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Direito Constitucional II - Apontamentos

Direito Constitucional II (Universidade de Lisboa)

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DIREITO CONSTITUCIONAL II
AULA 1 – 18/02
ORDEM DOS CONTEÚDOS LECIONADOS:
História Constitucional Portuguesa
Constituição de 1976
• Identidade da constituição
• Organização do poder político
• Ordenamento (estruturas normativas) as fontes do Direito Constitucional

História Constitucional portuguesa


Divide-se em 2 períodos:
Séc. XII até 1820 - história pré-constitucional
Caraterizado em 3 matérias:
Fontes de Direito Constitucional, quais são ao longo dos séculos as
principais fontes que constituem o ordenamento constitucional?
Instituição político-constitucionais (a aprofundar em História do Dto
português).
Momentos principais político-constitucionais desde o séc. XII até ao séc.
XIX, onde se deteta momentos de fenómeno constitucional:
(1) - Proclamação e reconhecimento da independência nacionais,
correspondem a 1128, batalha de S. Mamede, onde já existia uma
consciência nacional. Distinto na Península Ibérica pela cultura,
língua, governo próprio e localização geográfica.
Há uma nação que quer ser um Estado no contexto da respública
cristã europeia, tendo o papa como autoridade suprema. Em 1179
o papa reconhece a independência de Portugal, o que significa
uma subordinação a Roma, ou seja, o rei português é rei no
contexto da subordinação ao papa. Significa também que, a partir
de 1179, Portugal é independente no contexto internacional,
passa a ser um Estado no contexto internacional
(2) - D. Afonso II e a construção do Estado:
Foi o 1º rei que publicou leis gerais do reino, ou seja, em
1211, veio editar o primeiro conjunto de leis para todo o
território.

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Compete ao rei o exercício do poder legislativo, é uma


prerrogativa do rei para todo o território nacional.
Dentro das leis há 2 preocupações:
Administração da justiça – passa pela existência de
juízes do rei que administra a justiça em todo o
território. A justiça estava disseminada pelas
autoridades eclesiásticas e pelas autoridades
senhoriais. D. Afonso altera isto, passando ele a
exercer a administração da justiça. Os juízes
nomeados pelo rei aplicavam a lei do rei, dando-se
uma centralização do poder. (Em 1211, mesmo
século da proclamação da Magna Carta, que limitava
os poderes do rei, vendo uma divergência entre o
Reino Unido e Portugal).
Política das inquirições e confirmações - o rei
resolve saber a quem pertencem as propriedades.
Houve um período de guerra civil em que se opôs às irmãs,
devido ao testamento do pai (D. Sanches I) que dava vários
castelos às irmãs, o que resultou com que elas afirmassem
que eram donas das propriedades em redor. Pela primeira
vez, o rei promete indemnizar os danos recorrentes da
guerra civil, ou seja, pela primeira vez que uma entidade
pública reconhece a responsabilidade civil do Estado. (ver
estudos em homenagem ao Prof. Martim Albuquerque)

(3) - Deposição de D. Sanches II (1245): era o filho de D. Afonso


II, ele é deposto pelo Papa, sendo afastado da governação. É
uma manifestação clara da superioridade do Papa, da
subordinação do rei ao Papa. O rei é afastado do poder com um
argumento: “tu não garantes a justiça, há injustiças no teu reino e
tu nada fazes, e um rei que não garante a justiça não tem
condições para continuar a exercer o poder”. INSPIRAÇÃO DE
SANTO AGOSTINHO (REVER). Quem substitui o rei é o irmão,
Duque de Bolonha, o futuro D. Afonso III. Este governante vai
assumir, em Paris, um compromisso perante o Papa, em que se
comprometeu a garantir a justiça, dando-se uma auto
subordinação.

(4) - As cortes de Leiria (1254). Pela 1º vez há prova que as


cortes não contam só com a nobreza e o clero, contam com a
legitimidade democrática do exercício do poder

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(5) – Tratado de Alcalizes (1297), tratado celebrado em Portugal


entre Portugal e Castela, para delimitar a fronteira portuguesa,
sendo celebrado no final do sec13 e ainda hoje estando em vigor.
Portugal tem das fronteiras mais antigas e estáveis
ART. 5º - TERRITÓRIO: abrange o território historicamente
definido: referindo-se ao Tratado de Alcalizes.

(6) – Morte de D. Fernando (1385), a sua sucessão e as cortes de


Coimbra de 1387. As cortes podem afastar o sucessor hereditário
(D. Beatriz) e escolher um novo rei. Legitimidade democrática na
escolha do rei. Decidiram não só afastar a rainha legítima como
afastar os filhos legítimos de D. Fernando, escolhendo o filho
bastardo de D. Pedro I. Dá-se o momento de formação da
dinastia de Avis. O povo e a burguesia passam a ter maior peso
nas decisões políticas do país.

(7) – Início da expedição a Ceuta. A conquista de Ceuta é


importante porque dá a definição de uma estratégia política
nacional, “no continente europeu não podemos crescer mais”
dando-se início à expansão ultramarina durante séculos,
começando com o norte de África, arquipélagos, Golfo da Guiné,
o Oriente, o Brasil e por fim o cenário do Mapa cor de rosa com
Moçambique e Angola (terminando em 1974, com o fim do
salazarismo).

(8) – Reunião em Torres Novas (1438) umas cortes para resolver


a questão de sucessão de D. Duarte, o seu filho D. Afonso V é
menor. Quem substitui o rei? Formam-se dois partidos, um
apoiando a rainha D. Leonor, no testamento do marido ela é
nomeada regente. Outros apoiam o Infante D. Pedro, dando-se
uma guerra civil. As cortes de Torres Novas resolveram isto pelo
regimento do reino, que define regras através das quais a viúva e
o irmão mais velho do rei se devem relacionar, há ações que só
se podem praticar com o consenso de ambos, outras em que o
consenso não é necessário. Dá-se então a 1ª constituição oficial
portuguesa.
Não teve sucesso, a rainha foi afastada, p irmão subiu ao poder,
não correu bem, o filho reivindicou o poder, houve uma guerra
civil que resultou na morte de D. Pedro
(9) – Inquisição em Portugal (1536). Aparece como um
condicionante da liberdade na defesa da pureza dos princípios
religiosos. Foi em Portugal habilmente explorada pelo rei,

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centralizando no poder régio. Só foi abolida no séc. XIX, em


consequência da Revolução Liberal.

(10) – Está em causa a sucessão do Cardeal D. Henrique,


sucessor de D. Sebastião (1580), que não teve filhos. As cortes
de Tomar vão afastar os pretendentes portugueses ao trono,
escolhendo o rei de Castela. Escolhem D. Filipe II, assumindo um
conjunto de compromissos perante as cortes portuguesas, como
garantir a independência do país, permitindo a não participação
de Portugal em guerras exclusivas a Castela, e mais importante,
Portugal passa a ser uma união pessoal, visto que é
independente, mas tem a mesma autoridade régia de outro pais

(11) – Restauração da independência (1640), fim da Dinastia


Filipina. Os reis castelhanos não cumpriram a promessa, então as
cortes de Lisboa podem destituir o rei. Elas legitimaram a
restauração da independência declararam D. João IV, iniciando a
Dinastia de Bragança.

(12) – Deposição de D. Afonso VI (1667). Alegadamente, tinha


uma deficiência mental, logo, o irmão diz que não deve reinar. O
Infante D. Pedro afasta o irmão e aprisiona-o no palácio de Sintra
e mais tarde nos Açores. D. Pedro acaba por anular o casamento
de D. Afonso VI, e casa com a recém-divorciada esposa. Com a
morte de D. Afonso VI, o Infante D. Pedro torna-se D. Pedro II.
Neste período, a mulher do rei toma comando quando o rei não é
capaz.

(13) – Reinado de D. Maria I (1778). Coloca-se a questão, será


que deve existir um código que regule o direito publico?
(14) – Data da partida da família real Portuguesa para o Brasil
(1807), sendo que o centro político de um país europeu é
deslocado para ultramar pela primeira vez, até 1821.

(15) – Súplica da constituição (1808), portugueses dirigem se a


Napoleão pedindo que este outorgue uma constituição para
Portugal.

(16) – O Brasil é elevado a reino (1815), dando-se uma união real.

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AULA 2 – 19/02

Quais são as fontes de Dto Constitucional entre o séc. XII e XIX?


(1) Leis fundamentais do reino – Constituição histórica portuguesa, são as
normas predominantemente consuetudinárias que regiam as instituições
políticas. Materializam-se essencialmente em 3 grupos de normas:
Atas das Cortes de Lamego – duvida-se a sua existência, teriam sido
reunidas no reinado de D. Afonso Henriques e delas teriam resultado as
traves mestras da regência portuguesa e permite o povo revogar o rei.
Têm relevância porque elas passam a existir mesmo que não tenham
existido nas Cortes de Lisboa de 1641, nas quais as atas de Lamego
passam a ter existência jurídica relevante para a nomeação do rei.
Leis que produzidas em cortes a partir de 1641 passaram a alterar as
regras das Cortes de Lamego - as leis positivas que alteraram as leis
fundamentais.
Costumes – fontes de natureza consuetudinária.

(2) Atos jurídicos unilaterais do rei


Importância dos testamentos – foi graças aos testamentos que a
natureza hereditária da monarquia foi mantida
Cartas de regência – quando o rei estava ausente, através de uma carta
de regência nomeava um substituto
Certas declarações do governante, sublinhando a declaração de Paris
de Bolonha
Forais – cartas de privilégio que o rei concebia a determinadas
localidades e tinham conteúdo constitucional, como a isenção de certos
impostos

(3) Assentos das cortes – decisões tomadas em corte com natureza


constitucional, como os assentos das Cortes de Tomar de 1580 que
proclamaram o rei Filipe II de Espanha, rei de Portugal.

(4) Atos jurídicos bilaterais – o mais importante é o contrato de casamento


entre D. Beatriz, filha de D. Fernando, com D. João I de Castela. Nele estavam
as cláusulas de sucessão do reino.

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Quais são os princípios gerais de Dto Constitucional (séc. XII ao


séc. XIX)?
Existem 6 princípios a sublinhar:
Origem divina do poder, por duas mediações diferentes:
Por mediação do Papa – presente no reconhecimento da independência
portuguesa de 1179.
Por mediação popular – tese democrática, visível nas Cortes de Coimbra
e nas Cortes de Tomar de 1580, ou nas Cortes de Lisboa de 1641.
Primado hierárquico normativo do Dto português interno – visível em 1211, na
lei de D. Afonso II, que tem uma lei que diz,” não são válidas as normas
contraias ao direito da igreja”, esta lei prova a supremacia do Direito português
sobre o canónico porque é uma lei do Estado, ele é que se está a vincular,
logo, pode futuramente desvincular-se. D. Pedro I introduz beneplácito régio:
atos jurídicos que direito canónico que não se sabe a certeza a sua fonte certa,
o rei define que só é aplicado em Portugal Direito canónico que o rei certificar,
ou seja, aprovar. Isto determina um controlo do direito canónico pelo direito
português.
Prevalência do Direito do Estado (expressão da vontade do rei) sob o dinheiro
senhorial e municipal. Esta prevalência é desde logo clara em 1211, onde o rei
nomeou os juízes, e ocorre até ser reforçado pelas ordenações afonsinas,
depois manuelinas, por filipinas e por último o Marquês de Pombal, pela lei da
boa razão, liquidando o costume e submetendo o à lei do Estado.
Prevalência da vontade do rei sobre a lei positiva – o rei era na expressão das
ordenações era lei animada sobre a terra, ou seja, o rei está acima da lei, faz a
lei, mas não está submetido à mesma. Nenhuma lei obriga o rei a não ser que
ele o entenda. Limites, porém:
• o rei não podia só por si alterar as leis fundamentais, pois para o
fazer tinha de convocar cortes, o que demonstra a natureza
constitucional das leis fundamentais.
• o rei tinha de salvaguardar os direitos adquiridos – só por razões
excecionais o rei podia pô-los em causa, sendo sempre uma
destas duas: expropriação com indemnização ou tipo
sancionatório com sanção aplicada ao titular de direito.
Os ofícios públicos, ou seja, os servidores públicos, estavam subordinados à
legalidade, o que é patente a partir do séc. XVI.
Princípio da discriminação pessoal aplicativa da lei – a lei não é igual para
todos, as penas para o mesmo crime variavam consoante a categoria social do
infrator. Em 1820 assim surge a revolução liberal para combater este princípio,
caso não exista uma explicação racional.

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Instituições político-constitucionais
Poder real e a ideia em torno do poder real como resposta a 3 perguntas:
• Qual o fundamento do poder real?
• Quis os limites ao poder do rei?
• Quais as formas de exercício do poder real?
Cortes:
• Quem está representado em corte?
• Quem tem assento nas cortes?
• Qual a natureza dos seus poderes, o poder das cortes é um poder
consultivo ou um poder de natureza deliberativa? Podem impor
soluções ao rei?
• Sobre que matéria sé que as cortes podem intervir?
o Leis fundamentais
o Quebra de moeda, ou seja, a desvalorização da moeda
o Feitura da guerra

Fim da história pré-constitucional - História constitucional


portuguesa
O tema da Revolução Liberal de 1820 suscita no caso português duas dúvidas:
A Revolução Liberal que ocorreu foi motivada por razões ideológicas ou a
Revolução Liberal foi ditada em Portugal pelas circunstâncias políticas
concretas do país?
• A família real portuguesa estava no Brasil, e apesar de terem
fugido de Portugal por causa de Napoleão, este já estava
derrotado, mas a família não regressava;
• Portugal tava ocupado pelo Reino Unido que os tinha socorrido
nas invasões francesas, estando Portugal numa situação colonial
face ao Reino Unido.

Há dois tipos de distinção de constituições:


➔ Natureza do regime que permite diferenciar entre constituições
monárquicas e republicanas:
Monárquicas – Constituição de 1822, Carta Constitucional de 1826 e a
Constituição de 1838.
Republicanas – Constituição de 1911, 1933 e 1976.

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➔ Oposição entre constituições liberais vs. intervencionistas de Estado


social:
Liberais – 1822, 1826, 1838, 1911 – apesar de serem liberais, a de 1822,
falava na mesma na importância de direito sociais (educação para ambos os
sexos) sendo a primeira a fazê-lo.
Intervencionistas – 1933 e 1976 – surgem na sequência do legado das
constituições liberais, não sendo uma distinção rígida, pois estão ligadas.

Momentos de sequência constitucional:


No período de 1820 a 2019 nem sempre existiu sequência entre constituições,
deu-se um interregno constitucional (não há uma constituição formal em vigor)
ou períodos que há uma relativização da força normativa da constituição.
Em 1821 são eleitas as cortes constituintes, que aprovam em 1821 as bases
da constituição vintista, bases essas que atuam como uma miniconstituição,
que tem os grandes princípios a que iria obedecer a feitura da constituição de
1822, tem os alicerces da futura constituição e começam logo a vigorar.
A constituição de 1822 tem várias particularidades:
• Demorou mais tempo a ser feita do que o tempo que esteve em
vigor.
• A constituição foi dominada por uma questão, a questão do Brasil:
qual o modelo de organização da constituição para o brasil? D
pedro devera regressar a Portugal?
• A 7 de setembro de 1822 o Brasil é independente, tendo em 1815
já sido considerado um reino. Isto fez com que a constituição, que
vigou depois, também em setembro, o tenha feito já
desatualizada.
• A Constituição teria de ser jurada pelo rei e pela rainha, algo que
ela não fez, o que significa que mal-estar entre o Parlamento e o
poder real começou logo no 1º dia da Constituição.
Em 1823, a Vila Francada termina a sua vigência – há o primeiro período de
interregno constitucional. O rei D. Miguel promete uma nova Constituição
inspirada na Carta Constitucional, inspirado no modelo francês de 1814, sendo
uma expressão da vontade do rei e não do Parlamento.
Em 1824, um movimento político liderado por D. Miguel de novo, a Abrilada,
reforça isto. Quem salva a situação são os ingleses, fazendo com que D.
Miguel seja exilado, e o rei fica, mas num momento de interregno
constitucional.
Com a morte de D. João VI, em 1826, coloca-se um problema de natureza
Constitucional: quem o sucede? Há duas teses que se formam na altura:

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• Infante D. Pedro, filho mais velho – apoiado por liberais. Ele era
imperador do Brasil, o que o classificava como impossível de ser
o sucessor, passando para o outro filho devido ao proclamado
pelas atas das Cortes de Lamego.
• Infante D. Miguel, filho seguinte – apoiado por absolutistas.
D. Miguel reconhece como rei D. Pedro IV, mas reconhece com base em duas
condições: D. Pedro IV elabora uma Carta Constitucional, outorgando esse
texto e abdicando do trono a favor da sua filha, D. Maria Vitória. E segunda
condição, o tio casaria coma sobrinha, ou seja, D. Miguel casaria com a filha de
D. Pedro IV.
Isto ocorre, entre 1826 e 1828 vigora esta carta, mas o rei não está em
Portugal, e quem exerce a regência é uma irmã de D. Miguel e D. Pedro. Em
1828, D. Miguel chega a Lisboa vindo de Áustria e é aclamado rei absoluto.
Entre 1828 e 1834 reina como rei absoluto, vigorando as leis fundamentais do
rei. Em 1832 D. Pedro IV, ou D. Pedro do Brasil, toma liderança da defesa dos
direitos da filha, desembarca em Portugal, há uma guerra civil que termina em
1834 na convenção Évora-monte. Há uma parcela que nunca reconheceu D.
Miguel como rei, os Açores, onde se situava a base das forças revolucionárias.
Em 1834, é reposta em vigor a Carta Constitucional de 1826, mas a vigência é
curta, durando até 1836 apenas. Nesse ano há um movimento político, o
Setembrismo, que representa a esquerda política liberal e é herdeiro do
vintismo. Aí, dá-se a Belenzada, uma contrarrevolução. Depois, é decidido criar
um diploma constitucional que seja um consenso das partes. É reposta a
constituição de 1822, mas como constituição flexível, que vigora até 1842. Aí,
Costa Cabral desencadeia um movimento de insurreição vitorioso e é reposta a
Carta Constitucional, tendo a terceira vigência até 1910, 5 de outubro, onde foi
derrubada a monarquia e foi implantada pela 1ª vez em Portugal uma
República.
Em 1911 é aprovada a constituição que vigora até 1926, com exceção a estes
momentos:
• Breve ditadura de Pimenta de Castro, em maio de 1915.
• Movimento de Sidónio Pais, em 1918. Sidónio publicou ditatorialmente o
decreto n.º 3997 de 30 de março de 1918, que significava uma rutura
com o anterior texto constitucional, já que veio a instituir uma orientação
presidencialista, antiparlamentar e acentuadamente autocrática na
República;
• Revolução Nacional, a 28 maio de 1926, que não abole a constituição
em vigor, mas torna-a flexível, o que deu a abertura para o fim da
República e, mais tarde, para a aprovação de uma Constituição que
institucionalizou a Ditadura Militar, ou ditadura salazarista, que perdurou
até 1974.
Entre 1916 e 1933 é o período da ditadura militar, sendo aprovada a
Constituição de 1933, que fica em vigor até 1974, 25 de abril, em que é

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derrubada a ditadura militar imposta pelo regime salazarista encabeçado por


António Oliveira Salazar.
Em 1976 é aprovada a atual constituição, que vigora até aos dias de hoje,
contando já com algumas revisões constitucionais, nomeadamente em 1986.

AULA 3 – 25/02
Diversas constituições portuguesas
Constituições monárquicas – 1822 a 1911
Têm 2 tipos de influência:
Constituição de 1822 – influência histórica interna, é influenciada pelas leis
fundamentais do reino e pelo constitucionalismo estrangeiro, como a
Constituição espanhola de Cabis de 1811 ou as constituições francesas.
Carta Constitucional de 1826 - Influência da Constituição brasileira de 1824 e
influência da Carta Constitucional francesa de 1814
Constituição de 1838 - A Constituição portuguesa de 1838 é um compromisso
entre a constituição de 1822 e a Carta Constitucional de 1826. Tem também a
influência espanhola, francesa de 1830 da revisão a que foi objeto a Carta
Constitucional de 1814, e da Constituição belga.

