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LATO SENSU EM
CRISTIANISMO CONTEMPORÂNEO
Andre Moreira
Pindamonhangaba / SP – 2021
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 3
1. O QUE VEIO ANTES ............................................................................................................................... 5
1.1 As noventa e cinco teses ................................................................................................................ 5
1.2 Depois de Lutero ............................................................................................................................ 9
2. PRINCIPAIS CORRENTES TEOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS............................................................... 19
2.1 O Liberalismo teológico ................................................................................................................ 19
2.2 Neo-ortodoxia .............................................................................................................................. 26
2.3 Teologia da Esperança.................................................................................................................. 32
2.4 Rudolph Bultmann ....................................................................................................................... 34
2.5 Teologia da libertação e Missão Integral ..................................................................................... 37
3. PRINCÍPIOS ÉTICOS E A CONTEMPORANEIDADE ............................................................................... 41
3.1 Fé: instrumento do social ............................................................................................................. 42
3.2 Cultura Cristã e sociedade ............................................................................................................ 48
4. DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE ............................................................................................... 53
4.1 Desafios internos .......................................................................................................................... 54
4.2 Desafios externos ......................................................................................................................... 57
CONCLUSÃO ........................................................................................................................................... 64
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 65
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INTRODUÇÃO
Apesar dos grandes desafios do século XX, é possível afirmar que, depois das
duas grandes guerras, a Igreja da primeira metade do século XX ganha um grande
prestígio, pois teve um papel importante na paz. Do conflito se passa à simpatia, a
Igreja vai ganhando espaço, as vocações sacerdotais são abundantes. Isso explica
porque há tantos pensadores no século XX, a cultura mais exegética, os estudos
patrísticos e muita gente dedicada a estudar. Contudo, a segunda metade do século
XX será um tempo de revisões efervescidas pelos acontecimentos sociais de nossa
época.
Unidade 1 – O que veio antes: uma unidade inteira seria pouco para
tratarmos tudo que veio antes dos séculos XX e XXI, mas se faz
necessário um esforço de compreensão dos momentos e pensamentos
que antecederam a atualidade para que possamos compreender os dias
atuais;
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Esperamos que, ao término dos estudos, o aluno dessa disciplina consiga identificar
de maneira consistente as marcas do pensamento contemporâneo, bem como quais
são suas fontes de influência.
Bons estudos!
que mudar de ideia e a agir contra o que ele chamou “monge rebelde”; (apud
OLIVEIRA,1984).
Começou-se logo a perseguição a Lutero que tinha não só o apoio dos cristãos,
como também de toda a nobreza alemã. Uma bula papal circulou por toda a Alemanha
convocando Lutero e seus seguidores a se retratarem, sob pena de excomunhão. Em
1520, Felipe Melanchton, professor de grego, com todas as suas forças se colocara
ao lado de Lutero e fizera publicar um anúncio em Wittenberg, convocando estudantes
e toda a população para assistirem a queima, em praça pública, de todos os escritos
papais, com seus decretos, bem como a obra dos teólogos escolásticos.
Um presente que Lutero deu ao seu povo foi traduzir a Bíblia para o alemão e
torná-la acessível para toda a população alemã. Martinho Lutero veio a faleceu em 18
de fevereiro de 1546, em Eisleben e foi sepultado na Igreja do Castelo, em Wittenberg.
Mesmo assim, o grande reformador suíço foi distinguido como um dos líderes
mais atraentes da Reforma. A controvérsia com Lutero a respeito da Santa Ceia e as
dificuldades com os anabatistas quanto ao batismo de crianças, não podiam ofuscar
o brilho, o denodo e o zelo de Zuínglio como reformador e promotor da fé reformada
na Suíça alemã. Ele forma, ao lado de Lutero e Calvino, o grande e gigantesco tripé
da Reforma Protestante (BLAINEY, 2012).
companheiros tiveram que fugir de Paris e estiveram refugiados por três anos em
Basiléia, onde escreveu sua obra mais importante: As Institutas da Religião Cristã. O
valor e a fama desta obra tem perdurado através dos séculos e tem sido muito
utilizada, não só pelos teólogos reformados, mas por toda a cristandade, em todos os
tempos.
Porém por volta de 1555, já havia uma sólida estabilidade. Apesar da paz
reinante, houve algumas atitudes mais rígidas da parte de Calvino, tanto em questões
morais quanto religiosas. O humanista e professor Sebastião Castellio, por exemplo,
foi impedido de ingressar no ministério e teve que abandonar Genebra por causa de
seus contraditórios comentários acerca do livro de Cantares de Salomão.
