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ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 1

CONSIDERAÇÕES GERAIS

Haverá “fim do mundo”? Como serão as últimas coisas? Qual a


ordem dos acontecimentos do fim? O que acontecerá após a morte? Existe
realmente céu e inferno? Estas dúvidas permeiam na cabeça das pessoas,
inclusive dos cristãos, e a realidade mostra que a maioria não tem respostas
plausíveis para tais indagações. A escatologia tem se revelado como um dos
estudos mais polêmicos do universo teológico. Mas por outro lado, a
necessidade que o homem tem comprovada pela psicologia, de esperança
para viver tem feito com que este assunto se torne um tema fundamental para
o cristão, uma vez que revela a essência da nossa esperança. Não devemos
fugir do assunto pela sua complexidade e pelo teor polêmico, antes
precisamos ter serenidade e espírito aberto para estudá-lo com toda
humildade na presença do Senhor.
A base e a fonte de estudo desta disciplina bíblica estão na literatura
apocalíptica da Bíblia, no Antigo Testamento temos o Livro de Daniel e
trechos na mensagem de alguns profetas como Isaias, Ezequiel, Zacarias e
Malaquias a exemplo. Essa forma literária passa a fazer parte do contexto
escriturístico dos israelitas a partir do pós-exílio quando o anseio por uma
restauração nacional toma características transcendentais. No Novo
Testamento o material escatológico não está restrito ao Livro de Apocalipse,
mas revela-se bem antes na mensagem do próprio Senhor Jesus Cristo
destacada em extensos trechos dos evangelhos, principalmente no Evangelho
de Mateus, e nos tratados epistolares dos apóstolos alicerçados nos ditos do
próprio Senhor da Igreja.

DEFINIÇÃO

A palavra “escatologia” é formada por dois termos gregos (do grego


antigo “εσχατος” - Eskatos; “último”) e o sufixo logia “estudo”. Podemos
definir como sendo a doutrina que trata a respeito das últimas coisas
(segunda vinda de Cristo, ressurreição, juízo final, céu e inferno), eventos na
história do mundo (desse sistema), bem como o destino final do gênero
humano, seja de forma individual ou coletiva. Em muitas religiões
encontramos em seus registros sagrados, bem como no folclore, narrativas de
um fim futuro para o mundo, não no sentido de deixar de existir, mas de que
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todas as pessoas tratarão com seu Criador convergindo assim o temporal com
o eterno. Para nós cristãos, a base fundamental da nossa fé futura está nos
registros sagrados da Palavra de Deus. Vejamos o que Louis Berkhof diz em
sua Teologia Sistemática: “Alguma doutrina das últimas coisas não é
peculiar à religião cristã. Onde quer que as pessoas tenham refletido
seriamente sobre a vida humana, seja no individuo seja na raça, não
inquiriram apenas donde ela surgiu e como veio a ser o que é, mas também
para onde está destinada. Elas levaram a questão, qual é o fim ou destino
final do indivíduo, e qual a meta rumo à qual a raça humana está se
movendo? O homem perece na morte, ou entra em outro estado de
existência, quer de bem-aventurança, quer de infortúnio? As gerações dos
homens virão e passarão, numa sucessão interminável e finalmente
sucumbirão no esquecimento, ou raça dos filhos dos homens e toda a
criação estão a mover-se para algum telos divino, para um fim que lhe foi
designado por Deus [...]. Naturalmente, só os que crêem que, assim como a
história do mundo teve um princípio, também terá um fim, podem falar de
uma consumação e podem ter uma doutrina da escatologia.” (Berkhof,
Teologia Sistemática, p. 657)

ESCATOLOGIA ATRAVÉS DOS SÉCULOS

O desenvolvimento e a organização dessa doutrina percorreram um


longo caminho até chegar na gama de conteúdo e concepções que temos
hoje. Tanto nas questões individuais, como na escatologia cósmica, não
possuíam uma concepção formada. Sabe – se, porém, que no primeiro século
da era cristã a segunda vinda do Senhor era ardentemente aguardada. Quanto
ao estado intermediário (entre a morte e a ressurreição) acreditavam que os
justos morriam e eram logo recolhidos para o paraíso (Lc 23.43); enquanto
os injustos imediatamente eram lançados no inferno.
Os pais da igreja decidiram estudar com mais afinco as profecias
bíblicas. Justino, o Mártir (100 – 165 d. D.) concluiu que as “almas dos
piedosos estão em um lugar melhor, e a dos injustos num lugar pior,
aguardando o tempo do juízo”. Mais adiante a doutrina se desenvolveu
através de Irineu de Lyon, Hilário, Ambrósio e Agostinho. Esses
acreditavam que o Senhor conduzia a alma dos mortos ao Hades, nesse lugar
ou prisão extradimensional, havia muitas seções, e ali essas almas
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permaneciam até o dia do Juízo. Tertuliano (155 – 220 d. C.) entendia que
os mártires não necessitavam passar por esse processo, seu martírio e
sofrimento lhes conferiam acesso direto aos céus. No terceiro século surge
uma nova concepção acerca do período intermediário através do maior
teólogo depois do apóstolo Paulo e sistematizador das doutrinas cristãs,
Aurelius Agostinho (354 – 430 d. C.), bispo de Hipona (África); ele
avançou extra biblicamente e Tal doutrina foi energicamente combatida
pelos reformadores.
O Segundo Advento de Cristo os cristãos primitivos entendiam que
Jesus retornaria ainda nos dias daquela geração. Conforme o ensino do
Senhor: Se o fim viria somente depois da proclamação universal do
evangelho do Reino, então era chegado o momento, pois o evangelho seria
pregado rapidamente, talvez em três décadas ele alcançasse os pontos mais
distantes do mundo daquela época. Por esse motivo vemos os crentes de
Tessalônica com uma visão deturpada acerca da vinda do Senhor como se
Jesus estivesse chegando naqueles dias, vivendo um fanatismo escatológico a
ponto de desprezarem suas responsabilidades sociais e domesticas
distorcendo os ensinos de Paulo sobre a Parousia (2Ts 2.15 – 17).
No segundo século as perseguições do império romano deram uma
nova dimensão escatológica para a igreja, quando Severo era imperador. Por
essa época apareceu um fanático por nome Judas, ensinando que Cristo viria
no final do reinado desse imperador. Através de um estudo precipitado sobre
as setentas semanas de Daniel e forçando os algarismos e já tratando
aleatoriamente as profecias, o tal falso mestre deduziu que a vinda de Cristo
aconteceria no último ano do reinado de Severo (203 d. C.)
Um grande pensador dos primórdios da igreja foi Eusébio de Cesareia
(263 – 340 d. C.) era conhecido como o pai da história eclesiástica. Seus
ensinamentos e escritos contribuíram muito para o desenvolvimento da
história da igreja, segundo Eusébio o anticristo surgiria ainda naquela
geração.
Era milenar: o montanismo (movimento formado por Montano no
segundo século) foi o primeiro a se preocupar com a doutrina do milênio. Os
montanistas aguardavam uma manifestação literal do reino de Deus.
Tertuliano, já mencionado, foi um dos mais respeitáveis representantes
desse movimento. Ao contrário do montanismo, São Jerônimo, o erudito,
teólogo e tradutor da Vulgata Latina, ensinava e apregoava que havia um
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reino milenial neste mundo antes do retorno de Cristo, uma visão primitiva
de pós milenismo. Isso seria possível somente através da igreja. Até então
nenhum erudito havia se manifestado em favor de um reino literal de Cristo
neste mundo.

