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A LEI DAS PRIMÍCIAS – LUCIANO

SUBIRÁ
09/04/2018

Desde que comecei a publicar os meus livros, sempre repito o mesmo “ritual”. Pego o
primeiro exemplar de cada novo livro impresso que me chega às mãos e faço nele uma
dedicatória à minha esposa. A Kelly sabe que o primeiro exemplar de cada novo livro ou
reimpressão sempre pertence a ela. Para a leitura do livro ou para se guardar de recordação,
não faz a menor diferença se ela pega o primeiro ou o último exemplar. Então por que
sempre separo o primeiro livro para ela? Porque, através deste ato, quero demonstrar que a
minha esposa é a pessoa mais importante para mim e que eu quero sempre distingui-la das
demais pessoas. A importância de se separar para ela o primeiro exemplar de cada livro é
pelo fato de eu cultivar dentro de mim um valor, e não porque o primeiro exemplar seja
diferente dos demais no aspecto prático.

Penso que seja este o princípio que Deus aplica na Lei das Primícias. Ao ordenar que o Seu
povo Lhe entregasse os primeiros frutos, Deus queria ser distinguido no coração de Seus
filhos. A entrega das primícias é uma forma de se dar honra ao Senhor. Observe a ênfase
bíblica:

“Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se
encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares.” (Pv
3.9,10)

Ao mencionar a necessidade de darmos honra ao Senhor em nossas finanças, a Palavra do


Senhor fala sobre os nossos bens e também sobre as primícias da nossa renda. Não se trata
apenas de honrá-Lo com os nossos bens, nem tampouco de honrá-Lo apenas com a nossa
renda, e sim com as primícias desta renda.

A definição que o Dicionário Aurélio dá acerca de primícias é: “Primeiros frutos; primeiras


produções; primeiros efeitos; primeiros lucros; primeiros sentimentos; primeiros gozos;
começos, prelúdios”. A definição bíblica não é diferente. Por trás de toda uma doutrina
fundamentada em ensinos explícitos e figuras implícitas, as Escrituras nos mostram a
importância que Deus dá ao nosso ato de entregarmos a Ele as nossas primícias, cuja
definição é: “a primeira parte de algo.”

Deus não instituiu as ofertas pelo fato de precisar delas, mas para provar o nosso coração
numa das áreas em que demonstramos um grande apego. Com a Lei das Primícias não é
diferente. Deus não precisa dos primeiros frutos. Nós é que precisamos d’Ele em primeiro
lugar em nossas vidas, e este é um excelente exercício para mantermos o nosso coração
consciente disto.

Lemos em Êxodo 13.13 que, se o primogênito (considerado o primeiro fruto do ventre) da


jumenta não fosse resgatado, o seu pescoço deveria ser quebrado. A importância da Lei das
Primícias não estava no que seria feito com a oferta, mas no princípio de ela não ser
utilizada em benefício próprio.

Entregar ao Senhor as primícias da nossa renda é dar-Lhe honra. É distingui-Lo. É


demonstrar o lugar especial que Ele ocupa em nossas vidas. Deus quer ser o Primeiro em
nossas vidas. A rebelião de Satanás foi a tentativa de usurpação desta posição divina. E
ainda hoje ele tenta tomar o trono de Deus em nossos corações. Mas devemos manter o
Senhor em Seu devido lugar.

A Bíblia está repleta de histórias de pessoas que mantiveram Deus em primeiro lugar em
suas vidas a despeito do preço a ser pago. Abraão se dispôs a sacrificar o seu próprio filho,
mas não se atreveu a deixar de dar a Deus o primeiro lugar. José foi para a cadeia para não
pecar contra Deus numa relação adúltera. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego foram
lançados numa fornalha por recusarem-se a dar a uma estátua o lugar que pertence só a
Deus. Daniel foi lançado numa cova de leões pela decisão de manter a Deus em primeiro
lugar. Os apóstolos foram presos e açoitados porque importava antes obedecer a Deus do
que aos homens. Estes são exemplos positivos que nos inspiram a seguirmos as mesmas
pegadas dos que agiram do modo correto, mas também há os exemplos negativos de
pessoas que não fizeram de Deus o Primeiro em suas vidas, e tornaram-se um exemplo a
não ser seguido.
Além destas figuras e exemplos, temos também o ensino explícito de Jesus, que não deixa
dúvidas sobre a importância do assunto:

“Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão
acrescentadas.” (Mt 6.33)

A Concordância de Strong mostra que a palavra grega traduzida como “primeiro” neste
versículo é “proton” e significa: “Primeiro em tempo ou lugar, em qualquer sucessão de
coisas ou pessoas. Primeiro em posição, influência, honra; chefe, principal”.

