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e
Novo Casamento
na Bíblia
Jay E. Adams
PEÈ
Publicações Evangélicas Selecionadas
Caixa Postal 1287 - São Paulo, SP - 01059-970
www.editorapes.com.br
Título original: Marriage, Divorce and Remarriage in the Bible
CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
A 176c
Adams, Jay E.
Casamento, divórcio e o novo casamento na bíblia : novo exame do que a bíblia
ensina / Jay E. Adams ; [ilustração Wirley dos Santos Corrêa ; tradução Odayr
Olivetti]. - São Paulo : Publicações Evangélicas Selecionadas, 2012.
166p. : 21 cm
Tradução de: Marriage, divorce and remarriage in the biblie ISBN 978-85-6390-
519-2
Prefácio .................................................................................... 9
Introdução .............................................................................. 13
Primeira Parte: Casamento .................................................... 23
1. Algumas considerações básicas sobre o casamento . 25
2. O que o casamento realmente significa ....................... 32
3. O lugar do casamento .................................................. 49
Conclusão 165
Prefácio
1
Em seu livro, The Right to Remarry (O Direto de Casar de Novo).
as igrejas beatificamente inconscientes das confusões com as
quais as famílias podem torcer ou embrulhar um casamento, e
mal preparados para fazer algo construtivo.
Os que têm tentado estudar o território escrituristicamente
têm descoberto que os comentaristas diferem radicalmente,
muitas vezes passando por alto questões cruciais, e têm visto que,
em geral, eles não oferecem muita ajuda. Em suas tentativas,
esses cristãos estudiosos, rapidamente pegam gosto pela
amplitude e profundidade do assunto, e se dão conta dos
numerosos e nodosos problemas exegéticos que existem. Não
poucas vezes eles concluem, relutantemente: “Não tenho tempo,
ou capacidade, para tirar todas as camadas desta cebola; minha
agenda de trabalho simplesmente não me permite fazer isso”.
Então deixa a coisa andar por si. Mas, depois, que é que tais
pastores fazem quando têm que enfrentar um dos muitos tipos de
divórcio, que estão se tornando uma parte corriqueira do trabalho
de aconselhamento do pastor? Você sabe, claro. Demasiadas
vezes o pastor se vê, constrangidamente, caindo de volta nas
tradições da sua igreja local, sofrendo pressões, que podem ser
muito grandes da liderança e dos outros membros da igreja para
que o faça, mesmo quando ele desconfia (ou sabe!) que essas
posições tradicionais são questionáveis ou mal fundamentadas.
Mas há algo mais por trás dessa fraca e insatisfatória reação
da igreja conservadora. Até muito recentemente, toda essa área
era evitada cautelosamente. Nunca deveria ser assim; mas
existem forças operantes (ver o Capítulo 1) que possibilitam às
igrejas ignorarem tais problemas, apesar de com isso cometerem
grave erro. No passado era fácil para o pastor dizer: “Lamento,
não oficio em casamentos de pessoas divorciadas”, como
também era fácil para as igrejas estabelecerem em seus
regimentos internos ou em seus estatutos termos como estes:
“Nenhum divorciado tem permissão para ensinar, cantar no coro
ou exercer algum
10
ofício”. É assim que era. E, em algumas igrejas locais, talvez num
considerável número delas, continua sendo assim. Mas, onde
essas posições ainda prevalecem, há uma diferença: tais crentes e
igrejas estão ficando com a consciência cada vez mais inquieta.
Atualmente o divórcio é uma coisa comum; não é apenas uma
doença contraída por astros e estrelas de Hollywood. A realidade
atual do divórcio até propicia pano de fundo para bom número de
programas da TV sobre família. O estigma do divórcio foi
removido de grandes segmentos da sociedade. É provável que,
em número sempre crescente, novos convertidos, divorciados e
divorciados casados de novo, ou não, estão entrando nas igrejas
evangélicas. Eles querem saber qual é a sua posição na igreja de
Cristo. E, como devem fazer, estão exigindo resposta baseada em
algo melhor que a tradição - querem saber o que a Palavra de Deus
tem para dizer a respeito.
Em resposta a essas novas pressões, tem sido produzida uma
enxurrada de livros e panfletos. Mas os escritores estão muito
divididos quanto à interpretação das passagens chaves. As
opiniões variam da completa permissividade à estrita proibição
do divórcio e do novo casamento em toda e qualquer
circunstância. A grande e desterroadora obra de John Murray,
Divorce (Divórcio), embora hesitante e incompleto em muitos
pontos vitais, ainda é o melhor que existe. Mas o seu estilo é
áspero, sua linguagem é tediosa, muitas vezes as suas conclusões
são tentativas, e por vezes errôneas, e o seu escopo é limitado. O
livro de Guy Duty, Divorce and Remarriage, é útil, mas breve e
não bem escrito. Em tudo e por tudo, a Igreja Cristã ainda está à
espera de um estudo compreensivo, lúcido, acurado e apresentado
num estilo prático e de fácil leitura, e que, não obstante, exponha
os dados bíblicos e lhes faça justiça.
Se aprouver a Deus, em Sua providência, fazer uso do
presente livro, ou ao menos de alguma parte dele, para
11
preencher a lacuna e atender às necessidades, somente o tempo
dirá. Nesta obra eu tentei fazer o que eu acreditava que era
necessário fazer, a saber, produzir o que pastores e leigos em toda
parte procuram. Minha oração é que eles encontrem o que
procuram.
Jay Adams The
Millhouse Juliette,
GA, 1980
12
Introdução
1
Em minha opinião, essa é uma razão pela qual muitos livros sobre divórcio
erraram o alvo.
13
você não quer ler. Mas, retornando, naqueles prístinos dias, era
isso que acontecia. Por quê?
Não víamos necessidade de discutir família por diversas
razões. Uma delas é que estávamos engajados numa luta de vida
e morte com o liberalismo, e estávamos perdendo a maior parte
das batalhas. Instituições cristãs tinham caído às dezenas em
mãos liberalistas; os conservadores foram lançados fora das suas
igrejas, enquanto as denominações, uma após outra, passavam ao
controle de líderes incrédulos. As emissoras de rádio (a TV
religiosa estava só começando) pertenciam aos liberais. Os
evolucionistas estavam por cima. Os conservadores sentavam-se
em suas igrejas restantes, lambendo as suas feridas. Havia
combates travados por todos os interessados, mas faltavam
recursos e pessoas. De fato, em comparação com a fartura atual
de material, havia poucos livros cristãos impressos. As grandes
casas publicadoras eram dirigidas por liberais, e liberais
formavam o seu quadro de pessoal. Os editores conservadores
eram fracos e poucos, e o mercado conservador era diminuto. Os
cristãos que acreditavam na Bíblia eram uma pequena minoria.
Os conservadores mal subsistiam, sentindo-se pendurados
pelo pescoço, e muitos deles eram dispensacionalistas do tipo que
dizia: “Logo tudo vai passar. Estamos na undécima hora. Se
pudermos aguentar um ano ou dois, o Senhor virá”. Quer dizer
que havia pouco planejamento de longo alcance, poucas
atividades, ou estas não eram agressivas e não tinham visão do
futuro, e prevalecia um mínimo interesse pelas famílias.
Emparelhado a essas atitudes vinha o fato de que não havia
muito tempo, energia ou recursos para que se pudesse produzir
muito. O que se fazia era na defensiva. Algumas coisas tinham
que ser lançadas ao mar. Desafortunadamente, a escolha era
valorizar outros assuntos, diferentes do interesse deste livro.
Embora essa explicação não escuse a Igreja, explica por que
toda uma geração (a minha) cresceu com pouca ou nenhuma
14
instrução acerca da vida cristã, em geral, e do casamento e da
família, em particular. O que nos restou foi ir tropeçando pelos
conceitos errados, tentando aprender, por duros meios, o que
agora podemos passar à próxima geração.
O jovem ministro que está começando hoje vive numa era
inteiramente diferente. A situação mudou radicalmente. A Igreja
verdadeira está no topo: os liberais é que caíram em maus tempos.
Agora os conservadores têm os maiores recursos e progridem.
Seus seminários estão cheios de alunos, e há muitos livros para
quase todas as fases da vida. (Na verdade, o problema atual é
vadear entre a pletora de publicações para descobrir quais valem
a pena.)
E, todavia, mesmo com essa mudança, há relativamente
poucos livros sobre casamento e novo casamento (virtualmente
não existem bons livros sobre estes assuntos, fora os mencionados
no Prefácio). Há obras anedóticas que falam sobre as lutas e as
dores de cabeça de casamentos desfeitos, sermões denunciando
divórcio, mas ainda são poucos os livros que consideram
exegética e teologicamente estes assuntos. Em consequência, os
pastores ainda se sentem perdidos. Seus conselhos estão confusos.
Os seminários em geral contornam o assunto, e o público cristão
está completamente perplexo. Até sobre casamento muitos pontos
ainda não estão claros.
Acrescente, então, a essa confusão todas as noções importadas
de fontes psicológicas ou psicoterapêuticas pagãs e despeje por
cima algumas ideias provindas de oradores populares bem
intencionados (mas equivocados), e você terá todos os
ingredientes necessários para uma mistura amarga. Existem mais
livros que psicologizam as Escrituras quando discutem o divórcio,
do que obras que fazem séria exegese tentando explicá-las.
Portanto, obviamente, é grande a necessidade desse tipo de
material.
Mas isso não é tudo. Houve tempo em que a Igreja pensava
(erroneamente) que podia confiar na sociedade em geral para dar
apoio e instrução a seus jovens acerca
15
do casamento.2 Educadores, políticos, líderes populares e
simplesmente quase todos os demais segmentos da sociedade (os
departamentos de polícia inclusive) assumiram uma aberta e
declarada posição em favor do casamento e contra o divórcio. O
casamento e a família tomaram um reverenciado assento ao lado
da maternidade, da bandeira americana e da torta de maçã. Assim
foi que toda uma geração (ou duas) cresceu sabendo que era a
favor do casamento, mas sem saber por quê. Éramos biblicamente
analfabetos acerca da família, do casamento, do divórcio e do
novo casamento.
Estamos cientes de muitas diferenças hoje - as pessoas não
pensam mais na bandeira americana, na maternidade e na torta de
maçã como coisas líquidas e certas. Os adeptos da Nova Era e as
lésbicas fazem acusações à maternidade, e eu realmente espero
que o Ministério da Saúde, ou o Cirurgião Geral, proíba a torta
de maçã como “perigosa para a sua saúde” num futuro não muito
distante. Os tempos mudaram. A família não é imune; junto com
outros valores axiomáticos, a importância da família tem sido
questionada. Na verdade, a família está sofrendo forte ataque; não
admira que se multipliquem os divórcios!
