foi
simplificada pela Declaração nº42, que permitiu o expurgo de todas as normas
que já não estavam em vigor e a renumeração sequencial das normas em vigor. A
própria sistemática do Tratado foi melhorada, surgindo primeiro as normas
atinentes à UE, depois as alterações aos Tratados comunitários e, por fim, os
protocolos e as declarações.
A União celebrou acordos de associação com os PECO’s com vista a prepará-los para
responderem aos critérios de Copenhaga. Estes países tinham perdido as suas tradições
democráticas, a sua economia funcionava sem referência ao mercado e a sua moeda era
muito fraca. Os acordos europeus tinham em vista reduzir as diferenças económicas entre
eles e a União.
Nos termos dos Tratados, os protocolos fazem parte integrante do Tratado, têm efeito
jurídico vinculativo e podem ser invocados perante o Tribunal de Justiça. Assim, os
Estados obrigaram-se a resolver a questão da ponderação de votos e do número de
comissários antes do próximo alargamento, tendo-se previsto a convocação de uma nova
CIG, sujeita a um prazo incerto. O seu objeto seria a reforma institucional, mas não se
fixou o seu conteúdo. Em 2000 realizou-se a CIG que deu lugar ao Tratado de Nice.
De acordo com o referido protocolo, o Reino Unido e a Irlanda, que não faziam parte dos
acordos Schengen, não se encontravam vinculados, prevendo-se a possibilidade de
poderem vir, a todo o tempo, requerer a aplicação, no todo ou em parte, das disposições
deste acervo (artigo 4º protocolo). Podiam ainda participar através da notificação, por
escrito, ao Presidente do Conselho de que o desejavam fazer (artigo 5º do protocolo).
A Dinamarca não quis ficar de fora dos acordos Schengen, mas também não quis
participar plenamente, pelo que passou a dispor de um estatuto especial, que se
consubstanciava na não aplicação da decisão do Conselho a que se refere o artigo 2º/2, 2ª
parte nas partes do acervo de Schengen cuja base jurídica fosse o título referente aos
vistos, asilo, imigração e outras políticas relativas à livre circulação de pessoas.
A Dinamarca justificou esta exigência por força das dificuldades surgidas aquando da
ratificação de Maastricht.
No domínio da defesa dos consumidores, estes passaram a ser encarados não apenas de
um ponto de vista económico, como compradores e vendedores, mas antes numa visão
de conjunto. A Comunidade deverá contribuir para a proteção da saúde, da segurança e
dos interesses económicos dos consumidores, bem como para a promoção do seu direito
à informação, à educação e à organização para a defesa dos seus interesses.
Em matéria cultural, a Comunidade deverá ter em conta, quando atua ao abrigo de outras
disposições do Tratado, os aspetos culturais, nomeadamente, a diversidade das culturas
dos Estados-membros. Assim, afirma-se o princípio da diversidade cultural como
princípio do direito comunitário.
O TRATADO DE NICE14
No decurso das negociações tornou-se claro que outros temas deveriam ser incluídos na
ordem de trabalhos. No Conselho Europeu da Feira, de 19 e 20 de junho de 2000, fez-se
o ponto da situação dos progressos dos trabalhos da CIG e decidiu-se o seu alargamento
às cooperações reforçadas.
A 6 de julho de 2000 a CIG reuniu, pela primeira vez, sobre a Presidência francesa, onde
se apresentaram propostas e documentos claramente favoráveis aos Estados Grandes, os
quais não podiam ser aceites pelos Estados Médios e Pequenos. As principais
divergências situavam-se nos domínios das regras de votação no seio do Conselho,
designadamente, na ponderação de votos e na passagem de certas matérias à votação por
maioria qualificada, na composição da Comissão e nas cooperações reforçadas.
14
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 132 a 146
O Tratado não alterou qualitativamente a estrutura da União, que manteve o seu carácter
tripartido, continuou a não deter personalidade jurídica internacional e a não abranger a
defesa. Porém, apesar das dificuldades das negociações, as alterações introduzidas foram
significativas.
A reforma institucional
A reforma jurisdicional
A chamada questão austríaca, que ocorreu no primeiro semestre de 2000, tornou clara a
incapacidade do mecanismo de suspensão dos direitos de um Estado-membro para
responder a situações em que os princípios consagrados no TUE: 6º/1 ainda não foram
violados, mas poderão vir a ser postos em risco. Por isso, introduziu-se um mecanismo
preventivo de alerta no antigo TUE: 7º.
No âmbito da política comercial, foi modificado o antigo TCE: 133º/5, que estendeu a
aplicação das normas constantes dos nº1 a 4 aos acordos comerciais em matéria de
serviços e propriedade intelectual.
o PESC
o CPJP
Tendo em conta esta situação, que o alargamento a leste tendia a agravar, a Comissão, no
seu parecer de 26 de janeiro de 2000, defendeu a modificação das referidas regras nos
seguintes termos:
• O número mínimo de Estados para iniciar uma cooperação reforçada deveria de
ser de 1/3 e não da maioria, como se previa no Tratado de Amsterdão.
• Os processos particulares, que permitiam opor a tomada de decisão à maioria
qualificada, deviam ser suprimidos.
• Devia possibilitar-se a cooperação reforçada em matéria de PESC.
As principais críticas incidiram sobre a falta de clareza dos compromissos alcançados nos
domínios da ponderação de votos no seio do Conselho, da composição da Comissão ou
da reforma institucional. Na verdade, a enorme complexidade do texto aprovado em Nice
não contribuiu para aproximar os cidadãos da União Europeia.
Tendo consciência da sua incompletude, o Tratado previu novamente a sua revisão a curto
prazo, em 2004.
O Tratado de Nice não representou qualquer rutura constitucional, pois não introduziu
alterações substanciais suscetíveis de transformar a natureza jurídica da UE, mas teve
importantes repercussões ao nível do Direito Constitucional da União, uma vez que
ajustou o equilíbrio de poder no seio da União nas suas 3 vertentes: o equilíbrio entre os
órgãos, o equilíbrio entre os Estados-membros e o equilíbrio entre os Estados-membros
e a União.
Muito significativa foi a declaração nº23 adotada pela Conferência, respeitante ao futuro
da União, na qual se previu a convocação de uma CIG para 2004, com o objetivo de
debater as seguintes questões:
• O estabelecimento e a manutenção de uma delimitação mais precisa das
competências entre a União e os Estados-membros, que respeite o princípio da
subsidiariedade.
• O estatuto da Carta dos Direitos Fundamentais da UE proclamada em Nice, de
acordo com as conclusões do Conselho Europeu de Colónia.
• A simplificação dos Tratados a fim de os tornar mais claros e mais
compreensíveis, sem alterar o seu significado.
• O papel dos parlamentos nacionais na arquitetura europeia.
Foi para responder a este magno desafio que o Conselho Europeu de Laeken, de 15 de
dezembro de 2001, decidiu a transposição do método da convenção usado na elaboração
da Carta dos Direitos Fundamentais da EU para a revisão do Tratado.
Princípio do Primado
Princípio do Acervo
Princípio da Proporcionalidade
Princípio da Flexibilidade
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Com o Ato Único Europeu de 1986, a coesão económica e social tornou-se uma
competência da Comunidade Europeia. Em 2008, o Tratado de Lisboa introduziu uma
terceira dimensão da coesão da UE: a coesão territorial. Estas três vertentes da coesão
recebem apoio através da política de coesão e dos Fundos Estruturais.
O Fundo Social Europeu é o principal instrumento da União que presta apoio a medidas
destinadas a prevenir e combater o desemprego, desenvolver os recursos humanos e
promover a integração social no mercado de trabalho. O Fundo Social Europeu financia
iniciativas que promovem um elevado nível de emprego, a igualdade de oportunidades
para homens e mulheres, o desenvolvimento sustentável e a coesão económica e social.
A fim de garantir uma utilização eficiente dos fundos estruturais, devem ser respeitados
os seguintes princípios:
• organização dos fundos por objetivos e por regiões;
• parceria entre a Comissão, os Estados-Membros e as autoridades regionais no
contexto do planeamento, da implementação e do acompanhamento da sua
utilização;
• programação das intervenções;
• adicionalidade das contribuições da UE e nacionais.
Em 2000, foram adotadas duas diretivas: a diretiva relativa à igualdade no emprego que
proíbe a discriminação em função da orientação sexual, convicção religiosa, idade e
deficiência na área do emprego; e a diretiva relativa à igualdade racial que proíbe a
discriminação em razão da raça ou etnia, novamente no contexto do emprego, mas
também no acesso ao sistema de previdência e segurança social e a bens e serviços.
TFUE: 10º Em 2009, o Tratado de Lisboa introduziu uma cláusula horizontal com vista
a integrar a luta contra a discriminação em todas as políticas e ações da EU. Neste domínio
da luta contra a discriminação, deverá ser utilizado um procedimento legislativo especial:
O Conselho deve deliberar por unanimidade e após aprovação do Parlamento Europeu.
Tudo isto no quadro de um estado de direito democrático que salvaguarda os direitos que
dão conteúdo real ao princípio da liberdade económica.
Note-se, porém, que a liberdade económica não é absoluta, já que os Estados se reservam
no direito de restringir o acesso dos operadores do mercado interno à propriedade e ao
uso de certos meios de produção e a determinadas atividades profissionais.
TFUE: 345º Diz-nos que “Os Tratados em nada prejudica o regime de propriedade nos
Estados Membros”.
Cada Estado é, portanto, livre não somente de manter, mas igualmente de alargar, em
detrimento da propriedade privada, o sector público da economia – e isto quer através da
criação de novas empresas, quer mediante a socialização (por nacionalização,
expropriação, tomada de posição acionista, etc.) de empresas preexistentes.
No entanto, o facto de o Tratado não interferir com o regime de propriedade dos meios
de produção, tem muito a ver com o uso que deles é feito: as empresas do setor público
estão, com efeito, no exercício da respetiva atividade, sujeitas às regras comuns de
concorrência e os Estados obrigados a respeitar o princípio da não discriminação. (artigos
101º e 106º TFUE).
A União Europeia é uma nova forma de manifestação do Poder Político, é composta pelos
seus Estado-membros, contudo estes continuam a ter a sua autonomia e independência.
A relação entre o Direito da união e o Direito dos Estados-membros nunca teve traços
iguais aos do monismo ou dualismo, nem se assumiu uma prevalência do Direito federal
sobre o Direito federado. O Direito da União Europeia afasta-se da construção do Direito
Internacional por se aplicar por vezes de forma direta aos cidadãos, mas afasta-se também
do Direito federal pois não foi criada com recurso às técnicas do federalismo.
O Tribunal de Justiça foi afirmando ao longo dos anos princípios que permitem explicar
a coexistência entre o Direito dos Estados-membros e o Direito da União, assim o
princípio do primado surge de jurisprudência.
Fala-se em primado quando exista conflito entre duas normas de ordenamentos jurídicos
distintos, nomeadamente entre o Direito da União e o Direito Nacional e este conflito não
possa ser superado com recurso, por exemplo, à interpretação conforme à norma. Contudo
para existir conflito é necessário que uma norma da união tenha sido diretamente aplicada
na Ordem Jurídica Nacional e que a solução que esta norma propõe não seja conforme
com a solução da norma de direito interno.
O que acontece quando uma disposição do direito da União, que estabelece direitos e
obrigações diretamente para os cidadãos da União Europeia, é incompatível no seu
conteúdo com uma norma de direito nacional?
Tal conflito apenas se resolve se uma das duas ordens jurídicas prevalecer sobre a outra.
O direito escrito da União Europeia não contém qualquer disposição clara nesta matéria.
Em nenhum dos Tratados existe uma regra que determine se é o direito da UE que deve
ceder ou se é o direito nacional.
O conflito entre estes dois direitos só pode ser resolvido na medida em que seja dado ao
direito da União o primado sobre o direito nacional e, assim, todas as disposições
nacionais que se afastem de uma disposição da União Europeia sejam esquecidas e esta
ocupe o seu lugar nas ordens jurídicas nacionais.
Doutro modo, o que restaria do direito da União se o pretendêssemos subordinar ao direito
nacional? Quase nada! As disposições da União podiam ser anuladas por qualquer lei
nacional e, assim, estaria igualmente excluída a sua aplicação uniforme em todos os
Estados-Membros.
Outra consequência seria a impossibilidade de a UE cumprir as tarefas que lhe foram
cometidas pelos Estados-Membros. O funcionamento da União seria posto em causa e a
construção de um sistema comum de direito europeu, portador de grandes esperanças,
estaria definitivamente comprometida.
Um problema desta natureza não existe nas relações entre direito internacional e direito
nacional. Uma vez que o direito internacional deve ser integrado ou transposto para o
15
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 515 a 563
direito interno para poder fazer parte da ordem jurídica de um país, a questão do primado
resolve-se exclusivamente na base do direito interno. Consoante o lugar que o direito
nacional reconhece ao direito internacional, este ultimo pode exercer a sua primazia sobre
o direito constitucional, ser colocado entre o direito constitucional e o direito comum ou
ao mesmo nível que o direito comum.
As relações ao mesmo nível entre a legislação internacional integrada ou transposta e a
legislação nacional regem-se pelo princípio do primado das disposições mais recentes
sobre as mais antigas (lex posterior derogat legi priori).
Estas disposições nacionais que regem os conflitos entre normas jurídicas não se aplicam,
em contrapartida, à relação entre direito da União e direito nacional, já que aquele não é
parte integrante da ordem jurídica nacional. Em consequência, qualquer conflito entre a
legislação da União e a legislação nacional deve ser exclusivamente resolvido com base
na ordem jurídica da UE.
Foi de novo o Tribunal de Justiça que, prevendo estas consequências, impôs o princípio
do primado do direito da UE sobre o direito nacional, fazendo-o, no entanto, com a
resistência de alguns Estados-Membros. Dotou, assim, a ordem jurídica da UE de uma
segunda trave-mestra, depois da aplicabilidade direta, que a transformou definitivamente
num edifício sólido.
o Jurisprudencial
Resulta destas considerações que o direito da União, criado por forca dos poderes
previstos nos Tratados, detém o primado sobre toda e qualquer norma jurídica de direito
nacional a ele contrária. Prevalece não só sobre a legislação nacional anterior, mas
também sobre atos legislativos ulteriores.
Em síntese, o Tribunal de Justiça, quando proferiu o acórdão Costa vs. ENEL, não pôs
em causa a nacionalização do setor da eletricidade em Itália, mas estabeleceu sem
equívoco o primado do direito da União sobre o direito nacional.
TFUE: 267º
Os órgãos jurisdicionais dos Estados-Membros são, por natureza, os primeiros garantes
do direito comunitário.
Para assegurar este papel, os juízes nacionais podem, e por vezes devem, dirigir-se ao
Tribunal de Justiça da União Europeia a fim de solicitar o esclarecimento de um ponto de
interpretação do direito comunitário, para poderem verificar a conformidade da respetiva
legislação nacional com este direito ou ainda para fiscalizar a legalidade de um ato de
direito comunitário.
A) “interpretação dos tratados” inclui decisões judiciais sobre a conformidade de uma lei
nacional com o Tratado.
O Tribunal pronuncia-se apenas sobre a questão particular, o artigo 267º, assente numa
nítida separação de funções entre os órgãos jurisdicionais nacionais e o Tribunal, não
permite a este último conhecer a matéria de facto, nem censurar os fundamentos e
objetivos do pedido de interpretação.
Os Estados Membros não podem fazer prevalecer sobre uma ordem jurídica por eles
aceite numa base de reciprocidade, uma medida unilateral. A eficácia do direito
comunitário não pode variar de um Estado para outro em função de legislação interna
posterior, sem colocar em perigo a realização dos objetivos do tratado e sem provocar
uma discriminação proibida TUE: 3º
Quando é reconhecido aos Estados Membros o direito de agir unilateralmente isso apoia-
se numa cláusula especial precisa. Por outro lado, os pedidos de derrogação estão sujeitos
a processos de autorização.
Limites do primado:
• Não podem declarar a invalidade da norma nacional contrária às normas da UE.
• Não é um princípio de direito absoluto, por isso está sempre limitado pelos
princípios do Estado de Direto Democrático.
• TUE: 4º/2 Igualdade dos Estados Membros e identidade nacional. Até que ponto
é que estas disposições moldam o próprio primado após o Tratado de Lisboa?
Ainda não se sabe, não há jurisprudência sobre o assunto.
2. Acórdão Hadelsgesselschatt
TJUE diz que a possível violação dos direitos fundamentais tal como estão formulados
num determinado Estado Membro não afetarão a validade de um ato da Comunidade.
Prevalência ocorre seja qual for a hierarquia que a norma tem no quadro nacional. Pode
estar em causa uma norma constitucional.
3. Processo Simmenthal
TFUE: 108º/3 + 346º - 348º Exceção em que os Estados podem agir unilateralmente
Âmbito de aplicação
A consequência jurídica deste princípio do primado é que, em caso de conflito entre leis,
a disposição nacional contrária à disposição da UE deixa de ser aplicável e não podem
ser introduzidas novas disposições de direito interno contrárias à legislação da União.
