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CNBB

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Cristo Ressuscitado,
Fonte e Caminho da Missão

“O Ressuscitado, rompendo as cadetas opressivas da


morte, revelou. o amor do Pare a dignidade da vida”

Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal


Ano B - 2009

Projeto Nacional de Evangelização


O Brasil na Missão Continental
C748c Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Cristo Ressuscitado,
Fonte e Caminho da Missão: Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal
Ano B - 2009. Brasília, Edições CNBB. 2009.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão: Roteiros Homi-
léticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009.
96 p.:14x21 cm
ISBN: 978-85-60263-58-5
ULiturgia 2.Páscoa, Tempo Pascal 3. Igreja Católica.
CDU - 264.941.6

Coordenação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Coordenação Editorial:
Pe. Valdeir dos Santos Goulart
Projeto Gráfico e Diagramação:
Fábio Ney Koch dos Santos
Capa:
Henrique Billygran da Silva Santos
Revisão Doutrinal:
Pe. Wilson Luís Angotti Filho
Revisão:
Lúcia Soldera

1? Edição - 2009

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Sumário
Apresentação .......................
erre serorsrovona.a

Tríduo Pascal
Quinta-feira Santa / Missa Vespertina
da Ceia do Senhor
09 de abril de 2000...............e
err erre rent as nado eos nossooo,es

Sexta-Feira Santa
Celebração da Paixão do Senhor
10 de abril de 2000................ee
erre rear rer rr rsreado

Vigília Pascal
(A Mãe de todas as Vigílias)
11 de abril de 2000 ...........e
rr rerrrerrrnno

Domingo da Páscoa
12 de abril de 2000 ........... errei erre err erra

2º Domingo da Páscoa
19 de abril de 2000 ...........ee
erre rrr renan

3º Domingo da Páscoa
26 de abril de 2000 ...........ee
erre rrrere res rrsnrroa

4º Domingo da Páscoa
03 de maio de 2000 ......... renina rrr eee era eerana

5º Domingo da Páscoa
10 de maio de 2000 ........... een err rece rr se erises

6º Domingo da Páscoa
17 de maio de 2000 ............
erre erre erre ra rresernos
7º Domingo da Páscoa
Ascensão do Senhor
24 de maio de 2000 ............eerrrreers
eres r rsrs cerne sacra r re nros 80

Solenidade de Pentecostes
31 de maio de 2000 .............ee
reste rrs errar rece s eres ans rare neo 87

Oração do Brasil na Missão Continental: ................... 95


Apresentação
Dando continuidade ao serviço que a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, através da Dimensão Litúrgica, vem prestando às
nossas comunidades e aos ministros da Palavra, eis o roteiro homi-
lético para os sete domingos do Tempo Pascal, neste ano de 2009,
Ano B.
Este subsídio destina-se aos que na Assembléia litúrgica pres-
tam o serviço de anunciar as Escrituras em nome de Cristo Palavra
do Pai, como também a todos os fieis que, através da leitura orante
- pessoal ou comunitária — desejarem preparar a celebração domini-
cal da Liturgia da Palavra e prolongá-la durante a semana.
A Quinquagésima Pascal, como é chamado o Tempo Pascal,
são os cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domin-
go de Pentecostes. A Liturgia pede que este tempo, centro do Ano
Litúrgico, seja celebrado com alegria e exultação, como se fosse um
só dia de festa, ou melhor “como um grande domingo”.
A Páscoa é o cerne da vida da Igreja e da nossa vocação: somos
discípulos e missionários de “Cristo Ressuscitado, fonte e caminho
da Missão”. A Páscoa de Jesus e sua vitória sobre a morte devem
continuar na Páscoa da vida de todos nós. Podemos dizer que a Pás-
coa não terminou: ela se cumpriu em Jesus, mas ainda deve cum-
prir-se em nós e entre nós. Esta é a grande missão da Igreja — Povo
de Deus, “sinal” pascal de vida para o mundo: vida que é mais forte
do que a morte, Vida em plenitude.
Da celebração — anúncio — vivência do Mistério Pascal, recebe-
mos do Pai o Espírito Santo, o mesmo Espírito que ressuscitou Jesus
dos mortos e que o Ressuscitado comunicou aos seus Apóstolos, de
ontem e de hoje, para sermos testemunhas dele e da sua Palavra,
até os confins do mundo. O Espírito Santo, Sopro de Vida Nova, é o
“protagonista da Missão da Igreja”. A Liturgia do Tempo Pascal nos
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

quer inserir e fazer participar do dinamismo apostólico que animou


a Igreja dos primeiros tempos, tão carregados de esperança e de
ardor missionário pela causa do Reino de Deus.
Este acento pascal da Liturgia, nos sete Domingos de Páscoa, é
dado particularmente pela escolha das leituras dos Atos dos Após-
tolos, do Evangelho de João e de outras páginas bíblicas que se re-
ferem ao Batismo, à vida nova em Cristo, para que os discípulos
sejam missionários.
A proclamação do livro dos Atos dos Apóstolos durante o Tem-
po Pascal, e não de outros textos do Antigo Testamento, responde
a uma convocação e provocação que nos vem da Ressurreição do
Senhor: somos chamados a olhar para frente e, impulsionados pelo
Espírito Santo, como os Apóstolos, a avançar no testemunho de
uma vida pascal. Celebrar a Páscoa de Jesus é celebrar a vida nova
que Ele nos dá e que já está ao nosso alcance, aliás, está em nossas
mãos. Celebrar significa viver. O Mistério da Páscoa é fonte de vida
e missão.
Agradecemos ao Fr. Faustino Paludo OFM Cap. que elaborou
este subsídio para a reflexão e a oração dos que buscam na Palavra
de Deus, especialmente à luz da celebração litúrgica nos domingos
do "Tempo Pascal, inspiração para o coração viver a verdade que
liberta, e dignidade para a vida.
Que este Roteiro homilético seja acolhido com gratidão, para
uma leitura espiritual e pastoral — litúrgica dos textos bíblicos dos
domingos do Tempo Pascal. À luz da Páscoa, e do Documento de
Aparecida e das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja
no Brasil (2008-2010), possamos preparar e celebrar a Divina Litur-
gia com fé e compromisso de discípulos e missionários.

ft Dom Fernando Panico, M.S.C.


Bispo de Crato — CE.
Membro da Comissão Episcopal para a Liturgia
TRÍDUO PASCAL

Quinta-feira Santa
/ Missa Vespertina da
Ceia do Senhor
09 de abril de 2009

"PELO MISTÉRIO PASCAL, O PAI SELA A NOVA ALIANÇA


E GERA UM NOVO POVO QUE TEM POR FUNDAMENTO
SEU AMOR GRATUITO DE PAI QUE SALVA”
(DAP — DOCUMENTO DE APARECIDA, n. 145).

Leituras: Êxodo 12,1-8.11-14; Salmo 116 (114 e 115);


1ICoríntios 11,23-26; João 13,1-15.

Situando-nos
Iniciamos hoje o Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor.
É o ápice do ano litúrgico, porque celebra a Morte e a Ressurreição
do Senhor, “quando Cristo realizou a redenção humana e da perfei-
ta glorificação de Deus pelo seu mistério pascal, quando morrendo
destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a vida” (Guia Litúr-
gico Pastoral, p. 11).
O centro do rito é a ceia com a comunidade reunida. Pela parti-
cipação nesta ceia eucarística, elevemos nossa ação de graças ao Pai
que, por meio de seu Filho Jesus, libertou-nos da escravidão. Como
discípulos e discípulas de Jesus, aceitemos que nos lave os pés e, as-
sim purificados, vivamos o mandamento do amor sendo fraternos e
solidários com nossos irmãos e irmãs.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão EO

Esta celebração eucarística abre o Tríduo Pascal, oportunidade


em que viveremos todo o mistério pascal, tendo como ponto alto
a Vigília Pascal, que é a mãe de todas as vigílias celebradas pela
Igreja.
Assim, comendo o pão e bebendo do cálice, proclamamos a
morte do Senhor, até que Ele venha e nos faça participar plenamen-
te de sua páscoa.

Recordando a Palavra

Jerusalém vivia um intenso clima de festa pascal. Para ela, acorriam


os fiéis israelitas. Jesus, como um bom judeu, também participou
das festas pascais de seu povo. Esta, porém, era singular. Inúmeras
vezes, Ele alertara os discípulos de que tinha que ir à Jerusalém e
aí sofrer até a morte, mas ao terceiro dia ressuscitaria. Ele, que se
doou por inteiro aos seus, viu que era chegada a hora de passar des-
te mundo ao Pai. Mas este momento não podia passar em branco.
Era preciso celebrar a despedida com os amigos e transmitir-lhes as
últimas orientações. Na ceia ritual da antiga libertação, surpreende
a todos. Estando à mesa, o Mestre tira o manto, cinge-se com uma
toalha e, em forma de servo, começa a lavar os pés dos discípulos.
Pedro resiste, mas é persuadido pelo Mestre. Era preciso lavar-lhe
os pés, se quisesse ter parte com Ele no Reino. Retomando seu lugar
à mesa, pergunta: “Vocês compreenderam o que acabei de fazer?...
Lavei os seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros.
Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu
fiz”. A ação do Mestre revela que seu serviço é total. É um serviço
integral e vai até a cruz. “Ele, que tinha amado os seus que estavam
no mundo, amou-os até o fim”. Deixando-se lavar os pés, os discípu-
los tornam-se participantes da ação salvadora do Cristo: “Se eu não
te lavar os pés, não terás parte comigo”. O evangelista João, mais
do que relatar a instituição da Eucaristia, a exemplo dos sinóticos,
concentra a atenção em seu sentido profundo, isto é, no amor imen-
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

so de Deus para com seu povo e no serviço mútuo que deve haver
entre os discípulos (Evangelho).
O texto do Êxodo nos traz a promulgação da lei da Páscoa ju-
daica. Esta era uma festa oriunda da antiga tradição agropastoril e,
mais tarde, passou a comemorar a libertação da escravidão do Egi-
to. Na ceia eram comidos pães ázimos, ervas amargas e o cordeiro
imolado, o qual recordava aquele outro cordeiro com cujo sangue
os israelitas “passaram sobre os dois batentes e sobre a travessa da
porta” (v. 7), para que o flagelo mortal não ferisse os filhos das casas
de Israel (v. 27). Todavia, a celebração anual da Páscoa, memorial da
passagem da escravidão para a terra prometida, orientava os israeli-
tas para uma libertação futura completa e definitiva, protagonizada
pela vinda do Messias. Jesus e os discípulos reuniram-se para cele-
brar a ceia pascal, memória da libertação do Egito. Este dia devia
ser celebrado de geração em geração (v. 14 - 1º Leitura).
A partir da prática da comunidade de Corinto em celebrar a
Eucaristia, o apóstolo Paulo nos brinda com o mais antigo relato
sobre a última ceia Tendo em vista a autêntica forma da celebração
eucarística, ameaçada por divisões e discriminações na comunida-
de de Corinto, o apóstolo afirma: “De fato, eu recebi pessoalmente
do Senhor aquilo que transmiti para vocês”. Ele introduz o relato
precisando as circunstâncias: “Na noite que foi entregue”. Refere-
se à noite em que Jesus fez a entrega de si mesmo. O pão repartido
recorda-nos o corpo entregue e o sangue derramado no sacrifício
da morte na cruz, selando a nova e eterna aliança. “Façam isto em
memória de mim”. A ceia eucarística realiza o que recorda e torna
presente a obra redentora do Cristo. Mais do que um simples rito,
a Eucaristia requer a prática da comunhão fraterna. Eucaristia sem
fraternidade é comungar a própria condenação. Insiste Paulo que
Aquele que, sempre dé novo, entrega-se nos sinais do pão e do vi-
nho é o Cristo vivo e ressuscitado, que um dia se manifestará em
sua glória. “Portanto, todas as vezes que vocês comem deste pão e
bebem deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor, até que
Ele venha” (2º Leitura).
5)
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Atualizando a Palavra
Hoje, a Igreja recorda a instituição do sacerdócio ministerial e da
Eucaristia, memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus. O Se-
nhor, pelo gesto do lava-pés, transmite-nos também o mandamento
novo do amor. Neste sentido, celebrar a Eucaristia é dispor-se a viver
o mistério de Jesus que, por amor e com humildade, serve a Deus e
aos irmãos. Pela participação eucarística, o cristão torna-se promotor
de comunhão, de paz e de solidariedade, em todas as circunstâncias
da vida (cf. João Paulo II, Mane Nobiscum Domine, n. 27).
Na Ceia vespertina, com a qual a Igreja inicia a celebração dos
grandes mistérios da salvação, Jesus nos torna participantes da ceia
em que Ele e os seus recordaram a Páscoa da libertação - a passa-
gem pelo mar Vermelho e a consolidação da aliança no monte Si-
nai. Nessa mesma ceia, entregando a si mesmo à morte, Jesus passa
da antiga à nova Páscoa, da antiga à nova Aliança, selada em seu
sangue derramado e em seu corpo partido (cf. Papa Bento XVI, Sa-
cramentum Caritatis, n. 10). É a Páscoa que se renova, em cada cele-
bração eucarística da comunidade e na prática do amor fraterno e
solidário dos discípulos e missionários do Senhor.
Lavando os pés de seus discípulos, o Mestre nos dá um exemplo
de serviço gerador de um novo estilo de vida. “Eu lhes dei o exem-
plo”. O lava-pés é um gesto que encerra um mistério que transcen-
de o que se vê e sente. Jesus nos dá o exemplo da vida feita serviço
aos outros. Lembra aos discípulos de todos os tempos que a Euca-
ristia existe para ser testemunho de amor, no serviço solidário aos
irmãos. O lava-pés, na qualidade de gesto paradigmático, encontra
sua chave de leitura e explicação na cruz e na ressurreição. Pedro, a
princípio, nada compreendeu. O serviço, como expressão de amor,
precisa ser feito como Jesus o fez. “E tendo amado os seus que esta-
vam no mundo, amou-os até o fim”. O agir com amor, “não é buscar
o próprio interesse” (1 Cor 13,5), mas o bem dos outros. Ao lavar os
pés de seus discípulos, o Mestre nos dá o exemplo do serviço feito
por amor e com humildade. Em certas culturas, por exemplo, lavar
os pés do pai, constituía-se num sinal de afeição. “Por isso vocês
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

devem lavar os pés uns dos outros”: pratiquem entre vocês servi-
ços de caridade humilde. Assim, caridade e humildade qualificam o
serviço dos discípulos missionários de Jesus. Eucaristia é colocar-se
diante dos irmãos em atitude de humilde disposição para buscar,
em conjunto, tudo o que qualifica e defende a vida.
Neste sentido, Jesus é o Servo de Deus e da humanidade. Toda
a trajetória de sua existência foi caracterizada pelo serviço aos de-
sígnios do Pai e ao bem da humanidade, sobretudo aos pobres e
excluídos da sociedade. São Paulo, na Carta aos Filipenses, explicita
o gesto do lava-pés afirmando: “Jesus Cristo, existindo em condição
divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esva-
ziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se
igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se
a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (F]
2,6-8); (2º. leitura do domingo de Ramos).
Neste sentido, recordemos o pensamento do Papa: “Ao instituir
o sacramento da Eucaristia, Jesus antecipa e implica o sacrifício da
cruz e a vitória da ressurreição; ao mesmo tempo, revela-se como o
verdadeiro Cordeiro Imolado, previsto no desígnio do Pai. A Insti-
tuição da Eucaristia mostra como aquela morte, de per si violenta e
absurda, se tenha tornado, em Jesus, ato supremo de amor e liber-
tação definitiva da humanidade do mal. (...) Aquilo que anunciava
as realidades futuras cedeu agora o lugar à própria Verdade. O an-
tigo rito consumou-se e ficou definitivamente superado mediante o
dom de amor do Filho de Deus encarnado. O alimento da verdade,
Cristo imolado por nós, pôs termo às figuras. Com o fazei isto em
memória de mim (cf. 1 Cor 11,25), pede-nos para corresponder ao
seu dom e representá-lo sacramentalmente” (Papa Bento XVI, Sa-
cramentum Caritatis, nn. 10 e 11).

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Em comunhão com toda a Igreja, celebramos este dia santo em que
Nosso Senhor Jesus Cristo foi entregue por nós. Ele nos torna, hoje,
seus convivas no banquete da Páscoa, ceia memorial da antiga liber-
Fonte e Caminho da Missão 1 4
Cristo Ressuscitado,

tação e sinal profético da nova e eterna Aliança. Damos graças pelos


incontáveis gestos de amor do Deus de nossos pais que, tirando-os
da escravidão, conduziu-os à Terra Prometida.
Rezamos na Oração do Dia: “Ó Pai, estamos reunidos para
a santa ceia, na qual o vosso Filho único, ao entregar-se à morte,
deu à sua Igreja um novo e eterno sacrifício, como banquete do seu
amor. Concedei-nos, por mistério tão excelso, chegar à plenitude da
caridade e da vida”.
Destarte, participando da ceia do Senhor, comendo seu
corpo e bebendo de seu sangue derramado, sinal da nova Aliança,
comungamos do destino de Jesus, do amor-serviço levado até as
últimas consequências na cruz. Aceitemos que Ele nos lave os pés
e acolhamos o novo mandamento, dispondo-nos a doar a vida em
gestos solidários pelos irmãos. Lavando-nos os pés, Jesus nos con-
duz à plenitude da caridade e da vida.
“A santíssima Eucaristia é a doação que Jesus Cristo faz de si
mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus para cada homem.
Nesse sacramento admirável, manifesta-se o amor maior; o amor
que leva a dar a vida pelos amigos. De fato, Jesus amou-os até o
fim” (cf. Jo 13,1). “Prova de amor maior não há, que doar a vida pelo
irmão!” (Isso é um cântico). Diante do mistério do amor sem limites
do Servo de todos, proclamemos exultantes: “Anunciamos, Senhor,
a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor
Jesus!”

Sugestões “GA
1. O ambiente da celebração deve ser preparado de tal forma
que revele o sentido de uma ceia festiva. Onde o espaço permitir,
a comunidade coloque-se, de forma circular, ao redor do altar. Pre-
parar o ambiente do lava-pés à vista de todos. Antecipadamente,
convidar pessoas que exercem os serviços comunitários e pessoas
que atuam na segurança pública para integrarem o grupo daqueles
a quem o ministro banhará os pés.
E PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

2. Preparar a capela do Santíssimo ou o local onde, na transla-


dação, após a “oração depois da comunhão”, será colocado o Santís-
simo Sacramento para a vigília da comunidade. Prever velas, turí-
bulo, incenso e véu umeral.
3. Proporcionar acolhida fraterna e calorosa às pessoas que vão
chegando para a celebração da Ceia da Quinta-feira Santa. O canto
do refrão meditativo: “Onde reina o amor, fraterno amor / Onde
reina o amor, Deus ali está” ou “Eu vos dou um novo mandamen-
to...” criará ambiente orante e introduzirá os fiéis no mistério da
celebração.
4. Torna-se muito significativo, nesta celebração, que, da procis-
são de entrada, participem os ministros e ministras da comunhão
eucarística da comunidade. Nessa procissão, podem tomar parte as
pessoas que terão os pés lavados.
5. Solenizar o canto do Glória, inaugurando o Tríduo Pascal.
6. Privilegiar, na medida do possível, a comunhão sob as duas
sagradas espécies para que, no sinal sacramental, a comunidade
viva melhor o mistério que se celebra nesta noite (mesmo que possa
demorar um pouco, vale a pena realizar este gesto, talvez seja opor-
tuna uma pequena orientação prática, antes da comunhão).
7. Realizar com piedade o rito da transladação do Santíssimo
Sacramento. Após alguns momentos de adoração silenciosa, o sa-
cerdote e os ministros fazem a genuflexão e retornam à sacristia.
Com discrição, retiram-se as toalhas do altar e, se possível, as cru-
zes da Igreja. Os fiéis sejam orientados a permanecerem, durante
algum tempo da noite, em adoração. Em sua forma solene, ela é
concluída antes da meia-noite. É bom lembrar que a vigília mais
importante é a do Sábado Santo, para a qual devem convergir todas
as atenções.

à Lembramos que o Santíssimo Sacramento não é exposto no


ostensório. O cibório é colocado dentro do tabernáculo que,
após a incensação, permanece fechado.
SEXTA-FEIRA SANTA

Celebração da Paixão do Senhor


10 de abril de 2009

"POR SEU SACRIFÍCIO VOLUNTÁRIO, O CORDEIRO DE DEUS


OFERECE SUA VIDA NAS MÃOS DO PAI (CF. LC 23,46)
QUE O FAZ SALVAÇÃO "PARA NÓS” (f COR 1,30) (DAP n. 143).
"O SOFRIMENTO HUMANO É UMA EXPERIÊNCIA ESPECIAL DA CRUZ
E DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR” (DAR. . 420).

Leituras: Isaías 52,13-53, 12; Salmo 30 (31),2.6.12-13.15-16.17.25;


Hebreus 4,14-16-5, 7-9; João 18,1-19, 42.

