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DINHEIRO

um assunto
altamente espiritual

BISPO ROBERTO MCALISTER

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Primeira Edição
5.000 exemplares
1981

Direitos reservados pela

EDITORA CARISMA

Rua General Polidoro, 137 - Caixa Postal 2734,

20.001, Rio de Janeiro, RJ.

Todas as citações bíblicas são da edição revista e atualizada no


Brasil da tradução por João Ferreira de Almeida,
Publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil.

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INDICE
AGRADECIMENTO ................................................................................... 6
1. UMA FILOSOFIA EVANGÉLICA .......................................................... 7
2. O SUPERCRENTE ................................................................................. 10
3. UMA TEOLOGIA FINANCEIRA .......................................................... 12
4. COISAS SANTAS ..................................................................................... 17
5. AS PRIMÍCIAS.........................................................................................20
6. ZAQUEU O PUBLICANO .....................................................................25
7. RESTITUIÇÃO .......................................................................................29
8. NEGOCIAR COM DEUS .......................................................................32
9. O DEUS CHAMADO DINHEIRO ........................................................35
10. UM ESPÍRITO COMERCIAL ..............................................................38
11. AMOR PROIBIDO ................................................................................42
12. UM VOTO ..............................................................................................45
13. O DEVORADOR ...................................................................................47
14. GENEROSIDADE .................................................................................49
15. PROSPERIDADE ..................................................................................52
16. COBIÇA ..................................................................................................55
17. FASCINAÇÃO ........................................................................................58
18. O QUE É ABUNDÂNCIA? ...................................................................62
19. HERANÇA .............................................................................................65
20. A PARTE DE CÉSAR ............................................................................69
21. ALEGRIA ...............................................................................................72
22. CORAÇÕES PRESOS............................................................................75
23. LOUCURA .............................................................................................78
24. RICO PARA COM DEUS ......................................................................80
25. INSTABILIDADE .................................................................................84
26. NECESSIDADES ..................................................................................87
27. COMO PEDIR .......................................................................................90

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PARA O MEU CASAL DE FILHOS, WALTER RO-
BERT, JR. E HEATHER ANN. QUE POSSAM RE-
CEBER DE MIM E MINHA ESPOSA, GLÓRIA, O
QUE RECEBEMOS DE NOSSOS PAIS, WALTER
E RUTH, ALFRED E HANNA, A SABER, O
EXEMPLO DE FÉ E OBEDIÊNCIA.

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AGRADECIMENTOs

E ntre as pessoas que muito me ajudaram na preparação deste


livro quero agradecer à Sra. Allinges MacKnight pela ajuda
inestimável na parte gramatical, e ao Pastor Márcio Alves, da Editora
Carisma, pela revisão final.

Estou convencido de que a atitude de uma pessoa com respeito


ao assunto dinheiro determinará a qualidade de sua vida espiritual.

Isto porque não é possível divorciá-lo de outros assuntos vitais à


saúde espiritual tais como obediência, generosidade e abundância.

Pois nada neste mundo tem poder igual ao do dinheiro, para


abençoar ou amaldiçoar uma vida.

+ ROBERTO

Inverno de 1981 Rio de Janeiro

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CAPÍTULO 1

UMA FILOSOFIA
EVANGÉLICA

“A gora, irmãos, infelizmente temos que receber a oferta. Como seria


bom se eu nunca fosse obrigado a falar sobre dinheiro desta Mesa
Sagrada! Mas todos nós sabemos que ele é um mal necessário.”

Assim se dirigiu certo pastor à sua congregação. Para ele, como


para um grande número de líderes cristãos, falar em dinheiro durante
um culto ao Senhor é um verdadeiro embaraço, considerando eles este
assunto não suficientemente espiritual para merecer maior considera-
ção.

Tal atitude estranha, muito embora comum, começa nos semi-ná-


rios, onde a teologia pastoral ignora por completo o lado financeiro da
obra de Deus, como se ele fosse alheio ao Evangelho, indigno, por-
tanto, de ser mencionado do púlpito. Durante os meus estudos teoló-
gicos, em ocasião alguma um professor fez sequer referência a isto.

Devido a esta lacuna em seu preparo pastoral, muitos ministros


do Evangelho pedem desculpas à congregação pela necessidade de “mis-
turarem o secular ao sagrado”. Em muitas comunidades, as despesas da
igreja são pagas através de solicitações diretas aos membros, em cam-
panhas anuais realizadas pelos diáconos, o que permite ao pastor “não
sujar as suas mãos” com algo que “nada tem a ver com a parte espiritual de seu
ministério”.

Como decorrência desta filosofia, a expansão da igreja vive em


frustração crônica, em vista da carência de recursos financeiros. A cons-
trução de novas instalações, a extensão da obra missionária, a ênfase
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evangelística, o trabalho social da igreja, em resumo, é seriamente atin-
gido e grandemente limitado, pois ninguém ousa enfrentar a delicada
tarefa de levantar dinheiro necessário a tal progresso.
TAL PASTOR, TAL MEMBRO
A timidez por parte da liderança da igreja no que concerne a di-
nheiro, reflete-se diretamente na filosofia de seus membros. Muitos
pensam, incorretamente, aliás, que a Bíblia ensina ser o dinheiro “a raiz
de todos os males”. Sendo assim, quanto menos mencionado ele for, me-
lhor há de ser. Por conseguinte, o momento da oferta é sempre
desagradável e embaraçoso, tanto para o pastor como para os
membros.

Efeito desastroso desta filosofia entre muitos cristãos é que a


grande maioria do povo de Deus afasta um importante aspecto de sua
vida de todo e qualquer envolvimento com Deus. Como disse alguém:
“O bolso do homem é a última coisa que ele rende ao Senhor!” Ele oferece a
Deus sua alma, seu espírito e até o corpo, mas coloca o Senhor longe
de suas finanças.

As conseqüências desta atitude são trágicas. Desestimulado a


exercer a sua fé no tocante a seu dinheiro, o cristão fica preso a seus
próprios recursos. Como qualquer ser humano, ele luta para ganhar o
pão de cada dia e cumprir suas responsabilidades familiares, gastando a
maior parte de sua vida em acumular o suficiente para garantir a
sobrevivência; e mais um pouco para torná-la mais suportável e mais
feliz.

Quanto às suas finanças, Deus é deixado do lado de fora. Assim,


qual seu vizinho descrente, a tranqüilidade econômica é conseqüência
de sua educação, inteligência e muita sorte. Em meio à selva comercial
onde impera a lei do mais esperto, o filho de Deus passa a competir em
iguais condições com os incrédulos, uma vez que eliminou o Senhor

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desta parte vital

de sua existência. Só que desta feita as condições são bastante de-


siguais. Sendo-lhe proibido, por sua própria crença evangélica, adotar a
desonestidade como uma das armas na luta do cotidiano, o cristão se
sente desarmado ante a corrupção ao redor. Como me declarou recen-
temente um profissional liberal: “Bispo, eu jamais poderia ser crente caso con-
tinuasse a ganhar a minha vida neste tipo de trabalho, porque nele seria obrigado a
mentir constantemente.” Como pode o cristão autêntico competir em situ-
ação semelhante?

A resposta, infelizmente, é que muitos adotam esta filosofia:


“Quando em Roma, faça como os romanos”. E por isto que muitos membros
da Igreja, durante os dias da semana, deixam de lado sua religião, sendo
simples “cristãos domingueiros”, pois crêem que em outras condições não
dá para sobreviver. Dançam, portanto, conforme a música. Se o hábito
é mentir, mentem, pois não há outro jeito.

Outra solução para o drama financeiro de todo dia seria uma mu-
dança de filosofia, envolvendo Deus nos negócios. Para isso, entre-
tanto, ter-se-ia que mexer em muitos preconceitos, coisa quase impos-
sível a muitas pessoas. Mas como este livro pretende provar, tais bar-
reiras podem ser rompidas ao ponto de produzir uma vida inteiramente
nova.

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CAPÍTULO 2

O SUPERCRENTE

A s atitudes do povo de Deus com respeito a dinheiro são as


mais variadas. Se por um lado é quase proibido considerar
dinheiro como um assunto espiritual, por outro ele é encarado como a
bênção suprema, evidência da maior espiritualidade.

Raras são as pessoas capazes de entender com clareza o que a Bí-


blia diz sobre dinheiro, adotando a esse respeito uma filosofia equili-
brada.

Não menos radical que o pastor que pede desculpas ao povo pela
infeliz necessidade de levantar uma oferta, é aquele para quem a pros-
peridade é prova de espiritualidade e das bênçãos de Deus. Este é o
supercrente: sempre vitorioso, sempre alegre e sempre próspero.

Usando versículos avulsos, além de uma interpretação particular,


certos “negociadores de bênçãos” garantem que Deus quer para todos os
Seus filhos uma abundância absoluta. Tal filosofia é traduzida por “uma
vida livre de toda e qualquer necessidade, e com fartura de dinheiro”.

Resultado de doutrina triunfalista, ela promete resposta a todas as


orações, como se Deus fosse um empregado sempre à nossa
disposição, garantindo Ele não só a cura imediata de todas as nossas
doenças — como se isto significasse sempre o bem maior — mas
também a solução de todos os nossos problemas financeiros, dando a
entender que, por tal abundância, ficaria evidenciada a nossa fé nEle.
A FALHA
O grande problema com relação a esta filosofia é que além de ser
não-bíblica ela não funciona. Deus nem sempre responde “na hora” e

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conforme nós queremos. Muitas vezes o sofrimento continua, pois o
Senhor está moldando o caráter de Seu filho. Abundância financeira
nem sempre acontece imediatamente, como consequência de uma
oferta de sacrifício para a obra do Senhor.

Que terá sucedido nestes casos? Terá sido falha do Evangelho?


Não foi a fé suficiente? Ou será que a pessoa desiludida foi mal
informada sobre as leis que governam a sua vida espiritual, física e
financeira?

Esta filosofia do supercrente, muito popular entre alguns


evangélicos, que garante bênçãos sem qualquer responsabilidade e
obediência, é um lamentável engano, que tem que ser evitado a todo o
custo.
EQUILÍBRIO
As duas filosofias citadas são erradas, e se baseiam em interpre-
tações falsas dos textos bíblicos. Representam elas uma imperdoável
ignorância com respeito a um dos mais importantes aspectos da vida, o
qual carece de um sério entendimento espiritual, pois significa grande
parte de nossa preocupação cotidiana, que é a de viver longe de
pressões, fora dos conflitos financeiros.

O que nos está faltando é equilíbrio. Neste livro eu pretendo


chamar a sua atenção para uma filosofia racional, que será antes de mais
nada bíblica. Tentarei fazê-lo de maneira clara e simples. Você verá que
dinheiro não é a “raiz de todos os males”. Concluirá, isto sim, que ele
produz o mal tão-somente pela quebra, o desrespeito às leis bíblicas que
governam sua circulação.

Dinheiro pode significar uma grande bênção ou uma terrível


maldição. Isto é o que pretendo demonstrar através da Palavra de Deus

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CAPÍTULO 3

UMA TEOLOGIA
FINANCEIRA

O fato de parecer estranha a união das palavras “teologia” e “fi-


nanceira” vem provar quão longe estamos de uma base bí-
blica sobre dinheiro.

Existirá realmente uma teologia bíblica financeira? Evidentemente


que sim! A Bíblia está repleta de referências, narrativas e advertências;
de recomendações, parábolas e promessas sobre o assunto. Só que o
“deus deste mundo”, Satanás, cegou o nosso entendimento, e o fez justa-
mente por conhecer as conseqüências de uma teologia bíblica finan-
ceira, as quais ele teme bastante!

Toda pobreza, quer do espírito, quer da alma ou do corpo é resul-


tado de ignorância sobre a abundância da vida que Deus nos promete
através de Sua Palavra. Quem não tem a certeza de sua salvação eterna
desconhece o que a Bíblia afirma a respeito da vida eterna, da qual já
agora se pode usufruir.

Quem vive cheio de medo não conhece as promessas bíblicas que


Jesus fez sobre a paz interior, herança de todos os Seus filhos. Aquele
que vive preso a uma constante luta financeira é vítima de ignorância
sobre as promessas bíblicas a quem está em sintonia com as leis de Deus
referentes a dinheiro.

Uma das razões dessa “pobreza” é que além da Bíblia, existe uma
influência ainda mais forte na maioria das igrejas, ou seja — o hinário.
A TEOLOGIA DO HINÁRIO
Desde os primeiros dias de sua existência, a teologia da Igreja de
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Jesus Cristo tem sido transmitida em sua música. O amigo quer
conhecer a crença de uma determinada igreja? Muito simples: ouça os
hinos cantados em seu culto dominical. Pois este tem sido, no decorrer
dos anos, o método mais fácil e mais popular de ensinar a doutrina ao
povo.

Aliás, é um processo bíblico. Em Éfe- so, os membros da Igreja


falaram entre si “com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor, com hinos
e cânticos espirituais” (Efésios 5:19). O meio de ensinamentos através da
música está ainda mais claramente definido na Epístola de Paulo aos
Colossenses: “Habite ricamente em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconse-
lhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus com salmos e hinos e
cânticos espirituais com gratidão em vossos corações” (Colossenses 3:16).

Ensinar e aconselhar uns aos outros através de música tem apoio


em tradição venerável e bíblica. No que se refere ao assunto em pauta,
ou seja dinheiro, o problema é que ele foi profundamente afetado pela
teologia musical nas igrejas evangélicas contemporâneas, pois grande
parte da Igreja crê nas bênçãos de Deus exclusivamente em duas di-
mensões: passadas e futuras.

Você se lembra de Maria, a irmã de Lázaro? Quando Jesus chegou


a sua casa, três dias após a morte do Seu amigo, ela Lhe disse: “Senhor,
se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido”. Maria acreditava no Deus que
Se chama o grande “Eu Era”. A outra irmã, Marta, por sua vez acredi-
tava no Deus que Se chama o grande “Eu Serei”, pois foi assim que eia
se expressou: “Eu sei que ele há de ressurgir na ressurreição do último dia”.
Jesus estava ah para provar que Ele era o grande “Eu Sou”: o Deus para
AGORA.

Esta é a grande dificuldade com respeito à teologia dos hinários


evangélicos: eles falam sobre as delícias do dia de Pentecostes e sobre a

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glória que nos espera no além, restringindo ao aqui e agora tristeza, lá-
grimas e muita paciência. Observe estes trechos de hinos:

“Quando a luta desta vida trabalhosa se findar O adeus a este mundo vamos
dar, Para o céu então iremos Com Jesus encontraremos Na Jerusalém de Deus.”

A teologia popular do hinário fala muito sobre as dificuldades


desta “vida trabalhosa”, razão por que tanto se almeja entrar no céu. É
com muita sinceridade que o povo canta hinos como este outro:

“Nesta terra tesouros não há; tudo é vão,


Que nos possam aqui segurar como ilusão.
Desejamos ir ao céu, onde Cristo já está,
Ao lugar onde iremos descansar, em Sião.”

Outro hino, que vem com o título “O Fim das Lutas”, reflete uma
teologia futurística que procura compensar as dificuldades da vida
com as promessas do descanso além:

“Quando esta vida de lutas cessar,


Vou para o céu meu descanso gozar;
Com meu Jesus lá na glória sem fim,
Oh! que ventura será para mim!”

Sem querer fatigar com citações exaustivas, lembro apenas mais


uma estrofe, que fala sobre as riquezas e as maravilhas que nos esperam
“na cidade que não tem igual”:

“Quão glorioso, cristão, é pensares,


Na cidade que não tem igual,
Onde os muros são de puro jaspe
E as ruas de ouro e cristal;
Pensava como será glorioso,
Ver-se a multidão triunfal,
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Que cantando aguarda a chegada
Dos que vencem a tribulação.”

O que acabamos de citar é teologia pura, ensinada através de hinos


cantados por literalmente milhões de brasileiros, crentes em Jesus
Cristo, os quais acreditam cabalmente que neste mundo não há senão
tribulações, lutas, além de tesouros impossíveis de segurar. Aquela vida
abundante que Cristo prometeu a todos que O amam e Lhe obedecem
não está contida nestes hinos, que revelam gloriosas promessas para
exclusivamente após a morte, na cidade de Deus. Quem não possui aqui
uma casa, terá garantida no mínimo “uma mansão no além”. Tudo que
aqui lhe falta há de ser suprido quando Jesus voltar para arrebatar a Sua
Igreja.

Isto cria um grande conflito em pelo menos dois aspectos de


quem foi treinado pela teologia do hinário. O primeiro deles é que nin-
guém deseja tanto ir para o céu — agora. Prova disto é que, quando se
fica doente, corre-se logo ao pastor pedindo oração pela cura. Ninguém
quer morrer, e sim viver.

