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INTRODUÇÃO GERAL................................................................................................2
INTRODUÇÃO GERAL
Quem é Jesus Cristo? É a pergunta que nos propomos responder, e o objetivo desta
matéria. Embora a mensagem apostólica e a literatura neotestamentária sejam
enfáticas em apresentar a Jesus Cristo como o Messias, Filho de homem e Filho de
Deus, digno de adoração, este mistério permanecia um desafio à razão humana, e
por isso mesmo mais perguntava-se: quem é este Homem?
As respostas a esta pergunta desde o primeiro século foram as mais variadas:
Os arianos negavam a Cristo, sua consubstancialidade divina.
Os docetas, gnósticos e apolinários negavam sua integridade humana.
Os nestorianos negavam sua unidade pessoal.
Os eutiquianos negavam sua dualidade de natureza.
Os monotelitas negavam sua dualidade de vontades e operações.
A corrente do Jesus histórico negou o Jesus da teologia.
Em suma, a Cristologia dividia estes homens, quando seu objetivo devia ser uni-los
e reuni-los na mesma igreja.
Neste processo histórico da Cristologia houve basicamente duas correntes que
caracterizaram e caracterizarão a igreja até o fim:
[a] Ora, a ênfase na humanidade minimizando a divindade.
[b] Ora, a ênfase na divindade minimizando a humanidade.
Ver o que as pessoas crêem sobre Cristo, e esclarecer problemas de crença sobre
a pessoa de Cristo.
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Para os ebionitas Cristo era apenas homem, e negavam sua encarnação virginal.
Cristo recebera o Espírito Santo no batismo, quando foi escolhido para ser o
Messias e Filho de Deus. Foi escolhido por Deus para ser o Messias, por ter
cumprido a lei judaica de maneira plena.
Negavam à sua morte e ressurreição qualquer poder salvífico. A salvação era
relacionada com sua vinda para fundar um reino messiânico para os judeus em
Jerusalém.
A ênfase é posta no Jesus histórico, humano em detrimento do Cristo da fé.
[4] – O Gnosticismo – é anterior ao surgimento do Cristianismo. Era, então, um
fenômeno religioso vago e difuso. Ele procede do Oriente, influenciado pelas
religiões de Babilônia e da Pérsia. Posteriormente o gnosticismo surgiu na Síria e
em território judaico, especialmente, em Samaria, onde assumiu características
judaicas. Foi esta forma gnóstica que os apóstolos encontraram com Simão, o
mágico. A gnose cristã se inicia com Simão, conforme a tradição cristã (os pais
eclesiásticos).
[a] Características básicas do gnosticismo pré-cristão:
[1] Visão dualista do universo: o contraste entre o mundo espiritual e real das idéias
e o mundo totalmente mau da matéria, dos fenômenos materiais.
[a] O mundo espiritual, ou das idéias é o mundo bom. O homem deve se esforçar
para retornar a ele.
[b] O instrumento de libertação deste mundo mau e entrada no mundo bom, é o
conhecimento, gnósis, que é uma iluminação espiritual mística.
[c] Sincretismo – mistura de conceitos filosóficos e religiosos de Babilônia, Pérsia,
Síria, Egito.
[b] Características básicas do Gnosticismo Cristão – Em relação à Cristologia.
[1] Negação da humanidade de Cristo. Diante da glória da pré-existência de Cristo e
de sua pós-existência eterna, eles, os gnósticos, assumiram uma postura docética,
negando a existência da vida terrena de humilhação de Cristo. eles negavam a vinda
de Cristo em carne. Tratava-se apenas de uma aparência. Cristo era um ser
celestial, um fantasma, e não um homem de carne e osso.
Logo sua encarnação não era real. Seu nascimento da virgem era aparente.
Negavam a morte efetiva de Jesus.
Não existia o Jesus histórico.
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[2] A morte de Cristo não tinha significado salvífico. Cristo era apenas o Revelador
da sabedoria esotérica. E este conhecimento proporcionava a salvação a um
pequeno grupo (pneumáticos) que podia entender e receber este conhecimento
salvífico. Cristo era visto, somente, como o transmissor de gnose que salvava o
perdido.
[3] Ênfase posta na divindade e negação absoluta de sua humanidade.
[c] O Gnosticismo representou a crise mais grave por que passou o cristianismo
desde os dias do primeiro concílio em Jerusalém, quando se discutiu o lugar da lei
na salvação. Foi a segunda grave crise do Cristianismo.
[1] Apóstolo João escreveu sua primeira carta direcionada à heresia gnóstica então
embrionária. (I João 4:2,3).
[5] – Os Pais Antignósticos – Caracterizaram-se sob este título por causa do seu
conflito contra o gnosticismo. Lutaram especialmente contra o repúdio gnóstico à
criação. por isso mesmo a teologia da igreja primitiva estava centrada na criação
divina, bem como na doutrina de Deus.
[a] Cristologia de Irineu. Irineu era discípulo de Policarpo, que por sua vez era
discípulo de João, o apóstolo. Para Irineu, Bispo de Lyons, no final do II século, a
Bíblia era a única fonte de fé. Era por causa disso um teólogo bíblico na acepção da
palavra.
[1] A Teologia da Salvação de Irineu pressupõe sua Cristologia. Para ele Cristo é
Verdadeiro Homem, Verdadeiro Deus (Vere Homo, Vere Deus).
“Se os inimigos do homem não foram vencidos pelo homem, não podem ter sido
verdadeiramente vencidos: além disso, se a nossa salvação não procede de Deus,
não podemos estar plenamente seguros que estamos salvos. E se o homem, não se
unisse com Deus, não lhe seria possível compartilhar a imortalidade.”
[2] O Filho existiu com o Pai desde toda eternidade.
[3] Cristo é o Segundo Adão, o oposto do primeiro. No primeiro Adão herdamos a
perdição e através do Segundo Adão recebemos a salvação. Pelo poder de sua
obediência e obra de expiação tornou-se o cabeça da nova humanidade.
[4] Cristo é a plena revelação de Deus.
[b] Cristologia de Tertuliano – nasceu e abastada família pagã em Cartago. Estudou
Direito e exerceu a profissão em Roma. Entre os anos 190 e 195 converteu-se ao
cristianismo em Roma, provavelmente. É considerado o Pai da Teologia Latina. Seu
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grande mérito foi o esclarecimento preciso de muitos termos teológicos, até então
vagos. Em Cartago foi nomeado presbítero, em Cartago faleceu.
[1] Na obra “Contra Praxeas” define sua teologia do Logos, Cristo. Faz nesta obra
declarações que antecipam as conclusões do Concílio de Nicéia, 100 anos depois.
“Todos são de um, por unidade de substância, embora ainda esteja oculto o mistério
da dispensação que distribui a unidade numa Trindade, colocando em sua ordem os
três, Pai, Filho e Espírito Santo, três, contudo... não em substância, mas em forma.”
[a] Mesma ousia (substância), mas não a mesma upostáseis – são três pessoas.
(Persona).
[2] Sua Cristologia é subordinacionista. O Logos, Cristo, procedeu da razão de Deus
na Criação (Justino). Quando Deus disse “Haja Luz”, nasceu a Palavra. Cristo
procedeu da essência do Pai, logo, o Filho está subordinado ao Pai. O Pai é Maior
que o Filho, pois é o Pai quem gera e envia o Filho.
[3] O Logos, Cristo, é distinto do Pai. O Logos é uma “Persona”. O Filho é uma
pessoa independente que veio do Pai.
[a] Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste... Não foi Deus Pai quem
clamou, pois neste caso estaria clamando a si mesmo, foi o Homem, o Filho que
clamou ao Pai.
[b] Foi enviado pelo Pai. O que envia é distinto do que é enviado.
[4] Qualidade divinas e humanas estão em Cristo. o Logos, Cristo, é uma só pessoa
com duas substâncias diferentes, que estão unidas numa só pessoa. Jesus possui
duas naturezas, divina e humana, que se uniram numa só pessoa, mas não se
combinaram. “Vemos seu duplo estado, não misturado, mas conjugado em uma
única pessoa, Jesus, Deus e Homem (“Contra Praxeas”, 27).
[a] O Logos, Cristo, apareceu em carne, revestido de forma corpórea, mas não se
transformou em carne.
