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SUMÁRIO

Introdução | 02

Seção 1: Informações Introdutórias


Lição 1: Igreja – Definição | 04
Lição 2: Igreja – Características | 06

Seção 2: Informações Históricas


Lição 3: Igreja - surgimento bíblico-histórico | 12
Lição 4: Surgimento da Igreja Batista | 14
Fará parte da Lição 4 Lição 5: A Igreja Batista no Brasil | 17

Passará a ser Lição 5 Lição 6: A Igreja Batista em Cristo | 19

Seção 3: Informações Teológicas


Passará a ser Lição 6 Lição 7: As Crenças teológicas Batistas (parte 1) | 23

Passará a ser Lição 7 Lição 8: As Crenças teológicas Batistas (parte 2) |28

Passará a ser Lição 8 Lição 9: As Crenças teológicas Batistas (parte 3) | 34

Passará a ser Lição 9 Lição 10: Os Valores Doutrinários Batistas | 37

Passará a ser Lição 10Lição 11: Bases Comportamentais dos Batistas (parte 1) | 42
Fará parte das Lições
4 e 9 (ver observações na
Lição 12: Bases Comportamentais dos Batistas (parte 2) | 46
lição)
Seção 4: Informações Ministeriais
Passará a ser Lição 11 Lição 13: A manutenção da Obra | 50

Conclusão | 55

Referências | 56
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Introdução

Bem vido ao Curso Fundamentos da Fé Batista. Louvamos Deus por você ter sido alcançado por sua
graça e agora estar disposto somar conosco fazendo parte da membresia da comunidade local em mais
uma Denominação reformada: a Igreja Batista em Cristo.

O nome pode parecer estranho, exclusivista ou mesmo altivo, mas o objetivo é sermos transparentes
quanto à opção teológica e doutrinária que nossa denominação acredita. Não se trata de nada novo,
mas sim de um retorno às Escrituras e à História para o momento em que a denominação “Batista”
estava sendo estabelecida. Entendemos que o resgate da identidade é de fundamental importância para
os membros de hoje. É por isto que a recepção de novos membros já batizados vindos de outras
denominações só se dá após a pessoa fazer este curso, afinal não queremos que ninguém se sinta
obrigado a crer e confessar fundamentos as quais não aprendeu ou, se conhece, não crê.

E para apresentarmos com consistência bíblica nossa forma de crença, nossa apostila se baseia nos
documentos de Confissão de Fé publicados pelos Batistas desde o Século XVII. São elas: Confissão
de 1611, de 1644, de 1689 e de 1833. A história fornece-nos informações que no início da obra
Batista cada congregação tinha a sua própria confissão de fé, porém, à medida que a obra missionária
espalhava-se na Europa e América do Norte, certo “sentimento associacional” começou a caracterizá-
la, tornando-se inevitável o surgimento de confissões de fé regionais.

Perceba, nosso material de estudos segue uma sólida documentação servindo ao propósito de manter a
tradição protestante, evangélica, que dá base para os cristãos que decidiram continuar sua caminhada
com o Senhor Jesus na denominação Batista.

Neste curso caminharemos juntos aprendendo sobre informações introdutórias, históricas, teológicas e
ministeriais sobre a Igreja, sobre a ação salvífica de Deus e sobre a vida dentro de nossa comunidade
cristã local. Para isto, o conteúdo desta apostila está dividido em lições que apresentam o significado
bíblico-teológico de Igreja, o surgimento da identidade Batista, para que você saiba mais sobre a igreja
local que você almeja congregar e o conjunto de doutrinas que nos fortalecem e nos identificam como
cristãos ao mesmo tempo em que nos dão a certeza de que estamos vivendo o Evangelho e o
cristianismo de maneira correta. Encerramos com uma ponderação sobre a responsabilidade de todos
nós na obra de Deus.

O que esperamos é que ao final deste curso, você saiba qual a nossa identidade cristã e entenda quais
as bases bíblicas de nossa crença optando por permanecer conosco, sendo servido e servindo para a
glória de Deus. Assim sendo, bons estudos e que sua recepção seja um momento inesquecível!
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Seção 1
Informações
Introdutórias
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Lição 1: Igreja - Definição

Jesus, em seu ministério terreno, informou que estabeleceria a sua Igreja. Só de sabermos isto já somos
esclarecidos sobre alguns questionamentos ao mesmo tempo em que somos confortados com esta
notícia. Somos esclarecidos porque aprendemos a respeito da origem da Igreja e sua função. E somos
confortados por sabermos o privilégio que temos de fazer parte dela. É por estas motivações: o
esclarecimento e o conforto, que nesta lição, de modo introdutório, vamos recapitular o ensino bíblico
sobre a definição e as características corretas de Igreja.

1.1. Pré-requisito para entender sobre a Igreja: Compreender o Reino de Deus

Não é possível compreender a Igreja sem primeiro compreender o Reino de Deus e qual a relação
entre estes temas. Portanto, vamos entender sobre o Reino, a seguir vamos entender sobre a Igreja e,
finalmente, entender esta relação entre Reino e Igreja.

Do ponto de vista interpretativo, Cristo é o ponto de partida para se entender as Escrituras, a salvação
é o meio pelo qual Deus realiza a sua obra de restauração e vitória sobre o pecado, sobre Satanás e
sobre a morte, e o Reino é o principal tema. Justamente porque ao salvar, Cristo conduz a pessoa
exatamente para o seu Reino.

O Reino de Deus é real e engloba o passado, o presente e o futuro; e não está restrito a uma condição
socioeconômica dominada por Cristo e realizada pelo ser humano somente neste mundo através de
boas ações, civilidade, educação e reformas sociais. De acordo com a Bíblia, o Reino de Deus é o
“governo de Deus estabelecido e reconhecido nos corações dos pecadores pela poderosa influência
regeneradora do Espírito Santo, assegurando-lhes as inestimáveis bênçãos da salvação”. E como o
Reino também abrange espaço universal e tempo, este governo de Deus tem o seu início na criação de
todas as coisas, sendo realizado inclusive aqui na terra e chegará ao seu cume depois do visível e
glorioso retorno de Cristo.

Jesus ensinou de modo destacado sobre o Reino explicando que atualmente este governo de Deus
ocorre de modo espiritual e invisível, mas que no futuro, graças ao próprio Cristo, este Reino se
manifestará plenamente de modo externo e visível. Assim sendo, qual a relação entre o Reino de Deus
e a Igreja? Muito simples: a Igreja é o conjunto de pessoas transformadas pelo Evangelho para refletir
e aplicar os ensinos do Reino de Deus em suas vidas e no mundo.

1.2. Igreja: Definição

A palavra “igreja” vem do grego ekklesia. Na cultura grega ekklesia referia-se a uma assembleia de
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pessoas, que sempre se reuniam para promover um manifesto, um comício, uma festa, tratar dos
assuntos políticos da cidade, ou mesmo uma reunião para qualquer outra finalidade. Mas Jesus usa a
palavra ekklesia para se referir à assembleia de pessoas transformadas pelo Evangelho para refletir e
aplicar os ensinos do Reino de Deus em suas vidas depois de salvá-las.

A salvação faz parte do propósito divino, pois é por ela que a pessoa é inserida no Reino. E a Bíblia
apresenta a ação de Deus em salvar várias gerações tanto do AT quanto do NT. Assim, uma definição
bíblica usada para Igreja é comunidade de todos os verdadeiramente salvos de todos os tempos.

O ato de Cristo estabelecer a sua Igreja nada mais é do que a continuidade do modelo
veterotestamentário estabelecido por Deus ao chamar para si um povo que deveria se portar como
uma assembleia em adoração diante do Senhor por todos os seus dias. O resultado de tal compreensão
é que tanto o povo de Israel do Antigo quanto do Novo Testamento e os gentios, ao serem chamados
por Deus, se tornam “novas pessoas”, concidadãos e membros da família de Deus de todos os tempos
fazendo parte de seu Reino [Efésios 2:14,15 e 19].

E como estas compreensões de salvação e Reino se ligam à Igreja? Muito simples: Como o Reino de
Deus hoje se manifesta de modo espiritual e invisível, o modo escolhido por Deus para que seu
governo seja percebido é através da Igreja. Cada salvo é considerado povo do domínio de Deus que
passa a fazer parte do Reino e vive nele sendo governado pelo próprio Deus.

1.3. A função da Igreja: ser representante e anunciadora do Reino

Como se pode notar, os conceitos bíblicos de Reino e de Igreja e a relação entre ambos estão claros.
Uma coisa é o Reino e outra coisa é a Igreja. Entretanto, estes temas estão interligados. Observe como
um está diretamente ligado ao outro: é impossível estar no Reino de Deus sem estar na Igreja como
corpo de Cristo. Isto significa que para que uma pessoa seja membro da Igreja e cidadão do Reino ela
precisa passar pela regeneração promovida pela obra de Jesus.

Note, à medida que a Igreja apregoa as boas novas do Reino, pessoas vão sendo inseridas no governo
de Deus e, unidas à comunhão humana, começam a experimentar as bênçãos do domínio divino em
suas vidas e a aprender, já no presente, sobre como será o futuro domínio do Reino quando ele se
estender visivelmente sobre toda a criação.

Depois de nascer de novo em Cristo, a pessoa se torna instrumento de Deus para o estabelecimento e
a extensão do Reino; o objetivo é o domínio completo de todas as manifestações da vida em todas as
esferas do esforço humano. Em outras palavras, a Igreja é a comunidade ou sociedade do Reino e que
representa seus interesses sem necessariamente se colocar como o Reino em si. Com isso podemos
concluir que não existe outra Igreja que não seja cristã, pois a própria finalidade de sua existência está
ligada ao compromisso de anunciar o Reino de Deus.

Nesta lição aprendemos que não se deve confundir o Reino com a Igreja. A Igreja possui
peculiaridades que, unidas à Obra do Espírito, a possibilita proclamar o Evangelho e viver o Reino.
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Lição 2: Igreja - Características

Na lição anterior estudamos a definição de Igreja e sua função baseado em sua relação com o Reino
de Deus. Nesta lição aprenderemos com detalhes sobre as características da Igreja, dadas por Deus, e
que a capacitam para o cumprimento de sua função proclamadora e defensora do Reino. São estas
características gerais que os batistas reformados assumem também como suas características enquanto
igreja local.

No cristianismo protestante entende-se que Cristo, através da operação do Espírito Santo, reúne
consigo as pessoas, concedendo-lhes a verdadeira fé, constituindo-as como a sua Igreja. Esta Igreja
forma, figuradamente, o corpo de Cristo pela comunhão dos fiéis ou dos santos. Desse modo, a
primeira definição ortodoxa de Igreja é “organismo espiritual vivo”, entendendo-se daí que não existe
Igreja fora da obra de Cristo e das operações renovadoras do Espírito Santo, o que conduz
imediatamente ao conhecimento da natureza, função, propósito, marcas e poder da Igreja.

2.1. A Natureza da Igreja

A Igreja é apenas a comunidade dos que creem e são santificados em Cristo, ligados a Ele, sendo
selados pelo Espírito Santo, de modo que todos, líderes e leigos, estão em igualdade e na mesma
condição de se submeterem à autoridade de Cristo. Assim, as características bíblicas que mostram a
essência ou natureza da Igreja são:

 A Igreja é Local e Universal: A simples leitura do Novo Testamento nos mostra que a Igreja pode ser local, isto
é, uma comunidade local, mas também que a igreja pode ser universal, isto é, estar estabelecida numa cidade,
numa região ainda maior e, finalmente, em vários lugares formada por todos os grupos espalhados pelo planeta
[Romanos 16:5; 1 Coríntios 16:19 e 1:2; 2 Coríntios 1:1; Atos 9:31; Efésios 5:25]. Todos os grupos juntos
são entendidos como “Igreja Universal” e todos os grupos individualmente são entendidos como “Igreja Local”.

 A Igreja é Visível e Invisível: A Igreja é visível porque podemos ver os seus participantes, isto é, as pessoas. E é
ao mesmo tempo invisível porque no meio das pessoas que participam das atividades litúrgicas estão os
verdadeiros salvos, de todas as partes do planeta em todas as gerações, cuja essência é espiritual e somente Deus
sabe quem faz parte dela. Isto porque a união com Cristo é mística; o Espírito que une o ser humano a Cristo
promove um laço invisível aos nossos olhos.

 A Igreja é Militante e Triunfante: Enquanto Jesus não volta para a consumação plena do Reino, a Igreja é
“Militante” ou “Operante”. Ou seja, ela possui o dever de batalhar contra o pecado e todos os poderes
espirituais das trevas, incluindo toda hostilidade maligna em todas as formas que se manifeste. E isto ocorre em
oração, estudo e meditação da Bíblia e proclamação do Evangelho tanto defensiva quanto ofensivamente em
honra a Deus. Já no porvir, a Igreja será “Triunfante”, onde a cruz será substituída pela coroa, pois a luta será
finda e a batalha já estará ganha e os santos permanecerão com Cristo para todo o sempre.
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 A Igreja é Organismo e Instituição: Na condição de Igreja Visível, ela é “Organismo” e “Instituição”.


Organismo porque se trata da “comunhão dos fiéis” unidos pelo Espírito onde todos são iguais, possuem as
mesmas responsabilidades e todos se submetem à autoridade de Cristo, usando os dons e talentos na obra de
Deus. Já como instituição a Igreja é uma sociedade que anuncia o Reino de Deus visando a conversão dos
pecadores e o aperfeiçoamento dos santos.

Como se pode notar a natureza da Igreja revela o caráter divino de sua origem. Deus, ao estabelecer a
Igreja Invisível e Universal a tornará Triunfante como Organismo espiritual. Mas até que este
momento chegue, a Igreja deve seguir algumas funções específicas que darão a ela condições de seguir
o propósito de Deus.

2.2. Funções bíblicas da Igreja

O Novo Testamento apresenta três títulos que indicam funções as quais a Igreja não pode deixar de
exercer, graças à operação do Espírito Santo. São elas:

 Corpo de Cristo: Esta função é para a Igreja local e para a Igreja Universal. Ela mostra a necessidade dos salvos
serem unidos, pois somente assim é que esta assembleia será entendida como um organismo que possui relação
vital com Jesus Cristo como cabeça.1

 Templo do Espírito Santo: Esta função revela que a Igreja deve ser vista como santa e inviolável. Quer
individualmente, quer coletivamente, os salvos devem amadurecer e se entender como “santuários dedicados ao
Senhor”, “pedras vivas”, “casa espiritual” que confirma a presença do Espírito Santo [1 Coríntios 3:16; Efésios
2:21,22 e 1 Pedro 2:5].

 Coluna e baluarte da verdade: Na condição de Universal, a Igreja deve se ver como a guardiã e defensora da
verdade contra os inimigos do Reino de Deus [1 Timóteo 3:15]. Isto mostra, que mesmo diante das variadas
manifestações culturais e litúrgicas expressas por cada comunidade que assimila o Evangelho, o fundamento que
rege a todas deve ser um só, a Escritura.

Conhecer sobre estas funções deve servir como fonte de motivação para a participação dos indivíduos
no ambiente coletivo da Igreja. Cada participante deve ver a si mesmo como portador das funções e
das responsabilidades que constituem a presença da Igreja neste mundo. É fato que muitos leigos
enxergam que somente a liderança possui tarefas, deveres, contudo, esta visão não é bíblica. A visão
correta é que cada um possui não apenas direitos, mas deveres diante de Deus na proclamação de seu
Reino. Isto nos leva à necessidade de compreendermos os propósitos da Igreja em termos de sua razão
de ser, de existir.

2.3. Os propósitos da Igreja

De acordo com a Bíblia, Cristo ao estabelecer a Igreja, determinou propósitos ministeriais para ela
com relação a Deus, aos seus participantes e ao mundo. São eles:

1
Note que Paulo aos escrever a sua primeira epístola aos Coríntios deixa claro que a unidade orgânica é tão essencial que se uma parte deste
corpo sofrer, todo o restante do corpo também padece. A relevância deste ensino é tamanha que o apóstolo chegar a ensinar que todos os
membros deste corpo são igualmente importantes. (1ª Coríntios 12:12-26) [Comentário do autor]
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 Propósito com relação a Deus: Adorá-lo! [Colossenses 3:16; Efésios 1:12 e 5:16-19] Esta adoração não é um
preparo emocional específico ou um ritual focado no momento da liturgia. Adorar a Deus significa assumir a
visão cristã de mundo de modo que a nossa sua crença, nossos valores e nosso comportamento dentro e fora do
templo estejam pautados numa ética bíblica.

 Propósito com relação aos cristãos: Edificá-los! A igreja deve servir como instrumento de Deus para animar os
cristãos em sua caminhada ao mesmo tempo em que os incentiva e promove seu crescimento espiritual,
apresentando para Deus cristãos maduros em Cristo [Colossenses 1:28; Efésios 4:12,13].

 Propósito com relação ao mundo: A evangelização e a misericórdia! A Igreja evangeliza em obediência à


ordenança deixada por Jesus de ir, anunciar o Evangelho e fazer discípulos de todas as nações. Ao mesmo
tempo exerce misericórdia no cuidado com os necessitados, tanto os que recebem a mensagem do Evangelho,
quanto os que rejeitam a mensagem do Evangelho [Mateus 28:19; Atos 11:29; 2 Coríntios 8:4; 1 João 3:17 e
Lucas 6:35,36].

O tríplice propósito da Igreja é bem claro e confirma suas funções. E não existe variação de
importância entre eles; estão todos no mesmo nível. A Igreja só existe para glorificar Deus. E isto
acontece porque Deus usa a própria Igreja como instrumento de sua soberana vontade. Assim, o que
mostra que a Igreja pertence ao Senhor é um conjunto de marcas.

2.4. As marcas da verdadeira Igreja

As marcas da verdadeira Igreja não estão tão evidenciadas no período neotestamentário, embora
fossem amplamente praticadas. No primeiro século os apóstolos e demais líderes ajudaram na
construção da identidade da Igreja e na prática do cristianismo saudável; já o segundo século
enfrentou o ataque de falsos ensinos. Por isso surgiu a necessidade de indicar as marcas que pudessem
ajudar líderes e leigos a identificar a verdadeira Igreja. Surgem, então, as marcas internas e as marcas
externas. São elas:

 Marcas Internas

 Unidade da Igreja: Os autores bíblicos apresentaram vários argumentos contra os causadores de divisões e a
favor da Unidade da Igreja [João 10:16 e 17:23; 1 Coríntios 1:10; Filipenses 2:2; Efésios 4:3, 4-6, 12,13;
Romanos 16:17,18; Gálatas 5:20,21; Judas v.19]. Esta unidade é uma característica interna e espiritual, mas se
manifesta na Igreja Visível. Trata-se de um atributo da igreja invisível referindo-se à unidade do corpo místico
de Cristo do qual todos os salvos são membros. Isto significa que todos os que pertencem à Igreja participam
da mesma fé, estão ligados entre si pelo amor fraternal, tendo a mesma perspectiva e esperança do futuro
glorioso sendo consolidados pela ação contínua do Espírito Santo.

