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SEMINÁRIO CRISTÃO EVANGÉLICO DO

NORTE
Expondo a Palavra da Vida
Jesus Cristo, Nosso Fundamento

AULA 1 ECLESIOLOGIA INTRODUÇÃO

Prof: Otoniel Oliveira

1. O QUE É ECLESIOLOGIA

É a área da teologia que busca o entendimento sobre a igreja. Esta


denominação foi cunhada a partir da ideia de ekklésia, o que na perspectiva
bíblica se tratava das assembleias de pessoas que se reuniam para um culto ou
outro ajuntamento solene, a eclesiologia visa portanto investigar questões como
a missão da igreja, sua natureza e função, bem como, qual deve ser seu
ministério sua estrutura e qual o seu papel no plano divino.

A ideia de reunião religiosa de pessoas antecipa-se ao Novo Testamento,


encontrando-se desde o Antigo Testamento (Ex 19.3 cf At 7.38) onde o povo já
adorava a Deus no meio do deserto reunido como congregação. No período
neotestamentário, a concepção a respeito da eclesiologia evoluiu
consideravelmente vindo o apóstolo Paulo a traçar uma bem definida doutrina a
respeito do assunto, colocando em primeiro lugar a igreja como noiva de Cristo,
depois como uma reunião de salvos e finalmente como um grupo chamado para
uma vida diária conforme a vontade do Salvador.

2. A DOUTRINA DA IGREJA NA HISTÓRIA

No período da patrística a igreja era vista como o povo que Deus escolheu
por possessão, porém devido a ameaça das heresias logo se fez necessário
distinguir exatamente quem era a igreja e qual o seu papel, o que terminou
gerando uma preocupação em definir as características mais externas desta. A
tradição católica começa exatamente quando a igreja passa a ser vista como
uma instituição externa, governada por um bispo que era sucessor direto dos
apóstolos e que possuía a verdadeira tradição, as pequenas igrejas locais eram
vistas apenas como componentes da grande igreja universal.

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Porém, os elementos internos não foram devidamente trabalhados


deixando espaço para práticas mundanas e para a corrupção, o que terminou
gerando vários movimentos heréticos como o montanismo1 do segundo século,
o novacianismo2 do terceiro e o donatismo3 do quarto século, que em geral
procuravam desenvolver uma santidade verdadeira nos seus membros como
evidência da verdadeira igreja.

A reação a estes movimentos implicou numa maior presença do poder


político da igreja na sociedade, que dava ao bispo a autoridade de condenar todo
movimento que fosse contrário ao comando da Igreja Católica. O bispo Cipriano4
fortaleceu mais ainda o poder da igreja ao desenvolver a doutrina eclesiástica
dentro de uma estrutura episcopal considerando os bispos como verdadeiros
sucessores dos apóstolos, atribuindo-lhes um caráter sacerdotal, o que implicou
em quem não se sujeitasse ao bispo perdia a comunhão com a igreja.

Na Idade Média prevaleceu a doutrina desenvolvida por Cipriano e


Agostinho que havia elaborado o conceito de reino de Deus para igreja, não
havendo praticamente nenhuma adição de maior expressão na eclesiologia.
Contudo, o mesmo não pode ser dito da igreja em si, como organismo, pois esta
se tornou exageradamente poderosa, criando uma hierarquia, hermética,
organizada e absoluta. O que a igreja fez neste período foi se aproveitar do
pensamento dos bispos citados acima, dando menos valor aos aspectos
espirituais e sobrevalorizando os aspectos estruturais.

1
Movimento de caráter apocalíptico do século II, fundado por Montano que se autoproclamava o
Paracleto, costumava apelar para as massas rejeitando toda forma de mundanismo e uma volta iminente
de Cristo.
2
Movimento fundado por Novaciano, notável teólogo do século III, impôs rígidas regras à disciplina
eclesiástica o que provocou a condenação papal. Em protesto foi proclamado por seus seguidores como
o antipapa.
3
Movimento cismático do século IV fundado por Donato, que questionava a administração dos
sacramentos da forma como se realizava, tendo como principal opositor Santo Agostinho.
4
Nasceu por volta de 200 d.C. de uma família rica de Cartago, foi o responsável por normatizar a
estrutura e a liderança clerical no modelo episcopal adotada pelo catolicismo romano e ortodoxo.

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A relação da igreja com o estado se tornou cada vez mais próxima,


contudo a igreja sempre buscava se sobrepor ao poder secular, pois
argumentava que enquanto o estado procura o bem estar temporal a igreja
garante o bem espiritual do cidadão. O rei ou o imperador é visto apenas como
um chefe de estado enquanto o papa é o chefe da igreja, portanto, tem
supremacia sobre aquele, assim como os clérigos são separados do povo pois
enquanto estes são ignorantes, aqueles dedicam suas vidas ao serviço
eclesiástico, cumprindo assim a vontade de Deus.

