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Renascimento e Revolução
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
A ruptura com o sistema feudal não ficar ricos e melhorar de vida. Eles não
aconteceu da noite para o dia. Foi um aceitavam ter uma vida de penitências
processo lento e gradual de transforma- quando se poderia aproveitar os praze-
ções no mundo e no pensamento que res que a vida tem a oferecer. Eles não
aconteciam ainda na (baixa) Idade aceitavam que a busca pelo lucro fosse
Média. Se ainda hoje existem resquícios um pecado mortal, enquanto que esse
desse tempo, imagine durante essa pas- lucro lhes proporcionava mudar para
sagem. Enquanto os grandes reinos uma vida melhor, na medida de seu
estavam sendo criados, porque a situa- próprio esforço pessoal. Percebam que
ção estava um caos e precisava-se de nessas ricas cidades a visão de mundo
um poder forte para controlá-la, na feudal (teocêntrica) fundamentada pela
Península Itálica, onde se encontravam Igreja não �nha muito espaço. Não é
as principais rotas comerciais, cidades que todo mundo ficou ateu nas cidades,
muito ricas ficavam cada vez mais ricas mas é que a interpretação de mundo
devido ao intenso comércio com o passa a se dar a par�r do homem, já
oriente. As mais ricas cidades foram que ele, realmente era um pecador,
Gênova, Veneza e Florença, comanda- mas também fora feito à imagem e
das por ricas famílias de comerciantes e semelhança de Deus, do criador. E por
banqueiros, e onde um grande número ter algo de divino, a criatura mais per-
de pessoas de todos os lugares passa- feita criada por Deus, ele poderia
vam por lá e, além de comerciarem, tro- também criar maravilhas. O homem
cavam ideias e experiências de vida, passaria a olhar o mundo desde então,
ampliando os horizontes de seus habi- não mais a par�r de Deus, mas a par�r
tantes. Nessas cidades, uma nova de si mesmo. O centro das coisas agora
ordem social era criada. Lá os homens era o homem (antropocentrismo). Por
faziam seus des�nos por conta própria, isso que os pensadores desse tempo
eram senhores de si, construtores de ficaram conhecidos como humanistas.
seu novo mundo. Este era muito dife-
rente daquele existente no campo, Eles estavam no século XIII, onde pode-
onde imperavam as regras sociais feu- riam encontrar fundamentos para essas
dais sustentadas pela visão teocêntrica suas ideias? Isso mesmo, eles �veram
(Deus no centro de tudo) imposta pela que recuar mais de 1.000 anos para
Igreja. encontrar nos gregos an�gos algo pare-
cido com o que estava acontecendo
Esses homens não aceitavam a imobili- com eles. E não foi muito di�cil fazer
dade social, em que um servo morreria isso, já que eles estavam, onde mesmo?
servo, quando homens pobres podiam Exatamente, no centro do que fora o
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
maior império do mundo, o mesmo que desde a polí�ca até as artes. Mas havia
conquistou os gregos e mesclou a cultu- algo que os impedia em progredir, e que
ra deles com a sua, preservando vários infelizmente também estava lá junto
de seus escritos. Os homens do renasci- deles na Península Itálica.
mento foram buscar nos gregos e roma-
nos an�gos inspiração para louvarem o Era a Igreja com seus ensinamentos
ser humano. Isso mesmo, “inspiração”. escolás�cos, principalmente Santo
Eles não estavam querendo simples- Tomás de Aquino e Aristóteles, que
mente copiá-los, prova disso é que dife- ensinavam um conhecimento baseado
rentemente dos an�gos que contem- na pura contemplação e que vinha
plavam a natureza, os renascen�stas sendo transmi�do às gerações pela tra-
queriam conhecê-la para dominá-la. dição, que era indiscu�vel. Para a Igreja,
Não bastava um pensamento contem- esses sujeitos que já haviam rompido
pla�vo, eles queriam um saber a�vo com a organização social que ela havia
que lhes permi�ssem criar coisas. O dito que era a única correta, pois reflexo
homem renascen�sta que rompeu com da vontade de Deus, agora querem des-
as imposições da sociedade feudal, cobrir os segredos do corpo humano,
agora queria romper também com as da natureza e do universo. Mas ela já
imposições que a natureza lhe impu- havia dito tudo que �nha para ser dito.
