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G U I A PA RA SAC E R D O T E S
E DIÁCONOS
“A Palavra de Deus é viva e eficaz, mais
cortante que qualquer espada de dois gumes”
(Hb 4,12)

Este guia tem o objetivo de ser um roteiro nas mãos dos


presbíteros e diáconos para a preparação da homilia. É também
um conteúdo relevante para uma preparação maior para
aproximar-se da liturgia da Palavra.

Nesse sentido, este guia pretende ser um apoio a fim de uma


melhor participação nas celebrações. Mas é, sobretudo, um apoio
àquele que prega a Palavra na liturgia, isto é, aos presbíteros e
diáconos.

Desse modo, o site Presbíteros, que tem a formação permanente


como fundamento de sua existência - sobretudo dos sacerdotes,
em sintonia com o Magistério da Igreja - fornece este
material, ciente da importância do estímulo à formação e ao
aperfeiçoamento de padres e seminaristas diocesanos.

No material, é possível encontrar roteiros homiléticos da maioria


das datas litúrgicas dos anos A, B e C. Confira:
Índice
ANO A
● Roteiro Homilético – I Domingo do Advento (Ano A) 06
● Roteiro Homilético – Solenidade da Imaculada Conceição 08
● Roteiro Homilético – III Domingo do Advento (Ano A) 11
● Roteiro Homilético – IV Domingo do Advento (Ano A) 12
● Roteiro Homilético – Festa do Batismo do Senhor 14
● Roteiro Homilético – II Domingo do Tempo Comum – Ano A 15
● Roteiro Homilético – III Domingo do Tempo Comum – Ano A 18
● Roteiro Homilético – Festa da Apresentação do Senhor (Ano A) 19
● Roteiro Homilético – V Domingo do Tempo Comum – Ano A 20
● Roteiro Homilético – VI Domingo do Tempo Comum – Ano A 22
● Roteiro Homilético – VII Domingo do Tempo Comum – Ano A 23
● Roteiro Homilético – I Domingo da Quaresma – Ano A 24
● Roteiro Homilético – II Domingo da Quaresma – Ano A 26
● Roteiro Homilético – III Domingo da Quaresma – Ano A 27
● Roteiro Homilético – IV Domingo da Quaresma – Ano A 28
● Roteiro Homilético – V Domingo da Quaresma – Ano A 30
● Roteiro Homilético – Domingo de Ramos – Ano A 32
● Roteiro Homilético – II Domingo de Páscoa – Ano A 34
● Roteiro Homilético – III Domingo de Páscoa – Ano A 37
● Roteiro Homilético – IV Domingo da Páscoa (Ano A) 38
● Roteiro Homilético – V Domingo da Páscoa (Ano A) 40
● Roteiro Homilético – VI Domingo da Páscoa (Ano A) 41
● Roteiro Homilético – Ascensão do Senhor – Ano A 43
● Roteiro Homilético – Santíssima Trindade – Ano A 46
● Roteiro Homilético – XI Domingo do Tempo Comum – Ano A 47
● Roteiro Homilético – XII Domingo do Tempo Comum – Ano A 48
● Roteiro Homilético – Solenidade de São Pedro e São Paulo 49
● Roteiro Homilético – XIV Domingo do Tempo Comum – Ano A 52
● Roteiro Homilético – XV Domingo do Tempo Comum – Ano A 53
● Roteiro Homilético – XVI Domingo do Tempo Comum – Ano A 55
● Roteiro Homilético – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano A 57
● Roteiro Homilético – XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano A 59
● Roteiro Homilético – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano A 61
● Roteiro Homilético – XXI Domingo do Tempo Comum – Ano A 63
● Roteiro Homilético – XXII Domingo do Tempo Comum – Ano A 66
● Roteiro Homilético – XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A 68
● Roteiro Homilético – XXIV Domingo do Tempo Comum – Ano A 69
● Roteiro Homilético – XXV Domingo do Tempo Comum – Ano A 70
● Roteiro Homilético – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano A 72
● Roteiro Homilético – XXVII Domingo do Tempo Comum – Ano A 73
● Roteiro Homilético – XXVIII Domingo do Tempo Comum – Ano A 74
● Roteiro Homilético – XXIX Domingo do Tempo Comum – Ano A 76
ANO B
● Roteiro Homilético – II Domingo do Advento - Ano B 77
● Roteiro Homilético – III Domingo do Advento - Ano B 78
● Roteiro Homilético – IV Domingo do Advento (Ano B) 81
● Roteiro Homilético – Natal 83
● Roteiro Homilético – Noite de Natal 84
● Roteiro Homilético – Solenidade da Epifania do Senhor (Ano B) 86
● Roteiro Homilético – Batismo do Senhor (Ano B) 87
● Roteiro Homilético – II Domingo do Tempo Comum – Ano B 88
● Roteiro Homilético – III Domingo do Tempo Comum – Ano B 89
● Roteiro Homilético – IV Domingo do Tempo Comum – Ano B 91
● Roteiro Homilético – V Domingo do Tempo Comum – Ano B 93
● Roteiro Homilético – VI Domingo do Tempo Comum – Ano B 94
● Roteiro Homilético – I Domingo da Quaresma – Ano B 96
● Roteiro Homilético – II Domingo da Quaresma – Ano B 99
● Roteiro Homilético – III Domingo da Quaresma – Ano B 102
● Roteiro Homilético – IV Domingo da Quaresma – Ano B 104
● Roteiro Homilético – V Domingo da Quaresma – Ano B 105
● Roteiro Homilético – Domingo de Ramos – Ano B 108
● Roteiro Homilético – Quinta-feira Santa 109
● Roteiro Homilético – Sexta-feira Santa 110
● Roteiro Homilético – Vigília Pascal 111
● Roteiro Homilético – II Domingo da Páscoa – Ano B 113
● Roteiro Homilético – III Domingo da Páscoa – Ano B 114
● Roteiro Homilético – IV Domingo da Páscoa – Ano B 116
● Roteiro Homilético – V Domingo da Páscoa – Ano B 119
● Roteiro Homilético – VI Domingo da Páscoa – Ano B 120
● Roteiro Homilético – Ascensão do Senhor – Ano B 122
● Roteiro Homilético – Santíssima Trindade – Ano B 123
● Roteiro Homilético – XI Domingo do Tempo Comum – Ano B 125
● Roteiro Homilético – XIV Domingo do Tempo Comum – Ano B 126
● Roteiro Homilético – Solenidade de São Pedro e São Paulo 128
● Roteiro Homilético – XV Domingo do Tempo Comum – Ano B 130
● Roteiro Homilético – XVI Domingo do Tempo Comum – Ano B 130
● Roteiro Homilético – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano B 132
● Roteiro Homilético – XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B 133
● Roteiro Homilético – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano B 134
● Roteiro Homilético – Assunção de Nossa Senhora 136
● Roteiro Homilético – XXI Domingo do Tempo Comum – Ano B 137
● Roteiro Homilético – XXII Domingo do Tempo Comum – Ano B 139
● Roteiro Homilético – XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B 141
● Roteiro Homilético – XXIV Domingo do Tempo Comum – Ano B 144
● Roteiro Homilético – XXV Domingo do Tempo Comum – Ano B 147
● Roteiro Homilético – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano B 149
● Roteiro Homilético – XXVII Domingo do Tempo Comum – Ano B 150
● Roteiro Homilético – XXVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B 153
● Roteiro Homilético – XXIX Domingo do Tempo Comum – Ano B 154
● Roteiro Homilético – XXX Domingo do Tempo Comum – Ano B 156
● Roteiro Homilético – Solenidade de Todos os Santos 157
● Roteiro Homilético – XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B 159
● Roteiro Homilético – Solenidade de Crito-Rei 160

ANO C
● Roteiro Homilético – I Domingo do Advento – Ano C 162
● Roteiro Homilético – II Domingo do Advento – Ano C 163
● Roteiro Homilético – III Domingo do Advento – Ano C 165
● Roteiro Homilético – IV Domingo do Advento – Ano C 170
● Roteiro Homilético – Sagrada Família – Ano C 171
● Roteiro Homilético – Natal de Nosso Senhor – Missa da Vigília – Ano C 172
● Roteiro Homilético – Natal de Nosso Senhor – Missa do Dia 174
● Roteiro Homilético – Natal de Nosso Senhor – Missa da Aurora - Ano C 176
● Roteiro Homilético – Natal de Nosso Senhor – Missa da Noite 178
● Roteiro Homilético – Solenidade da Epifania do Senhor 179
● Roteiro Homilético – Santa Maria Mãe de Deus 183
● Roteiro Homilético – Batismo do Senhor – Ano C 184
● Roteiro Homilético – II Domingo do Tempo Comum – Ano C 186
● Roteiro Homilético – IV Domingo do Tempo Comum – Ano C 187
● Roteiro Homilético – V Domingo do Tempo Comum – Ano C 188
● Roteiro Homilético – I Domingo da Quaresma – Ano C 190
● Roteiro Homilético – II Domingo da Quaresma – Ano C 192
● Roteiro Homilético – III Domingo da Quaresma – Ano C 193
● Roteiro Homilético – IV Domingo da Quaresma – Ano C 194
● Roteiro Homilético – V Domingo da Quaresma – Ano C 196
● Roteiro Homilético – Domingo de Ramos – Ano C 198
● Roteiro Homilético – Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor 200
● Roteiro Homilético – II Domingo de Páscoa – Ano C 202
● Roteiro Homilético – III Domingo de Páscoa – Ano C 203
● Roteiro Homilético – IV Domingo de Páscoa – Ano C 204
● Roteiro Homilético – V Domingo da Páscoa – Ano C 206
● Roteiro Homilético – VI Domingo da Páscoa – Ano C 207
● Roteiro Homilético – Ascensão do Senhor – Ano C 210
● Roteiro Homilético – Solenidade de Pentecostes – Ano C 212
● Roteiro Homilético – Santíssima Trindade – Ano C 214
● Roteiro Homilético – XII Domingo do Tempo Comum (Ano C) 215
● Roteiro Homilético – XIII Domingo do Tempo Comum (Ano C) 217
ANO A
Roteiro Homilético – I Domingo do Advento (Ano A)

Sugestões para a homilia

– Deus vem ao nosso encontro / Vivemos numa atitude de espera / Deus vem para nos salvar /
Ele respeita a nossa liberdade
– Ele vem para nos salvar / Atenção aos sinais reveladores / A esperança cristã / Um programa
para o Advento

1. Deus vem ao nosso encontro

A Igreja convida-nos, neste tempo do Advento, a preparar mais generosamente o acolhimento


ao Senhor que nos vem salvar.

a) Vivemos numa atitude de espera. «Sucederá nos dias que hão-de vir, que o monte do
templo do Senhor se há-de erguer em cima das montanhas e se elevará no alto das colinas.»
Encontramo-nos perante as três vindas de Jesus Cristo que convergem numa só: Ao preparar
a vinda histórica de Jesus, leva-nos a comungar na esperança dos Patriarcas e Profetas que, ao
longo do Antigo Testamento, suspiraram pela Sua vinda. Vamos celebrá-la – torná-la presente e
participar nela – quando celebrarmos o Natal do Senhor. Como aquele que, sem apetite, quando
se senta à mesa, o sente despertar, perante o dos outros, a Igreja, com a sua pedagogia de Mãe,
coloca diante de nós as aspirações destes justos do Antigo Testamento, para despertar em nós
estes mesmos desejos.

Aponta-nos para a vinda escatológica, no fim dos tempos, quando Ele vier sobre as nuvens do
Céu, para julgar os vivos e os mortos e convida-nos a estar preparados para esse momento. A
lembrança deste acontecimento ajuda-nos a olhar com maior seriedade a nossa vida de cada dia
e a ter as contas da alma em ordem.

Anima-nos a um esforço para crescer na vida de intimidade com Deus, para que se torne
realidade, no íntimo de cada um de nós, a vinda espiritual. Concretiza-se na renovação da nossa
vida cristã, sacudindo toda a poeira da tibieza, para crescermos na intimidade com Deus.

b) Deus vem para nos salvar. «Ali afluirão todas as nações e muitos povos acorrerão…» A
mensagem evangélica é claramente positiva e optimista. Não é tecida de ameaças de condenação,
mas de promessas de salvação. Na verdade, Deus ama-nos, e não Se cansa de nos oferecer
provas do Seu amor infinito por nós. Ele não nos diz que ama a humanidade, mas os homens,
cada um de nós. Anima-nos a pôr a nossa vida em ordem, e a trabalhar pela santidade pessoal,
recordando-nos que estamos em tempo de prova, à conquista de um prémio eterno.

Não podemos ficar em desejos vagos de melhorar a vida espiritual. É urgente formular
propósitos concretos, indo ao encontro do nosso defeito dominante e ajudando os outros a
uma vida mais feliz, a começar pela própria família. Por isso S. Paulo nos convida a despertar
do sono. Despertar é um ato pessoal em que podemos ser ajudados, mas ninguém nos pode
substituir a fazê-lo.

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c) Ele respeita a nossa liberdade. «Vinde, subamos ao monte do Senhor ao templo do Deus de
Jacob. Ele nos ensinará os Seus caminhos e nós andaremos pelas Suas veredas.» Que programa
temos para este Advento que agora começa? Vamos deixar que tudo continue com a mesma
rotina e frieza de sempre? Dentro dos nossos propósitos estão o acolhimento à Palavra de Deus,
a mortificação pessoal, eliminando pequenos caprichos que se tornaram hábitos desnecessários
e até prejudiciais e partilhando com os outros o nosso entusiasmo de caminhar ao encontro do
Senhor. Somos um povo em marcha. Também Maria Santíssima, depois de ter acolhido o Filho
de Deus nas suas entranhas virginais, caminhou ao encontro de Isabel para lhe levar a alegria e
a graça para o filho que trazia em seu ventre.

2. Ele vem para nos salvar

a) Atenção aos sinais reveladores. «Como aconteceu nos dias de Noé […] não deram por nada,
até que veio o dilúvio, que a todos levou.» A grande tentação dos homens de hoje é procurar o
gozo do momento presente, sem olhar ao futuro, numa total falta de esperança. Por falta de fé,
muitas pessoas hoje não esperam nada no futuro. Procura-se apenas uma vida light, sem riscos,
sem responsabilidades: o sexo sem risco, o tabaco sem nicotina, a cerveja sem álcool…

Paralelamente a este modo de pensar, as pessoas sofrem hoje de uma grande incapacidade para
se comprometerem para sempre. O medo ao compromisso definitivo, para sempre, é um dos
grandes obstáculos na descoberta e na vivência de qualquer vocação. E como a vida não tem
horizontes, surge a depressão, o suicídio, a união de fato, o divórcio.

b) A esperança cristã. «Chegou a hora de nos levantarmos do sono, porque a salvação está
agora mais perto de nós…» É preciso levantar de novo a bandeira da esperança cristã. A nossa
vida tem um sentido, precisamos orientar a vida por ele. A nossa vida tem um sentido: somos
filhos de Deus e procuramos viver e intensificar na terra uma comunhão de vida com o Senhor
e os irmãos para a continuar eternamente no Céu. O Pai ama-nos tanto que nos dá o Seu Filho
Unigênito para nos salvar. Ele assume a nossa natureza humana, com todas as suas limitações,
para Ser um de nós e nos elevar à Sua altura. Todo o Advento nos lembra esta loucura de Deus
que nos ama e faz tudo o que está nas Suas mãos – sem nos privar da liberdade pessoal, para
nos salvar. Seja qual for a situação em que nos encontremos, temos sempre abertos os braços
do Pai para nos acolher.

c) Um programa para o Advento. «Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia virá o Senhor.»
Toda a preparação do Advento a que a Igreja nos convida pode resumir-se na vigilância.
Para explicar a importância fundamental desta atitude na vida cristã, Jesus lança mão de duas
imagens: o descuido dos contemporâneos de Noé, tão distraídos que não se aperceberam dos
cuidados dele na construção da arca; e a imagem do ladrão que espera o momento em que a
vítima está mais descuidada para desferir o golpe.

S. Paulo concretiza esta vigilância na Carta aos fiéis de Roma:


– Acordar do sono em que nos deixamos cair. A rotina e o desleixo invadem a nossa vida e
acabamos por deixar de rezar e fazer desleixadamente a nossa oração. A tibieza tolhe o nosso
verdadeiro amor na vida. É tempo de ressuscitar, de começar uma vida nova.
– Abandonemos as obras das trevas. As obras das trevas são todas aquelas que estão contra a
Lei de Deus. S. Paulo sublinha duas delas: é preciso evitar comezainas e excessos na comida e
na bebida.
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Tudo isto nos fala da necessidade da mortificação cristã. Façamos um plano de pequenas
mortificações que nos ajudem a viver cada vez mais despertos para o Natal que se aproxima.
– Revistamo-nos das armas da luz. Para ser santo não basta não fazer mal. É preciso realizar
boas obras: oração, testemunho de caridade e de alegria. Mas, para as realizarmos, temos
necessidade da luz da formação doutrinal. Sem ela não somos capazes de procurar o bem, a
vontade de Deus.

– Andemos dignamente, como em pleno dia. Uma vida fundada na verdade, sem disfarces, eis
o que o Senhor nos propõe neste princípio do Advento. Viver em pleno dia pode significar para
nós conformar o comportamento com a nossa condição social, sem procurar grandezas artificiais
e adotar como lema nunca realizar qualquer obra da qual nos venhamos a envergonhar no juízo
final. O melhor modo de viver bem este Advento é participar cada vez melhor na Celebração
da Eucaristia, deixando-nos banhar pela Palavra de Deus e alimentando-nos com o Corpo e
Sangue do Senhor.

Junto de Maria Santíssima – por uma devoção filial – aprenderemos a esperar e preparar a vinda
ao mundo d’Aquele que vem para nos salvar.

Roteiro Homilético – Solenidade da Imaculada Conceição

Sugestões para a homilia


– Maria, promessa da Salvação
Deus à procura do homem perdido
O logro do pecado
As desculpas do pecador
Maria, aurora da Salvação
– A Imaculada, sinal da ternura de Deus
Maria é Imaculada
Um dom gratuito do Senhor
Da vontade de Maria esteve pendente a nossa Redenção

1. Maria, promessa da Salvação

A solenidade da Imaculada Conceição é uma festa que vem do século VII. Os estudantes das
nossas universidades, nos séculos XV e XVI dedicavam-lhe os doutoramentos em Teologia e
juravam defender a Imaculada. D. João IV proclamou-A Rainha de Portugal e, a partir de então,
nunca mais os reis e rainhas usaram coroa real. Em 1830 Nossa Senhora apareceu em Paris, a
Santa Catarina Labouré e mandou que gravassem a Medalha Milagrosa, na qual era invocada
como concebida sem pecado.

Em 1854, o Beato Pio IX definiu esta verdade como dogma de fé; e logo em 1858, Ela aparecia
em Lourdes apresentando-se como sendo a imaculada Conceição. Adão e Eva desobedeceram
gravemente a Deus. Seguidamente, com profunda desilusão, escondem-se, envergonhados, no
Éden. Quando uma pessoa teima em organizar a sua vida como se Deus não existisse, cai neste
estado de espírito. Muitas vezes, as pessoas mergulham no ruído, para não ouvirem a voz de
Deus na sua consciência, a chamá-las ao bom caminho, à conversão pessoal. Deus à procura
do homem perdido. «O Senhor chamou-o: Adão, Adão! Onde estás?» O Senhor não é um

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encarregado da ordem que procura as pessoas para as repreender e multar ou castigar. É o Pai
amorosíssimo que, ao ver o estado miserável em que se encontram Adão e Eva, os procura para
os chamar à conversão pessoal, ao arrependimento e restituir-lhes a felicidade perdida.

Devemos cultivar uma progressiva delicadeza de consciência, com a confissão frequente e com
atos de contrição, especialmente quando O ofendemos. Peçamos ao Espírito Santo os sete Dons,
especialmente os da Piedade e do temor.

b) O logro do pecado. «Tive medo e escondi-me, porque estava nu.» João Paulo II falava desta
nudez que o pecado causa. Adão e Eva tomam consciência da pobreza e desolação em que os
deixou o pecado. O demônio promete-nos um mundo de felicidade em troca da desobediência
a Deus, e deixa-nos nus, sem a graça de Deus, e com uma grande desolação interior. Assim
aconteceu a Judas, a Pedro, à Madalena, à pecadora e à adúltera. O demônio seduziu-os.
Prometeu-lhes que seriam felizes como deuses, sem qualquer dependência do Criador, e eis que
se tornaram escravos das suas paixões e do Inimigo.

Quem julga que está feliz alguém que se entrega à embriaguez, à impureza ou à droga?

c) As desculpas do pecador. «A esposa que me destes por companheira deu-me do fruto e eu


comi». Como em todo o pecado há sempre uma forte raiz de orgulho, temos sempre dificuldade
em aceitar as nossas faltas e defeitos e desculpamo-nos com os outros, com o nosso feitio,
o ambiente, etc. Adão desculpa-se com Eva, e esta com a serpente. O pecado introduziu a
inimizade entre os dois, como símbolo da que vai reinar entre todos os homens. Que diferença
entre a alegria de Adão, quando viu Eva pela primeira vez, e agora! Algum tempo depois, Caim
vai dar a morte ao seu irmão Abel

O que o Senhor faz não é castigá-los, mas trazer-lhes a esperança. Antes, porém, é preciso que
tomem consciência da situação dramática em que se encontram. Sem ela não há esperança nem
desejo de remédio.
Chama, pois, a atenção para as consequências da sua desobediência: o mau entendimento com
a esposa, a dureza do trabalho – que em vez de fonte de santificação será, muitas vezes, causa
de revolta – e, sobretudo, a perda do paraíso.

Mas deixa-lhes a esperança, porque lhes promete o Salvador.

d) Maria, aurora da Salvação. «Porei inimizades entre ti (serpente) e a Mulher, e entre a tua
descendência e a descendência d’Ela.» O demónio aproveita-se da fragilidade de uma mulher
para entrar no mundo. Deus escolhe uma Mulher para Incarnar no seu ventre e tornar-nos Seus
filhos, restituindo-nos o que o pecado nos roubou. Ele estabelecerá inimizades irreconciliáveis
entre a serpente (o demônio) e a Mulher e entre a descendência da serpente e a da Mulher. Esta
não é, certamente, Eva, porque ela entregou-se ao Inimigo, fazendo-lhe a vontade. Por outro
lado, as inimizades não seriam perpétuas e irreconciliáveis, porque, ao menos agora, Eva está
reconciliada com o demónio.

A tradição viu nesta Mulher do Gênesis Maria, a Mãe do redentor e Mãe da Igreja. Por Ela
começa, portanto, a promessa de Salvação que Deus faz aos nossos primeiros pais.

2. A Imaculada, sinal da ternura de Deus

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O Evangelho começa por identificar bem Nossa Senhora, dizendo o seu nome, a terra em que
vive, o noivo com quem está desposada e a linhagem de David à qual pertence.

a) Maria é Imaculada. «Ave, ó cheia de graça!» Quando Deus chama uma pessoa a uma missão
singular, muda-lhe o nome, como que para significar que é uma personalidade nova. Abraão,
ao ser escolhido para pai do Povo de Deus, passa a ser Abraão; Isaac, Isaac; Jacob é designado
Israel; Simão, torna-se Pedro; e Maria, «a cheia de Graça». Este é o seu nome próprio. Esta
expressão significa o mesmo que Imaculada desde a sua Conceição. Para ser designada, como
nome próprio, a cheia de graça, não perdeu um momento, desde o primeiro momento de vida,
de receber e guardar essa água que jorra para a vida eterna.

Ao mesmo tempo, o Arcanjo S. Gabriel insinua que este privilégio singular foi-lhe concedido
em atenção a que fora escolhida por Deus para ser a Mãe do redentor. É a eleita do Senhor. «O
Senhor está (contente) contigo.» Quando rezamos o Terço, repetindo Ave-Marias, estamos a
clamar a Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria.

Imaculada significa isto mesmo: enquanto cada um de nós esteve privado da graça santificante
que nos dá a filiação divina, desde que foi concebido até ao momento do nosso batismo, Maria
está vivificada pela graça desde o primeiro momento da sua existência.

b) Um dom gratuito do Senhor. «Encontraste graça diante do Senhor. Eis que conceberás e
darás um Filho e o seu nome será Jesus.» Maria encontrou graça diante do Senhor. Enquanto
cada um de nós foi libertado do pecado, depois do Batismo, Ela, por privilégio singular, foi
imune, preservada da mancha original. Pelo pecado dos nossos primeiros pais, perderam-se
para eles e para nós a graça santificante, com a filiação divina, o dom a imortalidade e o da
integridade. Pelo mistério da Encarnação, Jesus Cristo restitui-nos tudo o que o demónio tinha
roubado aos nossos primeiros pais.

Por isso, Nossa Senhora canta em casa de Santa Isabel: «Porque (o Senhor) olhou para a
humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações.»
Quando, em Lourdes, se identificou como sendo a imaculada Conceição, Nossa Senhora
mostrou um rosto de gratidão ao Senhor e felicidade indescritíveis.

A sua pergunta – Como se fará isto, pois eu não conheço varão? – é providencial, porque nos
revela a sua virgindade perpétua.

c) Da vontade de Maria esteve pendente a nossa Redenção. «Eis a escrava do Senhor. Faça-se
em mim segundo a tua palavra.» Assim como da vontade de Eva dependeu a nossa desgraça,
da vontade de Maria dependeu a nossa felicidade. Deus esperou pelo seu «fiat» para realizar
o mistério da Incarnação: assumir a nossa natureza humana, unindo-a à Segunda pessoa da
Santíssima Trindade para sempre. De modo semelhante, Deus espera pela nossa generosidade
para realizar muitas maravilhas no mundo.

Também nos alegra a certeza de que temos uma Mãe tão poderosa e que nos ama tanto, sabendo
que podemos contar sempre com Ela, sejam quais forem as dificuldades. Para isso mesmo nos
foi dada como Mãe admirável. Nesta Celebração da Eucaristia comungamos da alegria dos
Anjos e dos santos no Céu, revivendo a alegria de toda a Criação, no momento em que Ela foi
concebida Imaculada no ventre da sua mãe.
Se nos conservarmos unidos a Ela, na observância dos Mandamentos e alimentados pelos
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Sacramentos que Jesus instituiu, e recorrendo a Ela cheios de confiança, nas dificuldades,
venceremos.

Roteiro Homilético – III Domingo do Advento (Ano A)

Sugestões para a homilia

1. A virtude da esperança.
2. A alegria cristã.
3. O testemunho cristão.

1. A virtude da esperança.

Somos conscientes de que temos paixões e debilidades; o nosso coração perturba-se tantas
vezes, a dor e os gemidos, as preocupações e os desânimos fazem-nos esmorecer e a nossa
esperança como que se esvai. Precisamos de ouvir palavras de ânimo e de coragem como as que
hoje nos transmite a Palavra de Deus: «Tende coragem, não temais: Aí está o vosso Deus…Ele
próprio vem salvar-nos»( 1ª leitura); «Esperai com paciência a vinda do Senhor»(2ª leitura).

Jesus, ao longo da sua vida pública, aviva e revigora continuamente a esperança dos seus
discípulos. A nossa esperança de ser santos e de ser eficazes nutre-se da Palavra de Deus, que
queremos meditar e levar à prática.

S. Paulo, na carta aos Romanos, recomenda-nos vivamente:

«O Deus da esperança vos encha plenamente de alegria e paz na vossa fé, a fim de que
superabunde em vós a esperança, pela virtude do Espírito Santo» (15, 13).

Cristo é a nossa esperança. «Nada nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo
Nosso Senhor» (Rom. 8, 38 ss.)

2. A alegria cristã.

A alegria cristã é fruto da esperança, da fé e da caridade. Deus quer-nos contentes. S. Paulo, nas
suas cartas, não se cansa de repetir-nos: «Alegrai-vos, sempre, no Senhor. Repito: alegrai-vos»
(Cânt. de entrada). A proximidade do Senhor, saber que Ele está perto, que está a chegar Aquele
que nos ama, Aquele a quem amamos, não pode deixar de inundar-nos com uma grande alegria.
A segurança do amor divino, a sua presença no meio de nós não pode deixar de despertar em
nós uma enorme confiança, um gozo e uma enorme satisfação.

«Se Deus está por nós, quem contra nós?»(1 Cor. 8, 31).
A alegria é um dos meios que Deus nos dá para fazer o bem.

«Um filho de Deus, um cristão que vive de fé, pode sofrer e chorar, pode estar cansado e
esgotado, pode ter motivos para ter dor: para estar triste, nunca» (S. Josemaria).

Levantemos os olhos para Maria. Ela é «causa da nossa alegria»- não só pelo seu exemplo, mas
porque por Ela nos veio Cristo, o Príncipe da Paz, a Fonte da alegria e da felicidade para todos

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os homens. Ele é verdadeiramente a «Boa Nova para um mundo novo» (lema do Ano Pastoral).
Assim cantaram os Anjos na Noite de Natal.

3. O testemunho cristão.

Somos cristãos e levamos no coração a fé e o amor de Deus como o maior tesouro que nos
podia ser entregue pela graça do nosso Batismo. Este tesouro não nos foi dado só para nosso
benefício. Quando a amizade é verdadeira, surge a abertura e a confidência: nada é alheio aos
verdadeiros amigos e vem a partilha, a comunicação, a inter-ajuda. A amizade faz-se apostólica,
transforma-se em alegria e a alegria torna-se contagiosa. Os cristãos temos connosco o segredo
da verdadeira alegria.

Levados pelo Espírito Santo, os cristãos dos primeiros tempos e os cristãos de todas as épocas,
também os dos tempos atuais, procuram levar por toda a parte o fogo do amor de Cristo que
levam no coração (Filip 4, 22; 2 Tim 4, 19 ss). Os Atos dos Apóstolos, as Epístolas de S. Paulo,
de S. Pedro, de S. João traz-nos exemplos maravilhosos da intensa atividade apostólica desse
nossos irmãos dos primeiros tempos. O «fogo» do amor de Deus tem sido sempre em todas as
épocas um «fogo devorador» (DT 4, 24).

Nas nossas mãos, ainda que sejamos pouca coisa, o Senhor depositou este tesouro incalculável
que é a nossa fé e a nossa esperança e a nossa caridade, para que as transmitamos às novas
gerações; entregou-nos estes talentos para que os negociemos, para que os façamos frutificar.
Que Maria Santíssima, Rainha dos Apóstolos, Causa da nossa alegria, nos consiga de Deus
uma maior vibração apostólica, para darmos testemunho de Jesus Cristo e da sua Boa Nova de
Salvação.

Roteiro Homilético – IV Domingo do Advento (Ano A)

Sugestões para a homilia

1. Isaías revela o mistério da Encarnação


2. Domingo de Maria
3. Preparar o Belém no nosso coração

1. Isaías revela o mistério da Encarnação

São deveras notáveis as palavras do profeta Isaías a Acab quando lhe foi falar da parte de Deus.
Para o tirar da sua incredulidade diz-lhe: Pede o sinal que quiseres. Este recusa-se a pedir tal,
alegando o pretexto de não tentar a Deus, para não se ver obrigado a deixar a sua impiedade.
Isaías lança-lhe à cara a sua cobardia: Assim mostras não ter fé, não saber que Deus é todo
poderoso e pode livrar-te do perigo.

Também nós adotamos às vezes essa atitude tão absurda para um crente: Tituviar, temer,
oscilar. Atitudes destas não se compreendem em quem se sabe filho de Deus Pai que nos ama
infinitamente. Os sinais visíveis da sua misericórdia e o milagre da nossa conversão não nos
faltarão sempre que, arrependidos, ouvimos a sua palavra e, contritos, observamos os seus
mandamentos. É curioso que foi precisamente este o momento escolhido por Deus para revelar
a Encarnação, mistério central da nossa fé. Infelizmente vivemos num tempo caracterizado

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pela rejeição da Incarnação. É como se Jesus já não encontrasse lugar num mundo cada vez
mais secularizado, lamenta o Papa. Cristo é relegado para um passado remoto ou para um céu
longínquo.

Quando se nega Cristo desaparece o sentido e o valor da vida; a esperança dá lugar ao desespero
e a alegria à depressão. Não se ama corretamente o corpo nem a sexualidade humana, nem
sequer se valoriza a natureza, a própria criação.

É preciso pôr Deus no seu lugar, repetia há anos Pai Américo, no Coliseu do Porto, cheio de
espectadores que assistiam à festa dos seus gaiatos, apontando o remédio para que a justiça e a
paz seja uma presença viva no seio da humanidade. Hoje repetiria o mesmo repto, mas em tom
maior do que então.

2. Domingo de Maria

O Advento é tempo de espera do salvador–que os profetas anunciaram e a Virgem Mãe esperou


com inefável amor (2.º prefácio do Advento). O Evangelho que acabamos de ouvir refere a
concepção de Maria, Mãe de Jesus, aceitação por José e o nascimento do Salvador. Desde toda
a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe do seu Filho uma filha de Israel, uma jovem judia
de Nazaré, Virgem que era noiva de um homem da casa de David (CIC n.º 488).

Todo o Advento está referido a Maria. No seu seio o Espírito Santo formou a carne do Redentor,
tornando assim possível que o Verbo nela encarnasse e assim pudesse realizar a salvação
mediante a sua morte e ressurreição. Só Maria conhece o segredo da Vida que se esconde no
seu seio. Como tantas mães, ela esperou com alegria o momento de dar à luz o filho que Deus
Pai havia formado no seu ventre. Só Maria é a mulher que traz nas suas entranhas o Salvador.

O centro da história é Cristo como vamos professar no próximo dia de Natal. Mas quando se
quer contemplar o Sol, a Aurora é o presságio gozoso do desfrute da luz, o Salvador. Por isso
hoje, prestes a dar à luz o Messias esperado, Maria e Belém enchem a nossa contemplação. O
Natal aproxima-se.

3. Preparar Belém no nosso coração

Deus connosco. Quem não se sente como que mais perto de Deus nestes dias? Quem não se
encontra mais aligeirado de preocupações, com uma verdadeira paz? Quem não experimenta
uma grande alegria?

Temos que nos dispor a acolher o Salvador, limpar o coração. Estes dias dão-nos a oportunidade
de nos aproximarmos do sacramento da alegria, a confissão.

Havemos de partilhar a nossa alegria com os mais pobres, os doentes, os abandonados. Estamos
alegres porque temos Jesus no Sacrário, porque Deus está ao nosso alcance na oração, porque
temos por mãe, a Mãe do Senhor. Vamos repartir com os outros qualquer coisa do que temos.
Quanto mais não seja, mais amizade, mais perdão, mais alegria. Assim, sim, será Natal.

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Roteiro Homilético – Festa do Batismo do Senhor

Sugestões para a homilia


1. O Senhor abençoará o seu povo na paz.
2. O batismo recebido por Jesus.
3. O nosso batismo.
4. A coerência batismal.

1. O Senhor abençoará o seu povo na paz.

A paz é o maior bem que todos desejamos possuir. O Senhor, nosso Amigo, a todos quer conceder
esta tão grande riqueza. Só Ele verdadeiramente no-la pode dar, pois só Ele é a Fonte da Paz.
Ela chega até nós com a Sua bênção. Para recebermos tão grande dádiva é necessário pertencer
de fato ao Seu povo. Por isso, com o refrão do Salmo intercalar afirmamos, há momentos: «Ele
abençoará o seu povo na paz».

2. O batismo recebido por Jesus.

O batismo ministrado por João e que Jesus quis voluntariamente receber, era diferente daquele
que nós, um dia, pela misericórdia infinita de Deus, recebemos. O de João, tal como o de
outras seitas religiosas, era simplesmente um rito de aceitação de pessoas no respectivo grupo
de discípulos. Recebiam este batismo os que se decidiam mudar de vida, deixando de ser
pecadores. Os saduceus e fariseus, visto considerarem-se justos, por isso mesmo, não aceitavam
o referido batismo.

Jesus, que é a própria Santidade, quis receber o batismo de João. Foi Sua vontade assumir
os pecados de todos nós e colocar-se, desde o início, ao lado dos pecadores para juntamente
connosco, percorrer o caminho que conduz à verdadeira libertação dos homens. «Aprendei de
Mim que sou manso e humilde de coração», dirá Ele mais tarde. É nesta atitude paciente e de
profunda humildade que Ele dá início à Sua vida pública. «Não gritará, nem levantará a voz…
não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega…», lembra a 1ª Leitura
da Missa de hoje.

3. O nosso batismo

Ao celebrarmos a Festa do Batismo de Jesus somos convidados também a refletir no batismo que
um dia recebemos. Este, não foi um simples rito penitencial, mas algo muito mais importante,
visto tratar-se de um Sacramento, que, como tal, é um ato divino. Com ele fomos enxertados em
Cristo, passamos a ser UM SÓ com Ele. No Filho, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade,
tornamo-nos filhos de Deus. Maior grandeza e dignidade não é possível ter ou desejar. Com
este Sacramento passamos a fazer parte da Família de Deus, a ser verdadeiramente o Seu Povo.

É a este povo, que nós somos pelo batismo, que Ele quer abençoar e dar a Sua paz. Teremos
acesso a tais riquezas, se verdadeiramente aceitarmos a Sua bênção – assumirmos, de uma
forma voluntária, a condição de batizados. É verdade: não basta ser batizado, é necessário
assumir o batismo. Deus não se impõe. Respeita a liberdade humana. Como é importante
tomar consciência da grandeza deste grande Sacramento para o assumir com muita gratidão e
entusiasmo!

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4. A coerência batismal

A dignidade batismal exige de cada membro um comportamento próprio de filhos de Deus. Como
tais, importa cumprir sempre com muita fidelidade a vontade deste Pai, que é amorosíssimo.
Os seus mandamentos são expressão clara dessa vontade, e têm sempre em mente a verdadeira
felicidade do homem, grandes implicações sociais e o progresso da humanidade. Fugir a cumprir
a vontade do Pai é como que renegar o Batismo, é caminhar por caminhos errados de ilusões,
que a experiência pessoal e social, tristemente, confirma.

Os dez mandamentos resumem-se em amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a
nós mesmos, por amor do mesmo Pai. No batismo radica assim o mandamento fundamental do
cristão – o do amor. Para não nos equivocarmos neste caminhar de coerência vital, é urgente e
necessário ser humilde. Só aos humildes é dada a capacidade de discernir e apreciar as verdades
sublimes da fé.

Jesus, pelo seu batismo, aproximou-se dos pecadores e de humildade nos fala toda a Sua vida
– desde o nascimento no presépio até à morte na cruz. No evangelho de hoje vemos o Senhor
a ser baptizado no meio dos pecadores. O batismo que nos configura com Jesus Cristo deve
levar-nos a amar, saber compreender e sempre desculpar as fraquezas do nosso próximo. O
amor aos outros há-de traduzir-se sobretudo por um verdadeiro espírito de serviço, de doação.
Tal vivência deve começar logo na família, que, em si mesma, é já um dom de Deus.

Por amor, os pais dão-se aos filhos quando começam por os aceitar com generosidade,
colaborando na obra maravilhosa da Criação, quando estão atentos à sua educação integral,
quando os procuram batizar logo após o nascimento e os acompanham com amor e atenção pela
vida fora. Educados nesta escola de amor, os filhos respeitarão os seus pais a quem, depois de
Deus, tudo sabem dever. Servir assim é ser coerente com o batismo, é pertencer à Família de
Deus, é ser por Ele abençoado e é viver na Sua paz, para, pela misericórdia do mesmo Senhor,
um dia podermos ser aceitos junto do Pai na Família celeste.

Roteiro Homilético – II Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia


1. Jesus Cristo, único Salvador
Enviado do Pai.
Salvador do mundo
Chama cada um de nós
2. Acolher Jesus Cristo
Atenção aos sinais
Fidelidade ao Espírito Santo
Testemunhas de Cristo

1. Jesus Cristo, único Salvador

Em todos os tempos, com particular incidência em nossos dias, por causa do endeusamento
do progresso, as pessoas são tentadas a dispensar Jesus Cristo das Suas vidas, e a recusar-se a
aceitá-l’O como único Salvador do mundo.

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a) Enviado do Pai. «Disse-me o Senhor: ‘Tu és o meu servo, Israel’.» Embora estas palavras
tenham sido dirigidas ao profeta Isaías, em última análise, elas são dirigidas ao Povo de Deus.
A Igreja é o Povo de Deus da Nova Aliança, realizada no Calvário, no Sangue do Cordeiro.
Participamos da missão profética, real e sacerdotal de Jesus. Cada um de nós foi resgatado por
Ele, para assumir também a Sua mesma missão. A cada um de nós diz o Senhor que nos chamou
desde o seio materno. Não há pessoas a mais no mundo, ao acaso. Todas foram chamadas à vida
e à Igreja por Deus, com amor infinito.

Há pessoas que se queixam de serem mal-amadas, de viverem sem o amparo de qualquer afecto.
Não é verdade. Cada um de nós foi chamado à vida presente por Deus, com amor infinito, para
realizar uma tarefa grandiosa no mundo.

b) Salvador do mundo. «E agora o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno,
para fazer de mim o seu servo, a fim de Lhe reconduzir Jacob e reunir Israel junto d’Ele.»
As pessoas sonham com uma vida sem sacrifício e tentam sacudir dos ombros o jugo suave e o
peso leve da cruz. Procuram adorar falsos deuses, atraídos pela promessa duma felicidade que
nunca chegam a gozar.

Estão de moda o prazer dos sentidos, em todas as suas formas, a idolatria do dinheiro e da
afirmação pessoal, em cargos ou bens que ostentam com vaidade. As pessoas caíram na ilusão
de construir um paraíso na terra, pondo de lado o amor e substituindo-o pelo ódio. Tornaram-se
escravos da máquina do Estado materialista. Jesus Cristo, de ontem, de hoje e de sempre, vem
restituir-nos a esperança e, com ela, a alegria de viver.

c) Chama cada um de nós. «Vou fazer de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue
até aos confins da terra.» Como hei-de participar nesta missão salvadora de Jesus Cristo?
Fazendo a vontade do pai, realizando a vontade de Deus a meu respeito, na vocação a que Ele
me chamar. O importante não é fazer coisas importantes ou ocupar cargos de destaque, brilhando
aos olhos dos homens, mas fazer a vontade de Deus, viver com generosidade a vocação pessoal
de cada um de nós.

É vivendo com generosidade crescente a vocação a que o Senhor nos chamou que seremos a luz
do mundo. As pessoas já não entram no templo para ouvir a Palavra de Deus; desapareceram os
sinais do sagrado no mundo do trabalho, do ensino e na grande cidade percorrida pelos homens.
Precisam de encontrar um testemunho vivo de que Deus existe e nos ama no amor gratuito e
generoso de cada um de nós ao seu irmão.

Somos chamados a «encarnar» na vida de cada dia a imagem de Jesus Cristo. Interpelemo-nos
constantemente: como faria Ele, se estivesse aqui e agora?

2. Acolher Jesus Cristo

A cena do Evangelho passa-se nas margens do Jordão onde João Batista pregava e administrava
um batismo de penitência. Este não era o Sacramento da Nova lei, pelo qual se infunde a graça
santificante, com os dons do Espírito Santo e as virtudes teologais, e se apaga a mancha do
pecado original. Ao recebê-lo, as pessoas proclamavam com este gesto que acolhiam o plano
de redenção do Pai.

a) Atenção aos sinais. «Naquele tempo, João Batista viu Jesus, que vinha ao seu encontro[…].»
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Como passou junto de João Batista, Jesus Cristo passa muitas vezes ao nosso lado, para nos
ajudar no caminho da santidade pessoal. Fala-nos naquela pessoa que precisa da nossa ajuda,
que nos oferece os seus préstimos, ou mesmo nos trata com pouca ou nenhuma deferência.

Precisamos de muita atenção, vivendo na presença de Deus, para encararmos com fé o que
nos quer dizer. Ele interpela-nos a cada instante: pedindo ajuda, falando ao nosso coração,
chamando a atenção para algum aspecto de nossa vida. Com este espírito de fé, conseguiremos
ver maravilhas onde outras pessoas não descobrem nada mais além do cotidiano.

b) Fidelidade ao Espírito Santo. «João deu mais este testemunho: ‘Eu vi o Espírito Santo descer
do Céu como uma pomba e repousar sobre Ele». Também recebemos o Espírito Santo, no
momento do nosso Batismo. Como nas margens do Jordão, o Espírito Santo desceu sobre nós,
os céus – fechados para nós desde o pecado original dos nossos primeiros pais – abriram-se e o
Pai proclamou – referindo-se cada um de nós – o mesmo, embora com a diferença entre filiação
de Jesus e a nossa: «Eis o Meu filho muito amado».

A partir de então, tornamo-nos filhos de Deus. Foi-nos dado o Espírito Santo para que, com toda
a suavidade, nos ajude a formar em nós a imagem viva de Jesus Cristo. Para o conseguirmos,
além de muita graça de Deus, temos necessidade de uma atenção constante às inspirações do
mesmo Espírito e de segui-las com prontidão e delicadeza. O nosso exame de consciência de
cada noite deve incidir essencialmente nisto: fui dócil ao Espírito Santo em cada momento do
meu dia?

Sem este esforço não conseguimos ser imagens vivas de Jesus Cristo que arraste ao Seu encontro
aqueles que O perderam de vista ou nunca o conheceram.

c) Testemunhas de Cristo. «Ora eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus.» O nosso
encontro com Jesus Cristo em cada Domingo, na Celebração da Santa Missa, deve continuar
durante a semana. Saímos do templo com a missão de dar testemunha do Seu Amor, da alegria
que infunde em nós e da felicidade para onde nos conduz, pela nossa conduta.

A alegria e acolhimento que manifestamos na família, com uma atenção carinhosa a cada
pessoa que a integra; a paciência, cordialidade e perfeição no trabalho há-de levar as pessoas
a interrogar-se: «se esta pessoa tem os mesmos problemas de cada um de nós, qual o segredo
deste seu modo de se comportar?

Havemos de estar sempre disponíveis para «dar às pessoas a razão da nossa esperança.»
Na vida silenciosa de Nazaré, Nossa Senhora e São José não fizeram coisas extraordinárias. De
outro modo, estariam narradas no Evangelho, para nossa edificação.

Foi com o ordinário de cada dia, vivendo-o de modo extraordinário, que ajudaram os seus
conterrâneos na sua caminhada para Deus.

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Roteiro Homilético – III Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia


1. Olhemos o nosso mundo
2. Seduzidos pela Luz de Cristo
3. Somos chamados ao apostolado

1. Olhemos o nosso mundo

Ao longo dos séculos houve homens que se esforçaram por construir um mundo novo sem
guerras, sem ódios, sem vinganças, sem crimes, sem atentados para que todos pudessem viver
felizes e em paz. Olhando para o passado, o que vemos nós?…Será que alguma vez o mal
desapareceu e ficou só o bem?… Estamos já no terceiro milênio, a viver o século XXI. Como
vai o nosso mundo?

As crianças que não chegam a nascer, vítimas do aborto provocado, não nos atormentam com
os seus gemidos de dor? Os doentes e idosos que morrem, vítimas da eutanásia, deixam-nos
dormir sossegados?

Os jovens, explorados pela droga e pelo hedonismo que perecem vítimas da sida, não mereceriam
viver na esperança dum futuro melhor? Os pobres que passam fome não interpelam os donos do
mundo que vivem luxuosamente nos seus palácios?

As famílias, desfeitas pela infidelidade, deixam indiferentes os lares onde se vive o amor?As
nações destruídas pela guerra, com os feridos e os mortos, não exigiriam de todos nós a luta
pela causa da Paz?

2. Seduzidos pela Luz de Cristo

Nós, cristãos, devíamos refletir no mundo a Luz de Cristo ( primeira leitura, salmo responsorial
e evangelho). E então tudo seria diferente. As trevas do pecado desapareceriam para termos o
mundo iluminado pela Palavra de Deus.Porque esperamos? O Senhor confiou a cada um de nós
uma missão. E tem de ser cumprida enquanto usufruirmos o dom da vida.

Unidos seremos mais fortes. As palavras de São Paulo continuam atuais: «Rogo-vos pelo nome
de Nosso Senhor Jesus Cristo que faleis todos a mesma linguagem e que não haja divisões entre
vós…» (segunda leitura). A Igreja Católica é Una. Não enveredemos por caminhos que levam a
cismas. Estejamos atentos aos ensinamentos do Papa. Bispos, sacerdotes e leigos responsáveis
procuremos ser fermento na nossa sociedade.

3. Somos chamados ao apostolado

Se tantas pessoas lutam incansavelmente pelos seus ideais, nós que estamos na Verdade, não
nos calemos! Levantemos a nossa voz! A vida humana , desde a concepção até à morte natural,
será respeitada. A angústia, a ansiedade e o sofrimento desaparecerão da vida das pessoas. No
seu rosto voltará a ver-se a serenidade, a alegria e o sorriso.

Será tudo isto um sonho?…Sim, se não houver conversão. Mas será uma bela realidade

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se acreditarmos na força invencível da nossa Fé. Não ignoremos as tentações do demônio.
Confiemos na intercessão dos anjos e santos. Maria, Mãe de Jesus e nossa terna Mãe, estará
sempre conosco. Caminhemos com muita confiança. A vida só assim terá sentido. Depois…
será a passagem para a Felicidade Eterna.

Roteiro Homilético – Festa da Apresentação do Senhor (Ano A)

Sugestões para a homilia

1. A purificação legal e o dom da maternidade


2. A apresentação do Senhor e o dom dos filhos
3. A alegria do encontro com Jesus

1. A purificação legal e o dom da maternidade

Segundo a Lei de Moisés, quarenta dias depois do nascimento – quando se tratava duma criança
do sexo masculino –, os pais dirigiam-se ao Templo de Jerusalém para que a mãe, por um
rito próprio, recebesse a purificação legal. Este preceito não se baseava na suposição de que
houvesse qualquer pecado na geração e parto dos filhos. A maternidade significava uma pausa
na vida de cada dia e, por este rito, com as forças já restabelecidas, a mãe voltava à sua vida
normal.
Maria e José apresentam-se ali com o coração a transbordar de júbilo e agradecimento, vestidos
de festa, de acordo com a sua condição social, mas anónimos, com toda a simplicidade. Se não
fora o Espírito Santo iluminar os dois veneráveis anciãos, a ida da Sagrada Família ao Templo
teria passado despercebida, aparecendo como mais um casal jovem que ia agradecer ao Senhor
o dom de um filho.

A fecundidade é um dom de Deus que deve ser administrado com generosidade por aqueles que
o Senhor chama à vocação do matrimônio. São os dois esposos, em diálogo com Deus, que se
decidem a acolher os filhos, tendo sempre diante dos olhos que o Senhor lhes pede generosidade
nesta missão, para que o Céu tenha o maior número possível de bem-aventurados.

2. A apresentação do Senhor e o dom dos filhos

Os pais ofertavam ao Senhor o filho primogênito em recordação e preservação da morte dos


primogênitos israelitas, na saída do Egipto e faziam um resgate simbólico, mas não eram
obrigados a levá-los ao Templo. O Senhor dispôs tudo para que Jesus fosse apresentado no
Templo de Jerusalém, cumprindo o que havia sido anunciado. José e Maria tiveram de viajar de
Nazaré para Belém antes do nascimento do Salvador, onde permaneceram mais do que o que
estava previsto, de modo que o Menino veio à luz do dia ali.

Como Jerusalém e Belém ficam perto, tornou-se fácil apresentá-l’O, depois de uma caminhada
de cerca de cinco quilômetros. Ao olhar para todas estas «coincidências», somos levados a
pensar que Deus faz tudo com perfeição, mesmo quando nos parece que as coisas deveriam
seguir outro caminho. Este mistério da vida de Jesus recorda-nos que os filhos são propriedade
de Deus e não dos pais e muito menos do Estado.

Mas é por um ato de confiança infinita que o Pai do Céu confia ao casal o maior tesouro que

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tem na terra, chamando-os a gerar e guardar uma vida humana que tem princípio neste ato de
amor, mas que há-de continuar por toda a eternidade. Os pais são verdadeiramente tesoureiros
de Deus e recebem do Alto a missão de preparar os filhos para se sentarem eternamente à mesa
da felicidade de Deus. Mais do que uma carreira brilhante na terra, os pais hão-de ajudá-los
a conquistar a santidade pessoal, para uma eternidade feliz, na comunhão com a Santíssima
Trindade. Por isso, alguns pais têm o belo gesto de consagrar a Nossa Senhora os filhos, depois
de os terem levado à fonte batismal.

3. A alegria do encontro com Jesus

Simeão e Ana exultam de alegria, pela realização do sonho de não partirem para a eternidade
sem terem visto o Redentor do mundo.O encontro com Jesus é sempre uma fonte de alegria.
Foi assim no encontro de Maria e Isabel, em Ain Karim. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e o
menino João Batista exultou de alegria no seu seio. Maria entoou um canto de alegria e gratidão
que recordamos todos os dias ao rezar ou cantar o Magnificat.

Encheu-se de alegria a samaritana depois de ter dialogado longamente com Jesus, desconfiada,
primeiro, e depois, exultante. Rejubilou de alegria Zaqueu quando o Divino Mestre Se foi
hospedar em sua casa, levando-o a uma generosidade e alegria com que o próprio nunca sonhara.

Somos invadidos, também nós, pela alegria, quando nos aproximamos do Senhor com
verdadeiras disposições de fé e de amor. Tenhamos a coragem para Lhe dizer, felizes, como
Simeão, depois de O recebermos na Comunhão Eucarística: «Agora, Senhor, podeis deixar
partir o Vosso servo em paz»? Tenho tudo o que desejava e já não procuro outra felicidade.

Roteiro Homilético – V Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia


1. Viver a comunhão com os irmãos
2. Sal da terra e luz do mundo, pela caridade

1. Viver a comunhão com os irmãos

Os problemas das pessoas não mudam radicalmente de uns tempos para outros, porque o
homem é sempre o mesmo, com as suas riquezas e também com as más tendências. Não a um
cristianismo individualista. Isaías lamenta que o Povo de Deus se tenha refugiado numa falsa
piedade e abandonado o respeito e o amor ao próximo. Por isso, O profeta sente-se urgido a
pregar: «Eis o que diz o Senhor: ‘Reparte o pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem
abrigo, leva roupa a quem viste andar despido e não voltes as costas ao teu semelhante’.»

Uma tentação que nos acompanha constantemente é a de fugir ao que custa. Num primeiro
momento, procuramos encontrar desculpas, para gozar de uma falsa paz. Depois, entra a rotina
neste modo de ser. Ficamos apenas em práticas de religiosidade e fugimos daquilo que exige
de nós sacrifício.

Fechamo-nos numa religiosidade individual, como se cada um de nós fosse uma ilha isolada
no mar imenso da humanidade. Abrir o coração. É preciso regressar o quanto antes ao bom
caminho, vivendo a comunhão com as outras pessoas, sobretudo as mais carenciadas.

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Tem este sentido a promessa de Isaías: «Então, a tua luz despontará como a aurora, e as tuas
chagas não tardarão a sarar. A tua justiça andará à tua frente, e atrás de ti, a glória do Senhor.»
Muitas vezes sentimos dificuldades em progredir na santidade pessoal, em corrigir os nossos
defeitos e vencer as tentações. Talvez isto aconteça, porque falta à nossa piedade a dimensão
horizontal.

O Senhor chamou-nos fazer parte duma família – a dos filhos de Deus – e só nesta condição nos
podemos santificar: preocupando-nos com os outros, alargando o círculo das nossas amizades,
ajudando-nos mutuamente a caminhar sem que ninguém fique para trás.

Ouvidos por Deus na medida em que ouvirmos os outros. A eficácia da nossa oração está também
condicionada por este estilo de vida. Deus voltar-Se-á para nós, quando orarmos, na medida
em que voltarmos para os outros, sendo sensíveis às suas carências e dificuldades. «Então, se
chamares, o Senhor responderá, se apelares para ele, dir-te-á: ‘Estou aqui’»

2. Sal da terra e luz do mundo, pela caridade

Quando lemos no Evangelho que o discípulo de Jesus Cristo é sal da terra e luz do mundo,
restringimos a nossa vocação e missão a anunciar as verdades da fé. Há, de fato, uma grande
carência de doutrina nas pessoas, mas há também uma grande carência de Amor. Sal da terra. A
nossa vocação é dar gosto às atividades mais rotineiras, saber e ajudar os outros a descobrir o
brilho divino que há nas coisas mais comuns.

Só o amor a Deus, vivido na caridade para com os outros nos transforma neste sal. As pessoas
já não se convencem com palavras sonantes, com belas ideias. «Aquilo que tu és grita tão alto,
que não ouço o que tu dizes.» (Teixeira de Pascoais). Voltamos ao profeta Isaías: «Se afastares
do meio de ti a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas se deres do teu pão ao
faminto e matares a fome ao indigente, a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite ficará como
o meio-dia.»

Para que serviria o nosso cristianismo, se o não procurássemos viver com toda a exigência, com
amor? «Mas, se o sal perder o sabor, com que há-de ele salgar-se? Já não serve para nada;
só presta para se deitar fora e ser pisado pelos homens.» Não encontraremos aqui alguma
explicação para a falta de interesse de algumas pessoas pelo cristianismo? Luz do mundo.
Somos enviados a ser luz, anunciando a Palavra Deus. Disse Jesus: «1 de pelo mundo inteiro
e anunciai a Boa a todos os povos.» Os primeiros cristãos entenderam perfeitamente este
mandato. Só depois, com o cansaço que vem ao longo da caminhada, se começou a pensar que
a evangelização é encargo apenas de alguns privilegiados.

Faz-nos estremecer a Palavra de Jesus Cristo: «Não se pode esconder uma cidade situada num
monte, nem se acende uma lâmpada para se pôr debaixo do alqueire, mas no candelabro, onde
brilha para todos os que estão em casa.»Mas seremos luz também – e de modo indispensável –
pelo bom exemplo que damos, pela seriedade coerente com que levamos as tarefas de cada dia,
na família, no trabalho, nas amizades. Quando fala da necessidade de espalhar luz, o mestre fala
também das nossas boas obras.

Ano da Eucaristia. Neste Ano da Eucaristia, procuremos conduzir as pessoas à Eucaristia


Dominical, e ajudemo-las a participar nela de modo que participem ativamente na Celebração.
Para que recomecem de verdade uma vida cristã, terão necessidade de recorrer diligentemente
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ao Sacramento da Reconciliação e Penitência. Que Nossa Senhora nos ajude e ensine a sermos
cada vez mais sal da terra e luz do mundo.

Roteiro Homilético – VI Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. Inconsciência e sinais de Deus


2. A sabedoria revelada pelo Espírito
3. O caminho certo

1. Inconsciência e sinais de Deus

A liturgia deste domingo ensina-nos a atender à Palavra de Deus, que é atual. Os caminhos da
nossa vida são constantemente orientados por sinais: são os sinais de trânsito que nos advertem
das dificuldades da estrada, os sinais em falésias que se podem desmoronar, os sinais em
caminhos que não oferecem saída… Quando desobedecemos a essas sinaléticas corremos o
risco de não termos saída ou pagarmos com a vida a nossa imprudência. Se atendêssemos a
esses sinais estaríamos muito mais protegidos.

Existe também muita semelhança entre estes sinais e a sinalética de Deus como indicação
segura para a nossa vida. Deus criou-nos para que fôssemos livres e em responsabilidade
pelos nossos próprios atos, a fim de que livremente construíssemos a nossa felicidade. Fomos
colocados perante o fogo e a água, segundo o primeiro texto de hoje, tendo-nos sido concedida
a independência de escolher o caminho que optávamos.

A vida e a morte estão diante de todos, e a cada um será oferecido aquilo que escolher. O
caminho da vida está marcado pelos mandamentos, o caminho da morte está indicado pelos
vícios, paixões, desrespeito aos sinais do Pai, enfim, pela nossa própria inconsciência em
corresponder à sabedoria do amor divino.

2. A sabedoria revelada pelo Espírito

Essa «sabedoria de Deus», de que nos fala a segunda leitura, não vem do conhecimento dado
pelo mundo, mas brota do próprio Espírito Santo que a ensina àqueles que se deixam conduzir
por Ele. A sabedoria humana é incapaz de responder às interrogações sobre o sentido da nossa
existência: o porquê da vida; o porquê da morte.

O Espírito Santo, dá-nos a conhecer o projecto amoroso de Deus, pensado desde o princípio do
mundo para nos levar à Sua glória.

De posse desta verdadeira «sabedoria», do conhecimento deste «mistério», sabemos o que


Deus está a realizar, por nós e para nós e ultrapassa tudo aquilo que possamos imaginar, todos
os nossos desejos e esperanças, todas as nossas interrogações e expectativas.

Tal «sabedoria» aconselha-nos, também, a abrirmos o nosso coração e a nossa razão à atividade
do Pai que, «de muitas maneiras», nos foi revelando tais planos, para se manifestarem plenamente
na pessoa de Jesus e na sua mensagem, como indicação do caminho certo.

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3. O caminho certo

O pleno cumprimento de tudo quanto estava escrito é-nos revelado por Jesus no Evangelho. Ele
veio para aperfeiçoar a Lei, libertando-a dos abusos, das falsas interpretações e do legalismo,
transformando-os numa relação de amor. Jesus apresenta quatro exemplos do envolvimento
da Lei de Deus na nossa vida. Ao falar da Lei Jesus fá-lo com a autoridade divina que Lhe é
própria: «foi dito aos antigos…», «Eu digo-vos…». Abre, assim, novos caminhos de perfeição
e exigência espiritual.

«Não matar» não se reduz apenas ao tirar a vida física das pessoas, mas implica as situações
de todos quando matamos os outros dentro do nosso próprio coração: aqueles a quem não
dirigimos a palavra, os que difamamos, caluniamos ou tiramos o bom nome e reputação, quando
proferimos palavras ofensivas, nos irritamos ou deixamos dominar pelo ódio… Recomenda
que não é o corpo que precisa de estar limpo, mas o próprio coração para poder amar; e a
reconciliação conseguida com o irmão, que substitui todas as purificações exteriores.

Quanto ao adultério, Jesus insiste na interioridade e fidelidade matrimonial, apelando ao amor


verdadeiro e leal. As pessoas que se deixam levar pelos instintos podem provocar graves
problemas a si próprias, às suas famílias e aos outros, pelo que é preciso ter coragem para saber
cortar pela raiz determinadas situações que possam vir a causar posteriores contratempos.

Jesus confirma que o matrimônio é indissolúvel. Não nos dá, todavia, o direito de condenar,
humilhar ou isolar aqueles que, por qualquer motivo, falharam na sua vida conjugal. Quantos
dramas, quantas dificuldades, quantos sofrimentos envolveram as separações matrimoniais.
Temos, isso sim, que manifestar a ternura, o acolhimento e a compreensão que o próprio Jesus
exprimiu em tais situações.

Por fim, Jesus diz-nos o que se deve entender quanto ao «juramento e a verdade». A necessidade
de juramento é sinal de que a mentira e a desconfiança pervertem as relações humanas. Deus
Pai apenas exige um relacionamento em que as pessoas sejam verdadeiras e responsáveis. Os
discípulos de Jesus não pedem ao Mestre que justifique as suas exigências. Acreditam no amor
do Pai e estão certos que este é o verdadeiro caminho da vida.

Saibamos nós percorrer este caminho sendo fiéis ao projeto de Deus, nosso Pai.

Roteiro Homilético – VII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

«Amarás o teu próximo como a ti mesmo!»

No Domingo passado, ouvimos Jesus dizer que não veio revogar, mas dar pleno cumprimento à
lei e às profecias. Hoje, continuamos a ler este discurso, tirado do capítulo quinto de S. Mateus,
conhecido como o Sermão da montanha. Jesus explica a novidade da Nova Aliança, do Novo
Testamento, cuja base assenta na caridade para com todos os homens! O preceito «de amar o
próximo» é antigo! «Amarás o teu próximo como a ti mesmo!» (Lev 19,17-18) Na prática, este
mandamento limitava-se aos membros do povo bíblico. Jesus alarga o horizonte e pede-nos para

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amarmos todos os homens, nossos irmãos. Este amor universal torna-se sinal credível daquele
Amor eterno e compassivo de Deus para com toda a humanidade. Por isso, Jesus convida-nos:
«Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste!» Apontando para o exemplo do Pai celeste,
que faz brilhar o sol para bons e maus e que manda chover para justos e pecadores, Jesus pede-
nos para dar a outra face e amar os inimigos.

Jesus aponta-nos uma meta muito alta para não nos contentarmos com a mediocridade. O
horizonte do Reino de Deus não fica limitado pelas dificuldades da terra, mas alarga-se até
ao Céu! Deus é Pai de todos. Não podemos classificar os nossos irmãos como bons e maus,
com base em critérios ideológicos, religiosos, étnicos ou morais: «Deus não faz acepção de
pessoas!» (Rom 2, 11) Só Deus é termo de comparação para todos, porque Ele é «Clemente e
compassivo, paciente e cheio de bondade». E se alguém é mau para connosco não é negando-
lhes a chuva e o sol da nossa bondade que se tornará melhor. Além disso, recordemos que
«Jesus morreu por nós quando éramos pecadores!» (Rom 5, 8) Deus ama gratuitamente! Deus
é justo e Santo! Aceitemos o seu convite que nos dirigiu no livro do Levítico: «Sede Santos
porque Eu sou Santo!»

A nossa bondade para com todos á aquela luz que há-de brilhar no mundo para que os homens
vejam as nossas boas obras e nos possam reconhecer como discípulos de Jesus e glorifiquem
O Pai que está nos Céus! Além disso, o nosso amor fraterno é sinal da nossa filiação divina!
Guardemos no nosso coração a Palavra que Jesus nos dirige e ponhamo-la em prática com
diligência para alcançarmos a perfeição, a santidade: «Amai os vossos inimigos! Orai pelos que
vos perseguem para serdes filhos do vosso Pai celeste!»

Roteiro Homilético – I Domingo da Quaresma – Ano A

Sugestões para a homilia

1. As tentações de Jesus
2. O que é a tentação
3. Como vencer a tentação

1. As tentações de Jesus

«Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Demônio» (Ev.).O
Evangelho fala-nos de um tempo de solidão e recolhimento que Jesus passou no deserto,
imediatamente após ter sido baptizado por João Batista no rio Jordão. Passado esse tempo –
quarenta dias e quarenta noites – o demônio tentou-O por três vezes, procurando pôr em causa
a sua atitude filial para com Deus; Jesus repele esses ataques que recapitulam as tentações de
Adão no paraíso e do povo de Israel no deserto.

Jesus é o novo Adão que se mantém fiel naquilo em que o primeiro sucumbiu. A vitória de Jesus
sobre o tentador antecipa a vitória da Paixão, como suprema obediência do seu amor filial ao
Pai. A vitória de Jesus sobre as tentações manifesta a maneira própria de o Filho de Deus ser
Messias e Salvador, ao contrário do que Lhe propõe Satanás. Jesus, vencendo as tentações, é
para nós exemplo encorajador: «Nós não temos um Sumo-Sacerdote incapaz de se compadecer
das nossas fraquezas; temos um que possui a experiência de todas as provações, tal como nós,
com excepção do pecado» (Heb 4, 15).

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Neste tempo da Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Cristo no deserto e recorda aos seus
filhos que «através de toda a história humana se trava uma dura batalha contra o poder das
trevas que, iniciada nas origens do mundo, durará…até ao dia final. Envolvido nesta peleja, o
homem tem que lutar continuamente para manter-se no bem» (G. Spes, n. 37).

2. O que é a tentação

A tentação é uma prova, é um convite e solicitação para pecar: «Cada um é tentado pela sua
própria concupiscência, que o atrai e alicia; depois a concupiscência, quando concebe, dá
à luz o pecado; e o pecado, quando tiver sido consumado, gera a morte» (Tg 1, 14-15). A
tentação, se não for vencida, conduz ao pecado e à morte. Aparentemente, o seu objecto é «bom,
agradável à vista, preciosos» (Gen. 3,6), mas, na realidade, o seu fruto é a morte.

Peçamos ao Senhor que não nos deixe cair na tentação, «mas que nos livre do mal» (Pai Nosso).
A vitória sobre a tentação só é possível pela oração. Foi pela oração e pela força da Palavra de
Deus que Jesus venceu o tentador. «Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo»
(Rom.10, 13).

3. Como vencer a tentação

O Catecismo da Igreja Católica, no n. 397, lembra-nos que o homem, tentado pelo demónio,
deixou morrer no seu coração a confiança no seu Criador e na sua Bondade, preferindo-se a si
próprio em vez de Deus; por isso, desprezou a Deus e confiou mais na palavra enganadora do
demónio. «Dali em diante, todo o pecado será sempre uma desobediência a Deus e uma falta
de confiança na sua bondade».

Por isso, juntamente com a oração, é necessária uma contínua vigilância e uma confiança
absoluta em Deus e na sua Palavra, para não cairmos na tentação. «Vigiai e orai para que não
entreis em tentação» (Mt. 14, 38). «Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das
vossas forças» (1 Cor. 10, 13). Deixemos que a Palavra de Deus encha o nosso coração e a nossa
mente e veremos a força e o poder que ela nos dá diante das maiores tentações.

Há também que fugir das ocasiões de pecado e das más companhias e pedir ajuda, sendo sincero
com quem dirige a nossa alma: «tentação descoberta, tentação vencida». A Confissão frequente
dar-nos á graça e fortaleza para lutar contra as más inclinações e resistir às investidas do tentador.
Na Eucaristia «torna-se presente de novo a vitória e o triunfo de Cristo sobre o demónio, sobre
o mal e sobre a morte»; por isso, comunhão frequente.

Não esquecer o que nos diz o Salmo 90: «Ele mandou aos seus Anjos que te guardem em
todos os teus caminhos». Outra arma para vencer as tentações que jamais devemos descurar: a
devoção filial a Nossa Senhora: «Antes, só, não podias…Agora, recorreste à Senhora, e, com
Ela, que fácil» (Cam. 513).

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Roteiro Homilético – II Domingo da Quaresma – Ano A

Sugestões para a homilia

A futura glória

No primeiro Domingo da Quaresma considerámos a luta de Jesus com o tentador, no deserto.


Essa página bíblica recorda-nos que Cristo combateu, recusando aproveitar-se da sua condição
divina. Jesus humilde, discreto, pobre, passando fome, tentado como um homem qualquer.
Hoje contemplamos a sua divindade oculta pela sua humanidade. Nos Evangelhos este episódio
aparece numa altura em que Jesus se aproxima do fim da sua missão. No princípio, grandes
multidões O seguiam, mas agora Jesus começa a exigir uma verdadeira fé. Ele é o Messias. As
obras que realiza revelam o seu poder divino, mas Ele não é o Libertador glorioso e triunfalista.
Ele identifica-se com Servo sofredor de que fala Isaías. As autoridades judaicas recusam-no,
armam-lhe ciladas e querem dar-lhe a morte. Jesus afasta-se da Judeia, dedica-se à formação
dos Apóstolos. Depois da profissão de fé feita por Pedro, Jesus fala abertamente da sua morte
em Jerusalém (Mat 16,21). Pedro rejeita este plano, mas Jesus está determinado e fala da
Ressurreição e da glória, que virá após a morte de Cruz. «Vereis o Filho do Homem com os seus
Anjos na Glória do Pai!» (Mat 16, 27-28). Seis dias depois dá-se este maravilhoso episódio da
Transfiguração. A presença de Moisés e Elias, a nuvem luminosa, a voz do Pai, o rosto de Jesus
transfigurado, todo este cenário de manifestação gloriosa ensinará os discípulos que é pelo
trabalho que se chega ao descanso, pela luta que se chega à vitória, pela morte que se chega à
ressurreição. É morrendo que se ressuscita para a vida eterna!

Jesus tomou consigo Pedro Tiago e João. Subamos com Jesus ao Monte Tabor. Subir implica
esforço. O Tabor não é muito alto, apenas 588 metros, mas porque se eleva quase a pique, e não
há outros montes ali à volta dá uma sensação de muito elevado, dominando toda a planície lá ao
fundo. Um peregrino descreveu-o assim: «O monte Tabor parece um grande altar elevado sobre
a planície, colocado ali pelo próprio Deus, para sua glória! Devido à sua forma e situação
particular parece dominar toda a grande planície a seus pés. Todos os que dele se aproximam
e sobem às suas alturas sentem-se subitamente envolvidos por uma atmosfera da presença
divina, que inspira um profundo hino de louvor! Apetece repetir com S. Pedro que bom, Senhor,
estar aqui!» O horizonte visual é cada vez mais amplo, o ar mais fresco, mais puro. Há um
grande silêncio lá no cimo. Lembremos que a montanha simbolicamente remete para o sagrado.
Permite o isolamento, favorece a contemplação. Deus deixa-se ver quando estamos sós, faz-nos
ouvir a sua voz quando fazemos silêncio.

«Jesus transfigurou-se diante deles!» Pedro, Tiago e João, as futuras colunas da Igreja, viram o
seu rosto luminoso, «brilhante como o sol». Viram Moisés e Elias, falando com Jesus. Ouviram
a voz do Pai. Ficaram bem confirmados: «Este é o meu Filho! Escutai-O» Jesus antecipa-lhes a
experiência da glória futura, deixando-lhes ver o fulgor do seu rosto ressuscitado. Quis fortalecer
com a visão da glória aqueles que também viriam a ser testemunhas da sua humilhação na agonia
do Getsamani. Para não sucumbirem com o peso do sofrimento provocado pela humilhação
da sua santa humanidade na Agonia, no Jardim das Oliveiras; para não desfalecerem com a
crueldade e violência da paixão que culminará na Crucificação, fortaleceu-os primeiro com a
visão da sua divindade, no Monte Santo.

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Compreenderão, mais tarde, que «era necessário que o Messias sofresse a morte para entrar
na glória da Ressurreição». Sobretudo, S. Pedro que também terá dias de luta, de sofrimento,
durante a sua vida apostólica, recordará sempre o mistério da transfiguração do Senhor no cimo
do monte santo (2P.1,18).

A Transfiguração aparece após o anúncio da Paixão. Todos os Domingos podemos subir a


montanha para contemplar Jesus ressuscitado e escutar a sua Palavra, para descermos à vida
quotidiana cheios de força divina para enfrentar os muitos problemas. Nesta Quaresma, para
escutar melhor a voz de Deus que nos fala no silêncio do nosso recolhimento, teremos algum
tempo de retiro?

Roteiro Homilético – III Domingo da Quaresma – Ano A

Sugestões para a homilia

«A água que Eu der há-de tornar-se fonte que dá a vida eterna» (Jo 4, 14)
«Então a mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àquela gente» (Jo 4, 28)
«A água que Eu der há-de tornar-se fonte que dá a vida eterna» (Jo 4, 14)

A nossa sociedade criou-nos grandes expectativas. Disse-nos que tinha a resposta para todas
as nossas procuras e que podia responder a todas as nossas necessidades. Garantiu-nos que a
vida plena estava na liberdade absoluta, numa vida vivida sem dependência de Deus; disse-nos
que a vida plena estava nos avanços tecnológicos, que iriam tornar a nossa existência cómoda,
eliminar a doença e protelar a morte; afirmou que a vida plena estava na conta bancária, no
reconhecimento social, no êxito profissional, nos aplausos das multidões, nos «cinco minutos»
de fama que a televisão oferece…

No entanto, todas as conquistas do nosso tempo não conseguem calar a nossa sede de eternidade,
de plenitude, dessa «mais qualquer coisa» que nos falta para sermos, realmente, felizes. A
afirmação essencial que o Evangelho de hoje faz é: só Jesus Cristo oferece a água que mata
definitivamente a sede de vida e de felicidade do homem. Não é verdade que muitas vezes nos
esquecemos destas verdades ou até que ainda nem sequer a descobrimos? Não é verdade que,
muitas vezes, a minha procura de realização e de vida plena faz-se noutros caminhos? O que
será preciso fazer para conseguirmos que os homens do nosso tempo aprendam a olhar para
Jesus e a tomar consciência dessa proposta de vida plena que ele oferece a todos?

Essa «água viva» de que Jesus fala faz-nos pensar no batismo. Para cada um de nós, esse
foi o começo de uma caminhada com Jesus… Nessa altura acolhemos em nós o Espírito que
transforma, que renova, que faz de nós «filhos de Deus» e que nos leva ao encontro da vida
plena e definitiva. Nesse sentido, devemos hoje interrogarmo-nos acerca da nossa vida cristã?
Temos sido, verdadeiramente, coerentes com essa vida nova que recebemos? O compromisso
que assumimos, com Cristo e na Igreja, é algo esquecido e sem significado, ou é uma realidade
que marca a minha vida concreta, os meus gestos, os meus valores e as minhas opções?

«Então a mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àquela gente» (Jo 4, 28) Reparemos
também no pormenor do «cântaro» abandonado pela samaritana, depois de se encontrar com
Jesus… O «cântaro» significa e representa tudo aquilo que nos dá acesso a essas propostas
limitadas, falíveis, incompletas de felicidade. O abandono do «cântaro» significa o romper com

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todos os esquemas de procura de felicidade egoísta, para abraçar a verdadeira e única proposta
de vida plena. Trata-se por isso de um desafio que o Senhor nos faz a estarmos dispostos a
abandonar o caminho de uma felicidade egoísta, parcial, incompleta, e a abrir o coração ao
Espírito que Jesus nos oferece e que exige de nós uma vida nova. Depois a samaritana, depois de
encontrar o «salvador do mundo» que traz a água que mata a sede de felicidade, não se fechou
em casa a gozar a sua descoberta; mas partiu para a cidade, a propor aos seus concidadãos a
verdade que tinha encontrado. Eu sou, como ela, uma testemunha viva, coerente, entusiasmada
dessa vida nova que encontrei em Jesus?