Destaca-se:
• A não aplicação do Direito nacional incompatível
• A interpretação conforme do Direito Nacional com o Direito Comunitário
• A supressão ou a reparação das consequências de um ato nacional contrário ao
Direito Comunitário
• O controlo jurisdicional efetivo da aplicação do Direito Comunitário
• Os Estados-membros devem fazer respeitar as regras comunitárias pelos nacionais
O Tribunal retira ainda do corolário do primado que toda a autoridade nacional quando
tenha dúvidas sobre o sentido da norma deve interpretar de acordo com o DUE.
A figura da interpretação da conformidade com o direito da União só foi reconhecida de
forma relativamente tardia pelo Tribunal de Justiça quando foi introduzida na ordem
jurídica da União Europeia. Só depois de o Tribunal de Justiça, em resposta a questões
dos órgãos jurisdicionais nacionais, ter considerado que era «adequado garantir» uma
interpretação uniforme das disposições jurídicas nacionais no âmbito de aplicação de uma
diretiva é que, apenas em 1984, se determinou que se assumiria um compromisso para
uma interpretação conforme das diretivas no processo Von Colson e Kamann.
Este processo dizia respeito à fixação do montante de uma indemnização por danos
resultantes da discriminação de mulheres na contratação laboral. Ao passo que o Governo
alemão previa apenas uma indemnização pela quebra de confiança (e sobretudo as
16
Acórdão Factortame e Zuckerfabrik
17
Acórdão Francovich
Foi por isso que o Tribunal de Justiça estatuiu que os órgãos jurisdicionais nacionais eram
obrigados a interpretar e aplicar as disposições nacionais de direito civil de forma a
garantir uma sanção efetiva da discriminação com base no género. Uma indemnização
meramente simbólica não era suficiente para dar resposta à necessidade de transpor a
diretiva de uma forma eficaz.
18
Acórdão Pfeiffer
O que referimos até agora reporta-se ao momento da Comunidade Europeia, assim, com
a criação da União Europeia no Tratado de Maastricht e posteriormente no Tratado de
Lisboa colocou-se a questão de saber se a Jurisprudência relativa ao Primado se aplicava
no Direito da União Europeia.
O TECE tinha uma cláusula expressa sobre o primado o que não ocorre no Tratado de
Lisboa devido à desconfiança que tinha provocado anteriormente, contudo não podemos
ignorar a Declaração da Conferência sobre o primado do Direito Comunitário.
o Caso Português
No caso português, a primeira versão da Constituição (1975), devido a Portugal não fazer
parte das Comunidades não fazia nenhuma referência do Direito Comunitário, contudo
isso muda a 1982, houve apesar de não ser expressamente uma possibilidade de vigência
do Direito Comunitário na Ordem Jurídica Portuguesa.
Em 2004 CRP: 7º/6 alterou-se a cláusula constitucional que permite o exercício comum
dos poderes necessários à construção da União Europeia.
Para Klaus-Dieter Borchardt (ABC do DUE) a distinção não se justifica pelo que a
aplicabilidade direta do direito da União significa apenas que o direito da União cria
obrigações e confere direitos, não só para as instituições da União Europeia e os Estados-
Membros, mas também para os cidadãos da União.
Aplicabilidade direta
Considerando que não adota a distinção, Klaus-Dieter Borchardt diz-nos que a questão
da aplicabilidade direta (efeito direto para Ana Martins) coloca-se em relação às diretivas
e às decisões cujos destinatários sejam os Estados-Membros, uma vez que os
regulamentos e as decisões cujos destinatários são pessoas singulares são já diretamente
aplicáveis por forca dos Tratados TFUE: 288º.
Desde 1970 que o Tribunal de Justiça tornou o princípio da aplicabilidade direta do direito
primário da União extensível às disposições das diretivas e às decisões dirigidas aos
Estados-Membros.
Efeito direto
O ponto de partida para esta jurisprudência foi o processo que envolveu a empresa
neerlandesa Van Gend & Loos, que intentou uma ação junto dos tribunais neerlandeses
contra a administração das alfândegas do seu país por esta pretender cobrar um direito
aduaneiro mais alto na importação de um produto químico da República Federal da
Alemanha.
A resolução deste litígio dependia de se saber se um particular podia invocar o disposto
no artigo 12º do Tratado CEE, que proíbe expressamente a introdução pelos Estados-
Membros de novos direitos aduaneiros ou o aumento dos existentes no mercado comum.
... que a Comunidade constitui uma nova ordem jurídica (...) cujos sujeitos são não só os
Estados-Membros, mas também os seus nacionais. Por conseguinte, o direito
comunitário, independente da legislação dos Estados-Membros, tal como impõe
obrigações aos particulares, também lhes atribui direitos que entram na sua esfera
jurídica. Tais direitos nascem não só quando é feita uma atribuição expressa pelo Tratado,
mas também como contrapartida de obrigações impostas pelos Tratados de forma bem
definida, quer aos particulares, quer aos Estados-Membros, quer às instituições
comunitárias.»
Esta posição, por si só, não permite avançar muito porque resta saber quais são as
disposições do direito da União Europeia que são diretamente aplicáveis. O Tribunal de
Justiça começou por examinar esta questão à luz do direito primário da União, tendo
estabelecido que todas as disposições dos Tratados da União Europeia podem ser
diretamente aplicáveis aos nacionais dos Estados-Membros sempre que:
1) são formuladas sem reservas;
2) são autossuficientes e juridicamente perfeitas, e por estas razões;
3) não necessitam de qualquer ação dos Estados-Membros ou das instituições da União
para a sua execução e eficácia.
Foi o que o Tribunal decidiu quanto ao antigo artigo 12º do Tratado CEE. A empresa
«Van Gend & Loos» podia basear-se neste artigo para fazer valer os seus direitos, que o
tribunal neerlandês tinha que salvaguardar e, consequentemente, tinha de considerar
ilícito o aumento do direito de importação, por contrário ao Tratado.
Esta jurisprudência foi mais tarde desenvolvida pelo Tribunal de Justiça para outras
disposições do Tratado CEE que são para o cidadão da União muito mais importantes do
que o artigo 12º do Tratado CEE, sendo de salientar os acórdãos relativos à aplicabilidade
direta da livre circulação, da liberdade de estabelecimento e da livre prestação de serviços.
No que se refere às garantias de livre circulação, o Tribunal de Justiça pronunciou-se a
favor da sua aplicabilidade direta no processo «Van Duyn». Em causa estavam os
seguintes factos: em maio de 1973, a Sra. Van Duyn, cidadã neerlandesa, viu ser-lhe
recusada a entrada no Reino Unido por aí querer trabalhar como secretária na «Igreja da
Cientologia», uma organização que o Ministério do Interior britânico considerava
«socialmente perigosa».
Invocando as disposições do direito da União Europeia sobre livre circulação dos
trabalhadores, a Sra. Van Duyn solicitou ao «High Court» que confirmasse o seu direito
de residência no Reino Unido para aí exercer uma atividade profissional por conta de
outrem e que, para tal, lhe fosse dada autorização para entrar no país. Instado pelo «High
Court», no âmbito de um reenvio prejudicial, o Tribunal de Justiça declarou que o artigo
48º do Tratado CEE (45º do TFUE) era diretamente aplicável e conferia aos particulares
direitos que as jurisdições nacionais de um Estado-Membro deviam salvaguardar.
Em todos estes acórdãos vemos que o Tribunal de Justiça reconheceu o efeito direto de
modo mais amplo ou mais restrito, ou seja, por vezes não reconhece a forma mais amplo
do efeito direto (horizontal) acabando por admitir uma versão mais restrita (vertical)
admitindo apenas os efeitos horizontais como incidentes.
No que diz respeito ao direito primário, ou seja, aos textos de base da ordem jurídica
europeia, o Tribunal de Justiça estabeleceu no acórdão Van Gend en Loos o princípio do
efeito direto. Não obstante, indicou como condição que as obrigações devem
ser precisas, claras, incondicionais e não devem requerer medidas complementares, de
carácter nacional ou europeu.
TFUE: 45º e 157º Podem ser invocados contra qualquer empregador, público ou privado
TFUE: 288º É clara o efeito direito dos regulamentos, contudo nem todas as disposições
podem ser invocadas em tribunais nacionais. Caso as disposições exijam medidas de
execução, só podem ser invocadas caso as medidas não tenham sido adotadas.
No que toca às diretivas, devido ao seu caracter incompleto necessitam de ser transpostas
para o Direito Interno, o efeito direito é adotado de forma mais restrita.
Foi no processo de Van Duyn onde se fundamentou pela primeira vez o efeito direto das
diretivas. No caso Ursula Becker admitiu-se que as disposições podem ser invocadas
pelos particulares caso tenham objeto próprio.
O Tribunal de Justiça tem vindo a não admitir o efeito direito horizontal das normas das
diretivas, maioritariamente por razões políticas e não jurídicas, tendo em vista evitar
conflitos com os tribunais nacionais, exemplo disto é o caso Marshall.
As diretivas não podem ser invocadas em litígios horizontais, isto porque a diretiva tem
como destinatários os Estados, logo a diretiva é fonte de direito para os particulares mas
nunca é fonte de obrigações para estes. Por isso é que o tribunal tem sido pressionado
para mudar de opinião.
Para compensar a falta de efeito direto horizontal o tribunal tem vindo a admitir invocar-
se diretivas contra entidades que dificilmente se enquadram no conceito de Estado-
membros, como autoridades regionais e locais. A interpretação conforme foi outro meio
de atenuar a ausência de efeito horizontal, por força do princípio da cooperação os
tribunais nacionais devem, dentro da medida do possível, interpretar as normas
comunitários, incluído as diretivas, à luz das disposições comunitárias, incluído as
normas das diretivas não transpostas.
O Tribunal admite o efeito direto horizontal incidental nas relações triangulares em que
um terceiro sai prejudicado.
Foi igualmente reconhecido efeito direto às decisões em termos semelhantes aos das
diretivas, fincado excluídas as diretivas no âmbito do PESC.
Um dos processos mais conhecidos ouvidos pelo Tribunal de Justiça foi o processo Costa
vs. ENEL em 1964, em que o Sr. Costa intentou uma ação contra a nacionalização da
geração e distribuição de eletricidade e a consequente aquisição do negócio das antigas
companhias de eletricidade pela ENEL, a nova empresa pública.
Assim, perante esta noção de autonomia da ordem jurídica da UE, como descrever a
relação entre direito da União e direito nacional?
Ao abrigo deste princípio fundamental do direito da União Europeia, esta atua unicamente
dentro dos limites das competências que os países da União lhe tenham atribuído nos
Tratados. Estas competências estão definidas TFUE: 2º a 6º. As competências que não
sejam atribuídas à UE pelos Tratados pertencem, assim, aos países da UE.
Por outras palavras, refere-se à relação entre as três principais instituições da UE: o
Parlamento Europeu, o Conselho da UE e a Comissão Europeia. A dinâmica entre estes
organismos evoluiu consideravelmente ao longo dos anos com a adoção de novos
tratados. O Parlamento Europeu, em particular, é dotado de competências mais alargadas,
sendo-lhe o conferido o direito de codecisão com o Conselho (de acordo com o processo
legislativo ordinário) na maioria dos domínios políticos da União, bem como poderes
orçamentais mais amplos.
Apesar de tradicionalmente esta distribuição não seguir a sugerida por Montesquieu e que
se encontra nas instituições dos Estados-Membros, com o Tratado de Lisboa ficou
definido qual a função atribuída a cada órgão:
TUE: 14º/1 + 16º/1 Função Legislativa e Orçamental dividida entre o Parlamento e o
Conselho. TUE: 15º/1 Conselho Europeu não exerce funções legislativas
TUE: 14º/1 Função de controlo do Parlamento Europeu
TUE: 16º/1 Função na definição das políticas e de coordenação em conformidade com
as condições dos tratados dividida entre o Parlamento e o Conselho.
TUE:14º/2 O poder legislativo pertence ao Parlamento Europeu (vontade da união) e ao
Conselho (vontade dos Estados Membros)
TFUE: 291º/1 A função executiva tende a pertencer às Administrações Nacionais
19
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 394 a 398
Este princípio deve ser entendido como uma manifestação de um princípio mais vasto, o
princípio da boa fé. Porém, é preciso perceber que, por um lado, o processo de integração
da União não atingiu um nível muito elevado de transferência de atribuições dos Estados
para a União e, por outro lado, a União Europeia tem uma ligação muito mais estreita
com os seus Estados-membros do que a relação que se verifica entre os Estados ao nível
do Direito Internacional.
Na verdade, a União só conseguirá exercer plenamente as suas tarefas se existir uma total
colaboração, cooperação e fidelidade dos seus Estados-membros, uma vez que a União
se serve das administrações nacionais para executar o seu Direito e serve-se do aparelho
judiciário dos Estados-membros para aplicar esse Direito.
TUE: 4º/3
Este princípio tem um conteúdo positivo, no sentido de que os Estados devem tomar todas
as medidas necessárias ao cumprimento da missão da União, mas também tem um
conteúdo negativo, no sentido de que os Estados se devem abster de praticar atos que
ponham em perigo a aplicação dos Tratados.
Este princípio repercute-se a todos os níveis de atuação da União, mas releva de um modo
muito particular no domínio da repartição de atribuições entre a União e os seus Estados-
membros, assim como em matéria de execução do Direito da União e no âmbito do
relacionamento entre a ordem jurídica da União e as ordens jurídicas dos Estados-
membros.
Este princípio constituiu uma das principais bases jurídicas invocadas pelo TJ da UE para
fundamentar alguns dos mais importantes e inovadores princípios de Direito da União,
como é o caso do princípio do primado, o princípio do efeito direto e o princípio da
responsabilidade do Estado por violação de normas e atos da União.
20
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 309 a 328
TUE: 13º/2
Este princípio também se aplica nas relações das instituições, órgãos e organismos da
União entre si.
Este princípio já não encontra idêntica consagração expressa nos Tratados, mas pode
retirar-se do TUE: 1º, 3ª parte, o qual afirma que a União se substitui e sucede à
Comunidade Europeia, o que implica que a União reconhece todo o Direito anteriormente
produzido pela Comunidade Europeia e pela própria União, bem como toda a ação
política.
TUE: 4º/2
Porém, além da vertente cultural, o respeito da identidade nacional tem também uma
vertente jurídica, na medida em que implica o respeito pela identidade constitucional de
cada um dos Estados-membros.
Todavia, este princípio tem consequência em vários níveis do Direito da União Europeia.
Desde logo, o princípio do primado do Direito da União Europeia sobre os Direitos dos
Estados-membros não pode ser equacionado de modo absoluto, visto que a União não
pode legislar contra as estruturas políticas e constitucionais fundamentais dos Estados-
membros, se não estaria a violar este preceito. Porém, estes serão casos excecionais, na
medida em que a União se pauta pelos mesmos princípios constitucionais que os seus
Estados-membros, designadamente, democracia, rule of law e proteção dos direitos
fundamentais – TUE: 6º/3.
Este princípio tem também influência nas relações entre o Tribunal de Justiça da UE e os
tribunais nacionais, especialmente os tribunais constitucionais.
TUE: 19º/1
Ainda que a última palavra, em matéria de interpretação e aplicação do Direito da União,
seja do TJUE, é duvidoso que a competência para definir quais são as estruturas políticas
e constitucionais fundamentais de cada Estado lhe possa caber. Os tribunais
constitucionais terão, sem dúvida, uma palavra a dizer neste domínio, sem prejuízo do
uso do mecanismo de diálogo judicial previsto no TFUE: 267º.
Além disso, o entendimento que o TJUE e os tribunais constitucionais têm tido da questão
da identidade constitucional como parte integrante da identidade nacional não coincide.
Alguns tribunais constitucionais têm vindo a desenvolver uma conceção muito ampla de
identidade constitucional, declarando ultra vires os atos da União que, na sua opinião,
violam a sua identidade constitucional. Já o TJUE admite que a identidade constitucional
Por último, este preceito deve ser encarado como uma manifestação do pluralismo
constitucional e do constitucionalismo multinível, em que o Direito da União, o Direito
Constitucional dos Estados e os respetivos tribunais se influenciam e interagem numa
base de cooperação.
TUE: 4º/1
A União não possui competência próprias, inerentes à sua natureza, porque as atribuições
de que dispõe são lhe conferidas pelos Estados. Daqui decorre que a extensão das
atribuições da União acabará inevitavelmente por se reconduzir à erosão das atribuições
dos seus Estados-membros.
Esta situação foi vista com algum desconforto pelos Estados-membros, tendo-os levado
a exigir uma determinação mais clara das atribuições da União. Por isso, o princípio da
atribuição ou da especialidade foi expressamente consagrado no TUE: 5º, que opera ao
nível da repartição de atribuições entre a União e os seus Estados-membros.
o Princípio da subsidiariedade
Este princípio incide sobre o exercício dessas atribuições, devendo, portanto, estar
previamente definida a respetiva atribuição. No fundo, este princípio acaba por constituir
um filtro entre a atribuição da União e a possibilidade de ela exercer a competência, na
medida em que a União só pode exercer uma determinada competência depois de passar
pelo crivo daquele princípio.
