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Maria João Queijo Lopes – up202007274 Licenciatura em História

No que diz respeito ao primeiro texto (“Revista Portuguesa de História”), onde


se encontra presente a questão entre Afonso II e as suas irmãs sobre a detenção dos
direitos senhoriais, escolhi como bulas pontifícias: a Bula de Inocêncio III – Dilecti filii
frates, de 21 de julho de 1212 e a Bula Accepimus ex litteris, também de Inocêncio III,
de 21 de maio de 1213.
A Bula Dilecti filli frates é dirigida à D. Mafalda, uma das filhas de D. Sancho I
e irmã mais nova de Afonso II, a quem lhe foi entregue por testamento o senhorio de
Bouças, Arouca, Tuias e ainda outras propriedades. O primeiro desentendimento
existente entre o rei Afonso II e as suas irmãs surgiu efetivamente com D. Mafalda,
visto que, esta decidiu entregar aos freires do Hospital o domínio de Bouças,
guardando para si o usufruto. Esta ação foi vista por muitos como uma forma de a
infanta levantar dificuldades às eventuais reivindicações que, sobre os ditos bens
houvesse de fazer o seu irmão. Foi neste sentido que, a 21 de julho do ano de 1213
é redigida pelo papa Inocêncio III a Bula Dilecti filli frates, onde consta que a infanta
D. Mafalda só poderia ter posse dos seus bens se seguisse a vida religiosa, e que a
doação era limitada exclusivamente ao usufruto, ficando, então, os rendimentos da
coroa em seis mil morabitinos.
A Bula Accepimus ex litteris encontra-se por outro lado dirigida às duas irmãs
mais velhas de Afonso II, que são elas, D. Teresa e D. Sancha de Portugal, às quais
foi entregue também por testamento de seu pai (D. Sancho I), o senhorio de
Montemor-o-Velho, o de Esgueira e o de Alenquer respetivamente. O relacionamento
que manteve com estas duas irmãs revelou-se muito mais conturbado do que com o
que possuiu com D. Mafalda. D. Teresa e D. Sancha são caracterizadas como sendo
mulheres orgulhosas e teimosas e que em nada ajudaram para facilitar a relação
destas com o seu irmão. A Bula Accepimus ex litteris surgiu como um pretexto para
que ambas as partes chegassem a um acordo, no sentido de colocar um ponto final
a toda a situação que houvera sido criada (“(...) ordenou-lhes que levantassem as
censuras, que compelissem as partes litigantes, sob pena de excomunhão, a darem
tréguas às violências e que fizessem reparar as injúrias e danos mútuos(...)”).
Apesar dos esforços feitos pelo rei Afonso II esta “guerra” que manteve com
as suas três irmãs arrastar-se-ia durante todo o seu reinado, sendo que, o verdadeiro
encerrar da situação só ocorreu no dia 23 de junho de 1223, já depois da sua morte.
Maria João Queijo Lopes – up202007274 Licenciatura em História

Ao falarmos das relações entre Rei e Igreja devemos abordar o facto de que,
estas duas identidades, ambas poderosas, sempre disputaram entre si o exercício do
poder temporal e o exercício do poder espiritual. Existindo, por isso, ao longo dos
séculos inúmeros conflitos entre monarcas portugueses e senhores laicos e
eclesiásticos.
Como exemplo disso, possuímos o reinado de Afonso IV, o Bravo, que ficou
marcado pelos conflitos existentes com o bispado de Braga e do Porto. O primeiro
conflito dá-se entre Afonso IV e o arcebispo de Braga, o D. Gonçalo Pereira. O
confronto inicia-se em 1326 e teve como causa a nomeação e, posteriormente, a
excomungação de tabeliães régios elegidos pelo monarca, o que levou a um detrito
aceso entre estas duas figuras, uma vez que, para o rei Afonso IV era ele que possuía
a jurisdição temporal sobre Braga, tinha o direito de receber apelações, nomear
tabeliães, exercer o direito de padroado e administrar através dos seus oficiais. Não
obstante a isto, o arcebispo D. Gonçalo Pereira reage a estas afirmações do monarca
mostrando-lhe o documento (carta de couto de D. Afonso Henriques e bulas dos
papas Eugénio e Adriano), que legitimava a sua jurisdição temporal sobre Braga.
Os ânimos só acalmaram nos finais da década de 30, já que a guerra no exterior os
unia, assim como a administração interna do reino de Portugal.
No Porto, o enfrentamento entre o poder régio e eclesiástico foi progredindo
até atingir um momento de rutura. Os envolventes nesta contenda foram Afonso IV e
o bispo D. Vasco Martins, encontrando-se dividida em dois momentos.
O primeiro momento, datado do ano de 1328, ficou marcado pelos protestos
entre o cabido e o procurador João Palmeiro para com o corregedor de Entre Douro
e Minho, João Anes Marvão, por este se envolver na administração da justiça da
cidade do Porto.
O segundo momento, iniciou-se em 1339, quando o rei Afonso IV mandou
executar as inquirições sobre os rendimentos e a jurisdição do prelado do Porto. Por
conseguinte, em 1341, o monarca após a realização dessas mesmas inquirições, e
no sentido de averiguar a verdade, declarou a jurisdição crime de vários coutos
episcopais, tais como: o couto de Santo Tirso, o couto da Régua, o couto de Loriz, o
couto de Santa Maria de Campanhã, o couto de S. Pedro da Cova, o couto de Santo
Tirso de Meinedo, o couto de S. Doado e o couto de Castromanha, o que só lhe
permitiu o exercício da justiça cível. Como resposta, o bispo Vasco Martins irá tomar
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uma série de medidas, que se irão repercutir no seguinte episcopado do seu


sucessor.
Em suma, após várias tentativas de apaziguamento, o rei Afonso IV acaba por
lançar um interdito sobre a cidade do Porto e o seu bispado, no dia 21 de março de
1345. O bispo D. Vasco Martins acaba por se exilar em Tui, onde irá permanecer por
dez anos.

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