Você está na página 1de 65

REFORMA PROTESTANTE: HISTÓRIA, ENSINOS E LEGADO.

Lição 1: O Cenário Histórico da Reforma Protestante

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
A Reforma Protestante foi, sobretudo, uma tentativa de restauração do
verdadeiro cristianismo, ou seja, um retorno às doutrinas dos apóstolos (At
2.42) e ao ideário da missão da Igreja primitiva.
Além de ser um marco histórico para a Igreja de Cristo na terra, esse
movimento também impactou fortemente a estrutura política, económica e
social das nações. Desde esse acontecimento de elevada notoriedade, a Igreja
de Cristo e o mundo jamais foram os mesmos.

Nesta lição, abordaremos os fatos que formaram o contexto em que essa


singular revolução ocorreu.

1. DEFINIÇÃO DO TERMO
Entende-se por Reforma Protestante o fato histórico ocorrido na Europa no
século 16, especificamente no ano de 1517. Naquela época, densas trevas
cobriam a Igreja, por conta dos desvios perpetrados por seus representantes
oficiais, seus doutores e também por aqueles que professavam a fé popular.
Foi um tempo de total declínio, do ponto de vista espiritual e moral.
Como consequência, ensinos bíblicos de viés distorcido passaram a fazer parte
das doutrinas da Igreja; e os sacerdotes adotaram a corrupção e toda espécie
de abuso no corolário de suas práticas pessoais e eclesiais.
Por Meio da Reforma Protestante, a Igreja Medieval foi passada a limpo; assim,
experimentou um dos maiores avivamentos espirituais de todos os tempos.
Suas doutrinas, teologias e liturgias foram profundamente modificadas.
1.1. Aplicação prática
O conhecimento da Reforma é um pré-requisito para compreendermos a
realidade eclesiástica atual, uma vez que somos todos frutos desse
monumental evento que gerou, no Brasil e no mundo, as igrejas chamadas
evangélicas.

Isso significa que todo verdadeiro cristão, para construir sua identidade de fé,
precisa saber de onde veio, qual é a sua história e em que direção está
seguindo para, então, investir tempo no estudo detalhado de seus princípios
doutrinários e aplicá-los em sua vida.
1.2. Identidade reformista
A falta de consciência relacionada à identidade reformada pode ser trágica
para a Igreja e para todos que professam a fé evangélica.
Não há como negar a genuinidade bíblica dos ensinos dos reformadores;
portanto, a eles devemos total fidelidade. Suas doutrinas sobre a singularidade
da fé e da Graça e sobre a salvação oferecida a todos — sem qualquer
intermediação, mas unicamente por meio do sacrifício do Senhor Jesus — são
pilares dos quais não podemos nos afastar (At 4.12; 1Tm 2.5; Rm 11.36).
A perda dessa identidade tem levado a Igreja a toda sorte de desvios
doutrinários, ventos de doutrina, modismos e esfriamento espiritual.

2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Como todo grande acontecimento só ocorre com o auxílio dos fatos que o
precedem, assim também a Reforma aconteceu dentro de um cenário
composto por alguns fatores.
2.1. Fator litúrgico
No período que antecedeu a Reforma, a Igreja passou por um processo
chamado clericalização da liturgia.

O Clero era formado por todos os sacerdotes, bispos, padres, cardeais e


papas.O povo, nesta configuração, foi reduzido à condição de mero
espectador. Não havia qualquer participação dos leigos no serviço dos cultos
nas igrejas.

Essa centralização das atividades eclesiásticas ocorria em total negação ao


sacerdócio universal dos crentes, preconizado por Pedro: vós também, como
pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para
oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo (1Pe
2.5).
2.2. Fator doutrinário
O desejo desenfreado do Clero de converter as massas pagãs (e encher os
templos) levou-o ao relaxamento em relação aos princípios bíblicos. Assim,
práticas notadamente idólatras e profanas passaram a fazer parte da liturgia.
A Igreja, então, começou a ensinar aos fiéis a adoração aos anjos, aos santos,
a imagens de escultura e a ídolos, em franca oposição ao que está registrado
em Êxodo 20.4 e Deuteronômio 5.6-9.
Como boa parte das pessoas que ingressava na Igreja procedia de
ambientes pagãos acostumados a imagens, estátuas e ídolos do lar, o Clero
acabou por incorporar práticas, festas e ritos, totalmente alheios aos padrões
bíblicos, em seus cultos.
2.3. O declínio moral do Clero
O vínculo estreito entre a Igreja e os governantes daquele tempo desencadeou
toda espécie de corrupção. Algumas práticas, em rota de colisão frontal com a
Palavra de Deus, passaram a ser vistas como normais, tais como:
• a simonia — compra e venda de cargos eclesiásticos e benefícios espirituais
(como indulgências e sacramentos);
• o nepotismo — nomeação de pessoas a cargos eclesiásticos pelo grau de
parentesco, desconsiderando-se a vocação e/ou a competência;
• o absentismo — ocupação de um cargo eclesiástico em que as atividades
são exercidas por intermediários, não pelo nomeado.
A Igreja era tratada como comércio e meio de produção de riquezas. Cada
bispado, ou sede eclesiástica, era visto como fonte potencial de arrecadação
financeira, o que passou a motivar severas disputas entre cardeais, bispos e
papas, como também entre duques, condes, príncipes e reis.

3. OS MOVIMENTOS PRÉ-REFORMISTAS
Por conta dos desvios teológicos da Igreja e da conduta amoral dos seus
dirigentes durante a Idade Média (séculos 13—15), começaram a surgir
movimentos populares que clamavam por mudanças e por reformas no sistema
religioso vigente.
Esses movimentos dividiam-se em dois segmentos: os aceitos e
os rejeitadospela Igreja.
Os rejeitados divergiam doutrinariamente de pontos importantes ensinados
pela Igreja Romana e, por isso, seus adeptos foram perseguidos, presos e
martirizados. Dentre esses movimentos, destacaram-se os listados a seguir.
3.1. Os valdenses
Movimento iniciado por Pedro Valdo, um comerciante rico que ouviu a Palavra
de Deus na cidade de Lyon, França.
Pedro Valdo, renunciando aos seus bens, deu tudo quanto possuía para viver
na pobreza e seguir o exemplo de pregação dos apóstolos. Ele utilizava
Mateus 10 como base para seus sermões e atraía multidões; também ensinava
que todos deviam ler a Bíblia — por ser ela autoridade final sobre fé e vida — e
que qualquer leigo poderia entendê-la e pregar sobre seus ensinos.
Os seguidores de Pedro Valdo, mesmo ameaçados, continuaram a pregar.
Foram perseguidos e, em 1184, excomungados. Fundaram seu próprio clero e,
mais tarde, no século 16, juntaram-se aos protestantes reformados.
3.2. Os cátaros
Combatiam o enriquecimento e a corrupção do Clero; cultivavam um estilo de
vida baseado na simplicidade; e viviam em jejuns e orações, com um
ascetismo acentuado. Foram acusados de hereges, porque, segundo as
autoridades eclesiásticas de Roma, criam na dualidade entre o bem e o mal e
negavam a humanidade de Cristo.
Perseguidos pela inquisição medieval, os cátaros foram exterminados à espada
em 1209.
3.3. Os pré-reformadores
A mão de Deus operou de forma poderosa no período que antecedeu a
Reforma, levantando homens consagrados, estudiosos das Escrituras e
dedicados à oração, para serem uma voz profética em meio às trevas
espirituais e aos desvios do Clero.
A atuação desses homens — sobre alguns estudaremos na próxima lição —
rendeu-lhes a prisão, tortura e morte; porém, também abriu um imenso
caminho para a pregação dos reformadores.

4. FATORES CAUSAIS DA REFORMA


A Reforma Protestante foi motivada, basicamente, por duas tristes realidades:
(1) a incapacidade de a instituição religiosa chamada igreja responder aos mais
sinceros anseios do povo; e
(2) os desvios doutrinários (e de conduta) do Clero. Porém, algumas mudanças
ocorridas no Continente Europeu, à época, pavimentaram o caminho para que
essa grande revolução acontecesse.
4.1. Mudanças políticas
O mundo vivia o fim da Idade Média e adentrava a Idade Moderna.
A demarcação de terras levou à criação das nações-estado; cada país
equivalia a uma nação, com sua língua, cultura e história particulares — o que
criava certa unificação.
As pessoas não mais se viam como parte de um feudo restrito ou de uma
religião específica; elas sentiam-se parte de um grande povo, com história e
missão únicas.
Nesse tempo, a única instituição que unia o continente era a Igreja Romana, na
figura papal. Isso dava um grande poder ao sumo pontífice em todas as nações
da Europa, pois ele podia intrometer-se nos assuntos políticos de diferentes
países, independente de sua localização geográfica.
4.1.1. A resposta dos governantes ao clero romano
Os novos governantes de vários países começaram a ver com grande
insatisfação e desconfiança a interferência política — além da eclesiástica —
do Papa em seus territórios. Eles também passaram a criticar o montante de
dinheiro enviado à Igreja Romana e a isenção de impostos concedida ao Clero.
Muito rapidamente, começaram a surgir reivindicações de uma igreja que não
estivesse vinculada ao sistema papal, mas sim ao governante local.
Nas pregações de Lutero, o tema "uma Igreja alemã para o povo alemão" era
recorrente. Esse refrão emblemático conquistou o coração de príncipes
importantes, que se aliaram à causa de Lutero. Tais príncipes possibilitaram
não só que Lutero não morresse, mas que recebesse também apoio político
para o despertar da sua pregação.
4.2. Mudanças económicas
Na Idade Média, as pessoas plantavam e colhiam apenas para o consumo
pessoal ou familiar. Na virada do milénio, entretanto, elas começaram a
produzir excedentes, o que lhes permitia o intercâmbio comercial. Com isso,
surgiu uma classe de pessoas que não mais estava ligada à produção de
alimentos, a saber: os comerciantes — estes se espalharam por todo
Continente Europeu.
Por conta disso, foram construídas estradas e cidades; foram criados os
sistemas bancário e comercial e abriram-se novos mercados, locais e
regionais.
Os pontos de compra e venda (e de troca) de produtos foram chamados de
burgos. Iniciou-se, então, uma era pautada pelo comércio, não apenas pela
agricultura.
A moeda começou a circular, substituindo a economia baseada no escambo.
A nova classe que surgiu nesses burgos passou a ser chamada de burguesia,
que ascendeu economicamente, adquirindo, por conta disso, grande poder
político.
A busca pelo lucro passou a dominar as pretensões humanas, e a classe
burguesa seguia no topo desse processo histórico.
4.2.1. A perseguição romana à burguesia
Essa nova classe começou a sofrer perseguições do Papa e do Clero, sob a
alegação de que o enriquecimento e a obtenção de lucros — mesmo lícitos —
eram sinónimos de maldição e pecado. Assim, qualquer pessoa que
enriquecesse à custa do comércio era perseguida e ameaçada de
excomunhão.Além disso, o Papa instituiu pesados impostos sobre os
comerciantes, diminuindo suas possibilidades de lucro.
4.2.2. A migração da burguesia
A nova classe burguesa, então, procurou o apoio religioso de quem pudesse
permitir o livre funcionamento dos seus negócios. Como os reformadores não
viam as riquezas advindas do trabalho como algo pecaminoso ou mau, os
comerciantes começaram a migrar, em grande número, para as regiões
protestantes, que franqueavam o exercício da profissão e do trabalho.

Essas nações enriqueceram e se desenvolveram, ajudando na propagação da


Reforma. Até hoje, as nações protestantes são as mais ricas e desenvolvidas
da Europa e do mundo.
4.3. Mudanças intelectuais
O interesse pelas artes e pelo estudo das ciências humanas cresceu
imensamente no fim da Idade Média. Deste modo, os
cristãos passaram a dedicar-se à aquisição de conhecimentos gerais, como
forma de aprimorar sua interpretação das Escrituras — fato que acentuou,
naquela época, sua capacidade de reflexão e pensamento.
Os reformadores eram dotados de desmesurada sabedoria e de grande
capacidade crítica. Esse fato levou-os a adotar uma firme posição diante do
quadro deplorável no qual viviam.
4.4. O desenvolvimento tecnológico
A evolução tecnológica também contribuiu de maneira significativa para o
desenvolvimento e a consolidação da Reforma.
Dentre as principais invenções daquele período, destacamos as seguintes:
• o relógio mecânico — o trabalho passou a ser contabilizado com maior
precisão; assim, estabeleceu-se a relação entre tempo e produção;
• os óculos — o aperfeiçoamento desse artefato permitiu um maior acesso à
leitura (da Bíblia e das obras dos reformadores, inclusive);
• o papel vegetal — até a Reforma, o pergaminho era o material mais
comumente utilizado na escrita; isso tornava a Bíblia um livro caro e pouco
acessível. Com a tecnologia do papel, as dificuldades foram minimizadas, e o
preço, consideravelmente reduzido;
• a imprensa — com o advento da imprensa, o acesso à Bíblia e às obras dos
reformadores ficou infinitamente mais fácil, pois as literaturas podiam ser
produzidas em larga escala, com economia de tempo e dinheiro.

CONCLUSÃO
Desde a Reforma Protestante, a voz dos reformadores ecoa nos corações
daqueles que anelam pela presença de Deus e pela habitação sobrenatural do
Espírito Santo.
Que o Divino intérprete das Escrituras nos ajude a compreender a importância
da Reforma e de seus ensinos, cujas premissas nos farão sábios para
herdarmos a vida eterna.

Lição 2: Os Ícones da Reforma Protestante

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
A Reforma Protestante foi um grande divisor de águas que deixou marcas
indeléveis na caminhada da Igreja na terra. Embora alguns personagens
tenham destacada participação nessa obra singular, ninguém pode reivindicar
para si a sua autoria isolada. O que aconteceu naquela ocasião foi obra do
Espírito Santo, pela instrumentalidade de várias pessoas que, dentro da sua
época e contexto de vida, promoveram uma mudança radical na maneira de
interpretar as realidades espirituais e entender os grandes temas da teologia
bíblica.

Esses homens extraordinários, sobre os quais estudaremos nesta lição,


enquadram-se no grupo dos pré-reformados ou dos reformados.

1. OS PRINCIPAIS PERSONAGENS DA PRÉ-REFORMA


1.1. John Wycliffe (1324-1384)
John Wycliffe nasceu na Inglaterra em 1324. Ele foi aluno e professor da
Universidade de Oxford e é considerado um dos precursores da Reforma
Protestante. Wycliffe deixou dezenas de obras escritas, em inglês e latim, além
da primeira tradução da Bíblia para o inglês. Seu intuito era oferecer ao povo
uma Bíblia isenta da manipulação romana, que incluía os livros apócrifos.
John Wycliffe combateu as distorções romanas, condenando a posse de
propriedades pêlos padres, o pagamento de indulgências e a corrupção geral
do Clero. Ele pregava a moralização da Igreja e o afastamento das lideranças
comprometidas com práticas sabidamente pecaminosas; reafirmava a
autoridade suprema das Escrituras; e, além disso, negava terminantemente a
condição do Papa como substituto de Pedro e cabeça da Igreja (Mt 16.18),
reafirmando que ' o cabeça da Igreja é Cristo (Ef 1.22,23).
1.2. John Huss (1369-1415)
Huss nasceu na cidade de Husinec, a 75Km de Praga, na República
Tcheca.Estudou na Universidade de Praga, onde, foi também professor e
reitor; foi um grande pensador crisitão, além de importante precursor da
Reforma.
Os escritos de John Wycliffe causaram profunda impressão em John Huss, que
combateu o pagamento de indulgências — prática que considerava sem valor
algum para o perdão divino — e a corrupção do Clero. Wycliffe ensinou de
forma enfática o sacerdócio universal dos crentes, que preconizava: qualquer
pessoa pode comunicar-se com Deus, sem a mediação da Igreja (1Tm 2.5).
Em 6 de julho de 1415, na cidade de Constança, Huss foi condenado e
queimado vivo em praça pública. Enquanto chamas consumiam seu corpo,
entoava hinos de adoração ao Senhor. Seus seguidores, os hussitas, deram
continuidade a sua obra. Pelo seu testemunho de coragem, John Huss exerceu
grande influência sobre a vida de Lutero.
1.3. Girolamo Savonarola (1452—1498)
Savonarola nasceu em Ferrara, Itália, em setembro de 1452. Desistiu da
Medicina para dedicar-se à vida religiosa, baseando suas ações em Florença.
Savonarola atacou o mau-caráter e os desmandos do Papa Alexandre VI,
tornando-se um defensor intrépido das ideias reformistas. Ficou conhecido por
considerar-se um profeta e por ter queimado um grande volume de obras de
arte e livros — Savonarola os considerava produtos da vaidade humana e de
natureza imoral.
A Igreja Romana passou a considerá-lo um inimigo e, em retaliação,
excomungou-o.
Em 23 de maio de 1498, Savonarola foi condenado à morte por enforcamento
em praça pública na cidade de Florença, tendo o seu corpo queimado
posteriormente.
Savonarola não se opunha a todas as criações artísticas, mas ordenou que os
patronos das artes se abstivessem de apoiar a criação de qualquer pintura
religiosa que não capturasse a espiritualidade interior do seu sujeito, quer se
tratasse de uma figura bíblica ou um santo (WOODBRIDGE; JAMES. Central
Gospel, 2017, p.110).

2. OS PRINCIPAIS PERSONAGENS DA REFORMA


2.1. Martinho Lutero (1483-1546)
Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, na cidade de Eisleben,
Alemanha.Sendo herdeiro de uma educação familiar muito rígida, sofreu
grande influência de sua mãe.
Lutero estudou na Universidade de Erfurt, onde se graduou em Artes no ano de
1502 e, mais tarde, concluiu seu mestrado (1505). Foi ordenado em 1507 e, em
1512, recebeu seu doutorado em Teologia.
O estudo das Escrituras Sagradas despertava-lhe grande inquietação, em
especial o texto paulino que diz: Porque nele se descobre a justiça de Deus de
fé em fé, como está escrito: Mas ajusto viverá da fé (Rm 1.17). A partir de um
exame diligente da Palavra de Deus, descortinou-se em sua mente o
entendimento de que a salvação provém da fé, sem a necessidade de qualquer
outra exigência ou intermediação (Rm 3.28; 4.3-5).
Lutero passou a entender a comunhão com Deus como algo possível a
qualquer pessoa que busque o Altíssimo com sinceridade e devoção, movida
pela fé somente (Mt 6.6; 7.7; Jo 15 15; Ef 2.8,9).
Para Lutero, a salvação não poderia ser alcançada por obras ou, tampouco,
por merecimento humano, mas unicamente pela fé em Cristo Jesus, o único e
suficiente Salvador (Ef 2.8,9).
2.1.1. As 95 teses afixadas na Catedral de Wittenberg
Oportunamente, Lutero desafiou também a doutrina da infalibilidade papal e
apontou as Escrituras Sagradas (não a Tradição da Igreja) como única fonte
confiável da verdade revelada por Deus (Mt 4.4; 5.18; Ap 22.18,19).
Essa convicção levou-o a afixar na porta da Catedral de Wittenberg, em 31 de
outubro de 1517, 95 teses que combatiam, principalmente, a hierarquia clerical,
os sacramentos, o pagamento de indulgências e a teologia romana, em
geral.Um dos seus maiores oponentes foi o vendedor de indulgências Johann
Tetzel, que costumava dizer: Assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma
sai do Purgatório.
Lutero recusou-se a apresentar qualquer retratação por seus ensinos
veiculados em palestras, aulas e livros. A pedido do Papa Leão X e do
imperador Carlos V, em junho de 1520, foi excomungado e teve seus livros
queimados.
Lutero viveu escondido por amigos durante algum tempo, ocasião em que
traduziu o Novo Testamento para o alemão em um ano. Posteriormente,
traduziu também o Antigo Testamento, vindo a falecer em 18 de fevereiro de
1546.