TUE: 5º/3
No domínio das competências não exclusivas, portanto, que podem ser desempenhadas
tanto pela União como pelos Estados-membros, a União apenas poderá exercer a
competência em questão quando nenhum dos níveis de poder dos Estados puder atuar de
modo eficiente.
Contudo, o Protocolo nº2 anexo ao Tratado de Lisboa não contém diretrizes relativas à
aplicação do princípio da subsidiariedade. Assim sendo, a ação da União, nos domínios
que não sejam da sua competência exclusiva, está sujeita a dois critérios:
• Critério de descentralização: só pode agir se e na medida em que os objetivos
não possam ser suficientemente realizados pelos Estados-membros.
• Critério de eficiência: esses objetivos devem ser melhor alcançados pela União.
Apesar deste princípio ter sido introduzido no Direito da União Europeia com um caráter
eminentemente político, não restam dúvidas de que se trata de um princípio jurídico,
sindicável perante o TJUE.
A conclusão destas questões depende muito mais de critérios políticos do que de critérios
jurídicos, na medida em que existe uma grande margem de discricionariedade por parte
do decisor político, o que torna a atuação do TJUE improvável.
o Princípio da proporcionalidade
Este princípio não é uma inovação do Tratado de Lisboa e, muito menos, do Direito da
União Europeia. Este princípio decorre do Estado de direito, atuando ao nível do controlo
da atuação dos órgãos e do controlo do exercício de poderes por parte dos Estados-
membros e da União.
O controlo da proporcionalidade das medidas nacionais e das medidas da União por parte
do Tribunal de Justiça não obedece necessariamente aos mesmos critérios.
• Medidas nacionais: a exigência é maior, o TJ averigua se existem alternativas
menos restritivas e, se isso se verificar, considera-se que a medida viola o
princípio da proporcionalidade.
• Medidas da UE: só se considera que a medida viola o princípio da
proporcionalidade se a ação for manifestamente inapropriada.
Mesmo que a medida passe estes dois testes e que não haja meios menos restritivos, a
medida não respeitará a proporcionalidade se tiver um efeito excessivo sobre os cidadãos
por ela abrangidos.
Este princípio está intimamente ligado ao princípio da igualdade, uma vez que na aferição
da necessidade da medida deve sempre averiguar-se como são tratadas as situações
comparáveis.
o Princípio da flexibilidade
TUE: 20º/1
São impostas duas condições substantivas aos Estados-membros que pretendam instituir
entre si uma cooperação reforçada:
1. Não podem estar em causa competência exclusivas da União.
2. O princípio da atribuição deve ser respeitado.
TFUE: 87º/3
Prevê ainda um procedimento especial de cooperação reforçada nos domínios da
cooperação policial.
PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA
Existe um diálogo constante entre os Tribunais, tendo em vista encontrar a melhor solução
para os conflitos que surgem entre Ordens Jurídicas.
Este princípio deve ser entendido como uma forma de superar o défice judiciário da União
Europeia e para aumentar a democratização da justiça.
Além de forma de garantir uma tutela judicial efetiva serve para suprir a recusa do efeito
direto horizontal das diretivas.
Possibilita que os particulares sejam indemnizados por danos que sofram devido à não
transposição de uma diretiva por parte do Estado.
AS ATRIBUIÇÕES DA UNIÃO
Esta questão está relacionada com a repartição de atribuições entre a União e os seus
Estados-membros, na medida em que, como já vimos, a União só pode exercer os poderes
que lhe tiverem sido atribuídos por estes últimos.
As atribuições da União não se retiram apenas dos Tratados, antes resultam da interação
de 4 variáveis:
• As opções dos Estados-membros expressas nos Tratados e desenvolvidas nas
sucessivas revisões.
• A aprovação de legislação por parte do Conselho e do PE que ultrapassou os
estritos limites previstos nos Tratados.
• A jurisprudência dos tribunais da União.
• As decisões políticas dos órgãos da União.
21
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 328 a 347
A entrada em vigor do TUE contribuiu para refrear um pouco o Tribunal, mas não alterou
a situação, pois continuou a não existir no Tratado uma enumeração clara das diferentes
atribuições da União.
Esta teoria das competências implícitas foi reiterada no parecer nº1/75, no parecer nº1/76
e no parecer nº1/78, que confirmou a tese das atribuições paralelas da Comunidade e dos
Estados-membros.
Deste modo, o AUE institucionalizou fortemente o órgão cuja competência se vai revelar
crucial no domínio das atribuições externas – o Conselho Europeu – embora não faça
qualquer referência à sua competência.
As inovações do AUE eram muito tímidas e revelaram-se insuficientes. Por um lado, não
dotavam as Comunidades de todos os mecanismos e instrumentos necessários para se
afirmarem externamente e, por outro lado, deixavam muitas questões em aberto. Por isso,
a vigência do AUE não inibiu o Tribunal de prosseguir a construção jurisprudencial
inovadora iniciada na década de 70, tendo surgido o parecer nº1/92 e o parecer nº2/91,
em que o Tribunal reafirmou a tese do paralelismo de atribuições internas e externas da
Comunidade.
22
Acórdão TJ 31.03.1971, AETR, processo 22/70.
Contudo, outras áreas com notória relevância e projeção externa não mereceram a mesma
atenção. Apesar da comunitarização dessas matérias, o Tratado de Amsterdão, nesses
domínios, não dotou a Comunidade de novos poderes externos explícitos,
designadamente, para a conclusão de convenções internacionais. Todavia, deve salientar-
se que a jurisprudência do paralelismo de atribuições internas e externas permite suprir
esta lacuna.
No que diz respeito às atribuições externas da CE, uma das mais relevantes alterações
ocorreu no âmbito do atual artigo 207º do TFUE, relativo à política comercial comum. O
Tratado de Nice alargou a capacidade internacional da Comunidade neste domínio,
alargamento esse que teve como principal objetivo a ultrapassagem das dificuldades
inerentes à capacidade internacional da Comunidade, nomeadamente, no que diz respeito
à negociação e à conclusão de acordos comerciais sobre certas matérias, em especial, no
âmbito da OMC.
Acresce que o Tratado de Nice introduziu no YCE um título XXI relativo à cooperação
económica, financeira e técnica com os países terceiros no antigo artigo 181º-A do TCE,
procurando adequar as bases jurídicas externas previstas aos vários tipos de acordos que
a Comunidade, na prática, já celebrava.
No âmbito da PESC, também se introduziram algumas alterações, que procuraram
ultrapassar as críticas que tinham sido dirigidas à anterior redação dos Tratados.
Apesar de não o ter expressado abertamente, na década de 90, o Tribunal parece ter
arrepiado caminho em alguns casos, como aconteceu em matéria de propriedade
intelectual, no parecer nº1/94. Alguma doutrina olha para este parecer como um
retrocesso em relação à anterior jurisprudência relativa às atribuições externas exclusivas
da Comunidade, visto que marcou a futura jurisprudência do Tribunal relativa às
atribuições externas da Comunidade.
No entanto, este parecer não parece representar um retrocesso no ativismo judicial, mas
sim uma atitude defensiva do Tribunal quando é posta em causa a sua jurisdição. A
confirmação disso está no parecer nº1/03, em que o Tribunal decidiu que a Comunidade
detinha poderes exclusivos para celebrar a nova convenção de Lugano relativa à
competência judiciária, ao reconhecimento e execução de decisões judiciárias em matéria
civil e comercial que se destinava a substituir a anterior convenção de Lugano, na medida
em que era suscetível de afetar as regras comunitárias do regulamento nº44/2001,
retomando, assim, a jurisprudência consagrada no parecer nº2/91.
Desta forma, a enumeração das atribuições da União foi sendo reclamada por vários
setores, inclusive pelos Estados-membros, que se consideravam amputados das suas
próprias atribuições, sem que para isso tivessem dado o seu consentimento, mas também
pelos órgãos da União, que pretendiam conhecer previamente as matérias em relação às
quais podiam adotar atos e normas validamente.
A Declaração nº23, adotada pela Conferência que aprovou o Tratado de Nice, previu a
convocação de uma CIG para 2004, com o objetivo de debater a questão do
estabelecimento e manutenção de uma delimitação mais precisa das competências entre
a União Europeia e os Estados-membros, que respeite o princípio da subsidiariedade,
procurando responder às críticas relacionadas com o caráter insuficiente, pouco claro e
sem limites determinados.
O TECE aprovado pela CIG de 2004 introduziu alterações significativas o que toca à
enumeração das atribuições da União, tendo definido, pela primeira vez, no Direito
Originário, as categorias de atribuições e as matérias que se inserem em cada uma delas.
• Exclusivas
Aqui só a União podia atuar através de atos legislativos e atos juridicamente vinculativos.
Estas competências abrangiam as regras de concorrência necessárias ao funcionamento
do mercado interno, a política monetária para os Estados que tenham adotado o euro, a
política comercial comum, a união aduaneira e a conservação dos recursos biológicos do
mar, no âmbito da política comum das pescas.
• Partilhas
Estas atribuição eram partilhadas entre a União e os Estados-membros, nas quais ambos
podiam atuar. Abarcavam os domínios do mercado interno, do espaço de liberdade, de
segurança e justiça, da agricultura e pescas, dos transportes e redes transeuropeias, da
energia, da política social, da coesão económica, social e territorial, do ambiente, da
defesa dos consumidores e dos problemas comuns de segurança em matéria de saúde
pública.
TFUE: 2º a 6º
Estes preceitos enumeram as categorias de atribuições da União, especificam quais as
consequências para a União e para os Estados-membros da inserção de uma determinada
matéria em cada uma dessas categorias e indicam qual o domínio material de cada uma
delas.
Além disso, ao longo do TFUE desenvolvem-se as bases jurídicas das diversas matérias
que integram cada uma das categorias de atribuições.
TFUE: 2º
Categoria de atribuições:
1. Atribuições exclusivas
Aqui só a União pode legislar e adotar atos juridicamente vinculativos, sendo que os
Estados-membros só podem fazê-lo mediante habilitação da União ou para implementar
os atos da União.
2. Atribuições partilhadas
Os limites das atribuições partilhadas decorrem das demais disposições dos Tratados,
pelo que os Estados-membros só perdem as suas atribuições nos termos previstos nos
Tratados e na estrita medida em que a União exerceu as suas atribuições. Além disso, se
a União não exercer as suas atribuições, estas revertem para os Estados-membros.
TFUE: 4º/1
Trata-se de uma categoria residual, que se aplica aos domínios não contemplados nas
outras categorias.
23
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 347 a 355
o Atribuições exclusivas da UE
TFUE: 3º/1
Este preceito enumera os domínios que se devem considerar como fazendo parte das
atribuições exclusivas.
Estas matérias gozam de uma presunção de exclusividade, sem necessidade de quaisquer
outras averiguações.
TFUE: 3º/2
Estende a categoria das atribuições exclusivas da União à celebração de acordos
internacionais em determinados casos.
Este preceito não se limita a definir as atribuições exclusivas da União no domínio das
relações externas, pois também trata da questão das atribuições implícitas, devendo ser
conjugado com o TFUE: 216º/1.
Este preceito trata a questão das atribuições da União, no domínio externo, de forma
muito próxima à do artigo 3º/2, mas não é exatamente idêntico, uma vez que não se deve
limitar o preceito às atribuições exclusivas.
TFUE: 4º/2
Este preceito enumera a lista das matérias que se incorporam nas atribuições partilhadas,
a qual se deve considerar exemplificativa, na medida em que o corpo do preceito se refere
aos principais domínios, o que parece pressupor que pode haver outros.
Por último, importa saber que o grau de partilha de cada uma das atribuições previstas
nesta categoria é muito diferente consoante a matéria que está em causa.
TFUE: 2º/3 + 5º
Estes preceitos não são exatamente coincidentes, uma vez que o nº3 do artigo 5º
estabelece que a União pode tomar iniciativas para garantir a coordenação das políticas
sociais dos Estados-membros.
Para complicar ainda mais este quadro, o artigo 5º/3 TFUE estabelece que há igualmente
matérias que relevam das ações de coordenação das políticas económicas e de emprego
dos Estados.
TFUE: 2º/5 + 6º
Enumeração das matérias sobre as quais podem incidir ações da União destinadas a
apoiar, coordenar e complementar a ação dos Estados.
Apesar desta lista parecer exaustiva, na realidade existem outras matérias em relação às
quais as disposições específicas do TFUE admitem ações deste tipo, como é o caso da
política social – TFUE: 153º – e da política de emprego – TFUE: 147º. Desta forma,
pode ser difícil estabelecer uma fronteira nítida entre estas ações da União e as atribuições
partilhadas da União.
O âmbito da atuação da União varia consoante a matéria que está em causa, podendo,
inclusivamente, vir a ser adotados atos jurídicos vinculativos pela União Europeia, desde
que fundados nas disposições específicas do TFUE, o que vai necessariamente ter
repercussões nas competências que, no futuro, os Estados-membros poderão vir a exercer.
Preliminares
Apesar de serem muito reduzidas as bases jurídicas previstas nos Tratados no domínio da
ação externa da União, a CEE conseguiu afirmar-se na cena internacional devido ao seu
elevado poder económico. Porém, à medida que essa afirmação crescia, a União foi
ganhando mais consciência da insuficiência dos seus poderes em comparação com outros
atores internacionais, como os EUA.
Além disso, a própria CEE enfrentou problemas dentro da sua estrutura orgânica,
discutindo a competência com os seus Estados-membros, que se mostravam bastante
avessos a abdicar da sua soberania no domínio internacional. Ora, tudo isto fragilizava a
atuação externa da então CEE.
Desta forma, uma das preocupações constantes das sucessivas revisões dos Tratados
consistiu na afirmação da identidade e coerência da União na cena internacional. A
extensão dos poderes externos da União Europeia contribuiu para a afirmação da Europa
como uma potência mundial, não só do ponto de vista económico, mas também ao nível
de outras áreas.
Por último, a União também atua no domínio da segurança e da defesa, através dos seus
Estados-membros, estando no terreno das operações civis e militares e tendo participado
em várias missões pelo mundo.
Contudo, existem vários entraves à ação externa da União, como por exemplo, a
necessidade de cooperação leal entre os Estados e a União e dos órgãos da União entre
si. Assim, o Tratado de Lisboa procedeu a alterações importantes no domínio da
afirmação da União Europeia na cena internacional.
24
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 355 a 378
O TECE surgiu numa conjuntura em que a ação da União na cena internacional já é dotada
de muito peso, ou seja, a União afirma-se como uma autêntica potência mundial, tanto
âmbito das relações económicas internacionais, como ao nível político.
Nas suas relações com o resto do mundo, a União tem como objetivos afirmar e promover
os seus valores e interesses, contribuir para a paz, a segurança, o desenvolvimento
sustentável do planeta, a solidariedade e o respeito mútuo entre os povos, o comércio livre
e equitativo, a erradicação da pobreza, a proteção dos direitos do Homem, a observância
e o desenvolvimento do Direito Internacional e o respeito dos princípios da Carta das
Nações Unidas.
O Tratado de Lisboa
Os Estados não quiserem incorporar estas matérias no TFUE com receio de isso poder
reverter em qualquer tipo de aproximação aos procedimentos próprios desse Tratado. Tal
explica-se pelo facto de as políticas externa e de defesa de um Estado serem a expressão
mais acabada da soberania de um Estado. A verdade é que esta separação formal acaba
por não ter consequências jurídicas significativas, uma vez que os dois Tratados têm o
mesmo valor jurídico.
No TUE temos disposições gerais relativas à ação externa da União e disposições
específicas relativas à PESC. No TFUE temos disposições relativas à ação externa da
União em relação a todas as outras políticas.
TUE: 21º e 22º Temos disposições gerais relativas à ação externa da União onde se
definem os princípios, os interesses e os objetivos da ação externa da União bem como
os órgãos competentes para os desenvolver.
TUE: 2º A ação externa da União deve pautar-se pelos princípios decorrentes dos valores,
pela primeira vez, expressamente definidos no Direito Originário. Os princípios
enunciados não são exclusivos da União, são partilhados pelos seus Estados-membros e
tendencialmente aceites até ao nível universal.
São estes princípios que justificam a inserção das chamadas “cláusulas de direitos
fundamentais” nos acordos internacionais que a União celebra com o resto do Mundo,
tando do ponto de vista bilateral como multilateral.
Apesar de não ser membro das Nações Unidas nem ter feito parte da comunidade
internacional no momento em que se formou a maioria dos princípios atualmente vigentes
no Direito Internacional, a União Europeia assume-se como um verdadeiro sujeito de
Direito Internacional, com preocupações e responsabilidades semelhantes às dos Estados.
TUE: 21º/2 Na definição e prossecução das políticas e ações comuns, a União deve
contribuir para solucionar os principais problemas mundiais, entre os quais se incluem
todos aqueles que estão versados nas alíneas deste preceito.
A União tem desempenhado um papel muito importante em todos estes domínios, quer
através das relações bilaterais que estabelece com o resto do mundo, quer no âmbito das
relações multilaterais através da participação em convenções internacionais multilaterais.
