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APOSTILA DO

HISTÓRIA
DA
IGREJA:
ANTIGA E
MEDIEVAL
HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL

SUMÁRIO
Pág.
- INTRODUÇÃO 03
- CAPÍTULO I
IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA HISTÓRIA 04
- CAPÍTULO II
O AMBIENTE DO PERÍODO NEOTESTAMENTÁRIO 08
- CAPÍTULO III
EXPANSÃO DO CRISTIANISMO NOS TRÊS PRIMEIROS SÉCULOS 11
- CAPÍTULO IV
PERSEGUIÇÃO DA IGREJA NOS SÉCULOS I A III 14
- CAPÍTULO V
OS PAIS APOSTÓLICOS 17
- CAPÍTULO VI
A REAÇÃO DA IGREJA ÀS HERESIAS E PERSEGUIÇÕES 25
- CAPÍTULO VII
A IGREJA NO INÍCIO DA IDADE MÉDIA – 590-1073 A.D 28
- CAPÍTULO VIII
A SEPARAÇÃO DO OCIDENTE E DO ORIENTE 33
- CAPÍTULO IX
O PAPADO 39
- CAPÍTULO X
A IGREJA NA IDADE MÉDIA – 1073-1294 A.D 41
- CAPÍTULO XI
O APARECIMENTO DO PODER MAOMETANO 46
- CAPÍTULO XII
AS CRUZADAS 48
- CAPÍTULO XIII
AS RIQUEZAS DA IGREJA 51
- CAPÍTULO XIV
A PRÉ-REFORMA 54
- CONCLUSÃO 58
- REFERÊNCIAS 59

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL

INTRODUÇÃO

“Um povo sem conhecimento de sua história, sua origem e sua cultura é como uma árvore sem
raízes.”
Macus Garvey

Um dos graves erros, ou poderia até mesmo exagerar e dizer "pecados" da igreja protestante
especificamente a chamada ala "evangélica", pentecostal e neopentecostal é que se esquecem do passado
que deu origem ao que são hoje, que as formou.
A história da igreja produz um certo pavor às diversas religiões, onde expõe não somente suas
origens, e certamente vieram de uma mesma fonte, inclusive as chamadas seitas, como também mostra
suas mazelas e atrocidades, mas também sua trajetória até aqui.
Dentro do contexto cristão evangélico, ocorre este mesmo fator, pois muitos descobrem nela
alguns eventos que aos olhos do leitor não parecem "bíblicos", mas esquecem de que muitos deles foram
nossos "irmãos na fé".
Procuraremos ajudar o aluno neste curso a entender um pouco mais desta história fantástica da
igreja, para que ele possa não apenas compreender de onde foi baseada sua fé e esperança, como também
tirar suas próprias conclusões de que a história, por mais que não parece, ela é cíclica, alguns fatos que
ocorreram ontem, estão ocorrendo agora também. Por isso precisamos estudar e aprender onde houve
erros, e mudarmos de estratégia de vida para que os mesmos não se tornem o fracasso do passado.
Esperamos ajudar com este panorama, entusiasmar e incentivar a leitura e estudo da HISTÓRIA
DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL!

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
CAPÍTULO I

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA HISTÓRIA

A - A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA HISTÓRIA E ESPECIALMENTE A


ECLESIÁSTICA
Este assunto serve de ajuda para trazer um novo amanhã sem repetir os mesmo erros do passado,
mas aprendendo também com os acertos. Verificar porque as nossas denominações creem e praticam o
que fazem. É através da história que os costumes e doutrinas tomaram formas. Conhecer mais
profundamente o corpo de Cristo e Seu desenvolvimento, entender porque algumas igrejas crescem mais e
outras menos. Descobriremos os métodos usados através da história para este crescimento e como se leva
em consideração o contexto social-político e cultural onde a igreja estava inserida. Observaremos também
o dedo de Deus guiando a humanidade aos fins já antes traçados por Ele.

B – O QUE É HISTÓRIA DA IGREJA?


A palavra história vem da palavra grega história, que é derivada do verbo grego historeo. Esta
palavra foi usada pelos gregos da Ática e significava originariamente, aprender pela pesquisa ou
investigação. Paulo usou o termo em GI 1:18 para descrever seu encontro com Pedro em Jerusalém. Isto
leva a um terceiro significado de história, como investigação ou pesquisa para checar e achar dados acerca
do passado. História é uma ciência distinta com um processo de pesquisa. O historiador testa a
autenticidade, genuinidade e integridade de sua informação por meio de um cuidadoso estudo do
background e texto de seu material. Induções válidas podem também ser desenvolvidas à medida que o
estudioso vê padrões aparecerem objetivamente em seu material.
O historiador que, dessa forma, procura respostas para as questões do quem? que? e quando? ou
onde? deve então considerar a pergunta pelo significado de seus dados. Os gregos, que usaram a palavra
historikos como outro termo para história, pensavam na história como sendo o produto da investigação.
Isto sugere a interpretação como um quarto significado de história. Ela é a reconstrução subjetiva do
passado, à luz dos dados colhidos, dos pressupostos do historiador e do "clima da opinião" do seu tempo,
além do elemento da liberdade da vontade humana. Tal reprodução nunca consegue contar totalmente o
passado, porque uma vez que ela é parcial, é sujeita a erros e pressuposições humanas. Um consenso
acerca do passado irá emergir, porém, à medida que um historiador examina o trabalho de outro.
Estudantes, em salas de aula, geralmente estudam este tipo de história. Embora a verdade absoluta acerca
do passado possa ser objeto de frustração para o historiador, ele irá, conforme seus dados permitirem,
apresentar a verdade acerca do passado de um modo objetivo e imparcial.
Desta discussão o estudante deverá ficar cônscio de que história pode ser evento ou
acontecimento, pesquisa ou processo e produto, ou interpretação. A história, como evento, é absoluta,
ocorrendo somente uma vez no tempo e espaço; mas história como informação, pesquisa e interpretação,
é relativa e sujeita a mudança. A história pode ser definida como o relato interpretado do passado humano
socialmente importante, baseado em dados organizados e reunidos pelo método científico a partir de
fontes arqueológicas, literárias ou vivas. O historiador da Igreja deve sertão imparcial na coleta de dados
da história quanto o historiador secular, muito embora reconheça que ninguém pode ser neutro diante dos
dados, uma vez que cada um tratará do material com uma estrutura própria de interpretação.

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A história da Igreja, portanto, é o relato interpretado da origem, progresso e impacto do
cristianismo sobre a sociedade humana, baseado em dados organizados e reunidos pelo método científico
a partir de fontes arqueológicas, documentais ou vivas. Ela é a história interpretada e organizada da
redenção do homem e da terra. Somente se esta definição for observada é que o estudante cristão de
história poderá fazer um relato cuidadoso da história da Fé que ele professa. Neste ponto, os filhos da luz
não podem ficar atrás dos filhos das trevas. Deus é transcendente em relação à criação, mas imanente na
história e na redenção.

C - TRÊS POVOS QUE CONTRIBUÍRAM PARA A APARIÇÃO DE CRISTO.

1) ROMANOS – CONTRIBUIÇÃO POLÍTICA


Embora houvesse muitas regiões fora do domínio do Império Romano, a parte que governava era a
que estava realizando os mais notáveis progressos. Por volta de 50 d. C o Império abrangia a Europa ao
Sul dos rios Reno e Danúbio, a maior parte da Inglaterra, o Egito e toda a costa norte da África e grande
parte da Ásia, desde o Mediterrâneo à Mesopotâmia, ou seja, todas as terras seriam alcançadas pelo
cristianismo durante os três primeiros séculos da era cristã.
a. Unidade Política:
Todos os governos foram derrubados e um poder único dominava em toda a parte. O Código das
12 Tábuas (sistema de leis codificadas durante a primeira República, no século 5 a.C.) foi enriquecido
pelas leis de outras nações. Desse modo todos os povos estavam debaixo de um sistema jurídico como
cidadãos de um só reino, a ideia de unidade foi a garantia de cidadania romana aos não romanos,
agrupando homens de raças diferentes numa só organização política.
A lei romana antecipou um evangelho que proclamaria a unidade da raça ao anunciar a pena do pecado e
o Salvador deste, ou seja, salvação de todos os que queriam integrar-se numa organização universal, a
Igreja de Jesus Cristo.
b. Movimentação Livre entre os povos
Sob um mesmo governo os povos não precisariam estar em guerras, pelo contrário, as viagens e
intercâmbio comercial tiveram grande incremento. Isto permitiu a fácil e segura movimentação dos
primeiros cristãos nas cidades onde pregaram o Evangelho.
c. Ótimo sistemas de estradas:
As estradas romanas de concreto, chegavam aos pontos mais distantes do império. As cidades
localizadas estrategicamente às margens das estradas puderam concretizar missão de Paulo. A Palestina
era um importante cruzamento que ligava os continentes da Ásia e da África com a Europa por via
terrestre (At 26:26)
d. O papel do exército romano
Os romanos usavam os habitantes das províncias no exército como forma de suprir a falta de
cidadãos romanos atingidos pela guerra. Os provincianos entravam em contato com a cultura romana e
ajudavam a divulgar suas ideias através do mundo antigo. Muitos desses soldados converteram-se ao
cristianismo e levaram o Evangelho às regiões para onde eram designados.
e. As conquistas romanas:
As conquistas romanas levaram muitos povos a falta de fé em seus deuses, uma vez que eles
não foram capazes de protegê-los dos romanos. Tais foram deixados um vácuo espiritual que não estava
sendo satisfeito pelas religiões de então. Os cultos de mistérios pareciam oferece ajuda espiritual, mas

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quando descobriam que nada podiam fazer, correram para o cristianismo e encontraram respostas para
suas vidas.

2) GREGOS – CONTRIBUIÇÃO INTELECTUAL


Graças a influência da cultura grega que a cultura rural da antiga Republica deu lugar à cultura
intelectual do império. Daí a denominação greco-romana ao mundo.
a. Uma Língua Universal:
Foi através do dialeto do homem comum (Koinê), diferente do grego clássico, que os cristãos foram
capazes de se comunicar com povo do mundo antigo, usando – o inclusive para escrever o NT do
hebraico, trazendo-nos a Septuaginta.
b. A Filosofia grega:
A filosofia grega preparou caminho para a vinda do cristianismo por ter levado à destruição as
antigas religiões. Mas a própria filosofia falhou na satisfação da necessidade espiritual do homem. A
filosofia descera do seu ponto mais alto com Platão para um sistema de pensamento individualista egoísta,
como o epicurismo e o estoicismo. A filosofia apenas esperava por um Deus, fazendo dele uma
abstração; jamais relevava um Deus pessoal de amor. O cristianismo ofereceu aquilo que a cultura grega
não conseguiu: uma perspectiva espiritual para a vida.
c. Os gregos levaram o povo a pensar:
A influência dos gregos se estendeu por todo o mundo antigo, aprofundando o pensamento dos
homens nas ideias e pesquisas relacionadas com as grandes perguntas da vida: origem e significado do
mundo, existência de Deus e do homem, bem e mal, etc. O interesse por novidades e acurada busca do
desconhecido fez da mensagem cristã o centro da atenção dos gregos
Ora, todos os atenienses e estrangeiros residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer
e ouvir a última novidade. (Atos 17:21)

3) JUDEUS - CONTRIBUIÇÃO RELIGIOSA


As contribuições dos gregos formam as heranças do cristianismo. O cristianismo pode Ter se
desenvolvido no sistema político de Roma e encontrado ambiente intelectual criado pela mente grega,
mas seu relacionamento maior foi com o judaísmo. Os judeus não queriam encontrar a Deus pela razão,
eles pressupunham sua existência já que o cultuavam
Movidos pela missão recebida de Deus que se revelara a respeito de si mesmo e de sua vontade
soberana em tempos antigos. A medida que recebiam nova revelação progressiva, eles preservaram tais
ensinos na pureza e integridade até cumprir-se a plenitude dos tempos. O judaísmo tornou-se o berço do
cristianismo e ao mesmo tempo forneceu abrigo inicial a nova religião.
a. Monoteísmo:
O judaísmo contrastava flagrantemente com a maioria das religiões pagãs, ao fundamentar-se num
sólido monoteísmo espiritual. Nunca, depois da sua volta do cativeiro babilônico, os judeus caíram em
idolatria.
b. Esperança Messiânica
Um Messias é quem estabeleceria a justiça na terra. O que possibilitou os judeus e outros povos
receberem a nova religião foi a esperança de um salvador divino, já que no mundo greco-romano pairava
completo desespero e desilusão.
c. Sistema Ético
Na parte moral da lei judaica, o judaísmo também ofereceu o mais puro sistema ético de então.

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d. O antigo Testamento:
O povo judeu, ademais, preparou o caminho para a vinda do cristianismo ao legar à igreja em
formação um livro sagrado, o Velho Testamento. Muitos gentios conheciam leram o Velho Testamento e
por isso se tornou mais fácil para muitos deles passarem para o cristianismo, ou seja passaram a conhecer
a salvação por meio de Jesus Cristo.
Por causa do cativeiro que sofreram, muitos judeus se espalharam onde fixavam residências,
erigiam sinagogas conservando sua religião (sinagoga era o ponto de pregação do cristianismo primitivo,
além dos lares). De todas as religiões praticadas no império romano no tempo de Jesus somente o
cristianismo e o judaísmo conseguiram sobreviver.

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CAPÍTULO II

O AMBIENTE NO PERÍODO NEOTESTAMENTÁRIO

A - A INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE


A revelação, tanto do Antigo como do Novo Testamento, foi dada dentro de realidades concretas
da história. Assim temos que a forma e o conteúdo da revelação, e assim da religião, estão intimamente
ligados à realidade então existente. Por isso, para compreender o cristianismo é necessário vê-lo dentro do
mundo em que apareceu e desenvolveu-se.
O mundo religioso que imprimiu suas marcas na nova "seita" judaica era composta de judaísmo,
helenismo e religião oficial romana, bem como das religiões de mistério. A situação socioeconômica da
época também foi importante quanto à formação e expansão da igreja primitiva.

B - O MUNDO PAGÃO NO PRIMEIRO SÉCULO DA ERA CRISTÃ


O helenismo começa a fazer-se sentir muito cedo na Igreja, desde o dia de Pentecostes quando os
helenistas se converteram. Logo o grupo tornou-se minoria importante e exigiu atenção especial (At:6).
Primeiro Estevão e depois Paulo foram seus grandes líderes. E Antioquia da Síria um grande centro.
O mundo helênico era aquele dos grandes filósofos gregos (Platão, Aristóteles, Epicuro, etc.), mais
o da mentalidade antiga grega. Alexandre Magno não só conquistou o mundo no IV século a.C., mas
também tentou implantar o helenismo em todos os países conquistados.
No Egito fundou a cidade grega Alexandria. Na Palestina implantou 10 cidades na região leste do Mar da
Galileia (Decápolis). A civilização grega trazia em seu bojo não só a linguagem que se tornou universal,
mas também sua literatura, arte filosofia e ciência.
O pensamento grego contra o qual os escritores do NT investem é as vezes platônico/gnóstico.
Outras vezes é o estoicismo. Lutam também contra a tendência sincretista, tendência esta que assimilaria
elementos estranhos dessas mentalidades ao evangelho. Alguns desses elementos são: A matéria em si é
portadora do mau. Há um conhecimento esotérico só para os iniciados. Dualismo metafísico. Jesus era
das emanações divinas a mais inferior. Antinomismo. No fim do primeiro século veio uma curta mas
grande perseguição na Ásia Menor, devido ao fato que os cristãos recusaram queimar incenso a César. O
Pastor de Hermas (escrito patrístico), que data do segundo século, procura resolver o que a Igreja deve
fazer com os "lapsos", isto é, os que queimaram incenso mas querem agora voltar à Igreja.

C - O MUNDO JUDAICO
O mundo judaico em que Jesus viveu e o cristianismo nasceu era uma sociedade complexa, cheia
de tradições que vinham desde os tempos da volta do cativeiro e, especialmente, desde o período dos
Macabeus.
Os partidos político-religiosos dividiram entre si a lealdade dos judeus de então. Temos: os
saduceus, sacerdotes, basearam-se só em Moisés. Colaboraram com os poderes estrangeiros para manter o
controle do poder. Os fariseus, peritos nas Escrituras e dirigentes do ensino religioso no pais, aceitaram o
AT todo. Sendo descendentes do movimento macabeu tendiam para o xenofobismo. Os zelotes surgiram
duma ala deste partido.

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Os herodianos eram aqueles "camaleões" que mudavam de partido em partido para manterem-se
na graça do poder político da hora. Os essênios formavam uma comunidade monocrata que retiravam-se
da vida judaica e procurava viver conforme as regras do "Mestre de Justiça". Desses, foram os fariseus e
essênios que deixaram maior marca no cristianismo. Embora os apóstolos adoravam constantemente no
templo nos anos logo pós a crucificação de Jesus, foi da sinagoga que tiraram o formato para a
organização da igreja local, bem como para seu culto. Até hoje os cultos mantêm elementos que vieram
direto do culto realizado na sinagoga.
A sinagoga era o lugar principal dos judeus adorarem a Deus e serem ensinados na lei e nos
ensinos do judaísmo. Havia uma abertura para o helenismo nas sinagogas da diáspora, que por sua vez
teve seu reflexo nas igrejas fundadas por Paulo.

D - A SITUAÇÃO SOCIO-RELIGIOSA NO MUNDO ROMANO


Ao redor do Mar Mediterrâneo vivia uma população de 100 milhões de habitantes. Paz Augusta:
restauração da república salva e sã sobre suas fundações, foi o ideal de Augustus. Foi uma tentativa para
solucionar os problemas de sua época em termos consistentes com o pensamento e aspirações da
antiguidade clássica. Procurava associar a noção de poder com a de serviço e assim justificar a
ascendência de Roma sobre o mundo mediterrâneo e dos césares em Roma.
Assim, o principado, com todos seus defeitos, foi dedicado a restabelecer o bem comum. Os césares
foram compelidos a manter uma política de paz, um resistir da tentação de adquirir novos territórios. O
primeiro aspecto da tarefa foi a manutenção e extensão dos direitos civis individuais. Com esta paz
surgiram estradas e o crescimento do comércio internacional. Era possível viajar com bastante segurança.
Estava aberto o caminho para a disseminação de ideias e religiões. Mas o próprio Império, para incluir
todos os povos, contribuía para a decadência das religiões nacionais.
Socialmente, a aquisição do Império transformou os agricultores romanos num bloco de magnatas
proprietários em confronto com uma massa submergida de proletários, súditos e escravos. Na conquista
do mundo os romanos prepararam uma virtual servidão para todos, menos alguns poucos em cujas mãos
estavam os meios de explorar o controle do poder econômico-político.
Entre a população o circo tomou o lugar dos banquetes dos ricos. No tempo de Cato, o "tigre"
romano adquiriu seu gosto pelo sangue. A Ambição política se esforçou para descobrir meios de satisfazer
um apetite voraz e depravado. A solução tomou a forma de espetáculos cada vez mais elaborados e
sangrentos. Em toda parte do Império Romano predominavam uma férrea escravidão, em que a vida e
bens do escravo estavam totalmente dependentes de seus senhores. Também calcula-se o número dos
mendigos na cidade de Roma como sendo cerca de 200 mil no período Neotestamentário. Foi em parte
para apaziguar estes que os césares deram cada vez mais ênfase aos espetáculos do coliseu.
No aspecto religioso, as religiões eram nacionais e muito pouco havia de decisão ou ligação
pessoal. Por isso as religiões de mistério e o cristianismo exerceram grande atração. Os mitos religiosos
da história greco-romana haviam perdidos quase toda sua vitalidade embora a forma de culto ainda era
mantida. O culto imperial surgiu como público reconhecimento oficial das qualidades superiores
encarnadas na mente e coração da cidade e seu governante. Exprimiu-se em veneração do imperador vivo
e deificação do imperador morto.
O culto de Júlio César deificado foi devidamente autorizado pelo senado em 42 a.C. após a vitória
dele na guerra civil. As religiões aprovadas pelo colégio pontifico correspondiam só a uma norma: a
manutenção da paz dos deuses. E para isto qualquer um serviria enquanto é sentido ser politicamente
expediente, isto é, preservava a ordem social.

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As religiões de mistério, de origem grega, exerceram grande atração nas massas: orfismo,
mitraímo, culto de Isis, etc. Elas tinham semelhança superficial com o cristianismo.