Outro lado do dilema é que, ao referir- se o hinário às bênçãos


imediatas, ele está ignorando completamente o aspecto financeiro. Pois
as bênçãos prometidas são de ordem puramente espiritual. De acordo
com a doutrina que ele canta, o cristão sabe que a vida abundante per-
tence ao céu. Torna-se assim impossível movimentar a sua fé em dire-
ção às necessidades do momento, visto que aqui a vida é “trabalhosa”.
A TEOLOGIA BÍBLICA
Gostaria, um dia, de cantar um hino inspirado nas afirmações bí-
blicas sobre a vida abundante. Desejo, agora, citar apenas um exemplo
bíblico da vida que Jesus nos promete em troca de nossa obediência no
campo de dinheiro:

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“Dai, e dar-se-vos-á, boa medida, recalcada, sacudida, transbordante,
generosamente vos darão, porque com a medida com que tiverdes medido
vos medirão também” (Lucas 6:38).

Minha intenção, neste trabalho sobre dinheiro, não é combater


hinos amados e cantados pelo povo de Deus, mas sim despertar a
atenção do leitor para o que a Bíblia diz sobre abundância de vida.

Impossível seria tratar de assunto tão prático quanto este sem


valer-me de exemplos de pessoas que passaram a obedecer às leis de
Deus neste sentido. Quero esclarecer que o alvo deste estudo não é
despertar o entusiasmo do leitor valendo- me de experiências pessoais,
mas sim lançar alicerces sólidos para uma filosofia não pessoal, mas
bíblica, referente ao uso de seu dinheiro.

Não obstante ser invenção humana, dinheiro faz parte muito


importante de nosso namento com Deus, como também com o nosso
próximo.

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CAPÍTULO 4

COISAS
SANTAS

“S anto, santo, santo é o Senhor” (Isaías 6:3). Disto não há dú-


vida. Todo o mundo sabe que Deus é santo. Poderia citar
centenas de referências bíblicas para provar que Deus Pai, Deus Filho e
Deus Espírito — O Deus triúno — é santo. O que é completamente
supérfluo.

Saberá você que também todas as pessoas e todas as coisas que a


Deus pertencem são santas, que estas pessoas e estas coisas considera-
das santas recebem de Deus uma proteção toda especial? Deus zela pelo
que Lhe pertence. Portanto, não só imprudente, como até perigoso é
tocar no que é santo aos olhos do Senhor.
PROFETAS SANTOS
Os homens escolhidos por Deus durante as gerações do Velho
Testamento, os chamados profetas, eram santos, o que é confirmado
pelo evangelista Lucas, que diz: “por boca de seus santos profetas” (Lucas
1:70). Eram eles os porta-vozes do Senhor para transmitir a Seu povo,
Israel, Suas leis, ordens e advertências, gozando todos de uma proteção
divina toda especial.

Num dos Salmos de Davi o mundo é advertido sobre os cuidados


divinos e o respeito devido àqueles homens: “Não toqueis nos meus ungidos,
nem maltrateis os meus profetas” (I Crônicas 16:22). Ao levantar Miriã sua
voz contra o profeta de Deus, seu irmão Moisés, ela foi castigada com
lepra, e salva de tão terrível doença por exclusiva intervenção do
próprio Moisés. (Números 12:10,13). Não, não podemos tocar em
pessoas “santas”!
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ESCRITURAS SAGRADAS
A Bíblia é um livro santo, pois pertence a Deus. É a Sua Palavra.
Paulo escreveu a Timóteo sobre as “sagradas letras” (II Timóteo 3:15).
Na capa de sua Bíblia você lerá estas palavras: Bíblia Sagrada. Vou mos-
trar-lhe o zelo com que Deus cerca tudo quanto para Ele é santo. Veja
o que está escrito no livro de Apocalipse:

“Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico:
Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os
flagelos escritos neste livro; e se alguém tirar qualquer cousa das palavras
do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da
cidade santa, e das cousas que se acham escritas neste livro” (Apocalipse
22: 18,19).

Todos aqueles que atacaram, ou viveram a atacar a Palavra de


Deus com o fim de destruí-la, ou já foram castigados, ou hão de sofrer
do Senhor castigo, pois Ele preserva a Sua Palavra, o Seu livro santo.
POVO SANTO
A Igreja de Jesus Cristo é santa. Não me refiro aos edifícios
chamados igrejas, mas àquilo que constitui, de verdade, a Igreja: o povo
de Deus.

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de pro-
priedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele
que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro 2:9).

Durante séculos, a partir do Império Romano, governos e reinos


tentaram aniquilar a Igreja pela cruz, o fogo e a espada. A afirmação “o
sangue dos mártires é a semente da Igreja” não significa lenda alguma. E a
pura verdade.

Não toque, pois, nesta “coisa santa”, nem com sua mão nem com
sua língua, pois o Senhor da Igreja tem por ela um amor muito especial.
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Veja agora até onde pode ir o Senhor, a fim de proteger o Seu
povo:

“Não sabeis que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus


habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o
destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (I
Coríntios 3:16,17).
DINHEIRO SAGRADO
Afinal de contas, que tem a ver tudo isto com o assunto em pauta,
ou seja o dinheiro?

Desde o princípio da história humana Deus pediu do homem o


reconhecimento de Sua soberania sobre todo o Universo, declarando-
lhe que poderia desfrutar de toda a Criação, mas lembrando sempre que
o dízimo de tudo a Ele pertence.

A palavra “dízimo” significa dez por cento do total. Pois estes dez
por cento, o dízimo, são também uma daquelas “coisas santas”, as quais
não se pode tocar, se é que não se deseja ser castigado. Eis a declaração
do Senhor sobre este assunto:

“Também todas as dízimas da terra, tanto do grão do campo, como do


fruto das árvores, são do Senhor: santas são ao Senhor... No tocante às
dízimas do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo da vara do
pastor, o dízimo será santo ao Senhor” (Levítico 27:30, 32).

Portanto, dez por cento de tudo quanto você ganha — o dízimo


— é santo ao Senhor. Você já sabia disto?

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CAPÍTULO 5

AS PRIMÍCIAS

“E se forem santas as primícias...” (Romanos, 11:16).

Antiga e eterna é a lei das primícias santas. Quando o


homem honra a Deus com as primícias, ele é abençoado, como é aben-
çoada a sua vida, em todos os seus aspectos.
CAIM E ABEL
Aprendi, nesta narrativa de Gênesis (cap. 4), que Deus aceitou a
oferta de Abel por ser de um animal cujo sangue foi oferecido ao Se-
nhor; e que recusou a de Caim por ser um simples fruto de lavoura.

Mas esta interpretação popular não é verdadeira. Pois tanto um


como o outro ofertaram a Deus o fruto de seu trabalho. Abel, como
pastor, levou uma ovelha; Caim, como lavrador, verdura, cereais e
fruto. Terá sido Caim castigado por ser lavrador e não pastor? Impos-
sível!

A palavra “oferta”, registrada nesta narrativa sobre Caim e Abel,


tradução do hebraico “ulah”, é a mesma que aparece em outros lugares
do Velho Testamento para descrever oferta de vinho (Gênesis 35:14) e
de farinha com azeite (Levítico 2:1): todos perfeitamente aceitáveis ao
Senhor, ainda que não eram de sangue.

Onde foi, então, que Caim errou? Não foi na qualidade da oferta,
mas na falta em dar a Deus o que Ele sempre pede: as primícias. Note
a diferença entre a oferta de Caim e a de Abel:

“No fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao
Senhor” (Gênesis 4:3).

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“Abel, por sua vez, trouxe as primícias do seu rebanho, e da gordura
deste” (Gênesis 4:4).

As duas ofertas foram apresentadas a Deus. A única diferença foi


ter separado Abel o dízimo (os primeiros dez por cento) — as primícias
— enquanto Caim ignorou esta lei eterna.
O DÍZIMO
Quantas pessoas não estão ignorando sua responsabilidade de
honrar a Deus com as primícias, o dízimo de sua renda, cada um
alegando motivo “justo” para falta tão grave! Aliás, em meio à ignorância
generalizada do povo de Deus quanto a este assunto de dinheiro, tão
amplamente tratado na Bíblia, o erro gritante, o mais sério entre todos
é justamente aquele que se refere às primícias da renda, a parte não sua,
mas do Senhor.

Duas são as conseqüências de se usar em benefício próprio o que


é santo ao Senhor falta de envolvimento divino na porte financeira da
vida e castigo por desobedecer a um dos princípios básicos das Escri-
turas. A duras penas aprendeu Israel esta lição!
JERICÓ
Após ver-se milagrosamente livre da escravidão do Egito, tendo
passado quarenta anos no deserto, Israel atravessou o Rio Jordão para
tomar posse da Terra Prometida que “manava leite e mel”. Só que a pri-
meira coisa a enfrentar foi Jerico, cidade fortificada e inimiga.

Pensaria acaso Israel que esta Terra Prometida não lhe custaria
trabalho algum, sendo como de fato era, promessa de Deus? A verdade
é que não é desta maneira que o Senhor oferece abundância a Seu povo.
Vadio não come. Preguiçoso não tem fartura. Isto é o óbvio. Vida
abundante tem que ser conquistada, conquista esta feita na base das
regras estabelecidas pelo Senhor.

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Jerico era a primeira das cidades que seriam libertadas pelo povo
de Deus. Para isso, Ele pediu o dízimo — as primícias:

“Porém toda prata, e ouro, e utensílios de bronze e de ferro são consa-


grados ao Senhor: irão para o seu tesouro” (Josué 6:19)

Em plena concordância com as instruções recebidas prosseguiu o


povo na conquista de Jericó. Um homem, contudo, não gostou das “re-
gras”. Desejando o que pertencia a Deus, escondeu em sua tenda sem
“ninguém saber” uma barra de ouro e duzentas moedas de prata.

O dízimo lhe fora tomado, mas Acã se considerava em paz e se-


gurança, pois aquilo que ele retivera era algo cuja falta não incomodaria
ninguém.
AI
A segunda cidade a ser conquistada era uma aldeia, desafio tão
insignificante que para não fatigar o exército, enviou Josué apenas três
mil soldados. Só que aconteceu o imprevisível, um verdadeiro desastre:
os poucos homens de Ai puseram a correr os vitoriosos de Jericó,
derrotando Israel.

Que terá acontecido? indagaram atônitos os líderes do povo de


Deus. Por que desistira Deus de lutar ao seu lado? Aquela terra toda
não lhe tinha sido prometida? Sim, sem dúvida; mas não as primícias,
que pertencem exclusivamente a Deus.

“Israel pecou, e violaram a minha aliança, aquilo que lhes ordenara!”


(Josué 7:11).

Por que razão, afinal? Por causa de uma simples barra de ouro e
algumas moedas de prata? Castigo tão pesado por roubo tão leve? Só
que não foi pela quantidade que Israel foi punido, e sim pela violação
da lei da aliança, do dízimo, das primícias.

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Ai de quem faz ouvidos surdos ao que Deus ordena. As primícias
continuam sendo santas. O dízimo ainda é do Senhor. Que disse Paulo
aos romanos?

“E se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua


totalidade; se for santa a raiz, também os ramos o serão” (Romanos
11:16).

Para ser o todo abençoado por Deus, as primícias têm que ser
Suas. Sendo boa a raiz, o fruto é privilegiado. Quando o filho de Deus
é dizimista, sua vida é toda abençoada, pois as primícias Lhe foram
entregues, como Ele espera de Seus filhos.
GARANTIAS
Será que você, filho de Deus pela fé, entende a grandeza de sua
proteção pelo Pai Celestial? Terá você consciência da garantia que o
afasta do mal e confirma as bênçãos de Deus?

Entendendo, através da meditação anterior sobre coisas santas, o


significado precioso de “primícias”, você então passará a encarar sob um
novo prisma as palavras seguintes:

“Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias


dos que dormem... Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as
primícias; depois os que são de Cristo, na sua vinda” (I Coríntios
16:20, 23).

Jesus é “as primícias”. Deus já recebeu a Sua parte. O dízimo já foi


pago. Agora, toda a colheita é garantida, pois esta é a promessa.

Não é por sua própria santidade que você tem garantida a vida
eterna. Muito embora seja ela fundamental à vida cristã. Pois não é por
uma vida correta que se entra no céu, mas pelos méritos de Jesus Cristo,
as primícias.

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Tampouco são observações religiosas, sacramentos, vigílias,
jejuns, e mil outros

detalhes, bons e espirituais, que nos salvam da ira divina. E a Jesus,


unicamente, que devemos a segurança eterna que a fé nEle nos garante.
Ele pagou o preço. Ele satisfez a Deus. Ele é as primícias.

Apliquemos a verdade sobre as garantias espirituais provenientes


da nossa fé em Jesus, as primícias, a um outro assunto altamente
espiritual, ou seja o das bênçãos financeiras, garantidas por Deus a
quantos Lhe obedecem.

A razão de abundância em nossas vidas não se deve a mérito


pessoal algum, mas unicamente ao fato de havermos honrado a Deus
com as primícias — o nosso dízimo.

24
CAPÍTULO 6

ZAQUEU,
O PUBLICANO

“E ntrando em Jericó, atravessava Jesus a cidade. Eis que um


homem, chamado Zaqueu, maiorial dos publicanos, e rico,
procurava ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão,
por ser ele de pequena estatura. Então correndo adiante, subiu a um
sicômoro a fim de vê-lo, porque por ali havia de passar. Quando Jesus
chegou àquele lugar, olhando para cima, disse-lhe: Zaqueu, desce de-
pressa, pois me convém ficar hoje em tua casa. Ele desceu a toda a pressa
e o recebeu com alegria. Todos os que viram isto murmuravam, dizendo
que ele se hospedara com homem pecador. Entrementes, Zaqueu se le-
vantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos
meus bens; e, se nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro
vezes mais. Então Jesus lhe disse: Hoje houve salvação nesta casa, pois
que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio
buscar e salvar o perdido” (Lucas 19:1-10).

Esta história sobre Zaqueu é repleta de instruções para quem


deseja compreender o valor do dinheiro.

Três fatos narra Lucas a respeito de Zaqueu: que era rico, baixinho
(“de pequena estatura”) e publicano. Os publicanos eram judeus a serviço
do Império Romano: cobradores de impostos, o chamado “tributo”. Só
que, além das taxas exigidas pelos conquistadores, os publica- nos
inventaram outros impostos, roubando de maneira muito democrática
tanto ricos quanto pobres.

Os publicanos eram considerados traidores pelo povo judaico:


ladrões oficiais. Nas três vezes que Mateus os menciona em seu
25
Evangelho, eles estão sempre em companhia de prostitutas e pecadores.
Todo publicano, através de sua corrupção se tornava rico. Pois Zaqueu
era o “maioral dos publicanos”!
FISCAL HONESTO
Uma das mais estranhas cartas em minha vida foi a que recebi no
início de meu ministério no Rio de Janeiro. Assim escreveu aquele ho-
mem, hoje membro de nossa igreja: “Pastor, eu sou fiscal, e desejo ser um
fiscal honesto.” Não entendendo muito sobre o que era ser fiscal, mostrei
a carta a um colega, que me informou sobre a raridade de tal pedido.

Sem desejar de forma alguma ofender uma classe na qual, tenho


certeza, há homens íntegros, ainda assim não seria frivolidade minha
afirmar que, em vista de tantas oportunidades e tentações, a desonesti-
dade pode ser cilada fácil a uma pessoa que tem autoridade fiscal e lida
com dinheiro. Resistir à tentação é ato quase heróico, e não poucos são
os que caem, vítimas do seu poder destrutivo.
SOLIDÃO
Riqueza traz consigo uma triste e estranha solidão. Em quem pode
o rico depositar sua confiança? Quem, dos que procuram agradá-lo, não
se deixará mover senão por interesse? Que donzela rica não teme o
famoso “golpe do baú”? Sim, esta é uma verdade: dinheiro em abundância
geralmente afasta de seu possuidor amizades profundas e sinceras.

No caso de Zaqueu, sua solidão aumenta com o desprezo dos ro-


manos e o

abandono dos judeus o levou a buscar um encontro com aquele


homem sobre quem ouvira falar muitas coisas impressionantes. Terá
sido simples curiosidade o que induziu o publicano Zaqueu a expor-se
ao ridículo, a ponto de subir a uma árvore para ver Jesus? Duvido
muito. A realidade é que, apesar da fartura de sua vida, ele era um
homem profundamente carente.
26
O MESTRE
Para surpresa de todos, especialmente dos “religiosos” que nova-
mente encontraram oportunidade de acusar o Mestre de predileção por
pecadores, Jesus Se convida à casa de Zaqueu. Que imensa alegria deve
ter provocado no coração do publicano esta oferta graciosa! Posso
imaginar a festa requintada saída de uma cozinha e uma adega
excelentes para homenagear Aquele de quem nenhuma atenção havia
esperado.

