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DIREITO CONSTITUCIONAL II
AULA 1 – 18/02
ORDEM DOS CONTEÚDOS LECIONADOS:
História Constitucional Portuguesa
Constituição de 1976
• Identidade da constituição
• Organização do poder político
• Ordenamento (estruturas normativas) as fontes do Direito Constitucional
AULA 2 – 19/02
Instituições político-constitucionais
Poder real e a ideia em torno do poder real como resposta a 3 perguntas:
• Qual o fundamento do poder real?
• Quis os limites ao poder do rei?
• Quais as formas de exercício do poder real?
Cortes:
• Quem está representado em corte?
• Quem tem assento nas cortes?
• Qual a natureza dos seus poderes, o poder das cortes é um poder
consultivo ou um poder de natureza deliberativa? Podem impor
soluções ao rei?
• Sobre que matéria sé que as cortes podem intervir?
o Leis fundamentais
o Quebra de moeda, ou seja, a desvalorização da moeda
o Feitura da guerra
• Infante D. Pedro, filho mais velho – apoiado por liberais. Ele era
imperador do Brasil, o que o classificava como impossível de ser
o sucessor, passando para o outro filho devido ao proclamado
pelas atas das Cortes de Lamego.
• Infante D. Miguel, filho seguinte – apoiado por absolutistas.
D. Miguel reconhece como rei D. Pedro IV, mas reconhece com base em duas
condições: D. Pedro IV elabora uma Carta Constitucional, outorgando esse
texto e abdicando do trono a favor da sua filha, D. Maria Vitória. E segunda
condição, o tio casaria coma sobrinha, ou seja, D. Miguel casaria com a filha de
D. Pedro IV.
Isto ocorre, entre 1826 e 1828 vigora esta carta, mas o rei não está em
Portugal, e quem exerce a regência é uma irmã de D. Miguel e D. Pedro. Em
1828, D. Miguel chega a Lisboa vindo de Áustria e é aclamado rei absoluto.
Entre 1828 e 1834 reina como rei absoluto, vigorando as leis fundamentais do
rei. Em 1832 D. Pedro IV, ou D. Pedro do Brasil, toma liderança da defesa dos
direitos da filha, desembarca em Portugal, há uma guerra civil que termina em
1834 na convenção Évora-monte. Há uma parcela que nunca reconheceu D.
Miguel como rei, os Açores, onde se situava a base das forças revolucionárias.
Em 1834, é reposta em vigor a Carta Constitucional de 1826, mas a vigência é
curta, durando até 1836 apenas. Nesse ano há um movimento político, o
Setembrismo, que representa a esquerda política liberal e é herdeiro do
vintismo. Aí, dá-se a Belenzada, uma contrarrevolução. Depois, é decidido criar
um diploma constitucional que seja um consenso das partes. É reposta a
constituição de 1822, mas como constituição flexível, que vigora até 1842. Aí,
Costa Cabral desencadeia um movimento de insurreição vitorioso e é reposta a
Carta Constitucional, tendo a terceira vigência até 1910, 5 de outubro, onde foi
derrubada a monarquia e foi implantada pela 1ª vez em Portugal uma
República.
Em 1911 é aprovada a constituição que vigora até 1926, com exceção a estes
momentos:
• Breve ditadura de Pimenta de Castro, em maio de 1915.
• Movimento de Sidónio Pais, em 1918. Sidónio publicou ditatorialmente o
decreto n.º 3997 de 30 de março de 1918, que significava uma rutura
com o anterior texto constitucional, já que veio a instituir uma orientação
presidencialista, antiparlamentar e acentuadamente autocrática na
República;
• Revolução Nacional, a 28 maio de 1926, que não abole a constituição
em vigor, mas torna-a flexível, o que deu a abertura para o fim da
República e, mais tarde, para a aprovação de uma Constituição que
institucionalizou a Ditadura Militar, ou ditadura salazarista, que perdurou
até 1974.
Entre 1916 e 1933 é o período da ditadura militar, sendo aprovada a
Constituição de 1933, que fica em vigor até 1974, 25 de abril, em que é
AULA 3 – 25/02
Diversas constituições portuguesas
Constituições monárquicas – 1822 a 1911
Têm 2 tipos de influência:
Constituição de 1822 – influência histórica interna, é influenciada pelas leis
fundamentais do reino e pelo constitucionalismo estrangeiro, como a
Constituição espanhola de Cabis de 1811 ou as constituições francesas.
Carta Constitucional de 1826 - Influência da Constituição brasileira de 1824 e
influência da Carta Constitucional francesa de 1814
Constituição de 1838 - A Constituição portuguesa de 1838 é um compromisso
entre a constituição de 1822 e a Carta Constitucional de 1826. Tem também a
influência espanhola, francesa de 1830 da revisão a que foi objeto a Carta
Constitucional de 1814, e da Constituição belga.
rei é um veto absoluto. O rei tem o poder de dissolver o parlamento. “Esta carta
é a mais monárquica das constituições monárquicas europeias” – Prof. Marcelo
Rebelo de Sousa.
