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Aula 2

VISÃO PANORÂMICA DA
HISTÓRIA DA IGREJA
INTRODUÇÃO

Alguém escreveu que “para compreender o presente é preciso conhecer o pas-


sado”. Para nós, cristãos, essa verdade se reveste de importância ainda maior. O
conhecimento da história da igreja é uma ferramenta eficaz para todos aqueles que
desejam compreender a sua herança espiritual e, assim, desenvolver um senso de
continuidade com o passado. A história não é um conjunto de acontecimentos ale-
atórios e sem rumo. Pelo contrário, ela nos revela, por trás de eventos muitas vezes
confusos e aparentemente desconexos, o propósito providencial de Deus. O estu-
do da história do cristianismo nos auxilia a ter maior consciência de nossa identi-
dade e missão no mundo como igreja de Cristo.

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HISTÓRIA DA IGREJA I
A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo

A HISTÓRIA DIVIDIDA EM PERÍODOS

Para estudar a história da igreja de forma mais didática, costuma-se dividi-la em


períodos. Tal classificação é útil, pois nos ajuda a entender as mudanças entre um
período e outro, facilitando a compreensão de um tema tão vasto e complexo. É
importante, porém, entender que essas divisões têm algo de artificial e, portanto,
é possível dividir a mesma história de vários modos, variando de acordo com os
critérios de diferentes estudiosos.

UM BREVE PANORAMA DAS FASES DA IGREJA

1. Igreja Apostólica | Da ascensão de Cristo (30 d.C.) à morte de João (100 d.C.)
A primeira fase da história da igreja é a fase apostólica. Se inicia com o ministério de
Jesus na judéia até a morte de João, o último apóstolo de Cristo, no fim do primeiro
século. Após a ascensão de Cristo aos céus e o derramamento do Espírito Santo
sobre seus discípulos em Jerusalém, a mensagem a respeito do evangelho come-
çou a ser anunciada, especialmente pelos apóstolos. Nessa fase foram fundadas as
primeiras comunidades cristãs, começando por Jerusalém, em toda a Judéia, em
Samaria e, por fim, em toda a região da Ásia Menor, conhecida hoje como Turquia.
A maioria das comunidades cristãs eram formadas por judeus e gentios converti-
dos ao judaísmo, que confessaram a fé em Jesus Cristo como Messias. Uma das
primeiras tarefas do cristianismo, e talvez uma das mais importantes, foi definir

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sua própria natureza em contraste com o judaísmo do qual surgiu. A destruição de


Jerusalém no ano 70 d.C foi um fator que contribuiu decisivamente para a emanci-
pação definitiva da igreja em relação ao judaísmo.
Por cerca de quinze anos, a igreja de Jerusalém ocupou a liderança do novo movi-
mento. Posteriormente, a comunidade de Antioquia da Síria passou a exercer esse
papel. Em Antioquia, pela primeira vez, o evangelho foi pregado deliberadamente
aos gentios e, pela primeira vez, os discípulos de Cristo foram chamados de "cris-
tãos". Em pouco tempo essa cidade tornou-se o centro de um poderoso esforço
missionário transcultural que levou a mensagem cristã a muitas regiões importan-
tes do Império Romano. Um personagem central desse esforço foi o apóstolo Paulo.
Desde o seu início a igreja enfrentou intolerância e perseguição. As primeiras per-
seguições ocorreram por parte do Sinédrio e dos Herodes, e teve como seus pri-
meiros mártires Estevão e Tiago, o irmão de João. Posteriormente, à medida que
a fé cristã se difundia pelo Império Romano, os discípulos continuaram a sofrer
oposição também pelos gentios que se sentiam ofendidos por terem os seus deuses
pagãos negados pelos cristãos e pelos imperadores que os enxergavam como uma
ameaça para o império e a sociedade. O cristianismo surgiu dentro de um mundo
que já tinha as suas próprias religiões, culturas e estruturas políticas e sociais. Den-
tro desse contexto, a nova fé abriu caminhos, ao mesmo tempo em que definia a si
mesma.

