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VISÃO PANORÂMICA DA
HISTÓRIA DA IGREJA
INTRODUÇÃO
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HISTÓRIA DA IGREJA I
A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo
1. Igreja Apostólica | Da ascensão de Cristo (30 d.C.) à morte de João (100 d.C.)
A primeira fase da história da igreja é a fase apostólica. Se inicia com o ministério de
Jesus na judéia até a morte de João, o último apóstolo de Cristo, no fim do primeiro
século. Após a ascensão de Cristo aos céus e o derramamento do Espírito Santo
sobre seus discípulos em Jerusalém, a mensagem a respeito do evangelho come-
çou a ser anunciada, especialmente pelos apóstolos. Nessa fase foram fundadas as
primeiras comunidades cristãs, começando por Jerusalém, em toda a Judéia, em
Samaria e, por fim, em toda a região da Ásia Menor, conhecida hoje como Turquia.
A maioria das comunidades cristãs eram formadas por judeus e gentios converti-
dos ao judaísmo, que confessaram a fé em Jesus Cristo como Messias. Uma das
primeiras tarefas do cristianismo, e talvez uma das mais importantes, foi definir
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2. Igreja Perseguida | Da morte de João (100 d.C.) ao Edito de Milão (313 d.C.)
Nesse período o cristianismo se difundiu por todo o Império Romano e a igreja
experimentou importantes mudanças, tanto de caráter teológico quanto institucio-
nal. Essas mudanças se deram por causa de seus crescentes desafios, tanto internos
(como o aumento da diversidade teológica e o surgimento de novas heresias) quan-
to externos (como as acusações e as intensificações das perseguições imperiais).
Todos esses desafios produziram grandes mártires da fé cristã, que selaram a defesa
de sua fé com o próprio sangue. Foi, como resposta a eles, que a igreja sentiu a
necessidade de definir mais claramente a sua identidade institucional e teológica,
visando obter maior unidade estrutural e uniformidade doutrinária.
Desse processo resultou a igreja “católica”, cujo termo é encontrado pela primeira
vez numa carta escrita pelo bispo Inácio de Antioquia, por volta do ano 110. A partir
do segundo século, a expressão foi utilizada para designar a igreja verdadeira, apos-
tólica e ortodoxa, em oposição aos movimentos dissidentes. A igreja católica ca-
racterizava-se pelos seus elementos de unidade e identidade, tais como: nomeação
de um bispo monárquico; criação de uma regra de fé, cujas verdades fundamentais
da fé cristã passaram a ser claramente expressas na forma de credos “trinitários”;
e uma iniciativa para formação do cânon do Novo Testamento. Assim, a igreja se
tornou mais organizada e administrativamente mais centralizada.
Nessa época se começou a produzir as primeiras obras teológicas do cristianismo.
Primeiro vinham os “pais apostólicos" como Clemente de Roma, Inácio de An-
tioquia, Policarpo, Papias e outros, cujos escritos continham declarações simples,
piedosas e práticas das verdades fundamentais da fé, motivadas principalmente por
um interesse pastoral. Depois, já na segunda metade do segundo século, surgiram
os apologistas, cujos escritos tinham como objetivo defender a fé cristã diante das
autoridades, dos judeus e dos intelectuais pagãos. O mais notável deles foi Justino
Mártir. Por fim, já no fim do segundo século e início do terceiro, surgiram os teólo-
gos polemistas que em geral tiveram maior estatura intelectual que os apologistas
e foram mais agressivos do que eles em seus escritos. Os mais importantes foram
Irineu de Lião, Tertuliano, Cipriano, Clemente de Alexandria e Orígenes. Alguns
deles dirigiram-se contra intelectuais pagãos, mas a maioria voltou-se contra falsos
ensinos dentro da própria igreja. Esse período termina com a “conversão” do Im-
perador Constantino, que através do famoso Edito de Milão legalizou o cristianis-
mo, fazendo cessar assim as perseguições.
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3. A Igreja Imperial | Do Edito de Milão (313 d.C.) à queda de Roma (476 d.C.)
Com a “conversão” do Imperador Constantino, o rumo do cristianismo mudou
radicalmente. A igreja que até então era perseguida, passou a ser tolerada e pouco
tempo depois se tornou a religião oficial do Império Romano. Ela passou a receber
dos imperadores generosas doações de propriedades, isenção de tributos e outros
privilégios. Em troca dos benefícios concedidos à igreja, Constantino e os seus su-
cessivos imperadores sentiram-se no direito de intervir nas questões eclesiásticas
da igreja. E assim começou o complexo relacionamento entre a igreja e o estado.
Essa mudança em relação ao status da igreja não foi fácil, e houve cristãos que
reagiram de muitas maneiras diferentes. Alguns enxergam isso como uma grande
vitória do cristianismo e se mostram tão gratos pela nova situação que se lhes tor-
nou difícil adotar alguma atitude crítica, tanto para com o governo como para com
a igreja. Outros fugiram para o deserto e locais isolados, pois acreditavam que a
cultura secular estava capturando a essência da fé cristã. Tal prática influenciou o
surgimento de uma instituição que haveria de se tornar imensamente importante
na história posterior da igreja: o monasticismo. Outros, porém, como os mais des-
tacados líderes do cristianismo nessa época, adotam uma postura intermediária:
continuam vivendo nas cidades e participando da vida comum em sociedade, mas
com espírito crítico. Esses se tornaram alguns dos maiores teólogos da igreja, o que
trouxe o florescimento da “era patristica”.
