Você está na página 1de 16

FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.

br

UNIDADE 3 – FILOSOFIA MODERNA Percebam que nessas ricas cidades a visão de


mundo feudal (teocêntrica) fundamentada pela Igreja não
tinha muito espaço. Não é que todo mundo ficou ateu
nas cidades, mas é que a interpretação de mundo passa a
CAPÍTULO 6 - RENASCIMENTO
se dar a partir do homem, já que ele, realmente era um
CONTEXTO HISTÓRICO – ROMPIMENTO pecador, mas também fora feito à imagem e semelhança
COM O ANTIGO E O NASCIMENTO DO de Deus, do criador. E por ter algo de divino, a criatura
(MUNDO) MODERNO mais perfeita criada por Deus, ele poderia também criar
maravilhas.
A ruptura com o sistema feudal não aconteceu da
noite para o dia. Foi um processo lento e gradual de O homem passaria a olhar o mundo desde então,
transformações no mundo e no pensamento que não mais a partir de Deus, mas a partir de si mesmo. O
aconteciam ainda na (baixa) Idade Média. Se ainda hoje centro das coisas agora era o homem
existem resquícios desse tempo, imagine durante essa (antropocentrismo). Por isso que os pensadores desse
passagem. tempo ficaram conhecidos como humanistas.

A ponte entre esses dois mundos foi o Eles estavam no século XIII, onde poderiam
Renascimento, que começou ainda no século XIV e se encontrar fundamentos para essas suas ideias? Isso
estendeu até o século XVI. Foi ele o combustível mesmo, eles tiveram que recuar mais de 1.000 anos para
intelectual que justificou o abandono de uma forma encontrar nos gregos antigos algo parecido com o que
(ultra)passada de ver a si mesmo e ao mundo, e deu novas estava acontecendo com eles. E não foi muito difícil fazer
cores, formas e respostas ao que já estava acontecendo e isso, já que eles estavam, onde mesmo? Exatamente, no
ao que ainda estava por vir. Por isso, é ele que passaremos centro do que fora o maior império do mundo, o mesmo
a estudar agora. que conquistou os gregos e mesclou a cultura deles com
a sua, preservando vários de seus escritos.
Enquanto os grandes reinos estavam sendo
criados, porque a situação estava um caos e precisava-se Os homens do renascimento foram buscar nos
de um poder forte para controlá-la, na Península Itálica, gregos e romanos antigos inspiração para louvarem o ser
onde se encontravam as principais rotas comerciais, humano. Isso mesmo, “inspiração”. Eles não estavam
cidades muito ricas ficavam cada vez mais ricas devido ao querendo simplesmente copiá-los, prova disso é que
intenso comércio com o oriente. diferentemente dos antigos que contemplavam a
natureza, os renascentistas queriam conhecê-la para
As mais ricas cidades foram Gênova, Veneza e dominá-la.
Florença, comandadas por ricas famílias de comerciantes
e banqueiros, e onde um grande número de pessoas de Não bastava um pensamento contemplativo, eles
todos os lugares passavam por lá e, além de comerciarem, queria um saber ativo que lhes permitissem ciar coisas.
trocavam ideias e experiências de vida, ampliando os
O homem renascentista que rompeu com as
horizontes de seus habitantes.
imposições da sociedade feudal, agora queria romper
Nessas cidades, uma nova ordem social era também com as imposições que a natureza lhe impunha.
criada. Lá os homens faziam seus destinos por conta Descobrir seus mistérios para usá-los a seu favor era algo
própria, eram senhores de si, construtores de seu novo muito rentável e promissor.
mundo. Este, era muito diferente daquele existente no
Pergunte aos navegadores que tinham que
campo, onde imperavam as regras sociais feudais
desbravar os mares, aos mineradores que tinham que
sustentadas pela visão teocêntrica (Deus no centro de
encontrar metais preciosos para cunhar moedas.
tudo) imposta pela Igreja.
Pergunte aos estudantes de medicina que queriam
Esses homens não aceitavam a imobilidade conhecer melhor o corpo humano para trata-lo melhor,
social, em que um servo morreria servo, quando homens e aos engenheiros que queriam descobrir novas formas
pobres podiam ficar ricos e melhorar de via. Eles não de construir armas para guerrear com mais facilidade.
aceitavam ter uma vida de penitências quando se poderia
Essa vontade de obter um conhecimento que os
aproveitar os prazeres que a vida tem a oferecer. Eles não
ajudassem em questões práticas (o embrião do
aceitavam que a busca pelo lucro fosse um pecado
conhecimento científico), se refletiu em todos os ramos
mortal, enquanto que esse lucro lhes proporcionava
da cultura, desde a política até as artes. Mas havia algo
mudar para uma vida melhor, na medida de seu próprio
que os impedia em progredir, e que infelizmente também
esforço pessoal.
estava lá junto deles na Península Itálica.
Página | 1
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

Era a Igreja com seus ensinamentos escolásticos,


principalmente Santo Tomas de Aquino e Aristóteles,
que ensinavam um conhecimento baseado na pura
contemplação e que vinha sendo transmitido às gerações
pela tradição, que era indiscutível.
Para a Igreja, esses desgraçados que já haviam
rompido com a organização social que ela havia dito que
era a única correta, pois reflexo da vontade de Deus,
agora querem descobrir os segredos do corpo humano,
da natureza, e do universo. Mas ela já havia dito tudo que
tinha para ser dito.
Essa vontade de conhecer era uma blasfêmia
tamanha que só poderia ser purificada pelo fogo da
Inquisição do Santo Ofício. “Ousem questionar o que
dissemos e sofrerão as consequências”, era o aviso que a
Igreja havia dado.
Mas as famílias ricas ousaram, e, conhecidos
como mecenas, financiaram vários artistas e cientistas,
que com sua arte e invenções iam firmando os valores
burgueses na nova sociedade.
Nas artes eram usados conhecimentos Rafael Sanzio (1483 – 1520) – o “pintor da
científicos e matemáticos, e nelas se destacaram grandes madonas”. Veja só uma de suas obras mais famosas. A
nomes na Península Itálica, tais como: Escola de Atenas representa os maiores pensadores da
grécia antiga, tendo Platão e Aristótels ao centro.
Leonardo da Vince (1452 – 1519) – grande
gênio da época interessou-se por tudo, engenharia,

astronomia, pintura, escultura, filosofia, física, música,


etc. Seus traços sempre valorizaram as formas humanas
e suas invenções militares ajudaram os homens daquela
época a se matarem com mais eficiência. Ele também
dissecava corpos nas horas vagas, e seus desenhos Nas ciências como a biologia, física,
ajudaram a entender melhor o funcionamento do corpo matemática, astronomia, tivemos grandes nomes que
humano. enfrentaram os dogmas (verdades indiscutíveis) da Igreja.
Nicolau Cpérnico (1473 – 1543) desafiou a teoria
Michelangelo Buonaroti (1475 – 1564) – foi geocênctrica (terra no centro do universo) defendida por
considerado o gigante do renascimento. As suas duas Aristóteles e epla Igreja, e propôs o modelo heliocentrico
maiores obras, o teto da Capela Sistina e o Davi, foram (sol no centro).
relacionadas a temas cristãos. Mas olhe só a imagem que
há por trás de Deus no momento da criação. Você
consegue reconhecer? E o Davi, qual a diferença com as
esculturas dos deuses e heróis gregos?