Entretanto, quão típico é da conduta de Jeàus ver muito além das


aparências enganosas, para perceber uma necessidade oculta, ouvindo
o grito silencioso de um coração solitário!
O ENCONTRO
Nada sabemos da conversa entre Jesus e Zaqueu, ao redor da
mesa. Sobre que falaram? tributo, solidão, conquistadores? Lucas não
se interessou em revelar-nos os pormenores. Ele se confinou apenas à
declaração de Zaqueu: “Senhor, resolvo, dar aos pobres a metade dos meus bens;
e, se nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais”.

Podemos muito bem imaginar a reação dos presentes à mesa: os


escravos do publicano e os discípulos de Jesus. No curtíssimo espaço
de um jantar, Zaqueu se dispôs a ser um homem pobre. Depois de ofe-
recer a metade de seus bens aos pobres, ele ainda devolveria de maneira
quadruplicada o dinheiro ganho através de fraudes. Pouco lhe restaria,
pois o maioral dos publicanos não enriquecera por trabalho honesto.
A DECLARAÇÃO
Pela resposta de Jesus podemos perceber a profundidade da mudança
operada em Zaqueu. Fugindo à fórmula evangélica de pedir perdão, ele
foi mais longe ainda, dando prova de sua transformação espiritual

“Então Jesus lhe disse: Hoje houve salvação nesta casa, pois que também este

27
é filho de Abraão”.

Terá Jesus garantido a salvação a Zaqueu apenas por causa de sua


doação aos pobres e a devolução do dinheiro que ganhara desonesta-
mente? Isto sem dúvida fora confirmação do que já lhe acontecera no
íntimo, quando de seu encontro pessoal com Jesus.

Como eu já disse, a última coisa que o homem dá a Deus é a sua


carteira. Muito mais fácil é entregar a Jesus o coração do que o dinheiro.
Só que é impossível separar as duas coisas. A salvação abrange todos
os aspectos da vida, até mesmo a conta bancária.
O FIM DA HISTÓRIA
Não deve causar surpresa o fato de terminar esta narrativa com
uma das mais importantes afirmações de Jesus: “Porque o Filho do homem
veio buscar e salvar o perdido”.

Zaqueu era um homem perdido; não por ser rico, mas por não
haver ainda encontrado Jesus. O Mestre, porém, o buscou e o salvou.

Quando um homem é alcançado pela presença de Jesus, seja ele


auto-suficiente ou necessitado, ele é sempre transformado. E esta trans-
formação espiritual provoca sempre uma mudança em sua atitude com
relação ao dinheiro.

28
CAPÍTULO 7

RESTITUIÇÃO
Quando o publicano Zaqueu foi salvo, a primeira coisa que ele
fez foi planejar a restituição de tudo quanto havia defraudado.
Isto nos leva a uma importante e difícil pergunta: que fazer com o
passado? Como pôr em ordem uma vida complicada? Até que ponto
Deus exige restituição pelos erros do nosso passado?

E fundamental saber que a salvação de pecados é incondicional,


sem qualquer mérito de promessas, baseando-se exclusivamente na fé
no sacrifício de Jesus. Nem lhe passe pela mente que pelo fato de
acertar as contas com outros a salvação é outorgada. A restituição,
portanto, não é condição para a salvação.
QUEM NÃO PODE
Em muitos casos, restituição por erros e pecados do passado é
simplesmente impossível. Poderá porventura o assassino que
recebeujesus como Salvador devolver aquela vida que eliminou? Se a
salvação fosse condicional, estaria completamente fora do nosso
alcance.

Na preparação deste texto lembrei- me de um “delito” que cometi


há trinta e oito anos, quando garoto: o roubo de cinqüenta centavos de
uma pequena loja da vizinhança. O dono me havia pedido que dela
tomasse conta durante uma hora. Vislumbrando a moeda de prata
canadense, não resisti à tentação. Hoje, a lojinha não mais existe. Em
seu lugar há um edifício de apartamentos. O homem, àquela altura já
idoso, sem dúvida estará morto. Que posso eu então fazer para arejar
minha consciência? Nada! Neste caso, vale a intenção.

De outros pecados, mais graves ainda, não tenho como purificar-


29
me. Para eles, só o sangue de Jesus.

Portanto, não fique preocupado, você que em outro lugar, em


outra época, obedecia a impulsos pecaminosos, sem possibilidade
alguma de hoje voltar atrás e restituir, mudar o que fez ou simplesmente
desculpar-se. Saiba que não é desta restituição que depende o perdão
de seus pecados e a salvação eterna. Portanto, viva em paz, na nova
vida que Cristo lhe proporciona.
QUEM NÃO DEVE
Existem circunstâncias, embora mais raras, em que a restituição,
mesmo sendo possível, não deve ser feita. Refiro-me agora não apenas
ao assunto dinheiro, mas ao contexto geral de pecados do passado que
insistem em voltar à memória para perturbar.

Esta tem que ser a regra: a restituição não deve ser feita quando
ela irá ferir uma pessoa inocente. Usarei como exemplo uma situação
comum. Uma senhora feliz no casamento, ao aceitar Jesus como Salva-
dor sente desejo de contar a seu marido os deslizes cometidos quando
solteira, ou durante o período anterior à sua salvação, mesmo casada.
Tal atitude impensada só poderá provocar resultados negativos, senão
desastrosos.

Ao “aliviar” a sua consciência (desnecessariamente, pois Jesus já


lhe deu o perdão completo), aquela senhora irá despertar suspeitas no
seu marido, sobretudo se ele não for ainda salvo pela Graça de Deus.
Este tipo de “restituição” é um erro e só pode redundar em tristeza.
QUEM DEVE
Zaqueu estava vivendo com o dinheiro que roubara quando ainda
publicano. Era do conhecimento de todos sua “fonte de renda”. Se não
fosse aquela restituição, dificilmente seu testemunho de seguidor de Je-
sus teria recebido crédito. Ele com aquela atitude não estava “pagando
seus pecados”, mas apenas devolvendo um lucro ilícito a quem defraudara.
30
Quantas não são as pessoas que perpetuam o seu pecado, mesmo
após a salvação, por causa da falta de restituição! Vivem com o lucro
ilícito. Continuam a gozar de benefícios aos quais não têm direito. Será
tal conduta digna de um servo do Senhor?

Deus pede de Seu filho uma restituição possível, disto não deve
haver a menor dúvida. Não como preço, mas como testemunho de sua
salvação.

31
CAPÍTULO 8

NEGOCIAR
COM DEUS

U m dos erros mais comuns, praticados pelo ser humano, é


ignorar a natureza de Deus, tratando-O como se fosse um
homem. Esta ignorância o leva ao ridículo de tentar “fazer negócios” com
Deus, oferecendo obediência em troca de bênçãos; fazendo votos em
troca de orações respondidas. Este é um hábito comum entre pessoas
que não foram instruídas na Bíblia, e vivem um Cristianismo folclórico,
não autêntico.
CORRETOR
Lembro-me de uma senhora que veio ao meu gabinete pastoral
pedir oração pela venda de um apartamento, prometendo entregar a
Deus dez por cento do preço líquido (após as despesas), caso Ele a
ajudasse!

Por pouco não perdi a calma e lhe respondi: “Minha senhora, o Cri-
ador do Universo não é um corretor de imóveis, capaz de interessar-se por este seu
bom negócio. Ele não precisa da comissão desta venda, nem tampouco de qualquer
outra coisa que possa oferecer-Lhe!”

Que teria acontecido ao fiscal Zaqueu, se houvesse proposto a


Jesus um bom negócio, em termos mais ou menos como estes: “Bem,
Mestre, eu sei que podes darme paz de espírito e perdão de todos os meus pecados.
E estou disposto a pagar um bom preço por minha salvação. Que tal vinte por cento
de todos os meus bens para os pobres, e a restituição em dobro de tudo quanto
roubei?”

Pela narrativa encontrada em Lucas 19:1-10, percebemos logo que

32
nada disto aconteceu. Zaqueu de nenhum modo procurou subornar a
Deus com alguma promessa extravagante, com o fim de “operar” a
salvação. Pelo contrário, ele se prontificou a abrir mão do lucro
desonesto sem nem ao menos ter ouvido as palavras de perdão que
Jesus pronunciou.
SIMÃO
Tentar comprar as bênçãos de Deus não é fato incomum. Esta
loucura vem de longa data. Em Atos, capítulo oito, registra-se uma “boa
oferta”. Em meio a uma campanha evangelística, quando muitas

pessoas estavam sendo salvas de seus pecados, curadas de suas


enfermidades e batizadas no Espírito Santo, um tal de Simão observou
que os dons de Deus operavam pela imposição das mãos dos apóstolos
Pedro e João. Desejoso de possuir este poder, Simão lhes ofereceu
dinheiro para que lhe fosse outorgado o poder do Espírito. Em
linguagem pouco gentil, Pedro respondeu:

“...O teu dinheiro seja contido para perdição, pois julgaste adquirir por
meio dele o dom de Deus” (Atos 8:20).

Nada, absolutamente nada pode o homem oferecer a Deus para


merecer as Suas bênçãos, senão humildade, fé e obediência à Sua
Palavra.
FASCINAÇÃO
Eis o problema de Simão: uma mudança de valores no seu
coração, descrita na Bíblia como a “fascinação de riquezas” (Mateus,
13:22). O homem passa a acreditar que, ao lhe ser garantido o dinheiro,
nada mais lhe faz falta. A própria vida tende a confirmar esta idéia.
Poucas são as pessoas que não fazem obséquios ao homem rico.

E justamente por isso que se torna difícil ao rico entrar no Reino


de Deus. Pois ele não está habituado a pedir, e sim a comprar. Sendo

33
todas as suas necessidades e caprichos satisfeitos pelo poder de seu
dinheiro, ele nada pede a Deus, pois de nada precisa.

Não se trata de desprezar o rico. A história de Zaqueu prova


exatamente o contrário. O Senhor está cheio de bondade, compaixão e
perdão para todos quantos clamam por Sua graça. Não é aí que está o
problema.

34
CAPÍTULO 9

O DEUS CHAMADO
DINHEIRO

D inheiro foi inventado pelo homem como método racional


de negociar. Cada governo estampa moedas ou imprime cé-
dulas, dando-lhes um valor estipulado, por meio das quais móveis e
imóveis podem passar a pertencer a quem as possuir em número sufi-
ciente.

Até aí nada de errado existe. Só que dinheiro não é neutro. Pelo


poder que ele transfere a seu dono, e o mal que em sua aquisição inspira,
a Bíblia o define como um ídolo, um “senhor”, um espírito; enfim, um
deus.

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de


um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não
podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24).

Quero que você preste bastante atenção às palavras usadas por


Jesus para definir o relacionamento entre o homem e as riquezas:

1) Servir
2) Amar
3) Devotar-se

É necessário lembrar, ao ler este versículo, que o assunto em con-


sideração é dinheiro, e não um personagem qualquer que pode ser ser-
vido e amado, e ao qual se deva prestar devoção. Porque os “dois senho-
res” que pedem o nosso amor e a nossa lealdade são justamente estes:
Deus e o dinheiro.

35
Eis a razão por que dinheiro exerce tamanho poder sobre a vida
do ser humano. Ele não é simplesmente um veículo de câmbio. Ele é
um deus que exige culto; uma entidade que é passível de ser amada.

Jesus, de modo muito claro ensina que as pessoas que amam o


dinheiro se aborrecem do Senhor Deus. Porque este dois amores não
combinam; eles são antagônicos. Não podem existir juntos no mesmo
coração. Assim como Jesus ensinou ser impossível beber do cálice do
Senhor e do cálice dos demônios, ou sentar à Mesa do Senhor e à mesa
dos demônios, da mesma forma é impossível servir àqueles dois senho-
res: Deus e dinheiro.

Quem ama verdadeiramente muda o seu senso de valores, em har-


monia com o objeto de seu amor. A pessoa que ama outra tudo faz para
torná-la feliz, mesmo que tenha que pagar um alto preço. A medida do
amor é a mesma do sacrifício.

Portanto, o crente que ama o dinheiro vive em permanente


conflito. Ao pedir- lhe Deus o dízimo de sua renda, o amante do
dinheiro inventa mil razões “justas” para não pagar o que pertence ao
Senhor. Pois seu amor do dinheiro está acima das exigências do
Evangelho. Aos domingos ele “serve” a Deus com sua presença nos
cultos, mas durante a semana ele se dedica a um outro “senhor”. Quanto
às ofertas que fazem parte de nossa devoção ao Senhor, daquela
generosidade inata no filho de Deus, o “crente domingueiro” não participa,
pois seu amor está dirigido a um outro senhor.
AMOR MAIOR
Como mudar esta situação? Somente, exclusivamente, pelo poder
de um amor maior. Quem ama a Deus de todo o seu coração, de toda
a sua alma e espírito, ama-O também com o seu dinheiro. Ele não faz
aquela separação do ganancioso, que dá a Deus a sua alma, mas guarda
o resto para si.

36
Basta pensar em algumas pessoas que você conhece, que
desistiram de entrar na Igreja de Jesus Cristo por causa de um apelo que
as ofendeu, ou por se recusarem a pagar o dízimo, ou por discordarem
da administração da igreja. Tudo desculpa evidente de quem ama tanto
o dinheiro que admite até mesmo perder a vida eterna, mas nunca
perder o controle de suas finanças. Se isto não é adorar o deus chamado
dinheiro, então qual a explicação?

No decorrer de uma série de mensagens a este respeito, lembro-


me de uma senhora que veio a mim expressar sua gratidão, dizendo:
“Hoje, Bispo, paguei o primeiro dízimo de minha vida, e estou tão alegre!” Como
alegrar-se ao dar dinheiro à Igreja? Quem perguntar não deve saber o
que é sentir o seu amor despertado pelo Senhor.

Rejeitando as doces palavras do amante chamado dinheiro, aquela


irmã se devotou a Deus, demonstrando através de um ato de obediência
o quanto O amava.

37
CAPÍTULO 10

UM ESPÍRITO
COMERCIAL

D inheiro é um espírito; um deus que exige devoção. Conheci


três homens (e possivelmente um quarto), que não obstante
gozarem de saúde perfeita morreram prematuramente, todos eles
sofrendo de uma grave doença espiritual: o excessivo amor ao dinheiro.

É com o coração pesaroso, e com muita humildade que escrevo


estas palavras, pois dois desses homens eram meus amigos. É em con-
seqüência destas experiências que desejo ilustrar uma das grandes
verdades bíblicas: o amor do dinheiro é perigo mortal.
UMA VISÃO
Foi durante três horas de uma visão rara e singela, sobre a qual
pouco tenho falado, e cujos pormenores não vem ao caso narrar, que
um fato curioso me foi revelado: um colega meu estava possuído de um
“espírito comercial”. Assim, sobre o perigo que ele corria, eu deveria
informá-lo. Não só por não entender o significado do recado, como
por não desejar quebrar a regra que sempre me impus de não intrometer
na vida de outras pessoas, cheguei à conclusão de que, se Deus o
quisesse alcançar poderia perfeitamente fazê-lo, sem que fosse preciso
eu intervir.

Fiz menção à minha esposa, Gloria, da palavra sobre “espírito


comercial”. Passados vários meses, ela perguntou-me se não estava
levando a sério a visão, e quando iria visitar o meu colega.
Impressionado, embora sem grande entusiasmo com a incumbência,
tomei emprestado dinheiro para uma passagem à Europa, onde pre-
tendia ficar apenas um dia, tempo suficiente para me libertar do peso
38
daquela estranha visão, com seu recado mais estranho ainda.

Ao chegar, falei ao meu amigo o dia todo sobre muitas coisas, mas
nem de leve toquei no assunto que fora a razão de deslocar-me milhares
de quilômetros da minha casa. Finalmente, ele indagou a razão de
minha visita tão inesperada. Foi aí que lhe contei os pormenores da
estranha visão que tivera no quarto de hospital onde me recuperava de
uma operação do coração. Terminei por revelar-lhe as palavras que me
haviam sido transmitidas pelo mensageiro do Senhor: que ele estava em
perigo de vida por ser possuído por um espírito comercial.
PROMESSAS
Naquele momento, ele começou a tremer e a chorar. Ao
recompor-se, confessou-me muitas coisas sobre seus envolvi^ mentos
financeiros, cuja narrativa não vem ao caso aqui revelar. O que muito
me surpreendeu foram suas promessas de uma mudança que o levaria
a remediar o problema. Afirmei-lhe que o assunto já não era mais
comigo, e sim com o Espírito do Senhor, visto ser eu um simples
mensageiro.