Temos hoje um ambicioso programa quaresmal: renovar a nossa fé e trazer os nossos amigos ao
encontro de Cristo, para que Ele sacie também a sua sede de felicidade. O Senhor não engana os
que n’Ele confiam: quem beber desta graça, viverá feliz e sentirá a necessidade de partilhar com
os outros a própria felicidade. Peçamos a Maria, a cheia de graça, que nos ajude a compreender
esta maravilha.

Roteiro Homilético – IV Domingo da Quaresma – Ano A

Sugestões para a homilia

1. O dom da fé
A ausência da fé
A riqueza da fé
A alegria da fé
2. Jesus Cristo, nossa luz
Procurar o Senhor.
A fé, dom s obrenatural.
Colaboremos com o Senhor.

Introdução

Jesus Cristo é a Luz que veio ao mundo para nos iluminar, dando sentido à nossa vida.
A experiência mostra-nos que quando as pessoas rejeitam a Luz de Deus, da fé, não conseguem
descobrir os verdadeiros valores e correm atrás de quimeras que as destroem: a droga, a
impureza e o dinheiro arvorado e valor supremo. Além disso, no se reconhecem como irmãos
da mesma família e, como consequência, reina a insegurança a todos os níveis: da vida (pelo
aborto, terrorismo, assassínios, etc.) e dos bens.

1. O dom da fé

Para melhor compreendermos o tesouro da fé, vale a pena atentar de que são capazes os homens
sem ela.

a) A ausência da fé. «Não te impressiones com o seu belo aspecto, nem com a sua elevada
estatura.» Sem a luz da fé, vemos apenas as aparências, ao olhar para as pessoas, para os
acontecimentos, e mesmo para a nossa vida. Por isso, caímos em ilusões e enganos, no
pessimismo e no desânimo. Assim aconteceu ao profeta Samuel, quando foi enviado por Deus,
em segredo, a Belém, a casa de Jessé, para escolher e ungir um dos seus filhos para rei de Israel,
em substituição de Saúl, caído em desgraça.

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Quando viu Eliab, o filho mais velho, julgou que estava na presença do eleito do Senhor, mas
logo foi dissuadido da sua convicção. Antes de tomarmos uma decisão na vida, devemos pedir
a luz do Senhor, para que aumente a nossa fé e a escolha seja acertada: na escolha da vocação,
ou numa atitude a tomar com certa responsabilidade.

b) A riqueza da fé. «O Senhor disse a Samuel: ‘Levanta-te e unge-o, porque é este mesmo.’»
A luz da fé aparece-nos na Sagrada Escritura e na doutrina da Igreja como um dom de Deus.
Leva-nos a ver as pessoas, as coisas e os acontecimentos como Deus as vê. E, por isso, a visão é
sempre acertada. Ninguém, como os santos, viram com toda a clareza os problemas e tomaram
decisões no momento próprio, mesmo quando encontravam a oposição dos outros.

A fé é uma virtude, uma capacidade para agir, mas tem de ser alimentada, para dar frutos.
Alimentamo-la com a doutrina. O Senhor revelou-nos as verdades e ensina-no-las na Igreja.
Ela fala-nos nas Celebrações, nas boas leituras de livros, especialmente a Sagrada Escritura e
nas pregações.

Uma das razões pelas quais a Igreja insiste com os seus fieis na necessidade de participar na
Santa Missa nos Domingos e outros dias festivos é a necessidade de alimentarmos a fé recebida
no Batismo. Muitos cristãos vivem como se não fossem, por causa da ignorância religiosa.
A Quaresma é um tempo litúrgico de intensa formação doutrinal. É um catecumenado resumido
em cada ano. Somos instados a formar propósitos para concretizar na vida as verdades aprendidas.
Também de cada Celebração da Eucaristia devemos sair com propósitos de vida: viemos
aprender para praticar.

c) A alegria da fé. «Daquele dia em diante, o Espírito do Senhor apoderou-se de David.» Depois
da descoberta daquele que Deus escolhera para rei, Samuel ungiu-o, cheio de alegria. A unção
com o óleo significa a abundância dos dons de Deus. Também David, mantendo o segredo da
escolha de Deus sobre ele, procurou, muitas vezes libertar Saúl da tristeza que o dominava, com
as suas canções e bom humor.

A fé enche de esperança a nossa vida, porque nos faz ver as maravilhas que estão ao nosso
alcance e nos ajuda a viver numa esperança alegre, como nos ensina Bento XVI, na Encíclica
Salvos na Esperança. À luz da fé, encontramos respostas para todas as nossas dúvidas, o nosso
caminhar enche-se de ânimo, porque acabaram as nossas hesitações, e conseguimos ver nos
acontecimentos mais sombrios a mensagem alegre do amor de Deus.

2. Jesus Cristo, nossa luz

a) Procurar o Senhor. «É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou.»
Nascemos cegos. Recebemos a virtude da fé no Batismo, como dom gratuito de Deus. Mas
depois temos de procurar desenvolvê-la. Fé que não se vive, é luz que se apaga. Se não fosse
o encontro deste cego de nascença com Jesus, certamente viveria e morreria cego. O encontro
deste homem com o Divino Mestre mudou completamente o rumo da sua vida.

Por vezes, as pessoas fogem dos meios de formação, de aprofundar a sua fé, para fugir a
responsabilidades, para não terem que mudar hábitos de vida. Aquele que fecha os olhos à luz,
que evita oportunidades de aprofundar a fé peca contra a luz, fechando propositadamente os
olhos para não ver.

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Outras vezes, esta atitude apresenta-se com aparências de bondade: não se evita o esclarecimento
das verdades, mas procura-se escutar apenas quem fala de encontro aos nossos gostos e nos
pede mudanças de vida. Em vez de prestar atenção ao que ensina o Santo Padre, os Bispos em
comunhão com ele e os sacerdotes que lhes servem de eco, agarram-se a uma opinião errada
para continuar com os mesmos passos em falso.

Havemos de procurar a luz do Senhor com toda a lealdade e retidão, movidos pelo desejo de
fazer tudo e só o que for da Sua vontade.

b) A fé, dom sobrenatural. «Isto é realmente estranho: não sabeis de onde é, mas a verdade
é que Ele me deu a vista.» Não podemos adquirir a fé pelo nosso esforço. Foi-nos oferecida
gratuitamente no nosso Batismo. Deve ser alimentada pela formação doutrinal, crescer
pelo nosso esforço em pô-la em prática, celebrá-la da Liturgia e proclamá-la no apostolado,
especialmente com o nosso exemplo.

Mas não podemos fazer nada disto, se Deus não vier em nosso auxílio. Grandes inteligências
da história da Igreja caíram em grandes erros. Como contraste, almas humildes, com uma
formação intelectual escassa, penetraram nos mistérios da fé com mais profundidade do que
muitos teólogos. É com esta atitude de humildade que havemos de pedir ao Senhor que aumente
a nossa fé, à semelhança dos cegos que Jesus encontrava na vida pública e Lhe pediam: «Mestre:
que eu veja!»

c) Colaboremos com o Senhor. «Vai lavar à piscina de Siloé […] Ele foi, lavou-se, e ficou a
ver.» Este homem colabora ativamente com o Senhor, caminhando até à piscina indicada, e
lavando-se. Só então experimentou a alegria de ver. Se queremos crescer na fé – ver de cada
vez melhor – é indispensável este esforço para ir pondo em prática aquilo que o Senhor nos vai
ensinando, pouco a pouco. Há pessoas, antes bons cristãos, que agora se queixam: «Perdi a fé!»
De fato, perderam-na, porque ninguém lha roubou. E a perda começou no momento em que,
arrastados pelas paixões, deixaram de pôr em prática aquilo que o Senhor lhes ia mostrando
como necessário.

Temos necessidade de testemunhar a fé, como este homem corajoso do Evangelho e tantos
outros. A fé apresenta-se como um dom tão precioso, que muitos deram a vida para a defender.
A Eucaristia é o mistério da nossa fé, como proclama o celebrante, no final da Consagração. Ela
é também alimento que a fortalece e transforma em alegria.

Também na virtude da fé Nossa Senhora é modelo. Santa Isabel elogia-A. «Bendita és tu,
porque acreditaste em tudo quanto te foi dito da parte do Senhor.» Que Ela nos ajude nesta
caminhada pela vida.

Roteiro Homilético – V Domingo da Quaresma – Ano A

Sugestões para a homilia

1. Deus ama o Seu Povo


2. Amamos Jesus que ressuscita Lázaro
3. Vivemos no mundo a caminho do Céu

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1. Deus ama o Seu Povo

Desde toda a eternidade o Senhor pensa em nós. Como Ele ama o Seu Povo!… No Antigo
Testamento, através dos Profetas, transmite uma mensagem de salvação (1.ª Leitura).

Há dois mil anos veio Ele próprio à Terra para nos salvar. Prega através do exemplo. Não há
nada imperfeito na Sua vida. Convida toda a gente a cumprir a Lei de Deus, os Mandamentos.
Oferece as graças através dos Sacramentos. Aponta o caminho da felicidade, o caminho das
bem-aventuranças. Faz milagres: dá vista aos cegos, faz ouvir os surdos, ensina os mudos a
falar, cura os doentes, ressuscita os mortos…

2. Amamos Jesus que ressuscita Lázaro

O Evangelho desta Missa descreve com todos os pormenores a ressurreição de Lázaro. As suas
irmãs, Marta e Maria, comunicam a Jesus o que se está a passar. Jesus, logo que pode, vai até
Betânia. Ao ver o amigo Lázaro, morto, comove-se e chora… Quando morre algum familiar
ou algum amigo também nós choramos. É humano! Deixamos de falar com quem partiu. Ao
vermos o seu lugar vazio sentimos saudade. Quem nos dera, nesses momentos de dor e angústia,
termos o Senhor junto de nós para Lhe pedirmos a graça da ressurreição!…

Jesus, seguidamente, reza: «Pai, dou-Te graças por Me teres escutado…». Que bela oração!
Mesmo nos dias de sofrimento devemos agradecer ao Senhor… Só Deus tem poder sobre a
morte. Nós já o sabemos. Sabemos porque temos Fé. Mas os ateus não acreditam. Por isso Jesus
mostra que é Deus, que tem poder de ressuscitar. Junto ao seu túmulo, brada com voz forte para
que todos ouçam bem: «Lázaro, vem para fora».

Quem se sentiu mais feliz nessa ocasião?!… Lázaro que volta à vida, quatro dias após ter
morrido, para de novo acolher o Senhor?! Marta e Maria que o recebiam de novo na sua casa?!
Os discípulos de Jesus ao verem confirmada a Fé na Sua divindade?! O próprio Jesus que iria
morrer em breve para ressuscitar glorioso?!… Nós, cristãos do século XXI, sentimo-nos muito
felizes ao revivermos hoje a ressurreição de Lázaro.

3. Vivemos no mundo a caminho do Céu

Jesus há-de ressuscitar-nos também um dia quando deixarmos este mundo. Depois será a
felicidade eterna com Ele no Céu. Mas até lá temos de cumprir a Sua vontade no mundo.
O pecado não pode ser praticado por nós (2.ª Leitura). Amando as pessoas que o cometem,
denunciamos as injustiças, os crimes, os atentados, a guerra, o homicídio, o suicídio, o aborto,
a eutanásia…

Denunciamos e procuramos afastar o mal do mundo. Não queremos que as gerações futuras nos
acusem de nada termos feito para tornar o mundo melhor. Procuramos apresentar os valores
que dão sentido à vida. Amamos a criança que vai nascer. Acreditamos no jovem que sonha
transformar a sociedade. Acompanhamos o velhinho que quer ser respeitado e estimado até ao
fim. Dizemos aos esposos que se amem durante toda a vida. Dizemos aos pais que se dediquem
inteiramente aos filhos. Dizemos aos filhos que sejam eternamente gratos a seus pais.

Pedimos aos professores que saibam ser bons mestres e bons educadores. Pedimos aos alunos
que aprendam bem pois assim se aproximarão cada vez mais de Deus…
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Recordamos aos médicos e enfermeiros que devem estar sempre do lado da vida. Recordamos
aos doentes que rezem, meditem e façam bem aos outros através do sofrimento e do exemplo.
Exigimos aos governantes que sirvam o povo que os elegeu e assim todas as pessoas viverão
com dignidade.

Lembramos aos ministros do Senhor que sejam fiéis à sua vocação. Deus precisa deles para
continuar a salvar o mundo. Quando surgirem noites de insônia, céu sem estrelas, escuridão à
nossa frente não desanimemos pois com os anjos, os santos e a Virgem Maria viveremos felizes
com o Senhor para sempre.

Roteiro Homilético – Domingo de Ramos – Ano A

Sugestões para a homilia

1. O triunfo de Cristo pela Cruz


O triunfo na humildade
As armas do sofrimento
A fidelidade
2. A Paixão de Jesus, prova de Amor supremo
Lição e prova de Amor
O caminho da Cruz
Caminho de glorificação

Introdução

Com a entrada triunfal em Jerusalém, como tinha sido profetizada, Jesus apresenta-Se como o
Messias para o qual apontam todas as profecias do Antigo Testamento. Depois da Sua vinda,
nada mais temos a esperar.

1. O triunfo de Cristo pela Cruz

a) O triunfo pela humildade. Com toda a clareza possível, Jesus desfaz o sonho triunfalista
dos Seus conterrâneos. Esperavam um rei que se apresentasse revestido de glória e poder.
Viria restaurar a grandeza e o esplendor perdidos de Israel, reduzindo as nações vizinhas à
sua obediência. É também verdade que um «pequeno resto» já tinha arrumado estes sonhos
inúteis mas, na prática, era isto que esperavam. Quando Pedro ouve Jesus falar da Sua paixão,
chama-O à parte, para O demover deste propósito; a mãe dos filhos de Zebedeu pede para eles
um lugar de relevo no reino; e Jesus surpreende os Apóstolos a discutir entre si qual deles era o
maior, o mais importante no reino.

Não é também este o sonho que acalentamos acerca da situação da Igreja no mundo? Não
estamos à espera de triunfalismos dela que reduzam ao silêncio e à inação os seus adversários,
enquanto, de fora, contemplamos e aplaudimos, felizes, a vitória dela? Não falamos com tanta
frequência no triunfo de sabor mundano? Jesus apresenta-Se humildemente montado num
jumentinho, e não num luxuoso cavalo bem ajaezado; não ostenta quaisquer insígnias que
lembrem a Sua realeza. Vem, como sempre, revestido de simplicidade e humildade e pede que
a Igreja O imite.

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b) As armas do sofrimento. Isaías apresenta o Servo do Yhaveh – figura do Messias profetizado
– triunfando pelo sofrimento, pela paciência e pela mansidão. Não trava com ninguém uma
luta corpo a corpo, porque não é este o caminho que o Pai escolheu. Alcançará o triunfo pelo
Amor sem limites. Com toda a paciência, sem voltar o rosto, desarma os Seus adversários,
que esperavam enfrentar dificuldades. O seu ouvido atento vai recolhendo o que o Senhor lhe
manda.

Nós, porém, somos tentados a fazer da fuga a tudo o que exige de nós sacrifício, o ideal da nossa
vida, e uma tática de combate. Por este caminho não chegaríamos nunca, com Jesus Cristo, ao
Calvário e, por ele, à glorificação eterna.

c) A fidelidade. É a grande lição do caminho da Cruz. Ao terminá-lo, Jesus pode exclamar:


«Tudo está consumado!» Tal como fora profetizado no servo de Yhaveh, Jesus não volta o rosto
para Se esquivar dos golpes, não Se retrai perante o sofrimento, mas leva até o fim, com divina
fidelidade, os desígnios do Pai.

Este caminhar a direito segundo a vontade de Deus, sem desvios nem paragens nos deveres,
sem recuos, também quando a fidelidade não é aplaudida, é o ideal cristão. A mensagem da
Paixão de Jesus tem uma utilidade especial para os nossos dias em que muitos sonham com um
cristianismo sem renúncias, sem mandamentos nem dificuldades.

2. A Paixão de Jesus, prova de Amor supremo

Perante o desconcerto dos Apóstolos, dos discípulos e também do nosso, Jesus entrega-Se à
Paixão e Morte. É a passagem obrigatória pelo túnel que dá para a glorificação final, pela
Ressurreição.

a) Lição e prova de Amor. Jesus anunciara: «Ninguém tem mais amor do que aquele que dá
a sua vida pelo irmão.» Um só ato de amor ao Pai seria suficiente para nos resgatar, porque
tem valor infinito. Por que nos dá, então, esta grandiosa lição de sofrimento generoso? Nunca
vislumbraremos até ao fim os desígnios de Deus. Mas a nossa limitada inteligência pode ver
nisto a pedagogia de Deus.
Este era o único modo de nos fazer entender o Seu Amor por nós. Também nisto somos o oposto
de Deus. Como regra, tentamos reduzir a nossa generosidade ao mínimo indispensável.

Também com isto combateu a nossa tendência doentia para banalizar o pecado. Tremendo deve
ser, para pedir uma tal reparação.

b) O caminho da Cruz. É também o nosso caminho. Quer queiramos, quer no, caminhamos de
cruz aos ombros e devemos levá-la com generosidade. É constituída pelas nossas limitações de
criaturas, pela incompatibilidade de feitios dos que vivem conosco, pelas doenças, contradições
e tantas outras coisas que nos fazem sofrer.

Nenhuma perspectiva de sofrimento nos autoriza a recuar na vida cristã, desviando-nos para o
caminho da cobardia, da fuga ao que exige sacrifício. Seguindo este mesmo caminho, muitos
irmãos nossos caminharam até ao martírio. Basta pensar num S. Tomás Moro decapitado pela
sua fidelidade à fé; em Santa Maria Goretti, para se manter fiel ao sexto e nono mandamentos;
aos milhares de mártires da guerra civil espanhola e a tantos outros.

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Por ele têm seguido os santos de todos os tempos, sem recuos estratégicos, nem cedências a
caprichos humanos, na realização fiel da vontade de Deus. Podem faltar-nos a coragem e a
força, mas havemos de contar com Deus, se Lhe pedirmos ajuda com humildade
.
c) Caminho de glorificação. O caminho do cristão está cheio de exigências desconcertantes.
Como é possível, optando pela cruz, alcançar a felicidade que tanto desejamos? À nossa frente
vai Jesus Cristo, com a Cruz aos ombros, dizendo-nos, com a palavra e com o exemplo, que este
é o verdadeiro caminho para sermos felizes.

Como podemos conquistar amigos e atraí-los ao caminho da salvação eterna, se nos opomos aos
seus desejos e convites? Gostamos instintivamente de ser simpáticos, conquistar amores para
edificar uma família. Não é conspurcando-nos na lama da impureza, pactuando com injustiças
e mentiras, que alcançaremos a amizade de todos.

A celebração da Eucaristia – renovação do mistério pascal de Cristo – é a lembrança perene


deste caminho de felicidade que havemos de seguir. É uma celebração de todo o Corpo Místico,
tendo Jesus como Cabeça e Sumo Sacerdote. Todos nós estamos envolvidos, como sacerdotes
e vítimas, neste único sacrifício aceito pelo Pai, para nossa Redenção. Participemos nele com
uma consciência cada vez mais profunda.

Sigamos o exemplo de Maria Santíssima, contemplando, em silêncio, o mistério da Cruz do


Salvador.

Roteiro Homilético – II Domingo de Páscoa – Ano A

Sugestões para a homilia


1.Meu Senhor e meu Deus
2. Fé mais preciosa que o ouro
3. Assíduos ao ensino dos Apóstolos

1. Meu Senhor e meu Deus

S. João conta-nos como Jesus apareceu aos Apóstolos no domingo de Páscoa e, depois, no de
Pascoela, que hoje recordamos. E como tiveram dificuldade em acreditar na ressurreição do
Mestre. «Bem aventurados os que não viram e acreditaram» – diz-lhes. Não vemos a Jesus, mas
sabemos que está vivo aqui conosco, porque Ele o disse. As dúvidas de Tomé, permitidas por
Deus, reforçam a nossa fé. Vemos que não eram crédulos nem se deixaram levar por fantasias.
Ao tocar nas chagas, o apóstolo faz um ato de fé muito belo na divindade de Jesus. É uma
oração muito bonita que podemos repetir muitas vezes, durante a Santa Missa, saboreando-a no
íntimo da nossa alma: Meu Senhor e meu Deus!

Muitos hoje não querem acreditar naquilo que Jesus ensinou mas vão para a bruxa, para os
astrólogos e para as seitas que os iludem e exploram.Temos de procurar conhecer sempre
melhor o que Deus nos revelou e continua a ensinar-nos pela Sua Igreja. Não basta dizer que
acreditamos. Temos de tomar a sério o que Jesus nos disse, sem discutir o que não agrada. O
pecado de heresia está em negar alguma verdade revelada ou pô-la em dúvida. O papa João
Paulo I ensinava numa das suas catequeses: «A minha mãe dizia-me quando já era crescido:
Em pequeno estiveste muito doente; tive de levar-te de um médico para outro e velar noites

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inteiras; acreditas no que te digo? Como poderia eu dizer: – mãe, não creio? Mas sim: creio.
Creio o que me dizes, mas creio-te sobretudo a ti. Assim acontece com a fé. Não se trata só de
crer no que Deus revelou, mas sim a Ele, que merece a nossa fé, que nos amou tanto e tanto fez
por nosso amor» (Aloc.13-IX-78)

2. Fé mais preciosa que o ouro

Que sejamos homens e mulheres de fé grande. Ela é dom maravilhoso que temos de estimar e
guardar e comunicar aos outros. S. Pedro dizia-nos que é «muito mais preciosa que o ouro».
Mesmo no meio das perseguições e provações «é para vós fonte de alegria inefável e gloriosa»
(2ª leit.). Amamos a Cristo sem O ver como Ele é, acreditamos nEle, vivemos com Ele cá
na terra, participando já da Sua Ressurreição gloriosa pela vida nova que nos comunicou no
Batismo. E temos, pela esperança viva, a certeza de alcançar essa herança que não se corrompe,
a felicidade eterna no Céu. Só há uma coisa que pode tirar-nos a alegria. É o pecado, porque nos
afasta de Deus, que é a própria felicidade.

Para vencer o pecado Jesus deixou, no dia de Páscoa o Sacramento do perdão. Ele é por
excelência o Sacramento da alegria, que temos de agradecer a Jesus. É a Sua prenda de pascal
para a Igreja. É o sacramento da misericórdia de Deus. Santa Faustina Kowalska, religiosa
polaca, difundiu no mundo a devoção à Divina Misericórdia e pediu a instituição da sua festa
precisamente neste Domingo de Pascoela. Foi o que fez o papa João Paulo II, seu conterrâneo.
O Senhor quis chamá-lo para Si na vigília deste dia depois da celebração, no seu quarto, da
Santa Missa.

A misericórdia de Deus manifesta-se de modo especial no Sacramento do Perdão. Por Jesus e


através dos sacerdotes Ele perdoa os pecados dos homens, sem excluir ninguém. Ele é o pai
da parábola à espera do filho pródigo que se afastou da casa paterna, que o recebe de braços
abertos e o cobre de beijos. Com o Seu amor misericordioso anima-nos a regressar através do
arrependimento e por uma acusação humilde dos nossos pecados.

Jesus aparece aos Apóstolos com o Seu corpo glorificado, mas conserva as chagas. Elas são o
sinal do amor infinito que tem aos pecadores de todos os tempos.
Explicavam a um miudito a história de Judas, o seu remorso e como foi enforcar-se numa
figueira.

– Tu se tivesses a desgraça de atraiçoar a Jesus farias como Judas?


– Faria sim!
– Irias dependurar-te como ele?
– Sim…Só que em vez de dependurar-me numa árvore, iria dependurar-me no pescoço de
Jesus, pedindo-Lhe que me perdoasse.

3. Assíduos ao ensino dos Apóstolos

Os primeiros cristãos são modelos sempre atuais para os de hoje. A primeira leitura resume a sua
vida de discípulos de Cristo, que viviam a sério a sua fé. «Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos,
à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações». Estavam atentos aos ensinamentos dos
Apóstolos, arranjavam tempo para escutar a sua pregação. E eram perseverantes, assíduos.
Empregavam os meios para conhecerem melhor a sua fé. Não iam atrás de qualquer vendedor
da banha da cobra, mas daqueles que o Senhor pôs à frente da Sua Igreja.
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No Credo professamos a nossa fé e dizemos: Creio na remissão dos pecados. Essa remissão
dá-se no Batismo e no Sacramento da Penitência. Hoje temos de estar mais atentos àquilo que o
Sucessor de Pedro nos ensina sobre a confissão. João Paulo II tantas vezes lembrou a necessidade
de acudir a este sacramento da misericórdia. Na festa da Divina misericórdia de 2002 (7 de
Abril) publicou um Motu próprio chamando a atenção para alguns pontos importantes:

«Na incessante praxe da Igreja ao longo da história, o ‘ministério da reconciliação’ (2 Cor 5,18),
atuada mediante os sacramentos do Batismo e da Penitência, revelou-se sempre um empenho
pastoral vivamente prezado, realizado segundo o mandato de Jesus como parte essencial do
ministério sacerdotal. A celebração do sacramento da Penitência conheceu, ao longo dos
séculos, uma evolução com diversas formas expressivas, mas sempre conservando a mesma
estrutura fundamental que compreende necessariamente, além da participação do ministro – só
um Bispo ou um presbítero, que julga e absolve, cura e sara em nome de Cristo –, os atos do
penitente: a contrição, a confissão e a satisfação.

Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, escrevi: «Solicito ainda uma renovada coragem
pastoral para, na pedagogia quotidiana das comunidades cristãs, se propor de forma
persuasiva e eficaz a prática do Sacramento da Reconciliação. Em 1984, como recordareis,
intervim sobre este tema através da Exortação pós-sinodal Reconciliatio et paenitentia, na
qual foram recolhidos os frutos da reflexão da Assembleia Geraldo Sínodo dos Bispos dedicada
a esta problemática. Lá convidava a que se fizesse todo o esforço para superar a crise do
‘sentido do pecado’. […] Quando o referido Sínodo se debruçou sobre o tema, estava à vista
de todos a crise deste Sacramento, sobretudo nalgumas regiões do mundo. E os motivos que
a originaram, não desapareceram neste breve espaço de tempo. Mas o Ano Jubilar, que foi
caracterizado particularmente pelo recurso à Penitência sacramental, ofereceu-nos uma
estimulante mensagem que não deve ser perdida: se tantos fiéis – jovens muitos deles – se
aproximaram frutuosamente deste Sacramento, provavelmente é necessário que os Pastores
se armem de maior confiança, criatividade e perseverança para o apresentarem e o fazerem
valorizar». (nº 37)

Com estas palavras, quis e quero encorajar e, ao mesmo tempo, dirigir um forte convite aos
meus irmãos Bispos – e, através deles, a todos os presbíteros – para um solícito relançamento do
sacramento da Reconciliação, inclusive como exigência de autêntica caridade e de verdadeira
justiça pastoral, (CDC can.213 e 843) lembrando-lhes que cada fiel, com as devidas disposições
interiores, tem o direito de receber pessoalmente o dom sacramental…

Nas atuais circunstâncias pastorais, para atender aos pedidos apreensivos de numerosos Irmãos
no Episcopado, considero conveniente recordar algumas leis canónicas em vigor sobre a
celebração deste sacramento, especificando certos aspectos para, em espírito de comunhão com
a responsabilidade que é própria de todo o Episcopado, (LG 23, 27) favorecer uma melhor
administração daquele. Trata-se de tornar efectiva e de tutelar uma celebração cada vez mais
fiel, e portanto sempre mais proveitosa, do dom confiado à Igreja pelo Senhor Jesus depois
da ressurreição (cf. Jo 20, 19-23). Isto revela-se especialmente necessário quando se observa
em certas regiões a tendência ao abandono da confissão pessoal, juntamente a um recurso
abusivo à «absolvição geral» ou «colectiva», de modo que esta deixa de ser vista como meio
extraordinário em situações totalmente excepcionais.

Partindo de um alargamento arbitrário do requisito da grave necessidade (CDC, can.961), perde-


se de vista praticamente a fidelidade à configuração divina do sacramento, e concretamente a
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necessidade da confissão individual, com graves danos para a vida espiritual dos fiéis e para a
santidade da Igreja». E o papa lembra concretamente: «a) ‘A confissão individual e íntegra e a
absolvição constituem o único modo ordinário pelo qual o fiel, consciente de pecado grave, se
reconcilia com Deus e com a Igreja; somente a impossibilidade física ou moral o escusa desta
forma de confissão, podendo neste caso obter-se a reconciliação também por outros meios’. (Ib.
can.960) b) Por isso, ‘todo aquele que, em razão do ofício, tem cura de almas, está obrigado a
providenciar para que sejam ouvidas as confissões dos fiéis que lhe estão confiados e que de
modo razoável peçam para se confessar, a fim de que aos mesmos se ofereça a oportunidade de
se confessarem individualmente em dias e horas que lhes sejam convenientes’. (Ib.c.986)

Além disso, todos os sacerdotes com faculdade de administrar o sacramento da Penitência,


mostrem-se sempre e plenamente dispostos a administrá-lo todas as vezes que os fiéis o peçam
razoavelmente. (Cf.PO, 13) A falta de disponibilidade para acolher as ovelhas feridas, mais,
para ir ao seu encontro e reconduzi-las ao aprisco, seria um doloroso sinal de carência de
sentido pastoral em quem, pela Ordenação sacerdotal, deve reproduzir em si mesmo a imagem
do Bom Pastor.

2. Os Ordinários do lugar, bem como os párocos e os reitores de igrejas e santuários, devem


verificar periodicamente se existem efectivamente as maiores facilidades possíveis para as
confissões dos fiéis. De modo particular, recomenda-se a presença visível dos confessores nos
lugares de culto durante os horários previstos, a acomodação destes horários à situação real dos
penitentes, e uma especial disponibilidade para confessar antes das Missas e mesmo para ir de
encontro à necessidade dos fiéis durante a celebração da Eucaristia, se houver outros sacerdotes
disponíveis. (C.Culto Divino)

3. Visto que ‘o fiel tem obrigação de confessar, na sua espécie e número, todos os pecados
graves de que se lembrar após diligente exame de consciência, cometidos depois do batismo e
ainda não directamente perdoados pelo poder das chaves da Igreja nem acusados em confissão
individual’, (CDC, can.988) seja reprovado qualquer costume que limite a confissão a uma
acusação genérica ou somente de um ou mais pecados considerados significativos. Por outro
lado, levando-se em conta a chamada de todos os fiéis à santidade, recomenda-se-lhes que
confessem também os pecados veniais» (Ib.). (Motu próprio Misericordia Dei).

Bento XVI tem lembrado esta doutrina uma e outra vez. Na Exortação Sacramento da Caridade
recorda «o dever pastoral do Bispo…de favorecer entre os fiéis a confissão frequente» (21)
Peçamos à Virgem que saibamos imitar os primeiros cristãos nesta escuta atenta dos ensinamentos
do Magistério da Igreja.

Roteiro Homilético – III Domingo de Páscoa – Ano A

Sugestões para a homilia

Jesus Cristo caminha conosco

Neste terceiro Domingo da Páscoa, S. Lucas descreve-nos a aparição de Jesus ressuscitado aos
discípulos de Emaús. Lembremos que Maria Madalena não reconheceu Jesus, quando O viu
pela primeira vez. Os seus olhos embaçados pelas lágrimas não a deixavam ver bem. Pensou
que era o jardineiro. Os discípulos de Emaús também não O reconhecem devido à sua profunda

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tristeza. Estavam desiludidos! Como bons israelitas esperavam um Messias glorioso e libertador.
Jesus tinha morrido e com a sua morte desmoronou-se o sonho, perdeu-se a esperança: «Nós
esperávamos que Ele viria libertar Israel! Mas já lá vai o terceiro dia depois da sua morte!»
Tinham vivido com Jesus durante três anos, mas só isso não foi suficiente. Tinham visto os
milagres e podiam afirmar que Jesus foi um «Profeta poderoso em obras e palavras», mas
só isso não chegou. Tinham escutado o testemunho das santas mulheres, falando do túmulo
vazio, mas como a «Ele não o tinham visto», só isso não os convenceu. Tinham caminhado
com Jesus como companheiro de viagem. Tinham desabafado com Ele acerca do que se tinha
passado em Jerusalém naquela Sexta-feira. Tinham ouvido a Palavra da Escritura, mas a ideia
de um Messias triunfal não se adaptava minimamente a Jesus Cristo carregado de sofrimentos,
humilhado até à morte e morte de cruz. Como seria possível acreditar em alguém que morreu
condenado à morte mais cruel e humilhante?

É certo que os profetas tinham anunciado esta morte redentora. O próprio Jesus por várias
vezes predissera tudo quanto aconteceu. Por isso fez-lhes uma forte repreensão «ó gente sem
compreensão e lentos de espírito! Não tinha o Messias de sofrer tudo isso para se cumprir o que
os profetas tinham anunciado e assim entrar na sua glória?

O seu coração foi aquecendo: «não ardia cá dentro o coração quando Ele falava?», mas ainda
não acreditavam. Isto significa que não basta apenas ouvir a Palavra, conhecer a Escritura!
Pode saber-se o que está escrito na Bíblia e não creditar em Deus! Conhecemos muita gente que
acredita no Jesus da História, mas não acreditam que Ele esteja vivo. Para os discípulos de Emaús
nem mesmo a presença de Jesus ressuscitado foi suficiente para acreditar! Verdadeiramente
pode o Senhor estar muito perto e caminhar ao nosso lado e nós não O reconhecermos, se não
tivermos fé.

«Jesus fez menção de seguir para diante», dispondo-se a deixá-los. Contudo, eles convidaram-
no: «Fica connosco, Senhor porque vem caindo a noite». Foi um gesto de simpatia, mostrando
a sua hospitalidade e a sua gratidão. Sentiam-se bem na presença deste companheiro, que fazia
renascer a esperança, inflamando os seus corações. Jesus aceitou o convite, entrou em casa e
tomou lugar com eles à mesa. Depois «tomou o Pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho».
Que maravilha! Reviviam a Quinta-feira anterior! «Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e
reconheceram-n’O».

Se a fé de muitos cristãos é fria e espiritualmente pouco produtiva não será por falta de alimento?
Andamos desfalecidos e com fome?! Na Eucaristia Jesus está vivo no meio de nós. Aqui todos
O podem encontrar, para O ouvir, para O receber. Aqui Ele torna-se nosso companheiro de
viagem. Aqui Ele oferece-nos o alimento que mata a nossa fome de infinito. Está escrito: «Os
discípulos reconheceram o Senhor Jesus na fração do Pão».

Roteiro Homilético – IV Domingo da Páscoa (Ano A)

Sugestões para a homilia

Síntese da Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações
Foi publicada em 22/2/2008 a mensagem do Papa para o 45.º Dia Mundial de Oração pelas
Vocações que terá lugar a 13 de Abril próximo.

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Bento XVI recorda o mandato de Jesus ressuscitado aos apóstolos: «Ide, pois, fazei discípulos
meus entre todas as nações, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo»; «Eu
estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo».

Na mensagem papal é lembrado que, Jesus escolheu os discípulos como seus directos
colaboradores no ministério messiânico. E acrescenta: por exemplo, na multiplicação dos pães,
quando disse aos Apóstolos «dai-lhes vós mesmos de comer», animando-os a assumir o peso
das necessidades das multidões, às quais queria oferecer o alimento para saciar-lhes a fome,
mas também revelar o alimento «que dura para a vida eterna». Do seu olhar de amor brotava
o convite aos discípulos: «Pedi ao Senhor da messe, que mande operários para sua messe». O
que «impeliu» os Apóstolos, tanto no início como no decorrer dos tempos, foi sempre «o amor
de Cristo», sublinha Bento XVI.

Entre os que se dedicam totalmente ao serviço do Evangelho estão, de modo particular,


muitos sacerdotes chamados para anunciar a Palavra de Deus, administrar os sacramentos,
especialmente a Eucaristia e a Reconciliação, dedicados ao serviço dos mais débeis, dos doentes,
dos sofredores, dos pobres e dos que passam por momentos difíceis. Bento XVI reserva uma
palavra de especial reconhecimento aos padres “fidei donum” que edificam a comunidade com
competência, generosidade e dedicação, anunciando a palavra de Deus e repartindo o pão da
vida, sem pouparem as suas energias ao serviço da missão da Igreja. E dá também graças a Deus
pelos numerosos sacerdotes que tiveram de sofrer até ao sacrifício da vida por servir a Cristo.

Uma última referência dedica-a o Papa aos religiosos, homens e as mulheres, que desde sempre
na Igreja, movidos pela acção do Espírito Santo, optaram por viver radicalmente o Evangelho.
«Esta multidão de religiosos e de religiosas, de vida contemplativa e ativa, sempre tem tido
uma parte importantíssima na evangelização do mundo», sublinha a mensagem.
Redacção / Rádio Vaticano

O Laicismo e o Materialismo contestam o Cristianismo

Para muitos fautores do Laicismo e do Materialismo a vida do homem sobre a terra é um


«processo» que termina com a execução. A morte tem a última palavra. A vida, neste mundo, é
antecâmara do nada. Os bens que produzimos tornam-se donos do homem que, por sua vez, se
torna escravo da máquina. A matéria domina e desonra o homem. Por tudo isto, proclamamos
a superioridade do espírito e de Deus sobre a matéria, professando a fé na ressurreição. Esta
postura não significa menosprezar a matéria e o corpo, mas antes dar-lhe a garantia da dignidade
definitiva, afirmar a sua capacidade de salvação, e a sua pertença ao todo da criação de Deus

Desta forma, a fé na ressurreição é a renúncia mais radical e dramática do materialismo.


O ressuscitado, «Cristo que é a Porta», arranca-nos do Materialismo para a liberdade do
espírito, que dignifica a matéria e respeita a sua grandeza específica.

A ressurreição de Cristo afirma a primazia do amor e da vida. Jesus Cristo não morreu contra
ninguém, mas por todos. O Seu sangue não exige sangue, mas reconciliação e amor, o fim da
inimizade e do ódio. (Nota – Estas ideias são tiradas do Livro «Esplendor da Glória de Deus,
de Bento XVI).

Perante isto, mais do que nunca, precisamos de vocações definidas, vocações que através de
sua vida proclamem o que Cristo diz no Evangelho de hoje: «Eu sou a porta. Quem entrar por
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Mim será salvo» (São João 10, 9). E em São João 10, 10, afirma-se: «O ladrão não vem senão
para roubar, matar e destruir. Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em
abundância».

Para ter vida em abundância, a escolha da vocação é uma prioridade. Quem escolhe ser casado,
solteiro, sacerdote, religioso, médico, professor, engenheiro, etc, fá-lo porque julga ser esta a
vontade de Deus e o melhor caminho para ser santo.Cristo é a «Porta». Sem Cristo, como ponto
de referência, a minha vida não tem entrada nem saída. Sentir-me-ei bloqueado.

Cristo é a «Porta». Quer-me com os pés na terra e sempre projectado para a eternidade.

Roteiro Homilético – V Domingo da Páscoa (Ano A)

Sugestões para a homilia

1. O testamento de Jesus
2. O serviço à comunidade
3. Os cristãos, as pedras vivas

1. O testamento de Jesus

No Evangelho deste domingo ouvimos uma leitura que, aparentemente, deveria ser feita antes
da Páscoa. Refere-se ao primeiro discurso de despedida pronunciada por Jesus, durante a Última
Ceia. Todavia, se repararmos bem, Jesus está a indicar as últimas vontades antes da Sua Paixão
e Morte. Na verdade, qualquer testamento é previamente comunicado e somente validado após
a morte de quem o prescreveu. Logo, as palavras de Jesus têm o propósito de ser dirigidas para
todos os discípulos de todos os tempos, e só poderiam ser plenamente entendidas depois da
Páscoa.

Os discípulos deveriam seguir o «caminho» difícil que Ele ia percorrer, porque o conheciam,
pois já havia falado dele muitas vezes. À interpelação de Tomé de que eles não conheciam
tal «caminho», Jesus explica que vai ser O primeiro a fazê-lo. Será o caminho da Páscoa. Tal
«caminho» será difícil e exigirá a entrega da Sua vida pelos irmãos. Quando um cristão decide
seguir esse caminho percorrido por Jesus já se encontra na «casa do Pai». Não é o Céu, mas a
própria comunidade, onde há muitos espaços, afazeres e tarefas a desempenhar.

2. O serviço à comunidade

Por tal motivo, todo o cristão deve ser ativo no serviço à comunidade, pois os trabalhos são
imensos e só quem não foi tocado pela fé na Ressurreição é que continua paralisado. O lugar
que Jesus nos prepara não é determinado pelo critério dos homens. Estes apoiam-se no poder,
na influência social, na fortuna que possuem, mas sustentado pelo melhor serviço que na
comunidade se presta a cada irmão.

E ao pedido de Filipe para que «lhes mostrasse o Pai, pois isso lhes bastaria», a resposta é
basilar: Para ver o Pai, basta olhar para Cristo, ver bem o que Ele faz, o que Ele diz, como Se
relaciona, como ama, quem escolhe, quem acarinha, por quem se deixa afagar, quem acompanha
nas refeições, a quem recebe, a quem admoesta, a quem resguarda, quem visita, porque o Pai

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procede do mesmo modo. Pois Jesus é o rosto humano de Deus Pai.

3. Os cristãos, pedras vivas

Todavia, a Igreja é constituída por todos nós, homens e mulheres sempre sujeitos a cobiças,
invejas e desentendimentos. Todavia, isto deve constituir motivo de desânimo, pois todos nós
somos pecadores que nos devemos reconverter quotidianamente a Cristo.

A primeira comunidade de Jerusalém também passou por estas dificuldades, mas conseguiu
ultrapassá-las, como ouvimos na primeira leitura. Os apóstolos, cientes das dificuldades
encontradas, sentem a necessidade de agregar ao seu ministério sacerdotal uma comunidade
ministerial, ordenando para esse serviço os diáconos. O único título de honra que lhes é
atribuído é o de serem «servos» dos mais pobres, «o rosto sofredor de Cristo, farol da esperança,
porventura, para os que já a perderam». Mas, nesta comunidade ministerial, todos nós devemos
estar comprometidos em algum ministério, isto é, em algum serviço a favor da comunidade.

Lembremo-nos que Jesus, «pedra viva rejeitada pelos homens», constitui a pedra angular da
Igreja, o conjunto de todos os baptizados. Embora sujeitos a quedas, dada a nossa limitada e
fraca natureza humana, mas com oportunidade de reconversão, cada um de nós só será «pedra
viva» desse edifício se percorrer este caminho em comunidade, procurando levar uma vida
respeitável, incensurável e repleta de atos de amor. Só assim cumpriremos a nossa vocação
cristã de sacerdotes, profetas e reis, como nos adverte S. Pedro na segunda leitura de hoje.
Então tornar-nos-emos realmente as «pedras vivas» do templo do Senhor.

Roteiro Homilético – VI Domingo da Páscoa (Ano A)

Sugestões para a homilia

1. A Terra inteira aclame o Senhor.


2. Somos chamados a ser anunciadores de Jesus ressuscitado.
3. É urgente anunciá-lO.

1. A Terra inteira aclame o Senhor.

E a Terra inteira aclamará o Senhor quando verdadeiramente O conhecer e amar. Ninguém


ama o que não conhece. E para que este conhecimento seja possível, é necessário alguém que
O anuncie. Este anúncio, deve ser concretizado com a vivência do cumprimento generoso e
integral da vontade de Deus, nosso Pai, e que se encontra expressa nos Seus mandamentos.

Após o martírio de Estêvão, os cristãos de Jerusalém, sobretudo os de origem helenista, foram


perseguidos. A maioria fugiu para o norte de Israel. O ardor apostólico, que tinham dentro de
si, levou-os a anunciar, com entusiasmo, o Evangelho aos povos que encontraram. Filipe, foi
para a Samaria, onde as multidões, ao escutarem as suas palavras, abraçaram a fé, com alegria.
Perante aqueles que porventura se mostrassem contrários, S. Pedro, na 2ª Leitura da Missa de
hoje, recomendou brandura e respeito. Eis o que nos compete também fazer em igualdade de
circunstâncias.
2. Somos chamados a ser anunciadores de Jesus ressuscitado.

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Como os primeiros cristãos, também nós, nos devemos sentir impelidos pelo desejo de anunciar
a Boa Nova que é o Evangelho, àqueles que ainda a desconhecem. E são tantos, tantos! Como
é urgente uma Nova Evangelização!

Só a aceitação do anúncio de Jesus ressuscitado, dá sentido e alegria à vida e verdadeira


tranquilidade ao viver dos homens. Tão extraordinário e importantíssimo empreendimento,
deverá concretizar-se, com o testemunho das nossas vidas. Esta meta, tão desejada, será
atingida na medida em que alegre e integralmente cumprirmos os mandamentos da Lei de
Deus, como Jesus nos indica no Evangelho da Missa de hoje: «Se Me amardes, guardareis os
meus mandamentos.» «Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me
ama», «Não são os que dizem Senhor! que entram no Reino, mas os que fazem a vontade de Meu
Pai», nos afirma Jesus no Evangelho de S. Mateus (Mt 7, 21-23). Ninguém será instrumento de
evangelização se não estiver evangelizado, se não se sentir amado por Deus e não corresponder
ao Seu Amor.

3. É urgente este anúncio.

As infidelidades, imoralidades, divórcios, mortes, guerras, infanticídios e todas as atrocidades


e retrocessos sociais, causadores de tanto sofrimento e lágrimas, são consequência lógica do
seguimento de caminhos errados, isto é, contrários aos mandamentos libertadores de Deus,
nosso Pai.

Como corremos o risco de também cometer desvios tão perniciosos, precisamos muito da ação
do Divino Espírito Santo, o Defensor, o Espírito da Verdade, que o Senhor promete e a todos
quer enviar. A Sua vinda, será uma realidade, na medida em que houver capacidade para O
receber. Tal só poderá existir num coração humilde, sincero, verdadeiro, desprendido de honras
e vaidades terrenas, isto é, desapegado das coisas mesquinhas deste mundo, mas cheio de fé e
amor ao Senhor, voltado para os reais valores do Evangelho. Foi e é assim o Coração Imaculado
da Mãe de Deus, Maria Santíssima, que se confessou sinceramente, Serva humilde e Escrava do
Senhor. Só com um coração semelhante ao de Nossa Senhora, há lugar para Deus e compreensão
para aceitar, com entusiasmo e amor, a vontade do Pai, em Quem verdadeiramente se confia e
se sabe que se depende. Bem-aventurados os humildes.

A Nova Evangelização, tão insistentemente recomendada pelo saudoso Servo de Deus João
Paulo II, passa pelo testemunho do cumprimento integral e alegre dos mandamentos do Senhor.
Todos eles são expressão do Amor de Deus pelos homens e o seu cumprimento comprovam a
verdadeira correspondência a esse Amor. «Olhai, como eles se amam», diziam os pagãos dos
primeiros cristãos e esta vivência atraía-os para o seio da Igreja.

Que Nossa Senhora nos obtenha de Seu Divino Filho a graça de A imitar, para que, bem cheios
do Divino Espírito Santo, a todos possamos anunciar, com convicção e entusiasmo, as razões da
nossa fé para encontrarem os caminhos que garantem a verdadeira felicidade terrena e eterna.
Assim estaremos a dar o nosso humilde, mas necessário contributo para que «a Terra inteira
aclame o Senhor».

42
Roteiro Homilético – Ascensão do Senhor – Ano A

Sugestões para a homilia

1. A Ascensão de Jesus, nosso caminho


Acolher a mensagem de Jesus
Guardar a fé na Ressurreição
Prepara a vinda do Espírito Santo
2. Temos um programa para realizar
Somos testemunhas de Cristo no mundo
Jesus Cristo está conosco
Continua a Sua missão por meio de nós

A Solenidade da Ascensão de Jesus que hoje celebramos sugere-nos que, no final de um caminho
percorrido na terra com amor e doação, teremos a vida definitiva, em comunhão com Deus.
Lembra-nos que Jesus nos confiou a missão, como Seus discípulos, de continuarmos a missão
evangelizadora, sendo Suas testemunhas até aos confins do mundo.

1. A Ascensão de Jesus, nosso caminho

a) Acolher a mensagem de Jesus. «foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo,
as suas instruções aos Apóstolos que escolhera.» Caminhamos para o Céu, mas o Senhor
confia-nos um programa para realizar antes, na vida presente. Para que possamos desempenhar
bem esta missão, temos necessidade de conhecer bem o que Deus quer de nós. Jesus Cristo
ensina-nos cuidadosamente, não só o que é preciso realizar, mas também como fazê-lo. A
preparação de cada fiel para a ação apostólica indispensável. Não basta a boa vontade dos que
se disponibilizam para tomar parte na ação da Igreja.

Quando tanto se exalta a qualificação profissional, a preparação especializada para cada


trabalho, como poderíamos esperar uma Igreja eficiente na sua atuação, se os fiéis dão tudo por
sabido e não se preparam para evangelizar? Deus não quer dispensar-nos daquilo que podemos
fazer, como não substituiu o jovem na oferta dos pães e dos peixes, nem os serventes de Caná
da Galileia no enchimento das talhas de água.

Os Apóstolos escutaram com a melhor atenção os ensinamentos de Jesus, quer ao longo da vida
pública, quer neste momento das últimas recomendações.

b) Guardar a fé na Ressurreição. «Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou
vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de
Deus.» A Ressurreição de Cristo é o fundamento da nossa esperança. «Pois se não há ressurreição
dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação,
é também vã a nossa fé.» (I Cor 15, 13-14).

Precisamos estar preparados para aguentar a pé firme o choque com as outras mentalidades, a
tentação de nos deixarmos nivelar e correr, como os outros e com eles, atrás de banalidades.
Como poderíamos ser, pela nossa esperança, uma chamada permanente ao amor de Cristo? Ele
preveniu-nos no Cenáculo: «haveis de chorar e gemer, e o mundo se há-de alegrar; haveis de
estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria. […] Vós, pois, agora estais

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tristes, mas hei-de ver-vos de novo, e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos tirará a vossa
alegria.» (Jo 16, 20. 22.)

Encaramos a Ascensão do Senhor com alegria, porque é a Boa Nova. O Senhor coroou a Sua
obra redentora com a subida gloriosa ao encontro do Pai. Nós iremos ao Seu encontro, terminada
esta prova de amor na terra. Foi à nossa frente, para nos preparar um lugar, como ensinou no
discurso da Última Ceia. Vivemo-lo em ação de graças, ao contemplar tudo quanto Ele fez por
nós.

c) Prepara a vinda do Espírito Santo. «Um dia […], mandou-lhes que não se afastassem de
Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, ‘da Qual – disse Ele – Me ouvistes falar.
Na verdade, […] sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias’.» Antes de nos
entregarmos à vida apostólica, é necessário que nos confiemos à ação do Espírito Santo.
Jesus recomendou insistentemente aos Apóstolos que iniciassem a vida da Igreja, depois de
uma vida intensa de oração. Recolheram-se ao Cenáculo, e ali se prepararam para a vinda do
Espírito Santo.

– Meditavam nos ensinamentos de Jesus. Não se limitavam a recordar os seus ensinamentos,


mas procuravam aplicações práticas à vida.

– Cantavam salmos, e faziam oração individual e colectiva. Sem vida interior, todo o apostolado
é corpo sem alma.

– Estavam reunidos com Maria. Não é por acaso que o livro dos Atos menciona este fato. Desde
o momento em que Deus A escolheu para Mãe de Deus e nossa Mãe, não podemos dispensar a
sua ajuda materna.

2. Temos um programa para realizar

Dois Anjos apresentaram-se como homens vestidos de branco, para libertar os Apóstolos
de ilusões que ainda acalentam. Esperavam, talvez, que Jesus voltasse dentro de momentos,
revestido de glória, para inaugurar triunfalmente o Reino. Eles seriam felizes espectadores do
grande acontecimento. Recordam-lhes que chegou a hora de se entregarem à missão que Jesus
lhes confiou.

a) Somos testemunhas de Cristo no mundo. «Todo o poder Me foi dado no Céu e na Terra. Ide,
pois, fazer discípulos de todas as nações.» Ao recordar-lhes que Aquele mesmo Jesus viria no
fim dos tempos, sugere-nos que chegou a hora dos homens. É o tempo de Jesus atuar no mundo
com o nosso rosto, de falar com o tom da nossa voz, de realizar milagres de Amor com a nossa
generosidade.

Jesus anunciara que seríamos testemunhas d’Ele em toda a terra, até ao fim do mundo. Testemunha
é a tradução latina da palavra grega mártir. Muitas vezes, este testemunho de Cristo será selado
com o sangue dos Seus amigos. Quando nos anunciou que seríamos Suas em todo o mundo,
Jesus lançou-nos um desafio que ouvimos constantemente na boca dos homens: «Mostrai-nos
com as vossas obras que Jesus Cristo vive e nos ama!»

b) Continua a Sua missão por meio de nós. «Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações,
batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinai-lhes a cumprir tudo quanto
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vos mandei.»

O cristianismo não é algo particular, para cada um viver isolado dos outros. Ser cristãos significa
– depois de participar na filiação divina pelo Batismo – travar uma relação pessoal e amizade
com Jesus Cristo.

Não podemos silenciar a felicidade de amar a Jesus Cristo. Ele quer tornar felizes o maior número
de pessoas que é possível; uma vez que descobrimos este tesouro da amizade e participação na
vida íntima de Deus. A solidariedade há-de levar-nos a comunicar esta descoberta a todas as
pessoas.

Como o próprio Senhor indica, fazer discípulos tem um programa concreto a realizar:

– Dar doutrina. Ensinar tudo o que Ele nos revelou. Dar doutrina é a melhor ajuda que hoje
podemos dar a qualquer pessoa. Esta urgência é peculiar em nossos dias, porque a ignorância
religiosa é total em muitos cristãos.

– Vida sacramental. Jesus fala em administrar o Batismo, porta de entrada para todos os outros
sacramentos.

É preciso aproximar as pessoas, depois de as termos preparado bem, para os outros sacramentos,
especialmente o da reconciliação e Penitência e o da Eucaristia.

c) Jesus Cristo está connosco. «E Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos.»
É uma promessa solene que nos faz Jesus Cristo, num momento culminante da Sua vida terrena.
De fato, ao longo da vida pública foi-nos preparando para acolher esta verdade fundamental da
Sua presença.

– No Evangelho sobre o juízo final, diz textualmente: «Em verdade vos digo: todas as vezes
que o fizestes (dar de comer ao faminto, dar de beber ao sequioso, vestir aqueles a quem falta a
roupa indispensável…) foi a Mim que o fizestes.»

– Está presente quando dois ou três se reúnem em Seu nome.

– A Eucaristia que celebramos é rica da presença de Jesus. O Concílio Ecuménico Vaticano II


diz-nos que Ele está nela presente de quatro modos:

• Na assembleia reunida para a Celebração da Santa Missa, porque estamos ali em Seu nome.
Professamos esta verdade quando respondemos à saudação do sacerdote dizendo: «Ele está no
meio de nós!»

• Na Palavra de Deus que é proclamada e explicada.

• No sacerdote que dá um rosto visível a Cristo nesta acção que é d’Ele, da Santíssima Trindade
e de toda a Igreja – no Céu, no Purgatório e na terra. Pelo ministério do sacerdote, em virtude do
espírito Santo recebido na ordenação, Jesus Cristo transubstancia o pão e o vinho que levamos
ao altar no Seu Corpo e Sangue.

• Presente na Santíssima Eucaristia, sob as aparências do pão e do vinho, no só no momento


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da Missa, mas depois em nossos sacrários, para conforto dos doentes e para nossa companhia.
Está sempre conosco. Podemos encontrá-l’O, conversar com Ele quando, onde e sobre o que
quisermos, em qualquer lugar ou momento.

Com a Ascensão gloriosa, Jesus limitou-Se a inaugurar um novo modo de presença adorável
junto de nós. Tornemo-l’O presente junto dos outros, usando bem os Meios de Comunicação
Social.

Roteiro Homilético – Santíssima Trindade – Ano A

Sugestões para a homilia

Se alguém Me ama, guardará a minha Palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos
n’ele a nossa morada (Jo 14,23)
«Bendito seja Deus Pai e o Filho Unigênito de Deus e o Espírito Santo, que usou para
conosco de Sua misericórdia» (Antífona de entrada).

O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de


Deus em Si mesmo. É, pois, a fonte de todos os demais mistérios da fé; é a luz que os ilumina.
É o centro da Liturgia da Igreja, a substância do Novo Testamento. A maior obra do Filho foi
dar-nos a conhecer o Pai. Com a revelação deste mistério, Deus quis incorporar-nos na sua vida
íntima, fazendo-nos participantes da natureza divina:

«Este é a vida eterna: que Te conheçam a Ti, Pai, e Àquele que enviaste, Jesus Cristo» (Jo)
«Toda a história da salvação não é outra coisa senão a história do caminho e dos meios pelos
quais o Deus único e verdadeiro, Pai, Filho e Espírito Santo, se revela, reconcilia consigo os
homens, afastados pelo pecado, e se une com eles» (Catec. I. Cat-, nº 234).

A devoção à Santíssima Trindade é a devoção das devoções. Traduz-se num empenhamento


amoroso em identificar-nos com Cristo, contemplar a sua vida e viver como filhos de Deus.
«A graça de Nosso senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam
convosco» (2ª leitura).

«A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve, desde as origens, na raiz da fé viva da


Igreja, principalmente no ato do Batismo. Encontra a sua expressão na regra de fé batismal,
formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Estas formulações encontram-se
já nos escritos apostólicos, com a saudação recolhida na liturgia eucarística e que vem na 2ª
leitura da missa de hoje» (2 Cor 13, 13) (Catec. I. Cat., nº 249).

Toda a liturgia da Igreja é um louvor à Santíssima Trindade. Ela é a grande verdade que importa
conhecer cada vez melhor e amar. A nossa piedade pessoal, alimentada com as orações tradicionais
do Pai Nosso, da Ave Maria, do Glória ao Pai, do meu Deus eu creio, da oração ensinada pelo
Anjo de Portugal aos Pastorinhos «Santíssima Trindade, adoro-Vos profundamente…» – leva-
nos a relacionar-nos com cada uma das Pessoas Divinas e com todas ao mesmo tempo.

«Deus amou tanto o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigênito…para que o mundo fosse salvo
por Ele» (Evangelho). É admirável a solicitude das três Pessoas Divinas por cada um de nós:
«O Pai, para redimir o servo, não perdoou ao Filho; o Filho, por amor do Pai, entregou-se à

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morte gostosamente, para nos salvar; um e outro enviaram-nos o Espírito Santo que pede por
nós com gemidos inenarráveis» (S. Bernardo).

«Aprende a louvar o Pai e o Filho e O Espírito Santo. Aprende a ter uma devoção particular à
Santíssima Trindade: creio em Deus Pai, creio em Deus Filho, creio em Deus Espírito Santo;
espero em Deus Pai, espero em Deus Filho, espero em Deus Espírito Santo; amo a Deus Pai,
amo a Deus Filho, amo a Deus Espírito Santo. Creio, espero e amo a Santíssima Trindade» (S.
Josemaria).

Voltemo-nos para Maria: Ela é a melhor mestra do amor de Deus. «Ela é Rainha, é Senhora,
é Mãe, que tem a relação mais íntima com a Santíssima Trindade: Filha de Deus Pai, Mãe de
Deus Filho, Esposa de Deus Espírito Santo. E ao mesmo tempo nossa Mãe» (S. Josemaria).

Roteiro Homilético – XI Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

Terceiro milênio
O Senhor conta conosco

O Senhor chamou os Apóstolos e eles deixaram tudo para O seguir (Evangelho). Após a morte
de Jesus para nos salvar (2ª leitura), eles partiram por todo o mundo a anunciar a Doutrina de
Jesus. Outros aceitaram o convite dos Apóstolos para continuarem a Sua missão. E assim , de
geração em geração, a Fé chegou até nós. Como devemos agradecer ao Senhor por pertencermos
à Sua Igreja!

Nós queremos fazer parte do número dos que ouvem a Sua voz (1ª leitura). Quantos ao longo
dos séculos O escutaram e Lhe consagraram a sua vida! Por isso não estamos sós. Todos os que
nos precederam nos impelem a que sejamos apóstolos e missionários sem nunca nos cansarmos
de anunciar Jesus Cristo ao Mundo.

Se no segundo milénio aconteceu o escândalo da divisão dos cristãos (ortodoxos, protestantes e


católicos), queremos contribuir para que no terceiro milénio se concretize o milagre da unidade.
E então os cristãos, todos unidos, serão uma presença tão viva no mundo que as forças das
trevas jamais conseguirão destruir. Como será bom viver no mundo nesse tempo que há-de vir!
Como serão felizes as gerações que nos sucederem! Confiemos inteiramente no Senhor.

O Senhor conta conosco

Trabalhemos incansavelmente pelo reino de Deus. Lutemos contra as injustiças, contra o ódio,
contra a vingança, contra as causas que provocam os atentados, os crimes e a guerra. Dêmos
o nosso contributo para que a vida das pessoas seja respeitada desde a concepção até à morte
natural. Acompanhemos os que vivem sós e abandonados. Ajudemos os que precisam de nós.
Aos que vivem em guerra ensinemos os caminhos da paz. Aos que odeiam ofereçamos o nosso
amor.

A pouco e pouco o mundo será melhor e Cristo virá ao nosso encontro chamando para a Sua
Igreja todos aqueles que, como outrora os Apóstolos, entregam a vida pelo Seu reino.

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Estamos na véspera da festa dum grande santo, invocado e imitado em todo o mundo e que
nasceu em Portugal: Santo António. Desde o século treze continua a ser uma referência para
quem procura o caminho da santidade. Que Santo Antônio nos ajude a pregarmos a Palavra do
Senhor que é na verdade para todos a Palavra da Salvação.

Estamos também na véspera da comemoração da 2ª aparição de Nossa Senhora em Fátima


no dia 13 de Junho de 1917 a Jacinta, Francisco e Lúcia. Eles que já se encontram no Céu
convidam-nos a viver a mensagem de salvação oferecida ao mundo por Nossa Senhora. Vale a
pena, antes de sermos chamados pelo Senhor para a vida eterna, viver no mundo amando-O e
cumprindo até ao fim, sem nunca desanimarmos, a missão que nos confiou.

Roteiro Homilético – XII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

Como é insegura a confiança nos homens.


Repare-se que hoje quase não se confia em ninguém.
Por um lado o homem progride em diversos campos de forma vertiginosa.

Porém, de modo paralelo, fala-se de corrupção, roubos, diversos tipos de violência, faltas de
respeito pela dignidade da pessoa humana, incapacidade de assumir compromissos duráveis,
etc. Pode dizer-se que o homem de hoje perdeu credibilidade.

Mas Deus criou o homem á Sua imagem e semelhança. Após a queda do homem envia Jesus
Cristo para nos salvar (Segunda Leitura). O homem foi reabilitado mas continua a afastar-se de
Deus. Aqui radica a sua pobreza; o seu fracasso, a sua impotência para solucionar os problemas
com que se debate.

Apelo à confiança em Deus

Se o homem não confia em Deus, como pode confiar nos outros homens? Não confiando em
Deus o homem perdeu o ponto de referência, para a sua conduta. O homem de hoje faz este
raciocínio: – «Se não tenho de prestar contas a Deus dos meus atos, para que hei-de prestar
contas aos homens»?

«Se os homens se atrevem a pedir-me contas dos meus atos, eu saberei libertar-me das malhas
da lei humana, através do meu dinheiro e das minhas influências. Só os pobres são julgados e
condenados».

Quando o homem não acredita que, após esta vida, terá de prestar contas a Deus, liquida tudo o
que lhe dava segurança e garantia de ser feita justiça.

Meditemos, com seriedade, sobretudo nestas afirmações de Jesus:

«Não tenhais medo dos homens, porque não há nada encoberto que não venha a descobrir-se.
Nada há oculto que não venha a conhecer-se». Não temais os que matam o corpo mas não
podem matar a alma. Temei antes Aquele que pode lançar no inferno a alma e o corpo»

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«Até os cabelos da vossa cabeça estão contados»

«A todo aquele que se tiver declarado por Mim diante dos homens também Eu Me declararei
por ele diante de meu Pai que está nos Céus. Mas àquele que Me negar diante dos homens
também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos Céus».

De tudo isto conclui-se que o homem, queira ou não, terá de prestar contas a Deus do bem e
do mal que praticar neste mundo. Sobre o homem, devemos colocar dois problemas: «De onde
vens? Para onde vais?»

A Deus ninguém pode enganar.

Roteiro Homilético – Solenidade de São Pedro e São Paulo

O Evangelho deste domingo situa-nos no Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão,
em Cesareia de Filipe (na zona da atual Bânias). A cidade tinha sido construída por Herodes
Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto.

O episódio que nos é proposto ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus.

Aparece num momento de viragem, quando começa a perfilar-se no horizonte de Jesus um


destino de cruz. Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos
líderes e um certo desinteresse por parte do Povo. A sua proposta do Reino não é acolhida senão
por um pequeno grupo – o grupo dos discípulos.

É, então, que Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre Si próprio.
Não se trata, tanto, de medir a sua quota de popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas
mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.

O relato de Mateus é um pouco diferente do relato do mesmo episódio feito por outros
evangelistas (nomeadamente Marcos – cf. Mc 8,27-30). Mateus remodelou e ampliou o texto de
Marcos, acrescentando a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus e a missão confiada a Pedro.

MENSAGEM

O nosso texto pode dividir-se em duas partes. A primeira, de caráter mais cristológico, centra-se
em Jesus e na definição da sua identidade. A segunda, de caráter mais eclesiológico, centra-se
na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro. Na primeira parte (vers. 13-16), Jesus interroga
duplamente os discípulos: acerca do que as pessoas dizem d’Ele e acerca do que os próprios
discípulos pensam. A opinião dos “homens” vê Jesus em continuidade com o passado (“João
Batista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”). Não captam a condição única de Jesus,
a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado
por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento…

Mas não vão além disso. Na perspectiva dos “homens”, Jesus é, apenas, um homem bom, justo,
generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como
tantos outros homens antes d’Ele (vers. 13-14). É muito, mas não é o suficiente: significa que
os “homens” não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.

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A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz
da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o
Cristo, o Filho de Deus vivo” (vers. 16). Nestes dois títulos, resume-se a fé da Igreja de Mateus
e a catequese aí feita sobre Jesus. Dizer que Jesus é “o Cristo” (Messias) significa dizer que
Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe
oferecer a salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus não
é apenas o Messias: é também o “Filho de Deus”.

No Antigo Testamento, a expressão “Filho de Deus” é aplicada aos anjos (cf. Dt 32,8; Sal
29,1; 89,7; Job 1,6), ao Povo eleito (cf. Ex 4,22; Os 11,1; Jer 3,19), aos vários membros do
Povo de Deus (cf. Dt 14,1-2; Is 1,2; 30,1.9; Jer 3,14), ao rei (cf. 2 Sm 7,14) e ao Messias/rei
da linhagem de David (cf. Sal 2,7; 89,27). Designa a condição de alguém que tem uma relação
particular com Deus, a quem Deus elegeu e a quem Deus confiou uma missão. Definir Jesus
como o “Filho de Deus” significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em
total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e
que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa reconhecer a
profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai e que Jesus conhece e realiza os projectos do
Pai no meio dos homens. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de
Jesus.

Na segunda parte (vers. 17-19), temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade


dos discípulos, apresentada pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro (isto é, a
comunidade) pela clareza da fé que o anima. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um
dom de Deus (“não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos
céus” – vers. 17). Pedro (os discípulos) pertence a essa categoria dos “pobres”, dos “simples”,
abertos à novidade de Deus, que têm um coração disponível para acolher os dons e as propostas
de Deus (esses “pobres” e “simples” estão em contraposição com os líderes – fariseus, doutores
da Lei, escribas – instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, incapazes de abrir o
coração aos desafios de Deus).

O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é “a rocha” (o nome “Pedro” é a tradução
grega do hebraico “Kephâ” – “rocha”) sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As
palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente. Mateus está,
portanto, a afirmar que a base firme e inamovível, sobre a qual vai assentar a Ekklesia de Jesus
é a fé que Pedro e a comunidade dos discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho
de Deus vivo.

Para que seja possível a Pedro testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a
comunidade do Reino, Jesus promete-lhe “as chaves do Reino dos céus” e o poder de “ligar e
desligar”. Aquele que detém as chaves, no mundo bíblico, é o “administrador do palácio”…
Ora o “administrador do palácio”, entre outras coisas, administrava os bens do soberano,
fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes
a introduzir junto do soberano… Por outro lado, a expressão “atar e desatar” designava, entre
os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou
não permitido, para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus.

Assim, Jesus nomeia Pedro para “administrador” e supervisor da Igreja, com autoridade para
interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades
e situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino
50
(atenção: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino; mas aqueles que não
estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos).

Trata-se, aqui, de confiar a um homem (Pedro) um primado, um papel de liderança absoluta (o


poder das chaves, o poder de ligar e desligar) da comunidade dos discípulos? Ou Pedro é, aqui,
um discípulo que dá voz a todos aqueles que acreditam em Jesus e que representa a comunidade
dos discípulos? É difícil, a partir deste texto, fazer afirmações concludentes e definitivas. O
poder de “ligar e desligar”, por exemplo, aparece noutro contexto, confiado à totalidade da
comunidade e não a Pedro em exclusivo (cf. Mt 18,18). Provavelmente, o mais correcto é ver
em Pedro o protótipo do discípulo; nele, está representada essa comunidade que se reúne em
volta de Jesus e que proclama a sua fé em Jesus como o “Messias” e o “Filho de Deus”.

É a essa comunidade, representada por Pedro, que Jesus confia as chaves do Reino e o poder de
acolher ou excluir. Isso não invalida que Pedro fosse uma figura de referência para os primeiros
cristãos e que desempenhasse um papel de primeiro plano na animação da Igreja nascente,
sobretudo nas comunidades da Síria (as comunidades a que o Evangelho de Mateus se destina).

ATUALIZAÇÃO

Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos
vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com
um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma
proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em
Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões
carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar
pelo fenómeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingénuo e inconsequente,
preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os
pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “statu
quo”.

Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excepcional, que
marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um “homem” que
deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu? Para os
discípulos, Jesus foi bem mais do que “um homem”. Ele foi e é “o Messias, o Filho de Deus
vivo”. Definir Jesus dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao
mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens.

A proposta que Ele apresentou não é, apenas, uma proposta de “um homem” bom, generoso,
clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus,
destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro
de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim. A diferença entre o “homem bom” e
o “Messias, Filho de Deus”, é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a
nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e
verdadeira.

“E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos
nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de
catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é
o lugar que Cristo ocupa na nossa existência…
51
Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na
atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas
opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para O seguir… Quem é Cristo para mim?

É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio
do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói
a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos
discípulos que reconhecem Jesus como “o Messias, o Filho de Deus”. Que lugar ocupa Jesus
na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de
Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal…)?

A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação
estéril e inconsequente do “Messias, Filho de Deus”; mas existe para O testemunhar e para
levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos
consciência desta dimensão “profética” e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres
com quem contatamos no dia a dia – em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos
acontecimentos sociais – recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade
da salvação?

A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas
que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto,
absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é
uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a
interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.

Roteiro Homilético – XIV Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. Louvarei para sempre o vosso nome, Senhor, meu Deus e meu Rei.
2. Jesus, Mestre divino, ensina-nos, com o Seu exemplo, os caminhos da felicidade.
3. Importa que imitemos o Senhor
.
1. Louvarei para sempre o vosso nome, meu Deus e meu Rei.

Deus criou-nos para vivermos alegres e O louvarmos eternamente, como expressão da mais
profunda e verdadeira felicidade. Para que esta meta se atinja, é necessário fazer bom uso da
liberdade que Ele nos deu. Jesus, Mestre divino, veio ensinar-nos a optar pelo melhor. Hoje
fala-nos da virtude fundamental do cristão, característica essencial do Seu Reino – a humildade.
E, como bom e excelente Mestre que é, a todos ensina, fazendo, praticando. Ele, que nos dá os
mais sublimes exemplos em todas as virtudes, chama mesmo particularmente a atenção para
esta: «Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração».

2. Jesus, Mestre divino, ensina-nos, com o seu exemplo, os caminhos da felicidade.

Não foi por acaso – para Deus não há acasos – que Jesus nasceu numa pobre manjedoira,
pertenceu a uma família humilde, quis passar por ser «o filho do carpinteiro», viveu em Nazaré
– cidade por todos desprezada – , não tinha onde reclinar a cabeça, entrou em Jerusalém montado

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num pobre jumentinho, (1ª Leitura da Missa de hoje), lava os pés aos Apóstolos, é cuspido,
esbofeteado, flagelado, coroado de espinhos e ridicularizado pelas ruas de Jerusalém, é pregado
na cruz e morre no meio de dois ladrões. Não podia ter feito mais para nos revelar quanto nos
ama, como é monstruoso o pecado e ensinar a virtude fundamental da humildade.

Com a vivência tão profunda desta virtude, o Senhor provou também quão errado foi o caminho
seguido pelos nossos primeiros pais e que hoje continua a iludir tantos homens – o orgulho. A
cegueira estonteante que este vício provoca é de tal forma dramática, que é causa de todas as
tragédias humanas, arrastando homens pelos caminhos errados da vida, provocadores de tantas
lágrimas, sofrimento e atraso social.

Como só com a virtude da humildade existe capacidade para captar as verdades eternas e as
grandes lições que Jesus nos dá, Ele proclamou esta linda oração que o Evangelho da Missa de
hoje nos transmite: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas
verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos».

3. Importa viver e anunciar a virtude fundamental da humildade.

Não podemos ficar indiferentes perante o apelo e o exemplo dado por Jesus. Ele continua a
anunciar esta virtude vivendo humildemente connosco em todos os Sacrários da Terra e
declarou que considera feito a Si mesmo tudo o que se fizer aos mais pobres, crianças, presos,
abandonados e marginalizados da sociedade. Com todos e cada um continua a identificar-se.
Esta virtude fundamental será uma realidade nas nossas vidas na medida em que formos
verdadeiros. A verdade, diz-nos que nosso, nosso, só é verdadeiramente o pecado. Tudo o mais
são dádivas de Deus, que importa fazer render, e das quais um dia teremos de prestar contas.
Que Ele nos faça verdadeiros.

Bem «despidos» das nossas «importâncias», haverá em nós lugar para Deus e teremos acesso
às verdades eternas, as únicas que não enganam e nos apontam os caminhos das verdadeiras
alegrias terrenas e eternas. Uma alegria assim, sincera, será contagiante levando outros a querer
fazer a mesma experiência, como aconteceu a muitos pagãos perante os primeiros cristãos. Que
tal aconteça nas nossas vidas, para que cada um tenha a felicidade de um dia poder dizer com
verdade «proclamarei para sempre o vosso nome, Senhor, meu Deus e meu Rei».

Roteiro Homilético – XV Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. A Palavra de Deus é atuante e eficaz

A imagem da chuva, que descendo das nuvens, lá não regressa sem primeiro fecundar a terra,
bem como a da semente que lançada à terra germina e dá fruto, são assaz expressivas. A Palavra
de Deus é ato de Deus. Sempre atual como o próprio Senhor; sempre em ação pois exprime o
mistério do «Deus vivo». Sua nota característica é ser ela, «força de Deus para a salvação de
todo aquele que crê» (Rom 1, 16). Ela é «palavra de salvação» (At 13, 23); é palavra de vida
(FM 2,16); é «palavra de graça» (At 14,3). Nos Sacramentos e não só. A Palavra de Deus
realiza aquilo que exprime. As «palavras que Eu vos disse são espírito e vida» (Jo 6, 63). Ela
purifica e santifica.

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Mas também condena a quantos recusam acolhê-la com humildade e sinceridade, a quantos não
aceitam aquelas outras verdades que transcendem a natureza, a quantos se deixam levar pelo
desespero frente ao mal no mundo (2.ª leit).

Palavra de bênção, ela será eficaz. Palavra de maldição, produz todos os seus efeitos. Em suma,
ela não é só expressão dum pensamento, mas sinal da vontade de Deus, um apelo, uma ordem.
E essa Palavra não se esgotou, nem secou, nem está cansada.

2. Acolher a Palavra de Deus

A Palavra de Deus é Alguém, é uma Pessoa, é o mesmo Deus, o Verbo, a Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade. Vivendo entre nós pelo mistério da Incarnação, escondida no silêncio da
vida oculta, a Palavra de Deus, qual boa semente, germinou para se tornar luz dos homens, os
esclarecer e sustentar no caminho da vida presente. Após o regresso do Verbo de Deus ao Pai,
onde se encontra a Palavra de Deus de que temos tanta necessidade?

a) Na Bíblia. Todas as ações divinas nela consignadas são portadoras duma Palavra de Deus.
Lida na fé que vê os acontecimentos como sinais da presença de Deus atuando junto do seu
povo e lida na igreja, depositária da interpretação autêntica destes sinais, a Bíblia tornasse o
lugar por excelência de encontro com a Palavra de Deus. Sabemos que a mensagem bíblica se
encontra formulada numa visão do universo que já não é a do mundo de hoje, do nosso mundo
científico e técnico. Daí a necessidade de apresentar, defender e explicar as verdades da fé por
meio de conceitos e termos mais compreensivos. Mas sem em nada mutilar a sua mensagem
essencial, mesmo tratando-se de verdades que tem o seu lado duro e quase repugnante, v.g. os
Novíssimos.

b) Na comunidade cristã. Esta proclama a Palavra de Deus para a contemplar, a aprofundar e


dar-lhe uma resposta. «Quando vos reunis em Meu nome, Eu estou no meio de vós» (cf. Mt
18,20). Na celebração eucarística a Palavra de Deus é-nos comunicada de diversas maneiras.
Nos salmos que cantamos, nas leituras tomadas dos profetas, dos apóstolos e doutros escritores
sagrados e finalmente é o mesmo Jesus que nos instrui com o seu evangelho. Quando Deus
fala devemos escutar o que nos diz e aceitar quanto nos propõe. Mal vai quando não tratamos
de endireitar os maus caminhos antes percorridos. Jesus compara tais pessoas com um campo
rochoso onde a semente não chega a lançar raízes. Recitando o Credo após a homilia aceitamos
a palavra de Deus. A nossa vida dará testemunho da verdade desta aceitação.

c) Nos acontecimentos. Quer se trate da nossa vida pessoal, quer do que se passa no mundo
tudo se encontra relacionado com a Palavra da Revelação. Fazendo parte da história sagrada
que continua, tais acontecimentos são portadores da Palavra. É preciso porém saber lê-los:
investigar a todo o momento os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho (G.S.
Daí a importância da revisão de vida que outra coisa não é senão uma leitura bíblica dos
acontecimentos.