Quando fui batizado no Espírito Santo, a minha vida mudou da água para o vinho. Cresci
num lar cristão e tive o meu encontro com Cristo muito cedo. Mas foi somente aos quinze
anos de idade que eu conheci a pessoa do Espírito Santo, e a minha vida em Deus
aparentemente começou a desenvolver-se de fato. No fim de semana em que eu tive esta
experiência e disse a Deus que agora eu O queria em primeiro lugar em minha vida, Ele me
pediu que eu fizesse a minha primeira renúncia: que eu me desfizesse do que eu mais
amava, a minha bike! Nessa época eu passava a maior parte do meu tempo livre treinando
manobras de “freestyle” nesta bicicleta e não havia nada que eu amasse tanto quanto aquela
bike especialmente montada. As condições financeiras da nossa família não permitiam que
eu tivesse uma bicicleta. A única bicicleta que eu e os meus irmãos tivemos antes disto foi a
que ganhamos de nossa tia Domingas, a qual, por sua vez, a ganhou numa espécie de
concurso. No entanto, juntei o meu próprio dinheiro, fazendo os meus “bicos” aqui e acolá,
e consegui montar uma das melhores bicicletas do gênero em meu bairro! Quando o Senhor
me pediu para entregá-la, foi como entregar um Isaque no altar, mas eu o fiz! Esta foi a
forma (que o meu coração entendeu naquela época) de colocar Deus em primeiro lugar em
minha vida.

Quando damos a Deus o primeiro lugar, não nos frustramos. Pelo contrário, há um
sentimento de realização em nosso interior que testifica que de fato fomos criados
justamente para isto. Sem Deus em primeiro lugar, há um desequilíbrio em nossas vidas.
Perdemos o propósito da nossa existência.

PRIMÍCIAS NO NOVO TESTAMENTO

Alguns crentes têm dificuldades com qualquer menção de princípios ligados ao Antigo
Testamento, e, antes de aceitarem qualquer doutrina, já começam indagando: “Qual é a
base disto no Novo Testamento?”
Pois bem! Na Igreja Neo-Testamentária não se guardava mais a Lei de Moisés com o peso
das ordenanças que ela tinha no Antigo Testamento. O Concílio de Jerusalém deixou claro
que não havia encargo algum a ser imposto aos gentios, além daquelas quatro áreas
mencionadas: abstinência da carne sufocada, do sangue, do sacrifício aos ídolos, e da
prostituição.

Isto não quer dizer que, depois do Concílio, a Igreja Gentílica não precisasse de mais
nenhuma instrução ou doutrina. Caso contrário, o Novo Testamento não teria sido escrito.
Aquilo limitava, naquele momento, a herança mosaica a ser passada aos gentios. Contudo,
posteriormente, ao ensinarem os princípios divinos à Igreja Neo-Testamentária, os
apóstolos ainda apresentavam figuras poderosas para fortalecerem doutrinas da Nova
Aliança prefiguradas no que se fazia anteriormente nos dias do Antigo Testamento. Isto não
significava que eles estavam tentando retroceder, e sim que queriam esclarecer as figuras
que Deus havia projetado por intermédio dos princípios praticados na Antiga Aliança.

“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas,
nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano
após ano, perpetuamente, eles oferecem.” (Hb 10.1 – Tradução Brasileira)

A sombra é diferente do objeto real que a projeta. Assim também, o que se via nas
ordenanças da Antiga Aliança eram características similares às dos princípios que Deus
revelaria nos dias da Nova Aliança. As observâncias materiais eram figuras das práticas
espirituais.