 Santidade da Igreja: A santidade da Igreja se manifesta de modo invisível e visível. Invisível porque acontece no
interior da vida de quem nasceu de novo. Neste sentido a Igreja é a “comunidade dos santos”. E visível
considerando que esta obra de santificação muda o caráter da pessoa e sua relação com a realidade. Assim, a
Igreja torna-se visivelmente santa (separada do mundo para Deus) no sentido ético de pretender ter um
relacionamento saudável com Cristo.

 Marcas Externas

 A fiel pregação da Palavra: A fiel pregação da palavra ocorre quando a Igreja reconhece a Bíblia como padrão de
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doutrina e vida, fé e prática, é a marca por excelência da Igreja verdadeira. Somente pela fiel pregação da Palavra
é que a Igreja é edificada e ao mesmo tempo tem condição de anunciar o Evangelho do Reino. Quando há uma
apresentação errônea da verdade, quando há uma negação total da verdade, quando há negação dos artigos
fundamentais da fé e uma relativização da doutrina bíblica e não se aceita que a vida humana esteja sob o
domínio da Palavra de Deus, então não há a presença desta importante marca.2

 A correta ministração dos sacramentos: Os sacramentos ou ordenanças são o batismo e a ceia. Estas práticas por
si só não possuem nenhum efeito místico ou mágico e não devem praticadas fora da fundamentação bíblica. Ao
contrário, batismo e ceia devem ser praticados baseados na Bíblia justamente por servirem de testemunho vivo e
visível da eficácia da Palavra de Deus. E ao serem ministrados, devem ser ministrados somente aos participantes
devidamente qualificados para recebê-los: os cristãos. Os sacramentos são um dos meios pelos quais Deus age
com a sua Graça e seu Espírito na Igreja, portanto, se as práticas das ordenanças são feitas de modo distorcido
ou em negação aos princípios do Evangelho certamente ocasionarão em inadequada ministração dos
sacramentos, afetando e até desqualificando a Igreja como verdadeira.

 O fiel exercício da disciplina: A disciplina é necessária para a manutenção da pureza da Igreja, da doutrina e
para resguardar a santidade dos sacramentos. Sem esta marca, a própria pecaminosidade de líderes e leigos
promove o abuso das coisas santas. O Novo Testamento está recheado de orientação sobre a necessidade da
correta aplicação da disciplina na verdadeira Igreja de Cristo [Mateus 18:18; 1 Coríntios 5:1-5,13 e 14:33,40 e
Apocalipse 2:14,15,20].

As marcas internas e as marcas externas estão interligadas: as internas confirmam as externas e vice-
versa. Daí se conclui que todas as marcas realmente confirmam a presença de Deus na Igreja usando-a
com poder para o cumprimento de seu soberano propósito.

2.5. O poder de Deus dado a Igreja

O Senhor Jesus Cristo como fundador da Igreja concedeu-lhe poder que é ao mesmo tempo espiritual
e ministerial.

Espiritual porque a origem deste poder está no Espírito Santo e só pode ser exercido em nome de
Cristo e pela operação do próprio Espírito. Este poder é dado aos cristãos e só pode ser exercido de
maneira moral e espiritual correta dotando a Igreja da capacidade de opor-se a toda forma de rebeldia
contra a vontade de Deus ao mesmo tempo em que anuncia que Deus livra o ser humano da
escravidão espiritual do pecado [Atos 20:28; João 20:22,23; 1 Coríntios 5:4,12; 2 Coríntios 10:4 e Lucas 12:13] .
Para isso a Igreja infunde nas pessoas o conhecimento da verdade, cultiva nelas bênçãos espirituais e as
eleva a uma vida de tentativa de obediência aos preceitos divinos.

O mesmo poder espiritual é ministerial porque deve ser executado em harmonia com a palavra de
Deus sob a direção do Espírito Santo. Este poder consiste na administração correta da pregação da
palavra de Deus e dos sacramentos e no exercício da disciplina de modo que seja apontado pela Igreja,
por meio da Bíblia, o que é permitido no Reino de Deus e o que é reprovável pelo próprio Deus.

2
Sobre isto Berkhof orienta que é obviamente impossível que a pregação da Palavra na Igreja verdadeira seja absoluta, seja perfeita,
justamente pela vida nesta terra ainda estar permeada pelo pecado. Contudo há uma parcial pureza de doutrina que serve para orientar e
mostrar quais os limites de erros que a Igreja verdadeira pode cometer; então afirma que os parâmetros que definem a ausência da marca
“fiel pregação da palavra” seja a negação parcial ou total da verdade bíblica e a negação pública dos princípios fundamentais da fé,
finalizando com o exemplo de uma vida que se nega a se submeter ao domínio da palavra de Deus. (BERKHOF, p.530)
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Este serviço ministerial está em conexão direta com o tríplice ofício ministerial de Cristo: 1) o poder
docente de Cristo é o ensino da palavra de Deus, 2) o poder de governo de Cristo é o estabelecimento
da ordem de funcionamento da Igreja com a definição do comportamento cristão cotidiano e 3) o
poder da misericórdia trata-se da prática do exercício da misericórdia. Baseado em seu Senhor, a Igreja
deve assumir estas três formas de poder ministerial:

 Poder Docente: A Igreja deve testemunhar a verdade para os de fora e ensiná-la aos de dentro. A Igreja é
baluarte da verdade, portanto, deve providenciar que ela seja transmitida de geração a geração na íntegra. O
anúncio do Evangelho significa apontar o caminho da salvação e advertir os ímpios sobre a certeza da
condenação para que haja arrependimento, salvação e edificação dos santos. Ao mesmo tempo a Igreja deve
animar os santos com as promessas da salvação fortalecendo os fracos, encorajando os desanimados e
consolando os tristes. Por fim, o poder docente é completado quando a Igreja formula uma expressão clara
daquilo que ela crê; esta formulação se encontra nos credos, nas confissões de fé e no estudo da teologia.

 Poder de Governo: Ao estabelecer a Igreja, Jesus deu a ela a condição de ser a proclamadora que daria sequência
à sua obra. Para isto, a Igreja, como instituição, assume as leis que Cristo deixou para o seu funcionamento
[Romanos 15:14; Colossenses 3:16; 1 Tessalonicenses 5:11; 2 Coríntios 1:24 e 1ª 5:2,3], que são: ordens
específicas e exercício da disciplina. As ordens específicas são adequações que a Igreja faz para a aplicação da lei
de Cristo nos propósitos em relação a Deus, à própria Igreja e ao mundo.3 Quanto ao exercício da disciplina,
este serve para proteger a santidade da Igreja admitindo os aprovados após exames bíblico-teológicos específicos
e reprovando os que se desviam da verdade e/ou levam vidas desonradas e não querem saber de concertarem
suas vidas.

 Poder da Misericórdia: O anúncio do Evangelho inclui a denúncia de qualquer tipo de injustiça e desigualdade.
Assim, o terceiro poder da Igreja é a da misericórdia, isto é, do cuidado com os necessitados. Mas não um
cuidado assistencialista, que simplesmente oferece um auxílio às necessidades materiais imediatas. E sim, um
cuidado acompanhado de instrução bíblica e outras que se fizerem necessárias.

Esta lição apresentou todas as características da Igreja: sua natureza, suas funções, seu propósito e suas
marcas e seu poder. Evidentemente que todas elas estão presentes na Igreja de Jesus de modo geral que
se encontra entre as denominações e os segmentos cristãos espalhados pelo planeta, incluindo a
denominação batista. Esta é a razão de estudarmos essas características, pois cremos que elas também
estão presentes em nossa vida cristã comunitária.

Esta seção apresentou um conteúdo generalizado sobre a Igreja, dando informações introdutórias. A
próxima seção já apresenta um conteúdo mais específico, o histórico, que nos ajuda a perceber a
participação da Igreja na vida dos povos até os nossos dias. Tais informações promovem em nós a
consciência de nosso papel no mundo segundo a Grande Comissão dada por Jesus de ir e pregar a
Evangelho.

3
Sobre isto, Berkhof instrui que nenhuma ordem ou regulamento da Igreja deverá contrariar as leis de Cristo. Ao contrário, elas servem
apenas para dar à política externa da Igreja uma forma definida, estipulando os termos em que se permite que esta ou aquela pessoa exerça
ofício na Igreja, para regulamentar a forma de culto, para determinar a forma apropriada de disciplina que deve ser exercida e assim por
diante.(BERKHOF, p.551)
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Seção 2
Informações
Históricas
12

Lição 3: Igreja - Surgimento Bíblico-histórico

Depois de aprendermos sobre a definição e as características da Igreja, agora é o momento de


conhecermos sobre o surgimento da Igreja. Esta lição se destina a nos informar sobre como ocorreu o
aparecimento da Igreja com a sua flexibilidade e suas variadas manifestações nas subculturas do
período neotestamentário ao longo do território do Império Romano.

3.1. Surge a Igreja

Quarenta dias depois de sua ressurreição, Jesus deu instruções finais aos discípulos e subiu ao céu [Atos
1:1-11]. Os discípulos voltaram a Jerusalém e se recolheram durante alguns dias em oração, aguardando
pela promessa da vinda do Espírito Santo. Cinquenta dias após a Páscoa, na festa de Pentecoste, surge
a Igreja.

Um som como de um vento impetuoso encheu a casa onde o grupo se reunia e os participantes
começaram a falar nas línguas dadas pelo Espírito Santo, línguas estas de cada região de fora da
Palestina, de onde cada judeu influenciado com a cultura grega nasceu e de onde saiu para participar
da festa de Pentecoste. Os visitantes estrangeiros ficaram surpresos ao ouvir os discípulos falando em
suas próprias línguas [Atos 2:13].

Como se pode observar O Espírito Santo teve o papel de proeminência na fundação da Igreja. 4 Note:
Pedro explicou que os que experimentavam a ação sobrenatural estavam dando testemunho do
derramamento do Espírito predito pelos profetas do Antigo Testamento [Atos 2:16-21; Joel 2:28-32].
Alguns dos observadores estrangeiros perguntaram o que deviam fazer para receber o Espírito Santo,
recebendo de Pedro a resposta sobre a necessidade do arrependimento para a remissão dos pecados
[Atos 2:38]. Como resultado da operação do próprio Espírito, cerca de 3 mil pessoas se renderam a
Cristo naquele dia [Atos 2:41]. Assim do ano 30 d.C. a aproximadamente 44 d.C. a igreja local em
Jerusalém manteve uma posição de liderança na comunidade cristã primitiva e os cristãos cultuavam
nos mais variados lugares, onde lhes era permitido.

3.2. Cresce a Igreja

O Novo Testamento revela que o verdadeiro cristianismo é missionário, isto é, a Igreja nunca cresceu
apenas espiritualmente, somente através de reflexões que demonstravam maturidade de fé. Ao
contrário, junto dessa maturidade, a Igreja sempre cresceu numericamente. A visita de Filipe a Samaria

4
Como curiosidade: ocorreram alguns martírios: Em 33 d.C. o diácono Estêvão foi o 1º mártir na história da Igreja de Jerusalém. Morreu
apedrejado e Saulo estava presente. O 1º mártir dos 12 apóstolos foi Tiago, irmão de João, em 44 d.C. pelo rei Herodes Agripa I (37 a 44
d.C.), neto de Herodes o Grande (37 a 4 a.C.).
13

levou o Evangelho a um povo que não era de sangue judeu puro [Atos 8:5-25]. Pedro, o primeiro a
pregar o Evangelho aos judeus na festa de Pentecoste, foi também o primeiro a levar oficialmente o
Evangelho aos gentios.

Depois da morte de Estevão, os judeus convertidos a Jesus foram perseguidos. Do trabalho


evangelístico deles surgiu a Igreja de Antioquia da Síria. Esta igreja era tão grande que foi capaz de
socorrer as igrejas dentro da Palestina quando elas passaram fome. Ela se tornou o principal centro do
cristianismo entre os anos 44 a 68 d.C. Foi de lá que o apóstolo Paulo partiu para as suas viagens
missionárias.5

E a grande motivação para este trabalho missionário foi a promessa de Jesus: Ele havia dito aos judeus
que Deus faria uma Nova Aliança com os seus [Mateus 16:18]. Ele havia selado esta aliança com seu
próprio sangue [Lucas 22:20].

3.3. O cotidiano da Igreja

Os cristãos primitivos não concebiam a Igreja como o lugar de culto como se faz hoje, quando
confundimos o templo com a Igreja. Igreja significava um corpo de pessoas numa relação pessoal com
Cristo. Para tanto, os cristãos se reuniam em casas, no templo, nos auditórios públicos de escolas e nas
sinagogas até quando foram permitidos e até mesmo nas catacumbas no tempo em que foram
perseguidos pelo Império Romano [Atos 12:12; 5:12; 19:9; 14:1,3; 17:1; 18:4; Romanos 16:5,23; Colossenses
4:15; Filemon 1-4; 1 Coríntios 11:20-22].

O lugar não era tão importante como o propósito de encontro para comunhão uns com os outros e
para culto a Deus. A festa do amor ágape precedia a Ceia no culto da noite. Ao final do primeiro
século, a festa do amor tinha praticamente desaparecido, sendo a Ceia celebrada no culto da manhã.

A pureza de vida, o amor e a coragem da Igreja primitiva em permanecer fiel, e morrer se necessário,
exerceram um forte impacto sobre a sociedade pagã da Roma imperial, o que durou três séculos, desde
a morte de Cristo até o reconhecimento oficial por Constantino da importância do Cristianismo para
o Estado (Edito de Milão em 313 d.C.), chegando mesmo a convocar e presidir o Concílio de Nicéia
em 325 d.C. O resultado da defesa da fé cristã e da expansão da Igreja no primeiro século através do
Império Romano foi a pregação do Evangelho, a fundação de igrejas locais e a produção de livros na
forma de pergaminhos. O Novo Testamento tornou-se a complementação doutrinária junto do
Antigo Testamento e que serve para todos os cristãos em todos os lugares e épocas.

Esta lição mostrou o surgimento, crescimento e o cotidiano da Igreja. Foi graças à ação do Espírito
em preservá-la que o Evangelho chegou a nós. Mas, para entendermos melhor o nosso contexto, o
próximo capítulo apresenta como surgiu a Igreja Batista no Brasil.

5
Cf. o livro de Atos dos apóstolos capítulos 13 a 28. A tarefa de levar o Evangelho aos gentios nos “confins da Terra” estava apenas
começando. Iniciada pelos primeiros judeus helenistas e sequenciada por Paulo, esta tarefa continua ainda hoje como a missão inacabada de
Igreja de Cristo.
14

Lição 4: Surgimento da Igreja Batista

No capítulo anterior estudamos com detalhes o surgimento da Igreja e sua importância espiritual e
social. Espiritual por se dedicar como representante e anunciadora do Reino de Deus, e social por
promover uma reviravolta na cultura greco-romana denunciando as estruturas de crenças pecaminosas,
mostrando os verdadeiros valores, que são os do Evangelho, a serem assumidos pela sociedade e
resistindo a toda ideologia contrária ao Reino de Deus.

A mesma Igreja cujo surgimento histórico está registrado em Atos dos apóstolos, no lado ocidental do
mundo, atravessou regiões e gerações até chegar ao início da Idade Moderna, quando enfrentou uma
crise que a dividiu em dois grandes grupos conhecidos como “Igreja Católica Romana” e “Igreja
Protestante”, derivada de um mega movimento intitulado Reforma Protestante.

Tudo começa na Suíça que era o território politicamente mais livre da Europa ao tempo da Reforma,
embora integrasse formalmente o Império Romano. De lá, três tipos da teologia da Reforma se
desenvolveram nos territórios suíços. Os cantões do norte, de fala alemã, seguiram Zwínglio. Os do
sul, liderados por Genebra, seguiram Calvino. E os radicais da Reforma, conhecidos como anabatistas,
formaram uma facção extrema daqueles que antes tinham trabalhado com Zwínglio. Assim, o
conjunto de igrejas protestantes, conhecidas popularmente como “denominações”, surgiu das
interpretações teológicas de quatro grandes tradições conhecidas como “movimentos reformadores”: o
luteranismo, o calvinismo, o anabatismo e o posterior anglicanismo.

Como o objetivo é conhecer um pouco da Igreja Batista, esta lição se restringe apenas a apresentar os
movimentos reformadores conhecidos como “calvinismo” e “anabatismo” com o consequentemente
aparecimento da Igreja Batista, fruto destes movimentos.

4.1. O Calvinismo

Inicialmente o movimento conhecido como calvinismo era apenas chamado de movimento reformado.
O termo “fé reformada” aplica-se ao sistema de teologia desenvolvido pelo reformador João Calvino.

A reforma calvinista originou-se de contribuições dadas por Úlrico Zwínglio. Seus programas de
reforma estavam voltados à Igreja, para os leigos e líderes. Zwínglio se preocupava com a reforma
institucional, social e ética. Daí surge a Igreja denominada “reformada”, cuja principal característica
foi assumir um programa de reforma voltada para a ética e o culto da Igreja fundamentado em padrões
bíblicos, mas não necessariamente com modificações doutrinárias.

A consolidação dessa Igreja, incluindo as modificações doutrinárias, foi feita pela reforma calvinista
15

que teve seu início com Heinrich Bullinger, sucessor de Zwínglio, morto em batalha em 1531, em
Zurique, passando por Berna e tendo o seu ponto final em Genebra em 1550 com João Calvino como
seu principal porta-voz. Daí o nome final, reforma “calvinista”.

Em Genebra a influência da Igreja Reformada e seus princípios provocaram tamanho impacto que a
liderança da cidade e todo o seu sistema político se adequaram, ao ponto da cidade fundar a Academia
de Genebra em 1559 na qual os pastores reformados recebiam treinamento.

As modificações do movimento calvinista atingiram os campos ético, social e doutrinário. Mas outro
movimento contribuiu para o surgimento da Igreja Batista: o anabatismo, um movimento que surge na
segunda geração.

4.2. O Anabatismo

O termo “anabatista” significa literalmente “re-batizado”, referindo-se ao principal aspecto da prática


deste grupo. Sua crença residia no fato de que somente aqueles que houvessem feito voluntariamente
sua profissão de fé pessoal e pública deveriam ser batizados.

O movimento anabatista surgiu perto de Zurique em consequência da reforma feita por Zwínglio.
Adotavam, em sua maioria, uma severidade moral e simplicidade na maneira de vestir. Foi deste grupo
que, posteriormente, surgiram os menonitas e os batistas. O seu principal teólogo, que ajudou a
sistematizar (organizar) a forma de crença adotada, depois, pelos batistas foi Menno Simons.

Influenciado pelos escritos de Lutero, Menno Simons abandonou a posição de sacerdote da Igreja
Romana para tornar-se um dos líderes do anabatismo. Sua Teologia emergia do contexto de seu
envolvimento na Igreja Romana e depois na Igreja Reformada, revelando o curso de uma carreira
tumultuada que nunca teve tempo para escrever tomos eruditos e nem uma “teologia sistemática” no
sentido pleno da expressão. Contudo escreveu com vigor e percepção procurando organizar a crença e
o pensamento anabatista com base na herança dos primeiros anabatistas, na tradição cristã, e em seu
próprio engajamento com as Escrituras. Desse modo, a principal modificação promovida pelo
anabatismo foi doutrinária.