3. É preciso evangelizar

A semente deve ser lançada à terra a mãos cheias. O lavrador fá-lo confiadamente, mesmo
sabendo de antemão que nem toda produzirá a 100%, mas apenas a 60% ou 30% na linguagem
da parábola.

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Precisamos nos deixar evangelizar para evangelizarmos. A evangelização passa sempre pelo
anúncio, pela celebração e pelo testemunho. Evangelizar o mundo – da família, do ensino, do
trabalho, dos lazeres, da comunicação social, das leis, da ciência e da técnica. Para ver estas
realidades com outros olhos, os olhos da fé, na perspectiva dos valores cristãos.

Temos muito que esclarecer, que discernir e que converter. Hoje torna-se difícil escutar a palavra
de Deus. Em oposição a esta multiplicam-se outras palavras, as palavras dos homens que põem
a felicidade no ter e no prazer. E dá-se-lhe mais atenção que à Palavra de Deus. Vem um jornal,
um político, vem um programa de TV, a dizer o contrário daquilo que Cristo revelou e a Igreja
ensina e dão-lhe toda a autoridade.

É preciso evangelizar e, mais ainda, motivar as pessoas. Dar-lhes ideias claras sobre Deus,
a vida, a graça, a religião, a liberdade, o casamento. E depois dar-lhes razões positivas das
obrigações e das proibições que decorrem da aceitação das verdades da fé. S. Pedro di-lo
doutra forma: estai sempre prontos para dar resposta a todo aquele que vos perguntar acerca da
esperança que vos anima (1 Pet 3,15). Para que aquelas obrigações não sejam olhadas como
algo enfadonho e sem interesse.

O preceito da missa dominical: é para honrar a Deus, para participar, em assembleia, no


sacrifício redentor de Cristo. Rezar para quê? Para ganhar amizade com Deus que é Pai, para O
ir conhecendo cada vez melhor. Porque não podes ver aquele filme? Porque pode pôr em perigo
a tua pureza, porque te fará escravo do teu corpo.

É preciso evangelizar. Sem desânimo. É longa a conversão dos homens, distantes os seus
resultados, mas também aqui, uns semeiam e outros colhem, Deus é que dá o incremento. Vamos
continuar, branquear a vida dos nossos pecados e confiar uns nos outros e no infinitamente
Outro.

Roteiro Homilético – XVI Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. Jesus é o nosso Salvador


2. Nós somos a Igreja de Jesus Cristo
3. A humanidade precisa de nós

1. Jesus é o nosso Salvador

Por mistérios da insondável misericórdia de Deus, Jesus veio à Terra, há dois mil anos, para
salvar a humanidade. Viveu normalmente como qualquer pessoa. Sofreu o abandono, logo ao
nascer, por ser pobre. Sofreu o drama do exílio no Egipto por Herodes o querer matar. Trabalhou
em casa de Seus pais, ajudando-os. Rezou continuamente em toda a vida.

Os últimos três anos da Sua existência terrena passou-os na pregação. Deu vista aos cegos, fez
ouvir os surdos, curou os doentes, ressuscitou até os mortos, enquanto anunciava o reino de
Deus, muitas vezes através de parábolas (Evangelho).

Depois – oh maldade e ingratidão dos homens! – foi condenado injustamente à morte, sendo

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pregado na Cruz por nosso amor. Ressuscitou glorioso na manhã do Domingo de Páscoa.
Confirmou os Apóstolos na Fé e enviou-os a anunciar a Boa Nova da Salvação ao Mundo.

2. Nós somos a Igreja de Jesus Cristo

A partir de então, uma nova era de esperança se operou no mundo. Os discípulos de Jesus não
têm medo. Denunciam em Seu nome o mal e apontam a todos o caminho da salvação. A prisão,
o martírio dos cristãos ainda contribuíram mais para que a Doutrina de Jesus fosse levada a toda
a Terra.

Os cristãos não esqueceram a mensagem do Apóstolo São Paulo: «O Espírito Santo vem em
auxílio da nossa fraqueza…» (Segunda Leitura).

Quando se praticam injustiças, a Igreja de Jesus Cristo recorda que todas as pessoas devem ser
respeitadas nos seus direitos. Quando os pobres são marginalizados, a Igreja de Jesus Cristo
recorda que devem possuir os meios necessários para viverem honestamente.

Quando as crianças não chegam a nascer, vítimas do aborto, a Igreja de Jesus Cristo recorda que
a vida humana deve ser respeitada desde a concepção até à morte natural.

Quando os idosos são desprezados, a igreja de Jesus Cristo recorda que devem ser estimados
por aqueles a quem ajudaram a crescer.

Quando a prostituição se pratica livremente, arruinando as famílias legitimamente constituídas,


a Igreja de Jesus Cristo recorda que o corpo não é para ser explorado comercialmente mas, sim,
para viver o verdadeiro amor.

Quando a droga é traficada para perverter a juventude, a Igreja de Jesus Cristo recorda que
ninguém tem o direito de destruir nos jovens a alegria de viver e o futuro da humanidade.

Quando o pecado se pratica continuamente, a Igreja de Jesus Cristo recorda que só a virtude dá
a felicidade e a paz.

3. A humanidade precisa de nós.

Desde sempre Deus nos chama para que continuemos no mundo a obra maravilhosa da salvação.
Mesmo quando tentamos fechar os ouvidos aos apelos do Senhor, Ele continua a vir ao nosso
encontro. Sendo omnipotente, é também infinitamente misericordioso (1.ªLeitura).

Ao longo dos séculos, quantos homens e quantas mulheres, quantos jovens e quantas crianças
foram um farol de luz porque se deixaram enamorar por Jesus Cristo! O seu exemplo impele-
nos a trabalhar incansavelmente pelo reino de Deus.

Que a Virgem Santíssima esteja sempre conosco para nos ajudar a sermos bons, a sermos
apóstolos, a sermos santos!

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Roteiro Homilético – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia


1.Um tesouro
2. Um coração inteligente
3. Conformes à imagem de Seu Filho

1. Um tesouro

Corremos o risco de andar pela vida atrás de bolas de sabão. No evangelho Jesus fala do tesouro
que todos podemos encontrar de verdade. Temos de vender tudo, pôr todas as coisas em segundo
lugar por causa desse tesouro, que é o único que vale a pena.

Santo Inácio de Loiola descobriu esse tesouro quando foi parar ao hospital com uma perna
partida, em combate contra os franceses em Pamplona. Ao ler a vida dos santos e a de Jesus
resolveu deixar as glórias mundanas para se entregar totalmente ao serviço de Deus, fazendo-se
sacerdote. Foi estudar para a Universidade de Paris e ali encontrou um conterrâneo, Francisco
Xavier. Este era um excelente aluno e candidato a professor da universidade. Inácio, que se
tornara seu amigo, ia-lhe repetindo as palavras do Evangelho: Francisco, que vale ao homem
ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma?

E Xavier decidiu-se a deixar as ambições humanas e seguir o ideal de Inácio. Acabou ordenando-
se sacerdote e partiu para a Índia como missionário. Pregou o Evangelho de Jesus nas terras
indianas, na Malásia, na atual Indonésia e no Japão. Morreu às portas da China, onde se dirigia
para levar também ali o Evangelho.

Da Índia escrevia, um dia, a Santo Inácio pedindo missionários: «Muitas vezes me vem ao
pensamento ir aos colégios da Europa, levantando a voz como homem que perdeu o juízo
e, principalmente, à Universidade de Paris, falando na Sorbona aos que têm mais letras que
vontade para se disporem a frutificar com elas. Quantas almas deixam de ir à glória e vão ao
inferno por negligência deles! E se assim como vão estudando as letras estudassem a conta que
Deus Nosso Senhor lhes pedirá delas e do talento que lhes deu, muitos se moveriam a procurar
conhecer e sentir dentro de si a vontade divina…dizendo: Senhor, eis-me aqui; que quereis que
eu faça. Mandai-me para onde quiserdes; e se for preciso até mesmo para a Índia» (Epist. de
S.Francisco Xavier)

S. Francisco Xavier soube agarrar o tesouro da sua vida, entregando tudo sem regatear. É uma
lição sempre atual em especial para a juventude do nosso tempo. Tantas vezes se perde numa
vida fútil e sem sentido. Por culpa muitas vezes dos pais e educadores que não os ajudam a
descobrir o verdadeiro tesouro.

2.Um coração inteligente

Salomão pediu a Deus a sabedoria para governar bem o seu povo -ouvíamos na primeira leitura.
E o Senhor fica contente com o seu pedido e dá não só a sabedoria mas também o que não Lhe
pedira: a riqueza e o poder e uma vida longa. Hoje o orgulho cegou muitos homens. Não têm a
sabedoria verdadeira, que vem de Deus e fazem propaganda dos maiores disparates. Orgulham-
se dos seus estudos e não passam de loucos. Porque a verdadeira sabedoria não se aprende nas

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escolas, mas no colo da mãe, nos bancos da catequese e na oração.

A verdadeira sabedoria anda ligada com a fé. Temos de pedi-la e cultivá-la na oração. Temos
de alimentá-la com a escuta da Palavra de Deus na Santa Missa, no estudo pessoal e na leitura
piedosa e nos meios de formação espiritual que Deus põe ao nosso alcance.

Temos de viver a nossa fé cumprindo fielmente os mandamentos na vida de cada dia. Não pode
ser como a capa da irmandade, que se veste de quando em vez. Se tu não vives como pensas
acabas por pensar como vives -dizia alguém com razão.

Havemos de encontrar na Lei de Deus a nossa alegria. «A vossa lei faz as minhas delícias… Eu
amo os vossos mandamentos mais que o ouro, o ouro mais fino» – dizia o salmista.

Aprofundemos a nossa fé, deixemo-nos guiar por ela sem condições e encontraremos a alegria
verdadeira já neste mundo e saberemos comunicá-lo aos outros, porque este tesouro não é só
para nós. E aumenta na medida em que se reparte.

3. Conformes à imagem de Seu Filho

S.Paulo dizia-nos que «Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam» (2ª leit.).
Ser santo é ser feliz. Mesmo no meio das coisas desagradáveis da vida, que Deus permite para
nosso bem. Tudo é para bem se amamos a Deus. A única desgraça é o pecado, sobretudo o
pecado mortal, porque nos afasta de Deus, fonte da alegria. Omnia in bonum – tudo é para bem
– gostava de rezar como jaculatória S.Josemaria, repetindo as palavras de S.Paulo.

Deus escolheu-nos, chamou-nos à vida. E tem um projeto maravilhoso para cada um de nós.
«Predestinou-nos para sermos à imagem do Seu Filho». Quer que sejamos santos e dá-nos as
graças para isso, por meio de Jesus na Sua Igreja.

Ninguém pode desculpar-se que não pode ser santo. Essa é a meta de cada um dos cristãos,
como lembrava João Paulo II no começo do 3º milênio ao lançar um programa para toda a
Igreja: «Colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de
consequências. Significa exprimir a convicção de que, se o Batismo é um verdadeiro ingresso
na santidade de Deus, através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um
contra-senso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma
religiosidade superficial… Como explicou o Concílio, este ideal de perfeição não deve ser
objecto de equívoco vendo nele um caminho extraordinário, a ser percorrido apenas por algum
‘génio’ da santidade. Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada
um. Agradeço ao Senhor por me ter concedido, nestes anos, beatificar e canonizar muitos
cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições ordinárias da vida.
É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta ‘medida alta’ da vida cristã ordinária:
toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direção. Mas é
claro também que os percursos da santidade são pessoais e exigem uma verdadeira e própria
pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos indivíduos; deverá integrar as
riquezas da proposta lançada a todos com as formas tradicionais de ajuda pessoal e de grupo e
as formas mais recentes oferecidas pelas associações e movimentos reconhecidos pela Igreja»
(Novo Millenio, 31)

Ser santo é parecer-se com Jesus Cristo, sermos conformes à Sua imagem. E isso realiza-se
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pela graça de Deus, que recebemos no batismo e nos identifica com Ele. À medida que vamos
crescendo na graça vamo-nos parecendo cada vez mais com Jesus.

Realiza-se também pelo esforço pessoal de cada um de nós, se procuramos conhecer cada vez
melhor a vida de Jesus e imitá-Lo em nossa vida de cada dia.

«É esse amor de Cristo – diz um santo do nosso tempo – que cada um de nós deve esforçar-se
por realizar na própria vida. Mas para sermos ipse Christus – o próprio Cristo – é preciso que
nos contemplemos nEle. Não basta termos uma ideia geral do espírito de Jesus, mas é preciso
aprender dEle pormenores e atitudes. E sobretudo é preciso contemplar a Sua passagem pela
terra, as Suas pisadas, para extrair daí força, luz, serenidade, paz.

Quando amamos uma pessoa, desejamos conhecer até os menores detalhes da sua existência,
do seu caráter, para assim nos identificarmos a ela. É por isso que temos que meditar na história
de Cristo, desde o seu nascimento num presépio até à Sua morte e Sua ressurreição. Nos meus
primeiros anos de atividade pastoral, costumava oferecer exemplares do Evangelho ou livros
em que se narrasse a vida de Jesus. Porque é preciso que conheçamos bem, que a tenhamos
toda inteira na cabeça e no coração, de modo que, em qualquer momento, sem necessidade de
livro algum, fechando os olhos, possamos contemplá-la como num filme; de forma que, nas
mais diversas situações da nossa existência, acudam à nossa memória as palavras e os atos do
Senhor». (S.JOSEMARIA, Cristo que passa,107)

Que a Virgem nos anime nesta busca da santidade, da verdadeira sabedoria.

Roteiro Homilético – XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1.A fome e a sede


2. A realização de uma profecia
3. As circunstâncias da vida

1. A fome e a sede

O profeta Isaías, na primeira leitura deste domingo, prometia aos israelitas que abandonassem
o exílio da Babilónia, onde se encontravam, a obtenção sem custo, do alimento indispensável
para as suas vidas, em vez de consumirem o que possuíam naquilo que não satisfazia. Porém, os
regressados da terra de cativeiro nada disso descobriram. Pelo contrário, foram mal recebidos e
suportaram imensas dificuldades na sua própria terra.

O mesmo acontece, ainda hoje. Certamente, o homem precisa de pão, precisa do alimento do
corpo, mas no íntimo de si mesmo precisa sobretudo da Palavra, do Amor, do próprio Deus.
Quem lhe der isto dá-lhe «vida em abundância». E deste modo liberta também as forças pelas
quais ele pode sensatamente modelar a terra, pode encontrar para si e para os outros os bens,
que podemos possuir apenas mutuamente, pois estudos efectuados demonstram que o problema
da fome mundial está relacionado com a distribuição de alimentos e concentração de lucros e
não com a escassez de produtos.

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Infelizmente nem sempre o homem procura a resposta às suas inquietações onde realmente
a pode encontrar. Muitas vezes ele gasta dinheiro naquilo que não é pão e naquilo que não
satisfaz.

Mas, se a Palavra de Deus é atual, qual é a terra de cativeiro (às vezes doce e deliciosa) que hoje
somos solicitados a repudiar? Do que sentimos fome? Com que guloseimas enchemos a nossa
miséria e abafamos a nossa sede?

O que falta para que neste mundo em que vivemos se possa realizar a profecia anunciada, uma
vez que o Messias já veio há mais de 2000 anos? Quando e como se realizará, então, a profecia?

2. A realização de uma profecia

A resposta a esta pergunta podem encontrá-la no Evangelho que ouvimos proclamar. Jesus,
o novo Moisés que todos esperavam, realiza a profecia. É-nos mostrado com uma imensa
multidão que o seguia em direção ao deserto. A vida no deserto servira para ensinar Israel pois,
desprovido de qualquer segurança humana, aprendera a acreditar somente em Deus.

Foi por esta razão que Jesus os conduziu ao deserto. A multidão sentiu fome e os discípulos
de Jesus aconselharam-n’O a afastar a multidão para que pudesse arranjar alimento. Como
procedeu Jesus?

Sentiu compaixão perante as necessidades dos irmãos.

Sentir compaixão é a primeira circunstância para nos sentirmos motivados para a ação.
Depois, o Evangelho narra o que Ele começou a fazer: curou os doentes e, à tarde, satisfez
a fome à multidão. Não se limitou a enunciar linguagem espiritual ou a fomentar orações;
esforçou-Se de maneira concreta para resolver todos os reais problemas do homem. Não lançou
sobre os outros a resolução do problema da fome: as pessoas que tinham fome não seriam
expulsas, «os próprios discípulos deviam dar-lhes de comer».

Então, se queremos seguir Jesus, o que fazemos em concreto, individual ou colectivamente,


para enfrentar os problemas que angustiam tantas pessoas?

Jesus não resolveu sozinho o problema da fome das multidões. Ele serviu-se daquilo que as
pessoas colocaram à sua disposição: cinco pães e dois peixes, isto é, sete fatores materiais. Em
linguagem bíblica este número simbólico representa a universalidade. Daí que a mensagem
de Jesus se torne clara: a comunidade deve criar em comum tudo o que possui para se poder
realizar o «milagre» de proporcionar alimento para todos. Ora, a fome não é o resultado de
uma produção agrícola insuficiente, mas sim um grave problema socioeconômico. Não reside
na falta de tecnologia apropriada, mas na distribuição de rendimento e de alimento entre a
população mundial.

Só quando todos os homens, onde nos incluímos, se dispuserem a pôr em comum tudo o que
têm – aptidões, proveitos, tempo – é que se poderão resolver as gigantescas dificuldades dos
irmãos, mais próximos ou mais afastados de nós.

Depois de a multidão ficar satisfeita (cinco mil homens, segundo o texto, o que indica a
totalidade do povo israelita), sobejaram ainda doze cestos, número que anuncia o novo povo de
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Deus, caracterizado pelos doze apóstolos, isto é, a Igreja. A este povo jamais faltará o pão que
é Cristo e haverá sempre um resto para reiniciar a partilha.

Alimentados pelo pão eucarístico, como centro da existência cristã, Deus dá-nos o maná que
a humanidade aguarda, o verdadeiro «pão do céu», aquilo de que podemos no mais íntimo de
nós mesmos viver como homens. Ao mesmo tempo a Eucaristia apresenta-nos o permanente
encontro do homem com Deus, no qual o Senhor se dá a Si próprio, fortificando o espírito,
a fim de que tenhamos força para lutarmos pelo alimento perecível, mas necessário para a
subsistência corporal, nossa e dos nossos irmãos.

Quando alimentamos o irmão, quando resolvemos as suas carências materiais, tornamos


presente Jesus que se desdobra para zelar pelo homem em todas as circunstâncias da vida.

3. As circunstâncias da vida

Na nossa vida, os eventos amargos, mas também o êxito e a fortuna, podem originar a tentação
de dispensar Deus, porque já temos tudo o que ambicionamos. Porém, são sobretudo as
adversidades que nos levam ao desalento e que procuram separar-nos do amor de Deus e de
Cristo, conduzindo-nos a outra espécie de fome, a que alude S. Paulo na segunda leitura: «a
tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada».

Quem pode dizer que nunca se sentiu desalentado diante das próprias debilidades, ou diante de
pressões que se criam na sociedade eclesial ou civil?

A todos acontece encarar circunstâncias difíceis na vida. Perante as contrariedades da situação


social, económica e política em que muitos vivem é sempre iminente a tentação de preferir
uma vida oposta aos princípios do Evangelho. Mas «nada nos pode separar do amor de Deus
e de Cristo», diz-nos ainda S. Paulo. Como estamos a viver a nossa existência cristã? Somos
coerentes com a nossa fé? Não sentiremos outras fomes e outras sedes opostas à nossa condição
de baptizados em Cristo? O que fazemos concretamente e que proveito aferimos da comunhão
do verdadeiro «pão do céu» que nos é proporcionado?

É bom que pensemos seriamente nisto…

Roteiro Homilético – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. Deus fala no silêncio


2. Precisamos de «parar» para Deus
3. Com coragem, generosidade e docilidade

1. Deus fala no silêncio

Para o profeta Elias as coisas corriam mal. A sua vida estava em perigo. Com medo dos seus
perseguidores procurava fugir-lhes a todo o transe. Vergado ao peso do fardo da vida está prestes
a cair no desespero. E o Senhor vem em seu auxílio. Foi no monte Horeb que sentiu a presença
de Deus.

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Levanta-se violenta tempestade, seguida dum terramoto e de labaredas de fogo, mas o Senhor
não estava lá. Ouve-se finalmente o som duma brisa suave, tão ligeira que mal se percebe. É
aqui que o Senhor se manifesta. Então o profeta fala-Lhe daquilo que guardava no mais íntimo
do coração e toma a decisão de O servir.

Na nossa vida também Deus se dá a conhecer. Umas vezes será de forma dramática, com
tempestade, seguida dum período de calma. É o caso relatado no Evangelho. Outras, como
vento forte que tudo derruba. Foi o que aconteceu a Saulo, no caminho de Damasco. O mais
frequente todavia será como uma ligeira brisa no fim dum dia sufocante.

Na Bíblia, quando Deus vem visitar o homem, há sempre silêncio (Hab 2, 20; Sof 1, 7; Is 41,
1; Apoc 8). Não é no meio da noite, no silêncio (Lc 2,8) que o Verbo de Deus feito carne nasce
Menino no presépio de Belém? E que dizer do silêncio do Sacrário onde Jesus está vivo e
glorioso como no Céu, sempre a interceder por nós?

Não é sem razão que a liturgia requer silêncio depois da proclamação da Palavra de Deus. Pena
que frequentemente não se respeite uma tal exigência.

2. Precisamos de «parar» para Deus

a) Indispensável se torna que tenhamos a lucidez e a coragem de parar e ouvir Deus. A lucidez
e a coragem do encontro sereno e atento com o Senhor. Esse ouvir e esse olhar concretiza-se
na oração. É o primeiro tempo. O silêncio e a própria soturnidade de um templo proporcionam
ambiente adequado para tal. Para quantos a conversão se processou desta forma! Ou até no
silêncio do campo santo, junto ao túmulo daqueles que Deus levou para a vida eterna. A eles
continuamos unidos pela Comunhão dos Santos. Este silêncio não ajuda apenas a falar. Ele
mesmo fala. Dá fé. Dá esperança. Enche a vida de alegria.

Mas… Andamos atarefados. Corremos para tudo quanto é sítio. Acotovelamo-nos uns aos
outros, sem tempo para nada. Depois vem o cansaço, o mau humor, o desânimo, o vazio.
Passamos Deus para o outro lado da vida. Não Lhe prestamos atenção. Esquecemo-l’O. E então
sentimo-nos pobres, tristes e sozinhos.

Contudo o Senhor deixa de nos procurar. Tem sempre encontro marcado conosco. Espera-nos a
toda a hora. Todas as horas são horas de Deus.

b) Depois deste encontro havemos de sentir forte desejo de ir ao encontro dos outros,
experimentando embora dificuldades como Paulo encontrou relativamente aos israelitas, seus
irmãos de raça. Isto leva-o a desabafar naquela hipérbole que nos pode escandalizar (2.a leit.).
Mas não desiste. Está convencido que eles se hão-de converter (Rom XI, 32).

Ir primeiro pelo testemunho de vida. Sem isto, nada. Vencer «o infantilismo» de muitos cristãos
que ainda não tomaram consciência do seu compromisso batismal, incapazes de responder aos
desafios do nosso mundo, alérgicos à Boa Nova nos refratários às determinações da Igreja,
surdos à doutrina do Magistério.

E anúncio explícito de Jesus Cristo. Com respeito pelas pessoas, que continuarão livres de aderir
ou não. Tal como Cristo, a Igreja propõe, não impõe nada, respeita as pessoas, repete o Papa.
Mas não podemos refugiar-nos em razões ocas para nos esquivamos a este dever. Há muitas
62
pessoas que andam por caminhos perdidos, por ignorância. E desta ignorância poderemos ser
culpados.

Também aqui muito podem fazer os emigrantes. Dar testemunho da sua fé, nunca faltando ao
cumprimento dos deveres religiosos, mesmo quando surjam obstáculos. Somos cristãos em
toda a parte.

E os jovens agora em férias. Dar as razões da nossa esperança (1 Ped 3, 15) na escola, no
desporto, nos tempos livres, na discoteca, no grupo de amigos.

3. Com coragem, generosidade e docilidade

Coragem. Sou Eu. Não temais. Fala Jesus aos Apóstolos atemorizados. É o medo das provações
contra a fé, a luta do cristão para se manter firme. Teme fraquejar. Por isso clama: Salva-me,
Senhor. Unidos a Cristo, saibamos ser luz e sal deste mundo novo que tem tanta necessidade de
Cristo, Redentor do Homem, lembrou João Paulo II, em Fátima, em 13-V-1991).

Precisamos de coragem que significa força e alegria do coração. Coragem é atitude de serenidade
lúcida perante as adversidades, os perigos, os desafios, as tentações. E a magnanimidade que se
torna mais palpável no sofrimento, na provação, no deficiente e no moribundo.

Coragem para que as mães não se envergonhem de ser mães. Coragem para viver o valor do
celibato e mostrar que a virgindade «é prova de liberdade interior, de respeito pelo outro, de
atenção aos valores do espírito e de viver ao serviço do Reino, ensina o Santo Padre.
Sirva-nos de exemplo e ajuda Maria Santíssima, a Senhora da coragem.

Roteiro Homilético – XXI Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. A autoridade vem de Deus para servir


Não podemos servir-nos dos irmãos
Para servir os irmãos
Prestaremos contas da administração
2. Jesus Cristo serve-nos na Igreja
Que pensam os homens acerca de Jesus
Jesus Cristo Redentor
Todos somos Igreja

1. A autoridade vem de Deus para servir

a) Não podemos servir-nos da autoridade. «Eis o que diz o Senhor a Chebna, administrador do
palácio: «Vou expulsar-te do teu cargo, remover-te-ei do teu posto.» A profecia de Isaías hoje
proclamada situa-se no reinado de Ezequias, rei de Judá. Em 714 o rei atinge a maioridade e
começa a reinar.

O profeta dirige-se, “administrador do palácio”. Anuncia-lhe a expulsão do cargo e a sua


substituição por Elyaqîm. Porquê? Shebna mandou construir para si um sepulcro no alto e

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cavou na rocha um mausoléu, diz o texto um pouco antes (Is 22,16).

Por que é que o erigir um monumento funerário é condenado? Talvez porque é sinal do orgulho
de Shebna; ou talvez porque Shebna utilizou o dinheiro do povo ou despendeu dinheiro em
futilidades num momento difícil em que todo viviam, ameaçados por Senaquerib, rei da Assíria.
Shebna será substituído nas suas funções. Irá ser despojado das insígnias do seu poder (a túnica,
o cinto e a chave do palácio), as quais serão entregues a Elyaqîm.

No entanto, as esperanças de Isaías em Elyaqim desiludiram-no, como se narra a seguir. A


estaca de que aqui se fala sugere que os seus familiares penduraram-se e apoiaram-se nela todos
os familiares de Elyaqîm (os nobres que pertenciam à família, os filhos e os netos) e a “estaca”
acabou por cair, arrastando na queda todos aqueles que a ela se seguravam (cf. Is 22,24-25).

Esta história ajuda-nos a compreender o que se passa em nossos dias.

São estas as tentações de quem alcança o poder:


• Julgar-se grande, importante, (às vezes, até nas pessoas que têm cargos na comunidade acabam
por se julgar superiores ou proprietárias).

• Aproveitar-se do cargo para enriquecer, para favorecer a família e os amigos, muitas vezes à
custa de prejudicar os direitos dos outros.

Vivemos na sociedade da cunha, do envelope que se entrega por detrás da porta, de procurar
todos os meios para chamar para si o que pertence a outros. Passa-se isto no emprego, nas
facilidades que os poderes públicos devem dar a todos, e até no futebol.

b) Para servir os irmãos. «E nesse mesmo dia chamarei o meu servo Eliacim, filho de Elcias.
[…] E ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá.» A autoridade
com que são investidas algumas pessoas é uma missão que o Senhor lhes confia para servir: na
família, na Igreja e na sociedade civil.

Um dia prestaremos contas desta administração e o Senhor chama nossa atenção, no Evangelho,
para esta verdade.

Servir exige uma atenção contínua e um grande espírito de sacrifício, porque é preciso renunciar
a cada momento aos próprios gostos e descanso, para atender quem precisa.

(Conta-se de S. Tomás Moro, nomeado Chanceler de Inglaterra, que se preocupou em despachar


todos os assuntos que estavam adormecidos nos arquivos do palácio real. Até que um dia pediu
que lhe trouxessem mais um e responderam-lhe que estavam todos despachados. Recusou-se a
nomear um amigo para um cargo, porque sabia que ele não era imparcial).

• Devem prestar o serviço de mandar os pais, não abdicando nunca da sua autoridade. Se
fecharem os olhos e encolherem os ombros, à procura de uma simpatia barata, prestam um mau
serviço aos filhos. É preciso desenvolver neles as virtudes humanas.

• O mesmo se pode dizer nos professores na escola, dos governantes, de todos nós quando
somos chamados a escolher quem nos há-de governar.

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• Esta mesma exigência é para os que são chamados a servir os outros, na Igreja, ajudando-os
a chegar ao Céu.

c) Prestaremos contas da administração. «“Fixá-lo-ei como uma estaca em lugar firme e ele
será um trono de glória para a casa de seu pai”.» Em todas as pessoas há a tentação de comprar
a simpatia com favores, com encolher de ombros, com fechar os olhos. Prestaremos contas do
modo como administramos o talento da autoridade que nos foi confiado.

Também Elyaqim, escolhido para substituir Chebna, foi afastado do lugar por má administração.
O exercício do poder, quer para Shebna, quer para Elyaqîm, aparece associado à corrupção,
à venalidade, ao aproveitamento do serviço da autoridade para a concretização de finalidades
egoístas, interesseiras, pessoais.

O Senhor ensina-nos, pela Sua Palavra, um sentido contrário a tudo isto: o exercício do poder
só faz sentido enquanto está ao serviço do bem comunitário… O exercício de um cargo público
supõe, precisamente, a secundarização dos interesses próprios em benefício do bem comum.
Ao cantarmos o salmo responsorial pedimos duas graças: que Deus não nos abandone e nos
dê coragem para cumprirmos a nossa missão; e que não nos deixe cair nas mãos de maus
administradores. «Pela vossa misericórdia, não nos abandoneis, Senhor.»

2. Jesus Cristo serve-nos na Igreja

a) Que pensam os homens acerca de Jesus. «Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe e
perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do homem?”»Que dizem
as pessoas com quem vivemos todos os dias sobre Jesus Cristo?

Desconhecem-n’O e prescindem d’Ele, embora não se esqueçam de marcar com o sinal cristão
os momentos mais importantes da vida: nascimento, casamento e morte
.
• João Batista. Tentou endireitar o mundo e, humanamente, acabou por fracassar. Muitos são
tentados a pensar assim. Perante a crise da família, com a infidelidade, o divórcio, o casamento
(!) de homossexuais, contracepção e aborto, encaram Jesus e a Sua doutrina como um fracasso
e algo que está fora de moda.

• Elias e Jeremias. São o símbolo da Palavra de Deus. Pensam que está desatualizada e é preciso
adaptar os Mandamentos aos seus vícios.

Podemos ainda perguntar: E para mim? Que influência real tem Jesus Cristo quando trabalho,
vivo em família ou passeio? Não haverá o perigo de o cristianismo ficar reduzido a algumas
práticas rotineiras?

Pensam de modo muito diferente os que vivem nos países onde o cristianismo é perseguido,
como por exemplo na China.

b) Jesus Cristo Redentor. «Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: “Tu és o Messias,
o Filho de Deus vivo”.» Jesus Cristo é o único Redentor do mundo. Ou somos salvos por
Ele, pela fidelidade à Sua doutrina e aos Mandamentos, ou perdemo-nos eternamente. Não há
salvação fora d’Ele.

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(De que nos adianta ter um médico excepcional, se não fazemos caso dos seus conselhos e
receitas?)

É o nosso melhor Amigo, porque deu a vida para nos salvar e está sempre disponível para nos
ajudar a qualquer momento. Basta que mostremos vontade de receber a Sua ajuda. Oferece-
Se a cada um de nós como alimento, especialmente nos Sacramentos da reconciliação e da
Eucaristia. Precisamos de nos confessar bem e de não profanar a Eucaristia, mas comungar
bem.

3. Todos somos Igreja.

«Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela.» Jesus Cristo atua no mundo. Mas a Sua ação passa pela
nossa generosidade. Ele é a Cabeça da Igreja. Mas numa pessoa não pode ser só a cabeça a
trabalhar. Cada um dos membros deve fazer aquilo para que foi formado.

A Igreja é Cristo a atuar nos dias de hoje, ajudando as pessoas. Somos o coração de Cristo, os
Seus pés e mãos, os lábios e os olhos. Tem a governá-la em nome de Cristo, o Santo Padre, Seu
Vigário na terra. Por mais dificuldades que a Igreja tenha, está-lhe prometido por Jesus que não
sucumbirá aos perigos e ciladas.

Esta verdade torna-se mais visível na santa Missa que estamos a celebrar.

Há uma só fé, um só batismo e um só Senhor que guarda para nós uma só recompensa eterna.
Ele serve-nos a Palavra de Deus e o Seu Corpo e Sangue, para que possamos viver em plenitude.
Cristo torna-se visível pelo sacerdócio ministerial.

Roteiro Homilético – XXII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. Seduzido por Deus


2. Renovação interior
3. Seguimento até à cruz
4. Dimensão profética do batismo

A liturgia de hoje centra a atenção sobre as consequências dolorosas do ministério profético e


do seguimento de Jesus. Tanto Jeremias como Mateus chamam a atenção sobre o conflito que
o profeta e também Jesus devem enfrentar.

1. Seduzido por Deus

A experiência do exílio marcou a vida do povo de Israel. Foi um momento muito doloroso que
exigiu traçar sua fé no Deus da Aliança. Nesse marco histórico encontra-se o Profeta Jeremias.
Esta passagem põe em destaque o clamor do profeta porque Deus o seduziu e o forçou, foi
objeto de zombaria de todos e a palavra foi motivo de dor e desprezo. Por isso o profeta quis
escapar da missão, mas a Palavra foi mais forte e, praticamente, o venceu. A maioria dos profetas
bíblicos sofreu experiências similares às de Jeremias. São rechaçados pelos próprios irmãos e

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pelas autoridades correspondentes. Muitos deles sofreram a morte ou o desterro. No entanto, a
fidelidade a Deus e a seu Povo foi mais forte que sua própria segurança e bem-estar. A Palavra
de Deus age no profeta como um fogo abrasador que não o deixa tranquilo e o mantém sempre
alerta no cumprimento de sua missão.

2. Renovação interior

A segunda leitura, da carta de Paulo aos cristãos de Roma, utiliza uma linguagem imperativa. S.
Paulo fala-lhes não só como irmão na fé, mas com a autoridade de Apóstolo. Convida-os a fazer
do seu corpo uma oferenda permanente a Deus. O verdadeiro culto não é o que se reduz a ritos
externos, mas o que procede de uma vida recta e transparente. O corpo, veículo da vida interior,
deve ser um canto de louvor e gratidão a Deus. Nisto consiste a conversão para Paulo: numa
vida totalmente transformada pelo Espírito de Deus, na mudança de mentalidade, de valores, de
horizonte. Só assim se poderão ter critérios de discernimento para buscar, encontrar e realizar
a vontade de Deus.

3. Seguimento até à cruz

No Evangelho encontramos um belo esquema catequético sobre o seguimento de Jesus até


a cruz. Jesus manifesta aos seus discípulos que o caminho da ressurreição está estritamente
vinculado à experiência dolorosa da cruz. O núcleo principal é o primeiro anúncio da paixão. No
entanto, os discípulos, simbolizados pela pessoa de Pedro, não compreenderam esta realidade.
Estão convencidos do messianismo glorioso de Jesus que se coloca dentro das expectativas
messiânicas do momento. Jesus recusa enfaticamente esta proposta, pois a vontade do Pai não
coincide com a expectativa de Pedro e dos discípulos.

Os discípulos são convidados pelo Mestre a continuarem seu caminho porque ainda não
alcançaram a maturidade própria de discípulos. Imediatamente Jesus dirige-se a todos eles
para assinalar que o caminho do seguimento também abarca a cruz. Não existe verdadeiro
discipulado se não se assume o mesmo caminho do Mestre. O anúncio do evangelho traz consigo
perseguição e sofrimento. Tomar a cruz significa participar na morte e ressurreição de Jesus.
Perder a vida por causa de Jesus habilita o discípulo para alcançá-la em plenitude junto de Deus.

4. Dimensão profética do batismo

No Batismo fomos consagrados sacerdotes e reis. Portanto, a dimensão profética de nossa fé


é intrínseca à consagração batismal. Hoje não podemos prescindir da dimensão profética no
seguimento de Jesus. E sabemos que as consequências do profetismo, vinculado estreitamente
à missão evangelizadora, são a oposição, a perseguição, o desprezo e o martírio. Muitos homens
e mulheres em distintas partes do mundo perderam a vida pela fé e pela defesa dos valores
evangélicos. Se quisermos seguir a Jesus na fidelidade deveremos enfrentar muitas contradições,
caminhar em contramão daquilo que propõe a ordem estabelecida, a cultura dominante e a
globalização do mercado – que não é outra coisa senão a globalização da exclusão.

Desejaríamos viver um cristianismo cómodo, sem sobressaltos, sem conflitos. Mas Jesus é
claro no seu convite: é preciso tomar sua cruz, arriscar a vida, perder os privilégios e seguranças
oferecidos pela sociedade se quisermos ser fiéis ao Evangelho. Como vivemos na nossa família
e na comunidade cristã a dimensão profética do nosso batismo? Estamos dispostos a correr os
riscos exigidos pelo seguimento de Jesus?
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Roteiro Homilético – XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. Importância de escutar a voz do Senhor.


2. Devemos imitar as sentinelas.
3. Tudo realizar com muita persistência, coragem e caridade.

1. Importância de escutar a voz do Senhor.

Como a voz de Deus é a voz do melhor dos pais, é sempre caminho certo de felicidade para
seus filhos. Do escutar e seguir essa voz, depende todo o bem-estar humano: paz, alegria, amor,
tranquilidade, verdadeiro progresso social, encontro da Verdade! A Palavra de Deus deste
Domingo é particularmente importante. Por isso o refrão do Salmo intercalar nos recomenda:
«Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações».

2. Devemos imitar as sentinelas.

Através do Profeta Ezequiel o Senhor diz-nos que devemos ser como sentinelas perante nossos
irmãos para os avisar, dos possíveis perigos, que podem correr. Não podemos ficar indiferentes
perante o mal. Esta atenção e correção é de tal forma importante, que, se a não cumprirmos,
diz-nos o Senhor, ficaremos responsáveis pelas desgraças terrenas e eternas dos outros «Eu
pedir-te-ei contas da sua morte».

São infelizmente muitos os desvios doutrinais e morais que tão descarada e levianamente
se divulgam, ao ponto de serem apresentados, por vezes, quase como virtudes. Perante tal
descalabro ninguém poderá ficar indiferente. Os mandamentos do Senhor, que são sempre
caminhos de felicidade, não mudaram. É urgente anunciar as leis santas do matrimónio, a
fidelidade e castidade conjugal, a virgindade até ao casamento e denunciar os enganos que são
os divórcios, a aberração das «uniões de fato» e «casamentos» homossexuais, o crime hediondo
do aborto, o uso e divulgação dos mais variados anticonceptivos, mesmo junto da juventude a
pretexto de uma educação sexual que, em tais circunstâncias, não existe; a pouca generosidade
na aceitação dos filhos, a falta de uma educação integral de tantas crianças, o pouco e por
vezes nenhum amor que se dá aos filhos, a leviandade no vestir com modas indecorosas, os
namoros pecaminosos, a literatura e filmes imorais, a tão pouca atenção dada aos verdadeiros
valores, as injustiças sociais por parte de patrões e operários, tanto tempo perdido, quando o
Senhor, que tudo possui, não nos engana e é nosso Amigo, nos manda «procurar em primeiro
lugar o Reino de Deus e Sua justiça, que tudo o mais nos será dado por acréscimo», etc. etc.

3. Tudo realizar com persistência, coragem e caridade.

«A caridade é o pleno cumprimento da lei», nos lembra S. Paulo na segunda Leitura da Missa
de hoje. Se não podemos ficar indiferentes perante os muitos caminhos errados que os nossos
irmãos podem correr, também é certo que toda a nossa acção apostólica deverá ser exercida com
muita caridade, persistência, coragem e compreensão. Sempre sem juízos precipitados. Nunca
temos direito de julgar seja quem for. Os desvios por outros praticados, também poderiam ser
nossos, se não tivéssemos recebido as graças que Deus, na Sua Bondade infinita, nos concedeu.
Só Ele nos poderá verdadeiramente julgar.

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Foi com muita bondade que Jesus falou com a Samaritana, com Zaqueu, a mulher adúltera
e tantos outros pecadores. Ele mesmo nos apresenta no Evangelho de hoje os cuidados que
devemos ter nesta abordagem: primeiro falar a sós com o irmão, depois, se o primeiro encontro
não resultar, levar outro para ajudar, no diálogo, e só finalmente o comunicar à Igreja.

Todos estes passos devem ser precedidos de muita oração. Nossa Senhora em Fátima lembrou
mesmo «que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por
elas». À oração nos convida também Jesus na parte final do Evangelho de hoje «se dois de vós
se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhes-á concedido por meu Pai que está
nos Céus. Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles».

Verdadeiramente a crise do mundo «é crise de santos», isto é, de quem se sacrifique e ore por
si pelos outros.

Como é rica e particularmente importante a Palavra do Senhor deste Domingo! Vamos guardá-
la e transformá-la em vida. Temos, com certeza, muitos irmãos que esperam, sem saber, a nossa
ajuda amiga, para a descoberta do verdadeiro sentido de suas vidas. «Se hoje ouvirdes a voz do
Senhor, não fecheis os vossos corações».

Roteiro Homilético – XXIV Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. Que fazer para obter o perdão de Deus e dos homens?

João Paulo II, Dives in Misericordia, n.º 14, 30-XI-1980, diz:


«É evidente que a exigência tão generosa em perdoar não anula as exigências objectivas da
justiça. A justiça bem entendida constitui, por assim dizer, a finalidade do perdão. Em nenhuma
passagem do Evangelho o perdão, nem mesmo a misericórdia como sua fonte, significam
indulgência para com o mal, o escândalo, a injúria causada, ou os ultrajes. Em todos estes
casos, a reparação do mal ou do escândalo, a compensação do prejuízo causado e a satisfação
da ofensa são condição do perdão.

Assim a estrutura da justiça penetra sempre no campo da misericórdia. Esta, no entanto, tem o
condão de conferir à justiça um conteúdo novo, que se exprime, do modo mais simples e pleno,
no perdão.» Por palavras mais simples: todos têm direito ao perdão mas devem cumprir os
deveres de justiça para com o ofendido. Seja para com Deus seja para com a pessoa ofendida.

2. Como procede o Senhor com o pecador?

Só perdoa a quem está disposto a perdoar. Esta frase parece estranha mas tem fundamento
bíblico. Reparemos dos textos da Eucaristia de hoje. Centrem a atenção na primeira frase
(Primeira Leitura), e na última (Evangelho).

Primeira Leitura: «Perdoa a ofensa do teu próximo e, quando o pedires, as tuas ofensas serão
perdoadas».

Salmo Responsorial: «O Senhor perdoa todos os teus pecados e cura as tuas enfermidades. Não

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está sempre a repreender nem guarda ressentimento. Não nos tratou segundo os nossos pecados
nem nos castigou segundo as nossas culpas. Como a distância da terra aos céus, assim é grande
a sua misericórdia para os que O temem».

Evangelho: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete».

Depois conta a história dos dois devedores e remata deste modo: «Assim procederá convosco
meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração». E, no Pai
Nosso, Cristo ensina a rezar nestes termos: «Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido».

3. Como deve o homem proceder com quem o ofende?

Tal qual como Deus procede conosco.

Quem deseja o perdão do seu pecado tem de perdoar e, se não tem forças para isso, deve pedi-
las ao Senhor, à Santíssima Virgem, e a todos os Anjos e Santos. Deve fazer oração, frequentar
os sacramentos, sobretudo a Penitência e a Eucaristia, etc.

Roteiro Homilético – XXV Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. Buscar o Senhor enquanto o podemos encontrar


2. Para mim, viver é Cristo
3. Os critérios de Deus

1. Buscar o Senhor enquanto o podemos encontrar.

O Senhor preocupa-se connosco, procura-nos em cada instante, convida-nos a trabalhar na


nossa santificação. Há momentos na vida que são mais próprios para este encontro com Jesus:
um acontecimento que nos impressiona, uma leitura que fazemos, um pensamento que nos
assalta repentinamente.Acontece, porém, que nós, por isto ou aquilo, adiamos estes encontros
privilegiados.

Cedemos à preguiça, ou tentamos fugir ao sacrifício que nos exige uma decisão tomada no
momento próprio.

É o Senhor que passa à nossa porta e não devemos fechá-la indelicadamente. Chegará um
dia em que o Senhor passará pela última vez. E, como não sabemos quando será, temos de ir
vencendo cada uma das ocasiões que nos apresentam.

2. Para mim, viver é Cristo.

Paulo encontrava-se na prisão. Esta é uma das chamadas epístolas do cativeiro. O apóstolo
começa por agradecer a Deus os benefícios concedidos aos cristãos. Esta acção de graças tem
um cunho particular de alegria pela dedicação dos Filipenses à pregação do Evangelho: amor
apaixonado do presente que é garantia do futuro. A prisão de Paulo, em vez de entravar a

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pregação do Evangelho, foi ocasião do progresso, atingindo até a casa imperial.

O importante é que Cristo seja conhecido e amado. A grande alegria de Paulo é saber que Cristo
será sempre glorificado nele. Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Ele sente-se angustiado
dois sentimentos opostos. Deseja morrer para estar com Cristo, e deseja viver para que o seu
ministério seja frutuoso junto dos Filipenses e doutros.

Como proclama S. Paulo, o Senhor deve ser glorificado no nosso corpo. E é-o precisamente pela
Eucaristia. Aplicam-se, a cada um de nós, estas palavras: procurai comportar-vos de maneira
digna do Evangelho (M 1,27).

A Eucaristia é Cristo glorificado no nosso corpo, glorificado tanto na vida como na morte (F
1,20). Na vida e na morte sempre Cristo seja glorificado em nós.

3. Os critérios de Deus

Nestes tempos, que são os últimos Deus fala-nos por Seu Filho (Heb 1,3). E o Filho, como
se exprime? Prefere falar-nos em parábolas. Hoje escutamos uma dessas parábolas, a dos
trabalhadores enviados para a vinha. No fim do trabalho, o patrão manda dar o mesmo salário
a todos, desde os que aguentaram o calor aos que chegaram na última hora. O sentido é claro.
Jesus não quer certamente tratar da questão salarial do contexto da justiça social. Ele quer
antes esclarecer a atitude de Deus para com os homens, atitude que não se exprime no modelo
concretual, mas nos princípios da gratuitidade que supera toda a lógica humana. A mensagem
que nos é transmitida obriga-nos a comparar, uma vez mais, os nossos critérios com os critérios
de Deus.

Segundo a nossa justiça, quem trabalhou mais horas merece maior retribuição. Por isso
admiramos-nos e quase nos escandalizamos com o modo de proceder do feitor que paga a
todos com o mesmo salário. Com esta parábola, Jesus quer indicar que a paga do dia do juízo,
é, fundamentalmente, fruto a bondade de Deus e não em função das horas que trabalharam.
Entramos no Reino, antes de mais, porque o Pai nos convida e nos quer fazer felizes.

Por isso não podemos pedir-lhe contas nem podemos fazer comparações com os outros. Todos
são salvos porque Deus nos deseja salvar e não porque tenham trabalhado mais que os outros.
A iniciativa e a realização do plano de Deus provém essencialmente do amor que Deus nos tem.
A parábola mostra-nos ainda que nunca é tarde para começar.

O Senhor chama sempre, em todas as horas. Importa estar atento e corresponder ao apelo. A
resposta final, por parte de Deus, superara sempre a nossa expectativa.

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Roteiro Homilético – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia


1. As incoerências religiosas
2. A necessidade de conversão
3. O apelo de S. Paulo

1. As incoerências religiosas

Nesta parábola dos dois filhos, hoje escutada, somos confrontados com posições muito reais
que se podem encarar como a repetição das nossas próprias incoerências. Descobrimos três
pessoas: um pai e dois filhos. Naturalmente identificamos o pai com Deus; o primeiro filho com
Israel, o povo eleito; o segundo com os gentios, os não pertencentes ao povo israelita, mas que
se converteram e foram os primeiros a labutar na «vinha».

A parábola inicialmente pode parecer-nos perturbadora. Todavia, Jesus vem avaliar a nossa
franqueza e a nossa lealdade. Ainda hoje Deus continua a ter dois filhos: na Igreja, nas nossas
comunidades cristãs, no mundo… subsistem sempre os dois filhos. Uns solicitam o Batismo,
dizem «sim», mas, logo, na vida real, o seu «sim» é mudado em muitos «nãos». Porém, existem
muitas pessoas que nunca aceitaram claramente a Deus, mas na sua experiência diária amam o
irmão, dedicam-se aos outros, praticam desprendidamente a caridade.

Sob uma fictícia teimosia, pode existir um verdadeiro amor que no instante próprio se exterioriza
francamente. No oposto, certas formas de obediência podem constituir apenas desinteresse, por
falta de amor autêntico. É o fato das pessoas que pronunciam sempre «sim», porque não são
capazes de dizer «não»: verdadeiramente nunca passam das palavras às obras, não sentem
necessidade de conversão.

2. A necessidade de conversão

Jesus, como desfecho da parábola, pôs em confrontação a disposição dos filhos do Povo Eleito
com a dos pagãos. De igual modo, o profeta Ezequiel – como escutamos na primeira leitura
– comparou o modo de julgar do povo israelita com a maneira como Deus procede. Ninguém
acarreta os delitos dos outros. Pelo brado do profeta, Deus pretende repreender os esquemas
simplistas com que, às vezes, classificamos sem recurso as pessoas, ou as fazemos joguetes das
desgraças. Para Deus todo o homem, mesmo grande pecador, tem capacidade de se converter,
como também aquele que se acha bom e justo, pode cair. O Senhor conhece-nos bem e espera
que empreguemos conscientemente a nossa autonomia.

As palavras do profeta, confirmadas pelas sentenças de Jesus no final da parábola, são palavras
fortes, que encerram uma denúncia sempre atual. Devemos pensar séria e autenticamente sobre
elas, para ver qual é a nossa forma de agir: se copiamos os que se pensam bons e não fazem
nenhuma tentativa por se converterem, ou se respeitosamente nos identificamos pecadores e
com mansidão nos convertemos ao Senhor, consoante o apelo de S. Paulo.

3. O apelo de S. Paulo

A segunda leitura vem fortalecer as duas leituras antecedentes. A comunidade de Filipos era

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admirável e Paulo vangloriava-se dela. Mas lá, como também acontece nas nossas melhores
comunidades, havia a dificuldade da inveja entre cristãos. Existia quem desejasse distinguir-
se, não olhando ao estilo como agia, pretendendo ter o encargo de alguma função a seus olhos
relevante (a proclamação da Palavra durante as celebrações litúrgicas, a administração dos bens
da comunidade, a organização da vida comunitária, a responsabilidade pelos cânticos…). É
verdade que aspiravam a tais incumbências para ajudar os irmãos, mas também para afirmação
própria, para mandar, para se exibirem
.
Paulo, que sempre guardara muito afecto pelos Filipenses, pede-lhes que lhe dêem a imensa
alegria de conviverem sem interesse, sem espírito de preponderância, mas unidos em efectiva
caridade, não pretendendo o próprio proveito, mas o dos outros. O Apóstolo não se apraz
em aconselhar: alude ao modelo, Jesus Cristo, e pede que nas relações recíprocas retratem a
sensibilidade e maneiras de Jesus.

Tomara que com a reflexão destes textos, escritos há mais de dois mil anos, mas atuais,
consigamos corrigir alguma postura menos correcta que em nós ainda persista, a fim de sermos
verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, presente através de cada um de nós, no mundo de hoje.

Roteiro Homilético – XXVII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. A Antiga Vinha de Deus- o Povo de Israel.


2. A Nova Vinha de Deus- a Igreja Católica
3. A obrigação de dar frutos de boas obras

1. A Antiga Vinha de Deus- o Povo de Israel

Deus escolheu o Povo de Israel como sua vinha predilecta, libertou-o da escravidão do Egipto,
conduziu-o à terra prometida, cuidou dele com o mesmo carinho com que o vinhateiro cuida
a sua vinha, defendeu-o dos inimigos que o cercavam…Que mais poderia ter feito por este
povo, para que desse frutos abundantes e saborosos de boas obras: de fidelidade à Aliança, de
cumprimento fiel dos Mandamentos, de amor misericordioso?…Porém, muitas vezes não foi
assim. Israel deu frutos amargos, uvas más, obras perversas. Em lugar de frutos de justiça e de
fidelidade, Israel abandonou o Senhor, desprezou o seu Deus, virou-se para os deuses dos povos
pagãos que o rodeavam, caindo na idolatria. Revoltaram-se contra o dono da vinha, perseguiram
e mataram muitos profetas e acabaram por matar o próprio Filho Unigênito, crucificando-O no
Calvário.

A vinha do Senhor, por Israel ter abandonado o seu Deus, veio a ser vítima do seu próprio
desregramento, até à queda de Jerusalém, à destruição do seu Templo e dispersão dos judeus
por todas as nações.

2. A Nova Vinha de Deus – a Igreja Católica

Porém, as promessas de Deus permanecem. O projecto salvífico do Senhor não mudou. A vinha
do Senhor não acabou: foi dada a um outro povo que produza os seus frutos, ao novo Israel
de Deus, à Igreja de Jesus Cristo. Esta eleição tem como ponto de partida um ato de pura

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benevolência da parte de Deus, sem qualquer mérito da nossa parte. A nova Vinha, a Igreja, o
povo cristão é o Corpo de Jesus Cristo. E porque Cristo é fiel, a Igreja também o será e dará
fruto e fruto abundante. Ao longo dos séculos, o Povo de Deus tem trazido todas as nações aos
pés de Jesus Cristo.

Porém, cada um de nós, como membros que somos desta Igreja Santa, como ramos desta Cepa
que Jesus plantou, pode falhar e ser estéril e, o que é pior, pode ser infiel à sua vocação, ser
cortado e ser lançado ao fogo. As próprias comunidades menores podem também desaparecer,
se os seus membros não derem os frutos que Deus espera delas. Foi o drama das igreja da
Ásia Menor de que fala o Apocalipse, de algumas comunidades cristãs do norte de África tão
florescentes nos primeiros séculos do cristianismo, é o drama de países inteiros que caíram
na indiferença religiosa e até na incredulidade depois de muitos anos de fidelidade e de boas
colheitas.

3. Obrigação de dar frutos de boas obras.

Deus espera de nós frutos saborosos de boas obras. Mas só os daremos na medida da nossa
união a Cristo: «Eu sou a Cepa, vós as varas. Aquele que permanece em Mim e em quem Eu
permaneço é que dá muito fruto, porque, sem Mim, nada podeis fazer» (Jo 15,5). Esta vida
íntima de união com Cristo na Igreja é alimentada pelos auxílios espirituais comuns a todos os
fiéis, de modo especial, pela participação ativa na sagrada Liturgia e pela oração contínua.

Os lares cristãos estão a dar os frutos de filhos que Deus espera deles? Os esposos cristãos estão
a dar frutos de fidelidade que os faça cada vez mais felizes? As comunidades cristãs estão a dar
os frutos apostólicos que o mundo necessita? Os cristãos estão a dar frutos de entrega aos seus
irmãos pobres e necessitados? Existem os frutos de generosidade e entrega neste mundo tão
necessitado de mais vocações?

Roteiro Homilético – XXVIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

1. O banquete do Reino
2. Convite dirigido a todos os homens
3. Na orientação do nosso coração para Jesus

1. O banquete do Reino

A Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento, inúmeras vezes nos apresenta a vida
como uma festa que devemos saber aproveitar. Ora, na primeira leitura deste domingo, o
profeta Isaías ao falar de Deus que nos prepara um banquete de manjares suculentos, leva-nos a
imaginar a felicidade que o Senhor prepara para os seus filhos. O sonho, que desde sempre tem
acompanhado o homem, torna-se realidade na casa de Deus, nosso Pai. Assim, tudo aquilo que
é morte e derrota como a falta de rumo para a existência, a ausência de ideais, o fracasso, a dor,
a fome, a doença, o desprezo, serão completamente eliminados. Com a vinda de Jesus Cristo,
todas as situações de morte são transformadas em alegria e felicidade, pela festa do banquete
do Reino. A esta felicidade e alegria são convidados todos os povos.

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2. Convite dirigido a todos os homens

Tal nos demonstra Jesus, no Evangelho, ao concretizar o banquete do Reino na festa nupcial
que o Pai prepara em honra de Seu Filho, o Esposo da nova humanidade.

Na alegria desta festa há porém elementos que nos obrigam a refletir.

Os primeiros convidados, que representam os guias espirituais de Israel, já se encontram


satisfeitos com a organização religiosa que montaram e que lhes comunica segurança e, por
isso, rejeitam ir ao banquete.

Ora, todos os que não são pobres, os que se recusam a abandonar as próprias garantias materiais
e espirituais, que não têm fome e sede de um mundo novo, jamais entrarão no Reino de Deus,
pois ficarão satisfeitos com as insignificâncias em que estão envolvidos.

O banquete é então aberto a convidados recolhidos ao longo do caminho, «bons e maus», que
caracterizam a Igreja, comunidade tão múltipla, que se abre a toda a gente, sem rejeições.

É o Novo Povo de Deus em que se dá a todo o homem a possibilidade de encontrar o Salvador.

Esta parábola é uma chamada a abrir o coração e as portas das nossas comunidades a qualquer
género de pessoas, aos pobres, aos abandonados, a quem é recusado por todos.

Todavia, é fundamental que cada convidado corresponda ao convite e se prepare condignamente


para tomar parte nele.

3. Na orientação do nosso coração para Jesus

No detalhe da veste nupcial está compreendido um apelo à nossa responsabilidade. Não basta
sermos convidados: é preciso saber corresponder e ser merecedor do convite, através da nossa
conduta ativa e testemunhal.

S. Paulo, como lemos na segunda leitura, homem habituado a uma vida dura, às perseguições,
à fome, sente-se comovido com as ofertas enviadas pela comunidade dos filipenses para o
acalentarem na prisão, onde ele se encontrava detido. É então que ele afirma que a felicidade
não reside na fartura ou na carência dos bens materiais, mas sim na direção do nosso coração
em face da vida. E esta bússola define a orientação do nosso coração para Jesus Cristo.

Cabe aqui recordar a necessidade de termos uma palavra de gratidão, através de gestos e acções
concretas, para com todos aqueles que deixaram a formação de uma família própria, que tudo
abandonaram, para se dedicarem completamente à pregação do Evangelho e que, tantas vezes
incompreendidos, não recebem qualquer sinal de apreço e amizade das comunidades a que se
dedicam.

Perante este convite urgente à conversão do nosso coração, saibamos aceitar a lógica e a «roupa
nova» dos filhos do Reino de Deus, construindo deste modo a nossa verdadeira felicidade em
alegria, comunhão, amizade e confiança.

75
Roteiro Homilético – XXIX Domingo do Tempo Comum – Ano A

Sugestões para a homilia

Vamos principiar com algumas advertências tiradas da mensagem do Santo padre, Bento XVI,
para este Dia Mundial das Missões.

A dado passo da Sua Mensagem, diz Bento XVI: «O meu venerado Predecessor, o Servo de
Deus Paulo VI, já afirmava na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, que «evangelizar
constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade»
(n.14). Como modelo deste compromisso apostólico, apraz-me indicar particularmente São
Paulo, o Apóstolo das nações, uma vez que no corrente ano celebramos um Jubileu especial a
ele dedicado. Trata-se do Ano Paulino, que nos oferece a oportunidade de familiarizar-se com
este insigne Apóstolo, que recebeu a vocação de proclamar o Evangelho aos gentios…

Como deixar de aproveitar a oportunidade oferecida por este jubileu especial às Igrejas locais,
às comunidades cristãs e a cada um dos fiéis separadamente, para propagar até aos extremos
confins do mundo «o anúncio do Evangelho, força de Deus para a salvação de todo aquele que
acredita» (cf. Rm 1,16)

Perante os graves problemas com que se debate a humanidade hodierna o Santo Padre pergunta:
«O que será da humanidade e da criação? Existe esperança para o futuro, ou melhor, há um
futuro para a humanidade? Como será esse futuro? A resposta a estas interrogações provêm-
nos do Evangelho. Cristo é o nosso futuro e, como escrevi na Carta Encíclica Spe salvi, o seu
Evangelho é a comunicação que «transforma a vida», incute esperança, abre de par em par
as portas obscuras do tempo e ilumina o porvir da humanidade e do universo (cf. n.2). São
Paulo compreendeu bem que somente em Cristo a humanidade pode encontrar a redenção e a
esperança. Com efeito, «quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no
fundo está sem esperança».

Últimas palavras da Mensagem:

«Enquanto confio ao Senhor a obra apostólica dos missionários, das Igrejas espalhadas pelo
mundo e dos fiéis comprometidos em várias atividades missionárias, invocando a intercessão
do Apóstolo Paulo e de Maria Santíssima, Estrela de Evangelização e da Esperança, concedo
a todos a Bênção Apostólica».

Apelo

Tudo a mais que pode dizer-se já é suficientemente conhecido. Rezemos, ofereçamos algo das
nossas economias e lembremos o atraso e a miséria em que vivem muitas Nações.

Recordo só este caso: Esteve entre nós um Padre da Guiné-Bissau. Falou dos imensos problemas
que lá existiam e uma das grandes aspirações era levar um trator para melhorar a agricultura
naquele País. Sem máquinas, como se pode viver? A miséria é tal que nós, dificilmente
acreditámos. Não se pode pregar a estômagos vazios.

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ANO B
Roteiro Homilético – II Domingo do Advento - Ano B

Sugestões para a homilia

Uma mensagem de esperança


A esperança realizada em Jesus exige testemunho vivo
«Novos céus e nova terra»

Ano Paulino

A liturgia deste domingo lança-nos um enérgico apelo à conversão, à preparação do nosso


coração para acolher Deus que vem, em Jesus. Afirma-nos que Deus está sempre pronto, e até
desejoso, de nos oferecer um mundo novo de liberdade, de justiça e de paz. Porém, esse mundo
só se tornará uma realidade quando cada pessoa aceitar reedificar o seu coração, abrindo-o aos
valores de Deus.

Uma mensagem de esperança

A primeira leitura constitui uma mensagem de consolação e de esperança, veiculada através de


palavras cheias da ternura do nosso Deus. O profeta assegura aos exilados de Israel que Javé é
fiel e que quer trazer de volta o seu Povo, em direção à terra da liberdade e da paz. Ao Povo, por
sua vez, é pedido que dispa os seus hábitos de comodismo, de egoísmo e de auto-suficiência e
aceite, outra vez, confrontar-se com os desafios de Deus. Também nós nos sentimos apavorados
diante da violência e do terrorismo, que parecem imperar, marcando a sangue a vida de tantos
dos nossos irmãos e irmãs, das doenças que a medicina não sabe curar, do desprezo a que
são votados os mais pequenos e fracos, enfim, de uma sociedade que teima em se construir
à margem de Deus e contra Ele. Porém, a mensagem do profeta garante-nos que Deus não
está alheado da nossa história, mas continua a vir ao nosso encontro e a oferecer-se para nos
conduzir com amor e solicitude até à verdadeira vida e liberdade.

A esperança exige testemunho vivo

No evangelho, João Batista convida os seus contemporâneos, e também a nós, a acolher o


Messias libertador, cuja missão consiste em oferecer a todas as pessoas o Espírito de Deus, que
gera vida nova e nos permite viver numa dinâmica de amor e de liberdade. No entanto, só poderá
estar aberto à proposta do Messias quem tiver percorrido um autêntico caminho de conversão,
uma transformação completa, por um estilo vital inteiramente novo, colocando Deus no centro
da sua existência e dos seus interesses. O «estilo de vida» de João constitui uma interpelação
tão forte como as suas palavras. É o testemunho vivo de um homem que está consciente das
prioridades e não dá importância aos aspectos secundários da vida. A nossa vida também está
marcada por valores, nos quais apostamos, e à volta dos quais construímos a nossa existência.
Quais são os valores fundamentais que marcam as minhas decisões e opções? Como me situo
frente a valores e a um estilo de vida que contradiz, claramente, os valores do Evangelho?
«Novos céus e nova terra»

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A segunda leitura aponta para a segunda vinda de Jesus. Convida-nos à vigilância, isto é, a
vivermos de acordo com os ensinamentos de Jesus, empenhando-nos na transformação do mundo
e na construção do Reino. A certeza da ressurreição garante-nos que Deus tem um projecto de
salvação e de vida para cada pessoa e que esse projecto está a realizar-se, continuamente, em
nós, até à sua concretização plena, quando nos encontrarmos definitivamente com Deus. Os
crentes são, pois, homens e mulheres de esperança, abertos ao futuro, já nesta terra, com fé e
amor, mas sobretudo a um futuro a esperar, como dom de Deus, «os novos céus e a nova terra»
onde habitam a justiça e a paz.
Ano Paulino

Paulo, completamente mergulhado na lei de Moisés, não foi capaz de reconhecer em Cristo
o Messias. Como podia um nazareno, um crucificado ser o Ungido de Deus? Para ele tudo
não passava de uma mentira. Na sua concepção do mundo, o outro, o que pensa diferente, o
que não pertence à lei, deveria converter-se ou ser reduzido ao silêncio e até ser aniquilado!
Apaixonado pelo judaísmo vai até à loucura de perseguir os cristãos. No caminho de Damasco,
surge uma grande luz e tudo muda! O seu olhar e inteligência, a sua vida abriram-se e descobriu
no improvável a divindade de Jesus Cristo! O morto estava vivo! O que parecia impossível,
mentira, loucura, aberração, invenção passou a ser a Verdade!

Os nossos passos, de cristãos «habituados» para quem as páginas do Evangelho «já são
conhecidas», e para quem Cristo é o «automaticamente presente» nas nossas reuniões, precisam
de cair por terra, em Damasco, para redescobrir a novidade e a força do Evangelho! Os nossos
joelhos carecem de tocar a terra para que se levantem os olhos e o coração possa ver Cristo
vivo!

Roteiro Homilético – III Domingo do Advento - Ano B

Sugestões para a homilia

1. A verdadeira alegria
A fonte da verdadeira alegria
Mensageiros da alegria
Para ser alegre, servir
2. O caminho da alegria
Humildade
Penitência
Crescer na fé e no amor

1. A verdadeira alegria

A alegria é para nós indispensável, como a luz do sol para a vida. Talvez por isso, procuramo-la
instintivamente sem descanso.

a) A fonte da verdadeira alegria. «O espírito do Senhor está sobre mim.» Acontece, porém, que
muitos jovens e adultos procuram hoje a alegria em fontes envenenadas. São elas, entre outras:

• A agitação e o ruído (nas discotecas, nas aparelhagens dos carros e de casa, nos grandes
aglomerados de pessoas, etc.). Sentimos medo ao silêncio que nos confronta com o vazio da

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nossa vida e nos pede para renunciar a muitas coisas e ao sacrifício para seguir a voz de Deus.

• A sensualidade e a gula, que nos mergulha na embriagues dos sentidos, mas deixa o espírito
cada vez mais faminto, vazio e inquieto. Quando não se acorda a tempo desta ilusão, pode levar
ao desespero, fruto da desilusão.

• A ostentação orgulhosa. Gasta-se tempo, dinheiro e trabalho a representar no grande palco da


vida, ostentando o que não se é. Vivemos na civilização do “faz-de-conta”. Quando deixamos
de ter plateia que nos aplaude, a vida aparece despida de qualquer sentido. A verdadeira fonte
da alegria encontra-se em Deus e buscamo-la quando procuramos ser fiéis ao que Ele nos pede.

b) Mensageiros da alegria. «O Senhor me ungiu e me enviou […]» A verdadeira alegria não se


encontra numa exclusiva atitude de receber, mas de dar e dar-se.

Quando Deus envia o Seu Servo para a missão, anunciada por Isaías – modelo de que há-de ser
todo o cristão – não o faz para que ele olhe exclusivamente para si. Se assim fosse, não teria
sentido o envio. Cada um de nós está no mundo também para servir. Somos uma comunidade de
serviço mútuo, com dependência uns dos outros. Deste modo começamos a vida em comunhão
na terra para a continuar eternamente no Céu.

Os que se dobram sobre si próprios, sempre à procura de serem servidos, sem ajudar quem quer
que seja, são infelizes e acabam por perturbar a alegria dos outros. Por isso, alguém dizia que
o primeiro serviço que o Senhor nos pede é tornar o mundo à nossa volta mais alegre, mais
humano e mais optimista.

Esta alegria não pode ser fruto de uma vivência néscia, ignorando as dificuldades reais da vida,
mas alicerçada na nossa filiação divina.

Para ser alegre, servir. «[…] me enviou a anunciar a boa nova aos pobres […]». Ao mesmo
tempo que nos convida a uma alegria perene, o Senhor indica-nos o caminho a percorrer para
a possuir.

O Senhor ungiu e enviou o Seu Servo e a cada um de nós, para instaurar uma nova ordem no
mundo:

• «a anunciar a boa nova aos pobres». Anunciar aos humildes, aos que não se apoiam nos
poderes humanos, mas apenas confiança que depositam no Senhor a sua esperança. São estes
que acolhem de braços abertos a boa nova da salvação.

• «a curar os corações atribulados». Muitos corações sangram pelas injustiças, incompreensões,


preocupações da vida. Temos de ajudá-los a procurar no Senhor a solução dos seus problemas.
O Senhor convida-nos: «Vinde a Mim todos os que andais sobrecarregados, e Eu vos aliviarei».

• «a proclamar a redenção aos cativos». Encontramos muitas pessoas que perderam a liberdade,
porque se deixaram apanhar nas malhas do álcool, da droga, da sensualidade, do apoderamento
dos bens alheios, e de tantas outras formas de escravidão. Precisam da nossa ajuda.

• «e a liberdade aos prisioneiros». Há pessoas cativas da prepotência e injustiça dos mais fortes,
do seu orgulho que não lhes deixa espaço para terem paz e de tantas outras formas de prisão.
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• «a promulgar o ano da graça do Senhor.» No Ano Sabático de Israel as dívidas eram perdoadas
e os bens imóveis voltavam à posse das pessoas. Propriamente era um ano de misericórdia em
que tudo era perdoado.

Deixou-nos o Senhor na Sua Igreja o acesso a esta misericórdia no Sacramento da reconciliação


e Penitência. Que belo programa para este Advento, ajudar as pessoas a reencontrar a alegria de
viver numa reconciliação sincera com Deus!

2. O caminho da alegria.

Na sua pregação no deserto da Judeia, S. João Baptista – pelas suas palavras e atitudes – ensina-
nos como nos havemos de preparar para caminharmos ao encontro de Jesus que nos vem visitar.

a) Humildade. «Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: Eu não sou o Messias».
Além desta proclamação de humildade, o Precursor tem outras: não é um profeta, mas apenas «a
voz do que clama no deserto». Recusa-se, num primeiro momento, a baptizar Jesus e manifesta-
se indigno de lhe desatar as correias das sandálias.

Se tentarmos descobrir as causas da nossa tristeza que, por vezes, nos invade, verificaremos que,
a maior parte delas ela brota da ferida do orgulho: porque não nos deram a importância e valor
que julgávamos ter; porque tentámos viver como se fôssemos donos incondicionais da nossa
vida; porque desejamos brilhar – colocarmo-nos no centro do mundo – e não o conseguimos, e
cobrimos a nossa nudez com o que não nos pertence. João Baptista despe-se corajosamente do
que não lhe pertence.

Aceitemos que somos pequenos, embora com a grandeza infinita de filhos muito amados do
nosso Pai do Céu.

b) Penitência. «Endireitai o caminho do Senhor.» Passamos a vida a fugir do que nos custa e,
no final, sentimo-nos amargurados.

Se usássemos este critério em relação à nossa saúde corporal, em breve lhe sentiríamos os
efeitos negativos. Aceitamos dietas, abstinências, caminhadas para garantir um mínimo de
qualidade de vida.

Podemos, pelo menos, aceitar com alegria e generosidade, as limitações que a nossa pouca saúde,
estreiteza económica, enquadramento na vida com as outras pessoas, em vez de embatermos
teimosamente contra elas.

Hoje fala-se de crise económica, há restrições impostas pela idade e, possivelmente, crises de
saúde. Em vez de cairmos numa lamentação doentia, procuremos ultrapassar estes obstáculos,
mas vivamos em paz e alegria. Mais que sejamos voluntários do Amor, do que encarar a vida
continuamente contrariados.

c) Crescer na fé e no amor. «É fiel Aquele que vos chama e cumprirá as suas promessas.» A fé
e o amor são inseparáveis na vida cristã.

Para conseguirmos este crescimento, temos necessidade de frequentar a escola da verdadeira


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alegria que é a Missa Dominical. O Senhor prepara para nós em cada Domingo duas mesas: a
da Palavra, na qual alimenta a nossa fé, e a da Eucaristia, onde robustece o nosso Amor.

Daqui partimos alegres, enviados por Deus, para viver este mesmo Amor, no trabalho, na família
e na convivência com os amigos e proclamar para todos que O Senhor nos ama com loucura e
nos ajuda a ser felizes já nesta vida e, principalmente, na que nos aguarda no Céu.

Maria Santíssima é modelo desta alegria que se fundamenta na fé e A leva ao Amor. Quando
canta o Magnificat em casa de Isabel, a sua vida não é um mar de rosas. Tem pela frente muitas
complicações humanamente difíceis: está grávida, tendo concebido virginalmente. Como vai
explicar este mistério a S. José? Além disso, o chamamento à maternidade não estava nos seus
planos, como confidencia ao Arcanjo.

E, no entanto, unicamente fundada na confiança no Senhor, canta o hino mais alegre de toda a
Sagrada Escritura.

Com Ela aprenderemos a pôr em prática o conselho de S. Paulo: «Irmãos: Vivei sempre alegres,
orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias…»

Roteiro Homilético – IV Domingo do Advento (Ano B)

Sugestões para a homilia

1. O teu trono será firme para sempre


2. Faça-se segundo a tua palavra
3. Que obedeçam à fé

1. O teu trono será firme para sempre

O rei Davi, depois de conquistar Jerusalém e fazer dela a capital do seu reino, quis construir
para Deus um templo que fosse digno do Senhor. Até então o templo era uma tenda de peles,
como Deus tinha indicado a Moisés no deserto do Sinai, de modo a ser transportada de um lado
para o outro.

Deus mandou dizer pelo profeta Natã que essa tarefa seria para o filho que lhe sucedesse. Mas
o Senhor recompensou a sua generosidade fazendo-lhe a promessa maravilhosa que ouvíamos
na primeira leitura: da sua descendência havia de nascer o Messias prometido a Abraão.

É uma lição muito importante para nós. Deus não fica a dever nada. É mais generoso do que
nós. Vale a pena que sejamos cuidadosos com as coisas de Deus. Vale a pena que tratemos bem
a Jesus que está conosco na Santíssima Eucaristia.

É um sinal da nossa fé e do nosso amor cuidar das nossas igrejas e dos objectos do culto. Que
não sejam como o curral onde nasceu há dois mil anos porque não quiseram recebê-Lo em suas
casas.

Jesus continua a ser Deus connosco em nossas igrejas. Além do cuidado com as coisas litúrgicas,
respeitemos o ambiente sagrado dos nossos templos, hoje que tantos cristãos não o sabem fazer.

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Até parece que estão na rua ou na feira da aldeia.

Ali é casa de oração, é lugar para falar com o Senhor e não para estar a conversar com os outros.
Se alguma coisa é preciso dizer, temos de falar baixo e só o estritamente necessário, com a
consciência de que está ali Jesus.

Aprendamos com Nossa Senhora a tratar bem Aquele que é verdadeiro Deus e verdadeiro
homem e que veio habitar entre nós e que Se encontra em nossos sacrários.

2. Faça-se segundo a tua palavra

Nossa Senhora é para nós o modelo sempre actual para acolher a Jesus. A Igreja apresenta-nos
neste último domingo do Advento a figura de Maria, a sugerir-nos que façamos como Ela para
viver bem o Natal de Jesus.