O cordeiro sacrificado na Lei Mosaica foi apontado como uma figura (ou sombra) de Jesus,
que veio para morrer em nosso lugar (Jo 1.29). A oferta de incenso do Tabernáculo passou a
ser reconhecida como uma figura da oração dos santos (Ap 5.8). A Ceia da Páscoa deixou
de ser praticada, e esta festa passou a ser uma aplicação espiritual dos princípios que ela
figurava (1 Co 5.7,8). Assim também, outros detalhes da Lei que envolviam comida,
bebida, e dias de festa, começaram a ser vistos, não como ordenanças materiais pelas quais
quem não as praticasse poderia ser julgado, mas como uma revelação de princípios
espirituais, cabíveis na Nova Aliança:

“Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a respeito de um dia
de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais coisas são sombras das vindouras, mas o
corpo é de Cristo.” (Cl 2.16,17)
Foi com esta mentalidade (de se aplicar as sombras e figuras), e não tentando retroceder a
uma prática material da Lei Mosaica, que o apóstolo Paulo nos revelou a aplicação
espiritual da Lei das Primícias no Novo Testamento:

“Mas se as primícias são santas, também a massa o é; e se a raiz é santa, também os


ramos o são.” (Rm 11.16 – Tradução Brasileira)

Os israelitas receberam do próprio Deus a ordem de consagrarem a Ele os primeiros frutos


do ventre de suas mulheres, do ventre de seus animais, e também dos frutos da terra. Na
hora da colheita, o primeiro feixe pertencia a Deus e deveria ser apresentado pelo sacerdote
perante o Senhor, numa oferta de movimento. Destes primeiros frutos, também era feita
uma oferta de cereais.

Portanto, Paulo estava ensinando que, ao santificar a primeira parte (a mais importante),
você santifica também o restante, que vem depois dela. Quando alguém santificava as
primícias (primeiros frutos), santificava também tudo o que depois seria feito com a
colheita, incluindo a massa da oferta de cereais e dos pães que eles comeriam depois.

Uma outra ilustração também é apresentada para fortalecer o entendimento deste princípio:
se a raiz (que é a parte mais importante, que surgiu primeiramente na formação da planta)
for santificada, então os ramos e tudo o que surgir dela também serão santificados. Este era
o entendimento que os judeus receberam da Lei de Moisés. Se santificassem ao Senhor as
primícias de sua renda, estariam santificando o restante da renda que ficava em suas mãos.
Por isso Deus poderia fazer com que se enchessem fartamente os seus celeiros e
transbordassem de vinho os seus lagares!

Isto não apenas explica o que são as primícias, mas também nos mostra o poder que elas
têm de santificar o restante daquilo de onde foram tiradas.

AS PRIMÍCIAS NO ANTIGO TESTAMENTO

Deus ordenou ao povo de Israel, de forma clara e explícita, a entrega das primícias
(primeiros frutos) por meio de Moisés:

“As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à Casa do Senhor, teu Deus; não
cozerás o cabrito no leite de sua mãe.” (Êx 34.26)
A Tradução Brasileira (SBB), ao invés de traduzir “primícias dos primeiros frutos” neste
versículo, optou por “as primeiras das primícias da tua terra”, pois duas palavras foram
usadas juntamente, com a ideia de “primícias” e “primeiros frutos”.

De acordo com a Concordância de Strong, a primeira palavra usada no original hebraico


é “re’shiyth”, que significa “primeiro, começo, melhor, principal; princípio; parte principal;
parte selecionada”.

A segunda palavra usada no original hebraico é “bikkuwr”, que significa “primeiros frutos,
as primícias da colheita e das frutas maduras que eram colhidas e oferecidas a Deus de
acordo com o ritual do Pentecostes; o pão feito dos grãos novos de trigo oferecidos no
Pentecostes; o dia das primícias (Pentecostes)”.

Vemos, portanto, que as primícias eram uma ordenança da Lei de Moisés. Porém, mesmo
antes da instituição desta Lei, já percebemos o Senhor Deus trabalhando nos homens a
compreensão da importância da entrega da oferta de primícias; vejamos a seguir alguns
exemplos.

AS OFERTAS DE CAIM E ABEL

O diferencial encontrado nas ofertas de Caim e Abel está diretamente ligado à entrega das
primícias. Muitas pessoas acreditam que o erro de Caim foi trazer uma oferta dos frutos da
terra, ao invés de ofertar um cordeiro (uma tipologia do sacrifício de Cristo), mas eu não
penso que este seja o verdadeiro problema.

A Lei das Primícias fazia com que cada um trouxesse os primeiros frutos do seu trabalho, e
a Bíblia nos revela qual era o trabalho de cada um deles: Abel foi pastor de ovelhas, e Caim,
lavrador (Gn 4.2). Logo, as primícias de Caim teriam que ser do fruto da terra!