Dez fatos importantes que caracterizam esse período:


1. Derramamento do Espírito Santo em Pentecostes.
2. A igreja sob a liderança dos primeiros apóstolos.
3. Cristianismo centralizado primeiramente em Jerusalém e depois na Antioquia.
4. A igreja enfrenta o desafio de não se tornar uma seita judaica.
5. Estevão é morto como o primeiro mártir cristão.
6. Os gentios são acrescentados à igreja.
7. Viagens missionárias de Paulo e expansão do evangelho no Império Romano.
8. A escrita do Novo Testamento.
9. A destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.
10. Morte de João, o último Apóstolo, em 100 d.C

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2. Igreja Perseguida | Da morte de João (100 d.C.) ao Edito de Milão (313 d.C.)
Nesse período o cristianismo se difundiu por todo o Império Romano e a igreja
experimentou importantes mudanças, tanto de caráter teológico quanto institucio-
nal. Essas mudanças se deram por causa de seus crescentes desafios, tanto internos
(como o aumento da diversidade teológica e o surgimento de novas heresias) quan-
to externos (como as acusações e as intensificações das perseguições imperiais).
Todos esses desafios produziram grandes mártires da fé cristã, que selaram a defesa
de sua fé com o próprio sangue. Foi, como resposta a eles, que a igreja sentiu a
necessidade de definir mais claramente a sua identidade institucional e teológica,
visando obter maior unidade estrutural e uniformidade doutrinária.
Desse processo resultou a igreja “católica”, cujo termo é encontrado pela primeira
vez numa carta escrita pelo bispo Inácio de Antioquia, por volta do ano 110. A partir
do segundo século, a expressão foi utilizada para designar a igreja verdadeira, apos-
tólica e ortodoxa, em oposição aos movimentos dissidentes. A igreja católica ca-
racterizava-se pelos seus elementos de unidade e identidade, tais como: nomeação
de um bispo monárquico; criação de uma regra de fé, cujas verdades fundamentais
da fé cristã passaram a ser claramente expressas na forma de credos “trinitários”;
e uma iniciativa para formação do cânon do Novo Testamento. Assim, a igreja se
tornou mais organizada e administrativamente mais centralizada.
Nessa época se começou a produzir as primeiras obras teológicas do cristianismo.
Primeiro vinham os “pais apostólicos" como Clemente de Roma, Inácio de An-
tioquia, Policarpo, Papias e outros, cujos escritos continham declarações simples,
piedosas e práticas das verdades fundamentais da fé, motivadas principalmente por
um interesse pastoral. Depois, já na segunda metade do segundo século, surgiram
os apologistas, cujos escritos tinham como objetivo defender a fé cristã diante das
autoridades, dos judeus e dos intelectuais pagãos. O mais notável deles foi Justino
Mártir. Por fim, já no fim do segundo século e início do terceiro, surgiram os teólo-
gos polemistas que em geral tiveram maior estatura intelectual que os apologistas
e foram mais agressivos do que eles em seus escritos. Os mais importantes foram
Irineu de Lião, Tertuliano, Cipriano, Clemente de Alexandria e Orígenes. Alguns
deles dirigiram-se contra intelectuais pagãos, mas a maioria voltou-se contra falsos
ensinos dentro da própria igreja. Esse período termina com a “conversão” do Im-
perador Constantino, que através do famoso Edito de Milão legalizou o cristianis-
mo, fazendo cessar assim as perseguições.

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Dez fatos importantes que caracterizam esse período:


1. O grande crescimento da população cristã.
2. A igreja enfrenta fortes perseguições pelos imperadores romanos.
3. A igreja enfrenta novas seitas e heresias.
4. Desenvolvimento da organização eclesiástica.
5. Desenvolvimento das doutrinas cristãs.
6. Ensino unificado na igreja.
7. Criação de uma regra de fé.
8. Surgimento dos primeiros pais da igreja.
9. Primeiros escritos pós-apostólicos.
10. Suposta conversão do imperador Constantino põe fim à perseguição.