Uniões livres numa dúzia de variedades estão sendo
defendidas nas escolas; na TV, programas de auditório fazem do
divórcio e do novo casamento coisas triviais aceitáveis, ou até
mesmo os glorificam; e aos jovens se diz que o casamento é uma
invenção humana e que, agora que somos “adultos”, não
precisamos mais disso. Já passou o tempo da sua utilidade e, no
máximo, é inofensivo, mas desnecessário; são restos residuais de
uma era que se foi. Supostamente, nos desenvolvemos e fomos
além da necessidade do casamento como uma forma de controle
da vida humana. Se é mais conveniente não casar neste tempo em
que não somos mais ingênuos a respeito de contraceptivos, então,
que seja assim.
2
Essa é uma razão pela qual agora estamos em dificuldade.
16
Afinal de contas, o casamento tem as suas desvantagens, não
tem? E se o homem o inventou como algo conveniente, agora que
temos a pílula e o aborto forçado legalizado, o homem pode
mandar o casamento às favas, como não mais conveniente.
Debaixo desse tipo de ataque movido pelos teólogos liberais,
pelos políticos, pelos professores, pelos que praticam a medicina,
e por outros, os jovens cristãos ficam confusos. Eles cresceram
sem receber nenhuma instrução sólida, positiva, bíblica sobre o
casamento, nem dos seus pais, nem da igreja, e agora estão
sucumbindo sob o bombardeio destas ideias negativas em relação
ao casamento e à família.
Esta nova situação exige uma nova resposta da Igreja e dos
lares cristãos. Temos que aprender a discutir os elementos básicos
do casamento e do divórcio. Não podemos continuar na
dependência de que instituições sociais façam isso por nós. (Na
realidade, nunca poderíamos tê-lo deixado em suas mãos. Elas
sempre apoiaram o casamento por razões não bíblicas, e com isso
semearam as sementes da sua destruição). Se não fizermos a
nossa parte, podemos estar certos de que o mundo ensinará as
suas ideologias. E agora o mundo saiu do seu esconderijo, está
expressando abertamente as suas ideias de “nova moralidade”,
que sempre existiram - debaixo da mesa. Mas é inimaginável o
cristão ficar na ociosidade nesta questão, enquanto a nossa
juventude está sendo corrompida.
Na época anterior, quando a Igreja estava engajada em dura
batalha contra o liberalismo, quando os recursos eram tão
limitados e quando a sociedade apoiava exteriormente coisas
parecidas com os ideais relativos ao casamento e ao divórcio,
como deve ter sido fácil ignorar toda a questão! Além disso, visto
que, principalmente na igreja, divórcio era tão raro, este
representava uma tentação na qual não era provável que a igreja
não tropeçasse. O crente cansado de brigas podia perguntar
prontamente: “Por que bater num cão morto? Quem, afinal, está
lutando contra a família? Por
17
que me aborrecer dedicando muito tempo a esse assunto?” Mas,
embora não fosse inteiramente errado falar desse jeito naquele
tempo, quem não vê que é errado hoje? Em nosso tempo a guerra
está sendo travada noutra linha de frente - as linhas de combate
estão sendo traçadas dentro do lar.
Então, de certo modo, estamos numa situação melhor do que
nunca antes. Este ataque mais aberto e menos sutil à família
forçou a Igreja a voltar à Bíblia e a renovar o estudo sobre
casamento e divórcio que por tanto tempo foi negligenciado.
Quer dizer, do ponto de vista da sua responsabilidade, o que
aconteceu é uma boa coisa (apesar de que os motivos das pressões
que ela sofre são tristes).
A não ser que saiamos com tudo agora - não podemos esperar
mais - todos os valores serão rebaixados e nivelados, e,
confrontada por suas contrapartes no mundo não salvo, a próxima
geração de cristãos crescerá seguindo os seus sentimentos
pessoais nestas questões, em vez de seguir as suas
responsabilidades bíblicas.
Consideremos agora mais um fator. Naqueles dias, até quanto
eu posso me lembrar, muitas igrejas simplesmente não tratavam
das questões do divórcio e do novo casamento porque, como eu
fiz ver, não era um tema vivo. Até recentemente, nada mais do
que há 25 anos ou pouco mais, o divórcio era um problema do
qual não se ouvia falar entre os cristãos. Por conseguinte, a Igreja
podia fechar seus olhos para esse assunto. Isso era conveniente,
porque divórcio é coisa desordenada, e não é fácil entender as
passagens bíblicas pertinentes. Também naquele tempo, poucos
eram convertidos, e não haviam muitas pessoas já divorciadas
entrando na Igreja, como acontece hoje em dia. Além disso, como
observei, a sociedade franzia o cenho contra o divórcio, e até
promulgava leis que o dificultavam, de modo que mesmo fora da
Igreja havia muito poucos divórcios. As igrejas conservadoras,
tendo na retaguarda o apoio dessa atitude da sociedade, em geral
tinha poucos casos contra os quais
18
contender. Geralmente elas seguiam uma política de “deixa para
lá”. Houve exceções notáveis, claro. Mas, em geral, as igrejas
conservadoras caminhavam lentamente em uma venturosa
ignorância, colocando-se muito “acima” de tais questões sórdidas
e mundanas para dedicar tempo e enfrentar dificuldades para
estudar e resolver as numerosas questões embaraçosas, para não
dizer angustiantes, relacionadas com toda essa área. Mas então
veio um rude despertar, quando, rapidamente, as mesas foram
viradas, a nova moralidade subiu para uma alta posição, e a igreja
foi apanhada de repente em completa ignorância e com a língua
atada.
Era fácil para a Igreja assumir uma atitude de “sou mais santa
que vocês” enquanto havia poucas situações concretas para
enfrentar, situações que podiam ser evitadas. Nesses poucos
exemplos havia vidas arruinadas ao longo do caminho, claro.
Mas, em todo caso, essas pessoas não eram suspeitas?
Algumas sobreviveram a esse tratamento negligente. Outras
se foram, sabe-se lá para onde! Muitos crentes foram postos fora
dos seus ofícios, do ensino e até de cantar em coros, porque eram
“pessoas divorciadas” - e por isso se tornaram cidadãos de
segunda classe no reino de Deus.3
E muitos pastores nunca jamais celebravam novo casamento
de pessoas divorciadas, independentemente das circunstâncias;
chegava-se a esse entendimento por meio do Conselho ou da
Junta Administrativa. Os pastores defendiam com sucesso as suas
posições com declarações políticas: “Lamento, mas eu não oficio
em casamentos de pessoas divorciadas”. Não se fazia nenhuma
pergunta sobre o passado - um divórcio tinha ocorrido, e isso
bastava! Essa atitude não morreu inteiramente. Hoje, em certos
setores esse modo de agir persiste e, na verdade, tem sido
fortalecido por
3
Frequentemente, pouco importava se os divorciados eram “inocentes” ou
“culpados”, se o divórcio era biblicamente legítimo ou não; ser uma “pessoa
divorciada” era suficiente para desqualificá-la (apesar do arrependimento, dos
dons, e de outros aspectos mais que deveriam ser considerados).
19
um ensino que correntemente se espalha por todo o território dos
Estados Unidos.
Então, isso é algo que constitui o pano de fundo para a nossa
discussão. Foi assim que chegamos aonde estamos. Bem, se é
assim, onde estamos?
Estamos vivendo numa cultura em transição. Vivemos numa
época em que todos os antigos valores têm sido desafiados,
dentro e fora da Igreja. Tais valores têm sido corrompidos na raiz,
foram lançados aos ares e agora estão começando a cair como
uma salada sacudida e remexida.
20
possível. Ao leitor cabe decidir se terei tido sucesso.
Não existem outras opções. A igreja está sofrendo. Pessoas
divorciadas estão entrando como enchentes em nossas igrejas.
Novos casamentos acontecem em toda parte. É certo? É errado?
Sobre que bases as pessoas divorciadas estão sendo tratadas?
Essas e muita outras perguntas não podem continuar sendo
ignoradas. Sendo que eu penso que tenho algumas respostas,
embora não todas, eu seria remisso se não tentasse esclarecer
quantos problemas puder. Você tem em mãos os resultados dos
meus esforços.
Eu disse que me agrada o fato de a Igreja não poder mais
A
evitar esta área. E certo; a frequência das interrogações e a
enormidade do presente problema a inúmeros pedidos de um
livro como este.
Reconheço que este livro vem tarde demais para muitos
necessitados de ajuda. Mas talvez consigamos alcançar alguns
deles e então impedir que sejam dados mais passos em falso
(fauxpas).
Também reconheço que há muitos que querem varrer todo o
problema para debaixo do tapete. Tal fato não nos deve deter.
Tampouco devemos diminuir o passo por causa do perigo
envolvido. Falo de perigo de caso pensado. Existem alguns -
talvez mais do que eu saiba - para os quais esta questão é a mais
explosiva de todas as passíveis disso. Murmuração, cisma, e até
adultério, segundo eles, lhes parecem perdoáveis; mas, divórcio?
Nunca! Para eles essa é uma questão que mexe muito com as suas
emoções, e passam árduo tempo reconsiderando o que a Bíblia
diz sobre divórcio e novo casamento devido a seus fortes
sentimentos. E por isso que há algum perigo em escrever sobre
divórcio e novo casamento. Se você é uma das pessoas cujos
sentimentos acerca deste assunto são intensos, espero que faça ao
menos estas três coisas: 1
22
PRIMEIRA PARTE
CASAMENTO
1
Algumas Considerações Básicas
sobre o Casamento
25
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
Que é Casamento?
Contrariamente a muito pensamento e ensino contemporâneo,
o casamento não é fruto de aptidão humana. Não foi inventado
pelo homem nalgum ponto do caminho percorrido pela história
humana, como um meio conveniente de dar saída às nossas
responsabilidades pelos filhos, etc. Em vez disso, Deus nos
declara que Ele próprio estabeleceu, instituiu e ordenou o
casamento no princípio da história humana (Gênesis, capítulos 2
e 3).
