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CURSO DE ECLESIOLOGIA - A Época dos

Três Primeiros Séculos

A Igreja como Mistério

Nos primeiros séculos, a Igreja teria se entendido e realizado em todos seus aspectos como
mistério da fé.

Mistério no sentido de se conceber em seu todo como uma comunidade chamada e reunida pelo
misterioso designo de Deus comprido em Jesus Cristo, pelos dons de sua palavra e de seu amor
propiciado no batismo, na eucaristia e na remissão dos pecados; e santificada pela participação
do sagrado, a Igreja realiza sua koinonia pela communio e pelos dons do Espírito Santo.

Imagens Bíblicas

A época da Igreja primitiva, constitui o tempo em que ela apresenta e conserva enunciados e
imagens bíblicas.

✓ O Novo Povo de Deus


✓ Casa e Templo de Deus
✓ Corpo de Cristo
✓ Comunhão dos Santos
✓ Esposa de Cristo
✓ Mãe

O Novo Povo de Deus

O Novo Povo de Deus, convocado dentre judeus e gentios, alicerçado na fé e no sacramento,


enveredando, não como sociedade secreta, mas em plena publicidade, pelo caminho que leva ao
Reino de Deus a devir.

O enunciado referente ao povo de Deus enriquecia-se ainda pela conceituação da Igreja como
cumprimento das promessas e privilégios dados ao povo de Israel.

A Igreja como Corpo de Cristo

A imagem paulina da igreja como Corpo, corpo cuja cabeça é Cristo, tem uma figuração dupla
fundada desde o texto no NT: como descrição da comunidade local, como imagem da Igreja
universal.

Na imagem da Igreja como Corpo de Cristo, representa-se a imanência da Igreja em Cristo e a


Imanência de Cristo na Igreja. A mesma imagem compreende os ministérios, funções e ordens da
Igreja, como maneira e formas como se edifica a Igreja na unidade, verdade, fé e caridade.

A Igreja como Casa e Templo de Deus

Quando a Igreja se ver como casa ou templo de Deus ela o faz conforme o sentido do NT, não se
pensa primariamente no edifício destinado ao culto, mas na própria comunidade viva dos fieis.

A comunidade reunida para o culto divino e realizando a anamneses de Jesus Cristo assume a
posição do antigo Templo do VT. Isto se torna possível e real, por ser o crucificado e Ressuscitado
o lugar em que Deus ficou acessível aos homens e onde os homens tem acesso a Deus. Daí, onde
quer que se reúna em torno de Cristo, seja Casa e Templo de Deus.

A Igreja como Comunhão dos Santos

A Igreja é comunidade pela participação no dom sagrado distribuído por Cristo: a realidade de
palavra e sacramento, o amor de Deus que neles se presencializa e se comunica.

A Igreja é tudo isso enquanto comunidade dos homens que, precisamente em virtude disso, estão
santificados a partir de Cristo.

A Igreja como Esposa

Pela imagem da Esposa de Cristo ressalta-se a aliança do amor de Deus com a comunidade que
elegeu e destinada a atingir a verdadeira plenitude por Jesus, porque foi nele que se tornou evento
e realidade a união com Deus e com a Humanidade.

Através da junção “Igreja” e “Corpo” se pretende articular a presença de Cristo na Igreja e com
a Igreja, mas descrevendo ao mesmo tempo a não-identidade de Igreja e Cristo, assim como o
confronto pessoal e com isso a distancia que expressa a uma das pessoas a qualidade de Senhor e
de Soberano, inerente a Cristo frente a sua Igreja.

A Igreja como Mãe

Concebendo a Igreja sob a imagem de Mater Ecclesia, pretende descrever com isso a missão de
medianeira da verdade e da salvação. Ela o é como administradora da Palavra, do sacramento e
da fé.

Cabe a Igreja como mãe, guardar e proteger a vida que lhe foi confiada.

No aprofundamento dessa imagem, concretiza-se sobre a Igreja a lembrança de Eva e de Maria,


para ilustrar a função da Igreja como geradora da Vida.

Símbolos e Alegorias

A imagem da Igreja adquire uma nota característica toda especial no tempo dos santos Padres,
pela aplicação de símbolos e alegorias à interpretação da natureza e atividade da Igreja.

✓ Mysterium lunae
✓ Metáfora do Navio
✓ Arca de Noé
✓ Barca de Pedro

2. A Igreja no Auge
da Era de Constantino

A Igreja como Império

A virada constatiniana exime a Igreja da situação que até então se debatera: da tolerância parcial
ou quase nula, da dispersão, da ilegitimidade política e principalmente da perseguição. No sentido
político, torna-se ela uma Igreja Livre e libertada.
A pequena grei, a gens dentre as gentes, transformou-se por um processo histórico não só numa
Igreja predominante, mas num império cristão. Assim, a Igreja atravessa a dinâmica do império
e o absorvem em sua própria imagem.

Populus Deis – Populus Chritianus

A Igreja, Povo de Deus, que outrora constituía-se pela opção de fé e o selo de sacramento, não se
desfaz dessas inclinações, mas estas se tornavam em assunto corriqueiro inquestionável.

A gente nascia por assim dizer como cristão no povo cristão e era levado pelo meio social assim
constituído. O Povo de Deus passa a ser Povo Cristão, e este se transforma num conceito cultural,
sociológico e político. O mundo se dividia, por assim dizer, em cristão e não-cristão.

A Igreja como Domina: Imperatrix

Nesse emparelhamento mutuo do mundo e da Igreja, não é de se admirar que sendo o mundo um
império, esse se torna-se um modo da própria Igreja de se ver.

Esse fato era reforçado pela observação de que também nos enunciados bíblico era a Igreja posta
em contexto com o Reino de Deus, que já havia começado, assim, não poucos se viram como
suscitado por Deus para tornar este Reino de modo mais visível. Isto é, o implantá-lo na Terra.

A Crise: Civitate Dei

A Igreja ficou tão próxima do movimento do império, que na extinção do Império Romano
Ocidental, não poucos cristãos viram nesse fato uma verdadeira prova de fé, pois havia um receio
de que a Igreja estava a ponto de se extinguir.

Em sua obra “Cidade de Deus”, Santo Agostinho dar a esse pensamento crescente uma resposta
ampla e progressiva.

No meio dessa crise, muito das funções políticas da administração Estado foram assumida pelas
autoridades cristãs, por isso mesmo, ao exercer tais funções, a Igreja se viu em muitos aspectos
como herdeira do Império Romano.

A Igreja entre Imperador e Papa

A situação da Igreja entendida no status de povo cristão, onde não havia mais distinção entre
sociedade e Igreja, trouxe novos problemas, questões, tensões e diferenças. Surgia nessas
situações o problema de chefia e responsabilidade, da competência e superioridade. O problema
se articulava pela definição da relação entre imperador e papa.

O imperador se intitulava “protetor da Igreja”, era e se tornou o seu senhor. Instalou-se o que se
poderia chamar de “cesaropapismo”.

A Igreja de Constantinopla

A divisão do Império Romano em império oriental e ocidental, junto com a elevação de


Constantinopla a capital e residência imperial, não ficou sem efeito sobre a Igreja.

O bispo de Constantinopla reivindicava, por causa da nova situação política, uma posição toda
especial. O seu bispo se tornou patriarca e tornou-se prevalente frente as igrejas do oriente.
O bispo da Igreja de Roma passou a receber o nome de patriarca do ocidente, o que tornou-se
uma ameaça ao primado do papa sobre a Igreja universal.

Saeculum Obscurum

Durante o regime dos Francos, nada se alterou muito no ocidente, não havia muita diferença entre
a posição de Constantino frente a Igreja e o comportamento de Carlos Magno e seus sucessores.

Contudo, de um lado a Igreja entendia que era o papa que outorgava ao imperador a coroa e o
governo, mas na prática era os imperadores os condutores da cristandade.

Assim, o papado virou objeto de disputas entre partidos rivais, de intriga e manipulações, os
sucessores de Pedro se notabilizavam pela falta de caráter, sede de poder, imoralidade e fraqueza.

O desenrolar da Imagem da Igreja

A primeira época do desenvolvimento da imagem da Igreja como império, foi marcada pela
preponderância do poder político do imperador e dos príncipes.

No século XI, desencadeou-se um movimento contrário que levou a prevalência do papado sobre
os imperadores. Mas permanecia igual a estrutura do Império Cristão e da conceitualização da
igreja como império.

O centro em “Pedro”

Com a reforma operada pelo papa Gregório VII, houve uma espécie de centralização tanto na
figura do papa, quanto no que tange a Santa Sé. Os outros patriarcados, que representava uma
pluralidade de sedes, perderam força diante da centralização dada na reforma, assim como a
pretensão dos imperadores de reger a cristandade foi tolhida.

Muitos dos enunciados antigos sobre a imagem da Igreja foram reinterpretados, de todos eles o
sentido de “místico” foi que mais se perdeu, deixou de ter um profundo sentido sacramental e
passou a designar o que não é propriamente real. Deste modo, o elemento espiritual se perdeu,
aquilo que designava o povo em sua totalidade, foi reduzido a uma porção: os leigos. Houve um
cisma entre o clero e os leigos. Entre a hierarquia e o restante do povo.

Ecclesia Militans: As Cruzadas

A Igreja passa a se identificar como hierarquia, pois tudo o que nela existe e acontece, se deve à
hierarquia e ao clero, que tudo determinam e dirigem. Assim, os leigos nada mais são que os
súditos dessa Hierarquia.

As cruzadas foram a expressão máxima da soberania e predomínio universais do papado. Assim


como uma profunda expressão da Igreja figurada no Império, que se torna guerreira como quase
todos. Deste modo o fiel deixou de dá a vida pela fé (mártires), para lutar e até matar pela fé
(templários). O morrer pela fé teve seu sentido transformado.

Heresias e Inquisição

Dentro da lógica do Império, “o ato da fé se tornou mais perverso do que todo procedimento
contra os cristãos no império romano”. Se a falsificação do dinheiro era punida com a morte,
quanto mais a falsificação da fé, se dizia...
Embora seja livre e voluntária a opção pela fé, não se justifica por nada a apostasia da fé.

O conflito entre verdade religiosa e liberdade humana foi decidido em favor da verdade contra a
liberdade, em favor da causa contra a pessoa.

O Espírito de São Francisco

A crítica feita em nome da Igreja Espiritual, anunciava um desejo de renovação dentro da Igreja.
Assim, aflorou aquela compreensão de que a igreja atual aguardava a sua consumação na era do
Espírito.

Com São Francisco está dada uma realidade determinante para a imagem da Igreja na idade
Média. “Reconstrói a minha casa”.

O retorno ao Jesus da Cruz, não o Senhor, Rei e Juiz, mas aquele que padecente e crucificado. O
avivamento do chamado a imitar Cristo.

O limiar entre Mistério e o Império

A par da imagem imperial da Igreja, convém não perder de vista aquela outra, que é a da Igreja
pobre e serviçal, que ver a sua imagem interior em Jesus Homem, na Paixão e Cruz, e resume o
motivo do Mistério.

Contudo não podemos perder de vista aquele apelo interior de dentro da Igreja que sempre pede
por renovação. E no limiar histórico, na concretude de uma época, foi pedido que entrasse em
ação o direito do elemento individual, da pessoa, contra o elemento geral e objetivado, o do
elemento carismático, contra a instituição e o múnus.

REFERÊNCIA:

Mysterium Salutis IV/2, Compêndio de Dogmatica histórico-Salvífica: A IGREJA, ed Vozes,


1975: RJ

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