nha. Descobrir seus mistérios para usá- Essa vontade de conhecer era uma blas-
-los a seu favor era algo muito rentável fêmia tamanha que só poderia ser puri-
e promissor. ficada pelo fogo da Inquisição do Santo
O�cio. “Ousem ques�onar o que disse-
Pergunte aos navegadores que �- mos e sofrerão as consequências”, era o
nham que desbravar os mares, aos aviso que a Igreja havia dado. Mas as
mineradores que �nham que encontrar famílias ricas ousaram e, conhecidos
metais preciosos para cunhar moedas. como mecenas, financiaram vários
Pergunte aos estudantes de medicina ar�stas e cien�stas, que com sua arte e
que queriam conhecer melhor o corpo invenções iam firmando os valores bur-
humano para tratá-lo melhor, e aos gueses na nova sociedade.
engenheiros que queriam descobrir
novas formas de construir armas para 1.1.2 Primeiros pensadores humanis-
guerrear com mais facilidade. Essa von- tas: Francesco Petrarca
tade de obter um conhecimento que os
ajudassem em questões prá�cas (o em- Petrarca é considerado o iniciador do
brião do conhecimento cien�fico), se Humanismo. Pesquisador e filólogo,
refle�u em todos os ramos da cultura, divulgador e escritor, é �do como o
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
Não podemos fazer nada melhor do Para que esse renascimento e o retorno
que sermos humanos. De nada adianta aconteçam é necessário rejeitar tudo
criarmos fantasias de que seremos algo que foi criado pelo poder eclesiás�co, é
mais elevado do que humanos que preciso uma reforma religiosa, o cris�a-
somos. Aspirarmos ser algo além de nismo tem que voltar às suas origens,
homens é inú�l e pode nos causar ao entendimento das verdades simples
danos morais. Ele afirma ainda que a que os evangelhos mostram. O caminho
morte faz parte da nossa condição de da sabedoria e da salvação é simples e
humanos. Nós somos uma mescla de passa pela esperança, pela caridade e
vida e morte e ambas se confundem em pela fé sincera. Esses pontos dão liber-
nós. Aprender a viver é aprender a dade ao espírito e essa liberdade é o
morrer. Quando assumimos nossa con- verdadeiro ensinamento do evangelho.
dição mortal tendemos a es�mar mais a O espírito cristão não está nas roupas
vida que temos. A morte nos faz desejar eclesiás�cas ou em uma alimentação,
viver mais e melhor. mas na sensibilidade na emoção e na
compreensão. O cristão pode encontrar
1.2 A Renascença e a Religião tudo isso lendo e interpretando a Bíblia
e é da leitura das Sagradas Escrituras
1.2.1 Erasmo de Ro�erdam que vai renascer o verdadeiro cristão,
vai renascer a verdadeira natureza
Erasmo posiciona-se contra a constru- humana. A bíblia é a fonte do cris�anis-
ção da filosofia com base no aristotelis- mo e nela deve-se beber a água do
mo escolás�co. Ele acredita que o obje- renascimento.
�vo da filosofia é conhecer-se a si
mesmo, seguindo os passos de Sócra- Em seu livro Elogio da Loucura, ele u�li-
tes. Conhecer-se a si mesmo é a�ngir a za do sarcasmo e da sá�ra para
sabedoria que está ligada a uma vida demonstrar o declínio da moral religio-
religiosa cristã. Para ter sabedoria as sa da sua época. Para ele, a loucura é o
pessoas não precisam de grandes apro- que movimenta a vida, é a men�ra que
fundamentos filosóficos, basta a leitura dá sen�do à existência. Nossa socieda-
e o entendimento de poucos livros que de e nós mesmos temos por base a
para ele são os Evangelhos e as Epísto- men�ra e a ilusão e são elas que enco-
las de Paulo o apóstolo. Através do brem a dura realidade em que vivemos,
entendimento desses livros pode-se elas tornam a vida mais atraente. Nas
retornar à verdadeira natureza do cris- ideias de Erasmo estão as bases do pro-
�anismo, pode-se renascer. testan�smo de Lutero, mas sobre um
ponto Erasmo discorda de Lutero, no
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
cipal igreja da cidade. Tendo lido recen- pério alemão e também contra os can-
temente a tradução do Novo Testamen- tões católicos da Suíça. Buscando fazer
to feita por Erasmo, começou em 1519 uma aliança com os protestantes ale-
a pregar uma série de sermões bíblicos mães, encontrou-se com Lutero no
que causaram forte impacto. A par�r célebre Colóquio de Marburg, convoca-
dessa época, defendeu um grande pro- do pelo príncipe Filipe de Hesse em
grama de reformas em cooperação com 1529. Embora concordassem em quase
os magistrados civis. Suas ideias sobre o todos os pontos discu�dos, os dois
culto público e os sacramentos repre- reformadores não puderam chegar a
sentaram uma ruptura mais radical com um acordo com relação à Ceia do
as an�gas tradições do que fez o movi- Senhor. No dia 11 de outubro de 1531,
mento luterano. quando acompanhava as tropas protes-
tantes na segunda batalha de Kappel,
O ano de 1522 foi decisivo. Zwínglio Zuínglio foi morto em combate. Segun-
protestou contra o jejum da quaresma e do se afirma, suas úl�mas palavras
o celibato clerical, casou-se secreta- foram: “Eles podem matar o corpo, mas
mente com Ana Reinhart, escreveu não a alma”.