Deus designou o casamento para ser o elemento fundamental
da sociedade humana. Antes de existirem uma igreja, uma escola
ou um comércio formalmente instituídos, Deus instituiu
formalmente o casamento, declarando: “Portanto deixará o varão
o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos
uma carne”.1 E importante ensinar esse fato aos jovens.
Se o casamento fosse de origem humana, os seres humanos
teriam direito de pô-lo de lado. Mas, visto que Deus instituiu o
casamento, só Ele tem o direito de fazer isso. Ele disse
1
Gênesis 2:24. Claro está que, informalmente, a Igreja, o trabalho, a educação,
etc., estavam presentes desde o início. Mas unicamente o casamento foi
estabelecido como uma instituição desde o jardim (do Éden).
26
Algumas Considerações Básicas sobre o Casamento
2
Marcos 12:25; Lucas 17:26,27.
27
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
3
Assim como Deus trata indivíduos, nações, a Igreja e as congregações ou igrejas
locais, assim também Ele trata as “casas”. Cf. Gên. 71; 19:12-14; Jos. 2:19;
6:23; Deut. 11:6; Atos 16:31; João 4:53; Atos 10:12; 18:8. De acordo com Josué
7:14, Deus dividiu a nação em tribos, clãs, casas (famílias) e indivíduos. A
palavra “casa” é empregada com referência a habitações físicas, ao templo e ao
tabernáculo, à Igreja (1 Tim. 3:5), a uma linhagem familial (tribo: Mat. 10:6;
Luc. 2:4) e famílias individuais: Marcos 6:4; Atos 7:10; 16:31. Uma “casa”
incluía todos os que estavam debaixo do seu teto (e, assim, debaixo da
autoridade de um chefe). Isso incluía escravos, parentes, etc. No caso de Davi
(Salmo 101:2), a casa era o seu palácio e todos os que moravam nele. Mas a
casa podia ser pequena o suficiente para ser habitada por somente um casal.
28
Algumas Considerações Básicas sobre o Casamento
4
Cf. Êxodo 22:16 (Berkeley). É evidente que, se o homem e a mulher tivessem
que se casar mais tarde, significa que não estavam casados; e, se o pai recusasse
entregar a filha, nunca se casariam ou se juntariam.
5
Este assunto será discutido em profundidade mais adiante.
29
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
6
Se o adultério dissolvesse o casamento, Deus não poderia dizer aos israelitas
adúlteros: “...sendo ela a tua companheira, e a sua mulher por concerto” (Mal.
2:14b). Ela não seria nem uma coisa nem outra e Deus não teria feito referência
ao concerto como fez.
7
Naturalmente, na única palavra perdão estou incluindo o arrependimento e a
busca do perdão de Deus e do cônjuge.
30
Algumas Considerações Básicas sobre o Casamento
Para ver algo mais sobre este assunto, consulte o meu livro, Afore than
Redemption (Philipsburg, N. J.: Presbyterian Reformed Publishing Co.,
1979), pp. 129ss.
31
2
O Que o Casamento
Realmente Significa
32
O Que o Casamento Realmente Significa
1
Mateus 19:10. Diga-se de passagem que, de acordo com 1 Corindos 9:5, todos
eles se casaram.
33
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
2
Muitos solteiros são tristes e se sentem solitários porque não testaram os seus
dons para determinar se receberam o dom especial de serviço exclusivamente
pessoal em prol do império de Cristo. Pode-se determinar isso pelos testes de
Mateus, capítulo 19 e 1 Coríntios 7:8,9. E preciso que o cristão faça o teste para
ver (1) se a continência sexual a vida toda é uma possibilidade, e (2) se ele
encontra satisfação e companheirismo na obra do reino de Deus. (Quando
alguém não faz nada de especial no reino de Deus e só busca seguir a sua
própria “carreira”, ele ou ela não pode saber nem esperar encontrar a resposta
à solidão. O dom deve ser exercido para Deus).
34
O Que o Casamento Realmente Significa
3
É possível (mas não provável) que Paulo uma vez fora casado. Mas, certamente,
na época em que ele escreveu 1 Coríntios, não era. Pode ser que tenha ficado
viúvo, ou que tenha sido deixado pela esposa (possivelmente, talvez até seja que
ela se tenha divorciado dele), por ele ter sido convertido ao cristianismo.
35
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
A Aliança de Companheirismo
Agora devemos considerar em detalhe o que já vimos que é a
real essência do casamento: o companheirismo. Deus criou a
maioria de nós de modo que nos sintamos solitários sem a
companhia íntima de alguém com quem viver. Deus providenciou
Eva, não somente (nem mesmo primariamente) como auxiliadora
de Adão (embora a ajuda também é uma
4
Ver também o versículo 29.
36
O Que o Casamento Realmente Significa
5
Mulher estranha (ou “estrangeira”) = uma adúltera. Era chamada estrangeira
porque nem prostitutas nem adúlteras tinham lugar em Israel.
37
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
Noivado
Devemos agora dar atenção à importante questão do noivado
(compromisso de casamento) na Bíblia. Hoje em dia, em nossa
cultura muito diferente, muitos cristãos têm pouco ou nenhum
entendimento do que era o noivado bíblico e do que esse envolvia.
Não se deve ler os relatos bíblicos impondo a eles a forma e o
sentido das práticas modernas.
Para nós, o noivado é com frequência um período de
experiência. Muitos o veem como o compromisso oficial de ir
6
As palavras para companheirismo são empregadas de modo intercambiável,
como o indica o uso que delas se faz no paralelismo de Miquéias 7:5 (cf.
ARA).
38
O Que o Casamento Realmente Significa
7
Cf. Douglas, The New Bible Commentary (Grand Rapids, Michigan:
Eerdmans, 1962), p. 788
8
Em tais casos, se deveria ocorrer o casamento ou não, era decidido pelo critério
do pai, como se vê na passagem mais completa de Êxodo 22:16,17. Certamente
se levava em conta o desejo da jovem.
9
Provavelmente, também nos versículos 20 e 24 a tradução deveria ser, “receba
Maria, tua mulher”, e “recebeu a sua mulher” [assim Almeida], e não “Maria
como sua mulher”.
39
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
10
O que os homens podiam chamar brandura, Deus podia chamar dureza, se se
tratava de dureza de coração para com as leis e ordenanças de Deus. Mas esta
explicação não me parece muito verossímil.
40
O Que o Casamento Realmente Significa
11
A palavra para aba em Rute e para orla em Ezequiel [na versão de Berkeley]
também significa “asa”. A ideia de asa como protetora é comum (Salmo 36:7;
Éx. 25:20). No noivado a jovem passava a ficar sob o cuidado e interesse
protetor do rapaz.
12
Ao que parece, os votos eram feitos durante a cerimônia de noivado.
13
Aí também estava envolvido o “juramento”.
41
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
14
Cf. Everyday Life in Bible Times (National Geographic Society, n.p., 1967)
pp. 305,306. Ver também Talmud, Kethuboth 57.
15
Os contratos gregos do período do Novo Testamento são ainda mais formais. Cf
Hunt and Edgar Select Papyri (Cambridge, Mass., Harvard U. Press, 1970),
vol. I, pp. 2-23. E muito interessante que esses contratos incluem
particularidades que envolvem um possível divórcio.
42
O Que o Casamento Realmente Significa
43
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
Outros Fatores
Já falei de outros fatores inclusos no companheirismo. Quais
são?
A passagem de Gênesis 2:18 e 24 nos diz muita coisa. A
palavra adjutora ou auxiliadora, que entrou na língua inglesa, é
uma palavra híbrida. Quando um marido diz, “Eis minha
auxiliadora”, diz duas coisas. Em 1611, quando foi feita a Versão
King James, o versículo 18 dizia: “Farei para ele uma ajuda
própria para ele”. As palavras ajuda e própria foram escritas
separadamente como dois termos distintos. Posteriormente, no
linguajar popular, houve uma fusão dos dois termos formando um
só. Em 1611, ajuda (help) significava exatamente o que
atualmente significa a palavra ajudador(a); o outro termo (meet)
significa justamente ser próprio, ser apropriado, ou corresponder
a, ou aproximar-se de em todos os pontos. Assim é que Deus diz:
farei para ele uma ajudadora apropriada para ele. Própria,
apropriada, adequada, etc., são traduções de uma palavra hebraica
que contém a ideia de alguém que lhe faz frente, que lhe é contra,
ou que chega perto. Podemos falar com propriedade de Eva como
a outra metade de Adão (não a melhor metade), o que, na união
pactuai do casamento, forma um todo completo. Esta outra
metade chega perto de Adão em todos os pontos.
Como contraparte do homem, a mulher completa ou preenche
a vida do homem, fazendo dele uma pessoa maior do que seria
sozinho, introduzindo em seu quadro de referência uma nova
dimensão, a dimensão feminina pela qual ele pode ter uma visão
da vida que de nenhum outro modo poderia ter conhecido. E,
então, ele também dá à sua mulher uma perspectiva masculina que
alarga a sua vida, fazendo dela uma pessoa mais completa do que
seria sem ele. Esta união matrimonial por concerto resolve o
problema, não meramente por preencher uma lacuna, mas por
fazê-la transbordar. Algo mais que a simples presença está
envolvido.
44
O Que o Casamento Realmente Significa
45
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
46
O Que o Casamento Realmente Significa
16
Cf. Hebreus 4:13 - “E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas
as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar”.
47
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
OBSERVAÇÃO
48
3
O Lugar do Casamento
49
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
1
Ver principalmente os comentários sobre esse termo numa nota de rodapé do
capítulo 1.
2
Para obter mais elementos sobre esses problemas, ver o meu livro Christian
Living in the Home, pp. 51-56.
50
O Lugar do Casamento
3
Um livro sobre este assunto e que mostra como fazer isso é How to Develop
Deep Unity in the Marriage Relationship, de autoria de Wayne Mack
(Phillipsburg, N. J.: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1978).
4
A comunicação, por exemplo, é um elemento essencial do companheirismo. Ver
Christian Living in the Home, pp. 25-41 para uma discussão completa sobre
este importante tema.
51
SEGUNDA PARTE
DIVÓRCIO
4
Uma Atitude Bíblica
Com Relação ao Divórcio
55
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
56
Uma Atitude Bíblica Com Relação ao Divórcio
1
Cf. também Esdras 10:2,3,11,19. Temos aí o plano adotado de que fosse feito
um “concerto com o nosso Deus” de que os culpados se divorciariam das
mulheres estrangeiras. E foi dito explicitamente que fariam isso para “honrar” a
Deus “fazendo o que Ele quer” (10:11, Berkeley). Isso foi feito pela fé, num
período de arrependimento (cf. 10:19). N.B, em “concerto com Deus”, cento e
treze divórcios foram realizados, movidos pelo arrependimento, para honrar a
Deus. Certamente, nem todo divórcio é errôneo, muito embora, todos os
divórcios - estes inclusive - sejam ocasionados por pecado.