Assim, do resultado dos trabalhos de Calvino na primeira geração de reformadores e de Simons na


segunda geração de reformadores nasce a denominação batista, cuja forma de crença e cujas confissões
de fé tomam emprestadas as sistematizações de ambos os movimentos: calvinismo e anabatismo.

4.3. O surgimento da Igreja Batista

Com o nome de Batista existimos desde 1612, quando Thomas Helwys, de volta da Holanda, onde se
refugiara da perseguição do Rei James I da Inglaterra, organizou com os que voltaram com ele uma
igreja em Spitalfields nos arredores de Londres.
16

Thomas Helwys, que era advogado e estudioso da Bíblia, ao escrever um livro intitulado “Uma Breve
Declaração Sobre o Mistério da Iniquidade” foi preso e morreu na prisão, em 1615. No referido
livro, ele escreveu aquilo que é um dos mais caros princípios batistas, o principio da liberdade religiosa
e de consciência:
... a religião do homem está entre Deus e ele: o rei não
tem que responder por ela e nem pode o rei ser o juiz
entre Deus e o homem. Que haja, pois, heréticos,
turcos ou judeus, ou outros mais, não cabe ao poder
terreno puni-los de maneira nenhuma.

A partir desse fundamento, as igrejas locais Batistas adotam a forma de


governo Congregacional em que as congregações são autônomas
relacionando-se umas com as outras pela mesma fé e ordem, de forma
Thomas Helwys
cooperativa e por laços fraternais. Desse modo, as igrejas batistas realizam
seus objetivos comuns pela cooperação voluntária. E como resultado, algumas se mantêm
independentes e algumas, mesmo sendo autônomas, se unem em convenções.

No Brasil as principais convenções são: Batista Brasileira, Batista Nacional e Batista Regular. A Igreja
Batista em Cristo enquadra-se no conjunto de igrejas locais autônomas, não vinculadas a nenhuma
Convenção.

Nesta lição estudamos sobre o surgimento da Igreja Batista. Aprendemos resumidamente, porém com
conteúdo suficiente para entendermos que nossa forma de crença é bíblica, mas nossa forma de
expressar os valores bíblicos e nosso comportamento cúltico e público na vida cristã em geral deriva
da Reforma Protestante.

Não nos colocamos melhores ou piores do que os demais grupos cristãos que manifestam a fé de
modo diferente do nosso. Apenas estamos resgatando nossa identidade com uma dupla finalidade: 1)
sabermos de onde viemos, quem somos e porque somos assim; e 2) sabermos responder a todo os que
nos pedir esclarecimentos sobre nosso modo de manifestar a fé cristã, tendo condições de definir o
que realmente é o que não é a expressão de uma fé batista.

Na próxima lição, complementaremos este estudo conhecendo sobre o surgimento da Igreja Batista no
Brasil.
17

Lição 5: A Igreja Batista no Brasil

Na lição anterior estudamos sobre o surgimento da Igreja Batista no cenário mundial. Vimos que o
calvinismo e o anabatismo foram movimentos que contribuíram para a construção da identidade da
denominação batista. Então, devemos finalizar aprendendo como se deu o surgimento da Igreja Batista
no Território Nacional. Veremos que as mesmas características da denominação, quando começou na
Europa, foram mantidas na Igreja do contexto brasileiro. Estes são os assuntos desta lição.

5.1 A História da Igreja Batista no Brasil

A história da igreja batista no Brasil é empolgante. É visível a ação de Deus conduzindo as


circunstâncias cujo resultado seria a presença da nossa denominação no território nacional. Por causa
da Guerra Civil Americana ocorrida nos Estados Unidos em 1865, os cidadãos norte-americanos
começam a buscar outras terras onde pudessem tentar a vida. O Brasil foi um dos países escolhidos, e,
em 1867, diversos grupos de americanos (mais de 1ª Igreja Batista de
50.000 pessoas) desembarcam nos portos brasileiros. A Santa Bárbara. 2º
Templo
maioria escolheu a cidade de Santa Bárbara d'Oeste para reconstruído em
adquirirem terras e fixarem residências atuando na 1936 no lugar do
original.
agricultura. Entre os emigrados, a maioria era de
evangélicos e entre esses, muitos eram Batistas.

Em 1870 esses mesmos evangélicos publicaram o


“Manifesto para Evangelização do Brasil”. O
documento contou com assinaturas de batistas,
metodistas, congregacionais e pelo jovem pastor batista
Richard Raticliff, um dos emigrados.

O manifesto deu ânimo aos evangélicos e em 1871, os Batistas emigrados dos Estados Unidos
organizaram a Primeira Comunidade Batista do Brasil em Santa Bárbara d'Oeste. Daí por diante
eventos ocorreram de modo a contribuir para a abertura de mais e mais congregações batistas pelo
nosso país.

5.2 As marcas da Igreja Batista

Como vimos, a denominação “Batista” foi uma das primeiras a chegar ao território nacional. De seu
início até hoje já houve o crescimento da denominação, tendo se espalhado por todo o país. E junto
com o crescimento e a pregação do Evangelho puro e simples surgem novos desafios, novas demandas
sociais, novos questionamentos sobre a fé. Todavia a Igreja Batista persevera firme na presença do
18

Senhor, sustentada por Ele mesmo, mantendo suas marcas na forma de duas grandes preocupações
pela causa de Cristo: Missão e Educação.

No que se refere à missão, a Igreja entende que essa missão nasceu no coração de Deus, pertence a Ele
e somos apenas seus cooperadores. Portanto a Igreja investe em missão local, nacional e mundial ora
enviando ofertas, ora enviando missionários para o campo, ora promovendo eventos cujos temas
refletidos e discutidos estão relacionados à missão.

No que se refere à educação, o povo batista tem verdadeira paixão pelo estudo da Bíblia. Por isso que
as igrejas locais possuem organizações de treinamento e Escolas Bíblicas Dominicais. Quando se é um
batista de verdade, a dedicação é tamanha que os templos se tornam verdadeiros complexos
educacionais. E com a educação religiosa, naturalmente, vem a educação teológica.

Por outro lado, a educação regular, conhecida por muitos como educação secular, não foi desprezada;
ao contrário, também foi alvo da preocupação dos batistas. A história revela que o desejo de abrir
oportunidades para o estudo da juventude e de criar uma estrutura educacional com capacidade para
exercer influência sobre a sociedade brasileira sempre impulsionou o trabalho de implantação de
escolas.6 A contribuição dos batistas na área educacional é realmente notável, considerando tanto a
qualidade quanto a quantidade. Hoje, perto de dois milhões de brasileiros já passaram pelas escolas
batistas.

5.3 As Raízes Doutrinárias

Toda a fundamentação doutrinária batista é encontrada no Novo Testamento. Somos o “povo da


Bíblia”. Cremos no Pai, santo, justo, criador, e sustentador de todas as coisas. Cremos no Filho, Jesus
Cristo, Senhor e Salvador de nossas vidas e no Espirito Santo, o Consolador que nos guia em tudo
quanto Jesus ensinou.

De fato, as nossas doutrinas saem, com clareza límpida, das Sagradas Escrituras. As igrejas
genuinamente batistas creem na conversão pessoal de cada pessoa a Jesus Cristo, no exercício de sua
responsabilidade individual e que ela é aceita pela igreja local através do batismo por imersão e
mediante confissão da sua fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador pessoal.

Nesta lição vimos as informações sobre a identidade batista no Brasil. A IBEC é apenas uma igreja
batista local, independente, mas que prioriza os princípios bíblicos que dão sustentação à nossa fé, e
que se preocupa em servir a Deus através do serviço à sociedade.

A próxima lição complementa as informações históricas apresentando a história do surgimento da


Igreja Batista em Cristo.
6
A primeira escola fundada pelos batistas foi o Colégio Taylor Egídio, em Salvador. Depois dele, e por causa dele, vieram o Colégio Batista
Brasileiro de São Paulo; Colégio Americano Batista do Recife; Instituto Batista Industrial em Corrente, Piauí; Colégio Americano, em
Vitória; Colégio Batista Shepard no Rio de Janeiro; Colégio Batista Alagoano em Alagoas; Colégio Batista Fluminense em Campos, RJ;
Colégio Batista Mineiro, em Belo Horizonte. Além destes Colégios dezenas de outros foram organizados com a ajuda dos missionários ou
por iniciativa de igrejas, Convenções estaduais e de igrejas batistas locais.
19

Lição 6: A Igreja Batista em Cristo

Observe a sequência: nas lições anteriores estudamos sobre o surgimento da Igreja Batista na Europa e,
a seguir, no Brasil. Agora vamos conhecer sobre a história da Igreja Batista em Cristo. Apesar de este
valor ter se perdido com o passar dos anos na cultura entre os evangélicos brasileiros, entendemos que
é muito importante que um membro conheça a história da sua denominação. Ter este conhecimento
contribui na formação da identidade cristã do membro.

6.1. História da Igreja Batista em Cristo

Nossa história é bem simples. Não há nada de novo ou surpreendente quando comparamos com as
grandes biografias dos heróis da fé usados por Deus ao longo dos séculos da era cristã. Contudo, nos
alegramos em saber que estamos debaixo da obediência a Deus, seguindo seu soberano propósito.

Tudo começou quando um desejo nasceu no coração do pastor Maxwell: a vontade de evangelizar e
pastorear a Europa, sendo ele um dos pastores auxiliares de uma congregação Batista. Por esta ocasião
nosso pastor atuou como líder de missão, a seguir como líder de jovens e, por fim, foi o diretor do
ensino. E mesmo à frente destes ministérios seu coração continuou ardente pelo exercício das missões.

Com o propósito de sondar o terreno europeu, o pastor titular enviou o pastor Maxwell para
conhecer, juntamente com sua família, uma pequena congregação em Portugal; um dos locais em que
provavelmente pastorearia. O outro local visitado foi a França, entendido como ambiente carente de
evangelismo e pastoreio.

Deus já havia colocado no coração do nosso pastor a vontade de pregar a Palavra de modo puro e
simples. E certamente ele orou buscando no Senhor a orientação de qual atitude tomar. Enquanto
aguardava a resposta divina muitos amigos no Brasil pediam para que ele e sua família ficassem na
terra natal. Contudo, a resposta certeira sobre se estabelecer ou não na Europa veio através de uma
pessoa de lá que lhe disse que se ele quisesse ganhar o continente europeu, ele deveria voltar e preparar
missionários para serem enviados.

Assim, ao voltar com a direção de Deus no coração, se desligou da igreja local onde congregava
ficando, aproximadamente, um mês sem congregar, porém se organizando para começar uma
congregação.

E foi justamente pelo modo como esta congregação nasceu que temos a certeza da aprovação de Deus.
Várias pessoas foram aparecendo, uns curiosos, outros, irmãos de outras congregações que queriam
20

contribuir, somente ofertar e não ficaram, ainda outros, dissidentes de outras denominações que já
estavam sem congregar porque estavam decepcionados com a antiga igreja local.7 E foi assim que, com
algumas ajudas enviadas de Deus, o pastor e os primeiros irmãos conseguiram alugar o local onde
ainda estava em finalização de obra (nosso endereço atual).

O início não foi fácil. No mesmo prédio, ao lado, também estava sendo construído o escritório do
dono da propriedade. Ele permitiu fazer reuniões no lado vago com algumas pessoas que já
procuravam um lugar para congregar. Incrivelmente nosso pastor não precisou “fazer nada” no
sentido de se esforçar por congregar pessoas. Espontaneamente elas começaram a chegar, como um
sinal da aprovação de Deus, de modo que chegou num momento em que o local de realização dos
cultos ficou pequeno e mais espaço precisou ser liberado.

Assim, o restante do espaço foi liberado faltando, ainda, algumas adaptações para que as reuniões
ocorressem com o devido conforto. Depois de construído o altar começaram a chegar doações de
cadeiras, mesas e cadeiras infantis para o trabalho com as crianças. Chegaram também aparelho de som
e muitos outros utensílios.

Pronto! O ambiente estava completo, havia pessoas sedentas da Palavra e um pastor compromissado
com o Evangelho. Era hora de escolher o nome da congregação. O nome escolhido foi Igreja Batista
em Cristo (IBEC) que, pela nossa irmã Monique, esposa do pastor Maxwell, foi dito que seria uma
igreja reformada baseada nos 5 solas.

Mesmo já tendo promovido alguns cultos, nossa inauguração aconteceu no dia 15 de julho de 2015
realizada em cinco dias, baseando-se cada dia em um sola.

6.2. Identidade confessional da IBEC

A Igreja Batista em Cristo adota a Confissão de Fé Londrina de 1689 como documento bíblico-
teológico e histórico que dá suporte à sua identidade cristã. Sobre este documento veremos em lição
posterior. Ao mesmo tempo, há três princípios estabelecidos que usamos para fortalecer nossa prática
na vida cristã: o ensino bíblico, a oração e a missão.

Sobre o ensino entendemos que a Bíblia é a Palavra de Deus infalível e inerrante. Ela não falha na
exposição da Revelação do próprio Deus e sua soberana e santa vontade para nós. Ao mesmo tempo
ela não contém erros, nem doutrinários e nem históricos, servindo para nortear nossas crenças, nossos
valores e nosso comportamento. Assim sendo, cremos que o ensino da Palavra é o que orienta para o
modo correto de nos relacionarmos com Deus, conosco mesmo, com nosso próximo e com a vida.
Não é possível viver a vida cristã em sua integralidade sem conhecermos Deus e seu propósito que dão
sentido para a existência. Por isto. Além dos cultos, temos tantas atividades voltadas para o estudo
bíblico.

7
É importante ressaltar que a Igreja Batista em Cristo nunca fez proselitismo. Nunca convidamos ninguém que já congrega regularmente
para se associar a nós. Ao contrário. Nosso pastor sempre incentivou a liberdade de cultuarmos na IBEC ou em igrejas locais mais próximas
de nossa casa durante a semana. Deste modo, as pessoas que se tornam membros assim o fazem por espontânea decisão.
21

E sobre a oração entendemos que é o meio que a Palavra de Deus nos ensina a respeito de como nos
relacionamos com Ele. Até para orarmos corretamente é necessário conhecermos o que a Bíblia ensina.
E um de seus ensinamentos é que devemos orar sem cessar, no sentido de estarmos sempre com o
pensamento “ligado” em Deus. É pela oração que intensificamos, pela graça divina, a comunhão com
nosso Senhor e recebemos seu auxílio para vivermos corretamente a vida cristã enquanto estamos
sendo santificados por Ele aguardando a volta de Cristo.

Finalmente, sobre a missão entendemos Deus tem uma missão: a de ser conhecido e adorado entre
todas as etnias da Terra. Então missões é a nossa atividade de pregar o evangelho para as pessoas em
nosso entorno. Uma vez que Jesus nos salvou e temos comunhão com Ele e entre nós mesmos pela
santificação, pelo estudo da Escritura e pela oração, então devemos responder em gratidão por já
termos sido salvos cumprindo uma ordem deixada pelo Salvador: ir por todo o mundo a pregar o
Evangelho [Mateus 28:18-20/Marcos 16:15].

Daí o slogan: o Evangelho puro e simples! Não somos perfeitos, mas o nosso único objetivo é viver
com Deus e entre nós os princípios do Reino de Deus anunciados por Jesus.

Nesta lição, simples, porém de suma importância para a formação de nossa identidade cristã, tanto
individual quanto coletivamente, aprendemos sobre o surgimento da IBEC e quais são os três
princípios bíblicos sobre os quais a igreja local está sustentada. Esperamos que a história aqui contada
sirva de inspiração para todos os que almejam fazer parte deste ministério.

Encerramos aqui mais uma seção esclarecendo nossas raízes históricas. De agora em diante
estudaremos os fundamentos bíblicos que servem para complementar a construção da nossa
identidade batista.
22

Seção 3
Informações
Teológicas
23

Lição 7: As Crenças teológicas Batistas (parte 1)

Aprender, sobre as crenças teológicas nada mais é do que estudar os fundamentos de crença das Igrejas
Batistas que ainda se mantém reformadas. Isto inclui nossa igreja local. Estes fundamentos são bíblicos
e foram sistematizados a partir do período da Reforma Protestante. Nesta lição começaremos pelos
fundamentos gerais, organizados por todos os reformadores e que dão início à construção de nossa
identidade de crença.

7.1. Os Cinco solas

A palavra sola é de origem latina e significa em português “somente”. Assim, a expressão “cinco solas”
é usada para sintetizar cinco frases latinas que definem princípios fundamentais da Reforma
Protestante. Cada frase exprime um pilar bíblico essencial da vida cristã. São eles:

 Sola scriptura (somente a Escritura)

Sola Scriptura é o ensinamento de que a Bíblia é a única palavra autorizada e inspirada por Deus e é
única fonte para a doutrina cristã, sendo acessível a todos sendo entendida como regra de fé e prática
para o cristão. As tradições, os escritos teológicos por si só, e qualquer outro tipo de literatura não
têm, não podem ser e não servem de instrumento de fé e prática para a Igreja; somente as Escrituras
Sagradas, que são a revelação da vontade de Deus para nossa vida. Ao lê-la somos iluminados pelo
Espírito Santo para entendê-la.

Esta doutrina é o princípio formal da Reforma, uma vez que é se trata da Revelação de Deus que é
recebido somente através da fé, pela graça de Deus. Ao perceber isto, Martinho Lutero escreveu:
“Então, achei-me recém-nascido e no paraíso, toda a Escritura tinha para mim outro aspecto,
perscrutava-a para ver tudo quanto ensina sobre a justiça de Deus”.

Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, portanto, a Igreja não deve fazer separação entre a
Escritura e sua função oficial; pois, se na prática, a igreja for guiada demais pela cultura e pelas
técnicas não bíblicas ao ponto de negligenciar a supervisão do culto, o conteúdo doutrinário da
música e as práticas sociais, a igreja corre o risco de enfraquecer sua consciência cristã e perder sua
integridade, autoridade moral e discernimento.

Assim, quando refletimos sobre a doutrina sola scriptura concluímos que em lugar de adaptar a fé
cristã para satisfazer as necessidades sentidas das pessoas, devemos é proclamar a verdade bíblica como
medida única da justiça verdadeira, e o Evangelho como a única proclamação da verdade salvadora.
24

A verdade bíblica é indispensável para a compreensão do verdadeiro sentido da vida cristã. E


aprendemos sobre isto por meio da Escritura, que deve nos levar além de nossas necessidades
percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de nos enxergar por meio das
imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de
Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa
sociedade.

Portanto, reafirmamos a Escritura como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger
a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o
padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. A Bíblia, portanto, precisa ser
ensinada e pregada na igreja. Os sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensinos, e, não, a
expressão de opinião ou de ideias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos
tem dado.

E para que aceitemos a Escritura como princípio regulador de nossa fé, o Espírito Santo nos concede
até mesmo esta fé que necessitamos para compreendermos a Revelação de Deus.

 Sola fide (somente a fé)

Após meditar no texto: “O justo viverá da fé”, Martinho Lutero percebeu que a justiça de Deus nessa
passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus, pela fé, também como um presente dado
pelo próprio Deus.