A ESCATOLOGIA APÓS A OFICIALIZAÇÃO DO CRISTIANISMO

A partir de 313 d. C., Constantino, imperador romano tornaria o


cristianismo a religião oficial do império. A igreja deixando – se levar pelas
circunstancias, julgou ter chegado o reino de Deus. A sua visão tornou – se
muito otimista, se antes o imperador era a figura do anticristo passou a ser o
próprio messias. Nessa época Ticônio, um pretenso donatista que viveu entre
os séculos IV e V, passou a ensinar que o milênio, iniciado na primeira vinda
de Cristo, se estenderia até sua segunda vinda. Seu pensamento influenciou
decisivamente, o grande pensador da igreja Agostinho.
Em sua obra “Cidade de Deus”, o bispo de Hipona ampliou ainda mais
os conceitos de Ticônio. Com respeito aos eventos futuros, Agostinho
mostrou – se preterista, amilenista e simbolista. Segundo se sabe que no
inicio da sua fé Agostinho era milenarista, ao ler Apocalipse 20 verso 5 algo
mudou, ele atribuiu o texto a igreja em sua obra “Cidade de Deus”. Com essa
interpretação os fieis passaram a crer que o mundo acabaria no ano mil. Ao
chegar o ano referido nada aconteceu forçando as autoridades eclesiásticas a
refazerem os cálculos, agora não mais a partir do nascimento de Cristo, mas
da sua crucificação, então concluíram que o mundo acabaria no ano mil e
trinta. Novamente nada aconteceu, então acharam por bem dar uma
interpretação mais alegórica aos versículos que tratam do retorno de Cristo a
terra.

OS REFORMADORES E A ESCATOLOGIA

Do quarto século até a reforma protestante as ideias escatológicas


sobre a segunda vinda do Senhor aos poucos foram diminuindo. Com a
reforma os cristãos passaram a ver o papa como sendo o anticristo (homem

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do pecado descrito por Paulo) e a igreja católica como a Babilônia do


apocalipse.
O grande expoente da reforma, Martinho Lutero (1483 – 1546)
mantinha sua firme convicção a respeito da justificação pela fé, porém se
deixou influenciar escatologicamente por Agostinho. Ele chegou a crer que o
mundo teria a duração de seis mil anos e com isso dizia está vivendo o tempo
início do fim. Por causa dessa interpretação de Lutero a igreja protestante
quase não avançou na obra missionaria. Segundo o reformador, Cristo estava
as portas, não havendo assim necessidade e dedicação em salvar almas.
Enquanto isso a igreja romana ia adentrando e conquistando os mais
distantes lugares da terra, no caso o nosso país que foi catequizado pelos
jesuítas. Os demais reformadores como Calvino, Zwinglio, John Knox,
Melanchton e outros achavam que as confusões e perseguições decorrentes
da reforma eram os efeitos da soltura de satanás registrado no Apocalipse 20
e verso 7 e 9. O milênio da igreja havia terminado e todos os cristãos
deveriam suportar o diabo até que fosse de uma vez por todas lançado no
inferno.
CONCEPÇÕES ESCATOLÓGICAS MAIS MODERNAS

ESCATOLOGIA ATEMPORAL (Vertical) Posicionamento de Karl


Barth, teólogo suíço fundador do movimento da Neo-ortodoxia, 1886 –
1968. Barth dizia que o mais importante para os cristãos não é aguardar a
vinda de Jesus. A segunda vinda de Cristo não é nenhum acontecimento
futuro... e que esperar pela vinda de Cristo é tornar anos as situações reais
tão preocupantes como ela”
ESCATOLOGIA CONSEQUENTE Posicionamento de Albert
Schweitzer. Alemanha-14/01/1875– Gabão04/09/1975 Sua escatologia
acontece quando os ensinos de Cristo se fazem realidade na vida de seus
seguidores.
ESCATOLOGIA REALIZADA Posicionamento do inglês Charles
Harold Dod, ministro do evangelho, pastor congregacional, um dos maiores
especialistas em Novo Testamento de sua época (1844 – 1973). Segundo
Dod, todas as previsões escatológicas das escrituras sagradas foram
cumpridas no período bíblico.
ESCATOLOGIA TEOLOPOLÍTICA Posicionamento de Leonardo
Boff, frade franciscano, filósofo, teólogo, professor de teologia sistemática e
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protagonista da teologia da libertação -Quanto ao Reino de Deus, Boff


entende como metáfora e busca levar a efeito mudanças políticas e sociais
radicais no presente. Teologia da Esquerda Religiosa Socialista
ESCATOLOGIA UNIVERSALISTA Posicionamento de Friedrich
Schleimacher, teólogo protestante alemão e pai do liberalismo teológico
(1786 – 1834). Teologia da Reconciliação Universal, no futuro, depois de um
tempo de purificação, Deus perdoará a todos. Uma ala mais radical ensina
que até satanás será perdoado.
Mais adiante, no século XIX, um pastor batista por nome Willian
Miller ao estudar o livro de Daniel passou a ensinar que o trecho do capitulo
oito e versículo quatorze trazia uma datação que assinalava a volta de Cristo
para 1844. Desde 1818, Miller vinha reexaminando seus estudos, tendo cada
vez mais a certeza de que estava correta sua interpretação bíblica. Em 1831,
então com 50 anos, embora tímido e receoso, sentiu-se chamado para
propagar suas interpretações. Começou a pregar a princípio nas fazendas,
depois em vilas e, por fim, nas grandes cidades. Em 13 de novembro 1833,
houve uma chuva de meteoros, algo que despertou na população suspeitas de
que ele realmente estivesse falando a verdade. Aproximando – se o dia
datado houve um verdadeiro alvoroço e muitos se desfaziam de suas
propriedades, mas o que na realidade ocorreu foi um verdadeiro
desapontamento.

