A Tradição e a Evolução
Ir.'. José Mello
Prezados Irmãos Congressistas:
A Tradição e a Evolução
Preliminarmente quero fixar
dois conceitos basilares, por serem
de conteúdo universal: a Tradição
e a Evolução.
Reproduzo pequena parte de
trabalho meu, publicado em 1972,
com o título "Maçonaria Ambí-
gcna".
A Tradição (sub specie aeterni-
tatis) do latim "traditio", de "tra-
dere - transmissão de uma notí-
CIa,
E o fenômeno pelo qual os gru-
pos humanos transmitem, de ge-
ração em geração, seu patrimônio
cultural: suas crenças, seus ideais,
seus costumes, suas conquistas no
c~mpo da arte, da ciência e da téc-
mca.
A tradição é componente do
progresso, porque o progresso é
uma resultante da tradição e da
renovação. Os animais não pro-
gridem, porque não transmitem a
herança cultural e, assim, cada ge-
ração recomeça sempre na estaca
zero.
Destarte, agir apenas por tradi-
ção, "porque sempre se fez assim",
é um comportamento acrítico, não
racional.
Por outro lado, rejeitar in limite
alguma coisa só porque é tradicio-
nal, é também uma atitude sem
inteligência. Devemos agir com
racionalismo crítico. Exemplos: o
vestuário do século passado foi
abandonado por todos, por ser frí-
volo e incômodo, mas o casamento
monogâmico dos países cristãos,
desde séculos, continua por todos
aceito, porque corresponde às exi-
gências morais da família ociden-
tal.
36
A Rotina - Quando a tradição
é negativa, prejudicial e um obs-
táculo ao progresso?
É quando o apego a formas tra-
dicionais, que se tornaram obsole-
tas pela própria evolução da vida,
esteriliza o espírito de renovação,
isto é, a capacidade criadora.
A tradição se torna, então, imo-
bilismo e se transforma em rotina.
A rotina é uma faculdade adqui-
rida pelo hábito e não pelo racio-
cínio: por isso não é criadora. E o
hábito de fazer alguma coisa
sempre da mesma maneira, ma-
quinalmente, sem vida. O Espírito
de Rotina tem horror ao que ,é
novo, porque recusa o progresso. E
o misoneísmo, repelindo de plano
o que é novo, sem examinar ou
conhecer o conteúdo da mudança
proposta.
No princípio do século XIX a
Rotina fez surgir na Inglaterra os
"luddites". Eram tecelões conser-
vadores, exaltados contra a revo-
lução industrial: eles percorriam
as fábricas dos distritos de Not-
tingham, destruindo os novos tea-
res automáticos.
A Rotina chega facilmente à in-
tolerância e nega a Virtude, a Be-
leza, o Valor: foi a obstinação e a
intransigência da Rotina que deu
o veneno a Sócrates, o punhal a
César, o desterro a Dante, o cár-
cere a Galileu, o fogo a Bruno, os
ferros a Colombo.
A Evolução (sub specie tempo-
ralitatis). Evolução significa de-
senvolvimento e progresso. É mu-
dança ao longo do tempo.
O Evolucionismo ou Transfor-
mismo como doutrina filosófica e
natura iista, se opõe ao Fixismo.
Pascal e Lamennais foram fixis-
tas, guerreavam "o orgulho da
Ex-Grão-Mestre do O.F.
razão do homem", e Lmneu (Carl
von Linné, 1707-1778),expressou
um aforismo fixista, que ficou cé-
lebre: "As espécies são tantas
quantas o Ser Infinito as criou no
princípio" .
O fixismo foi destruí do e enter-
rado por Buffon (1707-1788),Dar-
win, (Erasmus Darwin, 1731-1802),
Goethe (Johann Wolfgant von
Goethe, 1749-1832), Lamark
(1744-1829), Saint Hilaire (1772-
1844), sobretudo Darwin com o
livro famoso "Origem das Espé-
cies" .
Outros grandes evolucionistas:
Comte, Spencer, Claude Bernard
e, em nosso tempo, Leslie White
(americano), Huxley , Henri Berg-
son (185~1941),com o grande livro
"Evolução Criadora". O famoso
padre Pierre Teilhard de Chardin,
S.J., também afirmou a evolução.
Hoje o Evolucionismo não tem
opositores, no mundo científico e
filosófico.
A Evolução é mesmo um princí-
pio unificado r, no mundo inani-
mado e no mundo vivo, ocupando
posição central nas ciências bioló-
gicas. O Estado de Tennesse,
EUA, em 1926 cobriu-se de ridí-
culo universal, quando condenou
um professor secundário, que en-
sinara aos seus alunos a doutrina
evolucionista.
Bergson, acima citado (grande
filósofo, prêmio Nobel de 1927),
sentenciou: "A evolução é uma
criação, incessantemente reno-
vada" .
Outro grande pensador, Pietro
Ubaldi, na "Mensagem" por ele
enviada ao 6°. Cosngresso Espí-
rita Panamericano", em Buenos
Aires, outubro de 1963, disse lapi-
darmente:
 Sem renovação não há vida
- A verdade não é uma posição
psicológica definitiva e estática,
mas é um conhecimento relativo
em evolução. O Absoluto pertence
só a Deus, não ao homem. As pró-
prias verdades reveladas não
podem ser senão proporcionadas à
capacidade de entendimento dos
povos que as recebem. Por isso elas
não representam senão posições
humanas, relativas e progressivas,
ao longo do caminho da evolução,
dentro do Absoluto que abrange
todas essas posições relativas e su-
cessivas, próprias de quem está em
movimento progressivo e não
podem existir senão na forma de
transformismo tendente à evolu-
ção. Disto se segue que não se pode
imobilizar a verdade, ficando
amarrado ao passado, imóvel, sem
maneira de progredir, porque o
não caminhar para a frente acaba
tornando-se paralisia. A verdade
não é inércia, mas pesquisa e con-
quista contínua. Uma religião (1)
para se manter viva, não pode
permanecer cristalizada na repeti-
ção do que foi dito, sempre esta-
cionária no ponto de partida,
adormecida lá onde ela nasceu.
Acontece então que para que a
vida não morra parada no ca-
minho, o pensamento emigra para
fora das religiões (2) e vai seguindo
novas formas de pesquisa, supe-
rando assim o passado envelhe-
cido, e, avançando por outros ca-
minhos, meios e instrumentos,
progredindo por sua conta.
Eis o perigo que ameaça todas as
religiões, filosofias e formas de
pensamento. Chegou a hora para
todas as religiões de se renovarem,
se elas não quiserem deixar-se su-
perar, ficando esquecidas e mor-
tas. Seguir repetindo os velhos
ritos e formas, sem agitar o pen-
samento e o espírito, equacio-
nando e resolvendo os problemas
novos que estão surgindo na
mente humana, significa ficar
abandonado, fora do caminho da
vida que avança.
Esta nossa oferta é feita a todos
com absoluto espírito de irnparcia-
lidade e universalidade, acima de
qualquer idéia de luta e exclusi-
vismo sectarista. O mais inteli-
gente aceitará e será então um
líder destinado a funcionar como
centro, para espalhar maiores ver-
dades das atualmente conhecidas.
Qual será o grupo humano mais
inteligente para fazer tudo isto?
Isto não quer dizer destruir o pas-
sado. Conservar é bom e necessá-
rio, mas é necessário também con-
tinuar evoluindo: não só viver re-
petição do velho, mas também da
(1) ou uma instituição qualquer;
(2) ou dessas instituições.
pesquisa e criação do novo. Uma
religião ou doutrina pode-se afir-
mar também no terreno dos seus
inimigos, quando ela lhes oferece
um produto de valor que eles não
souberam atingir, uma contribui-
ção útil que podem aproveitar
para si. De outro modo que fica
fechado com espírito sectarista no
âmbito estreito dos adeptos, se-
guidores, componentes do grupo,
repetindo de cor as velhas coisas
das quais apenas tomam conheci-
mento. E o mundo, fora daquele
grupo, dirá que ele está morto
porque nada produz. O perigo
comum a todas as religiões é a cns-
talização, que leva à velhice e à
morte. Para sobreviver e se forta-
lecer é preciso avançar, traba-
lhando no espírito. Sem renova-
ção não há vida. A idade da quie-
tude é a velhice, que antecede a
morte" .
11
Os períodos históricos da Ma-
çonaria
A história de nossa Instituição é
várias vezes milenária. -Corrente-
mente é dividida em três perío-
dos:
a) - Maçonaria Primitiva (An-
tigos Mistérios);
b) - Maçonaria Operativa ou
dos Construtores;
c) - Maçonaria Expeculativa
ou Atual.
- A Maçonaria Primitiva é di-
vidida em nove fases:
1. Mistérios hindus (ou brâma-
nes) e persas (ou magos) ;
2. Mistérios Egípcios ou de Ísis e
Osíris (30 séculos a.C.);
3. Mistérios gregos dos cabires
da ilha de Samotrácia (20 séculos
a.C.);
4. Mistérios gregos de Ceres ou
Demeter, em Eleusis (14 séculos
a.C.);
5. Mistérios judaicos de Salo-
mão (11 séculos a.C.);
6. Mistérios gregos de Orfeu (7
séculos a.C.);
7. Mistérios gregos de Pitágoras
em Crotona (6 séculos a.C.);
8. Mistérios dos Essênios, em
Engadí, junto ao Mar Morto;
Jesus Cristo;
9. Mistérios romanos (desde o
8D. século a.C. até o 50. século de-
pois de Cristo).
Afirmam vários autores que
Jesus Cristo foi iniciado nos Mis-
térios Essênios, entre os 12 e os 30
anos de idade, justamente à época
em que a história religiosa sobre
ele silencia.
- O segundo período da Histó-
ria da Maçonana compreende a
Maçonaria Operativa ou dos
Construtores, que esplendeu na
Idade Média, sob a influência es-
piritual da Igreja. Nesse período
publicam-se os Documentos Fun-
damentais: a Constituição de
York (926)o Poema Regius, o Ma-
nuscrito de Cooke, os Estatutos e
Regulamentos da Confraria dos
Talhadores de Pedra de Strasburgo,
a Carta de Colônia/ o Regula-
mento de 1663ou LeI de Sto. AI-
bano, o Manuscrito Harlei e o
Manuscrito Antigo (1686).
- Nesse período erguem-se as
grandes construções da Maçonaria
Operativa: Igrejas, catedrais,
abadias, mosteiros, zimbórios,
conventos, palácios, basílicas, tor-
res, casas nobres, mercados, paços
municipais, academias; toda a
Europa está cheia de monumentos
e construções da Maçonaria Ope-
rativa, como a Notre Dame de Pa-
ris, as catedrais de Reims, de Es-
trasburgo, São Pedro em Roma,
Sevilha, Toledo, a Abadia de
Westminster, o convento de Monte
Cassino, o mosteiro da Batalha, e
muitos outros.
N a Maçonaria Operativa o
grande centro era Estrasburgo,
com a sua grande Loja. As Lojas se
constituíam em Corporações Ofi-
ciais, muitas de cunho nitida-
mente cristão, com aquiescência
do Papa.
Nessa época a Maçonaria teve
vários padroeiros: SeveroJ Seve-
riano, Carpóforo, Vitonno (os
quatro Santos Coroados), São
Tomaz, São Luiz, São Braz, Santa
Bárbara e, por fim, São João. São
João ainda permanece entre nós:
- "De onde vindes?" - "De uma
Loja de São João".
A época de maior relevo da Ma-
çonaria Operativa foi o século 13.
Em 1275 Ervim Steinback, cons-
truor da catedral de Estrasburgo,
reúne em convenção arquitetos da
Alemanha, Inglaterra e Itália.
Com o decorrer do tempo (as
Cruzadas, a Reforma religiosa e a
Renascença) a arquitetura se mo-
difica e os artistas e construores,
passam a atuar fora das Corpora-
ções: é a decadência da Maçonaria
Operativa, a partir do século 17.
Por outro lado, no início desse
século, elementos estranhos às
profissões manuais começaram a
ser admitidos nas Corporações. Os
autores informam que o primeiro
maçom "aceito" foi John Boswell,
lord de Auschileck, que ingressou
na Loja Saint Mary's Chapell, em
Edimburgo, no ano de 1600.E du-
rante todo o século 17 outros ho-
mens ilustres ingressam nas Cor-
porações. Evidentemente as Cor-
porações tiveram de modificar
37
,
--
seus estatutos e objetivos, para
que pudessem conviver, lado a
lado, maçons "antigos" (os cons-
trutores de atividade manual) e
maçons "aceitos" (nobres, profes-
sores, naturalistas, eclesiásticos,
etc.).
Houve então a reforma dos Ri-
tuais, obra de Ashmole, que elabo-
rou os Rituais de Aprendiz, Com-
panheiro e Mestre, respecti va-
mente em 1646, 1648 e 1649. Com
algumas modificações posteriores
(inclusive a incorporação da lenda
de Hiram) são os nossos Rituais da
atualidade.
Dessa fraternização de maçons
antigos e maçons aceitos surgiu o
3°. período maçônico, a Maçona-
ria Especulativa ou Atual.
- A Maçonaria Especulativa
ou Atual instituiu-se em 24 de
junho de 1717,no primeiro quartel
do século 18, com a fundação da
Grande Loja de Londres.
Foi um francês, reverendo João
Teófilo Desaguliers, quem teve a
iniciativa de instituir "um centro
comum", para unificar, fortificar,
e renovar a obra maçônica, sob a
autoridade de um Grão-Mestre.
Desaguliers estava em Londres,
emigrado.
Eram quatro as Lojas, então
existentes em Londres, que con-
correram para a formação da
Granje Loja: a J .oja da "Cerveja-
ria do Ganso e d.i Grelha", a Loja
da "Cervejaria da Coroa", a Loja
da "Taberna da Macieira" e a
Loja da "Taberna do Copázio e do
Bago de Uva". A instalação se deu
em 24 de junho de 1717, dia de
São João. A consolidação maçô-
nica foi estabeleci da com a elabo-
ração dos Regulamentos Gerais de
1721, em 39 preceitos, e sobretudo
com as "Constituições" de Andr-
son, em 1723. Esses diplomas
ainda estão vigentes e regem o
atual ;30. Período da história ma-
çônica, isto é, vigoram há mais de
dois séculos e meio.
lU
Como se apresentava o
panorama político-religioso da
Europa no primeiro quartel do
século 18.
A fundação da Grande Loja de
Londres em 1717e a seguir a codi-
ficação do novo sistema maçônico
por Anderson em 1723iniciaram o
Terceiro Período da história de
nossa Ordem. É o período atual.
Essa instalação do Terceiro Pe-
ríodo foi uma imposição da evolu-
ção histórica da humanidade. , transformada depois em domici-
De fato, a civilização humana,
nesse primeiro quartel do século
18, era bem diferente de quando
Estrasburgo foi o grande centro
maçônico da Idade Média, a
38
época áurea das Corporações de
Oficio.
Como sabemos, o fim da.
Idade Média na segunda metade
do século 15, caracterizou-se pelo
surgimento de grandes invenções:
~ pólvora, a bússola, o papel e a
Imprensa.
A seguir ocorreram as grandes
navegações e descobrimentos,
entre eles, a de Fernão de Ma-
galhães e Sebastião Lucano, que
fez a viagem de circunavegação da
Terra, saindo em direção oeste e
voltando por leste, demonstrando
assim que a Terra era redonda- o
que significou duro golpe nas con-
cepções religiosas de Roma.
Adiante, ocorreu o fato culmi-
nante dessa época que antecede a
formação da Grande Loja de Lon-
dres: Lutero, monge agostinho, se
rebelou contra Roma, criando o
protestantismo (1552) - movi-
mento que iria produzir conse-
qüências ao longo de dois séculos e
que, ainda hoje, aqui e ali esponta
em focos sangrentos, em várias
partes do mundo.
Lutero rebelou-se contra o papa
Leão X, pela venda das "indul-
gências", Isto é, o indivíduo podia
cometer os maiores pecados, mas
obtinha logo a absolvição, se desse
ao Papa uma certa quantia em di-
nheiro.
A Reforma (como se denominou
o movimento de Lutero), passou,
logo após a sua instauração, à
França, à Suécia, à Suíça, à Escó-
cia e à Inglaterra.
Os católicos, obedientes a Loja de Londres. E em 1723
Roma, criaram então a Contra-
Reforma, com o fim de destruir o
protestantismo e impedir-lhe a
propagação. Seu órgão principal
era a Inquisiçã~ que foi então re-
vigorada, ou 01 nbunal do Santo
Ofício, que usava a prisão perpé-
tua e a fogueira.
A história assinala episódios
sangrentos da reação católica: um
deles, a matança dos protestantes
em Paris, na noite de São Barto-
lomeu (24 de agosto de 1572).
Outro episódio, que mostra a
exacerbação dos partidos, é a pu-
nição de Galileu.
Galileu teve que abjurar pe-
rante o Tribunal do Santo Ofício
sua teoria de que a Terra não era
fixa e se movia em redor do Sol. A
negação da Galileu salvou-o da
tortura e possivelmente da morte
na fogueira, como acontecera, an-
tes, a Giordano Bruno (1600) -
mas não impediu fosse Galileu
condenado à prisão perpétua,
liar, morrendo em 1642. Galileu
ajoelhara-se, para negar a sua teo-
na heliocêntcica, que se baseava
n<;lscálculos de Nicolau Copér-
ruco ,
As guerras religiosas entre cató-
licos e protestantes terminaram no
século 16 pelo Édito de Nantes
(1598), garantindo a todos a liber-
dade religiosa.
A paz, porém, não se efetivou.
No século 17 o evento principal foi
a Guerra dos Trinta Anos - em
conflito rel~g.ioso entre Estados
alemães católicos e protestantes e
que envolveu quase toda a Eu-
ropa, com quatro períodos: o pa-
latino (Boêmia), o dinamarquês, o
sueco e o francês, só terminando
com o Tratado de Westphalia, de
1648,que assegurava, novamente,
a liderdade religiosa.
Ainda para agravar a situação
européia, há que se assinalar a re-
belião de Henrique VIII, que
rompeu com a Igreja Católica e se
proclamou Chefe da Igreja da In-
glaterra, dando origem à implan-
tação do anglioanismo , no remado
de sua filha a rainha Elisabeth.
Na organização política pro-
priamente, ocorre a decadência do
feudalismo e a afirmação do poder
do Rei: a monarquia absoluta. Na
França, Luiz XIV, disse: "O Es-
tado sou eu I" Luiz XIV "o
Grande", "o Rei-Sol", faleceu em
1715- às vésperas de em Londres
instalar-se a Grande Loja. O Rei-
Sol revogou o Edito de Nantes e
obrigou mais de 100.000protestan-
tes a emigrar - e empreendeu
quatro guerras na Europa.
- Era este, em breve resumo, o
panorama político-religioso da
Europa, ao se instalar a Grande
~uando Anderson publicou as suas
, Constituições", para regular e
disciplinar a vida das Lojas, seu
trabalho só podia ser, como foi, de
absol uta neutralidade e absten-
cionismo, frente aos problemas po-
líticos e religiosos.
Era a única forma de subsistir,
numa época de dura violência e
sectarismo.
IV
As "Constituições
de Anderson"
A Grande Loja de Londres ado-
tou em 1717os rituais de Ashmole
e pediu a Anderson em 1721 que
fizesse uma compilação dos anti-
gos preceitos e regulamentos ge-
rais da Maçonaria.
Anderson (Jacó Anderson) era
doutor em filosofia e pregador
presbiteriano em Londres. Teve
colaboradores da mais alta valia,
entre outros, o antiquário George
Payne, o erudito Teófilo Desagu-
liers, que haviam sido, respecti-
vamente, 2°. e 3°. Grão-Mestres da
Grande Loja (o 1°. Grão-Mestre,
em 1717, fora o Cavaleiro Antonio nossa Ordem em uma instituição cionalista, sobretudo os ingleses.
Sayer). apenas fraternista, "um centro de Ainda hoje, por exemplo, na
O trabalho, uma vez concluído, união" . Grã- Bretanha há uma lei de 1701,
sofreu o exame de uma Comissão Vimos que as condições que proíbe o príncipe herdeiro
de 14 doutos, foi aprovado com político-religiosas da Europa, na casar-se com mulher católica. E
pequenas modificações e publi- época, impunham esse neutra- mais: em 1804 quando Napoleão
cado em 1723, com o título: "As lismo ou abstencionisrrio: nada de se tornou imperador, os ingleses
Constituições dos Franco- política, de religião nem de nacio- instalaram sentinelas nos roche-
Maçons, contendo a História, nalidade, isto é, a Loja Maçônica, dos de Dover, temendo uma inva-
Obrigações, Regulamentos, etc., no Terceiro Período,' era apenas são dos franceses: essa vigilância
da Mui Antiga, Reta e Venerável unidirecional ou unidimensional : permaneceu mais de um século
Fraternidade, para uso das Lo- só o cultivo da fraternidade, no além da morte de Napoleão, pois
jas". "centro de união". cessou em 1945.
O livro das Constituições con- Há ainda um outro preceito,
tém: 1°. uma dedicatória do Ir.'. discriminativo, esse contra a mu- v
Desaguliers, deputado do Grão- lher, hoje inaceitável: no capítulo O que erao mundo no tempo de
Mestre, ao duque de Montagn (era IIl, in fine, se diz: " ... é proibido Anderson e o que ele é hoje
Grão-Mestre o duque de Marton), admitir na Maçonaria escravos, A Maçonaria não pode ficar pa-
2D. uma história da Maçonaria, mulheres e homens imorais, cuja rada em Anderson, há mais de 250
desde a criação do mundo (metade conduta seja motivo de escân- anos. O mundo mudou espanto-
do livro) ; 3°. as "Old Charges" ou dalo". samente nesse lapso, hoje estamos
os Antigos Deveres ou Leis Fun- - Essas diretrizes foram impos- no pórtico de um mundo novo. Há
damentais em seis capítulos; 4°. tas ao mundo maçônico há mais de que se instaurar o Quarto Período
Os Regulamentos Gerais ou as 39 250 anos. Para os dias de hoje, po- da história de nossa Ordem,
Antigas Obrigações, reunidos por rém, no alvorecer do 3D Milênio, encerrando-se o atual Período da
George Payne , em 1721; 50. a não merecem acatamento, consti- Maçonaria Especulativa. Basta
aprovação dos livros; 6°. final- tuem empecilho à evolução da Or- lembrar que 95% dos conhecimen-
mente, quatro cantos maçônicos: dem. A Loja Maçônica do 3°. Mi- tos do mundo atual tiveram ori-
hino do Mestre, hino dos Vigilan- lênio não pode discriminar a mu- gem no século em que estamos.
tes, hino dos Companheiros e hino lher, quando há hoje mulheres go- Depois de Anderson, conforme
dos Aprendizes. vernando países, como ocorre na diz o professor Daniel Bell, da
Essa primeira edição do livro própria Grã-Bretanha-, e a Loja Universidade de Harvard, EUA,
das Constituições (1723) é ainda há de ser tridimensional, isto é, nos últimos 200 anos, o mundo so-
hoje reconhecida como ortodoxa cultivar a fraternidade, mas tam- freu três grandes transformações:
por toda a Maçonaria anglo- bém a cultura e o civismo, so b a a primeira a Revolução Industrial
saxônica, nórdica e americana, égide do Supr.'. Arq.'. do Uni- (o emprego da energia para a pro-
constitui a base doutrinária dessas verso. dução de bens), depois o desenvol-
Potências e é a Carta seguida por - Depois de fundada a Grande vimento da química e da eletrici-
todos os maçons regulares em todo Loja de Londres, a Maçonaria se dade, agora a era dos computado-
o mundo. estendeu rapidamente pela Eu- res.
As Constituições eram, por ropa continental e pela América. No tempo de Anderson não se
certo, úteis e necessárias para a A Grande Loja de Londres em conhecia nem mesmo o motor a
época. Nos dias de hoje, porém, 1813 fundiu-se com a Grande Loja vapor. A intercomunicação só se
apresentam-se com muitos precei- de Iorque, dando origem à atual fazia por estafeta a pé ou a cavalo,
tos já peremptos e alguns outros Grande Loja Unida da Inglaterra, hoje viajamos à velocidade do som
realmente negativos. que mantém rigidamente a tradi- e nos comunicamos à velocidade
Está no capítulo VI das Old ção de 1723. da luz, e vivemos num século de
Charges: " ... e, sobretudo, deve-se Detém ainda hoje a Grande osmose cultural pelo rádio e tele-
evitar discussões sobre religião e Loja Unida o matriarcado maçô- visão.
política e sobre nacionalidade". nico, isto é, é ela quem comanda a A medicina no tempo de Ander-
A Grande Loja sempre exigiu a vida maçônica no mundo inteiro, son consistia nos clisteres e san-
estrita observância dessa proibi- ditando as condições da regulari- grias, hoje estamos na era dos
ção impondo-a com grande seve- dade maçônica, aprovando o que transplantes de órgãos e da cura
ridade. Em conseqüência, a Loja considera regular e repelindo o pelas máquinas microscópicas:
maçônica teria de contentar-se em que lhe parece irregular ou espú- pequenos artefatos infiltrados no
ser apenas fraternista. Lá está es- no. corpo, atacando o foco do mal.
crito no capítulo I: "deste modo a A Grande Loja tem se mostrado Hoje a biofísica faz viagem no in-
Maçonaria se converterá em um insensível à evolução do mundo: terior da matéria: além dos áto-
centro de união e é o meio de mesmo quando o comunismo pa- mos, os neutrinos.
estabelecer relações amistosas recia, há decênios, tudo avassalar, Vivemos a era da Eletrônica ~
entre pessoas que, fora dela teriam a Grande Loja manteve-se em si- da Informática: radar, robô, raio
permanecido separadas (ou não se lêncio, porque seria intervir em laser, satélites de comunicação,
conheceriam)" . política -, o que as Constituições viagens espaciais ... o rei é o com-
A Grande Loja de Londres des 1723 proibiam. putador.
inaugurava o Terceiro Período da Aliás, o caráter anglo-saxão- O radar faz deteção e telemetria
História Maçônica constituindo nórdico é espontaneamente tradi- pelo rádio (ondas radioelétricas);

39
 os robôs são aparelhos automáti-
cos, sobretudo empregados na in-
dústria (fazem junturas e soldas) e
os robôs submarinos filmam no
fundo dos mares navios afunda-
dos, como o transatlântico "Tita-
nic" e o cruzador "Bismark"; o
raio laser, criado há 30 anos (1960)
é usado em comunicação, cirurgia,
no corte de peças industriais, na
holografia (fotografia em relevo) e
eletrodomésticos.
E o cinema do futuro? fala-se
em filmes tridimensionais (3 D),
com 60 fotogramas por segundo.
A TV surgiu há 50 anos e já hoje
os receptores põem o interessado
em comunicação com o mundo.
Adiante criar-se-ão os filmes tri-
dimencionais, como no cinema,
em que as Imagens parecem
materializar-se na tela.
E o livro? já há sistema poligrá-
fico de impressão (o chamado Sis-
tema Cameron) que imprime 100
livros por minuto. Mas haverá li-
vros no futuro? o teclado de um
computador põe na tela ilumi-
nada o verbete que você procura:
rara que o livro? para que as livra-
rias?
A Bíblia, com 5 milhões de le-
tras, é possível ser gravada toda
ela em um centímetro quadrado ,
graças à microeletrônica.
É impressionante a antevisão
do mundo futuro. Faça-se hoje na
criação do avião invisível, para
não ser detetado pelo radar.
É mesmo deslumbrante o ca-
minho que o computador abre, em
direção ao terceiro milênio.
Já hoje o computador é capaz de
responder,"!apontar alternativas a
qualquer problema de trânsito e
tráfego de automóveis nas grandes
cidades, afere o consumo da ener-
gia elétrica e de água, emitindo as
contas imediatamente.
Foi o computador que possibili-
tou os vôos espaciais, a princípio
não tripulados, depois tripulados.
É o computador que permite hoje,
se falar na colonização da lua,
para exploração espacial em es-
cala planetária.
Foi o computador que possibili-
tou o lançamento dos satélites ar-
tificiais: 4 de outubro de 1957 a
União Soviética colocou em órbita
circunterrestre o primeiro satélite
artificial do mundo, o Sputinik I.
Foi o primeiro passo na conquista
dos caminhos siderais.
Seguiram-se muitos outros lan-
çamentos e estabeleceram-se esta-
40
ções espaciais, como'a Mir(Paz) da
União Soviética.
A conquista da lua foi feita pelos
Estados Unidos da América,
quando em 24 de julho de 1969os
americanos N eil Armstrong e
Edwin Aldrin pisaram o solo lu-
nar.
A sonda americana Voyager-2
viaja pelo espaço há 15 anos e já
visitou quatro planetas: Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno. E a
Pioner X, em sua jornada, inter-
minável, está nas fronteiras exte-
riores do sistema solar.
- Os cientistas e pesquisadores
estão ligados, entre si, no mundo
atual, pela rede dos computado-
res. Há no Rio de Janeiro um La-
boratório Nacional de Computa-
ção Científica (LNCC), é uma
porta de saída e de entrada de
mensagens na rede internacional
de comunicação acadêmica: 500
cientistas e pesquisadores brasilei-
ros já se comunicam com seus cole-
gas estrangeiros em segundos, gas-
tando quase nada, sem sair de
casa: precisam apenas de um mi-
crocomputador e um telefone. É o
intercâmbio científico e tecnoló-
gico do mundo acadêmico inter-
nacional.
- Os computadores não cessam
de aprimorar: os Estados Cnidos
os supercomputadores se suce-
dem: em 1985 o modelo Bubble,
da Cray Research, custava na
época 18 milhões de dólares e tem
capacidade para fazer 1 bilhão 200
milhões de cálculos matemáticos
por segundo, esse supercomputa-
dor tem capacidade para reter na
memória 2 bilhões de informações.
É o maravilhoso cérebro hu-
mano dos nossos dias quem faz tal
criação! quão longe estamos dos
tempos de Anderson l
- A nova fronteira da informá-
tica, em 1989,são os computadores
da quinta geração, capazes de
pensar e se comunicar verbal-
mente, como um ser humano.
Busca-se o sonho da criação da
inteligência artificial
No mundo político ocorre o en-
tendimento leste-oeste, entre a
União Soviética e os Estados Uni-
dos da América. E há nos regimes
socialistas autoritários um sopro
de democratização -, e por sua
vez nos países de capitalismo sel-
vagem ocorre o povo adquirir
maior direito ao conforto
da Civilização. É um bem que
assim aconteça, porque há no
mundo atual milhões de desassis-
tidos, sofrendo o flagelo da fome.
O que ocorre na Europa é elo-
quentíssimo: a união da Europa
vai ocorrer em 1992. São 12 países
da Comunidade Econômica Eu-
ropéia (CEE) que removem as bar-
reiras de viagens, comércio, em-
pregos e investimentos. Já há um
Parlamento Europeu em funcio-
namento, com 518 cadeiras, se-
diado em Estrasburgo.
Isso é notável: é um largo passo
para o sonho maçônico: a organi-
zação planetária da sociedade
humana: um organismo mundial
seria responsável pelo bem comum
de todos os povos. Quão longe es-
tamos da época em que as cidades
eram muradas e fortificadas
contra as cidades vizinhas!
Dizem os espiritualistas que o
século XXI será o milênio da espi-
ritual idade : tempo de união, as-
censão, reencontro e unidade.
Assim seja!
VI
A "new age". A Maçonaria do
amanhã deve ser ambígena.
Novae Sed Antiquae. A
unidade da Maçonaria. A cor
local do Espírito Maçônico.
A "new age" é o 3°. Milênio No
campo maçônico deve ser 04°. Pe-
ríodo da História da Ordem.
A Maçonaria do Amanhã deve
ser ambígena: provir da Tradição
e da Evolução. O atual Pontífice
da Igreja Católica, o Papa João
XXIII, escreveu em sua Carta
Apostólica, de dezembro de 1968:
"é preciso atualizar, sem perder a
identidade" .
O exemplo da Igreja Católica
fulmina os tradicionalistas e roti-
neiros. Ela se renova através dos
séculos, conciliando a Tradição
(três tradições: tradição primi-
tiva, tradição mosaica e tradição
cristã ou evangélica) com a Evolu-
ção. Na Igreja Católica a Evolu-
ção denomina-se "missão" De
fato. Eis um expressivo exemplo:
as encíclicas "Mater et Magistra"
e "Pacen en Terris" de João
XXIII contêm as mais avançadas
proposições de natureza econô-
mica, política e social; a encíclica
"Eclesian Suam" de Paulo VI,
outro grande Pontífice, é um reco-
nhecimento dos valores espirituais
e morais das diversas confissões re-
ligiosas não romanas, e querendo
com elas formar uma frente co-
 mum, e a "Populorum Progressio"
põe a Igreja no trato das questões
mais agudas do mundo contempo-
râneo. Essas encíclicas são a atua-
lização do "Quadragésimo Ano",
de Pio XI - e Pio XI fazia por sua
vez a atualização da encíclica
"Rerum Novarum" de Leão XIII,
produzida há 99 anos e que, supe-
rada pela evolução do tempo, exi-
giu assim quatro redefinições su-
cessivas. Enquanto isso, a Maço-
naria permanece parada em 1723,
há mais de dois séculos e meio!
- A Maçonaria deve atualizar-
se, sem perder a identidade.
A Maçonaria possui uma parte
essencial e intrínseca, que não
pode alterar ou perder, sob pena
de não ser mais Maçonaria: é a
base, que não muda, isto é, o depó-
sito intocável: os Landmarques, a suntos de educação, saúde e filan-
Iniciação, o Cerimonial, a Litur-
gia, os Símbolos: e tem uma parte
eventual e contingente, passível
de reforma ou aprimoramento: éa
sua convivência com o mundo cir-
cundante.
ANTIQUAE SED NOVAE. No
caso especial do Grande Oriente
do Brasil, tem nossa Potência, fiel
aos propósitos da latinidade, o nico mundial.
lema de 1831, que obriga o Maçom
a conciliar a Tradição ("antiga")
com a Evolução ("nova"). Em ne-
nhuma outra Potência o compro-
misso maçônico de batalhar pelo
Progresso é maior do que no
Grande Oriente do Brasil. A Ma-
çonaria Ambígena, derivante da
Tradição e da Evolução, tem no
Grande Oriente a sua natural ori-
gem. Cabe ao Grande Oriente a
honra e o privilégio de ser o seu
ponto de partida e a sua matriz.
A Unidade da Maçonaria. A
Maçonaria é universal ou supra-
nacional, como a Igreja Católica
Romana (apenas não tem governo
único). A Maçonaria, por seus ge-
néricos sustentáculos ideológicos,
não é iankee em Washington, in-
glesa em Londres, prussiana em
Berlim, francesa em Paris, turca
em Istambul, brasileira no Rio de
Janeiro. No mundo maçônico não
há antagonismo ou desvinculação
e, sim, meios comuns de reconhe-
cimento. A universalidade maçô-
nica assenta em fundamentos ge-
rais, observados por toda Potência
Maçônica. Esse denominador
comum é o geral caráter substan-
tivo da Instituição, mas cada Po-
tência tem, em seu País, uma
atuação e uma projeção, que a in-
dividualizarn e distinguem entre
as co-irrnâs - é o caráter adjetivo
de cada Corpo. o mundo maçô-
nico a base é comum, mas a ação
exterior das Potências é diversifi-
cada. É a velha distinção escolás-
tica entre substância e acidente,
entre fundo e forma.
- A cor local do Espírito Ma-
çônico. Convém repetir: a Maço-
naria é universal e una, mas em
cada País assume características
peculiares, consoantes a história e
a índole de cada Povo, exata-
mente como ocorre com a Arte, a
Ciência e a Religião, que são tam-
bém universais. É bom também
lembrar a coexistência de duas
grandes linhas maçônicas: a proibição não consta dos land-
anglo-saxônica-nórdica e a latina,
a primeira mais voltada para as-
tropia e a segunda visando mais os
problemas econômicos, políticos e
sociais, por isso, aquela não os-
tenta "Os Ideais da Ordem". Arn-
bas, porém, buscam, a seu modo,
concorrer para o bem comum uni-
versal, ou o aprimoramento da
Vida.
Não há fratura no campo maçô-
Há unidade, as-
sente sobre a base comum. O que
não há é uniformidade ou singula-
ridade. E essa unidade é fecunda e
natural, porque é diversificada.
- A Maçonaria é universal, mas
não pode ser desnacionalizante.
Há em cada País, derivada da-
quela unidade histórica, do am-
biente geo-econômico e do gênio
de seu Povo: índole, tradições e
aspirações, uma vocação nacional,
que é preciso resguardar. É nisso
que consiste a cor local do Espírito
Maçônico. E por isso mesmo,
deve-se dizer, no caso brasileiro:
"Maçonaria do Brasil" e não
"Maçonaria no Brasil".
VII
Maçonaria e Política.
Maçonaria e Religião. O
Humanismo Maçônico. O
Maçom no mundo de hoje.
Conclusão.
Maçonaria e Política - Há no
mundo maçônico, claramente es-
tabelecidas, duas grandes corren-
tes: a anglo-saxônica-nórdita e a
latina. Pelo predomínio histórico
da corrente ang lo-saxôn ica-
nórdica correntemente se diz que a
política constitui matéria vedada
à apreciação dos Obreiros, isto é, a
Maçonaria não trata de política:
esta é proibida na Instituição.
Aqui caberia o "distinguo" dos
escolásticos, porque há política e
política.
A origem da proibição está nas
"Constituições" de Anderson, de
1723. Já conhecemos o preceito:
" ... e sobretudo deve-se evitar dis-
cussões sobre religião e política e
sobre nacionalidade".
Anderson afirmou o neutra-
lismo: a época o impunha, tanto
pela violência do campo político
(Guerra dos 30 Anos), como do re-
ligioso (sectarismo hostil entre ca-
tólicos, protestantes e anglicanos).
Depois de Anderson, os Mestres da
doutrina não foram acordes: a
marques de Mackey, mas é um dos
9 landmarques de Findei, con-
temporâneo de Mackey.
A proibição atualmente está de
pé. Ja Maçonaria arig lo-sa-
xônica-nódica a proibição é
sumária, total e absoluta, con-
forme o exige a Grande Loja
Unida da Inglaterra. Na Maçona-
ria latina só se proíbe, porém, .a
política de facção ou de partido.
Lauro Sodré, o fundador do
Rito Brasileiro, dizia que os Ma-
çons devem praticar" a larga Polí-
tica dos Princípios". Quais são
esses Princípios? São os "Ideais da
Ordem", correntes no mundo la-
tino, incluídos no capítulo I do Tí-
tulo I da Constituição do Grande
Oriente do Brasil. E é aquilo que
nós denominamos a "Política Pe-
rene".
Efetivamente: a concepção
geral da doutrina maçônica, for-
mada ao longo dos séculos, impõe
ao Irmão a adesão a uma série de
preceitos de ação política: nós
somos contra o extremismo polí-
tico e o absolutismo religioso: nós
somos pela liberdade, pela igual-
dade dos cidadãos perante a lei,
pela auto-determinação dos po-
vos, pelo governo representativo,
atra vés de eleições periódicas,
pelo império da lei, pela justiça
social, diminuindo as distâncias
no convívio humano, pelo ensino
oficial leigo, pela igualdade jurí-
dica do homem e da mulher, pela
igualdade de oport.unidades a
todos os cidadãos, pela separação
entre a Igreja e o Estado, pelo
livre exercício dos cultos religio-
sos, pela supremacia do casa-
mento civil, pelos direitos de peti-
ção, reunião e associação, pela in-
violabilidade do domicílio, pela
41
 defesa dos acusados, pela demo-
cratização do capital, pela obrigar
toriedade do trabalho considerado
um dever social, pela supressão da
miséria e da fome, isto é, pela li-
bertação econômica do povo.
Somos pelo Estado mínimo. En-
tendemos que o Estado deve servir
à Nação. Somos contra qualquer
forma de imperialismo ou totali-
tarismo e queremos a convivência
fraterna internacional.
Faz-se necessário que o profano,
ao requerer a Iniciação, conheça os
preceitos da Política Maçônica,
para evitar que se torne Irmão ou
adepto do extremismo, isto é, um
Não-Maçom se revista da capa de
Maçom.
Maçonaria e Religião. A Ma-
çonaria não é uma Religião.