2.2. João Calvino (1509-1564)


Calvino nasceu em Noyon, França, em 10 de julho de 1509. Assim como
Lutero é considerado a voz profética da Reforma Protestante, Calvino é
considerado seu organizador.
Antes mesmo de alcançar destaque como teólogo ou pastor, Calvino era
conhecido por sua destacada atuação na área das ciências humanas — além e
graduado em Teologia, era graduado em Filosofia e Direito.
Em 1936, aos 26 anos de idade, escreveu sua mais reconhecida obra: As
Institutos da Religião Cristã, obra de grande porte e fama que contém todo
sistema doutrinário adotado pelas igrejas reformadas. Assim como a teologia
de Lutero destacava a justificação pela fé, a de Calvino salientava a soberania
de Deus (Is 43.7; Jo 17.5; Rm 11.36; Ap 19.1).
Depois do falecimento de seu pai, Calvino embrenhou-se no estudo sistemático
das línguas originais das Escrituras (o grego e o hebraico). Isso lhe serviu de
base para a elaboração de abalizados comentários sobre os livros da Bíblia.
Calvino alcançou grande notoriedade como pastor, educador e teólogo. Sua
atuação marcante nas áreas de hermenêutica e exegese bíblica jamais será
esquecida. Ele fundou a Academia de Genebra, em 1559; inicialmente, a
instituição funcionava como um seminário teológico que, também, ensinava
Direito.
No dia 6 de fevereiro de 1564, severamente enfermo, acometido de
tuberculose, Calvino (conduzido em uma cadeira de rodas) proferiu sua última
mensagem. Um mês antes de sua morte, declarou: Ensinei fielmente sobre as
Escrituras e Deus deu-me graça para escrever. Fiz isso de modo fiel, sem
corromper uma única passagem bíblica. Quando fui tentado a requintes, resisti
à tentação e sempre primei pela simplicidade, sempre coloquei diante de mim a
glória de Deus. Calvino faleceu em 27 de maio de 1564.

Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus


para salvação de todo aquele que cré, primeiro do judeu e também do grego.
Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas
o justo viverá da fé (Rm 1.16,17).
2.3. Ulrico Zuínglio (1484-1531)
Zuínglio foi o principal nome entre os teólogos suíços na propagação da
Reforma Protestante em seu país. Seu empenho no estudo dos idiomas
clássicos levou-o ao domínio do hebraico e do grego, fato que alavancou seu
conhecimento teológico e sua capacidade na exposição das Escrituras
Sagradas.
Em 1519, ao transferir-se para Zurique, inspirado nas ideias reformistas de
Lutero, passou a pregar fervorosamente contra as indulgências, exortando o
povo a viver o evangelho puro. Mais tarde, criticou insistentemente o celibato
eclesiástico, a devoção a Maria e aos santos, a autoridade papal, o culto a
imagens e a missa como sacrifício. Em contrapartida, o bispo de Constança
proibiu-o de pregar, acusando-o de herege.
No ano de 1522, Zuínglio assumiu um papel importante na propagação da
Reforma. Ele partiu do princípio de que somente as Escrituras Sagradas
possuem os ensinos necessários à salvação (2 Tm 3.16; 2 Pé 1.21; Mt 4.4;
5.18; Ap 22.18,19)- Pensando assim, elaborou 67 breves artigos de fé, nos
quais reafirmou o Senhor Jesus Cristo como único Chefe da Igreja (Ef 5.23),
ratificando que a salvação só pode ser alcançada pela Graça, mediante a fé (Ef
2.8,9). Além disso, combateu veementemente a intercessão dos santos e a
existência do Purgatório.
A Reforma de Zuínglio recebeu apoio do povo e dos magistrados da época e
produziu mudanças importantes na vida civil. O governo de Zurique introduziu a
língua alemã na liturgia religiosa e anulou o celibato de seus representantes
oficiais.
Em várias ocasiões, Zuínglio promoveu debates públicos (na presença de
multidões) contra teólogos romanos. Sendo seus argumentos muito mais
convincentes, derrotava-os de maneira fragorosa, reforçando, assim, os
pressupostos da Reforma.
Em 1529, iniciou-se uma luta armada. Temendo o perigo de uma intervenção
imperial e a hostilidade da parte do segmento romano, Zuínglio incitou o
Conselho de Zurique ao ataque armado. Acompanhando as tropas como
capelão, morreu na batalha em 11 de outubro de 1531. Diz-se que seu
cadáver, depois de esquartejado, foi também queimado.

CONCLUSÃO
A Reforma Protestante foi possível porque o Deus Altíssimo, em Seu poder
soberano, decidiu colocar um basta na grande crise espiritual que se instaurou
na Igreja.
O período que antecedeu a Reforma foi de verdadeiras trevas; o Senhor,
todavia, levantou destemidos heróis da fé para levar adiante a grande missão
cristã: evangelizar os povos da terra e estabelecer o Seu Reino entre os
homens.
A vida desses servos fiéis e o seu grande legado possibilitaram que fôssemos
salvos e, assim, fizéssemos parte da Igreja que, a despeito dos perigos,
percalços e todo tipo de ameaça, triunfará sobre tudo e todos. Como disse
Jesus: as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18).

Lição 3: A Justificação Unicamente pela Fé (Sola Fide)

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero subiu os degraus da catedral de
Wittenberg, na Alemanha, para afixar em suas portas as 95 teses que
desencadeariam a Reforma Protestante. Esse dia, sem sombra de dúvidas, foi
o grande marco de transição na história universal.
Esse movimento, de profundas repercussões sociais, políticas e culturais —
conforme veremos na Lição 11 —, destacou algumas verdades bíblicas, as
quais formam o alicerce de nossa evangelização — todos os cristãos
evangélicos, sem exceção, de um modo ou outro, são herdeiros dessa
revolução.
Nesta lição e nas próximas (Lições 3—6), discorreremos sobre os fundamentos
teológicos da Reforma Protestante, especialmente no que tange à soteriologia
dos reformadores [(sola fide = somente a fé); sola Scriptura (somente a
Escritura); solus Christus (somente Cristo); sola gratia (somente a Graça)].

1. E A LUZ BRILHA NAS TREVAS


A Igreja Romana afirmava que a salvação estava condicionada ao acúmulo de
méritos diante de Deus. Mesmo que um indivíduo não possuísse créditos
suficientes para alcançar a salvação, os pequenos acúmulos amealhados
durante a vida serviriam para abreviar sua passagem pelo Purgatório. O
merecimento de uma pessoa, de acordo com o Clero, aumentava na proporção
da prática de boas obras — como o pagamento de indulgências, as ações de
caridade e a piedade religiosa.
Os reformistas, em franca oposição a Roma, apregoavam que os pecadores
são declarados justos diante de Deus somente pela fé, somente em Cristo,
somente pela Graça, não mediante as boas obras praticadas.
É preciso salientar, neste tópico, os seguintes pontos:
• a teologia reformada jamais negligenciou a importância do socorro aos
desfavorecidos, ao contrário, reafirmava que não amparar o necessitado
equivaleria a abandonar um claro ensinamento da Escritura (Tg 1.27; l Jo 3;17);
entretanto, rejeitava toda e qualquer associação dessa obrigação cristã à
aquisição da salvação;
• a piedade religiosa comumente associada às atividades eclesiásticas, às
preces diárias, à devoção aos santos, dentre outras práticas — era vista como
um meio de obter a salvação. A teologia reformada defende o envolvimento do
cristão com a comunidade da qual faz parte; no entanto, não atribui qualquer
valor salvífico a tal condição.
1.1. A posição da Igreja Romana
A Igreja Romana sentiu-se obrigada a responder à exposição reformista, e o
fez no Concílio de Trento, um sínodo ecuménico realizado entre 1545 e 1563.
Dentre as defesas apresentadas por Roma naquela ocasião, destacam-se as
listadas a seguir:
* os pecadores são justificados pelo batismo;
* os pecadores são justificados pela fé em Cristo e pelas boas obras que
praticam;
* a pessoa pode perder sua posição de justificação.
O pensamento romano — em clara condenação à sola fide — foi resumido em
uma declaração: Se alguém disser que o pecador é justificado pela fé somente,
como entendido que nada mais é requerido para cooperar com a obtenção da
graça da justificação (...) que seja anátema (Cânon 9 do Concílio de Trento).

Diversos ensinos e doutrinas da Igreja Romana estavam em pleno


desacordo com as Escrituras; Isto desencadeou, à época, severas
controvérsias teológicas. Entretanto, pode-se afirmar que o estopim
da Reforma Protestante está associado ao modo como os cristãos
apropriam-se da salvação.

2. SOLA FIDE
A adequada compreensão do termo justificação é essencial para o contexto da
fé cristã; portanto, neste tópico, veremos em que consiste a doutrina da
justificação pela fé (sola fide).
2.1. Em que implica a justificação?
Sem a justificação, o cristianismo não existiria como realidade redentiva. Os
reformadores tinham convicção da relevância do tema; eles entendiam que é
por meio da justificação que o Senhor nos oferece a possibilidade de sermos
considerados kustos diante de Deus.
Martinho Lutero denominou a justificação de artigo principal de toda a doutrina
cristã, que, de fato, faz cristãos.

Convicto de que é por meio da fé que tomamos posse dos benefícios


alcançados pelo Cristo ressurreto, e que nesses benefícios repousam nossa
certeza de salvação eterna, Lutero declarou: Quando nosso conhecimento
sobre a justificação foi questionado, tudo o mais o foi também. [...] A
justificação é a essência que dá origem a todas as outras doutrinas. Ela gera,
nutre, edifica, preserva e defende a Igreja de Deus e, sem ela, a Igreja do
Senhor não pode existir. [...] Ela está acima de qualquer outra doutrina.
O conceito de justificação não foi elaborado por Paulo, mas sim por Jesus,
que declarou que o publicano (e não o fariseu) desceu justificado para a sua
casa (Lc 18.14). Contudo, já no Antigo Testamento, a ideia estava presente,
quando Isaías declarou: ... com o seu conhecimento, o meu servo, o justo,
justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si (Is 53.11).
2.1.1. Justificação — significado e uso
O verbo justificar (gr. dikaioõ), no Novo Testamento, apresenta uma
diversificada série de conceitos, porém o significado mais usual é declarar
justo.
De acordo com Hans Küng (1928), teólogo suíço, a afirmação divina de justiça
é, ao mesmo tempo e no mesmo ato, um tornar justo. Assim, justificação seria
o ato singular que, concomitantemente, declara justo e torna justo.
O que significa essa assertiva? Se justo, neste caso, traz a ideia de perdoado,
aceito, correio com Deus, então nos tornamos imediata e totalmente aquilo que
Ele afirma que somos, e usufruímos a condição justa a qual Ele nos atribuiu.
2.2. Em que implica a fé?
De acordo com a doutrina reformada, somos justificados só e unicamente pela
fé, mas isso não significa uma esperança estéril, estática ou morta em si
mesma.
Paulo, na carta que escreveu aos efésios, faz-nos entender que não somos
salvos pelas obras que praticamos, mas, sim, para as boas obras, as quais
Deus preparou para que andássemos nelas (Ef 2.10); ensinamento
corroborado por Tiago, irmão do Senhor, em sua epístola (Tg 2.14-26): as
obras são fruto da salvação, não a causa dela.
2.2.1. O que a fé não é
A fé que justifica o pecador não pode ser entendida como credulidade pura e
simples; tampouco deve estar associada à ideia de mero exercício intelectivo.
A fé implica, antes de tudo, abandonar nossas presunções de auto justificação
nas mãos de Cristo, admitindo a imensidão de nossa culpa e nossa absoluta
incapacidade de libertar-nos, por meios próprios, de nossos delitos e pecados
(Rm 5.1).
Ter fé em Jesus não é outra coisa senão isto: deixar-se salvar por Ele.
John Stott (1921—2011), pastor e teólogo britânico, tocou exatamente nessa
questão, quando disse: A justificação pela fé parece-nos ser o coração e
centro, paradigma e essência, de toda a economia da graça salvadora de
Deus.
2.2.2. O que significa viver por fé?
Martinho Lutero encontrou consolo para suas batalhas espirituais no texto
paulino, que chegou a ser um grito de guerra da Reforma: o justo viverá por fé
(Rm 1.17 ARA).
Mas, o que significa viver por fé?
Um dos grandes erros cometidos pelos cristãos medievais foi acreditar que os
homens de fé eram aqueles que cumpriam com zelo as atividades eclesiais.

Infelizmente, o que se observa, na atualidade, é o mesmo equívoco cometido


naquele tempo: muitos cristãos protestantes têm confundido fé com
convenções religiosas e exterioridades.
É preciso que se diga, enfaticamente, que o viver por fé transcende ao
formalismo vazio de sentido.
Viver por fé é infinitamente mais do que vestir-se de um modo específico, estar
em determinado culto, participar de toda agenda eclesiástica ou erguer as
mãos aos céus em sinal de gratidão.
Viver por fé é, antes de tudo, subjugar a alma ao Espírito de Deus e mergulhar
em Sua paz, sabendo que quem nos justifica é Cristo (l Jo 2.1). Viver por fé é
compreender que nossas boas obras fazem crescer os frutos da justiça (2 Co
9.10), mas elas não têm qualquer efeito meritório. Em si mesmas, elas não
passam de trapos da imundícia (Is 64.6).

3. ADVERTÊNCIA À IGREJA REFORMADA: A


SECULARIZAÇÃO DA FÉ
Endente-se por secularização da fé o processo por meio do qual a Igreja
recebe influências do meio exterior, tornando-se cada vez mais irreconhecível.
Em outras palavras, como disse o Prof. Dr. Cláudio Ribeiro: Secularização é o
processo pelo qual o sal perde o seu sabor (Mt 5.13).
Não podemos fechar os olhos a esta realidade: num mundo pós-moderno, em
que a verdade tornou-se mais um produto de consumo (ajustável ao gosto do
freguês), a Igreja vem perdendo sua relevância histórica, gradativamente.
Neste tópico, veremos que a secularização manifesta-se em nosso meio de
duas formas, basicamente.
3.1. Na ortodoxia hermética
Nesta manifestação, preservam-se as práticas religiosas, enquanto se esvaem
os conteúdos espirituais.
No texto bíblico, encontramos vários episódios de ortodoxia hermética (fechada
e estéril), dentre os quais se destacam os seguintes.

• Israel — O Altíssimo, por intermédio de Isaías, exortou Israel quanto ao


vazio de seus costumes (Is 1.11,12). Nos dias do profeta, o povo mantinha
seus ritos religiosos, mas a essência de sua espiritualidade havia se perdido;
suas ofertas e orações não tinham qualquer valor para o Senhor.
• A igreja de Éfeso — Essa comunidade teve o grande privilégio de ser
pastoreada por dois apóstolos (Paulo e João) e quatro evangelistas (Priscila,
Áquila, Apoio e Timóteo). Paulo havia elogiado os cristãos de Éfeso pelo amor
a Deus e aos irmãos (Ef 1.5), mas, no período em que João escreveu o
Apocalipse, parece que uma nova geração não deu continuidade a essa prática
(Ap 2.4).
3.2. No descompromisso com a causa do Evangelho
Enquanto na ortodoxia hermética os aspectos exteriores da fé podem ser
observados, nesta última manifestação nem mesmo tais exterioridades são
percebidas.
Muitos cristãos reformados, na contramão das exortações bíblicas, têm-se
mantido completamente alheios aos usos e costumes da Cristandade, fazendo
romper o elo que nos mantém conectados à Igreja que nos deu origem.
Dentre as práticas que revelam o descompromisso com a causa do Evangelho,
destacam-se as seguintes: frequência irregular aos cultos; ausência de
contribuição financeira; comportamentos sociais inadequados, dentre outras
tantas.

De Israel à Igreja Reformada, sempre houve e sempre haverá


esperança para os que desejam viver por fé: arrependimento e
mudança de rota.
CONCLUSÃO
Lancemos um olhar para além das circunstâncias religiosas: a salvação pelas
obras, a ortodoxia hermética e o descompromisso com a causa do Evangelho
não correspondem ao chamamento de Cristo.
Para os desafios do nosso tempo, a bandeira dos reformadores continua
flamejando: sola fide (só a fé) em Cristo pode levar-nos em segurança aos
caminhos eternos.

Lição 4: A Singularidade das Escrituras (Sola Scriptura)

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Nesta lição, especificamente, discorreremos sobre a centralidade das
Escrituras na Reforma, trazendo, no decorrer do estudo, uma reflexão sobre os
desvios teológicos atuais — especialmente entre os cristãos de confissão
protestante —, que poderiam ser evitados, se a herança dos reformadores
fosse o princípio norteador de nossas práticas e intenções.
1. A TRADIÇÃO CRISTÃ
A Tradição( lt.traditto, tradere = entregar; passar adiante) sempre foi uma
autoridade espiritual presente na teologia cristã (medieval e hodierna), uma vez
que representa a continuidade e permanência da doutrina e cosmovisão da
Cristandade.
A Tradição é corretamente qualificada de oral; no entanto, no decorrer dos
tempos, ela também foi fixada por escrito (sendo registrada, muitas vezes, em
documentos pontifícios, como as bulas e encíclicas papais, por exemplo).
Para uma melhor apreensão do conteúdo
desta lição, vejamos, resumidamente, em que consistem as tradições oral e
escrita da Igreja.
1.1. A tradição oral
Entende-se por tradição oral tudo aquilo que a Igreja recebeu dos apóstolos —
e que a eles foi confiado pelo próprio Cristo —,- deste modo, está
essencialmente radicada no testemunho daqueles a quem Jesus deixou a
missão de anunciar o Evangelho (Mc 16.15), testemunho esse assumido por
seus sucessores (2 Tm 2.2).
O entendimento romano é este: a Igreja não pode ser guiada unicamente pela
revelação escrita (a Bíblia), mas precisa ser dirigida também pela revelação
oral, pois, sem essa última, nem mesmo o texto bíblico existiria do modo como
o conhecemos hoje, uma vez que ele (o texto) foi vivido e — apenas décadas
depois — redigido pela Igreja.
O termo Igreja Católica é posterior ao Concílio de
Trento (1545-1563), uma forma de diferenciá-la da Igreja Protestante. Antes da
Reforma, só existia o que se convencionou chamar de Cristandade.
1.2. A tradição escrita
Diz respeito ao texto bíblico — produto da tradição oral —, escrito pelos quatro
evangelistas e por outros autores sagrados, inspirados pelo Espírito Santo.
Vale ressaltar, neste ponto, que boa parte da tradição oral não foi registrada,
sequer, em livros apócrifos; algumas são transmitidas, ainda hoje, por bispos e
papas, estando presentes apenas em documentos pontifícios. Exemplo: a
assunção e virgindade eterna de Maria. De acordo com o Magistério da Igreja
Romana, tais eventos não são citados explicitamente na Bíblia, porque,
segundo o corpo clerical, o objetivo do texto sagrado é falar de Jesus.
1.3. A posição ocupada pelas Escrituras na Igreja Medieval
Por muitos séculos, a Igreja Romana considerou a autoridade da tradição oral
superior à autoridade das Escrituras. Isso explica a razão de, nos dias de
Lutero, os fiéis terem-se desviado dos valores primordiais do cristianismo: suas
práticas não estavam baseadas única e exclusivamente nos escritos sagrados;
muitos ensinamentos, inclusive, não eram interpretações do texto bíblico, mas
instrumentos de manipulação do Clero, utilizados para alcançar os objetivos
pretendidos.
O fato de a Igreja Romana sobrepor a autoridade da Tradição à autoridade das
Escrituras levou os fiéis a adotarem práticas absolutamente contrárias aos
ensinamentos bíblicos, tais como: as orações aos santos, a mariolatria
(veneração a Maria, mãe do Senhor), a transubstanciação, o batismo de
crianças, o pagamento de indulgências e a autoridade papal, por exemplo.

2. SOM SCRIPTURA
Aprioristicamente, é preciso dizer que a Tradição jamais foi rejeitada pelo
simples fato de ser tradição; os autores sagrados, inclusive, tanto destacam
sua importância (2 Ts 2.15) quanto criticam o mau uso dela (Mt 15.2,3,6; Mc
7.3,5,8,9,13).
A partir desse entendimento, precisamos responder ao seguinte
questionamento: o que a Igreja de Cristo precisa rejeitar, então? A resposta é
simples: todo conjunto de ideias e valores culturais, morais e espirituais que
contradigam, de algum modo, a Palavra de Deus.
Os reformadores, indiscutivelmente, consideravam a autoridade dos Credos
(Apostólico; Niceno e Calcedoniano); entretanto, opuseram-se à autoridade da
tradição oral, independente da tradição escrita; eles defendiam que a única e
infalível autoridade dentro da Igreja é a Bíblia.
2.1. O marco histórico do conceito de sola Scriptura
Lutero divergia dos ensinos de sua época, que eram baseados na Tradição
(bulas, declarações, concílios, dentre outros documentos pontifícios). Ao ser
ameaçado de excomunhão e morte, caso não se re-tratasse formalmente de
suas posições expressas nas 95 teses afixadas na Catedral de Wittenberg,
Lutero disse: Não posso submeter minha fé quer ao Papa quer aos concílios,
porque é claro como o dia, que eles têm frequentemente errado e se contradito
um ao outro (...)• Esse evento serve de marco histórico para o conceito de sola
Scriptura (somente a Escritura).
2.2. Em que consiste o conceito de sola Scriptura
Apologistas romanos, desde a Reforma, por ignorância — culposa ou dolosa
tentam distorcer, de forma irónica, a doutrina de sola Scriptura a seu bel prazer.
Deste modo, é importante dizer que a teologia reformada, quando utiliza a
expressão sola Scriptura, não está rejeitando a realidade de que a Palavra de
Deus, antes de ser escriturada, foi transmitida oralmente aos homens; também
não está negando que o Eterno revela-se à humanidade por meio de
elementos naturais (revelação geral, não salvífica); do mesmo modo, não está
minimizando a atuação do Espírito Santo na vida do crente; tampouco está
questionando a necessidade de haver, na Igreja, mestres, pastores e
evangelistas.
O grito "sola Scriptura!" declara, fundamentalmente, que a Palavra de Deus —
anunciada ao longo dos séculos por profetas e apóstolos — encontra-se, hoje,
registrada nas Sagradas Escrituras, e que essa revelação escrita é clara o
suficiente para ensinar ao povo de Deus quanto à salvação e à santificação.
A teologia reformada entende que a tradição oral pode, sim, ser útil na
compreensão das origens do cristianismo — desde que se possa demonstrar
que ela (a tradição oral) tem origem no ensino apostólico — ; entretanto,
também defende que nenhum tratado teológico, nenhuma opinião religiosa,
nenhum concílio que contradiga as Escrituras pode servir de fundamento para
a fé cristã.