57
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
58
Uma Atitude Bíblica Com Relação ao Divórcio
2
Para obter mais informação sobre o pecado imperdoável, veja meu livro, The
Christian Counselor’s Manual, pp. 426-428. [A Editora Fiel publicou a
tradução dessa obra: Manual do Conselheiro Cristão.]
3
Ainda que você sofra perseguição e ostracismo. Há pessoas que se deixam
dominar tanto pelas emoções, quanto à questão do divórcio, que adotam um
conceito muito simplista sobre o assunto, e nem sequer tentam entender o
59
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
60
5
O Conceito de Divórcio
1
A palavra epitrepo significa precisamente conceder ou permitir.
61
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
2
Na verdade, o divórcio apareceu pela primeira vez no registro bíblico como uma
prática consumada e completa, indicando que nessa época já era bem conhecido
e estabelecido. Há um vocabulário técnico e fórmulas legais afixados nele (lei
do divórcio) e, passo a passo, transcorria o processo pelo qual o divorcio era
obtido. No Velho Testamento o divórcio é mencionado dessa maneira em Lev.
21:7, 14; 22:13; Núm. 30:9; Deut. 22:19, 29; 24:1-4; Is. 50:1; Jer. 3:1, 8; Ez.
44:22; Mal. 2:14,16.
62
O Conceito de Divórcio
O Processo de Divórcio
63
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
3
Essa exigência era muito mais rigorosos do que o divórcio verbal permitido
noutras culturas, onde bastava que a pessoa dissesse três vezes ao cônjuge: “Eu
me divorcio de você”, para que o divórcio fosse efetivado.
4
Cf. reprodução fotográfica na Encyclopedia Judaica (Nova Iorque:
Macmillan, 1971), vol. 6, p. 123.
64
O Conceito de Divórcio
5
W. W. Davies, International Standard Bible Encyclopadia (Grand Rapids:
Eerdmans, 1949), vol. 2, p. 865. Cf. Guy Duty, Divorce and Remarriage
(Mineápolis: Bethany Fellowship, 1967), pp. 34,35, para ver um exemplo
parecido. A expressão ho thelei em 1 Coríntios 7:39 provavelmente teve sua
origem nas formulas das cartas de divórcio; cf; A. Deissmann, Light from the
Ancient East (Grand Rapids: Baker, 1978), p. 324.
65
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
6
Hunt e Edgar, Select Papyri (Cambridge, Mass.: Harvard, 1970), vol. 1, pp.
23,24, 27.
7
Permitam-me dizer apenas isto aqui: a palavra chorizo é empregada
frequentemente nessas cartas no sentido de separação por divórcio. Este ponto
será de grande importância para o nosso estudo.
8
Lembre-se, não odeia a carta, ou o processo; odeia o pecado que está envolvido
no divórcio.
66
O Conceito de Divórcio
67
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
9
Veremos que essa foi a ênfase de Paulo em 1 Corindos 7:11, onde, sem
dúvida, ele tinha em mente o regulamento de Deuteronômio 24:1-4.
68
6
Que é Divórcio?
1
[1 no original] Carta de divórcio = sepher kerithuth (caria ou certificado de
“corte”). Uma parte era de fato cortada pela outra parte, homem ou mulher, que
lhe impunha o divórcio. As responsabilidades de cumprimento das promessas
do compromisso de casamento também eram cortadas (ou terminadas). Outras
palavras do Velho Testamento são empregadas, (principalmente garash =
“expelir, pôr fora”; cf. Lev. 21:7, 14; 22:13; Núm. 30:10; Ez. 44:22, e shalach
= “despedir, mandar embora, deixar ir, pôr fora”; cf. Deut. 21:14; 22:19, 29;
24:1,3,4; Is. 50:1; Jer. 3:1; 3:8).
69
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
Separação
Alguns comentários iniciais sobre a palavra chorizo,
“separar” (por divórcio) já foram feitos. Um ou dois fatos devem
ser trazidos à luz nesta altura, e mais adiante será preciso
acrescentar alguma coisa a respeito.
Segundo a Bíblia, a ideia moderna de separação como algo
menos do que o divórcio (legal ou não) era totalmente 1
1
Apoluo = divórcio por expulsão. O Novo Testamento emprega também a frase
“carta de divórcio” (da LXX, biblion apostasiou). Um termo muito importante
é chorizo = separar por divórcio. E preciso considerar essa palavra em detalhe
mais adiante. A última palavra importante é aphiemi, “deixar, mandar embora,
divorciar-se” = sair por divórcio.
70
Que é Divórcio?
3
Cf. Mat. 19:6; 1 Cor. 7:10,11, 15. A ideia moderna de separação é uma
substituição antibíblica da exigência bíblica de reconciliação ou (em alguns
caos) de divórcio. Somente essas duas opções são dadas por Deus. A separação
moderna não estabelece nada de positivo; limita-se a uma recusa a enfrentar as
questões e resolvê-las. Pode ser que o mundo não tenha recursos para resolver
tais problemas, e então opta por um intranquilo cessar fogo. Mas a Igreja tem
recursos, bastando que se aproprie dos meios bíblicos. De todas as coisas, a
separação (em sua forma moderna) é a que tende mais a dissolver a paz para a
qual Deus nos chamou (1 Cor. 7:15c). Esse tipo de separação mantém todas as
partes envolvidas no fim da linha, brincando com elas como um peixe na água
dançando sobre a sua cauda. Esse procedimento transgride a ordem de Deus em
1 Corindos 7:5, desconsidera a sua advertência e coloca tanto o marido como a
mulher numa situação de desnecessária tentação. O problema é que há cristãos
que se destacam em sua tendência para recorrer à separação, não somente como
outros que desobedecem à ordem de Deus para que se faça reconciliação, mas
principalmente quando é requerido o divórcio (1 Cor. 7:15). Eles pensam:
“Bem, ao menos não estamos divorciados!” Isso porque o divórcio - em todos
os casos, mesmo quando justificado biblicamente - foi levado a ser tido como o
maior de todos os pecados. E tempo de dizer que, em certas situações, a
separação pode ser pior - principalmente quando funciona como substituto dos
trâmites estabelecidos por Deus na Bíblia.
A separação pode propiciar um “período de esfriamento”, como alguns
alegam? Dificilmente, visto que constitui desobediência a mandamentos de
Deus (1 Cor. 7:5 vê isso como um aquecimento da fumaça, quando esta deveria
estar fria: somente o casamento a esfria - cf. 7:9). Além disso, todo conselheiro
sabe que a maneira de juntar ou manter juntas as pessoas não é dizer-lhes que
se apartem. A separação esquenta o que não deveria esquentar, e esfria o que
não deveria esfriar. O esfriamento que ocorre muitas vezes é devido a um
sentimento de alívio dos problemas anteriores, um falso sentimento de paz que
é erroneamente interpretado como uma solução do problema. A verdade é que
nada foi solucionado de fato. Mas, por causa desse alívio temporário, fica muito
difícil efetuar a reconciliação. Frequentemente uma das partes (ou ambas) diz:
“Nunca estive tão bem!” - e não percebe que faz oscilar o barco. Com o tempo
essa paz o deixará, mas, por algum tempo pode ser um dissuasor tão forte da
reconciliação que pode destruir totalmente as prospectivas. A separação é outro
meio de fugir dos problemas, em vez de resolvê-los segundo os meios dados por
Deus.
A primeira coisa que o conselheiro deve fazer, quando lida com pessoas
separadas, é fazê-las juntar-se outra vez (ponto no qual se vê sua grande
relutância em retornar), para que possa ajudá-los a trabalhar os seus problemas
num contexto (de casamento) no qual se possa chegar a uma solução. Duas
71
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
72
Que é Divórcio?
73
7
Os Dois Grupos
em 1 Coríntios, capítulo 7
74
Os Dois Grupos em 1 Coríntios, capítulo 7
76
Os Dois Grupos em 1 Coríntios, capítulo 7
1
Nesse exemplo, a voluntária desobediência do povo de Deus à Sua Palavra está
por trás do problema; aqui o jugo desigual foi ocasionado pela evangelização
que teve bom êxito somente com um cônjuge de um casamento que fora
contratado por dois incrédulos.
77
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
2
Tal desiderato é sempre possível porque aqueles cristãos professos que se
recusem a atender à disciplina da igreja (local) e persistam nessa recusa, afinal
acabarão sendo julgados incrédulos (num julgamento funcional que os exclui
da igreja) por causa da sua inépcia em não chegar a uma solução pacífica das
diferenças.
3
Mas, note bem, aqui, em Romanos 12:18, estão em vista duas possíveis reações
dos não crentes às aberturas pacíficas feitas pelo crente. O cristão sempre deve
buscar a paz e a harmonia. Quando não se consegue obter paz, é preciso que
aconteça que a causa desse fiasco esteja no incrédulo; o fracasso nunca deve
ser culpa do crente.
78
8
O Divórcio Entre Crentes
(Considerações Preliminares)
1
[no original 1] Neste exemplo, Paulo pode ter omitido a exceção a fim de
estabelecer mais acentuadamente o contrate entre os versículos 10,11 e os
versículos 12-16. Certamente ele entendia a exceção, mas, aqui, citá-la não
atenderia a seu propósito geral. Citá-la seria complicar desnecessariamente o
que ele queria dizer.
79
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
2
Chorizo = separar-se por divórcio. Talvez Paulo tenha empregado essa palavra
fazendo eco ao uso que Jesus fez dela em Mateus 19.6; Marcos 10.9. Nessas
passagens também está claro que chorizo se refere a divórcio.
3
Há um bom motivo para pensar que Paulo tinha Deuteronômio 24:1-4 em mente
quando escreveu o versículo 11. Afinal, é a uma discussão de Deuteronômio,
capítulo 24, feita por Jesus e os fariseus, que Paulo se refere nos versículos 10
e 11. Além disso, o adultério ocorre quando alguém que se divorciou, com a
obrigação de se reconciliar e de se casar novamente com sua primeira esposa,
em vez disso casa-se com outra pessoa.