Acerca de religião, a Maçonaria
contemporânea divide-se em três
correntes, como já vimos ante-
riormente:
- a agnóstica, representada
pelo Rito Moderno ou Francês
(agnosticismo do Grande Oriente
de França);
- a deista, representada pelo
Rito Escocês Antigo e Aceito
(deismo, afirmado pelo Congresso
de Lausanne, em 1875); e
- a teológica, representada
pelo Rito de Iork (teismo da
Grande Loja Unida da Inglaterra
e, em geral, das Potências de paí-
ses de origem inglesa). Os Ritos
Adoniramita e Brasileiro são tam-
bém teístas, nessa linha pode ser
incluído ainda o Rito Schroeder,
alemão.
Esta corrente é a maior: mais de
2/3 do total. A Grande Loja-Mãe,
no século 19, começou a adotar o
teísmo e hoje é a sua mais firme
propugnadora.
A Igreja Católica Romana e a
Maçonaria. A Maçonaria jamais
se opôs a qualquer Igreja. Mas foi
exomungada pela Igreja Católica
Romana em 1738, 'isto é, 21 anos
depois da fundação da Grande
Loja de Londres.
Na Idade Média, a Maçonaria
esteve ligada à Igreja de Roma.
Isso se vê claramente na legenda
maçônica dos Quatro Santos Co-
roados, nos vários Santos padroei-
ros da Maçonaria: São Tomaz,
São Luiz, São Braz, Santa Bár-
bara, São João e nos documentos
essenciais da época.
- A instalação da Maçonaria
Especulativa em 1717 alterou en-
tretanto as relações entre Roma e
a Maçonaria.
42
Motivos políticos determina-
ram a ruptura.entreeles acrescente
influência inglesa na Europa, com
a ascensão da Casa de Hannover
(protestante), as lojas, dependen-
tes de Londres, reunindo católi-
cos, protestantes e judeus, a extin-
ção dos Médicis na Toscana com a
inauguração da dinastia de Habs-
burgo e Lorena. Na época, protes-
tante era quase sempre sinônimo
de maçom. O papa não suportou
mais: rompeu com a Maçonaria.
Excomungou-a. O papa foi Cle-
mente XII e a bula tem o nome de
"Constituição In Eminenti".
O papa, em sua bula, declara a
Maçonaria não conforme às leis
civis e canônicas, porque as Lojas
reúnem homens de todas as religi-
ões e seitas, protegidos por um se-
gredo inviolável. Refere-se ao
"crescente progresso da Maçona-
ria" e é preciso obstruir a larga es-
trada". O papa não alinha ne-
nhum argumento de valor contra a
Maçonaria, muito menos doutri-
nário, mas diz haver "outras cau-
sas justas e razoáveis, por nós co-
nhecidas", sem dizer quais sejam.
O que não o impede de condenar e
proibir as Lojas, e os fiéis não
podem freqüentá-Ias, sob pena de
excomunhão.
Depois de Clemente XII a Ma-
çonaria foi condenada por Bene-
dito XIV, Pio VII, Leão XII, Pio
VII, GregórioXVI, Pio IX (que foi
maçom) e Leão XIII. A primeira
condenação foi em 1738,a última
em 1884.Desde 1884até hoje, uma
longa trégua de um século.
É que sobrevieram aconteci-
mentos históricos importantíssi-
mos, mudando a face e o mapa da
Terra, como a revolução indus-
trial, que criou o proletariado no
século atual, a eclosão das duas
Grandes Guerras, e em especial, a
implantação do Comunismo na
Rússia, em 1917, como forma de
governo, e que rapidamente se ex-
pandiu por outros países.
O comunismo levantou desde
logo a canbeira de "pão, terra e
liberdade", colocou-se frontal-
mente contra a religião, conside-
rada o "ópio do povo", no dizer de
Lenine, e determinou a propa-
ganda anti-religiosa, como dever
do Estado.
Surgiu então, pela natural im-
posição dos fatos, a necessidade da
conjugação das forças espirituais:
religiosas ou de conteúdo huma-
nístico, para se oporem à propaga-
ção do comunismo ateu. Desde
Pio XI tem havido sucessivas ten-
tativas de aproximação e no Con-
cílio Vaticano II o bispo D. Sérgio
Mendez Arceo , em 1965, propôs a
revisão da legislação canônica
sobre a Maçonaria. Depois disso
tem havido algum progresso, mas
ainda há obstáculos a superar.
No Brasil, o fato mais relevante
de aproximação ocorreu em 1976,
quando o Cardeal Primaz do Bra-
sil, D. Avelar Brandão Vilela. foi
a uma Loja da Grande Loja
Unida da Bahia e aí recebeu o Tí-
tulo de Grande Benfeitor e em seu
Palácio recebeu e agradeceu a
Comenda da Ordem do Mérito D.
Pedro I, que lhe foi levada pelo
Grão- Mestre Geral do Grande
Oriente do Brasil, Ir.'. Osmane
Resende.
Humanismo Maçônico - A
concepção maçônica do 3°. Milê-
nio, conciliando a Tradição com a
Evolução, faz com que a nossa
Doutrina alcance o plano ensola-
rado da Filosofia, estabelecendo o
Humanismo Maçônico.
No mundo atual divisam-se vá-
rios humanismos filosóficos, cada
qual querendo modelar o futuro
do homem e da humanidade.
Cada um apresentando a sua
idéia-força. E sobre eles, o huma-
nismo maçônico, de nossa concep-
ção:
a) Humanismo antropocên-
trico - considera o homem o
centro do Universo, como o Ra-
cionalismo, de Leon Brunschvicg,
e o Existencialismo, de J. P.
Sartre.
b) Humanismo sociocêntrico
-é aquele cuja meta essencial não
é o homem, mas fi, sociedade, que
visa a beneficiá-lo. Quando em vez
da Sociedade livremente organi-
zada, impõe-se o Estado Todo-
poderoso, o humanismo passa a
ser estatocêntrico, na supremacia
absoluta do Estado, como alvo.
O tipo de humanismo sociocên-
trico é o de Durkheim: a comuni-
dade constitui o centro de gravi-
dade da Vida.
O humanismo estatocêntrico é o
marxista. Inspirado em Fuerbach
e Hegel, o marxismo foi criado por
Karl Marx (1818-1883)e Engel e
confirmado por Lenine. O Estado
exerce um poder absoluto, sem res-
trições.
c) Humanismo teocêntrico-
a expressão mais completa é o hu-
manismo Cristão.
Deus constitui o centro do hu-
manismo cristão. É invisível, su-
premo, infinito, misterioso. Hoje, mais de 250 anos depois de cer a direção do futuro, traçando
Isaías, XLV, 15: "Deus abscondi- Anderson, esse fim moral da Ma- as bases do 4°. Período Maçônico,
tus"; São João:" inguém jamais çonaria, só não basta. A civiliza- precisa saber por onde caminhar:
o viu" O, 15) mas o filho único o ção atual exige muito mais. É pre- há 20 séculos, Sêneca ensinou: "Se
deu a conhecer" O, 18). Deus é, ciso que' a Maçonaria forme o um homem não sabe para que
sim ul taneamen te, admiração, homem sob o tríplice aspecto: mo- porto se dirige, nenhum vento lhe
temor, confiança e amor. É pela fé ral, cultural e cívico. Sobretuado a será favorável", Recentemente, o
que o homem adere a Deus. Bar- Maçonaria do mundo latino. estadista americano Henry Kis-
diaef escreveu: "O homem só é Há, todavia, os rotineiros ou fi- singer fulminou: "Se você não
pessoa na medida em que for uma xistas, que resistem ao aprimora- sabe para onde está indo, todos os
espírito livre, refletindo o Ser Su- mento da Ordem. Esses rotineiros caminhos o levarão a lugar ne-
premo". "O homem é homem na e fixistas não sentem que se torna nhum" .
glória de Deus (São Paulo, I Epís- impositiva e urgente uma reforma
tola aos Coríntios, XI, 7). A pessoa de mentalidade na Maçonaria x
humana, porque se pertence, Universal e no seu arcabouço, - Meus Irmãos. Termino o pre-
subtrai-se à tirania do Estado. A mantida a essencialidade de suas sente trabalho com uma evocação
sociedade não pode impôr-Ihe sa- bases e fundamentos primevos, - amorável: Saint Exupéry (An-
crifícios espirituais. A César o que e alguns se iludem, a si próprios, toine Saint Exupery), nosso Ir-
é de César, a Deus o que é de Deus. ao afirmar ingenuamente que os mão, desaparecido misteriosa-
d) Humanismo Maçônico - é velhos cânones podem, sozinhos, mente em missão de guerra, em
ecumênico e universal: porque va- atender às exigências da época, 1944 (o tempo era claro e não
loriza o Homem, serve à Socie- em que VIvemos. houve luta), ele enobrece em lin-
dade e cjltua o Supremo Arquiteto Já se findou o tempo em que o guagem poética e subjetiva, em
do Universo. Maçom se comprazia em ser o seus romances, como "Terra dos
A face antropocêntrica do Hu- homem do Passado. Hoje ele terá Homens" e em suas novelas para
manismo maçônico insere-se na de ser um homem do Presente, a crianças, como "O Pequeno Prín-
valorização do ser humano, como caminho do Futuro, adestrado na cipe", o rumo superior da ação he-
maçom, no seio da Loja; a face solução das controvérsias, nesta róica. Foi ele quem disse em "Ci-
sociocêntrica está no binômio época de uma Civilização em mu- tadelle" : O que importa é partir, e
maçom-socieade, os deveres e di- dança. O Maçom de hoje tem que não ter chegado!"
reitos recíprocos, condensados na sentir as grandes correntes de pe-
Política Perene; e o maçom, na samento e de ação, que o rodeiam. CONCLUSÃO - 7 axiomas
Loja ou fora dela, cultua o Sup.' . Já foi dito magistralmente: "O A Maçonaria do Amanhá ou a
Ar.'. do Universo: eis a face teo- Maçom vive com seu século e cons- Maçonaria do 3°. Milênio
cêntrica do Humanismo maçô- trói para o seu século" . 1) Maçonaria deve ser ambígena,
nico. Nossa filosofia repontou em O Povo Maçônico do mundo la- isto é, provir da Tradição e da
nomes estelares da Maçonaria, tino, através do tempo, já o disse- Evolução para não ficar esta-
como Goethe, Mozart e Kipling. mos, constituiu um conjunto oe cionária à margem da História,
Há no Humanismo maçônico preceitos admiráveis, sob o desig- que .tv.mru.
duas partes: a esotérica ou de inte- nut ivo de "O" Ideais da Inst itui- 2) Toda" a,.; Potências Maçônica-
riorização e a exotérica ou de ext e- çüo" Por ele". quer servir ;\ 01'- ,.;iio";01 iera nus e, por isso , ugiais.
riorização . A primeira fundrunsn- dem , :1. Pátria e ii. Humanidade. :\':10 haverá matriarcado ou he-
tuda na Tradição, na Iniciaçâo e Pela \loral, pela Cultura e pelo gelllollia de nenhuma. As Po-
nos Símbolos: a segunda é o ernen- Civismo. Afirma o inciivisíve] de,,- r êncius manterii.o entre "i os
t ário dos sete oeyeres de ação, tino do Homem na Terra. Quer laços da fru ternidade , para a
assim distribuídos : manter "o centro oe uniào". refe- unidade da Ordem.
- o substratum: ter a Vida rido por Anderson em ,.;ua,.;"COl\,.;- ;~) A \Ltçonaria nii.o tem pátria,
Reta e manter o Espírito fraterno: rit uições' de 1723. centro fru ter- mus os Vlaçon« a têm.
- o mediustratum: praticar o n ista , fechado, - ma" tu mbém 4) A \1açollaria não pode ser oes-
Trabalho e pugnar pelo Bem- atuar na liderança da Cornuni- nacionalizante: há que respei-
E"tar Social: dade. onde "i "e, senão, ficará na tar o caráter nacional de cada
- o superstratum: defender a contr.unào (LI Hi,.;tÓria. Nii.o quer Povo.
Liberdade, amar a Família e a Pá- conduzir ,'t,.; costas um corpo inerte, 5) A Loja Maçônica deve ser tri-
tria: COIllO Zurut ust ru , no poema dE' dirnensiona l : fraternidade, cul-
- o fastigium: reconhecer o :,\ietz"che. E há de vencer os miso- tura e civismo, com Rituais
Supremo Arquiteto do Trriverso. ueist as. compelir ;\ razâo o" que adequados a cada campo.
O Maçom no mundo de hoje. querem a Ordem manietada ao 6) A mulher deve ter acesso à Ma-
Como vimos, O" ca none- maçôni- Pa,.;sado e iluminar o- que desco- çonaria, em Loja própria.
cos de 1723 vigentes, só cuidam da nhecem a suprema realidade de 7) Em sua ação exotérica, o
Maçonaria como organização mo- nossos dias: de que vivemos num Maçorn oeve defender os Ideais
ral. É, segundo ele", uma institui- l 'niverso em contínua evol uçâo , a da Ordem, praticando a "larga
ção fraternistu, desenvolvendo e exigir um permanente esforço Política dos Princípios", con-
apurando as potencialidades mo- construtivo. densada nos Sete Deveres 00
rais da pessoa humana. Nos Ri- Urge se trace o rumo a seguir, Humarnsmo Maçônico.
tuais de Ragon, que é um clássico para que, adiante, a Maçonaria
em Maçonaria, não há uma pa- seja não o objeto, mas o sujeito da Or'. do Rio de Janeiro, RJ,
lavra sobre cultura e civismo. História humana. Precisa conhe- Julho de 1989 E.'.V.'.
4:3