E - O MUNDO PREPARADO
Jesus nasceu dentro deste contexto e que biblicamente se conhece como "plenitude dos tempos"
Gl:4:4-5. A igreja, respondendo às ansiedades da época com a revelação de Deus em Jesus, conseguiu
rapidamente conquistar o Império.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
CAPÍTULO III

EXPANSÃO DO CRISTIANISMO NOS PRIMEIROS TRÊS SÉCULOS


A - INFORMAÇÕES PRELIMINARES
Os dados quanto `a expansão do cristianismo nos primeiros séculos são precários. As vezes tem
que ser deduzidos de outros. Por exemplo, deduz-se o tamanho da igreja em determinada localidade do
número de bispos (ou viúvas) que ali estavam. Há uma série de razões que explicam esta falta de dados.
Vejamos algumas:
1) A igreja primitiva se interessava em ganhar pessoas para Cristo, não em contá-las. Embora
Atos fale de 3.000 e de 5.000 (2:41; 4:4), em geral fala de "grande número", "multidão" ou
outros termos indefinidos.
2) Também como era considerada uma "religião ilícita" os crentes de então procuravam não
aparecer e assim chamar atenção a si mesmos.
3) Além do mais, o historiador Lucas, como cronista da expansão da Igreja, tem seu interesse
limitado pela visão da chegada do Evangelho em Roma. Assim abandonou a história de Pedro
em 12:17 e a de Paulo logo que este chegou lá. Dos demais movimentos de crescimento só
relata no que tocam a este objetivo (Atos 8:4; 11:19).
4) Ainda temos o fator de perda de quaisquer documentos que porventura existiram devido a
precariedade da vida desta comunidade primitiva.

1) PRIMEIRA EXPANSÃO DA IGREJA


Devido à natureza fragmentária dos dados, é possível darmos peso demais às viagens missionárias
de Paulo e da expansão que as acompanhou (Ásia Menor, Grécia, etc.). Não temos, por exemplo,
conhecimento de como ou por quem o evangelho chegou a Alexandria ou a Roma. Também vemos uma
congregação em Damasco antes da conversão de Paulo (At:9:1-19), que certo historiador batista, sugere
ter surgido a partir de contatos com os discípulos na Galileia. Alguns pensam que a missão paulina tenha
desabado logo após da sua morte. Os primeiros agentes da expansão missionária provavelmente foram os
convertidos do dia de Pentecostes (At:2:9-11) que levaram o evangelho consigo quando voltaram para
casa. As regiões alistadas no texto já indicam a larga gama de países do mundo de então.
Uma segunda leva de "missionários" foram aqueles que foram espalhados por toda parte na
perseguição que seguiu o martírio de Estevão At:8:4. Estes foram pregando na Fenícia, no Chipre e na
Antioquia, mas sempre aos helenistas. Um dos convertidos de Chipre e de Cirene (Líbia) pregaram aos
helenos (gregos) em Antioquia. Como resultado da evangelização do eunuco por Filipe surgiu a Igreja na
Etiópia: At:8:26-39. Parece ser evidente que Paulo não foi o único missionário trabalhando fora da
palestina. Além das viagens de Barnabé e Marcos (At:15:39), há referência a outros em Rm:15:19-20.
No período apostólico de expansão do evangelho, o NT relata a presença de crentes nos seguintes
lugares sem nos indicar quem o levou ou como ouviram: Roma, Bitínia, Mísia, Pontus, Capadócia
(1Pe1:1), Tiro, Sidom, Puteoli (perto de Nápoles). Tudo isso parte da obra missionária paulina.

2) EXPANSÃO NO IMPÉRIO ROMANO LESTE


Nos dados fragmentários que temos podem ser observado algumas regiões da expansão no Leste.
Na Fenícia a fé bem no início parece ter sido mais forte do que na própria Palestina. Entretanto é provável
que aqui, como em quase todo o império, o cristianismo era um fenômeno urbano, desenvolvendo-se

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especialmente nas cidades costeiras. Tiro possuía uma igreja muito forte. Na Síria se desenvolveu duas
comunidades cristãs: a de fala grega que teve seu início em Antioquia e que se expandiu através de rotas
comerciais às cidades de fala grega na Síria. Embora a igreja de Antioquia possa ter sido bilíngue desde
cedo, a comunidade de fala siríaca teve seu núcleo principal ao leste na cidade de Edessa. Foi de aqui que
expandiu o cristianismo siríaco. A força da igreja na Síria pode ser constatada pela presença de 20 bispos
seus no Concílio de Nicéia em 325.
Na Ásia Menor, foi área de trabalho de pelo menos dois apóstolos, Paulo e João, o cristianismo
tinha sido adotado mais largamente do que qualquer outra região grande do Império até o fim do III
século. Seu crescimento maior parece ter sido nas cidades onde a cultura local estava desintegrando-se
diante do impacto da cultura que chegava, a greco-romana. Nas cidades helênicas era menor e nas cidades
onde a educação helenista era desconhecida era quase inexistente. A carta de Plínio ao imperador Trajano
na segunda década do II século atesta a larga expansão do cristianismo nas cidades e até no quadro rural
de Bitínia. Apesar da obra missionária de Paulo o número de cristãos na Grécia e nos Balcãs parece ter
permanecido minoria até a ascensão de Constantino.

3) EXPANSÃO NO IMPÉRIO ROMANO AFRICANO


Quanto ao Egito a tradição faz de Marcos o missionário que lá plantou o evangelho. Sabemos que
Apolo era de Alexandria, mas não sabemos se converteu-se lá ou se voltou para lá após sua conversão.
Até o fim do segundo século a igreja já estava forte. Já incluía várias linhas teológicas, das quais uma das
mais fortes foi o gnosticismo. Em Alexandria se desenvolveu mui cedo a famosa escola catequética em
que teve entre seus professores Clemente e Orígenes. Já neste período traduções de porções das Escrituras
foram feitas em línguas indígenas dando condições para o desenvolvimento da Igreja Copta. Na costa do
norte da África o cristianismo se alastrou cedo especialmente nas regiões da Líbia, Tunísia, e Algeria. O
progresso do cristianismo nesta região parece ter sido muito rápido, especialmente no III século. Foi daqui
que surgiu Tertuliano, Cipriano e, mais tarde, Agostinho. A igreja parece ter sido mais forte nas cidades e
entre a população que falava latim.

4) EXPANSÃO NO IMPÉRIO ROMANO EUROPEU


Na Itália: O evangelho chegou a Roma antes de Paulo, mas talvez não muito antes da agitação que
resultou na expulsão dos judeus sob Cláudio (41-54) por causa dum certo "Chrestus” (At:18:1-3). Até o
ano 250 a igreja em Roma cresceu sobremaneira. Uns calculam 30.000 membros; outros acham que foram
muito mais. Até meados do III século na Itália havia cerca de 100 bispos. Com a expansão rápida do
cristianismo que ocorreu nas últimas décadas daquele século, calcula-se que quase toda a cidade no
centro-sul e na Sicília tinham um núcleo de cristãos. A penetração do norte da Itália foi bem mais lenta e
veio da Dalmácia e regiões ao leste.
A Espanha, embora romanizada antes da África, foi muito mais lenta em receber o Evangelho.
Cedo no III século o cristianismo parece firmemente estabelecido no sul, nas cidades costeiras.

5) AVANÇO DO CRISTIANISMO AO LESTE ALÉM DOS LIMITES DO IMPÉRIO ROMANO


A tradição indica que Tomé foi aos Partos e a Índia; Mateus a Etiópia; Bartolomeu a Índia e André
aos Citos. Edessa estava localizada nas grandes rotas comerciais que corriam entre as montanhas da
Armênia ao norte e os desertos da Síria ao sul. Até o fim do II século estava fora do império romano e
dentro da esfera da influência dos Partos. A sucessão de bispos remonta a fins do II século. Embora centro
de cultura grega, o cristianismo de Edessa era siríaco.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
No início do III século poucas cidades continham mais crentes que Edessa. Até o fim do século
parece que ela estava predominantemente cristã. Edessa parece ter sido o ponto de onde o evangelho
penetrou mais na Mesopotâmia e até os limites da Pérsia. As antigas religiões da Babilônia e da Assíria
estavam em desintegração e não ofereceram muita oposição ao cristianismo. A oposição surgiu
principalmente do zoroastrismo que mais tarde se tornou a religião do Estado persa (meados do III
século).
Os primeiros convertidos aparecem cerca de 100 a.D. Até o fim do primeiro quartel do III século
havia mais de 20 dioceses na Mesopotâmia. No leste o cristianismo não só não teve os mesmos êxitos que
conseguiu no império, como também eventualmente quase desapareceu. Isto possivelmente se deva a três
razões: A política religiosa dos Sassanidas (dinastia persa) que favoreceu o zoroastrismo. A forte
hierarquia deste com o apoio da monarquia levantou uma forte resistência ao cristianismo. Também o
próprio êxito do cristianismo no império, após sua adoção por Constantino, o tornou a religião do inimigo
principal dos persas. E por último, a forma herética em que o cristianismo foi pregado nesta região.

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CAPÍTULO IV
PERSEGUIÇÃO DA IGREJA NOS SÉCULOS I A III

A - INTRODUÇÃO
A política dos imperadores romanos era tolerar as religiões das nações que eram vencidas nas
guerras. As religiões nacionais faziam parte da cultura local. Assim o judaísmo, embora proselitista por
natureza, foi tolerado como religião lícita. Mesmo assim o povo não gostava dos judeus por diversas
razões. O cristianismo foi tolerado ao princípio bem como participou do desgosto popular como seita do
judaísmo. Quando perceberam que não era uma seita do judaísmo foi proscrito. Para os romanos o Estado
era o principal. Assim a religião era promovida apenas quando servia aos objetivos do Estado. Logo o
Cristianismo foi proscrito por duas razões:
1) Primeiro, entrava em competição com o Estado, pois ambos pretendiam a lealdade universal.
2) Segundo, não contribuía para promover o Estado uma vez que podia ser manipulado para
ajudar controlar qualquer país conquistado pelos romanos.
As fontes que possuímos a respeito das perseguições, além das Escrituras, são conhecidas como
"atas dos mártires", que consistem em descrições mais ou menos detalhadas das condições sob as quais se
produziram os martírios, as prisões, encarceramento e julgamento do mártir ou mártires em questão, e por
fim sua morte. Outras notícias chegam através de outros documentos escritos por cristãos que de algum
modo se relacionam com o martírio e a perseguição. O exemplo mais valioso desta classe de documentos
é a coleção de sete cartas escritas por Inácio de Antioquia a caminho do martírio. Também existem
algumas correspondência onde se apresenta algumas atitudes dos pagãos diante dos cristãos,
especialmente a atitude de governantes.

B - RAZÕES DAS PERSEGUIÇÕES DA IGREJA


Ao longo dos primeiros três séculos do cristianismo havia tanto a competição entre as religiões
como o espírito de tolerância. Embora nunca tomaram recursos de armas para se defenderem, os cristãos
foram o único elemento social perseguido por período prolongado. A falta de participar em festas e ritos
idolatras dos templos bem como sua hostilidade a outras religiões levou o mundo da época considerarem
os cristãos de ateus e inimigos dos deuses.
Também os cristãos passaram a se reunir de noite e em segredo e começaram a mostrar afeição uns
pelos outros. Ao mesmo tempo celebravam a ceia do Senhor (comer o sangue e o corpo de Jesus) deu
margem às acusações de antropofagia ou canibalismo. Assim durante décadas foi lhes atribuído as
seguintes acusações: ateísmo, licenciosidade e canibalismo.
O cristianismo chocou as sensibilidades dos filósofos e dos mais educados justamente pelo
entusiasmo de seus adeptos. Pior, entraram em conflito com os vendedores de ídolos e os comerciantes da
idolatria. Trouxe assim contra eles a má vontade duma classe poderosa.

C - MAIORES PERSEGUIÇÕES
A igreja foi alvo de maiores perseguições no período que vai de Nero a Diocleciano (64 – 305).

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
As perseguições universais só apareceram após o ano 250 quando a Igreja já estava mostrando ser
forte em todo o império. As perseguições locais começaram com Nero em 64 e se estenderam com pouca
frequência até 250.
 NERO: A perseguição iniciada por este imperador foi feroz e se restringiu aos limites da capital do
império. Milhares de pessoas foram mortas das maneiras mais cruéis, entre eles o apóstolo Paulo.
Depois da destruição de Roma em 64 por fogo, Nero precisava de um bode expiatório e usou os
cristãos para desviar a culpa dele mesmo.
 DOMICIANO (81-96) - Promoveu uma perseguição muito severa em Roma e na Ásia Menor, as
duas onde o cristianismo parece ter se expandido mais até então. Esta perseguição parece ter
acontecido um pouco antes da sua morte. Envolveu a morte do cônsul Flávio Clemente e sua esposa
Flávia Domitila.
 TRAJANO: (98-117) proibiu as sociedades secretas, inclusive o cristianismo.
 ADRIANO: (117-138) e ANTONIO CRISTÃO (138-161) seguiram a mesma política de Trajano, a
saber, não procurar os cristãos para condená-los, mas julga-los se forem apresentados. Aliás parece
que Antônio promulgou um edito protegendo os cristãos contra violência das multidões.
 MARCO AURÉLIO: (161-180), o cristianismo se tornou um elemento importante da sociedade e as
perseguições tiveram a finalidade de restaurar o paganismo em declínio. Embora homem culto e
estoico, os cristãos sofreram mais sob Marcus do que qualquer imperador até então. Deu força
redobrada à lei. Mesmo assim a perseguição não foi universal. A perseguição feroz aconteceu em
Lyon e Viena no sul da França. Foi nesta que Justino foi martirizado em Roma em 165.
 COMODUS: (180-193), foi o imperador mais favorável aos cristãos que todos os anteriores.
 SÉTIMO SEVERO: (193-211) no princípio foi favorável ao cristianismo. Em 202 promulgou uma
lei proibindo conversões ao judaísmo e cristianismo. A perseguição surge no Egito e em Cartago. As
perseguições universais surgiram logo após 248 em que foi celebrado o 1.000 aniversário do império
romano.
 DÉCIO (249-251) decretou uma perseguição em todo o império em 250. Durou intermitentemente até
o ano 260 quando Valério (253-260) seu companheiro morreu. A lista de mártires é muito grande.
Muitos cristãos não conseguiram manter a fé.
 GALENIUS: (260-268) não houve mais perseguições até o período de Diocleciano.
 DIOCLECIANO: (284-316) foi contra os cristãos desde o início. Em 295 exigiu que todos os
soldados fizessem culto ao imperador. Em 303 acusou os cristãos de ter incendiado o palácio dele.
Publicou um edito que privou os cristãos de liberdade e forçados a cultuar o imperador em 303.
Também quis destruir as Escrituras. Esta última perseguição durou até o edito de tolerância de
Constantino.

D - AS CONSEQUÊNCIAS DAS PERSEGUIÇÕES DA IGREJA


As perseguições locais por serem limitadas no tempo e no espaço não trouxeram grande número
de mártires. O número de cristãos que negaram sua fé também não foi grande. No entanto era suficiente
para criar problema dos lapsos (aqueles que caíram). Por outro lado, o fato de serem de curta duração
criou as condições pelas quais "o sangue dos mártires foi a semente da Igreja". As perseguições
universais, mostraram que a igreja estava "gorda" nestes séculos, a perseguição intensa, universal e
demorada arrasou a Igreja. Muitos negaram a fé, outros tantos foram exilados do império. Mesmo assim a
lista daqueles que deram sua vida pela fé nas perseguições de Décio a Diocleciano foi muito grande.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
A Igreja conseguiu sobreviver e crescer ainda mais devido à relativa paz de 40 anos entre as duas
perseguições e o Edito de Milão. O problema dos "lapsos" (caídos) foi muito agudo nos séculos II e III.
Hermas (O Pastor) e Cipriano (De Lapsis) escreveram tratados sobre a questão. O que se deve fazer com
os que negaram a fé e queimaram incenso a efígie de César? A Igreja elaborou algumas respostas: A
igreja de Roma em geral foi indulgente com os lapsos, recebendo-os de volta com a simples confissão de
seu pecado. Existia um rigor contra os lapsos, eles não teriam mais direito de fazer parte da Igreja.
Hermas (que escreveu o livro O Pastor) representa uma posição mediadora que aceita uma única queda.
Os lapsos seriam aceito de volta, mas não mais para o lugar de líderes. Os lapsos seriam membros de
"segunda classe" na Igreja. Embora Cipriano é muito duro com os lapsos, ele os chama a um abundante
arrependimento para demostrar sua tristeza e aflição, sem desesperar da misericórdia de Deus. Apenas
estes seriam recebidos de novo na Igreja.

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CAPÍTULO V
OS PAIS APOSTÓLICOS
A - INTRODUÇÃO
O nome de "pais apostólicos" foi dado no século XVIII, entendendo que estes escritores da igreja
primitiva haviam vivido e escrito no I século da era cristã. Acontece que estudos posteriores mostraram
que grande número destes escritos são do II século. A organização deste período é relacionado com o
concílio de Nicéia, são: antinicenos, os nicenos e os pós-nicenos. Os antinicenos são divididos por sua vez
entre apostólicos, apologéticos, polemicistas e científicos. O período dourado da patrística foi no período
pós-niceno.

1) INÁCIO 67-110 d.C


Piedoso discípulo do apóstolo João e bispo de Antioquia, Inácio foi preso por ordem do imperador
Trajano, quando visitava essa Cidade. O próprio Trajano presidiu seu julgamento em Roma. De viagem
para esta cidade escreveu uma longa carta aos cristãos romanos pedindo-lhes que evitassem conseguir o
seu perdão junto ao imperador, pois ansiava ter a honra de morrer pelo seu Senhor. Nessa carta dizia ele
que levava o apelido de “o portador de Deus”, o que indica o respeito que gozava na comunidade cristã.
O propósito, como ele mesmo diz, é ser imitador da paixão de seu Deus, isto é, de Jesus Cristo.
Diz ele “Quando eu morrer serei livre em Jesus Cristo e com Ele ressuscitarei em liberdade. Sou trigo de
Deus e os dentes das feras hão de me moer, para que eu possa ser oferecido como pão limpo de Cristo”.
Sentiu grande alegria enquanto martirizado.

2) POLICARPO 69-156 D.C


Bispo de Esmirna e discípulo de João. Foi preso e levado à presença do governador na perseguição
ordenada pelo imperador Antônio – o Pio, ofereceram–lhe a liberdade se amaldiçoasse a Cristo, mas ele
respondeu: “oitenta e seis anos faz que o sirvo e Ele só me tem feito o bem, como poderei, agora
amaldiçoá-lo, sendo ele meu Senhor e Salvador?”. Logo depois disto foi queimado vivo por ordem do
imperador.

3) PAPIAS 70-155 D.C


Bispo de Hierápolis, a uns 160 Km a leste de Éfeso. Papias e Inácio formaram o elo de ligação
entre a era apostólica e a seguinte.

4) JUSTINO 100-167 D.C


Nasceu em Neápoles, antiga Siquém, mais ou menos quando o apóstolo João morreu. Estudou
filosofia. Quando ainda jovem testemunhou muitas perseguições movidas contra os cristãos. Converteu-
se. Viajou como uns dos primeiros missionários itinerantes do período pós-apostólico, na conquista de
almas para Cristo. Como um dos mais respeitados apologistas da época, escreveu uma das apologias e a
enviou ao imperador Antônio o Pio. Foi um dos homens mais cultos e piedosos de sua época. Morreu
martirizado em Roma. Revelando o crescimento do cristianismo, disse ele já no seu tempo “não havia
raça de homens que não fizesse orações em nome de Jesus”.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
5) IRINEU 130-200 D.C
Nascido em Esmirna, foi discípulo de Policarpo. Foi para a Gália, onde foi feito bispo em 180.
Bispo missionário bem sucedido, sua obra maior se desenvolveu no campo da literatura polêmica contra o
gnosticismo.

6) TERTULIANO 160-220 D.C


Tertuliano nascido em Cartago na África. Era portador de dons extraordinários, esses dons aliados
a um zelo profundo por Cristo e um profundo senso de moralidade deram-lhe notável e poderosa
influência. Em muitos dos seus escritos defendeu as falsas acusações contra os cristãos e o cristianismo,
salientando o poder da vida cristã.

7) ORÍGENES 185-254 D.C


É o homem mais ilustre da igreja antiga. Empreendeu muitas viagens proclamando o evangelho.
Escreveu muitos livros com milhares de cópias. Dois terços do Novo Testamento são citados em seus
escritos. Viveu em muitos anos em Alexandria, depois habitou na Palestina onde foi preso e martirizado
por ordem do imperador Décio.

8) EUSÉBIO 264-340 D.C


Foi bispo de Cesaréia ao tempo de Constantino. Teve muita influência junto a este imperador e
escreveu uma História eclesiástica, começando de Cristo.

9) JERÔNIMO 340-420 D.C


Foi educado em Roma, considerado o mais ilustre pai da igreja, viveu muitos anos em Belém da
Judéia. Traduziu a Bíblia para o latim, chamada Vulgata, usada ainda hoje como texto oficial da igreja
católica romana.

10) JOÃO CRISÓSTOMO 345-407 D.C


Foi um orador inigualável e o maior pregador de seu tempo. Nasceu na cidade de Antioquia e veio
a ser patriarca de Constantinopla. Como reformador, caiu no desagrado do rei, foi banido e faleceu no
exílio.

