Você está na página 1de 24

1.

O período entre 1128 e 1179 é um tempo pleno de dificuldades, mas também é o


tempo da afirmação da nacionalidade. Faça uma reflexão crítica sobre os aspectos diplomáticos
que lhe estão subjacentes.

A quando a morte de D. Henrique, em 1109, sucede-lhe D. Teresa, que irá exercer o


governo do condado durante a menoridade do seu filho, Afonso Henriques de Borgonha. D.
Teresa intitula-se rainha em 1121, mas os conflitos diplomáticos levaram-na a abdicar das suas
pretensões e mudar de política. Formam-se assim dois partidos distintos. Um a favor da
independência e a favor dos castelhanos, os pró-galego, ligado a Galiza. Outro, a favor da
independência, portuguesa, os proto português, conjunto de fidalgos portugueses que se lança
para a conquista do território. D. Teresa apoiava os pró-galego. Aos 16 anos, o jovem Afonso
Henriques, com o apoio da nobreza portuguesa da época, armar-se a si próprio cavaleiro,
tornando-se assim guerreiro independente. A posição do favoritismo em relação aos nobres
galegos e a indiferença para os fidalgos e eclesiásticos portucalenses por porte de sua mãe, D.
Teresa, originou a revolta destes, sob o comando do seu filho, D. Afonso Henriques.

Esta luta entre mãe e filho é definitivamente uma consequência da morte de D. Henriques,
pois foi colocada em risco a existência do condado Portucalense, pela vontade de aliança com
Castela de D. Teresa. A luta entre mãe e filho termina com o surgimento da batalha de S. Mamede
com familiares e amigos dos dois lados. D. Teresa acaba expulsa da terra que governou durante 15
anos. Uma vez vencida a guerra, D. Afonso Henriques toma conta do condado, declarando-o
independente, dado que ele era neto de D. Afono VI de Leão e Castela, Imperador de toda a
Hispânia.

Após as vitórias da batalha de S. Mamede e da batalha de Ourique, o estatuto de


independência de D. Afonso Henriques carecia de reconhecimento do reino Português. Foi no
torneio de Valdevez que D. Afonso Henriques rompeu a paz de Tui e invadiu a Galiza. Em resposta
a D. Afonso VII de Leão e Castela entraram em terra portuguesas, arrasando os castelos à sua
passagem e foram em direção a Valdevez. Para evitar batalha campal foram selecionados os
melhores cavaleiros para uma justa.

A sorte das armas pendeu para o lado português, tendo os cavaleiros leoneses ficado
detidos, tal como no código da cavalaria medieval. Com a vitória dos seus cavaleiros no Recontro
de Valdevez, Afonso Henriques aproveitou as graças da Igreja, e por intermédio do Arcebispo de
Braga fez com que o Papa Inocêncio II aceitasse a sua vassalagem, contra o pagamento de um
censo, isto é, quantias que os rei pagam aos Papas de quatro onças de ouro por ano.

O Arcebispo enviou depois o Cardeal Guido de Vinco, em representação do Papa Inocêncio


II para uma reunião entre D. Afonso Henriques e Afonso VII, obtendo daqui o tratado de Zamora.
Deste tratado obtém-se o reconhecimento do título de Rei que D. Afonso Henriques passou a usar,
no papel, e de facto e de direito a 5 de outubro de 1143 e a separação entre reinos. D. Afonso VII
compromete-se a não atacar a retaguarda de Portugal e concede-lhe liberdade de progresso
territorial. Assim, começa o início de independência a nível regional.

Contudo, o Papa não reconhece o título do rei, nem o território para conquista reinos. O
delegado do Papa não acreditou nas boas intenções do português e não a aconselhou ao papa a
criação de reino português. Fê-lo por desconfiança, devido aos persistentes ataques por árabes na

1
península ibérica e por aquela zona ser administrada por familiares. Dizia que D. Afonso Henriques
não tinha capacidade militar política e administrativas de tornar os territórios conquistados em
definitivos.

A independência total surge em 1179 coma criação da bula papel. A bula é um documento
emitido diretamente pelo Papa. Em 1179, este documento é emitido e admite a independência do
reino Português, no contexto internacional, como soberano protegido pela Igreja Católica pelo
Papa Alexandre III. O Papa fê-lo por considerar que D. Afonso Henriques poderia vir a aumentar a
força da Santa Madre Igreja por ser um bom soldado da fé cristã que ajudou a exterminar os
inimigos da Igreja. Afirma também que D. Afonso Henriques deveria ceder e marcos de outro
anuais à Santa Igreja, reconhecendo e respeitando a entidade a quem estou a atribuir o dinheiro.

2. Partindo da bula Manifestis Probatum, de 1179, refira-se às relações


diplomáticas entre Portugal e a Santa Sé, no século XI.

As relações entre Portugal e a Santa Sé remontam à fundação do Reino de Portugal,


destacando-se desde logo a Bula Manifestis Probatum, enviada pelo Papa Alexandre III a D. Afonso
Henriques, a 23 de Maio de 1179, confirmando-lhe o título de Rei e atribuindo esse título também
aos seus sucessores. Concedia assim ao monarca português o domínio dos territórios conquistados
e a conquistar aos mouros.

Através da bula, concebe um conjunto de direitos a D. Afonso I, entre eles o facto de não
poder ser invadido por cristãos, o apoio dos cruzados, a assegurada sucessão e ainda o não poder
ser incomodado pelo clero e pelos seculares com a pena de excomungação. Por fim, podemos
concluir que se forma uma relação Estado-Igreja que levará a Igreja a intervir na política e vida
interna e externa do Estado. Um dos exemplos é o início da defesa do clero local.

Assim sendo, não é em 1143 que o Papa vai reconhecer a titularidade de rex através da
informação dada por Guido de Vico. Foram necessários 36 anos, marcados entre os anos de 1143 a
1179, para o Papa reconhecer finalmente o rei e o seu território. Apesar disso, será fundamental
que, para isso, D. Afonso Henriques aceitasse uma série de cláusulas e obedece-se a um
determinado perfil político-moral.

Esse reconhecimento é fornecido através de uma bula, ou seja, a bula manifestis


probatum, dada a 23 de maio de 1179, onde se confirma o reconhecimento da coroa portuguesa.
Desta forma, o Papa Alexandre III confirmou a D. Afonso Henriques a proteção da Santa Sé para
aquela que é a defesa da integridade do reino e de todos os territórios que conquistasse, por sua
vez, aos muçulmanos. Importa também entender que, o Papa emite dois tipos de documentos
oficiais, ou seja, a bula e o breve. Em primeiro lugar, a bula é um documento analítico, explicativo
e completo que diz tudo. É, geralmente, um documento dado pelo próprio Papa, isto é, é o Papa
que expede a bula. Ele dita. Por outro lado, e em segundo lugar, o breve é um tipo de resposta
fornecida pela chancelaria do Vaticano e não directamente pelo Papa. Consiste numa resposta
rápida, direta e curta onde se fornece um tipo de informação muito sucinta e precisa. As armas
usadas pela Cúria Romana nessas intervenções eram, essencialmente, de caracter espiritual,
baseadas na faculdade de excomungar os príncipes e interditar os seus reinos.

2
3. O testamento de D. Sancho I, por um lado, e as resoluções das cortes de Coimbra
de 1211, por outro, influenciaram negativamente as relações diplomáticas entre Portugal e a
Santa Sé. Porquê?

D. Sancho I praticava uma política interna bastante conflituosa, sobretudo com o Bispo de
Porto, D Martinho Rodrigues, pelo facto de não contribuir para a Santa Igreja. Este mesmo bispo
recusou casar o seu filho D. Afonso, ao recusar-se a participar nas cerimónias e não receber os
conjugues na sua passagem pelo porto, e decide lançar o interdito na cidade. Resultante disto, D.
Sancho I decide perseguir os adeptos de D. Martinho Rodrigues, invadir as suas igrejas e mandar
prender os clérigos da Sé Portuense. Como castigo, D. Sancho I acaba por pagar os tais 20 anos de
atraso de uma só vez, devido ás ameaças de excomungação do Papa. O bispo lança então o
interdito, o que trata a reação dos religiosos discordantes e dos mercadores.

O direito de colheita praticado pelo rei D. Sancho I e pela sua corte, consistia no facto de
cada vez que o rei e a sua corte se deslocava, instalava-se em casas da Igreja pois tinha esse
direito. Podia consumir os bens da população, empobrecendo-a. Quando a corte se instalava em
Coimbra, cidade onde morava o Rei, exigia a “colheita”, de forma abusiva de casas, alimentos,
roupas e rações. E, ainda, prisão preventiva arbitrário dos clérigos. D. Sancho I e a sua comitiva
praticavam deste direito o que enfurecia a população. Face à perigosidade da situação alguns
bispos vão tentar mostrar ao Rei que isso não estaria correto, pois estavam em posição para tal.

Por intervenção do bispo de Braga, D. Sancho I pouco antes de morrer reconcilia-se com o
bispo de Coimbra. As cortes de Coimbra, de 1211, acabam por ser uma afirmação da supremacia
régia através do surgimento da lei da desamortização, das inquirições, confirmações régias e luta
contra a formação de senhorios.

A lei da desamortização foi criada devido aos atos pios que indivíduos prestavam para
salvar a alma ou ter facilidade de acesso ao céu deixa os bens à Igreja. Isto porque contribuía para
o aumento de terras e poderes da Igreja, o que punha em causa o poder do rei, por isso foi
posteriormente criada a Lei da Desamortização. Deste modo, a lei estabelece que os mosteiros e
igrejas não possam comprar bens de raiz, sob pena de perderem o preço pago. Esta lei, que
tinham por objetivo acautelar a concentração de bens fundiários de mão-morta, foi implementado
em Portugal a partir da Idade Média e extremamente inovadora a nível europeu, cujas medidas de
controlo dos bens da Igreja são bastante mais tardias e menos eficazes.

A primeira lei portuguesa saiu das Cortes de Coimbra, em 1211, e proibia as corporações
religiosas de adquirirem bens fundiários, com a exceção para os aniversários do rei e seu pai,
ficando os clérigos excluídos do diploma. A sua aplicação não foi satisfatória, apesar da
remodelação levada a cabo por D. Sancho II (1209-1248), que alargou a proibição aos clérigos e
que proibiu doações e legados. D. Dinis (1261-1325), por sua vez, manteve esta política e formulou
várias leis, consideradas as mais complexas do período medieval. Nesses textos, era reforçada a
proibição da compra de bens de raiz a todos os eclesiásticos e corporações religiosas, a proibição
às ordens religiosas de herdarem bens dos seus professos e a proibição de os tabeliões lavrarem
escrituras de venda de propriedades a religiosos. Estas leis, no entanto, não foram rigorosamente
cumpridas, vindo mesmo a ser infringidas pelos monarcas que sucederam ao rei Lavrador.