80
O Divórcio Entre Crentes (Considerações Preliminares)
4
Também estaria em pecado quem se casasse com outra pessoa, depois de ter
obtido divórcio de uma pessoa crente fundado em bases antibíblicas. O crente
está obrigado a arrepender-se e a restabelecer os primeiros laços matrimonias
apropriadamente.
E muito importante reconhecer o problema das obrigações. Os conselheiros
sempre devem ser muito cautelosos ao checarem as obrigações que
permaneçam. Se a obrigação de um crente é permanecer sem casar/reconciliar-
se, o conselheiro pode ter que dizer: “Não, você não pode casar-se com outra.
Você nunca se preocupou em cumprir suas obrigações diante de Deus e de sua
primeira esposa”. Muitas vezes as igrejas não gerenciam apropriadamente tais
questões, e então as situações se agravam. Mas, independentemente do que uma
igreja tenha feito ou não, agora que apareceu um erro em não assumir alguma
obrigação, o crente deve arrepender-se - ainda que se tenham passado dois ou
três anos - e fazer o que deveria ter sido feito na ocasião cm que se pensava em
divórcio; é preciso encarar as obrigações, mais cedo ou mais tarde. E preciso
corrigir todos os erros, quanto possível. E certo que isso é mexer com vespas,
concordo. Mas, se você, como conselheiro, cuidar de vespa por vespa,
finalmente terá eliminado o enxame.
Durante esse processo, é necessário que o crente se sujeite à disciplina da
igreja, conforme Mateus 18:15ss, e, se a igreja a que seu cônjuge pertence se
recusar a exercer a disciplina, quando requerida de maneira apropriada, o crente
(e, se necessário, o conselheiro, dando um tempo para isso), deve fazer a igreja
notar que a disciplina é um direito e um privilégio dos membros da igreja de
Cristo - sendo que, entre outras coisas, o objetivo da disciplina é levar a uma
reconciliação, e, como tal, não deve ser omitida. Se, depois de visitas entre os
pastores e, se necessário, de líderes da igreja, esta ou aquela igreja ainda se
recusar a aplicar a disciplina, eles devem ser tratados (em julgamento funcional
ou administrativo) como incrédulos (exatamente como uma igreja modernista
que se recusa a sujeitar-se à autoridade de Cristo é julgada não cristã), incluindo
o cônjuge que é membro da igreja em questão. Então o assunto todo se enquadra
em 1 Coríntios 7:15. O trato da questão deve seguir adiante até o ponto em que
se possa resolvê-la. Um resumo dos procedimentos, incluindo o registro do
resultado, deve ser registrado nas atas da igreja ou do órgão administrativo. Ver
a nota de rodapé sobre 2 Coríntios 2:6-11 na obra intitulada The Christian
Counselor’s New Testament.
5
Ver as duas notas de rodapé acima. Cf. também os comentários sobre os usos
bíblicos e extrabíblicos desta palavra num capítulo anterior deste livro
(capítulo 6).
81
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
6
Nesse caso, não é a poliandria que está em vista, mas sim a ideia de que, uma
vez que o divórcio praticado o foi em desobediência à ordem de Deus (7:10),
esse divórcio cai na situação exposta em Deuteronômio 24:1-4, onde, mesmo
que um segundo marido se divorciasse dela, ela estaria proibida de se casar
com o seu primeiro marido.
82
O Divórcio Entre Crentes (Considerações Preliminares)
83
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
mas (pior), se, como acredito que acontece, ele está errado, ele
está defendendo a fornicação. As relações sexuais fora do
casamento as Escrituras proíbem. Para a Palavra de Deus, esse
tipo irregular de união não existe. É muito fácil atirar livremente
frases como “ainda casados aos olhos de Deus”, mas quem faz
isso verá que é coisa muito séria encarar as suas implicações.
O conceito é, verdadeiramente, repugnante. Deus denomina
agamos (não casados) o estado de dois crentes divorciados
pecaminosamente. Devido às nossas racionalizações, que não
sejamos culpados de juntar o que Deus separou! Os fatos são
claros - o divórcio rompe o casamento, e os direitos e privilégios
do casamento não pertencem às pessoas divorciadas. Todavia,
outras obrigações são impostas aos cônjuges divorciados
pecaminosamente, quais sejam:
1. Requer-se deles (outra vez mediante uma ordem - 1 Cor. 7:11)
que permaneçam não casados (i.e., que não se casem com outra
pessoa), a fim de
2. poderem reconciliar-se.
7
A palavra usada em ambos os Evangelhos é chorizo = separado por divórcio.
84
O Divórcio Entre Crentes (Considerações Preliminares)
8
Devemos discutir mais adiante o sentido de adultério.
9
Certamente, se ela é proibida de se tornar esposa num novo casamento aos olhos
do homem, enquanto que o tempo todo continua sendo sua esposa aos olhos de
Deus, surge uma situação sumamente extraordinária: ela jamais poderá fazer
exteriormente o que é interiormente uma realidade. Qualquer noção desse tipo é
alheia ao ensino bíblico.
Além disso, se alguém sustenta que é o casamento com um segundo
marido (e não o divórcio do primeiro) que rompe o casamento, por que Jesus
declarou que é o divórcio (separação) que rompe o jugo imposto por Deus? Ele
deveria ter dito que o casamento com outro é que causa o rompimento. Com base
nesse falso conceito, o adultério = poliandria, não poligamia.
85
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
10
Afirmar, com alguns, que Romanos 7:1-3 ensina que nada, exceto a morte, pode
romper o casamento, (1) é repudiar as palavras de Cristo com as quais Ele
declara que o homem pode fazer em pedaços, pelo divórcio, o que Deus juntou
sob um só jugo, (2) é entender mal a intenção de Romanos, capítulo 7, onde o
casamento não está em discussão, mas é só utilizado como ilustração, (3) é
deixar de reconhecer que, para fins de ilustração, o princípio geral exposto sem
qualificar exceções como estas, complicaria e assim poria abaixo o propósito
da ilustração, obscurecendo a tese de Paulo, e (4) é declarar que todos os novos
casamentos após divórcio são formas de poligamia ou de poliandria “aos olhos
de Deus”.
86
9
O Divórcio entre os que estão sob
Jugo Desigual
Por meio dessa declaração nós vimos (no capítulo 7) que Paulo
não quer dizer: “Vou dar a minha opinião, não autorizada, não
inspirada” (nem qualquer coisa desse tipo), mas, sim: “Vou tratar
de um assunto que Jesus não discutiu”.1
As palavras “aos outros” implicam a existência de outro grupo
ou classe de pessoas às quais o que foi dido nos versículos 10 e
11 não se aplica (ao menos em parte). Este segundo grupo difere
do primeiro em que, diversamente do grupo sobre o qual Jesus
discutiu, este segundo grupo se vê numa situação diferente,
enfrentando diferentes problemas.
Agora que a Igreja se movera rumo ao mundo do
Mediterrâneo, produzindo convertidos gregos e romanos, muitas
vezes um dos cônjuges era convertida e o outro não.
1
Há motivos para isso: Jesus estava falando a pessoas no contexto pactuai da Sua
igreja. Ele estava respondendo a comentários sobre Deuteronômio 24:1-4,
passagem que regulamentam o divórcio entre crentes professos. Seu interesse
era reiterar os princípios do casamento dados a Adão. Noutra palavras, não era
propósito de Cristo tratar de todas as possíveis circunstâncias nem todos os
ângulos da questão do divórcio.
87
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
2
Para ter mais alguma coisa sobre isto, veja o meu comentário de 1 Pedro, Trust
and Obey (Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and Reformed Pub. Co., 1979).
5
Ser “santificado” pelo crente (7:14) significa que o marido (ou a mulher) não
crente é “posto à parte”, numa posição “única” onde o parceiro não crente,
homem ou mulher, é exposto normalmente ao evangelho e às influências do
Espírito Santo. “Santificado”, neste contexto, não significa “salvo”.
4
Ser “santo” e não “imundo” (7:14) significa que o filho de um crente é
88
O Divórcio entre os que estão sob Jugo Desigual
“separado” dos demais por ser colocado sob os cuidados e a disciplina da igreja
de Deus e está sujeito a muitas influências que os “imundos” (palavra que se
refere aos gentios ou pagãos) não recebem. O cuidado e a disciplina de Deus,
em favor destes pequeninos, membros do rebanho, verdadeiramente os separam
dos outros que não estão nessa posição privilegiada. Não se diz que o filho
“santo” foi “salvo”.
5
A palavra empregada nos versículos 12 e 13 é aphiemi, que significa “mandar
embora, divorciar-se, deixar”. Qualquer dos sentidos básicos é aplicável: o
crente não deve fazer nada para romper os laços matrimoniais, mas, sim, deve
fazer tudo para preservá-los.
6
Muitos cristãos querem sair de casamentos mistos quando seus cônjuges não têm
esse desejo. Essa atitude não deve ser nem encorajada nem apoiada. Tampouco
os cristãos devem fazer coisa alguma para provocar a saída dos seus cônjuges.
Qualquer coisa que se pareça com isso é contrária ao espírito da passagem aqui
em foco.
89
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
7
Mas não somente sobre essas bases. Paulo não informa os motivos para o desejo
do incrédulo de romper os laços do casamento. O cristão não fica restrito a
algumas bases somente. O imperativo permissivo “aparte-se” aplica- -se a
qualquer caso em que o incrédulo não quer mais (ou não “consente”) em
“habitar” com o cônjuge crente (cf. 7:12,13) - independente do motivo
(contanto que o cônjuge crente não tenha provocado o outro em vez de tentar
manter o casamento).
8
No tempo de Paulo não se exigiam nem advogado nem trâmites civis.
9
Em nossa cultura, alguns estados exigem fundamentos para o divórcio. Isso cria
problemas. Não há nenhuma exigência bíblica de que a carta de divórcio
declare os fundamentos dessa pretendida ação. A carta era simplesmente uma
notificação legal de que o casamento fora dissolvido. Atualmente, os incrédulos
podem tentar obter o divórcio (no tempo de Paulo você não o obtinha do
Estado, você simplesmente o dava) sobre bases falsas. O crente pode não
perdoar a
90
O Divórcio entre os que estão sob‘Juno Desigual
91
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
11
Deo também é empregado em Mateus 16:18; 18:18, na fórmula para ligar e
desligar, como em sua contraparte hebraica, ashar.