Estas constituições portuguesas têm em comum:


Todas elas são monárquicas.
Têm um sistema político assente numa relação entre 2 órgãos: rei e cortes.
Este relacionamento entre a legitimidade monárquica e democrática dá-se da
seguinte forma:
Constituição de 1822 - Dominada pelo peso das cortes por duas razões: o veto
do rei é meramente suspensivo, ou seja, o parlamento pode sempre impor a
sua vontade ao rei. As cortes em 22 não podem ser dissolvidas. Para além
disso, o governo era responsável politicamente perante as cortes. O
parlamento é unicameral.
Carta Constitucional de 1826 – O parlamento é bicameral à semelhança do
modelo britânico, com a Câmara dos Deputados eleita por sufrágio censitário, e
a Câmara dos Pares, câmara aristocrática, que correspondia à Câmara dos
Lordes britânica. Benjamin Constant é a inspiração do pensamento da Carta
Constitucional, pois a Carta é produto da vontade do rei, é o ato de graça do
rei. O rei é o eixo de toda a vida política, é encarregue do poder moderador que
está acima de todos os poderes, e é na Carta o órgão a quem compete o poder
residual que não cabe a nenhum outro órgão. O poder executivo pertence ao
rei e aos seus ministros e o governo só é responsável perante o rei. O veto do

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rei é um veto absoluto. O rei tem o poder de dissolver o parlamento. “Esta carta
é a mais monárquica das constituições monárquicas europeias” – Prof. Marcelo
Rebelo de Sousa.
Constituição de 1838 – É uma constituição compromissória, o que se observa
assim: ela é aprovada pelas cortes constituintes como a Constituição de 1822,
mas só se torna Constituição com a intervenção do rei, como na Carta
Constitucional de 1826, tendo aqui as duas vontades, a legitimidade
monárquica e democrática. Tem o espírito da monarquia orleanista. Não tem
nenhuma norma sobre o poder de veto, e por isso se pode questionar se afinal
o veto do rei era suspensivo ou absoluto. Foi interpretado desta forma: as leis
tinham sempre de contar com a sanção régia, mas como não havia na
Constituição nada que admitisse que as cortes podiam confirmar um diploma e
impô-lo ao rei, entendia-se que o silêncio constitucional do rei equivalia a uma
natureza absoluta do veto. Isto aproxima-se à Carta Constitucional de 1826.
Havia poder de dissolução das cortes. Não havia poder moderador, mas a
Constituição transferiu para o poder executivo do rei tudo o que a Carta de
1826 dizia que era poder moderador. Oliveira Martins, ao tratar da Constituição
transmite esta ideia: esta chamava-se constituição para agradar aos vintistas,
mas o seu conteúdo era mais próximo da carta para agradar ao Paço, ou seja,
ao rei. Tanto esta Constituição como a de 1828 vigoraram pouco tempo.

Carta Constitucional de 1826


Foi a única que foi objeto de revisão Constitucional (4 revisões): 1852, 1885,
1895, 1907. Só a de 1885 foi uma revisão constitucional, as outras foram
aconstitucionais.
O sistema de governo era um sistema de monarquia limitada, ou seja, o rei é o
eixo do sistema de governo, o governo é o governo do rei, e este governo não
é responsável politicamente perante o Parlamento. O poder executivo era
dominado pelo rei, e o rei tem sempre um papel decisivo. O sistema partidário
era um sistema bipartidário como uma cópia adulterada do sistema britânico,
funcionando da seguinte forma: no Reino Unido, forma governo quem ganha as
eleições, em Portugal ganha as eleições quem está no governo, o que significa
que entre 1836 e 1911 só houve uma vez em que o governo perdeu as
eleições, o ritmo de mudança de governos era acelerado (como o governo do
entrudo, que só durou o carnaval). O governo ganhava as eleições através da
cacicocracia, ou seja, havia um governo que estava em funções mas dizia-se
que estava gasto, o líder da oposição dizia isto ao rei e tentava convencê-lo,
assim, o rei demitia o governo que estava em funções e punha no governo o
líder da oposição, tendo um Parlamento que estava contra este novo governo.
O Primeiro-Ministro convencia que tinha de se dissolver as cortes, e enquanto
isso ocorria eram nomeados dirigentes locais, com poder económico, cuja
função era angariar votos para o governo, criando um Parlamento a favor do
mesmo.

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A partir de 1890 ocorrem as vicidências partidárias, ou seja, dos dois grandes


partidos passaram a surgir pessoas de fora dos partidos. Durante o período
que as cortes estavam dissolvidas, o governo aproveitava para legislar sobre
TODAS as matérias. Na Carta o poder legislativo estava confiado às cortes, e o
executivo legislava através de autorização legislativa (que não estava prevista
na Carta, mas criou-se um costume nesse sentido, e era inconstitucional) e
durante o período em que as cortes estavam dissolvidas o governo legislava
sobre todas as matérias através dos decretos ditatoriais, feridos de
inconstitucionalidade orgânica, visto que o governo invadia a esfera do
Parlamento. Estes decretos ditatoriais tinham várias particularidades:
Eram ramificados com a eleição do novo Parlamento, e como o novo
Parlamento era sempre afeto ao governo, sabia-se antemão que o que o
governo pretendia seria sanado depois.
A lei sanada chamava-se Bill de indemnidade, que tinha 2 propósitos:
sanar a inconstitucionalidade orgânica e isentar de responsabilidade os
membros do governo.
Os tribunais não tinham competência para fiscalizar a
inconstitucionalidade das leis, e porque estes diplomas tinham a
intervenção do rei, e entendia-se que os tribunais tinham sempre de os
aplicar.
As principais reformas legislativas em Portugal no séc. XIX foram feitas
por via de decreto ditatorial.

Nota sobre a Carta Constitucional de 1826: Teve vários períodos de


vigência:
➔ Entre 1826 e 1828;
➔ Ocorreu uma guerra civil que termina em 1834 na Convenção Évora-
Monte, é reposta em vigor a Carta Constitucional de 1826;
➔ A 1842, Costa Cabral desencadeia um movimento de insurreição
vitorioso e é reposta a Carta Constitucional, tendo a terceira vigência até
5 de outubro de 1910;
➔ 19 janeiro a 13 fevereiro de 1919.

SOBRE OS DIREITOS FINDAMENTAIS


➔ Em todas as constituições monárquicas observa-se esta a ideologia
liberal: propriedade, segurança, liberdade.
➔ A Carta Constitucional de 1826 tem os direitos fundamentais remetidos
para as últimas disposições, contrariamente à Constituição vintista, que
as tem nas primeiras disposições.

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➔ A Constituição de 1822 tem o esboço dos 1ºs direito sociais, em matéria


de instrução pública (acesso a ambos os sexos).
➔ A Carta Constitucional de 1826 consagra o princípio da irretroatividade
das leis.
➔ A Constituição de 1838 consagra pela 1ª vez a liberdade de reunião e de
associação e também é a 1ª constituição que consagra o direito de
resistência.

COSNTITUIÇÃO DE 1911
É também ela liberal, também ela assente na ideia de liberdade, segurança e
propriedade. É uma constituição assente em 3 bases:
➔ Descentralização
➔ Laicização (deve-se a Afonso Costa)
➔ Democratização

Quais as fontes da Constituição?


Para além das constituições anteriores há 3 fontes:
➔ Constituição brasileira de 1891, com influência em 3 momentos:
▪ A constituição portuguesa de 1911 é a 1ª constituição que
consagra a fiscalização da lei pelos tribunais, todos os
tribunais têm o dever de recusar a aplicação de normas
inconstitucionais, algo que ainda vigora até hoje (Art 204.º
da constituição atual);
▪ Prende-se com a figura do habeas corpus, perante uma
detenção ilegal poder ir a tribunal pedir a libertação da
pessoa, presente na tradição anglo-saxónica e presente na
constituição brasileira;
▪ Cláusula aberta em matéria de direitos fundamentais, ou
seja, os direitos fundamentais que estão na constituição
inscritos não esgotam a possibilidade de existirem outros
direitos fundamentais, ou seja, há mais do que aqueles que
resultam da constituição.
➔ Constituição suíça
▪ Introdução do referendo;
▪ Descentralização
➔ Influência francesa da 3ª república da Constituição de 1775
▪ Presidente eleito por sufrágio indireto;
▪ Instituição de um sistema parlamentar de assembleia
(existiram mais de 50 governos e só houve um presidente
que completou um mandato, António José de Almeida).

Inovações:

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➔ Regime republicano como sendo uma república democrática e laica;


➔ Diminuíram do papel do chefe de Estado, sendo o Presidente uma figura
decorativa, discutindo se sequer deveria existir. Esta diminuição
apresenta-se na eleição de sufrágio indireto, não tem poder de veto nem
poder de dissolução do parlamento
➔ Reforço dos direitos fundamentais
➔ Fiscalização judicial da constitucionalidade

Ocorreram várias revisões constitucionais:


➔ Em 1916 (Devido à Portugal na Primeira Guerra Mundial, tornou-se
possível darem condecorações militares)
➔ Em 1917/18 (em dezembro de 17 há um golpe de Estado protagonizado
por Sidónio de Pais, transitando para um sistema presidencialista em
que o Presidente era eleito por sufrágio direto. A revisão foi à margem
da constituição, procurando introduzir o elemento corporativo no
Parlamento, a Câmara alta do Senado passa a ter uma composição com
grupos de interesse corporativo. Esta vigência é curta, com a morte de
Sidónio Pais em 1918, volta-se a implementar a Constituição de 1911)
➔ 1919 a 1921 – Poder de dissolver o Congresso. Há um multipartidarismo
desorganizado (em 16 anos atuaram mais de 50 governos) o que leva à
instabilidade governativa, com 3 tentativas de controlo:
o 1915 – General Pimenta de Castro que assume um governo
ditatorial. Corre mal e o Presidente é obrigado a renunciar;
o 1917/18 – Sidónio de Pais;
o 28 de maio de 1926 – termo da vigência da Constituição na
totalidade, começa a Ditadura Militar, que teve o maior período de
interregno constitucional e uma grande influência na Constituição
atual.

AULA 4 – 26/02
Com o golpe de 28 de maio de 1926 começou a Ditadura militar, que teve dois
objetivos principais:
• Atender à instabilidade governativa (alteração rápida de governos);
• Encontrar como solução alternativa a presença dos militares a vida
política.

Traços caraterizantes do período histórico-político (1926 –


1933)
• Presidência ocupada por militares (isto ocorreu entre 1926 a 1986),
sendo que o 1º civil a ocupar a presidência foi Mário Soares;

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• Durante este período não existia Parlamento, portanto quem legislava


sobre todas as matérias era o governo, o que fez com que entre 1926 e
1935 o governo fosse o órgão normal e exclusivo para legislar;
• A Constituição de 1933 entrou logo em vigor, mas só em 1935 é que
começou a existir um Parlamento pois ocorreram as eleições para o
mesmo. Durante a vigência da Constituição, o órgão normal para legislar
era o governo, e esta alteração contaminou a Constituição. O governo
tinha 2 competências legislativas:
o O Parlamento podia delegar do governo poder legislativo;
o O governo podia legislar em casos de urgência e necessidade, ou
seja, sobre a cláusula da urgência e necessidade o governo podia
legislar sobre todas as matérias que bem lhe conviesse.
A partir de 1945, a verdade constitucional passou a corresponder àquela
comum entre 1935 e 1945, em que o governo abusava dos seus poderes
legislativos. Este modelo ainda hoje vigora em Portugal, sendo a nossa
constituição única no mundo. O nosso governo tem competência legislativa
concorrencial com o Parlamento, ou seja, sobre a mesma matéria tanto pode
legislar o governo como a Assembleia da República.
No período da ditadura militar, incapazes de lidar com problemas de finanças,
convidam o Professor de finanças da Universidade de Coimbra, António
Oliveira Salazar, para ser ministro das finanças, cargo que ele aceita com uma
condição: todas as medidas governamentais que envolvessem aumento ou
diminuição das receitas teriam de ser aprovadas pelo Ministro das finanças.
➔ Fenómeno político, alguém que não é chefe de governo passa a ter
peso decisivo no governo, e passa a ser o eixo de ação política
governamental. A 1932 passa a ser chefe de governo, deixando de o ser
a 1968 quando entra em coma por “cair de uma cadeira”.
➔ perspetiva jurídica: este poder de veto do ministro das finanças passa
para a Constituição de 1933 e a partir de 1974 todas as leis orgânicas
dos governos continuam a atribuir ao ministro das finanças o poder de
aprovar ou não as medidas financeiras que o governo aprova.
Em 1933, este elabora um projeto de constituição, sujeito a plebiscito. É
aprovado no mesmo ano e entra em vigor logo de seguida. Caraterísticas da
nova constituição:
• À semelhança dos anteriores textos constitucionais, tem fontes internas
(anteriores constituições, mas especialmente a Carta Constitucional de
1826 e a Constituição de 1911.) Procura um Presidente semelhante ao
rei da Carta. A Constituição de 1933 é contrária à de 1911, sendo uma
constituição antidemocrática, antiliberal, antiparlamentar e
intervencionista;
• Tem também fontes externas (Constituição alemã de 1971 quanto ao
sistema de governo e a Constituição alemã de 1919, a de Weimar);
• O poder político estava concentrado no Chefe de Estado,
semelhantemente a um sistema de Chanceler, o que demonstrava a

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influência externa das constituições alemãs. Este era eleito por sufrágio
direto, algo que até hoje se mantém.
• O Presidente concentrava em si o poder político, mas não o exercia,
delegava o poder e o Presidente do Conselho de Ministros é que o
aplicava, este Presidente escolhia os ministros e o Presidente da
República nomeava-os;
• Não havia responsabilidade política parlamentar perante o governo;
• O Presidente da República podia demitir livremente o Presidente do
conselho de ministros e nomear livremente um substituto, e este era
responsável apenas perante o Presidente da República.

Entre 1933 e 1974, só existiram 2 Presidentes do Conselho de Ministros.


Salazar estava à frente da União Nacional, que escolhia o candidato à
Presidência da República. Assim, em vez de ser o Presidente da República a
nomear o Presidente do Conselho de Ministros, era o contrário. A relação entre
o Presidente da República e o Conselho de Ministros alterou-se no tempo de
Salazar.
Em 1959, ocorreu uma revisão constitucional com um objetivo: mudar o método
de nomeação do Presidente, e a partir daí passava a ser eleito por sufrágio
indireto, por um colégio.

A constituição de 1933 tem 3 compromissos, constantes batalhas ideológicas:


➔ Liberalismo vs. Autoritarismo - A Constituição sanava a existência de
partidos políticos, mas não existiam porque precisavam de aprovação.
➔ República vs. Monarquia – a Constituição é de uma República, mas na
génese do Estado Novo está um agrupamento dos monárquicos contra
a 1ª República;
➔ Democracia vs. Nacionalismo – Aqui ocorrem 2 fenómenos: eleição do
Presidente da República por sufrágio direto, que vigora até 1959. Após
1959 (1965 e 1972) são eleições com um elemento ponderante não
democrático, o referido colégio de nomeações.

Inovações:
Ideia do Estado Novo (2ª República)
• Ideia de estabilidade governativa com um executivo forte;
• Estado social forte com intervenção cultural, social, entre outras;
• Estado em que a soberania não residia no povo, surge a inspiração
italiana fascista, visão individualista;
• Estado corporativo, estão representados os interesses socioprofissionais
ao lado da assembleia nacional, através da câmara corporativa (era
meramente um órgão consultivo que completava o sistema);

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• O sistema de governo era tudo aquilo que não era a Constituição de


1938.

Revisões constitucionais
Ocorreram 9 revisões em 5 momentos, sendo as seguintes as mais
importantes:
1945 – competência legislativa normal atribuída ao governo;
1959 – sufrágio indireto como processo de nomeação do Presidente da
República;
1971 – protagonizada por Marcello Caetano. Caraterização do Estado
como Estado unitário regional – as “províncias ultramarinas” passam a
ser regiões autónomas.

NOTA: Atualmente, o Primeiro Ministro encontra-se no eixo da vida política e


não o Presidente. Isto ocorre, pois, o sistema político português está assente
num presidencialismo do Primeiro Ministro. Será influência do modelo britânico
ou será que esta centralidade do Primeiro Ministro será influência da
Constituição de 1933, tendo continuidade com a raiz histórica portuguesa?

Em 1974, houve o movimento dos capitães, que pôs em causa a vigência da


Constituição, permanecendo na mesma em vigor, acabando então esta
vigência apenas no Ultramar. A guerra ultramarina surge no contexto da 2ª
vaga de descolonizações mundial, que ocorreu principalmente no continente
africano, colocando em causa a ligação dos terrenos de Angola e Moçambique
a Portugal. As colónias não eram denominadas de colónias, mas sim
províncias ultramarinas, com uma conceção de Estado unitário. Este título era
meramente uma fachada no esquema de apresentação internacional.

Houve um período revolucionário entre 1974 e 1976, iniciado com o 25 de abril


de 1974. Este período teve as seguintes caraterísticas:
• Pluralidade de leis constitucionais, o que significava que os órgãos
revolucionários iam publicando leis de natureza constitucional a par da
constituição de 1933;
• Tensões permanentes entre poder militar e civil, visto que o poder militar
até à data estava altamente envolvido no poder político, algo que agora
estava acessível aos cidadãos;
• Legitimidade revolucionária dos militares em confronto com a
legitimidade dos poderes políticos, sobretudo quando se realizaram as

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eleições para a Assembleia Constituinte em 2 de abril de 1975. A 1975,


o Conselho da Revolução era um órgão de tutela do governo e do
Parlamento, que vigora até 1983.
• Ocorreram 2 alterações político constitucionais importantes, ambas
protagonizadas sob o encargo de governos provisórios:
o Descolonização – o processo de expansão ultramarina que
começou em Ceuta e termina aqui;
o Alteração do sistema económico, dão-se nacionalizações de
matriz marxista.

Génese da Constituição de 1976


➔ Assembleia Constituinte sem poder legislativo, este poder está nos
órgãos revolucionários;
➔ A RFA impõe compromissos, duas plataformas de acordo constitucional
com 2 objetivos: limitar os poderes da Assembleia Constituinte e impor a
presença dos militares.

Influências da Constituição de 1976


• Constituição de 1933
• Constituição alemã de 1949
• Constituição alemã de 1947
• Constituição jugoslava de 1974

Modelo da base da Constituição de 1976 está assente em 4 ideias:


➔ Afirmação do partido socialista e construção de uma sociedade sem
classes;
➔ Conflito entre a legitimidade dos revolucionários e a dos partidos
políticos;
➔ Elenco amplo de direitos fundamentais;
➔ Tensão entre os militares e o poder civil, visível em 2 situações:
o permanência do Conselho da Revolução;
o Cláusula militar implícita para a nomeação do Presidente da
República.

NOTA FINAL - Existiram até hoje 7 revisões constitucionais. No seu


conjunto, tiveram 3 objetivos:
1982 – retirar a componente militar, extinguir o Conselho da Revolução, criando
o Conselho de Estado e o Tribunal Constitucional.
1982/1989 - Desmarxisar a Constituição.

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Integração de Portugal no contexto da União Europeia.

AULA 5 – 04/03
Constituição de 1976
Iremos falar de 3 blocos de matéria:
• Identidade constitucional;
• Organização do poder político;
• Estruturas normativas.

Identidade Constitucional
Quais são os traços caraterizadores da identidade
constitucional?
Identidade quanto aos valores (axiológica)
Todas as constituições traduzem sempre uma ordem de valores. Mesmo as
constituições liberais, que são de reduzidas normas, têm uma ordem de
valores: o Estado não deve intervir, daí haver poucas normas escritas. A ordem
de valores carateriza o rosto, a identidade da Constituição, o que significa que,
no caso português, podemos resumir em 4 ordens de valores emergentes da
Constituição:
• Ideia de direito da Constituição reconduz à ideia de Estado de
Direitos Humanos;
• Critérios teleológicos de atuação do poder político que
reconduzem à ideia de Estado de Direito democrático;
• Como é que está inserido externamente o Estado português?
Corresponde a uma soberania internacionalizada e europeizada,
ou seja, não é uma soberania plena;
• Modelo de organização interna do Estado, modelo de organização
interna. Corresponde ao conceito de Estado Unitário
Descentralizado.