O Arcanjo S. Gabriel saúda-A em nome de Deus e diz-Lhe que Ele a escolheu para mãe do
Salvador prometido aos seus antepassados. A Virgem escuta com atenção, acredita sem duvidar
naquilo que o mensageiro de Deus lhe diz. Não pede nenhum sinal como Zacarias.

E responde: – «Eis a escrava do Senhor. Faça-se em Mim segundo a tua palavra.» Naquele
momento o Verbo de Deus, eterno com o Pai, toma a nossa natureza humana fazendo-se um de
nós no seio puríssimo de Maria.

Podemos admirar a fé, a humildade e a obediência pronta e decidida da Virgem. É uma lição
viva para todos nós. A fé e o amor de Deus manifestam-se na obediência fiel à vontade de Deus.
Cumprindo os Seus mandamentos.

A Epístola aos Hebreus diz-nos que as primeiras palavras de Jesus para o Pai ao incarnar foram:
«eis que venho, ó Deus, para fazer a Tua vontade» (Heb 10, 7). Vemos aqui a sintonia perfeita
entre a Mãe e o Filho.

Jesus fez-se homem e veio ensinar-nos a cumprir fielmente a vontade de Deus. Daí depende
a nossa felicidade neste mundo e no outro. «O meu alimento – dirá Ele mais tarde – é fazer a
vontade daquele que Me enviou» (Jo 4, 34).

Aprendamos com a Virgem a identificar-nos com Jesus, sempre prontos a fazer a vontade de
Deus. Jesus continua a guiar-nos através da Sua Igreja: através do Santo Padre, sucessor de
Pedro e pastor de todo o Seu rebanho e também dos bispos unidos a ele.

Santa Teresa de Ávila estava em Salamanca em 1563. O seu confessor mandou-lhe escrever
o relato da fundação dos seus conventos: madre Teresa estava bastante doente e com muitas
ocupações. Mas procurou fazer o que lhe mandavam. Jesus disse-lhe na oração. «Filha, a
obediência dá força» (Prólogo, Livro das Fundações).

A desobediência, por seu lado, rouba as forças e a eficácia na vida espiritual e no apostolado.
Hoje custa obedecer. Em nome duma falsa liberdade. Todos sabemos criticar e poucos sabemos
obedecer. Para acolher a Jesus em nosso coração, temos de o limpar dos pecados e adorná-lo
com o desejo firme de cumprir em tudo a vontade de Deus. O Advento foi para nós tempo
de barrela, procurámos confessar-nos, purificando-nos dos pecados, que são desobediência à
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vontade de Deus. Além do arrependimento e acusação sinceras procurámos fazer propósitos de
emenda, desejo sincero de cumprir em tudo o que Deus manda.

Peçamos à Virgem que nos ajude a acolher bem a Jesus, a acolher a salvação que nos trouxe e
continua a oferecer-nos a nós e a todos os homens. Depende da nossa cooperação.

Da cooperação de Maria dependeu a salvação de todos os homens. A Virgem não se limitou a


cumprir os mandamentos, como faziam muitos em Israel. Estava atenta às inspirações de Deus
e respondia a elas com prontidão e amor.

Da nossa obediência amorosa à vontade de Deus depende talvez a graça para muitos à nossa
volta.

3. Que obedeçam à fé

S. Paulo, na segunda leitura, fala do mistério da salvação que Deus oferece a todos os homens,
para que obedeçam à fé. O Evangelho de Jesus, a Boa Nova da salvação, exige a fé para ser
acolhida. E a fé leva a obedecer sem reservas às exigências de amor que Deus nos faz.

A humildade, a fé, a obediência amorosa da Virgem são o modelo para todos os homens poderem
acolher a Jesus e a salvação que nos traz. Não nos admiremos que muitos homens continuem a
fechar-se à Boa Nova de Jesus. Rezemos e trabalhemos mais. A graça de Deus pode tudo.

Animemos a todos à nossa volta a acolher a Jesus, a não fechar o coração como as gentes de
Belém há dois mil anos. Rezemos mais a Nossa Senhora e a S. José, que souberam acolher e
tratar tão bem a Jesus, que saibamos imitá-los melhor neste Natal. E que saibamos levá-Lo a
todos à nossa volta, com o nosso amor e nossa alegria de cristãos, que serão a chave para abrir
muitos corações, ansiosos pela salvação que só Jesus lhes pode trazer. Mesmo quando parecem
insensíveis e indiferentes.

Roteiro Homilético – Natal

Sugestões para a homilia

O Verbo, segunda pessoa da Trindade, existe em Deus desde sempre e é Deus. Vemos que Ele,
a Palavra, se fez carne e, S. João legou-nos este hino, em três estrofes. Assim, sabemos quem
Ele é, que Ele existe e O devemos amar, porque é Deus e Deus é amor, Amor incriado e eterno
do Qual dependemos.

É Esse que adoramos e Esse a Quem dobramos o joelho, é a Esse Deus que referimos as virtudes
teologais. Afirmamos ainda a nossa dependência como criaturas contingentes que aparecemos e
desaparecemos; Ele é eterno e absoluto, não depende de ninguém, a nós cumpre-nos, como toda
a criação, dar-Lhe glória: agradar, pedir e louvar, em gratidão diária de filhos pobres e humildes.

Ele vence o poder das trevas dando-nos o exemplo de como lutar contra todas as desordens para
nos situarmos um dia junto de Deus como Ele: O Verbo era Deus e estava junto de Deus.

Então existe em Deus desde sempre e é Deus.

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Tudo foi criado por meio d’Ele.
Vence o poder das trevas.
Ilumina todo o homem.
Veio ao mundo que não O conheceu.
Veio aos Seus – Israel – que o repeliram.

Como foi referido, ajoelhamos, levantamos as mãos em socorro, estamos sem recursos e
culpados.

Batemos no peito porque somos pecadores e merecemos castigo.


Quem se prostra por terra reconhece que diante de Deus não é mais que pó.
Elevam algumas pessoas as mãos ou estendem os braços em cruz, significando o ardente amor
de Deus ou a união com a oração de Jesus Cristo estendido na cruz.
Assim O conhecemos, assim somos dos Seus.

«E o Verbo Se fez carne e habitou no meio de nós»

Há presença pessoal e tangível de Deus entre os homens, expressa numa dupla imagem: põe a
Sua tenda no mundo, como um nómada; e nele se oculta a glória de Deus como antigamente na
nuvem; Só o Filho é que nos revelou Deus-Pai, a Quem ninguém jamais viu.

Vivemos para aduzirmos como testemunho a nossa fé; e como João Batista dar ainda testemunho
da Luz que a todos ilumina.

Roteiro Homilético – Noite de Natal

Sugestões para a homilia

Vamos a Belém!
«Naquele tempo os pastores diziam entre si: vamos a Belém.»

Irmãos, viajemos no tempo e no espaço. Vamos também nós a Belém. Vinde comigo à cidade
de David. Imaginemos estar na presença de Maria e José, que fizeram uma caminhada de cerca
de cento e cinquenta quilômetros, distância que separa Nazaré da Galileia de Belém de Judá;
distância muito difícil de percorrer, especialmente porque Maria estava prestes a ser mãe. Estive
em Belém há pouco tempo. Com as explicações do guia que nos acompanhava vamos meditar
no nascimento de Jesus.

Ao chegar a Belém impressiona tristemente o grande muro de arame farpado, os soldados, o


posto de controle. Pensamos que também José e Maria sentiram o peso do decreto imperial
de César Augusto. Ontem como hoje, nada fácil a vida em Belém. Apesar de tudo, exultemos
de alegria! Estava escrito no Profeta Miqueias: «De ti Belém-Efratá, terra de Judá, a mais
pequena das cidades, de ti é que há-de nascer Aquele que reinará sobre Israel». Como bons
israelitas, Maria e José certamente conheciam os livros Sagrados, pois eram lidos na Sinagoga.
Além disso, a Bíblia apresenta S. José como um homem justo, portanto obediente; sendo justo,
seria um homem prudente e um pai providente. Como era da linhagem de David, a fim de se
recensear, veio com Maria, sua esposa, à sua cidade, onde teria a casa da sua família. As casas
da Palestina ainda hoje aproveitam as grutas naturais, como um compartimento cómodo e muito

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útil. Cómodo porque um pouco climatizado. Protege do muito calor no Verão e do frio por vezes
rigoroso do Inverno. Útil porque sendo uma divisão separada do resto da casa, permitia à mãe
um certo isolamento para cumprir a Lei de Moisés, após o parto. A mulher era considerada
impura devido à perda de sangue, até à cerimónia da purificação no Templo (quarenta dias
para o caso dos bebés masculinos). Portanto não estranhemos: era comum o nascimento das
crianças nas grutas anexas às casas, que habitualmente não tinham quartos. (Ver nota da bíblia
de Jerusalém.)

Descemos à gruta preparada pela natureza para o Criador do Céu e da terra e tocámos o lugar
onde está escrito: Aqui nasceu Jesus! Alegremo-nos, pensando na alegria dos pastores entrando
na gruta e vendo o sinal dado pelo Anjo: «encontrareis Menino envolto em panos e deitado
numa manjedoura.» Alegremo-nos ao ver cumpridas as promessas!

Este nascimento revela uma pobreza comum a mais ou menos todas as famílias do povo bíblico.
Jesus, sendo rico fez-se pobre para nos enriquecer com sua pobreza! Fez-se semelhante aos
homens, nasce como as crianças pobres do seu tempo e do seu país. Ensinará mais tarde às
multidões o caminho da Bem-aventurança eterna para os pobres de espírito, dizendo que é deles
o Reino dos Céus!

Um Menino nasceu para nós!

Natal é festa de grande alegria. Natal é festa de muita luz. Natal é festa da família! Isto tem
uma justificação bíblica. O Anjo disse aos pastores: «Anuncio-vos uma grande alegria!» Este
anúncio jubiloso continua a ressoar ao longo dos séculos, fazendo «brilhar nas trevas da noite
uma grande luz» – dizia o Profeta Isaías.

No mesmo texto podemos ler: «Um Menino nasceu para nós, um filho nos foi dado». Frágil
como todas as crianças, mas «tem o poder sobre os seus ombros. Ele é o Conselheiro Admirável,
o Deus forte! Pai para sempre! O Príncipe da Paz!» Estas palavras tocam o nosso coração
e reavivam a nossa fé. Deus promete e cumpre! Na plenitude dos tempos, Deus manifesta
claramente o seu amor para connosco.

Por isso S. Paulo, meditando no mistério do Natal, podia exclamar: «Caríssimos! Manifestou-se
a bondade e a graça de Deus que traz a salvação para todos os homens!» Deixemos entrar no
nosso coração a Palavra de Deus! Deixemo-nos iluminar pela luz do Deus Menino!

Irmãos, esta é a noite santa de Natal. Nós não podemos calar o que vimos e ouvimos! Imitemos
os pastores! Imitemos S. Paulo! Anunciemos como os Anjos e os pastores esta alegre notícia:
hoje nasceu o nosso Salvador. Em todo o mundo gostaríamos que a luz e a paz do Deus Menino
transformasse em «noite Feliz, em noite de paz» o viver de todos, com costumamos cantar!
Tenhamos confiança! Sejamos testemunhas da Bondade de Deus.

Aproveitemos este tempo da solenidade do Natal para difundir a mensagem angélica: Glória a
Deus no Céu, paz na terra aos homens!

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Roteiro Homilético – Solenidade da Epifania do Senhor (Ano B)

Sugestões para a homilia

1. O mal no mundo
2. O bem no mundo
3. O Senhor quer salvar o mundo

1. O mal no mundo

No mundo em que vivemos há tanto mal!…

Como é possível não deixar nascer as crianças, matando-as no seio materno com o crime do
aborto?!

Como é possível haver monstros a roubarem a inocência das crianças que tinham direito a viver
sonhos de candura, pureza, encanto?!

Como é possível que o futuro risonho dos jovens seja destruído pela droga que arruína também
as suas famílias?!

Como é possível vermos mães a serem maltratadas por aqueles com quem geraram os filhos?!
Como é possível encontrarmos idosos abandonados, após uma vida de árduo trabalho em favor
de quem agora os despreza?!

Como é possível assistirmos aos ataques sucessivos à família pela infidelidade, pelo divórcio e
pelas uniões homossexuais?!

Como é possível sabermos que há doentes a sofrer sem haver um cireneu ou uma verónica a
ajudá-los a levar a Cruz?!

Como é possível acordarmos todos os dias com notícias de guerras, atentados, violência que
causam a dor, o desespero, a morte de milhões de pessoas inocentes?!

Como é possível pôr fim à vida pelos acidentes criminosos, pelo homicídio, pelo suicídio, pela
eutanásia?!

2. O bem no mundo

E nunca como neste terceiro milênio a humanidade podia ser feliz…

Há modernos cuidados de saúde com óptimos profissionais!

Há conforto em toda a parte!

Há boas vias para as pessoas se deslocarem!

Há meios de comunicação que mantêm as pessoas unidas e informadas!

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Foi Deus quem deu ao homem sabedoria para descobrir tudo isto em favor do progresso e bem-
estar dos povos do mundo inteiro.

Deus criou o mundo tão belo para nós!

Deus ama-nos tanto que enviou o Seu Filho ao mundo para o salvar, como já o Profeta Isaías
O anunciara na primeira leitura.

3. O Senhor quer salvar o mundo

Bispos, Sacerdotes e Leigos, em união com o Santo Padre, façamos tudo o que estiver ao
nosso alcance para erradicarmos o mal, apresentando a Lei de Deus para a salvação do mundo.
Interpelemos os Responsáveis pelas outras religiões para que, sem fanatismos, se juntem a
nós nesta missão. Façamos ver aos Governantes a responsabilidade que têm no combate às
injustiças sociais para que todos vejam respeitados os seus direitos.

Como os Magos (Evangelho) vamos ao encontro do Senhor, oferecendo-Lhe o nosso coração.


Ele preparou para nós uma eternidade feliz. Mas, para a alcançarmos, temos de amá-l’O como
Ele nos ama. Temos de amá-l’O nos irmãos.

São Paulo (segunda leitura) é exemplo para todos no amor a Cristo e ao próximo.
A Mãe de Jesus e nossa Mãe está connosco a abençoar- nos.

Não percamos a esperança. O mundo voltará a ser bom. Tão bom que apenas o trocaremos um
dia pelo Céu!

Roteiro Homilético – Batismo do Senhor (Ano B)

Sugestões para a homilia

Jesus veio de Nazaré da Galileia

Jesus veio de Nazaré. Nazaré era uma aldeia pobre, pequena, obscura e desconhecida. Ficava
situada na Galileia, que também era uma terra desprezada, por ser habitada por gente pagã. Isto
significa que Jesus era desconhecido de todos, em Israel. Mas esta cena do Baptismo vai dar
início a uma vida pública. Jesus é apresentado por Deus Pai como Messias, Salvador! Os cerca
de trinta anos de silêncio vão dar lugar a três anos de pregação luminosa que vão mudar a face
da terra. A sua mensagem há-de ressoar por toda a Palestina e por toda a terra! Jesus tornar-se-á
o Senhor do tempo, da história e da eternidade!

Foi batizado no Jordão

O rio Jordão! Este é o rio mais singular, do mundo. Em hebraico, “Jordão” significa aquele que
desce. Este rio tem a sua nascente no monte Hermon, a 520 metros de altitude. Percorre cerca
de 220 quilómetros e vai desaguar no Mar Morto, o ponto mais baixo do globo: 394 metros
abaixo do nível do mar! Que descida! Que significado espiritual tem esta descida? As pessoas
vinham ter com João Baptista para serem batizadas. Ele anunciava um novo batismo no Espírito
Santo. Quem seria o autor desse novo Baptismo? João fala de Alguém mais forte que ele. Esse

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Alguém é Jesus, o Filho de Deus, que sendo de condição divina, desceu até à nossa condição
humana. Habitando no Céu, desceu até nós. Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo, veio habitar conosco! Veio salvar os pecadores. Que humildade! Mas quem se humilha
será exaltado! Desçamos nós também às águas do baptismo para sermos elevados à dignidade
máxima da filiação divina!

Os céus abriram-se

Abriram-se os céus! Há quem pense que o céu está fechado! Há quem diga que Deus não fala!
Contudo, Deus faz ecoar aos nossos ouvidos a sua voz para nos repetir que Jesus é o seu Filho
muito amado! Nós que acreditamos em Jesus e fomos baptizados em seu nome também somos
seus filhos! Filhos em quem Deus Pai coloca toda a Sua complacência! O Baptismo abre-nos as
portas do Céu! Nas águas do rio Jordão começou uma nova criação! Na água do nosso baptismo
renascemos para a vida nova da graça divina! “ Pelo baptismo fomos sepultados na morte de
Jesus Cristo, para que, tal como Jesus ressuscitou de entre os mortos, também nós caminhemos
numa vida nova e participemos na Sua ressurreição” (Rom 6,4-5).

Roteiro Homilético – II Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

A vocação sobrenatural.
Discernimento da vocação.
Necessidade da virtude da castidade.
Toda vocação é apostólica.

A vocação sobrenatural

O Profeta Samuel (1ªLeit.) está separado por um arco de mais de mil anos dos pescadores de
Genesaret: João, André e Pedro, mas os quatro foram chamados por Deus para colaborar na
Obra da Salvação.
Deus aproxima-se dos homens e mulheres de todos os tempos e a todos chama à santidade e
ao apostolado em Cristo, pela incorporação na Igreja. A esse chamamento designamos como
vocação (do latim vocare: chamar) cristã.
Mas o Espírito Santo fez surgir também dentro da Igreja variadas instituições, que são modos
diversos de realizar o seguimento de Cristo, e constituem uma especificação da vocação
geral do cristão. O chamamento que a todos faz Deus para serem santos, em muitos casos vai
acompanhado da indicação concreta de algum de esses caminhos de santidade existentes na
Igreja.
Peçamos a Deus que todos os cristãos, e em especial os jovens como Samuel, João e André,
saibamos reconhecer e seguir o projecto de Deus para as nossas vidas.

Discernimento da vocação

A vocação manifesta-se, frequentemente, na intimidade do diálogo com Deus (cfr. 1ª Leit. e


Ev.). Um elemento essencial para o seu discernimento será o conselho oportuno (cfr.1ª Leit.,
conselho de Heli a Samuel) do sacerdote que orienta espiritualmente cada alma.

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Necessidade da virtude da castidade
A virtude da castidade, que São Paulo exorta a viver aos primeiros cristãos (2ª Leitura) é
necessária para ter uma vida humana digna e para corresponder à vocação cristã. Mas uma vez
que só com a sua vivência é possível alcançar a verdadeira intimidade com Deus (cfr. Mt 5, 8),
é condição imprescindível para aqueles que receberam a vocação a um maior empenhamento
cristão quer no celibato quer na vida matrimonial.

Toda vocação é apostólica

A consequência lógica de ter encontrado Jesus Cristo (cfr. Ev.) é procurar que O encontrem e
amem também os nossos familiares, amigos, vizinhos, colegas de profissão, etc. Deus serve-se,
habitualmente, do testemunho e da palavra dos cristãos para atrair a Si a aqueles que ainda O
não conhecem. Pensemos se já aproximamos de Deus muitas pessoas ao longo da nossa vida.

Roteiro Homilético – III Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Evangelho e Conversão.
2. Reino de Deus está próximo.
3. Serei eu um seduzido por Jesus Cristo?
4. São Paulo: «Ai de mim se não evangelizar».

1. Evangelho e conversão

Da Palavra de Deus para este Domingo ressoa permanente o convite à conversão.

A conversão é mudança de vida, de atitudes, de mentalidade. É um deixar radical de uma


vida onde Deus não diz absolutamente nada. E se parece dizer é só mera aparência. Aceitar a
conversão é entrar na própria verdade da pessoa. É não fugir de Deus. É reconhecer-se pecador,
frágil, débil. É também grandeza de tornar-se mais pessoa, mais próximo de Deus e dos outros.
É reconhecer a força da graça de Deus.

O convite à conversão é manifestação da misericórdia e bondade de Deus que quer fazer surgir
no homem e na sociedade a força da esperança e da paz. Isto torna-se possível quando se
retiram as atitudes de pecado.

Se a palavra de Deus não leva à conversão é porque não foi anunciada como Deus o deseja ou
não foi ouvida na docilidade do Espírito Santo e na verdade.

Pelo batismo, o cristão, constituído em profeta, deve ser convertido e instrumento de conversão.
No mundo, seu espaço e ambiente, o cristão deve saber anunciar o projeto de Deus e denunciar
todos os esquemas de egoísmo, de mentira e de morte.

O nosso tempo necessita de Profetas que se levantem e que percorram todas as áreas da
sociedade, e sem medo e com ousadia, digam, em vida e linguagem coerente, qual é o projecto
de Deus. Talvez, por essa verdade e coerência, os espaços da sociedade se abram à dimensão de
Deus e modifiquem muitas das suas atitudes.

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O evangelho propõe a disponibilidade de vida em serviço a todos os homens. Se a tarefa dos
que foram convidados estiver centralizada na paixão pelo Reino, no amor incondicional a Jesus
Cristo, dá-se necessariamente a construção de uma cidade justa, fraterna e verdadeiramente
feliz.

A conversão de São Paulo permitiu um dinamismo incrível na missão evangelizadora. A


experiência da sua conversão, sincera, coerente e de graça, arrastou imensas vidas em pesca
abundante.

Nossa Senhora, na mensagem de Fátima, recorda-nos a força renovadora da conversão. Só


mudando a pessoa no seu interior se pode construir a cidade da paz.

2.O Reino de Deus está próximo

Jesus Cristo não definiu o Reino de Deus. Ajudou a compreendê-lo através de imagens e de
parábolas. Mas esse Reino está próximo. Esse reino faz-se próximo em Jesus Cristo.

Acolher Jesus Cristo e o seu projecto é deixar-se persuadir pela presença admirável do «Rosto
de Deus», ser tocado pela nova revelação do mistério de Deus, sintonizar com o sentido das
bem-aventuranças, fazer-se doação, como Jesus Cristo, para todos os homens e mulheres.

A proposta da palavra de Deus é fazer as pessoas acreditar que esse reino não é utópico, mas
real, presente e próximo. E que cada um deve possuir a sabedoria de se comprometer com o
projecto de Jesus Cristo. Cada um deve ser suficientemente sábio para apostar naquilo que é
fundamental. Fundamental é o conhecimento de Jesus Cristo Filho de Deus, proposta para a
realização e construção de uma nova sociedade.

Cada um deve fazer, em cada dia, na família, no trabalho, na escola e em todos os ambientes a
experiência do Reino, bem presente, real e próximo.

3. Serei eu um seduzido por Jesus Cristo?

« … e chamou-os. Eles deixaram logo…e seguiram Jesus».

Deus convida homens e mulheres concretas ao seu serviço. Serviço de libertação dos irmãos,
mudanças radical de esquemas de morte e de pecado.

É feliz todo aquele que aceita tal proposta. Assim foi com o profeta Jonas. Deus fez o apelo
a Jonas, e embora a tarefa fosse árdua e ele não quisesse, por fim aceita. E sobretudo, nos
novos tempos, Jesus Cristo, Filho de Deus, convida pessoal e diretamente todos os que na
simplicidade, na humildade e na graça aceitam construir com Ele um mundo novo: um reino de
paz, verdade, amor e vida.

Serei eu um seduzido por Jesus Cristo? Vivo a sabedoria dos apóstolos, de São Paulo: tudo
deixaram para se entregar de «alma e coração» a Jesus Cristo?

Será que Cristo marca na realidade a minha vida? A opção por Jesus Cristo assinala
verdadeiramente a minha vida e as suas opções? Quem manda e comanda a minha vida?
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No dia em que os cristãos assumirem a «paixão», o amor incondicional por Jesus Cristo, a
cidade transforma-se radicalmente.

O primeiro grande testemunho é o da sincera e coerente conversão. O meu estilo de vida


bebe no desafio da conversão como consequência da aceitação do Evangelho, e depois, como
instrumento simples, dócil e responsável realiza a faina do Reino de Deus.

São Paulo: «Ai de mim se não evangelizar».

A vida e a missão de São Paulo ilustra de forma especial a Palavra de Deus deste domingo.

Chamado por graça de Deus. Este apóstolo foi forjado numa família de cultura e de amor a
Deus. Foi temperado pelas convicções da palavra e por uma vida de acérrima vivência do
judaísmo. Foi confrontado com o testemunho dos cristãos. Foi tocado pela doação de Estêvão.
Foi sobretudo confrontado com Cristo, Luz resplandecente de vida, amor, santidade, presente e
vivo nos seus discípulos, os cristãos.

Vocacionado pela graça de Deus para ser Apóstolo recebeu experiências fortes de Deus que lhe
deram um fogo devorador de amor total a Jesus Cristo. E em Nome de Jesus Cristo anuncia com
a palavra e sobretudo com a vida o Evangelho.

Apóstolo de areópagos percorre cidades com a feliz boa-nova. Propõe Jesus Cristo em todos os
espaços e a todas as culturas. Forjador de comunidades pela paixão à Igreja de Cristo.

Apóstolo da comunhão eclesial estrutura as comunidades com conteúdo teológico e com


preparados colaboradores.

Sempre aberto ao Espírito Santo faz sulcar a Igreja pela abertura, renovação, pela descoberta de
dons e carismas, pela vitalidade intrínseca do reino de Deus.

Roteiro Homilético – IV Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Um Deus próximo
2. Um Deus que liberta
3. Um Deus que ama sem limites
4. Ano Paulino

A liturgia da Palavra deste domingo fala-nos da comunicação que Deus estabeleceu com o seu
povo, através dos profetas, que falam em seu nome e, por último, do Profeta, Jesus Cristo, a
própria Palavra de Deus encarnada.

1. Um Deus próximo

A primeira leitura, do livro do Deuteronômio, apresenta-nos Moisés, o pai dos profetas, que
anuncia o aparecimento de outro profeta, que surgirá depois dele, numa clara referência

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a Jesus de Nazaré. O Deus de Israel revela-se, assim, um Deus próximo, capaz de usar a
linguagem humana para se dirigir a nós, seu filhos e filhas.

2. Um Deus que liberta

O Evangelho narra-nos como Jesus exerceu a sua missão profética junto do povo a quem foi
enviado. Solidariza-se com a dinâmica do seu tempo. Entra na sinagoga, o sábado e, no meio
da comunidade de culto, começa a ensinar. De tal modo eram eloquentes as suas palavras que
conseguiu maravilhar quantos o escutavam. Porém, Jesus afasta-se do modo de ensinar dos
mestres de Israel, pois à sua palavra une a acção. Estava ali um homem perturbado, possesso
de um espírito impuro, que altercava com Jesus, querendo-o afastar do meio do povo. Jesus,
Mestre cheio de autoridade, manifesta o seu poder também nesta acção maravilhosa de serenar
o homem perturbado e de lhe criar as condições para escutar os seus ensinamentos, expulsando
esse espírito desorientador. Jesus prova-nos que tem força para falar e agir como Deus que
é. Este Mestre continua hoje a sua acção no mundo e na Igreja, no meio do seu povo e nas
assembleias cristãs. Reconheço o poder de Jesus, Palavra viva de Deus, e deixo-me libertar por
Ele de todas as forças que se opõem aos seus ensinamentos? É Jesus o Senhor na minha vida e
na minha comunidade?

3. Um Deus que ama sem limites

Na segunda leitura, Paulo lança-nos uma provocação sobre o valor da virgindade. No seu tempo,
como no nosso, este valor passou a ocupar o último lugar na escala, se é que não desapareceu
mesmo no horizonte de muitos dos nossos contemporâneos. Porém, a virgindade por amor do
Reino dos Céus continua a ser um sinal profético, que anuncia às pessoas que a nossa pátria
definitiva está em Deus e que é possível viver desde aqui e agora o mesmo estilo de vida que
todos havemos de viver na eternidade. Trata-se, acima de tudo, de um amor sem limites à
imagem do amor de Deus que a todos ama e guarda.

4. Ano Paulino

Paulo experimentou este amor de Deus sem limites revelado em Jesus, ao ponto de tornar-se
o «apóstolo apaixonado» por Cristo. Como ele próprio afirmou, tudo é lixo, a não ser Cristo e
Este crucificado (cf. 1 Coríntios 2, 2). Tudo o mais só em relação a Ele e por causa d’Ele. Por
isso O deseja dar a conhecer e afirma que geme e sente as dores de parto para gerar Cristo nos
outros (cf. Gálatas 4, 19). Conquistado por Jesus Cristo a caminho de Damasco, vive doravante
para Ele, sente o desejo de O anunciar, quer fazê-Lo conhecer mais. Alma e coração em fogo,
Paulo vive para Jesus e deseja salvar o maior número possível, a ponto de afirmar: «fiz-me tudo
para todos, para salvar alguns» (1 Coríntios 9, 22). Audácia, ânsia apostólica que não o deixa
sossegado. Colabora de um modo destemido e audacioso no trabalho do Reino, no anúncio de
Jesus, no desejo da salvação de todos. Procuremos seguir estes passos de São Paulo neste ano
de 2009, levando a todos, por um novo fervor missionário, o fogo do amor redentor de Deus.

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Roteiro Homilético – V Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. O sofrimento não é criação divina.


2. A gravidade do pecado.
3. A nossa atitude perante o sofrimento.

1. O sofrimento não é criação divina.

Deus, que é Amor, fonte e origem de toda a bondade, beleza e perfeição, criou-nos à Sua
imagem e semelhança. Fomos criados por amor e para a felicidade. Como pois compreender a
origem do sofrimento, a que Job se refere tão dramaticamente, e que a todos atinge?

Deus, na Sua bondade, quis criar-nos livres e como tais, conscientes.

Os nossos primeiros pais envaidecidos com os dotes maravilhosos que possuíam, não souberam
usar a liberdade que Deus, tão generosamente lhes tinha concedido. Obcecados pelo orgulho,
duvidaram da Bondade e do Amor do Criador. Por momentos acreditaram mais no demónio,
pai da mentira. Esta opção voluntária,afastou-os de Deus e, consequentemente, da verdadeira
felicidade. Longe dessa fonte bendita, quantas lágrimas se derramaram, quanto sangue fratricida
se verteu, quantas guerras, quanto sofrimento, quanto atraso social veio, ao longo dos séculos,
causar!

Não há dúvida. O sofrimento foi e continua a ser causado, pelos passos errados, percorridos
voluntária, orgulhosa e cegamente pelos homens. Só o homem é verdadeiramente causador de
tanta desgraça.

2. A gravidade do pecado.

O pecado é uma ofensa a Deus, revelando pouca ou nenhuma confiança no Senhor. E como a
gravidade de qualquer ofensa se mede pela pessoa ofendida e aqui o atingido é o próprio Deus,
o omnipotente, o infinito, logo a sua gravidade se reveste de algo com dimensões infinitas
também.

O mais dramático ainda é que a reparação de tanta maldade, não estava dentro das possibilidades
humanas, pois, por maiores que tais pudessem ser, porque humanas, eram sempre limitadas,
ficavam muito aquém do que a justiça divina, como tal, exige. Só um Deus pode reparar o
mesmo Deus. Por isso, Deus-Pai, envia à Terra, o Seu Filho, o Verbo eterno, permitindo a Sua
encarnação no Ventre Puríssimo de Nossa Senhora, para se fazer Homem também. Jesus, filho
da Virgem Maria é assim Deus e Homem verdadeiro, e como tal, em nosso nome, satisfez com
a Sua paixão e morte na cruz, pelos pecados de toda a humanidade.

Vemos assim que a gravidade do pecado, não se mede só pelo sofrimento causado nos homens,
ao longo dos séculos, mas mais ainda pela impensável humilhação da encarnação, paixão e
morte do próprio Filho de Deus.

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3. A nossa atitude perante o sofrimento.

Conhecedores de tão trágicas consequências do pecado, resta-nos estar vigilantes, como Jesus
insistentemente nos pediu, para fugir dos caminhos errados da vida. Tais caminhos nefastos,
são todos aqueles que estão contra a vontade do Senhor, expressa nos Seus mandamentos e
impressa na consciência rectamente formada, de cada um.

Como S. Paulo, não podemos ficar indiferentes, diante de tais dramas, vividos e provocados
pelos pecados dos homens. «Ai de mim se não anunciar o Evangelho!» «Anunciar o Evangelho
não é para mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta». «Livre como sou
em relação a todos, de todos me fiz escravo, para ganhar o maior número possível». Assim se
expressa o Apóstolo.

As injustiças sociais, os caminhos errados que levam tantos jovens e adultos, percorrendo
vidas dissolutas, as uniões de facto, as infidelidades conjugais, a não aceitação dos filhos, o
recurso a meios anticonceptivos artificiais, o crime hediondo do aborto, os filmes, revistas e
jornais indecorosos, são outros tantos caminhos errados causadores de lágrimas, sofrimento e
retrocesso social.

Quando os homens se afastam dos caminhos do Evangelho e do Magistério autêntico da Igreja


fundada por Jesus, perdem facilmente a luz da fé, e, sem essa luz bendita, enveredam pela noite
do egoísmo, da autodestruição. Pobre Europa e pobre mundo, se não acorda para Deus, que o
pode e quer salvar!

No Evangelho, vemos Jesus a curar e a apontar caminhos que importa saibamos também percorrer
para sermos instrumentos válidos de curas também. Jesus aproxima-se da sogra de Pedro e
cura-a. Como Ele, também nos devemos saber aproximar de quem sofre e de quem anda longe
dos caminhos da verdadeira felicidade. Muitas conversões passam por uma conversa pessoal,
amiga, compreensiva, fraterna, com quem de tal atenção, carinho e ajuda, está a precisar.

Depois de tantas curas operadas, Jesus, naquela tarde, afasta-se para orar. É à oração que todos
podemos e devemos constantemente recorrer. Na oração, que nos leva a um contacto mais íntimo
com o Senhor, compreenderemos melhor o porquê do sofrimento, o seu valor corredentor, e os
caminhos que devemos seguir para a conversão dos pecadores, nossos irmãos. «Vão muitas
almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas», nos garantiu em Fátima,
Nossa Senhora.

Perante tanto sofrimento e tanto pecado, não podemos ficar indiferentes. Que o Senhor nos
dê a graça de sermos instrumentos válidos de conversão, para que todos, sem excepção,
definitivamente possam «louvar o Senhor que salva os corações atribulados.»

Roteiro Homilético – VI Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. A lepra espiritual: o pecado que degrada a alma e se opõe a Deus.


2. A cura da lepra: o pecado pode ser perdoado. A necessária conversão.
3. Na misericórdia de Deus encontraremos a paz e a felicidade.

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1. A lepra espiritual: o pecado que degrada a alma e se opõe a Deus.

O pecado representa sempre uma falta de confiança em deus. O tentador, pai da mentira, induz
ao pecado com a introdução do grande engano, da grande falsidade: a desconfiança em relação a
Deus. Com incrível maldade, levanta a suspeita sobre a bondade de Deus e sobre a sua palavra.

«Tentado pelo diabo, o homem deixou morrer no coração a confiança em seu Criador. Abusando
da liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Nisso consistiu o primeiro pecado do
homem. Dali em diante, todo o pecado será uma desobediência a deus e uma falta de confiança
na sua bondade» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 397).

O pecado é também uma falta contra a razão e contra a verdade, causando danos e prejuízos
para nós mesmos; os desequilíbrios, as feridas e as desordens provocadas pelos nossos pecados
bem podem comparar-se aos efeitos devastadores da doença da lepra. Porém, a última palavra
nesta guerra entre o bem e o mal não a tem o pecado mas a graça de Deus: «Onde abundou o
pecado, superabundou a graça». Em Cristo alcançámos a libertação do poder e do predomínio
do pecado.

2. A cura da lepra: o pecado pode ser perdoado. A necessária conversão.

A Igreja professa e proclama incessantemente a conversão a Deus. Esta consiste sempre na


descoberta da misericórdia divina, isto é, do seu amor que é «paciente e benigno» (1 Cor 13,4);
a conversão a Deus é sempre fruto do retorno para junto do Pai, «rico em misericórdia».

Importa muito recuperar a plena confiança filial em Deus. O Senhor não é um déspota nem uma
ameaça para o homem, mas um pai. Quem nos criou por amor conhece melhor que ninguém
o que nos faz felizes. Importa restabelecer a verdade sobre Deus e sua paterna misericórdia
em relação com o homem. Deus ama-nos! Esta é a verdade central do cristianismo. Os seus
mandamentos não são um capricho nem uma arbitrariedade. Ao Senhor não Lhe é indiferente
que o homem se procure uma lesão a si mesmo e em certas ocasiões – pense-se na droga, na
violência, no alcoolismo e na corrupção sexual – se degrade e desça mais baixo que os animais.

3. Na misericórdia de Deus encontraremos a paz e a felicidade.

A misericórdia de Deus é infinita. Infinita é a prontidão do Pai em acolher os filhos pródigos que
voltam para casa. São infinitas também a prontidão e a força do perdão que brotam continuamente
do admirável valor do Sacrifício de seu Filho Jesus Cristo. Nenhum pecado humano prevalece
sobre esta força e nem sequer a limita. Da parte do homem pode limitá-la a falta de boa vontade,
a falta de prontidão na conversão e na penitência (Cfr. Dives in Misericórdia, n.º 13).

Purifiquemos os nossos corações, com frequência, no Sacramento da Reconciliação ou da


Misericórdia de Deus. A Confissão Sacramental é uma verdadeira libertação: apaga o pecado,
dissolve o mal cometido, limpa a lepra da nossa alma, dá-nos a graça do perdão. Os cristãos,
pela sinceridade da sua vontade de conversão, devem «revoltar-se» diante do aviltamento do
homem e proclamar, na sua vida, a alegria da verdadeira libertação do pecado, graças ao perdão
de Cristo. É preciso transmitir ao mundo o fogo da misericórdia de Deus e alegria do seu perdão.
«Na misericórdia de Deus o mundo encontrará a paz e o homem a felicidade» (João Paulo II,
Cracóvia, 17-VIII-2002).
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Roteiro Homilético – I Domingo da Quaresma – Ano B

Sugestões para a homilia


1. A nossa Aliança baptismal
A conversão pessoal
Confiemos no Senhor
O sinal da fidelidade
2. A fidelidade à nossa Aliança
Docilidade ao Espírito Santo
Fidelidade provada
As armas para o combate

1. A nossa Aliança batismal

Logo que baixaram as águas do dilúvio, Noé, com a sua família, saiu da arca, recebeu a bênção
do Senhor, construiu um altar de pedra e ofereceu-Lhe um sacrifício.
Deus estabeleceu então uma aliança com ele e, na pessoa desta santo Patriarca, abençoou toda
a criação com a promessa de que nunca mais um dilúvio destruiria a terra.
O sinal permanente desta aliança entre o céu e a terra seria o arco-íris. Esta Aliança foi
solenemente renovada no Calvário, pelo único sacrifício aceite pelo Pai. A Cruz levantada sobre
a terra é novo arco-íris, mensageiro da paz.

A Quaresma recorda-nos este sinal de Amor que o Pai nos oferece em Jesus Cristo e convida-
nos a acolher este dom pela conversão pessoal.

a) A conversão pessoal. «Eu vou estabelecer a Minha Aliança convosco […].» O dilúvio é uma
imagem do Baptismo.

O dilúvio é uma figura do Baptismo. É sepultado nas águas o mundo corrompido, o homem
velho, o pecado original dos nossos primeiros pais e eventualmente – quando o Batismo é
administrado a um adulto –, os pecados pessoais para ressuscitar um mundo renovado. Surge
um homem novo, incorporado em Jesus Cristo.

Ficou sepultada nas suas águas toda maldade humana que manchava a terra. Depois dele surgiu
uma nova terra e uma nova humanidade com a qual fez Deus a Sua aliança.

A Quaresma prepara-nos para, na Vigília pascal, receber o Baptismo ou – para os que já são
batizados – renovar a graça baptismal.

Por isso, ao longo dos seis domingos deste tempo forte, a Liturgia recorda-nos as verdades
fundamentais da fé.

Como resposta a este apelo, abrimo-nos à graça pela conversão pessoal. É o nosso estender da
mão a Jesus Cristo, para que nos levante da prostração em que nos deixaram os nossos pecados.
Para nos animar a esta mudança, pela conversão, a Igreja recorda-nos o Baptismo. Foi junto da
fonte baptismal que iniciámos a nossa caminhada que nos há-de levar ao Céu. Mas temos de ir
corrigindo constantemente o rumo dos nossos passos, porque a nossa vida está cheia de desvios
da lei de Deus. Quando não nos damos conta deles, é porque não levantamos olhar para o alto.

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b) Confiemos no Senhor. «Nenhuma criatura será doravante exterminada pelas águas do
dilúvio […].»

Quando nos propomos esta mudança de vida, podemos ser incomodados pela desconfiança de
Deus que nos levará à tentação do desânimo:

– Porque já tentamos muitas vezes, e nunca logramos mudar de vida;


– Porque sentimos na própria carne a fragilidade humana, e não somos capazes de mudar.

É o momento de nos darmos conta de que não estamos sós nesta luta entre o Espírito e a carne.
O Senhor, que desperta em nós estes desejos de mudança, está disponível para nos ajudar, ao
menor sinal de boa vontade da nossa parte.

Temos necessidade de dar os passos indispensáveis para a conversão pessoal: reconhecer os


nossos pecados e defeitos; estar arrependidos e realizar obras de penitência que nos ajudem
nesta mudança. Tudo isto se concretiza – se já recebemos o Batismo – num outro «baptismo
doloroso»: uma Confissão bem feita.

Além de nos oferecer todos os meios de cura na Sua Igreja, o Senhor vem em nosso auxílio com
a Sua graça, se Lhe manifestarmos o desejo da Sua ajuda.

c) O sinal da fidelidade. «Eis o sinal da Aliança que estabeleço convosco […]: farei aparecer
sobre as nuvens o Meu arco-íris.»

Deus oferece-nos um sinal material da Sua fidelidade à Aliança de Amor que realizou conosco
no Batismo.

Se Deus é fiel, o menos que podemos fazer é lutar diariamente para sermos também fieis.
Abundam hoje os sinais religiosos nas pessoas, nas casas e nos meios de transporte particulares.

Ao mesmo tempo, assistimos a uma «selecção» de deveres assumidos pelo Batismo.

Assistimos diariamente à contradição de as pessoas se auto-proclamarem católicos praticantes,


ao mesmo tempo que rejeitam os mandamentos mais elementares da Lei de Deus. Não é possível
separar a fé da vida que vivemos momento a momento.

Uma sociedade conduzida por um laicismo de sinal negativo pretende afastar dos meios que
frequentamos – escolas, hospitais, repartições públicas a cruz, sinal desta Aliança eterna. Para
quê esconder este arco-íris de esperança? Ninguém está obrigado a olhá-lo.

Mas, para além destes sinais, o Senhor quer de nós um outro o sinal da fidelidade: a conversão
contínua, lembrada especialmente neste tempo quaresmal. Não está em questão usar ou não
sinais externos que manifestem a nossa fidelidade às promessas do Baptismo. É preciso que elas
apareçam realizadas na nossa vida de cada dia.

2. A fidelidade à nossa Aliança

a) Docilidade ao Espírito Santo. «O Espírito impeliu Jesus para o deserto.» Temos uma ideia
negativa da tentação e sentimos um calafrio ao ouvir falar nela. Afinal, ela é uma prova, um
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combate no qual somos desafiados a manifestar a nossa fidelidade ao Senhor.

A tentação é uma prova de Amor, uma competição desportiva na qual podemos conquistar
louros de vitória. De outro modo, o Espírito (Santo) não iria impelir Jesus para o deserto, e não
permitiria que fôssemos tentados, porque é o melhor dos pais.

A prudência neste combate que estamos a travar passa por medidas de prevenção, como em
qualquer batalha. Temos de procurar a luz na Palavra de Deus, para que sejamos capazes de
desmascarar os desvios subtis do Inimigo das Trevas e fortalecermo-nos com os Sacramentos
e a oração.

A docilidade ao Espírito Santo vive-se na medida em que vivemos com docilidade as indicações
que a Igreja nos vai oferecendo na vida. Quem teima em guiar-se exclusivamente pela própria
cabeça, sairá vencido.

b) Fidelidade provada. «E esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás.» Como lutar:
fugindo das ocasiões.

Naturalmente, sem esforço, não seremos nunca virtuosos, porque temos dentro de nós o peso
das paixões desordenadas e aliciam-nos constantemente os maus exemplos.

Não devemos cair no desânimo quando não formos bem sucedidos numa batalha. O importante
é estarmos interiormente dispostos a recomeçar todas as vezes que for preciso. São os teimosos
sobrenaturalmente que chegam à santidade.

Deus permite que a nossa fidelidade seja provada, porque, na provação, nos cobrirmos de
merecimentos para a vida eterna.

Ao mesmo tempo, recebemos de Deus a garantia de que Ele está sempre conosco para nos
ajudar, e não permitirá que sejamos tentados acima das nossas forças.

As tentações que nos assaltam constantemente nunca podem ser uma prova do desamor de
Deus para connosco, mas despertadores que nos alertam para uma contemplação contínua,
porque nos levam a recorrer ao Senhor. Se, por exemplo, somos tentados a pensar o falar mal
de alguém e rezamos por essa pessoa, convertemos uma tentação contra a caridade num acto da
mesma virtude; uma tentação contra a pureza convida-nos a renovar a nossa fidelidade…

c) As armas para o combate. «Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O.» Aferiu
a situação pelo que o Pai nos indica na Sagrada Escritura. Preparando-se, fortalecendo-se para
a luta (Jesus fez oração e jejuou).

Jesus Cristo submeteu-Se a ser tentado, para nos ensinar a vencer esta luta, indicando-nos as
armas indispensáveis. Aprendamos com o Seu exemplo. Ele preparou-Se para este combate
singular:

– pela oração: Entregou-Se a ela durante quarenta dias e quarenta noites. A oração leva-nos a
querer o que Deus quer, a intensificar a nossa comunhão com Ele.

– Pela mortificação. Esta manifestou-se em Jesus Cristo de muitos modos: pelos incómodos em
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que viveu, sem uma pedra para reclinar a cabeça, sem abrigo das intempéries – o sol, a chuva e
o vento – e uma alimentação condicionada ao que podia encontrar por ali.

Também a cada um de nós o Senhor oferece as armas para vencer a luta desta Quaresma,
preparando generosamente a renovação das Promessas do baptismo, na noite da Vigília pascal:

– A Palavra de Deus, proclamada especialmente na Celebração da Eucaristia de cada Domingo.

– Alimento divino – a Sagrada Comunhão – para a qual nos convida quando estamos devidamente
preparados.

– A penitência corporal, pelo jejum e abstinência de muitas coisas que poderíamos utilizar.

Torna-se necessário viver esta Quaresma em comunhão: dando esmola das coisas de que
nos privamos; e ajudando os que sentem mais dificuldade de o fazer a aproximarem-se do
sacramento da Reconciliação e Penitência.

Maria Santíssima, Mãe solícita de todos nós, abençoará os nossos esforços para vivermos e
ajudarmos a viver este tempo de bênção que agora nos é oferecido.

Roteiro Homilético – II Domingo da Quaresma – Ano B

Sugestões para a homilia

Introdução

Continuamos hoje as homilias de carácter mais doutrinal, que começámos a oferecer para os
Domingos do Advento.

Como em todos os anos, no 2º Domingo da Quaresma faz-se a leitura do Evangelho da


Transfiguração, hoje segundo a narrativa de S. Mateus, o evangelista do ano. Este é um texto
paralelo ao da narração do Baptismo de Jesus, em que, pela primeira vez, aparece a revelação
explícita do mistério da vida no interior de Deus, a Santíssima Trindade.

Deus tem vida; se não tivesse vida, não seria Deus. E, como é Deus, a sua vida é infinita e
incompreensível e misteriosa. Nós nunca saberíamos nada da vida de Deus, se não fosse Ele a
manifestar-se como Ele é, o que aconteceu com a vinda do Filho de Deus à terra.

O único Deus é Pai, Filho e Espírito Santo

Que Deus é Pai é uma verdade comum a muitas religiões, ao reconhecerem-no como o Criador
do Universo, que cuida da sua obra; por isso dizia Tertuliano que «ninguém é tão pai como
Deus». Mas a grande novidade é a que temos no Evangelho de hoje: Deus aparece como o Pai
que apresenta o seu «Filho muito amado», um Filho num sentido absolutamente original – «o
Unigênito» (Jo 1, 14.18; 3, 16.18) – que desde sempre estava em Deus, sendo Deus (cf. Jo 1,
1), a «imagem do Deus invisível» (Col 1, 15), «o resplendor da sua glória e a imagem da sua
substância» (Hebr 1, 3). O Evangelho de S. João usa mesmo uma palavra para designar este
Filho Unigênito (Υἱός) diferente da palavra que emprega para indicar os homens como filhos de

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Deus (τέκνα) A fé que professamos no Credo, que a seguir vamos proclamar, diz que este Filho
é «consubstancial ao Pai», isto é, da mesma natureza que o Pai, sendo um só com Ele: «Filho
Único de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro, gerado, não criado…».

Mas a vida em Deus não se esgota na relação Pai-Filho, pois o circuito da vida íntima de Deus
engloba também o Espírito Santo, «que procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é
adorado e glorificado». Jesus falou do Espírito Santo, dizendo que «procede do Pai e que Eu
vos hei-de enviar da parte do Pai» (Jo 15, 26). Jesus enviou os Apóstolos a todos os povos para
batizarem «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo», indicado assim que deste modo
ficamos a participar da vida do único Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo.

É na Igreja que entramos em comunhão com a vida íntima de Deus

Uma saudação que hoje se costuma usar no início da celebração eucarística corresponde àquela
já usada por S. Paulo nas cartas que escrevia às suas comunidades: «A graça do Senhor Jesus
Cristo, o amor do Pai, e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós» (2 Cor 13, 13;
cf. 1 Cor 12, 4-6; Ef 4, 4-6).

É pelo Baptismo que passamos a fazer parte da Igreja; e o Concílio Vaticano II começa
por apresentar a Igreja na sua ligação intrínseca com a Santíssima Trindade, ao concluir os
primeiros números da Constituição Dogmática sobre a Igreja: «Assim a Igreja toda aparece
como um “povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”» (LG 4). A Igreja
não tem uma origem humana, mas procede dum plano eterno do amor de Deus, que destina o
ser humano à comunhão na riqueza da sua vida trinitária.

Como é que Deus pode ser um e três ao mesmo tempo?

A fé na Santíssima Trindade não implica uma contradição, pois não é como se disséssemos
1+1+1=1; com efeito o Pai não se soma ao Filho e ao Espírito Santo, pois são o único e mesmo
Deus e compenetram-se numa mesma torrente de vida eterna, num mesmo abismo de sabedoria
e amor; recorrendo à linguagem matemática, diríamos antes: 1x1x1=1.

O transcendente mistério da Santíssima Trindade não é algo que afasta o crente de Deus – tão
incompreensível Ele é –, mas, pelo contrário, é um mistério fascinante, que exerce nas almas
enamoradas de Deus uma espécie de santa vertigem, uma antecipação do Céu: a atracção do
abismo da grandeza e misericórdia divinas. Se Deus é quem é – o Ser infinito – tem que ser
sumamente amável, ainda que incompreensível.

Como se exprime em linguagem humana um mistério tão grande da vida íntima de Deus: uno
e trino?

Sucede que a Igreja, desde os primeiros séculos, se preocupou com formular a sua fé recebida
de Jesus e do ensino dos Apóstolos, de maneira a tornar inteligível o que poderia parecer um
absurdo paradoxo. Ao mesmo tempo, a Igreja procurava preservar a sua fé da contaminação de
erros que a tentavam deformar. Para isso, socorreu-se duma série de termos que não aparecem
nas Escrituras, mas que pertencem à linguagem filosófica da cultura grega ambiente. Foi assim
que adotou o termosubstância (correspondente a essência ou natureza) para designar o ser
divino na sua unidade; por outro lado, empregou o termo pessoa, ou hipóstase, para designar
100
o Pai, o Filho e o Espírito Santo na sua distinção real entre si. O termo relação serviu para
designar o facto de que a distinção das pessoas consiste numa referência vital de uns aos outros.
Dizemos que em Deus há três pessoas, mas com isto não queremos dizer que em Deus haja três
indivíduos, como quando se fala de três pessoas humanas; o que queremos é dizer que em Deus
há três sujeitos que são uma só coisa. Mas como se pode entender isto?

A reflexão teológica tem procurado esclarecer ao máximo este tão grande mistério do que é a
vida de Deus na «trindade de uma só natureza», tomando como ponto de partida as palavras
de Jesus e o ensino dos Apóstolos. As três Pessoas são iguais – uma mesma e única divindade
– e são distintas: o Pai não é o Filho, o Filho não é o Espírito Santo, o Espírito Santo não é o
Pai, mas apenas se distinguem no que a Teologia classificou de “relações opostas de origem”,
relações estas que derivam de o Filho proceder do Pai e o Espírito Santo do Pai e do Filho (ou
pelo Filho).

Em tudo o mais não há a mínima distinção, a tal ponto que tudo o que Deus faz fora de si é
comum às três Pessoas divinas, embora nós possamos apropriar de alguma delas em particular
uma determinada acção ou atributo divino: para o Pai, a omnipotência e a criação; para o Filho,
a sabedoria e todas as obras da sabedoria divina; para o Espírito Santo, o amor, a santificação
do homem, a inspiração das Escrituras, etc.

Como diz o Catecismo da Igreja Católica , nº 267: «Inseparáveis no que são, as Pessoas divinas
são também inseparáveis no que fazem. Mas, embora sendo a atuação divina a única coisa
em que intervêm as três Pessoas, a verdade é que cada uma manifesta o que Lhe é próprio na
Trindade, sobretudo nas missões divinas da Encarnação e do dom do Espírito Santo».

E que tem que ver a vida íntima de Deus com a nossa vida? Poderemos relacionar-nos com cada
uma das Pessoas divinas?

São João diz que Deus é amor (1 Jo 4, 8.16). O Pai, «ao enviar-nos o seu Filho Único e o
Espírito de Amor, revela o seu segredo mais íntimo: Ele próprio é eternamente comunhão de
amor: Pai, Filho e Espírito Santo; e destinou-nos a tomar parte nessa comunhão». Se Deus é
uma eterna comunicação de Amor, é compreensível que esse Amor transborde para fora d’Ele
na sua actuação.

«“Na Trindade encontra-se o modelo original da família humana” (João Paulo II) e a sua vida
íntima é a aspiração verdadeira de todo o amor humano… Cada pessoa foi criada à imagem
e semelhança da Trindade (cf. Gn 1, 27) e está feita para viver em comunhão com os outros
homens e, sobretudo, com o Pai Celestial. Aqui se encontra o fundamento último do valor da
vida de cada pessoa humana, independentemente das suas capacidades ou das suas riquezas»
(Giulio Maspero).

Deus destina-nos ao Céu. E o Céu consiste em ver a Deus «tal como Ele é» (1 Jo 3, 2),
contemplar, louvar, amar e gozar por toda a eternidade da vida infinita da Trindade Santíssima;
é entrar nesse circuito infinito de Amor sem fim que une as Pessoas divinas. Viver aqui na graça
de Deus já é o começo dessa felicidade do Céu. (cf. Jo 14, 23). É assim que os santos são as
pessoas mais felizes do mundo, mesmo no meio dos maiores sofrimentos, pois vivem desta
certeza de que Deus habita dentro deles.

As orações da Liturgia, em especial a oração eucarística, são habitualmente dirigidas à pessoa


101
do Pai, por meio do Filho, em união com o Espírito Santo, a alma da nossa alma, a alma da
Igreja. Há uma festa dedicada à SS. Trindade, no domingo imediato ao do Pentecostes, mas
todos os domingos são dedicado a Ela. Aprendamos a saborear a dimensão trinitária de Missa:
«Por Cristo, com Cristo, em Cristo…» e façamos do nosso dia um «Glória ao Pai e ao Filho e
ao Espírito Santo», repetindo muitas vezes esta jaculatória.
Todos os cristãos começamos o dia benzendo-nos: «em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo»; assim queremos dedicar todos os nossos pensamentos, palavras e acções a honrar a
Deus, Trindade Santíssima, actualizando assim a nossa consagração baptismal, pois fomos
batizados, isto é, mergulhados, consagrados para Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo.
Também nos benzemos ao entrar numa igreja, para nos recordarmos de que é na Igreja de Cristo
que nós estamos capacitados para viver como filhos de Deus e que é nela que aurimos a graça de
Deus nas fontes de vida divina que são os Sacramentos. Traçamos o sinal da Cruz ao benzermo-
nos para recordar a ligação que há entre a Cruz de Jesus a o mistério da vida de Deus, que é um
abismo infinito de amor, de doação mútua, de que a máxima expressão visível é a entrega que o
Pai nos faz do seu Filho na Cruz para nos dar o Espírito Santo a habitar dentro de nós como num
templo. Ao fazermos nesta Quaresma o exercício da Via Sacra, procuremos vivê-la enquadrada
na sua dimensão trinitária original.

Roteiro Homilético – III Domingo da Quaresma – Ano B

Sugestões para a homilia

1. O novo templo do Senhor


2. Convida à purificação das nossas atitudes
3. Através do amor pelo homem

1. O novo templo do Senhor

Conforme escutamos no Evangelho de hoje, Jesus adopta uma reacção inconcebível. Jamais
nos passaria pela mente que Ele agisse de forma tão violenta perante os vendilhões do templo,
quando em toda a sua vida Ele fora manso, pacífico, amável e compreensivo com todos aqueles
com quem se encontrava. Tal conduta tem necessariamente uma explicação!

Ao expulsar com tal violência os vendilhões, Jesus anuncia que chegara o reino do Messias e,
deste modo, condena absolutamente toda a espécie de confusão entre religião e os interesses
económicos que ali ocorrem.

Ainda hoje talvez aconteça algo parecido no nosso meio. Quando a prática da religião serve para
encobrir vantagens ou benefícios que nada têm a ver com o Evangelho, ou nos aproveitamos
da comunidade para fins diferentes dos enunciados por Jesus, acabamos por perder toda a
credibilidade da fé que dizemos admitir…

Todavia, o ensinamento mais importante é o realçado por Jesus quando afirma: «Destruí este
templo e em três dias o reconstruirei». Ele não fala do comércio indigno praticado no santuário
mas, como nota o evangelista: «Ele fala do templo do seu corpo».

Ao ressuscitar Jesus de entre os mortos, o Pai colocou a pedra angular do novo santuário. De
seguida, sobre esta pedra assentou outras pedras vivas, os seus discípulos, a fim de que todos

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juntos formassem o Corpo de Cristo, o novo templo onde Deus habita. Eis o novo templo:
Cristo e com Ele toda a comunidade dos crentes. Deste novo santuário sobem constantemente
ao céu o incenso e os sacrifícios que Lhe são agradáveis: as obras de amor pelos homens, que
solicitam constantemente a purificação de todas as nossas atitudes.

Convida à purificação das nossas atitudes

Ora, perante o amor arrebatador de Deus, o homem não pode ficar indiferente. Tem de tomar
uma atitude.

Paulo, na segunda leitura, diz que os «judeus» esperavam que Deus manifestasse o seu poder
resolvendo as dificuldades dos homens com milagres. Jesus, pelo contrário, não se apresentou
como vencedor, mas como derrotado. Por seu lado, os «gregos» não acreditavam em milagres,
apenas acreditavam na sua competência de dedução e na sua sabedoria. Ora, a morte de Jesus
não tem lógica humana, é uma autêntica loucura.

Talvez que ainda nas nossas comunidades existam estas duas maneiras de pensar. Ora agimos
como os «judeus» considerando a religião como uma fonte de milagres, de graças, de curas e,
por tal motivo, só nos lembramos de Deus quando nos encontramos em sobressalto; ou então
comportamo-nos como «gregos», isto é, imaginamos ser provável persuadir as pessoas a aderir
à fé mediante o raciocínio, lutando com provas.

A cultura dos homens considera ditosos os que se divertem e pensam em si mesmos, no


prazer e no dinheiro. Para o cristão a proposta é uma loucura: a cruz de Cristo, ou seja, o dom
desinteressado de si mesmo.

Estaremos atentos a esta lógica do Evangelho que nos purifica através do amor pelo homem?
Através do amor pelo homem

Basta refletir um pouco e compreenderemos que o amor é muito mais exigente que qualquer
lei. Quem segue o caminho apontado por Deus não se submete às próprias paixões e ao próprio
egoísmo, não arruína a própria vida e a dos outros, mas torna-se uma pessoa livre e feliz. A
lei do amor preceitua a atenção da descoberta em cada instante daquilo que se pode fazer para
tornar mais feliz o irmão.

Por isso, como nos aponta a primeira leitura, os dez mandamentos ajudam-nos a delinear os
limites mínimos do amor. Indicam-nos os primeiros passos, os mais fundamentais e necessários,
porque «só o amor é o pleno cumprimento da lei», como nos diz S. Paulo.

Uma última palavra para os últimos versículos do Evangelho: Jesus, durante a festa, faz milagres
e muita gente acredita n’Ele, mas Ele não confia neles porque os conhece a todos.

Essas pessoas acercaram-se d’Ele empolgadas pelos seus milagres e não pela sua mensagem. A
autêntica fé em Cristo baseia-se no transformar-se, juntamente com Ele, em pedra viva do novo
templo e em dedicar a própria vida aos irmãos.

E fica uma pergunta: será esta a nossa fé ou basear-se-á ela nas graças ou nos milagres que
queremos obter com as nossas orações?

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Roteiro Homilético – IV Domingo da Quaresma – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Deus concede-nos bênçãos e graças


2. Deus fala connosco como falou com Nicodemos
3. Deus pede-nos para sermos apóstolos como São Paulo

1. Deus concede-nos bênçãos e graças

Deus cumulou de bênçãos o Seu Povo. Conduziu-o da terra de escravidão para a Terra Prometida,
providenciando para que nada faltasse nessa longa viagem. Depois continuou a transmitir a
mensagem de salvação através dos Seus enviados.

Mas as infidelidades foram contínuas (1ª Leitura). Os Profetas sofreram a perseguição…


Depois veio Jesus para salvar o mundo. Fez milagres para que todos acreditassem. Ensinou a
Sua Doutrina. Fez o convite aos pecadores para que se convertessem. Acolheu todos os que a
Ele se dirigiam…

Deus fala conosco como falou com Nicodemos

O diálogo com Nicodemos, recordado no Evangelho, é duma delicadeza sem fim: «Deus não
enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo mas para que o mundo seja salvo por Ele».
Saberá o mundo deste desígnio do Senhor? Se sabe por que quer viver sem Ele?

Por que se elaboram leis que não respeitam a vida dos inocentes?
Por que se tenta destruir a família com o divórcio e uniões homossexuais?
Por que se cometem tantas injustiças?
Por que continuam os atentados e as guerras?
Por que há tantos pobres a viver na miséria?
Por que se fomenta a calúnia, a mentira, o ódio, a vingança, a inveja?…

Ai como tudo seria diferente se o mundo soubesse que a salvação somente se encontra em
Deus! Sem fanatismos e respeitando sempre a consciência de cada um seriam construídas
pontes que conduzissem ao progresso da humanidade, à paz desejada, à alegria merecida, ao
amor verdadeiro.

Deus pede-nos para sermos apóstolos como São Paulo

Maria Santíssima tem demonstrado ao longo dos séculos que é nossa Mãe e, como Rainha
do mundo, quer colaborar na sua salvação, como recordou em 1917 nas aparições de Fátima.
Amemo-l’A e invoquemo-l’A durante toda a nossa vida!

São Paulo compreendeu, como ninguém, que a salvação é um dom de Deus (2ª Leitura).
Como ele convertamo-nos ao Senhor! A decisão é nossa. Basta querer. Porque Deus que é rico
em misericórdia nos acolherá sempre como Pai que nos ama. Façamos apostolado. Não nos
desculpemos dizendo que o ambiente não é favorável, os interesses das pessoas são outros, o
que importa é gozar a vida… A nossa perseverança pode marcar a diferença…

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Oxalá cada um de nós possa, na despedida, exclamar como São Paulo (2 Tim 4, 7-8):
«Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. A partir de agora já me aguarda
a merecida coroa que me entregará, naquele dia, o Senhor, justo juiz, e não somente a mim mas
a todos os que anseiam pela Sua vinda».

Roteiro Homilético – V Domingo da Quaresma – Ano B

Sugestões para a homilia


1. Acolhamos o apelo à conversão
É preciso a mudança de vida
Piedade de filhos
Fortaleza para mudar
2. A conversão e a confissão
Desejo do encontro com Deus
Glorificar Cristo em nós
Renascerá a alegria

1. Acolhamos o apelo à conversão

a) É preciso a mudança de vida. «Dias virão em que estabelecerei com a casa de Israel e com
a casa de Judá uma aliança nova.»

Cristo foi atendido, como nos ensina o autor da Carta aos Hebreus. É Ele que ora em nós ao Pai.
Por isso, temos a certeza de que levaremos avante esta mudança de vida, por Ele estar conosco.
Não devemos perder demasiado tempo a olhar para o passado, para a situação em que nos
encontramos, mas alimentar a esperança de que seremos renovados.

Poderíamos ser tentados a alimentar a falta de esperança, pensando que a nossa vida já não
tem remédio, por causa dos nossos muitos pecados; ou que os nossos defeitos estão já muito
enraizados em nós e já não somos capazes de nos emendarmos; ou porque nos domina a preguiça
ao empreender o trabalho da mudança.

Apoiemo-nos filialmente numa grande confiança em Jesus Cristo para chegarmos ao Pai.

b) Piedade de filhos. «Hei-de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu
coração»

A piedade é a virtude que regula as relações entre pais e filhos. Quando a desdobramos,
encontramos o amor, o respeito e a obediência.

Deus quer libertar-nos das nossas fealdades e restituir-nos a beleza recebida no Batismo.
(Quando a mãe encontra o filho cheio de sujidade e com a roupa em trapos não deixa de gostar
dele. O seu amor materno, ao contrário, move-a a restituir-lhe a beleza quando antes). De modo
semelhante, o Senhor deseja ardentemente a nossa conversão pessoal, seja qual for a situação
em que nos encontremos. Basta – para nos convencermos desta verdade – ler as três Parábolas
da misericórdia narradas por S. Lucas – ovelha tresmalhada, dracma perdida e filho pródigo –
para compreendermos esta «impaciência» divina.

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Na verdade, a maior alegria que podemos dar a Deus é deixá-l’O perdoar os nossos pecados,
libertar-nos dos nossos defeitos para nos revestir de novo do esplendor de filhos de Deus.

c) Fortaleza para mudar. «Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas
faltas.»

É verdade que encontramos em nós apegos de que temos de nos libertar e hábitos que é urgente
combater até os eliminar.

(Qualquer tratamento a que nos submetemos exige de nós sofrimento, disponibilidade e mudança
de hábitos. Até por razões de desporto os atletas submetem-se aos maiores sacrifícios).
A Sagrada Escritura apresenta-nos Deus como a águia que esvoaça sobre o ninho os seus filhos,
incitando-os a tentar o voo (cf Cântico de Moisés, Deut 32, 11). Podemos imaginar o nosso Pai
do Céu animando-nos continuamente a deixar a preguiça e a comodidade, para empreender a
conquista das alturas da santidade.

Os milagres de lemos no Evangelho enchem-nos de esperança. O Senhor está disponível para


nos ajudar. Basta uma pequena diligência da nossa parte.

Jesus Cristo é fonte de Vida e de Salvação. Quando recebemos um Sacramento, vamos à fonte
das águas vivas.

2. A conversão e a confissão

a) Desejo do encontro com Deus. «Havia alguns gentios […]. Foram ter com Filipe, […], e
fizeram este pedido: ‘Senhor, nós queremos ver Jesus.’»

A Confissão sacramental é um encontro pessoal com Jesus Cristo. Ele está misteriosamente
presente no sacerdote que nos acolhe, seja qual for a sua situação espiritual.

O Senhor estabeleceu esta mediação por misericórdia para connosco. Se fosse Ele visivelmente
a acolher-nos, talvez nos sentíssemos dominados pelo sentimento de indignidade do centurião
romano de Cafarnaum, quando implorou a cura do servo, mas não queria que Jesus entrasse em
sua casa.

Coloca-nos perante um sacerdote – homem com experiência do que é a fraqueza humana – para
nos ajudar fraternalmente.

Este homem «empresta-Lhe» uma visibilidade. Se não fora este sinal externo, quando poderíamos
saber que havíamos já preenchido todas as condições para sermos perdoados?

b) Glorificar Cristo em nós. «Então, Jesus tomou a palavra e disse-lhes: “Chegou a hora de o
Filho do homem ser glorificado.»

Glorificamos Jesus Cristo na medida em que aceitamos a Sua vontade, ao estabelecer as


condições para a conversão e consequente perdão dos nossos pecados.

Temos de estar dispostos a morrer, como o grão de trigo, para que ressuscite em nós o homem
novo e demos fruto. Esta morte concretiza-se:
106
– Na humildade, reconhecendo, sem descontos nem desculpas, os nossos pecados. Somos
tentados a procurar uma desculpa no comportamento dos outros, no nosso modo de ser, etc.,
mas devemos renunciar a tudo isso para carregar generosamente a responsabilidade dos pecados
cometidos.

– Na sinceridade. Trata-se de acusar os pecados segundo o número, a espécie e as circunstâncias


que mudam a espécie. O Senhor pede-nos que encaremos o sacerdote que nos atende como um
médico. Ele precisa saber a nossa situação concreta, não por curiosidade, mas para nos ajudar
na libertação.

– Na verdade com que fazemos um propósito de lutar para não recair em tentação e nos
apresentamos arrependidos dos passos mal dados. Há quem, por uma falsa noção de sinceridade,
se afaste da confissão: «Não vou, porque voltarei, talvez, a cair… e não quero ser mentiroso!»

O que verdadeiramente prometemos não é não cair, mas lutar para que isso não volte a acontecer.
Para conseguir esta finalidade, propomo-nos rezar com maior frequência, frequentar mais o
Sacramentos e fugir das ocasiões.

c) Renascerá a alegria. «É agora o julgamento deste mundo. É agora que o Príncipe deste
mundo vai ser lançado fora.»

Muitos empobrecem, de algum modo, a riqueza do Sacramento da Reconciliação, reduzindo os


seus frutos exclusivamente ao perdão dos pecados. Na verdade, por ele é expulso o Demônio.
Este é para o Inimigo o mais doloroso exorcismo.

Mas não fica por aqui a magnanimidade do nosso Deus, ao restituir-nos a graça batismal ou ao
purificar-nos das manchas contraídas. Entre outras graças podemos recordar:

– A alegria e a paz, fruto deste encontro pessoal com Jesus Cristo. Qual de nós não sentiu já este
dom? A festa com que o pai do filho pródigo acolhe o jovem tresmalhado sentimo-la também
dentro de nós.

– A graça sacramental. Todos os sacramentos têm uma graça própria. A deste Sacramento é uma
ajuda especial para vencer as resistências que nos dificultam o caminho da santidade. Sentimos
maior força para perdoar, abandonar as ocasiões, mais devoção para rezar…

– Oportunidade para receber um bom conselho. Sentimo-nos inibidos de partilhar os nossos


problemas e dificuldades com outras pessoas, porque não confiamos na sua discrição, receamos
a sua imparcialidade ao aconselhar-nos, etc. Encontramos na confissão um sigilo sacramental
que coloca uma rocha sobre o que apresentámos que ninguém mais poderá remover, nem
mesmo depois da nossa morte. E confiamos que o sacerdote nos aponte o que Deus quer para
a nossa vida.

À semelhança de Filipe que diligenciou para que estes gregos se encontrassem com Jesus,
também nós havemos de procurar que muitas e bem preparadas pessoas se aproximem do
sacramento da reconciliação e Penitência.

Maria, como a melhor das mães, olhará com particular carinho os que ajudam os seus filhos e
nossos irmãos a este encontro pessoal com Jesus Cristo.
107
Roteiro Homilético – Domingo de Ramos – Ano B

Sugestões para a homilia

Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, o Rei dos Judeus

Os quatro Evangelistas dão grande importância ao relato da Paixão. A segunda parte do Evangelho
de S. Marcos está toda orientada para a morte de Jesus. S. Marcos quer-nos fazer compreender
as razões pelas quais o relato da Paixão ocupa a quinta parte do seu Evangelho. Porquê tanta
importância? Isto surpreende porque o Evangelho foi escrito depois da Ressurreição, para
pessoas que viviam iluminadas pelo acontecimento triunfal da Páscoa. No texto grego a Paixão
tem 160 linhas enquanto a Ressurreição apenas 46. A morte de Jesus tem muita importância,
tem um segredo que S. Marcos nos quer revelar.

O começo da Paixão relata a conspiração contra Jesus, a unção em Betânia, a traição de Judas,
os preparativos para a Páscoa, a instituição da Eucaristia. Antes, por três vezes Jesus tinha
anunciado o mistério da sua morte. Tudo isto para nos dizer que Jesus viveu primeiramente a
Sua Paixão no Seu Coração, antes de a sofrer no seu corpo. Sigamos Jesus, escutemos Jesus.
Ele anuncia que todos O vão abandonar (Marc 14, 27), que Pedro O vai renegar (Marc 14, 30).
Jesus morrerá sozinho. Na cruz experimentará o abandono do próprio Deus (Mc 15, 34).

No Getsemani e no Gólgota Jesus reza continuamente na Sua língua materna, o aramaico.


«Eloí» significa «meu Deus». São palavras do salmo 22 que Jesus rezou na cruz. Começa
com uma súplica aflitiva (Marc 15, 34): «Eloí, Eloí, lema sabctani?» (Meu Deus, meu Deus,
porque Me abandonaste?), mas que terminará numa exultação de alegria inexplicável: «Louvai
o Senhor, glorificai-O, reverenciai-O, vós todos os filhos de Israel. Uma nova descendência
há-de nascer para servir o Senhor e anunciar a Sua salvação: tal é a Sua obra!» (Salmo 22,
2.24.31-32).

S. Marcos narra dois processos contra Jesus, um religioso, outro político, para dizer a todo o
mundo o segredo da identificação deste condenado. Para dizer às autoridades religiosas que
Jesus de Nazaré é verdadeiramente o Messias, o filho do Homem, o Filho de Deus (Mc 14,61-
62); para dizer às autoridades romanas que Jesus é o Rei dos Judeus (Mc 15,2).

S. Marcos, no início do Evangelho, põe na boca dos apóstolos esta pergunta: «quem é este
Homem a Quem o vento e o mar obedecem?» (Mc 4,41) No final do Evangelho, o centurião
vendo a maneira como Jesus morreu fez um ato de fé exclamando: «verdadeiramente este
Homem era o Filho de Deus» (Mc 15, 39). Está dada a resposta! Ficámos a saber quem é Jesus.
Irmãos, aproveitemos a Semana Santa para meditarmos na morte de Jesus. Esta morte fala-nos.
Esta morte tem um segredo.

Esta morte deve provocar em nós um acto de fé semelhante ao do Centurião romano:


Verdadeiramente Jesus é o Filho de Deus. Subamos ao Calvário, fixemos o nosso olhar em
Jesus o autor e consumador da nossa fé. Não tenhamos medo da escuridão que envolve toda a
terra, porque em breve despontará a luz da Páscoa gloriosa.

108
Roteiro Homilético – Quinta-feira Santa

Sugestões para a homilia

1. Dia do amor fraterno


2. Instituição da Eucaristia
3. Instituição do Sacerdócio

A Quinta-feira Santa, primeiro dia do Tríduo Pascal, marca uma celebração capital dentro
de todo o ano litúrgico, celebração solene e grandiosa emoldurada no contexto dramático da
proximidade da paixão e morte do Senhor. É o dia cume da despedida e do amor extremo feito
serviço humilde e generoso. Muitas são as facetas que se entrecruzam num dia como este.
Vejamos as principais:

1. Dia do amor fraterno

Hoje ressoa na comunidade o mandamento novo, mandamento do amor, do amor «como eu


vos tenho amado». «Amei-vos até o fim», até fazer-me servo e escravo num tipo de serviço
considerado humilhante e próprio dos escravos (lavar os pés). «Eu dei-vos o exemplo». «Vós
também deveis lavar os pés uns dos outros.» Trata-se de uma proclamação do mandamento do
amor feita não com palavras mas com um sinal prático, o serviço. Amar é servir. Ama quem
serve. Obras são amores.

2. nstituição da Eucaristia

Para o evangelista São João, a instituição da Eucaristia está ligada estreitamente ao lava-pés.
A Eucaristia expressa e constitui o sacramento do amor de uma maneira visível, assim como
o lava-pés. Jesus parte e reparte o pão e o vinho, e diz: «Fazei isto em minha memória», ou
seja: para recordar-me fazei isto; ou também: partir e repartir a própria existência será a forma
de seguimento que melhor testemunha e faz memória de mim. Celebrar a Eucaristia, fracção
do pão, será sempre muito mais que ouvir a Missa: «Cada vez que comemos deste pão…
anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha.»

3. Instituição do Sacerdócio

A Igreja recorda que ao instituir a Eucaristia, Cristo também institui o sacerdócio da Nova
Aliança. Diz o Santo Padre: «O sacerdote é o homem que guiado pela fé tem acesso aos bens
que constituem a herança da Redenção realizada pelo Jesus Cristo que o escolheu para ser
o administrador da riqueza da Palavra e dos Sacramentos», e cuja qualidade fundamental é
como ensina S. Paulo a fidelidade (cf. 1 Cor 4, 2). O padre dá a Cristo a sua própria humanidade
que dela se serve como instrumento de salvação, e «esta doação – admirabile commercium
– torna-o um outro eu.» Este é o cerne da vocação sacerdotal. O padre é um expropriado
de si próprio que na renúncia a tudo por Cristo descobre que a sua personalidade se realiza
plenamente por este caminho, a via da entrega total e do amor sem limites.