Muitas vezes, a União sujeita as ajudas económicas previstas nos acordos que celebra
com terceiro a cláusulas de respeito pela democracia, o Estado de direito e a proteção dos
direitos fundamentais, impondo mesmo aos Estados que não cumprirem esses requisitos
sanções de variada natureza, designadamente, económicas.
A competência dos órgãos da União não é idêntica em todas estas ações, os órgãos detêm
poderes diversos, consoante a política que esteja em causa. O Conselho Europeu, o
Conselho e o Alto Representante dispõem de uma posição privilegiada em relação aos
outros órgãos, porque podem atuar em matéria de PESC e PCSD.
o A PESC
TUE: 23º e 24º O facto de a PESC abranger todos os domínios da ação externa é
suscetível de vir a causar alguns embaraços à União, na medida em que as regras e
procedimentos nestes domínios são diferentes das previstas no TFUE para as outras
políticas com dimensão externa. Além disso, a fronteira entre a PESC e os outros
domínios da política externa da União nem sempre é muito fácil de traçar, dado que uma
determinada ação pode ter implicações em várias políticas.
TUE: 21º/3 e 26º/3 Por isso, os Tratados insistem na necessidade de coerência entre os
diferentes domínios da ação externa da União e entre estes e as outras políticas, cabendo
ao Conselho e à Comissão, assistidos pelo Alto Representante, assegurar essa coerência
e cooperarem para esse efeito.
TUE: 30º/1 e 36º A Comissão e o PE não têm qualquer poder decisório. A Comissão
apenas tem um poder de iniciativa cujo exercício se realiza por intermédio do Alto
Representante, embora em certos casos possam submeter iniciativas conjuntas. O PE tem
um poder meramente consultivo, podendo dirigir recomendações ao Conselho e ao Alto
Representante.
Aliás, o principal objetivo que o Tratado de Lisboa pretendeu atingir com a criação deste
Alto Representante foi conferir maior visibilidade e estabilidade à representação externa
da União nos assuntos da PESC e maior consistência e coerência entre os diferentes
aspetos da política externa da União.
Os atos a adotar no domínio da PESC não coincidem com os instituídos no TFUE: 288º.
Aliás, em vários preceitos se exclui, de modo expresso, a adoção de atos legislativos.
Assim, as fontes de direito derivado da PESC são previstas no TUE. 25º.
o A PCSP
TUE: 42º/1 e 43º/1 A União pode empregar os meios civis e militares em missões no
exterior para assegurar a manutenção da paz, a prevenção de conflitos e o reforço da
segurança internacional, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas. Os
meios civis e militares podem ser empregues nas operações de desarmamento, nas
missões de aconselhamento e assistência militar, nas missões de prevenção dos conflitos
e na estabilização pós conflito.
TUE: 42º/7 Aqui temos uma cláusula de assistência mútua, no caso de um Estado-
membro vir a ser vítima de agressão armada no seu território, salvaguardando, no entanto,
os compromissos assumidos na NATO pelos Estados que são membros desta
Organização.
TUE: 44º Confere à União uma maior flexibilidade em relação a certas crises onde a
capacidade de reação é essencial, permitindo confiar num grupo de Estados-membros
uma missão que estes desejem e que tenham os meios necessários.
25
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 355 a 378
PARLAMENTO EUROPEU
TUE: 14º
Após décadas de esforços foi introduzido um processo eleitoral uniforme, com o ato
relativo à eleição dos representantes ao Parlamento Europeu por sufrágio universal direto
em 1976, que posteriormente sofreu uma reforma profunda com o ato relativo às eleições
diretas em 2002. Desde então, cada Estado-Membro estabelece o seu próprio processo
eleitoral, mas utiliza as mesmas regras democráticas fundamentais:
• Sufrágio direto e universal
• Representação proporcional
• Voto livre e secreto
• Idade mínima (para se ter o direito de voto todos os Estados-Membros requerem
a idade mínima de 18 anos, à exceção da Áustria, onde a idade mínima foi
reduzida para os 16 anos)
• Mandatos de cinco anos renováveis
• Incompatibilidade com o exercício de outros cargos (os deputados do PE não
podem exercer simultaneamente outros cargos, por exemplo, magistrado,
procurador-geral, ministro, etc; estão ainda sujeitos à legislação do seu país, que
pode impor restrições adicionais no que diz respeito à acumulação de mandatos
ou cargos)
• Data do escrutínio
• Igualdade entre homens e mulheres.
Em alguns países o exercício do voto é obrigatório (Bélgica, Grécia e Luxemburgo).
TUE: 14º/3 Os membros do PE são eleitos por sufrágio universal direto, livre e secreto,
por um mandato de 5 anos. Desta forma, o PE ganhou legitimidade democrática e pode
ser o «representante dos cidadãos da UE».
TUE: 14º/2 A anterior versão dos Tratados estabelecia que o PE era composto por
representantes dos povos dos Estados reunidos na Comunidade, o que fazia com que se
discutisse se o PE retirava a sua base de legitimidade dos povos dos Estados-membros ou
de um pretenso povo europeu. Atualmente, esta discussão está ultrapassada, pois percebe-
se neste preceito que a base de legitimidade do PE são os cidadãos da União.
TFUE: 223º/2 Estatuto e condições gerais de exercício das funções dos membros do PE.
Atualmente, o estatuto único do deputado, que entrou em vigor em 1 de julho de 2009,
define as disposições e condições gerais que regulam o exercício da função de Deputado,
consagrando, designadamente, a liberdade e a independência dos Deputados, o seu direito
de iniciativa e de participação nos grupos parlamentares bem como regras relativas a
privilégios e imunidades, incompatibilidades, irresponsabilidade e inviolabilidade.
Introduz também um vencimento único para todos os deputados que é suportado pelo
orçamento da União Europeia.
Porém, a mera existência de um parlamento diretamente eleito não basta para responder
à exigência fundamental de uma constituição democrática, nos termos da qual todos os
poderes do Estado emanam do povo. Entre estes figuram, além da transparência no
processo de tomada de decisões e da representatividade nos órgãos responsáveis pela
adoção de decisões, também a supervisão pelo Parlamento da legitimidade das
instituições da UE que participam no processo de tomada de decisões.
Nesta matéria também foram conseguidos progressos consideráveis nos últimos anos.
Deste modo, não só foram sendo constantemente aumentados os direitos do Parlamento
como também, com o Tratado de Lisboa, o funcionamento da União Europeia no seu
conjunto passou a ter a obrigação expressa de respeitar o TUE: 10º princípio
fundamental da democracia representativa
Se quisermos falar de um défice ainda existente no atual ordenamento democrático da UE
poderemos referir o facto de o Parlamento Europeu, ao contrário do que acontece no
modelo nacional de democracia parlamentar, não escolher um governo que seja
responsável perante o Parlamento.
Este «défice» explica-se, aliás, pelo simples facto de não existir na UE um governo na
sua forma convencional. Em vez disso, as funções equiparáveis à governação previstas
nos Tratados da União são repartidas entre o Conselho e a Comissão Europeia.
No entanto, ao Parlamento foram concedidos recentemente pelo Tratado de Lisboa
amplos poderes na designação da Comissão, que vão desde a escolha do presidente da
Comissão Europeia pelo Parlamento Europeu, por proposta do Conselho Europeu, até à
aprovação pelo Parlamento Europeu de todo o elenco da Comissão Europeia (o chamado
voto de confiança).
Em contrapartida, o Parlamento não dispõe de influência comparável na composição do
Conselho, pois este apenas está sujeito a uma supervisão parlamentar idêntica àquela a
que está sujeito cada membro, na sua qualidade de ministro, por parte do Parlamento do
seu país de origem.
o A composição
O número de Deputados tem vindo a variar ao longo dos tempos em função do número
de Estados que em cada momento integraram as Comunidades e, posteriormente, a União
Europeia. A repartição dos Deputados pelos Estados-membros também sofreu
modificações.
Até ao alargamento de 2004, o PE era composto por 626 deputados, repartidos pelos
diferentes Estados-membros. Todavia, este número bem como o número de Deputados
atribuído a cada Estado foi alterado pelo Tratado de Nice, tendo em vista a preparar a
adesão de novos Estados-membros: reduziu-se o número de Deputados dos Estados que
na altura integravam a UE, procurando libertar lugares para os Estados em vias de adesão,
e estabeleceram-se as regras que se destinavam a ser aplicadas após a adesão.
TUE: 14º/2 O PE não pode ter mais do que 750 deputados + o Presidente.
Quanto aos Estados-membros, consagrou-se o princípio da representação
degressivamente proporcional, ou seja, quanto menos população um Estado tiver,
menor é o número de habitantes correspondente à atribuição de um Deputado.
Além disso, procurando responder aos receios dos Estados mais pequenos, fixou-se, para
cada Estado-membro, um limiar máximo de 96 Deputados e um limiar mínimo de 6
Deputados.
o Organização e funcionamento
TUE: 14º/4
O Parlamento elege de entre os seus membros o seu Presidente e a sua Mesa.
TFUE: 226º Além disso, o PE dispõe de comissões permanentes, que têm como tarefa
preparar a legislação, e também pode recorrer a comissões de inquérito temporárias.
TFUE: 231º
A regra de votação no seio do PE é a maioria dos votos expressos, exceto nos casos em
que se prevê outra regra expressamente nos Tratados, como no exemplo 234º.
o Competência
TUE: 14º/1
O Parlamento detém poderes ao nível legislativo e orçamental, de fiscalização política e
de designação de membros de outras instituições, órgãos e organismos (como o
Presidente da Comissão), devendo ainda mencionar-se a sua participação no domínio da
revisão dos Tratados.
TFUE: 218º/6, a)
O PE participa também na conclusão de acordos internacionais, tendo passado a ser
chamado a aprovar vários outros acordos previstos neste preceito.
O Parlamento dispõe de um direito de emissão de parecer favorável em todos os acordos
internacionais importantes que incluam algum domínio sujeito à codecisão, bem como
nos Tratados de Adesão assinados com novos Estados-Membros e que estabeleçam as
condições de adesão.
TFUE: 314º
No domínio do poder orçamental, o PE passou a deter um poder idêntico ao do Conselho.
Tradicionalmente o Parlamento desempenha também um papel determinante no processo
orçamental. Com o Tratado de Lisboa os poderes orçamentais do Parlamento Europeu
viram-se ampliados na medida em que o PE deve autorizar o quadro financeiro plurianual
e participar na codecisão no que respeita a todas as despesas.
TFUE: 226º
O PE detém ainda outras competências de controlo político que se traduzem na
possibilidade de construir comissões de inquérito temporárias e de ser o destinatário de
relatórios e informações de outros órgãos da União.
Em junho de 2016 foi criada uma dessas comissões devido às revelações no âmbito dos
«Papéis do Panamá» acerca de empresas offshore e dos seus proprietários secretos.
Competiu a esta comissão de inquérito investigar possíveis violações do direito da União
relacionadas com branqueamento de capitais, elisão fiscal e evasão fiscal
Deve ainda acrescentar-se que o PE teve ainda sempre competência para proceder a
debates de política geral e para votar resoluções sobre quaisquer questões de atualidade.
o Sede
O Parlamento tem a sua sede em Estrasburgo, onde se realizam 12 sessões plenárias por
ano, incluindo a sessão relativa ao orçamento.
Outras sessões plenárias são realizadas em Bruxelas, onde os comités também se reúnem.
Contudo, o Secretariado-Geral do Parlamento tem a sua sede no Luxemburgo.
A decisão do Conselho de 1992 relativa a estas localizações foi confirmada no Protocolo
n.o 6 do Tratado de Lisboa. Um resultado pouco satisfatório desta decisão é que os
deputados do Parlamento Europeu, bem como uma parte dos seus funcionários e agentes,
veem-se obrigados a deslocações frequentes a Estrasburgo, Bruxelas e ao Luxemburgo,
o que é muito dispendioso.
CONSELHO EUROPEU
TUE: 15º
O Conselho Europeu tem a sua origem nas Cimeiras de Chefe de Estado e Chefes de
Governo, que ocorreram desde 1961. Tratavam-se de conferências diplomáticas à
margem das Comunidades Europeias, nas quais se discutiam os assuntos relacionados
com a cooperação política e, mais tarde, também assuntos comunitários.
TUE: 13º/1
O Conselho Europeu é uma instituição da União Europeia de pleno direito.
TFUE: 235º/2
O Presidente do PE pode ser convidado para ser ouvido pelo Conselho Europeu.
TUE: 15º/5
O Tratado de Lisboa criou o cargo de Presidente do Conselho Europeu. Vem substituir o
sistema das presidências rotativas semestrais, exercidas pelo Chefe de Estado ou de
Governo do Estado-membro a quem cabia a presidência do Conselho Europeu.
Isto foi visto por alguns como um ponto negativo, porque esse sistema dava visibilidade
aos Estados médios e pequenos, que aproveitavam a sua presidência para brilhar.
o Competência
CONSELHO
TUE: 16º
o Composição
Após o Tratado de Fusão de 1965, o Conselho passou a ser um órgão comum das três
Comunidades. O artigo 2º daquele tratado previa que «o Conselho é composto por
representantes dos Estados-membros. Cada Governo delega num dos seus membros».
TUE: 16º/2 e 6 A composição do Conselho não tem membros fixos, é variável em função
da ordem do dia, reunindo-se em diferentes formações em função da área política
agendada, sendo que cada país envia um Ministro de tutela da área em questão ou os
respetivos Secretários de Estado. Esta lista é adotada com base no TFUE: 236º.
Exemplo: quando o Conselho se reúne para debater assuntos económicos e financeiros, é
o Ministro das Finanças de cada país que estará presente.
Não existe nenhuma hierarquia entre as formações do Conselho, embora o Conselho dos
Assuntos Gerais tenha um papel especial de coordenação e seja responsável pelos
assuntos institucionais, administrativos e horizontais. O Conselho dos Negócios
Estrangeiros também tem um mandato especial.
Qualquer uma das 10 formações do Conselho pode adotar um ato que seja da competência
de outra formação. Por esse motivo, a formação não é mencionada em nenhum ato
legislativo adotado pelo Conselho
TUE: 16º/9 As reuniões são presididas pelo ministro do Estado-Membro que exerce a
presidência semestral do Conselho. As mudanças de presidência ocorrem em 1 de
janeiro e 1 de julho de cada ano.
TUE: 18º/3 Exceção a esta regra é o Conselho dos Negócios Estrangeiros, que é
habitualmente presidido pelo Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros
e a Política de Segurança.
Dada a mudança relativamente frequente da Presidência, cada uma elabora com base na
sua atividade um programa de trabalho, que é decidido em conjunto com as duas
presidências seguintes, sendo assim válido por um período de 18 meses (o chamado «Trio
de Presidências»).
o Funcionamento
TUE: 16º/8 A publicidade das reuniões do Conselho quando se debruça sobre atos
legislativos contribui para o reforço da transparência e da democracia no sistema
institucional da União.
TFUE: 238º/4
Está prevista nos Tratados a unanimidade para decisões
políticas em domínios especialmente sensíveis. Todavia, as
abstenções não podem obstar à tomada de uma decisão. A
unanimidade aplica-se também a decisões relativas a impostos,
segurança social e proteção dos trabalhadores, à determinação
de violações aos princípios constitucionais por um Estado-
Membro, bem como decisões relativas à definição dos
princípios no domínio da Política Externa e de Segurança
Comum e respetiva aplicação ou decisões no domínio da
cooperação policial e judiciária em matéria penal.
o Competência
TUE: 16º/1 O Conselho tem competência para aprovar atos legislativos e para aprovar o
orçamento. O Conselho tem a função de elaborar legislação, que exerce no quadro do
processo de codecisão em conjunto com o Parlamento Europeu e, além disso, elabora
ainda, com base num anteprojeto da Comissão Europeia, um orçamento que depois
precisa ainda de obter a aprovação do Parlamento Europeu.
É também o Conselho que recomenda ao Parlamento Europeu que dê quitação à
Comissão pela execução do orçamento.
TFUE: 291º/2 O Conselho não é o órgão de execução dos atos legislativos por
excelência, mas em casos específicos devidamente justificados, ele pode reservar para si
a execução de atos juridicamente vinculativos.
COMISSÃO
A Comissão tem a sua origem na Alta Autoridade da CECA, tendo passado a ser um
órgão comum às três Comunidades após o Tratado de Fusão de 1965. Sempre se tratou
de um órgão independente dos Estados-membros, dotado de poderes importantes, mas foi
sofrendo diversas alterações com os Tratados de Maastricht, Amsterdão e Nice.
o Mandato e responsabilidade
TUE: 17º/7 Os resultados das eleições para o Parlamento Europeu devem ser tomados
em consideração aquando da seleção do candidato para o cargo de presidente. Este novo
requisito tem como objetivo aumentar o nível de politização da Comissão. Em última
análise, tal significa que os grupos políticos que controlam uma maioria no Parlamento
têm um peso significativo na nomeação do presidente.
Uma vez eleito o presidente, o Conselho adota «de comum acordo» a lista das demais
personalidades que tenciona nomear para membros da Comissão, que é elaborada de
acordo com as propostas dos Estados-Membros. As pessoas são escolhidas em função da
sua competência geral e do seu empenhamento europeu, devendo ser totalmente inde-
pendentes no desempenho das suas obrigações.