A Escritura declara o que Deus fez por nós em Cristo, e, não sobre o que nós podemos fazer para
alcançar Deus. Assim, Sola fide é o ensinamento de que a justificação dos pecados é declarada apenas
por Deus e é recebida somente pela fé, sem qualquer interferência ou necessidade de boas obras. Isto
significa que não é pela prática de boas obras que alguém é salvo por Deus. A boa obra serve apenas
de testemunho público para confirmar que uma pessoa foi salva por Deus.

O ser humano só pode ser salvo mediante a fé, isto é, por um ato excluso de fé na ação salvadora de
Deus através de Jesus. Penitências, sacrifícios ou qualquer outra prática, incluindo a boa obra por si
só, não livrarão as pessoas da condenação eterna diante de Deus por seus pecados. Em outras palavras,
a “fé produz justificação e boas obras”. Portanto, não é bíblico pensar o contrário, que “fé e boas
obras produzem justificação” [Efésios 2:8].

Quando refletimos sobre a doutrina da justificação pela fé, compreendemos que é somente pela graça
de Deus, que nos concede fé para crer no que Cristo fez. E tudo isto somente por causa da obra do
próprio Cristo. Daí se conclui que não existe Evangelho bíblico a não ser o que ensina a substituição
de Cristo em nosso lugar, pela qual Deus lhe imputou o nosso pecado e nos imputou a sua justiça.
Por ele ter levado sobre si a punição de nossa culpa, nós agora andamos na sua graça como aqueles
que são para sempre perdoados, aceitos e adotados como filhos de Deus. Não há base para nossa
aceitação diante de Deus a não ser na obra salvífica de Cristo! A base não é nosso patriotismo, nossa
devoção à igreja, ou à prática da moral por si só.
25

Portanto, reafirmamos que a justificação é somente pela fé nos méritos de Cristo. Na justificação a
retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.
Compreender este ensino bíblico é tão sério que “Somente a fé” se tornou a questão doutrinal central
para todos os reformadores. Lutero a chamou de “doutrina pela qual a igreja permanece ou cai”.

Pois bem, depois de crermos somente na Escritura, somente pela fé, aprendemos que até esta fé é um
presente de Deus. Nós, em nossa condição de pecado, separados de Deus, não tempos condições de
cremos por conta própria. Portanto, Deus nos concede graça, nos salvando e nos iluminando na
compreensão do que precisamos para nos relacionarmos com Deus.

 Sola gratia (somente a graça)

Sola gratia é o ensinamento de que salvação vem por graça divina ou “favor imerecido” apenas, e não
como algo merecido pelo pecador. Isto significa que a salvação é um dom imerecido de Deus por
causa de Jesus. A Graça é verdadeiramente sempre um dom gratuito de Deus que é o único agende de
eficácia, não necessitando de qualquer cooperação do ser humano. Em outras palavras, uma pessoa não
pode, por qualquer ação da sua parte, sob a influência da graça, cooperar com a sua própria salvação,
como se tivesse algum mérito diante de Deus para obter maiores bênçãos para si.

Esta doutrina declara que o meio de salvação começa em Deus, recebe sua manutenção diária somente
em Deus e terminará em Deus na consumação dos tempos: Deus age sozinho para salvar o pecador. A
responsabilidade para a salvação não repousa sobre o pecador. A Confiança desmerecida na
capacidade humana é um produto da natureza humana decaída. Por isso que pensar na doutrina
“somente a graça” gera um impacto no estudante, pois a culpa que sente por seu pecado lhe conduz a
tentar aliviar-se crendo que poderá fazer algo para Deus. Todavia, a única causa eficiente da salvação é
a graça de Deus. Obras, sacrifícios e penitências não conferem mérito próprio ao ser humano diante
de Deus [Efésios 2:8,9]. Nenhuma obra por mais justa e santa que possa parecer poderá dar ao homem
livre acesso a salvação e ao reino dos céus, ocorrerá isso somente pela graça de Deus.

A resposta bíblica é a de que graça de Deus em Cristo é necessária e é a única causa eficaz da salvação.
Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de
cooperar com a graça regeneradora. Portanto, reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de
Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo,
soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.

E como já ressaltamos até aqui, a fé para crermos somente na Escritura e até mesmo para
compreendermos esta graça que vem de Deus não é produzida pela nossa natureza não-regenerada,
mas sim pela própria graça através do que Cristo fez.

 Solus Christus (somente Cristo)

Solus Christus ou Solo Christo é o ensinamento de que Cristo é o único mediador entre Deus e a
humanidade, e que não há salvação através de nenhum outro. Esse “somente” mostra a suficiência e
26

exclusividade de Cristo no processo de salvação. Desde a eternidade Deus promove a aliança da


redenção, onde o beneficiário seria o ser humano e o executor dessa aliança seria seu Filho unigênito;
portanto somente Cristo é o instrumento de nossa salvação [Atos 4:12; 1 Pedro 1:18,19,20].

Somente Cristo é a doutrina que enfatiza que uma pessoa nada pode fazer para salvar a si mesma do
pecado e da condenação diante de Deus. Alguém só pode ser salvo pelo que Jesus Cristo realizou: a
obra da redenção ao ser sacrificado na cruz do calvário, derramando o seu sangue como sacrifício por
nossos pecados.

Quando pensamos na obra redentora do Senhor Jesus, relembramos que a Igreja existe para defender e
anunciar os interesses do Reino de Deus que, não devem jamais, serem confundidos com os da
cultura. Pois quando Cristo deixa de ser suficiente para a salvação e para nortear a Igreja, o resultado é
uma perda de valores absolutos, um individualismo permissivo, a substituição da santidade pela
integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da fé pelo sentimento, da
providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata.

Portanto, reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo
histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação,
reconciliação com o Pai e orientação da crença, dos valores e do comportamento da Igreja.

Mas e depois de termos sido salvos por Cristo? Qual o sentido da vida cristã? A resposta está na
compreensão bíblica de que viemos de Deus, devemos glorifica-lo com nossa forma de viver e
estaremos com Ele no porvir.

 Soli Deo gloria (glória somente a Deus)

Soli Deo gloria é o ensinamento de que toda a glória é devida somente a Deus, pois a salvação é
realizada unicamente através de sua vontade e ação de Jesus na cruz, incluindo o dom da fé em que a
expiação, é criada no coração do cristão pelo Espírito Santo. De acordo com a Bíblia todas as pessoas
devem louvar e dar glória a Deus [Efésios 2: 1-10; João 4:24; Salmo 90:2; Tiago 1:17].

Considerando a instrução bíblica sobre nossa origem (somos criação de Deus) e o propósito de nossa
existência (glorificar a Deus), se alguém participa de um ambiente em que não prevaleça a autoridade
da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o Evangelho tenha sido distorcido ou a fé
pervertida, fica claro que Deus não está sendo glorificado. Os nossos interesses não podem substituir
os de Deus.

Enquanto estivermos participando da vida terrena, sempre lutaremos contra a tentativa do pecado em
nos fazer retroceder e abandonar os princípios bíblicos. Isto significa que estamos sujeitos à perda da
centralidade de Deus na nossa vida. E nos momentos em que inclinamos para isto, corremos o risco
de transformar o culto em entretenimento, a pregação do Evangelho em marketing, o crer em técnica,
o ser bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido.
27

Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites desenfreados, ou nossos
interesses espirituais particulares que podem ser egoístas pela contaminação do pecado. Precisamos
nos focalizar em Deus, em nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é
soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar em defender e anunciar o Reino de
Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.

Portanto, reafirmamos que, como a existência, a vida e a salvação são de Deus e realizadas por Deus,
para a glória de Deus, então devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a
face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

Nesta lição estudamos sobre os fundamentos gerais, organizados por todos os reformadores (Lutero,
Zwínglio e Calvino). Estes fundamentos sintetizam a forma de crença de todas as denominações que
nasceram do movimento da Reforma Protestante, incluindo a Igreja Batista.

Na próxima lição, que é a segunda parte do conjunto de crenças, dando sequência ao estudo teológico
que define nossa identidade, estudaremos sobre os fundamentos específicos, desenvolvidos a partir do
calvinismo.
28

Lição 8: As Crenças teológicas Batistas (parte 2)

Já começamos a aprender, sobre as bases teológicas, isto é, os fundamentos de crença das Igrejas
Batistas que ainda se mantém reformadas. Nesta lição, complementaremos nosso estudo com os
fundamentos específicos que foram assumidos e organizados por todos os reformadores, mas que
ganharam destaque em João Calvino e serviram como a base de toda a teologia a qual adotamos.

8.1. Os atributos de Deus

De acordo com o dicionário Aurélio, atributo é “aquilo que é próprio do ser”, ou seja, é um conjunto
de características que definem um objeto ou uma pessoa. Em se tratando de Deus, seus atributos
podem ser naturais e morais e no meio destes conjuntos há os comunicáveis, isto é, os que Ele
concedeu ao ser humano como Sua Imagem e os incomunicáveis, isto é, os que pertencem somente ao
Senhor. É por meio de conhecê-los que se aprende sobre a natureza de Deus. 8

 Atributos Naturais

Os atributos naturais de Deus são aqueles que mostram exclusivamente aquilo que Deus é, ou seja, o
apresentam em sua essência.
Atributos Naturais Incomunicáveis
Referem-se ao que o ser humano não possui. Somente Deus possui em sua essência.
Auto Deus é auto-suficiente. Ele não precisa de nada nem de ninguém para ser o que é ou fazer o que fez e faz.
existência É absolutamente independente de tudo e é a causa de todas as coisas. Nada vem antes dEle [Atos
17:24,25].
Imutabilidade Mudança constitui um progresso ou uma decadência. Só mudam e se transformam os seres imperfeitos.
Sendo perfeito, Deus é imutável, permanece idêntico a si mesmo, sem nenhuma mudança ou variação
[Apocalipse 22:13; Isaías 44:6; Hebreus 1:10-12; Malaquias 3:6 e Tiago 1:17].
Infinidade Deus é infinito, isto é, sem limite em seu Ser, pois Ele existe por sua própria essência. Nada existe além e
acima dEle. Deus é infinito e ilimitado [1 Timóteo 6:16; Romanos 11:33; Jeremias 23:23,24 e Salmo
139:7-10].
Eternidade Deus não tem princípio nem fim de dias. Para Ele o passado e o futuro formam um eterno presente
[Êxodo 3:13,14; João 8:58].
Onipresença Significa que Deus está em todos os lugares. Ele age em todos os lugares e possui pleno conhecimento de
tudo quanto ocorre em todos os lugares. Mas não num lugar de cada vez; antes, está presente
simultaneamente em todos os locais [Salmo 139:7-10; Jeremias 23:23-34; Mateus 18:20; Atos 17:24-28].

8
Os atributos de Deus indicam que as qualidades divinas reveladas na Bíblia não são meros nomes das concepções humanas de Deus,
baseados na imperfeição da mente finita. Os atributos são reais e realmente caracterizam a essência divina. (Nota do autor)
29

Invisibilidade A essência integral de Deus jamais poderá ser vista pelo ser humano. Muito embora Deus se revele à
humanidade por meio das coisas criadas que podem ser vistas, Deus é espírito, portanto, não pode ser
visto em sua integralidade [João 1:18; 6:46; 1 Timóteo 1:17; 6:16 e 1 João 4:12].
Atributos Naturais Comunicáveis
Referem-se ao que o ser humano possui enquanto Imagem de Deus, pois o próprio Deus possui em sua essência.
Espiritualidade Homem e mulher são seres espirituais porque Deus é espírito. Deus é o perfeito espírito com
personalidade plena. Ele pensa, sente e fala, por isto o ser humano pensa, sente e fala [João 5:37;
Filipenses 2:6].
Onisciência A humanidade é capaz, ainda que limitadamente, de conhecer sobre a realidade existente porque Deus é
onisciente. Ele é o Deus perfeito em ciência e sabedoria [Isaías 40:28; Salmos 147:5; Romanos 11:33].
Onipotência A humanidade é capaz, mesmo limitada, de realizar intervenções na criação porque Deus é onipotente. O
seu divino poder é ilimitado; isto é, tem poder de fazer qualquer coisa que queira, segundo a sua
perfeição [Gênesis 18:14; Jó 42:2; Salmo 93:4; 115:3; Jeremias 32:17].

Obs.: Repare que não é o ser humano que é onisciente e onipotente. Deus nos comunica a sua onisciência e a
sua onipotência para que sejamos limitadamente capazes de conhecer a realidade e de intervir na Criação.

 Atributos Morais de Deus

Os atributos morais são os que mostram aquilo que Deus possui em Si mesmo e ao mesmo tempo concede,
comunica à humanidade como sua Imagem.
Atributos Morais Comunicáveis
Veracidade A veracidade é um dos múltiplos aspectos da perfeição de Deus. Isto é, Deus é ao mesmo tempo, veraz e
perfeito. A mentira é incompatível com a natureza divina.
Fidelidade Deus é fiel. Cumpre todas as suas promessas feitas a seu povo [Jeremias 1:12; Deuteronômio 7:9; Salmos
117:2; 145:13; 1 Coríntios 1:9]. A fidelidade de Deus constitui para o cristão a base de sua confiança
nEle, o fundamento de sua esperança e a causa do seu gozo.
Bondade Deus é amor infinito e perfeito. Ele é o Sumo bem para suas criaturas; a fonte de todo bem. Deus é o
parâmetro definitivo do que é bom, e tudo o que Ele é e faz é digno de aprovação [Gênesis 1:31;
145:9,15-16; 100:5; 106:1; Lucas 18:18-19; Romanos 12:2; Tiago 1:17; 1 João 1:5; Atos 14:17].
Justiça Deus é justo. Ele age com justiça infinitamente perfeita. Por isso pune o mal e recompensa o bem. Ele
mesmo é o parâmetro definitivo do que é justo [Deuteronômio 32:4; Esdras 9:15; Neemias 9:8; Salmo
119:137; 145:17; Jeremias 12:1; Lamentações de Jeremias 2:29; 3:4; Apocalipse 16:5; Romanos 3:25,26 e
9:20,21; Jó 40:2,8].
Santidade A santidade de Deus é a soma de todos os seus atributos morais e expressa sua majestade. Ele se revela na
Palavra como o Santo e deseja ser conhecido essencialmente em sua santidade, pois esse é o atributo pelo
qual Ele é glorificado por excelência.
Conselho Trata-se do plano eterno em relação ao mundo em suas partes temporal e atemporal, visível e invisível,
abrangendo todos os seus propósitos e decretos: a criação, a redenção e a liberdade dada ao homem
[Efésios 1:11; Isaías 40:13,14].

As consequências de conhecermos sobre os atributos de Deus, que constituem a sua natureza, são 3
aprendizagens que devemos sempre levar em nosso coração: 1) Deus é distinto da criação [Gênesis 1:1;
Salmo 102:26,27]; 2) Deus é um Ser único [Deuteronômio 6:4]; 3) Deus é a fonte de toda a Vida [João 5:26;
Jeremias 10:10-15; Atos 14:15; 17:25; 2 Crônicas 16:9; Salmo 94:9,10; 1 Tessalonicenses 1:9; Habacuque 2:18-20]

E estas aprendizagens possuem profundas implicações para a vida cristã prática. O correto e claro
30

conhecimento sobre Deus está diretamente ligado com a maneira como nós entendemos suas santas e
justas ações e decisões. Quando entendemos os atributos de Deus, então somos capazes de aceitar a
sua Soberania, o seu Decreto, o seu Propósito e a sua Providência.

8.2. A Obra de Deus

Obra de Deus aqui não está relacionado com as ações evangelizadoras da Igreja. Obra de Deus nesta
lição tem a ver com as justas ações e decisões de Deus.

 Soberania de Deus: o poder para tomar decisões e realizar ações

Expressar que Deus é soberano é o mesmo que confessar que Ele cria, sustenta e governa sobre todas
as coisas. Isto significa que Deus sustenta e governa sobre tudo o que Ele criou de modo absoluto,
completo, total e perpétuo [Deuteronômio 4:39; 1 Crônicas 29:10,12; Salmo 45:6; 103:19; 145:13; Daniel
4:13,34; Hebreus 1:8; 2 Pedro 1:11]. Não há restrições ou limitações para a soberania de Deus. Vamos
considerar a relação de Deus com sua criação:

 Deus criou o universo: O método usado por Deus foi a sua palavra. Deus trouxe o universo à existência pelo ato
de sua fala: “faça-se” [Gênesis 1; Salmo 33:6,8,9; Hebreus 11:3]. Quando Deus chamou à existência tudo o que
existe, Ele os criou e os moldou segundo sua vontade.

 Deus sustenta o universo: Para muitos, inclusive cristãos, Deus apenas criou o universo e criou leis próprias de
funcionamento deste universo de modo que tudo o que existe funciona como se fosse um relógio de corda em
que Deus “deu corda” e agora deixa funcionando por conta própria. Isto não é verdade! Deus, por meio do seu
poder mantém a existência das coisas que Ele criou segundo a natureza que lhes comunicou. Pela infinidade,
onisciência e onipotência Deus sustenta diariamente o universo [Neemias 9:6; Salmo 36:6; Atos 17:28;
Colossenses 1:17; Hebreus 1:3].

 Deus governa sobre o universo: Pela Escritura aprendemos que Deus é o controlador do universo. Ele governa
ativamente toda a realidade, toda atividade que acontece no universo operando todas as coisas segundo o
conselho de sua própria vontade [Efésios 1:11; Jó 37:3,4,6,10-13; Salmo 135:7; 104:14; Mateus 5:45;
6:26,30]. Lembrando que esta doutrina do controle de Deus sobre o universo não nega a realidade das causas
secundárias. Ao contrário, ela simplesmente mostra que Deus é a causa primária, a primeira causa e o Criador de
todas as causas secundárias ou segundas causas. E Deus estabeleceu as segundas causas de modo que Ele
cumprisse sua vontade.9

É importante compreender que o controle de Deus não cessa com as forças impessoais do universo,
pois elas foram criadas pelo próprio Deus para que toda a realidade funcione nos moldes como
funciona.10 Assim, podemos entender que se Deus é soberano então Ele não pode e jamais será
influenciado por qualquer atitude humana ou evento de sua criação. Deus a tudo controla e tem o

9
É assim que o ser humano é moralmente responsável diante de Deus por seus atos. Pois é a causa secundária que permite ao ser humano
ter a liberdade de ir e vir tomando atitudes conforme a sua vontade. Esta causa secundária é chamada na Teologia de livre-agência. Que não
tem nada a ver com o livre-arbítrio. (Nota do autor)
10
Exemplo: as leis físicas, biológicas, sociais e espirituais são reais. Levanta-se o vapor, a chuva cai e o vento assopra segundo certas leis; mas
Deus ordenou essas leis e Ele agora sustenta todas as coisas segundo sua natureza original e sua intenção por elas, de maneira que Deus é
realmente quem causa o vapor subir, a chuva cair e o vento assoprar. Cf. Êxodo 9:12; 12:36; Salmo 33:14,15; 76:10; Provérbios 16:4;
19:21; 20:24; 21:1; Jeremias 10:23; Daniel 4:35; Isaías 44:28; João 12:37,39,40, Atos 4:27,28.
31

domínio eterno sobre a vontade dos seres humanos, 11 dos seres celestiais e sobre todo o restante de sua
criação.