Constituição de 1838 – É uma constituição compromissória, o que se observa
assim: ela é aprovada pelas cortes constituintes como a Constituição de 1822,
mas só se torna Constituição com a intervenção do rei, como na Carta
Constitucional de 1826, tendo aqui as duas vontades, a legitimidade
monárquica e democrática. Tem o espírito da monarquia orleanista. Não tem
nenhuma norma sobre o poder de veto, e por isso se pode questionar se afinal
o veto do rei era suspensivo ou absoluto. Foi interpretado desta forma: as leis
tinham sempre de contar com a sanção régia, mas como não havia na
Constituição nada que admitisse que as cortes podiam confirmar um diploma e
impô-lo ao rei, entendia-se que o silêncio constitucional do rei equivalia a uma
natureza absoluta do veto. Isto aproxima-se à Carta Constitucional de 1826.
Havia poder de dissolução das cortes. Não havia poder moderador, mas a
Constituição transferiu para o poder executivo do rei tudo o que a Carta de
1826 dizia que era poder moderador. Oliveira Martins, ao tratar da Constituição
transmite esta ideia: esta chamava-se constituição para agradar aos vintistas,
mas o seu conteúdo era mais próximo da carta para agradar ao Paço, ou seja,
ao rei. Tanto esta Constituição como a de 1828 vigoraram pouco tempo.
COSNTITUIÇÃO DE 1911
É também ela liberal, também ela assente na ideia de liberdade, segurança e
propriedade. É uma constituição assente em 3 bases:
➔ Descentralização
➔ Laicização (deve-se a Afonso Costa)
➔ Democratização
Inovações:
AULA 4 – 26/02
Com o golpe de 28 de maio de 1926 começou a Ditadura militar, que teve dois
objetivos principais:
• Atender à instabilidade governativa (alteração rápida de governos);
• Encontrar como solução alternativa a presença dos militares a vida
política.
influência externa das constituições alemãs. Este era eleito por sufrágio
direto, algo que até hoje se mantém.
• O Presidente concentrava em si o poder político, mas não o exercia,
delegava o poder e o Presidente do Conselho de Ministros é que o
aplicava, este Presidente escolhia os ministros e o Presidente da
República nomeava-os;
• Não havia responsabilidade política parlamentar perante o governo;
• O Presidente da República podia demitir livremente o Presidente do
conselho de ministros e nomear livremente um substituto, e este era
responsável apenas perante o Presidente da República.
Inovações:
Ideia do Estado Novo (2ª República)
• Ideia de estabilidade governativa com um executivo forte;
• Estado social forte com intervenção cultural, social, entre outras;
• Estado em que a soberania não residia no povo, surge a inspiração
italiana fascista, visão individualista;
• Estado corporativo, estão representados os interesses socioprofissionais
ao lado da assembleia nacional, através da câmara corporativa (era
meramente um órgão consultivo que completava o sistema);
Revisões constitucionais
Ocorreram 9 revisões em 5 momentos, sendo as seguintes as mais
importantes:
1945 – competência legislativa normal atribuída ao governo;
1959 – sufrágio indireto como processo de nomeação do Presidente da
República;
1971 – protagonizada por Marcello Caetano. Caraterização do Estado
como Estado unitário regional – as “províncias ultramarinas” passam a
ser regiões autónomas.
AULA 5 – 04/03
Constituição de 1976
Iremos falar de 3 blocos de matéria:
• Identidade constitucional;
• Organização do poder político;
• Estruturas normativas.
Identidade Constitucional
Quais são os traços caraterizadores da identidade
constitucional?
Identidade quanto aos valores (axiológica)
Todas as constituições traduzem sempre uma ordem de valores. Mesmo as
constituições liberais, que são de reduzidas normas, têm uma ordem de
valores: o Estado não deve intervir, daí haver poucas normas escritas. A ordem
de valores carateriza o rosto, a identidade da Constituição, o que significa que,
no caso português, podemos resumir em 4 ordens de valores emergentes da
Constituição:
• Ideia de direito da Constituição reconduz à ideia de Estado de
Direitos Humanos;
• Critérios teleológicos de atuação do poder político que
reconduzem à ideia de Estado de Direito democrático;
• Como é que está inserido externamente o Estado português?
Corresponde a uma soberania internacionalizada e europeizada,
ou seja, não é uma soberania plena;
• Modelo de organização interna do Estado, modelo de organização
interna. Corresponde ao conceito de Estado Unitário
Descentralizado.
Problemas:
A Constituição Portuguesa (como a brasileira, a da Guiné, entre outras) é uma
constituição compromissória, a ordem de valores que dela resulta é uma ordem
de valores que nem sempre é linear, ou seja, do mesmo texto constitucional
podem surgir argumentos para justificar ações de um género ou ações de outro
(como usar a constituição para defender ou contrariar casamento entre
pessoas do mesmo sexo, a questão do aborto, etc.). Isto causa conflitos entre
valores.
Como se equaciona o conflito e como se resolve?
A Constituição é compromissória pois vive-se numa sociedade plural,
heterogénea e aberta. Assim, para resolver os conflitos, há dois critérios:
Existência de uma hierarquia de valores, o que significa que há valores
de primeiro grau, mais importantes, e valores de segundo grau, menos
importantes. Assim, o princípio é o da prevalência hierárquica de
valores. (Exemplo: Uma lei alemã que permitia o abate de aviões
capturados por terroristas, em consequência do ataque às Torres
Gémeas. O Tribunal Constitucional declarou que esta lei não poderia ser
aprovada, visto que o valor da vida dos passageiros não é menor que o
valor da vida dos que estão no edifício a ser abatido. Aqui colocou-se em
questão o valor da vida humana em contraposição à segurança pública.)
Art. 19.º nº6 da CRP.