A rígida doutrina imposta por Calvino causou outras vítimas. Jacques Gruel foi
decapitado, sob a acusação de blasfêmia; Jerônimo Bolsec foi banido em
consequência de sua oposição à doutrina calvinista da predestinação. O
antitrinitariano Miguel Serveto foi queimado na fogueira em 1553.
ficar em Genebra, alegando que Calvino era o homem que a cidade precisava.
Calvino, contudo, não demonstrou nenhum interesse pela situação, alegando estar
muito atarefado em seus estudos e pesquisas. Então Farel, desesperado, apelou
dizendo: “Digo-te, em nome de Deus Todo-poderoso, que estás apresentando os teus
estudos como pretexto. Deus te amaldiçoará se não nos ajudares a levar adiante seu
trabalho, pois doutra forma estarias buscando a tua própria honra em vez da de
Cristo!”
Sobre este enfático apelo, Calvino comentou mais tarde: “Senti como se Deus
tivesse estendido a sua mão do céu em minha direção para me prender... Fiquei tão
aterrorizado que interrompi a viagem que havia programado... Guilherme Farel me
deteve em Genebra” (apud OLIVEIRA, 1984, p. 256). Apesar de tudo, e dos inúmeros
benefícios que sua obra trouxe para Genebra, nem todos estavam dispostos a aceitá-
lo, tampouco a Reforma estabelecida. Como resultado dessa obstinada oposição,
Calvino e Farel foram expulsos da Comunidade.
Dali, foram para Estrasburgo, onde, por três anos, Calvino pastoreou uma igreja
protestante formada por franceses exilados devido às fortes perseguições em Paris.
Entretanto, a situação de Genebra foi se tornando cada vez pior. Então o povo,
desesperado e reconhecendo a importância da obra de Calvino para com a vida
religiosa e política da cidade, apelou para que ele voltasse. Embora com relutância,
Calvino acabou cedendo ao apelo e voltou para Genebra.
preso por forças francesas que tinham sido enviadas para auxiliar o governo escocês.
Sua ousadia como pregador do cristianismo reformado foi a causa de sua prisão. Ele
passou dezenove meses sofrendo, acorrentado como escravo nas galés da França.
Por intervenção dos ingleses, Knox foi libertado e foi para a Inglaterra, onde passou
cinco anos (1549-1554) pregando o evangelho (BLAINEY, 2012).
John Knox foi o fundador do puritanismo inglês. Quando a rainha Maria Tudor
subiu ao trono, Knox fugiu para Genebra, onde se juntou a Calvino. Também
pastoreou uma igreja inglesa em Genebra. Posteriormente, retornou à Escócia para
assumir a liderança do movimento reformista, encontrando os escoceses bem
dispostos para a luta. Contudo, a rainha regente contava com forças francesas para
derrotar os protestantes. Knox, então, recorreu ao Cecil, secretário geral da rainha
Isabel, a qual percebeu a importância de ter uma Escócia protestante ao lado de uma
Inglaterra protestante. Em 1560, uma armada e um exército inglês expulsaram os
franceses, deixando a Escócia livre para viver o cristianismo reformado.
Com a morte de Henrique VIII, sua filha Maria conquista o prestígio popular e
assume o poder. Em seu reinado, Maria I liderou uma violenta reação contra o
Protestantismo. Seu objetivo era fazer com que a Igreja voltasse ao domínio do
Catolicismo romano, como era antes de Henrique VIII. Para conseguir seu intento, ela
revogou todos os atos do parlamento e dos reis anteriores, que favoreciam o
Protestantismo. As principais vítimas dos ataques foram os líderes do movimento
protestante inglês. Com a morte de Maria, a Inglaterra tornou-se ainda mais
protestante do que nunca. Sua sucessora Isabel, desde cedo, já demonstrara sua
simpatia pelo Protestantismo. Ela muito contribuiu para a formação de uma Igreja
Nacional Protestante. Com um rápido desenvolvimento político e econômico, a
Inglaterra tornou-se um dos principais baluartes da causa protestante em toda a
Europa e em outras partes do mundo.