Olhando para Maria, a verdadeira discípula de Cristo que amava a Deus acima de todas as
coisas e ao próximo como a si mesma, e seguindo os passos de São Paulo que fez tudo para
todos (cf. 1 Cor 9, 22), procuremos praticar «com todo o nosso coração e com toda as nossas

109
forças», o mandamento novo para edificarmos, quanto antes, a «civilização do amor».

Na homilia comentam-se os grandes mistérios que neste dia se comemoram: a instituição da


sagrada Eucaristia e do sacramento da Ordem e o mandato do Senhor sobre a caridade.

Roteiro Homilético – Sexta-feira Santa

Sugestões para a homilia

A Cruz, contemplação da morte


A Cruz de Cristo, alegria para o mundo
A Cruz, porta para Deus

A Cruz, contemplação da morte

Este é o dia em que adoramos de modo particular a Cruz.

Instrumento de morte infame, este sinal nasceu diante de nós, desde a aurora, e atravessa as
horas de Sexta-Feira Santa, durante as quais nos encaminhamos, atenciosos, para seguir, com o
pensamento e o coração, a paixão do Senhor: o caminho que vai desde a sua prisão no Monte ao
lado da torrente do Cédron, passando pelo Pretório de Pilatos até ao Calvário. A morte.

As horas deste dia, atravessadas de religioso silêncio, fazem-se sentir na significativa liturgia
desta tarde: a adoração da Cruz. A contemplação da morte.

A Cruz de Cristo, alegria para o mundo

Adoramos a Vossa Cruz, Senhor.

Sim. Na Cruz, Cristo manifestou-se como Senhor: aceitou a morte e deu a vida.

Não foi simplesmente «morto», mas «deu a vida». Aceitou a morte e deu a vida. Deu a Sua vida
por nós. Por todos os homens. «Nós» somos apenas uma pequena parte daqueles pelos quais
Cristo deu a vida. Não há um único homem, desde o início até ao fim do mundo, por quem Ele
não tenha dado a vida.

Ele deu a vida por todos. Redimiu a todos. A Cruz é o sinal da redenção universal: eis que
mediante o madeiro – da Cruz – se difundiu a alegria em todo o mundo.

A Cruz, porta para Deus

A Cruz é a porta, através da qual Deus entrou definitivamente na história do homem. E nesta
história permanece.

A Cruz é a porta, através da qual Deus não cessa de entrar na nossa vida.

Por isso é que nós nos persignamos com o sinal da cruz e dizemos simultaneamente «em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo».

110
Tais palavras são um convite a Deus, para que venha a nós. E unimo-las com o sinal da Cruz,
para que Deus entre no coração do homem mediante a cruz. E, assim, Ele passa a estar presente
em todas as atividades, pensamentos e palavras: em toda a vida do homem e do mundo.

A Cruz abre-nos para Deus. A Cruz abre o mundo para Deus.

Que esta Sexta-Feira Santa, dedicada ao mistério da Cruz, que nós meditamos neste dia, nos
aproxime cada vez mais de Deus vivo: Pai, Filho e Espírito Santo.

Que o sinal da morte de Cristo vivifique em nós a Sua presença e a Sua força.

A liturgia da palavra termina com a oração universal, que se faz do seguinte modo: o diácono,
do ambão, diz a exortação com que é indicada a intenção da oração; todos oram em silêncio
durante uns momentos; finalmente, o sacerdote, da sua sede, ou, conforme as circunstâncias, do
altar, diz, de braços abertos, a oração.

Durante todo o tempo da oração universal, os fiéis podem estar de joelhos ou de pé.

As Conferências Episcopais podem determinar uma aclamação do povo para antes da oração
do sacerdote, ou decidir que se mantenha o tradicional convite do diácono: Flectamus genua –
Levate (Ajoelhemos – Levantemo-nos), com um espaço de tempo de oração em silêncio, que
todos fazem de joelhos.

Em caso de grave necessidade pública, pode o Ordinário do lugar autorizar ou até decretar que
se junte uma intenção especial.

De entre as orações que se propõem no Missal, é permitido ao sacerdote escolher as que melhor
se acomodam às condições locais, respeitando contudo a série de intenções indicadas para a
oração universal (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 46, p. 29).

Roteiro Homilético – Vigília Pascal

Sugestões para a homilia


1,A Cruz, contemplação da morte
2. A Cruz de Cristo, alegria para o mundo
3. A Cruz, porta para Deus

1. A Cruz, contemplação da morte

Este é o dia em que adoramos de modo particular a Cruz.

Instrumento de morte infame, este sinal nasceu diante de nós, desde a aurora, e atravessa as
horas de Sexta-Feira Santa, durante as quais nos encaminhamos, atenciosos, para seguir, com o
pensamento e o coração, a paixão do Senhor: o caminho que vai desde a sua prisão no Monte ao
lado da torrente do Cédron, passando pelo Pretório de Pilatos até ao Calvário. A morte.

As horas deste dia, atravessadas de religioso silêncio, fazem-se sentir na significativa liturgia

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desta tarde: a adoração da Cruz. A contemplação da morte.

2. A Cruz de Cristo, alegria para o mundo

Adoramos a Vossa Cruz, Senhor.


Sim. Na Cruz, Cristo manifestou-se como Senhor: aceitou a morte e deu a vida.
Não foi simplesmente «morto», mas «deu a vida». Aceitou a morte e deu a vida. Deu a Sua vida
por nós. Por todos os homens. «Nós» somos apenas uma pequena parte daqueles pelos quais
Cristo deu a vida. Não há um único homem, desde o início até ao fim do mundo, por quem Ele
não tenha dado a vida.

Ele deu a vida por todos. Redimiu a todos. A Cruz é o sinal da redenção universal: eis que
mediante o madeiro – da Cruz – se difundiu a alegria em todo o mundo.

3. A Cruz, porta para Deus

A Cruz é a porta, através da qual Deus entrou definitivamente na história do homem. E nesta
história permanece.

A Cruz é a porta, através da qual Deus não cessa de entrar na nossa vida.
Por isso é que nós nos persignamos com o sinal da cruz e dizemos simultaneamente «em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo».

Tais palavras são um convite a Deus, para que venha a nós. E unimo-las com o sinal da Cruz,
para que Deus entre no coração do homem mediante a cruz. E, assim, Ele passa a estar presente
em todas as actividades, pensamentos e palavras: em toda a vida do homem e do mundo.
A Cruz abre-nos para Deus. A Cruz abre o mundo para Deus.

Que esta Sexta-Feira Santa, dedicada ao mistério da Cruz, que nós meditamos neste dia, nos
aproxime cada vez mais de Deus vivo: Pai, Filho e Espírito Santo.

Que o sinal da morte de Cristo vivifique em nós a Sua presença e a Sua força.
A liturgia da palavra termina com a oração universal, que se faz do seguinte modo: o diácono,
do ambão, diz a exortação com que é indicada a intenção da oração; todos oram em silêncio
durante uns momentos; finalmente, o sacerdote, da sua sede, ou, conforme as circunstâncias, do
altar, diz, de braços abertos, a oração.

Durante todo o tempo da oração universal, os fiéis podem estar de joelhos ou de pé.
As Conferências Episcopais podem determinar uma aclamação do povo para antes da oração
do sacerdote, ou decidir que se mantenha o tradicional convite do diácono: Flectamus genua –
Levate (Ajoelhemos – Levantemo-nos), com um espaço de tempo de oração em silêncio, que
todos fazem de joelhos.

Em caso de grave necessidade pública, pode o Ordinário do lugar autorizar ou até decretar que
se junte uma intenção especial. De entre as orações que se propõem no Missal, é permitido ao
sacerdote escolher as que melhor se acomodam às condições locais, respeitando contudo a série
de intenções indicadas para a oração universal (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, n.
46, p. 29).

112
Roteiro Homilético – II Domingo da Páscoa – Ano B

Sugestões para a homilia

1. A dificuldade em acreditar
2. A comunidade, sinal de fé
3. Testemunho de vida

1. A dificuldade em acreditar

O Evangelho deste domingo foi escrito especialmente para as comunidades cristãs que já
não tinham conhecido nenhum dos doze apóstolos. Inseridos numa sociedade altamente
competitiva, tinham dificuldade em acreditar na ressurreição de Jesus. Queriam, como muitos
de nós o desejaríamos ainda hoje, ver, tocar, verificar se efetivamente o Senhor ressuscitara.
Interrogavam-se se haveria provas de que Ele estava realmente vivo e, se assim era, por que
razão não tornara a aparecer.

João quis dizer aos cristãos da sua comunidade (e a nós) que o Ressuscitado possui uma vida
cuja natureza escapa aos nossos sentidos, que não se pode tocar com as mãos nem se pode
observar com os olhos. Só pode ser objecto da fé. Isto é válido mesmo para os apóstolos que
tiveram a felicidade de fazer uma experiência única do convívio com o Ressuscitado. Todos
os apóstolos tiveram os seus instantes de dúvida, e não só Tomé. O seu caminho da fé foi
demorado e difícil, embora Jesus lhes tivesse dado tantos sinais para provar que estava vivo.
Tomé é o símbolo destas dificuldades vividas por todos.

Não se pode ter fé naquilo que se vê. Não se podem ter provas científicas da ressurreição. Se
alguém quer ver, tocar, reconhecer, deve renunciar à fé. Quem possui a segurança da certeza,
tem a prova incontestável dum facto, mas não a fé. Nós pensamos: «eles foram felizes porque
viram». Mas Jesus diz que felizes são os que não viram, pois a sua fé é mais autêntica, mais
límpida, ou melhor, é a única fé pura.

Perante a proposta do Evangelho, cada um de nós é chamado a transmitir a sua aceitação de fé


em Jesus Cristo Ressuscitado, mas também a pode rejeitar, pois não existem outras provas além
da própria Palavra.

É na comunidade que nos é possível repetir a experiência que os apóstolos fizeram no dia de
Páscoa.

2. A comunidade, sinal de fé

Não foi por acaso que as duas manifestações de Cristo aos apóstolos ocorreram ao domingo;
que a experiência do Ressuscitado acontece com os mesmos; que o Senhor se mostra com as
mesmas palavras: «A paz esteja convosco!»; e que em ambos os momentos mostra os vestígios
da paixão.

É claramente o que se dá hoje no «dia do Senhor», em que a comunidade é convidada a celebrar


a Eucaristia. Pela boca do celebrante, saúda os presentes: «A paz esteja convosco», e nós
respondemos: «Ele está no meio de nós». É nesse instante que Ele Se revela vivo à comunidade.

113
Quem está ausente destes encontros, como Tomé, não pode fazer a experiência do Ressuscitado,
não pode ouvir a sua saudação e a sua Palavra, não pode receber a sua paz e o seu perdão,
experimentar a sua alegria, receber o seu Espírito. Quem, no dia do Senhor, fica em casa, mesmo
que seja para rezar sozinho, pode fazer a experiência de Deus, mas não a do Ressuscitado, pois
este torna-se oferenda no lugar onde se reúne a comunidade.

Tomé somente conseguiu fazer a sua profissão de fé no Senhor quando estava em comunidade de
irmãos. É a possibilidade que nos é dada também a nós «cada oito dias». E é nessa comunidade,
e através dela, que poderemos dar testemunho de vida.

3. Testemunho de vida

Na e com a comunidade seremos capazes de viver a fé demonstrando a ressurreição de Cristo.


Se a comunidade estiver cimentada nas duas características aludidas na primeira leitura, isto
é, «tendo um só coração e uma só alma» e «pondo tudo em comum» não sendo inspirada pelo
egoísmo, mas sim pela lei do amor, da bondade, da oferta de si, então seremos capazes de
atestar que o Espírito de Cristo ressuscitado também nos foi comunicado a nós.

Quem armazena só para si e para a própria família, quem quer engrandecer sozinho, mesmo que
vá sempre à igreja, não passa a notícia de que Jesus ressuscitou.

O sinal concreto da nossa fé é este verdadeiro testemunho de amor, de ajuda mútua, de


fraternidade. O fundamento mais consistente de que todos somos filhos do mesmo Pai, como
nos afirma a segunda leitura: são as obras de amor para com todos aqueles que são gerados por
Deus, ou seja, todos os irmãos.

A verdadeira fé nunca se pode separar da vida.

Roteiro Homilético – III Domingo da Páscoa – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Paz esteja convosco.


2. Mostrou-lhes as mãos e os pés.
3. Vós sois testemunhas de todas estas coisas.

Homilia

1. A Paz esteja convosco.

A centralidade do Mistério Pascal de Jesus Cristo exige de cada cristão, de forma responsável
e dinâmica, um amadurecimento pessoal e comunitário deste imprescindível acontecimento de
salvação.

É na morte e ressurreição de Cristo que Deus nos fala de uma forma bela, amorosa, e responde
às questões mais pertinentes do Homem e de Deus.

Na primeira leitura, São Pedro, revela esse acontecimento central. Ele possui uma história de

114
fragilidade e pecado, mas possui também uma experiência forte de acolhimento, de amor. O
encontro com o Ressuscitado leva-o a proclamar e a testemunhar as maravilhas da misericórdia
de Cristo ressuscitado. Recordemos que depois de ressuscitado, Cristo, tem um dos mais belos
diálogos de amor, de vocação e chamamento a Pedro. O diálogo termina com: «segue-me».

Pedro oferece-nos o seu testemunho para que também nós, na nossa fragilidade, possamos ser
tocadas pela presença de Cristo ressuscitado e sentir a necessidade de amar. Amar somente e
para sempre. E nesse amor descobrir a vocação, o chamamento e o compromisso do anúncio.

A experiência de João é também uma experiência de paz que dimana d’Aquele que é superior
ao pecado e que intercede por nós. João, na sua fragilidade, também tocou esse amor e por isso
nos pede que o guardemos como fonte permanente de conversão e de santidade.

A experiência do perdão do pecado leva-nos a tocarmos o mais profundo do amor de Deus, que
tendo descido à nossa miséria nos introduz na santidade e beleza da Sua vida.

Ainda hoje, no sacramento da reconciliação eu toco o amor de Deus. Este sacramento, sinal
da presença do ressuscitado, que me faz surgir homem novo, que reconstrói a minha vida é
também dinamismo de confirmação da minha vocação e envio como testemunha da Sua pessoa
e missão. E sobretudo o Sacramento da Eucaristia, a exemplo dos discípulos de Emaús: O
reconhecem, se enchem de alegria e entusiasmo e O anunciam.

2. Mostrou-lhes as mãos e os pés.

Sentimos muitas vezes necessidade de mostrar os nossos «galões», os nossos títulos, o nosso
recheado curriculum, Mas temos receio de nos mostrar a nós próprios. Temos medo de mostrar
a nossa fragilidade. Às vezes a santidade não é realidade porque não lemos os sinais da nossa
fragilidade no encontro com o Amor, Jesus Cristo.

Cristo mostrou as mãos e os pés. Eles eram o sinal do seu amor, da sua doação e entrega, o
sinal da cruz. Mostrou-se naqueles sinais transformados pelo amor mas que foram infligidos
com força de ódio, de violência, de tentativa de destruição do próprio Deus feito Homem. Esses
sinais são sinais de liberdade: «ninguém me tira a vida eu é que a dou».

Mas este gesto de Lucas é a proclamação da fé em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro
Homem: em tudo semelhante a nós. Não é fruto da nossa imaginação! É Ele mesmo, diferente,
ressuscitado, mas Deus e Homem, uma só pessoa e duas naturezas. É Jesus Cristo em verdadeira
comunhão com os seus discípulos, com a comunidade humana.

Todos somos convidados a vê-Lo, a tocá-Lo com o profundo olhar da fé que na leva a amar
de forma intensa e a comprometer a vida com o seu projecto. Tocaremos e veremos o Senhor
Ressuscitado em muitos sinais da sua presença, o mais forte e máximo é a Eucaristia, e depois
o irmão, e sobretudo o no mais frágil, os pequeninos, os doentes…

Na realidade é preciso vê-Lo e tocá-Lo.

3. Vós sois testemunhas de todas estas coisas.

A Igreja vive do seu Senhor Ressuscitado. A experiência com Cristo Ressuscitado compromete
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o cristão, os seus discípulos: no anúncio, no testemunho, no envio, no compromisso com o seu
projeto.

Testemunhas pela vida, pela palavra, pelas opções, pelo compromisso com as pessoas, com a
Igreja, com a comunidade.

O dinamismo do mistério pascal de Cristo é uma constante até ao seu ponto final. Também em
minha vida, na relação com Cristo vivo e ressuscitado, surge em mim, apesar da fragilidade,
a novidade e a vitória do mistério pascal do Senhor. E também no mundo, embora este possa
acentuar sinais contrários. É imparável a vitória do amor e da vida: Cristo ressuscitado.

A liturgia da celebração deste domingo é um convite à disponibilidade da conversão que


dimana do encontro com Cristo ressuscitado. Convite a um compromisso que nos torna suas
testemunhas.

Para o cristão, o discípulo que encontrou Jesus Cristo, já não há lugar ao temor, ao medo, à
paralisia egoísta, ao calculismo, à corrida aos primeiros lugares, à deturpação da verdadeira
imagem de Deus.

É também um convite a amarmos profundamente a Igreja. É nela, comunidade dos crentes, a


fazermos a experiência de Cristo ressuscitado e empenharmo-nos com sabedoria e esforço no
Seu anúncio.

Maria Santíssima caminha com Igreja de Jesus, comunidade dos seus discípulos, e nos continua
a dizer: «Fazei tudo o que Ele vos disser».

Roteiro Homilético – IV Domingo da Páscoa – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Filhos de Deus
2. Conheço as minhas ovelhas
3. Em nenhum outro há salvação

1. Filhos de Deus

Na segunda leitura vemos como S. João exclama admirado: «vede que admirável amor o Pai
nos consagrou em que nos chamemos filhos de Deus e somo-lo de facto» (1ª leit). Já seria uma
maravilha podermos chamar a Deus Pai Nosso quando Lhe falamos. Seria um sinal da nossa
confiança nEle.

Mas a realidade ultrapassa tudo o que poderíamos imaginar. Somos de verdade filhos de Deus.
Pelo batismo recebemos a vida da graça e tornamo-nos filhos de Deus, participantes da Sua
natureza divina. Porque ficámos unidos a Jesus, o Filho Unigênito, enxertados nEle, formando
com Ele um só corpo, o Seu Corpo Místico. Nele nos tornamos herdeiros de Deus, com direito
a participar da Sua felicidade infinita.

Ele enviou aos nossos corações o Espírito Santo que nos ensina a tratar com o nosso Pai Deus

116
e a chamá-Lo como os pequenitos: Abá, papá, Pai (Cfr. Gal 4, 5-7).

Viver como cristãos é empapar-nos desta realidade. Sermos como filhos pequenos deste Pai
maravilhoso que nos ama e está atento aos mais insignificantes problemas da nossa vida. «Até
os cabelos da vossa cabeça estão todos contados» (Mt 10, 30) – ensinou-nos Jesus. Ama-nos
com amor de pai e de mãe. «Pode a mãe esquecer o fruto das suas entranhas? Pois ainda que
ela se esquecesse eu nunca vos esquecerei» (Is 49, 15) Neste dia da mãe podemos ver nelas um
sinal do amor de Deus por cada um de nós.

Ser cristão é portar-nos em tudo como filhos de Deus, imitando o nosso irmão mais velho,
Jesus. Cumprindo fielmente a vontade do Pai, como Ele fez.

Ser cristão é falar com Deus como os filhos pequenos falam com os pais. Não os largam,
pedindo, contando as novidades. Sabendo abandonar-nos em Seus braços, manifestando-Lhe
com simplicidade o nosso carinho. Acudindo a Ele depois das nossas faltas com a confiança e
o arrependimento dos miúdos depois duma travessura.

Conta-se que uma filha de Luís XV, de França, quando era pequena foi repreendida pela sua aia
e disse-lhe: – Não sou eu a filha do teu rei?

E a aia retorquiu: – E a menina não sabe que sou filha de Deus?

Mais tarde a pequena Luísa, já carmelita, recordava muitas vezes e agradecia à sua aia aquela
resposta surpreendente.

Jesus ressuscitado está conosco todos os dias. Ele veio tornar-nos de verdade filhos de Deus.
Essa é a razão para andarmos sempre alegres.

2. Conheço as minhas ovelhas

Com a figura do Bom Pastor Jesus quer manifestar o Seu amor, o Seu cuidado por cada um de
nós.

Ele conhece-nos, chama-nos pelo nome, vai à nossa frente a indicar-nos o caminho seguro,
alimenta as nossas almas em pastagens verdejantes.

Vós e eu temos de procurar segui-Lo como as ovelhas ao Seu pastor, imitando a sua vida, a Sua
maneira de trabalhar, de rezar, de tratar com os que nos rodeiam.

Temos de procurar conhecê-Lo sempre mais, estar atentos aos Seus chamamentos, meditando a
Sua doutrina, obedecendo fielmente aos Seus ensinamentos.

Temos de preocupar-nos também com a salvação dos que nos rodeiam, como as ovelhas que
seguem compactas o seu pastor. Com os seus balidos servem de sinal para as que se afastam e
se tresmalham. «Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e é preciso que escutem a
minha voz» (Ev.).

Temos de ter o cuidado pela salvação de todos os homens. O Senhor conta com a nossa
colaboração. Não só dos sacerdotes mas também de todos os fieis. Foi assim desde o princípio,
117
depois das primeiras perseguições em Jerusalém. Foi assim em todo o Império Romano. Não
foi somente Paulo que pregou a Boa Nova. Nas suas cartas refere o nome de muitos cristãos,
homens e mulheres, que trabalhavam pelo Evangelho.

O Senhor quis precisar de modo especial dos sacerdotes. Ao enviar os Seus discípulos em
pregação dois a dois lembra-lhes: «a messe é grande e os operários são poucos. Pedi ao dono
da messe que mande operários para a Sua messe» (Lc 10, 2). Da nossa oração depende a
abundância de vocações para o sacerdócio, para a vida religiosa e missionária.

Temos de pedir ao Senhor novos Paulos para a Sua Igreja: jovens decididos a deixar tudo,
enamorados de Cristo, para levarem a alegria da Boa Nova a toda a parte.
Em nenhum outro há salvação

S. Pedro lembrava em Jerusalém, naqueles primeiros dias após o Pentecostes, que Jesus
ressuscitado tem todo o poder e que só Ele pode trazer a salvação à humanidade.

Vemos hoje as esperanças falhadas de muitos homens, que puseram a sua segurança nas coisas
deste mundo. A Alemanha ficou chocada com aquele jovem que entrou numa escola, matando
vários estudantes e professores e suicidando-se depois. E vêem-se repetindo outros casos
parecidos em vários países. É um alerta para os pais, para os governos e para todos nós em geral.
Para muitos jovens a vida não tem sentido. Por falta de boas mães que os ensinem de pequenos
a amar a Jesus e a viver como Ele ensinou.

«A crise de esperança – escrevia o Santo Padre, há dias, aos jovens – atinge mais facilmente as
novas gerações que, em contextos socioculturais privados de certezas, de valores e de sólidos
pontos de referência, têm de enfrentar dificuldades que são maiores do que as suas forças.
Penso, queridos amigos, em tantos coetâneos vossos, feridos pela vida, condicionados por uma
imaturidade pessoal que muitas vezes é consequência de um vazio familiar, de opções educativas
permissivas e libertárias e de experiências negativas e traumáticas. Para alguns e infelizmente,
não são poucos a saída quase obrigatória é uma fuga alienante com comportamentos de risco
e violentos, na dependência de drogas e álcool, e em muitas outras formas de mal-estar juvenil.
Contudo, também em quem se encontra em condições difíceis por ter seguido conselhos de
‘maus mestres’, não se apaga o desejo de amor verdadeiro e de autêntica felicidade. Mas como
anunciar a esperança a estes jovens? Nós sabemos que só em Deus o ser humano encontra a
sua verdadeira realização. O compromisso primário que interpela a todos é portanto o de uma
nova evangelização, que ajude as novas gerações a redescobrir o rosto autêntico de Deus, que
é Amor» (Mens.Dia Mund. da Juventude)

Neste caso da Alemanha apareciam nos dias seguintes cartazes a perguntar: Deus onde estavas?
Como se Deus tivesse culpa dos pecados que os homens fazem. Seria antes de perguntar aos
pais: onde pusestes a Deus? Ficou fora da vossa casa porque não quisestes convidá-Lo para o
vosso lar: ali não se rezava, não se ensinavam os filhos a amar a Jesus.

E as escolas onde puseram a Deus? Muitos não O querem lá. Outros nada fazem para O convidar,
ensinando aos jovens os valores fundamentais da vida, ensinados nos Dez Mandamentos. E a
televisão e a internet, que são hoje a escola de crianças e jovens, que é que lhes ensinam?

É ocasião de nos examinarmos todos com valentia e o desejo de arrepiar caminho. Temos
de repetir a todos como S. Pedro: «Nenhum nome foi dado aos homens no qual possam ser
118
salvos». Só Cristo tem palavras de vida eterna.

Os jovens cristãos têm de levar esta mensagem de esperança aos seus amigos e colegas. Que
saibam ouvir como S. Paulo o chamamento de Jesus para irem comunicar a Boa Nova a toda a
parte.

Ao chegar a Tróade S. Paulo teve uma visão: um homem da Europa dizia-lhe: – passa à
Macedónia e ajuda-nos. O Apóstolo partiu logo para o outro lado do mar e começou a pregar
em Filipos. Ali teve de sofrer muito, mas não desanimou. Partiu depois a anunciar o Evangelho
de Jesus em Tessalónica, Atenas e Corinto, estabelecendo a Igreja nessas cidades da Europa.

«Queridos jovens – dizia ainda o papa – se vos alimentardes de Cristo e viverdes imersos
n’Ele como o apóstolo Paulo, não podereis deixar de falar d’Ele, de O fazer conhecer e amar
por tantos vossos amigos e coetâneos. Tendo-vos tornado Seus fiéis discípulos, sereis assim
capazes de contribuir para formar comunidades cristãs impregnadas de amor como aquelas
das quais fala o livro dos Actos dos Apóstolos. A Igreja conta convosco para esta empenhativa
missão: não vos desencorajam as dificuldades e as provas que encontrardes. Sede pacientes e
perseverantes, vencendo a natural tendência dos jovens para a pressa, para querer tudo e já.
Queridos amigos, como Paulo, testemunhai o Ressuscitado! Fazei-O conhecer a quantos, vossos
coetâneos ou adultos, estão em busca da ‘grande esperança’ que dê sentido à sua existência.
Se Jesus se tornou a vossa esperança, dizei-o também aos outros com a vossa alegria e com o
vosso compromisso espiritual, apostólico e social. Habitados por Cristo, depois de ter posto
n’Ele a vossa fé e de lhe ter dado toda a vossa confiança, difundi esta esperança ao vosso redor.
Fazei escolhas que manifestem a vossa fé; mostrai que compreendestes as insídias da idolatria
do dinheiro, dos bens materiais, da carreira e do sucesso, e não vos deixeis atrair por estas
quimeras falsas. Não cedais à lógica do interesse egoísta, mas cultivai o amor ao próximo e
esforçai-vos por colocar a vós mesmos e as vossas capacidades humanas e profissionais ao
serviço do bem comum e da verdade, sempre prontos a responder ‘a quem vos perguntar a
razão da vossa esperança!’ (1 Pd 3, 15). O cristão autêntico nunca está triste, mesmo quando
tem que enfrentar provas de vários tipos, porque a presença de Jesus é o segredo da sua alegria
e da sua paz.» (Ib ).

Que a Virgem, neste mês de Maio, nos leve mais a Jesus, que ajude as mães para que se pareçam
mais com Ela e desperte em todos os jovens a generosidade para dizerem sim a Deus como Ela
fez.

Roteiro Homilético – V Domingo da Páscoa – Ano B

Sugestões para a homilia

Jesus Cristo afirma: Eu sou a videira e vós os meus ramos.


Jesus Cristo pede: Permanecei em mim.

No Domingo passado, Jesus dizia: Eu sou o Bom Pastor. Hoje diz-nos: Eu sou a videira. Trata-
se de uma imagem cheia de audácia, porque na Bíblia, a vinha do Senhor é a casa de Israel.
Jesus diz mesmo «eu sou a verdadeira vinha»! Jesus é a videira e nós somos os seus ramos.
Somos o novo Povo de Deus.
O quinto Domingo da Páscoa apresenta-nos Jesus como a verdadeira vide! Ele próprio afirma:

119
Eu sou a videira e vós os meus ramos. Compreendemos bem esta comparação. Conhecemos
bem o que é uma videira com os seus ramos. Unidos a Jesus pela fé, formamos um só corpo,
dirá S. Paulo.

S. João utiliza neste Evangelho oito vezes o verbo «permanecer» como uma palavra-chave para
compreendermos a necessidade de estarmos unidos ao divino Mestre. Nos escritos joaninos,
encontramos muitas vezes este vocábulo. Permanecer é um verbo que expressa a união entre
Deus e quem tem fé e observa os seus mandamentos. Trata-se de uma linguagem mística e
maravilhosa. Podemos morar em Jesus e Jesus morar em nós. Estamos unidos a Jesus como os
ramos à videira. Esta palavra «permanecer» não significa apenas «ficar junto de», «passar um
dia com», «residir», «habitar», mas significa «viver com». Este tema circula em toda a Bíblia.
O grande sonho dos homens é ver a Deus, viver com Deus, morar na Sua Presença. A Bíblia
fala-nos de Deus que faz Aliança com o seu povo e faz as suas delícias em morar no meio do
seu povo. A parábola da videira e dos sarmentos convida-nos, de modo particular, a permanecer
unidos a Cristo, a viver com Cristo. É claro que um ramo, se não permanece unido à videira,
não pode dar fruto. «Dar fruto». Esta expressão é repetida seis vezes no Evangelho de hoje. A
repetição é símbolo da abundância. Jesus vê-se como a videira com os ramos carregados de
muitos frutos.
Deus Pai está na origem da vinha. Ele é o vinhateiro que cuida e poda vigorosamente os
ramos, porque deseja alegrar-se com a recolha dos frutos produzidos pelos discípulos de Seu
Filho. Se o ramo seca, é lançado ao fogo. Para que tal não aconteça, nós os ramos temos de
permanecer unidos a Cristo, isto é, temos de viver na sua graça, porque sem a seiva divina nada
podemos fazer. Permanecer em Cristo implica estar unido a Ele pela oração, pelo trabalho, pelo
apostolado. Quem se separa de Cristo torna-se estéril. Quem se afasta do caminho, da verdade e
da vida acaba por secar e não dar fruto. Aceitemos o convite que Jesus nos dirige: «permanecei
em Mim»! Sabemos que a glória do Pai é que obtenhamos o fruto da vida eterna. Tudo quanto
pedirmos em nome de Jesus, ser-nos-á concedido. Permaneçamos unidos a Jesus na fidelidade
à nossa vocação familiar, profissional, religiosa, sacerdotal, a fim de produzirmos frutos de vida
eterna e sermos verdadeiros discípulos de Jesus.

Roteiro Homilético – VI Domingo da Páscoa – Ano B

Sugestões para a homilia

1. «É este o meu Mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (Ev.)
2. «Se guardardes os Meus Mandamentos, permanecereis no Meu amor» (Ev.)
3. «Quem não ama não conheceu a Deus, porque Deus é Amor» (2ª Leitura)

1. É este o Meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei.

No clima festivo do tempo pascal, enquanto celebramos a plenitude do amor de Deus para com
a Humanidade, manifestada no Sacrifício de Jesus Cristo morto e ressuscitado, agradeçamos
mais uma vez o grande dom que é o Seu Mandamento: amar como Jesus nos amou.

Estamos neste mundo para amar a Deus com todo o nosso coração e toda a nossa alma e para
levar esse amor a todas as criaturas. Quando esquecemos isto no meio dos nossos trabalhos,
dos nossos triunfos, das nossas misérias e dificuldades, da nossa luta diária, tudo perde sentido.
O Espírito de Jesus Cristo «é a força interior que harmoniza os nossos corações com o coração

120
de Cristo e nos leva a amar os nossos irmãos como Ele os amou, quando se inclinou para lavar
os pés dos discípulos (cfr. Jo 13, 1-13) e, sobretudo, quando deu a sua vida por todos (cfr. Jo
13,1; 15,13)» (Enc. Deus é Amor, n.º 19).

2. Se guardardes os Meus Mandamentos, permanecereis no Meu Amor.

Jesus pede-nos que permaneçamos no Seu Amor, em comunhão com Ele, numa relação
permanente de amizade e de diálogo, para podermos gozar da sua alegria e termos a força
necessária para observar fielmente os Seus Mandamentos.

O amor ao próximo, radicado no amor de Deus, é um dever, antes de mais, para cada um dos
fiéis, mas é-o também para a comunidade eclesial inteira: «No seio da comunidade dos crentes
não deve haver uma forma de pobreza tal que sejam negados a alguém os bens necessários
para uma vida condigna» (Enc.Deus é Amor, nº 20).

«Enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos, mas principalmente para com os
irmãos na fé» (Gal 6, 10).

O desprezo do amor é desprezo de Deus e do ser humano, virar costas ao nosso próximo é virar
costas a Deus, transgredir os Seus Mandamentos é prescindir de Deus e dos nossos irmãos.
A prática da caridade é um acto da Igreja enquanto tal: «O dever da caridade, tal como o serviço
da Palavra e dos Sacramentos, faz parte da essência da sua missão originária» (Enc. Deus é
Amor, nº 32).

3. Quem não ama não conheceu a Deus, porque Deus é Amor.

«Deus é Amor» – recordou-nos o Apóstolo S. João. É Amor porque é Comunhão que une o Pai,
o Filho e o Espírito Santo na vida trinitária. «Se vês o amor, vês a Trindade» (S. Agostinho).É
Amor, porque é «dom». É Amor derramado no coração de todos aqueles que Ele criou,
chamando-os a ser seus filhos e a formar uma só família.

Este nosso pobre coração nasceu para amar. Todos nascemos de Deus (Cfr. Jo 1,13) e Deus é
Amor. Somos filhos de Deus e, por natureza e pela graça fomos constituídos no amor, capazes
de amar. A filiação divina é a rocha sobre a qual devemos edificar toda a nossa vida.

«O amor ao próximo é um caminho para encontrar a Deus: fechar os olhos diante do próximo
torna-nos cegos também diante de Deus» ( Enc. Deus é Amor, nº 17).

Deus ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu amor: incessantemente vem ao nosso encontro,
através das pessoas nas quais Ele se revela. Ele amou-nos primeiro e, como consequência,
nós sentimos a necessidade de amar os nossos irmãos: amor a Deus e amor ao próximo são
inseparáveis, constituem um único mandamento.

«O amor é possível e nós somos capazes de o praticar, porque fomos criados à imagem de
Deus. Viver o amor e, deste modo, fazer entrar a luz de Deus no mundo: tal é o convite que
vos queria deixar com a presente Encíclica» – diz-nos o Santo Padre Bento XVI (Enc. Deus é
Amor, nº 39).

121
Roteiro Homilético – Ascensão do Senhor – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Cristo sobe ao Céu


2. Recomendações de Cristo e Acção dos Apóstolos

1. Cristo sobe ao Céu

Verificamos que esta verdade está patente em todas as leituras da Eucaristia de hoje e em versões
diferentes. Vejamos:

«Dito isto elevou-se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito
no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentarem-se-lhes dois homens vestidos de branco, que
disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de
vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu». (Primeira Leitura)
Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele (o Pai) ressuscitou
dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e
Soberania (…) Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de
toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos. (Segunda
Leitura).

E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-se à direita
de Deus. (Evangelho).

Não comentamos estas passagens nem com elas queremos afirmar que está tudo dito sobre a
Ascensão de Cristo.

Citamos também o Compêndio Catecismo da Igreja Católica n.º 132: «Passados os quarenta dias
em que se mostrou aos Apóstolos sob as aparências duma humanidade normal que ocultavam a
sua glória de Ressuscitado, Cristo sobe aos Céu e senta-se à direita do Pai. Ele é o Senhor que
agora reina com a sua humanidade na glória eterna de Filho de Deus e sem cessar intercede
por nós junto do Pai. Envia-nos o Espírito Santo e tendo-nos preparado um lugar, dá-nos a
esperança de um dia ir ter com Ele.»

Perante isto, que nos falta para entrarmos no Céu?


Querer e usando os meios que Deus nos oferece.

2. Recomendações de Cristo e Ação dos Apóstolos

«Recomendou que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai.
Sereis batizados no Espírito Santo dentro de poucos dias. Recebereis a força do Espírito Santo,
que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na
Samaria e até aos confins da terra» (Primeira Leitura).

O que fizeram os Apóstolos já todos sabemos. Que nos falta, hoje, para termos êxito em nosso
apostolado?

122
A força do Espírito? Há que pedi-la com muita humildade, perseverança e confiantes. Vinde
Espírito Santo, enchei o coração de cada um de nós.

Mas as recomendações aparecem noutros termos no Evangelho de hoje:

«Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado
será salvo; mas quem não acreditar será condenado».

Como temos cumprido esta ordem de Cristo? Como pregamos? Como preparamos os pais,
os padrinhos e seus familiares para os batizados das crianças? Usamos todos os meios de
Comunicação Social? Damos prioridade à oração, à formação interior, à vida de comunhão
com Cristo?

Acreditamos que só assim Ele pode «cooperar connosco»? Cooperou com os Apóstolos
formados na Sua escola. Porque não há-de cooperar também conosco?

Roteiro Homilético – Santíssima Trindade – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Deus não está longe de nós


2. É uma «família» aberta a todos os homens
3. E ensina-nos a chamar-Lhe «Abba, Pai»!

1. Deus não está longe de nós

No nosso coração fomos criando falsas imagens de Deus que não correspondem ao Deus que
nos foi manifestado por Seu Filho Jesus Cristo. As leituras deste domingo ajudam-nos a purificar
o nosso coração dessas falsas imagens.

O trecho da primeira leitura, extraído do Livro do Deuteronômio, foi escrito para acalentar
os israelitas que estavam presos e escravizados na Babilônia. Destinava-se a apoiar a sua
esperança de salvação. Nele, como ouvimos, o autor convida-os a reconsiderar a história dos
seus antepassados, repleta de maravilhas operadas pelo Senhor em favor do Seu povo. Recorda-
lhes que em todo o mundo jamais se ouviu dizer que algum deus tenha actuado com tal poder
para libertar o seu povo como o fizera Javé por Israel.

Sabendo como foram amados e auxiliados por Deus, que ficou tão contristado pelos problemas
e sofrimentos dos homens, os prisioneiros israelitas não poderão desanimar, pois o Senhor de
novo virá para os libertar da escravidão em que se encontram. Deus não é um ente distante, mas
um Deus próximo, amigo e protetor que Se interessa pelos seus problemas e intervém em seu
favor. Por isso, é motivo de alegria, de paz e tranquilidade para aqueles que acreditam n’Ele.

No meio dos contratempos e problemas da vida também nós devemos aprender que Deus nunca
nos deixa sós ou desamparados. Por vezes somos tentados a depor a nossa confiança «noutros
deuses» que nos parecem mais razoáveis, que não nos obrigam a mudar o coração, que nos
possibilitam conservar ressentimento, ser maus, injustos, vingativos, corruptos ou desonestos.
Porém, há só um Deus que nos dá a vida e a felicidade e esse Deus é uma «família» aberta a

123
todos os homens de boa vontade.

2. É uma família aberta a todos os homens

A «família» de Deus, a Trindade, está sempre aberta para acolher os seus novos filhos. O Pai
quer que o Seu amor chegue a todas as criaturas.

Jesus, diz-nos no Evangelho, que o Pai Lhe concedeu todo o «poder» no céu e na terra e
que nada escapa ao «domínio» que o Pai Lhe conferiu. Este «domínio» não se identifica com
prepotência, mas consiste num serviço que se reconhece com a força de salvar, de levar a Deus
todos os homens. E Ele comunica aos seus discípulos esse «poder» que o Pai Lhe deu. Os
discípulos terão de ser o prolongamento de Cristo no mundo, para conduzir todos à redenção,
ensinando e batizando em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, com a garantia de que
continuaria com eles até ao fim dos tempos. Depois da Ressurreição declara solenemente que
será para sempre o «Deus-connosco», nessa Trindade.

No seu ensinamento diz-nos que Deus não é um Deus sozinho mas uma «família», modelo de
unidade e de comunhão de pessoas. Esta «família» de Deus, a Trindade, é a imagem perfeita
da harmonia, da plena integração, da total realização, que acontece na abertura do encontro em
diálogo de amor com as outras pessoas. Esta unidade de todos na paz da «casa» do Pai realizar-
se-á plenamente quando todos os homens, por intermédio dos Seus discípulos, receberem a Boa
Nova da salvação, pela Ressurreição de Cristo.

E ensina-nos de que, como família, temos a graça de poder chamar a Deus: «Abba, Pai!»

3. E ensina-nos a chamar-Lhe «Abba, Pai»!

Não somos já meras criaturas, não somos servos que ajudam o patrão na esperança de conseguir
um prémio ou no receio de receber um castigo. Somos filhos que alcançaram d’Ele a mesma
vida. O Espírito que nos foi comunicado leva-nos a gritar a Deus, cheios de confiança e alegria:

A religião dos castigos, do receio, dos méritos, a religião de quem reza a um Deus distante que
não sente dentro de si, é inconciliável com a profissão de fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Estaremos nós repletos da presença deste Deus no mundo, especialmente ante quem sofre,
quem erra, para quem é pobre? Confiamos que Ele não nos abandona? Acreditamos que o
«poder» dado a Jesus e por Ele comunicado através do Espírito Santo acabará por levar todos
os homens à salvação?

Então, mantenhamo-nos fiéis ao baptismo que recebemos em nome da Trindade: Pai, Filho e
Espírito Santo, para difundirmos no mundo este amor de Deus por todos os homens.

124
Roteiro Homilético – XI Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Eu, O Senhor o afirmei e o hei-de realizar (Ezequiel, 17, 24)

Quem acredita em Deus olha para o passado e por ele compreende o futuro.
Ezequiel nasceu em 620 antes de Cristo, em Jerusalém, na época do rei Josias. Em 597 os
judeus são deportados para Babilônia e Ezequiel também.

O sofrimento dos exilados era muito grande; sobretudo porque se encontravam longe da pátria,
de Jerusalém e do Templo. O Salmo 137 é uma autêntica balada dos exilados, traduzindo a
amargura e a saudade do povo, a quem os dominadores pediam «cânticos de alegria» (Salmo
137) «Junto aos rios da Babilónia nos sentámos a chorar, recordando-nos de Jerusalém…
Os que nos levaram para ali cativos pediam-nos um cântico…» – «Cantai-nos um cântico
de Jerusalém…» – «Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor, estando numa terra
estranha? Se me esquecer de ti, Jerusalém, fique ressequida a minha mão direita! Pegue-se-me
a língua ao paladar… se não fizer de Jerusalém a minha suprema alegria»!

Atenção ao pequeno pormenor que vem a seguir: «A tentação da dúvida e do desespero


ameaçava profundamente os Judeus. Muitos pensavam: o nosso Deus abandonou o seu povo;
os deuses pagãos levaram a melhor sobre o Deus de Israel!». Isto não era verdade. Deus
nunca abandona os que O amam. Apenas os coloca em provações. Tudo o que relatamos parece
repetir-se. Os povos do mundo inteiro quase ignoram Deus para confiar apenas nas leis dos
governantes e na técnica.

A humanidade estará de regresso a Deus? A parábola do filho pródigo é sempre atual… Voltemos
ao convívio íntimo com Deus, e seremos salvos.

2. «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra». Como ajudá-la a crescer
e a dar fruto?

O processo de desenvolvimento da semente é um facto misterioso. O Reino de Deus cresce


não por virtude ou mérito dos apóstolos, mas com a força da graça de Deus. São Paulo dirá
aos Coríntios (1 Cor 3, 6-7): «Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento».
Assim, nem o que planta, nem o que rega é alguma coisa, mas só Deus faz crescer».

Mas o plantar e regar é ou não imperativo e imprescindível?

Claro que sim. Jesus fundou a Igreja e conta com os leigos, os sacerdotes e os Bispos, para que
o Reino de Deus se dilate. A formação dos leigos, sacerdotes e Bispos deve ser integral.
Basta que falhe alguma das partes para que a ação de cada pessoa seja um fracasso.

Qualidades humanas, cultura intelectual, e vida de santidade são dados inseparáveis. As pessoas
muito activas mas onde falta a vida de oração, de frequência dos sacramentos, Eucaristia e
comunhão diária, confissão frequente, direcção espiritual, meditação, exame diário de
consciência, recitação diária da Liturgia das Horas, reza diária do Terço, outras práticas de
devoção a Nossa Senhora, devoção ao Anjo da Guarda, a São José, etc, fazem muito barulho

125
mas não conseguem levedar o meio em que vivem.

Estamos convencidos de que em primeiro lugar está a santidade e só depois a ação?


Corremos todos o risco de muita operosidade e pouca santidade.

Rezemos, façamos sacrifícios, transformemos o trabalho em oração, mantenhamos a união com


Deus ao longo do dia e Deus fará o resto.

Para terminar, reparemos nestas palavras de São Lucas, 13, 32: «Não temais pequeno rebanho,
porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino».

Não devemos esquecer este pormenor. No mistério da conversão e santificação de cada cristão
também conta o respeito de Deus pela liberdade de cada pessoa. Ninguém se converte contra
sua vontade.

Roteiro Homilético – XIV Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Vocação e Missão do Profeta


2. Jesus Cristo: Profeta por excelência.
3. A missão profética, hoje.

1. Vocação e Missão do Profeta.

O profeta é chamado por Deus para uma missão, quase sempre exigente, trabalhosa e difícil.

Ele deve ter consciência da sua normalidade. Apesar da sua fragilidade, Deus o escolheu e
o enviou. A mensagem que irá transmitir não é sua. Por isso se lhe pede escuta, docilidade e
fidelidade no anúncio, no ensino e no testemunho.

Perante tal missão e na consciência da sua pobreza e fragilidade ele deve munir-se de profunda
confiança em Deus; ser pessoa de oração e de escuta da Palavra de Deus; deve possuir
consciência de solidariedade e se preocupar com o destino dos outros. E na fidelidade à verdade
da mensagem, estar disponível para se fazer doação total, dando se for necessário, a própria
vida.

A mensagem que Deus lhe pede é de convite à conversão, purificador da Aliança, anunciador
da santidade e beleza de Deus, trabalhador incansável da dignidade humana, libertador dos
esquemas de morte, dinâmico colaborador no apontar para Jesus Cristo.

Quase sempre, na boa tradição profética, o esperará o desprezo, a rejeição, a eliminação, a


perseguição e, às vezes, a própria morte.

2. Jesus Cristo: Profeta por excelência.

Jesus Cristo apresenta-se com uma beleza magnífica. O quadro do Evangelho de hoje apresenta-
nos a sua dignidade humana, a serenidade e novidade das suas atitudes e palavras, o cumprimento

126
da mais genuína tradição profética.

O filho do carpinteiro, sem nome, talvez a fazer referência a que José já não vivia. E o salientar
do «filho de Maria» em que o evangelista apela à sua concepção virginal e sua divindade,
realçam quanto o nosso Deus amou a nossa humanidade e se fez igual a nós.

Depois a força reveladora e dinamizadora desse gesto, o «filho do carpinteiro» a traduzir que
não são as roupas ou as profissões que traduzem a grandeza da pessoa, mas a sua dignidade e o
serviço. Neste gesto de Deus se revoluciona radicalmente a sociedade.

Deus fala-nos por seu Filho. E quantas vezes o Pai dá testemunho d’Ele e nos pede para O
escutarmos! E também o Espírito Santo dá testemunho ao conduzir-nos ao ato mais belo da
nossa fé: crer que Jesus Cristo é o verdadeiro Filho de Deus e Filho de Maria. E Paulo nos dá
um testemunho belo de profunda confiança e entrega.

Em Cristo mensageiro e mensagem se identificam. Ele comunica por palavras e por gestos a
novidade do amor de Deus.

3. A missão profética, hoje.

A Palavra de Deus chega hoje até nós através da palavra humana, de pessoas que apresentam
garantias e são testemunhas credíveis.

Pelo baptismo, em nós nasceu a vocação de profeta. Ser pessoa em quem Deus confia os seus
mistérios de amor: anunciando e denunciando; construindo e destruindo.

O encontro com Cristo não é um acontecimento meramente pessoal, fechado no âmbito de


uma espiritualidade amuralhada e egoísta. Pelo contrário, o encontro e a relação pessoal com
Cristo é dinamismo de caminhada, de construção e de anúncio de uma maravilhosa notícia: o
Evangelho ao serviço e como proposta para todos.

A consciência de ser profeta desperta a pessoa para um cristianismo vivo, dinâmico e audaz.
Um cristianismo dos sentidos, isto é, tudo deve ser afirmação responsável da realização do
projeto de Deus. Todos os sentidos devem estar despertos para auscultar os sinais, pelo impulso
do Espírito Santo, e serem colocados ao serviço eficiente do Evangelho. Também a inteligência
especulativa e emocional devem ser «centrais» dinamizadoras da inteligibilidade da fé e de
propostas sérias e convincentes do Evangelho. Mas sobretudo uma vida de autêntica fé que
leva a ultrapassar as dificuldades com o júbilo do Espírito Santo. E necessariamente a vida de
oração, beleza da vida pessoal e comunitária com os «olhos» e «coração» de Deus.

A nossa vida e missão devem ser compromisso e consciência de que somos enviados a um
mundo, muitas vezes, fechado à fé, fechado a Cristo. E ter em conta que apesar das nossas
limitações e fragilidades Deus quer contar connosco, desde que nós contemos com Ele.

Mas é preciso ser profeta para ser livre! Convidar à conversão, chamando o pecado pelo seu
nome, assinalar os perigos, enfrentar os poderosos ou esquemas de pecado exige verdadeira
liberdade. Liberdade dos filhos de Deus!

Ao profeta não se lhe pedem frutos, mas que seja fiel e que se apresente como profeta para que
127
vejam que há um profeta entre eles.
Também não se pode esperar reconhecimento e gratidão. Esse, se Deus quiser, virá mais tarde,
traduzindo e gravando, como a palavra foi guardada, acolhida e companheira de caminhada, no
mais aparente fracasso!

É um convite fantástico a aceitarmos a graça de Deus. Só n’Ele tudo podemos e a obra não é
nossa! Somos, tantas vezes, tentados em colocar o êxito nas técnicas e nos talentos naturais,
quando na verdade só Deus basta e quem a Deus tem nada lhe falta.

Maria de Nazaré é modelo do profeta. Ela ensina, educa, cultiva com a sabedoria profunda e
com um jeito magnífico de pedagoga: Mãe.

Roteiro Homilético – Solenidade de São Pedro e São Paulo

Sugestões para a homilia

1. S. Pedro e S. Paulo.
2. Amor a Jesus Cristo.
3. Amor à Igreja.

1. S. Pedro e S. Paulo.

Desde o século III que a Igreja une na mesma solenidade os Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, as
duas grandes colunas da Igreja.

Pedro, pescador da Galileia, irmão de S. André, foi escolhido por Jesus Cristo como chefe dos
Doze Apóstolos e constituído por Ele como pedra fundamental da Sua Igreja. Foi o primeiro
representante de Cristo na terra. Apesar da sua fragilidade, pela sua grande amizade ao Senhor,
foi escolhido para apascentar o rebanho de Jesus Cristo.

Paulo, nascido em Tarso, na Cilícia, duma família judaica, não pertenceu ao número daqueles
que, desde o princípio, conviveram com Jesus. Perseguidor dos cristãos, converte-se, pelo ano
36, a caminho de Damasco, tornando-se, desde então, Apóstolo apaixonado de Cristo. Ao longo
de 30 anos, anunciará o Senhor Jesus, fundando numerosas Igrejas e consolidando na fé, com
as suas Cartas, as jovens cristandades.

Figuras muito diferentes pelo temperamento e pela cultura, viveram, contudo, sempre irmanados
pela mesma fé e pelo mesmo amor a Jesus Cristo. S. Pedro, na sua maravilhosa profissão de
fé, exclamou: «Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo». E, no seu amor pelo Mestre, disse-Lhe:
«Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu Te amo». S. Paulo, por seu lado, afirmou: «Eu sei em
quem pus a minha confiança», ao mesmo tempo que afirmou, como expressão do seu amor:
«Para mim viver é Cristo e morrer é um lucro» (Fil, 1,21)

Depois de ambos terem suportado toda a espécie de perseguições, foram martirizados em


Roma, durante a perseguição de Nero, Regando com seu sangue a mesma terra, «plantaram» a
Igreja de Deus. Passados dois mil anos, continuam a ser «nossos pais na fé». Honrando a sua
memória, em especial a memória de S. Paulo, no Ano Paulino, que hoje termina, lembrando os
2.000 anos do seu nascimento, celebramos o mistério da Igreja fundada sobre os Apóstolos e

128
pedimos, por sua intercessão, perfeita fidelidade aos ensinamentos apostólicos.

2. Amor a Jesus Cristo.

Pedro deixa tudo, família, barco, casa, as redes de pesca, para seguir inteiramente a Cristo. É
este amor a Jesus Cristo que lhe dá total confiança no perdão do Mestre, após as suas negações.
Após a Ressurreição, ele terá oportunidade para confessar o seu amor a Jesus por três vezes:
«Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que Te amo» (Jo 21, 18). Ele dá, finalmente, a maior prova de
amor a Jesus, morrendo crucificado em Roma.

Paulo, no encontro com Cristo no caminho de Damasco, rende-se totalmente e Jesus torna-se a
sua razão de ser e o motivo profundo de todo o seu trabalho apostólico: «A vida que agora tenho
na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a Si mesmo se entregou por mim» (Gal.
2,20). S. Paulo vive de Cristo e com Cristo: entregando-se a si mesmo, toda a sua glória está
na crua de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nas suas Cartas, depois do nome de Deus, que aparece
mais de 500 vezes, o nome que é mencionado com mais frequência é o de Cristo (380 vezes).
A nossa pertença radical a Cristo deve infundir em nós uma atitude de total confiança e imensa
alegria: «Se Deus está por nós, quem contra nós? (Rom. 8, 31); ninguém «poderá separar-nos
do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso» (Rom. 8, 39); «tudo posso n’Aquele
que me conforta» (Fil. 4, 13).

3. Amor à Igreja.

Esta solenidade de hoje proporciona-nos uma bela oportunidade para meditar no amor à Igreja e
ao Papa. Onde está o Papa, aí está Pedro; e onde está Pedro, aí está o Vigário de Cristo, o «Doce
Cristo na Terra» (S. Catarina de Sena), aí está a Igreja, esposa de Crista. «Ninguém pode ter
Deus como Pai se não tiver a Igreja como Mãe».

Em resposta à profissão de fé de S. Pedro, feita em nome de todos: «Tu és Cristo, o Filho de


Deus vivo», Jesus disse-lhe: «Tu és Pedro (isto é rochedo) e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos
Céus: tudo quanto ligares na terra será ligado no Céu; e tudo quanto desligares na terra será
desligado no Céu» (Mt 16, 18-19)

A Igreja, que é uma só, pois Cristo fala no singular «a minha Igreja», está fundada sobre este
único alicerce.

S. Paulo, na Carta aos Efésios, lembra-nos que Cristo «amou a Igreja, entregou-se por ela
para a santificar, purificando-a no Baptismo da água pela palavra da vida, para a apresentar a
si mesmo, como Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas
santa e imaculada» (Ef. 5, 25-27).

O amor à Igreja é consequência da nossa filiação divina: somos filhos de Deus porque Cristo
fundou a Igreja que nos fez renascer pela água e pelo Espírito Santo para a vida divina. Quais as
obrigações de um filho para com sua mãe? Amor, respeito, docilidade, veneração, obediência,
carinho e piedade filial.

129
Roteiro Homilético – XV Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

Servidores do Reino

As instruções dadas por Jesus aos apóstolos enviados em missão visavam ajudá-los a não perder
de vista a perspectiva de serviço ao Reino. O sucesso poderia fazê-los esquecer sua condição
de servidores e levá-los a cair na tentação de recrutar discípulos para si mesmos. O insucesso
poderia desanimá-los e levá-los a abandonar a tarefa recebida. Tanto numa quanto na outra
situação, o apóstolo deve manter-se no caminho pelo qual enveredou.

A orientação para missionar na pobreza visava evitar, por parte dos apóstolos, qualquer espécie
de exibição de poder, que atraísse multidões por motivos alheios ao Reino. E, pior ainda, que
inculcasse nelas o ideal de acumular bens, despertando, em seus corações, falsas esperanças. A
própria pobreza material dos apóstolos já seria um instrumento de evangelização. Indicava uma
dependência radical a Deus. Tornava-se apelo para a partilha, por parte dos ouvintes. Enfim,
permitia aos apóstolos pregar com toda liberdade, pois nada tinham a perder.

Eles foram orientados também sobre como comportar-se no fracasso. Na medida em que tinham
consciência de terem sido fiéis no cumprimento da missão, caso os ouvintes não dessem ouvido
às suas palavras, só lhes restaria seguir adiante. A rejeição não era um sinal de que a missão
tivesse chegado ao fim. Restava-lhes o mundo todo para evangelizar.

Que a Virgem Maria faça de cada um de nós apóstolos felizes e testemunhas credíveis da
Palavra de seu Filho.

Roteiro Homilético – XVI Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Deus revela o Seu Amor pelos homens.


2. O Senhor é o bom Pastor, com Ele, nada nos faltará.
3. O Senhor convida os Apóstolos a descansar com Ele.

1. Deus revela o Seu Amor pelos homens.

A maravilhosa e grandiosíssima obra da Criação não é só reflexo da beleza e grandeza de Deus,


que sabemos serem infinitas, mas também expressa o Amor que dedica a cada ser humano.
Tudo se encontra ao serviço dos homens, que foram criados à imagem e semelhança do mesmo
Deus e que os estabeleceu como reis de toda a Criação. Esta obra maravilhosa é assim reflexo
do amor eterno de um Pai, que verdadeiramente ama com ternura a todos e cada um dos Seus
filhos.

Desse Amor eterno que nos tem, nos fala ainda mais eloquente e abundantemente a obra
extraordinária da Redenção. O Verbo eterno, por nosso amor, fez-se homem para poder derramar
todo o Seu Sangue em expiação dos nossos pecados. Quis ainda ficar conosco na Santíssima
Eucaristia, até ao fim dos séculos.
130
Não há lugar para dúvidas: Ele ama-nos, e deseja verdadeiramente a nossa felicidade.

Apesar dos nossos desejos humanos de felicidade coincidirem com os deste Pai, tão bondoso, a
experiência diz-nos que muitos seres humanos se encontram em situações de tristeza. A fome,
ódio, guerras, doenças, solidão, inimizades, lágrimas são realidades amargas suportadas por
tantos e tantos homens.

Como explicar e compreender tanto fracasso e contradição?

2. O Senhor é o Bom Pastor, com Ele, nada nos faltará.

Todas as dificuldades, por maiores que sejam, e, como tais se apresentem, serão facilmente
vencidas, quando, cada um puder afirmar com verdade «O Senhor é meu Pastor». Para que
esta afirmação corresponda a essa tão consoladora realidade, é necessário que cada um, livre
e voluntariamente, aceite pertencer a esse «rebanho» de que Jesus é Pastor. Este rebanho
caracteriza-se pela vivência em paz, pela alegria, a prosperidade e muito e verdadeiro amor.
Sim, trata-se de um reino de amor e, como tal, reino de voluntários. O Amor não se força, vive-
se. Só Lhe pertence quem verdadeiramente ama e só ama quem quer amar.

Cada um de nós, mormente os pais em relação a seus filhos, os educadores para com os seus
educandos deverá ser porta-voz deste Pastor divino, que a todos quer bem, a todos quer salvar.
Só o será na medida em que existir verdadeiro amor. Agir de forma contrária dispersa e contribui
para a perdição das ovelhas. Para tais comportamentos, a primeira Leitura da Missa de hoje
registra duras palavras e faz severas advertências.

Quantos jovens e não só, estão desorientados nos caminhos da vida por não terem encontrado
quem lhes indique onde poderão usufruir a felicidade que tanto desejam!

S. Paulo, na Epístola aos Efésios, salienta o facto do Povo de Israel sentir orgulho de ser um
Povo eleito por Deus. Como tal mantinha-se isolado dos outros povos. Jesus veio abater todas
as barreiras que os separava para os reunir num único povo. Israelitas e pagãos passaram a
ser chamados a viver unidos pelo verdadeiro amor (2ª Leitura). Aos cristãos compete hoje
testemunhar esta amorosa unidade. Só assim os cristãos, serão merecedores deste nome e, como
tais, porta-vozes do verdadeiro bom Pastor e consequentemente, construtores da felicidade que
todos os homens tanto desejam.

3. O Senhor convida os Apóstolos a descansar com Ele.

Após o trabalho apostólico efectuado pelos Apóstolos, Jesus convidou-os a descansar com Ele.
Tal convite é mais uma manifestação do amor, atenção e carinho que Ele tem para com os Seus
Apóstolos. Igual preocupação revela para conosco.

«Vinde comigo descansar» é convite amoroso que também nos dirige. E esse descanso com
Ele concretiza-se na oração. Orar é verdadeiramente falar com Deus. Sem estes encontros e
diálogos divinos, corre-se o risco de gastar energias em vão. «Sem Mim, nada podeis fazer»
nos previne o Senhor. Ele e só Ele pode tocar os corações dos homens. Não passamos de meros
instrumentos de evangelização. Como pois é importante ter estes momentos de descanso com
o Senhor!

131
Os pais e educadores só poderão desempenhar a sua missão de «bons pastores» se primeiro
falarem, através da oração, de seus educandos ao Senhor, que a todos ama e quer salvar.

Podemos afirmar que a desorientação que se verifica na hora actual é provocada pela falta
de educadores, que o saibam ser. A verdadeira «crise do mundo é crise de santos», com a
consequente falta de felicidade. Tal como nos afirma o Papa Bento XVI que «não teremos
justiça se não tivermos justos». O mundo precisa de homens justos.

O tempo de oração não é tempo perdido, mas sim o mais bem aproveitado. Ele torna rendoso
e válido todo o trabalho do dia a dia, da vida de cada um. Importa pois prestar muita atenção
à oração individual e comunitária, e nesta à familiar e à participação na Eucarística dominical.

O Domingo, dia do Senhor, é por excelência ocasião de encontro amoroso e de descanso com
Ele. Em cada Domingo se devem retemperar as forças para o bom desempenho da missão que
o Senhor confiou a cada um, em cada semana. De quanto se privam aqueles que não participam
na Eucaristia dominical!

Roteiro Homilético – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

A providência divina

O tema da Missa de hoje é a Providência Divina em favor de todos os homens. Na primeira


leitura, tirada do Livro dos Reis, o profeta Eliseu, confia na palavra de Deus e sacia a fome de
algumas pessoas. Esta leitura do Antigo Testamento foi escolhida em função do milagre da
multiplicação dos pães, para evidenciar a superioridade de Jesus. Vejamos o contraste: com
vinte pães Eliseu alimentou cem pessoas. Com apenas cinco pães, Jesus alimentou cinco mil.
Nos dois casos, todos comeram, ficaram saciados e ainda sobrou.

Isto demonstra que Deus distribui com abundância os Seus bens pelas Suas criaturas, como
cantava o salmista: «Vós abris, Senhor, a Vossa mão, e saciais a nossa fome.» Os dois milagres
são feitos a partir de reduzidas provisões: os vinte pães oferecidos ao profeta Eliseu e os cinco
pães e os dois peixes oferecidos a Jesus por um rapazinho. Deus pode fazer tudo do nada, mas
habitualmente serve-se de nós para fazer as Suas intervenções. Quando o homem faz aquilo que
está ao seu alcance, Deus faz frutificar as suas obras.

Se o milagre da primeira leitura é prelúdio da multiplicação dos pães operada por Jesus, por sua
vez, este milagre prepara o grande milagre da Eucaristia: através da Comunhão Jesus dá-nos o
alimento do seu Corpo, o Pão vivo descido do Céu.

Todos comeram e ficaram saciados! Encheram doze cestos com os bocados que sobraram! Esta
abundância revela a grandeza da Providência divina. No primeiro milagre feito por Jesus nas
bodas de Caná, quando transformou a água em vinho, já está presente este sinal da abundância.
Ao multiplicar o pão e o vinho, certamente que Jesus via mais longe: Jesus havia de oferecer-
nos o seu Corpo e o Sangue!

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«O pão que Eu hei-de dar é a minha carne, para a vida do mundo!» O pão e o vinho na mesa
da Comunhão matam a fome e a sede de infinito de milhões de crentes. O Corpo e o Sangue
de Jesus tornam-se para nós o alimento que sacia a nossa fome e permanece para a vida eterna.

Roteiro Homilético – XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Deus está em tudo aquilo que nos acontece


2. E constitui para nós um desafio
3. Que nos torna homens novos

1. Deus está em tudo aquilo que nos acontece

Segundo o que ouvimos na primeira leitura, o povo israelita, passados os primeiros dias de
entusiasmo pela saída libertadora do Egito, começava a murmurar desanimado, sonhando
com coisas que nunca havia tido nessa terra. A fome faz-lhes recordar a carne que eles nunca
comeram… mas que agora sonhavam com ela!

A resposta de Deus a esse bulício não foi a de castigar os israelitas, mas enviar-lhes o maná
que constituía um dom e um estímulo para os obrigar a crescer na fé, pois não podiam juntar
alimento para o dia seguinte, mas deveriam contentar-se com o pão quotidiano.

O Senhor queria fazer compreender ao seu povo que o homem não vive só de pão, fruto da terra
e do seu trabalho, mas do alimento que é fornecido pela Palavra de Deus.

Poderemos colher daqui uma mensagem: descobrir em tudo aquilo que nos acontece a presença
de Deus que acompanha com amor cuidadoso a vida e o destino de cada homem e de cada povo.
É natural que também na nossa vida de cristãos tenhamos momentos de desânimo e sintamos
muitas «fomes»: fome de pão, de liberdade, de amor, de paz, de fraternidade, de respeito, de
estima, de felicidade. Será que pomos a nossa confiança nas nossas forças e nas promessas dos
homens, ou acreditamos realmente que todas as nossas «fomes» serão saciadas pela Palavra
de Deus? Se partilharmos os nossos bens materiais, espirituais, intelectuais, não ajudaremos
a matar a «fome», seja ela qual for, a todos os que dela padecem? Deus não se zanga com os
nossos desânimos, está ainda mais próximo de nós, como aconteceu com o povo judeu, pois
Deus está em tudo aquilo que nos acontece, o que constitui para nós um grande desafio.

E constitui para nós um desafio

Como aconteceu naquele tempo, segundo o relato do Evangelho, também Jesus não conseguiu
fazer compreender o «sinal» da multiplicação dos pães que havia realizado. Aquelas pessoas
procuravam-n’O não para aprofundar a sua mensagem ou compreenderem os gestos que
realizara, mas apenas para comerem gratuitamente pão em abundância, que lhes seria garantido
sem necessidade de trabalho. Ele não concede a Sua graça para favorecer a preguiça. Ele
pretende ensinar que o amor e a partilha produzem pão em abundância.

Isto é um desafio para nós ainda hoje. Convida-nos a reconsiderar as razões que nos levam a
procurar Cristo e por que recorremos a Deus e à religião. Alimentaremos uma secreta esperança

133
de poder obter alguma graça, algum milagre extraordinário, um favorecimento especial por
realizarmos determinadas práticas e devoções que nos livrarão de desgraças, encontrar emprego
bem remunerado, superar as provas com brilhantismo? Teremos compreendido o significado do
sinal dos pães dado por Jesus?

Acreditar não consiste em estar convencido da existência de Jesus, de que foi um homem sábio,
que pregou o amor e nos deixou normas excelentes de vida. Implica a opção de unir a própria
vida à d’Ele, no dom de si aos irmãos. O pão de Cristo não perece: quando é recolhido em cestos
e conservado, é redistribuído, sempre completo e saboroso, a quem quer que esteja com fome.
Deus continua a dar hoje ao mundo o verdadeiro pão que alimenta e dá a vida à humanidade
inteira tornando-nos «homens novos».

Que nos torna homens novos

E Jesus responde ao povo daquele tempo e ainda hoje a nós que aqui nos encontramos: «Eu sou
o pão da vida; quem vem a Mim nunca mais terá fome e quem crê em Mim nunca mais terá
sede».

Ele é o único pão que nos torna «homem novo» saciando a nossa necessidade de felicidade e de
paz, com a Sua Palavra. O pão descido do céu é o seu Evangelho e não o maná do deserto. Não é
um texto que se lê e se esvazia de significado, sem compromissos, mas necessita ser assimilado
como o pão, que se torna parte componente da pessoa que o come. Jesus não se refere ainda à
Eucaristia, mas o pão é Ele próprio, enquanto Palavra de Deus.

Todos os que O assimilam tornam-se homens inteiramente novos.

Quem orienta a sua vida para Cristo poderá estar comprometido com vícios que nada têm a ver
com esta realidade?

Pensemos nisto…

Roteiro Homilético – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. «Levanta-te!» (1 Rs 19, 5c)


2. «Sede imitadores de Deus» (Ef 5,1)
3. «Eu sou o Pão da vida» (Jo 6, 48)

1. «Levanta-te!» (1 Rs 19, 5c)

A narração do 1º Livro dos Reis é sumamente cuidadosa e cheia de detalhes que fazem
desta simples fuga algo mais profundo e simbólico. Para começar, as alusões ao deserto, aos
antepassados, aos 40 dias e às 40 noites de caminhada, ao alimento, ao monte de Deus, são
muito claras e numerosas para não se reconhecer nelas o caminho inverso ao que realizou Israel
no êxodo. Não se trata apenas de uma fuga; também há uma busca das raízes que terminará
num encontro com Deus. Também os grandes heróis como Elias e Moisés (cf. Núm 11, 15)
experimentaram a nossa fraqueza. Elias, desanimado com o resultado do seu ministério, foge

134
porque «não é melhor que seus antepassados» no trabalho pelo reino de Deus e pensa ser
melhor reunir-se com eles na tumba (v. 4).

Quando o homem reconhece a sua fraqueza, então a força de Deus intervém (cf. 2 Cor 12, 5-9).
Com o pão e a água, símbolos do antigo êxodo, Elias realiza o seu próprio êxodo (simbolizado
nos 40 dias, v. 8) e vai ao encontro de Deus. Tal como é narrado, este episódio de Elias fala-nos
do caminho, dos esforços, das tarefas demasiado grandes para realizá-las com as próprias forças
e da necessidade de caminharmos apoiados nas forças do alimento que nos mantém. Só assim
nos poderemos erguer e seguir a ordem do Senhor: «Levanta-te!»

2. «Sede imitadores de Deus» (Ef 5,1)

A segunda leitura é a continuação da exortação apostólica de São Paulo que desce a detalhes,
falando daquilo que o cristão deve evitar (aspecto negativo) ou deve fazer (aspecto positivo).
Assim, os cristãos podem trabalhar na edificação da igreja e não entristecer o Espírito, rompendo
a unidade (4, 25-32a; 4, 3). Este modo de viver encontra o seu fundamento naquilo que Cristo
realizou ou o Pai cumpriu por Cristo. Devemos viver de maneira cristã e viver no amor como
Cristo e o Pai (cf. Mt 5, 48). Como o Pai perdoa, assim devemos fazer nós, cristãos (v. 32b;
Mt 6, 12. 14-15). Como Cristo ama e se dá em sacrifício, assim fazemos. A unidade é fruto
do sacrifício pessoal. O tema da imitação de Deus, consequência e expressão de ser filhos
seus, revela a referência evangélica desta exortação aos Efésios (cf. Mt 4, 43-48). O Espírito
é o elemento determinante do comportamento cristão. Na mesma linha, com outras passagens
paulinas sobre o Espírito, a sua recepção é vinculada (indiretamente) ao baptismo e considerada
como selo/marca que identificará na parusia (segunda vinda de Jesus) os que pertencem a Cristo.

3.«Eu sou o Pão da vida» (Jo 6, 48)

Quando o evangelho de João foi escrito, os cristãos já tinham sido expulsos da sinagoga. Existia
um áspero confronto entre os setores maioritários judeus da diáspora e os cristãos provenientes
do paganismo e do judaísmo. Pagãos e judeus ridicularizavam as expressões de fé cristã, como
a eucaristia. Pareciam-lhes ritos esquisitos e contraditórios. Para os pagãos, romanos e gregos,
a comunidade cristã era vista como um grupo de pretensiosos que queriam anunciar como boa
notícia a morte de um carpinteiro anónimo e pobre. Para eles, as boas notícias vinham somente
do imperador e das autoridades que alegravam a seus súbditos com algum presente. Para os
judeus, Jesus era somente um profeta insignificante, filho de um artesão e oriundo de uma aldeia
miserável. Para nenhum dos grupos, Jesus podia ser «o pão descido do céu».

As comunidades cristãs tiveram, desde o início, de se firmar muito bem para defender com
energia e convicção o significado de Jesus para a história da humanidade. A salvação não
somente provinha dos judeus, mas também da gente pobre da Galileia que tinha descoberto, em
Jesus, o seu redentor. Jesus é o pão descido do céu porque é capaz de comunicar essa vida em
plenitude que vem somente de Deus. Jesus é o caminho para uma humanidade fraterna, onde
todos se reconhecem iguais e filhos da mesma família.

É oportuno perguntarmos: a forma pela qual vivemos o nosso cristianismo realmente nos
compromete com o anúncio do Evangelho? Esforçamo-nos para que nossas comunidades
sejam realmente igrejas vivas onde todos se reconheçam como irmãos? Criamos formas de
participação que permitam a todas as pessoas expressar seu parecer e intervir plenamente na
vida da comunidade cristã?
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Jesus vai dar a sua «carne» («o pão que Eu hei-de dar é a minha carne» – v. 51) para que
os homens tenham acesso a essa vida plena, total, definitiva. Jesus estará aqui a referir-se à
sua «carne» física? Não. A «carne» de Jesus é a sua pessoa – essa pessoa que os discípulos
conhecem e que se lhes manifesta, todos os dias, em gestos concretos de amor, de bondade,
de solicitude, de misericórdia. Essa «pessoa» revela-lhes o caminho para a vida verdadeira:
nas atitudes, nas palavras de Jesus, manifesta-se historicamente ao mundo o Deus que ama os
homens e que os convida, através de gestos concretos, a fazer da vida um dom e um serviço de
amor.

Roteiro Homilético – Assunção de Nossa Senhora

Sugestões para a homilia

1. Nossa Senhora da Assunção situa-se perto de nós.

Ela é diferente e superior a toda a criatura humana mas situa-se muito perto de nós em muitas
das suas atitudes.

Com toda a naturalidade, no momento da Anunciação, dirigia-se ao Anjo nestes termos: «Como
será isso, se eu não conheço homem?» (Lc 1, 34).

Na visita a Santa Isabel, esta trata-a com exuberância: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito
é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?… Bem-
aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do
Senhor»

A Senhora da Visitação responde com toda a simplicidade: «A minha alma glorifica ao Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador». (Evangelho da Eucaristia de hoje).

A Santíssima Virgem é verdadeiramente «arca da aliança» e «mulher revestida de sol, com a


lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça» (Primeira leitura desta Eucaristia)
Apesar de tudo isto, era assídua à oração da Igreja (Act 1, 14).

2. O dogma da Assunção da Nossa Senhora ao Céu em corpo e alma.

A Igreja celebra esta festa desde o século VI.

Pio XII, antes de proclamar o dogma da Assunção de Nossa Senhora ao Céu em corpo e alma,
consulta os Bispos de todo o mundo. As cartas recebidas manifestaram que o povo de Deus era
unânime quanto à crença nesta verdade que o Papa proclamou em 1 de Novembro de 1950,
dizendo: «Pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo e dos Bem-aventurados Apóstolos
Pedro e Paulo e também pela nossa proclamamos, declaramos e definimos ter sido divinamente
revelado o dogma de que a Imaculada sempre Virgem Maria Mãe de Deus, terminado o
curso da Sua vida na terra, foi elevada em corpo e alma à glória do Céu (Const. Apostólica
Munificentissimus Deus, em AAS 43 (1951) 638).

São João Damasceno diz: «Convinha que aquela que no parto tinha conservado íntegra a sua
virgindade, conservasse depois da morte o seu corpo sem corrupção alguma. Convinha que

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aquela que tinha trazido no seu seio o Criador feito menino, habitasse na morada divina».
A partir daqui os teólogos tiram esta conclusão: «Convinha, Deus podia fazê-lo; e por isso o
fez» (João Duns Escoto, III Setentiarum, dist III, q 1).

Nesta Solenidade tudo convida à alegria. A firme esperança na nossa santificação pessoal é um
dom de Deus, embora o homem tenha de colaborar. Isto implica o tomar a Cruz de cada dia.
Com a Senhora da Assunção, serviremos o Senhor com alegria.

A festa da Assunção de Nossa Senhora projecta-nos para a realidade da feliz esperança. Somos
ainda peregrinos, mas a Nossa Mãe precedeu-nos e aponta-nos o termo do caminho. Repete-nos
que é possível lá chegar e que, se formos fiéis, lá chegaremos pois a Santíssima Virgem não
é só nosso modelo, mas também auxílio dos cristãos, e cuida dos Seus filhos com solicitude
maternal.

Roteiro Homilético – XXI Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Saboreai e vede como o Senhor é bom.