Sola Scriptura significa, antes de tudo, que as Escrituras Sagradas (do Antigo
e do Novo Testamento) são a única regra de fé e prática para os cristãos, pela
simples razão de elas — e tão somente elas — serem inspiradas por Deus.
2.3. A base bíblica da doutrina reformada
Obviamente, não encontraremos no texto bíblico qualquer menção ao termo
sola Scriptura — ao menos não como frase declarativa. Entretanto, o próprio
texto sagrado revela-nos duas realidades indiscutíveis:
• a Bíblia é inspirada por Deus;
• por meio dela, o Senhor fala de maneira autoritativa e definitiva ao Seu povo
(Jo 5.24; 20.30,31; 2 Pé 1.20,21; 2 Tm 3.14-17; l Co 14.37,38).
2.4. O texto canónico
Não se pode falar em sola Scriptura, um dos fundamentos teológicos da
Reforma Protestante, sem mencionar a diferença existente entre a Bíblia
Romana e a Bíblia Protestante.
Desde os tempos de Lutero, tem havido um sério debate sobre se a coleção de
livros apócrifos deve ou não pertencer à Bíblia. A divergência crucial surgiu em
torno de 11 obras literárias do período do Antigo Testamento [sete livros
(Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, l e 2 Ma-cabeus) e quatro
partes de outros tomos (adições a Daniel e adições a Ester)].
Os judeus e os protestantes, unanimemente, consideram-
-nos como não canónicos, e os católicos romanos declararam-
-nos canónicos, ou canónicos de segunda chamada, no Concílio de Trento
(1546).
Sempre houve escritos seculares que tentaram tratar os livros apócrifos como
tendo o mesmo grau de autoridade que um texto canónico, ou como tendo
ainda maior autoridade. Contudo, precisamos lembrar-nos de que confiar em
informações contidas em livros que foram considerados espúrios, desde os
primórdios do cristianismo, é um ato de grande insensatez.

3. ADVERTÊNCIA À IGREJA REFORMADA: QUEM TEM A


RESPOSTA DEFINITIVA?
3.1. O Papa não tem a resposta definitiva
A partir do quarto século, com Constantino, os ritos cristãos começaram a ser
definidos pelos líderes da Igreja — naquela época, havia cinco patriarcas (ou
bispos) nas principais cidades do Império Romano, que se declaravam
herdeiros dos apóstolos de Cristo. A partir do quinto século, definiu-se, então,
que o bispo de Roma seria o mais importante dentre eles e seria chamado de
Papa (gr.pappas, palavra carinhosa para pai). O sumo pontífice atuaria como
vigário (It. vicariu = substituto) de Cristo na terra, sendo, deste modo, o líder
supremo da Igreja.
Em linhas gerais, a Igreja Romana defende que o Papa — sucessor daquele
que recebeu as chaves do Reino dos céus (Mt 16.19) — é infalível quando, a
partir do trono de Pedro, fala nas condições ex cathedra sobre fé, moral e/ou
costumes. Na prática, tal declaração normativa não tem qualquer valor, pois, só
quem pode dizer se um Papa falou ex cathedra ou não é o próprio Papa.

3.2. As denominações protestantes não têm a resposta definitiva


Existe a crença entre os cristãos modernos de que a denominação cristã da
qual fazemos parte está sempre certa. Isso também é uma inverdade, pois
ninguém está isento de erros neste mundo. Os concílios são compostos por
pessoas que, por mais conhecedoras das Escrituras que sejam, estão sujeitas
a falhas. Obviamente, quanto maior for o apego dos líderes à sã doutrina,
quanto maior for sua capacidade de aplicar os ensinamentos bíblicos às
circunstâncias da vida, maiores chances terão de bem dirigir a Igreja de Cristo.

O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser


determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de concílios,
todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e
opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar,
não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura (Confissão de
Fé de Westminster).

CONCLUSÃO
Mas, afinal, se nem a Tradição, nem o Papa, nem as denominações cristãs
têm a palavra final, qual é a autoridade normativa, segundo a qual a Igreja deve
moldar a sua fé? Para a Igreja Reformada, não são os costumes (por mais
arraigados que estejam), não é a opinião das pessoas (por mais
intelectualizadas que sejam), nem a história das instituições (por mais
respeitáveis que sejam) que deve nortear a nossa fé, mas sim o Espírito Santo,
que fala na Escritura.

Lição 5: A Centralidade de Cristo (Solus Christus)

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Nesta lição, especificamente, discorreremos sobre a centralidade das
Escrituras na Reforma, trazendo, no decorrer do estudo, uma reflexão sobre os
desvios teológicos atuais — especialmente entre os cristãos de confissão
protestante —, que poderiam ser evitados, se a herança dos reformadores
fosse o princípio norteador de nossas práticas e intenções.

1. A TRADIÇÃO CRISTÃ
A Tradição( lt.traditto, tradere = entregar; passar adiante) sempre foi uma
autoridade espiritual presente na teologia cristã (medieval e hodierna), uma vez
que representa a continuidade e permanência da doutrina e cosmovisão da
Cristandade.
A Tradição é corretamente qualificada de oral; no entanto, no decorrer dos
tempos, ela também foi fixada por escrito (sendo registrada, muitas vezes, em
documentos pontifícios, como as bulas e encíclicas papais, por exemplo).
Para uma melhor apreensão do conteúdo
desta lição, vejamos, resumidamente, em que consistem as tradições oral e
escrita da Igreja.
1.1. A tradição oral
Entende-se por tradição oral tudo aquilo que a Igreja recebeu dos apóstolos —
e que a eles foi confiado pelo próprio Cristo —,- deste modo, está
essencialmente radicada no testemunho daqueles a quem Jesus deixou a
missão de anunciar o Evangelho (Mc 16.15), testemunho esse assumido por
seus sucessores (2 Tm 2.2).
O entendimento romano é este: a Igreja não pode ser guiada unicamente pela
revelação escrita (a Bíblia), mas precisa ser dirigida também pela revelação
oral, pois, sem essa última, nem mesmo o texto bíblico existiria do modo como
o conhecemos hoje, uma vez que ele (o texto) foi vivido e — apenas décadas
depois — redigido pela Igreja.
O termo Igreja Católica é posterior ao Concílio de
Trento (1545-1563), uma forma de diferenciá-la da Igreja Protestante. Antes da
Reforma, só existia o que se convencionou chamar de Cristandade.
1.2. A tradição escrita
Diz respeito ao texto bíblico — produto da tradição oral —, escrito pelos quatro
evangelistas e por outros autores sagrados, inspirados pelo Espírito Santo.
Vale ressaltar, neste ponto, que boa parte da tradição oral não foi registrada,
sequer, em livros apócrifos; algumas são transmitidas, ainda hoje, por bispos e
papas, estando presentes apenas em documentos pontifícios. Exemplo: a
assunção e virgindade eterna de Maria. De acordo com o Magistério da Igreja
Romana, tais eventos não são citados explicitamente na Bíblia, porque,
segundo o corpo clerical, o objetivo do texto sagrado é falar de Jesus.
1.3. A posição ocupada pelas Escrituras na Igreja Medieval
Por muitos séculos, a Igreja Romana considerou a autoridade da tradição oral
superior à autoridade das Escrituras. Isso explica a razão de, nos dias de
Lutero, os fiéis terem-se desviado dos valores primordiais do cristianismo: suas
práticas não estavam baseadas única e exclusivamente nos escritos sagrados;
muitos ensinamentos, inclusive, não eram interpretações do texto bíblico, mas
instrumentos de manipulação do Clero, utilizados para alcançar os objetivos
pretendidos.
O fato de a Igreja Romana sobrepor a autoridade da Tradição à autoridade das
Escrituras levou os fiéis a adotarem práticas absolutamente contrárias aos
ensinamentos bíblicos, tais como: as orações aos santos, a mariolatria
(veneração a Maria, mãe do Senhor), a transubstanciação, o batismo de
crianças, o pagamento de indulgências e a autoridade papal, por exemplo.

2. SOM SCRIPTURA
Aprioristicamente, é preciso dizer que a Tradição jamais foi rejeitada pelo
simples fato de ser tradição; os autores sagrados, inclusive, tanto destacam
sua importância (2 Ts 2.15) quanto criticam o mau uso dela (Mt 15.2,3,6; Mc
7.3,5,8,9,13).
A partir desse entendimento, precisamos responder ao seguinte
questionamento: o que a Igreja de Cristo precisa rejeitar, então? A resposta é
simples: todo conjunto de ideias e valores culturais, morais e espirituais que
contradigam, de algum modo, a Palavra de Deus.
Os reformadores, indiscutivelmente, consideravam a autoridade dos Credos
(Apostólico; Niceno e Calcedoniano); entretanto, opuseram-se à autoridade da
tradição oral, independente da tradição escrita; eles defendiam que a única e
infalível autoridade dentro da Igreja é a Bíblia.
2.1. O marco histórico do conceito de sola Scriptura
Lutero divergia dos ensinos de sua época, que eram baseados na Tradição
(bulas, declarações, concílios, dentre outros documentos pontifícios). Ao ser
ameaçado de excomunhão e morte, caso não se re-tratasse formalmente de
suas posições expressas nas 95 teses afixadas na Catedral de Wittenberg,
Lutero disse: Não posso submeter minha fé quer ao Papa quer aos concílios,
porque é claro como o dia, que eles têm frequentemente errado e se contradito
um ao outro (...)• Esse evento serve de marco histórico para o conceito de sola
Scriptura (somente a Escritura).
2.2. Em que consiste o conceito de sola Scriptura
Apologistas romanos, desde a Reforma, por ignorância — culposa ou dolosa
tentam distorcer, de forma irónica, a doutrina de sola Scriptura a seu bel prazer.
Deste modo, é importante dizer que a teologia reformada, quando utiliza a
expressão sola Scriptura, não está rejeitando a realidade de que a Palavra de
Deus, antes de ser escriturada, foi transmitida oralmente aos homens; também
não está negando que o Eterno revela-se à humanidade por meio de
elementos naturais (revelação geral, não salvífica); do mesmo modo, não está
minimizando a atuação do Espírito Santo na vida do crente; tampouco está
questionando a necessidade de haver, na Igreja, mestres, pastores e
evangelistas.
O grito "sola Scriptura!" declara, fundamentalmente, que a Palavra de Deus —
anunciada ao longo dos séculos por profetas e apóstolos — encontra-se, hoje,
registrada nas Sagradas Escrituras, e que essa revelação escrita é clara o
suficiente para ensinar ao povo de Deus quanto à salvação e à santificação.
A teologia reformada entende que a tradição oral pode, sim, ser útil na
compreensão das origens do cristianismo — desde que se possa demonstrar
que ela (a tradição oral) tem origem no ensino apostólico — ; entretanto,
também defende que nenhum tratado teológico, nenhuma opinião religiosa,
nenhum concílio que contradiga as Escrituras pode servir de fundamento para
a fé cristã.

Sola Scriptura significa, antes de tudo, que as Escrituras Sagradas (do Antigo
e do Novo Testamento) são a única regra de fé e prática para os cristãos, pela
simples razão de elas — e tão somente elas — serem inspiradas por Deus.
2.3. A base bíblica da doutrina reformada
Obviamente, não encontraremos no texto bíblico qualquer menção ao termo
sola Scriptura — ao menos não como frase declarativa. Entretanto, o próprio
texto sagrado revela-nos duas realidades indiscutíveis:
• a Bíblia é inspirada por Deus;
• por meio dela, o Senhor fala de maneira autoritativa e definitiva ao Seu povo
(Jo 5.24; 20.30,31; 2 Pé 1.20,21; 2 Tm 3.14-17; l Co 14.37,38).
2.4. O texto canónico
Não se pode falar em sola Scriptura, um dos fundamentos teológicos da
Reforma Protestante, sem mencionar a diferença existente entre a Bíblia
Romana e a Bíblia Protestante.
Desde os tempos de Lutero, tem havido um sério debate sobre se a coleção de
livros apócrifos deve ou não pertencer à Bíblia. A divergência crucial surgiu em
torno de 11 obras literárias do período do Antigo Testamento [sete livros
(Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, l e 2 Ma-cabeus) e quatro
partes de outros tomos (adições a Daniel e adições a Ester)].
Os judeus e os protestantes, unanimemente, consideram-
-nos como não canónicos, e os católicos romanos declararam-
-nos canónicos, ou canónicos de segunda chamada, no Concílio de Trento
(1546).
Sempre houve escritos seculares que tentaram tratar os livros apócrifos como
tendo o mesmo grau de autoridade que um texto canónico, ou como tendo
ainda maior autoridade. Contudo, precisamos lembrar-nos de que confiar em
informações contidas em livros que foram considerados espúrios, desde os
primórdios do cristianismo, é um ato de grande insensatez.

3. ADVERTÊNCIA À IGREJA REFORMADA: QUEM TEM A


RESPOSTA DEFINITIVA?
3.1. O Papa não tem a resposta definitiva
A partir do quarto século, com Constantino, os ritos cristãos começaram a ser
definidos pelos líderes da Igreja — naquela época, havia cinco patriarcas (ou
bispos) nas principais cidades do Império Romano, que se declaravam
herdeiros dos apóstolos de Cristo. A partir do quinto século, definiu-se, então,
que o bispo de Roma seria o mais importante dentre eles e seria chamado de
Papa (gr.pappas, palavra carinhosa para pai). O sumo pontífice atuaria como
vigário (It. vicariu = substituto) de Cristo na terra, sendo, deste modo, o líder
supremo da Igreja.
Em linhas gerais, a Igreja Romana defende que o Papa — sucessor daquele
que recebeu as chaves do Reino dos céus (Mt 16.19) — é infalível quando, a
partir do trono de Pedro, fala nas condições ex cathedra sobre fé, moral e/ou
costumes. Na prática, tal declaração normativa não tem qualquer valor, pois, só
quem pode dizer se um Papa falou ex cathedra ou não é o próprio Papa.

3.2. As denominações protestantes não têm a resposta definitiva


Existe a crença entre os cristãos modernos de que a denominação cristã da
qual fazemos parte está sempre certa. Isso também é uma inverdade, pois
ninguém está isento de erros neste mundo. Os concílios são compostos por
pessoas que, por mais conhecedoras das Escrituras que sejam, estão sujeitas
a falhas. Obviamente, quanto maior for o apego dos líderes à sã doutrina,
quanto maior for sua capacidade de aplicar os ensinamentos bíblicos às
circunstâncias da vida, maiores chances terão de bem dirigir a Igreja de Cristo.

O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser


determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de concílios,
todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e
opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar,
não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura (Confissão de
Fé de Westminster).

CONCLUSÃO
Mas, afinal, se nem a Tradição, nem o Papa, nem as denominações cristãs
têm a palavra final, qual é a autoridade normativa, segundo a qual a Igreja deve
moldar a sua fé? Para a Igreja Reformada, não são os costumes (por mais
arraigados que estejam), não é a opinião das pessoas (por mais
intelectualizadas que sejam), nem a história das instituições (por mais
respeitáveis que sejam) que deve nortear a nossa fé, mas sim o Espírito Santo,
que fala na Escritura.

Lição 6: A Centralidade da Graça (Sola Gratia)

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Como mencionamos na lição anterior, o ser humano, via de regra, não se sente
confortável com o fato de depender de outrem para satisfazer suas
necessidades e anseios — elementares ou profundos —, e esse desconforto
estende-se a todas as áreas da vida. De modo geral, o homem não consegue
aceitar que a salvação de sua alma não depende, em nada, dele mesmo, mas
única e exclusivamente de Deus.
Nesta lição, veremos que na Idade Média, sobretudo, a doutrina da salvação
pela Graça foi completamente abandonada, sendo restabelecida pela teologia
reformada.

1. O ENTENDIMENTO ROMANO QUANTO À


PARTICIPAÇÃO HUMANA NA SALVAÇÃO
Muitos cristãos reformados acreditam que os católicos apregoam a salvação
pelas obras, enquanto os protestantes anunciam a salvação pela Graça.
Apesar de ser um entendimento comum, é preciso dizer que ele não é
verdadeiro: os romanistas não ensinam que somos salvos apenas pelas obras
que praticamos.
Onde está, afinal, o ponto de cisão entre romanistas e reformados? Está em
uma única palavra: sola (somente). Enquanto os reformados sustentam que
somos salvos somente pela Graça, a Igreja Romana entende que há
participação humana nesse processo. É o que veremos a seguir.
1.1. A doutrina das indulgências
Resumidamente, pode-se dizer que a Igreja Romana entendia que as
indulgências (It. indulgentia = gentil) serviam para reparar, total ou
parcialmente, os males decorrentes do pecado — sendo que o pecado já é
perdoado no sacramento da confissão.
Em outras palavras, significa dizer que, para os romanistas, as indulgências
(obtidas pela prática de boas obras) não estavam relacionadas ao perdão dos
pecados, mas ao perdão da pena temporal causada pelo pecado — elas
seriam semelhantes ao ladrão que, conseguindo o perdão daquele que foi
roubado, deve restituir o dono com o dinheiro equivalente ao que foi extorquido.
1.1.1. Refutação reformista à doutrina das indulgências
Lutero discorreu sobre as práticas abusivas de venda de indulgências. Em suas
teses, ele afirmou que o arrependimento requerido por Cristo para o perdão
dos pecados envolve arrependimento espiritual interior, não apenas a confissão
sacramental exterior.
No terceiro volume das Institutos da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 5;
seções 1—5), o pensamento romano também é contestado. Nele, são
abordados temas como: (1) a indulgência, além de grosseira mistificação, é
blasfemo vilipêndio da redenção operada no sacrifício de Cristo, como a
Escritura o comprova (seção #2); (2) as indulgências contradizem a Graça, pois
são convertidas em compensações erroneamente concebidas por meritórias
diante de Deus (seção #5).

O comércio de indulgências refere-se aos abusos cometidos pelo Clero na


concessão de indulgências. Os primeiros registros dessa
prática arbitrária remontam ao século 13. Nesse período (séc. 13 - 16), surgiu a
figura do perdoador profissional. Johann Tetzel chegou às raias do absurdo, ao
afirmar que quando uma moeda tilintava no cofre, uma alma saía do
Purgatório.
1.2. A doutrina do purgatório
A doutrina do purgatório foi aprovada no Concílio de Florença (1438—1445) e
definitivamente confirmada no Concílio de Trento (1549—1563); todavia, ela já
era ensinada desde 1070.
Segundo essa doutrina, advinda de uma antiga crença pagã, os cristãos
parcialmente santificados — no caso, a maioria — passariam por uma espécie
de purificação para, somente depois, entrarem na comunhão eterna. Vale
destacar que, para a Igreja Romana, o Purgatório não é um lugar, mas sim um
estado.
Para os romanistas, todo ser humano traz consigo certa desordem interior, que
deve ser extinta nesta vida. Na confissão — ainda segundo a Igreja Romana —
, o homem recebe o perdão dos seus pecados, mas, na grande maioria das
vezes, a raiz de iniquidade não é totalmente removida, e, por isso, ele (o
homem) acaba reincidindo nas mesmas faltas. Apenas no Purgatório essa
desordem interior é totalmente destruída, possibilitando a alma chegar ao céu
em plena comunhão com Deus, que rejeita todo pecado.
1.2.1. Refutação reformista à doutrina do purgatório
No terceiro volume das Institutos da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 5;
seções 6—10), o pensamento romano é contestado. A sexta seção, inclusive,
recebeu o seguinte título: Dadas suas sérias consequências e a natureza
blasfema de que se reveste, forçoso se faz refutar a doutrina do purgatório.
Nas seções subsequentes, são abordados temas como: (1) é improcedente o
respaldo que se deriva de Mateus 12.32 à doutrina do purgatório, bem como de
passagens paralelas e de Mateus 5.25,26 (seção #1); (2) tampouco Filipenses
2.10, Apocalipse 5.13 e 2 Macabeus 12.43 respaldam o Purgatório (seção #8);
(3) tampouco 1Coríntios 3.12-15 oferece fundamento à doutrina do purgatório
(seção #9).