Situando-nos
A Sexta-feira da Paixão do Senhor é dia particularmente sagrado. A
Igreja acompanha os passos do Senhor em sua paixão até sua entre-
ga total na cruz. Mais do que uma data dedicada a um herói, hoje,
a humanidade sensibilizada e reconhecida, para diante do Filho de
Deus, nascido da Virgem Maria que “passou a vida fazendo o bem”.
Livre e corajosamente, Ele entrega-se por uma causa maior que a
própria vida: para que todos tenham vida e vida em abundância.
Sua morte na cruz, O revelou como Servo de todos, Sacerdote úni-
co e verdadeiro mediador entre Deus e a humanidade. Neste dia,
enfim, Ele é reconhecido no seu mistério: “De fato, esse homem era
mesmo Filho de Deus!” (Mc 15,39).
Agradecidos ao Pai que nos entregou seu Filho querido para
nos salvar, unamos nossos passos à caminhada de Jesus até sua mor-
te na cruz. No silêncio deste dia, contemplando e adorando o Cruci-
17 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

ficado, elevemos nossa oração pela humanidade, resgatada por seu


sangue redentor. Solidários com os sofrimentos do divino Redentor,
confiantes em sua ressurreição, acolhamos a vida nova que jorra da
cruz, iluminados pela Palavra de Deus.

Recordando a Palavra
O evangelista João, após apresentar o discurso de despedida e a ora-
ção pela unidade, nos conduz ao Jardim das Oliveiras onde Jesus,
muitas vezes, se encontrara com seus discípulos. Outrora, de um
jardim veio a perdição, agora, virá a salvação. O traidor conduz para
esse lugar as tropas. Jesus é preso, algemado e conduzido diante das
autoridades religiosas e do governador. Submetido ao interrogató-
rio, é injustamente condenado ao suplício da cruz. Um inocente é
entregue à fúria dos violentos os quais O flagelam, O coroam de
espinhos e O esbofeteiam sob os gritos do povo: “Crucifica-O! Cru-
cifica-O”! Ao confirmar que era Rei e que viera ao mundo para dar
testemunho da verdade, torna-se objeto de zombaria. Humilhado
e desprezado, Jesus foi obrigado a carregar sua cruz até o Calvário,
onde foi cruelmente crucificado, junto com outros dois. Erguido
entre o céu e a terra, de braços abertos, entrega sua Mãe ao discípu-
lo que Ele amava. Então, tomado por uma sede mortal e vendo que
tudo estava consumado, entrega seu espírito ao Pai . Não bastando
seu corpo ser dilacerado pela violência dos algozes, é atravessado
por uma lança, e imediatamente jorram sangue e água. Por fim,
alguns amigos fiéis intercedem junto às autoridades para conceder
a Jesus um sepultamento digno de Mestre, num jardim. A Paixão de
Jesus, segundo João, iniciou num jardim e se concluiu num jardim.
Desse local brotará a árvore da Vida.
O profeta Isaías, no emocionante poema “O quarto cântico do
Servo de Javé”, evoca um servo de Deus que enfrenta livremente a
dor e a humilhação até a morte e acaba sendo glorificado por sua
fidelidade. Este servo, na época em que o poema foi escrito, era,
provavelmente, o povo submetido a duras provações no exílio da
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Babilônia. O povo escolhido cerrara seus ouvidos à voz de Deus.


Isaías fala do futuro como se estivesse presente. O Servo de Javé
orienta toda a sua luta para uma nova realidade: os opressores, con-
vertidos ante o testemunho do Servo, vão reconhecer sua culpa e
vão também reconhecer que o sofrimento ao Servo foi causado por
eles e que eles próprios foram salvos, libertos e curados por este
mesmo Servo. Assim, a vitória final será a conversão dos opresso-
res, obtida pelo testemunho perseverante e fiel do Servo. É uma
confissão pública e coletiva dos culpados pelo sofrimento do povo
(cf. C. Mesters; 'A missão do povo que sofre”, 1981, p. 141). A tradi-
ção cristã vincula o cântico do Servo Sofredor à paixão de Jesus de
Nazaré (1º Leitura).
Diante de tanto sofrimento, o salmista lamenta tanta dor, mas,
doutra parte, manifesta sua confiança no Deus da justiça que ampa-
ra Os justos, atitudes que refletem o proceder de Jesus mergulhado
no sofrimento da paixão (cf. Sl 31 [30]).
As primitivas comunidades cristãs efetuaram a perfeita leitura
entre o poema do Servo Sofredor e o sofrimento a que Jesus foi sub-
metido. O Filho de Deus, nosso Sumo Sacerdote, tendo assumido a
condição humana, foi provado como nós, menos no pecado. Solidá-
rio com o gênero humano, Deus escutou seu clamor e se agradou
de sua oferta (2º Leitura).

Atualizando a Palavra
“Se o grão de trigo não morrer, não produzirá frutos” (Jo 12,24).
Jesus foi enviado ao mundo com a missão de doar sua vida para que
a humanidade tivesse vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10). Jesus
não estava buscando a morte, mas a vida plena, Contudo, não se
pode produzir a vida sem doação. A vida é fruto do amor e germina
lá onde o amor é pleno. Onde a doação de si mesmo é total. “Não
existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13). Amar
é doar-se sem se poupar, até desaparecer. A morte é condição para
que uma nova vida manifeste-se. A morte de Jesus não deve ser
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

vista como um acontecimento isolado, mas como a culminância


de todo um processo de doação de si mesmo. A entrega total no
alto da cruz é o último gesto da doação constante e sela a definitiva
entrega. “O mistério da cruz revela o significado mais profundo do
amor” (cf. Manual da CF 2009, nn. 101 e 102).
Do alto da cruz, o Servo sofredor, vendo que tudo estava rea-
lizado, exclamou: “Tenho sede!” e “Ele tomou o vinagre” que lhe
alçaram numa esponja ensopada. O gesto de tomar o vinagre ma-
nifesta que Jesus aceita a morte causada pelo ódio e a violência de
seus opressores. Ê o cumprimento da “sua hora” (cf. Jo 2,4; 13,1),
em que o Filho de Deus revela sua glória, seu amor sem limites
até o fim, passando deste mundo ao Pai. No alto da cruz, Jesus
pagou com sua vida o preço da maldade do pecado humano que
gera tanta violência, vingança e ódio. Hoje, como Jesus, milhares
e milhares de pessoas morrem inocentes. A tirania do poder e do
lucro continua sacrificando seres humanos e agredindo a obra da
criação (florestas, águas, terra, ar). Mas um dia, Jesus Cristo, como
Servo-Pobre-Sofredor de Deus, pregado na cruz como Rei univer-
sal, sumo e eterno Sacerdote, o mediador supremo entre Deus
e a humanidade, julgará e liquidará o império de todos quantos
tramam a morte dos inocentes.
“Tudo está consumado!”, isto é, a obra está completa! (cf. Jo
4,34). Jesus foi consequente até o ffm. Como o Pai, amou gratuita
e generosamente, doando-se por inteiro, sem esperar recompensa.
Realizando em si mesmo o projeto do Pai, sua morte revelou sua
glória. “Inclinando a cabeça, entregou o espírito”, gesto que signi-
ficava o fim para os que estavam aos pés da cruz, mas que era o
começo de uma nova vida. Pois, Jesus não morre por morrer e sim
para salvar, para completar o projeto do Pai pelo amor até as últimas
consequências. Este amor o transforma em doador de vida, pois o
Espírito que Ele recebera comunica-se, agora, à humanidade.
O Espírito que Jesus entrega como fundamento da nova alian-
ça, do novo povo, aqui simbolizado na entrega da Mãe ao discípulo
e do discípulo à sua Mãe (cf. Jo 19,25-27), é o fruto do grão de trigo
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

que morreu e germinou. Jesus, Messias e Servo sofredor, como cor-


deiro imolado na cruz, diferentemente da antiga aliança, comunica
à humanidade o Espírito, o amor fiel.
“Um soldado lhe atravessou o lado com uma lança, e imediata-
mente, jorrou sangue e água”. Jesus já estava morto. Em tantas situ-
ações de nossa sociedade também dizemos: por que tanta violência,
ódio e hostilidade contra pessoas e criaturas da natureza? A ação do
soldado quis pôr um fim definitivo à vida. Todavia, o ódio expresso
pela lança possibilita que o amor produza vida. O sangue, que jorra
do corpo ferido, simboliza que Jesus aceitou o desígnio do Pai para
salvar a humanidade (cf. Jo 18,11). É expressão de sua glória, de seu
amor ao extremo. O amor do pastor que se entrega por suas ovelhas
(cf. Jo 10,11). Sua doação na cruz fez jorrar um Espírito novo de vida,
simbolizado na água. Da cruz brotam, agora, rios de água que, no
povo da nova aliança, se transformarão em manancial de água viva,
sobretudo pelos sacramentos do Batismo e da Eucaristia (cf. Ofício
das Leituras da Sexta-feira Santa, Liturgia das Horas, p. 416).
No lugar onde O crucificaram havia um jardim. Quem já não
andou por lugares áridos e desertos e não foi surpreendido por pe-
quenos sinais de vida? O evangelista João introduz e conclui a nar-
rativa da Paixão evocando a presença de um jardim (cf. Jo 18,1 e 19,
41) para mostrar que, na morte de Jesus, há vida como numa se-
mente (cf. Jo 12,24). Enquanto o túmulo sinaliza a morte, o jardim
assinala o reino da vida. É aqui que haverá de se manifestar o amor
do Esposo (o Ressuscitado) à sua esposa (a Igreja).

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A Igreja inicia a celebração da Paixão do Senhor com o gesto de os
ministros prostrarem-se e todos rezarem em silêncio. É um gesto
que exprime a amorosa contemplação da entrega sem limites de
Jesus, fonte de nossa salvação. Hoje, não celebramos um funeral,
mas a morte vitoriosa do Senhor. Olhando para a cruz, cantamos:
“Vitória! Tu reinarás! Ô Cruz! Tu nos salvarás!”.
21 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

O elemento central e universal da liturgia da Sexta-feira Santa


é a proclamação da Palavra de Deus, em que se dedica particular
atenção à narrativa da Paixão de Jesus Cristo, segundo S. João. Da
proclamação da paixão de Jesus, brota a oração de súplica a Deus
para que, em sua misericórdia, lembre-se e santifique a Igreja, o
Papa, os Bispos, os Catecúmenos, os judeus, todos os que crêem em
Jesus Cristo, os que não acreditam em Deus, os governantes, todos
os que sofrem provações.
A atenção da Igreja fixa-se no Calvário. Na solene adoração da
santa cruz, trazida em procissão e apresentada à assembléia dos
cristãos, não se adora a cruz em si mesma, mas, Aquele que, do
lenho, doou sua vida para nossa salvação. “Eis o lenho da cruz,
do qual pendeu a salvação do mundo. Vinde, adoremos!”. Assim,
adoramos, Senhor, vosso madeiro; vossa ressurreição nós celebra-
mos. Veio a alegria para o mundo inteiro, por esta cruz que hoje
veneramos!”, O povo adora e aclama a vitória do amor sobre o ódio
e a violência; da verdade sobre a mentira; da justiça de Deus sobre
a injustiça dos poderosos. Beijando a cruz do Senhor, manifesta-
mos nosso compromisso solidário com a causa pela qual o Filho
de Deus doou sua vida. Ao comungarmos seu corpo, assimilamos
sacramentalmente sua entrega pela salvação da humanidade, a fim
de que possamos viver o quê e como Ele viveu. Por esta razão,
após a comunhão, o ministro reza: “Ô Deus, que nos renovastes
pela santa morte e ressurreição do vosso Cristo, conservai em nós
a obra de vossa misericórdia, para que, pela participação deste mis-
tério, vos consagremos toda a nossa vida”.

Sugestões

1. No local da celebração, sobretudo no recinto da igreja, desta-


car a cruz, símbolo de violência, sofrimento e maldição, mas que se
torna, ao mesmo tempo, sinal de bênção, esperança e vitória. A cruz
tem sentido libertador, quando assumida dentro do projeto de cons-
trução de uma nova sociedade. Apesar de todo o sofrimento humano,
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão )

faz sentido falar de cruz como ato de liberdade, amor e autoentrega.


2. Favorecer, no ambiente, o clima de silêncio e de despojamento.
3. A celebração divide-se em quatro momentos: liturgia da Pala-
vra, oração universal, adoração da cruz e comunhão. Não é permi-
tida a alteração desta sequência.
4. Neste dia, reveste-se de significação especial o rito da prostra-
ção do ministro que preside e de seus ajudantes, em profundo silên-
cio, no início da celebração. A comunidade toda pode ser convidada
a se ajoelhar, fazendo profundo silêncio.
5. O relato da Paixão segundo o evangelista João pode ser pre-
parado e realizado de forma dialogada, mas ela deve ser bem pre-
parada e ensaiada.
6. A oração universal é expressão da solidariedade com todo o
povo de Deus, que brotou do gesto de amor do Cristo na cruz. Hoje
a comunidade reunida reza pelas grandes necessidades da Igreja e
da humanidade. É importante respeitar a estrutura da oração, na
qual se anuncia a intenção da oração, segue-se um breve momento
de silêncio, concluindo-se com a oração de quem preside.
7. Solenizar o rito da apresentação e adoração da Santa Cruz;
o gesto do beijo na cruz pode ser acompanhado pelo canto: “Povo
meu, que te fiz eu” (HL2 - Hinário Litúrgico 2, p. 158) ou “Fiel ma-
deiro da santa cruz” (HL2, p. 145 e 146), ou “Vitória, tu reinarás”
(HL2, p. 199), ou cantos populares como: “Bendita e louvada seja no
céu a divina luz...”
8. No rito de comunhão, estende-se uma toalha sobre o altar, no
qual é colocado o pão eucarístico. Reza-se o Pai Nosso, seguindo-se
o convite: “Felizes os convidados...”
9. Concluída a oração sobre o povo, todos se retiram em silêncio.
à É recomendável lembrar que o dia seguinte é o “sábado da
espera da ressurreição”. Convidar os presentes a viverem
este dia em silenciosa expectativa. É dia também de fazer
um encontro com os que serão batizados na Vigília Pascal. A
própria equipe de liturgia deve reservar um momento para
rever toda a celebração.
VIGÍLIA PASCAL

(A Mãe de todas as Vigílias)


11 de abril de 2009

“OS SINAIS DA VITÓRIA DE CRISTO RESSUSCITADO


NOS ESTIMULAM ENQUANTO SUPLICAMOS A GRAÇA DA CONVERSÃO
E MANTEMOS VIVA À ESPERANÇA QUE NÃO DEFRAUDA” (DAP. n. 14).

Leituras: Gênesis 1,1-2,2 (ou 1,1.26-31a); Salmo 103 (104),1,2a.


5-6.10.12.13-14.24.35c (ou 32(33),4-5.6-7,12-13.20.22);
Gênesis 22,1-18; Salmo 15 (16); Êxodo 4,15-15,1;
Cântico: Êxodo 15: Isaías 54,5-14; Salmo 29 (30);
Isaías 55,1-11; Salmo (Isaías 12,2-3.4bcd. 5-6);
Baruc 3,9-15.32-4,4; Salmo 18b (19),8.9.10.11;
Ezequiel 36, 16-17*.18-28; Salmo 41 (42),3.5 bcd + 42,3.4;
Romanos 6,3-11; Salmo 117 (118),1-2.16 ab-17.22-23;
Marcos 16,1-7.

Situando-nos

Depois de termos vivido o sábado no silêncio da expectativa da ma-


nifestação de um grande acontecimento, a comunidade reúne-se com
grande alegria para a solene Vigília, a celebração mais significativa do
ano, a “mãe de todas as vigílias”. Esta é a noite santa que deve ser ce-
lebrada em santidade. “Purifiquem-se do velho fermento, para serem
massa nova, já que vocês são sem fermento. De fato, Cristo, nossa
páscoa, foi imolado. Portanto, celebremos a festa, não com o velho
fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com
pães sem fermento, isto é, na sinceridade e na verdade” (1Cor 5,7-8).
cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão xi:

A Vigília Pascal é o ponto de chegada, cuidadosamente planeja-


do no curso da caminhada quaresmal. A escuta da Palavra de Deus,
a oração, a busca da conversão e a vivência da fraternidade, pre-
pararam-nos para esta noite. Conduzidos pelo Espírito do Senhor
ao deserto, fizemos nossa caminhada e, agora, eis que chegamos à
Terra Prometida: a Páscoa do Senhor e nossa páscoa. Numa noite
semelhante aquela da libertação, em que o povo hebreu, oprimido
no Egito, esperou o sinal da partida para a Páscoa da liberdade (cf.
Ex 12), o Povo da Nova Aliança espera a ressurreição do Senhor Je-
sus. Deste modo, os cristãos aguardam com lâmpadas acesas (cf. Lc
12,15) que o Senhor saia vitorioso do sepulcro.
Na Vigília Pascal, a comunidade reúne-se para celebrar a
ressurreição do Senhor — acontecimento fundante que a constitui e
a identifica. Celebra o novo Adão, a nova criação do mundo. Nesta
perspectiva, Cristo é o Moisés que liberta o povo de todas as es-
cravidões. Em Cristo, o povo livre e peregrino, alicerçado na nova
Aliança com Deus, vive a plenitude da promessa e faz a experiência
da fraternidade e da partilha.
Não nos esqueçamos que a celebração da Vigília Pascal con-
densa um rico simbolismo. Ela é o eixo de todo o ano litúrgico.
Dela todas as outras expressões celebrativas da Igreja recebem sua
luz. Nesta noite santa, a Igreja celebra exultante, do modo sacra-
mental mais pleno, a obra da redenção e da perfeita glorificação de
Deus, como memória, presença e esperança.
A celebração da Vigília Pascal compõe-se das seguintes partes:
a liturgia da luz, a liturgia da Palavra, a liturgia batismal e a liturgia
eucarística.
A liturgia da luz inicia-se fora da igreja, com a bênção do fogo
novo e o acendimento do Círio Pascal. O Círio é o símbolo de Cris-
to ressuscitado que vence toda a escuridão. A luz, ao ser introduzida
na igreja pelo ministro, deve ser recebida com o canto: “Eis a luz
de Cristo!”. A assembléia aclama: “Demos graças a Deus!”. Os pre-
sentes acendem suas velas no Círio Pascal e a nova luz, qual nuvem
luminosa, vai se expandindo até iluminar todo o ambiente.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

O canto do Exultet é anúncio feliz da alegria da Páscoa. O céu e


a terra, a humanidade e a assembléia dos cristãos rejubilam-se pela
vitória do Cristo, luz que venceu as trevas da morte. É hino que
proclama a ação de graças pelas maravilhas de Deus realizadas ao
longo da História da Salvação, agora completadas pela nova criação.
À luz desta noite santa e feliz, tudo se reveste de novo sentido.
Pela liturgia da Palavra, a Igreja refaz a caminhada libertadora
pela escuta, canto dos salmos e orações. Proclamamos nove leitu-
ras: sete do Antigo Testamento e duas do Novo Testamento. Elas,
por assim dizer, sintetizam a milenar caminhada pascal, da cria-
ção, do Êxodo, do Filho de Deus e do novo Povo. É a aliança de
Deus com seu povo sendo construída, ao longo da história, até ser
ratificada no sangue do Cordeiro imolado. Se, todavia, por razões
particulares, as circunstâncias o exigirem, o número das leituras
pode ser diminuído. Entretanto, é importante que nunca se omita
a leitura do Êxodo sobre a passagem do Mar Vermelho (cf. Missal
Romano, p. 279 e Diretório Litúrgico, p. 70).
Concluída a liturgia da Palavra, inicia-se a liturgia batismal
composta pelo canto das ladainhas de todos os santos, a bênção da
fonte batismal, a renovação das promessas batismais, o Batismo,
preferencialmente de adultos. Nesta noite, todos os fiéis renovam o
Batismo, com velas acesas na mão. Recordamos, assim, o nascimen-
to para a vida cristã.
A liturgia eucarística, ponto alto da Vigília Pascal, evoca a ceia
pascal judaica, durante a qual o Senhor instituiu a Eucaristia, me-
morial de sua entrega total que, por seu sangue derramado, selou a
nova e eterna aliança: “Façam isto em memória de mim!”

Recordando a Palavra

Na Vigília Pascal, a assembleia reserva maior espaço de tempo à es-


cuta da Palavra de Deus. Os textos bíblicos, tanto do Antigo como
do Novo Testamento, falam de Jesus Cristo, iluminam a caminhada
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

histórico-libertadora e o sentido dos sacramentos pascais. Da cria-


ção à redenção, se estabelece um diálogo entre Deus e o povo pe-
las leituras proclamadas e pelo canto dos salmos e das orações. Os
textos bíblicos da Vigília Pascal têm uma coerência e um ritmo.
Como aos discípulos no caminho de Emaús, Jesus nos dá a chave
de compreensão: *... começando por Moisés e por todos os Profetas,
ç

explicava todas as escrituras que falavam a respeito dele” (Lc 24,27).