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Não obstante, ainda no século XVIII, outro movimento veio à tona como
contraproposta à ortodoxia engessada do escolasticismo reformado: o racionalismo e
o idealismo filosófico e teológico alemão, que teve como seus luminares homens como
Kant, Fiche, Schelling e Hegel. A premissa a partir da qual todos estes partiam era a
autonomia do espírito crítico, frente à realidade empiricamente verificável. Logo, a
autoridade divina das Escrituras se tornou ancilla rationis sive homini, que pode ser
traduzido como “serva da razão ou do ser humano”.
Desde Platão até o fim da Idade Média, grande ênfase havia sido dada na
capacidade humana de apreender a realidade. Mas o pensamento de Immanuel Kant
propõe uma virada na compreensão das capacidades intelectivas do espírito humano.
Em uma espécie de síntese, Kant explica que tanto o conhecimento sensível quanto
o intelectivo são resultados da atividade conjunta do sujeito e do objeto cognoscível.
O objeto provê ao sujeito cognoscente a matéria; o sujeito, por sua vez, lhe
concede a forma, constituindo, assim, o movimento epistêmico de uma comunhão
entre processos a posteriori e a priori (posteriores à verificação empírica e anteriores
a ela, respectivamente). De acordo com Kant, o conhecimento intelectivo não visa à
coisa em si, mas apenas os fenômenos, quando o espírito humano, por meio da razão
unicamente, tenta ultrapassar os fenômenos e ingressar epistemicamente à coisa em
si, ele se perde em antinomias insolúveis: “são-nos dadas coisas como objetos de
nossos sentidos situados fora de nós, mas nada sabemos sobre o que podem ser em
si mesmos; apenas conhecemos seus aparecimentos”, isto é, aquelas representações
que nos chegam por meio dos sentidos. “[...] a Razão pura não é capaz de outra coisa
que fundar uma necessidade lógico-formal”.
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Em Kant, a ideia de Deus reside na esfera dos números, isto é, para além da
apreensão da Razão e dos eventos fenomenais. A religião, em Kant, visa a moralidade
de um ser humano profundamente agnóstico. Kant é o fundador do chamado
Formalismo Ético, o qual postula, especialmente na Crítica da Razão Prática, que o
critério moral supremo não pode ser derivado da experiência, pois em tal caso ter-se-
ia uma moral subjetiva e contingente, mas em uma forma apriorística e incondicionada
de avaliação dos valores morais, a fim de que se torne possível a possibilidade de
uma moral universalmente válida e intrinsecamente necessária. Há, então, para Kant,
uma lei pura que deve reger as ações do indivíduo, um imperativo categórico que
permite com que os indivíduos ascendam, de uma moralidade subjetivista para uma
moralidade universal e válida para todos, em todos os lugares e em todos os tempos.
A religião, assim, se torna uma auxiliadora manca da moralidade universal de todos
os indivíduos.
É difícil aferir o que, de fato, Hegel cria de Deus, mas pode-se afirmar que seu
sistema pode ser identificado como uma espécie de monismo panteísta ou um
evolucionismo de caráter lógico. O ser humano pode ser compreendido como espírito
finito, mas que possui uma certa identidade essencial com o Espírito infinito. É no
desenvolver da mente finita que o Infinito alcança a plena consciência de si mesmo.
A realidade do Absoluto reside na realidade do pensamento finito do sujeito que nele
pensa. A história, assim, passa a ser o processo de autoconsciência do Absoluto e da
Identidade Unificante. Hegel afirma, ainda, que o segredo da identidade dos seres e
que permeia todas as realidades díspares e existentes está na coincidentia
oppositorum (coincidência dos opostos). É na oposição dos contrastes ascendentes
que se deve entrever a realidade una e elevada da Unidade e do Absoluto Todo
Permeante. O Absoluto de Hegel é, pois, o princípio e o fundamento de todo
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Uma ideia central da teologia liberal é a imanência divina. Deus é visto como
presente e habitando no mundo, não separado ou elevado acima do mundo como um
ser transcendente. Ele é sua alma e vida, assim como o criador. Assim, Deus é
encontrado em toda a vida e não apenas na Bíblia ou em alguns eventos reveladores.
Porque ele está presente e trabalha em tudo o que acontece, não pode haver distinção
entre o natural e o sobrenatural. A presença divina é revelada em coisas como
verdade racional, beleza artística e bondade moral. Embora a maioria dos liberais
tente se apegar a um cerne da doutrina cristã, alguns teóricos defendem o panteísmo
como o fim aceitável do liberalismo.