3. A Igreja Imperial | Do Edito de Milão (313 d.C.) à queda de Roma (476 d.C.)
Com a “conversão” do Imperador Constantino, o rumo do cristianismo mudou
radicalmente. A igreja que até então era perseguida, passou a ser tolerada e pouco
tempo depois se tornou a religião oficial do Império Romano. Ela passou a receber
dos imperadores generosas doações de propriedades, isenção de tributos e outros
privilégios. Em troca dos benefícios concedidos à igreja, Constantino e os seus su-
cessivos imperadores sentiram-se no direito de intervir nas questões eclesiásticas
da igreja. E assim começou o complexo relacionamento entre a igreja e o estado.
Essa mudança em relação ao status da igreja não foi fácil, e houve cristãos que
reagiram de muitas maneiras diferentes. Alguns enxergam isso como uma grande
vitória do cristianismo e se mostram tão gratos pela nova situação que se lhes tor-
nou difícil adotar alguma atitude crítica, tanto para com o governo como para com
a igreja. Outros fugiram para o deserto e locais isolados, pois acreditavam que a
cultura secular estava capturando a essência da fé cristã. Tal prática influenciou o
surgimento de uma instituição que haveria de se tornar imensamente importante
na história posterior da igreja: o monasticismo. Outros, porém, como os mais des-
tacados líderes do cristianismo nessa época, adotam uma postura intermediária:
continuam vivendo nas cidades e participando da vida comum em sociedade, mas
com espírito crítico. Esses se tornaram alguns dos maiores teólogos da igreja, o que
trouxe o florescimento da “era patristica”.
Nesse período foram escritos os grandes tratados teológicos, bem como importan-
tes obras de espiritualidade e a primeira história da igreja. Os primeiros grandes

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defensores da fé nesse período foram Atanásio de Alexandria, Basílio de Cesaréia,


Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa, que combateram a controvérsia Ariana.
Depois, no final do século IV e início do V, viveram outros quatro líderes e escrito-
res importantes como Ambrósio, João Crisóstomo, Jerônimo e Agostinho, os quais
combateram heresias como o donatismo e o pelagianismo. Esse período terminou
com a queda do Império Romano Ocidental pelas invasões dos bárbaros, que se
estabeleceram em seus territórios.

Dez fatos importantes que caracterizam esse período:


1. O imperador Constantino beneficiou o clero da igreja e construiu os primeiros
templos cristãos.
2. Acontece o Concílio de Nicéia, o primeiro concílio universal da igreja.
3. Início do Movimento Monástico.
4. Maior organização eclesiástica através dos bispos.
5. Fechamento do cânon do Novo Testamento.
6. Formação do credo apostólico.
7. Fundação de uma “Nova Roma” por Constantino, com a capital no oriente: Bi-
zâncio (Constantinopla).
8. Em 373 o cristianismo se torna a religião oficial do Império.
9. Florescimento dos “pais da igreja” e maior desenvolvimento da teologia.
10. Enfraquecimento do Império Romano do Ocidente e crescimento das invasões
bárbaras até chegar à queda do Império em 476.

4. A Igreja Medieval | Da queda de Roma (476 d.C.) à queda de Constantinopla (1453


d.C.)
Com a queda de Roma, a parte ocidental do império romano foi ocupada pelos ger-
mânicos. As reviravoltas políticas desse período trouxeram muito caos e desordem.
A igreja foi a única instituição que conservou um pouco da ordem e da cultura, o
que a tornou cada vez mais forte e influente até chegar a ser o principal poder polí-
tico da Idade Média. Nesse período surgiu uma nova ameaça ao cristianismo: o isla-
mismo, que em pouco tempo conquistou vastos territórios e cidades que até então
tinham sido importantes na vida da igreja, como por exemplo, Jerusalém, o berço
do cristianismo. Com isso, por motivos político-religiosos, surgiu o movimento
das Cruzadas, o que em parte contribuiu para um grande impulso no comércio fa-
zendo surgir uma nova classe social: os burgueses. Com o tempo, o papado romano