Apologeticus Archeteles (seu testemu-
nho de fé) e renunciou ao sacerdócio, 1.2.4 João Calvino
sendo contratado pelo concílio munici-
pal como pastor evangélico. Nos dois João Calvino, ba�zado Jean Cauvin,
anos seguintes, uma série de debates nasceu em Noyon (10/07/1509), filho
públicos levou à progressiva implanta- de Gérard Cauvin, oficial da Igreja cató-
ção da reforma em Zurique, culminan- lica na cidade, e de Jeanne de Lafranc,
do com a subs�tuição da missa pela filha de abastado hoteleiro de Cambrai
Ceia do Senhor em 1525. Infelizmente, e influente membro da sociedade de
alguns de seus primeiros colaborado- Noyon. Católicos pra�cantes, consagra-
res, tais como Conrado Grebel e Félix ram dois filhos ao sacerdócio, Charles e
Mantz, adotaram posturas radicais Jean. Com os rumores da Reforma,
quanto ao ba�smo, dando início ao mo- Gérard passou a ques�onar a validade
vimento anaba�sta, que gerou fortes de preparar Jean para o sacerdócio.
reações das autoridades. Obediente ao pai, Jean deixou Paris e
seguiu estudos em Orleans, depois em
Os úl�mos anos da vida de Zwínglio Bourges (Direito). Depois, Letras Clássi-
foram marcados por crescente a�vida- cas (Paris). Em 1532, Jean Cauvin publi-
de polí�ca. No interesse da causa refor- cou seu comentário da obra de Sêneca,
mada, ele defendeu a luta contra o im- De Clementia (sobre a clemência), con-
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
“Como é meu intento escrever coisa ú�l Durante a Idade Média, o poder do rei
para os que se interessarem, pareceu- era sempre confrontado com os pode-
-me mais conveniente procurar a verda- res da Igreja ou da nobreza. As monar-
de pelo efeito das coisas, do que pelo quias nacionais surgem com o fortaleci-
que delas se possa imaginar. E muita mento do rei e, portanto, com a centra-
gente imaginou repúblicas e principa- lização do poder, fenômeno este que se
dos que nunca se viram nem jamais desenvolve desde o final do século XIV
foram reconhecidos como verdadeiros.” (Portugal) e durante o século XV (Fran-
As transformações sofridas pelo poder ça, Espanha, Inglaterra). Dessa forma
polí�co não passaram despercebidas surge o Estado moderno, que apresenta
pelos renascen�stas, e a principal e caracterís�cas específicas, tais como o
mais significa�va personalidade nesse monopólio de fazer e aplicar as leis,
campo foi o floren�no Nicolau Maquia- recolher impostos, cunhar moeda, ter
vel. Ele assumiu um cargo importante um exército. A novidade é que tudo isso
no governo de Florença depois que a se torna prerroga�va do governo cen-
família Médici foi afastada do controle tral, o único que passa a ter o aparato
da cidade. Trabalhava como diplomata administra�vo para prestação dos servi-
fazendo várias viagens aos grandes ços públicos bem como o monopólio
reinos que haviam se unificado, e não legí�mo da força. É em função desse
se conformava com o estado de guerra contexto que se torna possível compre-
que se encontrava a Península Itálica. ender o pensamento de Maquiavel.
guerras. A questão é �rar o melhor pro- aparência e o resultado final da sua po-
veito possível dela. Este �po de disposi- lí�ca e não os pecados em que incorreu
ção, indiferente ao apelo pacifista do ou os métodos que u�lizou para mantê-
cris�anismo, é que levou seus crí�cos a -la. Deve, sim, cul�var a ferocidade de
dizerem que o Maquiavel estava a servi- um leão e a astúcia de uma raposa.
ço de Lúcifer. Há dois �pos de males: 1)
mal bom (posi�vo): quando aplicado de Quando estava no ostracismo polí�co,
uma só vez; quando impõe a ordem; 2) Maquiavel se ocupa com a elaboração
mal ruim (nega�vo): quando se estende dos Comentários sobre a primeira
por muito tempo; quando gera desor- década de Tito Lívio, interrompendo
dem. esse trabalho por alguns meses para
escrever O príncipe. À medida que
5. O príncipe e seus dilemas. 1) Deve ser escreve os Comentários, lê trechos nas
liberal ou con�do? É perigoso ser libe- reuniões realizadas por jovens republi-
ral. Ser gastador significa aumentar os canos, a quem dedica a obra. Aí desen-
impostos do povo, o que gera descon- volve ideias democrá�cas, admi�ndo
tentamento. Melhor a fama de sovina que o conflito é inerente à a�vidade po-
do que a de pródigo; “os homens lí�ca e que esta se faz a par�r da conci-
esquecem mais rapidamente a morte liação de interesses divergentes. Defen-
do pai do que a perda do patrimônio”; de a proposta do governo misto: “Se o
2) Ser amado ou temido? Na impossibi- príncipe, os aristocratas e o povo gover-
lidade de conquistar ambas as coisas, é nam em conjunto o Estado, podem com
melhor ser temido, pois é o método do facilidade controlar-se mutuamente”.
cas�go que mantém o povo quieto; 3) Considera importante que as monar-
Deve ou não sustentar a palavra dada? quias ou repúblicas sejam governadas
Se uma promessa resulta em algo incô- pelas leis e acusa aqueles que, no uso
modo aos interesses do Estado é da violência, abusaram da crueldade,
melhor esquecer o que jurou cumprir; ou a usaram para interesses menores.
4) Deve ou não temer uma conspira-
ção? Somente se for odiado pelo povo e Maquiavel era um republicano e não
cair em desgraça junto aos poderosos escreveu uma obra para um governante
da cidade. A obrigação maior dele é que quisesse se perpetuar no poder de
vencer e manter o Estado, não impor- forma absoluta e despó�ca. Ele �nha
tando os meios u�lizados para alcançar um sonho, mas não era um ingênuo.
tal fim. Se ele �ver sucesso em sua em- Sabia que teria de haver derramamento
preitada sempre será louvado e honra- de sangue para que um grande Estado
do por todos, porque o que importa é a fosse criado, e que isso teria de ocorrer
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
mais famosas estão Mona Lisa ou Gio- mesma inerte. A força anima, penetra,
conda (1503-1505) na qual fez uso da move, transforma con�nuamente toda
técnica do esfumado que havia criado, a matéria.”
encontra-se atualmente no Museu do
Louvre em Paris; e A úl�ma ceia (1495- O intelecto é reduzido aos sen�dos,
-1497), um mural representando Cristo bem como o conceito universal é redu-
e seus apóstolos encomendado pela zido à sensação. Como é naturalizado o
Igreja de Santa Maria dele Grazie, em pensamento, é também naturalizada a
Milão. O fato de não ter assinado suas vontade, no sen�do materialista e
obras, faz com que muitos de seus tra- hedonista. Entretanto, haveria no
balhos ainda estejam perdidos, além homem também uma alma que trans-
disso, ganhou fama por deixar grande cende a natureza e o mundo material,
parte de suas obras inacabadas. O Papa criada e infundida por Deus. Por conse-
Leão X ao se referir a essa caracterís�ca quência, o homem pode pensar e
proferiu: “Da Vinci gosta mais do cami- querer o supersensível, o eterno, e do-
nho que da chegada, mais do processo minar com a vontade livre as tendências
que do resultado”. naturais. Desse modo, acima da ciência
é posta e jus�ficada a fé e a revelação.