Jamais me esquecerei da explicação dé meu colega à minha


pergunta: Que é, afinal, um espírito comercial? Nunca havia lido nada
a este respeito, nem na Bíblia nem em outro lugar qualquer. Ele, porém,
conhecia muito bem o seu significado, por isso ficou apavorado com a
gravidade de seus atos.

No dia seguinte regressei ao Brasil. Meses depois, numa


convenção evangélica internacional, encontrei-me com meu amigo.
Abrindo a conversa com desculpas por não lhe haver sido ainda possí-
vel libertar-se de seus compromissos financeiros, renovou as promessas
de o fazer tão logo lhe fosse possível. Voltei então a insistir que a ex-
plicação não devia ser dirigida a mim, pois havendo dado conta do re-

39
cado, o assunto fora esquecido. A Deus, sim, é que tinha que ser apre-
sentada qualquer explicação.

A próxima e última vez que vi meu amigo foi quando fui chamado
para realizar seu sepultamento. Quinze dias após deixar uma clínica,
onde fizera um “checkup” completo, recebendo como resultado o “nada
consta”, ou seja saúde perfeita, morreu ele repentinamente, em resultado
de uma estranha infecção orgânica que desafiou os melhores médicos
da cidade européia onde residia.

Tendo consequentemente me envolvido em sua vida particular e


ministerial, vim a descobrir o que significava ser possuído por um “es-
pírito comercial”, como também o sentido vivo e evidente da declaração
bíblica: “O amor do dinheiro é a raiz de todo mal”.

De tal maneira está ainda aberta a ferida desta experiência, como


por outro lado de tal forma me preocupa melindrar pessoas inocentes,
que me recuso a entrar em pormenores.

Por idênticas razões um outro caso, este ainda mais íntimo, envol-
vendo um grande amigo brasileiro, terá que ficar no esqueci-mento.

Comecei a relatar estes fatos dizendo que o faço “com humildade”.


Quero agora explicar a razão. Primeiro, não é em tom de crítica aos
homens que caíram vítimas da sedução do dinheiro que escrevo estas
palavras, mas com profunda tristeza. Por outro lado, consciente de mi-
nhas próprias imperfeições, não estou nem de leve sugerindo ser me-
lhor que eles. A Bíblia nos adverte que o que está de pé tenha cuidado
para não cair, queda esta sempre provocada pelo orgulho.

Se lhe parece demasiada tanta explicação, saiba que lutei muito


antes de contar esta narrativa. Mas como provar na realidade da vida a
veracidade de uma afirmação bíblica, que tantos consideram exagero?
Pois saiba que a Palavra de Deus é fiel quando afirma: “Porque o amor do
40
dinheiro é raiz de todos os males” (I Timóteo 6:10).

A pessoa que se entrega ao amor do dinheiro corre risco de vida.


Ela é possuída por um espírito comercial.
MISTURA DE CULTO
Uma prática que a Deus aborrece demais é a mistura de cultos.
Aos Coríntios Paulo explicou o problema:

“Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis
ser participantes da Mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou pro-
vocaremos zelos no Senhor” (I Colossenses 10:21, 22).

Deus é Deus ciumento. Muitos erros Ele suporta, esperando arre-


pendimento e mudança de coração por parte de quem pratica coisas
indignas de uma vida espiritual. Amar o dinheiro é pecado na vida de
quem diz servir a Deus. Volto, pois, a repetir as palavras de Jesus, forte
advertência a quem ama o dinheiro:

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de


um e amar o outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não
podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24).

Era isto, precisamente, que meu amigo tentava fazer. Embora


salvo pelo sangue de jesus, e pregador das verdades do Evangelho, seu
amor do dinheiro o condenou. Deus agüentou por muitos anos o Seu
filho, e ainda o avisou do perigo que corria. Mas infelizmente, esse amor
era forte demais. Ele estava nas mãos de um espírito; adorando um deus
estranho chamado “riquezas”.

Isto, Deus não admite.

41
CAPÍTULO 11

AMOR
PROIBIDO

U ma das afirmações mais ousadas e radicais, em toda a Bíblia,


é esta que Paulo escreveu a seu filho na fé, Timóteo: “Porque
o amor do dinheiro é raiz de todos os males” (I Timóteo, 6:10). Pecado algum,
por mais horrível que seja, é definido como fonte de todos os males,
como é o amor do dinheiro, que fez com que “alguns, nessa cobiça, se
desviaram da fé, e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (a última parte
do versículo supracitado em I Timóteo 6:10).

Aliás, desde o primeiro versículo deste capítulo, Paulo adverte Ti-


móteo sobre a cilada e “muitas concupiscências insensatas e perniciosas”, às
quais induz o dinheiro, levando muitos à ruína e perdição.

Será que dinheiro pode mesmo levar a tudo isso? Sim, e mais
ainda. Saiba, porém, que o pecado relacionado a esta maldição não é a
posse do dinheiro, e sim o amor do dinheiro. Este, sim, é o amor proibido.
O CASAL INFELIZ
Em meio a narrativas sobre curas milagrosas, campanhas de sal-
vação e expansão gloriosa da Igreja, inclui Lucas nos Atos dos Apósto-
los a história de Ananias e Safira, casal de crentes muito infeliz.

Naqueles dias, para evitar o sofrimento provocado pela persegui-


ção dos membros da nova Igreja, por parte dos fariseus, os seguidores
de Jesus resolveram vender suas propriedades. Levando o dinheiro aos
apóstolos, passaram todos a viver de uma bolsa comum. Entre os que
concordaram com este plano estavam Ananias e Safira.

42
Ao venderem eles uma propriedade, entregaram a Pedro apenas
uma parte do dinheiro. Veja o que se segue:

“Então disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração,
para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do
campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não es-
taria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio?
Não mentiste aos homens, mas a Deus. Ouvindo estas palavras, Ana-
nias caiu e expirou, sobrevindo grande temor a todos os ouvintes” (Atos
5:3-5).

Em seguida a isto, entrou Safira na

Igreja e o mesmo que sucedera a Ananias sucedeu a ela. Tudo


resultado de porem os olhos sobre uma miserável importância. O que
nos leva a perguntar: Será que Deus toma tão a sério o que fazemos
com nosso dinheiro? Pois vejamos agora as conse- qüências do
lamentável erro praticado pelo casal:

1) Satanás encheu o seu coração


2) Mentiram ao Espírito Santo
3) Cooperaram para tentar o Espírito Santo

Que pecado mortal foi aquele? Terá sido o fato de tentarem


enganar os apóstolos e demais membros da Igreja? Não deu Pedro a
entender que o terreno, bem como o dinheiro de sua venda pertenciam
ao casal, que sendo seus donos poderiam dele dispor como bem
entendessem?

Seu pecado, de conseqüências extremamente trágicas, foi


simplesmente amarem o dinheiro mais do que a Deus. Tão logo
imaginaram “no seu coração este desígnio”, nele entrou rapidamente Satanás.
Fácil foi, então, àqueles crentes, mentir ao Espírito Santo, pois o amor
do dinheiro é raiz de todos os males.
43
Quantas e quantas pessoas não seguem ainda hoje esta mesma
inclinação, optando por amar as coisas que o dinheiro lhes pode dar, e
esquecendo-se de obedecer ao mandamento de amarem a Deus!
O PRINCÍPIO
Vivendo debaixo de certos princípios que nos guiam em todas as
circunstâncias, torna-se desnecessária a grande maioria das escolhas e
decisões. Dou-lhe um exemplo.

O homem cujo princípio básico é satisfação pessoal, já tomou


grande parte das decisões em sua vida. Se, por exemplo, apostar nos
cavalos lhe traz prazer, pouco se lhe dá que os filhos passem fome, que
o prazer seja fruto de um roubo, ou que a esposa se desespere. Tudo
quanto lhe interessa é a emoção de ver seu cavalo cruzar a linha de
chegada em primeiro lugar. Para satisfazer esta emoção, não haverá
nunca para ele preço demasiado alto.

Conheço pessoas cujo alvo na vida é ganhar dinheiro. Não lhes


importa que esse dinheiro seja alcançado através de truques e artima-
nhas, que seja desonesto ou lhes custe amizades ou respeito. Pois a
única coisa que lhes dá realmente prazer é tirar vantagem nos negócios.
Por este alvo singular elas são capazes de abrir mão de família, amigos,
reputação, descanso, saúde e conforto. Até Deus é apenas “suportado”,
mesmo assim, enquanto Ele não toca em sua bolsa.

Só que o problema não para aí. O amor do dinheiro é causa de


toda sorte de maldade. Mais do que um insaciável, o ganancioso é um
praticante de males “insensatos e perniciosos” que eventualmente o levarão
à ruína e à perdição. Desta lei pessoa alguma escapa. Pois o amor do
dinheiro é proibido. E quem ama o dinheiro já está condenado.

44
CAPÍTULO 12

UM VOTO

U m dos versículos mais expressivos do Novo Testamento, re-


lativo a dinheiro, está na terceira epístola de João. Escre-
vendo a seu grande amigo, o presbítero Gaio, ele diz:

“Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim
como é próspera a tua alma” (III Jo. 1.2)

Estas poucas palavras contêm muito mais do que uma simples


saudação. Elas refletem o desejo, por parte de um dos apóstolos do
Senhor, com respeito ao bem-estar de outro membro do Corpo de
Cristo, desejo este que inclui dois aspectos importantíssimos da vida de
cada um, ou sejam, financeiro e físico. João desejava a Gaio prosperi-
dade e saúde.
A ALMA
O critério deste voto é a prosperidade da alma, privilégio do qual
Gaio usufruía Aquele servo do Senhor a quem João endereçou esta
carta teve, obviamente, uma vida espiritual de alto gabarito, caso con-
trário o apóstolo não a teria usado como termo de comparação. A abun-
dância de sua vida espiritual foi a regra pela qual João mediu seu “voto”
de abundância financeira e física.

Nota-se que este versículo não contém uma garantia, mas um voto
apenas. Não temos o direito de obrigar estas palavras a expressarem
mais do que o desejo ardente que elas próprias representam. A expres-
são “acima de tudo” enfatiza a dimensão do voto. Acima de tudo, ou seja
antes de qualquer outra coisa, o que traduz absoluta prioridade. Vemos
que este voto não traduzia um sentimento passageiro, mas era algo es-
pecialmente acentuado. João zelava no espírito para que Gaio prospe-
45
rasse e tivesse saúde em abundância.
HÁ BASE BÍBLICA?
Cabe agora perguntar se este foi um voto alheio à filosofia do
Novo Testamento; palavra meramente pessoal expressa numa simples
carta comum, ou representativa de uma mentalidade corrente entre o
povo de Deus? Examinemos as Escrituras para encontrar a resposta.

Quero antes lembrar que não é alvo do Evangelho tornar


milionários todos os membros da Igreja. Garantia alguma de riqueza
nos dá a Bíblia. Pelo contrário, nela a riqueza é encarada como um grave
perigo, um deus que exige culto e devoção. O que a Bíblia menciona, e
muito, é prosperidade: Isto, sim é coisa muito mais desejável que
riquezas, pois ao invés de prejudicar a vida, é ela garantia de segurança
e tranqüilidade.

Todos ouvimos falar de pessoas que através da loteria esportiva


enriqueceram da noite para o dia, caindo rapidamente na ruína por não
terem estrutura capaz de suportar o violento fluxo repentino de
dinheiro; escorregando para uma pobreza pior que a anterior. Tais
pessoas adquiriram riqueza, não prosperidade. Está no plano de Deus
a nossa prosperidade. Pois o que Ele está operando em nós, através de
todas as experiências da vida, é a formação do nosso caráter. Portanto,
mesmo desejando o nosso bem-estar em todos os sentidos, Ele não
impõe sobre Seus filhos nem saúde nem espiritualidade, tampouco
prosperidade. O que Ele almeja é que tenhamos uma vida espiritual
suficientemente forte para que possamos suportar o peso que o
dinheiro impõe sobre os que o possuem. Nos capítulos seguintes
referir-me-ei a três exemplos bíblicos, através dos quais tento demons-
trar a maneira pela qual Deus prepara Seu povo a usufruir daquela pros-
peridade que deve ser inerente à sua vida. Neles você encontrará o se-
gredo desta prosperidade.

46
CAPÍTULO 13

O DEVORADOR

P rosperidade é conseqüência de algo que Deus pede de Seu


povo. É resultado de obediência às leis que governam a vida
de quem ama a Deus.

Apesar de em outra altura falar sobre este assunto, tenho que fazer
referência aqui ao dízimo, pois este fator tem muito a ver com a nossa
prosperidade. Eis o que Deus falou a Israel:

“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento


na minha casa, e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não
vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós bênçãos sem medi-
da” (Malaquias 3:10).

Israel foi acusado por Deus de ser ladrão. Confuso, o povo


escolhido indagou: “Em que te roubamos?” E Deus respondeu: “Nos
dízimos e nas ofertas”. O Senhor queria abençoar o Seu povo, mas ficou
impossibilitado de assim agir porque Israel se recusou a colaborar neste
Seu propósito.
“AS JANELAS DO CÉU”
Em outra ocasião, apenas, foi esta expressão usada na Bíblia: du-
rante o grande dilúvio. Tão copiosa foi a chuva, tão abundante o derra-
mamento de água, que a terra foi incapaz de absorvê-la.

Foi assim que passaram “as janelas do céu” a representar a própria


abundância, promessa feita por Deus a Israel como resultado de sua
fidelidade nos dízimos e nas ofertas.

Além do mais, Deus pediu que Seu povo O pusesse à prova. Ele
estava como que dizendo a Israel: Vocês não têm que simplesmente
47
aceitar a Minha palavra, pois desejo provar Minha intenção de abençoá-
los, caso me obedeçam. “Provai-me”, disse Deus. Que convite singular
fez Ele a Seu povo.
OS DEVORADORES
Juntamente com os dízimos e ofertas pedidos a Israel, veio tam-
bém uma grandiosa promessa. Eis os termos do acordo: “Por vossa causa
repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vida
no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. Todas as nações vos chamarão
felizes, porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos”
(Malaquias 3:11, 12).

Não pense um minuto sequer que as “bênçãos sem medida” se


referem exclusivamente a bênçãos de natureza espiritual, muito embora
sejam elas um subproduto da obediência. Deus falou sobre a
repreensão ao “devorador”. Eis aqui o fator milagroso nas finanças de
quem honra a Deus pelo uso correto e bíblico de seu dinheiro. Quantas
e quantas pessoas não estão sendo “devoradas” porque não gozam de
nenhuma proteção por parte do Senhor no setor financeiro de suas
vidas.

No domingo em que preguei esta mensagem, um homem,


encontrando-me à saída do templo, confessou-me que jamais pagava o
dízimo a Deus, e embora fosse pessoa de posses, vivia sempre em
terrível tensão, devido a negócios sempre embrulhados. Crente em
Cristo, ele não gozava de prosperidade, pois o devorador lhe estava
roubando de justo lucro, bem como sua paz de espírito. Aquele irmão,
elegantemente vestido e aparentemente “bem de vida”, não tinha
prosperidade, apenas dinheiro que lhe acarretava constantes problemas.
Tudo por desrespeitar as regras bíblicas sobre dinheiro. Veja o que
Deus prometeu a Israel: “As nações vos chamarão felizes!’ Sereis uma terra
deleitosa”. Exatamente isto: prosperidade e felicidade! Mas somente se
honrarmos a Deus com as primícias, e se formos generosos nas ofertas.
48
CAPÍTULO 14

GENEROSIDADE

O apóstolo João escreveu ao seu amigo Gaio o seguinte:


“Amado, acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde”.
Examinemos agora as palavras de Jesus neste sentido. Porque é evi-
dente, para quem estuda a Bíblia, que Deus deseja a prosperidade dos
que O amam.

Lucas cita uma das leis do Reino de Deus, que Jesus ensinava:

“Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante,


generosamente vos darão; porque com a medida que tiverdes medido vos
medirão também” (Lucas 6:38).
CONDICIONAL
Podemos observar que a repreensão ao devorador, prometida por
Deus a Israel, aconteceu em conseqüência de sua obediência à lei do
dízimo de toda a sua renda, e às ofertas. Promessa que era condicional.
Como igualmente condicional é a promessa de Jesus registrada em Lu-
cas 6:38.