2. O exemplo do povo de Israel.
3. O amor conjugal – símbolo do Amor de Deus.
4. A Eucaristia expressa o Amor infinito do Senhor.

1. Saboreai e vede como o Senhor é bom.

Saboreai e vede como o Senhor é bom, é o convite que mais uma vez nos é feito pelo refrão
do Salmo intercalar. E as leituras da Missa de hoje, além de nos falar da infinita bondade do
Senhor, indica-nos o caminho a seguir para O podermos saborear.

Esse caminho é-nos apresentado pelo exemplo do Povo de Israel, (1ª Leitura) o comportamento
que devem ter os esposos (2ª Leitura) e finalmente a proposta que Jesus nos faz no Evangelho.

2. O exemplo do povo de Israel.

Na primeira Leitura Josué propõe ao Povo de Israel o dilema de o querer ou não seguir. Depois
da travessia do deserto, onde puderam sempre contar com o apoio do Senhor, vão agora entrar
no deserto a caminho na Terra prometida. Vão encontrar povos pagãos, que, por isso, adoram
falsos deuses, mas aos quais atribuem a proteção que julgam sentir para os frutos dos campos
e a saúde e fertilidade dos animais. É pois necessário que o Povo de Israel, livremente, não
se deixe enganar e claramente faça a sua opção. Seguindo o bom exemplo de Josué e de sua
família, o povo, optou pelo Senhor, passando a sentir o carinho da Sua presença com milagres
constantes.

3. O amor conjugal – símbolo do Amor de Deus.

A segunda Leitura realça o significado profundo do verdadeiro amor conjugal: amor que é
serviço, altruísmo, preocupação exclusiva com a felicidade do outro. É afinal assim o Amor que
Deus nos tem. Ele ama-nos deveras, porque quer o nosso bem, a nossa verdadeira felicidade.

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Como é bom captar e refletir esse Amor! Esta feliz realidade quanta felicidade e segurança nos
dá nos caminhos da vida. Por maiores que sejam os obstáculos da existência, todos, com Ele,
serão vencidos!

4. A Eucaristia é expressa o Amor infinito do Senhor.

No Evangelho, Jesus depois de ter explicado ao Povo, o alimento e bebida que tinha para lhes
dar e vendo que todos O abandonaram, perguntou aos Apóstolos se também eles se queriam ir
embora. Pedro, em seu nome e dos restantes, embora ainda também não tenha compreendido o
alcance das afirmações de Jesus, respondeu: «Para quem havemos de ir se só Tu tens palavras
de vida eterna?». Procede assim pois acredita e acreditar é aceitar algo que, embora não se
compreenda, se aceita tendo por base a autoridade de quem o afirma. E aqui é o Senhor que o
faz.

Jesus ao prometer o Seu Corpo e Sangue em alimento, era mesmo do Seu corpo e Sangue que
falava Por isso, repetiu várias vezes essa afirmação e nada tirou ou acrescentou ao que já tinha
afirmado. O povo retira-se pois não estava disposto a comer o Corpo e beber o Sangue de Jesus.
Para eles, tal era inconcebível.

Quando da Sua instituição, na última Ceia, os Apóstolos receberam-nO sem qualquer relutância.
Hoje nós também o fazemos. Como Deus é bom e como são grandes as Suas obras!

Comungar o Senhor, é aceitar verdadeiramente Jesus. Com Ele a nossa vida torna-se semelhante
à Sua. As nossas preocupações e desejos devem passar a ser os seus. Ele quer a salvação de
todos os homens. Esta deve ser uma das nossas grandes preocupações.

Optar por Ele, é optar pelo Amor, é ser útil aos outros é já saborear a felicidade da Sua Bondade.

Que as ilusões da vida e paixões terrenas não nos enganem. O povo de Israel, mesmo depois da
Aliança do Sinai, como que ainda põe em dúvida tanto amor de Deus, ao sentir saudades das
cebolas do Egipto. Que cegueiras tão mesquinhas como essa, não nos atinjam. As coisas da terra
por mais belas e grandiosas que pareçam ou sejam, não deixam de ser caducas, passageiras. É
péssima acção optar pelas coisas da terra em detrimento de possuir o Senhor de todas elas.
Quem verdadeiramente tem o Senhor tem tudo, quem O não tem, nada possui.

Com a Aliança do Novo Testamento fomos resgatados pelo Sangue de Jesus que foi todo
derramado por nós no alto do Calvário. A partir de então o Sangue que nos dá vida é o de Jesus.
Passámos a ser consanguíneos do Senhor e uns dos outros. Toda esta consoladora realidade
implica e exige muito amor ao Senhor e uns aos outros. Todos por um e um por todos. Com Ele
e n’Ele, passamos a ser uma só Família. Como tal importa viver e morrer para sempre saborear.

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Roteiro Homilético – XXII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Os mandamentos, exigência de amor.


2. A proposta da coerência e verdade.
3. Os desafios de Hoje.

1. Os mandamentos, exigência de amor.

A Palavra de Deus como proposta para este Domingo leva-nos a saborearmos o convite a uma
vida de autenticidade, verdade e coerência. E tudo como consequência de uma relação de amor
com o Deus vivo que penetra a verdade de cada pessoa e de cada acontecimento.

No relativismo moral, na indiferença para com Deus, na justificação para o injustificável, na


vivência da duplicidade e hipocrisia, quão importante são os Mandamentos de Deus! São
expressão de vida, de sabedoria e santidade.

Na tentação de sobrepor os nossos «códigos», a ignorância que dispensa a Graça de Deus,


as nossas perspectivas – muitas vezes até humanamente pobre – é necessário anunciar os
Mandamentos e vivê-los.

Os Mandamentos são pedagogia divina a levar a Palavra à vida, aí onde as opções e as atitudes
devem encontrar o seu caráter de profundidade do mistério da pessoa, da vida e da atuação de
Deus em nós, e do seu projeto de amor.

Só a Palavra de Deus, referência de vida, pode descer ao mais profundo da verdade do ser
humano e permitir a sua transformação, conversão e uma vida de transparência.

Só a novidade que é Cristo permite ser livre. Permite uma humanidade cheia de dignidade. Permite
uma nova e bela relação com Deus. Cristo liberta e leva as pessoas a viver com intensidade o
amor de Deus e dos irmãos. Só Ele liberta de todas as barreiras, muros e preconceitos.

2. A proposta da coerência e verdade.

Deus não teme a pessoa autêntica, humilde, sincera, mesmo que revele a sua fragilidade.

Deus não «suporta» o soberbo, o hipócrita, os que exteriormente se esforçam por dar nas vistas,
mas numa ausência de total desejo de conversão. Dos que impedem a novidade do Espírito que
tem poder de fazer de um pecador um santo, do Espírito que cria e recria!

A tentação da «carreira» tem gerado vida hipócrita e autênticos campos de destruição da beleza
da vida dos outros, da sua simples e esforçada doação. Tem gerado clamorosas injustiças. Tem
impedido a novidade do Espírito.

Mas também, às vezes, há o gosto de apostar no exterior, no «curriculum» pesado e alargado,


como as «filactérias», mas que depois se revela ausência de amor, de compreensão e de
misericórdia. É quase como uma tentação de apostar no ser humano apetrechado em tudo, como

139
se dispensássemos a graça de Deus e o mistério do Sua presença encantadora e da surpresa e
novidade do Espírito.

Na proposta de coerência, verdade e autenticidade é bem essencial amar e viver os Mandamentos


como consequência da relação pessoal com Jesus Cristo.

Em e com Jesus aprendemos a ser livres, a amar verdadeiramente, a ver como Deus vê, a fazer
da vida doação aos mais pequeninos e fracos, a dar as mãos aos que erraram e fracassaram na
vida, a propor uma religião verdadeira e autêntica.

3. Os desafios de Hoje.

Se nós cristãos vivêssemos com autenticidade e coerência o nosso cristianismo encheríamos os


nossos espaços e tempos com a encantadora e bela presença de Jesus Cristo. Como Ele aparece
tantas vezes desfigurado, não tendo no Seu rosto beleza que atraia o ser humano!

É preciso observar e pôr em prática os Mandamentos, revelação da beleza de uma vida


comprometida com o projeto de Deus.

Por isso, em Ano Sacerdotal, tendo como referência o Santo Cura d’Ars, significa construir
atitudes de santidade e confiança e correspondência ao «bem que Deus em nós começou».

Significa orar verdadeiramente a vida para aí estabelecer coerência, edificar na verdade,


robustecer-se na graça de Deus, comprometer-se com a vida, com Deus e com os irmãos.

Há sinais que são tradutores da coerência, de vidas sem hipocrisia: a celebração pessoal e sincera
do sacramento da confissão. A clareza do projecto de Jesus Cristo, sem fugas, subterfúgios,
nas exigências da Verdade. Olhar a Igreja como Mistério de Comunhão e não olhá-la com os
esquemas de «empresa», de visões verdadeiramente humanas. E nesta linha desmascarar todas
as tentativas de desfiguração que corrompe a justiça, a verdade, a dignidade. A urgência de se
falar da Graça de Deus e da sua necessidade. Isto não é só «obra» nossa, mas graça que deve
ser acolhida, agradecida e comprometida.

A Igreja apostou em Santo Agostinho, convertido. Fez dele um Bispo Santo! Será que estaremos
presos a tantos preconceitos que nos impedem de ver a beleza que Deus opera, as transformações
maravilhosas que realiza na vida de tantas pessoas? O Cura d’Ars foi novidade do Espírito. Nos
preconceitos de muitos nunca este Sacerdote seria significativo na Igreja! E somos capazes de
acolher e apostar? Damos hipóteses aos irmãos. Pesam mais em nós os defeitos ou a riqueza de
coração e a beleza da vida?

Muitas vezes gastamos energias em futilidades. Gastamos meios económicos em vaidades


de promoção. Criamos Espírito de competição para «arrumar» quem nos faz frente ou para
«encher» o que só o espírito de oração e penitência podem encher! Criamos máquinas pesadas
incapazes de descobrir a beleza da simplicidade de Cristo e do seu projeto.

Maria, Rainha de todos os cristãos ensina-nos a amar e a servir a Deus e aos irmãos com a
verdade, com coerência e com a partilha da nossa vida. Ensina-nos a pôr em primeiro lugar o
Amor a Deus e aos irmãos.

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Roteiro Homilético – XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Deus, nossa paz e salvação


Deus nunca nos falta.
N’Ele pomos a nossa esperança
Dá sempre resposta às nossas carências
2. Jesus, rosto da bondade do Pai
Deus vem ao nosso encontro
Nós caminhamos ao encontro de Jesus
Deus tudo faz bem feito

1. Deus, nossa paz e salvação

Isaías, o primeiro dos chamados profetas maiores, acompanha a primeira leva de Judeus que
vão desterrados para a Babilónia. Nesta situação humilhante e sem esperança, ameaça-os a
tentação do desespero.

O Senhor envia-lhes o Seu profeta – como a cada um de nós aos homens de hoje – para os
levantar desta prostração.

a) Deus nunca nos falta. «Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais.»

Estamos habituados a que os homens falhem nas suas promessas, e transferimos esta experiência
amarga para Deus. E assim, ao mínimo contratempo, entramos em dúvidas de fé e de esperança.
É verdade que, muitas vezes, Deus não nos faz a vontade, não nos acompanha nos nossos
sonhos de loucura, porque tem algo infinitamente mais valioso para nos dar.

Há, de fato, no mundo uma organização do mal que tem um chefe, um mentor, na luta contra
Deus e na tentativa para destruir o amor e o bem no coração dos homens, pela violência, a
imoralidade e o medo. Manifesta-se com leis iníquas, grupos de malfeitores e colaboração dos
homens pela cedência à degradação.

A última palavra, contudo, pertence a Deus. O Salmo II, lembrando a omnipotência e a bondade
infinita do Senhor do universo, e depois de chamar projetos vãos, sem futuro aos planos de
alguns para destruir a humanidade que a Igreja tenta edificar, diz: «Aquele que habita nos céus
ri-se deles e escarnece (dos seus planos).»

b) N’Ele pomos a nossa esperança. «Aí está o vosso Deus; vem para fazer justiça e dar a
recompensa; Ele próprio vem salvar-nos».

Sem que os israelitas se apercebessem, o Senhor preparava o seu regresso à Terra Prometida,
no momento oportuno.

Regressariam, porém, já convertidos dos seus desmandos anteriores, não para a grandeza de um
reino temporal, fora do qual ficariam todos os outros povos – era este o seu sonho – mas para
um reino que Deus viria fundar com as fronteiras do mundo e para os povos de todas as nações

141
e tempos, Seria um reino espiritual, de salvação, que começasse na terra a comunhão que nos
espera no Céu.

Sofremos, muitas vezes, porque teimamos em querer e exigir que Deus aprove os nossos planos
caducos e colabore incondicionalmente neles.

Quando as coisas nos desagradam, a primeira pergunta que havemos de fazer é: qual a
mensagem que o Senhor me transmite, por meio dos acontecimentos? Em que devo mudar a
minha mentalidade e a minha conduta?

Todos os acontecimentos são portadores de um apelo de Deus a que nos convertamos, porque
Ele sabe que este é o nosso caminho único de felicidade.

Dá sempre resposta às nossas carências. «Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão
os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de
alegria.»

Nas promessas do profeta Isaías ao povo de Deus parece intuir-se uma indicação discreta dos
aspectos da vida em que precisamos urgentemente de melhorar:

– Então se abrirão os olhos dos cegos. Temos necessidade de crescer na fé…e não o
conseguiremos enquanto não melhorarmos a nossa formação doutrinal, para dar resposta aos
problemas fundamentais do homem. Por outro lado, quando a fé não é levada à prática da vida,
quando não há coerência entre o que acreditamos e fazemos, a fé debilita-se e morre. É como
se os olhos se fechassem.

– e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Precisamos de estar mais atentos ao que o Senhor
nos diz pela Sua Igreja e viver a docilidade às Suas inspirações.

– Então o coxo saltará como um veado. Como está o nosso progresso na vida espiritual? Não é
verdade que nos agarramos teimosamente a uma vida rotineira, resistindo ao que o Senhor nos
inspira?

– e a língua do mudo cantará de alegria. A pouco e pouco, emudecemos nas nossas orações e
outras práticas de piedade. Entramos no plano inclinado da rotina, fazendo as coisas de Deus
sem alma, e acabamos no abandono cobarde das nossas promessas do Batismo.

É tempo de regressar, para que o Senhor possa corresponder às nossas carências. Deste modo,
águas brotarão no deserto e as torrentes na aridez da planície; a terra seca transformar-se-á em
lago e a terra árida em nascentes de água.

2. Jesus, rosto da bondade do Pai

Na Sua vida pública, Jesus passa distribuindo às mãos cheias os milagres. Eles manifestam o
poder, a bondade e a solicitude de Deus por nós.

a) Deus vem ao nosso encontro. «Jesus deixou de novo a região de Tiro e, passando por Sidónia,
veio para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole.»
142
Jesus Cristo apresenta-Se no mundo como o rosto visível do Pai. Na última Ceia responde a
um dos Doze: «Filipe: Há tanto tempo que estás comigo e não me conheces? Quem me vê, vê
o Pai.»

Onde verdadeiramente se realiza a profecia de Isaías é na vinda de Jesus, no mistério da


Incarnação. «Ele próprio vem salvar-nos».

Ele quer estar presente e atuante na Igreja até ao fim dos tempos. Nela Se torna acessível a
todos.

Os milagres que faz na vida pública são uma alusão velada aos Sacramentos:
– a ressurreição dos mortos, pelos Sacramentos do baptismo e da Reconciliação e Penitência;
– a multiplicação dos pães e dos peixes, na Eucaristia;
– à cura dos cegos, leprosos, paralíticos, etc., respondem os Sacramentos da Igreja onde
encontramos remédio para os nossos males.

Ao mesmo tempo que lança à terra dos corações a semente abundante da Boa Nova, Jesus realiza
com gestos proféticos a riqueza dos Sacramentos – fontes da Graça – que nos vai oferecer na
Sua Igreja.

b) Nós caminhamos ao encontro de Jesus. «Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar
e suplicaram-Lhe que impusesse as mãos sobre ele.»

As pessoas trazem a Jesus um surdo-mudo para que lhe restitua as condições de normalidade
de vida. Ele quer deixar uma parte da Redenção para nós, associando-nos à alegria de espalhar
o bem.

Muitos caminharão ao encontro de Jesus pelo seu próprio pé, inspirados pelo Espírito Santo.
Mas, na economia normal da redenção, tem de ser cada um de nós a levar alguém ao encontro
d’Ele, para que o cure.

É-nos pedido um pouco de esforço humano, para que tenhamos algum merecimento em nosso
caminhar para Ele. Ouvir e ler a palavra de Deus, abeirar-se dos Sacramentos, participar na
vida litúrgica são outros tantos modos de ir ao encontro de Jesus, para que nos conceda as Suas
graças.

Não podemos, contudo, pensar apenas em nós. Temos de começar na terra a vida em comunhão
que será o nosso prémio no Céu, para sempre, ajudando os outros a caminhar ao encontro do
Senhor.

Fazemo-lo pelo testemunho de vida que lança interrogações nas pessoas; pela amizade sincera
que se traduz numa palavra amiga que ajuda alguém a tomar norte e alento na vida.

c) Deus tudo faz bem feito. «Cheios de assombro, diziam: ‘Tudo o que faz é admirável: faz que
os surdos oiçam e que os mudos falem‘.»

Somos tentados algumas vezes, perante os acontecimentos que nos ultrapassam, a pensar que
as coisas não têm lógica.
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É necessário ter presente que Deus sabe infinitamente mais do que nós e conhece aquilo de que
precisamos. Pelos caminhos mais desconhecidos leva-nos ao encontro das Suas maravilhas.

Foi assim com a Sua Paixão, Morte e Ressurreição. O que pareceu uma derrota avassaladora na
Sua missão transformou-se numa vitória retumbante e para sempre.

Celebramos todos os dias e, com especial solenidade aos Domingos, a Santa Missa, mistério de
fé, para que tenhamos presente esta sabedoria infinita de Deus.

Ela é um convite permanente a que nos entreguemos ao Senhor, confiando inteiramente n’Ele.
Nossa Senhora dá-nos o exemplo deste abandono nas mãos de Deus, pela sua entrega filial,
embora o que Deus lhe pede seja um mistério profundo que só no decorrer dos tempos vai
desvendar.

Roteiro Homilético – XXIV Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. A virtude e o dom da fortaleza


A fortaleza, virtude humana e cristã
Sem a fortaleza não podemos seguir a Cristo
Abraçar a cruz da vida
2. A Redenção pela Cruz
Jesus Cristo, Redentor do mundo
A Redenção passa pela Paixão e Morte
Seguir a Cristo heroicamente

1. A virtude e o dom da fortaleza

O Servo de Yahweh, figura misteriosa do Antigo Testamento em que alguns dos santos Padres
vêem a figura de Cristo no mistério da Sua Paixão, é uma pregação viva sobre a virtude da
fortaleza.

a) A fortaleza, virtude humana e cristã. «Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face
aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam.»

A fortaleza é uma das quatro virtudes cardeais e é também um dom do Espírito Santo que nos
ajuda a participar da fortaleza e Jesus Cristo, levando-nos, nas situações com dificuldade, a
assumir um comportamento como se Ele estivesse em nosso lugar.

Atua em dois sentidos: leva-nos a aguentar a pé firme, quando tentam fazer-nos recuar do lugar
onde o Senhor nos quer; e leva-nos a empreender coisas difíceis por Seu amor.

A nossa vontade foi enfraquecida pelo pecado original e pelos pecados pessoais. Muitas vezes
acovardamo-nos e recuamos duma posição em que Deus nos queria firmes; outras, renunciamos
a fazer o bem quando a vontade de Deus no-lo pedia.

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Um exemplo gráfico da virtude da Fortaleza são os mártires de todos os tempos. Conscientes
de que Deus queria o seu testemunho – mártir quer dizer isto mesmo – nada os fez demover de
confessar a sua fidelidade a Jesus Cristo.

Exemplos de Fortaleza são também os pais e os evangelizadores de todos os tempos,


empreendendo coisas difíceis, rodeados de mil obstáculos, para fazer o que Deus quer.

Na verdade, não há qualquer virtude, se não houver a da Fortaleza, porque falta a constância no
bem, condição para que haja uma virtude.

b) Sem a fortaleza não podemos seguir a Cristo. «Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio e por
isso não fiquei envergonhado.»

A fortaleza é-nos indispensável nos caminhos de Deus e até em simples caminhar humano,
porque estamos «doentes»: temos inclinações para o mal e custa-nos a perseverança no bem.

Cada um de nós experimenta a dura realidade de que fala S. Paulo: «Eu não faço todo o bem que
quero e faço algum mal que não quero. Quem me libertará deste corpo e morte?» (Rom 7, 15).

Não se trata de andar à procura do que custa, mas de aguentar com fortaleza no caminho do bem
e da virtude iniciado, também quando nos passou o entusiasmo, estamos cansados ou sentimos
a tentação de abandonar tudo.

Nos caminhos da vida, temos de imitar os atletas: com exercício sucessivos, eles vão conquistando
o domínio sobre o corpo e o controle dos seus movimentos. Temos de exercitar e fortalecer a
vontade, renunciando, de vez em quando, a pequenas coisas lícitas, para conseguirmos, quando
é preciso, vencer em coisas ilícitas.

A Fortaleza vem-nos de Deus. Reconheçamo-lo com humildade e peçamo-la instantemente ao


Senhor, especialmente quando se nos apresentar uma batalha difícil de vencer.

c) Abraçar a cruz da vida. «O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me?»
Sem idealismos, devemos compreender que o Senhor não nos propõe uma cruz ideal, mas a
cruz real que temos aos ombros: o nosso feito, nem sempre agradável aos que vivem connosco;
a maior ou menor qualidade de vida, com as suas normais limitações; as exigências da vida em
família que nos obrigam, muitas vezes, a renunciar aos próprios gostos; o trabalho, que nem
sempre é aquele de que mais gostamos; as limitações pessoais e do ambiente.

O que o Senhor nos propõe é que procuremos ser realistas, abraçando a cruz de cada dia, sem
sonhos nem outros modos de fuga, procurando santificar-nos com as realidades de cada dia.

Santo Agostinho, com fina psicologia faz uma observação muito apropriada; «Tenho notado
que os burros, quando não querem levar a carga. Caminham pelas beiras.» Assim é: quando
queremos fugir à cruz real, refugiamo-nos no sonho de cruzes ideiais.

Uma das notas que sobressai nas palavras do «Servo de Jahwéh» consiste na forma absoluta
como ele se entrega aos projectos de Deus.

Diante do chamamento do Senhor, ele não resiste, não discute, «não recua um passo»; mas
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assume, com total obediência e fidelidade, os desafios que Deus lhe dirige, mesmo quando tem
de percorrer um caminho de sofrimento e de morte.

Para nós, que vivemos envolvidos pela cultura da facilidade e do comodismo, que temos medo
de arriscar, que preferimos fechar-nos no nosso «cantinho» protegido, arrumado e seguro,
o «Servo de Jahwéh» lança uma poderosa interpelação… É preciso abraçar, com coragem e
coerência o projecto que Deus nos confia, mesmo quando esse projecto se cumpre no meio da
oposição do mundo; é preciso deixarmo-nos desafiar por Deus e acolher, com generosidade, as
propostas que Ele nos faz; é preciso assumirmos o papel que Deus nos chama a desempenhar e
empenharmo-nos na transformação do mundo.

2. A Redenção pela Cruz

a) Jesus Cristo, Redentor do mundo. «’E vós, quem dizeis que Eu sou?’ Pedro tomou a palavra
e respondeu: ‘Tu és o Messias‘.»

Depois de várias respostas falhadas à pergunta de Jesus, Pedro, não com os recursos da
inteligência humana, mas iluminado por Deus, dá a resposta certa: Jesus é o ‘Messias’ prometido.

O Senhor confirma esta profissão de fé do Príncipe dos Apóstolos que logo mostra não ter
compreendido o que disse. Na verdade, Pedro opõe-se com todas as forças ao projecto de
Deus: a Redenção da humanidade não deve passar pela cruz: pela Paixão e Morte, para chegar
à Ressurreição.

Quem é Jesus? O que é que dizem de Jesus? As pessoas interrogam-se sobre Ele? Para muitos,
é um desconhecido; outros vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos
dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros ainda vêem em Jesus um admirável
«mestre» de moral, que tinha uma proposta de vida «interessante», mas que não conseguiu
impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que lançou
uma chama de esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda
quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenômeno; outros, ainda, vêem em Jesus
um revolucionário, ingênuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais
justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos
poderosos, preocupados em manter tudo como estava.

Talvez sem nos apercebermos, sonhamos com um tipo de vida em que o Senhor retire do nosso
caminho todos os obstáculos, todos os espinhos, e nos faça caminhar suavemente sobre um
tapete de rosas… que não nos peça sacrifícios, porque isso é politicamente incorreto.

À mais pequena contrariedade – dor de cabeça, falta de compreensão dos outros, perda de
emprego ou qualquer outra – a nossa fé entra em crise, porque Deus não satisfez todos os nossos
caprichos, ou estávamos à espera de que Ele nos substituísse nos esforços necessários.

b) A Redenção passa pela Paixão e Morte. «Depois, começou a ensinar-lhes que o Filho do
homem tinha de sofrer muito, […] de ser morto e ressuscitar três dias depois.»

A vitória final de Jesus passa pela Paixão e Morte, pela derrota completa, pelo fracasso
humanamente considerado.

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O Evangelho deste domingo coloca frente a frente a lógica dos homens (Pedro) e a lógica de
Deus (Jesus).

A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; garante-nos que a vida
só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se
formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a
alta sociedade, se tivermos lugar no conselho de administração da empresa.

A lógica de Deus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz
sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na
solidariedade, na humildade, na simplicidade.

Na minha vida de cada dia, estas duas perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é a
minha escolha? Na minha perspectiva, qual destas duas propostas apresenta um caminho de
felicidade seguro e duradouro?

Seguir a Cristo heroicamente. «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua
cruz e siga-Me.»

Como nos custa renunciar aos próprios gostos e projetos, até porque nos parecem bons!

O que é «renunciar a si mesmo»? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a


auto-suficiência dominem a vida. O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar
para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades
dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na
solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.

Renunciar a si mesmo é começar a luta dentro de nós, pela oração, a mortificação, o trabalho e
o apostolado.

O que é «tomar a cruz»? É amar até às últimas consequências, até à morte. É dar-se sem
medida. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos
sejam mais livres e mais felizes.

Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado,
mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura e as represálias dos poderosos.
Foi neste caminho que se santificaram Nossa Senhora, S. José e os santos de todos os tempos.

Roteiro Homilético – XXV Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia


1. A incompreensão dos discípulos
2. A dispensa dos sinais de grandeza
3. A sabedoria que vem do alto

1. A incompreensão dos discípulos

Segundo o Evangelho, «os discípulos não compreendiam as palavras de Jesus e tinham medo

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de o interrogar». Jesus havia começado a falar-lhes sobre a sua verdadeira identidade e como
terminaria a sua caminhada terrena. Eles não o queriam compreender porque aguardavam um
Messias conquistador dos inimigos e não um Messias padecente.

Tal dúvida surge inevitavelmente em todos os que se confrontam lealmente com Cristo e com
o seu Evangelho. Quando Ele revela o seu rosto de «Servo», que oferece a sua vida e exige que
sigam os seus passos, o mais natural é ser incompreendido e surgir o medo.

Precisamos ter coragem para O escutar e interrogar, tentando compreender quem é e o que quer.
É mais fácil recitar orações do que interiorizar aquilo que Ele nos pede. As práticas devocionais
mantêm-nos nas nossas crenças, nos nossos hábitos e ideias, enquanto a Palavra de Deus põe a
descoberto todas as nossas fraquezas e misérias, exigindo conversão, mudança de mentalidade
e de vida num serviço concreto aos irmãos.

2. A dispensa dos sinais de grandeza

A procura da verdade, porque necessita de muita coragem, leva os discípulos a não quererem
compreender as palavras do Mestre e a centrarem a sua preocupação nos problemas secundários
e ridículos: «Quem será o maior entre nós?», interrogavam-se eles. Mas Jesus é direto:«Se
alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos».

Ao contrário do que acontece na comunidade civil, na comunidade cristã quem ocupa o primeiro
lugar deve dispensar todos os sinais de grandeza. A comunidade não é sítio apropriado para
conseguir prestígio, subjugar os outros ou para se impor. É espaço onde cada um, consoante os
dons recebidos do Senhor, celebra a própria dimensão servindo os mais frágeis e indefesos, de
que as crianças são o símbolo a imitar. O gesto de Jesus é significativo ao pôr a criança no meio
deles: ela depende totalmente dos adultos, nada produz, só gasta, tem necessidade de ajuda, não
sendo controlada facilmente arranja confusão e acidentes.

Jesus quer que os seus discípulos ponham no centro da sua atenção, das suas actividades e
propósitos, os mais desfavorecidos, os que não contam, os marginalizados, as pessoas menos
corretas.

Seremos capazes de «acolher», os mais idosos que ainda precisam de assistência como as
«crianças»; os pobres; aqueles que não acertam no que dizem; os mal-educados; os que
dificultam a vida aos outros; os que não dão lucro? O que fazemos por estas «crianças»?

Os que agem deste modo encontram a perseguição, porque incomodam, abalam os que
constroem a própria vida segundo a lógica da concorrência, do poder e da exploração dos mais
fracos. E é neste serviço que se identifica a «sabedoria que vem do alto».

3. A sabedoria que vem do alto

Segundo S. Tiago, «a sabedoria que vem do alto» manifesta-se em compreensão, bondade,


misericórdia, paz, generosidade e nela não há inveja nem hipocrisia. Só os que se deixam guiar
por esta «sabedoria» se tornam construtores de paz, porque abandonam o egoísmo e o domínio
sobre os outros.

Pedimos a Deus a satisfação dos próprios prazeres e esquecemo-nos de pedir a sabedoria, a


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capacidade de compreender, a única coisa que vale na vida e que é este serviço aos irmãos,
como esclarece a segunda leitura.

Aproveitemos para nos interrogar: Tenho agido segundo a sabedoria de Deus ou pela
competitividade dos homens? O que terei de mudar na minha vida?

Roteiro Homilético – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. A indignação originada pela inveja


2. A atuação do Espírito de Deus
3. A ausência de compreensão e partilha é escândalo

1. A indignação originada pela inveja

A primeira leitura lembra-nos os tempos em que Israel atravessava dificilmente o deserto, a


caminho da terra prometida. Moisés sente-se atormentado com o descontentamento do seu
povo. Dá-se então a multiplicação do carisma profético na pessoa dos setenta anciãos. Alguns,
entre os quais Josué – íntimo de Moisés –, ficam indignados por também profetizarem aqueles
que estão fora do círculo restrito dos que fazem parte da «estrutura». Pedem a Moisés que os
faça calar. Com grandeza de alma, ele afirma que até quereria que Deus admitisse mais pessoas
a esse dom.

Ainda hoje nas nossas comunidades existem pessoas que, por vezes inconscientemente,
assumem esta mesma atitude. Querem fazer tudo sozinhas, entravam alguém que se insira nas
suas preferências, não aceitam ajuda, não querem repartir encargos. Por isso começam a ficar
esgotadas e, por fim, frustradas.

Tal atitude conduz ao fanatismo. Quem assim atua acaba por atacar todos os que não pensam de
igual modo ou não pertencem ao mesmo grupo; esquecem o bem que os outros fazem ou podem
fazer; não partilham ideias e propósitos; não aceitam ajudas.

2. A atuação do Espírito de Deus

Mas onde brotar o bem, o amor, a paz e a alegria, aí se manifesta a atuação de Deus.

Quem não aceita esta liberdade do Espírito agir onde quer, é fanático e acaba por se agitar,
disputando tudo e todos.

O Evangelho narra a mesma situação: os discípulos reagem, manifestando ao Mestre a


sua desilusão e irritabilidade ao verem que alguém não seguidor do grupo restrito de Jesus
curava em Seu nome. Querem que o Mestre impeça a ação dessa pessoa. O Senhor condena a
intransigência dos seus e define uma regra para todos os cristãos: quem quer que atue em favor
do homem é dos nossos.

Norteados por tal princípio, não podemos aceitar o zelo mal entendido. Este, aparta pessoas
e grupos. Devemos combater a inveja que não reconhece as boas obras dos outros. Fiquemos

149
alegres com o bem que praticam; estimulemos todas as formas de bondade e retidão que se
manifestam nos demais, ainda que não pertençam à nossa religião, ao nosso grupo, à nossa
comunidade.

3. A ausência de compreensão e partilha é escândalo

A comunidade deve evitar o escândalo, sobretudo aos mais pequenos, sendo que os mais
pequenos são as pessoas mais débeis na fé e escandaloso o que as inibe de se moverem como
seguidores de Cristo.

O escândalo pode vir de fora, por exemplo: na rejeição daqueles que erram na vida; dos
atingidos por alguma doença que os faça envergonhar; da mãe solteira; daqueles que rotulamos
de corruptos; dos divorciados. A sua ausência da comunidade é originada muitas vezes por se
sentirem julgados, rejeitados e incompreendidos.

Há o escândalo que vem de dentro: proveniente da própria mão, do próprio pé, dos próprios
olhos. Jesus aponta-nos comportamentos errados que, quando descobertos, temos o dever de
corrigir fazendo os cortes necessários: devemos evitar o dedo apontado em atitude altiva de
quem aplica a sua própria vontade; as mãos que arrancam a honra; os olhares invejosos, de
desconfiança, de malícia; os pés que cheios de ressentimento levam à represália; os olhos que
cheios de suspeição alimentam aversões e entravam a partilha dentro da própria comunidade
evitando que os irmãos se falem.

A segunda leitura expressa o mesmo. Há também, infelizmente, cristãos que, como diz S. Tiago,
amontoam riquezas, não repartem os seus bens com os pobres, exploram os seus servidores e
se transformam em ocasião de escândalo para os que notam a sua actuação nada adequada à
fé que dizem professar. Pior é quando não se mentalizam dessa condição nada condizente com
discípulos de Cristo.

Mais que impedir que os outros «façam milagres», Jesus recorda-nos a necessidade de afastarmos
o mal e de fazermos o bem.

Lembremo-nos: O simples copo de água dado em nome de Cristo terá a sua recompensa.

Roteiro Homilético – XXVII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Não separe o homem o que Deus uniu


2. Quem repudiar a sua mulher e casar com outra comete adultério
3. Deixai vir a Mim as criancinhas

1. Não separe o homem o que Deus uniu

O casamento não é uma instituição dos homens. É de instituição divina e não pode ficar ao
critério das opiniões humanas por mais democracia que lhe ponham em cima. «A íntima
comunidade da vida e do amor conjugal – diz o Concílio – fundada pelo Criador e dotada de leis
150
próprias, é instituída por meio da aliança matrimonial, eu seja pelo irrevogável consentimento
pessoal. Deste modo, por meio do ato humano com o qual os cônjuges mutuamente se dão e
recebem um ao outro, nasce uma instituição também à face da sociedade, confirmada pela lei
divina. Em vista do bem tanto dos esposos e da prole como da sociedade, este sagrado vínculo
não está ao arbítrio da vontade humana» (GS 48).

No evangelho Jesus deixa as coisas bem claras e a Sua doutrina continua sempre atual. Temos
de a ter presente em nossa cabeça e saber transmiti-la aos outros.

Alguns armam-se em profetas da modernidade, defendendo as piores aberrações: o divórcio, o


aborto, as uniões homossexuais. Outros vão atrás porque têm medo de não ser modernos.

Muitas dessas ideias são vícios antigos na história da humanidade e quem tiver um pouco de
conhecimento da História pode confirmá-lo. Essa pretensa modernidade revela a cultura postiça
de muitos «sábios» do nosso tempo e manifestam a sua ignorância ou cegueira. Na antiga Roma
do tempo de Jesus encontramos essas desordens muito espalhadas. S. Paulo refere-se a algumas
no começo da sua Carta aos Romanos.

Elas são características das civilizações em decadência. Podíamos lembrar o velho Egipto,
a Grécia antiga, Roma e muitas outras. Com a abundância de riqueza entraram os vícios e
apareceram pretensos sábios a quererem justificá-las.

Hoje encontramo-nos em situação semelhante. A Europa com as suas riquezas deixou entrar
todos os vícios. Muitos esqueceram-se de Deus e não só cometem essas desordens como querem
legitimá-las. Querem chamar bem ao mal e mal ao bem e impor aos outros as suas perversões.
Temos de estar atentos e reagir, guiados pela fé, fiando-nos de Jesus, que é caminho verdade e
vida (Jo 14, 6). Só Ele tem palavras de vida eterna (Jo 6, 69).
Havemos de ter compreensão e pena dos que fazem o mal, mas também proclamar sem medo a
verdade que Jesus nos ensinou.

E não se trata apenas duma questão religiosa. São verdades ao alcance de todos os homens.
Fazem parte da lei natural, inscrita por Deus no coração de todos os homens e que todos podem
conhecer, se não se deixarem cegar pelas suas paixões desordenadas.

O casamento é união de um com uma e para sempre. Aparece-nos nas primeiras páginas da
Bíblia como escutávamos na primeira leitura. Deus criou o homem e a mulher da mesma carne,
iguais em dignidade. Formou com eles uma família para ficarem indissoluvelmente unidos,
para serem uma só carne.

E confiou-lhes a transmissão da vida humana. É essa a missão primeira do casamento.

2. Quem repudiar a sua mulher e casar com outra comete adultério

O divórcio vai contra a natureza do matrimónio. O amor verdadeiro, sobre que deve assentar
o casamento, exige essa indissolubilidade. A mãe ama o filho sem condições, mesmo que seja
mau e ingrato.

Assim hão-de fazer os esposos. E devem amadurecer o amor para que seja alicerce firme do seu
matrimónio. Falsos namoros, hoje em voga, são caminho direto para a separação a curto prazo.
151
A geração e educação dos filhos exigem também a estabilidade da união familiar. Não são frangos
de aviário. Não basta dar-lhes comida e conforto. Precisam do amor e da complementaridade
do pai e da mãe para se desenvolverem como verdadeiros homens e mulheres, preparados para
enfrentar a vida e saber gastá-la ao serviço dos outros.

No evangelho Jesus deixa as coisas muito claras. Divorciar-se é sempre um mal. Casar com um
divorciado é ficar numa situação de pecado, é cometer adultério.

A Igreja é muito compreensiva com aqueles que se encontrem nesta situação mas não pode
deixar de lhes lembrar que estão numa posição errada e que não podem ser admitidos aos
sacramentos, sem antes mudarem de vida.

Anima-os a rezar, a ir à missa, a ouvir a Palavra de Deus. Se algum cristão nessa situação,
pensando que o sacerdote o não conhece, fosse a receber a Eucaristia cometia um sacrilégio. A
Deus não O pode enganar. É isso que lembram os documentos do Magistério da Igreja.

Se algum sacerdote ou bispo tomar outra posição estaria a ensinar e a proceder contra os
ensinamentos de Jesus.

A Igreja não pode permitir a anulação do casamento. Há casos em que os tribunais eclesiásticos
verificam que determinados casamentos eram nulos, sobretudo por falta do devido consentimento
de algum dos esposos. Nessas situações é declarada a nulidade, que existia desde o princípio e
não anulado o casamento.

Devemos procurar ajudar os casais em crise. Os pais de um e outro têm de saber aconselhar,
pondo-se do lado do genro ou da nora. Normalmente é a maneira de acertar. Muitos divórcios
devem-se a maus conselhos dos pais.

3. Deixai vir a Mim as criancinhas

A família é a base da sociedade e a célula fundamental da Igreja. Nela nascem os novos filhos
de Deus. Nela se educam e crescem, nela são levados às fontes da graça e educados na fé. Se as
famílias funcionam bem toda a sociedade funciona bem. Provam-nos os problemas com tantos
marginais em Portugal e outros países.

O Estado tem obrigação de proteger a família, facilitando o desempenho da sua função.


Apoiando com eficiência a natalidade. Promovendo a estabilidade do matrimônio e não ao
contrário, como infelizmente acontece. Promovendo o acompanhamento dos filhos pequenos,
sobretudo a presença da mãe no lar.

Começa um novo ano da catequese. Vale a pena lembrar o papel fundamental da família. As
mães são as primeiras catequistas. Se falta a catequese familiar a formação religiosa das crianças
e jovens fica sem alicerces. Os pais ensinam com palavras e sobretudo com o exemplo da sua
vida cristã. É uma responsabilidade de que Deus lhes pedirá sérias contas um dia.

S.Pio X depois de ter sido sagrado bispo de Mântua foi visitar sua mãe velhinha. Disse-lhe
brincando: – Olha que lindo anel me deu o Senhor!

A mãe mostrando a sua humilde aliança de casamento respondeu-lhe: – filho, tu não levarias
152
esse anel de bispo se eu não tivesse recebido antes esta simples aliança de casamento!

«Famílias que viveram de Cristo e que deram a conhecer Cristo. Pequenas comunidades
cristãs, que atuavam como centros de irradiação da mensagem evangélica. Lares iguais aos
outros lares daqueles tempos, mas animados de um espírito novo, que contagiava os que os
conheciam e que com eles se relacionavam.

Assim foram os primeiros cristãos e assim havemos de ser nós, os cristãos de hoje: semeadores
de paz e de alegria, da paz e da alegria que Jesus nos trouxe.» (JOSEMARIA ESCRIVÁ,
Cristo que passa, 30)

Deixai vir a Mim as criancinhas – dizia Jesus no Evangelho. E di-lo para os pais e para todos
nós. Temos de ajudar de modo especial as crianças e levá-las a Jesus. Ele é o seu grande amigo.
Temos de animar as crianças a ir à catequese, a não faltar à missa durante as férias. Temos de
rezar por elas e pelos pais, para que sigam o caminho de Jesus.

Todos ficamos a ganhar com isso. Se todos viverem à maneira de Jesus o mundo é bem diferente.
Não viveremos no medo, não será preciso gastar tanto dinheiro com polícias e tribunais.

É muito importante o trabalho de catequista, preparando-se bem e gastando generosamente o


seu tempo. É muito importante também o trabalho com crianças e jovens, no escutismo e outros
grupos de jovens. Assim estaremos a amar verdadeiramente a Jesus e a servir a sociedade.

Que a Senhora do Rosário nos ajude a viver bem tudo isto. Meditando os mistérios do rosário
aprendemos a viver à maneira de Jesus e a servir generosamente a Deus e os outros.

Roteiro Homilético – XXVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

Seguir Jesus implica desapego das riquezas.

«Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna»?

Contemplemos esta cena cheia de colorido e de movimento. Aparece um homem correndo.


Ajoelha-se diante de Jesus e manifesta o seu desejo de «alcançar a vida eterna». É um homem
rico, tendo tudo o que parece suficiente para ser feliz: possuiu muitos bens, leva uma vida
moralmente correta. Não vem ter com Jesus para o experimentar, pois a sua atitude de respeito,
revela sinceridade e preocupação com uma questão vital: a vida eterna.

A resposta de Jesus remete o homem para os Mandamentos da Lei: «não mates; não cometas
adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe».
Viver de acordo com o Decálogo é uma condição necessária para chegar à vida eterna. O homem
explica que desde a juventude tem cumprido os mandamentos da Lei. Trata-se de um crente
empenhado. Jesus reconhece esta retidão, por isso, olha para ele «com simpatia» e convida-o a
ir mais longe: «vai vender o que tens e dá o dinheiro aos pobres. Depois vem e segue-Me. Terás
um tesouro no Céu». Dar o dinheiro aos pobres. Seguir Jesus. Por outras palavras, Jesus pede-
nos desprendimento das riquezas, partilha com os pobres para podermos segui-Lo. Apesar de

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toda a sua boa vontade, o homem não está preparado para renunciar aos seus «muitos bens» e
afasta-se triste. Quem se atreve a acusá-lo? A história do homem rico retrata todos os seguidores
de Jesus. Não desejamos nós a perfeição e a vida eterna? Contudo, estamos determinados a pôr
em prática os conselhos de Jesus? Quantas vocações falhadas porque recusam o convite divino!
Quanto apego ao dinheiro! Os cristãos dos países ricos, apesar de tanta abundância, vivem
tristes, não são felizes!

O aviso deste Evangelho é muito sério! Quem não é capaz de renunciar aos bens passageiros deste
mundo não pode entrar no Reino celeste! As riquezas quando nos prendem e escravizam não são
apenas uma dificuldade para entrarmos na vida eterna, mas são um verdadeiro impedimento:
«é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de
Deus». Atenção! Jesus repetiu, de vários modos este ensinamento: «Vós não podeis servir a
Deus e ao dinheiro» (Luc 16,13) porque « as preocupações das riquezas abafam a Palavra de
Deus» (Mat 13,22). Que o dinheiro nos «sirva» todos estamos de acordo. Que o dinheiro nos
domine como um tirano a quem nós servimos como escravos, Jesus não pode aceitar.

O Evangelho não esconde a reação dos discípulos face a esta radicalidade: «quem pode, então,
salvar-se?» Em resposta, Jesus pronuncia palavras de conforto, apresentando o poder de Deus
como incomparavelmente maior do que a fraqueza humana «aos homens é impossível, mas não
a Deus». Depois de pronunciar palavras duras condenando o nosso apego às riquezas, Jesus
abre-nos as portas da esperança, «porque a Deus tudo é possível»!

Roteiro Homilético – XXIX Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

1. Jesus, o missionário da Boa Nova


2. Missa e Missão
3. Evangelizar é obrigação e não privilégio

1. Jesus, o missionário da Boa Nova

Nas leituras que acabamos de ouvir, Cristo é-nos apresentado como o servo do Senhor, o justo
servo (1.ª Leit.) que expia com as suas dores os nossos pecados. Sendo rico faz-se pobre por
nossa causa (2.ª Leit.) para nos tornar ricos, quer dizer para nos reconciliar com o Pai. Veio para
servir e dar a vida como resgate pela multidão (3.ª Leit.).

Cristo, o Verbo feito carne e enviado do Pai, vem ao mundo para nos trazer uma grande nova:
o Pai ama-vos (Jo 16,27). É este o princípio e o fundamento de todo o Cristianismo. Deus quer
fazer de nós seus filhos adoptivos, a família de Deus na terra.

Deus quer que todos os homens se salvem (1 Tim 2,4). Este desejo foi eficaz, porque se
concretizou no primeiro missionário que Deus Pai enviou à primeira infidelidade, o Verbo
Encarnado que veio reconduzir a humanidade aos seus destinos perdidos. E com que seriedade
tomou Ele esta missão, digam-no os seus trabalhos em busca dos pecadores, a Eucaristia, a
Cruz e a instituição da Igreja.

– Que é que mudou para melhor? Porque é que tantos ainda não conhecem Jesus Cristo, ou

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vivem como se não O conhecessem? Já lá vão dois milénios de Cristianismo e o mundo continua
muito mal.

A missão ainda «vai no adro». A missão de Cristo Redentor confiada à Igreja está ainda bem
longe do seu pleno cumprimento, advertiu João Paulo II (RM 1). E o Evangelho recorda-nos
que a semente cristã tem um dinamismo tão silencioso como imparável (Mc 4, 26). Cresce
sem que dêmos por isso. O seu crescimento é tão modesto como diminutos são os grãos da
mostarda. Mas depois se torna a árvore frondosa. Empenhemo-nos com todas as forças no seu
crescimento. E não esqueçamos que o Evangelho é proposto num mundo que não o deseja,
porque anuncia a honestidade, a justiça, o serviço.

2. Missa e Missão

Estamos a celebrar a Missa no dia mundial das missões. Missa e Missão, duas palavras que têm
a mesma raiz: missio – missão, envio. Na Missa, Jesus veio e vem, enviado do Pai – assim como
o Pai me enviou (Jo 20, 21). Na Missão, Jesus envia e os missionários são os seus mensageiros
– assim Eu vos envio a vós (Jo 20, 21).

Enviados a quem? Aos que nunca ouviram falar d’Ele? Ou às ovelhas perdidas da casa de
Israel? A todos. Aos que nunca ouviram falar d’Ele: são milhões e milhões, a maior parte da
humanidade. As ovelhas perdidas da casa de Israel, que serão aqueles que precisam de ser
re-evangelizados: baptizados que perderam o sentido vivo da fé, já não se reconhecem como
membros da Igreja e levam uma vida distante de Cristo e do Evangelho.

A Missa celebrou-a e celebra-a Cristo com o seu Corpo e Sangue. Na Missão, participamos
todos, no corpo da Igreja de que fazemos parte, com o sangue das nossas veias, o sacrifício das
nossas ofertas e a dedicação das nossas vidas.

No tempo da publicidade, da TV e dos computadores, nada substitui a voz que nos fala e a
opção gostosa que temos de fazer e de renovar. Por isso, precisamos da Missa, da Missão, dos
missionários, para que alguém, em nome de Alguém, nos mostre a verdade, nos faça olhar para
ela, olhando também para nós mesmos. Convertendo-nos em primeira mão, ou reconvertendo-
nos quando as crenças se diluem, ou a preguiça, ou a falta de seriedade as atraiçoam.

3. Evangelizar é obrigação e não privilégio

Ide e evangelizai, manda Jesus (Mc 16, 15). A ordem é para todos os seus discípulos e discípulos
somo-lo pelo Baptismo. Todos: homens e mulheres, novos e idosos. Todos os cristãos são e
devem ser missionários.

Muitos interrogar-se-ão: – E eu que posso fazer? Partir, eu? Estou noivo, tenho marido e filhos,
o meu emprego, as minhas responsabilidades sociais…

Deus não nos pede que deixemos a família ou os trabalhos. Pede-nos, sim, que deixemos certo
estilo de vida para estarmos disponíveis, para fazer apostolado, para ajudar as missões. Não é
preciso ir para a praça pública fazer belos discursos. Basta o exemplo que damos por aquilo
de que estamos convencidos. Podemos ser verdadeiros apóstolos, e da forma mais fecunda,
também dentro das paredes do lar, no lugar de trabalho, na cama de hospital e na clausura dum
convento, lembra o Santo Padre na sua mensagem para o dia de hoje.
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A nossa missão será, por vezes, escutar e acolher aqueles que andam dispersos. Dar-lhes
motivos para que regressem. Escutar os católicos não praticantes, ouvir as razões que os
levaram a afastar-se da prática religiosa. Dar entusiasmo aos sem esperança. Emprestarmos os
nossos braços, o nosso coração, para que eles possam ver um sentido em nossas vidas. Rezar e
sacrificar-se pelas missões, como Teresa de Lisieux, declarada padroeira das missões e, agora,
também Doutora da Igreja.

Roteiro Homilético – XXX Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia


1. Amemos o Senhor
2. Amemos os irmãos
3. Tornemos o mundo melhor

1. Amemos o Senhor

Desde sempre o Senhor pensou em nós. Ofereceu-nos a vida na Terra para cumprirmos a
missão que nos confiou.

Para nos salvar deu a vida por nós, morrendo pregado na Cruz (Primeira Leitura).
Quem ousará virar-Lhe as costas e seguir em sentido contrário?!…

Procuremos corresponder a tanto amor por nós amando-O com todo o coração.

Ao amá-l’O estamos a dizer não ao pecado. Estamos a evitar tudo aquilo que O ofende nos
outros: a injustiça, o ódio, a inveja…Desejamos cumprir sempre e em toda a parte a Sua
vontade. Preferimos praticar o bem e a virtude. Queremos ajudar os outros para que se sintam
felizes como nós.

2. Amemos os irmãos

Há muitas pessoas que não vêem como nós a realidade. Temos de respeitá-las e compreendê-
las, como nos ensina São Paulo na Segunda Leitura. Não deixemos, porém, de as ajudar a
seguir o caminho recto.

Por vezes o ambiente que respiramos de hedonismo, materialismo, relativismo pode ofuscar a
Luz que ilumina a nossa vida.

Nessas ocasiões é bom que cada um de nós grite como o cego Bartimeu: «Mestre, que eu
veja!» (Evangelho).

O Senhor atenderá a nossa prece. O Senhor far-nos-à preferir a humildade ao orgulho. O


Senhor não nos deixará cair nas seduções do mundo e do demónio. O Senhor irá conosco ao
encontro dos que sofrem, dos que estão cansados de viver, dos que esperam uma presença
desinteressada mas amiga. O Senhor servir-se-á de nós para salvar a humanidade.

3. Tornemos o mundo melhor

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Quando observamos o mundo actual ficamos perplexos com o horror dos atentados e guerras
que causam a destruição e a morte.

Porque não se deixam viver crianças que encheriam as nossas comunidades de encanto e
ternura e porque se marginalizam idosos que continuam a ensinar com a experiência e a
sabedoria adquiridas ao longo da vida?

Cristo veio até nós há dois mil anos. Enviou Sua Mãe a Fátima em 1917, indicando o caminho
da conversão, da esperança e da paz.

Não adiemos para mais tarde aquilo que nos compete cumprir agora. As gerações futuras não
nos perdoariam se cruzássemos os braços sem nada fazer para tornarmos o mundo melhor.
Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Religiosos e Leigos, em união com o Santo Padre, vivamos
com muito amor a nossa vocação neste ano sacerdotal e sempre!

Os que viveram antes de nós e foram coerentes com a sua fé, muitos deles até ao martírio,
animam-nos a prosseguir sem desânimos porque depois da Terra teremos o Céu para sempre.

Roteiro Homilético – Solenidade de Todos os Santos

Sugestões para a homilia

1. Uma família de vivos


2. Santos Anônimos
3. A Comunhão dos Santos vivida em plenitude.

1. Uma família de vivos

Quando Pio XII resolveu escolher o dia 1 de Novembro de 1950 para solenemente definir o
dogma da Assunção de Nossa Senhora ao Céu em corpo e alma, ou seja, o triunfo de Maria,
nossa Mãe, não faltou quem lamentasse semelhante ideia dizendo que esse dia é um dia de
tristeza e de saudade, é a festa dos mortos.

Nada mais errado. Todos os Santos não é isso. Esta festa fala-nos do mundo invisível que os
olhos não alcançam mas que sabemos pela fé ser uma realidade. Cremos que a multidão das
almas que já estão reunidas ao redor de Jesus e de Maria, no Paraíso, formam a igreja do Céu,
onde, na eternidade feliz, vêem a Deus como Ele é (Credo do Povo de Deus).

Neste dia a Igreja levanta-nos o véu que nos separa do invisível deixando-nos antever o além
para onde caminhamos: a perfeição do Corpo de Cristo, nos esplendores da intimidade com
Deus; a felicidade sem fim, com Deus, de todos aqueles e aquelas que, como nós, caminharam e
lutaram sobre a terra para realizar e fazer triunfar o programa evangélico das Bem-aventuranças:
amor, justiça e paz.

Neste dia celebramos com toda a Igreja (o Povo de Deus em marcha, a família dos redimidos) a
alegria e a felicidade destes homens plenamente realizados que são os Santos. Não estão mortos,
mas vivos. Pertencem não somente a todas as nações, tribos, povos e línguas (1.ª leit.), como
ainda a todas as religiões e confissões. São uma multidão incontável. Cada qual escutou, na

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vida, o apelo das Bem-aventuranças. Cada qual, segundo a sua vida e à sua maneira, respondeu
ao convite do Senhor. Hoje a Igreja mostra-no-los reunidos na unidade.
O Papa teve razão ao escolher esta data para a proclamação da glória de Maria. Esta festa é uma
antecipação da grande festa eterna à qual são convidados todos os homens de boa vontade. A
Mãe de Jesus, já glorificada no céu em corpo e alma, é imagem e primícia da Igreja, que há-de
atingir a sua perfeição no século futuro (L. G. 68). O espectáculo que se desenrolou, na Praça
de S. Pedro, naquele dia, era a imagem clara daquilo que nos descreve S. João na 1.ª leitura. Ali
se palpava a realidade do dogma da Igreja unida para cantar as glórias da Sua Mãe. Depois da
Assunção da Mãe, haverá a Assunção dos filhos (Mons.Thèas). Agora apenas na alma. Depois
também no corpo, como Ela.

2. Santos Anônimos

São milhares e milhares de pessoas em múltiplas actividades de voluntariado, nos hospitais, nas
prisões, nos bairros degradados, junto dos sem-abrigo, dos que vivem sós, em suas casas ou nos
Lares de Terceira Idade.

Heróis anônimos são também as mães que se levantam muito cedo para levar os filhos ao
infantário e deixar as refeições preparadas em casa, porque só vão regressar, à tardinha, depois de
uma extenuante jornada de trabalho. São os pais que se desdobram numa luta pelo emprego, que
já não está fácil, inventando, aqui e ali, alternativas para equilibrar os seus magros orçamentos.
São os jovens, que resistindo ao facilitismo e à civilização do prazer efêmero e do «deixa correr,
que tudo isto é para gastar e gozar» se esforçam por fazerem o que a consciência lhes, dita, por
ser fiéis aos valores familiares e cristãos que os seus antepassados lhes legaram.

São os pescadores que todas as noites buscam no mar o pão de cada dia, indiferentes aos perigos
que os cercam. São os agricultores que suportam as inclemências do tempo e tiram da terra,
com suor e lágrimas, os alimentos de que todos precisamos.

São os condutores de autocarros e comboios que sem liberdade para as suas divagações, se
vergam com a responsabilidade de milhares de vidas nas suas costas. São os polícias chamados
a acudir a quem precisa, não sabendo que perigos escondem para si, a escuridão e a maldade
dos outros.

São os médicos e enfermeiros que velam no silêncio de um qualquer hospital, a disposição de


um pedido de ajuda. São também, milhares de homens e mulheres, com nome e rosto, de carne
e osso como nós, com um futuro material risonho à sua frente, mas que, renunciam à família,
ao dinheiro e ao protagonismo social para serem servos de todos, impulsionados pela sua fé
sincera em Deus e em Jesus Cristo incarnado no outro, naquele que está ao nosso lado e que se
descobre sempre como um irmão que importa ajudar hoje, com actos concretos de heroísmo, e
não com piedosos sentimentos de compaixão.

Refiram-se ainda, com acentuado toque de gratidão, no rol dos heróis anônimos, os dedicados
e sacrificados professores, votados à tarefa espinhosa (diríamos até de alto risco) de educar
crianças e jovens, com as suas traquinices e rebeldias, na rotina diária das nossas escolas, os
muitos clérigos e religiosos a trabalhar em Instituições da igreja, que testemunham, por montes e
vales, com modelares obras de solidariedade social, o verdadeiro humanismo cristão, acolhendo
e tratando, com muito amor, com dedicação extrema, aqueles que a família e a sociedade lhes
confiam, nos Lares, nos Centros de Dia. nos Jardins de Infância ou nos Hospitais.
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Afinal, este nosso mundo, não é assim tão mau como, às vezes o pintam. O mal, porque é uma
anormalidade, vem mais vezes ao de cima, nos noticiários que nos entram em casa a toda a hora.
Mas o bem, desinteressado e heróico, praticado por gente de todas as idades, em cada dia
que passa, é igualmente uma consoladora realidade, a provar que Deus não abandona as suas
criaturas.

3. A Comunhão dos Santos vivida em plenitude.

Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo: dos que ainda peregrinam sobre a terra,
dos defuntos que ainda estão em purificação e dos bem-aventurados do Céu, formando todos
juntos uma só Igreja(Credo do Povo de Deus). O dogma da Comunhão dos Santos é dos mais
consoladores da nossa fé, desde que rectamente entendido. Não tem nada de alienante nem de
utópico.

Os primeiros cristãos viveram-no como ninguém. O facto de colocarem tudo em comum,


inclusive os próprios bens materiais (Apoc 4, 34), era a prova máxima desta vivência. Nas
dificuldades e no pecado a reacção espontânea era de amor para com aquele irmão que estava
em perigo, em dificuldade. E assim ele encontrava a força para reconhecer o seu pecado e,
graças ao amor, corrigia-se.

Do mesmo modo que a comunhão cristã, entre os que peregrinam neste mundo, nos coloca mais
perto de Cristo, assim também a familiaridade com os santos nos une com Cristo, de Quem
promana, como de Fonte e Cabeça, toda a graça e a própria vida do Povo de Deus (L. G. 50).
Agora compreendemos melhor a razão porque a Igreja insiste tanto na celebração comunitária
dos actos do culto a qual se deve preferir, na medida do possível, à celebração individual e
como que privada (S.C. 27).

A intercessão dos Santos apresenta-se sempre como um pedido e uma súplica. Nunca como um
direito nem muito menos como um favor à margem da vontade de Deus. Importa «corrigir ou
suprimir quaisquer abusos, excessos ou defeitos que acaso se tenham introduzido no culto dos
Santos e que tudo se restabeleça ordenadamente para maior glória de Cristo e de Deus» (L. G.
51).

Comunhão dos Santos, eu beneficio do teu tesouro (Francisco Coppée).

Roteiro Homilético – XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Sugestões para a homilia

VIGIAI E ORAI EM TODO O TEMPO (Lc 21, 30)

As coisas visíveis são passageiras e as invisíveis são eternas. «O Céu e a terra passarão…» (Ev.)
As palavras de Deus não passarão.

O nosso destino está nas mãos de Deus. Deus é a nossa esperança e o nosso auxílio. Viver na
Sua presença é condição de paz, tranquilidade e alegria plena.

159
Vigiar e orar, para não perder de vista as verdades consoladoras da filiação divina, da providência
amorosa de Deus, da sua divina presença.

«O tempo presente é, segundo o Senhor, o tempo do Espírito e do testemunho mas é também


um tempo ainda marcado pela ‘desolação’ e pela provação do mal, que não poupa a Igreja
e inaugura os combates dos últimos dias. É um tempo de espera e de vigília» (Catecismo da
Igreja Católica, 672).

A partir da Ascensão, a vinda de Cristo na Sua glória está iminente, mesmo que não nos pertença
«saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a Sua autoridade» (Act. 1, 7).

«Quando vier; no fim dos tempos, para julgar os vivos e os mortos, Cristo glorioso há-de
revelar a disposição secreta dos corações, e dará a cada um segundo as suas obras e segundo
tiver aceite ou recusado a graça.» (Catecismo da Igreja Católica, 682).

«A nós, pois, resta-nos vigiar e viver no amor a Deus e aos nossos irmãos. No último dia, Jesus
dirá: ‘Sempre que o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’ (Mt 25,
40).

Mas, como não sabemos o dia nem a hora, é preciso que, segundo a recomendação do Senhor,
vigiemos continuamente, a fim de que no termo da nossa vida sobre a terra, que é só uma (cfr.
Hebr. 9,27), mereçamos entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados entre os
eleitos (cfr. Mt. 25, 51-46), e não sejamos lançados, como servos maus e preguiçosos (cfr. Mt.
25,26), no fogo eterno (cfr. Mt. 25,41), nas trevas exteriores, onde ‘haverá choro e ranger de
dentes’ (Mt. 22,13; 25, 30).» (Const. Lumen gentium, n. 48).

Vigilância e oração: «Na oração (Mc 1, 15), o discípulo vela, atento Aquele que é e que vem, na
memória da sua primeira vinda na humildade da carne e na esperança da sua segunda vinda
na glória. Em comunhão com o Mestre, a oração dos discípulos é um combate; é vigiando na
oração que não se cai na tentação.» (Catecismo da Igreja Católica, n. 2612)

Foi pela oração que Jesus venceu o tentador (Mt 4, 1-11). A vigilância é a guarda do coração. A
perseverança final será fruto da vigilância e da oração: «Olhai que vou chegar como um ladrão:
feliz de quem estiver vigilante». (Ap 16, 15).

Roteiro Homilético – Solenidade de Cristo-Rei

Sugestões para a homilia

1. «Veio alguém semelhante a um filho de homem»


2. «Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz»
3. «Todos O verão, mesmo aqueles que O trespassaram».

1. «Veio alguém semelhante a um filho de homem»

A visão de Daniel usa a expressão de «Filho do Homem». É uma expressão muito usada no
Antigo e no Novo Testamento.

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Esta expressão poderia ser aplicada ao profeta, mas pelo teor da sua densidade e mistério só se
pode aplicar a Cristo Jesus, Deus e Homem verdadeiro. O mesmo Cristo usou esta expressão
aplicando-a a Si próprio.

São as referências da beleza do nosso Deus que se dignou encarnar e habitar entre nós.

No quadro de Daniel, no seu apocalipse, na revelação final, ao terminar toda a história humana,
o quadro contemplado é de vitória, grandeza, exaltação e de louvor.

Aos crentes, por entre tantos desafios, dificuldades e obstáculos importa propor viver na
coragem e no testemunho da fé. Importa assumir a fragilidade da nossa humanidade que se
levantará transformada no mistério pascal do «Filho do Homem».

Importa que toda a Palavra se centre na visão de Cristo, centro e ponto culminante da revelação
de Deus, de toda a obra criada, de toda a história e de todo o mistério da redenção. E importa
viver assim, em vida centralizada no seu mistério de encanto, beleza e santidade. E sem medo
à doação total da vida, como testemunho eloquente.

2. «Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz»

É-nos recordado pelo Santo Padre que o nosso cristianismo depende da resposta que damos a
Cristo e do lugar que Ele ocupa em nossa vida.

Na construção da nossa vida pessoal e colectiva, pessoa e comunidade, necessariamente


procuramos fundamento para uma construção sólida, feliz e realizadora. Só Cristo pode ajudar
o Homem e os Povos a encontrar o verdadeiro caminho de paz, felicidade e salvação.

Na realidade a nossa história encontrou tremendos fracassos, humilhações, desgraças e mortes


porque pessoas e povos temem a realeza de Cristo, temem a clareza do Seu projecto e temem
perder as suas seguranças egoístas, falsas e desumanas!

O Reinado de Cristo não se fundamenta na arrogância, na força, na violência, mas na aceitação


de uma humanidade digna, assumida como projeto de Deus («Sua imagem e semelhança» e
remida em Cristo), na doação, na justiça, na verdade e no amor. Por isso a Cruz de Cristo é o
gesto mais supremo de oblação e de autenticidade frente a um «mundo» quase intransponível
de iniquidade, mentira, violência, morte e oposição a Deus!

3. «Todos O verão, mesmo aqueles que O trespassaram».

O Apocalipse de São João foi escrito para animar os cristãos no meio de grandes desafios
e perseguições: necessário evangelizar o mundo, sem grandes meios e pessoas; é necessário
enfrentar as duras, constantes e difíceis perseguições.

João apela a uma vida doada, à maneira de Cristo Jesus, vencedor da morte, do mal e do pecado.
Senhor do Universo, da História e do Homem.

Para cada um de nós fica a proposta: é necessário uma bela resposta à pessoa de Jesus Cristo,
Deus verdadeiro e Homem verdadeiro. É necessário um compromisso honesto, coerente,
constante e total ao Seu projeto de Amor. É necessário compreender o cristianismo como algo
161
dinâmico a exigir a nossa entrega, a nossa doação, a Cruz.

Também pelo nosso contributo, enxertados em Cristo, no seu Mistério Pascal, seremos
vencedores e ajudaremos a vencer.

Neste contributo e compromisso de amor, de doação, tornaremos visível o Deus que vale a pena
amar e seguir. Se vivermos a coerência deste projecto, pela santidade, muitos hão-de encontrar
e contemplar Jesus.

No final de todas as coisas surgirá a vitória final: «Todos O verão, mesmo aqueles que O
trespassaram». A força do amor perdoará na eternidade da beleza, grandeza e santidade do
nosso Deus.

ANO C
Roteiro Homilético – I Domingo do Advento – Ano C

Sugestões para a homilia

1. Um novo ano litúrgico


2. Haverá alguém que nos possa dar a paz?
3. Abrir o coração à esperança

1. Um novo ano litúrgico

Iniciamos hoje um novo litúrgico – o Ano C – onde predomina a leitura do Evangelho segundo
S. Lucas. E todo o ano litúrgico começa sempre com o tempo do Advento, quatro semanas de
preparação para essa grande festa, esse dia jubiloso do Natal, o nascimento do Deus-Menino.

O Advento prepara-nos, de facto, para o encontro com Aquele que já veio e há-de vir novamente
no final dos tempos. É dessa última vinda que nos fala o texto evangélico.

2. Haverá alguém que nos possa dar a paz?

Perante as expressões dramáticas do Evangelho de hoje, pode-se pensar que Jesus esteja a dar
algumas informações acerca do fim do mundo. É assim que o texto foi muitas vezes interpretado.

Mas se o objetivo de Jesus era meter medo, então não teve sucesso, até porque o anúncio do
fim do mundo atemoriza cada vez menos. Contudo, Jesus não pretende assustar, mas obter
exatamente o contrário. Ele quer libertar do medo, suscitar alegria, infundir esperança. Não
quer ameaçar cataclismos, mas anuncia um acontecimento feliz.

As imagens apocalípticas usadas por Jesus não se referem a explosões de astros, a grandes
catástrofes, mas falam do que acontece nos dias de hoje. É no nosso mundo que se torna
impossível viver: cometem-se abusos e injustiças, existem ódios, violências, guerras, condições
desumanas, a própria natureza é destruída pela exploração sem medida dos seus recursos, e até
mesmo os ritmos dos tempos e das estações deixaram de ser regulares.
162
E isto aplica-se à nossa vida pessoal. Quantas pessoas vemos que caminham «curvadas»,
oprimidas pela dor, encolhidas pelo medo. Não têm a força para erguer a cabeça porque perderam
toda a esperança: a esposa abandonada pelo marido, os pais desiludidos pelas escolhas dos filhos,
o trabalhador arruinado pela inveja dos colegas, as pessoas vítimas do ódio e da violência…

Quantas vezes medos, desilusões, remorsos, experiências infelizes tornam-nos incapazes de


sorrir. Será ainda possível recuperar a confiança em nós próprios e nos outros? Haverá ainda
alguém que nos possa dar de novo a serenidade, a confiança e a paz?

3. Abrir o coração à esperança

Não espanta, portanto, que angustiadas, as pessoas perguntam-se: o que irá acontecer? Onde
acabaremos? Está a humanidade a caminhar em direcção a uma inevitável catástrofe?

Não – garante Jesus – e é esta a mensagem central do trecho: a humanidade caminha em direção
a uma nova criação. E por isso onde se vislumbram sinais da desordem provocada pelo pecado,
aí podemos esperar a vinda do Filho do homem com grande poder e glória.

Por isso Jesus convida a abrir o coração à esperança: o mundo dominado pela injustiça, pela
maldade, pelo egoísmo chegou ao fim e já surgiu um mundo novo e maravilhoso.

Este mundo novo nasce no próprio instante em que se permite a Deus que realize o seu Advento
na nossa vida. Este mundo novo começa quando abrimos, quando escancaramos as portas dos
nossos corações a Jesus que vem. Este mundo novo nasce quando reconhecemos Cristo no outro
e nos dispomos a partilhar e a acolher os que se encontram em dificuldade, dando prioridade a
todos os que Jesus privilegiou.

É, pois, o caminho da caridade a via-mestra para ir ao encontro do Senhor que há-de vir, para
saborear já nesta terra o mundo novo e maravilhoso que o Senhor hoje nos oferece.

Roteiro Homilético – II Domingo do Advento – Ano C

Sugestões para a homilia

1. Deus intervém na vida dos homens


2. E realiza as Suas promessas
3. Com a nossa colaboração

1. Deus intervém na vida dos homens

Em Israel a mulher que perdia o marido ou um filho ficava inconsolável, inactiva, cobria-se com
vestidos de luto, recusava todas as palavras de conforto, deixava de se arranjar e de preparar as
próprias refeições.

Ora, a primeira leitura de hoje compara Jerusalém a uma viúva que viu partir para o exílio,
levados pelos seus inimigos, o marido e os filhos e que jamais pensara em revê-los. Todavia,
segundo a leitura, Deus decidiu «aplanar todos os montes e aterrar todos os vales» de modo
que os israelitas pudessem voltar sem contrariedade para a sua mãe, Jerusalém. Diz o profeta

163
que Jerusalém será o lugar onde reinará a «paz da justiça», não a paz fictícia que é uma tirania
legitimada e a «glória da piedade», ou seja a lealdade ao seu Deus.

Ao olharmos hoje o nosso país, a nossa comunidade cristã, a nossa família e os nossos ambientes
de trabalho poderemos apelidá-los de lugares de paz, de partilha, de justiça, de fraternidade ou
lugares de discórdia, inveja e violência? Não serão antes lugares parecidos com uma «viúva
desolada e sem filhos»?

Certamente que os inimigos que originaram esta situação foram: o egoísmo, a falta de escuta da
Palavra de Deus e a insensatez materialista e relativista. Ora, se a salvação dependesse de nós
não haveria esperança de recuperação possível. Mas o profeta assegura que Deus libertará as
nossas comunidades de toda a sua condição penosa, para nos tornar «cidades de Deus».

O Advento serve para nos lembrar que o Senhor continua a intervir nas nossas vidas para
realizar esta obra de salvação, desde que saibamos acolher convenientemente a Sua Palavra.

Como deveremos fazer, para serem concretizadas as Sua promessas?

2. E realiza as Suas promessas

Para tal milagre se realizar é necessário que Deus aplane os montes e os abismos antigos, encha
os vales que nos mantêm desunidos e estabeleça pontes que nos ajudem a vencer a divisão com
os nossos irmãos.

Segundo o Evangelho, a intervenção de Deus ocorreu num momento e num lugar bem
determinado: Palestina, no reinado de Tibério, sendo sumos-sacerdotes Anás e Caifás. É caso
para nos perguntarmos se a notícia que anunciamos, como cristãos e profetas dos dias de hoje,
é igualmente concreta e associada ao âmbito cultural e político em que vivemos? Se vai ao
encontro das carências do homem de hoje e dos seus problemas, ou lhe passam ao lado? Que
interferência tem a fé, que dizemos professar, na nossa conduta: no trabalho, na escola, no
ambiente conjugal e familiar, nos lugares de diversão?

São estes lugares que têm de ser remodelados pela salvação trazida por Cristo.

Ao olharmos a vocação de João Baptista vemos que Deus não se esquece nunca dos homens e
que espera pelo momento favorável para nos estender a mão.

Tal como João, também nós, os cristãos, embora vivendo no mundo, habitamos num «deserto».
Isso deve levar-nos a ser como estrangeiros que não pensamos, não falamos, nem nos
comportamos como os outros. No meio dos que falam de riquezas desnecessárias, de guerras,
desentendimentos, ódios, violências e vinganças, devemos proferir palavras de paz, de serviço e
de perdão. Num mundo em que se reconhecem felizes os que têm riquezas, calcam e exploram
os mais fracos, temos o dever de profetizar o amor, o serviço aos mais carenciados, a partilha
dos bens e a renúncia de nós mesmos para o enriquecimento dos demais.

A salvação prometida por Deus só pode chegar se o caminho for preparado pelo esforço do
homem, pois Ele não reserva a sua salvação a alguns privilegiados, mas oferece-a a todos, sem
rejeição.

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Se devemos celebrar o amor, a paz e a não-violência, por vezes teremos de ser ásperos como
João Baptista e relembrar os compromissos sérios da vida, denunciando situações injustificáveis
e tendo coragem de atacar os poderosos quando são impróprios.

Que montanhas teremos de aplanar e vales a preencher para que nas nossas vidas e na vida
das nossas comunidades possamos acolher a Palavra e com bravura denunciar os erros e as
situações de falta de valores sólidos e evangélicos?

Deus espera a nossa colaboração para esta sua obra.

3. Com a nossa colaboração

Foi por isso que S. Paulo deu graças a Deus pelas graças que realizou na comunidade de Filipos.
Ele manifestou a sua própria comoção interior perante uma partilha de graças tão copiosas
concedidas por Deus a essa comunidade, que soube realmente acolher a Palavra de Deus e
colaborar activamente no anúncio do Evangelho.

O que nos falta, e às nossas comunidades, para acolher e levar à prática a Palavra ouvida, para
nos poder ser também aplicada tão valiosa e bela oração? Será que estamos a cooperar nesta
obra de evangelização querida por Deus?

Roteiro Homilético – III Domingo do Advento – Ano C

Sugestões para a homilia

1. A alegria deste Advento


Qual alegria buscamos?
O fundamento desta alegria
Deus connosco, nossa alegria
2. Como conquistar a verdadeira alegria
Desprendimento
Viver a justiça
Construir a paz na humildade

1. A alegria deste Advento

A liturgia reserva o terceiro domingo deste Advento para nos fazer um chamamento à alegria.
Pretende ajudar-nos a compreender que não há incompatibilidade entre uma preparação
cuidadosa e séria para a vinda do Salvador e a verdadeira alegria de viver. Pelo contrário,
teremos alegria na medida em que tomarmos a sério a vocação à santidade recordada com
peculiar insistência neste ciclo do Natal.

a) Qual alegria buscamos? «Clama jubilosamente, filha de Sião; solta brados de alegria, Israel.
Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém.»

Aquando da «Primavera de Praga» de 1968, em que a União Soviética fez acordar dos sonhos
de liberdade a juventude da Checoslováquia com uma invasão militar brutal, usaram os patriotas,
como último recurso, uma arma: trocar as placas de sinalização, voltando-as ao contrário. Deste

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modo, o avanço do exército soviético sobre a capital deste povo escravizado demorou mais
algum tempo.

O Inimigo do homem usa esta arma para nos desorientar, voltando em sentido errado as placas
de sinalização que indicam o caminho da felicidade e alegria.

Caricaturiza-se o cristianismo como a religião de pessoas de condição humilde, idosas e


desiludidas da vida, ao mesmo tempo que se aponta a Lei de Deus como uma escravidão para o
homem. (Quando a TV transmite reportagens dos peregrinos de Fátima insiste frequentemente
nesta imagem).