92
O Divórcio entre os que estão sob Jugo Desigual
12
Há um alívio inicial da tensão que dá um falso e temporário sentimento de paz,
e que faz com que as partes fiquem relutantes em se juntarem outra vez.
93
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
94
10
A Cláusula Excepcional
95
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
1
Cf. Mateus 19:3, os seguidores de Hillel afirmavam que as palavra “por nela
achar coisa feia”, em Deuteronômio, capítulo 24, permitem o divórcio por
razões insignificantes, como estragar a comida, e que, certamente, o homem
podia divorciar-se de sua esposa se achasse uma mulher da sua preferência (cf.
Gittin 14:10). Cf. também Josefo, Antiquities 4.23 (Josefo divorciou-se de sua
mulher porque não gostou do seu comportamento). Life, p. 75.
96
A Cláusula Excepcional
(1) “...a não ser por causa de prostituição [sobre a base de pecado
sexual, ou de fornicação, pomeia]” (Mat. 5:32).
(2) “...não sendo por causa de prostituição [pecado sexual,
fornicação,porneia]” (Mat 19:9).
2
Note-se que eles sabiam que Jesus estava falando sobre pessoas casadas, não
apenas comprometidas.
97
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
E:
Portanto, o assunto tratado aqui é o ato de mandar embora o
cônjuge e o novo casamento, em coordenação, e essa
coordenação não deve ser perturbada de modo nenhum.6
A argumentação que conduz a essas conclusões é sólida e
convincente.
Fornicação e Adultério
A fim de respondermos à segunda objeção - de que o uso da
palavra fornicação [“prostituição”, ARC] indica que Jesus
3
Problemas adicionais ocorridos aqui deverão ser considerados mais adiante.
4
John Murray, Divorce (Filadélfia: Presbyterian and Reformed Publishing Co.,
1961), pp. 35ss. Veja o estudo completo de Murray.
5
Id., p. 40.
6
Id.,p. 41.
98
A Cláusula Excepcional
7
Os diferentes termos hebraicos são zahnah (cometer fornicação) e nahaph
(cometer adultério). Sobre zahnah Gesenius (Tregelles) diz: “Atribuído própria
e principalmente à mulher; quer casada... quer não casada, Gên. 38:24; Lev.
19:29. Oséias 3:3... min é colocado antes do marido de quem a adúltera se aparta
ao praticar prostituição, contra o qual ela cometeu transgressão, Salmo 73:27...
Oséias 1:2... 4:12... Ez. 23:5 e 16:15 (ela cometeu adultério [cometeu
fornicação] com um marido, isto é, enquanto essa mulher tinha marido...)” -
(Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1978), p. 249. Note-se que em juízes 19:2
se declara que uma concubina cometeu fornicação (zahnah) contra o seu
marido (ele é denominada “esposa”).
8
Cf. Apocalipse 2:20, 23. Em 1 Coríntios 10:8 se declara que 23.000 pessoas
cometeram fornicação. Nenhuma delas era casada; será que somente pessoas
não casadas se envolvem em pecado sexual? Ver também o uso de porneia na
LX X , em Ezequiel 16:23; Oséias 2:3, 5; Amós 7:17. Estas e outras passagens,
algumas das quais serão mencionadas mais adiante, demonstram o verdadeiro
uso bíblico de porneia (hebraico, zahnah).
99
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
9
Mais adiante, nessas passagens, Ele de fato diz algo sobre adultério. Mas é bom
notar que em ambas as passagens os dois termos são empregados com coerência
e cuidadosamente distintos.
100
A Cláusula Excepcional
10
O Talmude fala claramente de divórcio após o compromisso e de divórcio
após o casamento, Gittin 18b. Assim, a tradição cultural fica clara.
101
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
11
Devassidão e fornicação descrevem o modo de cometer o adultério.
102
A Cláusula Excepcional
12
Cf. os extensos comentários sobre o arrependimento e, principalmente, sobre o
perdão em meu livro, More than Redemption (Phillipsburg: Presbyterian and
Reformed Publishing. Co., 1979). Quando Deus perdoa, Ele promete: “...lhes
perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados” | Jer.
31:34].
13
Mesmo que se pudesse separar o perdão da reconciliação (uma ideia antibíblica:
no perdão de Deus a reconciliação e uma nova relação sempre se seguem ao
arrependimento e ao perdão - cf. o gráfico e a discussão em torno dele em meu
livro More than Redemption, p. 213), seria impossível, em nossa cultura,
obedecer ao governo, que exige que as partes recorram à lei para obterem o
divórcio. Nos tempos bíblicos você não obtinha o divórcio do Estado; você
entregava uma carta de divórcio a seu cônjuge. O governo não se envolvia.
Seria impossível, reitero, obedecer ao governo e às Escrituras, que proíbe os
cristãos de fazerem demanda judicial (1 Cor. 6:1-8). Ao contrário, 1 Coríntios,
capítulo 6, obriga dois cristãos, inclusive maridos e esposas, com problema a
lidarem com os seus problemas diante da igreja. Quer dizer que se deve seguir
Mateus 18:15ss. Se um dos cônjuges insistentemente recusar a reconciliação e
acabar sendo excomungado, o outro cônjuge pode (deve) tratá-lo “como um
gentio e publicano”, em decorrência de um julgamento funcional ou
administrativo, e poderá processar o cônjuge faltoso por fornicação adulterina
ou por razões que se pode colher de 1 Coríntios 7:15. Com vistas a esse ponto,
ver o capítulo 9.
103
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
104
A Cláusula Excepcional
15
A força de hosper é “tratá-lo como”. William F. Arndt e F. Wilbur Gingrich
(Chicago: The University of Chicago Press, 1951), p. 908.
16
Este fato é importante. O julgamento eclesiástico sempre deve preceder o
julgamento civil, uma vez que os julgamentos civis entre crentes são proibidos
explicitamente. Isto significa que uma ação precipitada ou apressada é tornada
mais lenta, e um processo que visa à reconciliação não somente é iniciado, mas
também deve seguir o seu curso, no caso em estudo sem sucesso, antes de se
poder dar início a um processo judicial. Dessa forma, é dada ampla
oportunidade para que a mulher considere as consequências das suas ações
antes de realizar outros atos mais que poderiam produzir, precipitadamente,
novos e maiores males.
105
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
17
E isso que se deve esperar entre os cristãos. Cf. Provérbios 14:9 (T.E.V.).
18
Muitas vezes a solda é mais forte que o metal que ainda não se quebrou.
19
Frequentemente, a recusa a reconciliar-se, levando à excomunhão, termina em
separação de cama e mesa, ou em deserção.
20
E de vital importância que a igreja pronuncie o julgamento oficialmente, sempre
que tenha funcionado como tribunal para julgar tais casos, mesmo que o
resultado tenha sido a reconciliação. O fato da solução alcançada deve ser
106
A Cláusula Excepcional
107
11
Cristo, Deuteronômio e Gênesis
108
Cristo, Deuteronômio e Gênesis
109
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
110
Cristo, Deuteronômio e Gênesis
1
Argumentação em favor dessa posição pode-se encontrar em muitos dos
comentários-padrão.
111
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
2
Cf. a fórmula, “Se [ou quando] um homem...” (24:1) com 22:22, 25, 28; 25:5,
7, etc.
112
Cristo, Deuteronômio e Gênesis
3
Op. cit., p. 12. Ver também os argumentos de Murray contra o entendimento
de que essa expressão se refere a pecado sexual.
4
Note-se que poderia ser repulsivo para o Senhor (“para que Ele não se afaste de
vocês”) por sua falta de reverência para com Ele, se deixassem excrementos
em Seu caminho, quando Ele passeava pelo acampamento.
113
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
114
Cristo, Deuteronômio e Gênesis
115
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
5
Foi empregada a palavra tameh, o termo geral para contaminação e para
impureza cerimonial (de pessoas, animais e coisas). Jeremias emprega
chaneph, contaminar, poluir.
6
Cf. 1 Samuel 25:44; 2 Samuel 3:14.
7
De outro modo, casar-se com um segundo marido (ou com uma segunda
mulher) por ocasião da morte do primeiro, também causaria contaminação.
116
Cristo, Deuteronômio e Gênesis
8
Cristo estava pensando numa situação que se enquadrava nas palavras
características de Deuteronômio 24:1-4, a passagem que se tinha em vista em
Mateus 5:31,32.
117
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
118
Cristo, Deuteronômio e Gênesis
não seja bíblico dizer que essa mulher “ainda está casada com
seu primeiro marido aos olhos de Deus” (esse homem é
mencionado como “seu primeiro marido” - 24:4, e ela é
expressamente mencionada como mulher “casada com outro
homem”9 - 24:2, não obstante, casar-se com o segundo homem
constituiu um ato de adultério. Como pode ser isso, se (como já
vimos anteriormente) o divórcio - mesmo pecaminoso -
realmente rompe o casamento?
O divórcio pecaminoso, baseado apenas num erwath dabar,
verdadeiramente rompeu o primeiro casamento, e o casamento
pecaminoso, adulterino, com o segundo homem foi um
casamento genuíno, embora adulterino.10 É preciso entender bem
esses fatos. Mas, se eles não estavam “ainda casados aos olhos
de Deus”, por que o segundo casamento foi adulterino?
Devemos lembrar que o adultério sempre envolve uma
violação do primeiro casamento de tal maneira que um terceiro
parceiro envolvido é introduzido no quadro alegando o direito
(privilégio) de fazer por uma das duas partes o que estas tinham
assinado o contrato de fazerem uma pela outra.
Normalmente, o adultério ocorre quando o contrato de
casamento ainda está em vigor. Na situação a que Jesus se refere
(Deut., capítulo 24), esse contrato tinha sido rompido por razões
pecaminosas. Portanto, embora o casamento esteja
verdadeiramente rompido (e nenhum dos direitos, privilégios ou
obrigações próprios do casamento seja permitido ou exigido
nesta altura), não obstante, as partes divorciadas não têm nenhum
direito, aos olhos de Deus, de estarem no estado de divorciadas.
Elas são obrigadas a se reconciliarem matrimonialmente para que
possam renovar o contrato e continuar a cumprir os seus votos.
Esse é o ponto (cf. 1 Cor. 7:10,11). Como diz o apóstolo Paulo,
eles devem permanecer sem casar-se, não somente a fim de
9
Quer dizer, não é mais dele.
10
Como, por exemplo, o casamento pecaminoso de um crente com um incrédulo
é um casamento genuíno.