2. SOM GRATIA
Lutero defendeu arduamente a ideia de que o pecador é incapaz de, por si só,
prover ou apropriar-se da salvação. Assim, atacou todo sistema de
indulgências, peregrinações e penitências adotado pela Igreja Medieval,
opondo-se, do mesmo modo, à doutrina do purgatório.
O monge agostiniano compreendeu que, para derrotar a ideia de
meritocracia apregoada por Roma, ele teria de ir à raiz da controvérsia: a
graça divina (Ef 2.8,9).
2.1. Definição do termo
Esse termo indica, antes de tudo, que o onipotente Deus Trino, o Criador dos
céus e da terra, o Soberano da salvação, oferece Sua graça remidora a
homens e mulheres, culpados e indignos, de modo tal, que se lhes torna
impossível não responder a esse favor imerecido com regozijo e submissão
voluntária.
A teologia reformada entende que, quando o cristão verdadeiramente
experimenta a graça soberana do Altíssimo, ele compreende também seu real
significado: se a Graça não for livre e soberana, ela não é Graça.
2.2. As epístolas paulinas
Paulo, não os reformadores, foi quem maior destaque deu ao tema graça. Das
155 referências existentes em relação ao favor imerecido concedido por Deus
aos homens, 133 são dele. A Graça abre e fecha boa parte de suas epístolas;
sendo a nota primordial de seus escritos (1Co 3.10; 2 Co 4.15; 8.1; Fp 1.7; Cl
1.6; 1Ts 5.28; 2 Ts 2.16; 1Tm 1.14; 2 Tm 1.9; Tt 2.11; 3.7).
Vejamos o que ele destacou em três de suas cartas (aos romanos, aos gaiatas
e aos efésios).
2.2.1. Romanos
A carta aos romanos é um dos livros neotestamentários que mais enfatiza a
maravilhosa graça divina. O tema central da epístola é: o justo Senhor justifica
e, por fim, une judeus e gentios pela Graça, mediante a fé, tornando-nos,
todos, coerdeiros do Reino dos céus (Rm 4.16) — esse capítulo de Romanos
(4), aliás, é central para a afirmação de que a justificação ocorre somente pela
graça de Deus, mediante a fé. Além disso, nessa carta, Paulo diz que a Graça
determina a paz entre os homens e Deus (Rm 5.2); traz verdadeira libertação
do domínio do pecado (Rm 5.20,21; 6.14) e capacita os cristãos a servirem à
Igreja (Rm 12.6).
2.2.2. Gálatas
Paulo utilizou duas personagens veterotestamentárias (Sara e Agar) para
apresentar aos gaiatas as diferenças entre os dois Concertos: a Lei e a Graça
(Gl 4.21-31). Com essa ilustração, o apóstolo reiterou a impotência da Lei no
que diz respeito à justificação do homem (Gl 3.10-14). O apóstolo concluiu a
alegoria dizendo que a observância à Torah é desnecessária, pois somos filhos
não da escrava (a Lei), mas da livre (a Graça) (Gl 4.31).
2.2.3. Efésios
Paulo diz, em sua carta aos efésios, que o homem está morto em seus delitos
e pecados (Ef 2.1,2). Não se deve entender com essa afirmativa que todas as
pessoas são igualmente más, ou que todas são tão más quanto poderiam ser,
ou que todas estão destituídas de quaisquer virtudes, ou que a natureza
humana é má em si mesma.
O homem natural, pela graça comum de Deus, pode, sim, ser um bom cidadão,
cultivar virtudes elevadas e ter valores morais sólidos; todavia, nada do que ele
faça nesta vida pode livrá-lo de seu pecado original (Rm 3.23; 6.23), senão a
graça salvífica (Ef 2.8,9).
Se a fé é o meio humano pelo qual alcançamos a salvação (Ef 2.8), a Graça é
o recurso divino no qual depositamos a nossa fé.

3. ADVERTÊNCIA À IGREJA REFORMADA: TUDO, TÃO


SOMENTE PELA GRAÇA
O princípio da sola gratia, extraído da Escritura, traz--nos dois entendimentos
fundamentais: (1) todos, invariavelmente, estamos sujeitos ao pecado e temos
inclinações pecaminosas; (2) todos, indistintamente, somos incapazes de
alcançar as bênçãos divinas (materiais e/ou espirituais; para esta vida e/ou
para a vindoura) por méritos próprios — tudo é fruto da Graça.
3.1. Não se podem comprar bênçãos: nem materiais, nem espirituais; nem
para esta vida, nem para a eterna
A concessão de indulgências em troca de dinheiro, na Igreja Romana
medieval, acabou se transformando em um mércio de bênçãos espirituais —
bênçãos essas que jamais puderam (e jamais poderão) ser negociadas, tais
como: perdão, remissão de pecados e expiação.
Infelizmente, a comercialização da fé não é um fenómeno que ficou restrito às
cercanias medievais. Nos dias atuais, muitas comunidades ditas cristãs
aperfeiçoaram essa antiga prática romanista.
Os atuais mercadores da fé não vendem a salvação, mas supostas relíquias
que, segundo eles, teriam poderes sobrenaturais — como pedaços da arca de
Noé, da arca da aliança, da capa de Elias e até da cruz de nosso Salvador. Os
atuais mercadores da fé, desconsiderando a supremacia da obra de Cristo, têm
vendido, até, visitas a idosos e enfermos.
Na Era das Trevas, a Igreja Romana comercializava bênçãos espirituais e
eternas; na pós-modernidade, comunidades protestantes têm comercializado
bênçãos materiais e terrenas; a ambos os grupos, a teologia reformada grita:
sola gratia!

Sem a graça divinal, não haveria preservação da vida, provisão de ordem


alguma, consciência, livre volição, cura, perdão ou qualquer
outro elemento capaz de conferir beleza ou sentido à existência.

O Eterno concede Sua maravilhosa Graça ao homem, democrática,


livre e ininterruptamente, sem que haja nele (no homem) a possibilidade de
oferecer-Lhe o que quer que seja em retribuição (Ef 2.8); pois, como bem
observou Paulo: todas as coisas são Dele, e por Ele, e para Ele (Rm 11.36).
LEIA TAMBÉM:
- O Cenário Histórico da Reforma Protestante
- Os Ícones da Reforma Protestante
- A Justificação Unicamente pela Fé (Sola Fide)
- A Singularidade das Escrituras (Sola Scriptura)

CONCLUSÃO
A doutrina das indulgências e a doutrina do purgatório relativizaram a doutrina
da salvação unicamente pela Graça, retomada por Lutero e desdobrada, com
fervor, pelos teólogos reformados.
Que esse entendimento seja, para a Igreja de Cristo, o grande legado da
Reforma Protestante: alcançamos as bênçãos divinas (materiais e/ou
espirituais; para esta vida e/ou para a vindoura) pela Graça, somente.

Lição 7: A Soberania de Deus (Soli Deo Gloria)

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Uma das bandeiras levantadas pelos reformadores foi a que defendia os dois
primeiros mandamentos divinos: Não terás outros deuses diante de mim. Não
farás para ti imagem de escultura (Êx 20.3,4a). Contrários às doutrinas
apresentadas à Igreja naquela ocasião — como a veneração aos santos e às
relíquias —, esses homens de fé corajosamente anunciaram: soli Deo gloria
(somente a Deus, glória)!
Nesta lição, veremos que a teologia reformada não nega que houve, no
passado, homens e mulheres que se destacaram em sua profissão de fé;
entretanto, ao mesmo tempo, reafirma que o Senhor é o único digno de
adoração (Êx 20.3,4a).

1. O ENTENDIMENTO ROMANO ACERCA DA VENERAÇÃO

A veneração aos santos é um dos elementos principais da liturgia romana;


estes recebem dos fiéis as mais variadas honrarias: em templos, capelas,
missas, festas, altares, orações, juramentos, votos e dádivas de todo tipo.
Geralmente, os fiéis os invocam como intercessores; protetores ou
concessores de bênçãos. Uma extensão da doutrina da veneração aos santos
é a doutrina da veneração às suas relíquias.
Vejamos a seguir.
1.1. A doutrina da veneração aos santos
A doutrina da veneração aos santos — que se apresenta, externamente, por
meio da reverência a imagens (estátuas ou iconografias) — foi dogmatizada
pela Igreja Romana no Segundo Concílio de Niceia (787 d.C.); e, em 1987, por
ocasião do 12° centenário do referido sínodo, Demétrio l (patriarca de
Constantinopla) e João Paulo II (papa em exercício à época) reafirmaram sua
legitimidade.
Teólogos romanos, em defesa dessa doutrina, alegam haver distinção entre as
palavras gregas latria e dulia. Segundo eles, latria designaria a adoração
devida unicamente a Deus, e dulia, a venera cão aos santos; por isso, ainda de
acordo com o entendimento romano, tal prática não poderia ser considerada
idolatria.
É importante ressaltar que as Escrituras não fazem qualquer distinção entre os
vocábulos gregos latria e dulia. Nos registros neotestamentários, o termo latria
só é utilizado para fazer referência ao Senhor (Lc 2.37; Rm 1.25; Hb 9.14; At
24.14, dentre outros); porém dulia também é usado com o mesmo sentido (Mt
6.24; Rm 12.11; 1Ts 1.9).
As primeiras imagens cristãs a serem envolvidas com marcas de culto foram
os retratos de indivíduos venerados como santos enquanto ainda estavam
vivos. O culto às imagens foi inicialmente evidenciado durante o quinto século e
tornou-se repentinamente popular durante a segunda metade do sexto século e
no sétimo
(FERGUSON, E. Central Gospel, 2017, p. 400).
1.1.1. Refutação reformista à doutrina da veneração aos santos
No primeiro volume das Institutos da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 11;
seções l—16), o pensamento romano é veementemente contestado. Nele, o
reformador afirma, dentre outros pontos, que (1) representar a Deus através de
imagens é corromper-lhe a glória (seção #1); (4) o uso de imagens conduz à
idolatria (seção #9). No capítulo 12 do mesmo volume, são abordados os
seguintes temas:
(1) a verdadeira religião proclama o Deus único e absoluto (seção #1);(2) a
ilusória distinção de latria e dulia (seção #2); (3) improcedência do culto de
dulia à luz das Escrituras (seção #3).
Além disso, no terceiro volume da referida obra, o reformador aborda
explicitamente o seguinte tema: (1) a intercessão romanista dos santos
engendra supersticiosa veneração dessas criaturas, às quais se prescrevem
atribuições e honrarias próprias de Cristo e da Deidade (seção #22) [grifo do
comentarista].

1.2. A doutrina da veneração às relíquias


Relíquias são os objetos pertencentes (ou supostamente pertencentes) a
cristãos piedosos que, depois de certo tempo, foram canonizados.
Três tipos de relíquias vieram a ser reconhecidas pela Igreja: o corpo ou partes
do corpo de uma pessoa santa, objetos intimamente relacionados com a
pessoa (por exemplo, vestuário) e objetos como areia, óleo ou água, que
tocaram os restos mortais e foram armazenados em ampolas (pequenos
frascos) (FERGUSON, E. Central Gospel, 2017, p. 286).
Os romanistas afirmavam, com base em alguns textos bíblicos (Êx 13.19; 2 Rs
13.21; At 5.15,16; 19.11,12), que ossos e/ou objetos de santos e mártires eram
dotados de poder divinal e, por esse motivo, operavam milagres. Atualmente, a
Igreja Católica permite o culto às relíquias [veneração aos corpos (ou pedaços
de corpos) de santos e mártires falecidos], alegando que o milagre não é
produzido materialmente pelas relíquias, mas pela vontade de Deus, por meio
delas.

Considerando o fato de não haver, em todo texto bíblico, sequer um exemplo,


promessa ou preceito relacionado à adoração aos santos, pode-se afirmar que
toda e qualquer invocação que não seja dirigida ao Deus Trino é idólatra: soli
Deo gloria!
1.2.1. Refutação reformista à doutrina da veneração às relíquias
Analisemos os textos bíblicos utilizados pelos romanistas para respaldar o culto
às relíquias:
• Êxodo 13.19 — Moisés, em atenção ao pedido de José, levou os restos
mortais do patriarca para serem sepultados na terra que Deus prometera dar
aos filhos de Abraão. Entretanto, não há registro (bíblico ou histórico) de que o
corpo de José tenha sido adorado, colocado no templo, carregado em
procissões, ou levantado em altares.
• 2 Reis 13.21 — O texto bíblico informa-nos que certo homem ressuscitou,
depois de ter sido lançado sobre os ossos de Eliseu. Do mesmo modo, não há
relato (bíblico ou histórico) de que, depois desse evento, os ossos de Eliseu
tenham sido transformados em relíquia, tampouco que seu túmulo passou a ser
um centro de peregrinação religiosa.
• Atos 5.15,16; 19.12 — Lucas dá-nos ciência de que enfermos eram
levados às ruas, em camas e macas, a fim de serem curados pela sombra de
Pedro. Lucas também diz que lenços e aventais de Paulo eram colocados
sobre doentes e possessos, a fim de que ficassem livres de seus males.
Todavia, nem o evangelista, nem qualquer outro autor sagrado, diz que Pedro
ou Paulo aceitaram ser venerados pelos milagres que realizavam. Ao contrário,
em Atos 14.8-18, vemos a rejeição de Paulo à adoração que os habitantes de
Listra queriam prestar-lhe, depois de ele ter curado um coxo: Homens, por que
vocês estão fazendo isso? Nós também somos humanos como vocês (v. 15
NVI).

A teologia reformada não afirma que os piedosos irmãos do passado não


devem ser reverenciados e imitados em sua fé e fidelidade ao Senhor (Lc 1.48;
Mc 14.9). A bandeira levantada pelos reformadores não foi outra senão esta:
Deus é o único digno de glória e louvor para todo sempre (Ap 7.12).

2. SOLI DEO GLORIA


A Escritura é clara ao afirmar que há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para
quem nós vivemos (1Co 8.6). Em termos práticos, essa realidade não apenas
proíbe (e inviabiliza) a adoração a santos e relíquias — por exemplo —, como
também condena a adoração a qualquer representação iconográfica de
Yahweh, o Deus de Israel (Êx 20.1-5).
A teologia reformada entende que nenhum ser humano — limitado em sua
própria humanidade — é digno de receber glória: nem os santos canonizados,
nem os mártires, nem os papas, nem as autoridades eclesiásticas. Por isso,
apregoa: toda veneração que não seja dirigida ao único e verdadeiro Deus não
passa de mera superstição religiosa.
2.1. Base bíblica
A Confissão de Fé de Westminster (uma confissão de fé adotada por muitas
igrejas reformadas ao redor do mundo) diz que o fim supremo e principal do
homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre (Rm 11.36; 1 Co 10.31; Jo
17.22-24).
O Senhor dos céus e da terra dirige a história humana de modo a fazer com
que Seu nome seja glorificado entre os homens (Êx 14.4,17,18; 1 Sm 12.20-22;
2 Sm 7.23; SI 106.7,8; Is 43.6,7,25; 49.3; Jr 13.11; Ez 20.14; 36.22,23,32; He
2.14; Rm 9.17,22,23; Ef 1.4-6,12,14), porque Ele não divide Sua glória com
ninguém (Is 42.8). E isso também se constata na pessoa de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo (Jo 5.44; 7.18; 12.27,28; 14.13; 17.1,24; Rm 15.7; Fp
1.9,11; 2 Ts 1.9,10; Hb 1.3; Ap 21.23).

3. ADVERTÊNCIA A IGREJA REFORMADA: GLÓRIA,


SOMENTE A DEUS
Nos tópicos anteriores, abordamos a teologia reformada da glória de Deus em
oposição à doutrina romana. Neste, refletiremos sobre a seguinte questão:
existem, nos dias atuais, elementos ou fatores que, de algum modo, retiram a
centralidade da soberania divina da vida do crente?
3.1. O endeusamento de líderes
Muitos irmãos de confissão protestante, em vários períodos da história, e em
vários países do mundo, sem se darem conta, endeusaram seus líderes
religiosos.
Há grande diferença entre um pastor fiel e abençoado, que leva a Igreja a
glorificar o nome de Jesus, reconhecendo Nele a fonte de toda boa dádiva (Tg
1.17), e o pastor que confia em sua própria retórica e talento para, em sua
cobiça, atrair massas incautas e explorá-las com histórias que inventaram (2
Pe 2.1-3 NVI).
Com pesar, observamos multidões de pessoas atraídas por líderes
carismáticos que canalizam para si a atenção e o louvor que deveriam ser
direcionados a Jesus, o Senhor da Igreja (Cl 1.18). Esses se apresentam aos
imprudentes como autoridades divinas aptas a curar enfermos, expulsar
demónios e receber gratificações em nome de Cristo.
Lembremo-nos, irmãos: a Igreja é de Cristo; só a Ele devemos glória!
3.2. As modernas relíquias devocionais
Também não é incomum encontramos irmãos de confissão evangélica que
elegeram para si modernas relíquias devocionais, tais como: copos com água
ungida; sal grosso abençoado; toalhas ditas santas, dentre outras tantas
variantes.
Todos esses elementos não passam de velhos costumes (tomados
emprestados do paganismo) revestidos de novas roupagens; e essas
miudezas, estritamente humanas, tiram a atenção do Senhor da Igreja. Não
nos esqueçamos de que nem água, nem sal, nem tecido, nem outro elemento
qualquer é capaz de trazer bênçãos aos homens, senão o Autor da vida,
conforme Sua soberana e eterna vontade.
Voltemos, portanto, os olhos para a bandeira reformadora: soli Deo gloria!
CONCLUSÃO
Lutero, Calvino, Zuínglio e tantos outros homens de fé levantaram-se contra a
teologia romana por terem compreendido que a Igreja não estava mais vivendo
para o Senhor dela, mas para o Clero e para si mesma.
Nos dias atuais, a Igreja Reformada também corre o risco de viver para sua
própria glória e em função de suas próprias necessidades, esquecendo-se do
único motivo que a faz ser Corpo de Cristo: viver para glória do Pai.
Soli Deo gloriai. Precisamos lembrar-nos sempre disso, não apenas quando
estamos diante de imagens e esculturas, mas quando somos apresentados às
modernas relíquias devocionais e quando somos tentados a endeusar pessoas.