Este versículo começa com a palavra “Dai”. Novamente temos


que lembrar que Deus não impõe prosperidade sobre ninguém. Através
de promessas condicionais, Ele cria um caráter cristão que não pres-
cinde nunca dos aspectos obediência e generosidade.
QUEM DARÁ?
Mesmo dirigindo-se ao povo, Deus prometeu o retorno da oferta
em termo plural, dizendo: “generosamente vos darão”. A quem Se estava
Ele referindo com estas palavras expressas num plural indeterminado:
“Porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também”? A resposta

49
é que a recompensa não vem diretamente das mãos do Senhor, mas
através de outros. Eis aí o fator milagroso nas finanças de quem obedece
ao convite de Jesus a “dar”.

Lembro o recente caso de uma jovem que deixou o seu emprego


sabendo que receberia seu fundo de garantia apenas transcorridos doze
meses de sua saída da companhia. Durante os dois meses em que vinha
freqüentando a nossa igreja, mesmo apertada e recebendo um salário
bem menor do que anterior, ela costumava pagar o dízimo e também
dar uma oferta de seu novo ordenado. Qual não foi sua surpresa
quando no terceiro mês de sua saída do antigo emprego recebeu ela um
cheque no valor total de seu fundo de garantia. Pois ela não tinha o
menor direito àquele pagamento antecipado, que deveria ocorrer nove
meses mais tarde. O que aconteceu foi que o Senhor simplesmente
provocou o mal funcionamento do computador que controlava a
devolução do dinheiro. Creio firmemente neste fato, pois conheço o
caso pessoalmente. A jovem é minha filha, Ana.

O que acontece na vida de quem é generoso para com Deus não


pode ser explicado normalmente. O fato é que o dinheiro aparece.
Contas a receber, esquecidas, chegam. Pequenos investimentos dão
certo. E muitas outras maravilhas que desafiam a imaginação. Parece
que há “alguém” vigiando para garantir a abundância, a prosperidade. E
na verdade há! O Senhor é fiel à Sua palavra.
A PROPORÇÃO
Veja comigo a qualidade desta prosperidade que Jesus afirmou ser
“...com a mesma medida, boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, genero-
samente.” Jesus não estava voando através de linguagem poética, amon-
toando adjetivos para enfeitar a promessa. Não: eles representam uma
realidade, proporcional àquilo que a pessoa dá ao Senhor.

50
As bênçãos financeiras que Deus promete ao povo que Lhe obe-
dece são com juros e correção monetária! Note, porém, que esta abun-
dância não é automática. A prosperidade é resultado de iniciativa por
parte de quem deseja agradar a Deus fazendo uso correto e bíblico de
seu dinheiro.

51
CAPÍTULO 15

PROSPERIDADE

U ma das narrativas do Velho Testamento ilustra perfei-


tamente a diferença entre riqueza e prosperidade, desejo de
Deus para todo o Seu povo. Nada melhor que o texto referente a Elias
e à viúva de Sarepta para demonstrar esta verdade:

“Indo ela a buscá-la (água), ele (Elias) a chamou e lhe disse: Traz-me
também um bocado de pão na tua mão. Porém ela respondeu: Tão certo
como vive o Senhor teu Deus, nada tenho cozido; há somente um pu-
nhado de farinha numa panela, e um pouco de azeite numa botija; e vês
aqui, apanhei dois cavacos, e vou prepará-lo para mim e para o meu
filho; comê-lo-emos, e morreremos” (I Reis 17:11, 12).

Posso imaginar a vizinhança da viúva murmurando ao ouvir este


diálogo: “Este profeta deve ser mesmo um-homem mau! Imagine só o que está
pedindo da pobre mulher — o último do pouco que lhe resta. Isto é bem típico destes
profetas!”

Pensando bem, aquele foi mesmo um pedido bastante estranho.


Em meio à fome geral, contudo, destinados mãe e filho a morrer, uma
refeição a mais ou a menos não faria grande diferença. Já dissera a viúva
que mesmo comendo o que lhes restava, ela e o filho iriam morrer.
Embora já representasse alguma coisa um dia a mais em sua vida, se
não fosse surpreendida com aquele extravagante pedido do homem de
Deus.
INFORMAÇÃO DESCONHECIDA
Um dia veio ter à nossa igreja uma senhora velha, humildemente
vestida, trazendo uma oferta de cinqüenta cruzeiros. Cercada de
pessoas bem vestidas, ela estava ali para entregar a sua oferta. Talvez
52
fosse o caso de dizer-lhe: “Minha senhora, acho que a senhora precisa muito
mais deste dinheiro do que a igreja. Por que não fica com ele?” Mas não disse
nada disto, porque — como o profeta Elias — sei de certas coisas que
muita gente não sabe. Eis a explicação do profeta:

“Elias lhe disse: Não temas; vai, e faze o que disseste; mas primeiro
faze dele para mim um bolo pequeno, e traze- mo aqui fora; depois farás
para ti

mesma e para teu filho. Porque assim diz o Senhor Deus de Israel: A
farinha da tua panela não se acabará, e o azeite da tua botija não
faltará, até ao dia em que o Senhor fará chover sobre a terra” (I Reis
17:13, 14).

Ficou rica aquela viúva por obedecer ao profeta? Absolutamente.


Ela ficou próspera. Durante a fome provocada pela seca, quando a terra
não produzia fruto, verdura ou cereal, a panela da viúva foi uma fonte
inesgotável de farinha, e a botija fonte inesgotável de azeite. Nunca mais
passou ela necessidade. Ela se tornou próspera.
ONDE A RECOMPENSA?
Há pessoas bastante zangadas ou decepcionadas com Deus, pois
sendo dizi- mistas ainda não se tornaram ricas. Como puderam esperar
tal coisa? Porventura garante Deus que seremos ricos ou milionários?
Nunca! O que Ele promete é prosperidade, coisa bem diferente. E
ausência de necessidade. E provisão milagrosa de tudo quanto se
precisa para viver.

Constituem verdadeiro insulto à inteligência do povo e ofensa a


Deus as artimanhas das quais se valem alguns ministros do Evangelho
para inspirar as ofertas do povo, prometendo-lhe “mundos e fundos” em
troca de oferta generosa. Jamais me senti tão envergonhado como em

53
certa ocasião, quando um evangelista, visitando a nossa igreja, se pron-
tificou a “abençoar as carteiras” de quem participasse de determinada
oferta. Queria sumir, de tanta humilhação que senti. Nada disse para
não embaraçar o colega, ou criar-lhe uma situação difícil.

Não poderia jamais violar dessa maneira os ensinamentos bíblicos.


O que presenciamos hoje dentro das igrejas de venda de “coisas abençoa-
das”, dá para assustar. Os saqueadores modernos teriam que ser expul-
sos do Templo do Senhor, pois Sua Casa é tão-somente Casa de oração.

Por outro lado é perfeitamente bíblico pedir de todos o dízimo


que pertence ao Senhor, bem como oferta proporcional à posse de cada
um. A esmola da viúva foi elogiada por Jesus, que não menosprezou
por seu sacrifício.

Se você deseja garantir o seu futuro financeiro, pague seu dízimo.


Dê também ao Senhor ofertas de amor. Mesmo estando em situação
crítica, como a viúva de Sarepta. Obedeça ao Senhor. Saiba que Ele está
pondo à prova quem Ele ama, que está desejoso de lhe garantir aquela
prosperidade que foge a explicações e desafia o entendimento.

54
CAPÍTULO 16

COBIÇA

D efinição: COBIÇA: “Desejo sôfrego, veemente, de possuir bens ma-


teriais; avidez, cupidez. 2. Ambição desmedida de riquezas.” —
Novo Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira.
O MANDAMENTO ESQUECIDO
O décimo mandamento, o mais minuciosamente explicado entre
todos, tem sido chamado “o mandamento esquecido”, embora repetido duas
vezes no Novo Testamento, em Romanos 7:7 e 13:9.

“Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu


próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu
jumento, nem cousa alguma que pertence ao teu próximo” (Êxodo
20:17).

A razão de cair no olvido este mandamento é que ele não deixa


claramente transparecer o tom nocivo de idolatria, adultério ou
homicídio. Referindo-se ele a um pecado não visível, inerente ao
coração e ao espírito, torna-se mais fácil de disfarçar e ocultar, não
obstante seja ele em nada menos destrutivo que os demais manda-
mentos, quando violados.
VER É DESEJAR
Um colega meu disse que nunca vai a um centro comercial apenas
para olhar a mercadoria. Nem perde seu tempo passeando a contemplar
vitrines de lojas. Sua explicação foi esta: Sempre vejo coisas que não me
fazem falta e que acabo comprando. Portanto, antes de sair de casa para
ir a um desses lugares, estou sempre convencido do artigo de que
preciso. Vou, faço a compra, e venho embora, sem “encher meus olhos”

55
de outras coisas.

Toda a propaganda na televisão é inspirada na cobiça do coração,


que sempre começa nos olhos. O velho ditado “ver é crer” deveria ser
“ver é comprar”! Há uma ciência de tal modo sutil e caprichada no decorar
de uma vitrina, que o espectador olha e não tem forças para resistir. Ele
para “só para dar uma olhada”, entra “só para ver o preço”, e acaba por não
resistir à compra.

Foi esta a razão por que o mandamento falou das coisas “do teu
próximo”, pois Deus sabe perfeitamente que o que os olhos não vêem,
o coração não quer. Quem jamais cobiçou os pertences de quem mora
no outro lado do mundo? É aquilo que o nosso “próximo” tem que per-
turba. Através do que podemos ver adivinhamos as suas posses, nas-
cendo daí a cobiça.
COBIÇAR É PECAR
Pior que ofender o vizinho com a sua cobiça é ofender a Deus
com este pecado proibido. Quem cobiça não acredita na provisão do
Senhor para a sua vida. Quem nEle confia não cai neste pecado, pois
crê que o Pai do céu entende e suprirá, conforme promete a Bíblia:

“E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em


Cristo Jesus cada uma de vossas necessidades” (Filipenses 4:19).

Cobiçar é crer que a bondade de Deus se esgotará antes que rece-


bamos o que Ele prometeu.

O problema principal de cobiça é que ela sempre induz a algo pior.


Enquanto este sentimento ruim está escondido no

coração, os estragos são apenas internos: o caráter é deformado e


a personalidade é prejudicada. Até esse momento, ela apenas promoveu
a ruína de quem está cobiçando o que não lhe pertence. Mas o problema

56
nunca estaciona aí.

Imagine a lista de pecados que a cobiça traz à tona. Entre eles,


roubos e furtos; mentiras de toda sorte e desonestidade; adultério e
fornicação; violência e homicídio, etc. Além de mil outras situações
tristes e terríveis, que não têm mais fim.

Portanto, mate já esta cobra, se é que ela existe em seu coração,


antes que ela envenene a sua vida, crie vergonha, tristeza e morte ao seu
redor.

57
CAPÍTULO 17

FASCINAÇÃO

U ma das parábolas mais detalhadas do Reino de Deus foi a do


semeador. Os primeiros três Evangelhos contam o que
aconteceu à boa semente que à beira do caminho caiu em boa terra, em
solo rochoso ou entre espinhos.

Em Sua interpretação da parábola (Marcos 4:10-12), Jesus define


a semente como a Palavra de Deus, sendo que os diferentes tipos de
lugar onde ela cai representam os corações dos que ouvem a Palavra.
ESPINHOS
A parábola diz que a semente que caiu em terra espinhosa ficou
“sufocada, e não deu fruto”. Jesus explica o que representam estes espinhos:

“Os outros, os semeados entre os espinhos, são os que ouvem a palavra,


mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza, e as demais ambi-
ções, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera” (Marcos
4:18, 19).

Três são as coisas que Jesus descreveu como “espinhos”, as quais


fruto algum permitem na vida dos que ouviram a Palavra de Deus. São
eles os cuidados do mundo, a fascinação das riquezas e as ambições.

Veja a “concorrência” que fazem ao Evangelho de Cristo estas coisas


que destroem toda possibilidade de uma vida espiritual em quem ouve
a mensagem da graça de Deus. Dentre os fatores responsáveis pela
morte da Palavra de Deus está o dinheiro.
ENGANO
A palavra no grego traduzida como “fascinação”, é APATÉ, melhor
traduzida como “engano”. O texto portanto bem poderia expressar-se da
58
seguinte maneira: “o engano do dinheiro”. E isto, exatamente, o que
acontece na vida de quem cai vítima de tal fascinação.

Na primeira igreja que pastoriei tive oportunidade de observar de


perto o que provoca este “espinho mortal”. Um dos homens da
congregação montara um negócio: uma casa especializada em queijos
importados e comidas importadas, como azeitonas, palmito brasileiro,
castanha do Pará, e coisas típicas e regionais. O casal era em sentido
completo colaborador na obra de Deus: ele, como diácono; ela
professora na Escola Dominical. Todas as vezes que as portas se
abriam, ali estava o casal em seu lugar, louvando a Deus e sendo
testemunhas de Sua Graça.

Um dia apareceu o marido em meu gabinete pastoral, a pedir


conselhos sobre a expansão de sua loja. Explicou-me ele que, para atrair
mais fregueses, a loja teria que ficar aberta até mais tarde, à noite. Se
isto ia atrapalhar sua freqüência ao culto de oração às segundas-feiras,
à reunião às quartas e à aula de professores de escola dominical, sextas
à noite, pelo menos aos domingos em nada seria afetada sua fidelidade
à igreja.

Naquele instante percebi claramente o “espinho” que lhe sufocaria


a espiritualidade. Aconselhei-o então, ou a continuar com seu horário
normal na loja, ou a empregar alguém que na ausência do casal tomasse
conta dos negócios, a fim de que suas responsabilidades na igreja,
durante a semana, não fossem prejudicadas.

Ignorando meus conselhos, o casal passou a ser visto na igreja


somente aos domingos, correndo a coisa nesse pé durante vários meses.
Um certo domingo, porém, eles não compareceram. Suspeitando do-
ença, eu lhes telefonei, sendo informado que os negócios corriam tão
maravilhosamente, que eles tinham resolvido funcionar também aos
domingos. “Quando fosse possível — acrescentou ele — haveriam de dar um pulo

59
até a igreja para assistirem a um culto”.

Tempos depois, antes de deixar a cidade para uma viagem missi-


onária, vim a saber que o casal crente havia perdido por completo seu
interesse nas coisas espirituais. Eles ouviram a Palavra de Deus, mas a
fascinação de riquezas — o engano do dinheiro — sufocou a Palavra e
ela morreu, como morreram espiritualmente também os dois.
OLHOS ABERTOS
Uma outra experiência veio provar- me o quanto o dinheiro não
precisa exercer esta fascinação. Tudo depende da forma como encara-
mos as nossas “riquezas”.

Um dos diáconos da Igreja de Nova Vida, que em 1956 fundei em


Hong Kong, era um homem cujo pai tinha ajudado o meu sogro, Dr.
A.G. Garr, durante o grande reavivamento pentecostal em 1910.

Este diácono, em 1951 trabalhava ao lado do meu tio, Dr. Harvey


McAlister, quando ele liderava uma campanha de evangelização que sa-
cudiu a colônia britânica de Hong Kong, sendo Convertidas e Curadas
de suas enfermidades milhares de pessoas.

Meu diácono, Kwong Sung, era um homem rico; líder no comér-


cio e muito considerado na sociedade. Tanto que, por ocasião da visita
da Rainha da Inglaterra, ele e sua esposa foram convidados ao jantar de
gala em honra à soberana do Império Britânico.

Só que a visita coincidia com o nosso culto de quarta-feira, e o Sr.


Sung tocava o pequeno órgão de pedal para acompanhar os cânticos da
nossa congregação. Devido a este pormenor, ele resolveu o assunto da
seguinte maneira: mandando à frente a sua esposa, em seu Mercedes,
com o chofer, compareceu sozinho à igreja, já que considerava este
compromisso mais sério que aquele. Após o culto lá estava o chofer à
sua espera para levá-lo à festa real, onde pedindo desculpas pelo atraso
60
alegou “compromisso de força maior”!

Durante mais de vinte e cinco anos de amizade eu jamais pude


observar que este seguidor de Cristo tivesse permitido que seu dinheiro,
sua posição ou ambição, qualquer que fosse, ocupasse o primeiro lugar.
Jesus foi sempre sua lealdade maior. Muito mais importante que
qualquer convite era a obra de Deus. Visto que Kwong Sung vivia de
olhos abertos para acertar as prioridades, ele sempre colocava o dinhei-
ro em seu devido lugar.

Hoje Kwong está servindo a Deus, feliz e realizado. Ignoro o


paradeiro do casal que se deixou fascinar pelo dinheiro. Estará acaso,
feliz, realizando e servindo a Deus?

Duvido.

61
CAPÍTULO 18

O QUE É
ABUNDÂNCIA?
Jesus afirmou que “a vida de um homem não consiste na abundância dos
bens que ele possui” (Lucas, 12:15).