A primeira ideia a reter é que a identidade axiológica gera dois deveres:


• Um dever positivo de agir em conformidade, ou seja, os
aplicadores de Direito devem agir de acordo com esta ordem de
valores;
• Dever negativo, não se pode contrariar esta ordem de valores.

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Há nesta matéria um princípio de interpretação de todo o ordenamento jurídico


em conformidade com a ordem de valores da Constituição.

Problemas:
A Constituição Portuguesa (como a brasileira, a da Guiné, entre outras) é uma
constituição compromissória, a ordem de valores que dela resulta é uma ordem
de valores que nem sempre é linear, ou seja, do mesmo texto constitucional
podem surgir argumentos para justificar ações de um género ou ações de outro
(como usar a constituição para defender ou contrariar casamento entre
pessoas do mesmo sexo, a questão do aborto, etc.). Isto causa conflitos entre
valores.
Como se equaciona o conflito e como se resolve?
A Constituição é compromissória pois vive-se numa sociedade plural,
heterogénea e aberta. Assim, para resolver os conflitos, há dois critérios:
Existência de uma hierarquia de valores, o que significa que há valores
de primeiro grau, mais importantes, e valores de segundo grau, menos
importantes. Assim, o princípio é o da prevalência hierárquica de
valores. (Exemplo: Uma lei alemã que permitia o abate de aviões
capturados por terroristas, em consequência do ataque às Torres
Gémeas. O Tribunal Constitucional declarou que esta lei não poderia ser
aprovada, visto que o valor da vida dos passageiros não é menor que o
valor da vida dos que estão no edifício a ser abatido. Aqui colocou-se em
questão o valor da vida humana em contraposição à segurança pública.)
Art. 19.º nº6 da CRP.
Caso não haja uma hierarquia ou caso esta seja controversa ou ocorra
dissenso sobre a hierarquia, entra o método da ponderação, pesa-se os
valores em conflito para determinar, perante o caso concreto, ajuizar
qual dos valores em contraposição deve prevalecer. A prevalência de
um não implica a marginalização ou eliminação do outro, ambos devem
ter um espaço mínimo de atividade, procurando-se então não a
prevalência, mas sim um espaço mínimo de operatividade para ambos
os valores, uma aplicação de ambos os valores adaptada ao caso
concreto.
Dado o critério de resolução de problemas, falta saber quem é que realiza essa
ponderação ou hierarquização. Há vários centros que revelam a ordem de
ponderação da Constituição: o legislador, a administração, os tribunais (como o
Tribunal Constitucional, uma última instância) e os particulares (nós). Para
alguns autores, a Constituição não é o que está escrito no documento, mas sim
aquilo que os juízes leem e interpretam da mesma, pois a Constituição e a sua
aplicação está, em último, nas mãos do juiz. Este protagonismo em excesso
dos juízes pode levar ao designado governo dos juízes, que colocam em causa
o princípio de divisão de poderes.

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A identidade axiológica da Constituição evolui, quanto maior for a vigência da


Constituição, quanto maior for a sua longevidade, geram-se alterações à sua
identidade axiológica em número cada vez maior. (Exemplo: a Constituição
americana, agora vigente, já permitiu escravatura, discriminação racial e a não
permissão do voto feminino, situações que foram alteradas). Pode-se mudar
das seguintes formas:
• Revisão constitucional;
• Mutação constitucional – uma mudança silenciosa e informal, que pode
ser feita designadamente pela jurisprudência dos tribunais, como o
Tribunal Constitucional, que pode fazer uma interpretação atualista ou
evolutiva da Constituição;
• Sociedade civil através do costume, de condutas consuetudinárias, o
que indica que ao lado da Constituição formal e escrita pode ser criada
uma Constituição informal e escrita através do costume;
Há três exemplos portugueses que demonstram como através do estudo
contrário à Constituição se mudou a identidade da mesma:
A Constituição de 1976 original falava de uma transição para uma
sociedade sem classes, com princípios económicos e políticos
socialistas, se bem que a ação do costume não consagrava a ideologia
socialista, como hoje se observa.
Art. 1º da CRP – Portugal é um Estado soberano, mas o conceito de
soberania foi alterado e marginalizado. Com a integração de Portugal na
União Europeia, a soberania portuguesa passou a ser semi soberana
devido à integração europeia, não havendo nenhuma revisão
constitucional a sublinhar este fato.
A Constituição indica que temos um sistema de governo
semipresidencialista, se bem que na prática temos um sistema de
governo do Primeiro Ministro, estando este no eixo da vida política.

NOTAS FINAIS:
Será que ainda estamos na vigência da Constituição de 1976? Só formalmente
é que estamos na vigência da mesma Constituição, apenas a primeira parte da
Constituição está vigente, pois toda a personalidade axiológica alterou,
entretanto:
• Organização económica atual está no Direito da União Europeia;
• O sistema de governo vigente não é aquele consagrado na Constituição;
• O decurso do tempo pode alterar a identidade constitucional, mesmo
que a mesma Constituição esteja vigente. Ou seja, a identidade
axiológica é permeável ao tempo.

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Traços identificativos:
Estado de Direitos Humanos – a Constituição proclama todos os diversos
elementos de ser uma constituição de Estado de Direitos Humanos, mas o
Direito Ordinário cria diferenças entre o que resulta da Constituição e o que é
aplicado (como a questão do aborto). Temos um Estado de Direitos Humanos
imperfeito, visto que a Constituição se encontra refém do direito ordinário;
É um Estado de Direito democrático, o poder está limitado pelo Direito (Art. 2.º
da CRP); (Esta expressão foi utilizada pois não queriam utilizar esta expressão,
utilizada na Constituição de 1933, sendo utilizada em 1956 pela 1ª vez por um
professor de Coimbra, Afonso Queiró).
o O Estado de Direito democrático é também um Estado Social com
uma cláusula constitucional de bem-estar;
o Um Estado de Direito democrático é também um Estado de
Direitos Humanos.

4 PRESSUPOSTOS:
• Pluralismo de expressão e organização política;
• Alicerce na soberania popular;
• Separação e interdependência de poderes;
• Respeito e garantia dos direitos fundamentais.

Há dois instrumentos de alcance:


▪ Realização da democracia económica social e cultural que se através
dos direitos sociais e estes direitos são económicos, sociais e culturais
▪ Aprofundamento da democracia participativa, a democracia
representativa na esgota a democracia e assim esta deve ser
aprofundada
O Estado de direitos democráticos alicerça se em 3 ideias base:
Pluralismo – está ligado ao princípio democrático, o pluralismo conduz aos
fundamentos da própria democracia. Não há democracia sem pluralismo. A
democracia convoca-o 4 ideias já conhecidas:
▪ Tolerância recíproca – não há democracia sem tolerância de
todos
▪ Igualdade de oportunidades
▪ Consenso sobre os procedimentos decisórios – tem de existir
uma base de acordo sobre o modo como se chega À decisão,
normalmente assente na regra da maioria
▪ Entendimento de que há 2 modelos de democracia

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Modelo que assenta na vontade orgânica da maioria do povo,


expressa pelos órgãos da constituição, tem 2 pensamentos:
• Pensamento de Rosseau, ideia da vontade geral
que é a vontade da maioria – aposta na soberania
popular;
• Conceção positivista legalista.
A conceção inorgânica da nação que tem na sua base o
pensamento de Hegel, a fonte mais importante de direito é o
costume. Podemos extrair isto do art. 78.º da CRP, fala em
identidade comum – aposta na soberania nacional.
No primeiro assenta-se no povo e no segundo na nação.
1º - não há pluralismo sem respeito pelos direitos fundamentais, por
isso, a legitimação do poder assenta no conceito de Estado de
partidos, um Estado em que os partidos políticos têm um papel nuclear
na expressão da vontade popular, em 2 configurações diferentes:
▪ Modelo de representação abertos a formas de participação
política que não passem pelos partidos políticos
▪ Monopólio de candidaturas em listas – democracia de
circuito fechado, reforça o peso do estado de partidos
NOTA: o reforço do peso dos partidos era pra contrabalançar o
peso dos militares na vida política em 1976, e tornar acessível aos
civis.
Pode modificar a constituição um governo para se manter em
funções não pode ter contra si a assembleia, portanto os partidos
controlavam o texto constitucional e a atuação governativa.
É possível que este Estado se torne num Estado de partido
governamental (Estado laranja ou Estado rosa) os dois maiores
partidos chegam ao poder e colonizam o Estado. Sistema dos
afilhados e dos padrinhos.
Importância do pluralismo e da legitimação política se afere na
centralidade que tem a lei na decisão política. 3 razões:
▪ A lei é a expressão da maioria parlamentar, da
vontade geral;
▪ O juiz deve obediência à lei, porque o juiz deve
aplicar a vontade da maioria;
▪ A administração publica deve aplicar a lei, ou seja, a
administração publica só a artigo excecional pode
desaplicar ou recusar a aplicação de uma lei.
o Reserva de lei – matérias que só podem ser
disciplinadas por ato legislativo

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o Preferência de lei – se a mesma matéria esta


regulada por lei ou por outra fonte de direito e
há contradição entre elas, prevalece a lei
O pluralismo esta subjacente na organização do poder político,
distribuído por vários órgãos, o poder só pode ser limitado se estiver
separado, pois a limitação do poder é a melhor garantia de liberdade
(Montesquieu) mas a separação não é rígida, envolve a
interdependência de poderes, sistema de freios e contrapesos.
Intervenção participativa: o pluralismo não se esgota nos órgãos
previstos na Constituição, leva também consigo manifestações de
participação de sindicatos, de organizações de estudantes/autarquias
locais/patronais etc. Que também interferem na democracia.

Limites ao pluralismo
▪ O Estado e a cultura dos direitos fundamentais tem de estar ao
serviço da pessoa humana e da sua dignidade;
▪ Limitação do relativismo axiológico, ou seja, deixamos de ser
tolerantes, o que poe em causa o pluralismo;
▪ Paradoxo da intolerância: perante os intolerantes, devemos
tolerar ou não tolerar? Art. 46.º nº4

2º - democracia assente na vontade da nação


Assente no critério que o princípio maioritário é crédito de decisão, mas
não justiça.
Ideia base: os deputados não têm monopólio da vontade, representa a
maioria, mas pode não corresponder à maioria o critério de justiça, quem
está no órgão nos pode representar a vontade da maioria
Tese que conduz à ideia de que há um poder constituinte informal
alicerçado numa constituição não escrita.
A própria constituição diz que ao lado do modelo da democracia assente
em Rosseau há um modelo assente na vontade da nação. Art. 2.º da
CRP – pluralismo de expressão, ao lado da vontade do povo pode existir
uma vontade nacional inorgânica. O Preâmbulo fala da legitimação do
25 de abril com as históricas aspirações do povo.

Juricidade – o estado não se limita apenas pelo direito que cria, mas esta
hétero limitado que não é ele que cria, é uma legalidade reforçada, pois não
depende apenas do estado e dos seus órgãos, mas depende de fontes
superiores ao estado. O que fazer perante o direito invalido, há obediência?

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Depende de 3 detalhes:
▪ Um juiz nunca deve obediência ao direito inválido, todo o juiz tem o
poder e dever de recusar a aplicação do direito inválida.
▪ A administração pública deve obedecer exceto 3 casos : quando a lei
viola a consciência jurídica universal, é iníqua. Quando a lei viola
direitos fundamentais ou direitos, liberdades e garantias a que se refere
o artigo 18.º nº1 da CRP. Quando a própria constituição sanciona com a
inexistência ou ineficácia jurídica dessa norma.
▪ Os particulares podem recusar pagar impostos inconstitucionais
Art.103.º, temos direito de resistência Art. 21.º, direito de objeção de
consciência, Art 41.º nº6, direito fundamental a não colaborar e praticar
atos injustos

Corolários:
➔ Reversibilidade das decisões – numa democracia não há decisões
eternas (Pensamento de Zagrebelsky).
➔ Há que salvaguardar a segurança jurídica e a tutela de consciência.
➔ Respeito por todo o poder a que se refere os princípios do Art. 266.º da
CRP.
➔ Tutela jurisdicional efetiva - podemos sempre ir a tribunal impugnar
decisões que entendemos que não são validas, os tribunais são os
últimos garantes do estado de direito. O estado de direito deve obrigar a
administração a respeitar a vontade dos tribunais é importante pois
respeitar os tribunais é respeitar a lei.
NOTA: bem-estar está ligado à ideia de Estado social e à dignidade da pessoa
humana e às condições da sua própria vida.
Quem são os destinatários da cláusula constitucional de bem-estar?
Encontramos o legislador, administração e tribunais, com uma ideia: proibição
do retrocesso arbitrário, alcançado determinado nível de bem-estar social não
se pode diminuir arbitrariamente.
Como se garante o Estado de direitos democráticos?
Fiscalização da constitucionalidade e da legalidade das condutas e normas
administrativas; responsabilidade civil do poder político; responsabilidade
criminal dos possuidores de cargos públicos; mecanismos de exceção, de
autotutela privada, como a resistência desobediência e insurreição.

AULA 6 – 11/03

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CONTINUAÇÃO

O Estado do Direito democrático é o meta princípio da Constituição do qual


decorrem grande parte dos outros princípios de natureza axiológica.

Princípio da soberania internacionalizada e europeizada


Portugal é uma República soberana, significa 4 coisas:
➔ O Estado é a principal instituição interna, tem a competência das
competências, compete ao Estado definir os poderes de todas as outras
estruturas no interior do próprio estado através do poder constituinte.
➔ Sempre que da Constituição não resulta uma norma de competência
para outras entidades, a competência residual pertence ao Estado.
➔ Princípio de igualdade dos Estados num plano externo: traduz na ideia
um Estado independente e tem na sua fonte a guerra dos 30 anos do
séc.XVII, o Estado não reconhece ninguém acima de si num plano
internacional.
CONCLUSÃO: Não é possível pela Constituição que Portugal se torne
um Estado federado da união europeia.

Há manifestações através das quais a soberania não é hoje aquilo que era em
1976, por duas ordens de razões:
➔ Há hoje uma dinâmica de internacionalização que passa pelas Nações
Unidas, peça força normativa crescente da Declaração Universal dos
Direitos do Homem, ius cogens, art. 8.º nº1 da CRP. Portugal reconhece
o papel internacional.
➔ União europeia e a condição de Portugal como Estado-membro, esta
intervenção significa que estamos perante uma heterovinculação de
base autovinculativa: o Direito da União Europeia se aplica em Portugal
mesmo contra a vontade de Portugal, mas Portugal quis e quer
pertencer à União Europeia, autovinculando-se a tal.
o Sentido do aprofundamento deste empilhamento da construção
da União europeia: art. 7.º, nº 5 e 6 da CRP.
o Cheque em branco de participação de Portugal na União
Europeia: Art. 8.º, nº4 da CRP.

Existência de um Estado unitário descentralizado – resulta do art. 3.º, nº1 e art.


6.º a natureza unitária do Estado e da sua soberania. Como é que se garante a
soberania interna do Estado e a sua unidade? Através de 6 mecanismos:
➔ Só o Estado é titular do poder constituinte formal, só o Estado pode
modificar/rever a Constituição escrita. O Estado é dono da Constituição.

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➔ Unidade do Estado é o limite material da revisão constitucional, é uma


cláusula pétrea (nomenclatura brasileira), não pode ser objeto de
modificação – art. 288.º da CRP.
➔ Existência de órgãos de soberania para todo o território nacional:
Presidente da República; Assembleia da República; governo e tribunais.
➔ A prevalência do Direito do Estado: em caso de conflito entre normas
provenientes de outras entidades públicas e normas do Estado, o Direito
que prevalece é o do Estado. Mesmo quando em situações de conflito
possa prevalecer outra norma que não a do Estado, o direito interno que
possa prevalecer só o pode fazer com a vontade do Estado, o Estado
tem sempre a última palavra.
➔ Fiscalização judicial da validade dos atos, todos os atos jurídicos são
passíveis de ser controlados pelos tribunais que são órgãos do Estado.
➔ Existência de mecanismos políticos e administrativos de controlo das
entidades infra-estaduais.

O Estado é unitário, mas descentralizado, ou seja, o Estado está limitado pelos


poderes que atribui a outras entidades públicas, o estado autolimitou-se pela
força da Constituição. Esta descentralização tem 4 ideias:
Descentralizar significa repartir poderes por outras entidades públicas (art. 6.º da CRP)

➔ autonomia regional – descentralização do poder administrativo, têm


descentralização politico-legislativa, mas não são Estados federados
pois não têm poder constituinte próprio.
➔ Princípio da subsidiariedade que diz que pertence às entidades
públicas menores tudo o que não deve nem pode pertencer ao
Estado, tal como consagra o inverso.
➔ Princípio da autonomia autárquica, dos municípios, do poder local.
Em Portugal os municípios e freguesias não tem poder legislativo,
são fenómeno de descentralização administrativa.
➔ Princípio da descentralização em sentido rigoroso para a restante
administração pública.
NOTA: A CRP traduz um casamento entre os interesses gerais e os
interesses regionais: unidade no pluralismo reconhecido a diversidade
de interesses. Os interesses gerais de todos protagonizado pelo Estado
e ao lado deste interesse geral, temos interesses regionais, autárquicos,
no âmbito de atuação administrativa. A unidade faz que o Estado tenha
poderes especiais, que reforçam a unidade, os quais são:
• O Estado tem uma reserva de poderes de decisão a seu favor.
Todo o poder judicial é reversa do Estado por exemplo;
• A cláusula constitucional de bem-estar mais o princípio da
igualdade reforçam o poder de decisão do Estado, porque a
igualdade exige que o bem-estar seja para todos os cidadãos
portugueses;

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• Prevalência do direito do Estado, que significa que em caso de


colisão de fonte proveniente de entidades que não o estado e
do Estado, o estado prevalece. Há 4 exemplos:
o Art. 205.º n.2º – as decisões dos tribunais prevalecem
sobre quaisquer outras;
o Os estatutos das regiões autónomas são uma lei
aprovada pela Assembleia da República, o Estado é
que conferiu este estatuto;
o Leis de bases da República impõem-se aos diplomas
legislativos das regiões autónomas;
o Regulamentos do governo que prevalecem dobre os
regulamentos das autarquias locais – art. 241.º da CRP.

Supletividade do direito do estado – art. 228.º nº2 – sempre que uma


matéria está atribuída à competência normativa de uma entidade infra
estadual, quando essa entidade não elabora a norma, quando a norma é
elaborada por ela é inválida ou quando a norma elaborada por ela tem
lacunas, o direito aplicável é o direito do Estado, que é aplicado
supletivamente, ou seja, enquanto não existir norma posterior elaborada
pela entidade infra estadual.

Identidade estrutural (linhas resultantes da organização


interna)
O que é que carateriza estruturalmente a Constituição?
Compromissória – é compromissória historicamente entre um movimento
militar e uma assembleia constituinte pluripartidária, entre poder militar e poder
civil. Assenta em 4 compromissos:
• Genético (acima mencionado)
• Normativo – entre normas concorrentes. Há princípios que têm de ter
aplicação simultânea e outros de aplicação alternativa, em que ou se
aplica um ou o outro. Há também princípios de aplicação sucessiva.
▪ Compromisso normativo externo – exemplo, entre a
Constituição instrumental e o direito internacional público;
• Compromisso aplicativo da Constituição – exige um método da
ponderação, temos de balancear os interesses/princípios em causa,
sempre que não existe uma hierarquia.
• Compromisso político devolvido para o futuro – pode permitir que no
futuro exista um novo equilíbrio de interesses permitindo alterações a
Constituição, exigindo que leis ordinárias sejam aprovadas por uma
maioria de 2/3.

