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1. Tomou o pão em suas mãos
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Ninguém melhor do que o filho da filha do Faraó, por sua cultura
e preparo, para tirar do Egito o povo oprimido. No entanto, primeiro
teve que renunciar a essas qualidades, fugindo para o deserto de
Madian; deixando a casa do Faraó com todos os seus privilégios; e
depois, e somente depois, chegou a ser um instrumento útil para a
libertação do seu povo.
Graças a esta dura experiência de despojamento, Moisés sempre
entendeu bem claramente que a obra era de Deus e não de algum
homem. Daí que, depois da apostasia do Sinai, Deus lhe disse: Desce,
porque teu povo, o que tiraste do Egito, pecou - Moisés respondeu
claramente: Esse povo nem é meu nem o libertei, foste tu mesmo quem
o tiraste da escravidão (Ex 32,7-11).
Por outro lado, nossas debilidades não constituem desculpa, nem
nossas limitações são razão suficiente para que Deus detenha seu
plano. Nossa fraqueza nunca será maior que o seu poder. Deus não
pode depender de nós, muito menos de nossos defeitos. Moisés é, ao
mesmo tempo, um exemplo disso:
Quando foi chamado para libertar os hebreus da escravidão, ex-
clamou: Porém, quem sou eu para comparecer diante do Faraó, se
sequer sei falar bem, pois sou gago? Deus lhe respondeu: Eu estarei
contigo e te ensinarei o que tens que dizer.
A incapacidade humana não é obstáculo suficiente para que Deus
interrompa sua ação salvadora. Quando em nossa vida temos água
de sobra, quer dizer, estamos muito confiados em nossas qualidades,
crendo que somos capazes de cumprir a missão encomendada, en-
tão o Senhor se encarrega de nos atirar um pouco de terra para que
sejamos barro e não lodo.
Se, pelo contrário, só olhamos para a terra do nosso pecado e o
pó da nossa incapacidade, então o Senhor nos dá água viva para nos
amolecer e nos poder usar, livres de qualquer complexo de inferiori-
dade ou de culpa.
Antes de trabalhar para o Senhor, o Senhor nos trabalha. Para
trabalhar pelo Senhor, temos que ser trabalhados por ele antes. Nin-
guém pode ser instrumento de libertação sem que antes tenha expe-
rimentado a liberdade. Como se pode pregar que Jesus liberta, sem
tê-lo experimentado na própria carne?
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Nossa Atitude: Desprogramar-nos
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DINÂMICA:
Com um pedaço de barro seco e água, cada um faça uma figura que
melhor simbolize a sua própria vida. A idéia é vermos como tratamos
de ser arquitetos de nossos destinos.
Finalmente, todas as figuras que representam o plano de vida indivi-
dual e que cada um fez, são desmanchadas, para significar que nos
desprogramamos e nos abandonamos nas mãos do divino oleiro,
para que faça de nós o que ele quiser.
DINÂMICA:
O que sentiste ao ter o barro nas mãos? Qual foi a figura que
moldaste e por quê? Qual foi tua experiência ao estar formando
essa figura? Como o aplicas à tua vida? Estarias disposto a que o
Senhor desfizesse o teu plano de-vida para formar-te de acordo
com o seu?
2. Abençoou-o
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A primeira coisa que o Senhor faz é nos falar com a verdade.
Pronuncia uma Palavra que é viva e eficaz, que é espírito e vida, mais
cortante que a espada de dois gumes, que penetra até as profundi-
dades da alma. Nesta etapa, a Palavra de Deus vai nos configurando
para que adquiramos os critérios de Jesus Cristo e vamos nos iden-
tificando com os seus próprios valores.
Qualquer palavra que escutemos molda de tal modo nossa ma-
neira de pensar, que determina depois nossa forma de ser e atuar.
Nossa mente é como fita cassete virgem, que reproduz o que foi gra-
vado nela. Assim como os jovens cantam canções de memória e de
algum modo tratam de imitar os seus ídolos, do mesmo modo, se
escutamos a Palavra de Deus, nossa mente irá se identificando com
a vontade divina e os critérios do Senhor nos chegarão a parecer a
coisa mais natural. Assim como a água empapa a terra e a fecunda,
a Palavra de Deus irá nos penetrando até a raiz das nossas decisões.