Que afirmação estranha, contrária a toda filosofia humana! Medi-


mos o sucesso de um homem pelas coisas que ele possui: carro, casa,
roupa, propriedades, negócios, empregados, clubes, viagens, jóias,
dinheiro, investimentos, etc. Que outra maneira temos de avaliar a vida
de uma pessoa?

Que constitui, pois, riqueza? Como definir “abundância”? Como


avaliar a vida de um homem senão pelas evidências?
VALORES
Tudo depende de um senso de valores. Que é mais importante,
saúde ou bom tratamento médico? Que vale mais, um filho simples e
obediente ou um filho brilhante e sem caráter? Que é mais importante,
um casamento humilde com amor ou um casamento infeliz com
dinheiro?

Observe, portanto, como a palavra “abundância” adquire uma


definição singular quando propomos escolhas como estas. Pois mil
vezes prefiro um amigo fiel a um pistolão que me ajude por interesse.
Tudo depende de um senso de valores. Veja o que a Bíblia diz sobre
este assunto.
MUITO OU POUCO?
“Mais vale o pouco do justo do que a abundância de muitos ímpios”
(Salmo 37:16).
62
Aliás, a Bíblia está repleta destes velhos ditados que fazem parte
de uma filosofia, a qual constrói uma mentalidade completamente nova
sobre os valores mais sólidos, mais importantes na vida. Eis alguns
deles:

“Uns se dizem ricos sem ter nada; outros se dizem pobres sendo mui
ricos” (Provérbios 13:7).

“Porquanto (Moisés) considerou o opróbio de Cristo por maiores


riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão”
(Hebreus 11:26).

“E Jesus disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm


riquezas!” (Lucas 18:24).

“Atendei agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desven-
turas, que vos sobrevirão. As vossas riquezas estão corruptas e as vossas
roupagens comidas de traça” (Tiago 5:1, 2).

“Quanto menos àquele que não faz acepção de pessoas, de príncipes,


nem estima ao rico mais do que ao pobre” (Jó 34:19).

De uma infinidade de citações extraí apenas estas, e sobre elas ou-


tros capítulos poderia acrescentar. Desejo apenas mostrar que o senso
de valores refletido na Bíblia é muito diferente daquele que a sociedade
atual apresenta.
A VIDA
A vida abundante pode ser resumida numa definição de Paulo so-
bre o Reino de Deus. Eis o que significava para ele a vida:

“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz,
e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17).

63
O rico pode comer do bom e do melhor e ainda assim viver mi-
seravelmente. Por outro lado, dificilmente se é infeliz quando se parti-
cipa de justiça, paz e alegria. Estes são os valores mais importantes.

Esta é a vida abundante.

O mundo diz: “Ter ou não ter, eis a questão”. Mas, o dramaturgo in-
glês diz com toda a razão: “Ser ou não ser, eis a questão”. Jesus, em Sua
simplicidade, usou palavras diferentes para descrever a Sua filosofia so-
bre as coisas que ocupam a mente do homem, dizendo: “A vida de um
homem não consiste na abundância dos bens que ele possui”.

Por que, então, desperdiçar a vida acumulando o que não significa


abundância verdadeira? Busque, antes, o Reino de Deus e a Sua justiça,
e “todas estas coisas lhe serão acrescentadas”.

64
CAPÍTULO 19

HERANÇA

A os onze anos de idade eu tinha dois empregos: entregava, de


manhã cedo, jornais, e à tarde as compras de uma loja de
ferragens. Ganhava pouco, mas o pouco que recebia me permitia certas
“loucuras” como sorvete de chocolate (um fraco meu) e, de vez em
quando, “fish and chips”, um prato inglês feito de peixe e batatas fritas
ensopadas de vinagre e cobertas de sal, vendido na esquina de nossa
rua, sempre a “viajar” embrulhado em jornal da véspera. Até hoje o
cheiro de vinagre me traz de volta as lembranças daquela comida ape-
titosa que me aqueceu nos duros invernos canadenses.

Papai havia dito que, se eu pagasse os dez por cento de toda minha
renda, eu seria abençoado durante toda minha vida. Saiba que tirar
aqueles dez centavos de cada dólar não era a melhor coisa de minha
vida, não, mas eu acreditava em meu pai e estava comprovando as bên-
çãos de Deus em sua vida.
ENCRENCAS
De .vez em quando nem tudo era “cor-de-rosa” em minha vida.
Quando meu pai adivinhava alguma encrenca, algum dilema ou
qualquer coisa não muito certa, perguntava logo: “Filho, você está em dia
com Deus? Já pagou o seu dízimo?”

Hoje eu louvo o Senhor por esta firme educação nas coisas de


Deus, pois dessa forma, em minha vida toda pude usufruir daquela
prosperidade que Ele promete aos que estão em dia com Ele.

Um dia desses meu filho Walter estava relatando uma conversa


que teve com sua esposa, após cinco meses apenas de casados. Disse-
me: “Pai, é incrível como Deus nos tem abençoado. Veja como Ele arranjou para
65
nós aquele sofá tão bonito que compramos tão em conta! Não só nisto, mas em tudo
que fazemos podemos ver a mão de Deus”. E eu comentei então com ele:
“Claro, Walter, será sempre assim porque você é dizimista”.

Há alguns anos, quando nossos filhos Walter e Ana cursavam


ainda a Universidade, receberam uma herança de seu avô materno, a
qual por muitos anos ficara presa em inventário. Finalmente veio ter às
suas mãos uma importância relativamente grande, pelo menos maior
do que jamais lhes chegara, de uma só vez.

Nada lhes perguntamos sobre o que iriam fazer com aquele di-
nheiro, como iriam gastar, aplicar ou guardar. Tampouco nos surpre-
endemos quando ambos, independente um do outro, veio a nós com
um cheque, para a obra de Deus, equivalente ao dízimo de sua herança.
Não correspondendo aquele dinheiro a salário ganho, eles poderiam
argumentar que não seria necessário pagar o dízimo. Entretanto, o as-
sunto nem teve que ser discutido. Sabendo ambos que honrar a Deus é
mais que obrigação, é privilégio, deram alegremente ao Senhor o que
Ele merecia: o dízimo.

Não foi tanto a quantia que me agradou, mas a espontaneidade


deste dízimo por parte de dois estudantes cheios de sonhos e planos
para aquele dinheiro. Deus ficara em primeiro lugar: isto, sim, me ale-
grou mais do que qualquer outra coisa.

Um dos problemas enfrentados por muitas pessoas diz respeito


ao pagamento de seu dízimo. Mesmo convictos desta “obrigação espiri-
tual”, têm sempre algo de suma importância para pagar, ou comprar, e
Deus acaba ficando para segundo plano. Estão deste modo sempre
atrasados, não ficando nunca “em dia” com o Senhor.

O que acontece em casos como estes? Nada. Deus não castiga


ninguém por roubos como estes. Ele apenas retira Sua mão desta parte

66
de suas vidas. Talvez pensem até que Deus nem está Se importando
com o assunto, ou que Se esqueceu daquela “dívida”.

Conheço um homem que vive sempre em desassossego. Ele serve


a Deus de todas as maneiras possíveis, menos com seu dízimo, que
considera — como me explicou — pesado demais. Dá uma “boa gorjeta”
ao Senhor de vez em quando, mas nunca consegue estar em dia com os
dez por cento de sua renda. Poucas famílias conheço tão aflitas, tão
constantemente doentes, tão infelizes em suas decisões. Os pormeno-
res não edificam, mas posso assegurar que cada vez que encontro este
irmão, seu semblante é mais triste do que antes. Para mim ele é o exem-
plo típico de quem nunca está “em dia” com Deus, e por isso vive afun-
dado em complicações.

O pior é que esse homem está transmitindo a seus filhos o exem-


plo de sua falta de obediência e generosidade. Eles estão percebendo
que papai tem suficiente para viver, devido a seu esforço como bom
empresário, mas apesar disto nunca está tranqüilo e feliz, pois entra
constantemente em apuros de toda sorte. Que herança estão eles
recebendo! Exemplo de um seguidor de Cristo que vive tenso, cansado,
atribulado sem saber por quê.
DE PAI PARA FILHO
Meu avô paterno morreu quando eu contava apenas treze anos de
idade. Não o conheci muito bem. Durante as últimas visitas que tenho
feito a meu pai, sempre faço perguntas sobre meu avô, John. Como era
ele? Um dia papai foi à biblioteca e dela retirou um caderno, daqueles
usados no primeiro ano da escola. Era a agenda diária de meu avô.

Fiquei fascinado com seus comentários. Palavras escritas incorre-


tamente (Vovô tinha apenas quatro anos de escola), denunciando falhas
de gramática que nos fizeram sorrir, mas transmitindo pensamentos
sublimes; mencionando pessoas às quais testemunhara de Cristo;

67
falando sobre a venda de um belo par de arreios que vendera ao vizinho;
ou do dízimo pago por esta venda. Quase que diariamente ele encerrava
o relatório com esta frase: “Ainda vitorioso!”

Ah, que herança maravilhosa recebeu meu pai de seu pai! Herança
que transmitiu a mim, a meu irmão e minha irmã. Herança que lego a
meus filhos. Isto, sim, é que é herança!

O que está dando você como herança a seus filhos?

68
CAPÍTULO 20

A PARTE
DE CÉSAR

F oi durante a Semana Santa que os fariseus apresentaram a Je-


sus o problema de pagar ou não pagar tributo aos romanos.
A questão envolve um dos mandamentos: “Não farás para ti imagem de
escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus nem em baixo na
terra, nem nas águas debaixo da terra” (Êxodo 20:4). Na moeda romana
estava estampada a “imagem” do imperador romano, César.

O assunto em pauta não era exatamente dinheiro, e sim questão


envolvendo a lei de Deus sobre a criação e tratamento de imagens. Ape-
sar disso, Jesus aproveitou a ocasião para fixar uma das leis básicas de
Seu Reino, ao responder aos fariseus: “Dai, pois, a César o que é de César,
e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21).
CÉSAR
Por estas palavras podemos entender tanto a divisão de
responsabilidades como a largura das mesmas por parte do povo de
Deus. Não é pelo fato de sermos seguidores de Deus que vamos ignorar
“o que é de César”. Por outro lado, é importante que o mundo saiba que
mesmo pagando as suas dívidas terrestres, ainda assim tem que acertar
contas com seu Criador.

César é a figura representativa de toda autoridade humana, seja ela


presidente do país, fiscal de rendas, ou guarda de tráfego. Somos
cidadãos do Reino de Deus como também membros de uma sociedade
com a qual temos obrigações sérias. Quem foge às suas responsa-
bilidades para com as autoridades legitimamente constituídas está
desobedecendo às ordens de Jesus. Anarquia social não encontra apoio
69
nos ensinamentos bíblicos.

Portanto, o crente em Cristo que avança o sinal de tráfego ou lida


com faturas e recibos falsos não só dá um mau testemunho como filho
de Deus como também transgride uma das leis divinas, que é: “Dai a
César o que é de César”.

Seria interessante saber quantos membros do Corpo de Cristo


levam vidas desonestas para com César; sonegando impostos,
subornando fiscais, dando aquele famoso “jeitinho” no imposto de
renda, ignorando assim o mandamento de Cristo.

Saiba que esta forma de vida é inteiramente contrária ao que Deus


espera de Seus filhos.
AUTORIDADE
Talvez esses “crentes” não saibam o que a Bíblia ensina sobre César;
caso contrário haveriam de assumir uma outra atitude ante as suas
responsabilidades relativas à sociedade em que vivem.

“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há


autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram
por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste
à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmo condena-
ção” (Romanos 13:1, 2).

Estas palavras nada têm a ver com apoio político, nem com nossa
filosofia particular sobre formas de governo; tampouco com nossos
interesses pessoais. Paulo prossegue aquelas palavras, dizendo: “A
autoridade é ministro de Deus para teu bem” (Romanos, 13:4). Como não
pagar aos Césares que foram instituídos por Deus e agem para nosso
bem?

Talvez você não esteja de acordo com as leis fiscais do país, ou

70
critique sua administração como corrupta e inepta. É possível que você
tenha até razão em sua crítica. Mas nem por isso você tem direito de
criar uma lei para si. Cristo diz que devemos dar a César o que é de
César. O que devemos fazer, sem discutir.
O QUE É DE DEUS?
Se Jesus pediu de nós submissão às autoridades mundanas, com o
justo pagamento aos que governam na moeda corrente do país, quanto
mais Ele não pedirá o pagamento de Deus ao que a Ele devemos.

Neste aspecto o povo de Deus é muito mais fiel que o povo do


mundo. Ou melhor, há mais fidelidade por parte dos cristãos com res-
peito ao pagamento de suas dívidas a César do que por parte dos que
não pertencem à Igreja em relação a sua dívida com Deus. Incorre em
falta muito mais grave aquele que não dá a Deus o que é de Deus!

Há pessoas na cadeia por violarem as leis fiscais. César não tem


muita misericórdia para com os que ignoram as suas obrigações. Pior,
entretanto, é a situação do homem que não paga a Deus o que Lhe
pertence. Sua conta está aumentando; sua dívida está ficando cada dia
maior.

A misericórdia de Deus, porém, é muito grande. Ele perdoa. Aí


está a diferença. Mesmo estando “em falta” com Deus, basta chegar e
pedir o perdão por tudo quanto não tem feito, ou pelo que tem feito de
errado, para Ele cancelar a sua dívida e permitir que você comece uma
vida nova.

Cesar é impenitente, mas Deus é amor.

71
CAPÍTULO 21

ALEGRIA

H á várias maneiras de pagar dízimos e apresentar ofertas a


Deus, recebendo cada uma delas a sua recompensa. Eis a
maneira soberba com que Paulo explica: “E isto afirmo: Aquele que semeia
pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também
ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou
por necessidade, porque Deus ama a quem dá com alegria” (II Coríntios 9:6, 7).
TRISTEZA
Maneira errada de ofertar a Deus é fazê-lo com tristeza. Há pes-
soas que pagam seu dízimo por simples consideração à lei divina, sem
sentirem o menor prazer. Eu os chamo de “legalistas dos dez por cento”.
Estão sempre resmungando. Sempre “cobrando” do pastor aquela ri-
queza que esperam em troca do seu dízimo. Nada entendem sobre
abundância porque os dez por cento de seu dízimo sempre lhes faz
falta. Que pena! Não obstante obedientes, vivem em grande tristeza.

Conheço um homem que desistiu de pagar o seu dízimo. Um dia


ele se explicou: “Durante anos venho pagando este dízimo, e de que me adiantou?
Continuo com dívidas”. Durante anos aquela sua velha tristeza foi aumen-
tando, até que um dia finalmente transbordou.
NECESSIDADE
Paulo afirma ser também possível “contribuir” por necessidade.
Que significa isto? Ele está se referindo às pessoas que vivem temerosas
de não acatarem as recomendações bíblicas relativas ao seu dinheiro.
Portanto, sabendo que em conseqüência de uma fidelidade Deus pro-
mete bênçãos, tanto espirituais quanto financeiras, continuam contri-
buindo com a sua parte. Não por amor ou com prazer, mas por neces-
sidade.
72
Quanto a mim, pessoalmente creio ser necessário pagar o meu dí-
zimo e dar ofertas à obra do Senhor. Mas até o presente momento,
jamais contribuí com tristeza ou necessidade. Não é por representar um
“bom negócio” que participo com o meu dinheiro do trabalho da igreja,
nem por recear desagradar a Deus que não desisto de minhas
contribuições.

Esta palavra “necessidade” fala da amargura de espírito que alguns


sentem, ao entregarem a Deus o que Ele lhes pede. Preferiria deixar de
contribuir, se tivesse que fazê-lo com tristeza ou por necessidade.
AMOR
O ato de dar é estreitamente ligado ao amor. “Deus amou o mundo
de tal maneira que deu...” (João 3:16). Impossível é amar sem dar. E por
amor a Deus que colaboramos na Sua obra de edificação da Igreja e na
conquista de almas para Cristo. Distribuir literatura, pagar programas
de rádio e televisão, construir casas de oração, envolver-se numa
infinidade de atividades desta natureza não é obrigação e sim prazer
para quem ama a Deus.

A promessa, entretanto, se refere ao amor divino a quem dá com


alegria. Terminando sua palavra sobre a coleta, Paulo afirmou: “Porque
Deus ama a quem dá com alegria”. Que coisa maravilhosa!