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Aberta – é o reflexo de ser uma sociedade aberta e plural. É aberta em termos


de normas pois abre-se a outras fontes de Direito. Há cláusulas que permitem
que normas que não estão na constituição passem a ter o valor de normas
constitucionais: Art. 29.º, nº2; art. 33.º, nº 5; art.16.º, nº1; art. 58.º, nº1.
➔ Abertura política e alternância democrática;
➔ Abertura à participação política dos cidadãos;
➔ Abertura interpretativa da Constituição - todos podem ser chamados a
interpretar a Constituição, mas quem tem a última palavra é o tribunal
constitucional. Esta abertura é dos temas mais complexos por 5 razões:
• Porque há princípios jurídicos que integram conceitos indeterminados;
• O sistema utiliza conceitos jurídicos pressupostos pelo constituinte:
casamento, menor, etc.
• Há conceitos que remetem para outros atos que venham a ser
praticados no futuro: objeção de consciência;
• Há conceitos normativos que remete para normas extrajurídicas, fora do
direito: como art.149.º remete para ordens de natureza matemática;
➔ Abertura implementadora: Remete para o legislador a concretização das
normas não exequíveis da Constituição;

Limites à abertura da constituição:


➔ Quanto à sua revisão;
➔ Limites que decorrem da fiscalização da Constituição;
➔ Liberdade de associação tem limites: Exige respeito pelo Estado de Direito
democrático: art.8.º n.7º;
➔ A liberdade tem limites como o respeito pela legislação penal.

AULA 7 – 18/03 e AULA 8 – 19/03 e AULA 9 – 25/03


Constituição de natureza Transfigurada
A Constituição foi elaborada entre 1975-1976 e está em vigor até hoje, ou seja,
o decurso do tempo modificou a constituição, assumiu uma configuração
diferente. Ao logo da sua vigência a Constituição vai assumindo configurações
diferentes por 3 mecanismos:
Revisão constitucional – modificação formal e intencional do texto
constitucional, visa suprimir soluções que até lá estavam em vigor. A revisão
pode dar um passo a mais, para além de modificar o texto constitucional, essa
revisão pode alterar a identidade da Constituição, chama-se a isso transição
constitucional. É a passagem de uma Constituição para outra, respeitando os
transmites da Constituição antiga. A transição constitucional é o oposto de
rutura revolucionária (exemplo: constituição espanhola em 1978, decorreu do
período franquista).

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Será que a Constituição atual é ainda materialmente a constituição de 1976?


Será que várias revisões constitucionais que incidem em elementos
identificativos podem gerar toda uma nova Constituição?
Desenvolvimento constitucional – é um processo informal, não intencional de
modificação da Constituição, com dois fatores:
• Decurso do tempo;
• Modo como é interpretada/aplicada a Constituição.
Há 2 protagonistas:
• Tribunais;
• Agentes públicos.

Fatores de transfiguração:
• Decurso do tempo e geração de uma normatividade não oficial
• Peso da herança histórica, designadamente do regime do Estado Novo;
• Intervenção dos partidos políticos, deram um novo sentido interpretativo
da Constituição, daí Portugal ser um Estado de partidos;
• Integração europeia, deu um novo sentido interpretativo e aplicativo às
normas da Constituição;
• Constitucionalismo transnacional, normas constitucionais comuns a
todos os Estados;
• Esvaziamento do domínio reservado dos Estados, a soberania
portuguesa é uma soberania internacionalizada.

Manifestações disso:
➔ Desatualização da constituição económica (art. 80.º e seguintes) – o cerna
da constituição económica portuguesa esta hoje na EU
➔ Subversão do significado das eleições parlamentares: À luz da Constituição
servem para eleger deputados, mas na realidade o motivo principal é a
escolha do Primeiro Ministro, ou seja, as eleições parlamentares tornaram-
se num processo indireto de escolha do Primeiro Ministro;
➔ Desde 1976 até ao presente, há uma preponderância do governo face à
Assembleia da República, é muito superior quando o governo trem maioria
absoluta. O sistema de governo então funciona: O governo quer, a
Assembleia aprova. O governo não quer, a Assembleia rejeita.
➔ O Estado de partido transformou-se no Estado de partido governamental,
tende a ocupar os principais postos da administração
➔ Diluição e/ou esvaziamento do poder formal de modificação da Constituição
por parte da Assembleia da República, quem tem assumido esse papel é o
partido do governo nas matérias assinadas e negociadas pela União
Europeia, por vezes contrárias à Constituição. Nestes casos, as

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constituições é que têm de mudar em conformidade com os diplomas


normativos da União Europeia.

Identidade relacional
Tem a ver com uma identidade familiar. Uma Constituição só se compreende
olhando para o passado, olhando para o que existiu antes dela, olhando para a
influência histórica. Pode ter 2 expressões:
• Solução de continuidade;
• Solução de rutura.
Contágio – uma constituição pode influenciar outras. Esta influência vê-se
internacionalmente, como a Constituição de 1976 portuguesa influenciou a de
1978 de Espanha. Este contágio pode levar a um plágio – uma cópia integral
de uma Constituição de um país para outro.
A identidade relacional, apesar das normas terem o mesmo enunciado formal,
podem existir limites a esta identidade, ou seja, há fatores que permitem que
textos jurídicos iguais tenham vivencias e aplicações diferentes, porque:
➔ Inserção teleológica das normas
➔ Localização sistemática da norma
➔ A vivência constitucional – é diferente em cada país
➔ Existência de diferentes processos de interpretação

Influência da história constitucional portuguesa visível desde as leis


fundamentais do reino até à Constituição de 1933. Da última, há 2 grandes
fatores de influência à Constituição vigente:
• Importância do período da ditadura militar;
• Importância do executivo, do governo, dentro do contexto dos demais
órgãos de soberania.

Influência externa da Constituição portuguesa, obedece a 5 vias:


• Influência francesa ainda hoje na Constituição atual, como no estatuto
do Presidente da República e do sistema de governo;
• Influência alemã em matéria de direitos fundamentais;
• Influência italiana também visível em direitos fundamentais;
• Influência socialista dos países de leste europeus, marcante no texto
original da Constituição;
• Influência do direito da União Europeia, sobretudo nas últimas revisões
constitucionais.

FIM DO CAPÍTULO E DO 1º LIVRO

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ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO


Princípios fundamentais da organização do poder político:
Princípios relacionados com a regulação e disciplina da organização do
poder político
• Princípios de organização e funcionamento do poder
▪ Princípio da separação e interdependência de poderes – art.
2.º, base do estado de Direito democrático, desenvolvido no
art 111.º da CRP. Significa 3 coisas:
• Há uma pluralidade de estruturas decisórias
• Não obstante de existir uma pluralidade de órgãos, o
certo é que há um núcleo essencial de cada função
atribuído a determinadas estruturas decisórias –
exemplo: poder judicial, está confiado em exclusivo aos
tribunais. Doutrina de Montesquieu.
• se há violação de separação de poderes, quando um
órgão age na esfera de outro órgão, há uma
inconstitucionalidade orgânica e uma usurpação de
poderes no sentido de direito administrativo. Sempre
que um órgão legislativo invade a esfera de um órgão
administrativo ou outro exemplo, é inconstitucional.
• Benjamin Constant – poder moderador. Na CRP, há 3
poderes moderadores:
o De natureza política a cargo do Presidente da
República, manifesta-o pelo poder de dissolver a
Assembleia da República e o poder de demitir o
governo quando este mete em causa as
instituições;
o Há um outro poder moderador de conformidade
constitucional, o do Tribunal Constitucional;
o Há ainda um poder moderador de particulares, o
provedor de justiça.
▪ Princípio da equiordenação – todos os órgãos constitucionais
estão ao mesmo nível. Todas as estruturas orgânicas
previstas na Constituição estão ao mesmo nível de ordenação.
Há, todavia, limites e exceções:
• Prevalência das decisões dos tribunais (Art. 205.º nº2) -
limite
• Competência autorizada do governo está sempre
subordinada à lei de autorização legislativa (Art. 108.º
nº1 e Art. 112.º nº2) - limite
• Agentes do Ministério Público - exceção
• Chefias militares - exceção
• Forças armadas – exceção

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▪ Pluralidade de vínculos entre os titulares das diversas


instituições – apesar de existir separação de poderes, esta
pressupõe interdependência. Como é que os diversos órgãos
constitucionais se relacionam entre si? Há 3 maneiras de
intensidades diferentes (resume-se a não se insultarem uns
aos outros e não criticarem as suas decisões):
• Solidariedade – mais intensa, pois pressupõe a
confiança (Art. 189.º);
• Cooperação – relacionada com a existência de poderes
entre os atos, é a expressão mais evidente da
interdependência, só é possível o exercício desses
poderes quando hajam o mínimo de acordo, não requer
confiança nem solidariedade, mas implica não gerarem
obstáculos;
• Respeito Institucional – é a expressão da igual
dignidade e legitimidade de todos os órgãos
constitucionais. É a expressão de um dever de
convivência democrática e também expressão de um
mínimo de civilização e educação que deve existir entre
os titulares dos órgãos. Goza de uma pós-eficácia,
enquanto que a solidariedade e a cooperação só
exercem quando estão em exercício de funções, mas o
respeito institucional adere mesmo depois de cessarem
funções.
▪ Princípio da continuidade dos serviços públicos – todas as
estruturas constitucionais não podem parar no sentido em que
tem de existir sempre continuidade na prestação de serviço:
• Permanência em funções de um governo até à tomada
de posse do seguinte. Nesse período, é meramente um
governo de gestão, só toma os atos necessários.
• Será que os titulares de cargos de órgãos de soberania
podem fazer greve? Podem os juízes fazer greve? Há
duas teses:
o Negativa – não é admissível que titulares de
órgãos de soberania.
o Positiva – Otero considera que podem fazer
greve desde que sejam assegurados serviços
mínimos.
▪ Princípio da auto-organização interna – todos os órgãos têm
competência para elaborar normas internas do seu
funcionamento. Exemplo: a Assembleia da República tem uma
competência exclusiva para a sua organização interna
(Art.175.º da CRP).
▪ Princípio da responsabilidade - é uma expressão do princípio
democrático: todos os governantes têm de prestar contas (Art.
117.º e 271.º da CRP). Há vários tipos de responsabilidade:

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• Responsabilidade política
• Responsabilidade difusa – como os media e as redes
sociais.
• Responsabilidade civil – que causa um prejuízo
corresponde um dever de indemnizar
• Responsabilidade criminal – titulares de cargos políticos
têm uma responsabilidade agravada.
• Responsabilidade disciplinar - existe de juízes.
• Responsabilidade financeira.
o Situações irresponsabilidade pelas opiniões e
votos que emitam no exercício das respetivas
funções (Art. 157.º da CRP)
o Os juízes não podem ser responsabilizados
pelas duas decisões (Art. 217.º nº2 da CRP)
▪ Princípio maioritário – é a expressão da democracia, mas,
maioria não é critério de verdade. Por outro lado, a força da
maioria está no respeito pela minoria. Nos órgãos colegiais
(Art. 166.º da CRP) há uma dupla maioria, quer dizer, há uma
maioria de funcionamento – quórum. Há uma maioria para
deliberar, com maioria simples, tendo maioria absolutas e
agravadas como exceção. O conselho de ministros é um órgão
colegial, mas não obedece ao princípio maioritário, a regra é
consenso da decisão.
▪ Princípio da imodificabilidade da competência – quando a
Constituição define regras de competências, só ela pode
modificar essas regras.
• A própria Constituição pode permitir que a lei modifique
as regras de competência;
• Há competências implícitas;
• A flexibilidade das normas de competência da
Constituição faz-se através da substituição e da
delegação, onde a regra está no Art. 112.º nº2, nenhum
órgão pode delegar regras noutros órgãos sem previsão
na Constituição.
▪ Princípio da Competência dispositiva – quem tem competência
para praticar e emanar o ato também tem competência para
não o emanar ou o revogar. Há, todavia, 3 limites:
• Limites ao poder de praticar atos – a Constituição cria
pressupostos para o exercício de competência.
• Poder de recusar a prática de um ato, há atos de
emanação obrigatória. Exemplo: o Presidente de
República é obrigado a emanar atos de revisão
constitucional.
• Limite quanto ao poder de revogar um ato – há casos
em que a Constituição cria atos irrevogáveis. Será que

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os atos de graça (conferem direitos) podem ou não ser


revogados?
Será que se pode revogar um ato inválido? Sim, mas
levanta um problema: quem praticou o primeiro ato não
tinha competência para o fazer. O órgão incompetente
tem sempre competência para revogar o que fez
(exemplo: governo agiu numa área de competência da
Assembleia da República, e repara que o decreto-lei
que emanou é inconstitucional. O governo pode emanar
um decreto-lei para revogar esse anterior). A revogação
não relacionada com incompetência, se esta for
desfavorável e não existir caso julgado, então a
revogação é retroativa.

• Princípios que dizem respeito aos titulares do poder político


▪ Princípio da legitimidade democrática – art. 108.º, pertence ao
povo:
• Legitimação quanto à designação (origem da eleição, o
Presidente tem legitimidade democrática por ser eleito por
sufrágio direto);
• Fiscalização (como do governo pelo Parlamento);
• Responsabilidade política.
▪ Princípio da renovação – não há titulares perpétuos ou vitalícios –
art.118.º nº1 – princípio republicano. Tem outras expressões
constitucionais:
• Presidente da República – não pode exercer funções por
mais de 2 mandatos seguintes, art. 221.º.
• Art. 118.º nº2 – permite que a lei possa instituir limitações
ao exercício sucessivo por parte de cargos políticos e
executivos
▪ Princípio da fidelidade à constituição- os titulares do pod3r devem
respeitar a constituição com uma expressão cimeia do Presidente
da República – art. 127.º nº3. – Isto significa:
• Ideia do dever de não violar a Constituição;
• Dever de agir em conformidade à Constituição;
• Dever de implementar a Constituição;
• Dever de educar a favor da Constituição;
• NOTA: A fidelidade à Constituição impõe, num modelo
pluralista, uma neutralidade do decisor, ou seja, cada um
pode ter as suas convicções, mas não pode prejudicar nem
beneficiar ninguém em função das suas convicções. Não
obstando o direito de ter as suas convicções, tem de ser
fiel à Constituição.
▪ Princípio da responsabilidade pessoal – normalmente esquecido.
Cada titular de um cargo político responde pelo seu próprio

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património e liberdade em teros de gerar responsabilidade


política, criminal, disciplinar, financeira e civil. Na
responsabilidade civil, deve-se tomar atenção ao art.22.º - dever
de indemnizar, que estabelece o princípio de solidariedade
quanto a esta obrigação, ou seja, a pessoa afetada pode pedir a
indemnização à entidade pública ou ao próprio titular que afetou.
▪ Princípio da titularidade de situações funcionais – o interesse
público pode criar, para quem é titular de cargos públicos, mais
situações jurídicas passivas do que o cidadão comum, ou mais
situações jurídicas ativas, como situações de privilégio e
imunidade. Este estatuto de mais direitos ou deveres corresponde
às situações funcionais, situações de alguém que exerce
determinada função.
• Há limitações à criação deste estatuto diferenciado
(decorrentes do princípio da igualdade)
• Saber se depois de deixarem de exercer funções, se há
motivos que justifiquem a manutenção das situações
funcionais. Podem-se reter duas ideias:
o Há deveres que se mantêm mesmo depois do termo
do mandato, permanece vinculado a algumas
dessas situações (como matérias de segredo de
Estado);
o Deve saber-se se pode haver renúncia a essas
situações funcionais. Caso sejam deveres, não pode
haver renunciação.
▪ Princípio da proibição de acumulação de cargos políticos – art.
269.º
• Incompatibilidades – quem exerce umas funções não pode
exercer outras, como no caso dos órgãos de soberania
(Ninguém pode, por exemplo, ser membro do governo e
deputado. Titulares de órgãos de soberania não podem
exercer funções privadas).
• Inerência;
• Casos de competência acumulada;
• Quando há exercício de funções a título substitutivo
▪ Princípio da proibição do abandono de funções – quem é titular
de um órgão tem de exercer essas funções, não pode estar
ausente.
• NOTA: é crime o abandono de funções políticas.
▪ Princípio da renunciabilidade ao cargo – todos os titulares de
cargos públicos podem renunciar ao cargo através de uma
declaração de vontade.
• NOTA: Todos os titulares de cargos públicos podem
renunciar ao exercício das funções (deputados, juízes,
etc.). É um direito subjetivo, mas há casos em que a
constituição impõe a aceitação dessa renúncia por outra

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pessoa ou órgão, devido ao princípio de continuidade do


serviço público.
▪ Nota sobre os princípios relacionados com fontes reguladoras:
• O poder político não esgota a revelação em fontes formais
(Como na Constituição). Isto significa que o povo pode
exercer o poder em termos informais. O direito escrito não
esgota as fontes de direito.
• Tipos de poder político informal:
o Poder constituinte informal (a constituição não
oficial)
o Poder de exteriorização informal – os titulares de
cargos públicos podem sempre manifestar a sua
vontade. Há limites que decorrem desta
exteriorização.
o Poder informal dos meios de comunicação social
o Poder oculto – por vezes é o verdadeiro poder, pode
ser a expressão de lobbies de natureza cultural,
religiosa, etc.

AULA 10 - 27/03
Outras fontes (não previstas na Constituição) que regulam o poder
político:
Reconhecimento de uma ordem axiológica suprapositiva, ou seja, os valores
principais do ordenamento jurídico não estão precisamente escritos no texto
constitucional:
➔ Há princípios jurídicos fundamentais que têm a sua fonte na consciência
jurídica universal. Estes princípios vinculam o legislador constituinte.
Consequência: se há normas escritas da Constituição que contrariam
estes princípios jurídicos fundamentais, esta ordem suprapositiva é
inválida (inconstitucionalidade das normas constitucionais).
Exemplo: Norma da constituição escrita que permite a escravatura, é
inconstitucional pois viola princípios fundamentais da liberdade “o ser humano
é um fim em si mesmo e nunca um objeto/meio para alcançar fins”

➔ Mesmo o titular do poder constituinte formal deve obediência a esta


ordem suprapositiva.
Factualidade – os fatos em Direito podem tornar-se normas: permeabilidade do
sistema jurídico à factualidade. Tem expressão de várias maneiras:
➔ As normas jurídicas podem perder efetividade. A factualidade permite
transformar o costume em fonte de direito constitucional, que pode ser
este segundo a constituição, para alem da constituição ou contrário à
constituição. O costume alicerça a constituição não oficial, que vive ao
lado da oficial.

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➔ Praxes, práticas e usos constitucionais, diferentes do costume. Estas,


não têm convicção de obrigatoriedade.
➔ Precedentes constitucionais – decisões de um caso concreto que podem
ser invocadas como argumento a situações futuras.
➔ Necessidade constitucional – relacionada com circunstâncias
extraordinárias que ditam urgência de soluções. Pode ser de 2
maneiras:
o Expressão do estado de sítio
o Situações em que não há tempo de declarar
➔ Revolução – pode gerar normas. Sem ser a Carta Constitucional, todas
as constituições portuguesas foram consequência de revoluções. Esta
também é importante para a cessação de vigência de textos
constitucionais anteriores.

Nem todas as fontes que regulam o poder político são jurídicas. Exemplos:
➔ Normatividade técnico científica – Art. 149.º nº1, método de cálculo
de média de Hondt ou Art. 35.º - rede informáticas.
➔ Normas de natureza ética ou moral como parâmetro de atuação
constitucional.
➔ Normatividade de trato social – normas de cortesia constitucional,
como normas de boa educação e etiqueta, relacionadas com o
respeito institucional. Será que estas normas extrajurídicas são
contaminadas pelo Direito?

Órgãos constitucionais
Temos órgãos de soberania e órgãos constitucionais.

Órgãos de soberania – Art. 110.º


Presidente da República
Art. 120.º e seguintes. Tem 3 caraterísticas:
• É o único órgão de soberania unipessoal;
• É um órgão autónomo, quer em relação à a assembleia quer em relação
ao governo;
• É autónomo, pois o governo não é continuidade do presidente como nos
sistemas presidencialistas.

