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Copyright © 2012 Márcia S.

Ribeiro

VINHA Editora

Editora associada à ASEC – Associação Brasileira de Editores Cristãos

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escrito do autor. A violação dos Direitos Autorais (Lei n. de 9610/98) é
crime estabelecido pelo Artigo 48 do Código Penal.

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

2012
A Criança é Membro do Corpo
Categoria: Religião / Educação Infantil / Bíblia

Copyright © 2012 Márcia S. Ribeiro


Todos os direitos reservados

1ª edição junho de 2012


Revisão Aline Monteiro
Projeto gráfico e diagramação Michele Araújo Fogaça
Capa Eudes Correia

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Revista e Atu-


alizada, tradução João Ferreira de Almeida, salvo indicação específica.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ribeiro, Márcia S., 2012


A Criança é Membro do Corpo / Márcia S. Ribeiro. – Goiânia: VINHA
Editora, 2012
ISBN: 978-85-97210-43-2
1. Religião 2. Educação Infantil 3. Bíblia 4. Título
 CDD: 220/270

Índice para Catálogo Sistemático:


1. Religião: Educação Infantil: Bíblia 220/270

Editado e publicado no Brasil por:


VINHA Editora
Av T-3, Qd. 43, Lt. 20, Andar 3, Ed. Videira, Setor Bueno, CEP: 74.215-110
Goiânia–GO–Brasil
Telefone: (62) 3251-0440 — www.vinhaeditora.com.br
Sumário

Introdução: Como Deus vê as crianças 7

Primeira Parte: Devemos investir nas crianças porque... 11

Cap. 1 – Deus trabalha de geração em geração 13

Cap. 2 – A criança é membro do Corpo 25

Cap. 3 – Formar uma geração vencedora 33

Segunda Parte: A criança na vida da igreja 41

Cap. 4 – O pastor da centésima ovelha 43

Cap. 5 – O coração do pai 63

Cap. 6 – Os princípios da visão no ministério com crianças 85

Cap. 7 – A criança na vida da igreja 99

Cap. 8 – Os sinais do mover de Deus no meio das crianças 109


Introdução

Como Deus vê
as crianças

P
or que devemos investir em
crianças? Essa foi a pergunta que
fiz a Deus há alguns anos, quando
Ele me entregou um ministério com
crianças. Eu não compreendia a relevância des-
se chamado, mas a motivação do meu coração
era correta ao perguntar, porque eu queria
obedecer e não apenas questionar. Deus é tão
amoroso e gentil, que falou comigo todas as
vezes em que perguntei a respeito de coisas
que eu não sabia e que não estavam escritas
nos livros.

Então, depois de orar e buscar a Deus durante um longo tem-


po, Ele começou a falar muitas coisas ao meu espírito, e me deu
três razões por que deveríamos investir nas crianças. São essas ra-
zões que vou compartilhar com você nos três primeiros capítulos

Como Deus vê as crianças

7
deste livro, e espero que, assim como elas foram suficientes para
me levar a obedecer a Deus e permanecer firme nesse chamado,
também possam ser suficientes para você.

Acredito que esta ainda seja uma pergunta que está presente
na mente de muitos irmãos na igreja, inclusive pais e pastores.
Mas, perguntar por que a igreja deve investir nas crianças é o mes-
mo que perguntar por que os pais devem investir em seus filhos.
Assim, creio que, embora as crianças na igreja não sejam nossos
filhos naturais, devemos investir nelas como se fossem. Contudo,
isso só é possível quando as enxergamos como Deus as vê.

Como Deus vê as crianças


Deus vê as crianças de maneira diferente da que nós as vemos.
Para descobrir como Ele as vê, basta olharmos para a Palavra. A Bí-
blia menciona várias situações em que Jesus usa as crianças como
exemplo para nós, e não o contrário. Por isso, creio que, antes de
pensarmos em ensinar a elas, precisamos saber em que devemos
aprender com elas.
Muitos acham improvável que um professor tenha algo a apren-
der com seus alunos, ou um pai a aprender com um filho, ou en-
tão, quem sabe, um pastor aprender com uma ovelha. Mas Jesus
achou que poderíamos e deveríamos aprender algumas coisas
com as crianças. Isso mostra como Deus as vê.
A seguir, apresento três argumentos bíblicos que confirmam
a visão de Deus em relação às crianças.

a) A Bíblia fala sobre crianças – isso mostra que elas


são importantes para Deus.
O fato de a Bíblia mencionar a respeito das crianças mostra que
o assunto é importante, do contrário, não seria mencionado. E se

A Criança é Membro do Corpo

8
é importante para Deus, também é importante para nós. Certa
vez, durante o período em que eu estava fazendo seminário, um
pastor entrou na sala para começar a ministrar sobre 2 Coríntios,
mas disse que leu o livro e não achou nada interessante, por isso,
decidiu voltar a estudar 1 Coríntios. Aquilo me deixou cismada,
pois pensei: “Bem, se está na Bíblia, é porque deve ter algo im-
portante lá”. Como não estudamos o livro, depois que terminei o
seminário, fui ler e estudar 2 Coríntios, e descobri a preciosidade
dele ao me deparar com o caráter de Paulo, e Deus falou muito
comigo através desse estudo.

Mas, veja, a tendência de muitos é ignorar alguns textos da


Bíblia, por considerarem-nos sem importância. Mas se Deus os co-
locou lá, é porque são importantes – e este é o caso das crianças.
A Bíblia fala sobre as crianças porque elas também estão presen-
tes na igreja, portanto, precisamos enxergá-las como Deus as vê.

b) O único lugar na Bíblia em que Jesus declara


algo humano perfeito foi ao se referir a um grupo
de crianças.

Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim;


nunca lestes: “Da boca de pequeninos e crianças de peito ti-
raste perfeito louvor”? (Mt 21.16)

Nesse episódio, Deus viu algo nas crianças que ninguém havia
visto. Ele viu um louvor perfeito! Algum dia, Deus já fez alguma
declaração desse tipo sobre algo que você tenha feito? Ou sobre
tantos homens e mulheres descritos na Bíblia? Mas, ele o fez em
relação ao louvor dessas crianças. Portanto, se você nunca rece-
beu tal elogio da boca de Deus, certamente é porque você tem
algo a aprender com elas.

Como Deus vê as crianças

9
c) Jesus também usou uma criança como modelo
para alguém entrar no reino dos céus.
E ele fez isso exatamente para seus discípulos, os futuros pas-
tores da igreja. Em Mateus 18, Jesus pergunta aos discípulos quem
eles achavam que era o maior no reino de Deus, e para respon-
der a essa pergunta, Jesus toma uma criança e a coloca no meio
deles. Veja, ele coloca a criança no meio, um lugar de evidência,
para que não tivessem dúvida do modelo apresentado por Ele.
Isso não é confrontador?

Portanto, como podemos ignorar as crianças? Se elas conse-


guiram atingir o padrão perfeito de Deus de adoração e do reino
de Deus, quem somos nós para discutir com Deus? O melhor que
temos a fazer é começar a enxergá-las como Deus as enxerga, e
fazer o que Ele nos manda fazer: investir nelas.

Neste livro, meu objetivo é apresentar a você uma visão bíblica


a respeito da importância do trabalho com crianças. Uma vez que
você veja esse trabalho com os olhos de Deus, sua atitude mudará.

Guarde isto: Criança é assunto de gente grande! Por isso, hoje,


mais do que nunca, precisamos alargar nossa visão como igreja.
E uma igreja que tem visão é aquela que vê sob a ótica de Deus.
Se enxergarmos através dos olhos de Deus, que são Sua Palavra,
também compartilharemos do encargo de Seu coração. Portanto,
à luz da Palavra de Deus, vamos começar respondendo à pergunta:
Por que a igreja deve investir nas crianças? 

A Criança é Membro do Corpo

10
Primeira parte

Devemos investir
nas crianças
porque...
Capítulo 1

Deus trabalha
de geração
em geração

A
primeira razão pela qual deve-
mos investir em crianças é por-
que Deus trabalha de geração
em geração.
Você deve conhecer a corrida de quatro por cem no atletismo.
Ela ilustra bem o que estamos falando. Nessa modalidade, quatro
atletas devem correr 100 metros cada um para completar o total
de 400 metros, e passar um bastão para o colega de equipe ao
terminar sua parte do percurso. O critério para ser vencedor não
é apenas a velocidade, mas chegar com o bastão, o que torna a
passagem do bastão crucial na corrida. Todos os atletas devem se
concentrar na passagem do bastão, porque toda a prova depen-
de desse momento. Para garantir que a passagem aconteça com

Deus trabalha de geração em geração

13
segurança, os atletas devem chegar o mais perto possível do atle-
ta à sua frente. Uma vez que todos completem o percurso mais
rápido e cheguem com o bastão, o pódio está garantido. Porém,
o pódio não é apenas daquele que chegou com o bastão, mas de
todos os que correram.

Essa é a nossa história. Cada geração é como um desses atletas,


e tem a responsabilidade de correr e passar o bastão para a próxi-
ma. O bastão é a Palavra de Deus, o ensino, a fé, e isso não pode ser
passado à distância. Para não perdermos o propósito da corrida e
passarmos o bastão com segurança, temos que chegar o mais perto
possível da próxima geração. Depois que passarmos, eles continu-
arão a corrida até alcançar o pódio.

Não podemos ter como alvo apenas sermos uma geração de


vencedores e ignorar a próxima. Aqueles que estão à nossa frente
dependem de nós. Olhando por esse lado, não poderemos ser ven-
cedores se ignorarmos a geração seguinte. Portanto, não adiantará
correr apenas os 100 metros, temos que pensar na corrida toda.

É assim que Deus trabalha, e nós, Sua igreja, devemos trabalhar


também. Foi por isso que Deus fez questão de autodenominar-se
o Deus de “geração em geração”. Isso está registrado claramen-
te em Sua Palavra, a Bíblia Sagrada. Deus se declara o Deus de
geração em geração, tanto no Velho como no Novo Testamento.

O SENHOR reina para sempre; o teu Deus, ó Sião, reina de


geração em geração. Aleluia! (Sl 146.10)

Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns


dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos
geração. (At 17.28)

A verdade é que Deus está interessado em usar uma geração


para alcançar a próxima. A vida de Moisés pode ser usada como
exemplo. No livro de Êxodo, vemos Deus chamando Moisés para

A Criança é Membro do Corpo

14
libertar Seu povo da escravidão do Egito. É interessante a forma
como Deus se apresenta a ele, como o Deus de gerações:

Disse Deus ainda mais a Moisés: “Assim dirás aos filhos de


Israel: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão,
o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós outros;
este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de
geração em geração”. (Ex 3.15)

Deus não queria apenas se apresentar como o Deus de seus


pais, mas é evidente que Ele queria deixar claro para Moisés que
a obra que Ele estava prestes a realizar através de Moisés teria
repercussão nas gerações vindouras. Isso, certamente, fez toda a
diferença no ministério de Moisés, pois, ao confrontar Faraó, ele
tinha consciência de que era da vontade de Deus que todo o povo
fosse liberto, incluindo as crianças.

Deus é onisciente, Ele já sabia que Faraó tentaria negociar com


Moisés, como de fato fez. Moisés foi testado por Faraó quando
este tentou negociar com ele a vida das crianças, para que elas
ficassem no Egito:

Replicou-lhes Faraó: Seja o SENHOR convosco, caso eu vos


deixe ir e as crianças. Vede, pois tendes conosco más inten-
ções. (Ex 10.10)

Respondeu Moisés:... nem uma unha ficará! (Ex 10.26)

Moisés demonstrou ser um líder sensível a Deus e com visão,


pois ele percebeu o coração de Deus para com seu povo e, por
isso, não negociou com Faraó. A resposta de Moisés mostra que
ele discerniu seu chamado, que era levar o povo à terra de Canaã,
e isto incluía as crianças.

Hoje, nos vemos diante de uma situação semelhante em relação


às crianças que Deus nos confia. Sabemos que Faraó simboliza o
diabo, e o Egito, o mundo. Deus nos deu uma ordem como igreja

Deus trabalha de geração em geração

15
para ir e pregar o Evangelho a “toda criatura”, ou seja, todo ser
humano, incluindo crianças. Deus quer que todos sejam salvos.
O diabo está escravizando milhares de pessoas, e a igreja é a res-
posta para elas. Deus nos envia ao mundo para levar libertação
aos cativos, assim como Moisés foi enviado para libertar o povo
de Deus no Egito.

A igreja tem ido a muitos lugares, mas o problema continua na


hora em que o diabo tenta negociar a vida das crianças. Como ele
faz isso? Da mesma maneira que Faraó fez, tentando convencer
os pastores, líderes e pais de que as crianças não precisam sair do
Egito, não precisam de salvação, de que os pais podem ir à reunião
da igreja para adorar ao Senhor e deixar as crianças em casa, nos
shoppings, em frente à televisão, pois eles são muito pequenos,
não precisam disso agora!

Essa tem sido a mentalidade da nossa geração. A liderança da


igreja tem, muitas vezes, negociado a salvação das crianças. Mas,
chegou o tempo de mudar! Nós nos levantamos como igreja para
declarar ao mundo espiritual, como Moisés, que nem uma unha
ficará! Contudo, para obtermos os mesmos resultados que Moisés
obteve, precisamos agir como ele agiu. Portanto, vejamos por que
Moisés não negociou com Faraó.

a) Moisés sabia que era da vontade de Deus


que as crianças também fossem salvas.
A libertação do povo de Israel da escravidão no Egito é um sím-
bolo da nossa salvação em Cristo, que nos libertou da escravidão
do mundo. Ao tirar as crianças do Egito, Moisés estava tirando-as
do domínio de Faraó, e isso deve ser para nós muito mais do que
um fato histórico. Precisamos compreender que, quando ganha-
mos crianças para Cristo, estamos fazendo o mesmo que Moisés
fez, tirando-as da escravidão do mundo e do domínio de Satanás.

A Criança é Membro do Corpo

16
Moisés entendeu que as crianças estavam incluídas no plano
de salvação de Deus para seu povo. Hoje, a salvação de Deus está
à disposição de todo aquele que crê em Jesus como seu Senhor
e Salvador. As crianças creem, por isso podem ser salvas, porque
a salvação é pela fé.

O ministério com crianças na igreja existe a partir da compre-


ensão de que Deus quer que as crianças sejam salvas. Moisés agiu
com base nessa verdade, e hoje nós também temos que nos posi-
cionar em relação à ordem de Deus para nós:

Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pe-


reça um só destes pequeninos. (Mt 18.14)

Se Deus disse que não podemos deixar perecer, é porque exis-


te o risco de isso acontecer. Se a igreja não pregar o Evangelho às
crianças, elas perecerão! Não podemos negociar a salvação das
crianças. Mas, quando é que fazemos isso?

Negociamos quando deixamos de pregar às crianças sobre o


Plano de Salvação. Os pais esperam que os líderes de crianças na
igreja façam isso, e os líderes acreditam que os pais já fizeram. As-
sim, eles crescem diante de nossos olhos e nunca ouvem a respei-
to do Evangelho. Quantos pastores sabem o que é ministrado nas
salas de crianças aos domingos? Ou quantas esposas de pastores
se importam com o alimento espiritual que é oferecido às crianças
semanalmente, se é que podemos chamar de alimento espiritual?

Negociamos quando ficamos sentados a cada domingo nos


deliciando com as palavras ministradas e nos esquecemos de que
muitas crianças sofrem de inanição espiritual dentro da igreja. Que
mãe se alimenta e se esquece de seu filho, ou se alimenta primeiro
e dá o que sobra aos filhos? Infelizmente, é o que tem aconteci-
do dentro da igreja em relação as nossas crianças. As esposas de
pastores que deveriam providenciar um alimento sólido para os
pequenos estão ocupadas demais com os púlpitos.

Deus trabalha de geração em geração

17
Negociamos quando achamos que trabalhar com crianças na
igreja é só entretenimento e colocamos qualquer pessoa para
distraí-las. O diabo não se importa que a igreja tenha trabalho com
crianças, contanto que seja para brincar com elas. É o mesmo que
Faraó propôs, pois é como se ele dissesse: “Deixe as crianças aqui.
Elas vão se distrair enquanto vocês vão adorar seu Deus”.

Negociamos quando deixamos de fazer apelos para levá-las a


receber Jesus como Senhor e Salvador. Quem se preocuparia em
fazer um apelo a uma criança? Apenas aqueles que compreendem
que não é da vontade de Deus que ela pereça.

Negociamos quando investimos nos adultos e damos o que


sobra para o ministério com crianças. Negociamos quando deixa-
mos nossos filhos em casa, dormindo, vendo televisão, brincan-
do, e vamos à reunião da célula ou ao culto sem elas. Negociamos
quando as levamos às reuniões da igreja, mas esperamos por um
serviço de atendimento ao cliente, onde você encontrará alguém
pronto para olhar seu filho em vez de você mesmo ir com ele para
a sala ou para a célula e lhe ensinar a Palavra de Deus. Negociamos
quando nos calamos e vemos isso acontecer diante dos nossos
olhos e não fazemos nada.

Somos a geração que tem negociado nossas crianças com Fa-


raó! Vemos uma geração crescendo dentro das igrejas, mas são
crianças que nunca tiveram uma experiência real com o Senhor
porque as pessoas estão ocupadas demais para lhes contar que
Jesus morreu por elas.

O mínimo que temos de fazer para não negociar com o diabo


é pregar o Evangelho integral às crianças, de maneira que elas
saibam que podem escolher servir a Deus e não são obrigadas a
serem escravas no Egito. Se Moisés não fosse ao Egito e contasse
a respeito do plano de Deus, ninguém saberia. Temos que falar a
respeito da Salvação. Todos precisam saber que têm uma escolha.

A Criança é Membro do Corpo

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Essa responsabilidade é nossa, pastores, pais e líderes aos quais
Deus tem confiado as crianças.

b) Moisés não negociou porque ele não olhou


para as dificuldades, mas para o resultado.
Quando iniciamos nosso ministério, ouvimos muito que “crian-
ça dá muito trabalho!”, e assim nasceu a frase: “Crianças não dão
trabalho, elas dão frutos!”. Nosso alvo era mudar a mentalidade
das pessoas em relação ao trabalho com crianças.

Se olharmos por esse prisma, não investimos em ninguém na


igreja, porque jovem dá muito trabalho, os casais dão muito traba-
lho, até os líderes dão muito trabalho. A mentalidade dessa gera-
ção é de fast food, de tudo instantâneo. Mas, no que diz respeito
às coisas espirituais, não existe o fruto instantâneo; o semeador
precisa ter paciência para colher no momento certo.

Todos podem dar frutos, mas primeiro temos que trabalhar e


investir. Se colocarmos os olhos nas dificuldades, jamais investi-
remos em pessoas. Acho interessantes algumas colocações feitas
por irmãos que dizem ser chamados para outro ministério e não
para trabalhar com pessoas. Na Bíblia não existe ministério sem
pessoas. Todo ministério implica em investir em pessoas, traba-
lhar com elas, lidar com elas, se relacionar com elas. É claro que é
muito mais confortável ficar apenas na organização, na adminis-
tração, escrevendo livros etc. Só tem um problema: Jesus morreu
por pessoas e não por estruturas, materiais, livros, CDs... Portanto,
quem é discípulo de Cristo deve fazer o que Ele fez: investir em
gente de carne e osso, pois foi por elas que Jesus deu Sua vida e
é nisso que devemos investir a nossa também.

É claro que, em certa medida, crianças dão trabalho, como to-


dos os outros, mas elas também dão frutos. É isso que precisamos
entender, pois creio que foi o que Moisés entendeu, por isso ele

Deus trabalha de geração em geração

19
não negociou. Se pensarmos em trabalho, nunca teremos filhos,
muito menos filhos espirituais.

Se tivermos revelação de que Deus tem confiado em nossas


mãos a vida espiritual de muitas crianças, nossa atitude para com
elas mudará. Muitos têm colocado os olhos apenas nas dificulda-
des, e concluído, de maneira errada, que este trabalho é demasia-
damente difícil. Isso é um engano do diabo, e ele tem usado essa
mentira para impedir a igreja de investir apropriadamente nas
crianças. Imagine se Moisés ficasse avaliando a dificuldade que
todas aquelas crianças trariam na caminhada pelo deserto? Eles
teriam que caminhar mais devagar por causa delas, no deserto não
tinha banheiro, e a escassez de água também era um problema.
Além disso, havia os perigos do deserto, o que tornava a viagem
com crianças mais difícil ainda. Se Moisés fosse pensar em todas
as dificuldades, a oferta de Faraó até que era razoável – talvez
fosse mais fácil deixá-las no Egito. Mas, graças a Deus, Moisés não
escolheu o caminho mais fácil, mas o que era a vontade de Deus.

E nós? Quais são os critérios que determinam nossas escolhas


quando se trata de investir em crianças? Compramos o material
mais barato ou o que realmente é melhor? Construímos salas de
aula ou apenas um lugar no fundo do prédio da igreja? E quanto
aos pastores de crianças – não é mais fácil e mais barato trabalhar
com voluntários do que pagar o salário de um pastor? Cada vez
que fizermos esse tipo de comparação, escolheremos o mais fácil?
Pois o melhor ou a vontade de Deus sempre têm um preço alto a
pagar, por isso, apenas quem tem chamado se dispõe a fazê-lo.

Moisés decidiu pagar o preço porque foi chamado por Deus


para levar todo o povo, não apenas os adultos. A igreja é todo o
povo, não apenas os adultos. Se Moisés tivesse olhado para as
dificuldades, sem dúvida ele teria negociado com Faraó. Porém,
Moisés não buscou o caminho mais fácil, e sim a vontade de Deus.
Certamente, ele visualizou famílias inteiras sendo restauradas.
Naquele momento, ele viu a glória de Deus mudando o destino

A Criança é Membro do Corpo

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de pais e filhos, porque ele sabia que aquelas crianças não teriam
chance alguma se continuassem debaixo do domínio de Faraó, por
isso ele achou que valia a pena todo aquele trabalho.

Porém, hoje, quantas vezes a liderança da igreja tem negocia-


do com Faraó? Negociamos não apenas quando deixamos de pre-
gar o Evangelho às crianças, mas também quando achamos difícil
realizar o trabalho e, por isso, deixamos de fazê-lo. Negociamos
quando investimos nos adultos e ignoramos a infância, concluindo
erradamente que não vale a pena tal investimento.

Hoje, Deus tem confiado o futuro de muitas crianças nas mãos


da Igreja. Em inúmeros casos, as crianças têm sido um canal de
Deus para a transformação de famílias inteiras, mas, infelizmente,
muitos não têm entendido isso. Deus precisa encontrar, em nossa
geração, líderes com a mesma visão de Moisés, para que sejamos
levantados como libertadores assim como ele o foi.

Se encararmos o desafio do ministério infanto-juvenil, teremos


o privilégio de ver a transformação de famílias inteiras e a satisfa-
ção de dar-lhes um novo destino, Canaã, que simboliza uma vida
abundante em Cristo.

c) Moisés não negociou, porque ele viu o futuro.


Embora Moisés tivesse uma palavra da parte de Deus para
tirar o povo do Egito e conduzi-lo a Canaã, ele não sabia como
seria o desenrolar da história depois da saída do Egito. Talvez ele
não tivesse um discernimento claro sobre o futuro de Israel, mas,
certamente, ele foi conduzido por Deus para agir em meio a cir-
cunstâncias incertas.

A verdade é que aquele povo não creu na promessa de Deus


para eles, por isso não responderam a Deus e, por causa de sua

Deus trabalha de geração em geração

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incredulidade, pereceram no deserto. Veja, aquela geração de
adultos não entrou na terra prometida:

Neste deserto, cairá o vosso cadáver, como também todos


os que de vós foram contados segundo o censo, de vinte
anos para cima, os que dentre vós contra mim murmuras-
tes... (Nm 14.29)

Quando Moisés rejeitou a proposta de Faraó a respeito das


crianças, certamente ele não tinha clareza do que aquilo repre-
sentaria no futuro. Mas a verdade é que ele estava libertando a
geração que entraria na terra de Canaã. No decorrer dos anos, algo
inesperado aconteceu e a geração que entrou na terra de Canaã foi
aquela geração de crianças que saiu com Moisés do Egito. Deus via
o futuro, e Moisés, que estava em Sua dependência, também o viu:

Mas os vossos filhos, de que dizeis: Por presa serão, farei


entrar nela; e eles conhecerão a terra que vós desprezas-
tes. (Nm 14.31)

Esse contexto que acabamos de ver mostra claramente que


Deus está interessado nas crianças. E nós, líderes de crianças, pre-
cisamos levar a sério esse trabalho, pois não só o futuro delas está
sendo confiado a nós, mas também o propósito de Deus para as
próximas gerações.

O propósito de Deus era ver Seu povo vivendo livre na terra de


Canaã e fazendo Seu nome conhecido em outras nações. E isso só
foi possível porque um homem decidiu investir em um grupo de
crianças escravas que se tornaram herdeiras.

Talvez, nós, pastores e pais, não iremos às nações pregar o


Evangelho, mas nossos filhos irão. Pode ser que as crianças pelas
quais você tem pago um preço liderando células, um dia serão le-
vantadas como evangelistas e profetas que atravessarão oceanos
e conquistarão cidades ou até nações para o Senhor Jesus. Há um

A Criança é Membro do Corpo

22
futuro à nossa frente que nós não vemos, mas Deus vê. Se Ele nos
manda hoje investir nas crianças, é porque Ele tem preparado um
propósito certo para elas.

Mas, e se não investirmos hoje? E se Moisés tivesse negociado


aquela geração de crianças? Todo o propósito de Deus teria sido
comprometido. Deus é soberano para agir em qualquer época,
mas lembre-se, Ele escolheu agir através do homem. O homem
não pode fazer cumprir a vontade de Deus, mas ele pode impedi-la.

Hoje, Deus quer levantar essa geração de crianças como ele o


fez no passado. Cabe a nós, como igreja, investir nela e não ne-
gociar em hipótese alguma a salvação dessas crianças. Para isso,
pastores, pais e líderes precisam fazer sua parte. O futuro delas
depende das nossas escolhas. Escolha investir nas crianças!

Deus trabalha de geração em geração

23
Capítulo 2

A criança é
membro do
Corpo

A
segunda razão pela qual deve-
mos investir nas crianças é porque
a criança é membro do Corpo.
Bem, o que faz de alguém membro do Cor-
po de Cristo? Certamente não é uma ficha de membro,
não é seu grau de escolaridade, nem mesmo sua ida-
de. O único requisito que encontramos na Bíblia que
torna alguém membro do Corpo é o novo nascimento.

Ninguém, por mais conhecimento que tenha, pode determi-


nar com exatidão a idade em que uma pessoa é capaz de receber
Jesus como Salvador. Não encontraremos na Bíblia um só texto
com essa afirmação. Mas podemos afirmar que todos aqueles que
creem e recebem Jesus Cristo são salvos.

A criança é membro do Corpo

25
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de
serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu
nome. (Jo 1.12)

As crianças estão entre aqueles que creem, por isso, pode-


mos crer que elas podem ter a experiência de novo nascimento.
Além disso, todo ser humano nasce com espírito, alma e corpo, e
a experiência do novo nascimento é algo que acontece no espí-
rito. Assim, mesmo que as crianças não tenham maturidade para
compreender as implicações dessa experiência, elas podem re-
ceber o Espírito Santo em sua vida, pois a função do espírito é se
conectar com Deus.

Já ouvi muitos testemunhos de pessoas que se lembram de sua


conversão ainda na infância. Eu mesma experimentei isso. Cresci
dentro da igreja e sempre tive um coração para Deus. Jamais me
passou pela cabeça a ideia de viver longe de Deus, porque tive uma
experiência real com Ele em minha infância. Em algum momento
de minha vida, Ele entrou e tocou meu espírito, e eu nasci de novo.

Muitos membros e um só corpo


O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. (1Co 12.20)

Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um


corpo. (1Co 12.13)

Gosto dessa expressão, e dos textos de 1 Coríntios 12, pois mos-


tram como os membros são unidos num só espírito e que, inde-
pendentemente do tamanho e da utilidade, somos um só corpo.

Assim como o corpo humano, o Corpo de Cristo tem membros


de vários tamanhos. Mas não é o tamanho que determina seu va-
lor, e sim o fato de ser membro do corpo. O olho, por exemplo,
é pequeno, mas muito importante para todo o corpo. A perda de

A Criança é Membro do Corpo

26
um olho pode comprometer em muito o equilíbrio de todo o cor-
po. Portanto, quando um membro não é devidamente cuidado,
talvez o corpo não perceba instantaneamente, mas a cabeça per-
cebe, e logo envia mensagens (sintomas) para que o corpo possa
reagir. O mesmo acontece na igreja: quando as crianças não são
reconhecidas como membros que precisam de cuidado, Jesus, o
cabeça, percebe, e logo todo o Corpo sofrerá com isso. Portanto,
independentemente do tamanho dos membros, todos são impor-
tantes para Deus e para o Corpo.

Além do valor, temos também a utilidade dos membros. E quem


define a utilidade dos membros é a cabeça. Aliás, ela não apenas
define, como também controla todo o corpo, e sabemos que Je-
sus é o cabeça da Igreja.

Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no


corpo, como lhe aprouve. (1Co 12.18)

As crianças não tem maturidade para “funcionarem” sozinhas,


mas podem exercer funções vitais na vida da igreja como orar, ado-
rar e evangelizar. A oração de uma criança tem tanto poder como
a de um adulto, porque Deus responde as orações de acordo com
Sua vontade e Sua Palavra, não de acordo com a idade de quem
ora. A evangelização através de uma criança pode ter o mesmo
efeito, ou até maior, na vida de uma pessoa, porque é o poder de
Deus que opera nos corações e não nossa oratória. Temos mui-
tos testemunhos de pais e familiares que se converteram através
das células de crianças, mais precisamente por causa da oração
e do testemunho de uma criança. Precisamos, portanto, apenas
reconhecer as crianças como membros do Corpo e tratá-las devi-
damente como a Bíblia diz que devem ser tratadas.

Em Mateus 18, Jesus define como os pequenos membros de


Seu Corpo devem ser tratados:

A criança é membro do Corpo

27
E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome,
a mim me recebe. (Mt 18.5)

Temos que receber as crianças. Isso significa reconhecê-las


como membros do corpo, assim como nós também somos. Infe-
lizmente, existe uma mentalidade tão arraigada no meio da igreja
que as pessoas agem sem perceber como estão agindo.

Por exemplo, numa célula de adultos, é comum os líderes e


suas esposas receberem os pais e ignorarem os filhos. Os filhos
ficam do lado e, se não forem à reunião, ninguém pergunta por
eles. O líder faz isso porque pensa que lidera apenas os adultos, e
sua esposa também ignora as crianças porque se vê como auxiliar
do marido e pensa que sua responsabilidade é receber a mãe e
não os filhos. Quando se trata de crianças, então, a situação é um
pouco pior, porque elas não têm iniciativa própria para procurar
uma célula, como os adolescentes e jovens têm. Elas dependem
dos pais e, nesse caso, também dos líderes. O ideal é que fosse
aberta uma célula de crianças paralela a essa célula de adultos, já
que as crianças estão lá.

Quando Jesus disse para receber as crianças, ele não estava


sugerindo, mas estabelecendo um padrão. É como se ele dissesse:
“Se vocês quiserem minha presença, recebam primeiro as crian-
ças como se fossem eu mesmo, então vocês receberão também
a mim”. Tenho filhas, e como posso ir a uma casa onde as pessoas
não as recebam, ou digam: “Venha você, mas não receberemos
suas filhas”? É claro que elas não se expressam verbalmente assim,
mas sua atitude demonstra isso.

Igrejas que não têm recebido as crianças como parte do cor-


po estão desobedecendo a Palavra, por isso, não têm a bênção
completa de Deus. Por outro lado, as igrejas que investem em
crianças, onde o pastor de fato se importa com elas e as assume
como parte de seu rebanho, essas experimentam o crescimento
e a bênção de Deus.

A Criança é Membro do Corpo

28
Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos. (Mt 18.10)

Desprezar é tratar com indiferença, é agir como se elas não exis-


tissem. Nossa atitude deve ser de orar com as crianças, de motivá-
-las a louvar e adorar ao Senhor. Devemos encarar com seriedade
o fato de crianças ficarem dispersas durante os cultos, seja dentro
ou fora do prédio. Não podemos ser indiferentes a isso. Deus cor-
rigiu o sacerdote Eli porque ele via seus filhos indiferentes a Deus
e não os repreendia. Seu papel como pai, líder e pastor é ensinar
e corrigir os mais novos. Quando puderem decidir por si mesmos,
eles farão suas próprias escolhas. Então, ensine de acordo com
a Palavra, corrija-os para o bem deles, mas não seja indiferente.

Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pe-


reça um só destes pequeninos. (Mt 18.14)

Deixar perecer é não evangelizar e não alimentar apropria-


damente. As crianças têm necessidades espirituais assim como
os adultos, e elas precisam ser supridas. Elas têm necessidade
de conhecer o amor de Deus por elas, o propósito de Deus para
elas, de saber que Deus as ouve e que elas também podem ouvir
a voz de Deus.

As crianças precisam crescer dentro da igreja sabendo que


fazem parte dela. Do contrário, elas sairão e buscarão outros ca-
minhos. Em Provérbios 22.6, lemos que se ensinarmos a criança
no caminho em que ela deve andar, ainda quando for velho não
se desviará dele. A palavra desviar significa “deixar de lado”, sen-
do assim, por que alguém deixaria Jesus? Porque deixar a Igreja
é deixar Jesus. Embora alguns possam achar que são atitudes di-
ferentes, do ponto de vista de Deus, Jesus e a igreja são um, por-
que o corpo não pode se separar da cabeça. Para que possamos
conhecer alguém, precisamos conhecê-lo por inteiro, não basta
conhecer a cabeça. Assim também, a Igreja é expressão de Jesus.

A criança é membro do Corpo

29
Creio que a razão por que muitos filhos saem da comunhão da
Igreja está baseada em dois aspectos: nunca nasceram de novo, ou
não se sentem parte do corpo. Há vários motivos para uma pessoa
se sentir assim, mas isso é um fato. Eu tive essa experiência – cresci
na igreja, sempre desejei estar na igreja, mas, algumas vezes, não
me sentia parte dela, porque não me sentia aceita pelas pessoas.

Durante minha infância, tudo correu normalmente, mas, quan-


do completei dezessete anos, tive que sair de casa com meus ir-
mãos para estudar, pois meus pais moravam no interior. Procurei
várias igrejas para participar, mas não conseguia me adaptar a
nenhuma. Na denominação em que cresci, onde meus pais eram
pastores, as pessoas me rotulavam e eu era sempre “a filha do
pastor”. Na época, eu não tinha maturidade para lidar com os ró-
tulos, portanto, achei melhor procurar outro lugar. Fui para outra
denominação parecida, mas eles não me consideravam convertida,
porque eu usava calça comprida e brinco grande. Procurei outra
mais tradicional e, depois de frequentar por um tempo, procurei o
pastor para me tornar membro, mas ele disse que eu tinha que me
batizar novamente porque meu batismo não era reconhecido lá.
Fiquei chocada, mas permaneci lá sem me tornar membro, apenas
porque queria a comunhão da igreja, mas continuei procurando.

Anos depois, já com vinte e dois anos, eu já não aguentava mais


andar sozinha, então orei pedindo a Deus um milagre em minha
vida, e ele ouviu minha oração. Encontrei um lugar onde senti a
confirmação de Deus, senti paz. Era como se tivesse chegado em
casa. A princípio, senti a presença de Deus lá, por isso voltei outras
vezes. Depois, eu me senti aceita pelos irmãos e decidi ficar. É claro
que apareceram aqueles irmãos que me julgaram pela aparência,
como em todos os lugares por onde eu havia passado, mas deci-
di que ficaria mesmo assim. E dessa vez, fiquei por decisão, não
tanto porque a igreja, de maneira geral, me acolheu, mas porque
decidi e sabia que eu precisava da igreja, eu precisava dos irmãos
e sentia falta dos cultos. Eu estava faminta de Deus, e Ele via meu

A Criança é Membro do Corpo

30
coração, mas a igreja via apenas minha aparência. Quantos jovens,
hoje, estão em situação semelhante à que eu estava! Eles querem
Deus, mas a igreja não os acolhe, apenas impõe condições.

A história de muitas crianças pode ser diferente da minha.


Elas podem crescer dentro da igreja e desenvolver seu ministério
com o apoio da igreja, sem ter que ficar procurando um lugar que
as aceite. Contudo, isso precisa começar na infância. Precisamos
reconhecer que as crianças são membros do Corpo. Isso tem um
poder tremendo na vida delas e repercutirá em seu futuro.

A criança é membro do Corpo

31
Capítulo 3

Formar uma
geração
vencedora

A
terceira razão pela qual a igreja
deve investir em crianças é por-
que estamos edificando uma igre-
ja de vencedores. Essa é nossa visão.
Esse é o propósito para o qual Deus nos chamou, seja
como pastores, pais ou líderes, todos edificam com
o mesmo propósito.

É importante compreender que uma igreja de vencedores é


uma igreja de discípulos, onde os membros são submissos ao ca-
beça, que é Cristo, e todos funcionam em unidade. Aprendemos
uns com os outros e ministramos na vida uns dos outros. Isso é
unidade. Aquele que já é um vencedor ensina outros a se torna-
rem vencedores também.

Formar uma geração vencedora

33
Podemos observar como, em momentos cruciais da história,
Deus decidiu realizar seus propósitos começando com crianças.
Desde a criação, era a intenção de Deus que Adão tivesse filhos à
imagem e semelhança de Deus, e Ele planejou que esse processo
de reprodução começasse na infância. Deus não mudou os planos
desde então.

Vemos depois, com Abraão, que a promessa de Deus para ele


estava inserida no filho que ele geraria. Abraão veria o cumprimen-
to da promessa de Deus em Isaque, por isso, Isaque é conhecido
como o filho da promessa. Milhares de anos depois, Deus cum-
priu a promessa do Messias, o Salvador, enviando-o em forma de
uma criança.

Vemos na Bíblia que Deus começou a contar a história de


muitos homens de Deus desde a infância, como Samuel, Isaque,
Jacó, Moisés e outros. Com o próprio Filho de Deus foi assim; ele
poderia aparecer na história apenas em sua juventude, já que seu
ministério começaria apenas aos trinta anos. Mas Deus fez ques-
tão de registrar desde o momento do chamado de Maria, porque
Deus queria se revelar como um Deus de propósito, que nos es-
colhe antes mesmo de sermos gerados. Como podemos ignorar
tudo isso e achar que em nossa geração será diferente? Esta é a
maneira de Deus levantar uma geração de vencedores. Deus co-
meça na infância.

Como investir na infância para formar uma


geração de vencedores?
Há dois aspectos da ação de Deus para formar vencedores:
primeiro, usando a geração anterior; segundo, agindo desde
a infância.

A Criança é Membro do Corpo

34
a) Uma geração semeia a geração seguinte.
Deus começa a agir em uma geração, agindo na geração ante-
rior a ela. Aquela geração que pereceu no deserto por increduli-
dade não foi uma exceção nesse processo. Deus começou a agir
através dos pais de Moisés, que o protegeram desde pequeno.
Depois, através de Moisés, que foi um intercessor em sua geração,
até que a geração seguinte entrasse e tomasse posse da terra.

Na Bíblia, sempre veremos a ação de uma geração sendo refleti-


da na outra. Precisamos ter consciência de que tudo o que fizermos
hoje refletirá na geração de nossos filhos. Certamente, depois não
teremos como mudar o que foi plantado, mas hoje ainda podemos
escolher o tipo de semeadura que faremos.

Como geração, nós somos pais da geração seguinte. Temos


que protegê-los em oração, temos que ser uma voz a proclamar
no mundo espiritual a respeito deles. Temos que treiná-los para
serem vencedores. É a geração dos pais que tem de assumir os fi-
lhos, e não me refiro apenas aos pais naturais. É comum nas igrejas
vermos os jovens e adolescentes assumindo a liderança do traba-
lho com crianças. Por quê? Eles não têm filhos, e muitos nem tem
idade para isso, então, por que essa tarefa está sendo confiada
a eles? Você que é pai ou mãe confiaria a educação de seu filho
a um adolescente? Mas a vida espiritual você confia? Precisamos
corrigir isso! Quem deve assumir a liderança dos ministérios com
crianças nas igrejas são os adultos, porque são eles os que têm
maturidade para ensinar e treinar as crianças; são eles que geram
filhos. Quando eu digo assumir a liderança, me refiro a tomar o
lugar de um pastor, exercer a função dos discipuladores, tomar a
frente dos cultos de crianças etc. Creio que os mais jovens podem
auxiliar, liderar e participar, mas não devem ser a maioria dessa
liderança e muito menos tomar a frente dela.

O mundo espiritual respeita autoridade espiritual. Portanto,


enquanto tivermos pessoas imaturas à frente do ministério com

Formar uma geração vencedora

35
crianças, não seremos uma ameaça ao inferno. Nós só temos tido
êxito no ministério com crianças em Goiânia porque foi estabele-
cida uma liderança séria e comprometida, na qual as esposas de
pastores assumiram a frente, juntamente com as demais esposas
de líderes e, juntas, demos um basta ao inferno; em nossas crian-
ças, o inimigo não toca!

O diabo respeita autoridade delegada, mas não respeita quem


não tem autoridade. Pastores e pais têm autoridade da parte de
Deus para falar, orar, intervir e treinar as crianças. Quando eles
abdicam de sua autoridade, as crianças têm poucas chances de
se tornarem vencedoras.

b) Formar uma geração implica em formar


uma mentalidade.
O segundo aspecto importante sobre formar vencedores é que
precisamos investir na infância com o alvo de formar uma mentali-
dade de vencedor. Antes de fazer de alguém um vencedor, primei-
ro é preciso ensiná-lo a pensar como vencedor. Uma das razões
por que a geração dos pais não entrou na terra de Canaã é que,
embora fossem livres, eles tinham uma mentalidade de escravos.
Por isso, por várias vezes eles fizeram menção de voltar ao Egito.
Eles pensavam como escravos e agiam como escravos. Deus queria
fazer deles um povo vencedor, mas eles se viam como gafanhotos.

Certa vez, numa viagem a Israel e outros países vizinhos, fiquei


observando como, em cada lugar que parávamos para ministrar,
sempre apareciam crianças. Isso aconteceu no Egito, na Turquia,
na Grécia; elas se aproximavam e ficavam à nossa volta, mas os
adultos olhavam de longe. Então pensei: de fato, se quisermos ga-
nhar uma nação, a melhor estratégia é investir nas crianças. Até
os governos sabem disso, pois dizem: “Se quiser mudar um país,
invista na educação infantil”. Para quê? Para formar uma mentali-
dade. No caso do governo, a mudança de mentalidade é útil para

A Criança é Membro do Corpo

36
despertar o desejo de estudar, de ter uma profissão, de ser um
cidadão que produza e contribua para o crescimento de seu país.
E no reino de Deus não é diferente. Se quisermos edificar uma igre-
ja de vencedores, temos que investir no ministério com crianças,
pois muitos adultos praticarão apenas cinquenta por cento dessa
visão, porque já trazem dentro de si uma mentalidade doentia, às
vezes legalista, clerical e com muitos outros “vírus”. Mas as crian-
ças, ao receberem a visão desde pequenas, têm mais chances de
praticar cem por cento dela.

Rebeca e Jacó nos dão um exemplo muito claro da importân-


cia e necessidade de investirmos na infância com o alvo de formar
uma mentalidade de vencedor.

Muito antes de Jacó nascer, Deus havia dado a Rebeca, sua


mãe, uma palavra de que Jacó seria o escolhido de Deus para
herdar a promessa dada a Abraão. Rebeca creu naquela palavra
e, embora Jacó fosse o mais novo, ela sabia que ele era o esco-
lhido para herdar a bênção de seu pai, Isaque. Podemos ver, no
decorrer da história, que Jacó sempre desejou a bênção da primo-
genitura, que lhe dava o direito de ser o herdeiro da promessa de
Deus. Mas, como ele poderia desejar algo que ele sabia não lhe
pertencer por direito?

Segundo a tradição, o irmão mais velho herdava a bênção, o


que significava a maior parte da herança, e também se tornava o
chefe da família. A Bíblia diz que Jacó era mais apegado à mãe e
gostava de ficar perto de Rebeca, enquanto seu irmão, Esaú, gos-
tava de caçar. Esse relacionamento com sua mãe não aconteceu
por acaso. Certamente Rebeca o manteve perto dela com o obje-
tivo de influenciá-lo. Ela tinha a palavra de Deus e, por isso, foi o
canal pelo qual Deus pôde agir para formar a mentalidade de Jacó.
O resultado é que Jacó aprendeu a valorizar a bênção de Deus,
enquanto Esaú, seu irmão, a desprezou. Esta é uma característica
do vencedor, ele valoriza o que Deus valoriza.

Formar uma geração vencedora

37
Na verdade, o que Deus havia dado a Rebeca era mais do que
uma palavra – Ele havia lhe dado a responsabilidade de formar o
herdeiro da promessa. E o mesmo acontece hoje: Deus nos chama
para preparar herdeiros espirituais. Mas, formar uma mentalidade
é um processo que leva tempo, certamente um período que dura
toda a infância. Portanto, se a igreja deixar para investir nessa ge-
ração após os doze anos de idade, a mentalidade já estará forma-
da, a forma de pensar já terá sido estabelecida.

Formar vencedores implica também em investir em poten-


cial. As crianças têm um potencial tremendo, precisamos apenas
acreditar nele – é uma questão de fé, porque ainda não há frutos.

Lembro-me de que comecei a trabalhar com crianças aos 13


anos de idade. O professor de crianças da Escola Dominical havia
saído e o pastor fez um apelo no púlpito para quem quisesse assu-
mir as salas de crianças. Ninguém levantou a mão, nem mulheres,
nem jovens, e eu, então, levantei a minha. A partir daquele dia, eu
me tornei a professora de crianças da Escola Dominical. O que eu
fiz, só Deus sabe, mas foi assim que tudo começou! Porém, nin-
guém viu potencial em mim. Depois disso, eu parei, como todos
os outros pararam. Quando fiz seminário, também não ouvi falar
nada sobre ministério com crianças, porque o modelo ainda era
o mesmo da minha infância. Só fui receber meu chamado para
esse ministério aos 32 anos, mas isso poderia ter acontecido vinte
anos antes se alguém tivesse investido em meu potencial. Graças
a Deus, Ele não desiste de nós!

Quando Deus me chamou para trabalhar com crianças, pergun-


tei a Ele por que o Aluízio, meu esposo, tinha sido chamado para
formar líderes, pois essa era uma palavra clara para nós quanto
à visão da igreja que iríamos edificar, mas eu tinha sido chamada
para algo tão diferente. A resposta de Deus me surpreendeu e
mudou completamente minha visão em relação às crianças, pois
Ele me disse: “Quando você olhar para as crianças, veja líderes!”.

A Criança é Membro do Corpo

38
Onde mais eu poderia ouvir isso? Em que livro estava escrito,
que eu nunca li? Por que ninguém jamais me falou sobre isso? A
igreja precisa acordar! Deus nos chamou para edificar uma igreja
de vencedores, onde cada membro é um ministro, um sacerdote,
um líder na casa de Deus. E isso deve começar na infância.

Por isso, a visão do ministério Radicais Kids é a mesma visão


da Igreja Videira, e também tem a mesma estrutura, porque es-
tamos edificando a mesma igreja. É uma geração que se levanta
para gerar a próxima geração.

Mas, lembre-se, esse princípio funciona dos dois lados; o dia-


bo o conhece também. Um exemplo disso é Hitler. Cerca de dez
a quinze anos antes de explodir a Segunda Guerra Mundial na
Europa, a ideologia nazista já estava sendo difundida nas escolas
e universidades. O tempo passou e aquela geração de crianças e
jovens cresceu e, anos mais tarde, Hitler tinha um exército levan-
tando a bandeira do nazismo.

O que isso nos ensina? Os líderes que Deus levantará na próxi-


ma geração já estão em nosso meio. Eles estão vindo como crian-
ças, ainda estão na infância, então, temos que abrir nossos olhos
espirituais para enxergá-los agora. Deus os está confiando a nós
ainda na infância para que possamos formar neles a mentalidade de
vencedor, a mentalidade do reino, e investir em seu potencial. No
tempo certo, eles se levantarão como uma geração de vencedores!

Eu vos escolhi para que vades e deis fruto, e o vosso fruto


permaneça. (João 15.16)

Deus nos escolheu para darmos frutos. Todavia, mais do que


frutos apenas, Ele deseja “frutos que permaneçam”! Isso significa
que é possível trabalhar com crianças e dar frutos que permane-
çam e que toquem gerações seguintes e, por que não dizer, por
toda a eternidade.

Formar uma geração vencedora

39
Segunda parte

A criança na
vida da igreja
Capítulo 4

O pastor da
centésima
ovelha

P
orque o Filho do Homem veio salvar
o que estava perdido. Que vos parece?
Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se
extraviar, não deixará ele nos montes as noventa
e nove, indo procurar a que se extraviou? E, se porventura a
encontra, em verdade vos digo que maior prazer sentirá por
causa desta do que pelas noventa e nove que não se extra-
viaram. Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste
que pereça um só destes pequeninos. (Mt 18.11-14)

Antes de comentar sobre os fatos, é importante entender o


contexto em que essa parábola foi contada. Jesus estava falando
aos discípulos e, desde o início do capítulo, o assunto é o mesmo.
Jesus introduz o assunto com uma pergunta sobre quem é o maior

O pastor da centésima ovelha

43
no reino de Deus, e logo coloca uma criança no meio deles e passa
a ensinar sobre o reino.

Ao contar a parábola do pastor e sua ovelha perdida, Jesus tam-


bém começa com uma pergunta: “Que vos parece?”. Ele queria que os
discípulos pensassem sobre aquele assunto, que eles considerassem
as circunstâncias que envolviam o pastor e a ovelha. Com quem os
discípulos se identificariam? Com o pastor, pois eles não se conside-
ravam como uma ovelha perdida; eles tinham Jesus, o pastor deles.

O capítulo começa com Jesus falando sobre as crianças e con-


tinua falando sobre elas, até encerrar a parábola com uma adver-
tência em relação a elas. Portanto, quem era essa ovelha perdida a
que Jesus se refere em Mateus 18? As crianças, a quem ele chama
de pequeninos: “ ...esta criança; ...esses pequeninos”.

Jesus não estava falando para as crianças, mas sobre elas. Por-
tanto, a ênfase dessa parábola está no pastor. Ele começa a pa-
rábola dizendo que o Filho do homem veio para buscar e salvar o
que estava perdido. Por um lado, Jesus se coloca como o modelo
de pastor, por outro lado, ele está afirmando que as crianças estão
entre os perdidos e que ele veio também para salvá-las. Quando
Ele diz “...assim pois”, está dizendo: faça da mesma maneira!

A Igreja estava nascendo ali naqueles dias. Jesus precisava mos-


trar aos discípulos que, como pastores, eles deveriam cuidar de to-
dos, não apenas de uma parte do rebanho. Jesus não se referia aos
judeus que estavam dispersos, pois em nenhum outro lugar ele se
refere a eles como “os pequeninos”. Essa parábola, portanto, cabe
perfeitamente em nossos dias, para os pastores da nossa época.

O foco central dessa parábola é que o pastor era pastor de cem


ovelhas, não de noventa e nove, e parte de seu rebanho estava
desgarrado. O que aquele pastor fez? É o que vamos ver agora,
pois a atitude que ele teve é a mesma que os pastores da igreja
de hoje devem ter.

A Criança é Membro do Corpo

44
A visão que aquele pastor tinha dos fatos foi determinante
para sua atitude. Ele sabia que a centésima ovelha era sua, assim
como a responsabilidade de cuidar dela e também de buscá-la de
volta; ele sabia que o prazer de tê-la no rebanho seria dele, e que
os lucros que ela renderia também seriam dele. É assim que Jesus
descreve a atitude daquele pastor.

Hoje, o desafio para os pastores é o mesmo: ter para com as


crianças a mesma atitude que o pastor teve com a centésima ove-
lha. Por isso, vejamos passo a passo como o pastor agiu e que ati-
tudes são essas que fazem dele um pastor de cem ovelhas, não
de noventa e nove.

1. Enxergar as crianças como seu rebanho.


É interessante notarmos que, em nenhum momento da pará-
bola, Jesus deixou dúvida da segurança do pastor quanto à posse
da centésima ovelha – ele sabia que a ovelha era sua. Essa convic-
ção faz toda a diferença no desenrolar dos fatos, pois determina
a atitude do pastor em relação à ovelha. As crianças são aqui re-
presentadas pela centésima ovelha, ou seja, a minoria. Portanto,
assim como o pastor tinha convicção de que aquela ovelha lhe
pertencia, cabe ao pastor da igreja ter a mesma convicção em re-
lação às crianças e assumi-las como seu rebanho.

Na parábola, o pastor demonstra essa convicção de duas manei-


ras: (a) ele contou as ovelhas e (b) sentiu falta da que estava perdida.

a) O pastor contou as ovelhas.


O pastor só chegou à conclusão de que uma ovelha havia de-
saparecido porque ele contou seu rebanho e havia apenas noven-
ta e nove. Isso mostra que ele era um pastor zeloso, organizado.

O pastor da centésima ovelha

45
Este é um ponto interessante: muitos pastores não sabem
quantas crianças há em sua igreja porque não contam. Como elas
não são membros, não são contadas. É aceitável esse argumento,
mas não está totalmente correto, pois as crianças fazem parte do
rebanho que Deus confiou ao pastor. Portanto, cada pastor de-
veria contar até cem e não apenas até noventa e nove. Não estou
sugerindo incluir as crianças na contagem dos membros, apenas
contá-las, porque são ovelhas como as outras. O fato de não sa-
ber quantas crianças há na igreja demonstra que o pastor não as
vê como seu rebanho. Mas, qual pai não sabe quantos filhos tem,
ou se esquece de incluir o caçula na família?

b) O pastor sentiu falta da ovelha que se perdeu.


A falta foi percebida no momento da contagem. Naquela época,
talvez essa contagem fosse diária. Hoje talvez seja mensal, mas ela
deve acontecer em algum momento. Desde que começamos o mi-
nistério com crianças através das células, nós contamos as crianças
e juvenis até 12 anos. Contamos nas células, nos encontros de evan-
gelismo, nos cultos, nos batismos, nos cursos da igreja. Fazemos
isso porque cremos que elas fazem parte do rebanho que Deus
nos confiou e, se alguma se perder, nós saberemos. Se o número
de crianças diminuir no relatório da célula, vamos perceber e agir.

Muito mais do que contabilizar, a razão por que devemos contar


o rebanho é evitar a perda. Quando um líder de célula sai da lide-
rança, a primeira coisa que um pastor ou discipulador faz é provi-
denciar outra célula para as crianças, para não deixá-las dispersas.
Mas, isso só acontece porque elas são pastoreadas.

Dificilmente o pastor da igreja local perceberá se uma criança


parar de frequentar uma célula, mas um pastor de crianças perce-
berá, porque estará cuidando de seu rebanho. Isso mostra a impor-
tância de estabelecer pastores e líderes de crianças, porque eles
vão pastorear parte do rebanho, auxiliando seu pastor.

A Criança é Membro do Corpo

46
2. Incluir as crianças na vida normal da igreja.
É importante incluir as crianças na vida da igreja, para que elas
não se desviem. A verdade dessa parábola é que a ovelha perten-
cia àquele rebanho, ou seja, ela não era estranha. Por isso, creio
que antes de irmos atrás dos perdidos, temos que cuidar daqueles
que já estão no nosso meio. Na parábola, a responsabilidade de
cuidar da ovelha era do pastor, e se ela se desviou foi porque ele
não cuidou devidamente do que era seu.

Desviar significa “afastar-se da verdade”. Mas, por que alguém


se afasta da verdade? Quero citar apenas uma razão: porque ela é
“induzida ao erro”. Isso é muito comum, principalmente quando
se trata de novos convertidos ou daqueles que ainda são fracos na
fé. A infância não é tempo de ter convicções, e temos que admitir
que as crianças são vulneráveis em vários aspectos, por isso são
facilmente conduzidas ao erro. É por essa razão que não podemos
ter um trabalho na igreja apenas para entretenimento, mas que
vise consolidá-las no corpo. O tempo que temos com as crianças
é muito precioso, precisamos aproveitar para inculcar a Palavra
na mente e no coração delas.

Creio que aquela ovelha era pequena, porque dificilmente uma


ovelha maior se desviaria do rebanho, porque já são treinadas. Mas
uma ovelha pequena facilmente se perde. Você já percebeu como
as crianças se perdem com facilidade? Num piscar de olhos, elas
desaparecem da nossa vista. Não porque queiram, apenas porque
não têm consciência dos perigos à sua volta.

Na igreja, o risco de se desviar é real para todos, mas as crianças


têm um risco maior, porque elas não têm maturidade para fazer
escolhas – elas dependem das escolhas dos pais e dos líderes da
igreja. Se não for oferecido a elas o alimento espiritual adequado,
mais tarde elas podem crescer e se desviar. São muitos os exem-
plos de pessoas que crescem na igreja e depois abandonam Cristo,
ou seja, saem da comunhão do Corpo.

O pastor da centésima ovelha

47
Não gosto de falar sobre esse assunto enfocando o ponto de
vista dos pais negligentes, que certamente existem, pois isso acaba
gerando acusação naqueles que não foram negligentes e, ainda
assim, tiveram filhos que se desviaram. Abel e Caim eram filhos
dos mesmos pais e receberam as mesmas instruções, mas um foi
aprovado por Deus e o outro não. Assim também foi com Jacó e
Esaú, e tantos outros. Como não sabemos as escolhas que nossos
filhos farão, temos que fazer nossa parte como pais e pastores e
ensinar o caminho a eles desde pequenos.

Quero mencionar aqui duas maneiras práticas de um pastor in-


cluir as crianças na vida da igreja: (a) estar consciente das necessi-
dades espirituais das crianças; (b) estar consciente dos problemas
que impedem suas necessidades espirituais de serem supridas.

a) Estar consciente das necessidades espirituais


das crianças.
Em I Tessalonicenses 5.23 temos a afirmação de que o homem
é “espírito, alma e corpo”. Portanto, ele nasce assim e não adqui-
re nenhuma dessas partes depois do nascimento. As crianças têm
um espírito e, como todo ser humano, elas têm necessidades es-
pirituais. E o pastor deve ser o primeiro a estar consciente delas.
Primeiro, para instruir os pais; segundo, para providenciar o su-
primento dessas necessidades, pois é responsabilidade da igreja
participar desse processo na vida das crianças.

Para isso, não há necessidade de se criar uma estrutura nova,


apenas incluir as crianças na estrutura da igreja local. Como? Ofe-
recendo a elas tudo o que é oferecido para os adultos: células,
cultos, Encontros, material adequado, salas disponíveis, instru-
mentos para louvor, líderes capacitados, etc. Se for uma igreja em
células, abrindo células de crianças; se houver cultos para adultos,
realizando também cultos para as crianças, dando a elas a opor-
tunidade de adorar, ofertar, orar e receber oração; se tiver uma

A Criança é Membro do Corpo

48
equipe de louvor para o culto dos adultos, estender isso para as
crianças também. Assim, elas participarão da vida normal da igreja.

É parte da responsabilidade do pastor da igreja providenciar


isso. Pois as crianças devem crescer conhecendo a visão da igreja,
conhecendo o caminho para ser um líder, sabendo como exercer
seu sacerdócio dentro do Corpo de Cristo. Elas não precisam des-
cobrir isso depois que crescerem porque, até lá, elas podem per-
der o interesse. Certa vez uma garotinha me disse:

— Pastora Márcia, eu já sou anfitriã de célula.

— Que ótimo! – eu respondi. — Daqui a um tempo você será líder.

— Não, – ela respondeu – primeiro eu tenho que ser líder


em treinamento!

Na Videira, procuramos ensinar a todos a visão e o caminho


do vencedor, incluindo as crianças. O ministério com crianças não
pode ser um entretenimento de alguns que não têm nada para
fazer, ou um hobby da esposa do pastor, pois a falta de propó-
sito nesse tipo de trabalho compromete o resultado. As crianças
precisam conhecer a Deus e serem inseridas na vida da igreja de
maneira séria e com propósito.

O alvo principal do ministério com crianças deve ser levá-las a ter


uma experiência de novo nascimento ainda na infância. Na Videira,
nós realizamos encontros evangelísticos para crianças de 7 a 9 anos
e juvenis de 10 a 12 anos. Todas as crianças da igreja são estimuladas
a irem ao Encontro com Deus, mas também são evangelizadas nos
cultos e nas células. As células são um excelente lugar para evange-
lizar crianças e juvenis, principalmente aqueles cujos pais não são
crentes e, por esta razão, não vão aos cultos, mas vão às células.
Assim, podemos alcançar todos com a pregação do Evangelho.

Há algum tempo, uma garota de 12 anos foi ao Encontro de ju-


venis e teve uma experiência com Deus. Depois disso, ela se firmou

O pastor da centésima ovelha

49
na célula, mesmo não tendo ninguém convertido em sua família.
Assim que ela completou 13 anos, foi atropelada numa rodovia e
morreu. Porém, por causa de uma célula, o destino eterno dessa
garota foi completamente alterado. Assim como ela, existem mi-
lhares de outras crianças esperando ser encontradas. Elas depen-
dem completamente da igreja.

b) Estar consciente dos problemas que impedem suas


necessidades espirituais de serem supridas.
Na parábola, o pastor sabia dos riscos que envolviam a perda da-
quela ovelha, e esse era um problema que ele precisava solucionar.

Como todo ministério, o de crianças também tem problemas e


necessidades. Por isso, o pastor deve estar ciente desses proble-
mas e procurar alternativas para solucioná-los. Por exemplo: não
ter instrumentos para usar no louvor no culto das crianças; não
ter microfone para falar a elas; não ter material adequado para dar
aulas para crianças e juvenis. Quantas vezes, entra ano e sai ano,
e esses problemas nunca são solucionados porque os pastores
nem sabem que eles existem! Você saberia se seu filho estivesse
dormindo no chão? Certamente sim, porque você acompanha de
perto a vida dele.

Alguém precisa fazer esse acompanhamento com as crianças


na igreja, e cabe ao pastor definir quem é essa pessoa, pois ela
deve se reportar a ele. Com certeza, a melhor pessoa para cuidar
de um filho é a mãe. No caso das crianças da igreja, essa pessoa é
a esposa do pastor. É por isso que, quando a esposa do pastor as-
sume o ministério com crianças, esses problemas são rapidamente
resolvidos, porque ela tem acesso direto ao pastor e não depende
de funcionários ou de burocracia. Ela apenas resolve.

A Criança é Membro do Corpo

50
3. Inconformismo com a perda.
O inconformismo é uma atitude de alguém que quer virar o
jogo, que não entrega os pontos. A razão da falta de ministérios
grandes e fortes com crianças nas igrejas locais é que muitos pas-
tores são conformados. Mas, Deus é inconformado! Ele não se
conforma com a perda de nem um filho sequer, como o pastor da
parábola, cujo inconformismo é percebido no momento em que
ele decide ir buscar sua ovelha de volta. Hoje, seu inconformismo
se traduz em sua decisão em ir atrás e reverter o prejuízo, em não
aceitar a falta de resultados, em não conviver com a falta de reali-
dade espiritual. É preciso avaliar os fatos: Deus está movendo no
meio das crianças? Como? Onde?

Normalmente, os conformados têm a mesma retórica, são


cheios de argumentos lógicos que justificam a falta de frutos. Eu
já ouvi muitos deles, como: “Vocês têm um trabalho grande por-
que a igreja tem dinheiro; vocês têm muitas células porque aqui
tem líderes, na minha cidade não tem; vocês têm apoio, nós não
temos; as crianças aqui são disciplinadas, as da minha igreja não
são...”. Tudo isso não passa de argumentos infundados de pessoas
que não conhecem a realidade. A razão de estarmos alcançando
frutos é porque temos o mesmo coração inconformado de Deus.

O inconformismo tem o poder de mudar as circunstâncias, pois


ele muda o foco e as estruturas, como veremos a seguir.

a) O inconformismo muda o foco.


A partir do momento em que o pastor percebeu que a ovelha
tinha se extraviado, ele decidiu ir atrás dela. O foco do pastor pas-
sou a ser a centésima ovelha. Mas, por que o foco mudou? Por-
que as noventa e nove não se extraviaram, apenas a centésima, e
ela não conseguia voltar sozinha. Uma ovelha que não consegue
acompanhar o rebanho, certamente não vai encontrar sozinha o

O pastor da centésima ovelha

51
caminho de volta. Ela estava perdida! Você já ficou perdido algu-
ma vez, sem saber que direção tomar? Se isso já é difícil para um
adulto, imagine para uma criança?

Quando comecei a conhecer as estatísticas a respeito de aban-


dono infantil, aborto, violência, abuso sexual e tantas coisas hor-
ríveis que destroem a infância e comprometem o resto da vida de
uma criança, eu fiquei perplexa! Mas, ao mesmo tempo, isso me
motivou a me posicionar em favor delas diante de Deus e diante
do inferno. Eu fiquei inconformada com os resultados.

Agora, se isso gera em nós indignação, imagine no coração de


Deus! Porém, Deus já providenciou um meio de mudar essa reali-
dade, e a Igreja está aqui para destruir as obras do diabo e mani-
festar o reino de Deus. No capítulo 18 do evangelho de Mateus,
Jesus afirmou que Deus coloca anjos para cuidar das crianças:

Não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos


afirmo que os seus anjos nos céus veem incessantemente a
face de meu Pai celeste. (Mt 18.10)

Esse é o agir sobrenatural de Deus, mas Ele trabalha também


através de Sua Igreja, de maneira prática, estabelecendo pastores
e líderes de crianças para esse ministério. Certa vez, no meio de
um temporal, um marujo novato argumentou com o capitão sobre
o perigo de saírem num salvamento e não conseguirem retornar.
O capitão, então, lhe disse: “Filho, nós não temos que voltar, mas
temos que sair!”. Ao investir nas crianças, talvez não alcancemos
muitos, mas nós temos que tentar.

Em 2011, a população mundial alcançou os 7 bilhões de habitan-


tes, e metade dessa população está abaixo dos vinte e cinco anos
de idade. Isso significa que são bilhões de crianças e adolescentes
na face da terra, e grande parte deles está perdida como aquela
ovelha, sem direção. Sozinhos, eles não encontrarão uma saída

A Criança é Membro do Corpo

52
e, a menos que os pastores das igrejas se posicionem e invistam
na evangelização de crianças de maneira séria, eles perecerão.

Segundo o órgão brasileiro IHA (Índice de Homicídios na Ado-


lescência)) muito pré-adolescente que chegar à idade de 12 anos
não alcançará os 19 anos, porque será vítima de homicídio. Hoje,
no Brasil, os homicídios representam 46% das causas de morte dos
cidadãos brasileiros dessa faixa etária.

O diabo está ceifando a vida de milhares de jovens antes da


fase adulta, e se nós não os alcançarmos na infância, eles perece-
rão. Certa vez, uma mãe com dois filhos procurou uma de nossas
pastoras para testemunhar que seus filhos tiveram que deixar a
célula de crianças porque a família teve de se mudar para outro
bairro. Porém, como no novo bairro não havia nenhuma célula,
ela decidiu voltar para o lugar onde moravam antes porque seus
filhos precisavam da célula. Isso é foco! O foco muda a prioridade.

b) O inconformismo muda as estruturas.


A maneira como nos organizamos como igreja fala de estru-
tura. As células, por exemplo, são uma estrutura de igreja, e têm
nos permitido alcançar milhares de crianças em todo o Brasil. Mas,
quando a maneira como trabalhamos não produz resultados, é
necessário avaliar se vale a pena continuar.

A escolha do caminho mais fácil quase sempre se traduz na falta


de uma estrutura sólida do ministério com crianças. Que caminho
é esse? É permitir que a mentalidade do mundo defina nosso modo
de trabalhar. É, por exemplo, usar vídeos com filmes da Disney
nas salas das crianças, encher as salas de brinquedos educativos
e fazer do momento do culto uma hora de lazer. O pastor prega
tranquilo, os pais ficam iludidos e as crianças desnutridas.

As crianças precisam participar da mesma estrutura que os adul-


tos, tanto nas células como nos cultos. O prédio da igreja não é para

O pastor da centésima ovelha

53
lazer, não é brinquedoteca, é um lugar para adorarmos ao Senhor. As
crianças precisam associar culto com reverência, adoração, oração
e ensino da Palavra. Assim, elas crescerão aprendendo a discernir o
que é igreja. É preciso investir em uma estrutura que permita focar e
trabalhar onde Deus está movendo. Vinho novo exige odres novos.

Certa vez, eu estava dando aula no seminário e, ao compartilhar


sobre o trabalho com crianças, um aluno afirmou que nós temos
“um ministério grande com crianças porque a Videira tem dinheiro”.
Foi uma colocação infeliz atribuir o mérito de algo que Deus está fa-
zendo a uma conta bancária. Eu lhe disse que essa não era a razão,
mas, sim, o fato de termos pessoas com encargo, pois o que falta às
igrejas não é dinheiro, é amor! Ao falar com Pedro, Jesus lhe pergun-
tou apenas: “Tu me amas...? Então apascenta os meus cordeiros”.

Estrutura também fala de pessoas para realizarem o trabalho.


Na parábola, a proporção era de um pastor para cem ovelhas. Não
creio que esse número seja literal, mas ele significa algo: onde há
ovelhas, é necessário um pastor.
As crianças fazem parte do rebanho, logo, é importante que elas
tenham um pastor que cuide delas. No ministério infantil há muito
trabalho, e a criança exige maior cuidado, portanto, é necessário
mais pessoas para realizarem um trabalho bem feito.

4. Assumir a responsabilidade pelas crianças.


A responsabilidade da ovelha era do pastor, não do emprega-
do, do vizinho, ou de outra pessoa. Portanto, assumir a respon-
sabilidade significa:

a) Não delegar.
Na igreja, nós pastores temos que pôr em prática o princípio
de delegar, mas é bom esclarecer o que podemos ou não delegar.

A Criança é Membro do Corpo

54
Autoridade se delega, mas responsabilidade não. Os pais podem
delegar autoridade para alguém cuidar de seus filhos, mas, no final,
a responsabilidade é deles. Na igreja, o pastor delega autoridade
para outros pastores e líderes cuidarem do rebanho, mas, no fi-
nal, a responsabilidade do rebanho é dele. O pastor da parábola
não delegou a outro a responsabilidade de ir atrás da ovelha; ao
contrário, ele mesmo foi procurá-la.

O que o pastor poderia ter feito, mas não fez? Ele poderia ape-
nas ter gritado e chamado pela ovelha, para ver se, lá de longe,
ela ouviria. Ele também poderia ter culpado alguém pela perda.
Quem sabe, ter feito uma oração para que Deus fizesse um mila-
gre e ela aparecesse? Ou talvez ter tido uma atitude “espiritual”
de entregá-la nas mãos de Deus e ir embora com as outras; ou
ainda, simplesmente chorar a perda da ovelha. Mas, ele não fez
nada disso. O pastor fez o que tinha que ser feito: foi procurá-la.

Não delegar significa que o pastor é o primeiro a se colocar na


brecha em favor das crianças; é ele quem define o tipo de trabalho
a ser feito e quem estará à frente dele. Todo o nosso ministério
com crianças foi definido pelo Pr Aluízio. Ele decidiu começar as
células de crianças, realizar os Encontros para crianças, mantê-las
com os pais no culto da ceia e outras coisas mais. Isso é assumir a
responsabilidade pelo trabalho.

Certa vez, enquanto Aluízio pregava, perguntei a um garoto


de dez anos que estava sentado ao meu lado se ele não queria ir
para a sala da sua idade, e ele me respondeu: “Não, eu quero ficar
aqui. Eu acho esse padre engraçado!”. É notório que as crianças
gostam de ouvir Aluízio pregar, e isso é um bom sinal, pois ele é
o pastor delas.

Penso que as crianças também gostavam de ouvir Jesus falar.


Na passagem que lemos do capítulo 18 do evangelho de Mateus,
vemos que Jesus tomou uma criança que estava no meio deles, o

O pastor da centésima ovelha

55
que nos mostra que elas estavam sempre por perto para ouvi-lo falar
– não porque eram obrigadas, mas porque ele as atraía para perto.

O pastor deve atrair as crianças e não evitá-las. Não é bom quan-


do o pastor retira as crianças do culto todos os domingos, pois isso
transmite a elas uma mensagem de que o pastor não está aberto
para se relacionar com elas. É bom lembrar que um dos poucos
textos que mostra Jesus indignado foi quando tentaram impedir
as crianças de chegarem perto dele. Creio que o melhor é que, ao
menos no culto da ceia, as famílias participem juntas, pais e filhos,
pastores e todo o seu rebanho, incluindo as crianças.

b) Deixar as noventa e nove.


Assumir a responsabilidade implica em deixar as noventa e
nove. É interessante que Jesus faz outra pergunta aos discípulos,
mas tendo por trás uma sugestão de como eles deveriam agir
nessa circunstância:

...não deixará ele nos montes as noventa e nove, indo pro-


curar a que se extraviou? (Mt 18.12)

Jesus estava sugerindo que essa é a maneira mais sensata de


um pastor agir. O pastor deixou as 99 ovelhas nos montes, isto
é, num lugar seguro, o que mostra que ele não era irresponsável.

Veja, não é irresponsabilidade do pastor deixar de fazer algo


para investir no cuidado com as crianças. Em algum momento, elas
devem ter prioridade, mas, se nunca tiverem, significa que algo
precisa ser ajustado. O normal nas igrejas é deixar as crianças e
priorizar os adultos. Mas, aqui, vemos o contrário.

O grupo das noventa e nove representa aquele grupo mais


responsável, que sabe se cuidar; eram ovelhas que conheciam os
perigos, eram mais espertas, ficavam perto umas das outras e do
pastor. Por isso, o pastor as deixou nos montes, pois ele sabia que

A Criança é Membro do Corpo

56
elas permaneceriam lá até que ele voltasse. Essas são caracterís-
ticas dos adultos: aqueles que já têm vida própria, sabem seguir
orientações do pastor e não precisam ser conduzidos como crian-
ças. E esse grupo inclui as mulheres.

Quando assumi o ministério com crianças, tive que mudar as


prioridades e reestruturar meu discipulado. As mulheres que se
dispusessem a se comprometer comigo teriam primazia, pois an-
dariam ao meu lado, e as outras teriam apenas um acompanha-
mento à distância. Isso fez com que o grupo reduzisse bastante,
pois este é o preço de deixar as noventa e nove: você tem que ir
atrás da ovelha perdida sozinho.

Certa vez, uma esposa de pastor me procurou perguntando o


que fazer, pois queria ser minha discípula, mas não queria traba-
lhar com crianças. Então, lhe respondi com outra pergunta: “Como
você quer ser minha discípula e não quer fazer o que eu faço?”.
O preço do discipulado daqueles que lideram crianças é deixar as
noventa e nove; não tem como conciliar.

Muitas vezes, fui cobrada e criticada porque não tínhamos um


ministério com mulheres, nos moldes tradicionais. Certa vez, alguém
me perguntou por que nós não investíamos em mulheres, e eu res-
pondi: “Nós investimos muito, pois investimos em mulheres a par-
tir dos três anos!”. No ministério Radicais Kids, o discipulado é com
mulheres, desde as esposas de pastores até as esposas de líderes,
pois são elas que lideram tudo, mas os membros das células são
crianças e juvenis. Nós, de fato, cremos que Deus nos chamou para
sermos mães. Essa é a nossa missão. Não estou preocupada com
o nome do ministério, apenas obedeço a Deus e faço o que Ele me
mandou fazer: discipular mulheres, levantar pastoras, treinar líderes
e preparar uma geração de crianças como profetas e intercessores.

Se os pastores não tiverem coragem de deixar as noventa e


nove ovelhas, a centésima nunca será encontrada. Eu tive que

O pastor da centésima ovelha

57
deixar as noventa e nove e decidir ir atrás da que se perdeu, pois
ela não conseguiria encontrar o rebanho sozinho.

Louvo a Deus por meu marido, porque ele foi o primeiro a me


liberar e me estabelecer à frente desse ministério. Mas, quantos
pastores seguram a esposa nos púlpitos, em casa, ou numa admi-
nistração de igreja, alegando que precisam delas a seu lado, ou
as mantêm em empregos mais rentáveis? E quantas esposas de
pastores se escondem atrás do marido porque não têm interes-
se nas crianças? As igrejas estão cheias de pastores de noventa e
nove ovelhas, porque ainda não entenderam que a centésima é
responsabilidade deles também.

Para ganharmos essa geração de crianças, vamos precisar de


pastores que saiam de cima do muro e tenham coragem de dei-
xar as noventa e nove ovelhas e ir atrás da centésima. Você pre-
cisa decidir: você é pastor de cem ou de noventa e nove ovelhas?

c) Procurar até encontrar.


O pastor não saiu à procura da ovelha apenas para fazer uma
tentativa. Ele saiu decidido a procurar até encontrá-la.

Assumir a responsabilidade é ir até o fim. É procurar alternati-


vas para o trabalho acontecer. O pastor não sabia onde a ovelha
estava; ele precisava procurar. E a procura é um trabalho desgas-
tante, cansativo, que exige esforço.

Procurar até encontrar significa procurar até obter resultados.


Para isso, é preciso investir tempo, perseverar, procurar alternati-
vas até os resultados aparecerem. Mas, acredite, eles virão! Mais
cedo ou mais tarde, eles virão!

Lembro-me de uma vez, logo no início do nosso trabalho, em


que uma irmã voltou irritada da sala dos juvenis, me entregou o
material e disse: “Tome! Quando esse trabalho estiver organizado,

A Criança é Membro do Corpo

58
você me chama”. Ela não entendeu, mas eu precisava exatamen-
te de pessoas para me ajudar a organizar. Outras vezes, me per-
guntavam por que eu não largava esse “abacaxi” e passava para
outro. É em momentos assim que muitos desistem de procurar e
abrem mão dos frutos.

Jesus disse: “E, se porventura a encontra...” Isso mostra que


havia a probabilidade de o pastor não encontrar a ovelha e ela se
perder. Aquela ovelha da parábola estava totalmente vulnerável
aos perigos. Ela dependia completamente da perseverança daque-
le pastor, pois um lobo poderia encontrá-la antes que ele a encon-
trasse. Imagino que aquele pastor tenha se cansado ao longo da
procura, mas ele não desistiu, pois sabia que, se não a encontrasse,
a responsabilidade por ela perecer seria dele.

Infelizmente, muitos líderes de crianças desistem, abandonam


as células e param no meio do caminho. O trabalho do pastor da
igreja é motivar esses líderes a perseverar na liderança. Quando o
pastor valoriza os líderes de crianças, eles se motivam a continuar.

É bom lembrar que Deus revela Seus tesouros àqueles que


permanecem. Porque muitos creram comigo, nós ultrapassamos
as mil células de crianças e, hoje, somos um ministério internacio-
nal. Não por méritos próprios, mas porque Deus escolhe as coisas
humildes para envergonhar aqueles que julgam ter alguma coisa.

5. O pastor se alegra com os frutos.


Ninguém se alegraria mais do que o pastor quando a ovelha
fosse encontrada, porque foi ele quem se sacrificou por ela. O
prazer de tê-la no rebanho era dele.

...maior prazer sentirá por causa desta do que pelas noventa


e nove que não se extraviaram. (Mt 18.13)

O pastor da centésima ovelha

59
Prazer significa alegria, mas também sucesso. O sucesso se
traduz em alegria. O pastor é o primeiro a se alegrar, pois ele é
também o primeiro a investir. O ministério com crianças tem sido
motivo de alegria para muitos, pois famílias inteiras têm sido al-
cançadas através das crianças. Pais, familiares, amigos... Muitos
desses são, hoje, líderes, discipuladores, e até pastores, alcança-
dos através das células de crianças.

Os pastores não deveriam trabalhar apenas para o sucesso de


suas células ou de seu ministério dentro da igreja, pois não traba-
lhamos visando ao sucesso ministerial, mas trabalhamos para o
reino. E nenhum pastor ou líder de um ministério deveria ficar com
receio de perder líderes para outro pastor, o que é muito comum
nas igrejas, pois quando um ganha, todos ganham.

De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com


ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam.
(1Co 12.26)

Certa vez, um pastor fez um comentário infeliz enquanto ce-


lebrávamos a multiplicação de nossas células de crianças dizendo
que é fácil abrir células de crianças sem ter que suar a camisa, pois
as células que se multiplicaram eram paralelas às células de adul-
tos. Ele não considerou a multiplicação como sucesso, mas, para
que elas existissem, alguém investiu nelas.

Precisamos aprender a celebrar o sucesso dos outros, porque,


quando a Igreja cresce, o reino de Deus ganha. E quanto mais você
investir no reino, mais Deus lhe acrescentará.

Sucesso também se traduz em galardão. Os frutos garantem um


galardão a todos os que investem neles. Lembro-me de quando ul-
trapassamos as mil células de crianças. Toda a igreja estava reunida
num ginásio de esportes e o telão mostrava o número de células de
cada rede: jovens adultos e crianças. Quando vimos “1040 células

A Criança é Membro do Corpo

60
de crianças”, todos nós ficamos surpresos. Quem imaginava que
daria nisso? Mas, aquilo que o homem não viu, Deus viu.

Por que o pastor sentiu maior prazer na pequena ovelha do


que nas outras noventa e nove? Porque ela era especial! Ela era
totalmente dependente do pastor.

Amados, no final, o que conta não é nosso prazer, mas aquilo


que dá prazer ao coração de Deus.

O pastor da centésima ovelha

61
Capítulo 5

O coração
do pai

A
proximavam-se de Jesus todos os
publicanos e pecadores para o
ouvir. E murmuravam os fariseus e os es-
cribas, dizendo: Este recebe pecadores e
come com eles. Então, lhes propôs Jesus esta parábola:

Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao


pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes re-
partiu os haveres; o filho mais moço, ajuntando tudo o que
era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos
os seus bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consu-
mido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele se
agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou
guardar porcos. Ali, desejava ele fartar-se das alfarrobas
que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada. Então,
caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm
pão com fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei,
e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu
e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho;

O coração do pai

63
trata-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-
-se, foi para seu pai.

Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compade-


cido dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o filho lhe disse:
Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de
ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos:
Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel
no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novi-
lho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu
filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E
começaram a regozijar-se.

Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando vol-


tava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo.E ele
informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho
cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou e não
queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo.

Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo


sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste
um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos; vin-
do, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com
meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado.

Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás co-


migo; tudo o que é meu é teu. Entretanto, era preciso que
nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu
irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.
(Lc 15.1-32)

Jesus conta essa parábola com uma intenção: revelar o cora-


ção do Pai. Embora ela seja conhecida como a parábola do filho
pródigo, seu ponto central é, na verdade, o pai. Nenhum dos que
a ouviam conheciam Deus como pai: nem os fariseus, nem os pu-
blicanos e nem mesmo os discípulos. Penso que essa revelação

A Criança é Membro do Corpo

64
é a mais preciosa de nossa vida, pois, somente depois de tê-la é
que podemos nos relacionar com Deus como nosso pai. A maneira
como nós O vemos define a maneira como vamos nos relacionar
com Ele, e também como vamos expressá-lo.

Eu nasci e cresci numa igreja legalista. O próprio tema traduz a


prática, pois a palavra “legalista” deriva de “lei”. É uma estrutura
que enfatiza a lei, mas não tem revelação da graça. Somente de-
pois de muitos anos, pude experimentar a graça de Deus em minha
vida e desenvolver um relacionamento íntimo com Ele. Portanto,
sei como as crianças têm carência de conhecer a Deus como pai,
e cabe a nós, pastores, pais e líderes revelar isso a elas.

Independentemente da experiência que tivemos com nossos


pais, temos a Bíblia que nos mostra claramente os traços da pa-
ternidade de Deus, desde o princípio da criação até o Novo Testa-
mento. E nessa parábola, Jesus desvenda o coração do Pai.

Creio que o alvo de Deus não é apenas nos levar a nos relacio-
narmos com Ele como pai, mas também nos usar para revelar a
outros Seu coração. À medida que nos relacionamos com Deus,
desenvolvemos esse coração paternal em relação a nossos filhos
espirituais. Isso não é algo que se aprende em um manual, mas no
relacionamento pessoal com o Pai.

Normalmente, os líderes de crianças são treinados para ensinar,


mas discipular é mais do que ensinar. O professor apenas instrui,
mas quem discipula ama. Foi o que Jesus fez com seus discípulos,
ou o que Paulo fez com Timóteo – eles transmitiram sua própria
vida através de um relacionamento.

Em relação às crianças na igreja, não nos colocamos como seus


discipuladores, os pais sim, mas podemos ir um pouco além em
nosso ministério. Creio que, como pastores e líderes, podemos nos
relacionar com as crianças considerando-as como filhas. Por outro
lado, penso que os pais também podem ir além, enxergando seus

O coração do pai

65
filhos como seus discípulos, e exercer o papel de discipuladores.
Isso é o que Deus chama de converter o coração dos pais aos fi-
lhos e o dos filhos aos pais.

Para falar sobre o coração do Pai, quero comentar três aspec-


tos que observamos no perfil desse pai mostrado na parábola: o
amor, a graça e a honra. Os três aspectos podem ser aplicados
num relacionamento de discipulado de pai para filho, de pastores
e membros. Contudo, manterei o foco no relacionamento com o
rebanho de crianças, para que não haja dúvida em como proceder
em relação a elas.

1. O amor – O pai ama porque é filho.


O primeiro aspecto do caráter de Deus que nos é revelado é
Seu amor. Deus não apenas ama, mas Ele faz questão de provar
que nos ama.

Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que Ele deu o


Seu filho... (Jo 3.16)

Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato
de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
(Rm 5.8)

Deus sabe que o amor é um ingrediente importante para o


nosso crescimento, por isso Ele quer desenvolver conosco um re-
lacionamento de amor e nos ensinar a fazer o mesmo em relação
aos nossos discípulos e ao nosso rebanho.

É interessante perceber que, no grupo que ouvia Jesus, nin-


guém conhecia a Deus como pai, nem mesmo os discípulos, e eles
também precisavam dessa revelação, porque tinham sido chama-
dos para cuidar do rebanho de Jesus. Eles precisavam aprender a
ser pais, assim como nós também precisamos hoje.

A Criança é Membro do Corpo

66
Há alguns aspectos importantes que nos mostram como Jesus
demonstrou o amor do Pai, ou seja, a maneira como Ele se rela-
ciona com Seus filhos.

a) Quem ama se relaciona com respeito.


Embora não concordasse com a decisão do filho, o pai o tra-
tou com respeito. Deus respeita a individualidade de cada filho e,
embora às vezes tomemos decisões erradas, Ele não desiste de
nós. O princípio do respeito é vital para manter o relacionamento.

No caso do ministério com crianças, o respeito é demonstrado


quando respeitamos as necessidades espirituais delas e procura-
mos supri-las. Um bom pai não dá apenas o que a criança quer,
mas o que ela precisa. O respeito em relação à criança não pode
se traduzir em dar a ela o que ela pede, mas o que ela precisa. Se
seu filho pedir sorvete todos os dias na hora do almoço, por amor
a ele você não fará o que ele quer, mas lhe dará uma comida que
o sustente. Na igreja, não damos às crianças apenas o que elas
gostam, como lazer, brinquedos, DVDs, atividades etc. Mas, por
amor a elas, lhes damos o ensino da Palavra.

Mas há outras maneiras de demonstrarmos amor e respeito


pelas crianças: quando o líder se prepara para ministrar; quando o
pastor estabelece pessoas comprometidas com Deus para estarem
à frente desse ministério; quando o pai não busca apenas o próprio
interesse, mas também o do filho, levando-o para a igreja, pois o
amor “não procura os seus interesses”. O amor não dá o que sobra.

Algumas vezes, já corrigi práticas erradas nos líderes para im-


pedir que dessem mau testemunho aos outros líderes ou que o
erro refletisse na vida das crianças, como por exemplo, ministrar
de última hora. Nos cultos de domingo, temos como padrão orar
antes do culto. Toda a equipe que trabalha com crianças, des-
de o berçário até os juvenis, deve chegar mais cedo para orar, e

O coração do pai

67
somente depois preparar o material e o ambiente para receber as
crianças. Se um líder chega apenas na hora de receber as crianças,
é dispensado da escala, porque acreditamos que quem não ora
não pode ministrar.

Fazendo assim, vamos reproduzir líderes comprometidos que


sejam modelos de liderança para as crianças. Com certeza, elas vão
crescer e vão levar consigo esse padrão de liderança.

b) Quem ama espera o outro crescer.


No capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios, encontramos a
definição de amor mais linda que existe, e também a mais difícil.
Paulo diz que “o amor... tudo suporta, tudo crê, tudo espera!”, ou
seja, o amor se expressa com paciência, fé e esperança.

Esta foi a atitude do pai na parábola, ele suportou com paciên-


cia a imaturidade do filho, creu na mudança e esperou sua volta. É
assim que temos de nos relacionar com as crianças. Porque você
ama, você será paciente com elas.

Os pais não amam os filhos por causa da aparência, do desem-


penho, de seus dons e talentos, ou porque têm um bom tempe-
ramento, e sim porque são seus filhos. Você não ama mais seu
filho porque ele tirou dez na prova, ou o ama menos porque ele
foi reprovado na escola. Não é o desempenho dele que determina
o quanto você o ama, ou o fato de ser bonito, ou porque ele se
sobressai no futebol ou no balé. Os pais amam os filhos simples-
mente porque eles são filhos.

O amor paciente é testado na hora do conflito. O amor do pai


foi testado na hora em que o filho pediu a herança, mas, por se
tratar do filho, o pai foi paciente com ele. A maneira como lidamos
com nosso discípulo na hora dos conflitos demonstra se ele é filho
ou não. Por exemplo, quando um filho bate o carro do pai, é o pai
quem paga pelo conserto, mas se o vizinho bater, ele mesmo fará

A Criança é Membro do Corpo

68
a restituição. Lidamos com as pessoas de maneiras diferentes, de
acordo com o tipo de relacionamento que temos.

Para trabalharmos com as crianças, precisamos vê-las como


filhas e ser pacientes, porque o resultado não é instantâneo. Mas
não basta suportar com paciência, pois o amor também tudo crê.
Alguém que ama age por fé, porque crê que, em algum momento,
a semente dará fruto. Trabalhar com crianças na igreja é agir por
fé, é esperar o fruto no longo prazo. Talvez nem vejamos o fruto,
mas precisamos crer que ele virá.

Quando comecei a trabalhar com crianças, muitos me disseram


que não precisava esperar resultados, porque os frutos só seriam
vistos no futuro. Obviamente, isso não me motivou nem um pou-
co! Imagine dizer aos jogadores de um campeonato que eles vão
jogar, mas não ganharão nada; talvez um dia, eles tenham sorte e
ganhem um campeonato qualquer. Com qual motivação esse time
vai jogar? Nenhuma! Foi assim que me senti. Então, orei e disse ao
Senhor que, ainda que não visse os frutos, eu permaneceria, mas
meu desejo era ver os frutos do meu trabalho, isto é, ver crianças
convertidas, cheias do Espírito Santo, comprometidas na célula,
testemunhando de Jesus e tudo aquilo que a Bíblia diz que pode-
mos ter. E, desde então, os frutos começaram a aparecer e é isso
o que temos visto.

Mas o amor também se expressa com esperança, porque o


amor tudo espera. Mesmo depois que o filho já tinha partido para
longe, o pai esperou por sua volta. A perda do filho despertou nele
a esperança. Deus é um pai que tem esperança em relação a seus
filhos, porque Ele nos ama. Ele nos espera crescer, orar e pedir;
Ele espera que cada um caia em si e volte para Ele. Em nosso mi-
nistério, temos que aprender a esperar em Deus.

Algumas mães, quando deixam seus filhos na escola pela pri-


meira vez, pensam que eles vão chorar. Porém, às vezes, não são
eles que choram, mas elas. Eu me lembro de quando viajei com

O coração do pai

69
Aluízio pela primeira vez depois que tivemos nossas filhas. Elas fi-
caram com minha mãe, mas assim que cheguei lá, liguei para casa
e, depois de desligar o telefone, eu chorei, e só não voltei porque
ele não deixou. Que sentimento é esse que nos leva a agir assim
em relação aos filhos? Uma pequena separação deles gera uma
enorme sensação de perda.

Imagine o que aquele pai sentiu! Ele não tinha outra escolha
a não ser esperar, porque ele amava o filho. Quantos de nós já
perderam seu filho por alguns instantes e quase entraram em de-
sespero? Dificilmente ficaríamos conformados. Aquele pai não se
conformou com a perda do filho, e mantinha os olhos na estrada.
Até que, um dia, o pai o avistou. Antes mesmo que o filho enxer-
gasse o pai, ele o avistou:

“...Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou...”


(Lc 15.20a)

Antes de as crianças nos verem como pais, nós temos de enxer-


gá-las como filhas. Essa atitude de esperança nos fala de ter boas
expectativas em relação às crianças, de crer na unção de Deus para
ministrar a elas, crer no crescimento, na multiplicação, de ter boas
expectativas em relação aos resultados, de ver antes de acontecer.

c) Quem ama se compadece


É interessante observar que o pai da parábola se compadeceu
antes de ouvir o que o filho tinha a dizer:

...quando seu pai o avistou, compadecido dele, correndo, o


abraçou, e beijou. (Lc 15.20b)

Compaixão é sinal de fraqueza, não no sentido negativo da pa-


lavra, mas de se importar com os sofrimentos do outro. Quando
vemos um filho mal, enfraquecemos, mostramos nossa fraqueza

A Criança é Membro do Corpo

70
de pais. E, como o pai se compadeceu? Ele correu ao encontro do
filho. É a compaixão que nos move no ministério com crianças.

Quem tem o coração do Pai não se move porque alguém manda


fazer alguma coisa, mas porque ama. Eu jamais investi em crianças
buscando reconhecimento pessoal ou alguma outra coisa para
mim; sempre investi por causa delas, porque me compadecia de-
las. Em várias situações, às vezes cansada, debaixo de pressões,
eu saí de casa e fui pregar para as crianças nos Encontros, nos cul-
tos, em programações realizadas para elas, pois eu pensava nelas,
não em mim. É a compaixão que nos faz perseverar no ministério.

Ter compaixão é sentir a dor do outro. Certa vez, na Escola Vi-


deira, uma aluna foi diagnosticada com meningite. Toda a escola
orou e jejuou por ela. Nossa diretora foi ao hospital orar por ela e
ungi-la com óleo, e as crianças da sala dela jejuaram uma semana
até que ela saísse do hospital. O prognóstico dos médicos não era
bom, mas ela recebeu alta em uma semana, sem nenhuma sequela.
Quem faz isso para quem não é filho? Apenas quem ama.

No ministério com crianças, precisamos ter compaixão do sofri-


mento delas, e em muitas situações, isso vai exigir nosso esforço.

Por isso, também me esforço por ter sempre consciência


pura diante de Deus e dos homens. (At 24.16)

A palavra “esforço”, no original, significa “lutar, chegar à dor”.


Você tem consciência limpa quanto às suas atitudes em relação
às crianças?

d) Quem ama abre mão da reputação.


Isto é algo que quem trabalha com crianças precisa fazer: abrir
mão da reputação, porque aos olhos das pessoas, não há muito re-
conhecimento. Assumo meu ministério e falo isso com um coração

O coração do pai

71
limpo, pois não dependo e nunca dependi da opinião das pessoas
para obedecer a Deus e trabalhar com crianças.

Mas é fato que, em muitas ocasiões em que viajei com meu


esposo, quando algumas pessoas perguntavam o que eu fazia e
eu dizia que era pastora de crianças, o assunto encerrava por aí,
porque as pessoas não tinham interesse nele. Eu apenas observa-
va, mas nem todos conseguem lidar com isso.

O pai do filho pródigo sabia que, segundo as tradições judai-


cas, o que o filho havia feito era irreparável, e ele não poderia ser
aceito de volta, pois havia desonrado o pai. Para os fariseus que
estavam ouvindo Jesus, uma pessoa que trabalhava com porcos
era considerada imunda, e o que o pai fez era um absurdo. Aos
olhos de todos, sua atitude era reprovável, mas o pai abriu mão
da reputação e correu em direção ao filho. E o que ele fez? Deu
uma bronca no filho? Não! “...e, compadecido dele, correndo, o
abraçou, e beijou”.

Certamente, a atitude do pai constrangeu até o filho que, àque-


la altura, já devia estar com o discurso pronto, mas aquele abraço
o silenciou. Era amor demais para ser verdade. O abraço mostrou
aceitação! O filho estava disposto a manter um relacionamento à
distância, como um empregado, mas o pai queria mais, ele queria
intimidade. O amor do pai constrangeu o filho.

No Encontro para crianças, fazemos o “jantar do rei”. Prepara-


mos as mesas com velas, fazemos um cardápio especial, elas são
recepcionadas com honra e recebem uma coroa, e os líderes ser-
vem o jantar às crianças nas mesas. Certa vez, uma criança ficou
tão surpresa que disse: “Nossa! Isso é para mim? Por que vocês
estão fazendo isso?”. Ela simplesmente não entendia, talvez por-
que se sentisse indigna, como aquele filho se sentia em relação
ao amor do pai.

A Criança é Membro do Corpo

72
A nobreza do pai reconquistou o coração do filho. As crianças
não têm, aparentemente, nada que justifique o investimento que
fazemos nelas; elas são indignas porque não fazem nada para
merecer, e também não podem retribuir. É um investimento de
amor. Mas quando agimos assim com elas, nós as conquistamos
para Deus.

Se olharmos a aparência, jamais investiremos em crianças. Se


o pai olhasse a aparência do filho, ele jamais tocaria nele. Eu du-
vido muito que aquele filho tenha tomado um banho e trocado a
roupa antes de voltar para casa. Mas, ainda assim, o pai o abraçou
e o beijou. Esse é o coração do pai, do pai que abraça filhos que
cheiram a porcos!

É esse amor de pai que atrai os filhos para um relacionamento.


E é através do relacionamento que eles serão influenciados, por
isso, precisamos mantê-los perto de nós.

2. Graça – O pai é aquele que revela a graça


ao filho.
O pai mostrado na parábola, além de ser amoroso é também
gracioso. A graça é quando alguém merece ser castigado, mas é
livre do castigo e ainda recebe um presente. Digamos que seu fi-
lho pegue seu carro e bata. Quando você descobre, conversa com
ele e o perdoa. Isso é amor. Então, você vai além e decide com-
prar um carro e lhe dar de presente. Isso é graça. A graça é para
quem não merece.

O filho confiava na bondade do pai, pois ele sabia que o pai era
bom até com os empregados. Mas, ele não sabia nada sobre graça.
Ele esperava ser recebido como empregado, jamais com festa. Suas
palavras diante de seu pai revelam o que estava em seu coração:
“... não sou digno de ser chamado seu filho...” Mas, antes que ele
terminasse, o pai definiu como ele seria tratado:

O coração do pai

73
O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor
roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos
pés; trazei também e matai o novilho cevado... (Lc 15.22,23)

Se o pai não fosse gracioso, ele certamente o trataria como a


um empregado, o que, naquelas condições, já estava bom demais.
Ele lhe daria um prato de comida, um quartinho nos fundos e um
salário. Mas não, ele mandou preparar a melhor roupa, a melhor
comida e deu uma festa. Todos ficaram chocados com o que o pai
fez, até seu próprio irmão. O pai mostrou a diferença entre dono
e empregado, ele deu ordens aos empregados para tratá-lo como
“dono da casa.” Isso é a abundante graça:

Mas, onde abundou o pecado, superabundou a graça.


(Rm 5.20)

Certa vez, ao ver nosso material para crianças, um irmão per-


guntou por que fazíamos um material com tanta qualidade, e por
que não fazíamos algo mais simples e mais barato. Ou seja, em
outras palavras, ele estava perguntando para que tanta graça com
quem nem merece? Foi isso o que o irmão do filho pródigo pensou.

Como temos necessidade de conhecer a Deus como um Pai


gracioso! Não há nada que nos constranja mais do que a graça
de Deus. Creio que Deus deseja que sejamos pessoas aptas para
ministrar Sua graça a outros. Porém, antes de mostrar aos outros
o que é graça, temos que experimentá-la em nossa vida. Existe
uma maneira bem simples e prática de experimentarmos a graça
de Deus a nós: enxergando a liderança como uma graça que nos
é concedida por Deus.

a) Enxergar a liderança como graça de Deus.


Além de Deus nos conceder a graça de sermos feitos seus fi-
lhos, Ele nos dá a graça de fazermos Sua obra.

A Criança é Membro do Corpo

74
A salvação é expressão da graça de Deus por nós, mas, realizar
sua obra também é. Muitos veem a liderança na igreja como uma
obrigação, alguns até como fardo, porque não discernem o que é
a graça. Vejamos como Paulo enxergava a graça de Deus:

...tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos


foi dada. (Rm 12.6 – grifos nossos)

E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos


exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus. (2Co
6.1 – grifos nossos)

A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça


de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas
de Cristo. (Ef 3.8 – grifos nossos)

Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e


não somente de crerdes nele. (Fp 1.29 – grifos nossos)

Veja, a graça está associada a muitas coisas: aos dons, a ser-


mos cooperadores de Deus, a pregar e padecer por Cristo. Portan-
to, a graça está associada não apenas às bênçãos, mas também
a fazer a obra de Deus. Nas cartas de Paulo, é comum lermos a
seguinte expressão:

A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a co-


munhão do Espírito Santo sejam com todos vós. (2Co 13.14)

Jesus era a expressão do amor e da graça de Deus por nós. Ele


sabia que, através dele, a graça chegaria até nós. Seu ministério era
para revelar a graça do Pai, expressada na obra redentora da cruz.

Quando fazemos a obra de Deus com esse entendimento,


somos capazes de expressar aos outros a graça do Senhor. Mas
quando fazemos com uma atitude de murmuração interior, como
que obrigados, nossa obra não tem valor algum. Só tem valor para

O coração do pai

75
Deus aquilo que é fruto de dependência dEle, aquela obra que
Deus mesmo realiza através de nós. Liderar é graça de Deus a nós,
mas temos que enxergar a liderança do ponto de vista de Deus.

Nesses anos de igreja, aprendi muitas coisas vendo a atitude


das pessoas. Algumas dignas de imitação, outras não. Já vi e ouvi
muitas pessoas na posição de liderança desprezarem o serviço na
casa de Deus por não enxergá-lo como privilégio. Já ouvi esposas
de pastores difamando o ministério do marido porque se sentiam
lesadas, vi líderes amargurados porque não tiveram o reconheci-
mento que esperavam, pastores frustrados e cansados de fazer
a obra de Deus. Tudo isso é como um filme que se repete várias
vezes, porque as pessoas não enxergam a obra de Deus como um
privilégio que nos é concedido por Ele.

Na parábola, quando o filho mais moço saiu de casa, ele des-


prezou o trabalho do pai e foi em busca de algo melhor. Tudo
porque ele não enxergava o privilégio à sua frente. Louvo a Deus
porque Ele se revelou a mim e, hoje, me sinto privilegiada por ter
um ministério com crianças. Porém, não foi sempre assim. Preci-
sei ser liberta da herança de uma mentalidade legalista que me
impedia de ver o ministério com crianças como privilégio. Deus
operou uma obra completa em minha vida porque Ele queria me
usar para se revelar às crianças. Quando ouvi o chamado de Deus
para trabalhar com crianças, cheguei a pensar que era castigo de
Deus, que era uma forma de Deus me punir, me disciplinar. Mas,
Deus é tão bom e paciente que, um dia, quando eu estava orando,
Ele me disse: “Márcia, eu te dei a melhor parte do meu rebanho!”.

Essa palavra mudou minha maneira de enxergar o trabalho


com as crianças, porque vi a graça de Deus para comigo. Como
Ele poderia me dar a melhor parte? Eu não havia feito nada para
merecer essa graça! Então, a partir daquele dia, passei a enxergar
meu ministério como um privilégio. Por isso, posso afirmar que o
ministério com crianças é expressão da graça de Deus para conos-
co. E as crianças são, de fato, a melhor parte, porque são a terra

A Criança é Membro do Corpo

76
boa, a terra mais fértil, ou seja, o coração que crê e recebe a Pa-
lavra com mais facilidade. Portanto, não despreze seu chamado,
porque ele é expressão da graça de Deus para com você.

Sem enxergar sua liderança como graça de Deus em sua vida,


você não poderá ser usado por Ele. Lembre-se de que o filho só
pôde desfrutar da verdadeira herança depois que experimentou
a graça do pai. Ele descobriu que, mais precioso do que os bens
que ele gastou, era o relacionamento com o pai.

Deus quer se relacionar com as crianças. Ele quer se revelar a elas.


Mas, para isso, é preciso mudar a mentalidade maligna dos líderes
de crianças de que esse ministério é um fardo. Não permita que o
diabo roube seu ministério com essa mentira. Em minha infância,
eu não tive o privilégio de ter líderes que me mostrassem isso, mas
hoje podemos agir de forma diferente com o rebanho que Deus
nos deu: podemos enxergar as crianças como herdeiros espirituais.

b) Enxergar as crianças como herdeiros.


Jesus não chamou seus discípulos para serem apóstolos de Sua
Igreja porque eles fizeram por merecer. O que Ele fez foi conceder-
-lhes a graça de serem apóstolos.

Pela tradição da época, apenas os jovens, ou até alguns ado-


lescentes, eram chamados para seguir um mestre. Na tradição
judaica, o filho estudava e, na sua adolescência, era escolhido por
um rabino para ser seu discípulo, e o alvo era que eles também se
tornassem futuros rabinos.

Quando Jesus chamou seus discípulos, eles deveriam ser, em


sua maioria, bem jovens. Mas Seu chamado tinha implicações mui-
to maiores, pois era um chamado para realizar o sonho de Deus
que estava oculto antes da fundação do mundo: edificar Sua Igre-
ja. Jesus queria lhes dar toda a autoridade que tinha recebido do

O coração do pai

77
Pai para ligar e desligar na terra e no céu. Jesus queria fazer deles
herdeiros de Sua unção.

É muito provável que os homens chamados por Jesus não ti-


nham aparência de apóstolos, talvez nem preenchessem os requi-
sitos básicos para serem discípulos de um rabino da época, porque
nenhum rabino os havia chamado. Quando Jesus fez a eles o con-
vite para segui-lo, eles estavam trabalhando em serviços triviais, e
também não eram discípulos de ninguém. Aos olhos dos homens,
eles não eram bem o tipo de herdeiros a quem alguém confiaria
uma herança. Mas Jesus os chamou exatamente para isso.

Deus nos confia um ministério com crianças para prepararmos


herdeiros espirituais. Assim como os discípulos, as crianças não
têm a aparência, não preenchem ainda os critérios para serem dis-
cípulos, mas já foram escolhidas por Deus como nossas herdeiras.
Assim como recebemos a graça de fazer a obra de Deus, temos
que conceder a elas a graça de serem feitas também herdeiras do
Pai, pois Jesus ordenou:

...de graça recebestes, de graça dai. (Mt 10.8)

Nosso ministério consiste em preparar herdeiros para o reino


de Deus. Por isso, temos que aprender a agir pela graça. Deus nos
deu uma palavra para este ministério, dizendo que Ele levantaria
essa geração de crianças como profetas. Eles não tinham aparência
de profeta nem falavam como profeta, mas, porque eu cri nessa
palavra, comecei a falar a eles como se já fossem; decidi treiná-los
com a Palavra e enxergá-los como profetas de Deus.

Isso é o mesmo que profetizar diante do vale de ossos secos:


não vemos nada, mas à medida que falarmos, um exército se le-
vantará. Se Deus foi gracioso e escolheu você, Ele pode ser gra-
cioso e escolher as crianças.

Comece a tratar as crianças como herdeiras, assim como o pai


tratou o filho pródigo – ele não merecia, mas ainda assim o pai o

A Criança é Membro do Corpo

78
restituiu como seu herdeiro. Certa vez, uma criança olhou para
uma das pastoras e disse assim: “Você é tão diferente! Quando
você fala, parece que a gente é seu filho!”. Certamente, essa
criança se sentiu como filha, porque ela foi tratada como tal.
Como é bom quando as crianças nos veem assim, pois nosso
chamado é para expressar Deus a elas!

Quem é herdeiro é dono. Se as crianças são herdeiras, são


também donas da casa. Acredito que, antes de vermos as crian-
ças como herdeiras, temos que reconhecê-las como donas da
casa. O que isso quer dizer? Deixe-me dar um exemplo: um fi-
lho caçula tem o mesmo direito de usar a televisão quanto o
filho mais velho, porque os dois são donos da casa. Do mesmo
modo, no prédio da igreja, as crianças têm o mesmo direito
que os demais de usar tudo o que temos, isto é, instrumentos,
salas, microfones, projetor, cadeiras e tudo o que é adquirido
como patrimônio da igreja. Obviamente, elas não farão isso
sozinhas, pois me refiro a colocar todas essas coisas à disposi-
ção do ministério com crianças, ou de sua liderança. Para isso
acontecer, só falta uma coisa: as crianças serem tratadas como
donas da casa.

O pai colocou tudo o que ele tinha à disposição do filho que


voltou. Para que ele não tivesse dúvida de sua posição, ele de-
veria ser tratado como dono da casa e não como empregado.
O filho mais velho achou que o irmão não merecia, mas o pai é
quem define como os filhos são tratados, independentemente
de ser o mais novo ou o mais velho. Todos tinham direitos iguais.

3. Honra – O pai honra o filho fazendo dele


seu herdeiro.
A atitude saudável de um pai rico que está guardando uma he-
rança para seus filhos é compartilhar com eles aquilo que ele tem.
Se ele tiver uma boa casa, os filhos usufruirão dela, se ele comer

O coração do pai

79
bem, seus filhos também comerão, se ele tiver boas roupas, seus
filhos também se vestirão bem. Mas, sendo eles seus filhos, seria
estranho se esse pai os privasse de usufruir de tudo isso.

Se para um pai natural, esse é o padrão, na igreja não deveria


ser diferente. Tudo o que o pastor adquire para uso da igreja de-
veria ser colocado à disposição do ministério com crianças, como
acontece com os demais ministérios na igreja. Não deveria ter
exclusividade para uns ou escassez para outros. O fato de haver
diferença mostra que a liderança da igreja ainda precisa enxergar
as crianças como filhas. Um pai que priva o filho de um prato de
comida jamais fará dele seu herdeiro. Se os pastores não dão o
que é material, como darão a herança que é espiritual? Quando
não se é fiel no pouco, dificilmente será fiel no muito.

Se não enxergarmos as crianças como filhas, como as enxer-


garemos como herdeiras? O pai do filho pródigo poderia ter lhe
dito que já tinha dado tudo o que era dele. Mas não foi isso o que
ele fez. Sua atitude demonstrou que a verdadeira herança ainda
estava para ser compartilhada.

A liderança da igreja precisa mudar as atitudes erradas que


tem tido em relação ao ministério com crianças, tais como achar
que está dando muito, gastar a herança consigo mesmo, achar
que o que Deus tem dado hoje é só para os adultos etc. Vejamos,
então, como o coração do pai é revelado ao filho, quando ele o
vê como seu herdeiro.

a) O pai honrou o filho diante de todos.


Por que o pai honrou o filho diante de todos? Porque ele queria
que todos o honrassem também. Quando o pai honra o filho, os
outros também o honram. Jesus declarou um princípio tremendo
quando afirmou:

A Criança é Membro do Corpo

80
Quem não honra o Filho não honra o Pai. (Jo 5.23)

Quando o pai honrou o filho, ele colocou um padrão, mostran-


do como todos deveriam tratar o filho: com honra. Quando nossa
filha mais velha se casou, nós enviamos convites para todos os
líderes da igreja; muitos foram, mas nem todos, porque não com-
preenderam que, quando honrassem nossa filha com sua presen-
ça, estariam nos honrando também. A honra é uma via de mão
dupla, e devemos honrar não apenas nossos líderes, mas também
nossos liderados.

Quando honramos as crianças do nosso rebanho, definimos


como elas devem ser tratadas por todos. Mas, quando é que as
honramos? Primeiro, quando assumimos nosso ministério e não
temos constrangimento de dizer “Eu sou pastor de crianças!” ou
“Eu sou líder de crianças!”. Imagine um pai ou uma mãe cons-
trangido em dizer que aquela criança é sua filha. Isso seria muito
embaraçoso para a criança. Por que achamos que isso não acon-
tece também no ministério? Assumir o ministério é sair de cima do
muro, é se posicionar. Afinal, é ou não seu filho? Aquele pai não
teve vergonha de assumir: “É meu filho, e eu vou honrá-lo como
meu herdeiro!”.

b) O pai não apenas deu o melhor, ele deu tudo.


...Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel
no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho
cevado. Comamos e regozijemo-nos! (Lc 15.22,23)

O pai mandou buscar a melhor roupa para o filho, e mandou


calçarem-lhe os pés, pois certamente ele estava descalço, e lhe
deu até um anel. Talvez alguns pensem: “Mas, que hora para
pensar em anel? Para que isso?”. É que empregados não usavam
anel, mas os donos, sim. Ele mandou preparar o melhor novilho,

O coração do pai

81
o novilho cevado, que era usado apenas em ocasiões especiais,
e deu uma festa, o que também se faz em ocasiões assim. Tudo
para honrar o filho.

Em Gênesis 18.7, vemos que Abraão usou um novilho seme-


lhante para receber os anjos de Deus, pois essa era uma forma de
honrá-los. Cevado quer dizer gordo, bem alimentado, ou seja, o
melhor para fazer um banquete. É assim que honramos, quando
damos o melhor. Por isso, nosso padrão no ministério com crian-
ças é a excelência, pois queremos honrar nossos filhos.

O filho pródigo não esperava ser honrado, ele só queria era ser
aceito. Quando nós fazemos o melhor para oferecer às crianças,
estamos lhes dizendo que elas são aceitas, amadas, e fazem par-
te da família. Existe algo melhor do que saber que somos aceitos
por Deus? E mais ainda, saber que, como herdeiros, temos tudo de
Deus? O pai honrou aquele filho não apenas lhe dando o melhor,
mas dando tudo o que tinha.

O padrão do pai para os dois filhos era: “...tudo é seu!”. O pai


mostrou que um não tinha mais do que o outro, pois tudo o que
ele tinha era deles. O pai deu tudo o que tinha porque ele via os
filhos como seus herdeiros para cuidar de sua herança. O alvo de
uma herança é ser passada a outros, é dar continuidade àquilo que
outros começaram, e era isso o que o pai queria. Os filhos viam
apenas o momento, mas o pai via o futuro.

Tudo o que temos conquistado em Deus não é nosso, é de


nossos filhos, por direito, porque eles são nossos herdeiros. Isso
inclui a visão de igreja que Deus nos deu, a unção, a revelação na
Palavra, os bens, os frutos, tudo!

Agora, como podemos ensinar às crianças de modo que pos-


samos colocar nelas nosso coração? Nós lhes ensinamos nos re-
lacionando com elas de um modo que expresse o coração do Pai;
não nos esquecendo de que elas nos foram confiadas com um

A Criança é Membro do Corpo

82
propósito; tendo o cuidado de não ficarmos deslumbrados com
tudo o que Deus tem nos dado e nos esquecermos de prepará-las
como herdeiras, aquelas que continuarão depois de nós. De nada
adiantará termos uma herança se não tivermos os herdeiros. É por
isso que temos de liderá-las com esse propósito.

Eu louvo a Deus pelas células de crianças, porque elas nos dão


a oportunidade de ter um relacionamento com as crianças e trans-
mitir a elas uma herança espiritual. Tudo o que temos ministrado
nas células e nos cultos faz parte da herança que Deus tem nos
dado. Enquanto são crianças, preparamos o coração delas para
que possam valorizar aquilo que Deus está fazendo em nossos
dias e, depois, dar continuidade ao mover de Deus. Precisamos
nos lembrar de que, hoje, elas nos são dadas como filhas, mas um
dia, serão pais e farão o mesmo com seus filhos.

Podemos citar inúmeras coisas que definem uma herança espi-


ritual, mas quero deixar apenas uma, a mais importante: o coração
do Pai. Se ele for passado, tudo o mais também será. Este é nosso
grande desafio, transmitir à próxima geração o coração do Pai.

Na biografia de David Livingstone, um missionário escocês que


foi para a África, conta-se que ele foi encontrado morto, ajoelha-
do ao lado de sua cama. Ele morreu orando! Depois de sua mor-
te, o povo africano que ele havia ganhado para Jesus enviou seu
corpo para a Inglaterra, mas seu coração foi enterrado na África.
Eles disseram que o corpo poderia voltar, mas o coração ficaria lá,
porque ele havia dado seu coração por aquele povo. Certamente,
não existe maior herança do que esta, dar o coração!

O coração do pai

83
Capítulo 6

Os princípios
da visão no
ministério com
crianças

P
ortanto, vede prudentemente como
andais, não como néscios, e sim
como sábios, remindo o tempo, por-
que os dias são maus. Por esta razão, não
vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a
vontade do Senhor. (Ef 5.15-17)

Há uma necessidade urgente de discernir a visão da igreja,


como também de conhecer e discernir a visão do ministério com
crianças na igreja. Uma vez que tenhamos o discernimento de uma,
também teremos da outra, pois são iguais.

Os princípios da visão no ministério com crianças

85
A visão é o propósito que queremos alcançar. Ela define nossa
prática, nossa maneira de ver e de ser igreja. Quando afirmamos
que nossa visão é edificar uma igreja de vencedores, onde cada
crente é um ministro, estamos declarando que cremos que cada
crente deve exercer seu sacerdócio e funcionar como membro
dentro do corpo.

Os princípios da visão de que trataremos neste capítulo são


extraídos da Palavra, pois ela é a base na qual a visão está firma-
da. Esses princípios não podem ser removidos, pois são dados
por Deus. Portanto, eles são os mesmos em qualquer localidade
e ministério, inclusive no ministério com crianças.

No capítulo cinco da carta aos Efésios, o Senhor nos orienta a


ter cuidado com a insensatez – insensatez significa “atitude sem
inteligência; procedimento de quem age sem refletir”. O texto
trata também de compreender a vontade do Senhor – compre-
ender significa “entender, saber como realizar, ter percepção”. É
importante falarmos sobre isso porque, muitas vezes, o que falta
para a liderança da igreja é essa percepção, esse discernimento
espiritual da visão e de como realizar a obra de Deus.

Por isso, antes de falarmos dos princípios, comentaremos al-


guns erros que precisamos evitar visando à qualidade do nosso
ministério. Lembrando que, quando falamos de qualidade do mi-
nistério, estamos falando de uma obra com propósito, que forma
discípulos de Cristo, não apenas um grande ajuntamento de pes-
soas trabalhando, sem saber o que estão fazendo.

Erros que devemos evitar


Em relação a esse assunto, há alguns erros que devemos evitar,
como os que veremos a seguir.

A Criança é Membro do Corpo

86
a) Falta de liderança.
A razão de não termos ministérios bem estruturados com
crianças é que não há uma liderança espiritual à frente. A falta de
liderança determina a falta de propósito. Por exemplo, se os pais
querem que seus filhos cresçam bem educados, eles mesmos pre-
cisam investir na educação dos filhos, não delegar isso a outros. Se
quisermos ver frutos no ministério com crianças, precisamos ter à
frente dele uma liderança com visão, e não delegar a pessoas que
não a têm. O ministério com crianças na igreja precisa ter à frente
um pastor que discirna a visão da igreja e leve essa visão às crianças.

Não confunda liderança com posição. Posição é cargo, alguém


que ocupa uma função. Liderança é mais que isso, é alguém que
sabe aonde quer chegar e como chegar lá. Na igreja, pode haver
pessoas que tenham posições e não tenham liderança. Mas, uma
coisa é certa, para que uma geração seja impactada, ela precisa
de uma liderança espiritual forte.

b) Negociar a visão.
A visão que temos recebido não é fruto de um modismo, nem
do capricho pessoal de um pastor. Dou graças a Deus porque, an-
tes desse mover de células, nós já éramos uma igreja em células.

Quando começamos as células de crianças, não tínhamos um


modelo no qual podíamos nos espelhar, mas Deus nos instruiu a
fazer da maneira como fazemos. Recebemos esta visão de Deus
para o ministério com crianças: formar discípulos desde a infância.

Visão fala de direção, portanto, o ministério com crianças não


pode ter uma visão diferente da visão da igreja, pois seria como
seguir outra direção. Meu chamado é o mesmo do meu marido,
pois estamos edificando a igreja, investindo no sacerdócio de cada
membro, a começar pelas crianças. Deus quer que as crianças

Os princípios da visão no ministério com crianças

87
cresçam sabendo que o propósito dEle para elas é serem sacer-
dotes. Isso é lindo! Para cumprirmos a visão de Deus como igreja,
temos que falar a mesma coisa para crianças, jovens e adultos, pois
a visão é uma só para todos. O pastor do ministério com crianças
não tem que escolher uma visão ou uma direção a seguir, ele tem
apenas que seguir a mesma visão da igreja.

Quando é que negociamos a visão? Quando achamos que fazer


discípulos é só para jovens e adultos, e subestimamos as crianças.
Quando deixamos de ensiná-las com o objetivo de formar nelas a
mente de um discípulo, pois, antes de tudo, um discípulo de Cristo
é alguém que pensa como Cristo, ou seja, de acordo com a Palavra.
Quando deixamos para formar discípulos a partir da adolescência,
isso nos faz perder a melhor fase para começar a fazer discípulos,
que é a infância.

Negociamos a visão quando queremos agradar mais as pesso-


as do que a Deus. Negociamos quando permitimos que pessoas
trabalhem na igreja com uma visão diferente, que não seja a de
fazer discípulos, e deixamos cada um fazer o que quer. Negocia-
mos quando abrimos mão dos valores fundamentais da visão e
dos princípios que a sustentam. Negociamos quando permitimos
um ensino superficial para crianças nos cultos e nas células e dei-
xamos de pagar o preço certo, nos acomodando com um trabalho
sem propósito e sem resultados.

c) Desviar-se do propósito.
Nós nos desviamos do propósito quando perdemos a visão
daquilo que estamos fazendo e ficamos apenas com a estrutura,
a organização, mas sem a essência, que é a vida de Deus. Temos
salas, brinquedos e até células, mas as crianças não têm experiên-
cia com Deus, não são alimentadas com a Palavra e não dão frutos,
e a liderança pensa que tem um ministério.

A Criança é Membro do Corpo

88
Muitas coisas podem nos desviar do propósito: um programa
de televisão, a gravação de CDs, teatro, dança etc. Podemos fazer
todas essas coisas dentro do ministério, mas elas não podem nos
desviar do propósito, que é edificar as crianças na vida normal da
igreja. Por isso, sempre ajustamos o foco da liderança para manter
os olhos nos discípulos e no rebanho.

Uma maneira de evitar o desvio do propósito é checar os re-


sultados na vida das crianças. Uma mãe testemunhou sobre sua
surpresa ao entrar no quarto e ver seu filho de três aninhos, ajoe-
lhado na cama, se virar para ela e dizer: “Mamãe, eu já orei e já li
a Bíblia, agora eu posso mamar?”.

d) Falta de oração.
Todo ministério é edificado com oração, e o ministério com
crianças não é diferente. Os pastores de crianças devem ser pesso-
as que oram e que formam líderes que oram também. No mundo
espiritual, tudo é gerado através da oração. No livro do profeta
Ezequiel, Deus diz: “Busquei entre eles um homem que ... se colo-
casse na brecha a favor dessa terra [a favor da salvação das crianças]
... mas a ninguém achei! (Ez.22.30).

e) Copiar métodos sem compreender os valores.


Não quero passar a ideia de que não podemos aprender nada
com ninguém. Não é isso. O que estou dizendo é que precisamos
aprender os valores antes de aplicar uma estratégia. Ou seja, pre-
cisamos ter revelação do princípio antes de usar o método. Para
entender melhor, vejamos a diferença entre princípio e método.

Princípio é diferente de método. Os métodos são estratégias,


os princípios são padrões, isto é, leis espirituais estabelecidas
pela Palavra de Deus. Os métodos são relativos, os princípios são

Os princípios da visão no ministério com crianças

89
absolutos. Contudo, o fato de os métodos serem relativos não
significa que podemos fazer o que quisermos, pois tanto os prin-
cípios quanto os métodos são dados por Deus.

Por exemplo, o princípio bíblico é “Deus cura através da ora-


ção”, e o método pode ser “orar com um lenço ungido.” É comum
irmãos tentarem transformar em métodos as estratégias que Deus
dá para situações específicas em determinados princípios. Neste
exemplo, isso corresponderia a, todas as vezes, orar com os en-
fermos com um lenço ungido. Isso é errado.

É preciso ter cuidado com o método. Primeiro, ele deve ser dado
por Deus, e não ser fruto da criatividade humana. Precisamos ape-
nas ter a revelação dele. Deus nos dá os princípios e nos mostra
como aplicá-los, ou seja, o método certo para fazer Sua obra. Por
exemplo: “Ide e fazei discípulos” é o princípio; “ensinando-os” é
o método. Um de nossos princípios é fazer das crianças discípulas
de Cristo. O método é o Encontro.

O segundo cuidado que devemos ter em relação ao método é


que ele não deve ser sacralizado, ou seja, transformado em uma
regra. Deus deu a Moisés a estratégia da cobra de bronze para
curar o povo no deserto, mas isso aconteceu apenas uma vez.

Os dez princípios absolutos da visão


Conhecer os princípios estabelecidos na Palavra de Deus em
relação à visão é fundamental para discerni-la. Por isso, veremos
a partir de agora os princípios da visão que são estabelecidos
para a igreja e suas respectivas adaptações para o ministério com
crianças. O alvo é levá-lo a compreender como podemos praticar
o mesmo princípio trabalhando com as crianças.

A Criança é Membro do Corpo

90
1. O centro do coração de Deus é ter filhos
semelhantes a Jesus.
Deus quer que ganhemos as crianças para Cristo.
...para serem conformes a imagem de seu Filho, a fim de que
seja o primogênito entre muitos. (Rm 8.29)

...pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um


só destes pequeninos. (Mt 18.4)

Muitas coisas na igreja são feitas apenas por diversão, ou por-


que nos dão prazer em fazer, como boletim informativo, constru-
ção, decoração, teatro, dança etc. Elas não são propriamente a
obra, são apenas prazer e podem ser feitas, mas não são o centro.
O problema surge quando queremos ficar apenas na diversão e
no que nos dá prazer, quando ficamos embriagados com aquilo
que é periférico.

Precisamos nos lembrar de que não levaremos para a eternida-


de as músicas que compomos, as coreografias que criamos, os li-
vros que escrevemos – levaremos apenas os FILHOS que gerarmos.

Fomos chamados para ganhar crianças para Cristo, pois não é


da vontade de Deus que elas pereçam. Como já mencionei, se Je-
sus disse isso, é porque existe o risco de perecerem.

2. Jesus e a Palavra são os únicos pontos de referência.


O ministério com crianças tem como base levar Jesus às
crianças e ensinar a Palavra de Deus.

Não é errado citar exemplos para motivar outros a fazerem o


mesmo, mas nossa base sempre deve ser a vontade de Deus. Paulo
citou a igreja de Tessalônica para motivar outros irmãos a ofertar,
mas a prática desse princípio deveria ser a vontade de Deus e não
apenas o exemplo dessa igreja.

Os princípios da visão no ministério com crianças

91
No episódio da transfiguração de Jesus, registrado em Mateus
17.1-5, Pedro teve uma ideia brilhante, mas a voz de Deus apenas
disse: “...a ele ouvi!”. Ministérios reconhecidos servem de referên-
cia apenas na medida em que ilustram Jesus como modelo, não
como referência absoluta. Portanto, não tente imitar o que outros
estão fazendo, mas que não tenha base bíblica. Jesus e Sua Palavra
devem ser pregados, esse é o alvo do ministério.

3. A ordem de Deus é que façamos discípulos, e não


frequentadores de cultos.
A ordem de Deus é que haja crianças convertidas na igreja, e
não apenas frequentadores de células e cultos.

Precisamos buscar o alvo e sermos pacientes com o pro-


cesso para não desprezarmos aqueles que querem, mas ainda
precisam crescer.

Em Mateus 28.18-20, Jesus ordena que façamos discípulos de


todas as nações. Jesus sabia que as nações têm crianças, e certa-
mente as incluiu nessa ordem. Não podemos fazer isso no lugar
dos pais, mas podemos evangelizar e ensinar a Palavra de Deus
a elas de maneira que a guardem. Como Jesus mesmo orientou:

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações [...] ensi-


nando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordena-
do. (Mt 28.19,20)

Se ensinarmos a elas na infância, elas poderão guardar o que


aprenderem e, no tempo certo de fazer suas escolhas, escolherão
baseadas na Palavra de Deus. Mas, se deixarmos para ensinar depois
que crescerem, pode ser que suas escolhas já tenham sido feitas.

Por que as crianças são abertas ao discipulado?


™™ São mais acessíveis. É mais fácil chegar na criança do que
no adulto;

A Criança é Membro do Corpo

92
™™ São mais ensináveis. São mais abertas a ouvir;
™™ São mais sensíveis a Deus. Elas creem na Palavra com
mais facilidade;
™™ São imitadoras por natureza. Elas aprendem por imitação.
Um menino de seis anos, filho de um de nossos pastores, disse as-
sim: “Quando eu crescer, vou ser igual aos meu pais; eu vou ser pas-
tor e vou empurrar minha pasta de rodinha com meu computador!”.

4. A única pregação que forma discípulos é o


Evangelho do Reino.
O Evangelho do Reino é para todos, inclusive as crianças.
O Evangelho do Reino e o Evangelho da Graça são diferentes.
O Evangelho da graça é para salvação, um presente de Deus que
todos podem receber pela fé. O Evangelho do Reino é o Evangelho
integral, onde Jesus não é apenas o Salvador, mas também o Se-
nhor, o que implica em compromisso com Deus e com Sua igreja.
Quando pregamos a “visão dos vencedores”, pregamos o
Evangelho do Reino, pois pregamos a salvação e o compromisso
do discipulado, que é a condição fundamental para ser um vence-
dor, ou seja, ser e formar discípulos.
O Evangelho da graça é para salvação; é um “presente”. Já o Evan-
gelho do Reino é para reinarmos com Cristo; é uma “recompensa”.

Um dos segredos para as células funcionarem, crescerem e


multiplicarem é o compromisso de toda a liderança em pregar
e viver o Evangelho do Reino, e isso inclui as células de crianças.
As crianças precisam ouvir os dois. Ainda que elas não entendam
completamente as implicações de ser salvo e ser vencedor, elas
precisam crescer ouvindo essa verdade e, à medida que crescerem,
elas compreenderão completamente. Certa vez, uma menina de
quatro aninhos, indignada com seu irmão mais velho, lhe disse:
“Você não é vencedor! Você vai ficar para grande ‘tubulação’!”.

Os princípios da visão no ministério com crianças

93
Porém, a grande revelação não é a graça da salvação, e sim
que não existe graça maior do que poder realizar algo que Deus
queira receber. Nossa maior graça é sermos chamados coopera-
dores de Deus.

5. Praticamos o discipulado, mas não ignoramos a


importância do ensino e do treinamento.
As crianças são discipuladas pelos pais, mas a igreja investe
nelas com ensino e treinamento.
O discipulado é baseado no relacionamento informal. Já o trei-
namento é algo mais formal. No discipulado, temos que fazer os
dois, treinamento e relacionamento. Os filhos são discipulados
pelos pais informalmente, mas precisam também do ensino e do
treinamento da igreja para crescerem espiritualmente.
Na igreja, o ensino e o treinamento são feitos em grupo, acon-
tecem de forma sistemática e devem ser conduzidos pelos líderes.
Por exemplo: “Agora, vamos orar 15 minutos, não vamos parar
antes disso; cada um vai usar seu disco de oração... Agora, vamos
declarar a Palavra. Pegue sua Bíblia e vamos ler juntos o primeiro
versículo... Agora, vamos aplicar em sua vida. Repitam comigo...”

6. A estratégia de Deus para cumprir seu propósito é


o ministério de todos os santos.
O propósito de Deus se cumprirá na vida das crianças se
ensinarmos a elas sobre seu sacerdócio.

Cada crente, um ministro! Isso significa que cada crente é um


sacerdote. O reino de Deus é um reino de sacerdotes, onde todos
podem ouvir a Deus e falar da parte de Deus. O sacerdócio de todo
crente fala de cada crente funcionar dentro do Corpo. Para isso,
todos devem ser treinados para o serviço, ou seja, aprender a de-
sempenhar bem sua função no Corpo.

A Criança é Membro do Corpo

94
As crianças são ensinadas e treinadas na célula e nos cultos
para se tornarem discípulas de Cristo. Elas aprendem a orar, a ler
e declarar a Palavra, a louvar e adorar a Deus, a ofertar, a teste-
munhar. Tudo isso pode ser ensinado na infância; não devemos
esperar que cresçam.

7. Todo reconhecimento ministerial deve ser baseado


em frutos.
Toda a liderança do ministério com crianças deve ter seu
reconhecimento baseado em frutos.

Não devemos buscar reconhecimento, mas frutos. Em Mateus


7.16 lemos: “... porventura colhem-se figos de abrolhos?”. Portanto,
cada árvore dá fruto de acordo com sua espécie. Usando a árvore
como exemplo, vamos relacionar quatro elementos vitais para que
haja reconhecimento na vida de todo líder.
™™ Raiz – Caráter. Para dar fruto, a árvore precisa ser alimenta-
da pela raiz. O que sustenta a liderança e o ministério de uma
pessoa é seu caráter. Contudo, o que deve ser visto não é
apenas o caráter do líder, mas o caráter santo de Deus nele.
™™ Tronco – Compromisso. O tronco é o que liga a raiz aos ga-
lhos, portanto, deve ser forte o suficiente para sustentar a
árvore em pé. O compromisso nos fala de estar firmado na
base com motivações corretas, que visam o reino, e não
segundas intenções, como interesses pessoais.
™™ Galhos – Relacionamentos. Cada função exige um tipo de
relacionamento e um nível de capacitação. Os galhos cres-
cem e, da mesma maneira, os relacionamentos devem cres-
cer em maturidade, como também seu nível de capacitação.
Cada posição exige um nível de capacidade. Mesmo que haja
uma habilidade, ela precisa ser desenvolvida e aprimorada.
™™ Frutos – Resultados. Os frutos são discípulos. Devemos bus-
car resultados em nosso ministério, ou seja, os verdadeiros

Os princípios da visão no ministério com crianças

95
discípulos de Cristo. A Bíblia diz que toda obra será avaliada
de acordo com a Palavra. Por isso, vamos avaliar hoje, en-
quanto há tempo de mudar os resultados. É bom lembrar
que as qualificações para ser um pastor são os frutos!

8. Os pastores e líderes devem ser modelos para tudo


o que os demais discípulos devem fazer.
Os pastores e líderes de crianças devem ser modelo para os
demais irmãos e para as crianças.

Devemos ter uma vida transparente e deixar que nossos dis-


cípulos vejam como nos relacionamos com Deus. Por exemplo,
podemos dizer a eles o dia e a hora em que oramos no prédio
da igreja; qual livro estamos lendo; testemunhar as respostas de
nossas orações; compartilhar aquilo que Deus fala conosco... As-
sim, motivaremos outros a desenvolver um relacionamento mais
próximo com Deus.

Em relação às crianças, os primeiros a praticar os princípios


ensinados a elas são seus pastores e líderes. Para que a prática
possa acontecer, as lições ministradas devem ser lidas por todos
e ministradas no discipulado. Nos cultos, os pastores e líderes de-
vem ser referenciais para as crianças na oração, na adoração, no
momento da oferta, na pontualidade e na intensidade em Deus.

9. Todo ensino e estrutura devem manter-se


na simplicidade.
A estrutura do ministério com crianças é a mesma da igreja local.

Por que a estrutura do ministério com crianças é a mesma


da igreja?
™™ Para poder funcionar bem;
™™ Para que todos possam participar da obra;

A Criança é Membro do Corpo

96
™™ Para que as crianças cresçam conhecendo o que é igreja;
™™ Para que possam se multiplicar juntos.
A visão é simples e a prática também deve ser, pois a simpli-
cidade estimula a multiplicação. Até as crianças podem conhecer
e praticar.

Somos uma igreja em células, nossas reuniões acontecem


nas casas e, aos domingos, no prédio. Edificamos uns aos outros
através do discipulado e, também através dele, formamos líderes
e pastores.

10. Tudo deve ser feito na célula e através dela.


O ministério com crianças acontece através das células.

A célula é a vida normal da igreja. Na verdade, a célula é nos-


so jeito de ser igreja. É através das células que nós evangeliza-
mos, edificamos uns aos outros, temos comunhão, crescemos
e multiplicamos.

Quando uma criança se converte na célula e se firma, ela co-


nhece a vida da igreja e pode ser consolidada na igreja, mesmo
que seus pais não sejam crentes, até que tenha idade para parti-
cipar dos cultos e desenvolver sua liderança. A célula nos permite
ganhar, ensinar e treinar líderes desde a infância.

Os princípios da visão no ministério com crianças

97
Capítulo 7

A criança na
vida da igreja

O
certo é que há muitos mem-
bros, mas um só corpo (1Co
12.20). Para ilustrar a união entre
Cristo e a Igreja, Deus compara a
Igreja com um corpo. No capítulo 12 de 1 Coríntios,
vemos a descrição do funcionamento do corpo atra-
vés da versatilidade dos membros, o que contribui
para a saúde de todo o corpo.

Quando falamos em membros, nossa tendência é associá-los


àquelas pessoas que são mais ativas na igreja, ou seja, jovens e
adultos. Contudo, em nenhum momento a Bíblia exclui as crian-
ças. Mas, afinal, como ou quando elas se tornam parte da igreja?

Embora já tenhamos mencionado alguns princípios sobre a


criança como membro do corpo, gostaria de apresentar, de manei-
ra mais prática, quatro aspectos importantes que mostram como
a igreja participa desse processo.

A criança na vida da igreja

99
1. Evangelizando
Pregando o novo nascimento para que a criança receba a vida
de Deus em seu espírito.

Quando um feto começa a se formar, um dos primeiros órgãos


a ser formado é o coração. É por isso que, logo nas primeiras se-
manas, a mãe pode ouvir e ver o coração da criança batendo. Na
Bíblia, quando se menciona o coração, muitas vezes o escritor está
se referindo ao espírito: “...porque com o coração se crê a respeito
da justiça” (Rm 10.10).

Todo ser humano nasce com espírito, alma e corpo (1Ts 5.23),
e a função do espírito é ter contato com Deus. Esse contato acon-
tece a partir do momento em que a pessoa recebe a vida de Deus
em seu espírito, o que a Bíblia chama de “novo nascimento”. O
novo nascimento é resultado de uma escolha pessoal pela pessoa
de Jesus Cristo.

Ao nascer e em seus primeiros anos de vida, uma criança ainda


não tem consciência de seu espírito nem a capacidade de fazer
escolhas, portanto, ela não tem a vida de Deus dentro de si. Sen-
do assim, a criança não é salva mediante sua própria escolha, mas
está ligada à aliança de seus pais – se os pais tiverem uma aliança
com Deus, ela também estará incluída; caso não tenham aliança
com o Senhor, essa criança também não terá, pois o elo são os
pais, os quais decidem por ela.

É por isso que consagramos as crianças quando nascem, por-


que os pais ou responsáveis se comprometem, diante de Deus e
de Sua Palavra, a evangelizar a criança para que ela também rece-
ba a vida de Deus em seu espírito. O próprio Jesus foi consagrado
por seus pais quando criança (Lc 1.22,23). A consagração é uma
prática bíblica que resguarda a criança até que ela possa receber
Jesus por uma escolha pessoal. Nós não batizamos crianças, ape-
nas no final da infância, aos doze anos, quando elas se decidem e
os pais autorizam.

A Criança é Membro do Corpo

100
Alguns acreditam que toda criança é salva pelo simples fato
de ser criança. Mas a Bíblia afirma que todos nascem pecadores e
precisam nascer de novo: “pois todos pecaram e carecem da glória
de Deus” (Rm 3.23). Se o simples fato de ser uma criança a tornas-
se salva, Deus poderia salvar todos permitindo que morressem na
infância, pois Ele mesmo afirma que Sua vontade é que todos se
salvem: “o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem
ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.4).

Creio que, aos doze anos, a criança pode ter convicção de novo
nascimento. Com essa idade, Jesus tinha convicção de que era o
Filho de Deus. Portanto, se Jesus é padrão para nós em todos os
aspectos de sua vida, porque não seria também em relação à sua
infância? Por isso, o melhor é que as crianças sejam evangelizadas
durante toda a sua infância, pois elas têm necessidade de ouvir o
Plano de Salvação várias vezes para que possam entender e ter
convicção de seu novo nascimento.

Temos, portanto, muitas razões para evangelizar as crianças.


Se não o fizermos por amor, o faremos por obediência, pois Deus
deseja que elas sejam salvas ainda na infância, e é responsabili-
dade da igreja pregar o Plano de Salvação às crianças. Quando
os pais são crentes, essa responsabilidade recai sobre eles, mas,
ainda assim, como igreja, somos parceiros nessa evangelização.

É bom lembrar que salvação é resultado de oração e jejum, por


isso, as crianças precisam ser incluídas nos alvos de salvação da
igreja. Precisamos orar e jejuar para que elas sejam salvas. Nossas
células de crianças em Goiânia ultrapassaram as dez mil crianças
porque temos orado e jejuado pela conversão delas. Todos jejuam
e oram: pastores, líderes e também as crianças e juvenis.

Portanto, podemos afirmar que as crianças são membros do


corpo porque, hoje, segundo a nossa experiência, a grande maioria
delas recebe Jesus em sua vida quando é feito o apelo para que o

A criança na vida da igreja

101
recebam. Assim, todos se tornam membros do corpo através do
novo nascimento, inclusive as crianças.

2. Investindo
Reconhecendo o valor e a função da criança como membro.

O investimento deve ser feito tanto em estrutura quanto em


pessoas. A célula é uma estrutura que nos permite praticar a vi-
são de fazer discípulos desde a infância. Mas o investimento só
acontece quando a liderança da igreja reconhece que as crianças
têm valor e função no corpo. Veja o que Paulo fala sobre o valor
de cada membro:

...os membros do corpo que parecem ser mais fracos são


necessários; e os que nos parecem menos dignos no corpo,
a estes damos muito maior honra... (1Co 12.22,23)

Cada membro do corpo tem valor e função. As crianças, em-


bora pequenas, são importantes, porque são valiosas para Deus
e também podem funcionar dentro do Corpo. O valor atribuído
a elas não é por seu tamanho ou aparência, nem mesmo por sua
utilidade, mas pelo simples fato de serem membros do Corpo. Da
mesma maneira, na família, o fato de ser um membro da família
já faz delas alguém importante.

As crianças precisam ser valorizadas como membros do Corpo.


E a maneira de demonstrarmos isso é investindo nelas. O fato de
pastoras assumirem o ministério com crianças na igreja mostra o
valor que elas têm para nós. Eu não investiria minha vida em algo
que não tem valor. Mas, se tem valor para Deus, também tem
muito valor para nós.

Outro aspecto que define cada membro é sua utilidade ou fun-


ção. Cada membro tem uma função dentro do corpo. A função

A Criança é Membro do Corpo

102
do olho é ver, a do ouvido é ouvir e a da boca é falar. Todos são
importantes porque são necessários.

O capítulo 12 de 1 Coríntios faz um paralelo entre os dons e os


membros, mostrando como ambos são variados e têm sua utili-
dade no corpo. Assim como temos diversidade de dons, temos
também de membros, mas ambos procedem do mesmo Espírito:

“...os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo; ...assim


como o corpo é um e tem muitos membros, ... E a todos nós
foi dado beber de um só Espírito. (1Co 12.4,12,13)

A criança como membro do Corpo pode ser usada por Deus


de várias formas: para orar, interceder, curar enfermos, pregar,
testemunhar, para profetizar e muito mais. Eu creio que, à medi-
da que damos oportunidades para as crianças se expressarem na
igreja, Deus as usa poderosamente, pois é o que temos visto em
nosso meio: crianças convertidas e sendo usadas por Deus para
ganhar almas.

Quando afirmamos que a criança pode viver a vida da igreja é


porque elas funcionam como membros. Mas, para vermos isso na
prática, é preciso investir nelas.

3. Envolvendo
Motivando-as a participar da vida da igreja.

É possível investir sem se envolver, pois, como vimos, o inves-


timento está mais ligado à estrutura, organização e ao funciona-
mento do ministério. O envolvimento, contudo, diz respeito ao
relacionamento. Não basta apenas investir, temos que nos rela-
cionar com as crianças como membros do Corpo. É um relaciona-
mento de vida, no qual transmitimos a elas o senso de ser igreja.

A criança na vida da igreja

103
O alvo desse relacionamento é envolver as crianças na vida da
igreja para que cresçam e tenham consciência de que fazem parte
dela. À medida que as crianças são envolvidas nos cultos, nas ativi-
dades e na vida da igreja de maneira geral, elas vão se conscienti-
zando de que fazem parte do Corpo. Essa consciência é poderosa,
e merece ser vista de maneira mais aprofundada.

Todo membro precisa ter consciência do corpo. Vamos usar


como exemplo uma perna de pau. Uma perna de pau está ligada ao
corpo e exerce a função de locomoção da perna, mas ela não tem
consciência do corpo, porque não consegue perceber os outros
membros, nem o comando da cabeça. Quando algo atinge essa
perna de pau, o corpo não sente nada porque ela não está ligada
à cabeça, que é quem envia uma ordem aos membros sobre a dor,
os reflexos, e que dá a eles a percepção de que estão ligados uns
aos outros. Mas se uma perna normal, de carne e osso, ligada ao
corpo, é atingida por uma pancada, imediatamente todo o corpo
sente e reage. Isso mostra que esta perna tem consciência da vida
do corpo ao qual ela está ligada.

O que faz com que alguém tenha consciência de que é membro


do Corpo é a vida de Deus. O fato de todos os membros estarem
ligados e serem controlados pela cabeça, que é Cristo, faz com que
todos tenham consciência da existência de cada um e sejam con-
trolados pela vida de Deus que reside em cada membro. Portanto,
não basta que as crianças estejam no nosso meio, participando de
eventos, elas precisam aprender a ter consciência de que fazem
parte da Igreja. Elas também podem ser guiadas pela vida de Deus
que reside dentro delas.

Há aqueles que se dizem membros do Corpo, mas não são,


porque não têm a vida de Deus, nunca nasceram de novo, e são
como uma perna de pau que está ligada ao corpo, mas não têm
consciência do que é o Corpo, do que é ser Igreja. São indiferen-
tes aos outros, individualistas e só se interessam por si mesmos.

A Criança é Membro do Corpo

104
Mas aqueles que têm a vida de Deus são diferentes, eles se
importam com os outros. É a vida de Deus que percorre através
dos membros que nos faz um só Corpo. As crianças, embora não
sejam contadas como membros, muitas vezes de fato são, porque
podem nascer de novo e perceber o toque de Deus em sua vida.

Quando alguém é nascido de novo, não sabe explicar, mas sabe


que é salvo; não sabe explicar, mas sabe quando sente a presença
de Deus; não sabe explicar o certo e o errado, mas recebe infor-
mações de que algo é errado e não deve ser feito, ele tem percep-
ção do pecado em sua vida. Por que isso acontece? Porque a vida
está lá! As crianças sentem tudo isso, apenas não sabem explicar.

Isso é ter consciência da vida de Deus. É essa mesma vida que


faz com que cada um de nós sinta que é parte do corpo.

De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com


ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam.
(1Co 12.26)

Em Romanos 8.16, Paulo diz que o Espírito de Deus testifica


com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Esse testificar se
aplica em todas as áreas de nossa vida, como, por exemplo, os
pecados. Lembro-me de que, ainda criança, eu tinha convicção
de pecado. Certa vez, quando tinha mais ou menos sete anos, eu
estava voltando da escola com um grupo de colegas e, ao passar
por um caminhão de refrigerantes, eles sugeriram que pegásse-
mos uma garrafa para nós bebermos, e eu fui escolhida para essa
tarefa. Inocentemente, fui e peguei. Então, corremos e tomamos
o refrigerante escondidos. Mas, ao chegar em casa, senti o peso
em minha consciência e percebi que o que eu havia feito estava
errado. Então peguei algumas moedas, voltei àquele bar, entre-
guei a garrafa vazia, contei o que havíamos feito, ou seja, confessei
meu pecado e paguei pelo refrigerante, e ainda pedi ao dono do
bar para que não contasse ao meu pai para que eu não apanhasse.

A criança na vida da igreja

105
Veja, ninguém me disse que eu estava errada, ninguém viu, mas o
Espírito Santo estava me ensinando a ser guiada por Ele.

As crianças, assim como todos aqueles que têm a vida de Deus,


são convencidas pelo Espírito de Deus de que fazem parte do Cor-
po. Embora não discirnam isso muito bem, elas percebem quando
são envolvidas na vida normal da igreja local. Por isto é tão impor-
tante que a igreja invista nelas, para reforçar essa verdade.

As crianças aprenderão o que é ser igreja quando nos virem


vivendo a vida da igreja. O mesmo acontece na família. Os filhos
não aprendem o que é ser uma família através de cursos, e o pai
não tem que explicar a eles como ela funciona. Os filhos apenas
crescem vivendo em família e aprendem o que é ser uma família
através da convivência. Na igreja é a mesma coisa: as crianças
precisam crescer no nosso meio, vendo como nós vivemos a vida
da igreja, e como nos relacionamos. E à medida que nós as envol-
vemos nos cultos, nos evangelismos, nos jejuns, nas orações, no
louvor, elas vão se sentir parte da Igreja.

Mas o contrário também acontece. Se excluirmos as crianças


do nosso meio, duas coisas acontecerão: elas não aprenderão o
que é ser igreja e não se sentirão parte dela. Na Videira, nós rea-
lizamos os cultos de crianças e juvenis separados dos pais, para
ministrarmos a Palavra numa linguagem própria para elas. Mas,
uma vez por mês, no culto da ceia, celebramos todos juntos, pois
entendemos que isso tem valor – tanto aos olhos de Deus quanto
aos olhos das crianças – pois, eventualmente, elas precisam par-
ticipar juntamente com os adultos para desenvolver essa consci-
ência do Corpo.

O envolvimento das crianças por parte dos pais, dos líderes e dos
pastores faz toda a diferença para que elas cresçam conscientes de
que são membros do Corpo. Por isso é tão importante investir nas
crianças, pois a infância é o tempo certo de aprender o que é ser
Igreja. E creio que as crianças saberão o que é isso quando nos virem

A Criança é Membro do Corpo

106
vivendo a vida da igreja. Assim, quando adultas, elas não precisa-
rão fazer um seminário para descobrir, pois já crescerão sabendo.

Não basta ouvir sobre o que é Igreja, as crianças precisam ver


na prática. Ouvir um ensinamento produz apenas uma compreen-
são exterior, mas ver a realidade produz uma consciência interior.
Isso faz toda a diferença!

4. Treinando
Treinando-as a funcionar como membros.
Embora façam parte do corpo, muitos membros precisam ser
treinados antes de funcionar apropriadamente. Quando nasce, um
bebê não consegue abrir bem os olhos, mas isso não significa que
ele tenha algum problema. Na verdade, seus olhos são perfeitos,
apenas ainda não funcionam perfeitamente.
Assim também são as pernas, que têm a função de andar. Elas
são perfeitas, mas ainda não funcionam perfeitamente. Do mesmo
modo a boca, que tem todo o potencial de falar, mas ainda não
o faz. Isso mostra que, antes de exercer sua função no corpo, os
membros precisam aprender a funcionar. Esse é um processo que
demanda tempo, mas é importante e necessário.
O mesmo acontece com as crianças na igreja. Elas podem nascer
de novo, ter valor e função como membros, podem e devem ser
evolvidas na vida da igreja, mas ainda não funcionam devidamente.
As crianças precisam ser treinadas para desenvolver seu potencial.
Por isso o ministério com crianças na igreja é tão importante.
A ênfase num ensino bíblico eficaz e o treinamento desses mem-
bros fará com que cada um desenvolva seu potencial e aprenda a
funcionar como membro do corpo. Precisamos ensinar as crian-
ças a orar, louvar, ofertar, evangelizar, pregar e declarar a Palavra
umas às outras. Tudo isso faz parte de um treinamento que fará
com que desenvolvam sua fé e treinem seu espírito.

A criança na vida da igreja

107
Não basta ter apenas um trabalho com crianças. É preciso ter
investimento com propósito, ensino e treinamento eficaz. Quan-
do a igreja ignora esse potencial das crianças, perdemos a melhor
fase para treinar nossos membros.

Nosso alvo como ministério deve ser levar as crianças a terem


consciência de que fazem parte do corpo e podem desenvolver seu
sacerdócio, funcionando como membro no corpo de Cristo. A criança
saberá que a oração dela tem tanto valor como a de um adulto. Não
porque alguém tenha dito isso a ela, mas porque ela experimentou.

Quando uma criança cresce numa família saudável, ela sabe o


valor que a família tem e não terá dificuldades em constituir uma
família. Da mesma maneira, quando a criança cresce numa igreja
saudável, sabendo que ela é parte da Igreja, não vai querer aban-
donar a vida do Corpo, porque sabe o valor da Igreja e dos irmãos.
Certamente, ela também funcionará como membro desse Corpo,
porque isso é algo que já faz parte da sua vida.

É tempo de a Igreja entender que, se o Corpo é um e o Espírito


é um, a obra também é uma só. Ao investir nas crianças, estamos
investindo na edificação da Igreja. Portanto, edificar a Igreja sig-
nifica também investir nas crianças.

Nossa visão de edificar uma igreja de vencedores virá à exis-


tência plenamente quando a igreja participar efetivamente desse
processo de fazer da criança membro do corpo: evangelizando-as,
investindo nelas, envolvendo-as na vida da igreja e treinando-as
para exercerem seu sacerdócio.

O resultado será uma igreja saudável e forte, onde cada mem-


bro é um ministro e cada casa uma extensão da igreja, e certamen-
te nós e nossos filhos conquistaremos, cada um, sua geração para
o Senhor Jesus. Amém!

A Criança é Membro do Corpo

108
Capítulo 8

Os sinais do
mover de Deus
no meio
das crianças

N
arrai isto a vossos filhos, e vossos
filhos o façam a seus filhos, e os
filhos destes, à outra geração. Eis
que vos envio o cereal, e o vinho, e o óleo, e
deles sereis fartos, e vos não entregarei mais ao opróbrio
entre as nações. [...] E acontecerá, depois, que derramarei o
meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas
profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão
visões; (Jl 1.3; 2.19,28)

O mover de Deus no meio das crianças é um assunto que não


se ouve com muita frequência, mas é extremamente bíblico. Creio
que o mover genuíno de Deus é algo que toca todo o Corpo de

Os sinais do mover de Deus no meio das crianças

109
Cristo e não apenas uma parte dele. A profecia de Joel é direcio-
nada aos filhos, jovens e velhos. Além disso, o livro começa ins-
truindo a falar a promessa de Deus para os filhos, e os filhos dos
filhos, e estes às suas gerações.

Creio que a liderança do ministério com crianças precisa saber


mais sobre o mover de Deus para poder buscá-lo. Mas também é
preciso saber como esse mover se manifesta.

No livro do profeta Joel, temos os sinais do mover de Deus. O


Senhor promete enviar em abundância o cereal, o vinho e o óleo
– elementos essenciais para o sustento naquela época. Mas o
texto ainda menciona a chuva e, posteriormente, os sinais. Cada
um desses cinco elementos aponta para um aspecto do mover de
Deus, por isso, devemos avaliar, à luz da Palavra de Deus, o signi-
ficado de cada um.

Deus quer se mover no meio das crianças porque a promessa


inclui “vossos filhos e vossas filhas”. Por isso, creio que podemos
experimentar um grande mover de Deus nesta geração. A promes-
sa de Deus é: “...e deles sereis fartos”. Fartura é algo fácil de ser
percebido, mas a questão é: em que temos sido fartos?

1. O cereal – a Palavra
“...Eis que vos envio o cereal.” O cereal é um alimento, e vemos
que o mover de Deus descrito em Joel é caracterizado pela abun-
dância de cereal.

É verdade que Deus sempre se preocupou com o sustento de


Seu povo, tanto natural como o espiritual. Quando Ele tirou o povo
do Egito e os guiou pelo deserto, providenciou para eles o maná,
o alimento certo de que eles precisavam. O maná era um tipo de
cereal que caía do céu a cada manhã. Era um alimento divino e não
terreno, pois vinha de Deus, não era fruto do trabalho do homem.

A Criança é Membro do Corpo

110
O maná é simbólico, assim como o cereal citado na profecia de
Joel, pois ambos simbolizam a Palavra de Deus que alimenta nosso
espírito. Portanto, quando Deus se move na igreja, há abundância
de alimento espiritual, isto é, da Palavra. Um dos sinais do mover
de Deus em nossos dias é a revelação da Palavra. Temos experi-
mentado de manjares celestiais, pois a Palavra tem sido liberada a
nós com revelação. Creio que isso é o começo do mover de Deus
porque, quando a Palavra é liberada, Deus tem liberdade para agir
em nosso meio, pois Ele e Sua Palavra são um.

No original, temos duas palavras com significados distintos, Lo-


gos, que significa a palavra escrita, e Rhema, que significa a palavra
falada, liberada por alguém, ou a palavra revelada. Deus age atra-
vés do Logos e do Rhema, como vemos na Bíblia. Nas passagens
a seguir, vemos exemplos de ambos: no texto do evangelho de
Marcos, a palavra é logos; no evangelho de João, é rhema.

Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não pas-


sarão. (Mc 13.31)

...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.
[...] Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos?
Tu tens as palavras da vida eterna; (Jo 6.63, 68)

Nós precisamos dos dois tipos, da palavra escrita, para ler, es-
tudar, meditar, conhecer, e também da palavra liberada com vida,
para alimentar nosso espírito, para crescermos espiritualmente,
para conhecermos a Deus, que é Espírito. Portanto, quando Deus
está movendo é porque tem a Palavra liberada e revelada – “eis
que vos envio o cereal... e dele sereis fartos!”.

Será que esses dois tipos de palavra estão presentes hoje no


ministério com crianças em nossas igrejas? A Palavra escrita é ensi-
nada com diligência? Essa palavra é liberada com vida por aqueles
que ministram para as crianças? Ela tem sido farta em nosso meio?
Ou ainda achamos que as crianças não precisam dela?

Os sinais do mover de Deus no meio das crianças

111
Assim que Deus me chamou para o ministério com crianças,
Ele me disse: “Não olhe como os outros estão fazendo, porque eu
mesmo te instruirei”. Eu não tinha a menor ideia do que o Senhor
estava falando, mas creio que era em relação à visão e à estrutura
que temos hoje, e Deus nos deu uma visão preciosa que tem sido
escrita em cada um dos nossos materiais.

Como disse antes, desde o início, eu já havia observado a su-


perficialidade do conteúdo nos materiais de ensino infanto-juvenil.
Naquela época, eu procurava comprar materiais de muitos luga-
res, pois não tínhamos nada, mas o Espírito de Deus já estava me
incomodando para algo mais. Muitas vezes, eu ouvia as palavras
ministradas no prédio pelo Aluízio e, depois, quando olhava a pro-
gramação para as crianças, percebia que não falávamos a mesma
coisa. Deus havia dito que levantaria esta geração de crianças como
profetas, mas em nenhum material eu via nada parecido com isso.
Como as crianças poderiam crescer ouvindo algo totalmente dife-
rente do que Deus tinha falado em relação a elas e à visão da igreja?

Se observarmos, veremos que, em nossa vivência diária, à


medida que os filhos crescem, eles começam a comer a mesma
comida que toda a família come. Uma criança de cinco anos não
tem necessidade de comer uma comida diferente, apenas a ma-
neira de lhe dar a comida é que se diferencia da dos adultos – às
vezes, é preciso cortar a carne em pedaços menores, ou amassar
o feijão no prato, apenas coisas assim, que facilitem a ingestão.
Isso deveria se refletir também na vida da igreja.

Essa foi uma das primeiras coisas que Deus me mostrou que
deveria ser corrigida. Então, começamos a ministrar às crianças os
mesmos estudos da Bíblia que eram ministrados aos adultos, de
forma adaptada a elas, tirando os princípios mais adequados para
serem aplicados à vida delas. O mesmo aconteceu em relação ao
Encontro e às células de crianças, fazendo toda a diferença para
que o trabalho crescesse e se multiplicasse.

A Criança é Membro do Corpo

112
É interessante observar que, no livro de Atos, o crescimento
da Igreja está associado ao da Palavra:

Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava


o número dos discípulos; (Atos 6.7)

Nosso trabalho com crianças cresceu porque começamos a mi-


nistrar a elas a Palavra viva, que edifica e transforma, e isso refletiu
diretamente no crescimento e na multiplicação.

Mas existe um ponto chave para que a palavra chegue até as


crianças: primeiro,os líderes precisam se encher dela. O mover de
Deus não se manifestará com uma mentalidade “fast food”, de
querer usar apenas aquilo que é mais fácil e rápido no trabalho
com crianças. Não estou afirmando que é preciso preparar algo
novo que nunca foi escrito. Não é isso. Podemos comprar materiais
prontos, mas, mesmo assim, o líder precisa ler, estudar, meditar,
e se preparar antes de ministrar, pois antes da palavra sair de sua
boca, ela precisa entrar em seu coração.

Não se iluda, o fato de usarmos um DVD com histórias bíblicas,


Bíblias ilustradas, músicas evangélicas e outros recursos visuais
para o trabalho com as crianças não significa que a Palavra está
sendo liberada. Deus pode usar o que Ele quiser para falar com as
crianças, mas certamente Ele usará pessoas que tenham revelação
da Palavra para se revelar às crianças.

Se é assim que acontece com os adultos, por que seria diferente


com as crianças? Imagine se, todos os domingos, o pastor passas-
se um filme diferente no lugar de pregar a Palavra? O povo ficaria
desnutrido! Deus se move quando Sua Palavra é liberada. Se os
líderes de crianças não se encherem da Palavra, nada acontecerá.

Os pastores de crianças devem ser os primeiros a se encher da


Palavra e se alimentar da mesma palavra ministrada às crianças.
Não basta comprar o material e colocá-lo nas mãos dos líderes; o

Os sinais do mover de Deus no meio das crianças

113
pastor deve ser o primeiro a ler. Se essa palavra não nos alimentar,
também não alimentará o espírito das crianças. Se o que come-
mos em nossa casa não alimenta nosso corpo apropriadamente,
também não alimentará nossos filhos. É preciso avaliar o padrão
que tem sido usado para ministrar a Palavra às crianças, ou reco-
nhecer a falta de um.

É muito comum pastores e pastoras encomendarem profis-


sionais da igreja para preparar a programação para os cultos das
crianças. Profissionais que apenas sabem escrever bem, mas que
não têm nenhum encargo pela vida espiritual das crianças; que
nunca se deram o trabalho de ir para uma sala e ministrar, eles
mesmos, o que escreveram.

E se o pastor da igreja fizesse o mesmo em relação às suas pre-


gações? E se ele pedisse aos irmãos que têm formação acadêmi-
ca, ou talvez mestrado em Teologia, para preparar os sermões de
domingo? Isso não seria aconselhável, mas, no caso das crianças,
muitos de nós aceitamos e até fazemos. Por quê? Porque falta aos
pastores de crianças o encargo pela ministração da Palavra. Eles
são os primeiros a serem indiferentes a ela, enxergando-a como
uma mera atividade. Porém, Deus não vai mover assim!

Para que Deus possa mover no meio das crianças, a Palavra


ministrada precisa alimentar o coração delas. A palavra que ali-
menta é a palavra revelada, fruto de revelação no espírito. Seja
criterioso ao escolher o material que será ministrado às crianças.
Procure checar se existem frutos por parte daqueles que escrevem
e certifique-se de que os pastores e líderes de crianças sejam os
primeiros a serem cheios da Palavra antes de ministrar.

Em nossa igreja, a palavra que chega às células de adultos e


jovens é ministrada pelo pastor da igreja no culto, depois vai para
os demais pastores e líderes em CD e através do boletim da igreja,
para depois serem ministradas nas células para todos os membros.
Assim, todos falam e se alimentam da mesma palavra. Do mesmo

A Criança é Membro do Corpo

114
modo, a palavra ministrada nas células de crianças começa a ser
lida, a cada semana, na reunião de discipulado das pastoras e nos
demais discipulados, até chegar às crianças nas células.

Temos tido o cuidado de ser fiéis à Palavra de Deus ao escrever


o material para crianças, porque queremos que elas conheçam a
Palavra. Com o mesmo zelo, também temos treinado nossos lí-
deres, levando-os a ler o material de treinamento, falar a Palavra,
repetir, memorizar e praticar o que temos ensinado. É esse ato de
ministrar uns aos outros que nos caracteriza como igreja.

No Novo Testamento, somos exortados a sermos praticantes


da Palavra, e no Velho Testamento, no livro de Josué, temos uma
ordem que vale para nós hoje, para falar a Palavra, meditar nela e
fazer conforme está escrito:

Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele


dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo
quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu cami-
nho e serás bem-sucedido. (Js 1.8)

O mover de Deus virá não apenas porque oramos, mas pela


obediência à Palavra de Deus. Antes de Jesus realizar o milagre da
transformação da água em vinho, ele mandou “encher de água”
as talhas. Ele não disse para colocar apenas um pouco de água,
mas para encher, e a obediência dos servos fez toda a diferença
no resultado. Essa mesma ordem vale para nós hoje: Enchei-vos da
Palavra! Depois que formos cheios, os outros também serão. Mas,
enquanto as talhas estiverem vazias, o milagre não acontecerá.

Pastores de crianças que negociam a ministração da Palavra,


fazendo-a de qualquer jeito, jamais experimentarão o mover de
Deus no meio das crianças. O mover de Deus virá quando, primei-
ro, nos alimentarmos do cereal que Ele dá e, depois, alimentarmos
também nosso rebanho.

Os sinais do mover de Deus no meio das crianças

115
2. O vinho – a alegria do Espírito
No original, a palavra “vinho” usada no texto de Joel significa
“o vinho novo”, aquele vinho recém-espremido. Embora para os
entendidos o melhor vinho para se beber seja o mais velho, isso
não se aplica à vida cristã.

No capítulo cinco de Efésios, Paulo faz um paralelo do vinho


com o encher-se do Espírito, e diz que é um encher diário, portan-
to, ele é sempre novo. Somos cheios da vida de Deus à medida que
nos alimentamos e ministramos a Palavra aos outros: “...enchei-vos
do espírito, falando entre vós...”.

Uma vez que formos cheios da Palavra, o Espírito Santo se


moverá e a transformará em força, vigor e alegria. É por isso que
o vinho simboliza a alegria do Espírito. Na profecia de Joel, o vi-
nho vem logo depois do cereal, porque alguém cheio da Palavra
é alguém cheio da vida de Deus, e a vida de Deus se traduz em
alegria do espírito.

Os primeiros a experimentar dessa alegria devem ser os pas-


tores e líderes, mas infelizmente há muitas pessoas à frente do
trabalho com crianças fazendo a obra por obrigação, debaixo
de fardo e, muitas vezes, até de murmuração. Em alguns casos,
quando algumas mulheres na igreja ouvem a respeito de trabalho
com crianças, em vez de alegria, sentem aversão. Também exis-
tem aqueles pastores que se sentem cansados e sobrecarregados,
porque não têm experimentado a alegria do espírito. Isso mostra
que tem faltado vinho. E, se nós não experimentarmos esse vinho,
como as crianças o experimentarão? Se a liderança experimentar
do vinho do Espírito, ele contagiará a todos, pois, se fizermos a
obra de Deus com alegria, a alegria do Espírito, as crianças tam-
bém serão contagiadas pelo mesmo Espírito.

Lembro-me de alguns Encontros de crianças onde a unção de


Deus era tão grande e gerava tanta alegria em nosso meio que, ao

A Criança é Membro do Corpo

116
final do Encontro, embora estivesse com o corpo cansado, meu
espírito queria continuar. Já senti isso muitas vezes, e é dessa ale-
gria do Espírito que precisamos para fazer a obra de Deus. Mesmo
tendo que nos desgastar, nós nos alegramos, porque é uma alegria
que vem dele, não é natural. Ela nos põe de pé e não prostrados,
ela nos motiva e não desanima. Por isso, pastores cansados e so-
brecarregados não deveriam ficar à frente do ministério, porque
essa atitude impede o mover de Deus.

Muitas coisas podem nos roubar a alegria do Espírito: a ansie-


dade por coisas que ainda não aconteceram; a preocupação com
coisas que já aconteceram, mas estão fora de nossa ação; o medo,
talvez do fracasso, da opinião dos outros ou das consequências; a
dúvida, que gera indecisão e nos impede de crescer; a culpa, uma
sensação de acusação por algo que fizemos ou deixamos de fazer,
ou aquela sensação de estar sempre em falta com alguma coisa.

O diabo usa tudo isso para nos roubar a paz de Deus e a alegria
de desfrutarmos do nosso trabalho. Por isso, para que possamos
experimentar a alegria do Espírito, precisamos aprender a lidar com
todos esses sentimentos negativos que o diabo usa contra nós.
Além disso, precisamos aprender a descansar em Deus e confiar
nele, a declarar como o salmista Davi: “O Senhor é a minha força
e a minha fortaleza!”

Pastores e líderes cheios do Espírito se traduzem em ministérios


com crianças cheios de alegria. Não a alegria natural deles, mas a
alegria do Espírito. É o vinho recém-espremido do Espírito Santo,
um vinho que brota de momentos de oração. Pastores que gastam
tempo diante de Deus são cheios da alegria do Senhor. Devemos
ter cuidado para não nos ocuparmos com muitas coisas no minis-
tério e deixarmos de orar. O vinho recém-espremido é liberado
através de orações frescas, recentes, de corações aquecidos pela
presença de Deus.

Os sinais do mover de Deus no meio das crianças

117
Se tem faltado vinho, é porque tem faltado a pessoa de Jesus.
Em Caná da Galiléia, Jesus só interveio quando foi chamado, e
isso aconteceu somente depois que as talhas estavam vazias. Se
as talhas não fossem esvaziadas, o vinho novo não viria. Portanto,
para que possamos experimentar a alegria do Espírito, precisamos,
primeiro, nos esvaziar, tirar do coração aquilo que tem ocupado
o lugar do Senhor em nossa vida. Depois disso, o que precisamos
fazer é buscar o Senhor, começar a encher nosso coração e nos-
sa boca da Palavra até transbordar e, com certeza, rios de alegria
fluirão do nosso interior.

Igualmente, as crianças também precisam experimentar da


alegria do Espírito. Um grande monstro que assombra milhares
de crianças hoje se chama depressão. Estamos diante de uma ge-
ração em que a infância não se traduz mais em alegria, mas em
tristeza. Segundo alguns estudos, vários fatores causam a depres-
são infantil: família desestruturada; cobranças excessivas dos pais;
expectativas muito altas dos pais em relação à criança, que ela não
consegue corresponder; solidão; rejeição, etc.

Agora, se um adulto não consegue suportar a pressão de traba-


lho, casamento e decepções, imagine uma criança, cuja estrutura
emocional, física e psicológica ainda está em formação? Nós te-
mos muitas crianças assim em nossas células. Elas não conseguem
falar desses problemas, mas Deus as vê e conhece o sofrimento
de cada uma, por isso, Ele as envia para nós, porque os sãos não
precisam de médicos, e sim os doentes (Mt 9.12).

Essas crianças precisam conhecer Jesus e provar da verdadeira


alegria. As crianças não precisam de mais eventos, brindes, pro-
gramações de dia da criança, de coisas que servem apenas de en-
tretenimento. Elas precisam ser cheias da vida de Deus! O vinho
da alegria precisa ser derramado sobre nossas crianças. É por isso
que oriento os líderes a não se preocuparem em decorar o lugar
da reunião da célula, mas em orar. O que importa é se o rio de vida
estará fluindo na reunião.

A Criança é Membro do Corpo

118
Há um rio que sai do trono de Deus e precisa fluir nas células
de crianças, nos cultos, nos Encontros, para que elas bebam e se-
jam fartas. É isso o que temos de desejar e buscar para o nosso
ministério. Porque o Senhor nos ungiu para “... pôr sobre os que
[...] estão de luto [...] óleo de alegria, em vez de pranto” (Is 61.3a).

Há alguns anos, fizemos alguns marcadores de livros com fra-


ses sobre as crianças, e uma delas era: “Deus inventou a alegria
e chamou de células de crianças!”. Isso não pode ser apenas uma
frase, precisa ser realidade.

Na tua presença há plenitude de alegria. (Sl 16.11)

3. O óleo – a unção
O terceiro elemento que aparece na profecia de Joel é o óleo.
Naquela época, o óleo tinha três utilidades básicas: curar, cozinhar e
ungir. Quando viajamos para Israel, vimos, em Cafarnaum, um lugar
onde o óleo era produzido. À medida que o fruto da oliveira era es-
premido, os produtores iam separando a porção para cada utilidade.

O óleo é símbolo da unção de Deus, que é a manifestação da


vida de Deus em nós. Todo aquele que é nascido de Deus, tem a
vida de Deus residente nele e, quando essa vida se manifesta, ela
se expressa através da unção. Portanto, não basta ter a vida de
Deus, precisamos de sua manifestação em nossa vida.

A primeira utilidade da unção em nossa vida é nos curar. Em Lu-


cas 10.34, vemos que o bom samaritano usou azeite para curar as
feridas do homem que estava ferido à beira da estrada. A unção de
Deus tem o poder de nos curar de enfermidades físicas e também
na alma. A unção cura as emoções, feridas de rejeição, traumas,
cegueira espiritual, uma mente doente, decepções e tudo o que
vem para nos paralisar e nos impedir de sermos canais da vida de
Deus. Onde a unção de Deus se manifesta, há libertação e cura.

Os sinais do mover de Deus no meio das crianças

119
A unção serve também como combustível espiritual; ela nos
sustenta. Em Êxodo 29.2 e Levítico 2.4, vemos que o azeite era
usado para fazer comida, pois as ofertas de manjares eram feitas
com ele. Comida nos fala de sustento, portanto, a unção é neces-
sária para nos sustentar espiritualmente. É ela que nos mantém
de pé, fortalecidos. Naquela época, os manjares eram usados para
fazer o sacrifício a Deus, e o mesmo acontece em nossa vida hoje:
quando vivemos na presença de Deus, a unção flui em nós e, por
isso, podemos guerrear e ser mais que vencedores. A unção tem o
poder de quebrar as setas malignas, os pesos que o diabo coloca
sobre nós, pois lemos no livro do profeta Isaías: “o jugo que será
despedaçado por causa da gordura [unção]” (Is 10.27).

Mas a unção é também para nos capacitar, pois o azeite era


usado para ungir. O profeta Samuel ungiu Davi com azeite quan-
do Deus o escolheu para ser rei (1Sm 16.13). É a unção que nos ca-
pacita a pregar, a liderar, a gerar filhos para Deus. Quando o anjo
visitou Maria, ele disse “e o poder do espírito te envolverá...”, ou
seja, Maria foi capacitada a gerar um filho pelo poder do Espírito
Santo. A unção nos envolve e, através dela, tocamos o mundo es-
piritual. Precisamos da unção para fazer a obra de Deus, pois ela
é uma obra espiritual. E é bom acrescentar que, quanto maior a
obra, mais unção é necessária.

...Eis que vos envio o cereal, e o vinho, e o óleo, e deles se-


reis fartos... (Jl 2.19)

Deus quer dar o óleo em fartura, para que outros também ex-
perimentem da mesma unção. No Salmo 133, lemos o seguinte:

É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a


barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes.
(Sl 133.2)

A unção precisa fluir do cabeça, tocar a liderança e alcançar


as crianças. Assim, todos fluirão na mesma unção. As crianças

A Criança é Membro do Corpo

120
precisam experimentar a unção de Deus em sua vida, porque elas
precisam de cura, força e capacitação espiritual. Elas precisam da
unção para vencer o mundo. Vamos construir uma geração de
crianças atentas ao mundo à sua volta e que saibam que ser igreja
é estarmos preparados para cumprir a grande comissão.

Na Conferência Radicais Kids realizada em Goiânia em 2011,


uma das reuniões onde a unção fluiu de maneira mais forte foi
a última, em que oramos pelos participantes com menos de 20
anos de idade. Deus já havia falado ao meu espírito para fazer
isso, pois sempre oro para saber que tipo de apelo fazer ou como
proceder nas reuniões, mesmo com o programa já pronto, e foi
nessa reunião que Deus moveu poderosamente. Não tenho dú-
vida de que Deus tem reservado para a próxima geração uma
unção dobrada. Mas eles precisam começar a experimentar uma
porção dela agora.

Tenho recebido palavras proféticas de várias formas sobre o


derramar de Deus nesta geração. Na profecia de Joel vemos exa-
tamente esta expressão: “E acontecerá, depois, que derramarei o
meu Espírito sobre toda a carne...”. Deus não quer apenas mover
em uma reunião, ou de vez em quando; Deus quer derramar com
fartura. Isso significa que Ele quer mover mais, Ele quer dar mais.
Precisamos crer nisso e orar para que aconteça com mais frequên-
cia no meio das crianças.

O segredo de um ministério com crianças bem-sucedido é a un-


ção! Quando Deus começou a mover no meio delas com arrependi-
mento, libertação e batismo no Espírito Santo, fiquei deslumbrada,
porque nunca tinha visto esse mover no meio de crianças. Mas,
creio que há mais por vir; vimos pouco, ainda. Derramar é despe-
jar com fartura, e o mover de Deus é caracterizado pelo óleo em
fartura: “e deles sereis fartos”.

Os sinais do mover de Deus no meio das crianças

121
4. A chuva – os frutos
...porque ele vos dará em justa medida a chuva; fará descer,
como outrora, a chuva temporã e a serôdia. As eiras se en-
cherão de trigo, e os lagares transbordarão de vinho e de
óleo. (Jl 2.23,24)

A condição para vir o cereal, o vinho e o óleo era a chuva. O ce-


real era o trigo, o vinho vinha da videira e o óleo, da oliveira. Cada
uma dessas plantações precisa de chuva no tempo certo.

O texto menciona dois tipos de chuva que eram importantes


para o plantio. A primeira era a “chuva temporã”, ou as primeiras
chuvas, necessárias para preparar a terra para a semeadura. A se-
gunda era a “chuva serôdia”, ou as últimas chuvas, que vinham
um pouco antes da colheita e eram necessárias para amadurecer
os frutos para a ceifa.

Na vida cristã também temos o tempo de plantar e de colher.


Semeamos quando evangelizamos, ensinamos, treinamos e disci-
pulamos, ou seja, investimos em pessoas com o alvo de consolidá-
-las na igreja. Enquanto estamos semeando, não esperamos o fruto
imediato. Mas, com o tempo, esperamos que ele venha, quando
as pessoas que ganhamos já cresceram o suficiente na vida cristã
e já podem começar a dar frutos.

Deus promete enviar as chuvas e também os frutos. A chuva é


sinal do mover de Deus, pois ela é o requisito básico para dar frutos,
com os quais o Senhor a associa, como vemos no relato da criação:

Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois


ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o SE-
NHOR Deus não fizera chover sobre a terra. (Gn 2.5)

Antes de vermos frutos, precisamos buscar chuva, e ela nos


fala de um ambiente permeado pela presença de Deus, de ora-
ção, de graça, onde podemos perceber Deus movendo através

A Criança é Membro do Corpo

122
de Seu Espírito. Quando há um ambiente assim, há conversões,
crescimento e também multiplicação.

O resultado da chuva são os frutos, portanto, o mover de Deus


é caracterizado por eles. Se Deus está movendo, tem que haver
frutos. O próprio Deus disse que o fruto viria depois da chuva: “...
porque ele vos dará em justa medida a chuva... e as eiras se encherão
de trigo, e os lagares transbordarão de vinho e de óleo” (Jl 2.23,24).

Precisamos buscar o mover de Deus no meio das crianças para


que haja frutos. Orar para que mais crianças se convertam nas
células, nos Encontros, que as células cresçam e se multipliquem,
que líderes sejam treinados e mais pastores sejam ordenados a
esse ministério. Isso é mover de Deus.

Certamente, o mover de Deus é percebido com conversões,


mas não apenas com elas. O mover vai além, e também se mostra
quando uma liderança se multiplica para poder cuidar dos novos
convertidos. Os frutos são as almas ganhas e também os discípu-
los que são gerados. A Bíblia menciona o crescimento da igreja
primitiva dizendo: “...e crescia o número de discípulos!” (At 6.7).

O ministério com crianças na Videira em Goiânia começou em


1999, com uma palavra profética que serviu de luz para iluminar o
caminho. Começamos com 39 células paralelas às células de adul-
tos e, à medida que crescia o número de crianças, era necessário
multiplicar o número de líderes. Com o passar dos anos, fomos
ultrapassando as barreiras das centenas e, em 2007, alcançamos
os milhares. Hoje, somos mais de mil células de crianças na cidade,
com a frequência de mais de dez mil crianças. Deus derramou a
chuva e também enviou os frutos. Mas isso foi apenas o começo,
pois estamos experimentando o mesmo mover em muitas cida-
des do Brasil.

Não podemos abrir mão dos frutos, pois eles são sinais do mover
de Deus entre nós. Os frutos são a confirmação do nosso trabalho.

Os sinais do mover de Deus no meio das crianças

123
Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me
essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a
minha fé. (Tg 2.18)

6. Os sinais – o poder de Deus


E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre
toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vos-
sos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões. (Jl 2.28)

Além da Palavra, da alegria do Espírito, da unção e dos frutos,


precisamos também dos sinais. O mesmo Deus que envia o cereal
é o que envia as chuvas, enche as eiras, derrama o Espírito e reali-
za os prodígios. É Deus quem realiza todas essas coisas em nosso
meio. Se é Ele quem nos dá a unção, por que não nos daria os si-
nais, os milagres? Portanto, podemos afirmar que o mover de Deus
é caracterizado por sinais e maravilhas, que são ações de Deus e
não do homem. Esses sinais nos falam da manifestação do poder
de Deus através de milagres.

A promessa de Joel diz: “derramarei o meu Espírito, e vossos


filhos e vossas filhas profetizarão!” Os filhos e filhas representam
as crianças, depois vêm os jovens e também os adultos e velhos.
Quando Deus move, os sinais são perceptíveis, como está descri-
to no texto: profecias, visões, e sonhos. Esse derramamento é ca-
racterizado por um mover no qual todos na igreja são cheios do
Espírito, e todos experimentam da glória de Deus.

Creio que temos experimentado em nosso ministério uma me-


dida de unção no meio das crianças, mas ainda não é o derramar
de Deus. Derramar é despejar em grande medida.

Na Bíblia, vemos que cada geração que experimentou um mo-


ver de Deus foi marcada por sinais:

A Criança é Membro do Corpo

124
™™ A geração de Moisés, em Deuteronômio 29: “...os vossos
olhos viram os sinais e grandes maravilhas”.
™™ A geração de Daniel, no exílio: “Ele livra, e salva, e faz sinais
e maravilhas no céu e na terra” (Dn 6.27).
™™ O ministério de Jesus foi marcado por sinais e maravilhas:
“Estando ele em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, muitos,
vendo os sinais que ele fazia, creram no seu nome.” (Jo 2.23)
™™ O ministério dos apóstolos: “Muitos sinais e prodígios eram
feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos” (At 5.12).
™™ Jesus também deixou uma palavra para as gerações seguintes:
“Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu
nome, expelirão demônios; falarão novas línguas” (Mc 16.17).
Se o mover de Deus foi marcado por sinais em tantas gerações,
não será diferente na nossa. Por isso, se crermos e buscarmos o
poder de Deus no meio das crianças, os sinais se manifestarão. Os
sinais estão associados ao poder de Deus, e precisamos de ambos.

A Bíblia aplica o poder de Deus em várias situações distintas:

™™ Poder para sermos cheios de Deus;


E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo,
e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do
Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo
o Espírito lhes concedia que falassem. (At 2.3,4)

™™ Poder para destruir as obras do inimigo;


Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e
com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e
curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era
com ele. (At 10.38)

Os sinais do mover de Deus no meio das crianças

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™™ Poder para pregar a Palavra;
...porque, com grande poder, convencia publicamente os
judeus, provando, por meio das Escrituras, que o Cristo é
Jesus. (At 18.28)

™™ Poder para testemunhar;


...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo,
e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. (At 1.8)

™™ Poder para realizar milagres.


Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes
sinais entre o povo. (At 6.8)

Não adianta ficarmos falando das obras do diabo no meio das


crianças, ficar apontando os inimigos, pois isso não os faz correr.
Precisamos do poder de Deus no meio delas para destruir as obras
do diabo. Identificar o que é do diabo e proteger as crianças na
igreja das influências do mundo servem apenas como proteção,
mas precisamos de uma estratégia de ataque. Somos a Igreja de
Cristo. Fomos chamados para fora dos prédios, para ir onde estão
os doentes e perdidos e levar até eles o poder de Deus que cura,
liberta, salva e transforma.

As células de crianças são o lugar ideal para alcançarmos as


crianças perdidas e manifestar o poder de Deus. Por isso, precisa-
mos orar pelas reuniões das células e por líderes cheios do Espírito
Santo. Nas células, já temos a Palavra liberada, a unção manifesta,
os frutos que estão vindo, as pessoas se convertendo, mas precisa-
mos de mais! Precisamos de sinais, de milagres e, para isso, temos
que crer e orar, e certamente o poder de Deus se manifestará.

Hoje, temos muitos tipos de ministérios com crianças. Al-


guns gastam tempo produzindo materiais, outros estão apenas

A Criança é Membro do Corpo

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correndo de um lado para outro, ocupados com atividades, e ou-
tros ainda estão apenas comendo e bebendo. Mas há aqueles que
estão orando e clamando a Deus por esta geração. Escolha em
que grupo você quer estar, porque somente aqueles que clama-
rem a Deus verão e experimentarão os sinais do mover de Deus
no meio das crianças.

Mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouvi-
ram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus
tem preparado para aqueles que o amam. (1Co 2.9)

Os sinais do mover de Deus no meio das crianças

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