Lição 8: A Soteriologia Reformada

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Como dito em lições anteriores, os fundamentos soteriológicos da fé cristã
foram drasticamente afetados pela Reforma Protestante, a partir dos princípios
de sola fide, sola Scriptura, solus Christus e sola gratia.
Nesta lição, destacaremos dois sistemas soteriológicos — adotados por igrejas
reformadas em todo mundo —, considerando sua preeminência e relevância
histórica, a saber: calvinismo e arminianismo. Antes, porém, veremos de que
forma a salvação é apresentada no Antigo e no Novo Testamento.
1. SOTERIOLOGIA: A DOUTRINA DA SALVAÇÃO
Todas as religiões do mundo possuem, de um modo ou de outro, sua própria
soteriologia (doutrina da salvação): algumas enfatizam o relacionamento entre
Deus e os homens; outras, por sua vez, põem ênfase no aprimoramento do
auto-conhecimento como forma de alcançar a redenção.
Vejamos a seguir de que forma o manual de fé e prática do cristão reformado
(a Escritura) apresenta a salvação.
1.1. No Antigo Testamento
Yahweh é o Ser soberano que, invariavelmente, toma a iniciativa de
restabelecer com o homem o elo (de amor e verdadeira comunhão) rompido
com Ele, no Éden.
Pode-se afirmar que, para Israel, a ideia de aliança constitui-se na chave-
mestra capaz de abrir as portas que levam ao conhecimento da identidade do
Eterno.
Nas alianças estabelecidas com Israel — destacadas a seguir —, dentre outras
promessas, Yahweh assegurou que salvaria o Seu povo.
São elas: edênica — da Criação à Queda (Gn 1—3.24); adâmica — de
Adão ao Dilúvio (Gn 3.24—9.13); noética — de Noé a Abraão (Gn 9.13—
10.32); abraâmica — de Abraão a Moisés (Gn 12—Êx 3.6-10); mosaica — de
Moisés a Davi (Êx 3.4; 2 Sm 7.1-29); davídica — de Davi a Cristo (2 Sm 7—Mt
1.1).
1.2. No Novo Testamento
No Novo Testamento, o conceito de salvação (gr. soteria = libertação,
salvação, livramento, restituição do homem à ple na comunhão com o Eterno)
inclui a maioria dos rudimentos e exterioridades mencionadas no Antigo
Testamento (ajudar, libertar, livrar e salvar em situações de grandes ameaças)
acrescentando-lhe dimensões espirituais (Fp 2.8).
A teologia reformada entende e apregoa que todo o Novo Testamento deixa
transparecer a manifestação da graça salvadora de Deus em Cristo Jesus (Jo
3.16). Aliás, esse é o tema central da Nova Aliança, que está diretamente
fundamentada na obra sacrificial de Cristo na cruz (que foi prefigurada pelo
sistema de sacrifícios de Israel); [o Salvador] tira o pecado e purifica a
consciência por meio da fé nele (Hb 10.2,22) [...] (RADMACHER; ALLEN;
HOUSF, 20101), p. 437).
LEIA TAMBÉM:
O Cenário Histórico da Reforma Protestante
Os Ícones da Reforma Protestante
A Justificação Unicamente pela Fé (Sola Fide)
A Singularidade das Escrituras (Sola Scriptura)
A Centralidade de Cristo (Solus Christus)
A Centralidade da Graça (Sola Gratia)

O termo aliança reveste-se de sublime importância na conformação


da identidade religiosa de Israel, pois em nenhum outro sistema de
culturas e crenças, em todo o mundo, encontram-se vestígios que
possam indicar o estabelecimento de pactos entre uma divindade e o
seu povo; fato que, por si só, comprova o ineditismo do texto bíblico.
2. OS SISTEMAS SOTERIOLÓGICOS PROTESTANTES
Existem diversos sistemas soteriológicos dentro do protestantismo, os quais
partem desse entendimento primordial: os pecadores são declarados justos
diante de Deus somente pela fé, somente em Cristo, somente pela Graça, não
mediante as boas obras praticadas.
Abordar cada um desses sistemas ocuparia um espaço muito maior que o
permitido nesta lição, e ultrapassaria os objetivos pretendidos nesta ocasião.
Portanto, examinaremos dois deles, pelo fato de terem-se destacado desde a
Reforma, a saber: o calvinismo e o arminianismo.
2.1. Considerações prévias
Ao longo dos séculos, debates têm sido promovidos e diversos materiais têm
sido produzidos, por teólogos, pensadores e críticos, de forma sistemática, a
respeito da seguinte pergunta: somos predestinados à salvação ou escolhemos
ser salvos?
Considerando que, na História, ocorreram polarizações entre ambos os
pensamentos, sem que tenha sido estabelecida uma conclusão definitiva,
apresou taremos os principais aspectos dessas duas teorias — mutuamente
excludentes, segundo seus defensores —, sem a pretensão de esgotar as
múltiplas conexões sugeridas por cada segmento.
2.2. O calvinismo e a predestinação
A fundamentação teórica do calvinismo repousa sobre as Institutos da Religião
Cristã, obra escrita pelo teólogo e reformador francês João Calvino (1509—
1564).
A doutrina da eleição (ou predestinação), elaborada por Calvino, pode ser
definida como um ato de Deus, por meio do qual Ele elegeu (escolheu)
previamente um determinado número de pessoas para obter a salvação por
meio da fé em Cristo, independente do desejo ou de qualquer ato da vontade
humana.
2.2.1. As cinco teses centrais do calvinismo
É possível entender mais facilmente o calvinismo a partir das suas cinco teses
centrais, resumidas no acrónimo TULIP.
• Total depravity (a total depravação) — A raça humana, como resultado do
pecado, está tão decaída que nada pode fazer para melhorar ou para ser
aceita diante de Deus.
• Unconditional election (a eleição incondicional) — O Deus soberano, na
eternidade passada, elegeu (escolheu) alguns membros da raça humana para
serem salvos, independentemente da aceitação de Sua oferta, que tem como
base Sua graça e compaixão.
• Limited atonement (a expiação limitada) — Deus enviou Seu Filho para
prover a expiação somente daqueles que Ele elegeu.
• Irresistible grace (a graça irresistível) — Os eleitos não poderão resistir à
Sua oferta generosa; serão salvos.
• Perseverance ofthe saints (a perseverança dos santos) — Uma vez
salvos, perseverarão até o fim e receberão a realidade última da salvação: a
vida eterna.

2.2.2. Questões a serem respondidas pelo calvinismo


Todos os cinco pontos do acrónimo omitem um conceito específico da
soberania divina, a saber: o fato de Deus ser soberano sobre Si mesmo e,
portanto, capaz de limitar-se em áreas de Sua escolha, de modo que
possamos ter verdadeiro livre-arbítrio — o que nos torna capazes de optar por
sermos Seus filhos, em vez de apenas seres autómatos.
Além disso, esses cinco pontos do acrónimo colidem com o ensino bíblico da
superioridade do sacrifício de Cristo, retirando o seu valor, pois, se alguns
foram predestinados para a perdição, o que a obra expiatória de Cristo poderia
fazer por eles? E, se outros foram predestinados para a salvação, em que
medida o sacrifício de Cristo cooperou para que isso ocorresse?
2.3. O arminianismo e o livre-arbítrio
O arminianismo é uma doutrina firmada nos conceitos do teólogo holandês
Jacob Harmensz (1560—1609), conhecido por seu nome latino Jacobus
Arminius (em Português, Jacó Armínio).
O livre-arbítrio, sob muitos aspectos, consiste no anverso da doutrina da
predestinação, elaborada por Calvino, pois apregoa que o homem pode tomar
suas próprias decisões, determinando, assim, seu destino.
Armínio discordou das doutrinas calvinistas, argumentando que seus
defensores:
(1) tendem a fazer de Deus o autor do pecado, por ter Ele escolhido, na
eternidade passada, quem seria ou não salvo;
(2) negam o livre-arbítrio do ser humano, por declararem que ninguém pode
resistir à graça de Deus; e
(3) negam a absoluta necessidade e singularidade do sacrifício de Cristo, pois,
se tudo já está antecipadamente determinado, a obra de Cristo no Calvário foi
vã.
2.3.1. As teses centrais do arminianismo
Os ensinos de Armínio foram resumidos nas cinco teses dos Artigos de
Protesto, publicados em 1610, após a sua morte:
(1) a predestinação depende da maneira de a pessoa corresponder ao
chamado da salvação, e é fundamentada na presciência de Deus;
(2) Cristo morreu em prol de toda e qualquer pessoa, mas somente as que
crêem são salvas;
(3) a pessoa não tem a capacidade de crer e precisa da graça de Deus, mas
(4) a Graça pode ser resistida;
(5) se todos os regenerados perseverarão é questão que exige maior
investigação (LETHAM, 1988, p. 45).
2.4. Adendo necessário
A diferença de pensamento entre cristãos reformados — inclusive no que
concerne aos temas abordados nesta lição (predestinação e livre-arbítrio) —
resulta da liberdade de consciência, conquistada, há cinco séculos, por aqueles
que ousaram confrontar os abusos do Clero.
Não se deve compreender a liberdade de consciência como um agente de
cisão entre os cristãos; ao contrário, ela foi, para a humanidade, antes de tudo,
um dos grandes legados da Reforma Protestante (como veremos em lições
subsequentes). Sem ela (sem a liberdade de consciência), estaríamos vivendo,
ainda hoje, segundo as tradições e rituais romanos.

3. O POSICIONAMENTO DAS IGREJAS DE 'CONFISSÃO


PENTECOSTAL
São claras as diferenças entre o calvinismo e o arminianismo, sistema
soteriológico adotado pela maioria das igrejas de confissão pentecostal, dentre
elas as Assembleias de Deus e várias outras.
Segundo os arminianos, Deus sabe, de antemão, as pessoas que lhe aceitarão
a oferta da graça, e são essas que Ele predestina à salvação. Em outras
palavras, Deus predestina todos aqueles que, de livre e espontânea vontade,
aceitam a salvação outorgada em Cristo, e continuam a viver por Ele.
3.1. Quem são os predestinados à salvação?
Defender unilateralmente a doutrina da predestinação pode conduzir a grandes
paradoxos, uma vez que a Bíblia ensina que o plano de Deus é que ninguém
se perca, mas que todos cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2.3-6).
Além disso, as Escrituras apresentam um Deus justo, amoroso que não faz
acepção de pessoas (Rm 2.11).
Hoje em dia, até mesmo os teólogos outrora muito radicais na defesa do
calvinismo estão migrando, progressivamente, para um ponto de equilíbrio em
relação ao tema do livre-arbítrio e da predestinação.
Predestinados à salvação são todos aqueles que se encontram do lado de
dentro dos limites do sacrifício de Cristo e que, arrependidos dos seus
pecados, confessaram-nos ao Senhor e tiveram seus nomes registrados no
livro eterno.

CONCLUSÃO
Em relação aos temas principais apresentados nesta lição
(predestinação e livre-arbítrio), o que os cristãos reformados precisam ter em
mente é que Deus não se limita a sistematizações e/ou a epistemologias, ao
tempo e/ou ao espaço. Deste modo, precisamos prender-nos à verdade
incontestável de Seu amor, que a todos quer envolver, porque Ele amou o
mundo de tal maneira — e até mesmo além da percepção humana —, que
enviou Seu único Filho para redimir o perdido, indistintamente. É Ele quem
salva e transforma aqueles que Nele creem, dia a dia, à imagem do Seu Filho
(Jo 3.16; Fp 1.6).

Lição 9: A Reforma e a Condição Humana

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Quem é o homem? De onde ele veio? O que os reformadores afirmaram sobre
ele? O que a Bíblia diz sobre o assunto? Ele é um ser essencialmente bom e o
meio o corrompe ou ele é essencialmente mau e corrompe tudo que está a sua
volta?
Nesta lição, trataremos desse ser distinto e especial, a quem o Altíssimo
coroou de glória e honra (SI 8.5).

1. A BÍBLIA DIZ QUE O HOMEM FOI CRIADO POR ATO DIRETO


DE DEUS
Desde o século passado, o tema sobre a origem do homem e da vida alcançou
grande destaque no meio acadêmico. Cientistas debruçaram-se sobre o
assunto, na tentativa de trazer soluções para o enigma. As teorias sobre a
origem da vida, de modo geral, pautam-se em duas vertentes: a evolucionista e
a criacionista.
1.1. O evolucionismo
Teoria elaborada pelo cientista britânico Charles Darwin (1B09—1882), autor
da obra intitulada "Á origem das espécies", que afirma ter o ente humano
surgido pela seleção natural das espécies que habitavam o planeta. Suas
conclusões apesar de terem sacudido o mundo — principalmente, na primeira
metade do século 20 —, jamais foram unanimemente aceitas como
verdadeiras.

Algumas questões constituem-se em objeções concisas à teoria da evolução


das espécies, tais como: Se O corpo do homem surgiu de um processo natural,
o que dizer da sua alma? Quem deu origem ao processo inicial de vida, que
desencadeou os demais estágios? Onde estão os dados que comprovam a
passagem da vida do reino vegetal para o reino animal? Onde estão os elos
perdidos? Tais questionamentos, dentre outros, levaram as ciências biológicas
(e afins) a questionarem vigorosamente a teoria da evolução das espécies.
1.2. A teoria do big bang
Elaborada a partir da primeira metade do século passado, essa teoria
preconiza que o universo surgiu a partir de uma imensa explosão ocorrida entre
dez e vinte bilhões de anos atrás. A comunidade científica jamais apoiou
unanimemente tal postulado. Atualmente, inclusive, esse modelo cosmológico
perdeu seu caráter hegemônico, ostentado desde os anos iniciais da década
de 1970.
1.3. O criacionismo
Apesar das inúmeras tentativas ateístas e materialistas de explicar o
surgimento do homem no cosmos ao longo dos anos, a premissa bíblica
contida no livro de Génesis permanece inalterada, forte e convincente: No
princípio, criou Deus os céus e a terra (Gn 1.1).
CLIQUE E LEIA TAMBÉM:
LIÇÕES BÍBLICAS CLASSE DE ADULTOS
LIÇÕES BÍBLICAS CLASSE DE JOVENS
LIÇÕES BÍBLICAS CLASSE DE JUVENIS
ESTUDOS PARA PROFESSORES DA EBD
SUBSÍDIOS GRÁTIS
O homem foi chamado à existência por um ato do Criador (Gn 1.27). Sua parte
imaterial veio à existência sem que fosse utilizada qualquer espécie de matéria-
prima; por isso a palavra hebraica usada para designar esse ato criativo é bara,
que significa criar do nada. Já a palavra hebraica usada para indicar a criação
do seu corpo físico é asah, que denota a utilização de material preexistente,
reforçando o argumento bíblico de que o homem foi feito a partir do barro (Gn
2.7).

Parece-me que Darwin está em processo de ser descartado, porém, talvez em


deferência ao respeitável senhor, que repousa confortavelmente na Abadia de
Westminster ao lado de Sir Isaac Newton, isso está sendo feito tão discreta e
delicadamente, com um
mínimo de publicidade (Thomas Bethell).

2. A CRIAÇÃO DO HOMEM FOI UM 'ACONTECIMENTO


ESPECIAL
O primeiro capítulo do livro de Gênesis informa-nos que as plantas e os
animais foram criados segundo a sua espécie (Gn 1.12,21,24,25); o homem,
todavia, foi feito de maneira especial e diferenciada (Gn 1.26,27; 2.7).
O termo imagem e semelhança (Gn 1.26) tem relação com Sua imagem natural
e moral (não física), pois Deus, sendo Espírito, não possui forma corpórea (Jo
4.24).
Ao que tudo indica, o Criador extraiu elementos de Si mesmo e os imprimiu no
homem, tornando-o, assim, Seu representante no Universo.
Em termos gerais, pode-se dizer que a imagem de Deus tatuada no homem
significa que ele possui as características destacadas a seguir.

2.1. Racionalidade
Por imagem natural de Deus, devemos entender, dentre outras coisas, a
capacidade de raciocínio que torna o homem extremamente diferente dos
animais.
Exemplificando: só o homem cria, inventa, utiliza ferramentas, formula teorias,
toma decisões, desenvolve-se em diversas áreas do conhecimento e faz
história.
2.2. Personalidade
A personalidade humana é formada por razão, sentimentos e volição (ou
vontade). Não há na Criação outro ser, além do homem, que possua tais
atributos. Deus dotou-o dessas características porque desejava criar alguém
com quem pudesse ter comunhão.
2.3. Espiritualidade
Só o homem anela pela presença de Deus e deseja ardentemente prestar-lhe
culto (SI 42.1,2; Rm 12.1,2). Ao estudarmos a história das civilizações,
encontramos um ser voltado para o Sagrado e para a devoção às entidades, às
quais ele atribui poderes sobrenaturais — por esse motivo, há inúmeras
religiões e seitas que se contrapõem às Escrituras Sagradas.
2.4. Infinitude
A eternidade é um atributo exclusivo do Criador; o homem, no entanto, foi feito
para a infinitude. Os animais são extintos quando morrem; o homem, todavia, é
um ser imorredouro. Ao final desta existência, ele é projetado para o seu
destino eterno (Ec 12.7), definido por suas escolhas pessoais, em vida, no que
tange à cruz de Cristo (1Co 15.19; Hb 9.27).

Quando a Escritura atribui traços físicos a Deus, está simplesmente utilizando-


se de antropomorfismos (atribuição de forma ou caráter humanos a objetos
e/ou seres não humanos), uma vez que é impossível compreender a ação do
Altíssimo, sem o uso desses recursos.

3. PROPÓSITOS DE DEUS AO CRIAR O HOMEM


Para o homem, é muito importante saber sobre o propósito divino de sua
criação, uma vez que a resposta a essa pergunta está intimamente ligada ao
que ele é, essencialmente, o que pode ser descrito sobre o homem, de maneira
resumida, é que ele foi criado do pó da terra e que se tornou alma vi-vante pelo
sopro de Deus (Gn 1.27; 2.7).
A criação do homem ocorreu, principalmente, pelas
razões que se seguem.
• Ele foi criado para a glória de Deus — É consenso entre os
estudiosos da Bíblia que Deus não tinha qualquer necessidade de criar o
homem. Contudo, decidiu fazê-lo por um motivo claro: para o louvor da sua
glória (Ef 1.11,12). É por isso que o apóstolo abortivo recomenda: quer comais,
quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus (1
Co 10.31).
• Ele foi criado para refletir o domínio de Deus — Deus é soberano
sobre a Criação e elegeu o homem para ser o reflexo do Seu domínio e do Seu
poder sobre o Universo. Por esse motivo, encontramos no primeiro capítulo de
Génesis a expressão "e domine sobre" (Gn 1.26b,28).
• Ele foi criado para ser o mordomo do mundo — O privilégio de ter
sido criado de forma distinta e especial faz dele, depois de Deus, o principal
responsável pela Criação.

4. O PECADO NO ÉDEN
A Queda é um dos temas mais importantes da teologia cristã. Ela demarca a
entrada do pecado no mundo e é a razão de todas as tragédias e desgraças da
espécie humana. A falta de conhecimento sobre sua natureza cria o cenário
ideal para a ignorância quanto ao amor e a graça de Deus. Quem não entende
a Queda, também não entenderá a Cruz.
Infelizmente, o homem não permaneceu no elevado estado para o qual fora
originalmente criado. Pela desobediência, o ser feito à imagem e semelhança
de Deus comeu do fruto proibido, da árvore da ciência do bem e do mal (Gn 3).

A Queda expressa o momento histórico da origem do mal na dimensão


humana. O homem tornou-se alguém totalmente depravado e incapaz de
praticar o bem por sua livre escolha. A partir de então, ele jamais foi o mesmo
(Rm 3.11).
4.1. Condições reinantes
Segundo o relato bíblico (Gn 3), Eva foi enganada por Satanás, prefigurado em
serpente, e, em seguida, ofereceu o fruto proibido a Adão, que o comeu. Paulo
diz que Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em
transgressão (1Tm 2.14).
Pode-se depreender disso que o pecado foi consciente. A existência da árvore
da ciência do Bem e do mal é uma representação do livre-arbítrlo humano, ou
seja, do direito de o homem escolher livremente a quem servir e obedecer.
4.2. O resultado da desobediência
Paulo disse: como por intermédio de um homem o pecado entrou no mundo, e
pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por
isso que todos pecaram (Rm 5.12,19).
A raça humana estava seminalmente ligada ao primeiro casal. Adão e Eva, ao
pecarem, levaram consigo toda humanidade, sem exceção, precipitando-a no
rompimento da comunhão com o Eterno e na total depravação. O homem
tornou-se irremediavelmente incapaz de promover o bem e, por méritos
próprios, retomar o acesso à presença de Deus.
4.3. Características do pecado
A entrada do pecado no mundo é responsável por todas as mazelas e
desgraças humanas. Desde então, o homem vive em permanente estado de
agonia e tristeza. Isaías declara que os ímpios não têm paz (Is 48.22), e o
apóstolo Paulo lembra que a tribulação e a angústia estão sobre toda alma que
faz o mal (Rm 2.9).

5. A SOLUÇÃO PARA O PECADO DA HUMANIDADE


Os reformadores combateram veementemente o estilo de vida, as doutrinas, a
liturgia e as práticas da Igreja Romana; porém, o tema salvação do pecador
constituiu-se no grande motivo de cisão entre ambos os segmentos.
Como vimos nas lições 3—6, os postulados soteriológicos defendidos pelos
reformadores, em total consonância com as Escrituras Sagradas, são
observados nos pontos destacados a seguir.
5.1. A justificação unicamente pela fé
Apoiados nas Escrituras Sagradas, os reformadores pontuaram que a
justificação do homem diante de Deus só pode ocorrer pela fé, e só por meio
dela (da fé) o pecador pode ser justificado (Rm 1.17; 3.22; 5.1,2,9,18,19; Ef
2.8,9).
5.2. A singularidade das Escrituras
Diferentemente do que defendem os romanistas, os reformados afirmam que
só a Escritura contém os princípios que podem trazer o homem de volta à
comunhão com Deus. Isso independe de decisões tornadas em concílio ou de
qualquer tradição religiosa. A Bíblia, sozinha, revela tudo o que é necessário à
salvação e constitui-se no manual de fé e prática de todo cristão (2 Tm 3.15-
17).
5.3. A centralidade de Cristo
As Escrituras afirmam que o homem só pode ser salvo por Cristo (Lc 19.10; At
4.12; Jo 3.16-18). A salvação operada pelo Espírito Santo só ocorre pela obra
expiatória do Filho Unigênito de Deus, sem qualquer outra espécie de
intermediação (Jo 3.14,15; 14.6; Hb 9.14; 10.12).
5.4. A centralidade da Graça
No contrapé dos ensinos da época, os reformadores ensinaram que somente a
obra sobrenatural do Espírito Santo, operada unicamente pela Graça,
independente de quaisquer méritos humanos, pode redimir o perdido e salvá-lo
da condenação eterna (Rm 3.20, 24; Rm 5.18; Ef 2.8,9).