11) AGOSTINHO 354-430 D.C


Foi bispo de Hipona no norte da África, foi conhecido como o grande teólogo da igreja antiga,
moldou as doutrinas da igreja da idade média. Quando jovem brilhou por sua cultura, mas vivia em
dissolução. Converteu através de sua mãe, Mônica e de Ambrósio seu pai, bispo de Milão e das epístolas
de Paulo.

B - CORRENTES FILOSÓFICAS E HERESIAS DA ÉPOCA


Vimos nos pais apostólicos os primeiros traços de três grandes escolas que mais tarde vão
interpretar o cristianismo de maneiras diferentes. Mesmo assim permaneceram dentro da ortodoxia. Os
movimentos reformadores que serão analisados foram taxados de "hereges" por ultrapassar os limites da
ortodoxia católica.
Deve ser lembrado que o cristianismo absorveu os seus convertidos de duas grandes fontes: judeus
e pagãos. E dessas duas fontes surgiram tipos do cristianismo antagônicos, uma vez que os convertidos

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
trouxeram consigo elementos de mentalidades estranhos a fé cristã. Não de admirar então que heresias e
movimentos reformadores surgissem logo nos primeiros séculos da era cristã.

1) OS EBIONITAS OU JUDAIZANTES
Desde o início havia uma seita que queria impor o judaísmo aos conversos gentios. Cristãos de
cunho judaico persistiram em pequeno número na Palestina até o início do IV século. O termo "ebion”
significa pobre. Algumas crenças do ebionismo original: mantinham que o verdadeiro Deus é o criador do
mundo e autor da lei de Moisés. Cria que Jesus foi o Messias, mas não era divino por natureza. Rejeitou
Paulo e acatou Tiago e Pedro. Foram ascéticos e exaltaram a castidade no começo. Mais tarde exaltaram o
casamento acima da castidade.

2) O GNOSTICISMO
Havia várias correntes de gnosticismo que floresceu no II século na Síria, Egito e Ásia Menor. A
base filosófica do gnosticismo foi a ligação do mal à matéria. Uma vez que o mundo estava repleto de
imperfeição, o Supremo Ser não podia ser o criador do mundo. O A.T. indica que Jeová (ou Elohim) criou
o mundo. Logo, Jeová não pode ser o Ser supremo. As características do gnosticismo: Dualismo entre
espírito (bom) e a matéria (má). Docetismo, o messias não podia ter um corpo físico (problema do mal).
Emanações, uma série de "aions" que emanaram do Ser Supremo. O mais degradante desta criou o
mundo. Hostilidade ao judaísmo como diabólico e, em particular, a Jeová como sendo o maligno.
Rejeitaram todo o A.T. e todo o N.T., a não ser as cartas de Paulo e algumas partes dos evangelhos.
Fatalismo, o homem está em sua condição devido à maneira de sua criação. Mesmo assim abraça a ideia
da redenção em Cristo para livrar o mundo do domínio do mal.

3) MARCIONISMO
Nativo de Porto, Ásia menor, foi a Roma perto de 138 e se tornou membro da Igreja de Roma. Não
conseguiu levar a igreja a aceitar seu ponto de vista, assim que organizou os seus seguidores numa igreja
cismática e expandiu a obra até ter congregações em quase todas as províncias. Embora talvez não seja
correto chamar Marcion de gnóstico, ele compartilhou vários de seus pontos de vista: judaísmo é mau.
Jeová não é o mesmo Deus do NT. Baseou-se quase que exclusivamente em Paulo. Contrastou a
imoralidade e crueldade do AT., com a espiritualidade, misericórdia, bondade e alta moral do NT. Embora
conceba o nascimento, vida e morte de Jesus como apenas aparente, Marcion insiste na obra redentora de
Cristo como necessária para a salvação dos homens. O marcionismo achou fácil aceitação na
Mesopotâmia e na Pérsia e sobreviveu lá durante alguns séculos.

4) O MANIQUEÍSMO
Fundado por Maniqueu, da Mesopotâmia. Reduziram os elementos cristãos ao mínimo e
aumentaram os elementos do zoroastrismo. Enfim, o maniqueismo é dualismo metafísico vestido de
cristianismo. Maniqueu, cerca de 238, tentou sincretizar o dualismo oriental com o cristianismo. Neste
dualismo absoluto, cada reino (seja da luz, seja das trevas) parte duma unidade que se desenvolve em
multiformidade. Via também o instinto sexual como mal e enfatizava a superioridade do solteiro. A
vitória final será eventualmente do reino da luz embora o outro reino tem muitas vitórias ao longo da
história.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
5) MONTANISMO
É uma reação às inovações que foram introduzidas nas igrejas pelo gnosticismo e paganismo em
geral às custas da fé e da moral. Foi organizado na Frígia entre 135 e 160 por Montano com Priscila e
Maximinia (profetizas do movimento) em resposta a uma iluminação do Paracletos, para proclamar o
estabelecimento do reino de Cristo e pregar contra o mundanismo das igrejas. Algumas das doutrinas
desenvolvidas (e pelas quais foram rejeitados) tornaram-se ensino básico da Igreja católica 2 séculos
depois: exaltação da castidade e viuvez; divisão dos pecados em mortal e venial, exaltação do martírio.
Tornou-se o precursor do cristianismo ascético. Suas doutrinas em geral eram as mesmas do cristianismo
católico.
Reivindicaram ter recebido revelações divinas enquanto em estado de êxtase. O espírito lhes dava
a interpretação ascética de certas passagens bíblicas. O montanismo é uma explosão de profetismo, dando
importância especial a visões e revelações. Tem caráter essencialmente escatológico. Para eles o período
do Parácletos (Espírito Santo) se iniciou com Montano. A nova Jerusalém será inaugurada para o reino de
1.000 anos. Assim, é necessário viver em continência e preparar-se para tanto. Nenhum dos que
escreveram contra o montanismo vê nele uma heresia. Ao contrário vê nele "tendências arcaicas"

6) O NOVACIONISMO
Foi o montanismo reaparecendo numa outra época, sem as reivindicações proféticas que
desapareceram. Novaciano foi condenado em 251 por um concílio romano que reunia 60 bispos. Após a
perseguição de Décio, quando muitos negaram a fé, Novaciano liderou os que queriam muito rigor para os
que caíram. Este movimento cismático encontrou muita recepção na África e na Ásia Menor, onde
absorveu o que restou dos montanistas. Sua doutrina era igual à das igrejas católicas. Foi apenas a questão
de disciplina que questionavam: condições para ser membro da igreja e perdão de certos pecados
específicos. Enquanto Cipriano admitia a reconciliação dos caídos "após uma penitência severa e
prolongada”, Novaciano considerava que "reconciliação alguma lhe pode ser concedida". Para Novaciano
a igreja se identificava com um pequeno grupo de espirituais que estava em conflito obrigatório com a
cidade terrena. Crendo que as igrejas católicas eram apóstatas, os novacianos rejeitaram as ordenanças
delas. A crença na regeneração batismal era quase universal nesta época. Os novacianos deram tanta
importância à necessidade do batismo ser ministrado por pessoa devidamente qualificada que rebatizavam
os que vieram das igrejas católicas.

7) OS DONATISTAS
Como os montanistas e novacionistas, estavam preocupados principalmente com questões de
disciplina. O movimento surgiu após a perseguição de Diocleciano e especificamente em relação aos que
entregaram as Escrituras as autoridades. Os donatistas insistiram numa disciplina eclesiástica rigorosa e
numa membresia pura. Rejeitaram ministros indignos (os "lapsi" traidores). O donatismo não trata dos
caídos em geral e sim apenas da sorte dos bispos que teriam consentido na entrega das Escrituras imposta
pelo primeiro edito de Dioclesiano. O simples fato de estar em comunhão com um dos culpados bastava
para contrair mancha e tornar-se traidor, apóstata. Todos os sacramentos administrados ou recebido pelos
"tradutores" eram considerados nulos. Quanto a regeneração batismal, foram além dos católicos, crendo
que a natureza humana de Cristo também precisava ser purificada pelo batismo. Naturalmente rebatizaram
os católicos que vieram a eles como condição de comunhão

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
C - OS PRINCIPAIS APOLOGISTAS: OS PAIS APOLOGÉTICOS ORIENTAIS
(GREGOS) E OCIDENTAIS (LATINOS)
No II e início do III século a Igreja cresceu tanto que chama a atenção dos pensadores pagãos que
começam a atacá-la. Surgem dentro da própria Igreja elementos treinados em filosofia que conseguem
responder a estes ataques e apresentar uma declaração positiva do que a Igreja é e o que ensina. Estes
autores mostram um conhecimento de cultura e dialética que faltava aos pais apostólicos. Assim os
primeiros apologistas procuravam defender o direito do cristão existir como cristão.
Estes intelectuais procuram defender o cristianismo contra 4 acusações básicas: Ateísmo, foram
acusados de ateísmo por não adorar os deuses pagãos, coisa que os politeístas não podiam compreender.
Paixão lasciva e incestuosa: suas reuniões noturnas e secretas foram interpretadas como para dar
oportunidade à carne. Canibalismo: ou malícia ou mal-entendido quanto ao comer o corpo e beber o
sangue do Senhor. Ignorância: os mestres cristãos eram incultos.
Ao invés de aceitar que o cristianismo seja uma religião nova, os apologistas baseiam sua
antiguidade sobre o próprio AT. O cristianismo é apresentado como sendo o cumprimento das profecias
mosaicas. Como Filo, eles procuram mostrar que Sócrates e Platão tomaram suas ideias do Deus de
Moisés. Para os apologistas Cristo veio para cumprir as profecias do AT. Eles põem grandes ênfases sobre
a profecia como a principal evidência da verdade do cristianismo. Ao mesmo tempo a pureza da vida e
dos ensinos de Jesus, bem como o poder transformador do cristianismo são constantemente destacados.

1) AS PRIMEIRAS APOLOGIAS (APOLOGISTAS GREGOS)


a. Aristides: Eloquente filósofo em Atenas, dirigiu sua apologia ao imperador Adriano (antes de 138).
Faz uma pequena introdução quanto à natureza de Deus (primeiro motor) e do mundo. Divide a
humanidade entre bárbaros, gregos, judeus e cristãos. Mostra que os primeiros três, partiram da religião
da reta razão. Só os cristãos acharam a verdade. Distinguem-se como povo que participa da divindade e
pelo amor uns pelos outros. O mundo será julgado por Jesus.
b. Flávio Justino: foi o mais importante destes do II século. Filósofo por vocação, foi o primeiro dos
pais que pode ser chamado de “teólogo". Tentou mostrar que o cristianismo é a verdadeira filosofia.
Foi martirizado em Roma em 166. Seu Diálogo com Trifon discute as relações entre o AT e o NT (em
seus 142 capítulos). É uma vindicação do cristianismo a partir de Moisés e os profetas contra as
objeções dos judeus. Nas 2 apologias: a primeira (com 68 capítulos) argumenta que é razoável
abandonar as tradições que são más e seguir a verdade. Daí passa a fazer uma exposição da relação dos
cristãos ao império e contrastar seus bons costumes com os maus dos pagãos. A segunda (com 25
caps.) continua o argumento, dando atenção especial as relações entre o cristianismo e a filosofia pagã.
c. Justino: forma a transição entre os pais apostólicos e os patrísticos propriamente dito.
d. Taciano: Vindo do oriente (talvez da Assíria), converteu-se em Roma sob a influência de Justino.
Posteriormente fundou uma escola herética na Síria. Escreveu um Discurso aos Gregos e o
Diatesseron, este último sendo uma harmonia dos 4 evangelhos. O Discurso é um ataque à civilização
e a religião helênica em que Taciano expõe o cristianismo.
e. Atenágoras: Contemporâneo de Taciano, deixou 2 escritos: Súplica a Favor dos Cristãos e Sobre a
Ressurreição dos Mortos. A súplica, escrito em 177, procura rebater as acusações principais ao
cristianismo: ateísmo, incesto e antropofagismo. Procura mostrar que a ressurreição é necessária para
ter uma ideia adequada de Deus e da natureza humana.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
f. Teofilo: bispo de Antioquia. Escreveu Três Livros a Autólico (180) para mostra a este seu amigo a
verdade do cristianismo. O primeiro trata de Deus, o segundo contrasta os poetas e o AT., e o terceiro
mostra a excelência moral do cristianismo.

2) OS PRINCIPAIS APOLOGISTAS
a. Justino Martir: 100 – 165 d.C. Foi o principal apologista do século II. Filho de pais pagãos e nascido
perto da cidade bíblica de Siquem, logo se tornou um inquieto filósofo em busca da verdade. Ele
passou pela filosofia estóica, pelo idealismo nobre de Platão, pelas ideias de Aristóteles, frustrando-se
com todos os pagamentos exigidos por seus peripatéticos sucessores, além de se interessar ainda pela
filosofia numérica de Pitágoras. Até que um dia, passeando na praia, um velho senhor o encaminhou a
Bíblia como a verdadeira filosofia; Justino encontrou a paz porque tanto ansiava e abriu uma escola
cristã em Roma.
Ao se converter ao cristianismo, Justino não deixou de ser filósofo, mas dedicou-se a fazer filosofia
cristã e boa parte dessa filosofia consistia em descobrir e explicar as relações entre cristianismo e
sabedoria clássica. Isto não comprometeu a sua fé e nem sua convicção.
Os melhores filósofos falaram de um Ser supremo que se encontra acima de todos os demais seres e ao
qual todos deviam sua existência. Sócrates e Platão sabiam que existia a vida além da morte física.
Sócrates mostrou a força dessa crença em sua morte exemplar; Platão sabia também que esse mundo
não esgota toda a realidade, mas que há outro mundo de realidades eternas.
Para explicar esta semelhança entre estes pontos filosóficos e a fé cristã, Justino recorre à doutrina do
Logos. O termo logos quer dizer a palavra e a razão. Segundo os filósofos gregos, tudo o que a nossa
mente consegue compreender o faz porquê de algum modo participa do logos ou razão universal. Por
exemplo, se podemos compreender que 2+2=4 é porque de fato tanto em nossa mente como no
universo existe um “logos”, uma razão, uma ordem segundo a qual 2+2=4.
O que os cristãos creem é que Jesus Cristo esse logos se fez carne (Jo 11.14) e é a razão fundamental
do universo. Argumentando que este “logos”, Jesus Cristo, foi revelado, em parte, aos filósofos gregos,
antes de existir o cristianismo, Justino reclama tudo quanto de bom pudesse ser encontrado na cultura
clássica, apesar de ser uma cultura pagã. Seguindo essa inspiração, logo houve outros cristãos que se
dedicaram a construir pontos entre sua fé e a cultura da antiguidade.
A primeira apologia que Justino escreveu foi direcionada ao imperador Antônio, o Pio, e a Segunda ao
povo Romano e ao Senado. Ele exorta os imperadores a examinarem as acusações contra os cristãos e
a libertá-los dos constrangimentos legais se fossem inocentes. Ele prova que os cristãos não são ateus
ou idólatras. A principal seção da obra é dedicada à apresentação da moral das doutrinas e do fundador
do cristianismo. Na segunda apologia, Justino ilustra a crueldade e a injustiça sofridas pelos cristãos e,
depois de comparar Cristo e Sócrates, afirma que o que há de bom nos homens deve-se a Cristo. No
diálogo com Triunfo, Justino procura convencer os Judeus da messianidade de Jesus Cristo.
b. Tertuliano: Natural de Cartago, foi educado em direito romano e retórica. Alcançou iminência antes de
se converter. Estudou grego e escreveu algumas obras nesta língua. Foi grandemente influenciado pelo
estoicismo posterior. A influência do direito romano e da filosofia estoica são claramente visíveis nos
seus escritos. Seus escritos latinos são volumosos e hábeis. Deitaram os alicerces para a teologia latina,
inclusive a toda a terminologia teológica. Os seus livros podem ser divididos em: Apologéticos:
(Contra Nações, Apologeticum, Adv. Judaeos); Dogmáticos e Polêmicos (De Praescriptions
Haereticorum, Adv. Marcionem, De Carnis Ressurretione, De Baptismo, De Anima) e Ascético e
Prático (17 livros)

HISTÓRIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL - SEMINÁRIO CASA DE PROFETAS


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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
c. Clemente: (150-220). Escreveu o Protreptikos, onde exorta o leitor a abandonar seus costumes pagãos
e tomar o caminho da salvação. Seus 12 capítulos atacam os erros pagãos sem negar os valores da
cultura helenista. O Pedagogo é uma obra que propõe guiar o crente na conduta cristã. O Stromateis, é
uma série de apontamentos onde expõe o mais profundo do pensamento de Clemente. Procura
desenvolver a relação entre a filosofia e a teologia. A filosofia foi dada aos gregos com o mesmo
intuito da lei aos judeus ser um aio a Cristo.
d. Orígenes: (185-253), A obra literária foi imensa, embora a grande parte foi perdida. Há 800 títulos
conhecidos das suas obras. Contra Celso, é uma obra apologética, foi escrito para refutar, argumento
por argumento, um livro deste filósofo pagão contra os cristãos. Embora Orígenes cria firmemente na
inspiração da Bíblia sua interpretação foi "espiritual"e não ao pé da letra. Falou que qualquer texto
bíblico tem 3 sentidos: um literal ou corporal, um moral ou psíquico e um intelectual ou espiritual. Este
último pode ser alegórico ou tipológico.

3) OS APOLOGÉTICOS LATINOS
a. Irineu: Nasceu entre 130-135. Foi discípulo de Policarpo. Foi muito estudioso. Citou quase todos os
clássicos gregos, conhecia bem tanto o AT, e o NT, citou quase todos os escritores cristãos de que
temos conhecimento e conhecia bem a literatura herética de seu tempo e dos tempos anteriores.
Homem piedoso e zeloso pela fé, foi missionário na região de Leão.
Quando Potino, o pastor da igreja de Leão, foi martirizado em 177, Ireneu aceitou este posto perigoso.
No período de seu pastorado a perseguição diminuiu sensivelmente. No seu lugar surgiu uma expansão
rápida do gnosticismo e outras heresias. Irineu escreveu seus cinco livros Contra Heresias (Adv.Haer.)
em torno de 185. Nestes 5 livros Adv. Haer. (Contra as Heresias) temos no primeiro livro um relato
histórico das seitas gnósticas e apresenta como contrapeso a declaração de fé da Igreja Católica, talvez
a primeira em forma de proposições.
O segundo livro, é um ataque filosófico as doutrinas gnósticas. Rejeita a espiritualização do texto
sagrado. O terceiro livro procurou refutar o gnosticismo a partir das Escrituras. O quarto livro, a partir
das palavras de Cristo; e o quinto, procurou vindicar a doutrina da ressurreição. No último manteve a
vera humanidade e à vera divindade de Cristo, para depois demonstrar que o corpo é passível de
salvação. Também escreveu Exposição da pregação Apostólica. Tem caráter catequético, edificatório e
indiretamente polêmico. A primeira parte é teológica (monarquia, trindade, batismo); a segunda
cristológica (Jesus, o Senhor, o Filho de Davi, o esplendor da cruz, o reino de Deus). Irineu, concebeu
a Igreja como uma unidade orgânica transmitida através duma sucessão de presbíteros. Deu ênfase à
liberdade e autonomia de cada igreja como princípio básico da constituição eclesiástica.
b. Hipólito: Escritor grego em Roma em princípios do III século. Possivelmente discípulo de Irineu, foi
homem ambicioso e rigorista. Escreveu sua Refutação de Todas as Heresias, em 222. Consiste de 10
livros. A primeira parte (I-IV) procura mostrar que os hereges haviam tomado sua doutrina da ciência
dos pagãos e não da revelação cristã. A segunda parte (V-IX) contêm uma exposição de 33 sistemas
gnósticos.
c. Cipriano: (200-258). Foi um brilhante professor de retórica antes da conversão. Pouco depois da sua
conversão se tornou bispo da igreja de Cartago em 248. Seu episcopado durou 9 anos. O ataque de
Décio em meados do III século foi dirigido especialmente aos líderes das igrejas. Sendo assim Cipriano
fugiu e se escondeu para não deixar a igreja de Cartago acéfala. Este ato foi muito criticado e, por uns,
foi considerado apostasia. Escreveu dois livros para tornar conhecida sua posição quanto à eclesiologia
e o tratamento dos "caídos" (lapsi): Dos caídos e o outro Da unidade da Igreja.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
Na questão dos lapsi, tomou uma posição medianeira: mais rigoroso do que Roma, mas não tanto
quanto os novacianos. Realizou um concílio em 255 que tomou uma posição mais rigorosa quanto à
validade do batismo herético. Foi Cipriano que mais fez nesse período para o desenvolvimento de
pontos de vista e princípios hierárquicos. Estabelece distinção nítida entre bispos e presbíteros, bem
como a supremacia da igreja de Roma como cátedra de Pedro e centro de unidade da Igreja Universal.
Para Cipriano a Igreja é a arca (como a de Noé) da salvação. Ele cuja a frase: "fora da Igreja não há
salvação". Acrescentou outra: "quem não tem a Igreja por mãe, não pode ter Deus por Pai". Para ele a
unidade da igreja está no episcopado sobre o qual ela é constituída.