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mos falar em seu Nome. Por outro lado, a oração que se concentra
em falar com Deus, sem dar-lhe oportunidade de comunicar-se, vai
atrofiando o crescimento espiritual.
Existem pessoas que decidem os caminhos da pastoral ou im-
põem um critério a ser seguido conforme o que têm em mente; e
para que tenham força e não encontrem oposição ao seu projeto,
acrescentam: "Esta é a vontade do Senhor!". Porém quem lhes disse
que era o plano divino? Como e quando souberam que essa era a
vontade de Deus? A única coisa que fizeram para impô-lo aos demais
foi atribuí-Ia ao Senhor! ...
Os piores são aqueles que pensam que por ter certa autoridade
ou título gozam da infalibilidade, e que suas diretrizes são automa-
ticamente a vontade Divina, como se o Senhor dependesse dos ser-
vos. Ao invés de perguntar ao Senhor o que ele quer, dizem o que
pensam e logo tratam de fazer com que os outros creiam no que eles
mesmos não sabem: que esse projeto, e sobretudo essa proibição, seja
vontade celestial.
Há três coisas que afogam a Palavra de Deus, não lhe permitem
criar raízes, nem muito menos dar fruto:
- As preocupações do mundo: consiste em desvelar-se pelas
coisas transitórias. Viver como se somente contássemos com
nossas próprias forças para solucionarmos os nossos proble-
mas.
- O afã de riquezas: compreende a exagerada busca dos bens
materiais, títulos, ou poder. A ambição que nunca se sacia,
pelo contrário, mergulha-se no redemoinho da cobiça, que é
idolatria.
- A concupiscência da carne: é a satisfação desmedida de todos
os sentidos, vivendo sob a lei do menor esforço.
DINÂMICA:
Pôr nossas mãos sobre os ouvidos, para pedir ao Senhor que nos
conceda o dom de saber escutá-Io (cf. Mc 7,31-37).
Pôr a Bíblia sobre o coração e orar para que o Senhor nos dê amor
à sua Palavra, inteligência para entendê-Ia e força para vivê-Ia.
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3. Partiu-o
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do por tanta gente, o gênio disse: "Mas o que fiz foi um nada. Quan-
do me trouxeram o bloco de mármore, essa escultura já vinha den-
tro. Eu só fiz tirar uns pedacinhos que lhe sobravam".
Deus nos destinou a ser uma obra de arte em suas mãos. Porém
antes tem que nos tirar tudo o que nos atrapalha. Nosso problema é
que ainda temos conosco demasiadas coisas que não nos permitem
ser livres para servir ao Senhor.
a. A pureza de intenção
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Para entender melhor, vejamos alguns exemplos de contamina-
ção de nossas motivações:
- Algumas vezes realizamos um importante trabalho apostólico,
porém nossa intenção final é de sermos levados em conside-
ração pelos demais. Por isso desanimamos quando não so-
mos reconhecidos pelos outros.
- Esforçamo-nos por cumprir o dever e realizar o encargo, po-
rém motivados para vencer uma concorrência com outros diri-
gentes. Procuramos, antes de mais nada, ficar bem diante dos
demais, ou superá-los, ao invés de cumprir a vontade de Deus.
- Há gente que trabalha com os pobres, porque isso lhes ofere-
ce prestígio apostólico: "Fulano está comprometido com os
pobres e vive sua opção preferencial". Porém, no fundo, não
ama os pobres. Mais do que servir-lhes, serve-se deles para
incrementar o culto à sua pessoa.
Às vezes não aprovamos um bom projeto, assinalando mil des-
vantagens, mas no fundo isto se deve ao fato de não termos sido
considerados nele, como pensávamos que merecíamos.
- Uma das piores impurezas é servir ao Senhor esperando uma
recompensa de tipo material. Essa é a maior desgraça em que
pode cair um ministro do Senhor.
A relação poderia ser interminável. Tão ampla e diversa como a
diversidade das pessoas. Por isso, é essencial fazer uma revisão nas
intenções secundárias que nos movem a realizar o que fazemos. In-
clusive, às vezes, essas são as intenções primárias, porém revesti das
de pele de ovelha: zelo apostólico ao serviço dos demais ou em cum-
primento da vontade divina.