DIVISÃO BÁSICA DA ESCATOLOGIA

Millard Erickson em sua Introdução à Teologia Sistemática descreve


essa divisão da seguinte maneira: “Quando falamos de Escatologia,
precisamos distinguir entre a escatologia individual e a escatologia cósmica
– experiências que se colocam, uma, no futuro do indivíduo e, outra, no
futuro da raça humana, ou melhor, de toda a criação. A primeira ocorrerá a
cada indivíduo na hora da morte. A segunda ocorrerá a todas as pessoas,
simultaneamente, em associação com eventos cósmicos, ou especificamente,
a segunda vinda de Cristo”. (Erickson, M. Teologia Sistemática, p. 483).

Escatologia Individual – Por tratar do fim do indivíduo,


os principais assuntos são: morte, estado intermediário,
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glorificação e eternidade (seja para justos ou ímpios), que


são implicações desse estudo.
Escatologia Cósmica – Trata do estudo de certos eventos
importantes que afetarão todo o universo e não apenas ao
indivíduo como ser-pessoa. Os principais assuntos são os
seguintes: A volta de Cristo, O Milênio, O julgamento
final (punição eterna para os incrédulos e recompensa
eterna para os crentes) e O Novo Céu e a Nova Terra,
entre outros relacionados com os mesmos.

O Sermão Escatológico de Jesus. A escatologia de Jesus se evidencia


a partir das respostas que ele dar aos seus discípulos com respeito a sua
declaração profética sobre a destruição iminente do templo de Jerusalém (Mt
23.37-39; 24.1-3; ver Lc 19.41-44) ... Quando serão essas coisas, e que sinal
haverá da tua vinda e do fim do mundo? Eles estavam preocupados
“quando” e com os “sinais”, o Senhor discorre respondendo a estas
preocupações, de um modo mais abrangente do que talvez o esperado por
eles. O sermão escatológico de Cristo aparece nos três evangelhos sinóticos
com a mesma função narrativa, tendo Jesus propósitos óbvios:
1) corrigir a visão dos seus discípulos sobre a destruição do templo, a sua
vinda e o fim dos tempos – aparentemente eles confundiram esses eventos
como sendo uma e a mesma coisa;
2) adverti-los a não serrem enganados pelos falsos “profetas” e “cristos” que
viriam e também pelos sinais e maravilhas que os mesmos seriam capazes de
produzir;
3) estabelecer uma visão ampla e geral da história, começando com sua
morte vicária e ressurreição até o julgamento final;
4) adverti-los a que estivessem preparados para o dia e à hora desconhecidos
da sua vinda.
Algumas partes deste discurso aparecem refletidas em seus ensinos
ao longo do seu ministério, provavelmente repetido, inúmeras vezes com
vistas à memorização, era uma prática comum dos rabinos.
Geralmente se aceita que as partes principais de um sermão
escatológico são as seguintes:

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1. O princípio das dores (Mt 24.4-14; Mc 13.5-13; Lc 21.8-19), onde


Jesus informa aos seus discípulos os sinais dos tempos a
acontecerem no período interino, não como uma indicação da
proximidade do fim, mas como uma garantia de que o mesmo virá;
2. O tempo da “Grande Aflição” da Judéia (Mt 24.15-28; Mc 13.24-
27; Lc 21.20-24), onde aparentemente Jesus retorna à pergunta
dos discípulos sobre a destruição do Templo com o fim de adverti-
los a fugir da destruição iminente de Jerusalém.
3. A Vinda do Filho do Homem (Mt 24.29-31; Mc 13.24-27; Lc
21.25-38), onde Jesus trata da sua segunda vinda (parousia), com
uma descrição dos sinais que acontecerão imediatamente antes
dela.
4. O pronunciamento acerca da proximidade da sua vinda e o seu
caráter repentino e inesperado (Mt 24.32-44; Mc 13.28-37; Lc
21.29-36) com o propósito de impressionar os discípulos quanto à
iminência da parousia.
5. A exortação para vigiar e para estarem preparados para aquele
dia (Mt 24.37-51; Mc 13.28-37; Lc 21.34-36).
6. As parábolas da parousia (Mt 25.1-30), visando reforçar as
exortações para estarem prontos e vigiarem.
7. O dia do Juízo (Mt 25.31-46), onde Jesus descreve o ajuntamento e
o julgamento de todas as nações diante do seu próprio trono na
parousia, com a felicidade subsequente dos justos e a condenação
dos ímpios.

PRIMEIRA PARTE
ESCATOLOGIA INDIVIDUAL

A Morte – Alguns teólogos vão defender que o homem fora criado


mortal, sendo que após algum tempo morreria mesmo não cometendo
pecado. O argumento da Serpente é uma forte defesa para a tal linha de
pensamento (Gn 3.4,5). Para eles a presença de Adão no Éden, pela a
obediência a Deus, lhe daria a oportunidade de estar perto da árvore da vida,
assegurando a sua vida imortal. Porém, afastado da árvore o homem estaria