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foi se corrompendo cada vez mais por questões políticas, experimentando a maior
decadência da sua história, embora tenha passado por alguns ajustes internos e
experimentado o seu apogeu.
Em todo esse longo período, surgiram várias novas ordens monásticas, as quais
realizaram um admirável trabalho nas áreas de missões, espiritualidade, cultura e
beneficência. Como extensão dos colégios episcopais surgiram as universidades,
onde se estudava filosofia, direito, medicina e teologia. Como consequência, sur-
giu o escolasticismo, movimento intelectual formado pela união da teologia com
a filosofia aristotélica, cujo maior representante foi Tomás de Aquino. A teologia
escolástica contribuiu para o renascimento, o que posteriormente influenciou os
primeiros pensamentos da reforma protestante.
Enquanto isso, na parte oriental do império romano, também conhecido como Im-
pério Bizantino, a igreja sofreu por causa de suas estreitas ligações com o Impé-
rio. Como o Estado era mais poderoso do que a igreja, os imperadores geralmente
impunham a sua vontade. Com o passar do tempo a igreja tornou-se enfraquecida
pelas lutas teológicas, cismas e invasões muçulmanas. Depois de várias disputas a
Igreja Oriental finalmente separou-se da Igreja Ocidental por não aceitar a autori-
dade universal do papa romano, e passou a ser conhecida como Igreja Ortodoxa.
Esse período chegou ao seu fim com a queda de Constantinopla, capital do Império
Bizantino, que foi tomada pelo Império Otomano em 1453.

Dez fatos importantes que caracterizam esse período:


1. Fim do antigo Império Romano clássico.
2. Cristalização dos povos bárbaros.
3. Crescimento da igreja tanto em número quanto em poder e autoridade.
4. Início do Sacro Império Romano.
5. Cisma da Igreja Romana (ocidente) e Ortodoxa Grega (oriente), em 1054.
6. Apogeu do papado romano.
7. Período da Inquisição da Igreja Católica contra os hereges.
8. Período das Cruzadas.
9. Surgimento das Universidades e o desenvolvimento da teologia, educação, ar-
tes, filosofia e da tecnologia.
10. Surgimento de líderes pré-reformadores e movimentos dissidentes da igreja.

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5. A Igreja Reformada | Da queda de Constantinopla (1453) ao fim da Guerra dos


Trinta Anos (1648)
Nos séculos XIV e XV havia surgido dentro da igreja alguns movimentos de pro-
testo contra certos ensinos e práticas da igreja medieval, encabeçados por homens
como João Wycliff, João Hus e Jerônimo Savonarola. Mas foi somente em 1517 que
aconteceu oficialmente a Reforma Protestante, quando Martinho Lutero afixou
suas famosas noventa e cinco teses na porta da Igreja de Wittenberg, na Alemanha.
Após ser excomungado da Igreja Católica, Lutero deu origem à igreja “Luterana”.
Não demorou muito e começaram a aparecer outros reformadores em vários paí-
ses da Europa, dada a insatisfação que muitos já tinham com a igreja devido seus
desvios eclesiásticos e doutrinários. Em Zurique, na Suíça, aconteceu um movi-
mento denominado de “segunda reforma”, liderado por Zwinglio, que deu origem
às igrejas chamadas “reformadas”. Lá também surgiram os “anabatistas” de onde
se originaram as igrejas “Menonitas”. Na cidade de Genebra houve a importante
reforma com João Calvino, cujos ensinos se tornaram o mais complexo sistema te-
ológico protestante, tendo como base a soberania de Deus e suas implicações sote-
riológicas. Dele surgiram as igrejas “presbiterianas”. Posteriormente, por motivos
políticos, começou-se a reforma na Inglaterra, da qual surgiram as igrejas “anglica-
nas” e “episcopais”. Algumas pessoas sentiram a necessidade de uma reforma um
pouco mais radical, e iniciaram um movimento chamado “Puritanismo”, de onde
mais tarde foi produzido o famoso Catecismo de Westminster. O protestantismo
se fixou em muitos outros países da Europa, como Escócia, França e Países Baixos.
A reação da Igreja Católica Romana ao protestantismo teve dois aspectos: “reforma
católica" e “contrarreforma”. Na reforma católica a igreja se preocupou em corrigir
certos problemas internos do catolicismo, em resposta às críticas dos protestantes
e de outros grupos. Já na contrarreforma a igreja se reorganizou para lutar contra
o protestantismo, tanto no plano dogmático quanto no plano político-militar. A
contrarreforma foi a causa direta de uma das guerras mais destrutivas da história, a
Guerra dos Trinta Anos, que envolveu metade do continente europeu. Essa guerra
terminou com a paz de Westfália, que fixou definitivamente as fronteiras político-
-religiosas da Europa e marcou o fim desse período.