Caso não haja uma hierarquia ou caso esta seja controversa ou ocorra
dissenso sobre a hierarquia, entra o método da ponderação, pesa-se os
valores em conflito para determinar, perante o caso concreto, ajuizar
qual dos valores em contraposição deve prevalecer. A prevalência de
um não implica a marginalização ou eliminação do outro, ambos devem
ter um espaço mínimo de atividade, procurando-se então não a
prevalência, mas sim um espaço mínimo de operatividade para ambos
os valores, uma aplicação de ambos os valores adaptada ao caso
concreto.
Dado o critério de resolução de problemas, falta saber quem é que realiza essa
ponderação ou hierarquização. Há vários centros que revelam a ordem de
ponderação da Constituição: o legislador, a administração, os tribunais (como o
Tribunal Constitucional, uma última instância) e os particulares (nós). Para
alguns autores, a Constituição não é o que está escrito no documento, mas sim
aquilo que os juízes leem e interpretam da mesma, pois a Constituição e a sua
aplicação está, em último, nas mãos do juiz. Este protagonismo em excesso
dos juízes pode levar ao designado governo dos juízes, que colocam em causa
o princípio de divisão de poderes.
NOTAS FINAIS:
Será que ainda estamos na vigência da Constituição de 1976? Só formalmente
é que estamos na vigência da mesma Constituição, apenas a primeira parte da
Constituição está vigente, pois toda a personalidade axiológica alterou,
entretanto:
• Organização económica atual está no Direito da União Europeia;
• O sistema de governo vigente não é aquele consagrado na Constituição;
• O decurso do tempo pode alterar a identidade constitucional, mesmo
que a mesma Constituição esteja vigente. Ou seja, a identidade
axiológica é permeável ao tempo.
Traços identificativos:
Estado de Direitos Humanos – a Constituição proclama todos os diversos
elementos de ser uma constituição de Estado de Direitos Humanos, mas o
Direito Ordinário cria diferenças entre o que resulta da Constituição e o que é
aplicado (como a questão do aborto). Temos um Estado de Direitos Humanos
imperfeito, visto que a Constituição se encontra refém do direito ordinário;
É um Estado de Direito democrático, o poder está limitado pelo Direito (Art. 2.º
da CRP); (Esta expressão foi utilizada pois não queriam utilizar esta expressão,
utilizada na Constituição de 1933, sendo utilizada em 1956 pela 1ª vez por um
professor de Coimbra, Afonso Queiró).
o O Estado de Direito democrático é também um Estado Social com
uma cláusula constitucional de bem-estar;
o Um Estado de Direito democrático é também um Estado de
Direitos Humanos.
4 PRESSUPOSTOS:
• Pluralismo de expressão e organização política;
• Alicerce na soberania popular;
• Separação e interdependência de poderes;
• Respeito e garantia dos direitos fundamentais.
Limites ao pluralismo
▪ O Estado e a cultura dos direitos fundamentais tem de estar ao
serviço da pessoa humana e da sua dignidade;
▪ Limitação do relativismo axiológico, ou seja, deixamos de ser
tolerantes, o que poe em causa o pluralismo;
▪ Paradoxo da intolerância: perante os intolerantes, devemos
tolerar ou não tolerar? Art. 46.º nº4
Juricidade – o estado não se limita apenas pelo direito que cria, mas esta
hétero limitado que não é ele que cria, é uma legalidade reforçada, pois não
depende apenas do estado e dos seus órgãos, mas depende de fontes
superiores ao estado. O que fazer perante o direito invalido, há obediência?
Depende de 3 detalhes:
▪ Um juiz nunca deve obediência ao direito inválido, todo o juiz tem o
poder e dever de recusar a aplicação do direito inválida.
▪ A administração pública deve obedecer exceto 3 casos : quando a lei
viola a consciência jurídica universal, é iníqua. Quando a lei viola
direitos fundamentais ou direitos, liberdades e garantias a que se refere
o artigo 18.º nº1 da CRP. Quando a própria constituição sanciona com a
inexistência ou ineficácia jurídica dessa norma.
▪ Os particulares podem recusar pagar impostos inconstitucionais
Art.103.º, temos direito de resistência Art. 21.º, direito de objeção de
consciência, Art 41.º nº6, direito fundamental a não colaborar e praticar
atos injustos
Corolários:
➔ Reversibilidade das decisões – numa democracia não há decisões
eternas (Pensamento de Zagrebelsky).
➔ Há que salvaguardar a segurança jurídica e a tutela de consciência.
➔ Respeito por todo o poder a que se refere os princípios do Art. 266.º da
CRP.
➔ Tutela jurisdicional efetiva - podemos sempre ir a tribunal impugnar
decisões que entendemos que não são validas, os tribunais são os
últimos garantes do estado de direito. O estado de direito deve obrigar a
administração a respeitar a vontade dos tribunais é importante pois
respeitar os tribunais é respeitar a lei.
NOTA: bem-estar está ligado à ideia de Estado social e à dignidade da pessoa
humana e às condições da sua própria vida.
Quem são os destinatários da cláusula constitucional de bem-estar?
Encontramos o legislador, administração e tribunais, com uma ideia: proibição
do retrocesso arbitrário, alcançado determinado nível de bem-estar social não
se pode diminuir arbitrariamente.
Como se garante o Estado de direitos democráticos?