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sujeito à morte. No entanto, a perspectiva ortodoxa1 defende que o homem


foi criado num estado imortal, até porque a morte é resultado direto do
pecado (cf. Gn 2.16,17; Rm 5.12; 6.23; 1Co 15.21,56; Tg 1.15). Mesmo
havendo a morte entre os animais e vegetais, o homem como coroa da
criação, feito a imagem e semelhança de Deus pela ruach (sopro), criado para
manter uma eterna relação de comunhão com o divino. Antony Hoekema
afirma: “a morte, no mundo humano, não é um aspecto da boa criação de
Deus, mas um dos resultados da queda do homem no pecado”. Portanto, o
nosso estudo partirá do pressuposto que o homem não foi criado para morrer,
porém com a possibilidade de mortalidade em consequência do pecado.
Estava em um estado de imortalidade, mas tornaria mortal por causa da
possibilidade de morrer, possibilidade esta que se tornou real na queda.
Definição e Natureza da Morte – Nas Escrituras Sagradas morte
está intimamente ligada à separação, vejamos a declaração de Louis Berkhof
sobre o assunto: “A Bíblia contém algumas indicações instrutivas quanto à
natureza da morte física [...]. Em Mt 10.28 e Lc 12.4 fala-se dela como a
morte do corpo, em distinção da morte alma (psyche). Ali o corpo é
considerado como um organismo vivo, e a psyche é evidentemente o pneuma
do homem, o elemento espiritual que constitui o princípio da sua vida
natural. Este conceito da morte natural também está subjacente a linguagem
de 1 Pedro 3. 14-18. Noutras passagens vemos descrita como o fim da
pysche, isto é, da vida animal, como perda desta (Mt 2.20; Mc 3.4; Lc 6.9;
14.26; Jo 12.25; 13.37,38; At 15.26; 20.24 entres algumas outras
passagens). E, finalmente, também descreve – se como separação do corpo e
da alma (Gn 2.7; Ec 12.7; Tg 2.26, ideia também defendida em passagens
como Jo 19.30; At 7.59; Fp 1.23). Conforme emprego de exodus “partida”
em Lc 9.31; 2Pe 1.15,16”2. Desta forma, podemos compreender que a
definição da morte está atrelada a separação de uma coisa à outra. Isto
podemos concluir observando as três formas ou estágios da morte, a saber: a
morte espiritual, a morte física e a morte eterna. Em todas há uma
“separação” e uma “mudança decadente de estado”.

1
Ortodoxia – Qualidade de ortodoxo, em conformidade com a doutrina religiosa tida como
verdadeira.
2
Berkhof, teologia Sistemática. P 617.
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1. A morte Espiritual – ela é classificada como a primeira porque


foi a que propiciou a história da redenção do homem. Como
também, ganha o seu destaque por ser essa a que separou o ser
humano de seu Criador (cf. Gn 2.17; Rm 8.10; e Ef 2.1), sendo a
que origina as demais formas de morte. Ela é o resultado direto
do primeiro pecado cometido no Éden, por Adão, pecado este que
levou toda a raça humana a estar separada de Deus e, portanto,
morta no seu aspecto espiritual. Essa morte é, então, a separação
do ser humano da pessoa de Deus. Neste estado encontra-se a
pessoa não-crente, sem ter uma relação com Deus e sem conhecer
sua presença. A mudança de estado foi que o homem deixou de
estar na presença de Deus para estar morto espiritualmente,
amaldiçoado pelo pecado e destinado aas outras formas de morte
(Rm3.23; 5.12; Ef 2.1-3).
2. A Morte física – esta consiste na separação entre a parte material
(corpo) de sua parte imaterial (alma e espirito); na morte física
ocorre a quebra da unidade condicional do ser humano, pois a
medida que seu corpo material deixa de existir e sua parte
imaterial continua existindo. Essa morte é consequência da
primeira, sendo resultado direto da morte espiritual (Gn 2.17 com
Gn 5.5). A vida deixa de existir no corpo e o ser interior se separa
do corpo. Quando falamos de morte física não estamos falando
que a vida deixa de existir, mas que passou por mudanças – o ser
humano se ora incompleto sem sua parte material.
3. Morte Eterna ou Segunda Morte – esta é a morte definitiva que
separará eternamente muitos seres humanos de Deus (Ap 20. 11-
15), é o estado final de separação para as pessoas que vivem em
um estado pecaminoso. Enquanto que a morte espiritual quebrou
o estado de comunhão do homem com Deus (mas a Graça Divina
continua visitando todos os homens) e a morte física encerrou a
possibilidade de reconciliação, a morte eterna separará o homem
eterna e definitivamente da graça divina, fazendo-o tão mal o
quanto pode ser, por isso, merecedor de um eterno juízo divino.

Os Efeitos da Morte - a morte parece um inimigo intocável,


invencível. Assusta todos os homens, sendo uma maldição, de fato, para o
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descrente, um inimigo, uma penalidade, pois embora não traga extinção


imediata a pessoa é afastada de Deus e de toda a oportunidade de obter a
vida eterna. Porém, para nós, unidos a Cristo e, decorrência de sua obra
vicária e sua vitória sobre a morte, ela (a morte) ganhou um caráter e sentido
diferente. Wayne Grudem explica: É verdade que a morte é punição do
pecado, todavia essa punição não se aplica mais a nós – não em termos de
morte física, nem em termos de morte espiritual ou separação de Deus. Tudo
já foi pago por Cristo. Portanto, se queremos entender por que os cristãos
morrem, devemos procurar alguma outra razão que não seja o castigo dos
nossos pecados3. Portanto, mesmo que os cristãos venham passar
consequentemente pela morte física, ela não tem poder de “mata – lo”. Ou
seja, as maldições e males eternos oriundos do pecado não atingem mais o
crente. Na verdade, a morte torna-se algo desejável (Fp 1.20-23). Por isso,
propositadamente, o apóstolo Paulo usa o eufemismo “dorme em Jesus” (1Ts
4.14). Apesar de livres de toda culpa, pecado e condenação, passamos pela
morte física porque ela passou a ser uma das condições da existência
humana, faz parte do modelo de vida pós-Éden que só será modificado com a
Segunda Vinda de Cristo e a consumação de todas as coisas, afinal, ainda
estamos neste corpo falível e mortal que somente naquele dia será
transformado. Além disso, nós cristãos estamos vivendo o período de
transição – do “já” e “ainda não” – em que já temos toda sorte de bênçãos,
inclusive a imortalidade, mas não desfrutamos a sua plenitude por não terem
sido consumadas todas as coisas no tempo determinado por Deus.
O ESTADO INTERMEDIARIO – Este é o período entre a morte e a
ressurreição. Millard Erickson quanto a essa doutrina diz: “A doutrina do
estado intermediário é um assunto ao mesmo tempo significativo e
problemático. É, portanto, duplamente importante que examinemos com
cuidado essa doutrina um tanto estranha. (...). Há duas grandes razoes pelas
quais muitos cristãos veem – se incapazes de ministrar efetivamente aos
enlutados. A primeira é a relativa escassez de referências bíblicas ao estado
intermediário. A segunda razão é a controvérsia teológica que se
desenvolveu em torno da doutrina”.
A realidade dos salvos em Cristo – Com a separação do corpo com a
alma/espírito, o corpo do crente continua sepultado, mas sua parte imaterial