1.4.2 Bernardino Telésio
1.4.3 Giordano Bruno
Na Renascença houve um grande pen-
sador Bernardino Telésio. Nasceu em Nascido em Nola em 1548, Giordano
1509 em Cosenza (Itália), estudou espe- Bruno entrou muito jovem no convento
cialmente em Pádua (Itália) e faleceu de São Domingos em Nápoles, onde foi
em 1588. A sua obra fundamental é “De ordenado sacerdote em 1572. Acusado
rerum natura iuxta propria principia” em 1576 de heresia e de homicídio,
que significa “A nova naturalidade se deixou o sacerdócio e iniciou uma fase
ajusta aos próprios princípios”. O pen- de peregrinações pela Europa, até que
samento de Telésio representa uma em 1591 voltou para a Itália, aceitando
sistema�zação do naturalismo da o convite do nobre veneziano João Mo-
Renascença, a saber, uma tenta�va para cenigo, que desejava dele aprender
explicar a natureza mediante os princí- uma arte an�ga de memorização,
pios universais imanentes à mesma porém, denunciou-o ao Santo O�cio.
natureza. “O mundo natural é cons�tuí- Começou então o processo por heresia
do de matéria e de força. A matéria é que se concluiu com a condenação à
homogênea, preenche o espaço (que morte na fogueira, executada em Roma
existe antes da matéria) e é por si dia 7 de fevereiro de 1600. Até o fim,
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
Bruno não renegou seu credo filosófico- uma parte ora de outra, eram apenas
-religioso. apoios tá�cos para realizar a própria
reforma. E precisamente por isso é que
Para entender a mensagem de um filó- ele provocou violentas reações em
sofo é preciso captar a essência do seu todos os ambientes nos quais ensinou.
pensamento, a fonte dos seus conceitos Bruno não podia seguir nenhuma seita,
e o espirito que lhe dá vida. No caso de porque seu obje�vo era o de fundar ele
Giordano Bruno, onde estão esse fulcro, próprio uma nova religião. E, no entan-
essa fonte e essa alma? A marca que to, estava cheio de Deus e o infinito foi
dis�ngue o seu pensamento é de cará- o seu princípio e o seu fim. Mas trata-se
ter mágico-hermé�co. Bruno se coloca de um “divino” e de um “infinito” de
na trilha dos magos-filósofos renascen- caráter neopagão, que o aparato con-
�stas, procurando manter-se dentro ceitual do neoplatonismo prestava-se a
dos limites da ortodoxia cristã, mas que expressar de modo quase perfeito.
ele tratou de levar às úl�mas consequ-
ências. E mais, o seu pensamento pode Depois do período na França, a etapa
ser entendido como uma espécie de mais significa�va da carreira de Bruno
gnose renascen�sta, uma mensagem foi sua estada na Inglaterra, onde elabo-
de salvação moldada no �po de religio- rou e publicou os “Diálogos Italianos”,
sidade “egípcia”, como precisamente que cons�tuem suas obras-primas.
pretendia ser a mensagem dos escritos Antes de falar do seu conteúdo, é bom
hermé�cos. Ele adequa o neoplatonis- iden�ficar como Bruno se apresentou
mo para servir de base e de moldura aos ingleses, par�cularmente aos
conceitual para essa sua visão religiosa. doutos da Universidade de Oxford. Ele
expôs uma visão copernicana do uni-
A filosofia de Bruno é fundamentalmen- verso, centrada na concepção heliocên-
te hermé�ca, ele era um mago hermé�- trica e na infinitude do cosmo, vinculan-
co do �po mais radical, com uma espé- do-o à magia astral e ao culto solar.
cie de missão mágico-religiosa. Conse- Criou-se um escândalo que obrigou
quentemente, é claro que Bruno não Bruno a despedir-se rapidamente dos
podia estar de acordo com os católicos “pedantes gramá�cos” de Oxford, que
nem com os protestantes (em úl�ma nada haviam entendido de sua mensa-
instância, não pode ser considerado gem. A imagem que ele queria transmi-
sequer cristão, pois acabou pondo em �r de si mesmo, portanto, era a do
dúvida a divindade de Cristo e os mago renascen�sta, de alguém que
dogmas fundamentais do cris�anismo) propunha a nova religião “egípcia” da
e que os apoios que buscava, ora de revelação hermé�ca, o culto do deus
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
que está presente nas coisas. qual brotam todas as formas que são
imanentes à matéria, cons�tuindo com
No seu pensamento, o “egipcianismo” é ela um todo indissolúvel. As formas são
apresentado até mesmo como temá�- a estrutura dinâmica da matéria, “que
ca, ao passo que Hermes Trismegisto é vão e vêm, cessam e se renovam”, pre-
apresentado como fonte de sabedoria. cisamente porque tudo é animado,
E essa visão do “deus nas coisas” esta tudo está vivo. A alma do mundo está
expressamente ligada à magia, entendi- em cada coisa. E na alma está presente
da como sabedoria proveniente do “sol o intelecto universal, fonte perene de
inteligível”, que é revelada ao mundo formas que con�nuamente se renovam.
ora em menor ora em maior medida. O Por isso, é compreensível que, nesse
“egipcianismo” de Bruno é uma forma contexto, Deus e natureza, forma e ma-
de religião paganizante, com base na téria, ato e potência acabem por coinci-
qual ele pretendia fundar a reforma dir, a ponto de Bruno escrever: “Daí,
moral universal. Mas quais são seus não é di�cil ou grave, em úl�ma instân-
fundamentos filosóficos? Acima de cia, aceitar que, segundo a substância,
tudo, Bruno admite uma “causa” ou um tudo é uno, como talvez tenha entendi-
“princípio supremo”, ao qual ele chama do Parmênides, tratado ignobilmente
também de “mente sobre as coisas”, da por Aristóteles”.
qual deriva todo o restante, mas que
permanece incognoscível para nós. O infinito se torna a marca emblemá�-
ca da sua filosofia. Com efeito, para
Todo o universo é efeito desse primeiro Bruno, se a Causa ou o Princípio primei-
princípio; mas não se pode remontar do ro é infinito, também o efeito deve ser
conhecimento dos efeitos ao conheci- infinito. Com base nisso, Bruno sustenta
mento da causa, como não se pode não apenas a infinitude do mundo em
remontar da visão de uma estátua à geral, mas também (retomando a ideia
visão do escultor que a fez. Esse princí- de Epicuro) a infinitude no sen�do da
pio outra coisa não é do que o Uno de existência de mundos infinitos seme-
Plo�no adaptado por um renascen�sta. lhantes ao nosso, com outros planetas e
Assim como em Plo�no, o Intelecto outras estrelas, “e isso se chama univer-
deriva do Supremo Princípio, analoga- so infinito, no qual há inumeráveis
mente, Bruno também fala de um Inte- mundos”. Infinita também é a vida,
lecto universal, mas o entende, de porque infinitos indivíduos vivem em
modo mais marcadamente imanen�sta, nós, assim como em todas as coisas
como mente nas coisas e precisamente compostas. O morrer não é morrer,
como faculdade da Alma universal, da porque “nada se aniquila”. Assim, o
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
“nova de Tycho”. Tycho observou o seu planetas. Este modelo preservava a ele-
brilho a diminuir nos meses seguintes e gância do modelo geocêntrico grego,
decidiu que a Astronomia �nha de ser a retendo a �sica de Aristóteles, explican-
sua carreira. Teve a sorte de em 1576 o do porque é que os objetos caíam de
Rei Frederico da Dinamarca lhe ter pro- volta para a Terra, ganhando as vanta-
porcionado o local para a instalação de gens da simplicidade de explicação das
um observatório na ilha bál�ca de retrogradações do modelo heliocêntri-
Hven, conjuntamente com fundos para co. Tycho também observou um cometa
a sua manutenção. brilhante em 1577 e provou que, con-
trariamente ao defendido pelos geo-
Tycho considerou sempre que para se centristas (que pretendiam tratar-se de
poder �rar conclusões corretas dos um corpo terrestre), este se encontrava
fenômenos naturais, era necessário muito para além da Lua, o que cons�-
dispor de medidas o mais precisas pos- tuiu um argumento contra o geocentris-
sível. Tendo em vista esse obje�vo, mo, pois desta forma ficou provado que
construiu instrumentos de proporções o Universo celeste não era imutável.
gigantescas, de modo a minorar os
erros de precisão, como é o caso do Viria a falecer em 1601, não sem antes
grande quadrante mural do observató- fornecer a Kepler todos os dados das
rio. Além das dimensões, Tycho preocu- suas observações, pedindo-lhe que pu-
pou-se em colocar os seus instrumen- blicasse o seu úl�mo trabalho, as Tabe-
tos sob fundações sólidas de modo a las Rudolfinas, dedicadas ao imperador.
que man�vessem a sua estabilidade. Neste livro, foram compilados os dados
Entre 1576 e 1598, Tycho produziu as observacionais de Tycho, embora a
maiores tabelas que alguma vez haviam visão teórica patente no livro seja a de
sido realizadas até à época. No entanto, Kepler, que era um heliocentrista.
não conseguiu verificar qualquer para-
laxe estelar ou qualquer outro movi- 2.3 Johannes Kepler
mento anual que indicasse que a Terra
se deslocasse ao redor do Sol. Johannes Kepler foi um astrônomo,
astrólogo e matemá�co alemão, sendo
Tycho viu claramente as vantagens de conhecido por suas leis chamadas de
ter um sistema centrado no Sol e, por “Leis de Kepler”. Elas descrevem os mo-
isso, em 1586, propôs o seu modelo vimentos dos planetas do sistema solar
híbrido em que o Sol gira em torno da a par�r de modelos heliocêntricos.
Terra ao longo de um ano mas leva orbi- Kepler foi uma das principais figuras do
tando à sua volta os restantes Renascimento Cien�fico, ao lado de Co-
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
céu e não como vai o céu”. sob pena de prisão, “não ensiná-la e
não defendê-la de nenhum modo, nem
Para Galileu, portanto, ciência e fé são com as palavras nem com os escritos”.
compa�veis porque incomensuráveis, Galileu concordou e prometeu obede-
não se trata de um “ou-ou”, e sim de um cer. Em 1623 sobe ao trono pon��cio,
“e-e”; o discurso cien�fico é um discur- com o nome de Urbano VIII, o cardeal
so factualmente controlável, des�nado Maffeo Barberini, amigo e admirador
a fazer-nos ver como funciona o de Galileu. Encorajado por este evento,
mundo; o discurso religioso é um dis- Galileu retoma sua batalha cultural; e
curso de “salvação” que não se ocupa em 1632 publica a obra Diálogo de Gali-
de descrever o mundo, e sim do “sen�- leu Galilei Linceu, onde se discorre
do” do universo, da vida dos indivíduos sobre os dois máximos sistemas do
e de toda a humanidade. Denunciado mundo ptolomaico e copernicano,
ao Santo Oficio, Galileu é processado fazendo uma defesa cerrada do sistema
em Roma em 1616, ele é proibido de copernicano. O Diálogo sobre os dois
ensinar ou defender com palavra ou máximos sistemas do mundo aparece
com os escritos a teoria copernicana. em 1632.
No dia 19 de fevereiro de 1616, o Santo Urbano VIII foi convencido pelos adver-
O�cio passou a seus teólogos as duas sários de Galileu de que o Diálogo cons-
proposições não aceitas pela Igreja e �tuía um descrédito da autoridade e
que resumiam o núcleo da questão: a) talvez também do pres�gio do papa, o
“Que o sol esteja no centro do mundo e, qual estaria sendo ridicularizado. Foi
por conseguinte, imóvel de movimento assim que iniciou o segundo processo
local”; b) “Que a terra não está no contra Galileu em 1633, que o conde-
centro do mundo nem imóvel, mas se nou a negar o que havia dito. A prisão
move segundo si mesma inteira, perpétua lhe é logo comutada em confi-
também com movimento diurno”. namento, em sua casa. Na prisão domi-
Cinco dias depois, dia 24 de fevereiro, ciliar escreve os Discursos e demonstra-
todos os teólogos do Santo O�cio con- ções matemáticas sobre duas novas
denaram as duas proposições. A sen- ciências, que aparecerão em 1638.
tença do Santo O�cio é transmi�da à Essas ciências são a está�ca e a dinâmi-
Congregação do Índex, que no dia 3 de ca. Tais discursos são propostos em
março de 1616 emana a condenação do forma de diálogo onde discute-se sobre
copernicanismo. No dia 26 de fevereiro, a resistência dos materiais, sobre siste-
o papa �nha alertado Galileu a abando- mas de alavanca, e está presente a cele-
nar a ideia copernicana e lhe ordenava, bre experiência sobre planos inclina-
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
parada de braços cruzados. A inquisição reis feudais, esses novos Reis teriam
caiu em cima de Galileu e ele teve de tanto poder que alguns deles desafia-
dizer que suas teorias eram apenas ram até o representante de deus na
suposições (hipóteses). Apesar de tudo, terra, o Papa.