Hegel foi em outra direção com seu idealismo absoluto, já que enfatizava a
existência de uma estrutura racional no mundo separada das mentes individuais de
seus habitantes. O que é real é racional, e toda realidade é a manifestação da ideia
absoluta ou da mente divina. Por meio de um processo dialético de vazante e fluxo da
luta histórica, a razão está gradualmente superando o irracional e o bem está
triunfando sobre o mal. As principais contribuições do idealismo hegeliano foram o
apoio à ideia da imanência divina e a promoção da crítica histórica e bíblica.
A influência de Hegel foi quebrada pelo escritor Friedrich Wilhelm Ritschl, que
enfatizou a importância da fé e da experiência religiosa. Ele apoiou a afirmação do
Cristianismo de singularidade, mas argumentou que a experiência cristã deveria ser
baseada em dados objetivos da história, não em sentimentos pessoais. Ele via o
Cristianismo como uma vida de ação que libertaria o homem das paixões
escravizantes de sua própria natureza e do determinismo de seu ambiente físico.
Declarações religiosas são julgamentos de valor relacionados à situação espiritual de
uma pessoa e têm consequências práticas. Sua teologia de valores morais relaciona
o evangelho a dois polos, a obra redentora de Cristo e a comunhão das pessoas
redimidas (o reino de Deus). No reino, a pessoa atinge a perfeição moral e, portanto,
é como Cristo. Deus é imanente, transcendente e pessoal ao mesmo tempo.
explicava como Deus lentamente construiu o universo por meio da lei natural. Ele
também se revelou por meio de um processo evolutivo, à medida que os israelitas
começaram com ideias retrógradas e sedentas de sangue e gradualmente foram
compreendendo que o Deus justo só poderia ser servido por aqueles que são justos,
misericordiosos e humildes. Por fim, Jesus o retratou como o Pai amoroso de todos
os homens. Assim, a redenção foi a transformação gradual do homem de um estado
primitivo para aquele de filiação obediente a Deus. A abordagem científica foi aplicada
à teologia e à crítica bíblica, e eles foram considerados abertos a toda a verdade.
Assim como o reino físico, a cultura e a religião evoluíram, e não havia antagonismo
fundamental entre os reinos da fé e a lei natural.
vida moderna e, em seus esforços para não separar o sagrado do secular, identificou
muito intimamente um com o outro.
2.2 Neo-ortodoxia
E sob este pano de fundo que se pode perceber o nascimento de uma forma
de compreender o mundo, uma nova cosmovisão que permitiu ver na fé, não mais
uma simples vindicação ética ou uma exteriorização das impressões interiores e
afetivas dos seres humanos, mas uma fé que possui um objeto determinado e próprio:
a Palavra divina par excellence (por excelência), encarnada na Pessoa de Jesus
Cristo. Nesse contexto, dois autores se destacaram: Karl Barth e Emil Brunner.
povo, passou a se envolver com questões profundamente sociais. Não obstante, com
o início da Primeira Guerra Mundial, contemplou sua fé marcantemente liberal e
influenciada por Adolf Von Harnack (1851-1930) ser drasticamente abalada.
Durante quatro anos, após Barth perceber que sua teologia de cunho liberal em
nada podia auxiliar o povo pobre de sua cidade, estudou o filósofo Kierkegaard,
enquanto seu amigo, Eduard Thurneysen (1888-1977) estudava as obras românticas
de Dostoievski. Acompanhado de Kierkegaard, grande influência exerceram os
escritos de Lutero e Calvino sobre Barth. E como resultado de tais estudos, Barth
publicou, em 1919, a Der Römerbrief (Carta aos romanos), com uma edição
totalmente reformulada em 1922. Tem-se aqui o início do que ficou conhecido como
Teologia Dialética, a qual enfatiza o paradoxo da fé (conceito recebido diretamente de
Kierkegaard), na qual duas ideias ou proposições de fé são aceitas enquanto
antinômicas e verazes.
A dialética barthiana é a dialética das ideias que conversam entre si, sem,
porém, chegarem em um “acordo” ou síntese, no sentido hegeliano do termo. Assim,
o Deus que era totalmente outro se fez carne e fraqueza; o ser humano justificado
permanece pecador (ideia recebida de Lutero, simul justus et peccator,
simultaneamente justo e pecador); Jesus Cristo é Deus e homem verdadeiramente
em uma única e simples subsistência; a Trindade é Una e Trina na diversidade das
subsistências e unidade da essência. Assim, para Barth, a fé só poderia ser
compreendida por meio dos paradoxos antinomistas, e a teologia só poderia atuar em
um ambiente como este: de profunda reverência ante o misterium tremmendum
(mistério tremendo), para utilizar-se do conceito de Rudolf Otto.