3
4. Acha que o conde de Bolonha poderia chegar a rei (D. Afonso III) sem o apoio da
França e da Santa Sé? Justifique adequadamente a sua resposta.

Não, porque o único motivo que levou à ascensão do Conde de Bolonha, para além da
linha dinástica que para tudo apontava que quem iria seguir D. Sancho II seria o seu filho, foi a
precisa queixa de motivos religiosos que levou ao apoio recíproco da Santa Sé e a França.

Em 1231, D. Sancho II encontra-se em Castela com D. Fernando III em que se decidi a


restituição de chaves detida até agora por D. Afonso IX. Contudo havia uma oposição entre D.
Sancho II e o clero. O bispo de Lisboa, João de Abbevile, obteve do Papa Gregório IX bulas contra o
rei. O bispo do Porto, Martinho Rodrigues, obteve várias bulas que acusavam o rei de não
respeitar a sua jurisdição temporal sobre a cidade em 1233. O rei é assim acusado de negligência
perante a anarquia do país. É também acusado de incapacidade política, ignorância, e fraqueza,
pois deixa atuar os seus oficiais de forma abusiva entre outras coisas.

D. Afonso III, irmão mais novo de Sancho, denuncia em 1245 o casamento de Sancho com
Mécia. Nesse mesmo ano a Bula Inter alia desiderabilia elaborada pelo Papa Inocêncio IV prepara
a deposição de facto do monarca, onde declara que o rei não respeitava as liberdades
eclesiásticas, que oprimia as igrejas, não deu ouvidos às advertências do papa predecessor, foi
negligente na repressão dos malfeitores, que os patronos dos mosteiros pratiquem violência, sem
heresia reprimida, castelos, que domínios e propriedades da coroa são perdidos, incesto
permitido, sequestro de freiras e mulheres seculares, que era permitido que os opressores
extorquem dinheiro de camponeses e clérigos, que era permitido a violação de igrejas e
cemitérios, e que não iria defender as terras cristãs dos árabes. O Papa manda D. Sancho II
separar-se de D. Mécia, pois acusava-os de consanguinidade. O objetivo era evitar que D. Sancho II
tenha filho legítimos. Isto gerará uma imensa instabilidade, e levará o pais á Anarquia

Após Papa Inocêncio IV acusar o rei de uma data de erros e contraordenações gravíssimas,
considerando-o um rei inapto, fala com os bispos de Coimbra e do porto, para averiguar o que
fazer em relação à situação. Os bispos, devido ao aumento da desordem, sugerem então a
introdução a Portugal de uma figura do governador do reino com mão de ferro para dar
estabilidade e confiança ao país e reverter a situação. Sugerem-lhe então o irmão do rei D. Sancho
II, D. Afonso III. Este seria um bom partido pois estava disponível e habituado á guerra, o que seria
bom para expansão. Promovia a peregrinação a Santiago de Compostela onde contactou com os
seus compatriotas contra D. Sancho II. Para além disso, promovia-se e tinha ânsia de poder, o que
resultou no apoio dos descontentes em Portugal.

O papado, através de duas Breves, aconselha Afonso, Conde de Bolonha, a partir para a


Terra Santa em Cruzada e também que passe a estar na Hispânia, fazendo aí guerra ao Islão.Como
consequência da anarquia, a 24 de julho, através da Bula Grandi non immerito, Papa Inocêncio IV
depõe oficialmente Sancho II do governo do reino, declarando-se incapaz, rex inutilis, e Afonso
torna-se regente. Os fidalgos levantam-se contra Sancho, e Afonso cede a todas as pretensões do
clero no Juramento de Paris jurando que guardaria todos os privilégios do reino.

Contudo, não é consensual a aceitação de D. Afonso III como rei de Portugal, o que gerará
uma guerra civil. O território divide-se pelos dois na batalha de Pedroso. D. Afonso III tem o apoio
de D. Fernando III e o Príncipe Afonso de Castela. O Papa está também do lado de D. Afonso III que

4
se encontra em Paris a organizar a retoma de Portugal com o objetivo de garantir o futuro do
governo. O Infante D. Afonso III jurou ao Papa “observar os antigos foros e costumes da nação” tal
como “governar bem” e “ser obediente à Santa Sé”. Em 1247, D. Afonso III é derrotado em Leiria
por forças de D. Sancho II. A 1248, abandonado recolhe a toledo onde morre, a guerra durou
quatro anos, entre 1244 e 1248. D. Afonso III casa com D. Matilde, condessa de Bolonha. É nesta
época que a bandeira passa a usar os castelos, mostrando o apoio que a sua tia materna, Branca
de Castela, Rainha de França deu ao ser sobrinho. Acabando esta por ser a bandeira oficial de
Portugal.

5. O Algarve foi conquistado, definitivamente, em 1249. No entanto, as relações


entre Portugal e Castela a propósito deste território foram marcadas por alguma instabilidade.
Porquê?
Apesar de Portugal ser um território pequeno demorou bastante tempo a ser conquistado,
mais propriamente, 121 anos depois. Apenas em 1249, acontece a conquista definitiva do
Algarve, isto é, de Faro, Albufeira, Porches, Loulé e Aljezur. Após a conquista do Algarve, há
constantes guerra nas zonas fronteiriças entre Castela e Portugal.

Conquistado pelo rei com o auxílio da Ordem de Santiago, esta ordem é a responsável
pela reconquista do território. O problema é que as ordens militares seriam criadas para estarem
ao serviço de um determinado rei, ou seja, que lhes permite um determinado território. Quem
funda estas ordens é, precisamente o Papa. São grupos de cavaleiros, considerados bandidos, que
desejam estar ao serviço da cristandade para se redimirem. Para isso, necessitam de uma sede. A
ordem de santiago está ao serviço do rei de Castela. Salienta-se que a Ordem de Santiago teria à
frente o mestre D. Paio Peres Correia.

D. Afonso III manteve-se em praças castelhanas durante 5 anos. Foi graças à abdicação
dessas praças espanholas que os portugueses ficaram com o Algarve. Surge um grande problema,
ou seja, problema de saber a quem corresponde esta conquista. Denota-se, assim, a existência de
um território e de dois reis, de dois poderes políticos. De facto, quem conquistou foi Portugal, no
entanto, importa não esquecer que, os conquistadores, em parte, estão ao serviço de outro rei.

No entanto, as relações a propósito deste território sucedem desde o Tratado de Zamora


onde teria ficado vincado que o sentido da conquista seria de norte para sul. Isto significa que
Portugal teria legitimidade para conquistar o Algarve. No entanto, e apesar disto, os castelhanos
consideram o território deles. Depois de algumas hostilidades e de negociações entre Portugal e o
país vizinho, a guerra rebentou em 1252, quando Fernando III de Castela e Leão morreu e o
infante D. Afonso, filho e herdeiro do mesmo, assumiu a coroa com o título de Afonso X. Este
problema só vai ser resolvido através de um compromisso, que irá suceder mais tarde.

Em 1253, o papa Inocêncio IV conseguiu que fosse tratada a paz. Na Conferência de


Chaves o casamento logo celebrado de D. Afonso III com D. Beatriz, filha de Afonso X. Ora denota-
se que os casamentos eram vistos como uma forma de se conseguir manter a paz e travar
possíveis guerras. No que concerne ao Algarve e às terras ocupadas a leste do Guadiana, o rei
português acaba por ceder o seu domínio até que o primeiro filho, havido de D. Beatriz, atingisse
os 7 anos de idade. A partir daí, caberia à coroa portuguesa o domínio pleno do Algarve e das
praças de Moura, Serpa, Arôche e Aracena.

5
D. Afonso III teve de D. Beatriz sete filhos, cinco dos quais passaram da idade de sete anos,
entre eles D. Dinis. Acrescenta-se que caberia a D. Dinis suceder o seu pai, mais tarde. Desta
forma, conseguir-se-ia o domínio pleno do Algarve e das praças referidas, com exceção de Arôche
e de Aracena, a que Portugal renunciou pelo Tratado de Badajoz, em 1267, uma vez que teriam
sido conquistadas de charme apenas para negociar o Algarve. Este tratado vinha, portanto, definir
a fronteira luso-castelhana. Depois, a partir de 1268, D. Afonso III passou a intitular-se como rei
de Portugal e dos Algarves.

No entanto, haveria o surgimento de um profundo problema neste âmbito. O problema é


que Afonso III era já casado com Matilde e, por isso, não devia casar com D. Beatriz. Apesar disto,
e destas circunstâncias, acaba por realizar-se este casamento mas sem o conhecimento de D.
Matilde, condessa de Bolonha. D. Matilde, mais tarde, denuncia a situação ao Papa após tomar
conhecimento dessa mesma situação. O Papa não poderia tolerar uma situação destas e ordena,
neste segmento, a separação. D. Afonso III não aceita a ordem e, não sendo o Papa obedecido,
acaba por ser excomungado e o reino interdito mais uma vez. Note-se que este teria outrora
jurado governar bem, o que acabou, claramente, por não se denotar com toda esta situação. O
reino, da mesma forma, fica interdito ficando isolado de todo o mundo que o rodeia. Claramente
que isto era um problema bastante complicado trazendo grandes dificuldades a Portugal. Havia,
portanto, uma época difícil de isolamento.

Paralelamente a tudo isto vinca-se um ponto bastante importante. D. Dinis com oito anos
espanta toda a gente, este era detentor de uma capacidade acima da média, deixando todos
surpreendidos na corte, aqui, tanto na corte castelhana. D. Dinis vai impor-se como o grande
monarca do seu tempo, sendo este dotado de vasta inteligência. Há quem o considere o primeiro
monarca moderno. Em 1279, D. Dinis iniciaria o seu reinado.

6. Caracterize a política externa portuguesa na primeira metade do reinado de D.


Dinis, a propósito da definição da fronteira.

A pacificação de D. Dinis respeita, fundamentalmente, à Igreja e à disciplina. Pois as


relações, desde a sua chegada ao trono, com Castela eram tensas, para além de em Castela reinar
o seu avô D. Afonso X. As relações agravaram-se com a morte de D. Afonso X, cujos últimos anos
de reinado já suscitavam dúvidas quanto aos reinos de Castela e de Leão. E é possível que essas
dúvidas tenham feito com que se aproximam-se ao reino de aragão, com a filha do cujo rei, D.
Isabel casou. Os sucessores de Afonso X, Sancho IV e Fernando IV puseram de novo em causa o
domínio sobre as terras a leste de Guadiana.