Página | 2
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

GALILEU GALIEI E O INÍCIO DA CIÊNCIA Aristóteles. Qualquer pessoa podeira ver isso pelo
EXPERIMENTAL telescópio e atestar que Galileu estava com a razão.
Também na Itália, Óbivio que a Igreja não ficou parada de braços
Galileu Galilei (1564 – cruzados. A inquisição caiu em cima de Galileu e ele teve
1642) conseguiu se impor de dizer que suas teorias eram apenas suposições
como um grande matemático (hipóteses).
e inventor. Ele era estudante
de medicina e abandonou o Apesar disso, a Igreja não conseguiu conter a
curso, para desgosto da Revolução Científica que Galileu havia começado, e
família, no intuito de se muitos foram os estudiosos que deram prosseguimento a
aprofundar nos estudos de seus estudos, sendo Isaac Newton quem aperfeiçou o
matemática, que era sua sistema.
grande paixão.
E o movimento renascentista não ficou só na
Galileu, contrariando os ensinamentos formais Peninsula Itálica, ele se espalhou por toda a Europa. Na
da Igreja predominantes nas escolas e universidades de França tivemos Rabelais (1490 – 1553) e Montaigne
seu tempo, acreditava que era possível explicar o universo (1533 – 1592), na Inglaterra, Willian Sheakespeare
através da matemática, e dedicou sua vida a provar que (1564 – 1616), na Espanha, Miguel de Cervantes (1547
estava certo. – 1616), nos Paises Baixos, Erasmo de Rotterdam
(1466 – 1536).
Não fosse por Galileu, talvez você não teria que
responder 45 questões de matemática, um quarto da Ém importante destacar que talvez a principal
prova. Mas também se não fosse por ele, talvez você não invenção dessa época, sem a qual nada disso poderia ter
estivesse lendo esse mateiral agora, pois provavelmente acontecido, tenha sido a imprensa (1454) do alemão
não haveria a tecnologia necessária por fazer ele chegar Gutemberg. Ela possibilitou a reprodução rápida e barata
até você. dos livros já produzidos e dos que estavam sendo
escritos.
Atraves de seus estudos de astronomia Galileu
chegou às mesmas conclusões de Copérnico sobre a Ela foi também um importante instrumento
posição da terra no sistema solar, sustentano um sistema contra a centralização do saber com o clero, já que antes
heliocentrico (sol no centro), contrariando a posição dela os livros eram copiados pelos monges de capa a
geocentrica (terra no centro) da Igreja. capa. Imagine quanto tempo levaria para copiar a
quantidade de livros que circulou pela Europa nesse
Além disso, fez algo tempo.
revolucionário. Desenvolveu o
telescópio. Pronto, a Igreja Essas foram grandes realizações dos homens, que
ficou doida. Agora, qualquer ainda continuaram no campo da política com a criação
pessoa poderia olhar por aquele dos Estados Nacionais. Diferentemente dos reis feudais,
negócio e ver com os próprios esses novos Reis teriam tanto poder que alguns deles
olhos as estrelas e a lua. desafiaram até o representante de deus na terra, o Papa.

Esse foi o grande passo


para o conhecimento experimental. Veja que um MAQUIAVEL E O DILEMA DO PRÍNCIPE
indivíduo, por meios dos sentidos, pôde sozinho desafiar
As transformações
os conhecimentos contemplativos sustentados por todo
sofridas pelo poder político não
o clero da Igreja.
passaram despercebidas pelos
Além de desbancar Aristóteles com relação à renascentistas, e a principal, e
queda dos corpos, por meio de seus cálculos matemáticos mais significativa personalidade
e suas experiencias na torre de Pisa, ele também provou nesse campo foi o florentino
que as esferas celestes não eram perfeitas como o filosofo Nicolau Maquiavel (1469 – 1527).
grego sustentava.
Ele assumiu um
Ele viu com seu telescópio as crateras lunares, e cargo importante no governo de
o extraordinário era que não se tratava apenas de uma Florença depois que a família Médici foi afastada do
disputa de opiniões, a palavra de Galileu contra a de controle da cidade. Trabalhava como diplomata fazendo