Conhecemos o grande mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus de


todo o teu coração, de toda ã tua alma, e de todo o teu entendimento” (Mateus,
22:37). Jesus disse que este é o grande e primeiro mandamento. É nossa
obrigação amar a Deus de todas as maneiras possíveis. Este é um dever
evangélico. É incrível constatar que por minha atitude de alegria nas
contribuições Deus vai manifestar o Seu amor. Eu agrado ao Senhor
por meu espírito de obediência no dízimo e generosidade nas ofertas.
Quanto mais alegremente contribuo, mais Deus me ama. Será isto pos-

73
sível? Não vamos reduzir o amor divino a um certo nível de propor-
ções, nem atribuir a Deus um sentimento indigno de Sua majestade.
Temos, no entanto, que acreditar na palavra do apóstolo, que em ex-
pressão muito clara afirma que “Deus ama a quem dá com alegria”. A esta
conclusão ninguém pode fugir.
FARTURA
Uma outra lei está incluída nesta palavra de Paulo à Igreja de
Corinto: a lei da sementeira e colheita. Aliás, Paulo não foi o primeiro
a anunciá-la à Igreja. Em Seus ensinamentos sobre o Reino de Deus,
Jesus disse:

“Dai, e dar-se-vos-á-, boa medida, recalcada, sacudida, transbordante,


generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido
vos medirão também” (Lucas 6:38).

Não há dúvida alguma de que as recompensas que recebemos em


consequência de nossa sementeira são proporcionais: “com a mesma
medida”. Paulo colocou esta idéia nos seguintes termos:

“Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com
fartura, com abundância também ceitara .

Esta lei da sementeira funciona tanto num campo de trigo como


na sacola de ofertas da igreja. A nossa abundância financeira é
voluntária, nunca imposta. Quem semeia com fartura, com fartura
viverá. A decisão de viver abundantemente, entretanto, não compete a
Deus, e sim a cada um de nós. Veja o critério: “Cada um contribua segundo
tiver proposto no coração”. Deus não obriga ninguém a gozar de abundância
de vida. Mas Ele garante que tal abundância é resultado direto de um
propósito pessoal de “dar com alegria”. No Reino de Deus, triste e pobre
é quem quer. Pois abundância e amor de Deus estão ao alcance de
qualquer pessoa. Isto é o que afirma a Sua Palavra.

74
CAPÍTULO 22

CORAÇÕES PRESOS

U m dos textos mais importantes sobre dinheiro encontrado


no Novo Testamento faz parte do Sermão do Monte, no
qual Jesus ensinou sobre o Reino de Deus. Estas foram as Suas pala-
vras:

“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a
ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para
vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões
não escavam nem roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará
também o teu coração” (Mateus 6:19).

A fim de não descambar para interpretações extravagantes, é ne-


cessário ler estas palavras com muito cuidado, reconhecendo o fato de
que toda doutrina falsa começa com uma citação bíblica.

Se não pudéssemos buscar o equilíbrio em outras passagens, a res-


peito de riquezas, tesouros e dinheiro, poderíamos cair no exagero de
acreditar que Jesus estava condenando qualquer tipo de poupança.
Dessa forma, a pessoa que durante dez semanas fizesse uma economia
de mil cruzeiros por semana poderia ser acusada de estar “acumulando”
dinheiro, desobedecendo, assim, àquele preceito do Reino de Deus.
ACUMULAR
Aliás, para escapar à cilada de “suaves prestações” seria muito sensato
“acumular” o dinheiro suficiente para uma compra à vista. O sistema
crediário foi inventado para vender produtos rapidamente, não para fa-
cilitar a vida de ninguém. De fato, se seus dias são demasiado longos e
o tempo parece não correr, a solução é comprar alguma coisa financi-
ada, pois você logo descobrirá que a data do pagamento mensal chega
75
a cada quinze dias!

“Suave prestação” é só para quem está recebendo, nunca para quem


está pagando. Portanto, feliz e sensata é aquela pessoa que evita juros,
mensalidades e pagamentos acumulados pela simples manobra de fazer
poupança antes de comprar.

Será que as palavras de Jesus visam a condenar investimentos, ou


se referem a poupança para ajudar os filhos a uma melhoria de nível de
vida? Seria incorrer em grave erro interpretar o nosso texto desta ma-
neira, pois em vários lugares descobrimos que a vontade de Deus com
relação a Seu povo é uma vida abundante.

A finalidade destas duas advertências: “Não acumuleis tesouros sobre


a terra”, e “Ajuntai tesouros no céu”, é proteger o nosso coração contra
uma situação muito perigosa, que é a desvalorização espiritual.
O QUE MANDA
Preste atenção à maneira pela qual Jesus explica este problema:
“Porque onde está o teu tesouro (dinheiro), aí está também o teu cora-
ção”. Saiba que o seu coração sempre segue o seu dinheiro, nunca o
contrário. Não seria nada mal se Jesus houvesse dito: Porque onde está
o teu coração, aí está o teu dinheiro. Pois não é isto que acontece. Quem
sempre manda é o dinheiro, não o coração.
TRÊS PERIGOS
Jesus citou os três perigos em se ter dinheiro “acumulado” sobre a
terra: traça, ferrugem e ladrão. Não seria nada difícil começar a falar em
termos de novela sobre a traça e a ferrugem. A traça é aquele bichinho
que come a roupa velha e mofada, guardada, esquecida, e que nunca
mais viu a luz do dia. Quem já não passou por esta experiência de bus-
car “aquela roupa”, guardada há tanto tempo, para afinal descobrir que
não pode usá-la mais, pois a traça estava almoçando e jantando do seu
tecido, inutilizando por completo o que antes servia perfeitamente?
76
Enferrujado é o dinheiro enterrado em local úmido, com o pre-
texto de servir em dia de necessidade. Só que os elementos não o dei-
xam escapar a outro tipo de desvalorização. O ferro ainda que seja o
mais duro metal, uma vez enferrujado, para nada mais presta. Seu valor
é reduzido na exata proporção do ataque dos elementos.

Quanto a ladrão, não há necessidade de explicações. Nos dias atu-


ais parece não existir cofre bastante forte, nem banco suficientemente
seguro para impedir esta praga de crimes que põem em risco qualquer
dinheiro guardado.
CORAÇÕES ENFERRUJADOS
Na Igreja de Jesus Cristo, grande parte do povo não acatou as Suas
ordens com respeito a seu dinheiro. Para ela, muito mais importante é
ter os seus bens “à disposição”, do que investidos no céu. Em conseqüên-
cia disto, os corações terminam por cair nos lugares os mais estranhos,
passando a sofrer aquela “desvalorização” que Jesus profetizou. Se
aceitarmos literalmente o que neste texto Jesus falou, concluiremos que
existem muitos seguidores Seus cujos corações estão trancafiados em
caixas fortes; empatados em imóveis ou investidos em altos negócios
que nada têm a ver com o Reino de Deus, nem com as suas necessida-
des vitais.

Lembre-se: onde está o seu dinheiro, aí está também o seu


coração.

77
CAPÍTULO 23

LOUCURA

P ara ilustrar a insensatez de acumular tesouros sobre a terra,


como em Seu Sermão do Monte Jesus falou, proferiu o Se-
nhor a seguinte parábola, da qual cito apenas a parte que ora nos inte-
ressa:

“O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava


consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus
frutos? E disse: Farei isto: Destruirei os meus celeiros, reconstruí- los-ei
maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então
direi à minha alma: Tens em depósito muitos bens para muitos anos:
descansa, come e bebe, e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite
te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim
é o que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus” (Lucas 12:16-
21).

Novamente me sinto na obrigação de admoestar o leitor contra


uma conclusão errada sobre esta parábola: Jesus não chamou aquele
homem “louco” pelo fato de ser ele rico, mas sim pelo uso errado de seu
tesouro.
“DIREI À MINHA ALMA”
A esta altura, quem pode ainda duvidar de ser dinheiro um assunto
altamente espiritual? No Sermão do Monte Jesus disse que o nosso co-
ração sempre segue o nosso dinheiro, e para protegê-lo contra a traça,
a ferrugem e os ladrões seria necessário ajuntar o nosso tesouro no céu.
Nesta parábola registrada por Lucas, os bens daquele homem rico es-
tavam ligado à sua alma, assim como estão ligadas à alma de todo ser
humano as coisas que ele possui. Sobre isto a Bíblia não deixa sombra
de dúvida.
78
Seu erro básico foi o de imaginar que pelo simples fato de possuir
“em depósito muitos bens para muitos anos” sua alma poderia descansar.
Como enganam o coração as riquezas do homem! Temos aqui um re-
trato fiel de grande parte dos que estão “bem de vida”, cuja preocupação
para a sua alma é puramente monetária. Se têm suficiente para garantir
uma vida confortável, então acreditam que todos os problemas de alma
estão resolvidos. Mas o contrário é o que acontece! Seus problemas
espirituais são ainda maiores, por causa do engano que seus bens
produzem. A esta pessoa Deus chama “louca”, e com toda a razão.
ENTESOURA PARA SI
A abundância que Deus promete a Seu povo precisa ser
compartilhada, nunca armazenada. Ele nos abençoa a fim de que
abençoemos outros. Erro fatal na vida espiritual é o egoísmo: fechar o
coração às necessidades do próximo; ignorar um apelo para ajuda,
enfim, “entesourar para si mesmo”. O princípio do Reino que deve gover-
nar a nossa mente é este: “De graça recebestes, de graça dai” (Mateus, 10:8).
O homem rico da parábola não pensava em ninguém, senão em si
mesmo. Seu próprio bem-estar era tudo quanto preocupava a sua alma.
Foi por esta razão que Jesus o chamou de “louco”. Uma espécie de insa-
nidade moral é a doença dos que fecham a sua mão e o seu coração a
outros, principalmente a Deus.

Vale a pena ler de novo a conclusão da parábola: “Assim é o que


entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus”. Não é exclusividade dos
ricos o desejo de “entesourar para si mesmo”. Em todas as camadas sociais
e econômicas há pessoas que só pensam em si. Seus planos parecem
andar sempre de vento em popa, criando cada vez mais segurança e
mais conforto para “muitos anos”. Outros são “ricos para com Deus”. Que
frase mais linda! Que significará esta expressão: “ricos para com Deus”?

79
CAPÍTULO 24

RICO PARA
COM DEUS

D as últimas meditações desejo extrair duas frases como ilus-


tração: “Ajuntar tesouros no céu”, e “Ricos para com Deus”.

Meu pai nasceu prematuramente, e quando garoto sofreu pneu-


monia nos dois pulmões, não sendo nunca a partir daí, uma pessoa
muito forte. Aos dezesseis anos conseguiu um emprego duríssimo: ma-
nejando dois cavalos de uma charrete, frete da companhia de estrada
de ferro. Por dois dólares semanais, ou sejam duzentos cruzeiros (câm-
bio atual), enfrentou as terríveis nevascas de inverno no norte do Ca-
nadá.

Um dia, quando garoto, achei entre os livros de papai um livro


repleto de colunas de números. Ao indagar dele a razão daquelas ano-
tações, contou-me a seguinte história:

Quando paguei meu primeiro dízimo de vinte cruzeiros (ou seja


vinte centavos canadenses), acrescentei ainda outros vinte, dizendo a
Deus que durante a minha vida queria dar ao Senhor cem mil dólares,
soma fabulosa para quem recebia dois dólares por semana. Aqueles dez
milhões de cruzeiros (novamente o câmbio de hoje) levariam uma vida
inteira para serem pagos, mas ele começou o plano com firme convic-
ção.

Lembro-me dos primeiros anos de minha vida, quando papai era


o pastor de uma igreja pentecostal, em Toronto. Morávamos junto a
uma estrada de ferro, perto do local onde os vagões dos trens eram
juntados. Centenas de vezes por dia aquela “maria fumaça” passava a

80
menos de trinta metros de nossa porta. Minha mãe vivia limpando a
fuligem das janelas, tentando impedir que a sujeira invadisse quartos e
salas de nossa casa.

Todas as semanas meu pai pagava o seu dízimo, dando também


uma oferta ao Senhor, e anotando depois em seu caderno os poucos
dólares e centavos entregues. Mamãe tornou-se perita em costurar as
camisas do papai, pois quando o colarinho e os punhos ficavam puídos,
ela virava do outro lado para que ele tivesse uma “camisa nova”. Além
disto, ela caprichava em cortar aqueles fios na extremidade das mangas
de seu velho paletó. Lembro ainda muito bem que de tanto “senta-le-
vanta”, as cadeiras das calças do papai brilhavam quase tanto como seu
sorriso.

Nunca pude avaliar o grau de nossa “pobreza”, mas sabia


perfeitamente que se desejasse qualquer coisa extra teria que consegui-
la através de meu próprio trabalho. Com onze anos de idade, como já
tive ocasião de contar, eu trabalhava em dois empregos, um antes e um
depois da escola. Enquanto meu pai juntava tesouros no céu, eu ia com-
prando a prestações a minha ambicionada bicicleta.

Quando papai se aposentou da chefia de nossa denominação pen-


tecostal no Canadá, após ocupar quase todos os cargos no pentecosta-
lismo, até mesmo o de moderador da convenção mundial, foi trabalhar
com meu irmão, que dirigia uma obra missionária nos Estados Unidos.
Durante alguns anos ele e minha mãe se ocuparam num trabalho de
escritório, pagando ao governo americano o imposto social exigido de
todos quantos recebem um salário.

Finalmente chegou o dia em que não mais dava para continuar


trabalhando. Foi quando descobri que os meus pais estavam recebendo
nada menos do que cinco pensões! duas do governo canadense, por
serem cidadãos aposentados daquele país; duas dos Estados Unidos,

81
por haverem contribuído durante os poucos anos de trabalho com meu
irmão; e ainda mais uma da denominação pentecostal canadense!

Ele estava em situação econômica melhor do que nunca em sua


vida! Deus estava tomando conta de Seu filho que a cada vez que rece-
bia um cheque de sua pensão, alegremente descontava seu dízimo, além
de dar para a obra do Senhor uma boa oferta.

Perguntei um dia a meu pai se ele já havia dado ao Senhor aqueles


cem mil dólares que Lhe prometera aos dezesseis anos de idade. “Claro,
Bob”, disse ele com um sorriso, “e estou bem adiantado no segundo cem mil!”

Um dia, pasando mal de saúde e pensando que ia morrer, chamou-


nos a meu irmão e a mim para examinarmos seus documentos pessoais.
Ao mostrar-nos a situação financeira em que se encontrava, fiquei bo-
quiaberto. Pôs-se depois a contar-nos onde estavam seus investimen-
tos.

Uma igrejinha no norte do Canadá tinha cem dólares seus, visto


que se encontrava em reformas e papai ajudava na obra; a outra em
construção ele emprestara quinhentos dólares. Uma outra retinha um
pouco mais de seu dinheiro, pois se encontrava na construção de uma
vila para velhos. Concluindo, todo o dinheiro que não tinha consigo
estava emprestado a igrejas em todas as partes do país.

Feliz o pastor que guardasse uma parte do dinheiro do papai, pois


diariamente ele orava pelo pastor, pela esposa do pastor, os filhos do
pastor e acho até que pelo seu cachorro!

Tudo isto porque, em toda a sua vida, o coração de meu pai estava
posto na obra de Deus. O amigo sabe por quê? Porque ali estava o seu
dinheiro. Desde os dezesseis anos de idade ele vinha ajuntando o seu
“tesouro no céu”, nem que fossem alguns centavos de cada vez. Hoje, com
oitenta e três anos, cinco vezes em cada mês ele recebe uma pensão. E
82
toda vez que bate à sua porta uma daquelas cinco pensões lá está ele a
assinar seu cheque para pagar o dízimo à igreja que frequenta. As vezes
ele escolhe um lugar que precisa de uma oferta e manda. Do que sobra,
ele não deposita em banco onde traça, ferrugem e ladrões podem atacar
mas envia em forma de “empréstimo” a uma igreja que está sendo cons-
truída, ou a uma obra missionária ou evangelística.

O amigo não sabe o que é ser “rico para com Deus”? Pense, então,
no meu pai, e vai saber.

83
CAPÍTULO 25

INSTABILIDADE

“E xorto aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem
depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em
Deus que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento, que pratiquem
o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir, que acumu-
lem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apodera-
rem da verdadeira vida” (II Timóteo 6:17-19).
ORGULHO
Orgulho é o grande perigo das riquezas; perigo que atingia pro-
fundamente a igreja em Laodicéia: “Pois dizes: Estou rico e abastado, e não
preciso de coisa alguma” (Apocalipse, 3:17).

Conheço um homem que enriqueceu da noite para o dia, sofrendo


de imediato a sua personalidade uma mudança radical.

Uma das características de tal mudança foi que ele passou a res-
peitar tão-somente as pessoas que ostentassem classe semelhante à que
havia alcançado. Certa ocasião eu o vi dirigir-se a um irmão na fé em
termos que não dirigiria nem mesmo a um cachorro. Quando aquele a
quem ele ofendera se retirou, homem bastante humilde, eu lhe fiz esta
admoestação: “Sinto vergonha de você como amigo, pois vejo que ao ficar “bem de
vida” você perdeu completamente seu senso de valores. Não sei como pôde ser capaz
de tratar um irmão como se fosse seu lacaio...”. Imediatamente ele me pediu
desculpas, que não lhe pude dar, visto que não fora a mim que ele ofen-
dera, e sim aquele pobre homem humilde, vítima de seu orgulho e des-
prezo. Mas pouco durou sua repentina humildade; várias vezes pude
observar os danos que seu orgulho provocara em seu caráter.

84
Voltando ao apóstolo, quero lembrar o que o “anjo da Igreja” con-
tinuou a dizer a Laodicéia, aliás palavras duras e realistas que os ricos
orgulhosos deveriam ouvir: “E nem sabes que tu és infeliz, sim; miserável,
pobre, cego e nu” (Apocalipse 3:17).

De fato, todo aquele que imagina que não precisa de coisa alguma
é miserável, pobre, cego e nu.
DEPÓSITOS
Paulo continua valendo-se da linguagem do mundo da economia
fazendo referência a um tipo de depósito nada aconselhável, ou seja o
depósito da esperança na instabilidade da riqueza. Deixa ele bem claro
que ao proceder desta forma insensata logo nada restará ao homem,
visto que ele lançou sua riqueza num saco furado.

Instabilidade é uma palavra que provoca medo ao coração de


qualquer investidor. O mercado mundial, as bolsas, as moedas
dependem da estabilidade. De tal maneira é o equilíbrio das finanças
sensível, que um simples boato pode abalar subitamente a sua
estabilidade; uma palavra impensada de um homem influente; uma
praga nas culturas de café ou uma guerra num país remoto. Enfim,
qualquer influência externa pode provocar perturbação na sensível
balança do mercado.

Quem, procurando garantir seu futuro, deposita a sua esperança


no dinheiro, sujeita-se às instabilidades que assolam riquezas em todas
as épocas e em todos os lugares. Um dia os Estados Unidos ama-
nheceram sob o impacto da instabilidade dos investimentos que
atingiam em cheio seu poder econômico. Antes mesmo do cair da noite,
homens ricos e poderosos se haviam lançado do alto de edifícios; sofre-
riam enfartes ou disparavam o revólver em direção à própria cabeça.
Enquanto tragédias aconteciam, outros mais resistentes venciam o
choque inicial, tornando-se de uma hora para a outra pobres. Nem

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foram poucos os que andaram vendendo maçãs nas ruas a fim de
sobreviverem. Bem vivas estão ainda na memória do povo americano
as famosas “filas para sopa”, decorrência da instabilidade da riqueza.

Em casos mais conhecidos, posso recordar famílias que sofreram


uma mudança trágica na sua sorte financeira, suportando desespero
semelhante. Ou homens bons indo à falência devido a influências
inteiramente alheias a seu poder de controlá-las. Quanto ao homem que
de repente perde seu emprego — não sofre ele tanto quanto o rico? Até
que ponto depositamos nossa esperança na instabilidade do dinheiro?
Já não me refiro ao assunto em termos internacionais, mas individual-
mente e familiarmente, pensando em pessoas que através do trabalho
ganham o seu pão de cada dia.

Bom seria que prestássemos atenção aos conselhos do apóstolo


ao seu filho na fé, Timóteo, quando lhe recomendou a prática de boas
obras, esforçando-nos por sermos “generosos em dar e prontos para repartir”,
pois assim, disse ele, “acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento
para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida”.

Eis aí o segredo disponível a essa geração que sofre os efeitos de


uma tremenda instabilidade econômica, de uma inflação galopante, des-
valorização contínua da moeda e tantos outros problemas que lhe afe-
tam a vida toda. Será que, ao nos dedicarmos em proporção realista à
generosidade e ao desprendimento, praticando boas obras, dando e re-
partindo, não haveremos de desfrutar das bênçãos daquela “verdadeira
vida”, que não significa senão uma existência com Cristo no Reino de
Deus? Disto não tenho dúvida. Não são apenas o rico ou o milionário
que depositam sua esperança na instabilidade do dinheiro. Também
pessoas comuns como nós ainda não aprenderam a depositar sua espe-
rança em Deus, fonte de toda riqueza, tanto espiritual quanto material.

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CAPÍTULO 26

NECESSIDADES

A os membros da igreja em Filipos, Paulo tentou esclarecer


algo sumamente importante. Aproveitando a oportunidade
em que lhes expressava sua gratidão pela generosa oferta que lhe ha-
viam feito, ele lhes explica sua filosofia a respeito de dinheiro.

“Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente
em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado, como também
ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias já tenho experiência
de fartura, como de fome; assim de abundância, como de escassez” (Fili-
penses 4:11,12).
CONTENTAMENTO
Faz já alguns anos, na cidade de Chicago, na América do Norte,
numa convenção de psiquiatras fez-se uma votação para verificar qual
havia sido o mais feliz homem de todos os tempos.

Depois de serem considerados poetas, reis e aventureiros;


conquistadores, milionários e santos, recaiu quase com unanimidade o
voto final sobre o apóstolo Paulo.

Como ser possível votar como o símbolo de alegria e felicidade


um homem que viveu freqüentemente em prisões, em perigos de morte
muitas vezes, cinco vezes açoitado com quarenta açoites, três vezes
fustigado com varas, uma vez apedrejado, em naufrágio três vezes, uma
noite e um dia na voragem do mar, e tantas outras aventuras e
sobressaltos resumidos por ele na palavra “perigos” (II Coríntios 11:23-
27)?

Será mesmo este o retrato do homem mais feliz de todos os

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tempos? A resposta é sim, pois Paulo aprendeu a viver contente em
toda e qualquer situação, lição que bem poucos aprenderam, vivendo
por isso em aflição crônica.
GRATIDÃO
Paulo sabia o valor de dizer obrigado. Conheço uma pessoa que
se encanta em dar presentes a todo o mundo, mas fica muito sem jeito
ao receber um, pois jamais aprendeu a dizer “obrigada”!

Após confessar aos filipenses que estava contente em qualquer


situação, o apóstolo expressou a seus irmãos sua gratidão, dizendo-lhes:
“Fizestes bem, associando-vos na minha tribulação” (Filipenses, 4:14). E não
apenas isto: ele louvou a sua generosidade, afirmando ser aquela igreja
a única a ministrar-lhe às necessidades, esclarecendo que o que ele
procurava não era um donativo, mas o crédito que junto a Deus, com
tal ato de amor, eles haveriam de alcançar.
SUPRIMENTO
Paulo não poderia terminar seu discurso sobre as ofertas que
recebera sem antes fazer uma afirmação que constituía a base de toda a
sua vida, independente de qualquer colaboração por parte de seus filhos
na fé. Pois ele sabia perfeitamente que, mesmo tendo supridas suas
necessidades pela ajuda de seus amigos, outra era a fonte de todas as
coisas:

“E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em


Cristo Jesus cada uma de vossas necessidades” (Filipenses 4:19).

Este foi um dos princípios que dirigiu a vida do apóstolo: o seu


Deus estava sempre no controle da situação, fosse ela “de fartura, fosse
de fome”. Em qualquer de suas epístolas não se achará nunca uma única
expressão de queixa sobre a sua situação.

Observe a confiança ilimitada que Paulo depositou no “banco do

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céu”: ele declarou que o suprimento de suas necessidades seria efetuado
“segundo a sua riqueza em glória”. Muitas pessoas nunca emitem um cheque
no banco celestial. Algumas pelo simples fato de considerarem desne-
cessário, sendo abastadas, creem não precisarem de coisa alguma; ou-
tras por ignorância de que o desejo de Deus é suprir “cada uma” de suas
necessidades.
REALIDADE
Ao pregar sobre a cura de todas as nossas enfermidades, após a
mensagem aproximou-se de mim um homem que me disse: “Bispo, isto
é bom demais para ser verdade!” Da mesma maneira pensam alguns sobre a
promessa em Filipenses 4:19, dizendo impossível estar Deus interes-
sado em cuidar da parte financeira de nossa vida; em suprir nossas ne-
cessidades. É neste ponto que cada um fica à mercê de sua fé. Se de
fato crermos que a Bíblia merece a nossa confiança e que as promessas
de Deus são para os que creem, então não será difícil acreditar que Ele
suprirá cada uma de nossas necessidades, ainda que para isto seja ne-
cessário um milagre todos os dias. Para os “Tomés” tal certeza é assaz
difícil. Eles precisam ver para crer. O que significa que em nada acredi-
tam, pois quem pode ver não carece de crer!

A promessa fala — diga-se de passagem — não de vontades, mas


de necessidades. Nossa fé não tem que ser nunca ambiciosa. Muitas
vezes há um abismo entre o que gostaríamos de ter e aquilo de que
realmente necessitamos para viver. Pois é justamente com respeito às
necessidades que Deus promete a Sua provisão. Os “finalmentes” do dis-
curso do apóstolo Paulo sobre a provisão de Deus em suprir cada uma
de nossas necessidades termina com uma das mais lindas orações: “Ora,
a nosso Deus e Pai seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém.” Semelhante
aos seus são os meus sentimentos. A Ele seja dada toda a glória, hoje,
amanhã e sempre. Porque Ele é digno de nosso louvor.

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CAPÍTULO 27

COMO
PEDIR

N um seminário ministerial, um dos pastores me disse: “Bispo


Roberto, ensine-nos a tirar ofertas.” Com bastante humildade eu
me dispus a compartilhar as coisas que considero importantes nesta de-
licada tarefa. Neste último capítulo, quase um adendum ao trabalho,
desejo dirigir uma palavra aos meus colegas que desejam participar de
minha experiência.

Tiago escreveu: “Não tendes porque não pedis” (Tiago, 4:2). Pior que
não pedir é pedir mal. O apóstolo continua: “Pedis e não recebeis porque
pedis mal” (Tiago 4:3).

São estes os dois erros referentes às finanças das igrejas cometidos


pela grande maioria de ministros em todas as partes do mundo: ou não
pedem o envolvimento financeiro do povo, ou pedem mal.
ATITUDE
Tudo começa com a atitude do pastor. Portanto, minha primeira
observação aos colegas é esta: Pedir dízimos e tirar ofertas é atividade
puramente espiritual, perfeitamente enquadrada no trabalho de um
servo de Deus.

Há apenas duas ocasiões, durante um culto religioso, em que o


membro ou visitante se enfrenta com uma decisão a tomar, ambas com
implicações espirituais. A mais importante delas ocorre em con- se-
qüência da mensagem pregada, pois ela sempre deve ser entregue com
o propósito de levar o ouvinte a uma decisão, seja ela exposta em forma
devocional, seja evan- gelística. Ninguém deve sair do santuário sem ser

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chamado a “tomar uma atitude” a respeito da verdade que, por meio do
pregador, lhe foi apresentada pelo Espírito Santo.

A outra ocasião de decisão é o momento da oferta. Deste


momento dependerão as possibilidades da obra de Deus nos dias
vindouros. Portanto, não deixa ela de ser um momento importante,
especialmente em hora de desafio missionário, expansão da obra, etc.

Se o ministro não leva a sério e de forma espiritual o seu apelo,


certamente ninguém mais o fará. Uma boa oferta, portanto, começa
sempre no coração do pastor.
PREPARAÇÃO
Antes de anunciar a oferta é importante preparar o espírito do
povo, pois uma vez anunciada, não adianta mais continuar com o apelo,
pois quase todos já determinaram o que irão dar. E por essa razão que
jamais começo com as palavras: “E agora receberemos as ofertas”. Cinco ou
dez minutos a mais para explicação pouco irão interferir naquilo que o
anúncio inicial já determinou.

A oferta deve ser antecedida de uma mini-mensagem dirigida ao


coração do ouvinte. Nunca na base de “dever” ou “lealdade” à igreja, mas
sempre enfatizando o privilégio de participar na obra do Senhor, e
assim desfrutar dos grandes benefícios que hão de seguir um ato de
obediência e generosidade.

O apelo pode ser bastante indireto e sutil, como também aberto e


minucioso, tudo dependendo do alvo a ser considerado. O ministro,
portanto, que restringe sua apresentação às palavras: “Agora, irmãos, é
hora de receber os dízimos e ofertas. Sejam generosos, pois a obra de Deus é digna
de seu sustento”, não leva a sério sua responsabilidade de apresentar ao
povo de Deus o fardo que uma obra espiritual sempre cria. Ele se
esquece de que o envolvimento nos pormenores do‘trabalho da igreja

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sempre inspira a uma colaboração maior.
A BASE
A base das finanças da Igreja de Jesus Cristo tem sido, desde os
primeiros tempos, o dízimo. O pastor que não instrui regularmente o
seu povo sobre esta responsabilidade está sendo infiel à sua chamada
de formar o caráter espiritual dos membros de seu rebanho.
MOTIVAÇÃO
Durante mais de vinte e cinco anos de ministério, sem falhar uma
única vez no hábito, tenho assumido o púlpito com duas coisas
preparadas: minha mensagem bíblica e o apelo para as ofertas. Pois eu
sempre soube que nenhuma das duas partes pode ser improvisada,
resultando quase sempre a improvisação em fracasso.

Toda oferta deve ter um alvo. Não posso enfatizar demais este
ponto. Poucas são as pessoas que se deixam motivar para pagar
despesas, ou “abençoar a obra de Deus”. Portanto, na hora da oferta é que
as atividades da igreja são motivo de apelo.

Os “desafios” que motivam ofertas não devem ser jamais


apresentados em tom de desespero. O povo não está num culto para
sobrecarregar tensões, ou acrescentar fardos aos que já tem. Colaborar
alegremente numa obra que está produzindo efeitos espirituais, isto sim
é motivo justo para um apelo.

Por mais tenso, portanto, que esteja o ministro diante das dívidas,
campanhas, despesas, construções, evangelismo, etc. a hora da oferta
deve ser sempre uma hora de alegria, de apelo positivo, de colaboração
espontânea.

O ministro que nunca apresentou apelo nessa hora tem que


cultivar o hábito devagar, a fim de não assustar a congregação
acostumada a palavras vagas a este respeito. O povo está alí para ser

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inspirado. Portanto, ande devagar e com sabedoria neste terreno.
POSSIBILIDADES
Qualquer apelo tem que estar dentro das possibilidades do povo
a quem ele é dirigido. Não adianta tentar levantar numa única reunião
dinheiro suficiente para pagar uma obra de seis meses.

O apelo deve ser “trocado em miúdos”, ou seja, dividido pelo número


de pessoas presentes à reunião, para não desencorajar quem não está
com dinheiro bastante para “pagar tudo”. Um pouco de muitas pessoas
é sempre mais fácil que muito de poucas. Todo anelo deve respeitar
este conceito.
HONESTIDADE
Parece desnecessário dizer que o apelo deve ser honesto. Quero,
no entanto, enfatizar um pormenor. O povo dá ofertas à igreja porque
tem confiança em sua liderança. Sua credibilidade, portanto, não deve
nunca sofrer a menor sombra de dúvida.

O que mais fere esta confiança por parte do povo é o apelo des-
necessário, portanto desonesto. A regra tem que ser esta: jamais pedir
dinheiro do qual não se precisa. A igreja não deve estar empenhada em
amontoar dinheiro, fazer investimentos, criar reservas. Se o povo tomar
conhecimento de que este é o caso, as ofertas vão imediatamente cessar.

Toda “campanha financeira” deve ser explicada em seus pormenores,


ou sejam:

1) Razão da mesma
2) Total necessidade
3) Prazo de sua duração
4) Necessidade da colaboração de todos
5) Relatório a curto e a longo prazo

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RESPEITO
Seja o ministro, seja um comitê leigo que esteja com a
responsabilidade de aplicar o dinheiro entregue em dízimos e ofertas,
deve conscientizar-se de que tal dinheiro é sagrado, oferecido ao
Senhor, exigindo, portanto, um respeito absoluto.

Os gastos da igreja devem ser feitos dentro dum critério muito


sólido. Todas as compras devem ser seriamente consideradas,
buscando-se sempre o preço menor possível. Administrar bem a igreja
é o mínimo a que os membros têm direito. Portanto, uma igreja mal
administrada será sempre uma igreja pobre, tanto de espíritos como de
recursos.

Voltemos agora ao ponto inicial: atitude. Nos gastos como nos


apelos, o título desse livro é aplicável: dinheiro é assunto altamente
espiritual.

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