D. Dinis aproveitou a confusão para apoiar as pretensões do infante D. João, tio do rei
Fernando IV. Em 1295 declara guerra a Castela. O rei castelhano, após esta declaração, reúne as
Cortes de Castela e cede. D. Dinis recebe, entretanto, as vilas de Mourão, Serpa e Moura, assim
como o castelo de Noudar. No entanto, Fernando IV, para evitar qualquer tipo de guerra num
momento difícil, promete, ainda, entregar aos portugueses Aroche e Aracena. No entanto não
seguiu essa promessa. Desta forma, no ano seguinte, D. Dinis, aliou-se do seu cunhado. Jaime de
Aragão contra Castela em apoio do infante D. João, pretendente ao trono de Castela. Visava-se
uma nova separação dos reinos de Castela e Leão.

6
D. Dinis no decurso de guerra travada chegou a ocupar inúmeras terras, entre elas a terra
de Salamanca. Desta maneira foram estabelecidos as fronteiras de Portugal e Castela. No entanto,
em 1297, o rei português acaba pro receber propostas de paz. Desta forma, celebra-se a 12 de
Setembro o Tratado de Alcanizes. Através deste tratado foi estabelecida uma paz de 40 anos na
base da amizade e da defesa mútua. Em consequência deste mesmo acordo, D. Dinis abandona a
aliança contra Castela e ajustou o casamento da sua filha Constança com Fernando IV e de uma
irmã deste com o seu filho.

7. O Tratado de Alcanises representa uma profunda vitória diplomática de D. Dinis.


Concorda com a afirmação? Justifique adequadamente a sua resposta.

Os primeiros anos do reinado de Dinis viram a guerra civil em Castela, que opõe Afonso X
contra o príncipe Sancho, o último acabando por ser coroado após a morte do pai. Contudo, a
situação entre Portugal e Leão-Castela não era de todo pacífica. Desde a conquista do Algarve
que ambos os reis da Península reclamam o título de Rei do Algarve, facto que incomodava
bastante o rei português. D. Sancho IV de Castela acaba por falecer em 1295, e no seu testamento
determina que se devolvessem ao reino português as vilas de Moura e Serpa, e os castelos de
Mourão e Noudar, e ainda os castelos e as vilas de Arronches e Aracena, injustamente arrebatadas
a Portugal, tal sendo feito após a sua morte. Durante a menoridade de Fernando IV de Castela, o
seu herdeiro, acentua-se a turbulência política em Castela.

Portugal acaba por declarar guerra a Castela. A notícia preocupou os castelhanos, uma
vez que havia plena consciência das dificuldades que teriam numa guerra com Portugal. Desta
forma, os nobres castelhanos escreveram a Dinis, em 1297, para obter o seu apoio no combate ao
infante João, irmão de Sancho IV, que tenta subir ao trono de Leão, claramente ignorando o
acordo anterior feito entre o infante e D. Dinis onde o rei de Portugal toma o lado de João. A 12 de
setembro de 1297, dá-se o TRATADO DE ALCANIZES.

Pode-se perceber efetivamente que, este Tratado é crucial uma vez que é através dos seus
termos que ficam assentes as fronteiras de Portugal e Castela no continente europeu. Para além
disso, este Tratado é de facto bastante importante, é a primeira vitória diplomática durante o
reinado de D. Dinis que aproveitou a paz interna que se vivia mais as perturbações vizinhas para
firmar os direitos de Portugal.

São reconhecidos concelhos ao reino de Portugal e Algarve, isto é Castelo, Almeida,


Monforte, Olivença, Ouguela, Campo Menor e São feliz dos Galegos, de Sabugal, Alfaiates, Castelo
Rodrigo, Vila Maior, Castelo Bom São reconhecidos também concelhos a Castela: Aroche, Aracena,
Valencia de Alcantara, Ferrea, Espargal. As terras de Aroche, Aracena, Aiamonte e Valência de
Alcântara foram reconhecidas como dos domínios de Castela.

Foi estabelecido uma paz de 40 anos na base de amizades e da defesa mútuo.


Comprometeram-se serem amigos de amigos e inimigos dos inimigos e não permitem que os
vassalos rebeldes de qualquer dos reinos vizinhos. Em consequência, tal acordo, D. Dinis

7
abandonou a aliança contra Castela e ajustou o casamento de sua filha Constança com Fernando
IV e o de uma irmã deste, Beatriz, com o seu filho, o futuro Afonso IV.

Todas as decisões foram feitos por unanimidade, o que em política é complexo em textos
diplomáticos que foram sempre encriptados. A paz interessou ao rei de Castela e Leão, para
poder-se focar na luta contra os mouros, desta forma o que manteve a paz foram os pedidos de D.
Dinis de casamento e exigências. D. Fernando casou-se com D. Leonor de Teles. Como
consequência em 1372 surge o acordo de Tui. A 1298, há concórdia com a Igreja o que significa a
2º vitória diplomática. Nicolau IV ratifica-a a 7 de Março de 1289 pela bula CumLim.

D. Afonso IV – D. Pedro – D. Fernando I:

D. Afonso IV, filho de D. Dinis e Isabel de Aragão casou, como previsto no Tratado de
Alcanizes, com a infanta Beatriz, irmã de Fernando IV de Castela. Apesar do seu reinado ter ficado
marcado por disputas, sobretudo familiares, conseguiu implementar uma boa organização e
administração interna. D. Afonso IV desenvolveu a Marinha, sendo o impulsionador das primeiras
viagens às ilhas Canárias, tornando-se precursor dos Descobrimentos. O final do seu reinado ficou
marcado por um mal que viria a deixar o reino em profunda crise: a peste negra.

Durante a diplomacia de D. Pedro, Portugal manteve boas relações com Castela, inclusive
D. Pedro I de Portugal auxiliou Pedro I de Castela com galés na guerra contra Aragão em 1359. D.
Pedro foi um hábil diplomata e rodeou-se de bons conselheiros, embora tenha falhado nas
tentativas de casamento de seus filhos. Para além das falhas, a diplomacia de D. Pedro foi
marcada por grandes marcos como em 1359 o acordo de extradição de Pêro Coelho e Álvaro
Gonçalves, conselheiros de D. Afonso IV, ou em 1362, a aliança com Castela, Navarra e Granada
contra Aragão e, ainda, em 1363, o Tratado de Paz entre os reinos peninsulares.

Não obstante, em 1369, Pedro I de Castela é assassinado e sobe ao poder Henrique II,
conquanto Galiza era fiel a Pedro I de Portugal e pede auxílio a D. Fernando que é aclamado rei de
Castela. Todavia, na sequência do apoio dados aos britânicos e de operações militares levadas a
cabo contra interesses mercantis castelhanos, eclodiu uma nova guerra entre Portugal e Castela.
Entrando no reino pela fronteira beirã, as tropas castelhanas e D. Henrique II avançaram até
Lisboa e cercaram a cidade, acabando depois por ocupar e pilhar grande parte dela em 1371,
resultando no Tratado de Alcoutim. As cláusulas resultavam na renúncia de D. Fernando I à coroa
castelhana jurando a paz, mantendo amizade e auxílio mútuo, a troca de prisioneiros e a
devolução de terras conquistadas, e, ainda, o compromisso de D. Fernando em manter boas
relações com a França. D. Fernando I teria ainda de reconhecer Henrique II como rei e casar com
Leonor, filha de Henrique II, no qual resultaria o Acordo de Tui, em 1372, que resultaria na
anulação do dote, no regresso às fronteiras da situação anterior à guerra, e, tacitamente, a
anulação da aliança com Castela e com a França.

No entanto, três meses mais tarde, D. Fernando I assinaria em Westminster um novo


tratado de colaboração comercial e político-militar com a Inglaterra, isto é, o Tratado de Tagilde
onde regressaria a uma aliança com a Inglaterra na qual se colocava contra Henrique II de Castela
e os franceses, e que acabaria como consequência o aprisionamento de navios mercantes
castelhanos no Tejo e o apoio militar em Hugo e Orense, exilados galegos. Confirmada a aliança

8
entre Inglaterra e Portugal, D. Henrique II invade Portugal e D. Fernando aceita a paz em
Santarém, no Acordo de Elvas, em 1382, e mais tarde consolidada pelo Tratado de Salvaterra de
Magos, em 1383, na qual as cláusulas seriam o corte da aliança com a Inglaterra e a aliança a
Castela e à França.

O tratado de Salvaterra de Magos foi um acordo que procurou consolidar a paz entre as
duas coroas, através do casamento de Beatriz de Portugal, filha de Fernando I, com D. João I de
Castela. No entanto, para evitar uma possível união futura dos dois reinos, ficaram estabelecidos
neste acordo pré-nupcial as regras de sucessão ao trono.

Este tratado não ofereceu muita segurança a D. João de Castela relativamente à sua
expectativa sucessória. O Tratado de Salvaterra de Magos não previu de forma alguma uma
incorporação de Portugal no reino de Castela. Ficou tutelado a atribuição da regência do reino a
D. Leonor de Teles, caso falecesse D. Fernando sem herdeiros e enquanto Beatriz não tivesse um
filho varão de catorze anos, e, ainda, que caso o Rei de Castela tivesse de governar Portugal ,
guardaria aos seus naturais todos os privilégios e liberdades, o reino de Portugal seria sempre
separado de Castela, havendo também cláusulas de cunhagem de moeda, convocação de cortes e
guerras. Tais cláusulas são provenientes um rigoroso respeito pela soberania Portuguesa. Após a
assinatura do tratado de Salvaterra de Magos gerou-se um período de instabilidade e de oposição
tanto ao próprio como às suas consequências, ou seja, ao Reinado de D. Leonor de Telles.

Deste modo uma das grandes consequências deste tratado foi o risco que Portugal correu
pela possível perda da sua independência e, consequentemente, a entrada em guerra. As elites
aperceberam-se que D. Leonor de Telles ia oferecer o reino português a Castela e revoltam-se,
gerando uma guerra com Castela que resultara em quatro batalhas. Chamamos para a nossa
esfera diplomática pela primeira vez os ingleses, o que depois daria origem ao “Tratado de
Windsor”. Não obstante, os ingleses nunca se acreditaram na vitória de Portugal sobre Castela.

8. Explique, fundamentando a sua resposta, as razões que levaram D. João I a


assinar um Tratado de “amizade e confederação real e perpétua” com Ricardo II de Inglaterra.