Fiscalização da constitucionalidade e da legalidade das condutas e normas
administrativas; responsabilidade civil do poder político; responsabilidade
criminal dos possuidores de cargos públicos; mecanismos de exceção, de
autotutela privada, como a resistência desobediência e insurreição.
AULA 6 – 11/03
CONTINUAÇÃO
Há manifestações através das quais a soberania não é hoje aquilo que era em
1976, por duas ordens de razões:
➔ Há hoje uma dinâmica de internacionalização que passa pelas Nações
Unidas, peça força normativa crescente da Declaração Universal dos
Direitos do Homem, ius cogens, art. 8.º nº1 da CRP. Portugal reconhece
o papel internacional.
➔ União europeia e a condição de Portugal como Estado-membro, esta
intervenção significa que estamos perante uma heterovinculação de
base autovinculativa: o Direito da União Europeia se aplica em Portugal
mesmo contra a vontade de Portugal, mas Portugal quis e quer
pertencer à União Europeia, autovinculando-se a tal.
o Sentido do aprofundamento deste empilhamento da construção
da União europeia: art. 7.º, nº 5 e 6 da CRP.
o Cheque em branco de participação de Portugal na União
Europeia: Art. 8.º, nº4 da CRP.
Fatores de transfiguração:
• Decurso do tempo e geração de uma normatividade não oficial
• Peso da herança histórica, designadamente do regime do Estado Novo;
• Intervenção dos partidos políticos, deram um novo sentido interpretativo
da Constituição, daí Portugal ser um Estado de partidos;
• Integração europeia, deu um novo sentido interpretativo e aplicativo às
normas da Constituição;
• Constitucionalismo transnacional, normas constitucionais comuns a
todos os Estados;
• Esvaziamento do domínio reservado dos Estados, a soberania
portuguesa é uma soberania internacionalizada.
Manifestações disso:
➔ Desatualização da constituição económica (art. 80.º e seguintes) – o cerna
da constituição económica portuguesa esta hoje na EU
➔ Subversão do significado das eleições parlamentares: À luz da Constituição
servem para eleger deputados, mas na realidade o motivo principal é a
escolha do Primeiro Ministro, ou seja, as eleições parlamentares tornaram-
se num processo indireto de escolha do Primeiro Ministro;
➔ Desde 1976 até ao presente, há uma preponderância do governo face à
Assembleia da República, é muito superior quando o governo trem maioria
absoluta. O sistema de governo então funciona: O governo quer, a
Assembleia aprova. O governo não quer, a Assembleia rejeita.
➔ O Estado de partido transformou-se no Estado de partido governamental,
tende a ocupar os principais postos da administração
➔ Diluição e/ou esvaziamento do poder formal de modificação da Constituição
por parte da Assembleia da República, quem tem assumido esse papel é o
partido do governo nas matérias assinadas e negociadas pela União
Europeia, por vezes contrárias à Constituição. Nestes casos, as
Identidade relacional
Tem a ver com uma identidade familiar. Uma Constituição só se compreende
olhando para o passado, olhando para o que existiu antes dela, olhando para a
influência histórica. Pode ter 2 expressões:
• Solução de continuidade;
• Solução de rutura.
Contágio – uma constituição pode influenciar outras. Esta influência vê-se
internacionalmente, como a Constituição de 1976 portuguesa influenciou a de
1978 de Espanha. Este contágio pode levar a um plágio – uma cópia integral
de uma Constituição de um país para outro.
A identidade relacional, apesar das normas terem o mesmo enunciado formal,
podem existir limites a esta identidade, ou seja, há fatores que permitem que
textos jurídicos iguais tenham vivencias e aplicações diferentes, porque:
➔ Inserção teleológica das normas
➔ Localização sistemática da norma
➔ A vivência constitucional – é diferente em cada país
➔ Existência de diferentes processos de interpretação
• Responsabilidade política
• Responsabilidade difusa – como os media e as redes
sociais.
• Responsabilidade civil – que causa um prejuízo
corresponde um dever de indemnizar
• Responsabilidade criminal – titulares de cargos políticos
têm uma responsabilidade agravada.
• Responsabilidade disciplinar - existe de juízes.
• Responsabilidade financeira.
o Situações irresponsabilidade pelas opiniões e
votos que emitam no exercício das respetivas
funções (Art. 157.º da CRP)
o Os juízes não podem ser responsabilizados
pelas duas decisões (Art. 217.º nº2 da CRP)
▪ Princípio maioritário – é a expressão da democracia, mas,
maioria não é critério de verdade. Por outro lado, a força da
maioria está no respeito pela minoria. Nos órgãos colegiais
(Art. 166.º da CRP) há uma dupla maioria, quer dizer, há uma
maioria de funcionamento – quórum. Há uma maioria para
deliberar, com maioria simples, tendo maioria absolutas e
agravadas como exceção. O conselho de ministros é um órgão
colegial, mas não obedece ao princípio maioritário, a regra é
consenso da decisão.
▪ Princípio da imodificabilidade da competência – quando a
Constituição define regras de competências, só ela pode
modificar essas regras.
• A própria Constituição pode permitir que a lei modifique
as regras de competência;
• Há competências implícitas;
• A flexibilidade das normas de competência da
Constituição faz-se através da substituição e da
delegação, onde a regra está no Art. 112.º nº2, nenhum
órgão pode delegar regras noutros órgãos sem previsão
na Constituição.