Deste modo, se consegue que muitas pessoas procurem a alegria por caminhos que as leva à
escravidão e à tristeza – a sensualidade o poder e a riqueza – ao mesmo tempo que manifestam
uma rebelião contra as verdades da fé.

Havemos de procurar a verdadeira alegria que é a paz com Deus, connosco próprios e com os
irmãos, e que só do Céu nos vem.

«A alegria que deves ter não é aquela que poderíamos chamar fisiológica, de animal sadio,
mas uma outra, sobrenatural, que procede de abandonar tudo e de te abandonares a ti mesmo
nos braços carinhosos do nosso Pai-Deus.» (S. JOSEMARIA ESCRIVÁ, Caminho, n.º 659).

E logo vem a pergunta que nos ajuda a um exame de consciência: «Não há alegria? – Então
pensa: há um obstáculo entre Deus e eu. – Quase sempre acertarás.» (IDEM, ibidem, n.º 662).

b) O fundamento desta alegria. «O Senhor, Rei de Israel, está no meio de ti e já não temerás
nenhum mal.»

A alegria que devemos buscar fundamenta-se na nossa filiação divina. O Senhor libertou-me.
Compete-me agora aceitar jubilosamente este dom que Ele me oferece.

O filho pródigo é um exemplo claro de como devemos procurar esta alegria. O filho mais novo
da Parábola procurou-a na libertinagem dos sentidos, começando por se afastar da casa paterna.
Mas à medida que o tempo passa, ele começa a perceber que só tem duas alternativas: regressar
aos braços do Pai ou morrer de fome, de tristeza e no abandono.

A esta certeza da fé há-de juntar-se – para que a alegria se torne efectiva – um esforço pessoal
generoso para corresponder ao Amor do Pai. A filiação divina foi-nos dada sem qualquer
merecimento da nossa parte; o esforço generoso é confiado a cada um de nós.

Neste sentido, podemos dizer que a alegria está dentro de nós, porque é a presença misteriosa
do Senhor que a torna possível.

À medida que se arrebata Deus do coração das pessoas, vai-se eclipsando a tristeza, porque,
sem Ele, não há verdadeira alegria possível.

Ela deve ser reconquistada diariamente num esforço pela conversão pessoal, indispensável para
que nos aproximemos d’Ele.

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O apelo à alegria tem como alicerce esta certeza da fé: Deus ama-nos e reside no meio de nós
com uma proposta de salvação e de felicidade para todos os que O acolhem. Esta verdade
provoca uma imensa alegria no coração dos crentes.

Damos sempre – na família, no trabalho e na convivência social – testemunho dessa alegria? Ou


deixamo-nos levar por um tom pessimista ao falar das dificuldades com que nos enfrentamos?
Será que as nossas comunidades – a família, a paróquia, o mudo de trabalho em que nos
movemos –são espaços onde se nota a alegria pelo amor e pela presença de Deus?

c) Trabalhemos pela verdadeira alegria. «’Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo, renova-te
com o seu amor, exulta de alegria por tua causa, como nos dias de festa’.»

Procuremos acabar com os falsos mitos de que a fidelidade a Deus nos afasta da verdadeira
alegria e felicidade. Quem nos apregoa isto vê as placas de sinalização em sentido contrário.
Em vez de nos aproximar, afastar-nos íamos cada vez mais dela.

Desterremos do nosso coração visões pessimistas e negativas que nos levam a ver tudo escuro,
num beco sem saída. Deus ama-nos e colabora generosamente no nosso esforço para melhorar
espiritualmente.

Deixemos que transpareça na nossa conversa um sadio otimismo, que brota da nossa fé. Nada
nos pode acontecer sem que Deus o permita, porque Ele é o Senhor do universo; e Ele não o
permitirá se isso não puder resultar num bem para nós, porque é o melhor dos pais.

Evitemos as apreciações pessimistas que tornam o ambiente irrespirável e nos deixam


desmotivados para a construção de um mundo novo.

Entremos em contacto connosco mesmos e com Deus pela oração, quando o dia amanhecer
para nós toldado de nuvens de tristeza e pessimismo.

«Para dar remédio à tua tristeza, pedes-me um conselho. – Vou dar-te uma receita que vem de
boa mão – do Apóstolo Tiago: – ‘Trista turaliquis vestrum?’ estás triste, meu filho? — ‘Oret’
Faz oração! Experimenta e verás.» (S. JOSEMARIA ESCRIVÁ, Caminho, n.º 663).

2. Como conquistar a verdadeira alegria

João Baptista, exercendo a sua missão de Precursor de Jesus, faz ouvir a sua voz às multidões
que o procuram. Havia – como hoje – nas pessoas uma grande inquietação à procura das certezas
que são o fundamento da verdadeira alegria. É neste contexto que se situam as respostas que
vai dando.

Também nós devemos fazer a mesma pergunta que os ouvintes de João: «Que devemos fazer?»

Acolhamos as chamadas de atenção que ele faz para cada um de nós, pela palavra e pelo exemplo
da sua vida penitente e desprendida.

a) Desprendimento. «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem
tiver mantimentos faça o mesmo.»

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Deus colocou à nossa disposição muitos bens para nos ajudarem nesta caminhada para o Céu.
Mas não podemos esquecer que se trata apenas de meios e não do fim da nossa vida. Sem este
cuidado, de senhores dos bens tornamo-nos escravos, perdendo a liberdade de filhos de Deus e
a verdadeira alegria.

O que faz o Precursor é proclamar o caminho da verdadeira alegria e convidar-nos a segui-lo.

Os bens que temos à nossa disposição aparecem sempre dons de Deus e, portanto, somos apenas
administradores deles de tal modo que um dia prestaremos contas da nossa administração.

As desigualdades chocantes, a indiferença que nos leva a fechar o coração aos gritos de quem
vive abaixo do limiar da dignidade humana, o egoísmo que nos impede de partilhar com quem
nada tem, são obstáculos intransponíveis que impedem o Senhor de nascer no meio de nós.

As nossas comunidades e nós próprios damos testemunho desta partilha que é sinal do Reino
proposto por Jesus?

Há muitas coisas que não utilizamos e que nunca nos farão falta. Porque não dá-las, tornando-as
úteis para outros?

Este desprendimento abrange também o que somos e o que podemos fazer pelos outros. Seria
uma visão egoísta da vida se pensássemos apenas nos interesses pessoais.

Também pode haver escravidão no esbanjamento dos bens, na comida, nos meios de transporte
e na apresentação. A virtude aparece sempre de mãos dadas com a austeridade de vida.

b) Viver a justiça. «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e
contentai-vos com o vosso soldo.».

A ambição dos bens materiais leva rapidamente à injustiça, gerando para nós uma nova
escravidão.

A verdadeira alegria alimenta-se também de um religioso respeito pelos direitos dos outros.

São muitas as tentações que nos assaltam neste campo: não cumprir os contratos, não pagar
as dívidas, enganar as pessoas menos experimentadas nos negócios, passar à frente dos outros
roubando-lhes a possibilidade de emprego, não respeitando as filas de espera nos transportes,
no atendimento, etc.

«Não exerçais violência sobre ninguém»… E os actos de violência, que tantas vezes atingem
inocentes e derramam sangue ou, ao menos, provocam sofrimento e injustiça?

E os actos gratuitos de terrorismo, ainda que sejam mascarados de luta pela libertação?
E a exploração de quem trabalha, a recusa de um salário justo, ou a exploração de imigrantes
estrangeiros?

Os publicanos eram aqueles que extorquiam dinheiro de modo duvidoso, despojando os mais
pobres e enriquecendo de forma ilícita. Que dizer dos modernos esquemas imorais (às vezes
conformes com a lei civil, mas imorais) de enriquecimento rápido? Que dizer da corrupção,
168
do branqueamento de dinheiro sujo, da fuga aos impostos, das taxas exageradas cobradas por
certos serviços, das falcatruas?

E as prepotências que se cometem nos tribunais, nas repartições públicas, na própria casa e,
tantas vezes, nas recepções das nossas igrejas? Neste quadro, é possível acolher Jesus?

Será possível prejudicar conscientemente um irmão ou a comunidade inteira e acolher «o


Senhor que vem», fonte da verdadeira alegria?

É fácil cair na tentação de utilizar os nossos conhecimentos, os nossos «trunfos» de influência,


de conhecimentos, de dinheiro, para com eles oprimir os outros.

c) Construir a paz na humildade. «E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência,
guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.»

João Batista é um semeador de paz e alegria nos corações das pessoas que o vão escutar no
deserto da Judeia.

Dá um testemunho eloquente de humildade apresentando-se, não como o Messias, mas como a


voz dele, o seu arauto.

Veste humildemente e reduz as suas necessidades de consumo ao mais elementar, valendo-se


dos produtos que encontra à sua volta: gafanhotos e mel silvestre.

Volta a dar testemunho de humildade quando é procurado por Jesus, para ser baptizado por
ele… Porque não se considera digno de lhe desatar as correias das sandálias.

Aos publicanos, odiados cobradores de impostos, que exorbitavam no cumprimento de um


dever, exigindo mais do que estava estabelecido e usando métodos ilícitos, S. João Baptista
adverte: «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos
com o vosso soldo».

É muito perigosa a tentação de cada um se julgar superior aos outros e exigir aquilo a que não
tem direito, servindo-se das armas que tem à mão: mais conhecimentos do que os outros, maior
quantidade de bens e mais influência social.

A paz e a alegria têm de ser construídas na verdade e na caridade.

Jesus Cristo dá-nos, em cada celebração do Domingo, na qual se renova o sacrifício da Nova
lei, o exemplo de construir a paz imolando-se por nós.

Com Maria construiremos a paz, imolando-nos pelos nossos irmãos, numa doação generosa de
todos os momentos.

169
Roteiro Homilético – IV Domingo do Advento – Ano C

Sugestões para a homilia

1. Mostrai-nos Senhor o vosso rosto e seremos salvos


2. A profecia de Miqueias.
3. Nossa Senhora ensina-nos a preparar a Festa de Natal.

1. Mostrai-nos Senhor o vosso rosto e seremos salvos

Assim pedimos há momentos. E assim acontecerá. O Senhor e só o Senhor nos pode salvar.
Para que tal aconteça é necessário que cada um de nós aceite a Sua salvação. Para que esta
opção consciente e firme aconteça na vida de cada um, é necessário que conheçamos o Senhor,
«vejamos» o Seu rosto. Através das Leituras da Missa de hoje, Ele indica-nos o caminho para
O encontrar.

2. A profecia de Miqueias

Na primeira Leitura o profeta Miqueias prediz que de Belém, pequena cidade, sairá aquele
que há-de reinar sobre Israel. Tal não acontece por acaso. Para Deus não há acasos. Vai nascer
em Belém e não numa grande cidade como Jerusalém. Com este sinal fala-nos claramente de
humildade. Trata-se de uma virtude fundamental, que desde a Sua entrada neste mundo, a todos
quer manifestar. Se tinha sido o orgulho a causa da cegueira dos nossos primeiros pais e de
tantos dirigentes do povo de Israel, Ele vem, desde logo, ensinar o caminho oposto – o único
verdadeiro. O reino que vem implantar não vai ser um reino imposto pelas armas, pelo poder,
mas sim pela humildade, um reino de serviço, de Amor.

3. Nossa Senhora ensina-nos a preparar a Festa de Natal

«Bendita és tu entre todas as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre», assim a saúda sua
prima Isabel. E acrescenta «Bem-aventurada aquela que acreditou…» Ela acreditou porque é
humilde. O Senhor «olhou para a humildade de Sua Serva». É ainda a humildade que a leva
a colocar-se ao serviço de Sua prima Isabel. Vai ser esta também a grande lição de Jesus. «Eu
venho ó Deus para fazer a Tua vontade» como escutamos na primeira Leitura.

Humildade, espírito de serviço, amor, são virtudes vividas por Nossa Senhora que
verdadeiramente importa imitar. Com elas viveremos com autenticidade e muita alegria a Festa
de Natal, que se aproxima. Na medida em que cultivarmos estas virtudes essenciais, teremos a
possibilidade de, através da luz da fé, «ver» o rosto humilde, terno, cheio de encanto e de amor
de Jesus Menino que a todos vem salvar. Assim teremos verdadeiro Natal.

170
Roteiros Homiléticos – Sagrada Família – Ano C

Sugestões para a homilia

1. A família, hoje
2. Novas famílias
3. Sagrada Família

1. A família, hoje

Hoje a vida é muito agitada. As pessoas correm dum lugar para outro sem terem tempo para
parar, descansar, rezar e meditar… O nervosismo, a falta de paciência, a angústia roubam a
serenidade, sem a qual não é possível viver em paz.

O lar deve ser o local onde todos se sentem bem, onde todos gostam de estar, onde todos,
quando dele saem, a ele querem voltar novamente.

Quando o marido, cansado, chega a casa e é acolhido com o abraço da esposa, como se sente
feliz e contente!

Quando a esposa, ansiosa, chega a casa e é acolhida com o sorriso do marido, como se sente
feliz e contente! (Segunda Leitura)

Quando os filhos, cheios de sonhos e desencantos, chegam a casa e são acolhidos com o beijo
dos pais, como se sentem felizes e contentes.

Quando os pais, esgotados pelo trabalho, chegam a casa e são acolhidos com a ternura dos
filhos, como se sentem felizes e contentes! (Primeira Leitura)

Quando os avós e outros familiares a viver no mesmo lar vêem chegar a casa aqueles que têm
presentes na memória e no coração, como se sentem felizes e contentes!

Neste início do terceiro milênio vamos todos investir na família. Se a família for feliz, a nossa
sociedade, formada pelas diversas famílias, será melhor. Haverá alegria de viver!

2. Novas famílias

Mas nem todas as famílias são felizes. O ciúme, a intriga, a falta de diálogo, a infidelidade, as
ofensas sem perdão, a ausência do amor causam a destruição de muitas famílias com a violência
doméstica, com a separação, com o divórcio…

Não agravemos mais dramas que se tornam insuportáveis. Como o Bom Pastor saibamos
acolher as pessoas, transmitindo sempre uma palavra de esperança!

Que os rapazes e as raparigas não enveredem por namoros escandalosos, por uniões homossexuais
ou por uniões de facto!

Procurem os jovens preparar-se seriamente para o matrimónio com franqueza e sinceridade para

171
que não venham um dia a aumentar o número das famílias desfeitas mas constituam famílias
ideais, precursoras dum mundo novo.

3. Sagrada Família

Nós, cristãos, contamos com o exemplo e a intercessão da Sagrada Família que hoje celebramos.

José, escolhido para esposo virginal de Maria e pai adoptivo de Jesus, vive com toda a perfeição
a missão que lhe foi confiada, amando-Os como merecem.

Maria, escolhida desde toda a eternidade para ser a Mãe de Jesus, vive a Sua consagração plena,
tornando-se a mais excelsa de todas as criaturas.

Jesus que veio ao Mundo para o salvar, morrendo por nós pregado na Cruz, vive sempre
connosco para nos ajudar, aconselhar, amar e salvar.

Não O troquemos por nada deste mundo! E, se por vezes a dúvida nos assaltar e tivermos
dificuldade em vê-l’O, procuremo-l’O como Maria e José quando O perderam no Templo
(Evangelho). Jesus virá de novo ao nosso encontro e voltaremos a viver felizes.

Jesus, Maria e José, permanecei sempre com os esposos, os pais, os filhos e todos os familiares
para que, imitando-Vos e invocando-Vos, sejam cumulados de bênçãos sem fim!
Sagrada Família de Jesus, Maria e José, abençoai as nossas famílias e as famílias de todo o
Mundo!

Roteiro Homilético – Natal de Nosso Senhor – Missa da Vigília – Ano C

Sugestões para a homilia

1. O Mistério do Natal é um Mistério de Amor.


2. Viver o Natal com Maria e José.
3. O Natal e o Mistério da Eucaristia.

1. O Mistério do Natal é um Mistério de Amor.

É Natal: faz anos que nasceu Jesus, nosso Salvador. «Uma grande luz desceu sobre a terra». O
Filho de Deus fez-se Filho do homem, para que nós, os homens, recebêssemos a graça de ser
filhos de Deus. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a Vida.

Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados!

Cristo Senhor, sem deixar a glória do Pai, faz-se presente entre nós assumindo a natureza
humana. Celebramos o dia feliz em que o Amor de Deus se fez carne e nasceu do seio puríssimo
de uma Mulher, a Virgem Maria. Diante de prodígio tão assombroso, só cabe uma atitude: cair
de joelhos para adorá-Lo, agradecer a Deus tanta bondade, cantar-Lhe um cântico novo pelas
maravilhas do Seu infinito Amor.

O Mistério do Natal é um mistério de Amor. Diz o evangelista S. João: «Deus amou tanto

172
o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigênito… Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para
condenar o mundo, mas para o salvar». É o que repetimos no Credo: «E por nós homens e para
a nossa salvação desceu do Céu».

2. Viver o Natal com Maria e José.

E começa esta novela de amor fazendo-se Menino igual aos demais, na extrema fragilidade
e total dependência de Quem o deu à luz. Vale a pena pensar, nesta quadra natalícia, como
a própria Eucaristia é um mistério de amor de um Deus que se esconde no pão – o «Jesus
escondido» como gostava de chamar-Lhe o Beato Francisco. Tal como em Belém, também hoje
nos nossos Sacrários muitos O adoram e amam, a exemplo de Maria, de S. José e dos pastores,
e muitos também O esquecem e O desprezam, insensíveis à sua presença.

É na Escola de Maria e de José que aprendemos a celebrar o Natal com as melhores disposições,
imitando o seu olhar extasiado quando contemplava o rosto de Jesus recém-nascido e O
estreitava nos seus braços. A Maria foi-lhe pedido para acreditar que Aquele que Ela trouxe no
seu ventre por acção do Espírito Santo era o Filho de Deus. Dando continuidade à fé da Virgem
Mãe, no mistério das Missas de Natal e das outras Missas em que participamos é-nos pedido
para acreditarmos que Aquele mesmo Jesus, Filho de Deus e de Maria, se torna presente nos
sinais do pão e do vinho com todo o seu ser humano e divino.

3. O Natal e o Mistério da Eucaristia

O modo mais perfeito de celebrar o Natal é comungar consciente e responsavelmente o mesmo


Jesus no nosso coração que assim se torna presépio para acolher o Filho de Deus feito Homem,
que se quis dar a todos nós como alimento. Quem dera que o «beijar o Menino», gesto tão
popular e tradicional dos nossos cristãos, nesta quadra do Natal, tenha igualmente a dimensão
de uma fervorosa comunhão espiritual.

É estupendo saber que Deus nos ama.

É verdade! Deus ama-nos! «Deus é Amor e o que vive no amor permanece em Deus e Deus
permanece nele» (1 Jo 4, 16). O cristianismo é uma novela de amor.

A Eucaristia que estamos a celebrar é o prolongamento sacramental do mistério da Encarnação.

Graças à Eucaristia, a eternidade entra no tempo e nós fazemo-nos contemporâneos de Maria,


de São José e dos pastores de Belém. Adoremos o Senhor na sua imagem, beijando o Menino
Deus com devoção, mas adoremo-Lo sobretudo na Eucaristia, onde Ele está vivo, com seu
Corpo, Sangue, Alma e Divindade, feito alimento para as nossas almas. Às palavras do Credo
«E encarnou pelo Espírito Santo…» ajoelhemos todos, como manda a Liturgia do Natal.

173
Roteiro Homilético – Natal de Nosso Senhor – Missa do Dia

Sugestões para a homilia

1) Habitou entre nós

S.João, neste Evangelho, apresenta-nos uma bela e profunda meditação sobre a vinda de Jesus
à terra, que celebramos neste Natal. Veio na humildade do presépio. Veio habitar entre nós.
Na Eucaristia continua a ser o Emanuel – o Deus connosco, anunciado pelo profeta Isaías.
É nosso hóspede em tantos lugares da terra. Podemos visitá-Lo, estar com Ele, adorá-Lo.

Quantas vezes está esquecido em nossas igrejas. Um bispo santo promoveu a Obra dos Sacrários
Calvários, dos sacrários abandonados, que ninguém visita, animando a fazer ali companhia e
desagravar a Jesus.

Que bonito ver, em algumas terras, organizarem-se para que Jesus tenha visitas todos os dias!
Francisco, o pastorinho de Fátima, é exemplo deste amor a Jesus escondido, como ele gostava
de dizer. E como passava horas a fio junto dEle, para O consolar!

2) No princípio era o Verbo

O apóstolo explica-nos que Jesus é o Verbo de Deus, que existe com o Pai desde toda a eternidade.
É Deus de Deus, da mesma natureza que o Pai. É o Filho Unigênito. É a segunda Pessoa da
Santíssima Trindade. Por Ele o Pai criou todas as coisas. E tudo subsiste por Ele.

E, apesar disso, está escondido na Eucaristia. Sem perder nada do Seu poder e da Sua majestade.
Que saibamos adorá-Lo na hóstia consagrada. Interiormente, quando se levanta a hóstia e o
cálice, na Santa Missa.

Que O adoremos exteriormente nas ocasiões sugeridas pela Igreja, como as procissões
eucarísticas, sobretudo a do Corpo de Deus, que temos de viver com fé e entusiasmo. Por esse
mundo fora há terras que primam por este amor a Jesus na hóstia santa com as ruas atapetadas
das mais belas flores, outras com cortejos fluviais em honra de Jesus Sacramentado.

O Sagrado Lausperene procura levar as dioceses a manterem-se em permanente velada em


honra de Jesus na Hóstia consagrada. Que cada paróquia saiba tomar a sério essa honrosa
responsabilidade de acompanhar mais o Senhor.

Aproveitemos também as exposições solenes, ou a tradicional bênção do Santíssimo para


mostrar que temos fé na presença viva de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. São
devoções que a Igreja continua a recomendar e que podem ganhar nova vida. Em Roma, nas
grandes basílicas, encontramos todos os dias o Senhor solenemente exposto nalguma das suas
capelas. E é bonito verificar que há por ali muita gente a rezar. Em muitos outros lugares do
mundo as grandes catedrais estão a copiar esta bela iniciativa.

Aproveitemos ainda para nos examinarmos sobre o respeito e silêncio com que estamos na
igreja. Em casamentos, funerais e baptizados pessoas que se dizem cristãs não sabem ser bem
educadas na casa de Deus. A muitos sacerdotes apetecia pegar nas cordas como Jesus e expulsar

174
essa gente, dizendo-lhes: –esta casa é casa de oração e não covil de ladrões. (Lc 19, 46). Ou ao
menos como um pároco do Norte: -Por favor rezem mais baixo!

Ensinemos as crianças desde pequeninas a visitar Jesus, a entrarem na igreja, a estarem na


missa. E isso é um trabalho sobretudo das boas mães.

3) Falou-nos por Seu Filho

O ecumenismo verdadeiro há-de levar a amar todos os homens, a fomentar o diálogo com todas
as religiões. Mas a Igreja não pode deixar de lembrar que a religião verdadeira é só uma, aquela
que Jesus ensinou e que se encontra na Igreja Católica.

Jesus é o Verbo de Deus, veio falar-nos, como proclamava a 2ª leitura. Deus falou antigamente
pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por Seu Filho.

E o Evangelho dizia que o Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo o homem. E ainda:
a graça e verdade vieram por meio de Jesus Cristo. A Deus nunca ninguém O viu. O Filho
Unigênito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer.

A Igreja e cada um de nós tem de o lembrar a todos à nossa volta. Em primeiro lugar àqueles
que pensam fazer uma religião à sua medida. Depois àqueles que sonham com uma religião tipo
salada russa, a mistura de todas as que existem.

Temos de aceitar plenamente aquilo que Jesus ensinou e continua a ensinar-nos na Sua Igreja,
fundada sobre Pedro e os Apóstolos. O sucessor de Pedro recebeu a missão de transmitir com
autoridade e fidelidade a doutrina de Cristo.

O Evangelho deixava uma queixa sempre atual: a luz brilha nas trevas e as trevas não a
receberam. O Verbo…veio para o que era Seu e os Seus não O receberam (Ev.)

Que saibamos acolher em cada missa a palavra de Jesus. Ele continua a falar-nos. E temos
de levar a Sua mensagem a todos os homens. Era isso que o Papa João Paulo II lembrava aos
dois milhões de jovens, em Agosto do ano 2000.”O Papa acompanha-vos com o seu afecto e
parafraseando uma frase de Santa Catarina de Sena diz-vos: Se sois o que deveis ser pegareis o
fogo ao mundo inteiro”.

E dizia-lhes também: «ao voltar à vossa terra ponde a Eucaristia no centro da vossa vida
pessoal e comunitária: amai-a, adorai-a e celebrai-a sobretudo ao domingo, dia do Senhor…
Sede vós mesmos testemunhas fervorosos da presença de Cristo em nossos altares» (Homilia
20-8-00)

Que A Virgem, que soube ouvir a Palavra de Deus, que acolheu em Si o Verbo de Deus, a
Palavra viva e eterna do Pai, nos ensine a dá-Lo ao mundo que nos rodeia e que vive em tantos
lugares ainda nas trevas do velho ou dum novo paganismo.

175
Roteiro Homilético – Natal de Nosso Senhor – Missa da Aurora (Missa do
Galo) - Ano C

Sugestões para a homilia

1) Vamos a Belém

Vamos procurar Jesus como os pastores, depois da aparição dos anjos.

Encontrá-Lo-emos pela fé, que nos faz descobri-Lo para além das aparências. Também eles não
viram Jesus na Sua divindade. Contemplaram um menino envolvido em paninhos, reclinado
numa manjedoura. Mas tinham fé no que os anjos lhes tinham dito e adoraram-No. E contaram
cheios de alegria o que lhes tinha acontecido.

Temos a Jesus connosco neste momento, mas não podemos contemplá-Lo como é.

Avivemos o desejo de O ver, repitamos o acto de fé do apóstolo que duvidava da ressurreição:


-Meu Senhor e meu Deus (Jo 20, 28).

Que oração tão bela para estes dias de Natal! Ou então aquela de S.Tomás de Aquino: «Adoro-
Te com amor Deus escondido» (Adoro Te de devote, latens Deitas)

Há anos, no Peru, um miúdo estava em risco de não ser admitido à primeira comunhão, pois o
pároco duvidava se ele saberia o suficiente. O bispo, que estava ali, interrogou o rapaz. E, na
igreja, perto do sacrário, perguntou-lhe: -Olha lá, onde é que está Jesus?

O pequeno respondeu apontando para a cruz: -Ali parece que está mas não está. Mais abaixo
parece que não está mas está.

O bispo disse ao pároco: – pode admiti-lo à primeira comunhão sem receio.

Que bela lição na sua simplicidade!

Temos de procurar a Jesus cada dia na Santa Missa, na comunhão, e no sacrário das nossas
igrejas.

Que bom se neste Natal procuramos aumentar a nossa fé na presença de Jesus no Sacrário! E
nos esforçamos por viver em cada domingo o encontro com Ele na Santa Missa!

2) Encontraram Maria e José

Os pastores encontraram a Jesus com Maria e José. A nós hoje acontece o mesmo.

Eles são modelos para nós, pela sua simplicidade e pela sua fé. O Espírito Santo, pela boca de
Isabel, louvou a fé de Maria, feliz porque acreditou (Lc 1, 45). Primeiro na incarnação virginal.
Depois no presépio de Belém. Ela via um menino na sua pequenez humana e não na Sua
natureza divina, escondida também para Ela. Mas era como se visse.

176
Aparentemente aquele menino era como os outros. Chorava, precisava que O amamentasse,
que O vestisse. Dormia tranquilamente no Seu colo. Jesus, perfeito Deus, quis ser também
perfeito homem, em tudo igual a nós excepto no pecado (Heb 4, 15).

Vamos olhar para Jesus Menino, contemplar a Sua Humanidade Santíssima, enamorar-nos dela.
No Sacrário está como em Belém. Podemos falar-Lhe como a um amigo. Melhor, como ao
Amigo com letra grande, o Amigo de verdade.

Quando comungamos temo-Lo em nosso peito. Podemos imaginar como Lhe pegaria a Virgem
e também S. José e imitá-los no carinho, na fé, na confiança, na delicadeza.

Tantos vão comungar sem se confessarem. Sem se preocupar em agradecer a Jesus após a
comunhão. Que pena se alguém vai ao altar apenas porque é moda, ou para dar nas vistas!

3) Meditando-os em Seu Coração

Maria guardava todas aquelas coisas meditando-as em Seu coração. A fé de Maria levava-a a
fazer do dia todo oração, a saber encarar todos os acontecimentos com os olhos de Deus.

A nossa há-de levar-nos a encarar tudo também com olhos diferentes. Não entendemos tudo
o que acontece, mas sabemos que está nas mãos de Deus, que tudo conduz para o bem: tudo
concorre para o bem dos que amam a Deu (Rom 8, 28). É uma das lições do presépio. Desilusões,
alegrias tudo ali se mistura. E a Virgem aparece serena, porque sabe encarar as coisas com os
olhos de Deus, com visão sobrenatural.

Também nós pelo dia fora, temos de imitar Nossa Senhora. Sabermos vir até Jesus no Sacrário,
procurar nEle a serenidade. Vinde a Mim, vós todos que andais sobrecarregados e fatigados e
Eu vos aliviarei (Mt 11,28). Ir a Jesus, ao Amigo que nos espera e pode dar solução a todas as
nossas necessidades.

«Para mim -dizia um sacerdote santo do nosso tempo -o Sacrário foi sempre Betânia, o lugar
tranquilo e aprazível onde está Cristo, onde Lhe podemos contar as nossas preocupações, os
nossos sofrimentos, as nossas aspirações e as nossas alegrias, com a mesma simplicidade e
naturalidade com que aqueles amigos seus, Marta, Maria e Lázaro, lhe falavam» (J.ESCRIVA,
Cristo que passa, 154)

Sabermos falar-Lhe na comunhão, fazendo os nossos pedidos, contando as nossas alegrias e


apresentando os nossos queixumes.

Sabermos oferecer com Ele na Santa Missa os nossos trabalhos e sofrimentos. Ao vir à terra –
diz a Carta aos Hebreus, com palavras dum salmo do Antigo Testamento -Jesus exclama para o
Pai: Eis que venho para fazer a Tua vontade (Heb 10, 7).

Isso foi a vida de Jesus, desde o presépio até ao Calvário, em que se consumou o Seu Sacrifício.
E este torna-se presente na Santa Missa, onde havemos de nos oferecer com Ele. Pondo sobre a
mesa do altar as nossas penas e alegrias.

177
Roteiro Homilético – Natal de Nosso Senhor – Missa da Noite

Sugestões para a homilia

1) Deitou-O numa manjedoura

É muito bonita a festa de Natal. Mas temos de vivê-la em profundidade. E temos de ter cuidado
de não a deixar roubar. Muitos querem apoderar-se dela apenas para fazer negócios.

Podemos também correr o perigo de deixá-la diluir em compras, presentes e reuniões de família
ou ficar só na poesia do presépio.

Jesus fez-se menino. Nasceu, há 2000 anos, na humildade duma gruta. Ele, o Senhor do Céu e
da terra, estava ali como criança inerme, que precisa que lhe façam tudo.

Agora na Eucaristia está de modo parecido, mas ainda mais escondido e mais pequeno e mais
carente dos nossos cuidados.

Um muçulmano dizia uma vez para um católico: -Se soubesse que Jesus era Deus e estava
escondido na hóstia, como vós dizeis, passaria o dia todo prostrado diante dEle.

Ainda bem que O não vemos na Sua grandeza infinita, pois não só estaríamos prostrados, mas
sumir-nos-íamos debaixo da terra. Jesus está escondido para que nos sintamos bem junto dele.

Mas está vivo como em Belém.

2) Uma grande alegria

Com os anjos vamos manifestar também a nossa alegria. Uma alegria que nos vem da fé e que
tem de se renovar em cada Natal.

Abramos os olhos para Jesus na Eucaristia. Vivamos de verdade a Santa Missa. Nela copiamos
dos anjos os seus cânticos de louvor: o Glória, que rezámos há instantes, o Santo, santo, que
vamos repetir daqui a pouco.

Deus mandou os anjos a anunciar aos pastores o Natal de Jesus. Também hoje nos ajudarão a
vós e a mim a adorar ao Senhor, a louvá-LO, a agradecer-Lhe.

Ele disse aos Apóstolos quando vieram ter com Ele nos princípios: «vereis os céus abertos e os
anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem» (Jo 1, 51).

Em Fátima o anjo ensinou aos pastorinhos a adorar e desagravar a Jesus na Eucaristia. Numa
das aparições, em 1916,trazia nas mãos o cálice e a hóstia e, depois de rezar com eles, deu-lhos
a comungar. Para a Jacinta e o Francisco, foi a sua primeira comunhão.

Enchamo-nos de alegria neste dia de Natal, avivando a nossa fé e o nosso amor a Jesus, que
nasce de algum modo de novo no meio de nós, em cada missa. Porque, pela consagração, muda
o pão no Seu Corpo e o vinho no Seu sangue sobre o altar, o mesmo corpo e o mesmo sangue

178
nascidos da Virgem em Belém.

3) Manifestou-se a graça de Deus

Manifestou-se a graça de Deus -dizia o apóstolo. Continua a manifestar-se em cada missa.


Aproveitemos neste Natal a graça que o Senhor nos oferece. Ele vem até nós mais uma vez para
nos encher.

Ele que é cheio de graça e verdade (Ev.3ª misssa). Ele é a fonte, o trono da graça (Heb 4,16).
Da Sua plenitude todos nós recebemos (Ev.3ª missa).

Abastecidos dessa energia, saberemos renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para
vivermos, no tempo presente, com temperança justiça e piedade (2ª leit.). Ele quer que sejamos
um povo purificado, zeloso das boas obras (2ª leit).

E, como os pastores, iremos depois contar aos que nos rodeiam a nossa alegria e contagiá-los
com a nossa fé.

Vamos aprender com Maria e José a acolher a Jesus neste Natal e pedir-lhes que nos alcancem
uma fé grande como a deles há 2000 anos. Para que saibamos tratar com muito carinho a Jesus
na Eucaristia.

Roteiro Homilético – Solenidade da Epifania do Senhor

Sugestões para a homilia

1. A luz de Cristo brilha no rosto da Igreja


2. Jesus Cristo, alegria do mundo
3. Jesus Cristo, luz dos nossos olhos
4. Ajudemo-nos uns aos outros
5. A lição dos Magos
6. Um sentido para a vida
7. Generosidade e espírito de sacrifício
8. Humildade e perseverança
9. As nossas dádivas
10. Docilidade
11. Entraram na casa

1. A luz de Cristo brilha no rosto da Igreja

Isaías dirige a sua profecia à Cidade Santa de Jerusalém, profundamente humilhada e destruída
por Nabucodonosor, rei da Babilónia.

Anuncia que novos tempos vão surgir para a nova Jerusalém, a Igreja e, por isso, deve abandonar
o luto e a tristeza, para se revestir de festa. «Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou
a tua luz e brilha sobre ti glória do Senhor.»

2. Jesus Cristo, alegria do mundo.

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«Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do
Senhor.»

Ele veio trazer-nos a filiação divina que dá sentido a tudo quanto se passa na nossa vida. Em vez
do medo, do pessimismo e da tristeza, podemos cantar com verdadeira alegria, como a criança
que se abandona ao carinho dos pais.

Sabemos que quando pedimos ao Senhor que nos alivie de uma determinada preocupação, e
Ele tarda – segundo nosso modo de ver – a atender-nos, ou procura ajudar-nos a crescer na fé e
na intimidade com Ele, ao fazer-nos rezar mais tempo, ou tem outra coisa melhor para nos dar.
Deixemo-nos ganhar por esta alegria de caminhar ao encontro de Jesus Cristo, principalmente
em cada Domingo, e agradeçamos ao Senhor o facto de o podermos fazer em inteira paz e
liberdade e animados pelo calor de toda a comunidade cristã em que nos encontramos.

3. Jesus Cristo, luz dos nossos olhos.

«Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos.» A doutrina de Jesus Cristo é a chave para
compreender a vida, para encontrar o verdadeiro significado das coisas e dos acontecimentos.
A vinda de Cristo é definitiva e os Seus ensinamentos são imutáveis. Não há os «tempos novos»
de que nos falam alguns, como se a Lei de Deus ou algumas verdades da fé tivessem caído em
desuso.

Deus convida-nos a caminhar ao encontro desta luz que é Ele mesmo, e isto é um mimo do
Senhor e um privilégio para nós. Quantos vivem na escuridão da ignorância, do pecado, porque
perderam a fé!

Esta verdade é ainda mais atual em nossos dias. O Senhor disse: «Bem-aventurados os limpos
de coração, porque verão a Deus.» Sem o coração limpo, vivendo no meio da imundície, a luz
da fé apaga-se. Começa-se por abandonar a oração, a participação na Missa Dominical, e lança-
se mão da bruxaria e superstição para dar algum significado – falso! – à vida.

4. Ajudemo-nos uns aos outros.

«Olha em redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro.» Contra esta corrente de egoísmo,
as pessoa sentem necessidade de serem úteis aos mais carenciados, e assim se desenvolveu
nestes dias o voluntariado.

«Os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas serão trazidas nos braços.» É uma profecia
que nos anima a ajudar os outros a encontrar sentido no que andam a fazer neste mundo, na
defesa da vida.

Há uma cena no Antigo Testamento que nos dá a chave do que está a acontecer hoje. Numerosos
inimigos, numa grande superioridade, vêm combater o Povo de Deus, no tempo dos juízes.

Deus protege o Seu Povo. De repente, apodera-se o medo dos inimigos, e aquele exército
numeroso começa a combater entre si e matam-se uns aos outros. Perante um exército em
que não escapou ninguém, os Israelitas não têm necessidade de combater para se livrarem do
inimigo.

180
Hoje assistimos no mundo a um gesto semelhante. Os que se deixaram dominar pelo demónio,
matam-se uns aos outros, programando a morte a partir já do seio materno, afastam as pessoas
de idade como incómodas.

No final, uma grande solidão e tristeza cobre a terra. Acontece sempre isto, quando as pessoas
vão contra a vontade de Deus.

A Epifania é um hino à luz, à vida, à alegria de viver.

Defendamos a vida e as outras verdades elementares da nossa fé, e tornar-se-á realidade aquilo
que cantamos no salmo de meditação: Virão adorar-vos, Senhor, todos os povos da terra!

5.A lição dos Magos

O Evangelho fala-nos de um grupo de homens valentes que empreenderam uma grande e difícil
viagem para visitarem Jesus no presépio.

Não sabemos quantos eram. A tradição fixou-se em três, fundada nos três presentes que
ofereceram ao Menino: ouro, incenso e mirra. Mas podiam ser muitos mais, de tal modo que
alguns chegam a falar em onze e apontam até o nome de alguns deles.

Nesta deslocação que fazem dão-nos um testemunho de vida que nos anima no meio desta
tentação de desleixo e preguiça.

6. Um sentido para a vida

Não eram pessoas ignorantes, fáceis de iludir. Observavam os astros e o Senhor manifestou-Se-
lhes por um sinal. O Evangelho fala de um astro especial, de uma estrela.

Atentos aos sinais, e talvez porque tinha chegado até eles a promessa da vinda de um Redentor,
puseram-se corajosamente a caminho. Talvez tenham vindo de diversos lados e o encontro entre
eles se tenha dado ali perto. A estrela junto estes homens. A fé – a estrela – reúne-nos a todos
na procura do mesmo Senhor.

7. Generosidade e espírito de sacrifício.

Não estamos perante uma viagem turística, em que as recordações são preferentemente boas.
Foi necessário abandonar a própria casa, empreender uma longa viagem cheia de incertezas e
de insegurança – as quadrilhas de ladrões assaltam, de preferência, as pessoas ou grupos onde
lhes parece que vão encontrar dinheiro e eles pertenciam a este número.

Fazem despesas e submetem-se ao desconforto com que se viajava nessa época.

8. Humildade e perseverança.

Quis o Senhor experimentá-los com uma prova: a estrela deixou de ser vista. Em que direcção
caminhar agora? Não será melhor abandonar este projecto e voltar para trás?
Decidem, então, recolher informações na cidade de Jerusalém. Com o andar das buscas, foram
ter ao palácio real, mais em conformidade com a condição social deles.
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Pode haver momentos na vida em que nos parece que a vida perdeu todo o sentido, que a oração
não tem valor e o esforço para amar a Deus é uma miragem

Quer isto dizer que se ocultou a estrela do nosso ideal. Não nos resta outra solução que a de orar
e pedir ajuda a alguém.

Encontramos essa ajuda num conselho de pessoa com boa formação e bom critério e,
principalmente, na confissão sacramental. Aí poderá ajudar-nos o sacerdote, com a formação
recebida, com a prática que lhe dá o contacto com várias pessoas e, sobretudo, com a graça de
estado, recebida no Sacramento da Ordem.

Por fim, esta tenacidade alcançou-lhes a alegria de se encontrarem com Jesus e Nossa Senhora.

9. As nossas dádivas.

Depois de uma viagem tão longa, de tantos sacrifícios e dúvidas, poderiam estes homens pensar
que já tinham feito por Deus – para se encontrarem com Ele – mais do que o necessário.

No entanto sentem ainda a exigência de serem generosos. Lembramo-nos de agradecer ao


Senhor a possibilidade de participar neste encontro com Ele em cada Domingo na Santa Missa?
Ou não acontecerá que estamos à espera que Deus no-lo agradeça, como se Lhe tivéssemos
feito um grande favor, sempre com uma queixa?

Estes homens ofertam ouro – como Rei –, incenso – como Deus – e mirra – como Homem.
Nós podemos ofertar ao Senhor, na Missa de cada Domingo:

– O ouro do nosso trabalho, feito com esmero, de cara alegre, e na harmonia com todos os que
estão ligados pelo mesmo empreendimento. O nosso trabalho deve ser obra de Deus.

O donativo que depositamos no cesto, quando se recolhem os dons, é um sinal de gratidão.


Damos ao Senhor um pouco daquilo que recebemos pelo nosso trabalho, porque foi Ele quem
nos deu as forças para trabalhar.

– O incenso da nossa oração. Acreditamos na sua eficácia e necessidade, para chegarmos à


intimidade com o Senhor? E praticamo-la todos os dias, individualmente e em família?

– A mirra dos nossos sacrifícios e cruzes de cada dia. Desde o peso do trabalho, às limitações de
saúde, ao feitio das pessoas com quem trabalhamos ou que fazem parte da nossa família, tudo
pode ser aproveitado para o nosso grande ofertório do Domingo.

10. Docilidade

Estes homens mudam os seus projectos de imagem de regresso. Herodes tinha-lhes pedido que
se informassem bem do lugar onde estava Jesus, porque também queria ir adorá-l’O.

Como não o conheciam nem sabiam das suas intenções, um anjo veio avisá-los em sonho, para
que saíssem em segredo e fossem por outro caminho que não passasse em Jerusalém.

E da estalagem onde, certamente, se hospedaram, depois da visita ao Menino, seguiram


182
contentes para suas casas.

Devemos estar atentos ao que O Senhor nos pede, porque será necessário, muitas vezes, mudar
os projectos. A doença de um filho ou de outro familiar comprometeu as férias, ou impossibilitou
um passeio de Domingo, Por que havemos e encarar sempre com má cara aquilo que nos exige
mudar de planos?

11. Entraram na casa

«Entraram na casa, viram o Menino com Sua Mãe e, caindo diante de joelhos, prostraram-se
diante d’Ele e adoraram-n’O.»

Duas coisas chamam a nossa atenção:

– José não estava lá. Logicamente, estaria a trabalhar, ganhando o sustento para a Sagrada
Família.

– Entraram na casa. Jesus e Maria já não estavam na gruta. José não era homem para esperar
que Deus, com milagres, lhe resolvesse os problemas e, por isso, procurou melhorar a situação
da família.

Ora e trabalha, deve ser o nosso lema, levando para a Celebração da Eucaristia de cada Domingo
o nosso ofertório, como resposta ao Senhor que Se nos dá.

Roteiro Homilético – Santa Maria Mãe de Deus

Sugestões para a homilia

1. Mãe de Deus

Na oitava do Natal a Igreja celebra a festa de «Maria, Mãe de Deus».


Acentua-se nas leituras a referência ao «filho de Maria» e «Nome do Senhor» mais do que Maria.
A preponderante atenção sobre o Filho não reduz o papel da Mãe; Maria é totalmente Mãe de Deus
porque esteve em total relação com Cristo; por isso honrando-a, o Filho é mais glorificado.

Assim exprime-se a missão de Maria na história da salvação, que está na base do culto e da devoção
do povo cristão; Maria não recebeu o dom de Deus só para si, mas para levá-lo ao mundo.

2. Mãe do homem

Jesus ou Deus salva introduz-nos em cheio no mistério de Cristo: da encarnação ao nascimento, à


circuncisão, até a realização pascal da morte e ressurreição, Jesus é todo o Seu ser
– perfeita benção de Deus,
– dom de salvação e de paz para os homens,
– em Seu nome somos salvos.

A oferta da salvação vem por Maria e ela a apresenta ao povo de Deus, como outrora aos pastores.
Maria que deu a vida ao Filho de Deus, continua a apresentar aos homens a vida divina.

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Por isso é considerada mãe de cada homem que nasce para a vida de Deus, e mãe de todos.

«Com os orientais também nos honramos «Maria sempre Virgem, solenemente proclamada santíssima
Mãe de Deus pelo Concílio de Éfeso, para que Cristo fosse reconhecido, em sentido verdadeiro e
próprio, Filho de Deus e filho do homem».

3. Viver como filhos de Deus

a) O fato de sermos filhos de Deus faz-nos herdeiros, na esperança de chegarmos a ser algum dia
aquilo que Cristo já é: Filhos, no sentido pleno da palavra. O que Ele é neste momento, constitui para
nós a garantia daquilo que nós seremos.

Inspira-nos confiança para maiores intimidades com Deus, na oração: «Pai Nosso…»

b) Dignidade humana e cristã: Esta nossa nobreza obriga-nos a viver os compromissos do baptismo.
Somos irmãos, temos a mesma fé, recebemos o mesmo baptismo e temos o mesmo Deus como Pai.
Não haja medo de Deus, desconfiança, temor aos Seus castigos, – Ele é justo –, não é nenhum polícia,
mas Pai.

c) Trabalhemos para acabarem as diferenças sociais, sem dar importância à grandeza das famílias,
títulos, riquezas ou cargos; as superioridades de raça, condição social, económica, se revejam
cristãmente;

– aceitação de Cristo pela fé;


– coerência com o nosso novo nascimento pelo batismo, como reforço da nossa:
– dignidade humana e cristã,
– fraternidade universal,
– sentido de confiança em Deus,
– sentido de vivência cristã familiar e comunitária.

Roteiro Homilético – Batismo do Senhor – Ano C

Sugestões para a homilia

1. O «Servo do Senhor».
2. Povo na «expectativa».
3. Vivência do Baptismo.

1. O «Servo do Senhor».

O «Servo do Senhor» apresenta-se como figura muito interessante. Fenómeno de liberdade,


conhecimento, verdade, doação e entrega de vida. Servo sofredor não teme doar a vida, mesmo
que a arranquem de uma forma brutal e desumana.

O seu estilo é de profunda mansidão, paz, comunhão com Deus e com os todos por quem
se faz doação e construção de um mundo novo, livre, de vida, de dignidade humana e de
serena e realizadora comunhão com Deus. O Seu agir é de bênção, de oferta de vida e de plena
humanidade.

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Os primeiros cristãos reconhecem na Pessoa de Jesus Cristo o «Servo do Senhor», sobretudo
a partir do seu mistério pascal, ponto culminante da total doação de vida, amor, liberdade,
comunhão com Deus e com os irmãos, a ponto de suportar todos os seus crimes e pecados.

Este texto escolhido na celebração do Baptismo do Senhor coloca-nos na revelação da Pessoa


de Jesus Cristo e da Sua Missão. Ele é o Filho de Deus a quem o Pai apresentou, consagrou e
ungiu com o Espírito Santo. Ele é Aquele se disponibiliza e se doa numa lógica de entranhável
misericórdia e amor a favor de todos.

O cristão, outro Cristo, escolhido, consagrado e enviado deve sentir o apelo gritante a doar a
vida, sem medo e com dinamismo e novidade.

2. Povo na «expectativa».

O Povo da Aliança esperou, por entre alegrias e dores, entre esperanças e pessimismos, o
Messias. Esperou a intervenção de Deus, na sua história e na sua vida, de uma forma invulgar.
A literatura bíblica e o papel dos profetas foi fundamental para purificar e lançar perspectivas
do verdadeiro Messias.

A resposta de João Batista reflete um pouco essa espera e expectativa. Austero, penitente,
homem de palavra forte e de fogo, não se afasta muito de imagens e palavras de uma certa
violência ao apresentar o Messias, bem diferente das imagens e palavras da 1ª Leitura sobre o
«Servo do Senhor».

A revelação de Jesus Cristo destaca os sinais da sua bondade, paciência, despojamento e doação.
O quadro do seu baptismo aponta a relação Trinitária esclarecedor da Sua condição divina. E
aponta para a audácia de Deus, que mergulha com a humanidade pecadora, na morte de Seu
Filho, mas com Cristo, ressurge homem novo pela água e pelo Espírito Santo.

Em Cristo os céus abrem-se como «Tempo de graça e de misericórdia». Deus está atento, ama
e quer partilhar vida e amor. O Espírito Santo desce em forma de pomba, traduzindo sinais de
ternura, simplicidade, afeto e não com violência ou fogo aterrador. A voz do céu apresenta o
Filho amado, surge voz vital, que jamais deixa de se ouvir como gesto de salvação e de aliança
eterna. Escutar o Pai, sentir o dinamismo do Espírito Santo significa ver o Filho, e aceitá-Lo
como proposta de Vida.

Cristo «orava», como atitude fundamental de escuta e de aceitar a missão. Ele mergulha nas
águas com todo o povo. Faz-se um deles. Põe-se ao lado dos pecadores: não julga, não despreza,
não cria aversão; não assusta.

Seus gestos e palavras são propostas de caminhar connosco no caminho que conduz á vida, à
liberdade, à salvação.

3. Vivência do Batismo.

A celebração de hoje deve fazer-nos vivenciar e comprometer com o nosso baptismo. Pelo
batismo fomos «enxertados» em Cristo e com Ele identificados como sacerdotes, profetas e
Reis.

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O Baptismo é uma realidade dinâmica. Ele cria relações intensas e dinamismos vitais com Deus
e com os irmãos. Além de nos mergulhar na comunhão trinitárias mergulha-nos na comunhão
com toda a Igreja e com a humanidade inteira. E impele-nos a prosseguirmos um caminho
comprometido com o projecto de Jesus Cristo: Caminho, Verdade e Vida.

A vida cristã iniciada no batismo está chamada a crescer até à comunhão plena com Deus e com
os irmãos. Está chamada a ser mistério pascal: total doação a Deus e a todos.

Cada batizado deve revelar os sinais do seu baptismo: viver o projeto de Jesus Cristo como
algo dinâmico. Saber perceber os sinais dos tempos e responder com uma vida de entrega.
Vida orientada na escuta de Deus, sua proposta de amor. Docilidade e empenho para receber a
ternura e o afecto do Espírito de Deus e traduzir na relação com os irmãos o verdadeiro afecto
de Deus. Consciência da fragilidade e a ousadia da conversão no mergulho do sacramento da
reconciliação: segundo santo Agostinho. Projeto de santidade no amor ao mundo, às pessoas,
à vida e a tudo o que faz parte do humano. Portadores da esperança, da misericórdia, da vida e
da paz.

Maria de Nazaré, discípula predileta de Seu Filho, referência de cada discípulo está disponível
para nos fazer cristãos segundo o projeto de Deus

Roteiro Homilético – II Domingo do Tempo Comum – Ano C

Sugestões para a homilia

Relação entre Deus e o Seu povo

O amor entre esposo e esposa é um dos mais belos. Deus trata o seu povo como o Esposo trata
a esposa.

Mas a esposa foi-Lhe infiel muitas vezes.

Deus não abandonou a esposa mas procurou corrigi-la. Um dos correctivos foi o exílio da
Babilónia.

Isaías, no texto de hoje trata a esposa com estes termos: «Abandonada», «Deserta».

O mesmo Isaías muda de tom, dizendo: «Os povos hão-de ver a tua justiça, todos os reis a tua
glória». E continua: «Receberás um nome novo, chamar-te-ão «Predilecta» e «Desposada».
Vejamos o último desabafo: «Como a esposa é a alegria do marido tu serás a alegria do teu
Deus».

Qual a lição a tirar daqui?

O que aconteceu a Jerusalém, pode acontecer Igreja de Jesus Cristo e a cada um de nós.
Através do pecado mortal cortamos a nossa relação com o Deus (Esposo). Que fazer? Confiar
na misericórdia do Esposo. Fazer penitência, pedir perdão, o Esposo ajuda-nos a recuperar o
estatuto de esposa.

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Os Dons do Espírito Santo

Para não trairmos o Esposo recebemos muitas graças e hoje, na Segunda Leitura, fala-se dos
Dons do Espírito Santo, de outros ministérios, do poder de curar, de fazer milagres, etc.
Não pensemos que tudo isto é apenas literatura bíblica. Os dons do Espírito Santo não podem
estar esquecidos. Devemos cultivá-los. Os cristãos de hoje devem conhecer todos os meios que
Deus coloca à sua disposição para trilharem os caminhos da santidade. Isto vale sobretudo para
os casais, para as Famílias. Os Dons do Espírito Santo são dados para que cada um melhor sirva
os irmãos.

Cristo nas Bodas de Caná

No tempo de Jesus, Israel está à espera do Reino de Deus, o reino que os profetas tinham
descrito como um banquete preparado com comidas suculentas e vinhos excelentes (Is 25, 6).
Este anda triste. Porquê? O seu relacionamento com Deus já não é de uma esposa, que se sente
feliz por poder desfrutar da ternura do Esposo.

À sua volta são muitas as exigências mas a desordem é bem maior. Quase como nos dias de
hoje. As pessoas vivem tristes e inseguras.

Mas nas bodas de Caná algo surge de novo. Jesus e a Virgem Maria, assim nos relata o Evangelho
de São João, estavam presentes. A dado momento consta que falta o vinho. Nossa Senhora, na
Sua delicadeza pede a Jesus uma solução.

As palavras de Jesus: «Ainda não chegou a minha hora» merecem um comentário. Como teria
de ser longe, não o fazemos.

Jesus, apesar de tudo, manda encher seis talhas de água e transforma a água em vinho.
Este é o primeiro milagre de Jesus e com estas consequências: «Jesus manifestaram n’Ele». Isto
foi o mais importante.

Mas este milagre realizou-se numas bodas de casamento e não será descabido dizer que Jesus
quis também sublinhar com este milagre à importância do casamento e da Família.

Roteiro Homilético – IV Domingo do Tempo Comum – Ano C

Sugestões para a homilia

1. Um caminho de perfeição
2. Segui a caridade

1. Um caminho de perfeição

Vou mostrar-vos um caminho de perfeição que ultrapassa tudo: A Caridade. A caridade! Diz S.
Paulo. Não, a boa ação do dia, para sossego da consciência. Não este ou aquele gesto benfazejo,
para publicidade do coração. Não esta ou aquela piedade, que só de momento, nos dá a
consolação de nos sentirmos solidários com os outros. A Caridade não se reduz a nenhum gesto,
nem se mede por nenhum acto. Porque ela (a caridade) é o Amor, o amor de Deus vivo em nós.

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O Amor que impele ao amor. O Amor, maior que o afecto, porque é Dom. O amor maior do que
o sentimento, porque é graça. O amor mais rico do que a nossa pobreza, porque é gratuito. É o
amor de Deus derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi dado. É, por isso,
um amor, que está acima da nossa capacidade, que está em nós, mas não vem de nós. Tem em
Deus Pai a sua fonte, em Cristo o seu rosto, no Espírito a sua medida. Se amamos, se fazemos
o bem, é Deus, o amor de Deus vivo em nós, a tornar possível o nosso amor.

2. Segui a caridade

«Irmãos, segui a caridade (…) É ela que dá resistência nas adversidades, moderação na
prosperidade; é forte nas provas difíceis, alegre nas boas obras; seguríssima nas tentações,
larguíssima na hospitalidade… (…) Na caridade, a felicidade do outro não oprime, porque
desconhece a inveja. Na caridade, a felicidade própria não incha, porque não se ensoberbece.
Na caridade, a má consciência não magoa, porque não faz o mal. (…) Faz o bem no meio
do ódio; mantém-se serena perante a ira, inocente no meio das maquinações; geme no meio
da iniquidade, respira na verdade… Justamente, portanto, nunca desfalece. Por isso segui a
caridade» (S. Agostinho, Sermão 350, 2-3). Sem a caridade, não sou!

Que neste Ano Sacerdotal, contemplando a vida e o zelo apostólico de São João Maria Vianney,
uma imagem vivente e uma personificação da caridade pastoral, possamos ser, como ele,
construtores da «civilização do amor». Oremos também fervorosamente pelos sacerdotes, pela
sua santificação e para que sejam sempre profetas do mandamento novo.

Roteiro Homilético – V Domingo do Tempo Comum – Ano C

Sugestões para a homilia

1. Na presença dos Anjos, eu vos louvarei, Senhor.


2. «Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca».
3. Necessidade e urgência de seguir o conselho de Jesus: «Faz-te ao largo e lança as redes
para a pesca».

1. Na presença dos Anjos, eu vos louvarei, Senhor.

É esta a grande meta da nossa vida: chegarmos à felicidade eterna, para, na presença dos Anjos,
louvarmos o Senhor. Foi para isso que Ele, nosso Pai, um dia nos chamou à vida. Para atingirmos
este objectivo, é necessário que agora sigamos pelos caminhos que conduzem a tal felicidade, é
necessário que estejamos convertidos, voltados para o Senhor. Para a realização universal desta
maravilhosa empresa, a maior que cada um tem entre mãos executar, o Senhor quer precisar da
nossa colaboração.

2. «Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca».

A ordem dada por Jesus do barco de Pedro: «Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca»,
é uma ordem que dá também, a cada um de nós. A esta ação pedida pelo Senhor, chamamos
apostolado e dele dependerá, em grande parte, a salvação de muitos irmãos.

Pedro, confiante no Senhor, realiza uma pesca abundantíssima, maravilhosa. Para que sejamos

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instrumentos válidos nas mãos de Deus, uma condição se impõe, que escutemos e sigamos, com
generosidade, a Palavra do Senhor. Poderá porventura essa Palavra não estar conforme os nossos
planos. Para Pedro, conhecedor da atividade piscatória, também parecia um disparate pescar
aquela hora do dia e depois de uma noite já o ter feito em vão. Mas obedece, e a pesca torna-se
maravilhosa e abundante. Como andamos enganados quando resolvemos atuar baseados apenas
nos nossos conhecimentos! Importa, antes de tudo, obedecer à Palavra de Deus. Com ela todas
as nossas fragilidades serão superadas.

Isaías sente-se com lábios impuros e Paulo considera-se como um aborto. Mas, com a graça de
Deus, tornam-se protagonistas de pescas abundantíssimas.

3. Necessidade e urgência de seguir o conselho de Jesus: «Faz-te ao largo e lança as redes para
a pesca».

São demasiado alterosas as vagas do mar da vida em que nos encontramos: guerras, actos
terroristas, violências, imoralidades e divulgação de tantas doutrinas e orientações perniciosas.
Muitos irmãos correm assim o risco de se perderem, esmagados por essas vagas. Suas vidas
pedem o nosso auxílio. Perante tais ameaças, não podemos cruzar os braços, ficar indiferentes
ou porventura ter medo.

Fieis à Palavra de Deus e às orientações da Santa Igreja venceremos. Importa abrir os nossos
corações a Cristo, como nos pediu e deu exemplo o Papa João Paulo II. Com Ele, as estruturas
do mal, em todos os campos serão vencidas.

A Família, está particularmente a ser alvo de grandes crimes, havendo mesmo ameaças da
sua destruição. Os prevaricadores de tais iniciativas diabólicas, se pedirem perdão ao Senhor,
arrependendo-se com o necessário propósito de emenda, sempre encontrarão a misericórdia
infinita de Deus que lhes perdoará. O mesmo já não acontece em relação à natureza, pois esta
nunca perdoa. Quantas doenças, algumas das quais mesmo incuráveis, como a SIDA, que
surgiram e se divulgam, na quase totalidade dos casos, na sequência desses desvarios contra a
mesma natureza! Como é dramático haver quem queira legalizar e mesmo facilitar meios que
conduzem a tais desgraças!

Tenhamos fé, essas estruturas diabólicas serão vencidas. Para que tal se verifique, é necessário
que nos alimentemos com a sempre necessária oração e confiemos na Palavra de Deus, que a
Santa Igreja, tão insistentemente, proclama. Este apostolado é urgente para devolver a verdadeira
liberdade aos homens, libertando-os da escravatura do pecado. Livres, poderão prosseguir a
caminhada da vida, com serenidade, saúde e alegria e assim virem a louvar eternamente o
Senhor que os criou.

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Roteiro Homilético – I Domingo da Quaresma – Ano C

Sugestões para a homilia

1. As tentações de Jesus
2. As nossas tentações
3. As ajudas de Deus

1. As tentações de Jesus

Todos os anos, no primeiro domingo da Quaresma, somos levados a refletir nas tentações de
Jesus. Ora, é conveniente que nos consciencializemos que Jesus foi posto à prova não com
três, mas com toda a espécie de tentação, como se pode depreender do texto evangélico. Não
são três episódios isolados da vida de Jesus que Lucas nos apresenta, mas três «parábolas» em
que, através de imagens e citações bíblicas, o autor afirma que Jesus foi tentado, em todos os
momentos da sua vida terrena, em tudo como nós, com a única diferença: nunca foi vencido
pelo pecado.

Ele teve dúvidas como nós, encontrou dificuldades para realizar a sua missão, só progressivamente
foi descobrindo o desígnio do Pai.

Então, analisemos as três tentações:

A primeira: «Manda a esta pedra que se transforme em pão».

Jesus iniciou a sua vida pública sem se manter à distância dos homens do seu tempo. Assim:
batizou-Se como os pecadores, confundiu-Se com eles, escolheu fazer o mesmo caminho que
nos leva à salvação. Ele foi tentado durante toda a sua vida a servir-Se do poder divino para
fugir às dificuldades que os homens comuns encontram: fome, doença, cansaço, estudar para
aprender, susceptibilidade de ser enganado, curvado a desgraças, perseguido por injustiças…
Mas não, sofreu tudo isso como qualquer homem.

Ele poderia dispensar-Se de tais dificuldades. Por isso o demónio O convida a utilizar o seu
poder divino para o fazer. Propõe-Lhe que não exagere na sua identificação com os homens e
sugere que use milagres em seu próprio favor, inclusivamente quando foi incitado a descer da
cruz. Perante os homens seria um vencedor, mas um vencido perante Deus. Se Jesus o tivesse
atendido, não teria sido realmente homem, teria unicamente fugido. Jesus usou, sim, o próprio
poder para fazer milagres, nunca para Si, mas sempre para os outros.

A segunda tentação: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos…».

Os homens consideram pessoa de sucesso aquele que predomina sobre os outros, o que se faz
respeitar mesmo à força, quem levanta a voz e faz tremer quem o ouve. Ora, durante a sua vida
Jesus foi tentado, como nós, a moldar-Se a esta maneira diabólica de pensar. A proposta de
Jesus é contrária a esta, Ele diz que grande é aquele que serve, o que se ajoelha diante do irmão
mais pobre para lhe lavar os pés.

A terceira tentação: «Atira-Te daqui abaixo…».

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São astúcias do reino do mal um rosto atraente, assumir um ar devoto, servir-se da própria
palavra de Deus distorcida para seduzir as pessoas. O maior objetivo do maligno é corroer
pela base o relacionamento com Deus. Consegue-o alcançar quando incita no pensamento do
homem a dúvida se o Senhor manterá ou não as suas promessas, a sua proteção, e depois que
abandone quem depositou n’Ele a sua confiança. Então, nasce a necessidade de ter provas.
Assim aconteceu com os judeus no deserto, aquando da fuga do Egipto. Eles provocaram a
Deus pedindo um sinal de que o Senhor estava no meio deles.

Jesus não cedeu a esta tentação. Nos momentos mais difíceis e dramáticos, mesmo no alto da
cruz, sempre se recusou a pedir uma prova do amor do Pai.

2. As nossas tentações

A primeira tentação acontece connosco como um convite a fecharmo-nos egoisticamente sobre


nós próprios e, para satisfazermos os próprios caprichos, não queremos ajudar os irmãos;
quando nos convencemos de que cada um se deve desembaraçar como puder, sempre que
pensamos no próprio benefício olvidando os demais; como diabólica é a utilização egoísta
dos bens deste mundo, o acumular apenas para si, o viver à custa dos outros, o dar-se a todas
as formas de prazer e divertimento, o esbanjar o dinheiro em coisas inúteis, enquanto a muitos
falta o essencial.

As realidades deste mundo não devem ser desaproveitadas nem aniquiladas, eliminadas ou
recusadas, mas também não podem ser idolatradas.

Caímos facilmente na segunda tentação quando fazemos opções contrárias às de Cristo: sempre
que pretendemos dominar em vez de servir, somos inflexíveis e não solidários, só mandamos e
não servimos. Isto passa-se em todas as experiências da nossa vida: quem é culto, quem atingiu
uma posição de importância ou é tentado a achincalhar quem é menos favorecido ou pode
ajudar a prosperar quem teve menos sorte; quem detém o poder, ou é rico, pode ser tentado
a usar estilos hostis em relação aos que dele dependem ou então pode pôr-se ao seu serviço;
o marido pode ser tentado a proceder como um dono em relação à esposa ou então procurará
possibilitar ao máximo a felicidade dela; o jovem abusador da namorada, tornando-a simples
instrumento de prazer ou então pode respeitá-la e ajudá-la a expressar o melhor de si mesma;
os que se aliam com quem acumulam dinheiro sem escrúpulos ou se apoiam em quem detém o
poder político. Por vezes cedemos a esta tentação sem nos apercebermos.

A terceira tentação apresenta-se-nos quando nos sentimos amados por Deus se as coisas nos
correm bem. Se, porventura, nos advém uma doença, uma desgraça, somos capazes de duvidar
e perguntarmo-nos se Deus nos ama ou não. Se Ele se interessa por nós ou se nos esqueceu. E
então, provavelmente, queremos exigir de Deus um milagre para resolver as dificuldades. Se tal
não acontece somos capazes de nos revoltar, pedimos «provas» e a nossa fé arrisca-se a desabar.
Muitos afastam-se da Igreja e aderem a seitas que prometem curas milagrosas, para tentarem
conseguir aquilo que não obtiveram do Deus dos cristãos.

A nossa confiança em Deus deve ser adoptada com a vida e formulada com palavras, como
fizeram os israelitas, tal como ouvimos na primeira leitura. Deus ama os homens e sempre os
ajuda conduzindo-os pelo caminho da vida.

3. As ajudas de Deus
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Com a oferta das primícias, os israelitas reconheciam que a vida deles dependia completamente
da generosidade de Deus para com eles. Elas eram acompanhadas da profissão de fé de cada
ofertante. Tais oferendas eram depois distribuídas pelos mais pobres: os levitas, os estrangeiros,
os órfãos e as viúvas.

O texto do Deuteronômio recorda-nos que não basta a profissão de fé, não são suficientes os
ritos, os cânticos e as bonitas palavras; é preciso, como resultado das nossas orações, a presença
e a satisfação dos pobres quando se sentem saciados.

A segunda leitura também insiste na obrigação de fazer a profissão de fé. O cristão, diz Paulo,
deve proclamar de duas maneiras a fé em Deus, que veio ao encontro do homem em seu Filho
Jesus Cristo: «com o coração», isto é, com a vida inteiramente nova; e com «a boca» porque
o credo dito conjuntamente com os irmãos faculta a união da própria voz à dos demais. Quem
expressar a sua fé mediante sinais, gestos e palavras, sente-se inflamado para seguir a Cristo,
mas também para demolir todos os muros que se levantam devido à origem, ao clã, à opulência,
à condição social ou ao cunho de cada um.

Assim nos consigamos sentir e realmente mostrar irmãos e iguais em dignidade.

Roteiro Homilético – II Domingo da Quaresma – Ano C

Sugestões para a homilia

1. A nossa pátria está nos Céus.


2. Jesus Cristo é a nossa esperança.

1. A nossa pátria está nos Céus.

Contemplamos, neste 2º Domingo da Quaresma, a manifestação da glória divina de Jesus


Cristo, Filho muito amado do Pai, a três dos seus discípulos, no alto do Monte Tabor. Desde o
momento em que foi concebido no ventre puríssimo de Maria, por obra do Espírito Santo, a sua
Divindade estava oculta na sua Humanidade. O Senhor quis manifestar, por uns momentos, o
esplendor da sua glória, para animar os seus discípulos a seguir com firmeza o caminho difícil e
áspero da sua Paixão e Morte e mover-nos ao desejo da glória divina, que nos será dada também
a nós. As circunstâncias da Transfiguração do Senhor, imediatamente após o anúncio da sua
Paixão e de que também os seus discípulos teria de abraçar a cruz, ajudam-nos a compreender
que «a nossa Pátria está nos Céus» (2ª leitura) e que «os sofrimentos do tempo presente não
são comparáveis com a glória futura que se há-de manifestar em nós» (Rom. 8, 18) e que «se
sofremos com Cristo, com Ele seremos também glorificados» (Rom. 8, 16-17).
A Transfiguração do Senhor é, pois, um sinal e uma antecipação não só da glorificação de Cristo
na sua Ressurreição, mas também da nossa própria glorificação, quando formos revestidos do
fulgor da glória de Deus e «o nosso corpo miserável se tornar semelhante ao Corpo glorioso de
Jesus» (2º leitura).
2. Jesus Cristo é a nossa esperança.
Toda a Quaresma é uma ocasião privilegiada para participar das graças da salvação: «é um
tempo favorável, é o dia da Salvação». Somos todos convidados à conversão e ao aumento da
esperança na ação da graça divina: Cristo destruiu a morte e fez brilhar a vida e a imortalidade.
Pelo seu Sacrifício renovado nos nossos altares, Ele «lava os nossos pecados» (Oração sobre

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os dons) e «purifica o nosso olhar espiritual com o alimento interior da sua Palavra» (Colecta),
conduzindo-nos para a visão da sua glória. Coragem, pois! Tenhamos esperança no Senhor!
Coração firme! Cristo é a nossa esperança!

Escutemos o Senhor na Sua Palavra, conservada na Sagrada Escritura. Escutemos o Senhor nos
próprios acontecimentos da nossa vida. Escutemos o Senhor nos nossos irmãos, em especial
nos pobres e nos pequeninos. Escutemos Cristo e obedeçamos aos seus apelos. Não fechemos
os nossos corações. Enquanto vivemos na terra, o nosso relacionamento com Deus realiza-se
mais na escuta que na visão.

Peçamos a intercessão da Virgem Maria e procuremos fazer como ela, que caminhava dia após
dia na peregrinação da fé (Cfr. Lúmen Gentium, 58), conservando e meditando constantemente
a Palavra que Deus lhe dirigia.

Roteiro Homilético – III Domingo da Quaresma – Ano C

Sugestões para a homilia

1. Duas falsas imagens


2. Duas atitudes de mudança

1. Duas falsas imagens

Duas tragédias faziam a notícia da época. A Jesus acorrem alguns para dar conta do sucedido.
O castigo não podia ser mais cruel. E a decisão de Pilatos mais polémica. Vêm então a Jesus,
para uma opinião. Mas Jesus percebendo-lhes a astúcia e a presunção, aproveita estes sinais
para lançar à cara e de caras e mais uma vez um apelo à conversão: «se não vos converterdes,
morrereis todos do mesmo modo».

E isto por uma razão muito simples. É que aqueles que lhe dão a notícia iam convencidos de
duas coisas: que o castigo era divino e era a paga pelo pecado alheio. No fundo, está em causa
uma falsa imagem de Deus e uma falsa imagem de si próprios. Falsa imagem de Deus, porque o
imaginavam vingativo, impaciente, impiedoso e implacável. Ao pecado do homem suceder-se-
ia a vingança e castigo de Deus. Falsa imagem de si próprios porque lá no fundo se tinham por
mais justos e mais santos, só pelo facto de não terem sido eles os atingidos por tais tragédias.
Jesus corrige uma e outra imagem. E começa por abalar esta «presunção» de superioridade
moral sobre os outros, lembrando que as vítimas não eram nem mais culpados nem mais
pecadores. Mas que todos e também eles estivessem «alerta», atentos a todos os sinais, que se
«pusessem à tabela» porque se não se arrependessem morreriam de maneira semelhante. Quer
dizer, ninguém diga que está bem, porque ninguém está livre nem seguro e muito menos isento
de pecado. S. Paulo, contra esta presunção de que está tudo garantido, de que são os outros que
estão em pecado e é aos outros que cabe arrepender-se, acaba por dizer: «quem se julga de pé
tenha cuidado para não cair». Quer dizer, o homem nunca está convertido e quando se julgar
feito e perfeito, está perto do podre e a será fatal a sua queda…

2. Duas atitudes de mudança

Mas Jesus vai mais longe. E com a parábola da figueira, revela a verdadeira imagem de Deus.

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Um Deus clemente e cheio de compaixão, que dá ao homem o tempo para que se converta.
Está presente neste texto a enorme paciência de Deus. Há ainda e sempre uma oportunidade. E
antes que seja tarde, devemo-la aproveitar. A longanimidade de Deus é um apelo permanente à
conversão. Cá estão duas atitudes importantes para a nossa conversão quaresmal:

1. Descobrir Deus como Deus. Ao revelar a Moisés o mistério do seu Ser, Deus manifesta-se
como Alguém que caminha ao nosso ritmo e sabe esperar por nós. Quem não descobrir este
Deus nunca perceberá a necessidade de mudar, de se voltar para Ele.

2. Assumir a nossa parte de responsabilidade nos males deste tempo. E estes males revelam que
todos temos muita coisa a mudar: os critérios de julgar, as formas de ser, os modos de agir. E
mudar em coisas muito simples e concretas…e isto é para mim! Ver bem: converter-se em quê,
de quê, a quem, como e agora…»

Isto de pensar que a conversão é para os outros, que nós estamos «sãos e salvos», sem culpa
nem pecado, além de uma enorme falta de verdade é uma ousada presunção. «E presunção e
água benta cada um toma a que quer». S. Paulo diz de maneira mais elegante a mesma coisa:
«quem julga estar de pé tenha cuidado para não cair»!

Roteiro Homilético – IV Domingo da Quaresma – Ano C

Sugestões para a homilia

1. Conversão
2. O filho pródigo
3. Reconciliação

1. Conversão

Na primeira leitura recordamos a ação maravilhosa de Deus, cumprindo as promessas feitas


aos antigos Patriarcas: «dar-vos-ei uma terra onde corre leite e mel». Passados muitos séculos,
Deus liberta o seu povo da escravidão do Egipto e entrega-lhes a Terra Prometida. No texto de
hoje vemos os israelitas, que depois de uma longa permanência de quarenta anos no deserto,
atravessam o rio Jordão e entram na terra da Promessa. Entretanto, aproximava-se a celebração
da Páscoa; considerando que só os circuncidados a podiam celebrar (cf. Ex 12,44.48), Josué
mandou circuncidar todos os que tinham nascido no deserto e todos os estrangeiros, para que
todos fizessem parte do Povo eleito! A circuncisão era um sinal da aliança estabelecida por
Deus com Abraão. O rito levado a cabo por Josué era também uma espécie de «conversão»
colectiva: assinalava um «tempo novo», uma vida nova depois do «opróbrio do Egito», isto é,
depois da escravidão.

Somos convidados, neste tempo de Quaresma, a fazer uma experiência semelhante à dos
israelitas: é preciso pôr fim à etapa da escravidão do pecado e passar, decididamente, à vida nova,
à vida da liberdade. É preciso renascer! Os profetas tinham falado da «circuncisão do coração»
como uma verdadeira transformação interior chamada «conversão», pela qual aderimos a Deus
e às suas propostas. O que é preciso «cortar» na minha vida para iniciar uma nova etapa? O
que é que ainda me impede de celebrar um verdadeiro compromisso com Deus? Como estou a
preparar a celebração da Páscoa?

194
2. O filho pródigo

Com três parábolas, S. Lucas dedica o capítulo 15 do seu evangelho ao ensinamento de Jesus
sobre a misericórdia divina. O ponto de partida para a parábola que escutamos é a murmuração
dos fariseus e dos escribas que se escandalizavam com as atitudes de Jesus: «este homem
acolhe os pecadores e come com eles». Para os judeus, os pecadores não podiam aproximar-se
de Deus. Por isso, concluíam, dizendo que Jesus não podia vir de Deus. É neste contexto que
Jesus conta a chamada «parábola do filho pródigo».

A personagem central é o pai. Jesus fala desse pai como alguém que respeita as decisões e a
liberdade dos filhos, revelando um amor sem limites. Esse amor manifesta-se na emoção com
que abraça o filho mais novo, que volta a casa, depois de uma amarga e dolorosa experiência,
que o levou a passar «fome» e a passar grandes «privações». É um amor que permanece
inalterado, apesar da rebeldia e da infidelidade do filho. Este grande amor do pai revela-se na
entrega do «anel» que é símbolo da autoridade (Gen 41,42) e da pertença à família. Entrega-lhe
as sandálias, o calçado próprio das pessoas livres. Este Pai é um retrato perfeito, do nosso Pai
celeste, um Deus paciente, acolhedor, cheio de misericórdia para conosco.