[b] A pessoa de Cristo possui duas naturezas: divina e humana.
[5] A Doutrina Posterior das duas naturezas de Cristo baseou-se em Tertuliano, que
pode assim ser resumida:
Ousia – uma substância – expressa a unidade.
Upostáseis - três pessoas – expressa distinção de pessoas.
[6] – Teologia Alexandrina – Orígenes – Alexandria era um centro comercial e
cultural, que foi fundada por Alexandre, o Grande, em 332 AC. Em Alexandria,
Ptolomeu Soter criou uma biblioteca com mais de 700 mil volumes. Havia nela um
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[2] O Logos não foi criado no início do tempo, Ele nasceu de Deus na eternidade,
como uma emanação do mundo espiritual da divindade.
[3] O Logos é uma essência do Pai, e a Ele subordinado. O Filho é um segundo
Deus. Só o Pai não nasceu, ou seja, é Agénnetos. Tanto o conceito Homooúsios
como o subordinacionismo estão presentes na teologia de Orígenes (igualdade com
Deus e mesma substância).
[f] Estas duas tendências da teologia viveram em tensão e mais tarde dividiram-se
em duas escolas:
[1] RIGHT WING – Ênfase na divindade e eternidade do Filho, o que trona Cristo
igual ao Pai. ( Homoousios ).
[2] LEFT WING – Ênfase na distinção entre o Pai e o Filho. Ele (Orígenes) se recusa
em definir esta distinção como uma limitação do Filho – Subordinacionismo. (
Homoiousios ).
[7] – Adocionismo ou Monarquianismo Dinamista – Negava-se, aqui, o conceito
de trindade, pois alegavam ser incompatível com a fé em um Deus único –
monoteísmo. O Adocionismo rejeitava o conceito da divina economia (distinção das
três pessoas da divindade condicionada ao plano da salvação).
[a] Os adocionistas repudiavam a divindade de Cristo. Acreditavam ser Cristo mero
homem. Negava sua preexistência.
[b] Ensinavam que por ocasião de seu batismo o homem Jesus recebeu o Cristo
como uma energia divina, que se tornou ativa dentro dele a partir do batismo.
[c] Cristo, assim, era um homem dotado de poder divino. E este poder era uma
energia impessoal, nunca o logos como persona, ou como hipóstase independente.
[d] O mais destacado defensor desta corrente teológica foi Paulo de Samósata,
bispo de Antioquia por volta do ano 260 A.D.
[8] – Modalismo – Não aceitava a doutrina da Trindade, sob nenhum aspecto. Só o
Pai é Deus, é o único. Para o Modalismo, o Pai e o filho são a mesma hipóstase,
mesma essência, mesma pessoa. São o mesmo Deus sob nome e forma diferentes.
A diferença entre eles está só no nome - o Filho e o Espírito Santo são apenas as
formas que a Divindade assumiu conforme a necessidade ao aparecer no mundo.
[a] Deus apareceu em formas diversas em épocas diferentes. Primeiro de modo
geral em a natureza, depois como Filho, e por fim como o Espírito Santo.
[b] As três pessoas são três diferentes modos em que o mesmo Deus se revelou.
Não são hipóstases independentes, negava também sua preexistência.
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[c] O Modalismo nem faz juz à divindade de Jesus, pois diz que se trata apenas de
modo da revelação da divindade. Nem pode , ao mesmo tempo, fazer justiça a usa
humanidade, pois Jesus é um modo de ser da divindade. Não se trata nem de outra
pessoa divina ou humana.
[d] O principal teólogo desta escola foi Sabélio, que ensinou em Roma em 215 A.D.
[9] – Cristologia de Novaciano – Teólogo do Ocidente – do III século. Era
presbítero em Roma em torno de 250 A.D. Foi o primeiro da congregação cristã a
escrever em latim. Ele se limitou a defender a corrente teológica de Tertuliano.
[a] Para ele entre o Pai e o Filho existe uma comunhão de substancialidade. É o
equivalente latino ao famoso termo posteriormente consagrado em Nicéia
“Homoousios”. Para ele, Cristo era plenamente Deus e plenamente Homem.
[b] A consubstancialidade com o Pai era contra o Adocionismo.
[c] A verdadeira humanidade de Cristo e a distinção entre as pessoas da Divindade
era contra o Modalismo.
[d] Estabelecia uma distinção entre o Pai e o Filho, que o conduziu a
subordinacionismo. O Pai é imutável e absolutamente transcendente. Por isso não
pode se comunicar com o homem. Para que a comunicação fosse possível, ela
acontecia através do Filho, portanto tratava-se de um ser inferior. O Filho esteve
eternamente no Pai, por um ato seu o Filho veio a estar com o Pai, num momento da
eternidade.
[e] Ele não nega a divindade do Filho, mas o subordina ao Pai. É esta corrente de
pensamento que vai dar origem ao Arianismo.
[10] – Concílio de Nicéia e o Arianismo – 325 A.D. – IV século.
[a] O IV século testemunhou o início de uma nova era para a igreja. Constantino
transformou a igreja perseguida na igreja tolerada; e mais tarde, com a fundação de
Constantinopla, a igreja tolerada passou a ser a igreja favorecida. Isto trouxe
algumas consequências.
[1] Agora os pais da igreja tiveram tempo para pensar. Desta época são os maiores
pais da igreja: Atanásio, Agostinho, Ambrósio e Jerônimo.
[2] Conversões em massa, comprometendo a pureza da Igreja.
[3] Desenvolvimento teológico inigualado até então sob a proteção do império.
[4] Condenação imperial por se tomar posições teológicas que não fossem do
interesse do império. As discordâncias teológicas passaram a ter uma dimensão
política.
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[a] Pequeno grupo liderado por Eusébio de Nicomédia, que pensava ser fácil
alcançar a adesão da grande maioria. Este era o grupo de arianos puros.
[b] Pequeno grupo de opositores do Arianismo liderado por Alexandre, Bispo de
Alexandria. Ao seu lado estavam Atanásio, seu diácono e Hósio de Córdoba.
[c] 3º grupo formava a grande maioria, liderado por Eusébio de Cesaréia. Este
grupo não tinha opinião firme e não percebia a importância do assunto. E por medo
do sabelianismo (modalismo) , eram relutantes em condenar o subordinacionismo de
Ário em termos radicais.
[d] Além disso estava a influência do imperador, mais interessado na unidade do
império do que no problema teológico. Ele queria encontrar uma fórmula mais
aceitável que conciliasse a maioria.
[3] Julgando os arianos ser fácil conseguir a adesão do grande grupo, Eusébio leu,
cruamente, a posição ariana. Diante das claras implicações do arianismo os bispos
se escandalizaram e daí em diante a causa ariana estava perdida.
[f] Implicações de doutrina de Ário afetavam a doutrina de Deus e a da salvação.
[1] Introduziu idéias politeístas e adoração à criatura.
[2] Destruiu a base da salvação por negar a divindade de Cristo.
[3] Idolatria.
[g] A fórmula de Nicéia foi aceita sob a sugestão do imperador Constantino ao
apresentar a palavra Homoousios (mesma substância) para acabar com a discussão
de que o Filho não era criatura de Deus. Palavra que diferia de homoiousios, que
significa substância parecida, semelhante. Cristo, na decisão de Nicéia é
consubstancial, ou seja, possui a mesma substância do Pai.
[1] O credo afirmava que o Filho era verdadeiro Deus do Verdadeiro Deus, da
mesma substância – Homoousios.
[2] Além disso o credo (niceno) acrescenta, no final, uma seção de anátemas. Ficava
claro que se visava não deixar nenhum espaço para o Arianismo que a partir daí foi
considerado como herético.
[h] Devido às diversas maneiras como foi interpretada a palavra Homoousios por
diversos grupos, a discussão se estendeu por mais 50 anos.
[1] Homoousios – unidade de substância, tradução aproximada.
[2] Homoousios – unidade absoluta entre o Pai e o Filho, sem distinções
fundamentais (similar a anterior).
[3] Homoousios – eternidade e divindade do Filho. Mesma substância.
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negado pelo arianismo, ao colocar o Filho de Deus como um ser criado, com vida
derivada, não-própria.