119
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
120
Cristo, Deuteronômio e Gênesis
11
Cf. William Hendriksen, New Testament Commentary: The Gospel of
Matthew (Grand Rapids: Baker Books House, 1973), p. 715.
121
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
122
12
O Pecado Sexual como
Causa do Divórcio
1
Quanto à argumentação sobre isso, ver comentários-padrão, mas principalmente
a obra de John Stott intitulada The Christian Counter Culture (Downer’s
Grove: InterVarsity Press, 1971), pp. 69-81. Note-se que Jesus está Se referindo
à interpretação farisaica, não às Escrituras): (1) Ele introduz a interpretação com
as palavras: “...foi dito” (Mat: 5:31a), não em Sua formula usual para introduzir
às Escrituras: “Está escrito”. (2) A citação não se adapta com a passagem de
Deuteronômio, mas sim, na declaração falsificada dessa passagem das
Escrituras.
123
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
124
O Pecado Sexual como Causa do Divórcio
E:
E:
2
Note-se que, como o paralelismo deixa evidente, um pacto ou uma aliança
matrimonial envolvia votos mútuos dos nubentes (juramento). Contudo, como
veremos, os votos de Deus não eram eompletamente incondicionais (como
alguns afirmam erroneamente), visto que, quando Israel quebrou os votos da sua
aliança matrimonial com Deus, Ele se desobrigou dos Seus.
3
Chesed = amor pactuai; i.e., o cumprimento dos votos matrimoniais de Israel
no período inicial do casamento.
125
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
E:
“Assim diz o Senhor: Onde está o libelo de divórcio de vossa
mãe, pelo qual eu a repudiei?...” (Is. 50:1).
4
Note-se que a palaviafomicação aqui (e no contexto) é empregada com
referência a uma mulher casada. O plural é empregado para expressar a
enormidade do pecado, o número de maneiras pelas quais Israel fornicou (ou
se prostituiu), e o número de vezes, ou todas as vezes que Israel praticou o
referido pecado. Evidentemente, divórcio por fornicação rompeu
propriamente
I )eus e Israel odeixaram
casamento:
de ser Marido e mulher.
" < *s termos fornicação e adultério [na versão utilizada pelo autor] são
empregados
cm paralelismo: a fornicação foi o ato que levou ao adultério - o resultado.
126
O Pecado Sexual como Causa do Divórcio
7
Cf. meu livro More than Redemption, para ver algo mais sobre o perdão, cap.
13, pp. 184-232.
127
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
8
E. J. Young, The Book oflsaiah (Grand Rapids: Eerdmans, 1972), III: 365.
9
Gustave Oehler, Old Testament Theology (Grand Rapids: Zondervan, sem
data), p. 507. Ver também Keil e Delitzsch.
128
O Pecado Sexual como Causa do Divórcio
10
Ele foi excomungado, não por seu pecado de fornicação incestuosa, mas por sua
arrogante recusa a arrepender-se (cf. 1 Cor. 5:2). Quando ele confessou e
abandonou o seu pecado, foi perdoado, consolado e reassimilado na igreja (2
Cor. 2:1-11). Levítico 20:11 e 18:8 requeriam o apedrejamento por esse pecado.
Evidentemente, o pai do homem ainda vivia, visto que a sua madrasta é
chamada esposa, não viúva. O que foi praticado era uma forma de adultério.
11
Haverá distinção entre a expressão enfática “certamente o homicida morrerá”
(Núm. 35:17,18, 21; cf. Berkeley para ter uma tradução mais clara), e a
declaração simples que se acha em Deuteronômio 22:22? A primeira expressão
indica uma determinação mais absoluta que a última?
129
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
12
O que estou dizendo não é totalmente especulação. Se, como eu mostrei, a
referência de Cristo a Deuteronômio, capítulo 24 (em Mat. 5:31,32) e o
apropriado entendimento de “contaminada” em Deuteronômio 24:4 significa
que a causa em questão dizia respeito a um divórcio pecaminoso concedido
com base noutro motivo que não o adultério, há boa razão para supor que
Moisés tinha concedido esse regulamento que, nas narrativas dos Evangelhos,
Jesus confirmou.
130
TERCEIRA PARTE
NOVO CASAMENTO
13
Novo Casamento
Novo Casamento
Que dizer do novo casamento? A Bíblia permite, desestimula,
estimula ou tolera o novo casamento? Na Bíblia não há nada, per
se, contra novo casamento após a morte de um dos cônjuges. A
Bíblia declara:
...mas, morto o marido, [a mulher] está livre da lei, e assim não
será adúltera, se for doutro marido (Rom. 7:3b).
A afirmação é clara: não é errado casar novamente.
Na verdade, em alguns casos o novo casamento é incentivado.
Por exemplo, em 1 Timóteo 5:14 Paulo escreveu:
Quero, pois, que as [viúvas] que são moças se casem, gerem
133
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu
marido vive; mas, se falecer o seu marido, [ela] fica livre para
casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor.
1
O livro de Rute é um bom exemplo que mostra quão favoravelmente as
Escrituras veem o novo casamento. É interessante que um livro inteiro trata
dessa questão, e que, na linhagem de Cristo, há pessoas que tiveram segundo
casamento.
134
Novo Casamento
Poligamia
À luz desse fato, pode parecer estranho Paulo proibir a igreja
de nomear ou eleger como presbítero ou diácono quem tivesse
feito segundo casamento. Todavia, é justamente isso que alguns
ensinam. Esse erro brota de uma interpretação incorreta das
palavras “marido de uma só mulher”, que ocorrem em 1 Timóteo
3:2, 12 e em Tito 1:6.
Naturalmente, os oponentes do novo casamento pensam em
pessoas divorciadas que se casaram novamente quando eles
chegam à referida interpretação. Mas a sua tese prova demais: não
somente exclui dos dois ofícios da igreja pessoas divorciadas que
casaram de novo, mas também exclui todos os viúvos que se
casaram novamente!
Isso é estranho, eu digo, e não somente porque exclui do ofício
algumas das pessoas mais bem qualificadas em muitas
congregações ou igrejas locais, mas também porque entra em
conflito com fato de que - como já vimos - o Novo Testamento
sempre fala favoravelmente sobre novo casamento e, na verdade,
em algumas situações, até o ordena e o incentiva. Seria uma
grande surpresa encontrar tal proibição. Senão por outra razão,
esse conflito nos faria olhar com suspeita e cautela a interpretação
da frase “marido de uma só mulher” que lhe dá o sentido de uma
somente, e nunca outra, mesmo depois da morte do cônjuge.
Acaso há outra interpretação?
Sim há, e temos todos os bons motivos para preferir esta à
anterior. Existia um verbo grego perfeito para o caso em foco, um
verbo que Paulo poderia ter empregado (gameo) para indicar que
um cônjuge nunca poderia casar-se novamente, mesmo após a
morte do outro, nem poderia exercer ofício na
135
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
igreja, se fosse isso que ele quisesse dizer. Então a frase diria:
“casado (gameo) só uma vez”. Essa frase seria clara. Mas ele não
empregou gameo; na verdade, ele não estava falando sobre
quantas vezes a pessoa em foco ter-se-ia casado. Antes, Paulo
empregou coerentemente a construção incomum “marido de uma
[só] mulher”. Ele não estava interessado em quantas vezes o
homem se casara, mas sim em quantas mulheres ele tinha!
Estritamente falando, a frase “marido de uma mulher”, só
permite uma interpretação: um presbítero ou diácono em
perspectiva, considerando que tem que ser um exemplo em todas
as coisas, inclusive nas questões matrimoniais, não pode ser um
polígamo. A frase significa: “o marido de uma só mulher”, em
qualquer tempo. A frase não diz coisa alguma acerca de novo
casamento.
O Velho Testamento permitia a poligamia, mas isso nunca foi
o ideal. Em Gênesis Deus disse que os dois seriam uma só carne,
não três, nem cinco, nem oitol Mas no Novo Testamento, embora
fosse permitido que o convertido polígamo fosse admitido na
corporação cristã sem mandar embora as suas mulheres, com
base no princípio declarado e reiterado em 1 Coríntios 7:17, 20,
24, ele não podia ser oficial. A vida dos oficiais deve ser
exemplar, e Deus queria que o exemplo do casamento
monogâmico fosse exposto diante da igreja.
Mas os defensores dos pontos de vista contrários ao novo
casamento nos dizem que não havia poligamia nos tempos do
Novo Testamento. Os fatos provam outra coisa; eles estão
errados. A poligamia continuou, não somente entre os judeus,
mas também entre os gregos e os romanos (e sabe-se lá onde
mais!).
Muitos dos primeiros convertidos de cada igreja que Paulo
iniciou eram judeus da dispersão. Josefo menciona duas vezes a
poligamia existente em seu tempo. Em 212 A.D. a lexAntoniana
de civitate tornou lei a monogamia para
136
Novo Casamento
2
Eugene Hillman, Polygamy Reconsidered (Maryknoll: Orbis Books, 1975), pp.
20,21.
3
Hunt e Edgar, Select Papyri, op. cit., 1:5-7.
4
Ibid., 11.
5
Cf. Matters of Concern for Christian Counselors, pp. 75,76.
137
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
138
Novo Casamento
6
O oficial dever ser “marido de uma mulher” (i.e., uma por vez - 1 Tim. 3:2; Tito
1:6). Essas passagens não dizem “casado só uma vez”. O verbo empregado para
casamento, gameo, não é empregado nessas passagens.
139
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
140
14
Novo Casamento após Divórcio
141
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
1
Que Paulo não está falando de casamento de virgens em 7:28a pode-se ver
notando que em 7:28b ele fala sobre esse assunto. Obviamente, a primeira parte
do versículo 28 é continuação do assunto introduzido no versículo 27. Paulo está
falando sobre pessoas que, tendo-se casado anteriormente, depois se
divorciaram.
142
Novo Casamento após Divórcio
2
Cf. também Levítico 21:7,13-15.
143
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
3
Lembremo-nos, também, de que o direito de novo casamento era expressamente
declarado nos certificados tanto gregos como hebraicos. O Talmude diz: “A
essência do git [documento de divórcio] está nas palavras: “Veja bem, com isso
você agora é permitida a qualquer homem” Gittin, op. cit., p. 439.
4
Pela expressão corretamente divorciada me refiro àqueles que se separaram sem
obrigações (um para com o outro). Note-se que 1 Coríntios 7:27 fala de pessoas
que, estando ligadas a uma esposa, são libertadas desses mesmos laços.
