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HISTÓRIA GLOBAL DA HUMANIDADE

OBJECTIVOS

Adquirir uma capacidade de análise da História de amplo espectro (cronológico e geográfico),


por oposição às visões tradicionais segmentadas e muito focadas em cronologias estreitas e
em espaços limitados.

Ter uma noção da evolução geral do homo sapiens como a espécie que foi capaz de colonizar a
Terra, adaptando-se a ecossistemas diferenciados e alterando-os profundamente.

Compreender a espécie humana como elemento integrante no planeta Terra em interacção


com o resto do mundo natural.

COMPETÊNCIAS

Capacidade de compreender as grandes revoluções que alteraram a relação da espécie


humana com o planeta e que modificaram gradualmente a própria natureza da espécie
humana – a revolução cognitiva, a revolução neolítica, a revolução geográfica e científica (séc.
XV-XVII), a revolução industrial (séc. XVIII-XIX) e a revolução da comunicação (séc. XXI).

Capacidade de compreender as sociedades contemporâneas através dos legados civilizacionais


milenares em que se desenvolveram.

Capacidade de compreender a natureza “expansionista” da humanidade – a apetência para


explorar o desconhecido e para alargar fronteiras, e a tentação inata de transformar em
verdades universais os comportamentos de cada civilização

Conhecer as principais civilizações da Antiguidade e compreender a primeira grande


globalização da Eurásia pelas “Rotas da Seda”.

Compreender as razões que justificaram o fracasso de movimentos globalizadores anteriores


aos Descobrimentos desencadeados pelos portugueses, e compreender o papel crucial da
expansão europeia iniciada no século XV na formação da sociedade contemporânea global.

Bibliografia de referência

CONRAD, Sebastian, What is Global History?, Princeton – Oxford, Princeton University Press,
2016
COSTA, João Paulo Oliveira e, Os Descobrimentos Portugueses. O início da Globalização, s/l,
EMSE EDAPP, S. L., 2018

DIAMOND, Jared, Armas, Germes e Aço. Os Destinos das Sociedades Humanas, Lisboa, Temas e
Debates – Círculo de Leitores, 2018 (original, 2015).

FRANKOPAN, Peter, As Rotas da Seda. Uma nova história do mundo, Relógio d’Água editores,
2018 (original, 2015).

HARARI, Yuval Noah, Sapiens. De animais a deuses. Breve história da humanidade, Lisboa,
Elsinore, 2013 (original, 2011).

HARARI, Yuval Noah, Homo Deus. A brief history of tomorrow. London, Vintage, 2017.
HISTÓRIA GERAL DA HUMANIDADE

Procura-se nesta disciplina perceber a sociedade contemporânea através da História. Em


cada tema os alunos são desafiados a olhar para a humanidade de um modo global tanto no
tempo como no espaço.

a) Acerca do sapiens

- A Terra sem o sapiens


Percepção de que o planeta nunca foi uma entidade estática, de que a maior parte
dos componentes da Vida como a conhecemos se foram desenvolvendo
gradualmente e de que a configuração do planeta e o clima estão em mudança
permanente.

- O género homo produtor de cultura


A acumulação de memória dos proto-humanos e o despontar de uma espécie no
Reino Animal. A emergência do ser humano no planeta. A revolução cognitiva. As
bases rudimentares e irreversíveis da sociedade humana. Uma espécie invasora e
devastadora de ecossistemas.

- A conquista da Terra pelo homo sapiens


Os fluxos migratórios e a arqueogenética. O início do aquecimento global, e a
Revolução do Neolítico. Os primeiros impérios agrários.

b) Acerca da religião

- Animismo, a religião universal


Compreender que o pensamento religioso inato assenta no animismo e que
nenhuma religião o consegue eliminar completamente. Pelo contrário, ele pode
renascer com visibilidade social mesmo passados muitos séculos, como sucedeu na
Índia com o fim da hegemonia do Budismo, ou actualmente na América Latina com
o ressurgir de cultos pré-cristãos.

- A propagação das religiões


Conhecer o mapa da dispersão das religiões e em particular o da propagação das
religiões que aspiram ao universalismo. Compreender que um mapa político (como
o da expansão do califado ou o dos colonialismos europeus) não corresponde a um
mapa religioso. Discutir o conceito de “convertido”.

- A Fé na História
Compreender que o laicismo predominante na contemporaneidade não pode
ignorar nem o papel da religião ao longo dos tempos, nem as motivações individuais
dos crentes. Conhecer as principais dinâmicas das guerras de religião e do conceito
de “Verdade” que lhes está associado.
- A divindade à imagem do Homem
Compreender as características do totemismo e das divindades semi-humanas e
semi-animais. Compreender que as religiões universalistas, que representam o
Divino (particularmente Cristianismo e Budismo), tendem a acomodar essa mesma
representação ao rosto étnico de cada população – o que posso comprovar com
imagens do Buda desde as suas origens na Bactriana até ao extremo oriente asiático,
e com imagens de Cristo e dos apóstolos, incluindo nas suas representações como
homens negros, oriundas da Etiópia medieval.
Saber distinguir o modelo de representação “realista” do Ocidente euroasiático, do
modelo “metafórico” do Oriente euroasiático.

c) Acerca da sociedade e das instituições

- Nações e estados
Compreender que a definição de fronteira é um artifício, mas que muitas vezes
delimita, de facto, povos com características diferenciadas. Reconhecer que os
“povos” são conjuntos tendencialmente efémeros na longa duração. Os povos
actuais, com as denominações e as práticas de hoje, são em regra relativamente
recentes (raramente mais de 1000 anos) e que sucederam a outros, entretanto
desaparecidos (enquanto identidades específicas). Compreender que a emergência
de estados-nação não é uniforme no Tempo e que estes se afirmam e sobrevivem
mais facilmente nas periferias das grandes civilizações.

- Os impérios
Conhecer os diferentes modelos imperiais que se desenvolveram ao longo da
História, seja na relação com os povos submetidos (monoculturais ou pluriculturais),
seja nas características territoriais (territorialmente contínuos ou descontínuos e
marítimos, …). Perceber que os mapas dos impérios transmitem uma imagem
enganadora do poder necessário para os manter, pois o domínio de áreas vastas não
significa o controlo apertado de toda a superfície, como sucede, por exemplo, no
caso dos Aqueménidas ou no das Índias de Castela.

- Nativos, conquistadores, exploradores e migrantes


Compreender que muitas populações do planeta “se moveram” colectivamente até
há muito pouco tempo atrás (os zulus chegaram à África do Sul há cerca de 200
anos, por exemplo; ou astecas só se tinham instalado no planalto mexicano 200
anos antes da chegada dos castelhanos; vagas de europeus ocuparam a América do
Norte há pouco mais de 100 anos). Compreender os actuais fluxos populacionais em
direcção aos EUA e à Europa dentro desta dinâmica milenar. Saber discutir o
conceito de “nativo” e saber distinguir invasões militares de populações em
movimento. Compreender que o ser humano procura sempre a “última fronteira”.

- Os fluxos da escravatura
Conhecer as dinâmicas gerais e a diversidade do fenómeno da escravatura na longa
duração.
- Genealogia da Democracia
Compreender que o modelo de tomada de decisões colectivas por “as mais vozes” é
uma prática milenar característica dos indo-europeus, o que se reflecte hoje no
facto de a maior democracia funcional ser a Índia enquanto que a China, o outro
país superpopuloso, é uma autocracia, como sempre tem sido. Saber identificar
práticas deste modelo político nas sociedades anteriores à Revolução Francesa,
lembrando, por exemplo, que em Portugal até houve um rei (D. João I) que subiu ao
trono por eleição e não por direitos dinásticos.

d) Acerca da Cultura

- Genealogia das línguas e da escrita


Conhecer as principais famílias linguísticas do mundo, as diferentes formas de
escrita e as suas implicações. Saber distinguir sistemas baseados em fonogramas de
sistemas baseados em ideogramas e suas repercussões ao nível conceptual,
científico e filosófico.