CONCLUSÃO
A morte de Cristo estendeu a graça divina a todos os homens. Assim, todos,
indistintamente, podem obter o perdão do Pai e restabelecer a comunhão
perdida no Éden: Aquele que crê no Filho tem a vida eterna (Jo 3.36a).
Ter a vida significa viver na presença de Deus e desfrutar da Sua comunhão;
isso nem mesmo a morte pode impedir (Jo 11.25,26).
Lição 10: A Doutrina da Igreja Reformada

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Vimos até agora que a Igreja Romana na Europa — entre o final da Idade
Média e o início da Idade Moderna — tornou-se uma instituição marcada pela
decadência teológica, moral e espiritual.
Toda espécie de distorção era praticada pelos sacerdotes que a representavam
— incluindo aberrações doutrinárias, desvio de dinheiro, abuso de poder,
sacrilégios inomináveis e homossexualismo —, e tudo isso era feito em nome
da fé em Deus e em nome da Igreja.
CLIQUE E LEIA TAMBÉM:
LIÇÕES BÍBLICAS CLASSE DE ADULTOS
LIÇÕES BÍBLICAS CLASSE DE JOVENS
LIÇÕES BÍBLICAS CLASSE DE JUVENIS
ESTUDOS PARA PROFESSORES DA EBD
SUBSÍDIOS GRÁTIS

1. COMO OS REFORMADORES CONCEITUAVAM A IGREJA


Os reformadores assumiram uma posição corajosa de denúncia e pregação
veemente contra os pecados do Clero e de suas práticas, pois esses colidiam
frontalmente com a Palavra de Deus.
Vejamos a seguir alguns pontos que ilustram o posicionamento desses
verdadeiros heróis da fé.
1.1. Eles jamais desejaram criar uma nova Igreja
Hoje em dia, por razões nem sempre legítimas, o número de novas igrejas e
denominações cresce de maneira exponencial. No entanto, Lutero e os demais
reformadores jamais pretenderam criar uma nova igreja ou denominação. O
alvo deles era corrigir os erros e rumos daquela à qual pertenciam. Foi a
oposição ferrenha do Papa e do Clero que levou, inevitavelmente, ao cisma.
1.2. O mercantilismo do sistema romano
A visão romana, centrada na ganância e no desejo desenfreado pela aquisição
de bens materiais, cegou a liderança da época, impedindo qualquer
possibilidade de diálogo ou entendimento. Porém, os reformadores mobilizaram
o povo em torno da pregação bíblica e do testemunho pessoal para trazer a
Igreja de volta ao padrão que, no entendimento deles, era fundamentalmente
bíblico.
1.3. A concepção eclesiástica dos reformadores
Ao contrário do clero romano, que confundia a Igreja com os seus sacerdotes,
os reformadores viam-na como um organismo vivo, cuja existência caracteriza-
se pelo sacerdócio universal dos crentes e pela pregação popular.
Apoiados nas Escrituras Sagradas, eles afirmaram que Igreja não é sinônimo
de templo físico, tampouco é o conjunto dos seus sacerdotes; ao contrário, ela
é o corpo espiritual de Jesus, formado por cristãos verdadeiros, lavados pelo
sangue do Cordeiro (1Jo 1.7-9; Hb 9.14). Lutero, dirigido pelo Espírito Santo, e
seguindo os princípios eclesiológicos deixados por Wycliffe, entendia a Igreja
como o povo de Deus (2 Co 6.16; 1 Pe 2.9,10), a comunidade de cristãos (At
2.42-47), a comunhão dos santos (SI 133.1-3; Gl 6.2; 1 Ts 3.12,13).
Os reformadores, inspirados em John Wycliffe e John Huss, prenunciaram que
a verdadeira Igreja é espiritual e invisível; ela é o Corpo de Cristo formado
pelos salvos de todas as épocas por Jesus.

2. PONTO DE VISTA BÍBLICO SOBRE A IGREJA


Em Mateus 16.18, Jesus asseverou que edificaria Sua Igreja e que as portas
do inferno jamais poderiam vencê-Ia. Essa é a primeira referência
neotestamentária — entre as dezenas existentes — à ekklesia [palavra grega
composta pela preposição ek (fora de) e o verbo kaléo (chamar)].
2.1. Origem do termo ekklesia
Ekklesia denotava, originalmente, um grupo de cidadãos chamados e reunidos
(em uma assembleia) em torno de um propósito específico. A palavra é
conhecida desde o quinto século a.C., estando presente nos escritos de
Heródoto, Xenofontes, Platão e Eurípedes.
Vale ressaltar que o conceito de ekklesia prevalecia especialmente em Atenas,
onde os líderes políticos eram convocados para compor uma assembleia
constituinte até quarenta vezes por ano.
2.1.1. Uso secular do termo ekklesia no Novo Testamento
O termo ekklesia, com conotação secular, aparece em Atos 19.32,41, em
alusão ao grupo de cidadãos revoltados contra a pregação de Paulo.
Na maioria das vezes, entretanto, o vocábulo tem uma aplicação sagrada,
sendo utilizado para fazer referência àqueles que Deus tem chamado para fora
do pecado e para dentro da comunhão do Seu Filho, Jesus Cristo, e que
tornaram concidadão dos da família de Deus (Ef 2.19).
2.2. A origem da Igreja
Apesar de o conceito de igreja estar presente em todo Novo, Testamento, ele
simplesmente inexiste no Antigo Testamento. Parte significativa dos teólogos
concorda que a Igreja (Corpo de Cristo) teve seu início marcado no dia de
Pentecostes (At 2).
Ao citar expressamente a palavra ekklesia, em Mateus 16.18, Jesus fala a
respeito de algo que seria instaurado no futuro. E, na condição de Corpo de
Cristo, seria natural que seus membros dependessem integralmente da obra
concluída por Aquele que é o seu Cabeça (Ef 5.23), a saber: Sua morte (Mc
15.33,34), ressurreição (At 3.15) e ascensão (At 1.9-11); e a vinda do Espírito
Santo (Jo 16.7; At 20.28; 1Co 12.13).
3. A NATUREZA DA IGREJA
A Bíblia emprega inúmeras metáforas para descrever a natureza da Igreja de
Cristo, e cada uma dessas figuras de linguagem retrata um aspecto diferente
do que ela é e do que foi chamada a fazer.
No Novo Testamento, cerca de oitenta termos delineiam o significado e o
propósito da Igreja. Vejamos alguns deles.
3.1. Povo de Deus
Por todo Novo Testamento, a Igreja é retratada como povo ia de Deus. O
apóstolo Paulo, por exemplo, aproveitou a descrição de Israel feita no Antigo
Testamento (Lv 26.12) para estabelecer uma relação com a Igreja de Cristo:
Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu
povo (2 Co 6.16b).
No Antigo Testamento, observamos que Deus forma um povo para Si (Israel;
conf. Dt 10.15; Os 1.10); e, no Novo Testamento, Ele adquire um povo para SI
(a Igreja). Ambos (Israel e a Igreja) são Suas criações exclusivas (1 Pe 2.9,10).
3.2. Os eleitos
A Bíblia fala reiteradas vezes sobre os eleitos em Cristo (Ef 1.4; Rm 8.30,31).
Não significa que o Altíssimo predestinou uns para salvação e outros para a
perdição eterna, uma vez que isso anularia o poder da morte de Cristo e faria
de Deus um ser injusto e parcial em Suas decisões.
Os eleitos são todos aqueles que, por livre escolha, colocaram-se pelo lado de
dentro dos limites do sacrifício expiatório de Cristo efetuado no Calvário e
agora vivem sob a operação ativa do Espírito Santo (Rm 8.28,29).
3.3. Os santos
Santos é um termo muito utilizado no Novo Testamento para fazer referência
aos salvos em Cristo. Paulo e Pedro, ao usarem essa expressão (Fp 4.21; Cl
1.2; 1Pe 1.15,16), não ajudam a uma classe de pessoas que, supostamente,
teria alcançado certa superioridade espiritual; ao contrário, os apóstolos falam
de um grupo de pessoas comprado pelo precioso sangue de Cristo que, a partir
de então, foi chamado para viver em santidade.
3.4. O Corpo de Cristo
Essa figura de linguagem salienta que a Igreja é, agora, o centro da atividade
de Cristo. A expressão é utilizada tinta para a igreja universal (Ef 1.22,23),
como para as congregações locais (1Co 12.27).
A metáfora Corpo de Cristo também ressalta a íntima ligação da Igreja (um
grupo de cristãos) com o seu Salvador. A salvação, em toda sua complexidade,
é, em grande parte, consequência da união do remido com o Filho de Deus:
Cristo nós é o fundamento da nossa fé e da nossa esperança (Cl 1.27; Gl
2.20).
3.5. Templo do Espírito
A metáfora templo do Espírito Santo confirma que a terceira pessoa da
Trindade habita na Igreja — tanto individual, quanto coletivamente.

Paulo, por exemplo, pergunta à igreja de Corinto coletivamente: Não sabeis vós
que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (1Co
3.16). (...) Porque o templo de Deus, que sois vós, é santo (1Co 3.17b). Na
mesma carta, o apóstolo dirige-se aos cristãos, individualmente: Acaso não
sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em
vocês, que lhes foi dado por Deus (1Co 6.19a NVI)?

4. O PROPÓSITO DA IGREJA
Cristo entregou-se em favor da Igreja e revestiu-a com o poder do Espírito
Santo, não para que ela existisse em função de si mesma, mas para que
pudesse cumprir o plano divino relacionado à vida em sociedade e à vida
eterna.
Desde o início, o Senhor deu à Sua Igreja a missão de comunicar o Evangelho
(At 1.8), edificar-se mutuamente (Rm 14.19) e apoiar os necessitados (Tg
1.27). Vejamos a seguir.
4.1. Comunicação do Evangelho
A parte central das últimas instruções de Jesus aos seus discípulos, antes de
ascender aos céus, é esta: ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda
criatura (Mc 16.15). Cristo não abandonou aqueles evangelistas à sua própria
capacidade ou técnica. Ele os comissionou a ir sob a Sua autoridade (Mt 28.18)
e no poder do Espírito Santo (At 1.8) - os discípulos proclamariam o Evangelho,
e o Espírito convenceria o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11).
A Igreja é constituída por pessoas que foram regeneradas por Cristo e
habitadas pelo Espírito Santo. Elas receberam um chamado divino para viver
fora do mundo e dos seus princípios; da mesma forma, foram vocacionadas ao
serviço do Reino.

4.2. Edificação mútua


Repetidas vezes, nas Escrituras, os cristãos são admoestados a edificarem-se
mutuamente para, assim, formarem uma comunidade idónea (Ef 4.12-16; Rm
14.19).

A edificação pode ser levada a efeito por meios práticos, tais


como:
• ensinar e instruir sobre os caminhos de Deus (Mt 28.20; Ef 4.11,12);
• corrigir em atitude de amor (Gl 6.1);
• compartilhar com os necessitados (2 Co 9);
• levar os fardos uns dos outros (Gl 6.2);
• fornecer oportunidades de convívio e interação social.
4.3. Responsabilidade social
A principal responsabilidade da Igreja continua sendo divulgar a mensagem da
Cruz e anunciar as boas-novas de salvação; no entanto, por outro lado, como
cristãos não podemos descuidar dos necessitados, pois isso representaria o
abandono de um grande número de admoestações bíblicas acerca de nossa
responsabilidade social.
O ministério de Jesus caracterizou-se pela compaixão amorosa devotada a
todos os sofredores e indigentes deste mundo. Idêntica solicitude é
demonstrada tanto nos escritos proféticos do Antigo Testamento (Is 1.15-17;
Mq 6.8), quanto nas epístolas neotestamentárias (Tg 1.27; 1Jo 3.17,18).
Expressar o amor de Cristo de modo tangível é também uma forma de a Igreja
cumprir a missão que lhe foi confiada por Deus na terra.
CONCLUSÃO
Pela ousadia e intrepidez dos reformadores, a ekklesia foi preservada e
devolvida ao seu eixo bíblico. Daquela data em diante, abriu-se uma grande via
para que ela pudesse se tornar o que Deus, em Sua vontade soberana, sempre
quis que ela fosse.
Cabe à comunidade atual dos salvos ao redor do mundo, pela intercessão e
estudo da Palavra, mantê-la igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa
semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5.27).

Lição 11: O Legado Histórico da Reforma

TEXTO BÍBLICO BÁSICO


Colossenses 1.3-6; 9-14
3 Graças damos a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, orando sempre por
vós,
4 Porquanto ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus, e do amor que tendes para
com todos os santos;
5 Por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual já antes
ouvistes pela palavra da verdade do evangelho,
6 Que já chegou a vós, como também está em todo o mundo; e já vai
frutificando, como também entre vós, desde o dia em que ouvistes e
conhecestes a graça de Deus em verdade;
9 Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos
de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade,
em toda a sabedoria e inteligência espiritual;
10 Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em
tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus;
11 Corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da sua glória, em toda a
paciência, e longanimidade com gozo;
12 Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos
santos na luz;
13 O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do
Filho do seu amor;
14 Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos
pecados;
TEXTO ÁUREO
E sujeitou todas as coisas a seus pés e, sobre todas as coisas, o constituiu
como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre
tudo em todos. Efésios 1.22,23
SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2ª Feira - João 15.12-16:
Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei
3ª Feira - 2 Coríntios 6.1,2; 9.8,9: Para que superabundeis em toda boa obra
4ª Feira - 1Coríntios 1.1-5: Em tudo fostes enriquecidos nele
5ª Feira - Romanos 12.1,2: Transformai-vos
6ª Feira - Colossenses 4.7-18: Para que vos conserveis firmes, perfeitos
Sábado - Filipenses 1.27-30: Combatendo com ânimo pela fé do evangelho
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:
• entender as mudanças políticas ocorridas no mundo, como resultado da
Reforma Protestante;
• identificar em que sentido o modo de produção económico, naquele período,
foi alterado em decorrência das mudanças no seio da Igreja;
• definir as mudanças na área cultural que influenciaram a produção artística e
científica daquela época e que ainda repercutem em nossos dias;
• discernir as mudanças eclesiológicas ocorridas naquele tempo em
decorrência da ética e da pregação protestantes.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Jesus disse: Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está
nos céus (Mt 5.48). Seria possível ao ser finito chegar a esse nível de
desenvolvimento? É certo que não, porém, vemos nesse verso o
estabelecimento de uma meta para nós (cristãos) idêntica à que Deus propôs a
Abraão: anda em minha presença e sê perfeito (Gn 17.1).
Perfeição é o desenvolvimento harmónico de todas as faculdades humanas; é
levar ao mais alto nível possível todas as capacidades que estão em nós e
realizá-las tão completamente quanto possível.
Não será esse o ideal áureo, sem precedentes, do seu trabalho junto à Escola
Dominical, professor?
Excelente aula!

Legado — diferentemente de herança — compreende o conjunto de princípios,


ensinos e/ou bens Imaterial! que uma pessoa ou instituição deixa à
posteridade.
Palavra introdutória
A Reforma Protestante não ficou circunscrita ao âmbito eclesiástico-teológico.
Como movimento cristão, ela cumpriu um importantíssimo papel junto à
sociedade, pois promoveu a justiça social, o desenvolvimento e a verdade
entre os povos, trazendo, assim, vida às palavras do profeta Miqueias: Ele te
declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão
que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o
teu Deus? (Mq 6.8).
Nesta lição, discorreremos sobre os legados da Reforma Protestante, que
transformaram significativamente os homens e o mundo daquela época e
desse tempo e, ao que tudo indica, continuarão influenciando a raça humana
em eras vindouras.

1. MUDANÇAS NO PERFIL POLÍTICO DOS POVOS


Vejamos a seguir algumas mudanças políticas — radiais e de grande porte —
que varreram a Europa e o Ocidente, como consequência direta e imediata da
Reforma Protestante.
1.1. Mudança na forma do governo eclesiástico
O modelo de governo eclesiástico — centralizado no Papa nos seus auxiliares
— foi desmantelado, depois do movimento reformista.
A partir de Lutero e Zuínglio, a democracia foi instituída. Nesse novo sistema, a
Igreja continuou a contar com seus bispos, porém eles não tinham mais poder
absoluto ou poder monárquico; ao contrário, eram eleitos e, na vigência de
seus ministérios, o trabalho que ofereciam às suas comunidades era avaliado
por oficiais eclesiásticos e pelo povo.
1.2. Mudança na política secular
O sistema democrático de governo, após ser implantado nas igrejas, também
alcançou a política secular.
Os habitantes das cidades passaram a escolher, pelo voto, seus governantes,
que, majoritariamente, eram anciãos experientes. Essa política de Estado
expandiu-se por toda Europa e pelo Ocidente.
1.3. Mudança no mapa geopolítico mundial
Pelo fato de defenderem a separação entre a Igreja e o Estado, os cristãos
reformados eram perseguidos por onde passavam. Em razão disso,
procuraram em várias partes do Continente Europeu um lugar em que
pudessem viverem paz.
Com a descoberta do Novo Mundo (o Continente Norte-americano), os
protestantes enxergaram a chance de, enfim, viverem com tranquilidade e
segurança. Assim, migraram massivamente para o hemisfério norte e fundaram
os Estados Unidos da América e o Canadá.

2. MUDANÇAS NA ECONOMIA MUNDIAL


Com a ascensão do protestantismo, a economia europeia passou por
mudanças radicais. Destacamos, nos tópicos subsequentes, alguns
precedentes dessas mudanças.
2.1. A ética romana
A teologia romana via o trabalho como maldição e o crescimento econômico
como pecado de usura. Eles viam na atividade econõmica algo penoso e ruim,
próprio das classes subalternas.
2.2. A ética protestante
Lutero, dentro da sua teologia, declarou que o trabalho é dom de Deus, B o
crescimento financeiro, uma bênção divina, pois ambos (trabalho e crescimento
financeiro) poderiam trazer maior conforto e segurança às famílias. Assim, o
labor diário passou a ser visto como sagrado pelos protestantes, que deveriam
oferecer o melhor de si em suas atividades económicas, fazendo tudo com
esmero e excelência. Ao agirem assim, eles estariam agradando a Deus.
Com a Reforma Protestante, surgiram: o sistema bancário, o conceito de
economia e poupança e o sistema capitalista.

O alemão Max Weber, um dos principais pensadores que colaboraram para a


construção da Sociologia, queria saber qual a razão de os países protestantes
serem mais desenvolvidos e mais
industrializados do que os países católicos. Segundo ele, o diferencial residiria
na ética protestante de valorização do trabalho e do capital.

3. MUDANÇAS RADICAIS NO VIÉS CULTURAL DAS


NAÇÕES
3.1. A criação do conceito de Estado laico
O movimento protestante concebeu a ideia de liberdade religiosa e de um
Estado secular, sem o predomínio e a proteção de um único segmento religioso
— essa, aliás, é uma característica dos países ocidentais.
A ideia de Estado laico, que traz os benefícios da liberdade de culto e de
crença, tem sido muito importante para a vida em sociedade e tem abençoado
o mundo.
3.2. Mudança nas Artes
As Artes, no período medieval, estavam essencialmente .-entradas na
religiosidade. Naquele tempo, costumava-se atar Deus, os santos romanistas,
os anjos, os demônios e as cenas bíblicas.
Entretanto, com o advento da Reforma — e o consequentemente combate às
imagens de escultura e tudo que reportasse à idolatria —, os artistas (dos mais
diferentes matizes) foram abandonando os conteúdos religiosos aos poucos,
passando a valorizar os temas relacionados ao homem e à Natureza.
3.3. Mudança na Ciência
A partir da Reforma, as pessoas foram encorajadas aos estudos, à leitura e à
busca de conhecimentos. Consequentemente, as superstições populares foram
perdendo força e, pouco a pouco, desmistificadas. O povo deixou de aceitar a
força de santos e demónios como meios para explicar as ocorrências naturais.
A teologia protestante não via contradição entre a Bíblia e a Ciência. Por isso,
os estudiosos — livres das amarras religiosas romanistas — procuraram
compreender os fenómenos físicos, químicos e matemáticos, a fim de explicar
o funcionamento do Universo, da Natureza e do corpo humano.
O sistema teológico protestante incentivou intensamente e o avanço das
ciências humanas e naturais, criando novas universidades (algumas delas
existentes ainda hoje) e novos modelos de ensino. Lutero, Calvino,
Melanchton, dentre outros reformadores, estabeleceram o ensino gratuito,
obrigatório e universal em suas regiões, ligando a educação básica à
Universidade. Eles viam no processo educacional um meio poderoso para o
desenvolvimento do ser humano e da Igreja de Cristo na terra.