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CAPÍTULO VI

A REAÇÃO DA IGREJA ÀS HERESIAS E PERSEGUIÇÕES

A - INTRODUÇÃO
Foi no período entre 100 e 313 a.D que a igreja se viu forçada a pensar na melhor maneira pela
qual poderia enfrentar a perseguição externa do Estado Romano e o problema interno do ensino herético e
das consequentes divisões. Ela reagiu da seguinte maneira: organizando um Cânon do NT que resultou
num livro que seria autoridade para a fé e para a vida; criando um credo, que forneceu uma declaração de
fé; estabelecendo a autoridade dos bispos monárquicos, exigindo obediência absoluta. O bispo era uma
espécie de garantia da unidade na constituição da igreja.

B - O BISPO MONÁRQUICO
Necessidades práticas e teóricas levaram à exaltação da posição do bispo em cada igreja, chegando
ao ponto de as pessoas o virem e o reconhecerem como superior aos outros presbíteros, aos quais seu
oficio fora relacionado em tempos do NT. A necessidade de uma liderança para enfrentar os problemas da
perseguição e da heresia foi uma necessidade prática que acabou por ditar o aumento do poder do bispo. O
desenvolvimento da doutrina da sucessão apostólica e a crescente exaltação da Ceia do Senhor foram
fatores fundamentais neste aumento do poder. A elevação do bispo monárquico em meados do segundo
século originou o reconhecimento da honra especial devida ao bispo monárquico da Igreja de Roma.

C - O DESENVOLVIMENTO DA REGRA DE FÉ
O papel do bispo como garantia da unidade da Igreja foi reforçada pelo desenvolvimento de um
credo. Um credo é uma declaração de fé para uso público. Contém artigos indispensáveis à manutenção e
ao bem estar teológico da igreja. Os credos têm sido usados para testar a ortodoxia, identificar os crentes
entre si e servir como um resumo claro das doutrinas essenciais da fé. Irineu e Tertuliano desenvolveram
Regras de Fé para serem usadas na distinção entre cristianismo e gnosticismo.
O Credo dos apóstolos é o mais antigo sumário das doutrinas essenciais das Escrituras que
possuímos. Apareceu no século IV em Roma. Este credo dá atenção à pessoa e à obra de cada uma das
três pessoas da trindade, destaca a natureza universal da igreja e depois de fundamentar em Cristo a
salvação, apresenta uma escatologia explícita centralizada na ressurreição dos crentes e nos seus alvos de
vida eterna.

D - O CANÔN DO NOVO TESTAMENTO


Surgiu como um reforço à garantia da unidade centralizada no bispo e à fé expressa num credo. O
desenvolvimento do cânon foi um pouco demorado. Algumas razões de ordem prática tornaram
necessário que a igreja desenvolvesse a relação de livros que deveriam compor o NT. Heréticos como
Marcíão estavam formando seu próprio cânon das Escrituras e estava levando o povo ao erro. Os cristãos
perseguidos não estavam dispostos a arriscar suas vidas por um livro se não estivessem certos de que ele
integrava o cânon das Sagradas Escrituras.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
E - A IGREJA NOS DIAS DE CONSTANTINO - 274-337.
Constantino era filho ilegítimo de um líder militar chamado Constâncio com uma cristã do Oriente
de nome Helena. Numa batalha em 313 d.C quando parecia que os inimigos lhe venceriam, Constantino
teve uma visão de uma cruz no céu com as seguintes palavras em latim: “Com este sinal vencerás”.
Tomando estas palavras como bom presságio ele derrotou seus inimigos na batalha da ponte Mílvia sobre
o rio Tigre. Embora a visão possa ter ocorrido, o favorecimento da igreja por Constantino foi um ato de
sua vontade e não da sua "conversão". Para Constantino, o Deus dos cristãos era um ser extremamente
poderoso, que estava disposto a ajudá-lo sempre, quando ele favorecia os seus fiéis.
Quando começou a construir igrejas e a proclamar as leis favoráveis ao cristianismo, ele estava
buscando o favor do Deus dos cristãos. Ele cria no poder de Deus e se apropriou do mesmo. Constantino
interpretava a fé em Cristo de uma maneira que não impedia de adorar a outros deuses. Seu, pai era
devoto do Sol Invicto e Constantino, durante uma boa parte de sua carreira política, pensou que o Sol
Invicto, cujo símbolo era um sol, e o Deus dos cristãos eram o mesmo ser e que os outros deuses também
eram reais e relativamente poderosos, apesar de serem divinamente subalternos.
Por esta razão, Constantino podia consultar o oráculo de Apolo, aceitar o título de sumo sacerdote
dos deuses, tradicionalmente conferido aos imperadores, e participar das cerimônias pagãs de todos os
tipos sem pensar com isto estar traindo ou abandonando o Deus que lhe tinha dado a vitória e o poder.
Muito foi escrito e discutido sobre a "conversão" de Constantino. Para uns a sua "conversão" foi o
ponto culminante da História da Igreja. Para outros, Constantino não passou de um hábil político que
percebeu as vantagens que poderia obter com uma "conversão" e que por isso decidiu atrelar seu carro à
causa do cristianismo.
Essas duas interpretações parecem exageradas, pois os documentos da época mostram que a
conversão de Constantino não foi a de um cristão comum.
Quando algum pagão se convertia ele era submetido a um longo processo de disciplina e ensino,
para ter certeza de que estava entendendo e vivendo sua nova fé, só então era batizado. O novo
convertido, daí, seguia o seu bispo como guia e pastor para descobrir o significado de sua fé nas situações
concretas da vida. O caso de Constantino foi bem diferente.
Durante toda sua vida ele nunca se submeteu em nenhum aspecto à autoridade pastoral da igreja.
Ele contava com um conselho de cristãos e um bispo conselheiro para assuntos eclesiásticos, mas sempre
Constantino se reservou o direito de determinar suas próprias atitudes religiosas, pois considerava-se
"bispo dos bispos". Mesmo depois de sua conversão, Constantino continuou participando de rituais
pagãos proibidos aos cristãos e os bispos não levantavam a voz em protesto e condenação. Constantino
também não se submeteu ao batismo e só foi batizado quando estava para morrer. Por isso, qualquer edito
ou política em favor dos cristãos era recebido pela igreja como um favor feito por um amigo ou
simpatizante. E qualquer deslize seu era como se não fizesse parte do grupo de fiéis.

1) O IMPACTO DE CONSTANTINO
O impacto da "conversão" de Constantino sobre a vida da igreja foi muito grande. A consequência
mais imediata e notável foi o fim das perseguições. Muitos acreditavam que Constantino era eleito de
Deus e que sua obra era a consumação da História da Igreja. Entre eles estava Eusébio de Cesaréia,
historiador. Outros seguiram um caminho radicalmente oposto. Para estes, o fato de o imperador se
declarar cristão, não era uma bênção, mas o começo de uma grande apostasia. Alguns que não viam com
agrado a nova aproximação entre Igreja e Estado simplesmente romperam com a comunhão com os
demais cristãos. São os cismáticos. Houve um grande êxodo no século IV de cristãos que não se
desligaram da igreja, mas foram para os desertos da Síria e Egito a fim de viverem uma vida ascética.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
Entre os que permaneceram na igreja e não se retiraram para o deserto, e não optando pelo cisma,
logo surgiu um grande despertamento intelectual. Como consequência surgiram teorias e doutrinas que a
igreja rejeitou. A principal dessas doutrinas foi o arianismo, que deu lugar à controvérsia sobre a doutrina
da trindade.
A maioria dos cristãos, todavia, não reagiu à nova situação, nem com aceitação total, nem com
rejeição absoluta. Para a maior parte dos líderes da igreja as novas circunstâncias traziam consigo,
oportunidades inesperadas, mas também enormes perigos.
Algumas mudanças ocorreram com a conversão de Constantino, entre elas:
 culto cristão começou a sentir influência do protocolo imperial,
 incenso, que até então tinha sido sinal de culto ao imperador, apareceu nas igrejas cristãs
 os ministros que oficiavam no culto começaram a usar vestimentas ricamente ornamentadas
durante o mesmo em sinal de respeito
 vários gestos de respeito normalmente atribuídos ao imperador começaram a surgir nos cultos;
apareceu o costume de se iniciar o culto com uma procissão;
 para dar mais destaque às procissões, surgiram os coros;
 os cristãos desde o século II tinham o costume de comemorar o aniversário da morte de um
mártir, celebrando a ceia do Senhor no lugar onde foi enterrado.
Agora, com a conversão de Constantino, foram construídas igrejas em muitos destes lugares.
Depois de algum tempo as pessoas pensaram que o culto teria significado especial se celebrado em uma
destas igrejas, por causa da presença das relíquias do mártir. Em consequência, começaram a desenterrar
os corpos para colocá-los (ou o corpo ou parte dele) sob o altar de várias das muitas igrejas que estavam
sendo construídas. Ao mesmo tempo, algumas pessoas começaram a dizer que tinham recebido revelações
de mártires até então desconhecidos ou quase esquecidos, onde estavam enterrados. Muitos começaram a
atribuir poder milagroso a essas relíquias, ocorrendo depois disso a veneração e adoração do mártir.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
CAPÍTULO VII

A IGREJA NO INÍCIO DA IDADE MÉDIA - 590-1073 A.D

A - A IGREJA CATÓLICA
A palavra católica quer dizer “universal”. Mas também a igreja do século II começou a se dar o
título de católica por causa dos hereges que diziam que os verdadeiros ensinos de Jesus Cristo haviam
sido passados através de algum apóstolo e que eles eram os verdadeiros depositários desse ensino. No
caso dos gnósticos, tratava-se de uma suposta tradição secreta. Segundo eles, Jesus havia ensinado a
"verdadeira gnosis" a um apóstolo e este por sua vez havia feito chegar a um gnóstico.
No caso de Marcião, tratava-se dos escritos de Paulo, nos quais, depois de expurgar toda referência
positiva ao judaísmo, Marcião cria ter encontrado o evangelho original. Diante dos gnósticos e de
Marcião, o resto da igreja dizia possuir o evangelho original e os ensinos verdadeiros de Jesus. E o que se
debatia era a autoridade da igreja diante das pretensões dos hereges. Em tais circunstâncias, tanto o
argumento da sucessão apostólica como da igreja universal assumiu especial importância. O que se
argumentava era simplesmente se Jesus tinha algum ensino secreto para comunicar aos seus discípulos. O
mais lógico seria supor que confiaria tal ensino aos próprios apóstolos a quem confiou também a direção
da igreja. E se tais apóstolos por sua vez tinham recebido algum segredo, seria de esperar que o
transmitissem, não a algum estranho, mas às mesmas pessoas a quem confiaram a direção das igrejas que
iam fundando. Portanto, se houvesse tal ensino secreto, esse ensino não se encontraria a não ser entre os
discípulos diretos dos apóstolos e seus sucessores.
Para reforçar este argumento, era necessário mostrar que os atuais bispos das igrejas eram
sucessores dos apóstolos e que também a igreja não era um pequeno grupo surgido em Roma ou
Alexandria, que se limitava a uns poucos lugares. A igreja existia tanto em Roma, como em Alexandria,
Antioquia, Cartago, e ainda nos confins do Império, por isso era considerada universal.
Por outro lado, essa igreja era católica porque pregava e ensinava o evangelho "segundo o todo".
Sua visão não era parcial, como a dos gnósticos ou de Marcião. Entre os gnósticos alguns diziam
conhecer os segredos revelados a São Tiago. Outros diziam possuir o Evangelho de São Tomé ou algum
outro apóstolo. Diante de tais visões parciais, a igreja colocara a sua visão católica, isto é, sua visão
"segundo o todo". Não há um só, mas quatro evangelhos, que seriam a base de seus ensinos acerca de
Jesus Cristo. Além das epístolas de Paulo, seu Novo Testamento incluiria as dos outros apóstolos. A
igreja "segundo o todo" basearia sua autoridade sobre todos os apóstolos.

B - ORGANIZAÇÃO DA IGREJA MEDIEVAL


A organização da Igreja Católica tornou-se necessária em face de vários perigos. Não só os
hereges lançavam confusão às massas a respeito da verdade cristã como também produzia dissensão.
Para preservar a religião cristã de se perder na confusão foram necessários certos meios de unidade
externa. O meio de que lançaram mão foi a organização da igreja católica, uma instituição que pretendia
possuir autoridade para definir a religião cristã, excluindo os que se recusassem a lhe obedecer.
Durante estes períodos de organização verificaram-se várias mudanças na atitude do ministério. A
distinção entre um clérigo e um leigo, desconhecida no século I; bispos, presbíteros e diáconos eram
separados e distintos na posição que ocupavam dos demais membros da igreja. O desenvolvimento de

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
uma moral mais elevada deu lugar à crença de que o clero deveria ser celibatário. Isto veio a se constituir
lei no século IV
A ideia de que o ministro cristão é um sacerdote, intermediário entre Deus e o homem, começou a
prevalecer no século II. Tal ideia correu paralela à crença de que a ceia do Senhor era um sacrifício
oferecido a Deus em favor do povo. Sacerdote e bispo estavam ligados. O oficio de bispo era muito
elevado. Atribuiu-se-lhe autoridade divina que o capacitava a ensinar a verdade cristã sem cometer erros,
como também o poder de declarar os pecados perdoados. Em algumas igrejas teve lugar uma
centralização de poder pela qual um dirigente tornou-se o único cabeça da igreja local. A este seguiu se
outro passo na centralização.
No século II o bispo era o pastor de uma igreja na cidade. À proporção que crescia o número de
crentes, outros grupos se formavam na mesma cidade e adjacências. Todos esses grupos, então, ficavam
sob o governo do bispo da igreja mãe (matriz). Cada uma das outras igrejas era dirigida por um presbítero
e o bispo exercia superintendência sobre todo o distrito ou diocese.
Não tinha surgido ainda nenhum governo geral e organizado da Igreja. Havia sínodos ou reuniões
de bispos para tratarem das necessidades particulares. No século II desenvolveram-se duas ideias de
unidade na Igreja. Uma, foi que a unidade repousaria na concordância com os pontos de vista dos bispos.
E outra foi que a unidade consistiria na aceitação da autoridade de um bispo o de Roma.
Sendo a Igreja da capital do Império a maior e mais rica de todas, naturalmente cresceu em poder e
influência. A partir do fim do século II os bispos de Roma começaram a vindicar a autoridade geral.
Um século mais tarde esta liderança já tinha sido reconhecida no Ocidente, mas não no Oriente.

C - FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A ROMANIZAÇÃ DA IGREJA:


1) A LITURGIA
A união entre Igreja e Estado com Constantino e seus sucessores provocou a secularização da
Igreja. O bispo de Constantinopla ficou sob o controle do Imperador, tornando a Igreja Oriental um
departamento do Estado. A vinda dos pagãos para a igreja através dos movimentos de conversão em
massa contribuiu para a paganização do culto, quando a Igreja procurou se adaptar à nova realidade,
visando deixar à vontade estes bárbaros convertidos.
Esta entrada de pagãos, muitos dos quais eram cristãos apenas nominalmente, obrigou a Igreja a
convocar o Estado a ajudá-la na manutenção da disciplina com uso do poder civil para punir as faltas
eclesiásticas. A disciplina afrouxou-se na Igreja porque suas fontes de recursos provinham em grande
parte dos bárbaros que tinham se convertido parcialmente do paganismo.
A afluência dos bárbaros e o crescimento do poder episcopal provocaram também mudanças no
culto da Igreja. Para que os bárbaros, acostumados com os cultos a imagens, pudessem ser realmente
assistidos pela Igreja, muitos líderes eclesiásticos entenderam ser necessário materializar a liturgia para
tornar Deus mais acessível a esses "fiéis". A veneração de anjos, santos, relíquias, imagens e estátuas foi
uma consequência lógica deste procedimento. A intimidade com o Estado monárquico também
determinou uma mudança no culto, passando-se de uma forma democrática simples para outra mais
aristocrática e colorida de liturgia, com uma clara distinção entre clero e laicato.
O domingo tornou-se o dia principal do calendário eclesiástico, depois que Constantino
estabeleceu que este seria um dia de culto cívico e religioso. A festa do Natal tomou-se uma prática
regular em meados do século IV, adotando-se a data de dezembro anteriormente usada pelos adoradores
de Mitra. A festa de Epifinia, que comemora a visita dos magos a Cristo, entrou para o calendário da
Igreja. Acréscimos do ano sacro judaico, de narrativas dos evangelhos e da vida de santos mártires
propiciaram uma expansão constante do número de dias santos no calendário eclesiástico.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
Aumentou também o número de cerimônias que passariam a ter funções sacramentais, Agostinho entendia
que o casamento devia ser considerado como sacramento. Cipriano sustentava que a penitência era vital
para a vida cristã. Como a distância entre clero e laicato aumentasse cada vez mais, interpretou-se a
ordenação à luz do sacramento, por volta do ano 400 d.C. A confirmação e a extrema unção tornaram-se
funções com valor sacramental.
A antiga formulação teológica original contribuiu para aumentar a importância do batismo infantil.
Cípriano considerava o batismo infantil um fato aceito. Agostinho também enfatizou sua importância. A
Ceia do Senhor ocupava o lugar central no pensamento do fiel e na ordem da liturgia. Começava, então, o
processo de tornar-se um sacramento e sacrifício. O cânon da missa enfatizava a natureza sacrificial do
culto da comunhão.
Ao final do século VI todos os sete atos sacramentais estavam em uso e ocupavam uma elevada
posição no culto da Igreja Católica Romana. A crença de que a substância da ordenança se tornava eficaz
através da celebração sacerdotal ganhou terreno seguro.
A veneração a Maria desenvolveu-se rapidamente por volta de 590 d.C. e ganhou a adoção das
doutrinas de sua imaculada concepção em 1854 e de sua assunção miraculosa aos céus em 1950.
A interpretação equivocada da Bíblia e a série de milagres atribuídos a Maria nos evangelhos
apócrifos forjaram uma grande reverência por ela. As controvérsias cristológicas do século IV culminaram
na sua aceitação como "Mãe de Deus", dando-lhe um lugar de honra especial na liturgia.
Clemente, Jerônimo e Tertuliano tinham dado crédito a uma virgindade eterna a Maria. Agostinho
cria que a mãe de Cristo sem pecado jamais cometera pecado. O monasticismo, com sua ênfase na
virgindade, fortaleceu a ideia da veneração à Maria. De um reconhecimento por ser a mãe de Jesus
tornou-se crença em poderes intercessórios, por se pensar que o Filho ficaria alegre por ouvir os pedidos
de sua mãe.
A oração de Efraim Sírio (306-373 d,C.) é o primeiro momento de uma invocação formal a Maria.
Em meados do século V ela foi colocada como principal de todos os santos. Festas ligadas a seu nome
brotaram, como a da Anunciação (25 de março) a da Candeláría (02 de fevereiro, purificação após o
nascimento do menino) e a da Assunção (15 de agosto).
A veneração dos santos surgiu do desejo natural da Igreja em honrar aqueles que tinham sido
mártires durante a perseguição do Estado. Os pagãos também estavam acostumados à veneração de seus
heróis, daí a substituição destes por aqueles.
O uso de imagens e esculturas no culto propagou-se rapidamente na proporção em que os bárbaros
entravam para a igreja. Além de materializarem a realidade invisível da divindade, as imagens decoravam
as igrejas, Os Pais da Igreja procuravam distinguir devoção às imagens de culto a Deus. Duvida-se,
entretanto, que esta sutil distinção tenha evitado que o fiel oferecesse a elas o culto reservado somente a
Deus.
Ações de graças ou procissões de penitência tornaram-se parte do culto a partir de 313 d.C.
Peregrinações, primeiro à Terra Santa, na Palestina e depois aos túmulos de santos tornaram-se comuns.
Helena, a mãe de Constantino, visitou a Palestina em 326 d.C. e disse ter encontrado a “Vera Cruz”
(verdadeira cruz).
Neste período surgiu um governo geral na Igreja Católica, nos concílios gerais ou ecumênicos. A
autoridade desses concílios era exercida pela publicação dos credos que decidiam quanto a doutrina
aprovada pela igreja.
O processo de centralização da autoridade aparece com o bispo de caráter monárquico. Na época, a
diocese desenvolveu-se bastante, tomando-se cada vez maior o poder dos bispos. Com o passar dos
tempos os bispos das capitais de províncias romanas tomaram-se mais importantes que os demais. Foram

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
chamados de bispos metropolitanos e cada um exercia superintendência sobre os demais. Eram eles: o
bispo de Roma, de Constantinopla, de Alexandria, de Antioquia e o de Jerusalém, chamados patriarcas.
Pelo ano 400 d.C. já se verifica o completo desenvolvimento da Igreja Católica com sua
organização hierárquica completa.
O clero exercendo demasiado domínio espiritual sobre o povo e os concílios criando leis
eclesiásticas. O culto cheio de mistérios com seus dogmas autoritários e a condenação de hereges que
discordavam deles.