As leituras introduzem os fiéis no sentido e no conteúdo que a Pás-
coa de Cristo tem na vida da Igreja e de cada um dos fiéis.
A assembleia é motivada à liturgia da Palavra com o seguinte
apelo: “Meus irmãos e minhas irmãs, tendo iniciado solenemen-
te esta vigília, ouçamos no recolhimento desta noite a Palavra de
Deus. Vejamos como Ele salvou outrora o Seu povo e nestes últi-
mos tempos enviou Seu Filho como Redentor. Peçamos que o nos-
so Deus leve à plenitude a salvação inaugurada na Páscoa” (Missal
Romano, p. 279).
Na primeira leitura - Gênesis 1,1-2,2 (ou 1,1.26-31a) - o Criador
viu que tudo o que tinha criado era bom. A Igreja contempla, nesta
noite, a Páscoa de Cristo que ultrapassa, em grandeza, a criação do
mundo realizada no princípio.
A segunda leitura - Gênesis 22,1-18 ou (22,1-2.94.10-13.15-18) -
ressalta a fé obediente de Abraão e o sacrifício de Isaac como figuras
do próprio Cristo. Pela fé, Abraão tornou-se pai de todos os povos
que, pelo mistério pascal, corresponderem à aliança com Deus.
A terceira leitura - Êxodo 14-15,1 - sublinha a força do poder de
Deus. Hoje, como no passado, libertando o povo da escravidão do
Egito, fazendo-o passar a pé enxuto pelo mar Vermelho, faz brilhar
suas maravilhas para a salvação das nações, fazendo-as renascer das
águas do Batismo.
O profeta Isaías (4º Leitura: Is 54,5-14), através de uma vigorosa
mensagem de esperança, embasada na expressiva imagem do amor
matrimonial, alenta o povo, afirmando que o presente sofrimento é
momentâneo e passageiro. O profeta nos insere no clima pascal, an-
PA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

tecipando-nos que o Filho de Deus, após sua humilhação, provará


sua glorificação, da qual esperamos tomar parte definitivamente.
Novamente o profeta Isaías (5? Leitura: Is 55,1-11) revela ao povo
o insistente apelo de Deus à festa da nova aliança: “Venham para
mim, me escutem, que vocês viverão. Farei com vocês uma aliança
definitiva” (Is 55,3). A nova aliança restaurará a dignidade de vida
para todos.
O profeta Baruc (6º Leitura: Br 3,9-15.31-4,4) tem, diante de si,
um povo humilhado pelo sofrimento do exílio para o qual a vida
não tem mais sentido. Contudo, ele alerta sobre aprender a lição
dos fracassos. Estes são resultado do abandono da aliança com o
Senhor: “Felizes são os que conhecem o que agrada a Deus”.
Na palavra do profeta Ezequiel (7º Leitura: Ez 36,16-28), o Deus
que outrora ouvira os gritos do povo escravizado, vai renovar a li-
bertação de seu povo e levá-lo até a construção de uma vida nova. O
Senhor está empenhado na reconstrução da aliança para que tudo
volte à integridade primitiva por Aquele que é princípio de todas as
coisas, o Cristo ressuscitado.
O apóstolo Paulo proclama que pela fé e pelo Batismo partici-
pamos da morte e da ressurreição de Cristo, isto é, mergulhamos
nas águas da morte, emergimos para uma vida nova em Cristo res-
suscitado (cf. Rm 6,3-11).
Jesus de Nazaré, o que foi crucificado, ressuscitou. Esta é a
grande Boa Nova que o evangelista Marcos quer hoje nos trans-
mitir (cf. Mc 16,1-7). Significativas são as palavras do mensageiro
de Deus às mulheres que, bem cedo no primeiro dia da semana,
ao nascer do sol, foram ao túmulo: “Não fiquem assustadas. Vocês
estão procurando Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressus-
citou! Não está aqui!” O túmulo está vazio. Jesus não se encontra
mais entre os mortos. “Vocês devem ir e dizer aos discípulos dele
e a Pedro que Ele vai para a Galileia na frente de vocês”. O que im-
porta é que Jesus está vivo e pode ser encontrado na Galileia e não
no túmulo. “Lá vocês o verão, como ele disse”. O evangelista marca
o encontro com o Ressuscitado na Galileia, lá onde foi apresentado
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão 28

como Filho de Deus, Messias e Rei, que veio com a missão de inau-
gurar o Reino de Deus, como Servo de Javé (cf. Mc 1,9-10). Com a
morte e a ressurreição, o Reino está inaugurado. É o alvorecer de
um novo tempo no horizonte da humanidade. O Ressuscitado será
visto e encontrado nos lugares onde Ele revelou a misericórdia do
Pai, agindo em favor dos excluídos da sociedade que O conduziu à
morte. Sua nova condição ilumina e confirma suas ações.
O evangelista Marcos registra ainda a reação das mulheres.
Animadas por sentimentos de solidariedade, vão ao túmulo pen-
sando em um cadáver encerrado num sepulcro sob uma grande
pedra. “Quem vai tirar para nós a pedra da entrada do túmulo?”
No horizonte das mulheres, ainda pairavam as trevas da morte. A
luz da fé na ressurreição tardava. Ao verem que a pedra já havia
sido tirada da entrada do túmulo e no seu interior um jovem ves-
tido de branco sentado no lado direito, “saíram correndo, porque
estavam com medo e assustadas”. Diante das manifestações do so-
brenatural e do anúncio da ressurreição, as mulheres sentiram-se
intimidadas e refugiaram-se no silêncio (cf. comentário da Bíblia
do Peregrino).

Atualizando a Palavra

O Senhor Ressuscitou. Aleluia!


O que seria da humanidade se Jesus não tivesse ressuscitado?
São Paulo entendeu o alcance do mistério da ressurreição para a
vida cristã. “Se Cristo não ressuscitou, vazia seria nossa pregação
e ilusória a fé que vocês têm” (1Cor 15,14.17). A esperança perderia
sua razão de ser. Pois, “se a nossa esperança em Cristo, é somente
para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens”
(1Cor 15,19). O mundo, sem o Ressuscitado, desconheceria a gran-
deza da esperança. “Não está mais aqui. Ele vive. Aleluia!”. Cristo
ressuscitou dos mortos como primeiro fruto dos que morreram (cf.
ICor 15,20).
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Nesta noite santa da Vigília Pascal, celebramos a festa da Luz


sem sombras. Por esta razão, a Igreja canta exultante: o Cristo res-
surgindo trouxe a luz, “eis de novo a coluna luminosa, que o vosso
povo para o céu conduz”; “a noite será luz para o meu dia”; “enche
de luz e paz os corações”. A festa desta noite é de alegria, de ouvir
e cantar aleluias. É grito de júbilo porque, na vitória do Cristo
sobre as forças da morte, a vida está garantida. “O Cristo, nossa
Páscoa, verdadeiro Cordeiro, que tira o pecado do mundo. Mor-
rendo, destruiu a morte, e ressurgindo, deu-nos a vida” (Prefácio
da Páscoa 1). Em coro com a comunidade de Corinto, podemos
fazer ecoar: Ô morte, onde está tua vitória, Cristo ressurgiu, hon-
ra e glória! Não temos medo de nada, a morte foi derrotada e as
trevas foram vencidas, Cristo ressuscitou! (cf. 1Cor 15,55s). A vida
é mais forte que a morte.
Assim, o jubiloso anúncio pascal desta noite, pelo Batismo e a
ceia eucarística, torna-nos participantes da vitória de Cristo sobre
as trevas da morte. Como batizados, somos mergulhados na morte
de Jesus e ressuscitados com Ele para a vida. Sua Páscoa é também
nossa páscoa. A vitória d'Ele é também nossa vitória. “Páscoa de
Cristo na páscoa da gente. Páscoa da gente, na páscoa de Cristo”
(CNBB, doc. 43, n. 300). |
À luz da proclamação pascal desta noite, entendemos o profun-
do sentido de nosso Batismo, pelo qual participamos plenamente da
Páscoa de Cristo. Fomos consagrados para a vida do Deus miseri-
cordioso e convidados à renovação da fé e à adesão profunda à co-
munidade, mediante o encontro pessoal e profundo com Jesus Cris-
to vivo na Palavra, na liturgia e nos irmãos. Renovados em nosso
ser, irradiemos um pouco da luz desta noite nas trevas de nossa so-
ciedade. Lancemos sementes de esperança de vida nova no chão ba-
nhado de sangue de tantas vítimas da insegurança e alegremo-nos:
Cristo ressuscitou. Assim, nós ressuscitaremos com Ele. Aleluia!
A caminhada quaresmal abriu nossos corações à vida nova,
consolidada na celebração da Páscoa. Todos vivem a Vida Nova em
Cristo ressuscitado que é a paz. Isso significa que todos se tornam
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

protagonistas da paz. É necessário o empenho de todos, no dia-a-


dia, para que a paz que o Ressuscitado nos deseja não caia no esque-
cimento (cf. Manual da CF 2009, pp. 104-108).

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Ele ressuscitou. Aleluia! É a boa notícia que ecoa nesta noite, mil
vezes santa. As trombetas soam fulgurantes a vitória do Cristo Se-
nhor e Rei. A mãe Igreja alegra-se erguendo as velas do fogo novo
e escuta o Aleluia, cantado pelo povo, enfim libertado pelo sangue
do Cordeiro imolado que sobre a morte triunfou.
Celebrar a Páscoa é festejar, no hoje de nossa história, a res-
surreição de Jesus Cristo com novos horizontes e novas perspecti-
vas de vida para cada pessoa, paras as nossas comunidades e para a
humanidade inteira em comunhão com a criação, restaurada pelo
Espírito do Ressuscitado. Celebrar a Páscoa é ter a convicção de que
“este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exulte-
mos” (Sl 118).
No júbilo da liturgia desta noite, celebrando a maravilha da
nossa criação e a maravilha ainda maior da nossa redenção, reno-
vamos nossa consagração ao Deus que, pelas águas do Batismo,
fez-nos passar das trevas à sua luz admirável. Passando pelas águas
batismais, somos mergulhados na imensidão da compaixão do Pai
que nos recria para uma nova condição de vida.
Assim, cheios de alegria, reunidos em torno do altar, cumprin-
do o que Ele nos mandou, celebramos a ação de graças (eucaristia)
e tomamos parte da ceia pascal com o Senhor. Que esta Eucaristia
pascal nos fortaleça em nossa caminhada e nos conserve sempre
unidos no amor com que Cristo nos amou para anunciarmos o seu
Evangelho, a sua pessoa, vida, morte e ressurreição. Queremos re-
alizar e celebrar o encontro pessoal com Ele nesta celebração co-
munitária. Queremos segui-lo e ajudar as pessoas a se encontrarem
com Ele (cf. CNBB, Páscoa: Vida Nova!, pp. 18-19).
Es PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Sugestões e

A Vigília Pascal é a celebração mais rica e a mãe de todas as cele-


brações do ano litúrgico da Igreja. Pelos inúmeros elementos que a
compõem, ela requer uma antecipada e boa preparação. Tudo deve
ser visto, refletido, organizado e ensaiado com amor. Por ser a ce-
lebração mais importante, nada deve ser improvisado, como tam-
bém, dada a riqueza de gestos e símbolos da liturgia desta noite, não
se faz necessário “inventar coisas novas”. É suficiente realizar bem
o que já é proposto pelo rito da Vigília Pascal".

Para a celebração da luz:

1. prever o local um pouco afastado da igreja onde possa ser fei-


ta uma fogueira. Essa distância possibilita uma pequena procissão
até a igreja;
2. pedir às pessoas da comunidade que tragam pedaços de lenha
para formar a fogueira;
3. prever velas suficientes para todos os que participam da celebração;
4. antes de acender a fogueira, a comunidade pode, eventual-
mente, ser convidada a falar das luzes, das esperanças e dos sonhos
que gostaria que se acendessem na comunidade, nas famílias e na
caminhada do povo brasileiro;
5. enquanto o fogo é aceso, pode-se cantar: “Ô luz do Senhor,
que vem sobre a terra! Inunda meu ser, permanece em nós!” ou
“Indo e vindo, trevas e luz, tudo é graça, Deus nos conduz!”:
6. durante a procissão, cantar refrões ou cantos conhecidos por todos.

Para o momento da celebração da Palavra:

1. prever um local próximo ao ambão onde possa ser colocado


o Círio Pascal;

1 Cf CNBB. PNE-QV). Páscoa: a vida venceu a morte para sempre!. São Paulo. Paulinas, 2008. pp.
33-37.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

2. providenciar para que o Exultet seja bem cantado. Normalmen-


te é o diácono quem canta. Se não houver diácono, então o presidente
ou, na impossibilidade deste, outra pessoa preparada pode cantar;
3. na Vigília da Páscoa, temos mais leituras. Elas ajudam a co-
munidade a fazer memória dos grandes feitos de Deus na história.
Para que a comunidade possa de fato usufruir da riqueza dessa his-
tória, é preciso que as leituras sejam bem preparadas, de modo que
encantem quem as ouve. Preparar bem o grupo de canto, os leitores
e os salmistas;
4. o Aleluia desta noite tem que ser vibrante, alegre. Um (a) jo-
vem pode entrar no meio da assembleia vestido de branco e dizer
com admiração e em voz alta, como dando uma notícia muito im-
portante: “Irmãos, Irmãs! Tenho uma grande notícia para vocês:
Jesus Ressuscitou! Ele está vivo! Jesus ressuscitou, Jesus ressuscitou!
Por isso podemos cantar, Aleluia!”;
5. a proclamação do Evangelho é o ponto culminante de toda
a liturgia da Palavra. Por isso, proclamar o Evangelho como quem
conta uma maravilhosa notícia;
6. a homilia deve ser breve e direta. Que ela ajude os fiéis a
sentirem-se interpelados por essa Palavra de esperança que foi
proclamada.

Para a celebração do Batismo:

1. a equipe de liturgia preveja, com antecedência, que, nesta


Vigília, festa batismal por excelência, seja realizado ao menos um
Batismo, de preferência de um adulto;
2. durante a ladainha, sete pessoas, segurando potes de água,
entram em procissão e ficam ao redor da pia batismal ou de outro
recipiente grande, enfeitado para o Batismo. Durante a oração, a
cada tipo de água mencionado na bênção, derrama-se a água de um
pote na pia. É bom que a oração de bênção contenha uma aclama-
ção da assembleia. Isto pode ser encontrado no rito de bênção da
água, no Ritual do Batismo;
33 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

3. valorizar o gesto de mergulhar o Círio três vezes na água,


conforme indicado no Missal Romano;
4. é recomendável abençoar a água para que os fiéis a levem
para suas casas.

Para a celebração da Eucaristia:

1. algumas mulheres podem estender uma toalha de festa


sobre o altar, enquanto se entoa o canto das oferendas. Só depois
são trazidos os dons: uma jarra com vinho abundante, as partícu-
las ou, onde for possível, o pão ázimo. Se houver só celebração da
Palavra, alimentos podem ser trazidos para serem partilhados no
final, como ágape. Que o Prefácio e toda Oração Eucarística sejam
vibrantes. Durante o canto do Santo, pode haver uma dança com
flores ao redor do altar;
2. valorizar a mesa eucarística. Se a comunidade não for muito
numerosa, distribuir a comunhão a partir da mesa e sob as duas
espécies.

Ornamentação:

1. ornamentar com bom gosto e nobre simplicidade sobretu-


do os locais que marcam as quatro partes da celebração da Vigília:
o local do Círio Pascal, a mesa da Palavra, a pia batismal (batisté-
rio) e o altar.

Previsões para a celebração da Vigília Pascal

Preparar para a bênção do fogo:

1. uma fogueira (num lugar fora da Igreja, onde o povo se


reúna);
2. o Círio Pascal;
3. Os cinco grãos de incenso e um estilete;
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

. utensílio adequado para acender a vela com o fogo novo”;


ms

. lanterna para iluminar os textos a serem lidos;


. velas para os que participam da Vigília;
NA

incenso;
. talha de barro ou turíbulo;
Oo

9. utensílio para acomodar, na talha de barro ou no turíbulo, as


brasas do fogo novo;
10. tochas que acompanham o Círio Pascal.

Para a proclamação da Páscoa (Exultet)


e para a liturgia da Palavra:

1. candelabro para o Círio Pascal, posto junto à mesa da


Palavra;
2. o ambão para o cantor proclamar o Exultet e para os leitores
da liturgia da Palavra;
3. Lecionários;
4. fogos de artifício e sinos para os momentos de exultação
pascal.

Para a liturgia batismal:

1. potes de barro ou recipientes adequados, com água;


2. aspersório ou ramos apropriados para aspergir o povo com
água benta;
3. óleo dos catecúmenos, santo crisma, vela batismal, livro do
Ritual do Batismo.

Pessoal e serviços:

1. os que preparam e acendem a fogueira;


2. acendedor do fogo novo;
3. carregador do Círio Pascal;
4. carregadores das tochas que acompanham o Círio Pascal;
eo PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

5. apagadores e acendedores das luzes da igreja;


6. cantor da proclamação do Exultet;
7. leitores para as leituras propostas: sete do Antigo Testamento
e duas do Novo Testamento (Epístola e Evangelho). Por razões pas-
torais, pode-se diminuir o número de leituras do Antigo Testamen-
to, exceto a terceira (Ex 14,15-15,1), que não pode ser omitida;
8. salmista ou cantor para os Salmos Responsoriais;
9. pessoas que arrumam o altar;
10. tocador dos sinos;
11. sineiros e fogueteiros: ao entoar o “Glória a Deus nas altu-
ras”, tocam-se os sinos e, se for o caso, soltam-se fogos de artifício;
12. carregadores dos jarros ou potes com água;
13. ministros para ajudar na aspersão da assembleia com água
benta e na distribuição da comunhão eucarística;
14. apresentadores dos catecúmenos;
15. organizadores da procissão até a pia batismal ou ao
batistério;
16. coroinhas (acólitos);
17. outros elementos que se julguem adequados, de acordo com
a realidade da comunidade.
DOMINGO DA PASCOA
12 de abril de 20009

JESUS NOS OFERECE A RESSURREIÇÃO E À VIDA ETERNA


NA QUAL DEUS SERÁ TUDO EM TODOS (CF. ! COR 15,28)" (DAP, 109).

Leituras Atos dos Apóstolos 10, 34. 37-43; Salmo 117 (118);
Colossenses 3,1-4 ou ICoríntios 5,4b-8; João 20,1-9 ou,
nas Missas vespertinas, Lucas 24,13-35.

1. Situando-nos
É Páscoa! Festa da vida que venceu a morte. Na verdade, o Cristo
ressuscitou, Aleluia! A Ele o poder e a glória pelos séculos eternos.
Neste domingo da Páscoa (1º dia da semana), transbordando de ale-
gria pascal, celebramos a ressurreição do Senhor, renovados pelo
Espírito, ressuscitamos também na luz da vida nova.
Depois de termos vivido quarenta dias de Quaresma, sem can-
tar Aleluia, neste domingo de Ressurreição, com todos os nossos ir-
mãos e irmãs, somos convocados a proclamar com alegria: “Aleluia,
o Senhor Ressuscitou, Aleluia”!
Nossa fé na Ressurreição de Jesus, causa de nossa esperança, baseia-
se na fé dos primeiros discípulos de Jesus que reconheceram o Cruci-
ficado-Ressuscitado! Embora ninguém tenha visto sua ressurreição, o
agir ressuscitador de Deus atua no silêncio, no segredo e na intimidade
de seu seio regenerador. A comunidade cristã percebeu e compreen-
deu, aos poucos, no encontro com o Senhor e pela ação do Espírito, que
seu Mestre tinha ressuscitado e continuava vivo no meio deles.
A fé no Ressuscitado nos impulsiona a ir ao encontro dos cruci-
ficados de hoje para partilhar com eles a Boa Nova de que Deus está
vivo no meio de nós, ressuscitando, libertando da morte e fazendo
uma nova criação.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Recordando a Palavra

Raiava a luz do primeiro dia de uma nova semana. No lusco-fusco


do amanhecer, Maria Madalena vai ao sepulcro. “Estava escuro”.
Ela ainda não tomara consciência dos sinais e não respirara a bri-
sa da nova vida. Confusa, pensava que a morte triunfara. Movida
pelo sentimento de solidariedade, vai ao encontro do amigo morto
enterrado no túmulo. “Não se dá conta de que o dia já começou”.
Surpresa, “viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo”. Alarma-
da, corre para avisar Pedro e o outro discípulo, dizendo: “Tiraram
do túmulo o Senhor, e não sabemos onde o colocaram”. Não fala
da pedra removida, mas do Senhor que levaram. Como ainda não
tinha superado a experiência da morte, aquilo que era sinal de vida,
ela interpreta como sinal de morte.
Ao receberem a notícia, os dois discípulos têm a mesma reação:
correm juntos para o sepulcro. Mas o amigo de Jesus chega por pri-
meiro. Inclinando-se, vê os lençóis no chão, mas não entra. Vê que
há sinais de vida, mas não compreende. Pedro chega, não se detem
para observar e entra imediatamente no túmulo. Observa apenas
que os lençóis estavam estendidos no chão (sinal das bodas prepara-
das) e o sudário (simbolo da morte) enrolado num outro lugar. Por
fim, o discípulo que tinha chegado primeiro entra, vê e crê! Diante
dos sinais, Pedro não esboça nenhuma reação. O discípulo, amigo
de Jesus, vê e acredita: “Ele despertou do sono, pois, o doador da
vida não podia ficar aprisionado pelo poder da morte”. O sepulcro
vazio é sinal de que o Senhor está vivo (cf. Jo 20,1-9).
Na 1º, leitura, Pedro, movido pelo Espírito, diante de uma pla-
teia de não-judeus, faz o anúncio solene do núcleo da fé cristã: “Nós
somos testemunhas de que Jesus Cristo que passou a vida fazendo
o bem e curando a todos, depois de cear com seus discípulos, foi
crucificado e morto, mas Deus o ressuscitou!”, O discurso apresenta
uma síntese da vida pública, da atividade messiânica, da morte e
ressurreição de Jesus, após ser ungido pelo Espírito. Os apóstolos
são testemunhas da vida, palavras, obras, morte e ressurreição. Por
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão 38

fim, evocando o testemunho dos profetas, Pedro exorta que quem


aderir a Jesus, pela fé, receberá o perdão dos pecados, isto é, passará
a fazer parte da comunidade de seus seguidores. Diante da ação
maravilhosa de Deus, a comunidade canta: de fato, “este o dia que
o Senhor fez para nós!” (Sl 118).
Neste sentido, Paulo, utilizando a simbologia do fermento, aler-
ta a comunidade de Corinto para a nova realidade de vida. Assim
como a festa judaica exigia a destruição do fermento da maldade e
da perversidade (Ex 12,9), agora que nossa vítima Pascal, o Cristo,
foi imolada, celebremos a Páscoa com os pães ázimos de sincerida-
de e verdade. Pelo Batismo, os cristãos morrem e ressuscitam com
Cristo, por isso tornam-se criaturas novas e devem manter-se nessa
vida pascal de santidade, pois Cristo, o Cordeiro sem mancha, foi
imolado por nós (2º. leitura).