4. MUDANÇAS NA COSMOVISÃO RELIGIOSA


Como dito anteriormente, o sistema papal conduziu o povo ao desvio da
verdadeira fé; no entanto, o Espírito de Deus mobilizou os reformadores para
trazer a Igreja de volta aos trilhos sólidos da verdadeira doutrina bíblica.
Na era medieval, a vida espiritual do povo tinha, dentre outras características,
as destacadas a seguir.
4.1. Religiosidade baseada no sistema de troca
O padrão religioso da Igreja Romana, ao longo da Idade Média, baseava-se no
seguinte trocadilho: "toma lá, dá cá". O Clero vivia muito mais em função dos
bens materiais a serem auferidos na relação com o rebanho, do que em função
do ensino de verdades espirituais. O crescimento espiritual do povo e a
promoção dos interesses do Reino de Deus não faziam parte de seus esforços,
tampouco de sua agenda.
4.2. Religiosidade baseada em superstições
Na Idade das Trevas, a vida era decifrada sob a ótica da espiritualidade:
• as pessoas confundiam os eventos de origem sobrenatural com os de origem
e responsabilidade humanas; assim, interpretavam todos os fatos como castigo
divino ou boa vontade dos céus;
• as pessoas viam a ação dos santos romanistas, dos demônios e até do
próprio diabo em todos os eventos cotidianos; o que fez a veneração aos
santos e a Maria ganharem grande espaço naquela época;
• figuras pagãs — como duendes, fadas, seres das florestas e dos mares —
também faziam parte do imaginário popular do cristão medieval.
4.3. Desprezo à graça do Senhor Jesus Cristo
Naquele tempo de obscurantismo, as pessoas estavam dispostas a
empreender todos os sacrifícios necessários ao alcance dos mais diferentes
tipos de bênçãos espirituais, tais como: o perdão de Deus, a cura e o
livramento de guerras, por exemplo. Esse tipo de motivação ai afastava do
verdadeiro Deus e expunha seus relacionamentos pessoais, seus negócios e
seus empreendimentos de vida aos poderes das trevas.

5 PILARES DA ESPIRITUALIDADE REFORMADA


A poderosa mensagem protestante transformou a Igreja daquele período,
purificando-a dos seus descaminhos teológicos, crendices e superstições. O
Corpo de Cristo, visível e temporal, foi restaurado, e o povo pôde manifestar
uma espiritualidade pura, baseada nos princípios sólidos da Palavra de Deus.
Além das cinco solas (estudas nas Lições 3—7), listamos a seguir alguns
pressupostos básicos da fé protestante.
5.1. Só há um poder soberano e onipotente no mundo
À medida que o povo cria na mensagem reformadora, suas crenças em
ensinos errados e em seres sobrenaturais e mitológicos foram caindo em
descrédito.
O povo foi apresentado a Jeová, a única fonte de força capaz de guiar, orientar
e reger a vida dos homens (Dt 6.4; 1Sm 2.2; 2 Sm 7.22; SI 86.8; Is 45.5,6; Ef
4.5,6); o Soberano a quem todos prestarão contas um dia (2 Co 5.10).
5.2. Devolução da Bíblia ao povo
As pessoas comuns não tinham acesso ao conteúdo das Escrituras Sagradas,
senão por meio do Clero. O estudo da Bíblia era prerrogativa exclusiva dos
representantes da Igreja, que repassavam instruções aos seus ouvintes, de
acordo com seus interesses e pontos de vista.
Lutero pontuou que cada cristão, daquela data em diante, seria um intérprete
das Escrituras. O livre acesso à leitura do Livro Sagrado trouxe de volta a
correção doutrinária e o necessário avivamento espiritual, bem como a
valorização da busca pessoal pela presença do Altíssimo (SI 42.1,2; 119.11;
119.105; 2 Tm 3.14-17).
5.3. Devolução da Igreja ao povo
Até então, a Igreja era tratada como propriedade exclusiva do Clero. Muitos de
seus representantes — papas, cardeais, arcebispos e bispos — eram ricos
senhores feudais, que manipulavam a instituição romana, de acordo com seus
próprios interesses. No entanto, pela Revolução Protestante, o apelo popular
foi atendido, e os novos tempos trouxeram o padrão do Novo Testamento de
volta à sociedade.
O Espírito Santo colocou a Igreja em seu verdadeiro lugar (Ef 5.27) — uma
Igreja em que os membros participam de suas decisões e destinos; uma Igreja
generosamente aberta, em que a oportunidade de cooperar está franqueada a
todos, de maneira democrática (Mt 16.18; Rm 12.5; 1 Co 1.26-29; 10.17; 12.27;
Ef 4.4).

CONCLUSÃO
O legado dos reformadores tem atravessado as barreiras temporais e
geográficas. Seus ares benfazejos alcançaram as gerações e chegaram até
nós, trazendo-nos luz, desenvolvimento e esperança.
Sem a Reforma Protestante, o mundo certamente seria um lugar muito pior de
se viver; um lugar de densas dúvidas e sombras; um lugar marcado pelo caos.

Lição 12: O Espírito Santo e o Futuro da Igreja

TEXTO BÍBLICO BÁSICO


João 14.16-18
16 - E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique
convosco para sempre,
17-o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê,
nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em
vós.
18 - Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.
João 16.7-13
7 - (...) se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-
ei.
8 - E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado,
9 da Justiça, e do juízo:
9 - do pecado, porque não creem em mim;
10 - da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais;
11 - e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.
12 - Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.
13 - Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, elo vos guiará em toda a
verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos
anunciará o que há de vir.
Mateus 28.20
20 - Ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis
que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.
TEXTO ÁUREO
E porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e
guardeis os meus juízos, e os observareis. (Ez 36.27)
SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2ª Feira – Romanos 6.1-14: O pecado não terá domínio sobre vós
3ª Feira – 1Coríntios 2.9-13: O Espírito penetra todas as coisas
4ª Feira - 1Coríntios 12.12 – 14: Todos nós fomos batizados em um Espírito
5ª Feira – Filipenses 3.1-3: Nós, que servimos a Deus
6ª Feira – 2Coríntios 5.17-19: O ministério da reconciliação
Sábado – Mateus 16.13-19: As portas do inferno não prevalecerão

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:
• saber que católicos e protestantes têm entendimentos distintos acerca do
modo como o Espírito Santo dá vida à Igreja;
• saber que o que mais nitidamente distingue um católico de um protestante é
o senso de presença do Espírito Santo no ser;
• refletir coerentemente acerca da seguinte questão: o ecumenismo cristão é
possível?

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Caro professor,
Tenha sempre em mente a importância da aprendizagem no processo
educacional.
No binómio ensino-aprendizagem, o segundo item merece destaque. As
pessoas querem muito ensinar, porém, às vezes, esquecem-se de que só
podemos transmitir as experiências e os conteúdos apreendidos anteriormente.
Todos os esforços em torno do trabalho da Escola Dominical visam às
mudanças na vida do educando, pela aprendizagem.
Seus alunos têm experimentado crescimento por melo das suas aulas?
Não se esqueça: a eficiência do ensino é confirmada na aprendizagem.
Excelente aula!

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
O evangelista anglicano David Christopher Knight Watson (1933—1984),
ferrenho defensor da unidade entre os cristãos, disse certa vez que a Reforma
Protestante foi uma verdadeira tragédia na história da Igreja. Suas afirmações
geraram grande controvérsia à época.
Ao ser confrontado por suas alegações, defendeu-se dizendo que, apesar de
ter havido inúmeros aspectos positivos no movimento reformador, a Igreja ficou
dividida, e ambos os lados, desde então, carregam consigo marcas de
amargura.
Mas, afinal, existe alguma possibilidade de as diferenças entre católicos e
protestantes serem dirimidas algum dia? Qual deve ser a atitude dos
protestantes em relação aos católicos romanos?

1. A DOUTRINA DA TRINDADE
A doutrina da Trindade tanto distingue o cristianismo das demais religiões,
quanto une os cristãos em todo o mundo — vale ressaltar que grupos como as
Testemunhas de Jeová, por exemplo, não são considerados cristãos, por
negarem a Trindade.
Católicos e protestantes têm o mesmo entendimento em relação à
manifestação de Deus-Pai e Deus-Filho no mundo; ambos também
compreendem que o Espírito Santo á o Espírito de Cristo, que dá vida à Igreja;
entretanto, há divergência entre os dois segmentos em relação a como isso
acontece.
É o que veremos a seguir.
1.1. Teologia reformada versus teologia romana
Os protestantes entendem que a obra do Espirito Santo acontece, em primeiro
lugar, no interior, resultando om mudança no coração e na mente (Rm 6). Por
esse motivo, Lutero reafirmou, insistentemente, que o cristão é justificado pela
fé, somente (sola fide; conforme estudamos na lição 3), não pelas obras
praticadas.
A teologia romana, em contrapartida, afirma que a obra do Espírito Santo é
externa e objetiva. De acordo com os romanistas, se uma pessoa é batizada
corretamante, ela recebe o dom do Espírito Santo e é nascida de novo,
independente da opinião dela a respeito disso.
Para os católicos, sem as obras — especialmente as obras sacramentais
(batismo, crisma, eucaristia, penitência, unção dos enfermos, ordem e
matrimónio) —, não há evidência de fé, pois as exterioridades, segundo eles,
estimulam e fortalecem a esperança.
1.2. Ponto de cisão
Para os romanistas, Lutero estava dizendo que bastava a pessoa crer para ser
salva, independente de o seu comportamento corresponder à sua profissão de
fé ou não. Não é incomum encontrarmos católicos acusando evangélicos de
apostasia, por acreditarem que eles (os evangélicos) pensam que podem fazer
o que bem entendem nesta vida, sem que isso afete sua salvação — essa
acusação, no entanto, ilustra bem o próprio modo de pensar de um católico.
Os reformadores, na verdade, com base em Romanos 6, apregoavam que, se
uma pessoa é nascida de novo, seu comportamento (suas obras) será um
reflexo natural dessa realidade; mas, se o Espírito Santo não mudou o seu
coração, nem todas as obras sacramentais juntas podem fazer alguém nascer
de novo.
A concepção evangélica não é outra senão esta: quando uma pessoa nasce de
novo, ela não pensará em errar levianamente, porque sabe que quem está em
Cristo é nova criatura, e o antigo modo de pensar foi substituído por um novo
entendimento (Rm 6.1-14; 2 Co 5.17). O cristão protestante sabe que depende
de Deus para vencer o pecado, e sabe que é o Espírito Santo, dentro dele, que
lhe dará condições de vencer as lutas e tentações.

O protestante entende que, se para ter acesso ao céu fosse necessário que o
homem possuísse algum mérito, nem milhões de anos no Purgatório seriam
suficientes para absoivê-lo dos seus pecados. Em outras palavras, a segurança
da salvação do evangélico não é questão de falta de modéstia, mas de fé,
somente.

2. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO: CATÓLICOS VERSUS


PROTESTANTES
Como apropriadamente afirma o professor de Teologia Gerald Bray, o que mais
nitidamente distingue um católico de um protestante é o senso de presença do
Espírito Santo no ser; e isso se percebe nas discussões acerca da salvação.
Se perguntarmos a um católico romano se ele tem certeza de que vai para o
céu quando morrer, ele dirá que não sabe ao certo, mas acredita que a Igreja
pode fazê-lo trilhar o caminho da salvação; todavia, se por acaso restar algum
débito (o que é provável), ele irá para o Purgatório até ser admitido no céu
definitivamente. Se fizermos a mesma pergunta a um protestante, ele dirá, sem
esboçar qualquer dúvida, que sim, pois foi unido a Cristo em Sua morte e
ressurreição (Rm 6.3-7).
Ao ouvir isso, um católico possivelmente dirá que o evangélico é presunçoso,
pois entende que ninguém pode ter essa certeza.
O evangélico, por sua vez, argumentará que sua certeza não está baseada em
nada do que ele tenha feito nesta vida, mas em Cristo, que redime a
humanidade por Sua Graça.
2.1. Cristo morreu pelos pecados ou pelos pecadores?
O monge beneditino Anselmo de Cantuária (1033-1109) exerceu grande
influência na teologia ocidental. Em seus trabalhos, defendeu que Cristo
morreu pelos pecados dos homens. Lutero ampliou esse entendimento dizendo
que Cristo morreu pelos pecadores, ou seja, Ele deu-se em sacrifício por
pessoas, não por coisas — do mesmo modo que o Espírito Santo trabalha no
homem, não em circunstâncias ou fatos. O católico acredita que Cristo morreu,
objetivamente, por nossos pecados; contudo, se
quisermos ser beneficiados por esse sacrifício, precisámos recorrer à
Graça que está disponível por intermédio do sacerdócio da igreja, isto é,
realizar as obras ( sacramentais, sobretudo), pois elas
seriam responsáveis por tornarem a graça divina uma realidade um nossa
vida.
Os evangélicos negam essa assertiva, pois entendem que a graça divina é
concedida ao homem pelo Espírito Santo — o Espírito de Cristo. Em outras
palavras, ainda sou um pecador; por isso, qualquer justiça que eu possa vir a
revindicar não é minha, mas Dele. Na linguagem da teologia reformada ela é
imputada a mim, não transmitida.
2.2. justificação e santificação
Os protestantes acreditam que foram justificados do uma vez por todas, por
meio da morte de Cristo na cruz do Calvário, e entendem o subsequente
crescimento na vida cristã como um processo de santificação que
acompanhará o salvo enquanto ele viver. Simplificando o entendimento: o
cristão pode ser mais ou menos santificado, mas nunca mais ou menos salvo,
pois não existe possibilidade de a obra realizada pelo Filho de Deus ser
desfeita — por menos expressivos que sejam os frutos de nossa santificação.
Os católicos, por sua vez, entendem que justificação e santificação são faces
opostas de uma mesma moeda, ou seja, uma pessoa é justificada na mesma
medida em que é santificada — e a santificação, inclusive, poderia medir seu
nível de justificação. Por esse motivo, nenhum católico tem a certeza ie sua
salvação, pois nem mesmo os homens mais piedosos estão suficientemente
santificados diante de Deus.

A justiça imputada pressupõe que continuamos dependentes de Cristo em


todos os sentidos, pois ela (a justiça) continua sendo Dele, plena e
exclusivamente. Se ela fosse transmitida (ou infundida), em alguma medida,
passaria a haver (nessa transmissão) justiça em nós mesmos, fazendo-nos,
assim, coparticipantes da salvação.

3. O ECUMENISMO CRISTÃO É POSSÍVEL?


Afinal, existe alguma possibilidade de a fé cristã ser unificada? Qual o futuro
do diálogo entre católicos e protestantes?

3.1. Em que trilhos seguem ambos os segmentos?


É preciso reconhecer que, desde o Concílio Vaticano II (1961—1965), pela
primeira vez desde a Reforma, os católicos fizeram uma sincera tentativa de
mudar a atmosfera de desconfiança e ódio mútuos. Atualmente, os católicos
não estão mais tão unidos em torno do Papa, como há 50 anos, e as críticas à
hierarquia — particularmente entre os leigos — são infinitamente mais comuns,
como destaca Bray.
Reformados tradicionais (como luteranos e presbiterianos, por exemplo)
acusam os pentecostais de ainda viverem nos porões do catolicismo, por
adotarem práticas do segmento romano; os pentecostais, por sua vez, fazem a
mesma crítica aos reformados tradicionais, pelo fato de alguns de seus líderes,
ainda hoje, irem a Roma ou às igrejas ortodoxas em busca da autoridade e
segurança que suas igrejas não podem oferecer.
3.1.1. O desafio das próximas eras
O protestantismo jamais poderá ser considerado um subproduto da
Cristandade; ao contrário, ele é o entendimento teológico mais bem
desenvolvido da fé cristã, desde a Igreja primitiva. Não significa dizer que
nenhuma pessoa (ou grupo de pessoas) entendeu a obra do Espírito Santo
antes da Reforma ou que apenas os evangélicos serão salvos: sempre houve e
sempre haverá cristãos fiéis que não entenderam a plenitude dos princípios
contidos nas cinco solas reformadoras, mas que, ainda assim, experimentaram
a graça salvadora de Deus.
3.2. Qual o futuro do diálogo entre católicos e evangélicos?
No tempo que chamamos hoje, é muito improvável que o diálogo entre
católicos e protestantes avance a ponto de alcançarmos a unificação da fé,
pois estamos diante de duas instituições essencialmente diferentes uma da
outra, ainda que defendam pontos comuns.
Como pontua o teólogo Gerald Bray, a Igreja Católica Romana é altamente
organizada, com uma estrutura de comando central. Isso significa que ela
pode:
(1) tornar-se evangélica da noite para o dia, a partir de um decreto papal; ou
(2) permanecer do modo como está, até que o sumo pontífice posicione-se
oficialmente em relação ao impasse; mas, ainda que ele venha a fazê-lo, não
há qualquer sinal de que isso possa acontecer em nossos dias.
Por outro lado, a Igreja Evangélica é um grupo caracteristicamente diverso,
destituído de unidade institucional e sem porta-voz oficial, ou seja, ainda que a
maioria dos principais líderes protestantes chegasse a um acordo com o
representante supremo do catolicismo, isso só aconteceria no decorrer de
muitos anos.
Para sermos realistas, o que se espera de ambos os segmentos nas próximas
décadas (ou até séculos) é que católicos e protestantes unam-se em torno de
obras assistenciais, sociais e académicas em prol dos necessitados e
oprimidos.

CONCLUSÃO
É um engodo pensar que apenas a partir do século 16a Igreja voltou a
experimentar a manifestação do Espírito Santo. O Consolador não foi retirado
do mundo, depois de Constantino instituir o cristianismo como a religião oficial
do Império Romano.
O mesmo Espírito que desceu sobre a Igreja primitiva é o que não permitiu — e
não permitirá — que as portas do inferno prevaleçam contra a Noiva do
Cordeiro (Mt 16.18).
Aqueles que amam a Verdade andam na luz; e os que andam na luz jamais
perderão de vista Aquele que é a Luz do mundo; nessa Luz, enxergaremos o
caminho a seguir.