TUE: 18º/1 Uma maioria qualificada no Conselho é suficiente para nomear o alto-
representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança.
O Conselho e o presidente eleito da Comissão devem chegar a consenso quanto aos
candidatos. A nomeação do alto-representante exige mesmo o acordo expresso do
presidente indigitado da Comissão. Os outros membros da Comissão não podem ser
nomeados se o presidente eleito vetar a nomeação.
TUE: 17º/8 Uma vez eleito, o colégio está sujeito a um voto de aprovação do PE.
Contudo, os comissários indigitados devem primeiro responder às questões colocadas
pelos deputados numa audição, que dizem habitualmente respeito a tópicos que se
enquadram no âmbito previsto das suas responsabilidades e a posições pessoais quanto
ao futuro da UE. Após a aprovação do Parlamento, por maioria simples, o presidente e os
outros membros da Comissão são nomeados pelo Conselho, deliberando por maioria
qualificada. A Comissão começa a exercer as suas funções assim que forem nomeados os
seus membros.
TFUE: 234º O PE pode votar uma moção de censura à Comissão, que se for aprovada
obriga à demissão dos seus membros. Porém, a exigência da dupla maioria fez com que
isso nunca se tenha verificado até hoje.
o Funcionamento
presidente é responsável por assegurar que a ação tomada pela Comissão é coerente,
eficiente e cumpre o princípio da colegialidade, que está especialmente patente no facto
de as decisões serem tomadas por um órgão colegial.
TFUE: 250 e 248º As deliberações da Comissão são tomadas por maioria dos seus
membros. A Comissão constitui um colégio, pelo que todos os membros do colégio são
coletivamente responsáveis, no plano político, pelo conjunto das decisões adotadas.
Por último, a posição de destaque do presidente também está patente no direito que lhe
assiste de ser ouvido em relação à seleção de outros membros da Comissão e no facto de
ser membro do Conselho Europeu.
o Competência
TFUE: 258º A Comissão é também «guardiã do direito da União», vela pelo respeito e
pela aplicação pelos Estados-Membros do direito primário e derivado da União. Em caso
de violação do direito da União a Comissão instaura um procedimento por infração ao
Tratado e pode, se necessário, recorrer ao Tribunal de Justiça.
Regra geral, é, todavia, aos próprios Estados-Membros que compete velar pela execução
das disposições da União em cada caso concreto. Esta solução, devidamente consagrada
nos Tratados, tem a vantagem de aproximar os cidadãos de uma realidade para eles ainda
um pouco «distante», a da ordem europeia, colocando-a sob a autoridade e no quadro
familiar da ordem nacional.
TUE: 17º/2 A Comissão detém um poder de iniciativa legislativa que exerce por
iniciativa própria ou a pedido do PE.
À Comissão são atribuídos poderes legislativos primários apenas em casos pontuais (por
exemplo no domínio do orçamento da UE, dos fundos estruturais, do combate à
discriminação fiscal ou dos auxílios e cláusulas de salvaguarda). Aqui a Comissão detém
um poder normativo autónomo.
Por outro lado, também são atribuídos à Comissão poderes legislativos de execução das
regras da União, delegados pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu, onde a Comissão
detém um poder normativo subordinado TFUE: 290º.
TUE: 18º
Este cargo não se tornou, como previa o projeto de constituição, no cargo de Ministro dos
Negócios Estrangeiros da UE, embora a sua posição na estrutura institucional se tenha
visto significativamente reforçada e alargada. O Alto-Representante tem, por isso, uma
ligação ao Conselho, onde ocupa a presidência do Conselho de Assuntos Externos, e tem
uma ligação à Comissão, onde é vice-presidente responsável pelos Negócios
Estrangeiros.
TUE: 19º
TUE: 13º/2 Refere que o Tribunal de Justiça da União Europeia é uma das instituições
da UE, mas na verdade este abrange o Tribunal de Justiça e o Tribunal Geral.
o Competência do TJUE
TFUE: 267º e 263º Pode afirmar-se que o TJUE exerce funções próprias de um Tribunal
Constitucional quando interpreta ou aprecia a validade de uma norma da União por
confronto com os Tratados, assim como quando aprecia a validade dos atos legislativos
do Conselho, do Parlamento e ainda da Comissão, nos casos em que ela detém
competência legislativa, a requerimento de algumas destas instituições ou Estados-
membros.
TFUE: 258º e ss. O TJUE também atua como um Tribunal Internacional quando declara
o incumprimento de um Estado-membro.
O TJUE também exerce funções próximas das de um tribunal interno de natureza cível,
nomeadamente, em matéria de responsabilidade civil extracontratual da União Europeia.
Tribunal de Justiça
ETJ: 20º, 5ª parte A intervenção dos advogados-gerais nos processos não é obrigatória.
O Tribunal, ouvido o advogado-geral, pode prescindir das conclusões se considerar que
não se suscitam novas questões de direito.
TUE: 19º/2 + TFUE: 255º, 253º e 254º Modo de designação e estatuto dos juízes e dos
advogados-gerais. Este sistema de designação pretende tornar o TJ autónomo em relação
aos outros órgãos da União, especialmente em relação ao Conselho. A introdução do
comité neste processo teve em vista impedir que personalidades sem as qualificações
adequadas para a função sejam nomeadas pelos Governos apenas por razões políticas.
que poderá ser designado um cidadão de Estado terceiro, no entanto, tal não se tem
verificado na prática.
TFUE: 253, 3ª parte O Presidente do TJ é eleito por três anos, em escrutínio secreto, por
maioria absoluta. O Presidente representa o TJ, dirige os trabalhos e os serviços do TJ e
preside às audiências.
TUE: 19º/1 O Tribunal de Justiça é a jurisdição suprema para todas as questões decor-
rentes do direito da União. Compete-lhe, na generalidade e para esse efeito, «garantir o
respeito do direito na interpretação e aplicação dos Tratados». Esta apresentação geral
das suas funções comporta três domínios fundamentais:
• Controlo do respeito do direito da União, quer em termos da conduta das
instituições da UE aquando da aplicação das disposições dos Tratados, quer em
termos do cumprimento das obrigações decorrentes do direito da União pelos
Estados-Membros e pessoas singulares;
• Interpretação do direito da União;
• Desenvolvimento da legislação da União.
Tribunal Geral
O Tribunal Geral não é uma nova instituição da União, mas antes um órgão do Tribunal
de Justiça da União Europeia que é independente e está organicamente separado do
Tribunal de Justiça. Possui uma estrutura administrativa própria e um regulamento
processual. Num intuito de clareza, os processos que dão entrada no Tribunal Geral são
classificados com a letra «T» (= Tribunal), seguida do número (por exemplo, T-1/99),
enquanto os do Tribunal de Justiça são classificados com a letra «C» (= Court), seguida
do número (por exemplo, C-1/99).
TFUE: 256º O TG tem competência para, em primeira instância, conhecer dos recursos
de anulação, de omissão, das ações de responsabilidade, dos recursos de funcionários e
dos recursos com fundamento em cláusula compromissória, com exceção dos que sejam
atribuídos a um tribunal especializado.
ETJ: 51º Contém derrogações a estas regras, estabelecendo a competência exclusiva do
TJ nos recursos de anulação e de omissão interpostos por um Estado-membro ou por uma
instituição da União quando estão em causa certos atos, decisões ou abstenções. Ou seja,
continua-se a consagrar uma reserva de competência do TJ em relação aos processos
propostos pelos Estados-membros, pelos órgãos comunitários e pelo BCE.
TFUE: 256º/2 e 3 + ETJ: 62º O TG é igualmente competente para conhecer dos recursos
interpostos das decisões de um tribunal especializado. Quanto às questões prejudiciais
previstas no artigo 267º TFUE, o TG pode conhecer delas em matérias específicas
determinadas pelo Estatuto, mantendo-se a possibilidade de remeter as questões
prejudiciais ao TJ quando está em causa a unidade e a coerência do Direito da União
Europeia. Trata-se de uma espécie de recurso no «interesse da lei».
TUE: 19º/2 + TFUE: 255º, 253º e 254º Os juízes do TG são indicados pelos Estados-
membros, de comum acordo, sem intervenção do PE nem do TJ, após consulta ao comité.
São nomeados por 6 anos, sendo metade substituídos de 3 em 3 anos. Beneficiam dos
privilégios e das imunidades idêntico aos juízes e advogados-gerais do TJ.
ETJ: 50º O TG pode funcionar em secções de 3 ou 5 juízes, bem como em sessão plenária
ou através de juiz singular. O Regulamento de Processo pode ainda prever a reunião em
Grande Secção, nos casos e condições nele previstos.
As secções elegem os seus presidentes, sendo que o Estatuto estabelece expressamente
que os presidentes das secções de 5 juízes são eleitos por 3 anos e só podem ser reeleitos
uma vez.
Tribunais especializados
TFUE: 257º
Prevê a criação de tribunais especializados pelo Conselho e o PE, deliberando de acordo
com o processo legislativo ordinário. Atualmente, há um tribunal especializado para
litígios administrativos.
O BCE não é uma instituição como as outras, dado que a sua competência não se estende
a todas as matérias dos Tratados, mas somente às matérias monetárias.
O Banco Central Europeu (BCE) tem a sua sede em Frankfurt-am-Main e está no cerne
da União Económica e Monetária, cabendo-lhe determinar o volume das emissões da
moeda europeia, o euro, e sendo também o responsável pela estabilidade desta divisa.
TFUE: 130º + 282º/3 Para que o BCE possa levar a bom termo a sua missão, inúmeras
são as disposições que consagram a sua independência. Nem o BCE nem nenhum banco
central de um Estado-Membro podem receber instruções das instituições da UE, dos
governos dos Estados-Membros ou de qualquer outra entidade quando exercem os seus
poderes e no cumprimento das suas atribuições e deveres. As instituições da UE e os
governos dos Estados-Membros comprometem-se a não fazer qualquer tentativa neste
sentido.
TFUE: 129º, 282º/1 e 127º/2 O Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC) compõe-
se do BCE e dos bancos centrais dos Estados-Membros. Cabe-lhe conceber e executar a
política monetária da União e só ele pode autorizar a emissão de notas e de moedas na
União. Compete-lhe ainda gerir as reservas cambiais oficiais dos Estados-Membros e
promover o bom funcionamento dos sistemas de pagamentos da União.
TFUE: 132º/1 + 263º e 267º Embora limitado às matérias monetárias, o Banco pode
emitir regulamentos, tomar decisões, formular recomendações e emitir pareceres. Estes
atos, tal como os atos adotados pelas outras instituições, podem ser impugnados pela via
do recurso de anulação ou podem ser objeto de questões prejudiciais.
TFUE: 288º Este artigo referente às fontes de direito derivado da União, não menciona
expressamente os atos do BCE, o que pode causar alguma perplexidade. No entanto, esta
ausência justifica-se pelo facto de estas fontes terem um caráter específico, restrito à
matéria monetária.
Estatuto do SEBC e do BCE: 34º/3 O BCE pode ainda aplicar multas ou sanções
pecuniárias temporárias às empresas, em caso de incumprimento de obrigações
decorrentes dos seus regulamentos e decisões, nos limites e condições fixados pelo
Conselho, de acordo com o procedimento previsto no artigo 41º do Estatuto.
TFUE: 286º/2 O Conselho, após consulta ao PE, aprova por maioria qualificada a lista
dos membros estabelecida em conformidade com as propostas apresentadas por cada
Estado-membro, sendo que o seu mandato é de seis anos, renovável.
O Tribunal de Contas tem como missão verificar a legalidade e regularidade das receitas
e despesas da UE e assegurar-se de que a execução orçamental é correta. A verdadeira
arma do Tribunal de Contas é o efeito mediático. Os resultados da sua atividade de
fiscalização são compilados, após o encerramento do ano orçamental, num relatório anual
que é publicado no Jornal Oficial da União Europeia, tornando-se assim conhecido da
opinião pública. Além disso, o Tribunal de Contas pode, em qualquer altura, adotar
posições relativamente a matérias específicas, que são igualmente publicadas no Jornal
Oficial em relatórios extraordinários.
TFUE: 300º/2 O Comité Económico e Social (CESE) é composto por representantes dos
diferentes setores da vida económica e social.
TFUE: 301º e 302º/2 O Comité pode ter um máximo de 350 membros. A composição
concreta do Comité é definida por decisão do Conselho, deliberando por unanimidade,
sob proposta da Comissão. O mandato dos membros é de 5 anos, renovável.
O Comité das Regiões (CR) foi instituído apenas pelo Tratado de Maastricht, estando
atualmente previstos no TFUE: 300º/3 e 305º a 307.
O CR não é uma instituição da UE, uma vez que só exerce funções consultivas e não
desempenha, como as autênticas instituições da UE, as funções cometidas à União de
forma juridicamente vinculativa.
TFUE: 300º/3 e 305º O Comité das Regiões pode ter um máximo de 350 membros, que
representam as autoridades regionais e locais dos Estados-Membros que foram
mandatadas para governar através de eleições, ou que respondem politicamente perante
uma Assembleia eleita. A composição concreta do Comité é definida por decisão do
Conselho, deliberando por unanimidade, sob proposta da Comissão. O mandato dos
membros é de 5 anos, renovável.
PROVEDOR DE JUSTIÇA
TFUE: 228º/1 e 2
O Provedor de Justiça Europeu é eleito pelo PE pelo período da legislatura, podendo ser
reconduzido nas suas funções.
TFUE: 228º/3
O Provedor de Justiça exercerá as suas funções com total independência, não solicitará
nem receberá instruções de qualquer organismo e não pode exercer qualquer outra
atividade profissional, remunerada ou não.
TFUE: 228º/4
O estatuto do Provedor de Justiça é fixado pelo PE, por meio de regulamentos adotados
por iniciativa própria de acordo com um processo legislativo especial, após parecer da
Comissão e com a aprovação do Conselho.
TFUE: 228º/1
Competências e poderes do Provedor de Justiça.
AS AGÊNCIAS INDEPENDENTES
Nos últimos anos tem-se assistido nas administrações publicas nacionais a um fenómeno
de descentralização funcional caracterizado pela criação de entidades instrumentais à
administração e com personalidade jurídica própria, às quais se atribui a realização de
funções específicas.
As agências independentes também são um fenómeno conhecido do Direito da União
Europeia, aliás, a criação de organismos distintos da estrutura institucional e orgânica
geral sempre esteve prevista no Tratado Euratom, que ainda continua em vigor. Porém, a
multiplicação das agências independentes é muito mais recente, procurando responder à
necessidade de assegurar determinadas tarefas para as quais as instituições e os órgãos da
União não se encontravam vocacionadas.
TFUE: 263º/1, 1ª parte O Tratado de Lisboa esforçou-se por integrar melhor estas
agências no sistema institucional da União, tendo inclusivamente previsto a possibilidade
de recorrer de anulação contra os seus atos
A CLÁUSULA DE FLEXIBILIDADE26
O alargamento da competência das instituições e dos órgãos da união
TFUE: 352º
Embora seja provável a redução dos casos de aplicação desta cláusula de flexibilidade,
nada garante que esta venha a ser utilizada apenas em casos excecionais e que venha a
funcionar, única e exclusivamente, como uma cláusula residual de resposta a
acontecimentos inesperados e a novos desafios.
26
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 440 a 454
TFUE: 352º/2
Às propostas baseadas nesta cláusula, aplica-se o mecanismo de controlo do princípio da
subsidiariedade por parte dos parlamentos nacionais, previsto no TUE: 5º/3 e no
Protocolo nº2.
A Comissão alerta os Parlamentos nacionais para as propostas cuja base jurídica é esta
cláusula de flexibilidade, o que, por um lado, traduz uma limitação dos poderes do
Conselho, e por outro lado, contribui para tornar a União mais próxima dos cidadãos e
mais democrática.
Porém, a participação dos parlamentos nacionais não contribui para tornar a União mais
eficaz, no sentido de conduzir à adoção mais célere dos atos cuja base jurídica seja o
artigo 352º TFUE.
Além disso, há um reforço dos poderes do PE, ao invés da mera consulta, os atos adotados
com base nesta cláusula de flexibilidade necessitam da aprovação do PE. O procedimento
legislativo ordinário não se aplica a estes atos, não se aplica a regra da votação por maioria
qualificada no seio do Conselho. As decisões com base nesta cláusula seguem a regra da
unanimidade.
TFUE: 353º
O artigo 352º TFUE não pode ser revisto com base no processo simplificado, o que
significa que a unanimidade no seio do Conselho bem como todos os outros pressupostos
de aplicação desta disposição só podem ser alterados com fundamento no processo de
revisão ordinário, previsto no TUE: 48º/2 e 5.
Contudo era claro que a União Europeia podia emanar normas jurídicas de caracter geral,
abstrato e inovador, desempenhado uma função legislativa. Era igualmente assente que o
Tribunal de Justiça ao decidir exercia uma função jurisdicional.
As normas não se podiam distinguir consoante o seu autor, pois o tratado não previa os
procedimentos em função da natureza normativa mas sim tendo em conta os poderes de
participação dos órgãos.