▪ Princípio da Competência dispositiva – quem tem competência
para praticar e emanar o ato também tem competência para
não o emanar ou o revogar. Há, todavia, 3 limites:
• Limites ao poder de praticar atos – a Constituição cria
pressupostos para o exercício de competência.
• Poder de recusar a prática de um ato, há atos de
emanação obrigatória. Exemplo: o Presidente de
República é obrigado a emanar atos de revisão
constitucional.
• Limite quanto ao poder de revogar um ato – há casos
em que a Constituição cria atos irrevogáveis. Será que
AULA 10 - 27/03
Outras fontes (não previstas na Constituição) que regulam o poder
político:
Reconhecimento de uma ordem axiológica suprapositiva, ou seja, os valores
principais do ordenamento jurídico não estão precisamente escritos no texto
constitucional:
➔ Há princípios jurídicos fundamentais que têm a sua fonte na consciência
jurídica universal. Estes princípios vinculam o legislador constituinte.
Consequência: se há normas escritas da Constituição que contrariam
estes princípios jurídicos fundamentais, esta ordem suprapositiva é
inválida (inconstitucionalidade das normas constitucionais).
Exemplo: Norma da constituição escrita que permite a escravatura, é
inconstitucional pois viola princípios fundamentais da liberdade “o ser humano
é um fim em si mesmo e nunca um objeto/meio para alcançar fins”
Nem todas as fontes que regulam o poder político são jurídicas. Exemplos:
➔ Normatividade técnico científica – Art. 149.º nº1, método de cálculo
de média de Hondt ou Art. 35.º - rede informáticas.
➔ Normas de natureza ética ou moral como parâmetro de atuação
constitucional.
➔ Normatividade de trato social – normas de cortesia constitucional,
como normas de boa educação e etiqueta, relacionadas com o
respeito institucional. Será que estas normas extrajurídicas são
contaminadas pelo Direito?
Órgãos constitucionais
Temos órgãos de soberania e órgãos constitucionais.
AULA 11 – 01/04
Intervenção do Presidente perante os atos legislativos - Promulgação e veto
Através da promulgação o Presidente manifesta uma vontade face ao diploma
que é apresentado. Essa vontade pode ser concordante ou pode ter reservas
em relação ao diploma. Se tiver dúvidas sobre a validade jurídica do diploma,
pede auxílio ao Tribunal Constitucional. Caso o diploma seja inconstitucional, o
diploma é vetado pelo Presidente por inconstitucionalidade.
Estão sujeitos à promulgação do Presidente 3 atos normativos:
AULA 12 – 02/04
Assembleia da República como órgão de soberania – Art 147.º e
seguintes.
Aparece identificada como o órgão representativo de todos os cidadãos
portugueses. Quais são os princípios que pautam o estatuto jurídico da
Assembleia:
➢ Unicameralismo – é composta por uma única câmara, corresponde à
tradição vinda da Constituição de 1933.
➢ Flexibilidade configurativa – a Constituição remete para a lei várias
coisas, como a fixação do nº de deputados dentro de um intervalo (Art
148.º). É também visível nos círculos eleitorais (Art. 149.º). Os
deputados são geograficamente definidos. A Constituição abre porta a
que se juntem a estes círculos plurinominais uns círculos uninominais,
apesar de ainda não ter sido feita.
➢ Auto organização interna – Art. 175.º a), compete à Assembleia elaborar
o seu próprio regimento, ou seja, o seu ato normativo que estabelece
regras de organização e funcionamento da Assembleia Este regimento
não é aprovado como lei para não estar dependente de promulgação ou
veto do Presidente.
➢ Princípio da dependência política do Presidente da República – por
várias razões:
Deputados
➢ Eleições reguladas no art. 51.º e seguintes. O sistema eleitoral recorre
ao método de Hondt, art. 149.º;
➢ Só se podem apresentar dentro de um partido político ou coligação,
podem ser independentes mas não se podem apresentar
autonomamente;
Funcionamento da Assembleia
➢ Cada legislatura tem a duração de 4 anos se não for dissolvida.
➢ Cada legislatura divide-se em 4 sessões legislativas
➢ Em cada reunião, há uma ordem do dia (Art. 176.º da CRP) e há regras
sobre a votação (Art. 116.º) com maioria simples (metade dos membros
presentes).
➢ Pode ser dissolvida pelo Presidente, tendo este apenas de cumprir dois
requisitos:
o Ouvir os partidos representados no Parlamento;
o Ouvir o Conselho de Estado;
o Não pode dissolver o Parlamento nos 6 meses subsequentes à
eleição do mesmo nem nos últimos 6 meses do mandato
presidencial, tal como não pode dissolver em estado de sítio ou
estado de emergência (Art. 172.º);
o Com a dissolução, é marcada a data das novas eleições.
Competências da Assembleia – Arts. 161.º a 165.º, 169.º e 175.º
Tem 3 tipos de competências:
Normativa – 4 tipos
➢ Para aprovar leis de revisão da Constituição
➢ Para aprovar leis ordinárias
➢ Para aprovar convenções internacionais
➢ No âmbito da auto organização interna (Art. 175.º a))
Política – Tem poderes de orientação política pois o programa do governo tem
sempre de ser apresentado ao Parlamento, e a Assembleia pode emitir
censura e juízos críticos à conduta do executivo. Permite também fiscalizar o
governo, ou seja, requerer informações e interpolar o governo, criar inquéritos
parlamentares, etc. Controla as ações e omissões do governo e da
administração pública. Controla também as ações do Presidente em
declaração de estado de sítio ou em situação de “fuga” não autorizada do
Presidente do país. O Presidente toma posse perante a Assembleia. Pode
ainda, no âmbito da fiscalização, a constitucionalidade das leis. É a Assembleia
AULA 13 – 08/04
GOVERNO – ÓRGÃO DE SOBERANIA
• Constituição;
• Lei orgânica do governo;
• Regimento do conselho de Ministros.