2) A SUPREMACIA DO BISPO DE ROMA


Um novo passo foi dado para a centralização do governo da Igreja. Entre os cinco patriarcas, os
dois mais importantes eram o de Roma e o de Constantinopla, das duas cidades mais importantes do
Império. Muitas foram as causas do engrandecimento do bispo de Roma. A principal é que ele era o bispo
da antiga capital do mundo. Por muitos séculos Roma impôs sua autoridade sobre o mundo inteiro.
Inevitavelmente, seu bispo dispunha de um poder que nenhum outro poderia conseguir. Outra causa foi o
costume de se apelar ao bispo de Roma nas disputas eclesiásticas cada vez mais. Tal hábito não deixava
de ter seu apoio na influência e prestígio com que os imperadores cercavam estes bispos.
A partir do século V a conhecida pretensão petrina veio a ser aceita em geral. Pretensão está
baseada na suposta autoridade que Cristo deu a Pedro, primeiro bispo de Roma, sobre os demais
apóstolos, legando seu primado a seus sucessores naquela Igreja, de modo que eles tinham o direito divino
da autoridade e primazia sobre os demais bispos. A aceitação geral dessa doutrina criou, condições tais no
mundo como se a mesma fosse verdadeira. Além de tudo, os bispos romanos prosseguiram numa política
resistente de manter toda a autoridade que pudesse alcançar, aproveitando cada oportunidade por
exercerem em toda a plenitude, a autoridade e o poder de que dispunham. Um exemplo notável desse
proceder foi o de Leão I (440-461 d.C.), chamado por muitos "o primeiro papa". Ele sustentou e defendeu
a sua autoridade nos termos mais fortes e exerceu o direito de impor suas pretensões posteriormente
negadas pelos bispos de Constantinopla, que encontraram forte resistência no Ocidente. Sua agressividade
aumentou ainda mais o poder do seu oficio.
O termo "papa", atualmente empregado no Ocidente exclusivamente para o bispo de Roma, nem
sempre teve este sentido. A palavra significa "papai", termo de carinho e respeito. Na época antiga ele era
usado para qualquer bispo distinto, sem importar se ele era ou não o bispo de Roma. Assim há, por
exemplo, documentos antigos que se referem ao papa Cipriano, de Cartago, ou ao papa Atanásio, de
Alexandria. Além disso, enquanto no Ocidente o termo acabou ficando exclusivamente para o bispo de
Roma, em várias partes da igreja oriental ele continuou sendo usado com mais liberalidade.
Leão I (400-461 d.C) foi o mais hábil, antes de Gregório I (540-604 d.C.). Sua capacidade deu-lhe
o título de "Grande". Mas ele usou o título "papa". Com firmeza de caráter, profundeza de percepção
teológica e habilidade política, Leão I foi papa durante um período de relativa anarquia na Itália. Parte de
sua grandeza residiu em saber preencher o vazio criado por esta anarquia.
Em 452, conseguiu persuadir Atila, o Huno, a deixar a cidade de Roma. Em 455 d.C. persuadiu
Genserico e seus seguidores vândalos a isentar a cidade do fogo e da pilhagem. Genserico manteve sua
palavra e os romanos viram em Leão aquele que salvara sua cidade da destruição completa.
Sua posição ainda foi mais fortalecida quando Valentino III reconheceu sua supremacia espiritual
no Ocidente através de um edito promulgado em 445 d.C. Leão sustentava que as apelações das cortes
eclesiásticas de bispos deviam ser levadas à sua corte e que suas decisões seriam definitivas. Ele definiu a
ortodoxia em seu trono e escreveu contra os maniqueus e donatistas. Gelásio I, papa de 492-496 d.C.,
escreveu que Deus dera ao papa e ao rei os poderes sacro seculares.

HISTÓRIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL - SEMINÁRIO CASA DE PROFETAS


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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
O papa tinha que prestar contas a Deus pelo rei, no dia do julgamento. O poder papal era mais
importante que o poder real. Assim, os governadores deveriam se submeter ao papa.
Quando Leão morreu, sucedeu-lhe Hilário, um de seus principais colaboradores, que fez o que
pôde para continuar a política de Leão.
Simplório sucedeu Hilário quando as condições políticas começaram a mudar.
Quando seus sucessores Félix III, Gelásio e Anastácío II chegaram ao poder, as relações entre
papas e imperadores eram bastante tensas.
Depois sucedeu Símaco, que os católicos consideram até hoje como o primeiro papa. Logo após
Símaco, sucederam-lhe Hormidas e João I. Assim, tanto Benedito I como Pelágío II foram chamados
papas de um período conturbado, sem nenhuma expressão religiosa.
No início do V século surgiu um dos maiores papas. De caráter irrepreensível, muito honrado por
sua bondade e modo de vida, de uma austeridade muito severa, Gregório era dotado de grande coragem e
energia, de extraordinária habilidade administrativa, tinha sabedoria de um verdadeiro estadista. Sempre
mostrava simpatia às necessidades humanas e cheio de visão e ideal pelo cristianismo. Grande escritor de
assuntos religiosos, embora não tivessem o cunho de originalidade e erudição. Demonstrou extraordinário
interesse pela música e pelo ritual eclesiástico.
Valendo-se dos seus dons extraordinários, Gregório tirou o máximo proveito da sua posição de
bispo de Roma. Defendeu e impôs a sua autoridade sobre esta grande parte da Igreja. Conseguiu que os
mais fortes bispos metropolitanos reconhecessem sua superioridade em Roma. Fez com que o culto
seguisse o ritual romano. Enviou missionários a muitas partes, como Agostinho à Inglaterra, os quais
ensinaram obediência ao bispo de Roma, ao mesmo tempo que propagavam o cristianismo.
Muito trabalhou para purificar e fortalecer a Igreja, cuidando dos pobres e enviando o cristianismo
aos pagãos.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
CAPÍTULO VIII

A SEPARAÇÃO DO OCIDENTE E DO ORIENTE

A - CAUSAS DA SEPARAÇÃO
Uma das causas da separação foi a diferença de raça. No ocidente a raça predominante era a latina,
que se fortalecera pela fusão com os germanos. No oriente, dominavam os gregos que receberam grande
infusão de sangue oriental.
A outra causa foi o estabelecimento de dois governos no Império, o do Ocidente e o do Oriente. O
abismo entre as partes foi alargado quando desapareceu a linha dos imperadores ocidentais e ficaram
apenas os orientais. O oeste ficou sem qualquer governo. Os imperadores do oriente governaram a igreja
como qualquer outra coisa dos seus domínios. Mas a igreja do Ocidente, chefiada pelo bispo de Roma,
não podendo exercer seu domínio, rompeu com os imperadores do oriente, quando o papa coroou Carlos
Magno, imperador romano.
A terceira causa da divisão foi a pretensão sempre crescente do bispo de Roma, que nunca foi
reconhecida pelo patriarca de Constantinopla.
O primeiro rompimento foi em 867 d.C. quando, por causa de uma desavença entre o papa e o
patriarca de Constantinopla, um Concílio no Oriente declarou o papa deposto de seu bispado. A contenda
entre Oeste e Leste continuou em discussões amargas por causa de pequenas diferenças de doutrina e ritos
até 1054 d.C. Depois de nova contenda entre o papa e o patriarca, o primeiro pronunciou anátema contra o
segundo e contra os que o apoiavam. Este foi o rompimento final. Desde então, as igrejas grega e romana
viveram separadas, cada qual pretendendo ser a verdadeira Igreja católica e recusando qualquer
reconhecimento à outra.
A igreja grega ou do Oriente abrangia a Grécia, a maior parte da península balcânica e a Rússia,
inclusive grande parte dos cristãos da Ásia Menor, Síria e Palestina. O restante da Europa continuou
prestando obediência à Roma.

B - A VIDA E O PENSAMENTO DA IGREJA ORIENTAL


A separação final das igrejas do Oriente e do ocidente fez com que suas comunidades fossem
dirigidas de forma bem diferente entre si. O grande interesse do pensamento grego pelas discussões
teológicas revelou-se na continuação das disputas sobre a pessoa de Cristo.
Depois das conquistas árabes, a igreja do Oriente começou a enfraquecer e a cair em estagnação.
No séc. VIII ele teve o seu último pensador notável, João de Damasco, que escreveu uma declaração
doutrinária, segundo os seus credos.
Depois dele a Igreja sustentou com muita energia a interpretação dessa expressão de fé cristã.
Houve pequena modificação em virtude do declínio da vida cristã de seus membros. Em outras relações
essa igreja manifestou seu conservantismo guardando zelosamente o que era antigo só porque era antigo,
atitude que a tem caracterizado desde então. A igreja se enfraqueceu mais ainda nos séculos VIII e IX em
virtude das controvérsias resultantes das tentativas de certos imperadores fortes, desejosos de abolir a
veneração das imagens de Cristo e dos santos, mas não conseguiram.
Depois de concluída a separação nos meados do século IX teve lugar um reavivamento em ambas as
igrejas, nos respectivos impérios. Foi despertado em grande escala o espírito missionário da Igreja, que
mais tarde foram enviados a espalharam o cristianismo entre os sérvios, búlgaros e russos. Houve um

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soerguimento intelectual na igreja e surgimento de muitos homens notáveis. O caráter observador do
cristianismo oriental permaneceu inalterável.

C – CONTROVÉRSIAS TRINITÁRIAS E CRISTOLÓGICAS


No fim do II Século e no III começam aparecer divergências de interpretação dentro da própria
Igreja. As três grandes linhas de interpretação posterior (Ásia Menor, Roma e Alexandria) já começaram a
aparecer nos pais apostólicos. Movimentos gnósticos estão presentes em toda a Igreja no fim do II e início
do III século. Só foi possível contorná-los após a exclusão de seus grandes líderes. Com a ascensão de
Constantino, conhecido como o "imperador cristão", o palco estava pronto para uma série de conflitos
teológicos que duraria do IV até o VIII século. Estas controvérsias começaram como discussão da relação
de Jesus Cristo a Deus Pai e terminaram tentando explicar a relação entre as duas naturezas de Cristo. As
primeiras são chamadas de "trinitárias"; as últimas, "cristológicas".

1) O CONCÍLIO DE NICÉIA
Este concílio reuniu 318 bispos por um período de 3 meses para resolver as diferenças entre
Alexandre e Ário. Segundo Ário, presbítero de Alexandria, somente Deus Pai seria eterno não gerado. O
Logos, o Cristo pré-existente, seria mera criatura. Criado a partir do nada, nem sempre existiria. O Cristo
existiria num tempo anterior à nossa existência temporal, mas não era eterno. Por outro lado estavam
Alexandre e o jovem Atanásio que afirmava que o Logos era eterno e era o próprio Deus que apareceu em
Jesus. Deus é Pai apenas porque é o Pai do Filho. Assim o Filho não teria tido começo e o Pai estaria com
o Filho eternamente. Portanto, o Filho seria o filho eterno do Pai, e o Pai, o Pai eterno do Filho. A
cristologia de Ário foi rejeitada pelo concílio de Nicéia afirmando que a igreja acreditava em: "um só
Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus; gerado do pai, unigênito da essência do Pai, Deus de Deus, Luz
de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, consubstancial com o Pai, por quem
todas as coisas foram feitas no céu e na terra; o qual , por nós homens e pela nossa salvação desceu
do céu e encarnou e foi feito homem" "todos os que dizem que houve um tempo que ele não existiu,
ou que não existiu antes de ser feito, e que foi feito do nada ou de alguma outra substância ou coisa,
ou que o Filho de Deus é criado ou mutável, ou alterável, são condenados pela Igreja Católica".

2) CONTROVÉRSIAS CRISTOLÓGICA
A questão do relacionamento entre o Filho e o Pai foi resolvida em Nicéia. Porém isto gerou novos
questionamentos, agora em torno do relacionamento entre as naturezas humanas e divina de Cristo. Em
geral os teólogos ligados a Alexandria salientaram a divindade de Cristo, enquanto que os relacionados a
Antioquia, a sua humanidade, às expensas de Sua deidade. A controvérsia se iniciou no ensino de Paulo
de Samosata, bispo de Antioquia. Este ensinava o que se chama de adocionismo ou monarquismo
dinâmico. Jesus era um homem "energizado" pelo Espírito no batismo e assim exaltado à dignidade
divina. Apolinário de Laodicéia foi o primeiro a negar formalmente que Jesus teve uma alma racional. No
seu lugar estava o divino Logos.
O Concílio de Calcedônia (451) definiu a cristologia afirmando que Jesus Cristo era: "perfeito em
divindade e perfeito em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, de alma racional e corpo, da
mesma substância com o Pai segundo a divindade; e da mesma substância conosco segundo a
humanidade, semelhante a nós em todos os aspectos, sem pecado, gerado do Pai antes de todos os tempos
segundo a divindade..."

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3) OS PATRÍSTICOS PÓS-NICENOS
A influência dos pais sobre a Igreja posterior até a reforma é determinativa. As grandes catedrais
quando não faziam outro ensino teológico, tiveram suas cópias, feitas à mão, dos escritos patrísticos.
Estes foram lidos, estudados e até pregados. Naturalmente uns tiveram mais influência que outros. Para
alguns a influência teológica maior foi a de Agostinho, mas parece que é possível que a influência de
Jerônimo tenha sido mais duradoura do que a de Agostinho. Jerônimo não foi um pensador como
Agostinho, mas sua presença se tornou onipresente no oeste por duas obras dele: a tradução vulgata da
Bíblia e a introdução do monaquismo.

4) OS HISTORIADORES DA IGREJA
a. Eusébio de Cesaréia (260-340). Escreveu sua História Eclesiástica onde apresenta a história da
Igreja desde seu início até 324. A sua Crônica começa com Abraão e vai a 323. Deu estrutura
cronológica para toda a história medieval. Escreveu a Vida de Constantino onde louva o imperador.
Foi acusado de ser semi-ariano.
b. Sócrates: Nasce em Constantinopla e escreveu a história da Igreja de 305 até 439. É um autor não
crítico, ignorava a Igreja no oeste. Ele apresenta uma coleção inestimável de dados e documentos.
c. Sozomen: Foi criado em Gaza mas viveu em Constantinopla após 406. Apresenta a história de 323 a
439. Foi educado para ser monge. Dá destaque ao monaquismo em detrimento de outros dados
como a verdadeira filosofia cristã. A biografia é a principal força de sua história.

5) OS "TEÓLOGOS" DA IGREJA
a. Atanásio:(298-373) Assistiu o Concílio de Nicéia, mas aparentemente não foi um grande
luminário lá. Após a morte de Cirilo, Atanásio foi eleito bispo de Alexandria em 328. Durante seu
bispado foi exilado 5 vezes por Constantino e seus sucessores. Sua força se tornou tão grande, que
os últimos dois mandatos do exílio não podiam ser cumpridos. Nesse período a ortodoxia nicena já
havia triunfado sobre o arianismo. Sua vida pode ser dividida em 3 etapas: Antes de Nicéia até 325;
luta contra o arianismo 325-361 e período de vitória da ortodoxia, 361-373.
b. João Crisóstomo: (345-407). Foi um grande expositor e orador. Ao princípio advogou segundo
seu treino em direito. Após seu batismo em 368 se tronou monge. Com a morte da sua mãe em 374
seguiu uma vida extremamente ascética até 380, foi ordenado em 386 e se tornou patriarca de
Constantinopla em 398. Foi banido em 404 por ter denunciado as vestimenta extravagantes da
imperatriz, bem como a colocação de uma estatueta dela em prata na Igreja ao lado de Santa Sofia.
Morreu no exílio em 407. Ainda existem 604 dos seus sermões. A leitura destes sermões mostra a
força da sua pregação sem o acréscimo da personalidade de seu autor. A grande maioria destes
sermões versam sobre as epístolas de Paulo. Procurava levar em consideração o contexto e aplicar
aos dias dele o sentido literal do texto.
c. Teodoro de Mopsuéstia: (350-428). Foi príncipe dos exegetas da antiguidade, em contraste com
os alexandrinos, ele com Crisóstomo procuravam proclamar o sentido natural do texto. Foi
defensor, pelo menos em parte, de Nestório. Defendeu insistentemente a integridade da
humanidade de Cristo.
d. Basílio de Cesaréia (329-379) foi instalado na sé de Cesaréia em 370. Logo em seguida começou
uma série de negociações teológicas, primeiro com Atanásio e depois com o papa Dâmaso para
promover a reunião das igrejas cismadas pela controvérsia sobre a Trindade. Graças a sua obra de
organizador e legislador criou uma nova concepção da instituição monástica. Colocou como ideal o
quadro dos cristãos em Jerusalém (At:2-4) e destacou daí a obediência ao superior.

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e. Gregório de Nissa (331-395). Irmão mais novo de Basílio, foi um estudante da Bíblia e de
Orígenes. Foi eleito bispo em 371. Tornou-se o defensor mais avançado do credo de Nicéia. Foi o
primeiro a procurar estabelecer por considerações racionais a totalidade das doutrinas ortodoxas. A
filosofia se tornou uma auxiliadora da teologia. Embora divergiu de Orígenes, especialmente em
cosmologia, na maior parte aceitou o ensino deste no que podia acomodá-lo à fé explícita da Igreja.
f. Gregório de Nazianso (330-390). Foi eleito bispo em 372, junto com os dois anteriores, procurou
reconciliar as 2 proposições de Atanásio: a identidade de essência entre Pai e Filho com a distinção
de personalidade entre Pai e Filho. Os 2 Gregórios também procuravam salvar a reputação de
Orígenes para a ortodoxia. Assim adotaram a doutrina de Orígenes que dizia que o Logos uniu-se
com a natureza sensível pela mediação de uma alma humana racional. Acrescentaram que o Logos
tomou todas as partes da natureza humana em comunhão consigo e as permeava.
g. Jerônimo: (347-419). Foi o autor da Vulgata que ele insistiu traduzir do grego (NT) e hebraico
(AT), salvo os Salmos que já foram traduzidos da Septuaginta (LXX). Jerônimo introduziu dois
outros elementos à Igreja ocidental que tiveram grandes repercussões lá. Introduziu a vida ascética
a Europa ocidental. A importância disto só pode ser avaliada à luz da forma que a Igreja toma na
Europa medieval. Introduziu também Orígenes ao Oeste. Por causa de uma tradução tendenciosa
por parte de Rufino, Jerônimo fez uma tradução ao pé da letra de Orígenes. Mais tarde ficou
embaraçado de ter seu nome ligado a Orígenes. Condenou a doutrina deste, mas sempre admirou
seu estilo de escritor. Além de suas traduções da Bíblia e de Orígenes, Jerônimo é famoso por seus
comentários nas Escrituras. Seu primeiro (388) comentário foi sobre Eclesiastes, seguido no
mesmo ano por Gálatas, Efésios e Tito. Três anos depois publicou um sobre 5 dos profetas
menores. De 397 até 419 completou os profetas menores, bem como Jonas, Daniel, Isaias, Ezequiel
e Jeremias. E do NT apenas Mateus.
h. Ambrósio de Milão (340-397). Foi um grande administrador eclesiástico; pregador e teólogo. Foi
a pregação de Ambrósio que trouxe Agostinho ao evangelho. Era governador imperial da área ao
redor de Milão quando o bispo da cidade morreu em 374. O povo unanimemente queria que
Ambrósio aceitasse ser bispo. Crendo ser isto a vontade de Deus, renunciou ao seu cargo político,
distribuiu seus bens aos pobres e, após sua eleição, iniciou um estudo intensivo das Escrituras. Foi
um grande pregador apesar de sua exposição ser desfigurada pela interpretação alegórica das
Escrituras. Resistiu ao imperador Teodósio, não permitindo-o participar da Ceia até que humilde e
publicamente se arrependesse do massacre dos tessalonicenses. Aparentemente foi Ambrósio que
introduziu o cantar de hinos na Igreja Ocidental.
i. AURÉLIO AGOSTINHO (354-430) Fora do círculo apostólico, difícil é achar um homem de maior
estatura que Agostinho. Bispo, místico, santo, pregador, administrador, estudioso, teólogo,
polemista, filósofo, historiador, epistolário, comentador, mestre e autor. Entre seus muitos livros,
talvez estes 3 sejam os livros mais importantes; A Cidade de Deus, As Confissões, Sobre a
Doutrina Cristã (Todos existem em português). É o pai do misticismo medieval, o monaquismo e o
escolasticismo. Dominou a teologia da Idade Média como autoridade maior. Calvino disse que
poderia ter escrito a teologia dele dos livros de Agostinho. Além de intelectual, foi também
místico. Confissões, orações e adoração faziam parte do seu regime diário. É considerado o
fundador da filosofia moderna porque lutou com conceitos como: o eu cônscio, a personalidade, o
tempo, a história, o livre arbítrio, a verdade subjetiva. Por sua vez Agostinho foi muito
influenciado por Platão.