Dez fatos importantes que caracterizam esse período:


1. Renascença e o nascimento das nações modernas.
2. Decadência do papado romano.
3. Início da reforma protestante com Martinho Lutero e início da Igreja Luterana.
4. Reforma com Zwinglio na Suíça é o início da Igreja Reformada.

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5. Reforma com Calvino em Genebra é o início da Igreja Presbiteriana.


6. Reforma na Inglaterra e o início das igrejas “anglicanas” e “episcopais”.
7. A Igreja Católica Romana faz a “contrarreforma”.
8. Início do Movimento Puritano na Inglaterra.
9. Descobrimento das Américas e expansão do cristianismo.
10. A “Guerra dos Trinta Anos” por motivos político-religiosos.

6. Igreja Moderna | Do fim da Guerra dos Trinta Anos (1648) ao fim do século XIX
Com o fim da guerra entre católicos e protestantes, iniciou-se um novo período na
história da igreja. As convulsões políticas abriram o caminho para os ideais da de-
mocracia e da independência, tanto no âmbito político quanto religioso. Em reação
contra a época de apogeu da igreja e ao teocentrismo, esse período foi caracteri-
zado por um poderoso fenômeno baseado na razão, chamado “Iluminismo”, cujas
principais ênfases são a liberdade e a dignidade humana, a investigação científica, o
questionamento da autoridade e o ceticismo.
Tudo isso representou um grande desafio para o cristianismo. Alguns cristãos ade-
riram ao racionalismo e passaram a pensar que somente uma fé rigorosamente ra-
cional era compatível com o mundo moderno. Isso, mais tarde, levou muitos a
caírem no deísmo, no “liberalismo teológico" e, por fim, na própria negação da
fé. Outros cristãos, porém, enfrentaram esse desafio com experiências de aviva-
mento espiritual. Exemplo disso foi o movimento chamado de “pietismo”, que
dava grande ênfase à necessidade de conversão e devoção pessoal, à experiência,
aos sentimentos, como também ao sacerdócio universal dos crentes, o estudo das
Escrituras e um cristianismo prático, caracterizado pela beneficência ao próximo e
pela missão da evangelização. O pietismo influenciou os mais destacados pregado-
res do período, como John Wesley, George Whitefield e Jonathan Edwards.
Nesse período houve intensa atividade missionária transcultural, tanto por parte
da Igreja Católica, como pela igreja protestante. Com o descobrimento das Améri-
cas no período anterior, todas as igrejas vieram se representar nas novas colônias.
A fé cristã atingiu tamanha expansão geográfica que, pela primeira vez, tornou-se
verdadeiramente universal. Os católicos foram os pioneiros da missão na América
Latina enquanto os protestantes foram os pioneiros da missão nas treze colônias
norte-americanas, que mais tarde se tornaram os Estados Unidos. Um dos maio-
res fenômenos religiosos nesse período foram os dois “Grandes Despertamentos”
(1.770 e 1.800), tanto na Inglaterra como nas colônias da América do Norte. Além
de milhares de novas conversões e o surgimento de inúmeras novas igrejas e deno-

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minações, contribuições resultantes desses despertamentos foram o surgimento


dos acampamentos evangelísticos, das sociedades voluntárias nas áreas de abolicio-
nismo, educação e missões.