3
Grudem, teologia sistemática: atual e exaustiva, p. 679
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vai imediatamente à presença do Senhor. O apóstolo Paulo nos comunica


sobre esta condição da morte: “Entretanto, estamos em plena confiança,
preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor. ” (I Co 5.8). Em
Filipenses 1.23, o apóstolo expressa o ardente desejo de desfrutar dessa
realidade: “Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de
partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. ” O próprio
Senhor Jesus declara ao ladrão que estava a sua direita na hora da
crucificação: “em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”. (Lc
23.43).
O Paraíso é uma antessala celestial – Há a ideia que o paraíso ou
Seio de Abraão era um espaço que estava no Sheol (ou Hades no grego),
sendo que os espíritos dos justos iam para lá, enquanto que o dos ímpios para
a ala das trevas do Sheol (Gn 44.29). Os defensores dessa linha apresentam
textos do Antigo Testamento relacionados a mortes de justos que mostram o
termo “descer”, como que eles tivessem descido ao mundo inferior ou
“mundo dos mortos” – Sheol (Gn 37.35; 42.38; Nm 16.33; Is 5.14). É
utilizado o texto do ensino de Jesus sobre o rico e Lázaro como fundamento,
argumentando que ambos estavam em um só lugar separados apenas pelo o
abismo intransponível (Lc 26.26). Portanto, tão logo que o crente morre,
entra numa existência celestial gloriosa, que não é temporária como nossa
existência atual, mas sim permanente e eterna. Todavia, esta existência é
incompleta, sendo que só será consumada na ressurreição do corpo
glorificado na Parousia – volta de Jesus Cristo (1 Ts 4.14 – 18; 1 Co 15. 51 –
57).
A Realidade dos Incrédulos – Após a morte, a alma dos ímpios não é
aniquilada e nem fica num estado de “sono”, como afirma os adventistas,
mas ela continua existindo consciente, sendo imediatamente levada para a
punição e o tormento no inferno (Hebr. Sheol e gr. Hades). Esse lugar é
descrito em várias passagens das escrituras (Mt 11.23; 16.18; Lc 16.19 – 31;
At 2. 27,31; Ap 1.18; 6.8); trata – se de um local de punição temporária,
afinal encaixa – se com o período intermediário, por exemplo: no ensino de
Jesus sobre o rico e Lázaro, o rico que está no Hades pede para se comunicar
com os entes vivos para os alertar daquela terrível realidade, isso provando
que ainda não havia ocorrido o Juízo Final. Em Ap 20.13, o texto menciona
o Hades entregando seus mortos para a ressurreição. E em Ap 20.14, aparece
a Morte (Thanatos) e o Hades sendo lançados no “Lago de Fogo” (gr.
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Limnem tou puros). Portanto, Sheol/Hades é uma espécie de antessala do


sofrimento eterno. Os ímpios sem Cristo, após a morte, seguem de imediato
a seu juízo indo para esse espaço vivenciando o tormento, mas de forma
incompleta.
Concepções Incorretas sobre o Estado Intermediário
O sono da alma – Os defensores desta visão ensinam que durante o
período entre a morte e a ressurreição, a alma repousa num estado de
inconsciência, sendo que dessa forma, todos sem exceção (sejam justos ou
ímpios) ao morrerem ficam dormindo à espera do grande dia da ressurreição,
em que somente naquele momento, serão acordados desse sono profundo.
Nossa compreensão quando a Bíblia usa os termos “dormir” ou
“adormecer” relacionados a morte está a empregar uma linguagem
metafórica, apenas par descrever o fim das atividades corporais por ocasião
da morte e também para indicar que a morte é somente um estado
temporário, assim como o sono é.
Aceitar essa doutrina é negar a união eterno do cristão com Jesus
Cristo no momento em que a pessoa o aceita como seu Senhor e Salvador, é
desfazer a distinção clara que a Bíblia faz entre justo e ímpio, afinal ambos
estariam no mesmo dormitório e no mesmo estado após a morte. Os textos
bíblicos são claros quanto a consciência dos que estão mortos (Fp 1.23; 2 Co
5.8; Lc 23.43), sejam justos que estão em Cristo; sejam ímpios que estão no
Hades. Vejamos alguns exemplos:
O texto de Lc 16.19 – 31 não deixa dúvidas quanto a consciência do
rico e de Lázaro – a) há um diálogo; b) há um tormento sentido pelo rico; c)
há um consolo para Lázaro.
Outro texto muito explicito é o de Ap 6.9 – 11, onde os justos que
estão os justos debaixo do altar e clamam em alta voz, recebem vestimentas e
recebem ordens para esperarem. Em Hebreus há também a menção da
“nuvem de testemunhas” que são os heróis da fé que torcem por nós (Hb
12.1,2) e de uma congregação de espíritos dos justos que estão no céu em
adoração a Deus (Hb 12.23).
Purgatório – os católicos romanos afirmam que todos os crentes, com
exceção de alguns santos e mártires especiais precisam passar pelo
purgatório, que é uma condição e um lugar de purificação e preparação para
a entrada no céu. De acordo com esse pensamento o sofrimento nesse lugar
substitui a punição dos pecados que os crentes deveriam ter recebido nesta
SEID – Pr. José Thiago Silva
ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 14

vida, mas não receberam. Esta concepção não tem base direta nas escrituras
canônicas, mas a tradição e em alguns livros apócrifos como ensina 2
Macabeus 12.42 – 45: “e puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão
completo do pecado cometido. O nobre Judas falou à multidão, exortando-a
a evitar qualquer transgressão, ao ver diante dos olhos o mal que havia
sucedido aos que foram mortos por causa dos pecados. 43 Em seguida, fez
uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se
oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir,
decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os
mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele
acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem
piedosamente”. Usam textos como Mt 12.32 para dizer que existe perdão dos
depois da morte. Em 1Co 3.15 os católicos dizem que a expressão “salvos
pelo fogo” está se referindo ao purgatório. Os que defendem este ponto de
vista negam a eficácia da obra redentora de Cristo, enfatizam outro meio de
salvação sem ser o Senhor, apresentam as “obras” e as “penitências” como
meio de justificação, pregam a possibilidade de intervenção dos vivos sobre
os mortos, porém a Bíblia é explicita: “assim como aos homens está
ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo, assim também
Cristo, tendo se oferecido uma única vez para tirar os pecados de muitos,
aparecerá segunda vez sem relação com o pecado, para salvar aos que o
aguardam” (Hb 9.27,28).
Eternidade para os ímpios e para os justos
Ainda apresentando o desenrolar dos eventos em uma perspectiva
escatológica individual, veremos o destino eterno para o ímpio e para os
justos. Destino este, que só será vigente após a consumação de todas as
coisas (eventos cósmicos ou gerais como a Segunda Vinda de Cristo,
Ressurreição dos Mortos e Juízo Final).
A REALIDADE DOS ÍMPIOS – Após a ressurreição dos mortos (Ap
20.11 – 13), os perdidos serão submetidos ao Juízo Final (o Trono Branco),
sendo julgados segundo as suas obras (Ap 20.13), pela maneira com que
tratam os servos de Jesus (Mt 25.41-46; Lc 12.45-48) e pela incredulidade
(Jo 3.16,36). Daí então, eles serão expostos a ira vindoura de Deus (Rm
2.5,8.9), receberão o eterno salário do pecado (Rm 6.23) e o terrível juízo e
“fogo” vingador (Hb 10.27-31). O padrão usado para o julgamento desses é a
vontade revelada de Deus, ou seja, os que tiveram mais revelação de Deus
SEID – Pr. José Thiago Silva
ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 15

receberão mais severo juízo. Jesus mesmo exemplifica esse fato quando
compara o rigor do juízo de Cafarnaum e Corazim diante do juízo Tiro e
Sidom. Assim, os que tiveram apenas a revelação do Antigo Testamento,
serão julgados por sua reação ao Antigo Testamento. Desta maneira
percebemos que haverá níveis ou graduação de punição (Mt 11.22-24; Lc
12.47,48; 20. 16-18). Depois da consumação do julgamento, os ímpios, de
forma integral (corpo e alma/espírito), serão lançados num lugar terrível de
punição que recebe títulos como: trevas exteriores (Mt 22.13); fogo eterno
(gr. Pur to aionion – Mt 13.42,43; Mc 9.43); destruição eterna (olethron
aionion – 2Ts 1.9); tormento eterno (gr. Kolasin aionion – Mt 25.46); lago
de fogo (gr. Limem tou puros – Ap 20.14,15). Outro termo utilizado para
descrição deste lugar é Geena (Mt 5.22,29,30; 10.28; 18.8,9; 23.15,33). A
respeito comenta Stanley Horton:
“[...] é o vocábulo aramaico para o vale de Hinom, uma ravina
estreita situada na parte oeste e ao sul de Jerusalém. Durante o declínio do
reino de Judá, esse era o lugar onde os apóstatas judeus faziam passar seus
filhos e suas filhas pelo fogo, em sacrifício a Moloque, deus dos amonitas
[...] os judeus dos dias do Novo Testamento fizeram daquele lugar a lixeira
da cidade e ali sempre havia fogo ardendo. Dessa forma, Jesus se utilizou
dele figurativamente como lugar do juízo final – o lago de fogo. Suas
chamas de enxofre a queimar indicam o quão doloroso será o fogo”.
Este “inferno final” que recebe essa grande quantidade de nomes,
principalmente Geena, é o lugar de punição sem fim. Levando em
consideração, portanto, que os títulos usados são apenas figuras do geena,
uma coisa é certa: este local será um lugar não da ausência de Deus, mas da
ausência de sua graça (seja comum ou especial). Na verdade, a ira divina e a
justiça infinita e eterna estarão sendo derramadas sobre os pecadores,
trazendo sobre eles o devido juízo. Além de um lugar, o geena apresenta – se
também como um estado, pois os pecadores estarão para sempre separados
da comunhão de Deus e serão tão maus o quanto podem ser, sendo
semelhantes a Satanás e seus demônios, afinal, não terão mais a “imago
Dei”, nem a graça comum e muito menos a ação do Espírito. Quanto ao
inferno Final, comparação com o céu, Hendriksen comenta:
“O inferno é inferno porque Deus está lá, Deus em toda a sua ira (Hb 12.29;
Ap 6.16). O Céu é céu porque Deus está lá, Deus em todo o seu amor. É
desta presença que o ímpio será banido para sempre”.
SEID – Pr. José Thiago Silva
ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 16

A REALIDADE ETERNA DOS JUSTOS – Após a consumação de todas


as coisas, os justos serão levados para a tão esperada glória e estarão para
sempre na presença de Deus.
a) A Glorificação – A plenitude da salvação nos salvos dar-se-á na
glorificação, a qual seus corpos mortais e corruptíveis tornar-se-ão
imortais e incorruptíveis (1Co 15.51-57), ou seja, é a plena redenção
dos corpos (Rm 8.22-24), que fará com que os corpos dos salvos
sejam semelhantes ao corpo de glória do Senhor Jesus (Fp 3.20,21;
Rm 8.17). Tal evento dar-se-á na ressurreição dos justos e na volta do
Senhor Jesus Cristo ao seu povo, e dará o novo estado eterno aos
salvos.
Todavia, como será esse corpo de glória? As Escrituras respondem,
principalmente o texto paulino de 1Co 15.35-46, apresentando as seguintes
características:
a) Será imperecível – Nosso novo corpo não ficará mais nem velho e
nem se desgastará; nem mesmo estará sujeito a qualquer espécie de
doença.
b) Será em glória – Ele não mais será um corpo que apresenta desonras
ou desprovido de atração, mas parecerá totalmente glorioso em sua
beleza. Ele pode até possuir um fulgor radiante em si mesmo.
c) Será em poder – Nosso corpo ressurreto não será somente livre de
doenças e do envelhecimento, também receberá plenitude de força e
poder. Não é um poder como se fossemos super-heróis, nem muito
menos semelhante ao poder de Deus. Nosso poder terá uma força
suficiente para fazer tudo o que desejamos e que estiver em
conformidade com a vontade de Deus.
d) Será um corpo espiritual – não significa não – físico, afinal seremos
“espaciais” (teremos um corpo) e temporais (preso a um tempo). Mas
significa que não estaremos presos aos limites dos nossos corpos
atuais, e também, que teremos uma vida cheia e plena no poder do
Espírito Santo, sem espaços para o pecado. Será um corpo físico-
espiritual como o do Senhor quando ele ressuscitou.