[12] – O Problema Cristológico do Final do IV até o VI Século – Como se
relaciona com a humanidade de Cristo com sua divindade? Como pode aquele, que
é Verdadeiro Deus, ser ao mesmo tempo homem? Como um Ser Divino pode
aparecer em forma humana? Em suma, qual a relação entre divino e humano na sua
pessoa? O credo niceno não se preocupava com este aspecto, nem mesmo
Atanásio, o seu grande campeão.
[a] Já por influência de Tertuliano o Ocidente se manteve unido em torno da plena
divindade e da plena humanidade que existiam em Cristo, sem confusão e sem
diminuição das qualidades inerentes a cada um desses elementos.
[b] O Oriente estava dividido por sua teologia mais profunda.
[c] Os dois extremos da questão:
[1] Alexandria – realçou a tal ponto a unidade de Cristo, que acabou falando da
absorção da sua humanidade pela divindade.
[2] Antioquia – afirmou a integridade dos dois elementos (divino e humano), que deu
lugar a se dizer que havia em Cristo dois seres separados.
[d] Apolinário - Sua proposta pode ser chamada de Psicológica. Sua Cristologia é
uma tricotomia. Dizia ele que o homem é composto:
[1] Soma – Corpo.
[2] Psiquê – Alma irracional.
[3] Nous – Alma racional (posição platônica).
Em Cristo o Logos desalojou a alma racional e nela foi colocado o Logos. De tal
forma isso se deu, que apenas o seu corpo era humano. Jesus tinha corpo e alma
animal iguais ao homem, mas sua alma racional era o Logos. Assim o princípio
determinador da vida dele não era a razão humana, mas uma mente divina. Tinha
que ser assim para Apolinário, pois para ele a mente humana era corrompida,
estando a serviço das paixões carnais. Para ele a natureza humana de Cristo foi
transmutada pela natureza divina. Cristo, segundo ele, não recebeu sua natureza
humana da virgem Maria, mas trouxe do céu uma espécie de carne celestial.
[e] Esta posição pecava por negar a realidade da humanidade de Cristo. Sua
posição foi rejeitada sucessivamente por Roma em 377 e 382 A.D., em Antioquia em
379 A.D. e no segundo Concílio Ecumênico de Constantinopla em 381 A.D.
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[1] Apesar disso, Cirilo afirmava que as duas naturezas precisam manter sua
identidade separada. Então, o que ele fez, foi colocar as duas naturezas distintas ao
lado da idéia alexandrina de união física. Este paradoxo, mais nitidamente
delineado, foi finalmente fixado e aceito como definitivo no Concílio de Calcedônia
em 451.
[2] Resumo: “Duas naturezas em uma pessoa. É o Logos que constitui a pessoa de
Cristo, que assumiu a natureza humana e se uniu a ela e agiu através dela. Cristo é
apenas uma pessoa, e esta pessoa leva a marca da natureza divina, embora se
enfatize a distinção entres as duas naturezas.” História da Teologia”, Bengt
Hàgglund, página 82.
[h] Eutiques, abade do Mosteiro de Constantinopla, dizia que Cristo depois de se
tornar Homem, tinha apenas uma natureza (monofisismo). E sua humanidade não
era da mesma natureza da nossa. Foi excomungado em Constantinopla. No Sínodo
de Éfeso em 449 A.D., Eutiques foi posto em seu cargo de novo. Este Sínodo é
lembrado como o “Sínodo dos Ladrões”, porque transcorreu em atmosfera muito
tumultuada, por isso mesmo nunca foi reconhecido como concílio ecumênico.
[1] Foi, nestas circunstâncias, e para desfazer as decisões de Éfeso, que o Papa
Leão I convocou o Sínodo de Calcedônia. A decisão de Calcedônia é o resultado
final das controvérsias cristológicas ocorridas desde o 1º Século.
“Confessamos um e o mesmo filho (contra Nestório que falava da existência de dois
Filhos), Nosso Senhor Jesus Cristo, que é perfeito em divindade (contra o
dinamismo, Ário e Nestório) e perfeito na humanidade com alma racional e corpo
(contra Apolinário), de uma essência com o Pai segundo a divindade e da mesma
essência que nós segundo a humanidade (contra Eutiques), igual a nós em todas as
coisas, exceto que não tinha pecado; que segundo sua divindade foi gerado pelo Pai
antes de todos os tempos, e que segundo a humanidade, nasceu da virgem Maria,
Mãe de Deus, para nossa salvação: um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito,
revelado em duas naturezas sem confusão, sem modificação (contra Eutiques,
Apolinário e outros), indivisivelmente e inseparavelmente, sendo a distinção das
naturezas de nenhum modo eliminada pela união, sendo preservadas as
propriedades de cada natureza, convergindo elas em uma pessoa, uma hipóstase,
não separadas ou divididas em duas pessoas, mas um e o mesmo Filho e Unigênito
de Deus, Logos, o Senhor Jesus Cristo.”
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[1] – Desde 451 A.D., Concílio de Calcedônia, até 1546 na morte de Martinho Lutero,
não houve mudanças na Cristologia.
[a] A única referência, mais significativa, é a Cristologia de Calvino, como explicação
da ceia. Ele dizia que o corpo de Cristo está no céu, localmente limitado, não pode
estar presente nos elementos da ceia de modo físico, substancial.
[b] Só o Espírito de Cristo é capaz de unir os fiéis com Cristo no céu. Pois o Espírito
que não está limitado ao espaço pode unir os pólos separados: fiéis na Terra e
Cristo no céu.
[c] Pela mediação do Espírito, os fiéis podem participar do corpo e do sangue do
Senhor. Esta comunhão ocorre na Ceia do Senhor.
[2] – A fórmula de Concórdia ou Bergisches Buch, formalizada em 1576, fala de uma
Cristologia que surgiu da discussão sobre a ceia, conhecida como (Comunicatio
Idiomatum) comunicação dos atributos. São de três tipos:
[a] Atributos. Os atributos que pertencem a uma natureza, pertencem a mesma
pessoa, que é simultaneamente divina e humana – Genus Idiomaticum.
[b] Os Ofícios. Os ofícios de Cristo (Profeta, Sacerdote e Rei) não são exercidos
apenas em, com e através de uma das naturezas mas em, com e através de ambas.
Genus Apostelematicum. Foi a tradição protestante, a primeira a falar sobre os três
ofícios de Cristo.
[1] Como Rei, Cristo reina sobre os fiéis e sobre a criação.
[2] Como Sacerdote, Cristo apresentou seu sacrifício pelos pecados dos homens e
por eles intercede.
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C – A Teologia e o Iluminismo
[e] Até esta época, a Igreja dirigia cada aspecto da vida do homem. Toda
universidade, sem exceção, na Europa, sempre começava com a Teologia, que era
a rainha das ciências. Neste período, se alguém queria informação sobre qualquer
questão, deveria primeiro perguntar à Igreja, se fosse católico, ou à Bíblia, se fosse
protestante.
[2] – Contudo desde a Renascença, com o seu antropocentrismo, o homem
despertou, a partir do século XV, para as potencialidades do próprio homem. O
homem, com sua capacidade, passou a ser o centro do pensamento em geral:
Filosofia, Literatura, Pintura e Ciências.
[3] – Os séculos XVII e XVIII mergulharam na atmosfera cultural conhecida como o
Iluminismo. A razão, até então, serva da religião, passou a ser o padrão de todas as
medidas. A razão e a Filosofia passaram a ser o meio de se provar a verdade sobre
todas as coisas. A razão é o critério para tudo. A confiança foi posta na razão
humana. Agora a Teologia é serva da razão. Os olhos se voltaram para o mundo
material com toda a sua diversidade. O objetivo da Filosofia era de ensinar o homem
a entender e controlar seu ambiente e gozar a felicidade neste mundo.
[a] Era como se o homem dissesse: Parem de dizer o que devemos fazer. O que
vocês fizeram durante 1700 anos? Quase nada. Então dê uma chance à razão. O
centro da verdade deixou de ser o templo, para ser o laboratório. É a idade da razão
e da liberdade individual de pesquisa. O homem voltado para a religião é substituído
por um homem voltado para dentro de si mesmo e do mundo circundante em busca
das respostas às suas inquirições. O objetivo era explicar o mundo com base nos
princípios da razão humana.