Atualizando a Palavra
As primeiras palavras do evangelho de hoje: “no primeiro dia da
semana”, nos remetem ao relato da criação do Gênesis. Dessa ma-
neira, o autor do quarto Evangelho quer situar o leitor diante de
uma nova criação: a ressurreição. Ela foi o ato supremo da criação,
a maior obra de Deus. A comemoração festiva da ressurreição de
Jesus celebra a vitória da vida contra tudo o que a ela se opõe.
O evangelista João motiva-nos à experiência de fé na ressurreição
por meio do verbo “ver”, citado quatro vezes no texto do evangelho.
É pelos diferentes modos de “ver” de Maria Madalena, de Pedro e do
discípulo amigo, ou seja, da comunidade, que se revela o processo da
passagem da morte, da dor e da perda para a experiência de fé na res-
surreição. É importante considerar que tanto Maria Madalena quanto
Pedro e o discípulo amigo simbolizam a comunidade cristã e o pro-
cesso que ela faz para perceber e acreditar na ressurreição de Jesus.
Na experiência de fé das primeiras comunidades, fundamenta-se
a força missionária da Igreja que, ao longo dos séculos, teve a certeza
de proclamar: “O Senhor Ressuscitou, verdadeiramente, aleluia!”.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Em Maria Madalena, vemos uma comunidade atordoada e que


sofre pela morte violenta de Jesus. A comunidade sente-se perdida e
destituída de forças sem Jesus. Por isso o evangelho frisa que “ainda
estava escuro”, quando ela foi ao sepulcro. Podemos imaginar os
sentimentos de dor e desorientação da mulher discípula, que seguiu
com tanto amor Aquele que a libertara e devolvera dignidade e sen-
tido à sua vida. O amor corajoso a leva a ir sozinha ao sepulcro,
mostrando, assim, a busca da comunidade cristã ansiosa de vida e
de amor que, sem saber como será possível, espera que a morte não
seja a última palavra. Ela se dirige ao lugar onde tinha sido colocado
o corpo morto de seu Mestre. Surpresa, vê o túmulo vazio. É um
sinal que remete à possibilidade da ressurreição. É um convite à fé,
embora não leve ainda à fé.
A comunidade é estremecida e impulsionada a reagir face ao
anúncio alarmado de Maria Madalena aos discípulos, revelando
que o corpo do Senhor havia sido roubado. Por isso, os dois disci-
pulos saem correndo, o discípulo amigo de Jesus, que esteve com
no julgamento, na caminhada ao Calvário e aos pés da cruz, chega
primeiro ao túmulo. Percebe que há sinais de vida, mas ainda não
alcança a plena compreensão do que aconteceu.
Pedro chegou depois e entrou, “viu os lençóis de linho estendi-
dos no chão e o sudário que tinha sido usado para cobrir a cabeça de
Jesus”. Pedro observa que tudo está em perfeita ordem. O evangelis-
ta, ao descrever o cenário, sublinhando que onde jazia o corpo morto
de Jesus agora estavam somente os lençóis ordenadamente dobrados
e o sudário enrolado à parte, deseja chamar a atenção aos sinais de
vida e de fecundidade. O corpo do Senhor não foi roubado.
Finalmente o discípulo que chegou primeiro, entra no túmulo.
Ele “vê e acredita”! A fé do discípulo amigo sofre um salto qua-
litativo. No lugar onde jazia o corpo morto do Mestre, os olhos
da fé se abrem e compreendem que Jesus está vivo! Ressuscitou!
Essa experiência nova de fé dada ao discípulo é dom do Espírito,
que lhe concede acreditar que Deus livrou da morte o seu Filho,
ressuscitando-O!
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Em Cristo ressuscitado, ecoa a palavra definitiva: Deus pronun-


cia sua última palavra em favor da Vida. Por tal razão, a comuni-
dade é tomada pela certeza de que Deus resgatou Jesus da morte,
confirmando a autenticidade e o valor de sua vida, palavra e obras.
Deus está do lado de Jesus, do lado dos crucificados de todos os tem-
pos. Assim as portas do Reino dos céus abrem-se. Nosso futuro está
aberto, podemos ser sempre homens e mulheres de esperança, por-
que, com a ressurreição de Jesus, entrou em nossa história o júbilo
de quem venceu a morte e a alegria de uma vida nova! Aquilo que
era sonho, utopia, promessa, em Jesus ressuscitado, transformou-se
em acontecimento, em realidade completa. A vida agora é plena,
porque realizada na total comunhão e amor com todas as criaturas
de Deus, porque Alguém nos libertou da morte. Aleluia!
Contudo, não basta rejubilarmos com o triunfo da vida. “Bus-
cai as coisas do alto!” , isto é, cabe-nos discernir, na realidade do
cotidiano, a forma de vida que Deus nos prometeu e realizou, de
forma exemplar, em Jesus Cristo ressuscitado. Mais importante ain-
da é nos colocarmos no seguimento de Jesus, aderindo à sua Boa
Nova e à sua missão, na certeza de que: quem tenta viver como Ele
viveu, já começa a sentir em si o dinamismo da ressurreição. Este
dinamismo presente em nós, sobretudo pelo Batismo, faz desabro-
char as sementes de comunhão e de amor, os botões de fraternida-
de, de abertura terna e vigorosa para os irmãos, enfim, abrem-se e
florescem a plenitude da vida no Reino de Deus.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


“Ressuscitei e estou convosco para sempre.” Estas palavras, tiradas
de uma antiga versão do Salmo 138, ressoam ao início da celebração
eucarística de hoje. Com este anúncio, no dia de Páscoa, a Igreja
reconhece a própria voz de Jesus que, ao ressurgir da morte, dirige-
se ao Pai, cheio de felicidade e amor, exclamando: “Meu Pai, eis-
me aqui! Ressuscitei! O vosso Espírito nunca me abandonou” (Papa
Bento XVI, Homilia da Páscoa. 23/03/08).
H PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Neste domingo, o anúncio pascal ecoa vibrante por toda a terra


e repercute no coração dos discípulos do Senhor. O túmulo está va-
zio, a vida triunfou sobre a morte. “Jesus, Pascal Cordeiro, em vós
se alegra o povo, que, livre pela graça, em vós nasceu de novo”.
A Eucaristia é o sacramento da Páscoa, isto é, da morte e res-
surreição de Jesus Cristo, que o Espírito Santo atualiza na Igreja,
em memória de Jesus Cristo ressuscitado. “O Cristo nossa Páscoa,
morreu como um Cordeiro. Seu corpo é nossa oferta, Pão vivo e
verdadeiro”.
Graças à morte e à ressurreição de Cristo, também nós, hoje,
ressurgimos para uma vida nova e, unindo a nossa voz à do Ressus-
citado, proclamamos o desejo de permanecer em comunhão para
sempre com Deus, nosso Pai infinitamente bom e misericordioso.
Deste modo, mergulhamos na profundidade do mistério pascal.
Como discípulos missionários do Senhor, a exemplo de Maria
Madalena e dos apóstolos Pedro e João diante do túmulo vazio,
nos tornemos testemunhas da ressurreição e experimentemos sua
presença de Ressuscitado na pessoa de cada irmão, na comunidade
reunida na fé, na Palavra de Deus proclamada e no Pão e Vinho
partilhados.

Sugestões -
1. Preparar de forma festiva o ambiente, dando destaque ao
Círio Pascal e à pia batismal, com muitas flores e a cor branca ou
amarelada nas vestes e toalhas. O canto do Aleluia deve marcar a
celebração.
2. Significativo seria cumprimentar as pessoas com as palavras:
“O Senhor ressuscitou, verdadeiramente ressuscitou. Aleluia!” Sole-
nizar a procissão de entrada em que as pessoas batizadas na Vigília
Pascal ingressam vestidas de branco (vida nova),
3. Dar particular destaque à acolhida do Círio Pascal. Por exem-
plo, após o canto de entrada, uma pessoa acende o Círio e proclama:
“Bendito sejas, Deus da Vida, pela ressurreição de Jesus Cristo e por
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

essa luz radiante!”. Em seguida, incensa o Círio e o povo reunido


canta um hino pascal.
4. Aspergir a assembleia, no Ato Penitencial, com a água que foi
abençoada na Vigília Pascal, ajudando a comunidade a aprofundar
sua consagração batismal. Na eventualidade de a água não ter sido
abençoada na Vigília, o ministro reza a oração de bênção conforme
o Tempo Pascal (Missal Romano, p. 1002). No ato da aspersão, a co-
munidade canta: “banhados em Cristo somos uma nova criatura, as
coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo. Aleluia!”
5. Solenizar a proclamação do Evangelho, que pode ser cantado
ou encenado. Usar também o incenso.
6. Possibilitar a comunhão sob as duas sagradas espécies para
todos os comungantes.
7. Abençoar e enviar os irmãos e irmãs com a bênção final pró-
pria para o Tempo Pascal, conforme o Missal Romano, p. 523.
2º DOMINGO DA PASCOA
19 de abril de 2009

"COMO DISCÍPULOS E MISSIONÁRIOS, SOMOS CHAMADOS A INTENSIFICAR


NOSSA RESPOSTA DE FÊ E ANUNCIAR QUE CRISTO REDIMIU
TODOS OS PECADOS E MALES DA HUMANIDADE” (DAR, n. 134),

Leituras: Atos 4,32-35; Salmo 118 (117); 1João 5,1-6; João 20,19-31

Situando-nos

No segundo domingo da Páscoa, estamos reunidos para celebrar


nossa festa maior: a Páscoa. Ela é tão importante que a celebramos
por cinquenta dias. “Os cinquenta dias entre o domingo da Ressur-
reição e o domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria e
exultação, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, como um
grande domingo” (Normas Universais do Ano Litúrgico e Calendá-
rio Romano Geral, n. 22).
Ressuscitando dos mortos, passando da morte para a vida, Jesus
transformou-se em fonte e meta de nossa caminhada missionária.
Fonte de todos os bens que Ele anunciou em sua pregação. Neste
domingo, indo ao encontro e manifestando-se vivo à comunidade
dos discípulos, Ele retoma o sopro original da criação e transmite-
lhe a reconciliação e a paz, dons de sua Páscoa.
Celebremos o mistério da Páscoa do Senhor, sinal maior da mise-
ricórdia do Pai, vivido por todos aqueles que se empenham em favor
de relações reconciliadoras, fundadas na justiça, na caridade e na paz.

Recordando a Palavra
No primeiro dia da semana, logo após o pôr-do-sol, a comunidade
dos discípulos estava reunida num ambiente bem protegido, por
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão 44

medo das autoridades dos judeus. No ar, pairavam temor e inse-


gurança. Talvez a notícia de Maria Madalena tivesse chegado aos
seus ouvidos, mas assim mesmo, estavam atemorizados. Somente
a presença de Jesus poderia restituir alegria e garantir segurança.
Superando os limites do espaço, o Ressuscitado coloca-se no meio
deles, desejando a todos a paz e mostrando-lhes os sinais de seu
amor e de sua vitória.
No reencontro, o temor cede lugar à alegria. Superado o medo,
o Senhor os saúda novamente, enviando-os à missão. Sua paz os
acompanhará no presente e no futuro, em meio às provações do
mundo. Para que dêem continuidade à sua missão, Jesus confere
aos seus escolhidos o alento de vida, o seu Espírito, que os capacita
para a missão. O resultado será constituir comunidades libertas e
reconciliadoras, como testemunhas vivas do amor gratuito e gene-
roso do Pai. Todavia, haverá os que manifestarão sua adesão a Jesus
e outros que se refugiarão numa atitude de hostilidade.
Tomé, que era um dos doze, não participara do encontro co-
munitário com o Ressuscitado. Ele ouve o testemunho unânime
de todos: “Vimos o Senhor!”, mas não acolhe o testemunho como
prova suficiente para acreditar que Jesus esteja vivo. Ao contrário,
exige prova individual e extraordinária. Alguém poderia ver nisto
uma atitude de teimosia. Ocorre que o encontro com o Ressuscita-
do, que fundamenta a fé, realiza-se mediante a experiência do amor
na comunidade. Tomé estava ausente! Entretanto, oito dias depois,
a comunidade volta a se reunir e, agora, Tomé está presente. O Se-
nhor reaparece para a alegria da comunidade e em seguida, dirige-
se a Tomé revelando-lhe seu amor nos sinais que traz nas mãos e
no lado. O discípulo, sem apelativos, reconhece o Ressuscitado e
aceita-O, expressando sua adesão total. “Meu Senhor e meu Deus!”
É, porém, censurado por não crer no testemunho da comunidade e
exigir uma experiência individual.
Na verdade, Tomé invertera a ordem, sem escutar os discípulos
e sem perceber a nova realidade criada pelo Espírito, queria encon-
trar-se com o Jesus que conhecera na caminhada. Todavia, encon-
45 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

tra-se com o Senhor na experiência vivenciada pela comunidade de


fé. Tomé reconhece em Jesus o servo glorificado, acredita e procla-
ma: “Meu Senhor e meu Deus”. Porém, felizes serão os discípulos
que acreditarão, sem terem visto (Evangelho).
A experiência de amor da comunidade de fé no Senhor ressus-
citado manifesta-se no espírito de comunhão fraterna e na partilha
dos bens. “Ninguém considerava propriedade particular as coisas
que possuía, mas tudo era posto em comum”. Além disso, “Entre
eles ninguém passava necessidade”. O encontro com o Ressuscitado
requer ruptura com as práticas egoístas e concentradoras, que ge-
ram a exclusão, a fome e todo tipo de necessidades. A comunidade,
alicerçada no amor fraterno e na partilha dos bens, constitui-se em
testemunho palpável da presença do Ressuscitado entre os seus dis-
cípulos ao longo dos tempos (1º Leitura).
João sublinha que, pela fé em Cristo, os batizados tornam-se
filhos de Deus e, portanto, irmãos uns dos outros. Não se pode que-
rer amar a Deus, sem amar aqueles de quem ele é Pai. O sinal que
atesta a caridade fraterna (o amor aos irmãos) é a observância dos
mandamentos de Deus. Na comunidade de fé, pode existir a prática
do amor altruísta, mas o amor que perdura e vence toda provação
é aquele de quem está unido a Deus. A quem cumpre a vontade de
Deus, o Espírito o levará ao conhecimento de toda a verdade sobre
Jesus, o Filho de Deus, morto e ressuscitado (2º Leitura).

Atualizando a Palavra

A exemplo das primeiras comunidades cristãs, reunimo-nos para


escutar a Palavra, rezar, participar da ceia do Senhor. É a comuni-
dade que tem como centro Jesus Cristo vivo e presente, crucificado
e ressuscitado. Sua presença suscita confiança e segurança. Desta
presença, emerge a força de vida que anima à missão de comunida-
de reconciliadora, libertando as pessoas de tudo quanto as mantém
subjugadas às forças que geram medo e insegurança.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão 46

Como no passado, hoje muitas pessoas vivem de “portas tran-


cadas”. Dominadas pelo medo e pela insegurança, aguardam por
melhores dias de justiça e de paz. “A paz esteja com vocês!”. Assim
como a saudação do Ressuscitado restaurou a paz e a alegria na
comunidade dos discípulos, Ele, hoje, nos torna protagonistas da
paz. “Eu também envio vocês!”, assim a paz precisa ser conquista-
da, construída pelo empenho de todos, no dia a dia, para que ela
aconteça (cf. Manual da CF 2009, nn. 230 e 231).
A comunidade que acolhe e manifesta sua adesão ao Senhor
é enviada pelo Espírito do Ressuscitado a testemunhar o amor do
Pai, isto é, a prolongar, no curso dos tempos, a oferta de vida que,
em Jesus, Deus fez à humanidade. O reino de vida que Cristo veio
trazer é incompatível com as situações desumanas de muitos aban-
donados, excluídos e ignorados em sua miséria e dor. Se pretende-
mos fechar os olhos diante dessas realidades, não somos defensores
da vida do Reino e nos situamos no caminho da morte: “Nós sabe-
mos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos.
Aquele que não ama, permanece na morte”- (Jo 3,14) - (cf. DAp, n.
358). A aceitação ou rejeição deste amor é, para a comunidade cristã,
critério de discernimento de seu empenho no serviço, na missão
recebida de Jesus, para que todos tenham vida e vida em plenitude.
“Como discípulos e missionários, somos chamados a intensificar
nossa resposta de fé e anunciar que Cristo redimiu todos os pecados
e males da humanidade” (DAp, n. 134).
Neste aspecto, a comunidade reunida contempla a glória do
Ressuscitado e o esplendor de seu amor. “Tocar suas mãos e seu
lado” é estar em comunhão com Ele e d'Ele receber o espírito de
vida nova. À contemplação dos sinais da vitória de Cristo ressusci-
tado e do amor fiel pelos seus até o fim, impulsiona a comunidade
à missão. As inúmeras iniciativas na perspectiva da promoção hu-
mana, da solidariedade e da busca de soluções face à realidade desu-
mana em que vivem milhões de nossos irmãos e irmãs, devem ser
animadas pelo amor do Pai que nos fez todos seus filhos e irmãos,
em Jesus Cristo sob a ação do Espírito Santo.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

A comunidade eclesial é, portanto, o lugar primordial onde, na


fé, se acolhe e se reconhece a presença e a atuação do Ressuscitado,
onde se manifesta e se irradia seu amor. Tomé é o protótipo da-
queles que não valorizam o testemunho comunitário e são insen-
síveis aos sinais da presença do novo, pois estão surdos e indiferen-
tes aos apelos de vida que se revelam na sociedade. Pensam apenas
em si mesmos e exigem demonstrações particulares. Tomé é um
exemplo contra o qual é preciso precaver-se. O mais importante,
porém, é que ele supera esta dificuldade e é capaz de professar a fé
no ressuscitado.
Jesus alerta que a fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos
conduz à comunhão. Ser cristão, hoje, requer e significa pertencer
a uma comunidade concreta na qual se pode viver uma experiência
permanente de discipulado e de comunhão. A figura de Tomé é
eloquente para os nossos dias, pois diante da tentação, muito pre-
sente na cultura atual, de ser cristão sem Igreja e das novas buscas
espirituais individualistas, afirmamos que a fé em Jesus Cristo nos
chegou pela comunidade eclesial. Não há, portanto, discipulado
sem comunhão (cf. DAp, n. 156).
O Ressuscitado nos assegura “felizes serão os que acredita-
ram sem ter visto”. Felizes são aqueles que aderem à pessoa de Je-
sus no cotidiano da vida e empenham-se totalmente na esperança
de um novo mundo. Crer, na perspectiva do quarto evangelho, é
mais do que uma atividade intelectual. Crer é entregar-se ao Ou-
tro e empenhar-se por inteiro à sua causa. Crer é ir até as últimas
consequências com Aquele por quem se optou. Crer é estabelecer
com Ele uma relação pessoal que se transforma em amor. Crer é
abrir os olhos para reconhecer no Ressuscitado o sentido da vida:
“Meu Senhor e meu Deus!”. Ter fé é vida, é amar, é agir de forma
concreta na história a partir de Jesus Cristo ressuscitado a quem
se aderiu como discípulo. Nessa profunda e viva adesão a Cris-
to, é que seremos discípulos felizes. Não vimos, mas cremos! São
Tomé, rogai por nós.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Ligando a Palavra com a ação eucarística


“Era o primeiro dia da semana”. “A multidão dos fiéis era um só
coração e uma só alma”. O domingo é o dia da reunião da comu-
nidade. Os cristãos, ao longo dos séculos, sempre sentiram esse dia
como o “primeiro da semana”, porque nele se faz memória da novi-
dade radical trazida por Cristo. Por isso, o domingo é o dia em que
o cristão reencontra a forma eucarística própria da sua existência,
segundo a qual é chamado a viver constantemente: viver segundo o
domingo, significa viver consciente da libertação trazida por Cristo
e realizá-la como oferta de si mesmo, para que a sua vitória se ma-
nifeste plenamente a todos através de uma conduta intimamente
renovada (cf. Sacramentum Caritatis, n. 72).
A comunidade de fé edifica-se pela participação daqueles que
creem na presença e aderem ao novo inaugurado pelo Ressuscita-
do. A Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro dos discípulos
com Jesus Cristo. O Ressuscitado nos atrai para si e nos faz entrar
no dinamismo das relações com Deus e com o próximo.
Em cada Eucaristia, os cristãos celebram e assumem o misté-
rio pascal. Portanto, os fiéis devem viver sua fé na centralidade do
mistério pascal de Cristo através da Eucaristia, de maneira que toda
a sua vida seja cada vez mais eucarística. A Eucaristia, fonte inesgo-
tável da vocação cristã, é, ao mesmo tempo, fonte inextinguível do
impulso missionário (cf. DAp, n. 251). Ela ainda, “impele todo o que
acredita em Jesus ressuscitado a fazer-se 'pão repartido' para os ou-
tros e, consequentemente, empenhar-se por um mundo mais justo
e fraterno” (Sacramentum Caritatis, n. 88).
“Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era comum
entre eles... e não havia necessitados entre eles” (At 4,32.34). A Igreja
como comunidade de amor, nutrida com o pão da Palavra e com o
pão do Corpo de Cristo, além de testemunhar e promover a carida-
de, deve denunciar as situações indignas em que vivem milhões de
pessoas, as quais morrem à míngua de alimento por causa da injus-
tiça e da exploração (cf. Sacramentum Caritatis, n. 90).
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Hoje, o Ressuscitado coloca-se em nosso meio e vem ao encon-


tro de cada pessoa, para nos reanimar na fé. Novamente nos confir-
ma na missão, concedendo-nos seu Espírito, para que sejamos agen-
tes de um mundo reconciliado e pacífico, como expressão do amor
e da partilha solidária que nutrimos na comunidade de fé.