O Senhor nos aceita com nossa impureza, porém nunca consen-
tirá a nossa hipocrisia. Isto foi precisamente o que jamais pôde tole-
rar dos fariseus, "Que fingiam de justos diante dos homens". O Senhor
nos aceita e nos ama com nossos erros, porém o que vomita é a
duplicidade do coração. Nem às prostitutas, nem aos publicanos, lhes
falou tão duramente, como o fez com os hipócritas fariseus, que atu-
avam com duplicidade de coração.
Contudo, não se trata de julgar aquelas pessoas daqueles tempos,
mas de descobrir o fariseu que há dentro de cada um de nós, sempre
que atuamos com duplicidade de coração.
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Talvez não encontremos em toda a Bíblia caso mais impressio-
nante do que este:
Um dia, um bom casal entregou a Pedro uma oferenda vultosa,
resultado da venda de sua propriedade rural. Porém, o apóstolo, ao
invés de lhes agradecer, colocando em sua casa uma placa de reco-
nhecimento, se encheu de raiva. Eles caíram mortos a seus pés. Pre-
tendiam ser incluídos na lista de honra, ao lado de Barnabé, que
havia entregue tudo aos apóstolos. No entanto, eles haviam guarda-
do para si uma parte do ganho na venda do campo.
Não tinham obrigação de vender sua propriedade, nem de ofere-
cer o seu preço. Eles queriam que os outros os considerassem gene-
rosos e desprendidos, quando na realidade não o eram. O Senhor
não aceitou sua oferenda e, em vez de premiá-los, deixou que se
afundassem no mundo da morte.
A duplicidade de coração é fatal para a saúde mental, pois está
dividida interiormente. É como se uma flecha se dirigisse, ao mesmo
tempo, a dois objetivos diferentes. Esta é a origem e raiz de depres-
sões, complexos e frustrações. É precisamente a nós que prejudica,
por isso Deus quer purificar-nos a qualquer preço.
DINÂMICA:
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tinha, senão, um alimento: fazer a vontade do Pai 004,34), que con-
sistia em anunciar e instaurar o Reino de Deus neste mundo. Em
torno disso girava todo o seu ministério.
A seus discípulos e amigos, ele revelou o grande segredo da vida
plena: "somente uma coisa é necessária" (Lc 10,42). Mais adiante
definiu a que se referia: Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua
justiça (Mt 6,33). Tudo o mais é considerado um simples acréscimo.
Assim, o Reino de Deus converte-se no valor supremo, do qual de-
pende toda a vida do Mestre. Portanto, esta deve ser a motivação
única e o objetivo exclusivo de cada um dos seus seguidores.
Mas, o que é este Reino? O mistério do Reino foi expressado com
tal variedade de imagens, que é impossível defini-Io num único
modelo. É um mistério que cada um há de ir descobrindo dentro de
si mesmo, de tal modo que se componha o arco-íris das caracterís-
ticas mencionadas nas parábolas evangélicas. Não obstante, o essen-
cial é que está acima de tudo o mais.
Quando Paulo o encontrou, exclamou: Tudo tenho como esterco,
em comparação com o conhecimento de meu Senhor Jesus Cristo, por
quem tudo perdi (FI 3,8). Inclusive sua vida e até sua morte estavam
a serviço do Reino, como disse: Para mim, a vida é Cristo e a morte
é lucro (Fl1,21). Havia encontrado sua razão de viver e o sentido para
toda a sua existência!
Na parábola do mercador de pérolas fala-se expressamente que
ele encontrou "uma". Essa foi a singularidade do seu achado e o que
mereceu a focalização de toda a sua atenção e sua vida. Enquanto
não se encontre "essa" pérola, se terá muitas outras, porém nenhuma
que se aproxime àquela em termos de valor (Mt 13,45).
Um valor acima de todos os demais, é como o sol que origina o
sistema planetário e o mantém em harmonia. Sem este valor supre-
mo, tudo converter-se-ia em caos e confusão. Se bem que o caminho
e a porta sejam estreitas, o jugo e a carga do Mestre são leves, sempre
que a vida se apóie na plataforma de um valor que dê sentido a todo
o resto da existência.
o Mestre nos revela o sentido da existência, ensinando-nos a viver
em plenitude, quando afirma: onde está o teu tesouro, aí está tam-
bém o teu coração (Mt 6,21). Porém, quando não encontramos esse
tesouro, andamos à deriva, levados por todos os ventos, com a inse-
gurança de não saber para onde vamos. Falta-nos, precisamente, a
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direção única de vida, que se sobreponha a todos os nossos interes-
ses. A maior parte dos nossos problemas emocionais tem origem na
inexistência de uma hierarquia de valores e prioridades na vida. Há
muitos tesouros, mas como só temos um coração, este se divide. Os
desequilíbrios psicológicos provêm de querer tudo ao mesmo tempo,
e não se estar disposto a pagar o preço de uma escolha. O neurótico
pretende que sua flecha acerte em vários objetivos de uma só vez,
provocando assim uma tensão que acaba com a mais robusta saúde
mental.
Quem encontrou o tesouro, vende com alegria todos os seus
outros valores. E mais, o texto grego do Evangelho dá a entender que
o achado é "a causa da alegria" que leva a vender os seus bens. Tudo
passa a um segundo plano: a fama, as recompensas humanas, a ri-
queza e até os êxitos pastorais. Tudo está submetido à supremacia
absoluta do Reino.
Quando Jesus afirmava que o caminho da salvação era estreito,
jamais disse que estava cheio de pedras e de obstáculos, mas que
não convinha levar excesso de bagagem, porque a porta era demasi-
adamente pequena e não havia lugar para o que o mundo considera
riqueza.
Toda opção implica, necessariamente, uma renúncia. Quem não
está disposto a sacrificar o secundário, nunca possuirá o essencial,
verdadeiramente. Quem não pagar este preço, jamais gozará do Reino.
No "baseball", existe uma estratégia muito significativa que se
chama "fly" de sacrifício, ou levantamento de sacrifício, que ocorre
quando um jogador está na terceira base; quem rebate, golpeia a
bola o mais alto e distante possível para que o seu companheiro
possa chegar à "home", Ele se sacrifica, saindo do jogo, contanto que
outro consiga anotar uma corrida.
Assim também na conquista do Reino algo necessariamente se
deve perder. Jesus expressa-o claramente na parábola da rede, onde
existem peixes bons e maus. Enquanto os bons são guardados, os
outros são lançados fora (Mt 13,47-50). Não se pode ficar com todos
os peixes da rede ...
Assim, pois, a hierarquia de valores não só significa uma ordem,
senão que implica, ao mesmo tempo, a renúncia a tudo que não vá
na direção da prioridade fundamental. Há ruas e avenidas nas quais
não se pode transitar nos dois sentidos. O caminho do discipulado
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também tem um só sentido. Não admite nem distrações, nem muito
menos voltar a vista para os alhos e cebolas do Egito. Esta atitude
não é condição para encontrar o Reino, mas conseqüência necessá-
ria de tê-lo achado.
A pureza de intenção, que consiste em agir só pelos motivos e
interesses do Reino, é uma moeda que tem duas caras: de um lado
encontra-se a direção única que a vida vai tomar; do outro, renunciar
a tudo aquilo que nos pode desviar.
Nossa intenção, ou melhor dito, nossa pureza de intenção, deter-
mina o valor das nossas ações. O mais importante não é o que rea-
lizamos, mas, por que e para que o fazemos. Assim é que, sobre os
limpos de coração, pende a mais bela das bem-aventuranças:
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus (Mt
5,8).
O primeiro passo para se obter a pureza de intenção é identificar
as principais motivações que determinam a nossa vida: os interesses
e razões do nosso agir e ser neste mundo. Uma vez descobertas, deve-
se colocá-Ias na ordem hierárquica de valores, ou sacrificar-se em
relação ao Reino.
DINÂMICA:
Nesta viagem, ao passar pela alfândega, tens que deixar uma destas
maletas. A qual delas renunciarias?
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Já cansado com tanta carga, e para ser capaz de seguir adiante, há
que abandonar mais uma. Qual deixarias?
Este é "teu reino" que está acima de tudo. Para que, em verdade,
assim seja, há que se responder a duas perguntas:
- Este reino está de acordo com as características propostas nas
parábolas do Evangelho de Jesus?
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• Porque precisamos
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• Pela missão que o Senhor nos confere
III