[1] A Revolução Francesa, em 1789, é a hegemonia da razão contra a Igreja e a
Monarquia absoluta. Em 1800 toda a Europa está mergulhada no Iluminismo.
Perdeu-se a confiança na Igreja. Em 1798 dá-se o aprisionamento do Papa Pio VI.
Desaparecem os reis, libertam-se os povos. Surgem as primeiras repúblicas.
[4] – O Iluminismo e Sua Influência sobre a Teologia. Nesta época, a Cristologia foi
muito afetada, assim como as outras doutrinas.
[a] Apenas na 2ª metade do século XVIII que a Teologia Racionalista, Neologia,
começou a aparecer entre os protestantes. Sua primeira característica foi o conceito
de religião natural.
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[1] Há uma religião natural, comum a todos os homens, que os torna felizes, sem a
necessidade da revelação especial. Cristo é visto como um Mestre de sabedoria e
um padrão moral.
[2] A Teologia passou a ser dependente do pensamento racionalista. A
argumentação racional foi posta em pé de igualdade com a revelação e a revelação
devia ser justificada diante do tribunal da razão. Na revelação não se podia
encontrar nada em contradição com a razão.
[a] As verdades bíblicas devem ser despidas do elemento milagroso ou sobrenatural.
Rejeição do que é lendário, místico e sobrenatural.
[3] Tendência moralizante. Moralidade era a principal finalidade do cristianismo.
[4] Concepção individualista. A certeza se baseava na experiência da própria
pessoa.
[5] Humanização do Cristianismo. Preocupação com a felicidade neste mundo.
[6] Ampliação dos estudos textuais e históricos da Bíblia.
[7] Distinguia as verdades permanentes da Escritura e os elementos devido às
circunstâncias do tempo em que foram escritos. Verdades subjacentes.
[8] Negação de igual valor de revelação de todas as partes das Escrituras. A
revelação está na Escritura, mas toda Escritura não é revelação.
[a] Principais teólogos alemães do início do Iluminismo Teológico: Cristiano Wolf,
Johann Lorentz, Hermann Samuel Reimarus, Jean Astruc.
[9] Negação da Religião Ortodoxa. O Racionalismo procurou expor ao descrédito a
religião, especialmente, em sua forma ortodoxa. Luta entre ciência e religião é
sempre o vilão que procura obliterar ou tragar a verdade.
[a] Heliocentrismo – suas consequências.
[b] Evolucionismo – suas consequências.
[c] Comunismo – sociedade mais justa. A religião é uma das barreiras.
[d] Psicanálise. Para Freud, religião é uma ilusão, pois se baseava na recusa de
aceitar a realidade da existência.
[10] Nietzche – Teologia da morte de Deus. Deus estava fora de perspectiva para o
homem moderno. E cabe ao homem ocupar o lugar de Deus.
[11] Autoridade máxima em religião passou a ser a iluminação interior, e não a
Bíblia. A Bíblia foi submetida a um exame crítico-histórico e gramatical. Criticismo.
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[a] Baixa Crítica – trata dos problemas relacionados com o texto e procura pesar o
valor dos manuscritos da Bíblia, procurando sempre o melhor texto. Buscar maior
exatidão das datas atribuídas aos manuscritos mais antigos.
[b] Alta Crítica – Interessa-se pela semântica do texto. Significação das palavras. Ele
procura a lição real dos acontecimentos escriturísticos. Para conseguir isto, eles
precisam fixar bem o tempo quando foi produzida cada passagem da Escritura,
quem a escreveu e para quem. É preciso ter toda a situação contemporânea do
texto em mente. Exemplo: Salmo. Não foi escrito por Davi, como informa a tradição
teológica (ortodoxia), mas é o resultado de cânticos populares surgidos dos
sofrimentos ocorridos pelos judeus no exílio. (Crítica Histórica). Resultados: Moisés
não escreveu o Pentateuco, mas foi escrito pelo menos por 4 autores diferentes.
Semelhantemente, com relação a Isaías – não há profecia, tais textos foram escritos
após terem os fatos acontecidos (Ciro).
[5] – Um dos Desenvolvimentos do Alto Criticismo foi a Teologia do “Jesus
Histórico”. A idéia que o Jesus que viveu na história da humanidade foi diferente do
Jesus dos evangelhos. Para os teólogos da corrente, Jesus histórico, a Igreja
Primitiva e os evangelhos fizeram muitos acréscimos ao relato propriamente bíblico.
Assim, a tarefa deles era fazer um levantamento entre os ditos e feitos de Jesus,
para estabelecer os que lhe eram autênticos.
[a] Por causa do exposto surgiram inúmeras biografias de Jesus no século XIX, cada
uma forcejando por apresentar o autêntico perfil de Cristo. Duas são bem
conhecidas: a Vida de Jesus, de David Friedrich Strauss (M.1836), e a Vida de
Jesus de Renan (1863).
[1] Todas estas biografias procuram eliminar elementos miraculosos. Os milagres,
segundo estes autores, são uma impossibilidade à luz da Ciência, e disseram que
Jesus jamais ensinou ser o Messias ou que o mundo se aproximasse de uma
consumação. Assim, o Jesus da Teologia não é o verdadeiro.
[2] Isto levou alguns a um extremo (Redultio Ad Absurdum), em que eles concluíram
que Jesus jamais existiu, em face da falta de fidedignidade do evangelho. Jesus não
passava de um mito inventado pela Igreja Cristã. Rejeição da natureza divina de
Jesus.
[b] Albert Schweitzer escreveu o livro “A Questão do Jesus Histórico” (1906). Nesta
obra ele fez uma análise das obras sobre o Cristo, neste período, defendendo a
idéia de que estas obras não passavam de representações imaginárias de um
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personagem que nada tinha a ver com o primeiro século, porém, mais parecia um
intelectual do XIX século.
[1] Schweitzer disse que Jesus tinha clara consciência de sua messianidade, e que o
Reino de Deus desceria do céu e a Terra seria recriada.
[2] A ética de Jesus visava nortear a conduta dos seus seguidores até a vinda do
seu reino.
[3] Jesus pensou que enfrentando a morte, apressaria o estabelecimento do reino,
porém tudo não passou de uma ilusão. Jesus se enganou.
[6] – Friederich Schleiermacher (M.1834). Substituiu o relacionalismo do século
XVIII, pelo Romantismo Subjetivo do século XIX em sua teologia. Segundo
Schleiermacher, cada homem tem um sentimento de Deus. Jesus tinha este
sentimento no mais alto grau. E por isso ele mereceu e merece ser chamado de
Deus. Ele não é Deus, mas deve assim ser chamado por causa do alto nível deste
sentimento nele. O que interessa não é sua morte e ressurreição, mas seu
sentimento de Deus (Consciência de Deus). Por isso que só Cristo, por ter tal
consciência, era um homem pleno de Deus, e apenas Ele estava capacitado a
comunicar esta consciência (sentimento) de Deus.
[a] Assim o centro da autoridade religiosa foi deslocado da Escritura para a
experiência do homem.
[b] Pelo fato do pecado ter acarretado uma separação entre Deus e o homem, e com
seus semelhantes, Deus enviou um Mediador do homem na pessoa de Jesus, como
portador do conhecimento, cuja função é comunicar a consciência de Deus, de
modo vital e vitalizante. Esta consciência de Deus é comum a todas as religiões, a
despeito de suas diferenças doutrinárias. Por isso que religião para Ele não é o
assentimento a um corpo de doutrinas.
[1] Para Schleiermacher, religião é a experiência individual subjetiva do sentimento
de Deus, que em Jesus havia em toda plenitude.
[2] Não há, portanto, religiões falsas e verdadeiras, pois todos os progressos da
religião na história são verdadeira religião. O que se deve procurar em cada uma é o
seu grau de eficiência em comunicar o sentimento de Deus.
[a] De todas elas o Cristianismo é a melhor, pois é nela onde se alcança mais
cabalmente o alvo de todas elas: o sentimento (consciência de Deus).
[c] Cristo ocupa o lugar central, pois une o temporal ao infinito, o homem a Deus.
Religião cristocêntrica.
