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Resumos HDP

Os Inícios de Portugal – O Condado Portucalense


História Diplomática significa a relação entre Estados, podem ser relações tipicamente políticas e
cada vez mais relações económicas, pela crescente interdependência entre países.
Os “contratos” entre países chamam-se tratados ou acordos. Os contratos são entre cidadãos.
Relativamente à S. Sé camamos aos “tratados” de “Concordatas”.
Até ao século XIX toda a diplomacia Europeia passará pela S. Sé, daí ela ser importante. É o
centro da atenção entre as relações diplomáticas dos países.
No século XII Portugal era confundido com o Condado Portucalense. O Condado Portucalense
era o ponto avançado da Cristandade face ao Islão. Existiam na Península Ibérica 5 reinos
mouros, denominados de “Taifas”, que eram lideradas por Califas. Era do interesse da Igreja
Católica reaver o território Ibérico que lhe fora retirado pelos mouros, e essa foi a missão do Rei
de Leão e Castela D. Afonso VI. Essa missão é chamada Reconquista.
Henrique de Borgonha, que se tinha destacado na Reconquista ao lado de D. Afonso VI, é
presenteado pelo monarca a mão da sua filha ilegítima, D. Teresa, em casamento. Mais tarde, em
1096, é lhe entregue o Condado Portucalense, cuja sede de poder é localizada em Guimarães
(este era o ponto mais avançado da Cristandade face ao Islão). A sede de todo este poder (do
Condado Portucalense) estava em Guimarães. Era aqui que encontrávamos indivíduos que
estavam satisfeitos com a situação e havia outro grupo de fidalgos que achavam que era preciso
fazer mais alguma coisa porque dependíamos do imperador D. Afonso VI, da Galiza, Castela, de
Aragão e de outros territórios.
Com a entrega do Condado, Henrique de Borgonha torna-se num vassalo de D. Afonso VI,
devendo, para além de reconhecer que D. Afonso era seu superior, teria também de lhe fazer um
pagamento anual ou de 5 em 5 anos de uma determinada quantia de dinheiro – isto é a
vassalagem; por palavras mais simples, é quase a mesma relação entre um senhorio (rei) e o
inquilino (vassalo): o inquilino paga uma renda ao senhorio para poder viver em sua casa (neste
caso o Condado Portucalense, que pertence/faz parte do Reino de Castela). Este território está
subjugado à Igreja e, consequentemente, ao Papa, figura máxima da Igreja (está sujeito à
Cristandade).
Havia, portanto, nesta altura o juramento de vassalagem que demonstrava esse grau de
dependência entre o vassalo e o outro (que é hierarquicamente superior). O pagamento é a
verdadeira vassalagem, ou seja, não basta só o indivíduo reconhecer o outro como superior, é
necessário também pagar-lhe esse elo de ligação entre ambos que é a vassalagem. O pagamento é
feito a quem tem autoridade para conferir o título de rei e conferir um determinado território
titulado de reino, porque não há reino sem território, e este reino está sempre ao serviço da
Cristandade, liderada pelo Papa. Deste modo, não há reino sem território e este reino está sujeito
à cristandade, que é liderada pelo Papa. O Papa é superior a qualquer rei visto que era visto como
um enviado por Deus e, assim sendo, tinha o poder de decisão supremo e consequentemente
todos os cidadãos e reis dependem em absoluto dele e devem-lhe obediência.
A morte de Henrique de Borgonha em 1112 despoletou uma consciência nacional – existia agora
a possibilidade de formar um novo território livre da tutela do Rei de Castela (Afonso VI).
Porém, D. Teresa, autointitula-se como rainha do condado em nome do seu pai D. Afonso VI. É
neste ambiente que surgem então duas grandes correntes e, portanto, existem dois partidos no
Condado:

 Os Pró-Galegos: Apoiantes de D. Teresa que desejavam manter o condado sobre a


tutelagem do Reino de Castela – eram a minoria
 E os Proto Portugueses: Queriam criar um território independente liderado por Afonso
Henriques, filho de Henrique de Borgonha e D. Teresa – eram a maioria, tanto fidalgos
como plebeus faziam parte desta causa
Em, 1125 Afonso Henriques torna-se cavaleiro e assume uma posição política oposta à da sua
mãe. Em 1128, querendo livrar o Condado do controlo Castelhano trazido pela sua mãe, trava a
Batalha de S. Mamede, em que os Proto Portugueses saíram vitoriosos. É debatido se a Batalha
de S. Mamede foi de facto uma batalha ou uma justa, uma vez que os cristãos preferem não
derramar sangue uns dos outros (em teoria, na prática não). Uma justa é uma espécie de duelo
entre cavaleiros, é selecionada uma quantia deles e após isso eles espancam-se até um lado
vencer com a finalidade de diminuir a morte de ambos os lados e era visto como uma forma de
respeito.
O território Português é então formado na sua origem por um primeiro grande número de
territórios Cristãos, retirados à Galiza, e depois vai sendo acrescentado à medida que a
Reconquista vai ter êxito.
Após a batalha, havia a necessidade de reconhecer o Condado Portucalense como um reino e D.
Afonso Henriques como seu rei legítimo. Tendo em conta que o território Português era formado
por um território retirado à Galiza, que seria mais tarde aumentado ao longo da Reconquista, era
do interesse do Rei de Castela, agora D. Afonso VII, reaver o seu território, que lhe tinha sido
retirado.
Ao longo dos anos, D. Afonso Henriques foi conquistando cada vez mais território mouro para
sul. Quando chegou a Lisboa, tentou a todo o custo manter a linha do Tejo (aqui havia uma praça
muito importante que era Alcácer do Sal). Havia então a necessidade de reconhecer o território
Português como absolutamente independente, todavia, esta conquista impôs um grave problema:
D. Afonso Henriques seguia com as suas tropas para sul, deixando assim a retaguarda do seu
território sem defesas, tornando-a um fácil alvo para D. Afonso VII, que queria reaver o seu
território e que dispunha de um grande exército.
Segue uma réplica do desenho fofo do Professor:
Exército de
D. Afonso VII

Como podemos ver, à medida que o exército português (a estrela) se deslocava para sul, deixava
o seu território a norte exposto perante o exército de D. Afonso VII.
Em 1139, dá-se a Batalha de Ourique em que D. Afonso Henriques combate 5 reis mouros. Foi
aqui que D. Afonso Henriques se decide titular como Rex Portucalensis, como rei do Condado
Portucalense apesar de este ainda não ser um reino.
Por volta de 1140, estabelecem-se tréguas, através do grande diplomata Português – D. João
Peculiar, que demonstrou à Santa Sé que os Portugueses tinham boas intenções.

Tratado de Zamora - 1143


Inicialmente, D. Afonso Henriques e o seu exército eram vistos como um bando de bandidos
pela Santa Sé, que apenas conquistavam as cidades por onde passavam, não tendo a capacidade
de as governar e por isso não eram levados a sério. Teriam os Portugueses que demonstrar ter
boas intenções e que de facto pretendiam construir um reino.
Dá-se então o Tratado de Zamora em 1143, em que participam D. Afonso Henriques, D. Afonso
VII e o Cardeal Guido de Vico, um representante do Papa por ele enviado. Foi uma conferência
dura durante a qual D. Afonso VII protestou contra a atitude de D. Afonso Henriques fazendo-
lhe frente, que mostrou ser ainda um jovem inexperiente no que consta a política e diplomacia –
era ainda um soberano muito verde.
O Tratado concluiu com o reconhecimento do Condado Portucalense como um território
independente, que seria agora chamado de Portugal, por parte de D. Afonso VII. Foi também
concordado que o Rei de Leão e Castela, D. Afonso VII não interferiria na Reconquista dos
Portugueses, isto é, não os invadiria pela retaguarda. Isto acabou por não o incomodar uma vez
que teria visto D. Afonso Henriques como um jovem ingénuo.
No entanto, no que consta à Reconquista portuguesa, D. Afonso Henriques não tinha o poder
militar, nem administrativo, entre outros, para manter o seu território em ordem (daí ter sido
comparado a um bandido). A sua inexperiência e falta de recursos foi algo que o Cardeal Guido
remeteu para a Igreja, daí ter demorado o reconhecimento de D. Afonso Henriques como Rei de
Portugal (Portugal não foi reconhecido como um reino independente pela Santa Sé durante o
tratado, algo que na altura era imperativo para a construção de um reino, daí ser debatido se a
data de independência de Portugal foi em 1143 ou 1179).