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6) A ODISSÉIA INTELECTUAL DE AGOSTINHO
Antes de tornar-se cristão (354-386), foi acordado para o amor à filosofia pela leitura de Hortesius
de Cícero. Este livro trouxe 2 aspectos polares ao pensamento de Agostinho: a ideia de Deus como fonte
do ser e da inteligência, e a ideia da alma como uma natureza espiritual que pode achar sua realização em
Deus. Em Cartago, Agostinho se tornou adepto do maniqueísmo embora ele talvez não passou de
"ouvinte" durante os 9 anos (dos 19 aos 28 anos) que era ligado à heresia.
Foi fascinado durante muitos anos pela astrologia embora não tenha chegado a praticar adivinhação. Após
esfriar sua simpatia para com o maniqueismo, Agostinho passou pelo ceticismo e pelas especulações
neoplatônicas. Converteu-se aos 32 anos sob a pregação de Ambrósio de Milão. Tornou-se apologético e
usou seus dons intelectuais e espirituais para combater as filosofias que outrora havia seguido. Negou o
conceito maniqueu de que há uma união do bem e do mal na alma humana. Contra o ceticismo achou
inegável que o homem possui pelo menos uma parte da verdade. Insiste contra os neoplatônicos de que há
salvação em Jesus Cristo.
Da conversão ao episcopado, (386-396). Escreveu 3 livros em 6 meses para se preparar para o
batismo: Contra os Acadêmicos; Vida Alegre e Providência Divina. Ao morrer seu filho Adeodatus em
389 escreveu: A vera Religião, o Professor, e Música. Foi consagrado sacerdote em 391 e bispo em 395,
ambos em Hipona. Seu episcopado durou 34 anos (396-430). Iniciou suas Confissões em 397 e terminou-
as em 399. Iniciou seu longo conflito com os donatistas em 398; e em 412 com os pelagianos. Mesmo
rejeitando o donatismo, Agostinho adotou a hermenêutica de Ticônio, um dos seus líderes. Em seus
últimos anos Agostinho se dedicou ao problema da relação entre a soberania divina e a responsabilidade
humana. Graça de Cristo e o Pecado Original (418), A Predestinação dos Santos e o Dom da Perseverança
(429).
A controvérsia donatista foi sobre a santidade da Igreja. Os donatistas estavam preocupados
principalmente com questões de disciplina. Não podiam separar o caráter apóstata do bispo e do valor dos
atos litúrgicos celebrados por ele. Assim o caráter imoral ou indigno do oficiante destrua a santidade e
assim o efeito divino do sacramento. Agostinho rejeitou a ligação donatista entre a santidade da Igreja e a
santidade empírica do clero. Escreveu 7 livros sobre batismo contra os donatistas, bem como 3 outros
para responder 2 cartas de Petiliano. No fim Agostinho se ajuntou aos que usariam a força para trazer os
donatistas de volta ao arraial católico.
A controvérsia contra o pelagianismo também ocupou bastante a vida de Agostinho, usou 3
volumes na coleção de seus ensinos. O monge Pelágio acusou Agostinho de heresia. O Problema
focalizado foi o da relação entre o poder divino para salvar e a vontade humana para responder ao poder
salvador. Agostinho admitia alguma liberdade humana, mas insistia que tanto o poder salvador como a
resposta humana vem de Deus. O ensino de Pelágio era que Adão foi criado mortal. Ele teria morrido
mesmo sem a queda. O pecado de Adão feriu apenas Adão. Cada um nasce inocente, mas de fato cai no
pecado. Assim que haviam homens sem pecado antes de Cristo. Para Pelágio, ao nascer a criança tem vida
eterna, mesmo sem o batismo. Perde-a ao praticar pecado concreto ao chegar à idade da razão (perto dos 7
anos). O batismo não regenera. O mal, por sua vez, é comunicado pelo mau exemplo dos homens. Assim
tanto Adão como Cristo influenciam a raça. Assim que a graça é necessária para redimir do pecado. Deus
dá a regeneração bem como a habilidade de agir. A lei tem o efeito de trazer os perdidos a Cristo. No
ensino de Agostinho, o pecado de Adão é transmitido a todos os homens pela semente humana, Rm:5:12.
Também ensina que Adão foi nosso representante. Distinguiu entre "voluntas"(vontade com capacidade
de agir) e "velleitas"(desejo sem liberdade para agir). Os eleitos tem "voluntas"; os perdidos "velleitas”.
A graça que liberta o homem é preveniente e irresistível. Não há em Agostinho o conceito de dupla
predestinação. Rejeita o dualismo maniqueu. O mal é ausência do bem. A criação tende a voltar ao ser

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
donde surgiu. Desde o seu retiro a Cassiciacum para se preparar para o batismo, Agostinho viveu nas
Escrituras. Acima de tudo era um estudante da Bíblia. Todos os seus sermões tem por base as Escrituras:
ou o texto do calendário ou outro por ele escolhido. Seu vocabulário e estilo são permeados com a
maneira antiga e rude das antigas traduções latinas da Bíblia. Começou com a interpretação alegórica de
Ambrósio (a Bíblia falava do mundo das ideias eternas). Mas o estudo o levou a ser preocupado com os
eventos históricos. A sua interpretação continua influenciando os teólogos de hoje.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
CAPÍTULO IX
O PAPADO

A - ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO PAPADO: 402 – 1073 D.C


Uma nova medida foi tomada para a centralização do governo da Igreja, entre os patriarcas
existentes, os mais importantes eram dois, o de Roma e o de Constantinopla, as duas cidades mais
importantes do Império. Por muitos séculos Roma impôs sua autoridade sobre o mundo. E claro seu bispo
tinha um poder que nenhum outro poderia ter.

B – ATÉ CONSTANTINO
Os antigos autores católicos insistiram que a Igreja de Roma foi fundada por Pedro e que tenha
tido uma linha de papas, vigários de Cristo, desde então. Oscar Cullmann, teólogo protestante, examina
detalhadamente a questão de Pedro ter estado em Roma. Conclui que estava lá e lá foi martirizado. Nega
entretanto que tenha fundado a Igreja ou passado seus direitos aos bispos subsequentes.
Também temos que Inácio, em princípios do II século, escreveu aos cristãos em Roma. Endereçou
a carta à Igreja e não a seu bispo. Todas as outras cartas de Inácio são endereçadas aos bispos das Igrejas.
A diferença é significativa. A lista dos primeiros bispos consta destes nomes: Lino, Cleto ou Anacleto,
Clemente (91-100), Evaristo, Alexandre(109-119), Sixto I (119-127), Telesforo (127-138), Higino (139-
142), Pio I (142-157), Aniceto (157-168), Soter (168-177), Eleutero (177-193). Estas datas são
aproximadas e temos poucas informações do seu pontificado. Vitor (193--202) Parece ser o primeiro a
procurar estabelecer a autoridade papal além das fronteira de sua igreja. Cipriano, Bispo em Cartago
durante o pontificado de Cornélio e Estevão, contribuiu bastante para fortalecer a autoridade do bispo de
Roma. Defendeu as reivindicações petrinas (Mt:16:18) sem entretanto colocar o papa sobre os demais
bispos. Estevão (253-257) procurou forçar as demais igrejas a seguir o costume romano quanto ao cálculo
da data da páscoa. Um outro elemento que contribuiu para fortalecer a posição de Roma neste período foi
a crescente prática das igrejas rurais ou de pequenas cidades serem relacionadas a alguma igreja em
cidade grande ou incorporadas num sistema diocesano. Esta prática começou no II século como resultado
do sistema missionário das igrejas mães.

C – DE CONSTANTINO A GREGÓRIO MAGNO


A oficialização da Igreja trouxe em seu bojo rápido desenvolvimento hierárquico. O declínio do
Império e sua queda no oeste acelerou ainda mais este processo, particularmente em relação as igrejas
ocidentais. Constantino se considerava bispo e até bispo dos bispos em coisas formais e até doutrinárias.
Sem sua permissão não se podia reunir um sínodo, sua atuação preparou o caminho para o bispo de Roma
se tornar "a episcoporum", como o foi a remoção do governo à Constantinopla.
Roma surge como árbitro entre as igrejas. No conflito entre os arianos e Atanásio, este contribuiu
para fortalecer Júlio por ter recorrido ao bispo de Roma, pedindo que convocasse um concílio. Esta e
outras questões entre as igrejas do leste e da África foram exploradas pelos papas para fortalecer suas
próprias posições. Logo que Damasso foi eleito papa (366), Valentinian e Gratian promulgaram um edito
que versava que o bispo de Roma deve ouvir e resolver disputas entre outros bispos. Assim questões
religiosas seriam resolvidas pelo "sumo-pontífice" de religião e não pelos magistrados civis.

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a. Siricius (354-398). Conseguiu que um concílio realizado em Roma decretasse que nenhum bispo deve
ser consagrado sem o conhecimento e consentimento do bispo de Roma. Mesmo que seja um decreto
falso, é muito antigo e exerceu grande influência.
b. Inocêncio I (402-417). Demonstrou grande ousadia em explorar as reivindicações de Roma, exigindo
submissão universal a sua autoridade. Nomeou Rufo bispo de Tessalônica. É a primeira vez que um
bispo de Roma nomeia bispo para Iliricum. Insistia que era a obrigação de todas as igrejas ocidentais se
conformarem aos costumes de Roma. Afirmava que todas as questões eclesiásticas no mundo devem
ser, por direito divino, remetidas à sé apostólica para lá serem decididas. Esta nova reivindicação foi
imediatamente rejeitada pelas igrejas da África. Mesmo assim, é a Inocêncio I que a eventual grandeza
da Sé de Roma é devida.
c. Celestino (422-432). Durante o exercício do seu papado foi resolvido a mui agitada questão do direito
de apelar a Roma decisões nas províncias. Celestino manipulou as questões de uma maneira que
sempre saia ganhando o prestígio de Roma, até o ponto de dispensar os cânones de um concílio geral
(questão da transferência de bispos de uma sé a outra).
d. Leão I (440) -461). Homem humilde, insistia que era sucessor de Pedro e que não se pode infringir a
autoridade deste. Conseguiu do jovem e fraco imperador Valentino III um edito em que este reconhece
a primazia da sé de Pedro e insiste que ninguém pode agir sem a permissão desta sé. No Concilio de
Calcedônia (451) os delegados de Leão condenaram um bispo em nome dele, como se fosse por
autoridade dele. A este mesmo concílio Leão reclamou bastante porque em um dos seus cânone
Constantinopla é elevada ao nível de Roma em direitos e privilégios. A estatura de Leão foi bastante
fortificada quando conseguiu interceder com o inimigo e assim salvar Roma em 455 de ser destruída
pelos vândalos.
e. Gregório I (589-604). Possivelmente o maior papa deste período, filho de um senador, adotou o
costume monástico. Pretendia ser missionário aos ingleses quando foi consagrado papa aos 49 anos de
idade. Reclamou que Máximo foi eleito patriarca de Constantinopla no lugar de seu candidato e
suspendeu todos os bispos que o consagraram sob pena de anátema de Deus e do apóstolo Pedro.
Repreendeu o patriarca de Constantinopla por ter assumido o título de bispo ecumênico.
Eventualmente Máximo foi humilhado pela pressão de Gregório e teve que submeter-se a Gregório.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
CAPÍTULO X

A IGREJA NA IDADE MÉDIA - 1073 – 1294 A.D

A - O PAPADO MEDIEVAL
O período culminante da história do período medieval foi durante o reinado do governo de
Hidelbrando ou Gregório VII, foi o maior papa de todos os papas. Hidelbrando encontrou o papado
enfraquecido e humilhado, mas o tornou o maior poder da Europa. Hidelbrando governou realmente a
igreja com o poder por detrás do trono durante o período de vinte anos antes de usar a tríplice coroa e
depois durante o governo papal até sua morte no ano de l085. Hidelbrando reformou o clero que se havia
corrompido e interrompeu, ainda que pouco, o exercício da simonia isto é, a compra de posições na igreja.
Elevou as norma de moralidade de todo o clero, e exigiu o celibato dos sacerdotes, que havia sido
defendido, porém não estava em vigor até então.
Libertou a igreja da influência do estado pondo fim a nomeação de papas e bispos pelos reis e
imperadores (até aquela data era de costume o bispo receber um cajado e um anel do rei ou do bispo
governante, jurando fidelidade ao seu senhor secular isso praticamente significava que os bispos eram
nomeados pelos governadores). Hildelbrando proibiu que os bispo fizessem tal juramento diante dos
governantes.
Hidelbrando impôs a supremacia da igreja sobre o Estado. O Imperador Henrique IV havendo se
ofendido com o papa Gregório, convocou o sínodo de bispos alemães induzindo-os a votar pela deposição
do papa. Gregório então vingou-se com excomunhão de Henrique IV e isentou todos os seus súditos da
lealdade para com o imperador. Henrique IV viu-se totalmente impotente face a punição do papa, por essa
razão no mês de janeiro de l077, o imperador ponde de lado toda as possessões reais com os pés descalço
e vestido de lã, permaneceu três dia de pé à porta do castelo do papa, afim de fazer ato de submissão e
receber o perdão do papa. Porém logo que Henrique IV recuperou o poder, declarou guerra contra o papa
e o retirou de Roma. O papa Hidelbrando morreu pouco depois fazendo essa declaração: “Amei a justiça e
aborreci a iniquidade, por isso morro no exílio”. Seu triunfo porém, foi maior que sua derrota. Gregório
VII não desejava abolir o governo do estado, mas que este fosse subordinado ao governo da igreja.
Aspirava que o poder secular governasse o povo, porém sob a elevada jurisdição do reino espiritual, como
ele compreendia.
À luz da história podemos perceber que esta ideia de Gregório VII contribuirá para a destruição da
vida nacional, da liberdade e do próprio cristianismo. Mas seu ponto de vista limitou-se a sua época e não
ao que poderia causar em tempos modernos. Para o homem medieval não havia outro meio de tornar o
cristianismo supremo no mundo a não ser tornando a igreja a suprema autoridade na terra. Cristianismo e
igreja eram a mesma coisa. A supremacia da igreja significava a supremacia do papado. E a igreja que
conheciam era a igreja Romana.

B – INICÊNCIO III – 1160-1216


A ideia da supremacia do papado não teve realização maior como no pontificado de Inocêncio III,
eleito em 1198. “O papa, disse ele, fica entre o homem e Deus; é menos que Deus, porém mais que o
homem. O papa julga a todos e não é julgado por ninguém”.
Inocêncio fez e desfez imperadores, afirmando que suas coroas lhes eram outorgadas pela vontade
do papa. Sob o seu pontificado o papado governou a Europa ocidental com um domínio indisputável. A

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
igreja dominou o mundo pelo seu chefe o papa. Através do século XIII o papado venceu não só seu
grande rival, o santo império romano, como também os soberanos da França e da Inglaterra. Através de
hábeis manobras políticas, Inocêncio passou a controlar a sucessão imperial. Juntamente com sacerdotes
franceses, instigou a Quarta cruzada para libertar a Palestina dos muçulmanos através da captura do Egito.
Deixou Constantinopla como base para a Quinta cruzada, já que o império oriental estava sob o seu
controle também, e patrocinou uma cruzada liderada por Simão de Monfor contra os albigenses em Albi
no sul da França e apoiada pelas ordens dominicana e franciscana.

C – OS ALBIGENSES E OS VALDENSES
Desde o século X o neomaniqueísmo, vindo do Oriente, invadira a Bulgária e a Macedônia onde
originou a seita dos bogomiles. No começo do século XI alcançou a Itália, Germânia e França. Mas no
século XII a heresia, com o nome de catarismo (os puros) fez rápidos progressos. Eles aceitavam um
sistema dualista de teologia e ascetismo semelhante aos gnósticos e maniqueus antigos. A gnose
ministrava–lhes a explicação do mistério de Cristo: Jesus era um dos inumeráveis Espíritos ou emanações
da substância divina; a encarnação e a redenção eram explicadas como os ascetas a explicavam. Graça,
sacramentos, culto da cruz e dos santos, imagens, relíquias e missa eram rejeitados e substituídos pelo
“consolamentum”, espécie de batismo pelo espirito, com imposição do Novo Testamento ou “texto” sobre
a cabeça do candidato. Rejeitavam o Velho Testamento, obra do Deus mau. Interpretavam literalmente o
NT. Como este sistema se baseava na Bíblia, a Igreja Romana proibiu o povo de possuí-la. Eram
rigorosamente ascéticos.
Os valdenses tinham a pretensão de remontar o evangelho primitivo por interpretação literal de
textos do NT e a substituição da concepção jurídica da autoridade. Seguiam a regra dos apóstolos.
Rejeitavam a liturgia cristã. Eram antimilitares, condenavam a guerra e atribuíam ao poder civil o
exercício do direito de luta. Contestavam a autoridade de estado, sob o pretexto de que Jesus proclamara
os filhos isentos do censo romano, e pela interdição do juramento, abalavam um dos princípios essenciais
da sociedade feudal. Na igreja, a hierarquia visível era a de santos, cujos poderes sacerdotais dependiam
da virtude. Repudiavam a igreja romana por não corresponder aos seus ideais, chamando-a sinagoga de
satanás.
Inocêncio III deu início em 1208 uma cruzada contra os albigenses, mas não conseguiu extrapor a
heresia. Inocêncio, então convocou um concílio geral em Roma, conhecido como o Quarto Sínodo de
Latrão, em 1215, que exigia uma confissão anual de todos os leigos diante de um sacerdote. “Se um
senhor temporal negligenciar em cumprir o pedido da igreja de purificar sua terra da contaminação da
heresia, será excomungado. Exterminarão os hereges, serão donos da terra sem discussão, e a
preservação da verdadeira fé. Os católicos que tomarem a cruz e se devotarem ao extermínio de hereges
gozarão da mesma indulgência e privilégio dos que se dirigem à terra santa…” (Documentos da Igreja
Cristã, H. Bettenson, ASTE, Pg. 180-181).
O pontificado de Inocêncio III marcou o clímax do poder papal na Europa. Mas o de Bonifácio
VIII, de 1294 – 1303, pode ser visto como o ponto mais baixo do poder papal na Idade Média. A
transferência da sé papal de Roma para Avignon, na França, em 1309 inaugurou o período conhecido
como o cativeiro babilônico do papado. Até 1377 o papa foi uma peça nas mãos dos monarcas franceses,
tendo perdido a grande força moral e temporal que tivera na Europa no pontificado de Inocêncio III.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
D – ORIGEM E FORMAS DE MONACATO
O monacato desempenhou importante trabalho eclesiástico na Idade Média. Embora Igrejas
protestantes tenham rejeitado o ideal monarquista, até hoje os religiosos são instrumentos essenciais na
Igreja Católica Romana.

1) O SURGIMENTO DO MONAQUISMO
Desde o início se levantam as questões quanto à vida cristã perfeita: o que é? como poder viver
esta vida? envolve transformação de toda a sociedade? é necessário fugir da sociedade não cristã para não
ser contaminado por ela? pode se viver em grupo ou apenas individualmente? No I e II séculos os cristãos
eram um número muito pequeno na sociedade. Em meados do III século milhares ingressaram na igreja.
Até o fim do V século a vasta maioria dos cidadão do império romano professou ser cristão. Nesse último
período (a partir de Constantino) a disciplina relaxou e a lacuna entre o ideal cristão e a realidade da
cristandade se tornou muito grande. Então, o monaquismo surgiu em parte como reação contra a
frouxidão espiritual, e em parte como resultado das insatisfação gerada pelo próprio ensino de Jesus. O
primeiro eremita cristão conhecido é Paulo de Tebes (alto Egito). Aos 22 anos na perseguição deciana
(250), se retirou para uma caverna onde viveu, segundo a lenda, 90 anos sem ser visto, sem comunhão,
sem igreja ou Bíblia, sem participar em culto ou eucaristia.