Tem 3 funções nucleares:


▪ Representa a república no plano externo, com ações
diplomáticas;

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▪ Representa a república no plano interno por exercer uma


magistratura de influência, promulga leis, orienta
referendos, etc.;
▪ É o garante político da Constituição, é a chave dos
restantes poderes, exerce um poder moderador (inspiração
de Benjamin Constant). Tem 3 vias de expressão:
• Poder moderador policial – é o polícia das outras
instituições;
• Poder arbitral – pode superar conflitos e arbitrar a
sua solução;
• Poder em situações de crise, em que pode usar 2
poderes atómicos: dissolver o Parlamento e demitir
o governo.
▪ É comandante supremo das forças armadas, tem o poder
informal de se dirigir e comunicar com as forças armadas.
▪ O Presidente não pode ser julgador, pois à luz da
Constituição este assume uma função de orientação
política.
Estatuto do Presidente da República - Art.121.º
Eleito por sufrágio direto (caso não reúna votos na primeira ronda, vai-se a uma
segunda ronda entre os 2 candidatos mais votados).
Mandato de 5 anos, mas podem existir vicissitudes em que o mandato pode ser
encurtado, como:
• Morte do Presidente;
• Para se ausentar do território, tem de ter autorização da Assembleia
(razão histórica: fuga da família real para o Brasil. Razão funcional:
manter a continuidade dos serviços públicos). Se se deslocar sem essa
autorização perde o mandato;
• Pode ser destituído do cargo por crimes praticados no exercício das
funções;
• Renuncia do exercício de funções;
• Abandono de funções permanecendo no território nacional.
Com a antecipação do término do mandato, coloca-se a questão da
substituição - quem o substitui é o Presidente da Assembleia, com duas
particularidades:
➢ Impedimento temporário
➢ Vagatura do cargo

Art. 139.º – Há competências do Presidente da República que não podem ser


exercidas pelo Presidente interino, e há outras que só podem ser exercidas
pela audição do Conselho de Estado.

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Art. 130.º – separação entre crimes praticados no exercício das funções e


crimes estranhos ao exercício das funções. Caso sejam estranhos, o
Presidente só e julgado no final do mandato. Caso sejam no exercício, é
julgado de imediato. Há duas fases de julgamento: a acusação é feita junto da
Assembleia da República e é esta que inicia o processo. Se a Assembleia da
República formular a acusação, significa que o julgamento, a segunda fase,
ocorre no Supremo Tribunal de Justiça.
NOTA: Se o Supremo condenar o Presidente, isto implica automaticamente a
destituição e a impossibilidade de reeleição. Discute-se se esta é apenas
imediata ou perpétua.
Entendimento de OTERO: não existem penas perpetuas, então passado
devido tempo, o ex Presidente pode voltar a candidatar-se.
Art.130.º nº2 – o Presidente da República pode travar o processo através da
dissolução da assembleia. Não o poderá fazer nos seus últimos 6 meses
enquanto presidente nem nos 6 meses subsequentes à eleição da Assembleia.

Competências do Presidente da República – Art. 133.º a 135.º


Tem 4 tipos de competências:
➢ De exercício vinculado – O Presidente não tem liberdade, está obrigado
a fazer algo.
➢ De exercício condicionado – necessita de determinadas autorizações
NOTA: referenda ministerial é uma intervenção do governo que incide
sobre a promulgação, é uma contra-assinatura feita ao presidente. Art.
140.º
➢ A referenda ministerial condiciona a ação do Presidente, pois determina
a inexistência jurídica do ato. A referenda é historicamente um ato
através do qual, perante um rei irresponsável pelos seus atos, se
transmitia a responsabilidade do monarca para o Ministro.
➢ De exercício livre – como a nomeação de membros para o Conselho de
Estado ou a renúncia do Presidente.

AULA 11 – 01/04
Intervenção do Presidente perante os atos legislativos - Promulgação e veto
Através da promulgação o Presidente manifesta uma vontade face ao diploma
que é apresentado. Essa vontade pode ser concordante ou pode ter reservas
em relação ao diploma. Se tiver dúvidas sobre a validade jurídica do diploma,
pede auxílio ao Tribunal Constitucional. Caso o diploma seja inconstitucional, o
diploma é vetado pelo Presidente por inconstitucionalidade.
Estão sujeitos à promulgação do Presidente 3 atos normativos:

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• Leis provenientes da Assembleia;


• Decretos-leis do Governo – ato praticado no exercício da função
legislativa;
• Decretos regulamentares do Governo – Ato normativo produzido no
exercício da função administrativa. É o regulamento mais solene, é
hierarquicamente superior. Não estão sujeitos a fiscalização preventiva
da constitucionalidade.

VETO POLÍTICO – ESTÁ PELO ARTIGO 136.º DA CRP.


Relativamente aos decretos regulamentares, o Presidente pode vetar
politicamente e devolver ao Governo ou pode promulgar, visto que não podem
ser alvo de fiscalização preventiva da constitucionalidade. O veto, depois de
dado, não pode ser ultrapassado.
Perante um ato legislativo, há 3 alternativas:
• Promulga o diploma
• Discorda politicamente, tem objeções e utiliza o veto político
• Tem problemas sobre a validade jurídica do diploma legislativo,
requerendo ao Tribunal Constitucional.
Há que diferenciar entre leis e decretos-lei, porém, isso só se faz
posteriormente à intervenção do Presidente da República.
a) Caso o diploma seja proveniente da Assembleia, se o Presidente
discordar da sua posição normativa alicerça a fundamentação do veto,
não pode vetar sem fundamentação. O diploma é devolvido à
Assembleia posteriormente. Perante isto, a Assembleia pode fazer 4
coisas:
• Pode submeter-se à vontade do Presidente e modificar o diploma de
acordo com a mensagem do Presidente
• Pode confirmar o diploma, ou seja, manter o que estava previamente
definido, defendem a configuração do diploma. No art. 136.º há uma
regra, basta a confirmação por maioria absoluta dos deputados a
confirmar o diploma para o Presidente ser obrigado a promulgar,
sendo o veto dele neste caso meramente suspensivo. Pode ainda ser
imposta uma maioria de 2/3, no artigo 136.º nº3. Só se sabe os casos
de maioria absoluta após esgotarem os casos excecionais da maioria
de 2/3, ou seja, há que determinar se se aplica o nº3 (exceção) e só
posteriormente o nº2 (regra geral) do artigo. 136.º.
• A Assembleia não obtém a maioria exigida para impor a sua vontade.
Nesses casos, permanece o veto presidencial.
• A Assembleia nada faz, deixa morrer o diploma, não o submete a
quaisquer votações ou deliberações.

b) Caso o diploma seja proveniente do governo – Art. 136.º nº4


O veto do Presidente tem natureza absoluta, ou seja, perante um veto
do Presidente o Governo só pode atuar destas formas:

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• Submete-se à vontade do Presidente, alterando o diploma;


• Nada fazer, em ambos os casos prevalece a vontade do
Presidente.
O Presidente pode vetar todas as matérias exceto as reguladas no art.
198.º nº2. No caso de um veto político, o decreto-lei pode ser
transformado numa proposta de lei apresentado à Assembleia, para ser
a Assembleia a legislar e não o Governo.
NOTA: O Presidente utiliza o veto político cada vez menos ao longo dos
mais recentes anos, em relação a diplomas legislativos do Governo. Isto
não ocorre devido a situações de total concordância, mas sim por
conhecimento prévio da vontade do Governo ao ditar determinado
diploma, no qual o Presidente dá a sua opinião. Este poder de
intervenção não está consagrado na Constituição escrita.
O veto político do Presidente sobre matérias de organização e funcionamento
do Governo é absoluto, pois não pode utilizar o veto para transformar o
decreto-lei em proposta de lei.
O veto do Presidente é absoluto apenas aparentemente, pois este pode
sempre fazer propostas à Assembleia.

Veto por inconstitucionalidade ou veto jurídico – Art. 278.º e


279.º da CRP
O Presidente tem dúvidas se o diploma é ou não conforme à Constituição, e
ocorre a necessidade de recorrer ao Tribunal Constitucional para efetuar a
fiscalização preventiva da constitucionalidade. Diz-se que a fiscalização
preventiva tem esse nome pois o diploma não foi ainda promulgado, não foi
ainda publicado no jornal oficial, e tem o objetivo de evitar que ocorra a
promulgação de atos legislativos inconstitucionais.
O pedido de fiscalização preventiva tem a identificação das normas que o
Presidente entende que violam a Constituição. Contém também os argumentos
para justificar as suas dúvidas. Perante o pedido apresentado pelo Presidente,
o Tribunal Constitucional pode agir destas formas:
Determinar que o diploma não é inconstitucional. Não afirma que é
constitucional, apenas afirma que não vai contra a Constituição. Não há juízos
positivos de constitucionalidade. Neste caso, o Presidente pode promulgar o
diploma ou utilizar o veto político no diploma.
O Tribunal pronuncia-se pela inconstitucionalidade, e o Presidente fica
vinculado a vetar juridicamente o diploma. Aqui, o Presidente está vinculado a
vetar juridicamente, ou seja, devolver o diploma ao órgão que o aprovou,
juntando em anexo o acórdão do Tribunal Constitucional que mostra que as
normas são inconstitucionais.

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➔ Caso o diploma seja proveniente do Governo, este pode modificar o


diploma no sentido de retirar as normas inconstitucionais, ou o
diploma permanece sem expressão, não é modificado nem pode ser
retirado como norma inconstitucional.
➔ Se o diploma for proveniente da Assembleia da República – Art.
279.º nº2 – perante o veto por inconstitucionalidade, a Assembleia
pode:
o Expurgar a norma inconstitucional;
o Pode nada fazer (sendo a vitória do Tribunal Constitucional);
o Pode confirmar o diploma por maioria de 2/3, mas o
Presidente nunca está obrigado a promulgar neste cenário
pois este juro fazer cumprir a Constituição, logo de o Tribunal
Constitucional pronunciou que o diploma era inconstitucional,
o Presidente da República não é obrigado a promulgar. Este
procedimento da Assembleia nunca foi utilizado.
NOTA: Se um diploma viola liberdade e garantias, o art. 18.º nº1 obriga o
Presidente a não promulgar. O diploma promulgado inconstitucional não deixa
de o ser, então os tribunais podem recusar a sua aplicação. Este sistema é
também aplicado nas Regiões Autónomas, mas perante um diploma
inconstitucional regional, a Assembleia Legislativa da região não pode remeter
para o representante da República. Art. 279.º nº2.

AULA 12 – 02/04
Assembleia da República como órgão de soberania – Art 147.º e
seguintes.
Aparece identificada como o órgão representativo de todos os cidadãos
portugueses. Quais são os princípios que pautam o estatuto jurídico da
Assembleia:
➢ Unicameralismo – é composta por uma única câmara, corresponde à
tradição vinda da Constituição de 1933.
➢ Flexibilidade configurativa – a Constituição remete para a lei várias
coisas, como a fixação do nº de deputados dentro de um intervalo (Art
148.º). É também visível nos círculos eleitorais (Art. 149.º). Os
deputados são geograficamente definidos. A Constituição abre porta a
que se juntem a estes círculos plurinominais uns círculos uninominais,
apesar de ainda não ter sido feita.
➢ Auto organização interna – Art. 175.º a), compete à Assembleia elaborar
o seu próprio regimento, ou seja, o seu ato normativo que estabelece
regras de organização e funcionamento da Assembleia Este regimento
não é aprovado como lei para não estar dependente de promulgação ou
veto do Presidente.
➢ Princípio da dependência política do Presidente da República – por
várias razões:

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o Pode dissolver a Assembleia


o Marca o dia das eleições
o Promulga as leis do Parlamento
o Decisão final sobre todas as propostas de referendo
➢ Permeabilidade à instrumentalização do governo – dá-se através da
maioria, se a maioria quer, o Parlamento aprova. Os deputados são
instrumentos nas mãos dos respetivos partidos. O partido maioritário é
dirigido pelo Primeiro-Ministro, e este consegue ser líder do governo e
da maioria parlamentar.
➢ Principio da complexidade e organização interna – A Assembleia tem
mais estruturas do que as observadas no plenário, são 5:
o Plenário – passa por ele o mais importante
o Mesa da Assembleia – quem tem maioria não pode indicar todos
os membros da mesa, tem sempre que ter uma composição plural
o Presidente da Assembleia – órgão autónomo
o Comissões – grupos de deputados com um propósito temático de
fiscalizar o executivo em determinadas matérias. As comissões
não têm a totalidade dos seus membros indicadas pela maioria,
são guiadas por esta mas não se esgotam nela. A presidência
destas comissões não é toda atribuída a quem tem a maioria no
Parlamento. Há dois tipos de comissões: institucionalizadas e
comissões “adoc”, criadas para situações concretas. Há casos em
que a criação das comissões pode ser proposta pela oposição à
maioria parlamentar.
o Comissão permanente – É uma comissão que garante a
continuidade dos trabalhos parlamentares quando o Parlamento
está encerrado para férias, permite a não marginalização do
Parlamento e a continuidade dos serviços públicos.
o Há mais estruturas orgânicas parlamentares: Conferência dos
líderes, Conferência dos Presidentes das comissões
parlamentares, delegações da Assembleia que requerem
deslocação, etc.
➢ Princípio da permanência de funcionamento - Esta nunca está de férias
(na totalidade, tem sempre uma estrutura no mínimo em funcionamento).
➢ Princípio da imunidade da sede parlamentar – a polícia e os militares só
podem entrar no Parlamento se o próprio requerer. Isto é feito para
permitir liberdade de expressão e formação de vontade.

Deputados
➢ Eleições reguladas no art. 51.º e seguintes. O sistema eleitoral recorre
ao método de Hondt, art. 149.º;
➢ Só se podem apresentar dentro de um partido político ou coligação,
podem ser independentes mas não se podem apresentar
autonomamente;

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➢ Os círculos eleitorais correspondem a círculos distritais, regiões


autónomas, emigrantes dentro e fora da Europa, etc. ;
➢ Os deputados representam todo o país, não estão diretamente
relacionados com a circunscrição eleitoral. Art. 152.º.

Organização dos deputados – Organizados em grupos parlamentares. Na


conceção de Otero, estes são uma associação de direito público sem
personalidade jurídica com poderes internos de atuação parlamentar.

Funcionamento da Assembleia
➢ Cada legislatura tem a duração de 4 anos se não for dissolvida.
➢ Cada legislatura divide-se em 4 sessões legislativas
➢ Em cada reunião, há uma ordem do dia (Art. 176.º da CRP) e há regras
sobre a votação (Art. 116.º) com maioria simples (metade dos membros
presentes).
➢ Pode ser dissolvida pelo Presidente, tendo este apenas de cumprir dois
requisitos:
o Ouvir os partidos representados no Parlamento;
o Ouvir o Conselho de Estado;
o Não pode dissolver o Parlamento nos 6 meses subsequentes à
eleição do mesmo nem nos últimos 6 meses do mandato
presidencial, tal como não pode dissolver em estado de sítio ou
estado de emergência (Art. 172.º);
o Com a dissolução, é marcada a data das novas eleições.
Competências da Assembleia – Arts. 161.º a 165.º, 169.º e 175.º
Tem 3 tipos de competências:
Normativa – 4 tipos
➢ Para aprovar leis de revisão da Constituição
➢ Para aprovar leis ordinárias
➢ Para aprovar convenções internacionais
➢ No âmbito da auto organização interna (Art. 175.º a))
Política – Tem poderes de orientação política pois o programa do governo tem
sempre de ser apresentado ao Parlamento, e a Assembleia pode emitir
censura e juízos críticos à conduta do executivo. Permite também fiscalizar o
governo, ou seja, requerer informações e interpolar o governo, criar inquéritos
parlamentares, etc. Controla as ações e omissões do governo e da
administração pública. Controla também as ações do Presidente em
declaração de estado de sítio ou em situação de “fuga” não autorizada do
Presidente do país. O Presidente toma posse perante a Assembleia. Pode
ainda, no âmbito da fiscalização, a constitucionalidade das leis. É a Assembleia

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que desencadeia a responsabilidade criminal do Presidente da República. Esta,


rejeita ou aprova as moções de censura do governo.
A fiscalização política da Assembleia assenta num paradoxo: quando mais é
necessária fiscalização política, menos eficaz é a mesma. Quando há governo
maioritário pode fazer tudo, pois o Parlamento fiscaliza mas é controlado pela
maioria do governo.
Administrativa interna – poderes que tem em relação aos deputados, aos
grupos parlamentares, etc. É matéria de Direito Administrativo.

A competência legislativa da Assembleia pode ser representada nestes termos,


tem 3 áreas de competência legislativa:
Reserva absoluta – Art. 161.º, 164.º 168.º nº6, 293.º - só a Assembleia pode
legislar nestes casos.
Reserva relativa – Art. 165.º - mesta área, em princípio, quem tem competência
é a Assembleia da República, mas por lei de autorização legislativa o governo
pode legislar. Nestes casos, chama-se aos diplomas normativos emanados
pelo governo um decreto-lei autorizado. A lei de autorização legislativa tem 4
conteúdos:
➢ Indica a matéria;
➢ Define o sentido que quer que ela tome;
➢ Define a duração;
➢ Orienta os termos do exercício da competência legislativa parlamentar.
Diz-se que é uma lei ordinária reforçada, acima do decreto-lei.
Competência legislativa concorrencial - tanto pode legislar a Assembleia como
o governo, mas com uma particularidade (Art. 112.º nº2), as leis e os decretos-
lei têm igual valor hierárquico, tanto a lei revoga o decreto lei anterior e vice
versa. Faz parte desta competência tudo que não está na reserva absoluta
nem relativa.
Nesta repartição de poderes tem de se tomar em consideração que se o
governo é maioritário, o governo coloniza a vontade do parlamento na reserva
absoluta e relativa. Para além disso, na área concorrencial, em regra quem
legisla é sempre o governo, e mesmo nesta área se pode discutir se a
Assembleia tem poderes para disciplinar toda a matéria ou se o governo tem
uma competência reservada para desenvolver e regulamentar e a Assembleia
tem apenas o poder de fixar bases gerais.

AULA 13 – 08/04
GOVERNO – ÓRGÃO DE SOBERANIA

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Historicamente, a Constituição de 1976 é herdeira da de 1933, em 1933 o


governo surge pela 1ª vez como órgão autónomo ao Chefe de Estado e ao
governo. É também herdeiro da Ditadura militar de 1926, em que o governo
surgiu como principal estrutura decisória.
Aparece como órgão autónomo, mas esta autonomia não é total, tem uma
dependência politica face ao Parlamento, que surge desde o início ao fim de
vida do governo:
• O governo só entra em plenitude de funções depois de apresentar o
programa de governo;
• O governo durante toda a sua vida é politicamente responsável perante
a Assembleia.

Poderes do governo – Art. 182.º


O governo é o órgão de condução da politica interna e externa do pais, que
indica que não estamos num sistema presidencialista (contrário ao modelo
americano e francês). Existe num sistema de freios e contrapesos, tem de ter
em conta os outros órgãos de soberania e a União Europeia.
O governo é o órgão superior da administração pública, o que significa 4
coisas:
➔ Se o governo é o órgão superior, nenhum outro órgão pode ter poder de
decisão administrativa, com o risco de ser subordinado ao governo;
➔ O governo tem poderes de intervenção sobre toda a estrutura
administrativa;
➔ O governo é o guardião administrativo do Estado de Direito
Democrático, o que significa que é o protagonista na implementação de
bem estar social;
➔ O governo é titular de uma competência administrativa residual que, em
matéria de bem-estar, se nenhuma outra estrutura administrativa é
competente, entende-se que a competência pertence ao governo.