Princípio da unidade politica intragovernamental – o Conselho de ministros,
apesar de ser um órgão colegial, não obedece ao principio maioritário, o que
significa que há um elemento que unifica a atuação do governo, o Programa do
Governo.
Princípio da solidariedade – “Todos por um, um por todos”. Todos os membros
do governo são solidários entre si e solidários com as deliberações do conselho
de ministros
Princípio da tripla responsabilidade política – É imperfeita, pois (caso da
Assembleia da República) quando o governo é maioritário, a maioria suporta o
governo. Quando mais forte é, menos responsabilidade politica existe ao
governo. É mais débil quando é um governo minoritário.
O Primeiro-Ministro é responsável perante o Presidente da República, mas não
é uma responsabilidade política idêntica ao Parlamento, pois o Parlamento
pode demitir livremente o governo. O Presidente da República só o pode fazer
quando o governo poe em causa ao funcionamento das instituições.
É responsável perante a opinião pública, é uma responsabilidade difusa.
Residualidade da competência administrativa do governo
Funções do Primeiro-Ministro:
• Função de direção política;
• Função de génese do governo;
• Função de chefia administrativa;
• Função de representação governamental (remete ao sistema de
chanceler de 1933);
• Controlo dos atos governamentais.
Art. 195.º - o termo das funções do Primeiro-Ministro, a sua demissão implica
sempre a demissão do governo. Pode também existir a suspensão.
Ministros
Casamento sem divórcio entre os ministros e o Presidente da República.
Compete ao Primeiro-Ministro apresentar nomes e compete ao Presidente
nomear. Nem o Primeiro-Ministro pode ver nomeados membros que não
propôs nem o Presidente pode nomear pessoas não propostas.
Há uma legitimidade dupla: legitimidade política pois é nomeado pelo
Presidente em sufrágio direito e legitimidade
Funções de representação do governo, substitutivas do Primeiro-Ministro – Art
185.º nº1.
Cada ministro é responsável perante o Primeiro-Ministro e a Assembleia. O
Primeiro-Ministro pode pedir ao Presidente a demissão dos ministros. Pode
apresentar também a exoneração de um ministro.
AULA 14 – 09/04
Poderes do Governo – Art.197.º e seguintes
A constituição cria para o governo 3 tipos de competência:
• Competência política – significa que o governo tem 4 tipos de poderes
de natureza política:
o Poder de decisão de praticar atos políticos;
o Poder de iniciativa ou propulsão;
Governo de gestão – todos os governos são pelo menos uma vez na vida
governos de gestão. Pode acontecer que alguns governos morram antes de
atingir a plenitude de poderes, por não aprovação do programa, aprovação de
uma moção de censura ou rejeição da moção de confiança.
Governo missionário – o Primeiro-Ministro apresenta uma missão ao
Presidente da República (não percebi isto bem, ver livro/gravação).
Governo com a Assembleia da República dissolvida – são governos com
menos poderes, mas não são governos demitidos nem governo de gestão,
pode fazer mais que um governo de gestão mas não tem a plenitude das suas
funções.
Sistema de governo
O sistema de governo português resume-se em 3 princípios:
Pluralismo orgânico funcional que assenta no Presidente da República,
Assembleia e Governo. Há uma relação de amor-ódio entre os órgãos –
explicação tradicional, sistema semipresidencialista. OTERO acha que não há
sistema presidencial por 2 razões:
• Não há uma estrutura dualista de responsabilidade política, o
governo só e responsável perante a Assembleia, o que significa
que o Presidente da República pode retirar a confiança ao
governo, pode não ter a sua confiança politica mas não o pode
demitir. Contudo, o Presidente da República não é obrigado a
nomear para Primeiro-Ministro alguém que não tenha a sua
confiança inicial.
• Não é comparável, pois o sistema da 5ª República francesa não é
comparável ao nosso. O Presidente da República francês tem
poderes autónomos de condução da vida política, esta no eixo da
vida política e este é uma mistura entre o Primeiro-Ministro
britânico e o Presidente americano, em Portugal isto não ocorre.
• Assim sendo, o sistema é um parlamentarismo racionalizado por
3 razões:
o O governo é responsável perante a Assembleia da
República;
o O Primeiro-Ministro é nomeado tendo em conta os
resultados eleitorais;
o O governo é um órgão autónomo do Presidente da
República.
Mecanismos de racionalização
➢ O programa de governo não precisa de ser votado;
AULA 15 – 23/04
TRIBUNAIS – ÓRGÃO DE SOBERANIA
Não será dada hoje a matéria da fiscalização da constitucionalidade e legalidade pois
é a última do programa.
Há duas:
➢ Autoridades protetoras dos dados pessoais;
➢ Autoridades reguladoras da comunicação social.
AULA 16 – 29/04
Regiões Autónomas
Sentido da autonomia regional – relacionada com 4 ideias:
As regiões autónomas portuguesas são um produto da Constituição de 76 mas
com uma fonte histórica da revisão constitucional 1971 da Constituição de
1933, Constituição espanhola de 1931 e Constituição francesa 1947.