NOVO CÉU E NOVA TERRA


Os justos além de glorificados serão levados a um lugar de gloria e
longe das manchas do pecado (Ap caps. 21,22), na verdade, Deus fará uma
SEID – Pr. José Thiago Silva
ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 17

nova Terra para nós, com suas belezas e recursos para que passemos e
eternidade. Todavia, como Deus fará dessa Nova Terra a sua habitação, o
Novo Céu e a Nova Terra serão um, por isso o Céu é o nosso país (Fp
3.20,21). Teremos essa dupla dimensão: a física (espacial e temporal) na
nova terra, e plena espiritual (em comunhão com Deus) no novo céu.
Todavia, esse novo céu e essa nova terra não resultarão de uma espécie
de aniquilamento ou destruição total do cosmo. Se houvesse tal destruição
poderíamos dizer que satanás teria saído vitorioso, pois teria alcançado seu
objetivo, pelo menos o de destruir a criação. O novo céu e a nova terra
resultarão de uma restauração e glorificação da criação, tirando – a do estado
de degeneração para o de gloria, isso porque a criação haverá de participar da
glória dos filhos de Deus (Rm 8.20 – 22), que é em si a glória de Cristo. Os
profetas falaram desse novo céu e dessa nova terra (Is 65.17; 66.22), o
Senhor Jesus falou do novo nascimento (grego – palingenesia) do mundo
quando ele vier (Mt 19.28); Pedro falou da restauração (grego –
apokatastasis) de todas as coisas (At 3.19 – 21); Paulo menciona a
reconciliação de todas as coisas (Ef 1.10. Cl 1.20). Da mesma forma que os
redimidos serão glorificados, a criação também será redimida e glorificada!
O texto de 2 Pedro 3.12 trata dos eventos cataclísmicos do julgamento
divino e não do total aniquilamento, pois o termo grego usado para “novo” é
kainos e não neos, sendo que tal termo está atrelado a renovação. Além
disso, o texto compara tal “destruição” com a feita no “diluvio” (2 Pe 4 –
13), sendo que o mundo físico (cosmo) não foi aniquilado.

SEGUNDA PARTE
ESCATOLOGIA CÓSMICA

A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

A doutrina da segunda vinda é indispensável à escatologia, além de se


constituir na base da esperança cristã. Com a “Parousia” (presença), que
traduzimos como “vinda”, Deus dará início aos grandes eventos que irão
completar seus planos para a história dos homens. Tal evento é mencionado
muitas vezes na Bíblia. O próprio Jesus promete que voltará. Em seu grande
discurso escatológico o Mestre diz: “Então aparecerá no céu o sinal do
Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do
SEID – Pr. José Thiago Silva
ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 18

homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória” (Mt 24.30;
cf. Mt 26.64; Mc 13.26; Lc 21.27; Jo 14.3). Logo após a sua ascensão, anjos
confirmam a promessa do Senhor: “[...] Esse Jesus, que dentre vós foi
elevado ao céu, retornará do mesmo modo como o viste subir”. (At 1.11)
1. Sobre o dia da segunda vinda – Assim como um relâmpago cruza o
céu em dois extremos, assim será a vinda do Filho do Homem (Mt
24.27). será um dia de vitória e redenção, de abolição das lagrimas e
dos sofrimentos, será um dia de alegria e de consumação (1Tm 6.14 –
16). Jesus esclareceu que cabe somente ao Pai o tempo da sua volta
(Mt 24. 30 – 36; Mc 13.32,33). Por que Deus decidiu não revelar o
tempo da segunda vinda de Cristo? Porque Ele quer que realizemos a
sua obra com fidelidade e se soubermos que vamos precisar estar
sempre alerta e preparados seremos mais fiéis e mais comprometidos
com os desafios do Reino.
2. Sobre o caráter da Segunda vinda – Independente da linha teológica
defendida, a visão conservadora defende que:
a) Ela será pessoal – O próprio Jesus afirmou: “E quando eu for, e vos
tiver preparado lugar, voltarei outra vez, e vos levarei para mim
mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também” (Jo 14.3). Paulo
também declarou: “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com
grande brado, com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus...” (1 Ts
4.16).
b) Ela será física – As palavras dos dois varões vestidos de branco junto
ao cordeiro de Deus no momento de sua ascensão não deixa dúvidas de
que Ele voltará fisicamente (At 1.11)
c) Ela será visível – A volta de Cristo será visível, assim como foi sua
partida, conforme o texto de Atos 1.11 e Mateus 24.30.
d) Ela será inesperada – Ninguém pode prever o dia da Segunda Vinda.
e) Ela será triunfante e gloriosa – Diferente da primeira vinda, que foi
humilde, o Senhor virá desta vez com “grande poder e glória” (Mt
24.30; Mc 13.26; Lc 21.27). Estará acompanhado de seus anjos e será
anunciado pelo arcanjo (1Ts 4.16). Virá como Juiz e Rei dos reis (Mt
25. 31 – 46; Ap 19. 14 – 16)

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ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 19

A GRANDE TRIBULAÇÃO
Conforme a perspectiva pré-milenista dispensacionalista, os salvos de
todas as eras seguirão com Cristo para participar das bodas do Cordeiro.
Porém, todos os que forem deixados para trás permanecerão vivos no planeta
terra e experimentarão uma tribulação sem precedentes na história da
humanidade.
Concepções tribulacionistas:
a) Pré – tribulacionistas: O arrebatamento da igreja ocorrerá antes da
grande tribulação (1Ts 5.9)

b) Midi – tribulacionistas: Acreditam que a igreja passará parte da


grande tribulação e será arrebatada na metade dela (1 Co 15. 51 –
57).

c) Pós – tribulacionistas: Alguns estudiosos sustentam que Jesus só


virá buscar a sua igreja após a grande tribulação e que esta já se
iniciou, pois assim tem sido a experiência da igreja ao longo dos
séculos (Jo 16.33).

SEID – Pr. José Thiago Silva


ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 20

Quem é o Anticristo? Com base no livro de Daniel, entendemos que o


Anticristo será um personagem extremamente habilidoso e a Bíblia dar
indícios que será um judeu, se levantará sobre as nações com o apoio dos
governantes de todos os países para restabelecer a ordem em meio ao caos
provocado pelo súbito e inexplicável desaparecimento de milhões e milhões
de pessoas no arrebatamento. Ele se apresentará como se fosse da parte de
Deus, mas na verdade personificará o Diabo (Dn 11.36).
Quem é o falso Profeta? Este é o principal aliado do anticristo durante o
período da grande tribulação (Ap 13.11).

O MILÊNIO
Ao final da grande tribulação ocorrerá a segunda fase da Parousia. Na
primeira fase (arrebatamento), Ele virá para os seus e não tocará os pés nesta
terra. Mas, a segunda fase, que acontecerá sete anos depois do
arrebatamento, Cristo virá com os remidos de forma pessoal e triunfante
glória e todo olho verá. Zacarias assim anteviu este momento (Zc 14.4).
Cristo vencerá os exércitos do anticristo que, juntamente com o falso profeta,
será lançado no lago de fogo e enxofre (o Geena). Satanás será preso e então
começará o milênio, reinado literal de Cristo sobre a terra durante mil anos.
Neste período a justiça e a paz serão estabelecidas na terra e todas as
profecias sobre o Messias se cumprirão. Toda a criação que foi afetada pela
queda do homem agora participará das bênçãos do milênio.

Concepções sobre o Milênio:


a) Pós – milenismo: Os defensores dessa teoria são extremamente
otimistas acreditando que a pregação do evangelho será bem-
sucedida que o mundo todo se converterá. Assim, o reinado de Cristo
no coração dos homens (e não um reinado político) será uma
realidade completa e universal. Ao final desse extenso período (que
não precisará ser exatamente de mil anos), Cristo voltará para
inaugurar o novo céu e a nova terra, ou seja, a concretização do reino
de Deus como uma realidade presente aqui e agora na história e não
como um reinado futuro.

SEID – Pr. José Thiago Silva


ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 21

b) Pré – milenismo: Os defensores dessa concepção aceitam o reinado


terreno de Cristo, tendo a duração de mil anos, que será precedido
pelo seu retorno de forma visível logo após a grande tribulação. Neste
período Cristo estará presente fisicamente e haverá muita abundancia
e fertilidade na terra e Jerusalém será reconstruída e glorificada.
Existem duas correntes básicas Pré-milenistas:
Pré-milenismo Histórico – a igreja sofrerá a grande
tribulação. Não considera a existência de dispensações ou
alianças diferentes (existe apenas uma), e por isso, a
salvação continuará operando da mesma forma.
Sequência dos eventos na visão Pré-milenista histórico:
ÉPOCA DA IGREJA – GRANDE TRIBULAÇÃO E PERSEGUIÇÃO
A IGREJA – VOLTA DE CRISTO E ARREBATAMENTO –
INAUGURAÇÃO DO MILÊNIO – PRISÃO DE SATANÁS – FIM DO
MILÊNIO – SOLTURA DE SATANÁS – DERROTA DE SATANÁS –
ESTADO ETERNO.

Pré-milenismo dispensacionalista – a Igreja será poupada da


grande tribulação, e haverá após o arrebatamento o fim da
dispensação da graça.
SEID – Pr. José Thiago Silva
ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 22

Sequência dos eventos na visão Pré-milenista dispensacionalista:


ÉPOCA DA IGREJA – ARREBATAMENTO – GRANDE
TRIBULAÇÃO E PERSEGUIÇÃO A IGREJA – VOLTA DE CRISTO
E INAUGURAÇÃO DO MILÊNIO – PRISÃO DE SATANÁS – FIM
DO MILÊNIO – SOLTURA DE SATANÁS – DERROTA DE
SATANÁS – ESTADO ETERNO.

c) Amilenismo ou “Milênio inaugurado” – Os defensores deste ponto


de vista não creem que haverá um milênio literal, um reinado terreno
de Cristo. Para eles, logo após a segunda vinda (eles rejeitam uma
segunda vinda em duas etapas) ocorrerá o grande julgamento e a
sentença final para justos e ímpios. A origem do Amilenismo dá-se
durante a era Patrística da igreja, sendo que nos séculos II e III o
pensamento predominante era o quiliasmo (um tipo de corrente
milenista – defensora do milênio literal), sendo que foi questionado e
combatido pela primeira vez por um donatista africano chamado
Ticônio.

O JUÍZO FINAL
Após os mil anos, Satanás será solto por um breve espaço de tempo
(Ap 20. 7,8). Muitas nações que serão enganadas pelo inimigo marcharão
SEID – Pr. José Thiago Silva
ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 23

contra o exército de Cristo, porém o resultado dessa batalha já é conhecido:


“elas marcharam pela superfície da terra, e sitiaram o acampamento dos
santos e a cidade amada: desceu, porém, fogo do céu e os consumiu. O
Diabo, que as enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde já
estão a besta e o falso profeta. Eles serão atormentados dia e noite, pelos
séculos dos séculos” (Ap 20. 11,12)
Para comparecer perante o trono do julgamento os ímpios de todos os
tempos também experimentarão a ressurreição. Todos ouvirão a sentença
final segundo as suas obras (Mt 25.31 – 46; 2Pe 3.1 – 13; Hb 9.27; 1Ts
1.10). Uma vez concluído o julgamento, ele não poderá ser revogado. Os
ímpios serão enviados para a Condenação eterna. A partir daí os santos
também serão enviados definitivamente para a sua Morada Eterna: o Novo
Céu e a Nova Terra com a constante presença de Deus.

SEID – Pr. José Thiago Silva


ESCATOLOGIA – A Doutrina das Últimas Coisas 24

BIBLIOGRAFIA

Bíblia de Estudo Scofield – Almeida Corrigida Fiel, 2007 – Sociedade Bíblica


Trinitariana do Brasil.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida
Nova, 1997
VIEIRA, João Evangelista Jr. Introdução à Teologia Sistemática e Bibliologia.
Fortaleza: SETADEM, 2010.
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas Bíblicas. 2 ed. São Paulo: Editora
Vida, 2006.
THIESSEN, Henry C. Palestras em Teologia Sistemática. 4 ed. São Paulo:
Imprensa Batista Regular, 2006.

SEID – Pr. José Thiago Silva

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