2) O MONACATO ORIENTAL
O monacato apareceu primeiro no Egito no III século. Tentativas tem sido feitas para encontrar as
origens deste movimento dentro do hinduísmo e nas religiões grego-egípcias. Após examinar os
resultados, o historiador K. Latourette acha que o evangelho é causa suficiente embora não descarta outras
influências. Orígenes deu um exemplo de extremo ascetismo em automutilação e em austeridade de
comida, bebida, dormir e confortos do corpo, teve uma influência profunda sobre a Igreja no Egito.
Antônio (250-356), ao visitar Paulo de Tebes se sentiu pequenino. Antônio já era monge, mas seguiu o
exemplo ascético de Paulo. Sua biografia, escrita por Atanásio, foi bastante divulgada e serviu para
estimular muito a expansão do monaquismo. Para alguns: "este é patriarca do monges, um pai sem filhos
que teve uma prole inumerável". Antônio foi o verdadeiro fundador da vida eremita. Viveu no princípio
numa sepultura e depois nas ruinas de um castelo. Sua comida consistia de pão, sal e água. As vezes
comia tâmaras. Comia uma vez por dia e isto após o pôr do sol. Os conflitos com o diabo e suas hostes
foi uma parte preeminente de sua vida. O diabo aparecia-lhe de todas as formas. Sua vestimenta consistia
de uma camisa de tecido de crina (cilício), uma pele de carneiro e um cinto. Quase nunca saiu da solidão.
Em 311, sob a perseguição de Maximinio, apareceu em Alexandria para encorajar os confessores e, se
possível ganhar a coroa do martírio. Ninguém ousou tocá-lo. Em 351, aos cem anos de idade, voltou a
Alexandria, para testificar a favor de Atanásio e da fé ortodoxa. O seu exemplo agiu como magia sobre
sua geração. Sua biografia escrita por Atanásio se tornou um best-seller. Crisóstomo recomendou sua
leitura. Agostinho foi levado por ela a renunciar ao mundo. Dentro da própria vida de Antônio o deserto
foi povoado por eremitas. O monaquismo se tornou o meio mais rápido para ser famoso na terra e garantir
recompensa eterna ao céu.
Simão Stilites (459) e os santos dos pilares. A vida dos eremitas eram semelhantes nos mínimos
detalhes. Com Simeão no V século algo novo foi acrescentado. Simeão e os seus imitadores gastaram
longos anos de dia e noite, verão e inverno em pé sobre altos pilares em oração e penitência. Simeão
comia apenas uma vez por semana e passava 40 dias da quaresma em jejum. Passou 26 quaresmas em
jejum. Os últimos 20 anos vivia sobre um pilar quase de 18 metros de altura, cujo topo media menos de

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um metro de diâmetro. Deste seu púlpito Simeão pregava arrependimento 2 vezes ao dia, resolvia
controvérsias, vindicava a fé ortodoxa, curava os doentes e convertia milhares do islamismo.
Pacômio, foi o fundador do monaquismo social (cenobita). Fundou uma sociedade de monges em
325. Antes de sua morte (348) esta sociedade contava com 8 ou 9 mosteiros com 3 a 7 mil membros. Cem
anos depois o movimento contava com 50.000 membros. Pacômio, após a sua conversão, nunca comeu
uma refeição inteira e durante 15 anos dormiu assentado numa pedra. A irmã de Pacômio, fundou um
mosteiro para mulheres sob o controle do superior geral pacomiano.

3) O MONACATO OCIDENTAL
O monaquismo no ocidente não produziu santos de pilares, nem tampouco os outros excessos de
heroísmo ascético. Era mais prático e se tornou importante instrumento para cultivar o solo, espalhar o
cristianismo e civilizar os bárbaros. Contemplação exclusiva foi trocada por uma alternação entre
contemplação e trabalho. Atanásio espantou Roma, trazendo consigo dois representantes rudes do
monaquismo egípcio. Depois os nobres romanos, especialmente as mulheres, passaram a imitá-los. A
influência cresceu quando a "Vida de Antônio " foi traduzida para o latim. Jerônimo também contribuiu
com a tradução da Regra de Pacômio.
Embora a teologia agostiniana da graça de Deus fosse inconsistente com o monaquismo,
Agostinho junto com os seus sacerdotes viveu uma vida monacal (pobreza e celibato). Ele a tinha como a
mais nobre vida, uma vida de abnegação a Deus e de preocupação com coisas espirituais.
Martin de Tours foi pioneiro no oeste, especialmente na Gália embora foi levado a ser bispo de
Tours, permaneceu em sua vida rude e simples.
Jerônimo foi outro pioneiro no oeste. Um estudante diligente e grande escritor e tradutor, foi um
elemento advogado da vida monástica. Mesmo quando secretário ao papa Damasso (382-384), Jerônimo
usou o vestido e seguiu a disciplina dos eremitas. Após deixar Roma construiu um mosteiro em Belém.
Foi acompanhado de Roma por uma discípula, Paula, que construiu um convento e hospício para
peregrinos. Jerônimo foi o elo entre a erudição e a religião, entre o leste e oeste. Foi o primeiro teólogo
erudito que abraçou a vida monacal.
Benedito de Núrsia (480-543). No meio da iniquidade, escuridão e desmoralização da época,
Benedito fundou em Monte Cassino a ordem dos Beneditinos. Aos mosteiros espalhados já existentes deu
unidade e uma regra geral. Aumentou seu número e incrementou sua eficiência. Multidões correram para
entrar nos mosteiros pelas mais diversas razões. A grande obra que lhes era proposta foi a construção da
Europa. Para isto cultivavam a mente e o solo. Criaram centros de vida religiosa e atividades
beneficientes. Dentro do possível patrocinaram a aprendizagem e preservaram livros. Benedito de Núrsia
e Cassiodoro, contemporâneos do VI século, estabeleceram mosteiro que, embora semelhante, são
diferentes. O de Benedito em Monte Cassino era uma escola para o serviço do Senhor mais nada. O de
Cassidoro em Vivarium objetivava as Escrituras e escritos seculares, salvação da alma e aprendizagem
secular. É difícil determinar presentemente a influência de Cassidoro. As principais fontes literárias para a
cultura monástica podem ser reduzidas a três: Escrituras Sagrada, a tradição patrística e a literatura
clássica.

4) A VIDA MONACAL
Iniciou-se no Egito como vida solitária. O eremita vivia numa cela, numa caverna ou num casebre.
Posteriormente foi inventado o viver em cima de colunas. Com o decorrer do tempo desenvolveu-se a
"laura". A "laura" era vida solitária em conjunto. Quer dizer, cada monge vivia só, mas viviam bastante
perto uns dos outros para permitir comunhão.

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Antônio foi eremita, mas mais tarde seus discípulos viviam suficientemente perto dele para tornar
a comunhão possível.
Cenobita é a forma social ou comunitária inventada por Pacômio. Viveram num mosteiro
governado por um monge líder e por uma Regra. Ao princípio cada mosteiro desenvolveu sua própria
regra. As regras do monacato cenobita, embora tendo diferenças de um mosteiro para outro, geralmente
contavam dos seguintes elementos: vestimenta simples, oração em conjunto em determinadas horas,
aceleração de eucaristia 2 vezes por semana, estudo e memorização da Bíblia, trabalho manual, 2
refeições por dia (sem carne ou vinho), jejum 2 vezes por semana e obediência absoluta aos superiores,
bem como pobreza e castidade. A conversação deveria ser limitada a assuntos espirituais.
Bendito de Nursia deu ao monaquismo ocidental forma fixa e permanente. Desta maneira superou
as tentativas imperfeitas de organização no leste, sua Regra rapidamente superou todas as demais e se
tornou o código imortal dos beneditinos e a base de toda a vida monástica da Igreja Católica. A Regra
consiste de um prefácio e uma série de ordenanças morais, sociais, litúrgicas e penais em um total de 73
capítulos. A Regra combina conhecimento profundo da natureza humana com a sabedoria prática de
Roma e uma adaptação a costumes romanos.
Após um ano de noviciado, o candidato fazia um voto irrevogável em 3 partes: "stabilitas"
(aderência perpétua); "conversio morum" (pobreza voluntária, castidade) e "obedientia coram Deo et
Sactis ejus (obediência absoluta ao abade como representante de Cristo). Segundo a Regra uma das
principais ocupações do monge é a "lectio divina", que inclui meditação: "meditari e legere".
Consequentemente o monge precisa possuir livros, saber escrever e ler. Ora o "ler" na antiguidade era
diferente de hoje. Consistia num ler principalmente com os lábios, pronunciando o que viram e escutando
com seus ouvidos “as vozes das páginas". "Meditari" significa ao mesmo tempo pensar, refletir e
afinidade com o prático ou moral. Assim meditar é se preparar para fazer alguma coisa.

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CAPÍTULO XI
O APARECIMENTO DO PODER MAOMETANO

A - O ISLAMISMO
O Islamismo é a religião fundada pelo profeta Maomé (cerca de 570 a 632 d.C.) em 622, em
Latribe (atual Medina, Arábia Saudita). A palavra árabe Islã significa “submissão a Deus” e os seguidores
dessa religião são denominados maometanos (seguidores de Maomé) ou Muçulmanos (palavra francesa
que vem do árabe “mussulmine”, o que entrega de corpo e alma a Deus).
No Islamismo não há sacerdócio profissional e recomenda-se aos seguidores que se abstenham de
tomar vinho. Além da aceitação e da récita do credo “Chahada”, o devoto tem mais quatro obrigações: a
oração; o jejum durante o mês Lunar de Ramadan, a distribuição de esmolas e uma peregrinação à cidade
santa de Meca, se possível.
É uma religião missionária, mas os muçulmanos não consideram os judeus e cristãos como pagãos
e geralmente permitiram-lhes que continuassem a praticar sua religião quando conquistados. Em séculos
passados, os exércitos muçulmanos ocuparam grande parte da Índia e chegaram certa vez aos arredores de
Paris.
O Islamismo, embora esteja agora tentando corrigir, adotou certas práticas como a guerra, usada como
meio de expandir a religião e o Estado, a poligamia, a escravidão e a intolerância.

B – FUNDADOR, CRENÇA E CARÁTER DE SUA RELIGIÃO


Segundo a onomástica árabe, o seu fundador chamava-se Abulgasim Mohammad Ibn Abd Al –
Muttalib Ibn Hânshim. O nome Maomé, vem de Mohammad que significa altamente louvado. Nasceu em
Meca, na atual Arábia Saudita, provavelmente no ano 570 d.C.
Seus pais morreram pouco depois do seu nascimento e ele foi educado por um avô e mais tarde
pelo seu tio Abu Teleb. Foi com ele em várias expedições, quando a caravana descansava, ouvia os contos
extraordinários dos seus companheiros e lendas maravilhosas conservadas pelo povo no decorrer dos anos
de jornadas solitárias. Assim ficou seu espírito, desde muito novo, cheio de fantasias lendárias que mais
tarde apresentou na composição do Alcorão.
Maomé casou-se com uma rica viúva, bem mais velha do que ele, quando tinha vinte e cinco anos.
Estabeleceu-se então em Meca como próspero mercador e iniciou uma vida contemplativa. Ele olhava
com um certo desprezo para as diferentes seitas inimigas que o rodeavam e para a prevalência da idolatria
e do politeísmo.
Apoderou-se dele então o desejo de fazer uma nova seita, que se distinguisse pela ausência de idolatria,
que reconhecesse apenas um deus supremo. Cheio desta idéia retirou-se para uma caverna perto de Meca,
acompanhado de um judeu persa muito versado na história e leis de sua crença, e dois cristãos professos, e
ali começou a compor aquela mistura de verdade e lenda chamada o Alcorão, ou livro. Saindo do seu
retiro alguns meses mais tarde, anunciou a sua nova obra ao mundo, e fez correr, entre amigos a notícia de
que tinha recebido o Alcorão pouco a pouco do anjo Gabriel.
Aos quarenta anos de idade, apresentou-se como apóstolo de Deus, e começou a ensinar as novas
doutrinas, no início conseguiu poucos adeptos e foi muito perseguido por parentes e irmãos. Depois de
uma conspiração dos coraixitas, ele fugiu para Medina para não ser morto, chegando lá em 22 de
setembro de 622, data que marca a Égira (emigração) é o início do calendário Muçulmano. A partir de
então foi fundada oficialmente sua religião. No entanto desde então sua religião espalhou-se rapidamente

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e quando Maomé voltou a Meca uns dez anos mais tarde, encontrou 157.000 adeptos, e entrou na cidade
com pompa e magnificência real. Tendo–se tornado senhor da Arábia, retirou-se para Medina, onde
morreu em 632 d.C., com 63 anos de idade.
A doutrina fundamental do maometismo se resume no bem conhecido dogma do seu autor “não há
outro deus se não Alá, e Maomé é o seu profeta”. Seguimos diz o Alcorão as doutrinas de Abraão, o
ortodoxo que não era idólatra. Cremos em deus, e aquilo que nos tem sido mandado, a nós e a Abraão,
Ismael, Isaque e Jacó e as tribos. O culto dos santos, e o uso de estampas são expressamente proibidos no
Alcorão, enquanto que se insiste no jejum, orações, peregrinações, nas oblações frequentes e nas esmolas.
Um dos seus últimos atos foi pôr a sua bandeira nas mãos de um jovem general, chamado Omar, filho
de Zeid, encarregando-o de batalhar com ardor, até acabar com todos os que negassem a unidade de Deus.
Para ficar-se sabendo como esta ordem foi cumprida, basta lembrar que pelos fins do século VII os seus
discípulos tinham tomado posse militarmente da Pérsia, Síria, da maior parte da Ásia Central e do
ocidente do Egito, e ainda da costa Norte da África e Espanha.

1) ASPECTOS FAVORÁVEIS DO MAOMETISMO


 Creem no mesmo Deus de Abraão
 Abominam a idolatria (imagens). Homens, animais, plantas e pedras
 Creem que os anjos são destituídos de sexo
 Costumam rezar com o rosto no chão em demonstração de submissão, respeito e adoração a Alá

2) ASPECTOS DESFAVORÁVEIS DO MAOMETISMO:


 Eles tem como alicerce da doutrina islâmica o Alcorão, a Suma e o Ljma.
 Não aceita a doutrina cristã da trindade
 Consideram Maomé como o último dos profetas, nega a Jesus todos os atributos e conceitos que
o cristianismo lhe dá ou lhe atribui.
 Consideram o céu como super oásis, onde encontrarão rios de leite, mel e vinho e multidões de
virgens com olhos negros de gazela.
 Os soldados em guerra santa para expandir o Islã, tinham entrada garantida nos oito círculos do
paraíso, mesmo antes do julgamento final
 O inferno do Islamismo nada tem de especial, apenas óleo fervente para aqueles que não
seguiram o preceito de Alá.
 Chamava-se guerra santa, toda guerra feita para expandir o Islã, tinha entrada gratuita no céu
quem morresse nessas guerras (os Muçulmanos).
 Desconhece o pecado original, uma vez que o erro de Adão não cai sobre sua descendência.
De uma outra forma, o Islamismo crê nas doutrinas do Judaísmo, da qual uma vez ou outra tira
ingredientes para misturar com doutrinas de religiões. Disse Maomé: Eu creio em Deus, em seus anjos,
livros e mensagens, no último dia, na ressureição dos mortos, na predestinação por Deus, no bem e no
mal, no julgamento, na justiça, no paraíso e no fogo do inferno. Não resta dúvida de que Maomé foi um
falso profeta. Mas o maior pecado do grande impostor foi negar a divindade de Cristo. Este pecado, tem
destruído as esperanças eternas de milhões de almas e por ele hão de ser julgados no dia do juízo final.

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CAPÍTULO XII

AS CRUZADAS

A - INTRODUÇÃO
As cruzadas são, sob vários aspectos, o fenômeno mais notável da idade média, foi um fenômeno
avassalador, dramático. Durante vários séculos a Europa ocidental derramou o seu fervor e seu sangue em
uma série de expedições cujos resultados foram, nos melhores casos, de pouca duração; e nos piores casos
trágicos.

B - OBJETIVOS E CAUSAS DAS CRUZADAS


Era derrotar os muçulmanos que ameaçavam Constantinopla, salvar o império do oriente, unir de
novo a cristandade, reconquistar a terra santa, e em tudo isto ganhar o céu. Desta forma temos que de
modo geral sentia-se que o cristianismo podia repelir os maometanos. O amor da aventura, a esperança do
saque, o desejo da expansão territorial e o ódio religioso, seguramente impulsionaram poderosamente os
cruzados. Seríamos, porém, injustos para com eles se não reconhecêssemos também que os cruzados
criam estar praticando algo mui importante para suas almas e Cristo. Assim temos que as causas das
cruzadas eram um misto de fatores: políticos, religiosos, econômicos, pessoal.

C - UM BREVE HISTÓRICO DAS CRUZADAS


1) PRIMEIRA CRUZADA
Aleixo I (1081-1118), rei mais forte que seus predecessores imediatos em Constantinopla, se
sentiu incapaz de enfrentar os perigos que ameaçavam o império. Pediu então auxílio ao papa Urbano II, o
qual prometeu o socorro. No sínodo reunido em Clermont, (1095) França, Urbano pregou a cruzada
obtendo resultado inesperado. Ele exortou aos cristãos da Europa ocidental a socorrer os seus irmãos do
oriente e também libertar os lugares santos das mãos dos hereges (muçulmanos). Urbano, prometeu
indulgência plenária a todos quantos se engajassem. Os ouvintes profundamente emocionados se disse
que gritaram: "Deus o quer". Um dos pregadores mais conhecidos desta cruzada foi Pedro, o eremita,
monge de Amiens ou seus arredores. Ele divulgou a mensagem pela Europa ocidental, aumentando o
entusiasmo e arrebanhava multidões para este empreendimento. Muitos destas multidões pereciam no
caminho, porém no verão de 1096 saíram exércitos melhor organizados, passaram o inverno em
Constantinopla, e na primavera entraram na Ásia Menor e capturam Antioquia em junho de 1098 e no ano
seguinte tomaram Jerusalém, matando muito dos seus habitantes.

2) SEGUNDA CRUZADA
Não obstante a desorganização feudal, o reino de Jerusalém se manteve até a captura de Edessa
pelos islamitas, em 1144. Essa captura representou a perda do seu baluarte do noroeste. Bernardo de
Claraval, então no auge da fama, pregou nova cruzada, em 1146, e recebeu apoio do rei francês, Luis VII
(1137-1180) e do imperador alemão Conrado III, (1138-1152). Não tinha, no entanto, o ardente
entusiasmo da anterior. Muitas das suas forças pereceram na Ásia Menor e as que alcançaram a Palestina
sofreram grave derrota em 1148, quando intentavam tomar Damasco. Foi um desastre completo, que
deixou profundo ressentimento no ocidente contra o império do oriente, pois os príncipes desse império,
com ou sem razão, foi atribuído o insucesso. As divisões entre os muçulmanos tinham sido a causa do

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
sucesso da primeira cruzada. Mas o curdo Saladino tinha edificado um estado muçulmano forte que
circundava o reino latino nas suas fronteiras continentais.

3) TERCEIRA CRUZADA
As novas desta catástrofe lançaram a Europa na terceira cruzada (1189-1192). Nenhuma delas foi
melhor preparada que esta. Três grandes exércitos foram chefiados pelo imperador Frederico Barba Ruiva
(1152-1190), o maior soldado da época; pelo Rei Filipe Augusto, da França (1179-1223); pelo rei Ricardo
Coração de Leão, da Inglaterra (1189-1199). Frederico morreu afogado acidentalmente na Cilicia e seu
exército, sem a sua vigorosa direção, tornou-se inteiramente ineficaz. As questões entre os reis da França
e Inglaterra e o rápido retorno de Filipe à França para atender a seus planos políticos, deram como
resultado o fracasso da expedição. Acre foi recuperada, mas Jerusalém ficou na posse dos muçulmanos.

4) QUARTA CRUZADA
No ano de 1202 estimulada pelo papa Inocêncio III e com o sonho da reconquista dos santos
lugares houve um novo empreendimento. Neste caso a intenção não era atingir a terra santa, mas atacar os
muçulmanos no centro do seu poder, o Egito. Esperava-se que desta maneira a reconquista de Jerusalém
fosse mais fácil e duradoura. E em vez de deixar o empreendimento em mãos de príncipes o papa se
declarou seu único chefe legítimo, mostrando como na terceira cruzada os interesses temporais dos reis
tinham levado ao desastre. Como na primeira cruzada os soldados de Cristo marchariam sob as ordens
diretas dos legados papais. O mais famoso pregador desta nova aventura foi Foulques de Neuilly, homem
de origem humilde que nos lembra Pedro, o eremita.