144
Novo Casamento após Divórcio
5
O princípio que percorre as Escrituras, numa forma ou noutra, é que Deus nos
chamou para a paz (1 Cor. 7:15). Deus exige que trabalhemos para pôr em
repouso todas as questões pendentes. Ele não quer que pontas soltas fiquem em
suspenso (cf. o Manual, pp. 52-62)
6
Cf. Murray, Divorce, pp. 36-43.
7
E interessante observar que as Escrituras não registram nenhuma ameaça de
apedrejamento por novo casamento enquanto o cônjuge ainda vive. Contudo,
no caso de ter havido adultério durante o processo, seria de esperar que se
descobrisse ao menos alguma insinuação disso. Somente aqui, nas palavras de
Cristo em Mateus 19:9, consta o fato de que o adultério pode resultar de um
novo casamento feito sob as condições de obrigação levantadas. Esta
observação é pertinente ao que foi discutido no capítulo 12, sobre as origens do
divórcio motivado por adultério. As palavras de Cristo sobre divórcio nos
Evangelhos referem-se, em parte, como já vimos, a Deuteronômio 24:1-4. A
mulher, nessa discussão, estaria “contaminada” porque o seu marido (se fez o
que o marido
145
CASAMENTO, DIVORCIO E NOVO CASAMENTO NA BIBLIA
146
Novo Casamento após Divórcio
Para ver algo mais sobre como reparar as coisas, ver Matters of Concern, pp.
20-23.
147
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
Um membro da igreja (não o pastor nem um oficial) lhe disse que ele pecara ao
se divorciar de Maria.
1,1
Esta situação é típica de muitas igrejas nas quais essa “posição enérgica” na
verdade provém de grandes fraquezas no cuidado e na disciplina dos membros,
li preciso ser “enérgico” onde a Bíblia é enérgica, não onde ela não é.
148
Novo Casamento após Divórcio
149
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
11
Cf. More than Redemption, pp. 174-183.
150
Novo Casamento após Divórcio
Espero ter passado por todo este elaborado processo, não para
desestimular a disciplina da igreja, mas (antes) para estimular o
seu uso logo no início de qualquer problema, para benefício de
todos. Só então se pode evitar muitas
151
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
152
15
Pessoas Marcadas
por Certo Passado
1
Cf. a controvérsia entre igrejas cristãs refletida no livro de Jas. D. Bales, Not
Under Bandage (Arkansas: Bales, Searcy, 1979).
153
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
154
Pessoas Marcadas por Certo Passado
155
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
5
Note-se que o divórcio pecaminoso nem aparece entre os itens dessas listas, que
se acham principalmente nos seguintes capítulos: Mat. 15; Rom. 1; Gál. 5; 2
Tim. 3; Apoc. 21 e 22, e, contudo, constam ali a gula, a difamação e a mentira!
6
O perdão de um pecado também pode trazer consequências (cf. More than
Redemption, pp. 230ss.). Mas o Novo Testamento não indica nenhuma
consequência que, necessariamente, a igreja deva impor a pessoas divorciadas
pecaminosamente, depois do arrependimento.
156
Pessoas Marcadas por Certo Passado
Não há nenhuma lei na Bíblia que diga que tal pessoa deve ficar
sem se casar.8
7
Cf. Josefo, Antiguidades (Josephus, Antiquities), 18:5; 1; 5:4.
8
Loraine Boettner, Divorce (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed
157
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
158
Pessoas Marcadas por Certo Passado
1. O pecado é odioso.
2. A graça é maior do que o pecado mais odioso (Rom. 5:20).
9
A igreja sempre deve certificar-se de que a parte culpada procurou o perdão,
sempre deve concedê-lo, e deve determinar (e registrar nas atas do livro do
Conselho de presbíteros) que seja concedido o perdão. Quando todas as
obrigações tiverem sido cumpridas e a parte culpada estiver livre para casar-se
novamente, isso também deve ser registrado.
10
Cf. o capítulo 14 para examinar um caso especial, e os procedimentos que se
seguem.
159
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
Nota
Alguns têm sugerido que a cerimônia matrimonial de uma pessoa
divorciada não se realize no edifício da igreja. Isso é claramente um
erro. Primeiro, isso é ver o edifício da igreja como uma coisa que ele
não é - um santuário (i.e., um local especialmente santo). Mas, o que é
mais importante, se o casamento é correto, é correto em todos os aspectos,
e a Igreja de Jesus Cristo deve confirmar isso. Nada deve ser feito que
indique minimamente que o perdão não foi completo. Jesus Cristo
salva! Alguns entendem que a cerimônia nupcial na igreja simboliza
um casamento apropriadamente realizado, um vestido branco, um
casamento santo - então, por todos os meios, é preciso que os
responsáveis se assegurem de conduzir tais cerimônias no edifício da
igreja e que deixem que o vestido branco de casamento simbolize a
pureza do sangue de Jesus Cristo. Que não haja mancha alguma,
nenhuma ruga, em tal coisa! Proclamemos a todos quantos queiram
ouvir a graça soberana e o maravilhoso perdão de Jesus Cristo em todos
os aspectos legítimos!
11
Ver o programa sobre aconselhamento pré-marital em meu livro Shepherding
God’s Flock, e na obra de Howard Eyrich, Three to Get Ready (Phillipsburg:
Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1978).
160
16
Como Lidar com o Divórcio e com
o Novo Casamento
I. Princípios:
A. Casamento:
1. É uma instituição ordenada por Deus,
2. É a primeira instituição e a mais fundamental,
161
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
3. É pactuai e responsabilizante,
4. É pactuai e envolve companheirismo,
5. É lugar próprio para uma verdadeira intimidade,
6. Visa conformar-se ao modelo de Cristo e Sua Igreja.
B. Divórcio:
1. Sempre resulta de pecado,
2. Não é necessariamente pecaminoso,
3. Sempre rompe um casamento,
4. Nunca é necessário entre os crentes,
5. E legítimo quando se baseia em pecado sexual,
6. É legítimo quando um descrente quer divorciar-se de um
crente,
7. Eperdoável quando pecaminoso.
C. Novo Casamento:
1. Em geral, é desejável,
2. É possível para uma pessoa divorciada,
3. E possível para uma pessoa divorciada pecaminosamente,
desde que abençoada pelo perdão,
4. Só é possível quando se cumprem todas as obrigações
bíblicas,
5. Só é possível quando as partes são preparadas para o
casamento.
II. Perguntas:
1. Ambas as partes são cristãs, ou uma, ou nenhuma?
2. Quem quer o divórcio?
3. Sobre que bases?
4. Esta parte quer realmente o divórcio, ou só deseja uma
mudança na situação?
5. O ensino de 1 Coríntios, capítulo 6, foi violado
6. Houve pecado sexual?
7. Há prova aceitável desse pecado, ou só diz-que-diz-que ou
mera suposição?
8. Foi aplicada a disciplina da igreja? (Mat. 18:15ss).
9. Se foi, qual foi o resultado?
10. Há arrependimento/perdão?
11. Requer-se a reconciliação?
162
Como Lidar com o Divórcio e com o Novo casamento
163
CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NA BÍBLIA
164
Conclusão
165
Após cinco sermões de abertura sobre este tema, o autor
segue o apóstolo Paulo e trata dos relacionamentos fundamentais
da sociedade: casamento, lar e trabalho. Estes assuntos práticos,
ele insiste, não podem ser compreendidos corretamente à parte
dessas verdades profundas da fé cristã às quais Paulo os
relaciona. Isolar a ética da doutrina é incorrer em desastre. Se é
verdade que a urgência caracterizou a pregação do doutor Lloyd-
Jones, isso se manifesta na maneira em que ele trata destes
assuntos. O lar e suas funções, a criação de filhos, os propósitos
do trabalho - todos estes estão sendo questionados hoje em dia,
enquanto experiência, permissividade e insatisfação com
instituições estabelecidas são fatores comuns na nossa sociedade
contemporânea, a qual está em dissolução. A única esperança em
tal situação se acha num retorno aos princípios básicos dos quais
o bem-estar da vida do indivíduo e da sociedade estão
absolutamente dependentes. Para conhecermos esses princípios
precisamos da Bíblia e, em particular, deste trecho de Efésios
exposto e aplicado neste livro.
166
OUTROS TÍTULOS PELA “PES
167
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Romanos, Vols. 1-14 (bro. e enc.) - D. M. Lloyd-Jones
Romanos - G. B. Wilson Sandfields - B. Lloyd-Jones
Segunda Epístola de Pedro - D. M. Lloyd-Jones Seja
Cristo engrandecido - J. H. M.d’Aubigné Senhor nosso
Pastor, O - J. D. MacMillan Sermões de Robert Murray
McCheyne Sermões do ano de avivamento - C. H.
Spurgeon Sermões evangelísticos, N. T. - D. M. Lloyd-
Jones Sermões evangelísticos, V. T. - D. M. Lloyd-Jones
Sermões sobre a salvação - C. H. Spurgeon Sinais dos
apóstolos - W. Chantry Situação Crítica do Homem, A -
D. M. Lloyd-Jones Somente pela graça - A. Booth
Spurgeon, biografia (bro. e enc.) - A. A. Dallimore
Spurgeon que foi esquecido, O -1. H. Murray Spurgeon
versus hipercalvinismo - 1. H. Murray Tentação, A / A
Mortificação do Pecado - J. Owen Verdadeira Felicidade -
D. M. Lloyd-Jones Verdade para todos os tempos, A - J.
Calvino Vivendo com o Deus vivo - G. Smeaton e J.
Owen
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CASAMENTO, ‘DIVORCIO
E Dovo CASAMENTO NA ‘BÍBLIA
JAY E. ADAMS foi diretor de estudos avançados e professor de teologia pragmática no Seminário Teológico
de Westminster; é pastor jubilado. Ele escreveu mais de cinquenta livros sobre ministério pastoral, pregação,
aconselhamento, estudo da Bíblia, e vida cristã, inclusive Competent to Counsel (Conselheiro Capaz), The
Christian Counselors Manual (O Manual do Conselheiro Cristão) e The Christian Counselors Casebook (O
Manual de Casos do Conselheiro Cristão).
“Numa época em que temas como casamento, divórcio e novo casamento têm causado
confusão entre os próprios evangélicos, esta obra de Jay Adams vem trazer uma contribuição
sólida e bíblica aos líderes e membros das igrejas. Recomendo-a com entusiasmo.”
Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes