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HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

CAPÍTULO 1
(100 a 313 A.D. / 313 – 590 A.D.)

Introdução

As crenças dos cristãos primitivos eram muito simples: Todos os seus


pensamentos sobre a vida cristã tinham como centro a pessoa de Cristo: Criam em
Deus, o Pai; em Jesus como Filho de Deus, Senhor e Salvador; criam no Espírito
Santo; criam no perdão dos pecados e na eminente 2a vinda de Jesus.

Crer, entretanto, que a Igreja Primitiva era


imaculada e sem defeitos é um romantismo que não
encontra respaldo na História da Igreja e nem no Novo
Testamento. Aliás, o próprio Novo Testamento foi
escrito tendo em vista as necessidades surgidas no dia a
dia da Igreja. As epístolas, na maioria das vezes,
foram escritas para corrigir a postura
doutrinária de uma determinada igreja local ou para
combater uma heresia incipiente (Gálatas . Escrita
para combater os judaizantes; I e II Coríntios . Escritas
para combater a frouxidão moral dos cristãos Trecho do livro de Salmos
coríntios,
bem como disciplinar o uso dos dons espirituais; I e II Tessalonicenses . Escritas para
corrigir distorções no que diz respeito ao que aqueles cristãos acreditavam acerca da 2a
vinda de Jesus.) O Apocalipse foi escrito para alentar uma igreja perseguida,
demonstrando o senhorio de Jesus na História. Os Evangelhos foram escritos cerca de
60 a.c., uma vez que a geração que convivera com Jesus estava morrendo e o
testemunho escrito é mais duradouro e menos susceptível a distorções que o
testemunho oral.

Como dissemos, a formulação das doutrinas foi gerada pelos desvios da fé. A fim de
definir os que de fato poderiam ser chamados de cristãos, a igreja, frente ao desafio
das heresias, passou a sistematizar pontos doutrinários que exprimiam a “fé que de
uma vez por todas foi entregue aos santos.”

AS PERSEGUIÇÕES
CAPÍTULO 2

O primeiro grande desafio da Igreja foram as perseguições. A princípio o


governo romano considerava a Igreja Cristã como uma das seitas do judaísmo, e como
tal, uma religião licita. Posteriormente, com o crescimento do Cristianismo, passou a
ver a igreja como distinta do judaísmo. À medida que crescia, o Cristianismo passou a
sofrer cada vez mais oposição por parte da sociedade pagã e do próprio Estado. A
primeira grande perseguição movida pelo Império deu-se sob Nero. A partir daí, outras
perseguições ocorreram, mas elas nem foram de cunho universal, nem de duração
contínua. Muitas vezes dependia do governo provincial. Após Nero, Domiciano (90-
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95) moveu curta, mas feroz perseguição aos cristãos. Já no segundo século, o
imperador Trajano estabeleceu a política que norteou as perseguições ao cristianismo:
o Estado não deveria gastar seus recursos caçando os cristãos, mas os que fossem
denunciados deveriam ser levados ao tribunal e instados a negar a Cristo e adorar os
deuses romanos. Quem não o fizesse deveria ser condenado à morte.

Dessa forma, a perseguição não tinha um caráter de política de Estado, mas


estava sempre presente, posto que somente em 313 (séc IV) o cristianismo passou a
ser considerada uma religião licita. Assim, vários foram os mártires cristãos nesse
início da igreja: Simeão e Inácio, no período compreendido entre os reinados de
Trajano e Antonino Pio; Policarpo e Justino, o Mártir, sob o reinado de Marco Aurélio;
Leônidas, Perpétua e Felícitas, sob o reinado de Séptimo Severo; Cipriano e Sexto,
durante a perseguição movida pelo imperador Valeriano. Perseguiram ainda a Igreja os
imperadores Décio, Diocleciano e Galério.

Basicamente havia duas linhas de


oposição ao Cristianismo: popular e erudita. A
oposição popular estava baseada em rumores e
falsas interpretações dos ritos cristãos. Era voz
corrente entre o povo que os cristãos
participavam de festas onde havia orgias com
incestos, inclusive, interpretando mal o fato de
os cristãos se chamarem de irmãos e
praticarem o “ágape”. Cria também o povo
que os cristãos comiam a carne de recém-
nascidos, isto devido ao que ouviam falar
sobre a Ceia, na qual comiam a carne de Jesus, juntamente com os relatos do
nascimento de Cristo.

Já os homens cultos da época faziam acusações a partir da própria crença dos


cristãos, tais como, “Por um lado dizem que é onipotente, que é o ser supremo que se
encontra acima de tudo. Mas por outro o descrevem como um ser curioso, que se
imiscui com todos os assuntos humanos, que está em todas as casas vendo o que se diz
e até o que se cozinha. Esse modo de conceber a divindade é uma irracionalidade. Ou
se trata de um ser onipotente, por cima de todos os outros seres, e portanto, apartado
deste mundo; ou se trata de um ser curioso e intrometido, para quem as pequenezas
humanas são interessantes.”

Ao povo em geral, a Igreja respondeu chamando-o a ver a conduta moral dos cristãos,
muito superior à dos pagãos. Aos cultos e letrados, a igreja respondeu através dos
Apologistas: Discurso a Diogneto, Aristides, Justino Mártir, Taciano (Discurso aos
gregos), Atenágoras (Defesa dos Cristãos e Sobre a Ressurreição dos Mortos), Teófilo
(Três livros a Autólico), Orígenes (Contra Celso), Tertuliano (Apologia), Minúcio
Félix (Otávio).

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CAPÍTULO 3
AS HERESIAS

Ao lados das perseguições externas, o Cristianismo enfrentou um inimigo muito mais


terrível, posto que interno, através de heresias, algumas delas propostas por líderes da
própria igreja.

As primeiras heresias enfrentadas pela Igreja vieram dos judeus convertidos, problema
já enfrentado por Paulo na igreja da Galácia. Os ebionitas, eram farisaicos em sua
natureza. Não reconheciam o apostolado de Paulo e exigiam que os cristãos gentios se
submetessem ao rito da circuncisão. No desejo de manterem o monoteísmo do Antigo
Testamento, os ebionitas negavam a divindade de Cristo e seu nascimento virginal,
afirmando que Ele só se distinguia dos outros homens por sua estrita observância da
lei, tendo sido escolhido como Messias por causa de sua piedade legal.
Os elquesaítas, por sua vez, apresentavam um tipo de cristianismo judaico assinalado
por especulações teosóficas e ascetismo estrito. Rejeitavam o nascimento virginal de
Cristo, mas julgavam-no um espírito ou anjo superior. A circuncisão e o sábado eram
grandemente honrados; havia repetidas lavagens, sendo-lhes atribuídos poderes
mágicos de purificação e reconciliação; a mágica e a astrologia eram praticadas entre
eles. Com toda probabilidade se referem a essas heresias a Epístola aos Colossenses e
I Timóteo.
O ambiente gentílico também forneceu sua cota de heresias que atingiram a Igreja. O
Gnosticismo, muito embora não possuísse uma liderança unificada e se apresentasse
como um corpo doutrinário amorfo, foi terrível para a Igreja. Já vemos um
gnosticismo incipiente no próprio período apostólico (Cl 2.18 ss; I Tm 1.3-7; 6.3ss; II
Tm 2.14-18; Tt 1.10-16; II Pe 2.1-4; Jd 4,16; Ap 2.6,15,20ss). Nesse período, Celinto
ensinava uma distinção entre o Jesus humano e o Cristo, que seria um espírito superior
que descera sobre Jesus no momento do batismo e tê-lo-ia deixado antes da
crucificação. Vemos João combatendo indiretamente essa heresia em João 1.14; 20.31;
I João 2.22; 4.2,15; 5.1,5-6 e II João 7.

No II (segundo) século, esses erros assumem uma forma mais desenvolvida, muito
embora continuassem como um corpo amorfo. A bem da verdade poderíamos dizer
que houve “gnosticismos”, mas há pensamentos comuns às várias correntes gnósticas.
Gnosticismo vem do grego, “gnosis”, que significa “conhecimento”. Para os
gnósticos, a salvação era alcançada através do conhecimento esotérico de mistérios, os
quais só eram revelados aos iniciados. Dividiam a humanidade em “pneumáticos”,
“psíquicos” e “hílicos”. Os primeiros eram a elite da igreja, os que alcançavam o
conhecimento que leva à salvação; os seguintes, eram os cristãos comuns, que
poderiam alcançar a salvação através da fé e das boas obras; os últimos eram os
gentios, irremediavelmente perdidos.

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Na cosmovisão gnóstica, tudo que era material era essencialmente mau, e o que era
espiritual era essencialmente bom. Logo, o Deus do Novo Testamento não poderia ser
o deus do Antigo Testamento. O deus do AT era tido como Demiurgo, o criador do
mundo visível. Ainda na visão gnóstica, entre o Deus bondoso que se revelou em
Cristo e o mundo material havia vários intermediários, através dos quais o homem
poderia achegar-se a Deus.

Sendo o corpo mau e o espírito bom, os gnósticos tendiam para dois extremos: alguns
seguiam um ascetismo rigoroso, mortificando a carne, enquanto outros se lançavam na
mais desregrada libertinagem.

Outra heresia que mereceu o combate da Igreja foi a heresia de Márcion, filho do
bispo de Sinope, que parece ter tido duas grandes antipatias: Pelo Judaísmo e pelo
mundo material. Ensinava Márcion, à semelhança dos gnósticos, que Iavé, o Deus do
AT não era o Deus do NT, este, o Deus supremo. Iavé era um deus mau, ou pelo
menos ignorante, vingativo, ciumento e arbitrário. O mundo material e suas criaturas
eram criação de Iavé e não do Deus supremo. Este, entretanto, apiedou-se das criaturas
de Iavé e enviou Jesus, que não nasceu de uma mulher, posto que isso faria com que
passasse a ser criatura do deus inferior. Jesus surgiu como homem maduro no reinado
de Tibério, na Galiléia.

Márcion rejeitou o Antigo Testamento, que até então eram as Escrituras aceitas na
Igreja Cristã (o cânon do NT ainda não havia sido elaborado) por serem a palavra de
Iavé, o deus inferior, e formulou um cânon para si e seus seguidores, que constava do
evangelho de Lucas, expurgado do que ele considerava “judaísmo”, e das cartas de
Paulo.

Também ensinava Márcion que não haverá juízo final, posto que o Deus amoroso a
todos perdoará. Negava a criação, a encarnação e a ressurreição final.

Márcion chegou a formar uma igreja independente e seu ensino foi de um perigo
terrível para a igreja, que na época não possuía um corpo doutrinário estabelecido e
reconhecido por toda a cristandade.

Como se não bastasse essas heresias, houve também as heresias dos Montanistas e dos
Monarquistas. Os montanismo surgiu na Frígia, por volta do ano 150. Montano
afirmava que o último e mais elevado estágio da revelação já fora atingido. Chegara a
era do Paracleto, que falava através de Montano, e que se caracterizava pelos dons
espirituais, especialmente a profecia. Montano e seus colaboradores eram tidos como
os últimos profetas, trazendo novas revelações. Eram ortodoxos no que diz respeito à
regra de fé, mas afirmavam possuir revelações mais profundas que as contidas nas
Escrituras. Faziam estritas exigências morais, tais como o celibato (quando muito, um
único matrimônio), o jejum e uma rígida disciplina moral.

Já o monarquianismo estava interessado na manutenção do monoteísmo do AT. Seguiu


duas vertentes: o monarquianismo dinâmico e o monarquianismo modalista. O
primeiro estava interessado em manter a unidade de Deus, e estava alinhado com a
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heresia ebionita. Para eles, Jesus teria sido tomado de maneira especial pelo Logos de
Deus, passando a merecer honras divinas, mas sendo inferior a Deus. O segundo,
também chamado de sabelianismo, concebia as três Pessoas da Trindade como os três
modos pelos quais Deus se manifestava aos homens.

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CAPÍTULO 4
A REAÇÃO DA IGREJA

Face a essas ameaças, internas e externas, a igreja respondeu de várias formas. Já


vimos que os apologistas responderam às acusações assacadas pelos filósofos e
pessoas cultas ao cristianismo. No plano interno, a igreja primeiro tratou de definir um
Cânon, ou seja, uma lista dos livros considerados inspirados. Nesse período, havia
inúmeros evangelhos, cartas, apocalipses circulando nas mais diversas igrejas. Alguns
eram lidos em certas igrejas e não eram lidos em outras. Com o desafio de Márcion e
também da perseguição sob Diocleciano, onde uma pessoa encontrada com livros
cristãos era passível de morte, era importante saber se o livro pelo qual o cristão estava
passível de morte era realmente inspirado. Não houve um concílio para definir quais
os livros nem quantos formariam o NT. Tal escolha se deu por consenso, tendo alguns
livros sido reconhecidos com mais facilidade que outros.

Definiu também a igreja regras de fé, sendo a mais antiga o chamado Credo
Apostólico, o qual resumia aqueles pontos de fé que o cristão genuíno deveria
subscrever, e era claramente trinitariano (Creio em Deus Pai, todo poderoso, criador
do céu e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi
concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob o poder
de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; no terceiro dia ressurgiu dos
mortos, subiu ao céu, e está sentado à mão direita de Deus Pai, todo poderoso, de onde
há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa igreja
católica; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo e
na vida eterna).

Paralelamente, a igreja percebeu que precisava organizar-se estruturalmente. Definiu


então a sucessão apostólica e o bispo monárquico para garantir a unidade da igreja,
surgindo então o que é chamado de Igreja Católica Primitiva, significando o termo
“católica” = universal.

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CAPÍTULO 5
OS PAIS DA IGREJA

Os apologistas tinham um objetivo negativo e positivo em seus escritos.


Negativamente, queriam refutar as falas acusações de ateísmo, canibaliemso,
incesto, preguiça e práticas anti-sociais atribuidas a eles por vizinhos escritores
pagãos.

Diferentemente dos apologista so segundo século que procuravam fazer


uma explanação e uma justificação racional do cristianismo para as autoridades,
os polemista empenharam-se por responder veementemente esses ensinos ao
desafio dos falsos ensinos dos heréticos métodos usados pelos cristãos do Oriente
e Ocidente na solução dos problemas da heresia e na formulação teológica da
verdade Cristã.

O Estado Romano e as heresias encontraram adversários à altura no seio da Igreja


Cristã, seja através de mártires anônimos, que deram suas vidas mas não negaram a
Jesus, seja nos homens que começaram a formular as doutrinas muitas das quais
esposamos até hoje. Estes homens são chamados de Pais da Igreja,cujos ensinos
passamos a resumir:

Irineu - Nascido no Oriente e discípulo de Policarpo. Foi bispo de Lion. Escreveu


Contra Heresias, no qual investe principalmente contra os gnósticos.
Hipólito - Discípulo de Irineu; menos dotado que seu mestre; gostava mais das idéias
filosóficas que Irineu. Provavelmente sofreu o martírio em Roma. Sua principal obra
se chama Refutação de Todas as Heresias,na qual ele contesta os ensinos gnósticos.

Tertuliano - Homem de grande erudição, vívida imaginação e intensos sentimentos. De


gênio explosivo, era naturalmente apaixonado na apresentação do cristianismo. Era
advogado e introduziu termos e conceitos jurídicos na discussão teológica. Tendia a
deduzir que todas as heresias provinham da filosofia grega, razão pela qual se tornou
ardente opositor da filosofia. Seu fervor o levou a unir-se ao montanismo no final da
vida.

Deus e o Homem - Consideravam que o erro fundamental dos gnósticos era


a separação entre o verdadeiro Deus do Criador. Há um único Deus, Criador e
Redentor. Deus deu a lei e revelou igualmente o evangelho. Esse Deus é treino,
uma única essência que subsiste em três pessoas.

Tertuliano foi o primeiro a asseverar a tri personalidade de Deus e a usar o termo


“Trindade”. Em oposição aos monarquianos ele enfatizava o fato de que as três
Pessoas são uma só substância, susceptível de número sem divisão. Entretanto, não

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chegou à verdadeira declaração trinitariana, posto que concebia que uma Pessoa
estaria subordinada às outras.

Segundo ele, o homem foi criado à imagem de Deus, sem imortalidade (sem
perfeição), mas com a capacidade de recebê-la no caminho da obediência. O pecado é
desobediência e produz a morte; a obediência produz a imortalidade. Em Adão, a raça
humana inteira ficou sujeita à morte.

Tertuliano afirmava que o mal tornou-se um elemento natural do homem, presente


desde o nascimento, e que essa condição passa de uma geração à outra. É o primeiro
indício da doutrina do pecado original.

A Pessoa e a Obra de Cristo

Irineu - O Logos existira desde toda a eternidade e mediante a


Encarnação, o Logos se fez o Jesus histórico, e daí por diante foi verdadeiro Deus
e verdadeiro homem. A raça humana, em Cristo, como o segundo Adão,é
novamente unificada a Deus. A morte de Cristo como nosso substituto é
mencionada, mas não ressaltada. O elemento central da obra de Cristo teria sido
sua obediência, com o que foi cancelada a desobediência de Adão.

Tertuliano - O Logos é uma Pessoa independente, gerada por Deus, da mesma


substância que o Pai, embora difira deste quanto ao modo de existir como uma Pessoa
distinta Dele.Houve um tempo em que o Filho não existia. O Pai é a substância inteira,
mas o Filho é apenas parte dela, por ter sido gerado. Tertuliano, portanto, não
conseguiu desvencilhar-se da teoria da subordinação, porém sua formulação foi
importante na vinculação dos conceitos de “substância” e “pessoa” dentro da teologia.

No tocante ao Deus-homem e Suas duas naturezas, Tertuliano foi superior a todos os


outros Pais, à exceção de Melito, ao fazer justiça para com a perfeita humanidade de
Jesus e afirmar que cada uma de suas naturezas reteve os seus próprios atributos. Para
Tertuliano não houve fusão, mas a conjunção das duas naturezas em Jesus. No tocante
à morte de Cristo, embora enfático acerca de sua importância, não é muito claro, pois
não ressalta a necessidade de satisfação penal, mas apenas a de arrependimento por
parte do pecador. Seu ensino é permeado por certo legalismo. Ele fala da satisfação
dos pecados cometidos após o batismo mediante arrependimento ou confissão. Por
meio de jejuns e outras formas de mortificação, o pecador é capaz de escapar da
punição eterna.

Salvação, Igreja e as Últimas Coisas

Irineu - Não foi totalmente claro em sua soteriologia. A fé é um pré-requisito para o


batismo,entendendo-se fé não apenas como concordância intelectual da verdade, mas
incluiria a rendição da alma, resultando numa vida santa. O homem seria regenerado
pelo batismo; seus pecados seriam lavados e uma nova vida começaria dentro dele.

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Tertuliano - O pecador, pelo arrependimento, obtém a salvação pelo batismo. Os
pecados cometidos após o batismo requerem satisfação mediante penitência, ficando
cancelada a punição após o seu cumprimento. Antevê-se a base do sacramento
católico-romano da penitência.

Com relação à igreja, voltavam ao judaísmo, identificando a igreja(comunhão dos


santos) com a igreja visível (organização), atribuindo a esta a qualidade de canal da
graça divina, fazendo com que a participação nas bênçãos da salvação dependesse de
ser membro da Igreja visível. Devido à influencia do Velho Testamento, também
passou para primeiro plano a idéia de um especial sacerdócio medianeiro.

Em relação à doutrina da ressurreição da carne, os Pais citados foram seus campeões,


baseados na ressurreição de Jesus.

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CAPÍTULO 6
OS PAIS ALEXANDRINOS

A Teologia Alexandrina, ou Escola de Alexandria, foi uma forma de teologia


que apelou para a interpretação alegórica da Bíblia, e foi formada pela combinação
extravagante entre a erudição grega e as verdades do evangelho. A Escola de
Alexandria chegou até a lançar mão de especulações gnósticas na formulação de suas
interpretações escriturísticas. Seus principais expoentes foram Clemente de
Alexandria e Orígenes.

Clemente não era um cristão tão ortodoxo quanto Irineu ou Tertuliano, mas
como os apologistas, buscava uma ponte entre a filosofia da época e a tradição cristã.
Tinha como mananciais do conhecimento das coisas divinas tanto as Escrituras quanto
a razão humana.

Orígenes nasceu em lar cristão e foi discípulo de Clemente, a quem sucedeu


como catequista de Alexandria. Era o mais erudito dos pensadores da Igreja Primitiva
e seus ensinos eram de natureza assaz especulativa. No final da vida foi condenado por
heresia. Formulou o primeiro compêndio de teologia sistemática, chamado De
Principiis. Nessa formulação,combateu tanto os gnósticos quanto os monarquianos.
Conquanto tenha desejado ser ortodoxo, seus escritos traziam sinais identificativos do
neo-platonismo, sem falar na sua interpretação alegórica, que abriu caminho para
todas as formas de especulação e interpretação arbitrárias.

Deus e o Homem - Orígenes alude a Deus como o Ser incompreensível,


inestimável e impassível,que de nada necessita. Rejeita a distinção gnóstica entre
o Deus bom e o Demiurgo ou o Criador deste mundo. Deus é uno e o mesmo no
Velho e no Novo Testamento. Orígenes ensinou a doutrina da criação eterna.
Também ensinou Orígenes que o Deus único é primariamente o Pai, que Se revela
e opera através do Logos, o qual é pessoal e co-eterno com Deus Pai, gerado por
Ele por um ato eterno. Para Orígenes o Filho é gerado e não produto de uma
emanação ou divisão do Pai. Apesar disso, usa termos que subentendem haver
subordinação do Filho ao Pai. Na encarnação, o Logos uniu-se a uma alma
humana, que em sua preexistência se mantivera pura. As naturezas de Cristo são
conservadas distintas, mas é sustentado que o Logos, pela Sua ressurreição e
ascensão, deificou a Sua natureza humana.

Quanto ao Espírito Santo, o ensino de Orígenes se distancia ainda mais da mensagem


bíblica. Ele fala do Espírito Santo como a primeira criatura feita pelo Pai, por meio do
Filho. Além disso, o Espírito não opera na criação como um todo, e sim somente nos
santos. O Espírito possui bondade por natureza,renova e santifica aos pecadores, e é
objeto de adoração divina.
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Os ensinos de Orígenes sobre o homem são bastante incomuns. A preexistência do
homem está envolvida em sua teoria da criação eterna, pois a criação original consistiu
exclusivamente de espíritos racionais, co-iguais e co-eternos. A atual condição do
homem pressupõe uma queda preexistente da santidade para o pecado, o que deu
oportunidade à criação deste mundo material. Os espíritos caídos agora se tornam
almas e são revestidos de corpos. A matéria veio à existência com o propósito precípuo
de suprir uma habitação e ser meio de disciplina e expurgo desses espíritos caídos.

Já Clemente não foi claro na sua exposição do Logos. Em algumas ocasiões ressaltava
a subsistência pessoal do Logos, Sua unidade com o Pai e Sua geração eterna, e em
outras O representa como a razão divina, subordinada ao Pai.Distingue ele entre o
Logos de Deus e o Logos-Filho, que Se manifestou em carne.Clemente não tenta
explicar a relação entre o Espírito Santo e as demais Pessoas da Trindade.

A Pessoa e a Obra de Cristo - Ambos ensinam que o Logos tomou a


natureza humana em sua inteireza, corpo e alma, tendo-se tornado um homem
real, o Deus-homem, embora Clemente não tenha conseguido evitar totalmente o
docetismo. Dizia que Cristo comia, não porque precisasse de alimentos, mas para
que Sua humanidade não fosse negada, além de ser incapaz das emoções de
alegria e tristeza. Para Orígenes a alma de Cristo era preexistente, como todas as
outras almas.

Acerca da obra de Cristo, Clemente alude à auto-rendição de Cristo como um resgate,


mas não reforça a idéia que Ele foi a propiciação pelos pecados da humanidade. Sua
ênfase foi de Cristo como Legislador e Mestre. A redenção não consistiria tanto em
desfazer o passado, mas em elevar o homem a um estágio ainda mais alto do que o do
homem antes da Queda.
Para Orígenes, Cristo foi um médico, um mestre, um legislador e um exemplo.
Reconhecia também o fato de que a salvação dos crentes depende dos sofrimentos e da
morte de Cristo. A morte de Cristo é apresentada como vicária,como uma oferta pelo
pecado e como uma expiação necessária.

Para Orígenes, a influência remidora do Logos se estenderia além desta vida, não
somente os que tivessem vivido sobre a terra e morrido, porém, igualmente, todos os
espíritos caídos, inclusive Satanás e seus anjos maus. Haverá uma restauração de todas
as coisas.

Doutrina da Salvação, as Igrejas e as Últimas Coisas

Os Pais alexandrinos ensinavam o livre-arbítrio do homem, capacitando-o a voltar-se


para o bem e aceitar a salvação oferecida em Jesus Cristo. Deus oferece a salvação, e o
homem tem a capacidade de aceitá-la. Apesar disso, Orígenes também alude à fé como
graça divina. Seria um passo preliminar necessário à salvação. Mas isso representaria
apenas uma aceitação inicial da revelação divina, precisando ser ainda elevado ao
conhecimento e ao entendimento, daí prosseguindo para a prática de boas obras, que
são o que realmente importam. Orígenes fala de dois modos de salvação, um mediante
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a fé (exotérico), e outro pelo conhecimento (esotérico). Certamente esses Pais não
tinham a mesma concepção que o Apóstolo Paulo da fé e da justificação.

Orígenes considerava a Igreja como a congregação dos crentes, fora da qual não
haveria salvação. Embora reconhecesse o sacerdócio universal dos cristãos, também
dizia haver um sacerdócio separado e dotado de prerrogativas especiais. Orígenes e
Clemente ensinavam que o batismo assinala o começo da nova vida na Igreja, bem
como inclui o perdão dos pecados.

Conforme ambos, o processo de purificação iniciado na vida do pecador na terra


prossegue após a morte. O castigo seria o grande agente purificador e a cura para o
pecado. Orígenes ensina que, por ocasião da morte, os bons entram no paraíso, ou num
lugar onde recebem maior elucidação, enquanto os ímpios experimentam as chamas
do juízo,o qual não se deve ter como punição permanente, porém como um meio de
purificação. Clemente afirmava que os pagãos tinham oportunidade de arrepender-se
no hades, e também que a provação deles só terminaria no dia do juízo; Orígenes dizia
que a obra remidora de Deus não cessaria enquanto todas as coisas não viessem a ser
restauradas à sua primitiva beleza. A restauração de todas as coisas haveria de incluir o
próprio Satanás e seus demônios. Apenas poucas pessoas entram imediatamente na
plena bem-aventurança da visão de Deus; a grande maioria precisa passar por um
processo de purificação após a morte (Vemos aqui o embrião da doutrina do
Purgatório). Orígenes mostrou tendência por espiritualizar a ressurreição. Parece que
ele considerava como ideal o estado incorpóreo, apesar de crer numa ressurreição
corporal.

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CAPÍTULO 7
O EDITO DE MILÃO

Entrando vencedor em Roma, Constantino foi bem acolhido pelo povo e pelos mais
abastados. Mandou matar um filho de Maxêncio e alguns de seus amigos. Reparou os
aquedutos com dinheiro do próprio bolso. Aceitou sem problemas a bajulação e as
honras "divinas" dos seus súditos pagãos, autorizando inclusive a construção de um
templo e a fabricação de uma estátua a ele dedicados. A transição da tolerância para a
intolerância diante do paganismo será lenta.

Mandou fazer nas moedas o monograma X-P e enviou uma carta a Maximino Daia
"convidando-o" a suspender a perseguição. No inverno de 312-313, o tesouro
contribuiu para que fossem reconstruídos os edifícios de culto e o papa Milcíades
obteve de Fausta o palácio de Latrão.

No começo do ano 313 Constantino se encontra com Licínio em Milão (Licínio


acabara de se casar com Constança, irmã de Constantino). Durante dois meses eles
conversam sobre diversos pontos de suas políticas e, particularmente, sobre como deve
ficar a situação do cristianismo. Destas conversações nasce um acordo que hoje
conhecemos como o "Edito de Milão".

Não se trata de nenhum documento especial, mas de um conjunto de cartas de


Constantino e Licínio que afirmam o princípio da liberdade religiosa e, por
conseguinte, dão aos cristãos pleno direito de professar sua fé "sem receio de ser
incomodados".

A Igreja, oficialmente reconhecida, passa a ter direitos: seus lugares de culto,


destruídos ou confiscados, devem ser restituídos. As propriedades devem retornar para
as mãos dos seus donos cristãos. O cristianismo fica em pé de igualdade com o
paganismo, uma religião "lícita". Licet esse Christianos.

Logo chegará o momento, porém, em que o paganismo será definitivamente


suplantado pelo cristianismo.

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CAPÍTULO 8
OS POVOS BÁRBAROS E O MUNDO CRISTÃO

Pelo ano 400, os cidadãos do Império Romano sentiam-se parte da mais formidável,
segura e sagrada estrutura política. Alguns julgavam até que o Império era o
equivalente terreno do Reino de Deus. Nada poderia ser mais fascinante e abençoa do
que um Império governado por um imperador cristão e não somente cristão: um
Imperador protetor e preocupado com a fé de seus súditos.

Mas, era ilusão: havia já trezentos anos que o Império entrara em decadência. Os
povos germânicos pressionavam as fronteiras. O exército, que abrigava mercenários,
não era mais a formidável estrutura protetora e garantia da ordem.

A decadência começara quando Constantino mudou a


sede do Império para Constantinopla, na Ásia,
deixando Roma abandonada. Em 395, Teodósio
dividira o Império entre seus filhos, criando um
Império Ocidental e outro Oriental.

Povos asiáticos e europeus sonhavam em morar no


Constantinopla
território imperial: a fama, a cultura romana, as terras
férteis, tudo atraía esses povos chamados de "bárbaros" porque não romanos. Alguns
deles: ostrogodos, visigodos, borgúndios, francos, anglos, saxões, eslavos, húngaros,
búlgaros, hunos, etc.
Em 410, o visigodo Alarico tomou e saqueou Roma. Os cristãos ficaram perturbados:
seria o fim da Igreja? Por que Pedro e Paulo não protegeram Roma? Por que tantas
vítimas entre crianças, virgens consagradas e monges! Haveria ainda alguma
esperança para o Cristianismo ?

Em 430, o norte da África está assediado, prestes a cair. Agostinho, o grande romano,
morre numa Hipona cercada. A Bretanha cristã é assaltada pelos anglos e saxões e
praticamente desaparece lá a fé cristã.

Em 452, o huno Átila ameaça tomar e saquear Roma. O papa Leão Magno
corajosamente dirige-se ao seu encontro pedindo clemência. Foi atendido.

Em 476, Odoacro, rei dos hérulos, conquista Roma. Os bárbaros ocupam o trono do
Ocidente cristão. E guerrearão entre si para o controle e domínio do espólio imperial.
Havia bárbaros pagãos e bárbaros arianos, como os germanos. Desafio duplo para a
Igreja.

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CAPÍTULO 9
OS PAIS PÓS-NICENOS DO ORIENTE

Os Pais da parte da Igreja pertencente àquilo que deve ser chamado de escolas
alexandrina e antiocana de interpretação. Homens como Crisóstomo ou Teodoro da
Mopsuéstia seguiram a escola antiocana ou s[iria de interpretação, enfatizandoo estudo
histórico- gramaticalda Bíblia na intenção de descobrir o significado qu o escritor
sagrado tinha para aqules a quem escreveu. Evitaram a tendência alegorizante
praticada pelos seguidores da escola alexandrina, ainda grandemente influenciadores
por Orígenes.

João, Chamado Crisóstomo, logo depois de sua morte devido à sua eloquência,
mereceu literalmente o nome de “boca de ouro” que lhe deram. Nasceu por volta de
345 numa rica familia aristocracia de Antioquia.Por algum tempo, praticou a
advocacia, mas após seu batismo em 368 fez-se monge. Ordendo em 386, pregou em
Antioquia até o ano de 398 alguns de seus melhores sermões.

Crisóstomo viveu uma vida simples de pureza que era por si mesmo uma censura aos
seus paroquianos de Constantinopla, cujo o padrão de vida era altíssimo.
Extremamente asceta em sua enfase sobre simplicidade de vida e inclinado ao
misticismo, nem sempre agia com moderação.
Para ele, não deveria haver divórcio entre moral e religião; a cruz e a ética devem
camhinha de mão dadas. Não é por acso que ele tenha sido e continue sendo um dos
maiores oradores sacros que a igreja oriental já teve.

Outro notável Pai da Igreja é Teodoro Mopsuéstia.Ele também estudou a Bíblia por 10
anos com Diodoro de Tarso esta instrução foi por ter nascido numa familia rica.

Ordenado presbítero em antioquia em 383, tornou-se bispo de Mopsuéstia, na Cilícia,


em 392. Ele não aceitava o sistema alegórico de interpretação e propunha uma
compreensão que levasse em conta a gramáticae aformação histórica do texto a fim de
descobrir o sentido que o autor quis dar.

Um dos Pias da Igreja mais amplamente estudado é Eusébio de Cesaréia, por todos os
méritods meceredor do título de Pai da História da Igreja, assim cmo Heródoto
mereceu oo título de Pai da Igreja. Depois de receber uma intrução por parte de
Panfilo em Cesaréria, ele ajudou o amigo a organizar sua biblioteca nesta cidade.

A personalidade de eusébio assentava-se bem para seus alvos de erudição.Tinha um


espírito refinado e cordato e detestaqva as querelas suscitada pela heresias ariana.
Tomou um lugar de honra a direita de Constantino no Concilio de Nicéia e, como ele,
preferiu um soluçãode compromisso entre os partidos de Atanásia e Ário. Foi o Credo
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de Cesaréia, escrito pot Eusébio De Cesaréria, que o Concilio de Nicéia modificou e
aceitou.
Sua maior obra é a História Eclesiástica, um panorama da história da ihreja dos tempo
apostólico até 324.

Os pais Pós-Nicenos do Ocidente

O grande esforço dos Pais da Igreja no Oriente foi o de explicar teologicamente os


grandes dogmas da fé cristã: a Trindade e a Encarnação. 0s quatro primeiros Concílios
ecumênicos ofereceram uma clarificação quase que definitiva.

Quanto aos Pais do Ocidente, não significa que não tivessem interesse dogmático: eles
têm, é claro, mas se inspiram no Oriente. O grande tema ocidental situa-se no campo
da graça: como conciliar o poder da graça divina com a vontade humana, a liberdade
que se origina no livre arbítrio? Eu sei que sou livre, mas sou pecador e dependente de
Deus. Como fica a liberdade do homem e a necessidade da graça para poder fazer o
bem?

Pelágio (+ 422 aprox.), um asceta britânico, afirmava que através do esforço, da


ascese, o homem pode atingir a santidade. Deste modo, convidava os cristãos a
levarem uma vida séria, esforçada para atingirem a vida perfeita. É o esforço, mais que
a graça, que realiza a salvação. Esta doutrina, o Pelagianismo, espalhada logo para o
norte da África e Ásia Menor, foi muito sedutora. Ela destrói o núcleo central do
cristianismo, que é a salvação pela graça. Agostinho e todo o Ocidente enfrentaram
este perigo.
O papa Leão Magno (+ 461) foi defensor não só da doutrina, mas também da
civilização ocidental, evitando que Roma fosse saqueada pelos hunos comandos por
Átila.
Hilário de Poitiers (+ 367), retórico e filósofo, buscando o sentido da vida, abraçou o
cristianismo e, eleito bispo, buscou reconquistar a Gália para a fé católica, pois estava
tomada pelo arianismo. Pastor zeloso, procurou oferecer a seu rebanho o que de
melhor aprendera em seu exílio de três anos no Oriente.

Hilário ficou fascinado pela liturgia oriental. Compôs hinos litúrgicos para familiarizar
os fiéis com a teologia e associá-los mais intimamente às celebrações. Grande
condutor de homens, Hilário tinha imenso prestigio em todo o império romano.

Jerônimo (+ 419/420), de rica família da Dalmácia, logo dirigiu-se a Roma para


estudar. Secretário do papa Dâmaso, viajante e peregrino, por onde se preocupa em
estudar a língua, ouvir teólogos, filósofos e entabular contato com judeus.

Duas são suas preocupações: a vida monástica, que estimula em toda parte,
construindo e governando quatro mosteiros, e o estudo da Sagrada Escritura; Em 386
fixa residência em Belém, onde permaneceu até a morte. Ali completa sua obra
principal: a revisão do texto latino e depois a tradução de todo o Antigo Testamento,
confrontando-o com outras versões e o original hebraico. Desde o século XIII, sua
tradução Iatina é conhecida como "Vulgata".
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A cidade de Milão, residência imperial, vivia um grande problema: morrera o bispo
ariano Auxêncio. O povo reunido não chegava a um acordo para eleger sucessor.
Percebendo a dificuldade da situação, o governador Ambrósio intervém para manter a
ordem. Uma criança, ao entrar na igreja, gritou: "Ambrósio, bispo!". Imediatamente
todos acolheram seu nome. Foi deste modo que a Igreja de Milão recebeu um pastor
cuja influência chega a nossos dias. Ambrósio protestou: estava com 30 anos e nem
batizado era. O povo não deu bola e forçou-o ao episcopado. Foi batizado e oito dias
depois consagrado bispo, interrompendo uma carreira rápida e brilhante, iniciada em
Roma. Homem sério, assume sua missão: doa sua fortuna aos pobres, inicia os estudos
teológicos, lê com fervor as Escrituras e segue a escola dos Pais gregos.

Ambrósio é sobretudo um pastor. Vive cercado pela multidão dos pobres, embora
sendo difícil falar com ele. Seu prazer é comentar as Escrituras, os Evangelhos. É um
catequista nato e orador de qualidade, pois chegou a convencer o próprio Agostinho.
Preocupado com a participação dos fiéis na liturgia, introduz em Milão o canto
alternado dos salmos, escreve hinos, compõe melodias populares, sempre inspirado no
Oriente.

Destacou-se pela sua ação social, numa capital de pouco ricos e muitos pobres.
Denuncia os excessos da propriedade:

"Não são os seus bens que distribuem aos pobres, são apenas os bens de Deus que
vocês destinam. O que fazem, é usurpar só para uso pessoal, o que é dado a todos é
para ser utilizado por todos".

Ambrósio defendia a liberdade da Igreja frente ao Estado, não tendo medo de chamar
o imperador à obediência. O grande Teodósio tinha mandado massacrar sete mil
pessoas em Tessalônica.

Ao querer entrar na Igreja, Ambrósio o excomunga e manda para a rua: que fizesse
primeiro penitência! Dias depois, o imperador mais poderoso da terra entra na igreja
vestido de penitente, pedindo que Ambrósio o recebesse!
Sendo grande escritor, o que mais revela é sua sensibilidade, alimentada pela oração.
Nisso manifesta o segredo de sua vida: um ardente amor
a Jesus. São as suas ultimas palavras: "É duro arrastar
por tanto tempo um corpo já envolvido pelas sombras da
morte, Levanta-te, Senhor, por que dormes? Irás,
porventura, rejeitar-me para sempre?"

Agostinho, nascido em 354 em Tagaste (na atual


Argélia), este homem, filho da fervorosa Mônica, torna-
se a mais influente personalidade do Ocidente cristão.
Agostinho é poeta, filósofo, teólogo, pastor, místico e
santo. Síntese de toda a sabedoria da Antiguidade,

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Pintura de Santo Agostinho


Agostinho marcou indelevelmente a Igreja ocidental, a ponto de não haver campo na
vida cristã que não tivesse recebido sua influência.

De rara inteligência, foi a maior preocupação para sua mãe que queria protegê-lo e
conservá-lo na fé crista.Quase impossível: Agostinho era vivo, emotivo,
excessivamente sensível, aluno indisciplinado, muito seguro de si. Vai estudar em
Cartago, onde se mete na farra mais vergonhosa. Neste período teve o filho Adeodato.
Inteligência orgulhosa, vê o Cristianismo como "história da Carochinha", e cai no
Maniqueísmo, religião originada na Pérsia.

Mas, algo arde nele: a sede da verdade, pois sentia a angustia de uma vida sem
sentido. É um peregrino da verdade. Vai para Roma, acompanhado pela mãe. Já
professor famoso, mas ainda insatisfeito, vai para Milão. Ali Deus o pescou com sua
rede, através da escuta dos sermões de Ambrósio. Encontrou a Verdade.

Aos prantos, pediu o Batismo e decide voltar à áfrica Depois chorando, confessou:
"Amei-te tarde, ó beleza, tão antiga e tão nova, amei-te tarde demais. Ah! Estavas
dentro de mim; o caso, porém, é que eu estava fora... Tocaste-me, e fiquei inflamado
da paz que tu dás".

No porto de Roma, infelizmente, morre sua mãe, Mônica. Chegando em Hipona, quer
dedicar-se à contemplação, mas é logo escolhido para bispo desta cidade, tomando-se
chefe do episcopado africano. Passou a viver com seus padres em vida monástica.

Sua vida de pastor não é tranqüila: pregações diária, prega até duas vezes ao dia,
administra os bens temporais, resolve questões de justiça (cerca, muro, dívidas, brigas
de família...), atende os pobres e órfãos, enfim, uma vida consumida pelo zelo
pastoral. Apesar disso tudo, deixou 113 obras e 225 cartas. Envolveu-se em todas as
controvérsias da África e do mundo cristão. Sua mais conhecida obra, as "Confissões",
são um relato sincero e humilde de sua vida.

Agostinho e o Doutor da Graça. Salva assim a Igreja ocidental do Pelagianismo,


afirmando que a salvação é fruto da graça, da encarnação e da redenção. Ele sentiu
isso na pele: era um pecador orgulhoso e Deus o alcançou: pura graça, puro amor.

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CAPÍTULO 10
AS ORIGENS DO EPISCOPADO E MINISTÉRIO EPISCOPAL

Entre 313 e 590, a Igreja católica antiga em que cada bispo era um igual, tornou-se a
igreja Católica Romana, em que o bispo de Roma tinha supremacia sobre os outros
bispos. O ritual da igreja tornou-se também mais sofisticado. A igreja Católica
Romana reflete, em suas estruturas e leis canônicas, a Roma Imperial.

A Predominância do Bispo Romano

O termo “bispo” vem do grego “epi” (super) e “skopos” (ver) e é, literalmente,


supervisor ou superintendente ou ainda inspetor ( no latim medieval, “especulador”).
Tentativas foram feitas para encontrar protótipos do “bispo” cristão nos antecedentes
judaicos ou gentílico do cristianismo.

A Igreja Primitiva bem pode ter tido uma considerável diversidade na estrutura do
ministério pastoral, embora esteja claro que algumas delas eram chefiadas por ministros
que eram chamados episcopoi e presbyteroi. Embora as primeiras igrejas missionárias
não tivessem sido uma livre agregação de comunidades autônomas, não há nenhuma
evidência de que bispos e presbíteros fossem nomeados em toda parte no período
primitivo. Os termos "bispo” e “presbítero” podiam aplicar-se ao mesmo homem ou a
homens com funções idênticas ou muito semelhantes. Assim como a formação do cânon
do Novo Testamento foi um processo incompleto até a segunda metade do segundo
século, também o pleno surgimento do ministério tríplice de bispo, presbítero e diácono
demandou um período mais longo do que a era apostólica. Daí por diante, essa estrutura
tríplice se tornou universal na Igreja.

Resta-nos tratar, antes mais concisamente, o testemunho de Cipriano de Cartago, que


morreu em 258 A.D. que constitui o terceiro modelo ou terceira ênfase do ministério
episcopal no período pré-niceno. Cipriano foi um bispo, que imprimiu tal prioridade à
sua função de governança administrativa a tal ponto que ele mesmo desejava escapar à
perseguição e o prospecto de martírio com seu povo por volta do ano 250 e, mais
tarde, readmitir os relapsos, a fim de continuar, de uma distância segura, com sua
administração episcopal e preservar a unidade da Igreja sob sua supervisão.

Para Cipriano, os ofícios do bispo e presbítero são distintos e não permutáveis.


Ele também representa o primeiro autor cristão a desenhar as três ordens como sendo
seqüencialmente cumulativas. Como Inácio, ele fala na Igreja local como uma
assembléia em torno do altar com o bispo como seu presidente eucarístico, e, num
sentido, seu conceito da apostolicidade é até mais firme do que Irineu, chegando a
identificar os bispos com os apóstolos .