O filho mais novo. É um filho rebelde, que exige muito mais do que aquilo a que tinha direito
(a lei previa que o filho mais novo recebesse apenas um terço da fortuna do pai)[1]. Além disso,
abandona a casa e dissipa todos esses bens «com mulheres de má vida». Apesar de tudo, algum
tempo depois, acaba por cair no desespero provocado por uma vida de extrema pobreza, quase
«a morrer de fome»; arrepende-se e decide regressar à casa paterna. Este filho mais novo é uma
imagem de todos nós, quando nos deixamos conduzir pelo pecado e exprime o itinerário do
pecador, que, pela penitência, regressa à comunhão com Deus

O filho mais velho sempre fez o que o pai mandou, «sem nunca transgredir uma ordem sua»;
nunca pensou em deixar esse espaço cómodo e acolhedor, que é a casa paterna. Contudo, não
aceita que o pai acolha o filho rebelde. Não entende a lógica do pai, que faz uma festa para
receber «esse irmão», que gastou tudo. Este filho mais velho é a imagem dos fariseus e escribas
que interpelaram Jesus. «Consideravam-se justos, mas desprezavam os demais.»
Esta «parábola do pai misericordioso» apresentar-nos Deus como um Pai bondoso, que respeita
as nossas decisões, mesmo quando usamos mal a liberdade, procurando a felicidade em
caminhos errados. Quando nos reencontra, os seus braços estão abertos para nos acolher.
Irmãos, imitemos a misericórdia divina e deixemo-nos orientar por esta dinâmica amorosa:
Sejamos misericordiosos à semelhança de Deus, nosso Pai.

3. Reconciliação

Reconciliação é palavra-chave da segunda leitura. Aparece repetida cinco vezes: reconciliação


entre os Coríntios e Paulo e reconciliação entre os Coríntios e Deus. Esta chamada serve para
os cristãos de todos os tempos: os homens têm necessidade de viver em paz uns com os outros;
mas dificilmente o conseguirão, se não viverem em paz com Deus. Reconciliemo-nos com
Deus.

«Em Cristo», Deus ofereceu a todos os homens a reconciliação. Paulo fez-se «embaixador» e
arauto desta reconciliação e aponta a eficácia reconciliadora da morte de Cristo: pela cruz, Deus
arrancou-nos do domínio do pecado e transformou-nos em homens novos.

195
Para refletir: apesar das nossas infidelidades, Deus continua a oferecer-nos o Seu amor. Como
é que respondemos a essa oferta divina? Com uma vida de obediência aos seus mandamentos,
ou com egoísmo e auto-suficiência? É «em Cristo» que somos reconciliados com Deus. Jesus
crucificado ensinou-nos a obediência filial ao Pai e o amor total aos homens. É desta forma que
procuramos viver? A comunhão com Deus exige a reconciliação com os irmãos. Como nos
situamos face a esta obrigatoriedade de reconciliação com os que nos rodeiam?

Roteiro Homilético – V Domingo da Quaresma – Ano C

Sugestões para a homilia

1. Vai e não tornes a pecar


2. Continuo a correr
3. Considerei tudo como lixo

1. Vai e não tornes a pecar


O evangelho de hoje continua a lembrar-nos a misericórdia de Jesus, sempre pronto a perdoar.
Mesmo que alguém tivesse cometido os maiores crimes do mundo, tem ainda aberto o coração
de Cristo, que nos lava no Seu sangue, que nos limpa de todo o pecado.

A nossa reconciliação com Deus passa pelo sacramento da reconciliação. Ao instituí-lo, em


dia de Páscoa, Jesus diz aos apóstolos: «àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão
perdoados. Àqueles a quem os retiverdes serão retidos» (Jo 20, 23). Jesus concede-lhes esse
poder e ensina que só neste sacramento dará o perdão. Por isso pensam erradamente os que
afirmam que se confessam directamente a Deus. Ele, que é o ofendido, é que põe as condições
e não quem O ofendeu, que somos nós.

Temos de estimar muito este sacramento maravilhoso. É o sacramento da alegria, que nos tira de
cima das costas o peso dos nossos pecados. Robert de Niro, cineasta americano, numa das suas
películas, relata a sua história de menino num dos bairros mais pobres de Nova Iorque, o Bronx.
O pequeno personagem de nove anos tinha visto um assassinato mas não contou à polícia que o
interrogara. Para tirar aquele peso das costas foi à igreja confessar-se. Juntamente com as suas
traquinices referiu aquela situação sem revelar nomes. O sacerdote deu-lhe a absolvição e uns
Pai-nossos de penitência. E o cineasta faz, em voz de fundo, este comentário: – que maravilha
ser católico, porque, graças à confissão, podes partir sempre do zero.

Na confissão podemos sempre começar uma vida nova e ser nova criatura, de que falava S.Paulo.
Temos de animar os sacerdotes para este ministério tão importante, hoje que se vêem tão
absorvidos por muitos trabalhos. João Paulo II, no seu livro Dom e mistério, por ocasião dos seus
cinquenta anos de sacerdote, conta a sua visita a Ars, em França, quando era jovem sacerdote,
em fins de 1947.Emocionou-se ao visitar a igreja onde o santo Cura d’Ars confessara: «S.João
Maria Vianney impressiona – refere o papa – sobretudo porque nele se revela a força da graça
que age na pobreza de meios humanos. Tocava-me profundamente, de modo particular, o seu
heróico serviço no confessionário. Aquele humilde sacerdote, que confessava mais de dez horas
por dia, alimentando-se pouco e dedicando ao descanso apenas umas horas, tinha conseguido
num período histórico difícil, suscitar uma espécie de revolução espiritual em França e não só.
Milhares de pessoas passavam por Ars e ajoelhavam-se no seu confessionário

196
…Do encontro com a sua figura nasceu-me a convicção de que o sacerdote realiza uma parte
essencial da sua missão através do confessionário, através daquele fazer-se «prisioneiro do
confessionário» [Dom e mistério (Lisboa 1996) p.66].

Na cena da mulher adúltera que escutamos, o Senhor perdoa-lhe mas lembra: Vai e não tornes
a pecar. Um elemento próprio do arrependimento e uma das suas manifestações é o propósito
de emenda. Embora saibamos que podemos voltar a cair, estamos dispostos a lutar seriamente
para evitar todo o pecado
.
Temos de pedir ao Senhor a graça duma verdadeira contrição com o propósito decidido de
evitar o pecado. Pode ser a forma de fazermos melhor a nossa confissão nesta Quaresma.
É importante a acusação dos pecados e a Igreja continua a chamar a atenção para os abusos das
absolvições colectivas que vão aparecendo aqui e além.

Mas o mais importante dos actos do penitente é a contrição ou dor de amor. Ao menos a
contrição imperfeita, arrepender-se pela fealdade do pecado, perda do paraíso ou temor do
castigo do inferno.

2. Continuo a correr

O melhor sinal de arrependimento e propósito de emenda é o desejo sério de sermos santos,


sem ficar nas meias tintas. Ouvíamos como S. Paulo exclamava: «Não que eu tenha já chegado
à meta ou já tenha atingido a perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço…Só penso
numa coisa: esquecendo o que fica para trás lançar-me para a frente, continuar a correr para a
meta.

O mal de muitos cristãos é ter medo de serem bons demais. Por vezes até criticam os que
pretendem viver o cristianismo com todas as suas consequências. Chamam-lhes radicais,
fundamentalistas, etc. Muitos santos foram incompreendidos e perseguidos por gente boa, por
viverem a sério a sua vocação cristã. Não nos assustemos. Animemo-nos a amar ao Senhor
sempre mais, pois a medida para amar a Deus é amá-Lo sem medida.

Foi assim que o Senhor nos amou. «Fui alcançado por Jesus Cristo» – dizia o Apóstolo. E
noutro lugar exclamava: «Ele amou-me e entregou-se à morte por mim». A Igreja põe-nos
nestes dias diante dos olhos a Paixão e Morte de Cristo. Olhemos para Jesus crucificado. É livro
aberto que nos fala do amor sem limites que nos tem.

Neste tempo santo o Senhor bate à nossa porta, convidando-nos a lutar mais a valer pela
santidade, a empregar os meios que põe à nossa disposição.

A Igreja convida-nos a viver melhor a Eucaristia, alimentando-nos do Corpo de Cristo. Mas não
basta comungar. É preciso confessar-se também. A confissão frequente é a melhor forma de nos
prepararmos para a comunhão. Quem recebe uma visita ilustre em sua casa procura prepará-la,
vestir a melhor roupa. E Jesus que vem a nós pela comunhão é o Senhor do Céu e da terra. A
Igreja insiste, neste tempo da Quaresma, na confissão e na comunhão.

Lembra-nos o nosso batismo pelo qual morremos e ressuscitamos com Cristo, essa vida nova
de filhos de Deus e convida-nos a deixar o velho fermento do pecado, para ser homens novos
em Cristo.
197
3. Considerei tudo como lixo

S. Paulo ensina-nos a viver o radicalismo cristão, que é sinónimo desta luta pela santidade».
Considerei tudo como lixo para ganhar a Cristo e nEle me encontrar». Este há-de levar-nos a
crescer sempre mais na fé e no amor, vivido nas situações concretas do dia a dia, sem regatear
nada ao Senhor.

«Estas crises mundiais são crises de santos» (JOSEMARIA ESCRIVA, Caminho 301). Um dos
meios para alcançar a santidade é a confissão frequente. João Paulo II lembrou-o muitas vezes.
Na Exort. Reconciliação e Penitência, que vale a pena voltar a ler, o Papa diz: «É necessário
continuar a atribuir grande valor ao Sacramento da Penitência e educar os fiéis a recorrerem
a ele, mesmo só para os pecados veniais, como atestam a tradição doutrinal e a prática já
seculares» (nº 32)

E mais abaixo: «A celebração deste Sacramento torna-se para todos os cristãos «ocasião e
estímulo a conformarem-se mais intimamente com Cristo e a tornarem-se mais dóceis à voz do
Espírito». Sobretudo deve frisar-se bem o facto de a graça própria da celebração sacramental
ter grande eficácia terapêutica e contribuir para arrancar as próprias raízes do pecado» (nº 32).
E aos sacerdotes lembrava: «Quero dirigir instante apelo a todos os sacerdotes do mundo,
especialmente aos meus Irmãos no Episcopado e aos Párocos, para que favoreçam com toda a
solicitude a frequência dos fiéis a este Sacramento, ponham em prática todos os meios possíveis
e convenientes e tentem todos os meios para fazer chegar ao maior número de irmãos nossos a
«graça que nos foi dada», mediante a Penitência, para a reconciliação de cada alma e de todo
o mundo com Deus em Cristo» (nº 31).

O mesmo tem feito Bento XVI. Ao proclamar o Ano sacerdotal, nos 150 anos do Santo Cura
d’Ars, quis pôr-nos diante dos olhos trabalho heróico deste humilde apóstolo do confessionário.
Vale a pena redescobrir a maravilha deste sacramento. Mesmo humanamente.

Os sacerdotes receberam este poder de Jesus no dia de Páscoa. É a prenda de Jesus ressuscitado
à Sua Igreja. Por isso, a confissão é, dum modo especial, o sacramento da alegria.

Que Nossa Senhora, que viveu sem mancha de pecado, nos ensine a crescer no horror ao pecado
e em amor ao sacramento que nos lava e nos dá forças para vencê-lo e que tanto nos ajuda no
caminho da santidade.

Roteiro Homilético – Domingo de Ramos – Ano C

Sugestões para a homilia

Serenidade de Jesus e atitude dos discípulos.

Este ano, a leitura da entrada em Jerusalém e da Paixão é tirada do Evangelho de S. Lucas.


Ramos e Paixão: dois momentos da mesma realidade: Jesus é o Messias sofredor de que fala
a primeira leitura. Jesus é o servo obediente até à morte de cruz, como escreveu S. Paulo.
Jesus entra em Jerusalém não como um rei revestido de poder político-militar, mas como o rei
messiânico, montado num jumentinho, como anunciara o profeta (Zacarias 9, 9). Vem em nome
do Senhor, para salvar a humanidade.

198
S. Lucas narra que só a multidão dos discípulos aclamava alegremente a Jesus, por causa de
«todos os milagres que tinham visto». Em contrapartida, os fariseus pedem: «Mestre, repreende
os teus discípulos!» É curioso como Jesus responde: «Se eles se calarem, clamarão as pedras!»
De facto, juntamente com os discípulos, também a criação vai dar testemunho. A terra vai
estremecer, o sol vai perder a sua luz e o dia vai transformar-se em noite: «as trevas cobriram
toda a terra, porque o sol se tinha eclipsado». Jesus é Senhor de todo o universo e a sua
Redenção beneficiará todas as criaturas. «Ao nome de Jesus todos se ajoelhem no Céu, na terra
e nos abismos».

Jesus Cristo é o Senhor! Esta afirmação testemunha a sua divindade. Porque é de condição
divina, tem pleno conhecimento da sua missão salvífica. Anunciara de antemão a sua morte em
Jerusalém: «Devo seguir o meu caminho, porque não se admite que um profeta morra fora de
Jerusalém» (Luc 13, 33).

A leitura da Paixão começa com Jesus sentado à mesa, afirmando que deseja «ardentemente
comer aquela Páscoa» com os seus discípulos. Tinha chegado a sua hora. Jesus sabia que era
a última refeição. Esta Última Ceia com os discípulos revela-nos uma profunda paz. Jesus
vive interiormente a sua morte. Oferece àqueles que ama o alimento do seu Corpo, que vai
ser entregue e do seu Sangue que vai ser derramado. Jesus vive conscientemente a sua morte.
Livremente oferece o seu corpo como alimento de vida eterna. Dá graças. Aponta-nos o sentido
da sua morte: Oferece a sua vida pelos homens. «Amou-nos até ao fim». Realiza o querer
divino, cumpre a vontade de seu eterno Pai: «Pai se é possível afasta de mim este cálice.
Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua». Antes de expirar, reza tranquila e cheia de
confiança filial: «Pai, em vossa mãos entrego o meu espírito». Que morte tão serena, tão cheia
de paz, numa íntima conversa com Deus Pai! Perdoando aos que O matam, desculpando-os!
Depois, oferecendo o Paraíso a todos, mesmo a um malfeitor! É o triunfo completo do Amor
divino! A morte de Jesus é o início do reino de Deus. «Estou no meio de vós como quem serve.
Preparo para vós um reino. Comereis e bebereis à minha mesa, no meu reino.» (Luc 22, 27-30)

A Eucaristia é o memorial da paixão e morte de Jesus. As nossas missas são o prolongamento do


amor misericordioso do Coração de Jesus: «Fazei isto em memória de mim!» Durante a Paixão,
S. Lucas mostra-nos quatro vezes Jesus em oração. Numa dessas vezes reza por S. Pedro, a
quem perdoa o seu futuro pecado. Isto quer dizer que também perdoou os nossos, pois a sua
morte foi para nos salvar. Jesus está sempre em união com Seu eterno Pai. É outro exemplo
divino para nós. No meio dos sofrimentos da vida, temos sempre o recurso à oração donde brota
toda a paz e toda força sobre-humana. A oração é a porta pela qual Deus envia os seus Anjos
para nos confortar. Na bíblia, a presença angélica exprime a presença de Deus.

A Eucaristia faz-nos viver todo este mistério pascal. É o mistério central da nossa fé: Anunciamos
Senhor a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição, vinde, Senhor Jesus.

199
Roteiro Homilético – Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor

Sugestões para a homilia

AMBIENTE

Na primeira parte do Quarto Evangelho (cf. Jo 4,1-19,42), João descreve a actividade criadora
e vivificadora do Messias (o último passo dessa actividade destinada a fazer surgir o Homem
Novo é, precisamente, a morte na cruz: aí, Jesus apresenta a última e definitiva lição – a lição
do amor total, que não guarda nada para si, mas faz da sua vida um dom radical ao Pai e aos
irmãos); na segunda parte (cf. Jo 20,1-31), João apresenta o resultado da acção de Jesus: a
comunidade de Homens Novos, recriados e vivificados por Jesus, que com Ele aprenderam a
amar com radicalidade. Trata-se dessa comunidade de homens e mulheres que se converteram
e aderiram a Jesus e que, em cada dia – mesmo diante do sepulcro vazio – são convidados a
manifestar a sua fé n’Ele.

MENSAGEM

O texto começa com uma indicação aparentemente cronológica, mas que deve ser entendida
sobretudo em chave teológica: “no primeiro dia da semana”. Significa que começou um novo
ciclo – o da nova criação, o da Páscoa definitiva. Aqui começa um novo tempo, o tempo do
homem novo, que nasce a partir da doação de Jesus.

A primeira personagem em cena é Maria Madalena: ela é a primeira a dirigir-se ao túmulo de


Jesus, ainda o sol não tinha nascido, na manhã do “primeiro dia da semana”. Ela representa
a nova comunidade que nasceu da acção criadora e vivificadora do Messias; essa nova
comunidade, testemunha da cruz, acredita – inicialmente – que a morte triunfou e vai procurar
Jesus no sepulcro: é uma comunidade perdida, desorientada, insegura, desamparada, que ainda
não conseguiu descobrir que a morte foi derrotada; mas, diante do sepulcro vazio, a nova
comunidade apercebe-se de que a morte não venceu e que Jesus continua vivo.

Na sequência, João apresenta uma catequese sobre a dupla atitude dos discípulos diante do
mistério da morte e da ressurreição de Jesus. Essa dupla atitude é expressa no comportamento
de dois discípulos que, na manhã da Páscoa, correm ao túmulo de Jesus: Simão Pedro e um
“outro discípulo” não identificado (mas que parece ser esse “discípulo amado”, apresentado
no Quarto Evangelho como modelo ideal do discípulo).

João coloca, aliás, estas duas figuras lado a lado em várias circunstâncias (na última ceia, é o
“discípulo amado” que percebe quem está do lado de Jesus e quem O vai trair – cf. Jo 13,23-25;
na paixão, é ele que consegue estar perto de Jesus no átrio do sumo sacerdote, enquanto Pedro
O trai – cf. Jo 18,15-18.25-27; é ele que está junto da cruz quando Jesus morre – cf. Jo 19,25-
27); é ele quem reconhece Jesus ressuscitado nesse vulto que aparece aos discípulos no lago de
Tiberíades – cf. Jo 21,7). Nas outras vezes, o “discípulo amado” levou sempre vantagem sobre
Pedro. Aqui, isso irá acontecer outra vez: o “outro discípulo” correu mais e chegou ao túmulo
primeiro que Pedro (o facto de se dizer que ele não entrou logo pode querer significar a sua
deferência e o seu amor, que resultam da sua sintonia com Jesus); e, depois de ver, “acreditou”
(o mesmo não se diz de Pedro).

200
Provavelmente, o autor do Quarto Evangelho quis descrever, através destas figuras, o impacto
produzido nos discípulos pela morte de Jesus e as diferentes disposições existentes entre
os membros da comunidade cristã. Em geral Pedro representa, nos Evangelhos, o discípulo
obstinado, para quem a morte significa fracasso e que se recusa a aceitar que a vida nova passe
pela humilhação da cruz (Jo 13,6-8.36-38; 18,16.17.18.25-27; cf. Mc 8,32-33; Mt 16,22-23).
Ao contrário, o “outro discípulo” é o “discípulo amado”, que está sempre próximo de Jesus,
que faz a experiência do amor de Jesus; por isso, corre ao seu encontro de forma mais decidida
e “percebe” – porque só quem ama muito percebe certas coisas que passam despercebidas aos
outros – que a morte não pôs fim à vida.

Esse “outro discípulo” é, portanto, a imagem do discípulo ideal, que está em sintonia total
com Jesus, que corre ao seu encontro com um total empenho, que compreende os sinais e que
descobre (porque o amor leva à descoberta) que Jesus está vivo. Ele é o paradigma do Homem
Novo, do homem recriado por Jesus.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão pode partir dos seguintes dados:

• A lógica humana vai na linha da figura representada por Pedro: o amor partilhado até à morte,
o serviço simples e sem pretensões, a entrega da vida, só conduzem ao fracasso e não são
um caminho sólido e consistente para chegar ao êxito, ao triunfo, à glória; da cruz, do amor
radical, da doação de si, não pode resultar realização, felicidade, vida plena. É verdade que é
esta a perspectiva da cultura dominante; é verdade que é esta a perspectiva de muitos cristãos
(representados na figura de Simão Pedro). Como me situo face a isto?

• A ressurreição de Jesus prova, precisamente, que a vida plena, a vida total, a transfiguração
total da nossa realidade finita e das nossas capacidades limitadas passa pelo amor que se dá,
com radicalidade, até às últimas consequências. Tenho consciência disso? É nessa direção que
conduzo a caminhada da minha vida?

• Pela fé, pela esperança, pelo seguimento de Cristo e pelos sacramentos, a semente da
ressurreição (o próprio Jesus) é depositada na realidade do homem/corpo. Revestidos de Cristo,
somos nova criatura: estamos, portanto, a ressuscitar, até atingirmos a plenitude, a maturação
plena, a vida total (quando ultrapassarmos a barreira da morte física). Aqui começa, pois, a nova
humanidade.

• A figura de Pedro pode também representar, aqui, essa velha prudência dos responsáveis
institucionais da Igreja, que os impede de ir à frente da caminhada do Povo de Deus, de arriscar,
de aceitar os desafios, de aderir ao novo, ao desconcertante, ao incompreensível. O Evangelho
de hoje sugere que é, precisamente aí que, tantas vezes, se revela o mistério de Deus e se
encontram ecos de ressurreição e de vida nova.

201
Roteiro Homilético – II Domingo de Páscoa – Ano C

Sugestões para a homilia

1. A assembleia dominical é sinal de Cristo ressuscitado


2. Através de gestos concretos de misericórdia
3. Colocando Cristo no centro da vida

1. A assembleia dominical é sinal de Cristo ressuscitado

O evangelista João escreve este texto especialmente para as comunidades cristãs que já não
tinham conhecido nenhum dos doze apóstolos. Sentiam dificuldade em acreditar na ressurreição
de Jesus. Desejavam, como muitos de nós ainda hoje, divisar, tocar, averiguar se realmente o
Senhor ressuscitara. Interrogavam-se se haveria provas de que Ele estava efectivamente vivo e,
se assim era, por que razão não tornara a aparecer.

João quis dizer aos cristãos da sua comunidade (e a nós) que todos os apóstolos tiveram os seus
momentos de dúvida, e não só Tomé. O seu caminho da fé foi moroso e complicado, embora
Jesus lhes tivesse dado tantos sinais para demonstrar que estava vivo e que era o sinal da
misericórdia divina para com a Humanidade. Tomé é o símbolo destas dificuldades vividas por
todos eles e também por nós.

Não se pode ter fé naquilo que se vê. Não se podem ter provas científicas da ressurreição. Se
alguém quer ver, tocar, reconhecer, deve renunciar à fé. Quem possui a garantia da certeza, tem
a prova indiscutível dum facto, mas não a fé. Nós pensamos: «eles foram felizes porque viram».
Mas Jesus diz que felizes são os que não viram, pois a sua fé é mais genuína, mais efectiva, ou
melhor, é a única fé pura.

Ambas as aparições de Jesus, relatadas no Evangelho de hoje, são feitas aos mesmos, num espaço
de oito dias quando eles se encontravam reunidos em casa, ao «domingo». É nessa ocasião que
Ele mostra os sinais da sua Paixão e se apresenta com as palavras: «A Paz esteja convosco»,
como sinal evidente de que viera derramar «a vaga benéfica da Misericórdia Divina», como
afirmou João Paulo II.

O encontro a que João alude é a comunidade que se reúne ao domingo, no «dia do Senhor», para
celebrar a Eucaristia. Quando nós, os crentes, estamos reunidos é possível repetir a experiência
que os apóstolos tiveram no dia de Páscoa. Cristo, pela boca do celebrante, também nos saúda:
«A Paz esteja convosco!». E, se Tomé conseguiu pronunciar a sua profissão de fé «depois de ter
ouvido» a voz do Ressuscitado, juntamente com os irmãos da comunidade, essa possibilidade
também nos é concedida a todos nós a cada «oito dias»… Esta profissão de fé deve ser repetida
amiudadamente por nós através de gestos concretos.

2. Através de gestos concretos de misericórdia

Os cristãos das primitivas comunidades dão-nos o exemplo, como nos relata a primeira leitura:
«Estavam unidos pelos mesmos sentimentos». Não se pode viver a fé cristã em solidão, no
isolamento completo dos outros. Os cristãos constituíam uma família, eram solidários uns com
os outros e sentiam-se responsáveis por tudo o que acontecia aos seus irmãos, conscientes da

202
misericórdia divina. Por isso eram pessoas estimadas e pelo seu comportamento «cada vez mais
gente aderia ao Senhor».

Hoje também somos convidados a apresentar ao mundo as mesmas obras: usando para o bem
as enormes aptidões que Deus concedeu a cada um, correspondendo com a nossa vida ao que
comunitariamente celebramos, ajudando-nos e sentindo os problemas dos outros, repartindo
os bens com os mais necessitados, alegrando-nos com os que estão alegres e entristecendo-nos
com quem sofre, enfim, colocando a Cristo Misericórdia no centro da nossa vida.
Colocando Cristo no centro da vida

A isso nos convida a segunda leitura de hoje quando nos apresenta a Cristo como o centro da
adoração de todas as comunidades cristãs. É Ele o rei que as guia e governa com a sua palavra;
é Ele o sacerdote misericordioso que, doando a sua própria vida, oferece o único sacrifício
agradável a Deus.

Por isso, aqui ficam algumas interrogações: é Cristo que está no centro da nossa comunidade
cristã, quando ela se reúne no dia do Senhor? Não serão outras opiniões e outras pessoas ouvidas
em vez da Palavra do Ressuscitado? A quem prestamos culto: a Cristo, Senhor de Misericórdia,
ou aos poderosos e mentirosos deste mundo?

Roteiro Homilético – III Domingo de Páscoa – Ano C

Sugestões para a homilia

A Primeira Leitura da Eucaristia deste 3.º Domingo da Páscoa apela à formação religiosa de
todos os cristãos.

Reparemos no diálogo entre o Sumo Sacerdote e os Apóstolos:

Sumo Sacerdote: «Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus; e vós encheis
Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem».

Pedro e os Apóstolos respondem: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens». De
seguida, dão-lhe uma lição sobre vários temas. Donde lhes vem todos estes conhecimentos? Da
escola de Jesus.

«Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos». Isto não impediu os Apóstolos de continuar
a ensinar.

Hoje, os cristãos não têm a preocupação de ensinar. Isto acontece por várias causas: acanhamento,
cobardia, etc.

No Evangelho da Eucaristia de hoje repare-se na sua verdadeira mensagem.

A Igreja de Jesus Cristo, constituída por Cristo, que é a Cabeça da Igreja, pela Hierarquia e os
verdadeiros cristãos, que são o seu Corpo, formam o Cristo Total.

A quem compete a maior responsabilidade no seio da Igreja? A Jesus Cristo.

203
Reparem que os Apóstolos pescaram toda a noite e o seu trabalho foi em vão. Nada pescaram.
Vem Jesus e pergunta: «Rapazes tendes alguma coisa de comer»? Eles responderam. «Não»
Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis».

Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes.

Qual a lição a tirar da síntese deste texto?

Não é difícil descobri-la.

Sem Cristo nada pescaram. Com Cristo a pesca foi abundante.

Na Igreja de Cristo será sempre assim. Tudo depende de Cristo e da nossa colaboração.
Jesus Cristo faz-nos participantes da eficácia do trabalho de santificação de cada membro da
Igreja. A salvação dos outros também depende de ti. Cada um de nós deve fazer o melhor que
sabe e pode. Não somos irresponsáveis. Cristo não prescinde do mais pobrezinho.

Prestaremos contas daquilo que devíamos ter feito e não realizámos.

Para tal a formação religiosa é indispensável. Ninguém dá o que não tem. Se não cultivamos
a nossa formação religiosa não teremos capacidade para ajudar os nossos amigos que vivem
afastados da Missa dominical, da oração, do Sacramento da Penitência, etc.

Na Igreja de Cristo ninguém está dispensado de ajudar na pesca. Há lugar para todos.
Jesus não manda ninguém para férias.

Não esqueceremos que, primeiro que a nossa formação, está a nossa santificação. As duas coisas
são simultâneas. Os santos, que são sábios, foram sempre os melhores conquistadores de almas.

Será sempre assim. Não prescindir de nenhuma das coisas. Os tempos de hoje são muito
exigentes.

Roteiro Homilético – IV Domingo de Páscoa – Ano C

Caros irmãos e irmãs,

Este quarto domingo da Páscoa nos apresenta Jesus como o Bom Pastor. O trecho evangélico
traz estas palavras de Jesus: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me
seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de
minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-
las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um” (Jo 10,27-30). São quatro versículos que resumem a
mensagem de Jesus e nos faz compreender o sentido e o significado da figura do Pastor, que é
o tema central apresentado pela Liturgia da Palavra deste domingo.

A imagem do pastor vem de longe. No Antigo Oriente, os reis costumavam designar-se a si


mesmos como pastores dos seus povos. No Antigo Testamento, Moisés e Davi, antes de serem
chefes e pastores do Povo de Deus, foram efetivamente pastores de rebanhos. Nas dificuldades
do período do exílio, diante do fracasso dos pastores de Israel, isto é, dos chefes políticos e

204
religiosos, o profeta Ezequiel traçou a imagem do próprio Deus como Pastor do seu povo.
Através do profeta, Deus disse: “Como o pastor se preocupa com o seu rebanho… assim me
preocuparei com o meu” (Ez 34,12).

O próprio Deus é apresentado no salmo 23 como pastor de seu povo: “O Senhor é meu pastor,
nada me falta” (Sl 23,1). E o salmo 95 continua: “Ele é nosso Deus e nós, o povo de seu
rebanho” (Sl 95,7). O futuro Messias também é descrito com a imagem do pastor: “Como
o pastor, ele pastoreia seu rebanho; recolhe em braços os cordeirinhos, leva-os no seio e
trata com cuidado os recém-nascidos” (Is 40,11). Como de fato, esta imagem ideal de pastor
encontra sua plena realização em Cristo. Ele é o bom pastor que se compadece do povo porque
o vê “como ovelhas sem pastor” (Mt 9,36). E Pedro identifica Jesus como “o pastor de nossas
almas” (1Pd 2,25) e a Carta aos Hebreus, faz uma referência a Cristo como “o grande pastor
das ovelhas” (Hb 13,20).

O evangelho apresenta apenas uma parte do grande discurso de Jesus sobre os pastores. Neste
relato, o Senhor Jesus faz referências a algumas situações a respeito do verdadeiro pastor: ele
dá a própria vida pelas suas ovelhas; ele as conhece e elas o conhecem. A frase que com grande
vigor permeia todo o discurso sobre os pastores é esta: “O pastor dá a vida pelas suas ovelhas”
(Jo 10,11). O mistério da Cruz encontra-se no centro do serviço de Jesus como pastor. Este
é o grande serviço que ele presta a todos nós. Ele entrega-se a si mesmo, e não apenas num
passado longínquo. Na sagrada Eucaristia, realiza isto todos os dias, doando-se a si mesmo
mediante as mãos dos sacerdotes. Por isso, justamente, no âmago da vida sacerdotal encontra-
se a celebração eucarística, onde o sacrifício de Jesus na cruz permanece contínua e realmente
presente no meio de nós.

E Jesus ainda diz: “Minhas ovelhas escutam minha voz; eu as conheço e elas me seguem”
(v. 27). Nesta frase, são duas relações que parecem totalmente diferentes e encontram-se
entrelaçadas uma com a outra: a relação entre Jesus e o Pai; e a relação entre Jesus e as ovelhas
que lhe são confiados. Em certos países, as ovelhas são criadas especialmente para a carne,
em Israel se criavam, sobretudo, visando a lã e o leite. Por isso, permaneciam anos e anos em
companhia do pastor, que acabava por conhecer o caráter de cada uma e passava a chamá-la
com algum afetuoso apelido. Neste sentido, o pastor conhece as suas ovelhas e as suas ovelhas
o conhecem. Jesus busca esta inspiração para mostrar a sua unidade com o Pai. Trata-se de
uma relação pessoal profunda. Um conhecimento do coração, próprio de quem ama e de quem
é amado; de quem é fiel e de quem sabe que, por sua vez, se pode confiar. Um conhecimento
de amor, em virtude do qual, é comparado com a imagem do pastor dedicado às suas ovelhas.

Grande parte da Judéia era uma planície de solo áspero e pedregoso; devido a erva escassa,
o rebanho deveria ser transferido continuamente; não havia cercas e isso exigia a constante
presença do pastor atento aos movimentos de seu rebanho. O pesadelo dos pastores de Israel
eram os animais selvagens, lobos, hienas e salteadores. Em lugares tão isolados, constituíam
uma ameaça constante. Era o momento em que se evidenciava a diferença entre o verdadeiro
pastor e o assalariado, que se põe ao serviço de algum pastor só pelo pagamento que dele recebe.
Frente ao perigo, o mercenário foge e deixa as ovelhas sob a ameaça do lobo ou do malfeitor;
o verdadeiro pastor enfrenta o perigo para salvar o rebanho. Isso explica porque a liturgia nos
propõe o Evangelho do bom pastor no tempo pascal. A Páscoa foi o momento em que Cristo
demonstrou ser o bom pastor, porque na cruz, ele deu a vida pelas suas ovelhas.

As ovelhas, por sua vez, devem escutar a voz do Pastor e segui-lo (cf. v. 27). Isto significa que
205
fazer parte do rebanho de Jesus é aderir a Ele, escutar as suas propostas, comprometer-se com
Ele e, como Ele, entregar-se sem reservas numa vida de amor e de doação ao Pai e também aos
irmãos. E nós, como ovelhas de Jesus, também precisamos “escutar a sua voz” e segui-lo… E
devemos diferenciar a “voz” de Jesus, o nosso Pastor, de outros apelos através de um confronto
permanente com a sua Palavra e através da participação nos sacramentos.
Nos dias atuais podemos ouvir a voz do Senhor e reconhecê-lo através da pregação dos Apóstolos
e dos seus sucessores. Nessa pregação ressoa a voz de Cristo, que chama à comunhão com
Deus e à plenitude da vida. E neste domingo em que também celebramos o Dia Mundial de
Oração pelas Vocações, todos os fiéis são exortados a rezar de modo particular para as vocações
sacerdotais e também para a vida consagrada. Ainda hoje o Senhor continua chamando muitos
pelo nome, como fez um dia com os Apóstolos na margem do Lago da Galileia, para que
se tornem “pescadores de homens”, isto é, seus colaboradores mais diretos no anúncio do
Evangelho e no serviço do Reino de Deus.

A Igreja antiga encontrou na escultura e nos ícones do seu tempo a figura do pastor que
carrega uma ovelha nos próprios ombros. Para os cristãos, esta figura tornou-se, com toda
naturalidade, a imagem daquele que foi à procura da ovelha perdida e a levou de volta ao redil.
Por isto, peçamos também hoje ao Cristo Bom Pastor, para que, em nossas fraquezas e em
nossas provações, e nas vezes em que também sentirmos perdidos e sem rumo, Ele também
nos ampare e nos conduza de volta, nos carregue em seus ombros e nos faça retomar ao bom
caminho, ao caminho da perfeição e da santidade. Que Ele também possa conceder o dom da
perseverança a todos os sacerdotes e sejam fiéis às suas promessas e assimilem dia após dia os
mesmos sentimentos e as atitudes de Jesus Bom Pastor.

E que a Virgem de Nazaré, a Mãe do Bom Pastor, Ela, que respondeu prontamente o chamado
de Deus dizendo: “Eis aqui a escrava do Senhor” (Lc 1,38), nos ajude a acolher com alegria
e disponibilidade o convite de Cristo para sermos os bons trabalhadores da sua vinha (cf. Mt
20,1-16). Que ela vele todos os dias por cada um de nós e nos proteja de todos os perigos. Ela é
a Virgem do Sim. Ela também, como mãe, aprendeu a reconhecer a voz de Jesus, desde quando
o trazia no seu ventre. Que ela também possa nos ajudar a reconhecer cada vez melhor a voz de
Jesus, o Bom Pastor, que nos chama a segui-lo pelo caminho do bem. Assim seja.

Anselmo Chagas de Paiva, OSB


Mosteiro de São Bento/RJ

Roteiro Homilético – V Domingo da Páscoa – Ano C

Sugestões para a homilia

Dou-vos um mandamento novo

O Evangelho de hoje faz parte do colóquio entre Jesus e os Apóstolos na Última Ceia. Jesus
anuncia a traição de Judas e quando este saiu do Cenáculo, Jesus afirmou: «Agora foi glorificado
o Filho do homem, e Deus foi glorificado nele». O verbo «glorificar» aparece repetido cinco
vezes neste pequeno texto. Com isto Jesus ensina-nos que vai sofrer, mas a Sua Paixão será
gloriosa, será a Sua glorificação. Jesus, como um pai, faz o seu testamento de despedida e
recorda o que é essencial em poucas palavras: «Dou-vos um mandamento novo, amai-vos uns
aos outros como Eu vos amei. Por este sinal todos conhecerão que sois meus discípulos». O

206
mandamento do amor fraterno é o testamento e a herança que o Senhor nos deixou. Por vontade
expressa de Jesus é o amor o sinal que identifica os seus discípulos. O amor é também sinal da
presença invisível, mas real, da presença do Divino Mestre no meio de nós.

Um mandamento novo. Novo pela universalidade do amor que Jesus recomenda em favor de
todos os homens, inclusive os inimigos; novo porque Jesus é o modelo: amai-vos como Eu
vos amei. Daí a importância do amor fraterno que Jesus equiparou ao amor de Deus. O sinal
que distinguirá os Seus seguidores será a caridade fraterna. Novo porque este amor nasce no
contexto da Última Ceia em que Jesus fala na Nova Aliança no Seu Sangue derramado pela
multidão dos homens. Não é uma obrigação imposta, mas um dom concedido gratuitamente aos
que acreditam em Jesus. Desta benevolência recebida na mesa da comunhão brota o amor cristão
a Deus e ao próximo. O amor, juntamente com a fé, constitui o fundamento do cristianismo.
Como é que conheceremos hoje os cristãos? Nas celebrações do culto, na participação da Missa,
nas outras devoções tradicionais? A originalidade da vocação cristã, no nosso mundo, marcado
pela incredulidade e pelo ódio, é a fé que atua por meio da caridade (Gal 5, 6).
Por este sinal todos conhecerão que sois meus discípulos

Irmãos, é bom pertencer à Igreja católica, com os seus dogmas e tradições, com a sua organização
e estruturas. É bom ir à Missa, recitar o Credo, participar nas celebrações e nas orações. É
bom darmos esmola. É bom trazer ou ter em casa objectos religiosos, como cruzes, imagens,
medalhas… No entanto, tudo isso são apenas sinais, mas não «o sinal». O que nos constitui
pessoalmente cristãos é o amor que o Pai nos tem em Cristo e que o Espírito Santo derrama
nos nossos corações. Não podemos inventar outro sinal. Aceitemos o pedido de Jesus: amai-
vos uns aos outros como Eu vos amei. Na Igreja primitiva, os crentes tinham um só coração e
uma só alma (Act4, 32). No tempo de Tertuliano, as pessoas comentavam acerca dos cristãos:
«vede como se amam». Mais próximo de nós, o poeta indiano Tagore já tinha outra opinião.
Depois de ter viajado pela Europa, afirmou decepcionado: «Jesus, o Rabi da Galileia deveria
ter vivido e ensinado a Sua mensagem de amor e de fraternidade nas margens do rio Ganges. A
sua Boa Nova, certamente teria tido muito mais aceitação entre os povos orientais do que nos
ocidentais». (cf. B Caballero, En las fuentes de la Palabra, p. 884-887) Pergunta inquietante: ao
sairmos da Eucaristia, alguém nos reconhecerá como discípulos de Jesus Cristo?

Roteiro Homilético – VI Domingo da Páscoa – Ano C

Caros irmãos e irmãs,

Para este domingo a Liturgia da Palavra nos faz voltar ao Cenáculo. Por ocasião da Última
Ceia, antes da sua paixão e a morte na cruz, Jesus diz aos seus discípulos: “Se alguém me
ama, guarda a minha Palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele, e faremos nele a nossa
morada” (Jo 14, 23). E promete a eles o dom do Espírito Santo, que irá fazê-los recordar as
suas palavras: “O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará
todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 26).

Estas expressões são dirigidas aos discípulos, mas podem também ser aplicadas a cada um de
nós e fazem parte do discurso de despedida, pronunciado por Jesus durante a sua última ceia
com os Apóstolos. Depois de apresentar a eles por estatuto o mandamento do amor (cf. Jo 13,1-
17;13,33-35), vai agora explicar como eles se manterão, após a sua partida e a relação com Ele
e com o Pai.

207
O texto ressalta a presença de Deus naquele que cumpre a vontade do Senhor. E o ato de crer só
se completa no ato de amor a Jesus. Assim, amar, crer e guardar a palavra são quase sinônimos.
Jesus deseja ser amado por nós, deseja de nós uma relação viva, comprometida, plena de risco
e confiança, e na qual consagremos cada aspecto da nossa vida.

O relato evangélico também sublinha a promessa do Espírito Santo, aquele que vem completar
o ensinamento de Cristo. Jesus lembra aos apóstolos que durante sua permanência entre eles
lhe ensinara muitas coisas. Mas, quando vier o Espírito Santo, que o Pai enviará em seu nome,
lhes ensinará todas as coisas (cf. v. 26). O Espírito tem a tarefa de despertar a memória dos
Apóstolos, mas também cada cristão conta sempre com o auxílio do Espírito Santo, mesmo nas
situações mais contraditórias e conflituosas, pois de toda crise vivida com amor e confiança em
Deus, em sua providência, recebemos sempre um bem maior do que poderíamos esperar.

A missão de levar o anúncio do Evangelho a todo o mundo, Jesus promete que não permanecerão
sozinhos: estará com eles o Espírito Santo, o Paráclito, que se colocará ao seu lado, aliás, estará
neles, para os defender e apoiar. Jesus volta para o Pai, mas continua a acompanhar e a ensinar
os seus discípulos mediante o dom do Espírito Santo. O Espírito Santo, efundido em nós com os
sacramentos do Batismo e da Confirmação, age na nossa vida. Ele guia o nosso modo de pensar
e agir e nos ajuda a viver os ensinamentos do Senhor e colocá-los em prática.

O evangelho também nos fala da paz. Disse Jesus: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou…”.
Esta saudação de paz era dada, tanto no encontro como na despedida. A palavra paz aparece
cinco vezes nos últimos capítulos do Evangelho de São João. Duas vezes antes da paixão e
três outras vezes após a ressurreição, como um sinal a certificar a sua união e a sua amizade
para com os seus discípulos. Jesus distingue entre sua paz e a paz do mundo. A sua paz é um
dom, um presente, uma espécie de herança, derivada de sua partida. O objetivo dessa paz é
evitar a perturbação do coração que invadirá os discípulos, bem como a timidez e o medo, ao
se apresentarem perante as autoridades que condenaram Jesus à morte (cf. Mc 13,11). Por isso
Jesus diz: “Que o vosso coração não se perturbe, nem se encha de medo” (Jo 14,27). A paz
dada por Jesus é feita de amor, de diálogo, de entendimento e de colaboração. E é a fonte da
mais serena alegria. Por isso, a Paz que Jesus transmite deve assumir o lugar da tristeza, do
desânimo e da falta de confiança e até de fé dos discípulos.

Ser cristão é viver na paz. Não em uma paz sem compromisso e instável, como é, muitas vezes,
a paz do mundo. A paz dada por Jesus é feita de amor. Jesus deixa a paz aos seus discípulos,
paz diferente daquela a que o mundo oferece. A paz que Jesus nos traz baseia-se numa relação
de amor com Ele. A paz que o Cristo nos propõe não significa uma vitória sobre os adversários,
mas uma vitória do homem sobre si mesmo, ao deixar-se vencer, conquistado por Aquele que
nos amou e se entregou por nós, vencido na cruz, mas vitorioso na ressurreição.

E como se constrói a paz? Já nos diz o profeta Isaías: “A paz será obra da justiça” (Is 32,17),
de uma justiça praticada e vivida. E o Novo Testamento nos ensina que o pleno cumprimento
da justiça é amar o próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22,39). E São Paulo nos indica as
atitudes necessárias para fazer a paz: “Revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade,
de humildade, de mansidão, de paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos
mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou,
fazei-o vós também” (Cl 3,12-13). Estas são as atitudes que devemos praticar para sermos
construtores da paz.

208
A paz é dom de Deus, porque Ele, com o seu Espírito, pode imprimir estas atitudes nos nossos
corações e na nossa carne, e fazer de nós verdadeiros instrumentos da sua paz. A paz é dom
de Deus, porque é fruto da sua reconciliação conosco. Somente quando o homem se reconcilia
com Deus é que ele se torna um obreiro de paz

Na Carta de São Paulo aos Gálatas lemos: “Mas o fru to do Espírito é paz…” (Gl 5,22). O amor
e a alegria, que são os primeiros frutos do Espírito Santo, têm como efeito cumular a alma de
uma paz inabalável. Esta é a paz que o Apóstolo Paulo tão ardentemente deseja aos primeiros
cristãos: “Que a paz de Cristo reine nos vossos corações” (cl 3,15).

A paz está também relacionada com o dom total, definitivo e supremo do que Deus concede aos
homens através de Jesus Cristo. Em razão disto Deus e Jesus Cristo aparecem nomeados com
expressões semelhantes: “O Deus da paz” (Rm 15,33; Nm 13,20) e “o Senhor da paz” (2Ts
3,14). Mais propriamente ainda se diz de Cristo: “Ele, de fato, é a nossa paz” (Ef 2,14) e no
mesmo contexto será chamado “aquele que opera ou realiza a paz” (Ef 2,15.17).

Pronunciada por Jesus, a palavra paz se reveste ainda de um significado de extraordinária


eficácia, na própria saudação: “A paz esteja convosco” (cf. Lc 24,36; Jo 20,19.26). É importante
notar que a mesma força de anúncio e de comunicação da salvação se encontra na idêntica
saudação com que os discípulos imitam Jesus em seus ministérios (cf. Mt 10,13; Lc 10,5-6).
Não se trata de um simples desejo ou cumprimento social, mas, na verdade, da proclamação
e oferecimento dos bens relacionados com a paz messiânica. Para Jesus esta paz é algo tão
objetivo e concreto que irá permanecer naqueles dispostos a acolhê-la; e, ao contrário, ela
“voltará” para o discípulo, caso seja recusada (Mt 10,3; Lc 10,5-6).

A paz prometida por Jesus é sentida onde a vontade de competir, de dominar, de ocupar os
primeiros lugares cede lugar ao serviço e ao amor desinteressado pelos últimos. A paz do
mundo muitas vezes se apresenta como fruto de vitórias sobre os inimigos, mas a paz de Cristo
ocorre quando somos tocados pela virtude do seu amor e quando não somos contaminados pelo
pecado e pelo erro.

Viver esta paz e torná-la presente entre nós, anunciá-la aos que a desconhecem, é a exigência
fundamental da fidelidade dos discípulos de Cristo. A missão de evangelizar, anunciar Jesus
e sua obra, anunciar a chegada do Reino, sempre foi entendida pela Igreja como o anúncio e
a necessidade de se construir a comunidade cristã como uma comunidade da paz. Paz é uma
palavra profética por excelência! Paz é o sonho de Deus, é o projeto de Deus para a humanidade,
para a história, com toda a criação.

Peçamos a intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa, para que possamos ser todos
os dias os eficazes portadores da paz. E ela, a quem invocamos com o título de Rainha da paz,
possa sempre nos conduzir ao seu filho Jesus, o príncipe da paz. Assim seja.

Anselmo Chagas de Paiva, OSB


Mosteiro de São Bento/RJ.

209
Roteiro Homilético – Ascensão do Senhor – Ano C

Caros irmãos e irmãs,

A Igreja celebra neste domingo a solenidade da Ascensão do Senhor, que deve significar para
nós um canto de vitória e de esperança. Neste dia Jesus sobe ao céu, quarenta dias após a
Páscoa. Contemplamos o mistério de Jesus que deixa o nosso espaço terreno para entrar na
plenitude da glória de Deus. Também nós podemos olhar para o alto e reconhecer o nosso
futuro. Na Ascensão de Jesus, o Crucificado Ressuscitado, há a promessa da nossa participação
na plenitude de vida junto de Deus. Jesus vai para junto de Deus, mas, ao mesmo tempo,
permanece conosco, ele continua sendo o Deus conosco, o Emanuel, e não nos deixa sós (cf.
Jo 14,19).

A liturgia da Palavra traz uma passagem do Evangelho de São Lucas, onde podemos ler: “Eu
enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu, por isso, permanecei na cidade, até que sejais
revestidos da força do alto. Então Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as
mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles
o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no
Templo, bendizendo a Deus” (Lc 24,49-52).

São Lucas descreve o acontecimento da Ascensão também no início do Livro dos Atos dos
Apóstolos, para frisar que tal evento é como o elo que une a vida terrena de Jesus à vida da
Igreja. São Lucas refere-se também à nuvem que subtrai Jesus à vista dos discípulos, os quais
permanecem a contemplar Cristo que sobe para junto de Deus: “Foi elevado ao céu à vista deles
e uma nuvem subtraiu-o ao seu olhar”. E eles “estavam com os olhos fixos no céu, para onde
Jesus se afastava” (At 1,9-10). Neste instante aparecem dois homens com vestes brancas que
os convidam a não permanecer imóveis a contemplar o céu, mas a alimentar a sua vida e o seu
testemunho com a certeza de que Jesus voltará do mesmo modo como o viram subir ao céu (cf.
At 1,10-11).

Estes dois homens com as vestes brancas são os mesmos que aparecem no sepulcro, no dia da
Páscoa (cf. Lc 24,4). A cor branca representa, de acordo com o simbolismo bíblico, o universo
de Deus. As palavras pronunciadas pelos dois homens constituem a explicação dada por Deus
à ressurreição de Cristo. Indica que Jesus, condenado à morte pelos homens, foi glorificado. E
o fato de serem duas testemunhas indica a veracidade do fato.

Com o olhar da fé, os apóstolos compreendem que, não obstante tenha sido subtraído aos seus
olhos, Jesus permanece para sempre com eles e, na glória do Pai, não os abandona. Por isto,
a Ascensão não indica a ausência de Jesus, mas nos diz que Ele está vivo no meio de nós de
um novo modo. E esta é a razão pela qual os discípulos se alegram. Jesus não se encontra em
um lugar específico do mundo, como antes, agora está no Senhorio de Deus, presente em cada
espaço e tempo, próximo de cada um de nós. Na nossa profissão de fé dizemos que Jesus “subiu
ao Céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso”. A vida terrena de Jesus culmina
com o evento da Ascensão, ou seja, quando Ele passa deste mundo para o Pai e é elevado à sua
direita.

A solenidade da Ascensão do Senhor também nos convida a sermos testemunhas de Jesus que
vive na Igreja e nos corações de todos os povos. No dia da sua ascensão ao céu disse Jesus aos

210
Apóstolos: “Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura… Eles, partindo,
foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a palavra com os
sinais que o acompanhavam” (Mc 16,15.20).

Com isto, podemos observar que a Ascensão de Jesus não indica sua ausência temporária do
mundo, mas, principalmente, inaugura a nova e definitiva forma da sua presença entre nós; uma
realidade, em virtude da sua participação no poder régio de Deus. Caberá precisamente aos
discípulos, fortalecidos pelo poder do Espírito Santo, tornar perceptível a presença do Cristo
entre os homens, mediante o testemunho, a pregação e o compromisso missionário.

Somos chamados a testemunhar com coragem o Evangelho perante o mundo, levando a


esperança aos necessitados, aos que sofrem, aos abandonados, aos desesperados, a todos os
que têm sede de verdade e de paz. Fazendo o bem a todos, e sendo solícitos pelo bem comum,
estarão eles testemunhando que Deus é amor.

Como eles, também nós, aceitando o convite dos “dois homens em trajes resplandecentes”, não
devemos permanecer com os olhos fixos no céu, mas, sob a guia do Espírito Santo, temos que
ir a toda a parte e proclamar o anúncio da morte e ressurreição de Cristo. A sua própria palavra
constitui um conforto para todos nós: “Eu estarei sempre convosco, até o fim do mundo” (Mt
28,20).

Em cada Eucaristia que celebramos é Cristo que se dá a nós, nos edificando com o seu corpo.
Os discípulos de Emaús reconheceram o Cristo na partilha do pão e voltaram apressadamente
a Jerusalém a fim de partilhar a alegria com os irmãos na fé. Com efeito, a verdadeira alegria
é reconhecer que o Senhor permanece no nosso meio, companheiro do nosso caminho. A
Eucaristia nos faz descobrir que Cristo, morto e ressuscitado, se manifesta como nosso
contemporâneo e caminha com cada um de nós.

A solenidade da Ascensão do Senhor também nos exorta a consolidar a nossa fé na presença


real de Jesus na história; sem Ele, nada podemos realizar de eficaz na nossa vida e no nosso
apostolado. Como recorda o Apóstolo São Paulo na segunda leitura, a nossa vocação na Igreja
é também a de formar “um só corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança no
chamamento que recebestes” (Ef 4,4).

Esta solenidade nos faz lembrar também que Jesus completa seu itinerário: “Saí do pai e vim
ao mundo: outra vez deixo o mundo e volto para o Pai. Subo para meu Pai e vosso pai, disse
também Jesus a Maria Madalena no mesmo dia de sua ressurreição” (Jo 16,28; 20,17).

Chama a nossa atenção este último gesto dos discípulos de Jesus: “Eles o adoraram”. Que
saibamos também nós reconhecer o senhorio de Cristo e que saibamos dedicar a ele, em oração,
um pouco do nosso tempo. Com a Ascensão do Senhor, podemos afirmar que em Cristo a nossa
humanidade é levada à altura de Deus; deste modo, todas as vezes que rezamos, a terra se une
ao Céu. E assim como o incenso queimado faz subir para o alto o seu fumo, também quando
elevamos ao Senhor a nossa oração confiante em Cristo, ela atravessa o céu e alcança o próprio
Deus, e por Ele é ouvida e atendida.

Supliquemos, por fim, a Virgem Maria, para que nos ajude a contemplar os bens celestes e a
sermos autênticas testemunhas da Ressurreição do seu filho Jesus, que é o caminho, a verdade e
a Vida. E que possamos estar também unidos a Maria em oração, como ela esteve no Cenáculo,
211
para a Solenidade de Pentecostes, que celebraremos no próximo domingo. Assim seja.
Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ

Roteiro Homilético – Solenidade de Pentecostes – Ano C

Sugestões para a homilia

1. «Encontravam-se reunidos em Jerusalém com Maria, Mãe de Jesus, em oração» (cf. Act
1,14).
2. «Nem sequer ouvimos falar de um Espírito Santo» (Act 19,2).
3. «Ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor’ a não ser pela acção do Espírito Santo» (1 Cor
12,3b).

1. «Encontravam-se reunidos em Jerusalém com Maria, Mãe de Jesus, em oração» (cf. Act
1,14).

Celebramos hoje a festa do Pentecostes. Esta festa já existia no AT, mas tinha um sentido diferente
daquele que hoje lhe damos. A palavra Pentecostes significa em grego quinquagésimo, isto é, 50
dias depois da festa da Páscoa. Os judeus chamavam-lhe, por isso, a Festa das Semanas, onde
ofereciam a Deus as primeiras colheitas, como forma de agradecimento.
Mas nós, no Pentecostes, celebramos a descida do Espírito Santo cinquenta dias depois da
ressurreição de Jesus. É o que nos relata a primeira leitura. Esta leitura narra o evento no dia em
que os Apóstolos se encontravam reunidos em Jerusalém com Maria, Mãe de Jesus, em oração
(cf. Act 1, 14). De repente, ouviu-se um rumor semelhante a forte rajada de vento e apareceram
uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo e pousando sobre cada um deles. E todos
ficaram cheios do Espírito Santo (cf. Act 2, 1-5).

2. «Nem sequer ouvimos falar de um Espírito Santo» (Act 19,2).

Mas afinal quem é o Espírito Santo? Todos nós aprendemos na catequese que é a terceira Pessoa
da Santíssima Trindade e até dizemos no Credo: «Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida,
e procede do Pai e do Filho…»

Mas apesar de tão belas palavras, podemos dizer que o Espírito Santo é o Deus desconhecido
ou abandonado, é Aquele que está ausente da vida de muitas pessoas que se dizem cristãs. De
certo modo, hoje acontece como no tempo dos Apóstolos. Quando S. Paulo chegou a Éfeso
perguntou a uns cristãos daquela terra se tinham recebido o Espírito Santo quando abraçaram
a fé em Jesus. A resposta não podia ser mais desoladora; disseram eles: «nem sequer ouvimos
falar de um Espírito Santo» (Act 19, 2).

Julgo que não se pode afirmar que a maioria dos cristãos nunca ouviu falar do Espírito Santo;
mas se lhes perguntarmos quem é o Espírito Santo, talvez muitos sentissem dificuldades em
dizê-lo.

No nosso povo há muitas devoções e orações a Jesus Cristo e até muitas invocações a Nossa
Senhora e aos santos. Mas porque é que nos esquecemos do Divino Espírito Santo na nossa
oração e na nossa vida?

212
Há muitas razões para explicar que o Espírito de Deus seja tão desconhecido: a falta de formação
e de catequese; e, sobretudo, a falta de experiência de viver e sentir a presença amorosa do
Espírito na nossa vida. A nossa pobre fé leva-nos a pensar muitas vezes que o Espírito Santo só
assiste o Papa e os bispos. Mas não… está em todos nós.

Para ficarmos a saber um pouco mais sobre o Espírito Santo, podíamos recordar algumas das
palavras da Sequência que foi lida antes do Aleluia. Pelo texto da Sequência sabemos que o
Espírito Santo é Amor ardente, Luz de santidade, Virtude na vida e amparo na morte; é Aquele
que enche de alegria os nossos corações, que lava as nossas manchas, que sara os enfermos e
que é paz e conforto no pranto.

3. «Ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor’ a não ser pela ação do Espírito Santo» (1 Cor 12,3b).

Mas não basta sabermos muitas coisas sobre o Espírito Santo, os seus sete dons e os doze frutos
e até saber que o Espírito é representando em forma de pomba. Antes de mais, temos de saber
que Jesus, tal como fez com os Seus discípulos, também nos diz: «Recebei o Espírito Santo».
E nós recebemo-lo no dia do nosso Batismo, em especial no dia em que fomos Crismados. Por
isso diz S. Paulo que o nosso corpo é templo do Espírito Santo. Portanto, o Divino Espírito
habita em nossos corações, está connosco; é Ele que nos anima e fortalece a nossa fé. Neste
sentido, dizia a segunda leitura: «Irmãos, ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor’ a não ser pela
acção do Espírito Santo» (1 Cor 12, 3b).

Caros irmãos, se também nós estamos cheios do Espírito Santo devíamos fazer com os Apóstolos
que, depois do Pentecostes, começaram a falar línguas.

Podemos nós não falar línguas, mas isto não significa que a chama do Pentecostes se tenha
apagado; muito pelo contrário. Os carismas na Igreja de hoje talvez não sejam tão espectaculares
como na Igreja primitiva, mas contudo o poder e ação do Espírito de Deus continua a manifestar-
se ainda hoje. De facto, vemos que Ele está presente em muitas comunidades cristãs e em
muitos aspectos da vida da Igreja.

Mas o Espírito manifesta-se também em todo o crente que abre o seu coração à acção do
Espírito Divino. Assim, o exemplo e educação na fé que dão os esposos cristãos a seus filhos, a
fidelidade de uma mãe, o trabalho honrado de um pai, a ajuda prestada a um vizinho ou amigo
que tem problemas, a paciência alegre dum doente na sua dor ou de um idoso na solidão,
a oração, a confiança em Deus, a alegria do dever cumprido e de uma consciência recta e
honrada, tudo isto é dom do Espírito Santo. É que o cristão que recebe e deixa que a sua vida
seja conduzida pela ação do Espírito de Deus só sabe usar uma linguagem que todos entendem
e que a todos una; e essa linguagem é a do amor.

No dia de Pentecostes, olhemos para a Virgem Maria e procuremos imitar as suas virtudes, Ela
que foi Templo e Sacrário do Espírito Santo.

E já que tantas vezes esquecemos a presença do Espírito de Deus na nossa vida, ao menos hoje
procuremos viver unidos a este Deus tão desconhecido e peçamos-Lhe:

Vinde, Espírito Santo,


Enchei os corações dos Vossos fiéis
E acendei neles o fogo do Vosso amor.
213
Enviai, Senhor, o Vosso Espírito
E tudo será criado
E renovareis a face da terra.

Roteiro Homilético – Santíssima Trindade – Ano C

Caros irmãos e irmãs,

Celebramos neste domingo a Solenidade da Santíssima Trindade, que, em certo sentido,


recapitula a revelação de Deus advinda dos mistérios pascais: morte e ressurreição de Cristo,
sua ascensão à direita do Pai e a efusão do Espírito Santo.

Depois do tempo pascal, culminado na festa de Pentecostes, a liturgia prevê estas três solenidades
do Senhor: a Santíssima Trindade; na próxima quinta-feira, o dia de “Corpus Christi”; e
finalmente, na sexta-feira sucessiva, a festa do Sagrado Coração de Jesus. Cada uma destas
celebrações litúrgicas evidencia uma perspectiva a partir da qual se abrange todo o mistério da
fé cristã: ou seja, respectivamente a realidade de Deus Uno e Trino, o Sacramento da Eucaristia
e o centro divino-humano da Pessoa de Cristo. Na verdade são aspectos do único mistério da
salvação, que num certo sentido resumem todo o itinerário da revelação de Jesus, da encarnação
à morte e ressurreição até à ascensão e ao dom do Espírito Santo

Como sabemos, a Trindade divina passa a habitar em nós a partir do dia do Batismo: “Eu te
batizo – diz o ministro – em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. O nome de Deus,
no qual fomos batizados, é lembrado por nós toda vez que fazemos o sinal da cruz. Também
iniciamos cada Celebração Eucarística em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. O mesmo
ocorre no final, ao concluir, com a bênção do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Também no
decorrer da Santa Missa fazemos a nossa profissão de fé dizendo: “Creio em um só Deus, Pai
todo-poderoso… e em um só Senhor, Jesus Cristo… e no Espírito Santo”. No sinal da cruz está
também o anúncio que gera a fé e inspira a oração.

No texto evangélico, Jesus promete aos Apóstolos: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da
Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16,13). A missão do Espírito Santo será iluminar
os discípulos para que eles entendam de maneira correta aquilo que o Cristo ensinou e possam
conduzir a comunidade dos discípulos de Jesus ao caminho da verdade. Assim também ocorre
na liturgia dominical, quando os sacerdotes oferecem, semanalmente, o pão da Palavra e da
Eucaristia.

Neste domingo, as leituras nos falam da Santíssima Trindade, para nos revelar o amor que Deus
tem por nós e nos mostrar o seu projeto de salvação. A primeira leitura ressalta o projeto do
Pai na criação, a fonte e a origem de tudo. A segunda leitura nos revela que o projeto de Deus,
prescrito na primeira leitura, se realiza em Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus, escondido
desde a eternidade no seio do Pai e que estava com ele no momento da criação, mas somente
com a intervenção do Espírito Santo é que saberemos compreender e aderir plenamente ao
projeto de Deus para nós à obra salvadora do Filho, ou seja, do Cristo Jesus. Cabe ao Espírito
Santo iluminar as mentes e os corações dos homens a respeito dos ensinamentos do Evangelho
e colocar em prática as recomendações que ele nos apresenta.

Todas as celebrações são sempre em honra de Deus, Uno e Trino. Os sacramentos são realizados

214
e celebrados mediante a invocação das três pessoas divinas. Pode-se ressaltar ainda a doxologia
que conclui todos os salmos na Liturgia do Ofício Divino: “Glória ao Pai, e ao Filho e ao
Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre”. E quando nos dirigimos a Deus com
uma oração de impetração, podemos concluir com estas palavras: “Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, que é Deus, e vive e reina convosco, na unidade do Espírito Santo, por
todos os séculos dos séculos”.

A Santíssima Trindade está, pois, incessantemente nos lábios e no coração dos cristãos. E
neste domingo nós a adoramos de modo especial. Com esta solenidade, quer também a Igreja
mostrar de modo mais intenso a sua devoção à Trindade Santíssima e proclamar de forma mais
expressiva a sua fé.

Todas as nossas obras devem ter uma única finalidade: que o nome de Jesus seja glorificado em
nós. O Pai e o Espírito Santo glorificam a Jesus e nos dão com Ele uma norma a nos orientar
sempre. O lema, como que a síntese de nossa vida, deverá ser aquela significativa oração no
final das preces eucarísticas da Santa Missa, onde apresentamos o Corpo e o Sangue de Jesus
na patena e no cálice: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, toda
a honra e toda a glória, agora e para sempre, na unidade do Espírito Santo”. E, acompanhando
esse momento forte de oração que brota do íntimo de nosso ser, possamos dizer com fé, mesmo
que não consigamos atingir a grandeza que o mistério encerra: “Amém”.

E ao colocar esta solenidade no domingo seguinte à solenidade de Pentecostes, a Igreja vem


nos lembrar que cada domingo é uma festa da Santíssima Trindade, pois o domingo é o dia do
Senhor, dia em que Jesus ressuscitou e que o Espírito Santo nos santificou, descendo sobre a
igreja nascente. Neste sentido, todo domingo devemos contemplar este mistério Trinitário!

Assim como Jesus, em quem vivia “a plenitude Deus” (Cl 2,4) e só fazia a vontade do Pai (cf.
Jo 4,34; 5,36), assim, em nós, Deus quer ser a meta e o impulso de todas as nossas vontades,
nas provações e nos momentos de esperança.

Possamos invocar a Bem-aventurada Virgem Maria, primeira criatura plenamente enriquecida


pela Santíssima Trindade. Na sua humildade ela se fez serva do Senhor e acolheu a vontade do
Pai e concebeu o Filho por obra do Espírito Santo. Que ela interceda sempre por nós e nos ajude
a crescer na fé no mistério trinitário. A ela pedimos a sua proteção materna, para que possamos
prosseguir bem a nossa peregrinação terrena. Assim seja.

Anselmo Chagas de Paiva, OSB


Mosteiro de São Bento/RJ.

Roteiro Homilético – XII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

AMBIENTE

Estamos na fase final da etapa da Galileia. Jesus passou algum tempo a apresentar o seu
programa e a levar a Boa Nova aos pobres, aos marginalizados, aos oprimidos (cf.Lc 4,16-21).

À volta d’Ele, foi-se formando um grupo de “testemunhas”, que apreciaram a sua actuação e
que se juntaram a esse sonho de criar um mundo novo, de justiça, de liberdade e de paz para

215
todos. Agora, antes de começar a etapa decisiva da sua caminhada nesta terra (o “caminho”
para Jerusalém, onde Jesus vai concretizar a sua entrega de amor), os discípulos são convidados
a tirar as suas conclusões acerca do que viram, ouviram e testemunharam. Quem é este Jesus,
que se prepara para cumprir a etapa final de uma vida de entrega, de dom, de amor partilhado?
E os discípulos estarão dispostos a seguir esse mesmo caminho de doação e de entrega da vida
ao “Reino”?

MENSAGEM

A cena de hoje começa com a indicação da oração de Jesus (vers. 18). É um dado típico de
Lucas que põe sempre Jesus a rezar antes de um momento fundamental.

Lc 5,16; 6,12; 9,28-29; 10,21; 11,1; 22,32.40-46; 23,34). A oração é o lugar do reencontro de
Jesus com o Pai; depois de rezar, Jesus tem sempre uma mensagem importante – uma mensagem
que vem do Pai – para comunicar aos discípulos. A questão importante que, no contexto do
episódio de hoje, Jesus tem a comunicar, tem a ver com a questão: “quem é Jesus?” A época
de Jesus foi uma época de crise profunda para o Povo de Deus; foi, portanto, uma época em
que o sofrimento gerou uma enorme expectativa messiânica. Asfixiado pela dor que a opressão
trazia, o Povo de Deus sonhava com a chegada desse libertador anunciado pelos profetas – um
grande chefe militar que, com a força das armas, iria restaurar o império de seu pai David e
obrigar os romanos opressores a levantar o jugo de servidão que pesava sobre a nação. Na época
apareceram, aliás, várias figuras que se assumiram como “enviados de Deus”, criaram à sua
volta um clima de ebulição, arrastaram atrás de si grupos de discípulos exaltados e acabaram,
invariavelmente, chacinados pelas tropas romanas. Jesus é também um destes demagogos, em
quem o Povo vê cristalizada a sua ânsia de libertação? Aparentemente, Jesus não é considerado
pelas multidões “o messias”: o Povo identifica-o, preferentemente, com Elias, o profeta que
as lendas judaicas consideravam estar junto de Deus, reservado para o anúncio do grande
momento da libertação do Povo de Deus (vers. 19); talvez a sua postura e a sua mensagem não
correspondessem àquilo que se esperava de um rei forte e vencedor.

Os discípulos, no entanto, companheiros de “caminho” de Jesus, deviam ter uma perspectiva


mais elaborada e amadurecida. De facto, é isso que acontece; por isso, Pedro não tem dúvidas
em afirmar: “Tu és o messias de Deus” (vers. 20). Pedro representa aqui a comunidade dos
discípulos – essa comunidade que acompanhou Jesus, testemunhou os seus gestos e descobriu a
sua ligação com Deus. Dizer que Jesus é o “messias” significa reconhecer nele esse “enviado”
de Deus, da linha davídica, que havia de traduzir em realidade essas esperanças de libertação
que enchiam o coração de todos.

Jesus não discorda da afirmação de Pedro. Ele sabe, no entanto, que os discípulos sonhavam
com um “messias” político, poderoso e vitorioso e apressa-se a desfazer possíveis equívocos
e a esclarecer as coisas: Ele é o enviado de Deus para libertar os homens; no entanto, não vai
realizar essa libertação pelo poder das armas, mas pelo amor e pelo dom da vida (vers. 22). No
seu horizonte próximo não está um trono, mas a cruz: é aí, na entrega da vida por amor, que Ele
realizará as antigas promessas de salvação feitas por Deus ao seu Povo.

A última parte do texto (vers. 23-24) contém palavras destinadas aos discípulos: aos de ontem,
de hoje e de amanhã. Todos são convidados a seguir Jesus, isto é, a tomar – como Ele – a cruz
do amor e da entrega, a derrubar os muros do egoísmo e do orgulho, a renunciar a si mesmo e
a fazer da vida um dom. Isto não deve acontecer em circunstâncias excepcionais, mas na vida
216
quotidiana (“tome a sua cruz todos os dias”). Desta forma fica definida a existência cristã.

ATUALIZAÇÃO

Para a reflexão, considerar os seguintes elementos:

♦ O Evangelho de hoje define a existência cristã como um “tomar a cruz” do amor, da doação,
da entrega aos irmãos. Supõe uma existência vivida na simplicidade, no serviço humilde, na
generosidade, no esquecimento de si para se fazer dom aos outros. É esse o “caminho” que eu
procuro percorrer?

♦ Na sociedade em geral e na Igreja em particular, encontramos muitos cristãos para quem o


prestígio, as honras, os postos elevados, os tronos, os títulos são uma espécie de droga de que
não prescindem e a que não podem fugir. Frequentemente, servem-se dos carismas e usam as
tarefas que lhe são confiadas para se auto-promover, gerando conflitos, rivalidades, ciúmes e
mal-estar. À luz do “tomar a cruz e seguir Jesus”, que sentido é que isto fará? Como podemos,
pessoal e comunitariamente, lidar com estas situações? Podemos tolerá-las – em nós ou nos
outros? Como é possível usar bem os talentos que nos são confiados, sem nos deixarmos tentar
pelo prestígio, pelo poder, pelas honras? Tem alguma importância, à luz do que Jesus aqui
ensina, que a Igreja apareça em lugar proeminente nos acontecimentos sociais e mundanos e
que exija tratamentos de privilégio?

♦ Quem é Jesus, para nós? É alguém que conhecemos das fórmulas do catecismo ou dos livros
de teologia, sobre quem sabemos dizer coisas que aprendemos nos livros? Ou é alguém que está
no centro da nossa existência, cujo “caminho” tem um real impacto no nosso dia a dia, cuja
vida circula em nós e nos transforma, com quem dialogamos, com quem nos identificamos e a
quem amamos?

♦ É na oração que eu procuro perceber a vontade de Deus e encontrar o caminho do amor e do


dom da vida? Nos momentos das decisões importantes da minha vida, sinto a necessidade de
dialogar com Deus e de escutar o que Ele tem para me dizer?

Roteiro Homilético – XIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

AMBIENTE

Aqui começa, precisamente, a segunda parte do Evangelho segundo Lucas. Até agora,
Lucas situou Jesus na Galileia (1ª parte); mas, a partir de 9,51, Lucas põe Jesus a caminhar
decididamente para Jerusalém. A “caminhada” que Jesus aqui inicia com os discípulos é mais
teológica do que geográfica: não se trata tanto de fazer um diário da viagem ou de fazer a lista
dos lugares por onde Jesus vai passar até chegar a Jerusalém; trata-se, sobretudo, de apresentar
um itinerário espiritual, ao longo do qual Jesus vai mostrando aos discípulos os valores do
“Reino” e os vai presenteando com a plenitude da revelação de Deus. Todo este percurso que
aqui se inicia converge para a cruz: ela vai trazer a revelação suprema que Jesus quer apresentar
aos discípulos e nela vai irromper a salvação definitiva. Os discípulos são exortados a seguir este
“caminho”, para se identificarem plenamente com Jesus… Lucas propõe aqui à sua comunidade
o itinerário que os autênticos crentes devem percorrer.

217
MENSAGEM

Lucas começa por apresentar as “exigências” do “caminho”. O nosso texto apresenta,


nitidamente, duas partes, dois desenvolvimentos.

Na primeira parte (vers. 51-56), o cenário de fundo situa-nos no contexto da hostilidade entre
judeus e samaritanos. Trata-se de um dado histórico: a dificuldade de convivência entre os
dois grupos era tradicional; os peregrinos que iam a Jerusalém para as grandes festas de Israel
procuravam evitar a passagem pela Samaria, utilizando preferencialmente o “caminho do mar”
(junto da orla costeira), ou o caminho que percorria o vale do rio Jordão, a fim de evitar “maus
encontros”.

A primeira lição de Jesus ao longo desta “caminhada” vai para a atitude que os discípulos devem
assumir face ao “ódio” do mundo. Que fazer quando o mundo tem uma atitude de rejeição face
à proposta de Jesus? Tiago e João pretendem uma resposta agressiva, “musculada”, que retribua
na mesma moeda, face à hostilidade manifestada pelos samaritanos (a referência ao “fogo do
céu” leva-nos ao castigo que Elias infligiu aos seus adversários – cf. 2 Re 1,10-12); mas Jesus
avisa-os que o seu “caminho” não passa nem passará nunca pela imposição da força, pela
resposta violenta, pela prepotência (no seu horizonte próximo continua a estar apenas a cruz e
a entrega da vida por amor: é no dom da vida e não na prepotência e na morte que se realizará
a sua missão). Isto é algo que os discípulos nunca devem esquecer, se estão interessados em
percorrer o “caminho” de Jesus.
Na segunda parte (vers. 57-62), Lucas apresenta – através do diálogo entre Jesus e três candidatos
a discípulos – algumas das condições para percorrer, com Jesus, esse “caminho” que leva a
Jerusalém, isto é, que leva ao acontecer pleno da salvação. Que condições são essas? O primeiro
diálogo sugere que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais: para o
discípulo, o Reino tem de ser infinitamente mais importante do que as comodidades e o bem-
estar material.

O segundo diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se desses deveres e obrigações que,
apesar da sua relativa importância (o dever de sepultar os pais é um dever fundamental no
judaísmo), impedem uma resposta imediata e radical ao Reino.

O terceiro diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se de tudo (até da própria família, se
for necessário), para fazer do Reino a sua prioridade fundamental: nada – nem a própria família
– deve adiar e demorar o compromisso com o Reino.

Não podemos ver estas exigências como normativas: noutras circunstâncias, Ele mandou cuidar
dos pais (cf. Mt 15,3-9); e os discípulos – nomeadamente Pedro – fizeram-se acompanhar das
esposas durante as viagens missionárias (cf. 1 Cor 9,5)… O que estes ensinamentos pretendem
dizer é que o discípulo é convidado a eliminar da sua vida tudo aquilo que possa ser um obstáculo
no seu testemunho quotidiano do Reino.

ATUALIZAÇÃO

Na reflexão, considerar os seguintes elementos:

A nós, discípulos de Jesus, é proposto que O sigamos no “caminho” de Jerusalém, nesse


“caminho” que conduz à salvação e à vida plena. Trata-se de um “caminho” que implica a
218
renúncia a nós mesmos, aos nossos interesses, ao nosso orgulho, e um compromisso com a cruz,
com a entrega da vida, com o dom de nós próprios, com o amor até às últimas consequências.
Aceitamos ser discípulos, isto é, embarcar com Jesus no “caminho de Jerusalém”?

O “caminho do discípulo” é um caminho exigente, que implica um dom total ao “Reino”. Quem
quiser seguir Jesus, não pode deter-se a pensar nas vantagens ou desvantagens materiais que isso
lhe traz, nem nos interesses que deixou para trás, nem nas pessoas a quem tem de dizer adeus…
O que é que, na nossa vida quotidiana, ainda nos impede de concretizar um compromisso total
com o “Reino” e com esse caminho do dom da vida e do amor total?

219
P R O U Z I D O P O R

a g e n c i a b 1 6 . c o m . b r

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