Dez fatos importantes que caracterizam esse período:


1. Período do racionalismo e do iluminismo.
2. Desenvolvimento da Ciência Moderna.
3. A igreja e a teologia são afetadas pelo racionalismo.
4. Crise de fé por causa do racionalismo e surgimento do liberalismo teológico.
5. Surge o pietismo, movimento de renovação da fé enfatizando a experiência.
6. Surgem pregadores avivalistas como John Wesley, George Whitefield e Jona-
than Edwards.
7. Grandes despertamentos na Inglaterra e nos Estados Unidos.
8. Surgem várias novas denominações na igreja.
9. Surge o movimento místico e espiritualista, com George Fox e os Quakers.
10. Nascimento das Missões Modernas.

7. Igreja Contemporânea | Século XX aos dias atuais


O início do século XX sofreu duas guerras mundiais e as décadas seguintes foram
marcadas por um período constante de tensão entre o leste e o ocidente. Para ana-
lisar o impacto desses acontecimentos na vida da igreja, o modo mais simples é
seguir o curso das três principais ramificações do cristianismo: a católica romana,
a oriental e a protestante.
Na Igreja Católica, criou-se o Estado do Vaticano através da assinatura do Tratado
de Latrão entre o papa Pio XI e o ditador Mussolini. Quando João XXIII subiu ao
trono papal, a igreja começou a abrir-se diante do mundo moderno. Um evento
marcante foi o Concílio do Vaticano II, onde adotou-se importantes medidas de re-
novação litúrgica e aproximação com outros grupos cristãos. Desse concílio surgiu
dois movimentos opostos: A renovação carismática nos Estados Unidos e a teologia
da libertação na América Latina. Uma das pessoas mais famosas desse século foi
Madre Teresa de Calcutá, fundadora da ordem das Missionárias da Caridade. No
oriente, a igreja russa foi alvo da fúria da revolução comunista. Mas, com a queda do
muro de Berlin e o fim da União Soviética, os países passaram a usufruir de liberda-
de religiosa, o que levou a revitalização da Igreja Ortodoxa. No protestantismo, boa
parte dos “cristãos alemães” apoiaram o nazismo, apesar da “igreja confessional”

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ter se colocado em oposição ao regime. O líder mais destacado dessa oposição foi
o teólogo e pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, que se envolveu na trama para as-
sassinar Hitler e, por isso, foi executado pouco antes do fim da guerra. Outros dois
teólogos destacados nessa época foram o suiço Karl Barth, criador da neo-ortodoxia
e o apologista europeu S. C. Lewis. Apesar dos desafios, o movimento missioná-
rio continuou se desenvolvendo, foi criada a Conferência Missionária Mundial de
onde surgiu o Movimento Ecumênico.
Em todo o mundo começou a se estudar sobre a pessoa do Espírito Santo e acon-
teceram grandes avivamentos como China, África e Coréia. Nos Estados Unidos
aconteceu o surgimento do “pentecostalismo”, cujos pioneiros foram Charles
Parham e William Seymour, líder do Avivamento da Rua Azusa, de onde se origi-
nou a Igreja “Assembleia de Deus”. Pouco tempo depois membros de igrejas his-
tóricas e alguns católicos começam a ter experiências com o batismo no Espírito
Santo, surgindo assim o Movimento Carismático. Nos últimos cem anos houve
mais conversões do que em qualquer outra época.

Dez fatos importantes que caracterizam esse período:


1. Criação do Vaticano.
2. Revitalização da Igreja Ortodoxa.
3. Desenvolvimento do movimento teológico liberal.
4. Grandes teólogos como Karl Barth, Dietrich Bonhoeffer e S. C. Lewis.
5. Surgimento do Movimento Ecumênico.
6. Avivamento em diversas partes do mundo, como China, África e Coréia.
7. Avivamento em Azusa e o nascimento do Movimento Pentecostal.
8. Surgimento do Movimento de Cura Divina.
9. Surgimento do Movimento Carismático.
10. O século XX é chamado por alguns teólogos de “O século do Espírito Santo”.

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