 Decreto de Deus: a justificativa para tomar decisões e realizar ações

Antes de criar a realidade, Deus determinou realizar tudo o que acontece do modo como acontece [Jó
14:5; Salmo 139:16; Atos 2:23; 4:28; Efésios 1:4; 2:10; Judas vers.4] . Esta divina determinação é chamada na
teologia de “decreto de Deus”. Trata-se de um planejamento prévio de todas as suas ações na
História. O decreto, em sua própria natureza, é único. Não existe uma série de decretos divinos como
se fossem vários planos, mas somente um plano que abrange tudo o que se passa. Para melhor
compreensão, observe os argumentos:

 Entendendo o Decreto de Deus: De acordo com as Escrituras, o decreto também é conhecido como “conselho
de Deus” e diz respeito a todas as decisões tomadas antes da Criação [Isaías 14:26,27; Efésios 1:11]. Estas
decisões são conhecidas como “o eterno e infalível plano divino” o qual Deus tem executado ao longo do
tempo. Quando relacionamos o decreto com a condição de existência do ser humano descobrimos que o
decreto divino não é dirigido ao homem como uma imposição ou mola que o impulsiona de modo direto a
viver. O decreto não impõe obrigação como que infringindo à liberdade do ser humano dada por Deus. É por
isto que existe a causa secundária e o ser humano a possui. O decreto serve apenas para estabelecer que uma
pessoa veio, vem ou virá à existência.

 Entendendo o Decreto de Deus em relação à liberdade humana: Os atos pecaminosos dos homens não foram
decretados no mesmo sentido que foram os atos retos. Deus é a causa eficiente de todo bem, enquanto que o
mal é somente permitido, dirigido e controlado para sua glória. Os atos pecaminosos dos seres humanos foram
decretados por Deus permissivamente, no sentido de saber que são realizados. E serão certamente efetuados;
mas ao praticá-los os homens expressam sua própria depravação. Afinal, são moralmente responsáveis diante de
Deus por possuírem uma causa secundária [Salmo 76:10]. Já as boas obras dos homens são decretadas com
eficácia, o que significa que Deus opera neles “tanto o querer como o efetuar segundo a Sua boa vontade”
[Filipenses 2:13].12

 Propósito de Deus: a concretização das decisões e das ações

Como bem vimos o decreto de Deus restringe-se ao seu planejamento, porém a execução de sua obra
recebe o nome de “propósito de Deus”. Trata-se dos atos executados na História que concretizaram,
concretizam e concretizarão o decreto de Deus. O plano divino é posto em prática por meio do
propósito de Deus. Esta foi a forma pela qual Ele determinou que tudo aconteça. Observe os
argumentos:

 Entendendo o Propósito de Deus: Deus nunca age aleatoriamente, isto é, nunca efetua ações desprovidas de

11
Afirmar que Deus tem o domínio da vontade dos seres humanos não deve ser entendido como se fôssemos máquinas. Ao contrário, já
vimos que os seres humanos e os demais seres criados possuem causas secundárias em si que os possibilita de funcionarem diante de Deus.
Portanto, Deus ser dono da vontade humana é no sentido de que mesmo diante de nossa livre agência, nossa liberdade de ir e vir, tudo o
que fizermos no final resultará na glória de Deus. (Nota do autor)
12
Exemplos: Herodes, Pilatos, os gentios, e o povo de Israel se ajuntaram para fazerem tudo o que a mão e o conselho divino determinam
previamente [Atos 4:27,28]. Outro exemplo: O decreto de Deus fez com que Cristo morresse, com certeza, mas isto não dependeu da
liberdade humana, como se os homens fossem constrangidos a executarem tal obra. Então, na crucificação de Jesus, Deus usou meios de
fazer com que eles cumprissem as Escrituras executando o seu eterno propósito. O que aconteceu, de fato, foi que Deus ordenou que Cristo
morresse sobre a Cruz, mas Ele deteve o seu poder coercitivo e permitiu a crucificação seguir sua própria inimizade natural contra Cristo.
32

propósito; ao contrário, tudo o que Ele faz possui algum sentido, mesmo que o ser humano em suas limitações
existenciais e pecaminosas não consiga entender [Isaías 14:26,27; Efésios 1:11]. O ato de criar a realidade se
deu por meio de seu propósito, o ato de sustentar se dá por meio de seu propósito e o ato de governar se dá por
meio de seu propósito. Um animal, aparentemente insignificante, não pode vir à existência, viver e nem morrer à
parte do querer divino [Mateus 10:29]. Tudo está sujeito ao seu propósito. Daí se conclui que o propósito
divino nunca pode ser frustrado, porque Deus é soberano.

 Entendendo o Propósito de Deus em relação a toda a criação: Pelo ensino da Escritura está bem claro que todos
os eventos das nações e indivíduos são conhecidos por Deus desde o início quando se leva em conta em seu
decreto e propósito. Isto não significa que Deus produz e é responsável por todos os atos e eventos, afinal, Ele é
somente a causa primária. Porém isto significa que todos os atos e eventos fazem parte do seu decreto e se
cumprirão de acordo com seu propósito no sentido de operar todas as coisas para a sua glória suprema. Em
outras palavras, o propósito divino não se limita aos atos realizados pessoalmente por Deus, mas abrange
também as ações das suas criaturas. Algumas coisas Deus faz pessoalmente, outras ele faz com que aconteçam
por meios secundários, os quais Ele providencia e sustenta pelo seu poder para que cooperem no cumprimento
de seu propósito. O propósito divino não pode ser detido e é por meio dele que Deus controla todas as coisas
[Atos 15:18; Isaías 46:9,10]. Isto significa que não é possível que haja algum evento não previsto que faça Deus
mudar seu propósito.

 Providência de Deus: o meio da concretização das decisões e das ações

Deus não deixa o universo existir por si mesmo; antes, depois que o criou Ele diariamente sustenta sua
existência e ativamente governa sua operação com base em seu decreto e em seu propósito. Deus está
controlando do maior ao menor evento dentro da realidade criada. E a condição para Deus executar o
seu propósito é por meio da chamada “providência divina”. Observe os argumentos:

 Entendendo a Providência de Deus: A Bíblia apresenta Deus como o causador de todas as coisas; e, não, o
observador de todas as coisas! Deus criou todas as coisas “visíveis e invisíveis”, portanto tudo é sustentado por
Ele. Incluindo a vida humana [Atos 17:28]. A providência do Senhor abrange desde as ocupações e decisões
mais importantes da vida humanas até os menores detalhes como, por exemplo cuidar dos cabelos de cada
pessoa [Mateus 10:30]. Pela providência não apenas todos os seres vêm à existência por Deus através de seu
poder criativo, mas eles só continuam existindo pelo seu poder sustentador, visto que apenas Ele é auto
existente. Nada pode existir e funcionar separado de Deus.

 Entendendo a Providência de Deus em relação a toda a criação: Deus cria e coloca em cada criação uma causa
secundária; desse modo, cada coisa funciona de acordo com o que Deus estabeleceu que funcione. A
providência de Deus se manifesta como: 1) “Providência geral” referindo-se ao controle e a supervisão de Deus
sobre os eventos que Ele mesmo causa através de meios ordinários. E 2)”Providência especial” referindo-se ao
controle e a intervenção de Deus sobre os eventos que Ele mesmo causa mediante meios extraordinários, como
casos que envolvem a sobrenaturalidade. Juntas, a providência geral e a especial de Deus abarcam todos os
eventos que acontecem na realidade existente.13

A natureza existe e funciona com as leis que funciona, porque Deus providencia tudo isso. Portanto,

13
Observe o exemplo: Deus cria uma flor e estabelece que suas pétalas desabrochem. Então, Deus controla o ato das pétalas desabrocharem
e usa lei física, os fenômenos climáticos e os fenômenos biológicos para que a flor faça suas pétalas desabrocharem (Providência geral).
Perceba que duas ações aconteceram: 1) Deus ordenou e controlou o ato de desabrochar das pétalas da flor; e 2) a flor fez com que suas
pétalas desabrochassem. A ação da flor se deu por sua causa secundária, mas esta causa secundária só ocorreu por ordenação de Deus, a
causa primária. E, no final, Deus cumpriu seu propósito pela providência dos meios necessários para que a flor pudesse cumprir sua ação.
Outro exemplo: Jesus multiplicou pães e peixes (Providência especial).
33

qualquer parte da criação que tiver pretensões de autonomia absoluta, sejam em que nível for, acaba
frustrada: por não conseguir e porque está funcionando inadequadamente por causa do pecado
estando fora da vontade de Deus. Portanto, assumir a doutrina da providência é rejeitar todas as
demais teorias que atribuem o controle das vidas humanas e dos eventos do mundo às forças
impessoais. Assim, todos os ensinamentos sobre acaso, destino cego, interpretação mecanicista das leis
físicas, biológicas e sociais são, naturalmente, negados.

8.3. Consequências do conhecimento sobre a obra de Deus

Para nós, batistas reformados, em termos práticos, a vida cristã repousa na tranquilidade de saber que
Deus, por todos os atributos que possui e em sua soberania sustenta e controla a vida em geral.
Podemos descansar sabendo que tudo o que há neste mundo já havia sido estabelecido pelo decreto
divino, e tudo funciona como funciona pela execução do propósito de Deus que, diariamente sustenta
e governa todas as coisas por sua providência. Consequentemente a Igreja está inserida neste controle.

De todo este conteúdo aprendemos que inevitavelmente Deus cumpre a sua vontade na Criação. E nós
a aprendemos através da Bíblia. É por ela que aprendemos sobre a obra divina, incluindo tudo o que
devemos fazer. Pelo decreto, propósito e providência de Deus conhecemos sua vontade que, quando
revelada a nós, nos dá a correta orientação de como devemos viver de modo a glorificar a Deus
cooperando com seu reinado.

O interessante de se compreender corretamente sobre a soberania é que descobrimos que não há


contradição entre esta doutrina e a liberdade humana. Elas não entram em conflito, pois o decreto, o
propósito e a providência de Deus não diminuem a responsabilidade humana. Exemplos: Se Deus
decreta uma pequena colheita, isto não significa que ela vai crescer sozinha, é preciso plantar e cultivar.
Se Deus decreta um período de fome, isto não significa que os homens devem ser preguiçosos e não
trabalhar. Se Deus decreta a morte de uma pessoa, isto não a impede de cuidar de sua saúde.

Compreender a obra de Deus e seus atos o magnifica em toda sua sabedoria, poder e soberania. A
Bíblia revela que Deus está em seu trono, onde deve estar e sempre estará. Não existem crises com
Deus, nem problemas fora de seu controle. Ele se move com passos majestosos até a consumação de
seu eterno propósito em Cristo para o louvor de sua glória.

O entendimento sobre os atributos e sobre as doutrinas da soberania, do decreto, do propósito e da


providência fazem parte das crenças dos batistas reformados. Em tempos de aflições, reprovações, e
perseguição, a verdadeira Igreja tem encontrado nesse conjunto doutrinário forte consolação. É
somente sobre este fundamento que podemos acreditar que “todas as coisas são para o bem” e que
somos capazes de orar “seja feita a tua vontade” [Romanos 8:28; Mateus 6:10].

Nesta lição estudamos a segunda parte, a informação complementadora sobre os fundamentos da


crença batista. E, finalmente, na próxima lição, a terceira parte, estudaremos o ensino bíblico sobre
como ocorre a salvação, pois esta compreensão também faz parte dos fundamentos de crença de uma
legítima Igreja Batista.
34

Lição 9: As Crenças teológicas Batistas (parte 3)

Depois de estudarmos os fundamentos gerais (os cinco solas) e os fundamentos específicos (os cinco
pontos do calvinismo), é o momento de fortalecermos e consolidarmos nosso entendimento com a
sequência ensinada na Escritura sobre o momento da salvação. Ao contrário do que muitos imaginam,
Jesus não criou um “sistema de salvação”; a salvação não é um processo que ocorre por etapas; não é
algo dinâmico que vai crescendo no dia a dia. Ao contrário. A salvação é uma ação que vem de Deus,
sendo estática: ocorre uma vez e é definitiva. Ela é mantida diariamente por Deus e será consolidada, a
partir do estabelecimento pleno do Reino, também pelo próprio Deus. Assim, nesta lição,
finalizaremos a complementação de nosso estudo aprendendo sobre a Ordo Salutis, a “Ordem da
Salvação”.

9.1. A Ordem da Salvação

Pois bem, até aqui estudamos as cinco solas e os cinco pontos do calvinismo. Mas como todas estas
doutrinas se relacionam? Simples: compreender cada uma separadamente nos possibilita entender que
Deus tem um plano de salvação para a Igreja, para que ela seja inserida no Reino e se torne sua
representante e defensora. Agora é o momento de estudar o resultado da união teológica de todas
essas doutrinas: a Ordem da Salvação!

Somente pela Escritura é que nós aprendemos corretamente sobre a origem da realidade existente,
sobre nossa própria origem, sobre o sentido da vida e sobre o futuro da criação, incluindo a
humanidade. Somente por meio da fé é que temos a certeza de que a informação bíblica é a Revelação
acerca do próprio Deus e de seus propósitos para nós. Mas entendemos que até para crermos é preciso
que Deus aja em nós somente por sua graça e que foi por esta mesma graça que Ele nos resgatou
através do que somente Cristo fez, não havendo mérito em nós. Assim, depois de reconhecermos a
obra de Cristo e que o mérito é todo dele, entendemos que a nossa forma de viver deve glorificar a
Deus como um gesto de gratidão por tudo o que Ele fez por nós!

Muito bem! Contudo, o pecado nos impede de compreendermos a ação amorosa de Deus, sendo
necessário sermos salvos. Somente depois que somos salvos é que podemos nos relacionar com Deus
corretamente, baseado na orientação da Bíblia. Observe: a vida encarnada e o ministério de Jesus não
fazem parte do “plano B” de Deus como se tivesse sido “pego de surpresa” diante da Queda do
primeiro casal. Ao contrário, Cristo é o cordeiro de Deus conhecido desde antes da fundação do
mundo.

Previamente sabedor da Queda, Deus, para a sua própria glória, resolve salvar o ser humano; então
35

diante da concretização dessa Queda coloca em prática o seu propósito estabelecendo para si mesmo e
sobre as pessoas a Ordem da Salvação que se manifesta na vida do eleito através de vários movimentos
promovidos pelo Espírito Santo, que se inter-relacionam. Vejamos, então, como funciona este decreto
divino:

1ª Ação: De Deus vem:


A chamada O apelo do Evangelho estende uma chamada à salvação ao eleito. Trata-se de um ato exclusivo do
Eficaz Pai. Uma espécie de “convocação”, que possui tanto poder de convencimento que a pessoa chamada
acaba por dar uma resposta positiva. Nesta hora, o Espírito convence o ouvinte do pecado, da justiça
e do juízo.
A União A união mística é a união íntima, vital e espiritual entre Cristo e o seu povo, em que Ele é a fonte de
Mística com sua vida e da salvação. A obra de Cristo é suficiente e é dele a iniciativa de se unir à pessoa
Cristo regenerando-a ao produzir fé no interior dela; a seguir esta pessoa que crê também se une a Cristo por
um exercício diário de fé confirmando esta união, sob a influência constante do Espírito Santo.
A Regeneração É também um ato exclusivo de Deus pelo qual Ele concede nova vida espiritual. Também conhecida
como “novo nascimento”, a Regeneração vem antes mesmo que uma pessoa responda positivamente
ao ato do Espírito Santo de convencê-la do pecado, da justiça e do juízo em paralelo com a união
mística com Cristo e consolida-se depois da resposta positiva. No momento em que a pregação do
Evangelho chega a nós, Deus nos fala através desta pregação para nos chamar para si mesmo
(chamado eficaz e união mística com Cristo) e para nos dar nova vida espiritual (regeneração). A
seguir, respondemos positivamente e começamos a experimentar a sequência desta regeneração que é a
transformação interna em nosso caráter. Esta mudança interna operada no pecador eleito o capacita a
entender e crer a verdade espiritual de Deus.

2ª Ação: Do ser humano vem:


A Esta é a resposta humana do chamado de Deus através do Evangelho. A regeneração que se consolida após
Conversão a resposta positiva e a conversão caminham juntas, sendo a segunda a consequência da primeira. Na medida
em que vou sendo regenerado por Deus, sequencialmente vou sendo convertido. Assim, é correto crer que a
verdadeira conversão tem suas raízes na obra de regeneração e que é efetuada na vida do pecador de modo
muito consciente, através do Espírito Santo que muda crenças, pensamentos, comportamentos, desejos,
enquanto que, ao mesmo tempo, por meio destas operações, o ser humano vai mudando o curso de sua
vida em direção a Deus através de atos de fé e arrependimento contínuos. Esta inter-relação é muito
simples: O Espírito Santo cria no pecador eleito um novo coração e uma nova natureza através da
regeneração, pela qual o pecador é feito filho de Deus e recebe a vida espiritual. Sua vontade é renovada
através desse processo, de forma que o pecador vem espontaneamente a Cristo.

3ª Ação: De Deus vem:


A Esta é a resposta de Deus à nossa resposta na conversão. A justificação é a declaração legal de que os
Justificação nossos pecados foram perdoados e não estamos mais sujeitos à punição eterna, pois temos comunhão com
Deus. É um ato instantâneo da parte de Deus pelo qual Ele considera nossos pecados perdoados pela
justiça que Cristo promove sobre nós, declarando-nos justos à vista dele. Isto significa que nós não temos
penalidade para pagar pelo pecado, porque assim como Deus imputa a culpa do pecado sobre a
descendência adâmica, Ele imputa a justiça de Cristo sobre os que responderam positivamente ao seu
chamado que veio inteiramente por sua graça. E diferentemente da fé e do arrependimento que devem ser
praticados por toda a vida, a justificação ocorre de uma vez por todas.
36

4ª Ação: De Deus e do ser humano em parceria vêm:


A Esta continua por toda a vida cristã, porém, por causa do pecado a santificação nunca será completa no
Santificação sentido de perfeita, somente após o retorno de Cristo é que ela será completa. A santificação também é
uma obra cujo único autor é Deus, contudo o ser humano tem o dever de cooperar lutando pela
santificação crescente que consiste 1) na mortificação do “velho homem” significando que Deus,
gradativamente, remove a corrupção resultante do pecado, e 2) na vivificação do novo homem que foi
criado em Cristo Jesus para as boas obras significando que Deus fortalece a vida espiritual do regenerado
e o incentiva às disciplinas ou exercícios espirituais que são: leitura e estudo da Bíblia, oração, os
sacramentos (ceia e batismo) e a prática de boas obras.
A Aqui o regenerado também coopera. Esta é uma obra de Deus em que o próprio Espírito Santo persevera
Perseverança em continuamente operar na vida do regenerado. Isto significa que a obra inicial de Deus tem o seu
prosseguimento e se completa. Se o ser humano fosse deixado por Deus por conta própria certamente o
pecado faria com que ele desistisse. Portanto, o ato de perseverança dos regenerados é uma cooperação
ao ato iniciado por Deus de perseverar conosco. É justamente porque Deus nunca abandona o seu
propósito que nós devemos perseverar até o fim.

Perceba a relação existente entre os vários movimentos operados pelo Espírito Santo objetivando a
redenção da pessoa, vindo a confirmar que o ato divino salvífico é um só, mas dentro deste ato, há
uma sequência de vários movimentos.