Sugestões ir Ad

1. Preparar de forma festiva o ambiente, dando destaque ao Cí-


rio Pascal e à pia batismal, com muitas flores e a cor branca ou ama-
relada nas vestes e toalhas.
2. Acolher, com alegria fraterna, os irmãos e irmãs que chegam
para tomar parte na celebração.
3. Aspergir a assembleia, no Ato Penitencial, com a água que foi
abençoada na Vigília Pascal, ajudando a comunidade a aprofundar
sua consagração batismal. No ato da aspersão, a comunidade canta:
“banhados em Cristo ..”.
4. Solenizar a proclamação do Evangelho, precedido do canto
do Aleluia. Se oportuno, o Evangelho pode ser cantado ou encena-
do. O Evangeliário pode ser incensado.
5. Sublinhar, na procissão dos dons para a Eucaristia, a oferta de
outros dons, como alimentos e roupas para serem distribuídos aos
pobres — “Ninguém considerava propriedade particular as coisas
que possuía, mas tudo era posto em comum”; “Entre eles ninguém
passava necessidade”.
6. Proclamar com vibração a ação de graças (Oração Eucarística
[), pode-se cantar o Prefácio da Páscoa e, nas celebrações da Palavra,
entoar um “Bendito Pascal”.
7. Dar realce ao gesto da fração do pão. Cristo nossa Páscoa,
é o Cordeiro imolado, Pão vivo e verdadeiro. A assembleia canta:
“Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo...”.
8. Possibilitar a comunhão sob as duas sagradas espécies para
todos os comungantes.
9. Abençoar e enviar os irmãos e irmãs com a bênção final pró-
pria para o Tempo Pascal, conforme Missal Romano, p. 523.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

10. Fazer uma prece especial pela 48º. Assembleia Geral dos
Bispos do Brasil que se inicia na quarta-feira, dia 22 de abril, em
Indaiatuba, bairro Itaici, São Paulo-SP,
car Ta “a = : Free as o yu e o Y 15. BreE 7. “E É CRT SS a Da pe SEER
;

3º DOMINGO DA PÁSCOA
26 de abril de 2009

NESTA NOVA ETAPA EVANGELIZADORA,


QUEREMOS QUE O DIÁLOGO E À COOPERAÇÃO ECUMÉNICA
SE ENCAMINHEM PARA DESPERTAR
NOVAS FORMAS DE DISCIPULADO E MISSÃO EM COMUNHÃO.
CABE OBSERVAR QUE ONDE SE ESTABELECE O DIÁLOGO,
CRESCE O CONHECIMENTO RECÍPROCO E O RESPEITO
E SE ABREM POSSIBILIDADES DE TESTEMUNHO COMUM (DAP q. 233),

Leituras: Atos dos Apóstolos 3,12a.13-15.17-19; Salmo 4; 1João 2,1-5;


Lucas 24,36-48

Situando-nos

Neste 3º domingo da Páscoa, somos convidados a crer e fazer a ex-


periência de Jesus, de sua ressurreição e vida nova em Deus, para
sermos suas testemunhas como discípulos missionários.
Jesus ressuscitado revela-se à comunidade que, apesar de me-
drosa e descrente, reúne-se no primeiro dia da semana. Ele está
vivo e continua presente na comunidade de seus seguidores. É pre-
cisamente no encontro comunitário, no diálogo com os irmãos que
partilham a mesma fé, na escuta comunitária da Palavra de Deus,
no amor partilhado em gestos de fraternidade e de serviço solidá-
rio, que a comunidade pode fazer a experiência do encontro com
o Ressuscitado e partir em missão para testemunhar que o Senhor
ressuscitou verdadeiramente.
Neste encontro comunitário, entoemos nossos louvores ao Pai
que nos faz passar, com Cristo, da morte para a vida e nos torna
agentes da Boa Nova da reconciliação e da paz, dons pascais.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Recordando a Palavra
A comunidade dos discípulos está reunida em Jerusalém. Está cien-
te das aparições do Ressuscitado. Jesus apareceu no meio deles e
os saudou: “A paz esteja com vocês!”. Contudo, o ambiente ainda é
de medo, de dúvida e de angústia. A comunidade sente-se desam-
parada e insegura. “Espantados e cheios de medo, pensavam estar
vendo um espírito”. O evangelista Lucas relata como os discípulos,
diante da manifestação do Ressuscitado, foram, progressivamente,
descobrindo e aderindo a Ele. A Ressurreição não é uma imagina-
ção, mas um fato real, incontestável, que, todavia, os discípulos des-
cobriram e experimentaram ao longo de uma caminhada difícil,
penosa, carregada de dúvidas e de incertezas. “Por que vocês estão
perturbados, e por que o coração de vocês está cheio de dúvidas?”
Mais uma vez, os discípulos aparecem como uma comunidade
desconfiada, crítica e exigente, que só reconhece Jesus vivo e res-
suscitado depois de percorrer um caminho longo e exigente. Não é
um grupo de idealistas ou de ingênuos que aceita qualquer ilusão. A
Ressurreição não foi para os discípulos um acontecimento imedia-
tamente evidente, mas um processo de amadurecimento da própria
fé, até chegar à experiência do Senhor ressuscitado. “Vejam as mi-
nhas mãos e os meus pés. Sou eu mesmo. Toquem-me e vejam”. Lu-
cas recorre a elementos sensíveis e materiais, como tocar e comer
peixe assado, para sublinhar que o encontro com o Ressuscitado foi
uma experiência muito forte e marcante, única.
Pretende também mostrar que o Jesus que está no meio dos
discípulos, embora diferente e irreconhecível, é o mesmo que per-
correu com eles os caminhos da Palestina, pregando a Boa Nova
do Reino. Como Ressuscitado, Ele continua presente no meio dos
seus, animando sua caminhada, seus sonhos e esperanças nas difi-
culdades e sofrimentos. Como no caminho de Emaús (Lc 24,36-47),
Jesus ressuscitado desvela o profundo sentido das Escrituras das
quais Ele torna-se intérprete e cumprimento. Destarte, animados
pelo encontro com o Ressuscitado e alimentados pela Palavra, os
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

discípulos recebem a missão de testemunhar a todas as nações o


fundamento da fé cristã: a morte e a ressurreição de Jesus. Missão
que deverá se traduzir no anúncio da conversão e do perdão dos
pecados (Evangelho).
Pedro e João, às três horas da tarde, sobem ao templo para re-
zar. À porta Formosa está um coxo de nascença, mendigando. A
seu pedido de esmola, Pedro solicita: “Olhe para nós!” e avisa: “Não
tenho nem ouro e nem prata!”. O discípulo acrescenta que tem algo
melhor: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levante-se e come-
ce a andar!”. Curou-o! Não dá dinheiro, mas a vida! Com o mesmo
assombro com que a multidão reunia-se para ouvir Jesus falar, ago-
ra se reúne para escutar o apóstolo. A ação dos apóstolos está em
continuidade com a missão de Jesus Cristo. Pedro, referindo-se aos
acontecimentos da morte e da ressurreição do Mestre, convoca a
todos a mudar de vida e aderir à pessoa e à Boa Nova do Ressusci-
tado: “Arrependam-se e convertam-se para que os pecados de vocês
sejam perdoados.” (1º Leitura). Ciente do agir de Deus, o salmista
canta: “Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz do vosso rosto” (Sl 4).
João, sem polemizar com os que pretendiam conhecer ou viver
em comunhão com Deus, mas que recusavam-se reconhecer Jesus, o
Messias, segue apresentando aos participantes de suas comunidades
o caminho da autêntica vida cristã. Criticando os que se consideram
isentos do pecado, o apóstolo enfatiza que o cristão é chamado à san-
tidade pela renúncia do egoísmo, da autossuficiência, da injustiça. Em
seu entender, só conhece Deus quem guarda seus mandamentos. Isto
é, quem vive em comunhão íntima com Ele, numa relação pessoal de
proximidade, de familiaridade, de amor sem limites. O conhecimen-
to de Deus requer atitudes concretas de escuta, acolhida e vivência
dos desígnios (Palavra) revelados em Jesus Cristo (2º Leitura).

Atualizando a Palavra
Neste 3º domingo pascal, somos tomados pelo sentimento que in-
vadiu os corações dos discípulos: alegria pela ressurreição de Jesus.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Lembramos o projeto 'O Brasil na Missão Continental” que justa-


mente tem como lema: “A alegria de ser discípulo missionário”. De
fato Jesus ressuscitou e está vivo e atuante no meio da comunidade
de seus seguidores.
A Ressurreição suscita sentimentos de medo, de surpresa, de
dúvida e de alegria. Há quem afirme que o medo inibe, a surpresa
rejuvenesce, a dúvida é o meio caminho andado em direção à ver-
dade, a alegria é consequência da certeza do encontro. Mas, obser-
vando atentamente os relatos das aparições de Jesus ressuscitado,
todos refletem as dificuldades que os discípulos encontraram para
acreditar e reconhecer Jesus ressuscitado (cf. Lc 24, 37-38. 41; Jo 20,
11-18. 24-29; 21,1-8; Mt 28,17; Mc 16,11.14).
Ocorre que a Ressurreição não é um acontecimento cientif-
camente comprovado, material e captável pelas câmeras dos fotó-
grafos ou das redes televisivas. Há quem se pergunte: a Ressurrei-
ção não terá sido uma invenção da Igreja primitiva para desviar a
atenção do fracasso de Jesus condenado a morrer na cruz? Como
encontrar-se verdadeiramente com Jesus ressuscitado?
Como outrora o discípulo Tomé, há hoje quem exija provas da
ressurreição de Jesus. Os relatos evangélicos atestam a ressurreição
de Jesus, revelando o túmulo vazio (cf. Jo 20, 1; Lc 24, 3); a fala do
anjo às mulheres (cf. Mt 28, 5-6; Mc 16,6; Lc 24, 5-6); as diferentes apa-
rições do Ressuscitado aos discípulos reunidos (cf. Lc 24,34; Jo 20,19-
20.26; Mc 16,125); o encontro de Jesus com os discípulos no caminho
de Emaús e o seu reconhecimento ao partir o pão (cf. Lc 24,30-31).
A ressurreição de Jesus encerra-se na lógica da fé e do testemunho
e não das evidências materiais, das provas sensíveis e das demonstra-
ções científicas. Contudo, o testemunho da Ressurreição traz consigo
certa crise (cf. Lc 24,4; Jo 20,3. 11). Supõe que o discípulo (o cristão)
também faça a passagem da morte para a vida. Não há afirmação da
vida sem passagem pela morte, ou seja, sem crise que abra horizontes
ao novo. À lógica da fé é um caminho que se trilha com o coração
aberto à comunicação de Deus, sempre pronto para acolher os apelos
em favor da vida. Crer e dar testemunho da ressurreição implica de-
fender a vida, sobretudo dos mais fracos da sociedade.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Os discípulos iniciaram o caminho da fé e do testemunho da


Ressurreição com dúvidas e incertezas, mas fizeram a experiên-
cia do encontro com o Cristo vivo e chegaram à certeza: “Ele está
vivo!”, “Realmente o Senhor ressuscitou!”, “Nós o reconhecemos
ao partir o pão”. Observemos que esta experiência e a certeza da
presença de Jesus vivo e ressuscitado efetuam-se na comunidade
reunida, lugar primordial da acolhida, do encontro com o Senhor
ressuscitado e da partilha da vida de fé.
Os discípulos tiveram inúmeros encontros com o Mestre. Mas,
agora, encontrar-se com Ele na condição de ressuscitado adquire um
significado especial. O caminho que conduz ao Senhor ressuscitado,
vivo e atuante, é o mesmo em que Ele revela-se: na comunidade reu-
nida, no diálogo entre irmãos, na escuta comunitária da Palavra, no
amor partilhado em gestos de solidariedade e de serviço à vida.
“E vocês são testemunhas disso!”. A comunidade dos discípu-
los é missionária da Boa Nova da Ressurreição. O testemunho que
o Cristo solicita constitui-se em gestos mais do que em palavras.
O Ressuscitado vem, hoje, ao encontro das pessoas e oferece-lhes
a salvação através dos gestos de acolhida, de partilha solidária, de
serviço gratuito em favor e em defesa da vida, do amor sem limites.
São gestos que testemunham, diante da sociedade, que Cristo está
vivo e que continua, por meio de sua Igreja, a obra de libertação da
humanidade (cf. DAp, n. 98). Anunciando, em seu nome, o arrepen-
dimento e o perdão dos pecados a todas as nações, a comunidade
dá continuidade à missão de libertar as pessoas de tudo o que as
oprime e de propor a todos uma dinâmica nova de vida.
Ser testemunha do Cristo é proclamar com ardor renovado sua
Ressurreição. A Boa Nova da ressurreição do Senhor e nossa com
Ele é precisa: somos destinados à VIDA e não à morte. No amor
fraterno de nossas comunidades cristãs, o mundo enxergará o Res-
suscitado, o Cristo vivo. Esta é a nossa certeza e esse deve ser o nos-
so compromisso: sermos testemunhas do Ressuscitado, oferecendo
aos povos o maior tesouro que possuímos: Jesus Cristo ressuscita-
do, nosso Salvador. Aleluia!
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Na comunidade reunida, acolhemos e nos encontramos com o Se-
nhor ressuscitado. Desejando-nos a paz, Ele nos liberta dos medos e
temores que enfraquecem nosso testemunho de fé. Configurados a
Cristo pelo Batismo, estamos unidos Aquele que é a Paz.
Na proclamação da Palavra de Deus, o Ressuscitado abre nossa
mente de discípulos para a compreensão dos mistérios do Pai. Iu-
mina e fortalece nossa fé de cristãos no mundo a fim de que nada
nos perturbe no testemunho e no anúncio da conversão e do perdão
dos pecados. Em sua Palavra e na Eucaristia, Jesus nos oferece o
alimento para a missão.
Tomando parte da ceia eucarística, descobriremos que Jesus res-
suscitado senta-se à mesa com seus discípulos missionários, sempre
que a comunidade reúne-se para partilhar o pão que Ele nos deixou
e que nos torna participantes da comunhão com Ele e com nossos
irmãos. A celebração eucarística dominical, “é o momento privile-
giado do encontro das comunidades com o Senhor ressuscitado”
(DAp, n. 305). Nesse encontro, Deus imprime à nossa existência um
dinamismo novo que nos compromete a sermos testemunhas de
seu amor. Imbuídos deste amor, tanto mais clara será a incumbên-
cia da missão: levar Cristo, não meramente uma idéia ou uma ética
n'Ele inspirada, mas o dom de sua própria pessoa (cf. Sacramentum
Caritatis, nn. 85 e 86).
O Senhor ressuscitado nos confia a missão de anunciar 'em seu
nome”, um novo projeto de vida pascal. Assim, como “discípulos
missionários temos a tarefa prioritária de dar testemunho do amor
a Deus e ao próximo com obras concretas” (DAp, n. 386).

Sugestões

1. Acolher, com afeto, os irmãos e irmãs que chegam para to-


mar parte na celebração pascal.
2. Solenizar o acendimento do Círio Pascal antes da procissão
de entrada. A pessoa que acende o Círio proclama: “Bendito sejas,
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Deus da Vida, pela ressurreição de Jesus Cristo e por essa luz ra-
diante!”. Em seguida, o Círio é levado em procissão ao local prepa-
rado e visível.
3. Aspergir a assembleia com a água que o ministro abençoa,
rezando a oração de bênção conforme o Tempo Pascal (Missal Ro-
mano, p. 1002). O rito da aspersão, que substitui o ato penitencial,
ajuda aos batizados a renovarem e aprofundarem o Batismo. A as-
persão deve ser acompanhada de um canto adequado.
4. Proclamar, com vibração, a ação de graças (Oração Eucarísti-
ca). Pode-se cantar o Prefácio da Páscoa (cf. Missal Romano, p. 423),
as aclamações e o Amém da doxologia.
5. Dar realce ao gesto da Fração do Pão. Cristo nossa Páscoa
é o Cordeiro imolado, Pão vivo e verdadeiro. A assembleia canta:
“Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo...”.
6. Abençoar e enviar os irmãos e irmãs com a bênção final pró-
pria para o Tempo Pascal, conforme Missal Romano, p. 523. Lem-
brar as palavras de Jesus: “Em meu nome, vocês serão anunciadores
da conversão e do perdão dos pecados a todas as nações”.
à Lembrar que dia 1º de maio é dia de S. José Operário e Dia
do Trabalhador.
PRM OT em too carpinteiro
meira eo vu 7 Tr re

4º DOMINGO DA PÁSCOA
03 de maio de 2009

"NOSSO SERVIÇO PASTORAL À VIDA PLENA


EXIGE QUE ANUNCIEMOS A JESUS CRISTO E A BOA NOVA DO REINO DE DEUS,
DENUNCIEMOS AS SITUAÇÕES DE PECADO, AS ESTRUTURAS DE MORTE,
A VIOLÊNCIA E AS INJUSTIÇAS INTERNAS E EXTERNAS E FOMENTEMOS
O DIÁLOGO INTERCULTURAL, INTERRELIGIOSO E ECUMÊNICO”. (CF. DAP, n. 99),

Leituras: Atos dos Apóstolos 4,8-12; Salmo 118 (117); 1João 3,1-2;
João 10,11-18

Situando-nos

Hoje é o domingo do Bom Pastor e Dia Mundial de Oração pelas


Vocações.
Jesus ressuscitado, como Bom Pastor, revela ternura e cuidado
para com seu povo, em especial com os pobres e sofredores.
O júbilo do Tempo Pascal nos enche de alegria e nos convida a
dar graças ao Pai pela vida que germina da entrega e dos cuidados
do Bom Pastor com seu povo. Queremos louvar e bendizer pelas
pessoas que, a exemplo do Cristo, preocupam-se com as condições
de vida, de saúde, de segurança das comunidades humanas.
Na celebração deste 4º domingo da Páscoa, contemplando o Cristo
ressuscitado, Bom Pastor, que doa sua vida para que o rebanho tenha
vida em abundância, o Pai nos conceda a graça de viver em sua comu-
nhão e na doação gratuita e generosa aos nossos irmãos e irmãs.

Recordando a Palavra
João Evangelista nos apresenta uma alegoria com elementos que
se revestem de profundo significado. Os rebanhos que, sob os cui-
59 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

dados do pastor, dispersavam-se em busca de pastagens durante


o dia, recolhiam-se, à noite, num redil, onde eram protegidos dos
ataques dos animais ferozes e dos ladrões. Ao amanhecer, cada pas-
tor chamava suas ovelhas e elas o seguiam a caminho das escassas
pastagens na região. A figura do pastor é muito comum e singular
em Israel. O profeta Ezequiel já havia se referido à imagem do bom
pastor (cf. Ez 34,1-31, 37,165).
Jesus apresenta-se, afirmando: “Eu sou o bom pastor”. Desta-
que-se aqui o adjetivo “bom”. Noutros termos, Ele diz: “Eu sou o
modelo de pastor, o pastor ideal”. À primeira vista, parece muita
presunção de Jesus. Ocorre que o contexto é de polêmica entre Je-
sus e os líderes do povo judeu. As palavras do Mestre ecoam como
denúncia ao modo como o povo era tratado por seus líderes.
Para tornar as coisas ainda mais claras, Jesus contrapõe as ati-
tudes do “verdadeiro pastor e do 'pastor mercenário”. Este trabalha
por dinheiro, o rebanho não lhe pertence, limita-se a cumprir deter-
minadas obrigações. Abandona o rebanho sempre que aparece algo
que ponha em risco sua vida e, fugindo, deixa as ovelhas ao alcance
das feras e dos ladrões.
O bom pastor, por sua vez, conhece cada uma de suas ovelhas,
tem uma relação pessoal e íntima, comparável à relação de amor e
de intimidade que Jesus tem com o Pai. É precisamente este amor
que o leva a doar a própria vida e a não fugir diante das ameaças
e do perigo. Todavia, seu pastoreio não se limita às fronteiras de
Israel, “Tenho também outras ovelhas que não são deste curral”.
Seus cuidados de pastor destinam-se a levar vida a todos os povos
da terra (Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha
voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”), de tal sorte que todos
quantos ouvirem sua voz (acolherem e aderirem à sua Boa Nova)
constituirão a comunidade (rebanho) da qual Ele é o único Pastor.
Jesus revela as razões que movem sua missão. Despojado de interes-
ses pessoais, com total liberdade, doa sua vida em cumprimento da
vontade do Pai, para que as ovelhas tenham vida e vida em abun-
dância (Evangelho).
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Pedro e os primeiros cristãos, animados pelo Espírito, enfren-


tam corajosamente aqueles que se opõem e recusam a Boa Nova
de Jesus que o Pai ressuscitou dos mortos. Confessam que Jesus é a
pedra que os construtores rejeitaram e que se tornou a pedra angu-
lar, base do projeto de vida nova e plena que Deus revelou à huma-
nidade. Ele é a fonte donde brota a salvação. Jesus ressuscitado é o
único pastor que conduz o rebanho às verdes pastagens e às águas
tranquilas, isto é, à vida plena (1º Leitura).
Jesus Cristo ressuscitado, a pedra rejeitada pelos mercenários
do povo, mas constituída em pedra angular por Deus, motiva o sal-
mista a cantar: “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! Eterna é a
sua misericórdia” (Sl 118 [117]).
João lembra aos membros das comunidades cristãs que eles são
filhos de Deus, em razão do grande amor que Ele tem pela huma-
nidade. A condição de filhos” dá aos cristãos uma posição singular
diante do mundo. A filiação divina, recebida pelo Batismo, é uma
realidade que envolve o fiel por toda a sua vida e que implica a prá-
tica coerente com as obras e as propostas de Deus. No domingo do
Bom Pastor, João convida à contemplação da bondade, da ternura
e da misericórdia de Deus que conduzirá à plenitude da vida todos
quantos escutarem seu chamado e viverem de acordo com dom de
vida que Ele oferece (2º Leitura).