Reconhecimento do Reino de Portugal – Bula Manifestis Probatum


Ao longo da Reconquista, D. Afonso Henriques foi envelhecendo e, por isso, amadurecendo e
com isso foi conquistando a confiança da Igreja. É então em 1179 que é outorgada a
independência portuguesa pelo Papa Alexandre III e que atribui a D. Afonso Henriques o título
de Rex (rei). Esta independência é oficializada através da Bula Manisfestis Probatum. NOTA: A
Bula é uma espécie de constituição de liberdade por qual todos os reinos cristãos se baseiam.
Elementos que estavam expressos na Bula e que consequentemente não estavam expressos no
Tratado de Zamora:
 O Reino tem de ser absolutamente Cristão e todo o território que o Rei conquiste tem de
se tornar Cristão (Segundo a Igreja, se o Rei fosse Cristão toda a população também o
seria, como foi o caso romano, onde o Imperador se converteu e com ele o resto do
Império)
 Foi Deus quem escolheu D. Afonso Henriques para ser Rei (a vontade de Deus)
 A transformação de D. Afonso Henriques num vassalo da Igreja pois esta reconheceu o
território como Reino e o Rei teria de lhe pagar uma determinada quantia em forma de
reconhecimento
Através desta Bula, a relação entre o Estado e a Igreja também muda possibilitando-a a intervir
na política e vida interna/externa do Estado, mas também na defesa do clero local e nos conflitos
originados pela sucessão nos bens/poderes dos monarcas.
Quem representa o Papa em Portugal são os bispos. Portanto o território vai ser divido em
regiões, que são os bispados (Ex: bispado do Porto, bispado de Lamego), e são precisamente
esses indivíduos que vão responder perante o papa e representam os interesses da Santa Sé aqui
no país, deste modo as relações entre bispo e rei devem ser francas e abertas.
Com a Bula e o Reino sobre a Igreja Católica, o papa tem o poder absoluto de excomungar
um rei e interditar o reino, ou seja, de isolar um território, não pode haver relações
diplomáticas ou económicas com quaisquer outros reinos, não pode haver qualquer tipo de
comunicação com outras pessoas ou reinos, ele deixa de ser capaz de casar o príncipe,
comprar material bélico. Quer isto dizer que há um isolamento total do reino e também do
rei.
Porém, isto acontece quando há o incumprimento da bula manifestum probatum, em que
consagra que a relação entre o papa e o rei consistia na prestação de vassalagem, ou seja, do
pagamento de uma determinada quantidade de ouro (2 marcos de ouro anuais). Os marcos de
ouro não eram propriamente entregues na Santa Sé, esse dinheiro era entregue às dioceses
porque as igrejas locais precisavam de dinheiro para sobreviver para as suas múltiplas
necessidades.
Ao aceitar a bula, D. Afonso Henriques aceita que todos do reino estão sujeitos a ela.
Os indivíduos podem também ser excomungados. Nestes casos ele não pode cumprimentar
ninguém, não pode ir à missa, não pode vender pão.
Lançar o interdito e a excomunhão sobre uma pessoa ou família são então as duas principais
“armas” do Papa.

D. Sancho I e a Igreja
Um rei em guerra não tem capacidade de realizar os pagamentos por ter de usar todos os seus
meios disponíveis. Ora, o país encontrava-se em guerra e, portanto, todos os recursos eram
aplicados para a mesma e não havia esta possibilidade de entregar os 2 marcos de ouro ao
Papa, pois todo o ouro seria para a aquisição de material bélico, para a compra de cavalos. Para
além do mais, D. Sancho I era também um rei muito firme face aos privilégios e imunidades
eclesiásticas sendo que para ele o poder régio era o maior e devia ser obedecido por todos
dentro do reino.
Sendo assim, D. Sancho recusa-se a prestar este pagamento porque prejudicava o tesouro
público e porque a sua preocupação principal era a conquista de território, levando os bispos a
queixarem-se ao Papa sobre o facto de a bula não estar a ser cumprida. -Nota: D. Sancho I
só chega a pagar de uma só vez 20 anos em atraso.
Gera-se então um grande conflito entre o rei e a Igreja. Resultado disto, o Bispo do Porto,
recusa-se a participar na cerimónia de casamento de D. Afonso e lança um interdito na
cidade, ficando toda a gente impedida de fazer relações económicas fora da cidade do Porto. Isto
traz graves problemas porque não há economia sem as empresas, e nesta altura existiam os
mercadores que são os indivíduos que têm vocação para o comércio, e são estes mesmos os
primeiros grandes diplomatas portugueses. Estes reagem negativamente perante este interdito.
Além dos mercadores temos os religiosos que discordam também devido aos seus interesses.
Temos então um conflito também entre a Igreja e a própria sociedade civil.
Resultante disto, D. Sancho persegue os adeptos do bispo, invade as suas igrejas e manda
prender os clérigos da sé portuense. Assim sendo, o Papa começa a ter algumas preocupações em
relação a D. Sancho e ameaça excomungar o seu reino.
Outro dos problemas apontados ao Rei foi a imposição da colheita. Esta colheita era um
privilégio que o rei e a sua extensa comitiva (Corte) tinham de se alojar em casas da igreja para
onde se deslocassem, e de usufruir de alimentos, casas, roupas, utilizando de forma abusada os
bens da população, enfurecendo-a e empobrecendo-a, o que causava um aumento de conflitos
motivados pelo próprio rei. Sendo assim o rei cada vez mais se afirmando como um inimigo da
própria igreja a quem tem de servir.
Finalmente, já perto da sua morte, D. Sancho finalmente reconcilia-se com o bispo de
Coimbra, a zona afetada pela colheita, graças à intervenção do arcebispo de Braga.
(Quando um individuo está para morrer, e se pretende redimir ou reconciliar, doa os seus bens à
Igreja, através do testamento. Isto também estava nos apontamentos e eu não sei porquê).