Em 1383, D. Fernando morre, e como consequências virão o golpe nas aspirações nacionais
e o fim legal das cláusulas favoráveis a Portugal. Isto posto, inicia-se a regência de D. Leonor Teles,
assim como um período de instabilidade de oposição à regente e, logicamente, ao Tratado de
Salvaterra de Magos. Neste contexto, D. João I de Castela toma posição face a eventuais
concorrentes através da prisão do irmão Afonso, conde de Gijon, casado com D. Isabel, filha
bastarda de D. Fernando e a prisão do infante D. João, filho de D. Pedro e Inês de Castro. A
preferência por D. João, mestre da Ordem de Avis, filho bastardo de D. Pedro e D. Teresa
Lourenço irá levar à sua regência em 1385. Diversa hipótese era a ajuda inglesa, porém os
portugueses estavam desinteressados num bloco pró-inglês, devido a incidentes envolvendo
mercenários ingleses no tempo de D. Fernando, e, ainda, a preocupação numa crise económica
que resultaria na permanente rutura com Castela.

D. João I, meio irmão de D. Fernando I, tratou de defender o reino contra as investidas


castelhanas, rodeando-se de amigos que o apoiaram, como Nuno Álvares Pereira. Com o apoio
incontestável do reino, Nuno Álvares Pereira e aliados ingleses, numa era de simpatia pró-

9
britânica, travaram a Batalha de Aljubarrota contra o reino de Castela, que invadira o país. A
vitória foi decisiva, pois Castela retirou-se de Portugal e mais tarde reconhece D. João como rei de
Portugal. Depois de feita a paz com Castela iniciou a expansão territorial para África e para o
Atlântico, iniciando a expansão portuguesa, em 1415, com a conquista de Ceuta. Foram
redescobertas as ilhas de Porto Santo, a Ilha da Madeira e a dos Açores, em 1418, 1419 e 1427,
respetivamente, para além de outras expedições. Casou com Filipa de Lencastre, neta do rei
Eduardo III de Inglaterra, fortalecendo por laços familiares a aliança Luso-britânica. Este
casamento veio a reforçar a aliança feita com o Tratado de Windsor.

Por conseguinte, a março de 1384, os embaixadores portugueses Fernando Afonso de


Albuquerque e Lourenço Anes Fogaça partem em navios separados para Londres, mais
especificamente, a casa do Duque de Lancaster. Fernando Afonso de Albuquerque é escolhido por
ser filho bastardo de João Afonso de Albuquerque, bisneto de D. Dinis, além de ser irmão das
cunhadas de Leonor Teles, mestre da Ordem de Santiago. Mais tarde, passou para o partido do
Mestre de Avis, não obstante era um embaixador com significado político e social, pois
representava a nobreza. Estando D. João I ferido de legitimidade, mandou-se alguém da alta
estirpe que tivesse educação suficiente para negociar com a realeza inglesa. Por sua vez, Lourenço
Anes Fogaça foi selecionado por ser ouvinte de D. Fernando, Chanceler do Reino, desembargador,
por ter estudado Direito Canónico e ter exercido várias missões diplomáticas em outros países,
para além da desconfiança devido à ligação com D. Leonor de Teles e a sua fuga para Espanha.

O teor da mensagem portuguesa iria consistir na declaração dos poderes dos embaixadores
dados por D. João, mestre de Avis, pelas cidades de Lisboa e Porto, e ainda por Portugal estar
disposto a ajudar o duque de Lancaster nas pretensões ao trono de Castela. A condição do auxílio
militar inglês a Portugal era o casamento João de Gant com uma das filhas de Pedro I e Filipa de
Lencastre com D. João.

O acordo foi assinado 4 meses depois, a 5 de setembro de 1386, pois a capacidade de


resistência de Portugal contra Castela através da batalha de Aljubarrota convenceu Ricardo II,
regente de Inglaterra. Para além da ajuda militar, surgem poderes para negociarem um tratado de
aliança, consequentemente, os ingleses tiram vantagens num acordo diplomático luso-britânico.
Este é o primeiro grande tratado de diplomacia internacional de Portugal, pois Alcanises foi
continental. Pela primeira vez vamos extender e alongar o nosso campo de invasão relativamente
às nossas relações diplomáticas. Por conseguinte, são definidos os seguintes artigos:

Artigo 1º: Estabelecimento da amizade e confederação perpétua com o compromisso de


mútua ajuda contra qualquer inimigo de algum deles, exceto contra o Papa Urbano VI e seus
sucessores, o Imperador Alemão e João de Gant. Explicação: Qualquer ataque a uma das
potencias compromete um auxilio obrigatório de uma à outra.

Artigo 2º: Os vassalos de cada um dos reinos signatários podem “ali demorar-se, residir e
comerciar;

Artigo 8º: O outro monarca será sempre incluído nos acordos, tréguas ou armistícios
celebrados por cada um deles. Tréguas - Intervalo nas hostilidades Armistício - Termina a guerra
mas nenhum é declarado vencido.

10
Artigo 9º: “Se no futuro acontecer que se tenha feito alguma coisa contrária às
estipulações da presente aliança pelos súbditos de um dos ditos reis ou de seus sucessores e
contra a outra parte, seja por encarcerações, invasões, tomadas de fortalezas, cidades ou campos,
depredações, roubos de pessoas ou de coisas, nestes casos o rei cujos vassalos tiverem cometido
tais injúrias, e seus herdeiros serão responsáveis e obrigados a repará-las e a repor as mesmas
coisas no estado em que anteriormente se achavam, e outrossim a punir os delinquentes com a
maior prontidão, seis meses ao menos depois de feita a reclamação [cláusula de segurança para
os mercadores/navegantes]”;

Artigo 12º: Obriga cada um dos sucessores de ambos os soberanos a jurarem e


confirmarem o tratado.

9. O Tratado de Tordesilhas representa um passo importante para a expansão


portuguesa. Porquê?

Em 1448, D. Afonso V, filho de D. Duarte I e neto de D. João I, assumiu o governo e com o


fim da instabilidade interna concentrou-se na expansão portuguesa no Norte de África. Mais tarde,
com as mesmas terminadas, D. Afonso V encontrou novas batalhas, desta vez políticas, na
Península Ibérica e em Castela, onde se sucedeu um escândalo de consequências dinásticas. O rei
Henrique IV de Castela morre em 1474, tendo como única herdeira D. Joana. No entanto, a
paternidade da mesma era contestada, inclusive existia uma divisão entre a nobreza e o clero, e,
por isso, uma parte apoiou a irmã de D. Henrique IV e outra a tia de D. Joana, coroada como rainha
Isabel I. É a este ponto que D. Afonso V interfere, casando, em 1475, com a sobrinha, D. Joana, e
assumindo as suas pretensões ao trono, declarando-se rei de Castela e invadindo o país vizinho.
Isto originou a Guerra da Beltraneja que durou até 1479 e terminou com o fracasso de D. Afonso
V. O tratado que ajudou a dar termo a esta guerra foi o Tratado de Alcáçovas-Toledo.

Os antecedentes deste tratado remetem à bula Romanus Pontifex, onde o papa Martinho
V recorda a necessidade do constante combate de Portugal contra os infiéis, a Conquista de Ceuta,
realizada em 1415, o povoamento de algumas ilhas atlânticas, a navegação para o Oriente e a
tentativa de chegar à Índia feita por Cristãos. Assim, Martinho V proibiu interferências nos
Descobrimentos portugueses através da doutrina mare clausum, aplicada a todos os mares ainda
não conhecidos. Em 1453, observou-se a queda de Constantinopla, pelo que os turcos
conquistaram vários territórios mediterrânicos, e entre 1456 e 1515, foram realizados vários
pedidos de apoio aos monarcas portugueses dos Papas, da República de Veneza e dos reis da
Hungria, com o objetivo de que estes organizassem uma expedição contra os turcos. No entanto,
Espanha, também ela munida de uma vocação marítima, desejava conquistar os mares. Por isso,
realizou-se o Tratado de Alcáçovas-Toledo.

Não obstante, a 4 março de 1493, Cristóvão Colombo havia voltado a Lisboa, a bordo da
caravela Nina, concluindo a expedição para a qual partira em 1492, com a ideia de demonstrar a
possibilidade de chegar à Índia navegando para Oeste, via Ocidente, contrariamente ao que se
pensava na época. A expedição havia terminado com o descobrimento de novas terras até então
desconhecidas na Europa. A convicção de Colombo de que chegara às Índias fez com que essas

11
ilhas ficassem conhecidas como Índias Ocidentais e os nativos do continente americano como
"índios".

D. João II reclamou a posse dessas ilhas, pois de acordo com o tratado de Alcáçovas-
Toledo, encontravam-se na área reservada a Portugal. As disputas entre Castela e Portugal pelo
controle desses territórios começaram de imediato. Algo precisava ser feito para evitar a guerra.
Não aceitando cedê-las e após grandes debates diplomáticos e ameaças de guerra por parte de
Portugal, Fernando e Isabel propuseram a assinatura de um novo acordo. Por intermédio do papa
Alexandre VI, assentaram uma nova linha de marcação que consistia num meridiano, de polo a
polo, que passaria 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, estando evidentemente o papado a
favor de Castela. D. João II exigiu que essa distância fosse aumentada para 370 léguas, o que
acabou por ser aceite.

Assim, a 7 de junho de 1494, na pequena cidade de Tordesilhas, ao norte de Espanha, foi


assinada, entre as duas grandes potências marítimas da época, Portugal e Castela, a Capitulação
de la partición del Mar Oceano, mais conhecida como Tratado de Tordesilhas. Estava assim
estabelecido o princípio do "mare clausum", palavras latinas que significam "mar fechado", pois
dois países, Portugal e Castela, dividiam entre si os mares e territórios desconhecidos e tinham
exclusividade de navegação.

O Tratado de Tordesilhas, foi assinado por El-Rei Dom João II de Portugal e pelo Rei-
consorte Espanhol D. Fernando II de Aragão, marido da Rainha Soberana Dona Isabel I de Castela,
a Católica e que juntos ficaram para a História como os Reis Católicos. Do lado português
estiveram presente Rui de Sousa, senhor de Sagres e Beringel, o seu filho João de Sousa, almotacé-
mor, e Aires de Almada, corregedor dos feitos civis na corte e do desembargo real, a embaixada
era secretariada por Estêvão Vaz e tinha como testemunhas João Soares de Siqueira, Rui Leme e
Duarte Pacheco Pereira. Por parte de Castela e Aragão, o mordomo-mor D. Henrique Henriquez, D.
Gutierre de Cárdenas, comendador-mor, e o doutor Rodrigo Maldonado, secretariados por
Fernando Alvarez de Toledo, levavam também três testemunhas, Pêro de Leão, Fernando de
Torres e Fernando Gamarra.