Princípios de organização e funcionamento do governo


O governo é um órgão complexo, ou seja, é um órgão constituído por outros
Órgãos, tanto pode funcionar em termos colegiais (pelo conselho de ministros)
ou pode funcionar individualmente (pelos ministros, o Primeiro-Ministro, etc.).
Não há hierarquia jurídica entre os membros do governo, mas existe contudo
uma hierarquia politica, em que o Primeiro Ministro é o mais importante,
seguido do Ministro das Finanças (por motivos históricos, ligados ao
Salazarismo).
Regulação do governo encontra-se em 3 fontes principais:

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• Constituição;
• Lei orgânica do governo;
• Regimento do conselho de Ministros.
Princípio da unidade politica intragovernamental – o Conselho de ministros,
apesar de ser um órgão colegial, não obedece ao principio maioritário, o que
significa que há um elemento que unifica a atuação do governo, o Programa do
Governo.
Princípio da solidariedade – “Todos por um, um por todos”. Todos os membros
do governo são solidários entre si e solidários com as deliberações do conselho
de ministros
Princípio da tripla responsabilidade política – É imperfeita, pois (caso da
Assembleia da República) quando o governo é maioritário, a maioria suporta o
governo. Quando mais forte é, menos responsabilidade politica existe ao
governo. É mais débil quando é um governo minoritário.
O Primeiro-Ministro é responsável perante o Presidente da República, mas não
é uma responsabilidade política idêntica ao Parlamento, pois o Parlamento
pode demitir livremente o governo. O Presidente da República só o pode fazer
quando o governo poe em causa ao funcionamento das instituições.
É responsável perante a opinião pública, é uma responsabilidade difusa.
Residualidade da competência administrativa do governo

Composição e formação do governo – art. 183.º


Há membros do governo cuja existência é obrigatória: O Primeiro-Ministro, os
ministros e os secretários de Estado.
O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvindo os
partidos políticos com representação e tendo atenção aos resultados das
eleições. Contudo, o Presidente não tem nenhuma obrigação a cingir-se aos
resultados das eleições ou à audição dos partidos, pode nomear alguém da
sua confiança pessoal independentemente (governos de iniciativa
presidencial).
O Presidente da República pode ter mais ou menos margem de manobra na
escolha de Primeiro-Ministro dependendo da existência ou não de uma maioria
parlamentar. Caso haja maioria parlamentar forte, o Presidente só tem 2
opções:
• Aceitar o nome que a maioria dá;
• Esperar 6 meses para dissolver o Parlamento.
Há um precedente constitucional: o Presidente deve convidar o líder do partido
mais votado. Este líder pode ou não ter condições para exercer as suas
funções.

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Primeiro-Ministro indigitado – a individualidade que o Presidente da República


convida para:
• Formar governo;
• Caso não exista maioria parlamentar, conseguir o consenso mínimo
para que o governo sobreviva a votações parlamentares. Caso não
consiga, devolve ao Presidente e terá de indigitar outra pessoa.
• Caso haja maioria parlamentar esta figura também existe.

Funções do Primeiro-Ministro:
• Função de direção política;
• Função de génese do governo;
• Função de chefia administrativa;
• Função de representação governamental (remete ao sistema de
chanceler de 1933);
• Controlo dos atos governamentais.
Art. 195.º - o termo das funções do Primeiro-Ministro, a sua demissão implica
sempre a demissão do governo. Pode também existir a suspensão.

Ministros
Casamento sem divórcio entre os ministros e o Presidente da República.
Compete ao Primeiro-Ministro apresentar nomes e compete ao Presidente
nomear. Nem o Primeiro-Ministro pode ver nomeados membros que não
propôs nem o Presidente pode nomear pessoas não propostas.
Há uma legitimidade dupla: legitimidade política pois é nomeado pelo
Presidente em sufrágio direito e legitimidade
Funções de representação do governo, substitutivas do Primeiro-Ministro – Art
185.º nº1.
Cada ministro é responsável perante o Primeiro-Ministro e a Assembleia. O
Primeiro-Ministro pode pedir ao Presidente a demissão dos ministros. Pode
apresentar também a exoneração de um ministro.

Outros membros do governo


Secretários de Estado, Subsecretários de Estado, Vice Primeiro-Ministro, se
existir.
Art. 186.º nº1 e 2 – o governo entra em funções com a tomada de posse do
Primeiro-Ministro.

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Art. 186.º nº5 - antes da apresentação do programa de governo e apos a


demissão, ate à tomada de posse do próximo governo, o antigo é um governo
de gestão. Consubstancia-se aos atos estritamente necessários para a gestão
dos negócios públicos.
Apresentação do programa do governo – este é as linhas do que o governo
promete fazer em funções, é uma forma de autovinculação perante o
parlamento. O parlamento pode discutir o programa, e posteriormente pode ou
não haver votação:
➢ Ou há votação – por maioria absoluta (Art. 192.º). Se o programa for
rejeitado, o governo esta demitido. Caso não consiga a maioria absoluta,
o governo pode entrar em funções mesmo tendo a maioria simples dos
deputados.
➢ Ou não há votação – o governo entra em plenitude de funções. Não é
obrigado que o programa seja aprovado

No silêncio da lei, o governo funciona em termos individuais e não como órgão


colegial.
O governo cessa através:
➢ Da intervenção da Assembleia;
➢ Por ato voluntário do Primeiro-Ministro;
➢ Por intervenção do Presidente quando põe em causa o normal
funcionamento de funções;
➢ Cessa por novas eleições e nova legislatura;
➢ Pode também ocorrer por morte do Primeiro-Ministro, ou por
incapacidade de continuar a exercer funções;
➢ Por último, a condenação do Primeiro-Ministro por crimes praticados em
funções também remete para o fim do governo.
Não é possível a suspensão coletiva do governo pelo principio da continuidade
dos serviços públicos, mas é possível suspensão individual ou parcial. Ainda
temos o caso de auto suspensão.

AULA 14 – 09/04
Poderes do Governo – Art.197.º e seguintes
A constituição cria para o governo 3 tipos de competência:
• Competência política – significa que o governo tem 4 tipos de poderes
de natureza política:
o Poder de decisão de praticar atos políticos;
o Poder de iniciativa ou propulsão;

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o Poder de controlo sobre a administração, em casos de declaração


de estado de exceção e pode controlar a promulgação
presidencial através da figura da referenda ministerial (contra
assinatura do Primeiro-Ministro)
o Poder instrumentário de informação politica do Presidente da
República, junto da Assembleia da República e junto da EU.
• Competência administrativa – resulta do art. 199.º. pode ser normativa
(atos regulamentares) ou atos sem conteúdo normativo, como atos
administrativos e celebração de contratos.
• Competência legislativa – Art. 198.º, tem 4 tipos de competência
legislativa:
o Exclusiva ou reservada (sobre esta matéria só o governo pode
praticar atos legislativos) em matéria de organização e
funcionamento. Caso outro órgão legisle sobre isto, o diploma
está ferido de inconstitucionalidade orgânica.
o Pode emanar decretos lei autorizados, o governo tem uma
competência legislativa autorizada (Art.198.º nº1 b)). Nas
matérias do art 165.º a Assembleia da República pode conferir ao
governo uma competência legislativa.
o Tudo o que é competência concorrencial o governo pode emanar
(tanto a Assembleia como o governo podem legislar nesta, 198.º
nº1 a))
o Art. 198.º nº1 c), tem competência legislativa de desenvolvimento.
Uma lei de desenvolvimento é aquela que completa uma lei de
bases. Uma lei de bases é a que define os princípios
fundamentais, as grandes linhas de um determinado regime
jurídico (começo da gravação, 12:17). O legislador inicia a lei de
base e remete para posterior desenvolvimento.
Exemplo: art 165.º f) e g). O desenvolvimento está à primeira vista na
área concorrencial, visto que na reserva só estão as bases. As bases,
contudo podem ser matérias de área concorrencial.

Há na doutrina portuguesa duas teses: o desenvolvimento de bases é


matéria concorrencial (tanto podem existir leis de desenvolvimento como
decretos lei de desenvolvimento), OTERO acha que não é este o caso,
por dois argumentos: literal e sistemático.
A luz da alínea c) do 198.º não faz sentido dizer que é da área
concorrencial, pois na alínea a) já tinha competência para legislar sobre
tudo que não fosse da competência privada da Assembleia. Resumindo,
a Assembleia deve elaborar bases na área concorrencial, e o governo
deve desenvolver. Há ainda um argumento histórico, pois esta era a
solução da Constituição de 1933.

Estatutos especiais do Governo


Há 3 tipos de estatutos especiais:

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Governo de gestão – todos os governos são pelo menos uma vez na vida
governos de gestão. Pode acontecer que alguns governos morram antes de
atingir a plenitude de poderes, por não aprovação do programa, aprovação de
uma moção de censura ou rejeição da moção de confiança.
Governo missionário – o Primeiro-Ministro apresenta uma missão ao
Presidente da República (não percebi isto bem, ver livro/gravação).
Governo com a Assembleia da República dissolvida – são governos com
menos poderes, mas não são governos demitidos nem governo de gestão,
pode fazer mais que um governo de gestão mas não tem a plenitude das suas
funções.

Sistema de governo
O sistema de governo português resume-se em 3 princípios:
Pluralismo orgânico funcional que assenta no Presidente da República,
Assembleia e Governo. Há uma relação de amor-ódio entre os órgãos –
explicação tradicional, sistema semipresidencialista. OTERO acha que não há
sistema presidencial por 2 razões:
• Não há uma estrutura dualista de responsabilidade política, o
governo só e responsável perante a Assembleia, o que significa
que o Presidente da República pode retirar a confiança ao
governo, pode não ter a sua confiança politica mas não o pode
demitir. Contudo, o Presidente da República não é obrigado a
nomear para Primeiro-Ministro alguém que não tenha a sua
confiança inicial.
• Não é comparável, pois o sistema da 5ª República francesa não é
comparável ao nosso. O Presidente da República francês tem
poderes autónomos de condução da vida política, esta no eixo da
vida política e este é uma mistura entre o Primeiro-Ministro
britânico e o Presidente americano, em Portugal isto não ocorre.
• Assim sendo, o sistema é um parlamentarismo racionalizado por
3 razões:
o O governo é responsável perante a Assembleia da
República;
o O Primeiro-Ministro é nomeado tendo em conta os
resultados eleitorais;
o O governo é um órgão autónomo do Presidente da
República.

Mecanismos de racionalização
➢ O programa de governo não precisa de ser votado;

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➢ A moção de censura exige maioria absoluta e se for revogada os


deputados que a descreveram não podem fazê-lo de novo;
➢ Poder legislativo amplo do governo na área concorrencial (art. 122.º nº2
1ª parte, lei é igual a decreto-lei hierarquicamente).
Princípio da permeabilidade fatual – o sistema de governo pode mudar
consoante os fatos, há uma componente extrajurídica que faz apelo à
constituição não oficial. Há dois fatores extrajurídicos determinantes:
➔ Sistema partidário – se há maioria absoluta na Assembleia, há um
ascendente da maioria e do líder da maioria que e simultaneamente o
Primeiro-Ministro. A maioria partidária no governo pode ter duas
configurações: monopartidária ou pluripartidária (coligações pré ou pós
eleitorais). Pode não haver maioria absoluta no parlamento, mas podem
existir 2 situações de governo minoritário: sem acordo de incidência
parlamentar, ou pode ter um acordo de incidência parlamentar, o que
permite-lhe ter estabilidade: quando se coloca em causa a sobrevivência
do governo, estes acordos dão uma base de sustentação ao governo.
➔ Pratica institucional – dá-nos duas lições:
o O líder da maioria parlamentar nunca foi o Presidente da
República, ao invés da solução normal em França. A liderança da
maioria parlamentar está nas mãos do Primeiro-Ministro e não
nas mãos do Presidente da República.
o Quem preside ao conselho de ministros é o Primeiro-Ministro, em
regra. O Primeiro-Ministro pode convidar o Presidente da
República a presidir.
Princípio da flexibilidade do equilíbrio entre os órgãos – o sistema de governo
português é muito rico tem vareios tipos de funcionamento:
➔ Conduziu a um funcionamento como sistema parlamentar de
Assembleia, como sendo um sistema de transfiguração do
parlamentarismo racionalizado;
➔ A Constituição portuguesa não fecha a porta a que o sistema possa
funcionar à francesa, alguém ser eleito Presidente da República e
formar um partido politico, dissolver o Parlamento, convocar eleições,
ganhar eleições e ser líder da maioria parlamentar (o Presidente
Macron fez isto mesmo).

AULA 15 – 23/04
TRIBUNAIS – ÓRGÃO DE SOBERANIA
Não será dada hoje a matéria da fiscalização da constitucionalidade e legalidade pois
é a última do programa.

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Apresentam algumas particularidades:


➢ São o único órgão de soberania com competência de exercer a função
jurisdicional, uma reversa exclusiva aos tribunais. Só eles podem resolver
conflitos entre particulares e/ou entidades públicas – Art. 202.º da CRP.
➢ Contudo, podem também exercer funções materialmente administrativas em
certos casos.
➢ Através da fiscalização preventiva ou através da competência do TC de
extinção de organizações fascistas, os tribunais podem ter uma
componente de ação politica.
➢ Os tribunais são representantes do povo, os seus cargos são preenchidos
por juízes de cadeira. Estes podem ser representantes do povo pois estão
subordinados à lei e não podem recusar a aplicação desta, e sendo a lei a
expressão da coletividade o juiz aplica a vontade do povo. Contudo, ser juiz
é uma atividade metodologicamente complexa, o que implica que o juiz não
é autómato. Os juízes têm um papel ativo na aplicação da lei.

Categoria de tribunais de acordo com a CRP (art. 209.º) (dicotomias)


Tribunais do Estado e tribunais arbitrais – os segundos são privados que
exercem a função jurisdicional. Isto significa que nem todos os tribunais são
tribunais do Estado.
Tribunais de existência obrigatória e facultativa
Tribunais ordinários e especiais – como ordinários temos o Tribunal
Constitucional (Art. 221.º a 224.º), o Supremo Tribunal de Justiça, os tribunais
judiciais de 1ª e 2ª instância, o Supremo Tribunal Administrativo e os demais
tribunais administrativos, o Tribunal de Contas, etc.
Tribunais nacionais e Tribunais internacionais ou externos

Princípios gerais subjacentes à ação dos tribunais:


Art. 203.º - princípio da independência. Os tribunais são órgãos independentes,
os juízes são independentes. Isto significa:
➢ Os juízes não estão sujeitos a ordens e instruções de ninguém, estão
sim sujeitos a poder disciplinar;
➢ A independência dos juízes passa por um processo de responsabilidade
das decisões, estão sujeitos à lei;
➢ Obrigatoriedade das decisões judiciais, as decisões dos tribunais são
obrigatórias para os particulares e as entidades públicas.
Art 205.º nº2 - Principio da prevalência das decisões dos tribunais. Em caso de
conflito entre uma decisão do tribunal e um ato
legislativo/político/administrativo, as decisões dos tribunais prevalecem. Assim

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sendo, os tribunais são a ultima expressão do Direito. Isto é materializado por 2


ideias:
➢ Força do caso julgado – uma decisão judicial transitada em julgado,
podem existir duas verdades, a verdade dos fatos e a verdade
definida pelo tribunal. A verdade do tribunal prevalece sobre a
verdade dos fatos.
➢ Em termos de fiscalização da constitucionalidade, a ultima palavra
esta nas mãos do TC. Mais importante do que esta escrito na
Constituição, mais importante é o que os juízes leem na Constituição.

Competência e dever dos tribunais de fiscalizar a validade das normas que


aplicam – os juízes estão subordinados à lei, mas à lei válida – art 204.º, 203.º
e 280.º nº2. Compete aos tribunais o controlo da validade das normas que
aplicam. Se os juízes entenderem que a norma é inválida, podem recusar a
respetiva aplicação.

ORGÃOS CONSTITUCIONAIS QUE NÃO SÃO DE SOBERANIA


Órgãos da República com ação de âmbito nacional vs. Órgãos da
República com atuação de âmbito local

Órgãos da republica de âmbito nacional previstos na Constituição (são 8)


Conselho de Estado
Órgão consultivo do Presidente da República, art. 141.º a 146.º, é uma espécie
de síntese onde estão as principais figuras da 3ª República, pois tem a
presença do Presidente da República, do Primeiro-Ministro, de deputados
eleitos, dos presidentes dos governos regionais, do Provedor de Justiça,
antigos Presidente da República, ou seja, as principais individualidades da
República. Pode exercer 3 tipos de funções:
➢ Pode propiciar compromissos institucionais pois estão la representados
os principais partidos políticos e as principais individualidades;
➢ Pode ultrapassar conflitos institucionais, pode arbitrar e mediar conflitos
institucionais, pois estão nele presentes os principais protagonistas
desses conflitos;
➢ Pode ser a forma como o Presidente da República sensibiliza as
principais individualidades a problemas políticos, económicos, etc.
Tem principalmente a função de órgão consultivo do Presidente da República,
sendo herdeiro histórico do Conselho da Revolução.
Conselho Superior da Defesa Nacional (art 274.º)
Presidido pelo Presidente da República.

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Trata-se de um órgão consultivo em questões relativas à defesa nacional,


podendo também desempenhar funções administrativas relativamente a esta.

Provedor de justiça (art. 23.º)


Tem fundamentalmente uma função moderado entre os cidadãos e o poder,
pois quem se sente vitima por ação ou omissão dos poderes públicos pode
apresentar uma queixa ao provedor que justiça, que a aprecia. Este não tem
competência decisória, mas pode apreciar a queixa e caso ache que esta
queixa é concisa, poderá fazer uma recomendação à ordem do poder no
sentido de ser a ordem do poder a tomar a decisão.
Tem também uma função importante de ligação entre os cidadãos e o Tribunal
Constitucional.

Conselho Superior de Magistratura (art. 217.º e 218.º)


A existência deste órgão visa conferir a eficácia do princípio da independência
dos tribunais (art. 206.º).
Quem exerce o poder disciplinar sobre os juízes. Qual será o melhor modelo
para compor este conselho? Deve este ter uma maioria de juízes, para serem
juízes a avaliar juízes, ou devem ser representantes da Assembleia da
República? O art. 218.º nº1 responde a esta questão, permitindo que a maioria
dos membros não seja composta por juízes.

Conselho Superior dos Tribunais administrativos e fiscais (art. 217.º nº2)


Órgão análogo ao Conselho Superior da Magistratura, sendo uma estrutura de
autogoverno aos tribunais que não cabem a jurisdição do primeiro.

Procuradoria Geral da República (art. 220.º)


É uma estrutura orgânica pois é formada pelo Procurador Geral da República e
pelo Conselho Superior do Ministério Público. É o órgão superior do Ministério
Público, não está subordinado ao governo e tendo autonomia
política/administrativa face a este.

Conselho Económico e Social (art. 92.º)


Herdeiro da Câmara Corporativa. Foi criado na revisão constitucional de 1989.

Autoridades administrativas independentes

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Há duas:
➢ Autoridades protetoras dos dados pessoais;
➢ Autoridades reguladoras da comunicação social.

ÓRGÃOS DA REPÚBLICA DE ÂMBITO LOCAL (governador civil já não existe)

Representante da República das regiões autónomas (art. 230.º)


Herdeiros do antigo Ministro da República. É um órgão político do Estado, tem
um estatuto próximo do Presidente da República, pois depende da sua
confiança politica, o fim e início dos seus mandatos estão próximos.
Tem poderes semelhantes ao Presidente da República na região autónoma,
tendo fundamentalmente 4 tipos de poderes:
➢ Relativos à formação do governo regional – este ouve os partidos com
representação na assembleia regional, e nomeia o governo com base
nos resultados das eleições. (art. 231.º nº 3 e 4);
➢ Poderes de assinatura e veto dos diplomas regionais (art. 233.º);
o Em decretos legislativos regionais:
São aprovados pela assembleia legislativa e enviados para
assinatura do representante da republica:
▪ Pode concordar e assinar;
▪ Pode ter objeções políticas ao diploma e vetar
politicamente (veto suspensivo) o mesmo indicando as
suas razões e devolvendo o diploma (art. 233.º nº2)
podendo este ser reaprovado por maioria absoluta;
▪ Pode mandar o diploma para o Tribunal Constitucional
para fiscalização preventiva da constitucionalidade. Este
pode entender que o diploma não é inconstitucional, sendo
mandado de novo ao representante que pode assinar ou
vetar. Caso entenda que a solução é inconstitucional, nos
termos do art. 279.º, estando o representante obrigado a
vetar diploma e a mandá-lo de novo para a assembleia.
Neste caso, o diploma não pode ser confirmado por
maioria de 2/3 porque esta assembleia não é um órgão de
soberania.
o Em diplomas regulamentares regionais:
Não há fiscalização preventiva de decretos regulamentares.
Se o decreto regulamentar é proveniente da assembleia
legislativa, o veto do representante é sempre suspensivo.
Se o diploma é proveniente do governo regional, o veto do
representante é absoluto.

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Há um caso em que o veto do Representante é absolutíssimo,


em matéria do art. 231.º nº6. Não pode ser invertido de forma
nenhuma.