O resultado da Ordem da Salvação é a união definitiva com Deus e seus propósitos: pela Bíblia
descobrimos que somos pecadores, mas pela obra de Jesus somos justificados pela fé e não pelas obras,
e sendo justificados temos paz com Deus e acesso a Ele. Ficamos livres da culpa condenatória do
pecado para sermos servos da justiça e colhermos o fruto da santificação, pois fomos adotados como
filhos de Deus e recebemos o seu Espírito que nos sela e além de nos dar segurança, nos torna
coerdeiros com Cristo. Assim, depois de obtermos a justiça de Deus, participamos também dos
sofrimentos de Cristo bem como do poder de sua ressurreição.

Nesta lição estudamos sobre a Ordem da Salvação. Observe que, ao expor as bases de crença da Igreja
Batista, tentamos esclarecer algo fundamental na Escritura, e que foi sistematizado pela Teologia: a
salvação que Cristo adquiriu para o seu povo inclui tudo que está envolvido no processo de trazê-los a
um correto relacionamento com Deus, incluindo os dons da fé e do arrependimento. Deus não deixou
aos pecadores a decisão se a obra de Cristo será ou não efetiva. Pelo contrário, todos aqueles por
quem Cristo morreu serão infalivelmente salvos. São salvos não pelo que fizeram ou irão fazer, mas
tão somente pela fé na obra redentora de Cristo.

Agora que finalizamos o estudo das bases teológicas, daremos prosseguimento estudando as bases
doutrinárias assumidas por uma Igreja Batista, que dizem respeito aos valores bíblicos derivados da
crença. Este será o assunto abordado na próxima lição.
37

Lição 10: Valores Doutrinários Batistas

Aprender sobre os valores doutrinários batistas nada mais é do que estudar os valores de crença e os
valores morais bíblicos cridos pela denominação Batista. Os fundamentos de crença naturalmente
conduzem aos valores de crença e aos valores morais, que são assumidos por nós por entendermos que
são orientadores para a nossa caminhada cristã na relação com Deus e com o próximo.

Os valores de crença dizem respeito aos princípios que surgem das nossas crenças. No caso da Igreja
Batista em Cristo, se os cinco solas, os cinco pontos do calvinismo e ordem da salvação são as crenças
fundamentais, estas mesmas são suficientes para desenvolvermos princípios ou valores as quais
podemos adotar que estruturam nosso sistema de crenças.

Para entendermos melhor, basta percebermos o seguinte: a crença influencia o pensamento (os valores)
que influencia o comportamento. Imagine: desde criança recebemos crenças de nossos pais ou tutores
legais; quando assimilamos estas crenças elas servem de base para construirmos os valores no nosso
pensamento; estes valores se transformam na educação que recebemos e quando os assumimos eles
influenciam no nosso comportamento. Passamos a agir com base nesta educação.

Portanto, quando recebemos os fundamentos de crenças bíblicas já mencionadas nas lições anteriores,
elas servem de base para os valores de crenças. E estes valores servem de base para o comportamento
cristão que estudaremos no próximo capítulo.

10.1. Valores de Crença: Os sacramentos

 Conceito

Para os protestantes os sacramentos são apenas dois, como instituídos por Jesus Cristo: o batismo e a
ceia do Senhor [Mateus 28:19; 1 Coríntios 11:23-26]. Eles são mais conhecidos no meio batista como
“ordenanças”. A primeira informação que devemos ter é o significado de sacramento. Basicamente, um
sacramento é um ato, uma cerimônia, uma ação ou prática litúrgica, instituídos por Cristo.

Ao longo da história da Igreja, os teólogos deram algumas definições: o “símbolo de coisa sagrada”, a
“forma visível de uma graça invisível”, “um sinal externo pela qual o Senhor Jesus sela em nossas
consciências as promessas de sua boa vontade para conosco, para sustentar a fraqueza da nossa fé...”.

Repare que independente da simplicidade ou complexidade de cada definição, todas possuem em


comum a compreensão direta ou indireta da presença da graça de Deus. Assim, podemos dizer que os
sacramentos são ordenanças instituídas por Cristo, em que, através de sinais perceptíveis, a graça de
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Deus em Cristo e os benefícios da aliança da graça são representados, selados e aplicados aos cristãos;
e estes, por sua vez, expressam sua fé e sua fidelidade a Deus. Contudo, para que os sacramentos
tenham efeito é necessário que sejam ministrados junto da instrução correta da Escritura, que é
também um meio de graça.

 Origem

A palavra sacramento não se encontra na Escritura. Vem do latim sacramentum. Dentre os vários usos
nos vários contextos ao longo da história, o uso cristão do termo tem a ver com o significado da
palavra dentro do militarismo: no exército, “sacramento” era o nome dado ao juramento que um
soldado fazia em que prometia solenemente obediência ao seu comandante. A adaptação para o
cristianismo foi feita na prática do batismo, em que o cristão prometia obediência ao seu Senhor.

 Características gerais do Batismo e da Ceia

Tanto o batismo como a Ceia possuem, em comum, duas características: 1) são obrigatórios, tendo
sido a Ceia estabelecida por Jesus na noite em que foi traído e o batismo estabelecido um pouco antes
de sua ascensão; e 2) estas ordenanças possuem “elementos materiais” usados como sinais visíveis da
benção de Deus. No batismo o sinal é a água e na Ceia os sinais são o pão que representa o corpo de
Cristo e o vinho que representa seu sangue.

Para entendermos melhor, basta pensarmos que um sinal é um objeto visível que aponta para uma
realidade diferente dele e que é mais importante do que ele mesmo. Assim, nos sacramentos o sinal é
externo, visível e secundário, porém eles apontam para uma realidade interna, invisível e primária.
Repare que o batismo (externo, visível e secundário) aponta para a nossa identificação com Cristo pela
fé (interno, invisível e primário). Do mesmo modo a Ceia (externa, visível e secundária) aponta para a
realidade da nossa comunhão com Cristo (interno, invisível e primário).

Teologicamente definimos os sacramentos como “meios de graça” para quem participa corretamente
deles. Evidentemente que não existe nenhuma mágica no batismo ou na Ceia como se somente eles,
isoladamente, servissem para que Deus dispense de sua graça sobre o regenerado. Não! Não isso! Pois
se assim o fosse, os sacramentos seriam suficientes para a salvação de uma pessoa! E não se trata disso!
A salvação é por meio da graça de Deus conforme já vimos! O que ocorre é que Deus soberanamente
escolheu usar o batismo e a Ceia para encorajar e fortalecer a fé de seu povo. Isto significa que aqueles
que participam reconhecem a graça de Deus e ao mesmo tempo fortalecem a sua fé reconhecendo a
importância dos sacramentos e reconhecendo, igualmente, a fidelidade de Deus, que os concedeu aos
regenerados.

Observe este comentário:


O batismo é um meio de graça e transmite benção, pois ele é a
certificação para nós da graça de Deus e na aceitação desta certificação
descansamos sobre a fidelidade de Deus, testemunhamos da sua graça,
e através disso fortalecemos a nossa fé [...] Na Ceia do Senhor esta
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significância é aumentada e cultivada, a saber, a comunhão com Cristo


e a participação da virtude que procede do seu corpo e sangue. A Ceia
do Senhor representa o que está sendo continuamente realizado.
Participamos do corpo e sangue de Cristo através dos meios da
ordenança. Assim vemos que a ênfase cai sobre a fidelidade de Deus, e
a eficácia reside na resposta que rendemos a esta fidelidade.14

Agora que aprendemos sobre os valores de crença “batismo” e “Ceia”, vejamos separadamente e com
detalhes a compreensão bíblica deles.

 Características específicas do Batismo

Como já é sabido, o batismo foi instituído por Jesus; [Marcos 28:19] assim, cada pessoa que cresse em
Cristo como Salvador e Senhor deveria receber o batismo como sinal e selo de uma nova relação com
Deus.15 No contexto bíblico e no de hoje, o batismo possui duas utilidades: a primeira serve como
uma confissão pública de fé demonstrando que a pessoa está sendo inserida à Igreja, passando a fazer
parte, socialmente, de uma comunidade cristã; e a segunda é que esta mesma pessoa está sendo selada
por Deus confirmando sua união com Cristo ao mesmo tempo em que é consagrada a Deus por meio
de Jesus para viver em novidade de vida.

No Novo Testamento o batismo foi estabelecido em lugar da circuncisão no Antigo Testamento.


Note, há uma unidade interpretativa interna nas Escrituras. A Bíblia interpreta e confirma a própria
Bíblia. Por isso não há contradições erros ou falhas na Palavra de Deus. A circuncisão foi estabelecida
como o sinal e selo do pacto feito entre Deus e seu povo, por iniciativa divina. Contudo, este pacto
restringia-se apenas ao povo de Israel; porém, na nova aliança promovida por Jesus, o batismo se torna
o sinal e selo do pacto feito entre Deus e seu povo, também por iniciativa divina. Mas agora este pacto
não está restrito apenas ao povo de Israel, mas sim a todos os eleitos entre os povos em todos os
tempos em todos os lugares.

Portanto, especificamente o batismo é um selo que é capaz de:

 Selar a nossa união com Cristo;


 Selar a nossa participação no pacto da graça;
 Selar a promessa de que pertencemos ao Senhor;

 Características específicas da Ceia

Assim como o batismo, a Ceia nos moldes de um memorial seguido da presença espiritual de Cristo
nos elementos pão e vinho também foi instituída por Jesus; [Mateus 26:26-28] assim, cada pessoa que
cresse em Cristo como Salvador e Senhor além de ser batizado, deveria participar da Ceia também

14
Citação de John Murray mencionada no artigo Os Sacramentos, do site http://www.monergismo.com/textos/
sacramentos/sacramentos_boice.pdf.
15
Isto não significa que quem não for batizado não será salvo. Pois pode ocorrer de uma pessoa ser salva por Jesus no leito de morte, ou
mesmo em situação adversas, incomuns, morrer subitamente depois de ter sido resgatada pela graça de Deus. Portanto, o batismo não é pré-
requisito para a salvação, contudo é uma ordenança deixada por Jesus e deve ser obedecida.
40

como um meio de graça vindo de Deus.16 No contexto bíblico e no de hoje, a Ceia possui duas
utilidades: a primeira é fortalecer espiritualmente os cristãos e a segunda é manter a unidade da Igreja.
No Novo Testamento a Ceia foi estabelecida em lugar da páscoa no Antigo Testamento. Assim,
continuando a pressupor a unidade interpretativa interna nas Escrituras (que a Bíblia interpreta e
confirma a própria Bíblia, não havendo contradições erros ou falhas na Palavra de Deus), a pascoa
veterotestamentária é o nome de um evento promovido por Deus ao seu povo: os israelitas,
conduzidos por Moisés foram libertos da escravidão do Egito [Êxodo 11 e 12]. Ficou estabelecido que a
páscoa deveria ser comemorada todos os anos.

Além da saída do Egito, outro elemento ganha destaque: o cordeiro sem defeito que deveria ser
sacrificado. No Novo Testamento, Jesus Cristo é comparado a este cordeiro. João batista chega a
afirmar que Jesus é “o cordeiro que tira o pecado do mundo” [João 1:29]. A Igreja entende que a
páscoa apontava para o passado com a libertação do povo e ao mesmo tempo para o futuro ao
prefigurar o sacrifício de Cristo. E quando isto aconteceu, quando Jesus deu a sua vida para nos
resgatar, os laços de sangue foram substituídos pelos laços de fé dos eleitos em todos os lugares, em
todas as gerações. Não há mais necessidade de sacrificar animais, basta crer em Cristo e sua obra.

A páscoa foi estabelecida como o sinal e selo do cuidado de Deus no resgate do seu povo. Contudo,
assim como no batismo, este cuidado foi demonstrado apenas ao povo de Israel; porém, na nova
aliança promovida por Jesus, o Ceia se torna o sinal e selo do cuidado Deus no resgate definitivo de
seu povo. Mas agora este cuidado não está restrito apenas ao povo de Israel, mas sim a todos os eleitos
em todos os povos em todos os tempos em todos os lugares.

Do mesmo modo que existem os valores de crença, também existem os valores morais derivados dos
fundamentos de crença. Quando recebemos os fundamentos de crenças bíblicas (as cinco solas, os
cinco pontos do calvinismo e ordem da salvação), elas servem de base para os valores morais que
vamos estudar neste próximo tópico. E estes valores servem de base para o comportamento cristão que
estudaremos na próxima lição.

A diferença entre um e outro é que os valores de crença são resultados diretos de nossa crença nas
Escrituras e são ritos praticados com certa periodicidade por nós na forma de ordenança; isto é,
justamente porque creio nas cinco solas, nos cinco pontos do calvinismo e na ordem da salvação é que
obedeço participando dos sacramentos e compreendo a importância deles. Já os valores morais têm a
ver com os princípios que norteiam o nosso comportamento diariamente e não estão na forma de
ordenança, mas, sim, de instrução, ensino. Justamente porque creio nas cinco solas, nos cinco pontos
do calvinismo e na ordem da salvação é que eu pratico diariamente uma tentativa de reflexão sobre os
símbolos de fé que me identificam socialmente como cristão.

16
Isto não significa que quem não participar da Ceia não será salvo. Pode ocorrer de uma pessoa ser salva por Jesus e morrer logo a seguir.
Portanto, a Ceia não é pré-requisito para a salvação, contudo é uma ordenança deixada por Jesus e deve ser obedecida.
41

10.2. Valores Morais: O símbolo de fé dos Batistas reformados

A maioria das igrejas locais que forma a denominação Batista adota a Confissão de Fé Londrina de
1689. Há outras, mas a que foi popularizada e é expressamente calvinista em todo o seu conteúdo é
esta. E a Igreja Batista em Cristo também a adota fazendo uso deste documento como símbolo de fé.
Por meio do símbolo de fé somos socialmente identificados como cristãos. Assim, quem é batista, o é
porque a Igreja Batista assume um símbolo de fé, normalmente oficializado na forma de um
documento intitulado “Confissão de Fé”. No nosso caso, como já mencionado, somos cristãos
batistas porque assumimos o documento já citado no início deste tópico.

A Confissão de Fé Batista de 1689 é uma Confissão de Fé de orientação reformada. Foi escrita por
Batistas Particulares que se reuniram para dar uma expressão formal de sua fé cristã a partir de uma
perspectiva batista e calvinista. Esta confissão, como a Confissão de Fé de Westminster (1646) e a
Declaração de Savoy (1658), foi escrito por puritanos.

A Confissão de Fé de Londres de 1689 é completa; trata, de modo basilar e objetivo, de todas as


doutrinas e temas ensinados pela Bíblia: “As Escrituras Sagradas”, “Deus e a Santíssima Trindade”,
“O Decreto de Deus”, “A Criação”, “A Providência”, “A Queda do Homem; o Pecado e Sua
Punição”, “O Pacto de Deus”, “Cristo, o Mediador”, “Livre-Arbítrio”, “A Chamada Eficaz”, “A
Justificação”, “A Adoção”, “A Santificação”, “A Fé Salvadora”, “Arrependimento para a Vida e
Salvação”, “Boas Obras”, “A Perseverança dos Santos”, “A Certeza da Graça e da Salvação”, “A Lei
de Deus”, “O Evangelho e a Extensão de Sua Graça”, “Liberdade Cristã e Liberdade de Consciência”,
“Adoração Religiosa e o Dia do Senhor”, “Juramentos Legítimos e Votos”, “Magistrado Civil”,
“Matrimônio”, “A Igreja”, “A Comunhão dos Santos”, “Batismo e Ceia do Senhor”, “Batismo”, “A
Ceia do Senhor”, “O Estado do Homem Após a Morte; A Ressurreição dos Mortos”, “O Juízo Final

É importante compreender que um símbolo de fé não substitui a Escritura. Lembre-se do exemplo


dado anteriormente sobre a educação de nossos pais passada a nós: as crenças ensinadas por eles
formam a base para os valores que assumimos e estes valores se transformam na educação que
carregamos. Esta mesma educação promove nossa identidade individual e social. Do mesmo modo é a
relação da Bíblia com os símbolos de fé: a Palavra de Deus é a única norma de fé e conduta para os
cristãos, o fundamento de nossa crença que dá base para os símbolos de fé, que são os valores. Eles são
os resultados da investigação sobre os ensinos bíblicos e se transformam na nossa educação que, por
sua vez, também promoverá nossa identidade individual e social na esfera cristã.

Portanto não confunda! Os valores da Bíblia estão sintetizados nos símbolos de fé; neles apenas
encontramos as doutrinas bíblicas organizadas de uma forma a nortear nosso comportamento. Mas
somos conduzidos é pela Palavra de Deus!

Nesta lição estudamos os valores doutrinários (de crença e morais) extraídos das Escrituras e que são
adotados pelos cristãos pertencentes à denominação Batista. Tentamos esclarecer nossa estrutura
doutrinária da formação de nossa identidade cristã. O próximo capítulo apresenta o resultado de
nossa formação: as bases comportamentais dos batistas.
42

Lição 11: As Bases Comportamentais dos Batistas (parte 1)

Aprender sobre as bases comportamentais nada mais é do que estudar os princípios ético-bíblicos
assumidos pela Igreja Batista no Brasil. Recapitulando, se os fundamentos de crença conduzem aos
valores de crença e aos valores morais, estes últimos, naturalmente, por sua vez, conduzem a uma
prática comportamental que testemunha publicamente a fé professada pelos batistas. E este
comportamento se manifesta na forma do culto, na forma do batismo e no sistema de governo
adotado pela igreja local. Nesta lição estudaremos somente a forma de culto, ficando a forma de
batismo e o sistema de governo para a próxima lição.

11.1. A forma de Culto: Princípio Regulador do Culto

A Igreja Brasileira é muito criativa, talvez pela própria cultura em que o brasileiro precisa ser criativo
para conseguir sobreviver. Contudo não há problema em que esta criatividade se restrinja à criação de
estratégias de evangelismo. Mas o que temos visto é que o culto a Deus tem sido contaminado com o
uso de elementos estranhos como teatros, danças, shows, etc.

A Bíblia é nossa única regra infalível concernente à fé e prática. Ora, se é assim em todas as áreas da
vida, se a Escritura é suficiente para nortear a Igreja, então certamente há alguns fundamentos a serem
seguidos quanto ao culto de Deus que são já ordenados pela Palavra. Estes fundamentos constituem o
que conhecemos como Princípio Regulador do Culto. Para entendermos melhor, vamos estudar por
etapas.

 Definição bíblico-teológica de “Culto”

Comecemos pela definição de “culto”. Quando aprendemos o que significa culto fica mais fácil
aplicar o Princípio Regulador.

A palavra “culto” deriva do latim, cultu, e significa adoração ou homenagem a Deus. Em sua origem,
o termo latino cultu envolve a raiz colo, colere, que indica “honrar”, “cultivar”, etc. Por isto os
reformadores definiram “religião” como “a maneira correta de honrar a Deus”.