A Bíblia diz que Deus atentou na oferta de Abel, a oferta correta. E a primeira menção das
primícias nas Escrituras é encontrada justamente nesta oferta:

“Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao
Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste.
Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não
se agradou.” (Gn 4.3-5a)
Por outro lado, note quando foi que Caim trouxe a sua oferta ao Senhor: “no fim de uns
tempos”. Independentemente do que sejam estes tempos a que a Bíblia se refere (tempo de
colheita, de ofertas, etc.), o fato é que Caim não honrou a Deus com os seus primeiros
frutos. A entrega das primícias é uma forma de se reconhecer a Deus em primeiro lugar. Por
outro lado, deixá-Lo para o fim significa não dar a Ele o primeiro lugar. E o Senhor não
aceitou isto de Caim, assim como Ele não aceita isto de nós hoje.

Se Caim não soubesse a forma correta de se oferecer algo ao Senhor, ele não poderia ser
culpado, mas ele sabia a forma correta de se ofertar. Vemos isto na conversa que Deus teve
com ele, depois de rejeitar a sua oferta:

“Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante. Então, lhe disse o


Senhor: Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem,
não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o
seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.” (Gn 4.5b-7)

O Senhor falou que Caim sabia que, se ele procedesse bem, seria aceito, e que se ele
procedesse mal, o pecado estaria à sua porta. Abel procedeu bem, ao fazer de Deus o
Primeiro e ao trazer as suas primícias, enquanto que Caim procedeu mal, ao deixar Deus por
último, para o fim. Mas isto não foi algo que cada um deles houvesse feito acidentalmente,
e sim por conhecerem o que Deus esperava deles.

SEMENTE DE BÊNÇÃOS

Na verdade, a entrega das primícias é uma semente que dá acesso às bênçãos de Deus. O
Senhor fez uma promessa a Abraão e à sua descendência. Mas, como Paulo escreveu aos
romanos, a forma de santificarmos o restante de alguma coisa, é santificando ao Senhor as
suas primícias. Portanto, Deus, que Se move por Seus princípios, pediu a Abraão as
primícias de sua descendência: Isaque. Depois, Ele passou a defender toda a descendência
de Abraão como se todos fossem aquele primogênito entregue. Veja a mensagem que Deus
deu para Moisés entregar ao Faraó egípcio:

“Dirás a Faraó: Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito. Digo-te, pois:
deixa ir meu filho, para que me sirva; mas, se recusares deixá-lo ir, eis que eu matarei
teu filho, teu primogênito.” (Êx 4.22,23)

Deus mandou Moisés dizer que Israel era Seu primogênito (fruto da consagração das
primícias de Abraão), e que, se Faraó não o libertasse, então os primogênitos do Egito é que
sofreriam. E foi o que aconteceu. Mas, num registro posterior, no Livro de Salmos, observe
como é descrito o juízo divino sobre os primogênitos egípcios:

“Feriu todos os primogênitos no Egito, primícias da força deles nas tendas de Cão.” (Sl
78.51 – Tradução Brasileira)

“Também feriu de morte a todos os primogênitos da sua terra, as primícias do seu


vigor.” (Sl 105.36)

Em ambos os casos eles são chamados de “as primícias” dos egípcios. Isto faz com que
entendamos a mensagem de Moisés a Faraó em Êxodo 4.22,23 da seguinte maneira:

“Assim diz o Senhor: Israel é o Meu primogênito, as primícias consagradas de Meu


servo Abraão. Liberta-o para que Me sirva, senão Eu julgarei os teus primogênitos,
primícias da tua força”.

A prática da Lei das Primícias (ou a falta dela) sempre traz consequências espirituais.
Honrar ao Senhor com a entrega das primícias traz bênçãos, mas brincar com Deus no
tocante a isto gera juízo!

A COMPRA DOS PRIMOGÊNITOS ISRAELITAS

Deus ordenou aos israelitas a consagração de todos os primogênitos:

“E disse o Senhor a Moisés: Consagre a mim todos os primogênitos. O primeiro filho


israelita me pertence, não somente entre os homens, mas também entre os animais.” (Êx
13.1,2 – NVI)

E Ele explicou a razão disto:

“Depois que o Senhor os fizer entrar na terra dos cananeus e entregá-la a vocês, como
jurou a vocês e aos seus antepassados, separem para o Senhor o primeiro nascido de
todo ventre. Todos os primeiros machos dos seus rebanhos pertencem ao Senhor.
Resgatem com um cordeiro toda primeira cria dos jumentos, mas se não quiserem
resgatá-la, quebrem-lhe o pescoço. Resgatem também todo primogênito entre os seus
filhos. No futuro, quando os seus filhos lhes perguntarem: Que significa isto?, digam-
lhes: Com mão poderosa o Senhor nos tirou do Egito, da terra da escravidão. Quando o
faraó resistiu e recusou deixar-nos sair, o Senhor matou todos os primogênitos do Egito,
tanto os de homens como os de animais. Por isso sacrificamos ao Senhor os primeiros
machos de todo ventre e resgatamos os nossos primogênitos.” (Êx 13.11-15 – NVI)
Além de ensinar-lhes um princípio, o Senhor também estava Se movendo de acordo com
um direito legal. Na verdade, quando Deus protegeu e guardou os primogênitos dos filhos
de Israel, Ele os comprou. Usando a linguagem bíblica, podemos dizer que o Senhor os
resgatou e Se fez Dono deles. Daí em diante, todo primogênito era d’Ele, e a consagração
ao Senhor era o meio de se reconhecer isto.

Para poder ficar com os seus filhos, os pais deveriam resgatá-los por meio de ofertas. Mas,
ao consagrarem o primogênito, estavam santificando a Deus o restante de sua descendência.

CONSEQUÊNCIAS ESPIRITUAIS

O melhor ensino que já encontrei sobre a questão das primícias foi no livro “Quando Deus
é Primeiro” (editado em português pela Willën Books) do pastor Mike Hayes. A sua leitura
ampliou o meu horizonte acerca das primícias, e eu o recomendo de coração. Ele me abriu
os olhos para o que foi de fato o pecado cometido por Acã em Jericó.

Jericó era a primeira cidade a ser conquistada em Canaã. Portanto, de acordo com a Lei das
Primícias, o despojo de guerra não era deles, e sim do Senhor:

“Tão-somente guardai-vos das coisas condenadas, para que, tendo-as vós condenado,
não as tomeis; e assim torneis maldito o arraial de Israel e o confundais. Porém toda
prata, e ouro, e utensílios de bronze e de ferro são consagrados ao Senhor; irão para o
seu tesouro.” (Js 6.18,19)

Os israelitas estavam proibidos de se apropriarem de qualquer coisa em Jericó. Os tesouros


deveriam ir para o Templo, e as demais coisas (chamadas de coisas condenadas) deveriam
ser destruídas.

A Concordância de Strong mostra que a palavra hebraica traduzida aqui como


“condenadas” é “cherem”, que significa: “uma coisa devotada, uma coisa dedicada,
proibição, devoção, algo que foi completamente destruído ou designado para destruição
total”. Ela tem como raiz a palavra hebraica “charam”, que por sua vez quer
dizer: “consagrar, devotar, dedicar para destruição”.

Algumas traduções bíblicas, como a Versão Corrigida de Almeida, traduzem esta palavra
como “anátema”, dando a entender que a razão pela qual os bens de Jericó não poderiam
ser possuídos era o fato de serem amaldiçoados. A definição bíblica, no entanto, era a de
algo consagrado à destruição. Isto poderia trazer maldição, pela quebra de um princípio,
mas não era uma coisa maldita em si mesma. Assim como o primogênito da jumenta, que
não podia ser sacrificado e tinha que ser resgatado ou desnucado, assim também Deus
especificou o que Ele queria que fosse dedicado a Ele e o que Ele queria que fosse
destruído. O importante não era a descoberta de um uso para aquelas coisas, e sim não tocar
no que era sagrado: as primícias do Senhor. E o exército de Israel obedeceu a ordem que
lhes foi dada:

“Porém a cidade e tudo quanto havia nela, queimaram-no; tão-somente a prata, o ouro e
os utensílios de bronze e de ferro deram para o tesouro da Casa do Senhor.” (Js 6.24)

Um soldado, no entanto, desobedeceu a ordem que o Senhor havia dado:

“Prevaricaram os filhos de Israel nas coisas condenadas; porque Acã, filho de Carmi,
filho de Zabdi, filho de Zera, da tribo de Judá, tomou das coisas condenadas. A ira do
Senhor se acendeu contra os filhos de Israel.” (Js 7.1)

A consequência da quebra deste princípio foi que a bênção para as demais conquistas foi
retirada de sobre Israel. Eles foram derrotados na próxima batalha, que exigia muito pouco
deles, pois a Lei das Primícias não havia sido obedecida.

Quando santificamos as primícias de alguma coisa ao Senhor, também santificamos o


restante daquilo de que foi tirada. Portanto, inversamente, quando roubamos a Deus nos
primeiros frutos, também perdemos a Sua bênção no restante!

Este princípio funciona em todas as áreas. Ao separarmos um tempo pela manhã para
buscarmos a Deus e oferecermos em nosso devocional as primícias do nosso dia, também
estamos santificando o seu restante ao Senhor. Quando separamos as primícias da nossa
renda, também estamos santificando o restante da nossa renda a Deus!

O PRIMEIRO DIA

“Disse mais Jeová a Moisés: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando entrardes na
terra que eu vos hei de dar, e comerdes as suas searas, trareis ao sacerdote um molho
das primícias da vossa seara. Ele moverá o molho diante de Jeová, para que seja aceito a
vosso favor; no dia depois do sábado o moverá.” (Lv 23.9-11 – Tradução Brasileira)

A entrega do molho das primícias ao sacerdote tinha um dia certo para ser feita. A Tradução
Brasileira diz: “no dia depois do sábado”. A Versão Atualizada de Almeida usa o
termo “no dia imediato ao sábado”, e a Versão Corrigida de Almeida diz: “ao seguinte dia
do sábado”.
Todas estas frases são claras e apontam para um dia certo: o domingo. Não creio que este
princípio santifique o domingo, como o fazia com o sábado no Antigo Testamento, mas ele
revela que a entrega dos primeiros frutos deve ser feita no primeiro dia da semana.

Por que é importante observarmos isto? Porque temos que dimensionar qual é a aplicação
prática da simbologia deste princípio hoje. E, referindo-se à simbologia da Lei das
Primícias, o apóstolo Paulo declara aos coríntios um fato importante acerca da ressurreição
de Jesus:

“Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que
dormem.” (1 Co 15.20)

A ressurreição de Jesus Cristo é vista como um cumprimento da tipologia das primícias, e


aconteceu no dia depois do sábado (Mt 28.1).

Porém, cinquenta dias depois desta oferta de primícias, era necessário que uma nova
celebração fosse feita ao Senhor, a qual também caía num domingo, depois de sete sábados
da entrega da primeira oferta de primícias.

“Depois, para vós contareis desde o dia seguinte ao sábado, desde o dia em que
trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão. Até ao dia seguinte
ao sétimo sábado, contareis cinquenta dias; então, oferecereis nova oferta de manjares
ao Senhor.” (Lv 23.15,16 – ARC)

Este era o significado da Festa de “Pentecostes” (que significa “cinquenta”), a qual era
celebrada cinquenta dias depois da entrega dos primeiros frutos. Esta festa, mesmo sendo
celebrada depois de sete semanas, ainda era uma extensão da festa das primícias (Lv 23.17).
E isto também aparece no cumprimento da tipologia do Antigo Testamento no Novo
Testamento:

“Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de


repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde
estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e
pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a
falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.” (At 2.1-4)

A Igreja recebeu o selo da aprovação divina numa festa que era uma extensão da celebração
das primícias. Esta é a razão pela qual também passamos a ser chamados de primícias para
o Senhor.
“Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos
como que primícias das suas criaturas.” (Tg 1.18)

Portanto, a aplicação da Lei das Primícias não é somente financeira, ou literal, mas também
simbólica, pois somos chamados de “primícias”.

E qual é a relação que o Novo Testamento faz entre as nossas contribuições e esta figura?

Paulo escreveu aos coríntios, fazendo uma destas aplicações simbólicas quanto às ofertas:

“Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No
primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua
prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for.” (1 Co 16.1,2)

A orientação apostólica do dia específico para esta contribuição continua sendo o dia
seguinte ao sábado: o domingo. Parece-me que a idéia das primícias abordada no Novo
Testamento não se prende tanto ao fato de ser o ganho do primeiro dia ou o primeiro
décimo da renda que está sendo entregue. O que precisa ser destacado é que eles separavam
a parte de Deus no primeiro dia da semana. Ou seja, eles a entregavam em caráter de
primazia.

O que aprendemos com isto é que não importa tanto se é o ganho do primeiro dia dado à
parte, ou se são os dízimos e ofertas entregues em caráter de primazia. O mais importante é
darmos primeiro a parte de Deus, antes de gastarmos com as outras coisas. Ao falar sobre a
entrega das primícias, o Senhor instruiu claramente aos israelitas:

“Não comereis pão, nem trigo torrado, nem espigas verdes, até ao dia em que trouxerdes a
oferta ao vosso Deus; é estatuto perpétuo por vossas gerações, em todas as vossas
moradas.” (Lv 23.14)

Ninguém comia do fruto do seu trabalho antes de entregar os primeiros frutos ao Senhor.
Creio que os dízimos e as ofertas devem ser o item “número um” no plano de contas do
nosso orçamento. Além de ser dados primeiro, eles devem refletir o fato de que Deus vem
em primeiro lugar. Este é o ponto mais importante. Por outro lado, ofertar o ganho do
primeiro dia do mês também pode ser uma forma de se observar esta lei bíblica. Quando
honramos ao Senhor com as primícias da nossa renda, Ele também nos honra em nossas
finanças. Por outro lado, quando pensamos somente em nós mesmos, e não nos
preocupamos com as coisas do Senhor, também ferimos a Sua primazia e perdemos as Suas
bênçãos.
É o que ocorreu nos dias de Ageu, quando ele profetizou que o povo israelita só se
preocupava com as suas casas, enquanto a Casa do Senhor estava em ruínas. E justamente
por colocarem-se a si mesmos em primeiro lugar e deixarem a Deus por último é que eles
perderam as bênçãos divinas.

COMO ENTREGAR AS PRIMÍCIAS HOJE

O assunto das primícias tem sido resgatado e restaurado recentemente (apesar de ser
encontrado na “Didaquê” – um dos documentos mais antigos da História da Igreja, uma
espécie de catecismo da Igreja do Primeiro Século). Eu mesmo nunca havia sido exposto a
nenhum ensino sobre o assunto até alguns anos atrás, apesar de eu haver sido criado num lar
cristão. Portanto, creio que ainda precisamos amadurecer na compreensão e aplicação
prática deste princípio. Em função disto, eu gostaria de apresentar alguns conselhos (e não
dogmas) sobre como podemos proceder para honrarmos ao Senhor com as primícias da
nossa renda.

Alguns pregadores fazem uma distinção entre as primícias e os dízimos (e de fato era assim
no Antigo Testamento) e ensinam o cristão a, além de entregar os seus dízimos, a também
doar o equivalente ao ganho do seu primeiro dia de trabalho do mês. Uma vez que vivemos
numa cultura de trabalho diferente, onde a maioria das pessoas não extrai os frutos da terra
ou do gado para separar as primícias, como era feito na Antiga Aliança, estes pregadores
nos aconselham a dividirmos o salário (que é um ganho mensal) em 1/30 avos, e
entregarmos o ganho equivalente ao primeiro dia de trabalho do mês. Esta, acreditam eles,
seria a forma contemporânea de se praticar este princípio.

Outros pregadores ensinam a prática das primícias na própria entrega dos dízimos e ofertas.
Eles acreditam que os dízimos (e ofertas) devem ser entregues em caráter de primazia, ou
seja, como sendo os primeiros frutos. A primazia, segundo estes pregadores, é determinada
pelo fato de não gastarmos nada antes de dizimarmos.

Embora eu tenha sido ensinado desde criança que a oferta das primícias significa darmos a
primazia a Deus na entrega dos dízimos e ofertas (como sendo os primeiros frutos porque os
entregamos antes de gastarmos com outras coisas), e embora eu ainda veja muitas pessoas
sendo abençoadas ao caminharem de acordo com este nível de entendimento, penso que
podemos ir além e fazer algo mais na prática desta poderosa lei bíblica.

À luz do ensino do Novo Testamento, não consigo (nem ouso) afirmar que a entrega das
primícias tenha que ser, necessariamente, uma contribuição a mais, além dos dízimos e
demais ofertas. E eu não quero afirmar, em hipótese alguma, que a visão de contribuirmos,
dando a Deus a primazia, não cumpra a Lei das Primícias. Por outro lado, não vejo nada nas
Escrituras que nos impeça de agirmos assim. Não há nenhum princípio bíblico que venha a
ser quebrado se assim procedermos! Portanto, com a devida consciência do ensino bíblico
que diz: “A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus” (Rm 14.22), e sem impor isto
como um mandamento ou obrigação sobre outros, pergunto:

Por que não entregarmos as nossas primícias como mais uma forma distinta de
contribuição?

No Antigo Testamento, os dízimos e as primícias eram duas contribuições bem distintas e


complementares. Os cristãos do Primeiro Século, segundo a Didaquê, entregavam as suas
ofertas de primícias (normalmente aos profetas ou líderes cristãos), embora estivessem
vivendo sob a Nova Aliança. Os sacerdotes da Antiga Aliança eram sustentados pelos
dízimos, porém eram honrados com as primícias. O Novo Testamento fala deste sustento
dos ministros por meio de salários (2 Co 11.8; 1 Tm 5.17), mas nos instrui a procedermos
com outras formas de honra aos que nos ministram a Palavra de Deus (Gl 6.6).

O fato de não podermos impor a oferta de primícias não significa que não podemos praticar
este princípio! Em nossa igreja local, não ensinamos isto como uma imposição a ninguém,
mas eu mesmo pratico este princípio e dou total liberdade (e incentivo) a quem quiser
praticá-lo também. Contudo, uma vez que não vivemos nos dias da Antiga Aliança e não
temos que seguir literalmente a Lei Mosaica, como aplicamos hoje a entrega das primícias?

No Antigo Testamento, as primícias envolviam a entrega dos primeiros frutos da colheita


(que ocorria num intervalo de alguns meses), dos primogênitos dos animais (que ocorria
uma vez na vida de cada animal), e dos primogênitos dos homens (que deveriam ser
resgatados). Isto não significava uma contribuição substancial, a ponto de se garantir a
sobrevivência dos sacerdotes, mas era apenas mais uma expressão de honra que Deus
permitiu que Lhe oferecêssemos. E é com este entendimento que praticamos a entrega das
primícias.

O PRIMEIRO DIA DE SALÁRIO

A nossa cultura atual, como já afirmamos, já não tem muito a ver com o cultivo da terra e
com animais, como nos dias antigos. Porém, uma vez que fazemos parte de uma geração de
cultura mensalista em seus recebimentos salariais, vários pregadores nos aconselham a
ofertarmos como primícias o equivalente ao primeiro dia de trabalho do mês (dividindo-se o
nosso salário por trinta e entregando-o como primícias). No entanto, é aqui que surge uma
divergência entre alguns doutrinadores. Esta divergência advém principalmente do fato de
que, excetuando-se o trabalhador assalariado (que sabe antecipadamente o quanto ganhará),
a maioria dos profissionais liberais, autônomos, comerciantes, vendedores e muitos outros
trabalhadores sem salário fixo, precisa primeiramente fechar um balanço (semanal ou
mensal) para saber o quanto ganhou, e somente então apurar o valor das primícias e dos
dízimos a ser entregue. Isto significaria uma oferta feita na parte final do processo, e não
mais com o caráter de primazia!

Como, antigamente, ninguém poderia comer dos grãos da colheita antes da entrega da oferta
de primícias (Lv 23.14), aconselhamos, no caso dos trabalhadores que não têm renda fixa, a
entrega do primeiro ganho do mês (o lucro da primeira comissão, por exemplo). Neste caso,
a entrega do valor referente ao ganho real do primeiro dia de trabalho poderia ser feita antes
de se apurar o balanço final de ganhos (e de se comer dos frutos do trabalho). Quanto aos
dízimos, eles poderiam ser entregues depois desta apuração de lucros.

ONDE DEVEMOS ENTREGAR NOSSAS PRIMÍCIAS?

Muitos me perguntam onde eles deveriam entregar as suas ofertas de primícias. Sugiro que
o façam no mesmo local onde entregam os seus dízimos: na igreja local onde se congregam.
Alguns dizem que as primícias devem ser entregues ao sacerdote. Isto era um fato na Antiga
Aliança, mas, naquela época, os sacerdotes também recebiam diretamente para si os
dízimos, porém isto não ocorre no Novo Testamento! Portanto, prefiro ser honesto e não
“enlatar” a doutrina sem uma clareza bíblica. Não vejo uma base bíblica para dizermos que
as primícias só podem ser entregues aos sacerdotes (os ministros). Por outro lado, também
não vejo problema algum se isto for feito desta forma, uma vez que a Bíblia ensina este tipo
de honra (embora sem necessariamente relacioná-lo com as primícias). Eu só não quero
criar regras que não são claras no Novo Testamento.

Em nossa igreja local, as ofertas de primícias (que são assim identificadas no envelope de
contribuição) são direcionadas a um fundo sacerdotal e visam tão-somente o apoio de
ministérios em suas necessidades (tanto os de dentro como os de fora da igreja). No entanto,
o ideal é que cada igreja, através da sua liderança e governo, decida qual é a melhor forma
de se receber esta contribuição, como também a sua melhor aplicação!

Texto extraído do livro “Uma Questão de


Honra”
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Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino
bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR.
Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.

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