Atualizando a Palavra
A sociedade, sobretudo os jovens, vive de modelos e de figuras re-
ferenciais construídas por heróis, mestres ou outras personagens
ilustres. Os padrões editados pela mídia, dominada por uma elite,
projetam modelos que condicionam as pessoas a construírem, pela
imitação, seus próprios modelos, por vezes, com consequências ne-
fastas. Um atleta bem sucedido alimenta o sonho da autorrealiza-
ção, da fama, de ser um herói para milhões de indivíduos. Os mo-
delos mexem com o universo imaginário e simbólico das pessoas,
sobretudo com o dos jovens.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Sem vaidade própria, Jesus apresenta-se: “Eu sou o Bom Pas-


tor”. Ser pastor evoca vigilância, atenção, segurança e terno cuida-
do. Pastor é o que conhece, chama e conduz às pastagens férteis e
às águas refrescantes. Esta figura transformou-se em sinônimo de
pessoa que guia e está à frente de um povo, de uma comunidade,
solícito e centrado naquilo que lhe diz respeito.
Ao apresentar-se como Bom Pastor, Jesus coloca-se em contra-
posição com os líderes e donos do povo que, nas horas de dificul-
dade, abandonaram-no, tornando-se mercenários. O Bom Pastor é
bom, por ser Filho de Deus e porque doa sua vida pelas ovelhas.
Jesus acresce à tradicional imagem do pastor um elemento
novo: “Pastor é aquele que dá a vida por suas ovelhas”. Entregando
sua vida e ressurgindo para a nova vida, Jesus apresenta-se à comu-
nidade dos discípulos como o Pastor por excelência. Ele entrega sua
vida movido pela lógica do amor e não dos interesses e benefícios
pessoais. Quem não ama até a doação de sua vida, não pode ser tido
como pastor exemplar.
O pastor está sempre vigilante aos perigos e aos ataques do ini-
migo do rebanho. Na atualidade, os lobos manifestam-se de muitas
e sofisticadas formas. Apresentam-se empunhando as bandeiras do
relativismo, do individualismo, do lucro fácil, da sociedade seculari-
zada e centralizada no consumismo hedonista e individualista, que
coloca a vida humana em função do prazer imediato e sem limites,
que obscurece o sentido da vida e a degrada (cf. DAp, n. 357). Estas
e outras realidades fazem com que as pessoas afastem-se da verdade
das coisas de Deus e do convívio da comunidade eclesial.
Observemos que Jesus, para sublinhar as atitudes de um bom
pastor, recorre à lógica das relações de intimidade com o Pai: “Assim
como o Pai me conhece e eu conheço o Pai”. É esse amor cultivado
na intimidade com o Pai que leva Jesus a doar incondicionalmente
a vida pelas ovelhas. Por conseguinte, conhecer Jesus e assumi-lo
como modelo de vida, implica conhecer seu amor e aderir a seu es-
tilo de atuação. A relação de amor entre Jesus e os seus (as ovelhas)
é o que gera a relação de intimidade, de confiança, de diálogo, de
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

pertença e de segurança. É isso que nutre a esperança do dia em que


haverá “um só rebanho e um só pastor”.
A figura do Bom Pastor nos permite recordar que toda a ação
e serviços eclesiais são denominados 'pastoral' porque os fiéis, em
virtude do Batismo e dos carismas que possuem, são chamados a
um serviço específico, pois doam a vida pela causa d'Aquele que se
entregou para que a humanidade tivesse vida plena. A imagem do
Bom Pastor evoca a generosidade e a disponibilidade de inúmeros
cristãos nos serviços da Igreja.
Através de pessoas, como o Papa Bento XVI, os bispos em suas
dioceses, os padres nas paróquias e os incontáveis agentes de pasto-
ral, Jesus, o Bom Pastor, continua doando sua vida, manifestando
seu carinho e sua atenção para cada um de nós, para cada comu-
nidade eclesial, em especial, aos pobres e sofredores. Estes são os
privilegiados da ternura e do cuidado do Bom Pastor.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A Igreja contempla a íntima relação existente entre o Bom Pastor,
o mistério pascal e o sacramento da Eucaristia. O Bom Pastor foi,
desde os primórdios da era cristã, o símbolo máximo da Eucaristia:
“Eu sou o bom pastor. Eu dou a vida pelas ovelhas”.
A Eucaristia é memorial da vida livremente doada por Jesus
Cristo. Ela é realmente o sacramento da morte e da ressurreição
do Senhor, de seu supremo ato de amor. Ê, portanto, na Eucaristia,
que se torna sacramentalmente presente a ação amorosa do Bom
Pastor, o qual, depois de ter anunciado a 'boa nova” do Reino, ofe-
receu em sacrifício a própria vida pelas ovelhas — a humanidade.
Assim, a celebração eucarística torna presente o amor oblativo do
Bom Pastor para todos os filhos de Deus. Ele não só se entregou
pelas ovelhas, mas, em sacramento, continua presente, doando-se
como alimento e bebida. A Eucaristia é Cristo, o Bom Pastor, que
se dá a nós, edificando-nos continuamente como seu rebanho, seu
povo sacerdotal.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

O Bom Pastor não abandona seu rebanho. Não estamos sós


neste mundo, com nossos problemas e angústias, navegando entre
incertezas e esperanças. Não estamos sem rumo e sem horizontes.
O Bom Pastor está no meio de nós, caminhando à nossa frente,
conduzindo-nos às pastagens férteis e às águas refrescantes, isto é,
à vida verdadeira e plena. Nesta perspectiva, podemos cantar com
Santo Tomás de Aquino: “Bom Pastor, pão da verdade, tende pie-
dade de nós. Conserva-nos na unidade. Extingui nossa orfandade e
conduze-nos ao Pai”.
A participação na celebração eucarística deveria levar-nos à ava-
liação corajosa de nossa ação pastoral, do modo como realizamos
os serviços pastorais, em nome do Bom Pastor, em favor do povo.
O cristão que toma parte da Eucaristia insere-se no dinamismo do
Bom Pastor e aprende a tornar-se promotor de comunhão, de paz,
de solidariedade, em todas as circunstâncias da vida.
Para celebrarmos com autenticidade a Eucaristia, precisamos
fazer o que o Bom Pastor fez: “doou a vida por suas ovelhas”. Fez-se
pão partido! Confiadamente entregou a si mesmo para fazer a von-
tade do Pai e para que o rebanho, em perfeita justiça e paz, tivesse
vida e vida em abundância.

Sugestões Re

1. Preparar o espaço da celebração, dando destaque ao Círio


Pascal e à pia batismal, além da mesa da Palavra e da mesa da ceia
eucarística. Um ícone do Bom Pastor auxiliará a comunidade a con-
templar sua presença em seu meio.
2. Acolher, com carinho os irmãos e irmãs, que chegam para
tomar parte na celebração. Saudar as pessoas chamando-as por seu
nome.
3. Aspergir a assembleia com a água que o ministro abençoa,
rezando a oração de bênção conforme o Tempo Pascal (Missal
Romano, p. 1002). A aspersão deve ser acompanhada de um canto
adequado.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

4. Concluída a homilia, renovar as promessas batismais. No lu-


gar do Credo, a comunidade é convidada a renovar suas promes-
sas batismais (cf. fórmula da Vigília Pascal, Missal Romano, p. 289).
Caso a aspersão com água benta não tenha sido realizada em subs-
tituição ao ato penitencial, pode ser efetuada, após a renovação das
promessas batismais. |
5. Nas preces da comunidade, recordar o “Dia Mundial de Ora-
ção pelas Vocações Sacerdotais” e incluir intenções pelas vocações.
6. Dar realce ao gesto da Fração do Pão. Cristo nossa Páscoa
é o Cordeiro Imolado, Pão vivo e verdadeiro. A assembleia canta:
“Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo...
7. Possibilitar a comunhão sob as duas sagradas espécies para
todos os comungantes, enquanto esta canta o salmo 23 — “O Senhor
é meu Pastor” ou “Pelos prados e campinas”.
8. Abençoar e enviar os irmãos e irmãs com a bênção final pró-
pria para o Tempo Pascal, (cf. Missal Romano, p. 523);
9. Convidar as pessoas ao abraço de paz, partilhando a alegria
de quem se sente conduzido pelo amor do Bom Pastor.
5º DOMINGO DA PÁSCOA
10 de maio de 2009

"QUANDO CRESCE NO CRISTÃO


A CONSCIÊNCIA DE SE PERTENCER A CRISTO,
EM RAZÃO DA GRATUIDADE E ALEGRIA QUE PRODUZ
CRESCE TAMBÉM O ÍMPETO DE COMUNICAR A TODOS
O DOM DESSE ENCONTRO" (DAP, 4. 145)

Leituras: Atos 9,26-31; Salmo 22 (21); 1João 3,18-24; João 15,1-8

Situando-nos

Celebramos hoje o domingo da videira e dos ramos. É também o


dia dedicado às mães.
Jesus Cristo ressuscitado apresenta-se como videira e revela o
Pai como agricultor. Ele nos convoca a uma relação de intimidade
comparada à dos ramos com tronco da árvore.
A comunidade dos discípulos missionários que permanecer
unida ao Ressuscitado terá vida plena e, como a videira, produzirá
os frutos desejados pelo Pai. Esta comunidade será verdadeira tes-
temunha da presença do carinho de Deus (o agricultor) no meio da
sociedade.
Na participação da celebração deste domingo, o Pai nos firme na
comunhão com Jesus Cristo ressuscitado e nos dê a graça de viver como
pessoas renovadas, na relação com os irmãos e em nossa missão.

Recordando a Palavra
Jesus está reunido com seus discípulos ao redor de uma mesa, na
ceia de despedida, antes da festa da Páscoa. Tem consciência de que
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

sua hora havia chegado. No diálogo com os discípulos, suas pala-


vras e gestos ressoam como um testamento final. Através da alego-
ria da videira, dos ramos e dos frutos, o Mestre orienta os discípulos
para que deem continuidade à sua missão no mundo. A imagem
utilizada por Jesus tem um significado especial para o universo reli-
gioso judaico. A videira era o símbolo de Israel como povo de Deus.
Agora, Jesus apresenta-se como a verdadeira videira cultivada pelo
Pai (“Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor”). Ele e
aqueles que o seguirem são o verdadeiro povo de Deus (a videira e
os ramos- os discípulos).
Evocando a realidade da poda, que o agricultor faz no início
da primavera, Jesus deixa uma severa advertência: quem do novo
povo não produzir frutos, o Pai cortará. Doutra parte, o ramo que
produzir bons frutos, receberá os cuidados do Agricultor para que
produza ainda mais. O ramo, todavia, não tem vida própria. Ele só
produz frutos se estiver unido ao tronco, do qual recebe a seiva.
O discípulo produzirá frutos graças ao Espírito que o Ressuscitado
lhe comunicar. Nesta visão, a inexistência de frutos revela a falta
de unidade com Jesus: “porque sem mim vocês não podem fazer
nada”. O fruto, a que Jesus se refere agora, é a resposta de adesão
daqueles que ouviram sua Boa Nova, pois é a escuta da Palavra que
estabelece unidade com o tronco. Jesus conclui a alegoria revelando
a sorte “dos ramos jogados fora”, ou seja, daqueles que se afastam da
comunidade do novo povo: serão recolhidos e queimados. Quem,
no entanto, permanecer em sintonia com Jesus e entregue à missão
poderá contar com a colaboração ativa do Mestre. Unidos produzi-
rão abundantes frutos para a glória do Pai. Os frutos desta aliança
são a justiça, a solidariedade, a fraternidade e o amor. O agricultor
expande-se de alegria quando vê a planta cercada por seus cuidados,
carregada de bons frutos (Evangelho).
A leitura dos Atos dos Apóstolos refere-se à estadia de Paulo em
Jerusalém, depois de ter saído de Damasco. Revela o medo e a des-
confiança da comunidade de Jerusalém, pois não acreditava “que
ele fosse discípulo”. Apesar disso, Paulo esforça-se para integrar-se à
67 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

comunidade dos discípulos, sublinhando a importância da partilha


da fé com os irmãos. A mediação e o testemunho de Barnabé sobre
Paulo foram significativos diante da comunidade. Em Jerusalém,
Paulo segue com entusiasmo, testemunhando Jesus Cristo, enfren-
tando corajosamente as dificuldades e as oposições suscitadas por
sua pregação. Consoladora é a conclusão: “a Igreja se edificava e
progredia no temor do Senhor, e crescia em número com a aju-
da do Espírito Santo”. Ela é uma comunidade constituída por pes-
soas, marcada por grandezas e fragilidades e, em sua caminhada
pela história, sempre assistida e animada pelo Espírito do Senhor
(1º Leitura).
João, em sua primeira Carta às comunidades, apresenta uma
espécie de síntese da vida cristã autêntica. A prática do mandamen-
to do amor vai além de sentimentos e afetos. Ela se concretiza em
ações que promovem a vida e a felicidade dos irmãos. Mais do que
belas palavras, são as ações concretas em favor do próximo que dão
credibilidade à vivência cristã e testemunham o plano salvador de
Deus. Quem alicerça sua vida na vivência do amor é liberto de to-
das as dúvidas e inquietações e tem a garantia de estar no caminho
da verdade. Deus é maior que nossos corações! Pois 'quem cumpre
os mandamentos d'Ele, está com Deus e Deus está com Ele”, isto é,
vive em comunhão com Deus, “graças ao Espírito que ele nos deu”
(2º Leitura).

Atualizando a Palavra
A liturgia da Palavra deste 5º domingo da Páscoa sublinha a união
vital dos discípulos com o Ressuscitado. No domingo passado, Je-
sus apresentou-se como o Bom Pastor. Hoje, Ele apresenta-se como
'a verdadeira videira”.
A imagem da videira era empregada com significados diver-
sificados no Antigo Testamento. Ela era considerada o símbolo de
Israel como povo eleito de Deus. “Tiraste uma videira do Egito, ex-
pulsaste nações, e a transplantaste” (Sl 80(79),9) / (cf. Is 5,1-7). Agora,
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Jesus retoma a imagem da videira, simbolo do povo de Deus, mas,


sobretudo, d'Ele mesmo. Renovado pela poda da primavera, isto é,
pela paixão e morte, Jesus ressuscitado constitui-se na verdadeira
videira. Ele é o tronco e nós, os ramos vitalmente unidos a Ele.
O Concílio Vaticano II afirma: “Cristo é a videira verdadeira
que dá vida e fecundidade aos ramos, isto é, a nós, que por meio da
Igreja permanecemos n'Ele e sem o qual nada podemos fazer” (Jo
15,1-5) / (Lumen Gentium, n. 6). Há uma misteriosa comunhão que
une o Senhor e os discípulos, Cristo e os batizados.
A comunhão dos batizados com Jesus tem, por modelo, fonte e
meta, a mesma comunhão de Jesus com o Pai, no dom do Espírito
Santo: unidos ao Filho no vínculo amoroso do Espírito, os cristãos
estão unidos ao Pai. Da comunhão dos cristãos com Cristo, brota a
comunhão dos cristãos entre si: todos são ramos da única Videira,
que é Cristo. Para o Senhor Jesus, esta comunhão fraterna é o ma-
ravilhoso reflexo e a misteriosa participação na vida íntima de amor
do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Jesus reza por esta comunhão:
“Que todos sejam um só, como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em
Ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia que
Tu me enviaste” (Jo 17, 21) / (cf. Exortação Apostólica Pós-Sinodal
Christifideles Laici, n. 18).
Unidos e vivificados pelo tronco, os ramos são chamados a dar
fruto. Dar fruto é uma exigência essencial da vida cristã e eclesial,
pois quem não dá fruto não permanece na comunhão: “Todo ramo
que não dá fruto em mim, o Pai o corta” (Jo 15, 2). À comunhão
com Jesus é condição indispensável para dar fruto: “Sem Mim não
podeis fazer nada” (Jo 15, 5). Destarte, a comunhão com os outros é
o fruto mais lindo que as vides podem produzir.
O fruto é o efeito da morte. “Os ramos que dão fruto, ele (o Pai)
os poda para que deem mais fruto ainda”. Assim, como o grão de
trigo tem que morrer para produzir fruto abundante (cf. Jo 12,24) e
a mãe tem que sofrer para dar à luz seu filho, o ramo também deve
ser podado para produzir frutos.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Um ramo não tem vida independente. Sua vitalidade depende


da seiva que recebe do tronco. Recebe-a da sua maneira, mas pro-
duz as suas folhas, flores e frutos. Não é o tronco que produz tudo,
mas o ramo. Todavia, o ramo só produz à medida que se mantém
vinculado ao tronco e dele recebe a seiva. O ramo que não dá fru-
to é quem pertence à comunidade, mas não responde ao Espírito;
ouve a Palavra e até come do Pão, mas não assimila o dinamismo
de Jesus; tem discurso bonito sobre o amor, a missão e a vida em
comunidade, mas as obras o desmentem.
Alguém poderia perguntar: o que torna um ramo seco? Um
ramo torna-se estéril quando não responde ao dinamismo de vida
do tronco. Isto é, do Cristo ressuscitado. Não produz frutos quem
anda pelas vias do egoísmo, do ódio, da injustiça e do desrespeito
à dignidade do outro. O que se fecha em esquemas de autossufici-
ência, comodismo e indiferentismo. A seiva do dinamismo de Jesus
ressuscitado seca quando alguém age simplesmente em vista de di-
nheiro, aplausos e bem-estar pessoal. Ou também quando alguém
cede à tentação de se afastar da comunidade na intenção de viver
isoladamente sua relação com Cristo.
A comunidade cristã, expressão do novo povo de Deus, é o
lugar privilegiado do encontro com Jesus ressuscitado, a “videira
verdadeira” da qual somos os ramos, cultivados pelo Pai, a fim de
que, no dinamismo do Espírito, produzamos abundantes frutos de
uma sociedade justa e fraterna, que garanta a paz e a segurança (cf.
Manual da CF 2009, n. 256).

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Na comunidade, celebramos e vivenciamos, sobretudo pelo Batis-
mo e pela Eucaristia, a vida nova que brota da videira verdadeira,
Jesus Cristo ressuscitado. A íntima comunhão dos discípulos com
Jesus é o que dá fecundidade para os ramos produzirem abundantes
frutos que manifestam a glória do Pai na missão.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Trata-se fundamentalmente de comunhão com Deus, por Jesus


Cristo, no Espírito Santo. Esta comunhão realiza-se na Palavra de
Deus e nos sacramentos. O Batismo é a porta e o fundamento da
comunhão na Igreja. A Eucaristia é a fonte e o ápice de toda a vida
cristã (cf. Lumen Gentium, n. 11). À comunhão do corpo do Cristo
eucarístico significa e produz a íntima comunhão de todos os mem-
bros no Corpo de Cristo que é a Igreja (cf. 1 Cor 10, 16).
A escuta da Palavra de Deus, o encontro com os irmãos e toda
realidade sacramental da ação litúrgica nos revelam o amor miseri-
cordioso do Pai para com seus filhos e filhas.
A alegoria da videira e dos ramos ressalta a necessidade da
participação na Eucaristia, em vista da comunhão entre todas as
pessoas da comunidade eclesial. A comunhão eucarística, além de
revelar a unidade eclesial, a renova e a alimenta em cada celebração
eucarística.
A união vital que se realiza entre Cristo e nós, seus seguidores,
pela participação na ação eucarística, capacita-nos a novos relacio-
namentos com os irmãos e irmãs na sociedade. A Eucaristia é fonte
de novos relacionamentos que possibilitam a segurança e a paz (cf.
Texto-Base da CF 2009, p. 103).

Sugestões “e

1. Preparar o espaço da celebração, dando destaque ao Círio


Pascal e à pia batismal, além da mesa da Palavra e da mesa da ceia
eucarística.
2. Acolher, com carinho, os irmãos e irmãs que chegam para
tomar parte na celebração, especialmente às mães da comunidade.
3. Destacar a presença das mães na comunidade. Na procissão
de entrada, se oportuno, convidá-las a entrar acompanhando o mi-
nistro e a equipe de liturgia.
4. Aspergir a assembleia com a água que o ministro abençoa,
rezando a oração de bênção conforme o Tempo Pascal (Missal Ro-
mano, p. 1002). O rito da aspersão, que substitui o ato penitencial,
A PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

ajuda os batizados a renovarem e aprofundarem sua união vital


com Cristo pelo Batismo. A aspersão deve ser acompanhada de um
canto adequado.
5. Solenizar a proclamação do Evangelho, precedida do canto
do Aleluia. Se oportuno, o Evangelho pode ser cantado. O Evange-
liário pode ser incensado.
6. Incluir, nas preces da comunidade, intenções pelas mães.
7. Preparar a mesa da Eucaristia. Se oportuno, mães da co-
munidade estendem a toalha e trazem em procissão os dons da
Eucaristia.
8. Destacar a Oração do Senhor (Pai Nosso) como sinal de
unidade íntima com o Pai, o agricultor solícito com sua “videira
verdadeira”.
9. Possibilitar a comunhão sob as duas sagradas espécies para
todos os comungantes, enquanto se entoa um hino pascal adaptado
ao momento da comunhão.
10. Abençoar as mães e enviá-las, juntamente com toda a comu-
nidade à missão (oração e bênção, conforme Missal Romano, p. 523);
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão P

Preparemo-nos para celebrar daqui a um ano:

XVI Congresso
Eucaristico Nacional
Brasília 13-10 + maio « ZOI0

Tema:
Eucaristia, pão da unidade dos discípulos missionários

Lema:
Fica conosco, Senhor! (cf. Lc 24,29)
pe . TAÇA rm qu ST 2ERI Lo seção — als te Tm CEI PR UR A ?
1 a : Va Vota ÃO CS AE o Rr o

6º DOMINGO DA PÁSCOA
17 de maio de 2009

“A IGREJA, COMO "COMUNIDADE DE AMOR”


É CHAMADA A REFLETIR A GLÓRIA DO AMOR DE DEUS
QUE, É COMUNHÃO, E ASSIM ATRAIR AS PESSOAS
E OS POVOS PARA CRISTO” (DAP, n. 159).