27
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 455 a 463
28
Acórdão de 24/10/89, processo 16/88, coleção 1989, página 3457
Atuavam por vezes com funções de controlo mas geralmente era órgãos consultivos, de
acessória em matérias especificas.
o Atribuída à Comissão
Apesar de ser designada como o Executivo da União, os tratados atribuíam-lhe um poder
de decisão sem especificar a sua natureza.
Do ponto de vista funcional e institucional podia ser considerado o órgão executivo, mas
tinha um caracter também administrativo através das diretivas, com dimensão de caracter
técnico e não político como o executivo.
o Atribuída ao Conselho
Em regra desempenhava a função legislativa mas tinha poderes de execução normativa e
de execução singular, podendo até reservar a si competências de execução normativa.
Questionava-se em que circunstâncias tal podia acontecer, tendo-se pronunciado a
comitologia e a jurisprudência.
Outro problema suscitado por esta atribuição de poderes era que as decisões emanadas da
competência de execução normativa, ao contrário das que vem da função legislativa, não
podiam ser azo de controlo político.
O Tribunal de Justiça, procurando resolver esta questão criou uma hierarquia entre Direito
Secundário e Direito Terciário, ficando o último subtido ao primeiro.
Tal como antes do Tratado o poder está distribuído por várias instituições, a Comissão, o
Conselho e o Parlamento Europeu. É também imposta a participação de certos órgãos,
Comité das Regiões e Comité Económico e Social e a possibilidade de participação dos
parlamentos nacionais.
O processo de codecisão foi introduzido pela primeira vez em 1992 e a sua utilização foi
alargada em 1999. Com a adoção do Tratado de Lisboa, a codecisão passou a designar-
se processo legislativo ordinário e tornou-se no principal processo de decisão utilizado
para adotar legislação da EU, aplicando-se nos casos em que os tratados assim prevejam.
Síntese
Nº2 Apresentação da proposta da comissão ao Parlamento e Conselho
Nº3 Parlamento estabelece uma posição e envia ao Conselho
Nº4 Conselho concorda com a posição e ao ato é adotado
Nº5 Conselho não concorda com o Parlamento
Nº6 Comissão e o Conselho explica a sua posição ao Parlamento
Nº7 a) Parlamento aprova a posição do Conselho ou não se
pronuncia, sendo o ato adotado com a formulação da posição do conselho.
29
Klaus-Dieter Borchardt, ABC do Direito da União Europeia, Comissão Europeia, 2016, Página 116 a 124
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 464 a 477
30
https://www.europarl.europa.eu/external/html/legislativeprocedure/default_pt.htm
Nº15 Prevê exceções no procedimento caso a iniciativa venha dos cidadãos, do Banco
Central Europeu ou dos Estados-membros.
Esta iniciativa é tomada pelo serviço da Comissão que se ocupa do domínio económico
em causa, sendo frequente nesta fase o recurso a especialistas nacionais.
A consulta destes peritos nacionais decorre em parte no contexto de comités criados para
o efeito ou sob a forma de um processo de consulta «ad hoc» de peritos por parte dos
serviços da Comissão. Importa, no entanto, ter presente que a Comissão não está
vinculada aos pareceres dos peritos nacionais na fase de elaboração da proposta.
O Parlamento Europeu tem, na segunda leitura, três possibilidades para agir, no prazo de
três meses, após receber a posição do Conselho:
1) Parlamento aprova a posição do Conselho ou não se pronunciar sobre ela. Nesse
caso, o ato jurídico em questão será adotado na versão da posição do Conselho;
2) Parlamento rejeita a posição do Conselho por maioria dos seus membros. Nesse
caso, o ato jurídico proposto é considerado não adotado e o processo legislativo
fica assim concluído;
O Conselho delibera sobre a posição modificada e tem, no prazo de três meses após a
entrada das alterações do Parlamento, duas possibilidades para agir:
1) Aprovar todas as alterações apresentadas pelo Parlamento.
Nesse caso, o ato jurídico em questão é adotado, para o que basta uma maioria qualificada,
se a Comissão concordar com as alterações apresentadas pelo Parlamento. Se isso não se
verificar, o Conselho só poderá́ aprovar as alterações do Parlamento por unanimidade.
2) Caso não aprove todas as alterações apresentadas pelo Parlamento, ou não seja
obtida a necessária maioria, será́ iniciado o processo de conciliação.
Processo de conciliação
O Comité de Conciliação tem a tarefa de, por maioria qualificada e no prazo de seis
semanas após a sua convocação, alcançar um consenso com base nas posições adotadas
em segunda leitura pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho. Para tal é necessário chegar
uma solução de compromisso que só pode ser alcançada se «todos os aspetos de discórdia
forem analisados». Contudo, a questão passa sempre e muito simplesmente por se chegar
a um compromisso entre as duas posições divergentes do Parlamento e do Conselho. Para
o efeito, podem ser utilizados novos métodos que facilitem o processo de compromisso,
desde que estes se enquadrem no resultado global da segunda leitura. Contudo, não é
possível utilizar alterações que não tenham conseguido alcançar as maiorias necessárias
na segunda leitura.
Caso o Comité de Conciliação não aprove, no prazo de seis semanas após a sua
convocação, um projeto comum, o ato jurídico proposto será́ considerado como não
aprovado.
aprovação, para aprovar o ato jurídico em questão de acordo com este projeto, sendo
necessária a maioria dos votos expressos no Parlamento Europeu e uma maioria
qualificada no Conselho. Caso contrário, o ato jurídico proposto é considerado não
adotado e o processo legislativo fica assim concluído.
Uma vez aprovado, o ato jurídico é redigido, na sua forma final, nas atuais 24 línguas
oficiais da União (alemão, búlgaro, checo, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno,
espanhol, estónio, finlandês, francês, grego, húngaro, inglês, irlandês, italiano, lituano,
maltês, neerlandês, polaco, português, romeno e sueco), assinado pelos presidentes do
Parlamento Europeu e do Conselho e, por fim, publicado no Jornal Oficial da União
Europeia ou, se o ato jurídico se destinar a determinados destinatários, «notificado aos
respetivos destinatários».
Existe uma pluralidade de processos legislativos especiais, contudo no geral pode definir-
se processo legislativos especial TFUE: 289º/2
Existem outras formas de legislar que diferem destes casos habituais mas que, não
obstante, não deixam de enquadrar-se no processo legislativo especial.
TFUE: 314º É o caso das decisões tomadas em matéria de orçamento, o processo tem
regras pormenorizadas e corresponde em grande medida ao processo legislativo
ordinário.
O Conselho toma uma decisão por maioria sobre uma proposta da Comissão, após
consulta ao Parlamento Europeu (ou outras instituições da UE e órgãos consultivos); este
O Conselho toma uma decisão sem a participação do Parlamento Europeu. Contudo, trata-
se de uma rara exceção que, para além do domínio da política externa e de segurança
comum, onde o Parlamento é informado das decisões do Conselho TUE: 36º, só acontece
em casos pontuais
Exemplo 1: TFUE: 31º Fixar os direitos da pauta aduaneira
Exemplo 2: TFUE: 301º/2 Composição do Comité Económico e Social.
O processo legislativo especial previsto para certos domínios políticos pode ser
substituído pelo processo legislativo ordinário através das «cláusulas-ponte», assim como
a unanimidade no Conselho pode ser substituída por uma maioria qualificada.
Importa distinguir entre dois tipos de cláusulas-ponte:
Cláusulas-ponte gerais aplicáveis a todos os domínios políticos, sendo que a sua
utilização deve acontecer através de uma decisão unânime do Conselho Europeu.
Cláusulas-ponte específicas aplicáveis a determinados domínios políticos.
Estas cláusulas são diferentes das cláusulas-ponte gerais, na medida em que, regra geral,
os parlamentos nacionais não têm direito de veto e a decisão também pode ser tomada
pelo Conselho e não necessariamente pelo Conselho Europeu.
Exemplos: TFUE: 312º quadro financeiro; TFUE: 81º cooperação judiciária em matéria
de direito da família; TFUE: 333º Cooperação reforçada; TFUE: 153º domínio social e
TFUE: 192º ambiente.
• Processo de consulta
Este processo tem vindo a ser aplicado a um número cada vez menor de casos, devido às
críticas sobre défice democrático que lhe teceram.
Apesar de por vezes obrigatório, o parecer do Parlamento não é vinculativo, pelo que o
Conselho não necessita de o seguir. Contudo o Parlamento deve ser consultado de novo
sempre que a proposta se afaste muito da versão inicial.
no âmbito do processo de aprovação, o Parlamento Europeu não pode propor nem impor
alterações, limitando-se a aprovar ou rejeitar o instrumento jurídico proposto.
Os atos não legislativos definem-se por exclusão de partes, sendo todos os atos que devem
ser adotados pelas instituições e órgãos e que os tratados não exigem que sejam aprovados
pelo processo legislativos, contudo temos 3 tipos:
TFUE: 105º + 108º Medidas adotadas pela comissão no domínio da concorrência ou das
ajudas de Estado
TFUE: 132º Medidas adotadas pelo Banco Central Europeu no âmbito de políticas
monetárias.
TFUE: 74º Medidas adotadas pelo Conselho destinadas a assegurar a cooperação
administrativa entre os serviços e justiça
TFUE: 329º Autorização do Conselho para dar início à cooperação reforçada nos
domínios das atribuições não exclusivas da União
TFUE: 236º a) Decisão do Conselho Europeu que estabeleça a lista das formações do
Conselho
O principal objetivo destes atos é fazer com o legislador se concentre na definição dos
elementos essenciais facilitando a tomada de decisão por parte do Conselho e do
Parlamento, contudo possibilitam também submeter a atuação executiva a um controlo
legislativo. Existem problemas de interpretação:
• Distinção entre atos da comissão que alteram elementos não essenciais e
atos de execução pouco nítida
• O que são elementos essenciais?
• As condições de delegação são taxativas ou exemplificativas?
TFUE: 290º A adoção de atos delegados cabe à comissão com base numa autorização
especial dada por um ato legislativo adotado pelo Conselho e pelo Parlamento.
Isto significa que as disposições fundamentais são adotadas pelo próprio órgão legislativo
e não podem ser delegadas no órgão de execução. São, assim, tidos em conta os princípios
da democracia e da separação de poderes.
Por último, as disposições a alterar ou acrescentadas através do ato delegado devem estar
claramente especificadas no ato legislativo. Por conseguinte, os atos delegados podem
englobar adaptações legislativas relativas a desenvolvimentos futuros, tais como
alterações no estado da arte, alinhamento com alterações previsíveis noutra legislação ou
garantir que as disposições de um ato legislativo sejam aplicadas mesmo quando surgem
circunstâncias especiais ou novas informações.
A delegação de poderes pode ter um período de vigência ou, se for válida por tempo
ilimitado, pode existir uma disposição que preveja o direito de a revogar. Para além da
possibilidade de revogar a delegação de poderes, o Conselho e o Parlamento podem
prever o direito de formular objeções à entrada em vigor dos atos delegados da Comissão.
Caso o Conselho e o Parlamento tenham delegado poderes de execução na Comissão,
esta última pode adotar atos de execução. Não existe qualquer disposição no direito
primário que autorize a inclusão de outras instituições. Contudo, a Comissão está
autorizada a consultar em especial peritos nacio- nais, o que, na prática, acontece
geralmente.
o Atos de Execução
TFUE: 291º A adoção de atos de execução pela comissão foi concebida como exceção
do princípio da responsabilidade dos Estados-Membros em relação à execução
administrativa do direito da UE e, por conseguinte, encontra-se sob o controlo dos
Estados-Membros.
Considerando, como o legislador da UE, que o Conselho e o Parlamento têm acesso aos
atos delegados, este acesso cabe aos Estados-Membros no caso dos atos de execução, em
conformidade com a responsabilidade que lhes está inerente de execução administrativa
do direito da UE.
Não podemos falar de um processo a nível internacional, mas sim de diversos tipos
conforme o tratado em causa.
TFUE: 218º Processo comum
TFUE: 207º Processo específico para acordos internacionais
TFUE: 219º Processo específico para acordo monetários e cambiais
Aplica-se quando os tratados determinarem que a União Europeia pode celebrar acordo
internacionais com estados terceiros ou organizações internacionais.
Balanço Geral
O sistema de fonte sofreu uma constante evolução culminando com o Tratado de Lisboa,
contudo sempre se pautou pela sua singularidade face ao Direito Internacional e ao
Direito Nacional dos Estados membros e complexidade crescente, nomeadamente após o
Tratado de Maastricht, que introduziu pilares intergovernamentais. O sistema de fontes
anterior ao Tratado de Lisboa sofreu críticas, especialmente devido à falta de hierarquia
das normas e dos atos e na falta de correspondência entre atos e normas e funções dos
órgãos. O Tratado de Lisboa abandona a estrutura tripartida tendo em vista descomplicar
e procurou estabelecer uma hierarquia pela distinção entre atos legislativos e não
legislativos.
Direito Primário
Acordos Internacionais da EU
Direito Derivado
31
Klaus-Dieter Borchardt, ABC do Direito da União Europeia, Comissão Europeia, 2016, Página 94 a 115
Uma vez que se trata de direito criado diretamente pelos Estados-Membros, ele é
designado, em linguagem jurídica, por direito primário da União.
TUE: 6º/1 Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia adquiriu o mesmo valor
jurídico que os Tratados desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa.
Contudo a ideia de um texto único como base constitucional que vinha da Convenção
sobre o Futuro da Europa aceite pela Convenção Intergovernamental de 2004 foi
abandonada e surge o Tratado de Lisboa.
O TFUE seria o tratado que desenvolve as bases. O TUE contem as bases, fixa as regras
fundamentais sobre os objetivos, as atribuições, os princípios democráticos, as
instituições, as condições de revisão e de adesão etc. Porém contêm regras que o
distanciam de um tratado de base, nomeadamente as regras sobre PESC.
TUE: 3º/1 Não existe uma relação de subordinação entre eles, tem mesmo valor jurídico,
mas apenas juntos constituem o fundamento, limite e critério do DUE.
TUE: 55º Línguas em que foi redigido e que pode vir a ser, aplica-se ao TFUE: 358º
o Âmbito de aplicação
TUE: 53º TFUE: 355º Os tratados têm vigência ilimitada contudo não são destinados a
vigorar eternamente.
32
Ana Maria Guerra Martins, Manual de Direito da União Europeia, Almedina, 2017, Página 482 a 491
Desde a versão original dos tratados que estes contêm normas sobre a revisão, tendo estas
sido consideradas obrigatórias pelo Tribunal de Justiça. A sua tramitação até ao Tratado
de Lisboa era composta por três níveis: comunitário, intergovernamental e nacional.
o Figuras próximas
DIREITO DERIVADO
O direito criado pelas instituições da União no exercício das suas competências derivadas
e atribuídas pelos Tratados institutivos tem a designação de direito derivado da União
Europeia e é a segunda fonte importante do direito da UE.
O direito derivado da União está a ser criado de uma forma paulatina e progressiva, e a
sua adoção confere vitalidade ao direito primário da União criado pelos Tratados da UE,
assim se construindo e completando, gradualmente, a ordem jurídica europeia.
Encontravam-se previstas no TCE: 249º, artigo que não incluía todos os tipos de atos,
sendo excluídos por exemplo, os atos do Banco Central Europeu, e também não definia
nenhuma hierarquia entre as normas e os atos do direito derivado.
A natureza de um ato não depende da sua qualificação, mas sim do seu conteúdo. Existe
um princípio da presunção de legalidade das normas e dos atos da União Europeia,
contudo os atos com vícios graves, nomeadamente que coloquem em causa o princípio
da segurança jurídica, podem ser declarados inexistentes pelo Tribunal de Justiça.
TFUE: 296º Existe um dever de fundamentação que expressa a base jurídica do ato, e
caso haja área de discricionariedade deve se justificar as razões.
TFUE: 297º Publicação dos atos no Jornal Oficial da UE, existindo obrigatoriedade para
todos os atos legislativos e alguns não legislativos. Estabelece ainda a entrada em vigor
de forma supletiva ao tratado. Os atos legislativos são publicados no Jornal Oficial da
União Europeia, Série L (Legislação). Os atos não legislativos são assinados pelo
presidente da instituição que os adotou. São publicados no Jornal Oficial da União
Europeia, Série C [«informações e noticações» (C = Comunicação)].
Regulamento
TFUE: 288º/2
Os atos jurídicos através dos quais as instituições da União podem interferir mais
profundamente nas ordens jurídicas nacionais são os regulamentos, que team duas
características não habituais no direito internacional:
• Caráter comunitário
Consiste na particularidade de imporem um direito igual a toda a União sem ter em conta
as fronteiras e com validade uniforme e integral em todos os Estados-Membros.
Isto significa que um Estado-Membro não pode, por exemplo, aplicar as disposições de
um regulamento apenas parcialmente ou decidir quais as que irá aplicar para, desse modo,
excluir as normas a que um Estado-Membro já se tenha oposto durante o processo de
decisão ou que sejam contrarias a certos interesses nacionais.