24
[2] Cristo na história não é nem Filho de Deus, nem Filho do homem em sentido
exato. Cristo, apenas, por analogia, ilustra e nos apresenta as ações do Eterno Filho
de Deus e nos fornece o modelo para o papel do homem diante de Deus. Cristo,
como pessoa histórica, não realizou a salvação do homem. No contexto da mesma
história, apenas Ele deu testemunho da salvação eterna, operada
intratrinitarianamente. A realidade da salvação se encontra no decreto divino
efetuado dentro da divindade, antes do tempo.
[10] – Rudolph Bultmann – Em 1941, ele publicou o livro “Novo Testamento e a
Mitologia”. Nesta obra ele fala que universo bíblico do N. T. é incompatível com o
conceito de realidade do homem moderno. Conceitos tais como demônios, milagres,
ações sobrenaturais, preexistência de Cristo, cataclismos mundiais são aceitáveis à
mentalidade moderna. A esses elementos ele os chama de mitológicos, não para
eliminá-los, mas interpretá-los conforme sua finalidade original. A isso Bultmann
chamava de desmitificação, ou seja, a interpretação dos relatos sobrenaturais e sua
significação para a existência humana.
[a] Assim ele reinterpreta a morte e sua relação com a vida presente do homem
moderno. Esta visão teológica de Bultmann é existencialista, e por isso rejeita a
história, pois para o existencialismo o passado nada tem a revelar. Só o presente
apresenta ao homem a realidade das coisas. E Bultmann, através da teologia, quer
dar um novo significado dos elementos da história bíblica, reinterpretando-os e
aplicando às necessidades do homem moderno.
[b] Nesta visão sua cristologia rejeita e reinterpreta a pessoa de Cristo. nega sua
preexistência, divindade, Jesus é apenas um homem excepcional.
28
seguiu a mesma direção de Israel e em 586 A.C. Jerusalém foi, também, invadida e
destruída por Babilônia.
[1] Nos anos que antecederam a estes dois juízos, Miquéias promete um Rei que
trará paz ao seu povo. É o Rei messiânico, que nascerá em Belém, cujas saídas são
desde os dias da eternidade.
[2] O termo é Motsa’oth, era traduzido corretamente como saídas e não origens.
Esta profecia é interpretada no Novo Testamento em referência ao seu nascimento
no tempo (nascimento virginal) e no espaço (em Belém). (Mt 2:5,6; Jo 7:42). A
expressão “cujas saídas são desde os dias da eternidade”, se referem à
preexistência do Messias, pois o termo hebraico não exclui a idéias de eternidade. Sl
90:2 é interpretado por EGW em 1º ME, 248, como falando da preexistência de
Cristo.
[a] EGW, assim interpreta o texto: “declara-se Aquele que tem existência própria,
Aquele que fora prometido a Israel, ‘cujas saídas são desde os tempos antigos,
desde os dias da eternidade”(DTN, 354).
[b] “Cristo é o Filho de Deus, preexistente... falando de sua preexistência, Cristo
reporta sua mente através dos séculos incontáveis. Afirma-nos que nunca houve
tempo que Ele não estivesse em íntima comunhão com o Eterno Deus”.
(Evangelismo, 615).
[2] – Preexistência de Cristo no Novo Testamento.
[a] Textos implícitos sobre a preexistência – vem, foi enviado. O pensamento se
acha contido no texto subrepticiamente (veladamente).
[1] Lc 19:10 – Veio, de onde? Veio antes. Este é o método paciente de Cristo
ensinar – “O Filho do homem veio.”
[2] Mc 10:45 – “O Filho do homem não veio para servir.” De onde?
[3] Mc 2:17 – “não vim chamar justos...” De onde?
[4] Mt 15:24 – “Não fui enviado senão...” – Mulher cananéia.
[5] Jo 3:13 – “Aquele que desceu do céu.”
[6] Jo 6:62 – “Lugar onde primeiro estava.”
Cristo expôs a verdade de sua preexistência, paulatinamente, até poder declará-la
explicitamente.
[b] Textos explícitos sobre a preexistência:
[1] Jo 8:23 – “Eu não sou deste mundo, eu sou de cima”. Nunca ninguém fez tal
declaração. Veio do reino superior.
30
[b] Lc 8:41-42 – filha de Jairo. É dito ter uma filha única, mesmo que houvesse
outros filhos (homem), ela ainda era a mais querida e íntima, por ser a única daquela
espécie (feminina).
[c] Lc 9:37, 38 – Os discípulos lutam com um endemoniado, enquanto ocorre a
transfiguração, sem nada poder resolver. O Pai, em desespero, suplica a Cristo por
seu filho, e querendo persuadir Cristo a ajudá-lo, acrescenta ao pedido o significado
que o filho tinha para ele, é o meu único, Monogenes.
[d] Hb 11:17,18 – Isaque, unigênito (único) de Abraão. É assim identificado, não
apenas por ter sido gerado por Abraão, mas porque ele era o único conforme a
promessa. Ele era único, por ser da espécie da promessa.
[b] Como o Unigênito veio a ser colocado no texto bíblico? Cerca de 380 A. D. as
versões latinas estavam corrompidas, então Damásio, bispo de Roma, pediu a
Jerônimo que fizesse uma revisão nas versões e apresentasse uma que fosse
confiável.
[1] Em 382 A. D., ele partiu para a Palestina, onde estudou o hebraico por 20 anos.
Deste empenho de Jerônimo surgiu a Vulgata Latina, que foi oficialmente,
reconhecida no Concílio de Trento (1545 e 1563).
[2] As versões latinas da época traduziram Monogenes por unicus. Jerônimo,
entretanto, substituiu o termo Unicus por Unigenitus. A base para a sua tradução do
Pai como gerador e o Filho como gerado, é que o Filho de alguém é da mesma
substância do seu pai, assim como um camelo só pode gerar outro da mesma
espécie. Há uma identidade de natureza entre o gerador e o gerado. Esta tradução
só ocorreu nos textos aplicados a Cristo, logo se tratou de uma tradução com
intenção interpretativa.
[3] No pensamento Joanino Jesus é Único (Monogenes), Filho de Deus, exaltado em
status, acima de toda criatura no céu e na Terra, por ter uma exclusiva função, que é
única e singular: a de revelador do Pai e Redentor dos Homens.
[4] Cristo é ainda apresentado em seu caráter exclusivo nos escritos joaninos porque
João lhe reservou o título de Filho, usando a palavra HUIOS só para Cristo (Jo
1:34,49; 5:25; 10:36; 11:4, 20:31; 1Jo 1:3; 3:7,8,23; 5:5,9,10,12,16,20) enquanto
para os filhos dos homens ele usa TEKNA (1Jo 2:12; 3:1,2; 3Jo 3).
[4] – Segunda Objeção – Prototokos, primogênito. Este título é usado para Jesus
com freqüência no N. T. e possui o seguinte significado: Protos – primeiro, Tikto –
refere-se ao momento da criança sair do ventre materno. Em relação a Cristo, o
34
[1] A entronização de um rei era sempre um momento de crise. O novo rei era
inexperiente no ato de governar. Por causa disso os povos vassalos, através de uma
conspiração e motim, aproveitavam o momento para se libertar do domínio do novo
rei.
O primeiro verso, e os versos 4 a 6, declaram a inutilidade desta tentativa vã. Os reis
procuram escapar do domínio do rei de Israel e Deus ri-se, porque Ele dominará a
situação.
[2] Neste contexto da entronização de um novo rei, o Espírito Santo coloca aspectos
que são, inegavelmente, messiânicos. Abraham Cohen declara que no Comentário
Rashi é dito que os rabinos interpretam este Salmo como se referindo ao Rei
Messias.
[3] Nos vv. 7 a 9, Deus está falando ao novo rei no momento da sua coroação, cujo
rei está nesta posição por decreto divino. Este rei é também declarado filho. No Sl
89:27 Deus diz que Davi é seu filho. Por que? Porque no momento da coroação o rei
foi gerado por Deus, na qualidade de seu servo para guiar os destinos do seu povo.
Isto se harmoniza, perfeitamente, com o momento em que Deus prometeu a
Salomão o trono, nesta ocasião Deus disse: “Eu lhe serei por Pai, e ele me será por
filho”. 2Sm 7:14.
[4] Quando Deus diz: “Tu és Meu Filho, Eu hoje te gerei”, não é uma referência à
geração física por Deus em algum dia do remoto passado. Não. Mas refere-se à
coroação do rei, quando o rei passa a ter uma nova relação com Deus, é neste
momento, da coroação, que ele é gerado por Deus.