Leituras: Atos dos Apóstolos 10,25.27.34.44-48; Salmo 98 (97);


lJoão 4,7-10; João 15,9-17

Situando-nos

Celebramos hoje o domingo do mandamento novo. Deus é amor!


A liturgia deste 6º domingo da Páscoa convida-nos a contem-
plar o amor de Deus, revelado na pessoa, nos gestos e nas palavras
de Jesus e atualizado na vida e nas ações dos discípulos missionários
do Ressuscitado.
Na celebração deste domingo, o Senhor nos renova na alegria
de sua ressurreição e de seu amor, transformando-nos em seus dis-
cípulos e missionários diante dos povos, para que anunciemos a to-
dos a salvação que revelou sua justiça.
Como discípulos missionários, explicitemos nossa resposta de
amor às inúmeras manifestações do amor terno de Deus para com seu
povo, em especial, pela morte e ressurreição de seu Filho, Jesus Cristo.

Recordando a Palavra
Jesus e os discípulos estão em Jerusalém entre as inúmeras pessoas
que acorreram para a festa da Páscoa. As autoridades judaicas ti-
nham decidido eliminar Jesus. Ele tem consciência de estar diante
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

de um momento decisivo. Os discípulos estão apreensivos e com


medo. Eles intuem que, em breve, o Mestre lhes será tirado. João
explicita o que acontecerá a partir da morte e da ressurreição.
Numa conversa bem franca, durante a ceia, Jesus fala aos disci-
pulos como amigos escolhidos para colaborarem com Ele na missão
e revela que os ama como o Pai o amou. Pede-lhes que vivam ani-
mados pelo mesmo amor, cumprindo os mandamentos, a exemplo
d'Ele que doou a vida que recebeu do Pai. Testemunha que o amor
traduzido em gestos, além de mostrar relação com Ele e com o Pai,
enche o coração de alegria, pois o amor praticado produz a expe-
riência do amor. O amor é o fundamento da atividade missionária
que consiste em doar a própria vida por quem a gente ama. “Chamo
vocês de amigos”, isto é, a relação de amizade faz dos discípulos
companheiros de Jesus na tarefa-missão. Jesus não trata os discípu-
los como servos assalariados de um senhor, mas como familiares e
colaboradores responsáveis na missão.
O Mestre, na confiança, nada escondeu de sua relação com o
Pai (cf. DAp, n. 133). Os discípulos foram escolhidos por Ele para
doarem a vida pela humanidade em perfeita sintonia com Ele. Jesus
alerta aos amigos que a eficácia (frutos) e a durabilidade (duração)
da ação missionária não estão tanto condicionadas à quantidade,
quanto à intensidade da amizade e da mútua colaboração. Avisa que
o Pai comunicará sua força (o Espírito) e capacitará à missão aqueles
que se identificarem com Ele na doação de sua vida. Jesus encer-
ra sua conversa ressaltando que a marca registrada da missão é “o
amor mútuo” (Evangelho).
O desígnio salvífico do Pai, realizado em Jesus Cristo e difun-
dido pelos discípulos, destina-se a homens e mulheres de todas as
raças e nações, dispostos a acolher tão grande dom. A cena relatada
na leitura de hoje situa-se em Cesareia, uma grande cidade da costa
da Palestina. O apóstolo Pedro é acolhido por Cornélio em sua casa.
Ouvindo a Boa Nova de Jesus ressuscitado, anunciada por Pedro,
Cornélio e sua família convertem-se. Na opinião do autor dos Atos
dos Apóstolos, a conversão de Cornélio reveste-se de significado
VÃ PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

especial para a expansão do cristianismo. A proclamação do Evan-


gelho ultrapassa as fronteiras de Israel e chega aos gentios. Lucas
deixa claro que Deus deseja que a proposta de salvação chegue a
todos os povos, sem exceções (1º Leitura).
Diante da boa notícia do Evangelho que ganha novas frontei-
ras, o salmista convida a assembléia cantar: “Os confins do universo
contemplaram a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó
terra inteira! Alegrai-vos e exultai!” (Sl 98).
O apóstolo João escreve às comunidades da Ásia Menor, as
quais estão influenciadas pelos ensinamentos de certas seitas heré-
ticas. Os cristãos estavam confusos sobre o caminho da verdadeira
fé. O mandamento do amor ao próximo estava entre os elementos
cristãos negados pelos adeptos das seitas. Para o apóstolo, o amor ao
próximo é uma exigência central na experiência da fé cristã. Deus é
amor e ninguém pode dizer que está em comunhão com Ele se não
se deixou contagiar pelo amor.
A 2º leitura deste domingo realça, como critério da vida cristã
autêntica, a relação entre o amor a Deus e o amor aos irmãos. No
amor a Deus e ao próximo, o cristão encontra sua identidade.

Atualizando a Palavra
Deus é amor. “Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que
nos amou”. Eis a Boa Nova anunciada por Jesus, sublinhada por João
Evangelista e retomada, recentemente, pelo Papa Bento XVI, em
sua Encíclica, Deus caritas est.
O contexto do diálogo de Jesus com os discípulos é de despe-
dida, tendo no horizonte o mistério da cruz e a continuidade da
missão. A cena evoca a realidade de tantos pais ou mães que, na
iminência da partida, reúnem os filhos e, com emoção, transmitem-
lhes as últimas recomendações de vida. Quantos filhos não owvi-
ram e guardaram com carinho as palavras: “Permaneçam unidos,
querendo sempre bem uns aos outros”. Assim como a união dos
irmãos eterniza as recomendações dos pais, a comunidade eclesial
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

é o lugar por excelência da vivência do mandamento do amor dei-


xado por Jesus. A partir desse mandamento, o cristão encontra o
caminho do seu viver e da prática do amor (cf. Bento XVI, Deus
caritas est, n. 12).
“Na comunidade dos fiéis, nós experimentamos o amor de
Deus, sentimos sua presença e aprendemos deste modo também
a reconhecê-la na nossa vida quotidiana. Ele amou-nos primeiro, e
continua a ser o primeiro a nos amar, por isso, também nós pode-
mos responder com o amor. Deus não nos ordena um sentimento
que não possamos suscitar em nós próprios. Ele nos ama, faz-nos vi-
ver e experimentar o seu amor, e desta 'antecipação' de Deus pode,
como resposta, despontar também em nós o amor” (Bento XVI,
Deus caritas est, n. 17).
Os discípulos, na qualidade de escolhidos e de amigos de Je-
sus, vinculados à sua pessoa e missão, devem amar como Ele amou.
“Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos”. Fazer de
sua vida um dom total de amor, sem limites nem condições. A cruz
é a expressão máxima da vida vivida no serviço aos outros. Aquele
que aceita o discipulado participa do destino do Mestre, vive com
Ele uma relação tão íntima que chega a dar a vida pelos amigos.
Na perspectiva do mandamento do amor, a missão da comuni-
dade dos discípulos missionários adquire nova dimensão. O discí-
pulo é chamado ao serviço e também enviado para ser missionário
do Reino. “Eu não chamo vocês de empregados”: a comunidade dos
discípulos não se caracteriza como um grupo de assalariados, de
contratados para executar as ordens de seu senhor. É a comunidade
dos amigos que livre e corresponsavelmente, cheia de alegria e en-
tusiasmo, colabora na tarefa comum.
“Eu os escolhi e destinei para ir e dar fruto, e para que o fruto de
vocês permaneça”. O fruto revela a identidade e a natureza de uma
árvore. Identificados com Cristo e como pessoas adultas, livres e res-
ponsáveis, os discípulos produzirão os frutos do amor, animados por
seu Espírito. O amor, por natureza, é gratuidade. Não é mera exigên-
cia. Os discípulos serão uma presença significativa, à medida que se
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

dispuserem a amar aqueles pelos quais Deus tem particular afeição.


“O povo pobre das periferias urbanas ou do campo necessita sentir
a proximidade da Igreja, seja no socorro de suas necessidades mais
urgentes, seja na defesa de seus direitos, seja na promoção comum de
uma sociedade fundamentada na justiça e na paz” (CELAM, A Mis-
são Continental: para uma Igreja Missionária, p. 28).
Fazer parte da comunidade dos 'amigos'” de Jesus não é viver um
amor idílico, mas acolher o convite de Jesus e colaborar na missão de
testemunhar ao mundo o amor salvador do Pai. Proclamar em gestos
e palavras “tu és amado e querido de Deus e salvo em Jesus Cristo”.
Como comunidade dos discípulos de Jesus, compete-nos suscitar em
cada homem e em cada mulher, a confiança de que são amados de
Deus, de forma especial os pobres, os marginalizados, os pequenos,
os fracos, os sofredores. Cabe-nos labutar contra os mecanismos que
geram violência, medo e insegurança. Devemos, como membros da
comunidade dos eleitos de Jesus, ser promotores da justiça, da paz, da
reconciliação, sem as quais não haverá segurança e dignidade dura-
doura (cf. Manual da CF 2009, pp. 112 e 113-128s).
Hoje, o testemunho é elemento-chave na vivência da fé. O me-
lhor testemunho do Deus em quem acreditamos e da Boa Nova que
anunciamos, é nossa comunhão. “Hoje, mais do que nunca, o teste-
munho de comunhão eclesial e de santidade são uma urgência pas-
toral” (DAp, n. 369). “Amem-se uns aos outros, como eu os amei” (Jo
15,12). Este amor, com a medida de Jesus, com total dom de si, além
de ser o diferencial de cada cristão, não pode deixar de ser a caracte-
rística de sua Igreja, comunidade discípula de Cristo, cujo testemu-
nho de caridade fraterna será o primeiro e principal anúncio: “Todos
reconhecerão que vocês são meus discípulos” (Jo 13,35).

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A Eucaristia é o sacramento do amor. Participando ativa e conscien-
temente de sua celebração somos inseridos na dinâmica oblativa do
próprio Jesus. Como Ele, nos tornamos dom para os irmãos.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão 78

Na celebração eucarística, renova-se a vida e se fortalece a co-


munidade dos discípulos, pois “como outrora aos discípulos, hoje,
Ele revela as Escrituras e parte o pão para nós” (Oração Eucarística
para diversas circunstâncias, 1). Assim, os discípulos são prepara-
dos para dar frutos permanentes de caridade, reconciliação e justiça
para a vida do mundo (cf. DAp, n. 175). “O testemunho e anúncio do
mandamento do amor serão fecundos se tiverem a Eucaristia como
fonte e culminância” (DAp, n. 363).
Na celebração eucarística da Igreja, como comunidade viva, ex-
perimentamos o amor de Deus, sentimos sua presença e aprende-
mos a reconhecê-la no cotidiano de nossa vida e nos acontecimen-
tos da história. Ele nos amou primeiro e continua a ser o primeiro
a nos amar. Deus nos ama e nos faz ver e experimentar seu amor.
Participando ativamente da celebração, também nós podemos res-
ponder com amor.
“Participar do sacramento da Eucaristia implica o compromis-
so da misericórdia, da reconciliação e da superação amorosa dos
problemas que se fazem presentes nos relacionamentos humanos”
(Manual da CF 2009, p. 103). “Uma Eucaristia que não se traduza em
amor concretamente vivido, é, em si mesma, fragmentária” (Bento
XVI, Deus caritas est, n. 14). Consciente disto, a Igreja reza: “Deus
todo-poderoso... fazei frutificar em nós o sacramento pascal, e in-
fundi em nossos corações a força desse alimento salutar” (oração
depois da comunhão do 6º domingo da Páscoa).

Sugestões +

1. Preparar o espaço da celebração, destacando o Círio Pas-


cale a pia batismal, além da mesa da Palavra e da mesa da ceia
eucarística.
2. Criar ambiente orante. No início da celebração, se oportuno,
cantar o refrão: “onde reina o amor, fraterno amor. Onde reina o
amor, Deus aí está”.
3. Acolher, com amor, os irmãos e irmãs que chegam para par-
ticipar da celebração.
79 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

4. Dar à saudação inicial um tom de alegria pascal e, sendo


oportuno, acompanhá-la de um gesto de acolhida e de paz.
5. Destacar a Oração do Senhor (Pai Nosso) como sinal de co-
munhão com o Pai que, por seu Espírito de amor, faz de todos nós
seus filhos e filhas.
6. Possibilitar a comunhão sob as duas sagradas espécies para
todos os comungantes, enquanto se entoa um hino: “Prova de amor
maior não há” ou “Eu vos dou um novo mandamento”.
7. Abençoar e enviar os irmãos e irmãs com a bênção final pró-
pria para o Tempo Pascal. (cf. Missal Romano, p. 523);
8. Convidar as pessoas ao abraço do envio missionário e da paz,
como testemunhas do amor, no cotidiano da vida familiar e social.

» No próximo domingo, celebra-se o Dia Mundial das Comu-


nicações Sociais. Neste dia, inicia-se, também, a Semana de
Oração pela Unidade dos Cristãos.
7º DOMINGO DA PÁSCOA
Ascenção do Senhor
24 de maio de 2009

“ELE (JESUS) É TESTEMUNHA DO MISTÉRIO DO PAI,


ASSIM OS DISCÍPULOS SÃO TESTEMUNHAS
DA MORTE E RESSURREIÇÃO DO SENHOR ATÉ QUE ELE RETORNE,
CUMPRIR ESTA MISSÃO NÃO É UMA TAREFA OPCIONAL,
MAS PARTE INTEGRANTE DA IDENTIDADE CRISTA,
PORQUE É A DIFUSÃO TESTEMUNHAL DA PRÓPRIA VOCAÇÃO” (DAP, n. 144),

Leituras: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Salmo 47 (46); Efésios 1,17-23;


Marcos 16,15-20

Situando-nos
Celebramos hoje o domingo da Ascensão do Senhor. A vitória de
Cristo, já é nossa vitória!
O mistério da Ascensão de Cristo significa “elevação' também
para nós, seus discípulos missionários. Ele elevou-se ao céu, não
para afastar-se de nossa humanidade, mas para dar-nos a certeza de
que nos conduzirá à glória da imortalidade.
Celebrando a elevação de Jesus à direita do Pai, não comemo-
ramos uma despedida, mas um modo novo de Ele estar presente.
Aquele que percorreu os caminhos deste mundo, no amor e na doa-
ção, é glorificado. Junto do Pai, como nosso eterno mediador, Jesus
continuará a acompanhar os discípulos e, por meio deles, propor à
humanidade vida nova e definitiva.
Elevemos nossos louvores ao Pai porque, em seu Filho glorifica-
do, nossa natureza humana já participa de sua glória. Supliquemos em
favor da unidade de todos os que professam sua fé em Jesus Cristo.
e] PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Recordando a Palavra
O evangelista Marcos, após referir-se às aparições do Ressuscitado
aos discípulos e discípulas, envia-os em missão com a ordem: “Vão
pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Nova para toda a humanida-
de”. A comunidade dos discípulos deverá anunciar a Boa Nova de
um mundo novo, inaugurado pelo Filho de Deus. Por isso, os discí-
pulos ultrapassarão as fronteiras de Israel e ganharão os caminhos
do mundo, dando continuidade à obra de Jesus.
O anúncio implicará uma decisão dos ouvintes: “Quem crer e
for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado”. Os
mesmos sinais que atestaram a ação libertadora de Jesus atestarão
a obra dos discípulos (os primeiros dois sinais). O mesmo anúncio
que, em alguns suscita fé, noutros gera conflito, oposição e morte
(o terceiro sinal). Os sujeitos privilegiados do amor misericordioso
de Jesus - os doentes, os sofredores e os excluídos - agora o serão
também dos discípulos que atuam em estreita comunhão com o
Mestre. Concluída a missão, Aquele que percorrera os caminhos da
história, fazendo o bem a todos em perfeita fidelidade à vontade do
Pai, é glorificado (Evangelho).
O livro dos Atos dos Apóstolos atesta que o mesmo Espírito
que esteve presente e acompanhou a Jesus, agora está presente na
missão da comunidade cristã. Num certo ambiente de crise, de de-
silusão e de perda do entusiasmo suscitados pela demora do Cristo
glorioso instaurar o Reino, Lucas adverte as comunidades de que o
projeto de salvação revelado por Jesus tem agora sua continuidade
na Igreja, animada pelo Espírito Santo.
Numa perspectiva historiográfica, Lucas faz referência ao tem-
po que separa a Ressurreição e a Ascensão. Quarenta dias define o
tempo simbólico de iniciação à experiência do Ressuscitado. O au-
tor dos Atos dos Apóstolos tranquiliza a comunidade revelando-lhe:
o Espírito será derramado sobre a comunidade e a fortalecerá para
o testemunho de Jesus em todas as partes da terra, de Jerusalém aos
confins do mundo. Concluída a vida terrena, de total fidelidade ao
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

Pai, Jesus entra na glória da comunhão da Trindade . Na terra, os


discípulos (a comunidade) são convidados a dar continuidade, sob
a ação do Espírito, à sua missão, com os olhos fixos no futuro e
totalmente entregues à realização do projeto salvador de Deus na
história (1º Leitura).
O salmista reconhece o poder de Deus que glorificou a Jesus e
convida todas as nações a cantarem sua glória: “Por entre aclamações
Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta” (Sl 47(48)).
O texto da carta aos Efésios, pertence à oração de ação de graças
e de súplica que Paulo faz a Deus. Ele dá graças a Deus pela adesão a
Jesus e pela resposta de amor dos fiéis. Paulo reitera que a comuni-
dade deve conhecer a esperança à qual foi chamada, ou seja, à vida
plena de comunhão com Deus. Assim, todos devem caminhar ao
encontro dessa esperança de mãos dadas, como irmãos, membros
do Corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo. Ele, através do Corpo, isto é,
da Igreja, continua presente e realizando o projeto de salvação da
humanidade (2º Leitura).

Atualizando a Palavra
“Ele, após a Ressurreição, apareceu aos discípulos e, à vista deles,
subiu aos céus, a fim de nos tornar participantes da sua divindade”
(Prefácio II da Ascensão).
A Ascensão, mais do que uma espécie de despedida ou de au-
sência, deve ser vista como “coroamento de uma caminhada”, con-
tinuidade e presença do Cristo Senhor no meio de sua comunidade
em missão. “Os discípulos partiram e o Senhor os ajudava e, por
meio de sinais que os acompanhavam, provava que o ensinamento
deles era verdadeiro” (Mc 16,20). A Ascensão comprova que o Se-
nhor continua no meio da comunidade dos discípulos, portanto a
ascensão lembra missão. O mesmo Senhor que nos envia, garante
estar sempre presente, para a nossa alegria e tranquilidade. A As-
censão, mais do que ausência, é um novo modo de presença. “O
Senhor está sempre no meio de nós!”
83 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

A festa da Ascensão do Senhor recorda ainda que aquele que


realizou bem sua missão foi colocado numa posição de destaque, foi
glorificado. A sociedade tem o costume de premiar as pessoas que se
destacam no cumprimento de algum serviço ou missão. Sem muito
alarde, os Atos dos Apóstolos faz a seguinte narrativa: “depois de
dizer isso, Jesus foi levado ao céu à vista deles (os discípulos)”. Jesus
que cumpriu bem a missão que recebera do Pai é glorificado. Su-
biu, ante os anjos maravilhados, ao mais alto dos céus e tornou-se
o mediador entre Deus e a humanidade redimida, juiz do mundo e
Senhor do universo.
A elevação na cruz significa e anuncia a ascensão ao céu. Jesus
Cristo, como Sacerdote da nova e eterna Aliança, “não entrou num
santuário feito por mãos humanas, ele entrou no próprio céu, a im
de apresentar-se agora diante de Deus em nosso favor” (Hb 9,24).
“Como sacerdote dos bens futuros”, Jesus, o Cordeiro Imolado, é
o centro e o ator principal da liturgia que honra o Pai nos céus (cf.
CCE - Catecismo da Igreja Católica, n. 662).
Cristo está sentado à direita do Pai, está na posse da glória e
da honra da divindade (cf. CCE, n. 663). Sentar-se à direita do Pai
significa que o Reino do Messias foi definitivamente inaugurado,
segundo a visão do profeta Daniel. Ao contemplá-lo estupefatos, os
apóstolos tornaram-se as testemunhas do “Reino que não tem fim”
(cf. CCE, n. 664). Sentado à direita do Pai, o Cristo glorioso, como
mediador, intercede sem cessar por nós e derrama o Espírito Santo
sobre a Igreja para que cumpra, na terra, sua missão.
Jesus, elevado ao céu, é a imagem da humanidade divinizada.
Na celebração do mistério da encarnação, a Igreja rezava: “Restau-
rando a integridade do universo, introduziu no Reino dos Céus o
homem redimido” (Prefácio do Natal, ID. Ao entrar na glória, Cris-
to é a prova máxima de que Deus cumpriu suas promessas. O céu
e a terra uniram-se. As fronteiras entre o humano e o divino foram
canceladas. Em Jesus Cristo, ressuscitado e elevado ao céu, a huma-
nidade já participa da glória do Pai. “Somos cidadãos do céu” (FI]
3,20). Na opinião do apóstolo Paulo, a Ascensão do Senhor ao céu,
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão 84

redimensiona os procedimentos humanos: “Se vocês foram ressus-


citados com Cristo, procurem as coisas do alto, onde Cristo está
sentado à direita de Deus...” (Cl 3,15). O discípulo de Cristo vive
neste mundo sem ser do mundo, caminha entre as realidades que
passam, abraçando somente as que não passam.
A Ascensão do Senhor é de tamanha grandeza que nos impul-
siona à missão. Não é mais possível permanecermos imóveis e ad-
mirados, olhando para o céu, a exemplo dos primeiros discípulos
(cf. At 1,10-11). Cabe aos discípulos missionários dos novos tempos
sempre procurar as coisas do alto, romper com os velhos esquemas
que aprisionam, vencer o egoísmo, a indústria do medo, a violência,
a impunidade e a corrupção que retardam a realização do sonho de
uma sociedade alicerçada no amor, no respeito e na dignidade. A
construção da sociedade segura somente será possível quando as
pessoas viverem o mandamento do amor, que tem o agir de Jesus
como modelo e paradigma, do qual o mistério pascal é a maior ex-
pressão (cf. Manual da CF 2009, p. 102).
Enquanto aguardamos o retorno glorioso do Senhor, como co-
munidade de seus discípulos missionários, rezamos: “Ó Deus todo-
poderoso, a Ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos
exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros do seu
corpo, somos chamados na esperança, a participar da sua glória”
(oração do dia).