➢ Poderes de defesa da legalidade. Tem poderes de fiscalização


preventiva e de fiscalização da constitucionalidade e legalidade (art.
281.º);
➢ Poderes implícitos de natureza protocolar, tem poderes de auto
organização interna dos seus serviços, pode ter poderes especiais em
situações de estado de sitio e poderes representativos através de
discursos.

Presidente da Assembleia Legislativa das Regiões Autónomas


O Presidente da Assembleia Legislativa das regiões autónomas pode substituir
o Representante (230.º nº3) nos seguintes casos:
• Vagatura do cargo;
• Caso de ausência;
• Impedimento temporário.
O governo regional pode ainda agir como delegado do governo da República,
aparecendo como órgão da República de âmbito local (art. 229.º nº4).

AULA 16 – 29/04
Regiões Autónomas
Sentido da autonomia regional – relacionada com 4 ideias:
As regiões autónomas portuguesas são um produto da Constituição de 76 mas
com uma fonte histórica da revisão constitucional 1971 da Constituição de
1933, Constituição espanhola de 1931 e Constituição francesa 1947.
Fundamenta da autonomia (art. 225.º) – faz o elenco de 5 ideias:
• As circunstâncias geográficas;
• Ideia de aspirações históricas ao que apela a dimensão imaterial do
espírito do povo;
• Princípio da subsidiariedade;
• Princípio democrático que apela a participação das pessoas às normas
a que estão sujeitas;
• Unidade nacional uma vez que se integra num estado unitário.

Objetivos da autonomia

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• Reforço da participação;
• Defesa dos interesses regionais;
• Desenvolvimento;
• Reforço da unidade na diversidade.

Limites à autonomia
• Constituição;
• Natureza unitária do Estado;
• Reserva de competência dos órgãos de soberania (as Regiões
Autónomas não podem invadir a esfera de competência dos órgãos de
soberania);
• Interesse nacional (prevalência do direito do Estado);
• Compromissos internacionais;
• Estatutos politico administrativos (ou estatutos regionais)
Estes, são juridicamente uma lei da República, aprovados pela
Assembleia da República, referendada pelo Primeiro-Ministro. São uma
lei da República que, não sendo uma constituição regional, tem
especialidades do procedimento e quanto à sua função dentro do
ordenamento jurídico.
Quanto ao primeiro (art. 226.º):
A Assembleia da República que é competente para decidir a
matéria não tem todavia iniciativa legislativa originária, ou seja,
competência legislativa é o poder de fazer leis e quem tem o
poder de fazer tem o poder de modificar as leis e recusar fazê-las.
Iniciativa legislativa é o poder de desencadear a feitura de uma
lei, consubstancia-se no poder de apresentar propostas ou
projetos de lei. Temos uma competência legislativa reservada à
assembleia e uma competência de iniciativa reservada às
Regiões Autónomas. A Assembleia da República recebe das
Regiões Autónomas uma proposta de alteração dos respetivos
estatutos regionais, que a Assembleia da República pode aprovar,
rejeitar, ou aprovar com modificações. Se a Assembleia da
República introduzir alterações, estas regressam à Regiões
Autónomas, que pode concordar ou discordar. Última palavra,
contudo, é sempre da Assembleia da República.
Força jurídica dos estatutos regionais: estes são a lei ordinária mais
reforçada de todas as leis reforçadas. Uma lei reforçada é uma lei que
não pode ser revogada por todas as outras leis (exemplo: leis de
autorização legislativa, lei de bases relativamente aos estatutos de
desenvolvimento, etc.) por duas razões:

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➢ Todos os diplomas emanados das Regiões Autónomas estão


subordinados aos respetivos estatutos, o que os torna limite de
toda a atuação das Regiões Autónomas.
➢ Também as leis da República têm de respeitar os estatutos da
Regiões Autónomas (art. 280.º nº2 c) e art. 281.º nº1 d) ).
Hierarquicamente, acima dos estatutos encontra-se apenas a
Constituição.

Poderes das Regiões Autónomas (art. 227.º)


Há essencialmente 5 tipos de poderes das Regiões Autónomas:
Autonomia ou poderes legislativos ( de 4 tipos):
➢ Competência legislativa reservada: matérias sobre as quais só as
Regiões Autónomas podem legislar (caso outro órgão legisle há
inconstitucionalidade orgânica). Art. 227.º nº1 i), l), n), p), q). Nestas
matérias sublinhava que só a Regiões Autónomas pode legislar,
algum órgão que não seja a assembleia legislativa não pode legislar
nestas matérias.
➢ Competência legislativa autorizada: autorizada pela ar em matérias
do art. 165.º (não todas, só as especificadas no art. 227 nº1 b)). Tem
esta competência através de lei de autorização legislativa aqui, há
decretos legislativos regionais autorizados.
➢ Competência legislativa de desenvolvimento: (art. 227.º nº1 c)). Pode
a republica, por via da assembleia legislativa ou do governo, podem
elaborar leis de bases. As Regiões Autónomas podem desenvolver
as leis de bases se as matérias se situarem na área concorrencial
(não podem ser em matérias da área reservada)
➢ Competência legislativa estatutária: Art. 227.º nº1 a). As Regiões
Autónomas podem legislar sobre as matérias elencadas nos
estatutos desde que essas matéria não sejam reservadas aos órgãos
de soberania (só podem ser de área concorrencial).
Poderes financeiros e tributários
➢ As Regiões Autónomas têm autonomia em matéria orçamental
(aprova o seu próprio orçamento), em matéria de património (devem
ser eles a geri-lo), e em matéria de adaptação do sistema fiscal
(devem adotar o sistema fiscal nacional às especificidades das
Regiões Autónomas). Isto quer dizer que podem criar impostos
próprios, podem adaptar os impostos nacionais (como o Iva), podem
adaptar o sistema fiscal nacional e podem também criar serviços
tributários próprios.
Autonomia administrativa ou poderes administrativos
➢ As Regiões Autónomas têm poder administrativo regional que se
traduz numa competência regulamentar, as Regiões Autónomas

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podem elaborar 2 tipos de regulamentos: regulamentos da própria


legislação regional e regulamentos das leis da República, tendo em
conta que a própria lei da República pode reservar o poder
regulamentar para a própria República.
➢ Têm ainda o poder de celebrar contratos administrativos, tem poder
sobre a própria administração da Regiões Autónomas
Autonomia de intervenção internacional
➢ As Regiões Autónomas têm o pode de participar em organizações
internacionais, têm poder de representação em organizações
regionais da eu, devem integrar as delegações portuguesas com
incidência na Regiões Autónomas. Alguns estados federados não
têm estes poderes de intervenção internacional.
Autonomia de participação das Regiões Autónomas
➢ Participação política a assuntos que dizem respeito às políticas
nacionais com incidência nas Regiões Autónomas (como a política
dos recursos marinhos).
➢ Participação no processos legislativo caso as leis tenham incidência
nas Regiões Autónomas e como garantia da autonomia, pois alguns
dos seus --- têm poder de desencadear a fiscalização de leis que
violem direitos das Regiões Autónomas.

A violação do estatuto não gera inconstitucionalidade, mas sim ilegalidade,


logo, não há fiscalização preventiva da ilegalidade. Se as leis da República
contrariarem o estatuto podem ser objeto de fiscalização da
constitucionalidade, mas nunca fiscalização preventiva.
Prevalência do direito do Estado: Os decretos legislativos regionais no
âmbito da competência legislativa estatutária em principio não podem ser
condicionados pela republica, mas pode faze-lo ao elaborar uma lei de bases,
onde serão definidas regras aplicadas a todo o território nacional. A
competência legislativa estatutária esta condicionada às leis de bases da
republica. Assim, a lei de bases pode condicionar à priori a elaboração de um
decreto legislativo regional ou pode condicionar supervenientemente.

Notas sobre a estrutura de organização


Há dois órgãos representativos : Assembleia Legislativa (art. 231.º) que
funciona como o parlamento da Regiões Autónomas. É eleita por sufrágio
direito, tem 3 tipos de competências:
➢ Política – acompanhar e fiscalizar a atuação do governo regional;
➢ Administrativa – os regulamentos das leis da República são sempre
feitos pela Assembleia Legislativa;
➢ Legislativa.

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Governo regional (Art. 231.º). é o órgão de direção da política da Regiões


Autónomas, ele é responsável policamente perante a Assembleia legislativa,
sistema de governo parlamentar (funcionou desde 1976 ate hoje com um
presidencialismo de Primeiro-ministro) mas quem nomeia o Presidente do
governo regional é nomeado pelo Representante da República.
Competência:
➢ Não tem competência legislativa nem pode ser atribuída tal;
➢ Competência política;
➢ Competência administrativa;
➢ Competência reservada nos termos do art. 231.º nº6 em matéria
respeitante à organização e funcionamento do governo regional.

AULA 17 – 30/04
Atos legislativos da Assembleia da República vs. do governo
Princípios que norteiam as estruturas normativas
Princípio da não exclusividade das fontes normativas formais – a lei, enquanto
fonte normativa formal, não esgotam as fontes de direito, há mais fontes de
direito do que aquelas que resultam das fontes formais (como o costume).
Princípio da pluralidade daa fontes formais – a lei, ato legislativo proveniente da
Assembleia da República, não esgota as fontes formais, ou seja, há uma
pluralidade de atos formais (como a figura do decreto-lei, do regulamento, do
decreto legislativo regional, etc.)
Princípio da tipicidade da reserva de lei – a reserva de lei são as matérias que
só podem ser objeto de tratamento jurídico por ato legislativo, só o legislador
pode regular estas matérias, o que é reserva de lei só pode ser objeto de
tratamento por ato legislativo. Todavia competência legislativa do parlamento é
reserva de lei, mas nem toda a reserva de lei é competência do parlamento. Só
há reserva de lei quando a Constituição o diz, expressamente ou tacitamente.
Art. 199.º g).
Princípio da tipicidade dos atos legislativos – só há os atos legislativos que a
Constituição acolhe. Art. 112.º nº1 – a sede do principio das tipicidade dos atos
legislativos. Isto não esgota os atos legislativos do ordenamento português,
pois a Constituição pode criar noutras disposições outros tipos de atos
legislativos, existe uma outra categoria de leis que não esta incluída no artigo
previamente mencionado, as leis orgânicas. Também não se esgota no 112.º
pois este artigo refere-se a atos legislativos durante a vigência desta
Constituição, o que permite que atos legislativos anteriores à Constituição se
mantenham ate hoje (como a carta de lei, um diploma do séc. XIX que esta
atualmente em vigor). Art 112.º nº5 – garantia da tipicidade da reserva de lei.

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Princípio da revogabilidade das normas jurídicas – todas podem ser revogadas,


mas há casos em que a revogação e proibida
Princípio da não comunicabilidade entre normas de diferente natureza – as
normas de direito internacional publico não revogam os decretos lei ou os
decretos legislativos regionais. Pode sim ocorrer o fenómeno da
inaplicabilidade, em que lei posterior torna inaplicável lei anterior.
Princípio da pluralidade de relações internormativas – entre os atos normativos
nem tudo é pacífico, pois entre eles há vários tipos de relações:
• Relação cronológica (ato normativo posterior afasta ato normativo
anterior)
• Especialidade (lei especial não revoga lei geral nem o contrario a não
ser que o legislador o especifique, mas se a lei especial tem um vicio
ou desaparece do ordenamento, aplica-se a geral)
• Relacionamento hierárquico, dá-nos 4 ideias:
o Prevalência da Constituição sobre os demais atos normativos
o Dentro dos atos legislativos, há que diferenciar os de valor
comum (diploma de desenvolvimento) e os de valor reforçado
(como a lei de bases)
o Prevalência da lei relativamente ao regulamento, estão
sempre subordinados à lei
o Princípio da paridade ou superioridade entre lei e costume
Princípio da vinculação da administração e dos tribunais – devem obediência à
lei, mas os tribunais têm o dever e direito de recusar a aplicação da norma
inconstitucional. A administração, em regra, deve aplicar normas
inconstitucionais, com 3 exceções:
• As que violem a consciência jurídica universal
• As que violem direitos, liberdades e garantias
• Cujo desvalor jurídico seja verificado na própria Constituição
Princípio da supletividade do Direito do Estado – numa relação entre o Estado
e o ordenamento (uma entidade publica menor, como uma autarquia ou uma
universidade), a regra é: na falta de norma da entidade, aplica-se o Direito do
Estado (art 228.º da Constituição). Se as Regiões Autónomas que têm um grau
máximo de descentralização se aplica o Direito do Estado, noutras entidades
publicas menores não tao descentralizadas aplica-se o Direito do Estado. Nos
casos omissos, em que alei não cobre tudo, aplica-se o direito do Estado. Mas,
caos a entidade crie uma lei própria, o direito do estado é afastado, dai ser uma
norma supletiva.
Princípio da prevalência do direito do Estado – tem sempre mecanismos para
fazer imperar o interesse nacional sobre os interesses locais. Exemplos:
• Prevalência da força normativa da Constituição
• Leis reservadas à competência dos órgãos de soberania

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NOTA: A Constituição portuguesa utiliza a expressão lei como uma pluralidade


de sentidos.
➢ A lei aparece com o sentido de direito, art. 13.º nº1
➢ A lei aparece com o sentido de fonte intencional de criação de direito, art.
4.º
➢ A lei aparece como um ato da função legislativa que abrange a ordinária
como a função constitucional. A validade de todas as leis depende da sua
conformidade com a Constituição, art. 3.º
➢ A lei aparece como um ato da função legislativa em sentido estrito, é a
expressão do exercício da função legislativa por parte da Assembleia da
República, art 112.º nº1
O sentido de lei da CRP é em sentido formal ou material?
Em sentido material tem como característica a generalidade e abstração. A
generalidade é o conjunto indeterminado de indivíduos em quem vai ser
aplicada a lei. A abstração é o conjunto indeterminado de situações às quais a
lei se vai aplicar.
Podem existir leis individuais na CRP?
Ou seja, leis onde os destinatários são determinados. Podem, mas não em
todas as matérias. Há casos em que a CRP impõe a lei material. São esses
casos, as leis de restrição de direito liberdades e garantias - art. 18.º, n.º 3; leis
sobre incapacidade eleitoral; leis penais de carácter punitivo: leis
sancionatórias no geral - art.29.º, n.º4.
As leis individuais são designadas de leis medidas. Estas leis são atos
administrativos que vão solucionar problemas face a pessoas concretas - são
materialmente atos administrativos, sem conteúdo normativo.
A Assembleia da República não pode praticar atos administrativos sobre a
forma de decreto-lei, porque a Assembleia da República não tem poderes
administrativos. Só o governo pode fazê-lo. O decreto-lei é ato administrativo.
Está sujeito ao controlo político e à fiscalização preventiva por parte do Tribunal
Constitucional, mas também está sujeito ao controlo dos tribunais
administrativos.

AULA 18 – 06/05
Força da lei
Divide-se em 2 ideias: Força de lei material e força de lei formal.
A força de lei material traduz a forma de relacionamento da lei com as
situações da vida social, com factualidade. Podemos chegar a duas
conclusões:

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• A lei tem a possibilidade de disciplinar pela 1º vez todas as matérias, o


que significa que há uma força de lei material positiva ou originária, mas
com 3 limites:
▪ Reserva dos tribunais, a lei não pode disciplinar o que é
matéria do tribunal;
▪ Reserva de administração, não pode disciplinar aquilo que
segundo o principio da separação de poderes é próprio da
administração;
▪ Direitos fundamentais e a sua reversa.
• A lei tem a capacidade de modificar, revogar e suspender qualquer
disciplina anteriormente feita pode uma lei, ou seja, tem a possibilidade
de no fundo alterar outras leis. Esta é a força de lei material negativa.
A força de lei formal tem a ver com a relação da lei com outros atos jurídicos,
há duas vertentes:
➢ A lei tem a capacidade de modificar, revogar, invalidar atos de diferente
natureza. A lei pode sempre produzir efeitos dobre atos da
administração – força da lei formal positiva. Mas, o princípio da
separação de poderes indica que a lei não pode revogar ou modificar
decisões dos tribunais.
➢ A capacidade de resistir por atos de diferente natureza – um
regulamento ou contrato não pode modificar uma lei. Isto significa a ideia
de uma preferência ou prevalência da lei – força da lei formal negativa.
Existem atos que não são leis mas que têm uma força semelhante à da lei,
como as resoluções da Assembleia da República, que suspendem decretos
leis, ou a declaração de inconstitucionalidade do Tribunal Constitucional com
força obrigatória geral. Ou as decisões de outros tribunais com força obrigatória
geral – herdeiros dos antigos assentos.
Art. 112.º nº5 1ª parte – nenhuma lei pode querer criar outras categorias de
leis, só a Constituição pode criar outros atos legislativos.
2ª parte – OU conferir a atos de outra natureza o poder de, com eficácia
externa, integrar, modificar, suspender ou interpretar qualquer um dos seus
preceitos. Ou seja, um regulamento com eficácia externa não pode modificar
nem interpretar a lei. Proíbe os regulamentos delegados. Contudo, não esta
proibida a deslegalização. Esta é um ato pela qual a lei retira força de lei a si
própria, é uma lei que se rebaixa ano seu nível hierárquico. Atribui a si mesma
não a força de lei, mas de regulamento. Isto é possível em 2 fenómenos:
➢ Indicar num artigo da própria lei a autodeslegalização
➢ Outra lei indica essa deslegalização, uma lei posterior rebaixa a lei
anterior. Neste caso, trata-se de heterodeslegalização. Não é possível
deslegalização em matéria de reserva de lei, pois essa matéria só pode
ser disciplinada por lei logo não pode ser qualificada em regulamento.
A deslegalização leva a que a lei deslegalizada possa ser modificada ou
revogada por regulamento ou ato administrativo, pois deixou de valer como lei.

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Isto não viola o art 112.º nº5, pois a própria lei é que deixou de valer como lei e
passou a valer como regulamento.

Relações entre atos normativos (relações interlegislativas)


É possível uma lei ser ilegal, quando viola outra lei que tem perante ela uma
natureza de valor reforçado, logo, há dois tipos de leis ordinárias: as leis
ordinárias comuns e as leis ordinárias reforçadas. Consequências:
➢ As leis ordinárias reforçadas não podem ser revogadas, modificadas
ou suspensas por leis ordinárias comuns, só uma lei reforçada da
mesma natureza pide fazer isso. Exemplo: uma lei de bases só pode ser
modificada ou revogada por outra lei de bases. Há assim um limite à
revogabilidade das soluções existentes no âmbito das leis reforçadas.
➢ As leis ordinárias comuns estão subordinadas às leis reforçadas
sobre pena de ilegalidade.
➢ A aplicação do princípio “lei posterior revoga lei anterior” só é válida
quanto às leis de igual natureza. Um decreto-lei autorizado não
revoga uma autorização legislativa. Isto significa que as leis
ordinárias reforçadas são exceção ao art. 112.º nº2 1ª parte.
Que tipos de leis reforçadas existem?
De caráter geral, para todo o ordenamento jurídico. Exemplo: estatutos politico
administrativos das Regiões Autónomas. Todos os diplomas regionais estão
subordinados aos estatutos, e os diplomas da republica não podem violar direitos
consagrados às Regiões Autónomas.

Lei travão (art. 112.º nº2) – no ano económico em curso, os grupos


parlamentares e as associações legislativas, não podem apresentar propostas
ou projetos de lei que envolvam aumento de despesas ou uma diminuição de
receitas pois punha em causa o equilíbrio do orçamento. Caso o façam, a lei é
inconstitucional. Caso da lei do orçamento, a lei aprovada envolverá um
orçamento retificativo. Exemplo: caso atual do descongelamento das carreiras dos
professores. A Assembleia da República pode criar obrigações ao governo que queira
apresentar proposta de lei no próximo ano económico.

A lei resultante do referendo é também ela reforçada de caráter geral, pois a lei
que resulta de refendendo só pode ser modificada em caso de outro referendo
Leis reforçadas de caráter especial – Só são reforçadas para o decreto lei, só
são reforçadas para alguma(s) lei(s)
➢ Lei do orçamento – é uma lei anual, é uma lei de valor reforçado
perante todo o ordenamento jurídico. A lei do orçamento de cada ano
deve respeitar normas para a sua elaboração (Lei de Enquadramento
do Orçamento, é também ela de valor reforçado especial). Não há
fiscalização preventiva da ilegalidade mas sim da constitucionalidade
➢ Lei do regime de referendo face a cada referendo ou lei do regime do
estado de exceção face cada declaração de estado de exceção, etc.