[5] Os comentaristas judeus apoiam esta interpretação. S. B. Frehof – Sl 2:7 “hoje te
gerei”, quer dizer “este dia você foi ungido rei. Portanto não é nascimento físico, mas
é na colocação no trono.
COHEN – “Eu hoje te gerei”, deve ser entendido figuradamente, com respeito a sua
ascensão ao trono...”.
[b] O mesmo acontece com Hb 1:5, Hb 5:5 e At 13:33. Deve ser entendido
figuradamente segundo a opinião dos judeus.
[1] Hb 5:5 – Refere-se ao início do seu ministério como mediador. Nesta ocasião Ele
foi entronizado para o exercício de sua obra intercessória. (Sl 24:7-10) cf. Mc 16:19
e Zc 6:13. Jesus foi gerado pelo Pai no sentido figurado, espiritual, como o Sumo-
Sacerdote. (Hb 5:7-10). O rei dos reinos da graça (Hb 4:16), e como tal foi coroado.
37
homem após a queda nasce com uma irresistível tendência para pecar, enquanto
Adão não. Rm 5:12.
[2] – Tinha Jesus ou não tendência ou propensão para o pecado?
Alguns ASD pensam que sim outros não. No meu curso teológico tive
representantes das duas linhas: Bruno Steinweg, Elias Gomez e Dean Davis.
[a] É preciso se saber que em alguns casos, para se entender a verdade, deve-se
manter os paradoxos: santidade e pecaminosidade em Cristo, unidade e trindade na
divindade, fraco e forte na vida cristã, liderança e serviço. Em todos estes casos é
conveniente que mantenha os paradoxos bíblicos, por que esta é uma forma de
pensar do judeu.
[b] Neste caso é necessário que se tenha em vista os textos que enfatizam a
semelhança da natureza humana de Cristo com o homem e as suas
dessemelhanças, e como uma pode explicar a outra, dando os limites dessa
similaridade ou desse diferença. Este paradoxo é percebível tanto na Bíblia como no
Espírito de Profecia.
[3] – Textos que enfatizam a Natureza Carnal – 1º grupo.
[a] Fp 2:5-7 – Quando se declara a preexistência divina se usa o verbo Hupárkon, ( u
´Jpa´´´vrcwn ), nom, sing., masc, Part. Pres. At., linear, ação contínua – existindo
permanentemente.
[1] Quando se declara sua humanidade usa-se a palavra Homoiomati (
oJmoiwvmati ), que se traduz por semelhança, similaridade, similitude. E nesta
caso, é que Ele tornou-se (Genómenos), nom, sing, masc., Part., 2º Aor, médio,
pontilear, ação realizada e terminada no passado. A idéia é “veio a ser homem,
nasceu como homem, tendo se tornado homem. Sua definitiva entrada no tempo
através de sua humanidade. A similitude é entre o que Ele é em si mesmo e a
natureza com que Ele apareceu aos olhos dos seres humanos; ou até que ponto Ele
assumiu a natureza humana.
[a] O texto não fala que Ele transformou-se em homem, mas que adquiriu uma
Segunda natureza, semelhante aos homens.
[b] Rm 8:3 – “Enviando seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa” e no
tocante ao pecado ( en oJmoiwvmati sarkov" aJmartiva").
[c] Hb 2:14 “... Os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes
também, Ele, igualmente, participou...”.
41
[1] Quando Cristo diz que não conheceu, não há, e nada tem nele do pecado e seu
originador, Ele está se referindo à natureza, inclinação ou propensão ao pecado e
não só ao ato pecaminoso.
[2] Se houvesse um homem que não pecasse, mas que tivesse propensão para o
pecado não poderia dizer que não conhece o pecado, ou que não há nele o pecado,
ou que Satanás nada tem nele. Pois o princípio originador do pecado como ato está
neste homem.
[a] Por isso Cristo disse: “Quem dentre Vós me vence de pecado” Jo 8:46. Pergunta
retórica de valor negativo. Resposta: Ninguém.
[3] Jo 14:30 – Está dentro do contexto de Jo 14:1-30, onde Cristo fala sobre sua
unidade com o Pai. “Quem vê a mim, vê o Pai.” v. 9 “eu estou no Pai e que o Pai
está em mim”. Ele fala não só de sua unidade, mas de sua igualdade e mútua
habitação. E ao falar da sua relação com o diabo, Ele diz que “O princípio do mundo
nada tem em mim”. Como Deus não pode ter tendência ou propensão ao pecado, e
como Jesus diz que “Eu e o Pai somos um”. “Quem vê a mim vê o Pai” e “Eu estou
no Pai e o Pai em mim”, logo conclui-se que Cristo, à luz da Escritura, não possui
tendência para o pecado. Cristo é Cordeiro perfeito, sem mancha nenhuma, oferta
pelo nosso pecado, portanto sem propensão ao pecado.
[d] Objeção: Não é justo esperar de um homem a mesma perfeição que houve em
Cristo. Jesus não teve tendência para o pecado e o homem tem. Cristo estava em
vantagem. Acontece que Cristo é identificado como o Segundo Adão, possuindo
semelhança de carne pecaminosa, não identidade, o quê o primeiro Adão não
possuía. No plano moral Cristo tinha vantagem em relação a um homem comum,
que tem a carne pecaminosa, mas desvantagem em relação a Adão, que não tinha
semelhança de carne pecaminosa.
[1] No plano espiritual Cristo estava em desvantagem em relação a ambos, porque
tendo a possibilidade de pecar, não podia contar com o perdão, pois o pecado nele
seria a ruína de todo universo e de todo homem.
[2] Sendo que Ele veio como segundo Adão, Ele veio para lutar contra na natureza
moral em que Adão caiu, ou seja, natureza sem propensão ao pecado. A
comparação é feita com Adão, e não com Moisés, Elias, Abraão ou qualquer outro,
mas com Adão. Ele é o segundo Adão.
[a] Cristo veio para mostrar que mesmo em situação desvantajosa em relação a
Adão, que Ele, Adão, poderia viver sem pecado: Cristo não veio mostrar que o
43
homem com tendência para o pecado pode viver sem pecado. Simplesmente,
porque depois da queda nunca houve um homem que pudesse viver sem pecado.
Rm 3:10-12; 3:23; 5:12. Ele veio, sim, para mostrar como o pecador pode ser livrar
do pecado, de sua condenação e do seu poder. Rm 3; 4-8, porque Ele foi isento de
pecado.
[3] Há que diferenciar entre as três seguintes idéias: natureza pecaminosa (qualquer
homem após o pecado), semelhança de natureza pecaminosa (consequências
físicas e biológicas do pecado, mas não propensão ao pecado (Cristo), sem
natureza pecaminosa (Adão antes da queda,...). Cristo foi enviado em semelhança
não em identidade da natureza pecaminosa.
[e] A Bíblia não está falando de duas idéias incongruentes entre si. Mas de verdades
que se completam e explicam. A ênfase na natureza humana, não é para falar de
Cristo como um homem com propensão ao pecado, mas que recebeu uma natureza
humana real, enfraquecida pela lei da hereditariedade por 4000 anos. E que apesar
dessa desvantagem, sua natureza moral sem tendência para o pecado, e sem poder
contar com o perdão, saiu vitoriosa, usando os mesmos recursos que nós
precisamos para lutar contra o pecado: o estudo da Escritura, a comunhão com
Deus e o testemunho. Sendo que o homem conta com a grande vantagem de ter
direito ao perdão.
[5] – A natureza de Cristo e EGW – Há em EGW os mesmos dois grupos de
passagens como na Bíblia.
[a] Primeiro grupo de textos, ênfase na natureza humana de Cristo, semelhante à de
Adão após o pecado.
“Por quatro mil anos estivera a raça a descrer em forças físicas, vigor mental e valor
moral; e Cristo tomou sobre si as fraquezas da humanidade degenerada, mas Nosso
Salvador revestiu-se da humanidade com todas as contingências da mesma...” DTN,
82.
“Cristo carregou os pecados e as enfermidades da raça como existiam... A favor da
raça, com as fraquezas do homem caído sobre si, Ele devia enfrentar as
tentações...” 5BC 1081.
“Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça caída havia sido enfraquecida por
quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão, aceitou os resultados da
grande operação da grande lei da hereditariedade... veio com essa hereditariedade
para partilhar de nossas dores e tentações...” DTN, 33,34.
44
“Tomando sobre si a natureza do homem e sua condição caída, Cristo... foi sujeito
pelas fraquezas e enfermidades que envolvem o homem”. SDA B. C., v.5, p. 1131.
“A fim de realizar seu desígnio de amor em benefício da raça caída, Ele se tornou
osso de nosso osso e carne de nossa carne...” “A fé pela qual vivo”, 48.
“Tomando sobre si a natureza humana em seu estágio decaído, Cristo... era sujeito
às debilidades e fraquezas que atribulam o homem.” 1ME, 256.
“Ele tomou sobre sua natureza sem pecado a nossa pecaminosa natureza. MS, 181.
“Ele tomou sobre sua natureza sem pecado a nossa pecaminosa natureza.”
“O Filho de Deus humilhou-se e tomou a natureza humana, depois de haver a raça
vagueado quatro mil anos fora do Éden e do seu estado original de pureza... Em
favor da raça, tendo sobre si as fraquezas do homem caído, devia Ele resistir às
tentações. 1ME, 267, 268.
[b] Segundo grupo de textos, ênfase na natureza humana sem pecado.
“Cristo veio à terra, tomando a natureza humana na posição de representante do
homem, para mostrar na controvérsia com Satanás que o homem, como Deus o
criou, conectado com o Pai e o Filho, podia obedecer cada mandamento divino.” ST,
8 de junho, 1898.
“Ele (Cristo) começou onde o primeiro Adão começou. Logo, Ele venceu onde o
primeiro Adão caiu”. YI, 2 de junho, 1898.
“Quando Adão foi assaltado pelo tentador no Éden, ele estava sem a tendência do
pecado.” RH, 28/7/1874.
“Ele venceu Satanás na mesma natureza sobre a qual, no Éden, Satanás obteve a
vitória.” YI, 25/4/1901.
“Nós não teríamos receio em olhar para a perfeita ausência de pecado da natureza
de Cristo. “ 5BC, 1131; ST, 9/6/1898.
“Em nenhum momento houve n’Ele uma má propensão”. 5BC, 1128.
“Ele não foi enviado diante do povo como um homem com propensões ao pecado.
5BC, 1128.
“Nunca, de maneira nenhuma, deixe a mais leve impressão sobre a mente humana
que a mancha de, ou inclinação à corrupção ficou sobre Cristo, ou que Ele, de
alguma forma consentiu com a corrupção.” 5BC, 1128, 1129.
“Ele nasceu sem a mancha do pecado.” Letter 97, 1898.
“Ele tomou sobre sua natureza sem pecado nossa pecaminosa natureza, para que
pudesse saber socorrer aqueles que são tentados.
45
D – As Tentações
[1] – Pecado – Da noção do que seja pecado depende nossa noção de salvação,
santificação e justificação.
[a] Pecado pode ser errar o alvo de Deus para sua vida. ( aJmartiva) ou (
aJmarthma).
[1] Pecado como um princípio ou um poder da vida, conjunto de pecados.
[2] Um ato de pecado.
[b] Pecado é o ato de passar além da linha ( paravbasi") –estabelecida por Deus. (Ec
7:16).
[c] Pecado é a desobediência a uma voz. (parakohv).
[1] Ouvir com má vontade que resulta em desobediência.
[d] Pecado é cair quando era obrigado a ficar em pé (ereto). ( paravptwma).
[1] Tropeço, desvio da verdade.
[e] Pecado é ignorância do que se devia conhecer. ( ajgnovhma).
[1] Cegueira moral, ofensa impensada, falta de conhecimento.
[f] Pecado é escassez ou diminuição do que se devia possuir em plenitude.
(h{tthma).
[1] Falta de poder, abatimento.
[g] Transgressão de uma lei. (ajnomiva).
[1] Desobediência, ato contra a lei.
[h] Pecado é uma discórdia. (plhmmevleia).
confiança que Adão foi tentado, nós e Cristo. É neste sentido que Cristo foi tentado
em tudo como nós, a um nível muito mais intenso quanto mais intensa foi a sua
reação para não pecar.
[f] Contudo houve ainda uma outra diferença, em relação à tentação enfrentada pelo
homem e Cristo, que mostra a natureza de sua tentação.
[1] O homem é induzido ao pecado por tentações interiores (Tg 1:14, 13, 15), e por
aquelas que nos induzem a partir do exterior. Só as pessoas com propensão ao
pecado podem sofrer tentações interiores. Cristo não podia ter tal tentação porque
não tinha propensão ao mal. Neste sentido a natureza de suas tentações era
diferente da nossa. Não devia isto causar estranheza, pois quando diz que “foi Ele
tentado em todas as coisas”, diz também a “nossa semelhança” ( oJmoiwvmati), isto
não significa igualdade. Adão foi tentado sem ter propensão e caiu.
[5] – A Resistência de Cristo à Tentação – foi um processo de aprendizagem, que
lhe deu progresso ético ou moral. Hb 5:7-9. Embora seja Filho de Deus, Jesus teve
que suportar com paciência o sofrimento proveniente da obediência, seu progresso
moral, porque Jesus, como em todas as outras coisas, era um aprendiz da
obediência, no sentido que a obediência e sofrimento juntos eram uma maturação
do cumprimento da função cristológica: o seu sacrifício. Cada novo dia através deste
sofrimento na obediência, Ele entendia melhor o significado do Messias sofredor.
[a] Hb 10: 7-10 – Depois de falar da inoperância do sistema sacrifical, mostra que
aquilo em que Deus se deleita é o fazer a vontade de Deus. E esta vontade de
Cristo (de obediência) é que santifica, porém através dos méritos do seu sacrifício,
que é o clímax da sua obediência: obediência até à morte
[1] Esta obediência no sofrimento o conduz desde a tentação no deserto, passando
pelas palavras aliciadoras de Pedro, negação por Pedro, traição de Judas,
abandono dos discípulos, Getsêmane, onde toma a decisão final de sorver até a
última gota do cálice do sofrimento do Messias até ao sacrifício da cruz.
[2] Em todo este processo, a tentação de Lúcifer era oferecer-lhe o mundo que Ele
vinha conquistar sem sofrimento. Contudo Cristo sabia que não podia separar o
sofrimento da obediência. A negação do primeiro implicava a rejeição do segundo. E
sem ambos não haveria redenção. Por isso esta era a vontade de Cristo (Jo 4:31e
34) cf. Jo 17:4. Era a obediência em meio à angústia do terrível juízo, a ira de Deus
contra o pecado, o quinhão de Cristo, a sua missão: Jo 12:20-36.
49
[a] O segredo de sua vitória foi pôr Deus em primeiro lugar em sua vida, isto é, saber
a sua vontade em cada situação. Daí a necessidade de relacionamento pelo estudo
da Bíblia.
[6] - O Conflito na Tentação.
deste mundo. Só poderia haver reino dos céus pela destruição do reino e rei deste
mundo. Pecado e morte são correlativos e ambos pertencem a Satanás cujo reino
se opõe ao de Cristo. O apóstolo João condiciona a presença do reino, ou a
presença da salvação, no fato de Lúcifer ser deitado abaixo (1Jo 3: 8). “Também Ele
participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o
império da morte, isto é, o diabo” (Hb 2:14, 15; Jo 16:11; cf. Rm 8:13 e Fp 2:6-11).
Não sem obstáculos, devia o comandante celestial conquistar a humanidade para
Seu reino. Desde criancinha, em Belém, foi continuamente assaltado pelo maligno...
e nos conselhos de Satanás, decidiu-se que fosse vencido... Foram-Lhe soltas no
encalço as forças da confederação do mal, empenhando-se contra Ele, no intuito de,
se possível, vencê-Lo.1
No princípio desta inimizade inerente dos reinos, está estabelecido o reino de Deus
e a destruição do reino de Satanás neste mundo. Nisto há um paralelo com a
história da queda no A. T. Na inimizade contra a serpente estava o segredo da
reconciliação. Tudo isto se daria através de um descendente que esmagaria a
cabeça da serpente, e a posteridade é Cristo (Gl 3:16). Por isso Cristo rejeitou o
conselho de Pedro que se esquivasse da paixão. O Servo-Sofredor era a sua
missão como Messias.