Fundamenta da autonomia (art. 225.º) – faz o elenco de 5 ideias:
• As circunstâncias geográficas;
• Ideia de aspirações históricas ao que apela a dimensão imaterial do
espírito do povo;
• Princípio da subsidiariedade;
• Princípio democrático que apela a participação das pessoas às normas
a que estão sujeitas;
• Unidade nacional uma vez que se integra num estado unitário.
Objetivos da autonomia
• Reforço da participação;
• Defesa dos interesses regionais;
• Desenvolvimento;
• Reforço da unidade na diversidade.
Limites à autonomia
• Constituição;
• Natureza unitária do Estado;
• Reserva de competência dos órgãos de soberania (as Regiões
Autónomas não podem invadir a esfera de competência dos órgãos de
soberania);
• Interesse nacional (prevalência do direito do Estado);
• Compromissos internacionais;
• Estatutos politico administrativos (ou estatutos regionais)
Estes, são juridicamente uma lei da República, aprovados pela
Assembleia da República, referendada pelo Primeiro-Ministro. São uma
lei da República que, não sendo uma constituição regional, tem
especialidades do procedimento e quanto à sua função dentro do
ordenamento jurídico.
Quanto ao primeiro (art. 226.º):
A Assembleia da República que é competente para decidir a
matéria não tem todavia iniciativa legislativa originária, ou seja,
competência legislativa é o poder de fazer leis e quem tem o
poder de fazer tem o poder de modificar as leis e recusar fazê-las.
Iniciativa legislativa é o poder de desencadear a feitura de uma
lei, consubstancia-se no poder de apresentar propostas ou
projetos de lei. Temos uma competência legislativa reservada à
assembleia e uma competência de iniciativa reservada às
Regiões Autónomas. A Assembleia da República recebe das
Regiões Autónomas uma proposta de alteração dos respetivos
estatutos regionais, que a Assembleia da República pode aprovar,
rejeitar, ou aprovar com modificações. Se a Assembleia da
República introduzir alterações, estas regressam à Regiões
Autónomas, que pode concordar ou discordar. Última palavra,
contudo, é sempre da Assembleia da República.
Força jurídica dos estatutos regionais: estes são a lei ordinária mais
reforçada de todas as leis reforçadas. Uma lei reforçada é uma lei que
não pode ser revogada por todas as outras leis (exemplo: leis de
autorização legislativa, lei de bases relativamente aos estatutos de
desenvolvimento, etc.) por duas razões:
AULA 17 – 30/04
Atos legislativos da Assembleia da República vs. do governo
Princípios que norteiam as estruturas normativas
Princípio da não exclusividade das fontes normativas formais – a lei, enquanto
fonte normativa formal, não esgotam as fontes de direito, há mais fontes de
direito do que aquelas que resultam das fontes formais (como o costume).
Princípio da pluralidade daa fontes formais – a lei, ato legislativo proveniente da
Assembleia da República, não esgota as fontes formais, ou seja, há uma
pluralidade de atos formais (como a figura do decreto-lei, do regulamento, do
decreto legislativo regional, etc.)
Princípio da tipicidade da reserva de lei – a reserva de lei são as matérias que
só podem ser objeto de tratamento jurídico por ato legislativo, só o legislador
pode regular estas matérias, o que é reserva de lei só pode ser objeto de
tratamento por ato legislativo. Todavia competência legislativa do parlamento é
reserva de lei, mas nem toda a reserva de lei é competência do parlamento. Só
há reserva de lei quando a Constituição o diz, expressamente ou tacitamente.
Art. 199.º g).
Princípio da tipicidade dos atos legislativos – só há os atos legislativos que a
Constituição acolhe. Art. 112.º nº1 – a sede do principio das tipicidade dos atos
legislativos. Isto não esgota os atos legislativos do ordenamento português,
pois a Constituição pode criar noutras disposições outros tipos de atos
legislativos, existe uma outra categoria de leis que não esta incluída no artigo
previamente mencionado, as leis orgânicas. Também não se esgota no 112.º
pois este artigo refere-se a atos legislativos durante a vigência desta
Constituição, o que permite que atos legislativos anteriores à Constituição se
mantenham ate hoje (como a carta de lei, um diploma do séc. XIX que esta
atualmente em vigor). Art 112.º nº5 – garantia da tipicidade da reserva de lei.
AULA 18 – 06/05
Força da lei
Divide-se em 2 ideias: Força de lei material e força de lei formal.
A força de lei material traduz a forma de relacionamento da lei com as
situações da vida social, com factualidade. Podemos chegar a duas
conclusões:
Isto não viola o art 112.º nº5, pois a própria lei é que deixou de valer como lei e
passou a valer como regulamento.
A lei resultante do referendo é também ela reforçada de caráter geral, pois a lei
que resulta de refendendo só pode ser modificada em caso de outro referendo
Leis reforçadas de caráter especial – Só são reforçadas para o decreto lei, só
são reforçadas para alguma(s) lei(s)
➢ Lei do orçamento – é uma lei anual, é uma lei de valor reforçado
perante todo o ordenamento jurídico. A lei do orçamento de cada ano
deve respeitar normas para a sua elaboração (Lei de Enquadramento
do Orçamento, é também ela de valor reforçado especial). Não há
fiscalização preventiva da ilegalidade mas sim da constitucionalidade
➢ Lei do regime de referendo face a cada referendo ou lei do regime do
estado de exceção face cada declaração de estado de exceção, etc.