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Lei reforçada de caráter suis generis – leis que fixam o formulário, a lei
formulária, trata da identificação dos diplomas. É aplicada a todos os atos,
incluindo às próprias leis reforçadas. A lei sobre a participação das
organizações dos trabalhadores na legislação laboral. Disposições do Código
Civil que dizem respeito às fontes, interpretação, integração, aplicação e
vigência das leis. Este caso é um caso de dúvida, pois essas disposições
iniciais do Código Civil são a expressão de uma lei ordinária de valor reforçado
ou são normas materialmente constitucionais? As regras em matéria de
interpretação, integração, aplicação da lei no tempo, aplicam-se também nas
normas da própria Constituição.

Leis de revisão constitucional – iniciativa exclusiva dos deputados da


Assembleia da República, só os deputados podem desencadear a feitura da
Constituição. As leis de revisão têm de ser aprovadas por maioria de 2/3 dos
presentes.
As alterações têm de ser publicadas conjuntamente com o diploma de revisão
(art. 287.º).
Não pode haver recusa de promulgação pelo Presidente (art. 286.º nº3).
Questiona-se se pode haver fiscalização preventiva da constitucionalidade
As revisões têm limites temporais, materiais e circunstanciais – arts.
284.º, 289.º e 288.º.

Leis estatutárias dos estatutos politico administrativos


Leis orgânicas – são todas aquelas a que se refere o art. 166.º nº2. São leis
reforçadas no art. 112.º nº3.
Art. 112.º nº1 – o artigo diz-nos que são atos legislativos a lei, o decreto-lei e o
decreto legislativo regional. Será que as leis orgânicas são uma nova forma de
lei? OTERO acha que sim, MIRANDA acha que não. OTERO diz que sim
porque:
➢ Art. 166.º nº2 diz-nos que as leis orgânicas têm uma forma jurídica
diferente das demais leis (forma e numeração própria);
➢ As leis orgânicas têm um procedimento de feitura diferente das
demais leis – as leis orgânicas são objeto de votação final global
sempre por maioria absoluta, ao invés da maioria relativa para as
outras leis. (art. 168.º nº5)
➢ Fiscalização da constitucionalidade (art. 278.º nº 4 e 5) – em relação
a todas as demais leis, só há um órgão que tem o poder de
desencadear esta fiscalização, o Presidente da República, Primeiro-
Ministro e 1/5 dos deputados. O presidente da Assembleia da
República quando manda o diploma tem uma outra obrigação, dar
conhecimento que foi enviado para o Presidente da República ao

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Primeiro-Ministro e aos grupos parlamentares, para que o Primeiro-


Ministro ou os grupos poderem desencadear a fiscalização
preventiva. Isto tem outra consequência, o Presidente da República
não pode promulgar enquanto não ocorrer o prazo de 8 dias ate o
diploma não ser desencadeado para fiscalização preventiva. O
Presidente da República pode querer promulgar, mas se o Primeiro-
Ministro ou 1/5 dos deputados desencadearem a fiscalização
preventiva já não pode. Se o Tribunal Constitucional definir
inconstitucionalidade, o Presidente da República não pode
promulgar, mesmo contra a sua vontade.
São igualmente leis reforçadas as leis de bases em relação aos diplomas de
desenvolvimento. Há, no entanto, 2 tipos de leis de bases:
➢ Leis de bases que são de matéria reservada da Assembleia da
República, são um limite ao governo, não por serem leis de bases mas
por serem de matéria reservada
➢ Leis de bases na área concorrencial, podem ser feitas a seguinte
pergunta: será que todos os decretos leis estão subordinados às leis de
bases na área concorrencial? Nem todos, pois a lei de bases da ara
concorrencial poderá sempre ser revogada por um decretos lei de
bases, pois na área concorrencial tanto a Assembleia da República tem
a mesma competência que o governo. NOTA: Um decreto-lei de
desenvolvimento não pode revogar uma lei de bases. O inverso é
verdadeiro, um decretos lei de bases não pode ser revogado por uma lei
de desenvolvimento. Isto porque as leis de desenvolvimento estão
sempre subordinadas às bases.

AULA 19 – 07/05
Continuação dos Atos Legislativos
Leis de autorização legislativa (limites) - art. 165.º nº 2 e seguintes
As leis de autorização legislativa devem definir o objeto, sentido, extensão e
duração da autorização – são parâmetros que o governo está obrigado a
respeitar (ou as regiões autónomas) por serem leis de valor reforçado. Nº3 do
art. 165.º - as autorizações não podem ser utilizadas mais de uma vez, mas
podem ser utilizadas parcelarmente. Pode-se criar certo diploma através da
autorização, mas esta autorização não pode ser aproveitada para alterar esse
diploma. Pode-se, contudo, na mesma autorização legislativa criar certo
diploma e desenvolvê-lo, não pode haver sobreposição de matérias mas sim a
sua completude (como numa lei de bases e o seu regime geral, alíneas h) e g)
do art. 165.º).
Nº 4 do art. 165.º - as autorizações legislativas do governo caducam com a
admissão do governo a que foram concebidas, com a demissão do governo,

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dissolução da assembleia ou termo da candidatura. Cessa a vigência da


autorização.
Se determinada autorização legislativa permite o governo legislar sobre certa
matéria, este não pode legislar sobre quaisquer outras à parte, senão o
diploma elaborado estará ferido de inconstitucionalidade.
A autorização legislativa de matéria fiscal segue a lei do orçamento, ou seja, só
caduca quando a lei do orçamento caducar (todos os anos), sendo irrelevante
se a assembleia é dissolvida ou o governo demitido ou a candidatura termina.
O governo está demitido, poderá o governo de gestão elaborar um
decreto lei autorizado com fundamento a lei de orçamento de Estado
através da autorização legislativa em matéria fiscal? Será que tem
competência? E será que tem limites de ação?
Está limitado pelo princípio da necessidade, que é uma vertente do princípio da
proporcionalidade. Um governo de gestão não pode fazer tudo, apenas o que é
estritamente necessário. Assim, só pode elaborar um decreto-lei caso seja
estritamente necessário (art. 185.º nº6).

Processo legislativo
Como é que a Assembleia da República faz uma lei?
Atenção às fontes, onde está regulado o processo legislativo, há 4 fontes:
• Constituição;
• Regimento da Assembleia da República;
• Leis ordinárias avulsas (como a lei da participação de organizações de
trabalhadores na legislação do trabalho);
• Costume parlamentar.
Há três tipos de processos legislativos:
Comuns – tem 6 fases:
Iniciativa legislativa – poder desencadear a feitura de uma lei através da
apresentação de uma proposta e um projeto d elei. O projeto é a
designação quando a iniciativa vem de dentro da Assembleia da
República, as propostas vêm sempre de fora do parlamento. Art. 167.º.
Esta pode ser concorrencial ou reservada (matéria de estatutos ou
eleições de titulares do poder legislativo das Regiões Autónomas, da
Assembleia legislativa regional - art. 226.º nº1). Pode também ser
originária ou superveniente. Por último, há que sublinhar que há uma
grande diferença entre iniciativa legislativa e competência legislativa.
NOTA: A mesa da Assembleia da República poderá não admitir as
propostas se forem inconstitucionais, violarem leis de valor reforçado ou
forem obscuras (não definirem bem o sentido). Neste último caso, há

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recuso para o Plenário, e caso sejam aprovadas são publicadas no


Diário da Assembleia da República.
Apreciação do diploma - Apreciação que pode envolver 2 momentos:
• Interna – feita em comissão.
• Externa – envolve a intervenção de outras estruturas como a
audição das Regiões Autónomas, das comissões de
trabalhadores, associações de municípios, etc.
Fase da deliberação – tem 3 subfases:
• Discussão e votação na generalidade na Assembleia da
República – só prossegue para as seguintes se houver
aprovação na generalidade
• Apreciação e votação na especialidade – os casos mais
nobres são feitos em Plenário, mas normalmente é em
comissão
• Votação final global – a regra é a votação final global por
maioria simples (art. 116.º nº3). Todavia, há exceções (art.
168.º), que define no nº5 a regra que as leis orgânicas estão
obrigadas na votação final global a serem aprovada por
maioria absoluta dos deputados. O nº6 exige a aprovação por
maioria de 2/3 com remissão ao art. 168.º. Nas matérias onde
a Constituição impõe a aprovação final global de maioria de
2/3, o veto do Presidente da República só pode ser superado
por maioria de 2/3.
Redação final – por comissão competente.
Fase da promulgação – o Presidente da República pode promulgar,
vetar politicamente ou encaminhar para o Tribunal Constitucional. Caso
haja promulgação, segue-se a 5ª fase.
Referenda ministerial – Não incide sobre a lei, mas sim a promulgação
do Presidente da República. É uma assinatura sobre uma assinatura, a
do Primeiro-Ministro sobre a do Presidente da República. Art. 137.º e
140.º. NOTA: O Presidente da República está obrigado a promulgar em
determinadas situações. Mas o fato de não poder recusar a promulgação
não quer dizer que alguém possa coagir o Presidente da República a
assinar, pois seria um ato inválido. A obrigatoriedade de um ato não
obriga a prática desse ato, a falta de liberdade implica a sua invalidade.
Publicação no Diário da República – art 119.º nº2, o ato tem de ser
publicado para ser eficaz. É com a publicação que o diploma entra em
vigor no ordenamento jurídico. O legislador pode atribuir eficácia
retroativa à norma (nos casos em que a lei permite). A retroatividade em
direito constitucional é válida conforme a análise do caso concreto. A
partir do momento da promulgação, a fiscalização da constitucionalidade
será sempre sucessiva, mas a publicação do diploma não implica a sua

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entrada IMEDIATA em vigor, podendo existir um período de vacatio


legis.
Especiais – como os estatutos regionais.
Urgência – art. 170.º.

Haverá algum primado legislativo do Parlamento? Será que na relação


governo/parlamento, que há um primado para último?
Historicamente, no séc. XIX, o parlamento concentrava a função legislativa.
Hoje, em Portugal, se verificam 2 fenómenos:
➢ O governo tem uma ampla competência legislativa, herdada pela
Constituição de 1933.
➢ O governo tem uma legitimidade democrática
MIRANDA diz que continua a haver um primado do parlamento por 5 motivos:
• Tem uma competência legislativa genérica;
• Tem uma competência legislativa reservada;
• Mesmo na área concorrencial, o parlamento pode fazer leis de bases;
• Os decretos lei estão sujeitos a controlo do parlamento art. 169.º;
• O veto politico do Presidente da República sobre os diplomas do
parlamento é sempre suspensivo, sobre os diplomas do governo é
sempre absoluto.

AULA DE DIA 14 A FALTAR

AULA 21 – 21/05
FOI O SANCHEZ A DAR???
DESCRIÇÃO SISTEMÁTICA DA FISCALIZAÇÃO DA
CONSTITUCIONALIDADE
Porque é que existe?
Art. 3.º nº3 – A validade de todos os atos jurídico-políticos depende do seu
respeito À constituição. Se o ato viola a Constituição não vale para o Direito, é
invalido. Temos de ter mecanismos para garantir que esses atos não vão ter
efeitos, daí a existência do Tribunal Constitucional e a competência de
fiscalização da constitucionalidade garantida a todos os tribunais.
Sistema misto – conjuga traços próprios de um sistema difuso (todos os
tribunais têm uma competência espalhada de fiscalizar a constitucionalidade) e
traços de um sistema concentrado (colocam as competências num só órgão,
como no modelo austríaco).

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Art. 204.º - todos os tribunais têm o poder e dever de desaplicar uma norma
inconstitucional.
No sistema misto, o objeto da fiscalização é em 1º lugar o controlo de normas
jurídicas. Depois, temos desvios. O Tribunal Constitucional começou a
observar que o governo (órgão administrativo e legislativo) utilizar declei de
atos legislativos individuais e concretos, não protegendo o povo. Então, a
solução a isto foi: qualquer ato que tenha forma legislativa é sempre controlável
mesmo que não tenha qualquer norma.
Há ainda outras duas exceções:
Referendo – é o único caso em que a fiscalização preventiva é obrigatória.
(Desconfiança da Constituição quanto à vontade democrática e legitimidade
popular).
Convenções coletivas de trabalho – atos de direito privado (natureza híbrida).
Dentro deste controlo, temos também a possibilidade de tribunais estrangeiros
aplicarem a Constituição portuguesa e controlarem a sua constitucionalidade.
Os tribunais portugueses podem também fazer o mesmo, a força da
Constituição ultrapassa fronteiras.

Tipos de inconstitucionalidade:
➔ Formal – violação de egras formais ou procedimentais da Constituição.
➔ Orgânica – violação da normas de competência.
➔ Material – Violação de normas matérias da Constituição que expressam
valores substantivos, como a violação de direitos fundamentais.
➔ Finalística ou teleológica – O ato não teria qualquer erro, mas foi praticado
com uma intenção errada, com um fim que a Constituição proibiria.

Estas inconstitucionalidades são controladas por 4 processos diferentes:


Fiscalização concreta – resulta do art. 204.º, que permite a qualquer tribunal
controlar a constitucionalidade de uma norma no caso concreto, sendo o
objetivo apenas resolver a situação concreta. É o único processo em que todos
os tribunais podem participar, aqui, todos os tribunais são constitucionais. Art.
280.º: qualquer cidadão afetado por uma situação de fiscalização da
constitucionalidade pode interpor um recurso perante o Tribunal Constitucional.
Casos de recurso obrigatório: nº 3 e nº 5 do mesmo artigo (ANALISAR). Sem
ser estes casos, o recurso é facultativo. (Art. 70.º e sgt da Lei do Tribunal
Constitucional).
No processo abstrato, só o Tribunal Constitucional se pode pronunciar.
Fiscalização preventiva – Art. 278.º e 279.º, pretende que a norma
inconstitucional entre em vigor. Sendo uma norma mais importante (lista dos
atos no art. 278.º nº1 e nº2: atos legislativos e convenções internacionais), era

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incorreto deixá-la entrar em vigor sendo inconstitucional. O processo é


desencadeado, em regra geral, pelo Presidente da República. No entanto, há
desvios. Se a norma em causa consta numa to regional, o Presidente da
República não vai intervir, pertencendo ao representante da republica. Outro
desvio, se uma lei for orgânica, outras entidades podem suscitar a fiscalização
preventiva (art. 278.º nº4, Primeiro-Ministro ou 1/5 dos deputados), podendo
desencadear em 8 dias.
Fiscalização sucessiva abstrata – art. 281.º e 282.º, é um processo em que se
fiscaliza uma norma já em vigor, sendo o objetivo removê-la do ordenamento
jurídico. Caso esta inconstitucionalidade seja declarada num processo abstrato,
tem força obrigatória geral. O fato de ela deixar de existir quer dizer que a
sentença tem de ter força retroativa. Há, contudo, respeito por casos julgados e
casos de limitação de efeitos da constitucionalidade pois, em alguns casos, o
Tribunal Constitucional concorda que alguns dos efeitos da norma
inconstitucional deve ser protegida. Há mais entidades que podem
desencadear este processo, é prevista por todas as entidades do art. 281.º nº2.
Fiscalização por omissão - art. 283.º, todos os outros são processos por ação,
aqui o que é inconstitucional é certo órgão não ter feito nada. Nº1, o processo
vale apenas para certas medidas que sejam necessárias para dar
exequibilidade prática à Constituição. Enquanto o legislador não fizer nada, a
norma está sequestrada. Aquil o Tribunal Constitucional só pode verificar a
omissão, não pode fazer mais nada, a separação de poderes não o permite.
Nestes 4 processos, há uma ponte entre o concreto e o abstrato - Art. 281.º
nº3. Depois de 3 vezes julgada uma norma inconstitucional em processos
concretos, o Tribunal Constitucional pode começar por sua conta um processo
de fiscalização abstrata para eliminar essa norma.
Nem todos os processo de fiscalização dizem respeito à inconstitucionalidade,
existe também à ilegalidade. Quando uma lei viola um alei de valar reforçado, a
lei é ilegal. O Tribunal Constitucional fiscaliza, assim, as normas reforçadas por
se tratarem de ilegalidades mais graves (lista no art. 281.º nº1 b), c) e d)). Este
processos de ilegalidade é meramente sucessivo, não há processo preventivo
aqui. Caso uma norma que não esteja na lista, como agir? Continua a ser uma
norma ilegal, apenas a Constituição não se pronunciará sobre isso e o Tribunal
Constitucional não age, é uma questão administrativa.

AULA COISO COISO


Passagem entre a fiscalização concreta e abstrata - Quando o Tribunal
Constitucional , em 3 casos concretos, entende que a norma é inconstitucional,
é possível que o Tribunal Constitucional passe a emitir uma ordem com fraca
obrigatória geral por consolidação da jurisprudência. Art. 281.º nº3 e nº1
(alíneas b), c) e d) são equiparáveis à inconstitucionalidade).

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É uma fiscalização abstrata pois não se trata de um caso concreto, o que o


Tribunal Constitucional declara tem força obrigatória geral – art. 282.º
Inconstitucionalidade originária – a norma, desde que nasceu, é
contraria à Constituição. Todos os seus efeitos devem ser destruídos.
Art. 282.º nº1.
Inconstitucionalidade superveniente – a norma nasceu válida, mas
posteriormente o que era materialmente válido deixa de o ser, o que era
conforme passa a ser desconforme, passa a ser inconstitucional.
Destroem-se os efeitos jurídicos decorridos a partir da época em que a
norma passou a ser contrária à Constituição, sendo que os anteriores a
isso são válidos. Art. 282.º nº2. Só pode incidir sobre aspetos de
natureza material.
Repristinação das normas constitucionais – Há dois casos em que não há
repristinação: Casos de lacuna (a norma declarada inconstitucional não era
revogatória porque nem tinha norma anterior a si) e caso a lei que vai ser
repristinada também seja inconstitucional (a norma até pode ter
inconstitucionalidade material e pretérita simultaneamente). Esta situação não
ocorre na inconstitucionalidade superveniente.
Art. 282.º nº3 – continuidade da ordem jurídica e tutela da confiança – tudo é
destruído retroativamente exceto as decisões judiciais transitadas em julgado
devido à tutela da confiança.
• A declaração de inconstitucionalidade destrói todos os seus efeitos
exceto os caso julgados
• É um exceção à anterior exceção, ou seja, há situações em que apesar
de existir caso julgado este é destruído (quando se trata de matéria
sancionatória mais favorável ao arguido).
Art. 282.º nº4 – Vem permitir exceção a tudo isto, dando ao Tribunal
Constitucional um poder extremamente amplo, o poder de modelar e
reconfigurar os efeitos de norma inconstitucional, nos seguintes casos:
• Razões de segurança jurídica;
• Razões de interesse publico de excecional relevo (razão de Estado);
• Razões de equidade.
Assim, pode restringir os efeitos temporais da norma inconstitucional, pode
legitimar a produção de efeitos da norma inconstitucional, pode manipular os
efeitos para o futuro (os efeitos passados ficam ressalvados, mas declara a
inconstitucionalidade de forma não retroativa para uma lei futura conforme a
constituição ser elaborada).
➔ Será isto uma prerrogativa exclusiva do Tribunal Constitucional ou podem
todos os tribunais fazer isto? A doutrina divide-se nesta questão.
➔ Se a Constituição permite, com válvula de segurança do sistema, ao abrigo
do art. 282.º nº4, que as razões acima mencionadas permitam a modelação

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dos efeitos de normas inconstitucionais, a invalidade mais grave, não será


que também se deve permitir que em casos de nulidade e anulabilidade,
invalidades menos gravosas, possa existir também modelação dos efeitos?
➔ Quando o Tribunal Constitucional diz que a declaração de
inconstitucionalidade só produz efeitos a partir de hoje, está a sanar os
efeitos inconstitucionais? O art. 282.º nº4 permite criar uma contra
Constituição, pois modela os efeitos.

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