Ficou definida como uma linha divisória das zonas de navegação do Oceano Atlântico e os
territórios do "Novo Mundo", isto é, o meridiano de 370 léguas ou cerca de 1.770 km a oeste da
ilha de Santo Antão no arquipélago de Cabo Verde. Esta linha estava situada a meio caminho entre
estas ilhas, já portuguesas, e as ilhas das Caraíbas descobertas por Cristóvão Colombo, referidas
como Cipriano e Antilhas. Os territórios a leste deste meridiano pertenceriam a Portugal e os
territórios a oeste, à Espanha. O tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de julho e por Portugal a 5
de Setembro de 1494. Portugal tornava-se assim uma Nação de Descobridores e Espanha um
Reino de Conquistadores. Em princípio, o tratado resolvia os conflitos que se seguiram à
descoberta do Novo Mundo por Cristóvão Colombo, encerrando as relações diplomáticas de
Portugal e Espanha no século XV.

10. O Tratado de Saragoça resulta das dificuldades da aplicação do Tratado de


Tordesilhas. Concorda com a afirmação? Justifique de forma clara a sua resposta.

O dado problema das Molucas, inicia-se no século XVI, com o avanço do Império Turco-
Otomano e o surgimento da crise no seio do Papado, o centro das diplomacias, que abalou

12
profundamente a cristandade, acabando mesmo por a dividir em dois grandes povos, isto é,
partindo deste século ser cristão não significava essencialmente ser-se católico.
Consequentemente, houve um grande risco de alastramento das heresias protestantes. Esta época
fica conhecida como as guerras das religiões. Os países mais tradicionais, nomeadamente Portugal
e Espanha, tiveram a necessidade de combater este problema através de medidas bastante
repressivas como a Inquisição. Desto modo, a ligação á Casa de Aústria e a Espanha, e
consequentemente a Carlos V, era algo beneficiante para Portugal, pois este defendia o
catolicismo.

A França temia aliar-se a Portugal devido aos agravos no Brasil e os assaltos às naus da
índia. No entanto, França alia-se a Portugal contra Carlos V e o Papa aconselha Portugal a aliar-se a
Carlos V contra Francisco I de França. Neste contexto, somos inseridos numa complicada
engenharia diplomática, através do reforço da armada portuguesa com o objetivo de obrigar os
franceses e espanhóis a respeitarem os territórios portugueses.

Isto posto, Portugal empenhava-se na libertação de Francisco I, prisioneiro de Carlos V, de


modo a assegurar a paz interna. Deste modo, evitaria a guerra da religião trouxesse prejuízos na
divisão dos portugueses, na conservação do império do norte de africa e na colonização do Brasil.
Assim, com D. João III, Portugal torna-se uma potência respeitada. É também com D. João III que
dão uma vaga de relações externas, nomeadamente as alianças de importantes casamentos como
o Rei com D. Catarina de Áustria, irmã de Carlos V e D. Isabel, irmã de D. João III com Carlos V, e a
realização de tratados e acordos marítimos.

No que toca às relações com Espanha, a curiosidade geográfica pelo arquipélago das
Molucas e o visível interesse pelo comércio das duas especiarias surgiram no seio das monarquias
ibéricas no nascer do século XVI. Portugal antecipou-se nesta corrida graças à ligação marítima
ente Lisboa e a Índia, estabelecida por Vasco da Gama, e aos avanços subsequentes até Malaca,
chave do comércio do Extremo Oriente. Mas, entretanto, a atenção pelas ilhas Molucas não
deixou de aumentar em Espanha. O rei Fernando II & V, de Aragão e de Castela e Leão,
respetivamente, considerava que as Molucas estavam situadas no seu hemisfério, estabelecido
pelo Tratado de Tordesilhas. Entretanto, Fernão de Magalhães, devido a um desentendimento
com o rei D. Manuel, por motivos de ordem financeira, resolveu juntar-se à Espanha.

Depois de sair de Espanha em agosto de 1519, numa armada composta por cinco navios
com uma tripulação total de duzentos e trinta e quatro homens, Fernão de Magalhães veio a
encontrar a sua morte no arquipélago de S. Lázaro, nas Filipinas. No entanto, a sua armada
continuou a viagem até às Molucas. Após algumas dificuldades, a 6 de setembro de 1522 chegou
finalmente ao seu ponto de partida, regressando apenas a nau vitória, trazendo um valioso
carregamento de especiarias.

A notícia da chegada da nau Victoria e da sua preciosa carga levou a que D. João III,
sucessor de D. Manuel I, reagisse rapidamente, instruindo ao seu embaixador para requerer ao
imperador espanhol que prendesse o capitão e os tripulantes da nau, acrescentando que as
Molucas eram da coroa portuguesa por se encontrarem no hemisfério que lhe coubera no Tratado
de Tordesilhas.

13
Carlos V tomou várias medidas que mostravam pretensão a não abdicar das Molucas. D.
João III não se mostrou disposto, de imediato, a aceitar as propostas do imperador espanhol,
sendo-lhe possível invocar legitimamente a posse das Molucas e do seu comércio.

A dificuldade na implementação de um método para determinar a posição das Molucas era um


problema. Para finalmente se esclarecer a pendência da posição real da linha de demarcação, D.
João III obteve uma capitulação do imperador Carlos V onde se propunha a realização de uma
reunião de peritos na matéria. Após os delegados serem nomeados em ambos os lados, iniciaram-
se as conversas. Após se esgotar qualquer hipótese de determinar a linha de demarcação através
de cartas náuticas ou globos terrestres, os delegados portugueses apresentaram uma proposta na
Junta de Badajoz-Elvas, onde estavam presentes quatros modos de se fazer a demarcação
definitiva. No entanto, estes delegados não tardaram a confrontar-se com os primeiros obstáculos
relativamente à sua capacidade para fixar a linha de demarcação de Tordesilhas. Estas dificuldades
técnicas mantinham-se pelas mesmas razões que tinham impedido que o traçado desse meridiano
se fizesse após a ratificação do Tratado de Tordesilhas, em 1494. Além disso, os impedimentos
também derivaram de insuficiências e omissões da letra do próprio tratado.

As reuniões da Junta arrastaram-se dias e dias, não se registando quaisquer progressos,


acabando os delegados espanhóis por faltar a uma reunião, marcando o fim desta Junta e ficando
por decidir a questão de fundo. Incapazes de chegar a um consenso e depois do fracasso da Junta
de Badajoz-Elvas, as Molucas continuavam abertas ao comércio com Portugal e na posse da coroa
portuguesa.

Não obstante, o casamento de Carlos V com Isabel de Portugal, realizado em março de


1526, funcionou como a chave ao diálogo e à melhor cooperação e entendimento. Procurou-se,
desta vez, resolver o diferendo das nações da Península Ibérica pela via diplomática, ao contrário
da via técnica jurídica. Face à precária situação financeira espanhola, surgiu na negociação a
hipótese de uma indemnização a pagar por parte de Portugal à Espanha pela exclusiva posse das
Molucas.

Desta forma, a 22 de abril de 1529 foi assinado o Tratado de Saragoça que vinha resolver
mais um diferendo luso-castelhano resultante da expansão marítima, entre D. João III e Carlos I de
Espanha, composto de um preâmbulo formal de dezassete artigos, o texto do tratado focava em
alguns pontos de especial interesse.

Definiu-se a continuação do meridiano de Tordesilhas no hemisfério oposto, a 297,5


léguas do leste das Molucas, cedidas pela Espanha a troco de 350 000 ducados de ouro pagos por
Portugal que disporia, em exclusivo, do direito, domínio e prioridade e posse das Molucas e da
navegação e comércio das mesmas. O Tratado de Saragoça também dispunha de alguns
mecanismos que permitiam às partes envolvidas regressar à situação anterior à convenção. No
entanto, o Tratado de Saragoça não resolveu definitivamente a questão, uma vez que os acordos
nele realizados foram violados várias vezes.

11. Proclamada a restauração da independência, D. João IV procura estabelecer


relações diplomáticas com os estados europeus. Faça uma reflexão crítica sobre os aspectos
mais marcantes deste movimento diplomático e dos seus resultados práticos.

14
Após a ascensão de D. João IV ao trono, surge um problema incisivo que irá defrontar,
isto é, por um lado, obter o reconhecimento da independência de Portugal e, com ele, o da sua
realeza, e, por outro lado, arranjar alianças suficientemente fortes para oferecerem uma garantia
efetiva contra as arremetidas da Espanha. Por isso, D. João IV entabulou negociações diplomáticas
com a França, a Grã-Bretanha, as Províncias Unidas e a Suécia.

Encontrando-se a Espanha em guerra com alguns países europeus havia longos anos, era a
esses países que se impunha o envio de embaixadores ou de simples enviados, partindo-se do
princípio de que a revolta de Portugal contra a Espanha abria uma nova frente à retaguarda desta
e, por conseguinte, enfraquecia o seu poder ofensivo nos Pirenéus e na Flandres, sendo isto,
evidentemente, de suma vantagem para os seus inimigos. Por isso, D. João IV entabulou
negociações diplomáticas com a França, a Grã-Bretanha, as Províncias Unidas (Holanda) e a Suécia.

12. Relações diplomáticas entre Portugal e a Santa Sé nos séculos XII/XIII.

As relações de Portugal com a Cúria Romana foram difíceis após a Restauração da


Independência, não só porque a diplomacia espanhola fazia pressão direta sobre o Papado, mas
também por esta desejar manter boas relações com a Espanha.

Ora, D. João IV acreditava que, sendo rei de um país católico, era necessário que o Papa
recebesse um embaixador de Portugal para que o novo rei fosse reconhecido, tal que fortaleceria
a posição de D. João IV e de Portugal. No entanto, a pressão espanhola impediu a ação de Urbano
VIII, pelo que, em 1641, D. João IV enviou D. Miguel de Portugal, bispo de Lamego, a Roma, com o
objetivo de insistir nos negócios com Portugal. Além disto, era necessário, também, que o Papa
selecionasse os indivíduos que ocupariam os lugares vagos das sés. Após o retorno do embaixador
para Portugal, o Papa nomeou uma junta com o objetivo de resolver a questão das sés vagas e
quais bispos deveria selecionar, onde de opinou, aliás, que deveria concordar com os que D. João
IV nomeara, sem saber os seus nomes, algo do que foi desencorajado.

Em 1645, o Dr. Nicolau Monteiro, prior da Colegiada de Cedofeita, chegou a Roma,


deparando- se com as mesmas dificuldades encontradas pelo anterior embaixador. Encontrando
alguns sobressaltos, acaba por deixar o país no ano seguinte. Sobre a questão das sés vagas,
Francisco de Sousa Coutinho foi enviado nos fins de 1655 por D. João IV já com o Papa Alexandre
VII, por quem finalmente foi recebido.

Até 1640 não se registam factos dignos de nota. Neste ano, porém, dá-se a revolução
nacional, que libertou Portugal do domínio espanhol. Sob pressão desta potência, a Santa Sé não
reconhece a independência portuguesa durante longos 28 anos. À conta deste facto, os bispos
portugueses, tanto na metrópole como no ultramar vão falecendo e não são substituídos.