Quando vamos para a Bíblia descobrimos que os principais termos que descrevem o ato de “culto” são
shachah, no hebraico e proskyneo, no grego. As duas palavras e seus derivados formam 80% do
vocabulário bíblico usado para se falar em culto. Shachah significa “inclinar-se, prostrar-se” [Isaías
66:22 – a palavra traduzida por “adorar” neste versículo é “prostrar” no original]. Já proskyneo significa “abaixar-
se para beijar”, vindo a indicar “prostrar-se para adorar”, “reverenciar”, “homenagear” [João 4:24 – a
palavra proskyneo originalmente foi traduzida por “adorar”].
43

Há ainda dois importantes termos que expressam ideias de culto. O primeiro é hebraico, abad,
significando “servir”, “trabalhar” [Êxodo 3:12]. A segunda palavra é grega, latreia, significando “servir”
como serviço de obediência a Deus em geral [Mateus 4:10; Romanos 12:1] e podendo também se referir
aos atos específicos de louvor dirigidos a Deus [Hebreus 9:1 e 6].

Perceba, pelas palavras encontradas na Escritura, “cultuar” envolve tanto a „homenagem ou reverência‟
a Deus, quanto o „serviço‟ a sua Pessoa! Por isto a palavra “culto”, em nosso uso hoje, precisa
corretamente descrever o serviço dado ao Senhor quando cristãos se reúnem publicamente para o
venerarem, isto é, para tributarem-lhe honra e respeito devido à sua consideração por quem Ele é,
reverenciando-o em gratidão. O que sair disso não tem como ser considerado um culto bíblico.

 Definição de “Princípio Regulador do Culto”

Basicamente, em termos teológicos, o Princípio Regulador diz respeito ao conjunto de elementos que
o próprio Deus estabeleceu quanto ao modo como Ele deseja ser cultuado. A Escritura estabelece que
o culto verdadeiramente bíblico é formado por: 1) o cântico de “salmos” (hinos) com graças no
coração; 2) a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo (Batismo e
Ceia quando necessários) e 3) leitura das Escrituras com o temor divino seguido da sã pregação da
Palavra e a consciente atenção a ela em obediência a Deus, com inteligência, fé e reverência.

Estas práticas podem e devem ser usadas de uma forma equilibrada, ajudando as igrejas locais a serem
contextualizadas e ainda assim manterem suas raízes nos princípios das Escrituras, que ensinam a
respeito do culto a Deus.

Evidentemente que há uma diferença entre o Princípio Regulador e o “contexto” em que ocorre o
culto. Infelizmente há cristãos que confundem o conceito com a circunstância.

No Princípio Regulador do Culto encontramos as ordenanças referentes ao culto e que dizem respeito
ao conteúdo ou à cerimônia recebida por orientação divina na Palavra, conforme vimos acima. Já a
circunstância ou o “contexto” em que ocorre o culto refere-se ao que é cultural nas sociedades
humanas. Isto significa que será em nosso contexto brasileiro que ocorrerá o culto independe de
instruções bíblicas; ele diz respeito apenas ao bom senso.

Exemplos simples de circunstâncias ou contextos estão na proteção e aquecimento úteis para conduzir
uma reunião nos meses frios ou ventilação nos meses de calor. A necessidade de acomodação,
iluminação, vestuário, seguido da escolha prévia de um horário para a realização das reuniões também
fazem parte do contexto em que ocorre o culto.

Note que as pessoas não necessitam de instruções explícitas da Bíblia para se adequarem socialmente
ao ambiente em que estão inseridas, e isto é contexto; porém, estas mesmas pessoas precisam de
instruções claras da Bíblia sobre como se aproximar do Deus infinitamente santo, e isto é Princípio
Regulador do Culto. E como os dois, conceito e circunstância, estão presentes no momento de
celebração do culto, cabe à igreja local promover a conciliação entre ambos.
44

Esta harmonização entre o Princípio Regulador e o contexto é bem simples: a igreja recebe todas as
ordenanças do culto da parte de Deus, como foram reveladas na Bíblia; então ela deve obedecer a
todas estas ordenanças adequando-as ao contexto em que vivem.

11.2. A necessidade do Princípio Regulador

Historicamente, o Princípio Regulador do Culto é mencionado na Confissão de Fé Batista de Londres


de 1689, documento oficial adotado pela Igreja Batista em Cristo. Neste documento, a denominação
Batista apresenta quatro agumentos a favor do uso do Princípio Regulador:

 Primeiro: somente a Deus pertence a prerrogativa de determinar os termos pelos quais os pecadores se
aproximam dEle, em adoração.

 Segundo: a introdução de práticas extrabíblicas tende inevitavelmente a anular e menosprezar o culto designado
por Deus [Mateus 15:3, 8, 9; 2 Reis 16:10-18].

 Terceiro: se os homens, pecadores, tivessem de acrescentar ao culto qualquer elemento não ordenado por Deus,
eles estariam, por meio dessa atitude, questionando a sabedoria do Senhor Jesus e a plena suficiência das
Escrituras [2 Timóteo 3:16,17].

 Quarto: há muitos versículos bíblicos que condenam toda forma de culto que não foi ordenada por Deus
[Levítico 10:1-3; Deuteronômio 17:3; 4:2; 12:29-32; Josué 1:7; 23:6-8; Mateus 15:8-9,13; Col 2:20-23].

E mesmo assim, a história da igreja tem demonstrado que o povo de Deus tem inclinações a se desviar
da simplicidade do puro culto entregando-se a todos os tipos de inovações humanas. Por causa da
natureza humana contaminada pelo pecado de tempos em tempos a Igreja precisa ser lembrada do
culto verdadeiro.

Muitas pessoas afirmam que o Princípio Regulador é bastante restritivo, que confina a imaginação e
reprime a criatividade. Mas não somos nós quem definimos, mas, sim, a Palavra de Deus. Por outro
lado, duas implicações surgem de permitirmos e realizarmos o culto de qualquer maneira: 1) A
substituição da simplicidade e da natureza bíblica do culto pelo desejo humano e 2) a substituição da
centralidade em Deus pela centralidade humana.

Na primeira consequência, a substituição da simplicidade e da natureza transcultural do culto por uma


variedade quase infinita de inovações humanas, o erro está na apostasia. Pelo fato de Deus não
estabelecer mais a linha divisória entre o conteúdo do culto e suas cerimônias, o homem poderia traçar
e retraçar essa divisão como lhe agradasse. A igreja local que desobedece ao Princípio Regulador já
não tem controle do fluxo de novos conceitos e inovações no culto para atrair pessoas.

Já na segunda consequência, a substituição da centralidade em Deus pela centralidade no humano, o


erro está na idolatria. Quando as pessoas recebem total autonomia para escolher como cultuar, o
padrão bíblico é sempre substituído pelo alvo que o coração está inclinado: o próprio ser humano.
Assim, a tendência das pessoas preferirem o culto com músicas e pregações centradas em si aumenta,
incluindo o incremento de peças teatrais e danças. O resultado é o prazer provocado através dos
45

entretenimentos substituindo o prazer pela celebração ao Senhor.

As inovações humanas só tem fim quando a igreja local obedece ao Princípio Regulador do Culto. O
que Deus ordenou o homem não pode ignorar.

11.3. Breve reflexão sobre a forma correta de culto a Deus

O culto é a celebração pública e visível da aliança que temos com Deus. Na Bíblia Deus se
comprometeu a abençoar o povo, ser o Deus deles, cuidar da sua descendência e lhes dar vida eterna;
e, da parte do povo, havia o compromisso de servir a Deus e andar nos seus caminhos.

A mesma aliança está em vigor ainda hoje, só que agora ela é chamada de nova em Cristo Jesus. O
culto que prestamos a Deus expressa exatamente isso. Por isto devemos cultuar a Deus da forma que
Ele revelou. Não podemos alterar nem acrescentar nada ao culto a Deus. Ele revelou com clareza na
sua Lei o culto que desejava. Isto significa que, apesar de o NT não prescrever normas detalhadas para
o culto, não apresentar uma ordem litúrgica como havia no AT, contudo, os elementos do culto a
Deus são muito claros: as orações, os cânticos, a pregação da Palavra, os sacramentos e outros, os
quais o Novo Testamento diz com clareza que fazem parte do culto a Deus.

Repare que os sacramentos que celebramos no culto, o batismo e a ceia do Senhor, são selos da
superioridade da obra de Jesus. A Palavra que deve ser pregada no culto precisa nos ensinar e
relembrar sempre os termos da aliança, mostrando-nos qual é a parte que cabe a Deus, o seu amor e a
sua fidelidade, e qual a parte que cabe a nós, que é viver em seus caminhos. As orações devem ser feitas
com base nas grandes promessas do Deus da aliança e as músicas e cânticos que entoamos devem
engrandecer o Deus da aliança, o Deus gracioso. Até as ofertas que levamos devem ser expressões da
nossa gratidão a esse Deus. Esta noção precisa ser resgatada.

Não nos cabe introduzir no culto invenções humanas, ainda que a pretexto de ser algo prático, de boa
intenção, para atrair pessoas, ligado à alguma tradição, à antiguidade ou mesmo algo que os demais
líderes fazem. Isso seria corromper o culto a Deus, que zela por seu culto e quer que o adoremos em
Espírito e em verdade [João 4:23].

O culto hoje continua sendo a celebração pública e visível da aliança que temos com Deus. Tudo que
fazemos no culto precisar ter a ver com essa aliança. Por isso não podemos inventar elementos de
culto. Quando temos esta visão aliancista do culto, as várias aberrações idolátricas ficam do lado de
fora e o culto passa a ter mais sentido, pois entendemos que a única razão de nos reunirmos é para,
como povo, louvar a Deus.

Nesta lição estudamos uma das bases comportamentais dos batistas: a forma correta de se cultuar a
Deus. Seguindo o Princípio Regulador do Culto não nos colocamos melhores do que ninguém,
apenas temos a preocupação de agradar a Deus com base no modo como Ele mesmo quer ser
glorificado.
46

Lição 12: As Bases Comportamentais dos Batistas (parte 2)

Na lição anterior aprendemos sobre a primeira base comportamental dos batistas. Agora vamos
aprender sobre as demais bases: a forma de batismo e o tipo de governo.

12.1. Forma de Batismo: por Imersão Incluir na antiga lição 10,


que passará a ser lição 9.

Um dos comportamentos assumido por nossa educação cristã pautada na Bíblia como um todo, nos
fundamentos de crença (as cinco solas, os cinco pontos do calvinismo e a ordem da salvação), nos
valores de crença (os sacramentos: batismo e Ceia) e nos valores morais (os símbolos de fé) é o
batismo por imersão.

O batismo faz uso da água. De acordo com o registro bíblico, a água foi usada muitas vezes em vários
rituais entre os israelitas como um símbolo que representa a purificação. E há exemplos do
aparecimento deste símbolo no Antigo Testamento com interpretação no Novo Testamento [Êxodo
19:10,14; Levítico 15 a 17; Números 8:6,7; João 2:6].

O meio ou a “técnica” como a água era usada, de acordo com alguns registros, era a imersão. Nós não
negamos o batismo dos cristãos recém-chegados de outras denominações que praticam o batismo por
asperção, porém, nós batistas entendemos que a prática do batismo deve ser a imersão devido o
significado da palavra no Novo Testamento. O significado da palavra baptizo no grego é,
essencialmente, “mergulhar” ou “imergir”.

As descrições de batismos no Novo Testamento sugerem que as pessoas desciam às águas para serem
imersas. E havia, ainda, casos em que a água poderia ser trazida a eles em um recipiente para ser
aspergida ou derramada.

Os Batistas, entretanto, insistem na presença de um significado teológico que se projeta para além da
sepultura (morte) representada na imersão em água. A morte de Jesus pouco significa, se isoladamente
considerada. Afinal, todos morrem e que mérito há nisso? O que faz a morte de Jesus ser tão
gloriosamente diferente é a sua ressurreição, e é exatamente esta a ideia que devemos considerar
implícita no batismo [Colossenses 2:11,12].

Ora, se a ressurreição é o ponto basilar da fé cristã [I Coríntios 15:14] e já que Cristo afirmou que ele
mesmo é “a ressurreição e a vida” [João 11:25], daí o necessário entendimento de que a submersão
precisar ser completa. Para que haja verdadeiro batismo, seu significado está relacionado não é com a
morte, mas sim com a vida após a morte com Jesus, representada pela emersão [Efésios 2:1-5; Colossenses
2:13]. Assim como a ressurreição reverte a morte, para nós, batistas, a emersão (simboliza a
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ressurreição) reverte a imersão (simboliza a morte) [Romanos 6:3].

12.2. A forma de Governo Incluir na antiga lição 5,


que passará a ser lição 4.

Nosso comportamento público, quando nos reunimos para cultuar Deus, é expresso em nossa forma
de governo. Toda a compreensão que temos sobre a Igreja e suas características, somando-se a todo o
sistema de crenças que possuímos, e ambos os conceitos baseados nas Escrituras, é que nos levam à
escolha do modelo episcopal de organização cúltica e administrativa da Igreja.

Originalmente, a forma de governo de uma igreja local de denominação batista é conhecido como
governo congregacional. Trata-se de um modelo que surge no período Pós-Reforma Protestante em
que o poder sobre as principais decisões administrativas e teológicas estão concentradas na membresia,
isto é, na assembleia de adeptos oficiais da igreja local. O governo congregacional foi desenvolvido
como rejeição ao domínio por hierarquias de bispos individuais, que distorceram a forma de governo
episcopal.

No Brasil, já no século XX, especificamente em sua segunda metade, começaram a surgir os governos
mistos: formas de governo que “misturavam” os atributos positivos de algumas formas de governo já
existentes. Assim, novas formas foram surgindo com o objetivo de aperfeiçoar e responder às
necessidades das igrejas locais e até de algumas denominações.

A Igreja Batista em Cristo, por ser uma igreja local nova, é composta:

 Por seu pastor titular;


 Por alguns pastores vindos de outras igrejas locais;
 Por alguns líderes vindos de outras igrejas locais;
 Membros que vieram de outras igrejas locais;
 Membros que estavam desviados e se reconciliaram com Cristo aqui mesmo;
 Membros que estavam desigrejados;
 Membros novos convertidos que se renderam a Cristo aqui mesmo;

Neste caso, justamente pelo tempo e o modo como tudo começou, entendemos que ainda não é o
momento de adotarmos o congregacionalismo. Tanto os pastores, quanto os líderes quanto à própria
membresia necessitam ser bíblica e doutrinariamente orientados e amadurecidos para terem condições
de tomar as principais decisões administrativas e teológicas.

Assim sendo, para efeito de fazer funcionar bem a instituição em sua fase inicial, escolhemos o
episcopalismo. O nosso objetivo é o de trabalharmos esta educação cristã em todos para migrarmos
para uma nova forma de governo até que cheguemos à plenitude: à forma congregacional.
Conheçamos, então, um pouco mais sobre o modelo de governo episcopal:

 O Governo Episcopal

Este é o sistema mais antigo, usado logo depois da morte dos apóstolos com permanência na Igreja
Católica Romana, Igreja Católica Ortodoxa e nalgumas Igrejas evangélicas de cunho pentecostal,
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neopentecostal e algumas poucas Igrejas Reformadas locais que têm surgido recentemente.

Os que apoiam esta forma de governo acreditam que Cristo tenha confiado o controle de sua Igreja na
Terra a uma ordem de oficiais chamados bispos que seriam os sucessores dos primeiros apóstolos.
Desse modo, cada igreja local ou cada conjunto de igrejas locais é governada pelo seu bispo.

Sugere-se que o sistema episcopal tenha surgido por um processo natural e foi aprovado por João, o
último dos apóstolos. Naquela época, cada igreja local que era formada recebia uma junta de
presbíteros que ficava no local para ajudar na liderança e no ensino. Especula-se que por se tratar de
mais de dois líderes, naturalmente os presbíteros elegiam um “presidente”, um bispo com autoridade
temporária, para manter a ordem. Contudo, com o passar do tempo, este bispo passou a ser visto
como um oficial com autoridade permanente. Então, na medida em que os apóstolos iam morrendo, o
ofício “bispo” foi ganhando repercussão e sendo investido de mais poderes. Daí o surgimento e
desenvolvimento do colégio episcopal ao longo da Idade Antiga da Igreja.

A forma de governo episcopal é simples:


os oficiais principais da Igreja são os
bispos (mesmo que não sejam chamados
por este título); os outros ministros são
presbíteros (muitos hoje chamados de
conselheiros) e há os diáconos.

O Governo é centralizado na figura de


um dirigente, responsável pelas decisões e
destinos da igreja local, mas que possui
um grupo onde pode se aconselhar, uma
espécie de “Colégio Episcopal” mais
contemporâneo, responsável pela
administração da gestão do sistema.

Isto significa que a igreja local como comunidade dos santos não tem nenhuma participação nas
decisões adminitrativas e governamentais externas da denominação. A todos cabem ser devidamente
orientados pela liderança.

Nesta lição vimos que o batismo por imersão e a adoção de um sistema de governo são os principais
comportamentos resultantes das crenças teológicas e dos valores doutrinários. É assim entre os batistas
e será entre qualquer outra denominação.

Encerramos mais uma seção, cujo objetivo foi a exposição das informações teológicas que compõem a
identidade batista. Esta próxima seção apresenta a importância da manutenção desta estrutura.
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Seção 4
Informações
Ministeriais
50

Lição 13: A manutenção da Obra

Esta seção é constituída de uma única lição. Ela foi intitulada como “informações ministeriais”
exatamente porque pretende mostrar que todos os membros, líderes e leigos, assumem as
responsabilidades ministeriais na obra de Deus, seja nos trabalhos desempenhados na região pela igreja
local ou nos trabalhos promovidos pelos projetos missionários. Daí a necessidade de esta lição refletir
sobre a manutenção da obra de Deus.

É bem verdade que falar em manutenção da obra de Deus é sempre um assunto polêmico. Porém
necessário. A impressão imediata que as pessoas têm, principalmente os recém-chegados às
comunidades cristãs locais, é que a finalidade da igreja está perdida e ela se corrompeu porque pede
dinheiro. Todavia, em meio aos abusos, ainda assim ouvimos a voz de Deus nos incitando a contribuir
com nobres causas [Efésios 4:28; Provérbios 28:27] e a fazê-lo com desprendimento [Deuteronômio 15:1-11]
e satisfação, “pois Deus ama a quem dá com alegria!” [2ª Coríntios 9:7]. Por isto, precisamos estudar esta
lição. A cooperação na obra é o que possibilita continuarmos atuando na edificação dos membros e na
evangelização daqueles que ainda serão alcançados.

13.1. A contribuição é um ato baseado na Bíblia

O que não falta é ensino bíblico sobre a importância das contribuições e os tipos de contribuições
para a obra de Deus. O quadro abaixo apresenta vários modos como podemos ofertar a partir de
princípios bíblicos.