• Aplicabilidade direta
O disposto nos regulamentos estabelecer um mesmo direito que não carece de normativas
especiais de aplicação de caráter nacional, conferindo direitos e impondo obrigações
diretamente aos cidadãos da União. Os Estados-Membros, incluindo as suas instituições,
tribunais e autoridades, estão diretamente vinculados ao direito da União e devem
respeitá-lo da mesma forma que o direito nacional.
As similitudes destes atos jurídicos com as leis nacionais são manifestas e, enquanto
forem adotados no âmbito do chamado processo legislativo ordinário com o Parlamento
Europeu, serão considerados «atos legislativos».
Diretivas
TFUE: 288º/3
Esta jurisprudência do Tribunal de Justiça sobre o efeito direto das diretivas baseia-se
essencialmente na consideração de ordem geral de um Estado-Membro se estar a
comportar de forma abusiva e contrária ao direito sempre que continua a aplicar a sua
anterior legislação quando já está obrigado a respeitar o objetivo previsto nas disposições
da diretiva.
Este comportamento por parte de um Estado-Membro é abusivo e o reconhecimento do
efeito direto da diretiva pretende evitar que o Estado-Membro em questão obtenha
qualquer vantagem com a inobservância do direito comunitário. Assim, o efeito direto
tem caráter de sanção para o Estado-Membro.
Neste contexto, é significativo que o Tribunal de Justiça só tenha aplicado o princípio do
efeito direto em processos entre cidadãos e Estados-Membros e só quando a aplicação da
diretiva beneficia o cidadão da União, e não quando o prejudica, ou, por outras palavras,
quando a situação do cidadão perante a lei alterada pela diretiva é mais favorável do que
perante a lei inalterada (o chamado «efeito direto vertical»).
Em contrapartida, o Tribunal de Justiça ainda não reconheceu o efeito direto das diretivas
nas relações entre os próprios cidadãos (o chamado «efeito direto horizontal»).
O Tribunal considera, devido ao próprio caráter de sanção do efeito direto, que este não
pode ser aplicado a relações entre particulares, uma vez que estes não podem ser
responsabilizados pela omissão do Estado-Membro, sendo preferível que se baseiem
antes nos princípios da segurança jurídica e da garantia da confidencialidade.
Os cidadãos da União devem estar confiantes de que ficarão sujeitos aos efeitos de uma
diretiva apenas em função das medidas nacionais de transposição. Contudo, o Tribunal
de Justiça desenvolveu um princípio de direito primário segundo o qual o conteúdo de
uma orientação também é aplicável a questões de direito privado, desde que dê expressão
à proibição geral de discriminação.
O conceito do Tribunal de Justiça vai além da proibição de discriminação, que, tal como
consta das respetivas diretivas, obriga as autoridades nacionais e em especial os tribunais
nacionais a proporcionar, dentro dos limites da sua jurisdição, a proteção jurídica que os
indivíduos usufruem do direito da UE e assegurar a total e eficácia desse direito, não
aplicando se for caso disso qualquer disposição da legislação nacional que seja contrária
a esse princípio. Por conseguinte, graças ao primado do direito da UE, a proibição da
discriminação tal como de definida nas respetivas diretivas sobrepõe-se ao direito
nacional divergente.
Como tal, embora não tenha posto em causa a sua jurisprudência sobre a falta de efeito
horizontal das diretivas, o Tribunal acabou efetivamente por chegar a essa conclusão no
O efeito direto de uma diretiva não implica necessariamente que uma disposição de uma
diretiva confira direitos a um particular. Em vez disso, as disposições da diretiva exercem
um efeito direto também na medida em que têm um efeito jurídico objetivo.
Para reconhecer este efeito aplicam-se os mesmos requisitos que para o reconhecimento
de um efeito direto, com a única diferença que em vez de um direito do cidadão ou da
empresa da União definido com clareza e rigor é determinada uma obrigação do Estado-
Membro com clareza e rigor.
O Tribunal de Justiça deliberou pois que o Estado italiano, ao não transpor a diretiva
atempadamente, privou os trabalhadores em causa dos direitos instituídos pela diretiva,
ficando consequentemente obrigado a indemnizá-los. Embora a obrigação de indemnizar
Decisões
TFUE: 288º/4
• Aplicabilidade individual
Distingue do regulamento.
Dirige-se apenas individualmente aos destinatários, que deve obrigatoriamente designar.
Para esse efeito, basta que o universo dos destinatários seja claramente identificável na
altura da produção de efeitos da decisão e que tal universo não possa posteriormente ser
alterado. O conteúdo da decisão deve, pois, ser adequado para produzir efeitos diretos e
precisos no que se refere à situação do destinatário. Nesse sentido, a decisão pode também
afetar individualmente terceiros, na medida em que estes, devido a características
pessoais ou a circunstâncias específicas, sejam suscetíveis de ser identificados em
condições similares aos destinatários e, por isso e de uma forma idêntica, possam ser
identificáveis como destinatários.
• Vinculativa
Em todos os seus elementos, o que a distingue da diretiva, que só vincula o Estado-
Membro destinatário quanto ao resultado a alcançar.
As decisões gerais que não especificam a quem se destinam são vinculativas em todos os
seus elementos, embora não seja claro quem ca vinculado por elas. Trata-se de algo que
só fica determinado a partir do conteúdo de cada decisão.
No caso das decisões gerais, é possível distinguir entre os seguintes tipos de instrumento:
Recomendações e pareceres
Por fim, existe uma última categoria de atos, expressamente prevista nos Tratados da
União, que é a categoria das recomendações e pareceres. Estes permitem às instituições
da União pronunciarem-se de forma não vinculativa, isto é, sem que tal sirva para
fundamentar qualquer obrigação jurídica para os destinatários relativamente aos Estados-
Membros e, em certos casos, aos cidadãos da UE.
As recomendações sugerem aos destinatários um dado comportamento, sem com isso lhes
impor uma obrigação legal. TFUE: 117º/1 Assim, quando houver motivo para recear que
a adoção ou alteração de uma disposição legislativa, regulamentar ou administrativa
possa provocar uma distorção das condições de concorrência no mercado interno
europeu, a Comissão recomendará aos estados interessados as medidas adequadas,
tendentes a evitar a distorção em causa.
Para além dos atos jurídicos expressamente previstos nos Tratados, as instituições da
União dispõem de uma vasta panóplia de instrumentos de ação para modelar os contornos
da ordem jurídica da UE. Na prática, os mais importantes são as resoluções, as
declarações e os programas de ação.
o Resoluções
As resoluções podem emanar do Conselho Europeu, do Conselho da UE e do Parlamento
Europeu. Consubstanciam posições e intenções comuns em relação ao processo geral de
integração e a ações específicas tanto no plano da UE como fora dela.
A avaliação do significado jurídico deste instrumento deve ter presentes estes elementos,
isto é, a resolução deve manter uma certa flexibilidade, sem estar demasiado vinculada a
requisitos e obrigações jurídicas.
o Declarações
As declarações podem ser de dois tipos. Quando dizem respeito ao desenvolvimento da
União, como é o caso das declarações relativas à UE, à democracia ou aos direitos
fundamentais, aparentam-se às resoluções e servem essencialmente para atingir um vasto
público ou um grupo específico de destinatários.
Há também as declarações emanadas do processo decisório do Conselho, através das
quais os membros do Conselho exprimem pareceres conjuntos ou individuais sobre a
interpretação das decisões que o Conselho aprova.
o Programas de ação
Estes programas são elaborados pelo Conselho e pela Comissão, por iniciativa própria ou
a pedido do Conselho Europeu, e têm por objetivo a realização de programas legislativos
e a consecução dos objetivos gerais que os Tratados consagram.
Sempre que os programas estejam expressamente previstos nos Tratados, as instituições
da União devem respeitar estas disposições na elaboração dos mesmos. Há também outros
programas que, na prática, funcionam como simples orientações, desprovidas de qualquer
efeito juridicamente vinculativo. Consubstanciam, no entanto, uma vontade política das
instituições da União de se conformarem às disposições que deles emanam.
Como qualquer outra ordem jurídica, também a ordem jurídica da UE não pode ser
constituída apenas por normas escritas, pois todas as ordens jurídicas têm lacunas que
deverão ser colmatadas por direito não escrito.
DIREITO INTERNACIONAL
Como um dos polos do mundo, a Europa não pode limitar-se a ter nas suas mãos apenas
a gestão dos seus assuntos internos e deve, pelo contrário, procurar desenvolver as
relações económicas, sociais e políticas com outros países do mundo.
Com este objetivo, a UE celebra com os «países não membros» da UE (os chamados
países terceiros) e com outras organizações internacionais acordos de direito
internacional.
O Tribunal esclarece que aplica a CVDT, mesmo a união não sendo membro, devido ao
caracter consuetudinário geral das duas normas, adotando uma visão monista ao contrário
da predominância da posição dualista que encontramos nos Estados-membros.
Os Tribunais consideram ainda que apesar de não fazer parte a União se encontra
vinculada à Carta das Nações Unidas, devido a todos os membros serem partes.
TFUE: 217º A União Europeia tem a possibilidade de celebrar Tratados pela União com
terceiros; Tratados celebrados pelos Estados membros entre si ou com terceiros e ainda
Atos de organizações internacionais.
o Acordos de associação
JURISPRUDÊNCIA
A Jurisprudência do Tribunal de Justiça tem uma grande relevância por alguns fatores
que levam à sua intervenção no desenvolvimento do Direito:
1. Carácter vago dos Tratados e rigidez das regras de divisão o que leva o TJ a
aprofundar os Tratados, tendo criado assim os princípios
2. Panóplia de meios contencioso e da diversidade de matérias que tem de intervir
3. Paralisia dos órgãos de decisão tornando o TJ o motor da integração jurídica.
DIREITO CONSUETUDINÁRIO
O direito consuetudinário também faz parte das fontes não escritas do direito da União e
pode definir-se como o direito que nasce da prática e da convicção jurídica e que completa
ou altera o direito primário ou o derivado.
2. Validade de qualquer ato das instituições da União só poder ser apreciada à luz
dos Tratados da União e não do comportamento real ou da vontade da instituição
de criar relações jurídicas.
Em consequência, e de acordo com os Tratados, o direito consuetudinário não pode de
forma alguma ser estabelecido pelas instituições da União, mas só eventualmente pelos
Estados-Membros e apenas em conformidade com os rigorosos critérios já mencionados.
O direito europeu é aplicado tanto pelos tribunais nacionais quanto pelos tribunais
europeus.
Tribunais nacionais são os tribunais comuns da UE, os tribunais que mais aplicam o
direito europeu.
− Independência.
− Caráter obrigatório da sua jurisdição.
− Natureza contraditória do processo.
− Talante jurisdicional da decisão.
− Aplicação de normas jurídicas.
Tribunais arbitrais por via de regra estão excluídos, exceto se foram obrigatórios naquele
processo. Autoridades administrativas estão excluídas.
Competente para:
1. Responder a questões colocadas por tribunais nacionais sobre a interpretação dos
Tratados (direito europeu primário);
2. Responder a questões colocadas por tribunais nacionais sobre a interpretação ou
validade de Direito europeu secundário.
3. Pode até interpretar atos europeus não vinculativos, na medida em que sejam
relevantes para o esclarecimento de Direito europeu.
4. Não tem competência para interpretar nem aferir a validade de atos nacionais.
Mas pode esclarecer se uma norma nacional, tal como apresentada (e interpretada
pelo tribunal nacional), é compatível com o Direito europeu.
Em todos os outros casos, o reenvio é facultativo: “se considerar que uma decisão sobre
essa questão é necessária ao julgamento da causa”.
Efeitos: assume a forma de uma sentença, obriga o órgão jurisdicional que introduziu o
pedido de decisão a título prejudicial, assim como as outras instâncias envolvidas no
litígio. Acresce que, na prática, os reenvios prejudiciais funcionam como precedentes que
têm também consideráveis efeitos sobre outros processos similares.
Fase contenciosa:
• Ação por incumprimento: faz-se medidas. EM deve tomar as medidas necessárias
para se conformar sem demora com o direito da União. Declaração de
incumprimento.
• Estado não as adota.
• 2ª ação por incumprimento (incumprimento do acórdão). Imposição de sanções.
• Certeza de que de facto o estado sabia que havia uma violação e uma obrigação,
o que legitima que sejam já aplicáveis sanções pelo tribunal para punir e compelir
aquele estado a respeitar o direito europeu:
− Coima: principalmente punitiva; e/ou
− Sanção pecuniária compulsória. Montante diário que o estado tem de
pagar enquanto não cumprir o direito da UE. 260º TFUE.
Resolve o problema para o futuro, mas não remedia nada no passado (particulares
prejudicados por exemplo).
Podem ser contestadas todas as medidas das instituições que produzam efeitos jurídicos
vinculativos que interfiram com os interesses do queixoso através de uma intrusão no seu
estatuto jurídico.
O recurso pode ser interposto por todas as instituições, na medida em que se
queiram opor a uma violação dos direitos que lhes foram conferidos.
Os cidadãos e as empresas só podem interpor recurso de anulação contra
decisões de que sejam destinatários ou contra decisões que, embora dirigidas a terceiros,
lhes digam direta e individualmente respeito. O TJUE diz que uma pessoa só pode ser
individual e diretamente destinatária de uma decisão se a mesma a individualizar de uma
forma que a distinga de todos os restantes agentes económicos.
As ações populares também estão excluídas.
Outra via que não a deste artigo: atos individuais são atos nacionais que podem ser
contestados em tribunal nacional. Depois há de ocorrer reenvio prejudicial.
AS QUATRO LIBERDADES
Acórdão Schul, 5 de maio de 1982, definiu Mercado Comum como sendo “a eliminação
dos entraves às trocas intracomunitárias tendo em vista a fusão dos mercados nacionais
num mercado único que funcione como se fosse um mercado interno”.
Este Ato continha 12 ações fundamentais que as instituições da UE deviam aprovar sem
demora. Estas ações centravam-se nos quatro principais motores do crescimento, do
emprego e da confiança:
• redes integradas;
• mobilidade dos cidadãos e das empresas além-fronteiras;
• economia digital e;
• ações suscetíveis de reforçarem a coesão e os benefícios para os consumidores.
Conclusão: o mercado interno está praticamente alcançado, o que se faz neste momento é
procurar formas para o aperfeiçoar.
A noção de “mercadorias” não foi explicada no Tratado, mas resulta do próprio texto que
esta é uma expressão em sentido amplo, incluindo os produtos industriais, os produtos
agrícolas e as pescas – TFUE: 38º/1. Abrange todos os bens físicos, com exceção
daqueles que estão abrangidos por outras liberdades de circulação (ex: as moedas com
curso legal estão regidas pela liberdade de capitais e de meios de pagamento).
Esta proibição precisa e essencial à concretização do Mercado Interno tem exceções que
devem ser interpretadas restritivamente:
• Exceções do TFUE: 36º
• Impostos internos não discriminatórios em função da origem dos bens TFUE:
110º
• Outros encargos permitidos por fontes de direito internacional
• Encargos proporcionalmente correspondentes a uma prestação efetivamente
realizada pelas autoridades do Estado-membro, designadamente quando o serviço
prestado seja exigido pelo DUE (ex: despesas reais com o desalfandegamento).
TFUE: 34º: as restrições quantitativas são muito mais limitadoras das trocas comerciais,
do que os direitos aduaneiros. Exemplo de restrição quantitativa: proibir a entrada de um
determinado bem numa determinada quantidade.
TFUE: 34º e 35º têm efeito direto, podem ser imediatamente invocadas perante as
autoridades públicas, incluindo os tribunais.
TFUE: 36º prevê situações de exceção aos artigos 34º e 35º. Desde que estes valores se
encontrem em perigo, de forma proporcional e necessária, poderão justificar-se medidas
restritivas ao comércio entre os Estados-membros.
è As medidas não podem constituir um meio de discriminação arbitrária ou uma
restrição dissimulada ao comércio entre EM’s.
è As medidas devem ter um efeito direto no interesse geral que visam proteger.
è As medidas não podem exceder o nível necessário – princípio da
proporcionalidade.
Ato Único Europeu, de 1986, introduziu a liberdade de circulação das pessoas como
objetivo a alcançar para a concretização plena do Mercado Interno, estendendo o processo
de integração europeia a outros domínios, para além do estritamente económico.
45º/1 tem efeito direto – Acórdão Yvonne van Duyn c. Home Office, 4 de dezembro de
1974.
social aplicável aos trabalhadores, o que significa que o estatuto de trabalhador ≠ conceito
mais amplo de cidadão da União.
O trabalho prestado deve ser real e efetivo, mesmo que de curta duração ou a tempo
parcial, mas não meramente acessório, independentemente de os rendimentos auferidos
atingiram o mínimo de subsistência previsto pelo Estado de acolhimento, do lugar da
residência do trabalhador e da natureza e duração do vínculo contratual existente –
Acórdão Franca Ninni-Orasche, de 6 de novembro de 2003.