Página | 3
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

várias viagens aos grandes reinos que haviam se Chegado ao poder, é preciso saber como se
unificado, e não se conformava com o estado de guerra manter nele. Para isso, é melhor ser temido do que
que se encontrava a Península Itálica. amado. Maquiavel tinha uma visão pessimista sobre o
homem, acreditava que ele é um bicho escroto, que
Na época de Maquiavel as cidades mais quando tá tudo bem, todo mundo é seu amigo, mas “na
expressivas dessa região eram: a sua Florença, Milão, hora do vamos ver” todo mundo lhe vira as costas.
Nápoles, e Veneza. Apesar de seu forte comércio elas
eram frágeis politicamente e totalmente vulneráveis a Não existe essa de bem comum. Os indivíduos
ataques externos. Na época dele era a coisa mais comum vivem em constante conflito em sociedade, e não dá para
uma cidade invadir e dominar outra, por isso a sua agradar todo mundo. Para manter a lealdade de todos é
preocupação. melhor que eles o temam, pois assim é mais fácil de
obedecerem e se manterem fiéis. É até bom de vez em
Além disso, Maquiavel acreditava que a região quando esfolar um infeliz para que todos vejam que o
italiana só teria a ganhar se fosse unificada. Mas como príncipe não está para brincadeira.
fazer isso? Essa é a pergunta central de O Príncipe (1515),
a sua grande obra prima que iria mudar totalmente o Para o leitor superficial de Maquiavel, O Príncipe o
modo dos homens ocidentais enxergarem a política. torna, sem sombra de dúvidas, um dos escritores mais
sem escrúpulos de todos os tempos. Essa é a
Maquiavel é considerado o pai da ciência interpretação possível para quem analisa essa obra fora
política moderna porque não escreveu um tratado de seu contexto histórico.
teórico de como deveria ser o governo ideal. Desde os
gregos até sua época, todos fizeram isso. Maquiavel escreveu essa obra, quando os Médici
retornaram ao poder e ele foi posto para fora da cena
Sua preocupação não era como deveria ser a política. Ele a dedicou a Lorenzo de Médici, o único
política, mas sim em como ela é realmente praticada. homem que poderia, aos olhos dele, unificar a Itália e lhe
Com isso em mente, tendo como fundamento empírico trazer de volta o brilho e esplendor da Roma republicana
as lições que a história havia dado e como se anterior à ditadura de Júlio César.
comportavam os grandes políticos de sua época, ele
escreveu um manual de como construir um estado Maquiavel era um republicano, e não escreveu
forte e como se manter no poder para governá-lo. uma obra para um governante que quisesse se perpetuar
no poder de forma absoluta e despótica. Ele tinha um
Para isso ele entendia que o príncipe deveria ser sonho, mas não era um ingênuo. Sabia que teria de haver
guiado pelos resultados a serem alcançados, podendo derramamento de sangue para que um grande Estado
tudo fazer. Não deveria ficar preocupado com questões fosse criado, e que isso teria de ocorrer sob a liderança de
morais, o importante era conseguir o poder e mantê-lo. um único homem.
Para Maquiavel, portanto, a política não é atrelada à
moral, pois os “fins justificam os meios”. No entanto, alcançada a estabilidade, um regime
republicano deveria ser instalado para que o interesse
O príncipe deve usar de todas as artimanhas coletivo pudesse guiar o destino de todos, e os rumos do
possíveis, mentir, ludibriar, enganar. É o homem astuto, Estado.
esperto o suficiente para conseguir o que deseja. Desse
modo, para conseguir o poder ele tem que possuir a É claro que não encontramos isso em O Príncipe,
virtu, ou seja, qualidades especiais que o diferencie dos que, como já dissemos, é um manual de como conseguir
outros homens. É ela que vai possibilitá-lo a reconhecer o poder e se manter nele. Esse perfil republicano de
as circunstâncias certas (fortuna) para agir como se deve Maquiavel é percebido em outra obra sua, qual seja,
no momento certo. A fortuna é o que muitos chamam de Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio.
sorte, mas só a aproveita quem estiver preparado.
Vejamos um trecho dessa obra em que isso fica
Esse é o elemento característico do pensamento bem evidente:
renascentista nos seus ensinamentos. Maquiavel sabe que
existem forças independentes da vontade do homem “Percebe-se facilmente de onde nasce o amor à
agindo sobre ele. Mas o homem como um ser racional, liberdade dos povos; a experiência nos mostra que as
dotado de inteligência, não é uma simples marionete cidades crescem em poder e em riqueza enquanto são
jogada de um lado a outro ao sabor do acaso. Ele pode livres. É maravilhoso, por exemplo, como cresceu a
usar sua racionalidade para decidir os rumos de sua vida. grandeza de Atenas durante os cem anos que sucederam
à ditadura de Pisístrato. Contudo, mais admirável ainda é
a grandeza alcançada pela república romana depois que
Página | 4
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

foi liberta dos seus reis. Compreende-se a razão disto: Tribunal do Santo Ofício, discute a relação entre ciência
não é o interesse particular que faz a grandeza dos e fé, problemática cara no século XVII. A declaração de
Estados, mas o interesse coletivo. E é evidente que o Galileu defende que
interesse comum só é respeitado nas repúblicas: tudo que
pode trazer vantagem geral é nelas conseguido sem A) a bíblia, por registrar literalmente a palavra divina,
obstáculos. Se uma certa medida prejudica um ou outro apresenta a verdade dos fatos naturais, tornando-se guia
indivíduo, são tantos o que ela favorece, que se chega para a ciência.
sempre a fazê-la prevalecer, a despeito das resistências,
devido ao pequeno número de pessoas prejudicadas” B) o significado aparente daquilo que é lido acerca da
natureza na bíblia constitui uma referência primeira.
Essas palavras não parecem ser de um homem
que defenda um governo absolutista, que deseja ver um C) as diferentes exposições quanto ao significado das
rei governar por toda a eternidade. Parecem mais o alerta palavras bíblicas devem evitar confrontos com os
de alguém que sabe a importância da liberdade para a dogmas da Igreja.
grandeza e prosperidade de um povo.
D) a bíblia deve receber uma interpretação literal porque,
desse modo, não será desviada a verdade natural.
QUESTÕES
E) os intérpretes precisam propor, para as passagens
01. Durante o Renascimento, houve uma revolução bíblicas, sentidos que ultrapassem o significado imediato
tecnológica fundamental, em máquinas e equipamentos, das palavras.
cujo impacto para o progresso das ciências equipara-se
ao advento da internet no final do século XX. Essa
03. É comum considerarmos a obra de Maquiavel como
revolução se deveu uma ruptura em relação à tradição do pensamento
político greco-romano e cristão. É correto afirmar como
A) à imprensa dos tipos móveis que agilizou a troca de
características dessa ruptura:
ideias e a divulgação de inventos.
A) o recurso à experimentação científica e o abandono da
B) às Reformas religiosas, a partir das quais as pessoas
ética.
deixaram de ser crentes e místicas.
B) a secularização da política e o distanciamento de ideais
C) à expansão marítima, cujos lucros contribuíram para o
normativos ético-religiosos.
desenvolvimento científico e comercial autônomo das
colônias. C) o distanciamento de ideais normativos éticoreligiosos
e o recurso à experimentação científica.
D) ao Moderno Estado Europeu, que priorizou as áreas
exatas e tecnológicas nas universidades. D) o abandono da ética e a secularização da política.

E) ao intercâmbio de informações entre as civilizações E) o recurso à experimentação científica e a secularização


europeia, chinesa e islâmica. da política.

04. “O maquiavelismo é uma interpretação de O


02. Assentado, portanto, que a Escritura, em muitas
Príncipe de Maquiavel, em particular a interpretação
passagens, não apenas admite, mas necessita de
exposições diferentes do significado aparente das segundo a qual a ação política, ou seja, a ação voltada para
palavras, parece-me que, nas discussões naturais, deveria a conquista e conservação do Estado, é uma ação que não
ser deixada em último lugar. possui um fim próprio de utilidade e não deve ser julgada
GALILEI, G. Carta a Dom Benedetto Castelli. In: Ciência e fé: cartas de Galileu
sobre o acordo do sistema copernicano com a Bíblia. São Paulo: Unesp, 2009
por meio de critérios diferentes dos de conveniência e
(adaptado). oportunidade.”
O texto, extraído da carta escrita por Galileu (1564-1642) (BOBBIO, Norberto. Direito Estado e Estado no pensamento de
cerca de trinta anos antes de sua condenação pelo Emanuel Kant. Trad. De Alfredo Fait. 3. Ed. Brasília: Editora da
UNB, 1984, p. 14.)

Página | 5
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, B) O poder da paixão do político prático é visto por
para Maquiavel o poder político é: Maquiavel como o único caminho para o poder, isto
significa que o príncipe deve agir guiado pelas suas
a) Dependente da ética, devendo ser orientado por veleidades e desejos que alimentam o seu sonho de
princípios morais validos universal e necessariamente. poder.
b) Independente da conveniência e oportunidade, pois C) Maquiavel não trata o "deve ser" na perspectiva
estas dizem respeito à esfera privada da vida em ontológica da filosofia clássica. O juízo moral se submete
sociedade. às condições concretas que se apresentam para a
c) Dependente da religião, devendo ser conduzido por conquista e a conservação do poder do Estado pelo
parâmetros ditados pela igreja. príncipe moderno.

d) Independente da moral e da religião, devendo ser D) O príncipe é um homem de criação, que dá forma ao
conduzido por critérios restritos ao âmbito político. "dever ser" e rompe a distância que separa o sonho da
realidade, porque tudo aquilo que ele quer, ele faz
e) Independente das pretensões dos governantes de independente da realidade factual em que se insere a ação
realizar os interesses do Estado. política.

05. Antonio Gramsci, filósofo político do século 06. Leia o texto a seguir.
passado, proferiu o seguinte comentário a respeito de
Maquiavel: Certamente, a brusca mudança de direção que
encontramos nas reflexões de Maquiavel, em
"Maquiavel não é um mero cientista; ele é um homem de comparação com os humanistas anteriores, explica-se em
participação, de paixões poderosas, um político prático, larga medida pela nova realidade política que se criara em
que pretende criar novas relações de força e que por isso Florença e na Itália, mas também pressupõe uma grande
mesmo não pode deixar de se ocupar com o `deve ser', crise de valores morais que começava a grassar. Ela não
que não deve ser entendido em sentido moralista. Assim, apenas constatava a divisão entre “ser” e “dever ser”, mas
a questão não deve ser colocada nestes termos, é mais também elevava essa divisão a princípio e a colocava
complexa: trata-se de considerar se o `dever ser' é um ato como base da nova visão dos fatos políticos.
arbitrário ou necessário, é vontade concreta, ou
(REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. São Paulo:
veleidade, desejo, sonho. O político em ação é um
Paulinas, 1990. V. II, p. 127.)
criador, um suscitador; mas não cria do nada, nem se
move no vazio túrbido dos seus desejos e sonhos. Baseia- Dentre as contribuições de Maquiavel à Filosofia Política,
se na realidade factual." é correto afirmar:
(GRAMSCI, A. Maquiavel. A política e o Estado moderno. 5. ed. a) Inaugurou a reflexão sobre a constituição do Estado
Trad. de Luiz Mário Gazzaneo. Rio de Janeiro: Civilização ideal.
Brasileira, 1984. p. 42/43.)
b) Estabeleceu critérios para a consolidação de um
governo tirânico e despótico.
Considerando o texto de Gramsci, marque a alternativa
c) Consolidou a tábua de virtudes necessárias a um bom
correta.
homem.
A) A realidade factual não deve ser vista como o conjunto
d) Fundou os procedimentos de verificação da correção
das forças históricas. Elas podem ser desprezadas porque
das normas.
o príncipe é dotado de sabedoria suficiente para
prescindir delas e agir motivado apenas pelos seus e) Rompeu o vínculo de dependência entre o poder civil
desejos. e a autoridade religiosa.

Página | 6
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

07. Leia o texto abaixo. C) O povo, assim como os grandes de uma cidade ou de
um reino, quer receber favores. Assim, a satisfação de
Deixando de lado as discussões sobre governos e suas vontades garante a vida do príncipe no poder.
governantes ideais, Maquiavel se preocuparia em saber
como os homens governam de fato, quais os limites do D) O príncipe deve usar a sua fortuna e formar bons
uso da violência para conquistar e conservar o poder, exércitos que lhe devotem fidelidade e sejam capazes de
como instaurar um governo estável, etc. manter a ordem social.
(CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Ática,
2006. p. 200.)
09. Analise a seguinte afirmação de Maquiavel.
Marque a alternativa que descreve corretamente o
objetivo de Maquiavel. "Eu sei que cada qual reconhecerá que seria
muito de louvar que um príncipe possuísse, entre todas
A) De acordo com Chalita, Maquiavel examina a política as qualidades referidas, as que são tidas como boas; mas
de forma a dar continuidade às análises da tradição a condição humana é tal, que não consente a posse
filosófica. completa de todas elas, nem ao menos a sua prática
B) Conforme Chalita, o pensador florentino tem por consistente; é necessário que o príncipe seja tão prudente
objetivo demonstrar como um Príncipe deve conquistar que saiba evitar os defeitos que lhe arrebatariam o
e manter o poder, tratando-o como uma realidade governo e praticar qualidades próprias para lhe assegurar
concreta. a posse deste, se lhe é possível; mas, não podendo, com
menor preocupação, pode-se deixar que as coisas sigam
C) Como observamos no texto, a obra de Maquiavel é seu curso natural."
inovadora por definir o que é o governo e quem são os
(MAQUIAVEL, N. O príncipe. Trad. de Lívio Xavier. São Paulo:
governantes ideais.
Nova Cultural, 1987, p. 64.)
D) De acordo com o texto, pode-se observar que Assinale a alternativa correta.
Maquiavel não admite o uso da violência para conquistar
e conservar o poder. A) O príncipe é um homem de virtú, que deve voltar o
seu ânimo para a direção que a fortuna o impelir, pois a
conquista e a conservação do Estado podem implicar
08. Maquiavel escreveu: "é necessário a um príncipe que ações más.
o povo lhe vote amizade; do contrário, fracassará nas B) O príncipe é um estadista sem princípios, cujas ações
adversidades". são destituídas de qualquer valor de conduta, dando
(MAQUIAVEL. O Príncipe. Trad. de Lívio Teixeira. Coleção Os vazão às suas paixões sem levar em conta o bem-estar do
Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 41.) povo.

Para Maquiavel, esta máxima deve ser observada para a C) O príncipe pode fazer aquilo que bem entender, pois
manutenção do poder e a estabilidade do Estado. a maior virtude do governante é a capacidade de provocar
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a o ódio dos súditos, que são violentamente reprimidos
posição de Maquiavel para atingir este preceito. pela força das armas.

A) O príncipe moderno deverá contar com o apoio dos D) O príncipe não precisa praticar a piedade, a fidelidade,
magistrados para conduzir as suas ações até a obtenção a humanidade, pode até desprezar a devoção religiosa,
do governo absoluto sobre os súditos. não precisando nem mesmo aparentá-las em suas ações.

B) Não há uma regra certa para alcançar a confiança do


povo, porque as regras mudam conforme as
circunstâncias, portanto, o príncipe deve ser homem de 10. Leia as informações abaixo.
virtù.

Página | 7
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

No entendimento de Maquiavel, o fundamental não é acumulada graças à capacidade de poupar os


possuir todas as qualidades que são atribuídas ao bom tesouros. Esta definição de fortuna, cunhada por
governante, o mais importante para o novo príncipe é Maquiavel, é típica da época em que havia o apego às
aparentar possuí-las todas. "E há de se entender o riquezas materiais, especialmente, a prata e o ouro da
seguinte: que um príncipe, e especialmente um príncipe América.
novo, não pode observar todas as coisas a que são
obrigados os homens considerados bons, sendo B) A visão política de Maquiavel era a mesma dos seus
freqüentemente forçado, para manter o governo, a agir contemporâneos, favorável ao poder absoluto dos
contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião." governantes e defensora da opressão do Estado sobre os
súditos, o que resultou na manutenção do Estado feudal,
(MAQUIAVEL, N. O príncipe. Trad. de Lívio Xavier. São Paulo: caracterizado pela expropriação da sociedade, por meio
Nova Cultural, 1987. p. 74.) de tributos elevados e injustos.
Assinale a alternativa abaixo que justifica a afirmação de C) A defesa da sobriedade administrativa do príncipe
Maquiavel. evidencia a forte ligação que unia Maquiavel à Igreja
A) O príncipe é um homem de virtú, isto é, ele sabe se Católica, ambos imbuídos na defesa do poder divino dos
submeter aos caprichos do destino e cede ao fluxo dos soberanos. Prova disso é que, em seu livro O Príncipe,
acontecimentos com a esperança de alcançar os seus Maquiavel exorta o novo príncipe a ser sempre piedoso,
intentos políticos. fiel, humano, íntegro e religioso.

B) O príncipe é maquiavélico, o que importa é o poder e D) Maquiavel identifica o príncipe com o homem de
a fortuna do governante. Para isso, tudo é justificado ação, cujo caráter é formado pela ética que lhe permite o
mediante a força e a fraude, porque o que dá poder e uso dos meios apropriados para a organização do seu
fortuna é a exploração e a miséria do povo. Estado; o novo príncipe deve ser corajoso e inteligente,
evitando a opulência e a ostensão em favor de seu poder
C) O príncipe deve ter o ânimo voltado para a direção político.
apontada pelos sinais da sorte. Procedendo assim, ele
saberá aproveitar as ocasiões que se apresentam para a
tomada e a conservação do poder. 12. Leia o seguinte texto de Maquiavel a responda à
D) A imoralidade do príncipe é a sua virtude. Somente questão.
um homem destituído de todos os valores torna-se capaz Como é meu intento escrever coisa útil para os que se
de governar de maneira insensível o corpo político tendo interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar a
por finalidade o próprio poder. verdade pelo efeito das coisas, do que pelo que delas se
possa imaginar. E muita gente imaginou repúblicas e
11. "Portanto, um príncipe deve gastar pouco para não principados que nunca viram nem jamais foram
ser obrigado a roubar seus súditos; para poder defender- reconhecidos como verdadeiros. Vai tanta diferença
se; para não se empobrecer, tornando-se desprezível; entre como se vive e o modo por que se deveria viver,
para não ser forçado a tornar-se rapace; e pouco cuidado que quem se preocupar com o que se deveria fazer em
lhe dê a pecha de miserável; pois esse é um dos defeitos vez do que se faz aprende antes a ruína própria, do que o
que lhe dão a possibilidade de bem governar." modo de se preservar; e um homem que quiser fazer
profissão de bondade é natural que se arruíne entre tantos
(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, que são maus. Assim, é necessário a um príncipe, para se
1987. Coleção Os Pensadores. p. 66.)
manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou
Assinale a alternativa que interpreta corretamente o deixe de valer-se disso segundo a necessidade.
pensamento do filósofo florentino.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o
A) O príncipe não precisa roubar os súditos, porque a ele pensamento de Maquiavel acerca da relação entre poder
é reservada a fortuna, toda riqueza possível de ser e moral, é correto afirmar.

Página | 8
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

a) Maquiavel se preocupa em analisar a ação política C) Apesar de ser uma frase de Maquiavel, conforme o
considerando tão somente as qualidades morais do texto introdutório, ela não guarda qualquer relação com
Príncipe que determinam a ordem objetiva do Estado. as noções de virtú e fortuna.

b) O sentido da ação política, segundo Maquiavel, tem D) O fragmento de Maquiavel expressa bem a noção de
por fundamento originário e, portanto, anterior, a ordem virtú, ao dizer que o príncipe deve ser prudente, mas não
se relaciona com a noção de fortuna, pois em nenhum
divina, refletida na harmonia da Cidade.
momento afirma que as “circunstâncias” podem mudar.
c) Para Maquiavel, a busca da ordem e da harmonia, em
face do desequilíbrio e do caos, só se realiza em a
14. Em seus estudos sobre o Estado, Maquiavel busca
conquista da justiça e do bem comum. decifrar o que diz ser uma verità effettuale, a ―verdade
efetiva‖ das coisas que permeiam os movimentos da
d) Na reflexão política de Maquiavel, o fim que deve
multifacetada história humana/política através dos
orientar as ações de um Príncipe é a ordem e a tempos. Segundo ele, há certos traços humanos comuns
manutenção do poder. e imutáveis no decorrer daquela história. Afirma, por
exemplo, que os homens são ―ingratos, volúveis,
e) A análise da Maquiavel, com base nos valores simuladores, covardes ante os perigos, ávidos de lucro‖.
espirituais superiores aos políticos, repudia como (O Príncipe, cap. XVII)
ilegítimo o emprego da força coercitiva do Estado.
Para Maquiavel:
A) A ―verdade efetiva‖ das coisas encontra-se em plano
13. A Itália do tempo de Nicolau Maquiavel (1469 – especulativo e, portanto, no ―dever-ser‖.
1527) não era um Estado unificado como hoje, mas
fragmentada em reinos e repúblicas. Na obra O Príncipe, B) Fazer política só é possível por meio de um moralismo
declara seu sonho de ver a península unificada. Para piedoso, que redime o homem em âmbito estatal.
tanto, entre outros conceitos, forjou as concepções de
virtú e de fortuna. A primeira representa a capacidade de
C) A Virtù possibilita o domínio sobre a Fortuna. Esta é
governar, agir para conquistar e manter o poder; a
atraída pela coragem do homem que possui Virtù.
segunda é relativa aos “acasos da sorte” aos quais todos
estão submetidos, inclusive os governantes. Afinal, como
D) Fortuna é poder cego, inabalável, fechado a qualquer
registrado na famosa ópera de Carl Orff: Fortuna
influência, que distribui bens de forma indiscriminada.
imperatrix mundi (A Fortuna governa o mundo).

“Por isso, um príncipe prudente não pode nem deve


guardar a palavra dada quando isso se lhe torne 15. Leia o texto abaixo.
prejudicial e quando as causas que o determinaram
cessem de existir.” Não me é desconhecido que muitos têm tido e têm a
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1973, opinião de que as coisas do mundo são governadas pela
p. 79 - 80.
fortuna e por Deus, de sorte que a prudência dos homens
Com base nas informações acima, assinale a alternativa não pode corrigi-las, e mesmo não lhes traz remédio
que melhor interpreta o pensamento de Maquiavel. algum. [...] Às vezes, pensando nisso, me tenho inclinado
a aceitá-la. Não obstante, e porque o nosso livre arbítrio
A) Trata-se da fortuna, quando Maquiavel diz que “as não desapareça, penso poder ser verdade que a fortuna
causas que o determinaram cessem de existir”; e de virtú, seja árbitra de metade de nossas ações, mas que, ainda
quando Maquiavel diz que o príncipe deve ser
assim, ela nos deixa governar quase outra metade.
“prudente”.
(MAQUIAVEL. O príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p.
B) Trata-se da virtú, quando Maquiavel diz que as “causas 109.)
mudaram”; e de fortuna quando se refere ao príncipe
prudente, pois um príncipe com tal qualidade saberia O pensamento apresentado acima abre caminho para o
acumular grande quantidade de riquezas. conceito de virtú, qualidade indispensável para o êxito do
príncipe, pois a fortuna oferece as ocasiões para as ações
do governante, que terá de agir com virtú.
Página | 9
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

Assinale a alternativa que oferece a definição de virtú tal glória terrena é preciso ser obediente à fé cristã e
como Maquiavel a concebeu. submeter-se à autoridade do papa.

A) É a violência indiscriminada e dirigida ao corpo dos D) Nem Deus, nem o soberano são capazes de
cidadãos, somente o emprego da força das armas é capaz conquistar o Estado. Tudo que ocorre na História é obra
de submeter as vontades humanas sob a autoridade do capricho, do acaso cego, que não distingue nem o
cristão nem o gentio.
impiedosa e avara do príncipe moderno.

B) São os valores espirituais que se sobrepõem aos 17. Leia com atenção o texto abaixo.
interesses meramente materiais, somente a virtude da
A finalidade da política não é, como diziam os
humildade permite a realização do bem comum, que é a pensadores gregos, romanos e cristãos, a justiça e o bem
fonte inesgotável da paz e harmonia entre súditos e comum, mas, como sempre souberam os políticos, a
governante. tomada e manutenção do poder. O verdadeiro príncipe é
aquele que sabe tomar e conservar o poder [...].
C) É a prática da bondade, qualidade indispensável que (CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática,
permite o discernimento da idéia de bem como 2000, p. 396.)
norteadora das ações políticas, de maneira desinteressada A respeito das qualidades necessárias ao príncipe
e sempre voltada para a realização dos princípios maquiaveliano, é correto afirmar:
supremos da religião.
A) O príncipe precisa ter fé, ser solidário e caridoso,
D) É o poder, a virilidade humana, capaz de agir e almejando a realização da virtude cristã.
dominar o curso das coisas humanas, imprimindo nos
B) O príncipe deve ser flexível às circunstâncias,
acontecimentos as mudanças necessárias à realização de mudando com elas para dominar a sorte ou fortuna.
grandes obras para a conquista e conservação do poder.
C) O príncipe precisa unificar, em todas as suas ações, as
virtudes clássicas, como a moderação, a temperança e a
justiça.
16. Maquiavel esteve empenhado na renovação da
política em um período ainda dominado pela teologia D) O príncipe deve ser bondoso e gentil, angariando
cristã com os seus valores que atribuíam ao poder divino exclusivamente o amor e, jamais, o temor do seu povo.
a responsabilidade sobre os propósitos humanos. Em sua
obra mestra, O príncipe, escreveu: 18. Leia o texto.
“Deus não quer fazer tudo, para não nos tolher o livre [...] em toda república há dois humores
arbítrio e parte da glória que nos cabe”. diferentes, o do povo e o dos grandes, e [...] todas as leis
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Tradução Lívio Xavier. São Paulo: Nova Cultural,
que se fazem em favor da liberdade nascem da desunião
1987. Coleção Os Pensadores. p. 108. deles, como facilmente se pode ver que ocorreu em
Assinale a alternativa que fundamenta essa afirmação de Roma; [...]. E não se pode ter razão para chamar de não
Maquiavel. ordenada uma república dessas onde há tantos exemplos
de virtú; porque os bons exemplos nascem da boa
A) Deus faz o mais importante, conduz o príncipe até o educação; a boa educação, das boas leis; e as boas leis,
trono, garantindo-lhe a conquista e a posse. Depois, cabe dos tumultos que muitos condenam sem ponderar:
ao soberano fazer um bom governo submetendo-se aos porque quem examinar bem o resultado deles não
dogmas da fé. descobrirá que eles deram origem a exílios ou violência,
mas, sim, a leis e ordenações benéficas à liberdade
B) A conquista e a posse do poder político não é uma pública.
dádiva de Deus. É preciso que o príncipe saiba agir, MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. São Paulo:
Martins Fontes, 2007, p. 22.
valendo-se das oportunidades que lhe são favoráveis, e
com firmeza alcance a sua finalidade. Nesse texto, o filósofo florentino Nicolau Maquiavel
(1469-1527) trata dos conflitos sociais e políticos,
C) Os milagres de Deus sempre socorreram os homens afirmando que:
piedosos. Para ser digno do auxílio divino e alcançar a A) os conflitos sociais e políticos justificam o poder
absoluto exercido pelo monarca, bem como sua
Página | 10
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

estratégia de exercer a crueldade, sempre que isso for esfera pública, na qual princípios como lealdade, caridade
necessário à ordem social. e benevolência são realmente indispensáveis.

B) os conflitos sociais e políticos, apesar de negativos, são c) a conceituação maquiavélica de ética pública é a
exemplos a serem utilizados pelos governantes para reprodução moderna das teses filosóficas gregas, como
instruir a população e evitar definitivamente qualquer as de Platão e as de Aristóteles, para as quais a política
tumulto futuro. ideal deve excluir os conflitos entre os grupos humanos
na consecução de uma sociedade harmônica e voltada
C) os conflitos sociais e políticos ocorridos na antiga para o bem comum.
república romana foram importantes para a
transformação da natureza humana e para a evolução d) a política é incompatível com qualquer noção ética,
histórica da humanidade. pois a tese de que os fins justificam os meios ampara o
poder do príncipe em detrimento da ordem social, sendo
D) os conflitos sociais e políticos entre o povo e os que esta é progressivamente aniquilada pelo constante
poderosos desdobra-se, inevitavelmente, na exercício da repressão estatal.
fragmentação política e na formação de novos reinos,
marcados por novas legislações. e) a política é o campo de realizações éticas que desafia a
história, dado que as sociedades humanas revelam-se
E) os conflitos sociais e políticos proporcionam profundamente instáveis, ou seja, não há como procurar
transformações benéficas para a sociedade, à medida que ensinamentos na efetividade histórica da humanidade,
resultam em mudanças legais que asseguram a liberdade sendo necessário, isto sim, investir em perspectivas
pública. originais e idealizadas de estruturação política da
sociedade.

19. Um príncipe não deve, pois, temer a má fama de cruel,


desde que por ela mantenha seus súditos unidos e leais, 20. Leia o texto a seguir.
pois que, com poucos exemplos, ele será mais piedoso
que aqueles que, por excessiva piedade, deixam acontecer A República de Veneza e o Ducado de Milão ao norte, o
as desordens das quais resultam assassínios ou reino de Nápoles ao sul, os Estados papais e a república
rapinagens: porque estes costumam prejudicar a de Florença no centro formavam ao final do século XV
comunidade inteira, enquanto aquelas execuções que o que se pode chamar de mosaico da Itália sujeita a
emanam do príncipe atingem apenas um indivíduo.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988. p. 95-96. constantes invasões estrangeiras e conflitos internos.
Nesse cenário, o florentino Maquiavel desenvolveu
O filósofo florentino Nicolau Maquiavel é reflexões sobre como aplacar o caos e instaurar a ordem
tradicionalmente interpretado como um autor que separa necessária para a unificação e a regeneração da Itália.
completamente a ética da política, sobretudo por sua
afirmação de que a virtude de um governante consiste na (Adaptado de: SADEK, M. T. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem
adequada utilização de todos os recursos disponíveis para fortuna, o intelectual de virtú. In: WEFORT, F. C. (Org.). Clássicos
a sua permanência no poder. Entretanto, estudos mais da política. v.2. São Paulo: Ática, 2003. p.11-24.)
cuidadosos de seus textos indicam que esse autor, na
realidade, estabelece uma distinção entre ética pública e Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia
ética privada. A partir da leitura do trecho anterior, política de Maquiavel, assinale a alternativa correta.
extraído de O príncipe, podemos concluir que:
a) A anarquia e a desordem no Estado são aplacadas com
a) Maquiavel procura justificar o exercício ocasional da a existência de um Príncipe que age segundo a moralidade
crueldade pelo governante a partir de uma ética própria convencional e cristã.
da política, argumentando que a unidade da sociedade
sob o poder do Estado evita um conjunto significativo de b) A estabilidade do Estado resulta de ações humanas
prejuízos coletivos. concretas que pretendem evitar a barbárie, mesmo que a
realidade seja móvel e a ordem possa ser desfeita.
b) Maquiavel promove um radical deslocamento dos
valores morais sancionados pela cultura religiosa cristã, c) A história é compreendida como retilínea, portanto a
transferindo-os do âmbito das relações privadas para a ordem é resultado necessário do desenvolvimento e

Página | 11
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

aprimoramento humano, sendo impossível que o caos se e) Para a conservação do poder, é necessário admitir a
repita. insuficiência da força representada pelo leão e a
importância da habilidade da raposa.
d) A ordem na política é inevitável, uma vez que o âmbito
dos assuntos humanos é resultante da materialização de
uma vontade superior e divina.
22. Leia o texto de Maquiavel a seguir:
e) Há uma ordem natural e eterna em todas as questões
“[Todo príncipe prudente deve] não só remediar o
humanas e em todo o fazer político, de modo que a
presente, mas prever os casos futuros e preveni-los com
estabilidade e a certeza são constantes nessa dimensão.
toda a perícia, de forma que se lhes possa facilmente levar
corretivo, e não deixar que se aproximem os
acontecimentos, pois deste modo o remédio não chega a
21. Leia o texto a seguir. tempo, tendo-se tornado incurável a moléstia. [...] Assim
“Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se se dá com o Estado: conhecendo-se os males com
combater: uma, pelas leis, outra, pela força. A primeira é antecedência o que não é dado senão aos homens
própria do homem; a segunda, dos animais. [...] Ao prudentes, rapidamente são curados [...]”
príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar (MAQUIAVEL, N. O Príncipe: Escritos políticos. São Paulo: Nova
convenientemente o animal e o homem. [...] Sendo, cultural, 1991, p.12.)
portanto, um príncipe obrigado a bem servir-se da
natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa Nas ações de todos os homens, máxime dos príncipes,
e do leão, pois este não tem defesa alguma contra os onde não há tribunal para recorrer, o que importa é o
laços, e a raposa, contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa êxito bom ou mau. Procure, pois, um príncipe, vencer e
para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. conservar o Estado. Os meios que empregar serão
Os que se fizerem unicamente de leões não serão bem- sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque
sucedidos. Por isso, um príncipe prudente não pode nem o vulgo é levado pelas aparências e pelos resultados dos
deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne fatos consumados.
prejudicial e quando as causas que o determinaram (MAQUIAVEL, N. O Príncipe: Escritos políticos. São Paulo: Nova
cessem de existir”. cultural, 1991, p.75.)