Lição 13 – Igreja Reformada, sempre Reformada

IGREJA REFORMADA, SEMPRE SE REFORMANDO

“Ecclesia Reformata et Semper Reformanda est”

A frase em latim é atribuída ao teólogo reformado holandês Gilbertus Voet (1589-1676). Ela
teria sido proferida durante o Sínodo de Dort, realizado em Dordrecht, Holanda, entre
novembro de 1618 e maio de 1619.
É certo que há muitas interpretações para esta frase, mas abaixo declaro minha
compreensão, tentando ser fiel ao reformador holandês.
1. A igreja não consegue mudar a si mesma. Quem muda e transforma a igreja é o
Cabeça, nosso Senhor Jesus Cristo.
2. A igreja reformada sempre se reformando não quer dizer que a cada geração a
igreja adeque seu ensino ao sabor das ideologias políticas, sociais, sexuais, de
gênero ou seja o que for.
3. A igreja precisa de uma reforma constante em cada geração, isto é, retornar
sempre às Sagradas Escrituras sob a orientação e iluminação do Espírito Santo. Pois,
a cada geração, surgem novas heresias ou velhas heresias ganham um novo
colorido. O Espírito Santo, Aquele que capacita a igreja para compreender as
Escrituras e responder os desafios de cada geração, está presente para transformar,
orientar e fazer a igreja florescer e frutificar. As reformas das quais a igreja precisa em
cada geração são no sentido de uma compreensão das Sagradas Escrituras e que
levem a uma aplicação e uma prática relevante para que Cristo seja glorificado.
4. A igreja de Cristo precisa compreender que dentro da igreja institucionalizada
(qualquer que seja o modelo de estrutura), lobos devoradores surgem do meio do
rebanho procurando desviar os fiéis das doutrinas da Graça. É necessário que a
igreja seja sempre restaurada ao primeiro amor, à fé em Cristo, à certeza de que a
salvação é unicamente pela Graça, por intermédio de Cristo Jesus e que todo crente
deve dar Glória somente ao Deus vivo.
5. A igreja pode viver uma firmeza doutrinária (ortodoxa) mas uma ortodoxia fria,
sem fervor, sem paixão, sem amor a Cristo. É doutrina com um fim em si mesma. Ela
precisa ser reformada.
6. A igreja pode viver um frenesi de misticismos idólatras no qual a palavra
humana e os sentimentos humanos sobrepõem as evidentes verdades bíblicas. A
igreja precisa ser reformada.
7. A igreja pode viver em busca da prosperidade material e do dinheiro
exclusivamente e não pregar mais o arrependimento, a fé, e a santificação, a doutrina
sobre o inferno, a volta de Cristo, os novos céus e nova terra. Quando a ênfase da
mensagem está no dinheiro e prosperidade financeira, a igreja precisa ser reformada.
8. A igreja pode viver apenas voltada para a religião, o religiosismo e o legalismo,
em que os frequentantes são apenas consumidores de cultos, produtos e programas
religiosos sem piedade verdadeira e sem buscar a santificação. A igreja precisa ser
reformada.
9. A igreja pode viver apenas na sua força da carne quando firma em seus
diplomas, cursos, doutorados, seminários, milhares de fiéis, orçamento grande, ampla
estrutura administrativa, etc. sem aquela humildade e dependência da unção e
capacitação do Espírito Santo. A igreja precisa ser reformada.
10. A igreja pode mundanizar-se: Suas práticas conciliares, tomadas de decisões,
a maneira como usa o dinheiro, a conduta dos crentes nos negócios, na política, no
lar, na escola, na prática da ética e na conduta sexual não difere dos que não temem
a Cristo. A igreja precisa ser reformada.
A igreja precisa mesmo ser reformada e restaurada no seu compromisso pessoal com o
estudo da Palavra de Deus. Restaurar o amor e a comunhão tanto entre os de casa quanto
no templo.
A igreja precisa ser reformada em seu amor por missões, amor pelos que sofrem, amor
pelos perdidos e enfatizar as grandes doutrinas da graça: Sola Scriptura, Sola Fide, Solus
Christus, Sola Gratia, Soli Deo Gloria, isto é, Só a Escritura, Só a Fé, Só Cristo, Só a Graça
e Glória somente a Deus.

Pr. Jeremias Pereira

Igreja reformada sempre se reformando


A Reforma Protestante do Século XVI não foi uma inovação, mas uma volta às origens. A
igreja havia se desviado da verdade e perdido o cristianismo puro e simples. Os dogmas
papais haviam substituído a infalível Palavra de Deus. As heresias tomaram o lugar da
verdade e a apostasia tomou conta da igreja. A Reforma, então, foi um movimento de
retorno à Palavra de Deus e um resgate do evangelho pregado pelos apóstolos. Depois do
Pentecoste não houve nenhum fato mais marcante na história da igreja do que a Reforma.
Ela trouxe cinco ênfases:

1. Só a Escritura – A Bíblia não é apenas uma fonte da revelação de Deus ao homem, mas a
única regra de fé e prática. As tradições humanas, os dogmas da igreja, as decisões dos
concílios, bem como todo pensamento humano precisam passar pelo crivo da Palavra de
Deus. Ela é a única autoridade da vontade revelada de Deus para o homem. Não são as
experiências que julgam a bíblia, mas a Bíblia que julga as experiências. A igreja não está
acima da Palavra, mas é governada por ela.

2. Só a Fé – A justificação é somente pela fé, independente das obras da lei. A base da


salvação não é o esforço humano, mas o sacrifício substitutivo de Cristo na cruz.
Recebemos a salvação oferecida por Deus pela fé e não como resultado das nossas obras.
As obras são conseqüência da salvação e não a sua causa.

3. Só a Graça – A graça é um dom imerecido de Deus. Fomos escolhidos por Deus para a
salvação não por causa dos nossos méritos, obras ou religiosidade, visto que éramos
inimigos de Deus, estávamos cativos do diabo, do mundo e da carne. Estávamos cegos,
perdidos e mortos nos nossos delitos e pecados. Mas, a despeito da nossa terrível condição,
Deus nos amou e graciosamente nos salvou.

4. Só Cristo – A Reforma restabeleceu a verdade incontroversa de que existe um único


mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo. Ele é o único Salvador e Senhor e não há
salvação em nenhum outro nome. Jesus é o caminho para Deus. Ele é a porta do céu. Ele é
o pão da vida, a fonte da água viva. O acesso a Deus não é por meio de Maria ou Pedro,
nem mesmo por meio dos santos, mas, somente por meio de Jesus.

5. Só a Deus toda a glória – Deus não reparte a sua glória com ninguém. Ele e não o
homem é o centro e a medida de todas as coisas. Dele, por meio dele e para ele são todas
as coisas. Não é Deus quem vive para a glória do homem, mas é o homem que deve viver
para a glória de Deus. Deus e não o homem é o centro do universo.

Mas a Reforma continua. A igreja reformada sempre deve se reformar. Em que sentido?
Sempre que a igreja se desvia da verdade, ela precisa parar e confrontar sua teologia e sua
vida à luz das Escrituras e voltar ao seu primeiro amor. Muitas vezes, ao longo da história, a
igreja desviou-se das antigas veredas. Após a Reforma, no afã de defender a ortodoxia, a
igreja tornou-se árida. Ortodoxia sem piedade produz racionalismo. A reação à frieza
espiritual foi o Pietismo, que partiu para o outro extremo: buscou a piedade sem a ortodoxia.
Piedade sem ortodoxia produz misticismo. Hoje, estamos precisando de uma nova reforma.
Algumas igrejas estão descambando para o liberalismo teológico negando os postulados
essenciais da fé. Outras, estão se desviando para o misticismo sincrético, importando
novidades estranhas à Palavra de Deus, abraçando um outro evangelho e não o evangelho
da graça. Há aquelas igrejas que caíram na sedução do pragmatismo, que estão buscando
sucesso e resultado a qualquer custo. Trocaram a mensagem da cruz pela pregação da
prosperidade e da cura. Estão mais fascinadas pela riqueza do que pela glória de Deus. Há
ainda outras igrejas, que, embora, fiéis na doutrina estão vivendo sem piedade. Possuem
uma ortodoxia morta. A crise na teologia desemboca na crise da ética. A igreja evangélica
cresce em número, mas não em santidade. As pessoas correm aos borbotões para os
templos evangélicos, mas suas vidas não são efetivamente transformadas. Na mesma
medida em que a igreja evangélica cresce em nossa nação, cresce também a corrupção.
Deixamos de ser sal e luz. Em vez de a igreja abalar o mundo, é o mundo que está abalando
a igreja. Em vez de a igreja entrar no mundo para resgatar os que perecem, é o mundo que
está entrando na igreja e influenciando os crentes. Ó que Deus tenha misericórdia de nós.

Estamos precisando, e urgente, de uma nova reforma!

Rev. Hernandes Dias Lopes.

Lição 13: Igreja Reformada, Sempre Reformada.

TEXTO BÍBLICO BÁSICO


Habacuque 3.1-6 (ARA)
1 - Oração do profeta Habacuque sob a forma de canto.
2 - Tenho ouvido, ó SENHOR, as tuas declarações, e me sinto alarmado; aviva
a tua obra, ó SENHOR, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a
conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia.
3 - Deus vem de Tema, e do monte Para vem o Santo. A sua glória cobre os
céus, e a terra se enche do seu louvor.
4 - O seu resplendor é como a luz, raios brilham da sua mão; e ali está velado
o seu poder.
5 - Adiante dele vai a peste, e a pestilência segue os seus passos.
6 - Ele para e faz tremer a terra; olha e sacode as nações. Esmigalham-se os
montes primitivos; os outeiros eternos se abatem. Os caminhos de Deus são
eternos.
2 Timóteo 4.18
18 - E o Senhor me livrará de toda má obra e guardar-me-á para o seu Reino
celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém.
1 Pedro 5.10,11
10 - E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna
glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará,
confirmará, fortificará e fortalecerá.
11 - A ele seja a glória e o poderio, para todo o sempre. Amém!
TEXTO ÁUREO
Não tornarás a vivificar-nos, para que o teu povo se alegre em ti?
Salmo 85.6

SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO


2ª Feira - Romanos 11,33-36: Glória, pois, a Ele eternamente
3ª Feira - Jó 42. 1 -6: Bem sei eu que tudo podes
4ª Feira - Gênesis 17.1-7: Estabelecerei o meu concerto entre mim e ti
5ª Feira - Salmo 29.1,2: Dai ao Senhor glória e força
6ª Feira - Salmo 33.10,11: O conselho do Senhor permanece para sempre
Sábado - Isaías 40.13,14: Quem guiou o Espírito do Senhor?

OBJETIVOS
Ao término
do estudo bíblico, o aluno deverá:
• compreenderque o avivamento é um processo duradouro e contínuo, cujo
artífice e agente cardeal é o Espírito Eterno;
• conhecer os grandes movimentos avivalistas oriundos da Reforma
Protestante;
• ser encorajado a dar ouvidos à voz do Espírito Santo, arrepender-se e voltar
à devoção espiritual e ao estudo das Escrituras Sagradas.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Caro professor,
A tarefa principal de quem ensina é motivar o aluno a aprender. Por mais que o
professor seja vocacionado, tenha experiência e domine as técnicas didáticas,
ele não pode ensinar sem a participação ativa do aluno.
O médico obstetra ou a parteira auxiliam a mãe na hora do parto, porém a
tarefa de dar à luz um filho é da parturiente. Assim, o professor não pode
aprender pelo aluno, não pode ensiná-lo sem sua cooperação e, muito menos,
ser alheio a ele. O educador apenas indica o caminho e mostra a importância
do conhecimento, ajudando e orientando o educando em sua aprendizagem.
Pensando assim, inicie a aula de hoje com a certeza de que seus alunos estão
predispostos a aprender.
Excelente aula!

Palavra introdutória
O avivamento não é um movimento emocional de curta duração, tampouco é
um subproduto dos muitos eventos eclesiásticos. Ao contrário, ele é um
processo duradouro e contínuo, ele é filho legítimo do desejo de mudanças.
Seu artífice e agente cardeal é o Espírito Eterno. Suas características
principais, dentre outras, são: busca pela verdade, intrepidez, retorno da
vibração e da alegria em servir ao Senhor, e ao próximo, de maneira pura e
genuína.
1. REFORMA E AVIVAMENTO
Mais do que um processo revolucionário que alterou significativamente a
cultura, a economia, o modo de produção e a política medievais, a Reforma foi
um movimento espiritual que varreu a Europa, atravessou os séculos e chegou
até os tempos atuais — e o que a caracterizou foi um avivamento de grande
magnitude.
É certo dizer que, desde então, o mundo jamais foi o mesmo. As mudanças
ocorridas naquela época continuarão influenciando a raça humana por todos os
séculos.
Vejamos alguns resultados dessa portentosa obra do Espírito Santo.
1.1. Os cristãos voltaram a priorizar a Bíblia como regra de fé e prática
O reencontro com a Palavra de Deus levou a comunidade cristã à contestação
de verdades doutrinárias, aparentemente inabaláveis. Os dogmas haviam sido
sacralizados pela Igreja Romana e postos no mesmo grau de importância da
Bíblia.
Só mesmo um gigantesco reavivamento poderia abrir o entendimento e o
coração das pessoas para a necessidade de retornarem à Verdade e à
devoção legítima ao Criador.
Os cristãos daquele tempo deixaram de lado a passividade e a dependência do
Clero na maneira de entenderem as questões de fé e prática cotidiana. A fé e o
modo de viver o cristianismo foram radicalmente transformados. A capacidade
de escutar a voz do Espírito Santo, pelas Escrituras, foi aguçada, e eles
tornaram-se pessoas comprometidas com a busca da genuína comunhão com
o Altíssimo (Rm 15.4; 2Tm 3.14-17; 2Pe 1.20,21).

Assim é o mover do Espírito Santo: ninguém pode detê-lo. Como disse o


profeta Isaías: Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa
fazer escapar das minhas mãos; operando eu, quem impedirá (Is 43.13)?
1.2. O entendimento sobre a salvação foi radicalmente modificado
A salvação, que era ensinada a partir dos interesses e da ótica do Clero,
passou a ser proclamada, novamente, de forma universal, ampla e irrestrita no
Continente Europeu.
Os pregadores reafirmaram que a salvação, como fruto do arrependimento e
da fé pessoal, é uma obra da graça divina (Ef 2.8,9). O tema do novo
nascimento tornou-se prioritário nas ministrações dos pregadores protestantes
(Jo 3.1-6).
1.3. O desejo de evangelizar cresceu de forma exponencial
Assim como aconteceu na Igreja primitiva, os que aceitaram a fé reformada
saíram para compartilhar as boas-novas do evangelho da graça.
Cada crente, com o coração cheio de amor pelos perdidos, assumiu a sua
parcela de responsabilidade na evangelização do mundo, como ensinado por
Jesus (Mc 16.15,16).
2. GRANDES MOVIMENTOS A VIVALISTAS ORIUNDOS DA
REFORMA PROTESTANTE
Depois da morte das primeiras gerações de reformadores, a intrepidez na
pregação e a santidade no viver deram lugar ao esfriamento espiritual. Essa
condição levou para o meio protestante distorções características na Igreja
Romana. Surgiram, naquele tempo, movimentos que condenavam cruelmente
qualquer posicionamento discordante (ainda que de forma mínima) da unha
teológica vigente. O fundamentalismo religioso ganhou espaço, o que culminou
em rupturas entre irmãos e até em guerras que se espalharam pela Europa.
Em reação ao cenário exposto acima, surgiram alguns grupos espiritualidade.
Vejamos a seguir.
2.1. Jacob Boehme (1575-1622)
Para esse pregador-filósofo alemão do século 17, os líderes cristãos pós-
reforma haviam transformado a Igreja numa grande Torre de Babel, por conta
das intermináveis discussões desenvolvidas em seu nome. Após examinar todo
conteúdo produzido pelos debates teológicos da época, e depois de passar por
uma profunda experiência espiritual, baseada em visões e revelações, Boehme
escreveu um livro intitulado "Brilhante amanhecer". Segundo ele, o livro fora
ditado, letra por letra, por Deus.
Por conta dessa obra, Boehme foi duramente perseguido; porém,
devido à sua ocupação como sapateiro ambulante, suas ideias foram
difundidas em várias localidades e seu movimento cresceu muito. Assim, ele
fez discípulos, que se espalharam para outros países.
Seu maior legado foi o afastamento da ortodoxia fria e a busca direta da
presença de Deus, sem intermediários e de maneira genuína e pura.
2.2. George Fox e os Quakers (1624—1691)
Pregador inglês do século 17 que fundou a Society of friends (t.l: Sociedade
dos amigos), conhecida mundialmente como os Quakers. Sentindo-se
incomodado com os rumos da Igreja de sua época e com o modo de vida dos
cristãos, Fox partiu em busca de respostas espirituais na visitação a igrejas e a
diversos grupos, participando dos seus cultos e estudando a fundo as
Escrituras Sagradas. Depois disso, passou a pregar que Deus não habitava em
templos feitos por mãos humanas, e contra os pastores mercenários de seu
tempo.
Em lugar dos dogmas e das doutrinas, Fox ensinou seus discípulos a
seguirem, cada um, a sua própria luz interior. Para ele, todo cristão tem dentro
de si uma luz que leva ao conhecimento de Deus. Essa luz conduz à fé, à
compreensão das Escrituras e ao conhecimento de Jesus como Ele é, bem
como concede acesso à presença de Deus.
O sucesso dos Quakers foi tanto, que eles migraram para i os Estados Unidos
— após grande perseguição religiosa — e lá estabeleceram comunidades
cristãs, existentes até os dias atuais.
2.3. O pietismo
Na Alemanha de Lutero, por conta da prática de uma teologia muito distante da
realidade e missão da Igreja, surgiu esse movimento avivalista que disseminou
a fé protestante para diversos lugares do mundo, produzindo marcas visíveis.
As influências desse movimento repercutem até os dias de hoje.
O pietismo baseou-se nos escritos do grande avivalista Philip Jacob Spener
(1635—1705), que cresceu em meio a literaturas sobre a necessidade de uma
fé pessoal, uma fé salvífica, além da doutrina correta. Sendo escolhido para
pastorear a igreja em Frankfurt, seu ministério, a despeito da grande
perseguição sofrida, desenvolveu-se muito, e suas Ideias foram difundidas pela
Europa.
Spener insistiu na pregação luterana da experiência pessoal com Deus, no
sacerdócio universal dos crentes e na participação ativa deles na vida espiritual
da Igreja.
2.4. Os morávios
A mensagem do avivamento pietista alcançou um povo que vivia na região da
Morávia. Naquela ocasião, converteu--se ao evangelho o conde Nicolaus
Ludwig von Zlnzcndorf, que foi batizado pelo próprio Philip Spener.
O conde Zinzendorf estudou nos melhores centros teológicos da época, e sua
pregação mesclou elementos da doutrina bíblica com sua formação pietista, o
que resultou em um dos maiores movimentos missionários da História da
Igreja.
O avivamento dos morávios começou com uron dinâmica de oração de 24
horas diárias e de pregação e ensino ininterrupto da Palavra de Deus.
Naquelas reuniões, inúmeras pessoas receberam o chamado missionário para
várias partes do mundo, inclusive para o Continente Americano, África, índia e
outros países. O despertar missionário moraviano sacudiu o mundo.
2.5. O metodismo
A mensagem de avivamento dos morávios, no século 18, alcançou um
pregador anglicano chamado John Wosliey. Após entrar em contato com o
movimento dos morávio, Wesley sentiu seu coração abrasado pela chama da
oração, do ensino e da pregação do Evangelho. Seu ministério tornou-se uma
referência de intrepidez na entrega dos sermões e na evangelização dos
povos.
O criador do metodismo no mundo enfatizou, de maneira categórica, a
necessidade de conversão pessoal, de experiência individual com Deus e de
manutenção da santidade para a salvação, para a Teologia e para o ministério
cristão.
Junto de seus irmãos, Wesley evangelizou toda d Inglaterra, a cavalo. Sua
pregação foi direcionada para a conversão de almas ao Senhor Jesus e para a
justiça social, o que trouxe dignidade aos pobres, escravos, órfãos e viúvas.
2.6. O pentecostalismo
O maior despertamento espiritual ocorrido no mundo cristão, a partir do século
20 — fruto da Reforma Protestante —, foi o movimento pentecostal. Nas
reuniões lideradas por Charles F. Parham, em Topeka, Kansas, Estados
Unidos (1901), vários irmãos e irmãs receberam o batismo com o Espírito
Santo e falaram em outras línguas. Os cultos, naquele período, eram marcados
por curas, milagres e pela manifestação de profecias e dons espirituais.
Em 1906, o movimento ganhou grande projeção na Missão da Rua Azuza, em
Los Angeles, sob a liderança de Richard Seymour, pastor negro, sindicalista e
sem formação escolar formal. Naquele tempo, igrejas pentecostais foram
implantadas em todo território americano; como consequência, pessoas do
mundo inteiro receberam a experiência pentecostal e levaram essa mensagem
as suas cidades e países.
No Brasil, a mensagem pentecostal chegou pela pregação de Gunnar Vingren
e Daniel Berg, missionários suecos, provenientes dos Estados Unidos. Eles
foram responsáveis por fundar as Assembleias de Deus — inicialmente
batizada como Missão de Fé Apostólica — em Belém do Pará (1911).
Nenhuma denominação cresceu tanto nos primeiros anos de sua fundação
como as Assembleias de Deus no Brasil. Depois de uma década de trabalho, a
denominação tinha igrejas em sete estados da região Norte e Nordeste. Depois
de 30 anos de história (1911—1934), a denominação contava com ministérios
e igrejas em todo território nacional.
Na convenção das Assembleias de Deus realizada na cidade de São Paulo, em
1947, o Brasil já era visto como a terceira nação em número de pentecostais no
mundo, com mais de cem mil membros.
CONCLUSÃO
A Reforma Protestante legou-nos uma Igreja com profundidade nas Escrituras
e com poder espiritual para triunfar sobre as trevas: uma Igreja moralmente
pura, rica e imbuída da missão de levar homens e mulheres ao verdadeiro
Evangelho e ao conhecimento de Deus (Jo 17.3).
Que a mensagem do profeta Habacuque encontre guarida no seio das igrejas
ao redor do mundo e em nosso coração: Ouvi, Senhor, a tua palavra e temi;
aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos a notifica; na
ira lembra-te da misericórdia (He 3.2).

Você também pode gostar