13. Relações entre Portugal e a Inglaterra no século XIV.

Aquando da libertação de Portugal da Espanha, iniciara-se em Inglaterra a agitação de que


adviria, nove anos depois, a proclamação da República. À convocação do Longo Parlamento seguir-
se-iam as diligências de Carlos I com os parlamentares e, pouco mais de ano e meio mais tarde,
iniciava-se a guerra civil.

15
A Fevereiro de 1641, D. João IV mandou a Londres, a 1ª embaixada composta por D. Antão
Vaz de Almada, principal conjurado de Dezembro e o Dr. Francisco de Andrade Leitão, que
levavam como secretário o Dr. António de Sousa de Macedo. Como a diplomacia espanhola
desacreditou Portugal, o secretário da embaixada redigiu uma longa memória em latim, com o
nome de Lusitania Liberata, a narrar os factos ocorridos em Portugal, quais os direitos de D. João
IV à coroa e a finalidade da embaixada portuguesa.

Várias conferências foram realizadas com a presença de D. Carlos I para a renovação da


antiga aliança, incluindo privilégios aos naturais de cada país, firmando-se em Janeiro de 1642 o
tratado de Windsor. D. Antão, tinha ainda a missão obtiver a libertação do infante D. Duarte dos
espanhóis, chegando a oferecer 50000 libras a D. Carlos I com esse fim, conseguindo-se que os
ingleses se fizessem representar em Lisboa, todavia sem êxito. Não obstante, a 1º embaixada foi
um sucesso graças ao reconhecimento de Portugal.

A 2ª embaixada foi realizada em 1650, comandada pelo Dr. João de Guimarães, com a
missão de reclamar a entrega de navios portugueses que foram apresados por um almirante inglês
relativamente à questão dos corsários. Executado Carlos I e instaurada a República, Portugal
enquanto país católico pretende entrar em relações com os puritanos

Com a aventura dos príncipes palatinos, em Novembro de 1649, D. João IV resolve mandar
um enviado a Londres para reclamar a entrega dos navios e bens apressados pelo almirante Blake
ao largo da costa portuguesa, para isso escolhe Dr. João de Guimarães, que ali chegou nos fins de
1650, enquanto a 3ª embaixada.

As negociações entre o Conselho de Estado e o enviado português mostraram-se longas,


pois surgiram divergências entre os pontos de vista dos dois lados. A missão do embaixador era a
assinatura de seis artigos do tratado de paz. Este tratado de paz englobava a libertação dos
ingleses presos em Portugal e seus domínios, com base no artigo do Tratado de Windsor que dizia
que estes só poderiam ser julgados no país de origem, a restituição dos bens apresados ou
indemnizações aos proprietários e o castigo dos responsáveis pela morte de ingleses. Em 1654 é
assinado o tratado de paz, que foi considerado trágico e humilhante para Portugal. Apesar da
aliança com Portugal, os ingleses não respeitaram o tratado, impondo condições a seu favor ou
ameaçando pela força, caso Portugal resistisse.

A 4ª embaixada, lidera por Francisco de Melo Torres, conde da Ponte, tinha como missão
solicitar a Cromwell a entrada de Portugal na Liga feita entre a Inglaterra, a França e a Suécia, de
forma a colocar-nos dentro de mais uma aliança que abrangesse mais países, fazendo com que
Portugal fosse mais reconhecido. Em troca, propunha que os navios ingleses utilizassem e se
reabastecessem nos portos portugueses e que Portugal não exigiria mais as indemnizações
impostas pelo Tratado de 1654. Esta embaixada acabou por marcar-se como um fracasso.

Em 1661, Francisco de Melo Torres lidera uma nova embaixada, a 5ª embaixada, com o
objetivo de que o casamento de Carlos II com D. Catarina, fizesse com que Carlos II servisse de
mediador entre Portugal e a Holanda e fixar o dote da infanta D. Catarina. Juntamente ao direito
de sucessão do trono de Portugal entregue a Carlos II, ofereciam Tânger e Bombaim, regiões do
norte de África. No mesmo ano, através de um tratado, também se conseguiu o aumento das

16
regalias dos comerciantes ingleses em Portugal, o levantamento das tropas inglesas e concluiu-se
que Carlos II não firmaria pazes com a Espanha se esta se opusesse ao auxílio inglês a Portugal.

Elevado a marquês de Sande, Francisco de Melo, voltava a Londres na primavera de 1662,


levando como secretário o Dr. Pedro de Almeida do Amaral, com a missão de acompanhar a
infanta e pedisse pedir a Carlos II que pagasse do seu bolso as tropas inglesas auxiliares, a qual
como escusa, o rei alega a incumbição pelo Luís XIV. Não obstante, o enviado português concebe-
lhe a proposta das tropas serem pagas com o resto do dote da rainha, por ser impossível ao Reino
suportar dois encargos tão pesados, insistindo ainda pelo auxílio da armada inglesa à de Portugal..
Francisco de Melo Manuel da Câmara acaba por tratar o caso da entrega de Bombaim, assunto
ainda por resolver, e da celebração de uma aliança entre Portugal e a Grã-Bretanha contra as
Províncias Unidas.

Decidido a fazer guerra com a França, não convinha a Carlos II ter a oposição da Espanha,
potencial aliança, o que impunha a paz na Península. Consequente do conhecimento de que D.
Afonso VI procurava cometer a liga com a França, D. Carlos II escreve a D. Francisco a informar que
não poderia ajudar Portugal e que não realizasse compromissos com Luís XIV que tornassem
impossível a paz com a Espanha.

Com uma diferente missão, D. Afonso VI manda novamente Ferreira Rebelo a insistir
naquilo que Carlos II negara a D. Francisco, ainda em Londres, isto é, o pagamento às tropas
mercenárias inglesas e ainda uma mora para o pagamento do resto do dote de D. Catarina.
Pretendeu resolver também o caso de Bombaim, que o vice-rei da Índia se opunha a entregar aos
Ingleses. Daqui resulta a proposta do o Governo Inglês do pagamento de 120000 libras e mais as
despesas da esquadra que ali fora para dela tomar posse em troca da reversão a ilha novamente a
Portugal.

Para mais uma vez insistir na liga anglo-portuguesa contra a Holanda em 1665, parte Rui
Teles de Meneses em missão para Londres, enquanto a 7º embaixada, e, ainda, para tratar do caso
de Bombaim e também da delicada questão do pagamento aos soldados ingleses de Portugal,
depois do que seguiu o enviado para Paris.

Carlos II não considerou Fanshaw com autoridade bastante para ultimar as negociações,
pelo que nomeou Sandwich embaixador extraordinário, dando isto origem a um imbróglio
diplomático, pois, decidiu assinar o tratado em meados de Dezembro de 1665, tendo isto levado à
sua destituição e à recusa pelo Gabinete de subscrever o tratado. Fanshaw, diligentemente, partiu
para Lisboa nos princípios de 1666, levando consigo a cópia do tratado para a aprovação do rei de
Portugal. Além disso, Fanshaw e Southwell trabalharam afincadamente pela paz, obtendo de
Espanha a promessa de não negociar com a França. A Espanha estava já disposta a fazer uma
trégua por trinta anos, mas não se resignava a perder de vez os seus direitos sobre Portugal,
negando-se por isso a reconhecer D. Afonso VI como rei. Sandwich abandonou então todos os
esforços pela paz e tratou de preparar um tratado de comércio entre a sua pátria e a Espanha. A
ameaça de guerra por parte de Luís XIV levou Madrid a apressar o tratado, ao mesmo tempo que,
por um tratado secreto, se fixava uma trégua de quarenta e cinco anos com o Portugal. Porém, D.
Afonso VI recusou-se a fazer a trégua. Pelo tratado de Breda, a Grã-Bretanha, a França e as

17
Províncias Unidas haviam feito a paz, a rainha de Espanha resolveu reconhecer a Afonso VI a
realeza e a celebrar um tratado de paz perpétua com Portugal.

No fim, concluiu-se que a resolução destas embaixadas teve um fim insatisfatório. Portugal
não foi capaz de estabelecer bases seguras na aliança com a Inglaterra, devido, maioritariamente,
à diplomacia espanhola que fazia com que os potenciais aliados de Portugal hesitassem em
estabelecer acordos com os mesmos, temendo sofrer repercussões dos seus rivais, que era o caso
de Inglaterra. Além disto, Portugal acabou por ficar de lado enquanto grandes tratados de paz era
celebrados na Europa, pois todos os países estavam a tentar encontrar as melhores condições, de
forma a ir de encontro aos seus próprios interesses.

14. Relações entre Portugal e Castela no século XV.

Tratado Alcaçovas-Toledo e Tratado de Tordesilhas

15. Relações diplomáticas entre Portugal e a Espanha no século XVI.

Junta de Badajoz e Tratado de Saragoça

16. Relações diplomáticas entre Portugal e a França no XVII.

Após ascender ao trono, D. João IV encontrou-se a braços com um agudo problema que
teve de enfrentar, isto é, obter, por um lado, o reconhecimento da independência de Portugal e,
com ele, o da sua realeza, e, por outro lado, arranjar alianças suficientemente fortes para
oferecerem uma garantia efetiva contra as arremetidas da Espanha. Por isso, D. João IV entabulou
negociações diplomáticas com a França, a Grã-Bretanha, as Províncias Unidas e a Suécia.

A restauração sempre fora fomentada pela França, que ao longo dos anos sempre
prometeu a Portugal todos os meios necessários para que tivesse capacidade de se revoltar contra
os espanhóis. A França foi também o primeiro país ao qual o rei D. João IV mandou um
embaixador, depois das tentativas feitas, antes da revolta de Dezembro, pelo cardeal de Richelieu,
que aplicara todos os esforços para levar Portugal a revoltar-se, assim aliviando a pressão
espanhola nos Pirenéus e na Flandres.

Devido às promessas demasiado concretas de Richelieu, D. João IV envia a Janeiro de


1641, a Luís XIII, como primeiros embaixadores, Francisco de Melo, seu monteiro-mor, e o Dr.
António Coelho de Carvalho, levando como secretário João Franco Barreto com o encargo de
negociar uma aliança, a Liga Formal, com o fim de “fazer-se por todas as vias a guerra a ElRei
d’Espanha por terra e por mar” propondo para isso ao rei de França a invasão da Espanha e da
Itália, e que os Países Baixos atacassem a Flandres, enquanto o rei de Portugal atravessaria a
fronteira entrando também em Espanha, recebendo por isso ajuda substancial da França.
Richelieu começou depois a adiar a assinatura do tratado sobre vários pretextos, no intuito de
salvaguardar em época futura os interesses da França.