- O Tempo
Compreender que as sociedades a longo da História não contaram sempre o tempo
de um modo linear. Conhecer os diferentes calendários e perceber o carácter
revolucionário da invenção do relógio.

- O corpo humano
A representação e o culto do corpo. Arte e erotismo. Suas variações no tempo e no
espaço.

- Jogos
Reconhecer a evidência da ancestralidade do jogo nas sociedades, como é o caso de
Mohenjo-Daro e Harappa. Os jogos de mesa como reflexo das sociedades, suas
origens e sua propagação pelo mundo. O caso das mutações do tabuleiro de xadrez
(ao chegar à Europa medieval) como evidência de particularismos culturais num jogo
universal. As cidades-casino do mundo, como Bahrain, Macau, Mónaco ou Las
Vegas.

- As ciências
Compreender que a humanidade cultiva vários modelos de ciência, nomeadamente
o caso da Medicina, e que há saberes válidos e muito úteis, assentes em saberes
milenares, fora do modelo ocidental. O papel de templos, mosteiros e universidades
no desenvolvimento das Ciências ao longo do tempo. O papel do livro impresso
como factor acelerador do desenvolvimento científico mundial. A revolução digital à
luz da História.

e) Acerca da Economia

- Das primeiras trocas à economia-mundo


Compreender a evolução do jogo das trocas nos últimos 4000 anos, desde a
emergência dos primeiros sistemas de interdependência regionais até à economia
contemporânea.

- Os grandes negócios de subsistência


Conhecer o carácter agregador e fomentador de economias regionais e,
consequentemente, de práticas civilizacionais, do comércio de certos produtos
como é o caso do arroz no Índico ou o do sal e o do trigo na Europa. Notando que
estes negócios podem ajudar a forjar civilizações, mas raramente estimulam a
criação de impérios.

- Os negócios de luxo
Compreender que as civilizações urbanas ao ganharem sofisticação começaram a
consumir produtos raros, e desnecessários para a sobrevivência, oriundos de regiões
exteriores e distantes. Sedas, jade, açúcar, especiarias, tabaco ou bebidas como o
café e o chá, sustentaram grandes impérios intercontinentais. A coca-cola e tantas
outras marcas repetem, de certo modo, esse mesmo modelo – o dos consumos
supérfluos -, ajustadas ao mundo contemporâneo.

f) Acerca da Guerra e da Paz

- Amor e ódio
Compreender o papel determinante do emocional do devir da História. As artes
como expressão da busca da paz e do amor, mas também da propaganda militar. A
não-violência na História.

- Cordeiros e lobos
A guerra na génese da humanidade e na emergência das grandes civilizações. A
contradição entre o pacifismo de Siddártha Gautama e de Jesus Cristo e os monges
guerreiros japoneses e os cruzados. A incerteza dos percursos individuais que
arrastam multidões: os casos de Axoca, o sanguinário rei indiano que se
transformou num defensor da paz e dos animais e de Radovan Karaddzic, o médico
poeta que foi responsável por genocídios.

- O futuro como espelho do Passado – a ficção científica


Na ficção científica predominam projecções de caos e de guerra na Terra, com o
colapso da civilização contemporânea, e a chegada de extra-terrestres
“conquistadores” e “colonizadores”. Perceber as causas que levam à incapacidade
de projectar um futuro benigno e alienígenas pacíficos, relacionando-as com a
milenar preferência de relatar catástrofes e acidentes e pela fácil disponibilidade de
enveredar pela violência, quando o estado colapsa ou quando um regime apregoa a
guerra.

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