1. A Bíblia ensina que o ministério de Jesus foi mantido pela contribuição de pessoas piedosas. O evangelista
Lucas menciona os nomes de algumas mulheres que lhe prestavam assistência com os seus bens, mas afirma
Oferta em
bens

que existiram “muitas outras” [Lucas 8:1-3]. Além do mais, o fato de haver uma bolsa de dinheiro no
colegiado apostólico indica que Jesus e os apóstolos recebiam alguma renda para a sua manutenção [João
12:6; 13:29].
2. A Bíblia ensina que Jesus aprova contribuições financeiras quando elas são feitas com a motivação correta.
Na história da viúva pobre [Marcos 12:41-44; Lucas 21:1-4], aprendemos que Deus não despreza a oferta
pequeno valor

humilde, pois Jesus aprovou a oferta da viúva pobre. Por implicação podemos ainda afirmar que a
Ofertas de

contribuição financeira é parte do dever dos discípulos de Jesus, pois ele aprovou a oferta daquela mulher.
Assim, não existe pessoa na igreja que esteja desqualificada para contribuir. É importante, portanto,
avaliarmos nossa motivação para a contribuição, se estamos ofertando apenas daquilo que sobra ou daquilo
que nos é precioso.
3. A Bíblia ensina que Jesus não condenou a prática do dízimo, mas apenas os abusos provenientes da mesma.
Dízimos

Em Lucas [11.42] Jesus censurou os fariseus por entregarem o “dízimo da hortelã, da arruda e de todas as
hortaliças desprezando a justiça e o amor de Deus”. Naquela ocasião, Jesus não estava condenando a prática
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do dízimo, mas o fato dos fariseus julgarem que o dízimo substitui a base real do relacionamento com Deus.
Em outra ocasião, Jesus contou uma parábola de um homem que pensou ser justificado por que dava o
dízimo de tudo o que possuía [Lucas 18:9-14]. O princípio naqueles textos é que sem amor a Deus, a prática
do dízimo pode degenerar-se em sentimento de autossuficiência e justiça própria.
4. A Bíblia ensina que a contribuição para atender aos necessitados é uma extensão da comunhão cristã. Essa
Ofertas para

lição é especialmente demonstrada no registro da história da igreja primitiva em Atos dos Apóstolos
assistência
social

[4:34,35]. O escritor da carta aos Hebreus elogia o procedimento daqueles que, na identificação com os que
eram perseguidos, aceitaram com alegria o espólio de seus bens [Hebreus 10:34]. Assim, a comunhão cristã
não é apenas invisível, mas também prática e visível (material) em sua natureza.
5. A Bíblia ensina que a contribuição é parte integrante da adoração cristã. O texto de 1 Coríntios [16:1-4]
Ofertas regulares

ensina que essa contribuição deve ser feita sistematicamente, pois Paulo recomenda que seja “no primeiro dia
da semana”, pois era mais fácil porque o primeiro dia foi o dia em que o Senhor Jesus ressuscitou dos mortos
e era, então, o dia em que a igreja primitiva se reunia para os seus cultos [Mateus 28:1; Atos 20:7]. Paulo
ensinou que a oferta deveria ser realizada como um ato de adoração, pois ela era incluída na liturgia da igreja
primitiva.
6. A Bíblia ensina que a contribuição cristã deve obedecer o princípio da fidelidade e da proporcionalidade.
Em sua exortação à igreja de Corinto, Paulo diz: “... cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua
Proporcionais

prosperidade” [1 Coríntios 16:2]. Em outra ocasião ele ensinou à mesma igreja que “se há boa vontade, será
Ofertas

aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem” [2 Coríntios 8:12]. Dessa forma
podemos deduzir que Deus nunca exige que seus filhos entreguem o que não têm. A contribuição deve ser
proporcional àquilo que as pessoas possuem. Cabe lembrar que o princípio do dízimo também atende
perfeitamente o conceito de proporcionalidade.
7. A Bíblia ensina que cada cristão tem o privilégio de participar das contribuições na igreja. Em sua
exortação sobre a contribuição dirigida aos Coríntios, Paulo indica que cada cristão deveria fazê-lo [1
Oferta de
todos

Coríntios 16:2]. Dessa forma, esse não é um privilégio de alguns, mas todos podem participar. A Escritura
apresenta algumas atividades da vida cristã como sendo matéria de mera convicção pessoal. A contribuição
cristã, todavia, é uma exortação para todos os membros da igreja.
8. A Bíblia ensina que a contribuição cristã deve ser voluntária e livre de qualquer coerção. As ofertas cristãs
não devem ser constrangidas pela tristeza ou a obrigação e muito menos pelo medo, mas realizadas com
Ofertas espontâneas,
com liberalidade

alegria [2 Coríntios 9:7]. A espontaneidade na contribuição deve ser fruto da maturidade e compreensão
cristã sobre a importância dessa prática. Portanto, o verdadeiro cristão não precisa ser fustigado para
contribuir. A Bíblia ensina que a liberalidade cristã na contribuição é fruto de uma consagração pessoal a
Deus. A explicação de Paulo para a espontaneidade dos cristãos macedônios em contribuir sacrificialmente
foi que antes eles “deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor” [2 Coríntios 8:5]. Em última instância,
somente aquele que já entregou o seu coração à Cristo não terá dificuldade de contribuir para com a obra do
Mestre.

Pelo quadro acima concluímos que nossa oferta pode ser em dinheiro ou não, de grande ou de
pequeno valor, direcionada para assistência social ou para a manutenção do templo (contas de água,
luz, telefone, despesas de secretaria, aluguel, etc...). Mas sempre devem ser (na medida do possível)
regulares e com espontaneidade (com alegria no coração). Somente o verdadeiro convertido se
submete totalmente aos princípios da Palavra de Deus. Para aquele que já se rendeu a Cristo, a
contribuição é um privilégio a ser celebrado.

13.2. Mordomia Cristã: base doutrinária para as contribuições

De acordo com o ensino bíblico sobre a Criação, somos todos mordomos de Deus. Isto significa que
nada é nosso realmente, incluindo o que concentramos em termos de patrimônio individualmente ao
52

longo da vida.

A palavra “mordomo”, de acordo com a Bíblia, é uma referência ao principal servo, o que administra a
casa do seu senhor. No Antigo Testamento temos o exemplo de Eliézer, servo de Abraão e José, filho
de Jacó [Gênesis 24:2; 39:4-6]. Já no Novo Testamento temos o exemplo do eunuco Etíope [Atos 8:27].
Ampliando o conceito ainda dentro da Bíblia, teologicamente definimos “mordomia” como sendo o
reconhecimento da soberania de Deus, a aceitação do nosso cargo de depositários da vida e das
possessões, e a administração dessas de acordo com a vontade de Deus.

Isto significa que para o homem em qualquer época e lugar, a mordomia está ligada à responsabilidade
de guardar, velar e administrar tudo o que Deus lhe tem confiado. O uso desta mordomia tem a ver
com a vida, o mundo físico, o tempo, os talentos, as posições materiais, a criação, etc.

Enfim, a mordomia abarca o uso sábio da vida em relação a nosso Deus em tudo que Ele nos confia
para tomarmos conta. E isto inclui as riquezas em geral e as individuais que são postas em nossas
mãos somente para administrarmos visando, em primeiro lugar a glória de Deus, e em segundo lugar o
nosso deleite, como um presente que o Senhor nos dá, um tipo de prazer que Ele nos permite ter.

Infelizmente, por causa do pecado, o ímpio não consegue ter esta percepção; é por isto que ele age
como se tudo o que adquire fosse seu e somente seu, não sendo obrigado a dividir com mais ninguém.
O prazer ficou distorcido e sufoca qualquer outra motivação para se ter a riqueza. E tristemente tem
muitos cristãos que pensam e agem do mesmo modo. Entendem que tudo o que conquistaram ao
longo da vida pertence a eles e somente a eles. O resultado imediato é a dificuldade em contribuir com
a obra de Deus em geral e com os projetos missionários em específico.

A prática correta da mordomia, à luz da Palavra de Deus, requer que a entendamos como um estilo de
vida em que reconhecemos e aceitamos o Senhorio de Cristo em nossa vida e trabalhamos em parceria
com Deus na regência de toda a Criação. Para isto devemos fazer o bom investimento dos bens de
Deus, os quais são entregues aos nossos cuidados para executarmos boa administração. Isto significa
que devemos assumir uma posição de deveres e responsabilidades que cada um de nós deve realizar de
modo voluntário e prazeroso; afinal nossa vida agora pertence a Jesus; Ele é o nosso dono.

E uma das formas de praticarmos a mordomia é a administração correta das finanças que recebemos
na forma de salários, investimentos, empreendimentos. Tudo o que chega às nossas mãos é dado por
Deus para cuidarmos de modo sábio. E esta sabedoria inclui dividir, doar; afinal não é nosso!

13.3. Breve reflexão sobre a necessidade da contribuição: uma tomada de consciência

A prática de pedir pela contribuição tem sido altamente questionada por alguns. E esse
questionamento deve-se, em grande parte, aos exemplos de maus usos, abusos e escândalos que muitos
líderes cristãos promovem quanto à aplicação financeira. Numa época marcada por muitos modelos
de corrupção, inclusive no cenário religioso, ficamos desacreditados quando ouvimos falar de doações
e contribuições. Alguns, inocentemente, no afã de agradar a Deus, chegam a dar quase tudo que
53

possuem para os falsos mestres. Como resultado surge aqueles que, justificados por estes abusos, se
negam prestar qualquer tipo de contribuição a quem quer que seja.

É bem verdade que Deus, pessoalmente, não precisa nem de dinheiro e nem de nenhuma oferta nem
material, nem afetiva ou sentimental que qualquer ser humano possa oferecer. Todos temos
conhecimento bíblico de que a salvação promovida por Jesus não pode ser comprada por ninguém. E
é por isto que nós, da Igreja Batista em Cristo, partimos do pressuposto de que o Reino de Deus não
se edifica com dinheiro especificamente, mas com pessoas comprometidas com o Rei do Reino, Jesus.

Entendemos que o dinheiro não é o assunto mais importante da vida cristã. Por isto o ensino bíblico é
de que dízimos e ofertas ou qualquer outra contribuição não servem como “moeda da troca” para
Deus abençoar seus filhos. Mas é bíblico que as pessoas que evangelizam, os líderes cristãos que
administram os trabalhos desempenhados nos templos e os próprios missionários que são enviados
para proclamar o evangelho em tempo integral são vocacionados e labutam, junto com o restante da
membresia a favor do estabelecimento do Reino de Deus. Daí a necessidade das contribuições. É por
isto que historicamente a entrega de ofertas e contribuições de todos os tipos, inclusive financeiras,
sempre foi uma prática comum entre as igrejas locais ao longo dos anos.

Não há meio melhor de nos conscientizarmos sobre a manutenção na obra de Deus do que
consultarmos a Palavra de Deus. Já vimos que o ato de contribuir é bíblico e também aprendemos a
base bíblico-doutrinária para efetuarmos as contribuições. Então, a partir de agora consolidaremos
este entendimento respondendo brevemente a quatro perguntas fundamentais: Por que contribuir? O
que é contribuir? Como contribuir? Onde contribuir? Reflita nas respostas:
Por que contribuir?
Qual é a razão de os cristãos serem orientados biblicamente ao ato de contribuir? Sabemos que, quanto à natureza
humana, o contribuir não é natural. Distribuir ou ceder é visto como uma perda pessoal. Então por que dar dinheiro para
a obra de Deus?
É muito simples: contribuímos porque Deus é doador, e essa é sua natureza. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá
do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação…” [Tiago 1:17]. Em outras palavras, Ele é
constante: sempre dá, e nunca se recusa. Este é o nosso Deus! E se não houvesse nenhum outro motivo para contribuir,
esse já seria suficiente: por causa da natureza do nosso Deus e do que ele fez por nós. É por isso que o cristão contribui,
dando do que recebeu de volta para Ele.

O que é contribuir?
Hoje temos um conceito muito errado a respeito da contribuição. Em 2 Coríntios Paulo associa uma palavra ao ato de
contribuição: graça. Os irmãos da Macedônia suplicavam, apesar de não terem muitos recursos, para que tivessem “a
graça de participarem da assistência aos santos” [2 Coríntios 8:4,6]. Esse é o verdadeiro significado da contribuição. No
grego, a palavra graça traz três significados: a graça objetiva, a expressão da graça e a resposta da graça.
No sentido objetivo, a graça é algo tão maravilhoso que causa um sentimento de prazer e de gozo profundo. Por essa
razão Cristo é cheio de graça. Quando olhamos para Ele vemos uma pessoa tão bela que nasce em nós profunda
adoração e um imenso desejo de servir e doar-nos a Ele.
Graça também é uma expressão. Quando fazemos algo livremente, sem qualquer exigência, alegre e espontaneamente,
estamos compartilhando a natureza de Deus. É assim que Ele dá. É dessa forma que a graça se expressa, através de nós.
E temos a resposta da graça. Aqueles que recebem a graça devem ser graciosos. Sua graça deve tocar nosso coração para
nos transformar a fim de que também sejamos graciosos. Se recebemos a graça de Deus somos cheios dela! E como a
54

expressamos? Contribuindo. Não retendo, não tomando, não exigindo, mas contribuindo.17

Como contribuir?
Em primeiro lugar, entregando-se ao Senhor. Os macedônios, que estavam em profunda pobreza, tinham de tal forma o
Espírito de Cristo neles que quiseram dividir o pouco que tinham com seus irmãos necessitados em Jerusalém [2
Coríntios 8:5]. Solicitaram, encarecidamente, o privilégio de participar, mas primeiro deram a si mesmos ao Senhor; só
depois é que se deram aos irmãos.
Em segundo lugar, contribua em segredo. Em Mateus 6, nosso Senhor disse: “Não dê como os hipócritas...”. Eles dão
com o objetivo de serem reconhecidos. De acordo com Jesus, já receberam sua recompensa. Portanto, ao contribuir, não
busque retribuição ou reconhecimento.
Em terceiro lugar, contribua com alegria [2 Coríntios 9:7]. No coração deve haver alegria.
Em quarto lugar, devemos contribuir com o que temos, não com o que não temos. Não precisamos tomar emprestado
para contribuir. Daquilo que nos foi dado, devemos contribuir honestamente, dentro das possibilidades.

Onde contribuir?
Deus nos deu recursos, somos mordomos e precisamos aprender a distribuir a riqueza do Senhor na utilização das
contribuições, pois necessidade está em todo lugar, dentro e fora da igreja. Precisamos sempre orar sobre isso e obedecer
a voz do Senhor, buscando sabedoria para, de modo equilibrado, distribuirmos a nossa contribuição. Não existe um
padrão, um modo e um lugar específico onde ofertar: podemos ofertar num único lugar, na vida de apenas uma pessoa
ou em vidas e projetos intercalados de acordo com a necessidade e proporcionalidade: muito para um ou um pouco para
cada um.
Em geral ofertamos no templo porque existem responsabilidades ali. Quando contribuímos na igreja local, é como se
esta igreja, como um “ser corporativo”, assumisse a responsabilidade de promover a contribuição coletiva nas pessoas,
projetos e contas específicas. Daí o momento dos dízimos e ofertas durante o culto. 18

Pelas respostas descobrimos que nunca houve problema no ato de contribuir. Biblicamente tal atitude
nunca foi pecado. O grande problema sempre esteve no desenvolvimento de técnicas que alguns
homens utilizam para tentar tirar alguma contribuição do bolso dos menos esclarecidos biblicamente.
Mas, como seguidores de Jesus, devemos exercitar nossa responsabilidade cuidadosamente diante de
Deus e da sociedade como mordomos dignos de Deus. Que, pela graça de Jesus, sempre tenhamos o
espírito de contribuição, exatamente como ele!

Pois bem, pelo conteúdo tratado nesta lição aprendemos que, ao nos tornarmos membros uma igreja
local, cada um de nós recebe, biblicamente, a incumbência de ajudar a cuidar da obra de Deus, seja
através de serviço de cuidado com o próximo, seja através da assistência social ou mesmo através das
contribuições feitas em bens materiais ou dinheiro. A nossa contribuição é algo tão espiritual quanto
as nossas orações; não há como separarmos estes dois assuntos em “natural” e “espiritual”.

17
Nas Escrituras, contribuir é descrito como bênção. Nós pensamos que a bênção é receber. Mas Deus vê de modo muito diferente. É mais
graça dar do que receber. Deus é aquele que sempre abençoa e sempre dá. Para Ele, dar é bênção. A Palavra de Deus diz que dar é como
semear. Quanto mais retivermos, menos teremos; quanto mais dermos, mais receberemos, para cuidarmos do que já é naturalmente dEle.
18
Não é errado contribuirmos na vida de uma pessoa fora a igreja, ou numa instituição particular como creche, asilo, etc. Não é pecado
fazermos nossa contribuição de maneira individual através de cesta básica, calçado, roupa ou mesmo dinheiro, decidindo nós mesmos onde
queremos dar. Todavia devemos tomar cuidado para não deixaremos nosso local onde congregamos desamparado. Não se trata de um clube
em que pagamos uma cota mensal para participar. Não! Não é nada disso! Apenas entendemos que para termos a condição mínima para
congregar e para que possamos desenvolver os projetos evangelísticos e missionários precisamos de uma fonte de renda mínima.
55

Conclusão

Um pensador, certa ocasião, afirmou que “uma mente que se abre para o novo, nunca mais volta a ter
o mesmo tamanho”.

O principal dos benefícios em ter se dedicado à aprendizagem do curso Fundamentos da Fé Batista


certamente não foi a possibilidade de se tornar membro da igreja local; afinal, muitos ambientes não
tem esta preocupação em “uniformizar a crença e a linguagem” e aceitam os recém-chegados de
qualquer maneira. Antes, cremos que o grande benefício foi que você teve a oportunidade de conhecer
uma igreja local séria, comprometida com a crença no Evangelho, com os valores do Reino de Deus e
com um comportamento que reflete a vida cristã que busca a santificação.

Ao longo de nossos encontros estudamos as informações introdutórias, históricas, teológicas e


ministeriais.

Na primeira seção o estudante foi introduzido ao conhecimento da definição e das características de


“igreja”, sendo impulsionado a ver a si mesmo como sendo e fazendo parte do povo de Deus. Afinal,
não é possível simplesmente “ir ao templo”, “assistir ao culto” como um ato desprovido de sentido.

Na segunda seção o estudante complementou a sua identidade como igreja aprendendo sobre o
surgimento da Igreja de modo geral, passando para o surgimento da Igreja Batista e finalizando seu
aprendizado com o surgimento da Igreja Batista no Brasil.

Na terceira seção o estudante completou a formação de sua identidade denominacional na terceira


seção, quando entendeu as informações teológicas que envolvem o sistema de crença, de valores
doutrinários e o comportamento que distingue um cristão batista.

E então, por último, mas não menos importante, na quarta seção o estudante aprendeu que ele recebe
a incumbência bíblica de cooperar, como alguém que tem o privilégio de fazer parte da obra de Deus
no estabelecimento de seu Reino enquanto Jesus não volta.

Evidentemente que ser “batista” não é uma qualidade que me torna ou te torna especial, mais santo,
menos pecador ou melhor do que os demais cristãos. Não! Não é isto! Ser batista apenas se trata de
assumir, em meio à pluralidade denominacional e teológica, uma identidade, uma forma de viver a
vida cristã. Portanto, nosso único objetivo com o curso foi esclarecer e te deixar na liberdade de
escolher se você gostaria de se unir oficialmente a nós, tornando-se um batista e fazendo a obra em
comunidade para a glória de Deus. Que sua recepção seja um momento inesquecível!
56

Referências

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org.br/informativo/contribuicao-financeira-tem-a-ver-com-devocao-4131>. Acesso em jul. 2019.

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