D. Afonso II
À morte de D. Sancho I, sucede o seu filho D. Afonso II, e ele é um individuo que já tem plena
consciência de rei, só que vai ter um problema complexo porque tem várias irmãs (D.
Teresa, D. Sancha e D. Mafalda) que foram contempladas também com vários bens, bens
que se chamam senhorios. O que acontece é que os senhorios são grandes territórios que o rei
coloca nas mãos das filhas, mas Afonso como rei de Portugal exige direito sobre estes territórios,
pois as irmãs não tinham este direito.
Depois da bula de 1179, o grande ponto alto do ponto de vista político, são as Cortes de
Coimbra de 1211, que estabeleceram que D. Afonso II devia respeitar a decisão de seu pai, D.
Sancho I, no entanto, D. Afonso II queria assumir uma posição centralizadora – queria
conquistar tudo e quer fosse território ou património estaria sob controlo do Estado. Este desejo
de conquista absoluta foi o que originou o conflito entre ele e as suas irmãs e ainda o clero –
estes foram os acontecimentos marcantes do seu reinado. O maior problema existente no seu
conflito com as irmãs era o facto de elas quererem passar as suas posses adquiridas por
testamento para outros indivíduos de outras ordens militares que já possuíam bastante poder que
iriam complicar a situação do reino. Estas ordens tinham aspirações diferentes e o rei dizia que
quem atribuía senhorios às ordens seria apenas ele, seria ele quem o fazia de forma estratégica.
Sem estas ordens não seria possível a Reconquista.

Estas Cortes de Coimbra levaram assim a duas oposições, o Rei com o Clero e O Rei com
as infantas (suas irmãs). Existia aqui um problema interno com um árbitro externo (o Papa). A
Santa Sé desfavorece D. Afonso, que devia ter respeitado a decisão de seu pai. Infelizmente para
o Papa (que favorecia as infantas), as irmãs cederam o seu património herdado do seu pai.

Com o testamento de D. Sancho I, é confirmado os senhorios da infantas e


consequentemente, é exigido cumprimento deste testamento pelo Papa Inocêncio III que faz 7
bulas para que tal cumprimento aconteça, porém, D. Afonso II sendo um rei centralizador
acabou por ser levado à tentativa de obtenção dos senhorios deixados às irmãs, executando
assim três movimentos para obtenção dos mesmos. Primeiramente, executou o Protesto da
Ordem do Hospital (eu não sei se isto é o nome do acontecimento ou se foi só um protesto)
contra D. Mafalda, depois o 2º cerco contra D. Teresa e, por fim, o 3º cerco contra D. Sancha.
Com a transgressão de D. Afonso II às ordens da Igreja, nomeadamente o respeito pelo
testamento de D. Sancho I, esta decide excomungar o rei, que só vai ser absolvido em 1213,
e lançar um interdito sobre o reino.
Portanto este problema não foi resolvido durante a vida D. Afonso II, ele não deu o braço a
torcer para não debilitar a posição que tomou nas cortes de que assumia uma posição
centralizadora que ele é que administrava as terras e assim o conflito entre D. Afonso II e as suas
irmãs acaba com a morte de D. Afonso II.

Ainda nas Cortes de Coimbra vão ser decretadas algumas medidas fundamentais para o
funcionamento do reino:
1. Em primeiro lugar, afirma-se a supremacia régia, o poder do rei acima de qualquer
poder.
2. Em segundo lugar, decretam-se as Leis da Desamortização, este tipo de leis, que
tinham por objetivo prevenir a concentração de bens fundiários de mão-morta (bens
deixados por testamento), proibiam as corporações religiosas de adquirirem bens
fundiários.
3. Em terceiro lugar temos as chamadas inquirições, em que se averigua a legitimidade
das terras possuídas, averiguação das terras do Rei que estão a ser usurpadas ou usadas
ilicitamente (como é que se veio a obter essa carta que lhe permite a posse, quem é o
proprietário etc.). São enviados por parte do rei que se dirigiam às terras e confirmavam a
sua legitimidade senhorial exigindo um documento que comprovasse que o rei lhe dera as
terras ou que eles eram senhores legítimos dessas mesmas terras.
4. Em quarto lugar, são feitas confirmações régias em que são enviados funcionários por
parte do rei que se dirigiam às terras e confirmavam a sua legitimidade senhorial exigindo
um documento que comprovasse que o rei lhe dera as terras ou que eles eram senhores
legítimos dessas mesmas terras.
5. Em quinto lugar, a luta contra a formação de senhorios. Os senhorios são
determinados territórios que estavam na posse de uma família nobre. Os senhorios laicos
eram os chamados honras. Na idade média, os senhorios tinham a mão de um nobre por
mercê de um rei, ou seja, por autorização do rei. Isto é feito através de uma carta, que
confirmava a posse legal desta terra. Muitas das vezes, os filhos dos secundo genesis, não
têm para onde ir e acabam por abusar de territórios que não estão ocupadas e tomem
posse ilegalmente, pondo em questão o poder do rei, dado que tinham de lhe pagar
tributos a ele e não ao senhor. Ora daí que se vai fazer o levantamento cadastral através
das inquirições e o rei proíbe a formação de novos senhorios porque todos os senhorios
que forem formados só podem ser formados com a autorização do rei. E sempre que o rei
morria, eles tinham que ir à cidade mostrar um documento em que mostrava que de facto
tinham posse legal sobre determinado território, que o rei acabava por confirmar ou não.
O rei legaliza chama-lhes honras novas, para distingui-las das velhas originais, porque as
tradicionais são as famílias que o rei conhece e que lhe pagam o tributo e ajudam o rei. Já
as novas, a partir daquele momento vão começar a pagar e a ajudar o rei conforme for
determinado. Em suma, a partir dali, nunca ninguém poderá ocupar terras sem
autorização do rei.

Reinado de D. Sancho II
Após a sua morte, D. Afonso II foi sucedido por o seu filho mais velho, D. Sancho II. Ele
era um rei com um conjunto distinto de características, e não num bom sentido (Este é um dos
problemas da sucessão hereditária visto que muitas vezes os sucessores não têm capacidade de
governar). D. Sancho II era um rei sem grande perfil, mostrava-se como um rei sem grande
personalidade e o poder era exatamente o contrário do que o seu pai tinha feito da imagem de Rei
– ele desconstruiu o que o seu pai, um rei centralizado, forte e de caráter havia construído.
Portanto seria um rei que iria trazer vários problemas como: uma situação na cidade de Chaves, o
casamento com D. Mércia Lopes de Haro (uma viúva de Álvaro Pires de Castro) e não teve
grandes relações com os bispos (especialmente o do Porto e o de Lisboa) e estiveram em
desentendimento constante.
Não há nenhum documento escrito acerca da restituição de Chaves. Pensa-se que foi um
acordo verbal e que foi escrito algo posteriormente sobre o mesmo e até hoje esse tratado é
desconhecido. De qualquer forma foi algo positivo porque permitiu uniformizar o território a
norte.

D. Sancho II casa com D. Mécia Lopes de Haro que era mais velha e viúva. Tal era um
problema porque a esperança média de vida na altura era muito mais baixa e era de grande
urgência o rei criar herdeiros e acontecia que a sua esposa estava perto da idade infértil.

O problema entre Sancho II e os Bispos surgiu porque o rei não respeitava o poder
temporal da Igreja (o poder temporal da igreja é fundamentalmente o seu património). A igreja
vai crescer do ponto de vista do seu património e o rei não gostava disso porque o património
que fosse para a igreja seria património que não iria para os cofres do Estado, mas sim para os
cofres dos Bispos e consequentemente da Igreja. Era preferível que os bens fossem para o Estado
para que o rei pudesse investir na guerra, o que não era possível se a Igreja enriquecesse em vez
do Estado.

Houve queixas constantes dos bispos ao rei nomeadamente do bispo de Lisboa. Este vai
de facto, através dos seus mecanismos, fazer chegar ao papa as suas denúncias e queixas sobre a
forma como Sancho II reinava e da sua incompetência que criava desordem e assim João de
Abbeville, Bispo de Lisboa vai ser a maior pessoa contra o Monarca.
É também importante o facto de que aqui no Porto, a situação também não era favorável.
O bispo do Porto tinha problemas com a cidade uma vez que a cidade Invicta era uma cidade
focada no comércio e era aqui onde havia indivíduos com uma visão diferente da religião (esta
que proibia o lucro e o juro) e geralmente diferente da sociedade – era quase tudo ligado ao
comércio e aos burgueses que tinham valores diferentes da Igreja.
D. Sancho II foi um rei que não tinha sido preparado devidamente para reinar num
período complexo – o reino tinha problemas internos, no entanto eram difíceis de resolver uma
vez que Portugal estava em guerra. Ele era fraco politicamente e ignorante e perante este
contexto deixava assim os seus oficiais atuar de forma abusiva e injusta contra a Igreja,
enfurecendo-a ainda mais, pela sua incapacidade de os controlar.

Assim, após algum tempo e devido ao comportamento dos nobres e à incapacidade do rei,
começam a existir planos e ideias de substituição do rei, com D. Fernando de Serpa, irmão, mas
que em último caso não foram para a frente.
Face a esta situação, e a um rei inapto, o Papa encarrega os bispos de Porto e Braga de o
informarem das decisões tomadas por D.Sancho, e percebe-se que cada vez mais são as queixas e
é cada vez maior a instabilidade. Sendo assim o Papa precisava tomar uma posição.
Com cada vez mais queixas dos bispos à Santa Sé, em 1245, o Papa Inocêncio IV acaba por
tomar ação e cria a bula Inter alia desiderabilia. Esta abordou 11 pontos (ver o documento
Dipl.medieval.3.2021, 2ª pág.) onde o Papa declarou que o rei:

1. Não respeitava as liberdades eclesiásticas: Não respeitava as liberdades da Igreja


(como referido no excerto de João de Abbeville) como atribuir a extrema unção,
administrar os seus territórios, de construir os seus edifícios próprios e outros serviços de
apoio.
2. Oprimia as igrejas: É acusado de rapinar as igrejas sobre tudo o que pudesse ser
rapinado (obras de arte por exemplo) tirando-lhe os bens através de assaltos e também de
não defender as infraestruturas da Igreja. Retira os camponeses nas terras sobre a mão da
igreja para irem trabalhar nas suas terras. O nobre tentava tirar partido de qualquer igreja
fosse grande ou pequena, algo que ele não podia fazer porque devia defender a Igreja.
3. Não acatava as admoestações feitas pelo papa antecessor: Este era dos pontos mais
graves. Era impensável que alguém não aceitasse a vontade inviolável do próprio Papa
visto que ele era o poder máximo. Foram inúmeras as bulas mediadas que não tiveram
efeito prático.
4. Era negligente na repressão dos malfeitores: Dava pouco valor às situações que eram
consideradas bastante graves. A justiça deveria ser cumprida e o criminoso devia pagar
pelo seu crime fosse ele qual fosse, mas ele ignorava a repressão e a justiça, deixando
crimes de lado, dando liberdade aos criminosos e promovendo assim o caos
5. Deixava os patronos dos mosteiros praticar a violência: Os patronos metiam dentro
dos mosteiros quem muito bem queriam, e muitas vezes pessoas que não tinham
qualquer vocação para a vida eclesiástica e estavam lá apenas para estabelecer poder
deixando quem patrocina e financia os mosteiros praticar vários atos injustos como
introduzir dentro dele família e amigos por exemplo que podiam usufruir de certos
benefícios.
6. Não reprimia a heresia: Ele não reprimia as manifestações existentes contra a visão
oficial do Papa e dos bispos que deviam ser condenadas. O rei devia condenar e
perseguir estes indivíduos, mas isso não acontecia. Ele não se metia nem na parte civil
nem na parte da igreja, era um indivíduo negligente.
7. Deixava perder os castelos, domínios, herdades da coroa: Ele não era só fraco dos
pontos de vista falados anteriormente, mas também do ponto de vista militar ao nível
militar existia uma fragilidade durante o reino de D. Sancho II. Ele não tinha capacidade
de manter os territórios conquistados, sendo que, estes domínios eram perdidos para os
árabes visto que não conseguia sempre manter e fortalecer o território conquistado aos
árabes
8. Permitia o incesto, rapto das monjas e de mulheres seculares: Era um grande
problema do ponto de vista civil. Não protegia a sociedade civil feminina da época, ou
seja, as monjas e as mulheres seculares (nesta época, seculares = civis). Na época, as
freiras deviam sair do mosteiro sempre tapadas e em pares; caso uma freira andasse
sozinha e fosse atacada, o opressor seria punido, no entanto a sua pena não seria tão
pesada
9. Deixava os opressores extorquirem dinheiros aos camponeses e aos clérigos: Os
cavaleiros, muitos deles empobrecidos, ou pela guerra ou pela sua vida dissoluta,
pilhavam os camponeses e as igrejas. Era inadmissível roubar os camponeses, uma vez
que já viviam em miséria suficiente. Nesta época, não havia justiça em Portugal
assegurada pelo rei
10. Permitia a violação de igrejas e cemitérios: Tudo era pilhado e violado pelos grupos
de bandidos porque não havia justiça que os castigasse (relembrar que cemitérios nesta
época eram dentro das Igrejas)
11. Não defendia as terras cristãs dos árabes: Tal como o avô, D. Sancho II tinha de
cumprir com a Bula, conquistar e proteger os territórios cristãos, algo que o Rei não
conseguia fazer (fraco poder militar). Ele não criava uma barreira forte contra os árabes.
O país estava pobre e fragilizado enquanto que os árabes estavam organizados. Era
preciso criar meios para derrotar aqueles que estavam perfeitamente organizados (do
ponto de vista económico, administrativo, religioso)

Surge a ideia de substituir o rei. Há um individuo que parecia muito mais capacitado, e esse era
precisamente o irmão de D. Sancho II, o infante D. Afonso, Conde de Bolonha.