Nesse período foram escritos os grandes tratados teológicos, bem como importan-
tes obras de espiritualidade e a primeira história da igreja. Os primeiros grandes
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foi se corrompendo cada vez mais por questões políticas, experimentando a maior
decadência da sua história, embora tenha passado por alguns ajustes internos e
experimentado o seu apogeu.
Em todo esse longo período, surgiram várias novas ordens monásticas, as quais
realizaram um admirável trabalho nas áreas de missões, espiritualidade, cultura e
beneficência. Como extensão dos colégios episcopais surgiram as universidades,
onde se estudava filosofia, direito, medicina e teologia. Como consequência, sur-
giu o escolasticismo, movimento intelectual formado pela união da teologia com
a filosofia aristotélica, cujo maior representante foi Tomás de Aquino. A teologia
escolástica contribuiu para o renascimento, o que posteriormente influenciou os
primeiros pensamentos da reforma protestante.
Enquanto isso, na parte oriental do império romano, também conhecido como Im-
pério Bizantino, a igreja sofreu por causa de suas estreitas ligações com o Impé-
rio. Como o Estado era mais poderoso do que a igreja, os imperadores geralmente
impunham a sua vontade. Com o passar do tempo a igreja tornou-se enfraquecida
pelas lutas teológicas, cismas e invasões muçulmanas. Depois de várias disputas a
Igreja Oriental finalmente separou-se da Igreja Ocidental por não aceitar a autori-
dade universal do papa romano, e passou a ser conhecida como Igreja Ortodoxa.
Esse período chegou ao seu fim com a queda de Constantinopla, capital do Império
Bizantino, que foi tomada pelo Império Otomano em 1453.
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6. Igreja Moderna | Do fim da Guerra dos Trinta Anos (1648) ao fim do século XIX
Com o fim da guerra entre católicos e protestantes, iniciou-se um novo período na
história da igreja. As convulsões políticas abriram o caminho para os ideais da de-
mocracia e da independência, tanto no âmbito político quanto religioso. Em reação
contra a época de apogeu da igreja e ao teocentrismo, esse período foi caracteri-
zado por um poderoso fenômeno baseado na razão, chamado “Iluminismo”, cujas
principais ênfases são a liberdade e a dignidade humana, a investigação científica, o
questionamento da autoridade e o ceticismo.
Tudo isso representou um grande desafio para o cristianismo. Alguns cristãos ade-
riram ao racionalismo e passaram a pensar que somente uma fé rigorosamente ra-
cional era compatível com o mundo moderno. Isso, mais tarde, levou muitos a
caírem no deísmo, no “liberalismo teológico" e, por fim, na própria negação da
fé. Outros cristãos, porém, enfrentaram esse desafio com experiências de aviva-
mento espiritual. Exemplo disso foi o movimento chamado de “pietismo”, que
dava grande ênfase à necessidade de conversão e devoção pessoal, à experiência,
aos sentimentos, como também ao sacerdócio universal dos crentes, o estudo das
Escrituras e um cristianismo prático, caracterizado pela beneficência ao próximo e
pela missão da evangelização. O pietismo influenciou os mais destacados pregado-
res do período, como John Wesley, George Whitefield e Jonathan Edwards.
Nesse período houve intensa atividade missionária transcultural, tanto por parte
da Igreja Católica, como pela igreja protestante. Com o descobrimento das Améri-
cas no período anterior, todas as igrejas vieram se representar nas novas colônias.
A fé cristã atingiu tamanha expansão geográfica que, pela primeira vez, tornou-se
verdadeiramente universal. Os católicos foram os pioneiros da missão na América
Latina enquanto os protestantes foram os pioneiros da missão nas treze colônias
norte-americanas, que mais tarde se tornaram os Estados Unidos. Um dos maio-
res fenômenos religiosos nesse período foram os dois “Grandes Despertamentos”
(1.770 e 1.800), tanto na Inglaterra como nas colônias da América do Norte. Além
de milhares de novas conversões e o surgimento de inúmeras novas igrejas e deno-
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ter se colocado em oposição ao regime. O líder mais destacado dessa oposição foi
o teólogo e pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, que se envolveu na trama para as-
sassinar Hitler e, por isso, foi executado pouco antes do fim da guerra. Outros dois
teólogos destacados nessa época foram o suiço Karl Barth, criador da neo-ortodoxia
e o apologista europeu S. C. Lewis. Apesar dos desafios, o movimento missioná-
rio continuou se desenvolvendo, foi criada a Conferência Missionária Mundial de
onde surgiu o Movimento Ecumênico.
Em todo o mundo começou a se estudar sobre a pessoa do Espírito Santo e acon-
teceram grandes avivamentos como China, África e Coréia. Nos Estados Unidos
aconteceu o surgimento do “pentecostalismo”, cujos pioneiros foram Charles
Parham e William Seymour, líder do Avivamento da Rua Azusa, de onde se origi-
nou a Igreja “Assembleia de Deus”. Pouco tempo depois membros de igrejas his-
tóricas e alguns católicos começam a ter experiências com o batismo no Espírito
Santo, surgindo assim o Movimento Carismático. Nos últimos cem anos houve
mais conversões do que em qualquer outra época.
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