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XI
O Dilema Filosofal
Em todas as gerações, uns poucos, mais do que “crer”, conheceram algumas respostas
para as grandes questões da humanidade. Seu saber é, evidentemente, difícil de
transmitir para o resto de nós, mas seu brilho e sua certeza operam certamente como
um farol e uma recordação do que um homem ou uma mulher podem ser. Eles
ocupam seu lugar em uma sociedade ordenada e tradicional; como Catarina de Siena
ou Nicolau de Cusa, impõem respeito a reis e papas, e fixam um modelo de santidade
e sabedoria ao qual o clero aspira (se é que não enlouquece de ciúmes). Mas, o que
fazer quando o equilíbrio espiritual do mundo se despedaça como ocorreu no século
XV com o cisma do Oriente e Ocidente e a influência do humanismo; no século XVI,
com a Reforma, a Contrarreforma e as Guerras Religiosas; e, no século XVII, com a
caça às bruxas, a Guerra dos Trinta Anos e a revolução científica?
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O “dilema filosofal” de nosso título consiste em optar por um desses dois campos
operativos: pelo político ou pelo pessoal. Ou podemos dizer assim: “É possível dar um
remédio para o estado da humanidade em seu conjunto, ou seu estado é tão crítico
que isso só é possível no plano individual”?
Não é preciso ser muito sábio para que esta pergunta nos perturbe. Respondê-la
exige uma sondagem de nossas mais profundas convicções sobre a natureza humana
e sobre o lugar que o homem ocupa sobre a terra. Por exemplo, cremos que a vida na
Terra é o simples prelúdio de uma vida muito mais importante que começa depois da
morte? Se é assim, as condições sociais deste vale de lágrimas são um assunto
secundário e, inclusive, uma distração. Cremos, como a maioria dos cristãos, que
todos têm uma alma individual e imortal ou, como alguns pagãos, que a imortalidade
pessoal só é ganha com titânicos esforços? Existe uma clara diferença entre a
existência material e a existência espiritual, ou o corpo e a alma formam parte de um
continuum que nossa falsa percepção divide? Devo me preocupar com a humanidade
em seu conjunto, ou devo me preocupar com minha própria salvação, deixando o
resto nas mãos da Divina Providência? Sou uma unidade à parte, dono de minha
própria história espiritual, um estrangeiro ou exilado nesta terra (este é o ponto de
vista gnóstico), ou pertenço a uma tribo, uma raça ou uma espécie com uma macro-
história de evolução passada e futura?
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Será sempre um mistério como a religião, cujos principais mandamentos são o amor
a Deus e o amor ao próximo, chegou a uma situação tão crítica. Não obstante, pode-
se achar uma pista nas crenças enxertadas na temática evangélica. Qual o estoico ou
platônico ilustrado que pôde, alguma vez, ter levado a sério a doutrina da
predestinação ou da transubstanciação, da infalibilidade das Escrituras, ou da compra
de indulgências para encurtar nossa estadia no Purgatório? Qual o cristão reflexivo
que pôde deixar de duvidar de semelhantes coisas? Jamais ficou mais bem
demonstrado o axioma segundo o qual quem não se sente seguro de suas próprias
crenças costuma reagir com dogmática agressividade.
de se levar a cabo uma única intenção; e se utilizou isso, dizem os críticos dos jesuítas,
para justificar meios duvidosos e sinistros. Também nos perguntamos se tem alguma
validade o “conhecimento” obtido mediante os Exercícios Espirituais, ou se é apenas
uma fanática sobre estimulação de respostas receitadas para questões eternas.
e logo prosseguiu seus próprios estudos “conversando com os anjos”. Paracelso fez
outro tanto, e sua concepção acerca de uma Natureza viva, impulsionada pelas
influências celestiais e sensível à alquimia, combinou-se com um sólido conhecimento
do herbanário, da química e das Escrituras. Praga foi um campo fértil para a Pansofia;
ali o Imperador Rodolfo II (que reinou de 1576 até 1611), permitiu toda a diversidade
religiosa e estimulou todas as artes e ciências, especialmente as de caráter
Hermético.
Ashmole era como um chefe druida ou um Pontifex Maximus, nascido fora de época,
sobretudo porque cada decisão sua era regida pela astrologia horária. Seu trabalho
constituiu um monumento ao conceito tradicional e hierárquico de uma sociedade
ordenada, governada por um rei ungido. Mas longe de ter visão estreita, era também
um voraz colecionador de antiguidades e objetos curiosos de todo o mundo, tanto
naturais como artísticos. Como o jesuíta Atanásio Kircher, que armou sua coleção
etnográfica com a contribuição de missionários, Ashmole foi fundador de um dos
primeiros museus. Também foi membro fundador da Sociedade Real. Em
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No século XVIII apareceu uma nova ordem Rosacruz. O primeiro que a descreveu foi
“Sincerus Renatus” (Samuel Richter) em 1710, ficando institucionalizada em meados
daquele século. Diferentemente da original, esta “Ordem da Rosa-Cruz de Ouro” era
totalmente pública, e alguns de seus membros, encabeçados pelo Rei Frederico
Guilherme II, da Prússia, exerciam efetivamente o poder. Da mesma forma que os
demais “déspotas ilustrados” de seu tempo, viram com bons olhos a liberdade
religiosa e algumas liberdades civis para as massas. Quanto aos seus próprios
membros, a ordem empregava um detalhado sistema de rituais, graus, títulos e
símbolos com os quais ascendiam os degraus da iniciação. A alquimia e, inclusive,
uma sorte de evocação mágica despertavam muito interesse.
O novo rosacrucianismo abandonou suas polêmicas com o papa e sua igreja, que
haviam sido características na Confissão original e, com o espírito do novo século,
abriu suas portas tanto aos católicos como aos protestantes de diversas
denominações. Manobrando entre os riachos gêmeos da religião sectária e o
cientificismo, evitou a rivalidade existente entre ambos que, segundo a limitada
descrição dos historiadores, caracterizou o Século das Luzes.
para a Terra Santa chegaria sãos e salvos. Por uma compreensível afinidade, se
aliaram com a corporação escocesa de maçons e arquitetos, cujos mitológicos ofícios
remontavam ao mais famoso de todos os edifícios da antiguidade, o Templo de
Salomão. A corporação utilizou lendas sobre o templo e seus construtores para seus
ritos iniciáticos e como recurso alegoricamente moralizador. Por exemplo,
comparavam ao ser humano com uma pedra bruta e sem forma, recém-tirada da
pedreira, a qual devia ser entalhada, modelada e polida para ser digna de ocupar seu
lugar no edifício terminado. Implicitamente, a sociedade é um templo em processo de
edificação.
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