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Tradução de Lívio Xavier. São Com base nos textos e nos conhecimentos sobre o
Paulo: Nova Cultural, 1993, cap, XVIII, p.101-102. pensamento de Maquiavel acerca da polaridade entre
Com base no texto e nos conhecimentos sobre O Príncipe virtú e fortuna na ação política e suas implicações na
de Maquiavel, assinale a alternativa correta: moralidade pública, considere as afirmativas a seguir:

a) Os homens não devem recorrer ao combate pela força I. A virtú refere-se à capacidade do príncipe de agir com
porque é suficiente combater astúcia e força em meio à fortuna, isto é, à contingência
e ao acaso nas quais a política está imersa, com a
recorrendo-se à lei. finalidade de alcançar êxito em seus objetivos.

b) Um príncipe que interage com os homens, servindo- II. A fortuna manifesta o destino inexorável dos homens
se exclusivamente de qualidades e o caráter imutável de todas as coisas, de modo que a
virtú do príncipe consiste em agir consoante a finalidade
morais, certamente terá êxito em manter-se no poder. do Estado ideal: a felicidade dos súditos.
c) O príncipe prudente deve procurar vencer e conservar III. A virtú implica a adesão sincera do governante a um
o Estado, o que implica o desprezo aos valores morais. conjunto de valores morais elevados, como a piedade
d) Para conservar o Estado, o príncipe deve sempre partir cristã e a humildade, para que tenha êxito na sua ação
e se servir do bem. política diante da fortuna.

Página | 12
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

IV. O exercício da virtú diante da fortuna constitui a IV. Galileu considera que a observação não faz parte do
lógica da ação política orientada para a conquista e a método científico proposto por ele, uma vez que todo o
manutenção do poder e manifesta a autonomia dos fins conhecimento científico pode ser obtido por meio de
políticos em relação à moral preestabelecida. demonstrações matemáticas.

Assinale a alternativa correta. Assinale a alternativa que contém todas as afirmativas


corretas, mencionadas anteriormente.
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

b) Somente as afirmativas II e III são corretas.


a) I e III
c) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
b) II e III
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
c) III e IV
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
d) I, II e IV

e) II, III e IV
23. Leia o seguinte texto:

“A filosofia está escrita neste imenso livro que


continuamente está aberto diante de nossos olhos (estou
falando do universo), mas que não se pode entender se
primeiro não se aprende a entender sua língua e conhecer
os caracteres em que está escrito. Ele está escrito em
linguagem matemática e seus caracteres são círculos,
triângulos e outras figuras geométricas, meios sem os
quais é impossível entender humanamente suas palavras:
sem tais meios, vagamos inutilmente por um escuro
labirinto.”
(GALILEI, G. Il saggiatore. Apud REALE, G. & ANTISERI, D.
História da filosofia. São Paulo: Paulinas, 1990, v. 2, p. 281.)

Tendo em mente o texto acima e os conhecimentos sobre


o pensamento de Galileu acerca do método científico,
considere as seguintes afirmativas.

I. Galileu defende o desenvolvimento de uma ciência


voltada para os aspectos objetivos e mensuráveis da
natureza, em oposição à física qualitativa de Aristóteles.

II. Para Galileu, é possível obter conhecimento científico


sobre objetos matemáticos, tais como círculos e
triângulos, mas não sobre objetos do mundo sensível.

III. Galileu pensa que uma ciência quantitativa da


natureza é possível graças ao fato de que a própria
natureza está configurada de modo a exibir ordem e
simetrias matemáticas.

Página | 13
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

QUESTÕES ENEM No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão


sobre a Monarquia e a função do governante. A
1. (2011) Acompanhando a intenção da burguesia manutenção da ordem social, segundo esse autor,
renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e baseava-se na
sobre o espaço geográfico, através de pesquisa científica
e da invenção tecnológica, os cientistas também iriam se A) inércia do julgamento de crimes polêmicos.
atirar nessa aventura, tentando conquistar a forma, o B) bondade em relação ao comportamento dos
movimento, o espaço, a luz, a cor e mesmo a expressão mercenários.
e o sentimento. C) compaixão quanto à condenação dos servos
SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984.
D) neutralidade diante da condenação dos servos.
O texto apresenta um espírito de época que afetou E) conveniência entre o poder tirânico e a moral do
também a produção artística, marcada pela constante príncipe
relação entre
4. (2012) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida
a) fé e misticismo. e que o que acontece no mundo é decidido por Deus e
b) ciência e arte. pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias,
c) cultura e comércio. devido às grandes transformações ocorridas, e que
d) política e economia. ocorrem diariamente, as quais escapam à conjectura
e) astronomia e religião. humana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o
nosso livre arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte
2. (2014) A filosofia encontra-se escrita neste grande decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos
livro que continuamente se abre perante nossos olhos permite o controle sobre a outra metade.
(isto é, o universo) que não se pode compreender antes MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).
de entender a língua e conhecer os caracteres com os
quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática, Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do
os caracteres são triângulos, circunferências e outras poder em seu tempo. No trecho citado, o autor
figuras geométricas, sem cujos meios é impossível demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o
entender humanamente as palavras; sem eles vagamos humanismo renascentista ao
perdidos dentro de um obscuro labirinto.
GALILEI, G. O ensaiador. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos
definidores do seu tempo.
No contexto da revolução científica do século XVII, b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos.
assumir a posição de Galileu significava defender a c) afirmar a confiança na razão autônoma como
fundamento da ação humana.
A) continuidade do vínculo entre ciência e fé dominante d) romper com a tradição que valorizava o passado como
na Idade Média. fonte de aprendizagem.
B) necessidade de o estudo linguístico ser acompanhado e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé
do exame matemático. e razão.
C) oposição da nova física quantitativa aos pressupostos
da filosofia escolástica.
D) importância da independência da investigação 5. (2013) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser
científica pretendida pela Igreja. amado que temido ou temido que amado. Responde-se
E) inadequação da matemática para elaborar uma que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é
explicação racional da natureza. difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que
amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos
3. (2010) O príncipe, portanto, não deve se incomodar homens se pode dizer, duma maneira geral, que são
com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de
povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus,
duros poderá ser mais clemente do que outros que, por oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando,
muita piedade, permitem os distúrbios que levem ao como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele
assassínio e ao roubo. chega, revoltam-se.
MAQUIAVEL, N. O principe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Martin Claret, 2009.

Página | 14
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

A partir da análise histórica do comportamento humano


em suas relações sociais e políticas, Maquiavel define o
homem como um ser

a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o


bem a si e aos outros.
b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para
alcançar êxito na política.
c) guiado por interesses, de modo que suas ações são
imprevisíveis e inconstantes.
d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-
social e portando seus direitos naturais.
e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas
com seus pares.

Página | 15
FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br

GABARITO

UNIDADE 3 – FILOSOFIA MODERNA


QUESTÕES
1. a 4. c

2. e 5. c

3. b
4. d
5. c
6. e
7. b
8. b
9. a
10. c
11. d
12. d
13. a
14. c
15. d
16. b
17. b
18. e
19. a
20. b
21. e
22. a
23. a

QUESTÕES ENEM
1. b
2. c
3. e
Página | 16

Você também pode gostar