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A Eucaristia é memorial da paixão, morte, ressurreição e ascensão
ao Céu de Jesus Cristo. “Celebrando, pois, a memória da paixão do
vosso Filho, da sua ressurreição dentre os mortos e gloriosa ascen-
são aos céus, nós, vossos servos, e também vosso povo santo, vos
oferecemos, ó Pai” (Oração Eucarística 1). Pela celebração do misté-
rio da Ascensão, somos também nós, com Jesus, elevados e introdu-
zidos na comunhão do Pai.
85 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Pela proclamação da Palavra, Jesus nos convida “a subir com


Ele aos céus”, a sermos, de fato, cidadãos do céu. Como seus discí-
pulos, somos convidados à progressiva ascensão até atingirmos a
meta final: “todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e
no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o homem
perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento, é a plenitude
de Cristo” (Ef 4,13). Nesse processo, Ele vai nos transformar seme-
lhantes a seu corpo glorioso (cf. Fl 3,21). A Ascensão será completa
quando todos os membros de seu corpo (a Igreja) tiverem sido atra-
ídos para o Pai e vivificados por seu Espírito.
Jesus Cristo subiu ao céu e está sentado à direita do Pai, mas
permanece na terra no seu Corpo místico, que é a Igreja. Está pre-
sente nos seus membros (cf. 1Cor 12,15), na Palavra e nos sacramen-
tos, de modo especial na Eucaristia (cf. Sacrosanctum Concilium, n.
7). Esta é mistério de presença, por meio do qual se realiza a pro-
messa de Jesus: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos
tempos” (Mt 28,20). Depois da Ascensão, o que era visível na pessoa
de nosso Redentor, passa a ser contemplado nos ritos sacramentais,
especialmente na Eucaristia. Com a instituição da Eucaristia, Cris-
to inaugurou um novo modo de estar presente na Igreja, no mundo
e em cada um dos seus seguidores.
Ao participar ativamente da celebração; nos acolher afetuosa-
mente como irmãos; escutar a Palavra; louvar e agradecer; receber o
Pão e o Vinho, o Corpo e Sangue do Cristo glorioso, nos inserimos
na dinâmica pascal de morte, ressurreição e glorificação, antecipan-
do nossa vida plena e definitiva. “Quando fizermos parte da nova
criação, enfim libertada de toda maldade e fraqueza, poderemos
cantar a ação de graças do Cristo que vive para sempre” (Oração
Eucarística sobre a Reconciliação 1).

1. Preparar o espaço da celebração, destacando o Círio Pascal e a


pia batismal, além da mesa da Palavra e da mesa da ceia eucarística.
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

2. Solenizar o acendimento do Círio Pascal antes da procissão


de entrada. Uma pessoa da comunidade acende o Círio e proclama:
“Bendito sejas, Deus da Vida, pela ressurreição de Jesus Cristo e por
essa luz radiante!”
3. Valorizar as respostas da assembleia. Ao dizer: “Ele está no
meio de nós!”, todos se dão as mãos, elevando-as.
4. Solenizar o hino do Glória, recordando que Jesus Cristo, nos-
so irmão, foi introduzido na glória dos céus, à direita do Pai.
5. Realçar a leitura dos Atos dos Apóstolos. Se possível, ela pode
ser cantada ou dialogada, com muita expressão.
6. Cantar o prefácio que realça, neste dia, o mistério da Ascen-
são (Missal Romano, p. 426 e 427). Nas celebrações da Palavra, fazer
o momento do louvor com a louvação indicada no Hinário Litúrgi-
co 2, da CNBB, p. 103.
7. Incentivar a participação na Semana de Oração pela Unidade
dos Cristãos, tomando parte em iniciativas, grupos e celebrações
preparadas pelo CONIC — Conselho Nacional de Igrejas Cristãs.
8. Abençoar e enviar os irmãos e irmãs com a bênção final pró-
pria para a celebração da Ascensão do Senhor (Missal Romano, p.
523 e 524). Movidos pelo Espírito Santo e pelas bênçãos de Deus,
seremos testemunhas até os confins da terra e realizaremos com as
mais diferentes expressões a missão salvadora de Jesus na sociedade
em que vivemos.
9. Convidar a comunidade para a Vigília da festa de Pentecos-
tes. Há comunidades que costumam celebrar o mistério da vinda
do divino Espírito Santo, com uma Vigília, explicitando, assim, a
unidade entre a Vigília da Páscoa e a de Pentecostes.
10. Convidar as pessoas a partilharem o abraço de paz, gesto
que revela a confiança de que o “Senhor está conosco e nos conduz,
por seu Espírito, à plenitude da vida”.
SOLENIDADE DE
PENTECOSTES
31 de maio de 2009

"O ESPÍRITO SANTO QUE ATUA EM JESUS CRISTO


É TAMBÉM ENVIADO A TODOS ENQUANTO MEMBROS DA COMUNIDADE,
PORQUE SUA AÇÃO NÃO SE LIMITA AO ÂMBITO INDIVIDUAL.
A TAREFA MISSIONÁRIA SE ABRE SEMPRE ÀS COMUNIDADES,
ASSIM COMO OCORREU NO PENTECOSTES (CF. AT 21-19" (DAP, n. 171).

Leituras: Atos dos Apóstolos 2,1-11; Salmo 103 (104); 1Coríntios


12,3b-7.12-13; João 20,19-23

Situando-nos
“Para levar à plenitude os mistérios da páscoa, o Senhor derramou,
hoje, o Espírito Santo prometido, em favor de seus filhos e filhas.”
(Prefácio da missa do dia)
Hoje, o Senhor nos reúne para celebrar o dom do Espírito San-
to — plenitude da Páscoa — derramado sobre a comunidade dos dis-
cípulos e para a unidade de todos os filhos e filhas de Deus.
O Espírito do Ressuscitado, prometido pelo Senhor, derramado
na comunidade reunida, renova-nos, transforma, edifica o Corpo de
Cristo, fortalece a missão e cria o homem novo, pois “todos os que
são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8,14).
Concluindo a caminhada dos cinquenta dias de Páscoa, ben-
digamos ao Pai, porque o Espírito Santo revelou a todos os povos,
raças e nações o mistério escondido desde toda a eternidade e con-
gregou a todos na alegria da libertação.
Celebrando a Páscoa de Jesus Cristo neste dia de Pentecostes,
o Espírito nos concedeu seus múltiplos dons para sermos testemu-
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão 88

nhas fiéis e corajosas da Boa Nova da Ressurreição, manifestada em


tantos sinais de vida e esperança.

Recordando a Palavra
Para o autor do quarto Evangelho, a ressurreição e a vinda do Espí-
rito Santo fazem parte do mesmo acontecimento. O Espírito Santo
é um dom que procede diretamente de Cristo ressuscitado, repre-
senta seu sopro de vida.
João inicia sua narrativa expondo a situação da comunidade.
“Ao anoitecer, do primeiro dia da semana, estando trancadas as
portas do lugar onde se encontravam os discípulos...”. Ele realça a
situação de insegurança própria de quem perde as referências e que
não sabe mais a quem recorrer. “Jesus aparece e se coloca no meio
deles”. Os discípulos ficam contentes por ver o Senhor, tanto que
recuperam a paz e a confiança. No encontro com Jesus ressuscitado,
eles O redescobrem como centro de referência, d'Ele recebem as co-
ordenadas que os levam a superar o medo e a incerteza. Diante dos
“sinais de suas mãos e do lado”, que evocam o amor total expresso
na cruz, os discípulos sentem que nada os poderá deter, nem o so-
frimento, nem a morte, nem a violência do mundo. Vivificados pelo
sopro do Espírito do Ressuscitado, eles constituem a comunidade
da nova Aliança e são enviados a testemunhar ao mundo, em gestos
e palavras, a vida que o Pai deseja oferecer a toda a humanidade. As-
sim, quem aceitar a proposta do perdão dos pecados, será integrado
na comunidade de Jesus que, animada pelo Espírito Santo, será me-
diadora da oferta do amor misericordioso do Pai (Evangelho).
O evangelista Lucas situa a vinda do Espírito Santo no dia de
Pentecostes. O Pentecostes era uma festa celebrada pelos israelitas
cinquenta dias após a Páscoa. De festa agrícola, na qual se agradecia
a Deus pela colheita do trigo, transformou-se na comemoração da
constituição do povo pela Aliança firmada no Sinai. Para o Autor
dos Atos dos Apóstolos, o Espírito é a lei da nova Aliança e, por Ele,
constitui-se a comunidade do novo Povo de Deus. O texto que nos
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

é proposto e que descreve a vinda do Espírito é uma construção


literária de Lucas com um objetivo teológico. A força irresistível de
Deus (o Espírito) manifesta-se à comunidade reunida, no barulho
do vendaval vindo do céu e nas línguas de fogo pousando sobre
cada um dos presentes. De todos os povos, cria uma nova humani-
dade em base às relações de partilha, comunhão e amor.
É, neste horizonte, que podemos entender os efeitos da manifes-
tação Espírito (cf. At 2, 5-13): todos “os ouviam proclamar as mara-
vilhas de Deus, na sua própria língua”. A comunicação da Boa Nova
de Jesus, animada pelo Espírito, vai gerar a comunidade universal.
O Pentecostes dos Atos dos Apóstolos constitui-se no pré-anúncio
do resultado da ação missionária dos discípulos, animada pelo Espí-
rito: a nova humanidade, na qual todos se relacionam como irmãos.
É a anti-Babel do Gênesis (cf. Gn 11,1-9).
O Salmista reconhece que, quando Deus envia seu Espírito, o
universo renova-se e exultam de alegria todas as suas criaturas (cf.
Sl responsorial 103 [104]).
A comunidade cristã de Corinto era viva e fervorosa, mas não era
modelo na vivência do amor e da fraternidade. As questões relacio-
nadas aos carismas suscitavam contendas e rivalidades que perturba-
vam a comunhão. Paulo, afirmando que a comunidade é um corpo
vivo, ressalta a função do Espírito Santo e, ao mesmo tempo, solicita
a avaliação da autenticidade dos carismas. Verdadeiro carisma é aque-
le que o Espírito concede a alguém para o testemunho de que “Jesus
Cristo é o Senhor” e para o bem comum da comunidade (do corpo).
Na diversidade de membros e funções, o Espírito alimenta e dá vida
ao corpo. É Ele que fomenta a coesão dos dons, serviços e atividades
pastorais. É Ele que dinamiza a fraternidade e é o responsável pela
unidade dos diferentes membros da comunidade (2º Leitura).

Atualizando da Palavra
Na celebração do Pentecostes, cumpre-se a promessa de Jesus aos
discípulos: “O Espírito Santo que o Pai vai enviar em meu nome,
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que


eu lhes disse” (Jo 14, 26; cf. 14, 17). “O Advogado, que eu mandarei
para vocês de junto do Pai, é o Espírito da Verdade que procede
do Pai. Quando ele vier dará testemunho de mim e vocês também
darão testemunho de mim” (Jo 15, 26-27a).
A Igreja nasce do Espírito do Senhor ressuscitado. Segundo o
Papa João Paulo II: “A Igreja nasce missionária, porque nasce do Pai,
que enviou Cristo ao mundo; nasce do Filho que, morto e ressusci-
tado, enviou os apóstolos a todas as nações; e nasce do Espírito San-
to, que infunde neles a luz e a força necessária para levar a cabo esta
missão” (Homilia na missa de Pentecostes, 03 de junho de 2001).
O nascimento que aconteceu em Pentecostes renova-se para
cada pessoa de fé no Batismo, “pois todos fomos batizados num só
Espírito para sermos um só corpo” (1Cor 12,13). Em Pentecostes, a
Igreja manifestou-se publicamente a uma multidão de povos e co-
meçou difundir o Evangelho com sua pregação (cf. Ad Gentes, n. 4).
Impulsionada por “um vento impetuoso”, em Pentecostes, a Igreja
experimenta o sopro divino do Espírito, que a abre para o anúncio
da Boa Nova do Ressuscitado no mundo.
A Igreja - Corpo Místico de Cristo, Povo de Deus (cf. Lumen
Gentium, n. 7) - é a comunidade dos discípulos missionários incum-
bida pelo Senhor para dar continuidade à sua missão libertadora. É a
comunidade de irmãos reunidos por causa de Jesus Cristo, animada
pelo Espírito Santo (sopro do Ressuscitado), com a responsabilidade
de testemunhar até o fim dos tempos o projeto salvador do Pai. “A
Igreja, enquanto marcada e selada com o Espírito Santo, continua a
obra do Messias, abrindo para o crente as portas da salvação” (DAp,
n. 151). O Papa Paulo VI afirmava: “Nunca será possível haver evan-
gelização sem ação do Espírito Santo ” (Evangelii Nuntiandi, n. 75).
A fecundidade ou a eficácia da missão pressupõe a comunhão.
“A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4,32).
A unidade e o amor são sinais de identidade dos discípulos de Jesus
Cristo e credenciam sua missão no mundo (DAp, n. 159). A Igreja
não tem outro sinal de identificação a não ser apresentar-se como
ea PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

comunidade de amor, primeiro em seu interior e, depois, num amor


que se expande no mundo. As comunidades eclesiais articulam-se na
unidade e na diversidade. São constituídas por muitas pessoas que
professam a mesma fé em Jesus Cristo, contudo, não são iguais en-
tre si. Porém, pelo mesmo Espírito Santo, formam uma comunhão
tão íntima que se transformam em membros de um “único corpo.
Portanto, a comunhão eclesial é resultado da ação do Espírito Santo
em cada um e no conjunto dos batizados. “No povo de Deus, a comu-
nhão e a missão estão profundamente unidas entre si... A comunhão
é missionária e a missão é para a comunhão” (DAP, n. 163).
A comunhão eclesial, na diversidade de carismas, ministérios e
serviços, expressa a riqueza que o Espírito Santo confia aos mem-
bros do Corpo de Cristo. “De fato, cada batizado é portador de dons
que deve desenvolver em unidade e complementaridade com os
dons dos outros, a fim de formar o único Corpo, entregue para a
vida do mundo” (DAp, n. 162).
A Igreja nasce em Pentecostes e é impulsionada pelo Espírito à
missão, a pregar a Boa Nova de Jesus, tendo diante de si um mundo
plural. “E cada um de nós em sua própria língua os ouve anunciar as
maravilhas de Deus!”. À luz de Pentecostes, anunciar o Evangelho
e ser discípulo missionário de Jesus é estar em comunhão com as
pessoas, colocando-se na escuta, fazendo caminho em conjunto no
seguimento do Cristo - Caminho, Verdade e Vida. A missão dos dis-
cípulos, animados pelo Espírito, consistirá sempre numa proposta
de vida, vivida na reciprocidade, na escuta e na busca sincera da ver-
dade, que abre horizonte ao diálogo, respeitoso e amigo, com cada
pessoa e cada povo. A abertura e a acolhida respeitosa da realidade
do outro (pessoas ou povos) e o anúncio inculturado da Boa Nova
do Senhor são, sem sombra de dúvidas, obra do Espírito Santo.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Assim como no cenáculo em Jerusalém, hoje, o Espírito Santo, guia
da fé do povo de Deus, nos reúne para que, atualizando o memorial
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

da Páscoa do Senhor, entoemos hinos de ação de graças ao Pai e


vivamos iluminados pela luz da ressurreição de seu Filho.
Acorrendo de nossas atividades para a celebração dos mistérios
da salvação, o Espírito Santo nos prepara para o encontro com o
Senhor, presente na assembleia reunida, para a escuta da Palavra e
para a ação de graças.
A graça do Espírito Santo desperta em nós a fé e a conversão
do coração e a adesão à vontade do Pai. Desta forma, a assembleia
litúrgica é participação e comunhão na fé, à qual o Espírito Santo
recorda o sentido do evento da salvação, dando vida à Palavra de
Deus, que é anunciada para ser acolhida e vivida. É o Espírito Santo
quem dá aos leitores e aos ouvintes, segundo as disposições de seus
corações, a compreensão espiritual da Palavra de Deus. É Ele quem
estabelece uma relação viva com Cristo, Palavra viva do Pai, para
que fiéis e ministros vivam, no cotidiano, o que na celebração ouvi-
ram, contemplaram e experimentaram.
A celebração litúrgica, de modo particular da Eucaristia, é me-
morial das maravilhas realizadas por Deus em favor de seu povo. O
Espírito Santo, que desperta a memória da Igreja, suscita a oração
de louvor e a ação de graças.
Santificando ou transformando os dons de pão e de vinho em
Corpo e Sangue de Jesus Cristo, o Espírito Santo age naqueles que
comungam, tornando-os membros vivos do Corpo de Cristo e ofe-
rendas agradáveis ao Pai. Assim, evidencia-se o fruto do Espírito na
ação litúrgica, ao se colocar a assembleia em comunhão com Cristo
para formar o seu corpo, a Igreja.
A Eucaristia é a fonte e o ápice da vida de fé e da atividade mis-
sionária que congrega os fiéis na unidade. “Como há um único pão,
nós embora muitos, somos um só corpo, pois, participamos todos
desse único pão” (1ICor 10,17). A Igreja suplica ao Pai que envie o
Espírito Santo para que faça da vida dos fiéis uma oferenda viva a
Deus através da transformação espiritual à imagem de Cristo, da
preocupação pela unidade da Igreja e da participação em sua missão
pelo testemunho e pelo serviço da caridade (cf. CCE, n. 1109).
93 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Pascal - Ano B - 2009

Sugestões

1. Preparar o espaço da celebração, destacando o Círio Pascal e


a pia batismal, além da mesa da Palavra e da mesa da ceia eucarísti-
ca. A cor litúrgica desta festa é o vermelho.
2. Acolher, com carinho, os irmãos e irmãs que chegam para
participar da celebração.
3. Solenizar o acendimento do Círio Pascal antes da procissão
de entrada.
4. Valorizar, na procissão de entrada, as pessoas que exercem
algum ministério ou serviço na comunidade. Elas receberam do Es-
pírito a missão de testemunhar a ressurreição de Jesus Cristo. Onde
há tradição, na procissão pode-se trazer a bandeira do Divino.
5. Realçar a leitura dos Atos dos Apóstolos. Se possível, pode ser
cantada ou dialogada, com muita expressão.
6. Cantar a Sequência: “A nós descei divina luz”. A assembleia
ou um grupo de pessoas acende velas no Círio Pascal e as mantém
acesas até o final da proclamação do Evangelho.
7. No momento do Creio, convidar as pessoas que exercem ser-
viços e ministérios na comunidade para que se aproximem do Círio
Pascal e renovem sua consagração ao serviço do bem comum na
comunidade. Onde for possível, os servidores juntam suas mãos no
Círio e recitam o Creio. Ao final, pode-se aspergir com água benta
toda a assembleia.
8. Cantar o prefácio que realça, neste dia, o mistério do Pente-
costes (Missal Romano, p. 319). Nas celebrações da Palavra, fazer o
momento do louvor com a louvação indicada no Hinário Litúrgico
2, da CNBB, p. 103.
9. Possibilitar a comunhão sob as duas sagradas espécies para
todos os comungantes, enquanto se entoa um hino adequado.
10. Abençoar e enviar os irmãos e irmãs com a bênção final
própria para a celebração do Pentecostes (Formulário 9, Missal Ro-
mano, p. 524).
Cristo Ressuscitado, Fonte e Caminho da Missão

11. Convidar as pessoas a partilharem o abraço de paz, pois


Deus derramou em nossos corações o seu Espírito que nos enche
de alegria e consolação.
à Terminado o Tempo Pascal, convém guardar o Círio Pascal,
com veneração, no Batistério.

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