O 45º/3 representa situações em que certas pessoas poderão ser impedidas de exercer o
seu direito fundamental por um daqueles motivos, porém, essas razões devem ser
interpretadas restritivamente. Quanto ao limite saúde pública, não vigora um regime
uniforme na União, tentou-se prever uma lista de doenças que impedem a entrada no
território de um Estado-membro, mas isso não servirá de muito se a doença tiver sido
contraída após a entrada no território nacional, por isso, a Prof. Maria Luísa Duarte
defende a supressão desta causa de restrição da liberdade de circulação. Quanto aos
limites ordem pública e segurança jurídica, o fundamento deve ser exclusivamente o
comportamento pessoal do indivíduo em casa – Acórdão Roland Rutili o TJ afirmou que
o comportamento tem de constituir “uma ameaça grave e atual a interesses fundamentais
da comunidade nacional” e que os Estados não podem invocar esta reserva por motivos
económicos.
O Tratado de Roma de 1957 que criou a CEE que previu a concretização do Mercado
Interno e, com isso, da liberdade de circulação de serviços – além das liberdades de
circulação de trabalhadores e de capitais, bem como a de circulação de mercadorias.
Derrogação:
Em conformidade com o TFUE, as disposições relativas à liberdade de estabelecimento
e de prestação de serviços não são aplicáveis às atividades que estejam ligadas ao
exercício da autoridade pública (artigo 51.º do TFUE).
Também é possível ter um regime especial para os estrangeiros, que se fundamente em
razões de ordem pública, segurança pública e saúde pública (olá covid) (art.52.º/1 TFUE).
TFUE: 63º Todas as restrições aos movimentos de capitais e aos pagamentos entre EM’s
ou entre EM’s e países terceiros são proibidas.
Movimentos de capitais com países terceiros: 64º/1 e 3, 65º/4 e 66º TFUE
TFUE 65º: também prevê restrições que podem ser invocadas no seio da UE (Grécia e
Chipre fizeram-no na crise das dívidas soberanas).
• Convergência das taxas de juro: devem possuir uma taxa de juro nominal
média com desvio inferior a 2% em relação à média dos EM’s com
melhores resultados.
• Estabilidade cambial: permanência no Sistema Monetário europeu durante
pelo menos 2 anos, sem desvalorização da taxa central bilateral.
• Situação orçamental: garantir que as finanças públicas são sólidas e
sustentáveis – o défice orçamental inferior a 3% do PIB e dívida pública
total abaixo de 60% do PIB.
A UEM vem completar o Mercado Único e, simultaneamente, a sua viabilidade depende
do sucesso deste. Vantagens:
• Estabilidade de preços
• Finanças públicas saudáveis e estabilidade económica
• Ganhos de senhoriagem
• Fim da especulação cambial
• Economia de reservas cambiais
• Reforço do papel internacional da UE e do próprio Euro
• Eliminação dos custos de transação
• Transparência nos preços
• Estímulo ao comércio interno
Desvantagens:
• Convergência nominal não chega para assegurar a muito mais necessária
convergência real entre as economias
• Desaparecimento do instrumento taxa de câmbio e perda de lucros cambiais
• Desemprego
Protocolos anexos aos Tratados: Protocolo n.º 4 relativo aos Estatutos do Sistema
Europeu de Bancos Centrais e do Banco Central Europeu; Protocolo n.º 12 sobre o
procedimento relativo aos défices excessivos; Protocolo n.º 13 relativo aos critérios de
convergência; Protocolo n.º 14 relativo ao Eurogrupo; Protocolo n.º 16, que contém a
cláusula de autoexclusão aplicável à Dinamarca;
DIREITO DA CONCORRÊNCIA
Poder de mercado: “capacidade de manter, de forma rentável, os preços acima dos níveis
concorrenciais durante um determinado período de tempo ou de manter, de forma
rentável, a produção, em termos de quantidade, qualidade e diversidade do produto ou de
inovação, abaixo dos níveis concorrenciais durante um determinado período de tempo”
à definição da CE.
Concorrência efetiva:
Será efetiva aquela concorrência que se traduza na ausência de poder de mercado. É
tutelada por eliminar as ineficiências resultantes do exercício do poder de mercado e o
Atividade económica:
1. Assunção do risco de empresa: sem receitas não é sustentável manter aquela
unidade económica.
2. Oferta de bens ou serviços no mercado em concorrência.
Como sabemos se tem efeitos nas trocas entre EM’s? Há uma presunção nesse sentido
quando a prática se estenda à totalidade do território internacional. Critério do efeito nas
trocas entre EM’s é definido pelo TJUE.
Será que também se pode aplicar os artigos 101º e 102º a comportamentos que ocorrem
fora do território dos EM’s?
Teoria dos efeitos: se existir um efeito qualificado e uma conexão substancial e genuína,
sim. Confirmado pelo acórdão Pasta de Papel I.
101º e ss:
101º:
Acordos, 101º/1: encontro de vontades entre, pelo menos, duas empresas.
Forma de manifestação não é importante, desde que constitua a expressão fiel das
mesmas.
Basta que tenham expressado a sua vontade comum de se comportarem no
mercado de forma determinada.
Assim, um simples “acordo de cavalheiros” pode constituir um acordo entre
empresas, apesar da sua natureza não vinculativa.
101º/1, a proibição dá corpo ao princípio segundo o qual cada agente económico deve
definir de forma independente a sua conduta no mercado. Dois requisitos para tal conduta
estar sujeita a esta proibição:
1. Ter como objetivo ou por efeito restringir a concorrência;
2. Comportamento seja suscetível de afetar o comércio entre Estados.
101º/1/a): não está em causa a fixação entre as partes das condições negociais, mas sim a
restrição da liberdade das partes quanto às condições que irão praticar no mercado junto
dos respetivos clientes.
102º:
Posição dominante à situação que lhe permite comportar-se de maneira largamente
independente em relação aos seus fornecedores, concorrentes e clientes, Acórdão United
Brands.
· Só há uma empresa com posição dominante em cada mercado.
· Presunção de dominância de uma empresa com uma quota de mercado33 a partir
de 50%.
Um acordo ser abrangido pelo 101º/3 não afasta uma possível aplicação do 102º.
Controlo de concentrações:
Concentração de empresas: alteração estrutural do mercado, mediante a integração de
duas ou mais empresas a um controlo comum, que pode ser unitário ou conjunto.
A construção de uma filial comum a 2 ou + empresas para o exercício de forma
duradoura de uma atividade económica também consiste numa concentração.
33
Devem ser calculadas em quantidade, recorrendo-se frequentemente ao valor das vendas. Quanto maior
for a quota de mercado de uma determinada empresa, maior o seu poder de mercado, ou seja, maior o
potencial de esta ter a capacidade de aumentar os preços acima do nível concorrencial.
AUXÍLIOS DE ESTADO
É a única área de direito da concorrência que é estritamente europeia (não existe direito
nacional dos auxílios de Estado).
Podemos então caracterizar o regime dos auxílios de Estado como um sistema de controlo
supranacional da atribuição de vantagens financeiras a empresas por entidades públicas,
sendo da responsabilidade da Comissão a implementação do sistema.
Podemos considerar que o regime tem uma forte componente política e alguma
insegurança jurídica, devido à margem de discricionariedade da Comissão para a
determinação do que são ou não auxílios.
TFUE: 107º Qualquer medida concedida pelo Estado que confira uma vantagem
económica aos beneficiários, suscetível de afetar as trocas comerciais entre os
EstadosMembros, concedida de forma seletiva, que favoreça o beneficiário e que falseie
ou ameace falsear a concorrência intracomunitária.
Estado é entendido para este efeito no seu sentido mais amplo, ou seja, o auxilio é
imputável ao Estado se for adotado por qualquer autoridade pública, ainda que
descentralizada, desconcentrada, com autonomia jurídica ou independência.
Exemplos: órgãos de soberania, órgãos da administração pública, central e local, e alarga
o âmbito mesmo para uma atuação indireta, através de intermediários, mesmo privados,
designados pelo Estado.
De acordo com o Acórdão do TJUE Altmark 2003 um auxílio ocorre quando "a
empresa beneficiária recebe uma vantagem económica que não teria obtido em condições
normais de mercado" (é o chamado critério do operador numa economia de mercado).
Estamos perante uma aceção lata de empresa, pública ou privada, que pressupõe que o
beneficiário desenvolve uma atividade que, de acordo com a jurisprudência que o
Tribunal de Justiça tem vindo a definir, se possa considerar de carácter económico, de
oferta de um bem ou serviço num mercado a vigorar em regime concorrencial.
É aqui que s auxílios se distinguem das medidas gerais, que apesar de também poderem
proporcionar vantagens competitivas e distorcerem a concorrência intracomunitária, se
aplicam uniformemente a todos os operadores.
EM. Normalmente, os apoios com efeitos em mercados de âmbito local não terão efeitos
nas trocas entre EMs, ainda que já tenham ocorrido exceções.
De acordo com o Acórdão Philip Morris de 1980 isto ocorre quando "um auxílio
financeiro concedido por um Estado ou através de receitas de Estado reforça a posição de
uma empresa relativamente a outras empresas concorrentes nas trocas comerciais
intercomunitárias"
Este critério tem sido criticado por ser funcional e pouco exigente (por exemplo nos casos
dos monopólios) mas ainda é o único critério aceite pela maioria da doutrina.
No cálculo do ESB dos auxílios a desembolsar em diversas prestações deve ser aplicada
a taxa de juro prevalecente no mercado aquando da concessão do auxílio. Para assegurar
uma aplicação uniforme, transparente e simples das regras em matéria de auxílios de
Estado é conveniente considerar que as taxas do mercado aplicáveis são as taxas de
referência. Estas taxas são periodicamente fixadas pela Comissão, publicadas no Jornal
Oficial da União Europeia e comunicadas aos Estados-Membros. Para além de serem
utilizadas no ESB estas taxas de referência são igualmente aplicáveis ao reembolso de
auxílios ilegais, auxílios não notificados e/ou não cobertos por nenhum enquadramento
regulamentar como o regulamento de isenção por categoria ou pelo regime de minimis.
constitui um auxílio de Estado e deve ser notificado à Comissão TFUE: 108º/3 sendo
lhe proibido adotar um novo auxilio sem confirmação da compatibilidade.
De acordo com o 108.º e 109.º do TFUE, a Comissão tem poderes para declarar certas
categorias de auxílios podem vir a ser consideradas isentas de notificação. Como os
auxílios a pequenas e médias empresas, os auxílios à investigação e desenvolvimento, os
auxílios à proteção do ambiente, os auxílios ao emprego e à formação, bem como os
auxílios que respeitem o mapa aprovado pela Comissão para cada Estado-Membro com
vista à concessão de auxílios com finalidade regional.
O Regulamento (UE) n.º 651/2014, que sucede ao Regulamento (UE) n.º 800/2008,
abrange assim as seguintes categorias de auxílios:
• Auxílios com Finalidade Regional;
• Auxílios às PME;
• Auxílios ao acesso das PME ao financiamento;
• Auxílios à investigação e desenvolvimento e à inovação;
• Auxílios à formação;
• Auxílios a trabalhadores desfavorecidos e trabalhadores com deficiência;
Auxílios à proteção do ambiente;
• Auxílios destinados a remediar os danos causados por certas calamidades
naturais;
Nestes casos os Estados-Membros podem conceder estes auxílios sem terem a obrigação
de notificar tão pouco a Comissão à posteriori. Os Estados-Membros devem contudo
assegurar um controlo dos auxílios concedidos, assegurar que os limiares e as normas
sobre cumulação são assegurados, podendo recorrer para o efeito um sistema baseado em
declarações ou, como no caso português, recorrer a um registo central.
Esta apreciação consiste, geralmente, em apreciar condições pré-definidas como os limiares das
intensidades de auxílios, com base nas orientações ou outro enquadramento aplicável, pelo que
se considera que neste caso se trata de uma apreciação
substancialmente mais superficial.
A nova metodologia para efetuar a apreciação dos auxílios de Estado é bastante mais
profunda do que a vigorava até então, assentando na análise de sete critérios económicos,
a saber:
• Contributo para um objetivo de interesse comum;
• Necessidade de intervenção do Estado;
• Adequação;
• Efeito de incentivo;
• Proporcionalidade do auxílio/limitação do auxílio ao mínimo necessário;
Efeitos negativos;
• Transparência.
Por contribuição para um objetivo de interesse comum entende-se uma medida de auxílio
claramente definida, que visa a prossecução de um objetivo de interesse comum em
conformidade com o nº 3 do artigo 107.º do TFUE.
No que diz respeito à necessidade de intervenção do Estado procura-se acautelar que a medida de
auxílio de Estado propõe corrigir uma situação, como por exemplo, uma falha de mercado, ou
uma qualquer outra situação em que o mercado deixado a si mesmo, não seria capaz de corrigir e
por conseguinte, a medida de auxílio de Estado visa uma melhoria
do mercado no seu todo.
A medida de auxílio deverá ainda garantir a adequação da mesma, ou seja, garantir que se trata
do instrumento político mais adequado para atingir o já mencionado objetivo de
interesse comum.
É ainda exigido à medida de auxílio que possua um efeito de incentivo, que altere o
comportamento da(s) empresa(s), criando e diversificando as atividades, o que não teria
ocorrido da mesma forma na ausência do auxílio.
O critério da prevenção de efeitos negativos visa limitar as distorções da concorrência e das trocas
comerciais entre Estados-Membros ao mínimo indispensável, ou seja, os efeitos negativos dos
auxílios são suficientemente limitados, para que, numa ponderação entre os efeitos positivos e os
efeitos negativos, o balanço global da medida seja
claramente positivo.
Por fim, as medidas deverão garantir a transparência do auxílio, todas as informações e atos
relevantes da medida deverão ser do conhecimento público e encontrar-se facilmente acessíveis
aos Estados-Membros, à Comissão, aos operadores económicos e o público em
geral.
Esta metodologia que tem subjacente uma abordagem económica na apreciação da
compatibilidade dos auxílios de Estado continua o processo de simplificação e modernização dos
aspetos processuais do controlo dos auxílios de Estado, que se vinha
afirmar nos últimos anos numa lógica de “menos auxílios, mais bem centrados”.
A TAP Air Portugal, que faz parte do grupo TAP, controlada em última instância pela
Transportes Aéreos Portugueses SGPS S.A. («TAP»), é uma companhia aérea de grande
dimensão a operar em Portugal. Com uma frota de 105 aviões, a TAP Air Portugal serviu
em 2019 95 destinos em 38 países, transportando mais de 17 milhões de passageiros a
partir da sua principal plataforma, Lisboa, e de outros aeroportos portugueses para vários
destinos internacionais.
A TAP não é elegível para receber apoio ao abrigo do Quadro temporário da Comissão
relativo aos auxílios estatais, destinado a apoiar empresas que de outro modo seriam
viáveis. Por conseguinte, a TFUE: 107º/3 c) Comissão avaliou a medida ao abrigo das
suas Orientações relativas aos auxílios estatais de emergência e à reestruturação,
que permitem aos Estados-Membros apoiar empresas em dificuldade, desde que as
medidas de apoio público sejam limitadas no tempo e no âmbito e contribuam para
um objetivo de interesse comum.
Os auxílios de emergência podem ser concedidos por um período máximo de seis meses
para dar a uma empresa tempo para encontrar soluções numa situação de emergência.
Em especial, as autoridades portuguesas comprometeram-se a que a TAP reembolsará o
empréstimo ou apresentará um plano de reestruturação no prazo de seis meses, a fim de
assegurar a viabilidade futura da empresa.
O TJUE considerou recentemente que a decisão pouco fundamentada, pelo que anulou a
decisão que aprovou os auxílios, sem efeitos suspensivos. Cabe agora à Comissão
apresentar novos elementos.
Contexto
Quando são aplicáveis as regras dos auxílios estatais, os EM’s podem conceber uma
grande diversidade de medidas de auxílio para apoiar as empresas ou os setores afetados
pelas consequências do surto de coronavírus que sejam compatíveis com a moldura
legislativa dos auxílios estatais da UE. Em 13 de março de 2020, a Comissão adotou uma
Comunicação relativa a uma resposta económica coordenada ao surto de COVID-19,
onde estabelece estas possibilidades. A este respeito, por exemplo:
• As regras em matéria de auxílios estatais baseadas no artigo 107.º, n.º 3, alínea
c), do TFUE, nomeadamente as Orientações da Comissão relativas aos auxílios
estatais de emergência e à reestruturação, permitem que os Estados-Membros
apoiem as empresas (incluindo as empresas já em dificuldade antes de 31 de
dezembro de 2020) que enfrentam graves problemas de liquidez e dificuldades
financeiras associadas ao surto de coronavírus ou por ele agravadas e que
necessitam urgentemente de um auxílio de emergência.
• Os EM’s também podem compensar empresas ou setores específicos (sob a forma
de regimes) pelos prejuízos sofridos e diretamente causados por acontecimentos
extraordinários, como os causados pelo surto de coronavírus. É o que prevê o
artigo 107.º, n.º 2, alínea b), do TFUE.
• Estas medidas podem ser completadas por várias medidas suplementares, como
as previstas no Regulamento de minimis e no Regulamento geral de isenção por
categoria, que também podem ser imediatamente aplicadas pelos EM’s, sem
intervenção da Comissão.
Outros Casos: Apple Irlanda, Ryaner França e Holanda, Google