Isto progressivamente deu poder cada vez maior à igreja e em especial


ao papa que finalmente veio se tornar um monarca absoluto, ideia defendida
principalmente a partir da doutrina agostiniana de que a igreja é o reino de Deus
na terra e o papa é o seu líder. Este pensamento se perpetuou até os dias
hodiernos como pode ser visto no resultado da comissão ad hoc da Conferência
Nacional dos Bispos Católicos dos Estados Unidos no ano de 1987 que
confirmou a natureza da doutrina católica sobre eclesiologia e fez uma severa
crítica aos cristãos protestantes ao declarar o seguinte:

“A característica básica do fundamentalismo bíblico é que este elimina


do cristianismo a igreja como o Senhor Jesus a fundou [...] Não há
menção da igreja histórica, que tem a autoridade e preserva a
continuidade com Pedro e os demais apóstolos [...] Um estudo do Novo
Testamento [...] mostra a importância de pertencer à igreja iniciada por
Jesus Cristo. Ele escolheu Pedro e os demais apóstolos como
fundamentos de sua igreja [...] Pedro e os demais apóstolos foram
sucedidos pelo bispo de Roma e pelos outros bispos, e [...] o rebanho
de Cristo ainda tem, sob Cristo, um pastor universal. 5

As consequências mais evidentes deste pensamento desde o seu início


foi o fato de a igreja exigir que tudo estivesse sob seu poder, tanto a vida
particular quanto a social, limitava a relação do homem com Deus somente

5
Pastoral Statement for Catholic on Biblical Fundamentalism. (Nov. 5, 1987), p. 376-77. Apud. Grudem,
Waine. Teologia Sistemática. p. 716

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através da igreja e de seus sacramentos, como também passou a se secularizar


cada vez mais, pois o interesse político era maior que o espiritual.

Com o advento da Reforma a concepção doutrinária vista acima foi


rompida, pois Lutero refutou a ideia de uma igreja infalível fundamentada numa
hierarquia absoluta, mas via esta como a comunhão espiritual dos que estão em
Cristo, criando assim a concepção do sacerdócio individual presente em cada
fiel. A partir da Reforma a igreja passou a ser vista como um organismo único,
mas com dois aspectos, um visível e outro invisível, este formado somente pelos
salvos e aquele formado por todos que fizerem parte da igreja, como também se
distinguia pela prática dos sacramentos e pela pregação da Palavra.

Todavia, a distinção que Lutero fez entre igreja e Estado foi tão ampla que
aquela ficou totalmente submissa a este, o que gerou o descontentamento de
uns ou a radicalização de outros, como por exemplo os anabatistas que
defendiam uma completa separação entre igreja e estado. Porém, a ideia
luterana prevaleceu entre os teólogos posteriores como Calvino que concordava
com certo controle do Estado na igreja.

Após a Reforma houve um novo esfriamento no desenvolvimento desta


doutrina com pequenas manifestações pietistas que se contrapunham a ideia
racionalista sobre a teologia como um todo. Na verdade quem mais discutiu as
questões teológicas - entre elas a da natureza da igreja - foram os teológos
liberais, liderados principalmente por Schleimacher que dizia ser a igreja uma
comunidade cristã que não tinha necessidade de se distinguir entre visível e
invisível.

Para ele a essência da igreja estava no companheirismo, pois quanto mais


o Espírito Santo penetrar no meio cristão menos dificuldades haverá, como
divisões e disputas. Para os liberais a igreja restringe-se a uma organização
externa com o propósito de cultuar e capacitar os fiéis a familiarizarem-se uns
com os outros, como um centro social ou uma instituição meramente humana,
nunca como uma lavoura de Deus.

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3. A NATUREZA DA IGREJA

Para os cristãos primitivos a igreja era uma comunhão santa que tinha sua
essência toda baseada em sua natureza, contudo logo no final do primeiro século
as ameaças heréticas já começaram a exigir uma doutrina mais elaborada a
respeito do assunto. Isto terminou por levar desde os pais da igreja até os
teólogos medievais, a desenvolverem uma eclesiologia com preocupações
demasiadamente de natureza externa, como forma de determinarem a presença
da verdadeira igreja na sociedade, fato que só veio sofrer uma mudança com a
Reforma Protestante.

Para a ICR6 a igreja pode ser definida como “A congregação de todos os


fiéis que, sendo batizados, professam a mesma fé, participam dos mesmos
sacramentos e são governados por seus legítimos pastores, sob um chefe visível
na terra”, no entanto esta definição faz distinção entre uma igreja docente
constituída pelos que governam, ensinam e edificam e a igreja discente que é
ensinada, governada e que recebe os sacramentos, ou seja, enquanto a primeira
é dos gloriosos atributos eclesiásticos a segunda é apenas adornada
indiretamente por eles.

O motor propulsor da Reforma certamente foi o excessivo externalismo


eclesiástico da igreja de Roma, vindo a resgatar então a essência da igreja não
mais nos fatores externos, mas na santa comunhão que deveria
obrigatoriamente fazer parte da natureza desta. Para os reformadores a igreja
significava primariamente a comunidade dos santos, o que significava dizer que
se tratava daqueles que creram e foram santificados em Cristo e que se
encontram em plena comunhão com Ele, ideia que foi adotada por muitas
Confissões de Fé como, por exemplo, a Confissão Belga que diz:

“Cremos e professamos uma só Igreja católica ou universal, que


é uma santa congregação de verdadeiros crentes cristãos, todos

6
Igreja Católica Romana

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esperando a sua salvação em Jesus Cristo, sendo lavados por


Seu sangue, santificados e selados pelo Espírito Santo”7.

A igreja universal ou invisível, consiste no corpo dos eleitos para a vida


eterna, embora tal como ela se encontra na terra, visível e local, foi considerada
ao longo dos séculos como a comunidade dos eleitos, conquanto as duas não
significam dois elementos independentes pois se trata na verdade de uma única
essência, a primeira diz respeito ao modo como Deus a vê e a segunda como é
vista pelos homens.

Mesmo que existam os não regenerados no meio da igreja visível a sua


natureza consiste em ser o corpo de Cristo, destinada a refletir a glória de Deus,
professando uma só fé, compartilhando a mesma esperança e confessando a
um só Rei. Entrementes, a igreja ideal, exatamente como Deus quer que ela seja
e como virá a ser realmente um dia, é muito mais objeto de fé do que de
entendimento, por isso não ser errado declarar, “Creio na santa Igreja Católica”.

7
Confissão de Fé Belga. Art. XXVII

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