Procede-se ao novo embaixador, a Abril de 1642, com Luís XIII, D. Vasco Luís da Gama,
conde da Vidigueira e marquês de Nisa, tendo como secretario o Dr. António Moniz de Carvalho
com a missão de entregar ao rei de França a ratificação do tratado de 1 de Junho de 1641,

18
celebrado por Francisco de Melo, e insistir por um auxílio mais eficaz à causa da independência
portuguesa, entre o que não era de somenos importância evitar a celebração da paz entre França
e a Espanha, terrível ameaça para o nosso país, desprovido de exército e de munições. Luís XIII
deveria empregar todos os seus esforços para libertar infante D. Duarte, o que aliás nunca se fez,
tendo o infante morrido no cativeiro e para, por meio do seu embaixador em Roma, levar Urbano
VIII a receber o bispo de Lamego nosso embaixador. Pode dizer-se que nada disto obteve o nosso
embaixador, por entretanto terem morrido Luís XIII e Richelieu, ficando regente Ana de Áustria.

Em 1646, ocorre a 3ª embaixada, chefiada, desta vez, pelo Dr. Luís Pereira de Castro.
Falhados alguns aspetos das anteriores embaixadas, recorre-se novamente aos acordos
matrimoniais para assegurar as relações entre os países. Isto, no entanto, não teve qualquer tipo
de resultado, pois a França recusou os acordos propostos por Portugal.

Numa 4º embaixada, D. João IV envia a Paris, em 1646, Padre António Vieira, com o
encargo de obter da França o apoio junto dos Países Baixos para a compra dos territórios
brasileiros de que Companhia das Índias Ocidentais se apossara. No ano seguinte é enviado D.
Vasco da Gama a França, de novo, como 5º embaixador extraordinário. No Congresso de
Vestefália, Portugal era esquecido, e D. João IV era fundamental que Portugal estivesse incluído
neste tratado e aliança para que pudessem evitar conspirações contra Portugal e para defender a
posição portuguesa no seio da política europeia. O conde da Vidigueira com o encargo de fazer
pressão para que a França não estabelecesse a paz com a Espanha sem incluir Portugal, ao mesmo
tempo que o caso do infante D. Duarte deveria ser chamado a primeiro plano para se lhe obter a
libertação, e insistir pela resolução do assunto da ocupação do Nordeste brasileiro pelos
Holandeses.

Em Agosto de 1647, Padre António Vieira volta a França para insistir no casamento do
príncipe com uma princesa francesa, meio de conseguir a celebração da Liga Formal, e, para aliciar
a corte de Paris, e propunha- se a D. João IV retirar-se para os Açores, que formariam um reino
independente com o Norte do Brasil, enquanto o príncipe D. Teodósio subiria ao trono como rei de
Portugal. Nem assim se moveu Mazarino. Num ato final, faz esta proposta, movido pelo desespero
para que Portugal fosse salvo.

Em 1651 é determinado que Francisco de Sousa Coutinho como 7º embaixador para


negociar com o secretário de Estado de Luís XIV, que propoem a D. João IV, para que a França
celebrasse a Liga, o pagamento de 3 400 000 escudos franceses, com a condição de este dinheiro
se destinar exclusivamente a custear a guerra entre a Espanha. Mazarino despachou então para
Lisboa o cavaleiro de Jant, encarregado de lembrar ao rei o interesse comum no ataque a Nápoles
e, ainda, de lhe pedir que tomasse a ofensiva contra a Espanha.

Através da troca de ataques e contra-ataques, o secretário de Estado Pedro Vieira da Silva


demonstrou a negação sistemática de França em celebrar a Liga, prometida formalmente havia
tantos anos por Richelieu, e para isso encarregou o confessor da rainha, o irlandês Fr. Domingos
do Rosário, como 8º embaixador, de acompanhar Jant a Paris. Nessa altura a Espanha tinha
apresentado a Portugal propostas de paz e redigiu-se, após árduas negociações, o tratado de liga
com a França, prometendo a D. João IV dar 2 milhões de escudos em nove anos, não devendo

19
nenhum dos signatários fazer a paz em separado com a Espanha sem o outro estar incluído no
tratado.

A partir da recusa de Mazarino em ratificar o tratado, D. João IV manda o citado frade


irlandês, em Setembro de 1655, para dele obter a ratificação, o que não conseguiu por o cardeal já
estar em negociações com a Espanha para a paz. D. João IV mandou segunda vez o frade a Paris,
para conseguir não só a ratificação do tratado, mas também o casamento da infanta D. Catarina
com o jovem Luís XIV.

Segue então para França como embaixador extraordinário, D. João da Costa, conde de
Soure, levando como secretario o Dr. Duarte Ribeiro de Macedo, encarregado de obter a
celebração da decantada liga e ainda de pedir auxilio militar contra a Espanha.
Concomitantemente, nomeava o marquês de Chouppes para ir a Portugal insistir em que se fizesse
a paz com a Espanha em condições vergonhosas para nós, pois na prática voltaríamos ao estado
anterior a 1640. Sem efeito obtido, Chouppes regressou a França e assim interromperam-se as
relações diplomáticas com o reino até à paz de 1668, por força do Tratado dos Pirinéus. No
entanto, foi durante os nove anos em que tais relações estiveram interrompidas que, pela acção
pessoal de Turenne, veio a efectivar-se o casamento de Afonso VI com Mademoiselle d’Aumâle,
para o que o conde de Castelo Melhor enviou a França o marquês de Sande, ao tempo embaixador
em Londres, Grã-Bretanha.

Relações Diplomáticas com a Holanda – Século XVII

Ao recuperar a independência, em 1640, Portugal estava nas piores relações com as Províncias
Unidas dos Países Baixos. Efetivamente, encontrando-se elas em guerra com a Espanha em 1580,
passaram a considerar Portugal potência inimiga. Os seus soldados ocuparam toda a costa da
Índia, pouco tendo faltado nova companhia, destinada à conquista e exploração do Brasil.

Entretanto, as esquadras da companhia exerciam actos de pirataria, apresando as naus e


apossando-se dos seus carregamentos. Ao subir ao trono, procurou logo D. João IV atrair as boas
graças dos holandeses, apesar do agravos recebidos até então, para o que nomeou embaixador
junto dos Estados gerais das Províncias Unidas a Tristão de Mendonça Furtado, que levou como
secretário o Dr. António de Sousa Tavares

Iniciadas as negociações, não foram recebidos com benevolência as propostas de Portugal, e por
isso, é apresentado uma contraposta, em que consideravam o cessar das hostilidades entre os
Países Baixos e Portugal, que os Estados auxiliariam o rei de Portugal com vinte navios por sua
conta, sendo as presas repartidas por igual, que não se faria a restituição das conquistas que, na
hipótese de se passar a atacar as Índias espanholas, se dividiram e trocariam as conquistas feitas,
que os naturais de cada um dos dois países poderiam negociar livremente nos domínios dom
outro e que o embaixador português indicaria que oficiais pretendia contratar.

Consequentemente é estabelecida uma trégua, devida à intervenção do príncipe de Orange,


passando então a fixar-se os termos do tratado a celebrar entre as Províncias Unidas e Portugal, só
assinado em meados de Junho de 1641 e ratificado por D. João IV em Novembro. Porém os
Holandeses não respeitara as suas disposições.

20
No princípio de 1642 ordena-se que Dr. Francisco de Andrade passasse aos Países Baixos como
embaixador extraordinário, levando como secretário o Dr. Feliciano Dourado, a fim de reclamar a
entrega de Luanda e de São Tomé e ainda na entrega do Maranhão, declarando os Estados que os
territórios reclamados eram conquistas legitimamente feitas. Todavia o resultado foi um fracasso.

D. João IV nomeia novamente Francisco de Sousa Coutinho, continuando o Dr. Dourado no


exercício das suas funções. A sua missão era obter a inclusão de Portugal no tratado de paz que se
fizessem com a Espanha, preparar um tratado de paz perpétua com os Países Baixos, e reclamar a
restituição das conquistas os territórios portugueses em poder dos Holandeses. As suas
negociações foram também demoradas, poi não havia maneira de conseguir a entrega das praças
tomadas. D. João IV ordenou Coutinho que negociasse a compra dos territórios conquistados
como último recurso. Em 1646 o rei ordenou-lhe que oferecesse 3 milhões de cruzados,
contrariamente ao montante de 8 milhões da contra-proposta.

4ºEmbaixada: Nas negociações interveio também o P. António Vieira, enviando aos Países Baixos
por D. João IV, que propusera ao rei de restituição dos territórios recuperados pelos colonos
revoltados, o que não foi aceite. Coutinho continuou a bater-se para as propostas de Portugal
serem aceites pelas Províncias Unidas. Então os Estados impuseram a Coutinho a aceitação ou
recusa das suas propostas, sob pena de ordenarem a guerra de corso contra Portugal, mas as
notícias das derrotas dos Holandeses no Brasil e em África fizeram os Estados crer que tais
desastres se deviam ao embaixador, recebendo este ordem de retirar e chegando o povo a
assaltar o edifício da Embaixada e ameaçar matar o embaixador.

5ºEmbaixada: Em sua substituição nomeou o rei o DR. António de Sousa de Macedos, que levava
como secretário o D. António Raposo, sendo recebido em audiência só cinco meses depois da sua
chegada. Dado o agravamento da relações entre as Províncias Unidas e Portugal, recebeu a
Companhia das Índias Orientais licença para a guerra de corso aos navios portugueses. D. João IV
mandou apresentar aos Estados uma proposta de paz com 13 artigos que começava por oferecer 5
milhões de ducados pelos territórios brasileiros na posse da companhia

6º Embaixada: Em 1658 surgiu para a Haia D. Fernando de Teles e Faro, secretariado pelo Dr. Luís
Álvares Ribeiro, levando a missão de propor a cessação das hostilidades, que os Holandeses
tinham iniciado pouco antes, e, ainda, de lhes oferecer pelos territórios perdidos no Brasil a
quantia que os mediadores inglês e francês, escolhidos por Cromwell e o por Mazarino, achasse
justa e mais o sal de Setúbal e liberdade de comércio no Brasil e em África. D. Fernando foi
elevando a oferta até 35 milhões, em faxe da intransigência dos Estados, que por fim exigiram 5
milhões para os negociantes holandeses em Portugal e seus domínios iguais direitos aos que
usufruíam os ingleses. neste meio-tempo o embaixador entrou em negociações com os espanhóis,
abandonou a Embaixada e fugiu para Madrid

7º Embaixada: Substituiu-o o conde de Miranda, com mesmo secretário. Logo de entrada


encontrou dificuldades resultantes da acção da Companhia Oriental, que entendia que a guerra
devia continuar. As negociações arrastaram-se até que, em meados de 1661, os Estados se
resolverem a fazer a paz e a renunciarem à restituição do Brasil, preparando-se o tratado que o
conde de Miranda e Gijsbrecht de Wit trouxeram a Lisboa para ser ratificado

21
Nesse tratado, pelo qual Portugal se obrigava a pagar 4 milhões de cruzados pelos territórios
brasileiros perdidos pelos Holandeses, davam-se aos mercadores holandeses regalias de vária
ordem, o que levou a Grã-Bretanha a protestar, pelo que três cláusulas foram recusadas, sendo o
tratado ratificado em 27 de Abril de 1663. Só em Novembro os Estados o ratificaram. Entretanto, a
companhia Oriental tomou as fortalezas de Cochim e Cananor, na Índia, o que deu origem às
reclamações e protestos de Portugal, entrando-se em negociações, enquanto os Estados
reclamavam o pagamento da indeminização que Portugal lhes devia pelo tratado de 1663,
respondendo o Governo de Lisboa que só pagaria se a Companhia Oriental restituísse as fortalezas
tomadas

8º Embaixada: Em 1688, D. Fernando de Melo Manuel da Câmara foi então nomeado embaixador
na Haia, para resolver os assuntos pendentes, e, depois de negociações morosas e, da parte dos
Holandeses, irritantes, assinou-se um tratado de paz definitiva entre as Províncias Unidas e
Portugal, mas Cochim e Cananor não seriam restituídas, por ficarem como garantia do pagamento
das pretensões devidas pelo nosso país.