O infante D. Afonso, gravita na órbita do Papa, é um individuo bem colocado, mas só o apoio
externo não é suficiente, precisava do apoio interno. D. Afonso usou o meio da peregrinação,
para demonstrar esta devoção cristã, vai promover a peregrinação a Santiago de Compostela e
contactou com os seus patriotas. Aproveitou esta situação para se reunir com os opositores a D.
Sancho, que prometem apoiar D. Afonso.
Há aqui um problema relacionado com o casamento de Sancho II com Mécia Lopes de Haro. O
papa manda D. Sancho II separar-se de Mécia, pois acusa-os de consanguinidade (denúncia
feita por D. Afonso). O objetivo é evitar que D. Sancho II tenha filhos legítimos, caso
contrário D. Afonso nunca poderia governar.

Isto irá gerar uma imensa instabilidade e leva o país a um período de Anarquia e de Guerra Civil
entre 1245 e 1248.
Entre o ano de 1244/1245 vai acontecer uma reunião magna na Igreja, reunião presidida pelo
Papa e constituída por todos os cardeais: O Concílio de Lião.
Temos um país completamente impossível de governar, e por isso perante tantas queixas e
apoios confirmados a D. Afonso, o Papa Inocêncio IV vai perceber que é necessário retirar este
rei. Para isso vai tentar fazê-lo através da bula Grandi non immerito, dirigida aos barões, ao
povo, bispos e clero e às ordens militares (Santiago, Hospital, Templários e de Avis)  dava
indicação de que estas se encontravam ao lado de D. Afonso, se fosse a vontade do Papa.
Por esta bula, o Papa vai depor o rei D. Sancho II. Depor não significa retirar-lhe a coroa, e no
seu lugar á de ser colocado um governante para endireitar a situação.
Assim sendo, vai ser necessário recorrer à sua substituição. D. Afonso, conde de Bolonha, vem
para Portugal como governador e defensor do reino em lugar do seu irmão. Isto vai levar a
uma guerra civil, não é consensual a aceitação de D. Afonso como rei, pois parte do território
apoiava D. Sancho II e a outra parte apoiava D. Afonso.
Após o Concilio de Lião, parecia não haver volta atrás na situação. Há ainda uma reunião em
Paris, com pessoas das mais altas patentes, como o Arcebispo de Coimbra e o Chanceler de
Paris, e vão dar o seu pleno apoio a D. Afonso, para que este pudesse guiar o reino. O objetivo é
garantir o futuro governo. O Infante D. Afonso jurou ao papa observar os antigos foros e
costumes da Nação (não pode mexer com os nossos costumes), Governar bem (aplicar bem
a justiça, combater a criminalidade e acabar com a anarquia) e ser obediente à Santa Sé.
O regente foi bem recebido em Lisboa e também nos vários castelos, mas apesar disso encontrou
alguns opositores.
Dá-se então a Batalha de Pedroso que teve um resultado inconclusivo. D. Afonso vai pedir
apoio a Fernando III e ao príncipe Afonso de Castela. Entretanto D. Afonso vai sofrer uma
derrota bastante pesada em Leiria pelas forças de D. Sancho.
A guerra estava a ser favorável para as forças de D. Sancho, mas no final, D. Afonso sai
vitorioso, após a morte de D. Sancho II em 1248. Deste modo, já não há necessidade de
combater por um rei falecido e assim acaba a guerra civil visto que o melhor a fazer seria apoiar
o novo monarca, que passa a ser intitulado D. Afonso III.