Lei reforçada de caráter suis generis – leis que fixam o formulário, a lei
formulária, trata da identificação dos diplomas. É aplicada a todos os atos,
incluindo às próprias leis reforçadas. A lei sobre a participação das
organizações dos trabalhadores na legislação laboral. Disposições do Código
Civil que dizem respeito às fontes, interpretação, integração, aplicação e
vigência das leis. Este caso é um caso de dúvida, pois essas disposições
iniciais do Código Civil são a expressão de uma lei ordinária de valor reforçado
ou são normas materialmente constitucionais? As regras em matéria de
interpretação, integração, aplicação da lei no tempo, aplicam-se também nas
normas da própria Constituição.
AULA 19 – 07/05
Continuação dos Atos Legislativos
Leis de autorização legislativa (limites) - art. 165.º nº 2 e seguintes
As leis de autorização legislativa devem definir o objeto, sentido, extensão e
duração da autorização – são parâmetros que o governo está obrigado a
respeitar (ou as regiões autónomas) por serem leis de valor reforçado. Nº3 do
art. 165.º - as autorizações não podem ser utilizadas mais de uma vez, mas
podem ser utilizadas parcelarmente. Pode-se criar certo diploma através da
autorização, mas esta autorização não pode ser aproveitada para alterar esse
diploma. Pode-se, contudo, na mesma autorização legislativa criar certo
diploma e desenvolvê-lo, não pode haver sobreposição de matérias mas sim a
sua completude (como numa lei de bases e o seu regime geral, alíneas h) e g)
do art. 165.º).
Nº 4 do art. 165.º - as autorizações legislativas do governo caducam com a
admissão do governo a que foram concebidas, com a demissão do governo,
Processo legislativo
Como é que a Assembleia da República faz uma lei?
Atenção às fontes, onde está regulado o processo legislativo, há 4 fontes:
• Constituição;
• Regimento da Assembleia da República;
• Leis ordinárias avulsas (como a lei da participação de organizações de
trabalhadores na legislação do trabalho);
• Costume parlamentar.
Há três tipos de processos legislativos:
Comuns – tem 6 fases:
Iniciativa legislativa – poder desencadear a feitura de uma lei através da
apresentação de uma proposta e um projeto d elei. O projeto é a
designação quando a iniciativa vem de dentro da Assembleia da
República, as propostas vêm sempre de fora do parlamento. Art. 167.º.
Esta pode ser concorrencial ou reservada (matéria de estatutos ou
eleições de titulares do poder legislativo das Regiões Autónomas, da
Assembleia legislativa regional - art. 226.º nº1). Pode também ser
originária ou superveniente. Por último, há que sublinhar que há uma
grande diferença entre iniciativa legislativa e competência legislativa.
NOTA: A mesa da Assembleia da República poderá não admitir as
propostas se forem inconstitucionais, violarem leis de valor reforçado ou
forem obscuras (não definirem bem o sentido). Neste último caso, há
AULA 21 – 21/05
FOI O SANCHEZ A DAR???
DESCRIÇÃO SISTEMÁTICA DA FISCALIZAÇÃO DA
CONSTITUCIONALIDADE
Porque é que existe?
Art. 3.º nº3 – A validade de todos os atos jurídico-políticos depende do seu
respeito À constituição. Se o ato viola a Constituição não vale para o Direito, é
invalido. Temos de ter mecanismos para garantir que esses atos não vão ter
efeitos, daí a existência do Tribunal Constitucional e a competência de
fiscalização da constitucionalidade garantida a todos os tribunais.
Sistema misto – conjuga traços próprios de um sistema difuso (todos os
tribunais têm uma competência espalhada de fiscalizar a constitucionalidade) e
traços de um sistema concentrado (colocam as competências num só órgão,
como no modelo austríaco).
Art. 204.º - todos os tribunais têm o poder e dever de desaplicar uma norma
inconstitucional.
No sistema misto, o objeto da fiscalização é em 1º lugar o controlo de normas
jurídicas. Depois, temos desvios. O Tribunal Constitucional começou a
observar que o governo (órgão administrativo e legislativo) utilizar declei de
atos legislativos individuais e concretos, não protegendo o povo. Então, a
solução a isto foi: qualquer ato que tenha forma legislativa é sempre controlável
mesmo que não tenha qualquer norma.
Há ainda outras duas exceções:
Referendo – é o único caso em que a fiscalização preventiva é obrigatória.
(Desconfiança da Constituição quanto à vontade democrática e legitimidade
popular).
Convenções coletivas de trabalho – atos de direito privado (natureza híbrida).
Dentro deste controlo, temos também a possibilidade de tribunais estrangeiros
aplicarem a Constituição portuguesa e controlarem a sua constitucionalidade.
Os tribunais portugueses podem também fazer o mesmo, a força da
Constituição ultrapassa fronteiras.
Tipos de inconstitucionalidade:
➔ Formal – violação de egras formais ou procedimentais da Constituição.
➔ Orgânica – violação da normas de competência.
➔ Material – Violação de normas matérias da Constituição que expressam
valores substantivos, como a violação de direitos fundamentais.
➔ Finalística ou teleológica – O ato não teria qualquer erro, mas foi praticado
com uma intenção errada, com um fim que a Constituição proibiria.