5) "CRUZADA DAS CRIANÇAS"


Em 1212 se deu este episódio triste e dramático. Crianças da França e da Germânia, dirigidas por
dois meninos, Estevão e Nicolau, marcharam pelo sul da Europa até Itália, na suposição de que a pureza
de suas vidas lhes daria o sucesso numa aventura em que seus pecadores pais tinham fracassado. Muitos
pereceram no caminho e os sobreviventes foram vendidos como escravos no Egito

6) FIM DAS CRUZADAS


Outras tentativas de cruzadas foram feitas. Contra o Egito foi organizada um expedição em 1218-
1221. De começo alcançou certo êxito, mas terminou em fracasso. É geralmente denominada quinta
cruzada. Mas curiosa foi a Sexta (1228-1229), o imperador Frederico II (1212-1250), que era livre
pensador, tomou a cruz em 1215 mas não tinha pressa em cumpri seus votos. Partiu por fim, em 1227,
retornando logo. Parece haver adoecido, no entanto o papa Gregório IX (1227-1241) o considerou
desertor e, tendo outros motivos para hostilizá-lo, o excomungou. Apesar da interdição, Frederico partiu
em 1228 e no ano seguinte, por um tratado feito com o sultão do Egito, obteve a posse de Jerusalém,
Belém, Nazaré e um ponto da costa. E Jerusalém ficou mais uma vez em poder dos cristãos, mais foi
definitivamente perdida em 1244. O espírito da cruzada estava quase morto, quando o rei Francês Luís IX
(1226-1270) levou uma expedição desastrosa contra o Egito (1248-1250). Foi feito prisioneiro nessa
empresa. E num ataque a Túnis, em 1270, perdeu a vida. A última tentativa de importância foi a do
príncipe Eduardo, pouco depois de Eduardo I, da Inglaterra (1272-1307). Essa expedição se deu 1271-
1272. A última possessão latina na Palestina foi perdida em 1291. Estavam terminadas as cruzadas, ainda
que se continuasse a falar em novas expedições durante os dois séculos seguintes.

HISTÓRIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL - SEMINÁRIO CASA DE PROFETAS


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D - CONSEQUÊNCIAS DAS CRUZADAS
Cresceu a inimizade entre o cristianismo latino e o oriental. Prejudicou a vida dos cristãos que
viviam em terras de muçulmanos. Na Europa ocidental contribuíram para aumentar ainda mais o poder do
papa. No que se refere à devoção, as cruzadas também tiveram grandes consequências para a cristandade
ocidental. As viagens constantes para a Terra santa e histórias cheias de prodígios, houve interesse em
conhecer mais sobre a realidade física de Jesus. Também a vida intelectual é alcançada, pois chegam
novas ideias do oriente. Algumas destas ideias consistiam nas velhas heresias. Mas também chegaram à
Europa ideias filosóficas, princípios arquitetônicos ou matemáticos, costumes e gostos de origem
muçulmana. Por último, as cruzadas têm relações complexas com uma série de mudanças econômicas e
demográficas que ocorreram na Europa ao mesmo tempo, que neste período foram o crescimento das
cidades e da economia mercantil.

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HISTÓTIA DA IGREJA: ANTIGA E MEDIEVAL
CAPÍTULO XIII

AS RIQUEZAS DA IGREJA

A - INTRODUÇÃO
Sua riqueza constituía em Terras, edifícios constituídos para fins religiosos com ricos mobiliários
e ornamentos caríssimos, construções das mais variadas e tipos. A maior parte das terras pertencentes à
Igreja vinha às suas mãos como doações de pessoas devotas.
Uma renda incalculável de todas as terras fluía continuamente para os cofres da Igreja, tanto dízimos
quanto impostos que se cobravam pelos serviços religiosos, além das vendas de indulgências.

B - A ORGANIZAÇÃO DA IGREJA
 Papa era o monarca absoluto da Igreja.
 Os bispos exerciam autoridade mas eram submissos ao pontífice.
 Centenas de monges estavam sob a direção imediata do Papa.
 Logo abaixo do Papa estavam os arcebispos que governavam províncias constituídas de várias
dioceses.
 O homem comum tinha contato com a Igreja através do Padre. O Padre da Idade Média dispunha
de um poder quase absoluto sobre o Povo. Com eles estavam os sacramentos necessários a
salvação.
 A Igreja Papal tinha a seu Serviço uma outra poderosa organização: as ordens monásticas
Cistercienses - Bernardo Abade de Claraval 1090-1153; Domingos e a ordem dos pregadores
1170-1221.
 Dentre os líderes religiosos mais honrados pela Igreja cristã hoje destacou-se Francisco de Assis
1182-1226, chamado “Amigo de Jesus”.

C - A DISCIPLINA E A LEI DA IGREJA ROMANA


Todos eram obrigados a confessar ao sacerdote pelos menos uma vez ao ano, e os que se
confessavam tinham de fazer penitência conforme a gravidade das faltas.
Somente a Igreja podia conceder perdão judicialmente. A Igreja ensinava que tinha o poder de diminuir
essas penas das pessoas que satisfizessem suas exigências enquanto estivessem vivas. Essa redução de
penas eram as indulgências, que passaram a ser vendidas.
O domínio da Igreja sobre a vida não era exercido somente por seu sistema disciplinar, mas por suas leis
aplicadas em tribunais.
Uma parte muito importante do mecanismo legal da Igreja e um dos principais meios de controle
foi a Inquisição, uma organização eclesiástica destinada a indagar, descobrir e punir heresias ou
discordância dos ensinos da Igreja. Em 1224 o Imperador Frederico II, tornou a inquisição passível de
morte.

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D - O CULTO DA IGREJA
No culto os sacramentos ocupavam a maior parte da adoração, especialmente a missa como
batismo, conferencias, eucaristia penitência, extrema unção, ordem e matrimônio. Ensinava-se que eles
constituíam meio de salvação.
A missa era o elemento central do culto o maior de todos os sacramentos.
A pregação passou para lugar secundário e muito pouca importância. Sendo ministrada em latim, por
consequência poucas pessoas entendiam e ouviam na Igreja.
O culto dos santos dominou inteiramente a religião popular.
O culto da virgem constituía parte muito importante da religião popular.
O disputar religioso do século XI, revelou-se principalmente na construção de Igrejas.

E - O QUE A IGREJA MEDIEVAL FEZ PELO MUNDO


Embora misturada com muitos erros, a Igreja Medieval guardou a fé cristã por vários séculos. Os
reformadores eliminaram a maior parte desses erros e apresentaram à Europa a fé cristã muito mais pura e
mais próxima da verdade do Novo Testamento.
Quando ela se organizou, a Europa estava no caos produzido pela migração de povos. O Império
Romano, que havia mantido o mundo unificado por tanto tempo, desmoronou-se. Havia o perigo de que a
população se dissolvesse em tribos bárbaras que guerreassem indefinidamente. Seria o fim do cristianismo
e das civilizações. A situação exigia uma organização poderosa que reunisse toda a humanidade em um
corpo e que exercesse domínio. A Igreja correspondeu a essa necessidade. A Igreja, submetendo a si todos
os homens, constituiu-se tão grande poder que conservou na vida da Europa Ocidental um forte elemento
de unidade.
A Igreja tomou os bárbaros e os instruiu nas verdades cristãs e os preparou para uma vida
civilizada, claro que com muitas imperfeições, mas foi realidade em caráter permanente. Com todas as
suas faltas a Igreja conseguiu muitos avanços no campo moral, introduziu nas leis certos princípios da
moral cristã. Amenizou a sorte dos escravos, elevou a posição da mulher, defendeu a instituição da
família. Suas instituições de caridade ajudaram a muitos necessitados. Ministrou quase toda a educação
que havia na Europa. Muitos homens cultos e grandes pensadores pertenciam ao clero. A ela também
devemos a maior parte das obras mais preciosas da arte medieval.

F - O SABER NA IDADE MÉDIA


Paralelo ao desenvolvimento dos movimento mendicantes e heréticos, desdobrou-se entre 1050 e
1350 o movimento intelectual escolástico.
O século XIII, levou a Escolástica ao apogeu estabelecendo a harmonia da graça e da natureza, da
razão e da fé. A crença é absolutamente racional. O escolasticismo pode ser definido como a tentativa de
racionalizar a Teologia para que se sustente a fé com a Razão.
A Teologia pôde ser tratada de uma perspectiva mais filosófica do que bíblica.
Os escolásticos estavam interessados em organizar racionalmente um corpo de verdades aceitas para que
vinda da revelação pela fé ou da filosofia pela razão, pudesse ser um corpo harmônico.
A mente medieval buscava uma unidade política, intelectual e eclesiástica.
O conteúdo do seu estudo era a Bíblia, os credos dos concílios ecumênicos e os escritos dos Pais da Igreja.
A questão que queriam resolver era saber se a fé era razoável ou não.

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G – DECLÍNIO MEDIEVAL E A ERA MODERNA 1305-1517
A história da decadência do Papado teve por consequência que a cristandade ocidental perdeu o
respeito pelo Papa. Contra a corrupção do papado e da Igreja surgiram diversos movimentos de reforma.
No início do século XII surgiram movimentos de oposição contra a atitude e o estado da Igreja por parte
de homens que abandonaram seu culto e comunhão.

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CAPÍTULO XIV

A PRÉ-REFORMA

A - INTRODUÇÃO
Logo no início do século XII, surgiram vários movimentos de oposição contra a atitude e o estado
da igreja, por parte de homens que conheciam o grande mal nela existente, e que abandonara o seu culto e
a comunhão. Não deve ser esquecido que geralmente as conversões eram em massa o que produzia um
cristianismo nominal. Assim que sempre houve dentro da Igreja pessoas que desejavam purificar esta de
qualquer anormalidade ou caminhos que fugiam do padrão cristão, mesmo que alguns movimentos
beiravam ou eram heresias.

1) PETROBRUSIANOS
Surge no sudeste da França, sob a chefia de Pedro de Bruys e Henrique de Laussane. Ele e os seus
seguidores opunham-se a superstição dominante na igreja e a certas formas de culto, como também a
imoralidade do clero. Eles rebatizavam após a conversão, eram contra os templos ou igrejas, bem como a
cruz. Eram biblicistas embora tenham rejeitado o AT.

2) ALBINGENSES
Acerca de 1.170, eles rejeitavam a autoridade da tradição, distribuíam o Novo Testamento. Opunham-se
às doutrinas romanas do purgatório, a adoração de imagens e as pretenções sacerdotais, apesar de terem
algumas idéias estranhas relacionadas com os antigos Maniqueus, e rejeitaram o Antigo Testamento.
Esta seita cristã teve como sede a cidade de Albi, na França, incluindo principalmente os Cântaros.

3) CATARISTAS
Desenvolveu-se nos fins do século XII e durante o século XIII. Na realidade foi uma igreja rival, pois ela
possuía a sua própria organização, o seu ministério, o seu credo, culto. O credo era uma estranha mistura
de cristianismo e idéias religiosas orientais. Pensavam que a matéria fora criada por Satanás e que ela era
a sede e fonte de todo o mal. Por isto não acreditavam que o Filho de Deus tivesse tido um corpo e vida
humana. A santidade era alcançada fugindo do poder da carne, negando os desejos ou deles fugindo pelo
suicídio. Suas vidas abnegadas e de moral irrepreensível constituíam uma reprimenda ao clero que usava
o nome de cristão.

4) OS VALDENSES
No fim do século XII, um negociante de Lião, chamado Pedro Valdo, movido pelo ensino do capítulo 10
de Mateus, começou a distribuir o seu dinheiro com os pobres e se tornou pregador ambulante do
Evangelho. Teve muitos seguidores. As autoridades eclesiásticas logo os excomungaram. Expulsos e
considerados inimigos começaram a se organizar como igreja à parte. Era um movimento semimonástico
(pobreza, celibato, consagração ao trabalho religioso itinerante). Eram biblicista em eclesiologia, embora
que alguns repudiaram o AT. Só usava a oração dominical e davam ações de graças nas refeições. Ouviam
confissões, celebravam juntos a Ceia do Senhor e ordenavam os seus membros ao ministério. Não
aceitavam as missas e orações pelos mortos. Negavam o purgatório.

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5) JOÃO WYCLIFF
O espírito de nacionalismo que se vinha desenvolvendo na Inglaterra preparou o caminho para a obra de
Wycliff. Quando ele entrou em luta com o papado em 1375, já a Inglaterra durante 75 anos, pelos seus
reis, pelo seu parlamento, e mesmo pelos bispos, resistira a interferência papal nos negócios da Igreja. A
primeira investidura de Wycliff foi contra um suposto direito do papa de cobrar impostos ou taxas da
Inglaterra. Sustentou a tese de que não haveria distinções de classes dentro do clero. Negou a
transubstanciação. Traduziu a Bíblia no vernáculo e a distribuiu em toda Inglaterra. Para ele a suprema
autoridade em assuntos religiosos era a Bíblia. Para espalhar entre o povo a Bíblia e os seus ensinos, ele
organizou a ordem dos "lolardos", muitos dos quais eram estudantes de Oxford.

6) JOÃO HUSS
Os ensinos de Wycliff deram origem a outra revolta maior contra a igreja papal chefiada por João Huss.
De posse dos livros de Wycliff avidamente bebeu-lhe as idéias. Ensinando as doutrinas de um
"hereje"entrou em conflito com os chefes da igreja papal. Todavia defendeu seu direito de pregar a
verdade de Cristo como sentia e a entendia. Excomungado pelo seu desafio ao papa João XXIII, em 1412,
ao qual Huss compareceu. Escreveu o seu livro mais importante, no qual ensinava que a "Lei de Cristo",
isto é, o Novo Testamento, era o guia suficiente para a igreja, e que o papa só podia ser obedecido até
onde suas ordens coincidissem com esta lei divina

B – CONCÍLIOS REFORMISTAS
O meio pelo qual propunham reformar a Igreja era um concílio geral, que, segundo a velha teoria,
era a suprema autoridade na Igreja. Perdidas as esperanças no papado, os reformadores reviveram essa
teoria com um meio de alcançarem os seus propósitos. Tentaram isto primeiramente no Concílio de Pisa,
num vão esforço para curar o cisma. Pouco tempo depois foi convocado o concílio de Constança que
conseguiu restaurar a unidade da igreja. Muitos participantes do Concílio, porém, pretendiam fazer muito
mais do que isto. Queriam conseguir o que eles chamavam "a reforma da Igreja da Cabeça aos pés". O
concílio era constituindo por um grupo de homens aos quais não faltavam habilidade, inteligência e
interesse. Também estavam representados os poderes civis quer pessoalmente ou por meio de
embaixadores. Não obstante haver muita discussão sobre a reforma, o concílio, depois de três anos, nada
conseguiu. Os políticos representantes do papa fizeram um astuto jogo de oposição a qualquer
modificação que se chocasse com seus altos interesses pessoais. Zelos nacionalistas dividiram os
reformadores. Mas a causa real do fracasso é que não havia entre eles bastante caráter, firmeza de
propósitos, entusiasmo moral para atingirem os seus objetivos.
Poucos anos depois, os interessados na reforma tiveram outra oportunidade no concílio geral de
Basiléia. Todavia, ali, não obstante haver muita discussão sobre reforma, enquanto o concílio se arrastava
numa lentidão enervante (1431-1449), nada foi conseguido de substancial. O que se verifica de tudo isto,
é que muitos homens ilustres de então já sabiam, que não era possível surgir dentro da igreja papal
qualquer reforma cuja ação fosse iniciada por esta organização mesma. A força do mal nela existente não
podia ser destruída por ela mesma, a despeito de toda a indignação e protesto da opinião pública da
Europa. A reforma só poderia vir por meio de uma revolução que desfizesse aquela organização.

C - TENTATIVAS DE REFORMAS DENTRO DA IGREJA - CONCÍLIOS


REFORMADORES 1409-1449
A degradação do Papado com o cativeiro babilônico e com o grande cisma, as explorações e
extorsões feitas pelos papas, os vícios, as ambições desmedidas, a incompetência e a negligência do clero,

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a queda geral da disciplina, a administração entregue nas mãos dos bispos fracos e corruptos, todas estas
coisas causavam tristeza e o desejo de uma reforma generalizada, bem como protestos para que se
banissem da primeira Igreja tantos males e vergonha.
O meio de se alcançar a reforma era o Concílio geral, que na teoria era suprema autoridade na
Igreja, convocado para acabar com o cisma na liderança da Igreja Romana para reformar esta Igreja a
partir de dentro e aniquilar a heresia.

1) CONCÍLIO DE PISA 1409


Quando o Concílio se reuniu, Benedito XIII estava em Avignon e Gregório XII em Roma. O Concílio,
convocado pelos cardeais, estabeleceu que os mesmos tinham autoridade para convocá-lo e tinham
competência para chamar os papas á responsabilidade pelo Cisma. O Concílio depôs Benedito e Gregório
e indicou Alexandre V como legítimo papa. Os dois papas se recusaram á deposição. Havia então três
papas. Tendo morrido Alexandre V em 1410, sucedeu-o João XXIII.

2) CONCÍLIO DE CONSTÂNCIA 1414-1418


Convocado por Sigismundo, imperador do santo Império Romano e por João XXIII. Os membros do
Concílio decidiram votar como grupos nacionais de clérigos. Cada grupo teria um voto, pelo que o voto
unânime das cinco nações representadas era necessário para validar qualquer decisão do Concílio.
O Concílio declarou-se legal e afirmou seu direito de autoridade suprema da Igreja Romana. Este decreto
conciliar, que substituiu o absolutismo papal pelo controle conciliar da igreja de Roma, concebeu o título
de Scrosanc. Gregório XII tinha abdicado e, depois de muitas negociações, Benedito XIII e João XXIII
foram depostos. Martinho V foi eleito como o novo papa. O concílio tirava do colégio dos cardeais o
privilégio de eleger o papa. O concílio tratou também do problema da heresia, condenando as idéias de
Wycliffe e levando Hus à fogueira. Um decreto do concílio intitulado Frequens, estabelecia a reunião de
concílios gerais em ocasiões futuras como forma de manter a Ordem na Igreja Romana.

3) CONCÍLIO DE BASILÉIA 1431-1449


A insatisfação da Boêmia com o Martírio de Huss e a necessidade de continuar a reforma, levaram a
convocação do concílio de Basiléia em 1431. Ele se arrastou até 1449, mas o vigor do movimento
reformista foi arrefecido pelo ressurgimento do poder papal. Eugênio IV, o papa de então, foi deposto dois
anos depois de o concílio rival em Ferrara. Por causa da peste o concílio rival foi transferido para
Florença. Este concílio tentou, sem sucesso, reunificar as Igrejas Grega e Romana. Foi este Concílio que
estabeleceu os sete sacramentos a serem aceitos pela Igreja Romana. O Concílio de Basiléia reconheceu a
derrota ao se dissolver em 1449.

D – A RENASCENÇA COMO PREPARAÇÃO PARA A REFORMA


A Renascença entre 1350 e 1650 marca a transição da era medieval para a moderna.
A volta as Origens; a palavra formada de outras duas do latim, nascimento e volta, expressa a
ideia de um renascimento da cultura.
A Renascença pode ser definida como o período de reorientação cultural em que os homens
trocaram a compreensão corporativa religiosa e medieval da vida por uma visão individualista, secular e
moderna.
Vários fatores contribuíram para o surgimento da renascença entre eles:
a) A riqueza das cidades: proporcionava o prazer pelo estudo e toda forma de vida agradável e
confortável que o dinheiro pudesse comprar.

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b) O governo centralizado: Garantia a ordem e a segurança
c) O advento da imprensa em 1456: Possibilitou a disseminação rápida da informação
d) O nominalismo: com interesse sobre o indivíduo e sobre a experimentação como meio de se
chegar à verdade.

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CONCLUSÃO DO CURSO

Cristo deixou este mundo há mais de dezenove séculos; entretanto, ele ainda está no mundo
através da igreja, assim como o corpo humano é vivificado pela alma, da mesma maneira o corpo de
Cristo é vivificado pelo Espírito Santo. Jesus Cristo produziu um organismo permanente, uma união
permanente de mentes e almas, concentradas entorno de sua pessoa. Os cristãos não são meramente
seguidores de Cristo, senão membros de Cristo e membros uns dos outros.

Ao longo da história observamos que a igreja sempre enfrentou problemas, e não é diferente hoje.
Porém, o verdadeiro cristianismo ensinado por Jesus no início da igreja primitiva, foge muito do que é o
cristianismo hoje no século XX, por isso devemos nos esforçar para hoje como representantes de Cristo
aqui na terra pregarmos e vivermos o verdadeiro evangelho e assim sermos a verdadeira igreja de cristo,
ou seja, uma igreja gloriosa, sem mácula e sem rugas (Ef. 5:27 ).

Esperamos que este estudo tenha ajudado o aluno a compreender verdades escondidas na história,
mas que a própria história (com a direção de Deus), se incumbiu de revelar.

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REFERÊNCIAS

1) VIELHAUER, Philipp. História da Literatura Cristã Primitiva, São Paulo: Editora Academia Cristã,
2005.
2) CAIRNS, Earle E.. O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo: Editora Vida Nova, 2ª ed., 1988.
3) DREHER, Martin Norberto. A Igreja no Império Romano. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1993.
4) WALKER, W.. História da Igreja Cristã, Rio de Janeiro: Juerp/Aste, 3ª ed. vol I e II, 1981.
5) BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã, São Paulo: Asta, 1967.
6) DAVIS, John D.. Dicionário da Bíblia, Rio de Janeiro: Juerp, 1987.
7) WALKER, John. Igreja e Cultura, São Paulo: Worship Produções.

OBS:
É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila, sem a permissão por escrito, do Seminário
Casa de Profetas.

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