D. Afonso III
Surge D. Afonso III. Porém este rei vai ter um grande problema, com o Algarve.
O Algarve que foi conquistado com a ajuda da Ordem militar de Santiago (estrangeira) cuja sede
era em Uclés (Castela). Esta ordem estava ao serviço do Rei de Castela.
Vários membros desta ordem vêm combater ao lado do rei, vão prestar serviços militares
ajudando na Reconquista. À medida que esta vai acontecendo, o rei vai doando terras à Ordem
de Santiago, grande parte do Alentejo é entregue a esta ordem.
Acontece que uma coisa é conquistar e ser o dono outra coisa é ser o senhorio de uma
determinada terra. Esta posse efetiva pertence de facto ao rei castelhano, porque antigamente,
temos a formação de vários reinos árabes, e muitos deles vendo o avanço da reconquista cristã,
vão fazendo alianças com esses mesmos monarcas cristãos.
Essas alianças farão com que uma vez conquistado esse território árabe, todos os territórios que
estão sobre a sua influência passam inevitavelmente para a influência do rei castelhano, que
conquistou agora esse reino.
Acontece precisamente que os pequenos monarcas do Algarve têm alianças, e ao serem
conquistados vão ficar na mão do rei castelhano.
Sendo assim, o Algarve vai ter um grave problema, vamos ter aqui são dois monarcas a
reivindicar o mesmo território, nomeadamente D. Afonso III e o rei castelhano. O primeiro diz
que lhe pertence porque conquistou e o outro diz que é dono porque já tinha influência no
Algarve através das alianças com os reinos árabes, alianças já antigas e por isso tinha direito
ao território e, para além do mais, adiciona que o rei português só conquistou com o auxílio dele,
através da Ordem de Santiago, que tem sede em Castela e que consequentemente se não fosse
esta o Algarve nunca teria sido conquistado.
No entanto, no Tratado de Zamora, a Reconquista Portuguesa seria feita no sentido vertical
(norte a sul) e daí o rei de Castela não foi favorecido. Portanto Portugal pela via das armas
conquistou o Algarve com a Ordem de Santiago, mas esta não é portuguesa, e então esta ao
serviço do monarca castelhano e daí toda esta confusão.
Estamos perante um problema diplomático complexo que nem o Papa consegue resolver.
Vai-se tentar encontrar uma forma civilizada de resolver o problema, pois não faz sentido
cristãos combaterem cristão quando têm um inimigo comum.
Sendo assim decidem fazer Tréguas em 1250 e interrompem das hostilidades, o que não quer
dizer que de facto os conflitos acabassem.
Com a mediação do Papa Inocêncio IV iremos ter em 1253 a chamada Paz de Chaves.
Consequência deste saem dois pontos importantes:
1º Fazer paz através das alianças familiares régias, isto era uma forma de fazer união através
de famílias. Deste modo resolve casar D. Afonso II com D. Beatriz, filha de Afonso X (rei
castelhano). Daqui surge um problema que era o facto de D. Afonso já ser casado com D.
Matilde, condensa de Bolonha, e aceitar casar com D. Beatriz.
D. Matilde vai denunciar mais tarde esta situação ao Papa e este ordena o fim do casamento. D.
Afonso não vai obedecer o que resultou na sua excomungação e na interditação do reino.
Passado algum tempo, D. Matilde faleceu e assim D. Afonso III ficou livre do problema
complexo que era a excomunhão e o interdito ao reino.
2º A desistência definitiva de Afonso X das suas pretensões ao Algarve mas não imediatamente,
apenas quando o filho de D.Afonso III com a sua filha D.Beatriz atingisse os 7 anos (futuro
D.Dinis). Aqui há esta promessa que quando o sucessor atingisse esta idade, então o Algarve
seria definitivamente português.

D. Dinis
Em 1261, nasce D. Dinis que vai ser a solução para o problema do Algarve e vai torná-lo
português através do Tratado de Badajoz, que define a fronteira continental.
Em 1279 morre D. Afonso III e sucede-lhe D. Dinis. Sobe ao poder e há uma grande
instabilidade em Castela, que entendem que o Algarve continua a ser castelhano. Desta profunda
instabilidade há conflitos de iniciativa castelhana e de iniciativa portuguesa.
Perante esta situação vai-se tentar um acordo, que vai ser o Tratada do Alcanises de 12 de
Setembro de 1297. Este vai definir a nossa fronteira e vai-se respeitar completamente até ao
início do século XIX.
Entretanto de algumas conquistas feitas por D. Dinis as mais importantes são Aroche e Aracena
para onde foram mandadas guarnições militares bastante fortes para resistir aos castelhanos, que
estavam bastante dentro do território de Castela. D. Dinis nunca teve a ideia de ficar com estes
territórios, mas conquistou-os apenas para ter possibilidade de moeda de troca.
Esta foi de facto a primeira grande vitória diplomática de Portugal e também então de D.
Dinis que era um rei forte e organizado e já com uma forte tendência centralizadora e por isso
que é até considerado o primeiro monarca moderno Português.
A 2ª grande vitória foi o reconhecimento da Santa Sé desse mesmo tratado, esta conhece a
fronteira portuguesa.

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