Emil Brunner (1886-1966) foi um teólogo suíço que esteve em profundo contato
com Karl Barth e que pode ser considerado, acompanhado de Barth, o precursor da
teologia dialética, chamada por ele de Teologia da Crise. Após o rompimento com Karl
Barth por volta de 1931, Brunner se torna o maior representante da Teologia da Crise
na era moderna.
algo acerca de Deus, e que não pode ser realizado pelo indivíduo, mas somente pelo
Eterno. O conhecimento de Deus só é possível no âmbito de uma auto manifestação
dele próprio. A verdadeira doutrina sobre Deus procede, dele mesmo e aponta para
além de si mesma, para a realidade supra histórica e supramundana da vida divina.
alemão, no qual, depois de seis meses, foi feito prisioneiro e levado ao campo de
concentração de Northon Camp, na Inglaterra.
O ponto inicial de sua carreira teológica e que marca a sua ligação com a
corrente teológica citada acima é com a publicação de sua obra Teologia da
Esperança (Theologie der Hoffnung), em 1964. Nela, o tema da esperança aparece
como elemento hermenêutico, levando-a, assim, ao centro da teologia, conforme suas
palavras: “já não mais teorizava sobre a esperança, mas a partir dela” (MOLTMANN,
1991, p. 56). Ou também: “O todo da teologia em um único enfoque” (MOLTMANN,
2011, p. 79). É um teólogo que possui uma grande aceitação no meio católico, pelo
seu comportamento ecumênico e possui um importante diálogo com a Teologia da
Libertação.
Ao dizer isso, Moltmann nos insere dentro do contexto de sua obra. Como ele
mesmo diz, ele não é apenas o único autor, mas como todos os leitores, ele foi
influenciado por ela. Em algumas vezes, durante os anos que se seguiram após a
obra, ele mudou de posturas em relação à esperança, fato que ocorreu pelo retorno
que sua obra lhe trouxe quando entrou em contato com outros horizontes e com outras
visões hodiernas da teologia. Por estas visões hodiernas da teologia entendemos os
movimentos e correntes teológicas que o autor manteve diálogo ao longo de sua vida,
conforme ele mesmo destaca várias vezes: a Teologia da Libertação, a Teologia
Política, a Teologia Negra, a Teologia Feminista etc.
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Sem falar das constantes mudanças no cenário político mundial, que provoca,
por parte da Igreja e por parte da teologia, uma postura de atitude concreta. Sobre
essas questões, ele as descreve como algo positivo, o que demonstra uma teologia
aberta aos novos descobrimentos, além de um constante diálogo com o mundo
contemporâneo.
Essa convicção é clara para Bultmann, na medida em que afirma que o Novo
Testamento nunca fala de Deus de uma maneira e do homem de outra completamente
diferente. Deus então não pode ser conhecido como aquele que determina a
existência humana por meio da filosofia. Mas apenas por meio da fé cristã. A filosofia
pode analisar a existência humana em sua realidade e potencial, mas não pode
analisá-la como determinada por Deus. Só a fé pode fazer isso, pois só a fé pode
conhecer a Deus como aquele que determina a existência humana. Visto que o
homem de fé ainda é um homem, ele não pode, mesmo como um homem de fé,
conhecer a Deus como o objeto de seu pensamento; ele só pode conhecer a Deus
como o determinante de sua existência. Você só pode conhecer a Deus nesses
termos. Consequentemente, para o homem que deseja fazer teologia, sua
preocupação central será Deus como aquele que determina sua existência humana
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Para ficar ainda mais claro Leonardo Boff, ao falar dessa “nova” teologia, diz
que “não se trata de uma outra fé, mas da fé dos apóstolos e da Igreja articulada com
as angústias e as esperanças de libertação dos oprimidos” (BOFF, 1979, p. 18).
Uma estrutura de reformulação das atitudes foi criada pela comunidade cristã
para atender suas práticas e princípios éticos de percepção do outro na esfera social.