a Igreja não conseguiu conter a Revolu-
ção Cien�fica que Galileu havia come- 2.5 Isaac Newton
çado, e muitos foram os estudiosos que
deram prosseguimento a seus estudos, O grande cien�sta que completou a
sendo Isaac Newton quem aperfeiçou o revolução cien�fica do século XVII foi
sistema. Isaac Newton. Ele também era fascina-
do pelos inventos mecânicos de sua
E o movimento renascen�sta não ficou época, quando criança construiu pipas,
só na Península Itálica, ele se espalhou moinhos, e até um relógio d’agua. Na
por toda a Europa. Na França �vemos universidade ele conheceu a filosofia
também Rabelais (1490-1553), na Ingla- mecânica de Descartes e seus trabalhos
terra, Willian Sheakespeare (1564 de geometria, a explicação matemá�ca
-1616), na Espanha, Miguel de Cervan- de Galileu para o universo, e as leis de
tes (1547-1616), nos Países Baixos, Kepler sobre os movimentos planetá-
Erasmo de Ro�erdam (1466-1536). É rios. Quando estudou a luz usou o
importante destacar que talvez a princi- método de observação e experimenta-
pal invenção dessa época, sem a qual ção de Francis Bacon, e descobriu que
nada disso poderia ter acontecido, as cores são uma propriedade da luz e
tenha sido a imprensa (1454) do não dos objetos.
alemão Gutemberg. Ela possibilitou a
reprodução rápida e barata dos livros já Newton se vale das duas grandes con-
produzidos e dos que estavam sendo cepções de ciência de seu tempo, a ma-
escritos. Ela foi também um importante tema�zação e a experiência. Mas ele
instrumento contra a centralização do não é apenas um seguidor dessas dife-
saber com o clero, já que antes dela os rentes concepções, ele as unifica e as
livros eram copiados pelos monges de supera, na síntese que faz do empiris-
capa a capa. Imagine quanto tempo mo de Francis Bacon e do racionalismo
levaria para copiar a quan�dade de de Descartes. Apesar de se u�lizar da
livros que circulou pela Europa nesse filosofia mecânica, Newton não gostava
tempo. Essas foram grandes realizações do materialismo que estava por trás
dos homens, que ainda con�nuaram no dela, do fato desta filosofia ter �rado
campo da polí�ca com a criação dos Deus da explicação do funcionamento
Estados Nacionais. Diferentemente dos do mundo. Na base de todo o pensa-
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Humanismo, Renascimento e Revolução Científica Moderna
Indicações de Leituras
1. Cancioneiro, de Petrarca
2. A Douta Ignorância, de Nicolau de Cusa
3. Discurso Sobre a Dignidade do Homem, de Giovanni Pico Della Mirandola
4. Humanismo y renacimiento, de Lorenzo Valla e outros
5. Os ensaios, de Montaigne
6. Elogio da Loucura, de Erasmo de Ro�erdam
7. As 95 Teses e a Essência da Igreja, de Mar�nho Lutero
8. Institutas da Religião Cristã, de João Calvino
9. O Príncipe e Discursos Sobre a Primeira Década de Tito Lívio, de Maquiavel
10. A Utopia, de Tomás Morus
11. Os Seis Livros da República, de Jean Bodin
12. O Direito da Guerra e da paz, de Hugo Gro�us
13. Leonardo da Vinci, de Walter Isaacson e André Czarnobai
14. A Causa, o Princípio e o uno, de Giordano Bruno
15. A Cidade Do Sol, de Tommaso Campanella
16. Commentariolus, de Nicolau Copérnico
17. Kepler o Legislador dos Céus, de Paulo Roberto Mar�ns Contador
18. Kepler: a descoberta das leis do movimento planetário, de Ronaldo Rogé-
rio de Freitas Mourão
19. Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e coperni-
cano, de Galileu Galilei
20. Principia. Princípios Matemáticos de Filosofia Natural, de Isaac Newton