17. Relações diplomáticas entre Portugal e a Espanha no século XVIII.

Apesar do Tratado de Tordesilhas e do Tratado de Saragoça, dois grandes monumentos da


história diplomática portuguesa e castelhana, falta uma solução para fechar os assuntos
pendentes entre os reinos de Portugal e Espanha. Da assinatura do Tratado de Tordesilhas, em
1494, à assinatura do Tratado de Madrid, em 1750, os contornos do território português na
América cresceram significativamente. Apesar
da expansão agropecuária na região nordestina, foi a busca por metais preciosos e mão de obra
indígena na região Centro- Oeste e a busca pelas chamadas Drogas do Sertão e mão de obra
indígena na Amazônia que se constituíram elementos centrais da expansão territorial lusa em
direção ao interior do vasto território. As operações de Entradas, Bandeiras, Guerras Justas,
Resgates e Descimentos de Índios, empreendidas pelos portugueses desde o início da colonização,
desempenharam um papel central neste fenómeno. Além destes fatores, a evangelização dos
índios foi um fenómeno igualmente importante.

A Coroa Portuguesa expressou novamente os seus interesses em estender as fronteiras


meridionais de sua colônia americana até ao Rio da Prata quando determinou ao governador e
capitão-mor da capitania do Rio de Janeiro, D. Manuel Lobo, que fundasse uma fortificação na
margem esquerda daquele rio. Desse modo, com o apoio dos comerciantes do Rio de Janeiro,
desejosos de consolidar os seus já expressivos negócios com a América Espanhola, a expedição de
D. Manuel Lobo aporta em Santos em fins de 1679 e alcança a bacia do Prata em Janeiro do ano
seguinte. A 22 de janeiro de 1680, as forças portuguesas iniciaram o estabelecimento da Colônia
do Santíssimo Sacramento, fronteiro a Buenos Aires, na margem oposta. O núcleo desse
estabelecimento foi uma fortificação simples, iniciada com planta no formato de um polígono
quadrangular.

A resposta das autoridades espanholas foi imediata: em pouco tempo o governador de


Buenos Aires reagiu, e o núcleo português foi conquistado por tropas espanholas e indígenas.
Através de negociações diplomáticas, a posse da Colônia foi devolvida a Portugal pelo Tratado

22
Provisional de Lisboa (7 de maio de 1681). Ficavam impedidas a construção de novas fortalezas e
de edifícios de pedra ou taipa, que caracterizariam uma ocupação permanente.

No entanto, devido à guerra da sucessão espanhola de 1705, deu-se a perda da colónia.


Apesar disso, novamente, e graças à aliança entre Portugal, Inglaterra e Áustria, os portugueses
conseguiram recuperar Sacramento.

Sacramento é normalmente lembrada como fortificação importante para defesa da


fronteira sul da América Portuguesa. No entanto, é esquecido o caráter comercial de sua região.
Este, que garantiu à Sacramento se tornar importante ponto comercial, possibilitou trocas
mercantis entre as terras americanas das coroas ibéricas. Entre os produtos comercializados,
estavam escravizados africanos, que eram vendidos pelos portugueses aos espanhóis,
comercializados com Buenos Aires.

Em 1750 encontrou-se um clima de entendimento entre as duas coroas, portuguesa e


espanhola (“cordial amizade”; por se tratar de dois países católicos). O interveniente espanhol,
José de Carvajal y Lancaster, encarregado da política externa espanhola, decano do Conselho de
Estado e governadores supremo das Índias, praticava um pragmatismo negocial, isto é, procurava
assegurar a área do rio da Prata e formar uma frente comum com Portugal contra terceiros. Já
para Portugal, com Alexandre de Gusmão como interveniente (quem firmou o tratado foi o
Visconde Tomás Teles da Silva), sendo secretário pessoal de D. João V e membro do Conselho
Ultramarino, a prioridade era resolver os problemas dos territórios americanos ao reivindicar os
territórios ocupados por bandeirantes religiosos e colonos brasileiros laicos.

Deste modo, o Tratado de Madrid (1750) pode ser pensado com a oficialização do
processo de expansão territorial portuguesa iniciado pouco mais de duzentos anos antes. Firmado
em Madrid, na Espanha, pelos monarcas D. João V (Portugal) e D. Fernando VI (Espanha), este
tratado geopolítico teve como principal objetivo o fim das disputas territoriais entre os Estados
Ibéricos. Os novos limites demarcatórios foram baseados no Mapa das Cortes (1749), elaborado
especialmente para servir de base ao tratado. Montanhas e rios serviram como indicadores das
demarcações de limites, a partir de uma espécie de delimitação por fronteiras naturais. Além
disso, o princípio romano do uti possidetis, que pode ser traduzido pela ideia de que “o território é
de quem nele habita” foi utilizado pelos portugueses para reivindicar aqueles espaços.

O artigo 25o não se traduziria para a realidade, pois o Tratado de Madrid levantou
problemas complexos entre comerciantes portugueses, espanhóis e ingleses. Assim, passou-se à
anulação do mesmo como se nunca tivesse existido com o Tratado de Pardo, elaborado em 1761.

Relações com Inglaterra no século XVIII

Foi no início do reinado de D. João V, nomeadamente entre 1716 e 1717, que Portugal vai
finalmente resolveu os problemas diplomáticos de que sofria desde 1140. Isto foi graças a um
novo “diplomata”: o ouro do Brasil. A Europa estava faminta, desgastada e empobrecida (com a
exceção da Inglaterra). Portugal, sobretudo a partir de 1717, quando o ouro começou a chegar às
toneladas, irá passar por um boom financeiro (construção do convento de Mafra). Ora, que tem
dinheiro, tem poder, e que tem poder, tem influência. Numa embaixada enviada ao papa

23
Clemente XI em 1716, este recebeu os portugueses com as costas voltadas, como de costume. O
Papa foi, assim, aliciado pelas riquezas que os portugueses exibiram. Na sequência do nascimento
do primogénito da Família Real portuguesa, Clemente XI enviou por mar, a Lisboa, o Núncio
Apostólico que trazia consigo um magnífico coche e as “Faixas Bentas” para a Cerimónia do
Batismo do príncipe D. José. pesar de muitas áreas terem sido desenvolvidas com o novo estatuto
financeiro de Portugal, a indústria e a agricultura, assim como o sistema de ensino e o de
administração, não sofreram as reformas de que necessitavam. Havia plano para tal, mas,
entretanto, D. João V fica paralisado na parte esquerda do corpo na sequência de um ataque, o
que vai atrasar o projeto de modernização do país. Este projeto só acabará por acontecer na
segunda metade do século XVIII, já após D. João V ter falecido e do seu filho subir ao trono como
D. José I.

Ora, face a Portugal, que ainda se encontrava numa fase de pobreza extrema antes da
entrada das remessas de ouro no país, a Inglaterra enfrenta uma fase de desenvolvimento
exponencial, e vai tentar encontrar novos mercados para a colocação dos seus produtos,
nomeadamente os têxteis.

O Tratado de Methuen tem apenas três artigos. No entanto, estes três artigos são textos
alvos de discórdia, apesar de serem claros. É considero um tratado vexatório (que impõe vexame a
alguém; humilhante) de natureza económica. Neste tratado, pretendia-se sobretudo que as
atividades económicas dos dois países se interligassem de alguma maneira. Os embaixadores dos
monarcas eram D. Manuel Teles da Silva, marquês de Alegrete e John Methuen, embaixador
extraordinário britânico, respetivamente; Pelos seus termos, os portugueses comprometiam-se a
consumir os têxteis ingleses e, em contrapartida, os britânicos, os vinhos de Portugal;

No artigo 1o, Portugal abria portas ao trânsito da indústria inglesa no segmento dos têxteis. A
indústria têxtil inglesa era forte devido ao acesso fácil às matérias-primas que tinha, além das
máquinas que permitiram a produção rápida;

No artigo 2o referia-se que os ingleses dariam as mesmas regalias aos vinhos portugueses que
davam aos vinhos franceses. No entanto, não era possível comportar o volume de exportação do
nosso vinho, que era um produto que se estragava facilmente na época, com o volume de
importação dos têxteis. Além disso, o aspeto financeiro era só aproveitado por uma elite, pelos
donos das vinhas.

Isto seria a ruína da indústria portuguesa, uma vez que a nossa produção não era de
qualidade. Com a entrada dos têxteis ingleses, ignoraram-se as pragmáticas e os impostos
alfandegários, pelo que todas as liberdades foram dadas à entrada deste produtos em Portugal. A
primeira parte do século XVIII vai ser dominado pelas relações económicas entre Portugal e
Inglaterra. Esquece-se a antiga tradição do Tratado de Windsor, em 1386, que foi feito de um
forma tão sucinta e apertada que fez com que os benefícios fossem comuns. No entanto, o
Tratado de Methuen não valorizava a causa de Portugal, uma vez que a supremacia da Inglaterra
crescia a olhos vistos, humilhando os portugueses na área dos lanifícios, uma área que emprega
muita gente. As medidas do Tratado de Methuen só viriam a materializar-se a partir de 1711. Os
debates então havidos no Parlamento e jornais ingleses revelam uma aparente satisfação inicial
com as cláusulas do tratado.

24

Você também pode gostar