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A visão da sucessão episcopal de Cipriano é um desenvolvimento notável desde
Inácio, Clemente, Tertuliano e Irineu. É uma sucessão por meio de sagração, ou
sucessão de autoridade episcopal transmitida por meio de ordenação.

Durante esse período surgiram uma hierarquia sacerdotal especial sob a liderança de
um bispo romano, atendencia para aumentar o numero de sacramentos e torna´-los os
meios principais da graça, além dos movimentos em prol da organização da liturgia.
Estas coisas serviram para colocar os fundamentos da igreja Católica Romana
Medieval.

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CAPÍTULO 11
A IGREJA E O PAPADO

A igreja de Roma foi sem duvida a mais importante congregação Cristã. Situava-se na
capital do Império, possuía o maior número de membros e suas raízes remontavam a
Pedro e Paulo. Acreditava-se que os restos mortais de ambos estão enterrados sob o
piso daquele edifício. Com o declínio do Império, a igreja romana tornou-se
instituição dominante na Europa. Seus lideres afirmavam que Pedro, o principal
apostolo (Mt 16.18), havia delegado autoridade aos bispos para que sucedessem como
representes de Cristo na Terra. Essa reivindicação reforçou a doutrina da “sucessão
apostólica” de Clemente, que deu ao bispo de Roma autoridade sobre os demais a
partir do século V, o ocupante daquele cargo passou a ser chamado de papa ( “pai” em
latim).

O período de crescimento do poder papal começou com o pontificado de Gregório I


(540 – 604), o Grande, e teve o apogeu no tempo de Gregório VII, mais conhecido por
Hildebrando. È bom notar que desde o principio, cada papa, ao assumir o cargo,
mudava de nome Gregório VII foi único papa cujo o nome de família se destacou na
historia depois de sua ascensão à cadeira papal.

Gregório expandiu o reino de sua igreja objetivando a conversão


das nações da Europa. O papa Gregório foi um dos fortes
defensores da vida dos monástica, havendo sido ele mesmo um dos
monges da época. Foi um dos administradores mais competentes da
historia da igreja romana, e por isso mereceu o titulo de Gregório o
Grande. Sob o governo de uma série de papas, durante alguns
séculos, a autoridade do pontificado romana aumentou e me geral
reconhecida. São várias as razões para justificar o crescente poder
Pintura de São Gregório
do papado.

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Conclusão

O cristianismo firmou-se como uma religião de origem divina. Seu fundador era o
próprio filho de Deus, enviado como salvador e construtor da história junto com o
homem. Ser cristão, portanto, seria engajar-se na obra redentora de Cristo, tendo como
base a fé em seus ensinamentos. Rapidamente, a doutrina cristã se espalhou pela
região do Mediterrâneo e chegou ao coração do império romano.

A difusão do cristianismo pela Grécia e Ásia Menor foi obra especialmente do


apóstolo Paulo, que não era um dos 12 e teria sido chamado para a missão pelo próprio
Jesus. As comunidades cristãs se multiplicaram. Surgiram rivalidades. Em Roma,
muitos cristãos foram transformados em mártires, comidos por leões em espetáculos
no Coliseu, como alvos da ira de imperadores atacados por corrupção e devassidão.

Em 313, o imperador Constantino se converteu ao cristianismo e concedeu


liberdade de culto, o que facilitou a expansão da doutrina por todo o império. Antes de
Constantino, as reuniões ocorriam em subterrâneos, as famosas catacumbas que até
hoje podem ser visitadas em Roma.

O cristianismo, mesmo firmando-se como de origem divina, é, como qualquer


religião, praticado por seres humanos com liberdade de pensamento e diferentes
formas de pensar.
Desvios de percurso e situações históricas determinaram os rachas que dividiram o
cristianismo em várias confissões (as principais são as dos católicos, protestantes e
ortodoxos).

Como diz o ditado popular, "povo sem história, é povo sem memória, é povo sem
futuro" ! De semelhante modo, sem o
conhecimento da História da Igreja Cristã, como cristãos, estamos fadados a não ter
um futuro, sem conhecimento de causa, muito embora o Senhor da Igreja sustente o
Seu povo, a Sua Igreja, com Sua mão forte e poderosa !

O conhecimento leva o indivíduo a convicção de si mesmo, do seu ser. O


conhecimento leva a pessoa à sua própria realidade. O conhecimento leva à
consciência, à determinação, à objetividade.

Colocados neste mundo de Deus, como testemunhas da Sua maravilhosa graça para
conosco em Cristo Jesus, somos desafiados a escrever a História do Povo de Deus,
para testemunho ao mundo de hoje e as pessoas do porvir !

Enquanto neste mundo de Deus, somos desafiados a encarnar o Cristo em nossas


vidas, a fazer a nossa tenda, a nossa habitação junto ao povo que está ao nosso redor, e
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a demonstrar a luminosidade da presença de Deus em nossas vidas e neste Seu
mundo ! E sempre creditando que “possamos” a fazer história em Nome do Nosso
Senhor Jesus.

“somos atormentados ao confessar nossa fé, somos castigados se perseveramos,


porque se combate pelo nome cristão” - Tertuliano em sua Apologia argumenta
contra o rescrito de Trajano.
Grupo 2 :

Cassiandra
Izael
Pr.João
Juliano
Pablo
Roberto
Sonia

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Bibliografia

1. HISTÓRIA DA LITERATURA CRISTÃ ANTIGA GREGA E LATINA


De Paulo à Era Constantiniana - Claudio Moreschini / Enrico Norelli - Editora: Loyola

2. O CRISTIANISMO ATRAVÉS DOS SÉCULOS: UMA HISTORIA DA IGREJA


CRISTÃ - Earle E. Cairns / 2 ed. –São Paulo - Editora Vida Nova, 1995

3. CATOLICISMO ROMANO - Loraine Boettner, Imprensa Batista Regular, 1ª


edição, 1995, Brooklin, São Paulo

4 . DEFESA DA FÉ – Revista Brasileira de Apologética – Ano 2 – março/ abril/ 1999


– nº 11

MANUAL DA FÉ CRISTÃ - John Schwarz:: Tradução de Valdemar Kroker; revisão


de Bruno Guimarães – Belo Horizonte: Betânia, 2002

HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ - Hurlbut, Jesse Lyman – Editora Vida . 1986

HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ - Walker, Williston – 4ª edição - Rio de janeiro e


São Paulo – JUERP/ ASTE, 1983

Diversos, História de la Iglesia Católica, Tomo I, Madrid, BAC, MCMLXIV.

9. Daniel Ruiz Bueno, Actas de los Marires, Madrid, BAC, MCMLXII.

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