A missão de Cristo só se podia cumprir através de sofrimento. Achava-se diante dEle
uma existência de dores, privações, lutas e morte ignominiosa. Cumpria-Lhe
carregar sobre Si os pecados de todo o mundo. Tinha de sofrer a separação do
amor do Pai.2
Assim como a tentação se deu em três aspectos, a irrupção do reino, igualmente, se
deu em três níveis correspondentes: Palavra, Confiança e Sofrimento.
O que mantém a vida no reino não é a satisfação da necessidade do pão, mas da
Palavra. Foi pela Palavra que Deus através da história deu o pão. No lançar a
dúvida da Sua filiação divina, Satã quis colocar a ordem de prioridade em sentido
inverso. Primeiro o pão, depois a Palavra. Esta ordem nega a confiança na Palavra e
está posto o pecado. No reino cabe à Palavra a prioridade. O reino de Deus só
irrompe pela primazia da Palavra. Assim toda e qualquer teologia que condiciona o
ouvir a Palavra à satisfação do pão, está estabelecendo o reino de Satanás
pensando estabelecer o reino de Cristo. Era este o propósito último do inimigo que
foi frustrado por Cristo. Assim irrompeu o reino dos céus no mundo pela primazia da
Palavra sobre o Pão.
1
Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, (Santo André, São
Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1979), p. 101.
2
Idem., p. 113.
51
1
Ibid., p. 113.
2
Teologia do Novo Testamento, Op. Cit., p. 148.
52
o que quer significar o texto “én toîs ôsin hynon”. A Escritura caiu em seus ouvidos. 1
E o que eles testificam é que: “apregoar liberdade aos cativos”, “dar vistas aos
cegos”, “pôr em liberdade os cativos” implica em dizer que o reino dos céus está a
irromper (cf. Is 61:1).
Na resposta à pergunta de João Batista “És tu aquele que havia de vir, ou
esperamos outro?” (Mt 11: 2-6), está mais uma vez posto o evento da cura como
cumprimento do tempo salvífico (cf. Is 29:18 e Is 35:5).
As figuras de que lançam mão – luz para os cegos, ouvir dos surdos, grito jubiloso
do mudo, etc. – constituem no Oriente expressões antiquíssimas para dizer o tempo
da salvação, no qual não haverá sofrimento, nem grito de luto ou de dor. 2
Seis vezes, aparece relacionada aos milagres de cura a referência de Jesus à fé: Mc
5: 34, 36; Lc 10:52; 17:19; Mt 8:10; Mc 9:23. Assim as curas concluem com o
pensamento: “A tua fé te salvou”. Em todas estas narrativas há um necessitado em
busca de auxílio, que desistiu de se ajudar, e que só encontra a sanidade nEle,
quando crê nEle. Isto é, confia que nEle se pode concretizar a promessa, e prepara-
se para o futuro, o reino. As mesmas narrativas que falam da fé do indivíduo
asseguram o poder de Deus para operar conforme a necessidade do que O busca.
Fé é a confiança de que o suprimento da necessidade, impossível ao ser humano, é
possível a Deus, porque Ele pode, como se vê em seus atos através da história do
homem e do mundo, como Criador e Redentor. Assim a relação com Deus é o
essencial e a sanidade física pelo milagre, o secundário.
Por isso o essencial nos milagres de Jesus não é a diferença exterior constatável
desses milagres frente ao que normalmente ocorre no mundo, mas a quebra do
esquema da recompensa: o homem recebe graça onde deveria contar com a
desgraça e merecê-la.3
Portanto, o poder salvador do reino de Deus prometido está a irromper. O servo
sofredor toma as doenças dos outros sobre si (Mt 8:17), pondo fim ao poder de Satã.
É a presença do tempo da salvação em realização. O que era a promessa no Antigo
Testamento, o que era pré-anúncio em João Batista, é agora com Jesus Cristo, em
sua tentação, em seus milagres e palavras, a realização do reino dos céus.
Alie-se a isto que havia a crença comum de que toda sorte de doenças era atribuída
diretamente aos demônios. Assim, o oriental via nas curas de Jesus uma vitória
1
Idem., p. 162.
2
Loc Cit.
3
Leonhard Goppelt, Teologia do Novo Testamento, (Petrópolis, RJ: Editora
Sinoda/Vozes, 1976), p. 174.
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sobre os demônios que os possuía. 1 E estas vitórias são a aurora do tempo salvífico.
É sempre um reino espiritual e nunca um reino eterno de Deus sobre Israel como
nação e na presente era. A vitória é o anúncio de que a hora escatológica chegou
em Cristo.
Nas núpcias. Na resposta de Jesus à pergunta: “Por que os teus discípulos não
jejuam?” está configurado mais uma vez o ensinamento da presença da salvação.
As núpcias tiveram seu início, o noivo está presente, há júbilo. Quem pode, em tal
situação, jejuar? Esta é mais uma figura para apresentar a contemporaneidade do
reino. Na declaração de Batista em se declarar amigo do noivo, evidencia-se uma
vez mais este ensinamento. O “sosheben”, amigo do noivo, era uma figura social,
cuja função era fazer todos os preparativos da festa e da noite de núpcias. E guardar
de forma especial o leito conjugal, para o encontro dos noivos. E quando isso
ocorria, a ele cabia desaparecer na escuridão da noite. Assim o encontro de Cristo
com sua noiva era o clímax do banquete nupcial. De forma alguma cabia no clímax
do banquete espiritual o jejum. Cristo encontrou-se com o homem perdido. E a
função de Batista era propiciar este encontro, e não enciumar-se por causa do novo
Mestre. O reino espiritual da graça, no interior do homem, estava presente com a
chegada do noivo que se encontra com seu povo transviado.
1
Joachin Jeremias, Op. Cit., p. 146.
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“Confiava no poder de seu Pai. Foi pela fé, fé no amor e cuidado de Deus que Jesus
repousou, e o poder que impôs silêncio à tempestade, foi o poder de Deus.” Como
Jesus descansou pela fé no cuidado do Pai, assim devemos repousar no de nosso
Salvador”. DTN, 249
“... pela fé saiu Cristo vitorioso”. DTN, 563, 564.
[d] Cristo venceu pela presença interior e graça do Espírito Santo.
“A humanidade de Cristo estava unida à divindade, estava habilitado para o conflito,
mediante a presença interior do Espírito Santo... Deus nos toma a mão da fé e a
leva a apoderar-se firmemente da divindade de Cristo, a fim de atingirmos a
perfeição de caráter”. DTN, 87.
[e] Segredos e alvos na tentação do homem.
“As tentações muitas vezes parecem irresistíveis porque, pela negligência da oração
e estudo da Bíblia, o que é tentado não pode facilmente, lembrar-se das promessa
de Deus e enfrentar Satanás com as armas das Escrituras. CS, 599.
“Se formos a Deus em fé, Ele nos receberá e nos dará força para alcançarmos a
perfeição...” MM, 1974, p. 283.
“Tende o alvo de tornar vossos filhos perfeitos no caráter...” OC, 73.
“Nenhum dos apóstolos e profetas declarou jamais estar sem pecado. Homens que
viveram mais próximos de Deus... confessaram a pecaminosidade de sua natureza.”
AA, 561.
E – A Divindade de Cristo
A divindade de Nosso Senhor Jesus está estabelecida por pelo menos em dez
evidências distintas, que reunidas formam um todo, que estabelece com toda
segurança a divindade dele.
[1] – O título Filho de Deus aplicado por Jesus a si mesmo. Mt 27:41-43 – “Porque
disse: sou Filho de Deus” cf. Jo 8:58,59, cf. Jo 10:28-31 – O pecado de blasfêmia é
acusação lançada contra Cristo com o conseqüente apedrejamento, por se declarar
Deus, que se fundamenta em três afirmações que se equivalem por causarem a
mesma acusação e a mesma pena, são elas: Eu sou, Eu e o Pai somos um, Sou
Filho de Deus.
[a] Outros personagens o reconheceram como Filho de Deus.
[1] Mt 16: 15-17 – Pedro.
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