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Essa tal vida correta, por sua vez é ensinada na igreja, produzindo uma forma
de educação ética e moral, capaz de constituir uma cultural interna que poderá
proporcionar às pessoas não participantes da filosofia social cristã, uma influência
através de ações, pensamentos e práticas cristãs, conquistando interessados pelo
referido estilo de vida, possibilitando que uma cultura da minoria possa influenciar a
cultura da maioria através das relações sociais e das práticas que ligam a ambas.
como os já citados acima, porém seus objetivos agregam um princípio que prioriza o
cuidado com os valores vinculados à dignidade do ser humano, o cristianismo vivifica
tais valores, solidifica e compartilha os valores e princípios, tornando-se uma realidade
mais constante na convivência e na prática social.
social, mas, além disso, a filosofia de vida cristã vê tais situações como uma distorção
da dignidade e da imagem do ser humano, fazendo de suas bases uma ideologia
produtora da igualdade humana, enquanto seres iguais em imagem e semelhança, ou
seja, todos tem a mesma origem, as mesmas necessidades, assim nenhum interesse
material e individual pode vir primeiro, pois para o cristianismo o semelhante deve
ocupar um lugar superior aos interesses materiais. Claro que o respeito ao semelhante
não pode impedir os projetos individuais de cada pessoa, sejam profissionais ou
pessoais, desde que respeitem os limites da moralidade e da ética.
pessoais. Princípios humanos como, generosidade e altruísmo são cada vez menos
utilizados entre as pessoas, pois prevalecem os interesses econômicos e políticos.
modelos de família, não seguem mais um padrão ou um modelo, pois tem surgido
diferentes formas de se constituir famílias. Cada vez mais, são positivadas normas e
leis, na tentativa de amenizar os conflitos e diferenças sociais, porém as questões
sociais, de fato não são trabalhadas por políticas igualitárias que possam promover a
inclusão das diferentes classes.
valorização do ser humano como principal objetivo para as relações sociais. Dentre
diversas propostas, podemos destacar a cristã, que prioriza o convívio social
comunitário, com vários princípios que podem corroborar para com a existência de
ações benéficas voltadas para a sociedade em geral.
4. DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE
desafios acima mencionados, tanto internos quanto externos como fontes de pressão
que desafiam o Cristianismo.
A questão radical que o Cristianismo enfrenta hoje é colocada pelo que o mundo
precisa e espera das religiões. Essa expectativa é baseada no pressuposto “Que a
religião tem o objetivo de participar da cura do mundo”, como Sinn e Trice (2015, p. 1)
afirmam. O mundo em constante mudança cria necessidades e expectativas
constantes, mas também expressa frustração em relação a organizações religiosas e
cristãos, bem como a membros de outras religiões.
sim, então nossa questão radical para nossa época é: como a religião do Cristianismo
em particular e seus adeptos se tornarão instrumentos relevantes de paz no século
XXI? Esta questão de relevância religiosa para a paz é certamente essencial para
nós” (Sinn, Trice, 2015, p. 1). Mesmo que a paz seja uma das maiores necessidades
de nosso mundo, Sinn e Trice (2015, p. 1) afirmam “que existe um nutriente mais
imediato para nós que subestimamos, e que, no entanto, podemos juntos localizar em
nossa fé como um espírito de generosidade”.
Pode ser necessário que crentes como a citada Madre Tereza, contribuam com
uma liderança sólida para a sociedade e até mesmo que se envolvam como
pacificadores quando surgem situações conflitantes. A base para as operações de
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Além disso, Swenson (2016) aponta que também existe um desafio ecológico
para o Cristianismo, pois as populações tendem a aumentar e a natureza é forçada a
produzir recursos. O mundo está cada vez mais preocupado com as questões
planetárias relacionadas aos avanços tecnológicos que resultam na poluição da terra,
da água e do ar, o desmatamento e o consequente aquecimento global. Como
resultado, (Swenson (2016) afirma que a questão ética ecológica colocada ao
Cristianismo é: “Neste cenário de degradação ecológica em evolução, qual é o papel
da religião em geral e do Cristianismo em particular?” O problema tradicional do
Cristianismo é que suas doutrinas tendem a ser “antropocêntricas e sobrenaturais”
(SWENSON, 2016, p. 48); isto é, “[No] reino da doutrina o Cristianismo não se presta
facilmente a se tornar uma espiritualidade da natureza” (SWENSON, 2016, p. 48).
Outra área que compete com a vida da igreja é a Televisão Cristã, que oferece
programas de transmissão e tende a substituir os serviços da Igreja. Isso coloca o
problema de crentes que carecem de comunhão bíblica e fraternidade. Além disso, a
televisão secular também confronta as consciências e desafia o Cristianismo. Na
opinião de Ignatieff (1985, p. 94);
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS